OURO BRANCO DOS CICLOS

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Roosevelt Augusto – Ler para Escrever roosevelt.augusto@hotmail.com Revisão Textual

Giselle Brucke Grafia conforme o atual Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Publicação:

Dezembro de 2017 Catalogação na Fonte

Felix, Elizabeti Ouro Branco dos Ciclos/ Elizabeti Felix. – Belo Horizonte:

Ler para Escrever, 2017.

84p.

ISBN 978-85-66562-15-6 1. Literatura Brasileira 2.Histórico I. Título

“Você pode ter todo conhecimento e cultura que o mundo oferece. Pode ser dono das mais belas palavras.

Pode ter feito várias faculdades e completado vários cursos. Pode falar várias línguas. Isso faz-te uma pessoa culta. Mas a Sabedoria é algo muito maior que isso e um Sábio pode ter poucos conhecimentos, falar apenas um idioma, talvez nem escrever tudo corretamente. Pois Sábio é aquele que coloca seu conhecimento em PRÁTICA e a Sabedoria é conhecer e aplicar o que se aprendeu, seja na vida ou na Universidade. Acumular conhecimento e não o colocar em uso no dia-a-dia é como ter um copo cheio de água próximo as mãos e não poder bebê-lo para matar a sede”.

Tico Santa Cruz

Apresentação Escrever sobre a história do município de Ouro Branco foi um desafio. Iniciei a pesquisa e conclui o livro porque acredito que a consciência histórica de uma cidade é muito frágil, e, à medida que os anos vão passando, fica mais difícil conseguir dados fundamentados em critérios científicos.

Acredito na consistência desse trabalho e na sua contribuição, ainda que modesta, àqueles que buscam conhecer o passado do nosso município.

A inexistência de material de pesquisa na nossa cidade me incentivou a buscar e coletar informações que levaram cinco anos para dar forma a esse livro.

Foi um processo cansativo de levantamento de dados e me preocupei principalmente com a fundamentação bibliográfica, além de depoimentos de moradores mais antigos que vivenciaram parte ou dois dos ciclos econômicos citados aqui, assim como pessoas de fora do estado através da troca de informações.

Agradeço a todos que participaram direta ou indiretamente das declarações que colaboraram na conclusão desse trabalho.

Aqui se encontra o resultado lento de maturação de dados que expõe nosso passado, momentos históricos eternizados, conjunturas econômicas e políticas que foram marcando significativamente a formação da nossa cidade.

A história é muito interessante, depois de montála quadro a quadro, como um quebra-cabeça, descortina-se os fatos que deram características a antiga freguesia e a identidade do nosso povo.

Creio ter contribuído para um conhecimento presente e futuro, pois o passado se foi, mas deixou marcas e passagens que ninguém apaga, uma vez que está impregnado nas rochas escarpadas da nossa Serra, nas paredes seculares em cantaria que resistem de pé e na referência nativa.

Espero sinceramente ter contribuído nessa pesquisa para a cidade em que nasci e amo.

Elizabeti Felix

Introdução Ouro Branco teve sua origem no fim do século XVII, provavelmente no ano de 16941 com o processo de ocupação iniciado com as primeiras bandeiras e surgiu tendo sua primeira denominação em 1699 por Miguel Garcia. Antes da chegada dos primeiros exploradores, a região era território acidentado coberto por uma fechada floresta, sendo habitado por tribos indígenas. A exploração do Ouro em Minas Gerais foi responsável pela interiorização dos povos, onde deram início a vários pequenos povoados os quais cresceram, ou estagnaram, conforme sua importância na mineração.

O processo de migração intensa em busca de riquezas, trouxe em pouco tempo um aumento da população dos povoados onde se descobria o ouro. O metal precioso encontrado na região da Serra do Deus te Livre, não era de boa qualidade. O arraial cresceu e conseguiu se organizar às custas da agricultura e pecuária.

1 Em 1694 os bandeirantes já exploravam ouro em Itaverava e há o registro da Carta de Sesmaria de Borba, de 03 de dezembro de 1710, onde se lê que o Itatiaiuaçu se chamava Serra de Itatiaia, onde já se encontravam Manuel Garcia e Miguel Garcia. Esta data está de acordo também com pesquisas que ressaltam duas interessantes passagens – Miguel de Sousa que partiu em busca do Ouro do Tripuí em 1691 e não encontrou o caminho e Antônio Dias em 24 de junho de 1698 que deu início à exploração.

Pelas pesquisas constatei um fato curioso é que a palavra “ribeiro” é muito falada quando se refere à região entre Itatiaia e Queluz, que me levou a pensar que nos primórdios Ouro Branco era citado como “ribeiro”, que mais tarde levou o nome do seu descobridor Miguel Garcia, conforme alegado por Diogo Vasconcelos.

À sombra de Vila Rica, o arraial de Ouro Branco tornou-se distrito e ao longo dos anos compartilharam a mesma história. Ouro Preto e Ouro Branco têm suas raízes entrelaçadas em um mesmo passado. Hoje cada um tem seu território, o respeito mútuo com características distintas para um futuro de identidade coletiva.

“Ouro branco! Ouro preto! Ouro podre!

De cada ribeirão trepidante e de cada recosto De montanha o metal rolou na cascalhada Para fausto d’El-Rei: para a glória do imposto Que restou do esplendor de outrora?

Quase nada: Pedras ...

Templos que são fantasmas ao sol-posto.”

Manoel Bandeira - Ouro Preto Lira dos 50 anos

Sumário A Origem do Município ........................................................ 11 Referências Econômicas, Políticas e Sociais ................ 35 Os Quatro Ciclos Econômicos .......................................... 40

Primeiro Ciclo Econômico – Ouro ........................... 40 Segundo Ciclo Econômico – Uva .............................. 46 Terceiro Ciclo Econômico – Batata ......................... 50 Primeiro ciclo do cultivo da batata .......................... 50 Segundo ciclo do cultivo da batata ........................... 51 Terceiro ciclo do cultivo da batata ........................... 52 A Origem da Festa da Batata ..................................... 53 Quarto Ciclo Econômico – Aço ................................. 54 Cronologia do Ciclo do Aço ........................................ 59 Introdução à Formação da Nossa História ...................... 60 Manuel Henriques – o Mão de Luva ................................. 66 No Brasil Colonial................................................................67

Abertura de Novos Caminhos.................................... 67 Personagens da Nossa História ........................................ 74

Cônego Luis Vieira da Silva ....................................... 74 Padre Valentim Zuliani ............................................... 75 Raymundo Campos ....................................................... 77 José Bernardino dos Reis ............................................ 78 Agradecimentos .................................................................. 81 Sobre a Autora .................................................................... 82

A Origem do Município Os primitivos habitantes desta região foram os índios da tribo Carijós.

“Carijó” era como os bandeirantes chamavam os índios de língua guarani que viviam no litoral catarinense nos séculos XVI e XVII. “Carijó” vem de “Cari-yó”, uma palavra derivada de “Cari”, que significa “branco” em Tupi, a língua falada pelos bandeirantes vindos de São Paulo. “Cari” vem em alusão à pele mais esbranquiçada dos índios guaranis do litoral catarinense.2 Os índios Carijós encontravam-se espalhados pelo Brasil e se concentravam no Sul do País. Eram dóceis e trabalhadores de fácil relação. Pela facilidade com que mantinham contato e ajudavam os brancos, rapidamente foram incorporados nas “Sesmarias”3 e nas ocupações dos bandeirantes. Porém esta relação não impediu de serem escravizados e, ao longo dos anos, reduzidos de forma drástica.

Guerrilhas – Johann M. Rugendas 2 Por Ozias Alves Jr (jornalista).

3 A partir da instituição das capitanias foi inserido o sistema de sesmarias. Coube a esses donatários permitir que os colonos cultivassem estes nacos de terra e os tornassem produtivos, objetivando o progresso da agricultura.

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As expedições dos bandeirantes introduziram-se em terras desconhecidas, nas encostas e serras. Os grandes desbravadores não temiam nada. Em seus olhos brilhavam a determinação de enriquecer e conquistar o novo.

“A primeira corria a Mantiqueira à Serra da Borba do Campo, conhecido país dos cataguás, bacia do Rio Grande, coberta de campos e matos alternados: a segunda era a região dos campos, e corria das serras da Borda à Itatiaia”4.

Não foi nada fácil a busca por essa riqueza.

Durante anos, muitas expedições falharam e foram derrotadas por doenças desconhecidas que davam febre e matavam rapidamente; por batalhas com tribos de índios violentos; pela dificuldade do próprio caminho; pela fome e sede que desanimavam o espírito dos aventureiros.

Nossas terras conheceram desbravadores que enfrentaram todo tipo de sorte, como: Garcia Paes, Antônio Dias e o temido Manuel de Borba Gato.

Os ex-integrantes das Bandeiras chefiadas por Borba Gato, Miguel Garcia de Almeida Cunha e Manuel Garcia, transpondo os altos da cachoeira de Itabira do Campo (atualmente Itabirito), descobriram o ouro na região. Miguel Garcia descobriu na falha radial da Serra, onde se encontram os mananciais dos Ribeirões da Cachoeira e Água Limpa um ouro mais claro, a partir daí originou-se um pequeno povoado para exploração do ouro.

4 VASCONCELOS, Diogo de. História antiga das Minas Gerais,1843-1927, 117p.

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Serra do Ouro Branco, província de Minas Gerais, Johann Moritz Rugendas “Em 1699. Miguel Garcia, natural de Taubaté, foi o primeiro que descobriu e manifestou um córrego, que faz barra no Ribeirão do Carmo, e se compreende no Distrito da cidade de Mariana: fez a repartição o Guarda-Mor Garcia Rodrigues Velho, com assistência do escrivão das datas Coronel Salvador Fernandes Furtado de Mendonça... Miguel Garcia da Vila de Taubaté, foi o primeiro que, adotando a medida de explorar outras minas, descobriu e manifestou as de um ribeiro, que por isso adquiriu o seu nome, em um rio, que entra no Ribeirão do Carmo com a denominação atual de Gualaxo do Sul (1699).”5 5 VASCONCELOS, Diogo de. História antiga das Minas Gerais,1843-1927, 178p.

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Manuel Garcia seguiu na direção Nordeste, indo dar com o rico córrego do Tripuí, descobrindo o “Ouro Preto”, cor produzida devido à presença do Óxido de Ferro em sua composição.

Miguel Garcia, por sua vez, desce o vale do chamado “Rio da Serra”, que corre para o Oeste, paralelamente à aguda escarpa da Serra do Deus Livre. Funda um povoado nessa região, após descobrir ouro de cor amarela clara, produzida pelo mineral paládio a ele associado, denominado “Ouro Branco” por simples contraste cromático aparente com o “Ouro Preto” do Tripuí.

O local, a princípio, recebeu o nome de seu descobridor como “Ribeiro Miguel Garcia”, tendo portanto, a primeira denominação em 1699.

Sucedeu que vindo os paulistas naquele tempo fazerem entrada ao gentio a estas partes para conduzirem para São Paulo por negócio e se servirem dele, conduzindo os de menos idade por melhor se lhe domar e pôr doméstico, e chegando a primeira esquadra ou bandeira ao ribeiro que hoje chamam Ouro Branco e Congonhas do Campo, aí acharam algumas faíscas de ouro nas areias do ribeiro e, lavandoo em pratos de pau, o levaram para São Paulo, onde se verificou ser ouro.6

Denominado Santo Antônio do Ouro Branco no século XVII, a localidade estava diretamente relacionada à exploração mineral em Vila Rica e região.

6 FIGUEIREDO, Luciano Raposo de Almeida e CAMPOS, Maria Verônica. Códice Costa Matoso, vol.1. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, p.196.

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Com o povoamento, o âmbito de Ouro Preto, Mariana e Sabará chamou-se Distrito do Ouro, a fim de não confundir com os demais distritos de outros produtos, como foi o dos diamantes, e o dos couros, nome este que se dava à região pastoril.7 Quando correu notícia do descobrimento de minas de ouro no nosso Estado, começou a chover gente de todas as bandas para vir minerar. De Portugal, da Índia, da Bahia, de São Paulo, do Rio de Janeiro, - de toda parte afluía gente para vir catear o ouro. O rei de Portugal chegou a ter medo de que Portugal se despovoasse.8

A região recebeu pessoas de toda natureza e o caos começou a se formar.

Por ordem do governador Artur de Sá, Garcia Rodrigues Pais ficou responsável em manter a ordem e repartir os ribeiros já infestados de aventureiros.

Todos só pensavam em garimpar. Ao longo da região dos rios, as pessoas se agrupavam num frenesi alucinado na busca do ouro farto. Pequenas povoações mais distantes começaram a ser esquecidas. Famílias inteiras seguiram abandonando suas plantações, frades fugiam dos conventos e homens seguiam com seus escravos para onde se encontrava ouro fácil. Todas essas pessoas sonhavam com o brilho do ouro e apenas isso tornou-se importante.

7 VASCONCELOS, Diogo de. História antiga das Minas Gerais,1843-1927, 118p.

8 GÓIS, Carlos, História da Terra Mineira, Belo Horizonte: Oficinas Gráficas de Oliveira, Costa & Cia., 1933, 44p.

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Lavagem do ouro no Monte Itacolomi -1835 Litografia – Johann Moritz Rugenda

A região virou campo de exploração e o cenário de montanhas e serras sofreram com essa devastação.

Posteriormente, já com a exploração do minério em queda, a paisagem havia mudado drasticamente.

Vejamos o relato de Saint-Hilaire passando pelo caminho de Ouro Branco para Ouro Preto: Seguimos o vale, vimos uma série de terrenos de onde se extraiu ouro, e onde o solo esburacado, a ausência de vegetação e montes de cascalho esparsos dão à paisagem um ar de tristeza. 9 9 SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem pela província do Rio de Janeiro e Minas Gerais [1830]. Trad. Vivald Moreira.

Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2000, p. 67.

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O ouro extraído em nossa cidade (Ouro Branco) era desprezível em relação à extração praticada em Vila Rica (Ouro Preto), mesmo assim, denominou a localidade, incluindo-a na rota do Ouro. Mas a má qualidade das jazidas auríferas e as dificuldades de exploração advindas do primitivo processo utilizado faz a atividade mineradora retroceder, obrigando o lugarejo tomar outro rumo.

Todo o ouro das catas de OURO PRETO, MARIANA E RIO DAS VELHAS eram de 1ª qualidade. O melhor era o do Tripuí (ouro preto), e tinha 23 quilates. O ouro pior era o ouro branco, cor de prata, do Ribeirão de Itatiaia, de que ninguém fazia caso.10 Em menos de trinta dias, marchando de sol a sol, podem chegar os que partem da cidade do Rio de Janeiro às Minas Gerais; porém raras vezes sucede poderem seguir esta marcha, por ser o caminho mais áspero que o dos paulistas. E por relação de quem andou por ele em companhia do Governador Artur de Sá é o seguinte: Partindo, aos 23 de agosto, da cidade do Rio de Janeiro foram a Parati, de Parati a Taubaté, de Taubaté a Pindamonhangaba, de Pindamonhangaba a Guaratinguetá, às rocas de Garcia Rodrigues, destas roças ao ribeirão. E do ribeirão com oito dias mais de sol a sol chegaram ao rio das Velhas aos 29 de novembro; havendo parado no caminho oito dias em Parati, dezoito dias em Taubaté, dois em Guaratinguetá, dois nas roças de Garcia Rodrigues, e 26 no ribeirão. Que por todas são cinqüenta e seis dias. E tirado estes dos noventa 10 GÓIS, Carlos, História da Terra Mineira, Belo Horizonte: Oficinas Gráficas de Oliveira, Costa & Cia., 1933, 40p.

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e nove, que se conta desde 23 de agosto até 29 de novembro, vieram a gastar neste caminho não mais que quarenta e três dias.11

Conforme Antonil relata em “Roteiro do Caminho Velho”, as dificuldades eram muitas. A viagem era longa e penosa e muitos historiadores descrevem que era considerado um dos piores trechos o caminho entre Ouro Branco e Ouro Preto, devido à serra que era conhecida como Deus te Livre, exatamente pelas dificuldades de percurso. Mesmo assim, as pessoas chegavam aos montes. A notícia do ouro farto se espalhou.

Essas explorações intensas trouxeram escassez de alimentos na região da antiga Vila Rica. Em pouco tempo foram introduzidas nas terras do Ouro Branco e Itatiaia plantações de milho e outros alimentos que ajudavam a abastecer Vila Rica.

Como ninguém cuidava de lavoura e todos queriam saber só de mineração, aconteceu que deixou de haver mantimento, sendo preciso mandar vir de Portugal e da França por preços excessivamente altos. Nunca a miséria foi tão grande! Havia pessoas carregadas de ouro, que passavam fome, por não ter onde encontrar mantimento! Muitos escravos morreram de inanição. Foram encontrados cadáveres de pessoas abastadas, as quais morreram de fome, com os bolsos, os alforjes e as arcas atopetadas de ouro!12

Com as colheitas de 98, que foram as primeiras obtidas na zona do ouro, tinha-se promovido a 11 ANTONIL. André João, Roteiro do “Caminho Velho” Cultura e opulência do Brasil- página 177, ed. de 1837, publicado em 1711.

12 GÓIS, Carlos, História da Terra Mineira, Belo Horizonte: Oficinas Gráficas de Oliveira, Costa & Cia., 1933, 47p.

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abundância, e os arraias de Miguel Garcia e do Carmo repovoaram-se.13

O alimento retirado das roças tornou-se valorizado como o ouro e alguns dos aventureiros começaram a retornar para suas plantações. Os arraiais que plantavam retomavam a vida e aos poucos o lucro entrava no bolso de outra forma. Durante esse período muitas povoações foram se fortalecendo com o comércio de alimentos e nossa cidade foi uma dessas.

Ouro Branco foi uma das mais antigas freguesias de Minas, tornada colativa pelo alvará de 16 de fevereiro de 1724... durante o governo de Lourenço de Almeida. Nesse período Ouro Branco já possuía considerável importância econômica pela prosperidade de sua população.14

Devido à fertilidade do solo do Ouro Branco e à procura por alimentos, a agricultura ganhou força. O comércio de tropas e carros de boi cresceu e a região se tornou um dos mais importantes empórios de Minas no auge da mineração. A sua localização estratégica, às margens de movimentadas estradas e rotas de abastecimento, contribuiu para esse fato.

Por uma dessas casualidades que a história registra, este capitão Miguel Garcia pagou com a vida a sua audácia, e talvez o pecado, se pecado for ter descoberto o primeiro ouro das Minas Gerais. Pouco depois da descoberta, lutando com fome, penetrou mais adentro o sertão do Guarapiranga, onde os índios se vingaram numa emboscada e o mataram. Foi dos descobridores o único que não logrou a fortuna de desfrutar a 13 VASCONCELOS, Diogo de. História antiga das Minas Gerais,1843-1927, 144p.

14 SENNA, Nelson de. Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais- 1906/1907 (Anuário de Minas).

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sua data privilegiada, nem ver o progresso do seu arraial.15

A pequena concentração de casas e sua curta população estabeleciam aos poucos o povoado onde se desenvolviam as atividades agrícolas e a pecuária.

As estalagens fortificavam-se, fazendas abastadas surgiram, tornando a freguesia uma espécie de refúgio das elites, que não desejavam misturar-se com os escravos, pois a população de negros em Ouro Preto era muito grande.

As oportunidades de comércio aumentaram com a passagem das tropas vindas da capital pelo caminho velho trazendo produtos variados: sal, tecidos, manufaturados, utensílios diversos e notícias da corte.

Pela mesma estrada passava também o ouro de Vila Rica em direção ao Rio de Janeiro. O desenvolvimento econômico passou a se sustentar de forma intensa a partir do comércio e da agricultura.

Nessa época, Ouro Branco passou a ter várias casas que abrigavam hospedarias e bodegas, sendo uma localidade movimentada.

O principal caminho de escoamento do ouro extraído tornou-se a principal rota de comerciantes, de nobres, de garimpeiros, da guarda real, de tropeiros e malfeitores, atingindo em pouco tempo um movimentado percurso das Minas Gerais.

Cada ano vem nas frotas uma grande quantidade de portugueses e estrangeiros para passarem às minas.16

As tropas faziam seu descanso em fazendas ou estalagens ao longo do caminho, enquanto selas e 15 VASCONCELOS, Diogo de. História antiga das Minas Gerais,1843-1927, 156p.

16 ANTONIL, A. J. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1982.

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arreios eram trocados ou reformados para continuidade da viagem.

O principal ponto dessa parada ficava no local, hoje denominado “Comunidade de Carreiras”.

A Fazenda Carreiras, que na época não tinha esse nome, abrigava vários viajantes, onde também se cobrava o imposto da coroa. Situada em ponto estratégico, passagem obrigatória entre Ouro Preto e Rio de Janeiro, era um posto de registro e controle, fiscalização de passagem de tráfego de pessoas, escravos, animais e mercadorias. Para administrá-los eram utilizados os serviços de um administrador, um contador, um auxiliar e soldados.

A obtenção do lucro da exploração do ouro era conhecida como quinto, que na verdade era a retenção de 20 % da obtenção do ouro levado às casas de fundição. Tratava-se do pagamento de um direito (como existe até hoje na forma dos royalties).

Os direitos reais foram introduzidos na legislação portuguesa pelo rei D. Duarte, o “rei filósofo” (1433-1438), e incorporados logo às Ordenações Afonsinas (Livro II, título 24), que vigoraram entre 1446 e 1521, compreendendo, entre outros, o poder sobre o aparato militar, as estradas públicas terrestres e fluviais, a autoridade monetária, a nomeação de oficiais de justiça.17

Fortalecendo a tese de que durante o ciclo do ouro a fazenda serviu de repartição de pagamento de tributo, temos a citação de José Seixas Sobrinho: 17 RENGER apud FRIEDRICH, Revista do Arquivo Mineiro. Ensaio - O quinto do ouro no regime tributário nas Minas Gerais, página 92.

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...nas paredes internas e externas, dois ou três vãos encaixilhados, fechados com adobe e que foram deixados abertos. Um desses vãos assemelha-se a um guichê, com grade e abertura para entrada de valores, a exemplo de repartição pagadora.18

Quadro em litocromia retratando Fazenda Carreiras no século XVIII – por Por Campos de Melo Coleção particular de Elizabeti Félix

A denominação da Fazenda “Carreiras” deve-se ao povoado e o estigma do nome “Fazenda de Tiradentes”, erroneamente pode ter surgido da interpretação na passagem do Diário de D. Pedro II, onde ele relata seu caminho por carreiras (localidade e não fazenda). Segue-se parte da sua descrição: 18 José Seixas Sobrinho. Do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Caderno Açominas nº 18/02/1989.

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Partida às 6 h. Carreiras – bonita posição de vasto horizonte para leste e sobretudo oeste. ...

O caminho é bom, porém montanhoso. Passamse diversos ribeirões, havendo uma ponte solidamente construída, todas as águas do Paraopeba.

Varginha.

Casa onde se reuniram os inconfidentes.

Pertencia então a um pedreiro de nome João da Costa. Vi a mesa e banco corridos, de encosto onde se assentavam. São de Massaranduba e estão colocados na varanda. Reparando que não houvessem conversado no interior da casa disseme o dono dela que havia vedetas para avisá-los.

Atravessada a ponte do ribeirão da Varginha entra-se no município de Ouro Preto. Chegada à casa do Sperling cuja mulher é sobrinha do Sepetiba (Aureliano) perto do arraial de Ouro Branco às 10 h. Vieram encontrar-me a caminho Gorceix e outros.19

Com relação à Fazenda Carreiras ter sido um ponto de cobrança, é importante ressaltar que essas repartições pagadoras ficavam ao longo das estradas mais movimentadas por onde seguia o ouro. Sua localidade e suas características eram reconhecidas por sua arquitetura. De acordo com relatos, principalmente no que se refere ao vão da entrada na parede principal e o gradeamento na lateral de uma de suas salas, pode-se concluir que “repartição pagadora” foi uma de suas funções ao longo do ciclo do ouro. Por esses caminhos, apesar de fiscalizados, grande parte do ouro extraído não chegava à Europa e nem pagava direitos, pois eram levados através do contrabando.

19 BEDIAGA,Bergonha. Diário do Imperador Dom Pedro II.Petrópolis: Museu Imperial, 1999.Vol.24 23

Sendo principal ponto de acesso para Ouro Preto, nosso município ficou registrado por várias caravanas de viajantes estrangeiros que passaram pela região e através de suas anotações nos diários de viagens podemos conhecer nosso passado por meio dos seus relatos, como segue: ... o lugar dá a impressão da opulência passada, com sua igreja de pedra, de construção sólida, na qual se lia a data de 1779, e mais alguns sobrados igualmente sólidos, entre os quais um com a data de 1753. Ouro Branco forma uma Paróquia especial, a de Santo Antônio, e pertence ao termo de Ouro Preto, em cuja comarca já nos encontrávamos desde que passamos por Casa Branca. O número de habitantes é calculado em 1.500, mas não acredito que chegue a tanto. Logo ao sair da estrada de acesso, entramos numa grande praça aberta, onde encontramos a igreja e alguns melhores sobrados. Atravessando esta praça, entramos, do outro lado, na continuação da estrada, marginada por casas e que leva para 24

fora da localidade. Na praça, há, ainda um belo grupo de macaúbas, um crucifixo. Essa região é conhecida pela freguesia da doença chamada papeira, e eu vi até pessoas de cor atacadas deste mal.20

Quase todos os que encontrávamos homens e mulheres brancos e gente de cor, tinham um grande bócio, e, nesse local assim como nos vales da Europa em que essa enfermidade é comum, se atribui a frialdade das águas.

(Naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire-1779/1853)

Com o crescimento dessas tropas de passagem, o antigo caminho que levava até a Vila Rica chegou a possuir cerca de quatorze estalagens, numerosas 20 BURMEISTER, Hermann. Viagem ao Brasil através das províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais visando especialmente a história natural dos distritos auridiamantíferos. São Paulo: Martins, 1952.p 271 25

casas comerciais, famosas selarias e fábricas de objeto artesanais consumidos pelos tropeiros e carreteiros21, fortificando, assim, o traçado urbano do pequeno povoado. Assim foi firmando a freguesia (Ouro Branco) em torno da Igreja Matriz e ao longo da estrada real, do tortuoso caminho novo.

A vida religiosa e social da nossa freguesia concentrava-se dentro e em torno do monumento de celebração. As importantes construções que foram erguidas pelas irmandades que representavam o poder local, importante base para manutenção do sistema colonial.

A exemplo desse sistema, podemos citar a Matriz de Santo Antônio, construída pelas Irmandades do Santíssimo Sacramento, que em sua corporação concentrava as famílias mais ricas do povoado e a Matriz de Santo Antônio em Itatiaia foi construída por iniciativa das Irmandades do Santíssimo Sacramento, Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e São Benedito.

21 REIS. José Bernardino. Em Jornal Ouro Branco, 31/05/1979.

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“Seu primeiro vigário colado foi o Padre Romão Furtado de Mendonça”, a Matriz elevada a categoria de “freguesia colativa” fortaleceu o entrosamento entre o poder civil e poder eclesiástico.

Continuamos com os relatos dos viajantes registrados em seus diários de viagens sobre a região do Ouro Branco, com a sua principal característica, a serra.

Essa cadeia que se estende, com relação à nossa posição, para o leste e o norte, é chamada por alguns de Serra de Deus te Livre, sem dúvida por causa dos perigos de sua travessia. É mais geralmente conhecida como Serra do Ouro Branco, nome de uma cidade que fica na estrada real cuja linha branca avistávamos serpenteando entre as ravinas- entre Barbacena e Morro Velho. O maciço continua a ser avistado, mas uma elevação do terreno escondia a cidade de nossos olhos.22

Saint-Hilaire, naturalista francês, descreve a Serra do Ouro Branco e seu povoado: Desde o alto, o horizonte é limitado por uma alta montanha chamada Deus Livre ou Ouro Branco, que já tínhamos avistado no dia precedente. Ao longe, seu cume parece truncado e mais ou menos plano; os flancos têm a aparência de muito escarpados e são cobertos de ervas.

Dentro em pouco chegamos ao arraial de Ouro Branco, o único que encontramos entre Rio de Janeiro e Vila Rica, e que pode se compor de umas cinqüenta casas. Essa povoação termina por uma praça cuja extremidade foi construída a igreja, e que domina um amplo vale. Como este não pode ser percebido, a igreja parece apoiada contra 22 BURTON, Richard Francis,1821-1890.Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo,1976.

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a montanha que apresenta por trás dela uma cortina de verdura. De um lado da praça estão às casas mais consideráveis da povoação; do outro não há construções; mas, o que torna finalmente esse conjunto extremamente pitoresco é um grupo de palmeiras de estirpe esbelta e folhas leves, que rodeiam uma grande cruz plantada sem simetria ao lado da praça oposto à igreja.

Tendo descido dessa pequena plataforma, entramos no vale. Era dia de festa, e os habitantes da vizinhança se dirigiam em grande número para a igreja. Todos estavam vestidos com limpeza: as mulheres traziam vestidos brancos, uma espécie de jaquetão de pano e um chapéu de feltro, mas as pernas e pés estavam nus. Quase todos os que encontrávamos, homens e mulheres brancos e gente de cor, tinham um grande bócio, e, nesse local assim como nos vales da Europa em que essa enfermidade é comum, se atribui à frialdade das águas.

Seguindo o vale, vimos uma série de terrenos de onde se extraiu ouro, e onde o solo esburacado, a ausência de vegetação, e montes de cascalhos esparsos dão à paisagem um ar de tristeza. (...) A montanha de Deus Livre faz parte da cadeia ocidental: como todas as elevações vizinhas, estava coberta, por essa época, de uma vegetação tão fresca como a que exibem nossos campos de trigo no começo da primavera. Sobese esse morro por um declive bastante fácil, e chegando-se ao cume, descortina-se um panorama bastante extenso.23

Chegamos a Venda da Lavrinha, no Ribeirão Mata-Cavalos, onde há uma pequena lavra de ouro; daí seguimos por uma elevação íngreme, 23 SAINT-HILAIRE, August de - Viagem pela província do Rio de Janeiro e Minas Gerais [1830]. Trad. Vivald Moreira.

Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2000.

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coberta de densa mata, que constitui contraforte da Serra do Ouro Branco, estendendo-se de leste a oeste, e chamada Deus te Livre por causa da má trilha que nela existe e que nos primeiros tempos deve ter sido chamado Alto-do-Morro, que tem uma casa construída de pedra, um rancho e uma venda e possui uma fonte ornada com uma estátua esculpida em pedra-sabão representando um menino nu. Aqui pernoitamos, embora tivéssemos viajando uma légua e três quartos. Choveu durante a noite toda com violência constante. Como não houvesse perspectiva de tempo para alcançar o Rio de Janeiro o mais breve possível”24.

Prospectus in Prov. Minarum montuosam regionem, e serra de Ouro Branco caurum versus. Obra: Flora Brasiliensis. Vol. I, Part I, Prancha 46.

O caminho do Ouro Branco para Ouro Preto com seu cenário de montanhas e uma densa vegetação, que 24 POHL, Johann Emanuel. Viagem no Interior do Brasil.

Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo/ USP,1976 p.409.

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apesar de dificultar o trajeto também encantava os que por ali passavam: Ficamos, porém especialmente maravilhados, quando subimos o íngreme Morro de Gravier, continuação da Serra de Ouro Branco, ao avistarmos os lírios arbóreos, cujos caules fortes e nus, bifurcados nuns poucos galhos, muitas vezes terminados com um tufo de folhas compridas, com as queimadas dos campos: carbonizadas na superfície são umas das maravilhosas formas do mundo das plantas. Ambos os gêneros que eles formam, Barbacenia e Vellosia, são chamados no país canela-de-ema.25 a região era selvaticamente romântica, e, se a flora não fosse tão inteiramente diferente, ter-se-ia a impressão de estar num pedacinho da Suíça.26 A pequena vila de Redondo tem uma capela dedicada a N.S. da Ajuda, e melhor ainda, um encantador panorama. Além do primeiro plano de floresta e capim verde rompendo fortemente o chão vermelho de ocre, cor aqui chamada de sangue-deboi, abre-se um vale de encosta e solo regulares, erguendo-se muito além até chegar a uma pedra rude que domina o ar. Esta serra, agora para nós ao oriente e norte, é chamada em alguns mapas serra de Deus te Livre – certamente pelos perigos de suas veredas. É mais conhecida 25 SPIX, Johann Baptiste von; MARTIUS, Karl Friedrick Philipp. Viagem pelo Brasil: 1817-1820. [1823]. Vol. 1 .p.

198. Trad. Lúcia Furquim Lahmeyer. 3 ed. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Melhoramento, 1981.

26 CANSTATT, Oscar. Brasil: terra e gente, 1871 [1877].

Trad. e notas de Eduardo de Lima e Castro. Brasília: Senado Federal, Conselho. Editorial, 2002.

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como serra do Ouro Branco, de uma cidade no seu principal caminho. - Vemos a sua linha branca em meio das encostas, entre Barbacena e Morro Velho. O monte principal fica por muito tempo à vista, mas uma curva do caminho nos ocultava este sítio.27 Chegando das matas virgens tenebrosas das baixadas para esses campos livres e abertos, como se reanima o espírito do viajante!28

Nesse período, as tropas de viajantes eram a principal atividade comercial da região. A manufatura e indústria da Cerâmica Saramenha ganhou força: panelas, gamelas e outros utensílios domésticos conhecidos como “louça bárbara”, também despontaram como fundamentais para a economia local e regional.

No movimentado “Caminho Novo”, tido como a primeira estrada oficial brasileira, tornou-se possível o surgimento de fazendas de importância cultural e econômica. Elas ajudaram a determinar os três ciclos econômicos na vida dos habitantes locais, como: o ciclo do ouro, da uva e o da Batata.

As fazendas mais estruturadas onde se encontravam informações eram: Bom Cabelo, do Bessa, do Manuel Lourenço, do Cadete, Calixto, Fazendinha, Carreiras, Pé do Morro, Boa Vista, Morro da Venda, da Barra, dos Vieiras, dos Cristais entre outras que, infelizmente, 27 BURTON, R.F. Viagens aos Planaltos do Brasil- 1868 (1941, p.48).

28 SPIX, Johann Baptiste von; MARTIUS, Karl Friedrick Philipp. Viagem pelo Brasil: 1817-1820. [1823]. Vol. 1. Trad.

Lúcia Furquim Lahmeyer. 3 ed. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Melhoramento, 1981.

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foram desaparecendo ao longo dos anos e drasticamente com a chegada do Ciclo do Aço.

Ainda hoje, alguns exemplares permanecem como representantes fidedignos da nossa história. São as fazendas: Carreiras, Pé do Morro, Cadete, Fazendinha e Cristais. Há algumas na zona rural, mas ficavam fora da rota.

Em pouco tempo, o “Caminho Novo”, iniciado por Garcia Rodrigues Paes, fez do núcleo “Freguesia do Ouro Branco” um importante ponto de passagem e estadia, na difícil viagem entre a capital São Sebastião do Rio de Janeiro e Vila Rica. Ouro Branco passou a ser o último ponto de parada antes do inóspito trecho de seis léguas da estrada até Vila Rica. Esse caminho ficou conhecido como “Estrada Real da Corte”.

A Estrada da Corte foi aberta na primeira metade do século XIX para servir de trânsito de carros carruagens e diligências de tração animal, usadas pela oficialidade do Império, uma vez que a Estrada Real servia apenas a cavaleiros e animais de carga, o que dificultava a sua conservação. 29

Ouro Branco foi também ponto de passagem e encontro dos Inconfidentes. O alferes Luís Vieira da Silva nasceu na nossa cidade, no lugarejo que pertencia à Freguesia do Ouro Branco (local onde hoje se encontra a área da Gerdau). Foram identificadas as ruínas da Fazenda Guido onde ele morou. O local também era conhecido como passagem do Ouro Branco.

Com a constante movimentação das tropas na “Estrada da Corte”, o caminho ficou muito agitado, 29 José Seixas Sobrinho. Do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.1989.

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Saint-Hilaire chegou a comparar o caminho novo como Toulouse na França.

Em abril de 1835 foi aprovado o Primeiro Plano Rodoviário de Minas Gerais, que partindo da ponte do Rio Paraíbuna na Província do Rio de Janeiro, terminaria em Diamantina. Essa Nova Estrada, oriunda do Caminho Novo, recebeu a denominação de Estrada da Corte. Dessa forma, em decorrência da aprovação desse plano, a estrada tornou-se carroçável, o que provavelmente contribuiu para o desenvolvimento de Ouro Branco, com o início da decadência do ciclo do ouro em Minas. 30

Nessa região, palco do surgimento e abrigo dos ideais de liberdade, tem-se a fiel participação de seu ilustre filho Cônego Luiz Vieira da Silva, na Inconfidência Mineira, assim como fatos relevantes da história, podemos acreditar que aqui, onde a vida sempre foi movida por “ciclos”, a identificação do “Ciclo da Liberdade” teria acontecido paralelo ao “Ciclo do Ouro”, como parte significativa na luta e sonhos de liberdade do Estado e do País.

Nossa história é muito rica e cheia de minudências que foram surgindo entrelaçadas pelos municípios vizinhos. Em um único livro é impossível planear tantos acontecimentos. O encantamento da história é descobrir um passado que se reflete no futuro, o sentido de todos os acontecimentos que deram origem aos nossos antepassados, à nossa arquitetura, ao nosso costume e ao jeito mineiro. Sobre esse jeito poderíamos inserir várias das nossas influências, principalmente com o povo judeu, português e africano, mas isso pode ser tema de outro livro.

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Site: www.ipac.iepha.mg.gov.br/BC_InformeHistorico.

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Como separar nosso passado das grandes fazendas, das casas grandes, que representavam a economia local?

Perdemos muito com o progresso, mas ainda temos alguns exemplares belíssimos, importantes e cheios de história que devemos preservar.

A fazenda denominada pé-do-morro, que fica às margens da estrada real pertenceu a família do Conselheiro Matta até o ano de 1.926, depois foi vendida para Dr. João Viana, cunhado do expresidente Castelo Branco e teve a oportunidade de dar refúgio a importantes personalidades, como por exemplo: Tenente Reis Júnior e o ilustre escritor Eduardo Prado, autor do livro A Ilusão Americana, o poeta Olavo Bilac (autor do Hino Nacional) e outros literatos inimigos do regime e opositores do Marechal Floriano Peixoto. Em retorno ao rio de janeiro, Olavo Bilac foi preso, em 1891.

Nessa fazenda, viveu o poeta e simbolista Edgard Matta, filho de João da Matta Machado. Edgard formou-se com Alphonsus de Guimarães e Cruz e Souza, a tríade dos expoentes do simbolismo brasileiro. É dos três, ainda hoje, o menos conhecido.

Entre os poemas que Edgar Matta escreveu na Fazenda Pé-do-Morro, alguns à ela fazem referência, como o seguinte, datado de agosto de 1901.31

Ah! Deixem-me chorar tudo que eu tive outrora E que vive a pulsar numa vida de a Além!

Ah! Não queiram roubar a este Mago que chora Esta Estrela que leva ao casal de Belém! ...

Que lançassem por mim todo olvido da terra E eu ficasse a tecer ilusões...

Não roubem, por Deus, esta encosta de serra E me deixem dormir entre as minhas Visões.

31 Um simbolista viveu no Pé-do- Morro- Em: Cadernos Açominas, número 18, fevereiro de 1989.

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Ouro Branco Referências Econômicas, Políticas e Sociais Em 1813, a população local era de 1.172 habitantes. Em 1824, era de 1.600 habitantes. Os anos 50 encontraram Ouro Branco com 4.266 habitantes, sendo que desses, 3.042 moravam na zona rural. A cidade vivenciava o auge do Ciclo da Batata e depois caiu numa relativa estagnação econômica, sua população era basicamente rural e sua maioria vivia da agricultura de subsistência.

Nos quadros da divisão administrativa do Brasil de 1911, Ouro Branco figurava como distrito de Ouro Preto.

Sua elevação a Município foi instituída pela lei 1.039, de 12 de dezembro de 1953, com território desmembrado de Ouro Preto e parte doada por Conselheiro Lafaiete para que conseguisse área necessária à sua emancipação, com um único distrito, a sede.

Outubro de 1953- Membros do Movimento Pró-Emancipação. Da direita à esquerda: Fernando de Oliveira Silva, Carlos Ferreira da Silva, Juvercino Sacramento Vieira, padre Valentim Zuliani, José da Silveira, Domingos Fernando Rodrigues, Raymundo Campos, José Pereira Sobrinho.

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Ouro Branco pertenceu a Ouro Preto por 252 anos, entre os anos de 1701 até 1953. Conquistou sua autonomia com os protagonistas José Bernardino dos Reis, Raymundo Campos, Fernando de Oliveira Silva, José Pereira Sobrinho, do Pároco da época Padre Valentim, Fernando Félix entre outros (Na Ata – documento de registro – consta o nome de todos os presentes). Seu primeiro dirigente foi o Intendente Dr. Wilson Getúlio.

Praça Santa Cruz em Ouro Branco Ainda como Distrito de Ouro Preto Reprodução Imagem Arquivo Pessoal

Por essa época (1940-1970), as atividades econômicas predominantes eram: as culturas de batata inglesa, milho e laranja; a pecuária bovina suína, eqüina e muar; as atividades industriais de extração 36

mineral (talco); transformação e benefício de produtos agrícolas; manufaturaria e fabril.

Na década de cinqüenta e sessenta a indústria extrativa tinha relevante significação econômica.

Haviam duas empresas que exploravam jazidas de talco em pequena quantidade e existia também uma pequena produção de carvão, sendo a lenha e madeira extraídas somente para atender às necessidades locais.32

Praça Santa Cruz entre anos 40.

Foto disponibilizada em redes sociais.

32 Enciclopédia dos municípios brasileiros / Conselho Nacional de Geografia e Conselho Nacional de Estatística.

Rio de Janeiro, editor: IBGE. Ano: 1957-64.

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Delegacia de Polícia – Local onde hoje fica situado o anexo I da PMOB.

Praça Santa Cruz Em frente casarão dos Pereira.

Foto disponibilizada nas redes sociais.

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A pequena e pacata cidade de gente simples foi surpreendida com um novo ciclo econômico, com a implantação do complexo Siderúrgico da Açominas, a partir de 18 de fevereiro de 1976.

De todos os ciclos que a cidade passou, o Ciclo do Aço foi o que mais agrediu estruturalmente o cenário histórico e a memória local. Houve um impacto, uma quebra, uma verdadeira ruptura entre o seu passado, que fora negligenciado, seu presente e o futuro era um sonho.

A referência histórica de um povo praticamente desapareceu. O momento de mudança trouxe impactos profundos que transformou a vida e a história de muita gente.

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Os Quatro Ciclos Econômicos Primeiro Ciclo Econômico - Ouro A primeira descoberta oficial de ouro só foi registrada por Antônio Rodrigues Arzão, possivelmente em 1693, no lugar chamado “Casa da Casca”. Manoel Borba Gato, genro de Fernão Dias e sua gente, foram os primeiros descobridores de ouro em Sabarabuçu (hoje Sabará), Sertão do Rio das Velhas.

“O ouro era todo de formações aluvionais espalhadas às margens dos rios e sopés de serras. O metal que se situava abundante às margens dos rios geralmente era acamado e revestido de terra, areia e cascalho” 33.

Ilustração do Ciclo do Ouro – Elmo Alves 33

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VASCONCELOS, Diogo de. História antiga das Minas Gerais.

As notícias da descoberta de ouro em Minas Gerais se espalharam pelo Brasil e chegaram à Portugal. Milhares de pessoas acorreram à região.

A sede do ouro instigou muitos a deixarem suas terras e à introduzirem por caminhos ásperos, desconhecidos e de intricados acessos. Faltavam escravos, utensílios diversos e animais de carga.

Interesses e atenções passaram a ser dispensados à Colônia. Com o ânimo voltado para o ouro, uma multidão lançou-se à procura de ribeirões auríferos nos sertões. Esse rápido e caótico povoamento provocou problemas de conflitos e discórdias entre paulistas e emboabas* (vale a pena conhecer mais sobre essa passagem da história).

A região de Minas foi-se consolidando e começaram a aparecer os núcleos mineradores. Cada minerador trabalhava com uma média de escravos, quanto mais escravos, maior sua data*. As freguesias foram surgindo e se firmando. Muitas histórias que jamais chegaremos a conhecer aconteceram e não se tem registro. Passagens inapropriadas, malfazejos que deixaram marcas em toda região de exploração.

Com o surgimento desses povoados que se estabeleciam, capelas humildes logo davam contraste com as construções de templos grandiosos e ricos, onde a opulência demonstrava que havia riqueza local.

“Estavam assim descobertas as minas de ouro em nosso Estado. Ia começar para o Distrito (que só depois desse fato é que passou a chamar-se das Minas, e antes se chamava Catagua`s) uma era nova, - a era do mesmo tempo da riqueza e da miséria, da opressão por parte da Metrópole, e dos crimes de toda sorte entre os mineradores”34.

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GÓIS, Carlos, História da Terra Mineira, Belo Horizonte:

Oficinas Gráficas de Oliveira, Costa & Cia.,1933, 37p 41

“Selvas,montanhaseriosestãotransidosdepasmo, Équeavançam,terraadentro,oshomensalucinados(...) Que a sede de ouro é sem cura, e, por ela subjugados, os homens matam-se e morrem, ficam mortos, mas não fartos”.

Cecília Meirelles Romanceiro da Inconfidência

A exploração do ouro no século XVIII mudou para sempre a vida das localidades. Os arraiais tornaram-se cidades e a população basicamente rural tornou-se urbana, estimulando a fixação dessa população por causa do efeito econômico que gerava, através do comércio.

Assim surgiram nossos municípios, resultado de mineiros e escravos que ocuparam e exploraram toda Minas, onde a esperança e a ambição eram de homens rudes e bravios, devassos e sonhadores na busca de riquezas. Naturalmente, toda essa riqueza gerava conflitos e lutas por toda região. No século XVIII, houve a rebelião em Minas contra a cobrança do quinto pelas Casas de Fundição.

Minas Gerais transformou-se no centro da exploração do ouro e das primeiras revoltas políticas contra a colonização portuguesa: nosso povo não queria mais ser explorado. Dentre essas insurreições, a que mais se destacou foi o Movimento da Inconfidência Mineira, amparando os primeiros abalos da rebelião contra os estatutos da Metrópole.

Paradoxalmente a era do ouro deixou nosso estado mais pobre e sobrou pouco dessa riqueza para o Brasil, enviado principalmente para Portugal e para o restante da Europa. Com nosso ouro Portugal salvou-se da ruína iminente.

Com essa soma fabulosa não só Portugal se sustentou a si, durante mais de um século, como sustentou ainda todo o resto do Brasil! Foram as 42

minas de ouro do nosso Estado que livraram o Brasil da invasão estrangeira.35

Com o ouro do Brasil D. João V edificou o monumental conjunto de Mafra em Portugal: basílica, palácio real e convento, criou a biblioteca da Universidade de Coimbra e construiu o aqueduto das Águas Livres, que abasteceu Lisboa.

Após a opulência, o pouco do ouro que restou para o nosso país foi gasto em igrejas, capelas e doações a padres.

Várias pessoas viviam na miséria, sem condição alguma, num sistema econômico adoentado e com o poder de Portugal explorador, gerando revoltas e hostilidade.

A fachada principal do Convento de Mafra, aproximadamente a meio do século XVIII. Quadro de antes do Terramoto de 1755, expostos ao público em Lisboa - Público 35

GÓIS, Carlos, História da Terra Mineira, Belo Horizonte:

Oficinas Gráficas de Oliveira, Costa & Cia., 1933, 42p.

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D.João V, um rei gastador, conhecido em Portugal como “Magnânimo” e muito envolvido com a igreja católica, foi o responsável direto pelo desperdício desse ouro, juntamente com a sociedade portuguesa da época.

Em seu reinado, a arte Barroca manifestou-se na arquitetura, no mobiliário, na talha, no azulejo e na ourivesaria, trazendo civilização européia à Colônia. ...na partilha dos metais e das pedras preciosas do Eldorado mineiro, coube-lhes sempre a parte leonina, ou, antes, tudo era para eles e o resto para os demais. Sacrifícios, extorsões, degredos, incêndios, matanças coletivas, eis o rastro de sangue e lama, a inapagável crosta de vermelhidão que os dominadores deixaram após si.

Tudo então era, em Portugal, feito com as riquezas do Brasil. .... Qualquer mercadoria pagava direito de entrada, direito de permanência, direito de saída. Em Minas só havia duas coisas certas: a morte e o aumento dos impostos.36

Com a exploração exagerada da metrópole em Minas ocorreram várias revoltas e conflitos, destaca-se: - Guerra dos Emboabas37 (1707-1710): os bandeirantes paulistas queriam exclusividade na exploração do ouro, nas minas que descobriam e por isso entraram em choque com os imigrantes que também exploravam o ouro das minas.

36 TÔRRES, Antônio. As Razões da Inconfidência, Belo Horizonte: Editora Itatiaia Limitada-1957, 16p.

37 Emboabas foi o nome pejorativo dado aos milhares de pessoas que vieram as minas explorar o ouro, que na língua indígena significa “ pássaro de pés emplumados”, referia ao fato dos imigrantes protegerem as pernas e os pés com botas e rolos de panos.

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- Revolta de Filipe dos Santos (1720): representou a insatisfação dos donos de minas de ouro com a cobrança do quinto e das Casas de Fundição. O líder Filipe dos Santos foi preso e condenado à morte pela coroa portuguesa.

- Inconfidência Mineira (1789): liderada por Tiradentes, os inconfidentes buscavam libertar Minas de Portugal. O movimento foi ceifado pela coroa portuguesa e os líderes condenados.

Minas Gerais sofreu muito com o monopólio do ouro por parte de Portugal. Estado rico em minério e recursos naturais, teve em vários momentos suas terras devastadas, esburacadas e sua natureza destruída. A exploração desse ouro em Minas foi responsável pela manutenção da riqueza na Europa e pela pobreza da Colônia. Nosso território foi sugado pela coroa portuguesa que detinha o poder e não se preocupava com a terra que lhe dava o sustento.

O ouro, por sua vez, era encontrado no sopé das montanhas, na argila e no leito de riachos. As riquezas minerais estavam escondidas na floresta nativa, sendo necessário queimá-la para a exploração. Em seguida, os rios eram desviados em direção das encostas para lavar o solo e se encontrar os metais preciosos. As montanhas eram desbarrancadas, misturadas à água, formando uma lama que destruía rios e espécies aquáticas.38

O ciclo do ouro foi estimulado pela facilidade de extração, mas as técnicas eram primitivas e acabaram por assorear os cursos d’água, impedindo a retirada 38 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista!

São Paulo: Peirópolis, 2005. 343 p.

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do ouro. Galerias e veios auríferos localizados nos morros foram esgotados rapidamente. Não havendo metodologia avançada disponível para continuar a extração, as dificuldades e as revoltas desencadearam impactos econômicos que levaram a decadência da região aurífera. Deixando para trás um rastro de miséria e fome, por longo tempo.

Minas resistiu, ressurgindo como uma fênix em sua história, seus templos e casarões. Novamente suas montanhas se enfeitaram de verde e colorida de flores, a vida renascia junto à esperança.

Nosso Estado ressurgiu das cinzas da ganância e da exploração do seu povo, onde homens que apesar de estigmatizados se levantaram para dizer basta e morrer por uma nação.

Segundo Ciclo Econômico – Uva A região de Ouro Branco possuía terrenos propícios à atividade agrícola, a terra, a topografia do vale, a rede hidrográfica vasta que por muitos anos foi um convite à produção, propiciando então o surgimento de um novo ciclo econômico.

“Um mineiro de Diamantina, Conselheiro e exministro do Império João da Mata Machado e o médico Arthur Fernandes Campos da Paz, escreveram algumas obras sobre cultura vinícola e produção de vinhos”39.

João da Mata Machado foi um dos proprietários da Fazenda Pé-do-Morro e nessa época dedicava-se ao plantio de uvas, pois a região era propícia ao plantio.

39 ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig Brasiliensis.1824.

46

Von

–

Pluto

Com relação a esse Ciclo, o Barão de Eschwege (Wilhelm Ludwig von Eschwege) se referiu ao plantio como um fato interessante e observou que “Ouro Branco era a única localidade do Brasil onde todos os habitantes se dedicam em suas fazendas, à cultura da vinha.40 O desenvolvimento das videiras era naturalmente das regiões de clima mediterrâneo. As primeiras videiras foram trazidas ao Brasil por Martim Afonso de Souza, que veio de Portugal com o objetivo de disseminar a agricultura na nova colônia.

Ilustração Ciclo da Uva – Elmo Alves 40

Caderno Açominas nº 18 de fevereiro de 1989.

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A história da uva no país está quase sempre relacionada aos imigrantes europeus que conheciam o processo de plantio, eles adaptaram a cultura da uva em diferentes condições climáticas.

A videira prefere temperaturas entre 15 e 30 graus, faixa que influencia o processo de fotossíntese, a produtividade e a duração dos dias entre floração e colheita, período que deve contar com muita luminosidade.

A região do Ouro Branco era muito fria e provavelmente essa temperatura influenciou a adaptação da cultura da uva. Com exceção dos solos encharcados, a videira costuma se desenvolver bem em qualquer tipo de solo. .... Este arraial destaca-se especialmente pela sua encantadora situação e pela beleza geral dos arredores. É formado por umas 80 casas, enfileiradas em duas ruas, uma que se dirige do sul para o norte e outra de leste para oeste, ocupando ambas uma suave elevação, e uma igreja construída em pedra, ornada de duas torres. No centro da localidade, há umas vinte palmeiras plantadas em torno de um chafariz, as quais lhe dão um aspecto particularmente gracioso. Este arraial distingue-se sobretudo pelas saborosas uvas moscáteis que medram profusamente em seus pomares. (POHL, J.E.,p.409)

Conforme observação do Barão e de Pohl, podemos imaginar que a cultura da uva fazia sucesso na região o que incentivou outros fazendeiros a investir nessa tradição.

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As fazendas da região que cultivavam uvas de boa qualidade direcionavam-se para a Fazenda Pé-doMorro, onde iniciaram a fabricação artesanal de vinhos, cuja produção visava o reconhecimento da tradição local.

O ciclo do vinho ocorrido na cidade teve um período curto e com poucos registros. João da Mata Machado Júnior foi dono e fundador da Companhia Nacional de Vinhos, juntamente com Arthur Fernandes Campos da Paz. Seu projeto era implantar na Fazenda Pé-do-Morro uma das primeiras fábricas de vinho de Minas Gerais. Infelizmente devido à Segunda Guerra e à crise que se abateu na economia, o projeto não progrediu e foi abandonado.

O patriarca Mata Machado era um homem muito rico e possuía vários domínios e mantinha a Fazenda Pé-do-Morro como uma de suas propriedades: Realmente, seus bens tinham valor incalculável: além das casas em Diamantina, Ouro Preto e outras cidades mineiras, era proprietário de toda a Serra do Ouro Branco, local de sua fazenda Pé-do-Morro onde o filho Edgard escreveu vários versos.41

A Fazenda Pé-do-Morro é sem dúvida um exemplar muito importante do nosso passado, sendo testemunha das nossas fases mais intensas e críticas.

Esse reconhecimento veio através do tombamento Estadual e Municipal.

41 HORTA, Luiz Otávio Madureira. Conheça o poeta Edgar Mata: ele morreu de amor quando o amor matava.

Suplemento Literário, 636, 09 de dezembro de 1978.

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Terceiro Ciclo Econômico – Batata Quando os espanhóis chegaram às “Américas”, principalmente quando conquistaram o Peru em 1531, encontraram a batatinha e o milho que eram cultivados pelos incas.

Provavelmente a introdução da batata na Europa deu-se primeiramente na Espanha por Pizarro*, tornando-se apresentação obrigatória nas mesas europeias. Sendo assim, suas lavouras foram incorporadas à paisagem rural, principalmente na Inglaterra e Holanda.

Depois de conquistar a Europa, a batata iniciou um lento retorno ao continente de origem - a América do Sul - sem exibir, porém, a mesma popularidade ou a mesma qualidade conquistada no Velho Mundo.

Introdução da Cultura da Batata em Ouro Branco Primeiro ciclo do cultivo da batata Os principais introdutores da cultura da batata no município de Ouro Branco foram: O imigrante Português Álvaro José dos Santos e um comerciante de Ouro Preto, Sr. Diogo Mendes dos Reis.

O Sr. Álvaro José dos Santos tinha experiência com a cultura da batata em seu país (Portugal). Após observação do clima e solo de Ouro Branco, constatou que a Solanácea poderia ser economicamente produtiva e rentável na região.

Então, procurou o comerciante ouropretano Diogo Mendes dos Reis, avô do ilustre ourobranquense José Bernadino dos Reis, e propôs uma sociedade para a introdução e exploração da cultura da Batata.

Animado com a possibilidade, Diogo

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imediatamente procurou importar de Portugal a batata em semente. O plantio dessa semente foi feito com orientação do português, não utilizando adubos e defensivos, o que proporcionou uma boa produtividade e rentabilidade.

Quando o Sr. Álvaro José mudou-se para Belo Horizonte, faltou orientação técnica, resultando na queda da produtividade e qualidade do produto. Porém, a cultura da batata já havia sido estabelecida, pois cada cidadão ourobranquense tornou-se um bataticultor.

Técnicas e variedades Segundo ciclo do cultivo da batata

Ciclo da Batata – Elmo Alves

Nessa época (1920-1960), usava-se o arado puxado a bois, estrume de bovinos e equinos, que as 51

mulheres recolhiam nos pastos e vendiam a lata de 20 litros. Com o plantio sucessivo da variedade importada de Portugal, aconteceu a degenerescência, dando início ao cultivo de outras variedades nacionais, provenientes do sul do país: Lisa, Olho de Pomba, Tabuinha, Pelotas e outras.

Nos anos 20, foram adquiridas variedades argentinas e chilenas, batatas forrageiras de grande tamanho, porém perecíveis. Na segunda metade dos anos 30, houve um novo período áureo da cultura da batata. Foi quando o agrônomo Moacyr Viana de Morais e seu irmão Jadir (na época proprietários da Fazenda Pé-do-Morro), comparando a grande potencialidade e a boa produtividade com a baixa tecnologia usada, dedicou-se ao estudo de novas técnicas para o plantio e concluíram que era viável a implementação de outras técnicas utilizadas para o cultivo da batata em Ouro Branco. Promoveram assim, a importação de sementes de batatas de variedade européias, além da importação de adubo de fabricação alemã. O resultado alcançado suplantou os métodos anteriores iniciados pelo conhecimento prático e elementar de Álvaro José dos Santos.

Terceiro ciclo do cultivo da batata A cultura de cereais, como a batata inglesa, constituiu umas das atividades econômicas fundamentais durante o século XX para Ouro Branco.

O município chegou a ser o terceiro em produção de batatas em Minas Gerais. Em 1955, ocupou o primeiro lugar de produção agrícola no município.

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Ouro Branco era distrito de Ouro Preto na década de 40 e já se destacava como um dos maiores produtores de batata do Estado. Foi então que o município passou economicamente a ser dependente da batatinha, iniciando assim o “3º Ciclo do cultivo da batata”, que foi o considerado o auge da produção.

Na década de 50, quando Ouro Branco era estritamente voltado para a agricultura, sua população era de 4.300 habitantes.

A Origem da Festa da Batata Os bailes realiza-dos pela comunidade aconteciam no mês de outubro para comemorar a colheita da batata, a partir desses bailes originou a Festa.

Tendo por precursor o Sr. José Silas Coelho, popularmente conhecido como “ Teco”.

Foto. Disponibilizada por familiares ( D. Maria).

Com o passar do tempo, os bailes tornaram-se tradição e ao longo dos anos foram realizados em diversos locais. Para garantir o glamour da Festa, eram eleitas a Rainha e a Princesa da Batata, que eram filhas de bataticultores.

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O Primeiro Festival da Batata aconteceu na Praça Santa Cruz, nos dias 05 e 06 de outubro de 1984 (antes era festa da batata, tornou-se “Festival” por uma lei - sugestão do então Vereador José Inácio Pereira), com barracas e pratos típicos de batatas, organizadas ao longo da praça, em frente à igreja Matriz de Santo Antônio.

Para manter a tradição, a “Rainha da Batata” era eleita, segundo as normas estabelecidas pelos organizadores, cujas filhas dos produtores representavam o povoado de origem.

Com o passar do tempo, a cidade perdeu a “Batata” como sua principal fonte de renda, mas o “Festival da Batata” permaneceu, considerado um evento tradicional da cidade. Sua referência e seu contexto histórico se perderam, dando lugar a “Mega evento” sem nenhum tipo de consistência tradicional.

Quarto Ciclo Econômico - Aço O minério de ferro é abundante no mundo, contudo as jazidas se concentram em poucos países. O Brasil possui 8,3% das reservas totais - a quinta maior do mundo. A produção de minério de ferro acontece principalmente em Minas Gerais, Pará e Mato Grosso do Sul, sendo nossa região privilegiada nesse aspecto.

Na segunda metade do século XX, começaram a surgir os distritos industriais para a exploração do aço e em Ouro Branco, especificamente, na década de 70, com a implantação do Complexo Siderúrgico da Açominas.

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Ilustração Ciclo do Aço – Elmo Alves

O impacto da implantação da usina formatou novas relações espaciais, sociais, econômicas, etc., trazendo um novo ciclo de riqueza para o município e um novo nível de abordagem para a questão urbana, modificando radicalmente a vida e a estrutura social.

Foi imprescindível adequar a cidade para atender aos interesses da empresa.

A desapropriação foi maciça e compulsória das diversas áreas do entorno da planta da cidade velha para a criação de uma nova estrutura urbana. Ao redor do núcleo de ocupação inicial surgiram novas moradias, ruas, escolas e um hospital, enfim novos bairros.

A cidade planejada deveria atender num curto espaço de tempo uma população com cerca de 60.000 habitantes, considerando que durante o período de 20 a 30 anos, sua população deveria estar em torno de mais de 160.000/180.000 habitantes.

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Essa transformação aliada à questão política trouxe desilusão ao povo nativo, que sonhava com mudanças econômicas e oportunidades. Com tradição agrícola e sem conhecimento técnico, automaticamente as portas se fecharam para os nativos e aos poucos uma nova população configurou o local.

Sentindo-se discriminada, a população nativa sentiu-se acuada e ao longo dos anos, resquícios dessa vivência permaneceram nos corações dos moradores mais velhos, que tiveram que sair de suas terras para dar lugar ao crescimento urbano.

Mesmo não tendo correspondido às expectativas dos nativos, houve certa preocupação com o novo e o velho na questão da habitação e expansão. Foi elaborado o Plano de Desenvolvimento Urbano (PDU) 56

em 1978, proposto pela Empresa, com a colaboração da Fundação João Pinheiro. O PDU teve o mérito de definir as áreas de proteção histórica e ambiental relevantes para o município. Foi proposta a conservação e a recuperação de bens importantes, como: Sítio da Varginha (Conselheiro Lafaiete), Fazenda Pé do Morro, Carreiras, Cadete e Fazendinha 1º de Maio, no meio ambiente a área de preservação ambiental destinada a Serra do Ouro Branco. Mas não houve um estudo para a preservação do centro histórico.

Com a chegada de uma nova população para morar no espaço determinado pela empresa, diferenciado por camadas de ocupação: de um lado o traçado antigo e do outro o novo, e, ainda, bairros criados de acordo com a condição econômica dos empregados. O primeiro núcleo habitacional denominado Siderurgia para a população de renda média, Bairro Pioneiros para a população de renda média e alta, Bairro dos Inconfidentes para população de renda alta e bairro Primeiro de Maio para a população de renda baixa e média. Essa prática segregou a população por categoria funcional e agravou ainda mais a associação entre as partes, deixando a disjunção entre as camadas de ocupação evidenciada. Infelizmente, não houve um real interesse em assegurar a integração, pois o traçado urbano evidenciou este fato.

Toda essa mudança acelerou o processo de degradação no núcleo histórico, que não era assegurado através de uma legislação específica.

Assim, durante a década de oitenta, Ouro Branco dos “ciclos” viu crescer um novo núcleo urbano (empresa e funcionários), tendo por outro lado seu núcleo histórico alterado em nome do progresso, perdendo parcialmente seu passado e sua história.

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A área denominada “lago Soledade” ( lago artificial para sobrevivência da empresa) foi responsável pela submersão de capela e sobrados, patrimônio histórico que nem chegaram a ser registrados para posteriores gerações.

As mudanças repentinas transformaram os nativos em estranhos, em sua própria terra, pois tiveram que sair de suas casas para dar lugar ao alargamento de ruas, principalmente a “Rua da Cruz”, que desapareceu para dar continuidade a Rua Santo Antônio. Muitos de seus moradores foram desapropriados, entre eles: Dª.Olinda Lopes Fernandes (in memorian), “que disse que sairia, sim, de cabeça erguida e jamais de cabeça baixa”.

Despediu-se de sua casa e mudou-se para onde haviam determinado com o coração pesado. Traumatizados por se sentirem excluídos do novo, a identidade cultural praticamente desapareceu, fazendo-os infelizes do seu passado e consternados com o futuro.

Muitas pessoas que chegavam sentiam na pele esse distanciamento, mas ao invés de tentar uma aproximação, as lacunas tornavam-se maiores. Na década de oitenta, existia muita rixa entre os jovens que se dividiam entre os moradores do centro e dos bairros (núcleo).

Essa situação ficou muito evidente e foi se arrastando ao longo dos anos que, no mandato 1993/1996, o prefeito da época, Fernando de Oliveira Silva, preocupado com a situação e querendo suprir o espaço vago entre o centro e os bairros, onde se denominava “Estiva”, construiu a “Praça de Eventos”.

O propósito principal era de estender e criar nesse espaço um elo entre o velho e o novo.

Fatos passados. É hora de recuperar e consolidar a memória urbana e rural do município, não deixando desaparecer os fios narrativos que conduzem ao

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passado, tornando-os fortes, completos e verdadeiros para o novo.

Nossa geração cresceu, não fazemos parte de forasteiros ou nativos, mas de cidadãos que possuem raízes grossas e vigorosas, pois os filhos dos que chegaram, nasceram ourobranquenses e os que permaneceram, tornaram-se nativos.

Hoje seus moradores têm orgulho e consciência de serem ourobranquenses, valorizam sua cidade e desejam seu crescimento sem destruir sua história.

Cronologia*: 1975 - O governo de Minas Gerais assume o controle acionário da empresa; 1976 - O governo de Minas Gerais transfere o controle acionário da Açominas para a holding estatal Siderúrgicas Brasileira S/A – Siderbrás; 1976 - É definida a localização da usina. O presidente da república Ernesto Geisel crava a estaca inicial simbólica da usina, no alto da serra de Ouro Branco; 1977 - Iniciam-se as obras de engenharia civil do alto-forno; 1978 - Marca a chegada dos primeiros equipamentos à usina, vindos da Inglaterra. As obras de montagem começaram em junho. No pico das obras, 22.000 homens trabalharam no local; 1985 - O presidente da República João Batista Figueiredo assina o decreto-lei nº 90.929, dando à usina o nome de presidente Arthur Bernardes.

1986 - O presidente da República José Sarney inaugura a usina presidente Arthur Bernardes, em Ouro Branco; 59

1991 - É lançado o plano de privatização das siderúrgicas estatais; 1997 - O Grupo Gerdau associa-se à Açominas, junto com a NatSteel e o Clube de Empregados da Empresa; 2003 - O Grupo Gerdau formaliza a integração de seus ativos no Brasil com os da Aço Minas Gerais S.A.- Açominas - em uma única empresa, que passa a se chamar Gerdau Açominas S.A; Introdução à Formação da Nossa História Para contar, a seguir, traços importantes da nossa formação e da nossa identidade cultural, torna-se necessário entrar na história dos descendentes de judeus que emigraram para o Brasil, pois muitos deles vieram para Minas e principalmente, para a região do Ouro, formando, assim, o princípio da sociedade da época.

Conhecidos como “Cristãos Novos” ou “Marranos”42, os descendentes de judeus foram convertidos à força ao catolicismo em Portugal.

Muitos fugiram por causa desse fato e muitos deles vieram parar no Brasil à procura de um refúgio.

Minas foi a região mais procurada por eles, em virtude do difícil acesso e das possibilidades de escapar das constantes fiscalizações.

Eles desbravaram as selvas, cultivaram nossas terras e até guerrearam com os jesuítas.

Entre os bandeirantes de origem judaica podemos 42 Marranos - A palavra Marrano é um termo espanhol medieval que designa porco. Aplicado ironicamente aos convertidos em referência à aversão pela carne do animal em questão.

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citar; Borba Gato, Fernão Dias Pais, Miguel Telles e Manuel Nunes Viana, que foram de especial importância para nossa colonização.

Muitos desses homens não foram perseguidos por sua origem, porque através da conquista de riquezas era possível “minimizar” e facilitar a participação nas elites da colônia.

Documentos referentes às profissões e à declaração dos bens confiscados pela Inquisição aos cristãos novos em Minas, encontramos 23% dos condenados dedicando-se à mineração, sendo que 64% aparecem como comerciantes e 6% como agricultores.43

No livro “Os magnatas do tráfico negreiro” por José Gonçalves Salvador, relata que os cristãos novos eram os principais traficantes de escravos. Naquela época, essa era a atividade mais lucrativa da colônia.

E, depois de serem desembarcados nos portos, eram levados, principalmente, para a região de Minas, onde eram revendidos para trabalharem.

No “Itinerário Geográfico”, por Francisco Tavares de Brito, relata uma localidade próximo a Congonhas chamada Macabelo, que deriva de Macabeu (origem Judaica). O nome Má cabelo era considerado perjorativo e os moradores do local passaram então a nominarem-se de Bom Cabelo. Essa localidade até recentemente existia e era conhecida por Bom Cabelo, onde se construiu uma fazenda do mesmo nome no século XVIII denominada Fazenda Bom Cabelo.

43 SALVADOR, J.Gonçalves. Os Magnatas do Tráfico Negreiro. São Paulo: Pioneira, 1981.

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No arraial de Santo Antônio, moravam muitas famílias com sobrenomes de animais e árvores ou os que conservaram o nome de sua cidade natal, como exemplo: Miranda, da cidade de Miranda, norte de Portugal. Entre outros: Braga, Navarro, Leão, Lima, entre outros. Esses registros identificam muito do nosso passado, pois os cristãos novos que aqui chegaram, adotaram os sobrenomes mais próximos da sua origem.

Na verdade, Portugal sofreu a maior Sangria Migratória para as Minas Gerais. Foram multidões de cristãos-novos portugueses que atravessaram os oceanos, montanhas e florestas cerradas, para justamente com os africanos, fazerem a história de um povo.44

Neste contexto vamos conhecer a história da passagem de Padre Manoel Lopes de Carvalho pelo nosso município, sendo paróco de 1717 a 1719.

Ele nasceu em 04 de março de 1682, na Bahia. Era filho de negociantes. Desde criança, frequentava festas paroquiais e se apegou aos sermões do Padre Antônio Vieira. Estudou no Colégio da Companhia de Jesus e foi natural seguir o curso sacerdotal, além de ter vocação, visto que foi ordenado. Estudou teologia na melhor academia do Brasil colônia, que possuía uma rigorosa seleção para os que candidatavam45.

44 FERNANDES, Neusa. A Inquisição em Minas Gerais no século XVIII. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2000.

45 JÚNIOR, Adalberto Gonçalves Araújo. No ventre da baleia: o mundo de um padre judaizante no século XVIII. 62

Padre Carvalho viveu no pequeno Arraial de Santo Antônio, onde ocupou o cargo de primeiro vigário, residente entre os anos de 1717 a 1719. Ele realizou o primeiro batizado registrado na Freguesia de Ouro Branco e muitas cerimônias de sepultamentos.

Durante os anos de 1717 e 1718, ocorreram muitas mortes no arraial. Essas mortes evidenciaram uma epidemia na região, possivelmente a febre tifóide. Esta infecção acontece onde o saneamento é precário ou inexistente, condição inerente às Minas coloniais. A febre tifóide é uma doença infecciosa potencialmente grave, causada por uma bactéria, a Salmonella typhi.

Seus principais sintomas são febre prolongada, alterações do trânsito intestinal, aumento das vísceras como o fígado e o baço e, se não tratada, gera confusão mental progressiva, podendo levar ao óbito.

De acordo com os estudos de pesquisa de Pe. Adalberto46, parte considerável do tempo do Padre Carvalho foi preenchida pelos serviços fúnebres.

Conforme registros dessa época, esses sepultamentos eram dentro ou no adro da Matriz de Santo Antônio.

A história de Pe. Carvalho é muito interessante e deve ser estudada a fundo, pois ele esteve dividido entre sua fé e seu intelecto, sendo acusado por suas idéias teológicas de combater a inquisição e a perseguição aos cristãos novos.

UmatesededoutoradoelaboradaporPe.Adalberto, de Góias, é muito esclarecedora e interessante, vale a pena conhecer. Através de trocas de informações pude ter acesso ao conhecimento da história do Pe. Carvalho que foi perseguido e morto pela inquisição no século XVIII. Nosso contato aconteceu porque ele precisava 46 JÚNIOR, Adalberto Gonçalves Araújo. No ventre da baleia: o mundo de um padre judaizante no século XVIII. 63

de informações sobre a história da cidade de Ouro Branco para incorporar no seu relato.

A razão que trouxe Pe.Carvalho a nossa região e à freguesia de Ouro Branco, é desconhecida e muito menos os motivos que o levaram, pois rapidamente foi substituído pelo Pe.Salvador Leitão Matello e seu nome foi excluído dos registros eclesiásticos.

Provavelmente ele foi denunciado pela própria igreja e sofreu perseguição religiosa.

Depois de sair de Minas, Pe. Carvalho foi ao Rio de Janeiro e logo depois a Lisboa, em Portugal. Assim que chegou iniciaram o processo de inquisição. Em 27 de maio de 1724, os inquisidores assinaram o mandato de prisão do Padre Carvalho e a partir de então ele foi submetido a audiências inquisitoriais.

Pe. Carvalho era um homem inteligente e influênciado pelas idéias de Pe. Antônio Vieira.

Enfrentou os inquisitores por acreditar fortemente que Deus lhe falava ao coração por inspirações internas. Foi declarado culpado por crime de heresia. Convicto e confesso foi condenado à morte na fogueira, em 1726.

Antes de o queimar, arrancarram-lhe a pele das pontas dos dedos com que havia tocado a sagrada forma. Sofreu o fogo e não disse mais que estas palavras: é uma grande infâmia e uma enorme vergonha tratar desse modo a um homem que morre por afirmar que há um Deus verdadeiro. Deus vos castigará por de tal maneira o ofenderdes”.

E ali na pessoa de Manoel Lopes de Carvalho, desprovido de seu sacerdócio, de bens materiais ou de vestes decentes, distante de parentes e amigos, pois a inquisição subtraiu-lhe tudo, estava um homem, uma humanidade, uma memória a ser 64

queimada, a ser apagada para sempre da história, mas como disse Sebastião Castellio, em 1562, a respeito de Miguel Servet, sacrificado como uma das vítimas inocentes por Calvino: “ queimar um homem, não quer dizer defender uma doutrina, mas sim, matar um homem. 47

Por ter sido condenado à foqueira na Lei de Moisés pela igreja, todos os que foram batizados pelo Pe. Carvalho, tiveram que realizar outra cerimônia de batizado.

Pe. Carvalho buscava a solução para interação harmoniosa entre judaísmo e cristianismo.

Infelizmente a igreja com seus preceitos morais da época não pode compreender essa leitura diferenciada do pensamento Carvalhiano.

E como o tempo não tem, nem pode ter consistência alguma, e todas as coisas desde o seu princípio nasceram juntas com o tempo, por isso nem ele, nem elas podem parar um momento, mas com perpétuo moto, e revolução insuperável passar, e ir passando sempre.

Sermão da Primeira Dominga do Advento.

Padre Antônio Vieira

Somente no ano de 2000, o Papa João Paulo II pediu perdão pela Inquisição. Época em que a igreja cometeu erros em nome da verdade, através de métodos de torturas, julgamentos sintéticos, conversões forçadas e as fogueiras nas quais eram queimados vivos os acusados de heresia.

47

No ventre da baleia: o mundo de um padre judaizante no

século XVIII, autor: Adalberto Gonçalves Araújo Júnior.

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Manuel Henriques – o Mão de Luva Outro personagem da história, polêmico e cheio de lendas é o Mão de Luva que pouco se tem de registro.

Muitos proferiram que era um nobre que conquistou o coração da princesa e futura rainha Dona Maria I da coroa portuguesa, outros diziam que era um garimpeiro e malfeitor. Entretanto, acreditamos que era um homem inteligente e aventureiro e que a maioria das coisas que vivaram “lendas”, nem a metade era verdade. Diversas informações “fantasiosas” que transformaram o personagem em um mito.

Através das pesquisas de Sebastião Carvalho, o Mão de Luva foi o responsável pelo surgimento do município de Cantagalo no Estado do Rio de Janeiro, tendo chegado à região, “de forma clandestina”, para garimpar ouro, deixando de recolher os impostos devidos pela extração.

Conforme pesquisas de Sebastião Carvalho a versão romanceada sobre a origem portuguesa de Mão de Luva e o seu amoroso envolvimento com D. Maria I, é simplesmente absurdo e sem comprovação, até porque Mão de Luva era mineiro, nascido na cidade de Ouro Branco, ou seja, sua origem poderia ser portuguesa, mas não era português.

Sebastião Carvalho é pesquisador e escritor da cidade de Cantagalo-RJ, tive contato por telefone e email onde repassei informações históricas para completar as pesquisas, ele pesquisava sobre Mão-deLuva e eu sobre a história do município de Ouro Branco.

A pesquisa de Sebastião transformou-se num excelente documento histórico “A Odisseia de Mão de Luva na Região Serrana Fluminense”, em seu texto na página 24 e 25 ele cita alguns trechos do início da minha pesquisa. Esse material está disponível na 66

internet com muitas informações sobre o personagem (ver no final do livro).

Imaginário popular, mistérios e lendas, Mão de Luva supera todas as expectativas para a criação de um personagem forte e aventureiro, que poderia ter sido um Robin Hood brasileiro. Mas o certo é que garimpou, tinha empregados e muita riqueza e até hoje existem suposições sobre o desaparecimento do seu “tesouro” e especulações sobre o local onde foram escondidos todo o ouro conquistado com anos de ocupação nos arredores do riacho São Pedro, córrego das Lavrinhas e rios Negro e Macuco. Estas são outras “histórias” que poderão criar mais perspectivas para esse intrépido aventureiro ourobranquense.

No Brasil Colonial Abertura de Novos Caminhos A descoberta do ouro das Minas e a ganância pelo metal precioso abriram caminhos na mata densa, por montanhas e serras íngremes. Homens bravios não temiam o desconhecido e, aos poucos, pelos caminhos que passavam o ouro; em alguns pontos, iniciava-se a fixação de populações que davam início aos arraiais.

Gastam comumente os paulistas, desde a vila de São Paulo, até as Minas Gerais do Cataguás, pelo menos dois meses: porque não marcham de sol a sol, mas até meio dia; e quando muito até uma ou duas horas e de buscar alguma caça ou peixes, aonde o há, mel de pau e outro qualquer mantimento.48 48 ANTONIL , André João. Cultura e opulência no Brasil por suas drogas e minas. Revista do Arquivo Público Mineiro, ano IV,1899. Belo Horizonte: Imprensa Oficial.P.396-557.p.531.

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A Colônia tornou-se conhecida em toda Europa pela exploração das minas. E Portugal começou a se preocupar em delimitar e distinguir todo território, com conhecimento da geografia do espaço, dos elementos naturais, dos marcos referenciais e das vias de acesso.

Isso permitiria o domínio político e científico. Para tanto, começaram a ser organizadas expedições e viagens de explorações pelo Brasil Colonial. Com comissões cientificas e naturalistas, para definição de marcos fronteiriços, mapas e memórias.

O Estadista, português, Marquês de Pombal teve carta branca do rei para fazer o que fosse necessário para vencer o desafio de manter o domínio português.

Como o território era de grande extensão, a alternativa foi ocupar pontos estratégicos. A partir do final do século XVIII, iniciaram-se os registros sobre a geografia, a botânica, a zoologia, a economia e a população das áreas civilizadas e dos nativos.

Nosso país recebeu diversas expedições de cientistas naturalistas que vieram com a incumbência de retratar, descrever e coletar espécies vegetais, a maioria delas desconhecidas para a Ciência. Nomes como Humboldt, Martius, Spix, Langsdorf, Rugendas, Debret, Saint-Hilaire, Thomas Ender, entre outros, fizeram diversos registros sobre a época.

Esses registros foram muito importantes para o conhecimento do nosso passado. Os naturalistascientistas-viajantes produziram os primeiros esboços no próprio ambiente. E depois de retornarem da viagem, em seus estúdios e laboratórios, elaboravam o trabalho em riqueza de detalhes, transformando-os em verdadeiras obras de arte que servem de referência para o conhecimento da época do Brasil colônia.

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Povo Guaikuru - Litografia de Jean Baptiste Debret. Início do século XIX. (Domínio público).

Índios em uma fazenda. Minas Gerais, 1824. Ilustração de Johann Moritz Rugendas (domínio público).

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As “picadas” se tornaram caminhos e foram muitos que surgiram pela mata fechada. Os bandeirantes embrenhavam-se por montanhas e serras e nos primeiros relatos há descrições de pontos demarcados estrategicamente, picos e montes se tornaram descritos pelos viajantes de épocas, orientando os aventureiros.

O caminho que subia a Serra do Deus te Livre indo em direção a Vila Rica, era descrito como impraticável e muitas vezes evitado. O geólogo Francis Castelnau, em 1843, registrou em seus relatos de viagem à Minas: Seguindo por uma estrada ruim e em muitos lugares esburacada pelas chuvas, descendo vales e subindo encostas, passaram por Varginha e em 02 de dezembro transpuseram a Serra de Ouro Branco por um caminho difícil e perigoso... como se fosse uma escada talhada na rocha.49

Subida Serra do Ouro Branco, caminho aberto no meio das rochas.

49

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COSTENAU. Expedição à Regiões Centrais da América do Sul, p.98-192.

Os caminhos se transformaram em rotas reais, onde o minério extraído chegava aos portos. Esses caminhos eram perigosos e necessitavam melhorias.

Em 1669, uma Carta-Régia endereçada ao então Governador do Rio de Janeiro, Artur de Sá Menezes, autorizava a abertura de um novo caminho.

Surgiu então o “Caminho Novo da Estrada Real”, pelas mãos do bandeirante Garcia Rodrigues Paes, tornando-se o caminho mais curto e o mais conhecido para o transporte da riqueza das minas.

O trecho do sistema viário analisado foi implantado na região central de Minas Gerais (entre as cidades de Ouro Preto e Ouro Branco) e apresenta vestígios de estruturas construídas para permitir a passagem sobre drenagens, vales ou terrenos inclinados, bem como escoar a água de seus leitos (cortes, arrimos, pontes e estruturas de drenagem, como galerias, bueiros, canais, etc.). Estes vestígios estão distribuídos ao longo de três segmentos: o Caminho Novo (datado de princípios do século XVIII), o segmento inacabado da Estrada do Paraibuna (construído entre 1836 e 1855) e outro segmento da Estrada do Paraibuna (construído ente 1836 e 1860) (GUIMARÃES, 2007).50

Na época da colônia, a abertura de estradas e seu controle foi uma das formas encontradas por Portugal para evitar o contrabando de ouro e outras irregularidades.

Na decadência do Ouro, John Mawe em suas viagens pelo interior do Brasil passando por Queluz 50 GUIMARAES, CARLOS MAGNO E MOREIRA, MARIANA. Primeiro Simpósio Brasileiro de Cartografia, Paraty, 2011.

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e chegando “as lavagens de Santo Antônio de Ouro Branco”, onde havia grande concentração de compostos de escória da exploração do ouro, registrou: Pouco tempo depois, entramos numa miserável aldeia do mesmo nome, quase abandonada; com cerca de quinhentos habitantes. Tivemos entrevistas com o comandante, mas não pudemos conseguir refrescos de nenhuma qualidade, porque os poucos habitantes, vistos por nós, eram tão pobres que, longe de poderem prover as nossas necessidades, pareciam implorar tudo o que tínhamos para satisfazer às suas, e nos olhavam como se esperassem que lhes trouxéssemos alguma coisa51.

Outros viajantes também descreveram a povoação de Ouro Branco como o inglês Jhon Luccock e o Francês Saint Hilarire, onde relatam que os habitantes pareciam miseráveis, muitos de pé no chão e roupas de tecido rústico e simples.

Cecília Meireles no livro o Romanceiro da Inconfidência em forma de poemas, produziu versos com personagens, lugares e episódios que contam a história da Inconfidência.

Nesses versos “Romance XL ou Do Alferes Vitoriano” Ouro Branco aparece contado em versos, pelos caminhos que trilhavam os inconfidentes, vejamos alguns: – Aonde é que vais, Vitoriano, nem bem amanhece o dia?

Andarás de contrabando, serra abaixo, serra acima, das areia de Ouro Branco às sombras de Vila Rica(...)52 51 MAWE, John Viagens ao interior do Brasil, 1.812.

52 MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. P 147.

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Em outro poema “Romance LXI Dos domingos dos Alferes, ela passa pelas estrofes informação por onde os pedaços de Tiradentes foram deixados: E num dia de domingo seus quartos foram salgados.

DOMINGO! despachados para os sítios onde alguém o tinha ouvido falar de conspiração...

Lá vai cotado em pedaços, la vai pela serra acima...

DOMINGOS: Domingos Rodrigues Neves, com oficiais da justiça, tranquilamente o conduz.

Ibidem. P206.

E no Romance LXXXIV ou Dos cavalos da Inconfidência: (...)

Eles eram muitos cavalos, entre Mantiqueira e Ouro Branco desmanchado o xisto nos cascos, ao sol e à chuva, pelos campos, levando esperanças, mensagens, transmitidas de rancho em rancho. Eles eram muitos cavalos, entre sonhos e contrabandos, alheios às paixões dos donos, pousando os mesmos olhos mansos nas grotas, repletas de escravos, nas igrejas, cheias de santos.

Ibidem. P 274.

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Personagens da Nossa História Cônego Luis Vieira da Silva Nascido na Fazenda “do Guido” Freguesia de Ouro Branco, filho de Luís Vieira Passos e Josefa Maria do Espírito Santo. A naturalidade de Luis Vieira da Silva sempre é motivo de divergentes interpretações devido ao pronunciamento feito por ele mesmo nos Autos da devassa por ocasião das inquirições da Inconfidência Mineira. Era no Arraial de Ouro Branco que residiam sua mãe e suas irmãs. Hoje esse local está identificado e documentado dentro do território de Ouro Branco.

Luis Vieira da Silva iniciou sua formação no Seminário de Mariana e graduou-se em Filosofia e Teologia em 1757, na cidade de São Paulo, aos vinte e dois anos de idade. Depois de regressar em Mariana e ser ordenado, assumiu o cargo de professor de Filosofia no Seminário, onde permaneceu cerca de 32 anos, formou uma monumental biblioteca que lhe foi seqüestrada após a sua prisão em 1789.

LuísVieiradaSilvafoiFilósofo,historiador,orador, analista profundo, revolucionário, que acreditava num Brasil livre, modelado segundo as teorias iluministas de que tão bem conhecia, conjecturando libertar e dar ao país segurança política, pois percebeu o desmoronar do colonialismo. Foi o líder intelectual e coordenador da Conspiração Republicana Mineira de 1785-1789, ao lado de Tomás Gonzaga.

Apesar de ser sacerdote, tinha uma vida sacerdotal incomum, pois tinha mulher e uma filha.

Acredita-se firmemente que foi um dos introdutores das práticas maçônicas em Minas Gerais.

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As ideias francesas contagiavam alguns brasileiros seletos daquele tempo. Constituíam, é claro, uma reduzida minoria, mas pode-se admitir, como se tem admitido, que tais idéias influíram no pensamento autonomista dos conjurados mineiros, junto com razões mais fortes, de ordem econômica e afetiva, como o grande receio da derrama, o sentimento nativista e a hostilidade ao português.53

Acusado e julgado, foi preso e enviado para Lisboa onde viveu em cláusura, com a saúde debilitada. Luis Vieira retornou à Colônia brasileira, onde veio a falecer em data (sem registro) e nenhuma documentação foi encontrada sobre o local onde foi enterrado.

Padre Valentim Zuliani (19491959) Padre Valentim era italiano. E conforme relatos de moradores mais antigos, um homem bastante temperamental, mas honestíssimo. Extremanente rigoroso com os paroquianos.

Exigia muito em relação aos trajes e a presença nas cerimônias religiosas.

53

FRIEIRO, Eduardo, O diabo na livraria do cônego. 2.ed.

Belo Horizonte: Itatiaia, 1981. p.51.

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Pe. Valentim participou da nossa emancipação política e foi contra a entrada do Intendente Omilar Baeta Neves no primeiro governo do município, pois ele era maçom e sua vontade foi respeitada.

Era um vigário zeloso e benquisto pela paróquia, também era um cidadão participativo tendo se associado aos lavradores de batata, tornando-se um trabalhador como eles. Ia para a lavoura depois de realizar a missa matinal e por lá ficava.

Incentivador das associações e da participação popular, não faltava a nenhuma das reuniões.

Era ferrenho em defender suas ideias, sendo que em período de eleição, chegava a ser radical em relação aos opositores. Seus sermões tornavam-se cruéis com os adversários que evitavam as missas.

Pe. Valentim no meio da plantação de batatas, incentivador da agricultura local. Disponibilizada pela Paróquia de Santo Antônio.

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Raymundo Campos

Raymundo Campos Prefeito (1955-1958) 1963-1966, 1971-1972) Imagem pública

Natural de Lagoa Dourada nasceu em 23 de outubro de 1921. Filho de Maria Madalena de Campos e de Ramiro Campos de Carvalho.

Sua mãe ficou viúva, quando Raymundo era apenas uma criança. Casou-se logo depois com José Guilherme Rodrigues e teve mais dois filhos Antônio e Mário Guilherme Rodrigues. Viúva pela segunda vez, Dona Madalena contou com ajuda do filho mais velho para criar os outros filhos.

Raymundo Campos, filho e neto devotado, cuidou da mãe e do avô até o falecimento de ambos.

Era agricultor, comerciante, industrial, político de forte influência no município e região. Um dos homens que buscou a emancipação política do município. Foi eleito prefeito municipal por três vezes, sendo que em 1962 foi o vereador mais votado. Sua liderança era tanta que todos os que ele apoiava se elegiam. Assim deu-se com seus três sucessores: Dr. José Bernardino dos Reis, em 1959; Fernando de Oliveira Silva, em 1967 e Francisco Rodrigues Filho, em 1973.

Tinha amigos influentes de oposição ao governo federal da época, durante a revolução de 64, chegou a ter problemas por isso, mas nada demais.

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Casou-se com Célia Junqueira Campos, com quem viveu até falecer em 13 de novembro de 1977, com 56 anos de idade.

Homem bom e amigo, ajudou a escrever a história de Ouro Branco, com atitudes honradas, sem qualquer traço de vaidade pessoal.

José Bernardino dos Reis

José Bernardino Prefeito em 1959-1963 Imagem Pública

Nascido em 18 de agosto de 1912, em Ouro Branco. Homem determinado procurou realizar seus sonhos e neles, nossa pequena cidade era o seu ideal de concretizações.

Líder da campanha de Pró-emancipação do município, tornando-a uma jornada cívica, obteve o apoio das Câmaras de Conselheiro Lafaiete, Ouro Preto e da maioria dos cidadãos ourobranquenses. Foi também responsável pela autoria da letra do hino a Ouro Branco. José Bernardino teve como parceiro o maestro Miguel Vieira Sobrinho.

A partir de 1975, o Sr. José Bernadino iniciou contatos e parcerias para fundamentar a vinda da siderúrgica para Ouro Branco. Começou conseguindo 78

apoio de diversas autoridades municipais, estaduais e federais, com a participação dos municípios vizinhos.

Em 1976, o governador Aureliano Chaves, baseado em estudos feitos pelo Sr. José Bernardino sobre o potencial da região e da prosperidade do aço, efetivou a escolha e concretizou a implantação da Siderúrgica Aço Minas Gerais S/A em 18 de fevereiro de 1976, com marco inaugurado pelo Presidente da República Ernesto Geisel, no alto da Serra do Ouro Branco.

José Bernardino foi também prefeito de Ouro Branco durante os anos 1959-1963.

O Sr. José Bernardino esteve a frente da emancipação política e da implantação da Siderúrgica. Mudanças que marcaram para sempre a história do nosso povo ourobranquense.

Dentre os personagens que ajudaram a tornar a nossa história mais completa, é importante citar nomes como: Silvio José Mapa e Fernando de Oliveira Silva.

Houve várias outras pessoas que anonimamente contribuíram para o nosso desenvolvimento e nossa luta.

Fiquei feliz ao ler a ata de emancipação do município e ver o nome do meu avô Onésimo Félix e tantos outros que tornaram o sonho realidade.

Onésimo Félix Foto de arquivo familiar

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Emboabas* - Em Tupi “Pássaro de Pés Emplumados”, os imigrantes usavam botas e os paulistas andavam descalços; *Data – Concessão da Coroa Portuguesa para a exploração do Ouro; *Cronologia - Tempo e suas divisões com o objetivo de distinguir a ordem de ocorrência dos fatos. A maioria das informações desse assunto podem ser encontradas em sites da Siderurgia no país e disponível para o público.

Informações sobre textos Mão-de-Luva: http://www.nitcult.com.br/odisseia.pdf

Agradecimentos Nair Félix de Souza Rodrigues (In Memoriam); José Bartolomeu Rodrigues (In Memoriam); José Costa (In Memoriam); José Bernardino dos Reis (In Memoriam); Antônio Guilherme Rodrigues(In Memoriam); Maria Sérgia de Miranda(In Memoriam); Célia Estevan de Miranda; Maria Aleixa Félix; Maria Teodora Félix de Almeida; Geraldo Félix; Valina Seixas Pinto; Maria Coelho Moreira; Elmo Alves; Wilma Leandro; Lúcia Helena Bastos; José Eustáquio Junqueira Campos; Pe. Adalberto Gonçalves Araújo Júnior; Sebastião Carvalho; Paróquia Santo Antônio, na pessoa de Catarina.

E tantos outros que ajudaram a tornar o livro real, através de informações vivenciadas ou contadas pelos pais.

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PatrocĂ­nio

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Sobre a Autora Elizabeti Felix é natural de Ouro Branco, Minas Gerais. Chegou a morar em Brasília, Distrito Federal dos 5 aos 9 anos, retornou à Ouro Branco, com seus pais, em 1978 quando iniciou a implantação da Empresa Açominas. Ela escreve desde os 14 anos de idade e publicou pela primeira vez pelo Clube Amigos das Letras, da cidade de São Paulo, e participou com o poema O viciado, em 2003, no livro Retratos de mãe, e com a crônica Cartas, na Seleta brasileira, bilíngue (Português/ Inglês): Panorama da Literatura Brasileira, da Editora Pimenta Malagueta, da Bahia, em 2016.

Além de escritora e poetisa, é formada em Economia com pós-graduação em Gestão Pública Municipal, é técnica em contabilidade, em artes manuais e pesquisadora histórica. Realizou também trabalhos na área da cultura como gerente e secretária de Cultura da cidade de Ouro Branco por mais de 13 anos.

Atualmente, é microempresária na área financeirocultural (em prestação de contas), atuando ainda com apresentação de projetos para as leis de incentivo a cultura e com realização de eventos culturais.

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Este livro ĂŠ composto em Liberation Serif e Aclonica, impresso em papel apergaminhado 75g, miolo, e capa em papel offset 240g.

Dezembro de 2017, Belo Horizonte/MG – Ler para Escrever.