Publicação Científica do Programa de Gestão do Patrimônio Cultural do METROPOLITANO DE SÃO PAULO

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO................................................................................................................ 2 CAPITULO 1 – O PROJETO DE PESQUISA ................................................................. 3 1.1 Diretrizes ciêntíficas ............................................................................................ 3 1.2 Project Design .................................................................................................. 11 CAPÍTULO 2 – CONTEXTO HISTÓRICO REGIONAL ................................................ 15 2.1 Por trilhas e rios: O início da ocupação histórica de São Paulo ........................ 15 2.2 O café e a São Paulo railway: um vetor de ocupação da cidade ....................... 31 CAPÍTULO 3 - PESQUISAS NA LINHA 02/VERDE – lote 8 ....................................... 36 3.1 O Contexto Histórico da Vila Prudente ............................................................. 37 3.2 As pesquisas na Companhia Industrial Paulista de papéis e papelão ............... 57 3.3 Estudos de cultura material................................................................................ 71 3.4 Resgate da memória: patrimônio edificado........................................................ 78 CAPÍTULO 4 – PESQUISAS NA LINHA 04/ AMARELA .............................................. 96 4.1 Estação Luz ....................................................................................................... 96 4.1.2 Pesquisas arqueológicas .......................................................................... 97 4.3 VSE Waldemar Ferreira ................................................................................. 187 CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................... 229 CAPÍTULO 7 – BIBLIOGRAFIA .................................................................................. 234

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INTRODUÇÃO

As atividades de pesquisa realizadas no decorrer do “Plano de Gestão do Patrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural nas Obras de Implantação do Metropolitano de São Paulo” em sua Linha 02/Verde Lote 08 e em sua Linha 04/Amarela resultaram na pesquisa de um patrimônio arqueológico e histórico que visa ser divulgado através desta publicação. Tais pesquisas tiveram início em 2004, incluindo desde os estudos diagnósticos, passando posteriormente para a etapa de prospecção e, finalmente, resgate arqueológico. Foram desenvolvidas pela empresa DOCUMENTO – Patrimônio Cultural Ltda. Na divulgação dos trabalhos que ora se apresenta, através desta publicação foram selecionados resultados de interesse científico, obtidos em ambas as Linhas do Metrô acima citadas, visando contribuir para uma melhor compreensão de diferentes processos de ocupação humana que ocorreram no município de São Paulo, ontem e hoje. Conforme será detalhado ao longo do texto, os patrimônios revelados pelas pesquisas na Linha 02/Verde e na Linha 04/Amarela são de natureza distinta, ao mesmo tempo complementar. Para a Linha 02/Verde trabalhou-se com as instalações de uma fábrica de papelão e celulose na zona leste da capital paulista, com oportunidade de conjugar um rico patrimônio material e imaterial ainda vivo em meio à comunidade do bairro. Já para a Linha 04/Amarela contou-se com a presença de vestígios arqueológicos, ora dispersos, ora estruturados em meio à complexa estratigrafia do subsolo urbano. A divulgação destes resultados pode ser também, acompanhada através de plataformas e Mídias Sociais que ampliam a dinâmica dos trabalhos, como o Arqueo Parque e o

Blog da Comunidade. Nestes locais estarão disponíveis bancos de

imagens, pesquisas históricas, todas as fases do desenvolvimento do programa (diagnóstico, prospecção e resgate), além de cadastros de patrimônio edificado, material e imaterial, inclusive ampliando e detalhando aspectos tratados por esta publicação. Finalmente, vale salientar que estas pesquisas contaram, ao longo de seus diversos anos de execução, com Portarias de Pesquisa emitidas pelo IPHAN/Minc, garantindo a legalidade dos trabalhos.

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CAPITULO 1 – O PROJETO DE PESQUISA

1.1 Diretrizes científicas Abordar a complexidade e diversidade apresentada pelo Patrimônio Cultural nas Obras de Implantação do Metropolitano de São Paulo (em sua Linha 02/Verde Lote 8 e Linha 04/Amarela) demandou a realização de ações que abranjam os diferentes elementos que lhe são relacionados, sendo eles: 

Patrimônio

Arqueológico,

compreendendo os

remanescentes físicos

e

locacionais na paisagem referentes às diversas ocupações humanas que se desenvolveram na área, em período pré-colonial. 

Patrimônio Histórico, compreendendo o estudo dos diferentes cenários sociais, econômicos e políticos de ocupação da área, em período histórico, alcançando até as sociedades atuais.

Patrimônio Cultural Material, compreendendo os elementos físicos materiais relacionados aos Modos de Vida da área, ou seja, os objetos que compõem o dia a dia das comunidades. Incorpora o Patrimônio Edificado, que compreende os bens construídos com significância histórica e/ou cultural, abrangendo nãoapenas

os

edifícios

que

apresentam

monumental

idade

(igrejas,

fortificações, por exemplo), mas toda e qualquer construção que represente formas tradicionais de ocupação humana; 

Patrimônio Cultural Imaterial, compreendendo os conhecimentos tradicionais e manifestações culturais da comunidade incluindo festejos, cantos, artesanato, medicina popular, culinária tradicional, contos, superstições etc.

Patrimônio Paisagístico, compreendendo aspectos referentes ao ambiente físico da área ao qual se sobrepõe uma Paisagem Cultural, constituindo um espaço socialmente concebido, percebido e transformado pelos diferentes cenários de ocupação humana que se desenvolveram na região. Somente através de um tratamento integrado que abranja o conjunto destes

diferentes aspectos é que se busca dar conta da diversidade e complexidade do desenvolvimento pré-colonial, colonial e histórico regional. Por outro lado, a abordagem destes diferentes patrimônios parte de alguns princípios basilares no pensamento contemporâneo, no que se refere ao tratamento das questões patrimoniais culturais: 3


Democratizar as práticas para o reconhecimento e identificação do patrimônio cultural, integrando as diversas percepções envolvidas (oficial, cientifica e da comunidade);

Ampliar as possibilidades morfológicas que norteiam o reconhecimento do patrimônio, respeitando as singularidades das experiências históricas de cada cultura e de cada grupo social;

Desenvolver prática de identificação, proteção, recuperação e fomento dos patrimônios que sejam compartilhadas entre os grupos científicos e as comunidades, atuando de modo coordenado e solidário;

Compreender o patrimônio cultural como algo vivo e integrado as sociedades, como elementos fundamentais na manutenção da coesão social e da preservação das culturas;

Adotar o princípio de que somente com o envolvimento da sociedade, sobretudo das comunidades locais (atuando como parceiros e participes de todo o processo de desenvolvimento das pesquisas), é possível uma política patrimonial que seja durável e sustentável. Para que isso seja real e eficaz, o patrimônio deve ser visto e incorporado

como elemento componente das sociedades e não para alem delas, com funções reconhecidas, como vetor de seu desenvolvimento e do bem estar coletivo. Assim, é indispensável à integração das comunidades presentes na região, a fim de que o trabalho incorpore a maneira como cada grupo social se relaciona com o patrimônio e o que cada grupo observa e reconhece como tal. Para o alcance deste objetivo, as pesquisas aqui retratadas estão, conceitual e metodologicamente, baseadas no cruzamento de duas vertentes teóricas principais: 

Arqueologia das Paisagens Culturais (Environmental Archaeology), no que se refere à prática da pesquisa e do conhecimento científico; e

Arqueologia Publica/Colaborativa, no que se refere ao envolvimento da comunidade. O texto que segue detalha cada uma delas.

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Arqueologia das Paisagens Culturais (Environmental Archaeology)

A conceituação teórica da pesquisa esta apoiada no tratamento de Paisagens Culturais, voltada para a análise dos processos e formas de apropriação do espaço ao longo do tempo. O entendimento dispensado ao que passaremos a chamar de “patrimônio

paisagístico”

necessita

que

recuperemos

alguns

elementos

da

conceituação de cultura e de patrimônio, pois e a luz da confluência entre estes conceitos que se esclarece e sustenta a definição de “paisagem”. Emprega-se, aqui, a conceituação ampla de cultura como “forma de fazer”, expressão múltipla do estar no mundo, ocupar, transformar, valorar, significar, construída cotidianamente pelas pessoas, e em eterna mutação. Como “patrimônio”, dentro da trajetória de construção e transformação do conceito, adotou-se aquilo que e herdado, que e transmitido através do tempo e valorado por cada geração, ainda que essa valoração seja absolutamente dinâmica. Com isso temos a terceira dimensão da questão, a da paisagem. Paisagem e, a priori, um conceito que advém da dimensão cultural da existência. Alguns teóricos tendem a classifica-la como “espaços-marca” ou “espaços-matriz”, buscando encontrar nela características consolidadas, modelares, de espaços “intocados” - portanto “naturais” e outros espaços “apropriados” - portanto “culturais”. Todavia, e a integração entre “natural” e “cultural” que, precisamente, estabelece a abordagem adotada neste projeto, superando em uma visão unificada essa dicotomia que, de uma perspectiva humanística, resulta tão frágil e insustentável. O ato de olhar e, por si, tanto natural (por conta de suas características biológicas, fisiológicas, etc.) quanto cultural, dada a diversidade sensorial permitida pela imensa variabilidade cognitiva promovida pelas culturas. Em suma: nem todos os seres humanos, vivendo num mesmo tempo, em lugares e culturas distintas, ou mesmo ao longo do tempo, veem da mesma forma, atentam para as mesmas coisas, percebem as mesmas nuanças ou, ate mesmo, as mesmas formas e cores. Determinar, então, uma paisagem como “matriz”, por ser supostamente mais “natural”, e outra como “marca”, por ser mais “cultural”, ocultaria o fato de que, novamente, a paisagem como elemento inerente as culturas carrega “valorações” de múltiplas ordens, materiais, simbólicas, etc., e, justamente, a presença desses valores no conjunto de itens que compõe uma cultura que torna alguma coisa um “patrimônio”. Natureza e cultura, assim, não podem ser compreendidas nem tratadas como dimensões independentes, mas como interdependentes e indissociáveis. A “paisagem” enquanto “forma”, ou “objeto”, tem ainda uma segunda esfera de complicações, pelo fato de, embora seja formada e conformada pelo (e no) meio físico, 5


só e apreensível através do filtro cognitivo do qual tratamos acima. Uma fotografia, um quadro, um vídeo de uma paisagem não a e em si, mas somente uma “representação” da mesma, pois, como “ambiente”, ela carrega todas as dimensões sensoriais que as representações captam apenas de forma lacunar e fragmentada. A paisagem e formada pela morfologia do espaço, pelas características topográficas, hidrográficas, etc., mas, também, pelos sons, texturas, fenômenos óticos. Além disso, as paisagens recebem valorações, significações simbólicas na estruturação das relações sociais, econômicas e políticas, incorporam mentalidades, mitologias. As paisagens são “bens” de valor inestimável aos povos que nelas vivem por estarem na base de suas vidas, tocando sempre nas dimensões materiais e simbólicas delas. Portanto, não há paisagem sem um observador. Nessa perspectiva, os estudos buscam contar com o envolvimento da comunidade diretamente relacionada à área de pesquisa, sobretudo no reconhecimento e identificação dos vários elementos constituintes da paisagem, nos quais se incluem componentes do patrimônio cultural imaterial. Para os períodos de tempo mais antigos (estudados pela Arqueologia), as paisagens culturais são inferidas a partir da análise dos remanescentes físicos e locacionais dos vestígios identificados (incluindo os eco fatos), bem como pelo seu padrão de distribuição no espaço. Em seu desenvolvimento conceitual, a ideia de paisagem passa a constituir matéria de análise e interesse das mais diversas áreas do conhecimento como a geografia, antropologia, arquitetura e turismo, dentre outras. Isso acaba por lhe conferir diversas interpretações e graus de importância, tanto em seus aspectos naturais como culturais. Como não podia deixar de ser a Arqueologia, situada na confluência das disciplinas humanas e naturais e, por isso mesmo, dotada de uma vocação intrínseca para a interdisciplinaridade, acabou por se constituir no campo ideal para a convergência de todas estas perspectivas. Considerando que a paisagem não é estática e está sujeita a constantes processos de transformação, sobretudo pela ação do homem, ela pode ser considerada como fonte de conhecimento histórico. Nesse caso, muitas vezes apresenta, como comentado, várias assinaturas antrópicas que constituem, em conjunto ou separadamente, o objeto de estudo da denominada Arqueologia da Paisagem. “A paisagem oferece pistas materiais que permitem perceber seu caráter histórico. São esses ‘traços fosseis’ que conduzem ao entendimento da formação geomorfológica e social da paisagem contemporânea e de suas sucessivas fisionomias anteriores, ao longo do tempo” (MENESES, 2002:30). Nessa diretriz, Criado (1999:6) assinalou que a Arqueologia da Paisagem pode ser vista como uma linha de pesquisas arqueológicas orientadas para “... El estúdio y reconstruccion de lós 6


paisagem arqueológicos o, menor, El estúdio com metodologia arqueológica de lós processo y formas de culturizacion del espacio a lo largo de la historia”. Assim, o meio ambiente e analisado a partir do enfoque ecossistêmico, segundo o qual existe um conjunto de relações mutuas entre os fatores de um meio ambiente e os seres vivos que nele se encontram, caracterizando um conjunto de interações entre os sistemas ambientais e os sistemas sociais e econômicos que delinearam o cenário de implantação do empreendimento em estudo. Desta maneira, a abordagem ecossistêmica encontra relação com a perspectiva holística, pois, ao invés do estudo individualizado de cada componente do sistema, procura entender seus componentes em interação. Em resumo, o entendimento dos processos de ocupação humana na região do empreendimento aqui tratado propicia reconstituições ambientais e paisagísticas a partir da analise das formas de apropriação do meio ambiente físico-biótico em relação ao contexto sociocultural e econômico das comunidades, ao longo do tempo, na busca de uma convergência entre Patrimônio Natural e Patrimônio Cultural.

Arqueologia Pública/ Colaborativa

À medida que a Arqueologia foi se firmando enquanto disciplina (especialmente a partir do século XIX), o estudo e interpretação da historia humana constitui domínio e atribuição de profissionais cientistas, em busca de um “passado objetivo real”. A própria terminologia cada vez mais técnica da Arqueologia, em boa parte adquirida através da conceituação teórica da New Archaeology, já no século XX, perpetua a mistificação da disciplina, e sua pratica pressupõe uma crescente alienação junto ao publico, fazendo crer que pouco há para ser aprendido com a participação da sociedade nas pesquisas. Dos colecionadores de peças exóticas da Antiguidade aos dias atuais, a Arqueologia não foi apenas capaz de acumular um conhecimento respeitável sobre o passado humano; discutiu incansavelmente, também, sua responsabilidade ética sobre esse passado, à medida que apontava novas e mais abrangentes perspectivas de abordar o desenvolvimento das sociedades humanas ao longo do tempo. Observou-se assim, a partir da década de 1980, uma crescente preocupação no cenário internacional com os aspectos públicos da disciplina. Este movimento vem sendo

internacionalmente

denominado

“Arqueologia

Publica”,

voltada

ao

relacionamento entre a pesquisa e o manejo de bens culturais com os grupos sociais interessados, de forma a promover a participação da sociedade na gestão de seu 7


patrimônio arqueológico, histórico e cultural. Os arqueólogos perceberam que era preciso

reconhecer

não

somente

sua

responsabilidade

sobre

os

vestígios

arqueológicos, mas igualmente sobre os discursos acerca da herança histórica e cultural a que estes vestígios se relacionam. Um dos benefícios públicos da Arqueologia esta justamente em contribuir para o fortalecimento dos vínculos existentes entre a comunidade e seu passado, ampliando o interesse da sociedade sobre o patrimônio e criando, paralelamente, a sustentação necessária as medidas de preservação. No Brasil este momento apresenta uma cor especial. Isto se dá especialmente por conta da conjuntura social e política que atravessa, na qualidade de pais em desenvolvimento na era da globalização. A Arqueologia abrem-se oportunidades de ocupar espaços voltados a uma abordagem mais abrangente e pluralista referentes a herança cultural. Essa abordagem demanda, todavia, uma mudança de postura com respeito ao “objeto de estudo” e procedimentos de trabalho. Hoje entendemos não ser mais possível que a Arqueologia continue voltada ao desenvolvimento de uma entidade abstrata chamada “Ciência”, colecionando insaciavelmente novas teorias, novas descobertas, novas abordagens, novas discussões. Assim, o tornem põem da Arqueologia pode ser sintetizado em uma única palavra: sociedade. Tem-se, assim, uma mudança essencial de foco, onde a Arqueologia deixa de ser uma ciência com olhar voltado ao passado para assumir sua responsabilidade na compreensão do presente e na promoção do futuro. Esta perspectiva e definida pela “Arqueologia Colaborativa”, que visa desenvolver ações não mais para a comunidade, uma vez que passa a ser feita com a comunidade. A relação que a Arqueologia estabelece com as diferentes áreas de conhecimento - uma vez que é uma ciência verdadeiramente transdisciplinar, fruto da somatória de disciplinas exatas e humanísticas é mais um dos fatores que faz com que muitas pessoas se sintam próximas a ela. Isto se aplica, por exemplo, ao caso da estabilidade e mudança ambiental: através do conhecimento da sucessão de experiências humanas ocorridas sobre um ecossistema, e possível refletir sobre alternativas de gestão e manejo, trazendo uma visão mais global e tangível ao tema. Hoje, a sociedade tem necessidade de ser competente num mundo multicultural, e a Arqueologia e capaz de proporcionar ferramentas que auxiliem a viver nesta sociedade crescentemente complexa, ensinando as pessoas sobre outras culturas e tempos, fornecendo-lhes ferramentas para melhor compreender a diversidade humana, ao expandir suas visões de mundo. Essa compreensão da diversidade leva a tolerância, que permite a inserção de diversos segmentos da 8


sociedade, tornando todos os indivíduos sujeitos plenos de direitos e deveres: cidadãos. Assim, um dos benefícios públicos da Arqueologia e o mesmo que oferece a historia e a ciência: a educação da cidadania. De fato, não existe um público a considerar, mas vários. Devemos refletir sobre a maneira como nossa sociedade se posiciona com relação ao seu passado: Qual o passado que merece ser resgatado? Quais os mecanismos que a sociedade utiliza para registrar e perpetuar sua própria história? Em oposição as ciências naturais, a ciência social necessita ser, particularmente nestes tempos pós-modernos, pluralista em essência. A admissão de diferenças não põe em cheque a autoridade da disciplina. Ao contrário: o reconhecimento de que as ideias e interpretações são produto de condições históricas especificas amplia o debate e sua contribuição. Se desejarmos obter uma compreensão do passado que abranja a complexidade e diversidade de suas mensagens possíveis, então precisamos reconhecer a existência de um público igualmente diverso, e aprender a lidar com ele. Para assim proceder mostra-se necessário reconhecer e respeitar todos os valores atribuídos à herança arqueológica, incluindo a cientifica. Por essa razão o conteúdo da mensagem a ser transmitida ao público deve estar atrelado à história local, construindo um elo de percepção junto ao público. Isso pode incluir objetos identificados nos locais, sítios ou vestígios mais conhecidos, dados sobre como os grupos humanos do passado viveram naquele mesmo espaço geográfico, entre tantos outros. Por outro lado à mensagem deve também conter dados sobre a importância deste patrimônio, o fato dele ser único e não renovável, e também o esforço e detalhamento da pesquisa cientifica necessária para construir o conhecimento, visando sensibilizar o publico sobre sua valorização e necessidade de preservação. No caso brasileiro, assim como nos países colonizados em geral, onde a sociedade nacional foi formada através de uma ruptura entre as ocupações indígenas e o elemento europeu, mais tarde acrescido pela cultura africana, e frequente a comunidade atual não reconhecer vínculos com o contexto arqueológico, embora tenha interesse pelo seu sentido exótico. Isso se agrava pelo fato de que ate mesmo a construção da História do Brasil tenha sido tradicionalmente feita a partir de sua classe intelectual dominante, resultando em um baixo ou nulo reconhecimento da população em geral como sendo esta a “sua história”. O próprio currículo escolar não inclui uma efetiva história das minorias, apesar de sua participação fundamental na formação e desenvolvimento da sociedade nacional. Considerando esse conjunto de aspectos, mostra-se essencial que a pesquisa arqueológica seja realizada em conjunto com os descendentes vivos da sociedade que 9


criou ou herdou este patrimônio. Assim será possível conduzir os trabalhos a partir de uma perspectiva de “arqueologia democrática”, como define Faulkner (2000), que compreende a realização de trabalhos com base na comunidade, de forma não excludente e não hierárquica, e dedicada a um desenho de pesquisa que pressuponha interação entre os vestígios materiais, a metodologia de trabalho e a interpretação. Trabalhando em conjunto com a comunidade o arqueólogo pode auxiliar na reconstrução de elementos tradicionais que se perderam através do tempo, bem como dar suporte a atividades como turismo, educação e identidade étnica, contribuindo para o manejo sustentável da cultura. Desde a Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento ocorrido no Rio de Janeiro, em 1992, “desenvolvimento sustentável” se tornou palavra chave de um discurso político internacional voltado à qualidade de vida, conservação dos recursos naturais e responsabilidade para gerações futuras. Apesar das discussões terem sido inicialmente voltadas às ciências naturais e analises de crescimento populacional, relaciona-se a uma discussão baseada na definição social, histórica e cultural do problema: a viabilidade de serem mantidas relações socialmente definidas entre a natureza e a comunidade durante longos períodos de tempo. Desta forma, o discurso sobre sustentabilidade e basicamente publico e estreitamente vinculado a problemas como justiça social e regulamentação política. Sustentabilidade ou não sustentabilidade corresponde a uma qualidade dentro de um continuo de condições e processos possíveis. Neste sentido, não se pode considerar a sustentabilidade ambiental e a sustentabilidade social de forma isolada. Ao contrário, o foco deve recair na interação entre elas, buscando a viabilidade de suas relações durante longos períodos de tempo. Por outro lado, considerando a rápida transformação por que as sociedades passam atualmente, a sustentabilidade necessita ser concebida dentro de uma perspectiva dinâmica, compreendendo o grande desafio de uma Ciência Aplicada.

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1.2 Project Design

Para o atingimento dos objetivos científicos, o Programa foi estruturado na intersecção de quatro grandes Matrizes de Fatores Críticos de Sucesso, que permeiam as macro ações envolvidas desde a partida, compondo o “Start Gerd” dinamizador do Project Design (vide Quadro 1), a saber:  Linhas Programáticas Cientificas;  Matrizes de Decisão, aplicadas nas ações previstas para o Programa;  Aspectos de integração com os Programas Socioambientais e Legislação;  Índices de Qualidade, que avaliam o grau de metas cumprido pelo Programa com base no atendimento as recomendações e práticas de instituições nacionais e internacionais. A partir de cada uma das grandes matrizes são traçadas linhas de correspondência na forma de ações de pesquisa estratégica, estabelecendo ligações precisas de uma matriz de fator critico de sucesso a outra e tecendo, assim, uma malha de macro atividades, onde os cruzamentos das linhas constituem os chamados Pontos Focais. Os Pontos Focais, que constituem o núcleo da grade apresentada pelo Quadro 1, correspondem aos problemas científicos de investigação do Programa, ou ainda, a itens específicos estratégicos que devem receber atenção em seu desenvolvimento. A evolução destes pontos ocorre a partir da criação de grupo interdisciplinar de trabalho com foco especifico de ação, o Focus Group, reunindo profissionais das diversas áreas envolvidas pelas Grandes Matrizes de Fatores Críticos de Sucesso. As ações deste grupo são direcionadas para os objetivos específicos do Ponto Focal a ser desenvolvido, efetuando o atendimento direto de cada matriz cuja intersecção originou o Ponto Focal, garantindo, assim, a evolução constante do Project Design em um plano de renovação em sintonia com os Índices de Qualidade. Para as macro-acões deste Programa, as Grandes Matrizes de Fatores Críticos de Sucesso encontram-se dispostas da seguinte forma:

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Quadro 1 – Project Design (Para maiores detalhamentos do Project Design, veja Start Gerd na Plataforma Multimídia TAG E LAB - Sustentabilidade).

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Linha Programática Abrange a conceituação teórico metodológica no tratamento cientifico aos patrimônios envolvidos (patrimônio arqueológico, histórico, cultural e paisagístico) apoiado nas seguintes vertentes: 

Ecologia Histórica;

Arqueologia das Paisagens Culturais (ou Environmental Archaeology)

Arqueologia Pública

Arqueologia Colaborativa

Consiliência

Matrizes de Decisão Compreende um conjunto de diretrizes que auxilia as tomadas de decisão no desenvolvimento das atividades originárias das marcações do Programa, orientando a gestão do projeto rumo à aplicabilidade, funcionalidade e aprimoramento constante. Este campo e formado pela sinergia das seguintes variáveis: 

Planejamento estratégico

Contexto do ambiente histórico e cultural

Condições e logística

Normas específicas que regem as áreas envolvidas

Integração com Programas Socioambientais O estudo e tratamento do patrimônio arqueológico de uma determinada região apresentam uma série de sinergias com aspectos socioambientais, incluindo ações de planejamento e desenvolvimento econômico regional. Este conjunto de fatores, em grande

parte

apresentados

pelo

EIA/RIMA

do

empreendimento

e,

depois,

desenvolvidos ao longo dos diversos Programas que integram o licenciamento ambiental da obra, trazem elementos que permitem contextualizar os patrimônios estudados e ampliar sua compreensão, na medida em que são integrados a quadros ecológico-sociais mais amplos e visam, como meta final, sua inserção em Planos de Gestão que busquem o desenvolvimento sustentável. São aqui, assim, considerados os seguintes elementos: 

Legislação aplicável

Programa de Socioeconomia

Programa de Meio Físico

Programa de Meio Biótico

Planos de Gestão e Sustentabilidade 13


Índices de Qualidade Para avaliação do grau de metas cumpridas pelo Programa, os Índices de qualidade se baseiam no atendimento as recomendações e praticas da UNESCO, IFC (International Finance Corporation), IAIA (International Association for Impact Assesment) e IPHAN. Baseiam-se, ainda, nos diversos documentos e cartas internacionais dos quais o Brasil e signatário. Para que este atendimento seja verificado, as Macro Ações do Programa foram agrupadas nos seguintes Eixos Temáticos: 

Envolvimento da comunidade

Modos de vida

Aplicação e resultados

Gestão do conhecimento

Índices de Resiliência

Pontos Focais (Milestones) Os Pontos Focais se localizam na parte central do Gerd, compreendo justamente os temas científicos de investigação a serem tratados pelo presente Programa. Cada Ponto Focal apresenta relações com as demais abas do Gerd (Linha Programática, Matrizes de Decisão, Integração com Fatores Socioambientais, Índices de Qualidade), uma vez que o desenvolvimento das pesquisas de cada Ponto Focal e dado a partir dos elementos e pontos de relação estabelecidos por cada aba. Assim, compreendem os Pontos Focais deste Programa o conjunto de temas científicos definidos, a saber: 

Prospecção e Resgate Arqueológico;

Levantamento e cadastro de patrimônio material e imaterial;

Envolvimento da comunidade;

Educação Patrimonial;

Divulgação de resultados.

É importante salientar que a definição e ajuste dos Pontos Focais do Programa compreendem processos dinâmicos a serem constantemente ampliados ao longo de sua execução, integrando novas demandas cientificas, sociais e culturais, bem como novas tecnologias e métodos de trabalho.

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CAPÍTULO 2 – CONTEXTO HISTÓRICO REGIONAL

2.1 Por trilhas e rios: O início da ocupação histórica de São Paulo

Trabalhos de Arqueologia Histórica no município de São Paulo começaram a ser realizados com maior frequência a partir do final da década de 1970, com as ações do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) da prefeitura de São Paulo e as unidades que mais tarde comporiam o MAE-USP. Entretanto, as adjacências imediatas de São Paulo, a saber, os distritos longínquos do centro (Jaraguá, Perus, etc.) e cidades fronteiriças (Osasco, Carapicuíba, Barueri, entre outras), só mais recentemente passaram a figurar no panorama arqueológico do Estado (ROBRAHNGONZÁLEZ & ZANETTINI 2002 a), graças às novas leis que regulamentam a parte patrimonial e cultural dos EIA/RIMAs (resolução CONAMA 001/ 1986; portaria IPHAN 230/ 2002). Grosso modo, os municípios-chave de outras áreas de grande significância para a compreensão da ocupação humana do Estado, tais como as cabeças-de-ponte para os vales dos principais rios paulistas da retroterra (Tietê, Pardo Paranapanema, Paraíba do Sul), encontram-se em situação intermediária, alguns sediando programas de pesquisas arqueológicas bastantes consistentes (Jacareí, Mogi das Cruzes, Piraju, etc.) (ROBRAHN-GONZÁLEZ & ZANETTINI, 1999; ANDREATTA ET AL. 1999; MORAIS, 1990) e outros com intervenções ainda pontuais (Itu, Sorocaba, Jundiaí, Mogi-Guaçu, etc.) (ZANETTINI, 1998; ROBRAHN-GONZÁLEZ & ZANETTINI 2003 B; MORAIS, 1995). Entretanto, para os municípios limítrofes entre a região metropolitana de São Paulo e esses municípios-chave, o conhecimento arqueológico vai de demasiado reduzido a nulo. Cidades historicamente importantes, tais como São Roque, Araçariguama, Guararema, Itapecerica da Serra, entre outras, nunca foram alvo de pesquisas arqueológicas. Outras localidades, historicamente menos conhecidas também figuram nesse último quadro (Itapevi, Miracatu, Biritiba-Mirim, Itupeva, etc.). Esses picos e vales na distribuição das pesquisas são prejudiciais para a construção da história embasada no conhecimento arqueológico, pois essas localidades e municípios são os divisores de compartimentos geomorfológicos distintos, os quais apresentam ocupação cultural e socialmente diferenciada, expressada também pelos restos de cultural material (os vestígios arqueológicos). Um 15


dos exemplos da diversidade da cultura material são as diferenças arquitetônicas encontradas nas habitações paulistas coloniais e imperiais (pelo menos até meados do século XIX) (Lemos, 1998), além da variada gama de restos de utensílios cerâmicos, elaborados para as atividades diárias que ocorriam nessas edificações, e que posteriormente foram descartados, sendo comumente encontrados nas lixeiras arqueológicas enterradas nos fundos de quintal (ANDRADE LIMA et al., 1989; ARAÚJO & CARVALHO, 1993; ZANETTINI, 1998; ZANETTINI, 2002). O planalto de Piratininga nos séculos XV e XVI: perspectivas e sugestões a respeito da ocupação tradicional da região de São Paulo (Etno-história). São poucas e esparsas as informações históricas de que se dispõe sobre as comunidades indígenas que habitaram a região do planalto paulista no período anterior e mesmo contemporâneo ao da ocupação européia da “América Portuguesa”. Isso não quer dizer, no entanto, que desconhecemos totalmente qualquer informação nesse sentido; é bom lembrarmos que vários europeus do período quinhentista fizeram anotações sobre os costumes das sociedades indígenas que aqui encontraram, deixando pistas importantes de alguns dos lugares por eles habitados, além de nomes e de certos costumes, principalmente aqueles que mais chocavam a sociedade européia. Foi através desses relatos, bem como de algumas informações esparsas, que a historiografia nacional pode chegar a algumas evidências sobre a presença indígena na região metropolitana, ainda que o tenha feito muito timidamente. São pouco conhecidos, por exemplo, os exatos locais de ocupação dessas comunidades autóctones quando da chegada dos primeiros europeus na região planaltina. Alguns estudiosos, como Pasquale Petrone, dedicaram-se a pensar a questão, tendo alcançado significativos avanços nesse sentido, traçando a origem pré-cabralina para alguns núcleos que marcaram presença na história européia do planalto (PETRONE, 1995:137-156). No caso específico da nossa área de interesse, existem algumas tradições históricas que vinculam o bairro do Ipiranga a uma ocupação de índios Guaianazes que teriam sido posteriormente expulsos com a chegada dos europeus (www.ipiranganews.inf.br/regiao.html). Tais tradições, no entanto, não parecem estar fundamentadas em informações históricas muito precisas e, portanto, não são suficientes para uma identificação positiva desse local como um espaço de habitação indígena, pelo menos por enquanto. O mesmo não ocorre para a presença de trilhas e caminhos indígenas que serviam de ligação entre as diferentes tribos, malocas e até mesmo nações diferentes. No nosso caso, essa é uma informação de alta relevância na medida em que a principal trilha sobre a qual temos informações históricas, o famoso “Caminho do Peabirú”, possui uma íntima relação com as áreas diretamente afetadas pela atual 16


pesquisa. Genericamente o que podemos dizer é que esse chamado “caminho” seria, na verdade, um complexo sistema de trilhas que se interligavam, criando uma via única de comunicação entre a região da “mesopotâmia paraguaia” e o litoral vicentino (GONÇALVES, 1998). É em grande parte devido à existência dessas trilhas e caminhos précabralinos que a maioria da historiografia credita, atualmente, a importância estratégica da Capitania de São Vicente, considerada, já na época de Martim Afonso de Sousa, a “porta para o sertão das novas terras descobertas”. Nesse trecho de ligação entre o planalto paulista e o litoral vicentino, o “Caminho do Peabirú” ficou registrado nos documentos do século XVI e XVII com o nome de “Trilha dos Tupiniquins”, que possuía, segundo o estudo de Daniel Issa Gonçalves, duas variantes. A primeira, saindo da atual Rua do Carmo, descendo a ladeira da Tabatinguera até o Vale do Tamanduateí, seguindo, do outro lado, pela rua da Mooca, Oratório, Vila Ema, Oratório outra vez, e partes da avenida Sapopemba. A segunda, que é a que mais nos interessa, descia pela “...rua da Glória, Lavapés, Independência, sobe o morro onde se localiza hoje um quartel, descendo costeando pela rua do Ouvidor Portugal até chegar às margens do ribeiro do Ipiranga, em frente ao Monumento. A partir daí, desvia para a esquerda, onde cruza a rua Bom Pastor e segue pela rua Benjamim Jafet, atingindo a rua dos Patriotas onde atravessava o Tamanduateí. Daí, um vale situado na direção da rua José Zapi, faz a comunicação deste atalho com o eixo do Oratório...Não podemos afirmar porém, qual das duas saídas da cidade é mais antiga...Pode-se admitir também que ambas eram utilizadas em período pré-cabralino” (GONÇALVES, 1998:69). O fato é que essa região do Ipiranga conheceu um processo de ocupação indígena marcado por uma relação de transitoriedade, na medida em que se tratam de “caminhos”, mas que não perde sua importância na medida em que não apenas se caracteriza como uma forma de expressão da cultura indígena que aqui viveu no período imediatamente anterior à conquista, mas, também, por ter deixado sua marca no espaço urbano que formou a cidade de São Paulo. Nesse sentido, o próprio traçado identificado pelo pesquisador pode ser visto como uma evidência material que revela traços dessa sociedade indígena que, com sua ação moldaram parte da paisagem urbana da metrópole atual. A real função desses caminhos dentro das sociedades indígenas ainda é matéria controversa dentro da historiografia. O autor citado anteriormente argumenta em favor dos movimentos migratórios relacionados principalmente com a questão religiosa da busca permanente pela “Terra sem Mal” (GONÇALVES, 1998:27). Não obstante,

outras

possibilidades

podem

ser

levantadas. 17


Figura 1 - Cruzamento das rotas de acesso ao núcleo histórico da cidade de São Paulo: em vermelho o riacho Ipiranga, em laranja a Imigrantes, em amarelo ao fundo a Estrada de Ferro Santos a Jundiaí (São Paulo Railway) e o curso do Tamanduateí e, em azul, a possível implantação do Caminho do Mar sobre a área atual da banda sul da cidade de São Paulo (região do Ipiranga e Sacomã).

Figura 2 - Detalhe da planta do Caminho do Mar na área do Ipiranga/Sacomã. Acervo MP/USP.

18


Primeiramente, o conceito de tribo, diferentemente do que estamos acostumados a imaginar, perpassa, não por uma simples comunidade isolada e autônoma, mas sim por uma estrutura organizacional maior que “...abrangia um certo número de unidades menores, as ‘aldeias’ ou grupos locais, distanciados no espaço mas unidos entre si por laços de parentesco e pelos interesses comuns que eles pressupunham, nas relações com a natureza, na preservação da integridade tribal e na comunicação com o sagrado...em assuntos relacionados com o deslocamento da tribo de uma região para outra, a circulação das mulheres entre as parentelas, a realização de uma expedição guerreira, o sacrifício de inimigos etc., as ações eram reguladas pela referida teia de interesses comuns” (FERNANDES, 1960:73). Nesse sentido, as comunicações permanentes e constantes entre os diversos grupos seria uma necessidade prática da vida cotidiana e não um evento esporádico restrito. Como bem lembrou o historiador John Monteiro, “..a vida espiritual dos povos tupi-guarani era, igualmente marcada pela eventual presença de profetas ambulantes, chamados caraíbas..Exímios oradores, estes profetas transitavam de aldeia em aldeia, deixando uma mensagem messiânica entre os índios” (MONTEIRO, 1995:25). A guerra foi outra característica da sociedade indígena que colaborou para o desenvolvimento dessas linhas de comunicação, ao fomentar a necessidade de articulações não apenas entre aldeias, mas mesmo inter-tribais. Assim, “Testemunhas oculares relatavam batalhas envolvendo centenas e até milhares de combatentes...” (MONTEIRO, 1995:26), e, muito provavelmente, era por isso que Ulrich Schmidel, cronista alemão do século, afirmava que João Ramalho, português radicado entre os índios, “pode reunir cinco mil índios em um só dia” (MONTEIRO, 1995:34). As trilhas e caminhos seriam imprescindíveis para que tal mobilidade dos homens pudesse ser concretizada em tão pouco tempo. Também a cerimônia de sacrifício “..estendia-se, igualmente, à esfera das relações inter-aldeias". A festa que marcava o fim do cativeiro foi, muitas vezes, um evento que aglutinava aliados e parentes de diversas unidades locais. Segundo Nóbrega, era a matança ‘para a qual se juntam todos os da comarca para ver a festa’. Assim, a guerra, o cativeiro e o sacrifício dos prisioneiros constituíam as bases das relações entre aldeias tupi no Brasil pré-colonial. As batalhas freqüentemente congregavam guerreiros de diversas unidades locais... E, após as vitórias ou derrotas, aliados e parentes reuniam-se nas aldeias anfitriãs...” (MONTEIRO, 1995:28). Benedito Calixto levanta a interessante possibilidade de que os índios planaltinos dirigiam-se com regularidade ao litoral, afim de explorar os recursos marinhos lá disponíveis, especialmente o peixe e o sal (apud: PETRONE, 1995:32). A importância desses mesmos caminhos como vias de circulação e de 19


trocas de produtos ou “presentes” entre as diversas tribos ainda é um mistério e alvo de muitas controvérsias, no entanto, tal hipótese é freqüentemente admitida e uma possibilidade que não podemos deixar de levar em consideração. Todas essas visões remetem a um quadro muito mais dinâmico da sociedade indígena pré-colonial, rompendo com aquele senso-comum tradicional que insiste em interpretar essas comunidades a partir de uma perspectiva limitada, baseada na ideia de pequenas aldeias isoladas e autossuficientes, com pouca, senão nenhuma, articulação exterior ao seu próprio núcleo. Nesse sentido, os caminhos indígenas transformam-se em importantes elementos dentro dessa concepção dinâmica, contribuindo para a superação dos preconceitos (e preconceitos) que por muito tempo dominaram a mente dos historiadores. No mais, os trabalhos recentes a respeito dos primeiros anos de ocupação do planalto paulista (MONTEIRO: 1995, CASTELNAU-L’ESTOILE: 2006) indicam que os primeiros movimentos de colonização se deram aproveitando a rede de ocupações indígenas tradicionais. O complexo de caminhos que ligavam o litoral ao planalto e este a diversas regiões interioranas foi efetivamente apropriado pelos colonos em suas alianças com os chefes tribais locais. Isso explica tanto a possibilidade desses colonos de reunirem tantos indígenas em tão pouco tempo quanto sua surpreendente habilidade em transitar e guerrear com os nativos. Na realidade Sérgio Buarque de Holanda e Florestan Fernandes (HOLANDA: 2001, FERNANDES: 1960) já haviam atentado para o fato de que os primeiros anos da colonização no planalto paulista foram marcados por uma intensa criação cultural, de apropriações e trocas de técnicas e práticas entre tupis e portugueses, processo que desembocou na criação de uma cultura mameluca, plenamente adaptada aos desafios ecológicos do planalto. As técnicas de caminhada, de orientação, de alimentação, de produção de gêneros, de caça, de plantio foram em grande medida apropriadas

desses

grupos

indígenas,

associados

aos

colonos

através

do

cunhadismo, ou seja, da estrutura social que transforma em parente todo aquele que se casar com as mulheres da aldeia. Podendo contrair quantos casamentos conseguisse sustentar os colonos estabeleciam largos laços de parentesco que lhe asseguravam, ás vezes, milhares de guerreiros Portanto, pode-se dizer que a grande maioria dos caminhos estabelecidos pelos europeus nos primeiros séculos de colonização do planalto paulista nada mais era do que alargamentos e melhorias de antigos caminhos de grupos indígenas falantes do Tronco Tupi, empregados para funções diversas, constituídos pelo saber ancestral desses povos nos trânsitos pela região.

20


Figura 3 - Antigos caminhos serra acima. À direita, o traçado aproximado da “Trilha dos Tupiniquins”. Fonte: Petrone, 1995, p.125.

.

21


Não tardaram muito, os conquistadores europeus, a seguir literalmente os passos de seus então “aliados” indígenas, galgando a serra e chegando ao planalto paulista. Os jesuítas primeiro, provavelmente em busca de um contingente maior de almas para evangelizar (PETRONE, 1995:42), fundando o Colégio (1554) na região que mais tarde seria elevada à condição de vila (1560). Os colonos não muito atrás, quando não ao mesmo tempo, talvez atraídos pelas histórias das “serras de prata” (Peru), ou em busca da mão-de-obra indígena e das oportunidades de vastas e novas extensões de terras (PETRONE, 1995:38-40), começaram a se instalar nessa mesma região, dando início ao processo de ocupação do que viria ser a vila de Piratininga e futura cidade de São Paulo. Uma das portas de entrada desses novos contingentes populacionais não foi outra que a nossa já conhecida região do Ipiranga, uma vez que estes indivíduos utilizavam-se da “Trilha dos Tupiniquins”. Como bem observaram Máximo Barro e Roney Bacelli, “É fatal que antes mesmo de ser contemplado com qualquer sesmaria, o local já era palmilhado por viajantes ou tropeiros que usavam o porto de Santos” (1979:27). Acontece que o próprio afluxo decorrente do processo de ocupação do planalto provocou mudanças importantes na conformação dos caminhos. O novo ritmo e novas demandas surgidas a partir da instalação dos processos de exploração e transformação trazidos pelo agente europeu, seja ele laico ou religioso, acarretaram na proliferação de novos caminhos e rotas, além de alterações nos já existentes. Esse processo de reorganização desses espaços de passagem são conseqüências diretas desse novo agente no cenário planaltino, e, a exemplo das trilhas indígenas, são verdadeiros vestígios materiais desses momentos iniciais da vida do Brasil-Colônia. O primeiro desses caminhos foi o do “Padre José” que estaria sendo usado já a partir de 1560 e que ficou conhecido, posteriormente, como “Caminho do Mar”, em substituição ao antigo caminho, fechado por ordem de Mem de Sá nesse mesmo ano (GONÇALVES, 1998:38-39; 41). Também esse caminho, que serviria de base para todas as outras diferentes versões até os dias atuais, teria como área de chegada a região do Ipiranga. Segundo Daniel Issa Gonçalves, seu traçado na capital seria similar àquele da segunda variante da “Trilha dos Tupiniquins”, partindo da Rua da Glória até a Bom Pastor, quando, ao invés de cruzá-la em direção à Benjamim Jafet, seguiria pela Rua Bom Pastor, até se emendar com a Estrada das Lágrimas (GONÇALVES, 1998:69). É possível que seja desse mesmo período o ramal atual da Rua Vergueiro que desemboca próximo à Av. Paulista, e que está diretamente associado às obras de construção do metrô. Ora, como se sabe, a “Estrada do Vergueiro”, construída entre 22


1862-64 (ZANETTINI, 1998:03), pautou-se em grande parte nos traçados do velho “Caminho do Mar”. Esse ramal, atualmente em plena mancha urbana de São Paulo, deveria servir de opção de ligação com a região de Pinheiros, via Ibirapuera (ZANETTINI, Com. Pess., 2004), além de funcionar como um vetor de dispersão do entroncamento maior, para aqueles em busca das casas e fazendas que se espalhavam pela região. Não se pode esquecer que a atual Rua Vergueiro foi, também, principalmente naquele trecho que hoje se encontra mais próximo do bairro da Liberdade até a intersecção com a Av. Domingos de Morais, um importante caminho de ligação entre o centro da vila de São Paulo com Santo Amaro. Caminho de origem seiscentista foi identificado como “Caminho de Ibirapuera” e, posteriormente, “Caminho do carro para Santo Amaro”. Seu trajeto seria aproximadamente o mesmo que hoje é formado pelo “leito da atual Avenida da Liberdade, Rua Vergueiro, Domingos de Morais, até as vertentes dos Córregos da Traição, Vermelho e Pinheirinho” (GUIMARÃES, 1979:25). É importante que se diga que existem várias versões sobre os possíveis trajetos dos “caminhos do mar”, e também sobre a sua nomenclatura. Adotou-se aqui a perspectiva de Gonçalves por entendermos que seu estudo consegue fornecer uma explicação plausível e bem fundamentada, de qualquer forma, podemos dizer com certeza que a região do Ipiranga foi, durante os primeiros 300 anos da colonização, a principal via de acesso e ligação entre o litoral e a cidade de São Paulo.

Figura 4 - Noel Aimée Pissis. Vista tomada do caminho de Santos, 1841. Aquarela sobre papel. Fonte: Moura (Org.), 1998, pp.372-373.

Foi com base nesses caminhos que a sociedade paulista se estruturou desde o princípio da sua presença no planalto. Como bem descreveu John Monteiro, “...freqüentes expedições para o interior alimentaram uma crescente base de mão-deobra indígena no planalto paulista, que, por sua vez, possibilitou a produção e o 23


transporte de excedentes agrícolas, articulando – ainda que de forma modesta – a região a outras partes da colônia portuguesa e mesmo ao circuito mercantil do Atlântico Meridional” (1995:57). Eram os “caminhos” que propiciavam o acesso ao tão valioso braço indígena (negro da terra), eram eles também, que, ligando fazendas, sítios e cidade, garantiam a distribuição dessa mão-de- obra, para que pudesse produzir uma série de gêneros de primeira necessidade que, mais uma vez através deles (caminhos), eram conduzidos serra abaixo para atender as demandas das vilas do mar e da América portuguesa cada vez mais populosa. Não apenas espaços geográficos, esses caminhos uniam todos os agentes ativos que compunham a sociedade paulista colonial: europeus, índios, negros, açúcar, gado, trigo, ouro, etc. Nas palavras do Prof. José de Souza Martins: “É impossível estudar a história da ocupação do Planalto de Piratininga, nesse período que vai até o século XVIII pelo menos, seguramente até o século XIX, se a gente não conhece a história dos caminhos que houve na região, em particular o mais importante dos caminhos que houve na região, que foi o Caminho do Mar...” (II CONGRESSO..., 2000:140). Não é de se estranhar, portanto, que a identidade paulista forjada pela historiografia tenha se aproveitado, justamente, das figuras do “Bandeirante” e do “Tropeiro”. A

proximidade

desses

caminhos

de

ligação

provocou,

quase

que

imediatamente, um forte interesse pelas terras que o margeavam ou que a ele estivessem próximas. Por isso, não é de se estranhar que o Ipiranga seja considerado um dos bairros mais antigos da cidade (PONCIANO, 2002:97). A primeira referência documental que se conhece sobre o Ipiranga, diz respeito a uma carta do Padre Anchieta onde ele comenta a necessidade de rezar uma missa em uma recém-acabada igreja erguida na propriedade de Domingos Luiz (ou Luz), conhecido como “o carvoeiro”; posteriormente esse mesmo personagem histórico teria se mudado pra o atual bairro da Luz, onde teria fundado uma segunda igreja (GONÇALVES, 1998:49, PONCIANO, 2002:98, MONTEIRO, 1995:244, nota n.08). Segundo o historiador John Monteiro, a partir de 1583 a Câmara de São Paulo havia dado início à distribuição de terras na região do Ipiranga, cujos terrenos mediam cerca de 12.200 m² cada, para moradia, manutenção de escravaria e a abertura de roças. Ainda segundo o autor, um dos primeiros se beneficiar desse processo foi Antonio de Proença, que vinha em busca de terras para a criação de gado (MONTEIRO, 1995:101-102). A ata de 23 de maio de 1583 não deixa dúvidas quanto a essa dupla ocupação, e fornece os nomes de pelo menos outros sete proprietários: “logo pelos ditos hofisiais foi hordenado que ho caminho de hipiramgua que He quaminho do mar hos que la tem 24


fazemdas da banda do hipiramgua // comvem a saber antô. de proença bertalomeu fiz e belchior da costa domingos lois fr.co teixeira domingos glz guaspar nunes e fr.co de brito he tera quarego de os chamar e dar lhe ho dia para se fazer o dito caminho” (apud: GONÇALVES, 1998:49). Trata-se de uma referência ao então costume de se responsabilizar os moradores locais pela manutenção dos caminhos que davam acesso aos bairros rurais (MONTEIRO, 1995:122). Ainda que tenhamos registrado a prática de uma produção agrícola significativa, a atividade que parece ter impresso melhor a sua marca na região foi a pecuária. Assim, no século XVII, um dos filhos de António Proença, Francisco Proença, detinha cerca de 115 cabeças de gado; Lourenço Castanho, seu parente, a metade aproximada disso, e um certo Pero Nunes, outras 90 (BARRO e BACELLI, 1979:26). Essa relação foi tão sintomática que, ainda na virada do século XIX para o XX, fazia-se presente através dos matadouros, curtumes e “tripeiros” estabelecidos na Vila Mariana e Vila Clementino (MASAROLO, 1979:42-43; 49), e pela nominação da Rua Lucas Obes (Ipiranga) como “rua da boiada” (BARRO e BACELLI, 1979:81). Todos esses exemplos são reflexos dessa tradição econômica que se estabeleceu na região do Ipiranga ainda no século XVI. Um documento do século XVIII nos comprova que a área em questão já se encontrava ocupada por gerações, inclusive com o desenvolvimento de atividades de exploração agrícola, e que sua posse gerava uma certa especulação. No texto, de 1782, Lázaro Rodrigues Piques, juiz do ofício de ferreiro, possuía uma extensa propriedade rural que “...comprou no termo da mesma paragem chamada Piranga, de Antonio Ferraz, do Revdo. José da Silva e do Tenente Ignácio de Lara, cujas terras houveram por títulos de Compra de seus antepassados que a reduzirão a Cultura...” (SANT’ANNA, 1944:198). Esse mesmo século XVIII, também trouxe consigo uma nova postura da metrópole portuguesa que se dedicou a estender os processos de exploração de suas possessões colônias, procurando imprimir um ritmo mais dinâmico às atividades produtivas, aliado a um rigoroso sistema de fiscalização. Com isso, novas culturas ganharam força, como a da cana-de-açúcar, e procedeu-se a uma reestruturação das antigas estruturas viárias de escoamento da produção, cujo maior expoente foi, possivelmente, a “Calçada do Lorena” (1788-1797) (ZANETTINI, 1998:02, PETRONE, 1995:209). Como principal área de ligação com os “caminhos do mar”, a região do Ipiranga, e entorno, sentiu o impacto dessa nova postura que, além de acarretar em um importante aumento do fluxo de pessoas e produtos, provocou o surgimento de novos focos de ocupação e novos “equipamentos arquitetônicos”.

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Figura 5 - Imagem da borda do planalto de Piratininga com a implantação dos quatro caminhos principais de acesso ao núcleo da cidade de São Paulo: em azul, o Caminho do Mar; por debaixo dele a rodovia Imigrantes; em laranja, a via Anchieta; e, em amarelo, a São Paulo Railway (Santos Jundiaí).

Um desses “equipamentos” foi, exatamente, um “rancho reúno”, localizado à beira do “Caminho do Mar”, projetado para servir de abrigo para tropeiros, viajantes e mercadorias. Segundo Nestor Goulart Reis, esses abrigos teriam sido erguidos por Antônio Manuel de Mello Castro e Mendonça (1797-1802), sucessor de Bernardo José de Lorena, e fariam parte do projeto da “Calçada” (1995:21). Não parece haver dúvidas quanto à existência desse pouso, que, provavelmente foi aquele mesmo descrito por John Mawe, mineralogista inglês, em 1807: “Em sua vizinhança imediata (São Paulo), o rio (Tamanduateí?) corre paralelo à estrada. à nossa esquerda, vimos grande estalagem ou hospedaria onde são descarregadas as mulas e onde os viajantes... passam a noite” (apud: MORAES, 1979 B:110). A planta desses pontos de apoio ao viajante, que sobreviveu até os nossos 26


dias, nos revela uma estrutura simples composta basicamente por dois grandes cômodos, um, cercado por paredes e com a “presença” de seteiras, protegia os homens das intempéries, frio, animais e de um eventual “inimigo”, o outro, protegido apenas pelo telhado e uma mureta baixa, destinava-se ao abrigo das cargas (MORAES, 1979 B:106).

Figura 6 - Matadouro de Vila Mariana, 1904; no primeiro plano, carros da Light adaptados para o transporte de carne verde. Fonte: A CIDADE da Light..., 1990, p.165.

Esse rancho, assim como toda a região do bairro do Ipiranga, está relacionado com um importante episódio da história nacional que foi a declaração da independência, em 1822. Segundo a historiografia tradicional, vindo de Santos através do nosso já conhecido “Caminho do Mar”, e aqui temos comprovado mais uma vez a função do Ipiranga como espaço de passagem e articulação com a região do litoral, D. Pedro I teria buscado o referido “pouso” quando foi alcançado pelas notícias de Portugal, que, por sua vez, o levaram a declarar a Independência do Brasil (MORAES, 1979 B).

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Figura 7 - Planta dos “Ranchos Reúnos”, edificados ao longo do Caminho do Mar. Fonte: MORAES, 1979.

O

atual

Parque

da

Independência,

tombado

pelo

CONDEPHAAT

(PATRIMÔNIO...1998:208), preserva o espaço geográfico onde esse evento ocorreu, e constitui-se em uma referência obrigatória para este trabalho. É imprescindível lembrarmos que não sabemos ao certo se esse “rancho reúno” estaria propriamente naquele mesmo local onde D. Pedro I se manifestou no sentido de declarar a independência do Brasil. O padre Belchior Pinheiro de Oliveira, conselheiro e confidente de D. Pedro, além de testemunha ocular do evento, afirmou em sua versão sobre o episódio do “grito”: “O Tenente Canto e Melo cavalgou em direção a uma venda, onde se achavam quase todos os dragões da guarda e com ela veio ao encontro do Príncipe, dando vivas ao Brasil...” (apud: BARRO e BACELLI, 1979:55). Se esse era o mesmo “rancho reúno” mencionado anteriormente, não sabemos. A chamada “Casa do Grito”, que faz parte desse complexo do Parque da Independência e integra o acervo de Casas Históricas sob a responsabilidade do Departamento do Patrimônio Histórico, foi, durante muito tempo, associada ao “rancho reúno” do Ipiranga e à “venda” mencionada pelo padre Belchior (MORAES, 1979). Apesar disso, a postura mais aceita atualmente é de que essa seja uma edificação posterior, do final e não do início século XIX, e cuja primeira menção documental seria de 1884 (www.prodam.sp.gov.br/dph/museus). 28


Figura 8 - Quadro de Pedro Américo retratando o grito de independência realizado por D. Pedro às margens do riacho Ipiranga. Ao fundo, à direita, pode-se observar uma edificação, associada ao “rancho reúno”, erguido por Antonio Manuel de Mello Castro e Mendonça entre 1797-1802, e posteriormente identificada, por uma parcela da historiografia, com a “Casa do Grito”, hoje preservada no Parque da Independência. Fonte: www.estadao.com.br.

Essa edificação foi alvo de uma pesquisa arqueológica desenvolvida como parte do Programa de Arqueologia Histórica do Município de São Paulo, em 1986, que revelou, entre outras coisas, que “Pela disposição das evidências de estacas, a área de circulação interna no Piso 1 e o encontro da ‘porta’ na parede leste sugerem que o cômodo 06 teria sido uma ‘venda’ provavelmente de beira de estrada, junto ao chamado ‘Caminho do Mar’...” (DEPARTAMENTO..., 1986:161). Assim, se não temos exatamente o “rancho reúno”, ou mesmo a “venda” que serviu de ponto de apoio para D. Pedro I, temos uma estrutura vinculada aos processos produtivos e aos “espaços de passagem” que tanto marcaram o processo de ocupação do Planalto paulista, o que lhe garante uma importância significativa enquanto evidência material dessa parcela da história. Assim, de um modo geral, sobre essa ocupação da região que engloba o atual bairro do Ipiranga durante os primeiros trezentos anos de conquista Planaltina, é que ela se estruturou dentro dos moldes anteriormente descritos, ou seja, como um subúrbio rural da vila de São Paulo de Piratininga, onde um número cada vez maior de sítios e fazendas se organizava no sentido de produzir gêneros de primeira necessidade e criação de gado para o abastecimento dos mercados litorâneos e para exportação para as demais capitanias. O termo “subúrbio” aqui utilizado, não deve ser

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visto ou entendido, no entanto, a partir de uma perspectiva limitante ou depreciativa, como poderia acontecer. É importante destacar que era no “subúrbio” rural que se produzia a riqueza desses tempos coloniais, era nele que se agitavam, em plena atividade, as estruturas motrizes dessa sociedade paulista do planalto, ratificada e complementada, é verdade, na materialidade física da “Vila”. Longe de se constituir em um ambiente de “isolamento” e de “pobreza”, o “subúrbio” pulsava em ritmos que, por muitas vezes, chegaram a subjugar a dinâmica do então centro administrativo (MARTINS, 1992:0910). Além disso, como vimos, a região foi uma dos mais importantes “espaços de passagem” do período colonial, tendo exercido um papel importantíssimo na conformação da sociedade paulista e colonial.

Figura 9 - Fonte: www.prodam.sp.gov.br/dph/museus.

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2.2 O café e a São Paulo railway: um vetor de ocupação da cidade

A partir de a segunda metade do século XIX, quando a cultura cafeeira definitivamente expandiu-se pelo planalto, dinamizando ainda mais a economia paulista, tornou-se evidente a precariedade das vias de acesso que ligavam a Capital da Província e o litoral. Vale lembrar que a implantação da cultura cafeeira no Brasil remonta a meados do século XVIII, quando as primeiras tentativas em se cultivar o café deram-se nas fazendas do Rio de Janeiro. Situadas num primeiro momento nesta Província, as plantações de café paulatinamente atingiram Minas Gerais e, sobretudo, São Paulo, que a princípio concentrou suas lavouras na região norte do vale do Paraíba, de forma similar ao modelo posto em prática pelos empreendedores do Rio de Janeiro. Nas décadas de 1820 e 1830 as lavouras de café agrupavam-se majoritariamente nas terras vale-paraibanas (especialmente em Areias, Guaratinguetá e Lorena), ao passo que por volta da segunda metade do século XIX as mesmas se espalharam pelo Oeste Paulista, já se destacando nesse momento como a principal atividade econômica da região e como uma das pautas de exportação fundamentais do Império (LUNA; KLEIN, 2006: 83-84). A expansão da lavoura cafeeira pelo planalto paulista protagonizou alterações significativas na ocupação e acesso às terras do chamado Oeste Paulista. Se até então a exploração das terras ainda era de certo modo rarefeita, a inserção do café provocou uma reordenação na composição e valorização fundiárias, na medida em que a implementação de sua lavoura implicava numa redefinição do aproveitamento do solo e da topografia da região (MILLIET, 1982). O alastramento das lavouras de café – desde o vale do Paraíba, passando por Campinas, até e alcançar o Oeste Paulista –, ao trazer consigo uma alta potencialidade econômica, impôs à Província de São Paulo uma alteração sensível em sua infraestrutura viária, notadamente entre as áreas produtoras e o porto de Santos. Se por um lado a estrada de ferro surgia como a maior inovação tecnológica no ramo dos meios de transporte terrestres do século XIX, por outro, pensando-se na expansão vertiginosa lavoura cafeeira, a ferrovia mostrava-se como a solução viária mais rápida e eficiente. Ademais, os lucros auferidos com a valorização do café no mercado internacional viabilizavam a importação do maquinário necessário para a implantação das ferrovias.

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Conforme observou Odilon Nogueira de Mattos (MATTOS, 1985: 54), a ferrovia foi alçada, em meados do século XIX, à condição de futuro baluarte do progresso econômico paulista advindo da cafeicultura: “A necessidade da construção da grande artéria era reconhecida por todos quantos se interessavam pelo progresso de São Paulo. Em 1855, o Conselheiro José Antônio Saraiva, presidente da província, calculava em dois milhões e meio de arrobas a produção do café, açúcar e outros gêneros que deviam escoar pela estrada projetada e em um milhão de arrobas a quantidade de gêneros importados; portanto, três milhões e quinhentas mil arrobas transportáveis pela via férrea. Isto, sem calcular o transporte de passageiros, cujo número seria avultado, pois passavam anualmente pela barreira do Cubatão cerca de quarenta mil cavaleiros”. Às formulações de ordem econômica, somavam-se fatores ideológicos mais amplos que vislumbravam com a implantação das ferrovias um sustentáculo do processo de civilização da sociedade brasileira. Tal substrato ideológico tinha como ponto de partida a ideia da formação histórica do Brasil como um processo ininterrupto de expansão territorial vinculado, em grande medida, à iniciativa do Estado. A criação do Instituto Histórico e Geográfico (1837) exemplifica esse tipo de intenção, ao se constituir numa agência suplantada por aparatos ideológicos que tinha como função formular políticas e discursos legitimadores da construção da nação, com base na integridade territorial e no processo civilizatório do Brasil. Apesar de ter possuído diversas fases, esse modelo nunca abandonou a ideia de civilizar o país, tendo como alvos o sertão, os índios, os posseiros, enfim, todos aqueles indivíduos ou espaços não inseridos na lógica da civilização. A despeito de todo aparato discursivo em favor da implementação das ferrovias, ainda havia, até meados XIX, inúmeras dificuldades a serem vencidas para a implementação definitiva das estradas de ferro. Em primeiro lugar, a legislação brasileira concernente ao assunto – calcada, principalmente, na lei Feijó, de 1835 – não detinha a precisão necessária para o trato de empreendimentos de tamanha envergadura. Os conhecidos insucessos de Thomas Cockrane que, entre 1840 e 1852, tentou repetidamente implantar uma ferrovia que ligasse a cidade do Rio de Janeiro ao vale do Paraíba, evidenciaram a necessidade de políticas (fiscal, de contrato, etc.) mais adequadas, e que garantissem, sobretudo, a concessão de garantia de juros (MATTOS, 1985: 49). Nesse sentido, a lei nº 641, de 26 de junho de 1852, iniciou uma nova etapa na história da ferrovia no Brasil. Baseada em princípios mais práticos que a legislação precedente, essa lei garantia concessões mais favoráveis ao empreendedor, como o privilégio sobre a zona de influência direta da ferrovia e a garantia de juros. Dois anos 32


mais tarde, tendo como concessionário Irineu Evangelista de Souza, o barão de Mauá, inaugurou-se o primeiro trecho ferroviário do país. Com aproximadamente quatorze quilômetros, o trecho ligava a capital do Império à estação de Fragoso, antes mesmo de atingir o pé da Serra da Estrela. Pouco a pouco, outras estradas de ferro foram surgindo pelo país, tais como a do Recife a S. Francisco (1858) e da Bahia ao S. Francisco (1863). Situada nesse contexto, a ferrovia que viria a ligar Santos a Jundiaí surgiu no papel em 1856, quando se concedeu ao Marquês de Monte Alegre, ao Conselheiro José Antônio Pimenta Bueno e ao Barão de Mauá o direito de criação de uma sociedade direcionada para a construção de uma ferrovia que interligasse Santos, São Paulo e Jundiaí. Os negociantes ingleses ofereceram aos concessionários diversas vantagens, tais como: isenção de direitos para a importação de maquinário; privilégios de zona na área de cinco léguas para cada banda da ferrovia; garantia de juros de 7% sobre o capital aplicado; direito de explorar as minas existentes na zona de privilégio; desapropriar os terrenos nos quais passaria a ferrovia; e direito de obtenção de terras devolutas nos termos mais favoráveis permitidos por lei. Das negociações entre empresários brasileiros e ingleses, nasceu a São Paulo Railway, empresa com sede em Londres que comandaria a implementação da estrada ferro que ligaria o litoral santista a Jundiaí. Ainda no século XIX, a São Paulo Railway passou a ser comumente conhecida como Santos-Jundiaí. A construção da ferrovia se iniciou em novembro de 1860, já apresentando algumas dificuldades de ordem técnica. As barreiras formadas pela escarpa do planalto, com uma diferença de nível de oitocentos metros, só foram atravessadas graças à implantação do sistema de planos inclinados e de diversos túneis e viadutos. Ainda sim, ao longo da década de 1860, outros problemas relativos à construção da estrada afloraram com frequência. Segundo o fiscal Jesuíno Marcondes de Oliveira Sá (SÀ, 1865: 55-56), alguns trechos da obra foram feitos em condições precárias, comprometendo assim a eficácia da ferrovia como um todo: “[em Santos] é insuficiente o armazém de mercadorias. A Estação de Cubatão, construída de pau a pique, não pode ser considerada definitiva. A de São Bernardo, cujo edifício foi mal feito, não pode ser considerada senão como provisória.” A despeito de toda sorte de problemas técnicos referentes à construção da ferrovia, esta foi implantada com relativa rapidez. O primeiro plano inclinado foi inaugurado em 1864, e, dois anos mais tarde, a linha já atingia a capital paulista. A ferrovia, inaugurada definitivamente em 1867, foi dividida em três seções que, ao todo, compunham 139 quilômetros de extensão: de Santos até a raiz da Serra (com 21 km e três pontes grandes); do pé da Serra até São Paulo (com 55,6 km, um viaduto, uma 33


ponte e quatro planos inclinados); e da capital paulista até Jundiaí (com 62, 5 km, duas pontes e um túnel). Constituindo o primeiro trecho ferroviário da Província de São Paulo, a São Paulo Railway desempenhou por mais de meio século a função de “funil” da produção do planalto paulista, principalmente após o surgimento de outras ferrovias em terras planatinas, tais como a Ituana, Mogiana, Paulista e Sorocabana. Assim, com a demanda por transportes mais rápidos da economia cafeeira, a cidade de São Paulo passou a ser cruzada por três linhas férreas: a Santos-Jundiaí, a Sorocabana e a São Paulo-Rio de Janeiro. Projetada para servir como escoradora da produção cafeeira do planalto paulista para o porto de Santos, a Santos-Jundiaí ainda promoveu, juntamente com as demais ferrovias implementadas em fins do século XIX e início do XX, alterações significativas no processo de ocupação e desenvolvimento socioeconômico e cultural das áreas situadas fora do eixo central da cidade, mas não tão afastadas dele. Nesse sentido, a despeito de a expansão da cafeicultura ter sido a mola propulsora da criação das ferrovias paulistas, sua implementação surtiu, todavia, efeitos diversos e desvinculados do universo econômico cafeeiro. Demandas atreladas à própria estrutura ferroviária – tais como mão de obra para a construção civil, o comércio de matérias de construção para das linhas de trem (carvão, lubrificantes, maquinário, etc.) – tornaram-se essenciais para a manutenção desses empreendimentos. Conseqüentemente, os setores diretamente empregados pelas empresas ferroviárias acabaram por configurar uma das principais categorias de trabalhadores urbanos assalariados, que necessitavam de uma constante oferta de alimentação, vestuário, mobiliário e moradia. Desse modo, pode se dizer que as ferrovias foram responsáveis, direta ou indiretamente, pelo estímulo à inúmeras atividades humanas de feição urbana. Antes mesmo do término de todo o traçado da ferrovia, diversas indústrias foram implantadas nas suas proximidades, tanto para escoar suas respectivas produções como para receber equipamentos específicos para a atividade fabril. Ao longo da ferrovia foram estabelecidos, além dos armazéns e outras estruturas ligadas diretamente ao transporte ferroviário, fábricas e bairros de trabalhadores, configurando assim um eixo fabril entre a Serra do Mar e a cidade de São Paulo. Inicialmente acompanhado o percurso da estrada de ferro, as áreas sul e leste do maciço paulistano receberam, a partir do último quartel do século XIX, inúmeros contingentes populacionais, de modo que só a partir daí localidades como Ipiranga, Cambuci, Mooca, Brás, Pari, Luz, Bom Retiro, Barra Funda, Água Branca e Lapa passaram a sofrer um processo de ocupação mais sistemático, mediante a instalação de fábricas e 34


habitação para seus empregados. Vale notar as cidades de São Caetano do Sul, Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, formadoras do futuro ABC paulista e que também se desenvolveram no entorno da ferrovia (MONBEIG, 1978). Fundada em fins do século XIX, em meio ao primeiro surto industrial eclodido na cidade de São Paulo, a Vila Prudente constituiu um dos principais bairros de origem fabril e operária da capital paulista. Juntamente com Brás, Mooca, Barra Funda, Lapa, dentre outros bairros paulistanos, a Vila Prudente surgiu num momento crucial do processo de inserção do Brasil no capitalismo mundial, isto é, numa época em que a agro exportação, encabeçada pela cafeicultura, ainda compunha a base da economia nacional, as iniciativas industriais deixaram de ser empreendimentos incipientes, dispersos e de curta duração – tal como ocorrera em meados do século XIX – para imporem, gradualmente, um novo panorama à sociedade brasileira, notadamente aos antigos centros urbanos do Império e suas adjacências. A cidade de São Paulo foi pioneira nesse processo que, mesmo com suas contradições, amalgamou os interesses agroexportadores e industriais, uma vez que a necessidade de incorporar o Brasil na nova dinâmica econômica internacional requeria, entre outras coisas, a implantação de uma nova infraestrutura para a nação, seja de meios de transporte, de relações de trabalho seja de uso e ocupação do espaço. Nesse sentido, áreas até então não povoadas ou pouco exploradas, como as que comporiam a futura Vila Prudente (onde as pesquisas na Linha 02/Verde do Metrô foram realizadas), passaram a ser ocupadas de diversas formas e para inúmeros fins, servindo tanto aos interesses dos grandes cafeicultores quanto daqueles setores vinculados às primeiras iniciativas industriais. No caso de São Paulo, a criação da São Paulo Railway permite entrever a pluralidade de objetivos, mas, também, de usos em torno desse empreendimento que alterou substancialmente a economia paulista e, simultaneamente, as formas de ocupação da cidade, cooperando assim para a fundação dos chamados “bairros operários”, como é o caso da própria Vila Prudente.

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CAPÍTULO 3 - PESQUISAS NA LINHA 02/VERDE – LOTE 8

A Linha 02/Verde do Metropolitano de São Paulo, em seu Lote 8, está localizada na Zona Leste da cidade de São Paulo, mais precisamente, no bairro da Vila Prudente. As obras neste Lote compreenderam uma estação (estação Vila Prudente), uma área de acesso (Acesso Sul), e o Poço Cavour, sendo em todos eles realizadas prospecções preventivas, sendo que apenas na área da estação foi identificada a presença de um patrimônio histórico/cultural positivo, que passou então a ser objeto de pesquisas sistemáticas, aqui apresentadas.

Figura 10 - Localização regional da Linha 02/Verde – Lote 8.

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3.1 O Contexto Histórico da Vila Prudente

A industrialização em seus primórdios Inserido no macro contexto histórico regional apresentado no Capítulo anterior, o texto que se segue traz a história específica do bairro paulista abrangidos pela obra, a saber, Vila Prudente. A história do distrito e do bairro de Vila Prudente remonta ao século XVI. Inicialmente era parte de uma sesmaria concedida a João Ramalho e Antonio Macedo. Os terrenos da sesmaria foram transferidos aos herdeiros de João Ramalho e, posteriormente, foram adquiridos por outros proprietários por compra ou herança. (HONÓRIO, 2010, p.4) Por volta da década de 1870 a economia paulista experimentou um desenvolvimento com proporções nunca antes atingidas. O café, em sua expansão para o oeste, transpôs Campinas e alcançou Ribeirão Preto e Jaú. O algodão se alastrou por grandes extensões de terra de Sorocaba, Itu, Tatuí. A cana-de-açúcar, vedete de fins do século XVIII até a primeira metade do século XIX, perdeu espaço e importância econômica ante o café, mas ainda sim continuou sendo uma das principais pautas de exportação de São Paulo. Já a capital paulista, por sua vez, começou a engendrar as primeiras tentativas industriais nas proximidades da região central. Tal efervescência econômica trouxe consigo uma redefinição na própria estrutura dos meios de transportes de São Paulo. Em 1867, a São Paulo Railway já ligava Santo à Jundiaí; a Companhia Paulista, inaugurada em 1872, comunicava Jundiaí a Campinas; no mesmo ano, a Mogiana passou a ligar São Paulo ao nordeste paulista; a Companhia Ituana, implementada um ano depois, ligou por meio de trilhos Jundiaí e Itu; e a Sorocabana, entrando em funcionamento em 1875, articulou a cidade de São Paulo à região de Sorocaba e ao antigo caminho para o Sul (PINTO, 1903). Como consequência dessa nova articulação entre a capital e os demais territórios do planalto, São Paulo também aumentou seu intercâmbio com outras regiões do país e com o exterior. No quinquênio de 1893 a 1897, as importações paulistas passaram a representar mais de 17% do total importado pelo Brasil, ao passo que sua exportação excedeu a casa dos 33,6% do todo exportado (CARONE, 2001). Ainda que o café tenha permanecido como base da economia paulista até por volta da década de 1930 – período no qual o segmento começou a sofrer sucessivas 37


oscilações no mercado – a cidade de São Paulo, na condição de centro dessa estrutura econômico, começou a dar mostras já em fins do século XIX e início do XX da necessidade de se implantarem alternativas produtivas, notadamente aquelas associadas à indústria. Longe de constituírem pólos de interesses opostos, fazendeiros de café e industriais passaram a compor um grupo que, embora fosse heterogêneo, compartilhava de interesses comuns, como, por exemplo, a busca por inserir cada vez mais a economia do país na lógica do capitalismo mundial. Aliás, é no próprio movimento de expansão e retração da cultura cafeeira em território paulista – onde surgem figuras complexas e multifacetadas, como os irmãos Prado, que simultaneamente representavam industriais e fazendeiros – que se encontram as origens da concentração industrial em São Paulo da terceira década do século (CANO, 1977). Com relação à consolidação da cidade de São Paulo como o centro dessa industrialização ainda incipiente, assinala Jose de Souza Martins (MARTINS, 1996: 109): “Para tratar dos negócios financeiros e comerciais, para administrar as empresas em que aplicavam seus capitais, os chefes do movimento pioneiro eram obrigados há residir mais tempo na cidade, junto das repartições públicas e particulares, em contacto com os organismos políticos (...). Assim, muitos fazendeiros mudaram-se para a cidade de São Paulo, que então oferecia uma cultura urbana mais propícia ao desenvolvimento capitalista do que a vida agrária, patriarcal e estreita da fazenda”. Assim, por volta de 1870, havia na cidade de São Paulo uma pequena produção industrial, que era relacionada com a fabricação de chapéus, tecidos, cerveja e com o beneficiamento de cereais. Ainda havia, nessa época, uma estreita relação entre a produção fabril urbana com as demandas oriundas das áreas rurais. No bairro do Brás, por exemplo, havia indústrias familiares direciona das para a produção de seleiros, cangallhas, arreios, estribos e caçambas (TORRES, 1985). Outro efeito desse processo, entre o final do século XIX e primeiras décadas do século XX, foi à paulatina transformação da organização urbana da cidade de São Paulo, a qual acentuou sua segmentação, sua especialização espacial. Ou seja, o processo que dá origem aos bairros operários nas proximidades das áreas fabris, sobretudo à margem da ferrovia São Paulo Railway, também responde pela criação da Avenida Paulista com seus casarões pertencentes á elite econômica, já não do estado, mas do país. O centro da cidade, a área do triângulo histórico, ao mesmo tempo em que vê antigos prédios – do século XVIII e XIX – sendo demolidos para a construção de edifícios comerciais esvazia seu interior de moradores, consolidando áreas de cortiços e de sub-moradias diversas nas franjas do terreno, nas áreas da baixada do Glicério e Liberdade. De certo modo é nesse momento que se consolida 38


não o desenho do centro velho da cidade de São Paulo, mas a maioria das características de ocupação do mesmo, as quais ainda persistem. Um pouco mais tarde, adentrando o Brasil no período republicano, a cidade de São Paulo já apresentava algumas iniciativas industriais que, mesmo não configurando o dinamismo fabril do período posterior à Primeira Guerra, constituíam uma estrutura ainda elementar subordinada à dinâmica econômica regional, em muitos casos pautados nas necessidades do próprio núcleo urbano paulista. Destacavam-se as fábricas de algodão (de Anhaia & Cia. e Diogo de Barros), ferro, fósforos, chapéus, móveis e alimentos (geralmente de produtos suínos, como banha de porco e lingüiças), assim como manufaturas mais tradicionais, tais como as olarias, que se proliferaram em decorrência da expansão urbana e da proliferação das edificações. Como consequência do incremento do parque industrial paulista, bairros como o Ipiranga e a Mooca apresentaram uma das maiores taxas de crescimento da cidade, de modo que áreas desocupadas pertencentes a esses bairros começaram a ser povoadas com maior intensidade e a formar núcleos independentes, como foi o caso da Vila Prudente. Até meados do século XIX, as terras que atualmente compõem a Vila Prudente eram conhecidas como Campo Grande, de modo que seu desmembramento se deu apenas a partir de 1876, com a morte de Antonio Joaquim Pedroso, proprietário de toda a área. A venda de pequenas glebas iniciou um paulatino processo de ocupação da região, criando pequenas aglomerações populacionais, tal como a Quinta das Paineiras (RONCO FILHO, 1989). Fundada na década de 1890 pelos imigrantes italianos Emygdio, Pamphilio e Bernardino Falchi, que, financiados por Serafim Corso, compraram terras de Martinha Maria, viúva de Antonio Joaquim Pedroso e proprietária de vastos terrenos entre a Mooca e o Ipiranga, a Vila Prudente pode ser considerada como um bairro que surgiu na esteira do primeiro movimento industrial de São Paulo, um pouco após a sedimentação de bairros como o Brás, Mooca e Barra Funda, mas ainda nesse mesmo contexto. Ao aportar em Pelotas, no Rio Grande do Sul, em 1868, os irmãos Falchi iniciaram empreendimentos vinculados à produção de doces até que, após passar por Minas Gerais, instalaram-se no centro da cidade de São Paulo e abriram, em 1883, uma pequena fábrica de doces, balas e bombons. A rápida prosperidade do negócio fez com que os Falchi passassem a procurar um local mais adequado para a instalação de seu empreendimento, que ao mesmo tempo fosse fora do centro da cidade, porém não muito distante dele, e que também fornecesse espaço necessário para a construção de uma pequena vila operária. 39


Foi justamente nesse período que, com o apoio do engenheiro Antonio Prudente de Morais – primo-irmão de Prudente José de Moraes de Barros, futuro presidente do Brasil – os Falchi conseguiram adquirir terras relativamente altas entre os bairros da Mooca e do Ipiranga para a construção da Fábrica de Chocolates Falchi, a primeira indústria dessa região que, em 21 de dezembro de 1899, seria oficialmente denominada como bairro Prudente de Moraes. Após a instalação da fábrica, iniciaram a construção de uma capela na Praça Falchi (atual posto de Saúde do Governo do Estado). Paralelamente à instalação da Fábrica de Chocolates e de um conjunto de residências operárias, outras indústrias que foram surgindo no bairro, como a indústria de Louças Zappi, a Manufatura de Chapéus Oriente e a Fábrica de Papel e Papelão Búfalo. A implantação da Companhia Brasileira de Telhas e Tijolos – comprada em 1910 pelo engenheiro Luis Ignácio de Anhaia Melo – constituiu outro importante empreendimento na região, uma vez que fomentou a vinda de imigrantes italianos, portugueses e espanhóis. A pouco e pouco, outras cerâmicas, tecelagens e fábricas de calcados foram sendo implementadas na Vila Prudente, que por seu turno passou a consolidar sua configuração fabril e operária. Passado alguns anos, os irmãos Falchi começaram a se enveredar por outros setores fabris. Associando-se aos irmãos Sacoman – que haviam estabelecido uma fábrica de telhas de cerâmica intitulada Cerâmica Sacoman Frères, por volta de 1890, na paragem do Moinho Velho, próxima à Estrada das Lágrimas, que ligava o bairro do Ipiranga ao Caminho do Mar –, os Falchi inauguraram no bairro da Vila Prudente a Cerâmica Vila Prudente, que se tornou um dos principais centros ceramistas da cidade e do Estado São Paulo na primeira metade do século XX. Em meio à criação de um conjunto industrial, a Vila Prudente assistiu ao advento de uma infra-estrutura para o bairro, ainda que insipiente. Em 1895, os criouse o orfanato Cristóvão Colombo, cuja organização ficou sob a direção do Padre José Marchetti. No mesmo ano, fundou-se, sob a direção de Januário Raso, o primeiro centro comercial (hoje Praça Veiga Cabral) de armazenagem, açougue, secos e molhados do bairro. Pouco tempo depois, foi instalada a primeira farmácia, onde hoje se localiza a EEPG República do Paraguay, e que tinha como proprietário o farmacêutico Ary Ferreira da Silva. No inicio da década de 1910, a Vila Prudente já se transformara num dos pontos de atração de empreendimento e de grupos humanos, fato esse que desencadeou um novo processo de loteamento de terras, sobretudo ao norte e a leste do núcleo original. A Fazenda Oratório, por exemplo, foi fragmentada em lotes que mais tarde viriam a receber o nome de Vila Sapopemba, Vila Primavera, Vila Belém, 40


Vila Abrunhosa e Jardim Grimaldi. O alastramento de indústrias de tecelagem, papelão, cerâmica e chapéus, até pelo menos os anos vinte, promoveu um aceleramento no processo de ocupação da região, de modo que os atuais Parque São Lucas e Vila Ema nasceram desse movimento (SARTIORELLO, 1977). Parte integrante desse amplo processo de desenvolvimento da Vila Prudente foi à melhoria do conjunto dos caminhos e ruas e o desenvolvimento dos meios de transporte. O chamado “Caminho da Mooca” (atual Paes de Barros) foi melhorado, o que dinamizou as relações entre Vila Prudente, Mooca e Brás. Em dezembro de 1904, foi decretada a construção da primeira rua oficial do bairro – a Estrada de Vila Prudente –, que atualmente recebe o nome de Rua Capitão Pacheco Chaves. No que tange aos meios de locomoção, em julho de 1912 chegou até a Vila Pudente o primeiro bonde – o Bonde 32 –, que por sua vez vinha da Sé numa viajem que percorria 16,2 quilômetros e demorava quase uma hora. O trajeto inicial do bonde era o seguinte: Rua General Carneiro; Rua 25 de Maço; Rua do Hospício; Rua Glicério; Rua Lavapés; Largo do Cambuci; Av. Dom Pedro I; Rua Seis; Rua H; e Estrada Vila Prudente (RONCO FILHO, 1989). O desenvolvimento industrial da Vila Prudente refletiu, paulatinamente, na sua configuração político-administrativa dentro do cenário da capital paulista. Em 1923, o bairro ganhou autonomia política, uma vez que até então a Vila Prudente era subordinada ao Ipiranga. De 1920 a 1940, surgiram a Vila Zelina – que recebeu uma das maiores contingentes de imigrantes lituanos –, Vila Alpina e Vila Industrial, esta última composta por migrantes nordestinos e imigrantes espanhóis e italianos. Data da década de 1940, também, o advento da primeira favela do bairro, a Favela da Vila Prudente, constituída basicamente por nordestinos que vieram a São Paulo para a construção civil.

Vila Prudente Fundada em fins do século XIX, em meio ao primeiro surto industrial eclodido na cidade de São Paulo, a Vila Prudente constituiu um dos principais bairros de origem fabril e operária da capital paulista. Juntamente com Brás, Mooca, Barra Funda, Lapa, dentre outros bairros paulistanos, a Vila Prudente surgiu num momento crucial do processo de inserção do Brasil no capitalismo mundial, isto é, numa época em que a se a agro-exportação encabeçada pela cafeicultura ainda compunha a base da economia nacional, as iniciativas industriais deixaram de ser empreendimentos incipientes, dispersos e de curta duração – tal como ocorrera em meados do século

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XIX –, para imporem, gradualmente, um novo panorama à sociedade brasileira, notadamente aos antigos centros urbanos do Império e suas adjacências. A cidade de São Paulo foi pioneira nesse processo que, mesmo com suas contradições, amalgamou os interesses agroexportadoes e industriais, uma vez que a necessidade de incorporar o Brasil na nova dinâmica econômica internacional requeria, entre outras coisas, a implantação de uma nova infraestrutura para a nação, seja de meios de transporte, de relações de trabalho seja de uso e ocupação do espaço. Nesse sentido, áreas até então não povoadas ou pouco exploradas, como as que comporiam a futura Vila Prudente, passaram a ser ocupadas de diversas formas e para inúmeros fins, servindo tanto aos interesses dos grandes cafeicultores quanto daqueles setores vinculados às primeiras iniciativas industriais. No caso de São Paulo, a criação da São Paulo Railway permite entrevermos a pluralidade de objetivos, mas também de usos, em torno desse empreendimento que alterou substancialmente a economia paulista e, simultaneamente, as formas de ocupação da cidade, cooperando assim para a fundação dos chamados “bairros operários”, como foi o caso da Vila Prudente. Passados mais de cem anos da chegada das primeiras levas de trabalhadores - dentre eles muitos imigrantes, em especial italianos –, a Vila Prudente se tornou um bairro de grande complexidade, de modo que, atualmente, seu perfil operário se apresenta diluído em meio às tantas outras atribuições que lhe cabem. Não obstante isso, a característica industrial e operária ainda perpassa a Vila Prudente, quer na sua realidade concreta, do dia-a-dia do trabalhador e do industrial, quer nas formulações identitárias ou concepções de patrimônio cultural referentes do bairro.

Um exemplo de bairro operário A formação da classe operária ao longo da Primeira República esteve estreitamente associada ao desenvolvimento da indústria nas principais cidades do país. A passagem da pequena produção e artesanato para a indústria e produção em larga escala possibilitou um maior enraizamento de contingentes humanos nas cidades, em grande medida constituídos por imigrantes europeus. Desempenhando as funções de artesão, operário e empresário, os imigrantes compuseram parcela significativa do contingente humano que impulsionou o processo de industrialização da cidade de São Paulo. No ano de 1920, 64,2% dos empreendimentos industriais fixados no Estado de São Paulo pertenciam a imigrantes, ao passo que por volta de dois terços dos habitantes de sua capital eram formados por estrangeiros e seus descendentes (PETRONE, 1990). 42


A inserção de famílias europeias em terras brasileiras fez parte de um amplo processo de imigração pelo qual o país Brasil passou entre a segunda década do século XIX, com a emancipação política frente ao Império português, e meados do século XX, após o final da Segunda Guerra Mundial. Se no Primeiro Reinado a vinda de imigrantes esteve principalmente atrelada aos centros urbanos – especialmente ao Rio de Janeiro –, que carecia de profissionais como engenheiros, médicos, ferreiros, boticários, etc., ao longo do Segundo Reinado e, sobretudo com o advento da República, a imigração ganhou no Brasil contornos específicos: receber mão-de-obra estrangeira para, num primeiro momento, atender às necessidades da expansão da agricultura e especialmente da lavoura cafeeira e, num segundo momento, preencher as vagas de trabalho oferecidas pelas recéminstauradas fábricas dos centros urbanos em processo de industrialização (PINTO, 1994). No caso da Província e depois Estado São Paulo, os grandes movimentos migratórios se deram com maior força mediante a expansão econômica da região, acentuada após 1880, em decorrência da consolidação das lavouras de café. Em seus anos derradeiros, o Império conseguiu articular diversos setores da sociedade a fim de estabelecer uma política de recrutamento de imigrantes. Criou-se daí o sistema de colonato, que, em relação ao antigo sistema de parcerias, oferecia algumas vantagens: era baseado num sistema de remuneração misto – calculado com base em comissões nas vendas do produto agrícola, além de um salário anual – e oferecia ao colono incentivos fiscais em relação ao transporte e a algumas necessidades básicas. No que tange à capital paulista, a chegada maciça de mão-de-obra operária europeia alterou significativamente não apenas a conformação economia da cidade, mas também sua própria disposição sócio-espacial, na medida em que esse segmento passou a habitar regiões com pouca densidade demográfica até então, constituindo assim redutos até então inexistentes em São Paulo. A Hospedaria dos Imigrantes no bairro do Brás, concluída em 1888, ilustra bem a importância do fluxo migratório para a cidade de São Paulo e de seu impacto da configuração da cidade. Para o poder público, contudo, não se tratava tão somente em fornecer espaço suficiente para o abrigo dessa nova mão-de-obra, mas de abrigá-la em locais específicos que não entrassem em conflito com os demais segmentos já radicados na sociedade. Contemporâneas às intervenções feitas na cidade do Rio de Janeiro ao longo da presidência do governo Rodrigues Alves, as atitudes do poder público paulistano com o intuito de redefinir os espaços públicos e privados de São Paulo estavam em estreita sintonia com a expansão da sua malha urbana – em virtude da expansão econômica propiciada pela consolidação da cafeicultura – como também com os 43


processos de delimitação e segregação sócio-espacial impostos pelas políticas de habitação de fins do Império e início da Republica. Uma vez que, embora singularmente complexa, a área urbanizada da capital paulista fosse relativamente reduzida até o ultimo quartel do século XIX, a intervenção da administração pública se favoreceu da possibilidade de poder abrir de novas áreas de ocupação e reordenar aquelas já utilizadas (MARINS, 1998: 172-173). É importante notar que, desde a década de 1870, algumas modificações já vinham sendo feitas em São Paulo quando essa consolidou o processo de centralização econômica na capital paulista ante as demais localidades da Província. Reiterando sua condição de entroncamento de caminhos para outras regiões do planalto e litoral, a cidade de São Paulo se tornou o eixo central das recémestabelecidas linhas férreas, que alinhavavam a capital paulista à Santos, ao Oeste da Província, ao Vale do Paraíba e ao Rio de Janeiro, dinamização essa que acarretou algumas conseqüências no cenário paulistano. Além de atrair grandes levas de fazendeiros que passaram a fixar suas residências na cidade, novas áreas foram abertas com intuito de abrigar os trabalhadores assalariados, cada vez mais presentes na cidade em tempo de fim da escravidão. A preocupação do poder público em criar bairros especificamente direcionados para o operariado foi uma constante ao longo de fins do século XIX e o início do XX. Segundo assinala o Relatório da Comissão de Exame e Inspeção das Habitações Operárias e Cortiços o Distrito de Santa Ifigênia, de 1893, o estabelecimento desses bairros deveria obedecer a certos critérios lógicos, como a facilidade de comunicação, o baixo custo dos terrenos e boas condições de abastecimento: “A situação mais conveniente para as vilas operárias deve ser, sem dúvida, aquela que reúna a facilidade de comunicação à barateza dos terrenos que devem ser amplos bem como as vantagens de um abastecimento regular. Em torno da cidade de S. Paulo, num raio de dez a quinze quilômetros não faltam lugares preenchendo estes requisitos como vamos rapidamente descrever. Admitindo que as vias férreas, que irradiam desta cidade no intuito de facilitar o desenvolvimento desta e proporcionar-lhe mais abundante suprimento dos produtos da pequena lavoura, duplicassem as suas linhas ou pelo menos multiplicassem os desvios até a distância de quinze quilômetros, ainda que para isso concorresse o Estado com um auxilio qualquer, as vilas operárias, as construções destinadas ao agasalho das classes proletárias surgiriam pouco a pouco ao longo dessas linhas, talvez sem o maior auxilio dos cofres públicos” (COMISSÃO DE EXAME,1894). Tendo em vista essas questões, a Comissão propôs o loteamento e a ocupação sistemática de algumas áreas periféricas, mas não distantes do centro da 44


cidade de São Paulo e dos eixos ferroviários. Embora enfatizasse múltiplas áreas de interesse de ocupação – localidades como Santana, Pirituba, Pari, Mooca, Ipiranga, São Caetano do Sul, São Bernardo, Penha, Aricanduva e Vila Prudente foram indicadas como de grande interesse –, esse princípio não era inovador, dado que no Império, indústrias como as de cerveja, materiais de construção, tecelagem e mecânica eram implantadas em áreas distantes dos centros urbanos, próximas às baixadas e linhas férreas, constituindo assim um indutor de ocupação. A fábrica da Companhia Antártica Paulista, por exemplo, implantada em 1885 no bairro da Água Branca, tinha seu serviço ramais especiais da São Paulo Railway e da Sorocabana, além de manter habitações para seus funcionários. Nesse sentido, observa Jurgen Langenbuch (LANGENBUCH, 1971: 135): “a intensa implantação industrial ao longo das ferrovias convidava os operários a se estabeleceram em torno das estações ferroviárias situadas fora da cidade, onde poderiam adquirir terrenos, ou alugar casas, a preços mais razoáveis – enquanto se beneficiavam de um meio de transporte rápido e de preço acessível entre local de residência e local de trabalho (...) Consequentemente, vários trechos lindeiros a ferrovias, não dotados de fábricas, conheceram um expressivo desenvolvimento suburbano de cunho residencial, formando-se em torno de suas estações autênticos subúrbios – dormitórios”. Na maioria dos bairros operários formados nesse período – tais como a Mooca, o Brás e a Vila Prudente – o assentamento dos operários se deu nas proximidades das ferrovias e fábricas na qual trabalhavam, formando assim complexos fabris compostos pela força de trabalho e pelos meios de produção, mas não pelo empregador. Aliás, instaurar conjuntos habitacionais para seus operários foi uma solução encontrada pelos empreendedores, especialmente nas primeiras três décadas do século XX. A Cerâmica Vila Prudente, a Vidraria Santa Marina, o Cotonifício Crespi, a Chapéus Ramenzoni e a Companhia Nacional de Tecidos da Juta foram algumas das indústrias que criaram moradias específicas para seus trabalhadores. Essas iniciativas, no entanto, não devem ser vistas como as únicas responsáveis pela ocupação dessas regiões fabris. Na medida em que constituía uma inversão de capital relativamente elevada, esse procedimento era recorrente apenas em empresas de grande porte. Ademais, nem todas as fábricas eram compostas por funcionários cujo grau de especialização demandava uma estratégia para situálosnas proximidades das unidades produtivas. Situadas em contato direto com as calçadas, apresentando portas e janelas que estabeleciam uma continuidade entre o espaço público e o privado, as habitações populares estabeleceram uma paisagem urbana especifica, imputando aos chamados “bairros operários” não apenas uma diferenciação de ordem econômica, mas também 45


uma configuração sócio-espacial distinta daquelas dos bairros nobres, na medida em que seus laços de sociabilidade eram muito mais fluidos. De modo geral, as condições dessas moradias eram precárias, fazendo com que a expansão do aparelho oficial de fiscalização higiênica justificasse sua legitimidade.

A Vila Prudente na atualidade: um bairro plural “Quando eu deixo o burburinho da cidade. É prá Vila Prudente que eu vou. Bem ou mal, não vou falar em qualidade. É da Vila Prudente que eu sou. Eu vivo lá na Vila há tantos anos. De quando o velho Bonde, não passava da estação. Desde quando aquelas ruas pobrezinhas. Eram simples e descalças, como eu de pé no chão...” Trecho da música “Samba da Vila Prudente”, de Lauro Miller. A existência de terrenos baratos e a facilidade de transporte proporcionada pela São Paulo Railway atraíram para seu entorno tanto empreendedores como operários das fábricas estabelecidas pelos primeiros, configurando sucessivas conurbações entre a cidade de São Paulo e seus municípios vizinhos, que por seu turno transformar-se-iam, futuramente, num dos principais parques industriais do Estado. Por volta de meados do século XX, São Caetano do Sul e Santo André passaram a compor um importante núcleo fabril, abarcando algumas das principais unidades produtivas do parque industrial paulista, tais como a Kowarick (produtora de lãs e camisas), Generalm Motors, Rhodiaceta e Valisère de jérsei, Rhodia Química Brasileira, Lidgerwood (máquinas), Firestone Pirelli S.A. e o Moinho São Francisco. Na mesma época, formando um segundo eixo industrial da região, figuravam as cidades de São Bernardo, Mauá e Ribeirão Pires. Em contrapartida, bairros tidos naturalmente como “operários” – tais como Mooca, Brás e Vila Prudente – gradualmente começaram a perder espaço entre os industriais e os grupos de investimentos,

inserindo-se

num

processo

que

recebeu

o

nome

de

“desindustrialização” (LAURENTINO, 2002). O deslocamento dos centros industriais da cidade de São Paulo para o ABC paulista e outros municípios situados fora da Grande São Paulo foi um fenômeno que ocorreu por volta da segunda metade do século XX, período em que a complexificação 46


da capital paulista, já metrópole nessa altura, desempenhou um papel importante da reconfiguração da economia paulista como um todo. Embora os empreendimentos industriais tenham aumentado na capital paulista após a Revolução de 1930 e a instauração do Estado Novo – movimentos que trouxeram consigo a cristalização dos elementos econômicos, sociais e culturais das classes sociais urbana, num processo de modernização, mesmo que precário, regionalizado e excludente, da sociedade e do aparelho político-administrativo brasileiros –, a cidade de São Paulo aos poucos mudou sua feição fabril para uma configuração mais cosmopolita, atrelada aos setores de comércio e serviços e para os investimentos associados ao capital financeiro, configurando-se muito mais como um espaço privilegiado de direção e negociação das atividades do setor secundário do que propriamente uma centro industrial de grandes proporções. Somando-se a essas questões de ordem mais geral, podemos notar outras de caráter mais específico que tornaram a cidade de São Paulo menos atrativa para os empreendimentos industriais, tais como a alta carga tributária, a organização sindical do operariado e a problemática do alto consumo de energia. Cooptados pelos programas de governo que passaram a incentivar a instalação de parques industriais situados longe dos grandes centros urbanos, os empreendedores do segundo setor viram-se cada vez menos interessados em implementar suas fábricas em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, de modo que essas cidades passaram a ser alvo de outros grupos empresariais, como os setores bancário, hoteleiro, de comércio de bens de consumo e de entretenimento. Em meio a essa expansão socioeconômica, surgiu um novo cinturão de loteamentos residenciais suburbanos, em locais ainda desocupados até meados do século XX, que serviram de incremento aos bairros já estabelecidos, sendo que nessas

novas

aglomerações

populacionais

verificou-se

grande

crescimento

demográfico. Se as ferrovias continuaram determinando o crescimento industrial, essa perdeu um pouco de sua influência a partir da instalação do sistema rodoviário urbano, que interligou bairros paulistanos e cidades próximas. Nesse âmbito, a especulação imobiliária começou a se impor com mais força, impelindo a população mais pobre para loteamentos cada vez mais periféricos, como aqueles localizados nas imediações dos mananciais das atuais represas Billings e Guarapiranga, na região sul da cidade e nos extremos das zonas norte, oeste e leste. Inseridos nesse amplo processo de modernização e pluralização da economia paulista e nacional, muitos dos antigos bairros proletários de início do século XX deixaram de compor aglomeração eminentemente operárias, quer pela estagnação e êxodo dos empreendimentos da capital paulista para outras regiões, pela penetração 47


de investimentos diversos do terceiro setor ou pela fixação da classe trabalhadora nas regiões periféricas da cidade. Símbolo da industrialização da cidade e da cultura italiana em terras paulistas, o Brás transformou-se um bairro de perfil notadamente comercial, processo ocorrido similarmente na Mooca, Ipiranga e Vila Prudente. De pequeno bairro desmembrado do Ipiranga e da Mooca e reduto de olarias, fábricas de materiais de construção, papel e tecelagens, a Vila Prudente se expandiu e tornou-se um amplo distrito da capital paulistana, congregando vilas com perfis distintos, desde aquelas mais residenciais (Vila Bela e Vila Califórnia), comerciais (Vila Prudente e Vila Zelina) e industriais (Vila Alpina). Assim, a despeito do perfil fabril que o bairro carregou até pelo menos metade do século XX, a Vila Prudente tem cada vez mais pluralizado suas características socioeconômicas. Nos últimos anos, o bairro tem sofrido um intenso processo de verticalização, fazendo com que pequenos lotes residenciais cedam espaço para empreendimentos habitacionais de classe média, tal como vem ocorrendo no Jardim Avelino, situado nas proximidades do Cemitério da Vila Alpina. Diante da relativa estagnação de produção industrial, o comércio e o setor de serviços têm ampliado seu espaço significativamente. Todavia, concomitantemente à sua complexificação do bairro, a Vila Prudente viu surgirem problemas sociais graves, como o advento de favelas e residências situadas em loteamentos clandestinos. A Favela de Vila Prudente, surgida por volta de 1940 e constituída, majoritariamente, por migrantes nordestinos empregados na construção civil, prenunciou uma realidade que se tornaria estrutural para o bairro. Se até meados do século XX a presença de descendentes de portugueses, espanhóis e italianos se fazia muito presente, a partir dessa época o perfil populacional da Vila Prudente sofreu significativas alterações, na medida em que a chegada de migrantes nordestinos passou a ser cada vez mais constante. Diante deste cenário a memória dos diversos momentos e processos históricos pelos quais o bairro da Vila Prudente passou manifesta-se na diversidade de suas construções e, mesmo, na ocupação. As linhas gerais do bairro ainda são aquelas do loteamento planejado no final do século XIX e começo do XX, embora a ocupação dos quarteirões tenha se alterado significativamente e, um ou outro, tenha sofrido anexações ou cortes. Também permanecem no bairro pontos importantes para a memória de sua população e para a vida social, como a capela de Santo Emídio e Praça Irmãos Falchi. Nesse conjunto ainda restam grupos de moradias operárias, muito características dos bairros operários formados nas primeiras décadas do século XX, e partes de edificações operárias, as quais – quase todas – perderam suas funções originais (como é o caso da própria Fábrica de Papel e Papelão). Contudo, nesse mesmo 48


espaço convivem construções e estruturas bem mais recentes, como terminais de ônibus, altos prédios de apartamentos e edificações comerciais de diversas ordens. Assim, a Vila Prudente é bastante caracterizada pelo mosaico de elementos que se remetem aos diversos momentos de sua história profundamente ligada à industrialização da cidade de São Paulo e da formação de sua classe operária, com as implicações culturais disso, obviamente. Contando com cerca de 150 mil habitantes, a Vila Prudente atualmente compõe a subprefeitura de mesmo nome, justamente com os distritos da Vila Prudente, São Lucas e Sapopemba. Os bairros que formam o distrito da Vila Prudente são: Jd. Avelino, Pq. Vila Prudente, Quinta da Paineira, Sítio da Figueira, Vila Alpina, Vila Bela, Vila Califórnia, Vila Lúcia, Vila Prudente e Vila Zelina (PONCIANO, 2002).

O cotidiano fabril em São Paulo: do “caso de polícia” à desindustrialização "Gioconda, pitina mia, Vai brincar alí no mareí no fundo, Mas atencione co os tubarone, ouvisto Capito meu san benedito. Piove, piove, Fa tempo que piove qua, Gigi, E io, sempre io, Sotto la tua finestra E vuoi senza me sentire Ridere, ridere, ridere Di questo infelice qui Ti ricordi, Gioconda, Di quella sera in guarujá Quando il mare ti portava via E me chiamaste Aiuto, Marcello! La tua Gioconda a paura di quest'onda” Adoniran Barbosa, Samba italiano Costuma-se afirmar que na cidade de São Paulo, entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras do XX, falava-se na rua não o português, mas o italiano (BRUNO, 1953). Isso é parcialmente verdade, pois, poderia se ouvir também o espanhol, o árabe, idiomas do leste europeu, alemão e, posteriormente, o japonês também. 49


A confusão linguística não era necessariamente uma novidade para a cidade de São Paulo, posto que, até o período pombalino (a segunda metade do século XVIII) mais comum do que o português no cotidiano da população paulistana era o “nheengatú”, ou língua geral, uma adaptação do tupi elaborada com a ajuda da ação missionária jesuítica (MONTEIRO, 1995, L’ESTOILE, 2006). Em verdade a mistura do italiano com o português e outras línguas latinas presentes na cidade, graças às imensas levas de imigrantes que chegaram a partir de meados do século XIX, era um dos elementos que compunha o processo de transformação da região da cidade de São Paulo e seu entorno no mesmo período. Esse processo acabou por definir um novo imaginário a respeito de São Paulo desde então, e pela primeira vez, na história do Brasil, um imaginário fundamentado na figura do imigrante, do operário, do subúrbio e também, do trabalho. Até então São Paulo já houvera passado por inúmeros momentos, com imaginários diferentes – do povo inculto, rebelde e sem civilidade aos “gloriosos bandeirantes” (ABUD, 1985) -, mas nunca outra região do Brasil consolidara um imaginário associado ao trabalho e ao operariado. É claro, a industrialização no Brasil se deu tardiamente em relação à Europa ocidental e aos Estados Unidos da América, porém outras regiões do Brasil ensaiaram processos de industrialização no começo do século XX, ou até antes, porém, em nenhuma delas consolidou-se – com a exceção da cidade do Rio de Janeiro – uma classe operária como em São Paulo. Mas o operariado em São Paulo em suas primeiras décadas assumiu características bastante peculiares que, nas Américas, só possui paralelo na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos da América. A presença maciça de migrantes transformou profundamente a cultura cotidiana da cidade, dando-lhe traços que passaram a serem vistos como “paulistas”. Entre esses traços o da própria fala. É somente com a chegada da massa de imigrantes que a fala de São Paulo ganha seu sotaque característico, forjado nos subúrbios e não entre as elites (a qual, com o tempo, passa a incorporar também imigrantes como os Matarazzo, os Chofi, os Klabin, os Scaff, os Gurgel, os Scarpa, Pignatari, Street, etc). Os bairros operários foram, efetivamente, os locais da construção desse novo falar, com seu modo cantado característico, cortando as letras finais, arrastando o “r”. Também da presença dos italianos, sírios, libaneses, espanhóis e portugueses surgiu o falar alto e extremamente gesticulado. Alguns bairros ficaram famosos por aglutinarem essa massa de imigrantes operários ou artesãos, como o Brás, Bixiga e Barra Funda os quais batizaram o livro de Alcântara Machado. É claro que, de outro lado, os próprios paulistas (nesse caso a população mais pobre que passou a dividir espaço com os imigrantes) foram à outra 50


parte da constituição dessas “culturas operárias paulistas” das primeiras décadas do século XX. É compreensível que os italianos tenham exercido a maior influência nesse processo, tanto pelo fato de serem a maioria absoluta quanto pelo fato de possuírem colônias muito diversificadas e pouco fechadas, diferentemente de outros grupos de imigrantes (como judeus, japoneses e eslavos). Os números são bastante variados e dizem respeito a momentos diferentes e dimensões de espaço igualmente diversas, mas dão alguma noção do processo de imigração: os judeus – em verdade de muitas nacionalidades - representam 35.521 entre 1925 e 1935 (GRÜN, 1999: 355), sírios e libaneses 48.326 entre 1908 e 1941 (somente em São Paulo) (TRUZZI, 1999: 320), 280.000 alemães até 1940 (SEYFERTH, 1999: 274), espanhóis 379.492 (também somente em São Paulo) (MARTÍNEZ, 1999: 251), enquanto os italianos respondiam por 1.400,000 dos 3.330,188 imigrantes registrados no Brasil entre 1870 e 1920 (ALVIM, 1999: 383). São Paulo tornou-se, em meados do século XX, a maior cidade italiana fora da Itália, a maior cidade japonesa fora do Japão e assim por diante. Mas, é sempre entre a massa dos trabalhadores, entre a população “sens qualité” que se operam as grandes mudanças cotidianas, as mudanças na “cultura banal” (ROCHE, 2000). A presença desses trabalhadores de várias cores, credos, origens, inseriu passo a passo na cidade hábitos que transitavam entre aqueles praticados em suas terras de origem e aqueles encontrados na região. Proliferaram-se as indústrias para atender demandas específicas como as indústrias de alimentos de origem estrangeira, como macarrão o qual foi, passo a passo ganhando espaço na mesa dos trabalhadores em São Paulo. A farinha branca ganhou definitivamente a hegemonia, depois de séculos lutando pelo lugar na tabela nutricional dos povos do planalto contra a farinha de mandioca e de milho (HOLANDA, 1995), a cerveja e o vinho se disseminaram mais rapidamente também, bem como outros produtos, muito estranhos até então, mas que passaram a compor o cotidiano das populações de São Paulo: o gergelim, as amêndoas, pistaches, nozes, coalhada e muitos condimentos trazidos pelos imigrantes de ascendência árabe, as frutas vermelhas, a batata, certos preparos da carne de porco vindas com o os imigrantes alemães que se estabeleceram para as bandas de Santo Amaro, os frutos do mar, o azeite, os embutidos (salames, copas, presuntos e afins), as azeitonas que ganharam força com o aumento dos imigrantes dos povos do Mediterrâneo (espanhóis, italianos e portugueses, embora voltados para o Atlântico), frutas, legumes e verduras, o chá verde, os macarrões orientais, o missô e o shoyu trazidos pelos japoneses.

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Sem dúvida nenhuma o quadro nutricional dos paulistas, incluindo as classes operárias, tornou-se o mais variado de todo o território nacional, implicando em todo um aparato para adequar esses produtos a uma nova terra e possibilitar sua produção, abastecimento e consumo aqui. Isso se materializou na constituição de fábricas, lojas, importadores, produtores agrícolas que até então inexistiam em São Paulo. Daí a criação também do imaginário, o qual tem fundamentos na realidade, de que padeiros em São Paulo são portugueses, donos de cantinas, pizzarias e empórios são italianos, donos de quitandas e granjas são japoneses, de lojas de tecido são “turcos” (sírios e libaneses) ou judeus. Para além do universo alimentar, esse processo ocorreu analogamente nos setores de vestuário, serviços, materiais de construção, etc, e para cada grupo de atividades humanas novos desdobramentos, os quais, no todo, compõem uma verdadeira revolução cultural na capital paulista entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Na cidade se proliferaram igrejas católicas de santos de devoção das colônias de imigrantes, como Nossa Senhora de Achiropita no Bixiga, San Genaro no Brás, outras tantas dos espanhóis e portugueses. Surgiram com mais forças, também, igrejas de outras vertentes do cristianismo, até então mal e mal toleradas na cidade de São Paulo. Exemplos como a igreja de Nossa Senhora na região da 25 de Março (igreja dos cristãos libaneses), ou a Igreja Ortodoxa no bairro do Paraíso, as dos cristãos armênios no bairro da Armênia, ou ainda a luterana próxima ao largo do Paisandú no centro da cidade. Surgiram também as primeiras mesquitas e sinagogas (as quais, em verdade, não tiveram mais de se esconder) nos bairros de Higienópolis e Bom Retiro. Por fim, os templos budistas e xintoístas, alguns na Liberdade, outros nas áreas verdes – o cinturão verde – da cidade de São Paulo, em Mogi das Cruzes, Suzano e Cotia. Obviamente que, para as autoridades, muitas delas imersas ainda nas teorias raciais do século XIX, a presença de tantos matizes não era percebida com muitos bons olhos, sobretudo a presença de orientais, vistos como humanos de segunda categoria. O próprio Sérgio Milliet via a chegada dos italianos como um momento ideal para curar a população brasileira da preguiça e da falta de iniciativa que lhe marcava a história (MILLIET, 1982). Assim, o cotidiano desses trabalhadores imigrantes podia também ser marcado pela violência das autoridades ou pela perseguição dos fiscais e policiais, sem contar a discriminação em certas circunstâncias. O processo de integração desses novos contingentes demográficos não se deu num universo idílico, paradisíaco e harmônico. 52


O choque cultural muitas vezes norteou as relações e definiu espaços de circulação e de integração. Povos com características culturais menos próximas às dos europeus, de credos não cristãos, ou que não tivessem a habilidade dos comerciantes e mascates judeus e sírio-libaneses podiam sofrer muito mais dentro do universo multicultural de São Paulo nas primeiras décadas do século XX. Episódio significativo e esclarecedor dessa dinâmica é o que envolve o período da 2º. Guerra Mundial. Nenhuma outra região congregava os três grupos de imigrantes provenientes dos países do Eixo num só lugar além de São Paulo: italianos, alemães e japoneses. Entretanto, desses três grupos os italianos foram os que menos sofreram retaliações da população não imigrante, e os japoneses os que mais sofreram. Tal gradação dos atos de discriminação é compreensível tanto pelos aspectos culturais de cada um dos povos quanto pelas concepções racistas de muitos dos governantes. Foi justamente no pós-guerra que o bairro da Liberdade se firmou como área de imigrantes japoneses, pois até então eles se concentravam na Rua Conde de Sarzedas e seu entorno, próximo a Baixada do Glicério. Contudo, durante os anos de guerra, foram desalojados, perseguidos e muitos presos, somente podendo retornar com o fim das hostilidades ou muitos anos depois. No retorno optaram por se estabelecerem na região da Rua dos Estudantes e na Rua da Glória, o coração da Liberdade. Também com essa leva de imigrantes chegaram novas mentalidades políticas, muito distantes do universo mental até então estabelecido em São Paulo. Foi com os imigrantes que chegou a São Paulo – e a alguns outros núcleos urbanos do Brasil, como Rio de Janeiro e Recife – o anarquismo e, posteriormente a 1917 (CARONE, 1991), o comunismo. As condições de trabalho estabelecidas na capital paulista até o período Vargas (e, sobretudo, após 1937) se remetiam à situação dos trabalhadores ingleses do século XIX em plena Revolução Industrial. Ou seja, nenhuma estabilidade no trabalho, o qual era acordado por jornada implicando na possibilidade imediata de dispensa a qualquer entrevero com os superiores, o uso massivo de menores (com oito ou dez anos de idade) nas linhas de produção, em jornadas de 12 ou até 16 horas de trabalho. Além disso, uma ausência sistemática de qualquer estrutura de atendimento ou de seguridade social – as quais somente seriam implantadas sistematicamente no ocidente após a 2º. Guerra Mundial e no Brasil após 1954 – tornava o cotidiano operário nas primeiras décadas do século XX ainda mais desesperadores. Uma epidemia de gripe, como a “gripe espanhola” que grassou a cidade de São Paulo entre 1917/1918, poderia simplesmente implantar o pânico entre as massas que se aglomeravam nos cortiços e nos subúrbios da cidade. 53


Os efeitos devastadores do período das grandes guerras (1914-1945, HOBSBAWM, 2002: 29 a 60), nos quais regimes totalitários se formaram e ideologias extremistas

se

fortaleceram

como

opção

para

a

massa

de

trabalhadores

desamparados e ansiosos pela busca de “culpados” acendeu a luz amarela para os governos que se estabeleceram após 1945. Em verdade a quantidade de turbulências sociais que atravessou o século XX tiveram todas componentes ideológicos, classistas e, no limite, em alguma medida operário. Mesmo o início dos conflitos em 1914 – sempre tomado como uma reação violenta e armada aos desejos imperialistas de várias nações – teve um componente classista por trás. Exemplar de como os governantes viam a questão operária até meados do século XX é o famoso comentário feito por Washington Luis quando ocupava o cargo de prefeito da cidade de São Paulo no final da década de 1910 e eclodiu uma greve geral (duas em verdade, justamente nos mesmos anos da gripe espanhola, 1917 e 1918) de dimensões jamais vistas no Brasil: “Questão social é assunto de polícia!” Contudo, diante da pressão do operariado (fortalecido ideologicamente após 1917 com a vitória da Revolução Russa e com a afirmação da União Soviética após o término da 2º. Guerra Mundial) e do temor dos governantes de que o comunismo tornasse-se a nova ideologia a se espalhar entre a classe operária ocidental (como ocorrera com o fascismo e o nazismo) paulatinamente políticas sociais foram sendo desenvolvidas e implantadas, sobretudo entre o operariado. O chamado “Estado do Bem Estar Social” (“wellfare state”) nada mais foi do que uma reação das elites ocidentais aos temores de que uma nova catástrofe pudesse se implantar, com dimensões cada vez maiores, dado o estabelecimento das sociedades de massa. No Brasil o processo que precedeu a implantação das políticas sociais – as quais tiveram no governo de Getúlio Vargas seu grande momento – foi marcado pelo paulatino estabelecimento do comunismo entre os operários cariocas e paulistanos, substituindo o anarquismo que, vindo com os imigrantes italianos, dominara os corações e as mentes até então. A virada se dá exatamente após 1917, tanto pelo sucesso da Revolução Russa – de tons comunistas – quanto pelo fracasso das greves gerais em São Paulo – de inspiração anarquista. É nisso que se dá o estabelecimento dos partidos políticos do operariado, sobretudo o Comunista, ao passo que, até então, a organização privilegiada pela massa trabalhadora de matizes anarquistas tivera sido o sindicato, ou “anarco-sindicato” (HARDMAN, 2002: 39 a 66). Em ambos os casos, tanto nos sindicatos de cores anarquistas quanto nos partidos de inspiração comunista está implicada a necessidade de uma crescente organização do operariado, com o fortalecimento de seus laços solidários e de suas 54


práticas cotidianas. É exatamente por isso que Edward Thompson (THOMPSON, 1987: 10 e seguintes) enfatiza que a classe social é algo que se forma no processo e não antes dele, é somente dentro da dinâmica que as consciências se desenvolvem e as práticas se consolidam. Por isso as práticas associadas ao mundo do trabalho na cidade de São Paulo não só criaram uma cultura operária como criaram a própria identidade entre os trabalhadores. Os teatros operários, as cooperativas, os jornais, as agremiações tornaram-se elementos fundamentais na dinâmica cotidiana dos trabalhadores e de suas demandas. Vale lembrar que o sindicalismo no Brasil, após a tomada do poder por Vargas em 1930, passa por cooptação pelo poder federal. Através das leis paulatinamente implantadas o sindicalismo passa se tornar o que se denominou “peleguismo”, uma prática comum entre os governos populistas da América Latina (CAPELATO, 1998: 141 e seguintes). Pelego é a manta que vai entre o cavalo e o cavaleiro, o que é bastante elucidativo a respeito do papel dos sindicatos autorizados pelo governo e com exclusividade ditada pela lei. Dessa forma autorizava-se o movimento sindical sem, no entanto, perder totalmente o poder sobre a massa operária. Com as redemocratizações pós 2º. Guerra Mundial os governos populistas não só perdem apoio como são violentamente atacados por setores que viam neles correlatos dos totalitarismos que haviam sido combatidos no conflito armado. Isso dá origem a um novo momento na história e na cultura do operariado na América Latina. É justamente no retorno de Getúlio Vargas ao poder, em 1950, que se inicia o estabelecimento das políticas de Estado para o operariado (seguridade social, previdência) e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Com o suicídio de Vargas em 1954 abriu-se uma nova possibilidade para a classe operária brasileira, para, finalmente, adotar uma postura política que não fosse tutelada. O governo de Juscelino Kubitschek pouca atenção deu ao operariado, centrando sua política na idéia do desenvolvimentismo. É claro que diante das tensões que levaram Vargas ao suicídio, antes que fosse novamente derrubado, mostraram a JK que o ambiente na segunda metade da década de 1950 – tanto internamente quanto externamente – não eram propícios para qualquer movimentação política que cheirasse a aproximação com o socialismo. Com isso restou-lhe a alcunha de “Presidente Bossa Nova”, o que não descarta algo de frívolo e alienado. O mesmo procedimento não foi adotado por João Goulart, o qual assumindo após a renúncia de Jânio Quadros e o curto período de parlamentarismo, tendo a frente Tancredo Neves, adotou uma política de aproximação com o operariado e de revitalização das instituições criadas por Vargas, não acidentalmente seu padrinho político. 55


O resultado de sua desastrada trajetória foi à deposição no Golpe Militar de 1º. de abril de 1964, o qual abriu um capítulo deplorável para a cultura operária no Brasil. No período que vai de 1964 até meados dos anos de 1970 a movimentação do operariado foi paulatinamente caçada e sufocada. As agitações culturais que envolviam operários e estudantes no período pré 1964 – como os Centros Populares de Cultura, os CPCs, os grupos de teatro engajados, as vanguardas artísticas, etc – diminuíram significativamente diante de várias estratégias de sufocamento. Os partidos políticos, colocados na ilegalidade, deixaram de ser os aglutinadores do movimento operário nesse período, sobretudo após 1969, com a promulgação do Ato Institucional N 5, e a instauração dos “anos de chumbo”. Foi no esgotamento da linha dura, em meados dos anos de 1970, que o movimento operário pode renascer, mas, dessa vez, em bases novas. Associado á ala da Igreja Católica movida pela Teologia da Libertação o movimento operário pode se reorganizar em torno das Comunidades Eclesiais de Base, as CEBs. Até a liberação novamente do direito de livre agremiação, ou seja, do restabelecimento de um regime pluripartidário, os operários passaram a se organizar dentro de novos sindicatos, não mais presos ao Estado pela força do peleguismo. Isso desembocou nas grandes greves do começo dos anos de 1980 em Osasco, Paulínia, ABC Paulista, as quais reagiam às constantes fraudes do governo na manipulação dos dados da economia, os quais escondiam a inflação galopante e a constante perda de poder aquisitivo. Associado a esse movimento operário, renasceram práticas que haviam dado o tom do anarco-sindicalismo em São Paulo nos anos de 1910 (HARDMAN, 2002). Contudo, se ao longo dos anos de 1980 esse novo sindicalismo e o resgate de uma cultura operária de longa data deram o tom, os anos de 1990, com a abertura do mercado brasileiro ao exterior e a insolúvel crise econômica nacional marcaram um longo processo de desintrustrialização das áreas metropolitanas, e também da perda do vigor econômico da indústria nacional. O resultado mais claro disso foi uma fragmentação da classe operária, a perda de legitimidade das lideranças sindicais e o enfraquecimento de uma cultura operária construída a duras penas.

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3.2 As pesquisas na Companhia Industrial Paulista de papéis e papelão

A Companhia Industrial Paulista de Papéis e Papelão: Histórico Pouco se sabe sobre a origem da Companhia Industrial Paulista de Papéis e Papelão (CIPA). Fundada no início do século XX por integrantes da família de imigrantes italianos Cavalari, a CIPA já figurava no Mapeamento Topográfico do Município de São Paulo publicado em 1928 pelo Instituto Sara Brasil, de modo que sua origem deve residir, provavelmente, entre a primeira e segunda década do mesmo século. Ainda que haja indícios de que haveria um estabelecimento industrial no local da CIPA já em 1890, conforme aponta a Planta da Villa Prudente fundada pelos Irmãos Falchi e Serafim Corso em 1890 (s/a: 2005), é difícil assinalar com precisão se o empreendimento ali destacado compunha de fato as primeiras instalações da fábrica de papel e papelão. Localizada entre as ruas Cavour, Engenheiro Bemmer (hoje Itamumbuca), Correa Barbosa (onde atualmente passa a Avenida Professor Luiz Ignácio de Anhaia Melo) e Giulio Cesare (parte da atual Ibitirama), no bairro da Vila Prudente, a CIPA foi por muito tempo conhecida como Companhia de Papéis e Papelão Búfalo, uma vez que a marca dos papéis e papelões produzidos na CIPA tinham como o nome Búfalo como marca. O time de futebol que ali se formou durante a década de 30 – O Búfalo A.C – também ajudou a disseminação do nome. Este deixou de ser utilizado quando a própria CIPA resolver extinguir a marca e o logotipo Búfalo, por volta da década de sessenta. Em 1964, a família Cavalari resolveu vender a CIPA, que foi comprada por integrantes da família libanesa Salim. Esses, por seu turno, permaneceram na direção da fábrica até seu fechamento, em 1993. Desde que foi removida para Pindamonhangaba, em meados da década de noventa, a CIPA não voltou a ter algum estabelecimento na Vila Prudente. A história da CIPA, em certa medida, é um exemplo do processo de industrialização e consolidação de uma classe operária paulista. Uma indústria que começou por iniciativa de uma família de imigrantes italianos e que, como perceberemos pelos sobrenomes de seus antigos operários, operou durante décadas movida pelos braços de seus conterrâneos. Não somente italianos, é claro, mas também espanhóis e portugueses, e depois seus filhos e netos. Das mãos dos Cavalari a CIPA passou aos libaneses Salim, outro grupo de imigrantes que prosperou nos negócios de São Paulo. 57


Com alguma frequência associa-se os imigrantes somente a lavora de café ou ao operariado na cidade de São Paulo, contudo, na realidade, os imigrantes se espalharam por diversas atividades econômicas, com alguma concentração, é verdade, mas de modo bastante diversificado. Da mesma forma a rapidez com que algumas famílias de imigrantes tornaram-se empresárias na cidade de São Paulo explicita o equivoco de se ver toda a massa de estrangeiros como aventureiros sem eiras nem beiras. Algumas das famílias de imigrantes, nem tão poucas assim, chegaram ao Brasil com cabedais suficientes para não terem de se submeter ao trabalho assalariado. O tamanho das iniciativas desses imigrantes, obviamente, variou de acordo com o capital que puderam amealhar e trazer para Brasil (advindo de vendas de propriedades, terras, etc, em suas pátrias natais), uns conseguiram o suficiente para abrir uma venda, um açougue, uma loja de roupas, outros o suficiente para comprara algumas mercadorias e se tornarem caixeiros viajantes (como muitos sírios e libaneses fizeram), outros, com mais posses, abriram pequenas fábricas de alimentos e bens de consumo (como os Matarazzo). A habilidade de alguns fez a diferença a partir de então, bem como as oportunidades apresentadas por uma sociedade em franco crescimento demográfico e em processo de urbanização, o que implicava numa crescente demanda por certas ordens de produtos como materiais de construção civil (para os bairros e edifícios que se proliferavam pela cidade, sobretudo na expansão de seus subúrbios), alimentos (que sempre é a categoria de mercadoria primeiramente impactada por processos demográficos), vestuário. Cotidiano e trabalho Ao fechar suas portas, em 1993, a CIPA produzia uma grande variedade de papéis e papelões, quer para o mercado interno quer para o externo. Tal diversidade na produção, todavia, não existiu desde a fundação da fábrica, já que ela foi resultado de um amplo processo de afirmação da fábrica no cenário de fabrico de papéis, do advento de demandas de consumo específicas, bem como da paulatina ampliação e complexificação de sua estrutura produtiva. Para entendermos esse movimento pelo qual passou a CIPA, é necessário que se tenha em mente, primeiramente, os processos centrais do fabrico industrial do papel. A principal matéria-prima básica para a produção de papel advém da madeira. Depois de serem talhados em diversos pedaços, os troncos são submetidos a um processo de descascamento e corte, ganhando a forma de pequenas lascas, que são chamadas de “cavacos” pelos produtores de papel. 58


Após esse procedimento, os cavacos são cozidos em tanques intitulados digestores que, juntamente com as lascas de madeira, fervem uma mistura formada por água e agentes químicos, tais como o sulfito e o caulim, a fim de dar cor e consistência ao que será chamado de polpa ao fim do processo. Dentro de centrífugas e tanques, a polpa é submetida a um procedimento de lavagem, de modo que os cavacos que não se dissolveram bem como outras impurezas são considerados como refugo. Limpa e compacta, a polpa passa por um tempo de repouso em outros tanques, estabelecendo uma etapa chamada de branqueamento, que tem como fim separar a celulose de outros resíduos. Estes, juntamente com pedaços maiores de madeiras que não foram aproveitados na constituição da polpa, são queimados em caldeiras e transformados em energia elétrica, que por sua vez ajuda a alimentar o próprio fabrico do papel. Terminado esse processo, a polpa de celulose, ainda com alto teor de água, passa por uma máquina intitulada “mesa plana”, que é responsável por transformar essa massa úmida numa grande folha lisa e contínua. Essa fica repousada sobre uma esteira rolante de feltro até ser enviada para rolos de prensagem e secagem com ar quente, que têm como finalidade retirar a água em excesso, compactar o papel e alisar a folha. De acordo com o tipo de produto que se almeja, o papel ela ainda passa por uma “revestidora” (conhecida como coater), que constitui um rolo que aplicador de películas às folhas de papel, a fim de protegê-lo ou dar-lhe brilho. No fim do processo, a folha passa por uma máquina chamada “enroladeira” bem como por “rolos de rebobinagem”, que fazem como que o papel descole da esteira rolante e forme grandes rolos ou bobinas. A partir daí, o papel está pronto para o corte e empacotamento. Do início da década de 1920 até meados da década de quarenta, a CIPA produziu apenas papel sulfite, cartolina e papelão. A celulose era comprada, majoritariamente, de plantadores de eucalipto e pinho situados nas redondezas de São Paulo, tal como em Mogi das Cruzes e Suzano. O eucalipto, árvore que possui fibras curtas, é utilizado na produção de papéis de baixa resistência, utilizados em escritórios e afins, o pinho, por sua vez, possui fibras longas, sendo, portanto, empregado na fabricação de papelões e papéis de alta resistência, utilizados em embalagens e correlatos. Durante esse período, a fábrica era constituída por três unidades básicas: um escritório e dois galpões, sendo um direcionado para o armazenamento da celulose e outro para abrigar o maquinário responsável pelo fabrico do papel, chamado de “Máquina 1”. Esta constituía, de modo geral, um conjunto de máquinas necessárias para o fabrico do papel, tal como foi elucidado acima. Fora das edificações, havia também uma área aberta voltada para a secagem 59


do papel e um poço, cuja água era retirada do córrego da Mooca e servia para abastecer a fábrica. Na segunda metade dos anos 40, a CIPA adquiriu um novo maquinário para o fabrico de papel, mais moderno, que ficou conhecido como “Máquina 2”. Trabalhando com duas máquinas, a CIPA passou a produzir outros tipos de papéis, em especial novos formatos de cartolina. Por volta de 1965 a CIPA comprou ainda outro maquinário – a “Máquina 3” – que, dadas suas características, proporcionou a fabricação de diversos tipos de papel (cartão, especiais, de segurança, de impressão, de embrulho) e papelão. Rótulos de segurança para cigarros, suportes para doces e chocolates, papéis para cartões de visitas e convites do casamento se tornaram importantes produtos da CIPA após a instalação da Máquina 3. Nessa época, construiu-se um almoxarifado definitivo para a fábrica. Em 1993, ano de fechamento da fábrica, a produção variava entre 1600 e 1700 toneladas por mês. Nesse sentido, é difícil precisar a evolução do corpo de funcionários durante todo o período de funcionamento da fábrica, embora seja possível estabelecer alguns números aproximados. Até a década de 50, os funcionários não excediam uma centena, ao passo que nos anos sessenta, o número de funcionários girava em torno de 150. Crescendo paulatinamente, atingiu a casa dos 320 na época do fechamento da fábrica, no inicio dos anos noventa. Tal aumente esteve atrelado tanto à ampliação da capacidade produtiva da fábrica como da inserção da CIPA no mercado internacional, o que demandou a criação de novos postos de trabalho. O número de homens sempre foi bem superior ao das mulheres, sobretudo por conta do tipo de atividade exigida pela fábrica. Enquanto os homens desempenhavam as funções de operadores (de caldeira, filtro d’água, esteiras, revestidoras, etc.), graxeiro, prensista, dentre outros, as mulheres ocupavam cargos nas áreas de seleção, corte, empacotamento, ou no escritório. Exatamente por ter passado por diversos momentos e ter constantemente ampliado seu parque industrial a CIPA não constitui um conjunto arquitetônico homogêneo. As fotos das décadas de 1930, 1940 e 1950 mostram uma fábrica muito mais modesta, com a estrutura original de dois galpões e escritórios, com a torre de energia na frente. Atualmente o conjunto é composto por inúmeros galpões e anexos, além dos pátios de expedição e estacionamento, além do muro externo que não havia em tempos anteriores. A adição do muro que separa a fábrica da rua denuncia, inclusive, uma mudança social significativa; nos relatos dos antigos operários é recorrente a 60


referência à liberdade com a qual as pessoas entravam e saiam da fábrica. A relação com a comunidade era muito intensa, reforçada tanto pelas políticas de assistência (como o cooperativismo) quanto pela própria associação entre bairro operário e fábrica. Essa relação, uma das constantes das primeiras décadas da industrialização no Brasil, dissolveu-se, com o agravamento de inúmeros problemas urbanos. Se antes o trabalhador andava dois ou três quarteirões para chegar ao seu lugar de trabalho, hoje é obrigado a viajar por horas. Os motivos pelos quais essa mudança ocorreu são múltiplos, desde uma precarização de alguns setores do operariado até a fuga das fábricas da região metropolitana, em busca de incentivos e mão de obra mais barata, mas também não podemos excluir a especulação imobiliária e interesses paralelos no fornecimento de serviços para as grandes aglomerações humanas. Assim a estrutura básica da edificação original, dos anos de 1920, convive com inúmeras adições, com emprego de materiais construtivos diversos. O prédio original é essencialmente marcado pela onipresença do tijolo comum aparente, argamassa, telhas “francesas” (parte do material fabricado, inclusive, na antiga Cerâmica Vila Prudente próxima dali) e estruturas auxiliares (janelas e portas) de ferro e madeira, em modelo bem característico dos edifícios industriais do período. Contudo, as adições realizadas nas décadas de 1960 em diante primaram pelo uso de tijolos “baianos”, telhas de amianto, de zinco ou de fibra, e portas e portões de chapa de ferro. O refeitório e os banheiros – bem como algumas das estruturas de armazenamento da pasta de celulose – receberam azulejos modernos e as janelas de vidros com malhas internas de metal. Em suma, a CIPA acompanhou a mudança nas estruturas edificadas industriais e a alteração nos materiais construtivos utilizados, o que compõe, em verdade, novas mentalidades e novas práticas no cotidiano do trabalho industrial. O aumento gradual de funcionários fez com que a CIPA implantasse algumas políticas de favorecimento ao operariado. Nesse sentido, criou-se uma cooperativa para os funcionários da fábrica que, à semelhança de outras iniciativas do gênero – tal como a cooperativa implementada pela indústria química francesa Rhodia e pela indústria de automóveis Volkswagen –caracterizava-se por vender gêneros de primeira necessidade aos seus funcionários (especialmente arroz, feijão, açúcar, sal e ovos) por preços mais baixos que aqueles encontrados no mercado. Faz-se necessário notar que se por um lado esse tipo de iniciativa beneficiava os trabalhadores, por outro criava um laço ainda mais estreito entre o empreendedor e o empregado, uma vez que esse via seu salário descontado de acordo com os gastos feitos pelo operário na cooperativa, o que tornava ainda mais concentrado o capital 61


gerado pela indústria. Funcionado por mais de uma década a cooperativa parou de funcionar em meados da década de sessenta. Outra iniciativa promovida pela CIPA em relação a seus funcionários foi à construção de casas operárias nas proximidades da fábrica, durante as décadas de 40 e cinquenta. Uma vez que as terras situadas nas margens do Riacho da Mooca eram pouco ocupadas, ao menos na altura da fábrica, a direção da CIPA resolveu construir algumas moradias nessa região, que eram alugadas ou vendidas aos funcionários.

O lazer, a festa e a identidade Desde sua fundação, mas principalmente após a década de cinqüenta, a CIPA se caracterizou por ser uma fábrica cujo corpo de funcionários foi alvo de poucas alterações, o que proporcionou a manutenção de um mesmo grupo de trabalhadores por bastante tempo. Não foram raros os casos de operários com mais de trinta anos de trabalho na fábrica, o que fez criar laços de amizades muito estreitos entre os funcionários e suas respectivas famílias. Assim, além de uma cultura marcadamente operária, similar à desenvolvida em outras regiões fabris da cidade de São Paulo, estabeleceu-se uma cultura própria da CIPA, com seus significados e singularidades. Uma das principais manifestações culturais atreladas à CIPA foi o Bloco dos Cabeções, grupo de carnaval surgido na década de 1930 após iniciativa de Vitorino Pizzo, Sergio Pizzo, Miguel Lopes e Eugenio Corazza, e que obteve grande aceitação por parte dos funcionários da CIPA. De modo geral, o bloco era composto pelos operários da fábrica que se fantasiavam de bonecos com grandes cabeças feitas de papel marché, que por sua vez eram confeccionados na própria fábrica ou comprados de outras localidades, como de Santana do Parnaíba. Além de comporem as comemorações de carnaval organizadas dentro da fábrica, o Bloco dos Cabeções também desfilava em outras festas da Vila Prudente, tornando-se conhecido em todo o bairro. Com o passar do tempo, criou-se a Escola de Samba dos Cabeções, que já não estava mais diretamente vinculada aos funcionários da CIPA. Atualmente recebe o nome de Escola de Samba Independente. Outra manifestação cultural significativa vinculada à CIPA foi o time de futebol Búfalo AC., criado durante a década de 1940 e que utilizava como campo uma área não produtiva da própria fábrica. Juntamente com outros clubes da região, tais como o E.C Vila Ema, Grêmio Jardim Independência, E.C Quinta das Paineiras, o Búfalo compôs o circuito de futebol de várzea da Vila Prudente nas primeiras décadas do século XX. 62


Tendo com primeiro dirigente o Sr. Idílio Bertolassi e como jogadores os funcionários da fábrica, o Búfalo conquistou, em 1954, o campeonato Galo da Várzea ou Galo de Ouro, tornando-se famoso diante dos demais times de várzea da cidade de São Paulo. Numa época em que o futebol era um esporte eminentemente amador, não foram poucos os casos de jogadores do Búfalo que ajudaram a compor equipes paulistas de maior projeção como Corinthians e São Paulo. Na década de cinqüenta, construiu-se a sede do Búfalo quase em frente à CIPA, na Rua Cavour, onde eram realizadas festas de fim de ano, casamentos e comemorações relacionadas ao time de futebol. O time permaneceu em atividade a até meados da década de sessenta, de modo que um dos poucos resquícios materiais que ainda persistem é a própria sede do Búfalo, atualmente utilizada como salão de festas de formatura e casamento. As comemorações de fim de ano tinham importante significado para os funcionários. Todos participavam das festas, que geralmente eram churrascos feitos durante o próprio expediente. Para que a fábrica não parasse sua produção, os trabalhadores se alternavam para comerem e beberem. A fabricação de vinho constituía outra atividade recorrente entre os funcionários da CIPA. Produzido de forma artesanal no fundo da fábrica, o vinho era repartido entre os funcionários. Estes, até pelo menos a década de sessenta, também criavam porcos nas áreas mais baixas da fábrica, abatendo-os nas vésperas de festas. Tanto os times de futebol operários (e devemos lembrar que quase todos os grandes clubes de futebol de São Paulo surgiram de grupos de imigrantes operários, como o Corinthians dos espanhóis, o Palestra Itália, depois Palmeiras, dos italianos, a Portuguesa de Desportos dos portugueses, o Germânia, depois São Paulo, de alemães, o Juventus também dos italianos) quanto os blocos carnavalescos, além de outras

atividades

correlatas

(clubes

de

dança,

cinemas,

teatros

operários)

compuseram um rico cenário cultural do operariado paulista. Além do próprio fortalecimento dos laços classistas, fundamentais no trato com o patronato, todo esse universo de atividades criou um ambiente fértil em São Paulo e uma identidade que relacionou a cidade à cultura do trabalho. Graças a esse processo São Paulo, talvez, seja uma das poucas cidades onde o trabalho não é algo que está segregado em um único momento da vida e das atividades humanas, mas uma prática, uma forma de fazer, um ethos que está presente em todas as atividades humanas; e presente de uma forma que humaniza o homem e que é valorizada, apesar de todos os pesares.

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O patrimônio edificado A área da antiga CIA Paulista de Papéis e Papelão está inserida em um terreno que ocupa uma quadra inteira, caracterizando um grande complexo de galpões que abrigavam as dependências da empresa. Nota-se uma extensa área construída, entretanto, trata-se de acréscimos e anexos edificados ao longo dos anos de acordo com a necessidade de ampliação e modernização dos processos. Ressaltam-se

dois

galpões

e

a

guarita,

que

provavelmente

são

contemporâneos ao período de fundação da empresa. Correspondendo a tipologia nos moldes das indústrias inglesas com tijolos aparentes e com grandes vãos. As referidas edificações, separados por um corredor de 3,65 metros, estão inseridas no centro do terreno apresentando um recuo de aproximadamente 27 metros onde provavelmente apresentava uma área ajardinada. O primeiro galpão e provavelmente o mais antigo é caracterizado por fachada seccionada em duas faces espelhadas, representando duas edificações distintas e conjugadas, com duas janelas e uma porta para cada lado, frontões independentes formando uma cobertura com quatro águas. Apresenta fachadas com tijolos aparentes como já mencionado; esquadrias de metal envidraçado com a parte inferior de abertura bascular; vãos arqueados e simétricos sempre guarnecidos por relevo na padieira e cunhais; moldura diferenciada com relevos trabalhados com os tijolos dispostos simetricamente na horizontal e vertical numa composição raramente observada.

Figura 11- Área da antiga CIA. Paulista de Papel e Papelão. 64


Figura 12 - Construções remanescentes do período de implantação da antiga CIA. Paulista de Papel e Papelão.

Figura 13 - Galpões provavelmente remanescentes da implantação da empresa

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Figura 14 - Janela da fachada norte

Figura 15 - Detalhe da moldura

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É provável que o galpão apresente uma face sul seguindo as mesmas linhas simétricas da fachada norte, nota-se uma ampliação na fachada promovendo alterações na concepção primitiva. Observa-se um recorte na fachada e a ampliação da cobertura. Tratava-se provavelmente de uma construção livre sem anexos.

Figura 16 - Detalhe da ampliação onde a fachada sul foi demolida.

O segundo galpão segue a mesma tipologia e os aspectos construtivos do primeiro, estando somente em uma posição mais baixa, justificado talvez pelo acentuado declive do terreno. Neste caso ressalta-se que tanto seu interior como as fachadas laterais estão bastante descaracterizadas restando somente à fachada frontal norte, fato que dificulta uma compreensão da concepção primitiva da construção.

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Figura 17 - Planta do Galpão da CIA. Paulista de Papel e Papelão, evidenciando a concepção original.

Figura 18 - Provável conformação original do Galpão da CIA. Paulista de Papel e Papelão.

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Figura 19 - Fachada norte do galpão.

Pode-se observar ainda elemento construtivo na entrada da fábrica onde hoje funciona a guarita de entrada. Tal elemento, embora bastante descaracterizado dificultando uma compreensão mais clara do elemento, corresponde provavelmente à caixa de força da fábrica. Seguindo as mesmas linhas arquitetônicas integra juntamente com os galpões as construções do período de fundação da fábrica. Apresenta modenatura semelhante aos galpões, possui um arremate recortado na platibanda semelhante às construções militares. Hoje abandonada, a antiga fábrica apresenta o restante de suas construções com anexos e ampliações em concreto armado, tesouras metálicas e coberturas de chapas onduladas, caracterizando elementos construtivos recentes.

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Figura 20 – Guarita.

Figura 21 - Vista interna dos galpĂľes.

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3.3 Estudos de cultura material

Quando da chegada da equipe na área da Companhia, logo percebeu-se que a forma como se encontravam as edificações, móveis, documentos e ferramentas não tinham sofrido muitas alterações do estado em que a empresa teria sido “abandonada”, há 14 anos atrás. Desta maneira, juntamente com os estudos históricos da CIPA e do bairro de Vila Prudente, foi realizado um registro destes vestígios que subsidiassem o resgate da memória da CIPA e seu cotidiano. Foram encontrados, assim, dentro das dependências do prédio: • moldes de madeira onde antes era a Carpintaria; • manuais de empilhadeiras e correias dentadas onde era a Oficina Mecânica; • EPIs e relações de funcionários na Ferramentaria; • bancada, restos de trenas e projetos de peças na oficina mecânica; • lousas, papéis quadriculados, formulários e informes diversos onde antes era a Sala dos Engenheiros; • telefones, calculadoras, escrivaninhas, divisórias e portas, poltronas, cadeiras, sofás, notas fiscais, controles de entrada e saída de materiais nos locais onde eram realizados os Serviços Administrativos (escritórios); • restos do maquinário e bancadas nos grandes galpões onde funcionaram as 3 máquinas da indústria; • artigos de confecção e tintas no Almoxarifado; • pedaços de manequins, cabides e mesas expositoras onde antes era a Cooperativa; • garrafas de produtos químicos e recipientes de ensaio no antigo Laboratório. Além destes materiais, que podem ser considerados diagnósticos na análise do funcionamento do local dentro de uma indústria, permeiam em praticamente todos os setores e, principalmente, onde era a oficina mecânica, materiais e documentos que indicam um pouco do cotidiano dos trabalhadores, como cartas e caixas de baralho, jornais, calendários, holerites, declarações de imposto de renda e até um ingresso de jogo de futebol.

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Figura 22: Fotos de materiais encontrados no interior da fĂĄbrica de papel e papelĂŁo (CIPA).

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Figura 23: Materiais encontrados no interior da fĂĄbrica de papel e papelĂŁo (CIPA).

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Acervo arqueológico Durante as escavações realizadas na porção de terreno ainda preservada da CIPA foram coletadas peças que remetem ao fim do século XIX e início do XX, até aproximadamente a década de 1920, diagnosticado pelos fragmentos de vidro soprado em molde duplo de uma garrafa de óleo de rícino e pelos fragmentos de faiança. Este material abrange uma grande diversidade de itens, incluindo louça, grés, metais, vidro, moedas, botões, cerâmica, material construtivo, entre outros. Com relação ao comportamento estratigráfico do local, não foi percebida nenhuma grande alteração daquele já caracterizado nas etapas anteriores, porém, foi possível identificar que o material arqueológico coletado ocorre no horizonte superior (Horizonte A) dos solos preservados sob o piso do antigo galpão que havia ali, sendo arqueologicamente estéreis as camadas inferiores bruno-amarelada e argilosa (Horizonte B) e vermelha e argilosa. As sondagens situadas no setor Norte e Nordeste (Sondagens 4, 3 e 6) não apresentaram fragmentos. Mesmo estando no local anteriormente caracterizado por apresentar solos preservados, estas sondagens também não apresentaram um Horizonte A bem preservado, estando o piso atual sobre um horizonte pedológico que, mesmo quando aparentemente escuros, possui já tênues tons amarelados, que em poucas profundidades já se tornam o Horizonte B arqueologicamente estéril. Portanto, parece que as camadas superiores destes solos, que coincide com a camada arqueológica reconhecida no local, foram decapitadas quando o terreno foi “aplainado”. Além da caracterização do material arqueológico em si, as escavações permitiram a observação de outros fatos. Foi possível identificar um bolsão de entulho com material recente na sondagem S1, até cerca de 90 cm de profundidade, diretamente sobre a camada arqueologicamente estéril (Horizonte B do solo). Há uma estrutura de tijolos que atravessa o setor Oeste da área em sentido Norte-Sul, evidenciada na Quadra 1 (Trincheira 1) e na Quadra 13 (Trincheira 2). Esta estrutura praticamente delimita um terreno à Leste com o solo preservado logo abaixo do piso atual de outro à Oeste, onde ocorrem espessos aterros e os limites superiores do solo preservado possuem já uma maior inclinação em direção à planície de inundação. Na Quadra 11 (Trincheira 2) foi identificado um “bolsão” bio-perturbado no local.

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Figura 24 – Fotos de vestígios de interesse arqueológico.

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Figura 25 - Camadas estratigráficas observadas nas escavações.

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3.4 Cultura imaterial Além das pesquisas realizadas na própria área de obras (atividades de prospecção e resgate), e também estudos da documentação pertinente, buscou-se complementar o Programa através da coleta de dados e depoimentos de antigos moradores e funcionários da empresa, buscando abordar os diferentes aspectos patrimoniais envolvidos. Uma primeira entrevista foi realizada com o Sr. Antônio Danilevic, que foi repórter do jornal local “Gazeta da Vila Prudente”, e que permitiu que nossa equipe retirasse fotos de fotografias antigas que ele possui da época e que foi canalizado o córrego da Moóca. Constitui um acervo importante para a memória do bairro. Foram ainda realizadas filmagens de entrevistas com três pessoas da comunidade, apresentadas no nas Mídias Sociais fornecidas na Introdução. São elas: 

Sr. João Natalino Gomes (Ziza), morador da Vila Carioca. Seu depoimento versa sobre a história e evolução do bairro, dos terrenos hoje destinados ao Metrô e sobre a Companhia de Papel e Celulose.

Sr. Zequinha, também da Vila Carioca, e que constitui um de seus barbeiros tradicionais. Igualmente deu depoimento sobre a história e evolução do bairro.

Sr. Francisco de Cézare, ex-gerente de produção da CIPA, e que junto com a equipe do presente Programa realizou uma visita em todas as dependências das ruínas da fábrica, explicando seu funcionamento e particularidades de cotidiano.

Estes depoimentos fornecem detalhes riquíssimos sobre a história aqui tratada e, sem dúvida, inserem uma visão dinâmica participativa dos atores sociais envolvidos e comprometidos com a evolução cotidiana da Vila Prudente.

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Prancha 1 – Entrevistas e fotos históricas

Sr. Antônio Danilevic, em depoimento ao arqueólogo.

Antigo leito do córrego da Moóca. Acervo Sr. Antonio Danilevic.

Obras de canalização do córrego da Moóca. Notar edificações da CIPA. Acervo Sr. Antonio Danilevic.

Obras de canalização do córrego da Moóca. Notar edificações da CIPA. Acervo Sr. Antonio Danilevic. Obras de canalização do córrego da Moóca. Notar edificações da CIPA. Acervo Sr. Antonio Danilevic.

Obras de canalização do córrego da Moóca. Notar edificações da CIPA. Acervo Sr. Antonio Danilevic.

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3.4 Resgate da memória: patrimônio edificado Esta parte do texto apresenta uma análise do patrimônio edificado ligado às residências da Vila Prudente, mais especificamente, na chamada Vila Carioca. A primeira parte do texto trata da história dos estilos e partidos construtivos que, de um modo geral, ocorreram em São Paulo. A segunda parte do texto traz justamente a análise da Vila Carioca, complementando, com a fábrica da CIPA, exemplares da arquitetura e Modos de Vida tradicionais da Zona Leste paulista.

A urbanização de São Paulo e seus reflexos no patrimônio edificado A ocupação colonial da região hoje politicamente constituída pela cidade de São Paulo e municípios próximos (Grande São Paulo) se deu, a partir de 1560, a partir de dois pilares: ocupação laica (vilas) e religiosa (aldeamentos), que vêm constituir um cinturão de proteção ao redor da vila de Piratininga, fundada no planalto paulistano. Ocupação de baixíssima densidade, rarefeita e incipiente, apresenta nítida supremacia da população autóctone até meados do século XVII. Demonstra ainda ampla utilização da rede fluvial para deslocamento, penetração e ocupação. São Paulo, a partir do século XVIII, deixa paulatinamente de gerar expedições desbravadoras transformando-se num ponto de convergência de tropas e tropeiros, conectando-se com o restante da colônia através de uma nova rede de caminhos terrestres. Trilhas indígenas serviram de base para a implantação de uma malha intrincada de caminhos não pavimentados, convergentes para a zona central (região do Tamanduateí). A função primordial ocupada pela área de entorno da vila de São Paulo será, nos primeiros séculos de colonização, a de abastecimento e produção agrícola diversificada, funcionando como área de parada e pouso intermediário entre os núcleos mais afastados e a vila, a partir da intensificação do ciclo de muares. Evento de particular interesse foi à descoberta de ouro no sopé do Jaraguá (1590),

propiciando

o

start

ao

ciclo

minerador

em

escala

nacional.

São

contemporâneas às minas do Jaraguá iniciativas de prospecção e mineração em Guarulhos, Parnaíba, São Roque, Itapecerica e Carapicuíba. No caso do Jaraguá, as minas atingem seu esgotamento no início do século XIX. É possível estabelecer, via de regra, dois padrões urbanísticos de implantação de vilas e povoados para este período: o Núcleos de traçado irregular, acomodando-se aos compartimentos topográficos da paisagem a partir da ereção de capelas; o Aldeamentos religiosos apresentando uma malha de arruamento tendendo a regular, 79


de formato retangular constituído por quadras, tendo como centro de irradiação a igreja, colégio e seu pátio, a partir dos quais se dá a expansão da malha urbana. Do ponto de vista do estilo arquitetônico, as edificações buscam retomar aos ideais portugueses, tendendo à uniformidade de padrões explicitados nas cartas régias ou posturas municipais. Prevalecem, ao longo de todo o período colonial, os padrões estéticos herdados, por um lado, da Renascença e do espírito severo da Contra-Reforma e, por outro lado, do Barroco singelo, expresso com maior vigor nos edifícios oficiais e de função religiosa (conventos e igrejas). Por sua vez, as edificações de caráter popular recriam, no meio rural, a arquitetura oficial presente nas vilas e são criadas inúmeras versões dos modelos ibéricos, como decorrência de fatores de ordem diversa (uma maior incorporação da herança construtiva autóctone, a disponibilidade de materiais, a posição econômica, status social e condições de acessibilidade, entre outros). Quanto aos materiais, observa-se a adoção generalizada do barro, quer na forma da taipa de mão (pau-a-pique), ou na forma da taipa de pilão. Esta última técnica construtiva caracteriza uma vertente e modelo arquitetônico próprio que se difundiu a partir de São Paulo, irradiando pelos vales do Tietê e do Paraíba e alcançando regiões longínquas como Mato Grosso e Goiás. Do ponto de vista construtivo a arquitetura de “caráter popular” ou vernácula, sobretudo na região de São Paulo, acabou mantendo inalterados partidos, soluções técnicas e materiais adotados nos primórdios da colonização, permanecendo, em algumas regiões, até o final do século XIX ou ainda no século XX, desaparecendo recentemente com a expansão metropolitana. As sedes de fazenda implantadas em São Paulo e arredores atendem ao padrão denominado “bandeirista”, apresentando planta baixa retangular. Estas edificações foram erguidas com a técnica da taipa de pilão no corpo principal, apresentando elementos de pau-a-pique em divisórias internas. No final do século XVIII procede-se a uma redefinição do papel estratégico da região paulistana no contexto da política mercantil à época de Pombal, envolvendo inclusive a obrigatoriedade de escoamento de bens através de Santos. Isto conduz à melhoria e/ou pavimentação de caminhos antigos, permitindo um fluxo cada vez maior de mercadorias ao longo do território. Consolida-se o papel da zona oeste como região produtora agrícola e zona intermediária de parada e pouso, convergindo rumo à vila de Piratininga, lógica que se vê modificada com a implantação da malha ferroviária, a partir de 1870. Surge uma série de atividades relacionadas à circulação na área em questão. A zona oeste de São Paulo é melhor articulada à região de Sorocaba, Jundiaí, Itu e 80


Campinas com a instauração de feiras, pousos de tropas, hospedagens e estalagens. O relevo acidentado não favorece a expansão da malha urbana, à exceção da região de Osasco junto ao vale do Tietê. A formação da cidade dos barões de café, a partir de meados do século XIX até o primeiro quartel do século XX, consolida os arredores paulistanos como zona de abastecimento do núcleo urbano em crescimento acelerado. A região passa a atender também a outras funções com a transferência de atividades e/ou acomodação de atividades outrora presentes no núcleo urbano (hospital psiquiátrico do Juqueri, por ex.). Ocorre a destinação de locais favoráveis à implantação de atividades suporte à manutenção da cidade como geração de energia (usina Edgard de Sousa), captação de água (Cantareira), implantação de malha ferroviária utilizando as várzeas que conduzem à formação ou consolidação de núcleos populacionais (Osasco, Barueri, Perus, etc). Verificam-se as primeiras iniciativas de ocupação organizada da região com a introdução de colônias de imigrantes. Na região do Jaraguá e entorno são implantadas algumas fazendas de café, expandindo-se a lavoura cafeeira para o oeste paulista. Do mesmo modo, observa-se a introdução de pequenos engenhos e manufaturas nas localidades ao redor da cidade. Intensifica-se a atividade extrativa (pedreiras, fabrico de cal, caulim). Dentro deste contexto, é possível estabelecer três formas de ocupação da região: .. A expansão de núcleos coloniais com manutenção das feições herdadas do período anterior e formação de uma cultura própria (cultura caipira);.. O surgimento de núcleos formados a partir de paradas/pousos de tropas (séculos XVII e XVIII);.. O surgimento de núcleos conformados ao redor de estações de linhas férreas a partir da segunda metade do século XIX como Osasco e Nova Barueri; No plano das habitações rurais (sedes de fazenda) observa-se, a partir de finais do século XVIII, a convivência do padrão bandeirista com outro relacionado ao “torna Minas”. A casa conservadora paulista passa a conviver com a “casa mineira”, de estrutura autônoma de madeira, vãos preenchidos por adobe e posteriormente tijolos, assobradada ou térrea, levantada do chão, vendo-se surgir porões e depósitos ao nível do chão. No campo da arquitetura religiosa os padrões estéticos herdados do período colonial, caracterizado pelo barroco jesuítico singelo, permanecem no meio rural pouco modificados. A partir da Independência dissemina-se a vertente neoclássica de inspiração francesa na arquitetura urbana. O estilo neoclássico introduzido pela Missão Francesa irá tornar-se a arquitetura oficial do Primeiro e Segundo Impérios, mantendo-se até mesmo após a Proclamação da República. As mudanças na arquitetura se processam de forma rápida nas principais capitais, sendo assumidas

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pelas elites que passam a incorporar novos materiais importados da Europa.

O

Neoclássico se dissemina por São Paulo em duas versões: 

Uma de caráter urbano e oficial, importando e copiando modelos de além-mar;

E uma versão provinciana mais simplificada, produzida pela mão-de-obra escrava, com a aplicação de elementos decorativos às sedes de fazenda e residências. A partir da segunda metade do século XIX, com a implantação de estradas de

ferro em várias regiões, um novo estilo será introduzido: o Ecletismo, conciliando estilos e formas arquitetônicas de todas as épocas e países. Influenciado pelo pensamento positivista, este estilo ganha terreno e passa a predominar, sobretudo a partir da proclamação da República. O Ecletismo corresponde às transformações sociais vivenciadas no Brasil com a abolição da escravatura e a paulatina instauração de uma classe média urbana. Constitui um momento importante em termos de inovações técnicas, trazidas com os trilhos e a mão de obra especializada (imigrantes), refletindo os anseios da burguesia urbana em formação. Outro padrão estético que irrompe no alvorecer do século XX, nas edificações da área central, embora mais raro, é o art-nouveau. A taipa cede lugar ao tijolo, a telha colonial às telhas planas ou marseille, coberturas de flandres e assim por diante. Ladrilhos hidráulicos, azulejos e o ferro forjado na forma de elementos construtivos e peças manufaturadas (louças sanitárias, por ex), refletem novos padrões de higienização e sanitarização, agora difundidos, sobretudo, em núcleos urbanos. Com eles o gás encanado, a iluminação pública, etc. Por sua vez, as edificações de caráter popular procuram imitar, no meio rural, a arquitetura oficial presente nas vilas e são criadas inúmeras versões dos modelos europeus, viabilizando-se ou não em decorrência de fatores de ordem diversa (uma maior incorporação da herança construtiva autóctone, a disponibilidade de materiais, a posição econômica, status social e condições de acessibilidade, entre outros). Do ponto de vista construtivo a arquitetura de caráter popular, sobretudo nas zonas poucos dinâmicas, acabou mantendo inalterados partidos, soluções técnicas e materiais adotados nos primórdios da colonização, permanecendo imutável em algumas zonas da região metropolitana, até meados do século XX. Todavia, o processo desencadeado com a consolidação do parque industrial paulista fez desaparecer de forma acelerada a maior parte das estruturas relacionadas ao passado colonial e tempo do Império. Costuma-se afirmar que a cidade é composta de três estratos: o atual marcado pelo concreto, abaixo deste a cidade erguida em tijolos herança do café e, sob esta, a cidade colonial de taipa praticamente desaparecida. De cidade industrial São Paulo prossegue em seu crescimento no 82


decorrer do século XX, rumo à posição de metrópole de influência nacional e internacional. As condições oferecidas pela Primeira Grande Guerra favoreceram o consumo de produtos manufaturados paulistas e a efetiva instalação do parque fabril. A cidade passa a crescer de forma acelerada tanto em extensão como em população, dilatando-se radialmente para além de 15 quilômetros da zona central, onde permaneceu contida ao longo dos últimos 300 anos. Em 1918 São Paulo contava com menos de 60 mil edificações; em 1944, com 100 mil. O parque industrial paulistano saltou de 3.487 indústrias em 1937 para 8 mil em 1941. Em 1945 São Paulo possuía mais de 11 mil estabelecimentos fabris situados proximamente às ferrovias, formando ao seu redor grandes bairros fabris desde o Ipiranga até a Lapa e Osasco. Todavia, a cidade se liberta dos trilhos e passa a vivenciar a lógica do petróleo e rodoviarismo, processo instaurado a partir de 1918. Uma década depois a cidade conhece seus primeiros congestionamentos, obviamente ainda circunscritos à zona central, tendo início um debate que irá varrer das ruas paulistanas o eficiente sistema de bondes elétricos. Em 1937 a cidade recebe seu primeiro grande projeto urbanístico, o chamado Plano de Avenidas (1937). Em sua expansão territorial rumo à periferia os principais rios, outrora importantes meio de circulação, tornam-se empecilhos: serão retificados ou até mesmo aterrados, criando novos espaços a serem ocupados. Os arredores paulistanos consolidam-se na década de 1920 como “área granjeira”, devotando-se à produção de gêneros alimentícios. Na região Oeste se instalam, por exemplo, os japoneses (criação da Cooperativa Agrícola de Cotia, por ex.), portugueses e espanhóis a noroeste e Cantareira, levando à progressiva dilatação do cinturão caipira. Do mesmo modo, essa região de entorno passa a oferecer com intensidade cada vez maior de matérias-primas básicas para a construção, com a exploração de jazidas minerais, além do fornecimento de lenha, seguido pela implantação de projetos de reflorestamento (pinus e eucalipto), gerando os “ingredientes” indispensáveis à manutenção do parque industrial em franco crescimento. Na outra ponta do progresso industrial vemos São Paulo transformada em polo dinâmico e intenso de atração populacional. Além do movimento interno de migração de europeus e seus descendentes, confluindo do interior para a capital na primeira metade do século XX, vemos a instauração de um processo de migração interna, passando São Paulo a receber levas sucessivas de mão de obra provenientes do Norte e Nordeste do país.

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A completa ausência de políticas urbanas habitacionais propiciou a ocupação irregular de diversos bairros e zonas mais afastadas, que viriam a constituir muitos dos bairros populares atuais, sobretudo a partir de 1950. As grandes propriedades rurais remanescentes nas zonas suburbanas vão sendo parceladas e criados novos loteamentos, que são conectados por meio de ônibus. Assim, as vilas operárias originalmente implantadas junto a instalações industriais crescem em extensão na periferia. Na zona central observa-se o surgimento de cortiços e outras modalidades de habitações populares. Irá predominar, até o final da década de 1970 nos arredores de São Paulo e municípios vizinhos, a habitação precária, de caráter vernáculo, via de regra, construída em regime de autoconstrução. Os lotes vão sendo reduzidos e a ocupação se faz sob o completo despojamento de infra-estrutura, equipamentos e serviços. O parcelamento do solo não atendeu a quaisquer preceitos legais e urbanísticos, imperando o loteamento clandestino e irregular. O aumento das favelas se dá na ordem de 1000% entre os anos de 1973 e 1987. Basta afirmar que, em 1990, a Prefeitura de São Paulo tinha em andamento a legalização de 2500 processos de loteamentos, envolvendo 16% da área do município. Em resposta a essa situação observa-se a erupção de movimentos emancipatórios, quando alguns bairros são alçados a municípios como Taboão da Serra (1958), Osasco (1958), Barueri (1949) e assim por diante, conformando-se em novos sub-centros no contexto da grande malha urbana. Instaura-se

na

região

metropolitana

um

emaranhado

processo

de

deslocamento pendular baseado no sistema rodoviário, envolvendo milhões de pessoas. Nasce um mini-anel de circulação ao redor da metrópole (marginais) que virá a se esgotar em algumas décadas. O sistema metropolitano implantado sobre a estrutura radiocêntrica e o equipamento ferroviário sucateado por décadas não atendem satisfatoriamente à demanda. A lógica do automóvel exige a proliferação de avenidas de fundo de vale surgidas com a canalização de rios e córregos que impermeabilizam a superfície, criando problemas de fluxo e condução de águas pluviais e as recorrentes enchentes nas estações chuvosas. Os vazios urbanos e estoques de áreas aguardando valorização conhecem uma ocupação intensiva por uma cidade clandestina que se expande rumo, inclusive, à zonas protegidas (áreas de mananciais). O mesmo se dá a partir dos subcentros históricos, ao redor da zona central. A cidade se move e tem o seu centro deslocado do triângulo histórico em direção à Avenida Paulista já no final dos anos cinqüenta,

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prosseguindo em sua trajetória rumo à região da marginal Pinheiros (Faria Lima e Berrini, a partir de 1970/80). Todavia, a partir da década de 1980 a mega metrópole passou a mostrar uma tendência distinta daquela vivenciada nas últimas seis décadas. Embora o município continue ganhando 300 mil novos moradores a cada ano, as taxas de crescimento passaram a se mostrar cada vez menores. Outro fenômeno observado pelos estudiosos foi à inversão da tendência de crescimento periférico, quando as áreas mais centrais passaram a apresentar taxas maiores do que aquelas observadas na periferia. Espacialmente, a segregação social ganha uma feição distinta daquela observada no cenário anterior, disseminando bolsões de empobrecimento ao longo da área central com o encortiçamento de regiões inteiras. Observa-se o surgimento da cidade murada e cercada por grades. A “cidade industrial que não para de crescer” ganhou um novo perfil, terceirizando-se e transformando-se em centro comercial e de serviços altamente sofisticado e diversificado, extrapolando sua dimensão regional e nacional para uma escala de influência continental. Internamente, a cidade de serviços reflete essa globalização e se sofistica com a implantação de centros empresariais e shoppingcenters que tendem a se tornar um padrão hegemônico, difundido pelos demais centros urbanos vizinhos. A sofisticação dos métodos e formas de estocagem e distribuição, aliados a mecanismos de financiamento, apresentam uma melhora qualitativa significativa quer no comércio atacadista como varejista. A indústria migrou para novos pólos distantes, contribuindo para configurar a megametrópole que se estende rumo às regiões de Campinas e de São José dos Campos (vale do Paraíba). Esse é o quadro que se coloca a partir dos anos 80/90, quando São Paulo passa a exibir uma nova face, assumindo a posição de metrópole de serviços dentro da lógica global. Embora o padrão neoclássico herdado do Império ainda persista no decorrer das primeiras décadas do século XX, a cidade culta adota generalizadamente o ecletismo ou a profusão de estilos na arquitetura, fundindo por vezes elementos de diversas tendências estéticas exploradas com maestria por Ramos de Azevedo, por exemplo. Antes da década de 1930 a cidade conhece seus primeiros edifícios inspirados no art nouveau e, posteriormente, muitas das velhas construções submetidas a reformas recebem frontões e detalhes dentro da estética art decot. Há espaço mesmo para a revisitação da arquitetura colonial. A Semana de 22 vem contribuir para a discussão de uma estética em termos nacionais com efeitos importantes para a renovação da arquitetura em São Paulo, que 85


tem como marco do chamado modernismo o arquiteto Gregori Warchawchik (1925). Nesse sentido, a “cidade que mais cresce no mundo” verá surgir instigantes projetos da chamada arquitetura moderna a partir da década de 1960, modeladas em concreto aparente. Nos edifícios de caráter público observa-se a paulatina substituição da técnica de alvenaria de tijolos pela técnica do concreto armado, propiciando os elementos necessários à verticalização em determinadas zonas da cidade e arredores. A partir de 1970 a influência da arquitetura moderna de Brasília leva à adoção de novos componentes construtivos como elementos estruturais e vedações industrializados (telhas de amianto, placas pré-moldadas, etc), que se disseminam por todo o país. Dentro do modelo de crescimento apresentado a periferia do centro urbano não vivencia essas transformações culturais, observando-se que as edificações de caráter popular são construídas em regime de autoconstrução, contando com uma planta básica sujeita a incorporações e acréscimos sucessivos. Além das habitações precárias, dá-se a disseminação de habitações pluri-familiares, que chegam a abrigar mais de 30 moradores. No extremo dessa cadeia estão as favelas.Do mesmo modo, a arquitetura oficial dos municípios da região metropolitana absorve de forma mais lenta as transformações promovidas na região central. Por vezes observa-se uma releitura e adoção de elementos isolados nos edifícios públicos e edificações privadas (pilotis, por exemplo).

O patrimônio Edificado da Vila Carioca O Bairro da Vila Carioca, nas proximidades da Vila Prudente, apresenta, na grande maioria, imóveis construídos em meados do século XX, momento em que o bairro sofreu um maior adensamento populacional. Entretanto, sua ocupação está relacionada com a intensa atividade industrial que aconteceu na região, sobretudo na Vila Prudente, no final do século XIX. Finalmente, apresenta-se uma análise de vestígios de ferrovia identificados nas imediações, complementando os grandes horizontes de ocupação histórica ali ocorridos.

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Figura 26 – Rua Aída esquina com a Rua Lício de Miranda.

A Vila Carioca foi ocupada pelos trabalhadores que se instalaram no local em função da proximidade com as indústrias que ocuparam a região nas primeiras décadas do século XX. Embora atualmente configura-se como uma área bastante modificada pelas sucessivas reformas e construções recentes, nota-se que as primeiras ocupações do Bairro estão relacionadas à “Moradia Operária”, ou ainda, “moradias populares” como são chamadas nos dias atuais. Nomenclaturas que caracterizam a pequena casa do operário, ou do trabalhador assalariado. A moradia operária é caracterizada principalmente pelo tamanho reduzido das repartições, geralmente obedecendo a um mesmo partido arquitetônico. No caso da área em questão as edificações provavelmente foram construídas em meados do século XX, momento em que o trabalhador já possuía condições para adquirir seu imóvel ou, ainda, comprar o terreno e fazer sua própria casa. Duas tipologias foram encontradas na área do Lote 5. A primeira refere-se à casa térrea em duas águas de telhado em telha francesa; relevos decorativos no frontão; beirais e forros executados em estuque; veneziana e guilhotina de madeira. Pode-se observar um exemplar com essas características na Rua Aída, 87. Neste caso a edificação está inserida isoladamente no lote com recuos laterais, área de serviço nos fundos e jardim frontal, diferente do cortiço onde as edificações eram conjugadas e com áreas comuns. Entretanto o exemplar supracitado encontra-se descaracterizado podendo, na verdade, possuir porta e janela na fachada frontal, ou ainda, somente uma janela com porta de entrada lateral. 87


Figura 27 – Rua Aída, 87.

A segunda tipologia observada se refere à pequena casa térrea conjugada compondo conjuntos urbanísticos semelhantes às intituladas “vilas industriais” do início do século XX. Trata-se de residências lindeiras (edificação que ocupa todo o limite frontal do lote) conjugadas com duas águas de telhado em telha francesa; beiral arrematado com estuque; relevos decorativos no frontão; e esquadrias de madeira janela de veneziana e guilhotina em conformidade com o padrão de época. Na Rua Antonio Frederico esquina com a Rua Amadis observa-se um conjunto com essas características.

Figura 28 – Residência aos moldes da Moradia Operária (Casa térrea conjugada). 88


Figura 29 – Planta Modelo (Casa térrea conjugada).

A moradia operária, também classificada como a habitação popular dos dias atuais, nada mais é do que a pequena casa da classe operária, oriunda das primeiras instalações industriais surgidas no país. Os primórdios de tal moradia começam a surgir nas grandes cidades a partir do final do século XIX em função de uma série de fatores políticos e sociais que contribuíram para uma mudança significativa no segmento da habitação, num primeiro momento, com a abolição do regime escravocrata.

Sob

este

aspecto

configuram-se

estas

primeiras

moradias

caracterizadas dentro daquilo que a bibliografia denomina “cortiços”, ou seja, habitações extremamente rudimentares implantadas apenas pela necessidade do empresário alojar sua massa operária.

Figura 30 – Conjunto de residências localizado na Rua Antônio Frederico. A evolução da Moradia Operária 89


Até meados do século XIX a questão da moradia nas grandes cidades constituía um fator relativamente definido, geralmente os centros urbanos não sofriam grandes mudanças com uma baixa taxa de população com regime praticamente rural. As cidades brasileiras, entre 1880 e 1890, apresentavam aos viajantes as mesmas características que haviam sido registradas ao final do período colonial, com seus defeitos agravados (REIS FILHO, 2001). Durante o período do Império até o advento da abolição praticamente não aconteceram, portanto, mudanças significativas na habitação. Geralmente a grande massa da população era baseada principalmente no negro escravo que habitava as senzalas, a dolorosa moradia do regime escravocrata. A população trabalhadora nos centros urbanos não era muito numerosa, seria equivalente ao dos proprietários urbanos e funcionários públicos (REIS FILHO, 2001). Tais trabalhadores, constituídos de artesãos, lavadeiras, prestadores de serviços e pequenos comerciantes, instalavam-se em pequenas casas de pau a pique cobertas com palha nas periferias, mas sua presença era praticamente imperceptível devido ao restrito número que representavam. Os empregados solteiros habitavam quase sempre os locais de trabalho. Grande parte dos trabalhadores vivia em velhos sobrados deteriorados, os chamados cortiços, ocupados por dezenas de famílias, vivendo em extrema pobreza (REIS FILHO, 2001). O próprio significado da palavra “cortiço” leva a entender o conceito dessas moradias: “Como sabemos, cortiço originalmente significa a moradia coletiva das abelhas, a colmeia, cujos alvéolos repetem-se à exaustão” (LEMOS 1989). Da mesma forma os casarões abandonados também chamados de “cabeças de porco”, constituam basicamente o mesmo padrão dos cortiços, ou seja, a promíscua habitação operária (LEMOS 1989). Mudanças significativas começam a acontecer no final do século XIX com o fim do regime escravocrata e a maciça chegada dos imigrantes, principalmente italianos e espanhóis, para trabalhar nas fazendas de café. Posteriormente essa mão de obra foi necessária também nas indústrias que começaram a se instalar nas grandes capitais (principalmente do setor têxtil) o que se convencionou caracterizar como o surto da industrialização, principalmente no Estado de São Paulo. Um rápido crescimento urbano em função do aumento da chegada de imigrantes, bem como os negros libertos, mas, desempregados, migraram para as cidades engrossando subitamente os contingentes de seus habitantes mais pobres e pressionando seus serviços, já precários (REIS FILHO, 2001).

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Nesse momento principalmente os empresários do setor têxtil, impulsionados pela grande necessidade da habitação, iniciam o processo de construção das chamadas vilas operárias, ou cortiços. Logo vários industriais perceberam algumas vantagens em segurarem seus operários ao lado de suas fábricas e, numa atitude aparentemente paternalista, construíram em grandes terrenos quarteirões de casas, de variados tamanhos, destinados a seus empregados (LEMOS 1989). Também classificadas como “Vilas Industriais”, esses complexos residenciais possuíam um comércio local fornecendo para o trabalhador tudo o que necessitavam, mas na maioria das vezes o mesmo era explorado com altos preços dos produtos que consumia e com altos aluguéis. Os empresários mantinham seus empregados a sua mercê em um regime muito próximo ao escravocrata. A lei do inquilinato, de 1942, foi uma pá de cal nesses procedimentos que prendiam o operário ao patrão, pois o inquilino, mesmo desempregado, tinha o direito de ali ficar morando (LEMOS 1989). A partir de 1914 houve um declínio das construções em função da grande guerra, quer pela crise financeira, quer pela falta de materiais de construção, que na sua grande maioria era importado: “De repente tudo aquilo deixou de chegar. E nossa indústria evidentemente não estava apta a fabricar esse vasto rol de mercadorias” (LEMOS 1989). Nesse momento a arquitetura, de modo geral, ficou estagnada e as moradias que já eram precárias sofreram uma baixa na qualidade. Em meados do século XX, no período do pós-guerra, a indústria nacional começava a se reerguer, principalmente pela chegada de novos investimentos de capital externo, não dependendo exclusivamente de produtos importados na construção civil, momento em que a área urbana das grandes cidades sofre um maior adensamento populacional. Inicia-se, portanto, um processo de êxodo rural de trabalhadores que buscavam melhores condições de vida nas grandes metrópoles, impulsionados pela nova condição de trabalho proporcionados pelas leis trabalhistas da “Era Vargas”. Nesse momento a residência do operário sofre mudanças não somente de cunho estético, mas principalmente espacial. Diferente da moradia apertada com áreas comuns e promíscuas do cortiço, o operário passa a ter o direito, sobretudo, à possibilidade de adquirir seu imóvel, em alguns casos adquirindo o terreno e sendo o próprio construtor. É nesse momento que surge a casinha térrea posicionada no meio do lote com varanda e jardim frontal; arremates do beiral e os acabamentos do forro em estuque; venezianas e guilhotinas de madeira. Enfim, a moradia do operário ou do trabalhador passa a ter uma configuração mais digna, daquilo que convencionou-se classificar 91


atualmente como classe média. Importante ressaltar que no período correlato a moradia operária sofreu poucas alterações estéticas quanto ao partido arquitetônico das primeiras décadas do século XX, as mudanças observadas aconteceram principalmente na compartimentação da residência. É claro que a moradia possibilitada pelas melhores condições de trabalho não foi um privilégio de todos os trabalhadores, tanto que as questões de moradia ainda hoje constituem um problema social, que provavelmente se estenderá por muito tempo ainda. Uma rápida analogia demonstra que a moradia operária pouco se difere da chamada “casa popular” dos dias atuais, praticamente em termos de habitabilidade, pouco ou nada tendo sido alterado. A arquitetura da área se insere, portanto, na ampla história regional de formação do bairro, trazendo exemplares que não trazem excepcionalidade em relação aos demais partidos arquitetônico/construtivos que ocorrem extensivamente pelos bairros.

Ramal Ferroviário Na Rua Presidente Wilson, caracterizada pela intensa atividade industrial desenvolvida desde o início do século XX, foi verificado um ramal da linha férrea passando aos fundos dos galpões que abrigam as indústrias ali existentes. A linha férrea da cidade de São Paulo foi construída no final do século XIX para ligar o interior do Estado ao litoral. Em 1860 o governo da província dispôs de uma área do tradicional Jardim da Luz para aí instalar a primeira estação da São Paulo Railway, ferrovia pioneira de São Paulo criada para ligar Santos a Jundiaí e escoar a riqueza da produção agrícola da região, sobretudo o café (COSTA, 2001). Inaugurada a 16 de fevereiro de 1867, a companhia desenvolveu-se rapidamente, tornando-se importante rede de comunicação de fator de progresso (COSTA, 2001). A ferrovia foi a grande força motriz no processo de modernização das cidades, imprimindo-lhe novas fisionomias urbanísticas propiciadas pelos núcleos urbanísticos que se formavam na área envoltória das estações. No caso de São Paulo, muitos bairros foram-se desenvolvendo em função das pequenas estações. No início do século XX a indústria aderiu ao meio de transporte ferroviário que, até então, escoava a produção de produtos agrícolas. Somente em meados do século XX, com o surgimento de algumas rodovias e, principalmente, com

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a pavimentação de outras, ocorreu uma melhora no transporte rodoviário e, por consequência, a ferrovia seria relegada ao esquecimento. Os galpões industriais da Avenida Presidente Wilson, implantados na área nas primeiras décadas do século XX, apresentam uma posição geográfica estratégica às margens da ferrovia, propiciando a utilização de um ramal exclusivo das indústrias ali existentes. A configuração estética dos fundos dos galpões apresenta características semelhantes às áreas de embarque e desembarque da ferrovia. Observam-se grandes alpendres sobre plataformas com patamar de aproximadamente 90 cm de altura (altura média das portas do trem). Embora se trate de uma área bastante antropizada, pode-se observar que o ramal percorria todo o trecho aos fundos dos galpões, havendo ali resquícios de trilhos, dormentes, chapas e pinos de travamento. É importante ressaltar que a bitola dos trilhos encontrada no ramal aos fundos dos galpões corresponde à mesma dimensão dos atuais trilhos da linha férrea (bitola com largura de 1,60 m). Trata-se, portanto, da mesma bitola instalada no final do século XIX como atesta Cacilda Teixeira da Costa: “Em 16 de fevereiro de 1867, o tráfego foi solenemente inaugurado em toda a estrada, numa linha única, com bitola de 1,60 m na extensão de 139 km, ligando o interior da província de São Paulo ao Porto de Santos (COSTA, 2001)”.

Figura 31 – Avenida Presidente Wilson.

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Figura 32 – Ramal de acesso aos galpões

Figura 33 – Alpendres aos fundos dos galpões

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Figura 34– Evidência de plataforma, seguindo o alinhamento dos galpões.

Figura 35 – Detalhe de dormentes

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CAPÍTULO 4 – PESQUISAS NA LINHA 04/ AMARELA

As pesquisas na Linha 04/ Amarela do Metropolitano de São Paulo abrangeu o trecho Estação da Luz / Pátio Vila Sônia, com extensão de aproximadamente 13 km, interligando os bairros do Bom Retiro, República, Consolação, Jardim Paulista, Pinheiros, Butantã, Morumbi e Vila Sônia. Neste trajeto foram projetadas 10 estações de Metrô, 11 poços de ventilação (VSE) e 1 vala a céu aberto. Em todas estas 23 áreas foram realizadas atividades de prospecção preventiva sistemática e, em alguns casos, foi identificada a presença de vestígios arqueológicos/ históricos, dos quais foram selecionados os seguintes a serem apresentados nesta publicação: - Estação da Luz - Estação Higienópolis - VSE Waldemar Ferreira

4.1 ESTAÇÃO LUZ

4.1.1 Caracterização física A Estação Luz está localizada nas colinas tabulares de nível intermediário identificadas por Ab’Saber (1957). Segundo o autor, trata-se de “plataformas interfluviais secundárias esculpidas nas abas do Espigão Central e dotadas de tabularidade local marcantes”, sendo que, os testemunhos sedimentares que existiriam no topo deste terraço já foram removidos, restando apenas à base dos terraços antigos, que foram remodelados ao longo dos ciclos erosivos Quaternários, o que fez com o autor classificasse este tipo de terraço como um “strath terraces” (AB’SABER, op. cit.). No que se refere à drenagem do local, pode-se dizer que as extensões interfluviais são médias, fazendo com que a densidade da drenagem também seja média. Localizada no trecho deste patamar situado próximo aos baixos terraços fluviais que seguem até as planícies de inundação dos rios Tietê e Tamanduateí, a região do bairro da Luz tem a sua drenagem local voltada para a margem esquerda dos rios Anhangabaú e Tamanduateí.

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A dinâmica erosiva do local ao longo do Quaternário até a ocupação urbana atual e consequente impermeabilização da área (que se intensificou a partir do início do século XX) é predominantemente de degradação. Morfologicamente, este terraço fluvial apresenta-se como um conjunto de colinas de topos planos moderadamente dissecadas pelos canais de drenagem locais, que acentuam a declividade dos setores junto aos seus vales. Por estar topograficamente posicionado bem acima da várzea atual, o terraço está a salvo das cheias periódicas1 dos rios Tietê e Anhangabaú. O embasamento geológico desta área diz respeito aos sedimentos continentais terciários inconsolidados da Bacia de São Paulo (IPT, 1981; EMPLASA, 1980), relacionáveis

à

Formação

Resende,

composta

basicamente

de

“depósitos

fanglomeráticos (leques aluviais) que gradam para depósitos relacionados à planície aluvial de rios entrelaçados” (RICCOMINI & COIMBRA, 1992). Vargas e Bernardo (1945 apud VARGAS, 1992), através da análise das sondagens geológicas realizadas na região para obras de engenharia da cidade, identificaram na região argilas rijas variegadas em superfície sobre areias sotopostas. Portanto, os produtos de alteração das argilas compreendem onde, teoricamente, é mais provável que ocorram camadas arqueológicas ainda preservadas, já que possui idade mais recente (Quaternário). A partir dos dados analisados é possível afirmar que predominam no local da Estação Luz os processos de degradação de um terraço fluvial desde meados do Pleistoceno, e que esta degradação variou de intensidade conforme as oscilações climáticas ocorridas ao longo deste tempo (Holoceno incluído). Portanto, já antes do Holoceno as colinas tabulares da região central da cidade estiveram a salvo das cheias periódicas dos rios próximos (rios Tamanduateí e Anhangabaú) estando, porém, próximas aos mesmos, sendo um local privilegiado para habitações e ocupações humanas.

4.1.2 Pesquisas arqueológicas A Estação Luz está localizada numa grande área ocupada por diversos tipos de imóveis que foram demolidos para a sua construção. Nesta área havia imóveis públicos, diversos hotéis e outros imóveis comerciais. Antes do uso do terreno por estes imóveis houve outros tipos de ocupações da área. Na região há diversos bens tombados pelos órgãos responsáveis pela proteção do patrimônio histórico (IPHAN, 1

Entende-se como cheias periódicas aquelas que ocorrem num intervalo de cerca 1,58 anos, atingindo a área da várzea do rio (CHRISTOFOLETTI, 1976). 97


CONDEPHAAT e CONPRESP) e, consequentemente, protegidos por lei. Isso demonstra a sensibilidade da área com relação ao seu valor histórico. Devido ao tamanho da área e ao maior impacto do terreno nos locais específicos das escavações, a prospecção arqueológica foi realizada por etapas, onde se adotou metodologias diferentes conforme o grau de impacto e potencialidade de se encontrar vestígios arqueológicos. Os trabalhos de pesquisa foram assim posicionados: Poço central, constituindo a primeira área de pesquisa arqueológica; Poço Lateral Norte, constituindo a segunda área de pesquisa arqueológica, localizada próxima ao limite do terreno com a rua Mauá; Poço Lateral Sul, constituindo a terceira área de pesquisa arqueológica; Demais porções do terreno. Vale mencionar que a área localizada na esquina das ruas Mauá e Casper Líbero é ocupada por um antigo hotel, que não estaria sendo desapropriado ou removido pelas obras (e que, portanto, não foi objeto da presente pesquisa). Por outro lado, a área localizada na esquina oposta (rua Mauá com Brigadeiro Tobias) é ocupada pela antiga Estação Luz do Metro (Linha Azul), sendo que a atualmente investigada corresponde a uma ampliação da Estação Luz, com acessos para a Linha 04 Amarela. Ainda para a rua Casper Libero ocorrem edifícios (sobrados) geminados antigos, à época da pesquisa semi demolidos e em análise pelo CONPRESP. Conforme mencionado anteriormente, as pesquisas na área da futura Estação da Luz foram iniciadas através do Poço Central, dali irradiando para os poços laterais e, depois, para o restante do terreno. O texto que se segue traz as atividades realizadas em cada uma destas áreas, visando facilitar sua organização e leitura. Finalmente, cabe dizer que no caso da Estação Luz as primeiras intervenções realizadas no terreno já indicaram a presença de um patrimônio arqueológico positivo, assim, todas as atividades já ocorreram na forma combinada de prospecção/ resgate, ao contrário do que ocorreu nas demais áreas de obras desta Linha 04 Amarela, onde inicialmente eram realizadas investigações do tipo prospecção para, a partir de seus resultados, desenvolver ações de resgate. Deste modo, o texto que se segue é único, englobando o total de pesquisas ali desenvolvidas.

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Figura 36 - Localização da área da Estação da Luz no contexto da ocupação urbana recente.

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Figura 37– Localização das intervenções arqueológicas na Estação da Luz.


Poço Central O denominado “Poço Central” abrange a parte interna da futura área de escavação de obras. Uma vez que as atividades previstas de engenharia estariam sendo iniciadas ali, foi a porção de terreno primeiramente pesquisada. Como atividade inicial foi demarcada uma linha de sondagens cortando transversalmente o poço, no sentido nordeste-sudoeste. Considerando que a área estava recoberta por um piso de concreto de aproximadamente 50 cm de espessura, foi necessário contar com o auxílio de maquinário para rompê-lo, atividade desenvolvida com monitoramento arqueológico. Depois de rompido o piso, outra máquina procedeu à retirada do entulho, permitindo finalmente o acesso da equipe ao local. Todavia, logo ao serem abaixados os primeiros níveis das sondagens a equipe se deparou com grande quantidade de vestígios arqueológicos, associados a trechos de pisos e fundações de edifícios antigos. Por conta disto, a estratégia foi adotar imediatamente intervenções de mais detalhe. Considerando que as estruturas estavam relacionadas a eventos construtivos, foi demarcada uma faixa contínua de escavação, com 2 metros de largura por 40 metros de comprimento, totalizando 80 m2 de escavação . No aprofundamento da trincheira foram identificadas e documentadas diversas estruturas construtivas envolvendo pisos, fundações, encanamentos, caixas de água, tudo isto com grande quantidade de material arqueológico disperso pelo sedimento. Após concluir a abertura desta trincheira foram escavadas áreas laterais, compreendendo a evidenciação de estruturas que continuavam para dentro do barranco da escavação. Buscou-se especialmente acompanhar a linha de fundações, de maneira a reconstituir uma planta das edificações antigas ali existentes. Todavia, logo no início da abertura desta porção lateral de nossa trincheira, as fundações terminaram (já haviam sido retiradas por outras obras que se sucederam na área, provavelmente a melhoria da própria rua Mauá). Assim, este segundo estágio de escavações no Poço Central foi concluído, partindo-se para os demais Poços adjacentes, que igualmente preservavam porções menos atingidas do solo.

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Prancha 2 – Pesquisas arqueológicas no Poço Central, Estação Luz

Área da futura Estação Luz antes do início das pesquisas.

Rompimento do piso de concreto com uso de máquina monitorada.

Início da abertura de seqüência de sondagens na área.

Arqueólogo e ajudantes em escavação de sondagens.

Peças arqueológicas identificadas logo nas primeiras camadas da escavação.

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Prancha 3 – Área de escavação arqueológica, Poço Central, Estação Luz.

Demarcação de faixa contínua de escavação, Poço Central.

Continuidade das escavações. 103


Prancha 4 – Escavações arqueológicas, Poço Central, Estação da Luz.

Atividades de escavação.

Evidenciação de piso.

Vestígios remanescentes de fundação.

Detalhe de marca de tijolo.

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Prancha 5 - Escavações arqueológicas, Poço Central, Estação da Luz.

Estrutura construtiva sendo evidenciada por arqueólogo.

Sequência de encanamentos e estruturas construtivas. 105


Poço Lateral Norte Nesta etapa, visando investigar as camadas estratigráficas inferiores do terreno foram escavadas sondagens de 1 x 1 metro controlada por níveis artificiais de 10 cm, com profundidade média de 2 metros e distantes uma da outra aproximadamente 5 metros em alinhamento sentido Norte-Sul. Grande parte de onde será escavado o Poço Norte se refere ao local de uma das entradas da Estação da Luz da Linha 1 – Azul do Metrô. Este setor não foi alvo das prospecções arqueológicas, pois a construção da estação

existente

retirou

e

descaracterizou

as

camadas

superficiais

e

subsuperficiais do terreno. Dois poços-teste foram escavados nesta face da área, e comprovaram a inexistência de qualquer vestígio arqueológico, assim como o impacto já causado nas camadas superficiais e subsuperficiais do terreno em decorrência da obra da estação existente. Foram então abertas 3 sondagens (denominadas Sondagem A, B e C), sendo que uma delas (a Sondagem A) foi expandida devido à grande quantidade de fragmentos históricos encontrados (definindo-se a Sondagem A e A1). A descrição das características gerais e da quantidade de fragmentos encontrados nas sondagens segue abaixo.

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Prancha 6 – Trabalhos de prospecção no Poço Lateral Norte, Estação Luz.

Ajudantes iniciando escavações nas sondagens alinhadas.

Arqueólogo acompanhando escavação de sondagem.

Escavações nas sondagens alinhadas.

Sondagem demarcada e com o piso já quebrado.

Arqueólogo acompanhando escavação de sondagens.

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Prancha 7 – Trabalhos de prospecção no Poço Lateral Norte, Estação Luz.

Ajudante em sondagem.

Ajudantes em escavação.

Arqueóloga descrevendo sondagem.

Arqueólogo e ajudantes em escavação de sondagens.

Início da escavação da expansão da sondagem A. Sondagem A1.

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Figura 38 - Localização da camada escurecida repleta de fragmentos históricos identificada na prospecção arqueológica do Poço Lateral Norte.

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Sondagem A Cota altimétrica: 739,023m. A sondagem foi escavada até 2m de profundidade. Em seu piso foi escavado um poço-teste até 2,45m, profundidade na qual aflorou água. Os fragmentos históricos coletados se concentraram entre 20 e 50 cm de profundidade, em meio a uma mancha escura existente no quadrante Leste. MATERIAL ENCONTRADO NA SONDAGEM A: Nível 1 (0-10cm) – 6 louças; 1 grés; 42 vidros; 6 orgânicos. Nível 2 (10-20cm) – 6 louças; 6 metais; 39 vidros; 1 cerâmica. Nível 3 (20-30cm) – 133 vidros; 33 louças; 42 metais; 37 orgânicos; 2 cerâmicas. Nível 4 (30-40cm) – 28 metais; 72 louças; 152 vidros; 2 grés; 26 orgânicos. Nível 5 (40-50cm) – 49 vidros; 7 orgânicos; 81 louças; 4 metálicos; 1 cerâmica. Nível 6 (50-60cm) – 1 louça. Níveis 7 (60-70cm) ao 20 (190-200cm) – Nenhum vestígio. Devido à grande quantidade de fragmentos encontrados na mancha escurecida do quadrante Leste da sondagem A, foi escavada uma extensão nesta direção, que foi denominada sondagem A1.

Expansão Leste da Sondagem A. Sondagem A1. Cota altimétrica: 739,082m. A sondagem foi escavada até 1m de profundidade. Os fragmentos históricos coletados se concentraram entre 20 e 700 cm de profundidade, em meio a uma mancha escura contínua a da sondagem A. MATERIAL ENCONTRADO NA SONDAGEM A1 Nível 1 (0-10cm) – Nenhum vestígio. Nível 2 (10-20cm) – 6 louças; 1 metal; 12 vidros. Nível 3 (20-30cm) – 32 vidros; 31 louças; 5 metais; 3 orgânicos; 1 cerâmica; 1 metal. Nível 4 (30-40cm) – 38 metais; 18 louças; 92 vidros; 15 orgânicos. Nível 5 (40-50cm) – 95 vidros; 25 louças; 9 metálicos; 4 cerâmica/telhas; 1 cer.vidrada. Nível 6 (50-60cm) – 428 vidros; 118 metais; 1 chumbo; 2 mármores; 53 cerâmicas; 1 tijolo, 159 ossos; 1 garrafa bolão. Nível 7 (60-70cm) – 100 vidros; 52 metais; 10 louças; 6 cerâmicas; 28 orgânicos. Nível 8 (70-80cm) – 1 cano; 1 orgânico. Níveis 9 e 10 (80-100cm) – Nenhum vestígio. Com estas intervenções foi possível verificar a distribuição espacial desta mancha escura que ocorre entre 30 e 80 cm de profundidade. 110


Figura 39 – Croquis da Sondagem A, face leste.

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Prancha 8 – Estratigrafia e fragmentos encontrados nas sondagens do Poço Lateral Norte.

Estrutura de tijolos. Sondagem C.

Perfil exposto. Sondagem A e A1 ao fundo.

Sondagem A. Perfil Leste.

Sondagem B.

Sondagem C. Perfil Sul.

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Prancha 9 – Estratigrafia e fragmentos encontrados nas sondagens do Poço Lateral Norte

Fragmentos in situ. Sondagem A1, nível 6.

Fragmento ósseo in situ.

Fragmentos in situ. Sondagem A1, nível 7.

Frasco numerado de vidro. Sondagem A1, nível 6.

Tijolo com a inscrição “Olaria do Bom Retiro”. Sondagem C.

113


114

Figura 40 – Croquis da sondagem A 1.


Sondagem B Cota altimétrica: 739,288 m. A sondagem foi escavada até 2 m de profundidade. Em seu piso foi escavado um poço-teste até 3,10 m, profundidade na qual aflorou água. Há bem menos fragmentos históricos do que na sondagem A e expansão A1, sendo identificada uma concentração entre 50 e 80 cm de profundidade, em meio a uma mancha levemente mais escura com bastante entulho (material construtivo recente). MATERIAL HISTÓRICO ENCONTRADO NA SONDAGEM B Nível 1 (0-10cm) – Nenhum vestígio. Nível 2 (10-20cm) – 1 vidro. Nível 3 (20-30cm) – 3 louças; 1 metal. Nível 4 (30-40cm) – 1 louça; 1 vidro; 6 orgânicos. Nível 5 (40-50cm) – 2 vidros; 1 grés; 1 cerâmica. Nível 6 (50-60cm) – 7 louças; 1 vidro; 3 orgânicos; 1 cerâmica. Nível 7 (60-70cm) – 4 orgânicos; 1 vidro; 2 louças; 1 metal; 2 carvões. Nível 8 (70-80cm) – 4 orgânicos; 1 utensílio cerâmico. Nível 9 (90-100cm) – 1 vidro; 2 louças. Níveis 10 ao 20 (100-200cm) – Nenhum vestígio.

Sondagem C Cota altimétrica: 739,402 m. A sondagem foi escavada até 2 m de profundidade. Em seu piso foi escavado um poço-teste até 3,10 m, profundidade na qual aflorou água. Nesta sondagem foi encontrado material histórico até o nível 8 (70-80 cm) Há bem menos fragmentos históricos do que na sondagem A e expansão A1, e um pouco mais em relação à sondagem B. Há uma concentração de fragmentos entre 20 e 80 cm de profundidade, em meio a muito entulho (material construtivo recente). Uma estrutura construtiva composta por tijolos “assentados” com barro ocorre entre 20 e 40 cm de profundidade, abaixo de uma laje de concreto. MATERIAL HISTÓRICO ENCONTRADO NA SONDAGEM C Nível 1 (0-10cm) – 16 vidros; 2 louças. Nível 2 (10-20cm) – 5 vidros; 2 louças; 1 metal. Nível 3 (20-30cm) – 45 vidros; 4 orgânicos; 2 cerâmicas. Nível 4 (30-40cm) – 2 louças; 12 vidros; 1 orgânico. Nível 5 (40-50cm) – 6 vidros; 1 grés; 4 cerâmicas vidradas; 15 louças; 3 orgânicos. Nível 6 (50-60cm) – 10 louças; 2 vidros; 2 orgânicos; 1 cerâmica; 2 metais. 115


Nível 7 (60-70cm) – 4 orgânicos; 4 louças; 1 vidro; 4 cerâmicas. Nível 8 (70-80cm) – 2 orgânicos; 2 louças. Níveis 9 ao 20 (80-200cm) – Nenhum vestígio.

Resultados das prospecções no poço norte Os fragmentos históricos, as estruturas construtivas encontradas em subsuperfície e a estratigrafia geral da área seguiram o mesmo padrão daquela que foi encontrada nas prospecções do Poço Central. Uma grande área deste setor já foi impactada pelas obras da Estação da Luz da linha 1 – Azul, inaugurada na década de 70 do século passado. Destaca-se na área a mancha escurecida próxima à sondagem A, onde foi encontrada uma grande quantidade de fragmentos históricos.

Figura 41 – Croquis da Sondagem A1, Face leste.

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Poço Lateral Sul Visando investigar as camadas estratigráficas inferiores do terreno foram escavadas sondagens intercaladas de 1 x 1 metro controladas por níveis artificiais de 10 cm, distantes uma da outra 10 metros em alinhamentos que cruzam a área do poço no sentido Norte-Sul. A profundidade das sondagens variou conforme o surgimento de fragmentos históricos. Elas foram escavadas até dois níveis além do último nível onde foram encontrados fragmentos, sendo respeitado o mínimo de 1 m de profundidade. Foram então abertas 8 sondagens. A descrição das características gerais e da quantidade de fragmentos encontrados nas sondagens segue abaixo. Sondagem 11 A sondagem foi escavada até 1m de profundidade. Em seu piso foi escavado um poço-teste até 2,30 m, profundidade na qual aflorou água. Os fragmentos históricos coletados se encontram entre 20 e 80 cm de profundidade. Material encontrado: Níveis 1 e 2 (0-20cm) – Nenhum vestígio. Nível 3 (20-30cm) – 2 vidros. Nível 4 (30-40cm) – 1 metal; 3 louças; 3 vidros; 4 orgânicos. Nível 5 (40-50cm) – 6 vidros; 18 orgânicos; 5 louças; 3 cerâmicas. Níveis 6 e 7 (50-70cm) – 2 vidros; 17 orgânicos; 14 louças; 1 metal; 1 cerâmica. Níveis 8 ao 10 (70-100cm) – Nenhum vestígio. Sondagem 12 A sondagem foi escavada até 1,2 m de profundidade. Em seu piso foi escavado um poço-teste até 2,50 m, profundidade na qual aflorou água. Os fragmentos históricos coletados se concentraram entre 50 e 90 cm de profundidade, em uma camada mais escurecida com presença de pedras e carvão. Material histórico encontrado: Nível 1 (0-10cm) - Nenhum vestígio. Nível 2 (10-20cm) – 2 metais. Nível 3 (20-30cm) – 1 vidro; 1 metal. Nível 4 (30-40cm) – 3 metais; 5 vidros. Nível 5 (40-50cm) – 2 louças. Nível 6 (50-60cm) – 6 orgânicos; 2 vidros; 7 louças. Nível 7 (60-70cm) – 2 vidros; 3 louças; 3 metais. Nível 8 (70-80cm) – 7 louças; 1 orgânico. Nível 9 (80-90cm) – 6 louças; 1 orgânico. Nível 10 (90-100cm) – 1 louça. Níveis 11 e 12 (100-120cm) - Nenhum vestígio. 117


Prancha10 – Trabalhos de prospecção no Poço Lateral Sul, Estação Luz.

Ajudantes em escavação de sondagem.

Ajudantes em escavação de sondagem. Sondagem 21.

Ajudantes em escavação de sondagens alinhadas.

Quebra do piso de sondagem. Sondagem 13.

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Prancha 11 – Trabalhos de prospecção no Poço Lateral Sul, Estação Luz.

Ajudante trabalhando em escavação com água aflorando no fundo da sondagem. Sondagem 24.

Ajudantes em escavação de sondagem.

Arqueóloga acompanhando escavação de sondagem.

Arqueóloga descrevendo sondagem.

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Figura 42 – Croquis da Sondagem 13.

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Figura 43 – Croquis da Sondagem 31. 121


Sondagem 13 A sondagem foi escavada até 1,2m de profundidade. Os fragmentos históricos coletados se concentraram entre 70 e 90 cm de profundidade, logo abaixo de uma estrutura construtiva de tijolos “assentados” com barro composto de duas fileiras horizontais e verticais. Os tijolos possuem a inscrição “P.C.” e a estrutura está situada entre 45 e 62 cm de profundidade. Material histórico encontrado: Níveis 1 e 2 (0-20cm) - Nenhum vestígio. Nível 3 (20-30cm) – 1 vidro; 1 metal; 3 cerâmicas. Nível 4 (30-40cm) – 1 metal; 2 vidros. Nível 5 (40-50cm) – 2 vidros. Nível 6 (50-60cm) – Nenhum vestígio. Nível 7 (60-70cm) – 2 vidros; 2 metais; 1 carvão. Nível 8 (70-80cm) – 10 louças; 3 orgânicos; 11 vidros; 2 metais 1 cerâmica. Nível 9 (80-90cm) – 3 louças; 13 vidros; 1 metal; 3 cerâmicas. Nível 10 (90-100cm) – 3 louças. Níveis 11 e 12 (100-120cm) - Nenhum vestígio. Sondagem 21 A sondagem foi escavada até 1,5 m de profundidade. Esta sondagem apresentou muitos fragmentos, principalmente de vidros. Os fragmentos históricos coletados se concentraram entre 50 e 110 cm de profundidade, numa camada escurecida com entulho atravessada por canos de metal e cerâmica (manilha). Um aterro com muito entulho e com uma linha de tijolos situada em sua base ocorre entre 10 e 50 cm de profundidade, logo abaixo do piso atual. Material histórico encontrado: Nível 1 (0-10cm) – Nenhum vestígio. Nível 2 (10-20cm) – 2 aulejos; 1 louça. Nível 3 (20-30cm) – 5 vidros; 2 metais; 1 carvão. Nível 4 (30-40cm) – 21 vidros; 8 sintéticos; 1 metal. Nível 5 (40-50cm) – 3 vidros; 1 sintético, 1 borracha. Nível 6 (50-60cm) – 18 vidros; 8 plásticos; 3 louças; 3 metais; 1 tela. Nível 7 (60-70cm) – 4 orgânicos; 2 metais; 1 dente; 3 louças. Nível 8 (70-80cm) – 12 louças; 28 vidros; 5 metais; 9 cerâmicas; 1 plástico. Nível 9 (80-90cm) – 90 louças; 189 vidros; 1 metal; 94 orgânicos. Nível 10 (90-100cm) – 10 louças; 90 vidros; 13 orgânicos; 1 plástico. Nível 11 (100-110cm) – 6 vidros, 11 orgânicos; 2 louças; 1 metal. Nível 12 (110-120cm) – 5 orgânicos; 1 vidro; 1 louça; 1 cerâmica. Nível 13 (120-130cm) – 2 orgânicos. Abaixo disto, nenhum vestígio. 122


Prancha 12 – Sondagens do Poço Lateral Sul, Estação Luz.

Sondagem 11. Face Norte.

Sondagem 12. Face Norte.

Sondagem 13.

Sondagem 21.

Sondagem 24.

Sondagem 31. Face Norte.

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Prancha 13 – Fragmentos e estruturas encontradas nas sondagens do Poço Lateral Sul, Estação Luz.

Detalhe de tijolo da estrutura da sondagem 13.

Estrutura de tijolos evidenciada. Sondagem 13, nível 5.

Fragmentos encontrados. Sondagem 11, nível 5.

Fragmentos encontrados. Sondagem 21, nível 3.

Fragmentos vítreos encontrados. Sondagem 21, nível 9.

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Prancha 14 – Fragmentos e estruturas encontradanas sondagens do Poço Lateral Sul, Estação Luz.

Detalhe da moeda encontrada. Sondagem 31, nível 3.

Detalhe da grande quantidade de fragmentos vítreos. Sondagem 22, nível 7.

Estrutura de tijolos e grande cano na sondagem 23.

Estrutura e encanamento evidenciados. Sondagem 23.

Grande quantidade de fragmentos vítreos retiradas da sondagem 22.

125


Sondagem 22 A sondagem foi escavada até 1,3 m de profundidade e apresentou características muito semelhantes às da sondagem 21, ou seja, abaixo do piso atual há uma camada com muito entulho até cerca de 60 cm sobreposta a uma camada bruno-escura com muitos fragmentos vítreos. As únicas diferenças desta sondagem é que a fileira de tijolos que divide as duas camadas é mais estruturada, apresentado duas fileiras orientadas no sentido Sudeste-Noroeste no quadrante Norte da sondagem, e que há uma lente de cal e carvão sobre os tijolos. Devido a grande quantidade de fragmentos, concentrados no quadrante Norte da sondagem entre os níveis 7 e 9, a coleta nestes níveis foi amostral. No nível 7 foi encontrado mais de trezentos fragmentos de vidro. A partir do nível 10, a quantidade de fragmentos diminui consideravelmente, cessando completamente a partir do nível 12. Material histórico encontrado na sondagem 22: Níveis 1 ao 4 (0-40cm) – 17 vidros; 5 cerâmicas; 2 metais; 5 louças. Nível 5 (40-50cm) – 21 vidros; 3 cerâmicas; 3 louças; 5 pisos. Nível 6 (50-60cm) – 23 vidros; 2 louças; 7 pisos; 2 manilhas. Nível 7 (60-70cm) – 4 louças; 50 vidros amostrados. Nível 8 (70-80cm) – louças e vidros amostrados. Nível 9 (80-90cm) – louças e vidros amostrados e 1 recipiente de metal esmaltado. Nível 10 (90-100cm) – 3 louças; 3 vidros. Nível 11 (100-110cm) – 4 louças. Níveis 12 e 13 (110-130cm) - Nenhum vestígio.

Sondagem 23 A sondagem foi escavada até 1,6m de profundidade. O número de fragmentos históricos encontrados nesta sondagem foi bem menor do que os das sondagens 21 e 22 e foram encontrados entre 30 e 130 cm de profundidade. Abaixo do piso atual, entre 25 e 50 cm, há um grande cano de concreto protegido por concreto à base de britas associado a pisos aterrados. Após esta camada há uma camada de entulhos em meio a um material bruno-escuro associado à uma estrutura construtiva de tijolos “assentados” com barro, que termina a cerca de 90cm de profundidade. Material histórico encontrado na sondagem 23: Níveis 1 ao 3 (0-30cm) – Nenhum vestígio. Nível 4 (30-40cm) – 5 louças; 1 metal; 5 pisos; 9 vidros. Nível 5 (40-50cm) – Nenhum vestígio.

126


Nível 6 (50-60cm) – 14 vidros; 3 louças; 1 cerâmica; 1 metal; 2 porcelanas; 2 orgânicos. Nível 7 (60-70cm) – 6 vidros; 2 pisos. Nível 8 (70-80cm) – 1 louça; 1 porcelana; 3 vidros. Nível 9 (80-90cm) – 2 orgânicos; 1 vidro; 1 louça. Nível 10 (90-100cm) – 5 louças; 5 vidros; 3 orgânicos. Nível 11 (100-110cm) – 9 louças; 1 vidro; 2 cerâmicas. Nível 12 (110-120cm) – 3 vidros; 2 carvões; 2 louças. Nível 13 (120-130cm) – 1 vidro. Níveis 14 ao 16 (130-160cm) – Nenhum vestígio.

Sondagem 25 A sondagem foi escavada até 2,1m de profundidade e foi interrompida devido ao afloramento da água a cerca de 195 cm de profundidade. Os fragmentos históricos continuam a surgir no fundo da sondagem. Entre 170 e 210 cm de profundidade a caracterização dos níveis estratigráficos da sondagem foi prejudicada, pois a alta umidade deixou o material muito pegajoso, e

desmoronamentos causados pela

desestabilização do solo descaracterizaram as camadas inferiores. Sendo assim, somente os fragmentos coletados até o nível 14 correspondem realmente ao nível em que foram encontrados. Abaixo do nível 14, o controle foi dificultado devido aos motivos explicitados no parágrafo anterior. Os fragmentos históricos encontrados estavam em meio a um material bruno-escuro com presença de entulhos. Um local onde houve um dos desmoronamentos, entre 90 e 160 cm de profundidade, evidenciou uma estrutura construtiva de tijolos. Material histórico encontrado: Níveis 1 ao 3 (0-30cm) – Nenhum vestígio. Nível 4 (30-40cm) – 3 metais; 9 vidros; 2 cerâmicas vidradas; 3 orgânicos. Nível 5 (40-50cm) – 14 vidros (1 frasco); 12 orgânicos; 2 louças. Nível 6 (50-60cm) – 23 vidros; 1 azulejo; 1 orgânico. Nível 7 (60-70cm) – 14 vidros; 12 orgânicos; 1 carvão; 1 cerâmica; 1 louça. Nível 8 (70-80cm) – 11 louças; 10 vidros; 11 orgânicos; 3 carvões; 3 cerâmicas. Nível 9 (80-90cm) – 38 orgânicos; 14 vidros; 5 louças; 1 metal; 1 carvão. Nível 10 (90-100cm) – 2 louças; 7 vidros; 14 orgânicos. Nível 11 (100-110cm) – 3 louças; 4 vidros; 17 orgânicos. 127


Nível 12 (110-120cm) – 5 vidros; 3 carvões; 5 orgânicos. Nível 13 (120-130cm) – 4 vidros; 2 cerâmicas; 2 louças; 2 orgânicos; 2 metais. Nível 14 (130-140cm) – 3 cerâmicas; 17 vidros (1 garrafa); 2 louças; 1 carvão; 10 orgânicos. Nível 15 (140-150cm) – Coleta prejudicada. Nível 16 (150-160cm) – 11 orgânicos; 28 vidros; 10 cerâmicas 1 metal. Nível 17 (160-170cm) – 18 orgânicos; 9 vidros; 7 cerâmicas; 1 porcelana. Nível 18 (170-180cm) – 9 orgânicos; 2 vidros; 1 carvão, 3 louças, 6 cerâmicas. Nível 19 (180-190cm) – 5 orgânicos; 12 vidros; 4 cerâmicas; 4 louças. Níveis 20 e 21 (190-210cm) – 4 orgânicos; 3 cerâmicas; 1 louça; 4 vidros.

Sondagem 31 A sondagem foi escavada até 1,5 m de profundidade. Em seu piso foi escavado um poço-teste até 2,60 m. Os fragmentos históricos coletados se encontram entre 0 e 130 cm de profundidade, concentrados entre 50 e 70 cm, em meio a um material bruno-escuro com entulho. Tijolos ocorrem em meio ao entulho da camada existente logo abaixo do piso atual, sendo que poucos deles foram encontrados de forma estruturada. Uma lente de cal ocorre no nível 7. Material histórico encontrado: Nível 1 (0-10cm) – 6 vidros; 6 louças; 6 metais. Nível 2 (10-20cm) – 3 plásticos; 8 vidros; 7 metais. Nível 3 (20-30cm) – 3 louças; 3 plásticos; 8 vidros; 16 metais. Nível 4 (30-40cm) – 14 metais; 6 vidros. Nível 5 (40-50cm) – 9 vidros; 2 plásticos; 5 metais. Nível 6 (50-60cm) – 36 vidros; 6 metais. Nível 7 (60-70cm) – 5 vidros; 1 orgânico; 20 metais; 1 porcelana. Nível 8 (70-80cm) – 3 louças; 7 metais. Nível 9 (80-90cm) – 3 louças; 2 metais; 1 gesso. Nível 10 (90-100cm) – 5 louças; 6 vidros; 5 orgânicos; 7 metais. Nível 11 (100-110cm) – 1 louça; 2 vidros; 2 orgânicos; 1 cerâmica. Nível 12 (110-120cm) – 3 vidros; 1 carvão; 4 orgânicos, 2 cerâmicas ; 2 louças. Nível 13 (120-130cm) – 1 cerâmica; 7 orgânicos; 1 carvão. Níveis 14 e 15 (130-150cm) – Nenhum vestígio.

128


Resultados das pesquisas no Poço Sul Os fragmentos históricos, as estruturas construtivas encontradas em subsuperfície e a estratigrafia geral da área seguiram o mesmo padrão daquela que foi encontrada nas prospecções do Poço Central. As estruturas construtivas encontradas nas sondagens 13, 21, 22, 23, 23 e 31 indicam fazer parte do mesmo complexo de estruturas evidenciadas nas prospecções do Poço Central, pois a proximidade destas sondagens com este Poço é grande.

Área restante da Estação Luz No restante da área prevista para implantação da Estação Luz (ou seja, nos locais onde não será escavado para obras de Poço) foi executada uma malha de poços-teste distantes 5 m entre si, aumentada para 10 m nos locais onde, além da diminuição na quantidade de fragmentos por poço-teste, foi percebido que estes fragmentos mantinham o mesmo comportamento estratigráfico da área já escavada. Os poços-teste foram abaixados até cerca de 2,5 m de profundidade, ou até onde alguma

interferência

como

vigas

de

concreto

e

tubulações

impediam

o

prosseguimento. Sondagens de 1 x 1m, controladas por níveis artificiais de 10 cm e com profundidade variada conforme o surgimento de fragmentos históricos, foram escavadas em alguns pontos da área. Nestes pontos existia a necessidade de caracterizar melhor a estratigrafia e os fragmentos ou estruturas construtivas encontradas. Sondagens deste tipo também foram escavadas nos locais próximos aos imóveis voltados para a rua Mauá. A descrição das características gerais dos poços-teste e das sondagens segue abaixo. A partir dos fragmentos encontrados nos poços-teste foi possível mapear a principal área de ocorrência de fragmentos históricos e estruturas construtivas, que é a área onde se encontram 8 sondagens próximas à Av. Cásper Líbero. Foram então abertos mais de 130 poços-teste.

129


Prancha 15 – Trabalhos de prospecção na área restante, Estação Luz.

Alinhamento de sondagens.

Arqueólogo acompanhando escavação de poço-teste.

Quebra de concreto do piso para escavação de poço-teste.

Visão da área com a malha de poços-teste executada.

130


Prancha 16 – Trabalhos de prospecção na área restante, Estação Luz.

Arqueólogo acompanhando escavação de sondagem. Sondagem 620N589E.

Arqueólogo acompanhando escavação de sondagem. Sondagem 630N589E.

Arqueólogo descrevendo sondagem. Sondagem 630N579E.

Arqueólogo em sondagem. Sondagem 630N579E.

Visão da área com a malha de poços-teste e de sondagens executada.

131


Prancha 17 – Características gerais dos poços-teste da área restante.

Ajudante em escavação de poçoteste.

Quebra de piso para escavação de poço-teste.

Piso enterrado encontrado.

Poço-teste em local de caixa de esgoto.

Poço-teste sinalizado

132


Sondagem Lava-Pé 1 A sondagem “Lava Pé 1” foi escavada exatamente no local onde foi construído um lava pé (caixa retangular no solo com uma grade na superfície, local onde os trabalhadores da obra limpam suas botas para entrar no vestiário ou no escritório) e possui as dimensões do equipamento, 2 m de comprimento x 60 cm de largura x 60 cm de profundidade. Basicamente, todos os níveis são formados por entulho (restos de construções como tijolos, telhas, azulejos, amianto, etc.). A face Norte da sondagem apresenta as seguintes características: O nível 1 apresentou um piso de concreto recente e entulhos. O nível 2 é formado quase que exclusivamente por entulhos. A partir dos últimos centímetros do nível 3, começou a ser evidenciada uma estrutura, provavelmente não muito antiga (devido à presença de cimento entre os tijolos), no quadrante Nordeste da sondagem. A estrutura evidenciada estende-se até o fim da sondagem. Nos quadrantes Noroeste e Sudeste, encontrou-se um piso de cimento no fim do último nível escavado. Foi achado um cano de metal enferrujado no centro da face Norte até o quadrante Sudeste da face Leste, entre a camada de entulho descrita no nível 2 e o início da estrutura de tijolos evidenciada a partir do nível 3. Não foram encontrados vestígios histórico-arqueológicos em meio ao entulho.

133


Prancha 18 – Sondagens da área restante, Estação Luz.

Sondagem 610N589E.

Sondagem 620N589E.

Sondagem 630N559E

Sondagem 630N569E.

Sondagem 630N579E

Sondagem 630N589E. Estrutura de concreto que impede escavação.

Sondagem Lava Roda 1

134


Prancha 19 – Fragmentos e estruturas encontradas nas sondagens da área restante.

Arqueólogo analisando fragmentos coletados.

Bloco de concreto encontrado na sondagem 630N579E a cerca de 170 cm de profundidade.

Aspectos do material relacionado aos sedimentos da Bacia Sedimentar de São Paulo.

Fragmentos ósseos encontrados na sondagem 630N579E.

Grande quantidade de entulho retirado da sondagem 630N579E.

135


Sondagem Lava-Roda A sondagem “Lava Roda 1” foi escavada exatamente no local onde foi construído o lava roda da saída do canteiro voltada para a Av. Cásper Líbero. O controle da sondagem se iniciou a 22 cm de profundidade, pois o material acima deste nível corresponde ao piso e contra piso do local. Os dois primeiros níveis da sondagem apresentaram um aterro vermelho, seco e solto, com presença de entulho. Do nível 3 ao nível 6, ocorre uma camada bruno-escura, úmida e solta, com manchas de “terra-preta” e com presença de mais entulho do que nos níveis anteriores. Os fragmentos históricos encontrados nesta sondagem se concentram nestes níveis. A partir do nível 7 até o fim da sondagem (nível 10), ocorre uma camada mais clara que a anterior, de cor bruno, úmida e argilo-arenosa. Nesta camada só foram encontrados fragmentos históricos no nível 7. Duas grandes manilhas de cerâmica foram evidenciadas na face Norte, uma entre 20 e 40 cm de profundidade e outra entre 65 e 85 cm.

Sondagem 610N 589E Os dois primeiros níveis da sondagem são formados pelo concreto do piso e contra piso. Entre os níveis 2 e 5 há uma camada de aterro bruno-amarelado, arenoso e úmido, com núcleos compactos de cores amarelas e róseas e com bastante entulho. Nestes níveis não foram encontrados fragmentos históricos. Nos níveis 6 e 7 ocorre uma camada bruno-escura, arenosa, solta e moderadamente úmido, com menos entulho em relação à camada superior. Uma estrutura de tijolos “assentados” com saibro foi evidenciada atravessando a sondagem no sentido Nordeste-Sudoeste, a partir do nível 7 até o nível 12. Do nível 8 ao nível 10 ocorre uma camada semelhante as anteriores, mudando apenas a cor, que aqui se torna mais escura. A partir do nível 11 até o fim da sondagem (nível 13), ocorre uma camada bruno-amarelada-escura, areno-argilosa, úmida e solta. Os fragmentos históricos coletados foram encontrados entre os níveis 6 e 11. No fundo da sondagem e próximo ao seu centro foi escavado um poço-teste até 280 cm de profundidade (em relação ao topo da sondagem). A camada referente aos últimos níveis da sondagem ainda ocorrem até 180 cm de profundidade. A partir deste ponto até 280 cm, foram identificados os sedimentos inconsolidados típicos da Bacia de São Paulo.

136


Figura 44 – Croquis da sondagem 620N 589E

Sondagem 620N 589E Os quatro primeiros níveis são formados por concreto e tijolos. Um pequeno cano de metal foi evidenciado no quadrante Sudeste da sondagem a 50 cm de profundidade. Um grande cano de cimento, de aproximadamente 30 cm de diâmetro foi evidenciado a 110 cm de profundidade no quadrante Nordeste da sondagem. Os fragmentos históricos coletados entre os níveis 5 e 14 ocorrem em meio a uma camada de aterro bruno-escuro, solto, moderadamente úmido e repleto de entulho que indica ser o material de aterro do grande cano de cimento que ocorre a 110 cm de profundidade, conforme croqui abaixo. O fato dos fragmentos históricos ficarem cada 137


vez mais restritos ao quadrante Nordeste em profundidade, assim como o material do aterro descrito, indica uma estreita relação entre os fragmentos e o aterro do cano. O restante da sondagem é composta de um material bruno, areno-argiloso, onde não foi encontrado fragmentos históricos. Sondagem 630N 589E No local desta sondagem foi evidenciada uma caixa de concreto usinado e tijolos de funcionalidade não identificada, mas possivelmente trata-se de algum equipamento do sistema hidráulico de algum imóvel que existia no local. Devido à dificuldade de se quebrar este tipo de estrutura a sondagem não foi executada, tendo sido substituída por outra nas proximidades, conforma abaixo. Sondagem 630N 579E Os dois primeiros níveis correspondem a uma camada de mesma ocupação, sendo composta de piso (tipo paviflex) e concreto à base de britas. O nível 3 apresenta material de composição heterogênea, compacto, parcialmente úmido, com presença majoritária de restos construtivos (com destaque para azulejos brancos). Os níveis 4, 5, 6 e 7 apresentaram basicamente as mesmas condições anteriores, porém com significativa diminuição dos azulejos brancos. O nível 8 apresenta composição heterogênea, úmida, compacta, coloração geral bruna. O nível 9 é composto de material bruno-amarelado parcialmente homogêneo, pouco compacto com presença de grandes fragmentos construtivos relacionados à cimento/concreto (blocos de concreto). Do nível 10 ao nível 15 notam-se as mesmas características do nível anterior, mas é perceptível uma maior homogeneidade da coloração bruno-amarelada junto à face Leste. A partir do nível 15 se inicia os sedimentos variegados típicos da Bacia de São Paulo, constituído de sedimentos variegados argilo-arenosos com predomínio da coloração vermelha com manchas bruno-amareladas. Os fragmentos históricos foram encontrados entre os níveis 3 e 16. Abaixo pode ser visualizado o croqui desta sondagem. As características estratigráficas dela podem ser generalizadas para esta área do canteiro de obras da Estação da Luz. Sondagem 630N 569E Os dois primeiros níveis são compostos de concreto usinado do piso e contra piso. Os níveis 3, 4, 5 e 6 correspondem a uma camada heterogênea de entulhos com predomínio das cores brunas. O nível 7 é uma transição para o material mais homogêneo bruno-amarelado com pouco entulho que ocorre entre os níveis 8 e 14. Há 138


um bolsão com muito entulho próximo à face Oeste e fragmentos metálicos associados a uma possível estrutura que pode ser uma caixa com alças próxima à face Leste, ambos se situam entre 40 e 80 cm de profundidade. Entre 45 e 98 cm de profundidade foi evidenciada uma viga de concreto. Os fragmentos históricos foram encontrados entre os níveis 3 e 11.

Figura 45 – Croquis da sondagem 630N 579E.

Sondagem 630N 559E Os dois primeiros níveis são compostos de entulho e restos da demolição com muito concreto e cimento do imóvel que havia no local e que foi desapropriado pelo Metrô. Os níveis 3 e 4 são compostos de muito entulho e tijolos (quebrados) não estruturados em meio a um material bruno e solto. O nível 5 representa uma fina 139


camada bruno-escura, arenosa, solta e moderadamente úmida com manchas vermelhas, onde é perceptível a grande diminuição na quantidade de entulho em relação às camadas superiores. O nível 6 é uma camada de transição entre o material da camada anterior e a camada bruno-amarelada, úmida, argilo-arenosa e sem entulhos que ocorre entre os níveis 7 e 11. Os fragmentos históricos foram encontrados entre os níveis 3 e 8. No fundo da sondagem e próximo ao seu centro foi escavado um poço-teste até 280 cm de profundidade (em relação ao topo da sondagem). A camada referente aos últimos níveis da sondagem ainda ocorrem até 170 cm de profundidade. A partir deste ponto até 280 cm, foram identificados os sedimentos inconsolidados típicos da Bacia de São Paulo.

Sondagem “Hotel” Retirada à camada superficial de material, com fragmentos de toda sorte de material construtivo e fruto das demolições e deslocamento de entulho no local, dos 10 cm até os 50 cm de profundidade manteve-se o mesmo padrão, com material de aterro formado por restos de tijolos, telhas, lixo plástico, vidro, metal, louça. Aos 50 cm de profundidade surgiu uma estrutura de tijolos. As dimensões desses tijolos (23X11) e a marca estampada nele (J.B.) indicaram a modernidade dos mesmos. No mesmo nível foi encontrada uma série de encanamentos feitos com manilhas de cerâmica e o início de uma tampa de concreto. Optou-se pela não retirada da estrutura e se prosseguiu a escavação nos mesmos moldes até 1,0 m de profundidade. O material retirado manteve as mesmas características, compondo, provavelmente, o mesmo pacote de aterro. Em seguida, evidenciado que o conjunto de manilhas e a estrutura de tijolos tratavam-se de uma fossa optou-se pela sua retirada. A escavação da sondagem então indicou a 1,10 m a presença de solo de cor bruno- escura argiloso, com algum material ainda espalhado. Este padrão se manteve até os 2,0 m de profundidade quando optou-se pela abertura de um poço-teste no centro da sondagem. O pacote de aterro se manteve por mais 60 cm, ou seja, a 2,60 m de profundidade, sendo seguido então de uma camada de solo bruno-escura que persistiu até os 4,0 m. Sondagem “Galpão” Até os 40 cm de profundidade a sondagem apresentou o mesmo padrão da sondagem “Hotel”, logo, formado por um pacote de aterro composto por material recente, lixo, etc. A partir dos 40 cm o material cultural desaparece e dá lugar a um solo de cor bruno-clara, padrão que se mantém até 1,4 m de profundidade. Neste 140


ponto a coloração do solo se modifica, ficando mais escura e mais argilosa. Aos 2,0 m de profundidade decidimos abrir um poço-teste no centro da sondagem, com o qual descemos mais 2,0 m, mantendo-se sempre o mesmo padrão de solo.

Resultado das pesquisas no restante da área Os fragmentos históricos, as estruturas construtivas encontradas em subsuperfície e a estratigrafia geral da área seguiram o mesmo padrão daquela que foi encontrada nas prospecções do Poço Central. Estruturas construtivas com concreto britado ou usinado caracterizam o alinhamento das sondagens 630N 589E, 630N 579E e 630N 569E. Estruturas construtivas de tijolos com pouca presença de cimento ocorrem no lado oposto da linha de sondagens, nas sondagens Lava Pé 1 e 610N 589E. Característico de toda a área foi a camada bruma-amarelada à bruma-amareladaescura (coloração dependente da umidade) de textura areno-argilosa à argilo-arenosa que ocorre sobre os sedimentos inconsolidados e variegados típicos da Bacia de São Paulo, num contato que acontece entre 150 e 180 cm de profundidade em relação ao nível atual do piso do canteiro de obras. Devido ao comportamento estratigráfico praticamente constante e ao contato gradual existente entre esta camada e os sedimentos do substrato, indica-se que pode se tratar da camada que mais guarda as condições naturais do momento da ocupação humana pretérita na área. Esta camada frequentemente está em contato com os diversos aterros e interferências antrópicas características de toda a área.

141


4.1.3 As indústrias arqueológicas associadas

O sítio Luz apresentou grande quantidade de vestígios arqueológicos, havendo uma predominância do material em faiança, representada por 52,85% dos fragmentos recuperados, seguido por 13,75% de fragmentos de vidro, 10,55% de cerâmica, 8,5% de grés, 7,0% de material ósseo e 7,35% s pelas demais categorias de vestígios (material construtivo, metal, porcelana, lítico e diversos), conforme tabela e gráfico abaixo.

Faiança Cerâm. Vidro

Ósseo

Mat. constru diversos tivo

metal porcelana

lítico Grés

Total

1622

215*

125

38

1

3069

324

422

18

42

262

1800 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0

faiança

cerâmica

vidro

metal

ósseo

mat.construtivo

diversos

porcelana

grês

metal

lítico

Gráfico 1 - Categoria dos vestígios recuperados do Sítio Luz.

142


Faiança Os fragmentos de faiança representam a categoria predominante dos vestígios arqueológicos recuperados no contexto do Sítio Luz, sendo que a maioria dos vestígios refere-se a fragmentos de paredes de utensílios, dentre os quais 38,71% são decorados. Ainda no conjunto destes vestígios foram recuperadas 173 bordas e 181 bases, na grande maioria fragmentos de pratos e canecas, além de 17 apêndices e 11 fragmentos de tampas.

Parede

Borda

Apêndice

Base

Frag.tampa

Bibelô

Total

1239

173

17

181

11

1

1622

77,6%

0.1%

paredes

bordas

0,6%

10,6%

apêndice

1,0%

bases

10,1%

tampa

bibelô

Gráfico 2: Tipos de fragmentos de faiança.

Dentre os vestígios em faiança, um total de 628 fragmentos apresentou algum tipo de padrão e/ou técnica decorativa. Assim, entre os vestígios sem decoração, 6,3% dos fragmentos apresenta a superfície modificada por pressão de molde (moldagem impressa), predominando o padrão trigal, produzido na Inglaterra a partir do século XIX.

143


260 240 220 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0

borrão azul floral policromo sup. Modificada(trigal) engine tournet policromo em relevo

shell edged transfer printing bandado sponged

willow pattern cut sponge geométrico (port.) outros

Gráfico 3: Padrões e técnicas decorativas dos fragmentos de faiança.

Ainda em relação aos fragmentos que apresentaram a superfície modificada, insere-se o padrão Shell-edged, constituindo um dos tipos mais comuns utilizado na decoração de peças rasas, geralmente pratos e predominantemente em azul e produzido até cerca de 1850. Em comparação com os demais sítios pesquisados no Projeto Metrô, o Sítio Luz foi o que apresentou uma maior quantidade de fragmentos desta tipologia, com uma frequência de 11,62%. Já em relação aos fragmentos que não apresentam a superfície modificada, ocorre uma maior frequência da técnica do “azul borrão” (39,96%) baseada na aplicação de um estampado, geralmente em azul, sobre o qual a tinta escorre intencionalmente causando um aspecto de “nebulosidade” das imagens. Tal técnica foi introduzida na Inglaterra a partir de 1830, sendo produzida até o início do século XX. Sequencialmente, com 14,96% dos fragmentos decorados, observamos a ocorrência do padrão transfer printing, baseado na impressão por transferência e desenvolvido na Inglaterra a partir de 1750 e utilizado até o inicio do século XX. Tal padrão é apontado na bibliografia como sendo uma das louças mais caras durante o século XIX. Na mesma técnica decorativa foram também recuperados fragmentos com o padrão Willow Pattern, inserido no estilo Chinoiseirie, baseado na adoção de motivos

144


chineses pela indústria europeia entre 1800 e 1815, relativamente comuns em sítios históricos do Brasil e com uma frequência de 9,7% no Sítio Luz. Quando em comparação com os demais sítios estudados no contexto do Projeto Metrô, registramos no sítio Luz uma frequência significativa do padrão policromo floral pintado à mão, com 6,6% dos fragmentos recuperados. Tal padrão foi produzido entre 1820 e 1840, utilizado principalmente nos serviços de chá e café. Fragmentos decorados com frisos e faixas, associados ao padrão bandado, já registrados em outros sítios, também foram encontrados no Sítio Luz, com uma ocorrência de 4,1% do total dos vestígios em faiança identificados, sendo que a maior parte é representada pela presença de frisos monocrômicos junto à borda. Utensílios de faiança com este padrão decorativo ocorrem desde o século XVIII até a atualidade, quando ocorre uma produção em larga escala. Os demais tipos encontrados, tais como cut sponge, engine tournet, sponged, policromo em relevo e não identificados, totalizam 6.7% do material em faiança recuperado, sendo que alguns destes padrões foram registrados somente no sítio Luz, como é o caso do policromo em relevo e engine tournet. Este último consiste em uma técnica baseada na aplicação de instrumento pressionado sobre a superfície da peça, criando depressões de formas geométricas, utilizada entre 1820 e 1900. Outro dado importante foi quanto à identificação de marcas de fabricação entre os fragmentos recuperados, o que forneceu informações sobre o local de procedência de alguns utensílios e o seu período de produção. De acordo com Tocchetto (2001:42), “em outros casos, a datação pode ser feita por um período mais amplo, dado pelo tempo de existência de uma fábrica, ou por um intervalo mais restrito, como o momento em que determinado fabricante produziu um modelo específico”. Em relação ao sitio Luz foram identificadas algumas marcas, a saber: -

Copeland – A fábrica Copeland & Sons Ltd. localizada em Staffordshire, Inglaterra, teve seu período de produção entre 1847 e 1867. Os exemplares recuperados são representados por quatro fragmentos de bases marcados COPELAND.

-

Davenport – Foi fundada por John Davenport, localizada em Staffordshire, Inglaterra tendo produzido faiança fina entre 1774 e 1887. Ao longo de sua existência utilizava variações nas marcas de fabricação, sendo que as louças mais antigas apresentam a palavra Davenport em letra minúscula.

145


-

J. & G. Meakin Ltd – Foi fundada em Staffordshire no ano de 1851, produzindo louças até fins do século XX. Os fragmentos do sítio Luz apresentam a palavra ENGLAND, indicando o período de produção entre 1891 e 1906.

-

ADAMS – Foi fundada em Staffordshire no ano de 1769, funcionando até os dias atuais. Apresenta uma grande variedade de marcas, sendo que as que incorporam o nome do padrão decorativo indicam o período entre 1819 e 1864.

-

Keramis – Louça de procedência belga, fabricada em Saint-Vaast, La Louvière. Os irmãos Boch iniciaram a produção cerâmica em Luxemburgo, em 1767. Em 1839 vão para Bélgica, fundando a fábrica de louças Kéramis, produzindo faiança e grès entre 1841 e 1900.

Além destes fragmentos foram encontradas outras bases com marcas não identificadas, mas que indicam uma procedência europeia de meados do século XIX. Com base na identificação de padrões e marcas dos fragmentos de faiança encontrados foi possível observar que as louças utilizadas eram importadas basicamente da Inglaterra, e que a data média de fabricação deste material se relaciona a segunda metade do século XIX, sugerindo o período de ocupação do sítio Luz.

146


Prancha 20 – Peças de faiança no sítio Luz.

Superfície Modificada (padrão trigal).

Padrão azul borrão.

Prato em faiança decorado no padrão Willow Pattern. Prato em faiança decorado no padrão Shell edged.

147


Prancha 21 – Peças de faiança do sitio Luz.

Padrão policromo floral

Decoração pela técnica cut sponge.

Padrão dipped (motivo Engine-turned).

Padrão policromo em relevo.

148


Prancha 22 – Peças de faiança do sitio Luz. Caneca com superfície modificada e combinação com borrão azul.

Prato com superfície modificada e combinação com borrão azul.

Utensílio em faiança decorados pela técnica transfer printing.

Utensílio em faiança decorados pela técnica transfer printing.

Prato de faiança sem decoração.

Fragmento de faiança portuguesa decorada com motivos geométricos em tom vinhoso.

149


Prancha 23 – Peças de faiança do sitio Luz.

Fragmentos de base com variações da marca Davenport.

Marca da fábrica Copeland & Sons.

Modelo “Oriental” associado a fábrica ADAMS.

Variações da marca J. & G. Meakin Ltd.

150


Porcelana Além da faiança foram também recuperados fragmentos de porcelana, em geral associados a utensílios de uso domésticos tais como pires e xícaras, totalizando 42 fragmentos. Destes, 26% apresentam algum tipo de decoração, quase na totalidade pela técnica transfer printing. Dentre os vestígios de porcelana foram recuperados dois fragmentos associados a objetos decorativos (bibelôs) frequentes durante o século XIX e primeira metade do XX. Assim, como os vestígios de faiança, os utensílios de porcelana provavelmente estão associados a meados do século XIX.

Fragmento de xícara em porcelana decorada por transfer printing.

Fragmento de boneca de porcelana.

Grés Na categoria dos vestígios em grés foram recuperados na totalidade 262 fragmentos, associados a recipientes para armazenar líquidos, sendo que 98% deles está associado a garrafas. No conjunto dos sítios pesquisados, o sítio Luz configura-se como o sítio onde foi registrada a maior ocorrência desta natureza de vestígios. Em geral os fragmentos de grés estão relacionados a garrafas de formatos variados, apresentando geralmente na superfície tonalidades que variam do areia ao marrom avermelhado, existindo alguns exemplares “mesclados” nos tons cinza claro e areia. Dentre os fragmentos recuperados alguns apresentaram marcas e inscrições indicando procedência européia e produção correlata a meados do século XIX, corroborando os dados obtidos pelas análises efetuadas nos fragmentos de faiança.

151


Fragmento de garrafa com marca indicando procedência européia.

Fragmento de garrafa em grés com marca de produção.

Cerâmica No conjunto dos vestígios em cerâmica foram recuperados 324 fragmentos entre bordas, apliques, alças, paredes e um cachimbo, havendo uma maior ocorrência de paredes de utensílios, predominantemente sem decoração. Em geral os vestígios encontravam-se muito fragmentados e as bordas em geral estão associadas a pequenos utensílios domésticos. Embora em pequena quantidade a presença de alças, apliques e bases planas indica que os vestígios estão relacionados com o período colonial e com uma produção de caráter regional.

73,3% 8,2%

9,4% 0,9%

6,4%

parede simples alça

borda cachimbo

0,3% 1,5%

vidrada parede decorada

apendice

Gráfico 4: Categoria dos fragmentos de cerâmica do Sítio Luz. 152


Quanto ao tratamento dado em superfície, 73,1% dos fragmentos apresenta-se sem decoração, 16,1% correspondem a cerâmica vidrada e 10,9% possuem decoração plástica, dos quais 81% na decoração incisa e 19% com pintura na face externa. 2,1%

16,1%

8,8%

73,1%

simples

incisa

pintada

vidrada

Gráfico 5: Tipos decorativos nos fragmentos de cerâmica.

Em relação aos aspectos tecnológicos da cerâmica, observamos que a maior parte dos utensílios foi produzida pelo processo de acordelamento, apresentando queima incompleta com antiplástico mineral. No conjunto do material cerâmico alguns fragmentos indicam uma produção por torno mecânico e, nestes casos, os fragmentos são associados a vasos com base plana com fins de jardinagem e/ou decorativa. Ainda na categoria dos vestígios cerâmicos, foi recuperado um cachimbo, cuja análise foi direcionada a partir da pasta e queima do objeto. Sendo assim, seguindo a classificação de Schmitz (1969), o exemplar recuperado pertence ao tipo angular, produzido pela técnica de modelagem, com porta-boquilha curta. Sua pasta é grossa e o antiplástico contém grãos de quartzo de pequena dimensão. Seu alisamento e queima são medianos, apresentando na superfície uma tonalidade marrom-pardo, de forma geométrica, base e borda aplainados e sem a presença de elementos decorativos, sendo provável que, assim como os demais utensílios cerâmicos, tenha sido produzido regionalmente. Também associado aos populares pitos de barro foi recuperado um utensílio cuja pasta parece indicar estar associado a um molde de produção para cachimbos, hipótese que deverá ser analisada mediante a recuperação de outros exemplares em sítios de contexto análogo ao Sítio Luz.

153


Prancha 24 – Peças cerâmicas, sítio Luz.

Fragmentos de cerâmica do tipo simples.

Utensílio de cerâmica com decoração incisa. 154


Prancha 25 – Peças cerâmicas, sítio Luz.

Fragmento com borda, decoração incisa.

Vaso produzido em torno e apêndice (alça).

Cachimbo angular de porta boquilha curta.

Provável molde para cachimbos.

155


Vidro No conjunto do material arqueológico do Sítio Luz os fragmentos de vidro se configuram como sendo uma das categorias de vestígios com uma significativa ocorrência, pois quando em comparação com os demais fragmentos recuperados, apresenta uma quantidade somente inferior ao material em faiança. Dentre os fragmentos de vidro recuperados foram identificados predominantemente garrafas para armazenarem bebidas e frascos de medicamentos, em geral na tonalidade marrom e verde, os quais tornam-se populares a partir do final do século XIX, seguidos de vidros planos associados a restos construtivos e indicando a presença de vidraças.

36% 3% 3% 1% 6%

4% 10% 19% 12%

6%

garrafa beb. (S)

garrafa beb. (MD)

frasco med. (SL)

frasco med.(MD)

janela

toucador (MD)

taça (MD)

copo (MD)

tampa

diversos

Gráfico 6: Categoria dos fragmentos de vidro.

Dentre as garrafas identificadas, 36% foi produzida pelo processo de Sopro Livre, a maioria com a base irregular e com vestígios de marca de decantador. Do total dos fragmentos de garrafas, 19% indica uma técnica de produção baseada na utilização de molde duplo, situando a fabricação de tais recipientes e ambas as técnicas no século XIX. Da mesma forma que as garrafas foram recuperados fragmentos associados a frascos de medicamentos, sendo que, do total de 54 fragmentos, 33% estão relacionados à técnica de sopro livre e 67% a utilização de molde duplo no processo 156


de fabricação. Dentre os frascos para medicamentos, alguns apresentam a tonalidade azul cobalto e foram amplamente utilizados no século XIX para armazenar e comercializar óleo de rícino. Uma outra categoria de objetos de vidro recuperados diz respeito a taças e copos que, no Sitio Luz, corresponde a 7% dos utensílios identificados, havendo uma predominância das taças, algumas em bom estado de conservação e indicando a produção fabril mediante a utilização de molde. Na categoria dos objetos diversos foram recuperadas 3 (três) bolas de gude de fabricação mais recente e utilizadas amplamente como brinquedos. De forma geral, assim como as demais categorias de vestígios recuperados, o material em vidro está associado à segunda metade do século XIX, corroborando os dados obtidos anteriormente.

157


Prancha 26 - Peças de vidro, sítio Luz.

Garrafa produzida por sopro livre

Gargalo de garrafa produzida pelo processo de sopro.em molde.

Frasco de garrafa verde.

Frasco hialino produzido em molde.

158


Prancha 27 – Peças de vidro, sítio Luz.

Frascos associados ao século XIX com marca do produto e indicação do fabricante. A última é de procedência européia.

Fragmento de frasco utilizado para óleo de rícino (séc. XIX).

Taça produzida em molde.

159


Metal Assim como nos demais sítios pesquisados, a categoria de objetos metálicos é representada por uma pequena quantidade de vestígios e especificamente no caso do Sítio Luz, tais vestígios correspondem a apenas 1,2% de todo o material recuperado. Dessa forma, na qualidade dos vestígios metálicos, além da tralha construtiva (arames, pregos, canos) representando 61% da totalidade do material, foram identificados objetos relacionados à tralha equestre, neste caso, duas ferraduras, a tralha indumentária constituída por duas fivelas, 04 talheres (02 de bronze e duas de metal ferroso) associadas à tralha doméstica, e 05 moedas correlatas a tralha monetária. Cabe salientar que todas as moedas recuperadas estão inseridas na década de 80 do século XX e foram encontradas em meio ao material de aterro e entulho.

13% 5% 5%

11%

61% 5%

construtivo

equestre

doméstico

indumentária

ferramental

monetária

Gráfico 7: Categoria dos vestígios metálicos recuperados do Sítio Luz.

160


Prancha 28 – Peças em metal, sítio Luz.

Colher (objeto associado à tralha doméstica).

Estribo fragmentado (tralha eqüestre). 161


Ossos Da mesma forma que nos demais sítios estudados, os vestígios ósseos do sítio Luz são representados por fragmentos de ossos de animais relacionados a restos alimentares, sendo constituídas por ossos de bovinos, suínos, conchas e apenas 01 vértebra de peixe. No conjunto destes vestígios foi constatada uma predominância absoluta de fragmentos de ossos de bovinos, em geral com evidência de corte e descarne, constituindo amostragem da dieta alimentar dos segmentos sociais que ocuparam esta parte do município de São Paulo no passado. De fato, a bibliografia específica aponta o alto consumo de carne bovina e suína pela comunidade durante o limiar do século XIX.

Lítico O material lítico recuperado durante as pesquisas no sítio Luz é representado por um único objeto, uma pederneira em sílex, do tipo circular, com evidência de uso. Tais utensílios eram utilizados em armas de percussão, podendo ser importados ou produzidos regionalmente, tendo sido bastante comuns até fins do século XIX.

Outros Vestígios Além das categorias dos vestígios descritos anteriormente foram também identificados no sítio Luz objetos relacionados a restos construtivos, tais como fragmentos de tijolos, telhas francesas e capa e canal, azulejos, manilhas, fragmentos de pias e vasos sanitários, elementos de gesso e plástico, na sua grande maioria associados a entulho e aterros e de origem recente, situação análoga aos demais sítios pesquisados no contexto das obras do Metrô de São Paulo.

162


Prancha 29 – Peças em osso e lítico, sítio Luz.

Fragmentos de ossos bovinos com evidencia de corte.

Pederneira em sílex. 163


4.1.4 Resultados De acordo com as expectativas foi identificado um patrimônio arqueológico positivo na área da futura Estação da Luz. Ali foram realizadas diferentes atividades de pesquisa, em 4 etapas distintas de campo, envolvendo abertura de 80 m2 de área de escavação, 97 sondagens e 130 poços-teste. Em termos da estratigrafia, as argilas variegadas (Formação Resende) típicas da Bacia de São Paulo se encontram abaixo dos diferentes tipos de aterros e da camada bruno-amarelada, areno-argilosa que ocorre generalizadamente na área. Assim as escavações arqueológicas necessitaram retirar inicialmente as camadas de aterro para alcançar a superfície original, onde de fato ocorriam estruturas de edificação e materiais variados. A maior parte deste material remete ao século XIX, embora existam peças que podem ser associadas ao século XVIII, no que se refere à faiança.

164


4.2. ESTAÇÃO HIGIENÓPOLIS

4.2.1 Caracterização da paisagem A Estação Higienópolis está localizada nos “patamares e rampas dos espigões secundários vinculados ao Espigão Central” que, segundo Ab’saber (1957), são “plataformas interfluviais secundárias, esculpidas a partir dos altos rebordos e esporões do Espigão Central que decaem para os vales principais da região de São Paulo através de uma série de patamares relativamente planos e rampas de declive ligeiro”. Estes últimos são aproveitados pelas principais vias radiais da Av. Paulista, como a Rua da Consolação e a Av. Brig. Luiz Antônio. A estação está localizada no setor intermediário da rampa, em altitudes em torno de 780m (IGG-SP, 1971). A rampa é um divisor de águas da drenagem que flui para o antigo ribeirão Saracura Grande, canalizado atualmente sob a Av. Nove de Julho, e a drenagem que flui para o antigo ribeirão do Arouche, atualmente canalizado sob o bairro homônimo. A dinâmica erosiva do local ao longo do Quaternário até a ocupação urbana atual e consequente impermeabilização da área (que se intensificou a partir do início do século XX) é predominantemente de degradação. Por se tratar de um divisor de águas, o local não é atingido por cheias. O embasamento geológico desta área se refere aos sedimentos continentais terciários inconsolidados da Bacia de São Paulo (IPT, 1981; EMPLASA, 1980), relacionáveis às Formações Resende e São Paulo. A Formação Resende é composta basicamente por “depósitos fanglomeráticos (leques aluviais) que gradam para depósitos relacionados à planície aluvial de rios entrelaçados” (RICCOMINI & COIMBRA, 1992), enquanto que a Formação São Paulo possui basicamente arenitos com ocorrências mais restritas de conglomerados, siltitos e argilitos relacionados a depósitos de sistema fluvial meandrante (RICCOMINI & COIMBRA, op. cit.). A partir dos dados analisados é possível afirmar que predominam no local da Estação Higienópolis os processos de degradação desde meados do Pleistoceno, e que esta degradação variou de intensidade conforme as oscilações climáticas ocorridas ao longo deste tempo (Holoceno incluído). Por ser um patamar relativamente plano que corresponde a um divisor de águas, o local esteve a salvo das cheias periódicas dos rios próximos sendo, portanto, um local privilegiado para habitações e ocupações humanas. Segundo Ab’Saber (op. cit.), este compartimento geomorfológico apresentou os “elementos preferidos” para o assentamento de antigos bairros residenciais da cidade, como a “Liberdade, Bela Vista, Consolação, Higienópolis, Perdizes, etc.” 165


Figura 46 - Localização da área da Estação Higienópolis no contexto da ocupação urbana recente.

4.2.2 Prospecções arqueológicas A área está situada na esquina da Rua da Consolação com a Rua Piauí, em terreno da instituição de ensino Mackenzie (área privada). Encontra-se implantado num topo de colina e se estende até a meia vertente. A superfície do terreno está completamente recoberta por concreto e asfalto, pois, até há pouco tempo atrás, lá funcionava o estacionamento da instituição. Para a delimitação vertical e horizontal da área foram inicialmente abertas 22 sondagens em todo o terreno. Estas sondagens variaram bastante em termos de área: as primeiras, aproveitando as perfurações abertas no piso para a construção de um muro, foram bastante reduzidas, à exceção da P6-7, com mais de 2m de comprimento; 166


as subsequentes, abertas em uma área circular na porção mais alta do terreno, passaram a ter 1m de comprimento por 60 cm de largura, esta última medida determinada pela porção de piso previamente retirada. Quanto à profundidade atingida, todas as sondagens realizadas na área do piso de tijolos (P1 a P14) pararam no referido piso. Onde ele não foi encontrado, a sondagem parou em mais ou menos 1m de profundidade. Já nas sondagens da porção mais alta do terreno (P15 a P22), a profundidade chegou, em todas, a 2m, graças ao uso de um trado (diâmetro de 30cm) a partir de 1,20/ 1,30m. A partir destes procedimentos foram identificados vestígios constituídos, na porção mais elevada do terreno (SW), por restos construtivos (final do século XIX ou início do século XX) oriundos da demolição de uma ou mais edificações que lá existiam. Na porção mais baixa desse mesmo terreno (E), junto ao muro contíguo ao colégio Mackenzie, foi encontrado um piso articulado, feito com tijolo, entre 65 e 80 cm de profundidade, provavelmente contemporâneo às edificações que lá existiam. As sondagens P15, P16, P17, P20 e P21 estão nitidamente na parte de fora, ou periférica, do sítio, característica inferida a partir da pouca incidência de vestígios arqueológicos nelas. As sondagens restantes, P18, P19 e P22, apresentaram grandes quantidades de entulho construtivo novecentista ou do início do século XX (tijolos com mais de 7cm de espessura, telhas francesas e capa-canal, ladrilhos hidráulicos, telhas de vidro e louça sanitária com marcas do fabricante e inscrições em inglês) até 80 cm de profundidade, em média. Esse entulho é constituído por materiais bastante antigos e sua concentração está bem definida no terreno, o que leva a considerar que o mesmo é originado da demolição de uma ou mais edificações, contemporâneas, construídas no próprio terreno provavelmente no local onde hoje estão as concentrações de vestígios arqueológicos. Pouquíssimos fragmentos de utensílios foram encontrados. Apesar do piso de tijolos estar em porção mais baixa do terreno, a uma distância de mais de 20m da principal área de concentração dos vestígios, ele apresenta correlação com a estratificação dos vestígios da porção alta. Além de ser constituído por tijolos com mais de 7 cm de espessura, muito semelhantes ou idênticos aos que foram encontrados nas porções altas, o piso está coberto por uma camada de 65 a 80 cm de entulho e sedimento. Como as concentrações principais de entulho, na porção elevada, vão, em média, até 80 cm, é possível dizer que o aterramento do piso é contemporâneo à demolição das edificações.

167


168

Figura 47 – Croqui dos levantamentosefetuados no sítio arqueológico Mackenzie.


169

Figura 48 – Perfil estratigráfico da Área Mackenzie (P 19).


Figura 49 – Perfil estratigráfico da Área Mackenzie (P 19).

170


Prancha 30 – Procedimentos de campo, Estação Higienópolis.

Triagem de material da demolição do galpão.

Retirada da capa de concreto da área.

Triagem de material com peneira.

Evidenciação dos vestígios arqueológicos (piso de tijólos).

171


Prancha 31 – Vestígios arqueológicos identificados na prospecção.

Louças sanitárias.

Restos construtivos (tijolos, telhas, louças).

Restos construtivos (tijolos, telhas, louças).

Restos construtivos (tijolos, telhas, louças).

172


4.2.3 Detalhamento das pesquisas Todo o terreno estava coberto por uma capa de concreto, pois a área era utilizada como estacionamento da faculdade, não havendo nenhuma parte com solo exposto. Inicialmente os trabalhos arqueológicos consistiram no monitoramento da retirada de uma caixa d’água enterrada, momento em que foi identificada, na estratigrafia exposta do terreno, a presença de um pavimento de tijolos. Sendo

assim,

e

visando

igualmente

detalhar

as

pesquisas

iniciadas

anteriormente, as ações de monitoramento e resgate arqueológico foram realizadas a partir de quatro etapas de trabalho, a saber: - Monitoramento da abertura de poços para movimentação do lençol freático e da vala para concretagem - Monitoramento da retirada da camada de concreto para abertura de poços teste - Abertura dos poços teste - Decapagem da área em que foram encontrados os vestígios Monitoramento da abertura de poços para a movimentação do lençol frático e da vala para concretagem: Nesta etapa a equipe de arqueologia realizou o monitoramento da abertura de poços para a movimentação do lençol freático. Todo o sedimento retirado dessas intervenções foi vistoriado. Foi então aberta uma vala circular conectando os poços abertos inicialmente abertos, o nível do piso de tijolos evidenciado no perfil. Foi ainda realizada a abertura de uma sondagem dentro da vala menor, entre as perfurações para verificar se alguma estrutura construtiva ou vestígio arqueológico poderia ainda ser encontrado no local. Uma grande quantidade de vestígios construtivos recentes e remexidos foi encontrada em todos os níveis da sondagem, finalizada em 55 cm com a presença de parte de um piso de tijolos. A equipe decidiu então abrir uma nova sondagem para verificar a continuidade do pavimento. A sondagem foi aprofundada até o nível do piso, tendo sido encontrado vestígios construtivos em todos os níveis escavados (até 60 cm), mas o piso não continuava se prolongando no sentido norte.

173


Prancha 32 – Início dos trabalhos na Estação Higienópolis.

Abertura dos poços de inspeção no terreno.

Arqueólogos fazendo a seleção dos vestígios encontrados.

Peneiramento do solo e separação dos vestígios encontrados.

174


Monitoramento da retirada da capa de concreto: O monitoramento da retirada da camada de concreto foi realizado em áreas pontuais pré-estabelecidas pelos arqueólogos dentro da área a ser impactada pelas obras. Desta forma a britadeira ou rompedor não interferiram no extrato natural do piso, preservando possíveis vestígios/ estruturas presentes.

Abertura dos poços teste: Foram demarcados 29 poços teste ao longo de toda a área do poço de ventilação, atingindo uma profundidade média de 1,20m. A estratigrafia da área mostrou que na maior parte do terreno diretamente impactado havia uma grande quantidade de entulho construtivo e de refugo de objetos de uso doméstico como se percebe na leitura estratigráfica do PT 18, descrita a seguir: (0 – 10cm) camada de concreto do estacionamento (10 –20cm) contrapiso de nivelamento abaixo do concreto. Muita areia misturada ao sedimento. (20 – 65cm) camada de sedimento marrom avermelhado com presença de entulho construtivo (tijolos, azulejos e outros) (65cm) presença de piso de tijolos (65 – 130m) solo arenoso marrom avermelhado sem entulho Em alguns dos poços teste abertos na área foi percebida a presença do que parecia ser um piso de tijolos a aproximadamente 55 cm de profundidade na porção noroeste do terreno. Outros poços teste revelaram a presença de um piso de cimento seguido de um contrapiso, também de cimento, aparentemente no mesmo nível do piso de tijolos, além de grande concentração de material construtivo como telhas, tijolos e vidros, evidência que deveria ser melhor avaliada em campo. Os poços teste da porção sudeste do terreno foram os que apresentaram a estratigrafia mais bem preservada, tendo sido poucas as intervenções em que não foi verificada a presença de materiais construtivos. Tendo sido detalhada a área e podendo-se delimitar as zonas de abrangência das estruturas através das escavações dos poços teste, pôde ser demarcada a área para resgate arqueológico das estruturas construtivas encontradas no local. De um total de 314m2 de área prospectada, foram realizadas escavações sistemáticas em 120m2, correspondendo ao total de área onde foram identificadas estruturas arqueológicas. 175


176

Figura 50 - Croqui esquemรกtico do levantamento arqueolรณgico na รกrea do Poรงo Mackenzie.


Prancha 33 – Escavações na área da Estação Higienópolis

Poços-teste na área.

Abertura dos poços de inspeção no terreno.

Abertura dos poços de inspeção no terreno.

Abertura dos poços de inspeção no terreno.

177


Decapagem da área demarcada Para que a área com vestígios arqueológicos pudesse ser escavada, era necessário que se removesse toda a camada de concreto do local. Para tal foi necessário o auxílio de uma retroescavadeira e os arqueólogos fizeram o monitoramento da retirada das camadas de concreto dentro da área restrita para as escavações arqueológicas, para que não houvesse problemas de intervenção nos extratos abaixo dela. Também foi feito o acompanhamento do nivelamento da terra retirada pela retroescavadeira, depositada ao redor da área a ser trabalhada, para que não houvesse a possibilidade do sedimento retirado escorrer para dentro da área de resgate. Os primeiros procedimentos de campo se referem à documentação do perfil leste da área da caixa d’água, o primeiro a ser aberto na área, e a partir do qual foi verificada pela primeira vez a presença do piso de tijolos. A partir dos limites da caixa d’água iniciou-se a decapagem da área, sendo evidenciado um muro de tijolos próximo ao perfil da caixa d’água (muro 4). A partir deste muro foram sendo evidenciadas outras estruturas que se conectavam e, ao final da escavação, haviam sido evidenciados 5 muros diferentes na área. Alguns muros possuíam dimensões e revestimentos diferenciados, mas todos se encontravam de alguma maneira articulados e estavam dentro da área de decapagem. Com a sua evidenciação foi possível verificar a presença de cômodos, pelo menos quatro diferentes alas de uma mesma estrutura construtiva. Concomitantemente aos trabalhos arqueológicos estava ocorrendo a demolição parcial do muro que dividia o terreno do Mackenzie da rua da Consolação. Acompanhando essa remoção, os arqueólogos perceberam que na base desse muro havia um muro mais antigo que acompanhava toda a delimitação do terreno. Neste muro também foi realizada uma decapagem. Uma porção considerável do muro ficou exposta, de modo que foi possível visualizar bem a sua estrutura construtiva. Foram então escavados 6 muros na área do poço Mackenzie. Nos trabalhos de evidenciação das bases dos muros começou-se a perceber a presença de pisos entre os muros. Todos os pisos na área foram escavados, sendo verificada a presença de 4 pisos de cimento queimado e dois pisos de tijolos. Um dos pisos de tijolos, exatamente aquele que avançava para o perfil da caixa d’água, foi completamente evidenciado e limpo, tratando-se de um piso mais antigo que os demais encontrados na área. O tijolo utilizado na sua construção é exatamente

178


o mesmo do utilizado no muro 1, o muro que divide o terreno com a rua da Consolação. Associado a esse piso de tijolos foi encontrada e escavada uma caixa coletora e uma caixa de gordura (levada para laboratório) e muitos objetos foram encontrados dentro delas como se verá adiante. Uma outra caixa coletora foi encontrada associada ao segundo piso de tijolos, aparentemente mais recente, e também foi totalmente escavada. Como haviam sido evidenciados diferentes pisos numa mesma área, com um diferencial importante em termos de técnicas construtivas e aparentemente de idade em relação, principalmente, ao piso de cimento queimado e o de tijolos mais antigo, foi realizada a abertura de uma vala na área SE, entre o piso de cimento e o piso de tijolos, buscando reconhecer suas possíveis continuidades ou aproveitamento de uma estrutura construtiva em relação à outra. Todo o material retirado dessa escavação foi peneirado e foi feita a coleta de todo de todos os objetos presentes nesta área. Três sondagens S3, S4 e S5, foram abertas em diferentes locais da decapagem, visando definir a possível presença de novas camadas de ocupação humana na área, mais antigas e profundas. Uma das sondagens foi aberta na camada intermediária entre os pisos de cimento e de tijolo. A outra foi aberta na área do piso 1 e a última ao lado do piso 5. Com a abertura dessas sondagens foi possível verificar que, para baixo dos pisos evidenciados na área, incluindo os pisos de tijolos, não havia mais nenhuma estrutura construtiva. Já a estratigrafia para baixo de 1,30m na área se mantém com solo areno-argiloso marrom avermelhado até pelo menos 2 metros de profundidade. Todo o sedimento que fora escavado para evidenciação das estruturas, e o que foi retirado de dentro das sondagens, caixas coletoras e caixas de gordura foram peneirados nos fornecendo o seguinte quadro: No sedimento retirado sobre as estruturas construtivas escavadas em toda a área trabalhada foi verificada a presença de fragmentos de piso, vidro, louça, rebocos de parede, ladrilhos, metais, telhas, tijolos, e fragmentos de manilha, principalmente. Na área do quadrante NO (sobre o piso de tijolos), encontrou-se uma moeda italiana e uma outra portuguesa, atualmente em processo de análise laboratorial. Na área entre pisos, citada anteriormente, os mesmos tipos de vestígios construtivos apresentados acima foram identificados, incluindo uma moeda de bronze. 

Na caixa coletora A foram encontrados vestígios construtivos, tais quais, fragmentos de piso, telha, azulejos, prego e vidro incolor.

Na caixa coletora B foram escavados muitos fragmentos de materiais construtivos. 179


Prancha 34 – Pesquisas na abertura de vala lateral.

Acompanhamento das obras.

Inspeção da abertura de vala.

Detalhe de fundação.

Limpeza de perfil.

180


Prancha 35 – Detalhamento das escavações na área. 

Vista aérea dos trabalhos.

Documentação da pesquisa.

Ampliação das escavações.

Limpeza de Perfil.

181


A escavação na caixa de gordura revelou principalmente a presença de objetos de uso doméstico que possam ter caído dentro dela, como bolas de gude, alfinetes e uma faiança branca decorada, entre outros. Estando todos os muros, pisos e outras estruturas da área evidenciadas, foi

possível a realização de uma mico-topografia de todas as estruturas construtivas, incluindo as intervenções arqueológicas realizadas na área com o processo de escavação, fazendo-se uso do teodolito eletrônico (Total Station). Além da micro-topografia, todas as estruturas foram documentadas por meio de fotos e croquis de campo antes que fossem desmontadas. Foi efetuada remoção de parte de um dos pisos de cimento, com evidenciação mais ampla de um contrapiso, o qual já havia sido registrada a presença, abaixo do piso 3. Desta maneira pode ser feito o desmonte dos pisos e, por conseguinte, a remoção das estruturas e marcações arqueológicas, com conclusão das pesquisas na área.

182


Prancha 36 – Micro-topografia das estruturas e coleta de acervo.

Evidenciação de muro.

Topografia do sítio.

Trabalhos de escavação.

Limpeza de estruturas.

183


Prancha 37 – Material arqueológico associado e conclusão da pesquisa.

Amostras de tijolos da área.

Amostra de vidros.

Acompanhamento das escavações.

Vista geral da retirada final de materiais para encerramento das pesquisas.

184


4.2.4 Resultados As

pesquisas

desenvolvidas

na

área

da

futura

Estação

Higienópolis,

compreendendo um terreno na esquina das ruas da Consolação e Piauí, evidenciaram restos construtivos de edificação que teria feito parte das construções do complexo Mackenzie. A escola de engenharia Mackenzie propriamente dita localiza-se em área mais afastada, tendo sido construída ainda no final do século XIX, e tombada enquanto patrimônio histórico em 1993. Conforme demonstra a figura anexa, que traz uma planta do complexo Mackenzie em 1934 (o terreno então ocupado era de 45.470 m2), o local onde foram realizadas as pesquisas compreendia uma residência de esquina e áreas funcionais de apoio. Assim, os restos de estruturas e, também, o material associado devem estar relacionados a este período, compreendendo o final do século XIX e início do século XX. Funcionários consultados do Centro Histórico Mackenzie indicaram que ali deveria ter funcionado um dormitório feminino para as alunas do colégio. Já durante a revolução de 1932 o lugar passaria a funcionar como enfermaria. Quando do desenvolvimento das pesquisas a área era utilizada como estacionamento de apoio e galpões funcionais. As estruturas antigas estavam abaixo do piso de concreto então em uso que guardava, portanto, partes da história local.

185


Ă rea de pesquisa

Figura 51– Planta do completo Mackenzie, 1934. Fonte: Arquivo Mackenzie.

186


4.3 VSE WALDEMAR FERREIRA

4.3.1 Caracterização da paisagem A VSE Waldemar Ferreira está localizada na planície de inundação da margem esquerda do rio Pinheiros, que atualmente se encontra retificado bem próximo ao local do mesmo. Portanto, o material do substrato é caracterizado por sedimentos aluviais Quaternários inconsolidados. A VSE está situada a cerca de 725m de altitude (IGGSP, 1971). Esta planície de inundação localiza-se num contexto de altas colinas de média a alta declividade com os topos alcançando altitudes entre 790-810m (AB’SABER, 1957), e o leito do rio Pinheiros localizado a menos de 720m. A dinâmica erosiva do local até a ocupação urbana atual e consequente impermeabilização e aterramento da área (que se intensificou a partir da segunda metade do século XX) era típica das planícies de inundação, ou seja, predomínio da acumulação fluvial intimamente dependente da dinâmica hídrica do canal do rio Pinheiros. Portanto, o local da VSE Waldemar Ferreira esteve sujeito durante os últimos anos às cheias anuais e periódicas2 do rio Pinheiros. A partir dos dados analisados é possível dizer que predominam no local da VSE os processos de agradação de planície fluvial, que foi gerada ao longo dos últimos milhares de anos. Portanto, pelo menos a partir do início da formação da planície de inundação até os dias atuais, a região esteve constantemente sendo inundada pelas cheias do rio Pinheiros e pelos seus meandros conforme a dinâmica do canal, não apresentando, condições propícias a assentamentos humanos. A ocupação intensa das várzeas é um fenômeno mais recente na história da ocupação humana. Devido ao caráter de agradação sedimentar extremamente dependente da dinâmica hídrica do rio Pinheiros, há a possibilidade da ocorrência de vestígios arqueológicos originários de setores à montante do canal de drenagem e depositados na planície juntamente com os sedimentos fluviais. Conforme apresentado adiante, estes vestígios arqueológicos foram efetivamente localizados na área, levando à realização de atividades de resgate.

2

Entende-se como cheias periódicas aquelas que ocorrem num intervalo de cerca 1,58 anos, atingindo a área da várzea do rio (CHRISTOFOLETTI, 1976). 187


Figura 52 - Localização da área do Poço de Ventilação Waldemar Ferreira no contexto da ocupação urbana recente.

188


4.3.2 Prospecções arqueológicas O poço de ventilação Waldemar Ferreira situa-se no canteiro central (área pública) da Avenida Waldemar Ferreira, ao norte / nordeste da Rua Pirajussara, bem como uma parte de calçada anexa, totalizando 13 m de diâmetro. Encontra-se implantado numa planície inundável e assume um formato linear graças às características do canteiro central. A vegetação que recobre o local é composta por palmeiras ajardinadas e gramado. Os trabalhos de subsuperfície consistiram, durante a primeira fase de prospecção, na abertura de 3 poços-teste, com trado de 30cm de diâmetro, até a profundidade de 2,20/ 2,30m, num eixo de 30 a 40m, tendo como ponto central o local onde será a ventilação Waldemar Ferreira. A estratificação do solo no local pode ser assim sintetizada:  da superfície até os 20cm foi detectado um solo orgânico, que corresponde a uma das camadas arqueológicas;  dos 20cm até 1,15m predomina um silte avermelhado, que corresponde ao aterro para a construção da avenida (na década de 1960);  dos 1,15m até 1,85m ocorre entulho orgânico que, em verdade, é um terreno natural originado em ambientes pantanosos que dominavam a área antes da retificação do rio e antes da construção da avenida.  do 1,85m até os 2,90m predomina um solo areno-argiloso. Como resultado, foram identificados vestígios arqueológicos na primeira camada (até 20 cm) e na terceira (dos 1,15 aos 1,85 m). Na primeira camada os vestígios são constituídos por restos construtivos (tijolos, telhas francesas e capa & canal, rebocos de cimento e fragmentos metálicos), fragmentos de utensílios de vidro e de plástico contemporâneos e de fragmentos de utensílios de faiança fina, porcelana, grés e vidro do final do século XIX até meados do século XX, podendo remontar ao final do século XVIII. Já na terceira camada voltam a aparecer fragmentos exclusivamente de fins do século XIX até início ou meados do XX.

189


190

Figura 53 – Lay out do Empreendimento.


Prancha 38– Prospecções arqueológicas, VSE Waldemar Ferreira.

Abertura de poçosteste com triagem de sedimento com peneira.

191


Prancha 39 - Vestígios arqueológicos – Sítio Waldemar Ferreira.

Materiais arqueológicos diversos coletados durante as prospecções.

Vidros, ossos, metais, louças.

Metais, cerâmica vidrada, faiança, porcelana.

192


4.3.3 Detalhamento das pesquisas Durante as atividades de prospecção identificou-se na área da VSE Waldemar Ferreira vestígios arqueológicos antigos (podendo remontar ao século XVIII) dispersos na estratigrafia. Por conta disto foi indicada necessidade de se proceder a um detalhamento das pesquisas, visando caracterizar a estrutura associada e recuperar os materiais remanescentes. Por outro lado, as pesquisas se voltaram também à prospecção da parte lateral do poço (rua) que, durante os estudos anteriores, ainda não haviam sido retirados. Desta forma as atividades de resgate compreenderam:  Monitoramento da retirada da camada de concreto e asfalto Abertura dos poços teste  Abertura de escavações no canteiro central Monitoramento da retirada da capa de concreto e asfalto Foram demarcadas 10 áreas para realização de poços-teste na porção lateral do poço (rua), sendo 5 em cada lado. Nestas áreas foi feito acompanhamento da retirada do asfalto, visando impedir impactos em possíveis vestígios arqueológicos presentes. Foram ainda demarcadas outras 6 áreas na calçada (3 de cada lado) para abertura de mais poços-teste, onde igualmente se procedeu ao monitoramento da retirada do concreto. Abertura dos poços teste A profundidade dos poços-teste abertos na avenida atingiu 2,0 metros, a exceção de um único poço, que foi encerrado a 97cm de profundidade por ter atingido uma grande rocha de difícil remoção. O solo evidenciado através desses poços-teste é composto por uma camada inicial de areia e brita, resultante do processo de asfaltamento, seguida de uma camada de 1,10m de espessura de sedimento vermelho. A terceira camada é composta por solo preto argiloso e possui em média 70 cm de espessura, seguida de uma camada cinza escura argilosa que se prolonga até pelo menos 2,0m de profundidade. Não foi verificada a presença de vestígio de nenhum tipo nestes poços da rua, apenas sedimento. Os poços teste abertos na área da calçada atingiram 2,0m de profundidade e a estratigrafia se manteve como a dos poços teste da avenida, havendo, no entanto uma camada inicial de 45 cm em média de solo argiloso vermelho que foi depositada no local aparentemente quando da construção do canteiro central. Também nesses poços teste não foi verificada a presença de material arqueológico. 193


Prancha 40 – Prospecções arqueológicas Poço W. Ferreira

Abertura de poços-teste na área da Ventilação Waldemar Ferreira.

Monitoramento da abertura dos poços-teste.

Demarcação de sondagem arqueológica.

Sondagem demarcada na área do canteiro centra e na parte lateral de caçada e rual.

194


Escavações no canteiro central Foram inicialmente demarcadas no canteiro central 6 sondagens de 1m2, distribuídas de forma intercalada para abranger toda a área prevista de obra. As sondagens mediam 1m2 e deveriam ser aprofundadas até 2,0 m para que pudesse ultrapassar a camada com potencial arqueológico. Nos dois primeiros níveis, 0-10cm e 10-20cm

foram encontrados vestígios

arqueológicos históricos, principalmente vidros e porcelanas. Também se encontra, associado a este material histórico, algumas moedas e material recente. Vestígios históricos mais antigos foram encontrados entre os níveis 20-30cm e 30-40cm, sendo que abaixo disso não foi identificado nenhum tipo de material. Todas as sondagens foram rigorosamente escavadas e o sedimento peneirado, uma delas atingindo a profundidade de 2,90m, cuja estratigrafia do solo é padrão e se comporta da seguinte forma: 0 – 20 = Sedimento bruno escuro, argilo siltoso 20 – 60 = Sedimento vermelho brunado, síltico. 60 – 112 = Sedimento vermelho brunado, síltico 112 – 260 = Sedimento preto, argiloso, turfeira. 260 – 280 = Sedimento cinza escuro, argiloso. 280 – 290 = Sedimento branco, areia. Percebe-se através das escavações das sondagens nessa área, que a camada inicial de sedimento escuro se deve a ação de decomposição e concentração orgânica na área ajardinada do canteiro. As duas camadas seguintes de solo avermelhado, as mesmas em que foram encontrados vestígios históricos, não fazem parte da estratigrafia original e foram depositadas na área para a construção da Avenida Waldemar Ferreira. Portanto, o material proveniente dessas camadas foi transportado para o local junto com o sedimento. Todavia, conforme analisado adiante, além deste material conter peças históricas diagnósticas, que remetem ao cotidiano de ocupações históricas que recuam, ato menos, até o século XIX (podendo alcançar a segunda metade do século XVIII), suas características remetem a uma origem controlada, permitindo análises sobre os usos e ocupações pretéritas do bairro envoltório. As ações de resgate na área do Poço Waldemar Ferreira resultaram na coleta de 829 peças, descritas nas páginas que se seguem.

195


Figura 54 - Croqui esquemรกtico das pesquisas arqueolรณgicas realizadas.

196


Prancha 41 – Abertura de sondagens no canteiro central, W. Ferreira.

Abertura de sondagem arqueológica e triagem de sedimento com peneira.

Anotações de campo para confecção de diário.

Observação do perfil estratigráfico.

Monitoramento da abertura das sondagens arqueológicas.

197


Prancha 42 – Escavações na área do canteiro central.

Escavações arqueológicas na área do canteiro central.

Aprofundamento de sondagens para averiguações estratigráficas.

Todo o sedimento retirado era peneirado, objetivando coletar peças de pequenas dimensões.

198


4.3.4 As indústrias arqueológicas associadas Os vestígios arqueológicos recuperados do Sítio Histórico Waldemar Ferreira procedem dos trabalhos de salvamento arqueológico decorrentes das obras de implantação da Linha 4 (Amarela) do Metrô de São Paulo correspondente às obras para a implantação de um poço de ventilação na região do bairro de Butantã/SP. Tal área, assim como a maior parte dos demais sítios pesquisados no contexto das obras de ampliação do Metrô, caracteriza-se por um espaço intensamente antropizado pelos constantes processos de uso e ocupação do solo promovendo uma acentuada transformação do espaço urbano e da paisagem cultural. Dessa maneira, em associação a restos construtivos e entulho, os trabalhos de campo permitiram a recuperação de uma expressiva quantidade de vestígios materiais representados por fragmentos de cerâmica, faiança, grés, metal, vidro, etc., conforme demonstrado o gráfico abaixo:

Gráfico 8: Quantificação dos vestígios por categoria do material.

Dentre o material coletado, tem-se: - Faiança

229

- Vidro

422

- Porcelana

61

- Cerâmica

12

- Metal

33

- Mat. Construtivo

26

- Ossos

16

- Diversos

30

TOTAL

829 199


Assim é possível observar que no sítio Waldemar Ferreira existe uma predominância de fragmentos de utensílios de vidro em relação às demais categorias de vestígios arqueológicos, caracterizando inclusive um comportamento análogo com os demais sítios estudados. Em geral, a maior parte do material encontrado refere-se a fragmentos de faiança e vidro, restos de utensílios basicamente relacionados à segunda metade do século XX, momento em que a região do Butantã encontra-se completamente urbanizada resultando em uma intensa ocupação e transformação do espaço. Todavia, em meio a estes vestígios e aos restos construtivos associados ao entulho, foram recuperados testemunhos arqueológicos correlatos ao final do século XIX e ao início do século XX, (podendo recuar para o final do século XVIII), conforme análise que se segue.

Moedas Foram coletadas durante as escavações 8 moedas, a mais antiga, de 1967; a mais recente, de 1986. Essas moedas, encontradas todas nas camadas superficiais, denotam dois eventos distintos, de escalas diferentes. O primeiro, destaca a nítida mudança do uso da área: um local pantanoso, um terreno baldio próximo às edificações de uma antiga periferia de S. Paulo, ou um quintal de uma propriedade, onde a circulação era restrita ou praticamente inexistente (daí a ausência de moedas), torna-se um local de passagem, o canteiro central a ser vencido para se ir de um lado ao outro da avenida. Note-se que a data da moeda mais antiga corresponde ao período de abertura da avenida e à transferência de vários cursos da Universidade de S. Paulo dos campi do Centro para a Cidade Universitária. O outro evento se refere ao contexto econômico vivido no Brasil na década de 1980: a hiperinflação. O maior número de moedas datadas da década de 1980 pode revelar o aumento da circulação na área, mas revela, sem dúvida, a falta de cuidado das pessoas ao portá-las, pois tinham desvalorização praticamente diária. Metais Dentre o material resgatado temos tampas (“chapinhas” ou, em inglês, crowncaps) de bebidas gasosas. Acharam-se ainda restos de canos, de talheres e uma boca de caixa de cartas. Essas evidências confirmam que estamos lidando não com entulho construtivo deslocado de alguma demolição da área: esses vestígios metálicos estão diretamente associados com áreas externas de edificações e indicam que esse entulho foi realmente para ser a camada onde seria plantado o jardim do canteiro central da avenida. Também foram localizados vestígios de tubos de pomada, um 200


pequeno prato de balança de precisão, um artefato não identificado em bronze, caracterizado por um semicírculo donde se projeta uma haste que está fragmentada, e uma torneira de máquina de café, possivelmente.

Prancha 43 – Peças metálicas (moedas), sítio Waldemar Ferreira.

Face superior de moedas coletadas nas escavações

Face inferior das mesmas moedas. 201


Prancha 44 – Peças metálicas, sítio Waldemar Ferreira.

Exemplos de peças metálicas coletadas.

Outros exemplares de peças metálicas.

202


Vidro Dentre

os

fragmentos

de

vidro

recuperados

foram

identificados,

predominantemente, recipientes de medicamentos, em geral na tonalidade marrom e verde, os quais se tornam populares a partir do final do século XIX. Foram ainda coletados vidros planos associados a restos construtivos correlatos aos processos produtivos do século XX. Da mesma forma que os vidros planos, os fragmentos de recipientes identificados apresentam características associadas aos processos automáticos de produção, adotados a partir da primeira metade do século XX, como é o caso de um pequeno frasco de vidro incolor que apresenta, no corpo da peça, “estrias fantasmas” (Ghost Seams) caracterizadas pela presença de suaves estrias longitudinais que se projetam do gargalo à base da peça, indicando a confecção por máquinas.

Gráfico 9 – Tipologia de artefatos em vidro.

Há uma predominância maciça de frascos de panacéias, remédios e cosméticos, transparentes ou na cor âmbar, na maioria dos casos com o corpo na forma de prismas sextavados ou cilíndricos. Esse padrão indica a deposição de artefatos sistematicamente produzidos até as décadas de 1950-1960, época em que a

203


indústria nacional passa a investir na confecção de moldes com design mais elaborado de brilhantina e de creme “Pond’s”. Um dos frascos de vidro transparente continha o produto “Leite de Rosas”, fabricado desde 1929 até hoje. Esse frasco, sextavado, foi utilizado entre 1929 e 1950, segundo informações do próprio fabricante. Entretanto tais datações, por vezes, são imprecisas, pois nem mesmo as fábricas têm registro dos fornecedores dos vasilhames. Além disso, apesar do referido frasco corroborar o período de deposição esperado para amostra, devemos ter em mente que os vasilhames com as formas acima descritas, a partir da década de 1950, começaram a ceder espaço a outros. Mas, em verdade, produtos de empresas sem recursos para desenvolver moldes próprios continuaram a utilizar esse tipo de padrão, de forma que a data máxima de descarte e deposição desses recipientes deve ser fixada numa faixa temporal entre as décadas de 1950 e 1960. A data mínima de descarte desses frascos também deve ser colocada numa faixa temporal mais ou menos ampla, algo em torno de 1910-1930. O fato de haver uma certa homogeneidade na forma dos frascos leva a atribuílos a uma produção industrial mecanizada, onde máquinas semi-automáticas e automáticas substituiriam o trabalho manual e o sopro humano (ZANETTINI & BAVA DE CAMARGO, 1999). Essa homogeneização e mecanização da produção é cronologicamente anterior na indústria vidreira norte-americana, por exemplo, ocorrendo em torno de 1890-1920. Entretanto, uma outra característica corrobora a periodização 1910-1930 e não uma cronologia anterior para a data mínima de deposição: as poucas marcas de fabricantes distinguíveis são, em sua maior parte, nacionais. À grande quantidade de frascos se soma a presença de várias ampolas e flaconetes. Apesar do uso de remédios injetáveis ser, ainda hoje, costume bastante presente em unidades habitacionais, devemos lembrar que as farmácias, até poucos anos atrás, possuíam uma espécie de enfermaria onde eram aplicadas substâncias intravenosas. Além disso, não havia uma distinção entre “drogaria” e “farmácia de manipulação”, divisão aplicada a partir do início da década de 1970, de forma que todas ou a grande maioria de farmácias elaborava alguns tipos de remédios. Dessa forma, as farmácias funcionavam como pronto-socorros informais, gerando um lixo que hoje já não produzem mais.

204


Prancha 45 – Artefatos em vidro, sítio Waldemar Ferreira.

Exemplares de artefatos em vidro.

Garrafas, ampolas e fragmentos diversos de vidro.

Exemplares de peças em vidro, de diferentes tonalidades.

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Prancha 46 – Artefatos em vidro, sítio Waldemar Ferreira.

Detalhe de pequena garrafa em vidro.

Fragmentos, alguns com marcas de fabricantes, presentes nesta indĂşstria.

206


Prancha 47 – Artefatos em vidro, sítio Waldemar Ferreira

Pote de vidro.

Detalhe de tampa de pote de vidro.

Garrafa de vidro.

207


Foram desenterrados, também, alguns frascos de tinta e os restos de uma peça de tinteiro. Essas peças foram bastante comuns até as décadas de 1950-1960, quando surgem as canetas esferográficas. Poucos fragmentos de garrafas foram encontrados, o que pode ser explicado pelo valor que elas possuíam na indústria da ciclagem. Até os anos 1980 (e um pouco depois, nas áreas periféricas de São Paulo) era muito comum a figura do garrafeiro, trabalhador que coletava os recipientes utilizados e os revendia para a indústria. Ainda hoje as garrafas de cerveja de 600 ml comercializadas em bares, vendas e padarias são retornáveis. Apesar de poucos fragmentos de garrafas terem sido recuperados, eles apresentam características interessantes. As peças apresentadas, salvo um gargalo de garrafa de guaraná “Antártica”, podem ser atribuídas há um tempo anterior à difusão maciça da produção vidreira com máquinas semi-automáticas e automáticas. Isso fica nítido nos fundos dessas garrafas, originados a partir de recipientes de bebidas gasosas, com formatos bastante distintos dos que vemos hoje (mais abaulados, à moda das garrafas de vinho ou champanhe), sem marcas de confecção e coloração profunda, denotando uma seleção pouco acurada da matéria-prima do vidro, nesses casos muito rica em óxido de ferro, característica do tempo em que: 1) não havia muitas normas para o acondicionamento de bebidas e comestíveis; 2) havia poucos conservantes disponíveis para os produtos envasados (daí a necessidade de mantê-los a salvo da luz); 3) além duma menor preocupação com questões de marketing visual do produto. Ainda quanto a não mecanização no processo de confecção do vidro, o gargalo da foto à esquerda da mesma Prancha 109 apresenta riscos horizontais que evidenciam sua confecção manual (utilizava-se uma espécie de alicate para fazer os gargalos antes das máquinas semi-automática e automáticas serem desenvolvidas). Esses alicates (chamados de “ferros de marisar”) passaram a ser utilizados a partir de 1830-1840 e foram muito comuns, no Brasil, até o término (ou grande declínio) da produção manual, algo em torno de 1920-1930 (ZANETTINI & BAVA DE CAMARGO, 1999).

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Prancha 48 – Artefatos em vidro, sítio Waldemar Ferreira.

Peças em vidro, nível 1.

Peças em vidro, de garrafas de maior tamanho.

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Prancha 49 – Artefatos em vidro, sítio Waldemar Ferreira.

Fundos de garrafa, ampolas e fragmentos diversos.

Peças em vidro, indicando a variedade presente na área do sítio.

Exemplares de vidro de diferentes tonalidades.

Fragmento e ampola, sítio Waldemar Ferreira.

210


Prancha 50 – Artefatos em vidro, sítio Waldemar Ferreira.

Gargalos e peças em vidro, sítio Waldemar Ferreira.

211


Faiança A maior parte dos fragmentos de faiança recuperados é de tonalidade branca simples ou com a superfície modificada e, por não apresentarem marcas ou qualquer outro tipo de referência, não puderam ser identificados. Por outro lado, os fragmentos de tonalidade branca simples podem pertencer a partes não decoradas de peças bicromadas ou policromadas. Todavia, dentre os fragmentos sem decoração alguns apresentam a superfície modificada por pressão de molde (moldagem impressa), predominando o padrão trigal, produzidos pela Inglaterra a partir do século XIX e adotado pela indústria nacional a partir do início do século XX até os dias atuais. Além dos fragmentos de faiança simples foram recuperados alguns vestígios que possibilitaram a identificação do padrão e técnica decorativa, conforme demonstrado no gráfico abaixo:

Gráfico 10: Quantificação dos vestígios de faiança por padrão decorativo.

Praticamente a maioria dos fragmentos decorados apresenta superfície não modificada pintada pela técnica de “transfer printing”, a qual consiste na impressão por transferência desenvolvida na Inglaterra a partir de 1750. Um dos padrões observados refere-se ao conhecido Willow Pattern, inserido no estilo Chinoiseirie, baseado na adoção de motivos chineses pela indústria européia entre 1800 e 1815.

212


Foi produzido na Inglaterra por cerca de 54 manufaturas cerâmicas, principalmente na cor azul até o final do século XIX, tendo sido, inclusive, adotado por indústrias brasileiras na primeira metade do século XX. Utensílios com este padrão, sobretudo aparelhos de jantar, foram amplamente exportados para o Brasil, sendo comum serem encontrados fragmentos desta categoria em sítios históricos. Na mesma técnica decorativa foi também recuperado um pequeno fragmento de faiança fina, porém em tom rosa, possibilitando inferir se tratar de uma cena exótica inserida no estilo Chinoiseirie, também produzido pela Inglaterra até a segunda metade do século XIX. Além da técnica de impressão por transferência foi identificado um fragmento de faiança fina na cor azul com motivos florais que, embora sem referência bibliográfica, se aproxima da técnica de “borrão” baseada na aplicação de um estampado, geralmente em azul, sobre o qual a tinta escorre intencionalmente causando um aspecto de “nebulosidade” das imagens. Tal técnica foi introduzida na Inglaterra a partir de 1830 sendo produzida até o início do século XX. Ainda em faiança fina foi recuperado um fragmento de pires com decoração moldada acanalada (superfície modificada) e bandado (frisos) junto à borda. Provavelmente é de fabricação nacional da primeira metade do século XX, pois peças com este padrão decorativo foram recuperados de outros sítios históricos de São Paulo e, neste caso, produzidas pela Fábrica de Louças Santo Eugênio. Esse tipo de cerâmica porosa, também chamada de pó de pedra ou porcelana imperfeita, foi desenvolvido na Inglaterra no século XVIII, dentro do processo de aumento de produção e diminuição de custos gerados pela revolução Industrial. Utensílios confeccionados com esse tipo de material ocorrem em vários sítios históricos arqueológicos do mundo, incluindo os brasileiros. Esse tipo de cerâmica costuma ser um excelente marcador temporal, pois seus padrões estilísticos e técnicas de confecção são muito conhecidos. Entretanto, para contextos arqueológicos periféricos, ou seja, de países que não estavam no centro da produção e das decisões capitalistas industriais, essas datas não são referenciais absolutos. Esse relativismo temporal já começa na data de aparecimento dessa louça no Brasil: embora ela oficialmente só possa ter aparecido depois da abertura dos portos às nações amigas (1810), ela é encontrada em contextos mais antigos, principalmente em áreas portuárias, onde as possibilidades de contrabando – fator pouco contemplado na literatura arqueológica – eram maiores e possibilitavam a comercialização de mercadorias proibidas (ZANETTINI, 1986; OGNIBENI, 1998).

213


Outro aspecto do consumo desse tipo de louça em áreas periféricas é que padrões decorativos já decadentes nos grandes centros produtores e consumidores podem estar em pleno vigor na periferia, notadamente pela queda dos preços. Dessa forma, informações extraídas da literatura estrangeira não são diretamente aplicadas ao caso brasileiro. No caso da área de ocorrência da ventilação Waldemar Ferreira não temos propriamente problemas com o contrabando, mas com o consumo de louça. Os utensílios de faiança fina poderiam ser: 1) importados e “fora de moda”, portanto baratos e com grande disponibilidade no mercado, mas já dentro do “desvio padrão” das datações arqueológicas estrangeiras; 2) muito populares, fabricados por longos períodos e, portanto, maus datadores de contextos arqueológicos se tomados isoladamente; 3) padrões “fora de moda” no exterior, mas fabricados em grande quantidade no Brasil, demandando datações próprias, pois estariam relacionadas a um consumo específico. Dentro do nosso universo de pesquisa existem muitos fragmentos da faiança fina do tipo whiteware, a qual possui uma pasta muito branca, porém, uns poucos são decorados com técnicas e padrões muito comuns em todo o século XIX (e, talvez, até mesmo no século XX), como a técnica de transfer printing e os padrões que reproduzem cenas românticas, ou exóticas ou algum tipo de chinoiserie (TOCCHETTO et al., 2001). Outra técnica decorativa também muito comum no século XIX e no início do XX é o banhado (dipped): a peça é pré-cozida e são aplicadas faixas em relevo, que posteriormente são pintadas (TOCCHETTO et al., 2001). Finalmente temos as peças com relevo moldado, sem pintura, no famosíssimo padrão trigal, (TOCCHETTO et al., 2001). Associando esses vestígios à história da área e aos restos vítreos já analisados temos um período de deposição mínimo estimado em c.1890, embora as datas das primeiras aparições desses padrões e dos seus picos de produção sejam bastante anteriores. Ou seja, esses vestígios corresponderiam às peças de vidro mais antigas, relativos às garrafas de gasosas de coloração escura, compondo um conjunto de peças numericamente reduzido, mas representativo dos primeiros anos da ocupação do Butantã.

214


Prancha 51 - Peças de faiança, sítio Waldemar Ferreira.

Diferentes exemplares de faiança coletados no sítio.

Motivos decorativos diversos ocorrem nesta faiança, como exemplifica a foto abaixo.

Novos motivos decorativos, florais e geométricos.

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Prancha 52 – Peças de faiança, sítio Waldemar Ferreira.

Foto A

Foto B

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Já os outros padrões decorativos remetem ao período que vai de c.1920-1930 até a década de 1960. Se os padrões decorativos arrolados acima podem mais facilmente ser atribuídos a uma produção importada, os outros tipos de decoração apontam para uma produção nacional com desenhos bastante singelos, mas com certo grau de originalidade. Embora faltem estudos sistemáticos a respeito da indústria nacional de louças do século XX (universo em que se destaca o estudo da fábrica da Santa Catarina, na Lapa, pelo arqueólogo P. Zanettini, em 2003), há evidências de que, estabelecido e consolidado o parque industrial paulista, os ateliês das fábricas tenham tentado dar uma “cara” à produção local, inspirados pela confiança adquirida junto ao consumidor, pelo incremento do controle do copyright e pela deflagração da Primeira Guerra Mundial. É notório que a indústria brasileira, entre 1870 e 1920, se valeu fortemente da cópia e adulteração de produtos. Não é à toa que as indústrias que mais se desenvolveram, durante esse período, foram as gráficas, muitas das quais especializadas em falsificar rótulos (DEAN, 1975; OP. CIT. IN ZANETTINI & BAVA DE CAMARGO, 1999). Desse modo, procurar soluções inovadoras que escapassem dos problemas com as patentes e fornecimento de produtos de países envolvidos no conflito parece ter sido um caminho viável. Corroborando isso temos algumas marcas de fábricas da cidade de São Paulo, como Eramus (s. d.) e Zappi (c.1930 ) e outras de cidades próximas: Mogi das Cruzes, São Caetano (São Caetano, 1913), Mauá (Luso), São José dos Campos (Santo Eugênio, c.1920-c.1970) e apenas uma inscrição que indica a procedência estrangeira de uma das peças: “Japan” . Com base na identificação de padrões e marcas dos fragmentos de faiança encontrados foi possível observar, assim, que as louças utilizadas eram importadas basicamente da Inglaterra e que a data média de fabricação deste material se relaciona ao final do século XIX e início do século XX.

217


Prancha 53 – Peças de faiança, sítio Waldemar Ferreira.

Decoração floral

Decoração floral.

Decorações diversas

Decoração floral

Predomínio de faiança lisa.

Decoração lisa e com listras.

Exemplares diversos de faiança.

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Prancha 54 – Peças de faiança, sítio Waldemar Ferreira.

Marcas.

Marcas.

Marcas.

Marcas.

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Porcelana Essa cerâmica não porosa tem uma estrutura muito próxima da do vidro, o que garante grande dureza e homogeneidade na pasta. Os exemplares da área de ocorrência da ventilação são em sua maior parte nacionais, a exemplo da faiança fina mais contemporânea: foram encontradas marcas procedentes de Mogi das Cruzes, Jundiaí (Pozzani, 1934), Mauá e Rio de Janeiro. Os motivos decorativos são muito singelos, geralmente frisos, faixas e florais. A peça mais interessante e que traz alguma informação direta sobre temporalidade, tem nela reproduzida a casaria e parte do casco de um navio de passageiros com proa bastante verticalizada, design naval característico de fins do século XIX até 19201930. Dentro do rol de cerâmica não porosa apontamos ainda a presença de um fragmento de grés, pedaço da base de uma confeccionada em Aveiro, Portugal, a qual poderia conter uma bebida destilada qualquer (ginebra, feita de gengibre, ou bagaceira, aguardente de casca de uva). A produção desse tipo de cerâmica encerrou-se ainda no século XIX, não sendo descartada, contudo, sua produção ainda no início do século XX. Deve-se ressaltar que a cerâmica não porosa, com fórmulas muito semelhantes às da porcelana ou grés, ainda hoje são utilizadas para confeccionar encanamentos ou louça sanitária.

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Prancha 55 – Peças em porcelana, sítio Waldemar Ferreira.

Marcas.

Marcas.

Marcas.

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Prancha 56 – Peças em porcelana, sítio Waldemar Ferreira.

Motivo decorativo floral.

Detalhe de asa.

Detalhe de decoração.

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Louça de barro (torneada) São poucos os fragmentos de utensílios de cerâmica torneados encontrados na área de ocorrência, denotando que já estamos lidando com um contexto urbano e mais próximo ao século XX. Os fragmentos são muito exíguos e não permitem a recomposição das formas das peças. Encontrados isoladamente, sem a presença de nenhum outro artefato, poderiam ser considerados como resultantes de rituais religiosos de origem afro-brasileira, mas, uma vez que estão juntos com fragmentos de vidros, porcelanas e faianças finas bem definidos, concluímos que eles formam uma outra amostra do universo de ocorrências arqueológicas, talvez apontando para a urbanização da área e o progressivo afastamento do “Cinturão Caipira”, onde o uso de utensílios de barro era mais extenso.

Outros materiais Foram encontrados poucos vestígios de materiais construtivos nas sondagens e poços-teste, indicando que o pacote formador da ocorrência arqueológica foi intencionalmente selecionado. Foram encontrados, também, fragmentos de ossos, geralmente de suínos e bovinos, além de conchas de moluscos. Artefatos confeccionados a partir de matéria óssea também foram encontrados: um botão feito de madrepérola e uma peça de jogo, feita com um osso plano. Finalmente e resumindo, a análise desse material permite afirmar que temos nessa área de ocorrência arqueológica um bolsão de lixo que: 1) foi formado em quintais de unidades comerciais ou de prestação de serviço, além de unidades habitacionais; e/ ou 2) pertencia a algum terreno baldio onde eram acumulados rejeitos da vizinhança.

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Prancha 57 – Louça de barro, sítio Waldemar Ferreira.

Fragmentos de artefatos em louça de barro.

Outros exemplares de louça de barro.

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Prancha 58 – Outros materiais, sítio Waldemar Ferreira.

Botão em madrepérola e osso.

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4.3.5 Resultado Os vestígios arqueológicos recuperados do Sítio Histórico Waldemar Ferreira procedem dos trabalhos de salvamento arqueológico decorrentes das obras de implantação da Linha 4 (Amarela) do Metrô de São Paulo correspondente às obras para a implantação de um poço de ventilação na região do bairro de Butantã/SP. Tal área, assim como a maior parte do município de São Paulo, caracteriza-se por um espaço intensamente antropizado pelos constantes processos de uso e ocupação do solo promovendo uma acentuada transformação do espaço urbano e da paisagem cultural. Estas transformações do espaço, baseadas em construções e reconstruções de elementos urbanos, geralmente implicam em densas camadas de aterro ou grandes remoções de solo, formando em algumas áreas espessos “pacotes” de entulho ou “bolsões antrópicos”, os quais podem conter os mais diversos testemunhos materiais, inclusive de distintos períodos históricos. Sendo assim, os testemunhos materiais relacionados às mais diversas ocupações ocorridas neste cenário são constantemente deslocados de sua posição original e, por vezes, percorrem quilômetros dentro da malha urbana sendo depositados em contextos diversos de sua originalidade. Mesmo assim, podem apresentar potencial informativo sobre as formas de apropriação e adequação do espaço por determinada comunidade em determinado contexto histórico. Por outro lado, áreas que no passado se configuravam como espaços livres (tais como quintais, praças, pátios, etc.) estando integradas a edifícios e que, portanto, representavam espaços de convívio social e consequentemente símbolos das manifestações culturais da comunidade, podem apresentar vestígios arqueológicos relacionados a estes períodos. O estabelecimento de pesquisas arqueológicas no Sítio Waldemar Ferreira objetivou encarar a cidade como um sítio arqueológico, configurando-a como o lugar das manifestações culturais dos diferentes agrupamentos humanos que nela interagiram e interagem. A adoção destas medidas está possibilitando a recuperação de fragmentos materiais capazes de refletir com fidelidade o comportamento sociocultural da comunidade em determinados períodos históricos, bem como, melhor compreender e documentar as formas de apropriação e transformação do espaço urbano. Neste sentido, as pesquisas empreendidas no Sítio Waldemar Ferreira permitiram recuperar inúmeros vestígios arqueológicos que, por longo tempo, ficaram depositados no subsolo por ocasião de construções, reformas, demolições ou aterros e que, quando postos à luz da arqueologia e em comparação com o material oriundo 226


de outros sítios do município de São Paulo, apresentam informações significativas a respeito da cultura material produzida e/ou utilizada por alguns segmentos sociais que ocuparam esta região no passado. Além disso, o desenvolvimento de pesquisas arqueológicas, mesmo em locais altamente antropizados como é o caso do Sítio Waldemar Ferreira, permite adquirir dados que, em comparação com o material recuperado de outros sítios pesquisados no contexto das obras da Linha Amarela do Metrô, irão possibilitar a interpretação do design da ocupação humana em determinados espaços geográficos do município de São Paulo. Dessa maneira, em associação a restos construtivos e entulho os trabalhos de campo permitiram a recuperação de uma expressiva quantidade de fragmentos de cerâmica, faiança, grés, metal, vidro, etc.. Em geral, a maior parte do material encontrado refere-se a fragmentos de faiança e vidro, restos de utensílios basicamente relacionados à segunda metade do século XX, momento em que a região do Butantã encontra-se completamente urbanizada resultando em uma intensa ocupação e transformação do espaço. Todavia, em meio a estes vestígios e aos restos construtivos associados ao entulho foram recuperados testemunhos arqueológicos correlatos ao final do século XIX (podendo recuar para o século XVIII) e ao início do século XX. Temos ainda vestígios materiais que vão desde a década de 1890, porém, existem em maiores quantidades fragmentos de utensílios datados entre 1920 e 1960. Desde as décadas de 1920-193e mas, principalmente, a partir do loteamento do bairro pela Cia. City (1935), é que o bairro do Butantã passa a ser incorporado à malha urbana da cidade de São Paulo como uma periferia próxima, deixando de lado as características de arrabalde rural. O tipo de vestígio encontrado nesse período entre 1920-1960 se coaduna com as características ainda apresentadas pela área: moradia de classe média citadina com a presença de estabelecimentos de comércio e serviços voltados para a população local, mas também para os viajantes que se dirigiam para o Morumbi, Embu, Itapecerica, Osasco, Cotia, Carapicuíba ou até Itu, Sorocaba e mais além. Presume-se que sua origem esteja relacionada à demolição das edificações existentes na confluência da antiga Rua das Missões (da qual partiu, sobre o mesmo eixo, a Avenida Waldemar Ferreira) com a Rua Pirajussara, e na consequente utilização desse entulho, rico em matéria orgânica, para a constituição do jardim no atual canteiro central. Essa área, situada na confluência de diversos caminhos antigos (tanto trilhas de pedestres quanto rodoviários), começa a assumir características tipicamente urbanas a partir da instalação do instituto Butantã, em 1901, e da pavimentação da 227


Avenida Vital Brasil (1911). Nos mapas do levantamento SARA-Brasil, realizado em 1928 (mapas impressos somente em 1930), esta área aparece com ruas definidas e residências já consolidadas. Outro fato que reforça essa ocupação antiga é a existência de uma residência ao lado do prédio da Aliança Francesa, edificada em 1928, segundo a data presente em sua platibanda. A vantagem da ocorrência arqueológica da ventilação Waldemar Ferreira, em oposição a outras áreas desta mesma Linha 04 Amarela que apresentaram vestígios arqueológicos associados às camadas de aterro, é ser remanescente de fundos de quintal temporalmente bem definidos, cuja ocupação se situa entre as décadas de 1890 e 1960, 170 anos que podem ser visualizados através das evidências materiais coletadas e estudadas pela presente pesquisa.

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CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o intuito de ampliar o campo de produção do conhecimento, o presente trabalho teve o objetivo de divulgar as atividades e os resultados alcançados ao longo de pesquisas arqueológicas, históricas e culturais desenvolvidas no Plano de Gestão do Patrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural nas Obras de Implantação da Linha 02/Verde do Metrô- Lote 08 e da Linha 04 – Amarela do Metropolitano da cidade de São Paulo. No que se refere às pesquisas na Linha 02/Verde, remetem a um contexto histórico importante no que diz respeito ao início da industrialização em São Paulo, com suas primeiras formações de bairros operários. A Vila Prudente mostrou-se um bairro de suma importância na constituição do caráter urbano de São Paulo nos século XIX e início do século XX. Neste contexto foi possível trabalhar com o resgate arqueológico na área da CIPA e registros de patrimônio edificado em áreas próximas. Foi visto também que o desenvolvimento urbano ocorrido nos bairros do Ipiranga e Sacomã, particularmente acelerado nas últimas 3 décadas, resultou na substituição quase completa de antigas moradias, comércios e vias de comunicação por edifícios, grandes avenidas e indústrias. Estas mesmas transformações urbanas geraram uma alteração paisagística profunda, com intensos cortes e aterros de terrenos necessários para as novas demandas de engenharia. No que tange aos trabalhos de pesquisas ocorridos na Linha 04 – Amarela, ao 3 casos apresentados visaram fornecer um panorama da diversidade de ocorrências, do estado de conservação dos vestígios e de seu potencial ainda altamente positivo para informar sobre o design da ocupação humana em determinados espaços do município de São Paulo. Em geral, a maior parte do material encontrado nas escavações refere-se a fragmentos de faiança e vidro, restos de utensílios basicamente relacionados à segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX, momentos em que São Paulo já presenciava um intenso processo de urbanização em comparação com demais cidades do país resultando, assim, em uma grande transformação do espaço. As análises empreendidas nos vestígios arqueológicos permitiram estabelecer um período aproximado de ocupação para os sítios estudados, sendo que com exceção do sítio Luz, os demais sítio foram ocupados, ao menos, até meados do século XX. Em relação aos vestígios recuperados, predominam fragmentos de utensílios correlatos a segunda metade do oitocentismo, ao século XIX e inicio do século XX, 229


principalmente fragmentos de vidro e faiança, havendo um predomínio desta última categoria, que em função de suas características morfológicas e decorativas indica terem sido importados, principalmente da Inglaterra no decorrer do século XIX. No caso dos sítios mais recuados no tempo, como é o caso do Sítio Luz, constata-se uma frequência de utensílios de faiança, sobretudo importados da Inglaterra. À medida que os sítios se configuram como mais recentes, ocorre uma predominância de material relacionado à indústria nacional, obviamente em função de menor custo e maior facilidade de aquisição. No que se refere ao material importado, foi registrado certa predominância de determinados padrões e/ou técnicas decorativas nos fragmentos de faiança recuperados, como é o caso do Borrão Azul que constitui um padrão decorativo relativamente comum em sítios históricos sendo amplamente exportado pela Inglaterra e uma maior freqüência da técnica transfer printing, que possibilitou a diminuição de custos e a produção em série. Portanto, referindo-se aos dois programas de pesquisa abordados na presente divulgação científica, pode-se assumir que os dados obtidos por intermédio dos trabalhos de campo em associação às análises das fontes documentais e bibliográficas e a análise do material recuperado pelas pesquisas permitiram a obtenção de informações mais substanciais sobre o contexto arqueológico e histórico representado pelos sítios identificados e, de certa forma, sobre os assentamentos ocorridos no município de São Paulo. Os trabalhos permitiram recuperar uma expressiva quantidade de vestígios materiais que se revestem de grande importância didática, cultural e científica. A realização de tais pesquisas objetivou encarar a cidade como um espaço de suma importância para a arqueologia, configurando-a como o lugar das manifestações culturais dos diferentes agrupamentos humanos que nela interagem. A adoção desta abordagem possibilitou a recuperação de fragmentos materiais capazes de refletir o comportamento sócio-cultural da comunidade em determinados períodos históricos, bem como melhor compreender e documentar as formas de apropriação e transformação do espaço urbano. Por fim, sob a ótica da Arqueologia os trabalhos permitiram obter informações mais significativas sobre a cultura material produzida e/ou utilizada pelos segmentos sociais que ocuparam esta região em fins do século XIX, ao mesmo tempo em que reforçam as Políticas Públicas desenvolvidas no município no âmbito do Patrimônio Arqueológico. Da mesma forma, os resultados subsidiam outras pesquisas a serem realizadas no município e buscam contribuir para o estabelecimento de um quadro de

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ocupação regional e para um maior entendimento sobre as ocupações ocorridas nesta parte do território nacional. Portanto, sem fechar as discussões a respeito destas pesquisas, o objetivo maior foi o de ampliar os conhecimentos e contribuir na preservação da memória nacional, além de estimular as comunidades envolvidas na revalorização de sua história, tradição e memória.

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FICHA TECNICA

COORDENAÇÃO L.D. DRA. ERIKA M. ROBRAHN-GONZÁLEZ (Arqueóloga e Historiadora) L.D. DR. PAULO DE BLASIS (Arqueólogo e Historiador) MS. WAGNER GOMES BORNAL (Arqueólogo e Historiador) PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO DR. ANDRÉS ZARANKIN (Arqueólogo) DRA. RAQUEL RECH (Arqueóloga e Historiadora) MS. PAULO FERNANDO BAVA DE CAMARGO (Arqueólogo e Antropólogo) MS. GERSON LEVI DA S. MENDES (Arqueólogo e Historiador) MS. CINTIA BENDAZZOLI (Arqueóloga e Historiadora) PAULO AFONSO VIEIRA (Geógrafo com especialização em Arqueologia) LEILANE PATRÍCIA LIMA (Historiadora, mestranda em Arqueologia). EDUARDO BESPALEZ (Historiador, Mestrando em Arqueologia). GILBERTO FRANCISCO SILVA (Historiador, mestrando em Arqueologia). JOÃO HENRIQUE ROSA (Historiador, mestrando em Arqueologia). RODOLFO ALVES DA LUZ (Geógrafo) CAMILA MEDINA (Graduanda em História) JOB LOBO (Graduando em Geografia) LUIS VINÍCIUS SANCHES ALVARENGA (Arqueólogo) LUIZ FRANCO (Graduando em Geografia) PATRIMÔNIO HISTÓRICO / ARQUITETÔNICO RODRIGO SILVA (Historiador) EVERALDO SILVA (Arquiteto) FABIO DE ALMEIDA (Arquiteto)

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TRABALHOS EM LABORATÓRIO CAMILA GUARIM MARILIA ARIZA JULIANA BATISTA PATRICIA A. NESTÓRIO TEREZINHA DIAS

PROGRAMAÇÃO VISUAL E ARTE GRÁFICA JOSÉ LUIZ DE MAGALHÃES CASTRO NETO

EDITORAÇÃO DA PUBLICAÇÃO CIENTÍFICA L.D. DRA. ERIKA M. ROBRAHN-GONZÁLEZ (Arqueóloga e Historiadora) JULIANA FIGUEIRA DA HORA DUARTE (Historiadora e mestranda em Arqueologia) KELLY CRISTINA MELO (Geógrafa) ROBSON NOBRE (Graduando em História) SÂMELA WUTZKE DE OLIVEIRA (Historiadora)

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CAPÍTULO 7 – BIBLIOGRAFIA

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