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Como se inventou a Maratona
from Lisboa Maraton 2017
by editorialmic
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“Se for a Atenas deve tentar e ver se há possibilidade de organizar uma grande corrida desde Maratona até Pnyx. Isto poderia dar enfâse ao caracter de Antiguidade... Eu pessoalmente fico com a honra de oferecer o troféu da maratona ao vencedor” esta foi a parte histórica mais importante da carta enviada por Michel Bréal no dia 15 de Setembro de 1894l. Com estas linhas começava a nascer aquela que é hoje a mais famosa corrida do calendário oficial das provas de Atletismo.
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Mas voltemos algumas meses atrás, mais precisamente à manhã de 23 de Junho de 1894, quando em Paris foi estabelecido os fundamentos dos Modernos Jogos Olímpicos. A sala teve a presença de 78 participantes em representação de 9 países e tinha a pomposa denominação de Congresso da Fundação, tendo discutindo-se, embora superficialmente, os ideais propostos pelo barão Pierre de Coubertin. Evidentemente que a maioria dos presentes eram francesas, mais precisamente 58 individuos, a maioria provenientes de áreas próximas da aristrocacia, no entanto Michel Bréal não esteve presente durante o dia dos trabalhos, tendo comparecido apenas ao banquete de encerramento e com a honra de se sentar precisamente ao lado direito de Coubertin.
Findo o jantar e já na sala de fumo, os dois conversaram sobre a necessidade de se difundir entre os participantes os tais “citius, altius, fortius” e de dar um cunho profundamente pacifista às competições na linha do que conheciam dos antigos Jogos onde, existiam alguns princípios de treguas entre eventuais beligerantes.
Pelo Prof. Mário Machado
MAS QUEM ERA BRÉAL?
Nasceu em Landau em 1832 e é hoje reconhecido como o fundador da prova de Maratona. Faleceu em 1915 e tem o seu túmulo em Paris, no cemitério de Montparnasse. Especialista em literatura grega e latina, cedo se apaixonou pelos ideais ddos Jogos da Antiguidade e nomeadamente as bases que deram corpo à legenda da batalha da Maratona e do tal mensageiro Philipedes que terá talvez falecido após anunciar a vitória das tropas cerca de 2400 anos antes.
Bréal, “devorou” tudo o que encontrou sobre a história daquele soldado e das implicações daquela batalha travado nas planícies de Maratona no longínquo ano de 492 A.C., imprecionado pela extraordinária distância que teve de percorrer (240km num dia e meio), lembrou-se que a existir uma versão moderna dos Jogos teria de haver também uma longa corrida que simbolizasse algo de magnanimo, qual “ponte” entre as origens antigas e os novos propósitos atléticos que estavam a ser arquitetados. Porém, as versões históricas consultados pelo filologo Bréal também pressupunham que, o tal soldado Philipedes, teriam corrida desde o local da batalha Maratona até Atenas, distância bem mais “acessível” de qualquer coisa como 40 km.
Segundo apurou Bréal esta corrida do mensageiro teria sido percorrida numa parte de um dia e destinou-se a avisar as tropas da cidade quanto a um eventual ataque por via marítima. Porém todas estas pesquisas históricas tiveram por base relatos feitos 600 anos depois dos verdadeiros acontecimentos pelo que subsistiam fortes dúvidas quanto ao que realmente se passou, principalmente no tocante ao volume de quilómetros percorridos pelo soldado.


económico conseguiu que por volta de 1890, uma equipa de arqueólogos efetuasse escavações nas imediações da planicie de Maratona, trabalhos esses que levariam à descoberta de grandes áreas com ossadas de atletas mortos na contenda para além de vários artefatos usados nessa guerra.
UMA CORRIDA LONGA NOS JOGOS MODERNOS
À medida que Pierre de Coubertin dava corpo à sua ideia de existirem Jogos Modernos, também Michel Bréal recolhia dados sobre a eventual inovação de uma longa corrida no último dia das provas que fossem escolhidas para o programa dos I Jogos Olímpicos.
Mas se o seu início teria de ser na pequena povoação de Maratona, também a meta deveria estar no estádio onde decorressem as outras comnpetições.
Mas qual a distância?
Primeiro, a história, embora com 600 anos de atraso, mencionava que teriam sido 40 km, porém também mencionavam em certas passagens 48 km. Enfim, no programa dos I Jogos e que serviu igualmente de base para convidar os vários países, foi impressa a distância de 42 km, porém no detalhado programa oficial das provas, surgido a 15 de Fevereiro de 1896, verificou-se que para o quarto e último dia haveria a dispuada de uma longa corrida de 40 km.
Curiosamente esta prova tinha em detalhe algumas regras, tais como: “a corrida da maratona disputar-se-á desde a região de Kifiassias até ao estádio de Penethenikon. A distância é de 40 km. A partida será às 13 horas e cada corredor será seguido por um juiz. O vencedor será aquele corredor que chegue em primeiro ao estádio. Qualquer atleta que perturbe os outros corredores, encurte o trajecto, ou uso transporte móvel será desqualificado”.
FANTÁSTICO ÊXITO INESPERADO
Vários foram os pressupostos para que a prova Olímpica da Maratona atingisse enorme repercurssão nos anais desportivos da época. Por um lado, a própria longa distãncia de 40 km, que fazia com que o imaginário do público pensasse em algo que roçava os impossíveis dos limites da resistência humana. A par disto o detalhe de ter sido um grego o primeiro a entrar no estádio, qual “revanche” após quatro dias de provas onde os desportistas gregos nada haviam conquistado apesar de poucos países terem efectivamente participado. E claro a associação histórica da prova com os princípios modernos dos Jogos.
Não é de admirar portanto que Demetrius Vikelas, Presidente do Comité Olímpico Internacional, na época, tenha enviado um telegrama a Michel Bréal relatando o sucesso da corrida da maratona e de ter sido o grego Spiridon declarado o vencedor”.
Em certa medida, o êxito público da corrida da maratona, terá ofuscado, nas primeiras edições dos Jogos, os feitos atléticos obtidos pelos atletas em outras provas. Na época e em certos países, nomeadamente em Portugal, até aos anos 70 do século passado, alinhar num competição com tão grande distância, era considerado uma enormidade chegando ao ponto de muitos dirigentes e trainadores famosos considerarem a Maratona uma prova desumana e um algo de quase não Atletismo. Coubertin, também, se mostrou relutando em dar grande relevo a este tipo de competição, embora no seu livro de memórias “The Founding of IOC in 1894” tenha dedicado destaque ao contributo dado por Michel Bréal para que os Jogos Olímpicos Modernos tivessem implantação internacional a vários níveis. Aliás considerou este filologo como conselheiro do IOC entre 1894-1909.
Aliás o estilo do barão Coubertin sempre se pautou por demonstrar que era ele a alma dos jogos e os outros pares simples colaboradores...
O DIA DA MARATONA...
O DIA DE UM DESCONHECIDO DE NOME SPIRIDON
10 de Abril de 896 aí estão os corajosos corredores prontos para afrontar a enorme distância de 40 km. Para já não houve registo exato de quantos terão efectivamente partido... terão sido 18, 19 ou 25?
Pouco importa, mas o que ficou registado é que antes do tiro de largada celebrou-se uma cerimónia religiosa facultada por um padre e num ambiente de silêncio profundo por parte dos presentes, bem ao estilo de um grupo que ia, de certa maneira, enfrentar o desconhecido dos limites humanos. Hoje em dia, certos especialistas em jornalismo histórico desportivo, dizem até que houve atletas que estavam prontos para partir e que depois desta cerimónia, de Às 14 horas precisas o pequeno pelotão partiu em plena canicula grega, não se vislumbrando que teriam tarefa fácil ao percorrerem tantos e tantos quilómetros.
Para o publico grego era a própria honra do país que estava em jogo pois nenhum atleta grego tinha ganho qualquer medalha de ouro nas várias provas consideradas do programa Olímpico. A última do programa, a Maratona, era mesmo a derradeira possibilidade de verem um grego como vencedor.
A história, ou parte dela, já muitos a sabem, Spiridon Louis seria o primeiro a entrar no estádio (2:58,50 – média de 13,420 km/h) e o seu colega Vasilakos o segundo uns 8 minutos depois, enquanto que o hungaro Gyula Kellner o terceira 9 minutos mais tarde. Terminaram 9 corredores mas houve desclassificações pois alguns atletas terão entrado em viaturas para sairem uns quilómetros mais à frente. Enfim nem tudo foi muito claro mas o mais importante é que um grego tinha sido o vencedor!
O fundamental estava conseguido a Maratona tinha entrado como uma prova legenda no programa Olímpico de competições, não obstante haver altos dirigentes do comité que nunca virão com “bons olhos” a disputa de uma corrida tão longa. Bréal conseguiu tudo isto mas também teve, de certa maneira, um pouco de sorte ao ver reunida uma serie de fatores que contribuiram decisivamente para a aurea de desafio que jamais deixaria de envolver a prova da Maratona.
Bréal tinha inventado mesmo a prova da Maratona!
A TAÇA OFERECIDA POR BRÉAL
Michel Bréal, foi o ofertante de uma bonita taça de prata, a qual foi entregue ao atleta Spiridon Louis pelo próprio rei da Grécia no final da histórica corrida. O troféu ficou na posse da família até ao dia 18 de Abril de 2012 quando foi leiloado estando hoje na posse da Fundação Stavros Niarchos.
Recolha de dados tendo por base “The Founder of Marathon” de Norbert Muller; “Marathon - Grandeurs et Misséres des Marathons Olympiques” de Raymond Pointu. •••

