::: Prisma ::: Cidades Mais nr.3 :::

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cidades+

* domingo, 15 de fevereiro de 2009 * ano 0I * nr. 03 * www.prismaonline.info

Castelo de Vide

Castelo de Vide

Diferença e singularidade no interior À semelhança de toda a região, Castelo de Vide testemunha a presença do homem desde os tempos mais remotos da sua existência, pois os vestígios arqueológicos comprovam a continuidade da permanência dos ocupantes ao longo das épocas. Um património que António Ribeiro, presidente da autarquia, refere que começa agora a ser divulgado.

Fronteira Fronteira

Concelho que continua a crescer Com pouco mais de 3000 habitantes, Fronteira é um concelho de pequena dimensão que se situa no distrito de Portalegre, já muito próximo da fronteira com Espanha. Pedro Namorado Lancha, presidente da Câmara Municipal, fala sobre a sua estratégia para o município.

Boticas

Boticas

“Concelho que gosta e sabe ‘bem receber’” As palavras são de Fernando Campos, presidente da Câmara Municipal de Boticas, que apela a “políticas de discriminação positiva que criem condições de atractividade para os investidores”, dado o seu objectivo ser transformar “Boticas num pólo de grande atractividade em toda a região e até mesmo no norte do País.”

Paços de Ferreira

Paços de Ferreira

Um município próspero a criar novos empregos Paços de Ferreira é um município que, numa transição rápida, passou de uma imagem rural e de uma indústria predominantemente artesanal, para um meio fortemente industrial e competitivo. Pedro Oliveira Pinto, autarca da Câmara Municipal de Paços de Ferreira, comenta a realidade de um concelho onde subsiste uma cultura empreendedora, com vista a uma cada vez maior solidez empresarial.


02 * Prisma * cidades+ *

Castelo de Vide

Diferença e singularidade num concelho do interior cidades+

Delimitado pelos concelhos de Marvão a sudeste, Portalegre a sul, Crato a sudoeste, Nisa a norte e Espanha a nordeste, tendo o Rio Sever como linha de fronteira, Castelo de Vide pertence ao distrito de Portalegre. Propriedade. Escala de Ideias - Edições e Publicações, Lda. R. D. João I, 109, RC. 4450-164 Matosinhos NIF 507 996 429 Tel. 229 399 120 Fax. 229 399 128 Site. www.escaladeideias.pt E-mail. geral@escaladeideias.pt Directora-Geral. Alice Sousa Coordenação. Alexandra Carvalho Vieira Artigos. Alexandra Carvalho Vieira, Ana Mendes Design e Produção Gráfica. Teresa Bento Banco de Imagens. StockXpert, SXC Accounts. Artur Leite - artur.leite@escaladeideias.pt Contactos. Redacção. 229 399 120 Departamento Comercial. 229 399 120 Distribuido gratuitamente com o DN

Diversidade de fauna e flora A grande diferença das condições ecológicas aponta para a presença de numerosas comunidades de animais. Aves consideradas raras, como a águiade-bonelli e o grifo, repartem o território com gaviões, águias cobreiras, peneireiros-cinzentos, milhafres e tartaranhões, havendo ainda a assinalar a presença do bufo-real e da coruja-do-mato. Além das aves de presa, é de notar a presença da cegonha-negra em Castelo de Vide, enquanto um numeroso grupo de passeriformes povoa os recantos serranos. No seu conjunto, as espécies referenciadas representam mais de metade das dadas como nidificantes no país. Dos mamíferos, o javali e o veado encontram-se em expansão, sendo o texugo, o toirão, o saca-rabos, o geneta, o gato-bravo, a conhecida raposa e o vulgar coelho, animais mais comuns.

Castelo de Vide é quase sinónimo de águas, nascentes e fontes As linhas de água sazonais são abundantes e as principais ribeiras (S. João, da Vide e de Nisa) irrigam os campos fazendo com que algumas zonas apresentem bons níveis de humidade durante a maior parte do ano, facto que permite o cultivo de várias espécies hortícolas e a existência de boas zonas de pastagens. No subsolo encontram-se várias jazidas de cobre, ferro, chumbo, volfrâmio. A qualidade dos seus níveis freáticos permitem o aparecimento de muitas nascentes, destacando-se as propriedades das águas minero-medicinais (Vitalis e Castelo de Vide) exploradas mais a sul na zona de granitos, constituíndo um importante recurso industrial.

Texto: Alexandra Carvalho Vieira

À semelhança de toda a região, este concelho testemunha a presença do homem desde os tempos mais remotos da sua existência, pois os vestígios arqueológicos, comprovam a continuidade da permanência dos ocupantes ao longo das épocas. Um património que António Ribeiro, presidente da Câmara Municipal de Castelo de Vide, em entrevista refere que começa agora a ser divulgado e a valorizado “através dos núcleos museológicos que têm vindo a ser criados nos últimos tempos”.

Centro de Interpretação do Megalitismo e o Núcleo de História e Arquitectura Militares. Para muito breve, irá reabrir-se a sinagoga medieval – um novo espaço museológico de grande valor e qualidade -, e ainda o museu de arte sacra que está a ser instalado na Matriz. O Museu da freguesia de Póvoa e Meadas, a oficina museu do Mestre Carolino Tapadejo e a Galeria de Arte Ventura Porfírio são outros desígnios que durante o presente ano ainda estarão patentes ao público.

Castelo de Vide é um concelho com aproximadamente 4000 habitantes, em 270 km2, muito rico em termos arqueológicos. O que é que tem sido feito pelo executivo no sentido de preservar a história? O município de Castelo de Vide é um concelho riquíssimo do ponto de vista arqueológico, pelo que após várias décadas de investigação, estudo e inventário, começa agora a divulgar e a valorizar esse vasto e interessante património através dos núcleos museológicos que têm vindo a ser criados nos últimos tempos. Para tal, foi necessário requalificar uma série de espaços de interesse histórico e arquitectónico que se encontravam devolutos e degradados para agora se instalarem essas colecções. Actualmente, no interior do castelo, já estão abertos ao público o

É possível fazê-lo de uma forma concertada com o desenvolvimento do concelho, de que forma? Não há qualquer dúvida que a consolidação da imagem turística de Castelo de Vide passa pela ampliação e pela qualidade da oferta cultural. É, hoje, fundamental que o turista que nos visita, durante a sua estada, satisfaça o prazer da contemplação com a extraordinária paisagem, quer a rural, quer a urbana, ao mesmo tempo que adquire conhecimento dos aspectos históricos, culturais, artísticos que marcam a nossa forte identidade. Assim, é obrigatória a existência desses espaços museológicos e culturais, de modo a tornar esta estratégia turística sustentável. O sector turístico representa no conjunto dos serviços, que directa ou indirectamente lhe estão associados, a principal activi-

António Ribeiro, presidente da C. M. de Castelo de Vide

dade económica do concelho. Só no que se refere à indústria hoteleira actualmente existem perto de 700 camas. Por isso, justifica-se o forte investimento que a autarquia tem vindo a desenvolver na recuperação, valorização e requalificação dos espaços e edifícios públicos, acções estas que culminarão quando os projectos referentes ao castelo e ao forte de São Roque estiverem totalmente concluídos. Mas será igualmente fundamental que os empresários do sector assumam também as suas responsabilidades, face às regras actuais do mercado e à agressiva concorrência que outros destinos turísticos apresentam.

* “A qualidade e diversidade do património natural e cultural são uma marca de excelência que só não induz mais riqueza na medida em que as acções estratégicas ao nível da região e com as tutelas do Turismo e Ambiente nunca foram concertadas.” Em concreto, quais são as grandes necessidades do concelho a curto/ médio prazo e o que deve ser efectuado para as suprir? Os dois principais instrumentos de gestão e ordenamento do território, respectivamente o PDM e o Plano do Parque Natural da Serra de São Mamede, encontram-se actualmente em fase de revisão, facto que será fundamental para corrigir um conjunto de situações e de constrangimentos ao desenvolvimento global do município. As grandes necessidades são intrínsecas aos problemas de interioridade, agudizando-se pela debilidade económica e social da cidade mais próxima e capital de distrito. Contudo, apesar das enormes dificuldades, tentamos transformar estes constrangimentos em oportunidades, demarcando-nos pela diferença e singularidade e não nos entregando à fatalidade.


Prisma * cidades+ * 03 Cozinha Regional, Doçaria e Licores -

Cachafrito de Cabrito Sarapatel Molhinhos em Tomatada Migas com Entrecosto Ensopado de Cabrito Fígado à Moda de Castelo de Vide

Doçaria: -

Boleima Queijadas Bolo Finto Bolo da Massa Esquecidos Toucinho do Céu Enxovalhada

Licores -

Licor Licor Licor Licor Licor

de de de de de

Noz Leite Laranja Framboesa Figo da Índia Fonte: www.cm-castelo-vide.pt

Alguns Monumentos

Estamos em ano de eleições e com ele surge o momento de fazer um balanço do mandato. Em seu entender, quais são as grandes “obras” que marcam para sempre Castelo de Vide? A Câmara Municipal tem vindo a desenvolver um conjunto de intervenções que praticamente incidem transversalmente em diferentes áreas da vida municipal. As requalificações de espaços públicos de valor histórico, a ampliação das zonas verdes, o ordenamento e valorização da paisagem florestal, a renovação do parque escolar, a construção de novas e melhores acessibilidades, quer urbanas, quer rurais, a criação dos espaços museológicos, a construção e requalificação das piscinas municipais, a ampliação da rede de abastecimento de água, a construção do novo centro de saúde e a requalificação da praça D. Pedro V, a modernização dos serviços administrativos e a renovação da frota de transportes municipais e, ainda,

a extensão do Bairro da Muralha, bem como a construção da variante à vila pelo IP, são seguramente obras que marcam um ciclo de um grande investimento.

* “A nossa qualidade de vida vai ser determinante na fixação de novos residentes.” De que forma Castelo de Vide contribui para o desenvolvimento da região e do país? Castelo de Vide, conjuntamente com Marvão e o Parque Natural da Serra de São Mamede constituem uma referência turística não só de nível regional, mas também nacional e internacionalmente. A qualidade e diversidade do patrimó-

nio natural e cultural são uma marca de excelência que só não induz mais riqueza na medida em que as acções estratégicas ao nível da região e com as tutelas do Turismo e Ambiente nunca foram concertadas. Do ponto de vista cultural, Castelo de Vide merece um particular destaque na Semana Santa visto tratar-se de um grande evento que começa a ser reconhecido em todo o país, dada a sua solenidade e singularidade. Brevemente, com o projecto da musealização da sinagoga, estamos convictos que teremos um ponto de interesse cultural, religioso e histórico que assumirá uma importância mundial.

Castelo: Protegido como Monumento Nacional desde o Dec. 16-06-1910, DG 136 de 23 Junho 1910, este Castelo começou a ser erguido por iniciativa de D. Dinis, concluindo-se já no reinado de seu filho, Afonso IV, em 1327. Foi assim que Vide passou a Castelo de Vide. Edifício dos Paços do Concelho: Edifício do séc. XVII cujas as obras se iniciaram em 1569 e foram concluídas em 1692. A torre do relógio foi construída um pouco mais tarde, em 1721. Estátua de D. Pedro V: Erguida sobre um pedestal, a estátua de D. Pedro V assinala a visita que o Rei fizera a Castelo de Vide, no dia 7 de Outubro de 1861, cerca de um mês antes de morrer, perpetuando deste modo a memória de um rei que apelidou Castelo de Vide de "Sintra do Alentejo". Forte de S. Roque: É um exemplo de arquitectura militar moderna abaluartada, constituído por quatro baluartes dispostos nos vértices de polígono interno que forma um rectângulo com porta de acesso a NW. Foi mandado edificar por Manuel Azevedo Fortes entre 1705-1710, governador da Praça de Castelo de Vide.

Quais são as suas perspectivas para o futuro do concelho? Como o imagina daqui a 10 anos? Estudos recentes demonstram que Castelo de Vide é um dos concelhos do Alto Alentejo que mais resiste à desertificação abrupta que ameaça seriamente toda a região e o interior. Apesar de uma ampla carteira de projectos apresentados ao QREN perspectivarem colmatar várias necessidades estruturais e sociais, neste momento já está assegurada a qualidade de vida e o bem-estar, proporcionados graças a um amplo conjunto de equipamentos e serviços públicos, de lazer e recreio e às infra-estruturas entretanto criadas. Numa altura em que a vida nas grandes cidades do litoral se degrada, certamente que esta nossa qualidade de vida irá ser determinante na fixação de novos residentes, quer sejam inactivos quer sejam profissionais liberais, na linha do que já hoje se vem a verificar de um modo crescente. Prisma

Judiaria: Leis decretadas por alguns monarcas lusitanos no sentido de se criarem "Ghettos" próprios, onde só vivessem judeus, levou ao aparecimento de bairros, igualmente conhecidos pelo nome de "Judiarias". Foi no séc XIV, que D. Pedro I aforava a Mestre Lourenço seu físico, provalmente judeu, uma terra em Castelo de Vide, sendo vários os documentos datados do século XV que testemunham a existência da comunidade judaica da vila. Monumento a Salgueiro Maia: Data de 1994 o monumento de homenagem ao Cap. Salgueiro Maia, aquando da comemoração dos 20 anos do 25 de Abril. Este monumento encontra-se encastrado na muralha do lado esquerdo à entrada do Castelo. Pelourinho: Localiza-se na rua Bartolomeu Álvares da Santa (principal artéria da vila), junto ao edifício setecentista dos Paços do Concelho, freguesia de Santa Maria da Devesa. O levantamento do actual pelourinho deverse-á atribuir ao período da construção dos actuais Paços do Concelho, mais concretamente por volta do ano de 1721.


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Fronteira

Concelho que continua a crescer Fronteira é um concelho de pequena dimensão, com pouco mais de 3000 habitantes, composta por três freguesias: Ribeira Grande, Cabeço de Vide e São Saturnino. Situa-se no distrito de Portalegre, já muito próxima da fronteira com Espanha. Conversámos com Pedro Namorado Lancha, presidente da Câmara Municipal, sobre a sua estratégia para o município. O Municipio de Fronteira é, no Distrito de Portalegre, aquele que menos verbas recebe do Estado, mas consegue um dos melhores índices de poder de compra, qual a razão? Várias razões convergem para esse resultado: Não existem no Concelho grupos étnicos problemáticos, nem muitas famílias em risco de exclusão social. Nos últimos anos centraram-se no Concelho alguns serviços: a sede da Caixa Agrícola do Norte Alentejano; o Comando de Destacamento da GNR; a escola após a instalação em novo edifício tem aumentado a oferta no ensino secundário; é sede de comarca; tem um novo hotel. Estes serviços têm como consequência imediata um maior número de ordenados ao nível técnico e técnico superior. Dispomos de um bom tecido empresarial, na agricultura e indústria (fábricas de piscinas sintéticas, polietileno, caixas de cartão, forra de volantes, salsicharia, adega, panificadora, artes gráficas e oficinas). Um Enoturismo de elevada qualidade, um Resort em desenvolvimento e uma estância termal. Todo este potencial de emprego eleva os rácios de uma população pequena. Podemos então assumir que o Município de Fronteira está no caminho certo para o desenvolvimento? O caminho que prosseguimos ao longo destes anos vai nesse sentido e começam realmente a aparecer efeitos positivos visíveis e mensuráveis, no entanto há ainda muito caminho a percorrer. A estratégia de desenvolvimento do Município de Fronteira tem passado pela racionalização de meios, pela formação do pessoal, pela atracção de investidores e pelo investimento em infra-estruturas que pudessem fixar emprego, utilizando criteriosamente as receitas de forma a maximizar cada um dos poucos cêntimos que recebia. Estamos no bom caminho, mas este crescimento que já se sente não atingiu ainda a maturação e a estabilidade. Preocupa-nos a situação económica nacional que pode afectar negativamente uma comunidade tão pequena como é Fronteira. A situação financeira inter-

nacional que provoca o encerramento de empresas e tem dificultado a instalação de uma média empresa prevista para Fronteira. Também a política actual do Governo, de concentração de serviços, prejudica a atracção de investidores para o Interior do País. Retirar do mundo rural as forças de segurança, tribunais, a saúde, as finanças, o ensino vai aumentar exponencialmente as assimetrias regionais, tornar a sobrevivência quase impossível, é afastar qualquer hipótese de desenvolvimento e prejudicar a atracção de novos investidores. Temos conhecimento de que está entre os 13 Municípios onde descem as transferências do Estado. Mais uma prova do desenvolvimento conseguido em Fronteira? Segundo a Nova Lei das Finanças Locais não só conseguimos crescer como parece sermos dos Municípios mais prósperos do País, razão pela qual nos transforma num dos Municípios mais contributivos para todos os outros que são beneficiários. Infelizmente a realidade é bem diferente. Fronteira cresceu um pouco, mas continua a ser um dos Concelhos mais pobres do País. Esta lei castiga severamente o empreendedorismo, o trabalho e qualquer sinal de progresso e desenvolvimento. É por isso uma lei perversa, uma lei cujo espírito pretende que os Municípios mais ricos repartam com os mais pobres e na prática faz precisamente o contrário. E como alterar esta situação? No imediato, iniciámos a recolha de assinaturas (são necessárias 4000) para apresentarmos uma petição na Assembleia da República, na expectativa que o bom senso prevaleça e seja aprovada. A petição pretende unicamente que sejam necessários três anos consecutivos de aumento de impostos para descer as receitas de um Município. Continuaremos sempre a trabalhar com o mesmo espírito de servir e a determinação de criar melhores condições de vida para a população, na esperança que a situação do País melhore e nos permita continuar a crescer. Somos persistentes, não teimosos. Contam certamente com a solidariedade dos concelhos vizinhos? Sabe, o pobre nunca gostou de ver outro pobre a melhorar as suas condições de vida, muito menos ao vizinho. Talvez por inveja ou por se sentir inferiorizado! De modo que qualquer desgraça aconteça ao outro até é bem vinda! Esquece que a ele também pode acontecer o mesmo!

* “O desenvolvimento atrai desenvolvimento pelo que outras empresas se irão instalar.”

Pedro Namorado Lancha, presidente da Câmara Municipal de Fronteira

Quais são as suas perspectivas de futuro? Tudo vai depender da evolução da economia do País. Partindo do princípio que pode voltar à normalidade, penso que Fronteira tem condições para continuar o caminho que iniciou. As empresas instaladas consolidando os seus próprios projectos garantem o pleno emprego da população do concelho. O desenvolvimento atrai desenvolvimento pelo que outras empresas se irão instalar. Na minha perspectiva a população deverá aumentar o necessário para garantir a manutenção dos serviços públicos, mas só o suficiente para que se mantenha a qualidade de vida. Como é gerir hoje em dia uma Autarquia? O 1º mandato já foi muito complicado devido ao endividamento da Câmara face às receitas. Éramos o Concelho com pior poder de compra e mais desemprego do Distrito. Eram inexistentes quaisquer infraestruturas de apoio ao desenvolvimento, como, uma Zona Industrial, uma Zona Urbana, ou um Centro de Saúde. O que havia estava obsoleto e degradado, as escolas, as Zonas desportivas, as estradas, as termas, os centros urbanos etc, etc. A imagem do Concelho era de atraso e incapacidade. As noticias eram sempre negativas! Hoje, as preocupações são bem diferentes, se por um lado existe algum receio que possam surgir questões sociais derivadas da situação nacional, por outro lado com o arranque do QREN e com os projectos que já temos candidatados e preparados, temos a expectativa de conseguir que o desemprego a nível Nacional seja minimizado no nosso Concelho e nos próximos anos se consiga mais um salto qualitativo para a consolidação da nossa estratégia de desenvolvimento. Como pensa que se combate a desertificação? A desertificação só pode ser combatida eficazmente se o governo assim o entender. Incentivos às empresas para se instalarem no interior, diminuição nos impostos, melhorias das condições de vida nestas regiões mantendo e melhorando os serviços existentes, saúde, ensino, segurança, justiça. Majoração às autarquias que apresentam projectos inovadores na área do desenvolvimento local e que obtenham resultados positivos nos indicadores de crescimento. Ao contrário do que acontece com esta lei das finanças locais. Descentralização de serviços nacionais, apoio ao desenvolvimento rural, na agricultura e nas indústrias transfor-

madoras. Permitir e incutir a produção de energias alternativas, com grandes potencialidades no interior, eólico hídrico, foto voltaico, biocombustivel, que seriam uma fonte inesgotável de desenvolvimento rural, atraindo técnicos, criando riqueza, potenciando a instalação de outras indústrias. Abandono dos projectos megalómanos do governo a favor de uma disseminação de pequenos e médios projectos no interior do País. (Ex.: Barragem do Pisão no Distrito de Portalegre). A proximidade de Espanha pode ser uma mais-valia? Poderia ser, quer no turismo quer num potencial mercado para os nossos produtos e serviços, mas neste momento funciona ao contrário. A aprovação e desenvolvimento de qualquer empreendimento turístico em Portugal é um quebracabeças que leva à desistência da maioria dos promotores. Os impostos como o IVA têm como resultado a falência dos nossos comerciantes. Tudo funciona ao contrário, nós é que compramos em Espanha tudo, até os serviços de saúde.

Que balanço faz do seu mandato? Os indicadores de que temos estado a falar são indiciadores de que alguma coisa mudou em Fronteira, no sentido positivo. Este mandato foi uma continuidade do trabalho realizado nos anteriores. Continuação no investimento em infraestruturas de apoio ao tecido empresarial. Grande preocupação com o emprego procurando sempre atrair e instalar empresas. Regeneração dos núcleos urbanos, criando melhores condições de vida à população residente e visitantes. Criando projectos inovadores, aproveitando e rentabilizando a riqueza natural, como é o caso do Parque de Ciências em desenvolvimento e à espera do arranque do QREN. Dedicando uma atenção especial ao turismo consolidando alguns eventos de nível nacional e internacional (24 Horas TT, 1ª Copa Ibérica de Balões de Ar Quente, Concurso Hípico de Saltos). Atraindo investidores na área do turismo com a construção de um enoturismo e o arranque de um projecto de um grande Resort. Aproveitando uma candidatura ao programa Provere, colocámo-nos na liderança de um Programa Acção dirigido essencialmente para o turismo e para o desenvolvimento de uma região de fraca densidade populacional onde estamos inseridos. Enfim, a maior prova de êxito do nosso mandato é a lei das Finanças locais que quer demonstrar que desenvolvemos tanto que até nos baixou as transferências do estado. Devia antes premiar a nossa capacidade e empreendedorismo, atribuindo-nos uma bonificação em vez de um corte no orçamento. Simultaneamente mostrar ao resto do País que o Estado apoia um município que inicie um processo de crescimento até à sua consolidação. Nós em Portugal é ao contrário premeia-se quem se acomoda e prejudicam-se aqueles que trabalham. Mesmo em relação às pessoas, o país tem andado nestes anos a incentivá-las a não trabalhar! E Agora?! Prisma


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Boticas

“Concelho que gosta e sabe ‘bem receber’” As palavras são de Fernando Campos, presidente da Câmara Municipal de Boticas, que apela a “políticas de discriminação positiva que criem condições de atractividade para os investidores”, dado o seu objectivo ser transformar “Boticas num pólo de grande atractividade em toda a região e até mesmo no norte do País." O concelho de Boticas situa-se no distrito de Vila Real na província de Trás-osMontes. Como o caracteriza? Como concelho do interior do país, Boticas debate-se com os problemas inerentes a essa interioridade, mas é, antes de mais, um concelho que gosta e sabe “bem receber”, caracterizando-se pela afabilidade com que os seus habitantes acolhem todos os que nos visitam. O concelho tem uma área aproximada de 320 quilómetros quadrados, encontrando-se numa posição privilegiada na região do Alto Tâmega, já que ocupa uma posição central e está praticamente equidistante das sedes de concelho dos restantes cinco municípios que constituem o Alto Tâmega. Ninguém duvida de que existe qualidade de vida no concelho, muito por culpa de se continuarem a preservar os aspectos da nossa ruralidade e das nossas práticas comunitárias, em perfeita harmonia com as nossas características próprias de um município de montanha.

Quais são as principais necessidades dos botiquenses? O concelho de Boticas necessita, à semelhança da grande maioria dos concelhos do Interior, de políticas de discriminação positiva que criem condi-

Projecto “Boticas - Património com História”: Que importância? “Resumidamente, este projecto consiste no levantamento, caracterização e diagnóstico do património do concelho feitos de uma forma rigorosa e exaustiva, não só do património arquitectónico, mas também do património cultural. A recolha de todos estes elementos permitir-nos-á, numa fase posterior, elaborar uma espécie de 'carta do património', que servirá de base à elaboração de diferentes suportes informativos, constituindo-se ainda como um precioso instrumento para os agentes ligados ao turismo na criação de roteiros e percursos. Isto sem esquecer também a importância deste trabalho na preservação do nosso património e o seu valor em termos históricos.”

ções de atractividade para os investidores e promovam e incentivem a instalação e fixação de empresas geradoras de postos de trabalho. Só criando postos de trabalho é possível evitar a “fuga” das populações, em particular dos mais jovens, para os grandes centros urbanos do Litoral e até mesmo para o estrangeiro.

* “O desenvolvimento do concelho passa pelo turismo, aproveitando as potencialidades naturais desta região.” O que é que tem sido feito pela autarquia para suprir estas necessidades? A Câmara Municipal de Boticas tem vindo a instituir um conjunto de medidas de apoio aos agentes económicos que incentive o investimento no concelho, tais como isenção e redução de taxas e licenças, redução de taxas de IMI, redução ou isenção de taxas de Derrama, cedência de terrenos a baixo custo, apoios por postos de trabalho criados e descontos em outros serviços municipais. Contudo, entendemos que outras medidas mais profundas deveriam ser tomadas, mas essas terão de ser da responsabilidade do Estado. Quais são as áreas em que considera ser prioritário intervir a curto prazo? E a longo prazo? O desenvolvimento do concelho passa, obrigatoriamente, a curto e longo prazo, pelo turismo, aproveitando as potencialidades naturais desta região. Por isso mesmo, as políticas ligadas ao turismo continuam a merecer toda a nossa atenção e concentrarão, nos próximos anos, grande parte dos nossos esforços financeiros. Procuramos implementar projectos que sejam verdadeiras mais

Fernando Campos, presidente da C. M. de Boticas

valias em termos da promoção turística e que abram, ao mesmo tempo, possibilidades de negócio às nossas populações. A mais-valia das iniciativas ligadas ao turismo reside não só pelo número de postos de trabalho criados de forma directa, mas também indirecta.

Como imagina Boticas daqui a uns anos? É sempre difícil adivinhar o futuro e nestas coisas temos que ser o mais realistas possível. Sabemos que vamos enfrentar tempos difíceis e que não vai ser possível realizar tudo o que foi projectado para o concelho. Contudo, acredito que este ritmo de desenvolvimento manterá o seu curso e que daqui a uns anos seja possível ter um concelho onde seja ainda melhor viver. Temos em curso vários projectos ligados aos desenvolvimento turístico e cultural do concelho, que transformarão Boticas num pólo de grande atractividade em toda a região e até mesmo no norte do País. Prisma

O que é que pode atrair alguém que não é do concelho a visitá-lo ou, quem sabe, a mudar a sua residência para o concelho? “A nossa ruralidade e a natureza em 'estado puro' são, desde logo, fortes atractivos. A isto associamos a nossa cultura, as nossas tradições, a nossa história e a nossa gastronomia de carácter ímpar. Se a isto associarmos a pacatez própria destas regiões, longe do 'stress' diário vivido nos grandes centros urbanos, podemos afirmar sem margens para dúvidas de que temos, sobretudo, qualidade de vida para oferecer. Estes são os principais atractivos do concelho de Boticas.”


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Paços de Ferreira

Um município próspero a criar novos empregos Investimento no Lazer O Parque Urbano de Paços de Ferreira pretende ser instalado no centro da cidade e é constituído por 200 mil metros quadrados. Este será um refúgio verde para o desporto, lazer e cultura, um factor crucial para este concelho que pretende incentivar a identidade colectiva.

Paços de Ferreira é um município que, numa transição rápida, passou de uma imagem rural e de uma indústria predominantemente artesanal, para um meio fortemente industrial e competitivo. Este é um concelho onde subsiste uma cultura empreendedora, com vista a uma cada vez maior solidez empresarial. Texto: Ana Mendes

Capital do Móvel Durante os últimos 20 anos, o concelho de Paços de Ferreira afirmou-se como a Capital do Móvel em Portugal e é hoje o maior centro de negócios de mobiliário do país e da Galiza, centralizando-se aqui o escoamento de grande parte da produção nacional de móveis. Com uma área de exposição instalada de cerca de 1 milhão de metros quadrados, Paços de Ferreira é o dínamo do sector do mobiliário em Portugal, contando também com uma importante actividade industrial ao nível da produção.

Como caracteriza o concelho de Paços de Ferreira? Paços de Ferreira é um concelho que tem evoluído bastante, por um lado em termos de população, quer em saldo natural (número de nascimentos), quer pelo saldo migratório, o que indica que tem sido capaz de captar para si população. Antes e após o 25 de Abril havia uma textura social mais rural, que mudou a sua face, no início da década de 80, para uma imagem mais industrial. Isto sucedeu devido à ascensão do negócio mobiliário, que graças a uma estratégia colectiva de desenvolvimento, conseguiu afirmar a capital do móvel a partir de 1984. Hoje para além de ter consolidado uma vocação industrial além fronteiras no sector do mobiliário, também o fez ao nível da metalomecânica e a nível do têxtil/vestuário, por força das novas acessibilidades e pelo esforço do município na captação de investimento e concomitantemente pela abertura da auto-estrada em 2005. Somos agora um concelho competitivo que conseguiu diversificar em algumas áreas, e por essa razão têm-se gerado novos empregos, apesar do panorama de crise actual. Em Outubro de 2005, tínhamos uma taxa de desemprego na ordem dos 11%, a qual passou em meados de 2008, para uma taxa um pouco acima dos 8%.

anda na ordem dos 600 milhões de euros, e temos o objectivo traçado para 2011, de atingirmos os 1.100 milhões de euros. Isto tudo sucede devido à nossa capacidade de captar investimento, não só a nível de contactos, mas no facto de se criarem condições a nível de espaço e articulação organizacional com a câmara e com a empresa municipal de captação de investimento. Estes são factores primordiais para se conseguirem estabelecer condições para o desenvolvimento sustentável do concelho. Quais são as linhas estratégicas por que este município se orienta? O Emprego e a Educação são de facto as nossas prioridades. Estamos neste momento com quatro novos centros escolares em obra, que agregam jardimde-infância e 1º ciclo. Estamos ainda com mais três em adjudicação e outros sete em preparação de concurso. O município tinha cerca de quarenta edifícios escolares, ficando agora a ter dezasseis edifícios modernos, consagrando uma concentração de maior qualidade. Por outro lado, estamos também com uma rede interessante relativamente às Novas Oportunidades e com a Certificação de Competências, um projecto que já está consolidado e com respostas adequadas ao público em geral.

* “As cidades só são fortes e competitivas se as pessoas se identificarem com elas.”

Onde se situa Paços de Ferreira? Paços de Ferreira situa-se na região do Vale do Sousa a cerca de 25 km da cidade do Porto. Estende-se por uma área de 71,6 km2 e pertence ao distrito e diocese do Porto. Apresentando-se repartido administrativamente em 16 freguesias, Paços de Ferreira a Norte e o Oeste faz fronteira com o concelho de Santo Tirso, a sul com o de Valongo e de Paredes e a Este com o de Lousada. Está localizado num planalto de média altitude, conhecido por “Chã de Ferreira” sendo admirado pelas suas belezas naturais.

Desenvolvimento Sustentável “Neste momento de incerteza nunca se sabe o que pode acontecer, mas a nossa convicção prende-se com as estratégias de desenvolvimento sustentável que lançamos a todo momento e com a relação que temos com investidores.”

O seu discurso traduz-se numa posição optimista em relação ao emprego. Como sustenta essa atitude? Este meu discurso pode parecer optimista, mas só o é, se conseguirmos atingir os resultados pretendidos. Há a consciência das dificuldades em que o país e o mundo se encontram, corremos o risco iminente das indústrias existentes fecharem a qualquer momento, mas o essencial é que haja capacidade de regeneração, de se criarem sempre novos postos de trabalho. Temos alguns dados que nos permitem admitir que estamos a fazer uma transição difícil, não era expectável que viéssemos a ter este cenário de dificuldade, mas o crescimento dos níveis de indicadores de emprego, assim como o dos indicadores dos dados de IRS, é animador. Há mais gente a trabalhar e existem melhores rendimentos, o volume de negócios total de Paços de Ferreira,

Em que medida o sector do mobiliário é uma mais-valia em termos de Competitividade? Eu diria que o mobiliário está confrontado com os desafios actuais das indústrias. Desde o ano 2000 tem havido um processo de internacionalização com grande intervenção em Espanha, Itália, Alemanha, Rússia, Angola, o que denota que temos capacidade para competir nos mercados mais exigentes. Mas embora

Pedro Oliveira Pinto, presidente da C. M. de Paços de Ferreira

haja este potencial, falta-nos uma política racional que oriente passos decisivos que são urgentes. Estarmos presentes nas grandes feiras internacionais é crucial, a marca portuguesa precisa de estar patente no mercado mobiliário. Os nossos produtos têm preço, qualidade e design, portanto há aqui um problema de marketing corporativo que devia incentivar novos mercados. Já há uma candidatura no Ministério da Economia, que visa criar um Centro Avançado de Design de Mobiliário em Paços de Ferreira, pretendendo avançar assim para um nível elevado de design e para um marketing promocional de topo do mobiliário português. Quais são as suas perspectivas para o futuro do Concelho? Paços de Ferreira vai continuar a posicionar-se como um concelho consistente no que concerne à geração de emprego, devido à diversidade de actividades económicas que tem criado, mas não perdendo a capacidade de se afirmar como a Capital do Móvel. Estou convencido que a nível de empregos, vamos continuar a apresentar projectos, e no final das contas pretendemos ter um saldo positivo nesta matéria. Em dois anos teremos renovado completamente o quadro escolar, com um investimento muito significativo, sendo que nestas perspectivas de educação e emprego estamos seguros no trabalho que estamos a fazer. Porém, há um desafio social importante, a mobilização para a socialização, ou seja, as cidades só são fortes e competitivas se as pessoas se identificarem com elas, por isso temos em vista uma aposta grande em espaços de convívio, lazer, cultura e desporto, para que as pessoas sintam prazer em viver neste município. Desta forma criaremos condições para originar o enraizamento das pessoas no concelho. Uma sociedade que não assume com satisfação a sua identidade, não combate junta. Considero que um concelho de futuro deve “assumir todo a mesma camisola”. Prisma




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