Antologia SUBSOLO 2023

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Título: Antologia SUBSOLO 2023 Editor: Robisson Sete Projeto Gráfico: Arlen Costa de Paula Assistente Editorial: Ian Abrahão

Conselho Editorial: Cleusa Bernardes, João Carlos Biella, Robisson Sete, Sergio Bento, Thiago Carvalho

www.editorasubsolo.com.br agenciaculturalsubsolo@gmail.com

Os conteúdos podem ser reproduzidos desde que citem a autoria e a fonte. Contato agenciaculturalsubsolo@gmail.com

Antologia SUBSOLO 2023 06

PARAÍSO Airton da Cunha Ribeiro 08

alfa-latrotoxina álvaro guimarães cardoso 11

Monstros André Luis Lindquist Figueredo 12

Tesãozinho Banzi

Chapeuzinho Cinza Caio Siqueira 15

Machado, Clarice e Drummond Cassio Moises de Castro 18

A cidade ácida Chico de Assis 19

A Lira clarck duque 21

Controle 1, 2 e 3 Enza Bastos 24

Manifesto Eraldo Fabio 25

“movimento” Escobar Franelas 26

A morte cafungou no meu cangote Fabíola Benfica Marra 27

travessa / Poema I, II, III, IV, V, VI Guilherme Bessa 34

“Pot-pourri” Verde Amarelo Heliene Rosa

Memórias de juke Helil Lourenço 38

Litânia à Pandemia Ian Abrahão 40

Primeiro de Julho Ivia Annia 41

Sem título Jimmy Rus 43

Abaixa, tem bala / Meu SUPER poder Jonathan Silva Neves 49

Ela com ela! José Juca Pereira de Souza

Drigo

O sol se apagará Leila Silva Terlinchamp

Judite ou da encantação Lu Mariano

O Conceito Luana Chuq

Quatro razões para ser um urubu ou devir-urubu Lucca Barroso

ÍNDICE
13 –
36 –
50 – Picaretas Larissa
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O adeus aos cafés e ao ópio Luriel Andrade 62

rato rota ator tar(ô) tora Manuel Veronez 65

Quase que como sem lentes em face da existência volúpia Marco Aurélio Lacerda 68 – D E L Í R I O S Mário Antônio da Silva 69 – o silêncio das árvores me assusta! Mayron Engel 70 – Vulpes Michel Raoux Lemos 73

A ÚLTIMA

ENTREVISTA / CLAVE

DE SOL Miguela Rabelo 76 – o poema não pode ser fascista muryel de zoppa 78 – A busca / Escritos Nicolas H. Sttutzel 79 – Sem título Oliver Olívia 82 – Surreal Raquel Ordones 83 – Belizária Raquel Prado 90 – Da flanela às poéticas flâmulas Robson Camilo 91 – A CABEÇA DE HERZOG Robisson Sete 93 – VIDA AMOROSA Rodrigo Locura 95 – Pódio de Tolos Rodrigo Semfim 96 – Sem título Rosemário Honório de Souza 97 – JORGE, XAMÃ Silvano Santiago Dias 98 – DESAVESSO Sílvio Vinhal 99 – Um beco Wallace Azambuja 100 – Se eu tenho o Universo! Wesley Claudino

“Chega sempre a hora em que não basta apenas protestar: após a filosofia, a ação é indispensável.”

Victor Hugo - 1802 - 1885

Aqui é diferente de que tudo já visto por mim, mesmo que meus olhos digam o contrário.

Em meio ao labirinto de luzes uma sensação de pleno gozo, faz-me transcender por alguns instantes da loucura reinante do submundo que habito.

No fugaz momento teimo em dizer a mim mesmo que o “meu mundo” está se desfazendo, e que em seu lugar borrões surreais surgem como os novos arautos pós-modernos. São edificados em completa sintonia, consonâncias com a nova condição niilista da realidade.

Entre o enlace do vidro com o polietileno, corpos ditos hostis lutam para sobreviver em meio às sentenças de morte anunciadas pelos alto-falantes.

Tudo é energia neste paraíso fórmico, onde até a onírica ideia de sermos o que bem entendermos é revestido por feixes luminosos, a ponto de cegar olhares desavisados.

Neste mundo tudo é energia, mas também é movimento; veloz e incessante, sem o medo de chocar-se com o que possa cruzar a sua frente.

Eis aqui o limiar por onde perambulo!

De um lado ele, com sua pirotecnia existencial dizendo o que fazer, o que comer, quando ir dormir e ou que consumir. Do outro lado, eu, resiliente a todos estes chamarizes, enterrando-me em uma vala profunda, na esperança vã que talvez um dia possa salvar-me.

Neste arcabouço de palavras esquecidas sou impelido a escutar minha respiração ofegante, fruto incondicional desta condição, dizendo-me a não deixar ser levado pelas aparências.

Sei da existência de um distanciamento entre o ser e o nada, pois neste paraíso terreno tudo é intenso, sem ser visceral.

Poderia continuar a dialogar por horas com a minha rebelde, aquela

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PARAÍSO

pequena aranha presa na própria teia seda tão frágil e transparente temo por sua queda temo que um pequeno suspiro um cochicho sequer seria o suficiente para arrebentar suas finas linhas patéticas estruturas feitas de mentiras malfeitas e desesperadas patológicas que corroem tudo que tocam tão egoístas ó, pequena aranha de presas afiadas peçonhenta e mortífera seu veneno anticoagulante me deixa de peito aberto sangrando sem parar mas ainda sim

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como não apreciar a beleza em algo tão magnífico? ignorei minhas fobias por ti e fui enterrado no meio do nada nome e memórias manchadas com o vestígio do sabor do que um dia se derramou em minha língua com o vestígio do terror do que um dia escorreu de meus olhos com o vestígio do amor que um dia deixei florescer

ó, pequena aranha não consigo controlar meu fascínio por criaturas como você tão lindas e delicadas cruéis nas curvas certas o medo serve seu propósito mas o ignorei por paixão e agora sou carcaça

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necrosada, deixada aos abutres que fazem círculos e círculos acima círculos e círculos de ciclos e morte que destino irônico não acha ó, pequena aranha? minha adorável viúva negra. álvaro guimarães cardoso - alvaroguimaraes26@gmail.com

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sabiam eles que os lobos também se sentiam ameaçados, desnorteados pela diminuição daquilo que sempre fora amplo.

De pouco em pouco, o horizonte mudou. As árvores retorcidas e o capim seco cediam lugar a plantações intermináveis de uma única planta; comida não havia.

A criança, distraída pelo que encontrava no caminho, de súbito se deparou com um lobo. Assustou-se! O medo lhe fez tremer as pernas e tendeu recuar, mas o instinto a obrigou a entrar em modo de pedra. O lobo, que há muito a via vindo, não fez tenção de ataque. Esperou que Chapeuzinho Cinza desse conta de si e se divertiu muito com o susto que havia proporcionado.

A tensão acumulava-se no ar. O garoto, temendo ser comido, esforçava-se por vencer a paralisia que de seu corpo havia tomado conta. O lobo, se dando por satisfeito, virou as costas e seguiu seu caminho.

Não via a criança como comida, afinal, lobos-guarás não se alimentam de carne.

Caio Siqueira - caio.siqueira.bsb@gmail.com / @caio.sq

Uberlândia (MG)

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Cassio Moises de Castro - cassiomoisee@gmail.com

Chico de Assis - chicodeassis.zut@gmail.com

Uberlândia (MG)

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A Lira

No poente o céu tingia-se de vermelho

E vinha a noite, as belas noites da fazenda, onde o azul se enche de estrelas Eu pegava minha viola e tocava harmonias singelas Reuníamo-nos na cozinha para contar histórias e beber café

E nos bancos da sala assentavam-se as visitas Mas sucederam-se, lentamente, os progressos dessa doença, imperceptíveis Ocultados pela nossa ignorância e desconhecimento dessa enfermidade Agora espalha-se em grupos, o povo, pela praça em frente à igreja, e corre a notícia da moléstia pela zona rural

A doença está por toda a parte Minha vida, abalada por esse terrível acontecimento, mudou completamente Você não sabe o que é, meu rapaz, a penetração de um micróbio num organismo

A doença é causada não por ares contaminados, mas por seres vivos microscópicos Soube da nova ciência de Louis Pasteur e Robert Koch, a microbiologia? Vírus alojam-se no cérebro após uma longa viagem pelos nervos Usamos Absinto com Láudano e uma Pomada Vampiricida

Minha Lira morreu Após sofrimentos atrozes

Para tudo há remédio, menos para a morte Seu corpo trepidava, arrastava e bailava, manifestando-se os sintomas da pestífera doença

A ela, na cama, fui e fechei-lhe os olhos, posto que bem morta ela estava Mas seu óbito parece uma coisa ininteligível para mim

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Ela deve estar apenas ausente Sem dúvida nos veremos de novo algum dia

clarck duque - duque.clarck@gmail.com

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“movimento” no tabuleiro nós, oito peões os cavalos, um bispo e uma torre do outro lado a dama, bispos, torres cavalos e oito peões atrás, os reis incitam Escobar Franelas - efranelas@yahoo.com.br São Paulo (SP)

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travessa

Ando. E vou à expectativa: no desafio e na decepção. Tudo é um pouco menos do que esperava e bem mais do que acredito ser capaz de suportar. Farejo e sou essa contradição no olhar triste, na atitude reservada e na esquiva em comunicar. Mais ali na frente tem uma travessa... A ínfima constatação já trás fagulha de interesse. Entro. E o silêncio é mais quieto e a noite é mais noite. todos dormem? Meus pés ressoam escandalosos; arrebentam no silêncio, ritmo dos passos. Constrangido, me esforço para tirar o peso dos pés, mas o peso não está nos pés. Mais devagar. Temo que alguém abra a janela e interpele “quem é você?” Como se responde algo assim? Um intruso? Só balanço o crânio mais uma vez e sempre constrangido, assumindo, resumido. Por isso, caminho com um medo: a interpelação. Continuo em automático, olho janelas, o mundo feito de janelas, temendo a abertura e que de lá saiam olhos mais loucos que os meus, mas vermelhos que os meus, mais demônios que os meus. Aí eu entendo, ali é o demônio, ou eu mesmo vindo dum futuro, depois de castigado. Não há curva na travessa, ele vai virar, me ver, eu me virando, vir-mim. Ser eu e a travessa... Mas o demônio não me acusa de covarde, porque eu caminho e já quase vejo o fim: é um portão amarelo mostarda: um devaneio o fechou, não há por onde “atravessar”. A travessa era um beco, uma armadilha, um confronto, aquilo que busco com a mão. O beco, o beco, o beco. Atravessando-me vem revolta e terror, girar os calcanhares e vislumbrar eu no passado, ainda imaculado sorrindo em busca de travessia. Viro e sinto o fungar de um senhor, sem cabelo, olhos são locas negras, boca é um rasco na cara. O nariz é deformado assim como as orelhas; faltam-lhe cartilagens. Ele bafora na minha cara e sorri irônico “viu, pode ir agora”. Ando, saí do beco, mas nunca da travessa.

Poema I Pássaros cantam lá fora, É o meu clichê.

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Abro todas as portas para que seu sorriso entre, meu clichê.

Tomo um chá dos seus cabelos, vivo mil anos celebrando meu clichê.

Há algo no mundo que não signifique, O meu clichê?

Você, sereia

É meu clichê.

Neste momento não vejo rosto de outras Nem em foto. Olho-as, não as vejo.

Por deus, todas pessoas do mundo morreram.

E minha obsessão é poder e morte, como se bebesse gasolina.

A loucura demasiada é apenas o suficiente, falando com franqueza. De longe é admirável... mas na carne é

O apartamento sem vida, sem nada, sem eu. E então o clichê, o cabelo, o corpo imperfeito entra e piora a impressão futura do apartamento.

Falar de você, Pensar em você

Este poema É clichê, Clichê.

Mas por um segundo, me deixe mergulhar na impressão De ser reflexo da sua loucura, Crendo isso ser eu, Crendo sou eu,

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E por isso, eu, como Belial Farei tudo ruir.

Não por ódio, mas por natureza. Pela solidão, uma de minhas esposas, querida. Talvez você responda a este poema, agora ou no futuro, com um grande Fodase.

E estará muito bem dito.

Poema III

Quem eu devo matar para que as coisas sejam vivas? Medo, Futuro, Pensamento, Passado, História, Silêncio, Dúvida, Certeza, Inocência, Experiência, Sabedoria, Crítica, Outros, Parentes, Tempo, Compromissos, Responsabilidade, Filhos, Fatos, Ciúme, Ausência, Presença, Desequilíbrio, Equilíbrio, O mundo inteiro.

Existimos depois da morte de tudo isso? É que o Calvino faz naquele livro de muitos livros.

Mas sem resposta: há algo depois do nada?

Com tudo que existe é possível existir algo? Sobreviver algo?

Não digo de metafísica, Digo daquele fim de semana.

Que existe, existiu, está aqui, no cheiro deste travesseiro, Mas que aos poucos está sendo engolido por tudo que há, que existe, que tem que haver, que haverá porque é inevitável haver e que se esgota levando consigo tudo, a impressão de tudo, mudando a impressão de tudo.

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O tempo e vida, quando passam, mudam. A gente aprende a tirar proveito. Porém, antes disso e até lá, temo o que pode acontecer com este fim de semana

Do qual me afasto Horas, dias, meses, lembranças, anos, fatos, mudanças. Lá se foi o fim de semana.

Foi o paraíso E o que precisa deixar de acontecer para que coisas assim permaneçam?

Poema IV Minha língua passa na sua pele

E seus pelinhos levantam, raspam na língua e cedem a ela. Você gosta disso, sorriso discreto. Minha vontade, agora, varia entre: acarinhá-la como quem toca um animal que dorme, Um bebê, uma coisa bonita. Comê-la. Arregaçar suas pernas como se fosse parti-la no meio. Agarrar seu maxilar e controlá-la como uma marionete.

E devorar você, beber seu sangue, comer sua carne, digerir seu pensamento Inseri-la dentro de mim num parto invertido. segurá-la pelos seus pés para beijar seu calos, cheirar seus suores. Beber tudo que você jogar em mim.

E ficar aqui parado olhando ver acontecer

O tempo e você.

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Poema V

O sorriso de um velho que se perdoou.

Uma criança abraçando a mãe.

Matar saudade. A preguiça.

O alívio da dor. Essas paisagens, todas elas juntas, numa visão única do mundo. A lua. São coisas que se comparam a você no seu vestido, naquela tarde, naquele Sol. Poema VI

Espero, sem ter medo, sua visita.

Espero, tesudo, que você venha logo.

Espero no silêncio que você fale Que você prossiga.

Espero que deixe algo por aqui, quem sabe uns cabelos... Cheiros, sons, impressões.

Por favor, raspe seu pé sujo na parede, mije, sua bêbada, no canto da sala.

Espero seus amantes também, Que achem a cama confortável, se gabam por me enganarem e humilharem.

Espero seus esquecimentos e suas dúvidas.

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Espero os gritos de não saber nada e as simulações.

Espero me afogar. Que comece logo, mas que demore muito.

Enquanto isso bebo algo, sua saliva mesmo.

Quem sabe ela me afogue, me corroa. Espero por isso.

Espero por um sorriso também. Você amanhece encabulada.

Espero que me diga para parar.

Espero que você saiba que eu não vou. Guilherme Bessa - gbessfp@gmail.com

Uberlândia (MG)

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“Pot-pourri”

Verde Amarelo

No cenário verde-amarelo Bananinhas e desinformados Vociferam sem temer Eles nem imaginam Que o amor irá vencer Rejeitados nas urnas Inconformados se amotinam Fecham rodovias Acampam em quartéis Não aceitam a derrota Devastação civilizatória Sequelas emocionais Da manipulação do poder Mas atenção...

É preciso ter cuidado Eles ainda se insurgem Contra a racionalidade E o sistema também mata

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Quando deveria proteger

Ninguém sabe ao certo

Quando vai amanhecer.

É tempo de resgatar

nossa bandeira

Acabar com a bandalheira

Reescrever a história

Colocar ordem na casa

E apagar da memória O legado da escória!

Dos assassinos no poder!

Heliene Rosa - hrosadacosta@gmail.com Uberlândia (MG)

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Litânia à Pandemia

Ó Pandemia, que tanto me resguardou! aos prantos de tantos lutos que se estancou a melancolia numa cicatriz vil, mácula de sangue outrora servil;

Ó Pandemia, que tanto me resguardou! na loucura carcerária que bem espancou, ou no risco que faz desenhos lúgubres de verdades cindidas e púberes;

Ó Pandemia, que tanto me resguardou! dos compossíveis meigos que me mal largou em esquecidos desejos transmutáveis – amores então tornados permutáveis.

Ó Pandemia, que tanto me resguardou! levou-me à luta que em instantes me salvou junto à multidão pulsante, nervura junto a um bálsamo de tão bela sutura;

Ó Pandemia, que tanto me resguardou! do caos que é a liberdade que doou ao outrora faminto, atualizado, que faz agora do mundo mutilado;

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Ó Pandemia, que tanto me resguardou!

Protesto

Ó Pandemia, mal odioso; pudemos de ti tirar o gozo. Que ante a morte deliberada por aqueles que só acumulam pela vala comum, proletária, possamos (enquanto nos insultam) lutar com a força necromante para honrar por mais de um instante.

Ian Abrahão - ianl6ve@gmail.com Uberlândia (MG)

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Jimmy Rus - jimmyrus13@yahoo.com.br

Uberlândia (MG)

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Meu SUPER poder

Talvez seja a SUPER invisibilidade não, meu SUPER poder é a SUPER escrita, meu SUPER poder é a SUPER curiosidade meu SUPER poder é a SUPER amizade são as SUPER palavras de um SUPER poeta o meu SUPER amar esse me ferra. SUPER amar, mano que poder horrível é o SUPER apego de um mundo inventivo cuidado SUPER garoto vai abrir um SUPER vazio já disseram pra mim que eu pareço um ursinho atencioso, fofo, calmo e bonzinho não queria ser isso é meu SUPER poder amar esse tanto você

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me apegar feito praga em uma pessoa que nem se quer diz palavras uma SUPER vida lotada de SUPER despedidas e SUPER piadas. SUPERar também é super e acho que isso eu tenho para uma SUPER superação precisei de um SUPER empenho queria outro SUPER poder talvez um SUPER gênio ou ter a SUPER cura para uma SUPER ferida uma SUPER receita para uma SUPER vida SUPERei essas barreiras mas nem tudo é SUPER ainda Queria uma SUPER força ao invés de uma mente SUPER louca o SUPER apego me prova, que não existe SUPER pessoa

SUPER, SUPER, SUPER e enfim

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queria ter um SUPERpoder de verdade, mas não funciona assim cair um conto que sou SUPER saiyajin, que nada me derruba no fim que aguento pedradas e as mesmas me fortalecem que resisto a facadas, e depois de uma jornada posso coletar as esferas encantadas e voltar bem para casa, mas vivo nesse mundo SUPER real com uma vida SUPER chata. quero meu SUPER final e para isso que venham SUPER palavras. tento ser o maior amigo ser seu apoio conciso, não sei quando será a última vez que eu vou te ver na rua que vou falar com você me arrependo amargamente, por não voltar no passado de repente e poder te dizer, o quanto eu te amei, achando que seria infinito

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Ela com ela!

Vigilante, ela cuida da atmosfera!

Também esmera ao corpo salutar…

Pigmento celeste único [a contemplar.

O olhar conversa com a emoção!

Deste coração a destampar o dia.

A transportar cores, vida e magia.

O perfil é identidade a cada self!

O sorriso, luz a musa que o conduz.

José Juca Pereira de Souza - jusejuca.ps1502@gmail.com

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Do Esteves

Do Carlos

Do Manuel

De Elizabeth, Marianne, Sylvia, Emily

Emily

Não mais

Nada

O nada

Em bilhões e bilhões de anos

Nos espera

O nada O vácuo infinito E amanhã vou comer lentilhas

Leila Silva Terlinchamp - leilast0308@gmail.com Bruxelas (Bélgica)

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Judite ou da encantação

Estou no começo do meu desespero e só vejo dois caminhos: ou viro doida ou santa. (Adélia Prado)

Na noite anterior houve raios e trovões. Agora era manhã, o céu estava nublado e caía uma chuva fina e persistente. Sábado. A cidade acordava preguiçosa, como eu, como ela também, tudo tinha um tom langoroso como se todas as coisas perturbassem o ar.

Judite coou café e ofereceu-me uma xícara, bebemos as duas como irmãs; ela estava linda a ignorar despreocupada tudo o que se passara comigo à noite. Eu a via ali. Judite. Eu agora. Ela agora. Mas o agora era um semprejá em atraso. Eu a olhava e era como se nunca houvesse olhado, seus olhos amanhecidos, seus olhos grandes como a América, o cabelo desgrenhado e revolto, os braços e pernas descobertos mostrando pele, pele, pele, pele que a rigor já me era tão familiar, eu a olhava e sentia uma ânsia indefinida e através dela era como se eu nascesse, me apossasse de uma vida inteira que pulsava em mim mais forte que eu mas que no entanto eu não soubesse minha. Oh, mon dieu. Como era fresco e perigoso nascer. Mesmo em atraso.

Judite e eu nos conhecemos na eternidade e foi por um espasmo de bondade do destino que fomos lançadas juntas sobre a Terra, e condenadas a dividir uma época. Aqui, onde as horas passam com os corpos que mudam, foi num cabaré, à meia luz, onde a encontrei pela primeira vez: ela dançava, graciosa, quando um homem no fundo da plateia lhe gritou que mostrasse o pau. Judite interrompeu a dança, desceu do palco e dirigiu-se feroz até o rapaz:

— Vou te mostrar é a cabeça de uma navalha, arrombado.

Todos riram e o homem saiu, ressabiado.

Até então era uma presença anônima, uma garota entre as outras. Dali

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em diante passei a admirá-la pela coragem. Uns dias depois um polícia chegou, chamando-a de João Pedro, e a levou, dizia que por falsidade ideológica, mas na viatura vi o rosto daquele homem e entendi tudo. Fui com ela à delegacia, mas meu relato não convenceu o delegado e ela passou a noite trancada. O delegado era gordo e careca e quando eu disse isso a ele, mandou me trancar também, algo sobre desacato. E foi assim que passei minha primeira noite com ela.

Conversamos muito. Judite gostava de revistas, boates, drag race e do Kurt Cobain. Era alta e esguia e tinha o ar inconfundível de quem havia tocado o mistério. Mas não era séria, do contrário, tinha o riso fácil, os gestos livres e soltos e seus lábios finos compunham com olhos grandes, grandes como a América. Era bonita. Sob a blusa cresciam seios.

Eu era uma mocinha. Minhas aventuras de criança vivi com Tom Sawyer; e enquanto todas as garotas estavam beijando e se apaixonando eu provava o amor sozinha, das páginas do Werther ou de alguma revista que eu comprava do elaborado tráfico de revistas pornográficas que havia no internato onde fui educada (sempre soube que não nasci para a castidade). Fiz-me inteligente, fiz-me astuta e delicada. A meu despeito, fiz-me também uma romântica. Quando eu não estava no cabaré, ensinava religião aos pequenos do ensino básico, o internato me habilitava, e também Judite, já que o cabaré lhe exigia poucas horas, ajudava em uma banca de revistas. Tornamo-nos amigas e alguns meses depois daquela noite, alugamos um apartamento no centro da cidade.

Um dia apareceu uma mulher que queria pagar por seus serviços. Judite pediu tempo. Nunca tinha estado com mulher e estava nervosa. Não é possível que a puta está nervosa com sexo, eu pensei com violência, violência cuja origem me era então misteriosa. Veio falar comigo.

—  Encantar homem eu sei muito bem. Questão de sobrevivência. Agora mulher, mulher é mais difícil.

E então, como se o tempo de súbito mudasse, algo despertou em meu peito, e naquela noite eu não dormi.

Ai de mim. Eu não entendia. Ficávamos com homens havia já um bom

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A chuva engrossou quando estávamos saindo. O apartamento estava a apenas alguns quarteirões e após alguns minutos de espera, decidimos ir correndo. Corremos. Nossos corpos molhados escorriam água e quando estávamos próximas, a água do seu espirrava no meu, e vice-versa. Gritávamos alto de o bairro todo nos ouvir. O mundo era nosso, estava aberto diante de nós ou se escondia entre os nossos cabelos, nossos cabelos de irmãs da vida, sim, o céu nublado era como a saia de uma mãe severa, nossos cabelos pretos, molhados, cheios de frizz.

Corremos um pouco mais que dois quarteirões até pararmos, descanso, sob uma árvore alta e frondosa que estendia sobre o chão um pouco de seco. A chuva lavava toda pose e todo disfarce: nós estávamos nuas. E então nos aninhamos num abraço apertado porque estava frio, e Judite saíra sem se agasalhar; usava uma regata cinza que ao contato da água tornava-se surpreendentemente transparente e deixava ver seus seios nascentes. As sacolas estavam no chão, estávamos sorrindo.

—  Judite, eu estou em silêncio porque estou encantada por você.

Ela sorriu com os olhos grandes, grandes como a América, e ficamos ali, abraçadas, as roupas encharcadas, o barulho alto da chuva forte contra os telhados.

Depois desabraçou-me e pegou todas as sacolas. Ela sempre foi mais forte que eu.

Lu Mariano - kenuilucas@gmail.com

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Conceito

Vejam, ei de contar sobre o começo de tudo.

No início era o conceito...

– Não. No início era o verbo...

– Como assim?

– Bom, na Bíblia o correto é falar “No início era o verbo”

– Mas não concordo...

– Como assim você não concorda, foi Deus que disse.

– Mas não concordo, não faz sentido. Veja bem. Como podemos realizar ações, movimentar entre o espaço e tempo, criar e fazer como um bom verbo faz sem antes saber o quê estou fazendo ou mesmo sem saber o que é o verbo. Como então poderemos conhecer o mundo dessa forma?

– Você quer saber o que é verbo, mas verbo é a palavra e que da palavra Deus criou todas as coisas.

– Tudo bem, mas como podemos primeiramente proferir a palavra sem antes conhecer que isso é isso, e aquilo é aquilo, e que logo depois se constrói a palavra?

– O que está dizendo é que você quer conhecer sobre como as coisas surgem antes da palavra?

– Sim! Como poderia conhecer o que é este vinho que bebemos e brindamos, sem antes, prová-lo e ter o gosto de vinho para saber que é um vinho?

– Mas veja bem, querer obter o conhecimento das coisas foi o grande pecado que fizeram Adão e Eva expulsos do paraíso.

– Ora, então está aí o exemplo de como é importante conhecer o conceito antes, se Adão e Eva conhecessem o conceito de pecado não o teria cometido.

– Vendo por esse lado, não me parece tão errado assim...

– Permita-me então continuar?

....

– No início era o conceito... Luana Chuq - luannachuque@hotmail.com

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Quatro razões para ser um urubu ou devir-urubu

Se um dia deus me deixasse escolher Aquilo que eu bem quisesse ser Certamente seria um Urubu (i)

Não ser visado por ninguém Viver em paz: Até os leões respeitam os urubus (ii)

Para estar sempre entre amigos Meus Iguais (iii)

Poder comer qualquer carniça De qualquer lugar Que eu sentisse a quilômetros de lonjura: Tem sempre um cadáver sobrando por aí (iv)

E voar Se algum dia eu pudesse voar... Lucca Barroso - luccafernandesbarroso@outlook.com

Uberlândia (MG)

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O adeus aos cafés e ao ópio

Essa coisa escura ressoa em mim e me causa um espanto estridente por ser tão certeira como uma navalha. Como me corrói eu ser essa coisa e essa coisa ser eu; o médico distorcido por sua própria criação em busca do eu, inacreditado ao olhar no espelho e enxergar tamanha desilusão.

Existe em mim a impossibilidade de fazer a menor das tarefas, a impossibilidade em levantar e recolher uma pilha de roupas amassadas, a impossibilidade ingênua e racional de buscar soluções básicas. Eu nunca fui bom de matemática e coisas lógicas.

É impossível viver, só basta existir no espaço com a reserva de cinquenta miligramas mensalmente prescrita e saboreada na beira da cama.

O resultado é um dia com mais de vinte e quatro horas, um corpo arrastado e uma sede voraz. Além do desejo de não-comer, não-transar, não-comunicar.

Sei que não se pode ser sério aos dezessete mas o adeus aos cafés e ao ópio é uma descoberta de um novo órgão, a descoberta do sexo, a fixação oralanal-mental, a quebra da imagem lúdica, o dissabor da materialidade.

Me agarro nas beiras da infância, como todo escritor idiota. Todos vocês que escrevem são idiotas e todos vocês que fazem arte são toscos — Eu celebro vossa existência porque assim me sinto menos só. Mergulho na profundidade e na beleza do olhar infantil que nunca mais ocupará esse corpo tão estranho e disforme. A melancolia é uma arma quente.

Sinto meus olhos queimarem quando seguro um bebê no colo porque quero acalentá-lo e quero chorar seu choro. Essa pureza tão efêmera, tão fugaz não me pertencerá jamais, afinal só conhecemos o mundo quando crianças, o resto é lembrança. Luriel Andrade - conttmalu@gmail.com

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rato rota ator tar(ô) tora

9 dez. 2022 - jogo do brasil às 12h 5 dez. 2022 - jogo do brasil às 16h van dijk, handbook of discourse analysis. a gente lê para esquecer muita leitura, poucas lembranças pasta pinho (mais barato q veja) a página em branco mais uma vez senha autentique: 17980455 sempre vou ler para esquecer nunca lembrar “o trem vei voano ah, é pertim!” o poeta é um captador de palavras o poeta é um ladrão de palavras plantar o solo para depois plantar no solo não quero sentir sentimentos alegoria da alegria alegria da alegoria a ausência de palavras

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faz existir o poema ideal/absoluto/perfeito /original /incondicional a ausência de palavras faz o poema ideal é na ausência de palavras que o poema ideal existe semi plágio inspirado: me sufoca o ser me assusta o querer ser me conforma o vir a ser mesmo sem palavras a poesia existe ácido muriático tampa de micro-ondas não existe lembrança na praia da infância 01303 táxi divinópolis cdb lci lca (investimentos) voltar dia 10 de abril de 2023 na vivo pra renovar com os descontos

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orides fontela - livros alba e teia coxinha de pernil - bar apolo - a mais famosa de araguari

epistemicídio josé trajano; joão anzanello carrascoza 136 ligar opção 8 brossa (poeta catalão) número do pedido: 895477 rima fantasma polímata olha o tanto de coisas que tenho escritas na parede para mesmo assim esquecer nutricionista lívia maria da conceição tavares

Manuel Veronez - junexblacklabel@gmail.com Divinópolis (MG)

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Quase que como sem lentes em face da existência volúpia

Quase que como existente

É que seus olhos reluziam mais que o candelabro antropófobo do templo dos profetas

Diante do vislumbre esgueirava-se o grande satélite em órbita de tua massa ígnea

E palavras como que imediatas numa experiência inumana sobrepujavam a carne incompleta

É que seus olhos reluziam de modo vistosamente excêntrico o augusto enigma da existência

E por tal fenômeno - como se em sonho lúcido, dizia-se fazer jus o romance de mil quimeras, trovejando, cada uma em seu âmago, o naufrágio apolíneo após a radiação inquieta originada de teu corpo

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Em plena epifania absorta, enfim, acordas ansioso para colapsar a si e formar perpetuamente um só com a redoma que sobre a cabeça insistes em ter

Até que em apatia à origem rompas o laço umbilical que te atormenta o espírito e alcances a descontinuidade teu próprio corpo animalidade suas retinas encarnavam-se em matilhas

É que seus olhos ficavam muito mais dintantes de acordo com a embriaguez repentina Tornavam-se unidades sortidas em sentido contrário aos vetores rasteiros Inclinações povoando a escassez de sentido que subjaz no equinócio

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Sobretudo no instante em que as mariposas pousavam voluntariamente em teu suor corpóreo

Observei que as centelhas do calor noturno castigavam teu constipado néctar em carne

Observo teus olhos diante do clarão das vinte reluzindo as luzes do grande satélite

As Reconheço a existência volúpia daquilo que me rodeia em silêncio

Daquilo agora significante Marco Aurélio Lacerda - marcoaglacerda@gmail.com

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Posso te dizer uma coisa?

– Sim...

Você é muito linda! Não me canso de te olhar!

– Vou dormir... Bons sonhos!

– Com você...nem preciso dormir...tenho coisas mais importantes pra fazer... Com certeza...quanta coisa!

– Vou indo...

Fica... deixe-me beijá-la?

– Sim...não...gostaria, mas não posso...

Mesmo que vá, estará sempre aqui! Sempre! Sempre!

– Sim...

Vou beijar-te...

– Sim... Suavemente! Eternamente!

– Sim...

Dorme, velarei teu sono!

– Sim...

Rezarei você, pelos próximos mil anos!

– Sim... Te amo!

– Te amo!

Mário Antônio da Silva - mariopapai@hotmail.com Uberlândia (MG)

68 D E L Í R I O S

o silêncio das árvores me assusta! não ouço propriamente as árvores, mas os sons que moram nela dias sem o farfalhar me deixam sem jeito meio cheio de medo se não brota do coqueiro uma maritaca parece que o tempo empaca corro os olhos para o céu nem as nuvens andam o dia continua sem esperança sei que vão dizer que o comum é ter medo de ventania para quem cresceu ouvindo Biquíni Cavadão viajando com a Dorothy dias sem vento são dias mórbidos cheios de nada vazios de tudo vento ventania me leve para onde nascem as maritacas quero puxar o bigode de Baum, quero acordar as árvores do mundo.

Mayron Engel - mayrondiscens@gmail.com Uberlândia (MG)

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consciente, ou seja, você vai me sentir realizando as técnicas no seu corpo e depois irá tentar você mesmo repetir essas técnicas.

O treino começa, é treino de Parkour, Afonso começa à dar piruetas pulando por cima dos carros no ferro velho, em seguida faz o mesmo com técnicas de Karatê, as semanas vão passando, a quadrilha vai continuando com os assaltos, a polícia começa a ter dificuldade de pegar eles, sem dinheiro para bancar uma academia, um nutricionista, nem personal trainer, Bruno com a ajuda de Afonso começa a ler livros sobre treino, alimentação e dietas na biblioteca pública da cidade, com o que Bruno achou no ferro velho ele conseguir fazer uma gambiarra no local, ele montou uma barra improvisada, parte do piso ele cobriu com papelão de caixas que ele conseguiu no seu trabalho, no papelão ele faz flexões e abdominais e agachamentos, fora que ele corria pelo local, com o passar dos meses ele foi ganhando um shape, um dia ele estava escalando uma pilha de carros, até que caiu e no que ele caiu ele conseguiu usar de rolamento para amortecer a queda,o Mentor Afonso também o ajudou a costurar seu uniforme de Super Herói.

(Mentor Afonso) Você herdará minha alcunha de Vulpes, Vulpes Vulpes é uma espécie de raposa, raposa de pelos ruivos alaranjados e brancos, eu escolhi a raposa por causa da agilidade e astúcia, a mesma agilidade e astúcia que te fiz desenvolver, horas.

1 dia depois o traje estava pronto, Afonso havia vagado como que em desdobro pela cidade procurando por crimes os quais o recém formado Vulpes pudesse combater, então Afonso descobriu uma quadrilha, que costuma assaltar os bancos, como esconderijo, Bruno escolheu uma van, na qual eles arrancaram todos os bancos, ao lado do da Van, bruno colocou uma geladeira que também encontrou no ferro velho e depois a lavou, a restaurou, é nessa geladeira que ele guarda seu traje, bem perto, ele também colocou sua barra improvisada e seus papelões, após se vestir, ele sai para combater o crime, com as informações do Mentor Afonso de que um dos membros da quadrilha morava em uma vila em um bairro pobre da cidade, ele vai até lá, ele consegue subir no portão, que era baixo e simples, do portão ele então pula para o telhado da primeira casa

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da vila, e percorre os telhados das casas adentrando cada vez mais pulando de um telhado para o outro até que ele chega na casa de um dos suspeitos, invade pela janela da sala que estava aberta, o ladrão pega sua arma e aponta mas antes que pudesse atirar o Vulpes o desarma, o imobiliza e depois de um pequeno interrogatório, ele consegue a informação, ele nocauteia o criminoso com soco no queixo e usando o telefone que tinha casa ele liga para o polícia, que sem entender nada vai até o local efetuar a prisão, no interrogatório Vulpes conseguiu a informação de que o chefe da quadrilha morava em um condomínio fechado, ele ficava coma maior parte dos lucros dos roubos e comprou uma casa de alto padrão, Vulpes consegue invadir o condomínio sem que o porteiro o visse e de novo vagando pelos telhados ele chega na casa onde a quadrilha estava reunida, discutindo sobre dar uma pausa nos assaltos para a poeira abaixar e depois retomar as atividades, vulpes invade, ele ataca todos que atiram nele com pistolas mas Vulpes desvia, e usando o Parkour, salta pela mesa da sala, pelas paredes e consegue revidar, assim derrotando toda a quadrilha, Afonso assiste seu aluno com muito orgulho.

Michel Raoux Lemos - michelraouxlemos@gmail.com

Uberlândia (MG)

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Mas sendo ele que foi e continua sendo... dói menos, pois ele de fato se materializou na estrela que já era, nos iluminando com todo seu legado que gentilmente nos presenteou... sendo assim, Jô Soares mais um dos seletos artistas imortais e atemporais da nossa história que muito enriquece nossa cultura com sua genialidade artística.

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CLAVE DE SOL

Lá no topo do céu, Ela nos indica qual caminho Deve ser nossa trilha Como uma bússola que nos orienta Em forma de estrela guia, Aquecendo e clareando Assim nosso dia.

Sinalizando que a canção A ser ouvida deve ser aquela Que palpita no íntimo Dos nossos corações, Nos ensinando que precisamos Aprender primeiro a dança Que emana do pulsar Desta singela canção.

Porém que nem sempre Consegue ser percebida Diante ao caos que habita O externo e também interno Desta casa solitária Que necessita...

Apenas de afeto pessoal E Genuíno... Mas que por ilusão, Busca reflexo no espelho convexo Que se encontra na multidão....

Miguela Rabelo - miguelarabelo@gmail.com Uberlândia (MG)

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o poema não pode ser fascista pois suas letras quando se batem dão curso ao rio o poema não pode ser fascista pois o poema espelha na íris do leitor a sua aparente falta de ritmo e de barba o poema não pode ser fascista o poema acolhe a gilete na gengiva acolhe a curvatura acolhe a cor da vírgula acolhe do ponto o final o poema não pode ser fascista

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o poema azul o poema rosa vestem noite em noite de velório o poema não pode ser fascista pois o poema teme da métrica mercantilista o engasgo da artilharia a culatra o poema não pode ser fascista pois fosse o poema poema fascista o poema adoeceria o papel muryel de zoppa - muryel.menezes@ufu.br Uberlândia (MG)

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A busca

Vivo em pedaços, Jogado ao chão. Cheguei ao fundo do poço E cavei com as mãos Minha própria cova. Garrafas pela mesa e Mais uma pílula pra engolir. Vou enganando minha tristeza, Tentando aos poucos comprimir Aquilo que aqui dentro só expande. Fumando um baseado atrás do outro, Já não sinto mais prazer.

O telefone toca, não quero atender. Pra ter que responder perguntas sobre como estou. Mas não há o que responder. Eu sou silêncio finito até a explosão. Derrame do que transborda em meu coração E escorre pelo meu rosto.

Escritos

Essa forte pressão que comprime minha nuca, sempre vem após uma rebordosa de lembranças. Noite passada me dopei de muitas delas. Memórias que me acompanham eras e eras.

Talvez até pra além dessa vida. Dizem que nossos destinos estão escritos como um roteiro. Página por página, me fiz um leitor saudosista, percorrendo os melhores momentos daquilo que me constitui.

Nicolas H. Sttutzel - nicksttutzel@gmail.com Uberlândia (MG)

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às vezes penso relembro era um útero e depois nada e eu aqui sabe depois vem muitas coisas paus partidas pedaços de mãe de deus de eu não penso abro alguma parte esse buraco isso talvez era um útero isso talvez era eu uma mãe abandonada de si mesma todos meus pelos veias que nunca cresceram um útero frágil imenso e depois nada muitas coisas cacos cigarros cirrose começo eu recomeço daqui: (ficção)

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Oliver Olívia - laguaolivia@gmail.com

Surreal

Ela tinha um livro nas mãos; em sua melhor viagem. Passaporte de imaginação e livre feito uma borboleta. Saiu porta afora das páginas fazendo baldeação de letra em letra.

Raquel Ordones - @raquelordones Uberlândia (MG)

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Belizária

Gosto de pensar nela como uma espécie de vírus para o qual ainda não se sabe a vacina. Assim, fatalista, e certa da catástrofe, tenho a esperança de saber por onde começar a me espantar. Belizária faz de mim uma desesperança, pois se houvesse o que esperar, haveriam de não a terem inventado. Apesar de tamanha onipotência (minha), um viva a Belizária e seu toque supremo de humildade.

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Após muitos nãos, bem no meio da curva, é onde a vida lhe apresenta. “Dê tempo ao tempo”, diz minha mãe. Estranho isso de dar mais da coisa à mesma coisa, mas dei e dou até hoje, o que tenho e o que não tenho. Aprendi com minha mãe a ignorar Belizária.

Ela, a grande, atravessa tudo, deixa rastros, sabe mais de mim do que eu mesma. E é esperta como Olivia. Olivia foi minha gata que morreu aos 18 anos de idade em plena saúde. Morreu por excesso de vida - belizarizou-se.

Beli, a absurda, ecoa nos pássaros diariamente. E em meus momentos de intimidade ferrenha com deus, à tarde, bem

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no finalzinho

dela, espanta-me com a crueza das dezoito horas e no quintal vizinho, na revoada dos pássaros ela me açoita, mas persiste, envergando tudo com seu podre poder.

A cegueira, o corpo alquebrado, a batida triste do carro - escancaram sua falta de pressa em acabar. Se cada coisa tem seu fim, o tempo é o fim em si mesmo? Ela se dilacera em perguntas e pensa que com esse negocio de lhe terem feito assim, trágica, deveria ter sido artista de teatro.

As dezoito e quinze os pássaros não estão mais lá: “Venho para levar passarinho embora”, percebe em riste. E assim vamos nos (des) entendendo. Ela, uma caçadora de almas generosas como um pai, um tio, uma gata, os passarinhos.

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E porque não há lei que a impeça, belizariza tudo à revelia de todo amor que houver nessa vida. O poeta lhe faz rimas –a criança a desenha e de olhos arregalados monstros brotam no papelJá os adultos lhe ornam com ouro, res pei to sa mente. E avessa a tudo, ela caçoa da inocência e dos versos quando o som do apito do último trem desce montanha

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trem montanha abaixo.

Eu não a temo, e mesmo espantada, implacável também sei ser. Aprendi com ela! Antanho, desaprendi com meu pai. Açoitado em seus braços - meu pai - lhe dava tanta confiança que mal vivia. Mas a enganava com doçura – a arma dos insaciáveis. Meu pai acreditava que felicidade era coisa do diabo ou de minha mãe por ter lhe roubado a alma. E quando Belizária o lembrou do apito do trem, levou apenas oito meses para ouvir e a abraçou.

Já, minha mãe –que materna a tudo ainda hoje –desconfio tê-la gerado. Suspeito Beli ser sua filha (e minha meio irmã), a viver perdida

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no meio de suas linhas e caminhos de mesa brancos como algodão.

Beli, uma bastarda de respeito por provocar minha vontade de viver. Coitada, diante da teimosia de minha mãe quase desaparece, mas segue. afinal, seguir é a fatalidade que lhe convém.

Quanto a mim, impressiona a altura estrondosa do apito do trem na descida da montanha e como ela consegue fazer um pai e uma mãe na cadência exata de cada vez que o apito toca.

Belizária - uma maestrina. Perder-se nela não é preciso. Belizária e os vivos são o encontro mais fatal dessa vida, e por eles os deuses tecem a montanha e o apito do trem.

Raquel do Prado Xavier - prado.ra2019@gmail.com

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Uberlândia (MG)

Da flanela às poéticas flâmulas

A sua trajetória, se deu início logo após a fecundação, enquanto outros bebês chutavam, ele tentava rabiscar na carótida uterina alguma coisa que serviria de “estive aqui” sem ao menos saber o que era, já achava que um dia voltaria.

O seu crescimento se deu início primeiro o encéfalo, depois os calos nos dedinhos por tentar “zunhar” o antiquário de livros de seu avô e quando começou a andar por incrível que parece ele começou a almejar os da prateleira de cima, não sei se pelos dedos ou de alguma forma ele conseguiu tirar o braille de todos das partes baixas...

O tempo passou e não tinha mais no seu caminho palavras que não tivesse sido ingerida por esse pequeno compulsivo, a avó logo percebeu, na falta de livros gibis, palavras cruzadas ou livrinhos de receitas, passou ela a pedir na vizinha, ela sentia que tinha que alimentar aquele pequeno devorador de grafia.

Na adolescência não só lia de tudo mas passou a escrever de tudo, de teorias absurdas sobre os planos do universos sobre a matéria viva, como 393 páginas conspiratórias que a existência divina podia se resumir no amor materno mas que pela fé se transmitia o poder da divindade para uma vó que fosse fazer esse papel, apesar de ter lido todos os filósofos negacionista, foi na psicologia e nos iluministas que se deparou com o que um dia chamaria de primeira poesia de menino negro... O poeminha se perdeu na poeira do tempo e nas limitações da memória mas o título dele se recusa ir para a sepultura do esquecimento. Muitos anos se passaram e um manuscrito desabrochava das mãos daquele rapazote Palavras Que Te Dedico e outros gratos poemas... Aquela vovó merecia essa homenagem pois sem saber assinar o próprio nome viu naquele negrinho um potencial que até os seus irmãos duvidaram... Assim como o primeiro poema de menino preto, minha vozinha faleceu, minha voz tinha acabado de dizer vou fazer um livro pra’ela... E fiz, mas o nome já não cabia mais; e o nome daquele livro se chamou, PALAVRAS Q T FALTEI devido os ouvidos dela... Que não ouviam mais pelo silêncio do descanso eterno.

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Uberlândia
(MG)

A CABEÇA DE HERZOG

O corpo torto de Anísio Teixeira, morto, no fundo do fosso do elevador.

Marighela abatido a tiros, olha o brilho escuro da luz da lua, como se fosse a última vez.

Dandara acorrentada aos pés de um senhor de escravos, seus dentes quebrados para que nunca mais sorria.

O véu de Dorothy Stang, coberto de sangue e formigas amazônicas no interior do Pará.

A cabeça de Lampião, separada do corpo, exposta na feira de Caruaru, em meio às moscas e a carne seca.

As costas lanhadas de Cláudia esfoladas pelo asfalto, sua pele arrancada atrapalhando o trânsito.

Oitenta tiros de fuzil no bairro de Guadalupe, contra um carro repleto de negros, apenas uma família.

Dandara dos Santos, morta a pauladas, carregada em um carrinho de mão para dentro do caos e do esgoto a céu aberto.

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Cento e onze homens sangrados em celas escuras e úmidas de um Brazyl Carandiru.

Quatro balas põe fim à futura Senadora da República, negra e lésbica, nas ruas do Rio de Janeiro.

Todos os indígenas mortos, todos.

A saudade, dos tantos Amarildos, que nunca passa.

E na foto, a cabeça de Herzog, penderá para sempre, à nossa direita, para que nunca esqueçamos.

Robisson Sete - robissonhotelsete@gmail.com Uberlândia (MG)

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VIDA AMOROSA

Que a vida me permita...

...continuar amando Esse sentimento que não tem forma, pois o tempo pode resignificá-lo afim de que caiba no coração suas inúmeras faces.

Que a vida me permita... ...continuar amando Os gestos simples, os cheiros, as texturas e aquilo que é incorporado, pra distanciar-me das idealizações.

Que a vida me permita...

...continuar amando Nas diferenças e diversidades, nas escolhas e trocas.

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Que a vida me permita...

...continuar amando A justiça e as lutas sociais, o todo e as singularidades, as psiques, os corpos, as vozes, seus sentidos e significados.

Que a vida me permita... ...continuar amando Porque amar sustenta as estruturas dos convívios, das dúvidas e convicções, dos caminhos e trilhas, das dores, das incertezas... ...e dos desejos de mudança.

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Rodrigo Locura - Catalão (GO)

Pódio de Tolos

O brasileiro, que não desiste nunca, senta de abadá no camarote olímpico em deleite frenesi se entrega.

Explode coração na maior felicidade a pátria verde-amarelinha acima de todos.

Sete a um nunca mais!! Brada o brazuca vaiando ao time alheio e gol. Gooooooooooooooooollllllllllllllllllllllllllllllllll

De contra, de placa e de tabela, de bicicleta na urna acerta, e a vitória é certa.

No peito áurea medalha, o colarinho-lama e pimenta nos olhos dos outros é refresco. E o “juiz” _______________ não apenas crê como tem convicção: Partido Liberal Cristão. Em nome de Deus, eu meto a mão!

Rodrigo Semfim - noisemoscada@gmail.com Uberlândia (MG)

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Rosemário Honório de Souza - rosemariohonorio@gmail.com Uberlândia
(MG)

JORGE, XAMÃ

Jorge abriu os olhos e não viu nada. Apenas, o seu espírito sentia-se embasbacado frente a matéria originária do universo. Mesmo assim, o que via não fazia parte do seu repertório cognitivo. Sua inteligência pouco ou nada pode fazer. Rapidamente, fechou os olhos e os abriu levemente. Este ritual sempre funcionava quando estava em apuros.

Mesmo não sentindo seu corpo e sua mente percebia que os batimentos cardíacos aumentaram, e nem conseguia controlar a respiração. Empacado nesse circuito, sequer sentia necessidade de explorar o espaço onde estava. De repente, o Nada o tomou, e a sua vida, por alguns instantes, foi subsumida nele.

Como um raio, surgiu subitamente uma ideia em sua mente, e ele se perguntou:

- Quem sou eu? Imediatamente deslocou sua atenção para a memória, e pôs-se a vasculhá-la, em busca de vestígios, nome, sobrenome, de rastros de si. Não encontrou sequer sinais.

Resolveu se levantar. Passou diante de um espelho suspenso, que não lhe disse nada sobre si, nem sobre ele. De novo, fechou os olhos, por alguns instantes, com as mãos sobre o rosto. Aos poucos, este xamã foi retornando do transbordamento do seu ser, do ultrapassamento da linha perceptiva em que o corpo, o nome e aquilo que constitui o seu modo de ser, fora da circulação da palavra, dos circuitos símbolos constituintes nas rodas em torno da fogueira, nos rituais moventes da água, que o insere no plano terrestre.

Em sua experiência, mesmo com os pés fincados na terra, o ser dissolvese nos elementos primordiais que nos transcendem e remetem a busca de princípios originários. Silvano Severino Dias - silvanoseverinodias|@gmail.com

Uberlândia (MG)

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DESAVESSO

Assim, sigo virando a minha pele De dentro pra fora De fora pra dentro Não há desterro, nem glória Nem feito, nem hora Para chorar o leite derramado.

Reconstruo cicatrizes

Sobre cicatrizes

E remendo as sobras Pra ver se desse nojo Vomitado e escarrado Ainda consigo Cerzir um cidadão.

Não quero pátria, Nem bandeira, Nem constituição. Quero o direito à vida, Ao respirar, ao existir Simples e honesto Papo reto: Não há pátria, nem família Não há Deus, Não há mais nada, Quando o humano deixa de existir

Sílvio Vinhal - silviovinhal@gmail.com

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Um beco

Local ermo, discreto de algum bairro; Recanto limitado por paredes; Acesso cujo um lado está fechado; Retorno obrigatório, hoje e sempre.

Na rua de três lados, sem atalhos, Um muro cinza, espesso, intransigente, Transmite a ideia de um caminho errado, De um fim da linha pra quem vai em frente.

Quantas vielas tem assim no mundo, Sem rastro ou sombra de nem um ser vivo? Banais seriam todas, sim, contudo...

No trecho sem saída, preterido, Jaz sempre um quadro enorme ali no fundo, Com musgo, pichações, cacos de vidro… Wallace Azambuja - wallacespitfire@gmail.com

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Se eu tenho o Universo!

E o Universo me têm...

O que mais eu terei ou temerei, nessa estrada que segue

Por vez alucina Noutras embriaga Alma em seus desejos Seus devires Essas vontades Tendem à insistir Devaneios Que nos tentam levar ao caos de crermos nobres nossos feitos Mas do bem feito

O bamboleio insiste Nesse ir e vir Sem cessar Ascendendo à vontade da Alma Onde um Corpo Habita! Wesley Claudino - wesleydosepoetica@outlook.com Uberlândia (MG)

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www.editorasubsolo.com.br/ agenciaculturalsubsolo@gmail.com
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