Revista Fundações Ed.93

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Ano 8 | Nº 93 | Julho de 2018

www.revistafundacoes.com.br ISSN 2178-0668 | R$ 27,00

SANTOS CONSTRÓI BARREIRA MARÍTIMA PARA RECOMPOR FAIXA DE AREIA BIENAL de Arquitetura de Veneza 2018

GEOMEMBRANAS e suas aplicações

Dunas e Restingas


Viva o Progresso.

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CONSELHO EDITORIAL São Paulo r Paulo José Rocha de Albuquerque r Roberto Kochen r Álvaro Rodrigues dos Santos r (FPSHF 5FMFT r 1BVMP $ÊTBS -PEJ r José Orlando Avesani Neto r Eraldo L. Pastore r Sussumu Niyama Minas Gerais r Sérgio C. Paraíso r Ivan Libanio Vianna r Jean Rodrigo Garcia Pernambuco r Stela Fucale Sukar Bahia r Moacyr Schwab de Souza Menezes r Luis Edmundo Prado de Campos Rio de Janeiro r Bernadete Ragoni Danziger r Paulo Henrique Vieira Dias r Mauricio Ehrlich r "MCFSUP 4BZÈP r .BSDJP 'FSOBOEFT -FÈP Distrito Federal r Gregório Luís Silva Araújo r Renato Pinto da Cunha r Carlos Medeiros Silva r Ennio Marques Palmeira Rio Grande do Sul r Miguel Augusto Zydan Sória r Marcos Strauss Rio Grande do Norte r 0TWBMEP EF 'SFJUBT /FUP r $BSJOB .BJB -JOT $PTUB r :VSJ $PTUB Espírito Santo r Uberescilas Fernandes Polido

Associações que apoiam a revista

ARTIGO 1 Fernando Luiz Lavoie fernando@roma.ind.br Marcos Fernando Leme Coelho qualidade@roma.ind.br ARTIGO 2 Felicio Geraldo de Oliveira felicio.geraldo@dnit.gov.br Eleonardo Lucas Pereira eleonardopereira@gmail.com COLUNA DO CONSELHO Mauricio Erlich me@coc.ufrj.br

EM FOCO Álvaro Rodrigues dos Santos santosalvaro@uol.com.br www.arsgeologia.com.br NOTAS Nota 1 IBI (Instituto Brasileiro de Impermeabilização) https://ibibrasil.org.br Nota 2 Editora Elsevier www.elsevier.com.br

Fundador e idealizador: Francisjones Marino Lemes (in memoriam) Coordenação editorial e marketing: Jenniffer Lemes (jenni@revistafundacoes.com.br) Publicidade: Daniele Joanoni (publicidade@revistafundacoes.com.br) Colaboradores: Gléssia Veras (Edição); Tatiana Duarte e João Paulo Monteiro (Texto); Dafne Mazaia (Redes Sociais); Rosemary Costa (Revisão); Patricia Maeda (Projeto Gráfico); Agência Bud (Diagramação/Arte); Melchiades Ramalho (Artes Especiais) Contatos Pautas: glessia@revistafundacoes.com.br Assinaturas: assinatura@revistafundacoes.com.br Publicidade: publicidade@revistafundacoes.com.br Financeiro: financeiro@revistafundacoes.com.br Foto de capa: Rogério Bomfim Impressão: Gráfica Elyon Importante r A revista Fundações & Obras Geotécnicas é uma publicação técnica mensal, distribuída em todo o território nacional e direcionada a profissionais da engenharia civil. Todos os direitos reservados à Editora Rudder. Nenhuma parte de seu conteúdo pode ser reproduzida por qualquer meio sem a devida autorização, por escrito, dos editores. r A publicação segue o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. r &TUB QVCMJDBÉÈP Ê BWBMJBEB QFMB 26"-*4 DPOKVOUP EF QSPDFEJNFOUPT VUJMJ[BEPT pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e encontra-se atualmente com classificação B4. r As seções “Coluna do Conselho”, “Artigo”, “Espaço Aberto”, “Opinião”, “Riscos Geológicos e Geotécnicos” e “Memória de Cálculo” são seções autorais, ou seja, têm o conteúdo (de texto e fotos) produzido pelos autores, que ao publicarem na revista assumem a responsabilidade sobre a veracidade do que for exposto e o devido crédito às fontes utilizadas.

NOTÍCIA Fundação Bienal de São Paulo www.bienal.org.br Álvaro Rodrigues dos Santos santosalvaro@uol.com.br www.arsgeologia.com.br IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) www.ipt.br CPRM (Serviço Geológico do Brasil) www.cprm.gov.br IG (Instituto Geológico) http://igeologico.sp.gov.br/

GEOTECNIA AMBIENTAL IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) www.ipt.br PERFIL ESPECIAL João Jerônimo Monticelli joaojeronimo@terra.com.br

Fundações e Obras Geotécnicas

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EDITORIAL NOVAS OPORTUNIDADES PARA PUBLICAÇÃO A revista Fundações & Obras Geotécnicas está com datas disponíveis para a publicação de artigos em diferentes seções no segundo semestre de 2018. Seção “Artigos” A revista publica a cada edição dois artigos técnicos com temática ligada à área de fundações e geotecnia. Os artigos não precisam necessariamente ser inéditos, mas devem passar por uma avaliação do tema a ser abordado antes da publicação. Para a inserção do material em uma edição, o autor deve primeiramente enviar o artigo para avaliação do tema e, posteriormente, a equipe da revista entrará em contato para definir uma data de entrega do material (que deve seguir rigorosamente as regras de envio), assim como informar a data em que o trabalho será divulgado. O cronograma dos artigos a serem publicados é feito de forma a contemplar a publicação de temas diferentes em uma mesma edição e também a inserção de trabalhos de autores variados em meses diferentes. Observação: estamos em busca de dois artigos com temáticas de geologia para a publicação na edição especial em novembro de 2018. Seção “Em Foco” A seção tem um viés didático, com informações detalhadas sobre alguma técnica utilizada na área, aclaradas por dois ou mais profissionais renomados e especialistas do setor. Com uma abordagem explicativa e com teor técnico, a matéria explana ao leitor a metodologia executiva da tecnologia, quando ela chegou ao Brasil, como foi sua evolução no mercado nacional, qual é a sua aplicabilidade, qual é a avaliação dela pelo setor, entre outros. A editoria tem o objetivo de orientar empresas e engenheiros que estão procurando conhecer mais sobre novos sistemas do segmento. A matéria também exibe um breve histórico (minicurrículo) da carreira profissional do especialista que discorreu sobre a técnica – com uma foto do autor. Essa mesma seção é acompanhada de várias fotos ilustrativas sobre o tema a ser tratado.

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Fundações e Obras Geotécnicas

Estão em aberto os seguintes temas para colaboração: - Portos - Hidrovias - Túneis - Aeroportos Seção “Geotecnia Ambiental” A seção “Geotecnia Ambiental” tem o intuito de trazer a cada mês algum assunto, case de obra, perspectiva na utilização de conhecimentos específicos dentro desse segmento ou novidade acerca desse importante campo de trabalho. Assim como também objetiva apresentar conceitos, métodos de análise, normas e legislação da geotecnia em obras e projetos que visem prevenção, controle ou remediação da contaminação do subsolo, das águas subterrâneas, entre outros. Os interessados em contribuir com artigos para essas seções devem enviar um e-mail para: glessia@revista fundacoes.com.br

DA REDAÇÃO

mídias sociais www.facebook.com/revistafundacoes twitter.com/fundacoes_news https://goo.gl/yTD2o1 https://goo.gl/1s5oE6 www.linkedin.com/company/editora-rudder soundcloud.com/editora-rudder issuu.com/editorarudder


08 NESTA EDIÇÃO 08

REPORTAGEM Santos constrói barreira marítima para recompor faixa de areia

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18 NOTÍCIA

EM FOCO Dunas e restingas, um imbróglio ambiental criado e alimentado por excesso de amadorismo e escassez de ciência

24 PERFIL –

AMBIENTAL Projeto do IPT mapeia pontos de acúmulo de águas pluviais

Geólogos brasileiros marcam presença na Bienal de Arquitetura de Veneza 2018 ESPECIAL GEOLOGIA João Jerônimo Monticelli

46 GEOTECNIA

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ARTIGO Geomembranas e suas principais aplicações

34 ARTIGO

Análise da aplicabilidade da classificação MCT na execução de bases de pavimentos com solos lateríticos estabilizados

SEÇÕES

06 Jogo Rápido 07 Coluna do Conselho 50 Notas

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Jogo Rápido

por Gléssia Veras

Impermeabilização Durante o 15º Simpósio Brasileiro de Impermeabilização, o engenheiro e professor Paulo Helene, atualmente conselheiro permanente do IBRACON (Instituto Brasileiro de Impermeabilização), foi responsável pela palestra sobre “A importância da impermeabilização nas estruturas de concreto”, destacando a evolução do mercado deste segmento, sobretudo da indústria química ligada a construção, com o desenvolvimento de concretos especiais. Fundamental na obra, o processo de impermeabilização evita problemas dos mais variados níveis. Manchas, bolhas e mofo são alguns contratempos que exigem uma manutenção menor. Já a infiltração e corrosão (comum em estruturas de concreto armado), demandam mais cuidado e investimento financeiro.

Concreto reciclado A I-696 é uma rodovia com oito vias, que recebe diariamente cerca de 180 mil veículos, escoando e recebendo o tráfego entre Detroit e outras regiões do estado de Michigan. No trecho urbano da cidade, a estrada tem extensão de 40 quilômetros. O pavimento de concreto que a reveste tem 40 anos, e será substituído, mas não descartado. O revestimento antigo será retirado, reciclado e servirá de agregado para o novo pavimento, também em concreto. Toda a reciclagem será feita no local da obra com máquinas que processam o concreto antigo, preparando-o para ser reutilizado na nova pista. As obras começaram em abril e devem ser concluídas em novembro de 2018. Os testes laboratoriais mostraram que o concreto reciclado permitirá que o novo pavimento dure mais de 40 anos, em função da qualidade dos agregados reciclados.

O Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada) construirá um novo campus na zona sul do Rio de Janeiro. As obras deverão começar em outubro deste ano e a previsão do término é 2021. Mais importante centro de pesquisa em matemática do Brasil e um dos mais respeitados do mundo, o Impa foi criado no início da década de 1950. Com de cerca de 250 mil m² o terreno foi uma doação da família Marinho ao Impa. A área edificada terá pouco mais de 8.000 m² e incluirá auditórios, gabinetes para pesquisadores e alunos, biblioteca, salas de aula e dormitórios. O projeto arquitetônico da expansão do Impa recebeu um prêmio pela redução do impacto da obra no entorno florestal e urbano e pela modulação

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Fundações e Obras Geotécnicas

Divulgação

Novo Impa

climática das edificações projetadas. Os custos com a construção serão financiados pelo Ministério da Educação.


Coluna do Conselho

A ENGENHARIA E SEU PAPEL TRANSFORMADOR

A

Gléssia Veras / Editora Rudder

Avançamos muito, até meados do século passado dependíamos praticamente do açúcar e do café para equilibrar a minguada balança comercial daqueles tempos. Praticamente importávamos tudo. Hoje disputamos a liderança mundial do agronegócio e temos uma indústria que atende em grande parte ao mercado interno e está presente no internacional. Tecnologia e ciências básicas são desenvolvidas por grupos brasileiros em diferentes campos do conhecimento. Somos referência na exploração de petróleo e gás em águas profundas e ultraprofundas. Um estudo do Iedi (Instituto de Estudos sobre Desenvolvimento Industrial) mostra que, em todo o século XX, o Brasil ficou em segundo lugar entre os países que mais cresceram – uma média de 4,5% ao ano, igual ao da Coreia do Sul e só superada pela de Taiwan (5%). O PIB (Produto Interno Bruto) per capita cresceu 12 vezes, de 516 reais em 1901 para 6.056 reais em 2000, em valores atualizados. No entanto, com uma população em grande parte jovem e uma vasta extensão territorial, o Brasil ainda tem muito a realizar. Nossa distribuição de renda ainda é uma das piores

do mundo. Precisamos criar oportunidades, visto que uma significativa parte da população se situa à margem do progresso, vivendo sob carências diversas. Educação e trabalho são aspectos fundamentais para um desenvolvimento social consistente, e este progresso passa por melhorias na infraestrutura. Avanços que gerarão oportunidades de trabalho e realização para muitos: portos, aeroportos, estradas, habitação, energia, um País continental com múltiplas demandas. No capitalismo e nas instituições as crises vêm e vão, a presente não é a primeira e não será a última. Nossa organização como estado ainda tem muito a ser aperfeiçoada, mas temos uma democracia consolidada e as instituições estão funcionando. Quando o País está bem a engenharia também vai bem. Quando são dadas as oportunidades, e como o passado demonstra é certo que as teremos, é grande o papel transformador da engenharia, uma profissão criadora por excelência. Profissionais e empresas brasileiras já fizeram e podem fazer muito mais pelo País. Temos recursos materiais, conhecimento e uma população com grande potencial de realização. Façamos a nossa parte.

>MAURÍCIO EHRLICH é engenheiro civil pela UFRJ (Universidade do Rio de Janeiro)(1974). Obteve os graus de mestre (1978) e doutor (1987) também pela UFRJ. Fez pós-doutorado em UC Berkeley, nos Estados Unidos (1990). É professor-titular da COPPE-UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e EE-UFRJ. Consultor e projetista em cerca de 80 projetos de assuntos envolvendo estabilidade de taludes, contenções, construção em solos moles, instrumentação, entre outros assuntos.

Fundações e Obras Geotécnicas

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Doug Fernandes

Reportagem

Intervenções urbanas ocorridas desde os anos 1940 levaram a alterações no fluxo das marés na região do Canal 6

SANTOS CONSTRÓI BARREIRA MARÍTIMA PARA RECOMPOR FAIXA DE AREIA Estrutura composta por 49 sacos de tecido geotêxtil tem finalidade de reduzir a força de incidência das ondas e criar um obstáculo propício à deposição de areia por Bruno Loturco

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Fundações e Obras Geotécnicas


Q

passou por um intenso processo de aprofundamento e alargamento, realizado pela Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo), empresa estatal paulista que administra o porto. Daquele ano até 2017 a linha de costa da praia recuou pelo menos 45 metros, conforme indica a professora e pesquisadora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Patrícia Dalsoglio Garcia. Atualmente, há um grande trecho em que a faixa de areia inexiste e o mar chega até o muro de contenção da orla. Dentre as consequências mais graves deste recuo estão os prejuízos causados pela ação da maré, especialmente durante as ressacas.

CAUSAS ASSOCIADAS De acordo com Patrícia Garcia, a equipe de pesquisa do Departamento de

Recursos Hídricos da Unicamp monitora a região desde 2014 e obteve dados anteriores a 2010 a partir da interpretação de fotos áreas feitas pelo Google Earth. “Observações de campo mostram que a nova configuração topobatimetria do canal de acesso ao Porto de Santos provocou algumas mudanças sensíveis na direção de propagação das ondas, tendo em vista os efeitos causados pela chegada das frentes de ondas em águas rasas”, explica. A constatação do engenheiro da Sedurb (Secretaria de Desenvolvimento Urbano), da Prefeitura Municipal de Santos, Ernesto Tabuchi, é semelhante. “Embora seja um processo natural, sua potencialização depende de ações humanas, como mudança climática e alterações na geomorfologia. Logo, a responsabilidade é de toda a sociedade”, acredita.

Rogério Bomfim

Quem passa atualmente pela avenida costeira na região do Canal 6, na cidade de Santos, tem uma evidência bastante clara das influências danosas que a atividade humana mal planejada pode vir a causar sobre o meio ambiente natural. No entanto, se tudo correr conforme o planejado pela atual gestão da Prefeitura de Santos, quem passar pelo mesmo local daqui a alguns meses terá motivos para rever tal constatação. Será possível ver como a boa aplicação da engenharia pode, em alguns casos, até mesmo reverter a degradação ambiental. Para entender essa afirmação precisaremos voltar à década de 1940, quando a avenida Dr. Samuel Augusto Leão de Moura, que margeia o litoral santista, ainda não havia sido construída. Àquela época, o Canal 6 contava com uma extensa e bastante larga faixa de areia. Grande o suficiente para acolher banhistas e atividades esportivas. Entretanto, após a construção da avenida, nos anos 1940, iniciou-se um processo erosivo naquele local que se intensificou com a construção do emissário, nos anos 1970. Com o advento destas obras, a areia começou a ser carregada de lá para outros pontos da praia. Isso devido à alteração na forma como as ondas do mar atingem a costa. Um dos resultados visíveis deste processo é que, dessa maneira, a faixa de areia foi ficando cada vez mais estreita. Tal problema, que já existia há mais de 60 anos, foi agravado a partir de 2010. Neste ano o canal de acesso ao Porto de Santos, localizado muito próximo da região da Ponta da Praia,

Perda paulatina de areia, o que resultou na extinção da faixa de areia original, com prejuízos urbanísticos e riscos de danos materiais e humanos

Fundações e Obras Geotécnicas

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Reportagem

Linha do tempo t A apresentação do projeto piloto por parte da Prefeitura foi feita no dia 6 de dezembro de 2017. Alguns dias depois, em audiência pública, foi feita a apresentação da proposta aos moradores da Ponta da Praia. t A instalação do canteiro de obras foi feita no dia 3 de janeiro, quando a faixa de areia entre o Canal 6 e o Aquário foi isolada. Os trabalhos foram interrompidos dez dias depois devido a uma decisão judicial motivada por ação do Ministério Público Estadual. A alegação era a não existência de licença ambiental. t Somente 24 dias depois, no dia 6 de fevereiro, as obras foram retomadas. E isso graças à emissão de um parecer técnico por parte da Cetesb, no dia 2 de fevereiro, que indicou a dispensa do licenciamento ambiental. t Assim, a instalação do primeiro dos 49 bags foi feita apenas no dia 17 de fevereiro.

Afinal, conforme lembra Tabuchi, “além da erosão há prejuízos causados na infraestrutura urbana mobilidade e patrimônio particular”. Ele remete a recentes, frequentes e violentos

episódios de ressaca do mar naquela região da costa. Um dos motivos é a falta de faixa de areia que absorveria a força das ondas e evitaria que estas chegassem à avenida. Como esta não Doug Fernandes

Questionada sobre a possibilidade de a perda de faixa de areia ser causada também, de forma associada, pela possível elevação do nível do oceano decorrente de aquecimento global, Garcia foi contundente. “Os efeitos e aquecimento global não são tão rápidos a ponto de serem observados em um período tão curto”, afirma. Sendo assim, com auxílio de modelos matemáticos e do monitoramento topobatimétrico da região a equipe constatou que a praia não está em equilíbrio. Mais do que isso, que as atividades de dragagem realizada pelo Porto de Santos aceleraram o processo erosivo. “Caso não fossem tomadas medidas imediatas, haveria riscos maiores as estruturas já existentes, tais como as edificações e as avenidas”, pontua.

Para reduzir a força de incidência das ondas na orla e evitar a perda de areia, sacos de tecido geotêxtil foram instalados a 50 cm de profundidade para que atuem como recifes artificiais

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Francisco Arrais

Os geotubos foram levados vazios até a posição definitiva, onde foram submersos e ancorados por mergulhadores. A estrutura em forma de “L” se estende por cerca de 500 m de costa Rogério Bomfim

existe mais, a água atinge diretamente e com muita força os muros da orla. Resumidamente, portanto, a perda de areia da faixa de praia na região da Ponta da Praia tem como principais agentes o transporte longitudinal costeiro no sentido do Canal 6 – da zona de arrebentação à linha de costa – e a mudança no padrão de circulação de correntes pós-dragagem de aprofundamento e alargamento do porto, a partir de 2010. Esta ação gerou correntes de recirculação que, de acordo com Garcia, tendem a arrastar os sedimentos para dentro do canal do porto na maré de vazante. Ela conta, ainda, que os muros de enrocamento que foram construídos para evitar que a água passe para a avenida causam reflexão das ondas incidentes e acabam por agravar o quadro erosivo.

SOLUÇÃO EM DESENVOLVIMENTO É consenso entre os pesquisadores e a Prefeitura de Santos que a causa do carreamento de areia da costa do Canal 6 para outros pontos da praia é a força e a intensidade com a qual os fluxos de água atingem a região costeira. Assim, enquanto este fenômeno não for evitado não há trabalho de aterramento que possa repor a perda de areia e, assim, recuperar a faixa costeira. Desta maneira, para que seja possível restabelecer pelo menos em parte a faixa de areia é preciso evitar que a água atinja a costa com intensidade. Como não há alternativas para o acesso de embarcações ao Porto de Santos, a solução passa, obrigatoriamente, pela

Feitos de tecido geotêxtil à base de poliéster, geotubos têm vida útil prevista de 15 anos. Enrocamentos de pedra fazem as vezes de dispositivos antivandalismo. A depender da durabilidade observada, podem vir a fazer parte de solução definitiva futura

mitigação dos efeitos causados pelo fluxo de água do mar direcionado pelas embarcações. Como se vê, o problema é bastante complexo, conforme afirma Garcia. “O grande problema da região de

interesse no estudo, a Ponta da Praia, é que as soluções de obras definitivas obrigatoriamente deveriam ser analisadas com uso de modelos matemáticos”, explica. Entretanto, continua a pesquisadora, a “grande complexidade Fundações e Obras Geotécnicas

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Marcelo Martins

Reportagem

A areia depositada no interior dos geotubos foi retirada do Canal 2, que é para onde as correntes marítimas estavam levando a areia do Canal 6

dos efeitos de ondas em águas rasas e a própria proximidade da embocadura do rio Cubatão faz com que os modelos não reproduzam adequadamente as condições observadas em campo”. Dado este cenário, as possíveis soluções apontadas são, inevitavelmente, apenas possibilidades a serem testadas. “Não existe uma solução definitiva, mas sim medidas mitigadoras e adaptativas que podem ser empregadas”, analisa Ernesto Tabuchi. Para ele, soluções devem ser testadas para causar o menor impacto ambiental possível. Neste sentido, conforme pontua a professora e pesquisadora da Unicamp, Patrícia Dalsoglio Garcia, “a implantação e monitoramento de projetos-piloto a serem executados 12

Fundações e Obras Geotécnicas

na região costeira constituem uma alternativa viável em curto prazo”. Além disso, ela lembra que as obras realizadas em Santos têm por objetivo também colaborar para ampliar o conhecimento sobre os impactos nas áreas adjacentes e indicar intervenções definitivas para as regiões mais afetadas, ou seja, as propostas para o Canal 6 da cidade de Santos, que visam à diminuição dos prejuízos causados quando da invasão da água do mar junto à infraestrutura urbana existente no local, servirão de modelo para outras localidades que sofram do mesmo problema. Mas, afinal, qual solução está sendo testada para recomposição da faixa de areia na Ponta da Praia em Santos?

GEOTUBOS PREENCHIDOS COM AREIA A solução piloto proposta como medida mitigatória para esta região consiste na implantação, concluída no último dia 13 de abril, de uma estrutura parcialmente submersa construída com geotubos preenchidos com areia da praia. Com custo de aproximadamente 2,9 milhões de reais, a medida tem como finalidade reduzir o custo de implantação de uma solução definitiva, conforme pontua Patrícia Garcia. “O processo de instalação já foi concluído, estamos agora na fase de monitoramento da estrutura para medir os resultados”, explica Ernesto Tabuchi.


Rogério Bomfim

E o monitoramento é imprescindível para avaliar a eficácia desde tipo de solução. De acordo com Garcia, embora as perspectivas sejam as mais otimistas, há risco de que esta solução venha a ter baixa eficácia ou até mesmo que produza impactos indesejados em regiões adjacentes. “Esta consideração se torna especialmente relevante nesta região em função de os modelos matemáticos aplicados não terem se mostrado capazes de reproduzir as condições locais”, salienta. Embora inédita no Brasil, a solução já foi adotada de maneira semelhante por países como Coreia, México, Estados Unidos e Austrália. “Há vários projetos que utilizaram geotubos em áreas costeiras degradadas que foram implantados com sucesso”, observa Garcia. De qualquer maneira, a solução encontrada visa a causar o menor impacto visual possível para não comprometer o potencial turístico da região. Além disso, a execução da instalação dos geotubos pôde ser feita

Causas possíveis apontadas para a erosão De acordo com a pesquisadora da Unicamp, Patrícia Dalsoglio Garcia, o processo erosivo que ocorre nas praias da Baía de Santos é resultado de agentes naturais e antrópicos combinados. Dentre eles, destaque para os seguintes: t Aumento do número de eventos de ressaca nos últimos 15 anos; t Construção dos canais de Drenagem Pluvial (1927); t Aterramento do tômbolo da Ilha Porchat (1946); t Implantação do emissário submarino (1978); t Alargamento da avenida da praia entre os canais 4 e 5 (pavimentada) – início da década de 80; t Atividades de dragagem e aprofundamento e alargamento do canal do Porto em 2010.

em um prazo curto. “As dimensões são reduzidas e os métodos construtivos são ágeis”, observa Garcia. As obras tiveram início em começo de janeiro e contaram com recursos disponibilizados pelo Ministério Público Estadual por meio da transferência de recursos de autuações ambientais por acidente ocorrido no Porto de Santos. Conforme salientado tanto por

Garcia quanto por Tabuchi, trata-se de um projeto-piloto. Isso significa que os efeitos desejados podem não vir a ocorrer ou que haja consequências danosas não previstas inicialmente. Por causa dessas possibilidades a concepção da estrutura previu a desinstalação dos geotubos caso esta se mostre ineficiente. “A estrutura planejada pode ser removida apenas abrindo os geotubos e os deslocando”, explica Garcia. Dessa maneira, a areia, proveniente da própria praia é liberada e sai dos geotubos. Como os geotubos contam com ganchos, uma vez que forem rasgados e guindastes os removem do mar, a areia é dispersa.

Processo de implantação da barreira de geotubos levou cerca de 45 dias. Prazo inicial era menor, mas obra foi paralisada devido a ausência de licença ambiental, que foi revogada pela CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) na sequência

Fundações e Obras Geotécnicas

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Reportagem

projeto baseando-se apenas em respostas de modelagem matemática que claramente não reproduziam as condições reais locais”, pontua a engenheira da Unicamp. Logo, não faria sentido empenhar esforços e recursos financeiros para o desenvolvimento de uma solução teoricamente mais definitiva, mas cujo desempenho não poderia ser comprovado previamente. “A ideia de monitoramento de um piloto de dimensões reduzidas

Susan Hortas

Esta solução apresenta como vantagem o relativo baixo custo e a facilidade de execução. Afinal, métodos convencionais têm dimensões muito maiores, com respectivo aumento no custo e na complexidade de execução. Isso porque as técnicas tradicionais lançam mão de concreto ou blocos de enrocamento dimensionados a partir de análises feitas em modelos físicos e matemáticos. “No caso da Ponta da Praia não era possível fazer um

Custo total da obra, incluindo materiais e mão de obra foi de cerca de 2,9 milhões de reais, com recursos oriundos de autuações feitas em decorrência de acidente ocorrido no Porto de Santos

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é inédita no Brasil, bem como o uso de geotubos para execução do molhe”, explica.

ESTRUTURA SISTÊMICA A barreira submersa que atua de maneira similar a um recife é composta por 49 sacos de tecido geotêxtil e tem formato de “L”. Os geotubos foram instalados ao longo de 500 m no Canal 6 e ficam a 50 cm de profundidade quando a maré está baixa e a até 2 m em maré cheia. Um dos


Susan Hortas

Instalação dos geotubos e respectivo preenchimento com areia foi realizado durante os meses de janeiro e abril de 2018, época em que as condições da maré são mais favoráveis aos mergulhadores

braços do “L” tem 275 m de extensão e o outro tem 240 m. Os 49 geotubos têm entre 20 m e 25 m de comprimento e 9 m a 12 m de diâmetro. Foram instalados vazios por mergulhadores especializados e preenchidos com cerca de 7 mil m³ de areia. Agora, já recheados, pesam entre 300 e 700 toneladas cada. “Devido a fatores relacionados com resistência e estabilidade foram adotados fatores de preenchimento diferentes dependendo da posição dos geotubos”, elucida Patrícia Garcia. A determinação da profundidade de instalação dos geotubos foi feita por meio de análises comparativas de eficiência em função da altura da estrutura submersa em modelo matemático, conforme pontua Garcia. Ela lembra que foi utilizado como base para definição da altura estudos realizados por pesquisadores coreanos em 2006 para elaboração e implantação de um projeto semelhante ao proposto

em Santos em uma praia na Coreia do Sul. “Aquela região apresentava as mesmas características de ondas e marés e os autores constataram que para esta condição de altura seria a mais adequada”, afirma. Assim, como os geotubos foram implantados em uma cota abaixo do zero de referência da Marinha, estes apenas serão visíveis em marés meteorológicas negativas. A expectativa é de que, com a atuação da barreira oceânica, as ondas se realinhem à costa por efeito de refração, tal como ocorria antes das dragagens de aprofundamento e alargamento do canal do Porto de Santos. Assim, as maiores ondas, ao passarem pela estrutura transversal à praia, tendem a quebrar. Com isso, é esperado que tenham sua energia dissipada. Daí, o esperado é a diminuição na perda de areia no perfil praial. Além disso, é esperado que haja acúmulo de sedimento em decorrência da diminuição da energia da onda na praia. Este, associado ao sedimento aprisionado pela parte transversal da obra, vai evitar a perda pelas correntes de maré. A expectativa é que, assim, seja formado um novo perfil de praia estável e que será, por si só, o agente natural de proteção das estruturas construías na orla. Não é possível precisar quando os efeitos positivos da obra poderão ser observados. “Como se trata de uma obra que depende essencialmente da natureza para recompor a areia no perfil de praia, não é possível prever um prazo para que os efeitos sejam visíveis”, informa Patrícia Garcia. “Nos Fundações e Obras Geotécnicas

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Reportagem

Divulgação

locais em que este tipo de tecnologia foi empregado, foi possível perceber mudanças a partir de um ano de obra implantada”, compara. Para avaliar os efeitos, a equipe da Unicamp irá monitorar constantemente o local e emitir relatórios de acompanhamento para a Prefeitura de Santos, diz ela. “O Convênio de cooperação técnico-científica firmado entre a prefeitura de Santos e a Unicamp tem prazo de cinco anos e não implicou em nenhum tipo de pagamento da municipalidade à universidade para a realização dos estudos e transmissão de conhecimentos”, salienta.

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Fundações e Obras Geotécnicas

MONITORAMENTO CONTÍNUO Para chegar a alguma conclusão sobre o desempenho dos geotubos na Ponta da Praia é preciso, conforme conta engenheiro da Sedurb, da Prefeitura Municipal de Santos, Ernesto Tabuchi, aguardar no mínimo um período inteiro de ressaca. Somente após esse tempo é que será possível ter dados concretos relacionados ao efeito sobre a sedimentação da praia. “Ou seja, ao final do ano poderemos ter algum dado comparativo”, afirma. Como ele mesmo pontua, este projeto piloto não é uma solução definitiva, mas sim um estudo que pode

servir de subsídio para uma solução de tempo indeterminado cujos custos são muito significativos. “Explicitamos ser este projeto um estudo para soluções futuras de longo prazo”, salienta. É por isso que ao longo do tempo o que se pretende é monitorar os aspectos físicos do local tais como nivelamento e circulação de água e sedimentação. “Serão feitos levantamentos de campo, especialmente dos perfis topográficos de praia e batimetria (medida da profundidade do mar) da área próxima”, diz Garcia. Além disso, medições de correntes e ondas estão em análise. “Os levantamentos


topobatimétricos terão uma frequência de dois meses ou quando eventos de ressacas ocorrerem”, conta. O primeiro teste visível aconteceu logo no primeiro dia após a conclusão da obra. Na ocasião, a maré alta provocou ondas de 2 m com ventos de 62 km/h. Mesmo sendo prematuro comemorar, as ondas não atingiram o muro da orla. O acompanhamento do desempenho da estrutura tem como foco não apenas a recuperação da faixa de areia perdida. A vida marinha da região também causa preocupação aos pesquisadores e à Prefeitura de Santos. Embora não seja escopo do trabalho desenvolvido pela equipe da Unicamp, Patrícia Garcia acredita que, provavelmente, já houve prejuízos à vida marinha local desde que os processos erosivos se intensificaram. “Contudo, há uma grande expectativa que haja retorno das condições remotas da praia e que a própria obra funcione como um abrigo natural para crustáceos, tal

como já observado em outras obras similares”, diz. Ela lembra que este tipo de material utilizado nos geotubos é inerte e vem sendo empregado em projetos de recifes artificiais. O mesmo ponto de vista é compartilhado por Tabuchi. Ele afirma não terem sido verificados impactos negativos relacionados à vida marinha. “A princípio, porém, o monitoramento do estudo justamente pretende medir se alguma interação negativa em relação à vida marinha foi provocada pela implantação dessas estruturas”, salienta.

AÇÕES FUTURAS O estado dos geotubos também será alvo de monitoramento dos envolvidos no projeto. De acordo com o fabricante do material, espera-se atingir uma vida útil superior a 15 anos. Ainda assim, o monitoramento faz-se necessário até mesmo para averiguação de ações de vandalismo embora haja estrutura de prevenção

a este tipo de ato. Há enrocamentos de pedra sobre os geotubos mais próximos a praia. “A manutenção dessas estruturas é muito baixa. Basicamente, é a verificação sobre rompimentos ou depredação do material”, pontua Tabuchi. Caso a vida útil se comprove longa, Patrícia Garcia conta que é possível considerar a incorporação da solução com geotubos à solução definitiva, porém com algum tipo de proteção mecânica com enrocamento. “Contudo ainda é prematuro fazer qualquer suposição sobre este assunto”, afirma. De qualquer maneira, a intervenção feita foi apenas para uma primeira avaliação do local a ser implantada uma solução definitiva, conforme ressalta Garcia. O trecho da obra é muito pequeno e há uma grande extensão de praia que está passando pelo processo erosivo. “As conclusões do monitoramento da obra darão subsídio para a proposta da solução definitiva”, acredita.

Resumo da obra Localização: Canal 6 – Ponta da Praia, na cidade de Santos, no litoral do Estado de São Paulo O que foi feito: instalação de barreira submersa em formato de “L” composta por geotubos para atuar como recife artificial Finalidade: reduzir a força com que as ondas e as ressacas incidem sobre a orla, evitando danos e riscos às estruturas existentes no local, como o muro de contenção e a própria avenida Metodologia: instalação de 49 geotubos com dimensões entre 20 e 25 m de comprimento e 9 a 12 m de diâmetro e cerca de 300 toneladas cada ao longo de um trecho de 500 m e a 50 cm de profundidade Resultados esperados: deposição de areia ao longo da barreira, com consequente redução na força do fluxo de água para permitir a recomposição natural e artificial – por meio de aterramentos – da faixa de areia Início da obra: 3 de janeiro de 2018 Término da obra: 13 de abril de 2018 Investimento: 2,9 milhões de reais

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Italo Rondinella / Divulgação La Biennale di Venezia

Notícia

Pavilhão Brasileiro na Bienal de Arquitetura de Veneza, que acontece de maio a novembro de 2018

Geólogos brasileiros marcam presença na Bienal de Arquitetura de Veneza 2018 Ensaio discute a importância de uma maior integração entre os profissionais das diferentes áreas que atuam no planejamento urbano por Tatiana Duarte

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O trabalho dos brasileiros se divide em várias frentes. Uma delas consiste em dez desenhos cartográficos elaborados a partir de pesquisas de uma rede de colaboradores, consultores e instituições. Outra concentra 17 trabalhos selecionados por meio de uma convocatória pública que contou com 289 projetos inscritos de mais de 60 cidades, em uma iniciativa inédita na história das representações brasileiras no evento. “Com a seleção de projetos, a curadoria pretende ilustrar uma variedade de processos que são enfrentados pelos arquitetos no momento do projeto, entre eles: transformar áreas privadas em espaços para fruição pública,

Quatro geólogos e uma arquiteta brasileiros colaboraram em um ensaio sobre a importância do bom relacionamento entre as duas áreas Italo Rondinella / Divulgação La Biennale di Venezia

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Um dos principais eventos expositivos do mundo, a Bienal de Arquitetura de Veneza chega à sua 16ª edição com o tema FREESPACE. Como já é tradição, vários países são convidados a participar e o Brasil trabalhou a proposta curatorial com o nome Muros de Ar. A curadoria do Pavilhão Brasileiro é dos arquitetos Gabriel Kozlowski, Laura González Fierro, Marcelo Maia Rosa e Sol Camacho, selecionados pela Fundação Bienal de São Paulo. Segundo eles, a mostra pretende investigar o muro como um elemento da arquitetura, da cultura e da identidade brasileira, e vê no ato de sua transposição um convite ao convívio e à multiplicidade.

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Notícia

Italo Rondinella / Divulgação La Biennale di Venezia

A aproximação de geólogos e arquitetos colabora para um maior conhecimento das características geológico-geotécnicas do terreno e a uma adequação dos projetos às suas características

conectar bairros, transpor cicatrizes construídas por grandes eixos infraestruturais, revitalizar áreas degradadas, abrir novas frentes de cidade para o mar, requalificar bairros de comunidades vulneráveis por meio da introdução de programas de moradia de qualidade, manter espaços de cultura em bairros em transformação. De diversas escalas e naturezas, os selecionados demonstram o enorme desafio que é construir e tornar realidade projetos dessa natureza no cenário brasileiro contemporâneo”, explicam os curadores. Com uma divisão em dez diferentes temas, uma série de ensaios, depoimentos e entrevistas também foi produzida para Muros de Ar. A área da Geologia foi representada no tema Paisagem Fluida: encontro dos ecossistemas natural e humano. O geólogo e consultor em engenharia,

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geotecnia e meio ambiente, Álvaro Rodrigues dos Santos foi convidado pelos curadores para desenvolver o ensaio Arquitetura, urbanismo e geologia: casamento indispensável. O conteúdo desse projeto foi desenvolvido com a participação dos geólogos Eduardo Soares de Macedo, do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), Cássio Roberto da Silva, do CPRM (Serviço Geológico do Brasil), Lídia KeikoTominaga, do IG (Instituto Geológico) vinculado à Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo e da arquiteta Cristina Boggi da Silva Rafaelli, também do IG. “Acho que tivemos a felicidade de produzir um texto enxuto, mas completo, onde estão abordados os pontos mais sensíveis e importantes do tema”, diz Santos, que também é autor de vários livros e ex-diretor de planejamento e gestão do IPT. O ensaio coloca em xeque o distanciamento que há entre arquitetura, urbanismo e geologia e suas consequências, que vão desde um excesso de intervenções no ambiente a crises de ordem geológico-geotécnica. “Acredito que há nesse problema uma questão cultural, de hábito, e que tem origem nos cursos acadêmicos de arquitetura e de geologia, ou seja, de uma forma geral as grades curriculares desses cursos não contemplam, nem em teoria nem em prática, a essencialidade de integração entre essas duas áreas do conhecimento técnico”, diz Santos. “Esse hiato entre arquitetos/urbanistas e geólogos só pode ser superado na medida em que aqueles que, nas duas profissões, percebam a importância da integração e promovam ações de


Arquivo Álvaro Rodrigues dos Santos

O ensaio lembra que, embora áreas propensas a riscos não devessem ser habitadas, a população de baixa renda infelizmente é levada a ocupar estes locais

esclarecimento e integração entre arquitetos, urbanistas e geólogos. Esse esforço acabará um dia se refletindo na própria academia”, completa. A única arquiteta do grupo que colaborou para o ensaio concorda. “No Brasil, arquitetos urbanistas e profissionais associados à gestão do território, durante sua vida acadêmica e profissional, têm muito pouco ou nenhum contato com a geologia. Um dos efeitos desse distanciamento no planejamento urbano é a falta de conhecimento acerca dos estudos sobre as características geológico-geotécnicas

do território”, diz Cristina Boggi, que é doutoranda em Planejamento e Gestão do Território na UFABC (Universidade Federal do ABC). Segundo ela, apesar dos avanços recentes da última década nestes estudos, ainda há uma grande dificuldade em sua incorporação ao planejamento urbano das cidades. “Nessa perspectiva são de grande valia os eventos integrados de geologia, arquitetura e urbanismo, com uma aproximação técnica entre as áreas. A inclusão do conteúdo de gestão de riscos nos cursos de graduação e

pós-graduação também é um ponto importante e urgente”, diz Boggi. Os riscos e problemas de ordem geológico-geotécnica são justamente questões levantadas pelo ensaio enviado à Bienal. Boa parte deles advém do distanciamentoentre o que se almeja com o projeto e o local onde se pretende realizá-lo. “Entre os arquitetos brasileiros é muito comum essa desconsideração para a virtuosidade de uma adequação dos projetos às características geológicas e geomorfológicas dos terrenos em que serão implantados. O exercício certamente Fundações e Obras Geotécnicas

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Arquivo Álvaro Rodrigues dos Santos

Notícia

Encostas de alta declividade e predisposição natural a deslizamentos jamais poderiam ser objeto de ocupação urbana

desafiante e prazeroso de ‘casar’ o projeto com essas características não é algo, infelizmente, muito comum na arquitetura brasileira. Prevalece assim o expediente de adequar o terreno ao projeto, e não o projeto ao terreno”, diz Álvaro Rodrigues dos Santos. O geólogo lembra que um dos maiores exemplos disso é a forte incidência de serviços extensos de terraplenagem no objetivo de produzir os platôs planos exigidos pelos projetos. “E isso sem a mínima preocupação com as decorrências nefastas da terraplanagem para a sociedade, como mutilação de paisagens naturais, instalação de processos erosivos com decorrente assoreamento de sistemas 22

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de drenagem, potencialização de riscos de enchentes, enormes custos privados e sociais, entre outras. Os milhões de metros cúbicos de sedimentos que são anualmente retirados de nossos rios por serviços de desassoreamento têm essa exata origem”, lembra. Lídia KeikoTominaga, que atua no IG no núcleo de Geologia e Engenharia Ambiental, lembra que “os profissionais de geologia e de arquitetura podem contribuir no estabelecimento de diretrizes para uma ocupação mais adequada por meio de participação em fóruns, conselhos e outras formas representativas voltadas à proposição de políticas públicas, como planos de desenvolvimento metropolitanos

e planos diretores municipais”. Um exemplo é o PDUI (Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado), previsto no Estatuto da Metrópole, instituído pela Lei Federal nº 13.089, de janeiro de 2015. Segundo esta lei, explica Lídia, “o PDUI deverá instituir diretrizes para a formulação de políticas e gestão públicas integradas, para o desenvolvimento sustentável e integrado dos distintos municípios, princípios para a preservação ambiental e critérios para a aprovação ou revisão dos distintos PDE (Planos Diretores Estratégicos) municipais”. Cristina Boggi acrescenta que “o novo contexto legislativo enseja uma maior aproximação da área de plane-


formação de novas áreas de risco. Os instrumentos técnicos disponíveis para isso são as cartas geotécnicas que indicam as condições do terreno frente aos processos geodinâmicos, como as cartas de suscetibilidade e de perigos geológicos, entre outras”, diz Lídia KeikoTominaga. “Outra questão a destacar é que a maior parte das áreas de risco surge devido à ocupação das APP (Áreas de Preservação Permanente). Assim, com uma ação efetiva do poder público municipal na aplicação da legislação ambiental e das normas construtivas, pode-se evitar a produção de novas áreas de risco”, explica.

A Bienal de Arquitetura de Veneza segue aberta até o final de novembro e os geólogos brasileiros vêm acompanhando a repercussão de seu trabalho por meio dos curadores. “Soubemos do grande interesse que causou entre os visitantes do Pavilhão Brasileiro essa contribuição da geologia de engenharia brasileira”, diz Álvaro Rodrigues dos Santos. “Nós do grupo participante na elaboração do ensaio e os curadores estamos empenhados em organizar um evento pós-bienal no Brasil, tendo como tema as relações entre a arquitetura, o urbanismo e a geologia”, completa.

IPT/SP Arquivo Álvaro Rodrigues dos Santos

jamento territorial com os estudos de geologia de engenharia, incluindo aqueles relacionados aos estudos de suscetibilidade, aptidão geotécnica do território para o uso e ocupação do solo e mapeamento de riscos, para que estes estudos sejam incorporados na prática do planejamento territorial e controle do uso e ocupação do solo”. O ensaio lembra duas ferramentas importantes para orientar as ações de caráter preventivo e corretivo: a Carta Geotécnica e a Carta de Riscos. “É importante salientar a necessidade de estudos geológico-geotécnicos das áreas de expansão urbana a fim de evitar a

Carta Geotécnica dos morros das cidades de Santos e São Vicente (SP), que identifica os diferentes compartimentos geológico-geotécnicos e as opções urbanísticas e construtivas para uma ocupação segura de suas áreas

Fundações e Obras Geotécnicas

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Perfil – Especial Geologia

Divulgação ABGE

JOÃO JERÔNIMO MONTICELLI Nesse texto inaugural da série de perfis de homenagem aos profissionais que construíram a trajetória da ABGE em seus 50 anos de existência, conheça um pouco da história do especialista em geologia de engenharia de projetos e de construção de obras de infraestrutura que também marcou a associação com a sua passagem pela presidência. por Gléssia Veras

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INTERESSE PELA GEOLOGIA

FORMAÇÃO ACADÊMICA

O meu interesse surgiu no ensino médio, na escola pública de Capivari (SP), decorrente de ótimos professores/as que tive. A professora de geografia, dona Margarida, me incentivou a fazer geologia na USP (Universidade de São Paulo). Os professores do ensino médio me influenciaram muito. Eu gostava muito de geografia, ciências, química e tinha facilidades em matemática e biologia. Na hora do vestibular prestei exames em agronomia e geologia e escolhi fazer geologia.

Fiz a minha graduação no Instituto de Geociências da USP, em 1971. O mestrado foi em engenharia civil – geotecnia, pela Escola de Engenharia de São Carlos, da USP, em 1984. Considero-me especialista em geologia de engenharia de projetos e de construção de obras de infraestrutura e, também, em gestão de bacias hidrográficas.

TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Iniciei a minha carreira em 1969, como aluno-assistente na Seção de


Durante o período que fui presidente da ABGE organizamos um evento em São Paulo e outro no Rio de Janeiro consolidados em uma publicação comemorativa dos 45 anos da entidade. A publicação sintetiza preocupações e propostas dos associados sobre a geologia de engenharia e a ABGE, que se mantêm atuais. Difícil sintetizar aqui a publicação. A maior preocupação foi com o nível pobre das investigações geológicas e geotécnicas e com os projetos de engenharia de obras de infraestrutura. E, ainda, com as dificuldades dos agentes públicos sentirem a importância e incorporarem os condicionantes do meio físico ao planejamento e à gestão do espaço urbano. A ABGE tem um papel muito importante sobre os dois assuntos apontados, por ser entidade madura, que detém expertise sobre temas de grande interesse ao desenvolvimento socioeconômico do País. Caberá aos novos dirigentes e associados manterem viva a imagem ética e técnica-profissional de excelência conquistada pela ABGE ao longo dos últimos 50 anos.

Geologia Aplicada da Divisão de Engenharia Civil do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). Depois de formado, fui contratado pelo IPT (1972), como geólogo de engenharia, para o acompanhamento técnico da construção da Usina de Ilha Solteira e Obras Auxiliares, uma das melhores “escolas profissionais” por onde passei. Voltando ao IPT em São Paulo (1977) coordenei o convênio CESP-IPT (Companhia Energética de São Paulo), de atendimento em geologia de engenharia aos estudos, projetos e obras de hidrelétricas desenvolvidos pela CESP. Deixei o IPT e fui trabalhar na CESP (1980), na área de planejamento, como coordenador de projetos de estudos do potencial hidrelétrico remanescente, principalmente PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas), e para estudo do aproveitamento múltiplo de recursos hídricos. Deixei a CESP em 1989 para atuar em gestão de recursos

hídricos nas Bacias dos Rios Piracicaba e Capivari, onde fiquei até 1999. Atuei como consultor em políticas e sistema de gestão de recursos hídricos nos Estados de São Paulo e Minas Gerais, principalmente, e tive uma pequena passagem como diretor-geral da AGEVAP, a Agência da Bacia do Rio Paraíba do Sul. Entre 2012 e 2013 fui presidente da ABGE (Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental).

REFERÊNCIAS NO SEGMENTO Minhas principais referências são as de poder ter trabalhado no IPT e na CESP, convivido com profissionais renomados, justamente na fase áurea da geotecnia brasileira (décadas de 1970 e 1980). Depois, no final da década de 1980 e início da década de 1990, tive a oportunidade de participar intensamente nos debates e de influenciar na criação do marco legal e institucional Fundações e Obras Geotécnicas

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arte_perfil_FINAL.pdf 1 25/07/2018 11:42:30 Perfil – Especial Geologia

de gestão dos recursos hídricos estadual (em São Paulo) e nacional.

TRABALHO COM A ABGE

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O engenheiro Murillo Dondice Ruiz, fundador e primeiro presidente da ABGE, diretor na época da Divisão de Geologia Aplicada do IPT, em um dia do ano de 1969, passou pela sala de ensaios onde eu trabalhava como assistente e me disse mais ou menos o seguinte: “você, como aluno-assistente, pode ser associado da ABGE. Você já é sócio?” Eu respondi que ainda não era, mas que iria fazer a minha inscrição. Assim, em 1969, torneime sócio da ABGE e nunca mais a

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Fundações e Obras Geotécnicas

deixei. Fui secretário de congresso, organizador de eventos, instrutor de cursos, diretor-financeiro, coordenador de publicações e presidente da ABGE nos anos 2012 e 2013. Após ser convidado pela atual diretoria da ABGE, aceitei ser em 2014, junto com o colega Antonio Manoel dos Santos Oliveira, editor do livro Geologia de Engenharia e Ambiental, uma publicação que sem dúvida será um marco no aniversário de 50 anos da ABGE. Considero o voluntariado em entidades técnico-profissionais, como a ABGE, de suma importância. Deveria fazer parte dos currículos e ser um critério de seleção de profissionais pelas empresas.

Esse perfil é parte de uma parceira entre a revista Fundações & Obras Geotécnicas e a ABGE (Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental) e compõe uma série de perfis e materiais comemorativos que serão publicados no decorrer do semestre em homenagem aos 50 anos da associação no setor.


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Ilustração de Melchiades Ramalho


Artigo

GEOMEMBRANAS E SUAS PRINCIPAIS APLICAÇÕES MSc. Fernando Luiz Lavoie, Docente no Instituto Mauá de Tecnologia – São Caetano do Sul (SP) e Gerente de Soluções na empresa Tecelagem Roma Ltda., Barueri (SP) fernando@roma.ind.br Eng° Marcos Fernando Leme Coelho, supervisor da qualidade na empresa Tecelagem Roma Ltda., Tatuí (SP) qualidade@roma.ind.br

RESUMO O presente trabalho apresenta os diferentes tipos de geomembranas encontrados no mercado nacional e internacional, além de um breve relato com relação às suas principais aplicações em obras ambientais e de infraestrutura. Em função dos diversos projetos, aplicações e exigências de solicitações mecânicas, químicas e ambientais, atualmente estão disponíveis diversos tipos de geomembranas no mercado mundial, fabricadas com diferentes polímeros e diferentes aditivos visando o aumento da performance da solução. A experiência na aplicação de geomembranas em diversos tipos de obras vem mostran28

Fundações e Obras Geotécnicas

do sua versatilidade, mas também vem mostrando seus pontos críticos. Dessa forma, atualmente têm sido propostos sistemas complementares à geomembrana, visando o aumento do desempenho das barreiras de fluxo. Palavras-chave: Geossintéticos; Geomembranas; Aplicações.

INTRODUÇÃO Praticamente todos os geossintéticos encontram aplicação em obras de proteção ambiental e, seguramente, o exemplo mais completo é o dado por sistemas de contenção de resíduos sólidos, como os aterros sanitários destinados a receber o lixo urbano (VILAR, 2003). Com o objetivo de uma maior proteção do meio ambiente, tem sido desenvolvidos sistemas de impermeabilização de aterros sanitários associando materiais sintéticos a solos naturais que procuram reduzir a percolação dos líquidos e gases provenientes do aterro, evitando que estes atinjam o solo e águas subterrâneas. Dois tipos de produtos sintéticos são utilizados com função de barreira impermeabilizante, as geomembranas e os geocompostos argilosos. As primeiras aplicações de barreiras empregavam apenas solos de baixa permeabilidade, em geral compacta-

dos. O advento das geomembranas e, mais recentemente, dos geocompostos bentoníticos, modificaram as configurações das barreiras, graças a uma série de vantagens, entre as quais se incluem o controle de qualidade de um produto manufaturado, a facilidade de instalação, a flexibilidade, a sua reduzida permeabilidade e o ganho de espaço no aterro (VILAR, 2003). Os liners de base em aterros de resíduos no Brasil têm sofrido algumas importantes alterações em sua configuração ao longo dos últimos 30 anos. Inicialmente eram concebidos apenas por uma CCL (Camada de Argila Compactada). Com o início da comercialização das mantas poliméricas no País, a configuração dos liners ganhou uma camada adicional à camada de argila compactada, conhecida como geomembrana, e, atualmente, vastamente utilizada tanto em obras ambientais quanto em obras de irrigação. Há pouco mais de dez anos foi iniciada a fabricação nacional do GCL (Geocomposto Bentonítico) que têm como função substituir a camada de argila compactada com inúmeras vantagens (LAVOIE, 2016). As geomembranas poliméricas são produzidas industrialmente, em geral, na forma de bobinas, que são levadas ao local da obra, onde se procede


ao lançamento da manta e se executam suas emendas. Alguns tipos de geomembranas podem ser soldadas na fábrica, formando grandes painéis, assim reduzindo ou eliminando os trabalhos de emenda em campo (BUENO et al., 2004).

1 TIPOS DE GEOMEMBRANAS Atualmente estão disponíveis diversos tipos de geomembranas no mercado mundial, fabricadas com diferentes materiais e diferentes aditivos visando o aumento da performance da solução em aplicações específicas. A Tabela 1 apresenta os tipos principais de geomembranas disponíveis no mercado internacional.

1.1 GEOMEMBRANAS DE POLIETILENO As geomembranas de PE (Polietileno) são cristalinas, tendo-se em vista o elevado empacotamento de suas cadeias poliméricas. Por isso, o polietileno possui alta resistência química, devido a dificuldade em ser permeado por gases, líquidos e vapores. Em especial, o PEAD (Polietileno de Alta Densidade) possui excelente resistência química, boas características mecânicas e é historicamente recomendado para aplicações mais severas em termos ambientais, como para a base de aterros de resíduos Classes 1 e 2. O PE necessita ser estabilizado para melhorar a sua resistência aos raios ultravioletas e a oxidação, com a adição de negro de fumo, antioxidantes e termoestabilizantes, que representam em torno de 2% a 3%

Tabela 1 – Tipos Principais de Geomembranas Disponíveis no Mercado Internacional Tipos Principais de Geomembranas

Pontos Fortes

PEAD (Polietileno de Alta Densidade)

#PB 3FTJTUËODJB B %JWFSTPT "HFOUFT 2VÎNJDPT

PELBD (Polietileno Linear de Baixa Densidade)

Boa Flexibilidade

PVC (Policloreto de Vinila)

Boa Trabalhabilidade

EPDM (Borracha de Propileno Etileno)

Boas Características de Resistência Mecânica

PP (Polipropileno)

Boas Características de Resistência Mecânica

CPE (Polietileno Clorado)

Bom Desempenho a Baixas Temperaturas

Borracha Butílica

Baixo Inchamento em Água

Poli (Etileno Clorossulfonado) (CSPE)

Boa resistência a bactérias

Geomembranas Compostas ou Geocompostos Impermeabilizantes

Utilizadas em Aplicações Específicas

Adaptado de Koerner, 1998

da composição da geomembrana. A necessidade de uso de pequena porção de aditivos estabilizadores do polímero confere as geomembranas de PEAD muita competitividade comercial em relação aos demais tipos de geomembranas.

1.1.1 GEOMEMBRANA DE PEAD TEXTURIZADA Em situações específicas de projeto, as interfaces entre a geomembrana e o subleito, entre a geomembrana e outro geossintético ou entre a geomembrana e um solo sobrejacente devem ser analisadas, pois podem se constituir em planos preferenciais de ruptura. Caso a interface seja considerada crítica, deve-se aumentar a resistência de interface da geomembrana com o uso do processo de texturização da manta. Como exemplo comparativo, de acordo com Sharma e Lewis (2004), o ângulo de atrito de uma geomembrana lisa de PEAD com um solo arenoso pode variar de

17° a 25°, já para a geomembrana texturizada de PEAD, para o mesmo solo, o ângulo de atrito pode variar de 30° a 40°. Percebe-se, diante da grande faixa de variação do ângulo de atrito de interface, a necessidade de ensaios específicos para a determinação confiável deste parâmetro, visando obter melhores resultados em projetos com geomembranas de PEAD texturizadas.

1.1.2 GEOMEMBRANA DE PEAD PARA ALTAS TEMPERATURAS Exposições prolongadas a líquidos com temperaturas acima de 60°C podem acelerar a degradação oxidativa e o fenômeno de stress cracking em geomembranas, especialmente nas mantas de PEAD. Geomembranas podem ser produzidas para manter as suas características mecânicas, de durabilidade e de resistência química, mesmo submetidas a temperaturas acima de 100°C, a partir de um conFundações e Obras Geotécnicas

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Artigo

junto de aditivos termoestabilizantes, antioxidantes, negro de fumo e resinas especiais na formulação do produto para esta solicitação.

1.1.3 GEOMEMBRANA DE PEAD CONDUTIVA No período pós-instalação das mantas, como parte do controle de qualidade de instalação, faz-se o ensaio de estanqueidade global, conhecido como “spark test”, no qual se percorre toda a área revestida por geomembrana em busca de furos, que são detectados por meio de uma escova metálica ligada a um fio terra, caso haja o fechamento do circuito elétrico entre a escova e a terra. Geomembranas condutivas podem ser fabricadas com a adição de um negro de fumo condutivo em um dos lados da manta, facilitando assim a execução do ensaio de estanqueidade global da área impermeabilizada.

1.1.4 GEOMEMBRANAS DE PEAD BICOLORES Com o intuito estético, podem ser fabricadas geomembranas bicolores verde e preta ou azul e preta. Também são fabricadas geomembranas nas cores branca e preta. Neste caso, a função é mais nobre, pois é possível reduzir a absorção do calor pela reflexão da energia solar (lado na cor branca) das mantas expostas as intempéries, evitando ondulações e vincos indesejáveis na manta, melhorando a sua performance e garantindo assim a longevidade do produto. Além disso, o lado na cor branca auxilia na visualização de danos na manta após a instalação. 30

Fundações e Obras Geotécnicas

1.1.5 GEOMEMBRANA DE POLIETILENO LINEAR DE BAIXA DENSIDADE Produzida com polietileno de baixa densidade linear, é menos resistente quimicamente que a geomembrana de PEAD, porém possui excelente flexibilidade, e é recomendada para situações em que o produto precisará ser mais maleável.

1.2 GEOMEMBRANA DE POLICLORETO DE VINILA Policloreto de vinila é um polímero que necessita de bastante carga de aditivos para desempenhar suas funções como geomembrana, com porcentual de 20% a 30% de aditivos, incluindo plastificantes, agentes de enchimento e aditivos anti UV. O PVC apresenta elevada resistência a químicos inorgânicos, porém é suscetível ao ataque de solventes e óleos orgânicos. Devido a carga de plastificante utilizada na formulação da geomembrana, o produto é bastante flexível, sendo recomendado para situações que necessitem de flexibilidade, como, por exemplo, na cobertura de biodigestores. Além disto, sua aplicação está bastante vinculada à boa estética de lagoas ornamentais.

1.3 GEOMEMBRANA DE BORRACHA DE PROPILENO ETILENO A geomembrana de EPDM (Borracha de Propileno Etileno) possui boas características mecânicas e é recomendada principalmente para aplicações que demandam boa estética, devido à flexibilidade da manta. A borracha

de propileno etileno é um elastômero composto principalmente de cadeias poliméricas saturadas. São necessários estabilizantes para aumentar a resistência aos raios UV e também à resistência ao rasgo e à oxidação.

1.4 GEOMEMBRANA DE POLIPROPILENO A geomembrana de PP (Polipropileno) combina flexibilidade, boa resistência a baixas temperaturas e boa resistência química. O polipropileno é um polímero termoplástico semicristalino, obtido por meio da polimerização do monômero propeno. Possui alta resistência a ácidos, a bases e a maioria dos solventes, portanto é recomendado para aplicações ambientais. Visando aumentar a resistência mecânica do produto, a geomembrana de polipropileno também pode ser fabricada com reforço em tecido de mesmo polímero, recebendo uma cobertura de polipropileno extrusado. É importante avaliar o comportamento deste tipo de geomembrana submetida a esforços em longo prazo (fenômeno de fluência).

1.5 GEOMEMBRANA DE POLIETILENO CLORADO É um produto próximo do PE. Na molécula de CPE (Polietileno Clorado), átomos de cloro são introduzidos ao longo do lado da espinha dorsal do PE, substituindo átomos de hidrogênio. Os átomos de cloro muito mais pesados tendem a perturbar a formação de qualquer cristalinidade. A quantidade de cloro que é introduzida, e a aleato-


riedade da sua fixação irá determinar a extensão em que a resina resultante será semicristalina ou amorfa. Portanto, o CPE tenderá a ser um material mais flexível do que o polietileno. A estabilidade UV e a oxidação podem ser ajustadas para a aplicação por meio de adição de estabilizadores adequados (VERTEMATTI, 2015).

elétricas) ou em canais de adução em usinas hidroelétricas também são comumente revestidos com geomembranas. Na base de biodigestores também são instaladas geomembranas, bem

como são utilizadas mantas flexíveis na cúpula deste tipo de estrutura. A Figura 1 apresenta a aplicação de uma geomembrana para um reservatório de água para irrigação em um cultivo.

1.6 GEOMEMBRANAS COMPOSTAS OU GEOCOMPOSTOS IMPERMEABILIZANTES As geomembranas compostas, ou geocompostos impermeabilizantes, podem ser constituídos por uma geomembrana unida a um geotêxtil nãotecido de alta gramatura, que tem a função de proteção da manta contra danos mecânicos. Outro tipo de geocomposto impermeabilizante pode ser produzido por um geotêxtil tecido, utilizado como elemento de reforço da manta, coberto por uma camada de geomembrana. Neste caso, não há muita experiência no mercado nacional acerca deste produto, e, quando é utilizado, destina-se exclusivamente à contenção de água.

Figura 1 – Reservatório de água para irrigação revestido por uma geomembrana

2 PRINCIPAIS APLICAÇÕES DAS GEOMEMBRANAS O uso mais comum da geomembrana é para a contenção de líquidos, e é vastamente utilizada no setor de agronegócios, seja para contenção de água para irrigação, bem como para contenção dos efluentes gerados na produção agrícola. Canais com a função de coleta de água para irrigação, bem como para a geração de energia em PCHs (Pequenas Centrais Hidro-

Figura 2 – Geomembrana em fase de instalação como elemento de barreira de fluxo em um canal de irrigação

Fundações e Obras Geotécnicas

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Artigo

Figura 3 – Geomembrana em fase de instalação como elemento de barreira de fluxo em um aterro de resíduos sólidos Classe II

A Figura 2 mostra a instalação de uma geomembrana em um canal de irrigação. As geomembranas também são utilizadas como barreiras de fluxo em bases de aterros de resíduos (Figura 3), e em bases de depósitos de rejeitos de mineração (Figura 4), como revestimento de fundo em lagoas de efluentes industriais, em lagoas para tratamento de esgoto, em lagoas para

Figura 4 – Geomembrana utilizada na base de um depósito de resíduos de mineração

tratamento de chorume e em lagoas para tratamento de água. Atualmente tem-se iniciado o uso de geomembranas na cobertura de aterros de resíduos, com bons ganhos ao sistema de cobertura final.

CONCLUSÃO A experiência na utilização da geomembrana em suas diversas aplicações vem mostrando a sua versatilidade

como material de engenharia, mas também vem mostrando seus pontos críticos. Atualmente têm sido propostos sistemas mais eficientes de proteção e complementação à geomembrana, tais como os elementos de sacrifício, que servem como proteção mecânica da manta, ou o uso combinado com o geocomposto argiloso, que complementa com alto desempenho a configuração de um liner moderno.

REFERÊNCIAS BUENO, B.S.; VILAR, O.M.; BENVENUTO, C. (2004). Aplicações em Barreiras Impermeabilizantes. Manual Brasileiro de Geossintéticos. São Paulo: Ed. Edgard Blücher. pp. 335-379. KOERNER, R.M (1998). Designing with Geosynthetics, 3rd Ed. Prentice Hall Publ. Co., Englewood Cliffs. pp. 426-469. LAVOIE, F.L. (2016). Geocomposto Bentonítico em Bases de Aterros de Resíduos: Uma Visão Otimizada dos Recursos Naturais, Revista Fundações & Obras Geotécnicas, Ano 6, n. 66, pp. 32-33. SHARMA, H.D. e LEWIS, S.P. (1994). Waste containment System, waste stabilization and landfills: design and evaluation. John Wiley & Sons, Inc., New York. VERTEMATTI, J.C. (2015). Manual Brasileiro de Geossintéticos. São Paulo: Ed. Edgard Blücher. Volume 2. VILAR, O.M. (2003). Geossintéticos em Aplicações Ambientais. IV Simpósio Brasileiro de Geossintéticos, 2003, Porto Alegre, p. 18.

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Fundações e Obras Geotécnicas



Artigo

ANÁLISE DA APLICABILIDADE DA CLASSIFICAÇÃO MCT NA EXECUÇÃO DE BASES DE PAVIMENTOS COM SOLOS LATERÍTICOS ESTABILIZADOS MSc. Felicio Geraldo de Oliveira Analista em Infraestrutura de Transportes, DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) Superintendência Regional de Minas Gerais felicio.geraldo@dnit.gov.br DSc. Eleonardo Lucas Pereira Professor do Núcleo de Geotecnia da Escola de Minas, UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) eleonardo@ufop.edu.br

RESUMO O presente trabalho avalia a aplicabilidade da classificação MCT (Miniatura Compactado Tropical) para determinação do caráter laterítico de solos granulares, utilizados na construção de bases de pavimentos. As propriedades peculiares dos solos lateríticos permitem que esses solos sejam utilizados na construção de bases, com porcentagens de finos superiores aos permitidos pelas normas tradicionais, para bases 34

Fundações e Obras Geotécnicas

estabilizadas granulometricamente. Foram montadas 14 misturas, com solos de duas jazidas de cascalho laterítico, J1 e J2, e duas jazidas de solos finos lateríticos (latossolos), E1 e E2. Todas as misturas, mais J1, J2, E1 e E2, foram classificadas segundo a metodologia MCT. Algumas foram submetidas à determinação da relação sílica-sesquióxidos para comparação. As misturas foram submetidas aos ensaios de ISC (Índice de Suporte Califórnia), para a avaliação da resistência mecânica e da expansão.

INTRODUÇÃO A norma DNIT 098/2007-ES (DNIT, 2007), criou duas faixas granulométricas, A e B, para bases estabilizadas granulometricamente, com solos de comportamento laterítico, ampliando a tolerância à presença de solos mais finos e permitindo a elevação dos limites máximos de LL (Limite de Liquidez) e IP (Índice de Plasticidade), estabelecidos pela norma DNIT-ES 141/2010, (DNIT, 2010), para bases estabilizadas granulometricamente.

Entretanto, a norma DNIT 098/2007-ES (DNIT, 2007), estabelece que a identificação do caráter laterítico deverá ser realizada através de uma análise química, a relação sílicasesquióxidos em solos, cujos procedimentos baseiam-se na manipulação de diversos produtos químicos, em laboratórios apropriados. Na prática, os engenheiros e laboratoristas dos canteiros de obras de terraplenagem e pavimentação não estão familiarizados com esta proposta, o que motivou a realização desta pesquisa, visando a utilização de um método mais acessível em campo, através da substituição da relação sílica-sesquióxidos pela classificação MCT. Palavras-chave: Classificação MCT, Solos Lateríticos, Base de Pavimentos.

1 METODOLOGIA 1.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES Todas as misturas foram submetidas aos ensaios de compactação Mini-MCV (Método de ensaio DNER-ME 258/1994) (DNER, 1994b) e de Per-


Foto 1 – Cascalho Laterítico da jazida 1 (Plintossolopétrico concrecionário latossólico)

da de Massa por Imersão (Método de ensaio DNER-ME 256/1994) (DNER, 1994a) e, posteriormente, classificadas segundo a metodologia MCT. Essas classificações foram comparadas com os resultados da relação sílica-sesquióxidos (Método de ensaio DNER-ME 030/1994) (DNER, 1994c), com o objetivo de avaliar a aplicabilidade da classificação MCT. As misturas foram submetidas também aos ensaios tradicionais de

Foto 2 – Solo laterítico da jazida E1 (horizonte B do perfil)

caracterização e aos ensaios de ISC (Índice Suporte Califórnia), para a avaliação da resistência mecânica e da expansão.

de Greenwich, compreendendo as Microrregiões Paracatu e Unaí.

1.2 COLETA DE MATERIAIS

Os materiais das jazidas J1, J2, E1 e E2 foram submetidos aos ensaios de granulometria por peneiramento e, com base no resultado desses ensaios foram montadas 14 misturas de solos, conforme as composições apresentadas na Tabela 3.1.

As amostras foram coletadas na região noroeste de Minas Gerais, entre os paralelos 14º 42’ e 18º 30’ de latitude sul e os meridianos 45º 23’ e 47º 32’ de longitude a oeste

1.2.1 MONTAGEM DAS MISTURAS

Tabela 1 – Composição e código de identificação das misturas Mistura

Materiais

Proporção

M-01 M-03 M-04 M-05 M-06 M-07 M-08 M-17 M-18 M-19 M20 M-21 M-22 M-23

Cascalho J1 solo E2 Cascalho J1 + solo E2 Casc. J1 + solo E1 Casc. J1 + solo E1 Casc. J1 + solo E1 Casc. J1 + solo E2 Casc. J1 + solo E2 Casc. J2 + solo E1+solo E2 Casc. J2 + solo E1+solo E2 Casc J2 + solo E1 Casc. J2 + solo E2 Casc. J2 + solo E2 Casc. J2 + solo E1 Casc. J2 + solo E2

80% de J1 + 20% de E2 70% de J1 + 30% de E2 70% de J1 + 30% de E1 60% de J1 + 40% de E1 50% de J1 + 50% de E1 60% de J1 + 40% de E2 50% de J1 +50% de E2 70% de J2 + 10% de E1 + 20% de E2 65% (J2 )+ 10% (E1) + 25%( E2) 60% de J2 + 40% de E1 80% de J2 + 20% de E1 65% de J2 + 35% de E1 70% de J2 + 30% de E1 70% de J2 + 30% de E2

Código 12-80/20 12-70/30 11-70/30 11-60/40 11-50/50 12-60/40 12-50/50 212-70/10/20 212-65/10/25 21-60/40 22-80/20 22-65/35 21-70/30 22-70/30

Fundações e Obras Geotécnicas

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Artigo

2 RESULTADOS E DISCUSSÕES 2.1 CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS A Tabela 2, apresenta a composição granulométrica, os limites de Atterberg, as classificações USCS (Unified Soil Classification System) e TRB (Transportation Research Board) e a faixa granulométrica na qual a mistura se enquadra.

3 IDENTIFICAÇÃO DO CARÁTER LATERÍTICO OU NÃO LATERÍTICO

Foto 3 – Curvas granulométricas das misturas

Tabela 2 – Resultados dos ensaios de caracterização das misturas Granulometria (% Passante) / Peneira

Classificação

Faixa Trad.

Faixa S. Lat.

A-2-4

N. E.

B

SC

A-2-6

N. E.

B

0

SC

A-2-4

D

B

2

0

SM

A-2-4

N. E.

N. E.

12

6

0

SC-SM

A-2-4

N. E.

N. E.

28

18

10

0

SC

A-2-4

N. E.

N. E.

15,4

29

21

8

0

SC

A-4

N. E.

N. E.

10,2

14,3

33

19

14

0

SC

A-2-6

D

B

20,6

12,0

13,2

31

22

9

0

SC

A-2-4

D

B

54,5

29,3

7,3

8,9

18

8

10

0

SC

A-2-4

D

B

2,310

64,3

15,0

8,6

12,1

38

24

14

0

SC

A-2-6

N. E.

B

26,85

2,200

53,7

18,7

15,0

12,6

31

20

11

0

SC

A-2-6

N. E.

B

95,10 71,26 40,05 33,16

15,39

2,405

58,8

26,6

6,5

8,1

19

15

4

0

SC-SM

A-1-b

D

N. E.

94,97 74,76 45,28 35,72

30,91

2,030

53,4

15,9

14,3

16,4

44

29

15

1

SM

A-2-7

N. E.

B

Mistura

d

(g/cm ) 3

no 4

Pedr. Areia Silte

LL

LP

IP

1"

3/8"

no 10 no 40

no 200

M-01

100

86,48 57,46 37,75 33,31

17,75

2,085

62,2

21,4

6,6

9,8

25

18

7

M-03

100

89,42 67,08 47,63 40,03

30,97

2,023

51,1

21,0

12,0

15,9

39

24

M-04

100

89,78 65,54 47,88 41,89

17,43

2,148

50,9

35,6

5,0

8,5

20

M-05

100

88,52 69,77 55,84 50,80

21,61

2,170

43,1

37,8

7,3

11,8

M-06

100

85,90 68,93 56,91 52,38

22,86

2,168

42,0

38,2

9,2

M-07

100

93,02 77,02 60,84 56,77

32,05

1,935

38,2

32,3

M-08

100

95,87 81,61 66,35 61,99

36,48

1,920

32,8

M-17

100

93,24 69,10 41,33 34,69

24,66

2,312

M-18

100

94,31 71,18 44,44 36,35

24,96

M-19

100

89,75 64,79 44,13 39,55

M-20

100

M-21

IG USCS

TRB

0

SC-SM

15

1

12

8

19

17

10,6

18

11,9

17,6

36,7

15,1

57,3

18,2

2,300

54,2

17,26

2,390

93,40 67,44 34,10 24,36

20,27

100

92,71 70,78 45,00 32,22

M-22

100

M-23

100

Pedr. – Pedregulho Faixa Trad. – Faixa Tradicional (norma DNIT-ES 141/2010) Faixa S. Lat. – Faixa para Solos Lateríticos (norma DNIT 098/2007-ES) N.E. – Não Enquadra

36

Argila

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3.1 DETERMINAÇÃO DA RELAÇÃO SÍLICASESQUIÓXIDOS A Tabela 3 apresenta os resultados da relação sílica-sesquióxidos para os materiais J1 e J2, E1 e E2, e a Tabela 4 para as misturas analisadas. Para o caso dos resultados de Kr, que representa a relação molecular entre a sílica e os sesquióxidos (soma de Al2O3 e Fe2O3), todas as misturas apresentaram valores menores do que 2, que são indicativos de solos muito intemperizados. Assim, com base nos valores de Kr inferiores a 2, pode-se inferir o caráter laterítico a todas as oito misturas, bem como aos materiais J1, J2, E1 e E2, seus componentes.

misturas são apresentados na Tabela 6. Deve-se ressaltar, que para execução dos ensaios foi tomada a fração de solo que passa na peneira nº 10 (2 mm). Grupo das misturas com composição granulométrica enquadrando nas faixas A ou B, da norma DNIT 098/2007-ES Todas as cinco misturas deste gruFoto 4 – Prensa de compactação Mini-MCV

3.2 A CLASSIFICAÇÃO MCT Os resultados obtidos segundo a metodologia MCT, para os materiais J1, J2, E1 e E2, são apresentados na Tabela 5 e os resultados para as 14

5 – Aspecto das curvas de compactação Mini-MCV Foto 5 – Curvas deImagem compactação Mini-MCV

Tabela 3 – Resultado da relação sílica-sesquióxidos e sílica-alumina para J1, J2, E1 e E2 Resultados

Parâmetro

J-01 3,76 6,96 9,58 4,327 1,986

Al2O3 Fe2O3 SiO2 Ki Kr

J-02 7,48 23,61 7,38 1,678 0,557

E-01 8,03 1,30 9,10 1,927 1,746

E-02 19,80 1,35 22,40 1,923 1,516

Tabela 4 – Resultado da relação sílica-sesquióxidos e sílica-alumina das misturas Parâmetro Al2O3 Fe2O3 SiO2 Ki Kr

M-01

M-03

12-80/20

12-70/30

14,45 8,82 17,27 2,033 1,463

15,14 8,86 16,64 1,868 1,361

M-17 21270/10/20 13,31 10,45 16,80 2,084 1,402

M-18 21265/10/25 12,38 8,24 15,36 2,109 1,481

M-20

M-21

M-22

M-23

22-80/20

22-65/35

21-70/30

22-70/30

14,26 13,65 16,73 1,994 1,238

14,33 9,86 17,28 2,049 1,424

8,10 6,84 9,75 2,047 1,331

14,94 10,79 18,03 2,052 1,405

Fundações e Obras Geotécnicas

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Artigo

Tabela 5 – Parâmetros e classes obtidos pela metodologia MCT, para J1, J2, E1 e E2 Parâmetro J1 J2 E1 E2

c' 1,56 1,29 1,03 2,05

d' 62,60 46,67 93,96 59,03

Pi 88,00 100,00 115,00 20,00

e' 1,06 1,13 1,11 0,81

Classe LA' NA' LA' NA' LA' NA' LG'

Tabela 6 – Parâmetros e classes obtidos pela metodologia MCT para as misturas Mistura M-01 M-03 M-04 M-05 M-06 M-07 M-08 M-17 M-18 M-19 M-20 M-21 M-22 M-23

Código 12-80/20 12-70/30 11-70/30 11-60/40 11-50/50 12-60/40 12-50/50 212-70/10/20 212-65/10/25 21-60/40 22-80/20 22-65/35 21-70/30 22-70/30

po, M-01 (12-80/20), M-03 (1270/30), M-20 (22-80/20), M-21 (2265/35), M-23 (22-70/30), tiveram a comprovação do caráter laterítico através da classificação MCT. Todas foram classificadas como LG’. A relação sílica-sesquióxidos de cinco misturas, M-01 (12-80/20) (Kr = 1,463), M-03 (12-70/30) (Kr = 1,361), M-20 (22-80/20) (Kr = 1,238), M-21 (22-65/35) (Kr = 1,424), e M-23 (22-70/30) (Kr = 1,405), permitiu inferir o caráter laterítico de todas elas. Não há discordância com os resultados obtidos através da classificação MCT. Grupo das misturas com composição granulométrica que não se enquadra em nenhuma faixa Todas as misturas, M-05 (1160/40, M-06 (11-50/50), M-07 (1260/40) e M-08 (12-50/50), tiveram 38

Fundações e Obras Geotécnicas

c’ 1,85 2,06 1,19 1,22 1,01 1,86 2,05 1,48 1,87 1,32 1,63 1,86 0,81 1,89

d’ 38,30 77,22 101,52 109,10 66,88 62,79 110,42 102,92 84,73 133,50 22,72 37,93 96,52 61,93

Pi 0,00 118,00 80,00 111,00 80,00 3,00 50,00 38,00 43,00 180,00 5,00 77,00 87,00 28,00

a comprovação do caráter laterítico, segundo a classificação MCT. Essas misturas não foram submetidas à determinação da relação sílicasesquióxidos, mas os valores de Kr dos seus componentes, J1 (Kr = 1,986), E1 (Kr = 1,746) e E2 (Kr = 1,516), permitem inferir o caráter laterítico de todas elas. Grupo das misturas com composição granulométrica enquadrando na faixa D, tradicional, da norma DNIT-ES 141/2010 As cinco misturas deste grupo, M-04 (11-70/30), M-17 (21270/10/20), M-18 (212-65/10/25), M-19 (21-60/40) e M-22 (21-70/30), foram identificadas com o caráter laterítico, segundo a tecnologia MCT. As misturas M-17 (212-70/10/20) e M-18 (212-65/10/25), foram classificadas como LA’ e LG’, respectiva-

e’ 0,81 1,13 1,00 1,09 1,03 0,70 0,88 0,83 0,97 1,25 0,98 1,09 1,03 0,84

Classe LG’ LG’ LA’ (?) LA’NA’ LA’NA’ LG’ LG’ LA’ LG’ NA’ LA’ LG’ LG’ LA’NA’ LG’

mente. A mistura M-19 (21-60/40) como NA’LA’ e M-22 (21-70/30) como LA’NA’ (ambas com caráter parcial de laterização). O comportamento laterítico inferido através da relação sílica-sesquióxidos das misturas M-17 (21270/10/20) (Kr = 1,402), M-18 (21265/10/25) (Kr = 1,481) e M-22 (2170/30) (Kr = 1,331), coincide com o resultado da classificação MCT para estas misturas. M-04 (11-70/30) e M-19 (2160/40) não foram submetidas ao ensaio para determinação da relação sílicasesquióxidos, mas os valores de Kr dos seus componentes, J1 (Kr = 1,986), J2 (Kr = 0,557) e E1 (Kr = 1,746), permitem inferir o comportamento laterítico dessas misturas, resultado que coincide com a classificação MCT para a mistura M-19 (21-60/40).


Foto 6 – Montagem do corpo de prova para compactação Mini-MCV

Foto 7 – Ensaio de Perda de Massa por Imersão

Foto 8 – Corpos de prova após o ensaio de Perda de Massa por Imersão

A mistura M-04 (11-70/30) foi a única que apresentou um grau de incerteza na classificação. Seria classificada como LA’, pelo procedimento convencional, mas aplicando-se o critério de solos transicionais, teve a classificação prejudicada, caracterizada pelo sinal de interrogação (LA’ ?).

(22-80/20), M-21 (22-65/35) e M-23 (22-70/30), apresentam massa específica seca máxima (ρdmax) variando de 2,02g/cm3 a 2,31 g/cm3. As misturas M-03 (12-70/30), M-23 (22-70/30) e M-21 (22-65/35), apresentam valores de ISC superiores ao limite mínimo de ISC (igual a 60), indicado para base de pavimentos com número N ≤ 5 x 106. Já os valores de ISC obtidos para as misturas M-01 (12-80/20) e M-20 (22-80/20), são superiores a 80, suficientes para bases de pavimentos com número N > 5 x 106. Os bons resultados alcançados não seriam possíveis, caso os solos lateríticos não apresentassem um comportamento peculiar.Todos as misturas apresentam baixos valores de expansão. Grupo das misturas com composição granulométrica que não se enquadra em nenhuma faixa

As misturas que deste grupo, M-05 (11-60/40), M-06 (11-50/50), M-07 (12-60/40) e M-08 (12-50/50), apresentam massa específica seca máxima (ρdmax) variando de 1,92 g/cm3 a 2,17 g/cm3 e ISC (Índice Suporte Califórnia) variando entre 17 e 27. Os valores de ISC dessas misturas estão muito abaixo dos valores recomendados pelas normas, para execução de bases de pavimentos, conforme esperado. Em relação à expansão, todas as misturas apresentam baixos valores. Grupo das misturas com composição granulométrica enquadrando na faixa D, tradicional, da norma DNIT-ES 141/2010 As misturas deste grupo, M-04 (1170/30), M-17 (212-70/10/20), M-18 (212-65/10/25), M-19 (21-60/40) e M-22 (21-70/30), apresentam massa específica seca máxima (ρdmax) va-

3.3 ANÁLISE DA RESISTÊNCIA MECÂNICA E DA EXPANSÃO Foi realizada através dos ensaios de compactação e de ISC, utilizando-se a energia Proctor modificado. Os resultados são apresentados na Tabela 7. Grupo das misturas com composição granulométrica enquadrando nas faixas A ou B, da norma DNIT 098/2007-ES As misturas deste grupo, M-01 (12-80/20), M-03 (12-70/30), M-20

Tabela 4 – Resultado da relação sílica-sesquióxidos e sílica-alumina das misturas Mistura Código wot (%) ρd max (g/cm3) ISC

M-01 1280/20 11,4

M-3 1270/30 11,7

M-4 1170/30 9,3

M-5 1160/40 8,1

M-6 1150/50 7,5

M-7 1260/40 14,5

M-8 1250/50 14,7

M-17 M-18 21221270/10/20 65/10/25 9,1 9,3

2,08

2,02

2,14

2,17

2,16

1,92

1,92

2,31

122

65

125

27

25

27

17

118

M-19 2160/40 7,0

M-20 2280/20 10,5

M-21 2265/35 11,0

M-22 2170/30 6,3

M-23 2270/30 10,6

2,30

2,39

2,31

2,20

2,40

2,03

81

135

112

66

177

67

Fundações e Obras Geotécnicas

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Artigo

riando de 2,14g/cm3 a 2,40 g/cm3 e valores elevados de ISC, entre 81 e 177, conforme esperado. Os valores de expansão das cinco amostras são baixos, inferiores ao limite máximo permitido pela norma (expansão ≤ 0,5 %).

CONCLUSÕES Em relação à resistência mecânica e à expansão das misturas podemos destacar: todas as misturas estudadas apresentam baixos valores de expansão, conforme esperado, por se tratar de misturas com solos de comportamento laterítico; três, entre as dez misturas que se enquadram nas faixas A ou B, da norma DNIT 098/2007-ES (DNIT, 2007) ou na faixa D, da norma DNIT-ES 141/2010 (DNIT, 2010), apresentaram valores de ISC no intervalo de 60 a 80 e, as sete demais presentam valores de ISC superiores a 80, todos suficientes para utilização em base. As misturas que não se enquadram em nenhuma faixa granulométrica

apresentam baixos valores de ISC, inferiores aos exigidos para sua utilização em base. Em relação à determinação do caráter laterítico das misturas, podemos concluir que: o caráter laterítico inferido através da classificação MCT coincidiu com caráter laterítico inferido através dos valores de Kr (relação sílica-sesquióxidos), para as oito misturas que foram submetidas a esse ensaio, comprovando a viabilidade da utilização da classificação MCT, na determinação do caráter laterítico. Nas seis misturas que não foram submetidas ao ensaio de determinação da relação sílica-sesquióxidos, o caráter laterítico foi inferido a partir dos resultados de Kr dos componentes das misturas, E1, E2, J1 e J2, utilizados na composição de todas estas misturas. O caráter laterítico inferido desta forma coincidiu com os resultados obtidos através da classificação MCT para

cinco misturas, comprovando a viabilidade da utilização da classificação MCT. As misturas M-05 (11-60/40), M-06 (11-50/50) e M-19 (21-60/40), apresentaram o comportamento transicional, equivalente ao caráter parcial de laterização. Houve coincidência da classificação MCT com os resultados da relação sílica-sesquióxidos para 13 das 14 misturas estudadas. Em uma das misturas, a classificação MCT ficou prejudicada, entretanto, mesmo nesse caso, os resultados não foram conflitantes. Finalmente, os resultados mostraram que, apesar da necessidade de aperfeiçoamento dos processos que ainda envolvem alguma subjetividade a classificação MCT abrange procedimentos de simples execução, e fornece resultados coerentes e aceitáveis, permitindo que possa fazer parte da prática rotineira, com grandes benefícios para a tecnologia nacional.

REFERÊNCIAS DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. Norma DNIT-ES 141/2010 – Pavimentação – Base estabilizada granulometricamente – Especificação de serviço, Brasília: DNIT, 2010. DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. Norma DNIT-ES 098/2007 – Pavimentação – base estabilizada granulometricamente com utilização de solo laterítico – Especificação de serviço, Brasília: DNIT, 2007. DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM. Método de ensaio DNER-ME 256/1994 – Solos compactados, com equipamento miniatura – determinação da perda de massa por imersão, Brasília: DNER, 1994a. DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM. Método de ensaio DNER-ME 258/1994 – Solos compactados em equipamento miniatura – Mini-MCV, Brasília: DNER, 1994b. DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM. Método de ensaio DNER-ME 030/1994 – Solos – determinação das relações sílica-alumina e sílica-sesquióxidos em solos, Brasília: DNER, 1994c.

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Fundações e Obras Geotécnicas


Seção “Artigos” A revista publica a cada edição dois artigos técnicos com temática ligada à área de fundações e geotecnia. Os artigos não precisam necessariamente ser inéditos, mas necessitam passar por uma avaliação do tema a ser abordado antes da publicação. Para a inserção do material em uma edição, o autor deve primeiramente enviar o artigo para avaliação do tema e, posteriormente, a equipe da revista entrará em contato para definir uma data de entrega do material (que deve seguir rigorosamente as regras de envio), assim como informar a data em que o trabalho será divulgado. O cronograma dos artigos a serem publicados é feito de forma a contemplar a publicação de temas diferentes em uma mesma edição e também a inserção de trabalhos de autores variados em meses diferentes.

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Estamos em busca de dois artigos com temáticas de geologia para a publicação na EDIÇÃO ESPECIAL em novembro de 2018.

Novas

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oportunidades para publicação A revista Fundações & Obras Geotécnicas está com datas disponíveis para a publicação de artigos no segundo semestre de

2018.

Os interessados em contribuir com artigos para essa seção devem enviar um e-mail para: glessia@revistafundacoes.com.br


Em foco

DUNAS E RESTINGAS, UM IMBRÓGLIO AMBIENTAL CRIADO E ALIMENTADO POR EXCESSO DE AMADORISMO E ESCASSEZ DE CIÊNCIA

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Os conflitos judiciais envolvendo ocupações em áreas de dunas e restingas têm se multiplicado exponencialmente nos últimos anos, na mesma escala do crescimento de nossas cidades litorâneas, com especial destaque para o setor do turismo e do lazer. A produção desses conflitos, como as enormes dificuldades em superá-los, explicam-se, como outros tipos de conflitos judiciais-ambientais brasileiros, no fato da elaboração de nosso Código Florestal e legislações decorrentes terem respondido muito mais a um empenho de acomodação e atendimento de interesses do que a uma racionalidade fundamentada em sólidas, e por isso inquestionáveis, bases científicas. Colabora muito também para a alimentação desses conflitos o comum despreparo científico e a pouca experiência dos profissionais atuantes na área pública envolvida na questão ambiental e na área privada de consultoria e serviços ambientais que assessoram empreendedores privados para a correta identificação em campo e para o entendimento da gênese, da dinâmica evolutiva e da diversidade tipológicadas diversas feições geológicas, hidrogeológicas e geomorfológicas mais frequentemente polemizadas, tais como nascentes, várzeas, planícies de inundação, veredas, mangues, encostas, dunas e restingas. Cumpre ainda destacar nesse cenário ambiental confuso e conflituoso o fato, hoje consensual entre todos que militam na área ambiental, do Código Florestal brasileiro ser totalmente

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Fundações e Obras Geotécnicas

inadequado para o regramento das questões ambientais próprias do singular espaço urbano e periurbano, uma vez que toda sua elaboração foi inspirada e pautada por uma problemática intrinsecamente rural. Em que pese todo esse imbróglio, tentaremos nesse artigo colaborar para um melhor entendimento, e, portanto, para um mais adequado equacionamento das questões normativas envolvidas no trato das feições geológicas de dunas e restingas. Do ponto de vista conceitual há hoje uma clara confluência entre os diversos dicionários e glossários geológicos e geomorfológicos brasileiros, como entre pesquisadores e autores de alguma forma associados ao tema, quanto ao entendimento do significado de dunas e restingas, o que pode ser expresso pelos seguintes conceitos: Dunas costeiras: feição geológica costeira constituída por acumulações de areias quartzosas finas homogêneas na retaguarda da orla marítima e resultantes exclusivamente da ação de ventos na remoção de areias praiais, em seu transporte e em sua deposição. As dunas morfologicamente constituem elevações de relevo em forma de morros isolados, mostrando taludes mais suaves a barlavento e taludes mais íngremes a sotavento. Um campo de dunas pode abrigar os mais variados tipos de dunas em todos seus estágios de evolução, ou seja, dunas móveis, dunas fixas


Fotos: Google Earth

ou semi-fixas, superfícies de deflação, lagoas interdunares etc., assim como várias gerações de dunas formadas ao longo do tempo geológico refletindo as mudanças climáticas, em especial no regime de ventos, que se operaram ao longo do período Quaternário. Restingas: feição geológica costeira constituída de areias quartzosas predominantemente grossas em forma de cordões de relevo paralelos à linha de praia. Esses cordões têm origem primária marinha subaquática, refletindo os efeitos de dinâmica marinha rasa em ocasiões geológicas marcadas por transgressões marinhas (níveis do mar superiores ao atual)

Foto 01 – Campo de dunas do litoral sul catarinense. Notar as bordas de evolução das diversas gerações de dunas

Foto 02 – Campo de restingas no litoral do Estado do Rio de Janeiro, município de Macaé. Notar a nítida diferenciação (cordões paralelos à praia) de paisagens em relação ao campo de dunas mostrado na foto anterior

ao longo do Quaternário. É comum observar-se a formação de lagoas nas depressões de relevo entre as cristas arenosas elevadas. Como se depreende, os conceitos de dunas costeiras e restingas envolvem aspectos associados à sua gênese, à sua morfologia e à sua evolução. Em conclusão, dunas costeiras e restingas são feições geológicas inteiramente diferentes em sua gênese, em sua morfologia e em seus processos de evolução e desenvolvimento. Ambas feições geológicas, dunas costeiras e restingas, apresentam característica formação botânica conhecida como vegetação de restinga, e que pode assim ser conceituada: Vegetação de Restinga: característica formação botânica típica das feições geológicas dunas costeiras e restingas constituída por espécies halófilas (adaptadas a ambientes de maior salinidade) e psamófilas (adaptadas a solos arenosos de baixa ou nenhuma edafização), em crescente diversidade e porte de espécies na medida que se distanciam da linha de praia. Em muitas regiões brasileiras essa vegetação é conhecida popularmente por jundu. É a condição de presença e densidade dessa vegetação que essencialmente determina o estado de evolução e estabilidade de uma formação de dunas: móveis, semi-fixas e fixas. Diz respeito justamente a essa vegetação típica uma das grandes confusões terminológicas conceituais sobre o tema, e que tem gerado interpretações conflituosas quanto ao conteúdo de legislações que tratam da matéria. Equivocadamente o termo restinga tem sido comumente utilizado

como sinônimo da vegetação típica das feições geológicas dunas costeiras e restingas. Os códigos florestais de 1965 e 2012, assim como resoluções do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) que tratam dessa matéria, contribuem para essa trapalhada terminológica, pois enquanto seu glossário legal adote uma definição correta para restinga, enquanto feição geológica (vide trechos transcritos a seguir), alimentam uma outra interpretação quando tratam do estabelecimento de APP (Área de Preservação Permanente) para a feição restinga ao adotar a confusa expressão “restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues”. RESOLUÇÃO CONAMA 303 2002 Art. 2º Para os efeitos desta Resolução, são adotadas as seguintes definições: (...) VIII –“restinga: depósito arenoso paralelo à linha da costa, de forma geralmente alongada, produzido por processos de sedimentação, onde se encontram diferentes comunidades que recebem influência marinha, também consideradas comunidades edáficas por dependerem mais da natureza do substrato do que do clima. A cobertura vegetal nas restingas ocorre em mosaico, e encontra-se em praias, cordões arenosos, dunas e depressões, apresentando, de acordo com o estágio sucessional, estrato herbáceo, arbustivo e arbóreo, este último mais interiorizado”. CÓDIGO FLORESTAL 2012 Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por: Fundações e Obras Geotécnicas

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Em foco

(...) XVI – restinga: depósito arenoso paralelo à linha da costa, de forma geralmente alongada, produzido por processos de sedimentação, onde se encontram diferentes comunidades que recebem influência marinha, com cobertura vegetal em mosaico, encontrada em praias, cordões arenosos, dunas e depressões, apresentando, de acordo com o estágio sucessional, estrato herbáceo, arbustivo e arbóreo, este último mais interiorizado. É preciso que a comunidade ambiental e geológica, assim como nossos legisladores e profissionais de órgãos de fiscalização e gestão ambiental, empenhem-se em desfazer esse equívoco, pois restinga é uma feição geológica, nos termos da definição anteriormente registrada nesse artigo. A vegetação halófila/psamófila típica das feições geológicas dunas costeiras e restingas deve ser nomeada claramente como vegetação de restinga, sem abreviações ou simplificações. Quanto a categorização de feições como Áreas de Proteção Permanente, ainda que sem clara justificativa científica para tanto e em formulação confusa, o novo Código Florestal não deixa dúvidas, somente as restingas são distinguidas com tal qualificação, ou seja, como APPs. O novo código exclui totalmente a feição duna dessa abordagem de proteção. Aliás, nem mesmo consta do glossário oficial do novo código alguma definição sobre a feição duna: “Art. 4º – considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para os efeitos desta lei: (...) 44

Fundações e Obras Geotécnicas

VI – as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues”. Em seu Artigo 6º o novo código insiste em sua escolha: “Art. 6º – Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando declaradas de interesse social por ato do Chefe do Poder Executivo, as áreas cobertas com florestas ou outras formas de vegetação destinadas a uma ou mais das seguintes finalidades: (...) II – proteger as restingas ou veredas”. Como se observa, por mais paradoxal que possa parecer, o atual Código Florestal em nenhum de seus dispositivos inclui as dunas ou os campos de dunas como áreas que devam ser objeto da delimitação de APPs. Dessa constatação poder-se-ia concluir como natural uma reivindicação de caráter ambientalista pleiteando, por alteração ou suplementação do atual código, a inclusão das dunas como feição geológica a ser considerada como Área de Preservação Permanente. No entanto, para espaços urbanos e periurbanos uma restrição de ocupação com esse caráter tão generalizante, seja para o caso de restingas, seja para o caso de dunas, expressaria um exagero conservacionista e uma falta de sintonia com a realidade brasileira, com isso transformando-se em uma decisão equivocada e fadada ao insucesso prático. Vamos ao caso, considerando ser o Brasil um país com imensa orla litorânea, 7.500 km, onde se concentra grande parte de suas maiores

cidades e de sua população, e tendo as feições dunas e restingas presentes em vários trechos litorâneos de seus estados da frente atlântica, a simples e genérica proibição de ocupação de zonas de restingas e dunas conduziria a situações insustentáveis de conflitos envolvendo as naturais necessidades e pressões de desenvolvimento urbano. No âmbito do objetivo de conservação ambiental de ecossistemas de dunas e restingas, decisão mais inteligente e ambientalmente mais eficaz seria, como se tem constatado na prática, ao invés de se trabalhar com restrições definidas no Código Florestal e legislações congêneres, trabalhar com políticas públicas ambientais que conduzam à criação de grandes unidades de conservação/parques ambientais no interior, dos quais seria terminantemente proibido qualquer tipo de ocupação humana. Esses parques abrangeriam zonas de restingas e dunas que ainda se apresentam em estado natural ou com incipiente intervenção humana. A grande extensão desses parques constitui atributo fundamental para a preservação dos processos naturais envolvidos na dinâmica evolutiva de dunas e restingas e de suas características ecológicas, enquanto ecossistemas específicos, a exemplo do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, no município de Quissamã (RJ), do Parque de Dunas de Salvador, no município de Salvador (BA), do Parque das Dunas de Natal, município de Natal (RN), do Parque Natural das Dunas da Sabiaguaba, município de Fortaleza (CE), entre outros. As áreas de dunas e restingas externas a esses parques seriam liberadas


Foto 03 – Parque das Dunas de Natal (RN)

Foto 04 – Parque das Dunas de Salvador (BA)

Foto 05 – Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, Quissamã (RJ)

Arquivo pessoal

a ocupação humana controlada, para a qual deveriam ser observados os cuidados pertinentes a sua reconhecida vulnerabilidade ambiental, com destaque a franca possibilidade de contaminação de aquíferos e a instalação de processos erosivos. Necessário

Foto 06 – Parque Natural das Dunas da Sabiaguaba, município de Fortaleza (CE)

também se faz impor restrições a terraplenagens extensas e o estabelecimento de uma cota topográfica mínima a ser respeitada, de tal forma a que as áreas de dunas ou restingas liberadas a ocupação continuem cumprindo sua importante função de proteção

das zonas mais interiores contra a ação de ressacas e avanços marinhos. Importante salientar que de forma alguma, áreas liberadas a ocupação urbana controlada poderiam ser objeto de extração de areia para fins industriais ou construtivos.

> ÁLVARO RODRIGUES DOS SANTOS é geólogo, ex-diretor de Planejamento e Gestão do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). Autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Diálogos Geológicos”, “Cubatão”, “Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções”, “Manual Básico para elaboração e Uso da Carta Geotécnica”, “Cidades e Geologia”. Consultor em Geologia de Engenharia, Geotecnia e Meio Ambiente, diretor-presidente da empresa ARS Geologia Ltda.

Fundações e Obras Geotécnicas

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Geotecnia Ambiental

PROJETO DO IPT MAPEIA PONTOS DE ACÚMULO DE ÁGUAS PLUVIAIS Com o objetivo de aplicar soluções tecnológicas instituto capacita profissionais na identificação e seleção de técnicas de infraestrutura verde por Gléssia Veras

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Divulgação IPT

O IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) atualmente está com um projeto em curso que visa utilizar técnicas de infraestrutura verde para analisar águas pluviais direcionadas a jardins de chuva e a valetas vegetadas, cuja infiltração pode reduzir a ocorrência de alagamentos e até mesmo inundações.

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Projeto irá avaliar as tecnologias existentes relacionadas à capacidade natural da vegetação e do solo reterem e absorverem grandes volumes de água de chuva

Fundações e Obras Geotécnicas

Com o intuito de reconhecer áreas no campus do IPT em São Paulo com histórico de acúmulo de águas pluviais, a seção de Sustentabilidade de Recursos Florestais iniciou, em setembro de 2017 esse projeto de capacitação para os seus profissionais, focando na identificação e seleção de técnicas


Trabalho desenvolvido pela seção de Sustentabilidade de Recursos Florestais se iniciou em setembro de 2017 e terá duração de dois anos

de infraestrutura verde destinadas a reduzir os efeitos adversos das águas da chuva. “O projeto inicial tinha como proposta fornecer soluções sustentáveis para recuperar cenários da degradação urbana, utilizando infraestrutura verde que oferecesse o melhor custo benefício em relação às tecnologias tradicionais para aplicação em âmbito municipal”, diz a pesquisadora da seção de Sustentabilidade de Recursos Florestais do IPT e coordenadora do projeto, Maria Lucia Solera. Ela explica que a infraestrutura verde pode ser entendida como uma rede estrategicamente planejada e disposta de áreas verdes e outras estruturas ambientais relacionadas aos recursos hídricos e ao uso do solo, que devem ser projetadas e manejadas como um

recurso multifuncional capaz de prover benefícios ambientais para as cidades, como atenuação das ilhas de calor; melhoria estética da cidade; manejo do volume de escoamento e manejo da poluição das águas pluviais, entre outros serviços ambientais. “Com a realização do levantamento do estado da arte na temática infraestrutura verde, elaboração de matriz com técnicas de infraestrutura verde e identificação dos problemas no campus do IPT, novas ideias foram surgindo. Isso implicará em novas diretrizes que poderão dar um novo direcionamento na condução do projeto. Desse modo, o projeto pretende utilizar a infraestrutura verde para aumentar os benefícios da cobertura vegetal em meio urbano”, complementa Solera. Fundações e Obras Geotécnicas

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Geotecnia Ambiental

PROJETO O objetivo do projeto é avaliar as tecnologias existentes relacionadas à capacidade natural da vegetação e do solo reterem e absorverem grandes volumes de água de chuva. Denominadas de técnicas compensatórias em drenagem

urbana, as soluções em infraestrutura verde são consideradas ambientalmente mais adequadas para o disciplinamento das águas pluviais em áreas urbanizadas, desempenhando múltiplas funções e trazendo benefícios ambientais, sociais e econômicos a um mesmo espaço.

Exemplo de registro fotográfico (primeira imagem) feito logo após uma chuva como atividade de mapeamento; tomadas aéreas do instituto (foto central) e modelos digitais de superfície (imagem inferior)

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Fundações e Obras Geotécnicas

“A ideia para a realização desse trabalho surgiu a partir do conhecimento adquirido em projetos realizados pelo IPT, por meio de trabalhos desenvolvidos pela equipe em caracterização ambiental, capacitação em recuperação de áreas degradadas e elaboração de planos de manejo de unidades de conservação e do canal de comunicação entre IPT e municípios, que manifestaram desafios na área ambiental. Surgiu então a oportunidade de integrar esses conhecimentos e demandas, propondo métodos não convencionais de recuperação ambiental aplicáveis a áreas urbanas”, explica coordenadora do projeto, Maria Lucia Solera. Com previsão de duração de dois anos, o trabalho ficará dividido nas seguintes etapas: uma das primeiras atividades realizadas pela equipe do projeto foi o registro fotográfico em diferentes pontos no campus do instituto em dias de eventos chuvosos, a fim de verificar áreas com repetição de acúmulo de águas pluviais; depois foi feita uma comparação com mapas gerados a partir de modelos digitais de superfície, criados a partir de registros aéreos com o uso do drone do Laboratório de Recursos Hídricos e Avaliação Geoambiental do IPT, para validar o que foi observado em campo. A divulgação dos resultados do projeto será por meio de artigo técnico e participação em congresso ou simpósio. Após a identificação dos pontos no campus do IPT sujeitos ao acúmulo de águas pluviais os pesquisadores irão escolher uma ou mais áreas e selecionar uma técnica (ou mais) de infraestrutura verde que melhor se aplicam aos locais.


“Nesse caminho, sabendo que as áreas urbanas apresentam diversos cenários de degradação, com alto custo de recuperação e que não contemplam o uso de técnicas sustentáveis, a infraestrutura verde pode ser uma alternativa para mitigar esses cenários da paisagem urbana e proporcionar serviços ambientais essenciais para a sustentabilidade”, observa Solera. Por se tratar de um tema interdisciplinar, o projeto envolve uma equipe cuja principal característica é a multidisciplinaridade. No projeto participam profissionais das áreas da engenharia civil, engenharia ambiental, engenharia florestal, engenharia agronômica e biologia. A pesquisadora também pretende

utilizar no projeto conceitos de bioengenharia de solos, que é uma tecnologia na qual se associam materiais naturais (sementes, estacas e feixes de plantas vi-

vas) a inertes (pedras, madeiras, metais e geotêxteis) que formam sistemas vivos e contribuem para estabilizar, proteger, recuperar e recompor segmentos.

Maria Lucia Solera Bióloga e doutora em Ciências Ambientais Centro de Tecnologia de Recursos Florestais (CT-Floresta) – Seção de Sustentabilidade de Recursos Florestais – Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) do Estado de São Paulo Maria Lucia Solera estuda desde 2005 a bioengenharia de solos: a técnica foi primeiramente empregada para conter a erosão nas margens do reservatório da Usina Hidrelétrica de Porto Primavera, em um projeto de P&D para a Cesp (Companhia Energética de São Paulo) em 2012, ela foi empregada em um projeto de pesquisa interdisciplinar com o objetivo de viabilizar a recuperação de áreas degradadas pela atividade de mineração a céu aberto, que foi financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e pela Vale. Fonte: IPT


Notas

por Gléssia Veras

NBR 15.575 completa cinco anos em vigor e entra em processo de revisão Ação visa solucionar o problema de diferentes interpretações da Norma de Desempenho de Edificações Durante o 15º Simpósio Brasileiro de Impermeabilização, realizado em junho pelo IBI (Instituto Brasileiro de Impermeabilização), a mestra e doutora em engenharia e atual diretora da NGI Consultoria e Desenvolvimento, Maria Angélica Covelo Silva, apresentou o tema “A Norma de Desempenho”, abordando os principais aspectos envolvidos na normatização do setor. A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) NBR 15.575 (Norma de Desempenho de Edificações) completa cinco anos em vigor no mês de julho e entra em processo de revisão em função da importância do tema,

Divulgação / Editora Elsevier

Livro busca estudar o comportamento das estruturas de concreto a longo tempo A obra aborda o tema de forma didática e detalhada, partindo dos conceitos básicos de corrosão e passando pelos mais diversos processos degradativos Com a industrialização, a urbanização e as mudanças econômicas brasileiras em 1930, o concreto armado foi introduzido nas edificações da construção civil nacional. O material se mostrou ideal para as condições brasileiras, devido a sua segurança e o seu baixo custo. A aceitação foi tão positiva que rapidamente o 50

Fundações e Obras Geotécnicas

que deve ser concluído no primeiro semestre de 2019. Será formada uma comissão de estudos com a contribuição de profissionais do setor com experiência no tema, a partir das necessidades apontadas por especialistas, projetistas, consultores, pesquisadores, profissionais de empresas incorporadoras e construtoras. Entre os temas a serem estudados estão os requisitos de segurança contra incêndio, desempenho térmico, desempenho lumínico e desempenho acústico. O IBI foi convidado oficialmente para participar dos trabalhos pertinentes para alteração na revisão desta norma, relativos à impermeabilização. Todo este processo foi coordenado tecnicamente pela engenheira Maria Angélica Covelo Silva, que teve o papel de organizar as contribuições levantadas e gerar um documento que foi apresentado no 90º ENIC (Encontro Nacional da Indústria da Construção), em maio de 2018, na cidade de Florianópolis (SC), e entregue pelo presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), José Carlos Martins à ABNT para abertura da comissão de estudos de revisão desta norma. produto conquistou a hegemonia construtiva do Brasil. Com a evolução das técnicas construtivas e os métodos de cálculo, ocorrida nas últimas décadas, as estruturas passaram a ser exigidas cada vez mais próximas a seus limites de utilização. O aumento de esbelteza das construções levou a uma redução de custos e ao desenvolvimento de estruturas mais leves, porém, menos duráveis. O livro Corrosão e Degradação em Estruturas de Concreto: teoria, controle e técnicas de análise e intervenção, com autoria dos autores brasileiros e portugueses sob a coordenação do engenheiro civil, doutor em ciência e engenharia de materiais pela Universidade Federal de São Carlos, Daniel Véras Ribeiro, publicado pela editora Elsevier. A obra aborda o tema de forma didática e detalhada, partindo dos conceitos básicos de corrosão e passando pelos mais diversos processos degradativos que acometem as estruturas de concreto, finalizando com técnicas modernas de análise e intervenção. “Espero que os leitores ao ler esse livro tenham a mesma satisfação que tivemos ao escrevê-lo. Que esta obra continue incentivando estudantes, pesquisadores, construtores e consultores a se debruçarem cada vez mais sobre os aspectos associados à durabilidade das estruturas de concreto”, diz Daniel Véras.




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