PNLD 2026 EM - CAT 2 - HORIZONTES - CIÊNCIAS HUMANAS

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VOLUME ÚNICO

ENSINO MÉDIO

MANUAL DO PROFESSOR

CIÊNCIAS HUMANAS

Projetos Integradores em interface com o mundo do trabalho

EDITOR RESPONSÁVEL: JOÃO CARLOS RIBEIRO JUNIOR

ORGANIZADORA: FTD Educação

Obra coletiva concebida, desenvolvida e produzida pela FTD Educação

ÁREA DE CONHECIMENTO: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS

VOLUME ÚNICO ENSINO MÉDIO

CIÊNCIAS HUMANAS

EDITOR RESPONSÁVEL:

JOÃO CARLOS RIBEIRO JUNIOR

Mestre em Letras pela Universidade de São Paulo (USP).

Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP).

Editor.

ORGANIZADORA: FTD EDUCAÇÃO

Obra coletiva concebida, desenvolvida e produzida pela FTD Educação.

Projetos Integradores

em interface com o mundo do trabalho

ÁREA DE CONHECIMENTO:

Copyright © FTD Educação, 2024.

Direção-geral Ricardo Tavares de Oliveira

Direção de conteúdo e negócios Cayube Galas

Direção editorial adjunta Luiz Tonolli

Gerência editorial Natalia Taccetti, Nubia de Cassia de Moraes Andrade e Silva

Edição Luiza Sato (coord.)

Leve Soluções Editoriais

Preparação e revisão de textos Viviam Moreira (coord.)

Leve Soluções Editoriais

Produção de conteúdo digital João Paulo Bortoluci (coord.)

Bianca Cristina Fratelli

Gerência de produção e arte Ricardo Borges

Design Andréa Dellamagna (coord.)

Sergio Cândido (criação), Andréa Lasserre

Projeto de capa Everson de Paula Imagem de capa Mimzy.fotos/Shutterstock.com

Arte e produção Vinícius Fernandes (coord.)

Leve Soluções Editoriais

Diagramação Leve Soluções Editoriais

Coordenação de imagens e textos Elaine Bueno Koga

Licenciamento de textos Leve Soluções Editoriais

Iconografia Leve Soluções Editoriais

Ilustrações Leve Soluções Editoriais

Elaboração de originais

Elen Cristina Souza Doppenschmitt

Pós-doutora em Educação (UFMG).

Mestra e doutora em Comunicação e Semiótica (PUC-SP).

Pós-graduada em Políticas Públicas e Desenvolvimento

Sustentável (PNUD-CEPAL).

Bacharela e licenciada em Ciências Sociais (USP).

Francisco Martins Garcia

Bacharel em Geografia (USP).

Autor e editor de livros paradidáticos e didáticos.

Layza Real Garcez

Bacharela e licenciada em Geografia (USP).

Autora e editora de materiais didáticos.

Thaís Fucilli Chassot

Especialista em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e o Mundo do Trabalho pelo Centro de Educação Aberta e a Distância (UFPI).

Bacharela e licenciada em Geografia (USP).

Licenciada em Pedagogia (Unicsul-SP).

Professora de Geografia na rede municipal de ensino de São Paulo.

Editora de materiais didáticos.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Horizontes ciências humanas : projetos integradores em interface com o mundo do trabalho : ensino médio : volume único / organizadora FTD Educação ; obra coletiva concebida, desenvolvida e produzida pela FTD Educação ; editor responsável João Carlos Ribeiro Junior. -- 1. ed. -- São Paulo : FTD, 2024.

Área do conhecimento: Ciências humanas e sociais aplicadas.

ISBN 978-85-96-04734-0 (livro do estudante)

ISBN 978-85-96-04735-7 (manual do professor)

ISBN 978-85-96-04736-4 (livro do estudante HTML5)

ISBN 978-85-96-04737-1 (manual do professor HTML5)

1. Ciências humanas (Ensino médio) I. Ribeiro Junior, João Carlos.

24-228864

Índices para catálogo sistemático: 1. Ensino integrado : Ensino médio 373

CDD-373

Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427

Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados à

EDITORA FTD

Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo-SP CEP 01326-010 – Tel. 0800 772 2300

Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970 www.ftd.com.br central.relacionamento@ftd.com.br

Em respeito ao meio ambiente, as folhas deste livro foram produzidas com fibras obtidas de árvores de florestas plantadas, com origem certificada.

Impresso no Parque Gráfico da Editora FTD CNPJ 61.186.490/0016-33

Avenida Antonio Bardella, 300 Guarulhos-SP – CEP 07220-020 Tel. (11) 3545-8600 e Fax (11) 2412-5375

APRESENTAÇÃO

Caro estudante,

As transformações do mundo contemporâneo exigem, muitas vezes, a mobilização de conhecimentos de diferentes áreas para que possamos compreendê-las e agir diante das novas realidades que se apresentam. Durante o Ensino Médio, os jovens encontram-se em um momento crucial da formação e da ampliação do repertório intelectual e emocional, um momento que os impulsiona a atuar, cada vez mais, como cidadãos críticos diante das questões contemporâneas. Entre essas situações, estão as que envolvem escolhas relacionadas a seu projeto de vida, à inserção no mercado de trabalho e a seu papel na construção de uma sociedade democrática, plural, justa e inclusiva.

O objetivo destes Projetos Integradores de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas é contribuir para o desenvolvimento de competências e habilidades que permitem, de forma individual e coletiva, atuar em sua realidade. Os projetos integram as humanidades às demais áreas do conhecimento, possibilitando explorar temas de interesse social. Neles, o saber científico é construído com flexibilidade e rompe barreiras ao propor intervenções práticas que podem ter um impacto muito positivo em sua comunidade.

Desejamos que você explore estes projetos com dedicação e entusiasmo e que eles colaborem para seu desenvolvimento pessoal e o de toda a sociedade.

Bons estudos!

CONHEÇA SEU LIVRO

Abertura

A abertura de cada projeto traz uma questão mobilizadora a ser investigada, um texto introdutório e atividades para que você reflita previamente sobre o tema.

Etapas

Os projetos são organizados em etapas que sugerem trajetos a serem percorridos na investigação dos temas em foco.

Ficha de estudo

Com esta ficha, você organiza todas as informações sobre o projeto e ainda tem uma síntese do percurso planejado.

Atividades

Ao longo de cada etapa, você encontra atividades diversificadas, individuais e coletivas, que vão auxiliá-lo na compreensão e no desenvolvimento do tema.

PROJETO

Mundo do trabalho

Nesta seção, você vai aprofundar o estudo de variados aspectos relacionados ao mundo do trabalho, de acordo com o tema da etapa.

Em ação

Nesta seção de encerramento de etapa, você vai criar um subproduto que contribui para a elaboração do produto final

No Saiba mais, você vai ampliar os temas trabalhados.

Conexões

No Conexões, você encontra indicações de livros, filmes, sites e outros conteúdos para enriquecer seus estudos.

Etapa final

Na Etapa final, é o momento de compartilhar o produto final planejado por você e pelos colegas.

Os sites indicados nesta obra podem apresentar imagens e eventuais textos publicitários junto ao conteúdo de referência, os quais não condizem com o objetivo didático da coleção. Não há controle sobre esses conteúdos, pois eles estão estritamente relacionados ao histórico de pesquisa de cada usuário e à dinâmica dos meios digitais.

OBJETOS EDUCACIONAIS DIGITAIS

Autoavaliação

Ao final de cada projeto, você é convidado a realizar uma autoavaliação e a refletir sobre as aprendizagens.

Os ícones a seguir identificam os diferentes tipos de objetos educacionais digitais presentes neste volume. Esses materiais digitais apresentam assuntos complementares ao conteúdo trabalhado na obra, ampliando a aprendizagem.

Saiba mais
Podcast Carrossel de imagens Infográfico clicável Vídeo Mapa clicável

SUMÁRIO

Como é o trabalho na era da informação? 8

Ficha de estudo 10

Etapa 1 – A sociedade da informação • Estamos vivendo uma nova era? 12

O que é a sociedade informacional? 13

Como a era da informação transformou a atuação das grandes empresas? 14

Qual é a importância dos bancos de informação? 16

Em ação: Vídeo sobre as big techs na era da informação 18

Etapa 2 – O trabalho na sociedade informacional • Como as tecnologias transformam o mundo do trabalho? 20

Da digitalização à automação do trabalho 20

Mundo do trabalho: Trabalho, ciência e tecnologia 23

Descentralização e polarização do trabalho 24

Em ação: A Quarta Revolução Industrial em formato e-zine 26

Etapa 3 – Adaptação à sociedade informacional •

Quais são os principais desafios da era da informação? 28

Sociedade 4.0: atualização disponível

– Podcast: sociedade e trabalho

PROJETO

PROJETO 2

Etapa 1 – Produção, mundo do trabalho e consumo •

De onde vem e para onde vai a sociedade do consumo? 44 A difusão mundial do American way of life 44

Outras faces da sociedade de consumo: precarização e automatização do trabalho 47

Desigualdade socioeconômica e o consumo 49

Em ação: Pesquisa: Consumistas, nós? 50

Etapa 2 – O ciclo de produção

Uso dos recursos naturais

Descarte e destinação dos resíduos sólidos

O lixo nos países desenvolvidos e nos países em desenvolvimento

Mundo do trabalho: Trabalho insalubre: catadores de rua e de lixões

Em ação: O destino dos resíduos sólidos em meus lugares de vivência

Etapa 3 – Consumo sustentável • É possível manter outra relação com o consumo?

Transformando hábitos para preservar o planeta

O consumidor consciente

Mundo do trabalho: Consumo consciente e novas oportunidades profissionais

Modelos econômicos sustentáveis

Em ação: Conhecendo projetos sustentáveis em meu território

Etapa final – Feira de trocas

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Etapa 1 – O mundo do trabalho no Brasil • Quais aspectos do trabalho contemporâneo estão presentes no município em que vivo?

O que é trabalho?

A evolução do trabalho e dos direitos trabalhistas no Brasil

Mundo do trabalho: Relações de trabalho no mundo digital

A situação do mercado de trabalho

Mundo do trabalho: Trabalho em perspectiva: gênero, raça e idade

Em ação: Panorama do mercado de trabalho do município em que vivo

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Etapa 2 – Histórias de vida e de trabalho no município em que vivo • O que as histórias revelam sobre as condições de trabalho no município em que vivo? ...... 90

Transmissão de conhecimento por meio da narrativa 90

Em ação: Ensaio crítico 94

Etapa 3 – Compartilhando conhecimento • Quais impactos os projetos podem provocar na comunidade? 96

O audiovisual como forma de explicar o trabalho contemporâneo 96

PROJETO

Impactos sociais de uma pesquisa 98

Em ação: Caderno do seminário 100

Etapa final – Seminário 102

Autoavaliação 105

Como promover a cultura

Em ação: Memes no combate às fake news

168

Etapa final – Exposição de memes 170 Autoavaliação 173

de paz? 106

Ficha de estudo 108

Etapa 1 – Democracia e direitos humanos •

Qual é a importância da democracia na atualidade? 110

A construção da democracia 110 Democracia e justiça 112

Mundo do trabalho: Legislação trabalhista 115

Em ação: Campanha de conscientização sobre os direitos humanos 116

Etapa 2 – Conflitos • Como os conflitos acontecem? 118

Origem dos conflitos 118

Diferentes concepções de justiça 122

Mediação de conflitos 124

Em ação: Debate sobre formas de justiça e resolução de conflitos 126

Etapa 3 – Cultura de paz • Como promover a paz? 128

A construção da paz 128

Em ação: Mediação de conflitos na escola 134

Etapa final – Comissão de resolução de conflitos na escola ........................................ 136

PROJETO

Quais são as funções de um meme? 140

Ficha de estudo 142

Etapa 1 – Memes: da Biologia à cultura digital • Como surgiram os memes? 144

Meme biológico e meme de internet 145

Memes e arte 148

Em ação: A “arte” de fazer memes 150

Etapa 2 – Memes políticos • Um meme pode ter função política? 152

Função política dos memes 152

Em ação: Meme: o cartaz político na era digital 156 Etapa 3 – Memes e fake news • Memes podem contribuir para a disseminação de notícias falsas? 158 Fake news 158

Liberdade e ética na criação de memes 164

Mundo do trabalho: Memes, inteligência artificial e operadores de dados 166 PROJETO

Como o espaço contribui para a construção da identidade? 174

Ficha de estudo

176

Etapa 1 – A identidade que me habita • Como construímos nossa identidade? 178

O conceito de identidade 179

Lugar como espaço de identidade 181

Em ação: Álbum de identidade local 186

Etapa 2 – Desvendando meu bairro • Que relações estabeleço com meu bairro? 188

Bairro como espaço de vivência cotidiana 188

Trajetos e cotidiano no bairro

192

Mundo do trabalho: Novas profissões 195

Em ação: Representação do meu bairro 196

Etapa 3 – Memórias do bairro • Qual é a história do bairro onde vivo?

Construção de memória

198

198

Em ação: Entrevistas com antigos moradores 202

Etapa final – Guia do bairro 204

207

Objetos Educacionais Digi tais

Carrossel de imagens: As TICs no cotidiano 13

Infográfico clicável: Pensamento computacional: solucionar situações 17

Mapa clicável: Mundo: acesso à internet – 2021 29

Podcast: Obsolescência programada e degradação ambiental 54

Carrossel de imagens: Onde descartar e como destinar resíduos sólidos? 56

Podcast: Plataformização e precarização do trabalho 82

Podcast: A inteligência artificial e o impacto no mundo do trabalho 83

Podcast: A luta por direitos humanos 112

Infográfico clicável: Um mundo melhor é possível .. 126

Vídeo: Construir a cultura de paz 128

Podcast: As fake news na atualidade 158

Vídeo: Identidade: quem somos? 179

PROJETO

1

1. Resposta pessoal.

Espera-se que os estudantes reconheçam no próprio cotidiano elementos da sociedade da informação.

COMO É O TRABALHO NA ERA DA INFORMAÇÃO?

A partir da década de 1970, avanços tecnológicos e no campo do conhecimento científico transformaram profundamente a sociedade humana. Para muitos especialistas, estamos vivendo em um novo tipo de sociedade, na qual a informação desempenha um papel fundamental.

Nessa era da civilização humana, a globalização, as tecnologias digitais e a internet se tornaram os principais motores das transformações sociais, influenciando a vida no campo econômico e político, as relações interpessoais, o mundo do trabalho, o entretenimento e as artes.

Esse novo estágio do desenvolvimento científico, tecnológico e socioeconômico é frequentemente denominado sociedade da informação, conceito que está intimamente ligado a termos como “capitalismo informacional”, cunhado por Manuel Castells, em seu livro Sociedade em rede, de 1996.

Ao longo deste percurso, vamos explorar algumas das transformações que marcam esse novo período histórico, com ênfase nas mudanças que vêm ocorrendo nas relações sociais e no mundo do trabalho.

1. O que o termo sociedade da informação representa para você? Por quê?

2. Que conexão você percebe entre a imagem de abertura e o contexto atual da sociedade?

2. Espera-se que os estudantes reconheçam que o código binário viabiliza a integração digital entre diferentes partes do mundo por meio das tecnologias digitais, as quais atuam como um dos principais motores da globalização.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

■ Ilustração conceitual de mapa-múndi em código binário, que simboliza a digitalização global e a transmissão de informações por meio do sistema binário, fundamental para o funcionamento das tecnologias digitais. Esse código, composto dos dígitos 0 e 1, é a base para o processamento de dados em computadores, refletindo a interconexão global pelas redes digitais.

SERGEY BALAKHNICHEV/ALAMY/FOTOARENA

FICHA DE ESTUDO

Objetivos

• Analisar a influência dos avanços das tecnologias da informação e comunicação (TICs) na vida moderna, nas grandes empresas e no mundo do trabalho.

• R econhecer a importância da informação e dos bancos de dados na sociedade atual e refletir sobre implicações e consequências.

Compreender as transformações ocorridas no mundo do trabalho e na indústria causadas pela automação e pelas tecnologias a ela relacionadas.

Reconhecer os principais desafios aos indivíduos, à sociedade e aos Estados nacionais na era da informação.

Identificar habilidades e competências valorizadas no contexto da sociedade informacional e do novo mercado de trabalho.

Justificativa do projeto

As transformações associadas ao desenvolvimento e à expansão das tecnologias da informação e comunicação (TICs) são extremamente relevantes na sociedade atual, fundamentando o uso de termos como sociedade da informação e Quarta Revolução Industrial.

Essas transformações devem se intensificar nas próximas décadas, impactando de diferentes formas o mercado de trabalho e as demandas da vida em uma sociedade cada vez mais informacional.

Preparar jovens para enfrentar as exigências desse novo cenário é, portanto, um dos principais desafios do mundo atual. Diante dessa necessidade, este projeto tem como objetivo apresentar aos estudantes os principais aspectos dessa sociedade da informação, sua influência na vida das pessoas e no mundo do trabalho.

Para isso, mobilizam-se conhecimentos das áreas de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e de Linguagens e suas Tecnologias para compor os diferentes produtos das etapas.

TCT

• Educação em direitos humanos

• Vida familiar e social

• Trabalho

• Ciência e tecnologia

ODS

4 Educação de qualidade

8 Trabalho decente e crescimento econômico

9 Indústria, inovação e infraestrutura

10 Redução das desigualdades

Materiais

• Computador ou dispositivo móvel com acesso à internet

• Caneta esferográfica e caderno para anotações

• Smartphone com câmera para gravação

• Aplicativo e/ou programa de computador para edição de podcast

• Impressora

• Tesoura

• Folhas de papel sulfite

• Cola

• Grampeador

Produto final

Produzir diferentes episódios de um podcast sobre sociedade e trabalho na era da informação.

Percurso do projeto

1 ETAPA

Nesta etapa, vocês vão reconhecer as transformações tecnológicas que ocorreram a partir da Terceira Revolução Industrial para fundamentar o desenvolvimento de uma sociedade da informação e compreender algumas de suas consequências, sobretudo em relação à atuação das grandes empresas transnacionais e à importância da informação e dos bancos de dados. Como produto final, vocês vão pesquisar notícias e reportagens associadas aos temas problematizados e fazer um vídeo curto para ser compartilhado nas redes sociais e discutido em aula.

2 ETAPA

Nesta etapa, vocês vão apresentar algumas das principais transformações no mundo do trabalho na era da informação, com destaque para a importância crescente da pesquisa científica e da inovação, a automação cada vez maior dos processos produtivos, a descentralização da força de trabalho e a polarização do trabalho. O produto final desta etapa será um E-zine sobre a Indústria 4.0, a automação do trabalho e suas consequências na sociedade atual.

3 ETAPA

Nesta etapa, vocês vão identificar alguns dos principais desafios da sociedade informacional, como o excesso de informação, a desinformação e a exclusão digital. Além disso, vão refletir sobre a necessidade de lidar com grandes quantidades de informação, identificando habilidades necessárias para se adequar às exigências da sociedade e do mercado de trabalho na era da informação. Como produto final desta etapa, elaborem um texto de até 280 caracteres sobre o tema para postá-lo em redes sociais.

Nesta etapa, vocês vão produzir episódios para integrar um podcast coletivo sobre sociedade e trabalho na era da informação, com base em temas pré-selecionados e relacionados aos percursos anteriores.

A sociedade da informação

Consulte as orientações no Manual do professor.

Estamos vivendo uma nova era?

■ No mundo atual, as relações interpessoais acontecem cada vez mais no ambiente virtual, caracterizando um dos principais traços da sociedade da informação. Na fotografia, jovens utilizam smartphones para filmar show de rock, no Rio de Janeiro (RJ), em 2017.

O conceito de sociedade da informação foi desenvolvido na década de 1970 pelo sociólogo estadunidense Daniel Bell (1919-2011) em resposta às transformações provocadas pela Terceira Revolução Industrial. Essas mudanças, que se intensificaram no século XXI, deram início ao que muitos especialistas, como Manuel Castells (1942-), consideram uma nova fase do capitalismo, o capitalismo informacional, estreitamente relacionado ao avanço da globalização.

O que é a sociedade informacional?

Na sociedade informacional, a informação e o conhecimento representam fatores essenciais para o desenvolvimento econômico, desempenhando um papel similar ao das fontes de energia no capitalismo industrial. Embora esse novo período da história humana tenha sido marcado pelo avanço do conhecimento em praticamente todos os campos, o epicentro dessas transformações foi a rápida difusão de informações possibilitada pelas tecnologias da informação e comunicação (TICs).

Do telégrafo à fibra óptica

No fundo dos oceanos, existem cabos submarinos fundamentais para a comunicação na era da informação. Assim como o telégrafo, idealizado por Samuel Morse em 1837 e que foi o principal meio de transmissão de mensagens a longa distância até meados do século XX, as conexões de internet atuais dependem de uma vasta rede de infraestrutura física, composta de extensas redes de cabos de fibra óptica instalados tanto na superfície terrestre quanto no fundo dos oceanos.

Tecnologias da informação e comunicação (TICs): o termo refere-se a um amplo conjunto de tecnologias responsáveis por armazenar, transmitir, processar e difundir informações em ambientes digitais, como a internet, os computadores, os smartphones, a realidade virtual, as mídias sociais e as redes móveis de comunicação.

■ Fibras ópticas vistas sobre fundo preto. Essa tecnologia representa atualmente a base da comunicação global, transmitindo dados em alta velocidade.

No telégrafo, a comunicação ocorria por meio de cabos que transmitiam pulsos elétricos com mensagens codificadas. Já com as fibras ópticas, a transmissão de informações ocorre por meio da conversão dos dados em pulsos de luz, que percorrem filamentos flexíveis e extremamente finos fabricados com vidro e alto índice de refração, um fenômeno que ocorre quando a luz muda de velocidade ao passar de um material para outro permitindo que ela seja guiada ao longo dos cabos. Esses filamentos são revestidos por materiais com menor índice de refração e uma camada protetora contra danos, possibilitando que fluxos da luz em altíssima velocidade se propaguem por meio de reflexões sucessivas, sendo novamente convertidos em dados em um aparelho receptor.

De certo modo, esse princípio não é tão diferente do código desenvolvido por Morse. A principal diferença –e a mais relevante – é que, hoje, a transmissão de informações ocorre na velocidade da luz.

As TICs não revolucionaram apenas as comunicações humanas como também transformaram a maneira como as pessoas acessam informações, trabalham e produzem conhecimento. De acordo com o documento Rumo às Sociedades do Conhecimento, produzido em 2005 pela Unesco, esse período da civilização humana abre as portas para o que seria uma “sociedade do conhecimento”, na base da qual estaria a capacidade de indivíduos, empresas, instituições e governos pesquisar, produzir e processar grandes quantidades de informação.

UNESCO. Rumo às Sociedades do Conhecimento. São Paulo: Instituto Piaget, 2008.

ATIVIDADES

Consulte as respostas e orientações no Manual do professor

1. Explique por que o termo sociedade informacional pode ser usado para designar o período atual da história humana.

2. Você considera as TICs indispensáveis em sua vida? Justifique sua resposta.

Espera-se que os estudantes reconheçam que, nesse novo modelo de sociedade, a informação desempenha um fator-chave para o desenvolvimento econômico e as relações sociais. Resposta pessoal.

Saiba mais

Inteligência

artificial (IA): área do conhecimento dedicada ao uso de tecnologias cujo objetivo é desenvolver máquinas que sejam capazes de realizar processos complexos, exibindo a capacidade de experimentar, raciocinar, aprender e tomar decisões, simulando, assim, a inteligência humana.

Robótica: área multidisciplinar que combina conhecimentos de engenharia mecânica, eletrônica e ciência da computação, pneumática e hidráulica para concepção e construção de máquinas programáveis que podem realizar tarefas semiautônomas ou autônomas, como os robôs industriais.

TAYFUN COÅKUN/ANADOLU AGENCY/GETTY IMAGES

Como a era da informação transformou a atuação das grandes empresas?

Uma das maneiras de compreender como a globalização e o desenvolvimento das TICs transformaram a sociedade capitalista e, consequentemente, o mundo do trabalho é analisar como esses processos influenciaram as grandes empresas e corporações transnacionais.

Veja, a seguir, alguns exemplos de transformações inseridas nesse processo.

• Informática e internet: por meio do advento dos computadores e da internet, as transações financeiras, o compartilhamento de informações e a comunicação passaram a ser realizadas quase que instantaneamente, permitindo a conexão entre locais longínquos e reduzindo as distâncias.

• Internet móvel: o acesso à internet por meio de dispositivos móveis, como smartphones, tornou-se amplamente popular no século XXI, estimulando a interconectividade entre as pessoas e entre pessoas e empresas. Isso possibilitou um fluxo de informação em duas vias: as empresas obtêm mais dados de usuários que compõem seu público-alvo, enquanto as pessoas têm maior acesso a informação, produtos e serviços.

• Internet das coisas: sistemas interconectados, voltados à coleta e ao compartilhamento de dados permitem a conexão de diversos objetos e dispositivos com a internet. Nas empresas, isso possibilitou a coleta de uma grande quantidade de dados sobre desempenho de produtos comercializados, tendências e padrões. No campo produtivo, outras tecnologias, como a robótica e a inteligência artificial (IA), têm sido aplicadas para aumentar a produtividade e a competitividade das empresas.

• Pesquisa e inovação: a aproximação e a parceria entre empresas e indústrias com universidades, laboratórios e centros de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias passaram a ser fundamentais, considerando que o trabalho relacionado à produção de conhecimento e à inovação tecnológica determina o próprio desempenho das empresas, bem como sua competitividade, produtividade e inserção nos mercados globais.

■ Vista aérea de um grande campus e sede de uma empresa de tecnologia em Cupertino, Califórnia, Estados Unidos, 2021. Nessa região, conhecida como Vale do Silício, concentram-se sedes de empresas de alta tecnologia, centros de pesquisa e universidades, caracterizando a aproximação entre as empresas e a pesquisa científica e a inovação.

• Dados e informação: a captação e o processamento de dados sobre desempenho de produtos e vendas, tendências e público-alvo, assim como segurança e proteção de dados contra ameaças cibernéticas, são atividades hoje consideradas essenciais para as empresas e que exigem grandes investimentos.

• Comércio eletrônico: a comercialização de produtos e serviços pela internet, por meio de dispositivos como computadores e smartphones, pode ser realizada entre as empresas e entre empresas e clientes, oferecendo tanto produtos e serviços digitais como produtos físicos que são comercializados digitalmente.

• O rganização e localização: com o uso das TICs, as empresas passaram a utilizar ferramentas digitais para organizar seus processos produtivos, tornando-os mais flexíveis. Além disso, a interconectividade proporcionada por essas tecnologias permite às empresas a instalação de unidades produtivas em diferentes lugares do mundo, em busca de vantagens comparativas. Esse processo estimula a desconcentração industrial e os fenômenos da globalização e da mundialização.

As big techs

Big techs representam grandes empresas transnacionais que, na era da informação, conquistaram dominância global em seus setores em razão da inovação tecnológica, exercendo alcance global. Elas se destacam pelo desenvolvimento de novas tecnologias, produtos e serviços que impactam a vida das pessoas e de outras empresas.

Por outro lado, as principais críticas às big techs envolvem as desvantagens da concentração do mercado nas mãos de poucas empresas. O poder econômico concentrado por essas empresas também se traduz em poder político, utilizado por elas para desafiar legislações e autoridades em diferentes países. Algumas das big techs foram processadas por prática de monopólio, desrespeito à privacidade de usuários e por repetidamente descumprirem outras determinações legais.

■ Sala de servidores de uma big tech, onde estão localizados os equipamentos de informática. Essas empresas estão entre as que mais investem em pesquisa e desenvolvimento, visando à criação de serviços ou produtos.

ATIVIDADES

Consulte as respostas e orientações no Manual do professor.

1. Explique por que, na era da informação, as grandes empresas do setor tecnológico realizam grandes investimentos em pesquisa.

2. Pesquise big techs que participam de seu cotidiano. Em seguida, responda:

Espera-se que os estudantes reconheçam que, na era da informação, as empresas do setor tecnológico precisam se manter competitivas, investindo em pesquisa científica para desenvolver novas tecnologias e inovações, assim como na coleta e no processamento de dados para monitorar desempenho e tendência dos mercados, entre outros exemplos.

a) Qual é a influência das big techs em sua vida?

Resposta pessoal.

b) Você considera que essas empresas produzem soluções inovadoras?

Resposta pessoal.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
ERIK ISAKSON/DIGITAL VISION/GETTY IMAGES

Qual é a importância dos bancos de informação?

Com a multiplicação e a popularização dos dispositivos eletrônicos móveis com acesso à internet, como smartphones e tablets, as pessoas passam cada vez mais tempo conectadas à rede mundial de computadores.

A cada clique, a cada página aberta e, até mesmo, a cada postagem de rede social que paramos para olhar, são gerados dados sobre os hábitos e as preferências, que são usados pelas empresas para diversos fins. A seguir, vamos saber mais sobre esse tema.

Big data

As páginas da web que abrimos, os locais que visitamos, os caminhos utilizados para chegarmos a esses locais, as músicas que ouvimos, os produtos que compramos, as mensagens que trocamos e todas as atividades que realizamos utilizando aparelhos com acesso à internet são transformados em dados. De acordo com a pesquisadora Deborah Lupton, no livro Digital Sociology, o big data refere-se a grandes volumes de dados coletados das atividades on-line dos indivíduos. Esses dados são rapidamente processados e analisados, dando origem a uma série de inovações nas mais diversas áreas. Uma forma bastante difundida de utilização desses dados é o direcionamento milimétrico de propaganda, que leva em consideração hábitos e preferências individuais para oferecer produtos e serviços com alta precisão e grande chance de aceitação pelo usuário. Além de suas aplicações em publicidade, o big data é utilizado em uma ampla variedade de áreas e para diferentes propósitos. Veja, a seguir, alguns exemplos.

• Em negócios: seguradoras analisam dados sobre frenagens e acelerações realizadas pelos motoristas para determinar o preço a ser cobrado pelo seguro automotivo.

• Na educação: escolas e universidades analisam os hábitos dos estudantes, como as horas gastas com estudo, trabalho e lazer, para formular ações que visem à diminuição da evasão escolar.

• Na área da saúde: prontuários digitais e registros detalhados de funcionamento do corpo de pacientes podem ser utilizados para fornecer diagnósticos mais precisos e prescrever tratamentos mais adequados.

• Na segurança e no policiamento: a análise de atitudes pode gerar perfis comportamentais que ajudam a direcionar a atividade policial.

■ A interconectividade global possibilitou a geração de um número incalculável de dados, que são constantemente coletados, processados e analisados, impulsionando inovações em diversas áreas.

O que é o algoritmo?

Você já ouviu falar de algoritmo? No contexto da internet, ele se refere ao uso da matemática nos computadores para tomada de decisões com base em um conjunto de procedimentos projetados para atender a um determinado objetivo.

Um dos usos mais importantes do algoritmo é o de processar inter-relações entre conjuntos de dados e gerar interpretações dessas conexões, levando a decisões em questões como estas: Que resultados aparecerão na tela de um dispositivo eletrônico ao pesquisar um termo específico? Quais produtos são ofertados por meio de propagandas, com base em determinadas preferências e comportamentos na internet?

■ Jovem navega por rede social. Ao utilizarmos as redes sociais, o algoritmo utiliza dados para determinar quais postagens nos serão mostradas.

Algoritmos decidem também o conteúdo a ser exibido em cada perfil de redes sociais, as faixas sugeridas pelo aplicativo de música e os vídeos que aparecem como sugestão nos sites e aplicativos de conteúdo audiovisual, entre outros exemplos.

Esse procedimento cria o que Deborah Lupton chama de “bolha de filtro”, quando uma pessoa é submetida a acessar somente o conteúdo que o algoritmo considera relevante, que em geral não apresenta novidades em relação ao que ela acessou no passado.

Os usos do big data têm algo em comum: o aumento da eficiência nas atividades humanas e da praticidade na vida cotidiana. Porém, ao refletirmos sobre essas inovações, será que as consequências da geração e da utilização de tantos dados são unicamente positivas?

Ao se referir aos recursos de captação e análise de dados em massa, utilizados principalmente por empresas de tecnologia estadunidenses, o pesquisador bielorrusso Evgeny Morozov (1984-) complementa com a seguinte crítica:

[...] as empresas do Vale do Silício estão construindo o que chamo de “cerca invisível de arame farpado” ao redor de nossas vidas. Elas nos prometem mais liberdade, mais abertura, mais mobilidade; dizem que podemos circular onde e quando quisermos. Porém, o tipo de emancipação que de fato obtemos é falsa; é a emancipação de um criminoso que foi recém-libertado, mas que ainda está usando uma tornozeleira.

MOROZOV, Evgeny. Big Tech: a ascensão dos dados e a morte da política. Tradução: Claudio Marcondes. São Paulo: Ubu, 2018. p. 31.

ATIVIDADES

Consulte as respostas e orientações no Manual do professor.

• Reunidos em dupla, debatam o significado das expressões “bolha de filtro” e “cerca invisível de arame farpado”. Depois, respondam às questões propostas.

a) Em alguma ocasião, você já sentiu que os conteúdos on-line oferecidos a você limitam sua navegação? Se sim, descreva a situação; caso contrário, justifique sua resposta.

b) Como o big data e os algoritmos podem cercear a liberdade dos usuários da internet?

Saiba mais

em AÇÃO

Consulte as orientações no Manual do professor.

Vídeo sobre as big techs na era da informação

A atuação das chamadas big techs tem despertado, na atualidade, inúmeras questões. Entre os muitos exemplos, podem ser citados a grande influência que essas empresas exercem na economia e na política mundial, a forte dominação do mercado, a invasão da privacidade e o uso de dados. Nesta atividade, que pode ser realizada em grupos, você e os colegas vão produzir um vídeo curto, com cerca de um minuto, para ser postado nas redes sociais, sobre as big techs. Para tanto, siga os passos propostos.

PASSO

1 Pesquisa

• Pesquisem o tema das big techs para reunir informações que vão fazer parte do vídeo. O artigo a seguir é uma sugestão de leitura para compor o repertório do grupo sobre o tema. No entanto, é preciso buscar outros recursos, como textos, podcasts e vídeos, lembrando sempre de utilizar somente fontes confiáveis, como veículos de comunicação e pesquisadores reconhecidos por sua seriedade e compromisso com a verdade.

O assombroso poder das big techs na economia e na política dos países

[...]

Segundo a professora Diane Coyle da Universidade de Cambridge, hoje há um amplo consenso de que os mercados digitais não estão mais funcionando segundo o interesse da sociedade, mas sim pelos interesses das próprias big techs. Cada uma destas megaempresas cresceu nos últimos anos de forma avassaladora, mas invariavelmente aniquilando seus competidores. [...]

Os problemas acima são muito graves, mas não são os piores: hoje muitas big techs usam as enormes bases de dados que possuem de seus clientes para extrair informações em proveito próprio e vender mais produtos e serviços dentro de uma lógica de dominação total do mercado. Ou seja, essas empresas tomam decisões que afetam toda a sociedade sem consultar ninguém e sem estarem submetidas a qualquer tipo de governança. Para a professora de Harvard Shoshana Zuboff, o que estamos assistindo deveria passar a ser chamado de “Capitalismo de Vigilância”, ou seja, essas megaempresas usam os dados de seus consumidores e usuários para exercer o controle sobre os mesmos.

O professor francês Pierre Levi, da Universidade de Montreal, no Canadá, teme que o poder dessas empresas já não seja mais apenas econômico. Segundo ele, o poder é político pois muitas funções sociais e de infraestrutura que deveriam estar na mão do Estado hoje estão nas mãos das mesmas. O mais grave é que este poder transcende as fronteiras dos países e a própria geopolítica para se constituir em um poder sobre o planeta. [...]

FELDMANN, Paulo. O assombroso poder das big techs na economia e na política dos países. Jornal da Usp, São Paulo, 24 abr. 2024. Disponível em: https://jornal.usp.br/?p=748347. Acesso em: 15 out. 2024.

PASSO

2 3

• Depois de realizar a pesquisa, é necessário definir a pauta do vídeo, ou seja, os assuntos que vão ser abordados por vocês. Em grupo, façam uma lista, elencando os pontos que devem ser desenvolvidos. Lembrem-se de limitar o número de pontos tratados, já que o vídeo será curto.

PASSO

PASSO

5 Definição da pauta

Construção do roteiro

• Utilizem a internet para buscar modelos de roteiro para vídeo e escolham aquele que parecer mais adequado às necessidades do grupo. Utilizem a pauta definida no passo anterior para desenvolver o roteiro. Para ter uma estimativa do tempo de duração do vídeo, pesquisem sites que fazem esse cálculo com base no número e no tamanho das palavras que compõem o roteiro.

• Escolham o celular de um dos integrantes do grupo para fazer a gravação e elejam um de vocês – aquele com maior desenvoltura diante das câmeras – para ser o protagonista e/ou locutor do vídeo.

Edição do vídeo

• Pesquisem por softwares livres ou sites na internet que disponibilizem gratuitamente a função de edição de vídeos. A depender da ferramenta escolhida, o grupo pode adicionar, por exemplo, efeitos, letras e sobrepor imagens, além de fazer cortes e outros ajustes que tornem o vídeo adequado à proposta (respeitando o tempo estipulado e apresentando argumentos coerentes).

• Para a conclusão da atividade, o vídeo deve ser postado na rede social da escolha do grupo e compartilhado com o professor e com a turma. Depois da postagem, o conteúdo apresentado pode ser debatido com a turma em uma roda de conversa.

• Apresente suas impressões sobre o desempenho de seu grupo e dos demais grupos.

Aproveitem para retomar a pergunta norteadora desta etapa: Estamos vivendo uma nova era?

4 Gravação do vídeo
PASSO
SOFIAV/SHUTTERSTOCK.COM

■ Circuito integrado (microchip) é montado por robô industrial em fábrica na China, em 2023. Microchips representam minúsculos conjuntos de transistores e outros componentes em pequenas placas de circuito, cuja utilidade é transformar a energia elétrica em dados binários, codificando e interpretando informações. Esse objeto miniaturizado é um dos principais motores do desenvolvimento tecnológico na era da informação.

gia, influenciou uma série de pensadores, entre eles o geógrafo Milton Santos (1926-2001). Rictha criou o termo evolução tecnológica para descrever como as sociedades tendem a elevar sua carga de trabalho mental no decorrer do tempo, proporcionando avanços tecnológicos que reduzem a carga de trabalho físico e braçal.

Ainda que descritas há mais de meio século, as percepções de Richta continuam válidas para as sociedades da era da informação. Avanços em áreas como robótica, impressão 3D, biotecnologia e, principalmente, tecnologias digitais e a IA têm sido responsáveis por criar funções e exigências aos trabalhadores, além de eliminar funções de trabalho antes desempenhadas por seres humanos, induzindo ao fenômeno conhecido como desemprego tecnológico.

■ Robôs industriais em produção automatizada em Yangzhou, China, 2024. Robôs utilizados em processos industriais são cada vez mais comuns em linhas de montagem, executando de forma automatizada funções antes realizadas por seres humanos.

Consulte as orientações no Manual do professor

Alguns pesquisadores já utilizam a expressão Quarta Revolução Industrial para se referir ao impacto das tecnologias nos processos produtivos atuais.

O primeiro passo dessa revolução é a digitalização, que envolve o uso de tecnologias para converter processos, informações e objetos analógicos em digitais.

O segundo é a automatização, que consiste na aplicação das TICs e outras tecnologias, como a robótica, para reduzir a necessidade de trabalho humano e tornar determinados processos automáticos, realizados exclusivamente por computadores e máquinas com comandos previamente configurados.

Por fim, o uso da inteligência artificial possibilita a automação em um nível ainda mais avançado, permitindo que as máquinas não só executem tarefas sozinhas, mas também analisem o próprio desempenho, tomem decisões e aprimorem processos de forma autônoma.

Como a inteligência artificial aprende?

O campo da IA, denominado machine learning (ML), ou “aprendizado de máquina”, objetiva criar sistemas de computador capazes de aprender de forma autônoma, por meio de algoritmos matemáticos configurados para analisar e processar uma enorme quantidade de dados.

Essa tecnologia já é usada, por exemplo, nos serviços de streaming ou de compartilhamento de vídeos na internet, que empregam algoritmos capazes de interpretar os gostos do usuário com base em suas escolhas e, assim, fazer recomendações de séries, filmes e vídeos.

Um recurso ainda mais avançado é o deep learning (DL), ou “aprendizado profundo”, que usa redes neurais artificiais (RNA) para conectar grande número de pequenas unidades de processamento, de forma que operações simples realizadas pelas unidades permitam a execução de tarefas complexas – semelhante ao cérebro humano, no qual neurônios se comunicam entre si por sinapses elétricas.

Essa tecnologia já é aplicada, por exemplo, no processamento de linguagem natural, no reconhecimento facial em tempo real e nos sistemas de busca na internet.

■ Ilustração conceitual do conceito de deep learning (DL), que simula as conexões realizadas no cérebro humano através de redes neurais artificiais (RNA).

Saiba mais

Sobre esse tema, leia o trecho do artigo a seguir.

A era da inteligência artificial

A vitória da máquina

Nos anos 1990, com o surgimento da internet comercial, a IA sofreu um novo impulso ao ser usada para o desenvolvimento de sistemas de navegação. [...] surgiu nessa época como uma ferramenta baseada em programas que analisavam os dados da rede e os classificavam em grupos de interesse predeterminados. Nesse período também foi desenvolvida uma máquina para jogar xadrez: o Deep Blue era capaz de analisar todas as possibilidades e, assim, prever respostas e o melhor movimento das peças do jogo. [...]

Daí em diante, foram muitos os avanços tecnológicos que provocaram um aumento exponencial de aplicações da inteligência artificial. A automação de processos, que são operados por “robôs” na indústria; sistemas inteligentes analisam imagens para reconhecer padrões e auxiliar os médicos na tomada de decisão de diagnósticos; os assistentes pessoais [...] que interagem com o usuário de smartphones ; os jogos digitais que aprendem o comportamento do jogador; os veículos autônomos e muitas outras tecnologias que fazem parte de nosso dia a dia.

[...]

PRADO, Charles. A era da inteligência artificial. Ciência Hoje, Rio de Janeiro, n. 360, novembro 2019. Disponível em: https://cienciahoje.org.br/artigo/a-era-da-inteligencia-artificial/. Acesso em: 15 out. 2024.

ATIVIDADES

NÃO

Consulte as respostas e orientações no Manual do professor

• Reúna-se em dupla para debater o seguinte tema: O avanço da IA vai tornar os seres humanos obsoletos?

Espera-se que os estudantes elaborem argumentos com base em seus conhecimentos prévios e que se valham dos tópicos discutidos ao longo deste projeto.

Pesquisa científica

A pesquisa científica, como processo, nada mais é do que tentar responder a determinado problema recorrendo à investigação, tendo por base o seguinte conjunto sistemático de etapas: a observação; o questionamento sobre o que é observado; a elaboração de hipóteses baseada na observação e nos conhecimentos prévios; o levantamento de dados ou a realização de experimentos; a análise dos dados coletados ou dos resultados obtidos, fundamentada em regras aceitas pela comunidade científica; e a conclusão, com a etapa de confirmação ou refutação de hipóteses.

A grande relevância das pesquisas científicas é propiciar a produção do conhecimento, que, por sua vez, contribui para a transformação da sociedade.

■ Entre as pesquisadoras que se destacam no ramo da tecnologia está a engenheira Marian Croak (1955-). Ela é detentora de mais de 200 patentes e foi uma das responsáveis pelo desenvolvimento das tecnologias 4G e 5G. Além disso, liderou pesquisas científicas que permitiram chamadas de vídeo e de voz pela internet.

Um circuito integrado (microchip), por exemplo, só pôde ser desenvolvido porque diversas pesquisas científicas possibilitaram o desenvolvimento de seus muitos componentes. Essa mesma lógica se aplica a todas as demais tecnologias que vêm revolucionando a sociedade na era da informação, tornando a ciência e a tecnologia quase indissociáveis. Por esse motivo, estudiosos criaram o termo técnico-científico para descrever o período da história humana iniciado após a Terceira Revolução Industrial.

Saiba mais
ESCREVA NO LIVRO.

Trabalho, ciência e tecnologia

O impacto das inovações técnicas sobre o trabalho é muito antigo, mas se intensificou após o advento do pensamento científico. A ciência envolve o conhecimento abstrato e a produção de teorias que expliquem a realidade por meio de pesquisas.

Conhecimentos construídos pela Física, por exemplo, são fundamentais para avanços tecnológicos na indústria. Mais do que relacionadas, Ciência e Tecnologia são hoje o motor principal das transformações sociais e no mundo do trabalho, sobretudo no contexto da era da informação. Atualmente, vivemos uma revolução tecnológica, conceito que se refere a um momento histórico no qual o conjunto de inovações tecnológicas gera consequências sociais profundas em um período relativamente curto de tempo.

Na revolução tecnológica, equipamentos tornam-se rapidamente ultrapassados e são substituídos; funções de trabalho acabam sendo extintas ou reduzidas, como atendentes de fast-food, que passam a ser substituídos por totens. Ao mesmo tempo, criam-se outras profissões e formas de trabalho, ligadas à elaboração de conteúdo digital. Entre as profissões que estão à frente da revolução tecnológica nas tecnologias da informação e comunicação, está o trabalho do cientista de dados.

Consulte as respostas e orientações no Manual do professor.

Faça uma pesquisa na internet sobre a profissão de cientista de dados e responda às questões.

a) Quais são as funções exercidas pelos cientistas de dados?

b) Qual é a formação necessária para se tornar cientista de dados?

c) E xplique a recente valorização dessa profissão.

A ciência de dados pode ser entendida como um campo interdisciplinar que combina saberes de Estatística, Matemática e Ciência da Computação. Por se tratar de uma área multidisciplinar,

os cientistas de dados podem ter diferentes formações, como Estatística, Matemática e Ciência da Computação, mas devem possuir conhecimentos em todas essas áreas.

Resposta pessoal. Resposta pessoal.

d) Converse com os colegas: As profissões relacionadas à ciência de dados têm espaço no projeto de vida de vocês? Por quê?

É importante destacar que o cenário atual do mundo globalizado não se limita apenas à interação entre Ciência e Tecnologia, mas é caracterizado por um ciclo contínuo de desenvolvimento, no qual um avanço impulsiona o outro. Esse processo demanda grandes investimentos em pesquisa, tanto por parte das empresas quanto dos governos, e pode aumentar ainda mais o impacto dos avanços tecnológicos no mundo do trabalho. Para aprofundar o entendimento desse tema, leia o trecho do texto a seguir.

Microchip tem “mil e uma utilidades” na saúde e produção de energia

Um microchip com cinco milímetros quadrados, do tamanho da cabeça de um fósforo, capaz de operar diversos sistemas úteis na indústria e na medicina, foi desenvolvido em pesquisa da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP. Dotado de um conjunto de sensores e transmissores, o microchip pode ser usado para direcionar painéis fotovoltaicos, aumentando a captação da luz do sol e a produção de energia, em dispositivos implantáveis para diagnóstico de problemas gastrointestinais e na detecção de doenças. [...]

BERNARDES, Júlio. Microchip tem “mil e uma utilidades” na saúde e produção de energia. Jornal da USP, São Paulo, 16 abr. 2019. Disponível em: https://jornal.usp.br/?p=234932. Acesso em: 15 out. 2024.

ATIVIDADES

• Qual é a importância do investimento em pesquisas científicas e desenvolvimento de tecnologias para o mundo do trabalho?

Espera-se que os estudantes mencionem que os investimentos de um país em pesquisa científica podem possibilitar o desenvolvimento e o aperfeiçoamento de tecnologias como microchips, propiciando a aplicação dessas tecnologias em diversas áreas, como energia sustentável e saúde.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Descentralização e polarização do trabalho

A automatização, a automação e a introdução de tecnologias digitais são processos que já apresentam transformações no mercado de trabalho. Uma delas, que se tornou muito comum após a pandemia de covid-19, é a descentralização espacial da força de trabalho.

Amparados pelas TICs, empresas, instituições e trabalhadores recorrem a práticas como o teletrabalho, o home office e o coworking.

■ Espaço de coworking no Rio de Janeiro (RJ). Fotografia de 2022. Esse modelo de trabalho se destaca pelo compartilhamento de ambientes e recursos e é ideal para profissionais que preferem trabalhar a distância (teletrabalho), em casa (home office) ou buscam um ambiente colaborativo.

Outro aspecto da era da informação é a polarização do trabalho, isto é, a divisão dos trabalhadores em dois grupos. Por um lado, os avanços tecnológicos provocam uma maior demanda por trabalhadores qualificados e valorizados, responsáveis, por exemplo, por desenvolver, aperfeiçoar, monitorar e operar tecnologias avançadas, sobretudo as TICs. Por outro, aumenta também a demanda por trabalhadores que desempenham tarefas que exigem baixo nível de qualificação e recebem menor remuneração. Ainda que ambos os grupos sejam fundamentais para o funcionamento do sistema econômico, apenas a minoria (aqueles com alta qualificação) encontra boas condições de trabalho, enquanto a maior parte dos trabalhadores (com baixa qualificação) está sujeita a tarefas arriscadas, à falta de direitos trabalhistas, além da baixa remuneração. Esse cenário acentua a disparidade tanto no nível de habilidades quanto nos rendimentos econômicos entre os profissionais.

Um dos fenômenos que expressam de maneira clara como as tecnologias digitais impactam o mercado de trabalho e promovem a polarização é a plataformização. Esse termo é utilizado por pesquisadores, como Rafael Grohmann e Ludmila Abílio, para tratar de mudanças introduzidas pelas TICs no mundo do trabalho. O trabalho plataformizado envolve diferentes atividades mediadas por plataformas digitais. Os casos mais conhecidos são os de aplicativos de entrega e de transporte privado.

Um dos exemplos mais evidentes de polarização no trabalho plataformizado pode ser visto no Brasil. A maior plataforma digital de entregas do país tem cerca de 6 mil funcionários que trabalham nos escritórios da empresa e recebem salários e benefícios trabalhistas. Enquanto isso, aproximadamente 200 mil trabalhadores fazem entregas por meio do aplicativo dessa empresa, enfrentando os perigos do trânsito e condições meteorológicas adversas sem direitos como adicional por periculosidade, 13o salário e férias remuneradas.

É preciso ressaltar que esse fenômeno está apenas começando a impactar o mercado de trabalho e tende a se expandir para vários outros setores, principalmente com o avanço e o aperfeiçoamento da IA.

2. Espera-se que os estudantes explorem como a polarização do trabalho gera desigualdade social, concentrando renda e oportunidades em uma pequena parcela da população altamente qualificada, enquanto a maioria, com baixa qualificação, enfrenta condições precárias.

ATIVIDADES

Este curta-metragem retrata a vida dos entregadores de aplicativo durante a pandemia de covid-19. Durante esse período, o desemprego fez crescer o número de entregadores que precisaram lidar com a exploração, as condições precárias de trabalho e a fome.

• PANDELIVERY: quantas vidas vale o frete grátis? Direção: Guimel Salgado e Antonio Matos. Produção Executiva: Marina Waldvogel e Guimel Salgado. São Paulo: Soalma. 2020 (15 min).

■ Os empreendedores, charge do cartunista Toni D’Agostinho, faz referência aos trabalhadores de aplicativos de entrega. A crítica à precarização do trabalho, nesse caso, destaca a ilusão de “independência” pela ausência de vínculo trabalhista, compensada pela necessidade de longas jornadas de trabalho.

Os estudantes podem reconhecer que o surgimento da economia colaborativa, baseada em aplicativos, cria alta demanda por trabalhadores bem remunerados – engenheiros de software ou cientistas de dados, por exemplo –, mas depende de grande quantidade de trabalhadores com baixa qualificação e mal remunerados para realizar atividades como transportar passageiros e fazer entregas.

1. Como o fenômeno da plataformização contribui para a polarização do trabalho?

2. Quais são as possíveis consequências da polarização do trabalho para o desenvolvimento social e econômico a longo prazo?

3. De que forma a implementação de políticas públicas poderia mitigar os efeitos negativos da polarização do trabalho no Brasil?

Os estudantes podem identificar a necessidade de políticas que garantam maior proteção social e melhores condições de trabalho para os trabalhadores de baixa qualificação, como a regulamentação do trabalho em plataformas digitais, além de programas de qualificação profissional que promovam a mobilidade social, reduzindo a disparidade entre os dois grupos.

Conexões

em AÇÃO

Consulte as orientações no Manual do professor.

A Quarta Revolução Industrial em formato e-zine

Nesta atividade, você e os colegas vão realizar um percurso para descobrir mais detalhes sobre a Quarta Revolução Industrial e produzir um e-zine com o que aprenderem.

A palavra e-zine resulta da junção de fanzine – que vem da expressão em inglês fanatic magazine e pode ser traduzida como “revista de fãs” – com a letra “e”, que indica que essa é a versão virtual do fanzine. Os e-zines são publicações independentes que exploram um tema utilizando diferentes recursos artísticos, como histórias em quadrinhos, desenhos, textos, poesias e colagens.

Vamos lá? Siga os passos indicados.

1 Definição do conteúdo PASSO

• Reúna-se com os demais integrantes do grupo e discuta com eles o conteúdo do e-zine. Lembrem-se: os e-zines são um tipo de publicação que abrange grande diversidade de conteúdos. Para conhecer algumas publicações que sirvam de inspiração, pesquisem por e-zines na internet.

• Leiam também o texto e as charges a seguir, que tratam do tema que será desenvolvido na publicação do grupo. Essas leituras vão contribuir para a concepção do e-zine.

Como será o emprego com a indústria 4.0?

[...]

Estamos vivendo em plena Quarta Revolução Industrial, caracterizada pelo avanço da Inteligência Artificial (IA) – robôs que pensam e tomam decisões – em todas as áreas. E, com ela, avança o medo do desaparecimento de milhões e milhões de empregos, que serão substituídos pela IA. De fato, muitos empregos deverão desaparecer, como aconteceu nas três revoluções industriais anteriores. E outros tantos serão criados, embora não nas mesmas áreas, nem com as mesmas características.

Assim, a Primeira Revolução Industrial acabou com inúmeros postos de trabalho braçais na Inglaterra do século XVIII. Mas assentou as bases para a criação de milhões de novos empregos nas fábricas nascentes.

Já a Segunda Revolução Industrial, que acelerou a mecanização da agricultura, em meados do século XIX, tirou o trabalho de milhões de camponeses. Muitos desses trabalhadores italianos, alemães, poloneses e japoneses foram para os Estados Unidos, a Argentina ou o Brasil, onde constituíram a base da classe operária.

A Terceira Revolução Industrial, nas últimas décadas do século XX, teve como eixo a informática, que desempregou milhões de operários e funcionários administrativos em todo o mundo. Mas gerou uma enorme gama de oportunidades para trabalhadores e empreendedores.

É o que tende a acontecer com a Quarta Revolução. Ela deve eliminar muitos postos de trabalho de operadores de máquinas, atendentes de call centers, operadores de caixa, cobradores de ônibus, frentistas de postos de gasolina etc.

Mas novas tecnologias como a internet das coisas, Big Data , computação na nuvem, drones, inteligência artificial, impressão 3D, realidade aumentada, entre muitas outras, também vão abrir imensas oportunidades para trabalhadores e também para quem quer abrir seu próprio negócio.

A questão é que as novas vagas abertas provavelmente demandarão trabalhadores muito diferentes daqueles que perderão o emprego com a Indústria 4.0.

[...]

COMO SERÁ o emprego com a indústria 4.0? Sebrae, Brasília, DF, 18 abr. 2023. Disponível em: https://sebrae.com.br/sites/ PortalSebrae/artigos/como-sera-o-emprego-com-a-industria-40,8c33238626cb6810VgnVCM1000001b00320aRCRD. Acesso em: 15 out. 2024.

■ Charge do cartunista Alpino sobre automação.

PASSO

2 Produção do conteúdo

■ Charge do cartunista Moisés sobre automação.

• Uma vez definido o tipo de conteúdo que será publicado, é hora de produzi-lo. Um conteúdo pode ser elaborado de diferentes modos. Ele pode ser criado, por exemplo, no formato analógico, isto é, pode ser um desenho ou um texto no papel, e depois ser digitalizado, ou no formato digital desde sua concepção, utilizando-se softwares de processamento de texto ou de criação e edição de imagens. Além do conteúdo que será publicado no e-zine, lembre-se de pensar em uma capa e no nome da publicação.

PASSO

3

• Com o conteúdo pronto, pesquisem na internet sites ou softwares e aplicativos gratuitos para publicações digitais, escolham o que parecer mais adequado às necessidades consideradas pelo grupo e montem seu e-zine.

PASSO

• Quando o e-zine ficar pronto, é o momento de compartilhá-lo com o público. O grupo pode publicá-lo em redes sociais, blogs ou listas de e-mail. Lembrem-se de compartilhá-lo com a turma e debater com os demais grupos o conteúdo publicado. O debate será mais proveitoso se conduzido em uma roda de conversa, para que todos tenham a oportunidade de expor seus pontos de vista.

Aproveitem para retomar a pergunta norteadora desta etapa: Como as tecnologias transformam o mundo do trabalho?

4 Montagem do e-zine
Publicação do e-zine

3

Adaptação à sociedade informacional

■ Mão humana interage com mão robótica em Besana in Brianza, Itália, 2024. Embora novas tecnologias como a robótica e a inteligência artificial possam substituir milhões de empregos nos próximos anos, é importante lembrar que, por trás de uma máquina, permanecerão o cérebro e a “mão” humana, não deixando de criar também oportunidades e empregos.

cionando novos recursos e funcionalidades ao produto.

Sociedade 4.0: atualização disponível

Podemos usar a imagem anterior para fazer uma analogia sobre a relação entre os seres humanos e a evolução tecnológica. As transformações geradas por novas tecnologias exigem adaptações relacionadas às nossas habilidades cognitivas, já que vivemos expostos a uma quantidade de informações e dados sem precedentes na história.

Assim, podemos constatar que as evoluções tecnológicas e as exigências da sociedade da informação criam espaços e instrumentos que possibilitam a apropriação do conhecimento; sua proliferação, contudo, vem exigindo das pessoas, no mundo todo, uma constante atualização, tão frequente e necessária que uma grande parcela não tem conseguido acompanhar. Quais são, afinal, as razões disso?

Consulte as orientações no Manual do professor.
VITTORIO ZUNINO CELOTTO/GETTY IMAGES

A divisão digital

A rápida difusão das TICs no mundo tem alterado muitos aspectos das sociedades humanas. No entanto, problemas relacionados às dificuldades de acesso a essas tecnologias contribuem para caracterizar e reproduzir as desigualdades sociais.

O acesso à internet, por exemplo, é atualmente reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como um direito humano. Entretanto, a distribuição desigual de renda, da infraestrutura de comunicações e o acesso desigual aos equipamentos e serviços necessários para se conectar à rede mundial de computadores faz com que as populações se insiram de modo desigual na sociedade informacional. Observe o mapa.

Mundo: acesso à internet – 2021

Trópico de Câncer

Equador

Trópico de Capricórnio

Acesso à internet (%)

Acima de 90

De 80 a 90

De 70 a 80

De 50 a 70

Abaixo de 50

02480

Fonte: DIGITAL divide throughout the world and why it causes inequality. Iberdrola, Bilbao (Espanha), dez. 2021. Disponível em: https://www.iberdrola.com/social-commitment/what-is-digital-divide. Acesso em: 15 out. 2024.

Atualmente, uma parcela significativa da população mundial não tem os recursos necessários para acessar a internet e as habilidades para utilizar as tecnologias digitais. Isso resulta em exclusão digital, particularmente notada nos países em desenvolvimento. O “excluído digital” pode ser caracterizado como a pessoa que, por não dominar as habilidades básicas necessárias para interagir com a tecnologia, acaba marginalizada.

No mundo atual, a alfabetização digital se torna tão essencial quanto a tradicional, pois muitos serviços e atividades dependem de recursos tecnológicos. No entanto, uma parcela significativa da população ainda não possui essa competência, o que ressalta a necessidade urgente de promover – e sobretudo executar – ações de inclusão digital, sustentadas por três pilares fundamentais: TICs, renda e educação.

SAMIRA DANTAS

Além disso, a desigualdade no acesso às tecnologias digitais cria uma divisão entre indivíduos excluídos e não excluídos digitalmente, que se manifesta entre os países e no território de cada país. Essa exclusão está intimamente relacionada às desigualdades de renda e, até mesmo, às desigualdades de gênero, raça e idade. A exclusão digital gera um círculo vicioso, em que a falta de acesso à informação e às oportunidades digitais impede que as populações em situação de vulnerabilidade se desenvolvam social e economicamente. Por exemplo, em áreas rurais da África, a ausência de conectividade limita o acesso a serviços essenciais, como educação e saúde, e impede que os agricultores utilizem tecnologias modernas para aumentar sua produtividade.

Saiba mais

Inclusão digital

A inclusão digital é o processo voltado a tornar a população digitalmente excluída apta a lidar com as exigências da sociedade da informação. Para concretizar essa inclusão, é preciso promover a expansão da infraestrutura e dos serviços necessários para um acesso mais igualitário à internet, assim como a alfabetização tecnológica e a formação educacional necessárias para que as pessoas sejam capacitadas a lidar com a informação nas redes digitais.

Entre as iniciativas implementadas, destaca-se o Programa Internet Brasil, uma parceria do Ministério das Comunicações com o Ministério da Educação, executada pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). Este programa disponibiliza, gratuitamente, chips de banda larga móvel para milhares de estudantes da Educação Básica na rede pública de ensino. Para acessar o programa, a família do estudante deve estar inscrita no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico).

■ Programa Internet Brasil distribui chips de banda larga para estudantes de todo o Brasil.

ATIVIDADES

CAZO/ACERVO DO CARTUNISTA

3. Uma relação que pode ser feita é que a renda e o desenvolvimento social e educacional de um indivíduo impactam diretamente na capacidade que ele tem de lidar com as tecnologias digitais e com as informações nas redes. NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Consulte as respostas e orientações no Manual do professor

1. Explique a crítica contida na charge.

2. Justifique a importância da inclusão digital na sociedade brasileira.

3. Por que as TICs, a renda e a educação podem ser consideradas os pilares da inclusão digital?

1. A charge faz uma crítica à exclusão digital no Brasil, destacando que, mesmo em um mundo cada vez mais conectado, milhões de brasileiros ainda não têm acesso à internet. A figura de uma pessoa segurando um cartaz com "Aceito Wi-Fi" faz alusão à dependência da conectividade para participação social e econômica, enquanto outro personagem, aparentemente pedindo dinheiro, reforça a desigualdade de acesso.

2. Espera-se que os estudantes compreendam que os indivíduos excluídos digitalmente acabam sendo prejudicados e marginalizados tanto no mercado de trabalho quanto na sociedade. Sem os conhecimentos necessários para interagir por meio das TICs, essas pessoas têm menos oportunidades, o que contribui para o aumento das desigualdades sociais.

Inclusão digital no Brasil

A inclusão digital no Brasil é uma questão complexa, especialmente considerando o cenário atual das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Em 2023, aproximadamente 72,5 milhões de brasileiros, ou 81% da população, tinham acesso à internet, um aumento significativo em relação aos anos anteriores. No entanto, essa média oculta a realidade de regiões mais carentes e de grupos sociais menos favorecidos, onde a conexão ainda é escassa ou inexistente. Observe o infográfico.

Brasil: domicílios em que havia utilização da internet (%) – 2023

Fonte: 92,5% domicílios tinham acesso à internet. IBGEeduca, Rio de Janeiro, ca. 2024. Disponível em: https://educa.ibge.gov.br/jovens/materias-especiais/21581-informacoes-atualizadas-sobre -tecnologias-da-informacao-e-comunicacao. Acesso em: 16 out. 2024.

Ressalte com os estudantes que no mapa estão indicados os domicílios com uso de internet em áreas urbanas, rurais e a média dos estados.

Outro ponto importante é que, mesmo com a presença da internet, o acesso não se traduz automaticamente em inclusão digital efetiva. O IBGE aponta que, em 2021, apenas 57,5% da população com acesso à internet utilizava ativamente recursos como plataformas de educação on-line

A pandemia de covid-19 evidenciou as lacunas existentes na inclusão digital. Com a necessidade de ensino remoto, muitas escolas enfrentaram dificuldades para manter a continuidade do aprendizado devido à falta de conectividade de seus estudantes. Dados revelam que cerca de 13 milhões de estudantes não tinham acesso à internet em casa, o que limitou suas oportunidades educacionais. Essa situação reforçou a urgência de políticas públicas voltadas para a inclusão digital, que não apenas ampliem a infraestrutura, mas que também garantam a capacitação tecnológica e o suporte emocional e psicológico para os estudantes e suas famílias.

A verdadeira inclusão digital exigirá um esforço conjunto entre governo, sociedade civil e iniciativa privada, com um foco especial nas populações mais vulneráveis, para que a tecnologia não se torne um fator de exclusão, mas sim uma ferramenta de emancipação e transformação social.

Formação educacional e profissional

Atualmente, carreiras e profissões em diversas áreas requerem cada vez mais o domínio e o uso das TICs em diferentes processos. No entanto, saber utilizar as tecnologias digitais não é habilidade suficiente para se adaptar às exigências que são impostas às pessoas e aos trabalhadores na sociedade da informação. As novas demandas do mercado de trabalho e da vida em sociedade no mundo estão ligadas ao capital intelectual.

■ Técnicos analisam plataforma de dados em fábrica inteligente 5G em Fuzhou, China, 2024. Esse tipo de fábrica usa redes 5G para habilitar a internet das coisas industrial (IIoT), conectando diversas máquinas, dispositivos e sensores para integrar e otimizar os processos produtivos. A crescente automação dos processos industriais em todo o mundo gera uma grande demanda por profissionais qualificados, com grande domínio das TICs.

Pensamento computacional: conjunto de capacidades e habilidades baseadas em fundamentos da computação, como a decomposição, o reconhecimento de padrões e a abstração, objetivando a identificação e a solução de problemas ou desafios.

Assim, no mundo altamente tecnológico em que vivemos, ler, interpretar e fazer relações, resolver problemas e tomar decisões de forma lógica são requisitos obrigatórios para ter acesso a boas oportunidades de trabalho.

Para os jovens, a habilidade de se apropriar e utilizar o conhecimento para analisar e filtrar a informação exige uma formação educacional e profissional que vá além da simples transmissão de conteúdos, capacitando-os a enfrentar as demandas da sociedade da informação. É crucial desenvolver habilidades como a competência informacional, o pensamento analítico, o pensamento criativo e o pensamento computacional. Além dessas habilidades, a capacidade de adaptação às mudanças é fundamental em um ambiente de trabalho em constante evolução. A rápida obsolescência do conhecimento técnico, decorrente do avanço das tecnologias digitais, exige que os profissionais estejam sempre atualizados.

Isso implica a necessidade de uma mentalidade de aprendizado contínuo, em que a busca por novos conhecimentos e a disposição para requalificação são consideradas indispensáveis. As empresas também têm um papel vital nesse processo, promovendo treinamentos regulares e incentivando seus colaboradores a desenvolver suas competências. Essa sinergia entre formação acadêmica, capacitação técnica e cultura organizacional voltada para a aprendizagem contínua será um diferencial importante para os trabalhadores que buscam se destacar na sociedade da informação.

É igualmente relevante destacar que o acesso desigual às TICs afeta a inclusão social e a equidade no mercado de trabalho. A barreira digital não apenas afeta a empregabilidade, mas também perpetua ciclos de pobreza e exclusão. Portanto, iniciativas que promovem a inclusão digital e a educação tecnológica são essenciais para garantir que todos tenham a oportunidade de desenvolver as habilidades necessárias para prosperar no novo contexto socioeconômico.

É importante ressaltar que, embora a sociedade informacional esteja relacionada a diversas tendências que podem ser consideradas negativas, as transformações impostas pela evolução das tecnologias são forças que tendem a atuar também no sentido inverso. Essas inovações geram novas demandas no mercado de trabalho, levam à construção de novos espaços de criação de conhecimento e incentivam o empreendedorismo, sobretudo em áreas relacionadas às tecnologias digitais.

O mercado de trabalho está passando por rápidas transformações em razão do avanço das novas tecnologias, como já estudamos. Habilidades técnicas, especialmente em áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM, em inglês), são cada vez mais valorizadas. Além disso, o pensamento analítico, que envolve a capacidade de identificar padrões e tomar decisões imparciais, é essencial. A combinação de conhecimento técnico e criatividade deve se tornar uma grande vantagem competitiva no mercado de trabalho. Outro aspecto a ser considerado é o impacto da IA e da automação no futuro do trabalho. Com a crescente implementação dessas tecnologias em diversos setores, muitas funções tradicionais estão sendo redefinidas ou até eliminadas. Isso não apenas exige que os trabalhadores se requalifiquem, mas também levanta questões éticas sobre a responsabilidade das empresas em garantir uma transição justa para seus funcionários. À medida que novas profissões emergem, haverá uma necessidade crítica de programas de formação que ajudem os trabalhadores a adquirir as competências necessárias para se adaptar a esse novo cenário. Essa transformação também poderá promover um debate sobre a necessidade de políticas de proteção social que assegurem que os indivíduos não sejam deixados para trás em um mundo em rápida evolução. Portanto, a educação deve se adaptar continuamente, preparando os indivíduos não apenas para as demandas atuais, mas também para um futuro em que a inovação e a adaptação serão essenciais para a sobrevivência no mercado de trabalho.

ATIVIDADES

Consulte as respostas e orientações no Manual do professor

1. Quais são os principais motores das transformações no mercado de trabalho atualmente?

Espera-se que os estudantes citem as transformações tecnológicas.

2. Por que, na era atual, o pensamento analítico pode ser considerado fundamental?

Espera-se que os estudantes respondam, por exemplo, que lidamos com uma grande quantidade de informações, o que exige de cada um a capacidade de análise para filtrar a informação e se apropriar do conhecimento, podendo, assim, usá-lo de forma crítica nas atividades de estudo e de trabalho.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

em AÇÃO

Compartilhando os desafios da era da informação

Consulte as orientações no Manual do professor.

A era da informação criou grandes desafios para as sociedades modernas. Nesta atividade, que deve ser realizada em grupo, você e os colegas vão identificar alguns desafios relacionados às novas TICs, fazer uma pesquisa na internet sobre o tema e produzir um texto de até 280 caracteres sobre o tema para ser postado em redes sociais.

Vamos lá? Siga os passos indicados.

PASSO

1 Conhecendo os problemas

• Leia as reportagens a seguir, que tratam, respectivamente, de fake news e de desigualdade de acesso à comunicação.

Entenda a diferença entre fake news e desinformação

[...]

A mentira existe desde o começo da civilização. O uso político da maledicência também não é novidade dos nossos tempos. Na Roma Antiga, por volta de 33 a.C., Otaviano empreendeu uma campanha difamatória contra Marco Antônio, colocando sua lealdade à Roma em dúvida por causa do amor dele por Cleópatra. O casal, por sua vez, contra-atacou questionando as origens de Otaviano — ele era parente de Júlio César apenas por parte de mãe. Até moedas foram cunhadas por ambos com imagens que os favoreciam nesse esforço de propaganda.

O que mudou nos últimos anos, depois da explosão das redes sociais, foi a escala e o meio de difusão de mentiras, que passaram a ser chamadas de fake news (notícias falsas) e desinformação. Usados popularmente como sinônimos, os dois termos têm diferenças conceituais de acordo com os estudiosos do assunto e as instituições que os utilizam.

Segundo Eugênio Bucci, professor titular da Escola de Comunicações e Artes da USP, “ fake news é a falsificação da forma notícia. Parece ser uma notícia jornalística, mas não é”. [...]

Já a desinformação, de acordo com o professor, trata-se de um ambiente comunicacional hostil à informação. “A desinformação é o efeito geral da disseminação de fake news e de outros recursos para enganar ou manipular pessoas ou públicos com fins inescrupulosos”, afirma. “Na era da desinformação, a capacidade social de distinguir fato e opinião se desfaz.” [...]

ENTENDA a diferença entre fake news e desinformação. Isto é, São Paulo, 23 ago. 2023. Disponível em: https://istoe.com.br/entenda-a-diferenca-entre-fake-news-e-desinformacao/. Acesso em: 13 ago. 2024.

TEXTO 1

Desconectados: 36 milhões de pessoas sem internet refletem a desigualdade no Brasil

No Brasil, 36 milhões de pessoas não têm acesso à internet, o dado é da pesquisa TIC Domicílios de 2022. A região Sudeste possui o maior número de pessoas sem internet, com 42%, já a região Nordeste aparece em segundo lugar com 28% dos casos. Ainda segundo o levantamento, pessoas com 60 anos ou mais e pessoas negras são os maiores percentuais sem acesso à internet no país.

Outros grupos excluídos digitalmente são as pessoas que estudaram até o ensino fundamental e as classes D e E. [...]

“As pessoas que estão nas regiões periféricas, nas regiões mais remotas, são as principais pessoas fora da inclusão digital e isso é preocupante porque hoje você um governo cada vez mais eletrônico em que para que você possa ter acesso aos benefícios, aos direitos tem que ter acesso à internet. Quando você vai solicitar um auxílio, a sua aposentadoria você tem que acessar de forma eletrônica”, explica. [...]

RODRIGUES, Jéssica. Desconectados: 36 milhões de pessoas sem internet refletem a desigualdade no Brasil. Brasil de Fato, Rio de Janeiro, 1o set. 2023. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2023/09/01/desconectados-36 -milhoes-de-pessoas-sem-internet-refletem-a-desigualdade-no-brasil. Acesso em: 16 out. 2024.

• Utilize a internet para pesquisar de maneira mais aprofundada os temas tratados nos textos anteriores. Busque recursos (textos, vídeos, podcasts etc.) que sejam produzidos por instituições ou indivíduos reconhecidos pela idoneidade e que citem fontes confiáveis para as informações publicadas.

2

• Reunidos em grupos, conversem para responder à questão: Como os problemas identificados nos Textos 1 e 2 podem ser solucionados pelo poder público e pela sociedade?

• Produza uma síntese das conclusões no caderno.

3 Identificando soluções

Criando a postagem

• Produza um texto com até 280 caracteres sobre o que o grupo concluiu das discussões realizadas no passo anterior.

• Poste seu texto na rede social de textos de sua escolha e compartilhe-o com seus contatos.

• Converse com os colegas e o professor sobre a importância de utilizar os espaços públicos virtuais, como aqueles disponibilizados pelas redes sociais, de forma consciente para exercer a cidadania, alertando as pessoas sobre temas relevantes.

Aproveitem para retomar a pergunta norteadora desta etapa: Quais são os principais desafios da era da informação?

TEXTO 2

Podcast: sociedade e trabalho na era da informação

Consulte as respostas e orientações no Manual do professor.

Você conhece o termo podcast? Trata-se de um programa de entrevistas, de notícias, de jornalismo investigativo ou no formato talkshow disponibilizado por meio de um arquivo de áudio ou vídeo produzido para a internet, disponível em plataformas digitais e em dispositivos como smartphones, tablets e computadores.

Os podcasts podem conter um ou mais episódios e apresentar diferentes formatos, tratando de imensa variedade de temas. Por esses aspectos, constitui importante ferramenta na promoção do ensino e da aprendizagem, pois propicia à sociedade informações sobre áreas relevantes, como cultura, política, meio ambiente, consumo e direitos humanos.

Nesta atividade, você e os colegas vão produzir, em grupo, um episódio de 10 a 15 minutos para integrar um podcast coletivo intitulado Sociedade e trabalho na era da informação, sobre um assunto selecionado por vocês e relacionado ao que foi estudado. Para isso, sigam as orientações.

1

Selecionando o tema

Em grupo, conversem sobre o tema que vocês gostariam de explorar no podcast, considerando os assuntos que mais lhes chamaram a atenção durante o percurso ou que vocês considerem mais relevantes para o debate. Vejam, a seguir, algumas sugestões de tema.

• Tecnologias da informação e comunicação (TICs)

• As empresas na era da informação

• Big data

• Big techs

• Automação

• Revolução Industrial 4.0

• Descentralização do trabalho

• Polarização do trabalho

• Uberização

• E xclusão e inclusão digital

• Formação educacional e profissional na era da informação

Dica: É recomendável que, no tema escolhido, não sejam explorados muitos assuntos diferentes, evitando perder o foco do que é discutido. Mais do que isso, é preciso delimitar com clareza o que vocês querem dizer ao público.

2

Pesquisando o tema

Com base no tema selecionado, pesquisem na internet textos, artigos, vídeos, notícias e/ou reportagens que se relacionam com o assunto e que contribuam para aprofundar seus conhecimentos.

Depois da seleção dos dados, sintetizem as informações mais relevantes de modo a auxiliar o desenvolvimento do roteiro. Aproveitem para registrar no caderno também as fontes pesquisadas, citando eventuais dados ou outras informações que podem ser incluídas no episódio do podcast.

Selecionando o formato

Escolha, com os colegas, um formato adequado ao podcast, considerando o tema escolhido e as preferências do grupo. Vocês podem recorrer, por exemplo, a recursos como:

• Podcast de notícias em formato jornalístico, em que os participantes fazem papel de apresentadores e repórteres.

• Podcast educativo em formato de aula.

• Po dcast humorístico para abordar o tema de forma bem-humorada e satírica.

• Podcast narrativo, no qual os participantes contam uma história.

• Podcast cultural e de entretenimento, com dicas de produções culturais sobre o tema.

Dica: Para auxiliar a escolha e ter referências diversas, uma possibilidade é procurar na internet podcasts de diferentes formatos. Consultar outras referências pode ajudar na construção do roteiro e na criação de elementos adicionais para a gravação, como o uso de efeitos sonoros.

• Professor 4

Estabelecendo as funções de cada participante

Nesta etapa, você e os colegas de grupo devem definir o papel ou a função de cada participante durante a gravação do episódio. É importante que todos participem e tenham falas; assim, quando necessário, por exemplo, dois ou até mais participantes podem interpretar o mesmo papel. Veja, a seguir, uma lista possível de papéis.

• Apresentador

• Coapresentador

• Debatedor

• Convidado

• Especialista entrevistado

5

Desenvolvendo o roteiro

Com base no tema e no formato selecionado, você e os colegas de grupo devem criar um roteiro para o podcast considerando o conteúdo e a ordem das falas de cada participante, bem como o tempo de 10 a 15 minutos. O roteiro deve apresentar uma linha de pensamento que cative a atenção do ouvinte e também explore todos os assuntos abordados no tempo sugerido. Lembrem-se de que também é necessário incluir no roteiro os momentos de fala para a apresentação do podcast, para a dos participantes, para a transição entre temas ou entre participações e para o encerramento. Dicas: Aproveitem para escolher um título criativo para o episódio e, se for o caso, nomes fictícios e funções para os participantes que vão interpretar diferentes papéis. Lembre-se de informar, no início da apresentação, que o episódio integra um podcast coletivo da turma, intitulado Sociedade e trabalho na era da informação.

PASSO

Gravando para o podcast

• Com o roteiro criado, organizem, em grupo, um ensaio antes da gravação. É importante, neste momento, avaliar o desemprenho individual e do grupo para identificar possíveis problemas, como falas muito lentas, rápidas ou de difícil entendimento, colegas com pouco tempo de participação no episódio e outros com muito. Discutam, se necessário, fazer adaptações no roteiro. Depois do ensaio, com o auxílio de aplicativos de gravação e

■ Na imagem, estudantes gravam um podcast –uma ferramenta que possibilita discutir e compartilhar conhecimento sobre temas atuais em um ambiente colaborativo e criativo.

Com auxílio de aplicativos de gravação e edição de áudio, vocês devem editar o episó dio, realizando, se necessário, cortes no conteúdo, retirando os trechos que não ficaram adequados. Além disso, vocês podem criar uma vinheta, trilha sonora e outros efeitos de áudio para incrementar o podcast.

Compartilhando os resultados

Com a edição pronta, o episódio do podcast de cada grupo pode ser publicado pela turma ou pelo professor em sites e/ou plataformas, além de divulgado à comunidade escolar. Você também pode ouvir os episódios de outros grupos. Organizem uma roda de conversa para refletir sobre os temas apresentados e as produções dos grupos.

Aproveitem para retomar a pergunta norteadora do projeto: Como é o trabalho na era da informação?

AUTOAVALIAÇÃO

Para concluir este Projeto Integrador, é hora de avaliar a aprendizagem adquirida ao longo do percurso e de refletir sobre sua participação individual e coletiva nas atividades realizadas em cada etapa e na etapa final. Para isso, faça o que se pede.

1. Sobre seu entendimento em relação aos temas estudados neste Projeto Integrador, responda às questões.

a) Identificou as tecnologias associadas às transformações em curso na sociedade e no mundo do trabalho na era da informação?

b) Refletiu sobre a importância dos bancos de informação e do big data para as empresas na era da informação?

c) Identificou críticas relacionadas ao poder das big techs e ao uso do big data no mundo atual?

d) Compreendeu as principais transformações no mundo do trabalho relacionadas às TICs?

e) Qual dos temas estudados você teve mais facilidade de compreender? E qual dos temas estudados você teve mais dificuldade de compreender? Justifique.

f) Em dupla, comparem as respostas que vocês deram à questão anterior. Discutam se vocês concordam com essas respostas ou se discordam delas.

2. Em relação a seu envolvimento e o da turma neste Projeto Integrador, responda às questões a seguir.

a) Como foi sua participação e a participação dos colegas nas atividades propostas? Como você acha que essa participação pode ser melhorada para os projetos seguintes? Justifique.

b) Você considera que seu grupo atingiu os objetivos propostos nessas atividades?

c) De qual das atividades você mais gostou? E de qual menos gostou? Justifique.

3. Sobre a produção realizada na etapa final deste Projeto Integrador, responda às questões a seguir.

a) Em sua opinião, o grupo atingiu o objetivo proposto na atividade? Justifique.

b) Como foi sua participação individual e a participação do grupo nessa atividade? Que aspectos você acha que podem ser melhorados para os próximos projetos? Justifique.

c) Você considera que esta atividade motivou o grupo a reforçar o aprendizado dos temas estudados? Justifique.

d) Você considera que a produção do podcast coletivo tem potencial para ajudar a comunidade escolar e outras pessoas a conhecer aspectos da sociedade informacional e do mundo do trabalho e a refletir sobre eles?

e) Você considera que o formato podcast foi apropriado para sistematizar os conhecimentos adquiridos e utilizar as tecnologias digitais, de modo a contribuir com a educação da comunidade escolar? Justifique.

f) Em sua opinião, quais foram as principais dificuldades encontradas na produção? Justifique.

2

COMO PROMOVER UM CONSUMO CONSCIENTE?

As questões de consumo e descarte vão além das preocupações cotidianas e têm se tornado cada vez mais centrais para a humanidade e para a conservação de todas as espécies que compartilham o planeta Terra. Nos últimos séculos, as transformações nas formas de organização do trabalho e as constantes e progressivas inovações tecnológicas aplicadas à produção aumentaram de modo sem precedentes a disponibilidade de bens materiais e de serviços para os consumidores.

Do ponto de vista social, o crescimento acelerado da produção também impacta populações cujos modos de vida são profundamente ligados aos seus territórios.

Os ganhos de produtividade alcançados nas fases mais recentes da industrialização frequentemente vêm acompanhados de uma intensificação da exploração do trabalho.

Os problemas causados por esse modelo de produção não se esgotam nas etapas de fabricação dos produtos. No mundo globalizado, mercadorias costumam percorrer grandes distâncias entre o local de produção e o consumidor final, o que aumenta os impactos ambientais por causa da emissão significativa de gases de efeito estufa pelos veículos de transporte.

Após chegarem aos consumidores finais e serem utilizadas, as mercadorias geram resíduos que, se não forem tratados adequadamente, podem contaminar o solo e a água, além de criar áreas de acúmulo, especialmente, em grandes cidades.

Neste Projeto Integrador, convidamos você a refletir sobre as relações entre economia, trabalho, consumo e questões socioambientais.

1. Na rua onde você mora, há coleta de lixo? Resposta pessoal.

2. Você sabe dizer quantas vezes por semana os resíduos sólidos são recolhidos nas proximidades da residência em que vive? Resposta pessoal.

3. Você já parou para pensar no que acontece com os materiais que são usados e depois descartados? Resposta pessoal.

4. Em sua opinião, a expansão da produção de mercadorias nos últimos séculos trouxe benefícios para a humanidade?

5. Como consumidores, será que poderíamos adotar práticas menos prejudiciais ao meio ambiente?

Espera-se que os estudantes utilizem seus conhecimentos prévios sobre práticas de consumo para trazer possibilidades de redução de danos ao meio ambiente.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

■ PRADES, Jaime. À deriva. 2014. Instalação.

Nesse trabalho, o artista retrata um rio, representado pelo fluxo de 800 galões de água de 20 litros vazios e de uma terra representada por 20 m³ de entulho e resíduos encontrados nas caçambas da cidade. O artista propõe a reflexão sobre como os materiais perdem seu valor, com o tempo, para a maioria.

4. Espera-se que os estudantes mobilizem seus conhecimentos a respeito do tema para sustentar as opiniões expostas. É possível que eles mencionem o fato de que os ganhos de produtividade permitiram que mais bens estivessem disponíveis para contingentes populacionais mais amplos. Por outro lado, os estudantes também podem destacar aspectos negativos não elencados no texto introdutório, como a profusão de produtos inúteis ou nocivos.

FICHA DE ESTUDO

Objetivos

• Analisar as transformações socioeconômicas relacionadas ao consumo e à produção em massa.

• Compreender os impactos ambientais do lixo gerado por determinados hábitos de consumo.

R efletir sobre práticas sustentáveis relacionadas à geração de resíduos e ao consumo consciente.

I dentificar práticas de consumo sustentável que podem ser adotadas no dia a dia. Entender a importância de conhecer a origem dos produtos e como isso influencia o consumo consciente.

R efletir sobre a responsabilidade compartilhada entre consumidores e produtores na promoção de uma sociedade sustentável.

Justificativa do projeto

Refletir sobre como o consumo abre portas para abordar questões urgentes da atualidade. Com base nesse tema, o projeto incentiva discussões acerca de consumismo, produção em massa, desigualdades socioeconômicas, dinâmicas atuais do mercado de trabalho e impactos socioambientais da sociedade de consumo. Ao explorarem esses tópicos, os estudantes são motivados a desenvolver um pensamento analítico, crítico e informado, considerando as múltiplas dimensões desses temas, envolvendo os conhecimentos das áreas de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias. As análises realizadas no projeto não só oferecem interpretações para os problemas, mas também propõem ações para enfrentá-los, promovendo a formação e o posicionamento de cidadãos fundamentados em conhecimento científico.

TCT

• Trabalho

• Educação ambiental

• Educação para o consumo

• Saúde

• Vida familiar e social

ODS

3 Saúde e bem-estar

8 Trabalho decente e crescimento econômico

9 Indústria, inovação e infraestrutura

11 Cidades e comunidades sustentáveis

12 Consumo e produção responsáveis

13 Ação contra a mudança global do clima

Materiais

• Papel sulfite, caderno, lápis, caneta, caneta hidrocor e borracha

• Computador, tablet e/ou celular com acesso à internet e softwares livres de edição de textos, planilhas e imagens

• Caixa de som e projetor

• Impressora

• Smartphones ou câmeras fotográficas

• Barracas

• Materiais para decoração

• Lixeiras (com identificação de tipos de resíduo)

• Cadeiras

Produto final Feira de trocas.

Percurso do projeto

1 ETAPA

Nesta etapa, vocês vão analisar o processo de difusão do chamado American way of life e os diferentes desdobramentos da sociedade do consumo considerando as transformações e características do mundo do trabalho contemporâneo. A proposta é refletir criticamente sobre as desigualdades sociais relacionadas ao consumo. Como fechamento, vocês vão desenvolver uma pesquisa quantitativa sobre comportamentos de consumo entre a turma.

2 ETAPA

Nesta etapa, vocês vão refletir sobre os impactos socioambientais do consumismo, mostrando os efeitos (muitas vezes, irreparáveis) no planeta, sobretudo a geração de resíduos sólidos e a obsolescência programada. Também vão ser incentivados a observar os próprios hábitos de consumo, entender as consequências da produção e do descarte excessivos e investigar práticas de gestão de resíduos na respectiva comunidade. O objetivo é promover a conscientização e incentivar a adoção de práticas mais sustentáveis no cotidiano.

ETAPA

3

Nesta etapa, vocês vão relacionar o consumo consciente a mudanças práticas no cotidiano, a fim de entender os impactos de atitudes individuais e coletivas. O objetivo é compreender diferentes modelos econômicos sustentáveis, como economia circular, economia solidária e comércio justo. Como fechamento da etapa, é proposta a pesquisa de projetos locais de sustentabilidade, para que vocês possam refletir sobre seus hábitos de consumo e propor soluções inovadoras para promover um mercado mais consciente e justo.

Nesta etapa, vocês vão organizar uma feira de trocas, que vai funcionar como um espaço para praticar o consumo consciente, promover a reutilização de bens e envolver a comunidade escolar na adoção de práticas sustentáveis.

1

Produção, mundo do trabalho e consumo

De onde vem e para onde vai a sociedade do consumo?

Você já sentiu vontade de comprar algum produto ao encontrá-lo em um anúncio? Já pensou que seria mais feliz se possuísse um novo aparelho eletrônico? Como analisaremos adiante, a associação entre desejo, consumo e felicidade surgiu ao longo das mudanças econômicas, sociais e culturais ocorridas nos últimos três séculos.

A difusão mundial do American way of life

Com a progressiva industrialização, a partir do século XVIII, as técnicas produtivas se alteraram radicalmente. A produção artesanal deu lugar a uma produção em massa, com uso de máquinas.

A industrialização levou ao êxodo rural e à concentração da população nas cidades, aumentando a velocidade do processo de urbanização, com o consequente crescimento do consumo.

A partir do século XX, o processo de inovação tecnológica e o aumento de produtividade e de consumo alcançaram novos níveis de aceleração. Desde a segunda metade desse século, com a consolidação da hegemonia econômica, militar, cultural e ideológica dos Estados Unidos sobre o bloco de nações capitalistas, o modo de vida estadunidense, o chamado American way of life, tornou-se modelo para os demais países.

O American way of life está associado, entre outros aspectos, a um padrão de consumo de grande variedade e quantidade de produtos industrializados. A popularização desse estilo de vida foi impulsionada pela publicidade difundida pelos meios de comunicação de massa, como cinema, rádio, TV, jornais e revistas.

Ao despertar o desejo do público para os produtos anunciados, a publicidade visa aumentar a demanda por essas mercadorias. Dada a disseminação e a importância que o ato de comprar produtos industrializados adquiriu, intelectuais como o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017) utilizam o termo sociedade do consumo para descrever o mundo moderno.

■ Clientes se aglomeram para comprar televisores durante a Black Friday em São Paulo (SP). Fotografia de 2018. Inspirada no Dia de Ação de Graças dos Estados Unidos, a data foi adaptada no Brasil para estimular o consumo.

Consumo, consumismo e hiperconsumo

Consumo é o ato de adquirir produtos necessários para a sobrevivência humana. Já o consumismo é caracterizado pela compra não consciente, desnecessária e motivada por impulso.

A produção massiva de mercadorias e o apelo ao consumo desenfreado tornam cada vez mais difícil escapar de atitudes consumistas. Leia, a seguir, a análise de um especialista brasileiro em comunicação sobre um dos efeitos do consumo na sociedade atual.

O livro “Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadorias”, do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, tem a incumbência de examinar a sociedade contemporânea, mais precisamente, a transformação dos indivíduos em mercadorias, ou seja, na busca desenfreada e sempre muito bem estimulada pela mídia, pela moda, pelos grupos sociais, de sempre se estar à frente do tempo, de ser notado, seguido, valorizado e, por que não, cultuado. É através desse consumo e suas mudanças que o sociólogo vem à tona examinar o impacto que tudo isso acarreta na vida dos indivíduos, como afirma o próprio autor em questão: “Numa sociedade de consumidores, tornar-se uma mercadoria desejável e desejada é a matéria de que são feitos os sonhos e os contos de fadas” […].

RUBENS, Alhen. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Signos do consumo, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 275-279, jul./dez. 2010. Disponível em: https://revistas.usp.br/ signosdoconsumo/article/view/44368. Acesso em: 20 ago. 2024.

■ Anúncio publicitário estadunidense de automóvel da década de 1950 que faz referência à performance do produto com a felicidade em família. Nas peças publicitárias que ajudaram a difundir o American way of life, era comum a associação entre felicidade e produtos industrializados, como carros, eletrodomésticos e alimentos processados.

A vida urbana é o cenário ideal para o consumismo. O grande número de pessoas que vivem ou circulam nessas áreas, a presença de ruas comerciais e shopping centers e o número expressivo de material publicitário disponível são fatores que, muitas vezes, estimulam a compra impulsiva.

■ A rua comercial 25 de Março, no centro de São Paulo (SP), lotada de pessoas que procuram as lojas da região para fazer as compras de Natal. Fotografia de 2020.

Atualmente, além de utilizarem as mídias de massa e os espaços urbanos para veicular anúncios, cada vez mais empresas se valem da internet e de big data para fins publicitários. A expressão big data diz respeito a conjuntos massivos de dados coletados por meio das atividades on-line dos indivíduos. Esses dados são rapidamente processados e analisados, dando origem a uma série de inovações nas mais diversas áreas.

Entre outras finalidades, esses dados são usados para direcionar publicidade de forma extremamente precisa considerando hábitos e preferências individuais para oferecer produtos e serviços com alta probabilidade de aceitação. Segundo o filósofo francês Gilles Lipovetsky (1944-), a personalização do consumo em massa, que atingiu novos patamares com o uso de big data, faz parte de um desdobramento da sociedade de consumo. Para Lipovetsky, vivemos atualmente na sociedade do hiperconsumo.

Leia, a seguir, a explicação de especialistas em comunicação a respeito do hiperconsumo.

O consumo baseado no bem-estar e na busca da felicidade individual é o objetivo do hiperconsumo. [...]

Por outro lado, essa sacralização do consumo e do bem-estar possui sua faceta paradoxal. […] consumimos mais quando nos sentimos carentes, e o consumo é uma forma de compensar a falta de amor, de laços sociais ou de reconhecimento, ou uma espécie de fuga da realidade individual. […]

AMORIM, Eliã Siméia Martins dos Santos et al. O princípio do prazer: o hiperconsumo como escape em tempos de modernidade líquida. Signos do consumo, São Paulo, v. 10, n. 2, p. 70-78, jul./dez. 2018. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/signosdoconsumo/article/view/144828. Acesso em: 20 ago. 2024.

ATIVIDADES

1. Leia a tirinha a seguir.

NÃO ESCREVA NO LIVRO. Consulte as orientações no Manual do professor

Agora, responda às questões.

a) Como você interpreta a mensagem da tirinha? Que crítica ela apresenta?

Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes identifiquem a crítica à associação entre consumo e felicidade, típica de comportamentos e estilos de vida consumistas.

b) Qual é a relação entre meios de comunicação e consumo?

2. Analise a imagem e discuta com os colegas de que modo ela se relaciona com o consumismo.

Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes reconheçam a degradação ambiental que ocorre com a produção de resíduos geradas pelo consumismo.

■ PRADES, Jaime. Mundolixo. Saco de lixo de 60 litros pintado. 2009. Acervo pessoal.

1. b) Os padrões estadunidenses de consumo foram propagados através dos meios de comunicação de massa, via que fez circular a publicidade que difundiu o American way of life. Mais recentemente, a internet é a principal ferramenta para o consumo de massa personalizado, pois permite a veiculação de publicidade direcionada.

QUINO. Toda Mafalda: da primeira à última tira. São Paulo: Martins Fontes, 2008. p. 350.

Outras faces da sociedade de consumo: precarização e automatização do trabalho

Você provavelmente tem uma peça de roupa ou um aparelho eletrônico com uma etiqueta em que se pode ler “Made in China”, “Made in Taiwan” ou algo semelhante. O fato de esses itens serem fabricados em lugares tão distantes tem a ver com os direitos trabalhistas e as transformações que ocorreram na produção em massa.

Uma das principais características do início do processo de industrialização eram as péssimas condições a que eram submetidos os trabalhadores nas fábricas. Jornadas que ultrapassavam as 16 horas diárias, trabalho infantil e exposição a grandes riscos à saúde faziam parte do cotidiano dos operários nas fases iniciais da Revolução Industrial. No entanto, diversas mobilizações de trabalhadores levaram à conquista de direitos trabalhistas. A partir do século XIX, a diminuição da jornada de trabalho, a proibição do trabalho infantil e a implementação do salário mínimo passaram a fazer parte da legislação de alguns países, como a Inglaterra.

Porém, nas décadas finais do século XX, a produção industrial, até então concentrada no norte do globo, passou a ser transferida para outras regiões, o que causou transformações profundas que atingiram o mundo do trabalho.

Muitas empresas mantiveram sua sede nos Estados Unidos e na Europa, mas transferiram suas fábricas para países, principalmente na Ásia, onde podem pagar salários mais baixos e enfrentar menos exigências nos direitos trabalhistas, reduzindo, assim, os custos de produção. Em razão dessas condições, países como China e Índia se tornaram destino de diversas empresas transnacionais.

Na China, apenas em 2021 foi proibida a chamada “jornada 996” (trabalho das 9 h às 21 h, seis dias por semana), porém inúmeros trabalhadores do país ainda denunciam práticas laborais abusivas.

Leia, a seguir, um trecho de artigo a respeito da abertura da economia indiana para empresas estrangeiras e da reviravolta a partir da década de 1980, com a melhoria da qualificação da mão de obra.

■ Trabalhadores na Espanha, protestam contra a deslocalização, ou seja, a transferência de empregos para outros países, resultado da realocação de empresas em busca de menores custos de produção. Esse processo é conhecido também pelo termo em inglês offshoring. Fotografia de 2021.

■ Linha de montagem offshore em escala global, em Zhengzhou, China. Fotografia de 2021. A empresa, que fabrica eletrônicos para as maiores marcas globais, é acusada de exigir jornadas de trabalho que levaram à morte dezenas de funcionários.

A Índia era atraente para o capital estrangeiro não apenas por causa do tamanho de seu mercado interno, mas também por causa de seu grande contingente de trabalhadores que recebiam salários extremamente baixos. Ao longo dos anos, desde a independência [da Índia, em 1947], os trabalhadores continuaram mal pagos e subnutridos, mas houve uma mudança significativa: uma grande parte deles tornou-se alfabetizada. Essa força de trabalho tecnicamente qualificada e mais ambiciosa surgiu na década de 1980 e continuou a se expandir devido ao investimento do governo em treinamento profissional e técnico [...].

INSTITUTO TRICONTINENTAL DE PESQUISA SOCIAL. A condição da classe trabalhadora na Índia. [S. l.], 1o maio 2023. Disponível em: https://thetricontinental.org/pt-pt/dossie-64-condicao-classe-trabalhadora-india/#toc-section-4. Acesso em: 24 jul. 2024.

■ Clientes aguardam atendimento presencial em caixas de agência bancária, na cidade de Bebedouro (SP). Fotografia de 2023. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, a profissão de caixa de banco está entre as que correm risco de extinção em razão dos processos de automação e digitalização do trabalho.

A prática de jornadas prolongadas, a redução dos salários e a ausência de legislação que assegure condições dignas aos trabalhadores são aspectos do que estudiosos das relações laborais definem como precarização do trabalho. Diferentes especialistas no tema, entre eles o sociólogo brasileiro Ricardo Antunes (1953-), afirmam que a precarização do trabalho não é exceção, mas uma prática fundamental do atual modo de produção em massa.

Outro aspecto fundamental do aumento de produtividade, característico da sociedade do consumo, é a automatização da produção. Além disso, a digitalização do trabalho impulsionada pelas tecnologias da informação e comunicação (TICs) tem mudado drasticamente o mundo do trabalho. De acordo com o relatório Future of Jobs, de 2023, pesquisa realizada pelo Fórum Econômico Mundial, estima-se que, até 2027, TICs como inteligência artificial e big data serão responsáveis pela eliminação de 83 milhões de empregos e pela criação de 69 milhões de postos de trabalho. As maiores perdas devem ocorrer nas áreas administrativa, fabril, comercial e de segurança, enquanto o crescimento é esperado nos setores de educação, agricultura e comércio digital.

Consulte as orientações no Manual do professor

ATIVIDADES

a) As situações são semelhantes porque ambas envolvem condições extremamente precárias de trabalho fabril.

• Leia o trecho de reportagem a seguir e responda à questão.

Quatro trabalhadores bolivianos foram resgatados em condições análogas à escravidão em uma confecção de roupas improvisada em Americana (SP) […].

[...] Em depoimento à Promotoria do Trabalho, uma das trabalhadoras afirmou que trabalhava das 7h00 às 22h30, e que parava apenas quando “o corpo não aguentava mais”, o que, segundo o MPT [Ministério Público do Trabalho], configura jornada exaustiva. Os quatro costureiros trabalhavam de maneira informal, sem registro em carteira de trabalho e sem direito a férias, 13o salário ou qualquer benefício trabalhista ou previdenciário.

TRABALHADORES bolivianos são resgatados em condições análogas à escravidão em confecção de roupas em Americana. G1, Campinas e região, 20 abr. 2024. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/campinas -regiao/noticia/2023/04/20/trabalhadores-bolivianos-sao-resgatados -em-condicoes-analogas-a-escravidao-em-confeccao-de-roupas-em -americana.ghtml. Acesso em: 26 jul. 2024.

a) Que paralelo pode ser traçado entre o trecho de reportagem e a situação dos trabalhadores em fábricas de empresas transnacionais em países como a Índia e a China?

b) Qual é a relação entre o desenvolvimento da sociedade de consumo e a precarização do trabalho?

c) A pesquisa do Fórum Econômico Mundial elencou o pensamento analítico e a criatividade como as competências profissionais mais valorizadas pelo mercado de trabalho atual que, possivelmente, seguirão como características pessoais importantes para os trabalhadores no futuro próximo.

Considerando a atual situação do mundo do trabalho, elabore hipóteses para explicar por que competências como pensamento analítico e criatividade são valorizadas no mercado de trabalho.

Resposta pessoal.

b) Como foi afirmado pelo sociólogo Ricardo Antunes, a precarização é parte do atual modelo de desenvolvimento, que, entre outras características, é marcado por produção e consumo em massa. O aumento de produtividade na indústria contemporânea está frequentemente associado a formas de precarização laboral, como extensão das jornadas de trabalho e redução de salários.

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DELFIM MARTINS/PULSAR IMAGENS

Desigualdade socioeconômica e o consumo

Quando pensamos sobre o consumo desenfreado que marca a sociedade contemporânea, não devemos perder de vista uma questão fundamental: a desigualdade socioeconômica. Isso significa que a realidade do hiperconsumo é acessível apenas a alguns grupos sociais, enquanto muitos outros lutam para adquirir itens básicos para a sobrevivência.

No Brasil, a desigualdade se reflete tanto no consumo de bens duráveis, como eletrodomésticos e veículos, quanto na compra de bens não duráveis, como alimentos. Segundo o Estudo sobre a Cadeia de Alimentos, feito pelo economista Walter Belik em parceria com o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), em 2020, enquanto as famílias mais pobres do país gastavam em média 26% de seus rendimentos mensais em alimentação, as famílias mais ricas gastavam em média apenas 5%. Considerando os bens duráveis, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnadc), em 2022, embora mais de 70% dos domicílios brasileiros tivessem máquina de lavar, a distribuição era desigual pelo país. O item estava disponível em quase 90% dos domicílios da Região Sul, enquanto na Região Nordeste ele estava presente em cerca de 40% dos lares.

Em geral, a desigualdade socioeconômica também se revela no consumo. Segundo o The Worldwatch Institute, no início dos anos 2010, o relatório Estado do Mundo indicou que os 16% mais ricos da população global eram responsáveis por 78% do consumo mundial.

Recentemente, o crescimento econômico em países asiáticos como a China tem impulsionado o consumo na região, que em diversos aspectos já supera os patamares observados nos países ocidentais, o que acende um alerta sobre a limitação dos recursos naturais e o agravamento da crise ambiental.

ATIVIDADES

■ Máquinas de lavar à venda em loja de eletrodomésticos em Londrina (PR). Fotografia de 2021. Apesar das políticas que facilitaram o consumo nas últimas décadas no Brasil, a máquina de lavar ainda é uma realidade distante de muitos lares.

a) Do ponto de vista ambiental, o aumento no consumo significa maior pressão sobre os recursos naturais escassos e maior emissão de gases do efeito estufa; já do ponto de vista socioeconômico, pode denotar aumento no acesso a bens de consumo por populações anteriormente excluídas. Ao serem incluídas nos mercados, esses contingentes populacionais dinamizam a economia, tornando o consumo positivo.

O texto a seguir foi transcrito de uma palestra de Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo. Leia-o e responda às questões.

“Quando a China, Índia e África, que juntas têm hoje mais de 3 bilhões de habitantes, resolverem ter o mesmo padrão de consumo dos países desenvolvidos – e isso não vai demorar –, não precisa ser muito inteligente para perceber que não vai dar certo. Precisamos mudar o sistema” […].

SMIRNE, Diego C. Padrão de consumo atual é insustentável para população de 7 bilhões. Jornal da USP, São Paulo, 1o dez. 2016. Disponível em: https://jornal.usp.br/universidade/padrao-de-consumo-atual-e-insustentavel-para-populacao-de-7-bilhoes/. Acesso em: 24 jul. 2024.

a) Do ponto de vista socioeconômico, é possível afirmar que todo aumento no consumo pode ser considerado negativo? Justifique sua resposta.

b) Qual é sua interpretação para o seguinte trecho do professor Paulo Artaxo: “não precisa ser muito inteligente para perceber que não vai dar certo. Precisamos mudar o sistema”?

b) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes relacionem o comentário do professor à crise ambiental e à necessidade de mudanças no atual sistema econômico.

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ERNESTO REGHRAN/PULSAR IMAGENS

em AÇÃO

Consulte as orientações no Manual do professor.

Pesquisa: Consumistas, nós?

Agora que você já se aprofundou nos hábitos de consumo da sociedade, chegou o momento de entender como são os hábitos de consumo da sua turma. Para construir dados que vão contribuir com a reflexão a respeito dos comportamentos de consumo, responda ao teste a seguir pensando nos próprios hábitos.

■  A fila para entrar na primeira filial de uma famosa marca de eletrônicos exemplificou um fenômeno comum na atualidade: legião de consumidores que chegam até a acampar em frente aos estabelecimentos, motivados pelo desejo de adquirir produtos de marcas ditas renomadas. Rio de Janeiro (RJ). Fotografia de 2014.

Responda ao teste a seguir no caderno, de acordo com as alternativas do quadro.

• Faço compras para me sentir de bem com a vida.

Com certeza sim.

Talvez sim. Talvez não.

Com certeza não.

• Quando estou triste ou com ansiedade, o melhor remédio é comprar algo.

Com certeza sim.

Talvez sim. Talvez não.

Com certeza não.

• Quando entro em uma loja, nunca saio sem comprar alguma coisa.

Com certeza sim.

Talvez sim. Talvez não.

Com certeza não. 1 PASSO

• Eu me endivido para poder comprar coisas de que gosto.

Com certeza sim.

Talvez sim.

Talvez não.

Com certeza não.

• No m omento das compras, fico feliz, mas, depois que chego em casa, fico triste e sinto culpa.

Com certeza sim.

Talvez sim.

Talvez não.

Com certeza não.

• Ir às compras costuma me causar uma sensação de bem-estar.

Com certeza sim.

Talvez sim.

Talvez não.

Com certeza não.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
MARIO TAMA/GETTY IMAGES

• Quando vejo um produto que representa minha personalidade, eu o compro.

Com certeza sim. Talvez sim.

Talvez não.

Com certeza não.

• Quando vou fazer compras na companhia de amigos ou parentes, extrapolo meu orçamento para “não fazer feio”.

Com certeza sim. Talvez sim.

Talvez não.

Com certeza não.

• Ao comprar um produto recém-lançado, faço questão de mostrar aos amigos.

Com certeza sim. Talvez sim.

Talvez não.

Com certeza não.

• D ou presentes acima de minhas condições para causar uma boa impressão sobre mim.

Com certeza sim.

Talvez sim.

Talvez não.

Com certeza não.

Some os pontos de acordo com a tabela:

AlternativaPontuação

Com certeza sim. 3

Talvez sim. 2

Talvez não. 1

Com certeza não. 0

Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes calculem, observem e comparem seus resultados com a pontuação média da sala de aula.

PASSO

2

Contabilize o resultado

• Quanto mais próximo de 30, mais suscetível você está ao comportamento consumista; por outro lado, quanto mais próximo de 0, menor sua suscetibilidade ao comportamento consumista.

PASSO

3

• Com o auxílio do professor:

a) calcule a média da pontuação da sala de aula; b) observe a pontuação máxima e a pontuação mínima.

PASSO

4

• Comparem o resultado aos valores dos itens do passo anterior.

• Conversem sobre os resultados para identificar os pontos em comum entre os hábitos da turma.

• C ompartilhem o teste nas redes sociais da escola.

Aproveitem para retomar a pergunta norteadora desta etapa: De onde vem e para onde vai a sociedade do consumo?

O ciclo de produção

Para onde vai o que consumimos?

Conexões

Rebecca consegue sucesso em sua profissão como colunista de uma revista financeira em Nova York, porém ela está a ponto de arruinar sua vida e sua carreira por ser uma compradora compulsiva.

• O S DELÍRIOS de consumo de Becky Bloom. Direção: P. J. Hogan. Estados Unidos: Touchstone Pictures, 2009. Streaming (104 min).

Ao abordarmos o tema do consumismo, é crucial compreendermos suas consequências para a sociedade. O consumo excessivo e o desperdício de recursos naturais são os grandes desafios contemporâneos. Esse consumo desenfreado ultrapassa a capacidade da Terra de prover tais recursos, resultando em impactos ambientais significativos.

■ Área de mineração em Catalão (GO). Fotografia de 2024. O consumismo leva ao aumento da produção de bens e, assim, intensifica a exploração dos recursos naturais.

Uso dos recursos naturais

Para que um número crescente de mercadorias seja produzido, a quantidade e a variedade de recursos naturais explorados nessa produção cresce na mesma proporção. Como consequência, aumenta a destruição ambiental causada por atividades como a mineração, o extrativismo vegetal e a agropecuária. Ao avançar sobre florestas e outros ecossistemas responsáveis pela captação de CO2 da atmosfera e empregar combustíveis fósseis como fonte de energia, o sistema mundial de produção de mercadorias é uma das principais causas das mudanças climáticas.

De acordo com o Relatório Mundial das Cidades 2022, elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2021, 56% da população mundial vivia em áreas urbanas. A previsão é que, em 2050, essa proporção aumente para 68%. Com um mundo cada vez mais urbano, o consumo de recursos naturais tende a crescer consideravelmente.

A extração de recursos naturais já triplicou nas últimas cinco décadas e a ONU prevê um aumento de 60% no consumo global de recursos naturais entre 2020 e 2060.

Saiba mais

Pegada hídrica

■ Área de extração de madeira na Floresta Amazônica. Fotografia de 2023.

Você já parou para pensar na quantidade de água usada no processo de produção dos itens que você usa no dia a dia? A pegada hídrica é um indicador do uso da água que considera o uso da água direto por um consumidor ou produtor e, também, o uso indireto. Leia o texto a seguir.

A pegada hídrica de um produto é o volume de água utilizado para produzi-lo, medida ao longo de toda cadeia produtiva. É um indicador multidimensional, que mostra os volumes de consumo de água por fonte e os volumes de poluição pelo tipo de poluição.

[...]

Para estimar a pegada hídrica de um produto, primeiramente é preciso entender a forma como ele é produzido. Por esta razão é preciso identificar o 'sistema de produção'. Um sistema de produção consiste em 'etapas de processos' sequenciais. Um exemplo (simplificado) do sistema de produção de uma camisa de algodão é: cultivo do algodão, colheita, descaroçamento, cardagem, tecelagem, branqueamento, tingimento, estamparia, acabamento. [...]

[...] Os consumidores podem reduzir as suas pegadas hídricas diretas (uso doméstico da água) adotando medidas, tais como válvulas de descarga eficientes e chuveiros que economizam água, fechar a torneira enquanto escovam os dentes, utilizar menos água no jardim e não descartar medicamentos, tintas ou outros poluentes na pia ou no tanque. Geralmente, a pegada hídrica indireta de um consumidor é muito maior do que a sua pegada hídrica direta. [...] Uma opção é mudar o seu padrão de consumo, substituindo um produto que tenha pegada hídrica grande por outro que tenha uma pegada hídrica menor.

HOKSTRA, Arjen Y. Hoekstra et al Manual de avaliação da pegada hídrica: estabelecendo o padrão global. [S l.]: Water Footprint Netword, 2011. p. 2, 99.

TARCISIO

■ Lixo eletrônico em ONG que faz coleta e reciclagem desse material, em Jacareí (SP). Fotografia de 2021. O descarte correto do lixo eletrônico é importante para evitar a contaminação do solo e da água por substâncias tóxicas, além de promover a reutilização de recursos.

Obsolescência programada

A obsolescência programada é uma estratégia utilizada por fabricantes para determinar o tempo de vida útil de um produto, tornando-o obsoleto ou não funcional após um período predeterminado. Essa prática ganhou popularidade nas últimas décadas como uma estratégia para incentivar os consumidores a comprar novos produtos com frequência, mesmo que os antigos ainda possam ser usados e, assim, impulsionar o consumo.

Essa atitude influencia diretamente a vida dos jovens, que são grandes consumidores de tecnologia. Os smartphones e tablets são exemplos claros de produtos que, muitas vezes, apresentam problemas logo após o término da garantia. Ao criar produtos com vida útil reduzida, os fabricantes asseguram um mercado sempre ativo e lucrativo. Esse ciclo incentiva uma cultura de descarte rápido, na qual a substituição de itens se torna comum e normaliza o comportamento consumista.

Os impactos ambientais dessa prática são significativos, principalmente na geração de resíduos sólidos. Produtos eletrônicos descartados inadequadamente contribuem para a poluição do solo e da água, por causa da presença de metais pesados e outras substâncias tóxicas. Além disso, a produção incessante de novos produtos exige a constante extração de recursos naturais, o que intensifica a degradação ambiental.

De acordo com a organização Global Footprint Network, em 2022, a humanidade já consome 70% a mais do que o planeta consegue repor, e a obsolescência programada intensifica essa pressão. A conscientização sobre os impactos do consumismo desenfreado e a adoção de práticas sustentáveis são essenciais para reduzir a geração de lixo eletrônico e proteger o meio ambiente.

2. b) Espera-se que os estudantes identifiquem fatores como a poluição por metais pesados e a crescente quantidade de lixo eletrônico. Devem considerar, ainda, como a produção contínua de novos modelos exige recursos naturais significativos e gera mais emissão de carbono.

ATIVIDADES

Consulte as orientações no Manual do professor.

1. b) Resposta pessoal. Independentemente do meio de transporte utilizado, chame a atenção dos estudantes para os benefícios ambientais da opção pelo transporte público e de práticas como o transporte solidário.

1. Nesta atividade, você vai a refletir sobre o impacto do seu estilo de vida nas condições ambientais em que vivemos. Durante uma semana, observe sua rotina; após esse período, responda às questões a seguir.

a) As roupas que você usa no dia a dia são de marca ou são feitas por produtores locais? Após quanto tempo você deixa de usar uma vestimenta?

Respostas pessoais.

b) Qual(is) é(são) o(s) meio(s) de transporte que você utiliza para se deslocar diariamente?

c) Quais são seus hábitos alimentares?

Resposta pessoal.

d) De modo geral, que tipos de produto você costuma consumir?

Resposta pessoal.

e) Os hábitos de consumo de seus familiares são semelhantes aos seus? Explique.

Resposta pessoal. Com base nas respostas, é possível traçar um perfil dos hábitos de consumo dos familiares dos estudantes.

f) Você separa o lixo reciclável do lixo orgânico em sua residência?

Resposta pessoal. Reforce a importância da coleta seletiva em residências para a redução de lixo e dos impactos ambientais.

2. A obsolescência programada é uma estratégia por meio da qual fabricantes projetam produtos com um tempo de vida útil limitado para incentivar a necessidade de consumo frequente. Entretanto, aparelhos eletrônicos são substituídos constantemente, mesmo que estejam em pleno funcionamento.

Muitas vezes, trocamos dispositivos eletrônicos ainda funcionais por modelos mais recentes simplesmente porque possuem novas características, como uma câmera de melhor qualidade ou mais memória. Essa prática não só contribui para o aumento do lixo eletrônico, que contamina os solos e as águas com substâncias tóxicas, mas também alimenta um ciclo de consumo insustentável que degrada recursos naturais.

a) Considere um dispositivo que você substituiu recentemente e reflita sobre os motivos que levaram à troca. Pense como seu comportamento de consumo de tecnologia está ligado à obsolescência programada e aos impactos ambientais que ela provoca.

b) Discuta com os colegas como esse comportamento afeta o meio ambiente.

c) Elabore uma lista de práticas que você e os colegas podem adotar para reduzir o impacto ambiental relacionado ao consumo de tecnologia.

Resposta pessoal.

d) Compartilhe a lista com a comunidade escolar. Se possível, utilizem as redes sociais da escola para a divulgação.

2. a) Resposta pessoal. Os estudantes podem comentar o desejo por funções mais avançadas, melhor desempenho ou simplesmente por seguir tendências. Eles devem relacionar essas razões à obsolescência programada, reconhecendo como essa prática também incentiva a substituição frequente de aparelhos.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Descarte e destinação dos resíduos sólidos

Com o aumento do consumismo, estamos gerando cada vez mais resíduos sólidos. Comprar, usar e descartar em pouco tempo tornou-se uma prática comum, especialmente com produtos como eletrônicos e roupas, o que contribui para o aumento acelerado do descarte de resíduos.

E para onde vai todo esse lixo?

No Brasil, o lixo geralmente tem dois destinos principais: aterros sanitários e lixões. Apesar de a Política Nacional de Resíduos Sólidos ter estabelecido o fim dos lixões, que deveriam ser fechados até 2014, o prazo não foi cumprido.

De acordo com o Panorama dos resíduos sólidos no Brasil – 2023, relatório produzido pela Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), em 2022, cerca de 61,1% dos resíduos sólidos urbanos foram para aterros sanitários, locais preparados para receber o lixo de forma controlada. No entanto, o restante dos resíduos foi destinado a lixões ou aterros controlados, que não são as soluções ideais e podem gerar diversos problemas ambientais.

O descarte inadequado de lixo traz várias consequências. Quando resíduos são depositados em lixões, por exemplo, há o risco de contaminação do solo e da água. Componentes de resíduos eletrônicos, que frequentemente contêm metais pesados, podem infiltrar no solo e alcançar os lençóis freáticos, comprometendo a qualidade da água potável. Além disso, esse lixo pode ser levado pela chuva até rios e oceanos, agravando ainda mais a poluição dos recursos hídricos.

■ Lixão a céu aberto em Canudos (BA).

Fotografia de 2021. Esses locais, ainda comuns no Brasil, representam sérios riscos ao meio ambiente e à saúde pública.

A gestão eficiente dos resíduos sólidos é essencial para reduzir os impactos negativos no meio ambiente. É necessário repensar nossos hábitos de consumo, aumentar as práticas de reciclagem e adotar alternativas mais sustentáveis. Consumidores, governos e empresas, todos têm um papel importante a desempenhar para garantir um futuro mais sustentável e saudável para o planeta.

Saiba mais

Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), estabelecida no Brasil pela lei no 12.305 de 2010, visa reduzir a geração de resíduos por meio de práticas de reciclagem e reutilização, além de garantir a destinação ambientalmente adequada dos rejeitos. Essa política introduz a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, envolvendo todos os agentes, desde fabricantes até consumidores, e impõe a logística reversa , em que resíduos são retornados ao setor produtivo para reaproveitamento ou descarte adequado.

Ordem de prioridade de geração de resíduos

Não geração

Redução

Reutilização

Reciclagem

Tratamento

EDITORIA DE ARTE

A PNRS proíbe a utilização de lixões e inclui, ainda, medidas educativas e incentivos econômicos para fomentar a reciclagem e a conscientização ambiental. Por meio desses esforços, a PNRS busca minimizar os impactos ambientais e promover uma gestão sustentável dos resíduos sólidos no país.

Destinação final

ATIVIDADES

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

ZIG KOCH/PULSAR IMAGENS

■ Aterro sanitário em Curitiba (PR). Fotografia de 2024.

O lixo nos países desenvolvidos e nos países em desenvolvimento

A produção e a destinação de resíduos nos países são diferentes. Segundo o Banco Mundial, em 2018, embora os países desenvolvidos abrigassem apenas 16% da população mundial, eles foram responsáveis por gerar 34% dos resíduos globais. Ainda que produzam mais lixo, esses países reciclam aproximadamente 30% seus resíduos, enquanto nos países em desenvolvimento essa taxa é de apenas 4%.

Exportação de resíduos

Em um mundo cada vez mais globalizado, a gestão de resíduos tornou-se uma questão internacional, especialmente com a prática de países desenvolvidos exportarem seu lixo para nações em desenvolvimento. Esse movimento ocorre em razão da dificuldade de países ricos lidarem com o grande volume de lixo produzido ou, ainda, por considerarem mais vantajoso economicamente exportar, em vez de processar e reciclar esses resíduos. Países pobres lucram com a importação desse material, até mesmo os mais nocivos, como o lixo hospitalar e o lixo eletrônico.

Essa dinâmica levanta sérias questões ambientais, éticas e econômicas. A transferência de resíduos de países ricos para nações mais pobres frequentemente resulta em desafios significativos para os sistemas de gestão de resíduos locais, muitas vezes inadequados para lidar com a quantidade e a toxicidade do lixo importado. Esse tema tem se destacado à medida que mais países em desenvolvimento começam a rejeitar essas importações, buscando soluções mais sustentáveis para o problema global dos resíduos.

Fluxo global de lixo eletrônico – 2019

Trópico de Câncer

OCEANO PACÍFICO

Equador

Trópico de Capricórnio

OCEANO ATLÂNTICO

Círculo Polar Ártico

OCEANO ÍNDICO

Círculo Polar Antártico

ATIVIDADES

Lixo eletrônico não controlado

Lixo eletrônico perigoso previsto pela Convenção de Basileia

OCEANO PACÍFICO

Fonte: BALDÉ, C. P. et al Global Transboundary E-waste Flows Monitor 2022 [Monitor Global de Fluxos Transfronteiriços de E-lixo 2022]. Bonn: Instituto das Nações Unidas para Treinamento e Pesquisa (Unitar), 2022. Disponível em: https://ewastemonitor. info/wp-content/ uploads/2022/06/ Global-TBM_ webversion_june_2_ pages.pdf. Acesso em: 19 ago. 2024.

• Com base nas informações desse mapa, responda: Quais regiões recebem mais resíduos internacionais? O que explica esse movimento?

África, Sudeste Asiático e América Latina. Essas regiões, muitas vezes, têm regulamentações ambientais menos rigorosas e infraestruturas de gestão de resíduos menos desenvolvidas, o que torna o custo de processamento desses resíduos significativamente mais baixo em comparação ao dos países desenvolvidos. Além disso, a falta de fiscalização efetiva em algumas dessas regiões receptoras facilita a entrada de resíduos perigosos, como o lixo eletrônico.

MUNDO DO TRABALHO

Trabalho insalubre: catadores de rua e de lixões

Os catadores de rua e de lixões representam um dos grupos mais vulneráveis do trabalho informal por causa da natureza insalubre e precária de suas atividades. Frequentemente, esses trabalhadores estão expostos a condições adversas e manuseiam resíduos sem equipamentos de proteção adequados, o que os expõe a doenças infecciosas, problemas respiratórios e dermatológicos, além de intoxicações por substâncias químicas nocivas.

A precariedade do trabalho dos catadores é evidente na falta de reconhecimento formal, suporte laboral e benefícios sociais. Essa realidade ressalta a urgência de políticas públicas que promovam a formalização, a segurança no trabalho e o bem-estar desses profissionais. Esses trabalhadores desempenham um papel crucial na gestão de resíduos no Brasil, contribuindo significativamente para a reciclagem e a redução do volume de lixo em aterros. Portanto, melhorar as condições de trabalho dos catadores não apenas atende a imperativos de saúde pública e justiça social, mas também fortalece a eficiência dos sistemas de reciclagem urbanos.

■ Trabalhadores separam material reciclável em Ubatuba (SP). Fotografia de 2024. Associações e cooperativas como essa são fundamentais para fortalecer a reciclagem e a gestão de resíduos no Brasil, além de proporcionar meios de subsistência sustentáveis e inclusivos.

Consulte as orientações no Manual do professor.

• Pesquise se há, no bairro onde você mora, associações ou cooperativas de catadores. Procure informações específicas, como: nome, data de fundação, área de atuação, website ou contato e quantidade de resíduos processados mensalmente.

Reúna-se com colegas que pesquisaram a mesma organização e elaborem um cartaz no computador, para ser impresso em folha tamanho A4, com as informações mais importantes para divulgar esse trabalho na escola e na comunidade.

Levante previamente as associações existentes, de forma a organizar a turma em grupos para que todas sejam trabalhadas. Caso não haja associações no bairro da escola, sugira que façam a pesquisa para o município. Incentive os estudantes a refletir criticamente sobre o impacto que essas associações têm na redução de resíduos e na promoção da reciclagem.

Conexões

Neste documentário, o artista plástico Vick Muniz mostra obras de arte desenvolvidas com catadores de material reciclável em um dos maiores aterros sanitários do mundo, na cidade de Duque de Caxias (RJ).

• L IXO extraordinário. Direção: Lucy Walker. Brasil, 2011. vídeo (94 min).

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

em AÇÃO

O destino dos resíduos sólidos em meus lugares de vivência

Agora que já conhecemos bem a forma de gerenciar os resíduos sólidos e sabemos dos impactos do consumo nesse processo, é hora de explorar, em grupo, como isso acontece nos bairros ao redor da escola e analisar o que podemos fazer para reduzir o desperdício.

PASSO

1 Mapeamento e avaliação da coleta

• Identifiquem os diferentes tipos de resíduo coletado (orgânico, reciclável, rejeito) e os dias de coleta.

• U tilizem celulares para documentar. Fotografem os caminhões de coleta e, se possível, conversem com os trabalhadores para descobrir o destino dos resíduos.

• Avaliem a eficácia da coleta de lixo domiciliar.

• Realizem uma pesquisa rápida com os vizinhos para saber opiniões sobre o serviço e o grau de satisfação em relação a ele.

PASSO

2 Pontos de reciclagem

• Localizem os pontos de coleta seletiva do bairro.

• Criem um mapa digital usando aplicativos de localização e marquem esses pontos para facilitar o acesso de outros moradores.

• Retomem as informações que pesquisaram na atividade anterior (sobre cooperativas ou associações de catadores).

PASSO

4 Elaboração de um “Dossiê do Lixo”

■ Muitas farmácias recolhem medicamentos vencidos ou em desuso, como essa, na cidade de Londrina (PR). Fotografia de 2023. Destinar corretamente os medicamentos e suas embalagens, mesmo que vazias, é importante para prevenir a contaminação ambiental e garantir que substâncias potencialmente perigosas não entrem em contato com a água e o solo.

PASSO

3 Programas especiais

• Investiguem a existência de programas especiais para coleta de itens volumosos ou especiais.

• Pesquisem, na internet e junto à prefeitura, serviços como “cata-bagulho” e documentem as opções disponíveis.

• Levantem os pontos de entrega de medicamentos fora da validade, de óleo de cozinha e de lixo eletrônico.

• Preparem um dossiê detalhado sobre a gestão de resíduos no bairro, com mapas, fotografias e dados coletados. Esse documento será uma ferramenta valiosa para entender melhor as práticas de reciclagem e manejo de resíduos, além de ajudar na proposição de melhorias para esse processo.

PASSO

5 Coleta de itens usáveis

• Reúnam em casa itens que vocês normalmente jogariam fora, como cadernos com páginas em branco, fones de ouvido funcionando parcialmente, livros antigos e roupas que já não servem mais.

• É possível divulgar a ação na escola e receber itens de estudantes de outras turmas.

PASSO

6 Separação e preparação para reutilização e reciclagem

• Vocês vão montar uma estação de triagem para separar esses itens em diferentes categorias: reutilizar, reciclar e doar.

• Cadernos: removam as páginas usadas para reciclagem e juntem os cadernos ainda utilizáveis para serem usados por outros estudantes ou doados.

• Eletrônicos: coloquem eletrônicos menores, como fones de ouvido, em uma caixa de coleta para levá-los a um ponto de reciclagem especializado.

• Livros e roupas: criem um cantinho na escola para troca de livros e um bazar de roupas, no qual você e os colegas podem trocar ou pegar o que precisarem. Outra possibilidade é criar um cantinho de livros para leitura nos intervalos.

PASSO

7 Destinação

• Formem grupos. Cada grupo será responsável por encontrar locais na comunidade que aceitem a doação dos itens coletados ou sejam adequados à destinação de lixo eletrônico, por exemplo.

• Planejem como vocês vão entregar esses itens, organizando coleta, transporte e comunicação com as organizações escolhidas.

PASSO

8 Divulgação e educação

• Documentem todo o processo, desde a coleta até a destinação final, em um relatório visual com fotografias e comentários. Ele será exposto na escola para mostrar o impacto significativo de nossas ações, bem como estimular a comunidade escolar a adotar práticas mais sustentáveis.

Aproveitem para retomar a pergunta norteadora desta etapa: Para onde vai o que consumimos?

DOAÇÃO

3

Consumo sustentável

É possível manter outra relação com o consumo?

■ Feira de produtos agroecológicos de pequenos produtores, no Rio de Janeiro (RJ). Fotografia de 2023. Um consumidor consciente busca conhecer a origem dos produtos que consome, dando preferência a compras diretas de produtores locais. Além de incentivar a economia local, essa prática reduz a emissão de gases.

O consumismo é caracterizado pelo consumo inconsciente e, muitas vezes, insustentável, em que a quantidade prevalece sobre a qualidade e a necessidade. Tornar esse comportamento mais consciente e sustentável requer uma mudança de mentalidade tanto dos consumidores quanto dos produtores.

Transformando hábitos para preservar o planeta

Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis até 2030 é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. Esse objetivo reflete a urgência de transformar os padrões atuais para evitar a degradação ambiental, promover a justiça social e assegurar uma economia viável a longo prazo.

Responsabilidade compartilhada

O consumidor pode influenciar o mercado por meio de suas escolhas, por exemplo, optando por produtos de marcas sustentáveis. Para tanto, é preciso conhecer a origem do que se consome, verificando se os processos de produção são éticos, se os trabalhadores são tratados e remunerados

de maneira justa e se os métodos utilizados minimizam os danos ao meio ambiente.

Os 5 Rs do consumo sustentável são práticas importantes para minimizar o impacto ambiental e promover um estilo de vida mais consciente:

• Repensar o modo de consumo e o descarte de resíduos;

• Recusar o consumo de itens que não são necessários;

• Reduzir o consumo e os resíduos gerados;

• Reutilizar produtos para outras finalidades, evitando o descarte;

Reciclar os materiais, diminuindo a produção de lixo. Além dos consumidores, a produção tem a responsabilidade de adotar práticas sustentáveis, desde a obtenção de matérias-primas até a fabricação e a distribuição dos produtos. As empresas precisam ser transparentes em relação às suas práticas e devem implementar políticas que promovam a sustentabilidade, como o uso de energias renováveis, a redução de resíduos e a reciclagem. Ambos, consumidores e empresas, desempenham papéis complementares na promoção de uma sociedade mais justa e ecologicamente equilibrada.

Conexões

Acesse estes sites para obter mais informações sobre consumo consciente.

• INSTITUTO AKATU. [São Paulo, 2024]. Site. Disponível em: https://akatu.org.br/. Acesso em: 13 ago. 2024. Uma das mais representativas entidades de luta pelos direitos do consumidor e por um consumo consciente e sustentável.

• CONSELHO EMPRESARIAL BRASILEIRO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. Rio de Janeiro, c. 2023. Site. Disponível em: https://cebds.org/. Acesso em: 13 ago. 2024. Entidade que reúne grandes empresários brasileiros na busca de um desenvolvimento sustentável e do consumo consciente.

ATIVIDADES

■ Intervenção realizada como parte de uma campanha pela eliminação das sacolas plásticas em supermercados, em São Paulo (SP). Fotografia de 2012. Substituir as sacolas descartáveis pelas reutilizáveis é uma das ações de um consumidor consciente. Os objetos gigantes foram confeccionados artesanalmente com retalhos de outdoors pela ONG Projeto Arrastão, seguindo o projeto da ATTACK Intervenções Urbanas, do artista plástico Eduardo Srur.

1. Qual é a importância de conhecer a origem dos produtos que consumimos?

2. Cite um exemplo prático de como você pode aplicar cada um dos 5 Rs em seu dia a dia.

Resposta pessoal.

1. Devemos priorizar produtos fabricados de maneira sustentável por empresas ou produtores que respeitam tanto os trabalhadores quanto o meio ambiente. Ao conhecermos a origem dos produtos, podemos assegurar que as escolhas de consumo que fazemos apoiam práticas éticas e sustentáveis, promovendo a produção responsável e diminuindo o impacto ambiental.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

O consumidor consciente

Superar o consumismo requer mudanças de hábitos que nem sempre são fáceis de implementar. A questão não é só comprar menos, mas fazê-lo de forma consciente e responsável. Essa escolha envolve a adoção de práticas que minimizam o impacto ambiental e social negativo das escolhas de consumo que fazemos, garantindo a preservação dos recursos naturais para as futuras gerações. A participação de todos nessa mudança de paradigma é fundamental, pois cada escolha individual contribui para um impacto coletivo significativo. O texto a seguir apresenta 12 princípios do consumo consciente.

1. Planeje suas compras (não seja impulsivo).

2. Avalie os impactos de seu consumo.

3. Consuma apenas o necessário.

4. Reutilize produtos e embalagens (não compre outra vez o que você pode consertar, transformar e reutilizar).

5. Separe seu lixo.

6. Use crédito conscientemente.

7. Conheça e valorize as práticas de responsabilidade social das empresas.

8. Não compre produtos piratas ou contrabandeados.

9. Contribua para a melhoria de produtos e serviços (envie às empresas sugestões e críticas construtivas).

10. Divulgue o consumo consciente.

11. Cobre dos políticos.

12. Reflita sobre seus valores.

INSTITUTO AKATU. Conheça os 12 princípios do consumo consciente. [São Paulo], 18 mar. 2011. Disponível em: https:// akatu.org.br/conheca-os-12-principios-do-consumo -consciente/. Acesso em: 20 jul. 2024.

ATIVIDADES

STRELNIKOVA/SHUTTERSTOCK.COM

Consulte as orientações no Manual do professor

• Após ler o texto, reflita se você coloca em prática os princípios listados.

a) A respeito do item 7, pesquise o que é responsabilidade social das empresas e defina essa expressão com suas palavras.

Resposta pessoal.

b) Pesquise ações de responsabilidade social promovidas por empresas, preferencialmente localizadas na região onde você vive. Selecione uma dessas ações; em seguida, identifique e registre suas principais características, como a empresa que a realiza, as estratégias utilizadas, os objetivos e os resultados alcançados. Apresente os resultados da pesquisa aos colegas de turma.

Oriente a turma na apresentação dos resultados da pesquisa. É importante que o resultado seja exposto de forma clara e objetiva.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
IRINA

Consumo consciente e novas oportunidades profissionais

O mercado de trabalho está em constante evolução, impulsionado tanto pelos avanços tecnológicos quanto pelas crescentes demandas sociais e ambientais. Com o aumento da pressão por consumo consciente, surgem novas oportunidades profissionais que valorizam a sustentabilidade. Por isso, instituições de ensino estão oferecendo cursos voltados para áreas emergentes. Veja alguns exemplos.

• G estão de resíduos: profissionais dessa área planejam e implementam estratégias eficientes de manejo de resíduos sólidos, reciclagem e compostagem.

• Tecnologia em saneamento ambiental: curso que capacita estudantes a enfrentar desafios relacionados à gestão ambiental e ao saneamento.

• D esign sustentável : esses profissionais trabalham com materiais ecológicos e práticas de produção sustentáveis, contribuindo para a economia circular.

Desenvolvimento de materiais

Uma das áreas mais impactadas por essas mudanças é o desenvolvimento de materiais sustentáveis, que pode ser realizado por engenheiros de materiais. O foco está na criação de materiais que sejam ambientalmente responsáveis para diversos usos, como bioplásticos (alternativas biodegradáveis ao plástico feitas com fontes renováveis), fibras naturais e alternativas ao couro produzidos com frutas e cogumelos.

Consulte as orientações no Manual do professor

1. Faça uma pesquisa a respeito de um material sustentável, como bioplásticos, fibras naturais ou tijolos ecológicos. Prepare uma breve apresentação com slides que explique o processo de fabricação e os benefícios ambientais, além de fornecer exemplos de uso.

1. Espera-se que os estudantes preparem uma apresentação clara, concisa e bem organizada, utilizando imagens ou gráficos para ilustrar os pontos principais.

2. Em duplas ou trios, discutam e desenvolvam ideias inovadoras que contribuam para reduzir os impactos ambientais causados pelas empresas. Ao final, todos os grupos devem compartilhar suas ideias com a turma.

■ Tijolos ecológicos produzidos em Osasco (SP), 2011. Na construção civil, que tradicionalmente gera muitos resíduos, surgem diversas alternativas sustentáveis. Esses tijolos ecológicos são feitos com resíduos do próprio setor de construção, reduzindo a quantidade de resíduos descartados e a necessidade de extração de novas matérias-primas. Nos tijolos da fotografia, estão indicadas as porcentagens de entulho de material de construção utilizadas.

2. Peça aos estudantes que colem as ideias de cada grupo em um painel ou na lousa; incentive uma discussão colaborativa em que todos os grupos compartilhem e debatam suas propostas, promovendo a troca de conhecimentos e a melhoria coletiva das ideias apresentadas.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
RUBENS CHAVES/PULSAR IMAGENS

Modelos econômicos sustentáveis

O sistema econômico tradicional, em que predomina a economia linear, leva a um uso insustentável dos recursos naturais e à degradação ambiental. No entanto, existem modelos alternativos de produção que propõem uma abordagem mais equilibrada e responsável. Vamos conhecer algumas dessas propostas.

Economia circular

A economia circular é um modelo de produção e consumo que visa fechar o ciclo de vida dos produtos. Em vez de seguir o padrão linear de “extrair, produzir e descartar”, a economia circular promove um sistema no qual os resíduos são minimizados e os recursos, continuamente reutilizados. Isso inclui práticas como reciclagem, reutilização e reparação de produtos, o que prolonga sua vida útil e reduz o impacto ambiental.

Economia solidária

A economia solidária valoriza a cooperação e a solidariedade em vez da competição e do lucro. Baseada em princípios de autogestão e de participação democrática, esse modelo busca empoderar comunidades locais e fortalecer redes de produção e consumo que respeitam os direitos humanos e o meio ambiente. Cooperativas e associações comunitárias são exemplos de como esse modelo pode criar oportunidades de trabalho digno e promover a inclusão social.

Extrair
Produzir
Utilizar Descartar
Economia linear
Utilizar
Descartar
Reciclar
Reutilizar
Economia circular
Produzir

Comércio justo

O comércio justo é um movimento global que visa criar condições de troca mais equitativas entre produtores e consumidores. Ele garante que os produtores recebam uma remuneração justa por seu trabalho e que este seja realizado em condições seguras e sustentáveis. Produtos com certificação de comércio justo são identificados por selos que asseguram aos consumidores que suas compras contribuem para um sistema mais justo e sustentável.

Princípios do comércio justo

■ Selo que indica comércio justo.

O comércio justo contribui para o desenvolvimento sustentável ao proporcionar melhores condições de troca. Leia, a seguir, princípios importantes para uma relação comercial justa:

1. Transparência e corresponsabilidade na gestão da cadeia produtiva e comercial;

2. Relação de longo prazo que ofereça treinamento e apoio aos produtores e acesso às informações do mercado;

3. Pagamento de preço justo no recebimento do produto, além de um bônus que deve beneficiar toda a comunidade, e de financiamento da produção ou do plantio, ou a antecipação do pagamento da safra, quando necessário;

4. Organização democrática dos produtores em cooperativas ou associações;

5. R espeito à legislação e às normas (por exemplo, ambientais, trabalhistas) nacionais e internacionais;

6. P roibir o trabalho infantil... As crianças devem frequentar a escola;

7. Garantir dignidade e segurança no ambiente de trabalho;

8. P roibir o trabalho forçado;

9. Comprometer-se com a equidade de gênero, o empoderamento das mulheres e o meio ambiente deve ser respeitado;

10. P romover o fair trade.

O QUE é fair trade. SEBRAE, 2 ago. 2022. Disponível em: https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/o-que-e-fair-trade -comercio-justo,82d8d1eb00ad2410VgnVCM100000b272010aRCRD. Acesso em: 2 out. 2024.

ATIVIDADES

Consulte as respostas e orientações no Manual do professor

• Pense em um objeto que você utiliza com frequência (como roupas, eletrônicos ou produtos de higiene).

a) Objetos de uso frequente, como roupas, eletrônicos e produtos de higiene, têm impactos ambientais distintos, mas todos compartilham a necessidade de serem produzidos em larga escala.

a) Agora, faça uma reflexão em um parágrafo, no caderno, sobre como sua escolha de compra desse item pode impactar o meio ambiente e o ciclo de consumo. Sugira uma ação concreta que você poderia adotar para minimizar esse impacto, seja na compra, uso ou descarte desse produto.

b) Na lógica da economia circular, o que mudaria em relação a esse produto que você consome?

b) Na economia circular, o ciclo de vida dos produtos mudaria significativamente. Produtos eletrônicos, por exemplo, seriam projetados desde o início para serem reciclados e reutilizados, utilizando componentes modulares que poderiam ser substituídos facilmente. Além disso, o produtor teria responsabilidade em recolher e reaproveitar esses itens ao final de sua vida útil.

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Saiba mais REPRODUÇÃO©

em AÇÃO

Conhecendo projetos sustentáveis em meu território

Nesta atividade, você e os colegas vão se engajar em um projeto investigativo sobre sustentabilidade na região em que vivem.

1 Pesquisa

• Façam um levantamento de projetos da sua região que trabalhem com sustentabilidade, consumo consciente e educação para sustentabilidade. Podem ser cooperativas de agricultores, feiras de economia solidária e plataformas de comércio on-line de produtores, entre outros.

■ Painel solar instalado em comunidade do Rio de Janeiro (RJ). Fotografia de 2021. A Rede Favela Sustentável busca transformar as favelas do Rio de Janeiro em modelos de comunidades sustentáveis com diversas iniciativas, como democratizar o acesso à energia solar, levando painéis solares para as favelas.

■ Página inicial de loja on-line que oferece peças de artesãos e artesãs brasileiros, promovendo o desenvolvimento de comunidades, o comércio justo e a valorização da cultura nacional.

PASSO

■ Produção de instrumento musical com madeira certificada pela Oficina Escola de Lutheria da Amazônia (Olea), em Manaus (AM). Fotografia de 2023. A Olea atua em projetos educativos, sociais, musicais e ambientais.

• Escolham um projeto.

■ Oficina de música com instrumentos feitos de materiais reaproveitados, em escola de Petrolina (PE). Fotografia de 2019. A oficina é promovida pelo Instituto Brasil Solidário.

Cada grupo deve escolher um projeto diferente, se possível.

• Se necessário, contatem responsáveis pelo projeto escolhido para entrevistas. Preparem perguntas que explorem os objetivos, os impactos e os desafios enfrentados por eles. É possível realizar as entrevistas a distância, com ferramentas on-line

PASSO

2 Análise e relatório

• Analisem as informações coletadas e preparem um relatório sobre o projeto. Incluam descrição, objetivos, impactos na comunidade, desafios, soluções e exemplos de produtos ou serviços oferecidos.

• Apresentem, brevemente, as informações coletadas do projeto para a turma. Identifiquem pontos em comum com os projetos apresentados pelos colegas.

PASSO

3 Proposta de implementação

• No coletivo, escolham um aspecto de um dos projetos pesquisados e discutam uma proposta de versão prática na escola ou na comunidade. Pode ser uma horta comunitária, uma oficina de reciclagem ou um sistema de troca de itens. Com base nas pesquisas realizadas, identifiquem as potencialidades e os desafios a serem enfrentados e verifiquem a possibilidade de implementação da proposta.

Aproveitem para retomar a pergunta norteadora desta etapa: É possível manter outra relação com o consumo?

Feira de trocas

Chegamos à reta final de nosso Projeto Integrador: a realização de uma feira de trocas. As práticas de troca de produtos e serviços, que remontam à Antiguidade, foram retomadas em novos formatos atuais. Elas ressurgem como alternativa para sensibilizar e conscientizar as pessoas sobre os malefícios do consumismo. O objetivo é promover uma sociedade mais sustentável, baseada no consumo consciente, na solidariedade e no exercício da cidadania. Leia o trecho de reportagem a seguir.

Para quem não conhece, as feiras de troca se resumem a feiras de intercâmbio de produtos: além de você se livrar de algo que não usa mais, sai de lá com algo em bom estado e novo para você. A maioria das feiras também permite a troca de produtos por serviços, mas sempre sem envolver dinheiro: essa é a graça e a essência da feira de trocas.

INSTITUTO DE DEFESA DOS CONSUMIDORES. Veja como fazer um dia das crianças econômico e sustentável. [S. l.], 26 set. 2020. Disponível em: https://idec.org.br/consultas/dicas-e-direitos/veja-como-fazer-um-dia-das-criancas-economico-e-sustentavel. Acesso em: 21 jul. 2024.

1Antes da feira

Agora, vocês vão dar os primeiros passos para realizar a feira de trocas. Um bom planejamento é fundamental para o sucesso do evento.

Planejamento inicial

A primeira medida é definir e delegar responsabilidades. Diante disso, com o professor, tomem decisões a respeito dos tópicos a seguir.

Nome: sejam criativos e escolham um título chamativo para a feira de trocas.

Data, horário e local: definam com o professor e a coordenação da escola quando e onde será realizada a feira.

Estrutura: determinem o número de barracas e as atrações culturais. Lembrem-se de pensar na acessibilidade para pessoas com necessidades especiais e em recursos para a destinação correta do lixo.

• Função de cada barraca: escolham que tipo de produto ficará disponível em cada barraca. Incluam um local de conscientização para apresentar informações sobre as desvantagens do consumismo e os benefícios do consumo consciente.

• Possíveis parceiros: com base nas pesquisas realizadas no decorrer deste Projeto Integrador, escolham quem pode apoiar a feira.

• Comissões: formem grupos responsáveis pela organização de cada um dos aspectos da feira. Para facilitar essa organização, vocês podem usar o quadro a seguir, incluindo outras comissões se for necessário.

Comissão

Coordenação-geral

Comunicação

Produtos

Estrutura e decoração

Principais atribuições

Integrar as ações e garantir a circulação da informação entre todas as comissões.

Desenvolver o material de divulgação da feira de trocas para a comunidade escolar (antes, durante e depois do evento).

Definir os tipos de produto que estarão nas barracas e organizar o recebimento desses materiais.

Planejar a montagem das barracas, decorar o espaço e organizar a estrutura para recolher o lixo e manter o ambiente limpo.

Área educativa e culturalElaborar o conteúdo educativo e cultural da feira.

Interação com o público

Responsáveis (nome dos estudantes)

Responsabilizar-se pelo contato com o público, criando estratégias para o acolhimento e o bem-estar dos frequentadores.

Reúnam-se esporadicamente para acompanhar e discutir o progresso feito por todas as comissões no processo de organização da feira.

Nas comissões

R eflitam sobre os materiais que serão necessários para a realização de cada tarefa.

Elaborem um esquema da estrutura do evento, definindo como será o mapa de distribuição das barracas e de outros elementos presentes na feira. A comissão de estrutura e decoração ficará responsável por essa etapa. Vocês podem fazer o esboço à mão ou utilizar um software. Observem um exemplo de esboço estrutural simples.

• Pesquisem se há associações, organizações não governamentais (ONGs) e esferas do poder público (prefeitura, estado, União), entre outras entidades, que já realizaram feiras de trocas semelhantes à que vocês estão planejando. Se considerarem conveniente, a comissão de coordenação-geral, com o auxílio do professor, pode entrar em contato com essas entidades para verificar se existe a viabilidade de estabelecer uma parceria.

Entrada da feira Recepção
Barraca Consumo consciente
Barraca Produto
Barraca Produto
Barraca Produto
Apresentações culturais
Barraca Socioambiental
Barraca Produto
Barraca Comida Doações

Conexões

A publicação trata da importância das feiras de troca e traz dicas de como organizá-las, envolvendo toda a comunidade e incentivando essa prática desde a infância.

• L ABORATÓRIO DE EDUCAÇÃO. Feira de trocas. São Paulo, 28 jan. 2019. Disponível em: https://labedu.org. br/feira-de-trocas/. Acesso em: 13 ago. 2024.

Durante a feira

A realização da feira é o ápice deste Projeto Integrador. Estejam com antecedência no local para checar os últimos detalhes e preparem-se para a chegada do público. Algumas estratégias devem ser pensadas para o dia do evento, como:

• recepcionar o público, dando informações e tirando possíveis dúvidas;

• ter atenção ao andamento da feira, para sanar eventuais problemas;

• dar assistência aos expositores e aos parceiros do evento;

• fazer registros fotográficos e escritos;

• preocupar-se em transmitir informações corretas sobre consumismo e consumo consciente;

• agradecer à comunidade escolar e aos demais parceiros (ONGs, associações etc.) por meio de uma fala coletiva.

Depois da feira

Após o término da feira, é necessário desmontar toda a estrutura e garantir a limpeza do espaço, bem como a destinação correta dos resíduos.

Aproveitem para retomar a pergunta norteadora do projeto: Como promover um consumo consciente?

PASSO
PASSO

AUTOAVALIAÇÃO

Para finalizar este Projeto Integrador, é importante avaliar tanto a participação individual quanto a coletiva. Para isso, em uma folha de papel sulfite, faça o que se pede.

1. Sobre seu envolvimento neste Projeto Integrador, responda às questões a seguir.

a) Houve participação em todas as atividades propostas? Argumente.

b) Em qual etapa houve mais dedicação? Em qual houve menos? Justifique.

c) Atribua uma nota de zero a dez para sua participação e para a participação da turma neste projeto. Justifique as notas atribuídas.

d) Em relação a suas ações, em quais aspectos você acredita que pode melhorar para a realização do próximo projeto?

e) Junte-se a um colega para comparar as respostas às questões anteriores, verificando com quais itens da avaliação vocês concordam e de quais discordam.

f) Escreva, de modo sucinto, quais foram suas dificuldades e quais aprendizagens desenvolveu no decorrer deste projeto.

2. Em relação ao assunto deste Projeto Integrador, responda às questões a seguir.

a) Você compreendeu os aspectos sociais, econômicos e ambientais envolvidos na prática do consumismo e na mudança de atitude para uma postura de consumo mais consciente?

b) Percebeu a importância de seu papel como jovem e protagonista para o desenvolvimento de alternativas de consumo mais sustentáveis?

c) Refletiu, por meio do estudo ao longo deste projeto, sobre a real necessidade de consumir certos produtos?

d) Reconheceu o funcionamento das cadeias produtivas e o modo como elas afetam o meio ambiente e a sociedade?

e) Compreendeu como o consumismo pode afetar o comportamento das pessoas e o que pode ser feito para evitá-lo?

3. Sobre a feira de trocas realizada ao final da última etapa, responda às questões a seguir.

a) Você participou ativamente de todos os passos da proposta?

b) Conseguiu relacionar a experiência da feira com o assunto consumo consciente?

c) A vivência o auxiliou a desenvolver um olhar crítico sobre o consumo?

3

COMO É O TRABALHO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO?

Atualmente, no Brasil, as formas de trabalho são muito diversas, abrangendo desde o trabalho informal no campo, durante as safras, até atividades conectadas ao mundo digital.

Muitos jovens, sem acesso a oportunidades adequadas, recorrem a trabalhos em condições precárias, como as entregas de bicicleta, enfrentando longas jornadas e acumulando rendimentos que, na maioria das vezes, não atingem um salário mínimo. Em alguns casos, são levados a abandonar os estudos para ajudar no sustento familiar.

Ao mesmo tempo, o empreendedorismo digital tem proporcionado oportunidades para quem busca novos negócios, como o dropshipping, no qual indivíduos atuam como intermediários entre clientes e fornecedores globais, sem precisar ter um estoque físico do produto. Além disso, diante das constantes mudanças no mundo do trabalho, as pessoas estão optando por empreender como forma de se adaptar e garantir renda, seja pelo desemprego, seja pela busca de mudança de área de atuação. Essa realidade impulsiona o surgimento de pequenos negócios em diversos segmentos.

Outro importante elemento no mundo do trabalho atual é a ascensão das redes sociais. Elas permitem que alguns jovens trabalhem produzindo conteúdo, como vídeos sobre games, gerando rendas que ultrapassam os ganhos de gerações anteriores. Esses exemplos ilustram parte da vasta gama de situações de trabalho presentes no país.

Você, que está cada vez mais próximo do mundo do trabalho ou que talvez já esteja inserido nele, é convidado a explorar, neste Projeto Integrador, as diferentes e novas formas de trabalho, inclusive as modalidades presencial, remota, híbrida e intermitente, tanto no âmbito formal quanto no informal.

Este projeto também abordará os principais setores e carreiras, as novas oportunidades que emergem nesse cenário e os processos de terceirização, “pejotização”, “plataformização” e “uberização” do trabalho. Além disso, propõe-se a reflexão sobre a perda de direitos trabalhistas, a resistência dos trabalhadores e a influência dos marcadores sociais de gênero, raça e idade nas dinâmicas do trabalho contemporâneo.

1. Você já percebeu a atuação de trabalhadores informais no município em que vive? De quais profissões?

2. Que tipos de trabalho ligados ao empreendedorismo digital você conhece? Você se identifica com algum deles?

Consulte as respostas no Manual do professor

■ Entregadores de aplicativos participam de mobilização na Avenida Consolação, no centro de São Paulo (SP), durante greve geral em 2020.

FICHA DE ESTUDO

Objetivos

• Reconhecer e historicizar aspectos do âmbito do trabalho no mundo e no Brasil.

• Comparar dados referentes ao trabalho pondo em perspectiva gênero, raça e idade, entre outros aspectos, no Brasil e no município.

• Refletir sobre a precarização das condições de trabalho e acerca das estratégias de resistência de trabalhadores na luta por direitos. Relacionar histórias de vida e percursos profissionais com as condições de trabalho e com os contextos social, econômico e político.

Justificativa do projeto

Este projeto oferece uma investigação do mundo do trabalho no Brasil atual, com especial atenção ao município em que você vive. O foco está nas diversas modalidades de trabalho, incluindo processos de precarização e plataformização, em um cenário marcado por crescente concentração de renda, desigualdade social.

Além disso, o projeto incentiva a reflexão sobre as formas de resistência dos trabalhadores na luta por direitos. Ele também mostra que fatores como raça, gênero e idade podem influenciar nas relações, oportunidades e condições de trabalho.

A categoria trabalho é abordada em diferentes dimensões – filosófica, geográfica, sociológica e histórica –, destacando-se o sujeito em relação ao trabalho e à sua rede de relações sociais. Em diálogo com a área de Linguagens e suas Tecnologias, o projeto contribui para a valorização da oralidade e da arte na forma de transmitir conhecimentos. Dessa forma, busca contribuir para a identificação de projetos políticos e econômicos em disputa no Brasil e a análise da atuação dos múltiplos sujeitos, inclusive sua própria atuação.

Dada a importância do trabalho nas diferentes sociedades e seu papel fundamental na produção capitalista, ele se torna essencial para a sobrevivência e está ligado à identidade e à

integração social. Por isso, os conhecimentos e as reflexões proporcionados por este projeto ganham relevância ao contribuírem para a formação de cidadãos críticos, competentes, comprometidos em transformar o mundo.

Essas habilidades favorecem a redução das desigualdades sociais e econômicas e promovem a igualdade de gênero e raça, visando condições de trabalho mais dignas.

TCT

• Trabalho

• Ciência e tecnologia

• Vida familiar e social

• Educação em direitos humanos

• Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras

ODS

5 Igualdade de gênero

8 Trabalho decente e crescimento econômico

10 Redução das desigualdades Materiais

• Caderno para anotações ao longo do projeto

• C artolina, canetas, lápis, borracha e caneta hidrocor ou aplicativo de criação de mapa conceitual, ou de infográfico

• Gravador de áudio ou celular multimídia (um por grupo de trabalho)

• Gravador de vídeo ou celular multimídia (um por grupo de trabalho)

• Aplicativo de transcrição de áudio

• Computador ou notebook com internet e editor de textos (ao menos um por grupo de trabalho)

• Aplicativo para editoração de publicação

• Projetor, telão e microfones (para o seminário)

• Espaço adequado para o seminário, com cadeiras para acomodar o público e parede ou telão para projeção

Produto final Seminário.

Percurso do projeto

ETAPA

1

Nesta etapa, você e os colegas vão caracterizar aspectos do âmbito do trabalho no mundo e no Brasil contemporâneo, reconhecendo os aspectos gerais da história do trabalho no Brasil em uma perspectiva de longa duração. Além disso, devem identificar a distribuição de trabalho em diferentes setores, as principais modalidades de trabalho e os níveis de emprego e desemprego, de trabalho formal e informal da população do município em que vivem. Com os dados coletados, o grupo vai identificar e comparar informações referentes ao trabalho, classificando nas perspectivas de gênero, raça e idade, no Brasil e em seu município. Ao final da etapa, vão refletir sobre a precarização das condições de trabalho e acerca da resistência e das estratégias de trabalhadores e trabalhadoras na luta por seus direitos, com foco em seu município.

ETAPA

2

Nesta etapa, vocês vão relacionar histórias de vida e percursos profissionais com as condições de trabalho e o contexto social, econômico e político do município em que vivem. Para isso, vão realizar uma entrevista com trabalhadores para coletar histórias de vida e profissionais no tema estabelecido e produzir um ensaio reflexivo, relacionando histórias de vida aos dados pesquisados do município e tema escolhido.

ETAPA

3

Nesta etapa, vocês vão discutir a importância da divulgação da pesquisa e o papel social desempenhado no compartilhamento de conhecimento. Em grupos, vão analisar produções cinematográficas, compreendendo-as como ferramenta de compartilhamento de conhecimento. Ao final, vão editar o caderno de seminário para a publicação do livro.

FINAL ETAPA

Nesta etapa, vocês vão planejar, organizar e realizar o seminário para a comunidade escolar.

O mundo do trabalho no Brasil

Quais aspectos do trabalho contemporâneo estão presentes no município em que vivo?

Consulte as orientações no Manual do professor

■ Linha de produção em Santa Maria de Jetibá (ES). Fotografia de 2023.

É comum que, às vezes, seja atribuído um sentido negativo ao trabalho. A própria etimologia do termo, do latim vulgar tripaliare, que deriva de tripalĭum, remete ao nome de um instrumento de tortura.

EDUARDO ANIZELLI/FOLHAPRESS

Além disso, na cosmologia cristã, muito influente na cultura brasileira, Adão é punido após comer o fruto proibido, e seu castigo é “ganhar o pão com o suor do trabalho”. Muitos foram os estudiosos que dedicaram suas pesquisas a esse tema.

O que é trabalho?

A concepção de trabalho muda de cultura para cultura e conforme o período histórico. Sobretudo na Filosofia e na Sociologia, mas também em outras áreas do conhecimento, pesquisadores se dedicaram a refletir sobre essa atividade e a classificá-la em diferentes tipos. Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), Hegel (1770-1831), Karl Marx (1818-1883), Max Weber (1864-1920) e Hannah Arendt (1906-1975) são alguns dos estudiosos que se destacaram no estudo desse tema.

Para Marx (1844), o trabalho é a forma pela qual o ser humano se apropria da natureza para satisfazer às suas necessidades. Ou seja, ele é o meio pelo qual ocorre a transformação de elementos da natureza que garante a sobrevivência. Diferentemente dos animais, que alteram a natureza de forma biologicamente determinada, o ser humano o faz com consciência e com o uso de instrumentos e conhecimentos complexos, construídos e transmitidos por meio da cultura e da organização social.

O trabalho desempenha um papel fundamental na formação da subjetividade e na percepção de mundo daqueles que o realizam. Ele é responsável por inserir as pessoas em hierarquias sociais e pode ser organizado de diferentes maneiras. Segundo Marx, há uma contradição evidente nesse modelo de trabalho, que pode ser, ao mesmo tempo, criativo e libertador, permitindo ao indivíduo se conectar com o caráter social da produção, mas pode se tornar degradante, sendo transformado em um instrumento de exploração do ser humano. Essa situação leva à alienação do trabalho, condição em que o trabalhador está alheio, isto é, distante do que ele mesmo produz. Para Hegel (2008), o trabalho não é somente uma atividade de alienação, mas, fundamentalmente, um formador da autoconsciência do ser humano.

A divisão social do trabalho, o sistema de produção hegemônico, o regime de governo, a legislação trabalhista vigente, a organização e a resistência dos trabalhadores, os valores e as concepções de mundo, entre outros fatores, moldam as diferentes características do trabalho em cada sociedade.

Embora o sistema capitalista seja predominante, isso não significa que outros modos de vida e de subsistência não coexistam, ainda que em menor escala. No Brasil, por exemplo, povos e comunidades tradicionais, como quilombolas, indígenas e ribeirinhos, mantêm diferentes formas de vida e subsistência. Além disso, há grupos que se organizam para trabalhar de forma alternativa, como mutirões ou associações horizontais. No entanto, mesmo esses grupos operam no capitalismo dominante, precisando desenvolver estratégias para resistir ou se adaptar a essa realidade.

RUBENS CHAVES/PULSAR IMAGENS

■ Trabalhadoras retirando cascas de castanhas-do-pará em cooperativa de produtores extrativistas, na comunidade ribeirinha de São Francisco do Iratapuru, em Laranjal do Jari (AP). Fotografia de 2022.

ATIVIDADES

1. Analise a imagem a seguir.

3. a) Espera-se que os estudantes cheguem ao significado social e filosófico da palavra, como usada por Karl Marx, em que alienação se refere à condição na qual o trabalhador se sente despersonalizado, desconectado do produto de seu trabalho e da própria natureza do processo produtivo, que resulta em uma sensação de estranhamento ou de perda de identidade.

1. a) Na imagem da artesã, é possível perceber a relação que existe com o produto final, em que ela se apropria do processo de produção.

1. b) Não. Espera-se que os estudantes reconheçam que na imagem de abertura as pessoas trabalham atentamente na linha de produção, executando apenas uma das etapas.

3. b) Espera-se que os estudantes entendam que, segundo Karl Marx, o conceito de alienação do trabalho descreve uma condição em que o trabalho se torna uma atividade externa ao trabalhador, algo que não faz parte de sua essência ou natureza. Nesse estado, o trabalhador não encontra realização em seu trabalho, mas sim um sentimento de negação de si, que o leva ao sofrimento em vez de bem-estar. O trabalho alienado é caracterizado por ser uma atividade imposta e forçada, realizada não por vontade própria, mas por necessidade de satisfazer a outras exigências.

a) Como você interpreta a relação que a artesã estabelece com sua produção?

b) Ela é a mesma que ocorre com os trabalhadores da imagem de abertura?

2 Leia o texto a seguir, que traz uma reflexão do filósofo, escritor e ativista indígena Ailton Krenak (1953-).

2. Para Krenak, o trabalho não deveria ser a razão da existência das pessoas, sobretudo o trabalho típico das sociedades brancas, que explora e até escraviza trabalhadores.

[…] O pensamento vazio dos brancos não consegue conviver com a ideia de viver à toa no mundo, acham que o trabalho é a razão da existência. Eles escravizaram tanto os outros que agora precisam escravizar a si mesmos. Não podem parar e experimentar a vida como um dom e o mundo como um lugar maravilhoso. O mundo possível que a gente pode compartilhar não tem que ser um inferno, pode ser bom. […]

KRENAK, Ailton. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. p. 7.

• Quais críticas Krenak faz em relação à visão de trabalho para os não indígenas?

3. Karl Marx (1818-1883) viveu o período de desenvolvimento do capitalismo industrial, e uma de suas preocupações centrais foi entender as relações entre o capital e o trabalho no modo de produção capitalista. Leia o texto a seguir e responda às questões propostas.

O que constitui a alienação do trabalho? Primeiramente, ser o trabalho externo ao trabalhador, não fazer parte de sua natureza, e, por conseguinte, ele não se realizar em seu trabalho, mas negar a si mesmo, ter um sentimento de sofrimento em vez de bem-estar, não desenvolver livremente suas energias mentais e físicas, mas ficar fisicamente exausto e mentalmente deprimido. O trabalhador, portanto, só se sente à vontade em seu tempo de folga, enquanto no trabalho se sente contrafeito. Seu trabalho não é voluntário, porém imposto, é trabalho forçado. Ele não é a satisfação de uma necessidade, mas apenas um meio para satisfazer outras necessidades. […]

MARX, Karl. Trabalho alienado e propriedade privada. In: MARX, Karl. Cadernos de Paris & Manuscritos Econômico-Filosóficos Tradução de José Paulo Netto e Maria Antónia Pacheco. São Paulo: Expressão Popular, 2015. p. 308-309.

a) Qual é o significado da palavra alienação? Procure em um dicionário e anote no caderno. b) Como você entende a explicação de Marx para o conceito de alienação do trabalho?

NÃO ESCREVA
■ Artesã produzindo renda de bilro no município de Raposa (MA). Fotografia de 2024.
RUBENS

A evolução do trabalho e dos direitos trabalhistas

no Brasil

O desenvolvimento histórico do Brasil foi marcado por um longo período de exploração colonial, cuja produção se baseava no trabalho escravizado de indígenas e, principalmente, de africanos que foram vítimas do tráfico transatlântico. A independência do Brasil (1822) não mudou muito esse cenário, já que o fim da escravidão foi um processo que se deu ao longo do século XIX, e a abolição da escravatura (1888) ocorreu praticamente ao mesmo tempo que a Proclamação da República (1889). Como não existiu uma política pública para inseri-la na economia e na sociedade brasileira, a população recém-liberta foi abandonada à sua própria sorte, sem acesso a terras ou à educação formal.

Muitas dessas pessoas continuaram dependentes de seus antigos senhores, desempenhando trabalhos similares aos que realizavam antes da abolição. Outras buscaram novas condições de vida, mas, em geral, não conseguiam boas ocupações nem bons salários. Além dos que passaram a prestar serviços ou realizar pequenos empreendimentos, houve aqueles que se juntaram a comunidades indígenas ou a comunidades negras que se formaram com a reunião de escravizados fugitivos, os antigos quilombos. Nelas, desenvolveram-se formas de subsistência comunitárias, ou seja, não baseadas na propriedade privada.

Foi apenas no século XXI que o Estado começou a implementar políticas públicas afirmativas e reparadoras para as populações indígenas e negras. Diante da desigualdade de oportunidades entre brancos e negros no Brasil, o movimento negro lutou pela implementação de políticas afirmativas, que buscavam reduzir as disparidades, como a Lei de Cotas, lei no 12.711/2012, na universidade pública e na reserva de vagas em concursos públicos.

Direitos trabalhistas

A legislação trabalhista no Brasil passou por avanços e retrocessos. Os direitos dos trabalhadores começaram a ser criados no século XIX e foram ampliados em meados do século XX, a partir do governo de Getúlio Vargas (1882-1954). Algumas profissões, porém, não foram incluídas na legislação, como a das empregadas domésticas, reconhecida apenas em 2015, e muitas pessoas permaneceram na informalidade. No final do século XX, iniciou-se um processo de revisão das leis trabalhistas, fazendo com que trabalhadores perdessem direitos conquistados anteriormente.

Os direitos trabalhistas não foram concedidos à população, pelo contrário; são resultado da organização e da luta dos trabalhadores de diferentes categorias para pressionar o governo e as empresas, como as greves, que marcaram as décadas de 1970 e 1980.

FERNANDO SANTOS/FOLHAPRESS

■ Manifestação de trabalhadores durante o 1o de maio de 1978, no estádio municipal de São Bernardo do Campo. O chamado “ABC paulista” foi o centro da indústria nacional mais relevante na década de 1970. O aumento da inflação durante o regime militar, que impediu a melhoria das condições de vida dos operários, fez surgir diversas manifestações de trabalhadores por reajuste salarial a partir de 1974.

Plataformização do trabalho

Apesar das variações locais e culturais e das relações de poder que afetam as economias de diferentes maneiras, há muitos aspectos comuns que caracterizam o trabalho no mundo contemporâneo, especialmente no contexto de uma economia globalizada. Com o desenvolvimento de novas tecnologias, surgiu no mundo o fenômeno de plataformização do trabalho, que estabelece um novo modelo de exploração da força de trabalho.

Por meio de plataformas on-line, trabalhadores se cadastram e prestam serviços para empresas, sem que haja vínculo empregatício. Entre esses serviços, os mais comuns são de transporte e entregas. Apesar da flexibilidade em estabelecer a própria jornada, esses trabalhadores não têm acesso a direitos trabalhistas ou seguridade social e precisam se responsabilizar pelos meios de trabalho (como automóveis, motos ou bicicletas).

■ Em 2020, durante a pandemia de covid-19, em que os entregadores prestavam serviços essenciais para quem estava em isolamento, as empresas foram acusadas de bloquear o acesso desses trabalhadores à plataforma e diminuir as taxas de entrega repassadas a eles. Como protesto, muitos deles organizaram diferentes dias de paralisação das atividades. Na imagem, protesto em Recife (PE) realizado naquele ano.

Com ganhos reduzidos, é comum que esses trabalhadores façam jornadas exaustivas para obter rendimento suficiente para seu sustento a cada mês. De acordo com uma pesquisa feita em 2004 pela diretoria executiva de direitos humanos da Unicamp, mais da metade dos entregadores entrevistados trabalham com sensação de fome e superam jornadas de 44 horas semanais.

ATIVIDADES

a) Ricardo Antunes destaca a crescente dependência do trabalho para a sobrevivência, a precarização das condições de trabalho, a instabilidade no emprego e a expansão do trabalho informal e precarizado. Ele também menciona o desemprego e a perda de direitos sociais como consequência da lógica destrutiva do capitalismo.

1. Leia, a seguir, o trecho de um texto do sociólogo brasileiro Ricardo Antunes (1953-) sobre o trabalho no mundo contemporâneo.

Em pleno século XXI, mais do que nunca, bilhões de homens e mulheres dependem de forma exclusiva do trabalho para sobreviver e encontram, cada vez mais, situações instáveis, precárias, ou vivenciam diretamente o flagelo do desemprego. Isto é, ao mesmo tempo que se amplia o contingente de trabalhadores e trabalhadoras em escala global, há uma redução imensa dos empregos; aqueles que se mantêm empregados presenciam a corrosão dos seus direitos sociais e a erosão de suas conquistas históricas, consequência da lógica destrutiva do capital que, conforme expulsa centenas de milhões de homens e mulheres do mundo produtivo (em sentido amplo), recria, nos mais distantes e longínquos espaços, novas modalidades de trabalho informal, intermitente, precarizado, “flexível”, depauperando ainda mais os níveis de remuneração daqueles que se mantêm trabalhando.

[…]

[…] se por um lado necessitamos do trabalho humano e de seu potencial emancipador e transformador, por outro devemos recusar o trabalho que explora, aliena e infelicita o ser social […].

ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão. São Paulo: Boitempo, 2018. [E-book].

Depois da leitura do texto, discuta com os colegas as seguintes questões.

a) Quais aspectos do trabalho no mundo contemporâneo são apontados pelo autor no texto?

b) Qual é a contradição do trabalho segundo o autor?

• Anote as principais ideias levantadas em seu caderno de investigação.

2. Analise a lista a seguir e faça uma pesquisa na internet, em livros ou em revistas sobre os itens destacados. Em seu caderno de investigação, escreva uma síntese das informações levantadas.

• A história do trabalho no Brasil é igual para todos?

Consulte a resposta no Manual do professor.

• O que mudou em relação aos direitos trabalhistas na última década?

2. b) Segundo o autor, a contradição do trabalho é que, embora seja essencial e tenha potencial transformador, no capitalismo, ele se torna alienante e penoso. O trabalho é vital, mas suas formas que exploram e desumanizam devem ser rejeitadas.

JOÃO CARLOS MAZELLA/FOTOARENA

• Como foi a participação dos trabalhadores nas leis pesquisadas?

• 1888 Abolição da escravatura

• 1934 Constituição de 1934

• 1943 Criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)

• 1952 Previsão de igualdade salarial (lei no 1.723/1952)

• 1962 Criação do 13 o salário (lei n o 4.090/1962)

• 1964 Regulação do direito de greve (lei no 4.330/1964)

• 1970 Regulamentação do trabalho de jovens entre 12 e 14 anos (decreto n o 66.280/1970)

• 1977 Criação do direito às férias na CLT (decreto-lei no 1.535/1977)

• 1988 Promulgação da Constituição Federal de 1988

• 2008 Lei de Estágio (lei no 11.788/2008)

• 2010 Estatuto da Igualdade Racial (lei no 12.288/2010)

• 2012 Lei de Cotas (lei no 12.711/2012)

• 2015 Regulamentação do trabalho doméstico (lei complementar no 150/2015)

• 2017 Reforma trabalhista (lei n o 13.467/2015)

• 2022 Programa Emprega + Mulheres (lei no 14.457/2022)

• 2023 Lei da igualdade salarial e de critérios remuneratórios entre homens e mulheres (lei no 14.611/2023)

• Converse com os colegas buscando responder às questões: A história do trabalho no Brasil é igual para todos? O que mudou em relação aos direitos trabalhistas na última década?

Consulte as orientações no Manual do professor.

Relações de trabalho no mundo digital

Leia, a seguir, um trecho da entrevista com a publicitária e pesquisadora Datise Biasi sobre as transformações no mundo do trabalho relacionadas ao desenvolvimento de novas tecnologias.

E.C.S.: Como a revolução tecnológica está mudando as relações de trabalho?

D.B.: Temos reflexos claros nessas mudanças – onde a tecnologia afeta as formas de trabalho, dando mais flexibilidade e autonomia, bem como em relação ao tempo e espaço –, mas ao longo do tempo vai impactar ainda mais, principalmente com as tecnologias emergentes. […] […]

E.C.S: Como você enxerga a relação de trabalho daqui a 20 anos?

D.B.: Acho que vamos ter uma “cauda longa do trabalho”. A gente vai continuar tendo organizações e modelos semelhantes aos que temos hoje, mas sinto que cada vez mais os profissionais serão suas próprias empresas e cada vez mais a quantidade de habilidades que você tiver para oferecer ao mundo será suas profissões, independente de termos carreiras lineares. Entendo que as pessoas vão se desenvolver em diferentes habilidades, vão entregá-las para o mundo e isso vai nos tornar múltiplos para as nossas próprias empresas. O trabalho autônomo, em rede, distribuído, será cada vez mais uma realidade.

BIASI, Datise. Entrevista: o futuro do trabalho e as novas tecnologias. [Entrevista cedida à Comissão de Responsabilidade Social da CBIC]. Brasília, DF: Câmara Brasileira da Indústria da Construção, 12 jul. 2019. Disponível em: https://cbic.org.br/responsabilidadesocial/ entrevista-o-futuro-do-trabalho-e-as-novas-tecnologias/. Acesso em: 24 ago. 2024.

• Discuta com os colegas: De que forma as novas tecnologias podem estar presentes nas profissões que vocês pretendem exercer no futuro?

MUNDO DO TRABALHO

A situação do mercado de trabalho

A compreensão da situação do mercado de trabalho de uma localidade depende do levantamento e da análise de várias informações, como: a distribuição de atividades econômicas por setores (primário, secundário e terciário); as taxas de emprego e desemprego; as taxas de trabalho formal e informal; as principais ocupações e modalidades de trabalho; e o salário médio mensal.

■ Fila de pessoas aguardando cadastramento em um mutirão de emprego, no Viaduto do Chá, centro de São Paulo (SP). Fotografia de 2022.

Informações do mercado de trabalho em seu município podem ser encontradas em estudos acadêmicos e em relatórios de institutos e de organizações sociais, bem como em levantamentos e pesquisas governamentais (municipais, estaduais e federais). Ferramentas de busca na internet também podem ser úteis para acessar esses dados, permitindo o refinamento da pesquisa com o uso de filtros e palavras-chave, se for necessário.

Outra forma de analisar as relações sociais e de trabalho de um local é identificar como os grupos de trabalhadores estão organizados politicamente. Para isso, deve-se fazer um levantamento das instituições que os representam, como sindicatos e associações, verificando como elas atuam e como se relacionam com os poderes Executivo e Legislativo, sobretudo municipais. Confira, a seguir, um quadro com alguns aspectos que podem influenciar ou integrar o mercado de trabalho.

DELFIM MARTINS/PULSAR IMAGENS

Demografia e população

Tamanho e dinâmica populacional: avalia o aumento da população e indica a disponibilidade de trabalhadores e a demanda por serviços.

Composição etária: cada faixa etária da população revela a disponibilidade de trabalhadores em diferentes fases da carreira e a necessidade de programas de formação.

Nível de escolaridade e qualificação

Taxa de alfabetização e escolaridade: avalia o nível de educação da população e ajuda a identificar as habilidades e as qualificações predominantes.

Qualificação profissional: indica a presença de instituições de Ensino Técnico e de Ensino Superior que podem influenciar a qualificação da força de trabalho.

Taxas de ocupação e desocupação

Taxa de desocupação: indica o equilíbrio entre a oferta e a demanda de trabalho.

Taxa de ocupação: avalia a proporção da população em idade para trabalhar que está empregada.

Taxa de trabalho informal: indica quantas pessoas trabalham de forma não regulamentada pelo Estado e sem direitos trabalhistas previstos por lei.

Setores econômicos

Distribuição setorial: identifica quais setores são mais fortes (como indústria, comércio, serviços e agricultura) e ajuda a entender em qual deles há mais oportunidades ou desafios.

Tendências setoriais: analisa quais setores estão crescendo ou declinando pode revelar futuras mudanças no mercado de trabalho.

Empregabilidade e mercado de trabalho local

Vagas de emprego: apresenta a quantidade e a qualidade das vagas disponíveis no município.

Salários e benefícios: informa os salários médios e benefícios oferecidos nas principais ocupações.

Características das empresas

Tamanho e tipo de empresa: avalia empresas grandes e pequenas de acordo com necessidades e oportunidades diferentes.

Inovação e tecnologia: indica a presença de empresas inovadoras e a demanda por habilidades específicas.

Infraestrutura e recursos

Acesso a transporte e logística: analisa se a infraestrutura pode facilitar o deslocamento e a logística de empresas e trabalhadores.

Recursos naturais e tecnológicos: apresenta a disponibilidade de recursos e sua influência nos setores econômicos.

Políticas públicas e regulamentações

Legislação trabalhista local: classifica normas e regulamentações que podem afetar a contratação, a remuneração e as condições de trabalho.

Incentivos governamentais: estimula políticas de incentivo ao emprego, como subsídios e programas de treinamento.

Tendências econômicas e sociais

Tendências econômicas locais e nacionais: indica mudanças econômicas do município e do país que podem impactar o mercado de trabalho.

Mudanças demográficas e sociais: mostra tendências que podem influenciar a oferta e a demanda de trabalho, como envelhecimento da população e migração.

Qualidade de vida

Custo de vida: indica quando pode afetar a atratividade para trabalhadores e empresas.

Serviços públicos e condições de vida: avalia qualidade dos serviços públicos, segurança e condições gerais de vida.

Consulte as orientações no Manual do professor

Trabalho em perspectiva: gênero, raça e idade

O desenvolvimento histórico da sociedade brasileira foi influenciado por práticas de exploração que culminaram na concentração de riquezas e na instauração de desigualdades sociais que persistem até hoje, incluindo a esfera econômica e o mundo do trabalho.

A desigualdade de gênero também é um importante aspecto social refletido nas relações de trabalho, manifestando-se na disseminação de representações simbólicas e nas expectativas que perpetuam o papel das mulheres como cuidadoras na estrutura familiar. Além disso, as mulheres enfrentam a disparidade salarial em comparação com os homens, mesmo quando ocupam os mesmos cargos, além da desvalorização e da baixa remuneração em profissões tradicionalmente ditas femininas. Essa situação também acontece quando comparamos as médias salariais entre a população branca e a negra, que ocupa cargos menos qualificados e recebe menores salários quando exercem a mesma função de pessoas brancas.

Embora a legislação brasileira tenha avançado em promover a igualdade de gênero, a implementação dessas leis ainda carece de investimento e de políticas públicas adequadas. Além da questão do gênero e da raça, a idade tem sido um fator relevante em relação à empregabilidade, tanto para os mais jovens (de 18 a 25 anos), que têm mais dificuldades em obter o primeiro emprego estável e com rendimento digno, quanto para os adultos acima de 50 anos, que costumam encontrar dificuldades para se recolocarem no mercado de trabalho, vivenciando o preconceito baseado na idade, chamado etarismo.

Entretanto, mesmo diante de um cenário desigual, cada vez mais o mundo do trabalho é ocupado por pessoas que, por muito tempo, permaneceram à margem de determinadas ocupações: de acordo com a Agência Brasil, com base em dados do IBGE, mulheres ocupam mais cargos de gestão; e as universidades estão mais ocupadas pela população negra – entre 2010 e 2019, o aumento foi de 400%. Leia, a seguir, o trecho de uma reportagem que apresenta a história da indígena Myrian Krexu (1989-).

Aos 4 anos, Myrian Krexu, agora com 32, quebrou o braço e precisou ir ao hospital. Ao conhecer o trabalho do médico que a atendeu, a pequena, da nação Guarani Mbyá, escolheu sua profissão. […]

[…] A médica defende a desmistificação dos indígenas por meio da educação: “Ainda somos vistos como seres místicos e folclóricos ou com uma única maneira de ser e parecer. [...]”.

CARDOSO, Isabella. Médica, advogada, estilista… conheça história de cinco indígenas que são destaques especial da Globo. Extra, 16 abr. 2021. Disponível em: https://extra.globo.com/tv-e-lazer/medica-advogada-estilista-conheca-historia -de-cinco-indigenas-que-sao-destaque-em-especial-da-globo-24973538.html. Acesso em: 20 ago. 2024.

• Em grupo, pesquise com os colegas exemplos de mulheres negras e indígenas que ocupam cargos de liderança no município onde vocês vivem.

■ Myrian Krexu é a primeira indígena cirurgiã cardiovascular do Brasil. Fotografia de 2019.

a) O gráfico à esquerda mostra a proporção de trabalhadores ocupados que recebem até um salário mínimo, divididos por gênero e raça/cor no Brasil, comparando o quarto trimestre de 2022 com o quarto trimestre de 2023. Mulheres negras têm a maior proporção de trabalhadores nessa faixa de rendimento, seguidas por homens negros, mulheres não negras e, por fim, homens não negros, que apresentam as menores proporções.

ATIVIDADES

1. Analise os gráficos a seguir.

O gráfico à direita apresenta a proporção de trabalhadores com inserção informal no mercado de trabalho, novamente segmentados por gênero e raça/cor. Conforme os dados, homens negros têm a maior inserção informal, seguidos por mulheres negras, enquanto os homens não negros e mulheres não negras apresentam as menores proporções de inserção informal.

Brasil: proporção de pessoas ocupadas que recebiam até 1 salário mínimo, por sexo, raça e cor – 2024

Brasil: proporção de pessoas ocupadas com inserção informal, por sexo e raça e cor – 2024 Mulheresnegras

DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS. Mulheres no mercado de trabalho: desafios e desigualdades constantes. São Paulo, 8 mar. 2024. p. 5. Disponível em: https://www.dieese.org.br/boletimespecial/2024/ mulheres2024.pdf. Acesso em: 29 ago. 2024.

nãonegrasMulheres

DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS. Mulheres no mercado de trabalho: desafios e desigualdades constantes. São Paulo, 8 mar. 2024. p. 7. Disponível em: https://www.dieese.org.br/ boletimespecial/2024/mulheres224.pdf. Acesso em: 29 ago. 2024.

a) De acordo com os dados apresentados, como gênero e raça se relacionam com ocupações que pagam até um salário mínimo?

b) Quais trabalhadores têm mais e menos inserção informal no mercado? Como você interpreta esses dados?

Consulte a resposta no Manual do professor.

2. Leia, a seguir, o trecho de uma entrevista com Luana Génot (1988-), empreendedora social que presta consultoria para acelerar a igualdade racial no mundo corporativo.

A gente tem um passado de muita desigualdade. Se a história do nosso país fosse resumida em cinco dias, quatro deles seriam diante de um regime de escravidão. Primeiro, a gente precisa reconhecer isso para conseguir ter um futuro diferente. E a gente só consegue mudar o rumo da história com ações afirmativas, direcionadas para as populações que mais sofreram as mazelas nesses últimos séculos. A educação certamente é a base de tudo. A gente precisa de um ensino público de qualidade com a possibilidade de que essas crianças recebam também mais informações sobre a pauta antirracista. Ou seja, que elas recebam referências negras e indígenas como as potências que elas foram, não apenas como coadjuvantes da história. Ao mesmo tempo, temos que implementar ações afirmativas no mercado de trabalho para que esse indivíduo consiga um emprego de qualidade e possa ascender e ser liderança na sua área. Acredito muito na força do ecossistema de ações afirmativas no mercado de trabalho, junto com a educação pública de qualidade e a ação do Estado.

ALMEIDA, Fernanda de. Luana Génot: “Ver mulheres negras na liderança mudou minha perspectiva”. Forbes, [s l.], 6 maio 2022. Disponível em: https://forbes.com.br/forbes-mulher/2022/05/luana-genot-luta-para-diminuir-o-racismo-no-mercado-de-trabalho/. Acesso em: 28 jul. 2024.

• Segundo Luana Génot, quais são os caminhos para mudar o cenário apontado pela entrevistadora? Você concorda com Génot? Justifique sua resposta.

Luana Génot sugere que, para mudar o cenário de desigualdade racial, é essencial reconhecer o passado de desigualdade e implementar ações afirmativas focadas em educação de qualidade e inserção no mercado de trabalho. Ela enfatiza a importância de um ensino público que aborde a pauta antirracista e inclua referências negras e indígenas, além de políticas afirmativas no mercado de trabalho que permitam a ascensão de pessoas negras a cargos de liderança.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
SAMIRA DANTAS
SAMIRA DANTAS

em AÇÃO

Consulte as orientações no Manual do professor.

Panorama do mercado de trabalho do município em que vivo

Nesta etapa do projeto, você e os colegas vão pesquisar e organizar dados referentes ao mercado de trabalho do município em que vivem para compor um panorama por meio de um infográfico. Infográfico é uma representação visual que combina elementos visuais e verbais para transmitir informações de maneira clara, concisa e atrativa, como um cartaz ou a página de uma publicação. Ele é projetado para sintetizar dados e conceitos, facilitando a compreensão e a retenção do conteúdo por meio de diagramas, ícones, gráficos e imagens. Analise, a seguir, um exemplo de infográfico sobre trabalho infantil no Brasil.

Trabalho infantil no Brasil

1881 MILHÃO

de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos trabalham no país (4,9% do total da população do país nessa faixa etária)

CRIANÇA LIVRE DE TRABALHO INFANTIL. Estatísticas. [S. l.], [2023]. Disponível em: https://livredetrabalhoinfantil.org.br/ trabalho-infantil/estatisticas/. Acesso em: 19 ago. 2024.

são pretos e pardos entre 16 e 17 anos entre 14 e 15 anos entre 5 e 13 anos não frequentam a escola atuam nas piores formas de trabalho infantil

Meninos em situação de trabalho infantil são maioria

656,4 MIL MENINAS

1 224 MILHÃO DE MENINOS

Registrem as informações levantadas de maneira fácil de resgatá-las posteriormente para a elaboração do panorama.

PASSO

1

• Como ponto de partida, consultem as informações do município em que vivem na página IBGE Cidades (disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/; acesso em: 29 ago. 2024) e analisem os dados disponíveis, em especial aqueles relacionados aos itens “População”, “Trabalho e rendimento” e “Economia”.

PASSO

2

• Acessem o portal do Ministério do Trabalho e Emprego e cliquem no ícone do Novo – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), disponível em: https://www.gov.br/trabalho -e-emprego/pt-br/assuntos/estatisticas-trabalho/ (acesso em: 17 out. 2024), que traz a síntese mensal dos principais resultados a respeito da movimentação de empregados do mercado de trabalho formal. Pesquisem também em estudos acadêmicos, dados publicados em jornais locais, portais de sindicatos do município etc.

PASSO

3

• Lembrem-se de verificar, sempre que possível, em que medida raça, gênero e idade são marcadores sociais relevantes na análise da distribuição de oportunidades, salários, cargos e condições de trabalho em seu município.

PASSO

4

• Analisem os indicadores de empreendedorismo e os setores econômicos em que eles prevalecem.

PASSO

5

• Para construir o infográfico, definam o objetivo e a mensagem principal que vocês desejam transmitir.

PASSO

6

• Identifiquem o público-alvo: Quem vocês querem alcançar com o infográfico? Isso influenciará o estilo visual e a linguagem a ser usada. Coletem todas as informações necessárias para o infográfico, como dados, estatísticas, imagens etc.

PASSO

7

• Esbocem um layout da estrutura visual do infográfico. Decidam quais seções ou pontos principais desejam abordar e como eles serão organizados. Escolham o estilo visual, ou seja, o estilo gráfico que melhor se adapta ao conteúdo e ao público-alvo. Isso pode incluir diferentes cores, tipos de letra, ícones etc. Organizem o conteúdo distribuindo os dados e as informações de forma lógica e sequencial. Usem títulos, subtítulos e marcadores para ajudar na organização.

PASSO

8

• É possível criar o infográfico com cartolina, caneta hidrocor, lápis, canetas e revistas ou com ferramentas digitais.

PASSO

9

• Façam a revisão. Verifiquem se todas as informações estão corretas e precisas e indiquem as fontes. Certifiquem-se de que o infográfico está comunicando claramente a mensagem desejada. Verifiquem, também, se o design é esteticamente agradável e se todas as partes do infográfico estão bem alinhadas.

PASSO

10

• Insiram o infográfico no caderno do seminário.

Aproveitem para retomar a pergunta norteadora desta etapa: Quais aspectos do trabalho contemporâneo estão presentes no município em que vivo?

2

Histórias de vida e de trabalho no município em que vivo

O que as histórias revelam sobre as condições de trabalho no município em que vivo?

Consulte as orientações no Manual do professor

Para o desenvolvimento de uma sociedade, é necessário existir a transmissão de conhecimento de geração a geração. Quando experiências adquiridas são compartilhadas, as gerações podem acumular o conhecimento necessário para a reprodução da vida, acessando ideias e descobertas aprendidas e desenvolvidas pelos mais velhos, promovendo, assim, a manutenção das tradições e da cultura.

Transmissão de conhecimento por meio da narrativa

A construção de novos saberes se apoia em conhecimentos construídos e acumulados ao longo do tempo. A forma mais antiga de transmissão de conhecimento surgiu por meio da oralidade e foi por meio das narrativas orais que diferentes povos mantiveram seus laços coesos e suas histórias em constante movimento. A oralidade não se restringe à palavra e, em contextos socioculturais específicos, envolve a associação com ritmo, entonação, volume e, até mesmo, gestualidade. Um exemplo da importância da transmissão oral é a figura do griô, presente entre diversos povos da África Ocidental, com existência registrada desde o antigo Império de Mali (séculos XIII-XVII) até o presente. No Brasil, os griôs ganharam espaço nos estudos negros a partir da década de 1970. O termo tem origem nos músicos, genealogistas, poetas e mediadores da transmissão oral que mantêm vivos os saberes e as vivências em uma comunidade. Eles são responsáveis por guardar as histórias de vida da comunidade e transmiti-las por gerações; portanto, são considerados registros vivos.

■ A griô Ebomi Cicí de Oxalá (Nancy de Souza), patrimônio vivo da Fundação Pierre Verger, durante contação de histórias. Salvador (BA). Fotografia de 2019.
MAURO AKIN NASSOR/FOTOARENA

A história de vida como método de pesquisa

A história de vida é muito empregada em pesquisas das áreas de Antropologia e História. É um método de pesquisa que se caracteriza pelo foco no indivíduo e em sua existência, desde o nascimento (ou mesmo remontando à sua genealogia) até o tempo presente, em que a narração acontece. Trata-se de um método qualitativo que utiliza a narrativa para descrever tanto o processo quanto os resultados. Diferentemente dos métodos quantitativos, que se baseiam em dados numéricos e na análise de grandes amostras para obter resultados mais precisos, a pesquisa qualitativa foca em uma amostra menor do universo pesquisado. Essa amostra é examinada de forma detalhada e profunda, permitindo uma compreensão mais rica e contextualizada do fenômeno estudado.

Para construir a história de vida de alguém, é fundamental que o pesquisador e a pessoa que narra sua vida estabeleçam uma relação de confiança e cumplicidade, de forma que, por meio de conversas e entrevistas, os acontecimentos e os sentimentos vivenciados pelo narrador aflorem em sua fala e a experiência seja registrada significativamente pelo pesquisador, oferecendo um melhor entendimento dos processos sociais vivenciados pelo sujeito entrevistado.

Segundo a socióloga brasileira Maria Isaura Pereira de Queiroz, em sua obra Relatos orais: do “indizível” ao “dizível”, a história de vida permite analisar a visão do indivíduo tanto em suas especificidades quanto junto a uma perspectiva social, captando o que sucede na encruzilhada da vida individual e social. Há desde estudos que aplicam essa metodologia com apenas um narrador até aqueles que envolvem centenas de narradores; no entanto, a maior parte deles tem um pequeno número de sujeitos pesquisados em profundidade.

Leia, a seguir, um trecho que relaciona Antropologia e Linguística no âmbito das pesquisas, tendo as entrevistas como importante ferramenta.

[…] O interesse na vida de uma pessoa, ou de diversas pessoas, tanto como exemplos para esclarecer uma certa problemática, quanto para realçar a variedade individual num sistema social, é de grande valia para o antropólogo.

[…] Entrevistas abertas, isto é, sem perguntas dirigidas, são essenciais, mas saber dosar o interesse do pesquisador com o interesse do pesquisado em relatar seu ponto de vista exige conhecimento do assunto e sensibilidade do antropólogo. A dificuldade maior talvez esteja em obter o máximo de informação que possa ser comparada com outras informações, vindas de outras pessoas ou de documentos, que permitam contextualizar aquilo que os entrevistados dizem.

Ademais, é imprescindível, e nisso a Antropologia tem sido uma colaboradora fundamental para as Ciências Humanas, que se tenha em mente que entre aquilo que a pessoa entrevistada diz e o que corresponde à verdade dos fatos tem uma distância real. A Antropologia se baseia na Linguística para entender que toda fala de pessoa embute um discurso, isto é, um sistema de significados que carregam intenções e objetivos de quem fala, dirigidos a pessoas e temas mais ou menos definidos. Estudar o discurso é tema da Linguística, mas contextualizá-lo na vida concreta, na sociabilidade é tarefa da Antropologia.

A história de vida valoriza o indivíduo como ser específico que tem sua própria experiência, mas também como pessoa, isto é, como indivíduo portador de atributos sociais. Portanto, como exemplo do social. O antropólogo tem que saber diferenciar entre esses dois pontos. Cada experiência individual é única, cada experiência pessoal é única, mas podem representar grupos maiores, situações sociais que podem ser consideradas típicas ou atípicas.

GOMES, Mércio Pereira. Antropologia: ciência do homem, filosofia da cultura. São Paulo: Contexto, 2008. p. 61-62.

As memórias e as relações de trabalho

Leia, a seguir, um trecho de Memória e sociedade: lembranças de velhos, obra na qual a psicóloga Ecléa Bosi (1936-2017) parte de histórias de vida de pessoas idosas para criar um ensaio que reflete sobre a memória. No trecho, é possível identificar como a narrativa de vida muitas vezes extrapola o campo individual e permite reconhecer diferentes relações sociais, como as que permeiam o mundo do trabalho e o processo de envelhecimento, oferecendo insights profundos de como as lembranças individuais se entrelaçam com a experiência coletiva e o contexto social mais amplo.

Memória da arte, memória do ofício

O trabalho manual, mecânico, intelectual, ocupou boa parte da vida dos nossos entrevistados. Ele tem, para cada um deles, uma dupla significação:

1) Envolve uma série de movimentos do corpo penetrando fundamente na vida psicológica. Há o período de adestramento, cheio de exigências e receios; depois, uma longa fase de práticas, que se acaba confundindo com o próprio cotidiano do indivíduo adulto.

2) Simultaneamente com seu caráter corpóreo, subjetivo, o trabalho significa a inserção obrigatória do sujeito no sistema de relações econômicas e sociais.

Ele é um emprego, não só como fonte salarial, mas também como lugar na hierarquia de uma sociedade feita de classes e de grupos de status.

Temos, portanto, que atender a essas duas dimensões do trabalho: sua repercussão no tempo subjetivo do entrevistado e sua realidade objetiva no interior da estrutura capitalista. Quanto ao primeiro aspecto, pode-se constatar que todos se detêm longamente e com muito gosto na descrição do próprio ofício. [...]

D. Risoleta, que foi cozinheira mais de meio século, lembra que “gostava de brincar de comidinha”, e não deixa de esclarecer que: “fazia comidinha de verdade”. [...]

Dos oito entrevistados, cinco precisaram ganhar a vida desde a infância; d. Alice, o sr. Ariosto, o sr. Amadeu, o sr. Antônio, d. Risoleta. E todos lembram com precisão o que faziam e o quanto recebiam. D. Alice começou a trabalhar com dez anos numa oficina de costura: as meninas varriam a sala, juntavam os alfinetes do chão, arrumavam as linhas nas caixa. “Eu já chuleava, fazia uma bainha, com certeza eu tinha já uma tendência para isso.” Naquele clima de penúria, mais dinheiro importava em trabalho no novo, “extra”: “Ganhava um pouquinho mais, uns quinhentos réis, fazia serão. Ganhava uns dez mil-réis por mês para trabalhar desde as oito horas até as sete horas da noite. Era pouquíssimo”.

A lembrança dos serões na casa da “madame” está ligada a horas e horas de jejum: “Sábado era o dia que mais se trabalhava, ficava até meia-noite, onze horas, e não ganhava extra. A madame servia um chá, um pedaço de pão, a gente ficava com aquilo”. A roupa se resumia a um só vestido, o calçado em um só par de sapatos que encharcar quando chovia; ela voltava então para casa pingando e perdendo o dia de serviço. Ao trabalho de costura, prolongado pelo resto da vida, veio acrescentar-se, depois de casada, o serviço doméstico feito muitas vezes à noite, quando se encerrara o tempo do trabalho produtivo: “Na casa o serviço era pra valer. Às vezes eu encerava o chão, lavava tudo à noite, depois que as crianças subiam para dormir. De manhã estava tudo limpo”.

Seria trabalho perdido procurar alguma palavra de revolta nessas memórias de sacrifício e exploração. D. Alice vê o trabalho como uma atividade natural, como o comer e

1. b) Na história de vida, o narrador conta suas experiências individuais e únicas, inseridas em situações sociais mais amplas, típicas ou atípicas. O pesquisador deve estar consciente de que todo narrador carrega em seu discurso certos objetivos e intenções e saber diferenciar quais experiências relatadas podem ser representativas de fenômenos sociais mais amplos.

dormir. É uma necessidade. Viúva, continua na lida sendo capaz de sentir caráter estético e liberador do exercício manual: “Eu varava a noite inteira na cozinha trabalhando nas flores e achava lindo aquilo, me acalmava, tinha uma sensação muito boa”. Hoje, privada do trabalho que lhe é tão caro, sua atividade se restringe quase que só a lembrar: Fico neste quarto vendo fotografias; quando arrumo as gavetas e mexo nas minhas coisas estou sempre recordando e me encanto”.

Talvez se possa dizer da memória do trabalho em d. Alice que, ao menos na aparência verbal do relato, não tomou corpo a distinção entre o peso sacrificial das tarefas e o seu aspecto lúdico, liberador de energias. O teor “alienado” de sua visão de classe, tão bem ilustrado na perene gratidão pelas patroas que lhe davam jantar quando ela varava os serões costurando, não lhe permite pensar de modo crítico, sequer ressentido, o sacrifício a que a submetia o seu estado de aguda dependência.

Por isso, o máximo que ela pode dizer, ao lembrar-se desses anos, é constatar as dificuldades objetivas da situação familiar, principalmente durante os anos de infância: “Eu trabalhava, minha mãe trabalhava, meu aniversário passava desapercebido [...] eu não tive Natal na minha casa”.

BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 17. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 471-472.

2. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes descrevam, com as próprias palavras, os aspectos psicológicos/subjetivos e os aspectos sociais/políticos que o trabalho assume na vida dos entrevistados.

ATIVIDADES

Consulte a resposta no Manual do professor 1. Responda às seguintes questões a respeito do trecho sobre a metodologia da história de vida na Antropologia.

1. a) A maior dificuldade metodológica citada pela autora relaciona-se à comparação e contextualização de informações. “A dificuldade maior talvez esteja em obter o máximo de informação que possa ser comparada com outras informações, vindas de outras pessoas ou de documentos, que permitam contextualizar aquilo que os entrevistados dizem.”

a) De acordo com o texto, qual é a maior dificuldade nas entrevistas mais abertas, típicas da história de vida?

b) Com base nos subsídios oferecidos pelo texto, como a relação entre indivíduo e sociedade está contida na história de vida de uma pessoa? Qual é o cuidado que o pesquisador deve ter ao analisar o discurso do narrador?

2. Como você entendeu a “dupla significação do trabalho”, descrita por Ecléa Bosi?

3. No texto de Ecléa, identifique os trechos em que entram os depoimentos dos entrevistados. De que forma a autora os insere na narrativa?

4. Acesse a seção “Histórias” do portal do Museu da Pessoa (disponível em: https://museuda pessoa.org/; acesso em: 29 ago. 2024).

• Em seguida, escolha uma das histórias e assista ao vídeo ou leia o texto integral com o depoimento da pessoa.

• Analise as perguntas que foram feitas e a forma como a entrevista foi conduzida.

• Dê preferência a entrevistas mais relacionadas às atividades profissionais dos entrevistados. Para isso, é possível fazer buscas por meio de palavras-chave.

• Anote as frases e situações relatadas que chamaram a sua atenção.

• Depois, discuta com os colegas sobre os depoimentos que ouviram: Existem conexões entre as histórias que vocês pesquisaram?

3. A autora examina as narrativas pessoais dos idosos como formas de expressão de suas memórias individuais e coletivas. Ela considera como essas narrativas são construídas e interpretadas em um contexto social e cultural. Quanto à forma do texto escrito, ela justapõe as falas entre aspas com suas reflexões.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

em AÇÃO

Ensaio crítico

Consulte as orientações no Manual do professor

Você vai trabalhar em grupo ao pesquisar a história de vida de três pessoas, concentrando-se em um recorte específico do tema mais amplo do trabalho contemporâneo. As entrevistas e as conversas servirão como base para a elaboração do ensaio crítico, que será produzido pelo grupo e integrado ao caderno do seminário.

O ensaio crítico reflexivo

O ensaio é um gênero textual que surgiu no século XVI e oferece grande liberdade formal na busca por um pensamento original. Caracterizado por um texto breve, dialógico e de tom intimista, o ensaio permite uma linguagem mais pessoal e subjetiva, ao mesmo tempo que segue a norma-padrão da língua portuguesa, para garantir coerência e clareza de ideias. Seu objetivo é refletir sobre um tema sem a pretensão de esgotá-lo.

Observe, a seguir, alguns temas possíveis.

Dica

Tenham sempre à mão o caderno de investigação para anotar dados relevantes e reflexões. Anotem informações importantes para facilitar o resgate posteriormente. Sempre perguntem se a entrevista pode ser gravada e levem uma autorização de uso da imagem. Durante a entrevista, verifiquem com o entrevistado se existem fotografias e outros documentos que possam lhes ajudar na pesquisa. Para transcrever os áudios dos depoimentos em texto, vocês podem contar com diversos aplicativos.

■ Folha de rosto dos Essais (Ensaios), de Michel de Montaigne (1533-1592), publicados em 1580. Montaigne afirmava que seus ensaios eram “tentativas” (o verbo francês essayer significa “tentar”), esboços literários que não deveriam ser levados a sério. No entanto, ao longo do tempo, o ensaio se dividiu em literário (informal) e científico/reflexivo (formal), e este segundo tipo passou a ser empregado nas Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, que frequentemente se valem da imaginação e das narrativas para construir seus conhecimentos.

• Profissionais negros e indígenas no mercado de trabalho

• Trabalhadores informais

• Desempregados e desalentados

• Trabalho em modelo coletivo (comunidades, mutirões e associações)

• Jovens de 18 a 29 anos: trabalhadores de segunda categoria?

• Empreendedores

• Trabalhos doméstico e de cuidado: invisíveis e desvalorizados

• Pessoas 50+ e o etarismo no mercado de trabalho

• Motoristas e entregadores por aplicativo

Façam um estudo bibliográfico do tema escolhido, utilizando livros, jornais, revistas e recursos on-line, com foco especial no contexto do município.

Após elegerem as pessoas a ser entrevistadas, elaborem um roteiro com algumas perguntas que facilitem a interação com o entrevistado durante o depoimento. Lembrem-se de que o objetivo não é realizar uma entrevista jornalística, mas sim criar um ambiente no qual o entrevistado se sinta à vontade para compartilhar um relato detalhado e significativo de sua história de vida.

Construindo o ensaio

1

• Façam a análise das entrevistas, sintetizando as informações e destacando os principais acontecimentos relatados, selecionem os trechos mais relevantes e discutam as conexões que podem ser estabelecidas entre as diferentes narrativas, com o objetivo de preparar a elaboração do ensaio.

2

• Com base nas entrevistas realizadas pelo grupo, vocês elaborarão um ensaio crítico que conecte os depoimentos coletados com os dados do mercado de trabalho no município em que vivem. Além disso, o ensaio deve integrar as informações obtidas no estudo bibliográfico, bem como as impressões e as reflexões feitas com base no recorte temático escolhido por vocês ao longo da pesquisa.

• Desenvolvam um roteiro para criação do ensaio, estabelecendo: a) o título; b) o tema; c) a questão principal; d) a definição de uma tese, buscando responder à questão principal.

• Formulem uma tese clara e específica que represente o posicionamento ou o argumento principal do ensaio. A tese deve ser uma afirmação que vocês pretendem defender ao longo do ensaio. 3 PASSO

4

• Depois que estabelecerem esses pontos, escrevam o ensaio, atentos às seguintes orientações.

a) Introdução: apresentem o tema e sua importância, contextualizando o leitor e fornecendo um breve resumo do que será discutido.

b) Desenvolvimento: apresentem as análises do tema. Se necessário, busquem mais informações sobre esse tema.

c) Conclusão: recapitulem brevemente os principais pontos discutidos no ensaio. Reforcem a importância da tese e por que ela é significativa. Ofereçam uma reflexão final ou sugiram possíveis implicações dos argumentos que expuseram. Lembrem-se de que, no ensaio, deve aparecer o posicionamento do grupo sobre o tema, mas que isso não se resume a opiniões, ou seja, é necessário argumentar.

d) Referências: incluam uma lista com as fontes consultadas e citadas conforme as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Aproveitem para retomar a pergunta norteadora desta etapa: O que as histórias revelam sobre as condições de trabalho no município em que vivo?

PASSO
PASSO
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Compartilhando conhecimento

Quais impactos os projetos podem provocar na comunidade?

Consulte as orientações no Manual do professor.

■ As pesquisas e os estudos ganham novos sentidos quando se tornam objeto de reflexão para outras pessoas.

Você já deve ter ouvido alguém dizer que “conhecimento é para ser compartilhado”. Compartilhar conhecimento permite ampliar o acesso às informações e possibilita que as pessoas possam refletir sobre determinado assunto. Assim, elas podem se tornar importantes agentes de transformação da realidade, exercendo a cidadania.

São muitas as formas de divulgação de um trabalho de pesquisa, sejam acadêmicos ou não. Entre eles, estão artigos, congressos, palestras, exposições e, até mesmo, produções audiovisuais.

O audiovisual como forma de explicar o trabalho contemporâneo

O cinema e outras formas audiovisuais são uma importante forma de expressão cultural e podem ser inseridos na educação informal. Produtores, diretores e roteiristas podem atuar em produções cinematográficas como uma importante ferramenta para transmitir conhecimento, apresentar diversidade e outras realidades e, assim, colaborar para a reflexão.

Muitos filmes abordam as relações existentes no mundo do trabalho da sociedade atual.

REPRODUÇÃO/REPÓRTER

Conexões

O documentário de Carlos Juliano Baros, Caue Angeli e Maurício Monteiro filho discute o crescimento do trabalho por meio de plataformas digitais e as consequências desse modelo para os trabalhadores.

• GIG: a uberização do trabalho. Direção e produção: Carlos Juliano Baros. Brasil, 2019. Vídeo (60 min).

Forme um grupo com os colegas para assistir a filmes que abordam aspectos do mundo do trabalho contemporâneo. Após as exibições, vocês vão construir um mapa conceitual do tema. Para isso, revisitem os elementos-chave do trabalho contemporâneo apresentados anteriormente e escolham um dos filmes sugeridos a seguir.

Sugestão de filmes

É possível sugerir outras obras cinematográficas para a análise, desde que sejam condizentes com o tema proposto.

Abraço: a única saída é lutar (Brasil, 2020), de DF Fiuza.

Eu, Daniel Blake (Reino Unido, 2016), de Ken Loach.

Indústria americana (Estados Unidos, 2019), de Steven Bognar e Julia Reichert.

Máquinas: a indústria têxtil na Índia (Índia/Alemanha/Finlândia, 2016), de Rahul Jain.

Os doze trabalhos (Brasil, 2006), de Ricardo Elias.

Servidão (Brasil, 2023), de Renato Barbieri.

Você não estava aqui (Reino Unido, 2019), de Ken Loach.

1. Assista ao filme escolhido, em grupo ou individualmente, anotando a descrição de cenas e diálogos interessantes no caderno de investigação.

2. Discuta com o grupo os trechos do filme que chamaram a atenção de vocês e as reflexões provocadas por eles.

3. Com o grupo, faça uma síntese das principais ideias discutidas.

4. Compartilhem com a turma a síntese do filme e respondam às dúvidas dos colegas. Acompanhem as sínteses dos colegas com atenção e façam perguntas a eles.

5. Com a orientação do professor, construam coletivamente um mapa conceitual. Para tanto, vocês podem utilizar cartolina e canetas hidrocor coloridas ou uma ferramenta digital.

Mapa conceitual

Também conhecido como mapa de conceitos, o mapa conceitual é uma ferramenta gráfica usada para organizar visualmente ideias que se conectam, hierarquicamente. De forma geral, o conceito ou ideia principal é centralizado e, a partir dele, são conectados outros pensamentos e ideias, por meio de frases, setas ou outros elementos de ligação. Assim, os detalhes também se tornam evidentes.

O mapa conceitual pode ser afixado em parede ou mural ao qual os participantes tenham acesso no dia do seminário, ao fim do projeto. Também pode ser incluído na publicação do caderno do seminário.

Saiba mais

Impactos sociais de uma pesquisa

Você já pensou nos impactos sociais que este projeto pode promover na comunidade em que está inserido?

■ Pesquisas sociais desempenham um importante papel na compreensão e no desenvolvimento da sociedade. Elas promovem o diálogo entre pesquisadores e sociedade, fortalecendo o impacto das descobertas científicas no cotidiano.

Leia, a seguir, o trecho de um texto de Giovanna Lima, doutora em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas, sobre o impacto social da pesquisa.

O impacto social da pesquisa pode ser definido como as consequências ou os efeitos da pesquisa percebidos na e pela sociedade. A consequência, ou impacto, pode (i) ser positiva ou negativa, (ii) ser de diferentes tipos ou naturezas, (iii) acontecer em diferentes tempos e escalas, e (iv) resultar do processo de pesquisa em si, assim como de seus resultados.

O impacto ou efeito da pesquisa na sociedade pode ser caracterizado como positivo quando gera um benefício, uma mudança positiva em alguma questão ou problema social. Podemos falar em aumento na expectativa de vida das pessoas ou no seu bem-estar, ou talvez da redução de custos de um produto ou serviço. Outros exemplos incluem o aumento no número de pessoas que compreendem problemas complexos, ou o aumento na conectividade entre essas pessoas.

[…]

[…] A complexidade sobre definir o impacto social da pesquisa como positivo ou negativo pode ser ainda exacerbada se considerarmos a subjetividade dessa análise, e que um mesmo impacto pode ser percebido como positivo por alguns grupos e negativo por outros. […]

Além de positivo ou negativo, podemos também classificar o impacto da pesquisa focalizando a dimensão social sobre a qual o impacto incide. Ou seja, podemos classificar o impacto como socioeconômico, ambiental, sobre políticas públicas ou ainda saúde e bem-estar. A classificação do impacto em seus diferentes tipos ou naturezas ajuda a entender os diferentes setores e agentes sociais beneficiários da pesquisa. É comum que um projeto de pesquisa tenha mais de um tipo de impacto.

LIMA, Giovanna. Compreendendo o impacto social da pesquisa. Metricas.edu, 14 mar. 2023. Disponível em: https://metricas.usp.br/compreendendo-o-impacto-social/. Acesso em: 8 ago. 2024.

1. Giovanna Lima define os impactos sociais de uma pesquisa como os efeitos que ela gera na sociedade. Esses

ATIVIDADES

impactos podem ser positivos, trazendo benefícios como melhoria na qualidade de vida ou redução de custos, ou negativos. A percepção do impacto pode variar entre grupos, pois o que é considerado positivo por uns pode ser negativo para outros.

1. Segundo a autora, o que são impactos sociais positivos ou negativos de uma pesquisa?

2. Discuta com a turma os impactos – tanto positivos como negativos – que a pesquisa de vocês pode ter na comunidade. Para isso, considerem as diferentes dimensões sociais que podem ser afetadas. Depois, reflitam sobre como a forma de divulgar os resultados da pesquisa pode gerar desdobramentos para a comunidade.

2. Os estudantes devem refletir sobre os impactos positivos, como a

melhoria na compreensão de problemas sociais e o potencial benefício para a comunidade. Também é importante que considerem pos-

síveis impactos negativos, como interpretações equivocadas dos resultados ou o agravamento de problemas sociais. A discussão ajudará a planejar a comunicação dos resultados para minimizar efeitos indesejados.

Pesquisas que impactam a comunidade

As pesquisas produzidas na escola podem impactar positivamente a comunidade onde ela está inserida. Leia, a seguir, um exemplo de pesquisa realizada por estudantes do Ensino Médio e que resultaram em impacto positivo para a comunidade.

[…]

Aplicativo para coleta seletiva

O App criado pela dupla Bruno Gaspar e Wesley Oliveira, [...], de Mogi das Cruzes, é planejado para organizar a seleção e coleta dos reciclados (vidro, metal, papel, orgânico). Nos primeiros testes realizados na própria unidade escolar, a plataforma identificou problemas e encontrou soluções na rotina de alunos e funcionários. [...] Em março, o aplicativo também foi destaque na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) e chamou atenção da prefeitura que está realizando testes em bairros da cidade.

[…]

AÇÕES de alunos da rede transformam realidade da comunidade. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo 4 jan. 2018. Disponível em: https://www.educacao.sp.gov.br/acoes-de-alunos-da-rede-transformam-realidade-da-comunidade/. Acesso em: 29 set. 2024.

Saiba mais

em AÇÃO

Consulte as orientações no Manual do professor.

Caderno do seminário

Chegou o momento de organizar as descobertas do projeto para divulgar à comunidade. Proporcionar ao público mais conhecimento e consciência sobre o mercado de trabalho do município em que vivem pode contribuir para o aprendizado e protagonismo para suas ações como trabalhadores e cidadãos.

Nesta etapa, vocês vão organizar tudo o que a turma pesquisou e criou para comunicar à comunidade escolar os resultados das investigações.

Edição do caderno do seminário

Para apresentar as pesquisas elaboradas pela turma à comunidade escolar, serão produzidos um caderno do seminário e uma exposição oral.

O caderno do seminário será um importante documento porque vai trazer as informações pesquisadas e sistematizadas por vocês no decorrer do projeto.

Ele deverá ser composto de ficha de créditos, sumário, introdução, panorama do mercado de trabalho do município e ensaios reflexivos dos grupos.

Na criação da publicação, vocês atuarão como uma editora. Para isso, organizem-se em grupos para atuarem de acordo com as respectivas habilidades.

PASSO

1 Reunião dos textos originais e definição das funções

• Considerem as últimas versões do panorama e dos ensaios como os arquivos originais da publicação, ou seja, a matéria-prima da edição.

PASSO

2 Edição dos textos

• Pensem na sequência em que eles ficarão e na inserção de imagens acompanhadas de legendas e créditos. O grupo também será responsável por escrever uma breve introdução à obra. É possível incluir recursos de áudio e vídeo no PDF por meio de links ou QR Codes.

PASSO

3 Projeto gráfico

• Neste momento, um dos grupos deve criar o projeto gráfico para a publicação em formato de livro, elaborando capa e contracapa, diagramando textos e imagens e garantindo harmonia, organização e legibilidade do material.

• O grupo deve revisar o texto já diagramado de acordo com as regras ortográficas e gramaticais da Língua Portuguesa, estabelecendo padronizações (como o uso de negrito para destacar palavras e itálico para indicar palavras estrangeiras), garantindo a clareza, a coerência e a coesão do texto.

PASSO

5 Impressão do material ou criação de e-book no formato PDF

• Sugere-se que o caderno de seminário seja criado em um aplicativo gratuito específico para edição de livros.

Para se certificarem de que o caderno do seminário cumpre o que foi proposto, elaborem um checklist para organizar a produção. Insiram pontos importantes, como os elencados a seguir.

• Os títulos e subtítulos estão adequados?

• Os títulos e as páginas indicadas no sumário estão corretos?

• Foram criados sumário, página de crédito e introdução para o caderno?

• O infográfico com o panorama do mercado de trabalho do município foi inserido no caderno?

• As imagens foram inseridas nos lugares mais adequados em cada página? As imagens estão com créditos e legendas aplicados?

• A ordem dos ensaios ficou interessante?

• A capa dialoga com o conteúdo do caderno?

• Foram feitas correções e inclusões nos textos com base no diálogo com os autores?

• A capa dialoga esteticamente com o miolo do caderno? E com o tema da publicação?

• O layout do caderno está bem organizado?

• Há margens em branco que dão leveza às páginas?

• Foram escolhidos elementos gráficos e fontes, que se repetem ao longo do livro, de forma padronizada, dando uniformidade e identidade à publicação?

• As imagens estão com bom tamanho e boa resolução?

• Foram aplicados os números nas páginas?

• O s textos foram revisados, garantindo correção ortográfica e gramatical, com ciência dos autores?

Aproveitem para retomar a pergunta norteadora desta etapa: Quais impactos os projetos podem provocar na comunidade?

Consulte as orientações no Manual do professor

A realização de um seminário demanda planejamento, produção e divulgação. A seguir, são apresentadas algumas etapas para orientar você e os colegas na realização desse evento.

Definição do título e do objetivo

Definam um título para o seminário, de forma a abarcar a produção de todos os estudantes. Sugere-se um título amplo, para que todos os grupos sejam contemplados. Em seguida, detalhem o objetivo do seminário.

Aproveitem para retomar a pergunta norteadora do projeto: Como é o trabalho no Brasil contemporâneo?

Planejamento

Estabeleçam as equipes de trabalho, formadas por estudantes, professores e outros funcionários e a responsabilidade de cada um. Com a direção da escola, definam a data e o horário, considerando a participação da comunidade externa à escola.

■ O seminário é uma importante ferramenta para compartilhar conhecimento.
NÃO ESCREVA NO LIVRO.

• Programação: definam o tempo e a ordem das apresentações durante o seminário.

• Mediadores: definam o responsável por introduzir e finalizar o evento – fazendo os devidos fechamentos e agradecimentos –, o responsável por controlar o tempo das apresentações e quem vai apresentar os convidados e cada grupo antes da apresentação oral.

• Contribuição: pensem em uma forma de o público poder fazer perguntas e definam o responsável por organizar a ordem.

• Projeção: definam o responsável pela projeção das apresentações de apoio às exposições.

• Registro ou transmissão on-line: se possível, criem formas de registrar o evento por meio de fotografias e vídeos. Transmitir as apresentações de forma on-line pode ser interessante para ampliar o alcance de público do evento.

Avaliação do evento: preparar um formulário impresso ou on-line para que os participantes avaliem o evento. Incluam uma questão para dimensionar qual foi o impacto do projeto na vida da pessoa, como: “Você aprendeu algo importante neste seminário?” ou “Você acha que este seminário pode ser útil de alguma forma em sua vida profissional e/ou pessoal?”.

Treine a apresentação com seu grupo para testar o tempo que leva, a fim de assegurar que não vão extrapolar o tempo previsto.

Divulgação

Após todas as definições, vocês devem elaborar cartazes e anúncios utilizando as redes sociais da escola para divulgar o seminário.

Se possível, criem um formulário on-line para as pessoas se inscreverem no seminário, de forma a antecipar qual será exatamente o público participante. 3 PASSO

Organização

• Qual foi o impacto gerado pelo projeto na comunidade? 4

• Antes do evento, certifiquem-se de que o local tenha todos os equipamentos à disposição, como projetores, microfones e computadores, além de cadeiras e outros mobiliários que considerem necessários.

• Entreguem ao público a programação do evento por meio de fôlder impresso ou digital. Para facilitar o acesso ao fôlder digital, considerem criar um QR Code, código escaneável com celulares que levará ao link com a programação.

• Distribuam exemplares do caderno criado para o seminário, se ele for impresso, ou criem outro QR Code para que os participantes acessem a publicação digital.

• Garantam que o seminário siga o cronograma estabelecido, incluindo o tempo reservado para a participação do público, e que todos os aspectos técnicos estejam funcionando corretamente.

Finalização

• Ao final do seminário, reúnam as respostas do público sobre o impacto da pesquisa de vocês para cada um. Com o resultado, formem uma roda e discutam:

• Qual foi o impacto da realização do projeto para vocês?

AUTOAVALIAÇÃO

Para finalizar este Projeto Integrador, é importante avaliar tanto a participação individual quanto a coletiva. Para isso, responda às seguintes perguntas no caderno.

1. Construção do infográfico

a) Levantei dados relevantes sobre o mundo do trabalho no município em que vivo?

b) O layout e as informações no infográfico colaboraram para o entendimento dos dados?

c) Consegui realizar análise das condições de trabalho no Brasil atual?

2. Realização da entrevista

a) Conseguimos criar uma atmosfera de confiança, deixando o entrevistado à vontade?

b) Fizemos perguntas interessantes, que incentivaram o entrevistado a contar sua história de vida, aproximando-se do tema da pesquisa?

c) Conseguimos registrar a entrevista por meio de áudio, vídeo e fotografias de qualidade?

d) Fizemos a transcrição da entrevista, garantindo que os textos orais fossem adaptados para o texto escrito de forma a garantir o sentido original no novo suporte?

3. Avaliação do texto sobre a história de vida

a) O texto incluiu a data da entrevista, o nome completo e a idade da pessoa?

b) O texto tem uma introdução contextualizando o depoimento?

c) O texto está coerente, coeso e claro?

d) O texto sintetiza a história de vida da pessoa, destacando informações relevantes para a pesquisa?

4. Avaliação do ensaio

a) O texto segue a estrutura e as características do gênero textual ensaio?

b) O texto segue a norma-padrão?

c) O ensaio articula todas as histórias de vida realizadas pelo grupo?

d) As fontes e as referências bibliográficas foram incluídas?

5. Caderno do seminário

a) A divisão de tarefas entre as pessoas do grupo foi feita com base no diálogo e no respeito, considerando as características e as habilidades de cada integrante do grupo?

b) Quando alguém precisou de ajuda com alguma tarefa, recebeu apoio dos colegas?

c) Os grupos entregaram os originais de seu ensaio na data acordada e seguindo as regras definidas por toda a equipe?

d) Os arquivos foram disponibilizados corretamente?

6. Seminário

a) Como cada grupo avalia a própria exposição oral?

b) Como a turma avalia sua participação no debate?

c) Como foi a experiência de debater com os convidados?

d) Quais foram as maiores dificuldades e os maiores problemas? E quais foram as soluções encontradas?

e) O que poderia ser melhorado?

f) Como poderão ser utilizados os registros do seminário?

COMO PROMOVER A CULTURA DE PAZ?

É fato que situações de discordância são inevitáveis na vida em sociedade, principalmente na comunidade escolar, composta de pessoas de diferentes valores, posicionamentos e atitudes. É possível divergir sem que haja violência. Contudo, nem sempre os conflitos que surgem são manejados de forma adequada, e o ambiente escolar pode se tornar um ambiente de acerto de contas.

Nos últimos anos, aumentou a frequência de episódios envolvendo ameaças e ataques contra estudantes e professores em escolas, sobretudo perpetrados por jovens que não conseguem lidar com as diferenças e expressam intolerância. Para evitar esse tipo de situação, um dos propósitos deste projeto é buscar maneiras adequadas para lidar com questões conflituosas no ambiente escolar, considerando que a escola é um lugar para todos. Vamos explorar textos e trabalhar com questões que valorizam a diversidade, diferenciando-a da desigualdade e, ainda, vamos identificar as responsabilidades de cada um sobre os demais seres e o planeta. Assim, por meio deste projeto, vamos propor estratégias que ajudam a desenvolver uma cultura de paz na escola.

1. Como é a convivência na escola onde você estuda?

2. A escola tem algum projeto de prevenção à violência?

3. Em sua opinião, o que é necessário fazer para promover um ambiente escolar acolhedor?

Respostas pessoais. Consulte as respostas no Manual do professor

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

■ Grafite do artista Kobra (1975-) na escola Raul Brasil em Suzano (SP). Fotografia de 2024. A obra é uma homenagem às vítimas de um ataque ocorrido na escola, em 2019, e um pedido de paz.

IMAGEM CRÉDITO
©KOBRA, EDUARDO/AUTVIS, BRASIL, 2024

FICHA DE ESTUDO

Objetivos

• Compreender os conceitos de justiça e democracia e a importância dos direitos humanos.

• Colaborar para a formação de cidadãos atuantes nos processos democráticos no ambiente escolar, em especial nas situações de conflito. Analisar discursos para compreender a estrutura de construções argumentativas, privilegiando uma comunicação inclusiva.

Compreender a produção coletiva do espaço escolar, exercendo protagonismo na construção de uma cultura de paz.

R efletir sobre uma comissão pautada em valores democráticos e no respeito à diversidade, com o objetivo de mediar conflitos no dia a dia da escola.

Justificativa do projeto

Sabemos que a escola é um espaço de convivência entre pessoas de diferentes realidades econômicas, sociais e culturais. As relações desenvolvidas nesse ambiente são, portanto, construídas com a participação de diferentes atores, sendo natural o surgimento de conflitos.

Este Projeto Integrador não tem a pretensão de extinguir os conflitos que possam surgir dessas interações, mas, sim, de instrumentalizar a turma para a mediação desses conflitos, lançando mão de estratégias que promovem a cultura de paz em detrimento da violência. Contudo, para que exista mediação de conflito, é necessário antes compreender o cenário das relações sociais no mundo contemporâneo e como ele se reflete na escola. Por sua vez, o contato com ferramentas que proporcionam a comunicação não violenta favorece a resolução de conflitos por meio do diálogo. Para isso, você

vai se tornar protagonista diante de situações conflituosas no ambiente escolar, integrando os saberes das áreas de Ciências Humanas e Sociais

Aplicadas e Linguagens e suas Tecnologias, para construir estruturas comunicativas e organizativas, que podem ser úteis durante as diversas fases da vida.

TCT

• Educação em direitos humanos

• Vida familiar e social

• Trabalho

• Diversidade cultural

ODS

8 Trabalho decente e crescimento econômico

10 Redução das desigualdades

16 Paz, justiça e instituições eficazes

Materiais

• Suporte para murais, como cartolina, papel-cartão ou kraft

• Folhas avulsas brancas e coloridas

• Tesoura, cola, fita adesiva, canetas hidrocor

• Revistas para recorte

• Dispositivo com acesso à internet

• Dispositivos para imprimir e projetar, caixas de som e megafone (opcional)

• Urna ou aplicativo de sorteio

Produto final

Comissão mediadora de conflitos na escola.

Percurso do projeto

1

Nesta etapa, vocês vão reconhecer os mecanismos da democracia na atualidade, sobretudo a efetivação da ideia de igualdade e o direito de participação dos cidadãos, bem como o papel das leis para garantir a justiça social e o acesso aos direitos e às oportunidades. Como produto desta etapa, os estudantes vão desenvolver uma campanha educativa sobre direitos humanos.

2 ETAPA

Nesta etapa, vocês vão refletir sobre as causas e as consequências dos conflitos sociais. Com base nessa reflexão, serão convidados a discutir diferentes formas de resolvê-los. Além disso, vão aprofundar a noção de justiça e suas formas de expressão em diferentes sociedades. O produto desta etapa é um debate sobre as formas de justiça.

ETAPA

3

Nesta etapa, vocês vão desenvolver o senso crítico e habilidades de cooperação e solidariedade, compreendendo formas de promover a cultura da paz como princípio governante na escola. Além disso, vocês vão conhecer mecanismos de promoção da paz com ênfase na justiça restaurativa. Como produto desta etapa, os estudantes vão definir objetivos e princípios para a comissão mediadora, considerando o contexto em que as relações sociais se desenvolvem na escola.

Nesta etapa, vocês vão implementar uma comissão mediadora de conflitos na escola.

Consulte as orientações no Manual do professor

1

Democracia e direitos humanos

Qual é a importância da democracia na atualidade?

A história está repleta de exemplos de limitações à participação de determinados grupos sociais nas instituições democráticas: pessoas escravizadas, analfabetos, mulheres, trabalhadores pobres e outros grupos que foram impedidos de votar ou de se candidatar em muitos países e épocas anteriores. Embora atualmente ainda existam segmentos da população excluídos do processo democrático, ao longo dos séculos XIX e XX o direito de participação política foi ampliado.

A construção da democracia

A democracia, junção dos termos gregos demos, que significa “povo”, e kratia, palavra derivada de kratos, que quer dizer “poder”, surgiu em Atenas, na Grécia antiga, por volta do século V a.C. Assim, democracia, ou poder do “povo”, é uma forma de governo em que a administração da “coisa pública” é responsabilidade do povo e está sob seu controle. Na Grécia antiga, essa forma de governo dava poder de voz e voto igualitários aos cidadãos atenienses. Nesse contexto, eram considerados cidadãos apenas os homens atenienses maiores de 21 anos e proprietários de terras.

Desde a Antiguidade, depois de um longo período em que outras formas de governo foram hegemônicas, como a monarquia e a aristocracia – com o exercício do poder nas mãos de poucos –,

a ideia de democracia ganhou sua força entre os séculos XVIII e XIX como um governo do povo. No entanto, a democracia moderna é bem diferente da democracia da Antiguidade.

A pólis grega, com seus ideais de liberdade, igualdade e respeito pela lei, tem sido considerada fonte de inspiração para o pensamento democrático moderno. Entretanto, [...] quando hoje falamos em democracia, estamos falando de um governo representativo, de um Estado constitucional e das garantias das liberdades individuais. Essa democracia tem pouca semelhança com a cidade-república dos gregos. Somos diferentes dos antigos porque nossa democracia assenta-se em premissas e valores que a política grega desconhecia. [...]

VILANI, Cristina. Democracia antiga e democracia moderna. Cadernos de História, Belo Horizonte, v. 4, n. 5, p. 37-41, 1999. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/cadernoshistoria/article/view/1697. Acesso em: 16 ago. 2024.

Para os gregos antigos, a democracia era compatível com a exclusão de mulheres e pessoas em situação de escravidão das decisões políticas, ou seja, mulheres e escravos não eram considerados cidadãos. Nas democracias atuais, de modo geral, pessoas nascidas no país ou naturalizadas, independentemente do gênero e da condição social, podem ter participação política. No entanto, houve um longo caminho até que as democracias modernas funcionassem dessa forma e, mesmo na atualidade, o direito de participação ainda é um desafio nos regimes democráticos.

No Brasil, por exemplo, o voto feminino só foi conquistado em 1932 e a participação total de analfabetos só se concretizou com a Constituição de 1988. Apesar do sufrágio universal, a representatividade indígena no poder público ainda é incipiente: apenas quase um século depois da Proclamação da República, em 1982, o primeiro indígena foi eleito para a Câmara dos Deputados. Em 2018, a primeira mulher indígena foi eleita para o Congresso Nacional. BASCAR/SHUTTERSTOCK.COM

■ Bandeiras da Organização das Nações Unidas (ONU) hasteadas a meio mastro nos edifícios da instituição em toda a Ásia, em memória aos funcionários mortos na guerra entre Israel e Hamas. Pequim, China, 2023.

Conexões

Este filme conta a história de um homem liberto que é vendido como escravizado e precisa superar as torturas físicas e emocionais para sobreviver.

• 12 ANOS de escravidão.

Direção: Steve McQueen.

Produção: Brad Pitt. Estados Unidos, 2014 (134 min).

Democracia e justiça

Atualmente, vivemos sob um Estado democrático de direito no Brasil. Isso significa que o poder está repartido em diversas instituições democráticas – distribuídas em três Poderes: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário –, e a sociedade civil pode participar de múltiplas formas, inclusive na proposta, no desenvolvimento e na criação de leis.

As leis são mecanismos criados para garantir a justiça social e, em uma democracia, devem assegurar que nenhum indivíduo esteja fora ou acima delas. A Constituição é a lei mais importante de um país e contém as regras que regulamentam como devem ser feitas as demais leis e como devem funcionar as instituições democráticas.

Em uma democracia, a Constituição e suas leis devem ser rigorosamente observadas por todos, independentemente do cargo político, da posição social ou do prestígio de quem quer que seja. Conhecer as leis, saber interpretá-las e propor ajustes para sujeitar-se a elas são formas de garantir a justiça social, cujo princípio fundamental é a busca por uma sociedade equitativa, isto é, em que todos tenham acesso igualitário a direitos e a oportunidades, independentemente da origem, da cor, do gênero ou da condição econômica.

Declaração Universal dos Direitos Humanos

A origem dos direitos humanos está no contexto dos séculos XVII e XVIII, sobretudo após a Revolução Francesa (1789-1799). Nesse contexto, os direitos visavam proteger a propriedade privada diante do poder despótico dos reis. Já no século XX, as marcas do Holocausto, causadas pela Segunda Guerra Mundial (1939-1945), fez surgir a Organização das Nações Unidas (ONU), uma instituição criada com o objetivo de mediar relações diplomáticas entre países. Em 1948, a Assembleia Geral da ONU promulgou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento que expressa valores que prezam pela liberdade, pelo respeito à diversidade e pela dignidade.

Direitos civis

A liberdade de escolha é uma das bases da vida em sociedade e é garantida nos Estados democráticos por meio de leis que regem os chamados direitos civis, bem como de instituições que regulam e julgam suas violações. Exemplos de liberdades individuais são as liberdades de palavra, pensamento e fé ou, ainda, a liberdade de ir e vir. À sociedade civil, cabem os papéis de respeitar os direitos civis do próximo, de combater a intolerância e de denunciar o não cumprimento desses direitos.

Outro aspecto importante dos direitos civis é a ideia de que todas as pessoas devem ser tratadas de forma igualitária diante das leis, independentemente da origem étnico-racial, da classe social, da religiosidade e do gênero. Enquanto existiu escravidão institucionalizada, por exemplo, não havia direitos civis. Além de não desfrutarem de direitos básicos, como o direito de ir e vir, as pessoas escravizadas eram consideradas propriedades, isto é, poderiam ser tratadas da forma como desejassem seus proprietários, pois não havia leis que as protegessem ou que lhes garantissem direitos básicos.

Os direitos civis começaram a ser conquistados no século XVIII, na Europa, mas até hoje existem casos em que esses direitos são violados. Foi só em 1995 que foi reconhecida, perante a ONU, a persistência do trabalho análogo à escravidão no Brasil. Segundo a organização internacional Walk Free, em 2023 o Brasil ocupava a 11a posição no ranking mundial da escravidão contemporânea, que engloba uma série de atividades, como o tráfico de pessoas, o casamento e o trabalho forçados, além de outras práticas análogas à escravidão – atividades que violam direitos humanos e civis, entre eles a liberdade de escolha.

Situações de submissão do trabalhador a jornadas exaustivas, maus-tratos, ameaças, alimentação e alojamento precários e retenção de documentos e de salário privam o indivíduo de sua liberdade e dignidade, ferindo os direitos humanos.

Direitos humanos no Brasil

No Brasil, os direitos humanos foram garantidos pela Constituição Federal de 1988. Nela, garante-se que todos são iguais perante a lei, sem distinção, e têm direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. A existência dessa garantia no artigo 5o da Constituição é considerada um grande avanço jurídico, já que o país, assim como outros da América Latina, teve a história marcada por violações aos direitos humanos, principalmente durante o período, da Ditadura Civil-Militar (1964-1985). Nesse período, ocorreu a perda da liberdade de expressão, de imprensa e perseguição por motivos políticos, além de violência e tortura a opositores do regime. A redemocratização do Brasil (1974-1984) foi o processo de reestabelecimento da democracia, contando com avanços e recuos em relação à recuperação dos direitos humanos.

Entretanto, mesmo depois de décadas da instauração da nova constituição, ainda existem muitas dificuldades em efetivar os direitos humanos no país. Entre as falhas, estão as altas taxas de pobreza, que culminam na não garantia de direitos básicos, como a moradia, a violência contra a mulher e a violência sofrida pela população negra e indígena.

■ Diretas Já foi um movimento popular que lutou pela volta das eleições diretas. Manifestação em São Paulo (SP). Fotografia de 1984.

1. b) A sentença sugere que a atuação da sociedade civil ao denunciar e combater abusos reflete a eficácia de uma política pública. Se as denúncias são frequentes, a lei não está sendo cumprida. Assim, a quantidade de informações, positivas ou negativas, sobre uma política pública revela sua capacidade de cumprir seu papel.

ATIVIDADES

Consulte as respostas no Manual do professor

1. Uma pesquisa recente, de 2023, sobre a escravidão contemporânea revela que:

1. a) Respostas pessoais.

Os atores estatais empreendem ações dedicadas ao combate do trabalho escravo por causa da pressão e da sensibilização da Comissão Pastoral da Terra (que representa a sociedade civil). As estratégias são diversas, como denúncias à imprensa e fóruns internacionais, interlocução direta com órgãos estatais e até a elaboração de uma publicação [...]. [...] a sociedade civil é responsável por guardar a memória da política pública. Enquanto o governo apresenta grande rotatividade entre os membros, ela continua atuando ao longo de toda a existência da política pública. “A memória é também uma capacidade técnica e um capital valioso” [...]

ESTRATÉGIAS da sociedade civil podem auxiliar no combate ao trabalho escravo. Jornal da USP, São Paulo, 15 fev. 2024. Disponível em: https://jornal.usp.br/?p=722680. Acesso em: 16 ago. 2024.

a) Em sua opinião, as leis e as instituições brasileiras são suficientes para extinguir o trabalho análogo à escravidão e o trabalho forçado? O que a sociedade pode fazer para que os direitos civis e sociais sejam garantidos?

b) E xplique a sentença: “a memória é também uma capacidade técnica e um capital valioso”.

c) Em grupos, conversem sobre as estratégias que a sociedade civil pode empreender para combater o trabalho análogo à escravidão e elaborem um texto no caderno.

1. c) O texto menciona denúncias à imprensa e a fóruns internacionais, interlocução com órgãos estatais e criação de uma publicação.

2. O acesso à água está relacionado a um dos direitos fundamentais do ser humano: o direito à vida. Embora também conste da Constituição federal brasileira, a realidade revela dificuldades no cumprimento desse direito. Leia o trecho da reportagem a seguir.

Em uma cultura onde a mulher, em geral, possui mais responsabilidades domésticas, além das maiores demandas para cuidados pessoais, é sobre ela que recai com mais peso a deficiência do saneamento. As consequências não são somente diretas, como a falta de água tratada e a ausência de redes de coleta e sistemas de tratamento de esgoto, mas impactos secundários associados ao afastamento do trabalho devido ao maior tempo gasto com afazeres domiciliares, à evasão escolar, e até mesmo violência sexual aparecem como fatores que demonstram que discutir saneamento, sob a ótica do gênero, é essencialmente importante e urgente. [...]

[...] as mulheres são tradicionalmente responsáveis pelas tarefas domésticas, que envolvem cozinhar, lavar roupa, cuidar da limpeza ou manutenção de roupas e sapatos, limpar ou arrumar o domicílio e demais dependências (garagem, quintal ou jardim), cuidar das crianças e dos animais domésticos, dentre outras. Como essas atividades requerem quantidade significativa de água para que sejam realizadas, a sua escassez resulta em maior dificuldade e tempo dispendido para a execução das tarefas diárias básicas. Ainda, em alguns casos é necessário que a água seja adquirida em locais afastados da residência, ou através da compra de caminhão-pipa, impondo custo extra e carga de trabalho doméstico excedente sobre as mulheres.

MARINS, Monique de Faria. Além das Águas: a invisibilidade feminina na luta pelo saneamento básico no Brasil. Rede Brasil de Organismos de Bacias Hidrográficas, [202-]. Disponível em: https://www.rebob.org.br/post/al%C3%A9m-das -%C3%A1guas-a-invisibilidade-feminina-na-luta-pelo-saneamento-b%C3%A1sico-no-brasil. Acesso em: 16 ago. 2024.

Converse com os colegas:

2. a) O direito à vida está vinculado à dignidade da pessoa humana, que é a base dos direitos fundamentais. A água é um bem de uso comum essencial para a manutenção da vida e para a vida digna, portanto, deve ser acessível a todos.

a) De que forma o direito à água se relaciona ao direito à vida?

b) Como é o acesso à água potável no bairro em que você vive? 2 .b) Resposta pessoal.

c) D e que forma a falta de acesso a esse direito pode contribuir para perpetuar desigualdades?

2. c) A violação de direitos humanos desencadeia uma série de injustiças sociais. Espera-se que os estudantes considerem que, no caso da desigualdade de gênero, a falta de água também tem impacto em outras esferas da vida, já que só as mulheres gastam mais tempo e esforços para percorrer longas distâncias em busca de água para suas famílias.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Direitos sociais

Os direitos coletivos ofertados pelo Estado por meio de instituições e políticas públicas são designados direitos sociais, como os direitos à educação, ao trabalho, à saúde e à moradia. A forma como uma sociedade organiza suas atividades produtivas e investe na educação ou como elabora e fiscaliza a legislação trabalhista indica o acesso que os cidadãos têm aos direitos sociais.

MUNDO DO TRABALHO

Legislação trabalhista

No Brasil, a preocupação com a proteção jurídica do trabalhador brasileiro surgiu no contexto da Primeira República (1889-1930), com a regulamentação do trabalho realizado por menores de 18 anos, a lei de sindicalização rural e a lei que regulou a sindicalização de profissões. No Estado Novo (1930-1945), durante o governo de Getúlio Vargas (1882-1954), criou-se a primeira legislação trabalhista que garantiu direitos básicos, como salário-mínimo, jornada diária de oito horas, férias anuais e liberdade sindical. Foi somente em 1943, com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que esses direitos foram sistematizados em um único documento. Na atualidade, a CLT normatiza o trabalho no país, embora com algumas modificações, como a lei que permitiu a flexibilização trabalhista, a partir de 2017.

Ainda hoje, o desemprego e a infor malidade são situações desafiadoras e que acometem não apenas os jovens, mas todos os cidadãos, impedindo-os de usufruir plenamente de seus direitos. O Programa Jovem Aprendiz tem sido impor tante para a inserção de jovens no mercado de trabalho. A sua criação se deu com a Lei da Aprendizagem (lei n determina que o programa traga oportu nidades de capacitação profissional por meio do estudo.

• Faça uma pesquisa sobre o Programa Jovem Aprendiz. Para isso, consulte os programas que existem que tenham como proposta a profissionalização dos jovens, além de reportagens que noticiem o assunto. Com base em sua pesquisa, elabore um anúncio de pro paganda para informar os jovens sobre esse programa.

■ Muitos jovens buscam cursos profissionalizantes para entrar no mercado de trabalho mais rapidamente.

Consulte a resposta no Manual do professor

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

em AÇÃO

Consulte as orientações no Manual do professor

Campanha de conscientização sobre os direitos humanos

Você e os colegas vão realizar uma pesquisa orientada pelo professor. Depois, vão divulgar as descobertas de vocês de uma maneira bem interessante: em uma campanha! Para isso, leia as instruções a seguir.

1

• Reúna-se com três colegas para formar um grupo de trabalho. O professor vai definir um tema de pesquisa para cada grupo, entre os abordados durante esta etapa do projeto.

2

• Depois da atribuição do tema, selecionem:

a) i magens que representem tanto as conquistas dos direitos humanos relacionadas à justiça social quanto situações de violação desses direitos; b) d ados que representem numérica e geograficamente a violação ou a conquista desses direitos.

PASSO
PASSO

PASSO

3

• Elaborem frases criativas para combater crimes, injustiças, intolerância e desigualdade social ou celebrar a inclusão social e a participação popular.

PASSO

4

• Criem uma peça-conceito com as imagens selecionadas, as representações gráficas ou os mapas e as frases criativas.

PASSO

5

• Com base na peça-conceito, elaborem materiais de comunicação, como cartazes, panfletos, cartões para mídias sociais e jingles

PASSO

6

• Escolham os locais e os canais em que os materiais vão circular:

a) para os materiais físicos, é preciso definir murais e paredes da escola em que os materiais serão fixados e os locais onde os panfletos serão distribuídos à comunidade escolar;

b) p ara os materiais digitais, é preciso definir se serão enviados em aplicativos de mensagens, divulgados em redes sociais ou se haverá uma projeção pública.

Aproveitem para retomar a pergunta norteadora desta etapa: Qual é a importância da democracia na atualidade?

2

Conflitos

Consulte as orientações no Manual do professor

Como os conflitos acontecem?

No dia a dia, podemos notar que as pessoas discutem pelas mais diferentes razões, que vão de divergências de opinião sobre alguma coisa a resistências na aceitação de regras ou mesmo por não conseguirem se expressar adequadamente nem compreender o outro.

■ PORTINARI, Candido. Guerra e paz . 1956. Óleo sobre madeira, 14 m × 10 m. ONU, Nova York.

Origem dos conflitos

Em geral, os conflitos têm origem em divergências, que podem desencadear disputas ou enfrentamentos violentos, que, por sua vez, podem ser verbais ou envolver ameaças e até agressões físicas e emocionais a pessoas ou a grupos de pessoas. Por vezes, ocorrem depredações a bens materiais particulares ou públicos. Alguns conflitos atingem proporções maiores, circunscritos a contextos históricos e culturais específicos. Por trás de todos esses desentendimentos – que podem desencadear atos violentos –, há elementos em comum: a dificuldade de compreender, de aceitar e de respeitar as diferenças, bem como a vontade de impor as próprias necessidades e os próprios desejos, ou seja, de exercer poder.

Bullying

Comum nas escolas, o bullying é considerado uma expressão violenta de conflito e pode explicitar preconceito e intolerância. São práticas comuns: ignorar a vítima, demonstrar por ela aversão ou desprezo, proferir sarcasmos, entre outras, que acarretam como consequência a exclusão voluntária da vítima do grupo de convívio. Os chamados conflitos sociais , segundo diferentes perspectivas teóricas da Sociologia, podem se basear na desigualdade de classes, em diferenças políticas, culturais, raciais, etárias e de gênero. Esses conflitos sociais estão presentes nos conflitos pessoais que podemos enfrentar no cotidiano.

■ Os conflitos sociais podem acontecer entre indivíduos ou entre grupos.

A cobiça por poder e riqueza, as desigualdades sociais e as tentativas de obter status levaram à formação de grupos sociais distintos com interesses e identidades em comum que buscam esses interesses contra outros. Portanto, para a teoria do conflito, o potencial para rivalidades é uma constante.

CONFIRA o conceito de “conflito”, de acordo com Giddens e Sutton. Editora Unesp, 12 maio 2016. Disponível em: https://editoraunesp.com.br/blog/confira-o-conceito-de-conflito-de -acordo-com-giddens-e-sutton#:~:text=A%20cobi%C3%A7a%20por%20poder%20e,para%20 rivalidades%20%C3%A9%20uma%20constante. Acesso em: 19 ago. 2024.

A luta entre grupos sociais envolve tensões, discórdia e choque de interesses e, eventualmente, eclode em violência.

Conflitos internacionais

Conflitos internacionais podem ocorrer entre diferentes nações e, em geral, costumam envolver disputas por território. Outros aspectos relacionados a essas disputas são diferenças étnicas e religiosas e o controle de recursos naturais. Os conflitos internacionais geram inevitavelmente impactos econômicos, sociais e ambientais nos países envolvidos.

Guerras e conflitos internacionais são caracterizados por confrontos armados entre grupos organizados – exércitos nacionais ou forças rebeldes – e costumam vitimar um número significativo de pessoas (entre mortos e feridos), atingindo uma área geográfica considerável. Para o Programa de Dados sobre Conflitos Uppsala (UCDP, na sigla em inglês), da Suécia, o número de vítimas é o parâmetro empregado para definir uma guerra: a existência de ao menos mil mortes em batalhas no período de um ano.

Pesquisadores como Norbert Elias (1897-1990) entendem que, no longo período compreendido entre a Baixa Idade Média até a consolidação dos Estados nacionais modernos na Europa, o que ocorreu

Saiba mais

■ Bombardeio israelense na porção sul da faixa de Gaza, território da Palestina, 2023. Embora as armas de guerra apresentem grandes avanços tecnológicos, são frequentes os ataques a alvos civis em conflitos internacionais e guerras.

entre os séculos XVI e XIX, a violência fazia parte do cotidiano nessa região, inclusive como forma de resolução de desentendimentos nas relações pessoais. Porém, com o fortalecimento dos Estados-nação, as instituições estatais passaram a monopolizar a violência, que, então, deixou de fazer parte das relações rotineiras. Entre o fim do século XVIII e o início do século XIX, com o Iluminismo e a Revolução Industrial, novas possibilidades para a prática da violência surgiram. Nessa época, por exemplo, foram articuladas ideias positivas sobre a guerra, como a visão de que ela fortaleceria o Estado, que passou a contar com forças armadas profissionais e permanentes. Do ponto de vista técnico, a produção industrial possibilitou a produção de armas em maior quantidade e com maior poder de destruição.

Atualmente, vemos surgir também as chamadas guerras de quarta geração, marcadas pela assimetria entre as partes em confronto. Nesse tipo de guerra, os enfrentamentos podem opor exércitos regulares a outros tipos de grupos armados, como guerrilhas ou grupos terroristas. Esses conflitos são alimentados pelo uso das novas tecnologias de comunicação (redes sociais e mídias) para a difusão de ideias e valores entre a população civil e para a articulação dos grupos que fazem parte dos confrontos.

Consulte as respostas no Manual do professor

1. Alguns conflitos sociais podem ser visíveis, por exemplo, por meio de manifestações, marchas e greves, que assumem valor simbólico. Com base nesse tema, analise a fotografia.

■ Marcha da Consciência Negra em São Paulo (SP), 2023. O Dia da Consciência Negra, em que ocorrem marchas por todo o país, ganhou visibilidade em 1971, quando um grupo realizou um ato na noite do dia 20 de novembro em Porto Alegre (RS).

a) Pesquise na internet as manifestações públicas no Brasil em defesa dos direitos das pessoas pretas e pardas.

b) Identifique quais são os atores sociais, as demandas e as pautas que entram na agenda política na forma de leis e se há conflitos entre grupos diferentes.

c) Depois, analise se as manifestações ajudam a esclarecer a natureza dos conflitos.

2. Analise os textos a seguir.

TEXTO 1

[...] Se todas as interações entre os homens é uma sociação, o conflito, – afinal uma das interações mais vivas, que, além disso, não pode ser exercida por um indivíduo sozinho, – deve certamente ser considerado como sociação [...]. Conflito é, portanto, destinado a resolver dualismos divergentes, é uma maneira de conseguir algum tipo de unidade, mesmo que seja através da aniquilação de uma das partes em litígio. [...]

SIMMEL, Georg. O conflito como sociação. Tradução de: Mauro Guilherme Pinheiro Koury. Revista Brasileira de Sociologia da Emoção, João Pessoa, 2011. Disponível em: https://www.cchla.ufpb.br/rbse/SimmelTrad.pdf. Acesso em: 19 ago. 2024.

TEXTO 2

DAHMER, André. Malvados. Disponível em: https://www.malvados.com.br/. Acesso em: 6 out. 2024.

• Compare o significado de conflito presente nos dois textos. Os autores de cada texto estão de acordo ou expressam opiniões diferentes desse conceito? Quais são os argumentos que sustentam a compreensão de cada autor sobre o conceito de guerra?

ATIVIDADES NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Diferentes concepções de justiça

Existem muitos modelos de justiça e variadas formas de resolução de conflitos nas diferentes sociedades. Esses modelos estão relacionados com a maneira como cada povo se organiza do ponto de vista político. Na democracia ateniense, por exemplo, as Assembleias tinham o poder de condenar pessoas à perda dos direitos políticos e ao ostracismo, entre outras punições.

Nos Estados modernos, as leis foram incorporando as conquistas das revoluções dos séculos XVII e XVIII, como as liberdades civis, a igualdade perante a lei e o direito a um julgamento justo. Além disso, a prisão foi se estabelecendo como punição a ofensas criminais.

Ostracismo: na democracia ateniense, era a prática de expulsão da cidade pelo período de dez anos. Atualmente, esse termo também é usado como sinônimo de “ser esquecido”.

No século XIX, a prisão tornou-se o modelo dominante. O uso extensivo da pena de prisão ainda é, nos dias atuais, a principal maneira de resolução de conflitos na justiça criminal, sendo, em países onde a pena de morte não é institucionalizada, o instrumento mais severo que a justiça pode aplicar a um cidadão.

O filósofo francês Michael Foucault (1926-1984) se dedicou a pensar de forma crítica sobre o sistema prisional. Para ele, além da função da privação de liberdade, a prisão é baseada nas relações de poder. Leia um trecho de um de seus trabalhos mais conhecidos.

Como não seria a prisão a pena por excelência numa sociedade em que a liberdade é um bem que pertence a todos da mesma maneira e ao qual cada um está ligado por um sentimento “universal e constante”? Sua perda tem, portanto, o mesmo preço para todos; melhor que a multa, ela é o castigo “igualitário”.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir : nascimento da prisão. 37. ed. Petrópolis: Vozes, 2009. p. 218.

Entretanto, os modelos de justiça podem variar, de acordo com a sociedade. As sociedades indígenas que vivem no Brasil, embora tenham certa diversidade cultural, apresentam um traço comum: não desenvolveram Estado nem democracia, porque criaram outras instituições políticas. Leia, a seguir, como os conflitos são mediados no povo Xukuru.

[...] os Xukuru passaram a organizar o seu sistema de justiça estabelecendo um conjunto de lideranças em cada aldeia do território indígena que, juntamente com o cacique, era responsável pela condução da luta política pela reconquista do território e, a partir da legitimidade e do carisma dos novos líderes, estabeleceram um conjunto de autoridades, regras e procedimentos que auxiliaram na afirmação das regras de convivência no território.

Por outro lado, os processos de resolução de conflitos são mediados não por alguém alheio aos conflitos, tal como ocorre no sistema de justiça estatal, tampouco exclui a participação das famílias na composição dos litígios, uma vez que a participação delas é fundamental para assegurar a “harmonia” do grupo. A conciliação entre partes e a reparação dos danos se constituem nas formas mais comuns de resolução de conflitos entre o grupo e o banimento [é] a pena mais extrema a ser aplicada em casos em que o convívio dentro do território se torna impossível.

LÔBO, Sandro H. C. Resolvendo seus próprios conflitos: a construção do sistema de justiça indígena Xukuru de Ororubá. Periódicos UFPE, Recife p. 154, 2017. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/index.php/reia/article/download/230073/28989/112483. Acesso em: 19 ago. 2024.

ATIVIDADES

Espera-se que os estudantes mencionem que a escultura representa uma justiça cega ou, ainda, imparcial: deve ser aplicada sem distinção entre os cidadãos, uma vez que eles são iguais perante a lei. Outra interpretação possível é a de que cada sociedade tem uma “visão” diferente do que é “justiça“, bem como de sua efetivação.

• Observe, na fotografia a seguir, a escultura denominada A justiça. A figura representada está com os olhos vendados, simbologia que pode ser interpretada de duas maneiras. Analise-a.

■ A justiça, escultura localizada em frente ao Tribunal Federal, em Brasília (DF), 2024.

a) Interprete a escultura com base no que você estudou a respeito da conquista dos direitos humanos e das diferentes formas de justiça.

b) Elabore uma representação de justiça que expresse os mesmos princípios interpretados por você na obra A justiça.

Conexões

O documentário acompanha as fragilidades que muitas vezes existem no sistema judiciário diante do julgamento de jovens com menos de 18 anos.

• JUÍZO. Direção: Maria Augusta Ramos. Brasil, 2007 (90 min).

Mediação de conflitos

Em um diálogo, a divergência entre opiniões ou pontos de vista pode, idealmente, ser expressa com base em argumentos. Quando uma parte do conflito compreende o outro, ainda que discorde dele, é possível chegar a um acordo.

Em um acordo, não está subentendido que as partes mudaram de opinião, mas que estão comprometidas a fazer algo – o que pode envolver recuos de ambas as partes com relação a desejos ou necessidades – para resolver o conflito. Quando não existe um consenso, a construção de um acordo envolve adaptações para que possam ser integradas as opiniões dissidentes sem desconsiderar a opinião das demais pessoas envolvidas.

O debate e a discussão mediada são formas de alcançar um acordo. Não se trata apenas de um embate entre ideias distintas, mas de um esforço coletivo para a construção de resoluções de conflitos. Essas formas de lidar com problemas são utilizadas por diversas sociedades, incluindo as democráticas, para que seja possível chegar a uma resolução adequada e viável para todos.

A mediação de conflitos pode fazer parte da gestão escolar e estar presente no dia a dia da escola por meio de processos e de programas que ensinam conceitos, habilidades e estratégias de negociação para a prevenção da violência e para a resolução de desavenças.

Comunicação não violenta

Para existir a possibilidade de estabelecer um acordo, é necessário que as partes se comuniquem de maneira efetiva. Desenvolvida pelo psicólogo estadunidense Marshall Bertram Rosenberg (1934-2015), a comunicação não violenta (CNV) é uma das técnicas que podem ser aplicadas a fim de promover uma comunicação efetiva, com escuta ativa e sem julgamentos. Segundo a CNV, é preciso que as relações interpessoais se fundamentem no exercício da empatia, em contraponto à agressividade verbal, comum na cultura brasileira. Com a prática da CNV, os motivos que nos impedem de solucionar determinados conflitos ficam evidentes – principalmente aqueles que nos levam a iniciar formas agressivas de comunicação. Entre as principais razões dessa dinâmica estão:

• dificuldade em expressar necessidades e de compreender as necessidades das outras pessoas;

• não identificar sentimentos e, por conseguinte, não distinguir pedidos de ameaças ou exigências do outro.

ATIVIDADES

• Embora o direito à liberdade religiosa esteja previsto na Constituição, são comuns os atos de intolerância, fato que desafia a democracia brasileira. Sobre esse assunto, leia os trechos a seguir.

TEXTO 1

A expressão “intolerância religiosa” tem sido utilizada para descrever um conjunto de ideologias e atitudes ofensivas a crenças, rituais e práticas religiosas consideradas não hegemônicas. Práticas estas que, somadas à falta de habilidade ou à vontade em reconhecer e respeitar diferentes crenças de terceiros, podem ser consideradas crimes de ódio que ferem a liberdade e a dignidade humanas. Nesse contexto, a perseguição pode tomar vários rumos, desde incitamento ao ódio até ações mais violentas como torturas e espancamentos.

NOGUEIRA, Sidnei. Intolerância religiosa. São Paulo: Sueli Carneiro: Pólen, 2020. p. 21. Disponível em: https://files.cercomp.ufg.br/weby/ up/1154/o/Intolerancia_Religiosa_Feminismos_Plurais_Sidnei_Nogueira.pdf?1599239392. Acesso em: 20 ago. 2024.

TEXTO 2

O livre exercício de cultos religiosos e a liberdade de crença são realidades protegidas pela nossa Constituição. No entanto, casos de desrespeito e ataques no Brasil têm sido cada vez mais frequentes. É o que afirmam os números do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania [...]

Religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, estão entre as cinco mais seguidas no Brasil, com mais de um milhão de adeptos. De acordo com o IBGE, os católicos praticantes são maioria: cerca de 123 milhões de fiéis. Em seguida estão os evangélicos, com 113 milhões. O registro de denúncias sobre intolerância religiosa feitas ao Disque 100, um serviço do governo, cresceu – sobretudo após 2021, um ano depois do início da pandemia da Covid-19. Também aumentaram as violações – que são os diversos tipos de violência relatados.

Em 2018, foram registradas 615 denúncias de intolerância religiosa no Brasil. O número saltou para 1.418 em 2023, um aumento de 140,3%. Já o número de violações passou, no mesmo período, de 624 para 2.124, um salto de 240,3%. Entre 2022 e 2023, o aumento das denúncias foi de 64,5% e, o de violações, de 80,7%.

[...]

“Esses dados são alarmantes. Cada vez mais a população tem compreendido que cenários, situação onde há violência, agressão em razão da religiosidade da pessoa se trata, sim, de uma violação de direitos humanos”, destaca o secretário nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos [...]

BRASIL tem aumento de denúncias de intolerância religiosa; veja avanços e desafios no combate ao crime. G1, 21 jan. 2024. Disponível em: https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2024/01/21/brasil-tem-aumento-de-denuncias-de-intolerancia -religiosa-veja-avancos-e-desafios-no-combate-ao-crime.ghtml. Acesso em: 5 out. 2024.

Junte-se a dois colegas para conversar sobre a intolerância religiosa com base nos estudos de conflitos sociais. Depois, reflitam sobre as questões a seguir.

• Há diversidade religiosa na escola em que vocês estudam?

• As celebrações de diferentes religiões são incentivadas e respeitadas?

• Que ações podem ser tomadas para que a escola seja um lugar seguro, onde as pessoas possam manifestar suas crenças?

ESCREVA NO

em AÇÃO

Consulte as orientações no Manual do professor.

Debate sobre formas de justiça e resolução de conflitos

Você e os colegas vão realizar um debate guiado pelo professor. Para isso, leiam as instruções a seguir.

PASSO

1

• Por meio de uma votação, escolham o tema do debate entre as seguintes possibilidades.

a) Como combater a violência e a agressão física entre estudantes?

b) Qual é a melhor forma de inibir as situações de bullying na escola?

c) Como garantir que todos os estudantes respeitem as regras de convivência da escola?

d) Como prevenir ações discriminatórias contra estudantes na escola?

PASSO

2

• Depois que o tema for escolhido, elaborem duas propostas de solução:

a) uma delas deve envolver alguma forma de punição;

b) a outra deve mobilizar formas de mediação de conflitos.

Para construir as propostas, pesquisem informações sobre maneiras diversas de lidar com conflitos em sociedades distintas. Anote suas propostas em uma folha avulsa e leve-a na data combinada com o professor.

Dica

Escolham fontes de pesquisa confiáveis, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco); o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep); a Fundação Carlos Chagas; livros e/ou artigos acadêmicos; a legislação brasileira e reportagens difundidas pela imprensa.

• Junte-se a um dos três grupos organizados pelo professor. Os temas são os seguintes:

Grupo A: defesa da resolução do problema por meio de punições.

Grupo B: defesa da resolução do problema por meio da mediação de conflitos.

Grupo C: análise da qualidade das evidências apresentadas e das argumentações utilizadas pelos grupos A e B. O professor fará parte desse grupo.

PASSO

4

• Escolha, com seu grupo, um representante para conduzir o debate.

O representante deve controlar o tempo de fala de cada integrante do grupo, garantir a sucessão das falas e solicitar o momento da troca de ideias.

Regras do debate

a) O tempo de fala de cada debatedor, por turno, será de 3 minutos.

b) Cada grupo pode apresentar até seis argumentos e contra-argumentos.

c) Não é necessário que todos os integrantes de um grupo tomem a palavra, mas os que decidirem fazê-lo só poderão se manifestar como orador uma vez. O próximo argumento ou contra-argumento deve ser apresentado por outro integrante do grupo.

d) Os integrantes do Grupo A e os do Grupo B terão dois momentos – de cinco minutos cada – em que vão consultar os demais colegas do grupo para melhorar a sustentação de seus argumentos e contra-argumentos. Esses serão os momentos de troca de ideias e de informações, com base nas pesquisas realizadas. Esses momentos devem ser informados verbalmente ao Grupo C .

e) As trocas de ideias vão acontecer antes do início do debate e podem ocorrer no meio do debate (5 minutos para cada). Quando desejar, levante a mão e peça permissão para o Grupo C , que vai controlar o tempo e o silêncio.

f) Os integrantes do Grupo C devem controlar o tempo gasto pelos grupos A e B, tanto na argumentação e na contra-argumentação quanto na troca de ideias, garantindo que o restante da turma fique em silêncio para que todos ouçam os colegas que estão com a palavra.

PASSO

5

• No f im da apresentação dos argumentos e dos contra-argumentos, os integrantes do Grupo C devem votar na melhor proposta de solução. Para isso, devem utilizar os argumentos apresentados como critério.

PASSO

6

• Para encerrar o debate, o grupo C deve apurar os votos e revelar o veredito. O representante desse grupo deve explicar a toda a turma a razão da vitória do argumento eleito.

Aproveitem para retomar a pergunta norteadora desta etapa: Como os conflitos acontecem?

3

Cultura de paz

Consulte as orientações no

■ Caminhada realizada por estudantes, famílias e professores a favor da cultura de paz nas escolas. São Paulo (SP). Fotografia de 2023.

Para conviver em sociedade de modo respeitoso e responsável, é importante estar atento a uma série de princípios. Alguns desses princípios são: a capacidade de ouvir com empatia; lidar com diversos pontos de vista sem julgamento preconceituoso ou tendencioso; compreender diferenças e diversidades em variadas esferas e assim desenvolver maior tolerância com o outro; observar o que ocorre em seu entorno de modo crítico; construir juízos de valor de modo racional e honesto; avaliar as próprias atitudes; e cooperar para melhorar o bem-estar e a qualidade de vida de todos.

A construção da paz

Os princípios necessários para viver em sociedade contribuem para a existência da cultura de paz, que é uma forma de criar um ambiente pacífico e aberto a conversas e negociações com argumentos firmes, mas sobretudo não violentos. A cultura da paz pode ser cultivada em diferentes espaços e escalas da vida social, nas relações interpessoais, na comunidade onde vivemos e na escola, por exemplo, mas também nas relações entre países ou entre grupos sociais numerosos, como comunidades de diferentes religiões e etnias. Nos âmbitos local, regional e global, conceitos como liberdade, justiça, democracia, igualdade e solidariedade são fundamentais para o estabelecimento da cultura de paz.

DANILO VERPA/FOLHAPRESS

Mais de 50 anos após a promulgação da Declaração dos Direitos Humanos, a ONU lançou a Declaração e Programa de Ação para a Cultura de Paz, mantendo o compromisso com a instauração da paz e propondo princípios e meios de ação para o combate à violência. Leia, a seguir, alguns trechos desse documento.

Artigo 1o

Uma Cultura de Paz é um conjunto de valores, atitudes, tradições, comportamentos e estilos de vida baseados:

a) No respeito à vida, no fim da violência e na promoção e prática da não violência por meio da educação, do diálogo e da cooperação;

[...]

c) No pleno respeito e na promoção de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais; d) No compromisso com a solução pacífica dos conflitos;

[...]

ONU. 53/243: Declaração e Programa de Ação sobre uma Cultura de Paz. Disponível em: https://www.comitepaz.org.br/download/Declara%C3%A7%C3%A3o%20e%20Programa%20de%20A%C3%A7% C3%A3o%20sobre%20uma%20Cultura%20de%20Paz%20-%20ONU.pdf. Acesso em: 20 ago. 2024.

Segundo a ONU, a cultura de paz está diretamente relacionada à educação, à interação respeitosa e ao diálogo entre as pessoas.

Construir uma Cultura de Paz é promover as transformações necessárias e indispensáveis para que a paz seja o princípio governante de todas as relações humanas e sociais. [...] Promover a Cultura de Paz significa e pressupõe trabalhar de forma integrada em prol das grandes mudanças ansiadas pela maioria da humanidade – justiça social, igualdade entre os sexos, eliminação do racismo, tolerância religiosa, respeito às minorias, educação universal, equilíbrio ecológico e liberdade política. A Cultura de Paz é o elo que interliga e abrange todos esses ideais num único processo.

MILANI, Feizi M. Cultura de paz × violências: papel e desafios da escola. In: MILANI, Feizi M.; JESUS, Rita de C. D. P. de. (org.). Cultura de paz: estratégias, mapas e bússolas. Salvador: Inpaz, 2003. p. 31. Portanto, a cultura de paz abrange um grande conjunto de ideais que possibilita a convivência pacífica. Em contextos de desigualdade, desrespeito às diferenças, intolerância, exclusão e preconceito, os conflitos tendem a se proliferar e a encontrar soluções violentas. Por isso, o respeito aos direitos humanos, a existência de direitos civis e a efetivação de direitos sociais amplos são formas de apaziguar os conflitos sociais e de construir ambientes propícios para a resolução não violenta de eventuais embates.

Ética e justiça

No dia a dia, diante de certas situações, podemos nos perguntar se estamos sendo justos, não é mesmo? Como sabemos, existem muitas concepções de justiça, que dependem da cultura ou da época em que vivemos. Além disso, vimos que o que é justo para nós pode não ser, necessariamente, justo para as outras pessoas. John Rawls (1921-2002) foi um filósofo estadunidense que se preocupou com a compreensão dos princípios fundamentais da justiça. Para ele, por exemplo, é possível encontrar justiça apenas por meio da prática do consenso.

Ser justo, portanto, é garantir a equidade e a prática da tolerância, isto é, repartir benefícios proporcionalmente e considerar a existência de pluralismos nas formas de viver e nos desejos pessoais. Faz parte da ética superar os conflitos de interesses inerentes ao ser humano e à sociedade, bem como dimensionar os comportamentos pessoais e coletivos com possibilidades justas para todos. Assim, o princípio da justiça estabelece como condição fundamental a obrigação ética de tratar cada indivíduo conforme o que é moralmente correto e adequado, isto é, de dar a cada um o que lhe é devido.

Ética é o conceito que fundamenta as pessoas a agir por convicção e inteligência. Para ser ético, é preciso aprender a ser cidadão: é agir com respeito, honestidade, responsabilidade, lealdade, solidariedade, justiça e não violência. Discutir a ética é, também, discutir a justiça. Nesse sentido, ser ético é ser justo.

Mecanismos de promoção da paz

A promoção da paz não é tarefa simples, afinal envolve mediar conflitos, garantindo justiça para todos. Desde a Carta da ONU (Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada em 1948), ficou explícita a necessidade de que, no plano mundial, existam árbitros imparciais para monitorar a segurança internacional e garantir o cumprimento dos direitos humanos. Esse monitoramento, a ajuda humanitária para vítimas de conflitos – com o fornecimento de alimentos e itens de primeira necessidade – e a mediação desses conflitos são de responsabilidade da ONU.

A ONU conta com um Conselho de Segurança responsável por impor sanções ou recomendar, como último recurso, intervenções militares em países que, segundo o órgão, violam internacionalmente leis, acordos ou princípios. O Conselho de Segurança autoriza operações de paz e de segurança internacional, realizadas por equipes militares dos Estados-membros, com o intuito de restabelecer ou reconstruir a paz. Além disso, pode propor a mediação dos debates entre as partes e julgar um crime de agressão, possibilitando que o Tribunal Penal Internacional processe e, eventualmente, condene as pessoas envolvidas.

Justiça restaurativa

Desde o fim da década de 1990, a ONU, por meio do Conselho Social e Econômico (Ecosoc), passou a recomendar a adoção da justiça restaurativa aos Estados-membros. Entende-se que a justiça restaurativa oferece um caminho alternativo para a promoção da justiça, possibilitando que os ofensores se responsabilizem por suas ações e tenham oportunidade de se reabilitar. Possibilita, também, que as vítimas participem de forma segura da resolução da situação.

A justiça restaurativa é uma técnica de solução de conflitos que substitui os processos civis e penais. No que concerne a um resultado restaurativo:

[…] é frequente a distinção entre formas materiais (por exemplo, indenização financeira) e formas simbólicas de reparação. Uma forma simbólica de reparação pode incluir a verificação dos acontecimentos, pedidos de desculpas e desculpas oficiais, reconhecimento público do dano causado, satisfação com as medidas preventivas tomadas, cerimônia de celebração, garantias de não repetição e serviço voluntário à comunidade ou organização da sociedade civil. […] Em alguns casos, o processo pode levar até mesmo à conciliação entre as pessoas participantes.

ONU. Justiça restaurativa e processo penal. Disponível em: https://www.unodc.org/documents/justice-and-prison -reform/Portugues_Handbook_on_Restorative_Justice_Programmes_-_Final.pdf. Acesso em: 20 ago. 2024. No Brasil, a justiça restaurativa é adotada institucionalmente pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), instância pública que visa aperfeiçoar o trabalho do poder judiciário. Ela acontece por meio de um processo colaborativo em que as partes, agressor e vítima, afetadas mais diretamente por um crime determinam a melhor forma de reparar o dano causado pela transgressão. Assim, na aplicação de justiça restaurativa, está presente a ideia de “deixar em melhor estado” a situação em que os envolvidos se encontram.

Para que essa forma de justiça ocorra, é necessário haver diálogo entre as partes, o qual deve ser conduzido por um mediador ou pelo juiz. Cidadãos comuns podem ser mediadores desde que se inscrevam e façam um curso oferecido gratuitamente.

■ A mediação de conflitos incentiva, por meio do diálogo entre ofensor e ofendido, a conciliação, assim como na justiça restaurativa. No ambiente escolar, o diálogo deve prevalecer e, sempre que possível, envolver a comunidade escolar.

Na mediação de conflitos realizada por meio da justiça restaurativa, não é possível estabelecer, de antemão, uma conclusão ou mesmo o término do processo. A evolução dele se dá de acordo com a criatividade e a sensibilidade dos protagonistas, que podem adotar iniciativas diversificadas caso a caso, com base na escuta dos ofensores e das vítimas. Dessa forma, o crime passa a ser concebido como um evento causador de prejuízos e consequências, e não mais como uma violação contra o Estado. Acredita-se que valores como vingança e punição podem ser substituídos por respeito, participação, humildade e responsabilidade.

ATIVIDADES

1. Leia o texto a seguir.

Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: [...]

IX – promover medidas de conscientização, de prevenção e de combate a todos os tipos de violência, especialmente a intimidação sistemática (bullying), no âmbito das escolas;

X – estabelecer ações destinadas a promover a cultura de paz nas escolas.

BRASIL. Lei no 13.663, de 14 de maio de 2018. Altera o art. 12 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996 [...]. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, ano 155, n. 92, p. 1, 15 maio 2018. Disponível em: https:// www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2018/lei-13663-14-maio-2018-786678publicacaooriginal-155555-pl.html. Acesso em: 20 ago. 2024.

• Elabore soluções coletivas que a escola em que você estuda poderia oferecer para garantir um espaço justo para todos.

■ Dado de cultura de paz instalado em escola de Londrina (PR), 2022. Nas faces do dado, leem-se: “redescobrir a solidariedade” e “rejeitar a violência”.

2. Com base em jogos teatrais, você e os colegas vão simular situações em que os conflitos contidos nas propostas A e B são resolvidos coletivamente. Para isso, reunidos em grupos (de quatro a cinco integrantes), leiam as propostas a seguir.

Proposta A

Personagens: Pai e/ou mãe, coordenação da escola, estudante e professor.

Situação: Os pais de um estudante foram chamados a comparecer na escola. A razão foi a suspeita de que o filho deles furtou um objeto da bolsa de um professor. A coordenação da escola pretende comunicar aos familiares a suspensão do estudante.

Conflito: Os pais acreditam que o filho deles não praticou o furto; a coordenação da escola confia na suspeita relatada pelo professor.

Conflitantes: Pai e/ou mãe × coordenação da escola.

Proposta

B

Personagens: E studante 1, estudante 2, direção da escola e um professor.

Situação: O estudante 1 torna-se amigo do estudante 2, que é novo na escola. O estudante 2 é estrangeiro e refugiado, usa cadeira de rodas e tem dificuldade para se integrar. A escola não está preparada para receber estudantes com deficiência. A direção da escola decide comunicar que o estudante 2 terá de deixar de frequentar a instituição.

Conflito: O estudante 1 não acha justo que o estudante 2 deixe a escola. A direção da escola prefere que o estudante 2 frequente outra instituição de ensino.

• Depois das encenações, avaliem, com a turma, as possibilidades de usar os princípios da justiça restaurativa.

NÃO ESCREVA NO LIVRO. Consulte as orientações no Manual do professor

em AÇÃO

Consulte as orientações no Manual do professor

Mediação de conflitos na escola

Você e os colegas vão estruturar os princípios e objetivos da comissão de mediação de conflitos que será implementada na escola. Para isso, leiam as instruções a seguir.

• Dividam-se em grupos e realizem uma pesquisa de base documental sobre conflitos solucionados ao redor do mundo. Para isso, busquem informações em acervos digitais publicados a partir de 1993, incluindo documentos do Conselho de Segurança. É possível coletar dados em publicações, cartas e notas verbais, relatórios, resoluções e decisões, dados de votação, registros de reuniões, discursos, tratados e acordos, comunicados de imprensa, entre outros.

• Você ainda pode procurar por outras organizações que também possuam documentos de acesso público com acervos a respeito do assunto, investigando na internet.

1 Pesquisa documental
PASSO
BOBVECTOR/SHUTTERSTOCK.COM

PASSO

2 Análise de documentos

• Analisem os documentos encontrados (textos ou imagens), fazendo uma ficha-resumo e descrevendo características elementares: quem os produziu, para qual finalidade, palavras-chave etc. Também pode aprofundar abordando a forma discursiva presente nesses documentos: para quem eles foram produzidos? Qual o tipo de linguagem utilizada?

• Há críticas veladas nesse discurso?

• Quais foram as estratégias (acordos, tratados, mediação, ajuda humanitáia etc) utilizadas?

• Quais são os atores envolvidos (países, Conselho de Segurança da ONU, Tribunal de Haia etc)?

• Quanto tempo levou para a resolução do conflito?

• Finalmente, vocês devem produzir um relatório de sua pesquisa em que, além de descrever os objetivos e a metodologia utilizados, possa conter suas análises e sua conclusão a respeito do que foi pesquisado.

PASSO

3 Princípios e ações da comissão

• Para criarem os princípios e objetivos da comissão de resolução de conflito, reúnam os relatórios pesquisados e identifiquem aqueles que podem servir como base.

• Em uma folha avulsa, reproduzam o quadro a seguir e preencham-no com as propostas de vocês.

• Na coluna dos princípios, insiram os valores morais que justificam a existência da comissão, bem como os sonhos de vocês com relação à criação dela.

• Na coluna dos objetivos, insiram duas ações que podem ser alcançadas, de acordo com cada princípio.

Princípios (valores morais)

Objetivos (ações)

Aproveitem para retomar a pergunta norteadora desta etapa: Como promover a paz?

Comissão de resolução de conflitos na escola

Consulte as orientações no Manual do professor.

Depois de um longo processo de aprendizado e reflexão realizado ao longo das etapas deste projeto, chegou o momento de pôr a mão na massa. Para implementar a cultura da paz na comunidade escolar, vocês vão instaurar uma comissão de resolução de conflitos

Definição do formato e do funcionamento da comissão

Coletivamente e com a mediação do professor, elaborem os objetivos e os princípios norteadores da comissão, delimitando os papéis dos integrantes e as possibilidades de ação. É importante, nessa tarefa, promover os direitos humanos e os valores democráticos.

Elencar os objetivos e os princípios norteadores da comissão

Para definir os princípios e os objetivos da comissão, retome as reflexões realizadas no fim da Etapa 3, complementando-as, caso seja necessário.

Definir a composição da comissão e as atividades que serão realizadas

Para definir quem fará parte da comissão e as responsabilidades de cada integrante, faça uma lista com todas as atividades relacionadas ao funcionamento da comissão:

• atividades administrativas, como escrever documentos, organizar eleições e elaborar e realizar ações de comunicação;

• atividades pedagógicas, como realizar ciclos formativos e produzir material educativo;

• atividades técnicas, como atuar em mediações e encaminhar casos para outras instâncias.

Depois de definir as atividades que vão ser realizadas, é possível estimar a quantidade de integrantes necessária para o bom funcionamento da comissão, além de determinar se será necessário estabelecer requisitos mínimos para a participação, como a idade ou o ciclo de estudo.

Para estabelecer a quantidade de colaboradores, considere a possibilidade de implementar a rotatividade de algumas funções – sobretudo dos mediadores de conflitos –, com o intuito de acomodar os desejos e as necessidades de cada estudante envolvido. Vale definir, também, a duração da atuação no cargo.

Construir o formato das sessões de mediação de conflitos

Definam o local, a duração dos encontros e a frequência de sessões com os envolvidos em um conflito. É preciso definir, também, as regras de conduta tanto das partes envolvidas no conflito como dos mediadores.

Essas regras devem prever a suspensão da sessão em caso de eventualidades, como atos violentos – físicos ou verbais –, e a redação de um termo de compromisso entre as partes para expressar o acordo firmado. Quanto às técnicas utilizadas, é fundamental valorizar a CNV e a justiça restaurativa.

Definir o modelo de governança da comissão

É preciso definir como vai ser a relação entre a comissão e a direção da escola e prever como serão feitos os encaminhamentos das mediações e em quais situações será necessária a intervenção da gestão escolar.

Para isso, é importante refletir sobre a maneira como as decisões serão tomadas: a direção da escola terá função deliberativa (exclusiva) ou consultiva (em que a gestão escolar deve consultar a comissão para a tomada de decisões)? Algumas perguntas norteadoras podem ajudar:

1. Em quais situações de conflito a comissão e a direção serão acionadas?

2. Nos casos em que não for possível chegar a um acordo, serão aplicadas medidas definidas pelas regras da escola?

3. Em casos graves, em que haja violação de direitos humanos, a comissão pode insistir no emprego da justiça restaurativa diante da decisão da gestão escolar?

Depois de definir o modelo ideal, é preciso conversar com a gestão escolar para acordar as responsabilidades de todos os envolvidos.

Criação do plano de convivência

Redigir um documento que contenha o formato e o funcionamento da comissão, seguindo as propostas deste passo. O documento precisa ter linguagem objetiva e direta e reforçar as atitudes esperadas de toda a comunidade escolar, com base nos princípios e nos objetivos da comissão. Esse documento deve ser divulgado para toda a comunidade escolar, bem como ser validado pela gestão da escola.

Implementação da comissão

A escolha dos integrantes da comissão pode ser feita por meio de eleições diretas. Para isso, organizem uma convocação aberta aos interessados e marquem a data do pleito. É importante garantir a participação de estudantes e funcionários da escola, sem distinção de idade ou ciclo, desde que escolhidos democraticamente.

A organização da eleição envolve ações prévias e posteriores ao pleito, como a divulgação do evento, a organização das inscrições e a definição dos mecanismos que serão empregados para a coleta dos votos, a apuração e a divulgação do resultado.

Formação dos integrantes da comissão

Uma vez definidos os integrantes da comissão, convém que se reúnam para esclarecer as funções de cada um, sendo necessária a participação em ciclos formativos de CNV e de justiça restaurativa, para propiciar o desenvolvimento de formas de acolhimento e de atuação em conflitos, sobretudo com relação aos mediadores. As estratégias empregadas na atividade final da Etapa 2 vão funcionar como um exercício de construção de argumentos. Portanto, os estudantes que participaram deste Projeto Integrador devem ter função ativa nessa atividade.

Reunião de partida

Depois que a comissão estiver formada, é preciso elaborar os demais documentos que regem suas atividades. Plano de convivência, manual para mediar conflitos, termos de acordos, modelos de atas e listas de presença são alguns exemplos. O momento seguinte será para definir a agenda do início dos atendimentos.

Divulgação das ações da comissão

1. O que divulgar?

Algumas ações realizadas pela comissão podem ser amplamente divulgadas para a comunidade escolar, como inscrições para eleições e, sobretudo, o início da atuação. O Plano de Convivência e os princípios e objetivos da comissão são alguns dos documentos que também podem ser divulgados; outros documentos podem ser elaborados, como o organograma. Pode-se, ainda, criar um canal de denúncia anônima de bullying.

2. Materiais comunicacionais

Definam se a comissão terá uma identidade visual e se serão formulados convites para eventos de divulgação, panfletos, cartilhas, boletins Informativos periódicos, entre outros materiais. Definam também se esses materiais serão analógicos ou digitais e como pretendem criá-los e difundi-los.

Aproveitem para retomar a pergunta norteadora do projeto: Como promover a cultura de paz?

AUTOAVALIAÇÃO

Para finalizar este Projeto Integrador, é importante realizar uma avaliação de sua participação tanto individual quanto coletiva. Para isso, em uma folha de papel sulfite, faça o que se pede.

1. Sobre seu envolvimento neste Projeto Integrador, responda às questões a seguir.

a) Houve participação em todas as atividades propostas? Argumente.

b) Em qual etapa houve mais dedicação? E em qual houve menos? Justifique.

c) Atribua uma nota de zero a dez para sua participação e para a participação da turma neste projeto. Argumente sobre essas notas.

d) Em relação a suas ações, em quais aspectos você acredita que pode melhorar na realização do próximo projeto? E em quais aspectos a turma pode melhorar?

e) Com um colega, comparem as respostas às questões anteriores, verificando com quais itens da avaliação vocês concordam e de quais discordam.

f) Escreva, de modo sucinto, quais foram suas dificuldades e quais aprendizagens você desenvolveu no decorrer deste projeto.

2. Em relação ao assunto deste Projeto Integrador, você:

a) compreendeu os conceitos de justiça e democracia na sociedade ocidental atual e a importância dos direitos humanos como base para esses princípios?

b) colaborou com a construção de uma sociedade justa, reconhecendo a diversidade de posicionamentos como inerente à vida em sociedade?

c) compreendeu que a produção do espaço escolar é coletiva, exercendo protagonismo na construção de uma cultura de paz?

d) produziu um material informativo no qual tenham sido sintetizadas as compreensões acerca dos direitos humanos e da promoção da cultura de paz?

e) formou uma comissão, organizada pelos estudantes, pautada nos valores democráticos e no respeito à diversidade, com o objetivo de reconhecer possíveis ações necessárias para a mediação de conflitos no dia a dia da escola?

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

5

QUAIS SÃO AS FUNÇÕES DE UM MEME?

Dificilmente alguém que tem acesso à internet não conhece os memes. Hoje, é comum que as pessoas compartilhem e recebam memes de amigos e que sigam páginas de memes sobre algum assunto específico (futebol, dança, música etc.). Os memes, contudo, também são usados em propagandas ou em sites de notícias. No mundo virtual, a sensação é a de que eles fazem parte de quase todos os espaços e assuntos. Em geral, associados ao humor, os memes também tratam de problemas do cotidiano, além de serem um meio de divulgar informações, de apresentar críticas políticas e de promover debates. Afinal, o que significa e de onde surgiu o termo meme? Ao longo deste Projeto Integrador, você vai refletir sobre as funções de um meme e também criar conteúdos.

1. Em sua opinião, quais funções os memes podem ter?

2. Por que os memes são tão populares?

1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes mobilizem seus conhecimentos a respeito do tema para descrever exemplos de outras possibilidades existentes na produção e na circulação de memes. Provavelmente, eles mencionarão o entretenimento, por ser uma linguagem comum da internet e das redes sociais. Destaque também que os memes fazem parte de publicidades e até mesmo de sites de notícias.

2. É possível que os estudantes respondam que os memes são populares porque são uma linguagem das redes sociais e por sua facilidade de divulgação.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

■ Pintura da artista Lauren Kaelin, inspirada no meme grumpy cat (“gato mal-humorado”, em tradução livre). Esse trabalho integra a série intitulada Benjamemes, junção das palavras memes e Benjamin, em alusão ao teórico de arte Walter Benjamin (1892-1940).

LAUREN KAELIN

FICHA DE ESTUDO

Objetivos

• Conhecer a trajetória histórica dos memes.

• Analisar o conceito de meme, bem como suas características fundamentais.

• Notar a função estética e política dos conteúdos de internet hoje e compreender os memes como formas narrativas contemporâneas.

Produzir memes de forma crítica, tendo como base a realidade vivenciada.

Publicar informações relevantes sobre cidadania e direitos humanos explorando as características do gênero textual meme.

Justificativa do projeto

As informações que circulam na internet muitas vezes são vistas como fontes confiáveis, que podem fundamentar discussões ou, ao contrário, como conjunto de conteúdos menores, pouco importantes na cultura, sem relevância estética ou política. Este Projeto Integrador propõe uma reflexão sobre as informações que circulam no mundo virtual e sobre as práticas culturais contemporâneas relacionadas às redes sociais e aos sites , considerando as linguagens usadas nesses espaços, mobilizando os conhecimentos de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e de Linguagens e suas Tecnologias.

A internet – como espaço de crítica, disputa e criação – não é apenas um palco diante do qual seríamos meros espectadores, mas um espaço aberto, cuja dinâmica permite que sejamos, além de espectadores, agentes de discussões e produtores de conteúdos e de intervenções artísticas.

TCT

• Direitos da criança e do adolescente

• Saúde

• Vida familiar e social

• Trabalho

• Ciência e tecnologia

ODS

4 Educação de qualidade

8 Trabalho decente e crescimento econômico

16 Paz, justiça e instituições eficazes

Materiais

• Caderno

• Caixas de papelão

• Cartolina ou papel-cartão

• Dispositivo com acesso à internet e software de edição de texto, planilha e imagem

• Dispositivo para impressão

• folhas de papel sulfite

• Lápis preto e de cor, borracha e caneta hidrocor

Produto final

Exposição de memes.

Percurso do projeto

Nesta etapa, vocês vão analisar o processo de gênese e de transformação dos memes, ressaltando semelhanças e diferenças entre o conceito original, da Biologia, e a migração e a apropriação de categoria meme para o âmbito da internet. Vão refletir sobre a relação entre meme e arte e produzir um meme com base em uma obra de arte.

1 ETAPA 2 ETAPA

Nesta etapa, vocês vão refletir sobre as relações entre memes e política, situando essa conexão na esfera da comunicação política de cidadãos de movimentos sociais em diferentes períodos da história, com base em análise de casos concretos, como o Maio de 68, a Primavera Árabe e o Occupy Wall Street. Serão realizadas pesquisas sobre temas como educação, saúde e trabalho para a produção de memes com tema político.

ETAPA

3

Nesta etapa, vocês vão relacionar a produção e a circulação de memes às fake news, refletindo sobre as questões éticas que permeiam os usos contemporâneos da internet. Vão refletir a respeito das novas profissões e das mudanças no mundo do trabalho proporcionadas pelo avanço das tecnologias da informação.

Vocês vão organizar uma exposição sobre os temas discutidos e os memes elaborados nas etapas anteriores, promovendo uma reflexão sobre o significado dos memes, seu uso como forma de protesto político e a importância de garantir o direito universal à educação, à saúde e ao trabalho digno.

1

Memes: da Biologia à cultura digital

Como

surgiram os memes?

Consulte as orientações no Manual do professor

Argentinos replicam o “meme do homem-aranha” em evento que reuniu mais de mil pessoas com fantasias do super-herói em Buenos Aires, Argentina, 2023.

Meme biológico e meme de internet

O termo meme foi inventado bem antes da internet. O primeiro a utilizar essa palavra foi o biólogo britânico, nascido no Quênia, Richard Dawkins (1941-), em seu livro O gene egoísta, publicado em 1976. Para Dawkins, os animais e as pessoas morrem, mas, caso tenham gerado descendentes, seus genes continuam vivos, pois são transmitidos para as próximas gerações. Assim, os genes de determinada família podem durar séculos. Ou, ao contrário, os genes de uma família inteira que morre em um desastre, por exemplo, podem desaparecer, uma vez que não resta ninguém para perpetuá-los.

Mas o que a genética tem a ver com os memes? Para Dawkins, meme é o correlato do “gene” no campo da cultura. Da mesma maneira que uma pessoa pode ter um tipo de cabelo igual ao da própria avó, em razão dos genes que foram transmitidos de geração em geração, um indivíduo também pode ter algum tipo de prática ou de ideia que seus antepassados tinham. Assim como os genes, os memes também se repetem, se multiplicam e se perpetuam, atravessando gerações. Aliás, Dawkins propôs o termo meme com base na palavra grega mimema (imitação), alterando sua forma em inglês (mimeme) para que soasse parecido com “gene”.

■ Richard Dawkins em conferência sobre o livro O gene egoísta, no Festival de Literatura de Jaipur, Índia, 2024.

Dessa forma, de maneira similar à Genética – a área da Biologia que estuda os genes e a transmissão de características entre gerações – a Memética seria um ramo dedicado a estudar os memes e a continuidade intergeracional de alguns comportamentos, de acordo com as ideias de Dawkins. Porém, diferentemente da Genética, área de grande relevância científica, a Memética não se firmou como um campo de pesquisas consistente e relevante.

O meme, portanto, pode ser uma ideia, um comportamento, uma palavra, uma crença ou uma prática que se perpetua. Essa explicação, no entanto, não é suficiente para entendermos os memes na internet, já que foi elaborada nos anos 1970, antes da invenção da internet. O que são os memes no espaço virtual?

Os memes de internet têm uma história que antecede o advento das redes sociais atuais. De acordo com o pesquisador brasileiro Viktor Chagas (1980-), a relação entre memes e internet se iniciou na década de 1990, em fóruns de discussão on-line. O maior responsável pela disseminação do termo meme em um contexto relacionado à internet foi o escritor estadunidense Mike Godwin (1956-), que o utilizou em um artigo de revista em 1994 para se referir ao comportamento de usuários de fóruns na rede mundial de computadores.

O “meme do nazismo”, como descreveu Mike Godwin, dizia respeito a um padrão no qual muitos debates on-line, mesmo aqueles que não tinham relação com política, chegavam a um ponto em que uma das partes da discussão comparava a outra a Adolf Hitler (1889-1945) ou a alguma outra figura ou característica do nazismo. Ainda que tenha sido a primeira aplicação do termo meme para se referir a conteúdos e comportamentos on-line, o meme descrito por Mike Godwin ainda é bastante diferente do que imaginamos quando pensamos nos memes que vemos e compartilhamos no dia a dia como usuários de redes sociais.

Características dos memes de internet

Antes de estudar as características dos memes, é preciso conhecer um pouco mais o meio nos quais eles circulam: a internet. Desde as primeiras conexões entre computadores, o ambiente virtual sofreu diversas modificações.

Nos anos 2000, comunicadores e pesquisadores do tema marcaram o surgimento da web 2.0, em contraposição à web 1.0 – que era centralizada por grandes sites e provedores de internet, resultando em baixa interatividade entre usuários. Já a web 2.0 é caracterizada pelo aparecimento das mídias sociais e pela maior interação entre as pessoas que acessam a rede. Essa mudança leva à primeira característica fundamental dos memes: o fato de serem compartilháveis. Utilizando as ferramentas da web 2.0 e as diferentes redes sociais, usuários recebem e repassam grandes volumes de memes diariamente.

De acordo com o pesquisador brasileiro Sergio Kobayashi, o termo meme começou a ser utilizado de forma corrente na internet no início da década de 2010. Um dos principais responsáveis pela popularização do termo foi a personagem Trollface, originalmente integrante de uma tirinha, que passou a ser replicada em diferentes contextos em redes sociais e fóruns on-line.

■ A personagem Trollface, que integrava originalmente uma tirinha de humor, representa a figura do troll da internet, um sujeito cuja diversão é desestabilizar, irritar e ofender outros usuários.

Ainda que exista um grande fluxo de memes, não é qualquer conteúdo que pode se tornar um meme bem-sucedido. Para criar um meme, é necessário filtrar e selecionar conteúdos que têm maior alcance nas redes on-line. Nesse processo, o efeito de humor é um atributo essencial para que um conteúdo seja selecionado entre milhões de possibilidades, passe a ser progressivamente compartilhado e se torne um meme amplamente conhecido.

Viral: nesse contexto, que é ampla e rapidamente compartilhado.

Outra característica dos memes é o fato de que eles podem ser modificados pelos internautas ao passo que são compartilhados. Para a pesquisadora israelense Limor Shifman, é isso que define os memes: além de constituírem um conteúdo viral, eles podem ser modificados pelos usuários da internet. Assim, uma das peculiaridades dessa forma de se comunicar é sua construção coletiva, sendo difícil, ou mesmo impossível, apontar o autor de um meme.

Quando eu lembro que é segunda--feira e tenho que trabalhar

■ MUNCH, Edvard. O grito. 1893. Têmpera sobre painel, 83 cm × 66 cm. Museu Munch, Oslo, Noruega. Essa obra é amplamente utilizada para a produção de memes.

2. Um dos principais atributos dos memes é a modificação, portanto, ainda que um conteúdo seja muito compartilhado, não pode ser considerado meme se este permanece idêntico ao original.

ATIVIDADES

Consulte as orientações no Manual do professor

1. Segundo o conceito de meme proposto pelo cientista Richard Dawkins, qual prática cultural poderia ser considerada um meme na sociedade em que estamos inseridos?

1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes citem práticas culturais que se reproduzem entre gerações, como religiões, festas e esportes.

2. Imagine uma capa de revista sendo muito compartilhada na internet sem ser alterada por internautas. Em sua opinião, essa capa de revista, em razão do alto número de compartilhamentos, pode ser considerada um meme? Explique sua resposta.

3. Podemos dizer que um meme é obra de um único criador? Justifique sua resposta.

3. Os memes são obras de autoria coletiva, geralmente usuários que modificam e compartilham esses recursos, de modo que dificilmente é possível atribuir a um único sujeito a autoria de um meme

MUSEU MUNCH, OSLO, NORUEGA

Memes e arte

Extraídas de seu contexto tradicional, as obras de arte não são apenas matérias-primas para usuários de internet, que as modificam para que façam parte das peças cômicas que circulam on-line, elas têm outras relações possíveis com os memes

O artista estadunidense Marcel Duchamp (1887-1968) é reconhecido por utilizar o senso de humor e quebrar padrões com suas criações. Entre elas, está a obra intitulada L.H.O.O.Q., de 1919, um cartão-postal que reproduz a pintura Mona Lisa, de Leonardo da Vinci (1452-1519). No cartão, Duchamp desenhou um bigode e um cavanhaque na famosa personagem da história da Arte.

■ DUCHAMP, Marcel. L .H.O.O.Q., 1919. Readymade, litografia, 30 cm x 23 cm. Museu Nacional de Arte Moderna, Centro Georges Pompidou, Paris, França.

Se, por um lado, a apropriação e a modificação de obras anteriores, que são procedimentos característicos dos memes, foram adotadas por diferentes artistas no século XX, por outro, criadores e intelectuais têm se questionado se o meme poderia ser considerado uma forma de arte. Há quem defenda, como a pesquisadora da Universidade de Harvard An Xiao Mina, que imagens criadas e compartilhadas para expressar sentimentos e experiências pessoais podem ser consideradas Arte. Outros argumentam que o simples fato de legendar uma imagem requer tão pouca criatividade, habilidade e imaginação que não deveria ser entendido como produção artística. Há ainda artistas como a pintora e ilustradora estadunidense Lauren Kaelin, autora da imagem reproduzida na abertura deste projeto, que se inspiram em memes para elaborar suas criações.

Memes como linguagem

Ao pensar em linguagem, é comum que a primeira ideia que venha à mente seja a da linguagem verbal, que pode ser oral ou escrita. Mas deve-se considerar a linguagem não verbal.

Ainda que o conceito de linguagem apresente diferentes definições, que variam de acordo com as visões e as teorias que refletem esse tema, é possível entendê-la como todo sistema de símbolos que os seres humanos utilizam para expressar suas experiências e conhecimentos. Assim, a pintura, a música, a matemática e a dança são exemplos de linguagens não verbais. Segundo a comunicóloga Natália Botelho Horta, memes também podem ser compreendidos como linguagem: eles não só apresentam textos verbais e não verbais como apresentam um sistema, isto é, regularidades que criam um conjunto de elementos articulados. Os principais atributos da linguagem dos memes são a repetição e a paródia. Como você estudou, o compartilhamento e a modificação cômica são características fundamentais dos memes. Além disso, como nas demais linguagens, os memes circulam por comunidades que partilham os mesmos símbolos, o que permite a comunicação entre os indivíduos.

■ Elementos verbais e não verbais dos memes constituem uma linguagem compartilhada por diferentes usuários da internet e das redes sociais.

Memes são usados para divulgar informações

Por sua velocidade de circulação e seu potencial de alcance, a linguagem dos memes tem sido utilizada para diferentes objetivos. Hoje, muitas empresas de publicidade empregam elementos dos memes em suas campanhas, com o intuito de alcançar maior número de potenciais consumidores. De maneira similar, campanhas de conscientização buscam aproximações com a linguagem dos memes para chamar a atenção da sociedade para temas importantes. Sobre o assunto, leia o artigo a seguir.

Campanha usa meme para levantar debate sobre educação

[…] Por mais simples que possam parecer, os memes conseguem facilmente se proliferar […] e é nesse ambiente que a Gesta (Galeria de Estudos e Avaliação de Iniciativas Públicas) decidiu criar sua nova campanha “Meme é Coisa Séria”. […]

CAMPANHA usa meme para levantar debate sobre educação. Porvir, 11 dez. 2018. Disponível em: https://porvir.org/campanha-usa-meme-para -levantar-debate-sobre-educacao/. Acesso em: 5 out. 2024.

Como veremos adiante, pela rapidez com que são produzidos e compartilhados e por seu caráter livre e anônimo, os memes também podem ser usados como veículo de desinformação. Portanto, é necessário ter cuidado ao utilizá-los como fonte de informação.

ATIVIDADES

Consulte as orientações no Manual do professor.

• Entreviste um familiar ou alguém da comunidade escolar para descobrir como essa pessoa busca e compartilha informações. Para isso, aplique o questionário a seguir e anote as respostas obtidas. Por fim, compare suas anotações com as dos colegas.

a) Você costuma ler jornais ou assistir a noticiários diariamente? Acessa a internet todos os dias?

b) Em qual meio de comunicação você busca informações como o dia da final de um campeonato de futebol, o resultado de eleições ou mesmo a repercussão de um desastre natural? Você já tomou conhecimento de uma dessas informações por meio de um meme?

c) Você compartilha notícias nas redes sociais? Se sim, o que você compartilha mais: links com matérias ou memes?

Respostas pessoais. As respostas têm como objetivo possibilitar que os estudantes reflitam sobre as formas de acesso à informação exercida pela comunidade e a função que o meme exerce nesse contexto.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
■ Meme criado para a campanha “Meme é Coisa Séria”.

em AÇÃO

Consulte as orientações no Manual do professor

A “arte” de fazer memes

■ Composição artística usando elementos de três famosas obras de arte. O grito, de Edvard Munch, Moça com brinco de pérolas, de Johannes Vermeer, e Monalisa, de Leonardo da Vinci.

Agora é sua vez de criar um meme com base em uma obra de arte. Para isso, siga os passos.

PASSO

• Faça uma pesquisa na internet sobre memes cuja base sejam obras de arte. Socialize suas descobertas com os colegas. 1

PASSO

• Para criar seu meme, reflita sobre o cotidiano escolar e pense em situações relacionadas a ele. Considere que:

a) de maneira geral, os memes se caracterizam pelo humor, mas, como vimos, assuntos relevantes também podem ser discutidos;

b) o conteúdo do meme jamais pode ser ofensivo.

PASSO

• Escolha uma obra de arte que possa compor seu meme, considerando que a imagem e o conteúdo escrito devem ter alguma relação.

PASSO

• Elabore o conteúdo escrito. Ele precisa ser sintético, de modo que as frases e os outros elementos não verbais fiquem visíveis. Lembre-se de que:

a) uma das características dos memes são as modificações, seja de memes anteriores, seja de outros conteúdos;

b) você pode modificar a imagem que vai servir de base para seu meme

PASSO

• U tilize um software livre para editar a imagem e inserir nela o conteúdo verbal.

• Compartilhe seu trabalho com a comunidade escolar. Se possível, divulguem os memes da turma nas redes sociais da escola. 2 3 5 4 6

Aproveitem para retomar a pergunta norteadora desta etapa: Como surgiram os memes?

PASSO

FILÓSOFOS

JOGANDO BASQUETE COM BOLAS INVISÍVEIS

■ Meme elaborado com base na obra de SANZIO, Rafael. Escola de Atenas, 1509-1510. Afresco, 500 cm × 770 cm, Palácio Apostólico do Vaticano, Cidade do Vaticano.

Memes políticos

Um meme pode ter função política?

Consulte as orientações no Manual do professor.

Vai ter meme de protesto, sim!

Lambe-lambe: cartazes de papel, geralmente produzidos à mão, colados em espaços públicos, como postes.

■ Memes com mensagens políticas têm se espalhado pelas redes desde a década de 2010.

Função política dos memes

Em um passado recente, os cidadãos que quisessem expressar suas opiniões políticas tinham de buscar alternativas nos meios de comunicação de massa, como a televisão, o rádio e a imprensa escrita, que dificilmente davam espaço de fala para pessoas comuns.

Uma dessas alternativas eram os cartazes políticos, fixados em algum suporte ou levados para o espaço público e erguidos durante uma manifestação. Muitos desses cartazes apresentavam reivindicações de certo grupo – mais verba para a educação ou a mudança de uma lei, por exemplo – e com certa frequência se valiam de piadas e brincadeiras para tratar de temas importantes.

Ao observar os muros da cidade, constata-se que essa estratégia ainda é utilizada, pois encontram-se neles lambe-lambes, pichações e outras intervenções urbanas com reivindicações políticas. No entanto, desde que a internet foi inventada, os muros e as ruas da cidade deixaram de ser os únicos meios de expor as opiniões e as críticas das pessoas comuns. Você já parou para pensar que a internet também é um espaço para a exposição de cartazes políticos? Será que os memes cumprem hoje a função dos cartazes?

Um dos acontecimentos históricos do século XX que ficou muito conhecido por seus cartazes foi o Maio de 68, nome dado a um período de manifestações políticas e artísticas na França, no ano de 1968. Durante algumas semanas, uma onda de protestos parou o país. Além de operários, que entraram em greve, estudantes universitários e outros cidadãos bloquearam ruas e marcharam por cidades francesas. As manifestações serviram para protestar contra o então presidente da França, Charles de Gaulle (1890-1970), e para reivindicar melhorias em diversas áreas, como saúde, educação, direitos dos trabalhadores e postura policial.

■ Manifestantes erguem cartazes em Paris, França, durante manifestação em maio de 1968.

Durante o período de protestos, muitos cartazes políticos foram produzidos e espalhados pelos muros das cidades. A confecção desses cartazes passou por uma grande transformação, conforme pode ser lido na matéria a seguir.

No turbilhão que agitava Paris em maio de 1968, alunos e professores ocuparam a tradicional escola de Belas Artes e deram início à produção de centenas de cartazes que serviram para mobilizar grevistas e militantes. [...] Produzidos às pressas e com aparência muito simples, os cartazes sintetizam os objetivos da revolta, como a crítica ao governo do general Charles de Gaulle, ao capitalismo e à violência policial. São imagens e slogans produzidos coletivamente que viraram ícones de uma época e permanecem na memória coletiva dos franceses. [...] Estudantes e artistas [...] começaram fazendo litografias, mas a produção ficava muito limitada. Eles optaram, então, pela serigrafia, que permitia fazer milhares [de] cartazes muito rapidamente. Eles usavam diferentes tipos de papel [...] e buscavam esse material em toda parte, uma vez que não tinham dinheiro para comprá-lo. Funcionários de jornais em greve, como “Le Figaro”, doaram rolos de papel jornal aos estudantes e artistas a fim de contribuir com o movimento.

MACEDO, Letícia. A revolta de maio de 68 na França através dos cartazes feitos na época. G1, 6 maio 2018. Disponível em: https://g1.globo. com/mundo/noticia/a-revolta-de-maio-de-68-na-franca-atraves-dos-cartazes-feitos-na-epoca.ghtml. Acesso em: 26 ago. 2024.

ATIVIDADES

Consulte as orientações no Manual do professor

a) Na internet – já que os memes podem ter a função dos cartazes políticos –, nos muros das cidades e em manifestações.

• Com base no trecho da matéria e em seus conhecimentos, responda:

a) Quais são os espaços onde hoje é possível encontrar cartazes políticos?

b) Qual foi a importância dos cartazes para os protestos de Maio de 68?

c) Qual foi a solução dos manifestantes de Maio de 68 para que os cartazes fossem produzidos em larga escala? Pesquise as técnicas de impressão utilizadas na produção desses cartazes para complementar sua resposta.

b) Em Maio de 68, os cartazes apresentavam imagens e frases que sintetizavam a revolta e as críticas feitas pelos manifestantes.

c) A solução foi utilizar a serigrafia, técnica em que um estêncil é utilizado como molde, em vez da litografia, que exige criar uma ilustração em uma pedra litográfica, que serve de base para a impressão feita por meio de materiais gordurosos, como o betume.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Memes e protestos

Feed: fluxo de conteúdo que é mostrado nas redes sociais.

Primavera Árabe

Você leu, aqui, que, atualmente, é comum depararmos com um meme político em nosso feed. E quando foi que os memes passaram a ter também essa função que tinham os cartazes políticos? Dois grandes eventos do início da década de 2010 impulsionaram essa mudança: a Primavera Árabe e o Occupy Wall Street .

Primavera Árabe é o nome atribuído à série de protestos populares que se espalhou por países do Oriente Médio e do norte da África a partir de 2010. Em países como Tunísia, Egito, Líbia, Síria e Bahrein, milhões de pessoas foram às ruas para protestar contra regimes autoritários e exigir mais acesso a direitos e a melhores condições de vida.

■ Multidão ocupa a Praça Tahrir, no Cairo, Egito, 2011. A juventude egípcia utilizou as redes sociais para se comunicar e chamar mais pessoas para o protesto.

No Egito, o ato se concentrou na praça Tahrir, localizada no centro do Cairo, capital do país. Em janeiro de 2011, cerca de 15 mil manifestantes montaram um acampamento na praça, mas, no mês seguinte, graças à comunicação pela internet, mais de dois milhões de pessoas se juntaram ao protesto. Leia, a seguir, um trecho do artigo sobre a relação entre a internet e a Primavera Árabe.

Os meios digitais foram primordiais nesse movimento, já que qualquer outro tipo de comunicação midiática era controlado pelos governos [...], e na mobilização por legítimos anseios populares. [...]

Outro fator importante dos meios digitais é a capacidade de conexão da pluralidade identitária em diferentes espaços e ao mesmo tempo, no mesmo momento. [...] Um milhão de pessoas foram concentradas na Praça Tahrir, tendo como maioria jovens, reivindicando uma sociedade egípcia verdadeiramente justa, democrática e livre.

ELIAS, Alice. Primavera Árabe. Serviço de Comunicação Social da FFLCH/USP, São Paulo, 24 maio 2023. Disponível em: https://www.fflch.usp.br/50927. Acesso em: 26 ago. 2024.

JONATHAN RASHAD/MOMENT/GETTY IMAGES

Occupy Wall Street

O Occupy Wall Street (OWS) foi um protesto iniciado em setembro de 2011, quando aproximadamente 20 mil manifestantes se reuniram e acamparam no Parque Zuccotti, em Nova York, Estados Unidos. Localizado próximo à Wall Street, rua onde fica a principal Bolsa de Valores do mundo, a mobilização visava ocupar um dos maiores símbolos do capitalismo para fazer uma demonstração popular contra a desigualdade social. Com a atuação dos ativistas, que se mobilizaram por meio de redes sociais, o protesto cresceu, se manteve durante meses e inspirou atos semelhantes em diversas cidades dos Estados Unidos, como Chicago, Los Angeles, Boston e São Francisco.

O principal slogan do movimento, “Nós somos os 99%” – que estampou cartazes, mas também foi amplamente empregado em memes –, expunha de forma sintética o espírito do OWS: a oposição entre a maioria da população, os 99%, e a minoria de ricos e poderosos que ocupa os postos de decisão e de governo, o 1%.

Consulte as orientações no Manual do professor.

ATIVIDADES

■ A frase do meme “o maior medo do 1%” faz piada com o efeito político alcançado pelo acampamento do Occupy Wall Street.

1. a) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes descrevam os cartazes que observaram em muros do local onde vivem ou por onde circulam.

1. b) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes descrevam os memes com conteúdo político que observaram na internet recentemente.

1. Desde a Primavera Árabe e do OWS, o compartilhamento de informações de cunho político, assim como o debate público, ganharam cada vez mais importância na internet. Atualmente, memes e outras postagens em redes sociais fazem parte das estratégias de comunicação de candidatos à eleição, de governos, de movimentos sociais e de cidadãos que buscam expor opiniões sobre a situação política, seja em âmbito local, seja nacional ou ainda em âmbito internacional.

Reflita sobre isso com base em seu cotidiano e, depois, responda às questões.

a) Você costuma observar cartazes nos muros do local onde você vive? Caso sua resposta seja afirmativa, cite exemplos.

b) Agora, reflita sobre os memes que você tem visto nas últimas semanas. Algum deles tem conteúdo político? Conte aos colegas e ao professor.

2 As redes sociais e os memes foram importantes para a Primavera Árabe e o Occupy Wall Street. Quais foram as principais diferenças no uso da comunicação por meios digitais nos dois movimentos?

2. Ambos os movimentos utilizaram a internet e as redes sociais para se expandir. Na Primavera Árabe, as redes sociais serviam de alternativa à censura; já no OWS, memes e outras postagens nas redes foram um dos meios de disseminar informações, ainda que não houvesse censura.

em AÇÃO

Consulte as orientações no Manual do professor

Meme: o cartaz político na era digital

■ Trabalhadores britânicos utilizam meme em cartaz que reivindica aumento salarial. No cartaz, na primeira frase se lê, em tradução livre: “2% de aumento no salário”; na segunda: “Inflação mais 2% de aumento no salário”.

Agora é hora de mostrar, na prática, que os memes podem ter função política. Siga o passo a passo para criar um meme político.

PASSO

a) Precarização do trabalho 1

• Junte-se a quatro colegas para formar um grupo. Escolham um dos tópicos a seguir, com base na leitura dos trechos.

O advogado trabalhista Thiago Bernardo Corrêa, pós-graduado em direito do trabalho e processo do trabalho, explica que a precarização pode ser entendida como qualquer diminuição, redução de direitos e benefícios trabalhistas aos trabalhadores. Corrêa aponta que entre os principais exemplos de precarização do trabalho estão os trabalhadores terceirizados e quarteirizados (quando a empresa terceirizada contrata outra para prestação do serviço, o que ainda está dentro da lei), além dos casos em que não há um contrato de trabalho, o que foge às regras da legislação trabalhista.

VICENZO, Giacomo. Precarização do trabalho age sistemicamente e suprime direitos trabalhistas. UOL , 29 jan. 2022. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2022/01/29/precarizacao-do-trabalho -age-sistemicamente-e-suprime-direitos-trabalhistas.htm?. Acesso em: 26 ago. 2024.

b) Combate ao trabalho infantil

Em 2022, havia 1,9 milhão de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos em situação de trabalho infantil no país. Isso representa 4,9% da população nessa faixa etária. O contingente de crianças e adolescentes nessa situação vinha caindo desde 2016 (2,1 milhões), ano inicial do módulo sobre o trabalho de crianças e adolescentes da Pnad Contínua, chegando a 1,8 milhão em 2019. No entanto, em 2022, esse contingente cresceu.

DE 2019 PARA 2022, trabalho infantil aumentou no país. Agência IBGE Notícias, 26 jan. 2024. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/38700-de-2019-para -2022-trabalho-infantil-aumentou-no-pais. Acesso em: 26 ago. 2024.

c) Qualidade do atendimento em saúde

Oitenta e nove por cento dos brasileiros classificam a saúde – pública ou privada – como péssima, ruim ou regular. A avaliação é compartilhada por 94% dos que possuem plano de saúde e por 87% dos que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS), segundo dados apresentados hoje (26 [jun. 2018]) pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

LABOISSIÈRE, Paula. Quase 90% dos brasileiros consideram saúde péssima, ruim ou regular. Agência Brasil, 26 jun. 2018. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2018-06/para-89-dos-brasileiros-saude -e-considerada-pessima-ruim-ou-regular. Acesso em: 26 ago. 2024.

PASSO

2

• Para ampliar seus conhecimentos sobre o tema escolhido, pesquisem na internet e elaborem uma lista com os problemas relacionados a ele.

PASSO

3

• Criem memes para realizar uma campanha nas redes sociais sobre o tema escolhido pelo grupo. Apresentem, nos memes, os problemas listados anteriormente.

PASSO

4

• Compartilhem a produção de vocês com a comunidade escolar. Se possível, divulguem a produção nas redes sociais da escola. Vocês também podem imprimir o que produziram e afixar cartazes pela escola.

Aproveitem para retomar a pergunta norteadora desta etapa: Um meme pode ter função política?

Memes e fake news

Memes podem contribuir para a disseminação de notícias falsas?

Consulte as orientações no Manual do professor.

HM, VOCÊ VIU NA INTERNET?

ENTÃO DEVE SER VERDADE.

■ Meme que ironiza a ideia de que todas as informações disponíveis na internet sejam verdadeiras.

Fake news

Você provavelmente deve conhecer o termo fake news. Esse termo é usado para designar notícias falsas espalhadas pela internet como se fossem verdade, por meio de aplicativos de mensagem instantânea, sites, blogues e redes sociais. Atualmente, existe um aparato tecnológico que permite que as fake news sejam mandadas para milhares de pessoas ao mesmo tempo, sendo capaz de impactar situações de grandes proporções, como incriminar pessoas e influenciar as eleições de um país. Leia, a seguir, um trecho de reportagem sobre o impacto das notícias falsas no Brasil.

Quase 90% dos brasileiros admitem ter acreditado em fake news

É o que revela uma pesquisa do Instituto Locomotiva e obtida com exclusividade pela Agência Brasil . Segundo o levantamento, oito em cada dez brasileiros já deu credibilidade a fake news. Mesmo assim, 62% confiam na própria capacidade de diferenciar informações falsas e verdadeiras em um conteúdo.

Sobre o conteúdo das notícias falsas que acreditaram, 64% eram sobre venda de produtos, 63% diziam respeito a propostas em campanhas eleitorais, 62% tratavam de políticas públicas, como vacinação, e 62% falavam de escândalos envolvendo políticos. Há ainda 57% que afirmaram que acreditaram em conteúdos mentirosos sobre economia e 51% em notícias falsas envolvendo segurança pública e sistema penitenciário. [...]

O maior risco da desinformação para 26% da população é a eleição de maus políticos, enquanto 22% acreditam que o perigo maior é atingir a reputação de alguém e 16% avaliam como maior problema a possibilidade de causar medo na população em relação a própria segurança. Há ainda 12% que veem como maior risco prejudicar os cuidados com a saúde. [...]

Ser enganado por uma notícia falsa gera um sentimento de ingenuidade para 35% das pessoas, 31% ficam com raiva e 22% sentem vergonha.

Um quarto da população (24%) afirma já ter sido acusado de espalhar informações falsas por pessoas que têm uma visão de mundo diferente. [...]

MELLO, Daniel. Quase 90% dos brasileiros admitem ter acreditado em fake news Agência Brasil, 1o abr. 2024. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2024-04/quase-90-dos-brasileiros-admitem-ter-acreditado-em-fake-news. Acesso em: 26 ago. 2024.

Conexões

Documentário conta a história do 4chan, fórum na internet conhecido por preservar o anonimato dos usuários e por circular memes, teorias da conspiração e conteúdos de ódio a mulheres e minorias, além de abrigar diferentes violações de leis e direitos.

• A REDE antissocial: dos memes ao caos. Direção: Giorgio Angelini, Arthur Jones. Estados Unidos, 2014. Documentário (85 min).

Consulte as orientações no Manual do professor

ATIVIDADES

1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes comentem seus hábitos de compartilhamento de notícias on-line para avaliarem se verificam a veracidade do conteúdo.

1. Você costuma encaminhar notícias para seus contatos? Caso sua resposta seja afirmativa, explique como você faz para saber se as notícias que compartilha são confiáveis.

2. Você já postou ou compartilhou uma notícia que depois se revelou falsa? Se sim, conte aos colegas e ao professor o que você fez depois da descoberta.

2. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes relatem casos pessoais de compartilhamento de fake news.

3. Você acredita que as fake news podem prejudicar o aprendizado dos estudantes? Justifique.

4. Em sua opinião, por que as redes sociais facilitam a divulgação de fakes news?

4. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes comentem a rapidez e a facilidade do compartilhamento sem a checagem do que é divulgado.

3. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes respondam que sim, pois as fake news propagam informações incorretas, reduzindo a busca por fontes de pesquisa confiáveis e a capacidade crítica.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Memes e desinformação on-line

A internet, as redes sociais e os aplicativos de mensagens instantâneas favorecem a viralização de fake news, principalmente por falta de regulamentação específica Além disso, o tempo da internet é muito mais rápido que o tempo de investigação e posterior decisão de um juiz. Assim, mesmo que a justiça comprove que uma notícia sobre uma pessoa, por exemplo, seja falsa, antes disso a vida dela já pode estar em risco.

ENTÃO, VOCÊ SABE TUDO SOBRE MEMES?

CONTE-ME MAIS SOBRE COMO

A PALAVRA MEME SURGIU.

■ Meme criado com base em uma cena do filme A fantástica fábrica de chocolate, do diretor Mel Stuart, lançado nos Estados Unidos, em 1971.

As fake news podem ser criadas e espalhadas e veicular diversos tipos de conteúdo. Pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, identificaram sete tipos de notícia que podem causar desinformação, como é mostrado no esquema a seguir.

Sátira ou paródia

Piada em forma de notícia que não tem a intenção de enganar.

Conteúdo fabricado

Conteúdo totalmente falso criado para enganar ou prejudicar alguém.

Contexto falso

Imagem ou fala retirada de seu contexto.

Conteúdo manipulado

Informação ou imagem manipulada com a intenção de enganar ou prejudicar alguém.

Conteúdo impostor

Dado falso, de estudo ou pesquisa, atribuído a uma fonte conhecida e respeitada.

Conteúdo enganoso Conexão falsa

Informação e dado manipulados para levar a uma interpretação incorreta.

O título ou a imagem utilizada não condiz com o conteúdo da notícia.

Fonte: NA ERA das fake news. Educador360, 12 nov. 2019. Disponível em: https://educador360.com/gestao/fake-news/. Acesso em: 31 out. 2024.

Ainda que utilizem recursos de humor, como a sátira e a paródia, memes usados para espalhar notícias falsas podem combinar outras características típicas das fake news, conforme foram listadas no esquema.

Como os memes são recursos que circulam em alta velocidade pela web 2.0, acabam sendo vistos por usuários que chegam a passar grande parte de seus dias on-line. Como mostra o gráfico, em janeiro de 2024, o Brasil esteve entre os países onde a população passou mais tempo na internet, com média de nove horas e treze minutos diários on-line.

Mundo: ranking dos países cuja população despende mais tempo na internet – jan. 2024

Média de tempo diário (em horas e minutos) que pessoas entre 16 e 64 anos permaneceram conectadas à internet 10 y

TailândiaEmiradosÁrabesUnidosMalásia
Rússia ChileArgentinaColômbiaFilipinas BrasilÁfricadoSul

Fonte: KEMP, Simon. Digital 2024: Global Overview Report. DataReportal, 31 jan. 2024. Disponível em: https://datareportal.com/ reports/digital-2024-global -overview-report. Acesso em: 28 ago. 2024.

Leia, a seguir, um trecho escrito pelo filósofo italiano Franco Berardi (1949-), mais conhecido como Bifo.

Durante treze horas, a mente fica exposta a estímulos da infosfera. Um leitor de livros poderia expor sua mente à recepção de sinais alfabéticos por muitas horas, mas a intensidade e a velocidade dos impulsos eletrônicos são incomparavelmente maiores. Quais são as consequências dessa transformação tecnocomunicativa? Resumindo: a mente submetida ao bombardeio ininterrupto de impulsos eletrônicos, independentemente de seu conteúdo, funciona de forma completamente diferente da mente alfabética, que tinha a capacidade de discriminar entre o verdadeiro e o falso nas informações e que tinha a capacidade de construir um procedimento de elaboração individual. Na verdade, essa capacidade depende do tempo de processamento emocional e racional, que, no caso de um jovem que vive treze horas por dia na infosfera eletrônica, é reduzido a zero. [...]

A configuração conectiva da mente contemporânea está cada vez mais indiferente à distinção entre verdadeiro e falso, bom e ruim [...].

BERARDI, Franco. Para uma antropologia do novo fascismo. Outras Palavras, 9 ago. 2024. Disponível em: https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/para-uma-antropologido-novo-fascismo/. Acesso em: 26 ago. 2024.

Como saber se uma notícia é confiável?

■ Ainda que o próprio funcionamento e o uso que fazemos da internet contribuam para que seja mais difícil distinguir notícias falsas de verdadeiras, é preciso ter atenção para não acreditar em fake news nem replicá-las.

Para começar, é preciso ler uma reportagem inteira antes de acreditar no que a manchete dela afirma ou naquilo que a imagem presente nela mostra. Em seguida, é preciso conferir se o texto é verdadeiro. Universidades, jornais e revistas do mundo todo têm se organizado para criar sites de checagem de fake news , espaços que procuram separar o que é verdade do que é boato.

Como afirmam especialistas no tema, entre eles Viktor Chagas, a questão das fake news vai além da falta de discernimento entre verdade e mentira. Esse fenômeno também está relacionado ao chamado viés de confirmação, ou seja, à tendência de acreditar em conteúdos que condizem com as próprias crenças. Por isso, é comum que as pessoas acabem acreditando em notícias que vão ao encontro daquilo que já achavam saber antes de ter contato com a manchete ou o meme, e compartilhem esses conteúdos antes mesmo de recorrer a qualquer mecanismo de checagem.

Por fim, aqueles que compartilham fake news frequentemente utilizam o humor como refúgio. Quando essas pessoas são confrontadas a respeito da falsidade do conteúdo que criaram ou replicaram, principalmente no caso de memes , frequentemente elas dizem se tratar apenas de uma piada, que nunca tiveram a intenção de ser realistas. Porém, como observamos, muitas pessoas utilizam memes e outros conteúdos das redes sociais como fonte de informação, por isso é necessário ter responsabilidade ao publicar conteúdos na internet.

ATIVIDADES

Consulte as orientações no Manual do professor

1. Você costuma receber links de notícias publicadas em blogues e sites nas redes sociais ou em aplicativos de mensagem instantânea? Nesses casos, você lê apenas a manchete ou toda a reportagem? Justifique sua resposta.

Resposta pessoal.

2. Você costuma conferir se a notícia é verdadeira? Converse sobre isso com os colegas e o professor.

Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes tratem de seus hábitos de leitura de notícias on-line e compartilhem formas de checagem de informações.

Saiba mais
NÃO ESCREVA NO LIVRO.

3. a) Resposta pessoal. As fake news podem confundir a população, descredibilizar as urnas eletrônicas, como levantar suspeitas de que são fraudadas, vulneráveis a ataques de hackers, de que não são auditáveis. Esse tipo de desinformação coloca em risco o direito de o brasileiro exercer plenamente a cidadania e o voto.

3. Leia o texto a seguir sobre uma fake news desmentida por um meio de comunicação.

É #FAKE que eleitor perde voto se apertar tecla “confirma” enquanto urna exibe “confira seu voto”

Voltou a circular nas redes sociais um vídeo em que uma mulher diz que o eleitor perderá o voto caso aperte a tecla “confirma” enquanto a tela da urna exibe a mensagem “confira o seu voto”. É #FAKE. No vídeo, que circula desde 2022, a mulher diz: "Colocaram no rodapé uma informação que diz: ‘Confira o seu voto’. Então você aperta [o número do candidato], esse sinal luminoso começa a aparecer e, se você apertar a tecla verde – porque não é ‘confirma’ é ‘confira’ – você perde o seu voto, o seu voto é anulado.”

Não é verdade que o eleitor vai conseguir apertar a tecla “confirma” enquanto lê a mensagem “confira seu voto”. O Tribunal Superior Eleitoral esclarece que a urna eletrônica liberará a confirmação do voto (no botão verde “Confirma”) somente após um segundo do preenchimento completo dos números do candidato para cada cargo. Ao longo desse segundo, se o eleitor tentar confirmar ou corrigir o voto, não acontece nada – a urna não vai atender ao comando.

DOMINGOS, Roney. É #FAKE que eleitor perde voto se apertar tecla “confirma” enquanto urna exibe “confira seu voto”. G1, 17 set. 2024. Disponível em: https://g1.globo.com/fato-ou-fake/noticia/2024/09/17/e-fake-que-eleitor-perde-voto-se-apertar-tecla-confirma -enquanto-urna-exibe-confira-seu-voto.ghtml. Acesso em: 6 out. 2024.

a) Em sua opinião, qual impacto as fake news podem gerar em uma eleição?

3. b) Resposta pessoal. As fake news podem influenciar resultados

b) O que as fake news divulgadas sobre candidatos a cargos políticos podem causar?

c) O que você faria para checar a veracidade de uma notícia de um vídeo como este citado na notícia sobre as urnas eletrônicas?

das urnas se não forem combatidas a tempo. Os eleitores podem eleger maus políticos, e a carreira de candidatos alvos de inverdades e calúnias pode ser prejudicada ou até mesmo chegar ao fim.

4. Leia sobre a importância de identificar notícias falsas sobre vacinação. [...]

Desinformação na área da saúde

Quem lembra do impacto causado pela desinformação durante a pandemia da covid-19? O uso de drogas ineficazes, por exemplo, foi amplamente divulgado no período. Além disso, diversos grupos desqualificavam medidas de segurança e eficácia comprovada, como o uso de máscara e a vacinação. Esses exemplos de desinformação colocaram vidas em risco.

As narrativas falsas sobre vacinas desestimularam a procura da população pelos imunizantes no Brasil, país que sempre foi referência mundial em vacinação. A confiança da população e a alta cobertura vacinal deu ao Brasil o status de eliminar de circulação, em 2016, o sarampo.

É importante lembrar que vacinas salvam vidas. Elas são eficazes e figuram entre os medicamentos mais seguros para uso humano. Os imunizantes continuam sendo a estratégia mais segura para a proteção de diversas doenças.

A queda das coberturas vacinais começou a ser notada a partir de 2016, resultado de múltiplos fatores. Entre eles, a disseminação de desinformação sobre os imunizantes. O poder das fake news é tão grande que pode destruir políticas públicas, comprometer investimentos em saúde e colocar a população em risco.

Não é à toa que a Organização Mundial da Saúde (OMS) coloca a desinformação como uma das principais ameaças à saúde global.

COMBATE à desinformação na área da saúde: uma luta de todos. Ministério da Saúde, 20 maio 2024. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-com-ciencia/noticias/2024/maio/combate-a-desinformacao-na -area-da-saude-uma-luta-de-todos. Acesso em: 6 out. 2024.

• Com base nessa notícia, discuta com os colegas e o professor como as fake news podem provocar um problema de saúde pública mundial.

3. c) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes respondam que procurariam checar as informações em

fontes confiáveis como agências de checagem ou até mesmo desconfiar do tom alarmista do vídeo, procurando identificar as inconsistências nos fatos apresentados.

4. Espera-se que os estudantes respondam que as fake news colocam em risco a vida das pessoas, que muitas vezes não têm conhecimento para distinguir informações falsas ou enganosas apresentadas como notícias verdadeiras. As fake news podem influenciar comportamentos e decisões importantes como a vacinação.

Liberdade e ética na criação de memes

liberdade

Os efeitos causados por notícias falsas e por outros conteúdos publicados nas redes sociais costumam provocar debates sobre a responsabilização de usuários e das próprias plataformas que permitem a circulação de postagens danosas.

As fake news podem ser o estopim para atos violentos, como linchamentos. Casos como esses não acontecem apenas no Brasil. Em 2024, no Reino Unido, circulou pelas redes sociais a notícia de que um imigrante teria sido o responsável por um ataque a crianças em uma escola de dança. O que se seguiu foi uma grande onda de violência contra imigrantes, que foram atacados nas ruas de diversas cidades da Grã-Bretanha e tiveram suas moradias e seus comércios depredados.

Os problemas com memes e outras postagens nas mídias sociais não se restringem aos episódios em que se pode notar conexões evidentes entre esses conteúdos e atos de violência. O anonimato oferecido pela internet pode servir de abrigo para práticas reprováveis e mesmo criminosas. Leia o trecho a seguir.

O que, então, a prática do anonimato oferece aos indivíduos que comungam dela? De muitas maneiras, o anonimato permite um tipo de liberdade. Essa liberdade pode ter benefícios pessoais óbvios se o material gerado, compartilhado ou colecionado é, de alguma forma, transgressivo. Para os usuários da internet que se deleitam com a existência de memes racistas, sexistas ou ofensivos, uma prática e um sistema de anonimato protegem-nos da regulação ou punição que os pares ou as autoridades podem tentar promulgar em resposta a esse material.

DAVISON, Patrick. A linguagem dos memes de internet (dez anos depois). In: CHAGAS, Viktor (org.). A cultura dos memes: aspectos sociológicos e dimensões políticas de um fenômeno digital. Salvador: Edufba, 2020. p. 189.

Memeiros profissionais

Se o anonimato como uma das características da produção de memes é uma vantagem para quem quer burlar a ética e as leis, existem pessoas que tentam seguir justamente pela direção contrária.

■ Dono de uma prestigiada página de memes, o estadunidense Elliot Tebele (1991-) recebe o prêmio de melhor meme no 10o Shorty Awards, em 2018. No Brasil, eventos similares premiam anualmente os melhores memes e memeiros do país.

Os memeiros, isto é, os criadores de memes para campanhas de marketing, buscam estabelecer limites éticos para suas publicações. Leia o trecho da reportagem a seguir sobre a atuação profissional dos memeiros.

A cada vez que alguém dá uma “curtida” ou compartilha uma piada inocente numa rede social, mais um passo é dado na consolidação de uma das estratégias de marketing mais poderosas da contemporaneidade: a criação de memes. Por trás dela, quase invisíveis, estão seus produtores, os “memeiros” ou “mememakers”. São jovens de classes sociais diversas e com formações acadêmicas que passam longe das escolas de comunicação. E grandes companhias pagam muito dinheiro para terem suas marcas incluídas nas peças de humor [...].

A linguagem memética traz um descompromisso compromissado.

Por descompromisso, entenda a informalidade das postagens de humor que transforma situações cotidianas em autoironia. Por compromisso, entenda que não vale tudo por uma viralização.

– Há limites para este humor. Há assuntos que tratamos com mais cuidado, ou mesmo ignoramos – diz o memeiro Fabio Santana [...].

Tal código de ética informal parece ser um dos denominadores comuns entre os mememakers. [...] VILLARDO, Ronald. Profissão “memeiro”: com milhões de seguidores, criadores de posts de humor são disputados por empresas. O Globo, 11 abr. 2023. Disponível em: https://oglobo.globo.com/cultura/noticia/2023/04/profissao-memeiro-com-milhoes-deseguidores-criadores-de-posts-de-humor-sao-disputados-por-empresas.ghtml. Acesso em: 26 ago. 2024.

ATIVIDADES

1. Em sua opinião, que vantagens existem para as empresas em usar serviços de mememakers?

2. Profissões relacionadas aos conteúdos digitais fazem sentido para seu projeto de vida? Comente com os colegas.

Consulte as orientações no Manual do professor Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes possam refletir sobre novas oportunidades profissionais que surgem com o desenvolvimento da tecnologia e com as transformações da sociedade. Espera-se, ainda, que pensem sobre o papel que essas profissões podem ter no projeto de vida deles.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Consulte as orientações no Manual do professor.

Memes, inteligência artificial e operadores de dados

Lemos no texto anterior que muitos memeiros trabalham de acordo com um código de ética informal. Porém, não são todos aqueles que produzem memes de grande circulação que compartilham desse código. E essa situação parece se agravar com o emprego de ferramentas de inteligência artificial (IA) para a produção de memes, fato que adiciona novas camadas ao debate sobre a responsabilização em casos de conteúdos que violam normas e leis.

■ Trabalhador programa Chatbot, que utiliza IA. Diferentemente de programadores e cientistas de dados, os operários de dados são invisibilizados e, muitas vezes, mal remunerados.

As ferramentas de IA estão relacionadas a outra série de discussões éticas e legais. Uma delas refere-se ao treinamento de IA com o uso de força de trabalho precarizada, isto é, informal e mal

1. São chamados de “trabalhadores fantasmas” porque executam microtarefas que possibilitam o funcionamento da IA, porém, não são valorizadas.

remunerada. Os chamados operários de dados são responsáveis por tarefas repetitivas para que as IAs possam funcionar, como a transcrição de áudios e a descrição de imagens. Em geral, esses operários são oriundos de países em desenvolvimento e pagos por dezenas ou centenas de tarefas realizadas. É comum que esses trabalhadores recebam poucos centavos de dólar pelos conjuntos de tarefas. Leia, a seguir, trecho de notícia sobre o tema.

O mercado bilionário da inteligência artificial (IA) tem atraído talentos brasileiros com salários muito acima da média para engenheiros, matemáticos e outros profissionais que se destacam na área.

Mas nem todos os envolvidos com esta tecnologia estão em uma posição invejável.

Há todo um contingente de trabalhadores terceirizados que fazem um trabalho manual laborioso, ganham menos da metade de um salário mínimo, em média, e, por isso, têm mais de um emprego para conseguir pagar as contas – mas são essenciais para que os sistemas de IA sejam capazes de operar.

Os chamados “operários de dados” são considerados “trabalhadores fantasmas” porque executam nos bastidores uma série interminável de microtarefas para refinar as inteligências artificiais.

[...] Os “treinadores” são responsáveis por alimentar o robô com as informações e dados que ele precisa para responder perguntas de usuários, auxiliar em traduções, fazer pesquisas, dentre outras tarefas.

Praticamente todos os sistemas de IA dependem destes operários de dados. Redes sociais, por exemplo, os contratam para monitorar as postagens e interações e detectar ações que ferem suas regras ou a lei.

Na comparação com uma fábrica tradicional, esses profissionais seriam o chão de fábrica.

VILICIC, Filipe; BRITO, Sabrina. Os brasileiros que ganham R $ 500 por mês para treinar inteligências artificiais. BBC News Brasil, 18 jun. 2024. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c511zzgypwdo. Acesso em: 27 ago. 2024.

Consulte as orientações no Manual do professor.

1. Se o trabalho de operadores de dados é essencial para o funcionamento das ferramentas de IA, por que eles são chamados de “trabalhadores fantasmas”?

2. O que são trabalhos precarizados? Converse com os colegas e o professor sobre outros exemplos de profissões que, hoje, estão precarizadas.

2. Ainda que os exemplos possam variar, a depender do contexto da turma, espera-se que reconheçam a baixa remuneraçãoa e a falta de segurança e de direitos como formas de precarização.

Saiba mais

Fuga de cérebros

Apesar de o Brasil ter um grande número de profissionais considerados “talentos” no ramo de IA, muitos deles trabalham fora do país, tanto para empresas quanto para governos estrangeiros.

De acordo com a pesquisa The Global AI Index, de 2023, que avalia o desempenho dos países no mercado de inteligência artificial, o Brasil ficou em 21º em relação aos talentos profissionais. Essa posição coloca o país na frente da Áustria, Bélgica e Portugal, por exemplo. Entretanto, muitos desses profissionais saem do país em busca de melhores oportunidades em países que investem de forma mais efetiva no setor. Em outros casos, os trabalhadores continuam morando no Brasil, mas prestando serviço para empresas estrangeiras.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

em AÇÃO

Consulte as orientações no Manual do professor.

Memes no combate às fake news

Com alto potencial de viralização na web 2.0 – ambiente que dificulta o exercício do pensamento crítico – os memes são amplamente utilizados na divulgação de fake news. No entanto, essa mesma característica pode torná-los uma importante ferramenta no combate à desinformação.

Então você viu uma notícia absurda e compartilhou sem fazer a checagem?

■ O humor dos memes pode ser uma arma poderosa contra a desinformação.

Se as fake news se disseminam rapidamente, a solução para esse problema precisa ter velocidade semelhante no combate à desinformação. Além disso, o humor, aspecto típico nos memes, constitui-se como ferramenta para expor um conteúdo absurdo que muitas fake news veiculam diariamente.

Agora é sua vez de criar um meme para combater a desinformação!

PASSO

• Leia, a seguir, um trecho de reportagem sobre bom humor e checagem de fatos. 1

Contra fake news, adicione uma piada ao fact-check

Autoras da pesquisa “A tiktokização como estratégia de combate à desinformação”, Cristiane Lindemann e Patrícia Regina Schuster (Universidade de Santa Cruz do Sul) estudaram o perfil da Agência Lupa, especializada em checagens e educação midiática, no TikTok.

Elas observam que um dos recursos mais fortes no ambiente da rede social é a utilização da emoção, uma subjetividade que tem alto poder de disseminação e já encontra espaço e legitimação no jornalismo. [...]

Para ela, o emprego de recursos como ficção e humor não só na construção de notícias, mas no combate à desinformação, sugerem um caminho sem volta a partir da ascensão das redes sociais. [...]

Roteirista do extinto programa Greg News (HBO), apresentado por Gregório Duvivier, a jornalista, pesquisadora e escritora Mariana Filgueiras vê o humor como uma ferramenta útil na disputa narrativa das redes sociais e elenca três razões para isso:

“A primeira é que o riso é viral, uma piada boa se espraia como um vírus mesmo. O riso tem uma velocidade que é muito importante para apagar o incêndio de uma desinformação criminosa”.

A segunda razão, segundo Filgueiras “é que a gente tende a ficar próximo de quem nos faz rir, isso é fisiológico, o riso é uma ferramenta social que mantém grupos unidos, a gente logo quer mandar um meme pra alguém que gosta quando ri. Então, diante de uma fake news, uma piada que a desminta tende a correr rápido e a juntar as pessoas”.

Por fim, Filgueiras completa: “A terceira característica do humor é que ele fala diretamente com o jovem".

MORAES, Fabiana. Contra fake news, adicione uma piada ao fact-check Intercept Brasil, 15 maio 2024. Disponível em: https://www.intercept.com.br/2024/05/15/contra-fake-news-adicione-uma-piada-ao-fact-check/. Acesso em: 27 ago. 2024.

Compartilhar notícia

depois de ler apenas a manchete

Checar a notícia e ainda fazer piada com a desinformação

2

• Escolha, nos sites a seguir, um tema para seu meme.

FakeCheck

Disponível em: https://nilc-fakenews.herokuapp.com/ Comprova

Disponível em: https://projetocomprova.com.br/

Fato ou Fake

Disponível em: https://g1.globo.com/fato-ou-fake/ Lupa

Disponível em: https://lupa.uol.com.br

(Acessos em: 27 ago. 2024.)

■ Combater fake news é um ato de cidadania que pode ajudar a proteger a democracia e evitar a propagação de atos violentos.

3

• Crie um meme com base em uma imagem, gif ou texto que, com bom humor, evidencie o absurdo contido na notícia falsa escolhida.

4

• Compartilhe seu meme com a comunidade escolar.

Aproveitem para retomar a pergunta norteadora desta etapa: Memes podem contribuir para a disseminação de notícias falsas?

FINAL

Exposição de memes

Consulte as orientações no Manual do professor

Já imaginou se os museus não tivessem apenas pinturas, fotografias, esculturas e objetos do passado, mas também imagens que encontramos todos os dias na internet? Na etapa final deste Projeto Integrador, você e os colegas vão organizar uma exposição de memes! Só que não são quaisquer memes: eles precisam estar relacionados aos temas discutidos, como aqueles que já foram produzidos por vocês.

Para essa exposição, retomem a pergunta norteadora do projeto: Quais são as funções de um meme?

Essa exposição ocorrerá em um espaço da escola, portanto, vocês vão elaborar propostas de interação para os visitantes.

■ Imagem da exposição Two decades of memes (Duas décadas de memes) realizada no Museu da Imagem em Movimento, em Nova York, Estados Unidos, 2018.

O QUE QUEREMOS?

COMO FAREMOS?

FAZER UMA EXPOSIÇÃO DE MEMES!

VAMOS NOS JUNTAR A UM DOS QUATRO GRUPOS A SEGUIR!

■ A exposição pode ter uma hashtag para que os visitantes tirem fotografias e postem nas redes sociais.

MUSEU DA IMAGEM EM MOVIMENTO, NOVA YORK.
NÃO ESCREVA NO LIVRO.

2

Curadoria da exposição

Neste momento, vocês serão responsáveis por escolher e organizar os memes, com o objetivo de tornar a exposição uma experiência agradável para os visitantes. Para isso, vocês devem:

• reunir todos os memes produzidos nas etapas anteriores deste projeto e selecionar um número adequado deles, considerando o espaço onde será realizada a exposição;

• propor a ordem em que os memes serão expostos, considerando critérios como tema, formato ou quaisquer outros que o grupo considerar relevantes;

• imprimir os memes em um tamanho adequado à leitura dos visitantes da exposição.

Elaboração de textos

• imprimir os textos em tamanho adequado para a leitura dos visitantes. 1

A elaboração de textos tem por objetivo revelar para os visitantes os assuntos tratados na exposição, bem como os temas dos memes selecionados pelo grupo. Os textos devem ser curtos, claros e informativos. Para isso, vocês precisam:

• definir a ordem na qual os memes vão aparecer no espaço da exposição;

• decidir quantos textos serão produzidos, dividi-los entre o grupo e elaborá-los;

4

Interação com o público

A interação com o público tem por objetivo aproximar as obras dos visitantes. Próximo a cada meme exposto deve haver alguma estrutura, como um painel ou uma caixa, em que os visitantes podem depositar seus likes (“curtidas”). Vocês devem confeccionar os cartões que representam os likes que, por sua vez, serão distribuídos aos visitantes. Para isso, vocês devem:

• decidir como o público poderá interagir com as obras e confeccionar esses recursos, como painel ou caixa e os cartões que vão representar os likes;

• imprimir e distribuir, no momento da exposição, os recursos de interação do público. Confeccionar o painel para a exposição dos likes ou a caixa onde eles vão ser depositados.

Divulgação

A exposição pode ser divulgada para a comunidade escolar por meio de campanhas, elaboração de convites ou outros formatos.

De todo modo, a estratégia adotada deve conter um meme. Para isso, vocês devem:

• elaborar um meme para compor as versões digital e física do cartaz e/ou do convite;

• compartilhar o cartaz e/ou o convite digital e expor ou distribuir o cartaz e/ou o convite físico. 3

texto do balão traz um termo usado em memes criados:

AUTOAVALIAÇÃO

Para finalizar este Projeto Integrador, é importante avaliar tanto a participação individual quanto a coletiva. Para isso, em uma folha de papel sulfite, faça o que se pede.

1. Sobre seu envolvimento e o da turma neste Projeto Integrador, responda às questões a seguir.

a) Houve participação em todas as atividades propostas? Argumente.

b) Em qual etapa houve mais dedicação? Em qual houve menos? Justifique.

c) Atribua uma nota de zero a dez para sua participação e para a participação da turma neste projeto. Justifique as notas atribuídas.

d) Em relação a suas ações, em quais aspectos você acredita que pode melhorar para a realização do próximo projeto? Em quais aspectos a turma pode melhorar?

e) Junte-se a um colega para comparar as respostas às questões anteriores, verificando com quais itens da avaliação vocês concordam e de quais discordam.

f) Escreva, de modo sucinto, quais foram suas dificuldades e quais aprendizagens desenvolveu no decorrer deste projeto.

2. Em relação ao assunto deste Projeto Integrador, responda às questões a seguir.

a) Compreendeu a trajetória histórica dos memes e seu processo de transformação?

b) Entendeu o conceito e as características fundamentais dos memes?

c) Refletiu sobre a função estética e política dos conteúdos de internet hoje?

d) Compreendeu que os memes podem ser considerados formas narrativas contemporâneas?

e) Compreendeu o papel dos memes na divulgação de fake news?

f) Refletiu sobre as questões norteadoras de todas as etapas?

3. Sobre a exposição de memes realizada na última etapa, responda às questões a seguir.

a) Você participou ativamente de todas as fases da proposta?

b) Você conseguiu relacionar a experiência da exposição com o conteúdo estudado sobre memes?

c) A vivência o auxiliou a desenvolver um olhar crítico sobre comunicação, internet, memes e redes sociais?

d) Compreendeu de que forma a exposição foi vivenciada pelo público?

4. Sobre a produção de meme como cartaz político, responda às questões a seguir.

a) O meme criado tinha como base um dos temas propostos?

b) Compreenderam a função política do meme?

c) Compartilharam o resultado com a comunidade escolar?

6

1. Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes possam apresentar diferentes opiniões ou lembranças a respeito dos campos de futebol. Ainda que não tenham ido a um campo de futebol ou que não exista um no bairro, é provável que mencionem, a exemplo da cena observada na fotografia, a relevância dos campos de futebol construídos em bairros populares como opção de lazer de baixo custo para os moradores e, sobretudo, como possibilidade de socialização para jovens de baixa renda.

2. Na fotografia, é possível observar a quadra/campo inserida no meio das casas, quase não diferenciando o espaço público e o privado. Para alguns moradores, esse pode ser um fato positivo (fonte de lazer, recreação para crianças e jovens, vivência coletiva); para outros, fonte de incômodo e de preocupação (ruídos, ponto de tráfico de drogas ou violência).

COMO O ESPAÇO CONTRIBUI PARA A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE?

Cada lugar que faz ou fez parte de nossa vida nos traz diferentes conhecimentos e lembranças. A rua e o bairro onde moramos, por exemplo, trazem cores, cheiros, rostos e vozes, além de paisagens com as quais nos acostumamos e caminhos que percorremos.

Tudo isso pode dizer muito sobre quem somos. Afinal, lugar e identidade são conceitos profundamente ligados e essa conexão permite compreender o lugar como ponto de partida e referência para a existência e a experiência de cada um de nós no mundo.

À medida que as pessoas se identificam com o local onde vivem, criando histórias de vida particulares, esses conceitos ganham mais sentido. Neste Projeto Integrador, você e os colegas vão explorar o lugar onde vivem, buscando compreender aspectos relacionados à formação da própria identidade, seja ela individual, seja coletiva.

Depois de algumas atividades de pesquisa preparatórias, que incluem a confecção de um álbum de fotografias, visitas a lugares do bairro onde moram, realização de entrevistas e consulta a fontes diversas de informação, vocês vão elaborar um guia do bairro apresentando os lugares que merecem ser explorados pelos visitantes.

Quais lugares do bairro onde você mora dizem muito sobre sua vida? Quais desses locais você gostaria que mais pessoas conhecessem?

Observe a imagem de abertura. Nela, vemos um campo de futebol em uma favela.

1. Você já esteve em um campo de futebol? No bairro onde você mora existe algum? É um lugar relevante para os moradores? Justifique suas respostas.

2. Como você imagina que seja a relação dos moradores do bairro com o campo de futebol que aparece na imagem?

3. Você acredita que o futebol faz parte da identidade brasileira? Por quê?

3. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes citem alguns fatos históricos, como as conquistas de títulos pela seleção brasileira e a disseminação de um estereótipo sobre o Brasil e os brasileiros pela mídia. Com base nessa construção, existem muitos locais onde as pessoas se reúnem para acompanhar transmissões de jogos pela TV ou disputam partidas de futebol. Além disso, como brasileiros, é comum que jogos de futebol estejam associados a algumas de nossas memórias.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

■ Nas favelas, muitas vezes os campos de futebol são ponto de encontro de jovens, fonte de renda para vendedores ambulantes e lazer para toda a comunidade. Favela do Vidigal, Rio de Janeiro (RJ). Fotografia de 2024.

STEFAN KOLUMBAN/PULSAR IMAGENS

FICHA DE ESTUDO

Objetivos

• Destacar o papel da história da comunidade na formação da identidade individual e coletiva.

• E xplorar recursos de pesquisa, análise e exposição próprios das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas em uma investigação do sentido, das origens e da natureza da identidade pessoal.

Compreender a relação complexa entre indivíduo e sociedade, assim como entre indivíduo e lugar.

R econhecer a diversidade de trajetórias de vida, em especial entre diferentes gerações ou entre indivíduos de diferentes lugares.

Produzir registros de observação em caderno de campo, de história oral e reflexões subjetivas.

Justificativa do projeto

Este projeto oferece um percurso de estudo sobre a própria identidade. Proposto para ser feito coletivamente, tem como objetivo valorizar a diversidade de saberes e de vivências culturais e favorecer o conhecimento dos estudantes sobre suas origens e seu enraizamento em um lugar específico. Mobilizando conteúdos das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, principalmente Sociologia e Geografia, e dos componentes de Linguagens e suas Tecnologias, o projeto busca auxiliar os estudantes no processo de autoconhecimento e no reconhecimento da importância da comunidade e dos lugares de vivência na construção da identidade. Espera-se, com este projeto, colaborar também para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.

TCT

• Processo de envelhecimento, respeito e valorização do idoso

• Vida familiar e social

• Diversidade cultural

ODS

8 Trabalho decente e crescimento econômico

10 Redução das desigualdades

11 Cidades e comunidades sustentáveis

Materiais

• Caderno

• Tesoura

• Cola

• Fitas adesivas coloridas

• Barbante

• Papéis

• Cartolina e/ou papelão

• Canetas hidrocor

• Lápis

• Régua

• Revistas velhas

• Cartões-postais

• Fotografias pessoais

• Celular, computador ou tablet com conexão à internet

• Impressora

• Aplicativo para scrapbook, gravador de som, fone de ouvido

• Pranchetas

Produto final

Guia do bairro, com a história, os marcos, os lugares e as personagens relevantes para a construção da identidade dos moradores.

Percurso do projeto

1 ETAPA

Nesta etapa, vocês vão reconhecer que a identidade não é fixa e compreender o modo como o lugar onde vivemos colabora para construí-la. Além disso, vão fazer um exercício autobiográfico com base na relação entre identidade e bairro. Como produto final, vocês vão elaborar um álbum de identidade do lugar de vivência.

2 ETAPA

Nesta etapa, vocês vão explorar os conceitos de espaço e de lugar e sua relação com as vivências no bairro, além de conhecer a técnica de deriva, o que possibilitará observar e experimentar o ambiente urbano. Vocês são convidados a refletir sobre os usos que fazem do bairro, seus percursos e os personagens com os quais interagem no cotidiano. Como produto desta etapa, vão elaborar uma representação cartográfica do bairro, com base na cartografia social.

3 ETAPA

Nesta etapa, vocês vão investigar a importância da memória individual e coletiva e compreender os métodos de investigação que utilizam a história oral. Por meio de entrevistas com moradores antigos do bairro, vocês vão elaborar o produto final.

FINAL ETAPA

Nesta etapa, o conhecimento adquirido ao longo do Projeto Integrador, bem como os produtos das etapas anteriores, servirão de base para vocês elaborarem um guia do bairro.

A identidade que me habita

Consulte as orientações no Manual do professor.

Como construímos nossa identidade?

■ Jovens grafiteiros produzem arte urbana nos muros de um bairro em Ribeirão Preto (SP). Fotografia de 2021.

Saber quem somos e o que nos define é um questionamento comum, principalmente na adolescência. Essa reflexão se relaciona ao conceito de identidade e à imagem que construímos de nós mesmos.

O conceito de identidade

A identidade nos individualiza em relação ao “outro” e, por isso, nos percebemos enquanto indivíduos dotados de singularidade. No entanto, é muito provável que compartilhemos aspectos de nós mesmos, como características culturais, com outras pessoas ao longo da vida.

Mesmo que você possa ser muito diferente dos jovens da imagem, há, entre você e eles, um tipo de vivência afetiva e simbólica que caracteriza a chamada cultura juvenil. Ou seja, a identidade de cada um de nós é atravessada pelas fases da vida e se transforma pouco a pouco.

Ainda que roupas, gostos e interesses em geral possam ser muito diferentes entre os jovens, esses fatores, além da vivência em grupos e em espaços públicos, que imprimem neles suas marcas culturais, parecem ser comuns nesse momento da vida. Isso não significa que, depois, os elementos que moldavam a identidade de cada um não possam ser ressignificados e até mudar.

Como seres humanos, estamos em constante mutação. Contudo, a mudança de quem somos está circunscrita a padrões que dependem, por exemplo, de construções coletivas determinadas pela cultura. A identidade, portanto, não é fixa, mas constantemente construída pela constatação da “diferença” em relação ao que é o “outro”, o que nos permite comparar e fazer contrapontos.

Na trajetória que cada um de nós percorre, nossa identidade se forma por um conjunto variado de atributos, tornando-a multifacetada e sendo possível transitar por várias delas em um mesmo momento.

A nacionalidade, a classe social, o gênero, o grupo geracional ao qual pertencemos, a atividade profissional que exercemos, o que consumimos, entre muitas outras coisas, são algumas das categorias que conformam a identidade.

Referências na construção da identidade

É possível dizer que a identidade se constrói por aspectos como a cultura, a história, a geografia etc., gerando nos indivíduos comportamentos e atitudes de acordo com crenças, valores e padrões herdados pela família, pela sociedade e pelo lugar onde se vive. Além disso, há também a agência do indivíduo, que pode incorporar esses mesmos valores ou se contrapor a eles, comportando-se conforme aquilo que pretende transmitir sobre si para os outros.

A identidade assegura a continuidade do indivíduo, bem como do grupo ou da própria sociedade, por meio de um percurso existencial sempre em transformação: com rupturas, crises, adaptações, reinvenção e sobreposição. Assim, ainda que mudanças aconteçam, haverá sempre um pedacinho da identidade que pertence também ao grupo ou à cultura.

Individualizar: adquirir características únicas; particularizar.

O livro de Brígida

Campbell explora como a arte pode transformar e revitalizar espaços urbanos, aguçando a sensibilidade e promovendo a conexão entre as pessoas e as cidades. Apresenta projetos e iniciativas que demonstram como intervenções artísticas podem enriquecer a vida urbana e criar comunidades mais coesas e engajadas.

• C AMPBELL, Brígida. Arte para uma cidade sensível . São Paulo: Invisíveis Produções, 2015. Conexões

2. Resposta pessoal. Espera-se que, nas conversas, os estudantes possam avaliar como são os hábitos e os comportamentos da juventude em relação aos espaços públicos no bairro onde moram. Nessa conversa, espera-se que eles considerem aspectos próprios da cultura de cada local, citando as manifestações artísticas, as atividades que acontecem na comunidade, os locais e as razões pelas quais acontecem as reuniões de pessoas; espera-se também que falem sobre a mobilidade dentro dos bairros, desenvolvendo uma reflexão sobre aspectos urbanos do local, o que contribui para a compreensão de cidadania.

ATIVIDADES

Consulte a resposta no Manual do professor.

1. Como você avalia a construção de sua identidade em relação à de seus pais ou responsáveis? Acredita que há uma distância ou que suas características identitárias se aproximam?

2. Para desenvolver esta atividade, leia o texto a seguir e, em pequenos grupos, discutam as questões motivadoras.

[...] a cultura não é um código que se escolhe simplesmente. É algo que está dentro e fora de cada um de nós, como as regras de um jogo de futebol, que permitem o entendimento do jogo e, também, a ação de cada jogador, juiz, bandeirinha e torcida. Quer dizer, as regras que formam a cultura (ou a cultura como regra) é algo que permite relacionar indivíduos entre si e o próprio grupo com o ambiente onde vivem.

DA MATTA, Roberto. Você tem cultura. Explorações: ensaios de sociologia interpretativa. Rio de Janeiro: Rocco, 1986. p. 121-128.

Estudos feitos com jovens ressaltam particularidades relacionadas às distintas formas de socialização, ou seja, como são adquiridos os hábitos comportamentais do grupo ou da sociedade à qual pertencem. A socialização se desenvolve:

• pelo desejo de mobilidade (caminhar e transitar pela cidade e pelos espaços);

• pela união em grupos;

• pelo engajamento em atividades que priorizem formas de cooperação e solidariedade;

• pela experimentação da política e da ética, vivência proporcionada por manifestações artísticas.

1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes reflitam sobre a própria identidade e a de seus pais ou responsáveis, considerando os contextos em que foram formadas.

Escolha uma entre as situações apresentadas e converse com seu grupo sobre como isso acontece em seu bairro.

■ É mais fácil criar vínculos com pessoas que estão próximas. Por isso, muitas vezes, os vizinhos se tornam nossos amigos. São Paulo (SP). Fotografia de 2024.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Lugar como espaço de identidade

Os sentidos que o lugar assume em nossas vivências desempenham um importante papel nos processos de identificação, sendo elemento-chave para compreender a produção de identidades culturais.

O espaço, antes de tudo, é entendido como um espaço vivido, apropriado por meio das experiências pessoais e coletivas. O geógrafo canadense Edward Relph (1944-) afirma que ser humano é viver em um mundo cercado de lugares significativos, ter e conhecer o seu lugar.

Ter um lugar é a base a partir da qual se chega a uma consciência de si mesmo, e esse lugar é definido pelo sentimento de pertencimento que cada um de nós tem em relação a ele.

É provável que existam espaços em seu bairro que sejam frequentados por você e seus amigos, mesmo que não tenham sido planejados por vocês. Ao se apropriarem deles, é possível que, no nível simbólico, outros frequentadores se sintam impedidos de estar nesse mesmo local e compartilhar das mesmas vivências que você e seu grupo de amigos. Para quem vê de fora, há uma associação natural entre certos lugares e certas pessoas, o que inevitavelmente nos faz pensar que os lugares têm uma identidade.

Um exemplo disso são as pistas de skate, localizadas em praças e parques, usadas por praticantes desse esporte. Em locais muito frequentados por esqueitistas, será muito difícil que também circulem idosos, por exemplo.

■ O Skate Park Orla do Guaíba, em Porto Alegre (RS), apresenta uma das maiores pistas públicas de skate da América Latina. As pistas de skate são espaços para se reunir e praticar esporte. Fotografia de 2021.

EVANDRO LEAL/AG. ENQUADRAR/FOLHAPRESS

Sabe-se que parte importante da socialização dos jovens acontece quando se apropriam dos espaços públicos: da rua, das praças, dos parques, dos “pedaços” do bairro usados para o encontro, para a troca e a circulação de ideias, formando as diversas identidades que fazem da juventude um grupo diverso.

Nos espaços públicos, os jovens se divertem, protestam, reivindicam, denunciam e fazem festa. Em suas manifestações e práticas, diversas linguagens artísticas e culturais se articulam, do skate ao hip-hop, da moda aos quadrinhos, do grafite aos grupos musicais, dos mais diferentes gêneros e estilos. E, dessa forma, novos lugares vão sendo construídos, no trânsito, na passagem, na fronteira entre a “comunidade juvenil” e a vida pública.

Simbolismos dos lugares

O Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, a Torre Eiffel, em Paris, ou a Estátua da Liberdade, em Nova York, são construções humanas cujo valor simbólico está associado à identidade dessas cidades. Suas representações ilustram cartões-postais comprados por inúmeros turistas de todos os lugares. Como exemplo, é possível citar a estátua do Cristo Redentor, projeto iniciado no final do século XIX e inaugurado em 1931. A representação de Jesus Cristo, localizada no alto do Corcovado, no Rio de Janeiro, olhando de cima para a cidade, é um símbolo religioso cristão que evidencia a influência do cristianismo na cultura e na formação do país. Por sua vez, a Torre Eiffel, construída em 1889, como uma obra de arte da vanguarda europeia, representa os avanços tecnológicos da indústria francesa naquele período. Já a Estátua da Liberdade, de 1886, finalizada 100 anos depois da Declaração da Independência dos Estados Unidos, simboliza a liberdade do povo estadunidense.

Apesar da carga simbólica dessas edificações para as sociedades, o habitante local pode não ter uma relação de proximidade com o que essas construções representam; muitas vezes, os locais dessas construções são até pouco frequentados pelos moradores das cidades, mas atraem milhares de turistas diariamente. Isso significa que o distanciamento físico pode causar desconexão entre as pessoas da cidade e o local que a simboliza, o que não impede, porém, de representar uma identidade.

Nesse sentido, uma reflexão relevante é se a ideia de pertencimento, sensação fundamental para criar uma relação entre identidade e lugar, necessariamente envolve uma vivência cotidiana com os lugares.

Para uma corrente de pensadores da Geografia, como Yi-Fu Tuan (1930-2022) e Anne Butiimer (1938-2017), longe de ser um mero sinônimo paralocal, sítio ou ponto em um mapa, o lugar é recortado emocionalmente, carregado de simbolismo e de valor para aqueles que, por um sentido de enraizamento, mantêm uma relação de pertencimento. Assim, uma rua onde alguém passa a infância pode ser chamada de lugar, tanto quanto o bairro onde mora, ou até mesmo sua casa. O lugar passa a ser uma importante fonte de autoconhecimento, podendo se destacar como elemento central na construção das identidades subjetivas e culturais.

■ Os espaços conhecidos como “cartões-postais” expressam o valor simbólico de determinado lugar. Na fotografia, o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro (RJ), sendo visitado por turistas, em 2023.

Território e identidade no mundo globalizado

Em um mundo globalizado, parece mais complicado associar as identidades aos lugares de pertencimento das pessoas. Isso porque comportamentos, gostos e influências são cada vez mais compartilhados pelos meios de comunicação e, sobretudo, pelas mídias sociais.

No século XXI, dois conceitos aparecem intimamente relacionados: globalização e pós-modernidade. Como expressão desse novo tempo, temos um mundo dominado pelo capitalismo e pela exacerbação da individualidade, composto de relações de interação e conexão à distância promovidas, sobretudo, pelas novas tecnologias.

Como é possível manter um sentido de lugar e, por conseguinte, de si mesmo em uma realidade marcada pela fluidez e conexão virtual? Como avaliar a particularidade dos lugares em um mundo de relações globais?

Pensando sobre essas questões, alguns autores afirmam que estaríamos presenciando o “fim” dos lugares autênticos, em favor de superfícies padronizadas, funcionais, ou, por outra perspectiva, superfícies plurais, englobando traços de diferentes culturas, mas que, em todo caso, apresentam fracos (ou inexistentes) laços simbólicos de autenticidade com os indivíduos que circulam por eles.

■ A imitação de uma cidade, com ruas, avenidas e viadutos que permitam a circulação das pessoas é o modelo arquitetônico de quase todos os shopping centers das grandes cidades. Essa configuração torna esses locais um exemplo da perda de autenticidade, de identidade e de conexão das pessoas com seus lugares de vivência. Fotografia em shopping na cidade de Campinas (SP), em 2022.

ATIVIDADES

Consulte as respostas e as orientações no Manual do professor.

1. Leia o trecho a seguir e responda às questões propostas.

[…] lugar é o sentido do pertencimento, a identidade biográfica do homem com os elementos do seu espaço vivido. No lugar, cada objeto ou coisa tem uma história que se confunde com a história dos seus habitantes, assim compreendidos justamente por não terem com a ambiência uma relação de estrangeiros [...] A globalização não extingue, antes impõe, que se refaça o sentido do pertencimento em face da nova forma que cria de espaço vivido. Cada vez mais os objetos e coisas da ambiência deixam de ter com o homem a relação antiga do pertencimento, os objetos renovando-se a cada momento e vindo de uma trajetória, que é para o homem completamente desconhecida, a história dos homens e das coisas que formam o novo espaço vivido não contando uma mesma história, forçando o homem a reconstruir a cada instante uma nova ambiência que restabeleça o sentido de pertencimento. [...]

MOREIRA, Ruy. Da região à rede e ao lugar: a nova realidade e o novo olhar geográfico sobre o mundo. etc... – espaço, tempo e crítica, v. 1, n. 1, p. 61, 1o jun. 2007.

a) Segundo o autor, como podemos definir lugar?

b) E xplique como a globalização influencia o sentido do lugar.

1. a) Lugar é o que dá sentido de pertencimento; é a identidade biográfica da pessoa, construída com base nos elementos de seu espaço vivido. 1. b) A globalização não extingue o espaço vivido, mas transforma o sentido do pertencimento ao criar novos espaços vividos, incluindo os virtuais.

2. Entre o final de 2013 e janeiro de 2014, no estado de São Paulo, surgiu o fenômeno social conhecido como “rolezinho”. Nele, jovens pobres da periferia da cidade se organizavam em grupos para frequentar shopping centers. Os rolezinhos, organizados nas redes sociais, reuniam dezenas ou até centenas de adolescentes em um só local, gerando críticas por parte da sociedade e dos frequentadores dos shopping centers. Leia o trecho do artigo a seguir.

Em sua maioria pobres e negros, os adolescentes que participaram dos Rolezinhos tiveram a possibilidade de maior acesso aos bens de consumo e à participação social, e não havia uma explícita motivação política no movimento. [...] Apesar da busca pelo pertencimento e inserção social, a partir dos primeiros Rolezinhos, tornou-se clara a segregação de classes e o preconceito racial que se expressaram por meio da repressão policial e o recurso às estratégias jurídicas, que foram utilizadas pelos administradores dos shoppings centers para coibirem esses movimentos.

MARQUES JR., Gessé; ALVES, Mariana; GONÇALES, Reniele. Rolezinhos: exclusão social e jurídica de jovens da periferia. Contemporânea – Revista de Sociologia da UFSCar, v. 13, n. 1, p. 191-219, jan./abr. 2023. Disponível em: https://www. contemporanea.ufscar.br/index.php/contemporanea/article/view/1253/556. Acesso em: 22 ago. 2024.

a) Você já tinha ouvido a respeito desse fenômeno? Conheceu algum jovem que participou dele?

b) Como você compreende o shopping center como produtor de identidades?

■ Rolezinho em shopping na cidade de São Paulo (SP). Fotografia de 2013.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
ROBSON VENTURA/FOLHAPRESS

em AÇÃO

Consulte as orientações no Manual do professor.

Álbum de identidade local

Nesta etapa do projeto, você vai construir um álbum em que esteja representada sua identidade. Para que ele fique interessante e contribua para o projeto final, siga as instruções:

• S elecione imagens de seu lugar de origem. Podem ser fotografias pessoais ou cartões-postais, notícias ou publicidade disponíveis na internet ou em jornais. É importante que a imagem possa transmitir a essência do lugar.

• Selecione também imagens de lugares específicos do bairro com os quais você mantém uma relação ou vivência: sua casa, a escola, uma rua específica, um ponto de ônibus, um mercado, uma praça pública, um centro de saúde, uma igreja, o clube etc. Essas imagens podem ser fotografias pessoais ou de elementos que se relacionem com sua vivência com o local escolhido.

PASSO

• Para que as imagens de lugares do bairro possam compor uma narrativa sobre uma vivência, é relevante acrescentar um comentário sobre o que você costuma fazer nesses lugares ou sobre um fato interessante que tenha ocorrido ali. Por exemplo, você pode escolher mostrar uma praça pública do bairro porque esteve em uma manifestação popular que reuniu ali muitas pessoas. Separe as imagens e anote em uma folha avulsa os comentários sobre cada uma. 3

PASSO

4

• Cada comentário sobre o lugar pode ser traduzido em várias formas de representação: relatos curtos, legendas e citações (de canções, poemas ou livros). Esses textos podem ser escritos à mão em papéis coloridos ou cartões, digitados e impressos ou ainda formados com tipografias variadas de revistas antigas para acompanhar as imagens e deixar as páginas mais envolventes.

PASSO

5

• Escolha se seu álbum vai ter formato físico ou digital. Para o físico, use um caderno grande sem linhas, preferencialmente com capa dura, ou crie o seu com folhas coloridas e uma capa personalizada, unindo as páginas com barbante. Para o digital, utilize ferramentas gratuitas on-line.

PASSO

6

• Depois da escolha do formato, monte o álbum com as imagens e os textos selecionados. Seja criativo na diagramação das páginas, posicionando imagens e escolhendo formatos e materiais de fixação. Se for físico, use cola e fitas adesivas; se for digital, simule diferentes materiais. Adicione frases de efeito e breves comentários. Preencha espaços entre imagens com desenhos ou grafismos que representem sensações ou conexões entre vivências.

PASSO

7

• Compartilhe seu álbum com os colegas e/ou nas redes sociais e observe se suas experiências coincidem com as de outros jovens.

Diagramação: técnica gráfica para organizar elementos, como textos e imagens, em um espaço.

Aproveitem para retomar a pergunta norteadora desta etapa: Como construímos nossa identidade?

Desvendando meu bairro

Consulte as orientações no Manual do professor.

Que relações

estabeleço

com meu bairro?

■ Jovens habitantes de favela carioca percorrem seu bairro e constroem relações de convivência. Fotografia de 2024.

No dia a dia, ao caminhar pelas ruas do bairro onde você mora, é possível perceber formas e funções específicas que dão a ele características próprias, não é? Obviamente, os bairros não são todos iguais: eles apresentam grande variedade de tamanhos, de ruas, de número de habitantes e de construções diferentes.

Bairro como espaço de vivência cotidiana

Na imagem desta página, observam-se jovens em uma favela no Rio de Janeiro. As escadarias que dão acesso às casas são um elemento marcante desses lugares, geralmente localizados em morros. Subir e descer as escadas constantemente é parte do cotidiano desses moradores. Isso significa que, dependendo de como é a estrutura do bairro (se é urbano ou rural, se existem espaços de lazer, como são as vias de transporte, as áreas verdes etc.), as características que ele apresenta podem impactar a vivência cotidiana, bem como a convivência, seja com vizinhos, seja com outras pessoas com as quais nos relacionamos – moradoras ou não do bairro.

Vocação regional

Além da estrutura urbana e geográfica, os bairros também apresentam funções específicas. Existem bairros predominantemente comerciais, mas isso não significa que não haja pessoas morando neles. Outros são quase completamente residenciais; e muitos são mistos, apresentando ruas com maior presença de comércio e serviços e outras mais residenciais. Há também bairros industriais e até bairros históricos, que são aqueles que preservam edifícios, ruas e monumentos com significado histórico e que geralmente são protegidos por leis de preservação. As funções de um bairro são consequência de sua história de ocupação, relacionada a interesses econômicos, políticos, culturais ou ambientais. Leia o texto a seguir.

A busca pelo reconhecimento da vocação individual tem se tornado um propósito, especialmente entre as novas gerações. É uma maneira de utilizar talentos e habilidades em uma atividade que garanta retornos pessoais ou econômicos, e que possa ser constantemente aprimorada. Essa jornada de autoconhecimento, aparentemente individual, pode ganhar novas dimensões se expandirmos o conceito para o coletivo e fomentarmos as vocações das diferentes regiões do país.

No estado de Santa Catarina, o talento para a produção de peças de vestuário transformou Brusque, um município com cerca de 140 mil habitantes. Essa atividade industrial fez com que o município tivesse cerca de 88% do seu PIB gerado pelos setores industrial e de serviços, ocupando no cenário nacional as posições 100a e 56a em número de empresas e IDH, respectivamente. O desenvolvimento produtivo local também traz retorno para o setor do turismo e contribui para a retenção de talentos na região [...]

Uma vocação regional retém os talentos na comunidade e pode ser uma alternativa para reduzir o fluxo migratório, que resulta em cidades quase “fantasmas” nas regiões mais interioranas e no aumento populacional das grandes metrópoles e regiões metropolitanas. [...]

Esse dilema de fluxo migratório enfrentado há décadas no Brasil pode ser mitigado com políticas públicas voltadas para a retenção e o aperfeiçoamento dos talentos, incluindo as novas gerações. Investir na capacitação dos jovens em suas comunidades, preparando-os para atuarem nas atividades vocacionais de suas regiões, ajuda a estimular o desenvolvimento local.

MURTA, Domingos. Do individual ao coletivo: as vocações regionais como motor do desenvolvimento. Central Press, Paraná, 2023. Disponível em: https://www.centralpress.com.br/do -individual-ao-coletivo/. Acesso em: 23 ago. 2024.

Conexões

Esse longa-metragem é um clássico do cinema brasileiro. Nele, cinco jovens da favela percorrem espaços emblemáticos da cidade do Rio de Janeiro. A linguagem cinematográfica ajuda a revelar, em imagens abertas da "cidade maravilhosa”, contrapostas a zooms que evidenciam os espaços de pobreza, as profundas desigualdades sociais, cenário para que a narrativa se desenvolva.

• RIO, 40 graus.

Direção: Nelson Pereira dos Santos. Produção: Equipe Moacyr Fenelon. Brasil, 1955 (100 min).

Forme dupla com um colega e conversem sobre a questão a seguir. Depois, compartilhem suas opiniões com os demais colegas da turma em uma roda de conversa.

• De acordo com o texto, como é possível incentivar a vocação regional e garantir trabalho para os jovens?

Espera-se que os estudantes reconheçam que políticas públicas voltadas ao aperfeiçoamento de talentos, como o investimento em capacitação dos jovens em suas comunidades, podem incentivar a vocação regional e garantir trabalho para a nova geração.

ATIVIDADES
NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Em um bairro, as mudanças provocadas pela chegada de indústrias podem contribuir para aumentar as desigualdades sociais

O Distrito Industrial de Barcarena, no Pará, conta atualmente com 94 empresas em uma área de mais de 8 mil hectares. Importante polo industrial, nessa cidade é feita a industrialização, o beneficiamento e a exportação de caulim, alumina, alumínio e cabos para transmissão de energia elétrica, entre outros.

Mas o município nem sempre foi assim. Município amazônico com vocação para a agricultura (especialmente produção de abacaxi e de açaí), por Barcarena já transitaram pessoas das mais diferentes origens e naturalidades, como os povos indígenas originários do local e, a partir do final do século XVII, portugueses, italianos, japoneses, povos africanos e outros estrangeiros, cada qual produzindo suas influências culturais no município.

No entanto, com a chegada das indústrias de alumínio para a exploração da bauxita, no final do século XX, Barcarena sofreu transformações em sua paisagem e na configuração do município.

■ Vila dos Cabanos, bairro criado para abrigar trabalhadores das indústrias de alumínio, em Barcarena (PA). Fotografia de 2024.

[...] Barcarena viabilizou a implantação de um porto de exportação com grande capacidade de escoamento – o Porto de Vila do Conde, o maior do Pará. Atraiu, ainda, investimentos públicos e privados para instalação de indústrias de beneficiamento de minérios, como a bauxita, que dá origem ao alumínio. Com isso, migraram para o local milhares de pessoas de diferentes regiões do Brasil para atuar nesses projetos, o que triplicou o número de habitantes.

BARCARENA: a cidade da Amazônia que virou polo industrial de alumínio. Revista Alumínio, 28 abr. 2021. https://revistaaluminio.com.br/barcarena-a-cidade-da-amazonia-que-virou-polo-industrial-de-aluminio/. Acesso em: 23 ago. 2024.

Saiba mais

Essa transformação culminou na expansão da Vila dos Cabanos, distrito rural que foi reestruturado, na década de 1980, para receber os trabalhadores (e seus familiares) das empresas de alumínio implantadas, oferecendo moradia, comércio e serviços essenciais, como saúde e educação. Tal transformação, porém, não evitou problemas e conflitos na cidade. Leia o trecho.

[...] [município de Barcarena] vivenciou uma série de mudanças ligadas à modernização do espaço, porém não foram considerados a população e os costumes locais. Dessa forma, criou-se um urbano, mais moderno, e manteve-se outro urbano ribeirinho, tradicional, no mesmo território [...] Entre 1980 e 2010, é possível observar que esse processo de reestruturação do espaço criou uma fragmentação espacial entre as comunidades do município de Barcarena. A Barcarena-sede, que antes era considerada a área mais importante do município, foi excluída dessa “modernização” espacial criada pelo complexo industrial. É possível identificar que havia no local duas realidades muito distintas, comparando-se a Vila dos Cabanos e a Barcarena-sede, assim como no restante do município.

CARMO Monique Bruna Silva; COSTA, Sandra Maria Fonseca da. Os paradoxos entre os urbanos no município de Barcarena, Pará. Rev. Bras. Gest. Urbana, v. 8, n. 3, set./dez. 2016. Disponível em: https://doi.org/10.1590/2175-3369.008.003.AO01. Acesso em: 23 ago. 2024.

ATIVIDADES

1. Em que tipo de bairro você mora? Você sabe se o bairro sempre teve a mesma configuração?

Resposta pessoal. Incentive os estudantes que morem no mesmo bairro a conversar para responder a esses questionamentos.

2. Você conhece a vocação regional de onde vive? Acredita que a vocação do bairro é adequada às possibilidades de emprego e renda ofertados em sua região?

Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes possam reconhecer o contexto em que o bairro está inserido.

3. Agora, individualmente, faça as pesquisas propostas a seguir.

Reúna cada informação em fichas com a síntese do que encontrou. Se possível, sistematize os dados em quadros ou gráficos.

• Faça uma pesquisa na internet para verificar o conjunto de habilidades, de disposições e de potencialidades do território onde você vive. Para isso, consulte fontes oficiais, como o site do IBGE: Mapa do Trabalho Industrial 2022-2025 (https://noticias.portaldaindustria.com. br/noticias/trabalho/mapa-do-trabalho-2022-2025-confira-a-demanda-de-profissionais-por -estado/), com dados sobre a demanda de profissionais por estado; Estudo das Vocações e Potencialidades da região Nordeste (https://www.gov.br/sudene/pt-br/centrais-de -conteudo/estudo-vocacoeseconomicas-ne.pdf), entre outros. A depender de onde você vive, faça uma busca orientada para uma região específica, pois muitas vezes os estudos podem ser feitos até por estados.

• Paralelamente, pesquise quais são os programas de capacitação oferecidos para as áreas com potencial de desenvolvimento na região onde mora. Pesquise também os centros tecnológicos e as universidades.

• Por fim, reúna os dados encontrados e escreva um texto no gênero carta, destinada aos seus responsáveis, tendo por base as seguintes questões norteadoras: O que quero para meu futuro está na região onde vivo ou será preciso considerar meu deslocamento? Por quais razões?

Respostas pessoais. Consulte as orientações no Manual do professor.

Trajetos e cotidiano no bairro

Os caminhos que traçamos para nos deslocar pelo bairro onde vivemos são muito relevantes para a construção da nossa identidade, pois eles nos dão oportunidade de conhecer e viver experiências que contribuem para ser quem somos.

Você já reparou no trajeto que faz para ir de sua casa até a escola? Já percebeu quantos lugares se situam nesse deslocamento?

[...] a essência do “lugar” é o movimento, pois ele outorga espaços na medida em que podemos nos locomover, isto é, variar nossa intencionalidade e nossas ações a partir da propriedade de nos deslocarmos no espaço, ou melhor, de o corpo criar espaço a partir de seu deslocamento. O lugar também pode significar uma pausa [...] Mas a pausa não é a sua condição essencial. Ela é provocada pela trajetória em tangente ou secante, de atração e de repulsão dos seres, que pode circunstancialmente torná-los insiders ou mantê-los como outsiders

HOLZER, Werther. Sobre territórios e lugaridades. Revista Cidades, v. 10, n. 17, 2013. Disponível em: https://periodicos.uffs.edu.br/index. php/cidades/article/download/12015/7714/. Acesso em: 23 ago. 2024.

Quando nos acostumamos com um trajeto, como o de casa para a escola, passamos a percorrê-lo de modo quase automático. Nessas situações de passagem, podemos ter a impressão de que nos isolamos momentaneamente das pessoas e do espaço que nos cerca. Nós nos vemos cercados por coisas familiares demais para chamar nossa atenção: as mesmas casas, os mesmos edifícios, lojas, carros e ônibus com os quais nos deparamos todos os dias; são poucas as chances de nos distrair dos próprios pensamentos ou do celular.

No entanto, essa desatenção prova que estamos bastante imersos no mundo que nos cerca. Não estamos isolados. Muito pelo contrário: estamos completamente inseridos no ambiente.

■ No dia a dia, tendemos a cair em um estado de desatenção em relação ao ambiente material e social que nos rodeia. Na fotografia, pedestres atravessam avenida no centro da cidade de Florianópolis (SC), em 2023.

EDU LYRA

Por que evitamos o contato com estranhos?

Você já parou para pensar por que, geralmente, as pessoas evitam interações cotidianas com pessoas desconhecidas? Leia o trecho do artigo a seguir.

Algumas regras não escritas regulam situações sociais do cotidiano, como não encarar ou falar com o estranho comprimido contra você no metrô. O sociólogo Erving Goffman chamou esse comportamento de “desatenção civil”, um ajuste que permite que, ainda que em um ambiente repleto de pessoas, elas ajam como se estivessem sozinhas.

DOMINGOS, Juliana. Como falar com estranhos. E por que a prática pode fazer bem. Nexo, 12 set. 2019. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/09/12/como-falar-com-estranhos-e-por-que-a-pratica-pode-fazer-bem. Acesso em: 30 ago. 2024.

Nesse mesmo artigo, a autora menciona uma análise do sociólogo alemão Georg Simmel (1858-1918), para quem esse comportamento reservado fazia parte da experiência da vida nas cidades modernas.

[...] A atitude espiritual dos habitantes da cidade grande uns com os outros poderia ser denominada, do ponto de vista formal, como reserva. Se o contato exterior constante com incontáveis seres humanos devesse ser respondido com tantas quantas reações interiores – assim como na cidade pequena, na qual se conhece quase toda pessoa que se encontra e se tem uma reação positiva com todos –, então os habitantes da cidade grande [...] cairiam em um estado da alma completamente inimaginável. [...]

DOMINGOS, Juliana. Como falar com estranhos. E por que a prática pode fazer bem. Nexo, 12 set. 2019. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/09/12/como-falar-com-estranhos-e-por-que-a-pratica-pode-fazer-bem. Acesso em: 30 ago. 2024.

ATIVIDADES

Consulte as respostas no Manual do professor

1. a) Desatenção civil é o comportamento que às vezes adotamos em ambientes repletos de pessoas desconhecidas e que nos faz agir como se estivéssemos sozinhos, resguardando assim o nosso espaço e o espaço alheio. Em um ônibus ou em uma rua movimentada, por exemplo, as pessoas tendem a ocupar-se de distrações individuais.

• De acordo com o trecho lido, discuta com os colegas.

a) Segundo o sociólogo Erving Goffman, o que é “desatenção civil”? Como ela acontece no cotidiano?

b) O comportamento descrito pelo sociólogo Georg Simmel costuma acontecer com vocês? Em quais situações?

1. b) Respostas pessoais.

Conexões

Neste conto, o narrador anônimo, sentado em uma cafeteria em Londres, sente-se fascinado com a multidão do lado de fora da janela e passa a refletir sobre como as pessoas se comportam como se estivessem isoladas, apesar da flagrante companhia dos outros passantes. Como observador, ele dedica seu tempo a categorizar os diferentes tipos de pessoas que vê.

• P OE, Edgar Allan. O homem da multidão. In: POE, Edgar Allan. Histórias extraordinárias . São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

■ Edgar Allan Poe (1809-1849).

Deambulação e deriva

Para ativar nossa atenção e perceber melhor os lugares onde vivemos, deveríamos explorar o espaço geográfico e criar uma relação com ele. Muitas vezes, seguimos trajetos habituais por necessidade e raramente mudamos nosso caminho. Mesmo como turistas, usamos mapas e roteiros.

Você já se perdeu em um lugar por não conhecer o trajeto? E no próprio bairro onde mora? No dia a dia, muitas vezes ignoramos as sensações dos espaços em função da pressa e das eventuais distrações. Você conhece os termos deambular e derivar?

Quando passeamos sem pressa e com intenção de contemplar, estamos deambulando, vagueando. Prestamos atenção nas formas, nas cores, nos cheiros e nos ritmos do ambiente, sem nos preocupar com o destino final.

Quando nos desviamos de uma rota conhecida e ficamos sem direção certa, dizemos que estamos à deriva, isto é, que estamos perdidos e sem controle, ou em uma situação ruim e perigosa. No entanto, a deriva também pode ser o contrário disso: ela pode ser um convite a explorar um espaço quando deambulamos.

A técnica da deriva permite investigar os aspectos psicogeográficos do espaço do bairro. Psicogeografia, como o termo sugere, é um encontro da psicologia com a geografia. Ela se concentra nas experiências psicológicas do espaço, e revela ou ilumina aspectos esquecidos, descartados ou marginalizados da cidade. Um bairro urbano não está determinado apenas pelos fatores geográficos e econômicos, mas também pela representação que seus habitantes e os moradores de outros bairros fazem dele.

ATIVIDADES NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Consulte a resposta no Manual do professor.

• Leia o trecho do texto a seguir e discuta com os colegas.

Há muito tempo, os responsáveis pela reurbanização observam os moradores da cidade passando o tempo em esquinas movimentadas, parando em bares e confeitarias e bebendo refrigerante junto à porta de casa, e já deram um veredito, que em essência é: “Que coisa mais deplorável! Se essas pessoas tivessem um lar decente ou um lugar mais próprio e arborizado, não estariam na rua!”

Esse julgamento representa um equívoco profundo a respeito das cidades. [...]

Ninguém pode manter a casa aberta a todos numa cidade grande. Nem ninguém deseja isso. Mesmo assim, se os contatos interessantes, proveitosos e significativos entre os habitantes das cidades se limitassem à convivência na vida privada, a cidade não teria serventia. As cidades estão cheias de pessoas com quem certo grau de contato é proveitoso e agradável, do seu, do meu ou do ponto de vista de qualquer indivíduo. Mas você não vai querer que elas fiquem no seu pé. E elas também não vão querer que você fique no pé delas.

JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. Tradução de Carlos S. Mendes Rosa. São Paulo: Martins Fontes, 2011. p. 59-60.

O texto afirma que algumas autoridades públicas consideram que as pessoas utilizam espaços públicos por falta de opção. Vocês acham que a autora concorda com essa afirmação? E vocês, concordam? Expliquem sua resposta.

Novas profissões

Consulte as orientações no Manual do professor

A configuração atual das cidades e as mudanças climáticas que enfrentamos exigem novos profissionais com habilidades voltadas para o meio ambiente e a sustentabilidade. O mercado de trabalho está cada vez mais focado em áreas relacionadas a ESG (sigla em inglês para Governança Social e Ambiental), refletindo a crescente demanda por práticas sustentáveis e responsabilidade social nas empresas.

Profissionais de ESG são essenciais para implementar e gerenciar projetos sustentáveis, desenvolvendo ações que promovem a responsabilidade ambiental das empresas. Eles trabalham com a criação e o monitoramento de indicadores que avaliam e melhoram as práticas ambientais. A atuação desses especialistas envolve desde a identificação de oportunidades para ações sustentáveis até a implantação de projetos que atendam a padrões de responsabilidade ambiental.

Para atender a essas demandas, geralmente procuram-se graduados em Engenharia Ambiental, que tenham também uma formação complementar em Ciências Sociais. Essa combinação de conhecimentos técnicos e humanistas é crucial para compreender e lidar com a complexidade dos desafios ambientais nas cidades e nos espaços urbanos, garantindo soluções eficazes e integradas para a sustentabilidade. Entre as características que unem as três preocupações ESG, estão:

• O uso de alternativas sustentáveis para a redução do impacto no meio ambiente, incluindo a redução da emissão de poluentes;

• Gerenciamento correto do descarte de materiais;

• Respeito aos direitos trabalhistas;

• Valorização da saúde e segurança no ambiente de trabalho;

• Incentivo e apoio à diversidade e inclusão;

• Atuação em projetos sociais e junto à comunidade;

• Atuação com a comunidade;

• Adoção de políticas para o controle dos processos;

• Adoção de práticas que combatem a corrupção e o trabalho escravo;

• Valores, postura moral e ética nos negócios.

Discuta com os colegas as questões a seguir.

1. Vocês consideram importante a atuação desses profissionais na atualidade?

2. Esse é um campo profissional que desperta o interesse de vocês? Por quê? Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes reflitam sobre a atuação desses profissionais e os próprios projetos de vida.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

em AÇÃO

Consulte as orientações no Manual do professor

Representação do meu bairro

Nesta etapa do projeto, você vai construir um álbum em que esteja representada sua identidade. Para que ele fique interessante e contribua para o projeto final, siga as instruções.

■ Estar à deriva no próprio bairro é explorar o espaço conhecido de uma maneira nova.

Nesta etapa, você vai realizar uma pesquisa de campo e entregar como produto uma representação cartográfica, segundo a abordagem da cartografia social, do bairro onde mora. Nessa abordagem, privilegia-se a participação ativa da comunidade na representação do espaço de vivência. O objetivo é contribuir para dar visibilidade ao uso que os diferentes grupos fazem dos territórios que ocupam, inclusive no que se refere à identidade.

Depois da elaboração da representação cartográfica, você vai refletir sobre os espaços que constituem o bairro onde vive e a forma como esses espaços colaboram para a formação da identidade dos moradores.

• Faça um mapa mental sobre o bairro. Pense nas divisões e limites com outros bairros, nas avenidas, ruas, vielas e como elas se interligam. Existem rios ou córregos? Caso existam comércios ou espaços de lazer, quais deles aparecem como destaque para você?

2

• Acompanhado de um responsável, caminhe pelo bairro sem utilizar um trajeto determinado, apenas escolhendo um ponto de partida e outro de chegada. Durante a pesquisa de campo, observe a paisagem, um importante conceito da Geografia. Pela paisagem, podemos analisar as dinâmicas que existem e que produzem determinado espaço, porque ela nos revela aspectos da história, da cultura, da economia, enfim, dos movimentos que ocorrem naquele espaço. Então, use os sentidos para observar as construções, a movimentação de pessoas, de veículos, os lugares de lazer, os sons e os cheiros por onde passar. Leve um gravador ou celular para registrar em áudio e em imagens suas percepções e um caderno para anotações e para esquematizar o trajeto percorrido.

PASSO

3

• Quando iniciar a deriva, deixe-se atrair pelo acaso, pelas atrações do espaço e do terreno e pelos encontros que surgirem. Para aprofundar, utilize o gravador ou celular para registrar sua impressão de como são as pessoas que estão ou transitam nesse local (como se vestem, o que fazem, como interagem entre si ou se elas realizam algum tipo de trabalho e comente se estão felizes, cansadas, bem-humoradas, concentradas, disponíveis; se usam uniforme, crachá, equipamentos específicos etc.). Se não houver pessoas em alguns locais de parada escolhidos, não há problema.

PASSO

4

• Com o material em mãos, reflita: Suas percepções durante a pesquisa de campo representam a dinâmica de seu bairro? Com base nessa reflexão, construa um mapa do território percorrido, destacando os elementos que considera essenciais para a identidade dos moradores. Esses elementos podem ser lugares de lazer (onde as pessoas se encontram), ruas principais, tipo de comércio (por exemplo, um produto bastante presente, uma barraca de comida etc.). Você também pode utilizar recursos digitais que permitam ilustrar o trajeto realizado.

PASSO PASSO

5

• Ao final, compare sua representação com a dos colegas. Lembre-se de que cada sujeito pode ter uma visão diferente do espaço e das características marcantes desse território. Caso morem em bairros diferentes, evidenciem as características que foram destacadas em cada um. Em uma roda de conversa, discutam os elementos em comum que apareceram nas representações de vocês e se percebem que essas produções funcionam como um documento da identidade dos moradores.

Aproveitem para retomar a pergunta norteadora desta etapa: Que relações estabeleço com meu bairro?

3

Memórias do bairro

Consulte as orientações no Manual do professor.

Qual é a história do bairro onde vivo?

■ Para conhecer a história de um bairro, é possível conversar com antigos moradores e também observar a paisagem: a arquitetura de um bairro pode nos revelar um pouco das transformações que aconteceram. Olinda (PE). Fotografia de 2024.

Ao se lembrar de sua infância, qual é a recordação mais significativa que você tem do lugar onde vive ou vivia?

Algumas vezes, registramos na memória acontecimentos importantes que ocorreram nos nossos lugares de vivência, como nosso bairro.

Construção de memória

Seguramente, as lembranças que você tem de um lugar não são idênticas às de outras pessoas, mas do conjunto dessas memórias é possível reconstruir o que aconteceu naquele passado e ter acesso à história desse lugar. A memória é mais que a vivência armazenada de um indivíduo: ela forma parte de um contexto social.

Nossa identidade (ou “identidades”, termo mais apropriado para indicar a natureza multifacetada e contraditória da subjetividade) é a consciência do eu que, com o passar do tempo, construímos através da interação com outras pessoas e com nossa própria vivência. Construímos nossa identidade através do processo de contar histórias para nós mesmos – como histórias secretas ou fantasias – ou para outras pessoas, no convívio social.

THOMSON, Alistair. Recompondo a memória: questões sobre a relação entre história oral. Projeto História, São Paulo, n. 15, abr. 1997.

O processo de construção da memória é o meio pelo qual o ser humano faz uma ligação entre seu passado e o presente, de modo a construir sua identidade social e a se posicionar no mundo. A memória exerce influência sobre a história (da sociedade e de cada indivíduo), a política, a linguagem, a cultura e a construção da identidade de um espaço urbano.

A memória não é sonho, é trabalho. Se assim é, deve-se duvidar da sobrevivência do passado, ‘tal como foi’, e que se daria no inconsciente de cada sujeito. A lembrança é uma imagem construída pelos materiais que estão, agora, à nossa disposição, no conjunto de representações que povoam nossa consciência atual. Por mais nítida que nos pareça a lembrança de um fato antigo, ela não é a mesma imagem que experimentamos na infância, porque nós não somos os mesmos de então e porque nossa percepção alterou-se e, com ela, nossas ideias, nossos juízos de realidade e de valor. O simples fato de lembrar o passado, no presente, exclui a identidade entre as imagens de um e de outro, e propõe a sua diferença em termos de ponto de vista.

BOSI, Eclea. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Tao, 1979. p. 17.

A capacidade de nos lembrarmos de algo que aconteceu contribui para que possamos construir nossa própria história e a história do lugar ao qual pertencemos.

Importância

da memória na construção da

identidade

A memória, isto é, as informações registradas e atualizadas de uma população, é fundamental para conhecer os modos de vida de um povo. É por meio da memória que o tecido social de uma comunidade se constitui e é por meio dela que se perpetuam suas tradições, suas heranças, seus valores e suas configurações culturais; daí a necessidade de serem recontadas, organizadas e celebradas.

A memória e sua contraparte necessária, o esquecimento, também são instrumentos de poder e sujeitos à manipulação. Assim, alguns grupos sociais, ou até mesmo o Estado, podem estimular e celebrar uma versão de um acontecimento em detrimento de outras. Assim, durante muito tempo, atribuiu-se o fim da escravidão somente à princesa Isabel, e não à luta da população afro-brasileira. A manipulação da memória tem impactos profundos na maneira como um povo se enxerga e se identifica.

No século XX, o sociólogo Maurice Halbwachs (1877-1945) rompeu com a ideia de memória que se tinha até o momento. Em vez de pensá-la como estritamente individual, Halbwachs argumentou que grande parte das lembranças de um indivíduo são compartilhadas. Essas lembranças podem ser compartilhadas com os amigos, na escola, no trabalho ou também sobre acontecimentos de um lugar. Assim, a memória individual seria um ponto de vista da memória coletiva . Quando a memória diz respeito a uma comunidade, ela se torna um patrimônio desse grupo e pode ser repassada de pessoa a pessoa. As lembranças de um passado que os indivíduos carregam na memória e que também são repassadas a eles pela memória coletiva fazem parte da construção de uma identidade, fortalecendo o pertencimento e mantendo viva a história desse grupo.

Tanto a memória individual quanto a memória coletiva fornece vestígios que podem ser considerados fontes para o ofício do historiador, ou seja, para a construção da narrativa histórica. Mas é preciso entender suas especificidades, compreender a possibilidade de transformação que ela apresenta, além de outros aspectos que fazem dela uma fonte subjetiva e mutável, que pode influenciar o modo como os eventos são lembrados e interpretados. Toda essa compreensão sobre a memória exige uma análise crítica e contextualizada, para assim garantir a precisão e a integridade da narrativa histórica.

■ Memória é o processo de construir e reconstruir nossas experiências passadas, moldando quem somos e como entendemos o mundo ao redor.

O papel da oralidade na transmissão de conhecimento

A história está ao redor, em nossa família, dentro das comunidades, nas memórias vivas e nas experiências das pessoas mais velhas. Essas pessoas podem nos contar histórias suficientes para encher uma biblioteca de livros. Todos os seres humanos têm história. Como analisamos, a transmissão das memórias dos indivíduos por meio da história oral pode ser um bom caminho para compreender o passado por uma outra perspectiva. Independentemente da idade, todos nós temos experiências interessantes para compartilhar.

Documentos e livros não conseguem conter tudo sobre nosso passado. A historiografia recente também já adotou a história oral como uma metodologia de investigação baseada em depoimentos sobre fatos ou acontecimentos do passado, o que valoriza também experiências de pessoas que tradicionalmente não eram consideradas na escrita da história como ciência. Ela pode revelar aspectos menos evidentes de uma sociedade ou grupo social, com base nas memórias individuais e coletivas. É muito importante que seja registrada a história de vida das pessoas: as lembranças dos mais velhos moradores de cada comunidade constituem fontes fundamentais.

■ Avó compartilhando documentos antigos com as netas, transmitindo memórias e tradições que ajudam a conectar o passado ao presente. Uma forma de acessar a memória é pela história oral, ou seja, pelas conversas que relembram o passado.

a) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes compreendam que o ritmo de uma cidade é percebido pela forma como gastamos nosso tempo, pelos fluxos de deslocamento e pelas atividades relacionadas aos diferentes períodos do dia. A infância do autor mostra que ele passava grande parte de seu dia em jogos de futebol (na escola e na vizinhança) entre as atividades cotidianas, como almoço e jantar. O tempo, nesse caso, parece distendido em atividades externas e de lazer.

ATIVIDADES

Consulte a resposta no Manual do professor.

• Leia o texto a seguir. Trata-se do trecho de um ensaio escrito por José Miguel Wisnik (1948-). A leitura do excerto pode contribuir para a compreensão de como as memórias pessoais ajudam a construir a história de uma cidade.

Nasci na Baixada Santista, no litoral do estado de São Paulo, em São Vicente, cidade que compartilha a ilha do mesmo nome com a sua vizinha, a tradicional cidade portuária de Santos, colada a ela como se fossem uma só cidade em duas. Vivi ali até os dezoito anos, entre 1948 e 1966. Era um mundo fusional de cidade, praia e mangue, onde o futebol estava em toda parte. Nos terrenos vazios e ruas não pavimentadas, em terrenos alagadiços de lama escura, a molecada esperava a muito custo a digestão do almoço para começar um jogo que terminava sempre na boca da noite, e que se estendia por todo o verão de férias. Muitas vezes voltei coberto da cabeça aos pés, sempre descalço e sem camisa, daquela lama – como uma camisa dez. Mais tarde, as aulas de educação física do meu ginásio se faziam na praia, e consistiam num jogo de futebol sem trégua, desde as sete horas até quase o final da manhã [...].Tudo isso tinha correspondência, é claro, com o que se via em volta, no mundo dos adultos. Como tantas cidades no Brasil, se não todas, São Vicente era pontuada de campos de futebol expostos à rua, às praças, às várzeas, rodeados de simples cercas baixas de madeira, onde se disputavam, a cada domingo, os campeonatos da “divisão principal” e da “primeira divisão”. [...]

b) O autor menciona os terrenos vazios, as ruas de lama não pavimentadas e os jogos de futebol que começavam à tarde e iam até escurecer. Os espaços públicos das ruas eram frequentados por crianças

e, portanto, ao que parece, eram seguros. Além disso, a cidade parecia ser menos urbanizada (terrenos vazios e ruas não pavimentadas).

WISNIK, José Miguel. Veneno remédio: o futebol e o Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

Fusional: fundido, misturado.

a) Para o autor do texto, a cidade de sua juventude se confundia com a praia e o mangue, e o ritmo dela, em sua percepção, era bastante influenciado pelo tempo dos jogos de futebol. Reflita sobre algum fator que pode influenciar o ritmo do bairro onde você vive e descreva-o.

d) As aulas eram feitas em espaços públicos, como a praia. Isso significa uma relação com o espaço escolar bem diferente do que é oferecido atualmente nas grandes cidades, nos espaços confinados de um edifício.

b) O autor revela aspectos sobre como era ser criança naquela cidade entre os anos 1948 e 1966. Identifique esses aspectos e reflita sobre como seria a cidade de São Vicente no período relatado.

c) A cidade descrita pelo autor se assemelha ao lugar onde você vive? Que diferenças e semelhanças existem?

c) Resposta variável. Espera-se que os estudantes considerem a cidade de São Vicente e as características apresentadas pelo autor para comparar com o lugar onde vivem.

d) O autor também descreve como eram as aulas de Educação Física em sua escola. O que essas lembranças podem significar para compreender a cidade?

e) O futebol, nas memórias do autor, estava presente em diferentes situações e lugares. É possível afirmar que, naquele período, para parte dos moradores de São Vicente, o futebol influenciava na construção da identidade? Justifique sua resposta.

f) Existem elementos no município ou no bairro onde você vive que contribuem para a formação da identidade dos moradores? Comente com os colegas.

e) Sim, de acordo com as memórias do autor, o futebol estava presente em diferentes situações e ocupava espaços da cidade. f) Espera-se que os estudantes reflitam sobre elementos em seus lugares de vivência que passem o sentimento de pertencimento.

em AÇÃO

Consulte as orientações no Manual do professor.

Entrevistas com antigos moradores

Nesta etapa do projeto, você vai construir um álbum de elementos que representem a sua identidade. Para que ele fique interessante e contribua para o projeto final, siga as instruções.

Nesta etapa, você e os colegas vão realizar entrevistas com antigos moradores do bairro onde vivem para ouvir deles as lembranças de suas vivências pessoais, das memórias do passado.

Por meio da coleta desses relatos, que devem ser complementados com registros fotográficos obtidos dos acervos pessoais dos entrevistados, ou em acervos históricos, é possível obter informações sobre lugares, pessoas e acontecimentos importantes no bairro.

■ Por meio de relatos de moradores mais antigos de um bairro, é possível acessar parte da história do lugar.

As fotografias tanto podem ativar a memória do entrevistado como podem também dar mais concretude ao que o entrevistador registra, por não ter vivido o período mencionado pelo entrevistado.

A entrevista será realizada em diálogo com métodos de pesquisa de história oral e complementada por consulta a acervos históricos para confrontar ou corroborar as informações obtidas. Finalizada a coleta de dados, recomenda-se que as entrevistas sejam gravadas e transcritas, e as fotografias obtidas podem compor um texto com informações relevantes sobre a história do bairro, algo essencial para construir, o produto final desse projeto integrador. Quanto mais entrevistas a turma fizer, mais rico será o panorama sobre como era o bairro no passado e como ele se transformou no que é hoje.

Observe o passo a passo para a realização da pesquisa.

Caso os estudantes morem em bairros diferentes, o resultado pode ser enriquecido com histórias de todos. Nesse caso, é possível agrupar estudantes que morem no mesmo bairro para realizar a pesquisa ou, ainda, que um mesmo grupo realize a pesquisa e a entrevista em mais de um bairro.

• Definam previamente algumas temáticas relevantes para as entrevistas sobre lugares, personagens e acontecimentos. Esse procedimento ajuda a estabelecer o objetivo da pesquisa sobre a história do bairro. Sugerem-se, a seguir, algumas questões norteadoras para as entrevistas.

• No bairro, há lugares que são simbólicos para os moradores?

• Nesse bairro, há alguma festividade ou celebração relacionada a uma religião ou cultura específica que se mantém há muito tempo?

• Existe um hábito local praticado por todos ou por um grupo específico de moradores do bairro?

• Há um personagem emblemático que representa a cultura local?

• O bairro tem uma vocação econômica, como a produção de um produto local, ou a existência de uma fábrica ou feira?

• Houve um evento climático ou de transformação da paisagem que alterou o bairro?

PASSO
FERNANDO FAVORETTO/CRIAR IMAGEM

PASSO

2

• Pesquisem, antes das entrevistas, assuntos que consideram relevantes. Ter algum conhecimento prévio sobre o bairro no passado pode ajudar a enriquecer os relatos dos entrevistados. A pesquisa pode ser feita de modo exploratório na internet ou conversando com amigos e familiares. Nessa pesquisa exploratória, vocês já podem consultar acervos históricos e separar imagens (fotografias ou de notícias) que serão usadas nas entrevistas.

PASSO

3

• Elaborem uma lista de perguntas para os entrevistados com base na seleção de temas. Depois de pronta a lista, escreva um breve texto de um ou dois parágrafos procurando responder, você mesmo, às suas perguntas. Esse exercício ajuda a testar a pertinência das perguntas e a refletir sobre a própria experiência.

PASSO

4

• Formem duplas; cada dupla vai escolher um antigo morador do bairro para ser entrevistado. O morador deve ser consultado sobre sua disponibilidade e qual a melhor oportunidade para conceder a entrevista (que deve ser marcada com antecedência).

• No dia da entrevista, expliquem os objetivos da pesquisa e a importância da memória e do relato desse entrevistado para o resgate da história do bairro. Lembrem-se do código de ética do pesquisador: ele deve solicitar ao informante uma autorização por escrito para poder utilizar e divulgar os dados da entrevista. Liguem o gravador e mantenham à mão as perguntas propriamente ditas e os recursos visuais (como as fotografias) que vão utilizar, deixando o entrevistado mais à vontade para se lembrar de fatos, pessoas e de situações que já viveu. Solicite a ele que, se também tiver imagens para ilustrar o que diz, apresente-as a vocês. 5

PASSO

6

• Depois da entrevista, transcrevam os trechos mais importantes em um documento que vai servir de base para construir um breve relatório, cujo texto deve iniciar com a apresentação do narrador. Em seguida, selecionem as principais perguntas e o conteúdo principal das respostas transcritas, procurando editá-las para que não haja excesso de oralidade, mas sem excluir ou distorcer as respostas. Além disso, selecionem algumas fotografias que ajudem a ilustrar as histórias contadas.

PASSO

7

• Compartilhem os relatórios entre todos e observem se é possível relacionar os relatos de diferentes entrevistados por categorias ou tópicos, como os que vocês elencaram no Passo 1.

Aproveitem para retomar a pergunta norteadora desta etapa: Qual é a história do bairro onde vivo?

PASSO

Guia do bairro

Consulte as orientações no Manual do professor

Nesta etapa do projeto, você vai reunir a produção realizada nas etapas anteriores para elaborar um guia do seu bairro, que deve ter informações atraentes e úteis para orientar os visitantes que queiram conhecer a história, os marcos de memórias e os pontos de interesse do bairro, além de apresentar lugares e pessoas que sejam relevantes para você. Por isso, sua produção não deve se restringir a um guia turístico ou um guia de serviços, mas deve representar um guia que apresenta a identidade do bairro. Lembre-se de indicar elementos que sejam especiais para você e de ilustrar bem o guia com fotografias e mapas, tornando-o único!

O guia pode ser impresso e distribuído, mas também pode ser digital e ficar disponível na internet para quem deseje consultá-lo.

Para organizá-lo, retomem a pergunta norteadora do projeto: Como o espaço contribui para a construção da identidade?

Para produzir o guia do bairro, leia as instruções a seguir.

PASSO

1

PASSO

2

Definir tópicos de informações

Façam uma reunião inicial para definir todos os conteúdos que estariam no guia, como: a apresentação do bairro (localização, formação, número de habitantes e principais atrativos), uma orientação de deriva para o visitante e um roteiro para o visitante conhecer os marcos do bairro.

Definir público e linguagem

Quando uma informação orientativa é disponibilizada, pressupõe-se um tipo de leitor específico. Por essa razão, é relevante que você defina para qual público deseja produzir seu guia. Ele pode ser voltado aos jovens, às famílias com crianças, aos idosos ou até mesmo aos trabalhadores ou profissionais que precisam de informações sobre o bairro.

PASSO

3

PASSO

4

Definir projeto visual

Reflitam sobre a escolha de cores, fontes e tamanho de letras, bem como a disposição e tipos de imagens presentes em seu guia. Se optar por um guia digital, você pode usar a plataforma de um blogue ou outra que esteja disponível gratuitamente na internet para elaborar e publicar o guia. Se você não conseguir colocá-lo na internet, o guia pode ser impresso.

Pesquisa em acervos históricos

Reúnam as informações coletadas sobre o bairro nos acervos históricos e insira trechos das entrevistas que colaborem com a história.

Seleção de croquis e mapas

Inserir mapas ou roteiros de itinerários é relevante para orientar o público e incentivá-lo a explorar o bairro. Será oportuno incluir as representações elaboradas na Etapa 2 , com a percepção dos estudantes sobre o bairro. 5

Definição de equipes

Como nem todos têm as mesmas habilidades, é importante criar uma equipe com funções bem definidas para a elaboração do guia. Alguns possivelmente vão se sentir mais à vontade para escrever, outros para criar o design, outros para pesquisar informações complementares, outros ainda para divulgar o guia e, finalmente, os que vão cuidar dos prazos e da qualidade da produção. A elaboração do guia funciona como uma pequena editora que coletivamente cuida de cada parte do trabalho. Definam o conjunto de ações que cada grupo será responsável por executar descrevendo as tarefas e o prazo que devem ser cumpridos. Isso é construir um plano de ação.

Plano de obra

A escrita dos textos e a forma como vão aparecer nas páginas são duas atividades fundamentais para construir o guia. E elas precisam funcionar de modo harmônico, ou seja, aquele que escreve precisa ter uma noção, ainda que breve, de como o texto vai aparecer na página. Do mesmo modo, quem for responsável por diagramar também deverá ter noção do tamanho dos textos e das imagens que serão incluídas. Para isso, construam um “plano da obra”, uma espécie de roteiro de produção em que devem estar predefinidos os pontos essenciais de composição do guia, como: número de páginas esperado, tamanho dos textos em cada página, quantidade e localização das imagens. 7

PASSO

8

PASSO

9

Publicar e/ou imprimir

Depois de finalizado e diagramado, o guia pode ser publicado em uma página de internet ou apenas impresso. Caso seja impresso, vocês devem definir se as impressões vão ser coloridas ou apenas em preto e branco e qual deve ser o tipo de folha escolhida.

Divulgação do guia

Tirem cópias do guia e as distribuam na escola para os colegas, para os professores ou para seus familiares. Se o guia for só digital, organizem-se para enviar os PDFs a uma lista de transmissão de celular ou subir o arquivo em uma página ou mídia social da escola. Caso optem por esse meio, é interessante desenvolver uma peça comunicacional que explique sinteticamente o objetivo do guia e seu uso para o público em questão.

AUTOAVALIAÇÃO

Consulte as orientações no Manual do professor.

Para finalizar este projeto, é imprescindível realizar uma avaliação de sua participação tanto individual quanto coletiva. Para isso, em uma folha de papel sulfite, faça o que se pede.

1. Sobre seu envolvimento e o da turma neste Projeto Integrador, responda às questões a seguir.

a) Houve participação em todas as atividades propostas? Argumente.

b) Em qual etapa houve mais dedicação? Em qual houve menos? Justifique.

c) Atribua uma nota de zero a dez para sua participação e para a participação da turma neste projeto. Argumente sobre essas notas.

d) Em relação a suas ações, quais seriam os aspectos que você acredita que podem ser melhorados na realização do próximo projeto? Em quais aspectos a turma pode melhorar?

e) Junte-se a um colega para comparar as respostas às questões anteriores, verificando com quais itens da avaliação vocês concordam e de quais discordam.

f) Escreva, de modo sucinto, quais foram suas dificuldades e quais aprendizagens desenvolveu no decorrer deste projeto.

2. Em relação ao assunto deste Projeto Integrador, você:

a) destacou o papel da história da comunidade na formação da identidade individual e coletiva? Orientou-se na tarefa de conhecer a si mesmo?

b) e xplorou recursos de pesquisa, análise e exposição próprios das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas em uma investigação do sentido, das origens e da natureza da identidade pessoal?

c) compreendeu a relação complexa entre indivíduo e sociedade, assim como entre indivíduo e lugar?

d) reconheceu a diversidade de trajetórias de vida, em especial entre diferentes gerações ou entre indivíduos de diferentes lugares?

e) compreendeu a importância de sua participação em questões e iniciativas locais e seu papel ativo na construção de um ambiente de respeito ao outro e aos direitos humanos?

f) produziu registros de observação em caderno de campo, de história oral e reflexões subjetivas?

3. Em relação à realização do produto final deste Projeto Integrador, você considera que:

a) ajudou o grupo a compreender como interpretar dados subjetivos para a realização de uma pesquisa qualitativa?

b) permitiu ao grupo reconhecer grupos sociais, suas identidades e estratégias criadas de modo que pudessem ser “vistos” ou aceitos por outros grupos?

c) utilizou criatividade e cooperação para um produto de qualidade que poderia ter aplicação prática na realidade do bairro?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COMENTADAS

ANTUNES, Ricardo. A classe trabalhadora não nasce sabendo o que fazer. [Entrevista cedida a] Paulo Schueler. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio / Fiocruz, Rio de Janeiro, 30 abr. 2024. Disponível em: https://www.epsjv. fiocruz.br/noticias/entrevista/a-classe-trabalhadora-naonasce-sabendo-o-que-fazer. Acesso em: 11 out. 2024. Na entrevista, o sociólogo Ricardo Antunes discute a precarização do trabalho como prática fundamental do atual modelo de produção.

ARENDT, Hannah. A condição humana . São Paulo: Perspectiva, 1996.

Nesse livro, a filósofa analisa com profundidade as atividades humanas, incluindo o trabalho, e discute suas implicações na vida social e política.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RESÍDUOS E MEIO AMBIENTE. Panorama dos resíduos sólidos no Brasil 2023. São Paulo: ABREMA, 2023. Disponível em: https://www.abrema. org.br/wp-content/uploads/dlm_uploads/2024/03/ Panorama_2023_P1.pdf. Acesso em: 14 out. 2024. O relatório usa a base de dados do Censo 2022 para apresentar o cenário dos resíduos sólidos no Brasil e discutir quanto o país avançou e o que precisa ser melhorado para alcançar as metas de redução, descarte e tratamento de resíduos.

BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. São Paulo: Zahar, 2022.

Nesse livro, o autor analisa a sociedade contemporânea pela perspectiva da sociedade do consumo, discutindo a transformação do comportamento das pessoas e os impactos na vida social.

BELIK, Walter. Estudo sobre a cadeia de alimentos. Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora). Instituto Ibirapitanga, Rio de Janeiro, 2020. Disponível em: https://www.ibirapitanga.org.br/wp-content/ uploads/2020/10/EstudoCadeiaAlimentos_ƒ_13.10.2020. pdf. Acesso em: 10 out. 2024.

O estudo apresenta um quadro geral das relações que envolvem a alimentação do brasileiro, abarcando a produção de alimentos, a dieta consumida e as diferenças entre classes sociais.

BRASIL. Ministério da Educação. Temas contemporâneos transversais na BNCC: contexto histórico e pressupostos pedagógicos. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2019c. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov. br/images/implementacao/contextualizacao_temas_ contemporaneos.pdf. Acesso em: 29 out. 2024.

Documento emitido pelo Ministério da Educação (MEC) que traz o contexto histórico e os pressupostos pedagógicos relativos ao trabalho com os Temas Contemporâneos Transversais (TCT).

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. Tradução de Roneide Venancio Majer. 11. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008. Nesse livro, Castells analisa o processo de globalização que marginaliza povos e países, excluindo-os dos avanços digitais.

CHAGAS, Viktor (org.). A cultura dos memes: aspectos sociológicos e dimensões políticas de um fenômeno do mundo digital. Salvador: EDUFBA, 2020.

O livro aborda o fenômeno dos memes, explorando-os como ferramenta de comunicação e de expressão cultural.

DAWKINS, Richard. O gene egoísta. Tradução de Rejane Rubino. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

Nessa obra, o autor introduz o conceito de memes , apresentando a forma que se replicam e fazendo correlação aos genes, associando a discussão sobre evolução e aspectos culturais.

GODWIN, Mike. Meme, Counter-meme. Wired , 1 o out. 1994. Disponível em: https://www.wired.com/1994/10/ godwin-if-2/. Acesso em: 11 out. 2024.

Artigo em que o escritor Mike Godwin utiliza o termo meme para se referir ao comportamento de usuários de fóruns de internet, tornando-se um dos responsáveis pela difusão do termo.

GROHMANN, Rafael. Plataformização do trabalho: entre dataficação, financeirização e racionalidade neoliberal. Revista Eptic: Revista Eletrônica Internacional de Economia Política da Informação da Comunicação e da Cultura/ UFS, São Cristóvão, v. 22, n. 1, p. 106-122, jan./abr. 2020. Disponível em: https://informe.ensp.fiocruz.br/assets/ anexos/f7a335720964ca1ef9ead6eb4e8dfaf8.PDF. Acesso em: 14 out. 2024.

O artigo discute o fenômeno da plataformização do trabalho dentro de um contexto neoliberal, analisando o papel dos algoritmos e os possíveis cenários futuros.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Tradução de Laurent León Schafter. Lisboa: Vértice, 1990.

O autor do livro explora o fenômeno da memória e a forma como ela surge: por meio da interação com outros membros da sociedade.

HEGEL, Georg Whilhelm Friedrich. Fenomenologia do espírito. Tradução de Paulo Menezes, Karl-Heinz Efken e José Nogueira Machado. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 2014. (Coleção Pensamento Humano).

No livro, o conceito de trabalho é desenvolvido em contexto amplo, discutindo a relação entre a consciência, o eu e a realidade.

HORTA, Natália Botelho. O meme como linguagem da internet: uma perspectiva semiótica. 2015. 191 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Universidade de Brasília,

Faculdade de Comunicação, Programa de Pós-Graduação, Brasília, DF, 2015. Disponível em: http://www.realp.unb.br/ jspui/bitstream/10482/18420/1/2015_NataliaBotelhoHorta. pdf. Acesso em: 14 out. 2024. Nesse trabalho, a autora discute o fenômeno dos memes e analisa seu uso como uma forma de expressão, uma linguagem da internet.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional por Amostra Contínua: Características gerais dos domicílios e dos moradores 2022. Rio de Janeiro: IBGE, 2022. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/ visualizacao/livros/liv102004_informativo.pdf. Acesso em: 22 out. 2024.

A pesquisa feita pelo IBGE tem o objetivo de produzir informações básicas para o estudo do desenvolvimento socioeconômico do Brasil.

KOBAYASHI, Sergio Mikio. Memes no meio digital: um olhar teórico sobre sua propagação nas redes sociais. Estudos linguísticos: revista do Grupo de Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo / GEL Campinas, v. 48, n. 2, p. 919-935, 2019. Disponível em: https://revistas.gel.org.br/estudoslinguisticos/article/view/2337. Acesso em: 14 out. 2024.

O artigo discute a constituição dos memes , desde a concepção biológica até a inserção nos meios digitais.

LINDEMANN, Cristiane; SCHUSTER, Patrícia Regina. A tiktokização como estratégia de combate à desinformação. Lumina : revista do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade de Juiz de Fora/UJFJ, Juiz de Fora, v. 18, n. 1, p. 110-127, jan./abr. 2024. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/lumina/article/ view/41751. Acesso em: 14 out. 2024. Nesse artigo, as autoras analisam de que forma uma agência de notícias que atua na checagem de informações utiliza as plataformas das redes sociais para combater fake news

LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. Tradução de Maria Lucia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. Nesse livro, o filósofo francês Gilles Lipovetsky questiona o consumismo como ferramenta para alcançar felicidade na sociedade contemporânea, debruçando-se sobre temas de autoajuda até consciência ecológica.

LUPTON, Deborah. Digital sociology. Londres: Routledge, 2015.

Dividida em oito capítulos, a obra apresenta uma tipologia das preocupações da sociologia digital.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS BRASIL. Transformando nosso mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Brasília, DF: ONU, 2015. Disponível em: https://brasil.un.org/sites/default/files/202009/agenda2030-pt-br.pdf. Acesso em: 10 out. 2024.

A Agenda 2030 da ONU apresenta um plano global com medidas pactuadas entre 193 Estados-membros com o objetivo de construir um mundo melhor para todos os povos e nações.

QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Relatos orais: do “indizível” ao “dizível”. In: QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de; SIMSON, Olga de Moraes Von. Experimentos com histórias de vida: Itália-Brasil. São Paulo: Vértice, 1988, p. 14-43. Disponível em: https://ria.ufrn.br/jspui/handle/123456789/1798. Acesso em: 22 out. 2024.

A autora discute a importância da oralidade e da história de vida para a Ciência por meio de relatos de cientistas sociais.

SHIFMAN, Limor. Memes in digital culture. Cambridge: MIT Press, 2014.

Nesse livro, a socióloga israelense discute as características dos memes e analisa os papéis que eles exercem na política.

TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: Difel, 1983.

Nessa obra, o autor defende que o lugar é construído por meio da experiência física, mental, sensorial e psicológica no espaço vivido e tem significado de afeto para o indivíduo.

UNESCO. Rumo às sociedades do conhecimento. São Paulo: Instituto Piaget, 2008.

O relatório trata as mudanças na sociedade a partir da Terceira Revolução Industrial por meio dos avanços da ciência e das novas tecnologias.

WORLD ECONOMIC FORUM. Future of Jobs Report 2023. Genebra, 2023. Disponível em: https://www.weforum.org/ reports/the-future-of-jobs-report-2023/. Acesso em: 10 out. 2024.

O relatório explora a evolução e a tendência do trabalho para os próximos cinco anos. Nessa edição, analisa a tendência socioeconômica e tecnológica.

WORLDWATCH INSTITUTE. Relatório Estado do Mundo. Washington, DC: Worldwatch Institute, 2010. Disponível em: https://akatu.org.br/wp-content/uploads/file/10_12_13_ RSEpesquisa2010_pdf. Acesso em: 22 out. 2024.

O documento traz um balanço e reflexões sobre questões ambientais. Publicado em 2010, o relatório abordava como tema central a relação entre consumismo e sustentabilidade.

ORIENTAÇÕES PARA O PROFESSOR

Caro professor,

Sabemos que o processo de ensino-aprendizagem é dinâmico e desafiador e nosso objetivo é apoiar você, educador, nessa jornada. Este manual foi elaborado com o intuito de servir como uma ferramenta prática e eficiente, oferecendo subsídios para o planejamento de suas aulas e a execução das atividades propostas.

Aqui, você encontrará orientações detalhadas sobre a condução dos projetos desenvolvidos, sugestões de atividades e estratégias que podem ser adaptadas às necessidades de sua turma.

Nossa intenção é proporcionar suporte para que suas práticas pedagógicas sejam enriquecedoras e eficazes, promovendo o desenvolvimento integral dos estudantes.

Esperamos que este material contribua para seu trabalho, potencializando o aprendizado e fortalecendo seu papel como mediador do conhecimento.

Boas aulas!

Orientações gerais ................................ 211

A Política Nacional de Ensino Médio ................................................. 211

Trabalho com competências e habilidades .................................................... 213

Estudante protagonista ...........................215

Culturas juvenis ................................................ 216

Contextualizar para dar sentido à aprendizagem ............................................... 217

Temas Contemporâneos Transversais 217

Objetivos de Desenvolvimento

Sustentável .......................................................... 220

Mundo do trabalho e juventudes ..... 221

Atualidade e desafios do mundo do trabalho 222

Projetos Integradores ....................... 223

Interdisciplinaridade e áreas de conhecimento ........................ 224

A contribuição da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e seus componentes curriculares 226

Aprendizagem baseada em projetos 228 O trabalho docente 232

Metodologias ativas 233

Habilidades digitais........................................236

Competências socioemocionais ................. 236

Escola plural e inclusiva 237

Desafios da sala de aula 238

Descrição das seções e dos boxes ......242

Orientações específicas 243

Projeto 1 – Como é o trabalho na era da informação? .............................. 243

Projeto 2 – Como promover um consumo consciente? ........................ 252

Projeto 3 – Como é o trabalho no Brasil contemporâneo? .................... 262

Projeto 4 – Como promover a cultura de paz?...........................................272

Projeto 5 – Quais são as funções de um meme? ................................ 281

Projeto 6 – Como o espaço contribui para a construção da identidade?.......290

Transcrição dos podcasts.............. 299 Obsolescência programada e degradação ambiental 299 Plataformização e precarização do trabalho 299

A inteligência artificial e o impacto no mundo do trabalho 300 A luta por direitos humanos........................301 As fake news na atualidade 302 Referências bibliográficas comentadas 303

Orientações gerais

A Política Nacional de Ensino Médio

No panorama das políticas públicas voltadas para a educação, em fevereiro de 2017 entrou em vigor a Lei no 13.415, que foi elaborada com o objetivo de reformar a organização curricular do Ensino Médio. Entre outras finalidades, pretendia-se com essa lei reduzir os índices de evasão e reprovação escolar, dois dos principais desafios do Ensino Médio atualmente.

De acordo com o cronograma definido pelo governo federal, a implementação de um Novo Ensino Médio deveria ocorrer de maneira progressiva até 2024. Foram, contudo, identificados problemas durante a implementação da reforma, antes mesmo que ela fosse concluída. Em azão disso, o Ministério da Educação decidiu retomar as discussões sobre o Ensino Médio e instituir a Política Nacional de Ensino Médio (Lei no 14.945, de 2024). Essa lei revogou parcialmente a Lei no 13.415, de 2017, e alterou a Lei no 9.394, de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB)1, promovendo outra reforma do Ensino Médio, cuja implementação foi adiada para 2025. O movimento do governo federal para instaurar uma renovação curricular das instituições públicas e privadas que oferecem vagas para esse segmento de ensino é resultante do Plano Nacional da Educação

vigente no período de 2014 a 2024, cujas metas 3 e 6 preveem, respectivamente, a universalização progressiva do atendimento escolar de jovens de 15 a 17 anos, além da renovação do Ensino Médio, com abordagens interdisciplinares e currículos flexíveis, e a ampliação da oferta da educação de tempo integral, com estratégias para o aumento da carga horária e para a adoção de medidas que otimizem o tempo de permanência do estudante na escola. Essa proposta, portanto, é proveniente de um longo debate educacional que começou a tomar forma com a promulgação da Constituição Brasileira, em 1988, e com a LDB, em 1996, e se viabilizou juridicamente com as mais recentes regulamentações. Além da ampliação da carga horária, a reforma inclui a flexibilização do currículo escolar, especificando uma parte para a Formação Geral Básica (FGB) – na qual os conteúdos são obrigatórios e comuns a todas as escolas de Ensino Médio – e outra a ser definida com a participação dos estudantes, que poderão escolher Itinerários Formativos (IF) segundo seus interesses e a disponibilidade nas instituições de ensino. Essas duas partes do currículo devem se complementar de maneira que uma ajude a outra a atribuir significado ao processo de ensino-aprendizagem. No quadro comparativo a seguir, são apresentadas as principais mudanças que devem ser implementadas a partir de 2025, de acordo com a Lei no 14.945, de 2024.

Antes da Política Nacional de Ensino MédioA partir da Política Nacional de Ensino Médio

• Eram estabelecidas 1 800 horas de carga horária obrigatória para a FGB).

• Eram estabelecidas 1 200 horas de carga horária para os IF.

• As escolas podiam definir os IF a serem ofertados.

• M atemática e Língua Portuguesa eram os únicos componentes curriculares obrigatórios em todos os anos do Ensino Médio.

• Eram estabelecidas 1 800 horas de carga horária obrigatória para a FGB no Ensino Técnico.

• Eram estabelecidas 1 200 horas de carga horária para os IF do Ensino Técnico.

• São estabelecidas 2 400 horas de carga horária obrigatória para a FGB.

• São estabelecidas 600 horas de carga horária para os IF.

• As escolas precisam ofertar, no mínimo, dois IF, que devem contemplar todas as áreas de conhecimento.

• Todos os componentes curriculares obrigatórios na FGB devem ser oferecidos em todos os anos do Ensino Médio.

• S ão estabelecidas 2 1 00 horas de carga horária obrigatória para a FGB, podendo ser dedicadas 300 horas a conteúdos da FGB que estejam relacionados ao Ensino Técnico.

• São estabelecidas até 1 200 horas de carga horária para os IF do Ensino Técnico.

Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Panorama MEC: Política Nacional do Ensino Médio. Brasília, DF: MEC, 2024. Disponível em: https://www.gov.br/mec/pt-br/centrais-de-conteudo/infograficos/politica-nacional-ensino-medio-bra-jul-24.pdf. Acesso em: 9 out. 2024.

1 A Lei no 9.394 é um dos principais marcos históricos da reformulação do sistema educacional brasileiro.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC)2, homologada em 2018, orienta a elaboração dos currículos alinhados ao Novo Ensino Médio e garante uma base comum mínima para todos eles. A principal finalidade da BNCC é promover a equidade na educação brasileira ao balizar as aprendizagens essenciais em todos os segmentos da Educação Básica. Isso contribui para alinhar a educação às demandas sociais atuais e melhorar a articulação entre os diferentes atores envolvidos no processo escolar. Na prática, essas aprendizagens se efetivam por meio do desenvolvimento, pelos estudantes, das competências e habilidades mobilizadas em sala de aula. A BNCC também explicita os fundamentos pedagógicos que devem nortear a concepção de educação a ser praticada nas escolas: o foco no desenvolvimento de competências e o compromisso com a educação integral dos estudantes. Na elaboração dessas orientações, não se desconsiderou o conhecimento acumulado pela humanidade, mas se entendeu que ele precisa ser contextualizado e problematizado a fim de ser reconstruído e consolidado, possibilitando a construção de outros conhecimentos que possam ser aplicados no entendimento do mundo contemporâneo, identificando problemas e propondo soluções.

Essencial ao novo projeto para o Ensino Médio, a formação integral é definida na BNCC como o desenvolvimento intencional dos aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais dos estudantes por meio de processos educativos que promovam a autonomia, o comportamento cidadão e o protagonismo “em sua aprendizagem e na construção de seu projeto de vida”3. Para que essa prática seja alcançada, a organização curricular deve propiciar a devida articulação dos conteúdos dos diferentes componentes curriculares com as práticas sociais dos diversos campos da atividade humana, tendo como consequência esperada a atribuição de significado a esses conteúdos pelos estudantes.

Outra novidade implementada no Novo Ensino Médio é a organização curricular por área do conhecimento. Embora já estivesse presente nos documentos educacionais oficiais, essa proposta foi consolidada de maneira efetiva na BNCC, por meio do agrupamento das competências e habilidades em quatro áreas do conhecimento: Linguagens e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.

É nesse contexto da reforma do Ensino Médio, tendo a BNCC como principal referência pedagógica, que se inserem as propostas de Projetos Integradores apresentadas

nesta obra, buscando atender às demandas do cenário educacional atual com base em seus pilares de protagonismo juvenil, flexibilização e formação integral. Isso faz parte do esforço da educação brasileira para aproximar os estudos da realidade dos estudantes, capacitando-os à participação e à intervenção neste mundo, marcado pela transformação das formas de trabalho e de socialização.

Com essas características centrais, pretende-se favorecer as práticas escolares que atribuem significado aos processos de ensino-aprendizagem, ajudando os estudantes a consolidar seus projetos de vida – os quais, por vezes, incluem o enfrentamento dos exames seletivos de acesso ao Ensino Superior – e a desenvolver as competências e as habilidades necessárias para o exercício da cidadania e para a atuação no mercado de trabalho.

Práticas escolares que contribuem para atribuir significado ao processo de ensino-aprendizagem, a flexibilização curricular e o protagonismo dos jovens na construção de seu conhecimento não são ideias novas; algumas são seculares. Logo, no contexto do Novo Ensino Médio, o novo não está no âmbito das ideias, mas em sua implementação, considerando as possibilidades e limitações do atual cenário social, econômico, cultural e tecnológico do país. O novo está no efetivo cumprimento dos objetivos que justificam a proposição dessa reforma, que é colocar a educação a serviço da construção de uma sociedade mais justa, democrática e inclusiva.

Nesse sentido, pretende-se, com os seis Projetos Integradores que compõem este volume, atribuir sentido aos conceitos estudados ao longo da vida escolar e relacioná-los ao conhecimento a ser construído pelos jovens, em um processo de aprendizagem por meio da leitura e da interpretação dos fenômenos naturais e sociais, da identificação e da descrição dos problemas observados nesse contexto, bem como da proposição e da validação de estratégias para a solução dessas demandas.

As propostas foram elaboradas com o objetivo de servir a estudantes e professores como recursos auxiliares na construção de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores inseridos em uma relação entre o ensino e a aprendizagem na qual é considerado o contexto dos jovens e da comunidade escolar. Nelas, assume-se como princípio o envolvimento dos estudantes, de maneira individual e coletiva, na identificação e na solução de problemas. Assume-se também como princípio o uso ético e responsável dos recursos tecnológicos digitais disponíveis na busca, na produção e no compartilhamento de informações, muitos dos quais já são sistematicamente utilizados fora da escola.

2 BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília, DF: MEC, 2018. p. 15. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br. Acesso em: 18 out. 2024.

3 BRASIL, ref. 2, p. 15.

Trabalho com competências e habilidades

Um dos princípios pedagógicos estabelecidos na BNCC é o foco no desenvolvimento de competências. De acordo com esse documento, competência é:

[...] a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho4.

Portanto, ao orientar a elaboração dos currículos da Educação Básica de acordo com um conjunto de competências e habilidades, a BNCC busca superar a concepção de uma educação voltada à transmissão e à memorização de conhecimentos pelos estudantes ao longo da vida escolar. Essa abordagem favorece o compromisso com a formação integral, pois promove um modelo de aprendizagem centrado nos sujeitos, e não nos conteúdos dos componentes curriculares. Nesse sentido, com a mudança para o ensino de competências, o foco do processo educativo se desloca para os estudantes, a fim de que estes não só se apropriem dos conhecimentos, mas também sejam capazes de aplicá-los em diferentes contextos5.

Para garantir a efetivação das propostas para o Ensino Médio e balizar a especificação das partes obrigatória e comum, espera-se que os materiais didáticos e as práticas realizadas nas escolas de todo o país estejam alinhados às competências e habilidades apresentadas na BNCC. Por isso, é importante entender como elas estão organizadas para o Ensino Médio e como elas se materializam na prática em sala de aula.

Como comentado anteriormente, a BNCC define as aprendizagens essenciais que devem ser garantidas pelas escolas ao longo da Educação Básica como forma de garantir os diretos de aprendizagem estabelecidos por outras legislações no âmbito da educação brasileira. Essas aprendizagens essenciais são expressas no documento por meio de um conjunto de competências e habilidades que os estudantes devem desenvolver ao longo do percurso escolar.

A princípio, a BNCC define dez competências gerais, que devem ser mobilizadas em todas as áreas do conhecimento ao longo da Educação Básica. Essas competências envolvem conhecimentos, habilidades, valores e atitudes que contribuem para promover a formação integral dos estudantes, contemplando aspectos sociais, culturais, físicos, afetivos e cognitivos. São elas:

1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.

2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.

3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.

4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.

5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.

6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.

4 BRASIL, ref. 2, p. 8.

5 ZABALA, Antoni; ARNAU, Laia. Como aprender e ensinar competências. Porto Alegre: Artmed, 2010.

7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.

8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.

9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.

10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários6.

No Ensino Médio7, as competências gerais se desdobram em competências específicas, a fim de demonstrar como aquelas podem ser abordadas no contexto de cada uma das quatro áreas do conhecimento previstas para essa etapa da escolaridade. Em razão de sua relação intrínseca com as competências gerais, as competências específicas de área devem ser desenvolvidas tanto na FGB como nos IF. Além disso, para garantir a progressão dos conteúdos de forma articulada com o Ensino Fundamental, as competências específicas de área dos dois segmentos estão associadas.

Com enfoque maior no desenvolvimento cognitivo, a cada competência específica corresponde um conjunto de habilidades a fim de garantir, na prática, seu desenvolvimento em contextos específicos,

trabalhando conceitos e processos atrelados a cada área do conhecimento. A exceção é a área de Linguagens e suas Tecnologias, na qual são apresentadas habilidades específicas também para o componente curricular Língua Portuguesa8

Assim, conforme as habilidades específicas de determinada área são mobilizadas em sala de aula pela perspectiva de cada componente curricular, ao final de cada etapa da escolaridade, entende-se que os estudantes desenvolveram as competências específicas dessa área. Com o desenvolvimento das competências específicas de cada área, por sua vez, espera-se que os estudantes se tornem capazes de lidar com diferentes situações cotidianas de acordo com sua faixa etária, selecionando os conhecimentos necessários para enfrentá-las com autonomia e eficiência, atuando de forma crítica e propositiva em sua realidade.

Uma vez entendidos os fundamentos da BNCC, é importante refletir sobre o modo como isso se expressa nas práticas pedagógicas. Cabe ao professor avaliar como o componente curricular sob sua responsabilidade pode contribuir para que essas competências e habilidades sejam efetivadas em sala de aula e, ao mesmo tempo, atender ao projeto político pedagógico da escola e a suas intencionalidades pedagógicas. Essa é uma tarefa complexa que não deve ser feita de forma isolada, mas com a colaboração dos gestores e de outros integrantes do corpo docente, sobretudo daqueles que lecionam componentes curriculares da mesma área do conhecimento. Além disso, pela perspectiva de uma aprendizagem ativa, espera-se que os estudantes desempenhem um papel importante nesse processo. Nesta coleção, são sugeridos alguns caminhos que favorecem esse trabalho pedagógico. Esses caminhos, porém, não esgotam todas as possibilidades, sendo importante analisar todas as propostas e avaliar a necessidade ou não de adaptá-las a seu contexto escolar, principalmente porque as realidades das escolas brasileiras são diversas.

6 BRASIL, ref. 2, p. 9-10.

7 A organização do Ensino Médio difere da de outras etapas da escolaridade. No Ensino Fundamental, por exemplo, são estabelecidas competências e habilidades específicas de cada componente curricular (BRASIL, ref. 3).

8 BRASIL, ref. 2.

Estudante protagonista

No desenvolvimento dos Projetos Integradores, ao intervir na realidade de sua comunidade, os jovens podem se tornar sujeitos ativos de seu processo de aprendizagem e ser reconhecidos pela comunidade escolar e familiar com base em sua individualidade e potencialidade. Essa perspectiva de educação envolve um plano de ação complexo, que prioriza, por exemplo, a criação de manifestações artísticas e culturais voltadas para a solução de problemas reais da escola ou da comunidade.

Dessa maneira, os estudantes são reconhecidos como agentes de transformação social capazes de tomar iniciativas e se responsabilizar por suas escolhas, exercendo uma postura cidadã 9. Nesse papel, os estudantes desenvolvem habilidades inerentes à liderança, uma vez que o empreendedorismo e a gestão de projetos são reforçados, cabendo ao professor atuar como mediador e incentivador de debates e encaminhamentos.

Em 2019, foi produzido um relatório contendo 27 propostas voltadas à criação de caminhos para a construção de um Ensino Médio democrático, inclusivo, integral e transformador, com base na participação presencial e virtual de estudantes, educadores, gestores e pesquisadores, entre outros envolvidos na área da educação. Nesse relatório, foram apresentados princípios orientadores válidos para os projetos cujo tema é o protagonismo juvenil. Esses princípios são:

Inclusão

O ensino médio brasileiro deve não só reconhecer, mas também valorizar as diferenças de idade, origem, raça, cor, religião, gênero, orientação sexual, condições físicas e habilidades, que caracterizam a diversidade sociocultural e humana. Há ainda que se reconhecer a potência da diversidade das juventudes brasileiras: urbanas centrais e das periferias, vilas e favelas; as do campo, ribeirinhas, as indígenas. Assim, as orientações educacionais devem dialogar com as diversas expectativas e culturas juvenis, apoiando a constituição de escolas que garantam as condições para que todos

se sintam acolhidos, pertencentes e incluídos em processos qualificados de aprendizagem, sem qualquer tipo de discriminação, e valorizem o convívio e aprendizado com os diferentes.

Democracia

A democracia implica, em primeiro lugar, a universalização do acesso ao direito para o fortalecimento de uma educação pública de qualidade e gratuita. Implica, também, a participação qualificada dos diversos segmentos nos processos decisórios, tanto na gestão das escolas quanto na elaboração e realização das políticas públicas. O princípio constitucional da gestão democrática da educação não se esgota em escolha de dirigentes, mas se realiza de fato na participação cotidiana da comunidade escolar nas decisões e responsabilidades que dizem respeito ao convívio e às aprendizagens. [...]

Integralidade

A educação é processo contínuo e permanente, desde o nascimento até o fim da vida, e ocorre em todos os ambientes em que as pessoas se relacionam. A escolarização representa uma parte importante desse processo, porque tem a intencionalidade de educar e é a grande depositária dessa responsabilidade pela sociedade. Mas, para as pessoas se desenvolverem integralmente – em suas dimensões intelectual, física, afetiva, social e cultural –, é preciso integrar todos os agentes e setores sociais envolvidos em propostas que dialoguem com seus contextos históricos e territoriais.

Contemporaneidade e Transformação

O conjunto de propostas apresentadas neste documento reconhece a potência dos estudantes, dos professores e das escolas, que enfrentam os desafios socioambientais do presente e promovem a justiça social para gerar transformações positivas na sociedade. A realização dessa potência se torna ainda mais urgente no mundo contemporâneo, marcado pela constante transformação, no qual as regras, hierarquias e institucionalidades se tornam cada vez menos eficazes, mas em que a tecnologia amplia a incidência das pessoas e dos coletivos nos processos sociais10.

9 DAYRELL, Juarez; CARRANO, Paulo. Juventude e Ensino Médio: quem é este aluno que chega à escola. In: DAYRELL, Juarez; CARRANO, Paulo; MAIA, Carla Linhares (org.). Juventude e Ensino Médio: sujeitos e currículos em diálogo. Belo Horizonte: UFMG, 2014. p. 101-133. Disponível em: https:// observatoriodajuventude.ufmg.br/wp-content/uploads/2021/06/livro-completo_juventude-e-ensino-medio_2014-2.pdf. Acesso em: 11 out. 2024.

10 FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO; ASHOKA; CAMPANHA NACIONAL PELO DIREITO À EDUCAÇÃO (org.). Por um Ensino Médio democrático, inclusivo, integral e transformador: construção coletiva de propostas para o Ensino Médio. São Paulo: Fundação Santillana, 2019. p. 10-11. Disponível em: http://www4.fe.usp.br/wp-content/uploads/em-transformador-para-publicar.pdf. Acesso em: 11 out. 2024.

Com base nesses princípios, devem ser desenvolvidos projetos que contribuam para que os jovens se conheçam, apreciem-se e cuidem melhor de si, dos outros e de seu entorno, reconhecendo e desenvolvendo seu potencial como agentes de transformação da própria realidade e do mundo que os cerca. Essa abordagem, portanto, está alinhada com o foco no ensino de competências preconizado na BNCC, uma vez que possibilita a mobilização de todos esses aspectos por meio do desenvolvimento integral dos estudantes, priorizando sua formação cidadã e para o mundo do trabalho.

Culturas juvenis

O esforço para implementar o Novo Ensino Médio no país advém dos desafios enfrentados pelos jovens brasileiros, sobretudo no contexto educativo. É na juventude que muitos dos problemas sociais ficam ainda mais evidentes, afetando diretamente a vida dos indivíduos. Embora os jovens sejam reconhecidos como sujeitos de direitos na legislação, faltam políticas públicas que garantam efetivamente esses direitos. O primeiro passo para dar visibilidade aos jovens e a suas demandas é entender o que se considera juventude e como se constituem as culturas juvenis. Dessa forma, é possível delinear suas especificidades e valorizar suas vivências, seus anseios e seus saberes11.

O Ensino Médio representa um momento importante no processo de formação da identidade dos jovens, pois é nessa fase que eles experimentam os limites e as possibilidades de sua condição juvenil por meio da inserção social na escola e em outros meios.

Embora a juventude possa ser considerada uma fase de maturação biológica que precede a vida adulta, é importante ter em mente o fato de que delimitar essa fase apenas do ponto de vista biológico é simplificar as diferentes formas de experimentar a juventude, principalmente porque ela ganha contornos diversos de acordo com os contextos culturais, sociais e históricos em que os jovens estão inseridos. Portanto, ao conceber a ideia de juventude no Brasil, é preciso considerar que ela é plural e reflete condições sociais muito distintas12. De acordo com a BNCC:

Adotar essa noção ampliada e plural de juventudes significa, portanto, entender as culturas juvenis em sua singularidade.

11 DAYRELL; CARRANO, ref. 9.

12 BRASIL, ref. 2; DAYRELL; CARRANO, ref. 9.

13 BRASIL, ref. 2, p. 463.

Significa não apenas compreendê-las como diversas e dinâmicas, como também reconhecer os jovens como participantes ativos das sociedades nas quais estão inseridos, sociedades essas também tão dinâmicas e diversas.

Considerar que há muitas juventudes implica organizar uma escola que acolha as diversidades, promovendo, de modo intencional e permanente, o respeito à pessoa humana e aos seus direitos. [...]13

Assim, tratar de juventudes em sua forma plural nestes Projetos Integradores significa reconhecer toda a diversidade social e cultural que as compõe, considerando cor, etnia, gênero, orientação sexual, religião e modo de vida. Isso ocorre na obra por meio da valorização da experiência de aprender com o outro, reforçando a busca da erradicação de qualquer tipo de discriminação. Para isso, é importante também refletir sobre quem são os jovens que povoam as escolas e como eles vivenciam suas juventudes na realidade em que estão inseridos.

Isso se reflete nas culturas juvenis, que são as formas de os jovens se expressarem, por meio da comunicação e das relações interpessoais que estabelecem ou dos comportamentos, dos valores e das atitudes que assumem. Essas expressões simbólicas típicas da condição juvenil se orientam por diferentes aspectos, como manifestações culturais, questões de gênero e sexualidade, diferenças territoriais, condições sociais e identidades étnico-raciais14

No espaço escolar, os jovens têm oportunidade de experimentar diferentes formas de ser e de se ver no mundo, podendo construir sua identidade com base no meio que os cerca, influenciados pelo agrupamento específico ao qual se associam. Sendo assim, como o ambiente tem um impacto muito forte no desenvolvimento dos jovens, o professor e a escola podem ajudar na formação deles. Para isso, é importante que o entendimento sobre quem são os jovens brasileiros que chegam às escolas se efetive em sala de aula por meio de práticas curriculares acolhedoras e respeitosas da diversidade que lhes permitam experenciar situações nas quais possam explorar seus limites e suas potencialidades, protagonizando ações de transformação social locais e globais e aumentando seu engajamento nos estudos.

14 REIS, Juliana Batista dos; SALES, Shirlei Rezende. Juventudes: culturas juvenis e cibercultura. Belo Horizonte: Fino Traço, 2021. E-book. Disponível em: https://observatoriodajuventude.ufmg.br/wp-content/uploads/2022/10/Juventudes-cuturas-juvenis-e-cibercultura.pdf. Acesso em: 11 out. 2024; DAYRELL; CARRANO, ref. 9.

Contextualizar para dar sentido à aprendizagem

Em uma educação comprometida com a formação integral dos estudantes por meio do ensino de competências, espera-se que as práticas pedagógicas sejam voltadas para uma aprendizagem ativa, na qual os estudantes vivenciem experiências que os instiguem a mobilizar conhecimentos, habilidades, atitudes e valores em situações semelhantes às que ocorrem no dia a dia. Por essa ótica, o processo educativo deve aproximar a vivência em sala de aula da realidade dos estudantes, contextualizando a aprendizagem para que esta faça sentido para eles, e engajá-los nesse processo15. Em outras palavras, Ensinar competências implica utilizar formas de ensino consistentes para responder a situações, conflitos e problemas relacionados à vida real, e um complexo processo de construção pessoal que utilize exercícios de progressiva dificuldade e ajuda eventual, respeitando as características de cada aluno16.

Nesse processo é preciso que se estabeleçam relações de forma intencional e sistematizada entre os conhecimentos prévios dos estudantes e aquilo a ser aprendido. Essa abordagem promove uma aprendizagem significativa e está atrelada a um ensino contextualizado em sala de aula. O processo de contextualização curricular, portanto, é uma forma de facilitar o entendimento e a aplicação dos conhecimentos das diferentes áreas por meio da aproximação entre os conteúdos escolares e as experiências dos estudantes, reforçando as conexões entre o que eles já sabem e o que estão aprendendo. Dessa forma, pode-se entender a contextualização como uma prática pedagógica por meio da qual os estudantes podem atribuir sentido aos saberes escolares, reconhecendo-se como sujeitos do processo de ensino-aprendizagem. Cabe ao professor impulsionar os estudantes nesse processo, de modo que eles se tornem aptos a integrar e extrapolar os conhecimentos aprendidos no contexto de cada componente curricular para situações que vão além do que é abordado em sala de aula17.

Em consonância com essa perspectiva, nos Projetos Integradores foram tomados como referência

os Temas Contemporâneos Transversais (TCT) para a contextualização dos conteúdos e conhecimentos abordados. Assim, cada projeto é orientado pelos TCT propostos na BNCC e pela articulação de componentes curriculares de diferentes áreas do conhecimento.

De forma articulada aos TCT, também são abordados nos Projetos Integradores os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), assumidos pelos países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU), na Agenda 203018. Por meio do trabalho com os TCT e os ODS, abordam-se questões sociais, ambientais, econômicas e políticas de interesse global e com forte impacto na realidade dos jovens, o que possibilita problematizar e contextualizar conteúdos relevantes e que estejam alinhados com as demandas da sociedade atual.

Cabe ao professor avaliar a relevância social de quaisquer dos temas propostos nos Projetos Integradores para os estudantes, considerando a realidade deles e adaptando, se necessário, as atividades propostas ao contexto escolar. Considerando os temas abordados nos projetos, o ideal é o professor procurar sempre apresentar exemplos, fatos, dados e informações da realidade local ou regional para que os estudantes consigam se reconhecer como parte da solução para as questões emanadas dos contextos estudados.

Temas Contemporâneos Transversais

No contexto da implementação do Novo Ensino Médio, o Ministério da Educação sugere alguns TCT que contextualizam os conteúdos para despertar o interesse dos estudantes e favorecer sua atuação na sociedade.

Nos Projetos Integradores, deve-se considerar uma concepção de transversalidade na qual os conteúdos tradicionais possam ser compreendidos como instrumentos para o trabalho com temas relevantes à atuação dos estudantes na sociedade a fim de conectar a escola à realidade desses jovens e da comunidade em que estão inseridos. Dessa forma, espera-se superar uma abordagem fragmentada dos conhecimentos e favorecer uma visão sistêmica e mais orgânica da realidade.

15 ZABALA, Antoni; ARNAU, Laia. Métodos para ensinar competências. Porto Alegre: Penso Editora, 2020.

16 ZABALA; ARNAU, ref. 5, p. 13.

17 BRASIL, ref. 2.

18 NAÇÕES UNIDAS BRASIL. Transformando nosso mundo: a Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável. Brasília, DF, 25 set. 2015. Disponível em: https://brasil.un.org/sites/default/files/2020-09/agenda2030-pt-br.pdf. Acesso em: 27 out. 2024.

Outro aspecto que contribui para o desenvolvimento dos Projetos Integradores tendo como referência os TCT é a associação das habilidades e competências previstas na BNCC em um contexto de resolução de problemas. Ao se optar por uma educação comprometida com o ensino de competências, faz-se necessário aplicar estratégias de ensino para propor situações de aprendizagem que representem a realidade e, consequentemente, sejam complexas e exijam a seleção e a integração de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores em um contexto específico.

Pragmaticamente, a abordagem dos TCT deve contribuir para que os estudantes desenvolvam habilidades relacionadas à educação financeira, ao cuidado com a própria saúde, ao uso das tecnologias digitais, à preservação do meio ambiente, ao entendimento das diferenças e ao respeito a elas, bem como o reconhecimento e a compreensão de seus direitos e deveres como cidadãos.

Dessa forma, a transversalidade desses temas, que podem ser explorados de diversas maneiras e relacionados às quatro áreas do conhecimento de maneira desfragmentada,

[...] orienta para a necessidade de se instituir, na prática educativa, uma analogia entre aprender conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real (aprender na realidade e da realidade). Dentro de uma compreensão interdisciplinar do conhecimento, a transversalidade tem significado, sendo uma proposta didática que possibilita o tratamento dos conhecimentos escolares de forma integrada. Assim, nessa abordagem, a gestão do conhecimento parte do pressuposto de que os sujeitos são agentes da arte de problematizar e interrogar, e buscam procedimentos interdisciplinares capazes de acender a chama do diálogo entre diferentes sujeitos, ciências, saberes e temas19

A proposta de abordar temas transversais faz parte oficialmente do contexto educacional brasileiro desde 1997, com a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Na época, foram sugeridos os temas

Saúde, Ética, Trabalho e consumo, Orientação sexual, Meio ambiente e Pluralidade cultural.

Desde então, com as novas demandas sociais e as necessidades de adequações curriculares nas escolas, foi necessário aprimorar esses temas e ratificar sua importância. Com isso, a BNCC passou a usar a terminologia Temas Contemporâneos Transversais, designando que:

[...] cabe aos sistemas e redes de ensino, assim como às escolas, em suas respectivas esferas de autonomia e competência, incorporar aos currículos e às propostas pedagógicas a abordagem de temas contemporâneos que afetam a vida humana em escala local, regional e global, preferencialmente de forma transversal e integradora. [...]20

É importante salientar que os TCT são obrigatórios nos atuais currículos escolares, mas, nos PCN, os temas transversais eram opcionais. Outra mudança significativa é a ampliação de seis para 15 TCT, agrupados em seis macroáreas temáticas, conforme o esquema a seguir21.

Meio ambiente

Multiculturalismo

Diversidade cultural Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras

Educação ambiental

Educação para o consumo

Economia

Trabalho

Educação financeira

Temas

Contemporâneos

Transversais na BNCC

Ciência e tecnologia

Ciência e tecnologia

Educação fiscal Saúde Saúde Educação alimentar e nutricional

Cidadania e civismo

Vida familiar e social

Educação para o trânsito

Educação em direitos humanos

Direitos da criança e do adolescente

Processo de envelhecimento, respeito e valorização do idoso

19 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica. Conselho Nacional da Educação. Câmara Nacional de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica. Brasília, DF: MEC, SEB, DICEI, 2013. p. 29. Disponível em https://www.gov.br/mec/pt-br/acesso-a-informacao/media/seb/pdf/d_c_n_educacao_ basica_nova.pdf. Acesso em: 11 out. 2024.

20 BRASIL, ref. 2, p. 19.

21 BRASIL. Ministério da Educação. Temas Contemporâneos Transversais na BNCC: contexto histórico e pressupostos pedagógicos. Brasília, DF: MEC, 2019. p. 13.

Todas essas temáticas assumem muito significado nas sociedades contemporâneas. A Educação ambiental e a Educação para o consumo, por exemplo, são temas vitais para a coletividade global, principalmente no contexto da crise climática que aflige o planeta, e um currículo escolar que se comprometa com a responsabilidade social não pode deixar de contemplá-las. Além disso, é indispensável repensar as relações do ser humano com as mudanças tecnológicas para compreender os impactos da revolução digital na sociedade contemporânea. Tais impactos afetam diretamente a vida dos jovens no mercado de trabalho, promovendo diferentes formas de trabalhar e criando diversas oportunidades de carreira.

A implementação dos TCT é um dos traços da flexibilização curricular proposta pelo Novo Ensino Médio, uma vez que não é subjacente a apenas um componente curricular. Para possibilitar essa integração, eles podem ser abordados de maneira intradisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar.

A abordagem intradisciplinar, ou seja, em apenas um componente curricular, deve integrar diversos conteúdos desse componente. Isso não significa desenvolver outro trabalho na sala de aula paralelamente, mas usar o tema para articular os conteúdos previstos no plano de ensino para a referida fase de escolarização. Nessa abordagem, os objetivos pedagógicos de cada componente curricular são preservados de acordo com seus limites, dificultando sua articulação com os de outros.

Em um tratamento interdisciplinar, os limites pedagógicos de cada componente curricular são mantidos e, ao mesmo tempo, são estabelecidas conexões entre os objetivos de cada um deles, possibilitando a relação dos diferentes componentes ou de áreas de conhecimento. Com a proposição de uma organização escolar interdisciplinar, busca-se, [...] de modo geral, o estabelecimento de uma intercomunicação efetiva entre as disciplinas, por meio do enriquecimento das relações entre elas. Almeja-se, no limite, a composição de um objeto comum, por meio de objetos particulares de cada uma das disciplinas componentes22.

Com a transdisciplinaridade, os objetivos pedagógicos extrapolam os objetivos pedagógicos definidos em componentes curriculares. Na abordagem transdisciplinar, a ideia central está no fato de que, “[...] na organização do trabalho escolar, as pessoas, e não os objetos ou os objetivos disciplinares, deveriam estar no centro das atenções”23. Nessa abordagem, o conhecimento a ser construído depende do contexto, da prática social a ser desenvolvida e do propósito que se pretende alcançar com ela.

Nas escolas de Educação Básica:

[...] Nenhum conhecimento deveria justificar-se como um fim em si mesmo: as pessoas é que contam, com seus anseios, com a diversidade de seus projetos. E assim como um dado nunca se transforma em informação se não houver uma pessoa que se interesse por ele, que o interprete e lhe atribua um significado, todo o conhecimento do mundo não vale um tostão furado, se não estiver a serviço da inteligência, ou seja, dos projetos das pessoas.

Naturalmente, tal informação não estabelece qualquer subordinação do conhecimento a uma aplicabilidade prática: a construção do conhecimento está relacionada à produção e à compreensão de significados muito mais do que à mera produção de bens materiais. Também não é o caso de se associar a linha direta entre os conhecimentos e os interesses das pessoas a uma superestimação do individualismo24

Com a transdisciplinaridade, passa-se a reconhecer a complexidade dos fenômenos e processos, nos quais estão sempre presentes a subjetividade, a emoção e a articulação dos saberes disciplinares que se aproximam da realidade e da significação do conhecimento. Nessa lógica, ao dividir as dificuldades em partes, não se pode perder a ideia da globalidade, a inter-relação das partes e as características do conjunto, uma vez que este é muito maior do que a simples união dessas partes25.

Independentemente da abordagem metodológica –intradisciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar –, diante do processo criativo de elaboração de soluções, que envolve a articulação das informações, diferentes percursos podem ser traçados pelos professores com os estudantes.

22 MACHADO, Nílson José. Educação: autoridade, competência e qualidade. São Paulo: Escrituras, 2016. p. 165.

23 MACHADO, ref. 22, p. 166.

24 MACHADO, ref. 22, p. 167.

25 MORIN, Edgar. Educação e complexidade: os setes saberes e outros ensaios. Organização: Maria da Conceição de Almeida; Edgar de Assis Carvalho. Tradução: Edgar de Assis Carvalho. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2013.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Em 2015, os países-membros da ONU definiram um conjunto de objetivos e metas universais com o propósito de alcançar o desenvolvimento sustentável nos âmbitos econômico, social e ambiental. Esses objetivos se ancoram nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, estabelecidos em 2000, e envolvem uma abordagem mais ampla e integrada para promover o desenvolvimento sustentável no planeta.

Ao todo, foram estabelecidos 17 ODS, que se desdobram em 169 metas integradas.

Fonte: ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Sobre o nosso trabalho para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs. Acesso em: 18 out. 2024.

Tais objetivos e metas representam o resultado de um esforço global para promover a Agenda 2030, que visa

[...] acabar com a pobreza e a fome em todos os lugares; combater as desigualdades dentro e entre os países; construir sociedades pacíficas, justas e inclusivas; proteger os direitos humanos e promover a igualdade de gênero e o empoderamento de mulheres e meninas; e assegurar a proteção duradoura do planeta e de seus recursos naturais. [...] criar condições para um crescimento sustentável, inclusivo e economicamente sustentado, prosperidade compartilhada e trabalho decente para todos, tendo em conta os diferentes níveis de desenvolvimento e capacidades nacionais26.

Como é possível perceber, os ODS propostos na Agenda 2030 abrangem questões atuais relacionadas aos grandes desafios globais. Muitos desses objetivos envolvem interesses de crianças e adolescentes e fazem parte do compromisso firmado pela ONU de proteger os direitos deles, sobretudo ao buscar reduzir as desigualdades sociais, melhorar a qualidade da educação

26 NAÇÕES UNIDAS BRASIL, ref. 18, p. 3.

e garantir um planeta saudável para todos. Nesse sentido, pode-se dizer que a Agenda 2030

[...] identifica os jovens como agentes críticos de mudança social, econômica e global, e, portanto, todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) requerem ação juvenil para ter sucesso. Os jovens também representam a parcela da população mais afetada pela pobreza, desigualdade, desemprego e mudanças climáticas – fatores que são focos da Agenda para os próximos dez anos.

Para garantir a participação contínua dos jovens nessas agendas e em outras emergentes, é necessário um forte engajamento desse grupo na implementação e no monitoramento de políticas locais, nacionais e regionais, bem como criar e fomentar espaços de diálogo em nível global para que reflitam suas preocupações e necessidades dentro da estrutura vigente. [...]27

A escola pode contribuir com a Agenda 2030 ao promover um espaço em que os jovens aprendam sobre cidadania e sejam encorajados a se perceber como agentes de mudança. No contexto dos Projetos

27 BARÃO, Marcus; RESEG, Mariana; LEAL, Ricardo (coord.). Atlas das juventudes: evidências para a transformação das juventudes. [S l.]: Em Movimento: Pacto das Juventudes pelos ODS, 2021. p. 27. Disponível em: https://atlasdasjuventudes.com.br/relatorio/. Acesso em: 11 out. 2024.

Integradores desta coleção, os ODS são mobilizados para contextualizar os conteúdos e promover reflexões profundas sobre temas atuais e de relevância para a vida dos jovens. Essa abordagem possibilita aos estudantes desenvolver uma postura crítica e propositiva, com grande potencial de transformação da própria vida e da comunidade em que vivem. Conhecer os ODS e discuti-los em sala de aula, portanto, é uma forma de manter os estudantes informados sobre as urgências de seu tempo e prepará-los para os desafios atuais e futuros.

Para que isso seja possível, é de suma importância que o professor reconheça e incentive o protagonismo dos jovens que chegam às escolas. Além disso, em razão do caráter global dos ODS, cabe ao professor aproximá-los das realidades nacional, regional e local28.

Mundo do trabalho e juventudes

A população jovem brasileira é diversa e sofre de forma desigual os impactos dos problemas sociais, políticos e culturais do país. Em razão dessa discrepância, além dos aspectos individuais, os interesses dos estudantes de diferentes grupos sociais são divergentes, de modo que, ao término do Ensino Médio, eles podem ter expectativas muito diferentes, as quais podem afetar as escolhas relacionadas a seu projeto de vida. Para muitos, a oportunidade de trabalhar e ter uma renda estável lhes possibilita contribuir para a economia familiar e melhorar suas condições de vida. Em alguns casos, isso ainda pode representar uma forma de conseguir se manter e/ou prosseguir nos estudos, ingressando, por exemplo, no Ensino Superior29.

Contudo, a inserção no mercado de trabalho tem sido um desafio para os jovens, que compõem o grupo com maior índice de desemprego no país. Os jovens não só sofrem com a falta de experiência profissional, como também podem ter de enfrentar problemas ainda maiores sem a devida formação no ensino formal, chegando despreparados ao mercado de trabalho. Em razão desses fatores, formam um grupo vulnerável e propenso ao trabalho informal ou com condições precárias.

Cabe às escolas de Ensino Médio assegurar aos estudantes uma formação que lhes permita enfrentar os desafios da vida contemporânea. Isso inclui auxiliá-los

na construção de seu projeto de vida nos âmbitos pessoal e profissional. Portanto, em uma educação baseada na formação integral, espera-se que os estudantes desenvolvam competências e habilidades em suas múltiplas dimensões, incluindo a dimensão profissional. Para Zabala e Arnau, é importante que a escola promova [...] uma educação também para o trabalho, mas sem perder a visão global da pessoa como ser crítico diante das desigualdades e do comprometimento com a transformação social econômica em direção a uma sociedade na qual não apenas se garantisse o direto ao trabalho, como ainda este fosse desenvolvido em função do desenvolvimento das pessoas e não apenas dos interesses de mercado.

Na dimensão profissional, o indivíduo deve ser competente para exercer uma tarefa profissional adequada às suas capacidades, a partir dos conhecimentos e das habilidades específicas da profissão, de forma responsável, flexível e rigorosa que lhe permita satisfazer suas motivações e suas expectativas de desenvolvimento profissional e pessoal30. Nessa perspectiva, é papel do professor favorecer o desenvolvimento de competências, incluindo as profissionais, para que os estudantes atuem de forma crítica, propositiva e responsável nas diversas situações com as quais possam deparar no mundo do trabalho. Nesse contexto, ser capaz de resolver problemas, ser criativo, ter autonomia de pensamento, ser proativo, liderar, trabalhar de forma colaborativa, saber interpretar dados e informações com criticidade, fazer escolhas de acordo com as próprias reflexões, conseguir se comunicar de forma assertiva e regular as emoções, entre outras, são características importantes que os estudantes precisam desenvolver em sala de aula não só para exercer seus direitos e deveres como cidadãos, mas também para empregá-las no contexto profissional.

Para desenvolver essas competências, entretanto, é preciso que os estudantes se apoiem em diferentes saberes que não se limitam a componentes específicos da área curricular. Trata-se, portanto, de um trabalho conjunto entre as áreas do conhecimento, envolvendo também competências socioemocionais que perpassam a aprendizagem dos componentes curriculares31.

28 BARÃO; RESEG; LEAL, ref. 27.

29 BARÃO; RESEG; LEAL, ref. 27.

30 ZABALA; ARNAU, ref. 5, p. 82.

31 ZABALA; ARNAU, ref. 5; CAVALCANTI, Carolina Costa. Aprendizagem socioemocional com metodologias ativas: um guia para educadores. São Paulo: Saraiva Uni, 2023.

A fim de assegurar essa preparação para o trabalho e a cidadania, os Projetos Integradores presentes neste volume abordam temas relacionados ao contexto do mundo do trabalho, procurando aproximar os estudantes de diversos campos de atuação profissional.

Atualidade e desafios do mundo do trabalho

No contexto recente do Brasil, diversas mudanças no mundo do trabalho, ocorridas a partir da década de 2010, afetaram diretamente a inserção profissional dos jovens e suas expectativas de obter um emprego, especialmente em um contexto de crise econômica e flexibilização das relações trabalhistas. Somadas a isso, ocorreram grandes transformações provocadas pelas novas tecnologias, o que reflete nas relações humanas e nas demandas por qualificação profissional e aumento da produtividade32

Entre os motivos da baixa inserção dos jovens no mercado do trabalho está o baixo nível de experiência e/ou escolaridade. Com isso, ou eles não conseguem ser contratados pela incompatibilidade com as exigências das vagas, ou tendem a ser os primeiros dispensados em contextos de crise.

Os efeitos da dispensa em contextos de crise podem se estender por muitos anos até que a economia se recomponha. Com a pandemia de covid-19, que teve início em 2020, por exemplo, a atividade econômica foi brutalmente atingida e muitas pessoas perderam seu posto de trabalho, o que refletiu na inclusão e na permanência dos jovens brasileiros no mercado de trabalho. Os efeitos foram ainda mais alarmantes entre os jovens em situação de vulnerabilidade social. Mesmo com o fim da pandemia, os jovens entre 18 e 24 anos ainda formavam o grupo com a maior taxa de desemprego no país até o segundo trimestre de 2023, chegando a 14,3% da população, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Embora esteja em queda no país, a taxa de desemprego dessa faixa etária chega a ser mais do que o dobro da apresentada

pelo segundo grupo mais atingido pelo problema, mostrando-se bem acima do patamar das demais faixas. De acordo com os estudos sobre o tema, em vez de estarem desempregados ou procurando emprego, muitos jovens estão apenas fora do mercado de trabalho, o que não só impacta no futuro profissional deles, como também nas perspectivas para a economia do país33

Os dados estatísticos ainda mostram que, em 2022, um em cada grupo de cinco jovens brasileiros de 15 a 29 anos não estava estudando e não tinha ocupação. Isso representa 22,3% da população que está nessa faixa etária, ou seja, 10,9 milhões de jovens em todo o país. Desse total de jovens fora do sistema de ensino e do mercado de trabalho, 61,2% eram pobres e quase metade eram mulheres pretas e pardas, o que evidencia ainda mais o fato de que esse fenômeno social afeta a população juvenil de forma desigual. Esses resultados são alarmantes porque escancaram a vulnerabilidade social dos jovens brasileiros e expõem a realidade de que muitos deles não têm perspectivas de qualificação profissional34.

Como visto, os jovens representam grande parcela da população brasileira e são os mais afetados em situações de crise, sofrendo com a pobreza, as desigualdades sociais e o desemprego. Por isso, é importante engajá-los civicamente em defesa de uma sociedade mais democrática, inclusiva e sustentável, de modo que possam se tornar agentes transformadores dessa realidade, participando da implementação de políticas públicas com esse enfoque ou do monitoramento delas. Existem diversas políticas públicas voltadas a essas demandas dos jovens, mas, para que elas se efetivem, é preciso que eles sejam ouvidos, e isso pode começar no espaço escolar. A criação de um ambiente acolhedor e a construção de um sentimento de pertencimento à comunidade escolar representam o primeiro passo para envolvê-los no processo de ensino-aprendizagem e contribuir para que compreendam suas possibilidades de crescimento e desenvolvimento pessoal, tanto no âmbito acadêmico quanto no profissional.

32 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO; INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Diagnóstico da inserção dos jovens brasileiros no mercado de trabalho em um contexto de crise e maior flexibilização. Brasília, DF: Ipea, 2020. Disponível em: https://repositorio.ipea.gov.br/ bitstream/11058/10107/1/Diagnostico_de_insercao_de_jovens.pdf. Acesso em: 17 out. 2024.

33 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO; INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA; FRANCA, ref. 32.

34 BRIT TO, Vinícius. Um em cada cinco brasileiros com 15 a 29 anos não estudava e nem estava ocupado em 2022. Agência IBGE Notícias, 6 dez. 2023. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/38542-um-em-cada-cinco-brasileiros-com-15-a -29-anos-nao-estudava-e-nem-estava-ocupado-em-2022. Acesso em: 11 out. 2024.

Projetos Integradores

Alinhados à proposta de consolidação do trabalho organizado em áreas de conhecimento e com o objetivo de buscar a formação integral dos estudantes do Ensino Médio, a proposta destes Projetos Integradores, é tornar a aprendizagem mais significativa.

Para o cumprimento desse objetivo, é necessária a conexão dos estudantes ao contexto de sua comunidade. Isso requer o reconhecimento da diversidade de perfis das juventudes existentes no país e de sua potencialidade de avaliar e sugerir políticas educacionais. Especificamente em relação ao Ensino Médio, os marcos regulatórios mostram que as atuais políticas favorecem uma reorganização curricular que possibilite diferentes rotas de aprendizagem (diversificando os tempos e recursos pedagógicos), a multiplicidade de linguagens e a elaboração e a implementação de projetos que envolvam os estudantes, contribuindo para que eles desenvolvam um efetivo protagonismo. Dessa maneira, os jovens têm a possibilidade de se reconhecer como participantes das decisões e das práticas e de enxergar-se como cidadãos com direitos e deveres, agindo com ética e responsabilidade.

Além disso, a fim de despertar o interesse dos estudantes, é necessário levar a experiência cotidiana para a escola, relacionando conteúdos, produzindo informações e organizando métodos que, devidamente interconectados, constituem conhecimentos. Por isso, é necessário que os estudantes desenvolvam o autoconhecimento e conheçam também o mundo no qual estão inseridos, lendo, descrevendo, identificando, interpretando e analisando problemas na perspectiva dos eixos temáticos que estruturam os Projetos Integradores para, ao final, construírem um produto que estimule ações com o envolvimento da comunidade escolar e de seu entorno, conforme os objetivos estabelecidos.

Com base nessas premissas, pretende-se, por meio do trabalho com Projetos Integradores proposto nesta obra, desenvolver ações, individuais e coletivas, que tragam impactos sociais e ambientais positivos para a comunidade e, ao mesmo tempo, contribuir para que os estudantes desenvolvam as competências, as habilidades, os valores e as atitudes previstos na BNCC. O trabalho com projetos, nessa concepção, contribui

para que os estudantes lidem com situações práticas a fim de obter ganhos concretos para a vida cotidiana, preparando-se também para o mundo do trabalho.

Para um trabalho potencialmente produtivo com Projetos Integradores no Ensino Médio, é importante considerar:

• os pressupostos epistemológicos e as especificidades teórico-metodológicas do componente curricular, assim como dos diversos componentes curriculares integrados e das áreas de conhecimento a que se relacionam;

• os contextos da comunidade local, que possibilitam a identificação de um problema e da questão central que desafiam os estudantes, gerando o interesse e despertando criatividade e envolvimento;

• as situações que favorecem a aprendizagem e a proposição de diferentes percursos para a solução do problema identificado, chegando à elaboração de um produto final;

• a reorganização curricular para o desenvolvimento de práticas escolares contextualizadas, garantindo atribuição de significado às aprendizagens construídas pelos estudantes e aos procedimentos por eles adotados;

• as práticas escolares, desenvolvidas de acordo com os pressupostos epistemológicos específicos do componente curricular e da área de conhecimento correspondente, com linguagem, recursos e rigor próprios, a serem colocados em prática durante o registro e a análise das experiências vividas e seu compartilhamento;

• a redefinição do perfil e dos conhecimentos especializados do professor para o adequado exercício de sua função diante das novas demandas sociais e tecnológicas;

• a ar ticulação de atividades condizentes às propostas de trabalho, individuais e/ou coletivas, que favoreçam a organização e a troca de contribuições a fim de atingir um objetivo comum;

• as possibilidades de exploração das potencialidades dos recursos tecnológicos digitais para acessar, analisar, produzir e compartilhar informações de maneira crítica e ética;

• as opor tunidades de exercitar o pensamento crítico, a argumentação, a leitura inferencial e o pensamento computacional;

• o desenvolvimento das competências socioemocionais para que os estudantes possam colocar em prática as melhores atitudes e habilidades para compreender e regular emoções, alcançar objetivos, demonstrar empatia e manter relações sociais positivas;

• o perfil das juventudes que chegam a esse nível de ensino, para que se estabeleçam conexões com as propostas que dialogam com questões que os inquietam e os apoiam na construção de projetos de vida, tanto no aspecto pessoal quanto no profissional;

a proposição de um produto final que caracterize o conjunto de conhecimentos adquiridos ao longo de todo o projeto e produza impacto na comunidade na qual os estudantes estão inseridos; os TCT, que proporcionam as situações propícias para o desenvolvimento das competências e habilidades especificadas na BNCC;

o s ODS, com base nos quais é possível trabalhar questões sociais, econômicas, ambientais e políticas com os estudantes de forma contextualizada, problematizando temas atuais e relevantes para eles e promovendo seu protagonismo como agentes de transformações sociais e culturais.

Além disso, no âmbito do trabalho com Projetos Integradores, espera-se a integração dos componentes curriculares das diversas áreas do conhecimento previstas na BNCC. Esse trabalho precisa ser coordenado de forma interdisciplinar pelos diversos atores envolvidos nos projetos propostos.

Interdisciplinaridade e áreas de conhecimento

A interdisciplinaridade é uma das formas de promover uma educação mais integrada e contextualizada. No Ensino Médio, a preocupação com essa perspectiva de educação evidencia-se com a definição na BNCC de competências e habilidades específicas apenas para as áreas de conhecimento, a fim de favorecer a articulação entre os diferentes componentes curriculares. Essa organização proposta pela BNCC não extingue os componentes curriculares das áreas, mas busca

35 BRASIL, ref. 2.

36 MORIN, ref. 25, p. 52.

superá-los por meio de uma abordagem mais interconectada com a realidade. Em outras palavras, essa nova estrutura abre portas para um currículo mais flexível no Ensino Médio, incentivando o trabalho interdisciplinar e contribuindo para que os estudantes tenham uma visão menos fragmentada da realidade35.

De acordo com Morin:

[...] Não se pode jogar fora o que foi criado pelas disciplinas, não se pode quebrar todas as clausuras. Este é o problema da disciplina, da ciência e da vida: é preciso que uma disciplina seja ao mesmo tempo aberta e fechada.

[...] para que nos serviriam todos os conhecimentos parcelares se não os confrontássemos uns com os outros, a fim de formar uma configuração capaz de responder às nossas expectativas, necessidades e interrogações cognitivas?

[...] um conhecimento em movimento, em circuito pedagógico, em espiral, que avança ao ir das partes ao todo e do todo às partes, e é isso que constitui nossa ambição comum36.

Tal reflexão evidencia o desafio que é um trabalho interdisciplinar em sala de aula, para o qual é necessário o movimento constante de partir das partes ao todo e do todo às partes. Nesse sentido, para que a interdisciplinaridade se efetive na prática pedagógica, é fundamental que haja um planejamento intencional e articulado entre os docentes dos diferentes componentes curriculares. Por isso, os professores precisam ter em mente seu papel nesse processo de tornar a aprendizagem integrada por meio da contribuição de cada área do saber, a fim de promover uma educação que transcenda a segmentação tradicional dos conteúdos. Ao conectar diferentes saberes, os estudantes podem ter uma compreensão mais global dos fenômenos naturais e sociais e aprender de forma mais significativa, favorecendo a aplicação dos conhecimentos aprendidos em sala de aula em situações reais e complexas. A abordagem interdisciplinar, nesse sentido, está alinhada com os princípios pedagógicos da BNCC, contribuindo para a formação de cidadãos críticos e capazes de entender a realidade de maneira integral e complexa, estabelecendo relações entre as diferentes áreas do saber e aplicando esses conhecimentos para solucionar problemas concretos.

Espera-se do trabalho articulado entre professores que os conteúdos dos componentes curriculares não sejam abordados de forma isolada, longe da real complexidade do mundo, mas de forma orgânica e dinâmica, em que as partes se integram para dar sentido aos fenômenos em estudo. Não se trata, portanto, de associar conteúdos de diferentes componentes de forma arbitrária, mas de criar uma relação lógica entre diferentes saberes que possa contribuir para a formação integral e significativa dos estudantes.

Isso pode ser feito por meio de atividades didáticas com o mesmo tema ou problema que demandem a aplicação de conhecimentos das diferentes áreas do conhecimento. Nessa perspectiva, os TCT e os ODS podem contribuir para um trabalho pedagógico interdisciplinar e articulado. Ao colocar em pauta questões que desafiam a sociedade contemporânea, essa abordagem contribui para que os estudantes explorem diferentes perspectivas e façam uso de diversos recursos em busca de soluções.

Alinhado a essa perspectiva de ensino, o trabalho com projetos integradores é uma abordagem teórica e metodológica que favorece a interdisciplinaridade ao empenhar diferentes componentes curriculares em um objetivo comum. Nesse tipo de estratégia didático-pedagógica, os estudantes, com o apoio de professores de diferentes componentes curriculares, dedicam-se colaborativamente a elaborar soluções para as questões e demandas do mundo real.

Os estudantes precisam lidar com a realidade de forma complexa, recorrendo aos conteúdos e conhecimentos dos diversos componentes curriculares para solucionar problemas. Essas interconexões potencializam o desenvolvimento de competências essenciais para a vida e para o mundo do trabalho, uma vez que os estudantes precisam mobilizar não só conhecimentos, mas também habilidades, valores e atitudes que perpassam as barreiras entre os componentes.

Considerando esses aspectos, pode-se afirmar que a interdisciplinaridade é uma demanda do ensino por competências, uma vez que

Optar por uma educação de competências representa a busca por estratégias de ensino que definam seu objeto de estudo na forma de responder satisfatoriamente a “situações reais” e, portanto, complexas. [...]

[...]

[...] O ensino tradicional foi estruturado em torno de disciplinas isoladas, e estas, por sua vez, em corpos teóricos cada vez mais segmentados. A escola, a reboque de uma ciência parcializada, “simplificou” a realidade convertendo em objeto de estudo os meios para seu conhecimento, pretendendo que o aluno realize por si só o que o saber estabelecido não soube resolver, ou seja, a abordagem da realidade em toda a sua complexidade.

[...] o conhecimento disciplinar, apesar de seu reducionismo, é imprescindível à compreensão da realidade, mas sempre quando se assume a aplicação de um conhecimento parcial da realidade não se chega a constituir uma ação competente se não se aprendeu a intervir em situações da “realidade global”, cuja essência é a complexidade. De tal modo que a complexidade não seja apenas uma circunstância na qual se desenvolvam as aprendizagens, mas também que esta seja objeto prioritário de ensino. Deve-se aprender a agir na complexidade, ou seja, saber responder a problemas e situações os quais nunca na vida real serão apresentadas de forma simples e, muito menos, nas quais o número de variáveis que nela intervêm sejam reduzidas a partir de situações expressadas unicamente com os dados necessários para uma resposta estereotipada a problemas também estereotipados. Assim, uma atuação competente significa não só conhecer os instrumentos conceituais e as técnicas disciplinares, mas também ser capaz de reconhecer quais deles são necessários para ser eficiente em situações complexas, e ao mesmo tempo saber como aplicá-los em função das características específicas da situação. Atuação que exige um pensamento complexo e, consequentemente, um ensino dirigido à formação para a complexidade 37

37 ZABALA; ARNAU, ref. 5, p. 110-112.

Portanto, ao estar comprometida com uma educação orientada para o desenvolvimento de competências, a escola assume o papel de mediadora entre os conhecimentos especializados dos componentes curriculares e as demandas da vida cotidiana. Essa mediação precisa ser feita de forma intencional e sistematizada, buscando romper as barreiras disciplinares e promover uma educação que valorize tanto o pensamento crítico quanto a capacidade de adaptação a situações inesperadas e multifacetadas, uma vez que a realidade exige soluções que não se encaixam em apenas uma área do conhecimento.

Em outras palavras, com o ensino de competências, pretende-se instrumentalizar os estudantes com os recursos necessários para enfrentar problemas reais, os quais demandam um olhar que integre diferentes saberes, habilidades, valores e atitudes. Para isso, é essencial que o planejamento das aulas e atividades inclua discussões coletivas sobre a articulação dos conteúdos dos diferentes componentes curriculares de forma contextualizada e integrada, a fim de favorecer a aprendizagem significativa e o desenvolvimento de um pensamento complexo.

Vale destacar também o fato de que, além de integrar os conteúdos dos componentes curriculares das diversas áreas do conhecimento, a interdisciplinaridade promove a troca de saberes e a colaboração entre os integrantes do corpo docente da escola, contribuindo para uma prática pedagógica mais reflexiva e colaborativa. Em uma escola na qual ainda predomina um ensino fragmentado, muitas vezes, os docentes atuam de forma isolada e limitada a sua área. Em uma proposta interdisciplinar, em contrapartida, o diálogo entre os componentes curriculares é central, exigindo dos professores uma abordagem colaborativa que possibilite o alinhamento do que é relevante para os estudantes e o compartilhamento de estratégias de ensino. Nesse cenário, a escola se torna um espaço de aprendizagem contínua no qual o conhecimento é construído coletivamente, de acordo com as demandas reais e atuais da escola, dos professores e dos estudantes.

A contribuição da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e seus componentes curriculares

A área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas ocupa um lugar central na formação integral dos estudantes do Ensino Médio, oferecendo contribuições indispensáveis para o desenvolvimento de uma visão crítica, ética e responsável do mundo. Essa área abrange os componentes curriculares História, Geografia, Filosofia e Sociologia e seus desdobramentos nos demais componentes do currículo escolar. O propósito desses componentes, muito além da simples transmissão de conteúdo factual, é a formação de cidadãos conscientes, capazes de intervir de maneira responsável e crítica nas questões sociais, políticas, culturais e ambientais de seu tempo.

A importância das Ciências

Humanas e Sociais Aplicadas no Ensino Médio

O estudo das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas possibilita a reflexão sobre a vida em sociedade e sobre os processos históricos e culturais que moldam o presente. Esse campo do conhecimento contribui para a compreensão dos contextos em que os estudantes estão inseridos, permitindo que eles se apropriem de ferramentas que os capacitam a analisar criticamente fenômenos como desigualdade social, processos de globalização, instituições políticas e seu papel, diversidade cultural e desafios ambientais, entre muitos outros temas atuais e urgentes. O estudo desses componentes também amplia a percepção da diversidade, da pluralidade de opiniões, de crenças e de valores, desenvolvendo a capacidade de diálogo e tolerância.

Formação crítica e autônoma

O ensino de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas no Ensino Médio tem o objetivo de desenvolver uma visão crítica do mundo, fomentando a autonomia intelectual dos estudantes. Ao explorar diferentes perspectivas da realidade social, eles são incentivados a pensar sobre o papel que desempenham como cidadãos ativos e participativos. Essa área do conhecimento tem, assim, a responsabilidade de desenvolver nos jovens a noção dos direitos e dos deveres em uma sociedade democrática e plural, bem como o exercício da cidadania em suas dimensões políticas, econômicas, sociais e culturais.

O desenvolvimento da competência argumentativa é outro aspecto das contribuições desses componentes. O incentivo ao debate e à reflexão crítica proporcionado pelos componentes curriculares de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas habilita os estudantes a formular, sustentar e defender seus pontos de vista, baseando-se em argumentos sólidos e evidências.

Contribuições do componente curricular História

O estudo de História permite que os estudantes compreendam os processos de transformação social, política e econômica ao longo do tempo, bem como a construção das identidades culturais. Ao analisar eventos passados, mudanças e permanências, os estudantes refletem sobre as continuidades e as rupturas que moldaram o mundo contemporâneo. Essa análise crítica do passado é essencial para que possam entender os desafios do presente e planejar o futuro com responsabilidade. Pelo estudo de diferentes sociedades, culturas e épocas, os estudantes aprendem a reconhecer a complexidade das interações humanas e a importância de respeitar as múltiplas formas de organização social e política.

Contribuições do componente curricular Geografia

A Geografia, por sua vez, é fundamental para a compreensão das interações entre sociedade e meio ambiente, abordando temas muito presentes e urgentes, como urbanização, globalização, mudanças climáticas e desigualdades socioeconômicas. Por meio do estudo desse componente, os estudantes desenvolvem uma visão espacial do mundo, fomentada pela análise crítica do uso dos recursos naturais e dos impactos das atividades humanas no planeta, entendendo a interconexão global entre os países e suas sociedades. Essa compreensão da interdependência global desperta nos estudantes a percepção de que suas ações afetam o planeta, tanto em escala local quanto em escala global. Com as propostas deste projeto, os estudantes são impelidos não apenas a refletir sobre questões como distribuição desigual de recursos, conflitos territoriais e desafios ambientais, mas também a buscar soluções que promovam um desenvolvimento mais justo e sustentável, comprometendo-se com o bem-estar do planeta como um todo.

Contribuições do componente curricular Filosofia

A Filosofia, como componente curricular que questiona a natureza da realidade, do conhecimento e dos valores, tem um papel crucial na constituição do pensamento crítico e reflexivo dos estudantes. No Ensino Médio, a Filosofia oferece espaço para que os estudantes explorem questões fundamentais da existência humana, como o sentido da vida, a natureza da justiça e o conceito de liberdade. Ao confrontar diferentes correntes de pensamento e reflexões filosóficas, os estudantes desenvolvem a capacidade de argumentação e de análise lógica, aprendendo a questionar pressupostos e a examinar criticamente as ideias que norteiam suas concepções de mundo.

Contribuições do componente curricular Sociologia

A Sociologia, por sua vez, tem como foco o estudo das estruturas sociais e das relações que permeiam a vida em sociedade. No Ensino Médio, a Sociologia oferece aos estudantes ferramentas sistemáticas de análise da realidade social, abordando temas como estratificação social, poder, cultura, instituições sociais e movimentos sociais. O componente promove uma compreensão crítica dos fenômenos sociais que permite que os estudantes explorem conceitos como classe, raça, gênero e religião e reflitam sobre a importância da justiça social e da construção de uma sociedade mais equitativa e democrática.

O papel do professor na área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas

O professor de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas desempenha um papel central na mediação do conhecimento, atuando como facilitador do processo de aprendizagem e como incentivador da adoção de uma postura reflexiva e crítica pelos estudantes. É preciso também que o professor busque, sempre que possível, relacionar o conteúdo dos componentes com os interesses e as experiências dos estudantes, tornando o aprendizado mais significativo e atraente. Ao abordar questões centrais para a compreensão do mundo e da sociedade, esses componentes contribuem para o desenvolvimento do pensamento crítico, da autonomia intelectual e da consciência cidadã.

Aprendizagem baseada em projetos

Por meio da metodologia de trabalho com projetos, propõe-se o estabelecimento de conexões entre os diferentes componentes curriculares das diversas áreas do conhecimento e das práticas sociais nos distintos campos da atividade humana.

Para Hernández e Ventura38, o trabalho com projetos educacionais deve valorizar o desenvolvimento do conhecimento de maneira contextualizada, globalizada e relacional e consistir na criação de estratégias para resolver problemas ou hipóteses que facilitem a construção do conhecimento pelos estudantes, por meio da transformação das informações procedentes dos diferentes saberes disciplinares.

Além disso, a aprendizagem com base em projetos não pode se desenvolver de maneira individual, solitária; ela requer o trabalho em grupo como condição essencial para dar conta da complexidade dos problemas a serem discutidos, investigados, analisados e repensados no contexto suscitado pelos temas focados. Nessa proposta, a transmissão de conteúdos, característica do ensino tradicional, perde espaço para o processo de aprendizagem no qual são valorizadas a prática e a experimentação.

O propósito de trabalho com os Projetos Integradores converge para os objetivos apresentados por Hernández e Ventura:

A proposta que inspira os projetos de trabalho está vinculada à perspectiva do conhecimento globalizado e relacional [...]. Essa modalidade de articulação dos conhecimentos escolares é uma forma de organizar a atividade de ensino e a aprendizagem, que implica considerar que tais conhecimentos não se ordenam para sua compreensão de uma forma rígida, nem em função de algumas referências disciplinares preestabelecidas ou de uma homogeneização dos alunos. A função do projeto é favorecer a criação de estratégias de organização dos conhecimentos escolares

em relação a: 1) o tratamento da informação, e 2) a relação entre os diferentes conteúdos em torno dos problemas ou hipóteses que facilitam aos alunos a construção de seus conhecimentos, a transformação da informação procedente dos diferentes saberes disciplinares em conhecimento próprio39

De maneira geral, no ensino com base no desenvolvimento de projetos, são necessárias a identificação e a descrição de um problema, em um contexto específico, para que, tomando-o como referência, sejam propostas questões problematizadoras que motivem a busca por soluções. Dessa forma, propõe-se uma questão central com base em ao menos dois critérios: o contexto, entendido como terreno fértil para o cumprimento dos objetivos pedagógicos, e o interesse dos estudantes. Nesse sentido, no processo de aprendizagem por meio de projetos, os estudantes devem confrontar questões e problemas do mundo real que façam sentido para eles a fim de determinar o modo como abordá-los e solucioná-los de forma colaborativa, crítica e propositiva40.

O que é aprendizagem baseada em projetos?

Ter questionamentos abertos

Apresentar para o público

Incluir processos de revisão e reflexão

Desenvolver habilidades para o séc. XXI Ter conteúdo relevante

Dar oportunidade de voz e escolha

Ter espírito de exploração Criar a necessidade de saber

Fonte: MENDONÇA, Helena Andrade. Construção de jogos e uso de realidade aumentada em espaços de criação digital na educação básica. In: BACICH, Lilian; MORAN, José (org.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. p. 106-127.

38 HERNÁNDEZ, Fernando; VENTURA, Montserrat. A organização do currículo por projetos de trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. 5. ed. Porto Alegre: Penso, 2017.

39 HERNÁNDEZ; VENTURA, ref. 38, p. 59.

40 BENDER, William N. Aprendizagem baseada em projetos: educação diferenciada para o século XXI. Tradução de Fernanda de Siqueira Rodrigues. Porto Alegre: Penso, 2014.

EDITORIA DE ARTE

O propósito de vencer o desafio deve motivar os estudantes a realizar pesquisas, formular estratégias e buscar soluções para apresentar resultados concretos, no final de todo o processo. Como forma de regular e autorregular o conhecimento e seus avanços, esse processo é gerenciado por meio da avaliação e das vivências e dos resultados da autoavaliação.

No desenvolvimento da metodologia de projetos, deve-se ter o cuidado de não permitir que a preocupação com a resolução do problema prejudique o interesse pelas aprendizagens envolvidas nesse processo.

A resolução dos problemas não é algorítmica, ou seja, não pode ser definida a priori. Embora seja feito um planejamento orientador, seu real desenvolvimento é suscetível a ajustes diante de obstáculos não previstos e da dinâmica em sala de aula. Nesses ajustes, o compromisso com a aprendizagem não pode ser alterado.

Nessa perspectiva, evidencia-se uma das principais características do trabalho com projetos, que está relacionada às estratégias da organização das informações e à sua aplicação na resolução do problema ou na elaboração de respostas à questão central, que deve ser valorizada e monitorada durante o desenvolvimento do projeto.

A construção do conhecimento se consolida por meio das conexões entre as informações e as interações internas e externas ao grupo. Segundo Hernández e Ventura:

[...] Os procedimentos são utilizados na escola para que os estudantes incorporem novas estratégias de aprendizagem que, estando inseridas no processo de construção do projeto e derivando-se dele, podem ser compreendidas pelos alunos e utilizadas em outras situações.

[...] É o domínio e conhecimento dessas estratégias o que permite aos estudantes organizarem e dirigirem seu próprio processo de aprendizagem. [...]41

Diante desse novo papel do estudante, o professor deixa de ser apenas um transmissor de informações e um agente controlador dos comportamentos em sala de aula para assumir diversas facetas:

[...] o professor também é consultor nesse processo. Não mais aquele que expõe todo o conteúdo aos alunos, mas aquele que fornece as informações necessárias, que o aluno não tem condições de obter sozinho. Nessa função, faz explanações, oferece materiais, textos etc.

41 HERNÁNDEZ; VENTURA, ref. 38, p. 75.

Outra de suas funções é como mediador, ao promover a confrontação das propostas dos alunos, ao disciplinar as condições em que cada aluno pode intervir para expor sua solução, questionar, contestar. Nesse papel, o professor é responsável por arrolar os procedimentos empregados e as diferenças encontradas, promover o debate sobre resultados e métodos, orientar as reformulações e valorizar as soluções mais adequadas. Ele também decide se é necessário prosseguir o trabalho de pesquisa de um dado tema ou se é o momento de elaborar uma síntese. [...]

Atua como controlador ao estabelecer as condições para a realização das atividades e fixar prazos, sem esquecer de dar o tempo necessário aos alunos.

Como um incentivador da aprendizagem, o professor estimula a cooperação entre os alunos, tão importante quanto a própria interação adulto/criança. [...]42

É importante destacar o fato de que retirar o professor do papel central não significa desvalorizá-lo, pois ele ganha novas dimensões de atuação, assim como os estudantes. Para Hernández e Ventura43, o percurso para a construção de um projeto se inicia com o estabelecimento pelos professores dos objetivos educacionais e de aprendizagem.

Considerando que as concepções do projeto partem de questões problematizadoras, por meio das quais os estudantes são desafiados a refletir e a usar a criatividade, mobilizando ações individuais e coletivas, elas se complementam, favorecendo o delineamento do processo e a construção de um produto final que ajude a transformar a realidade.

Além disso, em razão da disparidade das realidades locais brasileiras, com diferentes conflitos, vocações e especificidades, o percurso dos projetos pode ser alterado e construído de acordo com as necessidades da turma, ficando também a critério do professor e da escola a criação, com os estudantes, de outros projetos.

Os processos de escuta dos jovens e de construção coletiva podem propiciar ganhos ainda maiores na aprendizagem, pois os estudantes nascem conectados com a comunidade em que vivem. Essa abordagem mais contextualizada, como vimos, contribui para aumentar o engajamento dos estudantes, de modo que

42 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Brasília, DF: MEC, SEF, 1997. p. 31. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro03.pdf. Acesso em: 11 out. 2024.

43 HERNÁNDEZ; VENTURA, ref. 38.

o processo de ensino-aprendizagem seja mais motivador e envolvente.

De forma sintética, para visualizar melhor o desenvolvimento geral de um projeto integrador, o processo pode ser compreendido, basicamente, em seis passos:

1. contextualização e sensibilização por meio de questão mobilizadora que motive a aprendizagem;

2. investigação e busca de informações sobre o tema;

3. registro e divulgação dos resultados da investigação;

4. estabelecimento de um plano de ação com base na discussão dos resultados encontrados;

5. aplicação das informações e dos conhecimentos na elaboração do produto final;

6. conclusão e apresentação dos trabalhos e avaliação.

Vale destacar o fato de que, nesse processo, a pesquisa entra em cena como uma atividade praticamente transversal ao desenvolvimento do projeto. Quando se menciona a busca por informações, fica implícita a necessidade de sistematização, interpretação, análise e compartilhamento ou aplicação das informações resultantes de todas as etapas da investigação científica.

A pesquisa também sustentará a pluralidade de ideias, qualificando o debate entre os estudantes.

Hernández e Ventura definem os principais aspectos que devem ser estabelecidos na relação entre o tema e a organização curricular:

1. Um sentido da aprendizagem que quer ser significativo, ou seja, que pretende conectar e partir do que os alunos já sabem, de seus esquemas de conhecimento precedentes, de suas hipóteses (verdadeiras, falsas ou incompletas) ante a temática que se há de abordar.

2. Assume, como princípio básico para sua articulação, a atitude favorável para o conhecimento por parte dos estudantes, sempre e quando o professorado seja capaz de conectar com seus interesses e de favorecer a aprendizagem.

3. Configura-se a partir da previsão, por parte dos docentes, de uma estrutura lógica e sequencial dos conteúdos, numa ordem que facilite sua compreensão. Mas sempre levando em conta que essa previsão constitui um ponto de partida, não uma finalidade, já que pode ficar modificada na interação da classe.

4. Realiza-se com um evidente sentido de funcionalidade do que se deve aprender. Para isso, torna-se fundamental a relação com os procedimentos, com as diferentes alternativas organizativas aos problemas abordados.

44 HERNÁNDEZ; VENTURA, ref. 38, p. 60-61.

5. Valoriza-se a memorização compreensiva de aspectos da informação, com a perspectiva de que esses aspectos constituem uma base para estabelecer novas aprendizagens e relações.

6. Por último, a avaliação trata, sobretudo, de analisar o processo seguido ao longo de toda a sequência e das inter-relações criadas na aprendizagem. Parte de situações nas quais é necessário antecipar decisões, estabelecer relações ou inferir novos problemas44

Como em todas as práticas educativas empregadas para promover uma aprendizagem significativa, na intervenção pedagógica baseada em projetos, deve-se partir dos saberes prévios dos estudantes. Para isso, é fundamental a realização de uma avaliação diagnóstica no início de cada etapa. Esse procedimento é importante para mapear os conhecimentos, as habilidades, as atitudes e os valores dos estudantes ao chegar à sala de aula, possibilitando que o professor tenha condições de planejar melhor suas aulas, definindo procedimentos que serão adotados para realizar as atividades principais do projeto, as estratégias que serão utilizadas, os materiais que serão usados como fontes de pesquisa, a duração dos trabalhos etc. Essa abordagem torna-se ainda mais relevante em uma educação comprometida com a aprendizagem ativa, uma vez que os estudantes se tornam o centro do processo de ensino-aprendizagem. No planejamento, também é preciso levar em consideração o fato de que os projetos apresentam dinâmicas diferentes, de modo que as atividades apropriadas para o desenvolvimento de um tema podem não ser adequadas ao trabalho com outros. Além disso, é necessário identificar dificuldades ao longo do percurso e criar procedimentos alternativos para resolvê-las.

Definido o tema e traçados os objetivos, o projeto começa a entrar na fase de execução. O professor deve fazer um acompanhamento constante, auxiliando os alunos com os recursos humanos, materiais, com a orientação da parte procedimental e com a inclusão dos conteúdos conceituais.

[...] O acompanhamento é fundamental para a correção de rotas, depuração, orientação, inclusão de conceitos, ajustes de hipóteses e até para o próprio ato de investigação, pois o professor é um dos membros desse processo e como tal também investiga, descobre e busca soluções para os problemas45.

Dessa forma, os Projetos Integradores possibilitam o desenvolvimento de diferentes percursos para chegar ao

45 NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. Pedagogia dos projetos: etapas, papéis e atores. São Paulo: Érica, 2008. p. 69.

produto final. Também é importante não perder de vista o fato de que existem várias formas de abordar e solucionar uma questão ou problema, de modo que pode haver múltiplas soluções aceitáveis. Nesse sentido, ao encorajar os estudantes a participar do planejamento dos projetos e de todas as suas etapas, é preciso estar aberto ao que eles têm a propor. A multiplicidade de abordagens também é um ponto relevante a ser considerado, já que os problemas enfrentados na realidade são multifacetados e não apresentam uma estrutura organizada que determine apenas um caminho a ser traçado. Até mesmo as soluções podem ser diferentes. Portanto, aceitar essa complexidade do processo é um aspecto importante que contribui para que os estudantes experenciem situações mais próximas às da vida real. De acordo com Bender: [...] Esse tipo de aprendizagem força os alunos, ao trabalharem em equipes cooperativas, a criarem significado a partir do caos de superabundância de informações, a fim de articularem e apresentarem uma solução para o problema de forma eficaz [...].

Em uma era em que as mídias digitais permitem a comunicação instantânea e há disponibilidade de informações quase ilimitadas na internet, os defensores da ABP sugerem que produzir sentido a partir de grande quantidade virtual de informações caóticas é exatamente o tipo de construção do conhecimento que todo aluno no mundo de hoje precisa dominar [...]46

Ao longo dos projetos, as atividades tornam-se práticas contextualizadas, de forma que todos os conhecimentos e procedimentos façam sentido para os estudantes, pois estão próximos à realidade deles. São processos predominantemente especulativos, nos quais hipóteses são levantadas para serem refutadas ou validadas, às vezes, por meio de tentativa e erro, gerando oportunidades de busca de informações para as devidas justificativas científicas.

O fechamento do projeto é um momento decisivo.

Ainda que tenham sido feitos ajustes ao longo do processo, podem surgir surpresas na conclusão do produto final. Portanto, deve-se dar atenção especial a esse momento. Mesmo que durante o projeto o professor tenha feito suas interferências, é sempre bom

que ao final ele “alinhave e costure” tudo, ou seja, que faça um fechamento, lembrando qual era o problema inicial, quais eram as dúvidas, os interesses, as propostas de ações, os resultados obtidos e a finalização das conclusões. É papel do professor traçar esse quadro histórico de toda a trajetória do projeto, dando assim uma imagem de sequência de fatos e acontecimentos, para auxiliar os alunos na memorização e fixação de tudo aquilo que foi vivenciado no período em que realizaram o projeto47.

Tradicionalmente, a produção dos estudantes é usada para que eles mostrem ao professor aquilo que aprenderam. Essa produção compreende desde os simples registros feitos para a resolução de exercícios até a entrega de trabalhos extraclasse. Por vezes, são realizadas apresentações em eventos culturais e científicos. É comum o uso dessas produções para fechar um ciclo didático ou uma das etapas da Educação Básica. Todas elas apresentam em comum o fato de serem utilizadas de alguma forma para atribuir significado aos conteúdos estudados, demonstrar a aprendizagem e fechar um ciclo.

Nos Projetos Integradores, essa lógica é revertida. A produção dos estudantes é usada desde o início para que eles tomem consciência sobre um tema que envolve uma problemática real, seguida de um estudo aprofundado desse tema e da proposição e do planejamento para construir um produto que envolve a comunidade do ambiente escolar e de fora dele. Esse processo contribui para gerar conhecimentos e para que os estudantes desenvolvam competências, habilidades, valores e atitudes que transformam os indivíduos e a realidade em que vivem.

A produção dos estudantes não deve ter impacto apenas durante o ciclo de aprendizagem ou ao final dele; deve constituir um bem comum para a comunidade na qual os jovens estão inseridos, extrapolando os muros da escola. Isso não significa que essa produção não possa ser usada para os processos avaliativos e o compartilhamento das experiências. Ela deve ser usada para esses fins, porém com intenções mais pragmáticas, dando significado às questões teóricas e científicas.

Ao longo das etapas dos projetos e de acordo com a realidade dos estudantes, os recursos digitais devem ser usados para o compartilhamento das experiências dos estudantes durante e após o processo de

46 BENDER, ref. 40, p. 25.

47 NOGUEIRA, ref. 45, p. 69-70.

aprendizagem e para a divulgação de informações. Essas experiências podem se tornar referência na aprendizagem de outros estudantes que as acessarem, atingindo também pessoas da comunidade e de fora dela. Dessa forma, as produções passam a ter uma abrangência mais ampla.

Os produtos documentais podem ser planos de ação, propostas de encaminhamento, projetos e esboços, análises, vídeos, depoimentos, guias ou diários de campo, mas não apenas. É desejável que os resultados dos projetos – que podem ser produtos concretos ou serviços – causem impactos na comunidade.

Nessa perspectiva, os Projetos Integradores estão inseridos na chamada “cultura maker”, ou seja, os estudantes devem “pôr a mão na massa”, produzindo mecanismos, artefatos, manifestações culturais e artísticas, campanhas publicitárias de conscientização e educação ou soluções dos problemas identificados. O importante é que as produções dos estudantes tenham algum impacto social na resolução de problemas da escola ou da comunidade local.

O trabalho docente

Em geral, costuma predominar nas salas de aula abordagens pedagógicas dedutivas – aquelas em que os estudantes recebem, memorizam e acumulam informações repassadas pelos professores para aplicar em determinadas situações. Embora esse modelo de aprendizagem seja eficaz em certos contextos, cada vez mais se constata que uma aprendizagem ativa, na qual os estudantes assumem um papel de protagonistas no processo de aprendizagem, pode se mostrar mais engajadora por fazer mais sentido para os estudantes 48 .

De acordo com essa ótica, é necessário deslocar o foco do processo de ensino-aprendizagem do professor para o estudante. Com essa mudança de perspectiva, o professor atua mais como um mediador do processo, impulsionando as aprendizagens dos estudantes e direcionando-os para que atinjam os objetivos pedagógicos estabelecidos.

Para que isso seja possível na sala de aula, é importante estabelecer uma relação de parceria com os jovens que se baseie no respeito mútuo e no acolhimento, principalmente no encontro de saberes e de expectativas sobre o papel de cada um. Na prática, mais do que aprimorar as práticas pedagógicas, é importante que o professor se aproxime dos jovens para entender suas inquietações e demandas, bem como seus interesses e anseios49. No entanto, essa responsabilidade não deve ser atribuída apenas ao professor. Para que a escola se torne um espaço democrático, inclusivo e acolhedor, é preciso que toda a comunidade escolar se engaje nesse processo, entendendo os jovens que chegam ao Ensino Médio como sujeitos que buscam construir uma identidade ao mesmo tempo em que lidam com os impactos dos desafios que enfrentam.

No que diz respeito às práticas pedagógicas, o papel do professor como mediador assume alguns contornos específicos no trabalho com Projetos Integradores. Nessa abordagem, além da promoção de uma aprendizagem ativa, espera-se que os conteúdos sejam abordados de forma interdisciplinar, integrando conhecimentos das diversas áreas. Assim, os projetos desta coleção foram concebidos para abranger mais de uma área do conhecimento. Entretanto, para cada projeto é sugerido um professor-líder, que pode ser escolhido de acordo com a realidade escolar.

É importante que esse profissional:

• v alorize o enfoque participativo para garantir a proatividade dos estudantes, assumindo o papel de mediador, ciente de que ensinar não é transferir conhecimento, mas possibilitar sua construção de forma crítica, ativa e participativa;

• estabeleça regras e combinados de forma colaborativa para que todos os envolvidos possam atribuir significados a elas;

• compartilhe e construa com os estudantes as metas, os prazos e os propósitos de maneira nítida e objetiva, a fim de proporcionar à turma autonomia nos momentos de decisão, ação e avaliação – nesse contexto, os estudantes poderão reconhecer suas

48 MORAN, José. Metodologias ativas para uma aprendizagem mais profunda. In: BACICH, Lilian; MORAN, José (org.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. p. 1-25. 49 DAYRELL; CARRANO, ref. 9.

responsabilidades e sua autonomia, perceber suas limitações, encontrar apoio nos colegas e no professor para superá-las e identificar os progressos alcançados;

• incentive o interesse dos estudantes ao longo do projeto, garantindo a otimização dos tempos de aprendizagem, de modo que possam sistematizar dados, estabelecer conexões entre as informações e cumprir tarefas de cada uma das etapas, construindo os conhecimentos gradativamente; estabeleça com nitidez e precisão os objetivos pedagógicos e os processos de avaliação e autoavaliação –por meio do registro de suas observações sobre o andamento do projeto e sobre a evolução do desempenho dos estudantes, será possível fundamentar as devolutivas individuais e coletivas que orientarão os estudantes a adotar rotas alternativas de aprendizagem, flexibilizando seu tempo de aprendizagem e o acesso aos recursos didáticos, digitais ou não;

faça uma exposição de suas expectativas em relação à turma e a cada estudante, particularmente, se necessário – elas devem ser exequíveis e flexíveis, de modo que os próprios jovens expressem seus limites e possibilidades;

tenha entendimento da concepção de avaliação que deve ser considerada diante de uma proposta metodológica que pressupõe uma flexibilização curricular; explique aos estudantes os instrumentos de avaliação que serão usados ao longo e no final do processo –essa informação os tranquilizará e os ajudará na organização dos trabalhos;

t enha ciência de que, na perspectiva formativa, os estudantes, ao mesmo tempo que são avaliados, devem se tornar avaliadores – paulatinamente, eles vão se apropriando dos objetivos e desenvolvendo a habilidade de avaliar, de forma crítica e ética, o próprio processo de aprendizagem, assim como o desenvolvimento do projeto e a elaboração dos produtos resultantes dos Projetos

Integradores; por isso, a autoavaliação e a produção de portfólios, vídeos, fotografias e cadernos de anotações, entre outros recursos, podem ser instrumentos adequados para os processos avaliativos dessa natureza.

A respeito da expressão, pelo professor e pelos estudantes, de seus limites e suas possibilidades, afirma Boaler:

[...] as ideias que temos sobre nós mesmos –em especial se acreditamos em nós mesmos ou não – mudam os mecanismos de nossos cérebros. Se acreditamos que podemos aprender e que erros são valiosos, nossos cérebros se desenvolvem mais quando cometemos um erro. Esse resultado é muito significativo, pois novamente ressalta o quanto é importante que todos os estudantes acreditem em si mesmos –e como é fundamental para todos nós acreditarmos em nós mesmos, sobretudo quando estamos diante de algo desafiador50

Metodologias ativas

Nas discussões mais recentes sobre educação, as metodologias ativas têm ganhado cada vez mais espaço e relevância entre as práticas pedagógicas. A principal característica desse tipo de abordagem é o foco no estudante, ou seja, as atividades propostas em sala de aula são planejadas a fim de colocar o estudante no centro do processo de ensino-aprendizagem.

Para Valente, as metodologias ativas podem ser definidas como

[...] alternativas pedagógicas que colocam o foco do processo de ensino e aprendizagem no aprendiz, envolvendo-o na aprendizagem por descoberta, investigação ou resolução de problemas. Essas metodologias contrastam com a abordagem pedagógica do ensino tradicional centrado no professor, que é quem transmite a informação aos alunos. [...]51

As metodologias ativas não são um modelo novo de educação, mas estão se tornando mais relevantes no cenário educativo por atender às demandas atuais da escola. Elas envolvem abordagens didáticas que favorecem

50 BOALER, Jo. Mentalidades matemáticas: estimulando o potencial dos estudantes por meio da matemática criativa, das mensagens inspiradoras e do ensino inovador. Porto Alegre: Penso, 2018. p. 13.

51 VALENTE, José Arnando. A sala de aula invertida e a possibilidade do ensino personalizado: uma experiência com a graduação em Midialogia. In: BACICH, Lilian; MORAN, José (org.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso Editora, 2018. p. 27.

o desenvolvimento de competências alinhado à formação integral com base na aprendizagem ativa.

O papel do professor passa a ser de um facilitador do processo de ensino-aprendizagem, promovendo experiências didáticas desafiadoras que possibilitem a aplicação do conhecimento em situações concretas e engajem o estudante na aprendizagem. Para trabalhar com as metodologias ativas em sala de aula, é necessário que esta seja um espaço de diálogo, em que todos possam se sentir acolhidos e valorizados52.

Ao adotar as metodologias ativas em sala de aula, é preciso implementar estratégias a fim de mobilizar os estudantes para uma participação ativa na construção de saberes. Espera-se que eles participem de debates, desenvolvam projetos, testem hipóteses, proponham soluções, criem protótipos, trabalhem de forma colaborativa, façam experimentações etc.

De acordo com Moran53, as metodologias ativas estão vinculadas aos modelos híbridos, cuja conotação tem sido associada à mediação por tecnologias digitais no processo de aprendizagem. Esses modelos híbridos favorecem a personalização das aprendizagens, que, por sua vez, contribui para que os estudantes se conheçam melhor e ampliem sua autopercepção, reconhecendo seus potenciais e suas limitações. Essa abordagem é particularmente enriquecedora no contexto da construção dos projetos de vida dos estudantes, que são de caráter individual.

As tecnologias facilitam a aprendizagem colaborativa, entre colegas próximos e distantes. É cada vez mais importante a comunicação entre pares, entre iguais, dos alunos entre si, trocando informações participando de atividades em conjunto, resolvendo desafios, realizando projetos, avaliando-se mutuamente. Fora da escola, acontece o mesmo na comunicação entre grupo, nas redes sociais, que compartilham interesses, vivências, pesquisas, aprendizagens. A educação se horizontaliza e se expressa em múltiplas interações grupais e personalizadas.

[...]

A combinação de metodologias ativas com tecnologias digitais móveis é hoje estratégia para

a inovação pedagógica. As tecnologias ampliam as possibilidades de pesquisa, autoria, comunicação e compartilhamento em rede, publicação, multiplicação de espaços e tempos; monitoram cada etapa do processo, tornam os resultados visíveis, os avanços e as dificuldades. As tecnologias digitais diluem, ampliam e redefinem a troca entre os espaços formais e informais por meio de redes sociais e ambientes abertos de compartilhamento e coautoria54

As tecnologias são importantes aliadas na adoção de metodologias ativas na sala de aula, favorecendo até mesmo a aprendizagem socioemocional. Contudo, para que o uso delas na educação se efetive, é preciso haver uma articulação entre os aspectos metodológicos e de conteúdo e as intencionalidades pedagógicas do professor55. Sendo assim, o uso de tecnologias digitais por si só não garante a aprendizagem ativa e digital, sendo central o papel do professor nesse processo, orientando e intervindo de forma intencional e sistematizada. Vale também destacar o fato de que, embora tenham grande potencial na mediação da aprendizagem, especialmente nos modelos de aprendizagem ativa, as tecnologias digitais não são essenciais para que as metodologias ativas sejam adotadas em sala de aula. É possível fazer adaptações que dependam mais ou menos do uso dessas tecnologias.

Outro aspecto fundamental dessa abordagem é a aprendizagem colaborativa e compartilhada, que promove o trabalho em equipe e valoriza o aprendizado entre pares. No processo de ensino-aprendizagem, é fundamental que os estudantes compartilhem informações e experiências, conhecendo e discutindo diferentes pontos de vista e participando de atividades coletivas. Ao trabalhar em grupos heterogêneos, os estudantes desenvolvem competências socioemocionais, como respeito, empatia, capacidade para resolver conflitos e comunicação. Além disso, as tecnologias digitais podem desempenhar um papel importante oferecendo suporte para a manutenção das relações interpessoais e facilitando a colaboração e a comunicação, tanto dentro quanto fora da sala de aula.

A organização da sala de aula também é um fator importante para a implementação de metodologias ativas nas práticas pedagógicas. O modelo tradicional de

52 MORAN, ref. 48; CAVALCANTI, ref. 31; FILATRO, Andrea; CAVALCANTI, Carolina Costa. Metodologias inov-ativas na educação presencial, a distância e corporativa. São Paulo: Saraiva Uni, 2018.

53 MORAN, ref. 48.

54 MORAN, ref. 48, p. 11-12.

55 CAVALCANTI, ref. 31.

disposição das carteiras enfileiradas e a mesa do professor à frente precisa ser avaliado para a aplicação das metodologias ativas. Afinal, o centro do processo de ensino-aprendizagem está nos estudantes, não no professor, que é o foco desse formato de organização da sala de aula. Isso, porém, não significa que essa disposição da sala de aula deva ser totalmente abandonada, pois pode haver momentos em que o professor prefira uma abordagem mais dirigida das atividades, para a qual seja necessária maior concentração dos estudantes.

O que é importante considerar na gestão do espaço é o alto grau de complexidade esperado da organização social de uma sala de aula para o ensino de competências. Em qualquer abordagem, por meio de metodologias ativas ou não, é preciso levar em conta o fato de que, para ensinar competências, é preciso escolher métodos que contemplem momentos de trabalho colaborativo – tanto em grupos homogêneos ou heterogêneos quanto em grandes equipes – ou individual. Isso se faz necessário porque os estudantes só poderão aprender o trabalho colaborativo realizando-o na prática. Além disso, no ensino de competências, também é igualmente importante o desenvolvimento de habilidades que englobem as dimensões interpessoais, sociais e socioemocionais56

Sendo assim, faz-se necessário explorar, de acordo com as intencionalidades pedagógicas, diferentes organizações físicas e sociais da sala de aula. Alguns formatos que podem ser considerados são: a disposição dos estudantes em semicírculo (ou em formato U), em roda de conversa (formato circular), em agrupamentos modulares (pares, trios, grandes e pequenos grupos etc.) ou em estações de trabalho. Todos esses exemplos favorecem o trabalho colaborativo ao contribuir para a interação dos estudantes.

A organização dos grupos também precisa ser planejada, principalmente quando são formados por muitos estudantes. Esse planejamento deve seguir as intencionalidades pedagógicas previstas para cada atividade. Por exemplo, em metodologias que visam à instrução por pares, a escolha dos pares deve ser criteriosamente planejada, pois é preciso que um estudante tenha como instruir o outro, ou seja, os estudantes de cada par devem ser complementares. Já em grupos grandes, pode ser necessário atribuir funções específicas para cada integrante, a fim de garantir a

participação de todos na atividade a ser desenvolvida.

A atribuição de funções pode ser realizada com o direcionamento do professor ou seguir critérios adotados pelos próprios grupos, conforme o grau de autonomia dos estudantes e os objetivos pretendidos.

No contexto da aprendizagem baseada em projetos, os estudantes são envolvidos ativamente em atividades que envolvem problemas reais. Tal abordagem tem como princípio a aprendizagem colaborativa, que implica a necessidade do trabalho em grupo e em sala de aula. No âmbito dos Projetos Integradores, há articulação e integração de diferentes saberes e áreas de conhecimento para abarcar a complexidade de questões da vida cotidiana. Quando bem estruturados, os projetos também contribuem para o desenvolvimento de competências cognitivas e socioemocionais, possibilitando aos estudantes mobilizar diferentes habilidades ao longo das etapas do projeto. Nesse processo, várias atividades podem ser empregadas para promover a aprendizagem ativa:

• Atividades para motivação e contextualização: os alunos precisam querer fazer o projeto, se envolver emocionalmente, achar que dão conta do recado caso se esforcem etc.

• Atividades de brainstorming: espaço para a criatividade, para dar ideias, ouvir os outros, escolher o que e como produzir, saber argumentar e convencer.

• Atividades de organização: divisão de tarefas e responsabilidades, escolha de recursos que serão utilizados na produção e nos registros, elaboração de planejamento.

• Atividades de registro e reflexão: autoavaliação, avaliação dos colegas, reflexão sobre qualidade dos produtos e processos, identificação de necessidade de mudanças de rota.

• Atividades de melhoria de ideias: pesquisa, análise de ideias de outros grupos, incorporação de boas ideias e práticas.

• Atividades de produção: aplicação do que os alunos estão aprendendo para gerar produtos.

• Atividades de apresentação e/ou publicação do que foi gerado: com celebração e avaliação final57.

56 ZABALA; ARNAU, ref. 15.

57 MORAN, ref. 48, p. 18-19.

Habilidades digitais

A ampliação do acesso aos recursos digitais ocorrida nas primeiras décadas do século XXI é um dos fatores que mais têm modificado a interação entre as pessoas. O uso de celulares e computadores e a interconexão proporcionada pela internet transformaram significativamente as práticas sociais nos mais diversos campos da atividade humana e possibilitaram a interação entre pessoas e entre pessoas e máquinas.

Atual e necessário, o processo de ensino-aprendizagem no campo das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs) deve ser fomentado e trabalhado no contexto escolar, pois o domínio de seus usos instrumentaliza os estudantes não só para a aprendizagem na escola, mas também para a atuação nos contextos social e profissional. A incorporação das tecnologias digitais nas práticas pedagógicas e o desenvolvimento de habilidades para usá-las de forma responsável, além de necessários para que os estudantes atuem em um mundo altamente conectado, podem atrair o interesse dos jovens e engajá-los no processo de ensino-aprendizagem58

A atividade escolar envolvendo o uso de tecnologias digitais, unida às experiências prévias dos estudantes com essas ferramentas, possibilita o desenvolvimento de habilidades voltadas à participação consciente e democrática dos jovens na sociedade por meio da comunicação digital, assim como a reflexão sobre os fundamentos das TDICs e os aspectos relacionados à comunicação de dados e à segurança de rede, por exemplo. As tecnologias digitais possibilitam o diálogo entre os diversos componentes curriculares e entre as áreas de conhecimento, por meio da realização de pesquisas, do planejamento para a apresentação de trabalhos e da partilha de informações, favorecendo as interações com o mundo virtual e globalizado que nos cerca. Portanto, as habilidades necessárias para utilizá-las de forma crítica e propositiva perpassam os limites dos componentes curriculares e podem ser trabalhadas nos mais diversos contextos.

Os Projetos Integradores também abrem terreno para o pensamento computacional, que contribui para o desenvolvimento de competências e habilidades específicas associadas à abstração, à visualização, à generalização e ao uso de estratégias algorítmicas. Na implantação

de propostas pela metodologia de projetos, o pensamento computacional está associado ao desenvolvimento do pensamento lógico e do pensamento algébrico (como previsto na BNCC); por isso, sua prática não deve ser entendida como uma preparação dos jovens para trabalhar com computação, mas como uma forma de lidar com problemas que demandam a capacidade de analisar e organizar logicamente as informações para, posteriormente, resolvê-los de modo eficiente.

Vale destacar o fato de que, embora o ensino baseado em tecnologia seja desejável e recomendado nas escolas, o trabalho com Projetos Integradores não depende do uso extensivo de tecnologia. Em um país desigual como o Brasil, a disponibilidade de recursos digitais pode constituir um desafio à realidade de muitas escolas e jovens. Para superar esse desafio, os professores podem explorar diferentes estratégias de ensino e adaptá-las a seu contexto, sem comprometer a aprendizagem dos estudantes. Um exemplo é o pensamento computacional, citado anteriormente. Embora o aprendizado possa ser enriquecido com o uso de tecnologias digitais, é possível trabalhar o pensamento lógico e matemático sem o uso delas.

Competências socioemocionais

A aprendizagem socioemocional é contemplada na BNCC e se expressa por meio das competências gerais propostas no documento para a Educação Básica de todo o país. Entre as dez competências propostas, três estão mais atreladas à aprendizagem socioemocional. São elas:

8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.

9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.

10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base

em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários59.

Essa perspectiva está alinhada com o compromisso com a formação integral dos estudantes, o que significa promover uma educação que vá além da aprendizagem de conteúdos dos diferentes componentes curriculares e envolva questões sobre autoconhecimento, autorregulação das emoções e relacionamento com outras pessoas.

Nesse contexto, o trabalho com metodologias ativas, como a proposta de Projetos Integradores, é uma estratégia eficaz na aprendizagem socioemocional60 Além da aprendizagem ativa, a aprendizagem baseada em projetos parte do princípio do trabalho colaborativo entre os estudantes.

O trabalho em equipe é prática fértil para aflorar interesses, expectativas e pontos de vista pessoais. Assim, eventuais conflitos não devem ser evitados, pois a superação dos embates, quando bem gerenciados, possibilita o estabelecimento de novas relações, o questionamento de valores e o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes. Uma saída para conectar os jovens a um trabalho em grupo significativamente produtivo passa pelo desenvolvimento das competências socioemocionais. Nesse processo, eles aprendem a colocar em prática as melhores atitudes e habilidades para compreender e regular emoções, alcançar objetivos, demonstrar empatia, manter relações sociais positivas e tomar decisões de maneira responsável, como aponta o trecho a seguir:

[...] as competências socioemocionais constituem uma integração de saberes e fazeres sobre si mesmo e sobre os demais, apoiando-se na consciência, na expressão, na regulação e na utilização (manejo) das emoções, cujo objetivo é aumentar o bem-estar pessoal (subjetivo e psicológico) e a qualidade das relações sociais. Em resumo, a inteligência emocional, a regulação emocional, a criatividade emocional e as habilidades sociais integram um conjunto mais amplo denominado de competências socioemocionais61

No contexto do trabalho em grupo, espera-se que os estudantes se desenvolvam na dimensão socioemocional, ao conseguir praticar a escuta ativa, refletir e argumentar

adequadamente e expor suas ideias e justificativas com objetividade. Ao pensar, preparando argumentos contrários aos dos colegas ou concordando com eles, os jovens estabelecem conexões entre as informações e sintetizam diferentes conhecimentos. Objetivamente, isso significa desenvolver o pensamento crítico e ético e a capacidade de agir coletivamente para a melhoria das condições sociais e ambientais no seu contexto local e, ao mesmo tempo, desenvolver o conhecimento científico e as competências específicas e habilidades da BNCC.

O desenvolvimento de habilidades socioemocionais favorece uma experiência que abarca reflexões e debates a respeito de problemas reais, presentes na comunidade escolar: ocorrências de assédio (moral, físico ou emocional) ou violência praticada com o outro ou autoprovocada, casos graves de indisciplina escolar e de ataque ao patrimônio público, práticas de bullying, complicações da saúde mental e comportamento agressivo, além de outras questões relacionadas às particularidades da vivência cotidiana dos jovens. Por isso, espera-se que o trabalho com os Projetos Integradores sirva como instrumento para que os estudantes lidem com a complexidade da vida cotidiana e aprendam a valorizar seus pontos fortes e a reconhecer seus pontos a melhorar, de modo que superem e compreendam suas dificuldades e as dos colegas.

Escola plural e inclusiva

Ao longo da formação das crianças e dos jovens, a escola é um espaço propício para o desenvolvimento e a consolidação das ideias de democracia, e isso se torna muito mais viável quando as práticas educacionais são baseadas em situações reais e contextualizadas. Esse é um dos motivos pelos quais, no trabalho com Projetos Integradores, valoriza-se a formação dos estudantes para que considerem a perspectiva social, a reflexão, o diálogo e a abordagem da diversidade e das múltiplas existências.

Desse modo, a escola não apenas propõe o exercício da democracia, tornando-se um espaço de “aprendentes”, mas também acolhe efetivamente a diferença. Larrosa (2004) apresenta uma interessante reflexão sobre as possibilidades de

59 BRASIL, ref. 2, p. 10.

60 CAVALCANTI, ref. 31.

61 GONDIM, Sônia Maria G.; MORAIS, Franciane Andrade de; BRANTES, Carolina dos Anjos A. Competências socioemocionais: fator-chave no desenvolvimento de competências para o trabalho. Revista Psicologia – Organizações & Trabalho, Florianópolis, v. 14, n. 4, p. 400, out./dez. 2014.

encontros com o outro. Em uma primeira possibilidade, vemos no outro a identificação diante do conforto de sermos iguais: mesmos gostos, modos de encarar a vida e valores. Nesse encontro não estou com o outro, mas comigo mesmo. É o encontro do reconhecimento de si. Diante do idêntico, encontro a mim mesmo. A segunda possibilidade está em ver o outro como algo a ser conquistado, dominado, controlado e capaz de nos satisfazer. Esse encontro, segundo Larrosa, é o da apropriação. Nele também não estou encontrando o outro, mas o meu próprio desejo, minha necessidade de controle e de uso do outro. Estou mais uma vez encontrando a mim mesmo. Mas temos ainda a terceira possibilidade que é o encontro efetivo com o outro. [...] esse é o encontro da experiência de tombamento diante do outro, do abandono da ideia de dominá-lo e da entrega ao que o outro pode me trazer de absolutamente novo e capaz de me fazer sair de mim mesmo para vê-lo como outro, não mais como idêntico, não mais como objeto de apropriação.

Não basta estar com o outro como reconhecimento de si mesmo ou como dominação e imposição de si mesmo. Devemos estar com o outro como experiência democrática: como entrega, confiança e curiosidade efetiva pelo que pode ensinar o outro, ainda que muito diferente62.

Essas são oportunidades nas quais as práticas escolares, com a implantação de Projetos Integradores, promovem o reconhecimento da diferença e o convívio social republicano. Em uma sociedade democrática, a escola pode se tornar o espaço ideal para determinados assuntos serem discutidos, analisados e resolvidos da forma mais adequada possível.

Esse espaço democrático pode começar na sala de aula, de uma perspectiva inclusiva. Na organização do espaço escolar, deve-se garantir a circulação de estudantes com deficiência ou mobilidade reduzida, por exemplo. Além disso, é preciso considerar a diversidade entre os estudantes no planejamento das aulas, levando

em conta a escolha dos recursos e das estratégias didáticas. Muitas situações de discriminação podem ser evitadas com a adaptação das atividades propostas, dos recursos utilizados ou do rearranjo de móveis. Em certos casos, conversar com os familiares ou responsáveis pode ser uma alternativa para compreender as necessidades de cada estudante. Nesse sentido, Borba e Lesnosvki definem inclusão no contexto escolar [...] não apenas como o aumento da porosidade de nossas práticas à participação física dos indivíduos, mas também como a possibilidade de que todos os sujeitos envolvidos se apropriem do ambiente e se sintam pertencentes à situação. Não basta fornecer acesso à educação inclusiva, é preciso também possibilitar o aprendizado e a produção de significado63

É fundamental que, diante de turmas muito diversas, o professor esteja atento às demandas individuais de cada estudante.

Desafios da sala de aula

Um dos objetivos pedagógicos propostos para o Novo Ensino Médio é o de tornar a aprendizagem mais eficaz, o que acarreta a melhoria dos indicadores educacionais e diminui os índices da evasão escolar. Isso certamente vai ao encontro dos objetivos de todos os professores e gestores educacionais.

A melhoria do processo de aprendizagem implica o envolvimento dos estudantes na construção do conhecimento. O desinteresse dos jovens é mencionado de forma recorrente, gerando um problema aparentemente paradoxal: como o principal agente da aprendizagem, o estudante, pode participar de um processo pelo qual não demonstra interesse?

O desinteresse em estudar tem sido observado com mais força e nitidez na faixa etária de 15 a 25 anos, conforme aponta a Pnad Contínua realizada em 2023, pelo IBGE. A pesquisa indica que a taxa de escolarização de jovens entre 15 e 17 anos ficou estável entre 2022 e 2023, chegando a 91,9% em 2023. De acordo

62 CHRISTOV, Luiza Helena S. Escola como espaço para a aprendizagem da convivência democrática e do respeito à diversidade. In: SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA. Saber em ação 2013. São Paulo: Sesi, 2013. p. 105.

63 BORBA, Gustavo Severo; LESNOVISKI, Melissa Merino. Transformando a sala de aula: ferramentas do design para engajamento e equidade. Porto Alegre: Penso Editora, 2023. p. 63. e-pub.

com a meta 3 do Plano Nacional de Educação, a taxa ajustada líquida de escolarização64 nessa faixa etária deveria estar em 85% em 2024. No entanto, o resultado no país foi de 75%, o que demonstra que o Brasil ainda está distante das metas estabelecidas para esse grupo de pessoas65

Levando-se em consideração o grupo de jovens de 14 a 29 anos do País, 9,0 milhões não completaram o ensino médio, seja por terem abandonado a escola antes do término desta etapa ou por nunca a terem frequentado. Desses, 58,1% eram homens e 41,9% eram mulheres. Considerando-se cor ou raça, 27,4% eram brancos e 71,6% eram pretos ou pardos.

Ao analisar a idade que estes jovens de 14 a 29 anos deixaram a escola, é importante observar que os maiores percentuais de abandono a escola se deram nas faixas a partir dos 16 anos de idade (entre 16,0% e 21,1%). Mesmo assim, ainda existe abandono precoce na idade do ensino fundamental, que foi de 6,2% até os 13 anos e de 6,6% aos 14 anos. Esse padrão se mantém semelhante entre homens e mulheres e entre as pessoas de cor branca e preta ou parda. Vale destacar que o grande marco da mudança foi a idade de 15 anos que, em geral, é a idade de entrada no ensino médio. Nessa idade, o percentual de jovens que abandonaram a escola quase duplicou frente aos 14 anos de idade. Frente a 2019, o grupo que deixou de frequentar a escola com até 13 anos de idade foi o que apresentou maior redução de abandono escolar (2,3 p.p). Por outro lado, o grupo que abandonou a escola com 18 anos registrou o principal aumento (5,4 p.p.)

[...]

Quando perguntados sobre o principal motivo de terem abandonado ou nunca frequentado escola, esses jovens apontaram a necessidade de trabalhar como fator prioritário. No Brasil, este contingente chegou a 41,7% em 2023, aumento de 1,5 p.p. em comparação a 2022. Para aqueles que responderam que abandonaram por não terem interesse de estudar, embora seja o segundo principal motivo, este tem apresentado queda sequencial

nos três anos investigados pela pesquisa, chegando a 23,5% em 2023.

Para o principal motivo apontado ser a necessidade de trabalhar, ressaltam-se os homens, com 53,4%, seguido de não ter interesse de estudar (25,5%). Para as mulheres, o principal motivo foi também a necessidade de trabalhar (25,5%), seguido de gravidez (23,1%) e não ter interesse em estudar (20,7%). Além disso, 9,5% das mulheres indicaram realizar afazeres domésticos ou cuidar de pessoas como o principal motivo de terem abandonado ou nunca frequentado escola, enquanto para homens, este percentual foi inexpressivo (0,8%)66

Diante dessa realidade, faz-se necessário pensar sobre a origem do desinteresse dos estudantes. O afastamento entre as práticas escolares e as demais práticas sociais presentes na vida cotidiana, que fragmenta e hierarquiza os conhecimentos, é um dos possíveis fatores que ocasionam a falta de interesse dos jovens no aprendizado formal. Segundo Freitas:

[...] O conhecimento foi partido em disciplinas, distribuído por anos e os anos foram subdivididos em partes menores que servem para controlar uma certa velocidade de aprendizagem do conhecimento. Convencionou-se que uma certa quantidade de conhecimento devia ser dominada pelos alunos dentro de um determinado tempo. Processos de verificação pontuais indicam se houve ou não domínio do conhecimento. Quem domina avança e quem não aprende repete ano (ou sai da escola).

A necessidade de introduzir mecanismos artificiais de avaliação (provas, testes etc.) foi motivada pelo fato de a vida ter ficado do lado de fora da escola. Com isso, ficaram lá também os “motivadores naturais” para a aprendizagem, obrigando a escola a lançar mão de “motivadores artificiais” – foi desenvolvido um sistema de avaliação com notas como forma de estimular a aprendizagem e de controlar o comportamento de contingentes cada vez maiores de crianças que acudiam à escola e tinham de ficar dentro dela, imobilizadas, ouvindo o professor. [...]67

64 Corresponde à relação entre o total de matrículas de estudantes na idade esperada para frequentar certo nível de ensino e o número total de indivíduos na mesma faixa etária.

65 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua: educação 2023. Rio de Janeiro: IBGE, 2024. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv102068_informativo.pdf. Acesso em: 11 out. 2024.

66 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, ref. 65, p. 9-10.

67 FREITAS, Luiz Carlos de. Ciclos, seriação e avaliação: confronto de lógicas. São Paulo: Moderna, 2003. p. 27-28.

Esse diagnóstico evidencia o fato de que o processo avaliativo tem um papel importante na superação do modelo de aula no qual cabe aos estudantes apenas ouvir, copiar e memorizar aquilo que o professor apresenta ou está assinalado nos livros didáticos para depois, na avaliação, reproduzir as informações que lhes foram transmitidas. Como forma de resgatar o interesse dos estudantes pela escola, é fundamental dar sentido às atividades desenvolvidas para que eles se reconheçam nelas e se tornem cidadãos participantes, éticos e críticos, cientes das próprias responsabilidades e capazes de corresponder às demandas da sociedade contemporânea, que é um dos propósitos do trabalho com os Projetos Integradores.

Além de resgatar o interesse dos estudantes, é essencial construir um ambiente seguro e acolhedor, tanto por meio da seleção dos temas trabalhados em sala de aula, que devem se aproximar do universo juvenil sempre que possível, quanto por meio do incentivo a práticas sociais respeitosas. Nesse sentido, conforme destacado anteriormente, um dos problemas mais frequentes e indesejados nos ambientes escolares é o fenômeno do bullying. Pensando nessa prática como um desafio a ser superado nas escolas, [...] os projetos de intervenção ao bullying precisam garantir que crianças e adolescentes – tanto protagonistas como espectadores –possam construir identidades autônomas que consigam gostar de si para gostar dos outros no seu sentido moral: é pela construção do respeito a si que podemos construir o respeito a outrem. Portanto, propostas que insistem apenas no estabelecimento de regras pautadas em deveres e obrigações pouco poderão favorecer ao desenvolvimento de relações mais éticas, principalmente quando utilizam punições e castigos que mais aumentam o problema já que incidem exatamente sobre como esses meninos e meninas podem se ver sem valor posto que esse último está exterior a eles, na autoridade que impõe as regras de boa convivência68

Assim como o bullying, outras formas de violência devem ser combatidas no ambiente escolar para que seja possível a promoção da cultura de paz, de modo que os estudantes se sintam à vontade para expor e celebrar suas diferenças como parte essencial da construção coletiva do conhecimento.

Avaliações

Na vida cotidiana, as pessoas planejam, agem e avaliam seus passos continuamente. Por vezes, isso é feito de forma intuitiva, mas em muitas ocasiões é realizado intencionalmente, sobretudo nas práticas sociais, educacionais e profissionais.

Abordar a avaliação no contexto do trabalho com projetos é essencial, pois o que se propõe é superar a lógica da avaliação a serviço do mero controle, da classificação e da seleção de estudantes, há séculos enraizada nas práticas escolares.

Nas últimas décadas, o conceito de avaliação foi se modificando, ao mesmo tempo que avançaram os estudos voltados para o processo de ensino-aprendizagem na área da educação. Assim, de instrumento de atribuição de notas e de classificação dos estudantes, como era considerada até meados da década de 1980, a avaliação passou a ser definida como um processo contínuo utilizado para diagnosticar a maior ou a menor aproximação aos objetivos propostos, a fim de indicar o que foi atingido e o que precisa ser revisto e/ou visto (pois, muitas vezes, na avaliação se percebem aspectos que não foram previstos no planejamento, mas, em razão do que foi apresentado pelos estudantes, precisam ser abordados). Tipos de avaliação

Em oposição à interpretação tradicional da prática avaliativa, encontra-se aquela que está a serviço da aprendizagem, defendida por muitos autores e pesquisadores. Entre eles, os mais conhecidos no Brasil são Charles Hadji, Jussara Hoffmann, Cipriano Luckesi, Luiz Carlos de Freitas e Celso Vasconcellos, que enquadram as práticas avaliativas em uma das seguintes modalidades: diagnóstica, formativa e somativa.

A avaliação diagnóstica fornece informações importantes para o planejamento das ações de professores e estudantes. Por causa desse vínculo com a elaboração de planos, as avaliações diagnósticas são feitas nas fases iniciais do projeto ou de cada uma de suas etapas. Avaliações individuais, orais e/ou escritas, podem ser usadas como instrumentos, assim como estudos de caso, dinâmicas de grupo, pesquisas e dramatizações podem fornecer informações sobre os aspectos cognitivos e

68 TOGNETTA, Luciene Regina P.; VINHA, Telma P. Estamos em conflito, eu comigo e com você: uma reflexão sobre o bullying e suas causas afetivas. In: CUNHA, Jorge Luiz da; DANI, Lúcia Salete Celich. (org.). Escola, conflitos e violências. Santa Maria: UFSM, 2008. p. 17.

socioemocionais dos jovens, além de seus conhecimentos prévios a respeito de determinado assunto ou área. Essas informações orientam ações que podem conduzir o planejamento e a aprendizagem, em detrimento da mera atribuição de notas e conceitos.

A modalidade formativa deve ser usada por estudantes e professores para coletar informações em cada etapa do processo de ensino-aprendizagem. Esse continuum avaliativo é importante para retomadas necessárias e aprimoramento do processo de construção do conhecimento. Com os dados coletados durante o processo, o professor pode ajustar a rota de ensino, a fim de fazer as necessárias intervenções pedagógicas, com foco na aprendizagem dos estudantes, e na gestão do projeto, com foco no resultado esperado.

Segundo Hadji69, esse tipo de avaliação acontece no centro da ação de formação dos estudantes e é integrado ao processo de ensino. Seu principal objetivo é:

[...] contribuir para melhorar a aprendizagem em curso, informando o professor sobre as condições em que está a decorrer essa aprendizagem, e instruindo o aprendente sobre o seu próprio percurso, os seus êxitos e as suas dificuldades70.

A avaliação somativa é aquela feita ao término de cada processo ou na etapa final dos trabalhos. Em geral, ela tem por finalidade atender a uma determinação de natureza administrativa de atribuição de um valor ou conceito. Quando as médias ou valores atribuídos (ou obtidos) ao longo do projeto são representativos de uma síntese significativa do processo global, a avaliação somativa passa a ter caráter formativo, não por ter a finalidade de selecionar ou classificar, mas por ser um indicador daquilo que precisa ser melhorado ou mantido. Além desses tipos de avaliação, há o que se pode chamar de ipsativo. Esse tipo de abordagem, quando usado no contexto educacional, visa fornecer informações sobre o desempenho dos estudantes de acordo com métricas definidas por eles, ou seja, o rendimento dos estudantes relativo ao desenvolvimento das competências e habilidades previstas ao longo da Educação Básica é avaliado e comparado com avaliações anteriores. Desse modo, é possível ter uma perspectiva dos avanços na aprendizagem de cada estudante, identificando o que ainda precisa ser desenvolvido e o

que já foi atingido. De certa forma, a avaliação ipsativa colabora com a autoavaliação dos estudantes, fornecendo um panorama de suas aprendizagens ao longo do percurso educativo e ajudando a estabelecer metas pessoais de desenvolvimento.

No Ensino Médio, esse tipo de avaliação é uma ferramenta poderosa no acompanhamento das aprendizagens com o exercício contínuo do autoconhecimento. Além disso, é nessa etapa da Educação Básica que os estudantes demonstram mais autonomia para tomar decisões em sua trajetória no espaço escolar e em relação a seu futuro profissional e pessoal.

Assumindo uma postura de mediador, o professor oferece aos estudantes a oportunidade de participar ativamente do processo educacional – quer no próprio, quer no dos colegas. A reflexão e a discussão coletiva sobre o que foi produzido pelos estudantes constituem ferramentas importantes da avaliação e da interação escolar, pois articulam pareceres de colegas e do professor.

É fundamental que, no encerramento de um projeto, ou conforme o que for mais adequado em cada contexto, os estudantes façam a autoavaliação de seu envolvimento, de seu interesse, de seus desafios e de suas conquistas nesse processo.

A autoavaliação, seguida de uma discussão coletiva sobre o modo como os outros estudantes avaliam os colegas, é sempre recomendada antes da avaliação final do professor. Se os objetivos de cada etapa de trabalho e os critérios de avaliação estiverem nítidos para todos, tanto a autoavaliação quanto a avaliação feita pelo professor ficarão mais fáceis. Para desenvolver essa proposta, é necessário que os registros orais ou escritos dos estudantes sejam partes constitutivas do sistema de avaliação, de acompanhamento e de autoacompanhamento, de modo que possibilitem considerar os objetivos e os critérios de avaliação estabelecidos em cada etapa e no projeto como um todo.

Nessa direção, a ação de avaliar consiste em um processo que deve ser sistemático e compartilhado, e que demanda assertividade, organização, sensibilidade e criticidade. Essa dinâmica contínua integra três ações: a de recolher informações, a de elaborar juízos e a de tomar decisões de melhoria. Nesse sentido, ela só se efetiva nas tomadas de decisão no cotidiano e no planejamento, que requer diagnósticos permanentemente

69 HADJI, Charles. A avaliação, regras do jogo: das intenções aos instrumentos. 4. ed. Porto: Porto, 1994.

70 HADJI, ref. 69, p. 63-64.

atualizados e pautados na análise de dados representativos do conjunto que a subsidiem adequadamente. Com base nesse contexto, os processos avaliativos:

• do ponto de vista docente, servem para analisar e compreender as estratégias de aprendizagem utilizadas pelos estudantes, acompanhar e comunicar os resultados do processo de aprendizagem, dar um feedback individualizado aos estudantes, além de afirmar, (re)orientar e regular as ações pedagógicas;

• do ponto de vista do estudante, possibilitam a percepção das conquistas obtidas ao longo do projeto e o desenvolvimento de habilidades metacognitivas que compreendem a consciência do próprio conhecimento e a regulação dos processos de construção do conhecimento.

Organização e estrutura da coleção

Este volume é composto de seis Projetos Integradores. Nas Orientações específicas deste manual, é indicado o perfil do professor sugerido para liderar cada projeto.

Os projetos são independentes uns dos outros, podendo ser realizados pelos professores na ordem que for mais interessante para cada unidade escolar. O tempo proposto para a realização de cada projeto está descrito nas Orientações específicas, mas pode ser adaptado de acordo com a realidade de cada turma. Nas orientações, o professor também dispõe de quadros com as habilidades e competências trabalhadas, além de sugestões de condução de cada atividade e respostas complementares àquelas disponíveis no Livro do estudante.

Descrição das seções e dos boxes

Na abertura do projeto, em página dupla, são apresentados o número do projeto, a questão mobilizadora – que é o título do projeto – e uma imagem, que informam ao leitor a temática e sua importância nos âmbitos local e geral.

Na dupla de páginas seguinte, a Ficha de estudo contém informações essenciais sobre o projeto, como os objetivos, a justificativa da pertinência desses objetivos, os TCT e ODS abordados e a descrição do trabalho que será desenvolvido em cada etapa do projeto.

A questão norteadora é o disparador de todas as atividades que serão realizadas. No desenvolvimento do projeto, a organização das etapas viabiliza a concretização dos objetivos de aprendizagem, a apreensão de conteúdos e a realização de atividades relacionadas à questão mobilizadora. A ordenação das etapas também contribui para a realização de um conjunto de procedimentos interligados, que garantem a organicidade do processo de ensino-aprendizagem, gerando produções coletivas e individuais, orais e escritas, em múltiplas linguagens.

Todas as etapas do projeto permitem que os grupos produzam subprodutos, que vão auxiliar na composição do produto final.

A seção Atividades foi elaborada para explorar o conteúdo abordado de forma reflexiva e interpretativa e para promover a aproximação entre tema do projeto e as vivências do estudante. As atividades apresentam modalidades e graus diversos de dificuldade, a fim de estabelecer relações entre as áreas do conhecimento e explorar com profundidade habilidades e competências gerais e específicas da BNCC.

A seção Em ação, no final de cada etapa, define o momento de produção do subproduto.

Na seção Mundo do trabalho, são abordados aspectos relacionados ao tema, como a apresentação de profissões e a discussão do contexto mais amplo e atual do mundo do trabalho.

O Saiba mais apresenta uma ampliação ou um complemento do tema central da etapa, e no Conexões são apresentadas dicas de filmes, livros e outros recursos para enriquecer o conteúdo estudado.

Na Etapa final, os grupos devem consolidar os aprendizados e os subprodutos desenvolvidos nas etapas anteriores para a execução do produto final, além de compartilhar com a comunidade os resultados desse trabalho.

Como um processo fundamental para a compreensão do diálogo com o outro e consigo mesmo na construção do conhecimento, ao final de cada projeto, é proposta uma Autoavaliação, que propicia um momento de reflexão individual e coletiva sobre os conhecimentos adquiridos ao longo do projeto, considerando o que foi atingido e o que precisa ser revisto, corroborando o conceito de avaliação concebido na elaboração desta obra.

Orientações específicas

Projeto 1 Como é o trabalho na era da informação? – p. 8

Introdução

Este Projeto Integrador tem como objetivo capacitar os jovens para a sociedade da informação, na qual as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) influenciam diversos aspectos da vida e do trabalho, apresentando desafios relacionados às competências necessárias. A área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas desempenha um papel crucial no desenvolvimento do pensamento crítico e nas habilidades de selecionar e de interpretar informações. Por meio de projetos, que permitem abordagens interdisciplinares de temas transversais, busca-se oferecer oportunidades para que os estudantes adquiram competências alinhadas ao seu projeto de vida e compreendam a realidade atual. Ao estudar as tendências da sociedade informacional e suas transformações, espera-se que os estudantes reflitam sobre suas escolhas, desenvolvam habilidades para lidar com grandes quantidades de informação e utilizem tecnologias digitais de forma crítica, criando um produto final educativo que auxilie outros jovens a enfrentar desafios semelhantes.

Objetivos

O projeto tem como objetivo contribuir para que os estudantes reflitam sobre a influência dos avanços das TICs na vida moderna, nas grandes empresas e no mundo do trabalho. Para isso, por meio de atividades reflexivas e práticas, eles vão analisar a importância da informação e dos bancos de dados na sociedade atual e refletir sobre implicações e consequências. Espera-se que eles compreendam as transformações ocorridas no mundo do trabalho e na indústria causadas pela automação e pelas tecnologias a ela relacionadas e reconheçam os principais desafios concernentes aos indivíduos, à sociedade e aos Estados nacionais na era da informação.

Justificativa do projeto

Os jovens, especialmente nas sociedades contemporâneas, tendem a perceber as TICs como uma parte natural de sua vida. A facilidade com que até mesmo as crianças lidam com essas tecnologias reflete o papel crescente que elas desempenham no cotidiano. Contudo, viver em um mundo onde a habilidade de gerenciar informações é cada vez mais essencial exige mais do que apenas a alfabetização tecnológica. É necessário desenvolver também o pensamento crítico e analítico, além de outras competências que possibilitam a assimilação do conhecimento em um ambiente saturado de informações.

Diante disso, é crucial que a Educação Básica se ajuste às novas tendências impostas pela sociedade da informação, com uma abordagem que valorize a interdisciplinaridade, a formação cidadã e a preparação para o mundo do trabalho. O impacto das TICs nas sociedades humanas e no mundo profissional se relaciona com diversos componentes curriculares e com os Temas Contemporâneos Transversais (TCT) da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Este projeto, portanto, visa explorar de forma abrangente a sociedade informacional e seus efeitos no cotidiano e no mercado de trabalho.

Produto final

A escolha do produto final deste projeto, produzir um podcast sobre sociedade e trabalho na era da informação, está alinhada às intenções de desenvolver o protagonismo dos estudantes e de prepará-los para um uso crítico das tecnologias digitais, considerando-as uma ferramenta que pode ser utilizada para promover a difusão do conhecimento.

Síntese do projeto

Temas Contemporâneos

Transversais (TCT)

Os TCT Ciência e tecnologia e Vida familiar e social são contemplados ao longo de todo o projeto,

que trabalha as relações entre sociedade e inovações tecnológicas em todas as suas etapas. O TCT Educação em direitos humanos é trabalhado na Etapa 3, na discussão sobre desigualdade e inclusão digital. O TCT Trabalho é contemplado na Etapa 2, que aborda as transformações no mundo do trabalho na era digital.

Objetivos de Desenvolvimento

Sustentável (ODS)

Os estudantes vão analisar o papel fundamental da infraestrutura na sociedade da informação, além de investigar como as inovações tecnológicas impactam os processos produtivos nas indústrias. Os principais ODS trabalhados são: Educação de qualidade (4), presente na Etapa 3, que trata da relação entre educação e TICS; Trabalho decente e crescimento econômico (8), na discussão sobre trabalho empreendida na Etapa 3; Indústria, inovação e infraestrutura (9), presente ao longo de todo o projeto; e Redução das desigualdades (10), contemplado principalmente na Etapa 3, quando se discute desigualdade no acesso à internet.

Professor indicado para liderar o projeto

Geografia com o auxílio dos professores de Língua Portuguesa e Matemática.

Autoavaliação

O professor deve avaliar a participação individual e coletiva ao longo da realização do projeto. Ao final, é proposta uma autoavaliação para os estudantes.

O trabalho com as competências e as habilidades da BNCC

Consulte a BNCC para conhecer a descrição das competências e habilidades mobilizadas neste projeto. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br.

Acesso em: 17 out. 2024.

Competências gerais da Educação Básica 1, 2, 4, 5, 6, 7, 9, 10

Competências específicas de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas 1, 4, 5, 6

Habilidades de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas

EM13CHS401, EM13CHS402, EM13CHS403, EM13CHS404, EM13CHS504, EM13CHS604

Competências específicas de outras áreas

Habilidades de outras áreas

Linguagens e suas Tecnologias: 1, 2, 3, 6, 7

Matemática e suas Tecnologias: 2

Ciências da Natureza e suas Tecnologias: 1, 3

Linguagens e suas Tecnologias: EM13LGG102, EM13LGG104, EM13LGG201, EM13LGG202, EM13LGG204, EM13LGG301, EM13LGG302, EM13LGG303, EM13LGG304, EM13LGG402, EM13LGG603, EM13LGG701, EM13LGG702, EM13LGG703, EM13LGG704

Matemática e suas Tecnologias: EM13MAT203

Ciências da Natureza e suas Tecnologias: EM13CNT106, EM13CNT302, EM13CNT307, EM13CNT308, EM13CNT310

Este projeto, articulado em etapas, trabalha com diferentes áreas do conhecimento, mas fundamenta-se na perspectiva da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Prioriza, assim, o trabalho com as habilidades relacionadas às competências específicas 4 , 5 e 6 dessa área, mobilizando, de forma mais pontual, as habilidades EM13CHS401 , ao propor uma análise das transformações técnicas e tecnológicas do mundo do trabalho na atualidade; EM13CHS403 , ao caracterizar a sociedade da informação como um processo contemporâneo relacionado à globalização e ao avanço das TICs, propondo uma análise da reconfiguração das relações de trabalho nesse processo; EM13CHS404 , ao discutir aspectos relativos ao mundo do trabalho na sociedade informacional, problematizando a capacitação dos jovens para lidar com esse cenário; e EM13CHS504 , ao analisar algumas das contradições e dos desafios impostos à sociedade nesse momento histórico, incluindo os desdobramentos da influência tecnológica em aspectos como a cultura e a vida social. Outras habilidades são também desenvolvidas neste projeto, parcialmente e(ou) de modo secundário, por meio do trabalho com temas específicos, a exemplo das habilidades EM13CHS402 , ao propor uma análise sobre o papel da desigualdade de renda no acesso à informação; e EM13CHS604 , ao propor uma análise sobre a influência das grandes coorporações na vida das pessoas na sociedade informacional.

Diversas habilidades de outras áreas do conhecimento são trabalhadas ao longo desse percurso, em especial a EM13LGG702, ao propor aos estudantes que investiguem algumas influências das TICs nos sujeitos e na sociedade; a EM13LGG703, pois as atividades e a criação do produto final favorecem o uso de ferramentas digitais em processos coletivos de construções; a EM13LGG704, quando as atividades e o produto final exigem habilidades de pesquisa e busca de informação na internet; a EM13CNT302, ao incentivar os estudantes a expor os resultados de suas pesquisas em produções por meio de mídias digitais que serão divulgadas à comunidade escolar; e a EM13CNT308, pois um dos temas explorados nesse percurso é a automação e a influência das tecnologias contemporâneas sobre as sociedades. O projeto também contribui para o desenvolvimento das habilidades EM13COO2, EM13CO09 e EM13CO18, relacionadas ao pensamento computacional..

Cronograma

A proposta é que este projeto seja dividido em três etapas, mais uma etapa final, a apresentação e a avaliação, totalizando 16 aulas. A seguir, é sugerida a quantidade de aulas destinadas a cada uma das etapas para que o projeto seja trabalhado ao longo de um semestre.

Entretanto, a depender de sua realidade escolar, o projeto pode ter outra duração; ele pode, por exemplo, ser trabalhado ao longo de um bimestre ou de um trimestre. Para isso, basta rever o total de aulas destinadas ao projeto por semana.

Número de aulas Desenvolvimento

Aula 1: Introdução da temática e das características do projeto e leitura do texto da abertura. Leitura do texto sobre a sociedade informacional. Realização das atividades propostas.

Etapa 2 4

Aula 5: Leitura do texto sobre a passagem da digitalização para a automação do trabalho. Leitura e resolução das atividades da seção Mundo do trabalho. Realização das atividades propostas.

Aula 6: Leitura do texto sobre a descentralização e a polarização do trabalho. Realização das atividades propostas.

Aulas 7 e 8: Realização da atividade proposta na seção Em ação

Aula 9: Leitura dos textos sobre a sociedade 4.0, a divisão digital e a inclusão digital no Brasil. Realização das atividades propostas.

Etapa 3 3

Etapa 1 4

Aula 2: Leitura dos textos sobre o impacto da era da informação na atuação das grandes empresas e sobre a importância dos bancos de informação. Realização das atividades propostas.

Aulas 3 e 4: Realização da atividade proposta na seção Em ação.

Etapa final 5

Aula 10: Leitura do texto sobre formação educacional e profissional. Realização das atividades propostas.

Aula 11: Realização da atividade proposta na seção Em ação

Aula 12: Pesquisa e planejamento para o podcast (Passos 1 a 4).

Aula 13: Desenvolvendo o roteiro (Passo 5).

Aula 14: Gravando o podcast (Passo 6).

Aula 15: Editando o podcast (Passo 7) e Compartilhando os resultados (Passo 8).

Aula 16: Autoavaliação.

Orientações didáticas

Abertura e Ficha de estudo

O tema da sociedade da informação costuma ser abordado nos Anos Finais do Ensino Fundamental, portanto é provável que muitos estudantes tenham algum conhecimento prévio sobre ele. Esse conhecimento inicial pode ser aproveitado para incentivar uma conversa sobre o assunto do projeto. Utilize esse momento para explorar a relevância do código binário no funcionamento da sociedade informacional e como ele possibilita a interconectividade digital global. Sugira a colaboração com o professor de Matemática para enriquecer essa discussão, utilizando a imagem conceitual como suporte.

Além disso, aproveite para apresentar a Ficha de estudo e os objetivos gerais do projeto, garantindo que os estudantes compreendam o percurso e as expectativas. Durante essa introdução, ofereça uma breve explicação sobre a transição para a sociedade da

informação, impulsionada pelos avanços tecnológicos ocorridos sobretudo a partir dos anos 1970. Explique, com base em especialistas como Manuel Castells, que esse período é marcado pela crescente importância da informação como recurso econômico e social central, conhecido como capitalismo informacional, no qual dados e conhecimento se tornam as principais mercadorias, transformando profundamente o mundo do trabalho e as relações sociais.

Ao final da introdução, os estudantes devem ter clareza de que vivemos em uma era de transformações tecnológicas profundas, com a informação desempenhando um papel central. Com essa compreensão, eles estarão prontos para explorar essas mudanças no contexto do trabalho, que é o foco principal do projeto.

Atividades – p. 8

1. A atividade busca ativar os conhecimentos prévios dos estudantes e gerar uma conexão pessoal com o tema. Espera-se que eles reflitam sobre sua vivência com as tecnologias digitais e a internet e sobre a maneira como essas inovações afetam sua vida, seja na comunicação, seja na educação ou no lazer.

2. A imagem conceitual de um mapa-múndi em código binário simboliza a digitalização global e a interconexão proporcionada pela sociedade da informação. O código binário, como base do processamento de dados em computadores, representa o alicerce das tecnologias digitais e a conexão entre diferentes partes do mundo.

Etapa 1 A sociedade da informação – p. 12

Estamos vivendo uma nova era?

Ao promover a leitura do tópico O que é a sociedade informacional?, apresente aos estudantes, de forma introdutória, os principais aspectos da sociedade informacional e sua relação com o avanço das TICs. Essa proposta se alinha ao desenvolvimento do TCT Ciência e tecnologia e da habilidade EM13CHS202, que pode ser trabalhada por meio da análise dos impactos da tecnologia nas dinâmicas da sociedade contemporânea. Habilidades de Ciências da Natureza e suas Tecnologias também são mobilizadas nesse estudo, notadamente a EM13CHS504 e a EM13CNT308. Para tanto, faça com que os estudantes reflitam sobre a influência das TICs em diversos aspectos das sociedades humanas, como a cultura e a vida social.

Aproveite o momento para enfatizar a importância do sociólogo espanhol Manuel Castells, um dos pioneiros nos estudos sobre a sociedade da informação e o primeiro a usar o termo sociedade informacional . Castells, considerado um dos precursores desse conceito, também chama a atenção para as desigualdades inerentes a essa sociedade, aspecto que deve ser trabalhado com os estudantes ao longo do percurso.

O texto a seguir conta mais um pouco sobre esse pensador e sua obra, aprofundando os seus conhecimentos sobre o tema:

[...] As alterações estruturais da economia mundial são desencadeadas por essas articulações em rede, no qual a informação e o conhecimento são pilares fundamentais nas dinâmicas laborais e empresariais. Estes dois conceitos, na forma de meios concretos, materializam-se com o recurso à tecnologia, o que leva a que, à sua existência, esteja relacionada a polarização e a exclusão de países que não dispõem de tanta acessibilidade e, por isso, de tanta informação. A globalização acaba por não servir como solução a esta contingência, não resolvendo questões associadas às distribuições desiguais de meios e fundos, levando a uma menor competitividade de quem sai prejudicado destas distribuições.

[...]

BRANDÃO, Lucas. A sociedade da informação em rede aos olhos de Manuel Castells. Comunidade Cultura e Arte, 24 jun. 2018. Disponível em: https://comunidadeculturaearte.com/ a-sociedade-da-informacao-em-rede-aos-olhos-de-manuel -castells/#:~:text=Em%20suma%2C%20Castells%20define%20 a,de%20informa%C3%A7%C3%A3o%20e%20de%20comunica% C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 23 set. 2024.

Atividades – p. 13

Os conhecimentos prévios da turma podem ser resgatados por meio da leitura da seção de abertura e das questões problematizadoras nela inseridas. Questione de que forma as TICs estão presentes na vida dos estudantes, pedindo que exemplifiquem. Proponha aos estudantes que reflitam sobre essas situações (como a de comunicação) sem o uso delas. Oriente-os a acessar o Carrossel de imagens As TICs no cotidiano para conhecer mais sobre o tema.

Dê continuidade ao estudo da etapa promovendo com os estudantes a leitura compartilhada do texto sobre as big techs. Esses conteúdos se complementam e permitem a exploração de habilidades interdisciplinares. Além das habilidades já mencionadas, o conteúdo também desenvolve a habilidade EM13LGG702. Para isso, explore a atividade 2, que aborda a influência das tecnologias digitais nas práticas sociais, considerando as experiências pessoais dos estudantes.

Ao final desta etapa, mais à frente, os estudantes devem produzir um vídeo sobre a influência das big techs no contexto global, com um enfoque crítico sobre suas práticas.

Para enriquecer o debate, apresente materiais complementares aos estudantes, como o fragmento de texto sugerido a seguir.

[...] Para se ter uma ideia, as provedoras de conteúdo digital são responsáveis por 80% de todo o tráfego nas redes móveis no mundo.

Essas big techs se beneficiam diretamente dos investimentos públicos para a melhoria de toda a infraestrutura utilizada em sua prestação de serviços, faturam bilhões de dólares com suas operações no Brasil e não pagam por esse uso. No ano passado, as cinco maiores empresas de tecnologia do mundo –Alphabet (Google), Apple, Amazon, Microsoft e Meta (Facebook e Instagram) – bateram recorde de lucro no mundo: 327 bilhões de dólares. Os recursos arrecadados na taxação poderiam ser revertidos para a melhoria da infraestrutura de telecomunicações no país e, principalmente, contribuir para erradicar a exclusão digital.

O debate sobre a taxação dessas gigantes no Brasil começa no momento em que a União Europeia passa a exercer um controle mais rígido sobre as big techs e também em que o grupo de telecomunicações europeu ETNO reforça o pedido para que essas empresas ajudem a financiar a implementação das redes de banda larga e 5G na região. O continente europeu está atrás dos Estados Unidos e da Ásia em redes 5G, computação em nuvem, investimentos e receitas.

Outra discussão essencial é a regulamentação das redes sociais e o combate à disseminação de conteúdo falso na internet, que envolve o governo federal, hoje por meio da

Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom), o Congresso Nacional e a sociedade civil. Um debate que precisa seguir em frente, mas que é diferente da taxação dessas big techs. São propósitos e caminhos distintos. [...]

BRASIL. Ministério das Comunicações. As big techs e a oportunidade de levar internet aos mais pobres. Gov.br, 26 mar. 2024. Disponível em: https://www.gov.br/mcom/pt-br/noticias/2024/marco/as-big -techs-e-a-oportunidade-de-levar-internet-aos-mais-pobres. Acesso em: 23 set. 2024.

Atividades – p. 15

2. a) Espera-se que os estudantes concluam que big techs, como Google, Apple, Microsoft, Amazon e Meta, estão profundamente presentes no cotidiano deles, influenciando desde a forma como estudam e se comunicam até a maneira como consumem produtos e entretenimento.

2. b) Espera-se que os estudantes mencionem que essas empresas inovam ao facilitar o acesso à informação, otimizar o trabalho com ferramentas tecnológicas e criar dispositivos que integram várias funções em um só lugar. No entanto, essa inovação também levanta questões sobre a privacidade dos usuários e o controle que essas empresas exercem sobre dados e hábitos de consumo.

P. 16 e 17

Ao desenvolver o conteúdo sobre algoritmo, converse com os estudantes sobre as implicações dessa tecnologia, considerando os benefícios que ela proporciona e as problemáticas levantadas. Esse conteúdo permite uma abordagem com o TCT Ciência e tecnologia e mobiliza conhecimentos da área de Matemática e suas Tecnologias. Converse com o professor desse componente para aprofundar o estudo sobre o uso dessa tecnologia e seu funcionamento. Aproveite para orientar os estudantes a acessar o Infográfico clicável Pensamento computacional: solucionar situações para conhecer mais sobre o tema.

Atividades – p. 17

As atividades dessa página ajudam a mobilizar as habilidades EM13CHS202, EM13CHS604, EM13LGG702 e EM13LGG303.

a) Espera-se que os estudantes percebam que, ao restringir o acesso a conteúdos diferentes, os algoritmos

podem limitar a navegação, mantendo os usuários em uma “bolha de filtro” baseada em interesses prévios.

b) Espera-se que os estudantes reconheçam que o big data e os algoritmos podem cercear a liberdade, criando uma “cerca invisível de arame farpado”, que limita a diversidade de informações e de pontos de vista acessíveis.

Em ação – p. 18

Nesta seção Em ação, os estudantes desenvolverão o protagonismo e utilizarão tecnologias digitais de forma crítica, explorando o tema das big techs no mundo por meio de uma produção audiovisual baseada em uma pesquisa e na leitura de um texto.

A habilidade principal a ser trabalhada nesse contexto é a EM13CHS604. No entanto, serão mobilizadas habilidades de diferentes áreas do conhecimento, como a EM13CNT302, já que os estudantes vão comunicar os resultados de suas pesquisas e elaborar textos. A EM13LGG701 também será utilizada, pois os estudantes farão uso de tecnologias digitais na produção audiovisual. A habilidade EM13LGG703 será desenvolvida por meio do uso de ferramentas digitais em processos de construção coletiva. Além disso, a EM13LGG704 será trabalhada quando os estudantes realizarem pesquisas complementares sobre o tema.

Aproveite essa oportunidade para incluir também a habilidade EM13LGG303: incentive os grupos a debater questões polêmicas relacionadas à influência das big techs no mundo, com o objetivo de construir argumentos para sustentar posições em suas produções.

Se os estudantes encontrarem dificuldades, ofereça suporte orientando-os a realizar a pesquisa. Antecipe-se e selecione textos de fontes confiáveis para apresentar como opções de pesquisa. Além disso, ajude-os a planejar o roteiro do vídeo, garantindo que ele seja coeso e organizado de forma linear. Explique a importância de, antes da gravação, promoverem uma discussão para definir os principais pontos a serem abordados. Incentive-os a redigir um texto para as falas e a ensaiar a apresentação. Dessa maneira, caso o roteiro apresente falhas, será possível realizar ajustes e melhorar a qualidade da produção.

Para enriquecer essa proposta, oriente os estudantes a pensar em diferentes formatos para a apresentação audiovisual. Explique, por exemplo, que o formato escolhido pode ser de um programa de televisão ou um

vídeo para redes sociais. Por exemplo: uma videoaula, a simulação de um telejornal ou de um programa de debate, entre outras escolhas possíveis. Para tanto, durante a elaboração do roteiro, eles devem pensar nas falas de cada personagem e elaborar uma apresentação para o programa ou canal, além de criar um cenário com elementos adequados ao formato escolhido.

Aproveite o compartilhamento das produções para realizar uma conversa com a turma buscando sistematizar o que foi estudado ao longo desta etapa. Os objetivos serão responder à questão problematizadora inicial, avaliar o processo de aprendizagem e mapear as dificuldades da turma.

Etapa 2 O trabalho

na sociedade informacional – p. 20

Como as tecnologias transformam o mundo do trabalho?

Se considerar apropriado, comece revisitando conhecimentos básicos sobre as transformações no mundo do trabalho. Procure contextualizar o assunto aproximando-o da realidade da turma. Pergunte aos estudantes o que eles sabem sobre o impacto das tecnologias no mercado de trabalho, discutindo, por exemplo, o desaparecimento de algumas funções e o surgimento de outras. Pergunte à turma qual é a experiência de familiares e conhecidos: pergunte se alguém perdeu o emprego pelo desaparecimento de uma profissão ou, ao contrário, exerce alguma profissão muito recente, que não existia antes. Utilize a imagem de abertura como ponto de partida para problematizar temas como a automação industrial, incentivando uma reflexão crítica sobre suas consequências no contexto atual.

Realize a leitura do texto para dar sequência ao desenvolvimento desta etapa. Além de possibilitar o desenvolvimento dos TCT e das habilidades citadas anteriormente, a proposta permite o trabalho com a EM13CNT308, relacionada aos impactos das tecnologias e da automação no mundo contemporâneo. Explore os impactos dos processos citados no mercado de trabalho, sobretudo suas consequências, como o desemprego tecnológico e a criação de novas funções, desenvolvendo aspectos da EM13CHS401 e da EM13CHS403.

Articule esse tema também ao boxe Saiba mais sobre inteligência artificial (IA) e explore com os estudantes o desemprego tecnológico provocado especificamente pela automação relacionada à inteligência artificial, lendo o fragmento de notícia a seguir.

[...] Pesquisa recente da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Banco Mundial, denominada A IA Generativa e os empregos na América Latina e no Caribe: a brecha digital é um amortecedor ou um gargalo?, revela dados alarmantes e promissores, na região, sobre o impacto da Inteligência Artificial Generativa (IAGen) no mercado de trabalho. Nesse processo, as relações entre empresas e empregados também devem mudar.

No Brasil, uma parcela significativa dos empregos potencialmente influenciada por essa tecnologia e, conforme estimativas da OIT, 37% do trabalho em território nacional podem ser afetados pela IA, o que equivale a cerca de 37 milhões de brasileiros. Esse é um dos percentuais mais elevados na região, mas abaixo da média global, de 43%.

Contudo, a maioria desses empregos não será totalmente automatizada, mas a tecnologia tende a aumentar e transformar as funções existentes, informou o levantamento. De 8% a 14% dos empregos no país poderiam registrar aumento na produtividade graças à IAGen, enquanto apenas entre 2% e 5% enfrentam o risco de automação completa.

A pesquisa da OIT ainda destaca que mulheres, trabalhadores urbanos, jovens e qualificados nos setores formais são os mais vulneráveis à automação pela IAGen. Isso pode agravar as desigualdades econômicas e a informalidade no Brasil, um país já marcado por profundas disparidades sociais. [...]

PEDRO, José. Uso da IA avança cada vez mais no mercado de trabalho. Correio Braziliense. Disponível em: https://www.correiobraziliense. com.br/economia/2024/08/6919063-uso-da-ia-avanca-cada-vez -mais-no-mercado-de-trabalho.html. Acesso em: 24 set. 2024.

Atividades – p. 22

Resposta pessoal, mas espera-se que os estudantes reconheçam que o avanço da IA pode automatizar muitas funções desempenhadas por seres humanos, tornando algumas profissões obsoletas. No entanto, a IA provavelmente não tornará os humanos completamente obsoletos, pois ainda há habilidades, como criatividade, empatia e pensamento crítico, que são difíceis

de replicar por máquinas. A IA deve ser vista como uma ferramenta que pode complementar o trabalho humano, criando novas oportunidades, ao mesmo tempo que desafia muitos setores a se adaptarem.

Mundo do trabalho – p. 23

Trabalho, ciência e tecnologia

O estudo desta seção alinha os TCT Trabalho e Ciência e tecnologia por meio de uma análise sobre as transformações provocadas pelos avanços tecnológicos no mundo do trabalho. Ao expor algumas das relações entre as transformações técnicas e tecnológicas com o mundo do trabalho na atualidade, essa seção permite um olhar abrangente sobre o tema, auxiliando no desenvolvimento das habilidades EM13CHS202, EM13CHS401 e EM13CHS403

c) Espera-se que os estudantes percebam que a profissão de cientista de dados está valorizada devido à crescente demanda pela análise de grandes volumes de dados e sua importância para decisões estratégicas.

d) Espera-se que os estudantes analisem se as profissões ligadas à ciência de dados se alinham ao seu projeto de vida, considerando o potencial de crescimento e as oportunidades da área.

P. 24 e 25

Dê continuidade ao estudo desta etapa com a leitura do texto do tópico. Nesse momento, os conteúdos continuam a abordar o TCT Trabalho, mobilizando habilidades da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas relacionadas ao mundo do trabalho e à competência específica 4 e, em especial, às habilidades EM13CHS401, EM13CHS403 e EM13CHS404. Além disso, o tema permite uma conexão com o TCT Direitos humanos, ao tratar de questões polêmicas envolvendo direitos trabalhistas no contexto da precarização e da uberização do trabalho, por exemplo.

Aproveite o momento para promover um debate com a turma utilizando a charge de Tono D’Agostinho como ponto de partida. O assunto mobiliza as habilidades EM13LGG303 e EM13CHS605. Nesse debate, explore as vantagens e desvantagens da economia colaborativa. Por um lado, essa economia oferece fácil acesso ao mercado de trabalho, permitindo que pessoas desempregadas ou em busca de renda atuem de forma independente. Por outro lado, esse modelo tem sido criticado especialmente pelas precárias condições

a que estão expostos esses trabalhadores, como a ausência de garantias trabalhistas e longas jornadas de trabalho.

Atividades – p. 25

As atividades permitem mobilizar as habilidades EM13CHS401, EM13CHS403 e EM13CHS404. Para isso, os estudantes devem analisar as transformações no mercado de trabalho decorrentes do fenômeno da plataformização, com foco na polarização do trabalho e nas consequências desse processo para aqueles que ingressam no mercado. Eles devem refletir sobre como a plataformização impacta as relações de trabalho, especialmente no que diz respeito à precarização à e flexibilização das condições de trabalho e à ausência de qualquer direito, gerando insegurança para os trabalhadores.

Em ação – p. 26

A produção escolhida para concluir a Etapa 2 é um e-zine sobre a Quarta Revolução Industrial. Com essa atividade, espera-se que os estudantes mobilizem as habilidades relacionadas a área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e os TCT Trabalho e Ciência e tecnologia.

Inicie a proposta com a leitura da introdução, que apresenta aos estudantes informações sobre fanzines e e-zines. No Passo 1, retome os conhecimentos prévios dos estudantes sobre esse tipo de publicação. Se achar relevante, selecione previamente exemplos de e-zines para mostrar à turma ou ajude os estudantes a pesquisar na internet com ferramentas de busca. Conclua com a leitura do texto e a análise das charges sobre o emprego na Quarta Revolução Industrial. Dica!

Para conhecer mais sobre e-zine , acesse: https:// www.e-zine.ufscar.br/institucional/e-zine. Acesso em: 27 out. 2024.

No Passo 2, proponha aos estudantes uma pesquisa adicional na internet para enriquecer o conteúdo do e-zine. Caso encontrem dificuldades, promova uma roda de conversa com a turma sobre os possíveis recursos de um e-zine e como eles podem ser usados para abordar o tema.

No Passo 3, explore antecipadamente as opções de softwares adequados para a criação do e-zine e assegure que os estudantes compreendam como utilizá-los. Se necessário, faça uma demonstração prática ou

recomende tutoriais e vídeos educativos disponíveis na internet que ensinam, passo a passo, como montar um e-zine. Dica!

• Entre os softwares de edição em licença copyleft, é possível acessar: https://pt-br.libreoffice.org/ descubra/draw/. Acesso em: 27 ou. 2024.

No Passo 4, para o compartilhamento dos resultados, aproveite para divulgar na comunidade escolar o e-zine produzido pelos estudantes. Promova também um debate para responder à questão problematizadora que guiou o percurso.

Etapa 3 Adaptação à sociedade

informacional – p. 28

Quais são os principais desafios da era da informação?

O estudo desta etapa complementa os conteúdos abordados anteriormente, mas se concentra em especial nas exigências impostas aos indivíduos na sociedade da informação, levando em conta as transformações na sociedade e no mundo do trabalho. Inicie sugerindo que os estudantes listem as competências e as habilidades que os indivíduos precisam desenvolver na sociedade informacional, promovendo um levantamento de hipóteses. Ao final, retome essas expectativas para avaliar o aprendizado.

P. 28 e 29

Comece o tema com a leitura do texto A divisão digital e leia os próximos. Pergunte se na família dos estudantes existem pessoas que apresentam dificuldades para acessar a internet ou utilizar ferramentas digitais, incentivando-os a refletir sobre o impacto que essa exclusão gera, principalmente entre os mais velhos.

Aproveite para orientar os estudantes a acessar o Mapa clicável Mundo: acesso à internet – 2021 para conhecer mais sobre o tema.

Essa abordagem permite consolidar o aprendizado de várias habilidades, com destaque para a habilidade EM13CHS401, trabalhada na análise das desigualdades geradas pelas transformações tecnológicas e no questionamento sobre exclusão digital. A habilidade EM13CHS202 pode ser desenvolvida ao explorar como o acesso à internet e às tecnologias digitais

impacta as dinâmicas sociais em diferentes regiões, considerando as desigualdades existentes. Já a habilidade EM13CHS402 pode ser ativada por meio da comparação de indicadores globais de acesso à internet, promovendo a análise de mapas.

Essa proposta também dialoga com os TCT Trabalho, Ciência e tecnologia e Direitos humanos, enriquecendo a discussão sobre as mudanças sociais e tecnológicas.

Atividades – p. 30

As atividades propostas possibilitam o desenvolvimento da habilidade EM13CHS605, pois incentivam os estudantes a fazer uma análise de situações que violam os direitos humanos, fundamentando críticas sobre as desigualdades no acesso às tecnologias digitais em escala global. Aproveite essa oportunidade para dar ênfase à habilidade EM13LGG303, promovendo um debate que explore as questões problematizadas, incentivando a reflexão crítica e a argumentação coerente sobre o tema.

1. A charge problematiza a desigualdade no acesso à internet no mundo e a inclusão digital, identificando uma parcela da sociedade que se encontra à margem das tecnologias digitais.

P. 31 a 33

Dando continuidade ao percurso desta etapa, analise com os estudantes o infográfico que apresenta as desigualdades de acesso à internet no Brasil. Em seguida, leia o texto com a turma, explorando as exigências da sociedade da informação relacionadas à formação profissional dos indivíduos. Além de promover o desenvolvimento das habilidades mencionadas anteriormente, essa proposta se conecta diretamente às habilidades EM13CHS403 e EM13CHS404. Para aprofundar o assunto, incentive os estudantes a analisar como os avanços tecnológicos impactam e transformam as demandas do mercado de trabalho, exigindo dos jovens o desenvolvimento de novas habilidades e competências para que possam se adaptar a esse cenário em constante mudança.

Atividades – p. 33

O desenvolvimento dessas atividades mobiliza diretamente as habilidades EM13CHS403 e EM13CHS404. Caso os estudantes enfrentem dificuldades, revisite os principais pontos abordados nesta etapa ou peça a eles que realizem uma pesquisa complementar sobre

o tema para aprofundar a compreensão. Isso ajudará a consolidar o entendimento e promover uma análise mais completa.

Em ação – p. 34

O objetivo desta seção é a produção de textos curtos voltados para redes sociais, um formato comumente utilizado na sociedade da informação e familiar aos estudantes. Para isso, eles devem desenvolver habilidades de leitura por meio de dois textos selecionados, seguidos por debates em grupo para levantar hipóteses e sugerir soluções para os problemas apresentados. Com base nessas discussões, eles vão produzir textos curtos para compartilhamento on-line. Os temas abordados, como fake news e exclusão digital, são trabalhados com foco na identificação de ações que o poder público pode adotar para combater esses problemas, atendendo à habilidade EM13CHS202. Além disso, o tema dialoga com o TCT Direitos humanos.

Para iniciar, leia com a turma o texto introdutório da seção, definindo os objetivos da atividade. No Passo 1, trabalhe a leitura compartilhada dos textos em voz alta, seguida de uma breve discussão sobre os temas apresentados, recuperando também conhecimentos prévios dos estudantes.

No Passo 2, incentive o debate com base na habilidade EM13LGG303. Se necessário, auxilie os grupos, fornecendo exemplos relacionados à regulação das mídias sociais e à formulação de políticas públicas para a inclusão digital.

No Passo 3, mostre na lousa, com um exemplo, como sintetizar um argumento em até 280 caracteres para publicação em redes sociais. Use temas já abordados, como as big techs e a Quarta Revolução Industrial, reforçando a importância de uma síntese clara e objetiva. Tire as dúvidas antes de iniciar a produção dos textos.

Ainda no Passo 3, promova um momento de compartilhamento dos textos nas redes sociais da escola e uma discussão sobre as produções da turma. Além disso, promova uma reflexão conjunta sobre a questão problematizadora levantada no início da etapa. Caso ache relevante, incentive a construção de um mapa mental dos conteúdos estudados como resposta alternativa.

Etapa final Podcast:

sociedade e trabalho na era

da informação – p. 36

Antes de iniciar a produção, é importante retomar com os estudantes o que eles já conhecem sobre podcasts. Para distribuir os temas entre os grupos e evitar repetições, pode ser interessante elaborar uma lista de temas previamente e realizar um sorteio. Na etapa de pesquisa (Passo 2), trabalhe com os estudantes o uso de ferramentas de busca na internet, ajudando-os, sempre que for necessário, a encontrar materiais confiáveis e pertinentes para os temas que escolheram. Ao definir o formato do podcast (Passo 3), aproveite para sugerir diferentes modelos, como o estilo de programa de rádio, que pode incluir quadros e até mesmo música. No entanto, enfatize a importância de escolher formatos que permitam a participação ativa de todos os integrantes do grupo (Passo 4).

Durante a criação do roteiro (Passo 5), converse brevemente com os grupos sobre o tema e o formato escolhidos, garantindo que o desenvolvimento do roteiro será viável e oferecendo dicas para auxiliar na produção. Para as etapas de gravação e edição (Passos 6 e 7), familiarize-se previamente com os melhores aplicativos para esses fins, assegurando que sejam fáceis de usar e adequados para o nível dos estudantes.

Como atividade complementar, incentive a turma a criar uma abertura coletiva para o podcast, mencionando quantos episódios serão produzidos e seus respectivos temas. No momento de compartilhar os resultados Passo 8), promova um espaço para que os estudantes comentem o que acharam dos episódios produzidos pelos colegas. Envolva também a comunidade escolar nesse debate, incentivando outros professores e estudantes a oferecer feedback e a discutir os temas abordados nos podcasts

Finalizada a atividade da seção, aproveite para retomar a questão norteadora do projeto e debatê-la em uma roda de conversa.

Autoavaliação – p.

39

Incentive uma reflexão crítica sobre o envolvimento individual e coletivo de cada estudante no Projeto Integrador, para trabalhar a proposta de autoavaliação. Oriente os estudantes a responder às questões com sinceridade, promovendo um ambiente sem julgamentos

e seguro para a autorreflexão. Incentive-os a argumentar e a justificar cada resposta, sobretudo nas questões que envolvem a atribuição de notas. É importante que eles considerem a comparação das respostas como uma oportunidade de troca de percepções e diálogo com os colegas, pois esse procedimento possibilita a identificação de pontos divergentes e convergentes nas autoavaliações.

Projeto 2 Como promover um consumo consciente? – p. 40

Introdução

O tema central deste projeto, consumo consciente, desenvolve-se em uma perspectiva multidisciplinar que explora as intersecções entre o mundo do trabalho, a produção, o consumo e o meio ambiente. Para trilhar esse caminho, são propostas questões que, relacionadas ao cotidiano dos estudantes, convida-os a refletir sobre os próprios hábitos de consumo. Essas reflexões dão origem às sugestões de aprendizagem, que buscam enfatizar as conexões entre as práticas individuais e as transformações econômicas, sociais, culturais e ecológicas que influenciam as ações cotidianas dos estudantes. Dentro ainda dessa perspectiva e apoiados nos processos de aprendizagem construídos ao longo do projeto, os produtos parciais de cada etapa e o produto final propõem práticas que contribuem, de modo efetivo, para enfrentar os desafios do hiperconsumo e da crise ambiental.

Objetivos

O projeto tem como objetivo possibilitar que os estudantes analisem as transformações econômicas, culturais e sociais decorrentes da difusão do consumo de massa. Assim, o projeto contribui para que eles reflitam sobre os impactos socioambientais causados pelo consumo massivo e possam identificar práticas de consumo sustentável que podem ser incorporadas ao cotidiano. Dessa forma, espera-se que os estudantes pratiquem a tomada de consciência sobre a responsabilidade compartilhada entre consumidores e produtores na construção de uma sociedade sustentável.

Justificativa do projeto

O consumo ocupa papel central na sociedade contemporânea, em razão das próprias características do sistema socioeconômico vigente na maior parte das nações do mundo, o sistema capitalista. Tendo a temática do consumo como ponto de partida, este projeto explora algumas das questões mais relevantes de nossa época, propondo reflexões sobre as transformações socioeconômicas e culturais associadas ao surgimento do consumo de massa e seus desdobramentos na atualidade. Entender esse cenário é caminho essencial para compreender as interações entre consumo, produção, trabalho e crise climática, como proposto no projeto.

Além de oferecer ferramentas e subsídios para que os estudantes desenvolvam uma análise cientificamente fundamentada dos desafios contemporâneos, o projeto sugere caminhos de ação para enfrentar esses problemas. Assim, as propostas deste projeto contribuem para a formação de cidadãos não apenas capazes de identificar as causas e as consequências das crises que atravessamos, mas sobretudo capazes de encontrar formas de agir diante dessas principais questões do mundo atual.

Produto final

Como produto final, depois que tiverem participado de diversas atividades que promovem reflexões sobre o consumismo, o mundo do trabalho e o meio ambiente, os estudantes vão partir para a ação, organizando uma feira de trocas na comunidade escolar.

Síntese do projeto

Temas Contemporâneos

Transversais (TCT)

No macrocampo Economia, este projeto aborda o TCT Trabalho ao propor questões sobre as transformações contemporâneas no mundo do trabalho. Na macroárea Meio Ambiente, comtempla os temas de Educação ambiental e Educação para o consumo, com destaque para a relação entre consumo e meio ambiente, além de incentivar reflexões e práticas que exploram as conexões entre esses temas. O TCT Saúde é abordado na medida em que são discutidas as relações entre saúde e trabalho, enquanto o TCT Cidadania e civismo permeia todo o projeto, principalmente ao

incentivar práticas ambientalmente responsáveis, que promovem o bem-estar coletivo.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

Entre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela ONU, este projeto contempla seis ODS. O ODS Saúde e bem-estar (3) está presente nas discussões sobre as inter-relações entre consumo, produção de resíduos e condições de trabalho insalubres. O ODS Trabalho decente e crescimento econômico (8) é abordado ao tratar da precarização, mecanização e automação do trabalho. Já os ODS Indústria, inovação e infraestrutura (9) e Consumo e produção responsáveis (12) são explorados por meio de reflexões sobre práticas de produção e consumo sustentáveis. Por fim, o ODS Cidades e comunidades sustentáveis (11) é trabalhado nas discussões sobre descarte e processamento de resíduos sólidos.

Professor indicado para liderar o projeto

Geografia com o auxílio do professor de Biologia.

O trabalho com as competências e as habilidades da BNCC

Consulte a BNCC para descrição das competências e habilidades mobilizadas neste projeto. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br. Acesso em: 17 out. 2024.

Competências gerais da Educação Básica

1, 2, 7, 9, 10

Competências específicas da área de conhecimento 1, 3, 4

Habilidades da área de conhecimento

Competências específicas de outras áreas

Habilidades de outras áreas

EM13CHS102, EM13CHS103, EM13CHS301, EM13CHS303, EM13CHS304, EM13CHS306, EM13CHS401, EM13CHS403, EM13CHS404

Ciências da Natureza e suas Tecnologias: 3

Ciências da Natureza e suas Tecnologias: EM13CNT309, EM13CNT310

Este projeto está em conformidade com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), mobilizando diversas competências gerais e específicas, bem como

habilidades previstas por ela. Ao propor investigações baseadas no conhecimento científico sobre consumo de massa, transformações no mundo do trabalho e impactos socioambientais associados à produção, ao uso e ao descarte de bens materiais, o projeto desenvolve as competências gerais 1, 2, 7, 9 e 10. De maneira geral, essas competências envolvem a valorização do conhecimento, o estímulo à curiosidade e a argumentação fundamentada em fatos e princípios dos direitos humanos, além de promover o exercício da empatia, do diálogo e da ação responsável, ética e sustentável por parte dos estudantes.

Na área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, o projeto trabalha três competências específicas e nove habilidades. Na medida em que propõe uma análise de processos socioeconômicos, culturais e socioambientais envolvidos no consumo de massa, trabalha-se com a competência 1 e as habilidades EM13CHS102 e EM13CHS103 dessa área do conhecimento. Considerando o enfoque e as questões socioambientais levantadas pelo projeto, são desenvolvidas a competência 3 e as habilidades EM13CHS301, EM13CHS303, EM13CHS304 e EM13CHS306, que tratam, em suma, da análise crítica das relações entre sociedade e natureza e apontam para horizontes ambientalmente responsáveis.

Na área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, o projeto desenvolve a competência 3 e as habilidades EM13CNT309 e EM13CNT310, pois desdobra questões socioambientais e propõe soluções para demandas, tanto locais quanto de maior abrangência.

Recomenda-se consultar a BNCC em cada quadro de conteúdo durante a abertura do projeto, assegurando que os objetivos e as competências estejam de acordo com as diretrizes educacionais. Isso ajudará a garantir uma abordagem integrada, alinhada às habilidades e aos conhecimentos previstos para o nível de ensino.

Cronograma

A proposta é que este projeto seja dividido em três etapas, mais a apresentação e a avaliação, totalizando 16 aulas. A seguir, é sugerida a quantidade de aulas destinadas a cada uma das etapas para que o projeto seja trabalhado ao longo de um semestre.

Entretanto, a depender de sua realidade escolar, o projeto pode ter outra duração; ele pode, por exemplo, ser trabalhado ao longo de um bimestre ou de um trimestre. Para isso, basta rever o total de aulas destinadas ao projeto por semana.

Número de aulas Desenvolvimento

Aula 1: Introdução da temática (abertura) e das características do projeto.

Etapa 1 3

Etapa 2 4

Aula 2: Leitura do texto sobre a difusão do american way of life e do texto sobre precarização e automatização do trabalho. Resolução das atividades referentes a essas leituras.

Aula 3: Leitura do texto sobre desigualdade socioeconômica e consumo. Realização da atividade e da pesquisa proposta na seção Em ação

Aula 4: Leitura dos textos sobre uso dos recursos minerais e sobre obsolescência programada. Resolução das atividades.

Aula 5: Leitura dos textos sobre descarte e destinação dos resíduos sólidos e sobre o lixo nos países desenvolvidos e nos países em desenvolvimento. Resolução das atividades.

Aula 6: Passos 1 a 4 da seção Em ação.

Aula 7: Passos 5 a 8 da seção Em ação.

Aula 8: Leitura dos textos sobre transformação de hábitos para preservar o planeta e sobre o consumidor consciente. Resolução das atividades.

Etapa 3 4

Aula 9: Leitura da seção Mundo do trabalho e do texto sobre modelos econômicos sustentáveis. Resolução das atividades.

Aula 10: Trabalho de pesquisa (Passo 1) na seção Em ação

Aula 11: Análise do relatório e proposta de implementação (Passos 2 e 3).

Etapa final 5

Aula 12: Planejamento da feira: para essa proposta, o Passo 1 será desdobrado em três aulas.

Aula 13: Formação das comissões e divisão de tarefas.

Aula 14: Preparação da feira.

Aula 15: Realização da feira e desmontagem da feira (Passos 2 e 3).

Aula 16: Avaliação da feira e momento da autoavaliação.

Orientações didáticas

Abertura e Ficha de estudo

Para iniciar o projeto, proponha aos estudantes que analisem a imagem de abertura e comentem suas impressões. Se necessário, a discussão pode ser incentivada com perguntas como: O que vocês veem na imagem? Em quanto tempo o que consumimos vira lixo?, permitindo que se expressem com liberdade e respeito. Aproveite os comentários da turma para introduzir os principais temas do projeto. Conecte a discussão à realidade dos estudantes, utilizando as questões do texto de abertura para avançar nas reflexões sobre as questões socioambientais, econômicas e culturais, assuntos abordados nas próximas etapas.

Finalize essa introdução revisando com os estudantes os dados da Ficha de estudo, ressaltando o percurso do projeto. Leia com eles a descrição de cada etapa e certifique-se de que entenderam os temas e os produtos que vão desenvolver. Converse sobre as iniciativas ambientalmente sustentáveis que eles já conhecem e os produtos que serão elaborados ao longo do projeto.

Etapa 1 Produção, mundo do trabalho e consumo – p. 44

De onde vem e para onde vai a sociedade do consumo?

Para dar início à primeira etapa, convide a turma a observar a imagem que aparece nesse primeiro tópico, conectando-a às experiências pessoais de cada estudante. Pergunte se algum deles já participou ou conhece alguém que passou por uma situação similar de

consumo em massa. Caso considere útil, peça a opinião deles sobre situações como a da imagem, com perguntas como: Vocês acham que vale a pena enfrentar uma multidão para aproveitar uma promoção?

Explique a eles que, para o sociólogo Zygmunt Bauman, a sociedade de consumo é caracterizada pela transformação do consumidor em mercadoria. Essa dinâmica é reforçada pelo desejo de ostentação nas redes sociais e de possuir bens que evoquem a ideia de pertencimento.

Ao abordar o american way of life, use com a turma a técnica do brainstorming, ou tempestade de ideias. Escreva o termo no centro da lousa e peça aos estudantes que associem livremente ideias que remetam a essa expressão. Utilize essas ideias como ponto de partida para explicar o contexto histórico e a difusão desse estilo de vida, destacando o papel da indústria cultural e da publicidade na disseminação desse ideal de vida estadunidense.

Exemplifique com produtos culturais, como cinema e séries, que ajudam a propagar esse estilo de vida, mesmo sem publicidade explícita. Traga exemplos próximos à realidade dos estudantes, como roupas ou acessórios usados por personagens de séries americanas e que influenciam o consumo no Brasil. Caso você não conheça exemplos, os próprios estudantes podem fornecer exemplos relevantes.

Proposta de ampliação

Para diferenciar “consumo”, “consumismo” e “hiperconsumo”, crie uma tabela na lousa com três colunas. Peça aos estudantes que descrevam as características de cada conceito, sempre incentivando-os a se expressarem livremente, buscando com isso estimular a associação de ideias e a reflexão. Dadas as contribuições da turma, apresente as definições de forma mais detalhada, enfatizando que o consumo é a satisfação de necessidades, enquanto o consumismo é um ato impulsivo e irrefletido.

O conceito de hiperconsumo, desenvolvido pelo filósofo Gilles Lipovetsky, refere-se às formas de consumo predominantes na sociedade atual. Ele está intimamente ligado à ideia de que bem-estar e felicidade estão associados ao ato de consumir, tornando o consumo um componente essencial da subjetividade contemporânea. Embora se aproxime da noção de consumismo, o hiperconsumo, segundo Lipovetsky, não foca tanto em distinguir entre consumo “normal”

e “patológico”, mas sim em uma crítica à forma como o sistema econômico molda a subjetividade do consumidor e influencia as emoções das pessoas.

Atividades – p. 46

Peça aos estudantes que deem exemplos de propagandas veiculadas em diferentes meios de comunicação e que transmitam a ideia de felicidade associada a um produto.

Proposta de ampliação

Para explorar esse tema com os estudantes, incentive-os a compartilhar experiências de publicidade personalizada recebida pela internet. Esse tipo de segmentação publicitária, baseado nos dados de navegação, está diretamente relacionado ao hiperconsumo, pois reflete o processo de individuação. Em outras palavras, o ato de consumir tornou-se uma maneira de nos sentirmos únicos e diferentes dos outros.

P. 46 e 47

Para abordar os temas da precarização e da automatização do trabalho, em conexão com a discussão sobre a sociedade de consumo, utilize o texto do início da página 47 como um recurso para integrar os conteúdos ao cotidiano dos estudantes. Trabalhe de forma equilibrada as mudanças no mundo do trabalho decorrentes da produção em massa, destacando tanto os efeitos negativos, como a precarização e o desemprego, quanto as novas oportunidades que surgem com essas transformações, como as carreiras e habilidades que tendem a ser mais valorizadas no futuro.

Atividades – p. 48

c) Competências como pensamento analítico e criatividade são valorizadas no mercado de trabalho atual porque, no contexto atual, de automação e precarização, as tarefas repetitivas são cada vez mais realizadas por máquinas, enquanto as habilidades humanas que envolvem inovação, resolução de problemas e adaptação tornam-se essenciais. Essas competências permitem que os profissionais enfrentem desafios complexos, encontrem soluções inovadoras e contribuam para a competitividade das empresas, especialmente em um cenário global dinâmico e em constante mudança.

P. 49

Ao inserir a variável da desigualdade na análise das dinâmicas de consumo, os estudantes podem compreender que, apesar da ampla difusão do estilo de vida americano, muitas pessoas ao redor do mundo não têm condições econômicas para adotar esse padrão de consumo. Orientá-los para essa realidade amplia o entendimento das disparidades socioeconômicas e de seus impactos no acesso ao consumo global. Além disso, ao destacar os limites ambientais desse modelo de consumo, enfatize a importância de discutir a relação entre consumo e sustentabilidade ambiental, um dos pontos centrais do projeto. Essa abordagem ajuda os estudantes a entender que, embora o consumo seja impulsionado como motor econômico e cultural, ele traz consequências ambientais significativas que devem ser analisadas de forma crítica.

Atividades – p. 49

Aproveite a atividade para apontar à turma a necessidade de compreender as complexidades das relações de produção. Proponha aos estudantes que analisem, por exemplo, que efeitos teria para um município o aumento do poder de consumo de uma parcela da população que era excluída.

Em ação – p. 50

Para trabalhar esta seção, converse sobre os hábitos de consumo da turma, promovendo a autorreflexão e uma discussão aberta. Antes de iniciar o teste dessa seção, enfatize o fato de que esse é um instrumento unicamente destinado à reflexão sobre hábitos de consumo, portanto, não tem o objetivo de diagnosticar ou categorizar o comportamento dos estudantes.

Para evitar a identificação e a exposição dos estudantes, colete os resultados de cada um e construa uma tabela na lousa de forma que seja possível exibi-los de maneira anônima. Para calcular a média, oriente os estudantes a utilizar a seguinte fórmula: MA = (x_1+x_2+x_3…x_n)/n. Se possível, o professor de Matemática deve conduzir esse passo.

O teste é uma adaptação de escala publicada em: LUIZ, Gilberto Venâncio; SILVA, Neuza Maria da. Escala de comportamento de compra: desenvolvimento e validação de um instrumento de medida. Oikos: Revista Brasileira de Economia Doméstica, Viçosa, v. 28, n. 1, p. 180-200, 2017. Disponível em: https://periodicos.ufv. br/oikos/article/view/3742. Acesso em: 19 ago. 2024.

Depois da aplicação do teste, os estudantes devem calcular suas pontuações e a média da turma para comparar os resultados. Relacione esses dados com o conceito de consumismo, incentivado uma análise crítica sobre como fatores sociais, emocionais e culturais influenciam as decisões de compra. A discussão deve ser guiada pela pergunta “De onde vem e para onde vai a sociedade do consumo?”, conectando os comportamentos pessoais ao contexto social.

Etapa 2 O ciclo de produção – p. 52

Para onde vai o que consumimos?

Para conectar as etapas do projeto, inicie com uma atividade visual, utilizando a imagem do início da Etapa 2. Os estudantes devem observar e discutir o tipo de atividade retratado na fotografia (mineração). Questione a relação entre os hábitos de consumo e a destruição ambiental gerada pela mineração, destacando que muitos componentes eletrônicos dependem de matérias-primas mineradas.

Na sequência, aborde a transição dos motores a combustão para motores elétricos, discutindo os benefícios na redução de emissões de gases e os impactos ambientais da extração de lítio utilizado nas baterias.

Essa discussão pode ser aprofundada com a introdução do conceito de obsolescência programada, em que os estudantes podem refletir sobre seus celulares e o tempo que consideram adequado para substituí-los.

Essa abordagem ajuda os estudantes a fazer a relação entre consumo, meio ambiente e práticas econômicas, estimulando uma análise crítica sobre o impacto das escolhas de consumo e a longevidade dos produtos que utilizam.

Proposta de ampliação

Para aprofundar o assunto, trabalhe com os estudantes o trecho sugerido a seguir.

Em meados do século XX, cunhou-se uma prática mercadológica com a finalidade de assegurar a venda constante de produtos no mercado de consumo. Essa ideia mercadológica – mais tarde nomeada Obsolescência Programada ou Planejada – se apresentou como resposta ao mercado que, à época, encontrava-se saturado de produtos duráveis, o que dificultava o giro de capital burguês.

O marco histórico que consolidou o hábito dessa prática foi o desenvolvimento de lâmpadas de filamento com vida útil reduzida propositalmente (2.500 para 1.000 horas) por empresas globais. Estas eram conhecidas pela formação do primeiro cartel mundial (Phoebus Cartel) – formado pela alemã, Osram, a Philips –dos países baixos –, a francesa Companie des Lampes e a estadunidense General Electric –, o qual dominava a produção de lâmpadas.

Ou seja, as novas lâmpadas desenvolvidas eram menos brilhantes, duravam menos e possuíam menor qualidade, mas vendiam mais pela necessidade de substituição em menos tempo que as anteriores.

Em 1933, a teoria da obsolescência programada ganhou notoriedade através dos escritos do economista Bernard London (livro: The New Prosperity), numa visão romantizada, a qual rapidamente foi assimilada pelo mercado mundial, sobretudo, o estadunidense que atravessa a grande crise econômica de 1929.

Nos embalos dos anos, a ideia foi se personalizando aos diversos nichos consumeristas, nos quais bens em perfeito estado – e que ainda serviam ao fim ao qual se destinam –são substituídos por outros novos, pura e simplesmente porque são novos, e o novo, sob essa premissa, é sempre melhor.

OLIVEIRA, Bruno Ferreira Brás. Obsolescência programada e a proteção do consumidor: uma perspectiva jurídica nacional e comparada. 2019. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) –Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2020. p. 5.

O filme Os delírios de consumo de Becky Bloom é baseado no romance homônimo escrito por Sophie Kinsella, jornalista cuja especialidade é economia e finanças. A protagonista do filme representa um enorme contingente de consumidores que age de maneira irresponsável e impulsiva em seus hábitos de consumo. O filme pode ser indicado para casa e utilizado como base para a discussão a respeito do consumismo e do hiperconsumo.

Peça aos estudantes que reflitam sobre a quantidade de água utilizada na produção dos itens do cotidiano, como alimentos e roupas. Explique que a pegada hídrica envolve tanto o uso direto quanto o indireto da água. Use o exemplo da produção de uma camisa de algodão para ilustrar as diversas etapas que consomem água. Encoraje os estudantes a pensar em formas de reduzir suas pegadas hídricas diretas e

indiretas, como economizar água em casa e adotar hábitos de consumo mais conscientes.

Atividades – p. 55

1. a) Espera-se que os estudantes pensem sobre seus hábitos de consumo, observem se usam produtos de grandes marcas ou de pequenos produtores locais, refletindo sobre o impacto ambiental e social de cada escolha. Além disso, espera-se que analisem o tempo de uso das roupas, questionando a durabilidade e a necessidade de renovar o guarda-roupa frequentemente.

1. c) Espera-se que os estudantes reflitam sobre a quantidade de alimentos processados que consomem, a frequência do consumo de produtos frescos e locais e o impacto ambiental de suas escolhas alimentares, como a ingestão de carne ou alimentos de origem vegetal.

1. d) Espera-se que os estudantes identifiquem se seus hábitos de consumo estão voltados principalmente para produtos tecnológicos, roupas, alimentos industrializados, entre outros, e como esses produtos podem impactar o meio ambiente e suas vidas.

1. f) Espera-se que os estudantes reconheçam a importância da coleta seletiva e como essa prática contribui para a redução de resíduos e a preservação do meio ambiente, observando se essa prática é adotada em casa.

2. c) Espera-se que os estudantes sugiram práticas como: evitar a troca de dispositivos eletrônicos antes que seja realmente necessário, optar por consertar aparelhos em vez de comprar novos, reciclar dispositivos eletrônicos em pontos de coleta adequados, doar ou vender aparelhos antigos ainda em funcionamento, priorizar o consumo de dispositivos que utilizem materiais já reciclados ou recicláveis ou, ainda, com menor impacto ambiental em sua fabricação.

P. 56 e 57

Para dar continuidade ao projeto, caso considere adequado, procure retomar o que foi trabalhado nas aulas anteriores e, na medida do possível, retome exemplos já mencionados para desenvolver os tópicos seguintes. Com essa retomada, proponha aos estudantes uma reflexão sobre o provável destino dos aparelhos eletrônicos que eles já descartaram. Tendo por base essa ideia, trabalhe com eles as consequências do descarte inadequado de resíduos sólidos e da Política

Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Inicie a abordagem da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) explicando aos estudantes que essa lei visa reduzir a geração de resíduos e promover práticas como reciclagem e reutilização. Destaque a ideia de responsabilidade compartilhada entre fabricantes, distribuidores, consumidores e o governo, além da logística reversa, em que produtos retornam para o ciclo produtivo. Enfatize que a PNRS proíbe lixões e incentiva a educação ambiental e medidas econômicas para fortalecer a gestão sustentável de resíduos. Isso ajudará a contextualizar a importância da política para a sustentabilidade no Brasil. Aproveite para orientar os estudantes a acessar o Carrossel de imagens Onde descartar e como destinar resíduos sólidos? para conhecer mais sobre o tema.

Atividades – p. 57

Para viabilizar as atividades sugeridas, oriente os estudantes a criar um diário de consumo e descarte de materiais. Esse diário pode ser elaborado em formato impresso, usando um caderno, ou em formato digital, usando o celular ou o computador. Para garantir que os registros sejam detalhados, os estudantes devem preencher o diário pelo menos uma vez por dia, ao longo de uma semana. Recomende que estipulem um horário específico para essa tarefa, a cada dia, facilitando a organização.

Depois que os diários estiverem completos, auxilie os estudantes na sistematização dos dados registrados. Uma maneira eficaz de fazer isso é utilizando uma tabela, em que as colunas podem conter categorias como alimentos, embalagens, vestuário e eletrônicos, e as linhas podem classificar o descarte em lixo comum, reciclável, eletrônico ou compostagem. Assim, os itens consumidos e descartados ao longo da semana ficarão organizados de forma clara.

Com os dados sistematizados, a análise dos hábitos de consumo e descarte se torna visível e mais acessível, representando o desfecho do processo de coleta de dados. Para aprofundar a questão, sugira uma roda de conversa com a turma para discutir os resultados, refletir sobre hábitos e pensar em mudanças práticas que podem ser adotadas para tornar a vida mais sustentável do ponto de vista socioambiental. Essa troca de ideias pode promover um espaço para a conscientização coletiva e individual.

P. 58

Contextualize as diferenças na produção e destinação de resíduos entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento, destacando que os países desenvolvidos, mesmo abrigando apenas 16% da população mundial, geram 34% dos resíduos globais; já os países em desenvolvimento reciclam apenas 4% do lixo produzido. Para levantar e debater questões ambientais, éticas e econômicas, deve-se explorar o tema da exportação de resíduos, em que países ricos exportam lixo, incluindo eletrônicos e hospitalares, para nações mais pobres. Usando o mapa sobre o fluxo global de lixo eletrônico, os estudantes devem identificar as regiões que mais recebem resíduos e refletir sobre os motivos econômicos que levam a essa prática. Ao final, promova uma discussão sobre alternativas sustentáveis e soluções globais, incentivando a turma a pensar em ações locais para a gestão de resíduos e consumo consciente.

Atividades – p. 58

Para um bom desenvolvimento da atividade, trabalhe a leitura do mapa com a turma, coletivamente, observando se todos compreendem o fluxo dos resíduos. Peça aos estudantes que identifiquem as regiões que mais recebem os resíduos e elaborem hipóteses.

A Convenção de Basileia é um tratado internacional de 1989 que regula o transporte e descarte de resíduos perigosos entre países, buscando proteger o meio ambiente e a saúde humana. Ela visa reduzir a exportação de resíduos tóxicos de países desenvolvidos para países em desenvolvimento e promover o gerenciamento adequado desses resíduos.

Mundo do trabalho – p. 59

Trabalho insalubre: catadores de rua e de lixões

Aborde, dentro do assunto desta seção, a vulnerabilidade dos catadores de rua e de lixões, que atuam em condições precárias e sem proteção adequada, expondo-se a riscos de saúde. Ressalte o papel crucial dos catadores na gestão de resíduos e reciclagem no Brasil, contribuindo para a sustentabilidade ambiental e a redução de lixo em aterros, apesar da falta de reconhecimento formal e de direitos trabalhistas.

Em seguida, promova uma roda de conversa sobre a necessidade de políticas públicas que formalizem e melhorem as condições de trabalho desses

profissionais. Discuta a importância de cooperativas e associações que possam garantir segurança, inclusão e cidadania. Se julgar oportuno, sugira uma atividade prática para que os estudantes investiguem iniciativas locais de catadores, compreendendo a relevância social e ambiental desse trabalho e a urgência de transformações no mercado de trabalho.

Espera-se que os estudantes pesquisem se há cooperativas ou associações de catadores no bairro onde vivem, obtendo informações como nome, área de atuação e dados de contato. Em grupo, eles devem elaborar um cartaz digital, ressaltando as principais informações sobre a organização e buscando conscientizar a escola e a comunidade da importância do trabalho dos catadores no que se refere à sustentabilidade.

Oriente os estudantes a tomar cuidado com a segurança e a respeitar a comunidade. Incentive a pesquisa remota ou em locais públicos, evitando visitas sem autorização. Ao criar o cartaz digital, garanta que as informações coletadas sejam precisas e confiáveis para conscientizar de forma responsável.

Em ação – p. 60

Fale sobre a importância da gestão adequada de resíduos e seu impacto ambiental. Os estudantes vão investigar os programas de coleta de resíduos nas comunidades onde vivem, como serviços de “cata-bagulho” e pontos de entrega de lixo eletrônico, medicamentos vencidos e óleo de cozinha. A atividade inclui a criação de um mapa digital que identifique os pontos de coleta seletiva, além de avaliar, por meio de entrevistas com trabalhadores e vizinhos, a eficácia da coleta de lixo local.

Depois dessa investigação, os estudantes vão analisar o reaproveitamento consciente, reunindo itens que geralmente seriam descartados, como cadernos, eletrônicos e roupas, para doação ou reciclagem. O processo deve ser documentado em um relatório visual, a ser exposto na escola, para conscientizar a comunidade sobre práticas mais sustentáveis. Ao longo do projeto, a pergunta “Para onde vai o que consumimos?” servirá de estímulo à reflexão sobre o ciclo de vida dos produtos e o papel de cada um na redução de resíduos e na promoção da sustentabilidade.

Etapa 3 Consumo sustentável

– p. 62

É possível manter outra relação com o consumo?

Apresente o conceito de consumo sustentável e sua ligação com os ODS da ONU, que visam assegurar padrões de produção e consumo sustentáveis até 2030. Enfatize a necessidade de transformar os hábitos de consumo para evitar a degradação ambiental, promover justiça social e garantir uma economia viável a longo prazo. Explique que a responsabilidade é compartilhada entre consumidores e produtores, sendo essencial que empresas adotem práticas sustentáveis, como a redução de resíduos e o uso de energias renováveis.

Em seguida, apresente os 5 Rs do consumo sustentável (Reduzir, Reutilizar, Reciclar, Recusar e Repensar) e incentive a turma a aplicar essas práticas no dia a dia, promovendo mudanças concretas em suas rotinas. Proponha a eles uma investigação detalhada do consumo em suas casas e comunidades, entendendo a origem dos produtos e adotando escolhas mais conscientes. Ao longo do projeto, incentive discussões e atividades práticas que divulguem o conceito de consumo sustentável na escola, estimulando uma mentalidade coletiva de responsabilidade ambiental e social.

Atividades – p. 63

1. É importante valorizar produtos de empresas e produtores que adotam práticas responsáveis com relação aos trabalhadores e ao meio ambiente. Ao entender a origem dos produtos, podemos fazer escolhas conscientes que incentivam uma produção mais justa e sustentável, contribuindo para a redução dos impactos ambientais e sociais negativos e incentivando um consumo mais ético.

2. Espera-se que os estudantes mencionem exemplos práticos de como aplicar os 5 Rs no dia a dia. Para Reduzir, podem citar a diminuição do uso de descartáveis, como sacolas plásticas. Para Reutilizar, um exemplo seria reaproveitar potes de vidro como recipientes. Em Reciclar, eles podem indicar a separação correta de resíduos para reciclagem. Em Recusar, espera-se que mencionem a recusa de produtos como canudos, copos descartáveis, com embalagens

excessivas ou sacolas plásticas. Por fim, em Repensar, podem refletir sobre suas necessidades de consumo, optando por comprar apenas o essencial, promovendo o consumo consciente.

P. 64

Explique aos estudantes a importância de adotar práticas de consumo consciente que minimizem o impacto ambiental e social. Ressalte que o objetivo não é apenas comprar menos, mas fazer escolhas responsáveis que preservem os recursos naturais e garantam um futuro sustentável. Lembre-os de que cada escolha individual tem um impacto coletivo e que mudanças de hábitos são fundamentais para a construção de uma sociedade mais equilibrada.

Apresente aos estudantes os 12 princípios do consumo consciente e incentive-os a pensar em como aplicar esses princípios cotidianamente. Proponha a pesquisa sobre responsabilidade social das empresas e ações locais de impacto social e ambiental. Essa atividade vai auxiliar os estudantes a entender o papel das empresas e dos consumidores na promoção de práticas sustentáveis, além de estimular discussões sobre consumo consciente.

Atividades – p. 64

a) Espera-se que, após a pesquisa, os estudantes compreendam que responsabilidade social é o compromisso que as empresas assumem de contribuir para o bem-estar da sociedade, com ações que promovam sustentabilidade ambiental e desenvolvimento social e práticas éticas que beneficiem tanto os colaboradores quanto a comunidade em geral.

b) Resposta pessoal, mas espera-se que os estudantes identifiquem uma empresa local que realiza ações de responsabilidade social, como programas de reciclagem, projetos de inclusão social ou uso de energias renováveis. Eles devem descrever a empresa, as estratégias adotadas (como reciclagem ou capacitação), os objetivos, como melhorar o meio ambiente ou a comunidade, e os resultados obtidos, apresentando suas descobertas aos colegas em uma discussão sobre o impacto positivo dessas ações.

Mundo do trabalho – p. 65

Consumo consciente e novas oportunidades profissionais

Contextualize a crescente importância da sustentabilidade no mercado de trabalho, ressaltando como as demandas sociais e ambientais, junto aos avanços tecnológicos, estão gerando novas profissões. Áreas como gestão de resíduos, saneamento ambiental, design sustentável e desenvolvimento de materiais ecológicos são exemplos de setores em expansão. Essas mudanças são respostas às pressões por práticas de consumo consciente e pela economia circular.

Se julgar oportuno, proponha atividades práticas, como a pesquisa sobre cursos emergentes voltados para a sustentabilidade e o estudo de casos de empresas que utilizam materiais sustentáveis. Organize uma roda de conversa sobre como essas novas profissões estão moldando o futuro do trabalho e como os estudantes podem se preparar para contribuir para uma economia mais sustentável e responsável.

Utilize a oportunidade trazida com a pesquisa da turma para orientar uma reflexão: Será que as novas profissões ligadas à sustentabilidade estão presentes no projeto de vida da turma? Em caso afirmativo, pergunte a eles o que conhecem da atuação desses profissionais.

P. 66 e 67

Contextualize as limitações do sistema econômico tradicional, que, muitas vezes, resulta na exploração excessiva dos recursos naturais e na degradação ambiental. Explique a eles que um dos objetivos do projeto é apresentar modelos econômicos sustentáveis, como a economia circular, a economia solidária e o comércio justo, que propõem alternativas mais equilibradas para a produção e o consumo, com foco na sustentabilidade e na justiça social.

Apresente cada modelo de forma prática: comente que a economia circular promove o reaproveitamento de materiais e a reciclagem, minimizando os resíduos; esclareça que a economia solidária se baseia em princípios de cooperação e autogestão, criando oportunidades de inclusão social; e discuta como o comércio justo assegura condições de trabalho dignas e remuneração justa para produtores. Organize a turma em roda e promova um debate sobre como essas práticas podem ser integradas ao cotidiano de cada um e ao

funcionamento das empresas, incentivando um consumo mais consciente e responsável.

Atividades – p. 67

a) Resposta pessoal, mas espera-se que os estudantes escolham um objeto de uso frequente, como uma roupa ou um eletrônico, e reflitam sobre como sua escolha de compra pode impactar o meio ambiente. Eles devem considerar fatores como a extração de matérias-primas, a energia utilizada na produção, o transporte e a quantidade de resíduos gerados no descarte. Um exemplo seria o impacto ambiental de um celular, que envolve o uso de metais raros e gera grande quantidade de lixo eletrônico ao ser descartado de forma inadequada. Uma ação concreta que poderia ser sugerida é prolongar a vida útil do item, consertando-o quando necessário em vez de comprar um novo, ou garantir que o descarte seja feito corretamente, por meio de reciclagem em locais apropriados.

Em ação – p. 68

Para um bom aproveitamento do tema desta seção, os estudantes podem ser orientados a pesquisar iniciativas locais que promovam práticas de sustentabilidade, como cooperativas, feiras de economia solidária ou plataformas de comércio justo. A proposta é que a turma tenha contato com a realidade da comunidade e que perceba como o consumo consciente e sustentável pode ser aplicado no cotidiano.

Com a pesquisa concluída, oriente a turma na elaboração de relatórios, que devem trazer descritos os objetivos, os impactos e os desafios dos projetos, além de destacar produtos ou serviços oferecidos. Durante as apresentações dos relatórios, promova a troca de informações entre os grupos, buscando identificar pontos em comum. Por fim, incentive a turma a escolher uma iniciativa que possa ser aplicada na escola ou na comunidade, como hortas comunitárias ou oficinas de reciclagem, para que todos possam refletir e agir de forma prática em torno da questão: É possível manter outra relação com o consumo?

Caso não existam iniciativas desse tipo na comunidade ou região, promova um debate com os estudantes sobre o que poderia ser feito para incentivar práticas de sustentabilidade localmente. Incentive-os a discutir ideias como cooperativas, feiras de economia solidária ou campanhas ambientais. Depois, oriente-os

a planejar um projeto aplicável na escola ou comunidade, como hortas ou oficinas de reciclagem, refletindo sobre como podem contribuir de forma prática para o consumo consciente.

Etapa final Feira de trocas –p. 70

Para organizar a feira de trocas, atue como facilitador, incentivando o protagonismo dos estudantes em cada etapa do processo. Inicialmente, é importante promover um planejamento colaborativo, no qual os estudantes, organizados em comissões, definem os aspectos centrais do evento, como a escolha do nome, a data, o local e a estrutura da feira. Oriente uma roda de discussão sobre a importância de cada função, esclarecendo o papel educativo da feira, especialmente no que diz respeito ao consumo consciente e sustentável. Durante a execução, assegure que todos estejam preparados para interagir com o público, solucionar problemas e transmitir de forma clara as mensagens sobre os malefícios do consumismo.

Ao final, é fundamental promover uma reflexão coletiva sobre a experiência, avaliando os pontos fortes e os aspectos que podem ser aprimorados em futuros projetos, garantindo que a turma compreenda tanto o valor prático quanto o impacto social da atividade. Aproveite esse momento para retomar a pergunta norteadora: “Como promover um consumo consciente?”, incentivando os estudantes a pensar em formas de aplicar os aprendizados em suas rotinas e na comunidade, reforçando a importância de práticas sustentáveis no cotidiano.

Autoavaliação – p. 73

Para trabalhar a proposta de autoavaliação, incentive uma reflexão crítica sobre o envolvimento individual e coletivo de cada um neste projeto. Primeiramente, oriente os estudantes a responder às questões com sinceridade, promovendo um ambiente seguro para a autorreflexão, sem julgamentos. Eles devem ser incentivados a argumentar e a justificar cada resposta, especialmente nas questões que envolvem a atribuição de notas. A comparação das respostas com as de um colega deve ser vista como uma oportunidade de diálogo e troca de percepções, ajudando os estudantes na identificação de pontos de convergência e divergência em suas autoavaliações. Procure também guiar a discussão

sobre os aspectos sociais, econômicos e ambientais do consumo, relacionando-os ao aprendizado adquirido durante o projeto. O objetivo é que a turma reconheça cada ação positiva e as áreas de melhoria para projetos futuros, enquanto desenvolvem uma visão crítica sobre consumo consciente e sustentável, reforçada pela experiência prática.

Projeto 3 Como é o trabalho

no Brasil contemporâneo?

– p. 74

Introdução

Este projeto tem como objetivo investigar o mundo do trabalho contemporâneo em quatro etapas principais: a construção de conhecimentos mediante o estudo e a discussão de diferentes materiais (textos, imagens, filmes etc.), a coleta de dados em contextos de vivência dos estudantes, a aplicação e a análise desses conhecimentos e sua relação com os dados coletados em seus municípios e, por fim, a divulgação dos resultados para a comunidade escolar por meio de apresentações em seminário e publicação. Durante esse processo, os estudantes mobilizam competências e habilidades da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e utilizam métodos de pesquisa científica, como a pesquisa bibliográfica e a história de vida.

O projeto também incentiva o uso de ferramentas digitais e o trabalho em equipe, estimulando a prática das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) em contextos de estudo e trabalho, além de promover a convivência com a diversidade. Assim, a iniciativa proporciona aos estudantes uma compreensão interdisciplinar e prática das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, preparando-os para as dinâmicas do mundo profissional e acadêmico.

Objetivos

O projeto tem como objetivo possibilitar que os estudantes reconheçam os aspectos do âmbito do trabalho no mundo e no Brasil. Por meio de atividades reflexivas e práticas, eles devem comparar dados referentes ao trabalho colocando em perspectiva gênero, raça e idade, entre outros aspectos, no Brasil e no município

em que vivem. Além disso, os estudantes serão incentivados a refletir sobre a precarização das condições de trabalho e as estratégias de resistência de trabalhadores na luta por direitos.

Justificativa do projeto

Este projeto propõe o estudo do mundo do trabalho no Brasil contemporâneo, com foco nas diversas modalidades de emprego, precarização e “plataformização” em um cenário de desigualdade crescente. Com ênfase nas realidades locais, a investigação permite aos estudantes refletir sobre as condições de trabalho em sua própria comunidade e entender como fatores como raça, gênero e idade influenciam essas relações. Essa abordagem é essencial para formar cidadãos críticos, capazes de compreender e atuar diante das transformações e dos desafios do mercado de trabalho atual.

O projeto oferece também ferramentas interdisciplinares, como análises filosóficas, sociológicas e históricas, além de valorizar a oralidade como método de troca de conhecimentos. Em diálogo com Língua Portuguesa, os estudantes são incentivados a identificar os impactos políticos e econômicos das relações de trabalho e pensar em formas de resistência e transformação social. Assim, o projeto não só amplia a compreensão crítica sobre o trabalho, mas também estimula ações concretas em prol de maior justiça social e igualdade.

Produto final

Ao final do projeto, os estudantes devem produzir um seminário que reúna as informações pesquisadas e estudadas ao longo das etapas sobre o trabalho no Brasil contemporâneo.

Síntese do projeto

Temas Contemporâneos

Transversais (TCT)

No macrocampo Economia, este projeto aborda o TCT Trabalho ao incentivar a turma a refletir sobre o trabalho contemporâneo considerando perspectivas sociológicas, históricas, filosóficas e geográficas, da escala global à local. Essa abordagem também dialoga com o TCT Vida familiar e social ao relacionar o

indivíduo com a sociedade. O TCT Ciência e tecnologia é explorado no projeto ao ser demonstrado o impacto da evolução tecnológica e das TICs nas formas de trabalhar e viver. Na macroárea Cidadania e civismo, os TCT Educação em direitos humanos e Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras são contemplados ao promover reflexões sobre os direitos trabalhistas, a precarização, as lutas e as raízes das desigualdades sociais e raciais.

Objetivos de Desenvolvimento

Sustentável (ODS)

No projeto, o ODS Igualdade de gênero (5) é abordado ao incentivar a análise das desigualdades enfrentadas por mulheres no mundo do trabalho, considerando também a interseccionalidade entre gênero e raça. Os estudantes vão investigar a baixa representatividade feminina em cargos de liderança, bem como os dados sobre rendimento e informalidade, levando em conta aspectos de gênero e raça ao pesquisar o cenário do trabalho no município onde eles vivem e nas histórias de vida coletadas.

O ODS Trabalho decente e crescimento econômico (8) é abordado ao destacar a superexploração e a precarização das condições de trabalho na sociedade contemporânea e a necessidade de reivindicação dos trabalhadores por políticas que assegurem condições dignas. Além disso, o projeto aborda as oportunidades oferecidas pelo empreendedorismo, especialmente o digital. O ODS Redução das desigualdades (10) se conecta diretamente com os ODS 5 e 8, permeando todo o projeto ao promover a compreensão e a análise crítica das desigualdades no trabalho, incentivando uma postura cidadã, transformadora e comprometida com o bem comum e a redução das desigualdades sociais.

Professor indicado para liderar o projeto

Sociologia ou História com o auxílio do professor de Língua Portuguesa.

O trabalho com as competências e as habilidades da BNCC

Consulte a BNCC para descrição das competências e habilidades mobilizadas neste projeto. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br. Acesso em: 17 out. 2024.

Competências gerais da Educação Básica 1, 2, 4, 5, 6, 9

Competências específicas de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas

Habilidades de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas

Competências específicas de outras áreas

Habilidades de outras áreas

1, 4, 6

EM13CHS101, EM13CHS102, EM13CHS103, EM13CHS106, EM13CHS401, EM13CHS402, EM13CHS403, EM13CHS404, EM13CHS502

Linguagens e suas Tecnologias: 1, 3, 6

Matemática e suas Tecnologias: 1

Linguagens e suas Tecnologias: EM13LGG103, EM13LGG104, EM13LGG301, EM13LGG601, EM13LGG604

Matemática e suas Tecnologias: EM13MAT102

Este projeto aborda várias competências gerais, com destaque para a competência geral 6 , que está diretamente relacionada à valorização da diversidade de saberes e vivências culturais. Ela promove a apropriação de conhecimentos e experiências que possibilitam a compreensão das relações no mundo do trabalho, incentivando os estudantes a fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com autonomia, consciência crítica e responsabilidade. A competência geral 1 também é amplamente explorada, pois valoriza e utiliza conhecimentos historicamente construídos para ajudar a compreender e explicar a realidade, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa, democrática e inclusiva.

O projeto mobiliza a competência geral 2 em razão de seu caráter investigativo, fundamentado em métodos científicos das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. A competência geral 4 é igualmente trabalhada, já que o projeto envolve o uso de diferentes linguagens, tanto na sua construção (oralidade, textos, gráficos, filmes) quanto na divulgação dos resultados (exposição oral, publicação). Por fim, o projeto dá destaque à competência geral 9 ao envolver trabalho em duplas, em grupos e em atividades coletivas, considerando a diversidade nos temas e propondo recortes de pesquisa e de natureza dialógica, característica dos seminários.

Na área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, a competência 1 é bastante mobilizada no projeto, devido à análise de diversos processos do mundo

do trabalho contemporâneo, com ênfase no Brasil e no município em que os estudantes vivem. A competência 4 também é incorporada, ao analisar as relações entre produção, capital e trabalho, discutindo seu papel nos contextos global, nacional e local. A competência 6 é abordada por meio do incentivo à participação dos estudantes no debate público de forma crítica e democrática, especialmente nas exposições orais e nos debates do seminário.

O projeto aborda a habilidade EM13CHS101, ao utilizar uma variedade de fontes para compreender as relações e as características do mundo do trabalho no Brasil e no município em que os estudantes vivem. A habilidade EM13CHS102 aparece na identificação das circunstâncias históricas e sociológicas que levam ao racismo e às desigualdades de gênero, refletidas em dados sobre o trabalho, como rendimento e cargos de liderança. A habilidade EM13CHS103 é acionada na elaboração de hipóteses e argumentos tendo por base fontes diversas, que se manifestam nas exposições orais e nos ensaios críticos dos estudantes.

A habilidade EM13CHS106 está presente nas atividades de análise de gráficos, elaboração de infográficos, criação da publicação Caderno do seminário , apresentações de slides e mapas conceituais. As habilidades EM13CHS401 , EM13CHS402 , EM13CHS403 e EM13CHS404 , que tratam da categoria trabalho, também são abordadas no projeto, na coleta de histórias de vida, na análise das transformações tecnológicas e nas novas formas de trabalho, na avaliação de indicadores de emprego, renda e desigualdade socioeconômica e na identificação de múltiplos aspectos do trabalho em diferentes contextos. A habilidade EM13CHS502 está presente nos momentos em que são discutidos e problematizados as desigualdades, os preconceitos e as discriminações no contexto do trabalho.

Na área de Linguagens e suas Tecnologias, o projeto também contempla a competência 1, uma vez que atividades como leitura, entrevistas e exposições orais exigem compreensão de diferentes linguagens, ampliando a participação social, a interpretação crítica da realidade e a aprendizagem contínua. As competências 3 e 6 são valorizadas ao trabalhar as produções audiovisuais como forma de retratar a realidade. Além disso, também são desenvolvidas durante a produção do caderno de seminário e a elaboração do

seminário. Na área de Matemática e suas Tecnologias, a competência 1 é abordada quando estratégias e conceitos matemáticos são aplicados na interpretação de diferentes situações. São trabalhadas também as habilidades EM13LGG103 e EM13LGG104, que se relacionam à análise, à interpretação e à produção de textos em diferentes linguagens e contextos. Em Matemática e suas Tecnologias, a habilidade EM13MAT102 aparece quando os estudantes analisam tabelas, gráficos e amostras de pesquisas estatísticas sobre o mundo do trabalho.

Cronograma

A proposta é que este projeto seja dividido em três etapas, mais a apresentação e a avaliação, totalizando 16 aulas. A seguir, é sugerida a quantidade de aulas destinadas a cada uma das etapas para que o projeto seja trabalhado ao longo de um semestre. Entretanto, a depender de sua realidade escolar, o projeto pode ter outra duração; ele pode, por exemplo, ser trabalhado ao longo de um bimestre ou de um trimestre. Para isso, basta rever o total de aulas destinadas ao projeto por semana.

Número de aulas

4

Desenvolvimento semestral

Aula 1: Leitura e discussão do texto de abertura e introdução da temática e das características do projeto. Leitura do texto O que é trabalho? e resolução individual das atividades.

Aula 2: Leitura e discussão dos textos A evolução do trabalho e dos direitos trabalhistas no Brasil e da seção Mundo do trabalho. Resolução individual das atividades.

Aula 3: Leitura do texto Panorama do trabalho no município em que você vive da seção Em ação e das orientações para o desenvolvimento da pesquisa e do infográfico da seção Em ação. Pesquisa e elaboração (em duplas ou em grupos) do infográfico proposto na seção Em ação

Aula 4: Apresentação dos infográficos (em duplas ou em grupos), confeccionados com base na proposta da seção Em ação

Para casa: Aula Invertida –Leitura dos textos Transmissão de conhecimento por meio da narrativa e As memórias e as relações de trabalho, além da realização das atividades.

Aula 5: Levantamento das dúvidas sobre os textos lidos, correção das atividades e orientações para a realização das coletas das histórias de vida e do ensaio crítico. Organização dos grupos referentes à seção Em ação. Pesquisa bibliográfica e reflexão sobre recorte temático referentes à seção Em ação

Aula 6: Definição do recorte temático e elaboração dos roteiros com questões para orientar a coleta da história de vida referentes à seção Em ação. Para casa: Realização das entrevistas referentes à seção Em ação.

Aula 7: Orientações para a textualização das entrevistas e a composição do ensaio crítico referentes à seção Em ação. Textualização das entrevistas.

Aula 8: Definição da estrutura do ensaio e novas orientações. Para casa: Criação da primeira versão do ensaio.

Aula 9: Revisão da primeira versão do ensaio. Para casa: Elaboração da segunda versão do ensaio.

Aula 10: Orientações sobre a Etapa 3. Leitura dos textos O audiovisual como forma de explicar o trabalho contemporâneo e Impactos sociais de uma pesquisa. Apreciação do filme escolhido e anotações das cenas e dos diálogos mais interessantes.

Aula 11: Discussão sobre os filmes, em pequenos grupos, e criação coletiva de mapa conceitual. Para casa: Leitura do texto Impactos sociais de uma pesquisa e resolução individual das atividades.

Aula 12: Correção das atividades e orientações sobre a edição de uma publicação referentes à seção Em ação Realização das tarefas combinadas para a edição do caderno do seminário.

Etapa 1
Etapa 2 5
Etapa 3 3

Etapa final 4

Aula 13: Orientações e resoluções de dúvidas sobre a edição do caderno do seminário referente à seção Em ação Realização das tarefas combinadas para a edição do caderno do seminário e para a produção do seminário; preparação da exposição oral e das apresentações de slides.

Aula 14: Verificação do encaminhamento do checklist e exposições orais para treinamento (opcional). Para casa: Realização das tarefas combinadas para a edição dos cadernos do seminário; preparação da exposição oral e das apresentações de slides.

Aula 15: Realização do seminário (em data/horário não escolares).

Aula 16: Encerramento e e momento da autoavaliação.

Orientações didáticas

Abertura e Ficha de estudo

A imagem de abertura apresenta uma fotografia relacionada à resistência dos trabalhadores, mostrando a mobilização de motociclistas que realizam entregas por aplicativos. Os estudantes já presenciaram ou ouviram falar de mobilizações semelhantes, como greves e passeatas? Essas discussões iniciais ajudam a conectar o tema do projeto à realidade deles e podem ser enriquecidas com outras imagens, facilmente encontradas na internet, que mostrem cenas de resistência trabalhista.

Ao descrever formas de trabalho presentes no Brasil contemporâneo, o texto introdutório busca conectar os estudantes ao tema por meio de suas experiências e seus conhecimentos prévios. Proponha a leitura em voz alta com a turma ou em pequenos grupos, incentivando-os a pensar em outras formas de trabalho que conhecem, complementando o que é apresentado no texto.

Por fim, as duas questões da abertura destacam aspectos importantes do mundo do trabalho contemporâneo: apesar de oferecer inovação, criatividade e oportunidades de empreendedorismo, ele geralmente

precariza as condições de trabalho, resultando em salários mais baixos, cortes de benefícios, aumento da carga horária, diminuição de vagas e crescimento da informalidade.

Finalize essa introdução revisando com os estudantes os dados da Ficha de estudo, ressaltando o percurso do projeto. Leia com eles a descrição de cada etapa e certifique-se de que entenderam os temas e os produtos que vão desenvolver.

Atividades – p. 75

1. Espera-se que os estudantes compreendam o que é trabalho informal e deem exemplos desse tipo de condição de trabalho no município onde vivem. Se necessário, ajude-os a diferenciar trabalho formal de trabalho informal. O trabalho informal é uma atividade econômica em que o trabalhador não tem amparo legal, não faz contribuições para a previdência, não declara renda e não tem nenhum tipo de contrato com quem paga por seus serviços. Exemplos: vendedores ambulantes, comércio de alimentos de porta em porta e a maior parte dos trabalhadores de entrega por aplicativo.

2. Nessa atividade, para abordar o empreendedorismo, optou-se por tratar especificamente de empreendedorismo digital, considerando que grande parte dos jovens está imersa no universo digital, conhecendo-o bem.

Dica!

• Para aprofundamento do tema, sugere-se a leitura do texto: EMPREENDEDORISMO digital: o que é e quais as possibilidades? Sebrae, 29 ago. 2023. Disponível em: https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/ pe/artigos/empreendedorismo-digital-o-que-e-e -quais-as-possibilidades,f8190393d924a810VgnVCM 1000001b00320aRCRD. Acesso em: 5 set. 2024.

Etapa 1 O mundo do trabalho no Brasil – p. 78

Quais aspectos do trabalho contemporâneo estão presentes no município em que vivo?

O texto de abertura da Etapa 1 busca definir o conceito de trabalho, relativizá-lo, evidenciando como ele varia cultural e historicamente ao longo do tempo e em diferentes contextos, e aprofundar sua compreensão, destacando sua importância para nossa sobrevivência e para a sustentação da sociedade em que vivemos.

Com base nessas reflexões iniciais, a turma tem a oportunidade de avaliar de forma mais ampla e diversificada as características que o trabalho assume no sistema capitalista. Essa análise permite que os estudantes compreendam que a forma predominante de trabalho em nosso mundo não é a única possível, nem necessariamente a maneira ideal.

Dica!

• Para aprofundar o tema, o verbete Trabalho, presente no Dicionário de conceitos históricos , pode ser utilizado como material de leitura guiada junto com os estudantes: SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Trabalho. Dicionário de conceitos históricos . 2. ed. São Paulo: Contexto, 2009. p. 400-404.

Atividades – p. 80

Aproveite para enfatizar que valores e ideias a respeito do trabalho, assim como a forma como se dá a divisão do trabalho, variam de uma cultura para a outra e que, portanto, não se sustenta a ideia de superioridade de uma cultura em relação à outra.

Comente também que a forma como o modo de produção capitalista opera, juntamente com a distribuição do trabalho e das riquezas em nossa sociedade e no mundo, está colocando a sobrevivência humana em risco. As consequências já podem ser observadas nas mudanças climáticas e ambientais que têm ocorrido em escala global.

P. 81 a 83

Nessas páginas, busca-se fornecer elementos para que a turma reflita sobre a constituição do mundo do trabalho no Brasil em perspectiva histórica, com ênfase no processo de construção e desconstrução da cidadania e dos direitos trabalhistas. O objetivo é destacar as consequências de o país ter vivido, por quase 400 anos, sob um sistema econômico predatório e exploratório, voltado para o mercado externo e sustentado pela mão de obra escravizada.

Atividades – p. 82

2 . Espera-se que os estudantes revisitem conceitos e conhecimentos adquiridos ao longo de sua trajetória escolar, relacionados aos eventos da linha do tempo, e pesquisem aqueles com os quais têm menos familiaridade. O objetivo é que tenham domínio

sobre temas como: a Lei de Terras de 1850; a situação da população liberta após a abolição; o processo de imigração entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX; a industrialização e a urbanização no século XX; as primeiras leis trabalhistas da Era Vargas; a Constituição de 1988; a Reforma Trabalhista de 2017; e os direitos das mulheres, das pessoas negras e dos indígenas. É fundamental assegurar que a turma compreenda esses temas para entender as desigualdades sociais, com foco nas questões raciais e de gênero no mercado de trabalho. Aproveite para orientar os estudantes a acessar o Podcast Plataformização e precarização do trabalho para conhecer mais sobre o tema.

Mundo do trabalho – p.

83

Relações de trabalho no mundo digital

A seção aborda as relações de trabalho no contexto contemporâneo, profundamente transformado pelas TICs. O tema é relevante para os jovens, que frequentemente usam essas tecnologias com a facilidade de nativos digitais. A proposta é que a turma leia um trecho de uma entrevista com a pesquisadora Datise Biasi, que destaca como a revolução tecnológica trouxe mais flexibilidade e autonomia ao trabalho, permitindo uma atuação independente de tempos e espaços fixos (como no trabalho híbrido e remoto, em diferentes jornadas e com pessoas de diversos territórios).

Como temos observado, na atualidade, embora alguns profissionais autônomos alcancem sucesso e bons ganhos, a grande maioria enfrenta condições de trabalho precárias, cumprindo longas jornadas, sem direitos e em posições facilmente descartáveis. Para agravar a situação, muitos deles ainda atuam de forma intermitente. Veja o que Ricardo Antunes fala sobre a jornada de trabalho nos setores que mais se expandem no mundo do trabalho:

A jornada de trabalho atualmente é um tema de gravidade relevante para aqueles setores que mais se expandem no mundo do trabalho: o do trabalho intermitente, o trabalho em plataforma, o trabalho uberizado ou o trabalho no setor de serviços. Nestes setores, que reforço, são os que mais se expandem, a jornada é ilimitada.[...] O que singulariza o trabalho intermitente em plataformas ou assemelhados é que se trabalha quando há trabalho

disponível, e não se trabalha quando não há trabalho, e o tempo de espera não é contabilizado em termo de jornada. [...]

Ricardo Antunes analisa o inferno da precarização. AFBNB, 9 maio 2024. Disponível em: https://www.afbnb.com.br/ ricardo-antunes-analisa-o-inferno-da-precarizacao/. Acesso em: 6 set. 2024.

A discussão sobre relações de trabalho no meio digital é abordada de forma prática, incentivando a turma a refletir sobre possíveis formas de empreendedorismo digital em suas futuras carreiras. Cite exemplos, como consultor de SEO (sigla da expressão inglesa Search Engine Optimization, referente aos mecanismos de busca nos navegadores de internet), especialista em mídia social, lojista on-line, músico independente e criador de conteúdo em plataformas de vídeo.

Proposta de ampliação

Para desenvolver o tema, é possível pedir aos estudantes que criem um modelo de negócios para uma startup focada em empreendedorismo digital. Aproveite para orientar os estudantes a acessar o Podcast A inteligência artificial e o impacto no mundo do trabalho para conhecer mais sobre o tema.

P. 84 e 85

Para que os estudantes compreendam o mercado de trabalho no município em que eles vivem, comece descrevendo os principais elementos desse cenário, como taxas de emprego, setores econômicos e características das empresas locais. Utilize o quadro sugerido como referência para discutir esses aspectos e sua influência na oferta e demanda de trabalho. Sugiro que os estudantes busquem dados concretos em fontes específicas, como os anuários da ANTT ou mapas de malha rodoviária e ferroviária no Atlas Geográfico do IBGE para infraestrutura de transporte. Explique que a legislação trabalhista local pode ser difícil de encontrar ou até inexistente, já que o trabalho é regulamentado principalmente por leis federais, como a CLT. Assim, o projeto pode ser adaptado a qualquer município ou região. Incentive o uso de fontes acadêmicas e relatórios governamentais e a análise da atuação de sindicatos e associações locais para entender melhor as relações de trabalho da região.

Mundo do trabalho – p. 86

Trabalho em perspectiva: gênero, raça e idade

A seção aborda os impactos de raça, gênero e idade nas questões relacionadas ao trabalho, com foco especial na questão de gênero. Explore as representações e os valores atribuídos às mulheres na sociedade, destacando os desafios que elas enfrentam para se inserir no mercado de trabalho, conquistar bons salários e ocupar posições de liderança. Ressalte também que o gênero se entrelaça com a raça e com outros marcadores; nesse caso, seria oportuno introduzir o conceito de interseccionalidade, desenvolvido por Kimberlé Crenshaw Dica!

• P ara mais subsídios sobre o conceito de interseccionalidade, consulte: ASSIS, D. N. C. de. Interseccionalidades . Salvador: UFBA, 2019. Disponível em: https://educapes.capes.gov. br/bitstream/capes/554207/2/eBook%20-%20 Interseccionalidades.pdf. Acesso em: 5 out. 2024; Crenshaw, K. Documento para o encontro de... Disponível em: https://www.scielo.br/j/ref/a/m bTpP4SFXPnJZ397j8fSBQQ/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 5 out. 2024.

O final da seção apresenta um exemplo de mulher indígena bem-sucedida, a médica indígena Myrian Krexu. Incentive a turma a refletir sobre a fala: “Ainda somos vistos como seres místicos e folclóricos ou com uma única maneira de ser e parecer”. Pergunte como eles enxergam as pessoas indígenas e quais representações simbólicas predominam na mídia e nos discursos. Ajude-os a desconstruir estereótipos, mostrando a diversidade e a dinâmica das culturas indígenas. Por fim, sugere-se que os estudantes pesquisem, em grupos, informações sobre mulheres negras ou indígenas que ocupam cargos de liderança no município ou Unidade da Federação onde vivem.

Atividades – p. 87

1. a) O primeiro gráfico mostra que as trabalhadoras negras têm a maior proporção de rendimentos até um salário mínimo, seguidas por homens negros, mulheres não negras e, por último, homens não negros. O segundo gráfico revela que homens negros lideram na inserção informal, seguidos por mulheres negras, enquanto homens e mulheres não negros têm as menores proporções de informalidade.

1. b) Gênero e raça influenciam significativamente as condições de trabalho. Mulheres negras são as mais afetadas, tanto em termos de baixos salários quanto de inserção informal, o que indica uma dupla vulnerabilidade. Homens negros também enfrentam alta inserção informal, embora tenham menor representação nos salários mais baixos. Em contraste, homens não negros e mulheres não negras apresentam melhores condições em ambos os aspectos, o que reflete as desigualdades estruturais do mercado de trabalho. Esses dados reforçam a necessidade de implementar políticas que promovam equidade e combatam a discriminação racial e de gênero.

2. Luana Génot propõe que para combater a desigualdade racial é crucial reconhecer o passado desigual e adotar ações afirmativas, com foco em educação de qualidade e inserção no mercado de trabalho. Ela destaca a importância de um ensino público antirracista e políticas que promovam a ascensão de pessoas negras a cargos de liderança.

Em ação – p. 88

Dando continuidade à Etapa 1, a turma vai pesquisar dados sobre o trabalho no município onde mora para criar um panorama informativo. Nessa etapa do projeto, sugere-se que os estudantes trabalhem em grupos para reunir e organizar as informações em um infográfico.

Para familiarizar os estudantes com o gênero textual do infográfico, é apresentado um exemplo sobre o trabalho infantil no Brasil. Como atividade inicial, a turma pode analisar tanto o formato quanto o conteúdo do infográfico. Um dos dados que chamam a atenção é que a maioria das crianças envolvidas em trabalho infantil é do sexo masculino. Essa constatação pode levantar questões sobre a possibilidade de as meninas estarem ocupadas com atividades domésticas não contabilizadas ou serem mais protegidas por estereótipos como os que veem os meninos como trabalhadores braçais e futuros provedores. Além disso, o infográfico reflete o racismo estrutural presente nas estatísticas.

Dica!

No vídeo a seguir, há dicas que podem ser repassadas aos estudantes durante a elaboração do infográfico.

• I nfográfico – Como criar um infográfico on-line e gratuito. Flávia Valença, 29 jan. 2018. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Sxsyhyj0Nwc&ab_ channel=Fl%C3%A1viaValen%C3%A7a. Acesso em: 8 set. 2024.

Oriente os estudantes na coleta de dados das fontes sugeridas, como IBGE Cidades e Novo Caged, ressaltando a análise de aspectos como população, trabalho e economia, além de marcadores sociais como raça, gênero e idade. Incentive a pesquisa em outras fontes para enriquecer o conteúdo. Ao construir o infográfico, ajude-os a definir o objetivo, o público-alvo e a mensagem principal, e a organizar o layout de forma clara e atraente. Por fim, promova uma revisão cuidadosa para garantir a precisão e a clareza das informações. Depois de revisado, o infográfico pode ser incorporado ao caderno do seminário e os estudantes já podem responder à pergunta norteadora.

Etapa 2 Histórias

de vida e de trabalho no município em que vivo – p. 90

O que as histórias revelam sobre as condições de trabalho no município em que vivo?

Ao trabalhar com os estudantes as histórias de vida e as condições de trabalho em seu município, comece valorizando a transmissão oral como forma de compartilhar experiências e conhecimentos. Encoraje a turma a refletir sobre como as narrativas pessoais podem revelar aspectos mais amplos sobre a realidade do trabalho, conectando experiências individuais com questões sociais, culturais e históricas.

Sugira que os estudantes leiam previamente, como lição de casa, os textos Transmissão de conhecimento por meio da narrativa e As memórias e as relações de trabalho e realizem as atividades da página 93, utilizando a metodologia da Aula Invertida. Isso permitirá que a primeira aula da Etapa 2 seja dedicada ao esclarecimento de dúvidas, otimizando o tempo de aula. Nas aulas seguintes, os estudantes vão ser orientados a coletar histórias de vida para, depois, construir e revisar os textos das histórias de vida e do ensaio crítico, atividades que certamente vão representar um desafio para a maioria deles.

Atividades – p. 93

Durante as discussões em sala de aula, em roda com os estudantes, incetive-os a identificar, nos depoimentos pessoais, não apenas as trajetórias individuais, mas também as condições de trabalho e as desigualdades sociais expressas nos relatos.

3. Ao explorar histórias do Museu da Pessoa, oriente a escolha de depoimentos ligados a experiências profissionais e promova debates que ajudem a relacionar esses relatos com a realidade do trabalho em seu município, facilitando um entendimento mais profundo e crítico acerca do tema.

4. A atividade tem o objetivo de proporcionar à turma um repertório de depoimentos de histórias de vida, oferecendo referências que vão enriquecer o imaginário da turma e auxiliar na elaboração das próprias narrativas de vida.

Em ação – p. 94

Organize a turma em grupos de cerca de seis integrantes, garantindo que o número de estudantes seja par para facilitar a realização das entrevistas. Cada grupo deve escolher um recorte específico do tema do trabalho contemporâneo, como sugerido na lista de temas, para orientar as pesquisas e entrevistas. Assim, os estudantes podem ter uma abordagem mais direcionada e aprofundada sobre o mercado de trabalho no município onde vivem.

Os grupos devem desenvolver, idealmente, um roteiro flexível de perguntas e criar um ambiente acolhedor para as entrevistas. Lembre-os de pedir autorização para gravar as conversas e sugira a inclusão de imagens ou documentos que enriqueçam os relatos. Recomende o uso de aplicativos de transcrição de áudio, como ferramentas de transcrição de áudio (https://mwpt.com. br/7-ferramentas-de-transcricao-de-audio-para-tornar -seu-conteudo-acessivel/), e destaque a necessidade de adaptar o texto oral para o formato escrito.

Depois de coletados os depoimentos, os grupos devem ser orientados a sintetizar as informações, conectando-as ao contexto do trabalho no município onde vivem. Reforce que o ensaio crítico deve integrar entrevistas e pesquisas bibliográficas, com uma tese clara e bem fundamentada. Sugira aos grupos que revisem a primeira versão do ensaio, verificando clareza, coesão e correção gramatical, e que troquem os textos que produziram com outros grupos, com o propósito de receber

um feedback e aprimorar a versão final. Ao longo do processo, os estudantes devem ser incentivados a refletir sobre a pergunta norteadora: O que as histórias revelam sobre as condições de trabalho no município em que vivo? Essa reflexão vai garantir que o ensaio responda a essa questão de forma crítica e contextualizada.

Dica!

Para aprofundar o conhecimento sobre história de vida, recomendamos as seguintes leituras:

• GUERINI, Andreia. A teoria do ensaio. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/7948369/ mod_resource/content/3/Guerini%20-%20A%20 teoria%20do%20Ensaio.PDF. Acesso em: 23 out. 2024.

• NOGUEIRAL, Maria Luísa Magalhães et al. O método de história de vida: a exigência de um encontro em tempos de aceleração. Pesquisas Práticas Psicossociais, São João del-Rei, v. 12, n. 2, abr./jun. 2017. Disponível em: https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1809-89082017000200016. Acesso em: 7 set. 2024.

• QUEIR OZ, M. I. P. Relatos orais: do “indizível” ao “dizível”. In: SIMSON, O. M. V. (org.). Experimentos com histórias de vida : Itália-Brasil. São Paulo: Vértice, 1988.

Etapa 3 Compartilhando conhecimento – p. 96

Quais impactos os projetos podem provocar na comunidade?

Os filmes apresentados são apenas sugestões de produções que abordam o trabalho no mundo contemporâneo, portanto, apresentar outras possibilidades será sempre enriquecedor. Leia, a seguir, breves sinopses dos filmes selecionados.

• Abraço: a única saída é lutar (Brasil, 2020), de DF Fiuza.

A obra é uma ficção baseada em fatos reais que retrata a luta de professores e do movimento sindical por melhores condições de trabalho.

• Eu, Daniel Blake (Reino Unido, 2016), de Ken Loach. Ao retratar o drama vivido pelo protagonista, que perde o emprego por motivos de saúde, o filme aborda criticamente a precarização dos serviços públicos e a perda de direitos sociais.

• I ndústria americana (Estados Unidos, 2019), de Steven Bognar e Julia Reichert.

O documentário, que acompanha a reabertura de uma indústria nos Estados Unidos por uma multinacional chinesa, aborda os conflitos entre o modo de produção chinesa e a mão de obra dos Estados Unidos.

• M áquinas: a indústria têxtil na Índia (Índia/ Alemanha/Finlândia, 2016), de Rahul Jain.

O filme retrata a exploração vivenciada por trabalhadores de uma fábrica têxtil na Índia, em condições análogas à escravidão.

Os doze trabalhos (Brasil, 2006), de Ricardo Elias.

O protagonista, um jovem negro que acaba de conseguir um trabalho como motoboy, precisa realizar 12 tarefas na cidade de São Paulo, lidando com o preconceito e a burocracia.

Servidão (Brasil, 2023), de Renato Barbieri.

O filme aborda a prática de escravidão contemporânea, focando as relações de exploração e resistência vividas por trabalhadores rurais na região da Amazônia.

Você não estava aqui (Reino Unido, 2019), de Ken Loach.

O filme retrata o trabalho informal enfrentado por uma família após a crise financeira de 2008 e como a precarização do trabalho afetou as relações entre eles.

Na aula seguinte, os estudantes podem discutir os filmes a que assistiram e, coletivamente, construir o mapa conceitual. Seguem algumas dicas para essa construção: definir o foco principal no centro do mapa; coletar informações dos filmes para identificar conceitos-chave; dividir a ideia central em partes menores; esquematizar as ideias, conectando-as com linhas, setas e palavras de ligação; e organizar o mapa de forma hierárquica, revisando os elementos para garantir clareza e coerência.

O mapa conceitual pode ser exposto em mural ou parede acessível no dia do seminário, no encerramento do projeto, e também incluído na publicação do caderno do seminário.

Atividades – p. 99

Se julgar oportuno, selecione previamente pesquisas acadêmicas que resultaram em um efeito positivo para a transformação da sociedade. Dê preferência às realizadas por estudantes da Educação Básica.

Em ação – p. 100

Uma aula deve ser suficiente para organizar e definir a equipe responsável pela edição do caderno do seminário. A produção deve levar algumas semanas e pode ocorrer paralelamente à organização do evento. É mais proveitoso que parte da turma se concentre na edição e outra na produção do seminário. Estabeleça um cronograma com a turma e monitore seu progresso para garantir que a publicação seja concluída antes do seminário.

Etapa final Seminário –p. 102

O papel do professor é acompanhar o planejamento, a produção e a divulgação do seminário. Para facilitar, sugere-se criar um checklist com os estudantes, utilizando o modelo: https://lidiafraga.wordpress.com/wp-content/ uploads/2010/01/modelo-de-check-list1.jpg. Acesso em: 6 nov. 2024.

No dia do seminário, é preciso que todos estejam no local pelo menos uma hora antes para verificar equipamentos, móveis e outros detalhes. Organize um espaço de recepção para distribuir crachás ou adesivos, facilitando a socialização, e entregue a programação em formato impresso ou digital, por meio de um QR code. Os exemplares do caderno do seminário também podem ser distribuídos dessa forma. Certifique-se de que as áreas de lanches, água e café estejam prontas e posicione em locais adequados quem tiver ficado responsável pelos registros. Garanta o bom funcionamento dos aspectos técnicos e siga a programação. Ao final, peça aos participantes que avaliem o evento por meio de um formulário, que pode ser impresso ou digital, utilizando ferramentas gratuitas de criação de questionários on-line.

Autoavaliação – p. 105

Incentive uma reflexão crítica sobre o envolvimento individual e coletivo de cada estudante no Projeto Integrador, para trabalhar a proposta de autoavaliação. Oriente os estudantes a responder às questões com sinceridade, promovendo um ambiente sem julgamentos e seguro para a autorreflexão. Incentive-os a argumentar e a justificar cada resposta, sobretudo nas questões que envolvem a atribuição de notas. É importante que eles considerem a comparação das respostas como uma oportunidade de troca de percepções e diálogo com os colegas,

pois esse procedimento possibilita a identificação de pontos divergentes e convergentes nas autoavaliações. Espera-se que ao final os estudantes reconheçam o que compreeenderam das transformações no mundo do trabalho e reflitam de forma crítica sobre seus projetos de vida considerando o trabalho do Brasil contemporâneo.

Projeto 4

Como promover a cultura de paz? – p. 106

Introdução

Este projeto busca conscientizar os estudantes de que, mesmo em uma democracia, em que o cidadão participa das decisões e da criação de regras para a convivência, os conflitos não deixam de existir. Ao longo deste estudo, são apresentados conceitos importantes da Sociologia e da Filosofia, como democracia, direitos (universais, civis e sociais), igualdade, equidade, desigualdade social, poder político e simbólico, ética e justiça, bem como autores clássicos, como Giddens, Simmel e John Rawls, além de intelectuais de povos tradicionais. As fontes incluem textos acadêmicos, institucionais, jornalísticos, imagens fotográficas e charges . Também serão aplicadas estratégias pedagógicas inovadoras, como a Justiça Restaurativa.

Objetivos

O projeto tem como objetivo possibilitar que os estudantes compreendam os conceitos de justiça e democracia e a importância dos direitos humanos para que possam ser atuantes nos processos democráticos no ambiente escolar, em especial nas situações de conflito. Por meio de atividades reflexivas e práticas, eles vão conhecer diferentes formas de justiça e desenvolver a construção de argumentos e de diálogo, privilegiando uma comunicação inclusiva.

Justificativa do projeto

Este projeto tem como objetivo capacitar os estudantes a mediar conflitos no ambiente escolar,

promovendo a cultura de paz em vez da violência. Para isso, é essencial compreender as relações sociais contemporâneas e seu reflexo na escola, além de fornecer a eles ferramentas de comunicação não violenta que facilitem a resolução de conflitos por meio do diálogo. Ao assumirem protagonismo em situações de conflito, os estudantes desenvolvem uma atuação cidadã, formando repertórios de valores, princípios e habilidades comunicativas que serão úteis ao longo da vida.

Produto final

Os estudantes vão elaborar e colocar em funcionameto uma comissão mediadora de conflitos na escola para combater a violência escolar e promover a cultura da paz.

Síntese do projeto

Temas Contemporâneos

Transversais (TCT)

Este projeto permite abordar cinco Temas Contemporâneos Transversais (TCT), promovendo a interdisciplinaridade e integrando conteúdos de Sociologia, Filosofia, História, Geografia, Língua Portuguesa e Arte, ajudando os estudantes a desenvolver um pensamento crítico sobre a realidade e, especialmente, sobre sua escola.

O projeto aborda o TCT Educação em direitos humanos ao explorar o regime democrático em que vivemos, comparando-o com outros modelos de democracia ao longo do tempo e em diferentes países, além de enfatizar princípios éticos para a compreensão e prática de modelos de justiça.

O TCT Diversidade cultural é abordado por meio de diferentes modelos de justiça, integrando Filosofia, Sociologia e História. O projeto promove atividades que estimulam a empatia diante da diversidade, com reflexões sobre a marcha da consciência negra, sobre racismo, bullying escolar, justiça em sociedades indígenas e intolerância religiosa, além de propor simulações para vivenciar diferentes perspectivas em situações de conflito.

O TCT Vida familiar e social permeia o projeto, destacando-se nas formas de convivência e no manejo de conflitos. As atividades objetivam instigar nos estudantes a aceitação de diferentes opiniões e incentivar uma reflexão crítica sobre as formas de transmissão de valores, tradições e costumes, tanto na família quanto na escola e na sociedade, integrando conteúdos de História, Geografia, Sociologia e Linguagens.

O TCT Trabalho é abordado no projeto em diferentes momentos, incluindo a contextualização da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) como uma conquista de direitos civis no Brasil (História), a apresentação de situações de desrespeito aos direitos humanos (Geografia, Filosofia e Sociologia), reflexões sobre trabalho análogo à escravidão e a pesquisa sobre a inserção dos jovens no mercado de trabalho (Sociologia e Geografia).

Objetivos de Desenvolvimento

Sustentável (ODS)

Os subprodutos do projeto e o produto final contribuem principalmente para dois Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O ODS Redução das desigualdades (10) é atendido ao incentivar os jovens a promover inclusão social e política, garantir igualdade de oportunidades e combater a discriminação. O ODS Paz, justiça e instituições eficazes (16) é apoiado ao transformar a escola em uma instituição que reduz a violência e promove o acesso à justiça por meio do diálogo. Além disso, o projeto contribui para o ODS Trabalho decente e crescimento econômico (8), ao conscientizar sobre trabalho decente, leis trabalhistas e combate ao trabalho infantil e à informalidade.

Professores indicados para liderar o projeto

Sociologia e Filosofia com o auxílio do professor de Língua Portuguesa.

O trabalho com as competências e as habilidades da BNCC

Consulte a BNCC para descrição das competências e habilidades mobilizadas neste projeto. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br. Acesso em: 17 out. 2024.

Competências gerais da Educação Básica 1, 8, 9

Competências específicas de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas 1, 2, 4, 5

Habilidades de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas

Competências específicas de outras áreas

Habilidades de outras áreas

EM13CHS101, EM13CHS403, EM13CHS404, EM13CHS501, EM13CHS502, EM13CHS503, EM13CHS504, EM13CHS603, EM13CHS605

Linguagens e suas Tecnologias 1, 2, 3, 7

Linguagens e suas Tecnologias

EM13LGG101, EM13LGG102, EM13LGG203, EM13LGG204, EM13LGG303, EM13LGG305, EM13LGG502

Este projeto aborda discussões sobre ética em regimes democráticos e formas de praticar justiça sem violência, mobilizando principalmente a habilidade EM13CHS501, ao permitir a análise da ética em diferentes culturas e tempos, promovendo valores como liberdade, cooperação e convivência democrática. Utiliza textos verbais e imagéticos para expandir a compreensão de processos filosóficos, históricos, políticos e sociais, mobilizando a habilidade EM13CHS101, incentivando o diálogo sobre respeito e o bem comum no ambiente escolar.

Os estudantes são incentivados a identificar conflitos e violência, desenvolvendo as habilidades EM13CHS502, EM13CHS503 e EM13LGG502, ao avaliar situações cotidianas, preconceitos e desigualdades. Também são mobilizadas as habilidades EM13CHS504 e EM13CHS603, ao analisar impasses ético-políticos e experiências de cidadania. A compreensão dos direitos humanos e do papel de organismos internacionais como a ONU, bem como a Constituição, envolve a habilidade EM13CHS605, permitindo a análise dos progressos e entraves à concretização desses direitos.

O projeto analisa as relações sociais e de trabalho EM13CHS403, com foco na superação das desigualdades e da violação dos direitos humanos. A elaboração da Comissão de Mediação de Conflitos na escola reflete a sociedade brasileira e incentiva a construção de consensos, mobilizando as habilidades EM13LGG303 e EM13LGG305. Ao longo do percurso, os estudantes

vão desenvolver a capacidade de analisar visões de mundo e conflitos de interesse, mobilizando as habilidades EM13LGG102 e EM13LGG203, e fomentarão a sensibilidade, a autocrítica e a criatividade nas produções escolares, mobilizando a habilidade EM13LGG204 para promover o diálogo e o entendimento mútuo, com base em princípios de equidade e democracia.

Cronograma

Estamos propondo que este projeto seja dividido em três etapas, mais a apresentação e a avaliação, totalizando 16 aulas. A seguir, é sugerida a quantidade de aulas destinadas a cada uma das etapas para que o projeto seja trabalhado ao longo de um semestre.

Caso seja mais adequado para a sua realidade escolar, o projeto pode ter outra duração; ele pode, por exemplo, ser trabalhado ao longo de um bimestre ou trimestre. Para isso, basta rever o total de aulas destinadas ao projeto por semana.

Número de aulas Desenvolvimento

Aula 1: Introdução da temática e das características do projeto. Leitura dos textos sobre: a construção da democracia, Estado de Direito no Brasil e o papel da Constituição. Resolução das atividades.

Etapa 1 4

Aula 9: Leitura dos textos sobre cultura da paz, o papel da ONU na promoção da paz e a importância da educação; ética, justiça e consenso.

3 4

Etapa 2 4

Aula 2: Leitura dos textos sobre direitos humanos e civis, direitos sociais e proposta de pesquisa na seção Mundo do trabalho Resolução das atividades.

Aulas 3 e 4: Campanha de conscientização sobre direitos humanos, proposta na seção

Em ação

Aula 5: Leitura dos textos sobre conflitos: natureza, causas e consequências; tipos de conflitos: cotidianos e internacionais. Resolução das atividades.

Aula 6: Leitura dos textos sobre diversidade nas concepções de justiça e mediação como solução de conflitos. Resolução das atividades.

Aulas 7 e 8: Pesquisa e realização de debate, proposta da seção

Em ação.

Etapa final 4

Aula 10: Leitura dos textos sobre justiça restaurativa e seus valores; como mediar conflitos na escola. Resolução das atividades.

Aulas 11 e 12: Leitura dos passos da seção Em ação. Como mediar conflitos na escola: Quais são os resultados que podemos alcançar?

Aulas 13, 14 e 15 (Passos 1 a 3): definição do formato da comissão; funcionamento; composição e implementação da comissão; divulgação.

Aula 16: Encerramento e momento da Autovaliação

Orientações didáticas

Abertura e Ficha de estudo

Como introdução ao assunto deste projeto, trabalhe com os estudantes a imagem de abertura, um grafite do artista Kobra, pintado em um muro de uma escola de Suzano (SP). O tema do grafite, um apelo pela paz nas escolas, homenageia as vítimas de um ataque ocorrido nessa escola de Suzano, em 2019. A atividade inicial, que pode ser organizada em uma roda de conversa, explora os conhecimentos prévios dos estudantes sobre a imagem e sobre o tema, que mostra a relação afetuosa entre estudante e professor, representada por um abraço, asas de anjo e o símbolo da paz (CND). Comente a simbologia da paz presente na obra, como a pomba branca. Contextualize o grafite, o trabalho de Kobra e o muralismo como forma de crítica social, citando artistas como Portinari e OSGEMEOS. Em seguida, convide os estudantes a ler o texto de abertura e a identificar palavras-chave como “violência”, “ameaças”, “intolerância” e “cultura da paz”, que serão aprofundadas ao longo do projeto. A abertura pode ser facilitada por professores de Filosofia e Sociologia. Peça a eles que formem grupos de até três estudantes para realizar as atividades propostas nessa abertura, promovendo a integração e o desenvolvimento de competências cognitivas e socioemocionais.

Aproveite para apresentar a Ficha de estudos e os objetivos gerais do projeto, garantindo que os estudantes compreendam o percurso e as expectativas.

Etapa

Atividades – p. 106

Para a atividade de abertura, proponha que se reúnam em trios ou quartetos para uma conversa sobre as questões propostas. Deixe que elenquem as percepções do grupo, que anotem os comentários de cada um e, em seguida, os compartilhem em uma conversa coletiva.

1. Espera-se que os estudantes mencionem que a convivência abrange as relações entre estudantes, professores e funcionários, ocorrendo em diversos espaços da escola. A convivência envolve não apenas as interações pessoais, mas também o respeito aos espaços e às regras estabelecidas, como horários, alimentação, limpeza e conservação do ambiente.

2. Incentive-os a descrever todas as ações e atividades que colaborem para promover o respeito, evitando comportamentos e atitudes que manifestem bullying, racismo, sexismo, machismo, intolerância religiosa ou uso de armas. Se a escola apresenta um ambiente violento, sem projetos de prevenção, oriente-os a identificar o principal tipo de violência percebido e a descrever o que sentem em relação à própria segurança.

3. Espera-se que citem liberdade de expressão, escuta e empatia, que mencionem ações de inclusão, solidariedade e cooperação. Podem ser citados projetos de convivência, adequações para cadeirantes, uso de libras, materiais em braile, grêmios estudantis ou comissões de pais que incentivam a participação coletiva, além de eventos escolares.

Etapa 1 Democracia e direitos humanos – p. 110

Qual é a importância da democracia na atualidade?

O foco desta etapa é que os estudantes compreendam o funcionamento dos Estados democráticos atuais, apreendendo conceitos como democracia, direitos humanos, civis e sociais, com ênfase na justiça. Destaca-se a importância da participação popular para garantir a justiça social. O trabalho com esses conteúdos envolve leitura, interpretação de textos e análise de imagens, para aprofundar conceitos como democracia direta e representativa, igualdade, liberdade, diversidade e dignidade.

O uso de dicionários é recomendado para esclarecer termos e aplicá-los em sala de aula.

Dica!

• Johnson, A llan J. Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem sociológica. São Paulo: Zahar, 1997.

Obra de referência com verbetes de Sociologia e outras disciplinas, como Direito, Estatística e Econometria, contendo ao final de cada verbete uma lista de leituras sugeridas e um detalhado índice remissivo.

Ao abordar os direitos humanos, busque distinguir entre direitos civis e sociais, contextualizando esses conceitos com o surgimento da Declaração dos Direitos Humanos no pós-guerra. Direitos humanos são princípios internacionais que devem estar refletidos nas leis nacionais.

Proposta de ampliação

Para trabalhar com a Constituição brasileira, sugere-se utilizar trechos do próprio documento e exemplos de políticas públicas, como a lei de cotas, proposta como atividade complementar.

Há muitos exemplos de violações aos direitos humanos no Brasil que podem ser encontrados diariamente nas notícias. Ao trabalhar esse assunto, selecione jornais recentes e leve exemplares para a aula, organizando a turma em grupos para que identifiquem notícias relacionadas ao tema. Se possível, essa atividade pode ser feita digitalmente em um laboratório de informática. Observe se os estudantes reconhecem as seções do jornal e se identificam os textos em que aparece o tema de Direitos Humanos. Ajude-os também a analisar a orientação dos jornalistas nas abordagens. Além de jornais, há revistas on-line que podem ser utilizadas gratuitamente.

Durante o período autoritário no Brasil (19641985), os direitos e as garantias constitucionais dos cidadãos foram violados. Instaurou-se uma Ditadura Civil-Militar marcada por extrema violência. O tema pode ser abordado por meio de filmes, livros e textos literários que exploram os crimes de tortura cometidos nesse período.

Aproveite para orientar os estudantes a acessar o Podcast A luta por direitos humanos para conhecer mais sobre o tema.

Dica!

Seguem algumas recomendações de vídeos e de leitura.

• Cabra-Cega. Direção: Toni Venturi. Brasil, 2005. Thiago, líder de oposição à Ditadura Civil-Militar, se esconde após ser ferido em uma emboscada, e Rosa é sua única conexão com o mundo. O filme explora a perda da liberdade.

• M arighella. Direção: Wagner Moura. Brasil, 2021. Biografia do líder revolucionário Marighella, que lutou contra a Ditadura Civil-Militar, O filme permite discutir a violência sob perspectivas opostas, apresentando Marighella como herói para alguns e terrorista para outros.

As meninas. Lygia Fagundes Telles. 1973. Três jovens de diferentes classes sociais vivem em um pensionato durante a ditadura. Tendo esse período como pano de fundo, o romance aborda suas vivências e escolhas, com ênfase nos pontos de vista femininos.

Atividades – p. 114

1. Oriente a leitura do trecho do artigo, que trata de ações empreendidas pelo poder público no combate ao trabalho análogo à escravidão diante da pressão da sociedade civil, com ênfase no papel das políticas públicas. Incentive a comparação entre o que diz a Constituição brasileira (como as leis devem ser elaboradas de acordo com determinados princípios democráticos) e as políticas públicas em vigor.

1. a) Espera-se que os estudantes reflitam sobre o fato de que as leis e instituições vigentes não são unicamente suficientes para eliminar o trabalho análogo à escravidão, pois muitos trabalhadores informais desconhecem seus direitos e temem denunciar os empregadores.

1. c) Com base na resposta anterior, os estudantes podem elaborar um texto que descreva os diferentes aspectos dessas ações. Isso também é uma oportunidade para fornecer informações sobre esses canais de combate e trabalhar os gêneros textuais adequados para cada um, promovendo a habilidade EM13LGG203, que analisa diálogos, conflitos e disputas por legitimidade nas práticas de linguagem presentes em diversas culturas. A sociedade civil pode denunciar, publicizar a situação, escrever artigos e realizar campanhas.

2. Oriente os estudantes a refletir sobre como a situação de vulnerabilidade ou a falta de acesso aos direitos básicos de moradia, saúde e educação estão vinculadas à violação de direitos humanos.

Mundo do trabalho – p. 115

Legislação trabalhista

Na atividade da seção, os estudantes vão utilizar procedimentos de pesquisa em fontes documentais e criação textual artística. Para entender a inserção dos jovens em programas de capacitação profissional, oriente a turma sobre como acessar a Lei da Aprendizagem e o Programa Jovem Aprendiz. Aproveite para explicar a diferença entre informalidade, trabalho formal com CLT e prestação de serviços com CNPJ, destacando que, em qualquer modalidade, os direitos humanos devem ser respeitados. Promova discussões sobre o tema, apresentando informações adicionais e textos sobre informalidade e desemprego entre os jovens. Propor alguns trechos de textos para leitura pode facilitar o desenvolvimento da atividade. Veja.

Segundo o Censo mais recente, jovens entre 14 e 24 anos representam 17% da população do Brasil. [...] A grande maioria – 12 dos 14 milhões, segundo o levantamento – trabalha em cargos de baixa qualificação e remuneração […]. Somente 12% – cerca de 2 milhões de pessoas – atuam em ocupações técnicas, atividades culturais ou ligadas à comunicação e à informática, que são menos permeadas pela informalidade.

LUCENA, André. Número de jovens que não estudam, não trabalham e nem procuram emprego chega a 5,4 milhões. CartaCapital, 28 maio 2024. Disponível: https://www.cartacapital.com.br/economia/ numero-de-jovens-que-nao-estudam-nao-trabalham-e-nem -procuram-emprego-chega-a-54-milhoes/. Acesso em: 16 ago. 2024.

Ao desenvolver um anúncio de propaganda sobre o Programa, oriente os estudantes a incluir os principais cursos oferecidos e dados sobre o número de jovens capacitados ou inseridos no mercado de trabalho. Tabelas, gráficos ou infográficos podem ser usados para apresentar essas informações por região ou unidade da federação. Esse trabalho pode ser desenvolvido com a ajuda dos professores de Língua Portuguesa e de Arte.

Em ação – p. 116

Para a campanha de conscientização sobre os direitos humanos proposta nessa seção, será preciso tempo para produção, por isso, sugerimos que avalie quantas aulas serão necessárias considerando o número de estudantes na turma. Oriente-os a ler o passo a passo, organize-os em grupos e apresente cinco a seis temas para escolha, como: direito à vida (acesso à água e saneamento);

condições justas de trabalho; liberdade de opinião e expressão; direito à educação e direito à moradia. Reserve alguns minutos para sanar dúvidas sobre as atividades propostas. Se possível, a colaboração dos professores de Língua Portuguesa e de Arte será valiosa. Incentive a criatividade dos estudantes, fornecendo elementos que os motivem a elaborar frases, jingles e slogans atraentes e chamativos, que despertem a curiosidade. Para inspirá-los, sugerimos a consulta a estas páginas:

• Amazônia de Pé : movimento pela proteção das florestas e dos povos da Amazônia com forte atuação nas redes sociais, mas também nas ruas e nos rios das cinco regiões do Brasil. O movimento apresenta grande potencial criativo e de mobilização social, produzindo campanhas educativas e de conscientização com linguagem atual e voltada para vários públicos. Disponível em: https:// amazoniadepe.org.br/. Acesso em: 9 out. 2024.

E scola de Ativismo : coletivo independente com a missão de fortalecer grupos ativistas por meio de processos de aprendizagem em estratégias e técnicas de ações não violentas e criativas, como campanhas, comunicação, mobilização e segurança e proteção integral, voltadas para a defesa da democracia e dos direitos humanos. Disponível em: https://escoladeativismo.org.br/comunicar-para -mobilizar/. Acesso em: 9 out. 2024. Ao final da aula, eles devem apresentar os produtos comunicacionais criados ou em fase de finalização e decidir onde vão circular e como vai ser a divulgação.

Etapa 2 Conflitos – p. 118

Como os conflitos acontecem?

Esta etapa aborda os conceitos de conflito e justiça e explora suas diversas manifestações, como conflitos cotidianos e internacionais e a violência física e verbal. A origem dos conflitos e os métodos de resolução dos conflitos são analisados por meio das noções de ética e de justiça. As decisões quanto aos modelos de justiça adotados são influenciadas cultural e historicamente, o que requer uma compreensão empática das diferentes perspectivas. Para promover um pensamento crítico e atitudes solidárias, é importante ampliar pontos de vista, usando ferramentas como filmes e jogos teatrais para sensibilização. Ao longo do percurso, você pode enriquecer as aulas e os conteúdos.

Dica!

• A sala dos pr ofessores. Direção: İlker Çatak. Alemanha, 2023 (98 min). Classificação: 12 anos. O filme retrata conflitos em uma escola: uma professora idealista se envolve em situações violentas após tomar partido em um suposto furto de um estudante. O enredo propicia a discussão de temas como bullying, intolerância e racismo e analisa criticamente certas regras escolares que, ao tentar promover civilismo, podem reproduzir preconceitos e violência.

• SPOLIN, Viola. Jogos teatrais : o fichário de Viola Spolin. Tradução: Ingrid Koudela. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2006. Os jogos teatrais, desenvolvidos por Viola Spolin, são jogos de improvisação voltados para atores e atividades escolares. O livro propõe um sistema no qual os educandos atuam como jogadores, buscando soluções para problemas. A ideia é planejar oficinas que incluam exercícios de aquecimento para engajar os estudantes, preparando-os para projetos maiores e para uma convivência mais consciente.

Teatro na Escola. O site oferece uma seleção de jogos e exercícios teatrais para orientar o trabalho em sala de aula. A plataforma é colaborativa, permitindo que professores e estudantes contribuam com as próprias atividades. Disponível em: https://www.teatro naescola.com/index.php/planeje-sua-aula/jogos -e-exercicios-teatrais. Acesso em: 9 out. 2024.

Atividades – p. 121

1. Nesta atividade, será relevante destacar que, recentemente, as manifestações populares se tornaram mais pacíficas e, em alguns casos, festivas, ainda que provoquem grandes transformações. O movimento Vidas Negras Importam, criado em 2013 nos Estados Unidos, internacionalizou o debate sobre racismo e violência policial, promovendo a conscientização e ajudando a implementar políticas públicas de combate ao racismo. Diferencie protestos de ações preventivas e discuta manifestações como a Marcha da Consciência Negra, que destaca a importância do povo negro e sua cultura, além de atrair diversos movimentos sociais, intelectuais e artistas. Oriente os estudantes a buscar mais informações sobre o tema. Sugerimos algumas fontes a seguir.

• Campanha Nacional Vidas Negras, criada em 2017, pelo Sistema ONU Brasil, anterior ao movimento Vidas Negras Importam. A campanha buscou destacar o problema da violência contra a juventude negra no Brasil, utilizando dados que mostravam o aumento da letalidade entre pessoas negras e exigindo políticas focadas na superação das desigualdades raciais. Disponível em: https://vidasnegras.nacoesunidas. org/. Acesso em: 9 out. 2024.

• A lei que definiu os crimes de preconceito de raça ou cor (Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989), a Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, voltada para a Educação Básica, que instituiu a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileiras, a Lei nº 12.711/2012 (lei de cotas raciais), de reserva de vagas, que assegurou o acesso ao ensino superior nas universidades federais e ao Ensino Médio nas instituições federais de ensino para estudantes negras e negros.

Movimentos Negros históricos no Brasil, Frente Negra Brasileira (década de 1930), Teatro Experimental do Negro (décadas de 1940-60), Movimento Negro Unificado contra o Racismo e a discriminação racial (década de 1970 até os dias atuais).

Ao abordar a origem dos conflitos, é importante ressaltar o papel das relações de poder na sociedade, definindo poder como a “probabilidade de impor a vontade numa relação social.” Esse poder se manifesta em diferentes esferas, como nas relações pessoais, familiares, econômicas, ideológicas e políticas. Para melhor compreensão, sugere-se a leitura da obra O Bem-amado, de Dias Gomes. A peça explora diversos tipos de conflitos e relações de poder e pode ser encenada na escola com o apoio dos professores de Linguagens, trazendo para a comunidade escolar uma ótima reflexão sobre justiça e resolução de conflitos.

2. O trabalho com o texto de Simmel e a charge de Dahmer envolve a leitura de gêneros distintos, com diferentes pontos de vista sobre o conflito. Simmel, em seu texto acadêmico, vê o conflito como uma forma natural e necessária de interação social, justificando a guerra como meio de preservar a unidade social, embora não moralmente. Já a charge usa ironia e linguagem coloquial para criticar a guerra, retratando-a como um ato em que se cometem atitudes desumanas, independentemente do lado. Espera-se que os estudantes reflitam que os dois autores discutem a aniquilação

como uma possível consequência da guerra, com Simmel vendo-a como parte da resolução dos conflitos e a charge mostrando-a como um evento em que há destruição da outra parte. Na charge, os personagens refletem sobre as práticas em um conflito, que, na justificativa de estar “do lado do bem”, também cometem práticas de tortura.

Atividades – p. 123

Incentive a observação da imagem e a reflexão sobre o simbolismo presente na escultura. Proponha que pensem em outras formas de transmitir essa mesma ideia. Se possível, o professor de Arte deve conduzir essa proposta.

Atividades – p. 125

Os textos da atividade tratam sobre a intolerância religiosa e suas consequências, como crimes de ódio, perseguição e estigmatização, e sua relação com o racismo.

Dica!

• S e possível, recomende a leitura do texto “Liberdade de expressão e discurso de ódio nas mídias sociais”, disponível em: https://www.mppi. mp.br/internet/wp-content/uploads/2022/01/ Liberdade-de-expressa%CC%83o-e-discurso-de -o%CC%81dio-nas-mi%CC%81dias-sociais.pdf.

As respostas são pessoais e podem variar conforme a realidade de cada escola. É preciso enfatizar que o ensino público no Brasil é laico, ou seja, não deve haver proibição nem incentivo a manifestações religiosas. No entanto, a cultura brasileira é fortemente influenciada pela religiosidade, e celebrações e festas com motivação religiosa são muito frequentes nas escolas brasileiras.

Proposta de ampliação

Proponha discussões em trios e, na sequência, organize uma roda de conversa para compartilhar as respostas. Se for oportuno, proponha à turma a organização de uma festa ecumênica. Escolha uma data adequada e inclua todas as religiões representadas na escola.

Em ação – p. 126

Para realizar um debate sobre formas de justiça e resolução de conflitos, é necessário reservar um

tempo para a coleta de informações sobre o tema e depois para o debate.

Dos temas propostos para o debate, o método de escolha (Passo 1) deve ser adequado à realidade da escola, considerando isso na votação. Explique aos estudantes que cada tema envolve conflitos e o debate busca soluções, avaliando posicionamentos contrários sobre punição ou mediação desses conflitos. Os estudantes devem se informar sobre o tema para elaborar argumentos. Como não é possível reunir todas as informações em aula, leve exemplos de livros, filmes e sites de notícias. Oriente a turma a escrever breves anotações em fichas para facilitar a consulta durante o debate.

Além das fontes de pesquisa citadas, ressalte a importância de usar fontes confiáveis para a coleta de informações, inclusive em debates. Alerte os estudantes sobre o risco das fake news e instrua-os sobre a busca por notícias em sites. Explique a necessidade de verificar fontes e mencione o Painel de Checagem de Fake News do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que oferece mecanismos para checar a veracidade de notícias sobre decisões judiciais no Brasil, ajudando a verificar temas discutidos no projeto. Atualmente, as agências e portais Aos Fatos, Boatos.Org, Conjur, Jota, Migalhas e UOL-Confere fazem a checagem de conteúdo de posts suspeitos (https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/ painel-de-checagem-de-fake-news/monitoramento/).

Esclareça os estudantes sobre a importância de construir argumentos sólidos para o debate. Além de informações confiáveis, a construção de bons argumentos é essencial. Para isso, utilize duas estratégias: a) mostre vídeos de debates eleitorais para analisar como os argumentos são apresentados; b) aprofunde conceitos como conversa, diálogo, discussão, acordo e formação de consensos, usando exemplos de filósofos, como Sócrates, Aristóteles e Habermas. Aplique a técnica SQA (Sei, Quero Saber, Aprendi) para estruturar o aprendizado dos estudantes e, se necessário, forneça mais materiais. Também retome os princípios da Comunicação Não Violenta (CNV) para uso no debate. Para que o debate seja proveitoso, é necessário algumas medidas: a) organize a sala em três espaços, definindo o lugar em que serão posicionados os estudantes do grupo A, B e C; b) oriente os estudantes a adotar posturas respeitosas para argumentar e debater seu posicionamento; c) reforce que o sorteio do

debate não associa os argumentos aos oradores, pois eles podem não concordar com a posição a que foram designados a defender (trata-se de uma simulação); d) na finalização, ao votar na melhor proposta de solução, evite incentivar uma competição entre os grupos. Enfatize que o objetivo é pedagógico e que a intenção é avaliar os argumentos, não os participantes, destacando que a “vitória” é do argumento que apresentou a melhor solução.

Aproveite para orientar os estudantes a acessar o Infográfico clicável Um mundo melhor é possível para conhecer mais sobre o tema.

Etapa 3 Cultura de paz – p. 128

Como promover a paz?

Esta etapa aborda a promoção e a compreensão da cultura de paz e de princípios éticos, por meio da convivência na diversidade, da tolerância e da justiça.

Para essa abordagem, seguem duas sugestões de estratégias pedagógicas.

A primeira, caso seja possível incorporá-la na sua prática escolar, é a “realização de caminhadas para refletir e digerir emoções”, prática usada por filósofos como Kant, Foucault e Nietzsche e por antropólogos em suas etnografias. As caminhadas promovem tanto o solilóquio (diálogo interno) quanto a observação do mundo sem julgamentos, ajudando a desenvolver novos insights e reflexões. A seguir, sugere-se uma fonte de consulta.

GROS, Frédéric. Caminhar, uma filosofia. São Paulo: Ubu, 2021. Na obra destacam-se os passeios de filósofos, como Kant, cujas caminhadas estão ligadas à sua filosofia moral, estabelecendo paralelos com o tema deste projeto. Na antropologia, a ideia de “flanar”, de Walter Benjamin, é destacada como uma caminhada sem destino que facilita reflexões sobre o outro e sobre si mesmo. Essa prática enriquece o trabalho etnográfico, permitindo uma escrita que incorpora discursos, paisagens urbanas e as impressões do pesquisador, resultando em um texto com múltiplas vozes.

Proposta de ampliação

Além das caminhadas, realize rodas de conversa abordando temas de justiça restaurativa e mediação de conflitos. Esses diálogos podem tratar de questões como violência doméstica, discriminação no trabalho, falta de moradia e acesso à saúde. Convidados

com vivência nesses temas, como pais de estudantes ou membros de associações locais, podem compartilhar suas experiências sobre a resolução de conflitos e inspirar práticas cidadãs. Os estudantes não precisam expressar suas opiniões, mas podem fazer perguntas e analisar os argumentos de forma crítica e ética. Essa prática promove a convivência com diferentes visões e desenvolve a tolerância e a cultura da paz.

Aproveite para orientar os estudantes a acesser o Vídeo Construir a cultura de paz para conhecer mais sobre o tema.

Atividades – p. 133

1. Para garantir um espaço justo na escola, podem ser implementadas soluções como a criação de um Comitê de Mediação de Conflitos, campanhas de conscientização sobre direitos humanos e diversidade e espaços regulares de diálogo. Além disso, políticas de tolerância zero ao bullying e à discriminação e programas de educação para a paz ajudam a promover a inclusão, o respeito mútuo e a resolução pacífica de conflitos.

2. A atividade proposta prevê o uso de jogos teatrais para simular situações de conflito. Você pode usar as recomendações dadas para o desenvolvimento da Etapa 2. Se possível, o professor de Arte pode conduzir a atividade.

Dica!

Para auxiliar no desenvolvimento desta atividade, consulte:

SALIBA, M arcelo Gonçalves. Justiça restaurativa e paradigma punitivo, p. 146. Apud GONZAGA, André L. F. et al . Enciclopédia Jurídica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo . Disponível em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/pdfs/ justica-restaurativa_590b92b65031f.pdf. Acesso em: 20 ago. 2024.

O artigo discute a deslegitimidade das “instituições totais” ou “aparelhos repressivos do Estado” e enfatiza a revitalização da vítima, a participação comunitária na resolução de crimes, o respeito à dignidade humana e os direitos humanos como pilares da Justiça Restaurativa, contrastando com o antigo sistema retributivo da justiça penal.

Em ação – p. 134

Para desenvolver a proposta da seção, é importante distinguir entre princípios, que são as diretrizes

que guiam as ações, e objetivos, que são os resultados esperados. A Teoria da Mudança, uma metodologia de mapeamento usada em processos participativos, ajuda a avaliar o impacto de um programa. No contexto da Comissão de Mediação de Conflitos na escola, essa metodologia pode ser útil para entender como as ações da comissão podem reduzir a violência e promover a cultura da paz, conectando seus princípios às metas de criar um ambiente escolar mais pacífico e harmonioso.

Os estudantes devem visualizar o planejamento estratégico da Comissão em um painel, projetado ou confeccionado, que será preenchido com sua orientação. O painel terá duas colunas: a de princípios, que representam os valores morais, e a de objetivos, que são as práticas baseadas nesses valores. Na Teoria da Mudança, os objetivos estão ligados aos princípios e aos resultados esperados no curto, médio e longo prazo. Amplie o exercício, trabalhando com os estudantes os resultados e os impactos esperados. A construção da Comissão, que é realizada por etapas, favorece o pensamento computacional. Dica!

Para melhor compreender a metodologia da Teoria da Mudança, consulte:

• BARKI, Edgard; TORRES, Haroldo da Gama; BARROS, Octávio Augusto de. Teoria da Mudança: o que é e para que serve? [ S . l .]: Sebrae, 2023. Disponível em: https://bibliotecas.sebrae.com. br/chronus/ARQUIVOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/ a41351890935edd6be3e90387966f7ee/$File/31806. pdf. Acesso em: 9 out. 2024.

Etapa final Comissão de resolução de conflitos na escola – p. 136 a 138

Divida o tempo de execução da Etapa final de acordo com os passos propostos, envolvendo todos os professores que participaram das três etapas do projeto, conforme suas áreas de atuação. Alguns passos demandam mais produção textual (Passo 1), enquanto outros envolvem a criação de produtos comunicacionais (Passo 3), tornando essencial a divisão de tarefas. Organize a documentação gerada em pastas físicas ou digitais para facilitar a consulta e permitir a continuidade do trabalho por outros professores.

As aulas reservadas no cronograma para esta etapa podem ser usadas para definir o formato e o

funcionamento, a implementação e a divulgação das ações da comissão. O primeiro passo, o mais longo e complexo, envolve acordos, decisões e extensa produção textual. Algumas atividades das etapas anteriores já foram desenvolvidas e podem ser incorporadas ao projeto sem a necessidade de criar aulas adicionais.

Socializar o cronograma é essencial para a organização dos estudantes e para a construção do produto final, destacando a necessidade de compromisso com as atividades e de controle do tempo. O desenvolvimento segue o modelo do Plano de Ação de projetos (PM Book), assim, você deve atuar como gestor de projetos, transmitindo essa ideia aos estudantes (seu time). Para auxiliar na gestão e monitorar a execução dos passos, use planilhas ou plataformas gratuitas disponíveis na internet.

Finalizado o Passo 2, a Comissão estará implementada, mas não ainda em funcionamento. Com a eleição dos integrantes da Comissão e o início dos atendimentos definidos, o produto final estará quase completo. A primeira mediação só vai ocorrer após a conclusão do projeto. O Passo 3 envolve a elaboração de conteúdos, mas a aplicação prática e a mensuração de resultados virão depois. É essencial definir todas as estratégias comunicacionais até o encerramento do projeto.

Autoavaliação – p. 139

A autoavaliação é uma etapa crucial do projeto, pois permite que os estudantes reflitam sobre suas dificuldades, suas expectativas e o que a experiência proporcionou em termos de satisfação ou frustração. Use esse momento para abordar a inteligência emocional, ajudando-os a lidar com sentimentos negativos e críticas, além de gerenciar divergências e metas não alcançadas. Enfatize o valor da experiência, o progresso feito e as descobertas sobre suas motivações e seus interesses, que podem influenciar tanto a vida em comunidade quanto futuras escolhas profissionais.

Projeto 5 Quais

Introdução

Este Projeto Integrador tem como objetivo principal promover uma reflexão crítica sobre a evolução dos

memes, seu impacto cultural e suas funções estéticas e políticas hoje. Ao longo do projeto, os estudantes serão desafiados a analisar, produzir e discutir memes, explorando seu papel contemporâneo como ferramenta de comunicação digital e política. O projeto também busca relacionar a criação de memes com temas como cidadania, direitos humanos e a responsabilidade no uso da internet.

Para alcançar esses objetivos, o projeto será dividido em três etapas principais, cada uma com um foco específico, e culminará em uma exposição final de memes produzidos pelos estudantes. Na primeira etapa, os estudantes investigarão a origem do conceito de meme, começando pela proposta biológica de Richard Dawkins, que o definiu como um fenômeno cultural transmissível de geração em geração. Serão discutidas as semelhanças e as diferenças entre os memes biológicos e os memes de internet. Além disso, os estudantes produzirão memes inspirados em obras de arte, compreendendo a relação entre arte e memes como formas de expressão coletiva e humorística.

Na segunda etapa, os estudantes analisarão como os memes podem ser utilizados como ferramentas de comunicação política. Serão abordados eventos históricos em que os memes desempenharam um papel importante, como o Maio de 68 na França, a Primavera Árabe e o movimento Occupy Wall Street. Nesta fase, os estudantes produzirão memes com temáticas políticas relacionadas a questões contemporâneas, como educação, saúde e trabalho, e refletirão sobre o poder de mobilização social dos memes.

Na terceira etapa, os estudantes discutirão o papel dos memes na disseminação de fake news e refletirão sobre as implicações éticas dessa prática. A etapa buscará conscientizá-los sobre a responsabilidade no uso de memes e na criação de conteúdos digitais, considerando os efeitos negativos da desinformação. Serão debatidas questões sobre as novas profissões ligadas ao mundo digital e o impacto dessas mudanças no mercado de trabalho.

O projeto será finalizado com uma exposição de memes criados pelos estudantes, que explorará temas como protesto político, fake news e cidadania digital. A exposição incentivará uma interação ativa com o público, promovendo uma reflexão sobre os temas abordados ao longo do projeto. Dessa forma, o Projeto Integrador visa não apenas ao desenvolvimento de habilidades criativas,

mas também ao fortalecimento da capacidade crítica e à promoção da ética digital, preparando os estudantes para um uso mais consciente e responsável da internet.

Objetivos

O projeto possibilita que os estudates conheçam a trajetória histórica dos memes, bem como suas características fundamentais. Por meio das atividades propostas, eles devem compreender a função estética e política dos conteúdos de internet hoje e os memes como formas narrativas contemporâneas. Ao final, vão produzir memes de forma crítica, tendo como base a realidade vivenciada, publicando informações relevantes sobre cidadania e direitos humanos explorando as características do gênero textual meme.

Justificativa do projeto

Diante das rápidas transformações no meio digital, torna-se imprescindível que os estudantes sejam incentivados a refletir sobre as diferentes informações que circulam na internet. O projeto possibilita que os estudantes reconheçam o papel que podem exercer perante as transformações nas formas de comunicação, como agentes de discussão e produtores de conteúdo. Além disso, eles são incentivados a refletir de forma crítica sobre as fontes de informação.

Produto final

Como produto final do projeto, a proposta é uma exposição de memes criados pelos estudantes, com temas como protesto político, fake news e cidadania digital. A exposição incentiva a interação ativa com o público, promovendo a reflexão sobre os temas abordados ao longo do projeto. Assim, o projeto propõe não apenas o desenvolvimento de habilidades criativas, mas também o fortalecimento da capacidade crítica e a promoção da ética digital, preparando os estudantes para um uso mais consciente e responsável da internet.

Síntese do projeto

Temas Contemporâneos

Transversais (TCT)

O TCT Ciência e tecnologia permeia o projeto de modo geral, visto que o tema memes, além de possuir

origens no campo da Biologia, está intrinsecamente ligado aos desenvolvimentos mais atuais das tecnologias da informação e da comunicação (TIC). A proposta de elaboração de memes para campanha política, na Etapa 2, aborda os TCT Direitos da criança e do adolescente, Saúde e Trabalho, uma vez que possibilita aos estudantes a realização de pesquisas e a criação de campanhas sobre combate ao trabalho infantil, qualidade do atendimento em saúde ou precarização do trabalho. Os TCT Saúde e Trabalho são abordados ainda na Etapa 3 do projeto, respectivamente no debate sobre fake news durante a pandemia de covid-19 e nos tópicos sobre criadores de memes e operários dos dados. O TCT Vida familiar e social está presente na Etapa 2, que discute as relações entre memes e política.

Objetivos de Desenvolvimento

Sustentável (ODS)

Entre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela ONU, este projeto contempla três: Educação de qualidade (4), Trabalho decente e crescimento econômico (8), Paz, justiça e instituições eficazes (16). Esses ODS estão contemplados, respectivamente: na Etapa 1, na menção aos memes como veículos de informação e campanha para melhoria da qualidade da educação; na Etapa 2, na proposta de produção de memes para campanha contra a precarização do trabalho e nas discussões acerca das profissões de memeiro e operários de dados; e na Etapa 2, ao apresentar movimentos, como Occupy Wall Street e Primavera Árabe, que reinvindicavam ideias e práticas ampliadas de democracia.

Professor indicado para liderar o projeto

Sociologia com o auxílio dos professores de Língua Portuguesa e Arte.

O trabalho com as competências e as habilidades da BNCC

Consulte a BNCC para descrição das competências e habilidades mobilizadas neste projeto. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br. Acesso em: 17 out. 2024.

Competências gerais da Educação Básica 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9, 10

Competências

específicas de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas

Habilidades de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas

Competências

específicas de outras áreas

Habilidades de outras áreas

1, 3, 4, 5, 6

EM13CHS101, EM13CHS102, EM13CHS104, EM13CHS106, EM13CHS202, EM13CHS205, EM13CHS302, EM13CHS501, EM13CHS502, EM13CHS606

Linguagens e suas Tecnologias: 1, 2, 3, 6, 7

Linguagens e suas Tecnologias: EM13LGG603, EM13LGG703

Este projeto traz contribuições significativas para o desenvolvimento da consciência crítica e cidadã, instigando os estudantes a refletir sobre importantes assuntos que permeiam a vida cotidiana. Utilizando um formato de comunicação muito presente entre os jovens e lançando mão de questões atuais, que promovem o debate e o pensamento analítico, ele desenvolve as competências gerais 1, 2, 4 e 5. Na área de Linguagens e suas Tecnologias, ao propor o uso de diferentes linguagens para discutir questões contemporâneas, como fake news e o papel político que desempenham, são mobilizadas as competências específicas 1, 2, 3, 6 e 7. Essas competências são privilegiadas, sobretudo, nas criações individuais e coletivas dos memes.

Na área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, o mundo do trabalho e o uso político dos memes, presentes ao longo do projeto, principalmente em eventos históricos como a Primavera Árabe, e a proposta de criação de memes para tratar de questões contemporâneas como saúde, educação e trabalho contribuem pra o desenvolvimento das competências específicas 1, 3, 4, 5 e 6.

Cronograma

Estamos propondo que este projeto seja dividido em três etapas, mais a apresentação e a avaliação, totalizando 16 aulas. A seguir, é sugerida a quantidade de aulas destinadas a cada uma das etapas para que o projeto seja trabalhado ao longo de um semestre.

Caso seja mais adequado para a sua realidade escolar, o projeto pode ter outra duração; ele pode, por

exemplo, ser trabalhado ao longo de um bimestre ou trimestre. Para isso, basta rever o total de aulas destinadas ao projeto por semana.

Número de aulas Desenvolvimento

Aula 1: Apresentação do tema do projeto.

Aula 2: Leitura do texto sobre a origem dos memes (da Biologia à cultura digital).

1 5

Etapa 2 4

Aula 3: Leitura sobre as características dos memes de internet e realização das atividades propostas.

Aula 4: Leitura do texto sobre memes e Arte e realização das atividades propostas.

Aula 5: Realização da atividade proposta na seção Em ação.

Aula 6: Leitura do texto sobre a função política dos memes e realização da atividade proposta.

Aula 7: Leitura do texto sobre memes e protestos e realização das atividades propostas.

Aulas 8 e 9: Realização da atividade proposta na seção

Em ação.

Aula 10: Leitura dos textos sobre memes e fake news e memes e desinformação on-line. Resolução das atividades.

Etapa 3 4

Etapa final 3

Aula 11: Leitura do texto sobre liberdade e ética na criação de memes e resolução das atividades.

Aula 12: Leitura e resolução das atividades da seção Mundo do trabalho.

Aula 13: Realização da atividade proposta na seção

Em ação.

Aula 14: Planejamento da exposição de memes – leitura dos Passos 1 a 3.

Aula 15: Exposição de memes

Aula 16: Momento da autoavaliação.

Etapa

Orientações didáticas

Abertura e Ficha de estudo

A abertura do projeto é fundamental para despertar o interesse dos estudantes e introduzir o tema. Comece exibindo a pintura de Lauren Kaelin inspirada no meme grumpy cat e explique que ela faz parte da série Benjamemes, proposta que une as palavras memes e Benjamin, em referência ao teórico de arte Walter Benjamin. Use esse exemplo para introduzir o assunto e mostrar como os memes transpuseram o ambiente digital, passando a influenciar a arte contemporânea, o que indica um papel para além do efeito de humor e das imagens engraçadas.

Explique à turma que a rede mundial de computadores, hoje, conecta uma infinidade de dispositivos e está organizada de maneira muito diferente da que existia até o início dos anos 2000. Atualmente, grande parte do tráfego de dados on-line acontece nas plataformas conhecidas como redes sociais.

Enfatize a relevância dos memes na cultura digital contemporânea, destacando que a internet e as redes sociais são os principais meios de circulação. Pergunte aos estudantes sobre as experiências que eles têm com memes, citando exemplos do dia a dia: em conversas com amigos, redes sociais, propagandas ou notícias. O objetivo é que reconheçam como os memes integram diversos aspectos da vida, indo além do campo do humor.

Incentive a reflexão sobre as várias funções dos memes, perguntando: “Além de fazer rir, que outros papéis os memes podem ter?”. Incentive a turma a imaginar todas essas funções dos memes, como a de informar, criticar, debater questões sociais e políticas ou até mesmo a de combater preconceitos. Valorize todas as contribuições e explique que este projeto tem o objetivo de permitir que eles explorem essas dimensões, desde a origem dos memes até seu impacto como forma de expressão contemporânea.

Os estudantes são incentivados a identificar exemplos de memes digitais, relacionando-os à ideia de transmissão cultural proposta por Dawkins, e a refletir sobre seu papel como agentes de comunicação e influência na sociedade contemporânea. Assim, a atividade transcende a pura definição de meme e permite a compreensão de sua importância na disseminação de ideias e comportamentos no mundo atual.

Nesta Etapa 1, com a análise do conceito original de meme proposto por Dawkins e da sua apropriação na cultura digital, os estudantes conseguem reconhecer o meme como uma forma narrativa contemporânea, permitindo trabalhar a habilidade EM13CHS101. Depois que os estudantes responderem às questões da abertura, avalie os conhecimentos prévios que eles têm sobre o assunto e aproveite para explicar que, com o avanço da internet e das redes sociais, a forma como nos comunicamos e interagimos mudou drasticamente. A internet trouxe um grau de interatividade muito maior entre as pessoas, permitindo que estejamos conectados o tempo todo, principalmente por meio do uso de smartphones. Entretanto, embora toda essa conectividade facilite a comunicação e o acesso à informação, também é importante lembrar que ela tem transformado nossos hábitos diários, tornando a internet uma parte essencial da nossa vida, seja para resolver assuntos cotidianos (por exemplo, pagar uma conta, comprar um produto), seja para nos manter informados, seja para nos divertir ou interagir com outras pessoas. No entanto, é crucial ressaltar que, ao usar a internet, precisamos ser responsáveis e éticos, praticando a chamada cidadania digital. Explique à turma que, assim como qualquer outro meio de comunicação, a internet pode ser usada para espalhar informações verdadeiras, mas também falsas. Os memes, que muitas vezes parecem apenas engraçados, podem se tornar instrumentos de desinformação e fake news, se não forem criados ou compartilhados de maneira responsável. É importante que os estudantes entendam que, em alguns casos, memes e conteúdos falsos se espalham rapidamente e podem provocar consequências graves na vida real, como gerar violência ou prejudicar a reputação de pessoas e grupos.

Chame atenção também para o fato de que os memes, inicialmente vistos apenas como uma forma de entretenimento, ganharam tanta força e importância que até geraram uma nova profissão: a de criador de memes. Por isso, o uso de memes e outros conteúdos digitais exige uma reflexão sobre os limites éticos e legais, já que o impacto dessas criações pode ser muito maior do que imaginamos.

Finalize essa introdução revisando com os estudantes os dados da Ficha de estudo, ressaltando o percurso do projeto. Leia com eles a descrição de cada etapa e certifique-se de que entenderam os temas e os produtos que vão desenvolver.

Etapa 1 Memes: da Biologia à cultura digital – p. 144

Como surgiram os memes?

Para abordar a Etapa 1, inicie contextualizando o conceito de meme conforme foi introduzido pelo biólogo Richard Dawkins em seu livro O gene egoísta (1976). Esclareça que, para Dawkins, os memes são unidades de transmissão cultural que funcionam de maneira semelhante aos genes, replicando-se e perpetuando-se de uma geração para outra. Utilize exemplos do cotidiano, como tradições, práticas culturais ou modas, para demonstrar como ideias e comportamentos podem se propagar e sobreviver ao longo do tempo, reforçando que o termo meme tem suas raízes na palavra grega “mimema” (imitação). Essa introdução pode ajudar os estudantes a entender a ideia de que os memes vão além do que conhecem na internet: trata-se de um conceito que antecede a era digital.

Ao relacionar o conceito de meme biológico aos memes digitais, ressalte sua evolução na era da internet, enfatizando os estudos de Viktor Chagas e Mike Godwin, que mostram a propagação dos memes em fóruns on-line a partir dos anos 1990 e sua evolução para as redes sociais.

P. 146

Comece apresentando a evolução da internet, destacando a transição da web 1.0 para a web 2.0. Explique que, na web 1.0, a interação entre os usuários era limitada, e a comunicação era majoritariamente unilateral, isto é, os grandes sites forneciam conteúdo e os usuários apenas o consumiam. Com o advento da web 2.0, houve um aumento significativo na interação e na produção de conteúdo por parte dos usuários, o que abriu caminho para o surgimento e a disseminação dos memes. Neste contexto, a popularização de personagens como o Trollface foi crucial para que o termo meme ganhasse força na internet, tornando-se uma forma comum de expressão e comunicação.

Destaque as principais características do meme: ser compartilhável, ter o humor como elemento central e ser facilmente modificável pelos usuários. Explique à turma que a capacidade de os memes se adaptarem e serem reinterpretados à medida que são compartilhados é o que os torna tão populares e virais, reforçando a ideia de construção coletiva. Utilize exemplos, como

o uso da obra O grito, de Edvard Munch, para a criação de memes, fazendo-os observar que elementos da cultura clássica também foram apropriados e ressignificados na internet. Incentive os estudantes a refletir sobre como essa característica reinterpretativa contribui para a viralidade dos memes e como ela reflete a dinâmica de participação ativa e criativa da web 2.0. A aula pode explorar o fato de os memes servirem de espelho da sociedade contemporânea, refletindo humor, opiniões e tendências culturais em constante transformação.

Atividades – p. 147

1. Oriente-os a pensar em práticas culturais que se perpetuam, como tradições, comportamentos ou tendências que se repetem ao longo do tempo. Os estudantes são incentivados a identificar exemplos de memes digitais, relacionando-os à ideia de transmissão cultural proposta por Dawkins, e a refletir sobre seu papel como agentes de comunicação e influência na sociedade contemporânea. Assim, a atividade transcende a pura definição de meme e permite a compreensão de sua importância na disseminação de ideias e comportamentos no mundo atual.

P. 148

Ao abordar esse tópico, comente que os memes se assemelham a práticas artísticas tradicionais, como a apropriação e a modificação de obras existentes, exemplificado pela obra L.H.O.O.Q., de Marcel Duchamp. Esclareça que, assim como Duchamp, os criadores de memes reutilizam imagens e referências culturais, transformando-as em novas formas de expressão. Isso ajuda os estudantes a compreender que os memes, apesar de sua natureza humorística, podem ser considerados formas de arte, para alguns artistas.

Enfatize que os memes têm sua própria linguagem, composta de elementos verbais e não verbais, e que, como outras formas de comunicação, têm regras e convenções. Embora sejam usados para transmitir informações, em campanhas de conscientização, por exemplo, podem ser usados também como veículo de desinformação, de disseminação de fake news. Ressalte a necessidade do uso responsável ao compartilhar esses conteúdos.

Com a leitura desse tópico, os estudantes terão analisado a apropriação e a ressignificação de obras de arte pelos memes, identificando como essas expressões

refletem valores e práticas culturais contemporâneas. Esse estudo possibilita o trabalho com a habilidade EM13CHS104.

Atividades – p. 149

Oriente os estudantes na realização das entrevistas: escutar os entrevistados com atenção e cuidado, mantendo o respeito às falas da pessoa entrevistada, e registrar as respostas com clareza. Explique a eles que o objetivo é compreender como as diferentes gerações acessam e compartilham informações, destacando o papel dos memes nesse processo.

Depois da coleta, promova uma discussão em uma roda de conversa para comparar as respostas e incentivar a reflexão sobre as formas de consumo de informação na sociedade atual. Eles devem identificar padrões de comportamento e perceber que os memes estão presentes no cotidiano informativo das pessoas, tanto como fonte de informação quanto como forma de compartilhamento.

a) Espera-se que os estudantes notem que a maioria das pessoas acessa a internet diariamente como principal fonte de informação.

b) É comum que os entrevistados busquem informações importantes em sites de notícias e redes sociais e é provável que muitos respondam ter tido conhecimento de fatos por meio de memes

c) É provável que os entrevistados compartilhem tanto links quanto memes, com os memes sendo mais frequentes em razão de sua facilidade de compartilhamento e do caráter humorístico.

Em ação – p. 150

Na atividade proposta na seção, os estudantes devem ser orientados a explorar a relação entre arte e memes, incentivando-os a reconhecer que elementos clássicos da cultura visual podem ser reinterpretados de forma criativa e humorística. Comece explicando que, a exemplo de artistas contemporâneos como Lauren Kaelin, que se inspiram em memes para suas criações, os estudantes também podem usar obras de arte tradicionais como ponto de partida para elaborar os próprios memes. Encoraje a turma a pesquisar exemplos de memes que utilizam obras de arte, reforçando a ideia de que os memes podem ser uma forma de expressão que conecta passado e presente, arte e cultura digital.

Para a criação dos memes, destaque a importância da escolha de imagens e mensagens que sejam relevantes e apropriadas, lembrando que o humor é bem-vindo, mas o conteúdo não pode ser ofensivo nem causar constrangimento. Incentive a turma a pensar em situações do cotidiano escolar que possam ser transformadas em memes, estimulando a criatividade e a habilidade de comunicar ideias de forma concisa. Durante a etapa de edição, oriente o uso de softwares livres e enfatize que o objetivo não é apenas divertir, mas também entender como os memes podem ser um meio de expressão artística e crítica. Finalize a atividade incentivando a socialização dos trabalhos na comunidade escolar, criando um espaço de diálogo e interação sobre a relação entre a arte e a cultura dos memes

Nesta seção, os estudantes vão produzir os próprios memes, utilizando ferramentas digitais de edição de imagem e texto para comunicar informações, exercendo protagonismo na produção e na divulgação de conteúdo. Assim, são trabalhadas nesse momento as habilidades EM13CHS106, EM13LGG603 e EM13LGG703.

Etapa 2

Memes políticos – p. 152

Um meme pode ter função política?

Ao trabalhar a Etapa 2, convide os estudantes a fazer uma reflexão sobre os memes como ferramenta poderosa de expressão, sobretudo opiniões políticas e reivindicações sociais. Explique a eles que, assim como os cartazes políticos do passado, os memes apresentam-se sob a forma de comunicação rápida, acessível e visualmente impactante, permitindo que pessoas comuns participem do debate político. Utilize exemplos, como os cartazes do movimento de Maio de 68 na França, mencionando que esses cartazes tinham a função de expressar ideias e reivindicações coletivas, semelhante à função que os memes exercem hoje nas redes sociais.

Ajude a turma a entender que, com o advento da internet, os memes políticos se tornaram os “cartazes” modernos, possibilitando que mensagens de protesto, crítica ou humor político alcancem um público muito mais amplo. Encoraje-os a analisar que a criação e o compartilhamento de memes políticos permitem que as pessoas façam parte de debates públicos e exponham suas opiniões, mesmo sem acesso aos tradicionais meios de comunicação.

A discussão sobre a função política dos memes e a relação com protestos históricos, como o Maio de 68, permite que os estudantes entendam o uso do meme como ferramenta de expressão política em diferentes contextos e propicia o trabalho com as habilidades EM13CHS102, EM13CHS205 e EM13CHS302.

Atividades – p. 153

a) Incentive os estudantes a pensar sobre a evolução dos meios de expressão política, destacando a transição dos cartazes tradicionais para os memes digitais. Eles devem reconhecer que os cartazes ainda são presentes em espaços públicos e que os memes desempenham papel semelhante nas redes sociais.

b) e c) Nas questões sobre o Maio de 68, observe se a turma percebe a importância dos cartazes como instrumentos de comunicação e mobilização e destaque a criatividade dos manifestantes ao utilizarem a técnica de serigrafia para produzir cartazes em larga escala. Incentive a pesquisa sobre essas técnicas para enriquecer o entendimento dos estudantes sobre a relação entre arte, política e comunicação.

P. 154

Comente com os estudantes que os memes se tornaram importantes em movimentos políticos como a Primavera Árabe e o Occupy Wall Street, ajudando a mobilizar pessoas e a divulgar mensagens rapidamente. Explique a eles que, na Primavera Árabe, os memes foram usados para contornar a censura e conectar manifestantes; no Occupy Wall Street, o slogan “Nós somos os 99%” ganhou força com a utilização dos memes, destacando a luta contra a desigualdade. Incentive a reflexão sobre o fato de os memes, com humor e criatividade, terem tornado os temas políticos mais acessíveis, influenciando debates e mobilizações sociais.

Atividades – p. 155

1. a) Nesta atividade, observe se os estudantes refletem sobre a presença da comunicação política no cotidiano, tanto no ambiente físico quanto no digital.

1. b) Incentive-os a observar se há cartazes na comunidade em que vivem e a compartilhar exemplos de memes políticos que viram recentemente nas redes sociais.

2. Esta atividade tem o propósito de fazer com que os estudantes compreendam o papel da internet na comunicação política atual.

Em ação – p. 156

Na proposta desta seção, enfatize que a ideia é aplicar na prática o poder dos memes como ferramenta de comunicação e protesto, similar aos cartazes políticos tradicionais. A atividade permite que os estudantes explorem os memes como meio de expressão, de veículo de opiniões sobre temas sociais e políticos relevantes, como precarização do trabalho, trabalho infantil e qualidade do atendimento em saúde. Reforce a importância de escolher um tema de forma consciente e de realizar pesquisas que ajudem a entender melhor o contexto e os problemas relacionados ao assunto.

Os estudantes devem ser incentivados a trabalhar em equipe, colaborando na criação de memes que sejam criativos, críticos e eficazes na transmissão de suas mensagens. Lembre-os de que os memes devem ter um tom apropriado, misturando humor e crítica, mas sempre de forma respeitosa, sem ofender nem causar desconforto ou constrangimento. Ao compartilhar os memes com a comunidade escolar, estimule o debate e a reflexão sobre os temas abordados, frisando o poder dos memes como um meio de engajamento social e uma forma de amplificar vozes e opiniões em discussões sobre questões importantes na sociedade atual.

A discussão sobre a utilização de memes para abordar questões como trabalho e meio ambiente conecta a criação digital com impactos econômicos e sociais mais amplos. Esta seção permite trabalhar as habilidades EM13CHS302, EM13LGG603 e EM13LGG703

Etapa 3 Memes e fake news – p. 158

Memes podem contribuir para a disseminação de notícias falsas?

Neste tópico, o objetivo principal é demonstrar que os memes podem ser veículos tanto para informações verdadeiras quanto para a disseminação de notícias falsas. É preciso que os estudantes compreendam que um meme, ainda que pareça muitas vezes apenas inocente e engraçado, tem o poder de reforçar desinformação quando circula em larga escala, sobretudo em questões sensíveis como política, saúde e segurança. Comente a pesquisa que mostra que quase 90% dos brasileiros já acreditaram em fake news, enfatizando a necessidade de pensar criticamente antes de compartilhar informações, mesmo em formatos aparentemente inofensivos, como é o caso dos memes.

Nessa abordagem, os estudantes podem ser incentivados a refletir sobre o papel que os memes desempenham na propagação de fake news, observando que o anonimato e a rapidez da internet podem contribuir para a difusão de conteúdos falsos.

Neste conteúdo, estudantes utilizam mídias digitais para criar memes e combater a desinformação, trabalhando as habilidades EM13CHS106 e EM13LGG703. Os TCT Trabalho e Ciência e tecnologia são trabalhados na abordagem do uso de tecnologias digitais e de produção coletiva. Os ODS Educação de qualidade (4) e Paz, justiça e instituições eficazes (16) são contemplados ao promover educação crítica e cidadania digital. Proposta de ampliação

Se for possível, veja com a turma o documentário

A rede antissocial e ajude-os a perceber que fóruns como o 4chan funcionam como espaços de criação e disseminação de memes, muitas vezes com teorias da conspiração e mensagens prejudiciais. Encoraje uma discussão sobre a responsabilidade de verificar informações antes de compartilhá-las e sobre a importância de agir de forma ética e consciente nas redes sociais, reforçando que memes, mesmo que sejam engraçados, têm o poder de influenciar a percepção e o comportamento das pessoas, configurando-se muitas vezes como um veículo de disseminação de preconceito, de racismo, entre outros.

Aproveite para orientar os estudantes a acessar o Podcast As fake news na atualidade para conhecer mais sobre o tema.

Atividades – p. 159

Ao trabalhar as atividades dessa página, os estudantes devem comentar seus hábitos de compartilhamento de notícias e ressaltar a importância de verificar a confiabilidade das informações antes de repassá-las. Eles devem comentar, em suas respostas, a necessidade de checar fontes e promover uma discussão aberta sobre as consequências de compartilhar notícias falsas. Ao abordar casos de fake news, encoraje-os a pensar sobre as melhores formas de lidar com uma situação como a do exemplo, de descobrir que uma notícia repassada era falsa. Reforce com eles a importância da responsabilidade e da ética na era digital.

P. 161 a 163

Explique aos estudantes como a rapidez da comunicação das redes sociais permite que memes

disseminem tanto informações quanto fake news. Use o esquema dos sete tipos de fake news para demonstrar que os memes podem veicular conteúdo enganoso de forma sutil. Destaque a ideia de viés de confirmação, enfatizando que tendemos a acreditar em informações que reforçam nossas crenças, mesmo sem verificação. Encoraje a prática de verificar a veracidade das informações antes de compartilhá-las, ressaltando a importância de agir com responsabilidade e ética ao usar a internet.

Atividades – p. 162

1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes pensem nos próprios hábitos de leitura ao receber notícias por meio de redes sociais ou aplicativos. Alguns podem dizer que leem apenas a manchete, por praticidade ou falta de tempo, enquanto outros podem afirmar que preferem ler a reportagem completa para compreender melhor o contexto. Observe se mencionam a importância de conferir a veracidade da notícia antes de compartilhá-la.

P. 164 a 166

Neste tópico, os estudantes devem ser instigados a pensar sobre a responsabilidade que acompanha a liberdade de criação na internet. Explique a eles que, enquanto a internet oferece espaço para criatividade e anonimato, ela também facilita a difusão de comportamentos prejudiciais, como a disseminação de memes ofensivos ou falsos que podem provocar danos reais, como desinformação ou violência.

Discuta exemplos de casos em que memes foram utilizados de forma irresponsável, destacando a importância da reflexão ética. Use o exemplo dos “memeiros profissionais” para mostrar que, mesmo na produção de conteúdo humorístico, há um compromisso com a responsabilidade e o respeito. Encoraje os estudantes a soltar a imaginação e criar memes que sejam informativos e respeitem os limites éticos, demonstrando que é possível fazer humor sem prejudicar ou desinformar.

A habilidade EM13CHS501 pode ser trabalhada ao fomentar uma reflexão sobre os limites éticos do uso dos memes, sobretudo em relação à propagação de fake news e à responsabilidade na comunicação.

Atividades – p. 165

1. Oriente os estudantes a pensar nas vantagens estratégicas que os mememakers oferecem às empresas, como o alcance do público-alvo e a viralização. Eles devem identificar que uma das principais vantagens para as empresas ao usar serviços de mememakers é a capacidade de atingir um público mais amplo e jovem de maneira rápida e envolvente. Memes podem tornar campanhas mais atraentes, virais e, muitas vezes, mais eficazes na transmissão de uma mensagem, com abordagens humorísticas e criativas.

2. A resposta deve ser pessoal, mas é esperado que os estudantes reflitam sobre as profissões relacionadas a conteúdos digitais, como a de mememaker, verificando se elas se alinham a seus interesses. Incentive-os a considerar como as profissões digitais podem se alinhar com suas aspirações e habilidades, relacionando-as ao seu projeto de vida e aos objetivos de vida. Alguns podem ver essas carreiras como oportunidades para trabalhar com criatividade, tecnologia e comunicação, enquanto outros podem considerar que essas profissões podem oferecer oportunidades de crescimento em um mundo cada vez mais digital.

Mundo do trabalho – p. 166 e 167

Memes, inteligência artificial e operadores de dados

Ao abordar esse conteúdo com os estudantes, destaque a relação entre tecnologia, trabalho e ética. Incentive a reflexão sobre a questão da inteligência artificial e a transformação que ela vem impondo ao mundo do trabalho, não apenas para profissionais especializados, como programadores e cientistas de dados, mas também para os chamados “operários de dados”, que realizam tarefas repetitivas e essenciais para o funcionamento das IAs. Proponha uma roda de conversa com os estudantes para discutir a precarização desse tipo de trabalho e a invisibilidade desses trabalhadores, muitas vezes oriundos de países em desenvolvimento e submetidos a condições de remuneração injusta.

Procure orientar os estudantes a pensar criticamente sobre a responsabilidade ética na criação de memes utilizando IA. Ressalte que o uso de ferramentas tecnológicas pode ampliar o alcance e a rapidez da disseminação de conteúdo, mas também aumenta o risco de espalhar informações enganosas, preconceituosas

ou ofensivas. Essa discussão permite abordar questões sobre direitos trabalhistas, justiça social e a urgência de criar um código de ética na produção de conteúdo digital.

Neste conteúdo, as habilidades EM13CHS202 e EM13CHS606 são trabalhadas ao analisar o impacto das tecnologias, como a IA, nas dinâmicas de trabalho e na precarização das condições laborais dos operadores de dados.

Em ação – p. 168

Na leitura da proposta da seção, reforce que os memes, normalmente vistos como ferramentas de humor e entretenimento, podem ser transformados em instrumentos educativos e de combate à desinformação. A ideia é mostrar que, ao usar elementos de humor, os memes podem ajudar a conscientizar as pessoas a respeito da importância da checagem de informações e da necessidade de impedir a rápida propagação de notícias falsas na internet.

Incentive a criatividade dos estudantes, orientando-os a selecionar temas relevantes de notícias falsas verificadas em sites especializados e a transformar essas informações em memes que reforcem o absurdo das fake news. Essa abordagem permite que eles desenvolvam um olhar crítico sobre a informação que consomem e que também pratiquem uma criação de conteúdo que contribua para a conscientização e o combate à desinformação.

Ao final da atividade, promova uma discussão sobre os diferentes memes criados, destacando a eficácia do humor na divulgação de mensagens sérias e a importância de combater a desinformação.

Neste conteúdo, estudantes utilizam mídias digitais para criar memes e combater a desinformação, trabalhando as habilidades EM13CHS106 e EM13LGG703.

Etapa final Exposição de memes – p. 170

Nesta etapa final, comente com a turma que os memes podem ser considerados uma forma contemporânea de expressão cultural e artística, semelhante a outras formas de arte que tradicionalmente vemos em museus.

Organize a sala em quatro grupos e incentive a participação dos estudantes em um deles (curadoria da exposição, elaboração de textos, interação com o

público e divulgação), atentando para o número equilibrado de componentes em cada um e reforçando que cada grupo tem um papel essencial na construção da exposição. Reforce o trabalho em equipe, com muito diálogo e decisões coletivas, levando em conta o espaço da exposição e o público que visitará a mostra.

Ao final, a exposição deve refletir o aprendizado de todo o projeto, conectando o conteúdo teórico discutido ao longo das etapas com a prática de criação e apresentação dos memes. Incentive a criatividade e a originalidade, relembrando e enfatizando que os memes, além de veículos de humor, podem abordar temas relevantes e provocar reflexões relevantes sobre questões sociais, políticas e culturais.

A exposição de memes serve de prática que possibilita problematizar questões como preconceito e desigualdade. Incentivar o uso deles como ferramenta para promover os direitos humanos permite que se desenvolva a habilidade EM13CHS502.

Autoavaliação – p. 173

Para trabalhar a proposta de autoavaliação, incentive uma reflexão crítica sobre o envolvimento individual e coletivo de cada um no Projeto Integrador. Primeiramente, oriente os estudantes a responder às questões com sinceridade, promovendo um ambiente seguro para a autorreflexão, sem julgamentos. Eles devem ser incentivados a argumentar e a justificar cada resposta, especialmente nas questões que envolvam a atribuição de notas. O objetivo é que a turma reconheça cada ação positiva e as áreas de melhoria para projetos futuros, enquanto desenvolvem uma visão crítica sobre o conteúdo trabalhado neste projeto, o uso de memes e a responsabilidade na difusão de informações na comunicação, sobretudo na internet.

profunda de como a identidade pessoal e coletiva se forma e se transforma ao longo do tempo, por meio das experiências cotidianas e da interação com o ambiente em que vivem. A divisão em etapas permite uma reflexão progressiva sobre os laços culturais e sociais que permeiam essa construção.

O projeto permite aos estudantes refletir sobre o desenvolvimento da identidade e compreender que ela é resultado de nossas vivências e relações sociais. Por meio de discussões e atividades, os estudantes são incentivados a refletir sobre as influências culturais, familiares e sociais que moldam suas identidades, promovendo o autoconhecimento e a valorização das suas histórias pessoais e comunitárias. Os estudantes são levados a explorar o bairro ou a comunidade onde vivem, identificando os elementos que tornam esses espaços significativos e o modo como eles contribuem para a formação de uma identidade coletiva. O projeto aprofunda a relação entre identidade e memória, destacando a importância de resgatar e preservar as histórias locais.

Objetivos

O projeto promove uma reflexão sobre a importância da comunidade na formação da identidade individual e coletiva. Para isso, os estudantes vão explorar recursos de pesquisa, análise e exposição próprios das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas em uma investigação do sentido, das origens e da natureza da identidade pessoal. Além disso, o projeto incentiva a compreensão da relação complexa entre indivíduo e sociedade, assim como entre indivíduo e lugar.

Justificativa do projeto

A construção da identidade, presente em todas as fases da vida, ganha um espaço importante na juventude. Assim, o projeto possibilita que os estudantes reflitam sobre os elementos que compõem as suas identidades, com foco em seus lugares de vivência. Dessa forma, o projeto possibilita que o estudante possa desenvolver o autoconhecimento e a valorização da diversidade de saberes presentes em sua comunidade.

Produto final

Este Projeto Integrador tem como objetivo principal proporcionar aos estudantes uma compreensão

Organizar, elaborar e publicar um guia do bairro. Nesse guia devem ser incluídos os conteúdos

elaborados pela turma durante o desenvolvimento das etapas 1, 2 e 3. Nele, serão apresentadas histórias, lugares e personagens que colaboram com a construção da identidade dos moradores.

Síntese do projeto

Temas Contemporâneos

Transversais (TCT)

Este projeto se fundamenta no TCT Processo de envelhecimento, respeito e valorização do idoso, buscando pautar as contribuições da disciplina de História para esse tema. A proposta de abordagem visa proporcionar a compreensão e a valorização da diversidade cultural dos brasileiros, relacionando-se aos TCT Vida familiar e social e Diversidade cultural. A abordagem da valorização do idoso abrange o TCT referente ao respeito a pessoas idosas e ao processo de envelhecimento.

Objetivos de Desenvolvimento

Sustentável (ODS)

Entre os 17 Objetivos de Desenvolvimento

Sustentável (ODS) propostos pela ONU, este projeto contempla três: Trabalho decente e crescimento econômico (8), abordado na seção Mundo do trabalho; Redução das desigualdades (10), contemplado na Etapa 2, na discussão sobre desigualdades sociais na cidade; e Cidades e comunidades sustentáveis (11), que está presente ao longo do projeto nas reflexões sobre identidade, lugar e território, além de ser contemplado nas propostas de investigação e de resgate da memória do bairro.

Professor indicado para liderar o projeto

História e Geografia com o auxílio do professor de Língua Portuguesa.

O trabalho com as competências e as habilidades da BNCC

Consulte a BNCC para a descrição das competências e habilidades mobilizadas neste projeto. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br. Acesso em: 17 out. 2024.

Competências gerais da Educação Básica 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8, 9, 10

Competências específicas de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas 1, 2, 4, 6

Habilidades de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas

Competências específicas de outras áreas

Habilidades de outras áreas

EM13CHS101, EM13CHS103, EM13CHS104, EM13CHS105, EM13CHS106, EM13CHS204, EM13CHS206, EM13CHS401, EM13CHS404

Linguagens e suas Tecnologias: 1, 2, 3, 7

Linguagens e suas Tecnologias: EM13LGG603, EM13LGG703

Entre as competências gerais, o projeto desenvolve a competência geral 1, que envolve a capacidade de compreender e utilizar informações de diferentes fontes para participar de debates e reflexões sobre o papel do espaço na construção da identidade. A competência geral 4 também é contemplada ao integrar a produção de um guia digital do bairro, utilizando ferramentas digitais para organizar e divulgar as memórias e as histórias locais, mobilizando tecnologias no processo de aprendizagem. A competência geral 7 é trabalhada quando os estudantes refletem sobre a influência do bairro em suas identidades e constroem argumentos com base em observações coletadas durante o projeto. Além disso, a competência geral 9 é incentivada na interação com antigos moradores do bairro, promovendo a escuta ativa e o respeito à diversidade de experiências.

Na área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, o projeto explora a competência específica 1 , que destaca a análise de processos sociais, históricos e culturais em diferentes contextos. Os estudantes, quando realizam atividades como entrevistas e pesquisas sobre o bairro, são levados a compreender o papel do espaço na formação da identidade e a entender que as histórias locais e individuais contribuem para o entendimento da comunidade em que vivem. A competência específica 4 é amplamente abordada na análise das transformações do bairro ao longo do tempo, discutindo como o trabalho e as relações econômicas locais influenciam a vida dos moradores. A competência específica 6 , que envolve a participação crítica no debate público, é desenvolvida ao

longo de boa parte do projeto, principalmente nas atividades de discussão em grupo e na elaboração coletiva do guia, no qual os estudantes exercem seu papel de cidadãos, expressando suas ideias de forma responsável e consciente.

Entre as habilidades específicas da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, o projeto mobiliza a habilidade EM13CHS101 ao incentivar os estudantes a identificar e analisar diferentes fontes para compreender processos históricos e culturais. A coleta de relatos de antigos moradores é utilizada para construir uma narrativa sobre a identidade do bairro. A habilidade EM13CHS106, que incentiva o uso de tecnologias digitais para comunicar e produzir conhecimento, é colocada em prática com a criação de um guia digital, integrando as aprendizagens anteriores. A habilidade EM13CHS404 é trabalhada ao se refletir sobre as transformações econômicas e culturais do bairro, especialmente em relação às vocações regionais e ao impacto dessas mudanças na vida dos jovens.

Na área de Linguagens e suas Tecnologias, o projeto destaca a competência específica 1, que trata da compreensão e da mobilização das diferentes linguagens para interpretar e produzir discursos críticos sobre a realidade. Ao longo das etapas, os estudantes são incentivados a produzir textos, mapas e reflexões que representam sua visão sobre o bairro, desenvolvendo sua capacidade de comunicação. A competência específica 3 é essencial na criação do guia do bairro, pois promove a autoria e a colaboração, além de trabalhar a autonomia dos estudantes em processos criativos. A competência específica 7, relacionada ao uso crítico de ferramentas digitais, é fundamental para o desenvolvimento do produto final, incentivando o uso de tecnologias na organização e na apresentação das descobertas.

Em relação às habilidades de Linguagens e suas Tecnologias, a habilidade EM13LGG703 se destaca ao propor o uso de ferramentas digitais para a criação coletiva do guia, o que envolve a colaboração em ambientes digitais e a produção autoral. Já a habilidade EM13LGG603 é mobilizada quando os estudantes são incentivados a se expressarem criativamente ao longo do projeto, utilizando referências culturais e artísticas para construir uma narrativa visual e textual sobre o bairro.

Cronograma

A proposta é que este projeto seja dividido em três etapas, mais uma etapa final, a apresentação e a avaliação, totalizando 16 aulas. A seguir, é sugerida a quantidade de aulas destinadas a cada uma das etapas para que o projeto seja trabalhado ao longo de um semestre.

Entretanto, a depender de sua realidade escolar, o projeto pode ter outra duração; ele pode, por exemplo, ser trabalhado ao longo de um bimestre ou de um trimestre. Para isso, basta rever o total de aulas destinadas ao projeto por semana.

Número de aulas Desenvolvimento

Aula 1: Apresentação da temática do projeto e o conceito de identidade. Realização das atividades propostas.

Etapa 1 4

Etapa 2 4

Aula 2: Leitura do texto sobre lugar como espaço de identidade e simbolismo dos lugares.

Aula 3: Leitura do texto sobre território e identidade no mundo globalizado. Realização das atividades propostas.

Aula 4: Realização da atividade proposta na seção Em ação

Aula 5: Leitura do texto sobre o bairro como espaço de vivência cotidiana e sobre as vocações regionais como motor do desenvolvimento. Realização das atividades propostas.

Aula 6: Leitura do texto sobre trajetos e cotidiano no bairro e sobre deambulação e deriva. Realização das atividades propostas.

Leitura e resolução das atividades da seção Mundo do trabalho.

Aula 7: Realização da atividade proposta na seção Em ação: Representação do meu bairro (Passos 1, 2 e 3).

Aula 8: Realização da atividade proposta na seção Em ação: Representação do meu bairro (Passos 4 e 5).

Etapa 3 4

Etapa final 4

Aula 9: Leitura do texto sobre a construção da memória e sobre a importância da memória na construção da identidade. Realização das atividades propostas.

Aula 10: Leitura do texto sobre o papel da oralidade na transmissão de conhecimento. Realização das atividades propostas.

Aulas 11 e 12: Realização da atividade proposta na seção Em ação: Entrevistas com antigos moradores.

Aula 13: Planejamento de conteúdo e formato do guia (Passos 1, 2 e 3).

Aula 14: Produção de conteúdos e design gráfico (Passos 4 e 5).

Aula 15: Elaboração do guia.

Aula 16: Autoavaliação.

Orientações didáticas

Abertura e Ficha de estudo

Nesta abertura, o objetivo é que os estudantes reflitam sobre o espaço em que vivem e sobre a influência dele na formação de suas identidades, individuais e coletivas. A observação de lugares como campos de futebol contribui para o reconhecimento da importância desses espaços na construção de suas memórias, rotinas e experiências compartilhadas. A relação entre espaço e identidade é explorada por meio de discussões, debates e atividades que ajudam a demonstrar como os ambientes em que vivemos moldam comportamentos e valores e promovem a interação social.

A proposta inclui atividades que incentivam a reflexão sobre os lugares mais relevantes do bairro, permitindo a identificação desses espaços para a identidade da comunidade. Os estudantes são convidados também a observar e a registrar suas vivências nesses locais, contribuindo para a criação de um guia do bairro, que vai integrar suas experiências pessoais com o contexto coletivo. O objetivo é ajudá-los a perceber que a conexão com o lugar onde vivem influencia a forma como se veem e como são percebidos na sociedade.

Para a atividade de abertura, proponha que cada estudante trabalhe individualmente, refletindo e anotando as próprias percepções sobre a relação entre o espaço e a construção da identidade. Concluída essa etapa individual, peça aos estudantes que compartilhem as respostas em uma discussão em roda com a turma, criando um ambiente propício para que diferentes pontos de vista sejam apresentados e enriquecendo o debate coletivo.

3. Ressalte que o futebol faz parte da identidade coletiva (cultural) do país e, portanto, é comum haver espaços para a prática desse esporte nos bairros.

Finalize essa introdução revisando com os estudantes os dados da Ficha de estudo, ressaltando o percurso do projeto. Leia com eles a descrição de cada etapa e certifique-se de que entenderam os temas e os produtos que vão desenvolver.

Etapa 1 A identidade que me habita – p. 178

Como construímos nossa identidade?

Nesta etapa, é interessante começar a trabalhar o assunto falando sobre a construção da identidade pessoal e coletiva e explorando o conceito de identidade como algo dinâmico e em constante transformação. A identidade é moldada ao longo da vida por fatores como cultura, história e geografia e passa por mudanças conforme enfrentamos novas experiências e relacionamentos. Use a fotografia dos grafiteiros criando arte urbana como exemplo prático de como a identidade pode ser expressa no espaço público e como esses espaços comuns também influenciam o desenvolvimento da identidade juvenil. Incentive os estudantes a pensar nos elementos que moldam suas identidades e que estão relacionados a suas vivências em grupos, seja na escola, seja no bairro ou em família, enfatizando que, embora sejam únicos, também compartilham características culturais com outras pessoas.

Durante as discussões, explore como a cultura juvenil, vista nos exemplos de grupos de grafiteiros, se manifesta em diferentes contextos e como essa vivência contribui para a formação de identidades. Pergunte aos estudantes sobre as próprias vivências e sobre as marcas culturais que identificam nos grupos de

convívio, como música, arte e roupas, elementos que sofreram transformações ao longo do tempo. Leve-os a refletir sobre como a identidade deles é influenciada pela percepção do outro e pela comparação com outras pessoas e grupos.

Proposta de ampliação

Peça aos estudantes que elaborem um pequeno “diário de identidade”: nesse diário, eles podem registrar aspectos da vida cotidiana que contribuem para a formação de quem são. Esses aspectos podem incluir experiências com a família, amigos, escola e o bairro onde vivem. Como conclusão da atividade, organize uma roda de conversa para que eles compartilhem suas reflexões, permitindo uma troca sobre as diferentes trajetórias que moldam a identidade individual e coletiva na turma.

Aproveite para orientá-los a acessar o Vídeo

Identidade: quem somos? para conhecer mais sobre o tema.

A leitura de Arte para uma cidade sensível, de Brígida Campbell, proposta no boxe Conexões, pode enriquecer o debate sobre a relação entre arte e o ambiente urbano.

Atividades – p. 180

2. Para trabalhar esta atividade, faça a leitura do texto proposto, que compara cultura às regras de um jogo de futebol, e depois organize os estudantes em pequenos grupos para discutir que elementos caracterizam o bairro ou a comunidade onde moram, considerando aspectos como mobilidade, união em grupos, engajamento social ou manifestações artísticas. A discussão deve focar o modo como essas práticas influenciam a socialização, a cidadania e a formação da identidade local. Ao final, os grupos podem compartilhar suas reflexões, analisando de que modo os jovens interagem com o espaço público e com a cultura do lugar onde vivem.

P. 181

Incentive a reflexão sobre os espaços públicos que os estudantes frequentam e sobre o modo como esses lugares influenciam suas identidades. Use exemplos como praças e pistas de skate, onde os jovens se apropriam desses espaços para socializar e expressar suas culturas. Proponha que observem um espaço público

na proximidade da escola, registrando quem o utiliza ao longo do dia e analisando a diversidade de identidades associadas ao mesmo lugar.

P. 182 e 183

Comente que monumentos, como o Cristo Redentor ou a Torre Eiffel, tornam-se ícones que representam a identidade de uma cidade, carregando significados culturais e históricos. Explique aos estudantes que esses símbolos podem ter diferentes significados para moradores e turistas, o que abre a discussão sobre pertencimento e a relação emocional com o espaço. Permita que os estudantes falem sobre lugares da cidade em que moram que tenham valor simbólico e como eles influenciam a identidade local.

P. 184 e 185

Leia o texto desse tópico com a turma e explique que o mundo contemporâneo, dominado pela tecnologia, pelos meios de comunicação e por interações virtuais, desafia a associação entre identidade e lugar de pertencimento. Comente que a globalização e a pós-modernidade têm promovido uma troca cultural intensa, diluindo fronteiras geográficas e resultando em ambientes cada vez mais padronizados, como shopping centers. Esses espaços, que imitam a configuração de cidades, exemplificam a perda de autenticidade e a desconexão entre indivíduos e os lugares em que vivem.

Incentive os estudantes a pensar sobre como essas mudanças afetam a própria identidade e a relação com o lugar onde moram. Pergunte como se sentem em relação a ambientes globalizados e padronizados, como shoppings, e se esses espaços oferecem um senso de pertencimento. Estimule o debate sobre a diferença entre lugares com raízes culturais profundas e espaços que foram projetados de forma impessoal, que são artificiais e sem vínculos simbólicos significativos. Um bom ponto de partida pode ser a comparação entre um shopping local e uma praça ou um mercado tradicional do bairro.

Atividades – p. 185

1. Para trabalhar essa atividade, leia o texto de Ruy Moreira e enfatize os conceitos de pertencimento e a

relação entre identidade e espaço vivido. Discuta com os estudantes como o lugar é mais do que um espaço físico, pois é formado por memórias e experiências pessoais e coletivas, que conectam os habitantes ao lugar de forma profunda. Em seguida, explore a ideia de que a globalização modifica essa relação ao introduzir novas tecnologias e espaços virtuais, mudando a maneira como as pessoas interagem com o ambiente. Incentive-os a refletir sobre quanto essas mudanças afetam a conexão com os lugares onde vivem.

2. Proponha uma discussão sobre as percepções dos estudantes, incentivando-os a refletir sobre o papel dos shopping centers como espaços de consumo que criam e reforçam identidades de classe, muitas vezes excludentes para grupos periféricos. De acordo com as reações ao fenômeno dos rolezinhos, podemos afirmar que os shopping centers – catedrais do consumo – são lugares que abrigam uma determinada classe social e, portanto, produzem um tipo de identidade cultural: o consumista da classe média e alta e restringe outras. Os hábitos próprios das populações periféricas, a faixa etária e a cor dos frequentadores podem ser citados como os marcadores sociais que evidenciam a distinção entre os frequentadores considerados ou não aceitáveis e legítimos nesses espaços, fazendo com que esses grupos não sejam vistos como consumidores em potencial, reforçando a visão negativa sobre os rolezinhos.

O TCT Educação em direitos humanos é diretamente abordado ao discutir as questões de exclusão social e racismo relacionadas aos rolezinhos. Esse debate permite que os estudantes reflitam sobre igualdade, respeito à diversidade e inclusão, entendendo que o acesso a espaços públicos e o direito à participação social são fundamentais para uma sociedade justa. Essa atividade promove o desenvolvimento de uma consciência crítica sobre os direitos humanos e a luta contra o preconceito e a discriminação.

Em ação – p. 186

Durante o processo, os estudantes recorrem a referências estéticas e culturais e a conhecimentos de diversas naturezas (artísticos, históricos, sociais e políticos), bem como às próprias experiências pessoais e

coletivas. Isso está alinhado à habilidade EM13CHS106, que enfatiza o uso crítico, reflexivo e ético de linguagens cartográficas, gráficas, iconográficas e de tecnologias digitais, nas diversas práticas sociais, incluindo as escolares, para comunicar, produzir conhecimento, resolver problemas e exercer protagonismo.

Ao optar por criar o álbum digitalmente, os estudantes também têm a oportunidade de desenvolver a habilidade EM13LGG703, que destaca o uso de diferentes linguagens, mídias e ferramentas digitais em processos de produção coletiva e colaborativa e em projetos autorais em ambientes digitais. Proponha uma análise da função social dos álbuns de família, comparando seu papel no passado e na contemporaneidade e o modo como eles refletem a evolução das práticas de registro e memória nas famílias e na sociedade.

Etapa

2 Desvendando meu bairro – p. 188

Que relações estabeleço com meu bairro?

Para começar o assunto desta etapa, incentive os estudantes a pensar sobre suas relações com o bairro, considerando-o um espaço de vivência cotidiana. Use imagens de jovens caminhando por diferentes bairros para incentivar a análise das características locais, como ruas e construções, e quanto a arquitetura e o planejamento (ou a ausência dele) influenciam a convivência. Promova discussões sobre os diferentes tipos de bairros (comerciais, residenciais, industriais, históricos) e peça aos estudantes que analisem o bairro onde vivem segundo essas classificações, ajudando-os a entender o impacto da ocupação histórica e econômica em uma comunidade.

Se possível, projete em sala da aula trechos do filme Rio, 40 Graus, de Nelson Pereira dos Santos, sugerido no boxe Conexões. Esse filme retrata jovens de uma favela carioca e aborda as desigualdades sociais em diferentes espaços do Rio de Janeiro. O filme pode servir de base para uma roda de conversa sobre as diferentes formas de vivência e pertencimento em bairros urbanos.

P. 189

Inicie o item fazendo uma leitura compartilhada do texto e uma discussão sobre o conceito de vocação pessoal e coletiva. O texto sugere que investir em capacitação local pode contribuir para o desenvolvimento de um lugar, pois prepara os jovens para atuar nas atividades da comunidade em que se inserem, exemplificado pelo caso de Brusque, em Santa Catarina, que se destacou na indústria têxtil. Fomente reflexões sobre como vocações regionais podem transformar comunidades e ajudar a reter talentos, reduzindo o fluxo migratório para grandes centros urbanos e gerando empregos e crescimento.

P. 190

Comente com os estudantes que a chegada das indústrias à Barcarena, no Pará, transformou profundamente a cidade, que antes era voltada à agricultura e marcada por tradições ribeirinhas. Explique a eles que, com a criação da Vila dos Cabanos para abrigar trabalhadores das indústrias, a região passou por uma modernização urbana, mas também enfrentou o aumento das desigualdades sociais. Enquanto a Vila dos Cabanos recebeu investimentos em infraestrutura, habitação e serviços, áreas mais tradicionais, como Barcarena-sede, foram marginalizadas, criando uma segregação espacial que acentuou as diferenças socioeconômicas entre os habitantes.

Para explorar esse tema com a turma, incentive uma reflexão sobre as diferenças urbanísticas e sociais entre a Vila dos Cabanos e Barcarena, com a leitura dos dois textos e uma pesquisa complementar de imagens. Depois, fomente uma breve discussão sobre os impactos da industrialização e o aumento das desigualdades na região, considerando o contraste entre o desenvolvimento industrial e a exclusão das comunidades tradicionais.

Atividades – p. 191

Fale sobre a importância de entender o lugar onde vivemos e como as características socioeconômicas e de planejamento influenciam as oportunidades de emprego e o desenvolvimento pessoal. A proposta é que os estudantes reflitam sobre o contexto em que vivem e explorem as vocações regionais, relacionando-as com as oportunidades de trabalho e renda disponíveis, desenvolvendo habilidades de pesquisa, reflexão crítica e escrita.

1. A resposta pode variar de acordo com a experiência de cada estudante. Eles devem descrever o tipo de bairro (residencial, industrial, comercial etc.) e analisar as mudanças que podem ter ocorrido ao longo do tempo, como crescimento, urbanização ou transformação nas atividades econômicas locais.

2. Os estudantes devem refletir sobre as atividades predominantes na região, como comércio, indústria, agricultura, entre outras, e se elas geram oportunidades compatíveis com suas aspirações pessoais de emprego e renda. A resposta também pode variar de acordo com a experiência lugar de cada estudante. Promova uma discussão em grupo sobre o tipo de bairro em que moram e possíveis mudanças ocorridas nele ao longo do tempo. A troca de experiências sobre vocações regionais e atividades econômicas ajuda a entender a relação entre estas e as oportunidades de emprego

3. A resposta a essa questão envolve a apresentação dos dados obtidos nas pesquisas realizadas pelos estudantes. As informações sobre vocações regionais, programas de capacitação e instituições de ensino devem estar organizadas em fichas, quadros ou gráficos, conforme solicitado. Essa etapa serve de preparação para a redação da carta. Auxilie os estudantes na consulta a fontes confiáveis para a coleta de dados sobre as potencialidades e as demandas profissionais da região onde vivem, bem como para a investigação de programas de capacitação e de instituições locais. Auxilie-os também na organização das informações coletadas, propondo que as registrem em fichas, quadros ou gráficos. Em seguida, eles devem escrever uma carta aos responsáveis, refletindo sobre as oportunidades oferecidas pela região relativas ao seu futuro. Durante esse processo, oriente-os para que desenvolvam uma argumentação clara e estruturada do texto.

P. 192

Converse com os estudantes propondo que pensem sobre seus deslocamentos diários, como o caminho de casa para a escola, e de que modo eles moldam sua identidade e experiências com o meio onde vivem. Incentive a observação atenta do trajeto, discutindo com os estudantes os lugares familiares e as interações

sociais que ocorrem no bairro. A análise de conceitos como “desatenção civil”, de Erving Goffman, e a leitura de trechos de “O homem da multidão”, conto de Edgar Allan Poe, ajudarão a entender como, mesmo em ambientes movimentados, as pessoas tendem a se comportar de forma isolada. A atividade culmina em um registro mais detalhado dos trajetos dos estudantes, incentivando maior conscientização sobre o ambiente urbano e as dinâmicas sociais ao redor.

Atividades – p. 193

Nesta atividade, os estudantes podem discutir as situações cotidianas em que percebem a “desatenção civil”. Em seguida, retome que, para Georg Simmel, “reserva” é o controle das reações interiores, isto é, emocionais, ao excesso de estímulos externos típico da vida moderna. Proponha a eles que reflitam se em diferentes espaços, como municípios grandes e pequenos, ela ocorre da mesma forma.

P. 194

Apresente as práticas de deambulação e deriva, que envolvem observar o ambiente sem pressa ou destino fixo, e proponha uma caminhada para que os estudantes registrem suas percepções. Depois, discuta com a turma se as observações que fizeram mudaram a percepção que eles tinham do espaço.

Atividades – p. 194

A autora não concorda com a afirmação. A ideia de que as pessoas usam a rua, as calçadas, bares e confeitarias por falta de espaços privados revela uma falta de compreensão a respeito dos usos que habitantes fazem dos espaços urbanos. A socialização nas cidades permite certo grau de contato entre as pessoas para além da vida privada. Comente com a turma que a função da cidade é colocar as pessoas em contato de maneira muito específica. O espaço da cidade é compartilhado, embora não necessariamente entre pessoas que são íntimas umas das outras. Assim, a cidade oferece um tipo de sociabilidade intermediária entre a intimidade e a impessoalidade. Para a autora, as cidades oferecem “certo grau de contato” com semidesconhecidos que é “proveitoso e agradável”.

Mundo do trabalho – p. 195

Novas profissões

A seção permite que os estudantes conversem e reflitam sobre as mudanças no mercado de trabalho, especialmente em profissões ligadas à sustentabilidade e à governança ambiental (ESG, na sigla em inglês). Contextualize os desafios das mudanças climáticas e a necessidade de profissionais qualificados em áreas ambientais e sociais para implementar práticas sustentáveis, incentivando um debate sobre essas profissões em seus projetos de vida. Destaque a importância desses profissionais no cenário atual e como suas ações contribuem para um futuro sustentável, além de explorar as oportunidades de carreira. A atividade se relaciona com o mundo do trabalho e o TCT Meio ambiente e trabalho , promovendo reflexões sobre profissões essenciais para o futuro do planeta.

1. Sim, a atuação desses profissionais é extremamente relevante na atualidade, uma vez que eles ajudam a mitigar os efeitos das mudanças climáticas e promovem práticas sustentáveis nas empresas e nos municípios. Com a crescente demanda por soluções ambientais, esses especialistas são fundamentais para garantir que empresas e instituições adotem uma postura responsável em relação ao meio ambiente.

2. As respostas podem variar entre os estudantes, mas muitos podem se interessar por esse campo por sua relevância no combate às mudanças climáticas e na promoção de um futuro sustentável. Além disso, a combinação de conhecimentos técnicos e humanistas torna esse campo desafiador e atraente para quem se preocupa com o impacto ambiental e social do trabalho.

Em ação – p. 196

A proposta da seção é que os estudantes criem uma representação do bairro com base na cartografia social, começando por um mapa mental que destaque elementos importantes, como ruas e comércios. Para a realização da pesquisa de campo, eles devem ter o acompanhamento de um responsável, e as tarefas principais são a observação do ambiente e o registro

de impressões sobre a paisagem e as pessoas. Com base nas observações, os estudantes devem refletir sobre a dinâmica do bairro e construir uma representação destacando os elementos que formam a identidade local. Ao final, promova uma discussão em grupo, organizando a sala de aula de modo que a turma possa comparar as representações cartográficas e refletir sobre as diferentes visões do território.

Etapa 3 Memórias do bairro – p. 198

Qual é a história do bairro onde vivo?

Ao trabalhar com os estudantes o tema, incentive uma abordagem da história local por meio de memórias e da cartografia social, conectando o passado e o presente. Se possível, incentive os estudantes a fazer uma pesquisa sobre a arquitetura e a história do bairro antes da entrevista proposta na seção Em ação.

Atividades – p. 201

Leia o texto de José Miguel Wisnik e converse com os estudantes sobre a relação entre as memórias pessoais e o ritmo de uma cidade. Tendo a leitura desse texto como ponto de partida, proponha que os estudantes pensem sobre o que caracteriza o ritmo do bairro onde vivem, comparando aspectos de urbanização e de vivência dos espaços públicos entre o passado e o presente. Ao final, organize uma roda de conversa para que compartilhem as reflexões sobre a influência da memória e do espaço urbano na identidade de uma cidade.

Em ação – p. 202

Para a proposta de entrevista, oriente os estudantes na coleta de relatos e de fotografias que resgatem a memória do bairro. Organizados em grupos, eles devem realizar pesquisas prévias, elaborar perguntas sobre temas locais e conduzir entrevistas com antigos

moradores. Finalizadas as entrevistas, devem transcrever os principais trechos e selecionar imagens relevantes para elaborar um relatório a ser compartilhado com a turma, possibilitando uma visão integrada sobre a história e as transformações do bairro.

Etapa final Guia do bairro –p. 204

Nesta etapa, os estudantes vão elaborar um guia do bairro. Para isso, devem reunir as produções realizadas nas etapas anteriores e organizá-las de forma a criar um guia que represente a identidade do bairro. Auxilie-os no planejamento dos tópicos e na definição do público-alvo, ressaltando que a linguagem deve atrair o interesse desse público. Durante o processo, acompanhe as discussões dos grupos e observe as dúvidas que porventura tenham; repasse as orientações de cada passo para que tenham clareza da proposta. Ao final, oriente a divulgação do produto, seja em formato impresso, seja em formato digital, de modo que possa ser amplamente visto e divulgado pela comunidade escolar.

Autoavaliação – p. 206

Para trabalhar a proposta de autoavaliação, incentive uma reflexão crítica sobre o envolvimento individual e coletivo de cada um no Projeto Integrador. Primeiramente, oriente os estudantes a responder às questões com sinceridade, promovendo um ambiente seguro para a autorreflexão, sem julgamentos. Eles devem ser incentivados a argumentar e a justificar cada resposta, especialmente nas questões que envolvam a atribuição de notas. A comparação das respostas com as de um colega deve ser vista como uma oportunidade de diálogo e troca de percepções, ajudando os estudantes na identificação de pontos de convergência e de divergência em suas autoavaliações.

TRANSCRIÇÃO DOS PODCASTS

Obsolescência programada e degradação ambiental – p. 83

[Música de transição]

Vamos falar sobre um tema que afeta diretamente nossas vidas: o meio ambiente e a maneira como a sociedade consome atualmente. Esse tema é a obsolescência programada. Embora o termo possa ser novo para muitos, é provável que você já tenha notado os impactos dessa prática no seu dia a dia.

[Música de transição]

A obsolescência programada é uma estratégia adotada por alguns fabricantes para limitar a vida útil de um produto, incentivando ou forçando as pessoas a comprarem um novo item após um curto período de uso. Essa prática é feita de maneira deliberada, ou seja, intencionalmente, e é comum em setores como eletrônicos, eletrodomésticos, moda e até mesmo na indústria automotiva.

A ideia central da obsolescência programada é a seguinte: ao criar um produto com uma vida útil curta, a empresa garante que o consumidor precise substituí-lo com mais frequência, mantendo um ciclo contínuo de consumo e, consequentemente, aumentando o lucro. Essa estratégia pode incluir o uso de componentes de baixa qualidade, falta de peças de reposição ou desatualizações de softwares que tornam o produto ultrapassado.

[Música de transição]

Agora que você já sabe o que é obsolescência programada, vamos conhecer alguns exemplos práticos.

Os smartphones são um dos produtos que mais se destacam quando o assunto é obsolescência programada. Após alguns meses de uso, já percebeu como um celular começa a apresentar problemas, como lentidão, falhas na bateria ou incompatibilidade com novos aplicativos? Isso, muitas vezes, é resultado de uma combinação de fatores, entre eles atualizações de softwares que exigem mais do hardware, ou seja, a parte física do aparelho, composta de todos os componentes eletrônicos. Com o tempo, essas peças podem começar a falhar e encontrar peças de reposição, como baterias ou câmeras, pode se tornar complicado. Como resultado, muitos consumidores acabam trocando de aparelho com mais frequência.

Outro exemplo de obsolescência programada são as impressoras. Muitos modelos são projetados para parar de funcionar após um determinado número de impressões, mesmo que a máquina ainda esteja em boas condições. Isso força o consumidor a comprar uma nova impressora ou a pagar caro para resolver um problema que, muitas vezes, foi intencionalmente criado.

As lâmpadas também têm uma história com a obsolescência programada. No início do século XX, foi criada uma lâmpada projetada para durar décadas, servindo como exemplo de eficiência. No entanto, grandes produtores de lâmpadas perceberam que a durabilidade daquele produto contrariava seus interesses comerciais. Quanto mais uma lâmpada durasse, menos lâmpadas eles venderiam. Assim, concluiu-se que seria necessário criar um tipo de lâmpada que fosse substituída com frequência. Um grupo de grandes produtores criou o chamado Cartel Phoebus, que decidiu limitar a vida útil das lâmpadas a cerca de 1 000 horas. Esse cartel é um dos primeiros exemplos documentados de obsolescência programada na história.

A indústria da moda também é um setor que frequentemente adota a obsolescência programada. As marcas lançam novas coleções em ciclos cada vez mais curtos, incentivando os consumidores a comprar roupas novas com mais frequência, mesmo que as peças antigas ainda estejam em boas condições.

[Música de transição]

A obsolescência programada não afeta apenas o consumidor, ela também tem consequências graves para o meio ambiente. Quando um produto é projetado para ter uma vida útil curta, isso resulta na extração de mais recursos naturais, no aumento do consumo de energia na produção e na geração de mais resíduos.

O rápido ciclo de substituição de aparelhos eletrônicos, como smartphones, contribui para o aumento do lixo eletrônico. Esse tipo de resíduo é problemático porque contém metais pesados e substâncias tóxicas que podem contaminar o solo e a água se não forem descartados corretamente. Além disso, ao projetar smartphones com uma vida útil curta, as empresas aumentam o consumo de recursos naturais fundamentais para o equilíbrio ambiental, o que pode levar à sua escassez e à degradação do meio ambiente.

A produção e o transporte de novos produtos geram emissões de gases de efeito estufa, que contribuem para as mudanças climáticas. Produtos descartados também acumulam resíduos no solo e poluem o meio ambiente. Além disso, a reciclagem desses produtos nem sempre é possível ou eficiente, criando um ciclo contínuo de desperdício.

Por isso, o consumo e o descarte de produtos devem ser feitos com responsabilidade por todos nós, para respeitar o meio ambiente e a sociedade.

[Música de transição]

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Plataformização e precarização do trabalho – p. 82

[Música de transição]

Você sabe o que significa plataformização? Esse processo refere-se ao uso de plataformas digitais como intermediárias entre trabalhadores e consumidores. Essas plataformas, que incluem empresas de alimentos, transporte, limpeza, aluguel de hospedagens residenciais e muitos outros serviços, facilitam a conexão entre quem oferece um serviço e quem deseja contratá-lo. Na prática, elas atuam como intermediárias, oferecendo uma infraestrutura digital que permite a prestação de serviços de maneira rápida e flexível.

Mas como surgiu esse processo? A plataformização tem suas raízes na chamada “economia de compartilhamento”, um conceito que define trabalhos realizados de forma temporária, autônoma e sob demanda. Em vez de serem empregados e terem um contrato de trabalho, como o registro na Carteira Nacional de Trabalho, muitos trabalhadores dessas plataformas são considerados autônomos, responsáveis por seus horários, pelas ferramentas de trabalho e pela própria segurança.

[Música de transição]

Agora, vamos analisar como a plataformização tem impactado o mundo do trabalho. Esse processo trouxe mudanças que

algumas pessoas avaliam como positivas, enquanto outras consideram prejudiciais ao mundo do trabalho.

Um dos principais atrativos da plataformização é a flexibilidade que ela oferece aos trabalhadores. Motoristas de aplicativos, por exemplo, podem escolher seus horários de trabalho, adaptar suas jornadas às necessidades pessoais e decidir quando e quanto trabalhar. Para muitos, essa autonomia é uma vantagem importante, especialmente em comparação com empregos tradicionais que exigem horários fixos.

Outro ponto importante é a oportunidade de gerar renda por meio de plataformas digitais e aplicativos de serviços. No Brasil, onde as taxas de desemprego são elevadas e as oportunidades de emprego formal são limitadas, a possibilidade de se cadastrar em uma plataforma e começar a trabalhar quase imediatamente é um grande atrativo para aqueles que enfrentam o desemprego ou dificuldades econômicas.

[Música de transição]

Embora a plataformização traga aspectos positivos, ela também levanta questões que precisam ser analisadas. Um dos principais problemas causados é a desregulamentação das relações de trabalho. Como muitos trabalhadores de aplicativos e plataformas digitais são classificados como autônomos, eles não têm acesso a direitos trabalhistas básicos, como seguro-desemprego, férias remuneradas, licença médica ou previdência social.

Isso os deixa em uma posição vulnerável, com baixa estabilidade financeira e pouca segurança no trabalho.

Além disso, muitos enfrentam pressão intensa para manter boas avaliações e aceitar chamados para entrega, já que as plataformas geralmente usam sistemas de classificação para medir o desempenho de seus prestadores. Isso pode levar a jornadas extenuantes, nas quais o trabalhador precisa estar constantemente disponível para atender às demandas da plataforma, correndo o risco de perder oportunidades de trabalho. Pesquisas recentes indicam que os entregadores de aplicativo trabalham até 12 horas por dia, pedalam cerca de 80 quilômetros diariamente e, muitas vezes, chegam até a dormir nas ruas.

Embora as plataformas promovam a ideia de que os trabalhadores podem alcançar bons rendimentos financeiros, a realidade é muito diferente. Ao descontar os custos operacionais, como combustível, manutenção de veículos e o tempo não remunerado (como o tempo gasto aguardando por pedidos ou corridas), muitos trabalhadores ganham menos do que o salário mínimo. Um estudo divulgado em 2023 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que motoristas e motociclistas de aplicativos recebem valores menores por hora e trabalham, em média, mais horas por semana do que os que atuam na mesma profissão fora das plataformas. O ganho médio por hora dos motociclistas que trabalham com entrega por aplicativo, por exemplo, correspondia a 73% da remuneração por hora daqueles que não trabalham para plataformas. Além disso, o trabalhador de plataforma tinha jornadas mais extensas e, ainda assim, o ganho médio no fim do mês era menor do que o dos motociclistas fora dos aplicativos.

[Música de transição]

Em resposta a essas condições precárias de trabalho, observou-se um aumento na organização dos trabalhadores de plataformas. Greves, protestos e ações judiciais têm sido usados para exigir melhores condições de trabalho, direitos e reconhecimento como trabalhadores formais. Esses movimentos têm pressionado governos e empresas a repensar as relações de trabalho na era digital.

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A inteligência artificial e o impacto no mundo do trabalho – p. 83

[Música de transição]

Você sabe o que é inteligência artificial? Como você acredita que ela tem alterado as relações de trabalho? É isso que vamos explicar neste podcast

A inteligência artificial, ou IA, é um dos conceitos mais discutidos atualmente. Mas o que exatamente é IA? Em termos mais diretos, IA refere-se a sistemas computacionais capazes de realizar tarefas que normalmente exigiriam a inteligência humana. E isso pode incluir, por exemplo, atividades em uma indústria, o reconhecimento de imagens em fotos ou até mesmo na reprodução da linguagem humana.

[Música de transição]

Agora, vamos entender como a inteligência artificial surgiu. O termo “inteligência artificial” foi usado pela primeira vez em 1956, nos Estados Unidos, durante um encontro de cientistas. Nesse evento, os estudiosos começaram a considerar a possibilidade de criar máquinas capazes de simular aspectos da inteligência humana.

Eles desenvolveram programas para jogar xadrez e resolver problemas matemáticos básicos, mas o avanço não parou por aí. Com o tempo, a IA foi sendo aperfeiçoada, ganhando novas funções e se tornando presente em muitos aspectos da nossa vida. Por exemplo, as ferramentas de IA podem recomendar filmes e músicas, auxiliar em diagnósticos médicos, otimizar processos industriais, realizar atendimento telefônico e até pilotar carros!

[Música de transição]

Embora a IA esteja transformando muitos aspectos de nossas vidas, algumas questões merecem discussão. Entre elas estão: quais são os impactos éticos e sociais do uso da IA nas relações humanas? E, no mundo do trabalho, como equilibrar a IA, a manutenção de tarefas e a criação de empregos?

A inteligência artificial está revolucionando o mundo do trabalho. Das indústrias aos escritórios, a IA está redefinindo a maneira como as tarefas são realizadas, quais habilidades são mais valorizadas e até quais tipos de emprego vão continuar existindo. Mas essa transformação vai além da simples substituição de ferramentas e métodos de trabalho. Estamos testemunhando uma mudança de mentalidade que está alterando a própria natureza do trabalho.

A indústria é um dos setores mais impactados pela inteligência artificial. Nas linhas de montagem, por exemplo, a IA está substituindo tarefas e gerando novos processos de automação. Em fábricas de automóveis, robôs realizam tarefas de soldagem, pintura, montagem de peças, identificação de defeitos etc. Isso leva a uma redução do número de trabalhadores na linha de montagem, pois muitas tarefas podem ser executadas por robôs.

Os serviços de atendimento ao cliente também têm adotado cada vez mais recursos de IA, como chatbots (chats com atendimento automático) e assistentes virtuais. Esses programas conseguem responder a perguntas, processar pedidos, redefinir senhas e resolver diversos problemas a qualquer hora do dia. Além disso, analisam o histórico de compras e avaliam interações dos clientes para oferecer recomendações personalizadas. [Música de transição]

O desenvolvimento da IA promete avanços em produtividade, eficiência e inovação. No entanto, seu uso indiscriminado levanta preocupações sobre o aumento da desigualdade nas relações de trabalho.

Trabalhadores que exercem funções menos qualificadas enfrentam maiores riscos de desemprego e desvalorização. Com a automação de certas tarefas, a IA contribui para a redução de postos de trabalho, o que pode elevar o número de desempregados.

Por outro lado, trabalhadores que desenvolvem habilidades técnicas ou analíticas, mais difíceis de serem automatizadas, como especialistas em dados e desenvolvedores de softwares, podem não apenas manter suas profissões mas também se beneficiar com a criação de novos empregos gerados pela IA.

Além disso, o impacto da inteligência artificial não se limita à substituição de mão de obra humana por robôs no ambiente de trabalho, ele afeta toda a sociedade.

A crescente automatização de determinadas tarefas contribui para a redução das oportunidades de ascensão social. As pessoas das classes sociais mais vulneráveis têm acesso limitado à educação e à qualificação profissional, o que dificulta a competição por empregos bem remunerados e perpetua ciclos de pobreza e de exclusão social.

Recentemente, aplicativos de geração de textos e imagens por IA ganharam destaque. Embora sejam práticos e úteis, esses apps podem produzir informações equivocadas, como notícias e imagens falsas, ou se apropriar indevidamente de textos, imagens e vozes de profissionais com anos de experiência, como jornalistas, ilustradores e dubladores.

Portanto, apesar dos inegáveis avanços propostos pela IA, é indispensável contar com pessoas capazes de avaliar criticamente os impactos desses recursos.

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A luta por direitos humanos – p. 112

[Música de transição]

Vamos conhecer a história dos direitos humanos e sua importância no mundo contemporâneo? Antes de mais nada, é importante compreender que esses direitos foram conquistados ao longo do tempo por meio das lutas de diversas comunidades e atores sociais. Eles são fundamentais para promover a justiça e a dignidade humana.

[Música de transição]

A noção de direitos humanos não surgiu por acaso; ela foi construída ao longo dos séculos. As primeiras ideias de direito aparecem nas sociedades grega e romana da Antiguidade. No entanto, foram os eventos históricos do século XVII e XVIII que deram forma ao conceito de direitos humanos como o entendemos atualmente. Vamos conhecer alguns desses eventos!

A Declaração de Direitos de 1689, na Inglaterra, estabeleceu princípios que seriam centrais para os direitos humanos, como a liberdade de expressão e a proibição de punições cruéis. No século seguinte, a Revolução Americana trouxe a Declaração de Independência de 1776, que proclamava que “todos os homens são criados iguais” e dotados de “direitos inalienáveis”.

Porém, a Revolução Francesa de 1789 marcou um ponto de virada significativo. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão proclamou a igualdade de todos perante a lei e introduziu conceitos de liberdade, propriedade e segurança, que se

tornaram pilares dos direitos humanos em sua concepção atual. No entanto, é importante lembrar que esses direitos não eram universais. Mulheres, escravizados e muitos outros grupos foram excluídos dessas primeiras declarações.

[Música de transição]

Os direitos humanos não foram concedidos de forma benevolente pelos governantes e poderosos; ao contrário, foram conquistados pela luta de pessoas, comunidades e movimentos sociais ao longo de séculos.

Um dos capítulos mais importantes dessa história no Brasil foi a abolição da escravidão. O movimento abolicionista, que ganhou força no Brasil durante o século XIX, foi essencial para a expansão da ideia de que todos os seres humanos têm direitos naturais.

Personalidades como Maria Firmina dos Reis, Luiz Gama, José do Patrocínio e milhares de pessoas escravizadas anônimas lutaram pra acabar com o sistema escravista que, por séculos, negou a humanidade de milhões de seres humanos.

Outro exemplo importante é a luta pelos direitos das mulheres. Desde o século XIX, o movimento feminista tem buscado o reconhecimento das mulheres como iguais em direitos e dignidade. O movimento sufragista, no início do século XX, foi fundamental para garantir o direito das mulheres ao voto em muitos países. No Brasil, a bióloga e diplomata Bertha Lutz foi uma das líderes desse movimento, que resultou na conquista do voto feminino em 1932.

[Música de transição]

Os direitos humanos ganharam uma nova dimensão após as atrocidades da Segunda Guerra Mundial. Com o fim do conflito, em 1945, a comunidade internacional reconheceu a necessidade urgente de proteger esses direitos. Em 1948, as Nações Unidas adotaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que estabeleceu, pela primeira vez, um conjunto de direitos fundamentais a ser garantido a todas as pessoas, independentemente de nacionalidade, etnia, religião ou gênero.

Atualmente, os direitos humanos são essenciais no mundo contemporâneo, servindo de base pra legislação do Brasil e de vários outros países, além de servir como padrão pra avaliar o comportamento dos governos e de outras entidades ao redor do mundo.

Embora a luta por direitos tenha avançado nas últimas décadas, é importante destacar que ela está longe de ser concluída. Novas questões e demandas estão surgindo no campo dos direitos humanos. Desafios como as mudanças climáticas, as migrações em massa e os impactos da tecnologia e da inteligência artificial exigem atualizações sobre o alcance e a amplitude da noção de direito.

Em várias regiões do mundo, inúmeras pessoas ainda enfrentam graves violações de seus direitos. A repressão política, a discriminação racial, a violência de gênero e a perseguição de minorias religiosas são exemplos de realidades cotidianas. Além disso, a ascensão de regimes autoritários e de discursos de ódio tem ameaçado conquistas históricas essenciais pra dignidade humana, como a democracia.

Preservar os direitos humanos e ampliar a garantia deles onde ainda não são respeitados é fundamental para a construção de um mundo mais justo. Os direitos humanos nos lembram que todos nós, independentemente de quem sejamos, temos uma dignidade que deve ser respeitada, protegida e valorizada. [Música de transição]

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As fake news na atualidade – p. 158

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Certamente você já se deparou com alguma notícia falsa, não é mesmo? Seja por meio de aplicativos de mensagens, pesquisas na internet ou em outros meios de comunicação, as notícias falsas se tornaram recorrentes no Brasil. Neste podcast, vamos entender como as fake news surgiram no país, avaliar seus impactos no mundo contemporâneo e analisar estratégias para combatê-las. Vamos começar?

[Música de transição]

As fake news não são um fenômeno recente. A disseminação de informações, notícias e conteúdos falsos criados de forma deliberada, ou seja, planejada, para obter vantagens políticas ou sociais, sempre existiu. No entanto, foi com o surgimento da internet e, mais especificamente, com a popularização das redes sociais que esse problema atingiu grandes proporções. No Brasil, as fake news começaram a ganhar visibilidade durante as eleições de 2014 e 2018.

O crescimento do uso de smartphones e o acesso facilitado à internet fizeram com que milhões de brasileiros passassem a consumir notícias diretamente por meio das redes sociais, onde a velocidade de compartilhamento supera a de checagem da autenticidade das informações. As fake news, frequentemente criadas pra manipular a opinião pública, explorar divisões políticas e sociais ou simplesmente gerar cliques e receitas publicitárias, encontraram terreno fértil nas redes sociais.

Durante as eleições de 2018, o Brasil enfrentou uma onda de notícias falsas, espalhadas principalmente por grupos em aplicativos de mensagens. Essas notícias não só confundiram eleitores mas criaram um clima de desconfiança generalizada em relação aos meios de comunicação profissionais e às instituições do Estado brasileiro, como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que teve diversos procedimentos, em sua maioria consolidados e validados pela comunidade internacional, colocados sob suspeita. Nesse contexto, a disseminação das fake news passou a ser considerada não apenas um problema de desinformação mas como uma verdadeira ameaça à democracia brasileira. [Música de transição]

Um dos efeitos mais graves de conteúdos falsos é a desconfiança gerada em relação à mídia profissional. Em um ambiente no qual as notícias falsas se espalham mais rapidamente do que as verdadeiras, o público passa a questionar a credibilidade das fontes de informação, especialmente o jornalismo. Isso cria incerteza, colocando fatos objetivos em dúvida e dando força a teorias da conspiração.

As fake news frequentemente alimentam divisões, explorando medos e preconceitos. Quando as pessoas são expostas repetidamente a informações falsas que reforçam suas crenças, elas tendem a se tornar mais extremas em suas posições, dificultando o diálogo e o consenso. Esse fenômeno polariza a sociedade e enfraquece o convívio social.

As fake news também têm consequências pra saúde pública. Durante a pandemia de covid-19, por exemplo, a disseminação de informações falsas sobre o vírus, os tratamentos e as vacinas comprometeu os esforços de profissionais da saúde e colocou vidas em risco. A desinformação levou muitas pessoas a rejeitar medidas preventivas, como o uso de máscaras e a vacinação, contribuindo para a propagação do vírus. Com o grande número de indivíduos infectados e mortos e o pouco conhecimento sobre a doença, muitas pessoas buscavam informações sobre prevenção na internet. Nesse contexto, a disseminação de informações falsas se massificou, incluindo recomendações de remédios sem eficácia comprovada, que causaram problemas de saúde aos pacientes, além de receitas caseiras que não evitavam ou curavam a covid-19.

[Música de transição]

Com o avanço das fake news, é fundamental adotar estratégias eficazes para combatê-las. Uma das ações é fortalecer o jornalismo profissional. No Brasil, recentemente, surgiram várias agências de checagem de fatos, algumas independentes e outras ligadas a grandes veículos de comunicação impressa e digital. Em um cenário no qual a informação está cada vez mais fragmentada, o jornalismo de qualidade, baseado em investigações rigorosas e fontes verificáveis, é indispensável. Apoiar a imprensa livre e independente é, portanto, parte fundamental do combate às fake news

As plataformas digitais também precisam atuar ativamente na contenção das fake news. As grandes empresas de tecnologia têm a responsabilidade de criar algoritmos e políticas para restringir a disseminação de informações falsas. Isso pode incluir a remoção de conteúdos enganosos, a sinalização de notícias duvidosas e a promoção de fontes confiáveis.

Além disso, o combate às fake news também depende de cada um de nós. Como cidadãos, devemos evitar compartilhar conteúdos falsos, verificar a veracidade das notícias, repassar somente informações que foram checadas e denunciar veículos de informação enganosos.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COMENTADAS

ALBORNOZ, Suzana. O que é trabalho. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Coleção Primeiros Passos, 171).

Esse livro oferece uma introdução acessível e didática, característica da Coleção Primeiros Passos, sobre a temática do trabalho.

ANTUNES, Ricardo (org.). O privilégio da servidão. São Paulo: Boitempo, 2020.

Análise das transformações nas relações de trabalho no contexto da globalização e das TICs, destacando a crescente precariedade e desigualdade, além das novas formas de servidão moderna, especialmente no setor de serviços. O texto também aborda a necessidade de criar novas formas de resistência para garantir direitos e dignidade aos trabalhadores.

ANTUNES, Ricardo (org.). Uberização, trabalho digital e indústria 4.0. São Paulo: Boitempo, 2020.

Coletânea de artigos que analisa o mundo do trabalho diante dos impactos das Tecnologias de Informação e Comunicação, com destaque para o trabalho uberizado e a expansão das plataformas digitais globais.

BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembrança de velhos. 17 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

Ensaio sobre a memória de imigrantes e operários na cidade de São Paulo, com base nas histórias de vida de idosos. A obra de Ecléa serve de fonte sobre o mundo do trabalho no Brasil e de modelo aos estudantes para a metodologia da história de vida e do gênero textual ensaio.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular : educação é a base. Brasília, DF: MEC, 2018. Disponível em: https://www.gov.br/mec/pt-br/escola-em -tempo-integral/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal.pdf. Acesso em: 4 nov. 2024.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) serve de diretriz oficial para o desenvolvimento de habilidades e competências essenciais na Educação Básica brasileira.

BUTTIMER, Anne. Hogar. Campo de Movimiento y sentido del Lugar. In: GARCÍA RAMÓN, María Dolores (org.). Teoría y método en la geografía anglosajona. Barcelona: Ariel, 1985. No capítulo, a geógrafa discute o lugar como um fenômeno que envolve significação, afeto e percepção e que é reconstruído pelas pessoas que vivem nele.

CAMPBELL, Brígida. Arte para uma cidade sensível. São Paulo: Invisíveis Produções, 2015.

Livro que aborda como a arte urbana pode transformar os espaços e promover uma maior conexão entre as pessoas e os ambientes urbanos, incentivando a reflexão sobre identidade e cultura.

FEDERICI, Silvia. A acumulação do trabalho e a degradação das mulheres. In: FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. Tradução de Coletivo Sycorax. São Paulo: Fundação Rosa Luxemburgo/Editora Elefante, 2017. Disponível em: https://coletivosycorax.org/wp-content/ uploads/2019/09/CALIBA_E_A_BRUXA_WEB-1.pdf. Acesso em: 30 ago. 2024.

O livro aborda como a repressão e a perseguição às mulheres durante a Idade Moderna, especialmente a “caça às bruxas”,

contribuíram para a acumulação primitiva que sustentou o capitalismo, junto ao tráfico transatlântico de escravizados, à pirataria e à exploração colonial entre os séculos XVI e XIX.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa São Paulo: Paz e Terra, 1996.

Uma das grandes obras do maior educador brasileiro traz reflexões sobre práticas pedagógicas com foco na autonomia e na ética na educação.

GIDDENS, Anthony. Modernidade e identidade. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.

O livro examina como a modernidade afeta a construção da identidade, especialmente em um mundo globalizado e com transformações constantes nos ambientes urbanos e sociais.

HARARI, Yuval Noah. 21 lições para o século 21. Tradução de Paulo Geiger. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

Yuval Harari oferece uma análise sobre os principais desafios globais do século XXI, incluindo o impacto da inteligência artificial e da automação no mercado de trabalho.

HARVEY, David. 17 contradições e o fim do capitalismo. Tradução de Rogério Bettoni. São Paulo: Boitempo, 2016.

O livro traz uma análise contemporânea de O capital, de Karl Marx, destacando as contradições do capitalismo, como a desigualdade econômica e a crise ambiental, que geram sua instabilidade. Superar essas contradições é essencial para imaginar alternativas viáveis ao sistema capitalista.

HOLZER, Werther. Sobre territórios e lugaridades. Cidades, v. 10, n. 17, 2013.

O texto discute a noção de espaço e território, com destaque para a contribuição dos espaços de vivência na construção da identidade social e cultural.

KREBS, Valéria. A obsolescência programada. São Paulo: Unesp, 2015.

Estudo sobre as práticas de obsolescência programada e seus impactos no consumo.

LEMOS, André. Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea. 5. ed. Porto Alegre: Sulina, 2015.

André Lemos explora, nessa obra, a transformação que as tecnologias digitais vêm impondo às práticas culturais e sociais contemporâneas, discutindo conceitos como ciberespaço, identidade digital e novas formas de sociabilidade.

LIVING planet Report 2022: building a nature-positive society.

Suíça: WWF, 2022.

Disponível em: https://www.iis-rio.org/wp-content/ uploads/2022/10/LPR_2022_Full-Report.pdf. Acesso em: 23 out. 2024.

O relatório apresenta dados e traz informações sobre a saúde do planeta e o impacto das atividades humanas.

MINA, An Xiao. Memes to Movements: How the World's Most Viral Media Is Changing Social Protest and Power. Boston: Beacon Press, 2019.

No livro, a autora discute como o funcionamento dos memes contribui para reforçar, amplificar e moldar a política atual.

MILNER, Ryan M. Pop Polyvocality: Internet Memes, Public Participation, and the Occupy Wall Street Movement. International Journal of Communication, [s. l.], v. 7, 30 out. 2013. Disponível em: https://www.semanticscholar.org/paper/ Pop-Polyvocality%3A-Internet-Memes%2C-Public-and-the -Milner/99cfc0f86112b8e3a3797d00ca14e4063b0d69ef. Acesso em: 28 set. 2024.

O autor aborda a relação entre memes e protestos políticos, explorando o movimento Occupy Wall Street. A obra é relevante para compreender o papel dos memes em manifestações políticas.

MORAN, José Manuel; MASETTO, M. T.; BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas tecnologias e mediação pedagógica Campinas: Papirus, 2013. (Coleção Papirus Educação).

Análise do papel das novas tecnologias no ambiente educacional e seu potencial para mediar processos de aprendizagem mais colaborativos e críticos.

MOREIRA, Ruy. Sociedade e espaço geográfico no Brasil. São Paulo: Contexto, 1999.

A obra trata das relações entre espaço, cidadania e identidade, oferecendo uma visão crítica sobre os espaços vividos e a noção de pertencimento.

PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Novos temas nas aulas de História. São Paulo: Contexto, 2009.

O livro aborda temas como meio ambiente, gênero, tecnologia, cultura e direitos humanos, oferecendo tópicos úteis para projetos integradores, com sugestões de atividades, material didático alternativo e leituras comentadas.

RICHTA, Radovan. The Scientific & Technological Revolution. Australian Left Review, [s. l.], v. 1, n. 7, p. 54-67, 1967.

O autor trata a Revolução Técnico-Científica como uma superação dialética, uma nova revolução produtiva e traça suas principais características.

RELPH, Edward. Place and placelessness. Londres: Sage, 2022.

O autor combina conhecimentos da geografia e da filosofia para discutir a importância do lugar na formação da identidade dos indivíduos.

SACHS, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Tradução de José Lins Albuquerque Filho. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.

Obra que aborda estratégias para o desenvolvimento sustentável e suas implicações.

SANTAELLA, Lucia. Culturas e artes do pós-humano: da cultura das mídias à cibercultura. São Paulo: Paulus, 2003.

Lucia Santaella discute as transformações culturais trazidas pelas novas tecnologias, especialmente as mudanças na percepção, na comunicação e na criação artística.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.

Um dos principais teóricos da geografia brasileira, Milton Santos discute como o espaço influencia as dinâmicas sociais, políticas e culturais, com ênfase na relação entre identidade e lugar.

SCHWAB, Klaus. A Quarta Revolução Industrial. Tradução de Daniel Moreira Miranda. São Paulo: Edipro, 2016.

Klaus Schwab introduz o conceito de Quarta Revolução Industrial analisando as inovações tecnológicas e seu impacto transformador nas indústrias, nos mercados de trabalho e na sociedade como um todo.

SILVEIRA, André Bakker da (coord.). Violência contra escolas no Brasil: perspectivas sobre o extremismo entre jovens e estratégias de prevenção. Curitiba, PR: Instituto Aurora para Educação em Direitos Humanos, 2024 [livro eletrônico]. Disponível em: https://latinoamerica21.com/wp-content/ uploads/2024/04/PT-ES-EN-Ebook-Reconectar.pdf. Acesso em: 9 out. 2024.

A obra explora as causas do extremismo político-ideológico e da violência nas escolas, oferecendo um diagnóstico atual e estratégias para enfrentar o problema.

SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. Exclusão digital: a miséria na era da informação. São Paulo: Perseu Abramo, 2001.

Livro que trata da exclusão digital e dos impactos sociais e econômicos de quem está à margem da sociedade informacional.

THE GLOBAL AL INDEX 2023. Tortois, [s l.], 2023. Disponível em: https://www.tortoisemedia.com/intelligence/the-global -ai-index-2023/. Acesso em: 26 out. 2024.

A publicação avalia o cenário de 62 países no mercado de inteligência artificial, tendo como base investimento, inovação e implementação.

THOMSON, Alistair. Recompondo a memória: questões sobre a relação entre história oral e as memórias. Projeto História, São Paulo, v. 15, abr. 1997.

Ensaio que trata da história oral e sua importância como metodologia para capturar memórias individuais que contribuem para a construção da história coletiva.

VEIGA, José Eli da. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Garamond, 2005.

Na obra, Veiga explora os desafios globais do desenvolvimento sustentável.

WISNIK, José Miguel. Veneno remédio: o futebol e o Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

A obra explora a relação entre o futebol e a identidade cultural brasileira, oferecendo uma perspectiva rica sobre a influência das vivências em espaços públicos no comportamento e nas memórias.

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