Revista dos Transportes Públicos nº 125

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Revista dos Transportes Públicos - ANTP - Ano 32 - 2010 - 2º quadrimestre

Na era espetacular, a política não se faz apenas com ações e políticas públicas, mas, e principalmente, com a divulgação destes atos de forma selecionada e criteriosa a fim de atender ao personagem político. Não basta o desenvolvimento do trabalho, ele tem que ser visto, acompanhado, dramatizado para que a população – os eleitores – possam perceber e valorizar a saga do homem público em busca do ideal comum. Schwartzenberg compara o político da sociedade do espetáculo com o herói, que tem trabalhos a cumprir e supera todos os obstáculos que o caminho vai apresentando a ele no decorrer de sua jornada rumo ao cumprimento de sua tarefa. Dessa maneira, o “político herói” carrega o “fardo” de guiar a sociedade ou o grupo que representa no poder para o cumprimento de uma ação. A base da sociedade espetacular é a comunicação. Como já escrevemos, Debord (1997) salienta o papel da imagem na intermediação da comunicação espetacular. Por óbvio, a mídia ganha um papel preponderante neste sentido. Ela é responsável, como a principal mediadora das sociedades contemporâneas, por promover o espetáculo e consolidá-lo, conforme explica o francês: “O espetáculo nada mais seria do que o exagero da mídia, cuja natureza, indiscutivelmente boa, visto que serve para comunicar, pode às vezes chegar a excessos” (Debord, 1997, p. 171). O jornalismo é uma das ferramentas da mídia e, portanto, vale-se das mesmas bases “espetaculares” nos dias atuais para desempenhar seu papel. Para Arbex Jr. (2001) os veículos de comunicação foram incorporando ano a ano as características basilares da “sociedade do espetáculo” – um marco neste sentido, apresentado por diversos autores, foi a transmissão ao vivo pela CNN da Guerra do Golfo, entre os EUA e o Iraque, quando da invasão do Kwait, nos anos 1990. A cobertura “ao vivo” do conflito consagrou, definitivamente, a “espetacularização” da notícia. E, exatamente por ser espetáculo, a transmissão de imagens submeteu-se às mesmas regras que se aplicam a um show (Arbex Jr., 2001, p. 31).

Novamente, o que conta neste sentido não é o fato em si, mas prioritariamente a forma como ele será noticiado e compreendido pelo público. A lógica da comunicação jornalística, que tem como base a prestação de informação, ganha contornos de um show, com o risco de não se separar a informação do espetáculo, o real da representação do real: “ora, uma das consequências de apresentar o jornalismo como um ‘show-rnalismo’ é o enfraquecimento ou o total apagamento da fronteira entre o real e o fictício” (Arbex Jr., 2001, pag 32). Assim, a representação da realidade, divulgada pelos meios de comunicação, passa a ser também parte constituinte dessa própria realidade. 36

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