Revista Ellenismos, 25: SERTÃO

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caderno dos sonhos curtos e medrosos – sonhos com o medo I Um punhado de grãos e as mãos e a boca medrosa a rir ocupamos a rua de nozes e castanhas menores, sobrepondo seu asfalto, duma margem à outra, de infinitos punhados a rua, duma esquina à outra enchemo-la caminhamos para trás trinta passos à espera dum automóvel ao rés da vinda ansiávamos com medo, ríamos, uma boca enorme e duas rindo ao que nada vinha, essa débil ocorrência do deserto que nasce pelo hálito da rua à volta tudo prosseguia e nem um vizinho por detrás qualquer de janela a partilhar desta hora trêmula, iminência, tu vestias-me do medo e ríamos ao que nada vinha que dirão nossos pais? – desta rua aquém desses automóveis II noutro sonho os teus olhos gigantes inflavam e tomavam o terminal rodoviário. Homenzinhos espremidos contra seus pastéis manobravam os corpos para ingeri-los. Outro tentava levar a mão ao bolso, recolhia níqueis com dificuldade. Riem apreensivos e esperam que beijemo-nos às pressas beijamo-nos com um excesso de saliva que pingava sobre teu pé esquerdo e o bico do meu pé direito, beijamo-nos e babamo-nos de medo, como fazem sapientes os cães filhotes


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