Faça-se a Tua Vontade

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Beatriz Brandรฃo Roriz

Faรงa-se a Tua Vontade...

Florianรณpolis

2019


Editora Insular

Faça-se a Tua Vontade... © Beatriz Brandão Roriz Editor Nelson Rolim de Moura

Revisão Dra. Helena Ferreira Melazzo, Gilnei Silveira

Projeto gráfico e editoração eletrônica Silvana Fabris

Capa Mauro Ferreira

Digitação Lucas Diniz

Bibliografia: Todas as referências bíblicas foram selecionadas da A Bíblia da Mulher – com tradução de João Ferreira de Almeida. Revista e atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil.

R787f

Roriz, Beatriz Brandão Faça-se a tua vontade... Beatriz Brandão Roriz. Florianópolis: Insular Livros. 2019. 97 p. : Il. ISBN 978-85-66500-19-6 1. Literatura. 2. Benjamin Roriz. I. Título. CDD 869B

Todos os direitos reservados pela autora. É proibida a reprodução total ou parcial sem a permissão escrita da autora. Qualquer comentário sobre este livro, entre em contato com a autora bea.brandao@hotmail.com EDITORA INSULAR (48) 3232-9591 editora@insular.com.br twitter.com/EditoraInsular www.insular.com.br facebook.com/EditoraInsular

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Para AndrĂŠa, minha amada filha


Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estais nos céus, Santificado seja o Teu nome; Venha o Teu reino; Faça-se a Tua vontade, Assim na terra como no céu; O pão nosso de cada dia dá-nos hoje; E perdoa-nos as nossas dívidas, Assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; E não nos deixeis cair em tentação; Mas livra-nos do mal, pois Teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém! Mateus 6. 9 1 13


Sumário Prefácio.............................................. 6 Victor Hugo Queiroz Apresentação..................................... 7 Helena F. Melazzo Depoimento...................................... 9 Samir Dahas Bittar

Capítulo 1........................................ 11 Capítulo 2........................................ 17 Capítulo 3........................................ 22 Capítulo 4........................................ 28 Capítulo 5........................................ 32 Capítulo 6........................................ 35 Capítulo 7........................................ 39 Capítulo 8........................................ 42 Capítulo 9........................................ 46 Capítulo 10...................................... 50 Capítulo 11...................................... 53 Capítulo 12...................................... 56 Capítulo 13...................................... 61 Capítulo 14...................................... 64 Capítulo 15...................................... 67 Capítulo 16...................................... 70 Capítulo 17...................................... 73 Capítulo 18...................................... 77 Capítulo 19...................................... 79 Capítulo 20...................................... 83


Prefácio

A

o ler este livro que Beatriz Brandão Roriz nos apresenta, confesso que foram vários os sentimentos que experimentei: saudade, alegria, dor e, acima de tudo, confiança no Deus que cumpre o Seu propósito! Lembrei-me (e emocionei-me) do dia em que Benjamin procurou-me para comunicar que, em pleno curso de pós-graduação, ele detectou um “caroço” debaixo de seu braço. Naquela tarde, dentro do meu carro, choramos juntos; era o prenúncio de tantas experiências que Benjamin, Beatriz, Andréa e todos os que estavam próximos, teriam. Aprendi com essa família muitas coisas nesse período e, também, com este livro. Várias vezes tive o privilégio de estar com eles (Beatriz, Benjamin e Andréa) em Anápolis, mas, principalmente, em Brasília, onde muitas vezes, ao invés de confortar, saía confortado quando, incessantemente, ouvia dos lábios de Beatriz: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação, produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação” (– 2 Coríntios 4.17). Este livro é um instrumento de bênção para todos que o lerem; por isso, recomendo a leitura, por saber que muitos serão edificados. Trará a certeza se, porventura, a dúvida existir; e ainda mais convicção aos que creem, que, verdadeiramente, servimos um Deus de propósitos. Boa leitura e que Deus, em Cristo Jesus, continue abençoando-nos! Victor Hugo Queiroz Amigo e pastor 6


Apresentação

N

osso propósito, num primeiro momento, era tão somente comentar, sem nenhuma pretensão profissional, a obra-prima de Beatriz Brandão Roriz. E a palavra “prima” aqui usada não se refere unicamente ao fato de ser seu primeiro texto, mas também, alude principalmente, a seu estilo singelo, puro, espontâneo, repassado de emoção, cuidadosamente afastado do pieguismo vulgar. Suas palavras emocionam pela profundidade da narrativa, pela sinceridade e veracidade do que narra. Ela sentiu a provação e suas sequelas, não perifericamente, mas viveu profundamente a dor de uma irreparável perda, evocando a cada instante a presença de Deus, crendo de todo coração que só por ELE e NELE sairia vitoriosa. Quando os sofrimentos alcançam os filhos de Deus, mesmo sendo eles fiéis e tementes, é frequente a vida tornar-se muito pesada. Há ocasiões, especialmente, em que os difíceis problemas, as intermináveis lutas desgastam-nos, esmagam-nos, fazem nossos ombros curvarem-se. Vários servos do Senhor, em outras eras e no presente, passaram e têm passado por dores, provações, perigos, angústias, pelos mais variados motivos. Todos esses buscaram auxílio e proteção nos braços DELE e todos foram socorridos. Beatriz não foi exceção... O grande missionário John Bunyan, servo e pregador fiel, sofreu tremendas perseguições, foi preso e açoitado. Buscando forças em seu Deus, no cárcere escreveu o livro O Peregrino, que foi usado pelo Senhor para conversão e edificação de milhares de 7


cristãos, Na hora da aflição, Deus está bem presente e socorrendo aqueles que Lhe são fiéis. Sua presença ajuda-nos a superar as lutas e obtermos vitória. Beatriz narra de maneira cristalina o calvário por que passou durante pouco mais de um ano, acompanhando a trajetória que o Pai Celestial havia proposto para seu amado filho. Foram dias mesclados de muita angústia, muito sofrimento, mas também de grande testemunho dela e de seus filhos, Benjamin e Andréa. Foi um tempo passado na presença de Deus, sob Sua dependência e de uma demonstração de fé e confiança inabaláveis. Cremos que ninguém, ninguém mesmo, que tiver oportunidade de ler este livro ficará insensível diante do testemunho dessa mulher, que na hora mais tormentosa, quando seu filho declinava caminhando confiantemente para os braços de seu Senhor, ela glorificava esse Deus maravilhoso que até ali os amparara! “A quem honra, honra” (Romanos 13.7). Pedimos licença ao leitor e também à autora para enaltecer essa mulher-mãe que, alquebrada, ferida, abatida pela partida de seu filho, recolhe-se em comunhão com seu Deus e depois de fervorosa oração, levanta-se refeita, restabelecida e corajosamente revive toda a história vivida e conta-a em um livro que servirá, com a graça de Deus, de estímulo, ânimo e, principalmente, testemunho para que muitos venham a crer, conhecer e aceitar esse Deus que ela apresenta. Anápolis, outono de 2007 Helena F. Melazzo Professora

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Depoimento

O

Benjamin foi um jovem raro, especial. Não somente para a medicina; suas enfermidades foram desafiadoras, incomuns. Na medicina, curamos ou não as pessoas, cientes de que mesmo nosso maior esforço, somado ao melhor do conhecimento, redundará em algum momento na derrota da ciência para o inexorável ciclo da vida, modulado pela soberana vontade de Deus. O Benjamin seria apenas mais um caso raro na medicina, fosse apenas isso, seria pouco para a redação deste livro, que sua mãe, Beatriz, escreveu com a fidelidade de quem tem apreço Divino pela verdade. A curta vida do Benjamin foi marcada por algo muito mais transcendente: a fé inabalável em Deus, mesmo diante de das evidências humanas desfavoráveis e do sofrimento extremo. O Benjamin levou a termo um dos mais desafiadores versos da palavra de Deus: “Em tudo, dai graças, porque essa é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” (1 Tessalonicenses 5.18). Todas as vezes que leio este livro, emociono-me, reflito, aprendo, cresço. Muitos perguntarão porque o Benjamin, a Beatriz e sua irmã Andréa, tão fiéis a Deus, sofreram tanto. Há uma passagem bíblica em que: “Jesus caminhando viu um cego de nascença. Seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus” (João 9.1 a 3). O Benjamin passou por toda a sua dor resplandecendo o amor e a maravilhosa misericórdia de Deus, para que fôssemos 9


edificados e fortalecidos na fé. Para que você, que inicia a leitura deste livro, possa constatar a possibilidade real de viver em paz, em uma dimensão circunstancial humanamente inentendível. Viver a “paz que excede a todo entendimento” (Filipenses 4.7). Assegurado na Palavra de Deus, nunca faltou ao Benjamin a certeza de que toda a sua dor era irrelevante diante da grandeza que o esperava: “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que O amam” (1 Coríntios 2.9). Leia com o seu coração aberto, estando ou não convivendo com alguma enfermidade consigo ou com alguém que você ama. Nossas maiores feridas nem sempre são físicas. Reflita, emocione-se ou não, mas não perca a oportunidade de sentir a glória transformadora de Deus manifestada na vida do Benjamin. Samir Dahas Bitar Médico

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Capítulo 1 Os Teus olhos me viram a substância ainda informe, e no Teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado quando nem um deles havia ainda (Salmo 139.16).

E

m uma inesquecível noite de inverno, aos 11 de julho de 1980, nascia na cidade de Anápolis, a 57 quilômetros de Goiânia, capital de Goiás, meu primeiro filho. Uma criança linda, que, no decorrer de seus dias, expressou com sua vida um belo hino de fé e louvor a Deus e que, através da maneira de enfrentar tudo que passou, ensinou-nos uma grande lição de entrega, de amor e fidelidade ao Senhor Jesus! Assim começo a história de um jovem chamado Benjamin. Um menino abençoado, íntegro, que marcou a vida de todos que o conheceram e viveu, como verdadeiro adorador, os extraordinários momentos que esteve conosco. Preste atenção em tudo que lhe for contado; em cada detalhe, em cada circunstância vivida e, com toda certeza, você terminará este livro mais próximo de Deus e mais forte no Senhor, para enfrentar qualquer batalha que, porventura, possa surgir em sua vida. Acomode-se, respire fundo e prepare-se para envolver-se com uma experiência de adoração, incondicional, de um jovem por Seu Senhor; um filho amoroso que sempre viveu no centro da vontade do Pai e que, por onde andou, deixou o suave perfume desse imenso amor que exalava de todo seu ser. 11


Um menino que se tornou um homem exemplar, que guerreou todas as guerras, lutando sem esmorecer nas diversas situações de sua vida, só não lutou contra o desejo soberano de Deus. Quando entendeu que o que estava acontecendo com ele era a vontade do Pai, entregou-se a ela... “faça-se a Tua vontade”! Quando solteiros, eu e meu marido morávamos em Anápolis, mas depois de casados mudamos para Goiânia, onde, na época, ele exercia a sua profissão. Seu nome era Duarte Roriz; médico, ginecologista e obstetra e havia trazido o primeiro aparelho de ultrassonografia para Goiás, sendo o pioneiro a realizar este tipo de exame em todo estado. Sua clínica era ao lado da nossa casa, então, a minha gravidez foi acompanhada, frequentemente, por um pai eufórico, que vibrava de satisfação ao ver, ainda no meu útero, o filho desenvolvendo-se com perfeição. Mas, eu tive os meus filhos em Anápolis, onde residia a maior para de nossa família e muitos amigos. Nasceu uma criança saudável, tranquila, esperada por todos. Na minha família seria o primeiro neto, bisneto, e a minha bisavó Nininha, pôde carregar no colo a sua quarta geração. Meu marido desejava muito que o nosso primeiro filho fosse homem e sua alegria foi imensa quando, na sala de cirurgia pegou-o nos braços e disse ao irmão, também médico e que havia feito o parto, que se chamaria Benjamin, como ele. Esse menino foi um presente de Deus para todos nós... Quando pudemos tocar em seu corpinho, descobrindo cada dobrinha, detalhes que ficaram para sempre gravados na nossa memória, percebemos que havia embaixo de seu pezinho direito um pequeno sinal marrom-escuro, liso, do formato de uma folhinha linda e perfeita; todos queriam ver essa marca tão bem delineada, que parecia ter sido desenhada ali. Nosso filho crescia forte, inteligente, esperto e, algum tempo depois, nossa vida foi abençoada com o nascimento da Andréa, 12


uma princesinha que chegou para nos completar, trazendo com ela uma felicidade que jamais pensei pudesse existir! Com quase três anos, Benjamin foi para a escola. Lembro-me da primeira semana, ele voltando para cada feliz porque tinha encontrado um “grande amigo” e eu querendo saber quem era, ele disse: “Mãe, nem perguntei o nome dele, só sei que é meu amigão”! E foi um grande amigo, Raul, estudando juntos todo tempo que moramos em Goiânia. Meu filho era sábio, não tinha quantidade de amigos, mas pessoas preciosas que ele sabia sempre valorizar e amar. Vivemos uma experiência única, onde sentimos o cuidado de Deus por nós, que nos marcou muito. Foi no início de sua vida escolar, estávamos indo para aula conversando, quando um rapaz muito bem vestido aproximou-se e, com um revólver encostado na minha barriga, disse que queria o colar de ouro que eu usava e que, se eu gritasse, ele matava meu filho. Naquele momento, o Benjamin tinha parado para olhar uns passarinhos que faziam ninho em uma árvore próxima. Enquanto aquele homem ameaçava-me, arrancava do meu pescoço o calor, batia em meu rosto porque eu estava sem brincos, ele os queria também, tudo muitíssimo rápido, o meu filho sem perceber nada, olhava encantado para aqueles pássaros que cantavam alto, chamando sua atenção. O homem roubou, pulou em uma moto que passava naquela hora, era o outro ladrão que agia com ele, fugiu em questão de segundos e, graças a Deus, nós não fomos feridos. Eu tenho toda convicção que o Senhor usou aqueles passarinhos para que o Ben nem percebesse o que estávamos vivendo. Se sentisse o perigo, poderia chorar ou tentar fazer alguma coisa que, para ele, estaria ajudando, mas seria um grande risco para nós dois. A boa mão do Senhor já estava sobre nós... 13


Uma criança cuidadosa que nos amava, preocupava-se conosco. Amigo inseparável e admirador do pai, que agia espontaneamente, como protetor da mãe e da irmãzinha, sempre pronto a ajudar. Não me esqueço, um dia, estávamos em nossa fazenda, eu queria andar um pouco, mas tinha medo de cobras e ele, todo prestativo, disse: “Pode deixar, mamãe, eu vou com você”! E brincando eu perguntei: “Se aparecer uma cobra você mata”? Ele respondeu muito sério: “Matar não mato não, mas ajudo você a gritar muito”! Assim era meu menino, desde pequeno fazendo-se presente e que crescia sem perder a bondade, o carinho por nós, seguindo seus dias encantando a todos que o conheciam. Quando ele estava com seis anos, eu vi que aquela marquinha no seu pé estava aumentando e se tornando mais clara ao seu redor. Levamos a uma dermatologista e a partir daí corríamos contra o tempo: aquela “folhinha” era o pior e mais agressivo câncer de pele, melanoma; teria que ser operado imediatamente. No dia da cirurgia, meu marido pode entrar com o Benjamin. Eu estava do lado de fora, aguardando meu pai que ficaria comigo, quando um dos médicos se aproximou e disse que havia a possibilidade do meu filho ter sua perna direita amputada. Poderia ser só o pé ou na altura do joelho, ou, talvez, do quadril. Não sabiam o quando o câncer teria infiltrado, só quando estivessem operando é que iriam definir o que fazer. Não sei como suportei as longas horas que se passaram... Eu sempre tive muita fé, o que não é mérito meu. Na Bíblia está escrito que Deus nos dá a fé, que é uma manifestação do Espírito, dom de Deus: “A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso. Porque a um é dada, mediante o Espírito, a palavra de sabedoria; e a outro, segundo o 14


mesmo Espírito, a palavra do conhecimento; a outro, no mesmo Espírito, a fé...” (1 Coríntios 12.7 a 9). Então, a fé que eu tinha sustentava-me e como sou grata a Deus por isso, por me conceder este dom. Ele conhece-me e sabe o quanto sou fraca e necessito de Sua força, esperança, coragem para prosseguir. Sem o Senhor na minha vida, eu não teria conseguido sobreviver. Ben, esta fé me levava a crer que não iram tirar nem um pedaço da perna do meu filho, e não tiraram. A cirurgia foi uma bênção, não sendo necessário nenhum tratamento complementar. O tumor tinha sido retirado com total margem de segurança, e foi feito, depois de alguns dias, um enxerto para preencher a cavidade que ficou no pé, com parte da pele e tecidos de sua própria coxa. Felizmente, não houve nenhuma complicação e, em alguns meses, o Benjamin já andava e corria normalmente, para glória do nosso Deus, que já conhecia tudo que ainda teríamos que viver. Nos dias que ficamos no hospital, explicaram para o Ben que não poderia movimentar a perna para que tudo desse certo. Ele ficou tão quietinho, que os médicos não entendiam como uma criança de seis anos tinha tanto domínio e não reclamava! Como era um menino muito ativo, ficou febril; seu corpo reagiu ao ficar parado, mas dentro de poucos dias, mesmo continuando quase imóvel, recuperou-se. Com ele era desse jeito: os problemas podiam surgir, mas, rapidamente, eram sanados. Quando fomos para casa, a Andréa, com quatro anos, tão pequenina e amorosa, não saía do lado do irmão; sua enfermeira em tempo integral, dizia compenetrada, lembrando-se do uniforme das enfermeiras que cuidaram do Ben no hospital: “Eu cuido dele, só não uso o lencinho no cabelo, porque é feio”! E ali no quarto ficavam os dois o dia todo conversando, brincando. Ela “ajudando” no banho, na alimentação, mas sem o 15


“lencinho” o que fazia o Benjamin rir muito e suportar o tempo de repouso e recuperação. A Andréa sempre encantou o irmão, por ser tão alegre, expansiva e por amá-lo tanto! Vivemos aquela provação agradecendo ao Senhor por estar conosco e já considerávamos um milagre que tudo tivesse terminado tão bem.

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Capítulo 2 “...mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam” (Isaías 40.31).

A

s crianças cresciam saudáveis, inteligentes. No fim de semana, íamos para a nossa fazendo ou para a chácara do meu pai onde elas se divertiam muito. Sempre brincaram bastante; foram criadas em casa, tinha espaço para correr, andar de bicicleta, skate, jogar bola. Eram felizes, gostavam da forma como vivíamos. Em janeiro de 1988, voltamos para Anápolis. Meu marido achou que Goiânia estava ficando perigosa para criarmos nossos filhos e queríamos que eles crescessem com mais liberdade; haviam sequestrado um menino da idade da Andréa na praça em que eles brincavam, perto da nossa casa, e isto foi suficiente para sairmos de lá. Benjamin e Andréa amaram morar em Anápolis, fizeram muitas amizades e logo adaptaram-se na nova escola. Em outubro do mesmo ano, íamos para uma festa da família em Formosa, cidade próxima de Brasília, quando houve um desastre conosco e meu marido morreu na hora. Foi um acidente horrível, não sobrou nada do nosso carro e eu não morri, certamente, porque não era plano de Deus. Quebrei os dedos, a mão, o braço direito; tive meu corpo esmagado no meio das ferragens e meu rosto, além de ter sofrido fratura em vários lugares, estava bastante cortado e havia cacos de vidro em cada centímetro dele. 17


Todo meu corpo ficou muito machucado. Passei por uma difícil cirurgia para fixar os ossos e dentes. Foram longos e difíceis meses para que eu me recuperasse física e emocionalmente. Meus filhos não estavam no carro. Graças a Deus, não nos acompanhavam nessa viagem. Foi um choque enorme, porque eram muito apaixonados pelo pai. Saber que ele havia morrido e que eu estava mal, que seria operada e ficaria muitos dias em um hospital, tudo isto trouxe um grande sofrimento a eles. O Duarte foi um pai e esposo extremamente especial. Dedicado aos filhos e a mim de uma forma muito bonita. Para ele, nada era mais importante do que a nossa felicidade e, como pai admirável, estar conosco, cuidar e brincar com as crianças priorizava sobre qualquer outro compromisso ou atividade que tivesse. Íamos juntos ao pediatra, ao dentista, natação. Nas inúmeras festinhas de escola, muitas vezes, era o único pai a comparecer. Nos momentos de folga, estávamos sempre unidos: teatro, cinema, zoológico, Mutirama, um grande parque de Goiânia, tudo fazia parte dos finais de semana que passávamos quando não estávamos na fazenda ou na chácara. Perder esse companheiro, amigo tão presente, pai amoroso, que colocava sempre a família acima de tudo, foi doloroso demais para mim e os meninos! Algo que nunca esqueci foi o momento em que levaram meus filhos ao hospital, antes que eu entrasse para o centro cirúrgico, para que eu pudesse contar a eles o que tinha acontecido. Eu quase não podia falar devido às fraturas, estava com o rosto enfaixado, a pele toda marcada pelos hematomas e cortes. O desespero que vi estampado nos olhos dos dois quando me viram naquela cama toda machucada e, pior, quando expliquei que o pai havia morrido e não mais estaria conosco, doeu terrivelmente em mim, no profundo do meu ser, muito mais que a dor física que eu sentia, sendo difícil suportar, mas nós nunca 18


deixamos de falar a verdade abertamente entre nós e não seria naquela hora que isso ia acontecer. Por mais delicado que fosse o momento, eu não podia ocultar nada deles, apesar de serem tão frágeis e pequeninos. A Palavra de Deus nos diz que Ele “faz forte ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor” (Isaías, 40.29). Eu desfrutei naquele instante, integralmente, o cumprimento desta promessa em minha vida. Estava cansada, desolada, exausta, sem nenhuma força, mas o Senhor fez-me forte para que eu pudesse amparar meus filhos diante de tão grande perda. Uma vez, ouvi uma história sobre a águia e aprendi que ela não foge das tempestades, mas voa de encontro ao vento enfrentando aquele desafio de frente, com garra, coragem, ousadia e, quando mais forte for o vento, mais rápido ela sobe, voando assim, muito além do que as suas próprias forças possam levá-las. Hoje eu entendo que, como uma águia, não fugi; antes, enfrentei a tempestade voando em direção ao vento mais forte, não com minha força, mas na dependência total de um Deus que me deu asas para voar, ergueu-me e sustentou-me com Sua mão poderosa, ainda que eu não O conhecesse intimamente. Ficar só, com os dois filhos tão pequenos e inseguros sem o pai, não foi fácil! Eu estava machucada, extremamente debilitada física e emocionalmente, mas não perdi a minha fé! E o meu temperamento não é de ficar questionando o que me acontece. Não pergunto ao Senhor “por quê?”, ou “para quê”? Sempre vi Deus como um Ser soberano, perfeito e sábio demais para ter que me explicar o que Ele faz. Sinto-me muito pequena, mínima, insignificante diante de Sua grandeza, para perguntar ao Criador qual a razão de Seus atos. Deus jamais erra e a mim cabe, apenas, aceitar e continuar a amá-Lo acima de qualquer circunstância. Eu só pedia forças e sabedoria para criar meus filhos da melhor forma. 19


Eu sabia que por mim mesma não conseguiria... Minha família foi maravilhosa. Minha irmã Cláudia ocupando-se com tanto carinho dos cuidados com as crianças, acompanhando-me nas consultas quase diárias, por um longo tempo. Meu irmão Paulo, levando e buscando os meninos em todas as atividades que eles tinham. Outra irmã, Ana Paola, que morava em Brasília, ligando todos os dias e vindo sempre que podia. O que não sabíamos, àquela época, era que ela e sua família, no futuro, seriam fundamentais em nossa vida! Mãe, pai, avó, tias, cunhados, grandes amigos, foram essenciais para que nós não desfalecêssemos... Mas, precisávamos continuar e, assim, fomos conduzindo nossos dias mais unidos. Benjamin com oito e Andréa com seis anos. Estávamos sempre juntos e, lentamente, retomávamos a nossa vida. Nesse tempo, comecei a buscar e a querer conhecer mais profundamente a Deus. Havia ganhado uma Bíblia e comecei a ler, tentando ter conforto naquelas palavras tão bonitas, mas sem entender muito bem o significado delas. Um dia, o Benjamin perguntou-se porque o pai tinha morrido e eu disse que Deus gostava tanto do papai que o havia levado para ficar bem juntinho d’Ele. Então, questionou-me se o Senhor não gostava de nós, porque havíamos ficado... Eu não pude responder para o meu filho, mas uma amiga disse-me que qualquer coisa que eu quisesse saber encontraria resposta na Palavra de Deus, a Bíblia. Então, pedi que o Senhor falasse comigo e quando abri aquele livro, li: “Respondeu-lhe Jesus: O que faço não o sabes agora; compreendê-lo-ás depois” (João 13.7). Todas as vezes que eu pedia uma palavra, eu lia esse versículo; então compreendi que, um dia, eu e meus filhos entenderíamos tudo. 20


Movida pela pergunta do Ben, procurei uma resposta, mas foi por esse motivo que comecei a ler mais e entender a Palavra. E, caminhando com o Senhor, continuamos. Não sem lutas, mas vencendo cada uma delas na força sobrenatural de um Pai, do qual eu procurava me aproximar e tornar-me mais íntima a cada dia. O tempo foi passando. Eles estudavam, faziam curso de inglês, continuavam com a natação, e a Andréa entrou para o balé. Era tão graciosa, fazia tudo com uma delicadeza... O Benjamin, apaixonado, cuidava dela como se fosse muito mais velho, com zelo de pai, e foi sempre assim. Os dois eram muito amigos, amavam-se, respeitavam um ao outro, eram confidentes, desfrutavam de um relacionamento lindo e eu agradecia a Deus por estar conseguindo criá-los dentro de princípios que eu achava fundamental eles conhecerem.

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Capítulo 3 “Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra” (Salmo 121. 1 e 2)

J

á havia passado dois anos, estávamos bem e eu continuava buscando socorro, força e sabedoria no Senhor. Uma pessoa querida demais ficou doente nessa época e isto abalou-me profundamente. Estava muito triste e uma tarde entrei em uma igreja evangélica e fiquei fascinada com o culto. Passei a frequentar, a entender mais e mais a palavra, a aprender a orar, falar com Deus e ter a certeza de que Ele me ouvia, amava e cuidava de mim e dos meus filhos. Aceitei Jesus como meu Senhor e Salvador. Deslumbrava-me com o poder um Pai tão lindo e, graças a Deus, a pessoa por quem eu me preocupara também buscou conforto e solução nesse Senhor, entregou-se em Suas mãos e hoje é uma bênção por onde passa. Um instrumento de Deus em sua profissão e em qualquer lugar que esteja. Fui batizada nas águas, selando assim este compromisso de amor com Quem eu já começava a ter uma intimidade maior e orando sempre para que meus filhos também pudessem conhecer e entregarem-se, vivendo na dependência do Santo Pai, como eu passava a viver. Às vezes, eles iam à igreja comigo, mas em casa nós orávamos, eu lia a Bíblia para eles, explicava que era o Espírito Santo que ia transformar a vida deles, como está na palavra: “Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zacarias 4.6). 22


Devagarzinho, ia semeando a verdadeira sabedoria que eu começara a descobrir, sabendo que um dia a colheita seria, sem dúvida, extremamente farta! Meus filhos cresceram e sempre sendo uma grande bênção em minha vida! Nunca me deram trabalho, nunca se envolveram com drogas, não bebiam, não fumavam. Tinham o maior respeito, atenção e carinho por mim. E, das palavras semeadas, colhi os mais belos e perfeitos frutos, eles entregaram-se ao Senhor Jesus, foram batizados e, cada dia que passava, o Espírito Santo de Deus lhes dava mais sabedoria, domínio próprio, entendimento da Sua vontade na vida deles. Um dia, Benjamin havia saído com alguns amigos e eu orei pedindo que o Senhor me tranquilizasse em relação a ele. Eu achava difícil criar um filho sem o pai, ficava insegura se estava agindo certo. Parecia que com a Andréa era mais fácil, por ser mulher. Quando abri a Bíblia, li: “De Benjamin disse: O amado do Senhor habitará seguro com Ele; todo o dia o Senhor o protegerá e ele descansará nos Seus braços” (Deuteronômio 33.12). Como Deus é maravilhoso; mais claro impossível e eu sentia em meu coração que aquela Palavra cumprir-se-ia, cabalmente, na vida do meu menino! Nossa vida sempre foi muito boa. Tínhamos nosso apartamento, carro, meus filhos eram saudáveis, estudavam nas melhores escolas, graças ao meu cunhado que, desde a morte de meu marido, assumira as despesas escolares; estávamos bem e continuávamos a buscar cada vez mais a direção de Deus em tudo que fazíamos. Com esta aproximação maior, com mais intimidade com o Senhor a cada dia, pude entender aquela passagem onde Jesus falava que o que Ele fazia eu compreenderia depois. O Senhor falou claramente comigo, que foi necessário que Ele permitisse que eu fosse quebrada por fora e que perdesse o homem que eu tinha como se fosse Deus na minha vida, para 23


que eu me quebrantasse por dentro e colocasse toda minha confiança n’Ele. Compreendi que nada deveria ocupar o primeiro amor em meu coração, a não ser o Único, que realmente deve ser adorado e que pode agir a meu favor, em qualquer situação. Senti a intensidade do mover de Deus agindo de forma sobrenatural em mim e entendi que Ele não abre mão de reinar soberano dentro do nosso coração. A Sua presença deve ser suficiente para nós, porque Ele é e d’Ele vem tudo de que necessitamos! O tempo foi passando. Benjamin com 17 anos, Andréa com 15, unidos, obedientes, felizes e já falavam em vestibular, começava a nova etapa em nossa vida. Um dia, Benjamin chegou do colégio e mostrou-me um nódulo no seu pescoço, do lado esquerdo, um pouco abaixo da orelha. No mesmo dia, procurou um médico. Suspeitas, exames, uma pequena cirurgia para retirar o nódulo, biópsia e a espera do diagnóstico. Eu tinha tanta certeza de que não era outro câncer... Ao buscar o resultado no laboratório para entregá-lo ao médico, eu estava em paz, acreditava mesmo que não seria nada grave, mas o inesperado veio como um raio sobre a nossa vida: era um linfoma chamado “tumor de Hodgkin” e teria que ser tratado com radioterapia. Naquela noite, entrei no meu quarto e fiz uma oração em que entregava nas mãos de Deus a vida do meu filho. Lembrei-me da história de Abraão entregando Isaque (Gênesis 22.1 a 14). Conta a Palavra que um homem chamado Abraão foi provado por Deus. O Senhor pediu que Abraão tomasse seu único filho, Isaque, a quem tanto amava, e o oferecesse como sacrifício a Deus sobre um monte que Ele mostraria. Abraão obedecendo a Deus, pegou Isaque e partiu. Chegando ao local determinado, fez ali um altar, sobre ele dispôs a lenha, amarrou Isaque, deitou-o 24


no altar em cima da lenha e, estendendo a mão, tomou o cutelo para imolar o filho, conforme o Senhor havia pedido. Mas, naquele exato momento, do céu ouviu-se o brado de Anjo do Senhor chamando por Abraão. E lhe disse que não estendesse a mão sobre o filho, que nada fizesse a ele, porque agora o Senhor sabia que Abraão O temia, porque não Lhe tinha negado seu único filho. Quando ergueu os olhos, Abraão viu que no meio de arbustos havia um carneiro, e ofereceu-o como sacrifício no lugar do seu amado filho. E a partir deste dia Deus abençoou tremendamente Abraão e toda sua descendência. Eu orei e disse ao Senhor que, a partir daquele instante, eu Lhe entregava o meu primogênito. Se Ele quisesse dar a bênção da cura do meu filho, eu tinha fé para crer, porque eu sabia que Ele tinha todo poder para isto. O meu desejo era este, mas, se não, o Benjamin era do Senhor e eu aceitaria, sem revolta, a Sua vontade. Chorei muito, mas tinha total convicção de que o melhor Deus faria, como fez para Abraão. Antes de sair do quarto, pedi uma Palavra, o que Ele queria de nós. Ao abrir a Bíblia, li: “Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” (1 Tessalonicenses 5.18). E em todos aqueles intermináveis dias, ajoelhávamo-nos agradecendo a Deus por tudo. Mesmo sem entender aquela dor que vivíamos, estávamos confiantes e seguros, porque sabíamos que o Senhor passava conosco, e como isto nos fortalecia! Benjamin ficou bem nas primeiras radioterapias, mas, depois da metade, o seu pescoço, as axilas, sua nunca, seus cabelos ficaram queimados e também por dentro; a garganta, laringe, faringe, era como se um ácido tivesse sido derramado nele. Mas ele não reclamava. Ia para aula de manhã, almoçava já com muita dificuldade para engolir, porque doía muito, então, íamos para a Unidade Oncológica em Anápolis mesmo, para onde fomos encaminhados, e ele era consultado pelos melho25


res médicos. Quando voltávamos para casa, ele calado, eu via lágrimas descendo dos seus olhos. Segurava em suas mãos querendo passar-lhe todo meu carinho e dizer que, apesar de não poder fazer nada, eu estaria sempre ao seu lado. Nunca deixei meu filho sozinho, tudo que fosse preciso fazer, eu e a Andréa estávamos ali, cuidando com todo nosso amor. Não nos dava trabalho algum, nunca deu, mas queria nos poupar, para que o nosso sofrimento não fosse ainda maior. Não lamentava, não se revoltava contra o Senhor, sempre com um sorriso lindo que nos transmitia paz! Nesses meses, como a Andréa foi forte! Ela era o equilíbrio, a alegria, a paciência que nos encorajava. Foi, novamente, a enfermeira dedicada, afetuosa, incansável, que tanto ajudou para que ele permanecesse bem. Toda família, nossos amigos, pastores, irmãos da igreja, também foram fundamentais, nos apoiando, orando por nós, cada um querendo ser útil e estar presente naquele momento tão difícil. O tratamento chegava ao fim e o cabelo do Ben tinha sido, realmente, queimado pela radioterapia; a parte de trás de suas cabeça ficou lisa, sem nenhum fio. Um dia, voltando de uma consulta, recebi um telefonema do seu médico e ele disse-me que a radiografia feita naquela tarde mostrava que a radiação estava destruindo as células cancerosas, mas acabara também com os folículos que faziam nascer os cabelos, por estarem muito próximos ao local do tumor e que, infelizmente, não nasceria mais cabelo onde tinha sido queimado. Você pode imaginar o que seria para um jovem de 17 anos saber que, nunca mais teria seu cabelo restaurado?! Todos os dias, antes que fossem para a aula, eu orava com eles. A partir desse telefonema, passava a mão na cabeça do Ben e dizia ao Senhor que Ele havia dado os primeiros fios, então, 26


que os desse novamente. Eu cria que Ele poderia fazer isto! Fiz essa oração simples, mas com toda fé que existia em mim. E, em alguns dias, todo cabelo foi restituído, lindo, perfeito, pelo Deus de todo poder! Ao voltarmos para nova consulta, o médico olhava e não acreditava no que estava vendo... O impossível ao homem foi possível a Deus!

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Capítulo 4 “O Senhor é o meu pastor e nada me faltará” (Salmo 23.1).

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m dezembro de 1997, terminou o pesadelo que começara em outubro. E eu não posso deixar de enumerar algumas coisas que sempre lembrava e fazia questão de contar todas as vezes que falava sobre o que Deus havia feito: os exames que o plano de saúde não cobria os médicos não cobravam, e eram caros; exames que deveriam ser feitos em São Paulo o seu tio providenciou para que fosse colhido o material em Goiânia e enviado para aquela cidade, o que muito nos facilitou; a atenção, cuidado, afeto e carinho que ele recebeu de um grande amigo, dr. Samir Dahas Bittar, que o operou, acompanhou todo o processo da biópsia e que, quando saiu o resultado constatando que era maligno, tumor de Hodgkin, ele mesmo foi à nossa casa e deu a notícia para o Benjamin, com muito amor e sabedoria, o que foi fundamental para que ele se animasse a fazer o tratamento com radioterapia. O meu filho também contava com alegria como Deus cuidava dos detalhes do nosso dia a dia. Toda a família e inúmeros amigos viveram, intensamente, conosco todo esse tempo. Mas, algumas coisas marcaram: quando a corda do seu violão arrebentou e, sem saber, no mesmo instante, meu pai chegou e deu a ele um dinheiro que era, justamente, o valor das cordas novas que ele queria comprar; um dia que ele estava com muita vontade de comer chocolate e, antes que falasse comigo, minha irmã Ana Paola chegou de Brasília, trazendo uma caixa com os 28


mais diversos tipos; quando, ao chegarmos a nossa casa depois de uma consulta, em que o médico disse que comer suspiro seria bom para ele por causa da proteína, recebemos a visita de uma amiga, Eliana, com um saco de suspiros, que tinham acabado de ser assados; amigos que faziam compras em supermercados e deixavam para nós, sem saber que eu não queria sair para não deixá-lo sozinho; minha família, inventando coisas para que ele pudesse comer sem sentir dor... Coisas aparentemente pequenas e que o Benjamin valorizava tanto. Nunca se esqueceu, sempre testemunhava esses fatos que, para ele, foram tão importantes. Nossa família, vários amigos, mais uma vez foram imprescindíveis; muito nos abençoaram e como sou grata pelo amor demonstrado de inúmeras formas, jamais esquecerei! Nesses poucos meses, de outubro a dezembro, muita coisa mudou e uma delas foi o Ben não queria sair de casa porque estava com vergonha por não ter, ainda, o cabelo e por ter emagrecido 10 quilos em tão pouco tempo. Dos amigos que sempre saíam com ele, poucos iam visitá-lo; mas esses que estiveram por perto permaneceram até o fim. Eu ficava impressionada com o ânimo do meu filho: ficou doente já no final do ano e prosseguia em seus estudos normalmente. Nos dias de prova ele levava a matéria para a Unidade Oncológica, onde fazia radioterapia, e estudava enquanto não chegava sua vez. Persistente, passou de ano, apesar de toda dificuldade e limitação que enfrentava. Quando começaram as queimaduras em seu corpo, na metade do tratamento, ele parou de comer. Não por não ter fome, mas por não conseguir engolir o alimento sólido ou líquido. Tudo doía dentro dele. Foi nesse tempo que emagreceu tanto. No dia 20 de dezembro, terminaram as aplicações, e nada nos alegrou mais do que, na noite de Natal, vê-lo comendo de 29


tudo, sem sentir nenhuma dor! A recuperação do Benjamin foi impressionante, a cada dia notava-se sua melhora, para honra e glória do nosso Deus! Depois de tudo que passamos, todos os meses íamos ao consultório; novos exames eram feitos, felizmente tudo continuava bem. No ano seguinte, o Benjamin prestou vestibular e passou para o curso de Fisioterapia, em Goiânia. Morou um tempo lá, mas não se adaptou. Voltou para Anápolis e viajava todos os dias de ônibus, indo de manhã e voltando à noite. Não gostava de faltar à aula, nunca reclamou que estivesse cansado. Sempre sereno, sempre tendo algo de bom para contar sobre o seu dia. Duas vezes na semana havia culto na nossa igreja e ele ia da faculdade para lá, participávamos do culto e só depois vínhamos para casa, onde ele tomava seu banho, jantava, estudava e dormia, já bem tarde, para recomeçar tudo no outro dia. Quantas vezes eu acordava na madrugada, via a luz do seu quarto acesa e ele ajoelhado, buscando a presença, a direção de Deus, no único tempo livre que tinha. Tudo que o Benjamin planejava, antes ele orava, até sentir do Espírito Santo que caminho tomar, sendo assim todos os dias de sua vida! Nessa época, a Andréa também passou no vestibular e mudou-se para Caldas Novas, cidade turística no interior do estado, a 220 quilômetros de Goiânia, onde cursaria a faculdade de Administração e Hotelaria. Vinha para Anápolis uma ou duas vezes por mês. Era difícil estarmos sem ela, nunca havíamos nos separado e a saudade era muito grande, apesar de conversarmos quase todos os dias. Não foi fácil para o Benjamin e a Andréa viverem longe um do outro, como doeu adaptarem-se a essa nova etapa de suas vidas. Mas, com Jesus sempre presente, superamos todas as situações, não na nossa força, mas na dependência de Deus, que nunca nos desamparou. 30


Continuávamos indo à Unidade Oncológica, agora uma vez ao ano. Todos os exames eram refeitos e, para glória do Senhor, meu filho continuava com a saúde perfeita. Quando completaram cinco anos, o médico que sempre cuidou dele nos deu um atestado comprovando a cura daquele câncer. Já críamos em nosso coração que ele estava curado, mas foi uma bênção muito grande receber esta confirmação das mãos daquele profissional que o acompanhou por todo este tempo.

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Capítulo 5 “Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos” (Isaías 55.9).

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urante o tempo da faculdade, nas viagens de ônibus, Benjamin sempre testemunhou o que Deus fazia. Ia falando de sua cura, de como o Senhor foi um Deus de providência em nossa vida. Ele nunca perdeu uma oportunidade de exaltar o nome do Senhor por onde quer que fosse. Fiquei sabendo, recentemente, que ele entrava no ônibus e já começava a falar do amor de Deus. Uma amiga sua me contou que ele passava a mão nos cabelos e dizia: “Aqui o meu milagre”! O Benjamin calado, até um pouco tímido, introvertido, quando falava do Senhor, tinha ousadia, não ocultava as experiências que poderiam glorificar o nome de Jesus, Aquele que ele tanto temia, respeitava e adorava! O tempo foi passando, ele sempre colocando Deus e Sua vontade em primeiro lugar. Terminou a faculdade com êxito, apresentando a monografia e sendo elogiado por todos os examinadores; aguardava o dia de sua formatura que seria em agosto de 2004. Vencia mais uma etapa e preparava-se para fazer um curso de pós-graduação em Reabilitação Postural Global, RPG, que se iniciaria em janeiro de 2005, em Brasília. Nesse intervalo, minha avó adoeceu gravemente, entristecendo-nos muito. O Benjamin tinha uma preocupação maior com ela. Falou de Jesus, do Seu amor, que só Ele nos dava paz e a 32


certeza da vida eterna; dizia tudo com imenso carinho e paciência. Em um domingo, para nossa alegria, aos 92 anos, ela aceitou Jesus como seu Senhor e Salvador. Com a permissão do nosso pastor, levamos a ceia para ela, explicando que o pão simbolizava o corpo e o suco de uva representava o sangue de Cristo, que morreu por nós, para livrar-nos da culpa de nossos pecados e que, depois de três dias, ressuscitou e está sentado à direita do Pai. Esse Senhor maravilhoso é o Único Mediador entre Deus e os homens: “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1 Timóteo 2.5). Disse a ela que Jesus estava vivo entre nós, para nos abençoar e perdoar. E a vó Filhinha, bisavó tão amada, com toda reverência, emocionada, comeu o pão, bebeu o suco, participando da ceia do Senhor, ministrada pelo seu primeiro bisneto, Benjamin, o que nos alegrou imensamente! Poucos dias depois, ela completou 93 anos e logo em seguida faleceu. Em paz, serena, sabendo que estava indo para os braços do Pai. E a vida prosseguia... Em agosto o Benjamin formou-se. Em seu convite escreveu uma frase que “achava a coisa mais certa”: “O que faz um homem ser grande diante de Deus não é o que ele é, mas a Quem ele segue”. Não sabemos quem a escreveu, mas foi algo que o Benjamin sempre guardou no coração. A cerimônia de colação de grau foi linda, quando tivemos ao nosso lado as pessoas que mais o amavam e ele estava muito feliz. Ao receber o diploma, levantou o braço ao céu e deu toda glória ao Senhor, Amigo fiel, que nunca o abandonou em todos os anos de luta e dificuldades pelos quais havia passado, sempre o conduzindo em triunfo! No dia seguinte, telefonou a cada um que tinha estado conosco, agradecido por compartilharem com ele aquele momento tão importante, era o seu jeito de retribuir a felicidade que sentia! Meu filho não tinha vergonha de expor o sentimento 33


de gratidão, de amor, e falava a todos: “Muito, muito obrigado por ter ido, fiquei muito feliz, Deus te abençoe”! E eu sei que todos se sentiram abençoados pelas suas palavras. Foram palavras sinceras, ele jamais disse algo que, verdadeiramente, não sentia... Nos meses seguintes conseguiu a vaga no curso de RPG, fez sua matrícula, ficaria na casa de minha irmã, Ana Paola, que morava em Brasília. A expectativa de começar a trabalhar e ter seu próprio dinheiro, em ser, realmente, o provedor da casa, em cuidar de mim e da Andréa, trouxe novo ânimo e uma alegria muito grande ao coração do Benjamin. Vivemos dias de planos, projetos, esperança de ter seus sonhos profissionais realizados. Ele já fazia estágio em uma clínica e preparava-se para trabalhar no Hospital São Lucas, em Goiânia, a convite de sua tia Ignêz, viúva de seu tio Benjamin que, infelizmente, já havia falecido. Essa família foi uma bênção na vida dos meus filhos e na minha também. Jamais poderei retribuir tudo que eles fizeram por nós. E como o Ben amava esta “minha tia Ignêz”!. Apesar desses dois trabalhos em Goiânia, seu sonho maior era ter sua própria clínica em Anápolis. O Benjamin estava entusiasmado! Queria muito trabalhar, ter seu tempo para Deus, fazer exercícios na academia que sempre frequentou; ter uma namorada que se tornaria sua esposa, uma mulher separada por Deus para completar sua vida. Estes eram seus planos, só não sabíamos que os planos do Senhor já haviam sido traçados e não eram os mesmos...

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Capítulo 6 “O Senhor é bom, é fortaleza no dia da angústia e conhece os que nele se refugiam” (Naum 1.7).

N

o final do mês de novembro de 2004, Benjamin começou a sentir um incômodo, um desconforto no ombro direito quando andava uma distância maior. Como fazia musculação e levantava uma carga grande de pesos, pensamos que pudesse ser por causa dos exercícios. Às vezes, ele andava e não doía; outras, era necessário tomar remédio, o que ele não gostava. Desde o tempo em que fez radioterapia, o único analgésico que ele usava era Paracetamol, e um comprimido era suficiente para tirar qualquer dor. Benjamin cuidava sempre da alimentação, não bebia, não fumava, exercitava-se regularmente, praticamente não adoecia. Era muito saudável e quando sentia dor, assim que tomava o medicamento, melhorava. Dessa vez, não passou e isto nos preocupou. Em dezembro já tínhamos consulta marcada com o médico dele, na Unidade Oncológica. Por causa desta dor, liguei e consegui antecipar a consulta para o final de novembro. Ele examinou o Ben e disse que, aparentemente, estava tudo certo, mas pediu diversos exames, que fizemos logo que saímos de lá. Os de sangue estavam normais. Começaram então novos exames: tomografia, ressonância magnética do ombro direito; a tudo que nos foi solicitado providenciamos imediatamente. Benjamin notou uma saliência embaixo do braço direito que, se comprimida, doía. Voltamos ao médico dele com os 35


exames e fomos encaminhados a outro médico. Não se chegava a um diagnóstico. Sabia-se que havia algo localizado naquela região, mas não o que era. Próximo ao Natal, voltamos ao médico e a dor havia aliviado um pouco. Não parecia ser nada sério e, depois de várias consultas e opiniões, ficou decidido que o meu filho poderia fazer a primeira parte da pós-graduação, que seria no início de janeiro. Tomaria anti-inflamatório e, quando voltasse, faria uma biópsia para chegar a um diagnóstico mais preciso. Benjamin desejava fazer muito o curso, não queria perder uma oportunidade que só seria possível no outro ano, se conseguisse uma vaga. Ainda que ele pensasse que poderia ser algo mais grave, naquele momento, participar desse curso era mais importante para ele, por isso, depois de conversarmos com o médico, ele se preparou para ir a Brasília e passou cerca de duas semanas lá. Mas não passava pela nossa cabeça que seria outro câncer. Nós conversávamos todos os dias. Ele encantado, aprendendo muito, sempre tinha uma novidade boa para contar e, quando eu perguntava do braço, ele me dizia que estava bem, continuava com o anti-inflamatório e não sentia muito incômodo. Doía uma vez ou outra, mas nada muito forte. Fez toda primeira parte do curso sem nenhum problema aparente, mas, notando que aquela saliência debaixo do braço aumentara, voltou para Anápolis, onde em seguida retornamos ao médico que havia passado a cuidar dele. Durante as semanas que Benjamin ficou em Brasília, esse médico entrou em contato com o radiologista que fizera os exames e também com mais dois profissionais, um neurologista e um angiologista. Aquela “mancha” vista na ressonância e que se podia sentir, quando tocada, estava localizada em uma região onde havia muitos nervos e veias, por isso a biópsia teria que ser feita por esses médicos, para não causar uma lesão nos nervos 36


ou até mesmo, uma hemorragia. Foi marcada, então, para o dia 17 de fevereiro. Naquele dia seria a formatura da Andréa. Havia terminado seu curso e, exatamente no dia 17, seria a colação de grau. Ela não foi. Com muito amor, preferiu ficar ao lado do irmão, acompanhando tudo de perto, e como ele ficou grato e feliz por estarmos juntos em mais um momento delicado que vivíamos. A presença de Andréa sempre trazia calma, conforto, segurança. O amor de um pelo outro os unia cada dia mais e isto o ajudava a superar as dificuldades. “Um ao outro ajudou e ao seu próximo disse: Sê forte” (Isaías 41.6). Benjamin entrou no centro cirúrgico bem cedo e depois de um tempo saiu sem ter feito a biópsia. Fizeram umas punções no local e enviaram para o patologista analisar. O resultado deu “inconclusivo”, não definindo o diagnóstico. Decidiram, então, operá-lo. Foram feitos novos exames aqui em Anápolis, mas um seria em Goiânia, para onde eu fui com ele e ficamos por dois dias, até ele recuperar-se, tão minucioso, sofrido e delicado que era. Quando os exames ficaram prontos, marcaram a cirurgia para o dia 2 de março. Meu filho estava sereno. O que ele queria era ver tudo terminado, com um diagnóstico que esclarecesse, para que fosse tratado logo e acabasse com aquela incerteza que nos acompanhava deste novembro. Fui com ele até o centro cirúrgico mais uma vez; beijou-me e disse: “Mãe, Deus te abençoe; fica calma, vai dar tudo certo”! Nessa cirurgia, pela localização daquela “massa”, corria-se o risco de perder a mobilidade, a sensibilidade dos dedos da mão direita, pela possibilidade de lesão dos inúmeros nervos encontrados naquela região, mas ele estava confiante no Senhor, de que nada aconteceria. Depois de quase oito horas, os médicos chamaram-nos para ver o que eles haviam 37


retirado: era um tumor tão grande, mais ou menos do formato e tamanho de um abacate. Eles o colocaram dentro de um tubo de soro que ficou totalmente cheio. Enviariam para analisar e, só então, nós teríamos a certeza do que poderia ser aquilo. Mas, para glória do Senhor, embora tenha sido uma cirurgia muito difícil, tiveram que chamar um ortopedista durante a operação porque havia osso junto com os nervos, veias e toda aquela massa, apesar de todos os riscos, o Ben não teve seus dedos prejudicados. Tudo estava, aparentemente, perfeito no final da cirurgia...

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Capítulo 7 “Em Ti, me tenho apoiado desde o meu nascimento; do ventre materno Tu me tiraste, Tu és motivo para os meus louvores constantemente” (Salmo 71.6).

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ois dias depois, voltamos para casa e ficamos aguardando o resultado da biópsia. Benjamin recuperou-se rápido, não sentiu dores fortes, o corte, mesmo tendo sido grande e em lugar incômodo, não inflamou e a cicatrização foi excelente. O fato do meu filho sempre cuidar da alimentação, não fumar nem beber, fazer exercícios regularmente ajudava bastante sua recuperação física. A fé e confiança em Deus que sempre tivemos impulsionava-nos a continuar, a não desaminar, não desesperar, nem murmurar. Sabíamos que estávamos em Suas mãos e que Ele nos fortalecia em todo tempo. Meu filho não se queixava. Estava cansado de tantos exames, tinha que ficar em repouso e isto não era fácil, mas obedecia a tudo que nos fora orientado. O mais difícil era ficarmos parados, não podíamos fazer nada, planejar, nada enquanto não saísse o resultado, e este estava demorando muito. Não chegavam a uma conclusão, continuavam analisando com cuidado o material retirado do corpo do Ben. Os pontos já haviam sido tirados, a cirurgia tinha sido um sucesso, graças a Deus, mas ainda não tínhamos o diagnóstico. Até que, 15 dias depois, dia 17 de março, o resultado chegou a nossas mãos e era o pior possível: Osteossarcoma parosteal. Um tumor maligno na escápula, ou omoplata, que é um osso grande e plano, localizado na parte superior das costas, onde 39


se observavam sinais de comportamento infiltrativo, com permeação de tecido muscular esquelético nas zonas periféricas, havendo comprometimento de margens cirúrgicas, o que significava que, infelizmente, poderiam ter restado células tumorais e estas, eventualmente, voltarem a se desenvolver. Foi difícil demais dar essa notícia ao meu filho. Estávamos sozinhos em casa, a Andréa voltaria de Caldas Novas ainda naquele dia, havia ido receber o diploma da sua colação de grau, já que não havia participado da formatura por ser no mesmo dia da biópsia do irmão. Fui ao hospital e voltei com o resultado do exame nas mãos. Ao entrar em casa, ele olhou para mim e disse: “De novo, mãe”? Respondi que sim... Abracei meu filho e choramos muito, sentindo uma dor tão forte, que não conseguíamos falar. Não sei quanto tempo permanecemos abraçados: eu querendo consolar e dizer que estaríamos juntos, lutando como da outra vez, desejando que o sofrimento dele fosse transferido todo só para mim; ele, querendo que eu não sofresse pelo que estava passando, fazendo-se de forte para tentar diminuir minha dor. Antes que eu pudesse raciocinar, pensar o que fazer, e eu confesso que, naquele momento, não tinha a menor condição de tomar nenhuma decisão, a solução já havia chegado a nós: deveríamos ir para o Hospital Sarah; lá havia a melhor equipe, os melhores médicos para acompanhar o Benjamin. Iríamos para Brasília, onde uma consulta marcada para segunda-feira próxima já nos aguardava. O Senhor usou amigos muito queridos para nos ajudar naquela hora de agonia que enfrentávamos. Conseguir atendimento tão imediato nesse hospital, aos nossos olhos, já era uma bênção muito grande de Deus, e o melhor era que minha irmã morava em Brasília e ficaríamos em sua casa enquanto fosse necessário. 40


Logo a Andréa chegou, meu pai veio ficar conosco e, novamente, toda família e tantos amigos mobilizaram-se, uniram-se para tornar tudo mais fácil para nós, para que a nossa dor, que também passou a ser deles, não fosse tão forte. Eu não poderia escrever o nome de todos que nos apoiaram! Foram tantos queridos que, certamente, deixaria de citar um ou outro e isto seria demasiadamente injusto da minha parte, visto que cada um, a seu tempo, de sua maneira, tornou-se imprescindível nesse período tão indefinido que esperava por nós. A única certeza que tínhamos era que o Senhor jamais nos abandonaria e que Ele escolhia as pessoas certas a cada instante para estarem conosco. Continuamos a crer e louvar com todo nosso coração esse Deus que nunca nos abandonou. E como sou grata a todos que oraram, que sofreram nossa dor, angustiaram-se com os problemas que surgiram, que se alegraram com as boas notícias, entristeceram-se com o inesperado, e continuaram firmes conosco. O Senhor abençoe e retribua a cada um, meus amados!

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Capítulo 8 “Não temas, porque Eu sou contigo; não te assombres, porque Eu sou o teu Deus; Eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel” (Isaías 41.10).

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ntão, tudo foi muito rápido. No domingo pela manhã, dia 20 de março, eu, Benjamin e Andréa seguimos para Brasília, para a casa de minha irmã Ana Paola, que nos próximos meses tornar-se-ia a segunda mãe de meus filhos, tão grande o amor, dedicação e carinho dela e de sua família; todos eles foram decisivos, imprescindíveis para que o nosso sofrimento se tornasse menos doloroso e mais suportável. E nesse tempo eu entendi o que é andar sobre as águas: em Mateus 14.25 a 33, o evangelho nos conta a história de que, uma noite, Jesus foi ter com seus discípulos, andando sobre o mar. Eles ficaram aterrorizados, pensando que era um fantasma e gritaram de medo. Mas Jesus, imediatamente, acalmou-lhes dizendo que era Ele, para que não temessem. Pedro respondeu-lhe que, se fosse Ele mesmo, que o mandasse andar sobre as águas. Jesus lhe disse para ir. Pedro, descendo do barco, foi ter com Jesus andando sobre as águas. Mas o texto nos mostra que Pedro, temendo a força do vento, começou a afogar-se e gritou para Jesus salvá-lo. Prontamente, Jesus lhe estendeu a mão e fez cessar o vento. E aqueles que estavam no barco adoraram-No e disseram que, verdadeiramente, ERA FILHO DE DEUS. Eu aprendi que andar sobre as águas é você partir sem entender como vai ser, sabendo que haverá tempestade, que 42


o vento vai ser tenebroso e assustador se você olhar para ele, mas que, se andar de acordo com a vontade do Senhor e em direção a Ele, o Senhor Jesus lhe segura pela mão e aquieta a tempestade, seja ela qual for. E assim foi conosco, em todo tempo. Houve grandes tempestades, dias em que o vento soprava forte e assombroso, mas eu aprendi a não olhar para o vento nem ouvir o seu zunido, mas agir como a águia, enfrentando, confiando e prosseguindo; ser como o discípulo quando andava sobre as águas, dando mais um passo, um cada vez, porque eu cria que Jesus estava conosco, ao nosso lado, bem pertinho, com a mão estendida, pronto a nos acolher em Seus braços de amor. E o Benjamin também nos dizia: “Um dia de cada vez; não vamos nos lembrar das dores de ontem, nem nos preocuparmos com as que poderão vir amanhã. Vamos viver só o hoje. Um dia de cada vez”. E assim o fizemos; vivendo e aprendendo mais e mais a Palavra de Deus, que nos ensina: “Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal” (Mateus 6.34). Antes da primeira consulta no Hospital Sarah, que seria na segunda-feira, às 14 noras, minha irmã Cláudia, teve uma direção de Deus de fazermos uma corrente de oração a favor da vida do Ben. Ao meio-dia, todos estariam intercedendo por nós, orariam o Pai-Nosso, para que fosse feita a vontade do Senhor. E assim o fizemos: centenas de pessoas, cada uma à sua maneira, parou naquela hora entregando a causa nas mãos do “Médico dos médicos” e eu entendo hoje que a nossa oração foi ouvida e respondida. Começou então a maratona de exames. Da cabeça aos pés, nada ficou sem ser radiografado, tomografias e ressonâncias de todo o seu corpo, em várias posições. Um dia, o Benjamin passou cerca de 9 horas na sala de ressonância, em jejum alimentar, recebendo medicação venosa e oral (contrastes) para inúmeros 43


exames de sangue, ultrassonografia, cintilografia óssea... Tudo que poderia ser pesquisado, analisado, foi estudado pela equipe tão competente e atenciosa do Hospital Sarah. Concluíram que mais uma cirurgia seria realizada, desta vez para retirar a escápula. E existiam duas possibilidades: o braço do Ben ficaria sem movimento, coordenação e força, como “polichinelo”, ou poderia ser amputado na altura do ombro. Como foi terrível ouvir isto! Meu filho com 24 anos tinha terminado a faculdade de Fisioterapia, estava se especializando em Reeducação Postural Global, RPG, deveria trabalhar usando os dois braços, suas mãos e, de repente, isto não seria mais possível com a perda do braço direito. Era o fim de todos os sonhos profissionais, projetos de uma vida de estudos e dedicação... Mas, em todo tempo, Benjamin foi de uma serenidade, um equilíbrio jamais visto. Sua fé, confiança inabalável em um Deus que já conhecíamos, levava-nos a prosseguir crendo que o melhor o Senhor faria. Ele estava nas mãos dos melhores médicos, no melhor hospital do país e na dependência total do Único Deus, o Todo Poderoso Senhor da nossa vida! Apesar de toda dor que vivíamos, sentíamo-nos amparados por Jesus, pela família, nossos pastores, amigos e tantos outros, que nem conhecíamos, mas que oravam e amavam o Benjamin, mesmo sem nunca o terem visto. Isto nos fortalecia, alegrava e impelia-nos a continuar voando contra o vento e a andar sobre as águas! Ele internou-se para fazer os últimos exames pré-operatórios. Estávamos juntos em todo tempo e um dia antes da cirurgia um dos médicos entrou no quarto e pediu que o Benjamin o acompanhasse até a oficina do hospital, para que fosse feito o molde da prótese do seu braço direito. Meu filho seguiu calado aquele médico, mas me disse: “Mãe, não preocupa, Deus é fiel!”. 44


Hoje, relembrando tudo isso enquanto escrevo, percebo como Deus esteve presente. Não há explicação viver tão profunda dor sem perder o controle, sem enlouquecer. Somente crendo no sobrenatural suportaríamos com dignidade a tempestade que estávamos sendo obrigados a enfrentar. E, mais uma vez, a destra fiel do Senhor era conosco, para nos amparar, dirigir, sustentar.

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Capítulo 9 “Não me desampares, Senhor; Deus meu, não te ausentes de mim. Apressa-Te em socorrer-me, Senhor, salvação minha” (Salmo 38.21 a 22).

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hegara o momento da cirurgia. Acompanhei meu filho até a sala, dizendo o quanto o amava, que tudo ia dar certo e, realmente, cria nisso com todas as minhas forças. Ele estava sereno, deu-me um sorriso lindo e disse: “Mãe, eu te amo, está tudo bem; Deus é fiel!”. Benjamin jamais se envergonhava de dizer que nos amava: a mim e a Andréa. É difícil ouvir-se um jovem que não se constrange em demonstrar carinho, afeição, amor, mas para ele isso era natural, fazia parte do seu jeito de viver, e como era bom sentirmo-nos amadas por ele. Foi uma longa cirurgia. Não sabíamos quanto tempo seria e a espera só foi possível por causa da nossa confiança em Deus e o carinho de todos que estavam ali. Quando me levaram para buscá-lo, no meio de soro, tubo, medicação, ali estava ele sorrindo e dizendo: “Olha mãe, meu braço, meus dedos”. E mexia os dedos que não perderam os movimentos... Glória a Deus, Ele é fiel, já sabíamos disto. Sua recuperação foi, mais uma vez, surpreendente, Apesar de seu braço ter ficado com uma pequena sequela, não se movia na parte superior e o ombro ficou mais baixo do lado direito, por ter sido necessário retirar toda escápula, ainda assim, ele não perdeu a sensibilidade nem movimentos de sua mão e isto era excelente, poderia trabalhar depois que terminasse todo 46


tratamento. Mesmo no hospital ele escrevia, desenhava, tocava violão. Não tinha dor, alimentava-se bem, cada dia animava-se um pouco mais. Quando recebeu alta, já estava marcado o início da quimioterapia que faria como complemento do tratamento. Enquanto se recuperava, íamos a consultas periodicamente e, em um destes retornos ao Sarah, constataram que ele havia sofrido uma trombose no braço que fora operado. Mais uma vez internado, medicação e exames de sangue para controlar o nível da coagulação. Mas, graças a Deus, apesar da gravidade, ele não sentia dor nenhuma e todos diziam que essa dor é muito forte. Em um sábado ele deveria voltar para casa, mas, por não ter atingido o nível satisfatório de coagulação, os médicos adiaram sua saída para segunda-feira. No domingo à noite, ele estava bem, um pouco cansado, mas em paz, calmo e sem dor. Fui para casa despreocupada. Na segunda-feira cedo, quando íamos para o hospital, recebi um telefonema de uma das médicas dizendo que eu fosse depressa, porque o Benjamin havia sofrido um pneumotórax agudo, que é o acúmulo súbito de grande quantidade de ar no pulmão, podendo levar à morte. Ele estava sendo conduzido novamente para cirurgia, colocariam um dreno para esvaziar o ar acumulado no pulmão direito e, se eu não fosse logo para o hospital, não poderia ver meu filho antes dele ser, mais vez, operado. Foi o caminho mais longo que já percorremos, não chegávamos nunca. E a médica ligou novamente, era grave o que estava acontecendo, não poderiam esperar mais. Falei com meu filho pelo telefone, abençoando-o, dizendo que tudo ia dar certo. Ele estava ofegante, sem ar, mas ainda disse que estava tudo bem, que me amava e que Deus era fiel! Só o Senhor para recompensar a minha irmã por tudo que passamos juntas! Não sei como conseguiu dirigir e chegarmos a tempo, antes que entrasse para o centro cirúrgico. 47


Era a primeira vez que acontecia algo com o meu filho e eu não estava com ele e isto me fazia sentir muito mal. Nós orávamos,suplicando ao Senhor que não desamparasse o nosso menino, que Ele se apressasse em socorrê-lo. E, mais uma vez, Ele nos ouviu! Quando chegamos ao hospital e saíamos do elevador, o Benjamin estava passando na maca e eu pude segurar a sua mão e lhe dar um beijo. Sorriu, respirava com muita dificuldade, mas disse: “Não esquece, Deus é fiel!”. Eu o abençoei mais uma vez e cri na fidelidade desse Deus que meu filho exaltava em todo momento. A Palavra nos ensina que “Aquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a Ele seja a glória...” (Efézios 3.20). Nessa hora, eu só falava isso com Deus. E, novamente, Ele foi poderoso para fazer mais do que pensávamos e eu glorifiquei o Senhor por continuar conosco nessa hora tão difícil. Ficamos sabendo depois que, se o Benjamin estivesse em casa, não teria tido tempo para chegar com ele até o carro. Ele só não morreu porque estava no hospital e foi socorrido imediatamente. Enquanto se recuperava, ainda internado, fizeram novos exames. Havia uma saliência abaixo do pescoço, do lado esquerdo, palpável, precisava ser investigada. Quando cheguei ao hospital pela manhã, ele disse: “Mãe, tenho duas notícias: uma muito ruim e outra muito boa; o que você quer saber primeiro? Eu disse que falasse a ruim. “A ruim é que eles acharam mais um tumor; vão fazer uma biópsia, mas não podem operar porque está infiltrando as cordas vocais (ele estava rouco desde a primeira cirurgia, em Anápolis) e comprimindo a jugular, mas a quimioterapia que eu vou fazer trata este tumor também.” Ele falou isto tão calmo, tão resignado... Então, perguntei qual era a boa notícia? “A boa, mãe, é que eu descobri que EU ESTOU 48


APAIXONADO POR DEUS; SOU E ESTOU APAIXONADO POR JESUS E PELO ESPÍRITO SANTO! O RESTO NÃO IMPORTA. EU NÃO QUERO SABER SE DEUS ME AMA OU NÃO. EU O AMO E ISTO ME BASTA!”. Ah!... Quanto aprendi com meu filho. Aprendi que nós conhecemos a palavra e, no entanto, não a vivemos como deveria ser. E quando vemos alguém vivendo na íntegra a palavra de Deus emocionamo-nos, até choramos, admirados. O que aprendemos? “Mestre, qual é o grande mandamento na Lei:” Respondeu-lhe Jesus: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento” (Mateus 22. 36 a 38). Quando Benjamin fez esta declaração de amor a Deus, ele estava vivendo um dos piores momento da sua vida. Já tinha passado por tantas lutas, acabava de descobrir mais um tumor e, nessa hora, ele expressa o grande amor inexplicável, que sentia pelo Senhor. Nada extraordinário para quem vivia uma vida de total intimidade com o Pai, mas que nos surpreende, uma vez que nem sempre nos lembramos de Deus ou mesmo agradecemos, ao recebermos uma bênção de Suas mãos. Imaginem então, exaltá-Lo no pior momento. Se realmente vivêssemos, integralmente Seus ensinos, assim é que deveria ser: amar ao Senhor de todo o nosso coração, de toda a nossa alma e entendimento, na alegria, na vitória, na conquista, sim, mas também na dor, na perda, no desespero, no dia da tribulação. Todas as vezes que surgia uma situação difícil e não entendíamos o que Deus queria de nós, antes que pudéssemos questionar a Ele pelo que passávamos, o Benjamin dizia: “Mãe, Deus não é para entender, mas para amar e obedecer!”. Que lição de vida, de entrega, aceitação, amor e sabedoria eu pude desfrutar ao lado dele. 49


Capítulo 10 “Mas Tu, Senhor Deus, ages por mim, por amor do Teu nome; livra-me, porque é grande a Tua misericórdia” (Salmo 109.21).

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ontinuou internado, recuperando-se e, como tudo estava bem, os médicos marcaram para fazer a biópsia do tumor, fechar a abertura da pleura, que não se fechou espontaneamente, e colocar o cateter, que permitiria a via de acesso para a infusão da quimioterapia, em uma mesma ocasião. Ele já tinha feito a primeira quimioterapia no dia 12 de maio, sem o cateter. Por tudo que havia acontecido (trombose, pneumotórax, outro tumor) não poderiam espaçar mais. Também já tinha recebido três anestesias; acharam mais prudente fazer só mais uma, rápida, apressando o tempo, para que ele continuasse a quimioterapia. Como sempre, ele estava muito calmo, sempre dizendo que Deus é fiel, com um sorriso tão bonito, que me aquietava. Hoje, sempre que me lembro dos seus olhos, seu semblante, o meu coração sente muita paz, apesar da imensa saudade! Ben, mas aquele procedimento, que seria um trabalho rápido e normal para os médicos, não foi. Meu filho deixou a sala de cirurgia quase 7 horas depois e foi levado para a UTI. Não sei bem o que lhe aconteceu, foi algo com seu coração. Quando o vi, eles permitiram que eu ficasse com ele, estava com tantos tubos, aparelhos ligados monitorando pressão, batimentos, com sonda, oxigênio. Perguntei como ele estava e me disse: “Mãe, estou muito feliz; tudo que eles precisavam fazer foi feito. Agora é só começar 50


o tratamento. Acabou; eles não vão me abrir mais. Daqui para frente, é só beleza”. E foi. Mais uma vez, rapidamente, recuperou-se e no outro dia já estava novamente na enfermaria, alimentando-se, cooperando em tudo com os médicos. Queria ficar bom logo. Eles nos explicaram todos os efeitos colaterais que poderiam surgir durante o tratamento com quimioterapia: o cabelo cair, vômito, diarreia, manchas vermelhas no corpo, feridas na boca, febre, anemia, a urina cor de “água de carne”... O Benjamin disse que não teria nada daquilo, e não teve. No dia 30 de maio, fez a segunda quimioterapia e passou bem. Ao sairmos de lá fomos passear, ver uns livros que ele queria comprar, comer pizza. E assim foi durante a maior parte do tratamento: íamos para o Sarah cedo, ele recebia a medicação e à noite voltávamos para casa, até dia 17 de outubro, quando, finalmente, terminou o tratamento com quimioterapia. Meu filho foi um exemplo de vida, de perseverança, de fé em um Deus que ele amava tanto, incondicionalmente, como deve ser o nosso amor pelo Senhor. Durante esses meses passamos muitos momentos difíceis, superados somente porque sabíamos que estávamos totalmente nas mãos do nosso amado Deus, e confiávamos que Ele estaria agindo por nós e nos sustentando com Sua destra fiel. Apesar dos efeitos colaterais não terem se manifestado tão violentos, agressivos, como os que pudemos presenciar em outros pacientes que também estavam se tratando, o Benjamin sofreu muito. Tinha acabado de se formar, feito a primeira parte da especialização que era seu sonho, mas não poderia concluir o curso, nem mais trabalhar nesta área, por causa da limitação física que teve no braço direito. Seus planos teriam que ser modificados, mas meu filho sempre foi um guerreiro e, mesmo com esta deficiência, ele fazia novos planos para quando 51


estivesse em casa. Leu inúmeros livros durante todo esse tempo; aprendeu muito sobre a doença e tinha projetos de como tratar através da fisioterapia possíveis pacientes que tivessem o mesmo problema que ele. Uma das qualidades que eu mais admirava no meu filho era que ele não desanimava, via confiante uma nova maneira de superar cada problema que surgia. Eu sempre me lembro dele dizendo: “Mãe, um dia de cada vez. Não vamos ficar lembrando da dor que passou, nem pensar no que poderá vir. Só o dia de hoje é que importa; vamos viver da melhor forma este dia, assim fica mais fácil”. E, dentro deste pensamento, os planos para o futuro sempre foram positivos, nunca pensando de forma negativa, pessimista. Agindo desse jeito, sabiamente instruídos pelo Senhor, tornamos o sofrimento mais suportável. Mas, houve dias em que ele “brigou” muito com Deus. Apesar de toda fé, toda aceitação que ele sempre demonstrou ter, não foi fácil viver novamente o desgaste que essa doença traz. Houve dias maus, em que ele, em oração, questionava, chorava, não ficava passivo diante da situação tão difícil que mais uma vez estava enfrentando. Era ele e o Senhor! Mas, todas as vezes que isso acontecia, quando terminava de orar, de ter seu momento de intimidade, de desabafo com o Pai, ele reerguia-se renovado, confortado pelo amor de Deus, e dizia-nos como Jesus era maravilhoso, que devíamos sempre agradecer por tudo. Ele sabia nas mãos de Quem deveria deixar toda dor, dúvidas, fraqueza, debilidade. Entendiam-se muito bem: como um Pai que ama e perdoa, como um filho que a princípio esbraveja, mas depois entrega-se e descansa, confiando plenamente no poder desse Pai!

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Capítulo 11 “Só Ele é a minha rocha, e a minha salvação, e o meu alto refúgio; não serei jamais abalado” (Salmo 62.6).

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erminado o tratamento com quimioterapia, iniciou-se uma nova etapa: os exames feitos anteriormente no hospital Sarah foram repetidos, também um novo exame de cintilografia óssea foi solicitado. Seria realizado em outro local, no Centro de Medicina Nuclear. Quando recebemos o resultado deste exame, tivermos uma grande alegria: não havia nem formação de processo infeccioso, inflamatório ou tumoral no corpo do meu filho. Mas, os do Sarah mostraram que, próximo ao lugar onde existiu um tumor que infiltrava nas cordas vocais, ainda existia um nódulo supraclavicular, do lado esquerdo. Era mínimo, mas seria necessário o complemento com radioterapia, que faríamos em outro hospital, já que no Sarah não havia o aparelho para esse tratamento. A equipe, sempre impecável, prestativa e eficiente que tratou do Benjamin, conduziu-nos a uma médica maravilhosa, que passou a cuidar dele com um carinho e atenção sem medida, tranquilizando e aquietando o seu coração já cansado por tantas lutas que enfrentara. Novos exames e o tratamento definido: seriam 17 sessões de radioterapia e então chegaria ao fim. Outra notícia boa foi que a dosagem de radiação seria bem menor do que a que ele recebera no primeiro tratamento, quando tinha 17 anos e, por isto, não teria queimaduras como da outra vez. 53


Os médicos animaram-se, porque, além desse nódulo, não tinha mais nenhum tumor. Ele já havia parado com a medicação para a trombose, o sangue estava normal, graças a Deus, tudo ia muito bem. Benjamin perguntou aos médicos se depois da radioterapia haveria mais algum procedimento e eles responderam que não. Seria como da outra vez, quando ele terminou o tratamento para o tumor de Hodgkin: voltaríamos ao hospital de três em três meses para controle e, com o tempo, as consultas iriam se espaçando, até que fosse somente uma vez por ano. Começou então o novo tratamento dia 21 de novembro e, como seriam 17 sessões seguidas, fora os domingos, antes do Natal ele já teria tido alta. A tempestade estava passando, mas eu sentia meu filho triste, calado. Ele estava esgotado, pensativo demais, e o meu coração entristeceu. A situação que vivíamos agora era muito melhor do que quando chegamos e desconhecíamos completamente o que teríamos pela frente. Estava no final e, apesar de tanto sofrimento, os resultados sempre foram os melhores: não amputaram o seu braço, não houve efeitos colaterais que ele não pudesse suportar, venceu uma trombose, sobreviveu ao pneumotórax, reagiu a um problema inesperado na última vez que entrou para o centro cirúrgico; estava se recuperando muito bem, mas eu não tinha paz, doía dentro de mim uma angústia intensa, inexplicável. Uma noite, na madrugada, depois de passar um longo tempo em oração, pedi ao Senhor que falasse comigo através da Sua Palavra. Quantas vezes eu já havia recebido respostas claras, consoladoras, que seriam como impulso para prosseguir, independente da circunstância que vivia. Perguntei ao Senhor qual o plano d’Ele para o Benjamin, se eu devia continuar orando pela cura que eu cria com todo o meu coração e entendimento. Ele dormia na cama ao lado da minha, sereno, com uma expressão de muita paz e eu me ajoelhei em silêncio, quieta, para não acor54


dá-lo, sabendo que o Senhor tinha algo a me revelar. Quando abri minha Bíblia, li: “De Megido, os seus servos o levaram morto e, num carro, o transportaram para Jerusalém, onde o sepultaram no seu jazido” (2 Reis 23.30). Li novamente este versículo, mais de uma vez e tudo ficou muito claro, como se o Senhor desvendasse os meus olhos. Entendi que de Brasília, o levariam morto e, num carro de funerária o transportariam para Anápolis, onde o sepultariam no seu Jazigo... A vontade que eu tive foi de fechar a Bíblia e abrir de novo, em outro lugar, onde o Senhor poderia falar de outra maneira comigo. Mas aprendi que Deus não nos revela palavras só de consolo, de força, de restituição e, se cremos em todas estas, devemos crer também naquelas que não escondem de nós a verdade, por mais terrível, temível e dolorosa que seja. Assim, eu comecei a ser preparada para aceitar o fim que estava, realmente, chegando. Não da forma que eu sonhava, desejava e cria, sem duvidar que seria o final do tratamento e a recuperação do meu filho querido; mas, sim, o que Deus já havia escrito e determinado para ele. Daquele dia em diante, eu mudei a minha oração e comecei a pedir que o Senhor desse ao meu menino uma morte digna, sem sofrimento, que sentisse paz no coração e que cuidasse também de nós, que orávamos por ele, que o amávamos tanto, que nos fortalecesse e consolasse. Sozinhos, jamais conseguiríamos; somente no Senhor não seríamos, desesperadamente, abalados. Há muito anos eu era voluntária, orava em hospitais, via pacientes morrerem em consequência do câncer e era extremamente difícil estar ali sem poder fazer nada, vendo tanta agonia dos enfermos e seus familiares. Só que, agora, seria muito pior: a dor era minha, com o meu próprio filho... 55


Capítulo 12 “Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não haverá salvador. Eu anunciei salvação, realizei-a e a fiz ouvir; Deus estranho não houve entre vós, pois sois as minhas testemunhas, diz o Senhor; Eu Sou Deus” (Isaías, 43.11 e 12).

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enjamin passava bem e estava mais animado. Não sei explicar como suportei vê-lo fazer tantos planos para o futuro, mas em momento algum duvidei que Deus conduzia toda a situação. Só comentei aquela Palavra revelada com uma amiga, que também orava por nós. “Se não fora o auxílio do Senhor, já a minha alma estaria na região do silêncio” (Salmo 94. 17). Como vivi este verso e desfrutei do cuidado do Senhor por mim a cada dia que seguia! A serenidade, força e coragem que recebi d’Ele impediu que eu esmorecesse naquele tempo tão terrível. Era uma experiência incomparável: ver meu filho melhor, me alegrar por isso, incentivá-lo de que iria ficar bem, mas sabendo que Deus não mente, que não tinha sido uma palavra de vida que Ele tinha me revelado, e eu não tive coragem de falar disto com mais ninguém. Vendo como ele estava, parecia absurdo demais compartilhar o que estava guardado no meu coração com outras pessoas. Nós íamos todos os dias ao hospital. Ele recebia a dose de radiação e voltávamos para casa. Aparentemente, tudo continuava bem. Ele se alimentava melhor, dormia mais tranquilo, planejava como retornar a Anápolis e trabalhar mesmo dentro dessa nova situação, que limitava, mas não o impedia de prosseguir. 56


Um dia, quando voltávamos da radioterapia, ele sentiu uma forte dor de cabeça. A princípio era só uma pressão acima dos olhos que, dependendo da posição que ele colocava a cabeça aliviava. Dei o analgésico que ele costumava tomar, melhorou um pouco, mas depois, a dor voltava. Na terça-feira fomos ao hospital Sarah. Ele falou o que sentia para a médica que o atendeu. No momento da consulta, ele estava bem. Ela pediu uma tomografia dos seios da face. Chovia em Brasília e esfriou muito. Pelo local e sintoma da dor, parecia ser sinusite. Naquele dia, teve vários momentos de dor. Quando melhorava, conversava muito, contava casos que tinham acontecido com ele, falava feliz dos amigos que estavam telefonando para saber notícias; um Benjamin mais alegre, mais extrovertido que o normal. Durante a noite, demorou muito para dormir, a cabeça doía, mas ajeitou uma posição que passou a dor e ele ficou melhor. O estranho que aconteceu comigo foi que, em nenhum instante, desde que começou essa dor de cabeça, eu pensei que pudesse ser algo grave e nem me lembrei mais do versículo que eu tinha lido na Palavra. Achava mesmo que poderia ser sinusite; ele já tinha sofrido muitos anos antes, talvez estivesse com o problema novamente. Na quarta-feira, o pastor Victor Hugo e sua família foram nos visitar, o que aconteceu durante todo o tempo que estivemos lá. Essas visitas alegravam o coração do meu filho. Como ele admirava e amava a pastora Raquel, grande amiga, confidente, que tanto o sustentou com seu carinho e orações. E esperava ansioso para orar, conversar, desabafar com o pastor que, para ele, sempre foi mais que um pastor: era o melhor amigo, um irmão, um pai. Quando ficaram sozinhos, soube depois, que ele sentiu uma dor de cabeça muito forte, mas pediu ao pastor que não me contasse. Benjamin era assim: para ele, eu não podia sofrer por ele, nem me inquietar com mais nada. Achava que eu já tinha tido 57


muita dor nesta vida, compadecia-se de mim e queria, acima de tudo, evitar que eu me preocupasse. Mas o pastor avisou-me antes de sair. Naquela tarde, o Ben disse que estava pronto para voltar e que gostaria que fosse em um culto de domingo. O pastor disse que seria uma grande celebração, que a igreja estaria em festa para recebê-lo. Isso nos deixou felizes, porque foi a primeira vez que o Benjamin se animou para voltarmos. Eles foram embora ao final da tarde. Ele tomou um banho e foi ver televisão. Lanchou um pouco, mas não estava bem, dei outro comprimido, a cabeça melhorou, mas depois voltou a doer. Resolvemos ir para o quarto, deitar mais cedo, no dia seguinte faria a tomografia. Ele estava soluçando e eu dei a medicação receitada. Assim que ele se deitou, começou a ficar muito agitado. Deitava, sentava, deitava de novo e falava coisas que eu não compreendia. Agiu desta forma por algum tempo e em determinado momento, sentou com os olhos fechados, sem olhar para mim, parou e disse: “Está tudo bem, mãe querida, te amo muito”. E ficou, novamente, muito agitado. Em todo tempo eu estava sentada por trás dele, apoiando seu corpo em mim; firmava as suas costas e o braço em que ele havia feito a cirurgia, com medo dele se machucar. Minha irmã e meu cunhado ajudando-me a mantê-lo na cama. Chamamos um médico amigo e tudo que o meu filho sentia parecia ser efeito colateral do remédio para soluço que eu havia lhe dado no início da noite. Ao carregá-lo para uma cama maior, ele vomitou. Era um vômito escuro, sem cheiro, parecia ser o refrigerante que ele tinha tomado no lanche. Ele vomitou e acalmou-se. Sua pressão e temperatura estavam normais, trocamos as roupas e esperamos que ele pudesse descansar e dormir mais calmo. Foi por pouco tempo. Logo começou tudo de novo. Na madrugada ligamos para o Sarah, conversamos com a enfermeira que entrou em contato com o médico explicando o quadro de Benjamin 58


e recebemos a instrução de levá-lo a um outro hospital para tomar uma medicação antialérgica. Parecia mesmo ser efeito do remédio e no hospital Sarah não faziam esta medicação. Foi com muita dificuldade que conseguimos colocá-lo no carro. Não sei como seria se todos não tivessem ajudado. Benjamin sempre foi forte, fez musculação anos seguidos, não emagreceu com o tratamento, estava pesado e muito agitado para ser carregado. Meu cunhado, sobrinhos, o rapaz que trabalhava na casa, todos se uniram querendo ajudar. Minha irmã ao meu lado em todo tempo, sofrendo como eu, mas apoiando, sustentando-me com seu amor. Levamos ao hospital da Base, tomou a injeção já completamente sem coordenação e não falando nada coerente. Voltamos com ele para casa, aguardando que a medicação fizesse o efeito esperado. Mas não fez. Não falava mais, nem abria os olhos, e continuava agitado. Medi sua temperatura e, naquela hora, tinha febre. Ligamos novamente para o Sarah avisando como ele estava e que o levaríamos imediatamente. Eu me sentia tão impotente, tão fragilizada com tudo que estava acontecendo e, mais uma vez, Deus usou pessoas queridas para nos ajudar. Minha irmã, meu cunhado, toda sua família providenciando tudo para facilitar para mim, amigos inseparáveis nos nove meses que estávamos em Brasília, ligando para os bombeiros e indo com eles e o Benjamin na ambulância, nos acompanhando naquela hora tão terrível. Hoje, relembrando tudo isso, meu coração maravilha-se com o Senhor pelo zelo que Ele teve conosco. Quando chegamos ao hospital os médicos já estavam preparados para atendê-lo. No primeiro exame viram que não poderia ser efeito do medicamento para soluço e fizeram uma tomografia. Então recebemos o mais terrível diagnóstico: um tumor grande, invasivo, pegando parte de sua cabeça, gerava todos aqueles sintomas. 59


Ele já estava com a visão, a fala e os movimentos afetados. Ficaria em observação no Centro de Terapia Intensiva, estava em coma e, desta vez, não permitiram que eu passasse a noite com ele. Foi preciso separar-me do meu filho e ir para casa. Acompanhei-os até ao CTI e, com uma dor inexplicável no coração, deixamos o hospital. Não havia mais nada que eu pudesse fazer por ele. De repente, lembrei-me da Palavra, estava chegando a hora do seu cumprimento...

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Capítulo 13 “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer” (Eclesiastes 3. 1 e 2).

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ui para casa sabendo que seriam os últimos dias do meu amado filho. Não sei bem como foi aquela noite. Eu já havia entregado o Benjamin ao Senhor quando ele tinha 17 anos e nunca o tomei de volta, sabia que ele pertencia ao Pai e eu só estaria cuidando dele enquanto me fosse permitido. Mas a sensação de vazio que tomou conta de mim era desesperadora. Sentia-me anestesiada por dentro. Comi sem sentir o gosto do alimento, tomei banho sem perceber a água no meu corpo, dormi sem sequer notar onde eu me deitava. Fiz o que era necessário ser feito, mas parecia que nada mais tinha importância. Liguei para a Andréa, que precisou ir para Anápolis uns dias antes, mas não falei o que tinha acontecido. Se ela soubesse ficaria muito preocupada e nem nós sabíamos ainda, ao certo, o que estava se passando. Havia sido tudo inesperado. Era noite, não queria que ela viajasse àquela hora, então achei melhor contar a ela e à nossa família no outro dia, quando teríamos uma posição definitiva sobre seu estado. Na manhã seguinte, eu e Ana Paola fomos cedo para o hospital. Foi muito triste ver o Benjamin. Durante a noite ele continuou agitado e foi preciso amarrar seus braços ao lado da cama, mas quando chegamos ele já estava em coma profundo. 61


Os médicos chamaram-nos em uma sala e disseram-nos que não havia mais nenhuma chance. Ele já perdera a visão, não falava mais, seus movimentos já estavam paralisando. O tumor crescera espantosamente, já tomava grande parte de sua cabeça e, dentro dele, havia hemorragia, o que tornava o caso ainda mais grave. Havia duas possibilidades e eu teria que decidir: poderiam abrir novamente o Benjamin, tentar estancar aquela hemorragia, retirar parte do tumor porque já estava muito infiltrado. Neste caso existia a risco dele morrer na cirurgia, mas seria uma tentativa de prolongar seu tempo. E um dos médicos insistia em seguir este procedimento. Era a luta por uma sobrevida indefinida, não havendo nada de concreto do que poderia acontecer. E a outra possibilidade era desligar todos os aparelhos e esperar o tempo natural que ele resistisse. Eu perguntei se com a cirurgia ele voltaria a ver, falar e se movimentar. Eles nos disseram que não, mas tentariam prolongar os seus dias. Foi a pior decisão de toda minha vida. Se eu optasse por não fazer a cirurgia, iria sentir-me como se que não quisesse que meu filho vivesse, como se eu não lutasse mais por ele. No momento daquela dor eu tinha que decidir rápido; eles não poderiam esperar mais para operá-lo Lembrei-me do que ele me falou quando saiu da última cirurgia. “Acabou, eles não vão me abrir mais...”. Se eu fosse pensar em mim, eu queria meu filho “vivo”, não importando como ele estivesse, mas pensando nele eu sabia que jamais ele suportaria ter que viver em uma cama sem ver, sem falar e movimentar-se. O amor de mãe prevaleceu sobre a dor da mãe e eu decidi desligar tudo e esperar pelo tempo de Deus. A presença e o carinho incondicional da minha irmã foram fundamentais na minha vida naquela hora. Eu me sentia culpada, parecia que eu estava impedindo os médicos de tentarem fazer mais alguma coisa pelo meu filho, mas eu sabia que ele não queria que mexessem mais no seu corpo. 62


Se houvesse pelo menos uma remota possibilidade dele se recuperar, ainda que viesse a ter uma vida limitada, mas que pudesse fazer alguma coisa, eu teria permitido tudo, mas não seria assim... Ana Paola foi como um anjo que o Senhor colocou ao meu lado, não só naquele dia, mas a partir do momento em que ela e sua família nos acolheram. Ela ali comigo, entendendo e apoiando a minha atitude, fortaleceu-me e trouxe paz ao meu coração. Então pedi à médica que nos acompanhava que levassem o Benjamin para o quarto. Eu não queria que dessem nenhuma medicação que prolongasse os seus dias, nem que diminuísse este tempo, mas não suportaria vê-lo sentir ainda mais dor. Ela me garantiu que seria feito assim e assim o fizeram. Ele foi colocado em um apartamento, com todo cuidado para que fosse aliviado seu sofrimento e eu percebia no rosto do meu filho uma serenidade jamais vista antes. Eles me explicaram que, apesar dele estar em coma, ele ouvia tudo. Que conversássemos somente coisas agradáveis perto dele. Depois de tudo resolvido, era hora de dar a notícia aos outros. Liguei para meu pai, em Anápolis, e falei o que tinha acontecido. Durante todos esses meses ele foi incansável. Viajava de Anápolis para Brasília, cerca de 150 quilômetros, praticamente todos os finais de semana ou quando havia algum problema com o Benjamin. A sua presença constante, não só dessa vez, mas em todos os momentos difíceis na minha vida, sempre trouxe uma grande segurança para mim. E, mais uma vez, ele estava ao meu lado, amparando e passando comigo mais essa imensa tristeza. Logo, a Andréa, nossa família, pastores e amigos estavam no hospital. Como é bom sentir-se amado! Eu e a Andréa desfrutamos desse amor através de todos que estavam ali e também dos que estavam longe, mas junto em oração, sentindo conosco a nossa dor. 63


Capítulo 14 “Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima” (Apocalipse 7. 16 e 17).

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ra sexta-feira, dia 2 de dezembro de 2005. O Benjamin ainda recebia medicação para dor, mas estava menos agitado e, pouco a pouco, foi se aquietando e dando sinais físicos de que já estava chegando ao fim. Passamos aquela noite eu e a Andréa com ele. Teve febre, estava com a respiração fraca, difícil, mas o coração batia forte. No sábado, todos estavam conosco novamente. Ele já não tomava medicação para dor e estava bem mais fraco. Houve um momento inesquecível, sobrenatural, nesse dia... Não me lembro quem, mas havia muitas pessoas no quarto, eu estava beijando seu rosto tão lindo, tão sereno, cantava os hinos que ele gostava, quando ele falou comigo bem baixinho, mas nítido, com a voz firme: “Mãe, eu te amo muito! Eu estou muito feliz, estou com muita alegria, estou com muita paz. Tudo vai ficar muito melhor depois”. Não posso, não sei explicar o que aconteceu naquele quarto, mas todos que ali estavam sentiram a presença intensa do poder de Deus sobre a nossa vida. Eu creio que naquele momento meu filho já via os céus abertos, a glória do Senhor já o envolvera todo e, então, sentimos a paz que excede o verdadeiro entendimento, a que não se pode explicar, que não conseguimos descrever, nem dimensionar. A paz 64


que não nos é dada por homens e desfrutamos ali do consolo verdadeiro, que só o Espírito Santo pode nos dar. Nessa noite, ele ficou completamente tranquilo, a febre persistia, mas era como se já não sofresse mais nada. Ficamos eu e a Andréa com ele, aproveitando cada segundo do tempo que ainda nos restava ao seu lado. A dedicação da equipe do hospital Sarah com o Benjamin jamais esqueceremos. A nutricionista tornou-se uma amiga que o visitava todos os dias; os fisioterapeutas, incansáveis, não só com ele, mas com todos os pacientes; a assistente social que nos deu total apoio e amor nos últimos e piores momentos que vivemos ali; todos eles, os que nos recebiam na recepção, os funcionários da limpeza, da cozinha, até o mais graduado médico, sem exceção, foram impecáveis. O zelo das enfermeiras tão amadas por ele, fazendo aplicações de toalhas frias a noite toda, trazendo roupas limpas sempre que pedíamos; o carinho com que deram os banhos naqueles últimos dias; ficou tudo marcado profundamente em meu coração. No domingo pela manhã ele já respirava muito lentamente, demorando mais entre uma respiração e outra. Deram o seu banho e me chamaram para passar um creme que usávamos para não ressecar sua pele; passei perfume, penteei seu cabelo, sempre preto e com muito brilho, trocamos a roupa de cama; tudo limpo, cheiroso e ele tão maravilhosamente lindo. Naquele momento, senti que estava chegando o fim de todas as dores: meu filho estava pronto para o Senhor. No quarto, meu pai, que permaneceu por perto todo tempo, uma amiga que também é médica, Irene, que acompanhou cada um de seus dias desde que chegamos a Brasília, a Andréa e eu. A Ana Paola, seus filhos, meu cunhado, tão amado pelo Benjamin, a família do meu marido, muitos amigos, esperavam na recepção para estarem com ele mais uma vez. 65


A Andréa e o meu pai seguravam suas mãos, nossa amiga, sentindo o seu coração que batia mais forte, e eu acariciava o seu rosto. Nisso, a Andréa olhou para mim e disse “Mãe!”. A cor dele estava desaparecendo e percebemos que, exatamente naquele instante, tudo terminara. Ele partia sereno para as fontes de águas vivas, onde não teria mais fome, nem sede, nem dores; e o próprio Deus enxugaria dos seus olhos toda lágrima... Meu pai, extremamente emocionado, orou a oração do Pai-Nosso, como oramos no dia em que ele faria sua primeira consulta naquele hospital; e agora compreendíamos que fora feita a vontade do Senhor como havíamos pedido: “Faça-se a Tua vontade...”. Os médicos chegaram imediatamente, mas não havia mais o que fazer. Meu filho havia sido “colhido” pelo Senhor no dia 4 de dezembro, primavera de 2005...

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Capítulo 15 “Minha aliança com ele foi de vida e de paz: ambas lhe dei Eu para que me temesse; com efeito, ele me temeu e tremeu por causa do Meu nome. A verdadeira instrução esteve na sua boca e a injustiça não se achou nos seus lábios; andou comigo em paz e retidão e da iniquidade apartou a muitos” (Malaquias 2. 5 e 6).

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oltamos para Anápolis com amigas queridas que, incansavelmente, estiveram conosco, solidárias, presentes em muitos momentos. E o Benjamin foi transportado em um carro de funerária, acompanhado pelo meu pai, que o trouxe primeiro para o culto de domingo, como ele queria, para que depois, fosse sepultado junto com seu pai. Era dia 4 de dezembro, exatamente um mês depois o Senhor, em uma madrugada, me revelara através de Sua Palavra que levaria meu menino. Mais uma vez, o Senhor foi fiel! Às 20 horas, o corpo do meu filho chegou. Eu a Andréa carregamos também o seu caixão. Em todos os anos que frequentamos a igreja, sempre estávamos unidos. Eu queria entrar, pela última vez, junto com ele. Foi um culto de grande celebração, como tinha sido o desejo do seu coração. Pessoas que nem conhecíamos, mas que tinham orado por ele, inúmeros amigos estiveram conosco e com nossa família naquela noite de despedida. No dia seguinte, pela manhã, o sepultamos. Fiz uma oração de gratidão a Deus. Sentia-me privilegiada por ter sido escolhida para gerar um verdadeiro adorador. Uma pessoa que em nenhum 67


momento negou a sua fé. Nunca me faltou com respeito, homem íntegro, de um caráter sem mácula, que suportou todas as perdas, dores, enfrentando os mais difíceis desafios de cabeça erguida, porque confiava e amava, incondicionalmente, ao Senhor. Um irmão amoroso que sempre cuidou da Andréa com zelo de pai, amigo presente que ouvia mais que falava. Sábio menino! Eu disse que o Benjamin não morreu, mas nasceu para a eternidade. Quando nós entendemos o verdadeiro sentido da vida, quando descobrimos que as nossas escolhas em vida é que nos conduzem ao Pai e, se essas escolhas estão dentro de Sua perfeita vontade, não temos que temer a morte e, assim, enfrentamos com dignidade, sem revolta e com aceitação, a perda dos nossos queridos. Eu conhecia os caminhos que meu filho trilhou, sei o quanto honrou a Deus, a mim, aos que ele tanto amava. Uma pessoa que se desviava do mal e se lançava confiante nas Mãos do Senhor, que buscava em Deus a instrução para tudo que tivesse que fazer. Ele pregava a Palavra sem abrir sua boca, somente com seu modo de viver. Quando percebo como meu filho viveu, a morte deixa de ser um medo, a eternidade passa a ser uma promessa de grande vitória. Mas tudo depende de nossas escolhas no tempo chamado “hoje”, e o Benjamin entendia isto: viveu cada um dos seus dias escolhendo, integralmente, a vontade de Deus. Aprendi, mais uma vez, que o consolo que recebemos diante de uma perda tão imensa só pode vir de Alguém maior que todas as perdas. Que só suportamos a dor dilacerante de não ter mais um filho tão amado nos braços, porque um dia, um Pai, enviou o Seu Único Filho, como homem, para que sofresse todas as nossas dores, levasse sobre Ele todas as nossas transgressões, para que morresse açoitado, humilhado, pregado em uma cruz, para nos resgatar de todo pecado e nos conduzir à vida eterna com o Senhor. Ele já viveu a minha dor, experimentou a minha 68


agonia, sentiu, antes de mim, a angústia da minha alma, por isso não desfaleço, não esmoreço nem morro também, com tão grande, terrível e inexplicável sentimento de perda, de saudade, que esmaga cada dia mais o meu coração. Entendi também que eu não posso olhar só para o que perdi; para o que não está mais perto de mim, para o que não está mais presente em minha vida. Preciso abrir meus olhos para o que ficou; ver as bênçãos que desfruto a cada dia, mesmo sem o Benjamin ao meu lado, não esquecer que a Andréa está viva, que nós estamos unidas, mais firmes no Senhor; que é uma dádiva de Deus ter uma filha tão amorosa, forte, amiga, paciente e compreensiva, me apoiando, presente em todas as situações. Não posso viver das dores do passado, nem com as inquietações sobre o nosso futuro. Se fizer assim, não percebo quão maravilhoso é o Senhor e com Ele todas as bênçãos que, copiosamente, tem derramado sobre nós dia após dia. O Benjamin morreu; não há mais nada que mude esta horrível e lastimável realidade. Mas, Deus deixou de ser Deus, por causa disso?! Ele tornou-se, ainda que um pouco, menor pela morte do meu filho? Ele perdeu Seu imenso e inexplicável poder de curar, seja um câncer, uma paralisia, uma cegueira ou surdez? Ele deixou de Ser o Único que é Onipotente, Onipresente e Onisciente, em qualquer circunstância que existiu, exista ou venha a existir? É claro que não!!! O Senhor continua o mesmo em Sua grandeza, Sua soberania, Sua inigualável sabedoria! E nós entendemos isto, porque sentimos o Seu consolo e conforto, a força renovada que nos impele a prosseguir sem desanimar a cada novo dia, por mais adversa e inimaginável que seja a situação. 69


Capítulo 16 “Disse-me ainda: Tudo está feito. Eu Sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida” (Apocalipse 21.6).

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ogo depois que retornamos a Anápolis, vivemos talvez o nosso maior desafio: tirar da nossa casa o que pertencia a Benjamin. Quando estávamos em Brasília, conversávamos muito e ele dizia tudo que queria fazer com o que era seu, caso não pudesse mais tocar violão, não pudesse mais fazer musculação, ficasse limitado para trabalhar... Instruiu, sem que percebêssemos, o que deveríamos fazer quando voltássemos sem ele. Em minha casa nós sempre respeitamos muito a privacidade um do outro e raramente entrava em seu quarto para mexer no que era dele. Quando eu e a Andréa tivemos que fazer isso, foi extremamente difícil e doloroso. Parecia que estávamos agindo errado. Foi uma luta com a nossa emoção: precisávamos tirar o que lhe pertencia, esvaziar o seu quarto, recomeçar a vida sem ele, isto é o racional, mas, quando entra amor, o respeito, a perda recente, a ferida do nosso coração ainda muito aberta, sangrando e doendo demais, todos estes sentimentos fazem com que o sofrimento seja maior. Ao mesmo tempo em que entendia que o certo era agir racionalmente, dentro de mim vinha uma sensação de que eu estava arrancando o meu filho da nossa vida, como se eu não quisesse mais lembrar dele, recordar de sua presença em nossa casa, em seu quarto tocando violão, cantando, compondo para 70


o Senhor, como ele gostava de fazer. Era como se eu estivesse desrespeitando o meu filho. Foi com dor extrema que tiramos tudo e entregamos para quem ele desejava. No dia em que voltamos, quando entrei pela primeira vez em seu quarto e me sentei em sua cama onde o perfume dele parecia ter sido usado tão recentemente, senti a mais agonizante dor que eu jamais pensei pudesse existir: a dor da saudade do filho que morreu, que nunca mais eu ia ver, tocar, cheirar... Esta saudade que ainda queima, sufoca, comprime o meu coração, me tira o ar. E esta angústia gritante; qualquer palavra é pequena para expressar o tamanho da minha dor; só pode ser sanada pelo consolo do Espírito Santo, e Ele tem colocado Seu bálsamo em nossas feridas, aplacando o desespero desta saudade tão viva e crescente no meu coração e no de Andréa. Depois de tudo feito, era hora de colocar a casa e a nossa vida em ordem. Encerrar a conta bancária do Benjamin, comunicar sua morte ao Conselho de Fisioterapia e várias outras coisas que tivemos que fazer; davam-me a impressão de que ia com uma borracha, apagando os passos por onde ele já tinha andado e, mais uma vez, foi muito difícil. Um dia eu estava em um desses lugares e uma pessoa me disse: “Coitado do seu filho: nadou, nadou, nadou e morreu na praia”. Como aquilo me doeu. Saí de lá, comecei a andar e, chorando, fui falando com Deus. Eu nunca vi meu filho como um perdedor, um fracassado. O Benjamin, em todo tempo, foi vencendo cada batalha, reagindo firme, não se entregando, lutando contra a doença dia após dia; só não lutou mais quando entendeu e aceitou a vontade de Deus para a sua vida, por isto teve tanta paz em seus últimos momentos. E agora, eu ouvia alguém que mal conheceu a sua história falar que ele fracassou no final... Eu clamava ao Senhor que tirasse aquele sentimento horrível de mim e, ali, naquela hora, enquanto eu andava, Ele falou claramente ao meu coração: 71


“Filha, o seu filho nadou, nadou sim, mas mergulhou no Meu Rio de águas vivas; nadou, mas lançou-se nas águas profundas do Oceano do Espírito e hoje está nos Meus braços”. Ah, Senhor, como é bom ouvir a Sua voz e saber que o Seu Espírito nos ouve e responde a nossa oração! Voltei para casa feliz, com ânimo redobrado, crendo que o melhor Deus tinha feito para o meu filho e com meu coração aliviado, sem dor, sem rancor. Entrei em meu quarto e peguei um caderno onde o Benjamin escrevia poemas que eu nunca havia lido e que, até aquele dia, me faltava coragem para ler. Segurei em minhas mãos o que tinha sido tão especial para ele, poemas de adoração de um coração puro, dedicado a Deus, e resolvi abrir no último poema, escrito poucos dias antes de nós irmos para Brasília. E, muito comovida e emocionada, entendendo que, ainda antes de tudo acontecer, meu filho já estava preparado para mergulhar no Rio do Senhor, li: Rio da bênção Que os Teus rios possam fluir em minha vida E que através do Teu poder eu possa sempre estar Mergulhado em meio aos Rios de Água viva, Que vertem do teu trono para abençoar. Em Teus rios não há perigo ou correntezas Que possam me afligir ou preocupar. Em Teus rios, há bênçãos e muita beleza, Que fluem direto do Teu altar. Quero estar sempre coberto pelas Tuas águas Cada vez mais fundo eu quero estar Mergulhado nos Rios do Senhor. E não me importo, antes me alegro, Se neles eu me afogar! 72


Capítulo 17 “Bendito és Tu, Senhor, Deus de Israel, nosso pai, de eternidade em eternidade. Teu Senhor é o poder, a grandeza, a honra, a vitória e a majestade; porque Teu é tudo quanto há nos céus e na terra. Teu Senhor é o Reino, e Tu exaltaste por chefe sobre todos. Riquezas e glória vêm de Ti, Tu dominas sobre tudo, na Tua mão há força e poder; contigo está o engrandecer e a tudo dar força” (1 Crônicas 29.10 a 12).

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or todas essas coisas, pelo meu jeito de ser com Deus, pela forma que eu O vejo, por tudo que meu filho viveu e como reagiu diante de cada circunstância, eu não questiono a sua morte. O meu filho lindo era do Senhor, não era meu. Ele sabia disso, compreendia isso e era feliz sendo assim! Muitas pessoas não entendem porque, depois de tanta luta em sua vida, vencendo duas vezes o câncer, perdendo o pai ainda tão criança, batalhando para se formar, para fazer a especialização que era o seu sonho, quando tudo ia se encaminhando para se tornar muito próspero e triunfar, ele morre. Por que passar por tantas dificuldades, vencer todas elas e, logo quando ia desfrutar de todo seu esforço, o Senhor o toma para Si?! Deus permitiu tudo isso para honrar meu filho, para mostrar que ele conseguiu, que foi um vencedor enquanto esteve aqui. Meu menino foi um guerreiro, lutou todas as batalhas com garra inexplicável, com uma coragem invejável, sempre com um sorriso sereno, um dia de cada vez. Mas não lutou, torno a dizer, contra a vontade soberana do Pai, que sempre “...é boa, perfeita e agradável” (Romanos 12,2). Deus é perfeito, sábio, justo, fiel 73


em tudo que faz. Nunca erra, jamais mente e cumpre todas as Suas promessas. Fomos e temos sido, eu e a Andréa, em todo tempo, movidas, sustentadas, renovadas, fortalecidas, consoladas e confortadas pelo Único que tem todo poder e soberania sobre a Terra. Se Deus quisesse, Ele não poderia curar? Ou até nem permitir que houvesse um câncer ou qualquer outra enfermidade na vida do Benjamin? É evidente que sim! Mas este não era o desejo do Seu coração e se prevaleceu o Seu querer, se foi feita a Sua vontade, isto foi bênção para o meu filho e para nós. E, ainda que eu não entenda, mesmo que soframos tanto esta saudade que a cada diz fica mais intensa, eu creio que foi o melhor, porque Deus só faz o melhor, então, eu não tenho outra alternativa, não vejo outra opção, a não ser agradecer, louvar, adorar e declarar ao meu Senhor que o meu amor por Ele é incondicional. Benjamin passou por tudo sem desequilibrar-se, porque habitou seguro com o Senhor. Não desfaleceu, não esmoreceu, porque o Senhor o protegeu e hoje, finalmente, descansa nos braços do Pai. A nossa oração foi ouvida. Deus fez-se presente em força, coragem, disposição, quando necessitávamos disto e hoje recebemos de Suas mãos o conforto, o consolo, a paz que não entendemos, porque é assim que Ele agora se manifesta e temos desfrutado, a cada amanhecer, das bênçãos que desejamos. Quando penso em tudo que o Benjamin passou, que viveu sem reclamar, sem lamentar, sem deixar que eu me queixasse de qualquer situação, fico envergonhada ao perceber o quanto murmuramos. Tudo é motivo de insatisfação, estamos sempre achando defeitos nas mínimas coisas que acontecem. Se chove ou não, se está frio ou calor, se temos o que fazer ou não, se a nossa vida é agitada ou muito calma, se levantamos cedo, se dormimos tarde, se não temos trabalho ou se, ao contrário, 74


trabalhamos demais; nas menores coisas que vivemos no nosso dia a dia, questionamos, reclamamos, lamentamos; virou hábito, o fazemos até sem perceber, esquecendo o valor de Sua voz, que nos instrui: “Em tudo dai graças...”. Deixamos de perceber o grande milagre que é a vida! Se dormimos, se acordamos e nos levantamos a cada amanhecer, é porque o Senhor nos abençoa. Se respiramos, ouvimos, pensamos raciocinamos, é o Senhor que nos capacita para isso. O piscar dos nossos olhos, o som que sai da nossa boca, cada movimento do nosso corpo é o mover de Deus em nós. Não somos nada sem a Sua presença. Em um dos seus poemas, Benjamin escreveu que ele era menos que um sopro do Senhor, reconhecendo que não era nada diante da grandeza do Altíssimo. Louvemos ao Senhor por tudo, em tudo! Nos ganhos, nas perdas. Nos dias de paz ou nos tempos de luta. Nos momentos de alegria ou de extrema dor. Na descoberta da vida ou na constatação da morte, levantemos nossa voz para engrandecer o Seu Nome. Precisamos aprender a adorar, a sermos gratos, apesar de todas as nossas dores, fraquezas, debilidades. O Senhor é bom, tudo que vem d’Ele é justo. Ele não erra, não falha. Ele é Santo, Santo, Santo! Por tudo que vivi ao lado do Benjamin, por tudo que aprendi com ele, não questiono o que Deus permitiu. Continuo não querendo saber o “por quê” ou “para quê”. Não faz a menor diferença para mim. Como Jó, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal, no momento da minha maior dor, eu também digo: “O Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor” (Jó, 1.21). Sinto paz em meu coração, embora exista esta saudade tão profundamente presente em todos os meus dias. Sei que ele está no melhor lugar que poderia existir: nos braços do Senhor, Pai presente e amoroso, zeloso e fiel. Esta certeza acalenta-me, 75


sustenta-me, ampara-me e fortalece-me. Faz-me prosseguir sem questionar, sem se revoltar ou murmurar contra o meu Deus. Oramos com fé, conscientes, sabendo o que pedíamos: “Faça-se a Tua vontade...”. O Senhor nos ouviu e atendeu. Foi feita a Sua vontade... Isto me basta, conforta, consola e sustenta. Dá forças renovadas para enfrentar os ventos contrários e, mais uma vez, como a águia, ir além, prosseguir, até quando e como Deus quiser, adorando Seu Santo Nome!

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Capítulo 18 “Eu, o Senhor, a vigio e a cada momento a regarei; para que ninguém lhe faça dano, de noite e de dia Eu cuidarei dela” (Isaías 27.3).

Saudades do meu irmão Meu Bem... Meu amado, meu querido, Meu herói, meu companheiro, Meu protetor, meu grande amor... Não imagino como é viver sem você, sem seu cheiro, Seu olhar, seu sorriso, seus beijos, abraços, carinhos. Sem ouvir você dizer: “Te amo muito, minha irmã querida...”. Mais que um irmão, mais que um amigo, Mais que um anjo em minha vida. Especial demais, único, valente, Sincero, gentil, doce, meigo. Iluminado por Deus, sem defeitos! Falta um pedaço de mim.,. Falta ar, faltam palavras. É a maior dor que já senti em toda a minha vida. E não sei se um dia, ela vai passar... Tenho o maior orgulho em ser sua irmã; Foi uma honra conviver com você todos os dias da minha vida... Eu te amo muito, meu irmão, querido! 77


Este poema foi escrito pela Andréa assim que saímos do hospital, logo após a morte do Ben, ao voltarmos para casa da minha irmã, em Brasília, antes de virmos para Anápolis. Foi no momento de sua maior dor, mas em todo tempo jamais ouvi a Andréa murmurar, lamentar ou se revoltar com Deus. O Senhor tem dado a ela uma nova alegria, uma nova força e uma fé incondicional, e isto faz com que ela prossiga com determinação, vitoriosa e confiante na presença do nosso Deus. Ele tem suprido a falta que o Benjamin faz com porções de incomparável Amor, que vem do Seu coração, preenchendo assim o mais profundo vazio provocado por esta saudade. Ela tem desfrutado de todas as promessas do Pai e a Palavra de Deus, escrita em Zacarias 2.5: “Pois, Eu lhe serei, diz o Senhor, um muro de fogo em redor, e Eu mesmo serei, no meio dela, a sua glória”. Tem se cumprido em sua vida, ao nascer de cada novo dia. Enquanto termino este livro, o Senhor a honra e abençoa. Ela prestou vestibular para Psicologia, um antigo sonho, de quando ainda cursava a faculdade de Administração e Hotelaria, e passou em sétimo lugar. Louvado e engrandecido seja o Senhor, por toda a nossa vida!

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Capítulo 19 “As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na Tua presença, Senhor, rocha minha e redentor meu” (Salmo 19.14).

A lição Eu creio que quando o Senhor nos concede a graça de conceber, gerar, criar e educar um filho, ele é quem nos capacita para tal. A maior bênção da minha vida é ser mãe e pai, porque quando meu marido morreu as crianças eram muito pequenas. Estávamos no início de uma caminhada em que não sabíamos o que viria, como acontece com todas as famílias, e eu tive a oportunidade e o desafio de criá-las sozinha. Descobrimos a vida. Erramos e acertamos, choramos e nos alegramos unidos, caímos e nos levantamos mais fortes. Aprendemos, crescemos e amadurecemos juntos. Deus é tão maravilhosamente sábio, que tirou todas as possibilidades de onde eu poderia pensar que era a minha própria força que nos fazia prosseguir, que pelo meu esforço éramos sustentados, que através do meu pouco conhecimento é que adquiríamos inteligência e éramos cultos e, enfim, chegar a pensar que, por estar sempre perto deles, é que vivíamos em harmonia, segurança, respeito, entrega e amor. Viver com meus filhos e para eles não teria sentido algum se não tivesse escolhido andar movida pela luz da Palavra de Deus, aprendendo com Seus ensinamentos, semeando esse aprendizado de uma forma lenta, mas constante. A escolha 79


é nossa. Somos responsáveis por tudo que geramos. Viver de acordo com o que acreditávamos que era o mais certo, colocando nossa vida sempre no centro da vontade de Deus, não foi e não é uma decisão fácil, mas é a única decisão correta. Nenhuma outra vale a pena. Benjamin sempre dizia que se espelhava em mim, que gostava de aprender comigo, que me admirava. Será que ele teria esse mesmo conceito se não fosse a Palavra de Deus declarada, praticada, ensinada dia após dia, como um hábito normal, um estilho de vida, por todo tempo que estivemos juntos? Sabe por que eu insisto nesta parte? Porque compete a nós, ensinar e andar com eles, os filhos, no caminho de Deus. A Palavra é clara: “Ensina a criança no caminho em que deve andar e, ainda quando for velho, não se desviará dele” (Provérbio 2.6). É “no” caminho, é andando junto e não somente apontando esse caminho aos filhos e andando por outros. Depois que Benjamin morreu, apesar de toda falta que ele nos faz, da saudade imensa que sentimos, o nosso coração alegra-se porque sabemos que ele está com o Senhor. A certeza de que meu filho amado descansa nos braços do Pai leva-nos a glorificar, adorar e agradecer a Deus em todas as situações. Isto nos dá forças para não nos entregarmos ao intenso sofrimento que sua perda nos causou e para suportar essa ausência que ainda é tão real. Mas, vejam: apesar de devermos, sim, ensinar e andar com os nossos filhos neste caminho, a escolha é deles, a responsabilidade é pessoal, individual. Benjamin foi conduzido pelos caminhos do Senhor, mas a decisão de andar por esses caminhos foi dele. Muitos pais ensinam, andam juntos, mas o filho nega-se a obedecer. E Deus é um Deus de princípios. Ele não muda o que já determinou e o livre arbítrio já foi estabelecido, nos dá a liber80


dade de escolhermos. “Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam” (1 Coríntios, 10.23). Existe um limite que cabe a mim, a você, escolher, decidir. Como está o seu relacionamento com Deus? Se, de repente, você perdesse sua vida, tem certeza que iria para o aconchego dos braços do Senhor? Você tem escolhido certo o caminho em que está colocando seus pés? Sua vida, suas decisões, seus sonhos, projetos, estão nas mãos do Único que tem poder para conduzi-lo em triunfo, seguro, em todas as situações que tiver que passar? Voltem-se para dentro de si mesmos. Endireitem as suas veredas e caminhem sempre escoltados pelos anjos do Senhor. A escolha é sua. Escute e obedeça ao que o Espírito Santo tem falado. Não há outra vida para se corrigir, não há caminho melhor para se dirigir e o tempo é hoje, a oportunidade é agora. Ouçam a voz do Senhor. “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo. Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também Eu venci e me sentei com Meu Pai no Seu trono. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Apocalipse 3.20 a 22). Eu creio com todo meu coração que, depois de tudo que você leu, se ainda não se entregou nas Mãos do Senhor, seguramente tomará a decisão consciente de que é o único caminho a ser seguido. Seja mais que vencedor. Viva e desfrute do melhor de Deus, ainda que tiver que andar pelo vale da sombra da morte; ainda que tudo pareça extremamente difícil, mesmo que você não esteja vendo nenhuma possibilidade humana. Receba do Senhor a força que lhe faz prosseguir sem esmorecer, a coragem para guerrear todas as batalhas sem temer o inimigo, a direção que 81


só Ele, que É a verdadeira Luz pode dar, iluminando seus passos por onde quer que você vá. O Senhor seja com você que lê este livro, derramando Suas mais ricas bênçãos, renovando sua fé, restaurando sua esperança a cada amanhecer, para que volte a sonhar, e que Ele lhe conduza em segurança, ainda que por caminhos de lutas, de dores, de perdas, sim, mas amparado graciosamente por um Deus imbatível em amor. Que a força sobrenatural que eu e a Andréa temos recebido, a fé para continuar crendo, adorando, glorificando esse Deus tão lindo e fiel, a gratidão, a alegria que sentimos por servi-Lo, a disposição que não nos permite retroceder ou desistir dos nossos sonhos e sim lutar por eles, o impossível para o homem, mas possível para Ele, seja sobre você por todos os seus dias. Por isso, não importa a circunstância, não esmoreça, não desanime. Erga-se na força do Senhor. Prossiga, persiga, alcance, triunfe! Hoje é dia 4 de dezembro de 2006. Exatamente há um ano estamos sem o nosso querido. Estou sendo curada em todo este tempo que escrevo sobre ele. Marcas profundamente escondidas revelaram-se, dores ocultas fantasticamente se desnudaram. Cada ferimento tão aberto, que sangrava tanto e dilacerava meu coração,está, lentamente, cicatrizando. O Senhor derrama em nosso ser, movido pelo Seu inesgotável amor, a graça da superação. Superamos um dia de cada vez, firmes, seguras, amparadas por Ele. Temos, eu e a Andréa, recebido o mais puro bálsamo Santo sobre nós, por isso sobrevivemos, crendo que o melhor de Deus ainda está por vir, como nos disse, movido pelo Espírito Santo, o nosso tão amado e inesquecível Benjamin, com suas últimas palavras: “Tudo vai ficar muito melhor depois...”. 82


Capítulo 20 “Exaltar-te-ei, ó Deus meu e Rei; bendirei o Teu nome para todo o sempre. Uma geração louvará a outra geração as Tuas obras e anunciará os Teus poderosos feitos. Falar-se-á do poder dos Teus feitos tremendos, e contarei a Tua grandeza. Divulgarão a memória de Tua muita bondade e com júbilo celebrarão a Tua justiça. Todas as Tuas obras te renderão graças, Senhor, e os Teus santos te bendirão. Falarão da glória do Teu reino e confessarão o Teu poder, para que aos filhos dos homens se façam notórios os Teus poderosos feitos e a glória da majestade do Teu reino. O Teu reino é o de todos os séculos, e o Teu domínio subsiste por todas as gerações” (Salmos 145. 1, 4, 6, 7, 10, 11, 12, 13).

Poemas de um verdadeiro adorador

Benjamin Brandão Roriz 83


Criador

Quanta beleza nós podemos ver ao nosso redor! Na noite, o brilho das estrelas; no fim do dia, o pôr do sol. Ver a delicadeza das flores nos campos, a imensidão do azul do mar. Tanta perfeição, dia após dia, que podemos admirar. Se essas e tantas outras obras são tão belas, Imagine Quem as criou: Tudo isto não é nada, Diante do seu Criador! O nosso Deus maravilhoso, Rei dos Reis, Todo Poderoso. Criador do céu, da terra, do mar e de tudo que neles há... A Ele nada se pode comparar!

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Amado de Deus

Não importam as circunstâncias, Não importa o que aconteça ao seu redor. Do alto, vem a Voz que te diz: “Não te deixarei só! Não temas, porque Eu sou contigo, Não te assombres, porque Eu sou o Teu Deus. Eu te amo meu filho, Tu és um dos meus! Te chamei pelo teu nome, Te criei com muito amor. Nunca te esqueças, meu amado, Eu Sou o Teu Senhor! Lembra que Eu te fortaleço, Que te criei para o Meu louvor, Que por ti foi pago um alto preço; Nunca te esqueças, filho amado, Eu Sou o Teu Senhor!”.

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Ainda

Ainda que meus pés venham a vacilar, E em uma pedra eu venha a tropeçar, Sei que em Tuas mãos eu posso segurar, Sei que no caminho certo Os meus passos, guiarás! Ainda que eu me encontre a chorar, E a tristeza perto possa tentar chegar, Sei que em Teus braços seguro estarei, Conforto, amor e paz, Só em Ti encontrarei! Nada pode me separar do amor de Deus, Nada pode mudar o que já aconteceu! O sacrifício na cruz foi para me salvar; E em todo momento, Sempre perto, Eu sei que Ele está!

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Único caminho

Só existe um caminho, Só uma direção. Só existe Alguém que pode Trazer paz ao coração! Muito mais perto do que o homem possa pensar Está a resposta, Está a solução. Que tanto ele quer encontrar! Várias alternativas à sua frente podem surgir; Mas, para a vida eterna, Só há um caminho Que se deve seguir! O único caminho, A melhor alternativa, É deixar que o Filho de Deus Tome conta de sua vida! A única verdade, A única salvação, Você só encontra quando se entrega a Ele, De todo coração!

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Confianรงa

Nasce o sol, Mais um dia para se viver. Nรฃo sei o que me espera, Mas sei que posso crer Nas Tuas palavras, No Teu eterno amor, Na Tua fidelidade. E em tudo que vem de Ti, Senhor! A confianรงa que tenho que ter, A cada dia, a cada amanhecer, Deve estar Naquele que, um dia, Em uma cruz se entregou Para que eu pudesse viver! Dia a dia quero estar Cada vez mais perto do meu Salvador. Aquele em Quem eu posso confiar, No qual eu encontrei O verdadeiro amor! E quando a noite chegar, Depois de um belo dia, Em paz vou me deitar, Porque sรณ Tu, Senhor, Faz-me seguro, Repousar! 88


Imenso Amor

Do alto do Teu trono, sei que olhas para mim, Quem sou eu para que Te lembres e me ames tanto assim? Eu, Senhor, sou menos que um sopro; Os meus dias como o vento... E, mesmo assim, amado Senhor, Está comigo em todo tempo! Quão grande És Tu, Senhor; Quão imenso é o Teu amor... Senhor, muito, muito obrigado, Por estares aqui, sempre ao meu lado! E assim, emocionado, Quando fico a pensar quão maravilhoso é o Teu amor, Sinto-me constrangido por saber, Senhor amado, Que mesmo com todos os meus erros, minhas falhas, oh! Senhor, Mesmo assim, não me abandonas, E me cobres com Teu imenso amor! Quão maravilhoso És Tu, Quão maravilhoso És Tu, Senhor! Incompreensível é a Tua bondade, Incomparável o Teu amor!

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Exaltado

Jesus, Tu és o meu querido, És o Amado da minha alma; Mesmo em meio à tempestade, Tua presença me acalma! Em Teus braços eu encontro segurança, Tuas palavras trazem-me conforto e esperança! Em algumas circunstâncias, sei que posso até chorar... Mas, com carinho e amor, o Senhor vem me consolar! Não importa a situação que eu possa estar vivendo, Com o Senhor junto a mim, Sei que já estou vencendo! Santo dos Santos, Seja exaltado! Glorificado por toda terra, Seja exaltado! Por toda a eternidade, Seja adorado! Santo dos Santos, És o meu amado; Sou mais, muito mais que vencedor Contigo ao meu lado!

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Muito mais

Muito mais do que você possa imaginar É o amor que Ele tem para lhe dar; Muito mais do que você possa merecer, É o amor que Ele tem por você. Então, abra os braços para o Pai, E veja tudo acontecer... O seu passado, tanto faz; Nova vida Ele quer ter com você! Jesus, tudo Ele pode; Ele tem todo poder. Jesus está com as mãos estendidas, chamando por você! Ele é o Príncipe da Paz, Maravilhoso e muito mais; Ele é Aquele a Quem você deve se entregar, É o Único Deus verdadeiro, Conselheiro, Ontem, hoje e para sempre será!

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Se

Se não conhecesse o Teu Nome, Se não soubesse Quem és. Tudo perderia o sentido, tudo perderia a razão. Se não conhecesse o Teu Nome, Se não soubesse Quem Tu és, Triste dentro do peito estaria o meu coração! Se não conhecesse o teu Nome, Se não soubesse Quem és, Se não sentisse que comigo sempre estás, Esteja eu onde estiver, Não posso nem pensar no vazio que haveria de ser... Mas, confiante, sei que nunca estou sozinho, E que quero sempre mais e mais Sentir o Teu carinho, Sentir a Tua paz! Jesus, muito mais que um amigo; Jesus, Tu és minha fortaleza... És tudo aquilo que preciso, És Quem eu quero sempre amar!

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Intimidade

No meio de uma tempestade, procuro abrigo e encontro o braço do Senhor sempre comigo; Quando o sol brilha forte e no meu rosto há um Sorriso, sei que toda minha alegria vem d’Aquele a Quem eu sirvo! Ele é a minha força, minha alegria; Ele acalma a tempestade e cuida de mim todos os dias! Quando o vento sopra forte, querendo me balançar, O Senhor é a minha rocha e nada pode me abalar! Os olhos ao céu elevo, buscando te encontrar; Posso não te ver aqui, mas sei que perto de mim estás! Senhor, Tu me sondas e conheces, sabes o meu caminhar; Sabes tudo que eu sinto, o meu agir e o meu pensar. Toda lágrima dos meus olhos o Senhor vai enxugar; Tristeza em alegria só o Senhor pode transformar! Tantas dúvidas e incertezas podem até me afligir; Ajuda-me a crer na verdade que sempre estás perto de mim! Vem me envolver, Vem me tomar; Com carinho, em Teus braços, Como uma criança quero estar! 93


Meu Senhor!

Meu Senhor, Te quero sempre comigo; Quero Te adorar e Te louvar. Tu, Senhor, és tudo que eu preciso, E comigo sei que em todo tempo estarás. Pois, sem Ti, meu Amado, Eu não saberia o que fazer... Não saberia o que é alegria, O que é amor, O que é viver! Por tudo isto e muito mais Somente em Ti eu me encontrei; A verdadeira paz que sinto Contigo eu sempre sentirei! Te amo, meu Senhor, Eu preciso de Ti. Vem me envolver com Teu amor, Vem tomar conta de mim; Vem controlar todo o meu ser, O meu sentir, O meu pensar! Quero Te louvar por toda a minha vida, Nos bons e maus momentos, Em todo tempo, Para sempre quero Te adorar!

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Fiel amigo

Senhor, Um desejo tenho em meu coração: Que por toda a minha vida Contigo eu possa estar em comunhão! Tu sabes, e eu reconheço, Que dependo totalmente de Ti; Que se o Senhor não estiver comigo Eu não poderei prosseguir! Posso até me sentir abatido, Mas sei que posso contar Com o meu Fiel Amigo, Que sempre disposto está a me ajudar! A Ti, Senhor, Toda a minha gratidão! Contigo, Senhor, Quero ter, por toda eternidade, Intimidade e comunhão!

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Adoremos

Que toda adoração Seja a Ti, Senhor, Que toda a multidão Erga a voz em Teu louvor; Que todo coração Possa sentir a verdadeira alegria, Que vem do Senhor, Que nos fortalece, E que nos ajuda todos os dias! Que Tu, Senhor, seja exaltado Por todos os povos, línguas e nações; Que sejas sempre glorificado, Ao nos livrar das tribulações; Que seja sobre nós a Tua misericórdia, Como de Ti esperamos; E que em nossas vidas possam se cumprir Todos os Teus planos, Sendo feita a Tua vontade, Para glória do Teu Nome!

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“...segundo a minha ardente expectativa e esperança de que em nada serei envergonhado; antes, com toda a ousadia, como sempre, também agora, será Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte. Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Entretanto, se o viver na carne traz fruto para o meu trabalho, já não sei o que hei de escolher. Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é, incomparavelmente, melhor.” (Filipenses 1. 20 a 23)

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