Comunicação Pública e Política: pesquisa e práticas - Parte 1

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São elementos que exigem adesão, e não convencimento por argumentos. Foi notório o destaque que o material jornalístico deu ao phatos e ao ethos, portanto, aos elementos caracterizadores da retórica plebiscitária. Já o elemento que mais se identifica com a retórica deliberativa, o logos, teve baixa presença nas falas dos textos analisados. Não se pode negar ou subestimar a presença de argumentos racionais em materiais produzidos pela mídia. Eles estão presentes, como os dados desta pesquisa também demonstram. E isso demonstra que a mídia tem potencial para atender a lógicas diferentes e, aspecto a ser ressaltado, lógicas que podem ser antitéticas. Na prática, porém, a mídia exagera no uso de dois elementos da retórica – o pathos e o ethos –, dando pouca atenção ao outro – o logos –, o que faz com que comprometa um potencial que ela carrega. A participação da mídia no processo de deliberação pública costuma ter leituras que apontam para uma polarização. De um lado, os que veem nela importante papel nesse processo e, de outro, os que não visualizam nenhuma possibilidade nela de poder ter algum tipo de contribuição que esteja em sintonia com o ideal deliberativo. Como potencial, ela se presta aos dois tipos de julgamentos, razão pela qual os dois costumam surgir quando está em tela essa questão. Como portadora de certos dispositivos, ela pode avalizar qualquer uma das duas avaliações. Mas tudo indica, e os dados desta pesquisa também mostram isso, ela não pode realizar os dois potenciais ao mesmo tempo. Ao menos, tem dificuldades para isso. A definição sobre seu papel num processo deliberativo – em síntese, a demarcação ou a caracterização dessa sua participação – só pode ocorrer a partir da avaliação dos casos concretos. É preciso verificar qual(is) dispositivo(s) ela (mais) aciona. A mídia desempenha, portanto, um papel ambíguo na pré-estruturação da esfera pública política (Maia, 2008). O material gerado pela mídia pode atender aos critérios de um processo deliberativo. Mas também existe a possibilidade de o material produzido e difundido pela mídia atuar na contramão de um processo que se identifique com um caráter deliberativo. A lógica de atuação da mídia – refletida no material que produz e divulga – leva a retórica plebiscitária a ter considerável vantagem sobre a retórica deliberativa. É a supremacia de um agir estratégico – captura da atenção em busca da mera adesão do maior número possível de pessoas para obter a vitória - sobre o agir comunicativo – processo pelo qual o tema em pauta deve ser dissecado para ser melhor compreendido e aprofundado de for265


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