Comunicação Pública e Política: pesquisa e práticas - Parte 1

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rapidamente e dá a impressão de ser uma inovação dramática”. No caso das marchas no Brasil, citadas anteriormente, elas certamente sofreram uma influência das que haviam ocorrido em 2013 – independentemente das razões que as geraram. Mas pode-se dizer que a frequência com que foram adotadas fez com que perdessem um pouco do impacto que causaram, tanto em junho de 2013 quanto em março de 2015. Embora o imaginário sobre os protestos de 2013 tenha registrado acima de tudo as mobilizações de dezenas de milhares de pessoas percorrendo as principais ruas das principais cidades brasileiras, as ocupações causaram um impacto muito grande na continuação daqueles conflitos, especialmente nos meses de julho e agosto. A Câmara dos Vereadores de Santa Maria, no interior gaúcho, foi o primeiro centro de poder político ocupado naquele ano – o único ainda no mês de dezembro5. Nas semanas seguintes, dezenas de outras sedes dos poderes legislativos municipais e estaduais também foram ocupadas, em diversas cidades brasileiras. A forte repressão das polícias locais e a criminalização de manifestantes fez com que o emprego deste repertório arrefecesse, já que a permanência em um local físico delimitado favorece tanto a identificação quanto a prisão dos ativistas. Mesmo em 2014, durante protestos contra a realização da Copa do Mundo, as marchas foram o repertório mais escolhido – ainda que não se tenha conseguido repetir os números espetaculares do ano anterior. Mas, como veremos a seguir, a ocupação como forma de ação coletiva foi retomada com força no final de 2015 por jovens estudantes de escolas públicas paulistas, causando novas tensões com o Estado e dando um sopro de renovação na história dos conflitos políticos no Brasil. A ocupação é um repertório de confronto disruptivo, que tem sua força na quebra das atividades do cotidiano e na atenção midiática que tal ação deseja atrair. Nos últimos anos, tem sido uma das ações coletivas mais empregadas por grupos de ativistas pela educação em vários países do mundo, mas podemos remontar a várias décadas para encontrar precedentes. Estudantes negros ocuparam faculdades dos Estados Unidos na década de 1960, em protesto contra políticas segregacionista e a cultura do racismo. Jovens de várias etnias tomaram universidades norte-americanas, na mesma época, em desagravo ao presidente Richard Nixon e em posição 5

Outra peculiaridade interessante no caso de Santa Maria é que, ao contrário das ocupações que vieram logo a seguir e que eram formadas majoritariamente por jovens, na cidade do interior gaúcho boa parte dos ocupantes era de pessoas de meia-idade ou mais. Tratava-se de pais de jovens mortos no incêndio da boate Kiss, ocorrido poucos meses antes, e que se juntaram aos manifestantes do transporte público, unificando as lutas e dando força ao movimento, além de uma legitimidade simbólica maior à ocupação.

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