PNLD 2026 EM - CAT 1 - COLEÇÃO POR TODA PARTE- SOCIOLOGIA

Page 1


MANUAL DO PROFESSOR

JULIA O'DONNELL PAULO EDISON DE OLIVEIRA PAULO ROTA

JULIA GALLI O'DONNELL

Bacharela em História (Universidade de São Paulo). Mestra e doutora em Antropologia Social (Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Professora na Licenciatura de Ciências Sociais e no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

PAULO EDISON DE OLIVEIRA

Bacharel, licenciado, mestre e doutor em Ciências Sociais (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Especialista em Economia Solidária e Tecnologia Social (Instituto de Geociência da Universidade Estadual de Campinas. Psicanalista pelo Instituto Brasileiro de Ciência e Psicanálise (SP). Formador de professores e professor de Ensino Médio em escola particular. Autor de livros didáticos.

PAULO JORGE STORACE ROTA

Bacharel e licenciado em História (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Mestre em Tecnologia e Educação (Tecnologias da Inteligência e Design Digital da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Pós-graduado em Administração Escolar e Coordenação Pedagógica (Universidade Veiga de Almeida). Autor de materiais didáticos. Professor, coordenador e gestor escolar da Educação Básica. Consultor de currículos de redes e secretarias. Formador de professores e de coordenadores escolares da Educação Básica.

VOLUME ÚNICO

ENSINO MÉDIO

ÁREA DO CONHECIMENTO: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS

1a edição São Paulo – 2024

Copyright © Julia Galli O’Donnell, Paulo Edison de Oliveira, Paulo Jorge Storace Rota, 2024

Direção-geral Ricardo Tavares de Oliveira

Direção de conteúdo e negócios Cayube Galas

Direção editorial adjunta Luiz Tonolli

Gerência editorial Roberto Henrique Lopes da Silva, Nubia Andrade e Silva

Edição Deborah D'Almeida Leanza (coord.)

Pedro Henrique Fandi, Bianca Balisa, Vanessa do Amaral

Preparação e revisão Maria Clara Paes (coord.)

Ana Carolina Rollemberg, Cintia R. M. Salles, Denise Morgado, Desirée Araújo, Eloise Melero, Kátia Cardoso, Márcia Pessoa, Maura Loria, Veridiana Maenaka, Yara Affonso

Gerência de produção e arte Ricardo Borges

Design Andréa Dellamagna (coord.)

Sergio Cândido (criação), Ana Carolina Orsolin, Andréa Lasserre

Projeto de capa Sergio Cândido

Imagem de capa Städtische Galerie im Lenbachhaus, Munique, Alemanha/Bridgeman Images/Fotoarena

Arte e produção Vinicius Fernandes dos Santos (coord.), Faber Projetos Editoriais, Jacqueline Nataly

Ortolan (assist.)

Diagramação Faber Projetos Editoriais

Coordenação de imagens e textos Elaine Bueno Koga

Licenciamento de textos Erica Brambila, Mylena Santos

Iconografia Danielle de Alcântara Farias, Jonathan Christian do Prado Santos, Lucas Alves Profeta, Leticia dos Santos Domingos (trat. imagens)

Mapas Sonia Vaz, DaCosta Mapas, Robson Rocha

Ilustrações Sonia Vaz, Mouses Sagiorato, Lápis 13B e Nelson Provazi

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

O'Donnell, Julia Galli

Sociologia por toda parte : 1º ao 3º ano : ensino médio : volume único / Julia Galli O'Donnell, Paulo Edison de Oliveira, Paulo Jorge Storace Rota. -- 1. ed. -- São Paulo : FTD, 2024.

Componente curricular: Sociologia. Área do conhecimento: Ciências humanas e sociais aplicadas.

ISBN 978-85-96-04774-6 (livro do estudante)

ISBN 978-85-96-04775-3 (manual do professor)

ISBN 978-85-96-04776-0 (livro do estudante HTML5)

ISBN 978-85-96-04777-7 (manual do professor HTML5)

1. Sociologia (Ensino médio) I. Oliveira, Paulo Edison de. II. Rota, Paulo Jorge Storace. III. Título.

24-229505

Índices para catálogo sistemático:

CDD-301

1. Sociologia : Ensino médio 301 Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427

Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados à

EDITORA FTD

Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP CEP 01326-010 – Tel. 0800 772 2300

Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970 www.ftd.com.br central.relacionamento@ftd.com.br

Em respeito ao meio ambiente, as folhas deste livro foram produzidas com fibras obtidas de árvores de florestas plantadas, com origem certificada.

Impresso no Parque Gráfico da Editora FTD CNPJ 61.186.490/0016-33

Avenida Antonio Bardella, 300 Guarulhos-SP – CEP 07220-020 Tel. (11) 3545-8600 e Fax (11) 2412-5375

APRESENTAÇÃO

Como compreender o mundo? De quais maneiras cada pessoa constrói sua identidade ou suas identidades? Quais são os caminhos para melhorar e ampliar o convívio com as diferenças? Como enfrentar os desafios da atualidade? Quais são as relações possíveis entre a realidade e o cotidiano de cada um e as grandes questões globais? Como avaliar as diferentes narrativas e ideologias de forma crítica?

Este livro é um convite para que você reflita sobre essas e outras questões fundamentais para todos os estudantes do Ensino Médio. Sem pretensão de respondê-las, o conteúdo aqui apresentado tem o objetivo de oferecer ferramentas para que você possa refletir de maneira fundamentada, construindo suas opiniões em diálogo com seus valores, experiências e visões de mundo.

A partir de ideias, teorias e conceitos dos diferentes pensadores das Ciências Sociais – área que engloba a Sociologia, a Antropologia e a Ciência Política –, este livro apresenta caminhos para a construção do pensamento crítico, fundamental para transformarmos as muitas informações recebidas diariamente em conhecimentos que nos permitem entender e modificar a realidade que nos cerca. Além dos conceitos e teorias, você encontrará também mapas, tabelas, fotografias, documentos escritos, obras de arte e uma diversidade de métodos de pesquisa. Por meio de análise e interpretação, você realizará conexões entre temas de alcance mundial e questões presentes no seu dia a dia.

Pelo contato com as Ciências Sociais, você terá mais elementos para compreender seu lugar no mundo, constituir-se como cidadão e engajar-se em práticas colaborativas voltadas à construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Esperamos que este livro sirva como ponto de partida para o desenvolvimento de uma visão crítica da realidade, estimulando-o a atuar no mundo de maneira informada e responsável, enfrentando de forma ética e atuante os desafios crescentes do mundo contemporâneo. A constituição de um mundo justo, solidário e sustentável é a nossa responsabilidade com as futuras gerações.

CONHEÇA SEU LIVRO

Este livro é destinado ao desenvolvimento do estudo, do conhecimento e das análises críticas do componente curricular de Sociologia. Apresentado em volume único, ele é composto de 18 capítulos a serem estudados ao longo dos três anos do Ensino Médio.

Saiba, a seguir, como cada capítulo é estruturado.

Abertura do capítulo

Na página de abertura, é apresentado o tema do capítulo, sempre inserido no contexto contemporâneo. Desse modo, evidencia-se como as questões próprias da Sociologia estão presentes nos mais diversos aspectos da atualidade. As atividades iniciais propostas contribuem para a reflexão sobre os próprios conhecimentos e para o debate com os colegas.

CAPÍTULO

OBJETIVOS DO CAPÍTULO:

Diferenciar perspectivas culturais com base em concepções e relações com a natureza. Refletir sobre a relação entre natureza e cultura através das perspectivas da sociedade ocidental e das cosmologias ameríndias. Identificar como os seres humanos são agentes culturais que moldam o ambiente natural. Identificar e reconhecer que atores sociais podem ser humanos e não humanos.

• Analisar como as sociedades ocidentais utilizam a noção de natureza para estabelecer normas e hierarquias em suas próprias estruturas culturais, econômicas e políticas.

Cultura e natureza

A diversidade de saberes, modos de vida e visões de mundo são inerentes aos seres humanos. Seja vivendo em estepes, desertos, vales, florestas tropicais ou temperadas, tundras ou litorais árticos, sempre houve interação do ser humano com os variados ambientes ao redor. No entanto, para que essa interação prosperasse, foi necessário criar soluções no modo de viver, desenvolvendo sentidos, costumes, vestimentas, moradias, formas de se comunicar e de adornar o corpo – tudo isso intimamente conectado aos fenômenos da natureza.

ATIVIDADE

• Leia o texto, observe a imagem e responda a estas questões.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

a) Em sua opinião, que aspectos da relação entre ser humano e natureza foram evidenciados nessa fotografia?

b) Com base na fotografia, é possível inferir aspectos da cultura desse grupo social e sua relação com a natureza? Justifique.

c) Em seu cotidiano, qual é sua relação com a natureza?

d) Para você, qual é a diferença entre natureza e cultura?

SALGADO, Sebastião. Yanomami olhando para o Yaripo, o cume do Pico da Neblina. 2014. Pôster em papel couché, 70 cm x 50 cm. (Coleção Amazônia, n 5).

D3-3137-EM-SOC-VU-C04-68-85-LE-G26-AVR2.indd

Cultura e natureza em debate

Em princípio, natureza e cultura parecem conceitos corriqueiros, não exigindo explicações mais complexas. Na visão ocidental, até mesmo no senso comum, natureza pode ser entendida como o conjunto de elementos que existe independentemente da ação humana, como mar, montanha, fenômenos climáticos, estrelas, plantas e animais. Nessa divisão, o que é “natural” é separado do que é “cultural” ou “social”, isto é, aquilo que é produzido pela sociedade. Essa visão ocidental não apenas separa mas coloca cultura e natureza em oposição, com a dominância da primeira sobre a segunda. Essa configuração foi historicamente construída pelo pensamento europeu, sobretudo a partir do Iluminismo no século XVIII, importante movimento filosófico, artístico e cultural.

Entretanto, essa distinção entre cultura e natureza não aparece nas sociedades do mesmo modo e, inclusive, vem sendo questionada por cientistas sociais. As fronteiras que separam cultura e natureza têm sido problematizadas, uma vez que cada cultura humana estabelece, de modo diverso e próprio, a fronteira que a separa da natureza. Isso faz pensar sobre as várias formas de viver no planeta Terra e como a relação dos seres humanos com o mundo pode ser diferente de acordo com a cultura em que vivem, o que engloba, também, a relação entre humanos e não humanos (animais, plantas e objetos).

Na obra Para além de natureza e cultura publicada em 2005, o antropólogo francês Philippe Descola (1949-) sugere que é preciso ir além da oposição entre cultura e natureza. Para tanto, o autor apresenta como povos indígenas da Amazônia equatoriana percebem os mundos animal e vegetal de forma bem diferente da visão ocidental. Um dos povos retratados por ele foram os achuar, cujo nome quer dizer “povo da palmeira-d'água”. Para os achuar, a natureza não é um lugar separado da cultura, mas uma parte contínua que engloba tudo e todos, uma vez que humanos, animais e plantas estariam conectados entre si.

No entendimento do povo achuar, o mundo é composto de um grande conjunto de relações, no qual as conexões entre seres humanos e seres não humanos são tão importantes quanto as relações entre as pessoas. Para eles, plantas e animais possuem alma, podendo aparecer na forma humana para transmitir mensagens através dos sonhos. Esse modo de pensar a relação entre os humanos e os não humanos é fundamental na vida social dos achuar.

Homem da etnia achuar toca flauta. Equador, 2009. Em sua cosmovisão, esse povo entende que há diversas interações e conexões entre o mundo dos humanos e o dos não humanos.

D3-3137-EM-SOC-VU-C04-68-85-LE-G26-AVR2.indd 69 11/11/2024 15:06:24

OBJETIVOS DO CAPÍTULO

Nesse boxe, destacamos os principais objetivos de aprendizagem ao longo do capítulo.

Organização dos conteúdos

Os títulos e subtítulos organizam os conteúdos que são trabalhados ao longo do capítulo. Eles são empregados para estruturar textos, fotografias, mapas, ilustrações, gráficos e outros recursos, os quais são explorados por meio de atividades.

Este livro é reutilizável. Faça as atividades no caderno ou em folhas avulsas.

Saberes decoloniais

Um dos efeitos do etnocentrismo na sociedade contemporânea é o predomínio da visão de mundo europeia. No Brasil, por exemplo, as diretrizes e os currículos

de colonização, iniciado no século XVI, não se resumiu à ocupação do território e à dominação política. Ele se consolidou também como uma dominação social e cultural, que afetou profundamente a forma de agir e de pensar das populações colonizadas. Nos últimos anos, pensadores africanos, indígenas e latino-americanos começaram a chamar a atenção para a necessidade de “descolonizar o pensamento”. Mas o que isso significa? Para esses pensadores, o primeiro passo para descolonizar o pensamento é questionar a ideia de que os saberes vindos da Europa são absolutos e universais. Eles defendem que é preciso abrir espaço para as histórias, ideias e visões de mundo de outros grupos, conhecendo sua visão sobre temas e acontecimentos estudados apenas pelo ponto de vista europeu. Essa perspectiva não propõe abandonar saberes de origem europeia, e sim mostrar

CONEXÕES com...

Seção que explora as ligações que determinados conteúdos têm com outros componentes curriculares: Filosofia, História, Geografia, Biologia, Matemática, Língua Portuguesa e Arte.

CONEXÕES com

A bióloga, filósofa e teórica do feminismo estadunidense Donna Haraway (1944-) é referência no pensamento feminista das ciências e no pensamento multiespécies Na obra Manifesto ciborgue (1985), Haraway discute as mudanças sociais e políticas no Ocidente a partir do final do século XX, especialmente no que diz respeito à ciência e à tecnologia, mas também ao feminismo. Nessa obra, a figura do ciborgue muito comum na ficção científica, é usada como uma metáfora para elaborar uma crítica das relações sociais sob o capitalismo em favor de uma produção socialmente responsável da ciência e da tecnologia. Em seu livro, Haraway não rejeita o uso das novas tecnologias, mas questiona a dualidade e as fronteiras entre animais e humanos, entre o orgânico (coisas vivas) e o inorgânico (coisas não vivas), e entre cultura e natureza. Na sua visão, as novas tecnologias embaralharam essas fronteiras. Esse híbrido de máquina e organismo simbolizaria a quebra dessas fronteiras e poderia ser usado para criar uma nova política. Assim, o ciborgue deixaria de ser apenas uma personagem de ficção científica para se tornar parte da realidade social, uma ferramenta para contestar as dicotomias ocidentais e um recurso para combater as desigualdades sociais, de classe, de raça e de gênero. Donna Haraway é uma das pesquisadoras da simpoiese A palavra “simpoiese” deriva do grego e significa “fazer com”, “fazer junto” ou “estar junto”. O termo se refere a uma cocriação, ou seja, a processos de interação entre espécies nos quais o caráter coletivo e a colaboração estão presentes. Pensando nisso, a bióloga defende que os seres humanos devem “fazer parentes”. Mas o que ela quer dizer com isso? Para enfrentar o que está por vir, diante, sobretudo, da emergência climática, Haraway defende um projeto de colaboração multiespécie, no qual os humanos devem fazer parcerias com seres de outras espécies. Para desenvolver esse pensamento, a autora faz uso da teoria dos holobiomas, associada, principalmente, ao trabalho de Lynn Margulis (1938-2011), uma bióloga estadunidense que contribuiu para a biologia evolutiva. Fotografia de

A teoria dos holobiomas afirma que microrganismos, animais, plantas e seres humanos formam uma única unidade evolutiva. Isso significa que todos estão conectados por relações genéticas e metabólicas. Os microrganismos seriam, então, tão importantes para os seres humanos que seria possível considerá-los parte de nós mesmos. Em vez de entender cultura

publicado originalmente em 2016, Haraway defende que, para enfrentarmos os desafios planetários, não apenas os das mudanças climáticas mas também de outras ameaças à vida humana na Terra, como guerras, e lutarmos pela afirmação das diferenças na sociedade, devemos repactuar nossas parcerias com os não humanos. Leia um trecho desse manifesto.

[...] o presente manifesto se pergunta qual dessas duas figuras improvisadas – ciborgues e espécies companheiras – pode informar de modo mais frutífero políticas [...] nos mundos de vida

ATIVIDADES

Por meio de atividades contextualizadas e diversificadas, você interage com os temas abordados em cada capítulo, resgatando, sistematizando e ampliando os conteúdos estudados.

Ser jovem no Brasil de hoje

Como é

jovem no Brasil de

pode

Saiba mais ATLAS DAS JUVENTUDES. S. l. 2021]. Site Disponível em: https:// atlasdasjuventudes. com.br/ Acesso em: 15 ago. 2024. Página que reúne dados, análises e evidências sobre os jovens brasileiros, abrangendo temas como gênero, violência, mercado de trabalho, mobilidade e acesso à cultura etc.

riência

Glossário

Explicações sobre expressões e termos menos conhecidos, que aparecem próximo da ocorrência no texto.

precarizante: situação de instabilidade, insegurança ou más condições.

o tempo e o lugar. Num país de profundas desigualdades sociais como o nosso, questões de gênero, raça e classe exercem enorme influência na maneira como essa pergunta pode ser respondida. Diferentes pesquisas vêm, ao longo das últimas décadas, procurando entender as principais questões dos jovens brasileiros. Afinal, considerando que os jovens de hoje são a população em idade ativa das próximas décadas, conhecer suas realidades e demandas é fundamental para formular políticas públicas que visem melhorar as perspectivas de futuro de todo o país. Além disso, a não inserção de jovens no mercado de trabalho não somente impacta negativamente na vida desses, indivíduos como também pode causar problemas na esfera econômica do país. O envelhecimento da população economicamente ativa pode abalar os padrões de consumo da sociedade, desregulando o mercado de certos bens que seriam mais consumidos pelos jovens. O Censo Demográfico 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), contabilizou cerca de 48 milhões de brasileiros entre 15 e 29 anos, que correspondem a cerca de 22,5% da população do país. Destes, 48,7% se declaram pardos, 39,4% brancos, 10,8% pretos, 0,7% indígenas e 0,3% amarelos. O Norte é a região do país com maior concentração de jovens (com 28% do total). Sul e Sudeste empatam como regiões com menos pessoas nessa faixa etária (com 21% do total cada uma). Esses dados nos ajudam a ter um panorama da população de jovens do país. No entanto, não nos permitem entrar em contato com as principais questões da juventude brasileira de hoje sem desconsiderar suas muitas diferenças.

Trabalhar, estudar ou nenhum dos dois?

Um dos principais desafios da juventude brasileira hoje em dia é o acesso ao mercado de trabalho. Uma pesquisa feita em 2023 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revelou que, entre os 37 países analisados, o Brasil ocupa a segunda posição em termos de maior proporção de jovens com idade entre 18 e 24 anos que não estudam nem trabalham, perdendo apenas para a África do Sul. A dificuldade de os jovens encontrarem trabalho não é novidade. A socióloga brasileira Helena Abramo explica que o mercado de trabalho sempre teve uma relação precarizante com o jovem. população em idade ativa: classificação etária que reúne as pessoas teoricamente aptas a exercer uma atividade econômica.

AVR1-3137-EM-SOC-VU-C06-104-123-LE-G26.indd

Saiba mais

Sugestões de livros, sites, podcasts, documentários, filmes, entre outros conteúdos, para enriquecer ou ampliar assuntos estudados.

PERSPECTIVAS

Como você aprendeu, diferentes sociedades podem apresentar cosmovisões próprias sobre natureza e cultura. Para aprofundar a compreensão sobre essas perspectivas, é fundamental ouvir e valorizar as vozes dos pensadores de diferentes povos. A seguir, são apresentados depoimentos e referências de diversos sujeitos sociais com relação a essas concepções, destacando a diversidade de perspectivas. Davi Kopenawa (1956-) é um líder indígena yanomami, xamã e ativista dos direitos indígenas no Brasil. Ele luta pela preservação da Floresta Amazônica e pela proteção dos direitos de seu povo. Leia um trecho de sua obra O espírito da floresta Os brancos pensam que a floresta está colocada sem razão sobre o chão, como morta. Não é verdade. [...] A floresta não está morta, do contrário as árvores não teriam folhas. E tampouco se veria água ali. As árvores da floresta são belas porque estão vivas. Só morrem quando são derrubadas e quando ressecam. Elas têm uma só vida. É assim. Nossa floresta está viva e, se os brancos nos fizerem desaparecer e a desmatarem inteiramente, eles ficarão pobres e acabarão por sofrer fome e sede. O que vocês chamam ‘natureza’ na nossa língua é urihi a a terra-floresta [...]. O que chamamos Urihinari a é o espírito da floresta [...] chamamos urihi a ‘natureza’, assim como os espíritos animais yarori pë e até os das abelhas, das tartarugas ou dos caracóis. O ‘valor de fertilidade’ da floresta, que chamamos në rope a é também para nós a ‘natureza’: ele foi criado com a floresta, é sua ‘riqueza’. KOPENAWA, Davi. Urihi a. In ALBERT, Bruce; KOPENAWA, Davi. O espírito da floresta Tradução: Rosa Freire d’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2022. p. 29-30.

Ana Cláudia Matos da Silva, conhecida como Ana Mumbuca, é quilombola da comunidade Mumbuca, em Mateiros (TO). Como escritora, registra aspectos da cosmologia quilombola e dos saberes tradicionais de sua comunidade. Leia um trecho de texto da autora. Ser quilombo é conhecer a ancestralidade e o sentido de viver, e isso nos faz saber profundamente quem são os meus, as paisagens, pegadas de animais e das vidas que compõem o território, sonoridades, plantas, mundo espiritual, habilidades características de cada indivíduo e grupo familiar e arredores. Existe a pedagogia do compartilhar, acontece desde cedo, as crianças são colocadas para se alimentarem em um mesmo momento e em um único recipiente, sob os olhares dos pais. [...] O Quilombo compreende que o compartilhamento não acontece pelo fato de ter algo em quantidade, mas principalmente pela capacidade de repartir aquilo de que também estamos precisando. [...] O viver quilombo persiste nos diversos fatores, ressalta-se a capacidade de viver o tempo presente recebendo forças da ancestralidade e, assim, vislumbrar o futuro. [...] MUMBUCA, Ana. Ser quilombo. In SANTOS, Antônio Bispo dos et al. Quatro cantos São Paulo: N-1 Edições, 2022. p. 82-83.

Os impactos da violência

A pesquisa Juventudes no Brasil, feita em 2021 pelo Observatório da Juventude na Ibero-América (OJI), revelou um dado alarmante. Diante da pergunta “Quais temas afetam você de forma mais pessoal?”, 40% dos jovens brasileiros entrevistados responderam que é a violência. Em segundo lugar veio a corrupção, com 26% das respostas. Sabemos que o Brasil é um país onde a violência se faz presente de muitas formas, afetando as pessoas de maneira desigual conforme classe, gênero, raça e local de moradia. Além disso, pesquisas vêm mostrando que a idade também é um fator de grande relevância, especialmente se combinado com outras variáveis. Em 2019, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS/IBGE) revelou que os jovens brasileiros estão mais sujeitos à violência física, psicológica e social do que qualquer outra faixa etária. Na ocasião, mais de um quarto dos jovens de 18 a 29 anos entrevistados (27%) afirmou ter sido vítima de algum tipo de agressão nos 12 meses que antecederam a pesquisa. Quando considerados outros fatores, vemos que a violência não está igualmente distribuída entre os jovens. No Brasil, as maiores vítimas da violência são, historicamente, jovens negros do sexo masculino. Um levantamento feito pelo Instituto Sou da Paz mostrou que, entre 2012 e 2019, a taxa de jovens negros vítimas de homicídio foi 6,5 vezes maior do que a taxa nacional. Esse é um problema de raízes históricas profundas, que coloca grandes desafios para o Estado e para a sociedade civil. O enfrentamento da violência contra a juventude negra deve ser tomado como um desafio de todos, que passa por políticas de inclusão e combate à desigualdade.

Os dados alarmantes da violência contra jovens negros vêm gerando a mobilização da sociedade civil.

Cartaz contra o extermínio da juventude negra durante manifestação no Memorial Quilombo dos Palmares na Semana da Consciência Negra. União dos Palmares (AL), 2022. CESAR DINIZ/PULSAR IMAGENS

AVR1-3137-EM-SOC-VU-C06-104-123-LE-G26.indd 116

Boxe

complementar

Informações complementares que ampliam o estudo de uma imagem ou um tema.

Antônio Bispo dos Santos (1959-2023), conhecido como Nêgo Bispo, nasceu no Vale do Rio Berlengas, antigo povoado de Papagaio, atual município de Francinópolis (PI). Viveu a maior parte de sua vida na comunidade quilombola Saco-Curtume, localizada em São João do Piauí (PI), onde foi líder, poeta e exerceu seu ativismo político. Nêgo Bispo é considerado um importante intelectual brasileiro, e seus livros trazem uma perspectiva do multinaturalismo. Leia um trecho de uma de suas obras. Quando ouço a palavra confluência ou a palavra compartilhamento pelo mundo, fico muito festivo. [...] Quando cheguei ao território em que estou hoje [...] os umbuzeiros nos recepcionaram. Eles compartilharam seus frutos, suas folhas e suas raízes quando chegamos, e não trouxemos nada para os umbuzeiros. Eles já eram nativos daqui, viemos habitar esta terra depois deles. Foi assim com os pássaros, foi assim com uma planta chamada pinhão – que não é o pinhão-manso, é um pinhão cuidado por nós, ditos humanos, que as juritis adoram. Elas comem esses pinhões e, vez por outra, pegamos uma juriti. O pinhão compartilha com a juriti, a juriti

PERSPECTIVAS

Ideias e trechos de textos de importantes pensadores, por vezes seguidos de atividades de interpretação e análise.

Davi Kopenawa. Brasília (DF), 2021. Ana Mumbuca. Fotografia de 2020.

INVESTIG AÇÃO

Exercitando a imaginação sociológica com estudo de caso

ciência social está associado à prática de relacionar biografia, história e estrutura social.

1. Formem trios, seguindo

A coleta de dados qualitativos busca descrever um fenômeno, mais do que medi-lo, geralmente por meio de entrevistas, observações e análise de conteúdo, para explorar fenômenos em profundidade. Nesse caso, gráficos e/ou tabelas são utilizados para mensurar opiniões e pontos de vista do fenômeno. A coleta de dados quantitativos reúne dados numéricos, usando métodos como questionários e experimentos, para medir variáveis e identificar padrões ou relações, permitindo uma análise estatística objetiva.

O estudo de caso com dados qualitativos pode ser usado para explorar as implicações sociais de experiências pessoais, relacionando biografia, história e sociedade.

RECAPITULE

Síntese do que foi estudado ao longo do capítulo.

Neste capítulo, você estudou os principais conceitos que fundamentam os estudos de gênero, que englobam pesquisas e teorias voltadas para a compreensão das relações entre homens e mulheres nas diferentes sociedades. Por meio de conceitos como sexo, gênero e sexualidade, é possível entender como cada sociedade organiza essas relações, estabelecendo padrões sobre como os indivíduos devem vivenciá-las. Você também aprendeu que, na maioria das sociedades, as relações de gênero não são iguais. Historicamente, a ideia de que as mulheres são naturalmente inferiores aos homens e, portanto, devem ser submissas a eles foi amplamente difundida. Ao longo do tempo, diferentes grupos de mulheres se mobilizaram contra essa concepção, formando o que ficou conhecido como feminismo. Longe de ser um movimento único, o feminismo é composto de diversas correntes e perspectivas, todas unidas pelo objetivo de combater a ideia de submissão feminina. Nas últimas décadas, os movimentos de defesa da população LGBTQIAPN+ também se juntaram à luta feminista. Por não seguirem padrões normativos de sexualidade e identidade de gênero, essas pessoas têm sido historicamente discriminadas e alvo de violência. Essas questões mostram que a construção da identidade individual está profundamente ligada aos padrões sociais. Ser homem ou mulher não é apenas uma questão biológica, é algo construído ao longo de toda a vida, através da constante interação entre valores e desejos pessoais e as expectativas sociais.

empregador ao

discriminado, e

valor

caso de reincidência, sem prejuízo de outras medidas legais. […] SANCIONADA lei de igualdade salarial entre mulheres e homens. Senado Notícias Brasília, DF, 4 jul. 2023. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2023/07/04/sancionada-lei-de-igualdade-salarial-entre-mulheres-e-homens. Acesso em: 31 ago. 2024.

a) A notícia faz referência ao sancionamento de uma nova lei. Qual problema essa lei busca resolver?

b) Com base no que foi estudado no capítulo, por que essa lei é necessária?

OBJETOS EDUCACIONAIS DIGITAIS

Estes ícones identificam os variados objetos educacionais digitais presentes na obra. Esses materiais apresentam temas complementares ao conteúdo, favorecendo a aprendizagem e promovendo o senso crítico e a criatividade.

INVESTIGAÇÃO

Apresentada ao longo dos capítulos, a seção envolve reflexões e práticas de pesquisa relativas aos saberes construídos nos capítulos anteriores. Por meio de diferentes etapas, são criadas oportunidades para o exercício da investigação científica de fenômenos sociais e a aplicação de diferentes técnicas e métodos de coleta, organização e análise de dados.

BECK, Alexandre. [“Hereditário”

mulheres foi o traço marcante. Entretanto,

feminina se dá mais no espaço dos empregos precários, onde a exploração, em grande medida, se encontra mais acentuada.

NOGUEIRA, C. M. As trabalhadoras do telemarketing: uma nova divisão sexual do trabalho? In: ANTUNES, R. et al Infoproletários degradação real do trabalho virtual. São Paulo: Boitempo, 2009.

A transformação descrita no texto tem sido insuficiente para o estabelecimento de uma condição de igualdade de oportunidade em virtude da(s)

a) estagnação de direitos adquiridos e do anacronismo da legislação vigente.

b) manutenção do status quo gerencial e dos padrões de socialização familiar.

c) desestruturação da herança patriarcal e das mudanças do perfil ocupacional.

d) disputas na composição sindical e da presença na esfera político-partidária.

e) exigências de aperfeiçoamento profissional e de habilidades na competência diretiva.

4. (Enem – 2021) Mulheres naturalistas raramente figuraram na corrida por conhecer terras exóticas. No século XIX, mulheres como Lady Charlotte Canning eventualmente coletavam espécimes botânicos, mas quase sempre no papel de esposas coloniais, viajando para locais onde seus maridos as levavam e não em busca de seus próprios projetos científicos. SOMBRIO, M. M. O. Em busca pelo campo — Mulheres em expedições científicas no Brasil em meados do século XX. Cadernos Pagu n. 48, 2016.

No contexto do século XIX, a relação das mulheres com o campo científico, descrita no texto, é representativa da

a) afirmação da igualdade de gênero.

b) transformação dos espaços de lazer.

c) superação do pensamento patriarcal.

d) ncorporação das estratificações sociais.

e) substituição das atividades domésticas.

D2-3137-EM-SOC-VU-C13-236-253-LE-G26-AVR2.indd 253

ATIVIDADES FINAIS

Seção de atividades que encerra cada unidade e visa verificar ou ampliar a compreensão dos principais conteúdos. Reúne também atividades de vestibulares e do Enem.

Os sites indicados nesta obra podem apresentar imagens e eventuais textos publicitários junto ao conteúdo de referência, os quais não condizem com o objetivo didático. Não há controle sobre esses conteúdos, pois eles estão estritamente relacionados ao histórico de pesquisa de cada usuário e à dinâmica dos meios digitais.

PODCAST CARROSSEL DE IMAGENS
MAPA CLICÁVEL
CAPÍTULO
CAPÍTULO
CAPÍTULO
CAPÍTULO
CAPÍTULO

Jovens, juventudes e culturas juvenis

O que é juventude?

Culturas juvenis 111

CONEXÕES com... LÍNGUA PORTUGUESA

• O internetês 113

Ser jovem no Brasil de hoje 114

Trabalhar, estudar ou nenhum dos dois? ...................... 114

Os impactos da violência 116

INVESTIGAÇÃO • Construção e uso de amostragem e questionário sobre lazer

breve contexto da elaboração de uma ciência

CONEXÕES com... BIOLOGIA • Darwin criou o termo “darwinismo social”?

INVESTIGAÇÃO • Revisão bibliográfica expositiva

CAPÍTULO
CAPÍTULO
CAPÍTULO
CAPÍTULO

Movimentos sociais

Movimentos sociais: definição e estratégias

O que caracteriza um movimento social?

O alcance dos movimentos sociais 203

Movimentos sociais na América Latina 204

Movimentos sociais no Brasil 205

CONEXÕES com... GEOGRAFIA • Movimentos sociais dedicados à agricultura familiar 206

Uma sociedade em transformação 210

Organizações não governamentais e entidades do terceiro setor 211

PERSPECTIVAS

Necropolítica, miscigenação e resistência negra

Necropolítica e biopoder

Necropolítica do povo negro no Brasil

Genocídio e a construção da identidade brasileira 219

CONEXÕES com... ARTE • A Redenção de Cam e o embranquecimento no Brasil 221

O mito da democracia racial no Brasil 222

Resistência negra no Brasil 224

Quilombos e comunidades quilombolas 224

Confrarias negras 225

Movimento abolicionista ......................................... 225

Clubes negros e Frente Negra Brasileira 226

Teatro Experimental do Negro (TEN) 226

Movimento de reafricanização 227

Movimento Negro Unificado e Coalização Negra por Direitos 227

A resistência negra hoje

Sociologia brasileira e sociologia negra 228 PERSPECTIVAS 231

INVESTIGAÇÃO • Análise da imprensa e de veículos da mídia tradicional

15

CAPÍTULO
CAPÍTULO
CAPÍTULO
CAPÍTULO
CAPÍTULO

Quem controla o controle?

CONEXÕES com... FILOSOFIA • Da sociedade disciplinar à sociedade de controle

INVESTIGAÇÃO • Análise das Mídias Sociais (ARS) e o impacto na privacidade e no consumo ...................

INVESTIGAÇÃO • Observação, tomada de nota e construção de relatórios sobre geração de resíduos sólidos

Entre crenças e práticas sociais:

Estudo de recepção: propagandas direcionadas às pessoas idosas no

A Sociologia das religiões 332 CONEXÕES com... HISTÓRIA • Algumas religiões na história

333

Marx: a religião como alienação e pilar ideológico do capitalismo 334

Durkheim: a função social da religião e o conjunto de representações coletivas

Weber: a religião como valor e o processo de racionalização

334

336

Bourdieu: a religião como capital simbólico 337 As religiões no Brasil 338 O fundamentalismo 339

INVESTIGAÇÃO • Entrevista sobre intolerância religiosa em um Estado laico 340

Objetos Educacionais Digi tais

Mapa clicável: Brasil: expansão cafeeira: séculos XIX-XX 61

Infográfico clicável: Arte urbana: uso e ocupação do espaço na cidade 111

Carrossel de imagens: A fotografia como ferramenta antropológica 134

Vídeo: Conceitos e organização do Estado no mundo contemporâneo: regimes políticos na América Latina 151

Infográfico clicável: A diversidade dos movimentos sociais latino-americanos 204

Vídeo: Quilombos urbanos: memória e resistência na contemporaneidade 224

Podcast: Slam: a poesia da juventude periférica 227

Vídeo: Divisão sexual do trabalho e desigualdade de gênero na ciência 242

Carrossel de imagens: Controle social e dispositivos de poder 276

Podcast: Fake news: redes sociais e seu uso político 283

Infográfico clicável: Agroecologia: uma alternativa para os desafios ambientais contemporâneos 292

Podcast: Indústria cultural e padrões de consumo 321

CAPÍTULO
CAPÍTULO
CAPÍTULO

CAPÍTULO

1

OBJETIVOS DO CAPÍTULO:

Identificar e definir os conceitos de identidade, indivíduo, sociedade, socialização primária e secundária.

C onhecer e diferenciar as perspectivas de Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim sobre o objeto de estudo da Sociologia.

C omparar as diferentes teorias sociológicas sobre o conceito de sociedade.

C teorias sociológicas, as rupturas e as permanências das sociedades humanas.

R internalizações e os questionamentos de comportamentos, costumes, crenças e valores sociais.

Indivíduo e sociedade

2. a) Resposta pessoal. Espera-se que o estudante use seus conhecimentos prévios para responder, de modo simplificado, que a sociedade é o agrupamento de pessoas.

2. b) Resposta pessoal. Espera-se que o estudante use seus conhecimentos prévios para responder que o papel é agir com responsabilidade, exercer a cidadania, respeitar as pessoas e as leis e trabalhar.

Nós, seres humanos, vivemos agregados em grupos de pessoas que conhecemos e, cotidianamente, encontramos pessoas que não fazem parte de nosso círculo de convivência. Temos contato com pessoas diversas quando estamos em um estabelecimento comercial para comprar algo ou usufruir de uma prestação de serviço, ou em espaços públicos, como praças, parques etc. A vida em sociedade nos coloca diante de pessoas desconhecidas, e frequentemente somos convidados a nos apresentarmos a elas.

Apesar de viver habitualmente essa prática, você já se perguntou o que significa se apresentar ? Como selecionar o que dizer a pessoas que ainda não conhecemos?

As sociedades contemporâneas são marcadas por um intenso fluxo de informações, pessoas e mercadorias, possibilitado pelo desenvolvimento tecnológico. Viver em sociedade é se relacionar a todo momento. Nesse processo, com frequência estamos expostos a uma diversidade de coisas que são produzidas pelas diferentes sociedades e pelos indivíduos com os quais estamos conectados.

O artista britânico utiliza jornais e revistas deixados por passageiros do metrô de Londres (Inglaterra) para criar suas colagens.

HALE, Adam. The daily splice 207. 2015. Colagem analógica.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Ao se apresentar para um grupo de pessoas desconhecidas, quais informações você considera essenciais para que elas possam conhecê-lo?

1. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante explique a visão do senso comum, por exemplo, nome, idade, time de futebol, signo etc.

2. A partir da leitura do texto e de seus conhecimentos prévios, responda às questões a seguir.

a) O que você compreende por sociedade?

b) Qual é o papel dos seres humanos na sociedade contemporânea?

c) O que torna você um indivíduo singular na sociedade?

O indivíduo

2. c) Resposta pessoal. Espera-se que o estudante use seus conhecimentos prévios para responder quais são suas vontades, seus desejos e suas escolhas.

O termo “indivíduo” originou-se do termo latino “atomon”, que significa “átomo”. O filósofo grego Demócrito de Abdera (460 a.C.-370 a.C.) formulou a ideia de que o universo é composto de dois elementos básicos: o vácuo (o vazio ou o não ser) e os átomos. Na civilização europeia, a partir do século XV, as reflexões a respeito do ser humano privilegiavam a individualidade em detrimento da coletividade. No século XXI, o antropólogo francês Edgar Morin (1921-) afirmou, no livro O método 5: a humanidade da humanidade, publicado originalmente em 2001, que o ser humano é uma trindade: indivíduo/sociedade/espécie, isto é, o indivíduo é o produto da espécie humana e as interações entre os indivíduos produzem a sociedade. Então, o que significa ser indivíduo? Qual é a relação entre indivíduo e sociedade? Será que somos uma unidade ou trindade?

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
Estudante faz apresentação em sala de aula. São Paulo (SP), 2022.

Indivíduo e fenômeno social

Quando nos apresentamos a um grupo ou a uma pessoa, realizamos um exercício mental complexo, influenciado por diversos fatores externos e internos. Consideramos, por exemplo, o local onde estamos, quem são as pessoas e qual é o propósito de uma apresentação, sem necessariamente expor aquilo que consideramos nossa intimidade ou vida privada.

Quando desejamos acessar serviços públicos, como a emissão de carteira de vacinação virtual presente no aplicativo do Sistema Único de Saúde (SUS), é necessário informar nosso registro no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), um dado pessoal intransferível estabelecido pelo Estado. Já em um processo seletivo, seja de trabalho, seja para ingresso em instituição de educação ou de outras atividades, apresentamos somente o que interessa naquele espaço, isto é, as habilidades e competências exigidas para o cargo ou a função.

Dizer para qual time de futebol torce, o esporte que pratica, a comida de que gosta, entre outros, permite a um grupo conhecer quem é você, assim como o seu nome e sobrenome, além de sua idade. No entanto, isso não é o suficiente, pois de quantas identidades somos formados? Quantos “eus” habitam o corpo de cada um?

Podemos ter hábitos, costumes, gostos, manias, personalidades e valores semelhantes, mas nem todas as pessoas possuem o mesmo conjunto de características. O que nos torna singulares é a maneira como nossa mente interage com as informações sociais e as interpreta para nos tornar sujeito. Isso significa que nossa constituição como indivíduo só pode acontecer na relação com o social. Afinal, apresentar-se é um fenômeno social. Assim como as Ciências da Natureza possuem os fenômenos naturais como objeto de estudo, as Ciências Sociais têm os fenômenos sociais.

Segundo o sociólogo e antropólogo francês Marcel Mauss (1872-1950), na obra Sociologia e antropologia, publicada pela primeira vez em 1950, fenômeno social é tudo aquilo que na sua existência apresenta uma noção coletiva. É o comportamento das pessoas em conjunto, em um ambiente em comum. Desemprego, taxa de natalidade e riqueza, por exemplo, nunca são apenas um acontecimento, mas o fato em geral, em correspondência com várias áreas da vida humana. Mauss ampliou a ideia, conceituando o fenômeno social “total” como a expressão de algo presente em toda sociedade que organiza e gera produção e consumo nas mais diversas dimensões sociais.

ATIVIDADE Consulte orientações no Manual do Professor.

• Organizem a sala de aula em círculo e, com a orientação do professor, exercitem uma prática de apresentação, em que cada pessoa pode contar sobre si aos colegas.

Ao finalizar as apresentações, reflitam sobre as características que foram apresentadas e procurem responder aos seguintes questionamentos.

a) Quais informações foram mais frequentemente compartilhadas? Exemplifique.

b) As pessoas trouxeram características físicas? Hábitos? Gostos e preferências? Reflita e comente.

Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes participem ativamente, compartilhando informações pessoais e refletindo sobre as características mencionadas.

Stuart Hall (1932-2014), sociólogo jamaicano radicado na Inglaterra e fundador da escola de pensamento de Estudos Culturais, no livro A identidade cultural na pós-modernidade, publicado originalmente em 1992, explica os rumos da crise de identidade que acomete o sujeito no final do século XX. Para desenvolver sua teoria, Stuart Hall estabelece três concepções de sujeito, como se lê no trecho.

O sujeito do Iluminismo […] [é] um indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades de razão, de consciência e de ação, cujo “centro” consistia num núcleo interior, que emergia pela primeira vez quando o sujeito nascia e com ele se desenvolvia […] ao longo da existência […]. […]

[…] [No] sujeito sociológico […] este núcleo interior do sujeito não era autônomo e autossuficiente, mas era formado na relação com ‘outras pessoas importantes para ele’, que mediavam para o sujeito os valores, sentidos e símbolos – a cultura – dos mundos […] a identidade é formada na “interação” entre o eu e a sociedade. […]

[…]

[…] o sujeito pós-moderno, conceptualizado como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade torna-se uma “celebração móvel”: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam […] O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções […].

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução: Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. p. 10-13.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Com qual dos três sujeitos estabelecidos por Stuart Hall você mais se identifica?

Resposta pessoal. Espera-se que o estudante se identifique com o pós-moderno, que produz diversas identidades, às vezes contraditórias.

Stuart Hall. Londres (Inglaterra), 1996.
NÃO ESCREVA NO LIVRO.

• Z YGMUNT Bauman: identidade pessoal.

[S. l.: s. n.], 2013. 1 vídeo (3 min). Publicado pelo canal Fronteiras do Pensamento. Disponível em: https://www.youtube. com/watch?v= sMa Wuh6nw3g. Acesso em: 15 jul. 2024.

Trecho de entrevista concedida pelo sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017), que explica como nossa identidade pessoal se modifica no decorrer da vida.

• SER brasileiro: qual a minha identidade?

Lilia Moritz Schwarcz. [S. l.: s. n.], 2018. 1 vídeo (4 min). Publicado pelo canal Casa do Saber. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=rbg8NyUxCic. Acesso em: 4 set. 2024.

A antropóloga Lilia Moritz Schwarcz aborda a identidade e os personagens que decorrem da sociabilização humana.

Pessoa, identidade e subjetividade na teoria sociológica

As pessoas, em geral, podem ser identificadas socialmente pela naturalidade, local de nascimento, regionalidade cultural, classe social, gênero, idade, nível de instrução, cor ou raça, etnia, profissão etc.

Nomeamos identidade as diferentes categorias às quais os indivíduos se sentem pertencentes. No entanto, somos indivíduos com papéis e posições sociais estabelecidos conforme diferentes fatores. Por exemplo, ser filha, pai, médica, pedreiro etc. são identidades ou papéis sociais? Se uma pessoa é pai, na sociedade brasileira contemporânea, há um papel social definido com expectativas sociais de responsabilidade, seja material, seja afetiva, do pai para com o filho. No entanto, as pessoas podem ou não se identificar com essa categoria social.

Existem pontos de conexão entre identidades, subjetividade e papéis sociais que podem confundir as definições de cada um deles. Ser pai é também subjetivo e se relaciona com como cada um interpreta as expectativas sociais. Alguns compreendem que ser pai é ser progenitor, mas no estado democrático de direito isso não basta. Outros compreendem que ser pai é reproduzir comportamentos herdados de sua própria criação. Esse movimento singular de cada indivíduo recebe o nome de subjetividade. É necessário compreender também que, apesar das experiências individuais, todos, sem exceção, estão submetidos às leis da sociedade. Por exemplo, uma das leis é o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que define as responsabilidades legais, financeiras e afetivas dos pais ou responsáveis, cujo descumprimento é passível de punição no rigor da lei.

A identidade de cada indivíduo é formada por diversos papéis sociais e subjetivos, influenciados por fatores como gênero, classe social, etnia, cultura etc.

Saiba mais

E o conceito de pessoa?

Na tradição ocidental, os romanos cunharam o termo “ livro Temas básicos da sociologia, publicado originalmente em 1956, os filósofos e sociólogos alemães Theodor W. Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973) comentam que essa palavra era empre gada pelos romanos para se referir à máscara no teatro clássico, um utensílio usado para representar uma personagem. Com o tempo, em Roma, o conceito passou a fazer referência ao cidadão nascido livre em contraste ao escravizado.

O vocábulo, hoje, possui diversos significados: a pessoa física, por exemplo, designa todos os cidadãos reconhecidos pelo Estado. No Brasil, o número do CPF é um cadastro que permite a participação nas instâncias de cidadania: matricular-se em uma escola, votar, ter uma conta bancária, utilizar o serviço de saúde; já a pessoa jurídica instituições formadas por uma ou mais pessoas físicas e é representada, no Brasil, pelo Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ).

Na sociedade contemporânea globalizada, as pessoas utilizam mais de uma persona, ou seja, usam diferentes máscaras de acordo com o local, as relações e os interesses em determinado contexto. O sistema educacional e a educação parental, ou familiar, visam preparar as crianças para saber utilizar essas máscaras de acordo com o ambiente, seja no mundo do trabalho, seja na vida pública como cidadão, seja nas relações pessoais. É assim que as pessoas constituem uma rede de relações.

O sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002), na obra Razões práticas: sobre a teoria da ação, publicado a originalmente em 1994, cunhou alguns termos para analisar a situação de classes na sociedade contemporânea. Ele chamou de capital cultural os ativos sociais de uma pessoa (educação, intelecto, estilo de discurso, estilo de vestuário, conhecimentos etc.) que promovem a mobilidade social na sociedade moderna, e de capital social a soma dos recursos e potenciais de um grupo, uma espécie de rede de relações interpessoais que cada um constrói, com os benefícios ou malefícios que ela pode gerar na competição entre os grupos humanos. Também definiu capital econômico como o comando de recursos econômicos, como dinheiro, patrimônio, posses, meios de produção etc., e o igualou ao “trabalho acumulado”, que permite gerar riqueza. Por fim, Bourdieu definiu também o capital simbólico , entendido como a distribuição dos demais capitais para o alcance do prestígio e do reconhecimento social. Um exemplo disso seria a educação, um capital cultural, como meio de mobilidade social, por meio da qual se pode atingir o reconhecimento e os prestígios sociais de uma classe dominante sobre outra.

Desse ponto de vista, as máscaras sociais nos permitiriam performar múltiplas identidades no convívio social e promoveriam o sentimento de pertencer a um grupo, além de reforçar que a identidade se constitui na relação com o diferente. Mas será que é possível o sujeito sempre escolher as suas identidades?

Diocleciano, em Roma (Itália). Fotografia de 2018. Museu Nacional Romano.

As máscaras tornaram-se artefatos essenciais para os atores do teatro romano por influência do teatro grego.

Sujeito sujeitado

Enquanto na sociedade contemporânea a ideia de pertencimento a um grupo estaria vinculada à possibilidade de uma escolha individual, nas sociedades tradicionais, os membros de um grupo estariam vinculados ao coletivo, e suas escolhas seriam baseadas no bem-estar e na sobrevivência da comunidade.

Mas será que no quesito “escolhas” a sociedade contemporânea é tão diferente das tradicionais? Apesar da defesa da livre-escolha do cidadão moderno, ela está restrita às possibilidades a ele sugeridas. Segundo o educador brasileiro Tomaz Tadeu da Silva (1948-), na obra Documentos de identidade, publicada originalmente em 1999, o sujeito se considera o centro da ação social, mas ele não pensa, não fala e muito menos produz; ao contrário, é pensado, falado e produzido por estruturas, instituições e discursos.

Para compreender melhor essa ideia, observe a tirinha Coffee break (em tradução livre, Pausa para o café).

FARIAS, André. [Coffee break]. Vida de Suporte. [S. l.], 25 maio 2012. Disponível em: https://vidadesuporte.com.br/ suporte-a-serie/emprego/.

Acesso em: 7 ago. 2024.

O filósofo e historiador francês Michel Foucault (1926-1984), na obra O sujeito e o poder, publicada originalmente em 1982, afirma que o sujeito não existe como ser autônomo, ele é resultado de um processo de produção cultural e social e “recebe” a identidade com base nos aparatos discursivos e institucionais.

Somos constantemente interpelados para definir nossas identidades sociais. Ao mesmo tempo, somos seres atravessados pela realidade social na busca por nos constituirmos. Por exemplo, uma pessoa não escolhe a identidade racial dela, pois esta é construída socialmente em cada sociedade, como veremos no capítulo 5.

Você já parou para pensar sobre quantas identidades nos formam? Quais são as máscaras que usamos nos papéis sociais que representamos? Quantas vezes pensamos que estamos exercendo nossa subjetividade, mas estamos apenas nos sujeitando ao que a sociedade deseja?

As sociedades humanas e o saber sociológico

Observe a imagem do grafite dos artistas OSGEMEOS em um prédio na cidade de Nova York (Estados Unidos).

Uma entre as várias interpretações possíveis na leitura dessa produção artística é a possibilidade de inferir que o indivíduo se encontra cimentado nas estruturas da sociedade, mas busca sair delas. No entanto, essas estruturas – no caso da imagem, um edifício – são criadas pelos próprios seres humanos. Nesse ponto, podemos indagar: será que criamos estruturas que nos aprisionam?

Sociedade

OSGEMEOS. [Sem título]. Spray sobre alvenaria. Nova York (Estados Unidos), 2015.

Afinal, o que são as sociedades humanas? Como podemos defini-las?

Com certeza, não são apenas um agrupamento de indivíduos aleatórios nem só um conjunto de vontades individuais, muito menos são entidades externas aos indivíduos.

O antropólogo brasileiro-congolês Kabengele Munanga (1940-), na obra Origens africanas do Brasil contemporâneo, publicada originalmente em 2009, define sociedade como o agrupamento de pessoas que organizam atividades econômicas, políticas, religiosas etc. e que visam garantir, de modo autossuficiente, as satisfações de suas necessidades materiais e psicológicas. Para ele, essas pessoas se identificam como uma unidade com limites bem definidos. Já o acadêmico inglês Peter Sedgwick (1934-1983) define sociedade como uma combinação de instituições, modos de se relacionar, formas de se organizar, normas etc. que constitui um todo inter-relacionado no qual determinada população vive.

autossuficiente: independente, capaz de atender às próprias necessidades sem depender de ninguém.

Em ambas as definições, há elementos simbólicos que criam uma espécie de amálgama, isto é, uma mistura, ajuntamento ou fusão de partes distintas que formam um todo.

Ao longo dos séculos, autores das Ciências Humanas (filósofos, historiadores, geógrafos, antropólogos, economistas, entre outros) buscam definir o que é uma sociedade. O que se conseguiu compreender é que as sociedades criam formas de reprodução e autoperpetuação, ou seja, os indivíduos morrem, outros nascem, e a sociedade permanece. É verdade que estão em movimento, mas as sociedades humanas possuem organizações de poder, além de estruturas econômicas, culturais e históricas, que auxiliam nessa perpetuação.

estratificação social: conceito sociológico utilizado para classificar os indivíduos ou grupos a partir da análise das condições socioeconômicas.

classe (social): distinção de uma divisão social que resulta na distribuição desigual de vantagens e recursos, tais como riqueza, poder e prestígio.

estamento: conjunto de pessoas que desempenham a mesma função social ou que possuem a capacidade de influenciar certo setor.

casta: posição social rígida na qual pessoas nascem sem possibilidade de mudança.

ATIVIDADE

Nos registros e vestígios das diversas sociedades humanas, identificam-se distintas organizações de poder, que podem ser, por exemplo, centralizadas no soberano, às vezes em alguns poucos que compõem uma elite política ou em sacerdotes e/ou instituições que representam um poder sobrenatural. Nas sociedades modernas, elas se centralizam no conjunto de instituições chamado de Estado.

Por estruturas econômicas, entendem-se as formas e as relações a partir das quais determinada sociedade produz suas condições materiais de existência. No modo de produção capitalista, por exemplo, a estrutura econômica é baseada na propriedade privada e na exploração do trabalho e extração de mais-valia.

Já a cultura – nesse momento, em uma definição provisória e inicial, já que a complexidade desse conceito será aprofundada no capítulo 2 – é, segundo a definição adaptada e ampliada do antropólogo britânico Edward Burnett Tylor (1832-1917), no livro Cultura: um conceito antropológico, publicado originalmente em 1986, o conjunto complexo de conhecimentos, habilidades, valores, hábitos, costumes, crenças, cosmovisão, comunicação, língua, artes, entre outros, de uma sociedade.

Poder, economia e cultura não existem isolados uns dos outros. Apesar de possuírem fronteiras e funcionamentos específicos, na vida prática, essas fronteiras são “borradas”, isto é, a borda de uma se sobrepõe ou complementa a outra. Por exemplo, no modo de produção capitalista, no qual vivemos, as estratificações sociais permitem que determinados grupos desfrutem de privilégios em detrimento de outros. Isso só acontece porque há uma legitimação cultural e política do funcionamento econômico na crença da propriedade privada e na justa competição do mercado de trabalho. No entanto, cada modo de produção funciona engendrado com a cultura e a política.

Por fim, a posição dos indivíduos na sociedade depende de cada modo de produção, podendo ser denominada, entre outros ordenamentos, como classe, estamento, casta, e se dá a partir de um processo histórico de formação social.

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Seguindo as orientações do professor, faça uma síntese em formato de mapa conceitual a partir do que aprendeu sobre as sociedades humanas. Mapa conceitual é uma ferramenta de organização do conhecimento, no formato de diagrama, usada para representar ideias ou conceitos e indicar as relações entre eles.

Produção pessoal. Espera-se que o estudante represente as sociedades humanas ligando os aspectos econômico, político, cultural e histórico.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Sociedades humanas em movimento

As sociedades humanas estão em movimento. Elas são caracterizadas por movimentos de mudanças e de permanências sociais. O seu equilíbrio está justamente nesses processos de desestruturação e de reestruturação. Mas o que dizem as teorias sociológicas sobre isso? Observe a imagem.

Ao mesmo tempo que possuem mecanismos de perpetuação, as sociedades humanas sofrem transformações — por exemplo, a partir do surgimento de novos membros, seja por nascimento, migração ou guerras, seja por conquistas, conflitos internos ou revoluções, entre outras situações.

Para compreender essas mudanças, bem como a relação entre indivíduo e sociedade, teóricos clássicos como Karl Marx (1818-1883), Émile Durkheim (1858-1917) e Max Weber (1864-1920) buscaram criar uma ciência que estudasse a sociedade e, com isso, tentaram definir o objeto de análise da Sociologia.

Imigrantes atravessam o Rio Grande, na divisa dos Estados Unidos com o México (2021).

Karl Marx, Londres (Inglaterra), 1875.

Para o filósofo e economista alemão Karl Marx, o indivíduo deveria ser analisado em seu contexto histórico e social. Ele compreendia as relações entre indivíduos como relações sociais baseadas em classes. De um lado, a classe trabalhadora. De outro, os proprietários dos meios de produção. Por isso, as condições econômicas seriam determinantes. Você já percebeu como a posição das pessoas nas relações de classe tende a influenciar o modo de viver delas? Marx via a sociedade como organizada, constituída e legitimada de acordo com a ideologia da classe dominante, que detém os meios de produção Por exemplo, o sistema jurídico no modo de produção capitalista é baseado na propriedade privada; logo, mesmo que uma pessoa não tenha condições materiais para sobreviver, é proibido pegar o que é do outro. Assim, para Marx, o Estado moderno defende quem possui propriedade privada, enquanto no modo de produção feudal a base era o direito do grupo social de origem. Por exemplo, o dono de uma fábrica tem a posse de todos os elementos da produção e, por isso, usufrui de todo o lucro gerado pelo trabalho de seus funcionários. Apesar de o trabalho ser realizado pelos trabalhadores, o lucro gerado nesse processo não lhes pertence.

ideologia: para Marx, é o conjunto de crenças, valores e atitudes culturais que legitimam os interesses de grupos dominantes, perpetuando seus privilégios e modos de dominação. meio de produção: para Marx, é o meio como uma sociedade organiza e produz bens e serviços, isto é, a vida econômica, o trabalho e as estruturas políticas, jurídicas e culturais.

alienação: para Marx, é a dissociação do indivíduo com o produto de seu trabalho, podendo afetá-lo nas dimensões social, econômica e intelectual.

Para Marx, o Estado moderno, assim como as leis, não busca justiça social, mas a manutenção do modo de produção. Portanto, para ele, compreender a relação entre sociedade e indivíduo é compreender a luta de classes . Na visão de Marx, para que os indivíduos consigam romper com a condição de exploração e alienação em que vivem, seria necessário que se organizassem como classe. Assim, não existiria o caminho individual para superação da pobreza, somente o coletivo.

Para o sociólogo francês Émile Durkheim, a sociedade seria anterior ao indivíduo e, portanto, continuaria existindo sem ele. Ou seja, seriam as normas, leis e regras instituídas pela coletividade que possibilitariam que a sociedade permanecesse mesmo após a morte dos indivíduos. Para ele, existiria uma consciência coletiva externa ao indivíduo e independente da sua vontade. Por isso, o objeto de estudo da Sociologia deveria ser o fato social, isto é, toda forma de agir, pensar e sentir que é externa ao indivíduo (não faz parte da vontade individual)

Retrato de Émile Durkheim, autor anônimo. Coleção particular.

e é geral (aplica-se a todos). A não obediência aos fatos sociais seria passiva de coerção (por exemplo, constrangimento, castigo físico, multa, cerceamento da liberdade e até morte). Já reparou que, em geral, a estrutura da educação escolar independe da sua vontade? Por exemplo, os conteúdos, os procedimentos e as metodologias ensinados em sala de aula são para todos os estudantes. Mas aqueles que não demonstram, nas avaliações, boa compreensão de conteúdo específico, sofrem com a coerção da reprovação. Para Durkheim, a sociedade seria constituída por um conjunto de fatos sociais, como a lei, a educação, a moda etc.

O sociólogo e economista alemão Max Weber considerava que as ideias e os valores seriam tão importantes nas mudanças sociais quanto os fatores econômicos. Ele defendia que o foco da Sociologia deveria estar nas ações sociais, e não nos fatos sociais ou estruturas econômicas, já que as ideias, os valores e as opiniões seriam as causas das transformações. Diferentemente de Marx e Durkheim, Weber pensava que as sociedades seriam formadas por uma complexa inter-relação de ações dos indivíduos, e não algo externo e independente deles. Por isso, esse autor elabora o conceito de ação social com o objetivo de compreender os indivíduos, suas ações e as razões pelas quais praticam essas ações e tomam decisões.

A ação social é definida como toda ação que o indivíduo faz considerando o outro, sendo esse “outro” um ser humano, um grupo ou elementos culturais. Há quatro tipos de ação social: 1) ação social tradicional, quando o indivíduo faz algo porque aprendeu assim e sempre foi assim; 2) ação social afetiva, quando a motivação para o indivíduo agir são as emoções e os sentimentos; 3) ação social com relação a valores, quando o indivíduo possui como certeza e/ou causas de suas ações os valores morais, éticos e estéticos; 4) ação social com relação a fins, quando o indivíduo faz algo porque terá um benefício. Por exemplo, você já se perguntou por que uma pessoa é ovolactovegetariana? Uma família pode escolher esse hábito alimentar por tradição ou por dó dos animais, estabelecendo com eles uma relação afetiva. Talvez, por seus valores, essas pessoas acreditam ser antiético submeter a vida das outras espécies à humana ou porque, em relação aos fins, acreditam ser mais saudável para o corpo não comer carne. Portanto, essa resposta não é única, pois depende de fatores internos e externos.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

Max Weber, por volta de 1905.

Produção pessoal. Espera-se que o estudante, ao escrever sobre Marx, cite a luta de classes e a relacione, por exemplo, com o privilégio de uma classe em detrimento de outras; ao escolher Durkheim, cite exemplos de fato social; e ao optar por Weber, cite um exemplo de ação social, como pertencer a uma religião, estudar etc.

• Elabore um texto citando a teoria de um dos três autores e relacionando-a com um exemplo do seu cotidiano.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
ERNST GOTTMANN/ENCICLOPÉDIA BRITANNICA

O processo de socialização

Em 1990, na Ucrânia, Oxana Malaya (1983-) foi resgatada pelo Estado após ser abandonada pela família e viver durante cinco anos com cachorros. Como não tinha interações com humanos, seus gestos eram semelhantes aos de cães: não falava, somente latia; andava arqueada, com as mãos e os joelhos no chão e a língua de fora; comia carne crua e tomava água que ficava ao redor de torneiras. Por causa disso, Oxana ficou com sequelas irreversíveis em seu desenvolvimento cognitivo. Considerando esse caso, reflita: será que o que somos, como pensamos, agimos, sentimos e o que desejamos é inato ou adquirido socialmente? O que é natural e o que é consequência da vida em sociedade? Como se aprende a viver em sociedade?

Na Sociologia, chamamos de socialização primária aquela realizada pela família e de socialização secundária aquela feita pelas demais instituições (dependendo da sociedade, pode ser a escola, a religião, o trabalho, entre outras).

Socialização primária

Para o sociólogo alemão Norbert Elias (1897-1991), no livro Introdução à sociologia, publicado originalmente em 1970, o ser humano é um animal que possui uma característica biológica cerebral maleável, no caso, as funções psíquicas. Ao longo do tempo, o ser humano foi evoluindo como espécie, e as informações genéticas do aparelho psíquico foram se transformando. Para o antropólogo francês Edgar Morin, essa modificação não aconteceu sem a interferência do social, ou seja, da sociedade e, consequentemente, sem a do indivíduo, pois o indivíduo, a sociedade e a espécie se retroalimentam.

Os indivíduos produzem conhecimentos, valores, técnicas, tecnologias, instrumentos e mecanismos de autorregulação do grupo, como leis, técnicas de armazenamento de alimentos, código moral etc. Quando nasce uma nova geração, as crianças aprendem com os adultos como funciona a sociedade e quais foram os conhecimentos acumulados.

A família como instituição primária ensina os códigos de convívio e os limites. Por exemplo: andar, falar, comer e se comportar, além das proibições básicas, como não praticar violência, não infringir as leis etc. Mas é na escola, na relação com os outros que não são da família, que as crianças aprofundam os desafios da convivência e os limites das suas vontades. A transição do espaço privado para o público é um desafio para a criança.

aparelho psíquico: conceito da psicanálise, concebido por Sigmund Freud (1856-1939), que se refere à estrutura da mente humana.

A socialização primária, liderada pela família, ensina as primeiras regras de convivência, como falar, andar e respeitar limites básicos.

Socialização secundária

Quando a criança chega ao ambiente escolar, ela aprende na prática o que é a sociedade, suas regras e responsabilidades. A escola pode até ser privada, mas é uma instituição de utilidade pública, regida por normas e regras distintas do ambiente familiar. Há crianças que, por serem órfãs ou por outros motivos, não são socializadas por familiares; então o Estado, por meio de abrigos, realiza a socialização primária.

O Estado moderno é o conjunto de instituições públicas e poderes que possuem o monopólio legítimo da força, portanto organizam e garantem os direitos e deveres da população que habita num determinado território. Na prática, são os três Poderes (Executivo/governo, Legislativo, Judiciário), autarquias, Forças Armadas, escolas, prisões e hospitais públicos, entre outras instituições.

Segundo Norbert Elias, nesse processo de socialização, a criança se apropria das configurações sociais, entendidas como os conjuntos de regras e normas que possibilitam os relacionamentos, o entendimento. Leia o trecho de texto a seguir.

Se quatro pessoas se sentarem à volta de uma mesa e jogarem cartas, formam uma configuração. As suas ações são interdependentes. Neste caso, ainda é possível curvarmo-nos perante a tradição e falarmos do jogo como se este tivesse uma existência própria. É possível dizer: ‘O jogo hoje à noite está muito lento!’. […] o decurso do jogo é relativamente autônomo de cada um dos jogadores individuais, dado que todos os jogadores têm aproximadamente a mesma força. […]

ELIAS, Norbert. Introdução à sociologia Tradução: Maria Luisa Ribeiro Ferreira. Lisboa: Edições 70, 1970. p. 141-142.

ATIVIDADE

Elias usa o exemplo do jogo de cartas para ilustrar como a socialização envolve a internalização de regras e normas que estruturam a interação entre indivíduos. Fotografia de 2023, Brasil.

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Em trios, reflitam sobre diferentes configurações sociais e os limites da autonomia do indivíduo moderno dentro desses grupos.

a) Escolham um exemplo de configuração social (família, escola, grupo de amigos etc.).

b) D iscutam e definam como funciona a rede de relações e interações entre os indivíduos nesse grupo.

c) Escrevam um texto explicando a estrutura e as relações envolvidas, respondendo à pergunta: quais são os limites da autonomia do indivíduo moderno nessa configuração social?

d) Compartilhem a produção com a turma, de acordo com as orientações do professor.

Produção pessoal. Espera-se que os estudantes reflitam sobre como as relações sociais são estruturadas e como essas estruturas impactam a liberdade e a autonomia dos indivíduos.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Como os sociólogos e outros pensadores explicam as permanências e as mudanças?

Para Durkheim, no processo de socialização, há um conflito entre a consciência individual e a consciência coletiva. Por exemplo, como a lei, a educação e o trabalho são fatos sociais, o indivíduo que não se submete sofre coerção.

Para Marx, em razão da ideologia da classe dominante, os indivíduos são alienados e enxergam a realidade nublada. Isso ocorre de acordo com a vontade daqueles que mantêm o Estado e, consequentemente, as instituições, para manter os privilégios da classe dominante inalterados. Cabe à classe oprimida tomar consciência e romper com a opressão.

Para o neurologista e psicanalista austríaco Sigmund Freud (1856-1939), no livro O Ego e o Id e outros trabalhos, publicado originalmente em 1923, o superego é a internalização das normas culturais, aquele que realiza a cobrança na psique humana, mas o indivíduo possui o ego e pode equilibrar a cobrança com a busca de satisfação. Se alguma norma, regra ou costume causar insatisfação, o indivíduo poderá alterá-los. Essa mudança começa com uma ação individual; mas, se houver a aderência de outras pessoas e grupos sociais, a geração altera normas, regras, instituições, valores, enfim, a sociedade como um todo.

Essas mudanças nunca são radicais, com exceção das revoluções que abalam as estruturas sociais e as recriam. Essas revoluções acontecem em épocas de crises e falências das organizações e instituições sociais. Segundo o filósofo e político grego Cornelius Castoriadis (1922-1997), na obra A instituição imaginária da sociedade, publicada originalmente em 1975, a violência, a força e as sanções também são capazes de fazer isso, mas o que mantém a sociedade como uma unidade é a adesão, o apoio e o consenso ao conjunto de instituições particulares, por meio de normas, valores, linguagens, instrumentos, procedimentos, métodos etc., ou seja, fatores que promovem a coesão.

No processo de socialização, entramos em contato com a herança social herdada das gerações anteriores, isto é, não precisamos começar algo do zero, há uma continuidade e uma maleabilidade entre gerações. Para o sociólogo alemão Norbert Elias, a maleabilidade do aparelho psíquico é uma das possibilidades da perpetuação da sociedade, assim como os conhecimentos, as instituições e os bens materiais.

Leia o que diz Marx neste trecho da obra O 18 de brumário de Luís Bonaparte, publicada originalmente em 1852.

Os homens fazem a sua própria história; contudo, não a fazem de livre e espontânea vontade, pois não são eles que escolhem as circunstâncias sob as quais ela é feita, mas estas lhes foram transmitidas assim como se encontram. […]

MARX, Karl. O 18 de brumário de Luís Bonaparte. Tradução: Nélio Schneider. São Paulo: Boitempo, 2011. p. 25.

Não é possível escolher quais conflitos e problemas são herdados de geração para geração e, também, como diz Elias, é impossível saber qual o rumo e quais as consequências das decisões tomadas no presente. Podemos constatar que as pessoas que originalmente tiveram certas ideias, seja das instituições, seja de sistemas de governo, nunca imaginaram o que se tornariam.

Para o austríaco Peter Berger (1929-2017) e o esloveno Thomas Luckmann (1927-2016), sociólogos, no livro A construção social da realidade, publicado originalmente em 1966, a socialização é um processo recíproco que permanece ao longo da vida. Na fase primária, a criança aprende os códigos e as regras básicas do convívio em sociedade com a família, mas só pode aprender aquilo de que a família dispõe. As condições materiais, o nível de instrução e o capital cultural da família são o que limita ou expande o contato da criança na primeira infância com os bens (materiais e imateriais) produzidos pela sociedade.

Na relação com a família, a criança absorve o que é estranho do mundo e, aos poucos, se torna ativa, desenvolvendo sua personalidade e respondendo ao mundo. Mesmo assim, a criança reproduz o referencial que lhe foi oferecido pela família. Peter Berger e Thomas Luckmann nomeiam isso de “outro significativo”. Nessa fase, começam os questionamentos, mas, como não há outras referências, aos poucos a criança internaliza essas dúvidas. Ao conviver com outras pessoas e grupos sociais, ela percebe que as atitudes, antes particulares da família, são na realidade padrões sociais, o que faz o pensamento da criança transpor do outro significativo para o outro generalizado. É então que a criança, por um processo de interação e reflexão, internaliza os padrões sociais, por um processo recíproco de assimilação e de reação. Pierre Bourdieu, ao formular o conceito de habitus, diz que o indivíduo herda e internaliza valores, comportamentos e crenças da sua classe e/ou grupo social; mas, como agente ativo e reflexivo, produz algo novo na sociedade e para ela. Podemos dizer que, a partir dessa relação, inicia-se o desenvolvimento de sua autonomia e de seu protagonismo.

A socialização transmite herança social entre gerações, permitindo continuidade e adaptação.

RECAPITULE

Leia este trecho de uma obra de Bourdieu.

Os habitus são princípios geradores de práticas distintas e distintivas –o que o operário come, e, sobretudo, sua maneira de comer, o esporte que pratica e sua maneira de praticá-lo, suas opiniões políticas e sua maneira de expressá-las diferem sistematicamente do consumo ou das atividades correspondentes do empresário industrial; mas são também esquemas classificatórios, princípios de classificação, princípios de visão e de divisão e gostos diferentes. Eles estabelecem as diferenças entre o que é bom e mau, entre o bem e o mal, entre o que é distinto e o que é vulgar etc., mas elas não são as mesmas. Assim, por exemplo, o mesmo comportamento ou o mesmo bem pode parecer distinto para um, pretensioso ou ostentatório para outro e vulgar para um terceiro.

BOURDIEU, Pierre. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Tradução: Mariza Corrêa. 9. ed. Campinas: Papirus, 2008. p. 22.

Neste capítulo, você conheceu diferentes compreensões sobre a relação entre indivíduo e sociedade.

A Sociologia, como área de conhecimento das Ciências Humanas, busca estudar a sociedade, os indivíduos e as relações; no entanto, os fundadores dessas ciências – Marx, Weber e Durkheim – compreendem de modo distinto o objeto de estudo da Sociologia e possuem teorias bem diferentes sobre a relação entre indivíduo e sociedade.

De forma geral, a identidade é uma categoria social que se estabelece na relação com o outro e é permeada por sentimentos de pertencimento e subjetividade. Já a ideia de sociedade possui diversas compreensões, pois, além do simples agrupamento de pessoas, a sociedade produz cultura, conhecimentos, bens (materiais e imateriais) coletivos que são deixados para as próximas gerações.

As teorias de Norbert Elias, Pierre Bourdieu, Peter Berger e Thomas Luckmann são úteis para compreender como acontece a socialização primária, a socialização secundária, a conscientização e a internalização das regras sociais de modo a produzir uma continuidade. Como os indivíduos são maleáveis, produzem alterações na sociedade a cada geração e, ao mesmo tempo, ensinam a tradição. Dessa forma, à medida que traduzem as regras e os valores aprendidos com os antepassados para as crianças, quebram essas mesmas regras e valores ao subvertê-los e renová-los.

Dessa forma, é possível perceber que a relação entre indivíduo e sociedade é dinâmica e contínua. Cada nova geração carrega o potencial de inovação, enquanto se apoia na herança das gerações anteriores. Esse processo evidencia que a sociedade não é estática, mas se reinventa na interação entre as experiências individuais e o contexto social, garantindo sua perpetuação ao longo do tempo.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

ATIVIDADES FINAIS Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Leia o fragmento do texto e, depois, reúna-se em dupla para responder às perguntas.

Sendo a sociedade uma realidade ao mesmo tempo objetiva e subjetiva […]. […]

[…] A interiorização […] [normas, regras e valores] constitui a base primeiramente da compreensão de nossos semelhantes e, em segundo lugar, da apreensão do mundo como realidade social dotada de sentido.

[…]

[…] Todo indivíduo nasceu em uma estrutura social objetiva, dentro da qual encontra os outros significativos que se encarregam de sua socialização. Estes outros significativos são-lhe impostos. As definições dadas por estes à situação dele apresentam-se como a realidade objetiva. Desta maneira nasceu não somente em uma estrutura social objetiva mas também em um mundo social objetivo. Os outros significativos que estabelecem a mediação deste mundo para ele modificam o mundo no curso da mediação. Escolhem aspectos do mundo de acordo com sua própria localização na estrutura social e também em virtude de suas idiossincrasias individuais, cujo fundamento se encontra na biografia de cada um.

BERGER, Peter; LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade: tratado de sociologia do conhecimento. Tradução: Floriano de Souza Fernandes. 24. ed. Petrópolis: Vozes, 2004. p. 173-176.

a) A que regras, comportamentos e/ou valores ensinados por sua família você ofereceu resistência?

b) Quais, entre eles, em um momento posterior, ao analisar a sociedade em geral, você internalizou e reproduziu?

c) Por fim, após um tempo, você mudou de ideia e criou outra forma de agir e/ou pensar sobre isso? Comente.

2. (Unicamp-SP – 2024)

Quando desempenho minha tarefa de irmão, de marido ou de cidadão, quando executo os compromissos que assumi, eu cumpro deveres que estão definidos fora de mim e de meus atos, no direito e nos costumes. Ainda que eles estejam de acordo com os meus sentimentos próprios e que eu sinta interiormente a realidade deles, tal realidade não deixa de ser objetiva, pois não fui eu que os fiz, mas os recebi pela educação. Eis aí, portanto, maneiras de agir, de pensar e de sentir que apresentam essa notável propriedade de existirem fora das consciências individuais.

(Adaptado de: DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 2014.)

Émile Durkheim é um dos fundadores da Sociologia e analisa a relação entre indivíduo e sociedade. A partir do texto, podemos afirmar que os modos de agir, de pensar e de sentir, em uma sociedade, são definidos

a) pelo livre-arbítrio dos indivíduos.

b) pelos sentimentos próprios dos indivíduos e independem do meio social.

c) pelo direito e pelos costumes, que são, por sua vez, definidos livremente pelos indivíduos.

d) p e la própria sociedade, que constitui uma realidade objetiva que exerce coerção sobre o indivíduo.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

3. (UEL-PR – 2024) O tema da unidade é também tratado pelas Ciências Sociais em teorias sobre identidades. Essas teorias buscam explicar como os indivíduos incorporam e reproduzem a cultura nos níveis micro e macrossociológico, a partir da relação entre indivíduo e sociedade. Uma das abordagens foi elaborada por Stuart Hall, a partir da distinção entre os sujeitos iluminista, sociológico e pós-moderno.

Com base nos conhecimentos sobre a produção de Stuart Hall acerca da identidade, assinale a alternativa correta.

a) O sujeito pós-moderno expressa o enfraquecimento da costura entre o indivíduo e a sociedade, o que produz identidades fragmentadas, descentradas, fruto de mudanças estruturais e culturais.

b) O sujeito sociológico é fluido, assume identidades diferentes em momentos diversos, e rompe aqueles elos existentes no sujeito pós-moderno, que é coerente e unificado.

c) O sujeito iluminista é dependente das teias e do contexto de interação onde se situa, sendo, portanto, criação de uma construção relacional atravessada pela cultura e pelas hierarquias sociais.

d) A identidade é uma expressão da essência dos sujeitos, e, quando essa essência entra em contradição com as transformações da sociedade pós-moderna, produz-se a crise da identidade.

e) A modernidade criou identidades fluidas, portanto diversas, que romperam a costura que atava o sujeito à estrutura, criando, assim, sujeitos descentrados, imprevisíveis, contingentes e egocentrados.

4. (UEL-PR – 2015) Leia o texto a seguir.

A sociedade, com sua regularidade, não é nada externa aos indivíduos; tampouco é simplesmente um “objeto oposto” ao indivíduo; ela é aquilo que todo indivíduo quer dizer quando diz “nós”. Mas esse “nós” não passa a existir porque um grande número de pessoas isoladas que dizem “eu” a si mesmas posteriormente se une e resolve formar uma associação. As funções e as relações interpessoais que expressamos com partículas gramaticais como “eu”, “você”, “ele” e “ela”, “nós” e “eles” são interdependentes. Nenhuma delas existe sem as outras e a função do “nós” inclui todas as demais. Comparado àquilo a que ela se refere, tudo o que podemos chamar “eu”, ou até “você”, é apenas parte.

(ELIAS, N. A Sociedade dos Indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994. p. 57.)

O modo como as diferentes perspectivas teóricas tratam da noção de identidade vincula-se à clássica preocupação das Ciências Sociais com a questão da relação entre indivíduo e sociedade.

Com base no texto e nos conhecimentos da sociologia histórica, de Norbert Elias, assinale a alternativa que apresenta, corretamente, a noção de origem do indivíduo e da sociedade.

a) O indivíduo forma-se em seu “eu” interior e todos os outros são externos a ele, seguindo cada um deles o seu caminho autonomamente.

b) A origem do indivíduo encontra-se na racionalidade, conforme a perspectiva cartesiana, segundo a qual “penso, logo existo”.

c) A sociedade origina-se do resultado diretamente perceptível das concepções, planejamentos e criações do somatório de indivíduos ou organismos.

d) A sociedade forma-se a partir da livre decisão de muitos indivíduos, quando racional e deliberadamente decide-se pela elaboração de um contrato social.

e) A sociedade é formada por redes de funções que as pessoas desempenham umas em relação às outras por meio de sucessivos elos.

(UFU-MG – 2019) UFU, 2019.

<http://www2.uol.com.br/laerte/tiras/index.html>. Acesso em 09.mar.2019.

O processo por meio do qual o indivíduo aprende a ser um membro da sociedade é designado pelo nome de socialização, segundo Peter Berger e Brigitte Berger.

Padrões de conduta são impostos aos indivíduos, e cada sociedade engendra seus próprios padrões, como pode ser observado na tirinha da Laerte, reproduzida acima.

BERGER, Peter L. e BERGER, Brigitte. Socialização: como ser um membro da sociedade. In: FORACCHI, Marialice Mencarini e MARTINS, José de Souza (Org.). Sociologia e sociedade: leituras de introdução à Sociologia. São Paulo: LTC, 1994. p. 204.

Considerando-se os posicionamentos apresentados, assinale a alternativa que apresenta a interpretação sociológica da tirinha.

a) A tirinha satiriza os padrões culturais e apresenta uma possibilidade de desnaturalização.

b) A tirinha apresenta uma versão humorística da socialização primária e um processo de padronização cultural.

c) A tirinha retrata padrões sociais pré-estabelecidos com enfoque no processo de fetichismo da mercadoria.

d) A tirinha ironiza o consumo dentro da sociedade e o processo da contracultura da socialização primária.

CAPÍTULO

Cultura, etnocentrismo e ideologia 2

OBJETIVOS DO CAPÍTULO:

C ompreender os conceitos de evolucionismo social, cultura, relativismo cultural, etnocentrismo e ideologia.

Identificar as limitações das teorias evolucionistas.

Identificar como o etnocentrismo pode gerar situações de intolerância e violência.

Reconhecer a perspectiva decolonial.

Identificar como são estruturadas e perpetuadas as posições de poder.

ATIVIDADES

Você sabia que em muitos países não se come com talheres, mas sim com as mãos? E que em algumas culturas cumprimentar alguém com a mão esquerda é considerado falta de educação? Costumes diferentes dos nossos podem causar grande estranhamento, despertando sentimentos como curiosidade, incompreensão ou até mesmo repulsa. Mas será que podemos julgar os hábitos de outras culturas com os nossos parâmetros?

Ao longo da história, os seres humanos encontraram diferentes formas de sobreviver e de se relacionar, criando costumes, crenças e hábitos que, quando combinados, definem as particularidades de cada grupo ou sociedade. Neste exato momento, milhões de pessoas estão vivendo das mais variadas formas ao redor do mundo, muitas delas dentro de um mesmo país e até de um mesmo município. Mas o que será que define a diversidade de modos de vida?

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Faça uma lista de hábitos ou costumes presentes em outros países, ou mesmo em outras regiões do Brasil, que lhe causam estranhamento.

1. Resposta pessoal. Aproveite a oportunidade para conversar com os estudantes sobre os riscos da generalização.

2. Em sua opinião, qual seria a causa para a existência de costumes tão diversos?

2. Resposta pessoal. Incentive os estudantes a refletir sobre as respostas dos colegas e verifique se é possível identificar um padrão.

3. Você acha que, de maneira geral, as pessoas lidam bem com essas diferenças? Justifique.

3. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante reflita sobre a diversidade com base em suas próprias experiências e se posicione diante de fenômenos como o preconceito e a intolerância.

Pessoas comem com as mãos em Guwahati, na Índia, em 2024.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

O evolucionismo cultural

A busca por explicações para a diversidade humana é muito antiga. Desde o período das Grandes Navegações (séculos XV-XVII), quando os europeus passaram a encontrar em outros continentes povos com aparência e costumes muito diferentes dos seus, muitos pensadores passaram a se dedicar ao tema, que ganhou ainda mais atenção durante o neocolonialismo europeu do século XIX.

Diante do encontro com tantos povos diferentes, muitos pensadores desenvolveram teorias que, por um lado, tentavam explicar a enorme diversidade humana e, por outro, tentavam justificar o domínio dos europeus sobre os povos conquistados.

Na época, a teoria científica mais aceita era que todos os humanos tinham uma origem comum e que suas diferenças eram resultado de diferentes estágios de evolução. O antropólogo estadunidense Lewis Henry Morgan (1818-1881), um dos mais importantes daquele momento, defendeu, em seu livro A sociedade antiga, publicado originalmente em 1877, que todos os grupos humanos passariam obrigatoriamente por uma sequência de três estágios evolutivos:

Selvageria: período inicial da humanidade. Nele estariam os povos que vivem da coleta de frutos e da caça. Inclui saberes como a manipulação do fogo, a utilização do arco e flecha e a produção de cestos, tecidos e utensílios de madeira.

Barbárie: nesse estágio estariam os povos que desenvolveram técnicas como a fabricação de utensílios de cerâmica e ferramentas de metal. Caracteriza-se também pela forma de vida sedentária, possibilitada pelo domínio da agricultura e pela domesticação de animais.

Civilização: seria a etapa mais desenvolvida da humanidade, marcada pelo uso da escrita.

BAYARD; RICHON; MONVOISIN.

[Explorador John Speke mostra troféus de caça para o rei Rumanika]. 1864. Na ilustração, publicada no jornal Le Tour de Monde, de Paris (França), um oficial britânico interage com o rei do Reino de Karagwe, atualmente noroeste da Tanzânia, no século XIX.

Assim como os demais cientistas do seu tempo, Morgan partia de uma certeza: a ideia de que sua própria sociedade era a mais evoluída de todas. Com base nisso, estabelecia comparações com as demais sociedades conhecidas, classificando-as a partir de critérios como a existência de grandes construções, a presença da escrita e o desenvolvimento de técnicas produtivas. Para isso, Morgan, do mesmo modo que os outros pensadores do seu tempo, utilizava o assim chamado método comparativo, que consistia na comparação de diferentes aspectos das sociedades pesquisadas, atribuindo a elas maior ou menor grau de evolução conforme seu desempenho nos critérios estabelecidos.

Aceita pelos principais cientistas da época, essa forma de entender a diversidade humana ficou conhecida como evolucionismo cultural. Surgida no século XIX, essa teoria defendia que as diferentes sociedades se encontravam em estágios de desenvolvimento diversos e passariam por todos eles até chegar ao ponto considerado como o mais evoluído.

Aos países europeus e aos Estados Unidos, onde foram desenvolvidos esses estudos, era atribuído o estágio mais evoluído, e isso foi utilizado como justificativa para o domínio colonial sobre outras sociedades. O argumento era que, por serem mais evoluídos, seu domínio sobre outros povos iria ajudá-los a alcançar mais rapidamente o estágio da civilização. O evolucionismo cultural foi, assim, um importante instrumento do neocolonialismo.

A Grande Mesquita de Jené é um exemplo da rica tradição arquitetônica das comunidades africanas da região do Sudão-Sahel, desafiando os critérios de Morgan que atribuíam à Europa e aos Estados Unidos os estágios mais evoluídos de sociedade com base na existência de grandes construções.

A Grande Mesquita de Jené, Mali, 2024. Construída por volta de 1280, sua arquitetura é típica de comunidades africanas da região do Sudão-Sahel.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Apesar de superadas dentro do campo científico, as ideias defendidas pelo evolucionismo ainda estão muito presentes em nossa sociedade. É comum, por exemplo, encontrarmos afirmações de que determinados grupos são “mais atrasados” ou “menos evoluídos” que outros. Pense em outros exemplos de como alguns princípios do evolucionismo se fazem presentes nos dias de hoje e apresente argumentos contrários à permanência dessas ideias.

Resposta pessoal. Incentive o estudante a elaborar argumentos contrários ao evolucionismo, posicionando-se ativamente contra a reprodução de preconceitos.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

O evolucionismo se desenvolveu paralelamente ao racialismo, teoria que defendia que a espécie humana estava dividida em diferentes raças, cada qual com características e capacidades distintas. No início do século XX, essa teoria foi rejeitada, pois do ponto de vista biológico não existem diferentes raças humanas; essa é uma construção social. No entanto, cientistas do século XIX defendiam a ideia de que algumas raças eram mais evoluídas que outras. Para eles, as populações caucasianas (isto é, de origem europeia) seriam mais evoluídas que as demais. Apesar de ter sido apresentado como teoria científica, o racialismo se baseava no preconceito racial que marcou a relação dos colonizadores europeus com os povos colonizados.

A diversidade étnico-racial representada por inúmeros tons de pele e tipos de cabelo.

No mesmo período, outro pensamento se desenvolveu: a eugenia . Criada pelo cientista britânico Francis Galton (1822-1911), a eugenia buscava “melhorar” a humanidade por meio da seleção genética. Para os seus defensores, isso significava, por um lado, promover a reprodução de indivíduos considerados superiores (com características genéticas “desejáveis”); por outro, impedir a reprodução de indivíduos considerados inferiores, visando eliminar as características indesejáveis da população. Com roupagem científica, a eugenia foi usada para justificar a perseguição a pessoas negras, pessoas com deficiência e homossexuais, entre outros grupos que eram alvo de discriminação. Na década de 1930, a eugenia foi uma política social adotada pela Alemanha nazista para justificar a perseguição aos judeus.

INVESTIG AÇÃO

Montaigne e os canibais: uma análise documental

Em 1560, alguns indígenas da etnia tupinambá foram levados de sua terra nativa, no litoral do que viria a ser o Brasil, para a França. A intenção era mostrar aos europeus “exemplares” desse povo que despertava curiosidade por seus costumes, entre os quais estava a prática da antropofagia. Naquela ocasião, o filósofo francês Michel de Montaigne (1533-1592) pôde, com a ajuda de um intérprete, conversar com os indígenas e saber mais sobre seu modo de vida. Com isso, produziu ensaios com suas percepções sobre os indígenas; entre eles, um dos mais conhecidos é “Dos canibais”, publicado pela primeira vez em 1580. Leia, a seguir, um trecho desse documento.

RETRATO de Michel Eyquem de Montaigne. Século XVI. Óleo sobre tela. Coleção particular.

OBJETIVO

antropofagia: ato de comer carne humana, ligado a rituais praticados por alguns povos encontrados ao redor do mundo.

[…] não vejo nada de bárbaro ou selvagem no que dizem daqueles povos; e, na verdade, cada qual considera bárbaro o que não se pratica em sua terra. [...].

[…]

Não me parece excessivo julgar bárbaros tais atos de crueldade [o canibalismo], mas que o fato de condenar tais defeitos não nos leve à cegueira acerca dos nossos. Estimo que é mais bárbaro comer um homem vivo do que o comer depois de morto; e é pior esquartejar um homem entre suplícios e tormentos e o queimar aos poucos, ou entregá-lo a cães e porcos, a pretexto de devoção e fé, como não somente o lemos, mas vimos ocorrer entre vizinhos nossos conterrâneos; e isso em verdade é bem mais grave do que assar e comer um homem previamente executado.

[…] Podemos portanto qualificar esses povos como bárbaros em dando apenas ouvidos à inteligência, mas nunca se os compararmos a nós mesmos, que os excedemos em toda sorte de barbaridades.

MONTAIGNE, Michel Eyquem de. Ensaios. Tradução: Sérgio Milliet. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1984. p. 101. (Os pensadores).

Vocês farão uma análise do trecho do ensaio de Montaigne seguindo as premissas da metodologia de pesquisa conhecida como análise documental.

É importante destacar que diversos são os documentos que podem ser analisados seguindo essas premissas, como fotografias, relatórios, ensaios, cartas, gravações, filmes, mapas, revistas etc.

A análise documental pretende trazer ao pesquisador maior domínio sobre o documento, ultrapassando a sua mera leitura. O contexto em que o documento foi produzido, por exemplo, permite ao leitor maior riqueza de informações.

1. Com o auxílio do professor, estabeleçam questionamentos que devem ser respondidos com base na análise do trecho do ensaio de Montaigne.

2. Separem as perguntas em dois conjuntos: análise externa e análise interna.

3. b) Porque essa estrutura permitia maior liberdade para apresentar suas ideias de uma perspectiva pessoal e reflexiva.

3. c) 1580.

3. d) Montaigne foi um dos mais importantes filósofos e escritores franceses do século XVI. Ele foi o criador do ensaio como gênero textual.

Consulte orientações no Manual do Professor.

3. a) Ensaio é um texto opinativo em que o autor expõe suas ideias através de argumentos e reflexões pessoais sobre determinado tema.

3. Durante a elaboração das questões de análise externa, considere as sugestões a seguir.

a) O que é um ensaio?

b) Por que Montaigne escolheu um ensaio para registrar suas impressões sobre os indígenas?

c) Em que ano o ensaio de Montaigne foi publicado pela primeira vez?

d) Q uem foi Michel de Montaigne?

4. Durante a elaboração das questões de análise interna, considere as sugestões a seguir.

a) H á palavras no trecho cujo significado vocês desconhecem? Identifiquem-nas e consultem dicionários ou façam uma pesquisa para conhecer seu significado.

b) Qual é a visão de Montaigne sobre os costumes dos tupinambá?

c) E ssa visão é similar àquela defendida pelos evolucionistas? Expliquem.

d) Q uais são os argumentos do autor para defender seu ponto de vista?

4. a) Resposta pessoal. Auxilie os estudantes na identificação das palavras e de seus significados

4. b) Ainda que ache os costumes dos tupinambá estranhos, distantes da sua cultura e da sua sociedade, Montaigne não os julga como bárbaros.

REGISTRO DAS ATIVIDADES

5. Com o auxílio do professor, combinem como a análise documental será registrada.

4. c) Não, pois os evolucionistas partem de costumes diferentes dos seus para classificar pessoas de outras sociedades como inferiores ou mais atrasadas.

4. d) Montaigne argumenta que, em situações como a guerra, os europeus cometem atrocidades semelhantes à antropofagia dos tupinambá, ou até piores, e que, por isso, não podem ser julgados como superiores aos indígenas.

Estudante anota dados e informações em seu caderno.

ETAPA

pseudociência: ideia, crença ou prática apresentada como ciência por seus defensores, mas que não segue a metodologia científica. Por esse motivo, os postulados de uma pseudociência não podem ser verificados de forma confiável.

Fotografia de Franz Boas com traje inuíte durante expedição à Ilha de Baffin (Canadá) em 1883.

O relativismo cultural

O evolucionismo começou a perder força no início do século XX, quando uma nova forma de entender a diversidade humana passou a ganhar espaço entre os cientistas. Um dos principais responsáveis por essa virada foi o antropólogo alemão Franz Boas (1858-1942), que defendia que o evolucionismo era apenas uma forma de justificar preconceitos, uma pseudociência. Ele chegou a essa conclusão em 1883, após permanecer alguns meses na Ilha de Baffin, no Canadá, vivendo entre nativos, os inuítes, então conhecidos como “esquimós”, que eram considerados pelos europeus como um povo selvagem. Em um dos trechos de seu diário, Boas faz a seguinte reflexão:

Frequentemente me pergunto que vantagens nossa ‘boa sociedade’ possui sobre aquela dos ‘selvagens’ e descubro, quanto mais vejo de seus costumes, que não temos o direito de olhá-los de cima para baixo. [...]

COLE, Herbert. “The value of a person lies in his Herzensbildung”: Franz Boas’ Baffin Island Letter-Diary, 1883-1884. In: STOCKING JR., 1983, p. 33 apud CASTRO, Celso. Apresentação. In: BOAS, Franz. Antropologia cultural . Organização e tradução: Celso Castro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. p. 9.

A partir de então, Boas se dedicou a defender a ideia de que a diversidade humana não se explica por uma escala evolutiva, e sim pela ideia de relativismo cultural. Com esse conceito, ele afirmava que cada sociedade deve ser compreendida com base em sua história, seus valores e sua própria cultura – e não através de critérios universais de comparação, como faziam os evolucionistas. Ele argumentou, ainda, que era um erro atribuir diferentes comportamentos a diferentes raças.

Povo inuíte pesca em Pangnirtung, Ilha de Baffin, no ártico canadense, em 2019.

Desde o seu surgimento, o relativismo cultural tem sido uma importante ferramenta para a compreensão da diversidade humana e o combate ao preconceito, desconstruindo a ideia de que algumas sociedades são mais avançadas que outras.

Essa forma de compreender a diversidade humana é, hoje, amplamente aceita. A partir dela, o conceito de cultura passou a ser a chave para entender as diferentes formas de vida humana, deixando para trás a ideia de que se tratava de diferenças raciais e evolutivas. Ainda assim, não há consenso, nas Ciências Sociais, sobre sua definição. Apesar de ser fundamental para o estudo e a compreensão das diversas sociedades, o conceito tem diferentes definições, variando conforme a perspectiva adotada.

Homens vestem kilt, saia típica escocesa, em festa. East Lothian (Escócia), 2023.

Saiba mais

• B ABIES. Direção: Thomas Balmès. França: [s. n.], 2010. Streaming (79 min). O documentário acompanha quatro bebês em diferentes lugares do planeta, desde o nascimento até o aniversário de um ano. Com isso, revela a riqueza contida na diversidade humana.

Mulheres da comunidade indígena de Kayan vestem argolas no pescoço. Mianmar, 2023.

VYRUS GRAFITI. Cores da diferença. Painel instalado no Centro Universitário do Norte do Espírito Santo durante evento sobre diversidade. São Mateus (ES), 2016.

1. Significa que os homens são condicionados pela cultura, ao mesmo tempo que fazem parte da construção dela.

2. Goodenough defende que a cultura não é feita de coisas. Ela é uma forma de estar no mundo, uma forma específica de relacionar coisas, pessoas e comportamentos (e não esses elementos em si mesmos).

Conheça algumas definições de cultura nos trechos adiante.

[…] Acreditando […] que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise […].

GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2015. E-book

[…] a cultura de uma sociedade consiste em tudo o que é preciso saber ou acreditar para operar de uma maneira aceitável para seus membros […] cultura não é um fenômeno material; não consiste em coisas, pessoas, comportamentos ou emoções. É, antes, uma organização desses elementos. [...]

GOODENOUGH, Ward H. Cultural anthropology and linguistics. In: GARVIN, Paul L. (ed.). Report of the Seventh Annual Round Table Meeting on Linguistics and Language Study. Washington, D.C.: Georgetown University Press, 1957. p. 167. Tradução nossa.

[...] A cultura é um conjunto de saberes, regras, normas, prescrições, proibições, permissões conservadas, mantidas e transmitidas através da linguagem. […] É ela que institui as regras-normas que organizam a sociedade e governam os comportamentos individuais […] cultura e sociedade estão em relação geradora mútua (e, nessa relação, não esqueçamos as interações entre indivíduos, eles próprios portadores-transmissores de cultura: as interações regeneram a sociedade, a qual regenera a cultura, a qual regenera as interações entre os indivíduos). [...]

MORIN, Edgar. Para uma sociologia do conhecimento. Tradução: António Firmino da Costa. Sociologia, [Lisboa], n. 6, p. 135-146, 1989. p. 141.

[Cultura é] todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da sociedade. [...]

TYLOR, Edward Burnett. A ciência da cultura [1871]. In: CASTRO, Celso (org.). Evolucionismo cultural: textos de Morgan, Tylor e Frazer. Tradução: Maria Lúcia de Oliveira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. p. 31.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Ao associar cultura a teias, o que significa, para Geertz, dizer que o homem está amarrado às teias ao mesmo tempo que as tece?

2. Qual é a intenção de Goodenough ao afirmar que a cultura não é um fenômeno material?

3. Para Morin, qual é a relação entre cultura e comportamentos individuais?

4. Em sua opinião, como acontece o processo de aquisição de cultura defendido por Tylor? Cite dois exemplos.

3. O autor afirma que a cultura institui as regras que governam os comportamentos individuais e que, ao mesmo tempo, os indivíduos são portadores e transmissores de cultura.

5. Leia o trecho do livro e explique de que maneira a situação narrada pela personagem se relaciona ao conceito de cultura.

4. Espera-se que os estudantes respondam que o processo de aquisição de cultura se dá através da socialização com a família, os amigos e os demais membros da sociedade em que vivemos.

[...] “Uma jovem da Bulgária ofereceu um jantar para os estudantes americanos, colegas de seu marido, e entre eles foi convidado um jovem asiático. Após os convidados terem terminado os seus pratos, a anfitriã perguntou quem gostaria de repetir, pois uma anfitriã búlgara que deixasse os seus convidados se retirarem famintos estaria desgraçada. O estudante asiático aceitou um segundo prato, e um terceiro — enquanto a anfitriã ansiosamente preparava mais comida na cozinha. Finalmente, no meio de seu quarto prato o estudante caiu ao solo, convencido de que agiu melhor do que insultar a anfitriã pela recusa da comida que lhe era oferecida, conforme o costume de seu país.” [...]

KEESING, 1981 apud LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009. p. 38.

5. A situação mostra uma falta de compreensão entre hábitos e valores de duas pessoas, mostrando que elas são membros de sociedades com culturas diferentes.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

O etnocentrismo

O relativismo cultural joga luz sobre outro conceito importante e bastante presente na vida de todos os seres humanos: o etnocentrismo, entendido como a tendência a observar o mundo com base em nossa própria cultura, julgando outros grupos pelos nossos próprios valores.

O etnocentrismo está presente, em alguma medida, em todas as sociedades. Por isso, muitas vezes, mesmo que não intencionalmente, diferenças de hábitos e de costumes são abordadas como juízo de valor e categorizadas como erradas ou ruins.

Muitas vezes, ao se deparar com costumes muito diferentes dos seus, as pessoas tendem ao estranhamento, ao medo e até à rejeição. Em outras situações, no entanto, esse comportamento pode dar origem a episódios de intolerância e de violência, motivados pela ideia de que o modo de vida de outra cultura é errado e deve ser eliminado.

Um exemplo desse tipo de efeito que o etnocentrismo pode provocar é a reação de alguns países europeus ao uso da burca, uma veste feminina que cobre o rosto e o corpo, usada por mulheres muçulmanas de algumas tradições islâmicas. Entre os ocidentais, é comum que a burca seja entendida como um símbolo de opressão. Com base nessa ideia, a França, em 2010, a Dinamarca, em 2018, e os Países Baixos, em 2019, proibiram seu uso em locais públicos. Os dirigentes responsáveis pela medida alegaram que a decisão se baseia em questões de segurança e incompatibilidade da burca com seus valores nacionais (como a igualdade entre homens e mulheres).

Afirmando que essa é uma medida etnocêntrica, a antropóloga palestino-americana Lila Abu-Lughod (1952-) defende que a burca deve ser entendida como um produto histórico-cultural e que é preciso deixar de lado os preconceitos que a tomam como um simples objeto de opressão. Leia um trecho de um artigo da autora.

[...] Nós podemos querer a justiça para as mulheres, mas podemos aceitar que pode haver ideias diferentes sobre a justiça e que mulheres diferentes podem querer, ou escolher, futuros diferentes daqueles que vislumbramos como sendo melhores? [...]

ABU-LUGHOD, Lila. As mulheres muçulmanas precisam realmente de salvação?: reflexões antropológicas sobre o relativismo cultural e seus outros. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 20, n. 2, p. 451-470, maio/ago. 2012. p. 462. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ref/a/ yPdFtbPfpQCHyDmh6BjqQDx/?lang=pt. Acesso em: 6 set. 2024.

Saiba mais

• A DICHIE, Chimamanda Ngozi. The danger of a single story. Palestra proferida no TED Talks, 2009. 1 vídeo (19 min). Disponível em: https://www.ted.com/ talks/chimamanda_ ngozi_adichie_the_ danger_of_a_single_ story?subtitle=en& lng=pt-br&geo=pt-br. Acesso em: 14 ago. 2024.

A escritora nigeriana parte de suas experiências pessoais para refletir sobre a necessidade de exercitar o olhar para as diferentes culturas e formas de estar no mundo.

ABU-LUGHOD, Lila. Do muslim women need saving? Cambridge: Harvard University Press, 2015. Capa. Nesse livro (em tradução livre: As mulheres muçulmanas precisam de salvação?), a antropóloga aborda visões etnocêntricas limitadoras sobre as vestimentas das mulheres muçulmanas.

PERSPECTIVAS

Em seu livro O que é etnocentrismo, lançado originalmente em 1984, o antropólogo brasileiro Everardo Rocha (1951-) debruçou-se sobre as origens desse conceito e sobre sua importância para compreendermos as relações entre as diferentes sociedades humanas.

Leia um trecho dessa obra.

Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. […]

[…]

[…] De um lado, conhecemos um grupo do ‘eu’, o ‘nosso’ grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses, casa igual, mora no mesmo estilo, distribui o poder da mesma forma, empresta à vida significados em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente. Aí, então, de repente, nos deparamos com um ‘outro’, o grupo do ‘diferente’ que, às vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as faz é de forma tal que não reconhecemos como possíveis. E, mais grave ainda, este ‘outro’ também sobrevive à sua maneira, gosta dela, também está no mundo e, ainda que diferente, também existe. […]

Everardo Rocha, 2020. Ele foi um dos pioneiros, no meio acadêmico brasileiro, na vinculação de estudos antropológicos ao consumo.

Observe a tirinha.

O grupo do ‘eu’ faz, então, da sua visão a única possível ou, mais discretamente se for o caso, a melhor, a natural, a superior, a certa. O grupo do ‘outro’ fica, nessa lógica, como sendo engraçado, absurdo, anormal ou ininteligível. Este processo resulta num considerável reforço da identidade do ‘nosso’ grupo. [...]

ROCHA, Everardo Pereira Guimarães. O que é etnocentrismo. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1988. (Coleção Primeiros passos, 124, p. 5).

a) Sim, pois ele compreende o mundo apenas pela sua própria cultura, ou seja, julgando as outras pessoas com base na ideia de que deveriam ser navegantes.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Depois de ler a tirinha, responda ao que se pede.

b) Resposta pessoal. Espera-se que o estudante seja capaz de pensar em atitudes dele próprio em relação a outras práticas culturais, ou em situações que tenha vivido, identificando uma postura

a) A declaração do Hagar (o pai) pode ser considerada etnocêntrica? Explique.

BROWNE, Dik. [Existem apenas dois tipos de pessoas]. Folha de S. Paulo, São Paulo, 19 maio 1991, p. 4. etnocêntrica.

b) Em seu cotidiano, você identifica alguma situação, vivida por você ou por pessoas próximas, que seja marcada pelo etnocentrismo? Caso sim, qual?

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Saberes decoloniais

Um dos efeitos do etnocentrismo na sociedade contemporânea é o predomínio da visão de mundo europeia. No Brasil, por exemplo, as diretrizes e os currículos escolares são ancorados, em sua maioria, na tradição francesa. O contato com outras formas de saber, como o modo como os povos andinos concebiam o calendário, os conhecimentos dos indígenas sobre a natureza ou os estudos de povos africanos sobre astronomia, em geral, não fazem parte do conteúdo programático. Isso mostra que o processo de colonização, iniciado no século XVI, não se resumiu à ocupação do território e à dominação política. Ele se consolidou também como uma dominação social e cultural, que afetou profundamente a forma de agir e de pensar das populações colonizadas.

Nos últimos anos, pensadores africanos, indígenas e latino-americanos começaram a chamar a atenção para a necessidade de “descolonizar o pensamento”. Mas o que isso significa? Para esses pensadores, o primeiro passo para descolonizar o pensamento é questionar a ideia de que os saberes vindos da Europa são absolutos e universais. Eles defendem que é preciso abrir espaço para as histórias, ideias e visões de mundo de outros grupos, conhecendo sua visão sobre temas e acontecimentos estudados apenas pelo ponto de vista europeu. Essa perspectiva não propõe abandonar saberes de origem europeia, e sim mostrar que uma mesma história pode ser contada de muitas maneiras.

Com base nessas ideias, observe a obra do artista uruguaio Joaquín Torres García (1874-1949).

GARCÍA, Joaquín Torres. América invertida. 1943. Desenho à caneta e tinta. Museu Nacional de Artes Visuais, Montevidéu (Uruguai).

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Como a obra de García se relaciona com as representações cartográficas mais usuais da América do Sul?

1. A obra de García remete a uma representação cartográfica da América do Sul; no entanto, ela é orientada pela direção sul, e não pela norte, como apresentado em representações cartográficas convencionais.

2. Explique como a obra de García pode ser relacionada a uma perspectiva decolonial.

3. Como o título da obra se relaciona à imagem?

2. Espera-se que os estudantes respondam que a perspectiva decolonial defende um deslocamento analítico que permita que fenômenos já conhecidos sejam compreendidos por outros pontos de vista.

3. O título da obra coloca, em palavras, a proposta da imagem, fazendo um jogo de inversão entre norte e sul.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

A perspectiva decolonial sobre a história pode ser exemplificada pelo debate sobre o modo como deve ser feita a referência aos povos originários do Brasil. Desde a chegada dos europeus ao território hoje correspondente à América, convencionou-se chamar de “índio” os representantes dos povos originários. No Brasil, desde a década de 1970, com o advento do ativismo indígena no país, diferentes setores da sociedade, em especial os indígenas, vêm pontuando que o uso desse termo tem caráter pejorativo.

Leia o trecho de uma fala do escritor, professor e ativista indígena Daniel Munduruku (1964-) sobre o assunto.

Os colonizadores colocaram o nome de ‘índio’ nessas populações e virou uma alcunha, um apelido para todas as pessoas que pertenciam a povos de origem […]. Não se falava em diversidade, mas sim em uma unidade. E essa palavra unifica todas essas culturas na figura do ‘índio’, desse ‘índio’ genérico.

VEIGA, Edison. Dia do Índio dá lugar ao Dia dos Povos Indígenas. DW, [s. l.], 19 abr. 2023. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/pela-primeira-vez-brasil-celebra-dia-dos-povos-ind%C3%ADgenas -e-n%C3%A3o-dia-do-%C3%ADndio/a-65363077. Acesso em: 14 ago. 2024.

Em 2022, foi aprovado pelo legislativo federal brasileiro o projeto de lei de Joenia Wapichana (1973-), que propunha que o “Dia do Índio”, celebrado todo dia 19 de abril, passasse a se chamar “Dia dos Povos Indígenas”. Leia no trecho a seguir a fala de Joenia, primeira mulher indígena a ocupar o cargo de deputada federal no país, sobre a mudança.

[…] O propósito é reconhecer o direito desses povos de, mantendo e fortalecendo suas identidades, línguas e religiões, assumir tanto o controle de suas próprias instituições e formas de vida quanto de seu desenvolvimento econômico. […]

AGÊNCIA SENADO. Nova lei denomina o 19 de abril como Dia dos Povos Indígenas, em substituição a Dia do Índio. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, 11 jul. 2022. Disponível em: https://www.camara.leg.br/ noticias/896465-nova-lei-denomina-o-19-de-abril-como-dia-dos-povosindigenas-em-substituicao-a-dia-do-indio/. Acesso em: 14 ago. 2024.

Joenia Wapichana, primeira indígena eleita deputada federal, entre 2019-2022. Brasília (DF), 2024.

• T RADIÇÃO e valores morais: culturas indígenas (2018). São Paulo: Itaú Cultural, 2018. 1 vídeo (15 min). Publicado pelo canal Itaú Cultural. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=UaCEY4gnyY0 . Acesso em: 14 ago. 2024.

Lideranças indígenas falam sobre o sentido de narrativas da cultura dos povos indígenas.

Saiba mais

Ideologia

Até agora, você estudou como os costumes e as visões de mundo são condicionados pela cultura da qual as pessoas fazem parte. Mas, além da cultura, outro elemento essencial para entender o modo como as pessoas se colocam no mundo e constroem suas relações é a ideologia. Leia no trecho a seguir como a filósofa brasileira Marilena Chaui (1941-) define ideologia.

[…] um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (ideias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar, o que devem valorizar e como devem valorizar, o que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer. Ela é, portanto, um corpo explicativo (representações) e prático (normas, regras, preceitos) de caráter prescritivo, normativo, regulador […].

CHAUI, Marilena. O que é ideologia. 2. ed. rev. ampl. São Paulo: Brasiliense, 2008. (Coleção Primeiros passos, 13, p. 108-109).

Uma ideologia corresponde, assim, às ideias de determinado grupo social a respeito da realidade que o cerca e do seu papel nessa realidade. Ela se constrói por meio de histórias, crenças e práticas e se concretiza em propostas de ação difundidas com a pretensão de se tornar o padrão social vigente. Existem muitos tipos de ideologia, tais como políticas, econômicas e religiosas. O conceito de ideologia se entrelaça ao de cultura, ajudando na compreensão do modo como cada grupo social constrói sua forma de viver e estar no mundo e agir sobre ele.

Ideologia e dominação

O filósofo e economista alemão Karl Marx (1818-1883) foi um dos principais pensadores dedicados ao estudo da ideologia. Em seu livro A ideologia alemã, de 1846, escrito em parceria com Friedrich Engels (18201895), Marx definiu a ideologia como “ilusão” ou “falsa consciência”. Para entender o que isso significa, é importante saber que Marx estava interessado em compreender como se davam as relações de dominação entre a burguesia (classe dominante, dona dos meios de produção) e o proletariado (classe dominada, que vende sua força de trabalho para sobreviver). Em sua análise, Marx afirma que as sociedades capitalistas são compostas de duas esferas que se relacionam e se complementam: a infraestrutura e a superestrutura. A infraestrutura abarca tudo o que diz respeito à economia e à produção dos bens necessários à sobrevivência. A superestrutura, por sua vez, abrange os fenômenos referentes às ideias, como leis, cultura, religião e organização política.

mais

• CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: Editora Brasiliense, 2001. Neste livro, Chauí analisa como as ideologias moldam a sociedade e sustentam as relações de poder.

Saiba

Representação da infraestrutura e da superestrutura para Marx.

Marx argumenta que as ideias só podem ser compreendidas levando-se em conta as relações materiais de produção, ou seja, a posição que cada pessoa ocupa no processo produtivo. Segundo ele, as classes dominantes impõem ao restante da sociedade os seus interesses, fazendo parecer que são universais. Nessa perspectiva, ideologia seria o conjunto de ideias e crenças promovidas e impostas pelas classes dominantes a toda a sociedade, visando legitimar e perpetuar sua posição de poder.

meritocracia: ideologia baseada na valorização das capacidades individuais. Define-se pela ideia de que o sucesso de uma pessoa depende exclusivamente de seus méritos individuais, sem considerar aspectos sociais (como origem social e acesso a oportunidades).

É possível encontrar exemplos da concepção de ideologia de Marx na forma como certos valores e ideias são promovidos pela mídia, pelas instituições educacionais e pelas políticas públicas em sociedades capitalistas. Um deles é o modo como a publicidade e os meios de comunicação promovem um estilo de vida consumista, apresentando a aquisição de determinados produtos como meio de alcançar a felicidade. Essa é uma ideologia que oculta as relações que sustentam o capitalismo, como a exploração da mão de obra e a desigualdade de renda. Outro exemplo é a ideia de meritocracia, que sugere que todos têm as mesmas oportunidades de sucesso, dependendo somente do seu esforço individual. Essa é uma ideologia que ignora as barreiras estruturais e econômicas que impedem o acesso igualitário a oportunidades, como educação de qualidade, acesso ao capital inicial e redes de relações. O evolucionismo e o racialismo também podem ser vistos como ideologias que buscavam convencer a todos de que alguns grupos humanos eram inferiores a outros – e que, portanto, deveriam ser dominados.

Esses são exemplos de distorção da realidade econômica e social por um conjunto de ideias que beneficiam as classes dominantes e perpetuam as desigualdades existentes. São ideologias que não apenas refletem as relações de poder dentro da sociedade mas também as sustentam, moldando a opinião pública e as normas sociais.

LÁPIS 13B

Neste capítulo, você conheceu as diferentes maneiras como a diversidade humana foi explicada por pensadores e cientistas: primeiro, por meio do evolucionismo; depois, através do relativismo cultural. Esse tema está longe de ser esgotado, afinal, a diversidade de hábitos, crenças e costumes continua instigando pesquisadores e despertando a curiosidade da sociedade. O que as Ciências Sociais nos ensinam através de ferramentas como os conceitos de cultura e de etnocentrismo é que os modos de vida e as visões de mundo são tão diversos quanto a própria humanidade. Elas ainda ensinam que, por mais estranhos e distantes que alguns costumes possam parecer, é importante saber que eles fazem sentido dentro de uma história e cultura próprias.

Você aprendeu também que a reação ao etnocentrismo vem dando forma à construção de uma perspectiva decolonial, que visa valorizar e legitimar outras formas de saber sobre histórias e fenômenos que conhecemos pelo ponto de vista colonizador.

Por fim, você foi apresentado ao conceito de ideologia, compreendendo como ele se relaciona à ideia de cultura. Com base nele, é possível pensar sobre diferentes fenômenos do cotidiano, entendendo como pessoas e grupos sociais se posicionam e se expressam diante de situações diversas, a depender de sua posição na sociedade.

Com tudo isso em mente, reflita sobre as perguntas que abrem este capítulo. Você agora tem novas ferramentas para pensar sobre elas, podendo compreender melhor a diversidade e a complexidade do mundo em que vivemos.

ATIVIDADES

FINAIS

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Leia o trecho de texto a seguir e responda às questões.

O conceito de cultura, ou a cultura como conceito, então, permite uma perspectiva mais consciente de nós mesmos. Precisamente porque diz que não há homens sem cultura e permite comparar culturas e configurações culturais como entidades iguais, deixando de estabelecer hierarquias em que inevitavelmente existiriam sociedades superiores e inferiores. Mesmo diante de formas culturais aparentemente irracionais, cruéis ou pervertidas, existe o homem a entendê-las – ainda que seja para evitá-las, como fazemos com o crime – é uma tarefa inevitável que faz parte da condição de ser humano e viver num universo marcado e demarcado pela cultura. Em outras palavras, a cultura permite traduzir melhor a diferença entre nós e os outros e, assim fazendo, resgatar a nossa humanidade no outro e a do outro em nós mesmos. Num mundo como o nosso, tão pequeno pela comunicação em escala planetária, isso me parece muito importante. Porque já não se trata somente de fabricar mais e mais automóveis, conforme pensávamos em 1950, mas desenvolver nossa capacidade para enxergar melhores caminhos para os pobres, os marginais e os oprimidos. E isso só se faz com uma atitude aberta para as formas e configurações sociais que, como revela o conceito de cultura, estão dentro e fora de nós.

MATTA, Roberto da. Você tem cultura? São Paulo: USP e-Disciplinas, [2006]. p. 4. Artigo publicado originalmente no Jornal da Embratel, Rio de Janeiro, 1981. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/877886/mod_resource/content/1/2_MATTA_ Voc%C3%AA%20tem%20cultura.pdf. Acesso em: 14 ago. 2024.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

1. a) Sim, pois o autor defende que não há sociedades superiores ou inferiores, afirmando que todas as culturas e configurações culturais devem ser entendidas como entidades iguais.

a) As ideias do texto estão alinhadas aos princípios do relativismo cultural? Justifique.

b) Qual é, segundo o autor, a importância do conceito de cultura no enfrentamento dos dilemas da atualidade?

1. b) O autor afirma que o conceito de cultura permite compreender aquilo que é diferente de nós, mesmo comportamentos que nos parecem irracionais ou cruéis.

2. Defina, com suas palavras, o que é ideologia. Em seguida, cite exemplos de ideologias presentes na sociedade em que vivemos.

2. Espera-se que os estudantes definam ideologia como um conjunto de pensamentos, ideias, doutrinas ou visões de mundo de um indivíduo ou grupo, que orientam suas ações sociais e políticas.

3. (UECE – 2021) O infanticídio indígena é uma prática cultural ainda corrente entre alguns povos nativos do Brasil de hoje, como os Kamayurá, Yanomami, Kajabi, Bororo e Ticuna. Algumas situações diversas fazem com que as indígenas pratiquem tal ato: quando a mãe tem filhos em pequenos intervalos de tempo, com menos de dois anos, por exemplo; crianças com deficiências motoras ou físicas; em casos raros, crianças do sexo feminino; quando nascem gêmeos, um é sacrificado; e, mesmo, quando nascem crianças albinas. Esta tradição coloca desafiadoras e importantes reflexões que envolvem tanto o debate sobre o respeito à diversidade cultural e o combate ao etnocentrismo como a luta a favor dos direitos humanos contra esse costume e, ao mesmo tempo, a luta pela preservação da cultura dos povos indígenas.

Acerca do infanticídio indígena, assinale a afirmação verdadeira.

a) A luta pela proteção das culturas indígenas e a defesa dos direitos humanos não precisam estar desassociadas no desestímulo ao infanticídio.

b) A visão etnocêntrica sobre o fenômeno do infanticídio indígena é aquela que nos faz enxergar com respeito e cuidado tal prática cultural.

c) As tribos indígenas que cultivam este costume devem ser conservadas sem nenhuma intervenção para a garantia da diversidade cultural.

d) O combate dos direitos humanos contra a prática do infanticídio indígena coloca a divisão entre a cultura civilizada e a cultura bárbara.

4. (Enem – 2019)

É amplamente conhecida a grande diversidade gastronômica da espécie humana. Frequentemente, essa diversidade é utilizada para classificações depreciativas. Assim, no início do século, os americanos denominavam os franceses de “comedores de rãs”. Os índios kaapor discriminam os timbiras chamando-os pejorativamente de “comedores de cobra”. E a palavra potiguara pode significar realmente “comedores de camarão”. As pessoas não se chocam apenas porque as outras comem coisas variadas, mas também pela maneira que agem à mesa. Como utilizamos garfos, surpreendemo-nos com o uso dos palitos pelos japoneses e das mãos por certos segmentos de nossa sociedade.

LARAIA, R. Cultura: um conceito antropológico. São Paulo: Jorge Zahar, 2001 (adaptado).

O processo de estranhamento citado, com base em um conjunto de representações que grupos ou indivíduos formam sobre outros, tem como causa o(a)

a) reconhecimento mútuo entre povos.

b) etnocentrismo recorrente entre populações.

c) comportamento hostil em zonas de conflito.

d) constatação de agressividade no estado de natureza.

e) transmutação de valores no contexto da modernidade.

(UEM-PR – 2019)

“A alienação social se exprime numa teoria do conhecimento espontânea, formando o senso comum da sociedade. Por seu intermédio, são imaginadas explicações e justificativas para a realidade tal como é diretamente percebida e vivida. [...] A produção ideológica da ilusão social tem como finalidade fazer com que todas as classes sociais aceitem as condições em que vivem, julgando-as naturais, normais, corretas, justas, sem pretender transformá-las ou conhecê-las realmente, sem levar em conta que há uma contradição profunda entre as condições reais em que vivemos e as ideias.”

(CHAUI, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2011, p. 218).

Acerca do conceito de ideologia e de suas formas de proceder, assinale o que for correto .

01. Como forma de conhecimento por meio do senso comum, a ideologia é um discurso crítico às teses científicas predominantes nas ciências sociais e exatas.

02 . Uma ideologia procede por meio de “inversão” de causas e efeitos quando afirma, por exemplo, que mulheres devem ser submissas aos homens porque isso seria natural, tomando aquilo que é o efeito de condições históricas e sociais contingentes como a justificativa para essa própria organização social.

04. Um discurso ideológico é caracterizado pela lógica e pela coerência interna de seus argumentos, ainda que suas proposições não possam ser consideradas corretas.

08. A ideologia produz o imaginário social ao representar a experiência social imediata como um conjunto de normas e explicações para as relações sociais. Aquilo “que todo mundo faz” constitui o comportamento “normal”, “correto”, sem que se questionem suas razões.

16. A diversidade das posições ideológicas indica que os indivíduos são livres para aderirem às visões de mundo que melhor correspondem às suas preferências.

6. (UEG-GO – 2015) Para Marx, diante da tentativa humana de explicar a realidade e dar regras de ação, é preciso considerar as formas de conhecimento ilusório que mascaram os conflitos sociais. Nesse sentido, a ideologia adquire um caráter negativo, torna-se um instrumento de dominação na medida em que naturaliza o que deveria ser explicado como resultado da ação histórico-social dos homens, e universaliza os interesses de uma classe como interesse de todos. A partir de tal concepção de ideologia, constata-se que

a) a sociedade capitalista transforma todas as formas de consciência em representações ilusórias da realidade conforme os interesses da classe dominante.

b) ao mesmo tempo que Marx critica a ideologia ele a considera um elemento fundamental no processo de emancipação da classe trabalhadora.

c) a superação da cegueira coletiva imposta pela ideologia é um produto do esforço individual principalmente dos indivíduos da classe dominante.

d) a frase “o trabalho dignifica o homem” parte de uma noção genérica e abstrata de trabalho, mascarando as reais condições do trabalho alienado no modo de produção capitalista

CAPÍTULO

3

OBJETIVOS DO CAPÍTULO:

C onhecer, identificar e diferenciar problema individual, problema social e problema sociológico. C ompreender e exercitar o conceito de imaginação sociológica.

C onhecer, analisar e refletir sobre um fenômeno social por meio do método de pesquisa estudo de caso.

Imaginação sociológica

1. Espera-se que o estudante identifique a ironia da charge, já que o comentário é feito por uma pessoa que aparentemente também mora em uma área de risco.

Ao longo dos anos, diversas localidades em Angra dos Reis (RJ) têm sido palco de tragédias envolvendo áreas de risco. Você sabe o que são áreas de risco? De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), área de risco é

[…] a área passível de ser atingida por fenômenos ou processos naturais e/ ou induzidos que causem efeito adverso. As pessoas que habitam essas áreas estão sujeitas a danos à integridade física, perdas materiais e patrimoniais […]. IBGE. Coordenação de Geografia. População em áreas de risco no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2018. p. 12. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101589.pdf. Acesso em: 2 set. 2024.

De acordo com o Serviço Geológico do Brasil, existem 3,9 milhões de pessoas vivendo em 13 297 áreas de risco no país. Entre essas localidades, mais de 9 mil são classificadas como de “risco alto”, enquanto 4 mil são classificadas como de “risco muito alto”, envolvendo, por exemplo, a possibilidade de deslizamentos e inundações.

MYRRIA. [Puxa! Que tragédia essa em Angra dos Reis!]. In: A geografia como protagonista!

[S. l.], 9 mar. 2014. Disponível em: https:// geoprotagonista. blogspot.com/2014/03/ trabalhando-comcharges-plano-de-aula. html. Acesso em: 2 set. 2024.

2. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante reconheça que não, considerando fatores como políticas públicas deficitárias, falta de infraestrutura e responsabilidade do Estado na prevenção e no suporte a tragédias, começando a perceber a diferença entre problema individual e problema social.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. O que é possível inferir da charge?

2. Em sua opinião, a responsabilidade por uma tragédia que acomete pessoas em área de risco é exclusivamente delas? Argumente.

Tipos de problema

Na sociologia, é possível conceber dois tipos de problema: os problemas sociais e os sociológicos. Mas como diferenciar um problema individual de um social ou sociológico? Por exemplo, você diria que os 3,9 milhões de brasileiros que vivem em áreas de risco seriam um problema individual, social ou sociológico?

Problema individual

Um problema individual refere-se a uma questão pessoal. Por exemplo, imagine que uma pessoa precisa mudar de residência porque o proprietário solicitou a desocupação do imóvel. Esse indivíduo, que tem condições financeiras para alugar outro imóvel, está indeciso entre alugar um apartamento ou uma casa e sobre qual bairro escolher. É evidente que essa pessoa enfrenta um problema: onde morar? Para resolvê-lo, ela precisa refletir, esclarecer dúvidas e considerar variáveis para tomar uma decisão. Essa decisão é individual; afinal, a responsabilidade da escolha e a resolução do problema dependem exclusivamente dela.

Problema social

Para o sociólogo brasileiro Oracy Nogueira (1917-1996), no artigo “Problema social e problema de investigação”, publicado em 1959, problema social é toda situação que ameaça a vida, a sobrevivência, o bem-estar e o desenvolvimento dos seres humanos, sendo reconhecido como tal e exigindo reajustamento ou solução por meio de ações sociais coletivas ou de outra ordem. Portanto, problema social é um fenômeno ou uma condição que afeta de modo negativo parte da sociedade, causando, por exemplo, sofrimento, risco à vida, privação de direitos, modo de vida indigno etc.

Tome a questão da moradia em áreas de risco como exemplo. Se identificamos e reconhecemos que milhares de pessoas, por negligência de ação do Estado ou ausência de condições econômicas, são privadas do direito à moradia e vivem em condições que colocam a vida em risco, existe um problema social.

Chuvas causam deslizamento de terra no Morro da Oficina, bairro Alto da Serra, Petrópolis (RJ), 2022.
NÃO ESCREVA NO LIVRO.
CHICO FERREIRA/PULSAR IMAGENS
CHICO FERREIRA/PULSAR IMAGENS

Afinal, por que existem problemas sociais?

[…] “Os problemas sociais surgem ou se agravam quando uma sociedade cria ou aceita instrumentos de mudança e, no entanto, falha na compreensão, antecipação ou trato das consequências desse ato” […].

HERMAN, 1949 apud NOGUEIRA, Oracy. Problema social e problema de investigação. In: SEMINÁRIO DIDÁTICO INTERNACIONAL SOBRE LEVANTAMENTOS DE ENFERMAGEM, 1958, Salvador. Publicações Científicas […]. Washington, D. C.: Repartição Sanitária Pan-Americana, 1959. p. 17. Reimpresso do Boletin de la Oficina Sanitaria Panamericana, [s. l.], ano 38, v. XLVI, n. 5, maio 1959. Disponível em: https://iris.paho.org/bitstream/ handle/10665.2/47917/41633.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 2 set. 2024.

Isso mostra que, a depender do contexto, os problemas podem ser uma consequência do desenvolvimento econômico e social de uma sociedade. Por isso, é importante compreender os potenciais impactos de qualquer mudança social implementada em uma sociedade, para evitar a criação de novos problemas sociais.

Déficit educacional

Exemplos de problemas sociais

Mudanças climáticas

Saúde pública

Déficit habitacional

Insegurança alimentar e falta de acesso à água potável

Desemprego

Problema sociais surgem ou pioram quando a sociedade falha em prever e lidar com o impacto das transformações.

As transformações políticas, econômicas e culturais na sociedade brasileira intensificam a demanda e a reivindicação por direitos constitucionais, como vida, dignidade e oportunidades. O que antes não era considerado um problema social torna-se evidente à medida que essas transformações sociais exigem conhecimento de modo a garantir acesso a melhores condições de vida. Considere, por exemplo, a Constituição Federal

Pobreza
Poluição

de 1988. Esse documento estabelece a educação como um direito fundamental de todos os cidadãos. Porém, de acordo com os dados do Censo de 2022, 11 milhões de brasileiros com mais de 15 anos eram analfabetos. A falta de acesso à educação, somada à ausência de reconhecimento desse problema, acarreta diversos problemas sociais.

Ainda para Nogueira, a conscientização é o primeiro passo para uma possível solução. Entretanto, os conflitos de interesses nas sociedades dificultam os encaminhamentos e as resoluções dessas questões. Nesse contexto, surge a necessidade de ações coletivas que envolvam instituições, movimentos sociais, opinião pública em geral e especialistas técnico-científicos, como sociólogos, economistas, estatísticos etc. Afinal, todo problema social é um problema de investigação.

Problema sociológico

A sociologia é uma área do conhecimento dedicada a refletir sobre a sociedade e a relação entre indivíduos, grupos e instituições, o que inclui a identificação, o estudo e a análise de problemas sociais. Conceição Tavares (1930-2024), no artigo "Reflexão sobre o conceito de problema social", publicado em 1967, afirma que problema sociológico é uma questão de conhecimento científico, que surge e se resolve no âmbito da sociologia. Assim, o problema sociológico se refere a uma questão, um fenômeno ou uma condição, dentro de uma sociedade, que desperta a atenção dos sociólogos por suas implicações na vida social. Esse problema, então, é estudado com base em questionamentos, referências teóricas, formulações sobre a natureza e a causa do fenômeno, além de pesquisas, coletas de dados e análises.

A pesquisa sociológica, assim como toda pesquisa científica, ao se debruçar sobre um problema social, pode contribuir para sua resolução de modo a não agravar nem gerar novos problemas sociais. Ao compreender o problema, identificar sua origem e analisar o modo como afeta as pessoas, torna-se possível propor e sugerir ações para enfrentá-lo. Por exemplo, uma das propostas para enfrentar problemas sociais são as políticas públicas intersetoriais, isto é, estratégias ou ações governamentais que envolvem a colaboração e a integração de diferentes setores da sociedade.

política pública: conjunto de ações e programas desenvolvidos pelo Estado para garantir e colocar em prática direitos previstos na Constituição Federal de 1988 e em outras leis.

No caso do problema social de moradias em área de risco, a sociologia poderia contribuir através das seguintes ações: (1) realização de pesquisas para quantificar o número de cidadãos afetados; (2) análise, por meio de entrevistas, das causas que levam as pessoas a residir nessas áreas (por exemplo, falta de oportunidades, desemprego, falta de conhecimento, laços afetivos etc.); (3) proposição de soluções viáveis com base em experiências prévias de políticas públicas e/ou inovações; (4) elaboração de um levantamento de custos para a implementação dessas políticas públicas; (5) planejamento da execução das políticas, com ênfase nos aspectos jurídicos e legislativos, mapeando os procedimentos legais necessários; (6) desenvolvimento de indicadores de monitoramento para avaliar os impactos e resultados da execução dessas políticas.

esposta pessoal. Espera-se que o estudante ou a pessoa entrevistada indique a quantidade de horas que passa conectado e em quais aplicativos.

esposta pessoal. Espera-se que o estudante comente se existem regras no uso dos dispositivos eletrônicos e quais são os impactos disso.

esposta pessoal. Espera-se que o estudante descreva, entre outras possibilidades, um comportamento comum: a introspecção.

Do individual ao coletivo

Vamos refletir sobre um problema que pode afetar o seu cotidiano: o tempo gasto com smartphones ou computadores. Em princípio, esse pode parecer um problema individual, mas será que o excesso de tempo que uma pessoa permanece em frente a uma tela não seria um problema social? Para ampliarmos nossa compreensão do tema, vamos conhecer uma pesquisa sobre o assunto.

A pesquisa Digital 2023: Brasil, divulgada em 2023, concluiu que o brasileiro fica cerca de nove horas por dia na frente de uma tela, seja de computador, seja de smartphone. Observe o quadro.

Brasil: panorama digital – 2023

181,8 milhões de usuários de internet no início de 2023, quando a cobertura da internet alcançava 84,3% da população brasileira.

Usuários de internet aumentaram 7,1 milhões (+ 4,1%) entre 2022 e 2023.

152,4 milhões de usuários de mídia social em janeiro de 2023, o equivalente a 70,6% da população total.

221,0 milhões de conexões móveis celulares ativas no início de 2023, o que corresponde a 102,4% da população total.

Fontes dos dados: KEMP, Simon. Digital 2023: Brazil. [S. l.]: Data Reportal, 2023. Disponível em: https://datareportal.com/reports/digital-2023-brazil. Acesso em: 19 out. 2024.

NAZAR, Susanna. Brasileiros passam em média 56% do dia em frente às telas de smartphones e computadores. Jornal da USP, Ribeirão Preto, 29 jun. 2023. Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/brasileiros-passam-em-media-56-do-dia -em-frente-as-telas-de-smartfones-computadores/. Acesso em: 2 set. 2024.

Com base nessa pesquisa, é possível perceber que milhões de brasileiros permanecem diariamente conectados. Para determinar se isso configura um problema social, é necessário verificar se essa prática causa danos à vida dos indivíduos e se afeta o coletivo. Para isso, seria preciso realizar coletas de dados adicionais e analisá-los em conjunto. Dessa forma, teria início uma investigação mais aprofundada para reconhecer um problema social.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Com base nessas informações, responda a estas questões. Caso não possua um dispositivo eletrônico, faça estas perguntas para outra pessoa. Caso contrário, responda com base em sua experiência pessoal. Ao final, compartilhe as respostas com colegas e professor.

a) Por quanto tempo você fica conectado ao celular e quais são os aplicativos nos quais passa mais tempo? Se não souber responder com precisão, verifique essas informações nas configurações do aparelho.

b) Como é o uso do celular na sua escola e/ou na sua casa? Descreva e analise.

c) Como é o comportamento das pessoas quando estão no celular? Descreva e analise.

d) Em sua opinião, o uso do celular é nocivo ou benéfico na sua vida? Argumente.

d) Resposta pessoal. Espera-se que o estudante apresente exemplos nocivos (uso excessivo, procrastinação de atividades, isolamento social etc.) e positivos (acesso à informação, contato on-line com pessoas que estão distantes etc.).

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Imaginação sociológica

Vivenciamos diversos fenômenos sociais sem compreender ou refletir sobre eles. É comum reproduzir um costume, por exemplo, sem questionar por que nos comportamos assim. Imagine que um fenômeno social é semelhante a uma planta que cresce e se espalha a partir de caules subterrâneos, crescendo horizontalmente abaixo do solo. A única forma de identificar os caules abaixo do solo que estruturam essa planta é por meio de uma investigação, isto é, por meio de pesquisas. O mesmo acontece com os fenômenos sociais. Para identificar sua estrutura, é preciso deixar de observá-los como fenômenos naturais e passar a questioná-los.

Pensando nisso, o sociólogo estadunidense Charles Wright Mills (1916-1962) criou o conceito de imaginação sociológica . Por meio dele, é possível estabelecer conexões entre experiências pessoais e questões sociais mais amplas, de modo a perceber os fenômenos sociais de uma perspectiva abrangente e analisar a sociedade de forma crítica. Isso significa problematizar os fenômenos sociais e perceber que situações da vida privada são influenciadas por estruturas sociais, históricas e culturais.

A imaginação sociológica possibilita questionar e compreender a sociedade.

NELSON
PROVAZI

Nas palavras de Mills,

A imaginação sociológica capacita seu possuidor a compreender o cenário histórico mais amplo, em termos de seu significado para a vida íntima e para a carreira exterior de numerosos indivíduos. Permite-lhe levar em conta como os indivíduos, na agitação de sua experiência diária, adquirem frequentemente uma consciência falsa de suas posições sociais. Dentro dessa agitação, busca-se a estrutura da sociedade moderna, e dentro dessa estrutura são formuladas as psicologias [isto é, os comportamentos e jeitos de pensar dos seres humanos] […].

Na cultura japonesa, a reverência, ou o curvar-se diante de alguém, é uma prática comum, vista como um sinal de respeito.

Dois homens curvam-se um para o outro em cumprimento. Tóquio (Japão), 2017.

A imaginação sociológica nos permite compreender a história e a biografia e as relações entre ambas, dentro da sociedade […].

MILLS, Charles Wright. A imaginação sociológica . Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1965. p. 11-12.

A imaginação sociológica possibilita enxergar fatos, antes entendidos como exclusivos do indivíduo, como um fenômeno social que afeta parte da população. Apesar de influenciados pela sociedade, podemos criar nossa própria individualidade se formos capazes de compreender nossa história e avaliarmos o que nos influencia na sociedade em que vivemos. Em síntese, a imaginação sociológica permite compreender a influência do social sobre nós e questionar ideias e verdades preconcebidas.

Na imaginação sociológica, devemos observar um fenômeno e questioná-lo até que ele nos cause estranhamento: o que é? Como surgiu? Com que outros fenômenos é possível estabelecer relações? Por que ele ocupa esse lugar?

PERSPECTIVAS

b) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes apresentem exemplos de fenômenos de disciplina, de controle e outros fenômenos naturalizados no ambiente escolar.

No artigo “Metodologia de ensino de ciências sociais: relendo as OCEM-Sociologia”, publicado em 2010, os sociólogos brasileiros Amaury César Moraes (1957-) e Elisabeth da Fonseca Guimarães (1945-) definem que os princípios que caracterizam a pesquisa e o ensino das ciências sociais são o estranhamento e a desnaturalização.

Procurando fazer uma ponte entre o estranhamento e a desnaturalização, pode-se afirmar que a vida em sociedade é dinâmica, em constante transformação; consistiu-se de uma multiplicidade de relações sociais que revelam as mediações e as contradições da realidade objetiva de um dado período histórico. […]

MORAES, Amaury César; GUIMARÃES, Elisabeth da Fonseca. Metodologia de ensino de ciências sociais: relendo as OCEM-Sociologia. In: BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Sociologia: ensino médio. Brasília, DF: SEB, 2010. (Coleção Explorando o ensino, v. 15, p. 47).

Estranhamento é o ato de observar algo familiar como se fosse a primeira vez. Com isso, é possível questionar um fenômeno social e passar a compreendê-lo. Por exemplo, você já parou para pensar nas calçadas? Existe uma legislação que padroniza as calçadas? Se alguém se acidentar nessa calçada, quem é o responsável: o poder público ou o proprietário do imóvel que ocupa parte da calçada? Esse processo de observar, reavaliar e levantar questionamentos é o que chamamos de estranhamento. Desnaturalizar é entender que os fenômenos sociais não são naturais, mas sim construções humanas que se transformam ao longo do tempo e em diferentes contextos. Por exemplo, hoje é comum reconhecer os direitos de crianças e adolescentes, mas você sabia que a adolescência, como etapa biológica, cognitiva e social do desenvolvimento humano, é uma invenção da modernidade? Em outras épocas e sociedades, as crianças eram reconhecidas como pequenos adultos. Porém, no Brasil, em 1990, foi instituído o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), para assegurar a esse grupo direitos como saúde, alimentação, educação, moradia e lazer. Esse cuidado não é natural; o ECA é fruto da luta de diversos movimentos sociais que defendem os direitos das crianças e dos adolescentes.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

Sociólogo Amaury César Moraes, 2023.

Socióloga Elisabeth da Fonseca Guimarães, 2015.

• Em duplas, exercitem a observação de fenômenos sociais através do estranhamento e da desnaturalização.

a) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes apresentem exemplos de fenômenos da vida social em geral.

a) Dialoguem sobre um fenômeno social que pode ser notado no trajeto de casa para a escola, ou vice-versa, observando-o como se fosse a primeira vez, com o objetivo de exercitar o estranhamento.

b) Conversem sobre um fenômeno social presente na escola, sobre o qual é comum ouvir as pessoas dizerem “sempre foi assim”, pesquisando a origem e o significado desse fenômeno.

REPRODUÇÃO/ACERVO
NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Estudo de caso: exemplo de imaginação sociológica

Segundo o cientista social estadunidense Robert K. Yin (1941-), na obra Estudo de caso: planejamento e métodos, publicada originalmente em 1984,

O estudo de caso é apenas uma das muitas maneiras de se fazer pesquisa em ciências sociais. […]

Em geral, os estudos de caso representam a estratégia preferida quando se colocam questões do tipo ‘como’ e ‘por que’, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real. […] […]

[…] O estudo de caso […] não representa uma ‘amostragem’, e o objetivo do pesquisador é expandir e generalizar teorias (generalização analítica) e não enumerar frequências (generalização estatística). […] o objetivo é fazer uma análise ‘generalizante’, e não ‘particularizante’ […].

YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Tradução: Daniel Grassi. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. p. 19, 29.

Neste exemplo, associaremos a prática de pesquisa estudo de caso ao conceito de imaginação sociológica. Para começar, vamos definir a questão que deve embasar essa pesquisa, evidenciando os motivos que vão conduzir as decisões e os resultados do fenômeno pesquisado.

Definição do problema

Vamos partir do exemplo que Anthony Giddens (1938-) elaborou sobre o café, adaptando-o à realidade brasileira.

[…] o café não é apenas uma bebida. Ele tem valor simbólico como parte de nossas atividades sociais cotidianas. Muitas vezes, o ritual associado a tomar café é muito mais importante que o simples ato de consumir a bebida. […] Em todas as sociedades, beber e comer proporcionam ocasiões para interação social e a encenação de rituais – que oferecem um tema rico para estudo sociológico.

GIDDENS, Anthony. Sociologia. Tradução: Ronaldo Cataldo Costa. 6. ed. Porto Alegre: Penso, 2012. p. 19.

A pergunta que vai fundamentar esse estudo de caso é:

O café ocupa um espaço singular na história do Brasil, assim como na cultura e na economia do país. Além de estar associado a diversos hábitos e costumes, o consumo do café faz parte do nosso cotidiano, como estudaremos no decorrer dessa pesquisa. Pessoa coa café por meio da técnica de colocar um filtro de papel em um suporte, uma prática amplamente difundida no Brasil.

Como e por que se constitui um hábito tomar café no Brasil?

Coleta de dados em múltiplas fontes

A consulta a diversas fontes de evidência torna a pesquisa mais consistente. Por isso, nos estudos de caso, o diferencial está em lidar com uma variedade de fontes. Para responder à questão inicial da pesquisa, vamos considerar a história do fenômeno social (hábito de tomar café no Brasil) e como ele está presente na cultura, na economia e nas relações sociais da sociedade brasileira. Iniciaremos a pesquisa com a cultura, contextualizando como o café está presente ao despertarmos.

1. O que é o c afé da manhã no Brasil?

No português do Brasil, o termo “café da manhã” é usado para se referir à refeição matinal como um todo. Essa expressão destaca a importância do café preto no desjejum brasileiro. O alimento ingerido pela manhã varia de acordo com a cultura local, classe social, rotina e/ou posição social do indivíduo. Por isso, o termo “café da manhã” pode ter representações distintas dependendo do contexto social, político e cultural do território brasileiro.

Observe alguns tipos de café da manhã que podem ser encontrados no Brasil.

Café da manha tradicional de algumas localidades da Região Nordeste do Brasil.

Barraca de vendedora de café na região portuária de Igarapé das Mulheres, Macapá (AP), 2024.

Esse café da manhã faz parte de uma tradição regional de algumas localidades da Região Nordeste. É composto de macaxeira ou inhame, carne (de frango ou bovina; sarapatel e/ou fígado de boi), pão, café e leite. A depender da região, em 2024, o custo gira em torno de 35 reais por refeição. Trata-se de um desjejum com carboidrato e bastante proteína, comum em restaurantes e também nas moradias das pessoas da classe média.

Esse café da manhã, composto de salgados e café, é vendido nas ruas de algumas cidades do Brasil. Em geral, esses pontos de venda ficam abertos no período da manhã, a partir das 4 h da madrugada. A depender da região, em 2024, o custo por refeição gira em torno de 8 reais, e essa opção é mais consumida pela classe social de trabalhadores que possuem poucos recursos – e consequentemente tempo – tendo à sua disposição o carboidrato e um pouco de proteína dentro dos salgados e café com açúcar para potencializar a energia.

Esse café da manhã, composto de pingado (copo de leite com uma dose de café) e pão na chapa, é comum nas padarias das grandes metrópoles do Brasil. A depender da região, em 2024, o custo médio é de 14 reais por refeição, e é mais consumido por trabalhadores de classe média baixa, que recebem em troca carboidrato, gordura, café e leite.

Café da manhã composto de pingado e pão na chapa vendido em estabelecimento comercial.

Nessa pequena amostragem, é possível constatar que o café da manhã não é igual para todos os brasileiros e que a classe social, bem como a região, determina os elementos que compõem cada desjejum. O ponto em comum entre eles é a presença do café preto, independentemente da classe social ou da região do Brasil. Além dos aspectos culturais e sociais, por que será que tomamos tanto café?

2. O que tem no café?

A cafeína é um estimulante que afeta o sistema nervoso central. Além do café, essa substância está presente em alguns chás, refrigerantes e energéticos. Pesquisas, como a liderada pelo professor de psiquiatria da Universidade do Texas (EUA), James A. Bibb, publicada em 2002, observaram os efeitos estimulantes e o potencial viciante da cafeína em camundongos. Segundo os autores da pesquisa, a cafeína é a droga de uso recreativo mais difundida no mundo. Conforme reportagem publicada em 2023, no Blog Vida Saudável, do Hospital Albert Einstein, qualquer substância que altere o funcionamento do organismo pode ser considerada droga – categoria na qual a cafeína se enquadra.

Mas você já se perguntou de onde vem o café?

3. A origem do c afé

A historiadora brasileira Ana Luiza Martins (1953-), no livro A história do café, publicado em 2008, conta uma lenda registrada em manuscritos do Iêmen, no ano de 575 d.C., na qual um pastor observa suas cabras ficarem alegres e cheias de energia depois de mastigar frutos de coloração amarelo-avermelhada.

A origem do café que consumimos hoje é da região de Kaffa, no interior da Etiópia, atual cidade de Bonga. Por causa da proibição da cultura árabe-islâmica de consumir bebida alcoólica, o café se tornou um ritual em diversos espaços dessa sociedade. No século XVI, a Turquia popularizou o café. No século XVII, via Veneza (Itália), o café chegou à Europa como o licor do Oriente e se popularizou rapidamente. Em 1708, já havia mais de 3 mil cafeterias na cidade de Londres (Inglaterra).

Desde então, o ritual de tomar café se espalhou pelas sociedades moderna e contemporânea. O café se tornou um hábito, e as cafeterias, locais de socialização e divulgação de notícias e informações. Hoje, a frase “vamos tomar um café” significa um encontro, seja em local público, seja privado, para socialização.

Observe que o hábito de tomar café possui uma origem histórica de confluência cultural.

Mas como o café chegou ao Brasil e que impactos teve na história do país?

O café se tornou um ritual de socialização, com origem na confluência cultural, transformando cafeterias em pontos de encontro e troca de informações.

4. O c afé no Brasil

Desde o século XIX, quando ainda era um Império, o Brasil produz e exporta café. De forma gradual, esse se tornou o principal produto de exportação do país. O café começou a ser cultivado em 1727, em Belém (PA). Ainda segundo Ana Luiza Martins, foi somente com a Revolução Haitiana, em 1791, que elevou o preço do café, que as elites brasileiras se interessaram pelo plantio. Foi assim que, no século XIX, teve início a expansão cafeeira, espalhando o café pelo Brasil.

Brasil: expansão cafeeira – séculos XIX-XX MINAS

do Paraíba Fluminense Paulista

de Campinas

Até 1850

De 1850 a 1900

De 1900 a 1950

Depois de 1950

Revolução Haitiana: movimento comandado por escravizados e negros libertos em São Domingos, onde hoje é o Haiti, que os levou à independência do domínio francês.

Trópico de Capricórnio

Fonte: BECKER, Bertha K.; EGLER, Claudio Antonio Gonçalves. Brasil: uma nova potência regional na economia-mundo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1993. p. 118.

O café se tornou a bebida mais comercializada do mundo, e o Brasil, um dos maiores exportadores. Três fatores contribuíram para esse processo: no início, o incentivo da Coroa (abertura dos portos; independência; fomento à infraestrutura, com estradas e portos; criação de instituições; e distribuição de sesmarias para cultivo do café a fidalgos portugueses); em seguida, o fator externo (o bom preço do café internacional que compensava o cultivo e a exportação); e a grande quantidade de pessoas escravizadas oriundas dos engenhos de açúcar e das minas. Segundo o historiador brasileiro Boris Fausto (1930-2023), no livro História do Brasil, publicado pela primeira vez em 1994, com o plantio do café surgiram novos traficantes de escravizados. Estima-se que, entre 1850 e 1888, de 100 a 200 mil escravizados foram deslocados das zonas açucareiras da Região Nordeste no sentido centro-sul para trabalharem com café.

sesmaria: prática que consistia na distribuição de lote de terras pela Coroa portuguesa com o objetivo de cultivar terras virgens.

fidalgo: título de nobreza utilizado em Portugal para se referir a indivíduos com privilégios herdados de gerações familiares.

GERAIS
ESPÍRITO SANTO GOIÁS
RIO DE JANEIRO SÃO PAULO
Governador Valadares

commodity : matéria-prima ou produto com pequeno grau de industrialização, produzido em grande escala e comercializado globalmente, cuja precificação é determinada pela oferta e demanda. No Brasil, as principais commodities são café, soja, trigo e petróleo.

5. O c afé na economia mundial

O café é uma das commodities mais comercializadas no mundo, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). O maior consumidor de café do mundo é os Estados Unidos, seguido do Brasil, que ocupa o segundo lugar do ranking. O consumo de café per capita, isto é, a quantidade média de café consumida por pessoa em determinada população, é maior entre os finlandeses, que consomem individualmente, em média, 12 kg de café por ano.

Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), empresa pública vinculada ao Ministério da Agricultura e Pecuária, a safra total mundial de café estimada para 2023-2024 foi de 174,3 milhões de sacas de 60 kg. Três dos maiores países produtores de café do mundo são, respectivamente, Brasil (31,4%), Vietnã (18%) e Colômbia (6,6%), cujas safras acumuladas correspondem a 56% do total estimado mundial.

Mundo: produção de café – 2023-2024

Fonte dos dados: FERREIRA, Lucas Tadeu. Produção total de café no mundo deverá atingir volume físico equivalente a 174,3 milhões de sacas na safra 2023-2024. Brasília, DF: Embrapa, 2023. Disponível em: https://www.embrapa.br/buscade-noticias/-/noticia/82856140/ producao-total-de-cafe-nomundo-devera-atingir-volumefisico-equivalente-a-1743-milhoesde-sacas-na-safra-2023-2024. Acesso em: 2 set. 2024

Vietnã

Colômbia

Outros

*Sacas de 60 kg

Estimar quanto dinheiro o café movimenta pode ser um cálculo complexo e impreciso, uma vez que envolve diversos setores e cadeias produtivas. Para fins ilustrativos, podemos fazer um cálculo com base na estimativa de produção de 2023-2024 de 174 milhões de sacas de café, multiplicando essa quantidade pela cotação do dia, que era de 251,08 dólares. Isso resulta em um total aproximado de 43 milhões de dólares. Esse valor é uma estimativa da receita gerada pelo café na safra 20232024. No entanto, para uma análise precisa, seria necessário contabilizar os diversos setores e cadeias produtivas envolvidos na produção, na distribuição, na comercialização e no consumo do café.

Brasil
SONIA
VAZ

Análise de dados e resultado

Nesse exemplo de estudo de caso, realizamos um exercício de imaginação sociológica ao questionar e desnaturalizar o hábito de tomar café no Brasil. Para responder à pergunta proposta, começamos com a seleção de exemplos de café da manhã para identificar como o café está presente na rotina do brasileiro, considerando diferenças de classe social e região do país. As evidências mostram que o consumo do café é um hábito cultural comum na sociedade brasileira. Depois, por meio de pesquisas e informações de instituições, constatamos que o café contém uma substância que proporciona energia e pode gerar dependência.

Segundo Robert K. Yin, três aspectos são essenciais para um estudo de caso exemplar: (1) distinguir o fenômeno estudado e seu contexto por meio de argumentos lógicos; (2) coletar evidências convincentes e relevantes; (3) planejar o estudo de caso levando em conta as limitações de tempo e recursos desde o início. Uma pesquisa nunca se encerra completamente – ela pode ser sempre revista ou aprofundada. O pesquisador deve encerrar a coleta de dados quando for possível, e, por meio de análise, chegar a conclusões bem fundamentadas.

Em seguida, recorremos ao livro A história do café, da historiadora Ana Luiza Martins, para entender como o café se originou, chegou ao Brasil e se consolidou como produto fundamental para a cultura e a economia brasileira, identificando, por exemplo, o deslocamento da força de trabalho escravizada do setor açucareiro para o setor cafeeiro no século XIX. Para confirmar a influência do café, analisamos os dados estatísticos da produção global de café, os maiores produtores e consumidores e o impacto econômico do produto.

Buscamos evidências para demonstrar que o hábito de tomar café não é uma característica exclusiva do indivíduo, observando como o café se ramifica em diversas estruturas da sociedade, na história e na vida das pessoas. Porém, toda pesquisa científica deve ser continuamente questionada e revisada para gerar mais conhecimento. No nosso caso, poderíamos ter investigado, por exemplo, os cafeicultores paulistas que, em razão do poder econômico, influenciaram a política nacional de 1894 e 1930. Essa é apenas uma das muitas possibilidades para um aprofundamento científico; fizemos escolhas para evitar tornar o exemplo excessivamente extenso.

Agora que compreendeu a complexidade desse fenômeno, poderá avaliar e criar sua própria perspectiva, considerando a influência da sociedade sobre o hábito de tomar café.

Ramo de café frutificado.

INVESTIG AÇÃO

Exercitando a imaginação sociológica com estudo de caso

Agora que você estudou o conceito de imaginação sociológica e acompanhou o desenvolvimento de um exemplo é o momento de colocar esse conhecimento em prática.

OBJETIVOS

Use o método de pesquisa estudo de caso, com coleta de dados qualitativos, para identificar as implicações sociais em um fenômeno da sua história pessoal. Neste exercício, vamos nos basear na fala de W. Mills, que determina que o campo da ciência social está associado à prática de relacionar biografia, história e estrutura social.

A coleta de dados qualitativos busca descrever um fenômeno, mais do que medi-lo, geralmente por meio de entrevistas, observações e análise de conteúdo, para explorar fenômenos em profundidade. Nesse caso, gráficos e/ou tabelas são utilizados para mensurar opiniões e pontos de vista do fenômeno.

A coleta de dados quantitativos reúne dados numéricos, usando métodos como questionários e experimentos, para medir variáveis e identificar padrões ou relações, permitindo uma análise estatística objetiva.

O estudo de caso com dados qualitativos pode ser usado para explorar as implicações sociais de experiências pessoais, relacionando biografia, história e sociedade.

ORGANIZAÇÃO E ESCOLHA DE UM TEMA

1. Formem trios, seguindo as orientações do professor.

2. Escolham um tema que seja do interesse dos integrantes do grupo e que, numa primeira análise, afete a vida de todos, isto é, a biografia de vocês (por exemplo, uso das redes sociais, papéis sociais nos relacionamentos, relações de poder na escola, futebol, tatuagem, Carnaval etc.).

DEFINIÇÃO DE UM PROBLEMA

3. Elaborem um questionamento em forma de pergunta sobre esse tema.

4. Para isso, façam uma pesquisa preliminar dos debates atuais sobre o tema escolhido, conversem com outras pessoas e leiam múltiplas fontes sobre o tema.

Lembrem-se de que uma questão de pesquisa deve ser objetiva e focada em um único problema. O desenvolvimento da pergunta é um processo criativo que normalmente pode ser submetido a quatro questionamentos para facilitar sua elaboração.

a) A pergunta é relevante? Apresenta algo a ser conhecido?

b) A pergunta é realista? É possível ser respondida no tempo e com os recursos disponíveis?

c) O assunto é amplo ou limitado?

d) Existem dados e informações sobre o tema que torne possível a coleta?

INÍCIO DA PESQUISA E COLETA DE DADOS

5. Aprofundem a pesquisa sobre o tema escolhido utilizando fontes confiáveis, como plataformas de divulgação científica, bibliotecas virtuais de universidades, sites governamentais e/ou de fundações de pesquisa etc., para coletar os dados que permitam responder à pergunta inicial.

ANÁLISE DOS DADOS

6. A análise dos dados visa examinar os dados coletados com foco em entender os motivos e os comportamentos dos fenômenos. Lembrem-se de que perguntar “como” e “por que” vai auxiliá-los a chegar a um resultado. Por isso, procurem nas fontes históricas evidências que ajudem a responder à pergunta. Os dados estatísticos possibilitam verificar se as informações sustentam os argumentos das respostas. Por fim, averiguem se as descrições observadas ou os relatos convergem para os dados coletados.

7. Após a interpretação e sistematização dos dados, respondam à pergunta proposta estabelecendo relações e utilizando os dados para justificar as respostas.

O estudo de caso deve seguir o exemplo da proposta “Como e por que se constitui um hábito tomar café no Brasil?”. Para isso, lembre-se dos tópicos estruturados no exemplo.

• Cultura: o significado cultural do desjejum variou de acordo com a classe social.

• S ocial : as diversas funções sociais possibilitadas pelo café (alterar a consciência, reunião de negócios, afetos e entretenimento).

• H istória : a origem e as transformações do café ao longo do tempo, em nível local e global.

• Economia: apresentação de dados estatísticos sobre o impacto do café na economia.

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

8. Apresentem os resultados no formato de seminário. Para isso, escolham uma plataforma de apresentação de slides gratuita. Caso tenham dificuldade, pesquisem tutoriais na web

Dica
ETAPA
ETAPA
ETAPA

RECAPITULE

Neste capítulo, você aprendeu a diferença entre problemas individuais, sociais e sociológicos. Além disso, entrou em contato com o conceito de imaginação sociológica, criado por W. Mills, e acompanhou o desenvolvimento de um exemplo do estudo de caso “Como e por que se constitui um hábito tomar café no Brasil?”. Depois, produziu, com colegas, o seu próprio estudo de caso, colocando em prática esse método de pesquisa. Com isso, descobrimos que os fenômenos sociológicos são complexos e estão interligados, afetando as pessoas em aspectos pessoais e sociais. A sociologia é um campo de saber que problematiza as ações humanas e a vida em sociedade. Todas as sociedades humanas em todas as épocas tiveram problemas sociais e desenvolveram formas de lidar com eles. Os problemas do nosso tempo estão aqui. O que nós podemos fazer? O primeiro passo é conhecê-los para, então, aprender a enfrentá-los.

ATIVIDADES FINAIS

1. Espera-se que o estudante identifique a importância do café na história do Brasil, que esteve presente na bandeira do Império e que permanece até hoje no brasão da República Federativa do Brasil.

1. Escreva um breve parágrafo no caderno sobre a relação que é possível estabelecer entre estas imagens e o estudo de caso sobre o hábito de tomar café no Brasil.

O verde representa a Casa de Bragança (D. Pedro I).

O amarelo representa a Casa de Habsburgo (Leopoldina).

Do lado esquerdo, um ramo frutificado de café.

REPRODUÇÃO/GOVERNO FEDERAL

Ramo frutificado de café.

Estrela dividida em dez partes, alternando entre verde e dourado, com bordas duplas, a interna vermelha e a externa dourada.

Brilho dourado na forma de estrela com 20 pontas.

Espada, na posição vertical, com cabo dourado e guarda em azul, exceto a parte do centro, que é vermelha e contém uma estrela prateada.

REPRODUÇÃO/ GOVERNO FEDERAL

Sobre o escudo, está disposta a coroa imperial.

Do lado direito, um ramo florido de tabaco.

O aro de fundo azul com 19 estrelas brancas representa as províncias brasileiras.

Ramo florido de tabaco.

Escudo redondo na cor azul-celeste, contendo cinco estrelas de prata na forma da constelação do Cruzeiro do Sul, com a borda do escudo destacada em dourado e carregada com estrelas prateadas, na mesma quantidade das estrelas da bandeira nacional.

Os ramos de café e de tabaco estão amarrados com uma fita azul, formando uma coroa.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
Bandeira do Brasil Império.
Brasão da República Federativa do Brasil.

2. (UPE – 2022) Leia o texto a seguir:

A imaginação sociológica capacita seu possuidor a compreender o cenário histórico mais amplo, em termos de seu significado para a vida íntima e para carreira exterior de numerosos indivíduos. Permite-lhe levar em conta como os indivíduos, na agitação de sua experiência diária, adquirem frequentemente uma consciência falsa de suas posições sociais.

MILLS, C. Wright. A imaginação sociológica . Rio de Janeiro: Zahar, 1982, p. 11.

De acordo com o conceito de imaginação sociológica, a Sociologia é o(a)

a) estudo do comportamento psicológico dos indivíduos em interação social.

b) compreensão das relações entre os indivíduos e o meio ambiente.

c) entendimento empírico do comportamento social e dos fenômenos psicológicos.

d) estudo das biografias e histórias dos indivíduos e suas relações no contexto das estruturas.

e) análise das formas de associação e dos fenômenos de desintegração de grupos sociais.

3. (UFPR – 2017) Leia com atenção o fragmento abaixo.

Segundo a citação de Maia e Pereira (2009, p. 7-8), retirada do livro Pensando com a Sociologia, “em seu famoso livro sobre as formas de fazer sociologia, Wright Mills utilizou a expressão ‘imaginação sociológica’. [...] essa imaginação poderia ser aprendida e exercida por qualquer pessoa educada que se mostrasse curiosa a respeito das relações entre biografia e história. Ou seja, a sociologia não seria simplesmente uma disciplina acadêmica ou uma ciência ultrassofisticada, mas uma forma de argumento público capaz de revelar as conexões entre as transformações na vida cotidiana e os processos mais amplos de mudança histórica”. Nas palavras de Wright Mills: “A ‘imaginação sociológica’ é um ato que permite ir além das experiências e das observações pessoais para compreender temas públicos de maior amplitude. O divórcio, por exemplo, é um fato pessoal inquestionavelmente difícil para o marido e para a esposa que se separam, bem como para os filhos. Entretanto, o uso da ‘imaginação sociológica’ permite compreender o divórcio não apenas como problema pessoal individual, mas também como uma preocupação social. O aumento da taxa de divórcio redefine uma instituição fundamental – a família”. Cabe salientar que a ‘imaginação sociológica’ não consistiria simplesmente em aumentar o grau de informação das pessoas, mas numa “[...] qualidade de espírito que lhes ajude a usar a informação e a desenvolver a razão, a fim de perceber, com lucidez, o que está ocorrendo no mundo e o que pode estar acontecendo dentro deles mesmos” (MILLS, 1969, p. 11). A imaginação sociológica é uma forma crítica de pensar em sociologia, que nos permite conectar a nossa experiência vivida (e a experiência vivida dos outros) no contexto mais amplo das instituições sociológicas em que ocorre. A utilização da ‘imaginação sociológica’ se fundamenta na necessidade de conhecer o sentido social e histórico do indivíduo na sociedade e no período no qual sua situação e seu ser se manifestam. Mills também sugere que “por meio da ‘imaginação sociológica’ os homens podem perceber o que está acontecendo no mundo e compreender o que acontece com eles, como minúsculos pontos de cruzamento da biografia e da história, na sociedade” (MILLS, 1969, p. 14).

(MAIA, João Marcelo Ehlert; PEREIRA, Luís Fernando Almeida. Pensando com a sociologia. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009.)

No fragmento de texto acima, o autor usa o divórcio para exemplificar de que forma as experiências individuais se conectam com as transformações sociais mais amplas. Com base nos conhecimentos sociológicos, caracterize a “imaginação sociológica”, discorrendo sobre os aspectos relevantes dessa perspectiva apontados no texto-base, e mencione e explique outro fato social para exemplificar o raciocínio da “imaginação sociológica”. 3. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante discorra sobre o que entende por “imaginação sociológica”, associando esse conceito a um exemplo.

CAPÍTULO

a) Resposta pessoal. Espera-se que o estudante cite que a imagem captura uma sensação de unidade e de conexão dos yanomami com a natureza.

Cultura e natureza

OBJETIVOS DO CAPÍTULO:

Diferenciar perspectivas c ulturais com base em concepções e relações com a natureza.

Refletir sobre a relação entre natureza e cultura através das perspectivas da sociedade ocidental e das cosmologias ameríndias. Identificar como os seres humanos são agentes culturais que moldam o ambiente natural.

Identificar e reconhecer que atores sociais podem ser humanos e não humanos.

A nalisar como as sociedades ocidentais utilizam a noção de natureza para estabelecer normas e hierarquias em suas próprias estruturas culturais, econômicas e políticas.

d) Resposta pessoal. Espera-se que o estudante compartilhe experiências e conhecimentos prévios sobre a relação entre natureza e cultura em uma perspectiva pessoal e da sociedade em que vive.

SALGADO, Sebastião. Yanomami olhando para o Yaripo, o cume do Pico da Neblina. 2014. Pôster em papel couché, 70 cm x 50 cm. (Coleção Amazônia, no 5).

b) Espera-se que o estudante diga que sim, identificando que, nessa imagem, a natureza é essencial para a identidade e para a sobrevivência dos yanomami.

c) R esposta pessoal. Espera-se que o estudante reconheça em seu cotidiano alguma forma de conexão com a natureza (por exemplo, sua relação com animais ou plantas).

A diversidade de saberes, modos de vida e visões de mundo são inerentes aos seres humanos. Seja vivendo em estepes, desertos, vales, florestas tropicais ou temperadas, tundras ou litorais árticos, sempre houve interação do ser humano com os variados ambientes ao redor. No entanto, para que essa interação prosperasse, foi necessário criar soluções no modo de viver, desenvolvendo sentidos, costumes, vestimentas, moradias, formas de se comunicar e de adornar o corpo – tudo isso intimamente conectado aos fenômenos da natureza.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Leia o texto, observe a imagem e responda a estas questões.

a) Em sua opinião, que aspectos da relação entre ser humano e natureza foram evidenciados nessa fotografia?

b) Com base na fotografia, é possível inferir aspectos da cultura desse grupo social e sua relação com a natureza? Justifique.

c) Em seu cotidiano, qual é sua relação com a natureza?

d) Para você, qual é a diferença entre natureza e cultura?

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Cultura e natureza em debate

Em princípio, natureza e cultura parecem conceitos corriqueiros, não exigindo explicações mais complexas. Na visão ocidental, até mesmo no senso comum, natureza pode ser entendida como o conjunto de elementos que existe independentemente da ação humana, como mar, montanha, fenômenos climáticos, estrelas, plantas e animais. Nessa divisão, o que é “natural” é separado do que é “cultural” ou “social”, isto é, aquilo que é produzido pela sociedade.

Essa visão ocidental não apenas separa mas coloca cultura e natureza em oposição, com a dominância da primeira sobre a segunda. Essa configuração foi historicamente construída pelo pensamento europeu, sobretudo a partir do Iluminismo no século XVIII, importante movimento filosófico, artístico e cultural.

Entretanto, essa distinção entre cultura e natureza não aparece nas sociedades do mesmo modo e, inclusive, vem sendo questionada por cientistas sociais. As fronteiras que separam cultura e natureza têm sido problematizadas, uma vez que cada cultura humana estabelece, de modo diverso e próprio, a fronteira que a separa da natureza. Isso faz pensar sobre as várias formas de viver no planeta Terra e como a relação dos seres humanos com o mundo pode ser diferente de acordo com a cultura em que vivem, o que engloba, também, a relação entre humanos e não humanos (animais, plantas e objetos).

Na obra Para além de natureza e cultura, publicada em 2005, o antropólogo francês Philippe Descola (1949-) sugere que é preciso ir além da oposição entre cultura e natureza. Para tanto, o autor apresenta como povos indígenas da Amazônia equatoriana percebem os mundos animal e vegetal de forma bem diferente da visão ocidental. Um dos povos retratados por ele foram os achuar, cujo nome quer dizer “povo da palmeira-d'água”. Para os achuar, a natureza não é um lugar separado da cultura, mas uma parte contínua que engloba tudo e todos, uma vez que humanos, animais e plantas estariam conectados entre si.

No entendimento do povo achuar, o mundo é composto de um grande conjunto de relações, no qual as conexões entre seres humanos e seres não humanos são tão importantes quanto as relações entre as pessoas. Para eles, plantas e animais possuem alma, podendo aparecer na forma humana para transmitir mensagens através dos sonhos. Esse modo de pensar a relação entre os humanos e os não humanos é fundamental na vida social dos achuar.

Homem da etnia achuar toca flauta. Equador, 2009. Em sua cosmovisão, esse povo entende que há diversas interações e conexões entre o mundo dos humanos e o dos não humanos.

O par de opostos “cultura” e “natureza” é referenciado por Latour como “sociedade” e “natureza”, sendo usados pelo autor como termos equivalentes.

Diante de outra forma de perceber o mundo, é possível refletir sobre as nossas próprias percepções sobre ele. Por exemplo, qual seria o papel dos não humanos no seu dia a dia? Animais, plantas, fenômenos climáticos e objetos não humanos compõem nossa existência. Isso significa que a relação entre humanos e não humanos está mais presente em nosso cotidiano do que podemos imaginar. Por exemplo: qual é a sua relação com o smartphone ? Que papel esse objeto desempenha na sua vida?

Pensando nessa relação entre humanos e não humanos, o sociólogo francês Bruno Latour (1947-2022) também problematizou a relação entre “cultura” e “natureza”. No livro Jamais fomos modernos, publicado originalmente em 1991, o autor diferencia o uso desses termos e aponta como o reconhecimento do multiculturalismo foi um avanço importante trazido pelas Ciências Sociais na época. Dessa forma, admitiu-se a coexistência de diferentes culturas e visões de mundo por diferentes sociedades. Latour sugere que deveria ser feito o mesmo com a ideia de natureza, que permaneceu sendo tratada como uma categoria universal e, por isso, apresentada como um termo no singular (“a” natureza).

No esquema proposto por Bruno Latour, à esquerda está a representação clássica ocidental da separação entre natureza e sociedade (ou cultura), com ambos os termos no singular; à direita, está a proposta do autor, que defende que a Sociologia deveria tratar os termos “sociedade” e “natureza” no plural e como um único par “sociedades/ naturezas” (ou “culturas/naturezas”). Assim, em vez de entender natureza e cultura como duas esferas distintas, Latour propõe que estejam entrelaçadas e que as “naturezas-culturas” sejam compreendidas como um conjunto inseparável.

Natureza Sociedade

Sociedades/ Naturezas

Fonte: LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. Tradução: Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994. p. 98.

Essa ideia pode ser transposta para a vida social, na qual estamos conectados em rede. Basta notar como os termos “conexão” e “conectividade”, tão usuais atualmente, são usados com frequência no contexto das tecnologias e das redes sociais. Na verdade, o que se tem aqui é a combinação entre aspectos humanos e não humanos, entre cultura e natureza.

A teoria ator-rede

No livro Reagregando o social: uma introdução à teoria ator-rede , publicado originalmente em 2005, Latour nos ajuda a compreender as relações entre humanos e não humanos. Segundo ele, os atores que interferem e constroem o social podem ser tanto humanos como não humanos. A teoria ator-rede (TAR) chama de atores tanto as pessoas quanto os animais, objetos e demais elementos da natureza que interferem no social.

Para Latour, o social é produzido nas interações e associações entre diversos atores, humanos e não humanos. Nessa relação, o ator pode ter ou não um papel ativo, dependendo do tipo de associação estabelecida com os demais atores.

Um exemplo de ator não humano que você com certeza conhece é a pandemia de covid-19 – quando um vírus, o SARS-CoV-2, potencialmente grave, de elevada transmissibilidade e de distribuição global, interferiu e ainda interfere na dinâmica das relações sociais. Outro exemplo de aplicação da teoria ator-rede são os objetos e dispositivos digitais conectados à internet que tanto marcam o nosso cotidiano. Tanto a pandemia de covid-19 como os dispositivos digitais são atores que interferem na vida social. Assim, para Latour, o social e as redes sociais são constituídos mediante conexões entre atores humanos e não humanos, com relações que podem variar a depender da situação.

Mas nem todos os atores são necessariamente ativos: o ator pode ou não ter um papel ativo, dependendo do tipo de interação que se estabelece entre os atores, ou seja, o que define os atores são os papéis que desempenham, e eles podem ser intermediários ou mediadores.

O intermediário apenas transporta a informação sem provocar transformação. Exemplos disso no contexto da tecnologia digital podem ser o e-mail e as mensagens por aplicativos, que não alteram a informação enviada. Nesse exemplo, a tecnologia está presente, mas desempenha um papel de intermediário, uma vez que não altera a substância da informação, ainda que enviada por computador ou smartphone.

Já o ator mediador altera, transforma, traduz e modifica substancialmente e qualitativamente o sentido dos elementos que transporta. Às vezes, altera profundamente, e não é possível obter o mesmo resultado com outro recurso, como os apps de trânsito ou as plataformas de redes sociais digitais. Ambos, além de enviar mensagens, também filtram e selecionam as postagens que aparecem para o usuário e, desse modo, interferem e muito no que aparece na tela. Outros exemplos são os recursos digitais para a produção de imagens e sons.

No modelo 1, a natureza se encontra fora das culturas, e todas as culturas possuem um ponto de vista mais ou menos preciso sobre ela.

Segundo Latour, a natureza não é mera coadjuvante do social e deve deixar de ser vista como algo inerte, pronto para ser consumido como recurso para o ser humano e subjugado à cultura. O que ele propõe, na verdade, é o oposto. Para compreender melhor essa ideia, observe mais duas ilustrações do pensamento de Latour sobre “natureza” e “sociedade” (ou sobre “natureza” e “cultura”).

No modelo 1, encontra-se a visão tradicional ocidental, na qual a natureza está presente fora das culturas (nos coletivos representados como A, B, C e D): todas as culturas possuem um ponto de vista mais ou menos preciso sobre a natureza. No modelo 2 , todos os coletivos constituem naturezas e culturas, que o sociólogo se refere como “naturezas-culturas”. Nesse caso, os termos “natureza” e “cultura” têm equivalência e não há uma prevalência de um sobre o outro.

No modelo 2 , todos os coletivos constituem naturezas e culturas, sem que haja prevalência de um elemento sobre o outro.

1. L atour propõe a expressão "naturezas-culturas" porque, desse modo, a natureza também seria valorizada, reconhecendo o papel que os não humanos têm na cultura e na sociedade.

ATIVIDADES

Fonte: LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. Tradução: Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994. p. 103.

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Por que Latour sugere o uso do termo "naturezas-culturas" como uma expressão única?

2. De modo geral, que relação você estabelece em seu cotidiano com os não humanos, isto é, animais, plantas ou dispositivos digitais? Comente o papel que eles têm na sua vida.

2. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante reflita sobre como interage com seres não humanos no dia a dia, reconhecendo o papel desses elementos na vida cotidiana.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

As diversas cosmologias

A palavra “cosmologia” deriva do grego – “cosmos” (ordem) e “logos” (discurso lógico/razão) – e significa o estudo da origem e da ordem do universo. A cosmologia é utilizada para se referir aos diversos modelos de pensamento ou às diferentes epistemologias e visões de mundo existentes. Para problematizar e reconhecer a forma como percebemos o mundo na sociedade em que vivemos, é importante compreender como são as cosmologias de diferentes povos.

A cosmologia ocidental moderna

O pensamento ocidental europeu, a partir do século XVI, e sobretudo a partir do Iluminismo do século XVIII, desenvolveu a ideia de um progresso contínuo e previsível da humanidade através do avanço da ciência, da razão e da tecnologia. Acreditava-se que a sociedade humana estava caminhando em direção a um estado de maior conhecimento, ordem e previsibilidade.

De modo geral, a cultura ocidental sempre enfatizou e privilegiou esse modo de pensar em detrimento de outros, valorizando um estilo de pensamento dicotômico, no qual os fenômenos seriam tratados em pares opostos e até polarizados, como mente e corpo, razão e emoção, pensamento e sentimento, cultura e natureza.

Você já deve ter se deparado com essas dicotomias no cotidiano e pode ter percebido que muitas vezes essas polaridades não são suficientes para resolver questões do dia a dia. Por exemplo, ao tomar decisões, os aspectos racionais e emocionais muitas vezes se misturam e nem sempre é possível separá-los. Isso significa que nem sempre conseguimos – e nem sempre é adequado – reduzir a complexidade dos fenômenos do mundo a dois termos opostos. Para ilustrar esse pensamento, é possível pensar, por exemplo, nas misturas e nos hibridismos presentes na música, quando diversos estilos são misturados em uma mesma canção, como o samba-rock, ou nos jogos eletrônicos e na cultura pop, que misturam diversas referências em um mesmo produto.

Na dicotomia natureza versus cultura, o pensamento ocidental considera a natureza como universal, enquanto a cultura é vista como variável e múltipla.

Nessa perspectiva, a cultura estaria hierarquicamente acima da natureza. Por observar o mundo com base em sua própria cultura, o pensamento etnocêntrico ocidental tende a julgar outras sociedades através de seus próprios valores, considerando-se superior a elas. Essa visão fez, por exemplo, com que os europeus não reconhecessem os

epistemologia: estudo do conhecimento e suas formas. Mais recentemente, o conceito passou a ser usado em sentido amplo, sendo chamado também de teoria do conhecimento, área que se ocupa do estudo do conhecimento humano em geral.

dicotômico: relativo a dicotomia, classificação de um conceito ou fenômeno em duas partes opostas ou contrastantes, como bem e mal, corpo e mente, cultura e natureza. hibridismo: mistura ou combinação de elementos diferentes para criar algo novo, podendo ser usado em diversos campos da ciência, arte, religião, gastronomia etc.

indígenas como seres humanos – o que, na perspectiva deles, justificaria a escravização e, consequentemente, permitiria tratá-los de modo desumano. Essa forma de ver o mundo legitimou ações violentas, de dizimação de povos, como as que foram empregadas durante a colonização do século XVI e o imperialismo do século XIX. A noção de natureza, por sua vez, seria utilizada para estabelecer normas, regras e hierarquias dentro da própria cultura. Assim, a natureza foi transformada em um conceito central para justificar o poder e as estruturas políticas, econômicas e morais vigentes, moldando a forma como a sociedade ocidental é organizada e governada. Em outras palavras, a maneira como os ocidentais entendem a natureza e interagem com ela influencia diretamente suas leis, seus valores e seu comportamento social perante outros povos. Esse pensamento, ou essa epistemologia ocidental moderna, está diretamente relacionado às diversas formas de violência e opressão que têm sido impostas aos povos não ocidentais e também à exploração desenfreada dos recursos naturais.

Observe o cartum da Mafalda.

1. Espera-se que o estudante cite, entre outras possibilidades, a oposição entre cultura e natureza, com prevalência da primeira em relação à segunda.

QUINO. [¡Cuidado! Irresponsables trabajando]. Galileu, [s. l.], 30 set. 2020. Em tradução livre, “Cuidado! Irresponsáveis trabalhando”. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Cultura/noticia/2020/09/7-tirinhas-de-mafalda-para-refletir -sobre-os-tempos-atuais.html. Acesso em: 26 ago. 2024.

2. Espera-se que o estudante reconheça que a epistemologia ocidental sobrepôs hierarquicamente a cultura em detrimento da natureza, justificando ações violentas sobre diversos povos pela suposta superioridade dessa concepção diante de outros modos de vida.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Destaque elementos do pensamento ocidental moderno sobre a relação entre cultura e natureza.

2. Em que medida a noção de cultura e natureza da epistemologia ocidental acabou por legitimar uma série de violências contra diferentes sociedades?

3. Em sua opinião, que relação é possível estabelecer entre o cartum da Mafalda e o pensamento ocidental moderno sobre natureza e cultura?

3. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante comente que, ao colocar a cultura acima da natureza, a epistemologia ocidental moderna contribuiu para atitudes de exploração e destruição ambiental.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

A cosmologia ocidental em crise

Como vimos, na perspectiva ocidental, a natureza não é apenas um recurso a ser explorado economicamente mas também um conceito utilizado para criar e manter regras e hierarquias dentro da sociedade, o que inclui justificativas para dominação, controle e exploração, tanto de recursos naturais quanto de outras culturas e povos. Assim, a maneira como a natureza é percebida e utilizada na cosmologia ocidental tem um papel fundamental na definição de como a sociedade se organiza e opera. Entretanto, desde a metade do século XX, essa ideia vem sendo questionada entre os cientistas sociais.

Nas últimas décadas, temos observado mudanças em muitos aspectos da vida social, como o uso intenso das redes sociais e o surgimento de diferentes tipos de crise (ambientais, demográficas, políticas, sociais, econômicas e, não menos importante, uma crise de como entendemos o conhecimento: crise epistêmica). Do grego krisis, divisão, “crise” quer dizer momento de decisão. É na crise que surgem a invenção, a descoberta, a reflexão. Essa situação permite que a dúvida ou a incerteza se sobreponham, temporariamente ou não, ao que estava estabelecido como ordem. Esse quadro de crises tem exigido mudanças nos modos de se relacionar com a natureza, demandando o reconhecimento de que fatores não humanos devem ser considerados nos modos de vida humanos ocidentais. Segundo o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), haverá um aquecimento médio global de 1,5 °C até 2035, e os efeitos das mudanças climáticas já têm provocado eventos extremos cada vez mais frequentes ao redor do planeta, como a tragédia climática ocorrida no Rio Grande do Sul, em 2024, quando grande parte do território do estado ficou inundado. Os desafios tecnológicos e as mudanças climáticas estão criando a necessidade de considerar outras cosmologias para enfrentar essas crises. Diante dessas mudanças, a Sociologia enfrenta um grande desafio: não ficar estagnada enquanto a sociedade, seu objeto de estudo, se transforma rapidamente. Aprender com outros modos de pensamento e outras cosmologias pode ajudar a buscar alternativas para pensar o futuro da humanidade.

crise epistêmica: período em que há profunda preocupação ou questionamento sobre os fundamentos do conhecimento, da verdade e da confiança nas formas de saber.

Ruas do centro da cidade de Porto Alegre alagadas após a tragédia climática que atingiu o estado do Rio Grande do Sul em 2024.

As cosmologias ameríndias

O filósofo chinês Yuk Hui (1985-), no livro Tecnodiversidade, publicado em 2020, sugere que, para entender melhor a tecnologia contemporânea e as transformações em curso no mundo, como as mudanças climáticas, é preciso considerar as cosmologias de povos originários da América. Isso quer dizer que as cosmologias dos povos ameríndios, como eram chamados os povos originários e as comunidades tradicionais do continente americano, contêm práticas culturais que devem ser observadas e valorizadas, pois há muito o que se aprender com o modo como eles pensam o mundo, principalmente a relação entre humanos e não humanos.

Na cosmovisão ameríndia, natureza e cultura podem estar interligadas de maneiras diferentes das que as sociedades ocidentais estão acostumadas a pensar. A dualidade humanos versus não humanos, por exemplo, não faz sentido algum para a cosmologia ameríndia. Para compreender melhor essa ideia, observe a obra Aquela gente que se transforma em catitu, do artista indígena Denilson Baniwa (1984-).

BANIWA, Denilson.

Aquela gente que se transforma em catitu. 2018. Acrílica sobre tela, 60 cm x 80 cm.

Para ampliar a compreensão sobre esse tema, ilustrado pela obra de Baniwa, é possível recorrer à ideia de multinaturalismo.

O multinaturalismo

O termo “multinaturalismo” foi utilizado pelo antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro (1951-), no artigo “Perspectivismo e multinaturalismo na América indígena”, publicado em 2004, para descrever a forma como os povos indígenas entendem a natureza e a cultura. De acordo com o autor, enquanto a visão de mundo ocidental se baseia na ideia de unicidade da natureza e na multiplicidade de culturas (multiculturalismo), a concepção ameríndia, de modo diferente, supõe uma unicidade da cultura e uma diversidade da natureza (multinaturalismo).

1. Espera-se que o estudante reconheça a representação da ideia da cosmologia ameríndia de que os corpos animais e humanos têm uma mesma origem, uma mesma forma original; com base nisso, desenvolveram-se diversas roupagens, diversas formas ou diversas naturezas.

Por exemplo, na obra de Baniwa, a figura de um ser humano encontra-se dentro do corpo de um caititu, também conhecido como cateto ou, mais coloquialmente, catitu, um tipo de porco das florestas da América do Sul. Essa visão implica que os povos indígenas compreendem os animais como seres com os quais compartilham um mundo comum, embora os vejam de pontos de vista diferentes. Esse pensamento é chamado por Viveiros de Castro de perspectivismo, isto é, na cosmologia ameríndia, o mundo é habitado por diferentes tipos de seres, humanos e não humanos, que percebem o mundo com base em suas próprias perspectivas. Entretanto, tais perspectivas ou pontos de vista não são fixos, mas passíveis de mudança.

Leia um trecho do artigo “Perspectivismo e multinaturalismo na América indígena”, no qual o autor desenvolve um pouco mais essa ideia.

O estímulo inicial para esta reflexão foram as numerosas referências, na etnografia amazônica, a uma concepção indígena segundo a qual o modo como os seres humanos veem os animais e outras subjetividades que povoam o universo – deuses, espíritos, mortos, habitantes de outros níveis cósmicos, plantas, fenômenos meteorológicos, acidentes geográficos, objetos e artefatos –, é profundamente diferente do modo como esses seres veem os humanos e se veem a si mesmos.

[...]

Em suma, os animais são gente, ou se veem como pessoas. Tal concepção está quase sempre associada à ideia de que a forma manifesta de cada espécie é um envoltório (uma ̒roupaʼ) a esconder uma forma interna humana, normalmente visível apenas aos olhos da própria espécie ou de certos seres transespecíficos, como os xamãs. Essa forma interna é o espírito do animal: uma intencionalidade ou subjetividade formalmente idêntica à consciência humana, materializável, digamos assim, em um esquema corporal humano oculto sob a máscara animal. [...]

CASTRO, Eduardo Viveiros de. Perspectivismo e multinaturalismo na América indígena. O Que nos Faz Pensar, Rio de Janeiro, n. 18, p. 225-254, set. 2004. p. 227-228.

2. Espera-se que o estudante reconheça que na composição social dos povos ameríndios, os humanos e os não humanos estão conectados, ou seja, integram a rede social – a floresta para os yanomami, por exemplo, não é um recurso, mas algo vivo que deve ser respeitado.

3. Espera-se que o estudante reconheça que essa crise impõe a necessidade de buscar outros modos de enfrentar os problemas contemporâneos, reconhecendo diferentes cosmologias e modos de pensar.

4. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante reconheça que, além do respeito à diversidade, epistemologias diversas permitem o aprendizado de diferentes saberes com relação a inúmeros assuntos, como a preservação e o manejo sustentável da floresta para mitigar o aumento da temperatura na Terra.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. De que maneira a obra Aquela gente que se transforma em catitu, de Denilson Baniwa, ilustra o conceito de multinaturalismo?

2. Retome a teoria ator-rede e responda: em que medida podemos afirmar que na cosmologia ameríndia os não humanos participam e interferem na rede social desses povos? Explique.

3. Em que medida a crise epistemológica do pensamento ocidental pode ajudar a legitimar e reconhecer outras epistemologias, como as cosmologias ameríndias? Comente.

4. Em sua opinião, quais seriam os benefícios de incorporar outras epistemologias na compreensão de problemas contemporâneos, como as mudanças climáticas?

5. Como a ideia de que todos os seres possuem diferentes perspectivas e formas de vida impacta seu próprio entendimento sobre a natureza?

5. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante reflita sobre sua relação com os demais seres vivos que fazem parte do cotidiano, identificando e reconhecendo a importância da presença dos demais seres em seu contexto de vida.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

PERSPECTIVAS

Como você aprendeu, diferentes sociedades podem apresentar cosmovisões próprias sobre natureza e cultura. Para aprofundar a compreensão sobre essas perspectivas, é fundamental ouvir e valorizar as vozes dos pensadores de diferentes povos. A seguir, são apresentados depoimentos e referências de diversos sujeitos sociais com relação a essas concepções, destacando a diversidade de perspectivas.

Davi Kopenawa. Brasília (DF), 2021.

Davi Kopenawa (1956-) é um líder indígena yanomami, xamã e ativista dos direitos indígenas no Brasil. Ele luta pela preservação da Floresta Amazônica e pela proteção dos direitos de seu povo. Leia um trecho de sua obra O espírito da floresta.

Os brancos pensam que a floresta está colocada sem razão sobre o chão, como morta. Não é verdade. [...] A floresta não está morta, do contrário as árvores não teriam folhas. E tampouco se veria água ali. As árvores da floresta são belas porque estão vivas. Só morrem quando são derrubadas e quando ressecam. Elas têm uma só vida. É assim. Nossa floresta está viva e, se os brancos nos fizerem desaparecer e a desmatarem inteiramente, eles ficarão pobres e acabarão por sofrer fome e sede. O que vocês chamam ‘natureza’ na nossa língua é urihi a , a terra-floresta [...]. O que chamamos Urihinari a é o espírito da floresta [...] chamamos urihi a, ‘natureza’, assim como os espíritos animais yarori pë e até os das abelhas, das tartarugas ou dos caracóis. O ‘valor de fertilidade’ da floresta, que chamamos në rope a, é também para nós a ‘natureza’: ele foi criado com a floresta, é sua ‘riqueza’.

KOPENAWA, Davi. Urihi a. In: ALBERT, Bruce; KOPENAWA, Davi. O espírito da floresta. Tradução: Rosa Freire d’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2022. p. 29-30.

Ana Mumbuca. Fotografia de 2020.

Ana Cláudia Matos da Silva, conhecida como Ana Mumbuca, é quilombola da comunidade Mumbuca, em Mateiros (TO). Como escritora, registra aspectos da cosmologia quilombola e dos saberes tradicionais de sua comunidade. Leia um trecho de texto da autora.

Ser quilombo é conhecer a ancestralidade e o sentido de viver, e isso nos faz saber profundamente quem são os meus, as paisagens, pegadas de animais e das vidas que compõem o território, sonoridades, plantas, mundo espiritual, habilidades características de cada indivíduo e grupo familiar e arredores.

Existe a pedagogia do compartilhar, acontece desde cedo, as crianças são colocadas para se alimentarem em um mesmo momento e em um único recipiente, sob os olhares dos pais. [...] O Quilombo compreende que o compartilhamento não acontece pelo fato de ter algo em quantidade, mas principalmente pela capacidade de repartir aquilo de que também estamos precisando.

[...]

O viver quilombo persiste nos diversos fatores, ressalta-se a capacidade de viver o tempo presente recebendo forças da ancestralidade e, assim, vislumbrar o futuro. [...]

MUMBUCA, Ana. Ser quilombo. In: SANTOS, Antônio Bispo dos et al. Quatro cantos. São Paulo: N-1 Edições, 2022. p. 82-83.

Antônio Bispo dos Santos (1959-2023), conhecido como Nêgo Bispo, nasceu no Vale do Rio Berlengas, antigo povoado de Papagaio, atual município de Francinópolis (PI). Viveu a maior parte de sua vida na comunidade quilombola Saco-Curtume, localizada em São João do Piauí (PI), onde foi líder, poeta e exerceu seu ativismo político. Nêgo Bispo é considerado um importante intelectual brasileiro, e seus livros trazem uma perspectiva do multinaturalismo. Leia um trecho de uma de suas obras.

Nêgo Bispo no Sesc Guarulhos (SP), 2023.

Quando ouço a palavra confluência ou a palavra compartilhamento pelo mundo, fico muito festivo. [...] Quando cheguei ao território em que estou hoje [...] os umbuzeiros nos recepcionaram. Eles compartilharam seus frutos, suas folhas e suas raízes quando chegamos, e não trouxemos nada para os umbuzeiros. Eles já eram nativos daqui, viemos habitar esta terra depois deles. Foi assim com os pássaros, foi assim com uma planta chamada pinhão – que não é o pinhão-manso, é um pinhão cuidado por nós, ditos humanos, que as juritis adoram. Elas comem esses pinhões e, vez por outra, pegamos uma juriti. O pinhão compartilha com a juriti, a juriti compartilha conosco, e nós vamos compartilhar de novo com o pinhão. Agora que já estamos aqui há mais tempo, entramos também no ciclo local de compartilhamento.

SANTOS, Antônio Bispo dos. A terra dá, a terra quer. São Paulo: Ubu, 2023. p. 21.

ATIVIDADES

1. Espera-se que o estudante reconheça que esses elementos são fundamentais para a formação e a manutenção da identidade do grupo.

2. Espera-se que o estudante reconheça que na cosmologia desses grupos são fundamentais a conexão e a interatividade com os elementos não humanos presentes na natureza e no território, que são tratados como entidades vivas que interagem com os humanos e integram a comunidade.

O umbuzeiro é considerado o “rei da seca” por sua importância no sertão nordestino. Floresta (PE), 2017.

3. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante relacione o que foi discutido na perspectiva indígena e quilombola de uma perspectiva pessoal, usando o próprio contexto familiar como exemplo.

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Qual é o papel da ancestralidade, da memória e dos saberes tradicionais para esses autores?

2. Qual é a relação dos indígenas e quilombolas com a natureza e o território, segundo os autores?

3. Em seu contexto familiar, a memória de seus ancestrais é valorizada? Comente.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

CONEXÕES com

BIOLOGIA

O projeto multiespécie

A bióloga, filósofa e teórica do feminismo estadunidense Donna Haraway (1944-) é referência no pensamento feminista das ciências e no pensamento multiespécies.

Na obra Manifesto ciborgue (1985), Haraway discute as mudanças sociais e políticas no Ocidente a partir do final do século XX, especialmente no que diz respeito à ciência e à tecnologia, mas também ao feminismo. Nessa obra, a figura do ciborgue, muito comum na ficção científica, é usada como uma metáfora para elaborar uma crítica das relações sociais sob o capitalismo em favor de uma produção socialmente responsável da ciência e da tecnologia.

pensamento multiespécie: estudo que busca compreender e classificar diversos modos de vida, incluindo humanos e não humanos, e suas inter-relações.

Em seu livro, Haraway não rejeita o uso das novas tecnologias, mas questiona a dualidade e as fronteiras entre animais e humanos, entre o orgânico (coisas vivas) e o inorgânico (coisas não vivas), e entre cultura e natureza. Na sua visão, as novas tecnologias embaralharam essas fronteiras. Esse híbrido de máquina e organismo simbolizaria a quebra dessas fronteiras e poderia ser usado para criar uma nova política. Assim, o ciborgue deixaria de ser apenas uma personagem de ficção científica para se tornar parte da realidade social, uma ferramenta para contestar as dicotomias ocidentais e um recurso para combater as desigualdades sociais, de classe, de raça e de gênero.

ciborgue: organismo que combina componentes orgânicos e mecânicos, integrando partes humanas e tecnológicas para aprimorar capacidades físicas ou mentais do ser humano.

Donna Haraway é uma das pesquisadoras da simpoiese. A palavra “simpoiese” deriva do grego e significa “fazer com”, “fazer junto” ou “estar junto”. O termo se refere a uma cocriação, ou seja, a processos de interação entre espécies nos quais o caráter coletivo e a colaboração estão presentes.

Pensando nisso, a bióloga defende que os seres humanos devem “fazer parentes”. Mas o que ela quer dizer com isso? Para enfrentar o que está por vir, diante, sobretudo, da emergência climática, Haraway defende um projeto de colaboração multiespécie, no qual os humanos devem fazer parcerias com seres de outras espécies. Para desenvolver esse pensamento, a autora faz uso da teoria dos holobiomas, associada, principalmente, ao trabalho de Lynn Margulis (1938-2011), uma bióloga estadunidense que contribuiu para a biologia evolutiva.

Fotografia de Donna Haraway e Cayenne, 2006.

A teoria dos holobiomas afirma que microrganismos, animais, plantas e seres humanos formam uma única unidade evolutiva. Isso significa que todos estão conectados por relações genéticas e metabólicas. Os microrganismos seriam, então, tão importantes para os seres humanos que seria possível considerá-los parte de nós mesmos.

Em vez de entender cultura e natureza como opostas, a teoria dos holobiomas mostra como elas estão, na verdade, interligadas.

Em O manifesto das espécies companheiras: cachorros, pessoas e alteridade significativa, publicado originalmente em 2016, Haraway defende que, para enfrentarmos os desafios planetários, não apenas os das mudanças climáticas mas também de outras ameaças à vida humana na Terra, como guerras, e lutarmos pela afirmação das diferenças na sociedade, devemos repactuar nossas parcerias com os não humanos.

Leia um trecho desse manifesto.

[...] o presente manifesto se pergunta qual dessas duas figuras improvisadas – ciborgues e espécies companheiras – pode informar de modo mais frutífero políticas [...] nos mundos de vida de hoje. Essas figuras não estão em polos opostos. Tanto ciborgues quanto espécies companheiras unem, de formas inesperadas, humano e não humano, orgânico e tecnológico, carbono e silicone, [...] o rico e o pobre, o Estado e o sujeito, [...] modernidade e pós-modernidade, e natureza e cultura. [...] nem um ciborgue nem um animal de companhia agradam aos puros que anseiam por fronteiras mais protegidas entre espécies e pela esterilização de categorias desviantes. [...]

HARAWAY, Donna. O manifesto das espécies companheiras: cachorros, pessoas e alteridade significativa. Tradução: Pê Moreira. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021. p. 12-13, 15.

RANDOLPH, Lynn. Cyborg. 1989. Óleo sobre tela, 91,4 cm x 66 cm. David Lewis Gallery, Nova York (Estados Unidos).

2. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante reconheça a necessidade de redefinir as relações entre humanos e outras espécies, entendendo o pensamento multiespécies como uma forma de promover a coabitação e a preservação da vida no planeta.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Espera-se que os estudantes reflitam sobre as tensões entre o avanço tecnológico e a redefinição do papel humano na natureza, discutindo os impactos dessas mudanças.

1. Donna Haraway defende o uso da tecnologia, mas problematiza como ela define o lugar do ser humano na natureza. Reflita sobre essa afirmação e, depois, converse com colegas.

2. Em sua opinião, quais seriam os impactos da implementação do pensamento multiespécies na sociedade ocidental?

3. Para você, é relevante considerar os seres vivos não humanos, como animais, plantas e microrganismos, nas decisões políticas e nas esferas públicas? Por quê?

3. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante reconheça a importância de incluir seres vivos não humanos nas decisões políticas, discutindo como isso pode influenciar a preservação ambiental, a saúde dos ecossistemas e a sustentabilidade a longo prazo.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
©LYNN RANDOLPH

ser senciente: ser, como determinados animais, capaz de ter sentimentos e sentir emoções de modo consciente, como ansiedade e medo.

Os direitos da natureza

Alguns países têm modificado suas constituições ou previsto em lei os direitos da natureza e o reconhecimento jurídico dos seres sencientes. Esse tema, porém, gera debate entre especialistas. Alguns autores e juristas resistem em reconhecer que essa eventual aptidão dos animais seja motivo para alegar direitos, argumentando que os animais não têm autoconsciência nem liberdade por não serem humanos, ou que, mesmo que os animais sejam capazes de sentir dor e tenham sentimentos, faltaria a eles a capacidade de enxergar a si próprios como indivíduos.

Apesar disso, avançam ao redor do mundo legislações de proteção dos seres sencientes e dos direitos da natureza. Países como França, Nova Zelândia, Peru, Suécia e Espanha já contam com legislações que garantem direitos e proteção para os seres sencientes. No Equador, a Constituição tem um capítulo inteiro destinado aos “Direitos da Natureza”, reconhecendo a natureza, também chamada de Pacha Mama, como um sujeito de direitos. A palavra “pacha ” quer dizer “universo” ou “mundo” e a palavra “mama ” quer dizer “mãe”. A ideia de uma mãe terra integra a cosmologia dos povos indígenas da América do Sul nos Andes centrais, e o fato de ter sido constitucionalizada indica um reconhecimento dessa cosmologia por parte do Estado. No Brasil, em 2019, o Senado aprovou um projeto de lei (PLC no 27/2018) que cria um regime jurídico para os animais, que deixam de ser considerados objetos e passam a ter natureza jurídica, sendo reconhecidos como sujeitos de direitos, ainda que não sejam pessoas, e também como seres sencientes, ou seja, dotados de natureza biológica e emocional e passíveis de sofrimento.

O Código Civil brasileiro, lei no 10.406/2002, em seu art. 82, considera os animais como bens móveis, suscetíveis de movimento próprio. Com base nesse conceito que os enquadra na composição de um patrimônio, se nega aos animais a possibilidade de serem tratados como sujeitos de direito.

Assim, o reconhecimento dos direitos da natureza que contemplam referências a diversas cosmologias tecem uma rede de relações que considera humanos e não humanos em uma ética da coexistência multiespécies.

ACHA MAMA. Período pré-colombiano. Cerâmica. Essa escultura representa a divindade andina considerada Mãe Terra. No Equador, a Pacha Mama é reconhecida pela Constituição como um sujeito de direitos.

RECAPITULE

Neste capítulo, você aprendeu que pensar nas relações entre humanos e não humanos pode ajudar na compreensão do mundo e da sociedade e que reconhecer as múltiplas possibilidades de cosmologias, de diversas “naturezas-culturas”, como sugere o sociólogo Bruno Latour, permite criar novas formas de se relacionar entre si e com a natureza – por exemplo, estabelecendo parcerias com seres de outras espécies, como defende a filósofa

Donna Haraway.

Além disso, descobriu que aprender com as diversas cosmologias, em sua flexibilidade de pensamento e capacidade de imaginação, contribui para reconhecer e problematizar o seu próprio modo de vida, o que permite encontrar novas formas para enfrentar os desafios contemporâneos.

ATIVIDADES

FINAIS Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Algumas organizações brasileiras estão engajadas na promoção de diferentes visões de mundo e na construção de modelos mais sustentáveis e inclusivos. Cada uma das organizações apresentadas aqui contribui para o desenvolvimento de práticas e políticas que buscam superar as dicotomias tradicionais e promover uma abordagem integrada e holística dos desafios contemporâneos.

holístico: termo usado no contexto da compreensão de um fenômeno de modo amplo, que contemple diversos aspectos e considere sua totalidade e complexidade.

• Instituto Socioambiental (ISA): atua na promoção de políticas públicas e na valorização dos direitos sociais e ambientais, buscando conciliar conservação ambiental com desenvolvimento sustentável e inclusão social (disponível em: https://www.socioambiental.org; acesso em: 26 ago. 2024).

• Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio): vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, é responsável pela gestão de unidades de conservação federais e promove a conservação da biodiversidade aliada ao desenvolvimento sustentável local (disponível em: https://www.gov.br/icmbio; acesso em: 26 ago. 2024).

• Rede de Sementes do Xingu: iniciativa que envolve comunidades locais na produção e comercialização de sementes nativas, incentivando a restauração florestal e o desenvolvimento econômico sustentável na região do Xingu (disponível em: https://sementesdoxingu.org.br; acesso em: 26 ago. 2024).

• Instituto Terra: fundado pelo fotógrafo Sebastião Salgado e sua esposa, Lélia Deluiz Wanick Salgado, foca a recuperação de áreas degradadas e a promoção do desenvolvimento sustentável através de projetos agroflorestais (disponível em: https://institutoterra.org; acesso em: 26 ago. 2024).

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

• Instituto Ethos: organização sem fins lucrativos que mobiliza empresas para a adoção de práticas de responsabilidade social e sustentabilidade, promovendo uma economia mais justa e inclusiva (disponível em: https://www.ethos.org.br; acesso em: 26 ago. 2024).

• Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam): mantém o foco em pesquisa e políticas públicas para conservação e uso sustentável da Amazônia, integrando conhecimentos científicos com práticas de manejo ambiental (disponível em: https://ipam.org.br; acesso em: 26 ago. 2024).

• Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam): trabalha na integração entre conservação ambiental e desenvolvimento sustentável através de projetos econômicos sustentáveis na Amazônia (disponível em: https://idesam.org; acesso em: 26 ago. 2024).

• Em grupos, sob a orientação do professor, escolham uma das instituições para fazer uma pesquisa e, depois, compartilhem os resultados com a turma. Para isso, sigam o roteiro e façam registros no caderno.

1. a), b), c) e d) Espera-se que os estudantes reconheçam a importância de algumas instituições e políticas públicas, os diferentes campos em que atuam etc.

a) Identifiquem o nome da instituição, a data de sua criação e os sujeitos sociais envolvidos.

b) Identifiquem o propósito da instituição.

c) Descrevam suas principais ações e os resultados alcançados por meio delas.

d) Por fim, identifiquem outras organizações que atuam no lugar em que moram, em nível local ou regional.

2. (Enem – 2019)

TEXTO 1

Os segredos da natureza se revelam mais sob a tortura dos experimentos do que no seu curso natural.

BACON, F. Novum Organum, 1620. In: HADOT, P. O véu de Ísis: ensaio sobre a história da ideia de natureza. São Paulo: Loyola, 2006.

TEXTO 2

O ser humano, totalmente desintegrado do todo, não percebe mais as relações de equilíbrio da natureza. Age de forma totalmente desarmônica sobre o ambiente, causando grandes desequilíbrios ambientais.

GUIMARÃES, M. A dimensão ambiental na educação Campinas: Papirus, 1995.

Os textos indicam uma relação da sociedade diante da natureza caracterizada pela

a) objetificação do espaço físico.

b) retomada do modelo criacionista.

c) recuperação do legado ancestral.

d) infalibilidade do método científico.

e) formação da cosmovisão holística.

3. (Enem – 2019)

O cristianismo incorporou antigas práticas relativas ao fogo para criar uma festa sincrética. A igreja retomou a distância de seis meses entre os nascimentos de Jesus Cristo e João Batista e instituiu a data de comemoração a este último de tal maneira que as festas do solstício de verão europeu com suas tradicionais fogueiras se tornaram “fogueiras de São João”. A festa do fogo e da luz, no entanto, não foi imediatamente

associada a São João Batista. Na Baixa Idade Média, algumas práticas tradicionais da festa (como banhos, danças e cantos) foram perseguidas por monges e bispos. A partir do Concílio de Trento (1545-1563), a Igreja resolveu adotar celebrações em torno do fogo e associá-las à doutrina cristã.

CHIANCA, L. Devoção e diversão: expressões contemporâneas de festas e santos católicos. Revista Anthropológicas, n. 18, 2007 (adaptado).

Com o objetivo de se fortalecer, a instituição mencionada no texto adotou as práticas descritas, que consistem em

a) promoção de atos ecumênicos.

b) fomento de orientações bíblicas.

c) apropriação de cerimônias seculares.

d) retomada de ensinamentos apostólicos.

e) ressignificação de rituais fundamentalistas.

4. (Enem – 2016)

A promessa da tecnologia moderna se converteu em uma ameaça, ou esta se associou àquela de forma indissolúvel. Ela vai além da constatação da ameaça física. Concebida para a felicidade humana, a submissão da natureza, na sobremedida de seu sucesso, que agora se estende à própria natureza do homem, conduziu ao maior desafio já posto ao ser humano pela sua própria ação. O novo continente da práxis coletiva que adentramos com a alta tecnologia ainda constitui, para a teoria ética, uma terra de ninguém.

JONAS, H. O princípio da responsabilidade. Rio de Janeiro: Contraponto; Editora PUC-Rio, 2011 (adaptado).

As implicações éticas da articulação apresentada no texto impulsionam a necessidade de construção de um novo padrão de comportamento, cujo objetivo consiste em garantir o(a)

a) pragmatismo da escolha individual.

b) sobrevivência de gerações futuras.

c) fortalecimento de políticas liberais.

d) valorização de múltiplas etnias.

e) promoção da inclusão social.

5. (Enem – 2016)

TEXTO 1

Documentos do século XVI algumas vezes se referem aos habitantes indígenas como “os brasis”, ou “gente brasília” e, ocasionalmente no século XVII, o termo “brasileiro” era a eles aplicado, mas as referências ao status econômico e jurídico desses eram muito mais populares. Assim, os termos “negro da terra” e “índios” eram utilizados com mais frequência do que qualquer outro.

SCHWARTZ, S. B. Gente da terra braziliense da nação. Pensando o Brasil: a construção de um povo. In: MOTA, C. G. (Org.). Viagem incompleta: a experiência brasileira (1500-2000). São Paulo: Senac, 2000 (adaptado).

TEXTO 2

Índio é um conceito construído no processo de conquista da América pelos europeus. Desinteressados pela diversidade cultural, imbuídos de forte preconceito para com o outro, o indivíduo de outras culturas, espanhóis, portugueses, franceses e anglo-saxões terminaram por denominar da mesma forma povos tão díspares quanto os tupinambás e os astecas.

SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2005.

Ao comparar os textos, as formas de designação dos grupos nativos pelos europeus, durante o período analisado, são reveladoras da

a) concepção idealizada do território, entendido como geograficamente indiferenciado.

b) percepção corrente de uma ancestralidade comum às populações ameríndias.

c) compreensão etnocêntrica acerca das populações dos territórios conquistados.

d) transposição direta das categorias originadas no imaginário medieval.

e) visão utópica configurada a partir de fantasias de riqueza.

Racismo no Brasil 5

OBJETIVOS DO CAPÍTULO:

Identificar a composição da população brasileira atual.

C ompreender as principais características da desigualdade social e racial no Brasil.

E ntender os conceitos de raça, racismo científico e racismo estrutural.

C ompreender como o racismo se manifesta na sociedade brasileira.

A nalisar medidas de combate ao racismo.

GALHARDO, Caco. [Como são os "cabelos normais"?]. São Paulo: Um Brasil, 2020. Disponível em: https://umbrasil.com/charges/ charge-05-10-2020/. Acesso em: 28 ago. 2024.

Você já parou para refletir sobre o que significa dizer que algo é “normal”? O termo está ligado à “norma”, que é uma regra ou padrão estabelecido pela sociedade. Mas será que existe uma norma ou padrão para a subjetividade ou diversidade dos seres humanos? O que seria essa norma? Será que todos conseguem seguir essa norma? E quem não consegue?

Observe a charge e reflita sobre o que significa “ser normal”.

inafiançável: refere-se a crimes que não permitem a concessão de fiança, ou seja, o acusado não pode pagar um valor em dinheiro para responder ao processo em liberdade.

ATIVIDADES

No Brasil, o racismo é crime inafiançável e toda forma de discriminação e preconceito é considerada violação dos direitos e da dignidade humana. Entre as lutas do movimento negro, estão o combate a essas situações e a proposição de ações de reparação para as comunidades que sofrem discriminação e preconceito.

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. A ideia de “cabelos normais”, sugerida pelo rótulos dos produtos, implica que certos tipos de cabelo são considerados padrão,

1. A charge retrata uma mulher e uma criança negras em frente a uma gôndola de xampus. A criança questiona: “Como são os ‘cabelos normais’?”. Reflita sobre a situação e comente as normas e os padrões de beleza impostos pela sociedade atual.

enquanto outros são vistos como diferentes ou anormais.

2. Em seu cotidiano, você identifica situações como a retratada pela charge?

2. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante reconheça em seu cotidiano situações como a retratada ou que compartilhe outros exemplos de preconceito e discriminação racial noticiados na mídia.

3. O que você sabe sobre o racismo?

3. Resposta pessoal. O estudante pode associar o racismo a um julgamento de valor, como algo ruim ou mau; ou comentar que o racismo é um tipo de violência considerado crime no Brasil.

4. Quais atitudes podem ser adotadas para combater o racismo na sociedade contemporânea?

4. Pode-se citar a adoção de medidas educativas, o cumprimento da legislação em vigor, que considera o racismo crime, a implementação de políticas públicas de ação afirmativa, entre outras.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

População negra no Brasil hoje

No Brasil, parte significativa da população é considerada negra, compreendendo aqueles que se identificam como pretos ou pardos, segundo a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com os dados do Censo Demográfico de 2022, essa parcela representa 55,5% da população total, sendo 45,3% de pessoas pardas e 10,2% de pessoas pretas. Essa composição faz do Brasil um dos países com a maior população negra fora do continente africano.

Essa composição é resultado de um processo histórico que inclui a vinda forçada de milhões de africanos escravizados para o Brasil durante o período colonial. Hoje, essa diversidade étnica e cultural constitui uma parte fundamental da identidade nacional, refletindo-se em diferentes aspectos da vida social, cultural e econômica do país.

Apesar da rica contribuição da população negra para a cultura e identidade nacional, persistem desigualdades significativas que afetam esse grupo. Essas disparidades se manifestam em diversas áreas, como o acesso à educação, ao mercado de trabalho e à segurança, revelando um cenário de exclusão e vulnerabilidade que ainda precisa ser amplamente debatido e enfrentado.

Brasil: composição da população, por cor ou raça – 2022

Elaborado com base em: IBGE. Censo Demográfico 2022: panorama. Rio de Janeiro: IBGE, [2024]. Localizável em: gráfico Cor ou raça. Disponível em: https://censo2022.ibge. gov.br/panorama/. Acesso em: 28 ago. 2024.

cada peça. Pinacoteca de São Paulo. Detalhe da obra.

• Por meio de técnicas como costura e colagem, a obra reconfigura imagens históricas, destacando as cicatrizes do racismo e da violência contra as mulheres negras. Em 2024, Rosana Paulino (1967-) tornou-se a primeira artista negra a ter uma mostra no Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (Malba), na Argentina.

PAULINO, Rosana. Parede da memória. [Entre 1994 e 2015]. Tecido, microfibra, fotocópia, linha de algodão e aquarela, 8 cm x 8 cm x 3 cm
Parda Branca Preta Indígena Amarela
PINACOTECA ARTE E CULTURA, SÃO PAULO.
SONIA VAZ

Desigualdade social e racial

A desigualdade social e racial no Brasil é uma realidade persistente que afeta, de maneira desproporcional, a população negra, composta de pretos e pardos. Esses grupos ainda enfrentam barreiras significativas no acesso a direitos básicos, como educação, saúde, moradia e segurança. Dados do IBGE indicam que pessoas negras estão entre as mais impactadas pela pobreza, com rendimentos médios inferiores aos de pessoas brancas, ainda que desempenhem as mesmas funções. Observe o gráfico.

Brasil: rendimento-hora médio, por cor ou raça – 2022

Fonte: IBGE. Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira: 2023. Rio de Janeiro: IBGE, 2023. (Estudos e pesquisas. Informação demográfica e socioeconômica, n. 53, p. 26). Disponível em: https:// biblioteca.ibge.gov.br/ visualizacao/livros/liv102052. pdf. Acesso em: 28 ago. 2024.

No mercado de trabalho, a taxa de desemprego é maior entre os negros, e aqueles que estão empregados, em sua maioria, ocupam cargos de menor prestígio e remuneração. Além disso, a informalidade é mais alta entre trabalhadores pretos ou pardos, refletindo desigualdades historicamente constituídas. Em 2022, de acordo com dados do IBGE, 46,8% das mulheres e 46,6% dos homens pretos ou pardos estavam em ocupações informais, porcentagens significativamente superiores às dos trabalhadores brancos. A informalidade é menor entre os mais escolarizados, mas trabalhadores negros predominam em atividades de baixo rendimento, como agropecuária, construção e serviços domésticos, cuja proporção de pretos e pardos é superior a 60%.

Comércio ambulante no entorno da Praça da Bandeira, centro da cidade de São Paulo (SP), 2022. Em 2022, mais de 38 milhões de trabalhadores eram informais no Brasil.

LUCIANA WHITAKER
Branca Preta ou parda
SONIA
VAZ

Na educação, a desigualdade se reflete no menor acesso ao Ensino Superior e nos altos índices de evasão escolar. Além disso, a violência é uma realidade cotidiana para a juventude negra, que é a principal vítima de homicídios no país.

Essas disparidades são resultado de um histórico de exclusão social que remonta ao período escravocrata e que, apesar dos avanços legais, continua a se reproduzir em diversas esferas da sociedade. Para superar essa realidade, é fundamental a implementação de políticas públicas eficazes que promovam a igualdade racial e social, garantindo a todos os brasileiros, independentemente de sua cor ou origem, as mesmas oportunidades de desenvolvimento e dignidade. Observe o infográfico. Ele revela as disparidades que persistem entre os diferentes grupos étnico-raciais no Brasil, uma vez que as pessoas negras ainda enfrentam desvantagens significativas em termos de acesso a direitos fundamentais, como educação, trabalho e renda.

Brasil: desigualdades sociais, por cor ou raça – 2021

Fonte: DIRETORIA DE GEOCIÊNCIAS; COORDENAÇÃO DE MEIO AMBIENTE. Desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: IBGE, c2022. p. 1. Disponível em: https:// biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/ livros/liv101972_informativo.pdf. Acesso em: 28 ago. 2024.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. O gráfico e o infográfico evidenciam disparidades significativas entre brancos e negros em termos de renda, escolaridade e cargos de liderança.

1. Observe novamente o gráfico da página 88 e o infográfico da página 89. Analise como a distribuição de renda, a escolaridade e a ocupação de cargos gerenciais diferem entre brancos, pretos e pardos.

2. Quais são os principais desafios que esses dados revelam para a promoção da igualdade no país?

2. Esses dados revelam grandes desafios para a promoção da igualdade no Brasil, evidenciando a necessidade de políticas públicas que ampliem as oportunidades educacionais, incentivem a inclusão no mercado de trabalho formal e reduzam as desigualdades raciais no ambiente profissional.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
NELSON

sistema binomial: método de nomenclatura científica criado por Carl von Linné, que atribui a cada espécie um nome composto de dois termos em latim: o primeiro indica o gênero e o segundo a espécie.

Em 1758, na décima edição dessa obra, o naturalista sueco apresentou, pela primeira vez, a divisão taxonômica da espécie humana.

Raça: uma construção social

A análise da situação da população negra no Brasil atual e das desigualdades sociais e raciais que persistem no país revela como questões históricas e sociais moldaram a estrutura da sociedade brasileira. Essas desigualdades estão profundamente enraizadas em concepções antigas de raça que, ao longo dos séculos, foram utilizadas para justificar sistemas de opressão, como a escravidão e o colonialismo. Historicamente, a ideia de raça surgiu de tentativas de categorizar seres humanos com base em aspectos físicos visíveis, como tom de pele, formato do crânio e outras características fenotípicas. Essas classificações ganharam destaque durante o século XVIII, em um período de intensas explorações científicas e coloniais, quando naturalistas europeus buscavam entender e ordenar a diversidade biológica e cultural do mundo. Carl von Linné (1707-1778), um dos mais influentes naturalistas da época, é conhecido por seu trabalho de classificação de plantas e animais, que culminou na criação do sistema binomial de nomenclatura. Em sua obra Systema naturae, publicada pela primeira vez em 1735, Linné também tentou classificar a espécie humana. Ele dividiu a humanidade em quatro grandes categorias raciais: Homo sapiens europaeus, Homo sapiens asiaticus, Homo sapiens americanus e Homo sapiens afer. Cada uma dessas categorias era caracterizada por atributos físicos e comportamentais distintos, que Linné acreditava serem inerentes a esses grupos.

A proposta de Linné era simplificar a diversidade humana em categorias distintas para facilitar o estudo e a compreensão das diferenças entre os povos. Ele associou características físicas, como o tom de pele, a textura do cabelo e o formato do crânio, a comportamentos e traços de personalidade. Por exemplo, ele descreveu os europeus como “inventivos” e “governados por leis”, enquanto atribuía aos africanos características como “indolência” e “governados por caprichos”. Essa classificação criou a falsa ideia de uma hierarquia entre as pessoas, baseada em características físicas e origens territoriais, perpetuando estereótipos e preconceitos.

LINNAEI, Caroli. Systema naturae: sive, regna tria naturae systematice proposita per classes, ordines, genera, & species. Leiden: Lugduni Batavorum, 1735. Frontispício.

Racismo científico

O conceito de racismo científico se desenvolveu através de tentativas de classificar a humanidade em diferentes raças, atribuindo a cada grupo características físicas e comportamentais distintas. Essa classificação influenciou profundamente a ciência e a sociedade, sendo utilizada para justificar a escravidão, o colonialismo e várias formas de discriminação e desigualdade. Durante os séculos XIX e XX, essas ideias foram distorcidas e usadas para promover a falsa crença de que algumas raças eram biologicamente superiores a outras, reforçando práticas de segregação e exclusão social.

As teorias de Linné, embora hoje cientificamente desacreditadas ilustram como a ciência pode ser manipulada por contextos sociais e culturais para perpetuar preconceitos e desigualdades. Esse racismo científico ajudou a legitimar a inferiorização de povos não brancos, propagando a ideia de que a diversidade racial era um indício de uma desigualdade natural, uma premissa equivocada que sustentou práticas opressivas, como a escravidão.

Na obra Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra, de 1999, Kabengele Munanga (1940-), antropólogo congolês radicado no Brasil, argumenta que o racismo é uma construção social que não tem base científica, mas sim ideológica, criada para justificar a dominação e exploração de povos. Ele enfatiza que o discurso do racismo científico foi crucial para legitimar a inferioridade do negro e perpetuar a ideia de uma desigualdade natural, profundamente enraizada no pensamento político e científico do século XIX. As pseudoteorias de desigualdade natural, defendidas por pensadores como Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882), Cesare Lombroso (1835-1909) e Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906), contribuíram para a construção de um sistema de poder que articulava política, religião e conhecimento para manter a escravidão e a opressão de povos não brancos.

Esse legado do racismo científico ainda ressoa nas estruturas sociais contemporâneas, especialmente no Brasil, onde as consequências dessa ideologia podem ser observadas nas desigualdades raciais persistentes. Munanga destaca que é fundamental desconstruir essas noções racistas e reconhecer o racismo como uma construção social que continua a influenciar as relações de poder. Somente através desse reconhecimento e da promoção de uma consciência crítica é possível construir uma sociedade mais justa e igualitária.

Kabengele Munanga em Itanhaém (SP), 2023. Nascido na República Democrática do Congo, é um dos principais estudiosos da cultura afro-brasileira no Brasil, com foco em estudos sobre o racismo e políticas de ações afirmativas para a população negra.

KARIME

poligenismo: hipótese que sugeria que as raças humanas tinham origens diferentes e se desenvolveram separadamente. Essa ideia foi amplamente refutada pela ciência moderna. monogenia: teoria que sustenta que toda a humanidade descende de um único ancestral comum, reforçando a ideia de uma origem única para a espécie humana. polimorfismo: variações nas características fenotípicas, como tom de pele ou tipo de cabelo, que ocorrem dentro de uma mesma espécie. teoria sintética da evolução: teoria que explica a evolução das espécies combinando os princípios de seleção natural com as descobertas da genética moderna. teoria cromossômica da hereditariedade: teoria que comprovou que os genes, responsáveis pelas características hereditárias, estão localizados nos cromossomos, os quais todos os humanos compartilham.

Desenvolvimento da ciência e sua desconstrução

Ao mesmo tempo que o racismo científico se desenvolvia, descobertas no campo da biologia começaram a desafiar essas noções equivocadas. No século XIX, a crença poligenista sustentava que as diferentes raças humanas tinham origens distintas, sugerindo que cada raça havia se desenvolvido separadamente. Mas essa ideia foi contestada quando Charles Darwin (1809-1882) publicou A origem do homem e a seleção sexual em 1871, obra em que ele apresentou a teoria da monogenia – a origem única da espécie Homo sapiens sapiens. Darwin argumentou que a humanidade é uma espécie única, mas polimórfica, apresentando variações em características secundárias, como o tom de pele e o tipo de cabelo, que são resultado de adaptações evolutivas. Esse entendimento foi, mais tarde, expandido pela teoria sintética da evolução, articulada por Theodosius Dobzhansky (1900-1975), que integrou a genética à teoria da seleção natural de Darwin. Além disso, Thomas Hunt Morgan (1866-1945) forneceu a primeira confirmação da teoria cromossômica da hereditariedade, demonstrando que as variações genéticas são transmitidas por cromossomos e que todos os seres humanos compartilham um conjunto básico de 46 cromossomos. Essas descobertas científicas estabeleceram que só existe uma raça humana. Portanto, enquanto o racismo científico tentava justificar a desigualdade racial, a ciência moderna, com base na genética e na teoria da evolução, desmascarou essas ideias, demonstrando que as variações entre os seres humanos são superficiais e não fundamentam a divisão em raças distintas. Contudo, as ideias propagadas pelo racismo científico deixaram marcas profundas, que influenciam ainda hoje as relações sociais e as estruturas de poder.

Réplica do crânio de Homo sapiens, exposta no Museu de História Natural, em Londres (Inglaterra), 2013.

Estudos revelam se tratar de um dos fósseis de Homo sapiens mais antigos já descobertos, com idade estimada de 233 mil anos. Ele foi encontrado nas cavernas de Sterkfontein, Joanesburgo (África do Sul), em 1967. Essa descoberta amplia a compreensão científica sobre a evolução humana e reforça a ideia de uma origem comum para toda a humanidade, alinhando-se às teorias que sustentam a monogenia e a evolução das espécies.

Racismo estrutural

O racismo científico, discutido anteriormente, lançou as bases para a criação de um sistema que ainda perpetua a opressão de grupos racializados. As ideias que justificaram a inferioridade de certos grupos foram incorporadas às instituições sociais e continuam a influenciar as desigualdades que existem hoje. Esse sistema de opressão é conhecido como racismo estrutural e se manifesta nas instituições, nas interações sociais e na forma como as pessoas percebem o mundo.

O racismo estrutural não se limita a atitudes preconceituosas ou atos de discriminação isolados, mas está enraizado nas leis, nas práticas do dia a dia e nas instituições que compõem a sociedade. Além disso, o racismo também se manifesta de maneira inconsciente, moldando a forma como percebemos e entendemos as relações entre diferentes grupos étnico-raciais. Isso significa que o racismo age como uma espécie de filtro, influenciando a maneira como as pessoas compreendem e experimentam o mundo ao seu redor, particularmente através das relações étnico-raciais.

Dessa forma, o racismo torna-se estrutural por manter-se vinculado às mais diversas esferas das relações sociais – econômicas, políticas, culturais –, sistematizando-se como algo corriqueiro e comum.

A charge retrata como as desigualdades raciais estão profundamente enraizadas nas instituições e nas relações sociais. A imagem reflete a persistência dessas injustiças na sociedade atualmente.

JUNIÃO. [Dia da Consciência Negra]. [S. l.]: Junião, 2013. Disponível em: https://juniao.com.br/ wp-content/uploads/2013/11/Charge_ Juniao_19_11_2013.jpg. Acesso em: 28 ago. 2024.

Eleitores aguardam para votar em Fortaleza (CE), 2018. O direito político ao voto e à participação na vida democrática devem ser garantidos a todos.

Denis de Oliveira (1963-), em sua obra Racismo estrutural: uma perspectiva histórico-crítica , de 2021, explica que o preconceito racial é uma construção sócio-histórica sustentada por essas estruturas, garantindo privil é g ios para alguns grupos enquanto marginaliza outros. Assim, o racismo não é apenas o resultado de ações individuais, mas é reforçado por políticas públicas, instituições e pelo modo como, inconscientemente, as relações raciais perpetuam as desigualdades em diferentes esferas sociais.

Para entender como o racismo estrutural funciona, é importante diferenciar privilégios de direitos. Privilégios são as vantagens que certos grupos têm em detrimento de outros, enquanto os direitos são prerrogativas asseguradas pelo Estado na defesa da dignidade e que deveriam ser estendidas a todos os cidadãos, independentemente de cor, raça, classe social, gênero, origem, religião ou idade, conforme estabelecido na Constituição Federal de 1988.

O exercício da cidadania, em uma sociedade em que o racismo estrutural está presente, pode ser analisado em três aspectos principais: direitos civis (como a liberdade e a igualdade perante a lei), direitos políticos (como o direito ao voto e à participação no governo) e direitos sociais (como o direito à educação, ao trabalho, à saúde e à moradia). A desigualdade no acesso a esses direitos reflete como as relações raciais, sustentadas pelo racismo estrutural, impedem que todos exerçam plenamente a cidadania.

MICHAEL DANTAS/AFP

CONEXÕES com

MATEMÁTICA

Conhecimentos matemáticos e a história da sociedade

A matemática permite ao ser humano organizar, classificar e entender o tempo e o espaço. Conhecimentos matemáticos, como contar, calcular e medir, foram fundamentais para o desenvolvimento de diversas civilizações. Na sociedade moderna, a matemática é uma área do conhecimento essencial para o desenvolvimento do raciocínio lógico, da capacidade de resolver problemas e da tomada de decisões. Dentro da matemática, a estatística se destaca como a área que estuda a coleta, organização, análise e interpretação de dados.

Os dados estatísticos são amplamente utilizados para ajudar a compreender fenômenos sociais e apoiar a tomada de decisões. A Sociologia, como ciência, utiliza esses dados para investigar problemas sociais. Ao identificar um problema, o sociólogo formula uma hipótese, planeja a coleta de dados, realiza a pesquisa e interpreta os resultados para entender a realidade e produzir conhecimento. Os objetivos são identificar as causas dos problemas e orientar ações que promovam melhorias e combatam injustiças sociais. O monitoramento constante dos dados coletados permite que decisões sejam tomadas com maior precisão e menos erros. Por exemplo, os dados estatísticos são essenciais para demonstrar como o racismo estrutural está presente na sociedade brasileira. Observe o gráfico.

Brasil: população em situação de pobreza e extrema pobreza – 2019

Elaborado com base em: SÍNTESE de indicadores sociais: em 2019, proporção de pobres cai para 24,7% e extrema pobreza se mantém em 6,5% da população. Agência IBGE Notícias, Rio de Janeiro, 12 nov. 2020. Disponível em: https:// agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia -sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/ releases/29431-sintese-de-indicadores-sociais -em-2019-proporcao-de-pobres-cai-para-24 -7-e-extrema-pobreza-se-mantem-em-6-5-da -populacao. Acesso em: 28 ago. 2024.

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Os dados apresentados no gráfico sobre pobreza extrema e pobreza no Brasil indicam a disparidade entre brancos e negros no país. Relacione esses dados ao conceito de racismo estrutural, explicando como revelam as desigualdades raciais persistentes na sociedade brasileira.

Os dados do gráfico revelam que a maioria das pessoas em situação de extrema pobreza no Brasil é negra, o que é uma manifestação evidente do racismo estrutural.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
Brancos
Pretos e pardos

O Movimento Negro Unificado (MNU), fundado em 1978 na capital paulista, é uma das mais importantes organizações do movimento negro no Brasil. Surgiu em um contexto de intensa luta contra a ditadura civil-militar, como resposta à violência policial e à discriminação racial enfrentadas pela população negra.

Racismo estrutural no Brasil

No Brasil, o racismo estrutural é uma realidade profundamente enraizada, que remonta ao período colonial e à escravidão. A escravidão de africanos, que durou mais de 300 anos, não só desumanizou indivíduos mas também deixou marcas duradouras nas instituições e na sociedade brasileira. Mesmo após a abolição formal da escravidão em 1888, as políticas públicas e as práticas sociais continuaram a perpetuar a marginalização da população negra.

O racismo estrutural no Brasil se manifesta de diversas formas, abrangendo desde a desigualdade no acesso à educação e ao mercado de trabalho até a violência policial desproporcionalmente dirigida contra negros. Essas disparidades são sustentadas por instituições que, de forma intencional ou não, favorecem a manutenção de privilégios para brancos e criam desvantagens para negros e outros grupos racializados. No campo da educação, por exemplo, a falta de representatividade e a baixa qualidade do ensino nas áreas mais pobres, que são predominantemente habitadas por negros, refletem como o racismo estrutural molda as oportunidades desde cedo. No mercado de trabalho, a população negra é frequentemente relegada a posições de menor prestígio e remuneração, perpetuando um ciclo de pobreza e exclusão.

A invisibilidade do racismo estrutural no Brasil é reforçada por uma ideologia de “democracia racial” (estudaremos no capítulo 12), que sugere que o país é livre de preconceitos raciais em razão de sua diversidade étnica. No entanto, essa ideia mascara as profundas desigualdades que ainda persistem e impede o reconhecimento pleno das injustiças que afetam diariamente a população negra no Brasil.

Manifestação do Movimento Negro Unificado (MNU) contra o racismo, realizada em São Paulo (SP), 1978.

A branquitude

Na civilização ocidental europeia, observa-se uma divisão simbólica entre bem e mal associada aos tons claro/escuro e às cores branco/preto. Essas associações se intensificaram durante a expansão colonial, quando o branco passou a representar pureza e civilização, enquanto o preto foi ligado ao mal e à inferioridade. Tal representação negativa contribuiu para a racialização de povos não brancos, reforçando discursos de inferioridade e legitimando o racismo. Pessoas brancas, por não serem historicamente racializadas, foram associadas à humanidade, enquanto não brancos eram retratados como selvagens e bárbaros.

Um exemplo disso é que pessoas brancas raramente são identificadas pela sua cor, ao contrário de negros, frequentemente descritos por termos como “pessoa negra” ou “homem negro”. A branquitude refere-se ao sentimento de pertencimento étnico-racial de pessoas brancas que não se veem como racializadas, mas que racializam os não brancos. Isso permite que brancos usufruam de privilégios sociais, econômicos e políticos em detrimento de grupos não brancos, perpetuando desigualdades históricas.

O sociólogo brasileiro Alberto Guerreiro Ramos (1915-1982), no texto “A patologia social do branco brasileiro”, publicado originalmente em 1955, analisou o Censo Demográfico de 1940 e identificou uma valorização do fenótipo branco em detrimento do negro, demonstrando que existe vergonha da miscigenação cultural e biológica no Brasil. Muitas pessoas não brancas se autodeclaravam brancas, refletindo um desejo de embranquecimento decorrente da escravização entre os séculos XVI e XIX e das violências do racismo estrutural.

A psicóloga Maria Aparecida da Silva Bento (1952-), em O pacto da branquitude, de 2022, argumenta que a branquitude mantém um pacto de privilégios entre brancos sob a aparência de neutralidade racial. A opressão e o apagamento de culturas não brancas construíram, no imaginário brasileiro, a ideia de que ser branco é sinônimo de superioridade e desejo.

Maria Aparecida da Silva Bento em São Paulo, 1995.

• BRASIL. Senado Federal. Diretoria-Geral do Senado Federal. Comitê Permanente pela Promoção da Igualdade de Gênero e Raça. Manual quesito cor/raça e etnia do Senado Federal . [Brasília, DF]: Senado Federal, [2023]. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/ handle/id/642501/Manual_quesito_cor_raca_etnia_SF.pdf. Acesso em: 28 ago. 2024. Documento produzido pelo Senado Federal para colaborar com o letramento racial e o combate aos estereótipos.

Saiba mais
PAULO GIANDÁLIA/FOLHAPRESS

PERSPECTIVAS

Alberto Guerreiro Ramos foi um cientista político, advogado, professor e pesquisador brasileiro. Em 1953, participou do II Congresso Latino-Americano de Sociologia, realizado no Rio de Janeiro (RJ) e em São Paulo (SP), onde debateu com Florestan Fernandes (1920-1995), sociólogo brasileiro, sobre a concepção da sociologia e o papel do sociólogo. Após a ditadura civil-militar, de 1964, foi perseguido no país, mudando-se para os Estados Unidos, em 1966.

A seguir, observe um trecho em que Guerreiro Ramos critica os pesquisadores brancos que têm como objeto de pesquisa o negro.

[…]

À luz de uma sociologia indutiva, isto é, de uma sociologia cujos critérios sejam induzidos da realidade brasileira, e não imitados da prática de sociólogos de outros países, à luz de uma sociologia científica, o que se tem chamado no Brasil de ‘problema do negro’ é reflexo da patologia social do ‘branco’ brasileiro, de sua dependência psicológica.

Foi uma minoria de ‘brancos’ letrados que criou esse ‘problema’, adotando critérios de trabalho intelectual não induzidos de suas circunstâncias naturais diretas.

[…]

No jornal Quilombo, órgão de imprensa do Teatro Experimental do Negro, Alberto Guerreiro Ramos escreveu importantes textos sobre as relações étnico-raciais.

RAMOS, Alberto Guerreiro. Patologia social do “branco” brasileiro. In: RAMOS, Alberto Guerreiro. Introdução crítica à sociologia brasileira. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1957. p. 191-192.

Para ele, a sociologia no Brasil deveria ser induzida pela realidade local, em vez de imitar práticas de outros países. Ele acredita que o verdadeiro problema não está nos negros, mas sim na visão distorcida e na exaltação dos traços europeus que mantêm os brancos em uma posição de superioridade e privilégio. Segundo Guerreiro Ramos, os intelectuais que participaram desse projeto foram:

[…]

Os socioantropólogos, autores de estudo sobre 'o negro no Brasil', Sylvio Romero, Nina Rodrigues, Arthur Ramos, Gilberto Freyre, Thales de Azevedo e René Ribeiro são naturais daqueles Estados [da Região Nordeste], cujos ‘brancos’ exibem os caracteres psicológicos que ilustram o que podemos chamar o protesto racial de uma minoria interiormente inferiorizada.

[…]

RAMOS, Alberto Guerreiro. Patologia social do “branco” brasileiro. In: RAMOS, Alberto Guerreiro. Introdução crítica à sociologia brasileira. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1957. p. 182.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Nos trechos, Alberto Guerreiro Ramos critica os pesquisadores brancos que estudaram a população negra no Brasil, afirmando que esses estudos refletem a “patologia social do ‘branco’ brasileiro”. Explique o que o autor quis dizer com essa expressão e como ela se relaciona com a reprodução de estruturas de poder e privilégio racial na sociedade brasileira.

Guerreiro Ramos utiliza a expressão “patologia social do ‘branco’ brasileiro” para criticar a forma como intelectuais brancos abordaram o estudo da população negra no Brasil. À medida que uma pessoa se aproxima fenotipicamente do ideal eurocêntrico branco, mais privilégios sociais são mantidos.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Combate ao racismo

Nas sociedades democráticas, o combate às desigualdades sociais ocorre por meio de políticas públicas, que são ações governamentais destinadas a garantir direitos, promover a qualidade de vida e o bem-estar dos cidadãos. No enfrentamento do racismo, são aplicadas políticas de ações afirmativas, que visam alocar recursos e benefícios a grupos discriminados e marginalizados tanto no passado quanto no presente.

As políticas de ações afirmativas podem ser classificadas em educacionais, informativas e de reparação. Exemplos de política educacional são as leis no 10.639/2003 e no 11.645/2008, que tornam obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena na educação básica. A inclusão e a valorização dos conhecimentos dos povos negros e indígenas, anteriormente subestimados e apropriados, permitem que estudantes aprendam sobre suas contribuições para a formação da sociedade brasileira, além de fortalecer o orgulho entre crianças e adolescentes descendentes desses povos.

Como política informativa, destaca-se o Estatuto da Igualdade Racial (lei no 12.288/2010), que orienta e regulamenta as ações estatais no combate às desigualdades raciais. Outra forma de ação afirmativa são as cotas, que consistem na reserva de vagas em instituições para grupos historicamente excluídos de oportunidades. No Brasil, existem três tipos principais de cotas: sociais (para estudantes de escolas públicas e/ou com renda familiar bruta per capita igual ou inferior a um salário mínimo e meio), raciais (para negros e indígenas) e para pessoas com deficiência.

Além das reparações, o letramento racial é uma estratégia crucial contra o racismo, pois é necessário compreender a estrutura e o funcionamento do racismo para reconhecer, criticar e combater atitudes racistas no dia a dia.

BRASIL. Ministério da Igualdade Racial. Promover igualdade racial é construir um país para todos. 2023. 1 cartaz. Disponível em: https://www.gov.br/secom/ pt-br/assuntos/noticias/2023/03/ governo-federal-anuncia-pacote-de -medidas-para-combater-o-racismo-e -ampliar-direitos-para-todos. Acesso em: 14 set. 2024. Campanha de combate ao racismo, promovida pelo Ministério da Igualdade Racial. Cartaz divulgado no dia 23 de março, o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial.

INVESTIG AÇÃO

Consulte orientações no Manual do Professor.

Pesquisa-ação sobre combate ao bullying na escola

ETAPA

A Constituição Federal de 1988 estabelece que todos os cidadãos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Com base nisso, podemos afirmar que, independentemente de idade, origem, cor, gênero, sexualidade, crenças ou outras características, todas as pessoas devem viver com dignidade e sem sofrer violência.

A escola é um ambiente onde diversas práticas sociais são refletidas, incluindo direitos, deveres e também formas de violência. O racismo estrutural se manifesta na escola, assim como outras formas de discriminação, como LGBTfobia, gordofobia, sexismo e capacitismo. Essas discriminações muitas vezes se expressam como bullying, que é definido pelo Código Penal brasileiro, no artigo 146-A, como “Intimidação sistemática (bullying)”, caracterizada por atos violentos, intencionais e repetitivos, como intimidação, humilhação e discriminação, seja verbal, física ou psicológica.

OBJETIVO

Vocês irão realizar uma pesquisa-ação para investigar as práticas de bullying em sua escola e elaborar uma campanha para combatê-las. Sigam as etapas com o apoio do professor.

IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA

1. Definam a questão central da pesquisa, por exemplo: quais são os tipos de bullying que ocorrem na escola?.

2. Estabeleçam o objetivo: compreender as manifestações de bullying na escola para desenvolver ações de combate. Determinem o escopo: estudantes do Ensino Médio.

COLETA DE DADOS

3. Realizem entrevistas com estudantes e funcionários da escola.

4. Utilizem formulários eletrônicos para garantir o anonimato das respostas, incluindo perguntas como: você já sofreu ou sofre bullying ? Como se sente? Você já praticou bullying ? Se sim, por quê?

5. Descrevam o tipo de bullying (gordofobia, homofobia, sexismo, transfobia, racismo etc.). Coletem informações demográficas (idade, cor, sexo, ano escolar) para identificar perfis de vítimas e agressores.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
ETAPA

DOS DADOS

6. Classifiquem as informações coletadas, focando os casos de bullying.

7. Analisem a frequência dos casos e os perfis de vítimas e agressores e identifiquem padrões ao longo do período letivo.

ETAPA

6

IMPLEMENTAÇÃO E MONITORAMENTO

8. Com base nos dados analisados, desenvolvam estratégias para combater o bullying

9. Executem o plano de ação com a participação de estudantes, professores e funcionários da escola.

10. Monitorem o impacto das ações por meio de entrevistas e novos questionários, comparando os resultados com os dados iniciais.

AVALIAÇÃO E REPLANEJAMENTO

11. Avaliem os resultados das ações implementadas, refletindo sobre os efeitos na redução do bullying.

12. Apresentem os dados e discutam com a comunidade escolar, replanejando novas ações se necessário.

As ações devem ser colaborativas e direcionadas para a prevenção, como campanhas educativas, rodas de conversa, palestras ou vídeos informativos.

A pesquisa-ação é um processo cíclico, em que cada etapa leva a novos aprendizados e possíveis ajustes. O objetivo é promover um ambiente escolar mais seguro e acolhedor, onde todas as formas de discriminação sejam ativamente combatidas.

TJSP. Bullying não é legal: e é problema de todos nós. 2023. 1 cartaz. Disponível em: https://www.facebook.com/ photo/?fbid=557279099924782& set=pcb.557279179924774. Acesso em: 14 set. 2024. Campanha Não se Cale! de combate ao bullying promovida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (SP).

ETAPA
ETAPA

RECAPITULE

Neste capítulo, você tomou conhecimento de que a ideia de “normal” está relacionada a diversos preconceitos e discriminações; além disso, compreendeu que a ideia de raça é uma construção social, que alimenta o racismo nas sociedades e gera violências e desigualdades sociais.

O racismo estrutural é diferente do ato discriminatório, como ofender uma pessoa por causa de suas características físicas ou hereditárias. Ele representa um processo histórico que cria condições de desvantagens para a população negra e é reproduzido nos âmbitos políticos, econômicos e culturais e nas relações cotidianas.

A superação do racismo estrutural demanda letramento racial, engajamento na luta contra a discriminação racial, além de políticas públicas de ações afirmativas.

ATIVIDADES FINAIS

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Observe a charge e relacione-a com o racismo estrutural no Brasil. Cite elementos presentes na charge para justificar sua resposta.

1. Na charge, o muro é um elemento central que simboliza as barreiras invisíveis, mas poderosas, que o racismo estrutural ergue na sociedade brasileira.

GALHARDO, Caco. [Muro da vergonha]. São Paulo: Um Brasil, 2018. Disponível em: https://umbrasil.com/videos/omovimento-negro-e-um-movimento-deherois/. Acesso em: 3 set. 2024.

2. Leia a tirinha a seguir.

2. A fala “sem considerar os quase 400 anos de escravidão” destaca a importância de compreender o passado histórico do Brasil para entender o racismo estrutural, que persiste até hoje.

ARMANDINHO. [Não é possível entender o Brasil, Armandinho...]. [S. l.], 19 maio 2020. Facebook: tirasarmandinho. Disponível em: https://www.facebook.com/tirasarmandinho/posts/ 3288976224480994/?locale=pt_BR. Acesso em: 28 ago. 2024.

• Na tirinha, uma das personagens menciona “sem considerar os quase 400 anos de escravidão” ao falar sobre o contexto histórico do Brasil. Por que é importante considerar esse passado histórico ao discutir as desigualdades raciais atuais?

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

(Enem – 2017)

TEXTO I

Frantz Fanon publicou pela primeira vez, em 1952, seu estudo sobre colonialismo e racismo, Pele negra, máscaras brancas

Ao dizer que “para o negro, há somente um destino” e que esse destino é branco, Fanon revelou que as aspirações de muitos povos colonizados foram formadas pelo pensamento colonial predominante.

BUCKINGHAM, W. et al. O livro da filosofia

São Paulo: Globo, 2011 (adaptado).

TEXTO II

Mesmo que não queiramos cobrar desses estabelecimentos (salões de beleza) uma eficácia política nos moldes tradicionais da militância, uma vez que são estabelecimentos comerciais e não entidades do movimento negro, o fato é que, ao se autodenominarem “ étnicos ” e se apregoarem como divulgadores de uma autoimagem positiva do negro em uma sociedade racista, os salões se colocam no cerne de uma luta política e ideológica.

GOMES, N. Corpo e cabelo como símbolos da identidade negra. Disponível em: www.rizoma.ufsc.br. Acesso em: 13 fev. 2013.

Os textos apresentam uma mudança relevante na constituição identitária frente à discriminação racial. No Brasil, o desdobramento dessa mudança revela o(a)

a) valorização de traços culturais.

b) utilização de resistência violenta.

c) fortalecimento da organização partidária.

d) enfraquecimento dos vínculos comunitários.

e) aceitação de estruturas de submissão social.

4. (Enem – 2022)

Eu estava pagando o sapateiro e conversando com um preto que estava lendo um jornal. Ele estava revoltado com um guarda civil que espancou um preto e amarrou numa árvore. O guarda civil é branco. E há

certos brancos que transforma o preto em bode expiatório. Quem sabe se guarda civil ignora que já foi extinta a escravidão e ainda estamos no regime da chibata?

JESUS, C. M. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2014.

O texto, que guarda a grafia original da autora, expõe uma característica da sociedade brasileira, que é o(a):

a) Racismo estrutural.

b) Desemprego latente.

c) Concentração de renda.

d) E xclusão informacional.

e) Precariedade da educação.

5. (Enem – 2011)

A Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, inclui no currículo dos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, a obrigatoriedade do ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira e determina que o conteúdo programático incluirá o estudo da História da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil, além de instituir, no calendário escolar, o dia 20 de novembro como data comemorativa do “Dia da Consciência Negra”.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br. Acesso em: 27 jul. 2010 (adaptado).

A referida lei representa um avanço não só para a educação nacional, mas também para a sociedade brasileira, porque

a) l egitima o ensino das ciências humanas nas escolas.

b) divulga conhecimentos para a população afro-brasileira.

c) reforça a concepção etnocêntrica sobre a África e sua cultura.

d) garante aos afrodescendentes a igualdade no acesso à educação.

e) impulsiona o reconhecimento da pluralidade étnico-racial do país.

CAPÍTULO

Jovens, juventudes e culturas juvenis 6

OBJETIVOS DO CAPÍTULO:

P roblematizar a ideia de juventude.

C ompreender o conceito de culturas juvenis.

Reconhecer a importância dos estudos sobre as juventudes para a compreensão de diferentes sociedades.

Identificar alguns dos principais desafios da juventude brasileira na atualidade, relacionando-os com questões mais amplas da nossa sociedade.

O que é ser jovem? Será que é apenas uma questão de idade? Você já reparou que algumas pessoas, mesmo mais velhas, dizem ter “espírito jovem”? O que isso quer dizer? Apesar de parecer simples, definir o que é a juventude pode ser bastante complexo. Pensar sobre isso permite perceber diversos aspectos da sociedade em que vivemos. Possibilita, por exemplo, compreender como, durante a juventude, o processo de formação da identidade acontece na interação entre padrões sociais, gostos e valores individuais. Além disso, permite entender que a ideia de juventude abrange múltiplas formas, possibilidades e expectativas, a depender de fatores como período histórico, localização, raça, gênero e classe social, entre muitos outros. No Brasil, em meio a uma grande variedade de experiências, é possível mapear questões e desafios comuns, traçando um panorama sobre os jovens do país sem perder de vista suas particularidades.

ATIVIDADE Consulte orientações no Manual do Professor.

• Depois de ler o texto, observe a imagem com atenção e responda a estas questões.

a) O que é ser jovem para você?

a), b) e c) Respostas pessoais. Espera-se que o estudante se engaje no tema a partir de sua própria perspectiva sobre o assunto.

b) Analise a cena da imagem. Você diria que existem costumes e práticas que são tipicamente juvenis? Quais?

c) Em sua opinião, existe um consenso sobre o que é a juventude?

Jovens do Ensino Médio de diferentes estilos que compõem grupos da cultura juvenil. São Paulo (SP), 2024.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

O que é juventude?

Diferentes pensadores, legislações e organismos internacionais oferecem definições variadas para o que é ser jovem. Por essa razão, é possível afirmar que não existe um consenso entre eles sobre o que é a juventude.

ATIVIDADE Consulte orientações no Manual do Professor.

• Antes de descobrir o que a Sociologia tem a dizer sobre os jovens e a juventude, faça uma rápida pesquisa em três etapas para conhecer melhor as ideias do senso comum sobre esse tema.

a) Em um dicionário (físico ou virtual), procure as definições das palavras “jovem” e “juventude”. Copie-as no caderno e, em seguida, reflita: essas definições coincidem com o que você pensa sobre os termos? Algo chamou a sua atenção? Se sim, o quê?

b) Escolha cinco pessoas para realizar uma breve entrevista. É importante que sejam pessoas de diferentes faixas etárias. Peça a cada uma delas que explique, com as próprias palavras, o significado de “jovem” e de “juventude”. Anote as respostas no caderno. Quando finalizar, reflita sobre os resultados: houve diferenças entre as definições? Se sim, quais?

c) Após a conclusão das duas primeiras etapas da pesquisa, leve os resultados por escrito para a aula. Em grupo, troquem suas anotações com as dos colegas e comparem os resultados. Juntos, analisem o material e respondam.

I. Quais foram os termos que mais apareceram?

Produção pessoal. Espera-se que o estudante colete informações do senso comum a respeito do conceito de juventude.

II. Houve diferenças? Quais? Pensem em hipóteses para explicar as possíveis diferenças.

III. É p ossível dizer que há um consenso na nossa sociedade sobre os significados de “jovem” e “juventude”? Se sim, qual seria?

O Estatuto da Juventude, aprovado no Brasil em 2013, considera jovem a pessoa com idade entre 15 e 29 anos. Essa é uma definição técnica, que não busca dar conta das muitas variações históricas, sociais e culturais que a ideia de juventude carrega. A Sociologia nos mostra, porém, que essa questão pode ser bem mais complexa.

De geração em geração

O termo “geração” é usado para descrever um grupo de pessoas nascidas em determinado período. Na Sociologia, costuma-se definir um período de 20 a 30 anos, durante o qual os bebês nascem, crescem, tornam-se adultos e começam a ter filhos. No entanto, o conceito de geração vai além da simples definição cronológica. Trata-se de uma forma de categorizar e entender grupos de pessoas que compartilham experiências semelhantes durante determinado período. Há, por exemplo, gerações que vivenciaram guerras, grandes crises econômicas e revoluções tecnológicas. Mesmo que sejam vividas de diferentes formas por cada um, são experiências que moldam perspectivas, valores e comportamentos, com impacto significativo na forma como as pessoas se relacionam com o mundo ao redor.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Atualmente, as gerações (em inglês generation, de onde vem a abreviação "gen") são comumente nomeadas como Baby Boomer, Geração X, Geração Y, Geração Z e Geração Alpha.

ATIVIDADE Consulte orientações no Manual do Professor.

• Em grupo, façam uma pesquisa sobre uma dessas gerações, registrando informações como período correspondente e principais características. Com toda a turma, montem um quadro com essas informações e reflitam sobre elas:

a) Vocês conhecem pessoas pertencentes a todas as gerações listadas?

b) Vocês se identificam com as características atribuídas à sua geração?

a) e b) Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes reflitam sobre as diferenças geracionais e o modo como elas nos ajudam a compreender as mudanças sociais.

papel social: conceito que se refere à função dos indivíduos na sociedade, o que inclui comportamentos, normas, regras e deveres, pensados de acordo com os padrões sociais vigentes.

Olhares sobre a juventude

O interesse pelo estudo da juventude surgiu na primeira metade do século XX, quando alguns cientistas sociais passaram a pensar sobre o papel social dos jovens nas diferentes sociedades. Os primeiros estudos sobre o tema propunham que a juventude fosse vista como o processo de passagem da infância para a vida adulta. Essa não é uma definição equivocada, mas ela se limita a considerar a juventude como uma faixa etária, ou seja, como algo natural e universal.

Um dos primeiros a contestar essa visão foi o sociólogo húngaro Karl Mannheim (1893-1947). Para ele, a juventude deveria ser vista como uma construção social que varia conforme o contexto histórico, político e social do indivíduo. Com base nisso, ele diferenciava o papel social da juventude nas sociedades tradicionais e contemporâneas.

No texto O problema das gerações, publicado originalmente em 1928, Mannheim diz que, nas sociedades tradicionais, o poder e o prestígio são depositados nas pessoas mais velhas, por isso o jovem tende a construir seu destino com base nos ensinamentos das gerações anteriores. Nas sociedades contemporâneas, por sua vez, os jovens costumam ser uma força transformadora que questiona os valores e modos de vida dos antepassados.

Essa perspectiva influenciou muitos pensadores, consolidando a ideia de que, em cada tempo e lugar, grupos e sociedades definem o que é ser jovem e o que esperar da juventude. Por isso, ainda que existam critérios oficiais (como aquele definido pelo Estatuto da Juventude), é possível dizer que não há consenso sobre o que é a juventude. Afinal, mais que uma faixa etária fixa e universal, a juventude está em permanente construção.

Isso fica claro, por exemplo, no livro A criação da juventude, publicado originalmente em 2007, do jornalista inglês Jon Savage (1953-). O autor mostra que nas sociedades ocidentais a ideia de juventude sofreu forte mudança ao longo do século XX, especialmente após a Segunda Guerra Mundial. Esse foi um período de grande crescimento econômico na Europa e nos Estados Unidos, quando os jovens passaram a ter mais oportunidades de trabalho e estudo – e, consequentemente, maior poder de consumo. A juventude começou, então, a ser vista como uma oportunidade de negócio, fazendo surgir revistas, roupas, livros e filmes voltados para o público jovem. Um dos efeitos desse processo foi a construção e a divulgação de uma nova imagem da juventude, ligada à ousadia, à rebeldia e ao questionamento da ordem vigente.

ATIVIDADES

Observe a charge

JUVENTUDE transviada. Direção: Nicholas Ray. EUA: Warner Bros., 1955. Streaming (111 min). Cartaz. Esse filme foi uma das primeiras superproduções cinematográficas com foco no público jovem.

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. E spera-se que o estudante responda sim, pois a charge mostra jovens mobilizados em processos de transformação social, que, segundo o autor, seria a principal característica das juventudes as sociedades contemporâneas.

BENETT. [Juventude na luta]. Blog do Tarso. [S. l.], 31 dez. 2012. Disponível em: https://blogdotarso.com/2012/12/31/charge-juventude-na-luta/. Acesso em: 16 ago. 2024.

1. Considerando as décadas de 1970, 1980 e 1990, é possível dizer que a charge está alinhada com a ideia de Mannheim de que nas sociedades contemporâneas os jovens costumam ser uma força de mudança social? Explique.

2. Qual é a opinião do autor da charge sobre a juventude dos dias de hoje?

2. Espera-se que o estudante entenda que a charge apresenta uma posição crítica sobre a juventude de hoje, representando-a com um jovem politicamente desengajado e limitado a assuntos relevantes somente no mundo virtual (como os zumbis).

3. Você concorda com essa opinião? Justifique sua resposta.

3. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante compartilhe as respostas com a turma de modo a iniciar uma conversa coletiva, refletindo sobre as diferenças entre a geração da qual ele faz parte e as anteriores.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
BENETT

Diferentes adolescências

Entre as diferentes etapas da juventude (que vão da pré-adolescência ao início da vida adulta), a adolescência é a que mais sofre com estereótipos. É comum escutar que adolescentes são instáveis e dramáticos, por exemplo. Em geral, essas características são associadas à puberdade, uma fase de grandes mudanças que levam à transformação do corpo infantil em corpo adulto.

Mas será que essa visão sobre a adolescência é universal? Essa pergunta levou a antropóloga estadunidense Margaret Mead (1901-1978) à Ilha de Ta’u, em Samoa, na Oceania, no início da década de 1920. Durante nove meses, ela acompanhou o dia a dia, os costumes e os ritos da população local, dedicando-se a observar os adolescentes. Suas conclusões causaram grande espanto entre os leitores da época.

Ela observou, por exemplo, que, comparados aos jovens ocidentais, os adolescentes samoanos eram muito mais livres com relação à sexualidade. Diferentemente do que acontecia nos Estados Unidos, lá as relações sexuais entre jovens solteiros eram vistas com naturalidade. A homossexualidade também era aceita sem grandes ressalvas, e o sexo era um tema que fazia parte do cotidiano das famílias, tal como a gravidez, o nascimento e a morte.

Mead percebeu também que os adolescentes samoanos não eram defrontados com as grandes decisões que são parte da vida dos adolescentes ocidentais, como a escolha profissional. Por ser uma sociedade pequena e homogênea, os jovens tinham uma transição mais suave para a vida adulta, ficando menos sujeitos a conflitos e angústias.

Mead concluiu que, ao contrário do que acontecia na maioria dos países do Ocidente, em Samoa a adolescência não era vista como um período de mudanças psicológicas e estresse emocional. Para ela, nas sociedades ocidentais essa visão era fruto das pressões e repressões sofridas pelos adolescentes, e não de uma determinação biológica. Suas descobertas tiveram forte impacto nos Estados Unidos da época e contribuíram para mudanças não apenas dos estudos sobre adolescência mas também sobre gênero e sexualidade.

Adolescente em Calcutá (Índia), 2010. Diferentes culturas têm diferentes padrões e expectativas para a fase da adolescência.

• ENTRE os muros da escola. Direção: Laurent Cantet. França: Canal +, 2008. Streaming (128 min).

O filme retrata o cotidiano de um professor em uma escola na periferia de Paris. Com alunos oriundos de diversas culturas e países, ele enfrenta o desafio de ensinar e, ao mesmo tempo, acolher as diferentes realidades dos estudantes.

Saiba mais

Leia um trecho das reflexões de Margaret Mead sobre a adolescência no texto "A adolescência em Samoa", publicado originalmente em 1928.

[…] observaram o comportamento dos adolescentes em nossa sociedade, registraram os sintomas onipresentes e óbvios de desassossego e anunciaram esses aspectos como característicos do período. Mães eram avisadas de que ‘filhas na adolescência’ apresentam problemas especiais. Esse, diziam os teóricos, é um período difícil. As mudanças físicas que se processam no corpo de seus meninos e meninas têm suas implicações psicológicas específicas. […]

Semelhante concepção […] ganhou ampla aceitação, influenciou nossa política educacional, paralisou nossos esforços parentais. Assim como se deve se preparar para o choro do bebê quando nasce seu primeiro dente, a mãe também tem de se fortalecer e suportar […] as manifestações desagradáveis e turbulentas da ‘idade difícil’. […]

Nesse meio-tempo, porém, outra maneira de estudar o desenvolvimento humano ganhava terreno, a abordagem do antropólogo, do estudioso do homem em todos os seus mais diversos contextos sociais. O antropólogo […] começava a compreender o enorme papel desempenhado na vida de um indivíduo pelo ambiente social em que cada um nasce e é criado. Um a um, aspectos do comportamento que havíamos nos acostumado a considerar complementos invariáveis de nossa humanidade revelaram-se meros resultados da civilização, presentes nos habitantes de um país, ausentes em outro […].

MEAD, Margaret. A adolescência em Samoa. In: BENEDICT, Ruth et al Cultura e personalidade Organização: Celso Castro. Tradução: Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2015. p. 19-20.

Passado um pouco mais de um século desde a pesquisa feita por Mead, hoje sabemos que não precisamos ir muito longe para reconhecer que a adolescência não acontece da mesma forma em todos os lugares, ou mesmo com pessoas diferentes num mesmo lugar. Ser adolescente é uma experiência marcada pela diversidade nas condições sociais (origem de classe, por exemplo), culturais (etnias, identidades religiosas, valores etc.), de gênero e geográficas, podendo variar, inclusive, dentro de um mesmo país.

Margaret Mead ao lado de jovens em Samoa. Ta’u (Samoa), 1926.

PERSPECTIVAS

As redes sociais são um importante espaço de sociabilidade e lazer para parte dos adolescentes. Mas, para alguns jovens indígenas, são também um espaço de militância. Esse é o caso, por exemplo, de Cristian Wariu (1998-), filho de um líder indígena xavante, que reúne dezenas de milhares de seguidores em seus perfis.

ATIVIDADES

O comunicador usa as redes sociais para divulgar material de qualidade sobre os povos indígenas. Ele teve essa ideia ao perceber que, apesar de já existir muita informação sobre o assunto, isso não chegava às pessoas. Leia um trecho da fala de Wariu durante uma entrevista.

Meu conteúdo vem no sentido da desmistificação de preconceitos e de estereótipos enraizados dentro da cultura brasileira relacionados aos povos indígenas. A princípio, já existe muito material sobre o assunto, mas esse conteúdo não é buscado, não chega até as pessoas. A minha função como comunicador é traduzir para essas linguagens mais jovens, do Tiktok, do YouTube, para alcançar certos objetivos. Aí vai da pessoa perceber que realmente ela está equivocada e querer entender mais.

WARIU, Cristian. Cristian Wariu: um guerreiro indígena do século XXI. [Entrevista cedida a] Dandara Fonseca. Revista Trip, [São Paulo], 17 out. 2020. Disponível em: https://revistatrip.uol.com.br/trip/cristianwariu-um-guerreiro-indigena-do-seculo-xxi. Acesso em: 15 ago. 2024.

Cristian Wariu, Brasília (DF), 2020.

1. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante reconheça, entre os perfis que segue em redes sociais, aqueles ligados a algum tipo de ativismo. Caso não siga nenhum perfil com essa característica, poderá ficar atento ao modo como determinadas pautas são tratadas nos perfis que conhece.

1. Você conhece ou já ouviu falar de algum jovem que pratica ativismo em redes sociais? Comente.

2. O ativismo digital vem se mostrando, cada vez mais, como uma ferramenta de luta para jovens que buscam difundir causas, alcançando o maior número possível de pessoas por meio das redes sociais. Com isso em mente, escolha o perfil de um jovem ativista e responda.

a) Qual é a causa defendida?

b) Quais foram as estratégias de comunicação adotadas?

c) Em sua opinião, essas estratégias são eficazes para atrair o público jovem? Por quê?

d) Pense em formas de melhorar a comunicação desse perfil, anotando no caderno sugestões que permitam aproximar o conteúdo do público jovem.

2. Respostas pessoais. Espera-se que o estudante se atente a elementos como: texto, linguagem visual, músicas, temas, entre outros. As sugestões devem estar alinhadas com o que o estudante entende estar de acordo com o gosto do público jovem.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
LORENA CURUAIA

Culturas juvenis

Uma das dimensões mais importantes da vida dos jovens nas sociedades contemporâneas é a sociabilidade com outros jovens. É nesse convívio com amigos e colegas, no lazer, na escola ou no trabalho, que os jovens encontram referências, trocando ideias e buscando formas de se firmarem diante do mundo adulto. Esse fenômeno de agrupamento dos jovens por afinidades e estilos de vida dá origem àquilo que chamamos de “culturas juvenis”. Você já ouviu essa expressão?

O conceito de culturas juvenis refere-se à maneira como os jovens expressam práticas e experiências sociais por meio de diferentes estilos de vida, especialmente no tempo livre. Estas se definem em função de duas variáveis principais: as condições sociais (que envolvem geração, gênero, classe, etnia) e as escolhas culturais (que incluem moda, música, linguagens).

sociabilidade: conjunto de habilidades sociais que fazem que um indivíduo possa se relacionar com outras pessoas. Essas habilidades sociais dizem respeito às competências de uma pessoa ao interagir, de modo saudável e produtivo, com quem está à sua volta (de modo físico ou virtual).

Pense nos lugares pelos quais você circula. Consegue identificar diferentes grupos de jovens com base em vestimentas, gostos e comportamentos? Esses grupos são importantes espaços de amizade e de cumplicidade, podendo envolver também disputas e conflitos. Nesses ambientes, os jovens partilham interesses comuns, dando sentido ao “estar juntos”. Cada uma dessas culturas juvenis pode ocupar diferentes espaços em uma mesma área, recebendo diferentes denominações, como e-girls, grafiteiros, skatistas, forrozeiros, entre muitos outros.

Os otakus, cultura juvenil que reúne os apaixonados pela cultura pop japonesa, estão presentes nas metrópoles de diversos países.

Jovens fazem cosplay em evento de celebração da cultura japonesa. Londres (Inglaterra), 2023.

Todos esses rótulos procuram dar nome e sentido a grupos de jovens que compartilham elementos em comum. Entre esses elementos, a música tem sido, historicamente, um dos traços mais importantes das culturas juvenis. Ritmos como rock, sertanejo, samba, hip-hop, pagode, funk, forró, entre outros, costumam ser elementos relevantes na construção de identidades e estilos juvenis.

• FALA tu. Direção:

Guilherme Cezar Coelho. Brasil: Matizar Filmes, 2003. Streaming (74 min).

O documentário acompanha a vida de três jovens periféricos, no Rio de Janeiro, que têm em comum a paixão pelo rap

Observe o trecho de texto em que o sociólogo brasileiro Juarez Dayrell escreve sobre isso:

O mundo da cultura aparece como um espaço privilegiado de práticas, representações, símbolos e rituais no qual os jovens buscam demarcar uma identidade juvenil. […] Nesse contexto, a música é a atividade que mais os envolve e os mobiliza. Muitos deles deixam de ser simples fruidores e passam também a ser produtores, formando grupos musicais das mais diversas tendências, compondo, apresentando-se em festas e eventos, criando novas formas de mobilizar os recursos culturais da sociedade atual além da lógica estreita do mercado.

DAYRELL, Juarez. O rap e o funk na socialização da juventude. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 28, n. 1, p. 117-136, jan./jun. 2002. p. 119. Disponível em: www.scielo.br/pdf/ep/v28n1/11660.pdf. Acesso em: 15 ago. 2024.

ATIVIDADES

Apesar de essa ser uma característica de grupos de jovens em geral, algumas práticas culturais juvenis são repreendidas pela sociedade e, até mesmo, pelo Estado.

Manifestações culturais com forte predomínio na juventude negra e periférica, como os bailes funk, são comumente vistas como inadequadas por pessoas das classes dominantes, que tendem a associar o ritmo à desordem e ao crime. Em 2017, foi apresentado ao Senado um projeto de lei que propunha a criminalização desse ritmo musical. Apesar de rejeitado pelos senadores, o projeto ressalta aspectos importantes da desigualdade entre os jovens brasileiros, expressos muitas vezes através de preconceitos e outras formas de violência.

1, 2 e 3. Respostas pessoais. Espera-se que o estudante demonstre ter entendido o conceito de culturas juvenis e as formas como elas se expressam.

Dançarino e MC de funk Lipinho da Costa, Rio de Janeiro (RJ), 2019. O funk é, atualmente, um dos gêneros musicais mais populares entre jovens dos grandes centros urbanos.

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. A música é um traço importante de identificação entre você e seus amigos? Comente.

2. Pense nos diferentes grupos de jovens que você identifica na escola, no bairro ou no município onde mora. Em sua opinião, eles podem ser associados a gostos musicais específicos?

3. Além da música, que outro fator você identifica como relevante para a identidade desses grupos? Cite exemplos.

4. Juarez Dayrell afirma que, atualmente, muitos jovens têm deixado de ser apenas consumidores de música para se tornarem também produtores. Qual é, segundo o autor, a relevância desse fenômeno?

4. Espera-se que o estudante compreenda que os jovens inovam nas formas de mobilizar os recursos culturais da sociedade atual, não se atendo apenas à lógica do mercado fonográfico. Isso os auxilia na formação de identidades e na maneira como percebem o mundo.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
Saiba mais
THIAGO DE PAULA/PASSINHO CARIOCA

CONEXÕES com

LÍNGUA PORTUGUESA

O internetês

Você conhece o internetês?

Assim é chamada a linguagem usada nas redes sociais. O internetês surgiu, sobretudo, para atender à demanda por rapidez gerada pelos aplicativos de comunicação instantânea.

Enquanto a norma-padrão da língua portuguesa segue as regras ortográficas e gramaticais estabelecidas, o internetês tende a simplificar, omitir ou adaptar essas regras para se ajustar à comunicação digital rápida e informal. O resultado é uma escrita mais informal, caracterizada por abreviações, omissões de letras ou palavras e uma estrutura gramatical simplificada.

A troca de mensagens pelo celular possibilitou que a linguagem se adaptasse a novos propósitos comunicativos.

Outro aspecto marcante da linguagem da internet é a variedade de ferramentas comunicativas mobilizadas, incluindo recursos formais (letras), fonéticos (sons) e visuais (emojis, gifs, memes e figurinhas).

Apesar de muito difundida entre os mais jovens, essa linguagem pode despertar polêmica entre os mais velhos e entre diferentes gerações. Para alguns, o uso do internetês faz que os jovens cometam mais erros na escrita do português, causando prejuízo na aquisição da linguagem formal. Para outros, mostra a capacidade dos falantes de criarem na própria língua e de se adaptarem às novas tecnologias. Seus defensores afirmam que o internetês é mais uma variedade linguística dentro do idioma e que ele deve ser visto como a gíria de um grupo específico, assim como gírias de grupos de surfistas, skatistas, rappers etc.

ATIVIDADE

• Com base nessas reflexões e na sua experiência pessoal, responda.

a) Você é adepto do internetês? Em que situações costuma usá-lo?

b) Há situações em que você considera que o uso do internetês é inadequado ou ineficiente?

c) Em sua opinião, o uso do internetês atrapalha o aprendizado da norma-padrão pelos jovens? Justifique.

a), b) e c) Respostas pessoais. Espera-se que o estudante compreenda que as linguagens se adaptam ao público e às situações. Para isso, deve partir da experiência pessoal para responder às questões.

população em idade ativa: classificação etária que reúne as pessoas teoricamente aptas a exercer uma atividade econômica.

mais

• ATLAS DAS JUVENTUDES. [S. l., 2021]. Site. Disponível em: https:// atlasdasjuventudes. com.br/. Acesso em: 15 ago. 2024. Página que reúne dados, análises e evidências sobre os jovens brasileiros, abrangendo temas como gênero, violência, mercado de trabalho, mobilidade e acesso à cultura etc.

Ser jovem no Brasil de hoje

Como é ser jovem no Brasil de hoje? Você aprendeu que a experiência de ser jovem pode variar conforme o tempo e o lugar. Num país de profundas desigualdades sociais como o nosso, questões de gênero, raça e classe exercem enorme influência na maneira como essa pergunta pode ser respondida.

Diferentes pesquisas vêm, ao longo das últimas décadas, procurando entender as principais questões dos jovens brasileiros. Afinal, considerando que os jovens de hoje são a população em idade ativa das próximas décadas, conhecer suas realidades e demandas é fundamental para formular políticas públicas que visem melhorar as perspectivas de futuro de todo o país. Além disso, a não inserção de jovens no mercado de trabalho não somente impacta negativamente na vida desses indivíduos como também pode causar problemas na esfera econômica do país. O envelhecimento da população economicamente ativa pode abalar os padrões de consumo da sociedade, desregulando o mercado de certos bens que seriam mais consumidos pelos jovens.

O Censo Demográfico 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), contabilizou cerca de 48 milhões de brasileiros entre 15 e 29 anos, que correspondem a cerca de 22,5% da população do país. Destes, 48,7% se declaram pardos, 39,4% brancos, 10,8% pretos, 0,7% indígenas e 0,3% amarelos. O Norte é a região do país com maior concentração de jovens (com 28% do total). Sul e Sudeste empatam como regiões com menos pessoas nessa faixa etária (com 21% do total cada uma).

Esses dados nos ajudam a ter um panorama da população de jovens do país. No entanto, não nos permitem entrar em contato com as principais questões da juventude brasileira de hoje sem desconsiderar suas muitas diferenças.

Trabalhar, estudar ou nenhum dos dois?

precarizante: situação de instabilidade, insegurança ou más condições.

Um dos principais desafios da juventude brasileira hoje em dia é o acesso ao mercado de trabalho. Uma pesquisa feita em 2023 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revelou que, entre os 37 países analisados, o Brasil ocupa a segunda posição em termos de maior proporção de jovens com idade entre 18 e 24 anos que não estudam nem trabalham, perdendo apenas para a África do Sul.

A dificuldade de os jovens encontrarem trabalho não é novidade. A socióloga brasileira Helena Abramo explica que o mercado de trabalho sempre teve uma relação precarizante com o jovem.

Saiba

Leia um trecho do texto de Abramo.

Ele [o mercado de trabalho] enxerga o jovem como alguém em formação, com pouca experiência, e por isso destina vagas menos qualificadas a eles. Mesmo quando há vagas mais qualificadas, destina uma remuneração mais baixa com a desculpa de que eles ainda não estão bem treinados. Tratam os jovens como uma força de trabalho de segunda categoria.

ABRAMO, Helena. Helena Abramo: “O jovem é considerado trabalhador de segunda categoria pelo mercado”. [Entrevista cedida a] Carol Scorce. [S. l.]: Educação e Território, 24 abr. 2024. Disponível em: https://educacaoeterritorio.org.br/reportagens/helena-abramo-o-jovem-e-considerado -trabalhador-de-segunda-categoria-pelo-mercado/. Acesso em: 15 ago. 2024.

Apesar de ser um fenômeno muito presente em nosso país, a relação dos jovens brasileiros com o mercado de trabalho não atinge a todos da mesma forma. Observe no gráfico os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE sobre a situação de ocupação e estudo da juventude brasileira.

Brasil: situação de ocupação e condição de estudo (em %) – 2023

b) E spera-se que o estudante afirme que são as mulheres (25,6%) e os pretos e pardos (22,4%). Mulheres enfrentam barreiras como cuidados domésticos e maternidade. Jovens negros sofrem com desigualdade econômica, baixa escolaridade e racismo.

Para pessoas de 15 a 29 anos segundo sexo e cor ou raça

Ocupada, que estudava ou se qualificava

Ocupada, que não estudava nem se qualificava Não ocupada, que estudava ou se qualificava Não ocupada, que não estudava nem se qualificava

* Inclusive as pessoas que se declararam indígenas e amarelas.

BELLO, Luiz; BRITTO, Vinícius. Uma em cada quatro mulheres de 15 a 29 anos não estudava e nem estava ocupada em 2023. Agência IBGE Notícias, [Rio de Janeiro], 22 mar. 2024. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencianoticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/39531-uma-em-cada-quatro-mulheres-de-15-a-29-anos-nao-estudava-e-nemestava-ocupada-em-2023. Acesso em: 15 ago. 2024.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Após observar o gráfico com atenção, responda.

a) Considerando os dados totais, em que situação se encontra a maior parte dos jovens brasileiros?

b) Quais são os segmentos com maior concentração entre os jovens que não estudam nem trabalham? O que pode explicar esses dados?

a) Espera-se que o estudante analise o gráfico e responda que a maioria se encontra ocupada, que não estudava nem se qualificava (39,4%).

c) Considerando os segmentos apontados na resposta anterior, pense em políticas públicas que poderiam minimizar essa situação e possibilitar maior acesso ao estudo e ao mercado de trabalho.

b) e c) Resposta pessoal. Espera-se que o estudante proponha, no caso das mulheres, creches em tempo integral e políticas de saúde voltadas aos cuidados com idosos poderiam ter impacto positivo. Com relação aos jovens negros, a adoção de políticas de cotas raciais vem mostrando resultados expressivos.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
SONIA VAZ

Os impactos da violência

A pesquisa Juventudes no Brasil, feita em 2021 pelo Observatório da Juventude na Ibero-América (OJI), revelou um dado alarmante. Diante da pergunta “Quais temas afetam você de forma mais pessoal?”, 40% dos jovens brasileiros entrevistados responderam que é a violência. Em segundo lugar veio a corrupção, com 26% das respostas.

Sabemos que o Brasil é um país onde a violência se faz presente de muitas formas, afetando as pessoas de maneira desigual conforme classe, gênero, raça e local de moradia. Além disso, pesquisas vêm mostrando que a idade também é um fator de grande relevância, especialmente se combinado com outras variáveis.

Em 2019, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS/IBGE) revelou que os jovens brasileiros estão mais sujeitos à violência física, psicológica e social do que qualquer outra faixa etária. Na ocasião, mais de um quarto dos jovens de 18 a 29 anos entrevistados (27%) afirmou ter sido vítima de algum tipo de agressão nos 12 meses que antecederam a pesquisa.

Quando considerados outros fatores, vemos que a violência não está igualmente distribuída entre os jovens. No Brasil, as maiores vítimas da violência são, historicamente, jovens negros do sexo masculino. Um levantamento feito pelo Instituto Sou da Paz mostrou que, entre 2012 e 2019, a taxa de jovens negros vítimas de homicídio foi 6,5 vezes maior do que a taxa nacional.

Esse é um problema de raízes históricas profundas, que coloca grandes desafios para o Estado e para a sociedade civil. O enfrentamento da violência contra a juventude negra deve ser tomado como um desafio de todos, que passa por políticas de inclusão e combate à desigualdade.

Os dados alarmantes da violência contra jovens negros vêm gerando a mobilização da sociedade civil.

Cartaz contra o extermínio da juventude negra durante manifestação no Memorial Quilombo dos Palmares na Semana da Consciência Negra. União dos Palmares (AL), 2022.

Apesar dos desafios que envolvem ser jovem no Brasil de hoje, a juventude brasileira está otimista. De acordo com uma pesquisa divulgada em 2023 pelo Atlas da Juventude, a média de “felicidade futura” dos jovens brasileiros é de 9,3 – o maior índice entre todos os países pesquisados. Esse é um indício de que, em meio aos muitos problemas que afetam suas vidas de forma individual e coletiva, as juventudes do país também querem ser ouvidas na busca de soluções para a construção de um país melhor.

Jovens em conflito com a lei

Você conhece a expressão “menor infrator”? Ela se refere a jovens que estão abaixo da idade penal e que praticaram algum ato classificado como crime.

A responsabilidade penal dos maiores de 12 anos e menores de 18 anos é regulada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Esse estatuto prevê a aplicação de medidas socioeducativas, como advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade e liberdade assistida (que tem o acompanhamento de um profissional, em terapia ou em curso profissionalizante). Segundo a pesquisa Trajetórias de vida e escolar de jovens em situação de risco e vulnerabilidade social acusados de cometimento de ato infracional, desenvolvida pelo professor Elionaldo Fernandes Julião, da Universidade Federal Fluminense (UFF), em 2023, o Brasil tem mais de 143 mil adolescentes nessa situação. Ao traçar um perfil desses jovens, a pesquisa revelou que 97% deles são homens; 76% são negros; 34% possuem renda familiar de um a três salários mínimos; e 70% deles estão na faixa etária entre 15 e 17 anos. Esses números estão relacionados diretamente a um tema polêmico no país: a redução da maioridade penal.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Prepare-se para debater o tema da maioridade penal. O professor vai dividir a turma em três grupos e designar qual posição cada grupo deve defender: a favor, contra e júri.

a) Façam uma pesquisa sobre o assunto, buscando textos, vídeos e podcasts com argumentos sobre o tema.

b) Organizem os argumentos.

c) Escolham os oradores do grupo.

• JUÍZO. Direção: Maria Augusta Ramos. Brasil: Filmes do Estação, 2008. Streaming (90 min). Esse documentário brasileiro mostra a forma como o sistema judiciário lida com jovens em conflito com a lei.

Não se esqueçam de indicar as fontes utilizadas.

d) No dia do debate, cada grupo terá um tempo determinado para expor seus argumentos, seguido de uma sessão de perguntas e respostas.

e) Ao final, reúnam-se para fazer uma reflexão conjunta sobre o tema, comentando os pontos discutidos e o desempenho da turma.

Produção coletiva.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
Dica
Saiba mais

INVESTIG AÇÃO

Consulte orientações no Manual do Professor.

Construção e uso de amostragem e questionário sobre lazer

O lazer é uma prática fundamental para todas as pessoas – em especial, para a juventude. É durante as horas livres que os jovens socializam, formam grupos por afinidade, constroem e praticam as culturas juvenis, constituindo, através delas, suas identidades.

De acordo com o artigo 71 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA):

A criança e o adolescente têm direito a informação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.

BRASIL. Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2024]. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 20 ago. 2024.

No entanto, em países como o Brasil, marcado por contrastes e desigualdades, as opções de lazer não estão acessíveis para todos. Por esse motivo, para muitos jovens brasileiros, a prática do lazer ainda é um direito a ser conquistado.

Reflita sobre o assunto com base na realidade do bairro ou da comunidade em que você vive. Quais são as opções de lazer existentes para os jovens? Caso elas existam, são acessíveis para todos? Elas atendem às necessidades e aos gostos dos jovens locais? O que poderia ser melhorado?

OBJETIVO

Pista de skate no Parque Marinha do Brasil, Porto Alegre (RS), 2022.

Em grupos, usem essas indagações como ponto de partida para realizar uma pesquisa por meio da construção e do uso de amostragem e questionários. O objetivo é conhecer a opinião dos jovens do bairro ou da comunidade sobre as opções de lazer na região, mapeando opiniões, percepções, demandas e sugestões de melhoria.

2

1

PREPARAÇÃO

1. Construam a amostragem da pesquisa. Para isso, definam o perfil dos participantes: faixa etária, gênero, cor, faixa de renda familiar, local de moradia, entre outras variáveis que julguem pertinentes. Por fim, delimitem quantas pessoas irão entrevistar, mantendo o equilíbrio entre os critérios definidos (por exemplo, quantidades equivalentes de pessoas do sexo masculino e do sexo feminino).

ELABORAÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS

2. O questionário deve ser dividido em três blocos:

a) informações básicas sobre o entrevistado (idade, autodefinição racial, renda, sexo, local de moradia);

b) c erca de dez questões nas modalidades múltipla escolha e/ou pergunta fechada (com respostas “sim ou não”);

c) uma ou duas perguntas abertas.

3

A amostragem é um procedimento que consiste na escolha de indivíduos de uma população, de modo que seja possível fazer análises e chegar a conclusões sobre a população inteira. Como não será possível conversar com todos os jovens do bairro ou da comunidade, a amostragem possibilitará uma visão representativa do todo.

APLICAÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS

3. Dividam-se em duplas ou trios, de modo a agilizar a fase de coleta.

4. Combinem previamente data e local para a aplicação do questionário, atentando para o perfil delimitado pela amostragem.

ANÁLISE DOS RESULTADOS

5. Com os dados em mãos:

a) analisem as respostas de cada uma das perguntas fechadas e de múltipla escolha, anotando e quantificando as ocorrências; b) analisem as respostas dadas às perguntas abertas, anotando e comparando seu conteúdo.

6. Com os dados encontrados na etapa anterior e de acordo com as orientações do professor, façam gráficos que permitam visualizar os resultados.

7. Por fim, elaborem um diagnóstico: quais são as principais percepções dos jovens do bairro sobre as opções de lazer? Quais são as principais queixas? Há sugestões de melhorias? Quais?

DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS

8. Organizem os resultados em cartazes a serem distribuídos pela escola. Apresentem os dados de forma clara, facilitando o acesso do público à informação. É por meio de pesquisas como essas que agentes dos governos e da sociedade civil passam a conhecer as demandas da população, fundamentando ações para atender a elas.

ETAPA

RECAPITULE

1. a) Espera-se que o estudante entenda que o autor faz essa afirmação a partir de uma perspectiva sociológica sobre o assunto, sem tomar a juventude e a velhice como fatos naturais, biológicos, e sim como uma construção social, que varia conforme os valores e as regras de cada sociedade.

Neste capítulo, você aprendeu que não é possível compreender a juventude com base em uma única perspectiva. Ela varia conforme o tempo, o lugar e as culturas em que os jovens estão inseridos. Você estudou também que, nas sociedades ocidentais contemporâneas, os jovens costumam ser vistos como vetores de transformação social, sendo comumente associados à ideia de rebeldia, especialmente após a Segunda Guerra Mundial. Outro aspecto importante dos estudos sobre os jovens é que eles tendem a construir suas identidades através da socialização com pares, constituindo-se, assim, as chamadas culturas juvenis. Elas podem variar de um país para outro, conforme as características culturais, mas também dentro de um mesmo país, um município ou mesmo uma escola. Afinal, as culturas juvenis se formam por meio do compartilhamento de valores e gostos – por um estilo musical, por uma forma de se vestir, pelo apreço a uma ideologia, entre muitas outras possibilidades.

Por fim, você pôde conhecer algumas características importantes da juventude brasileira, entrando em contato com dois grandes desafios: a entrada no mercado de trabalho e a possibilidade de convívio com diferentes formas de violência. Esses desafios não estão igualmente distribuídos pela nossa sociedade, recaindo com mais força sobre determinados recortes de gênero, raça e classe. Isso mostra que, ainda que muito diversas, as juventudes brasileiras enfrentam problemas comuns. Por isso, é fundamental pensarmos, como sociedade, em ações que permitam que os diferentes jovens do país possam construir seu futuro com segurança e dignidade.

ATIVIDADES FINAIS Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Leia o trecho com atenção e responda às questões.

Quando digo jovens/velhos, tomo a relação na sua forma mais vazia. É-se sempre velho ou jovem para alguém. É por isso que os cortes em classes de idade, ou em gerações, são tão variáveis […]. Por exemplo, Nancy Munn, uma etnóloga, mostra que em certas sociedades da Austrália, a magia rejuvenescedora usada pelas mulheres velhas para recuperarem a juventude é considerada inteiramente diabólica, porque subverte os limites entre as idades e faz com que já não se saiba quem é jovem e quem é velho. O que quero lembrar é muito simplesmente que a juventude e a velhice não são dadas mas construídas socialmente, na luta entre os jovens e os velhos. As relações entre a idade social e a idade biológica são muito complexas.

BOURDIEU, Pierre. Questões de sociologia. Tradução: Miguel Serras Pereira. Lisboa: Fim de Século, 2003. p. 152.

a) Qual é a perspectiva do autor ao afirmar que a juventude e a velhice “não são dadas mas construídas socialmente”?

b) Como você entende a afirmação feita pelo autor de que “é-se sempre velho ou jovem para alguém”?

b) E spera-se que o estudante compreenda que a afirmação faz referência à perspectiva relacional, que defende que a juventude e a velhice não são universais nem absolutas, e sim categorias que só existem uma em relação à outra.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

2. Observe a charge e responda às questões.

2. a) Espera-se que o estudante reconheça que a imagem apresenta uma situação de desencontro geracional, em que mãe e filha têm expectativas e práticas distintas em relação a uma mesma atividade; no caso, a participação na igreja.

a) Que tipo de situação a imagem apresenta?

2. b) Espera-se que o estudante reflita sobre como as diferentes gerações são marcadas pelo compartilhamento de experiências comuns, que conferem a elas um repertório de perspectivas, valores e práticas. Compreender as mudanças geracionais nos ajuda a refletir sobre o modo como grandes processos de mudança social impactam a vida dos indivíduos e mudam padrões de comportamento.

FLAMIR. [Presos na rede]. Blog do Flamir. [S. l.], 29 jan. 2011. Disponível em: https://flamir.blogspot. com/2011/01/. Acesso em: 16 ago. 2024.

b) Como esse tipo de situação pode nos ajudar a compreender os processos de transformação social?

3. (UECE – 2022) No Brasil, para as legislações vigentes, o adolescente é definido pela faixa etária entre 12 a 17 anos. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS) uma pessoa jovem é o indivíduo que se encontra em outro parâmetro etário: de 15 a 29 anos de idade. De modo geral, a juventude tem como parâmetro oficial questões que apontam para uma determinada fase de maturação biológica dos seres humanos. Mas, para as ciências sociais como a Sociologia, o significado de “ser jovem” está ligado principalmente a questões socioculturais e se modifica de acordo com outros condicionamentos sociológicos como o de classe social, gênero e raça, por exemplo. Assim, para além de um fato biológico da maturação corporal, “ser jovem”, em síntese, para as ciências sociais, não significa seguir determinados padrões de conduta nas sociedades contemporâneas, mas é algo marcado por diversas variáveis.

No que diz respeito à definição de juventude na perspectiva sociológica, assinale a afirmação verdadeira.

a) A juventude é uma simbolização sobre um estágio natural de desenvolvimento orgânico e, a partir daí, pode ser definida por aspectos culturais e sociais.

b) A juventude é uma fase da vida em que a transgressão e a rebeldia aos padrões conservadores e tradicionais identificam todos que se consideram jovens.

c) A adolescência e o “ser jovem” estão ligados a grupos geracionais mais novos e que se contrapõem às gerações mais velhas em todas as sociedades.

d) O fato de “ser jovem” está fundado em uma fase em que pesam as obrigações da vida adulta diante da moderação de uma vida com diversão e prazeres.

FLAMIR AMBRÓSIO

4. (UFU-MG – 2019)

Para Pais (1990, p. 164), “a cultura pode ser entendida como um conjunto de significados compartilhados; um conjunto de símbolos específicos que simbolizam a pertença a um determinado grupo; uma linguagem com seus específicos usos, particulares rituais e eventos, através dos quais a vida adquire um sentido. Esses ‘significados compartilhados’ fazem parte de um conhecimento comum, ordinário, quotidiano.”

PAIS, José Machado. A construção sociológica da juventude-alguns atributos. Revista Análise social: Lisboa, vol. XXV, 1990. p. 164.

Considerando-se o excerto acima, é correto afirmar que

a) a juventude pode ser estudada como uma categoria social na qual é possível estabelecer similaridades e diferenças sociais.

b) a cultura juvenil, para as Ciências Sociais, estabelece padrões individuais e próprios em todos os grupamentos humanos.

c) a juventude não pode ser estudada como uma categoria social, porque os jovens não estão no mercado de trabalho, e trabalho é a categoria fundamental para as Ciências Sociais.

d) a juventude é um problema social que deve ser enfrentado pelo Estado e pela Economia, mas está distante de se tornar um problema sociológico, pois carece de teorias próprias.

5. (UFPR – 2020) Considere o seguinte excerto do texto intitulado Adolescência em Samoa, da antropóloga Margaret Mead:

Nas partes mais remotas do mundo, sob condições históricas muito diferentes daquelas que fizeram Grécia e Roma florescer e declinar, grupos de seres humanos desenvolveram padrões de vida tão diferentes dos nossos que não podemos arriscar a conjectura de que iriam chegar algum dia às nossas próprias soluções. Cada povo primitivo escolheu um conjunto de valores humanos e moldou para si mesmo uma arte, uma organização social, uma religião, que são sua contribuição singular para a história do espírito humano. Samoa é apenas um desses padrões diversos e graciosos, mas, assim como viajante que um dia se afastou de casa é mais sábio que o homem que nunca foi além da soleira da própria porta, o conhecimento de outra cultura deveria aguçar nossa capacidade de esquadrinhar com mais sobriedade, de apreciar mais amorosamente, a nossa própria cultura.

(MEAD, Margaret. Adolescência em Samoa. In: CASTRO, Celso (org.). Cultura e personalidade: Ruth Benedict, Margaret Mead e Edward Sapir. Rio de Janeiro: Zahar, 2015, p. 28.)

A partir dessa consideração feita pela autora, é correto afirmar:

a) A antropologia demonstra que as práticas culturais da ilha de Samoa, situada no Pacífico Sul, foram imprescindíveis na composição dos valores e da visão de mundo que orientou a formação das sociedades grega e romana.

b) Uma cultura não ocidental será de extrema importância para os estudos antropológicos, pelo fato de o isolamento geográfico permitir ao antropólogo o despojamento de seus referenciais e, por conseguinte, produzir uma ciência neutra, sem viés ideológico.

c) O estudo de nossa própria cultura está estreitamente vinculado aos padrões de sociabilidade das comunidades nativas aborígenes, daí a importância dos habitantes da ilha de Samoa para os estudos antropológicos no Ocidente.

d) Samoa constituiu um padrão importante de dinâmica social, e considerá-lo nas análises antropológicas é constatar que a etnografia precisa ser aprimorada, a fim de que a história das sociedades primitivas não seja relegada ao esquecimento com o avanço da civilização.

e) Observar as práticas culturais e todo o sistema de valores de uma sociedade que estruturalmente diferencia-se dos padrões referenciais de quem observa permite não só compreender as dinâmicas sociais dos grupos observados como também refletir sobre as categorias de análise que possibilitam a mesma observação.

6. (UEL-PR – 2018) Os dados apresentados pelo Mapa da Violência de 2016, publicado pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (FLACSO), reiteram o padrão segundo o qual a juventude brasileira encontra-se em maior vulnerabilidade frente às situações de violência, especialmente no que se refere às mortes provocadas por armas de fogo. De acordo com os especialistas responsáveis por este estudo, tal situação exige políticas de juventude e políticas para a juventude. Sobre juventudes, vulnerabilidade juvenil e políticas públicas para a redução da violência, considere as afirmativas a seguir.

I. A condição juvenil é socialmente construída e atravessada por condições sociais como classe, raça, escolaridade, local de moradia, religião e gênero.

II. O trabalho é uma dimensão constitutiva da condição juvenil e é vivenciado positivamente por muitos jovens, pois permite o acesso ao entretenimento, ao consumo e aos namoros.

III. O acesso dos jovens à educação formal e ao mercado de trabalho são questões resolvidas pelas políticas públicas, eliminando a chamada geração “nem-nem”.

IV. O combate às desigualdades de renda, em primeiro plano, e às desigualdades de gênero, em segundo, são as condições imediatas para a efetiva redução da violência entre jovens negros, via políticas públicas.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.

b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.

e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

7. (UECE - 2020) A Sociologia conceitua “juventude” como uma “categoria social” que não possui definições fixas ou referenciais estáveis, pois qualquer definição está estreitamente ligada por condições psicológicas, históricas e socioculturais tais como condição de classe social, condição de gênero, orientação sexual, pertencimento a grupos étnicos, entre outras condicionalidades a que os jovens possam estar atrelados. Contudo, nenhuma de tais condições, de modo isolado, é o bastante para definir este conceito satisfatoriamente. Para complementar, a Sociologia compreende que a juventude é uma concepção fabricada pelos próprios indivíduos, tidos como jovens, para significar uma série de comportamentos e atitudes a ela atribuídos (GROPPO, 2000).

GROPPO, L. A. Juventude: ensaios sobre sociologia e história das juventudes modernas. Rio de Janeiro: DIFEL, 2000. No que concerne ao conceito de “juventude”, assinale a opção que corresponde a uma proposição sociologicamente correta.

a) A Sociologia, de modo geral, toma o conceito de juventude como um dado biológico, ou seja, como algo natural a todos os seres humanos.

b) A definição de juventude está fundada unicamente na condição de classe social a que um indivíduo dessa faixa etária pertence e no seu grupo étnico.

c) A juventude é determinada pelo período de vida entre a infância e a vida adulta, e passa por transformações dinâmicas da fisiologia do organismo.

d) As concepções sociológicas sobre a categoria juventude podem ser concedidas pelos próprios grupos sociais chamados genericamente de jovens.

Uma ciência do social: clássicos e modernos 7

OBJETIVOS DO CAPÍTULO: Você sabe o que faz um antropólogo? Os primeiros antropólogos recebiam relatos de viajantes, missionários e administradores. Então, sentavam-se em seu gabinete e tentavam interpretar esses materiais para produzir uma compreensão da cultura daquele povo. Com o tempo, os antropólogos passaram a estudar essas culturas presencialmente, convivendo, trabalhando e/ou morando com determinado grupo ou comunidade. Para isso, desenvolveram um método chamado etnografia, um trabalho de campo que envolve observação e/ou entrevista para o entendimento dos elementos sociais e culturais de um povo.

Identificar quais são os autores clássicos das Ciências Sociais.

C onhecer e diferenciar a Sociologia da Ciência Política e da Antropologia. Comparar diferentes perspectivas dos autores clássicos e modernos.

C ompreender os objetos de estudos das Ciências Sociais.

Conhecer, apropriar-se e exercitar a prática de pesquisa “revisão bibliográfica”.

a) Espera-se que o estudante cite, entre outros elementos, o homem branco, sentado numa rede, fazendo anotações; os objetos ao seu redor; e, fora dessa imagem, um homem indígena sentado num tronco observando o homem que escreve.

BANIWA, Denilson. O antropólogo moderno já nasceu antigo. 2019. Nanquim e recortes colados sobre impressão digital, 17,5 cm x 21,1 cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Consulte orientações no Manual do Professor.

ATIVIDADE

• Agora, observe a imagem e responda ao que se pede.

a) Quais são os principais elementos retratados?

b) E spera-se que o estudante perceba a crítica que Baniwa faz ao representar o homem indígena no papel de antropólogo, questionando a prática de estudar culturas com distanciamento e/ou superioridade.

b) Em sua opinião, qual relação é possível estabelecer entre o antropólogo de gabinete e o homem indígena que o observa?

c) O que o autor quis dizer com o título O antropólogo moderno já nasceu antigo?

c) Resposta pessoal. Espera-se que o estudante comente se tratar de uma crítica à prática da antropologia, que pode ficar presa a métodos e posturas antigas.

REPRODUÇÃO/PINACOTECA DO ESTADO DE SÃO PAULO, SP
NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Um breve contexto da elaboração de uma ciência

social

O pensamento historiográfico tradicional elaborou uma linha do tempo ou cronologia da história do Ocidente. Por meio da representação de uma linha do tempo, privilegiaram-se os marcos da civilização europeia, e quatro períodos históricos foram determinados como marcos da sociedade ocidental: Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. Nessa concepção de mundo, foi considerado o marco inicial da história ocidental a invenção da escrita sistematizada – elaborada pelos sumérios, na Mesopotâmia, entre 3500 a.C. e 3000 a.C. –, isto é, a escrita cuneiforme. Mas será que algumas histórias não deixaram de ser contadas em detrimento de outras?

Observe esta representação.

Idade Antiga

Invenção da escrita sistematizada

Desagregação do Império Romano do Ocidente

de Constantinopla

Exemplo de linha do tempo tradicional da história do Ocidente.

Francesa

O estabelecimento dos períodos históricos da sociedade ocidental não incluiu como critério a história de povos não europeus. Critérios como o grafocentrismo e o etnocentrismo trouxeram para a história do Ocidente uma perspectiva parcial para o entendimento do mundo, desconsiderando os diferentes aspectos epistemológicos e cosmológicos que o compõem.

Idade Moderna e modernidade

As Ciências Sociais surgiram no contexto da Idade Moderna, através das transformações social, política, econômica e cultural da civilização europeia. Na Sociologia, a divisão cronológica tradicional entre a Idade Moderna e a Idade Contemporânea, utilizada para explicar as mudanças sociais, é abordada de modo distinto. Sociólogos como o alemão Max Weber (1864-1920) e o polaco-britânico Zygmunt Bauman (1925-2017) formularam compreensões diferentes para explicar esse momento histórico.

grafocentrismo: conceito antropológico e linguístico que significa que uma língua e/ou cultura tem como característica central a escrita em detrimento da oralidade e/ou outras linguagens.

Tomada
Revolução
Idade Média Idade Moderna Idade Contemporânea
IMAGENS FORA DE PROPORÇÃO

Nas obras Economia e Sociedade, publicada pela primeira vez em 1921, e A ética protestante e o espírito do capitalismo, cuja publicação original é de 1904, Weber desenvolveu o conceito de capitalismo moderno, de racionalismo moderno e de liberdade moderna. Para ele, a época moderna se caracteriza pela racionalização do mundo; pelo surgimento de uma ética que separa religião e Estado; pela especialização técnica da economia, da administração, do direito e da educação; pela organização política do Estado; e pelos avanços dos meios racionais de controle do ser humano sobre a natureza.

Nas obras Modernidade líquida , publicada originalmente em 1999, e Modernidade e ambivalência, cuja publicação é de 1991, Bauman caracteriza a modernidade sólida por uma racionalidade que busca controlar o mundo na tentativa de “torná-lo melhor”. Em Vida líquida, de 2005, o autor afirma que, em uma sociedade líquida moderna, as condições em que agem os indivíduos mudam tão rápido que as formas de agir não se consolidam mais em hábitos e rotinas.

Você já se perguntou o que realmente significa o termo “moderno” nessas expressões?

Muitas vezes, utilizamos esse termo como referência àquilo que é atual, pertencente à nossa época, ou seja, ao contemporâneo. E o termo “modernidade”? Será que a modernidade é o nosso tempo presente?

O surgimento da sociedade moderna (ou modernidade), a partir do século XV na Europa, se deu com base nas seguintes esferas.

Política: momento em que surge um sentimento de nação e os países se situam com fronteiras demarcadas, autonomia política e Forças Armadas (com algumas exceções). Por meio da política, o poder se organiza no conjunto de instituições com funções exclusivas e legítimas do uso da força, por meio do Estado (dividido em três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário), de suas autarquias e das Forças Armadas.

Econômica: vincula-se ao modo de produção capitalista, em que as relações são baseadas no capital e tudo que é produzido se transforma em mercadoria.

Social: indivíduos organizados socialmente em classes sociais. As classes sociais possibilitam acessar a riqueza produzida pela sociedade e participar dela. Por ser a posse de capital que permite o acesso aos bens materiais e simbólicos, existe a possibilidade de mobilidade social.

autarquia: entidade pública com autonomia administrativa e financeira, criada por lei para desempenhar funções específicas de interesse público, mas vinculada ao governo.

Pública: na modernidade, há espaços públicos que a todos pertencem, como ruas, praças, escolas, hospitais etc. No entanto, nem tudo que é público é gratuito e aberto a todos; por exemplo, para construir uma rua ou realizar sua manutenção são necessários recursos advindos dos impostos pagos pelos cidadãos. O exemplo de restrição de acesso são os estabelecimentos públicos, em que certos ambientes são de acesso restrito ao servidor público, como, órgãos administrativos da prefeitura.

Outro elemento constitutivo da modernidade é a imprensa. Os veículos de comunicação possuem a função social de informar os cidadãos sobre assuntos de interesse público, já que vivemos numa sociedade de massa. Para isso, utilizam-se diversas mídias: livro, revista, jornal, rádio, TV, blogue, streaming e redes sociais.

Nascimento e crise do indivíduo moderno

Como é o sujeito da modernidade? O sociólogo Max Weber, ao estudar a passagem da sociedade medieval para a sociedade moderna, na obra A ética protestante e o espírito do capitalismo, de 1904, identificou uma mudança na cosmovisão. O sujeito moderno “desencantou do mundo”, ou seja, passou a explicar a realidade por meio de uma crença de que tudo que existe no mundo pode ser compreendido e explicado em detrimento dos mistérios religiosos. Isso não significa que as pessoas deixaram de ter uma religião ou crença, mas quando observam um avião, por exemplo, sabem que ele é uma consequência do conhecimento produzido pela humanidade, e não algo mágico ou sobrenatural; essa é a ideia do mundo desencantado.

Um dos elementos fundamentais da sociedade moderna contemporânea são as instituições sociais, como o Exército, a prisão, a escola, o hospital, entre outras, responsáveis por constituir os indivíduos modernos na tentativa de homogeneizar seus modos de pensar, agir e sentir. No entanto, uma pessoa é constituída por diversas identidades, como estudamos no capítulo 1, como a identidade nacional, a profissional, a religiosa, a cultural, a política etc.

Em um primeiro momento, pode-se acreditar que a modernidade é um caos, mas, para o sociólogo Zygmunt Bauman, na obra Modernidade e ambivalência , de 1991, a existência moderna contém a ordem como alternativa ao caos. As instituições sociais formam indivíduos para o trabalho e para servir à nação. Apesar da divisão histórica e e da compreensão de que a pós-modernidade surge depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Bauman diz que as estruturas da modernidade não se alteraram, essa alternativa de ordem ao caos permanece na formação dos indivíduos.

Para o sociólogo, o período anterior à Segunda Guerra Mundial é denominado modernidade sólida, que possuía como projeto o controle do mundo pela razão na materialidade do Estado-nação e da ciência. No pós-guerra, com a crise do Estado-nação que procurou homogeneizar as pessoas, surge a modernidade líquida. Por exemplo, em uma sociedade do consumo, há a construção de necessidades sociais comuns, como a compra de celulares que interligam as pessoas através de redes. Nesse contexto do consumo, prevalecem valores individualistas, e as relações sociais tornam-se efêmeras, isto é, não duradouras.

Homem observa, por meio de óculos, a realidade virtual aumentada.

• ENTREVISTA exclusiva Zygmunt Bauman. [S. l.]: CPFL Energia: Fronteiras do Pensamento, 2011. 1 vídeo (30 min). Publicado pelo canal Núcleo de Pesquisa em Estudos Culturais. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=1miAVUQh dwM. Acesso em: 4 set. 2024.

No vídeo, Bauman explica os efeitos causados pela modernidade líquida para a condição humana.

Saiba mais

O antropólogo francês Bruno Latour (1947-2022) afirma que a modernidade pode ser compreendida como um projeto de civilização que falhou. Na sua constituição, a grande dicotomia entre natureza-cultura, que estabelece a distinção entre humano e não humano, como vimos no capítulo 4, fez os modernos crerem que são invencíveis, como se a sociedade fosse uma criação exclusiva do ser humano. No entanto, a pandemia de covid-19 demonstrou que um vírus pode alterar completamente as estruturas e o funcionamento da sociedade.

Uma das grandes marcas da modernidade é a produção dos híbridos, um misto de natureza e artificialidade. Para Latour, eles são:

[…] embriões congelados, sistemas especialistas, máquinas digitais, robôs munidos de sensores, milho híbrido, bancos de dados, psicotrópicos liberados de forma controlada, baleias equipadas com radiossondas, sintetizadores de genes, analisadores de audiência etc. […]

LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. Tradução: Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994. (Coleção Trans, p. 53).

O nascimento de uma ciência

social: genealogias de saberes

O que nomeamos no Ensino Médio de “Sociologia” pode ser definido como a ciência que estuda a vida humana, as sociedades humanas, os fenômenos sociais, os grupos e as relações entre si. Na verdade, a Sociologia é parte das Ciências Sociais, como também é a Ciência Política e a Antropologia.

Você vai conhecer brevemente alguns dos pensadores considerados clássicos das Ciências Sociais. Esses autores trouxeram problematizações e propostas para o momento histórico em que viveram, possibilitando a sociólogos que os sucederam interpretá-los para a formulação de novas ideias. Dessa forma, uma obra clássica não é imutável ou inquestionável, mas sim uma fonte teórica que perdurou no tempo pela sua importância histórica e sociológica.

Antes de começarmos a estudar a Ciência Política, vamos pensar um pouco sobre o que é política?

ATIVIDADE Consulte orientações no Manual do Professor.

• Em duplas, leiam o fragmento a seguir e respondam ao que se pede.

[…] a Política passa a ser entendida como um processo através do qual interesses são transformados em objetivos e os objetivos são conduzidos à formulação e tomada de decisões efetivas, decisões que ‘vinguem’. […]

RIBEIRO, João Ubaldo. Política: quem manda, por que manda, como manda. 3. ed. rev. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998. p. 9.

a) Vocês fazem política?

a) Resposta pessoal. Espera-se o estudante identifique em seu cotidiano processos semelhantes ao definido pelo autor.

b) Registrem a reflexão sobre pessoas, lugares ou instituições que atuam da maneira definida por João Ubaldo Ribeiro e depois compartilhem com a turma.

b) Espera-se que os estudantes apresentem exemplos cotidianos da escola e das instituições governamentais.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Ciência Política

A base da Ciência Política como a conhecemos nos dias atuais se deu com o político e filósofo francês Charles-Louis de Secondat, conhecido como Montesquieu (1689-1755), no livro O espírito das leis, publicado originalmente em 1748. Essa obra versa sobre o funcionamento dos regimes políticos, criando uma tipologia dos governos com base na realidade social-histórica de diferentes sociedades, e não mais pela força da vontade divina. Ao estudar os mecanismos que geram a estabilidade e a decadência em uma sociedade, o autor desenvolveu as teorias sobre os regimes de governo como o equilíbrio entre os poderes. Essa política de “freios e contrapesos” pode ser identificada, por exemplo, na Constituição Federal de 1988, em que se determinou que os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário são distintos, harmônicos e independentes entre si.

No século XIX, a teoria política recebeu as contribuições de Alexis de Tocqueville (1805-1859), Max Weber e Karl Marx (1818-1883).

Tocqueville, político e pensador francês, escreveu A democracia na América, publicada pela primeira vez em 1835, uma obra que busca refletir sobre a universalidade da democracia em um contexto histórico de guerras e revoluções na constituição do continente europeu. Além disso, a experiência na formação da sociedade estadunidense, desde a Constituição de 1787 até a formulação de conceitos de democracia e liberdade, também chamou a atenção do autor.

CHRISTY, Howard Chandler. Scene at the Signing of the Constitution of the United States [Cena de assinatura da Constituição dos Estados Unidos]. 1940. Óleo sobre tela, 609,6 cm x 914,4 cm. Capitólio dos Estados Unidos, Washington, D.C. (Estados Unidos).

REPRODUÇÃO/CAPITÓLIO DOS ESTADOS UNIDOS, WASHINGTON, D.C.

• IGUALDADE segundo Tocqueville: Inédita Pamonha #78. [S. l.]: Revista Inspire-C, 2021. 1 vídeo (14 min). Publicado pelo canal Clóvis de Barros. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=41MxaWFdJ88. Acesso em: 4 set. 2024. O jornalista e filósofo brasileiro Clóvis de Barros (1966-) fala sobre a política de hoje e a relação com a teoria de Tocqueville.

Saiba mais

Estado liberal: é aquele que reconhece e garante os direitos fundamentais, como liberdade de pensamento, religião, imprensa, reunião etc.

Estado Moderno: forma de organização política que possui poder centralizado, soberania sobre o território estabelecido e populações regidas por leis e instituições, que busca assegurar a ordem, a segurança e o bem-estar de seus cidadãos.

Segundo o sociólogo francês Raymond Aron (1905-1983), em As etapas do pensamento sociológico, obra originalmente publicada em 1967, Tocqueville utiliza-se da teoria de Montesquieu para descrever as causas e as tradições históricas da formação da democracia estadunidense, levando em conta a influência de aspectos como o meio geográfico e a importância das leis e dos costumes.

Tocqueville elaborou uma espécie de teoria geral sobre o funcionamento da democracia, partindo da seguinte questão: por que a democracia estadunidense era diferente da de outros países? A resposta a essa pergunta, segundo o pensador francês, é que a democracia americana se sustentava sobre os princípios do Estado liberal . Suas pesquisas e reflexões contribuíram para consolidar uma tradição metodológica de análise na Ciência Política.

As contribuições do economista alemão Max Weber encontram-se no livro Economia e sociedade, de 1921. Além de diferenciar os regimes políticos ao longo de períodos históricos, sua reflexão sobre a política objetivou compreender a relação de dominação entre os seres humanos. Para o autor, a política significa a tentativa de participar no poder ou influenciar a sua distribuição, seja entre os Estados-nação, o Estado e grupos ou internamente, no grupo de pessoas.

O poder significa a probabilidade de impor a própria vontade em uma relação social, independentemente da resistência. A dominação é a probabilidade de encontrar obediência à determinada ordem. Weber problematiza por que as pessoas obedecem, e a resposta a essa pergunta se encontra na legitimidade da ordem. Em suas formulações, o autor nomeia três tipos de dominação que as pessoas consideram legítima: tradicional, carismática e racional – que serão estudadas no capítulo 8. A dominação racional é a que se encontra mais presente em nosso dia a dia por meio do Estado Moderno, pois não é comum as pessoas questionarem a legitimidade do Estado.

O filósofo e economista teórico alemão Karl Marx, em parceria com o teórico alemão Friedrich Engels (1820-1895), escreveu O Manifesto do Partido Comunista (ou O Manifesto Comunista), livro publicado pela primeira vez em 1848. Essa obra surgiu no mesmo contexto dos diversos levantes na Europa, conhecidos como Primavera dos Povos. Nela, aparece uma das primeiras incidências do termo “socialismo científico”, tese dos autores sobre a transição para uma sociedade sem classes. Na teoria de Marx, o objetivo de pensar a sociedade era transformá-la.

No livro O 18 de brumário de Luís Bonaparte, cuja primeira publicação é de 1852, Marx analisa o golpe de Luís Napoleão Bonaparte em 1851.

Marx demonstra, primeiro, como ele conhecia muito bem a história e as forças políticas francesas, elemento imprescindível para uma análise política. No decorrer da análise, desenvolve a teoria do materialismo histórico, apresentando como a luta de classes está presente no tensionamento do jogo político e movimenta as forças políticas. Marx observa que o golpe fez surgir um Estado que, sobrepondo-se às classes sociais, visava preservar os valores e a ética liberal-burguesa.

Em O Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels afirmam ser o Estado o comitê executivo da burguesia, isto é, criado e chefiado para atender aos interesses dessa classe dominante.

No primeiro volume de O capital, publicado originalmente em 1867, após estudar as relações de poder, Marx compreende que o conflito de interesses antagônicos entre as classes encontra-se em constante disputa para administrar o Estado. Dessa forma, conclui-se que a administração do Estado está em constante disputa.

ATIVIDADE Consulte orientações no Manual do Professor.

• Em grupos de até quatro pessoas, leiam o texto a seguir e façam o que é proposto.

A cada dois anos, os cidadãos brasileiros se apresentam às urnas para expressar sua cidadania escolhendo quem deve governar e fazer as leis. Por organização política, compreendemos os grupos ou entidades da sociedade civil que buscam influenciar o processo político de uma sociedade ou participar ativamente dele, como partidos políticos, organizações não governamentais (ONGs), associações, sindicatos, universidades etc.

a) Façam um breve mapeamento da comunidade onde vocês vivem com base neste roteiro.

I. Onde estão localizadas as organizações políticas?

II. Quais temas políticos que elas discutem?

III. Quais atividades promovem e em que dia e horário?

IV. Como formular uma melhoria das condições de vida para as pessoas da comunidade?

b) Com base nos dados levantados, produzam cartazes e os distribuam pela escola ou pela comunidade.

Produção pessoal. Espera-se que os estudantes compreendam o papel das organizações políticas de seu entorno.

Equipe usa estratégias para debater ideias. Em grupo, é possível dividir tarefas para a formulação de um cartaz, testando possibilidades na disposição das informações.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Renascimento: movimento filosófico, cultural, econômico e político que surgiu na Europa do século XIV ao fim do século XVI, inspirado nos valores da antiguidade clássica.

cogito ergo sum: frase de autoria do filósofo e matemático francês René Descartes (15961650), que significa “penso, logo existo” ou “penso, portanto sou”. A frase foi citada na obra Meditações metafísicas, publicada originalmente em 1641.

Antropologia

A Antropologia pode ser definida como o campo de conhecimento que se dedica a estudar o ser humano e a sociedade. Uma das primeiras manifestações da Antropologia como ciência social surgiu no século XIX, marcada pela dualidade entre pesquisador/observador, que produzia conhecimento sobre o objeto estudado.

Desde o século XV, com a mundialização das relações comerciais e o contato com a diversidade de povos em expedições colonizadoras, surgiu entre os europeus uma curiosidade sobre o diferente.

Como diz o antropólogo francês François Laplantine (1943-),

A extrema diversidade das sociedades humanas raramente apareceu aos homens como um fato, e sim como uma aberração exigindo uma justificação. […]

LAPLANTINE, François. Aprender antropologia .

Tradução: Marie-Agnès Chauvel. São Paulo: Brasiliense, 2003. p. 27.

Com o Renascimento estabeleceu-se o conceito de “homem” (ser humano) em uma perspectiva de cogito ergo sum, ou seja, ser humano é aquele dotado de razão, excluindo os denominados selvagens. Essa ideia de um ser humano “universal” significou um desejo de conhecer o outro de acordo com a perspectiva e a vivência europeias. Nessa perspectiva, colocou-se em prática o eurocentrismo, no qual a cultura europeia tornou-se modelo ideal, desqualificando-se as demais.

O ser humano ideal deveria ser inspirado nos valores da Antiguidade Clássica, principalmente na filosofia e cultura greco-romanas. Com esse modelo de sujeito, formava-se a estrutura do racionalismo moderno: um sujeito virtuoso, equilibrado ao cultivar tanto o corpo quanto a mente, estabelecido entre as artes e as ciências. Aqueles que se dissociassem desse ideal seriam tratados como "selvagens". Assim, o termo “selvagem”, naquela época, referia-se aos povos originários, não considerados um exemplo de ser humano pensante.

Dessa forma, podemos retomar a imagem de abertura do capítulo e notar que ela critica o trabalho do antropólogo como resultado de um olhar isolado, sem diálogo com o outro. Um saber produzido com base em uma consciência e razão antropocêntrica e etnocêntrica, que pode gerar opressão e exploração de um grupo humano sobre o outro. Em algumas sociedades ocidentais da Antiguidade e do período medieval, estigmatizou-se o outro como “bárbaro”. A partir das sociedades modernas, como primitivo ou selvagem. Na contemporaneidade, como subdesenvolvido.

BIOLOGIA CONEXÕES com

Darwin criou o termo “darwinismo social”?

A Antropologia, no século XIX, não se desenvolveu isoladamente de outras áreas do conhecimento. O filósofo e biólogo francês Herbet Spencer (1820-1903), por exemplo, analisou as Ciências Sociais aos moldes das Ciências da Natureza.

Apesar de Spencer basear-se em teorias do naturalista francês Jean-Baptiste de Lamarck (1744-1829), como o princípio do uso e o desuso de partes do corpo (as usadas com frequência tornam-se mais fortes e desenvolvidas, e as pouco utilizadas se atrofiam), há aspectos de convergência com as teorias de Darwin ao se apoiar na sobrevivência do mais apto e na herança dos caracteres adquiridos.

Se não há menção ao termo “darwinismo social” na obra de Spencer, Os princípios da Biologia, publicada originalmente em 1866, por que se deve fazer essa relação para se referir ao pensamento de Spencer?

O naturalista, geólogo e biólogo inglês Charles Darwin (1809-1882) revolucionou a Biologia em sua época ao estudar, entre 1831 e 1836, a diversidade das espécies na Ilha de Galápagos, no Oceano Pacífico. Ele desenvolveu a teoria da evolução por seleção natural, que propõe que as espécies evoluem ao longo do tempo por meio da sobrevivência e reprodução dos indivíduos mais adaptados ao ambiente. Em sua obra A origem das espécies, publicada pela primeira vez em 1859, Darwin explicou como variações entre os indivíduos podem levar à adaptação e, eventualmente, à formação de novas espécies.

No entanto, o termo “darwinismo” não foi formulado por Darwin. O darwinismo social é a aplicação das leis da teoria da seleção natural a sociedades humanas. Essa teoria justificou a exploração de um ser humano e/ou grupo sobre outros por determiná-los desiguais por natureza, promovendo a desigualdade social como política de Estado. Alguns teóricos sociais, por meio de pesquisas fundadas no racismo e na intolerância, utilizaram-se da ideia da manutenção de privilégios sociais dos mais fortes em relação aos considerados inferiores na época – as populações negras e os povos originários. Essa relação, no século XIX, com a ideia da evolução das espécies, reforçou a política do imperialismo europeu.

ATIVIDADES Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Na sua opinião, o que causa a desigualdade social?

1. E spera-se que o estudante utilize como argumento a naturalização de algumas pessoas terem acesso a oportunidades e outras serem desprovidas dele.

2. Políticas públicas de combate à desigualdade social são eficazes? Justifique.

2. Espera-se que o estudante argumente que sim, pois oferecem oportunidades aos menos favorecidos.

Fotografia de Charles Darwin, entre 1870 e 1880.
ESCREVA NO LIVRO.

Alguns dos métodos antropológicos

No começo do século XX, surgem outras perspectivas na Antropologia. O antropólogo alemão Franz Boas (1858-1942) fundou a escola culturalista, que refletia sobre a diversidade cultural da sociedade humana e a impossibilidade de se pensar as culturas em termos hierárquicos, ou seja, uma crítica direta ao evolucionismo e ao etnocentrismo.

O polonês Bronislaw Malinowski (1884-1942) criou a escola funcionalista, que estudava quais elementos da cultura possibilitavam o funcionamento da sociedade. Com ele, a Antropologia se torna uma “ciência da alteridade”, desenvolvendo um olhar para o “outro”. A escola funcionalista tinha como objetivo estudar as lógicas particulares de cada cultura, afastando-se da perspectiva evolucionista. Com isso, o ser humano passou a ser interpretado com base na articulação do social, do psicológico e do biológico.

Malinowski revoluciona o pensamento antropológico ao escrever a clássica etnografia Argonautas do Pacífico Ocidental, publicada originalmente em 1922, que versa sobre os costumes dos trobriandeses (habitantes das Ilhas Trobriand, costa oriental da Papua Nova Guiné). Em seu trabalho, é possível inferir que outras sociedades humanas com costumes diferentes dos das sociedades europeias não seriam mais consideradas primitivas ou atrasadas e, muito menos, transformadas aos moldes da sociedade europeia.

Bronislaw Malinowski com as populações originárias das Ilhas Trobriand (Papua Nova Guiné) durante uma de suas pesquisas de campo, entre outubro de 1917 e outubro de 1918.

Permanece, no pensamento de Malinowski, a influência das Ciências da Natureza e a estreita relação entre o social e o biológico ao compreender o funcionamento da sociedade como um organismo. No entanto, segundo o antropólogo francês François Laplantine, na obra Aprender antropologia, publicada pela primeira vez em 1993, Malinowski ampliou a compreensão da Antropologia sobre o ser humano ao considerar, em seus estudos, as motivações psicológicas, os comportamentos, os sonhos e os desejos individuais.

No decorrer dos séculos XX e XXI, outras escolas antropológicas surgiram com o objetivo de estudar o ser humano e as relações materiais e simbólicas da vida em sociedade. Segundo o antropólogo francês François Laplantine, em Aprender antropologia, podemos identificar cinco polos teóricos do pensamento antropológico contemporâneo.

• Antropologia simbólica: seu objeto é a linguagem, com suas múltiplas significações, como religiões, mitologias e a percepção imaginária do cosmos.

• Antropologia social: seu objeto está no campo epistemológico oriundo da Economia, como o estudo dos conflitos entre os seres humanos com base nas relações sociais do trabalho.

Antropologia cultural: compreende os modelos biológico, psicológico ou linguístico, frequentemente empíricos, na busca do sentido e dos critérios da continuidade ou descontinuidade, de um lado, entre a natureza e a cultura; de outro, entre as próprias culturas.

Antropologia estrutural e sistêmica: entendida como a utilização de modelos das teorias psicanalítica, matemática, linguística etc. Essa perspectiva analisa a passagem do consciente para o inconsciente, a lógica da cultura que busca analisar as estruturas da sociedade que atravessam o sujeito.

Antropologia dinâmica: situada no horizonte do campo sociológico que procura estudar as relações de poder.

Sociologia

O capitalismo, como modo de produção, necessitou de aproximadamente 300 anos para se instituir como organizador econômico da sociedade, fenômeno que chamamos de acumulação primitiva do capital. Algumas nações se constituíram no século XV, mas a unificação de povos para formar nações e países continuou. No campo político, de forma gradual, os regimes absolutistas são substituídos por repúblicas ou monarquias parlamentaristas. No lugar da igreja como organizador da vida material, surgem o Estado, com seus agentes administradores, e a burocracia, que dita como a lei será aplicada, assim como as tributações.

No século XIX, observa-se que as revoluções Francesa (1789-1799), Puritana (1640-1660), Gloriosa (1688-1689) e Industrial (segunda metade do século XVIII), as independências nas Américas (principalmente no século XIX) e a produção de conhecimento científico são obras dos seres humanos. Portanto, nunca se tornou tão necessário estudar o ser humano e suas produções sociais.

Saiba mais

• HISTÓRIA: História e Antropologia: Lilia Schwarcz: PGM 15. São Paulo: Univesp TV, 2014. 1 vídeo (29 min). Publicado pelo canal Univesp. Disponível em: https://www. youtube.com/ watch?v=r1HVy9XHx w0. Acesso em: 4 set. 2024.

A historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz (1957-) explica as relações entre a História e a Antropologia.

regime absolutista: sistema político baseado na concentração do poder nas mãos do rei. A vontade dos reis era absoluta e foi estabelecida em consonância com o surgimento do Estado nacional moderno.

positivismo: corrente filosófica que propõe o conhecimento científico como conhecimento autêntico, por meio de fatos observáveis e verificáveis.

coesão social: grau de identificação dos indivíduos com o sistema social do qual participam e se sentem obrigados a apoiar, especialmente no que diz respeito a normas, valores, crenças e estruturas.

Uma das primeiras incidências do termo “sociologia” é encontrada na obra do filósofo francês Auguste Comte (1798-1857), considerado o fundador do positivismo. Influenciado pelo método das Ciências da Natureza, Comte nomeia a ciência que estuda a sociedade de “física social”, depois utiliza o termo “sociologia”.

Outro fundador da Sociologia é o sociólogo e antropólogo francês Émile Durkheim (1858-1917), que acreditava, assim como Comte, que a sociedade deveria ser estudada com a mesma objetividade das Ciências da Natureza. Para comprovar sua tese, escreveu As regras do método sociológico, publicada originalmente em 1895, em que explica que o pesquisador deveria tratar o objeto de estudo como uma “coisa”, livre de paixões, preconceitos e julgamentos prévios.

Durkheim, ao escrever A divisão social do trabalho social, cuja primeira publicação é de 1893, inaugura o fazer sociológico; nele, o autor analisa como a divisão social do trabalho na modernidade é a principal fonte de coesão social. Ao questionar como o conjunto de indivíduos forma a sociedade e como se chega ao consenso social, o autor formula os conceitos de solidariedade mecânica e solidariedade orgânica para explicar o funcionamento das sociedades pré-capitalistas e capitalistas. A solidariedade mecânica baseia-se no consenso sobre valores, normas e crenças resultantes de socialização e experiência comuns e faz parte das sociedades pré-capitalistas. A solidariedade orgânica tem como base uma complexa divisão do trabalho e faz parte das sociedades capitalistas. Você vai estudar esse conteúdo com mais detalhes no capítulo 14.

Operários de fábrica puxam fios em carretéis nos Estados Unidos, c1939.

Já em As formas elementares da vida religiosa , cuja primeira publicação é de 1912, Durkheim analisa as religiões das populações originárias da Austrália e conclui que não é apenas por meio das verbalizações que os seres humanos representam a realidade. É necessário investigar e classificar os elementos de organização da vida social e a forma de pensamento humano, afinal, os interesses religiosos são formas simbólicas de interesse social e moral. O contexto histórico da França, repleta de revoluções e instabilidade política e econômica, assim como o pensamento científico, pode ter influenciado Durkheim nessa formulação de uma sociologia de funcionamento das instituições.

Na Alemanha, Max Weber dividia sua vida entre a atividade intelectual e algumas ações políticas. Apesar de nunca ter sido político, compôs a comissão que redigiu a Constituição da República de Weimar (sistema de governo da Alemanha de 1918 a 1933) e a Conferência de Paris (1919).

Entre as diversas contribuições para o método sociológico, destacamos a formulação do conceito de tipo ideal de análise histórico-social. Trata-se de um método em que o pesquisador constrói mentalmente uma referência do fenômeno social para, depois, comparar com o mundo real. Por exemplo: definir a democracia como tipo ideal permite ao pesquisador estabelecer comparação com a democracia real. Obviamente a democracia na sociedade é bem distinta do construto abstrato, mas, ao comparar e contrastar regimes políticos reais, podemos observar, com mais nitidez, as suas diversas características. É intencional a ausência de nitidez entre o tipo ideal e o mundo real, pois o objetivo dos tipos ideais não é descrever ou explicar o mundo, mas estabelecer pontos de comparação através do que é observado.

Nesse processo, não se busca construir tipologias fixas e inflexíveis, muito menos desejáveis, mas um simples recurso técnico que facilita estruturar terminologias específicas. Para Weber, o objeto do conhecimento não determina a análise, como se já fosse fixo, mas se constitui por meio de procedimentos metodológicos do pesquisador. Cabe ao cientista desvendar a realidade social pesquisada. Nas palavras de Weber, a Sociologia é

[…] 'uma ciência voltada para a compreensão interpretativa da ação social e, por essa via, para a explicação causal dela no seu transcurso e nos seus efeitos'. […]

WEBER, [19--] apud COHN, Gabriel (org.). Weber : sociologia. 7. ed. Tradução: Amélia Cohn e Gabriel Cohn. São Paulo: Ática, 2003. (Coleção Grandes cientistas sociais, v. 13, p. 26).

capital: valor em movimento, tudo que gera mais valor; por exemplo: dinheiro, máquinas, fábricas, lojas, terra, ações etc.

Comte, Durkheim e Weber se preocuparam em elaborar uma metodologia científica. Não obstante, outro fundador da Sociologia objetivava escrever para o movimento dos trabalhadores. Karl Marx analisou o modo de produção capitalista e formulou a concepção materialista da história. Diferentemente das análises sociológicas da sua época, Marx dizia que não são as ideias ou os valores as principais fontes de mudanças sociais, mas as relações econômicas. Ao analisar o modo de produção capitalista, o autor conclui a existência de uma classe que acumula capital, enquanto os que vendem a força de trabalho em troca de salário compõem a classe de trabalhadores/proletários.

O conflito entre as classes é iminente, já que os capitalistas (classe dominante) querem lucrar o máximo, e os trabalhadores, por não possuírem controle sobre o processo de trabalho, são explorados. A transição de um modo de produção para outro acontece, às vezes gradualmente, às vezes por revolução, mas sempre como resultado das contradições econômicas. Nas palavras de Marx e Engels:

JORNAL INDUSTRIAL WORKER. Pirâmide do sistema capitalista. 1911. 1 Pôster. Museu Internacional da Propaganda. O folheto estadunidense foi inspirado no desenho russo Pirâmide social (1901), de Nicolas Lokhoff.

[…] A história de toda a sociedade até nossos dias moveu-se em antagonismos de classes, antagonismos que se têm revestido de formas diferentes nas diferentes épocas.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto comunista. 4. ed. Tradução: Álvaro Pina. São Paulo: Boitempo Editorial, 2005. p. 57.

A categoria de classe social, assim como outros conceitos da sua teoria, continua a ser reinterpretada dentro de cada contexto social, auxiliando na análise sociológica da vida contemporânea. Considerados os fundadores teóricos clássicos da Sociologia, Comte, Durkheim, Weber e Marx contribuíram para esse campo de saber social.

Em tradução livre dos termos, na base da pirâmide, trabalhadores afirmam: “trabalhamos por todos” e “alimentamos todos”. Na segunda escala, de baixo para cima, a burguesia indica: “comemos por vocês”. Na terceira, o Exército declara: “atiramos em vocês”. Na quarta, o clero afirma: “enganamos vocês”. Na quinta, a nobreza sustenta: “controlamos vocês”. Ao final, no topo da pirâmide, lemos “capitalismo”.

Harriet Martineau (1802-1876), socióloga britânica, publicou o livro Illustrations of political economy (1832), sobre política e economia, que descreve a influência da crença unitária na reforma social. Em visita aos Estados Unidos, ela escreveu também Society in America (1837), em que problematiza a ideia de democracia estadunidense e as práticas reais da sociedade. Na obra, ela descreve um método sociológico de estudo que enfoca os aspectos políticos, religiosos e sociais, além de propor a inclusão do entendimento da vida das mulheres. Harriet Martineau propôs um entendimento sociológico para questões como casamento, filhos, vida doméstica, religião e relações sociais.

A investigação sociológica levada a cabo por Martineau nos anos 1830 na América compreende seu trabalho mais significativo tanto em termos de pesquisa empírica quanto de análise teórica […].

A sociologia feita por Martineau se baseava em observações empíricas, diferentemente de outros teóricos e pensadores contemporâneos, que buscavam construir suas teorias com base em leis universais e pela articulação de ideias e conceitos abstratos, a exemplo de Comte. […] a pesquisa da moral e dos costumes deveria começar pelo ‘estudo das COISAS’, isto é, as formas objetivadas do social – registros públicos, leis, taxas de natalidade, mortalidade, suicídios, arquitetura, cemitérios, epitáfios, cerimônias e atividades coletivas em geral, canções populares, ritos religiosos, mercado etc. – para só então se passar à coleta e análise dos discursos. […]

[…] Como o campo das ciências sociais ainda estava em vias de desenvolver-se, a autora teve que criar uma metodologia para realizar sua observação e a pesquisa daí derivada.

Luna Ribeiro; DAFLON, Verônica Toste. Harriet Martineau: circulação e influência no debate público na primeira metade do século XIX. Sociologias, Porto Alegre, v. 24, n. 61, p. 86-115, set./dez. 2022. p. 96-97.

CAMPOS,
MARTINEAU, Harriet. Society in America. Cambridge: Cambridge University Press, 2020. Capa.

INVESTIG AÇÃO

Revisão bibliográfica expositiva sobre a ciência do social

A revisão bibliográfica consiste em conhecer as pesquisas e discussões de diversos autores sobre um tema que será abordado em um trabalho, incorporando as contribuições teóricas de outros autores para a sua pesquisa; nesse caso, sobre o entendimento do que é uma ciência social.

Nenhum trabalho acadêmico começa do zero, sempre há alguém que já escreveu sobre o tema. Por isso, utilizamos as citações e as referências bibliográficas de textos, artigos, livros, periódicos e de fontes confiáveis.

No ambiente de pesquisa acadêmica, a revisão bibliográfica pode ser de quatro tipos: expositiva: expõe um tema com base na análise e síntese de diversas pesquisas; questionadora: propõe identificar concepções para o futuro; histórica: documenta o desenvolvimento da pesquisa em uma área; opinativa: evidencia um tema específico e os diversos pontos de vista a fim de alterá-lo.

OBJETIVO

Agora, você e os colegas poderão conhecer a genealogia das Ciências Sociais. Para isso, utilizarão o método de pesquisa revisão bibliográfica na perspectiva expositiva. Para produzir uma reflexão consistente, é importante conhecer as principais abordagens teórico-conceituais que constituem o campo das Ciências Sociais. O objetivo é exercitar a conexão entre os pensamentos de diferentes autores e escrever uma síntese.

PREPARO PARA A ANÁLISE

1. Reúnam-se em grupos de no máximo quatro pessoas.

2. Organizem-se para a leitura com a ajuda do professor.

3. Com base no conceito de ciência do social, cada grupo deve elaborar uma hipótese a ser validada com a revisão bibliográfica.

Lembrem-se de acessar sites confiáveis, como repositórios de universidades, bibliotecas públicas, revistas científicas digitais etc., para suas pesquisas. Essas fontes auxiliam na credibilidade da pesquisa, estabelecendo a transparência dos dados coletados e o desenvolvimento do pensamento científico.

genealogia: abordagem crítica que procura investigar as origens históricas e sociais de conceitos, comparando seus valores e suas práticas ao longo do tempo.

4. Iniciem a pesquisa das fontes para descobrir a genealogia das Ciências Sociais.

PESQUISA DE FONTES

ANÁLISE DAS FONTES

5. Leiam, com atenção, os textos das referências coletadas.

6. Reúnam informações similares, identificando os pontos de divergência entre elas e as abordagens comuns de cada autor. Se considerar que alguns trechos apresentam maior dificuldade na leitura, aproveitem para fazer anotações no caderno, a fim de que, posteriormente, o professor possa auxiliar nessa interpretação.

ANOTAÇÃO DAS INFORMAÇÕES COLETADAS

7. Façam uma síntese com as principais informações e pontos de vista dos autores.

8. Organizem um texto final, articulando com o conteúdo trabalhado e dando uma solução para a hipótese levantada.

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

9. Com a mediação do professor, apresentem para os demais grupos o texto final da revisão bibliográfica elaborada.

AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS

10. Conversem sobre as dificuldades encontradas e a percepção das melhores práticas durante a realização das etapas de pesquisa e análise dos dados.

Adolescentes pesquisam dados e informações na internet durante o estudo.

Lembrem-se de destacar entre aspas os textos citados na íntegra, respeitando a autoria de cada texto. Isso também ajudará em sua organização textual, a fim de que facilmente seja identificada qual parte do texto foi escrita por vocês, e não pelos autores pesquisados.

Se preferirem, organizem as informações coletadas em fichas. Para isso, vocês podem, por exemplo, elaborar painéis, cartazes, apresentações digitais etc. Uma disposição organizada e atraente das informações pode colaborar para um maior rendimento na apresentação dos resultados, bem como para a compreensão da turma.

RECAPITULE

Neste capítulo, Ciência Política, Antropologia e Sociologia foram conceituadas como campo de estudo das Ciências Sociais. Além disso, concluímos que o contexto histórico-social influencia na definição e na abordagem do objeto de estudo. Também constatamos como as Ciências Sociais, assim como outras ciências, não produz conhecimentos fixos, ao contrário, eles são provisórios e buscam sempre avançar. Por isso, nas Ciências Sociais, a Sociologia visa produzir questionamentos sobre as ordens e os ordenamentos estabelecidos na sociedade, problematizar as verdades e promover o estranhamento dos fenômenos sociais estruturados.

1. b) Espera-se que o estudante comente sobre os problemas de se acreditar que certas experiências de um indivíduo ou grupo são mais importantes que outras.

ATIVIDADES FINAIS

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. O pensamento historiográfico tradicional elaborou uma linha do tempo, ou cronologia da história do ocidente. Observe, novamente, a linha do tempo da página 125 e responda ao que se pede.

a) Identifique marcos de etnocentrismo e grafocentrismo nessa representação.

b) Para você, quais os problemas do etnocentrismo e grafocentrismo?

c) Quais críticas podemos fazer a essa representação histórica?

2. (Unioeste-PR – 2024)

1. c) Espera-se que o estudante conclua que o eurocentrismo e o etnocentrismo desconsideram outras visões epistemológicas e cosmológicas de pensar a história.

A tarefa de dotar a sociologia como uma ciência autêntica e reconhecida nos meios acadêmicos será um dos principais objetivos do sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917). Tendo como referência o positivismo de Augusto Comte e a noção de “evolução” da natureza, elaborada por Charles Darwin (1809-1882), todas as análises sociológicas de Durkheim estão destinadas a dotá-la com aquilo que ainda não existia na Sociologia: um método de análise e um objeto de pesquisa.

Fonte: SELL, Carlos Eduardo. Sociologia Clássica: Marx, Durkheim e Weber. Petrópolis: Vozes, 2015.

Sobre as propostas metodológicas de Durkheim, é CORRETO afirmar.

a) Para Durkheim o indivíduo (sujeito) tem precedência sobre a sociedade (objeto).

b) Para Durkheim o funcionamento das estruturas sociais está condicionado aos indivíduos.

c) Para Durkheim o indivíduo é uma realidade “sui generis”: a sociedade passa, mas os homens ficam.

d) Para Durkheim a tarefa da sociologia é explicar como a sociedade condiciona os indivíduos.

e) Para Durkheim, é o indivíduo que age sobre a sociedade, condicionando e padronizando o comportamento social.

3. (Udesc – 2018)

"Os proletários nada têm a perder a não ser suas algemas. Têm um mundo a ganhar. Proletários de todo o mundo, uni-vos.”. Estas frases, escritas por Karl Marx e Frederich Engels, encerram o Manifesto Comunista, publicado em Londres, em 1848.

A respeito das condições de trabalho na Europa, durante o século XIX, é correto afirmar:

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

a) O manifesto escrito por Marx e Engels denunciava as condições de desigualdade social entre, especialmente, a burguesia e o proletariado.

b) O texto escrito por Marx e Engels afirmava que uma verdadeira revolução deveria ser promovida, exclusivamente, pelos dirigentes do Estado.

c) Marx e Engels consideravam que os proletários jamais teriam condições de mudar de situação social, devido à condição de opressão em que viviam.

d) Marx e Engels escreveram o Manifesto Comunista após a observação atenta das iniciativas de organização do estado soviético sob o governo de Stalin.

e) Marx descreveu, no Manifesto Comunista, o detalhamento de seus projetos políticos relativos aos anos em que governou a Rússia, tendo Engels no cargo de vice-chanceler.

4. (Enem – 2009)

Na década de 30 do século XIX, Tocqueville escreveu as seguintes linhas a respeito da moralidade nos EUA: “A opinião pública norte-americana é particularmente dura com a falta de moral, pois esta desvia a atenção frente à busca do bem-estar e prejudica a harmonia doméstica, que é tão essencial ao sucesso dos negócios. Nesse sentido, pode-se dizer que ser casto é uma questão de honra”

TOCQUEVILLE, A. Democracy in America . Chicago: Encyclopædia Britannica, Inc., Great Books 44, 1990 (adaptado).

Do trecho, infere-se que, para Tocqueville, os norte-americanos do seu tempo

a) buscavam o êxito, descurando as virtudes cívicas.

b) tinham na vida moral uma garantia de enriquecimento rápido.

c) valorizavam um conceito de honra dissociado do comportamento ético.

d) relacionavam a conduta moral dos indivíduos com o progresso econômico.

e) acreditavam que o comportamento casto perturbava a harmonia doméstica.

5. (UECE – 2020) Todos que nascem e vivem em alguma cultura possuem visões de mundo a partir da medida de valores, princípios morais e formas de pensar muito particulares ou singulares cultivados na cultura a que pertencem. Por vezes, no encontro de pessoas de culturas diferentes, é possível a ocorrência de incompreensão mútua, julgamentos errôneos, acusações indevidas, dentre outros.

Para as ciências sociais, a visão que pode desembocar em atitudes de incompreensão, negação ou violência entre indivíduos de culturas diferentes é denominada

a) relativismo.

b) sociodiversidade.

c) multiculturalismo.

d) etnocentrismo

6. (UFF-RJ – 2024) Como resultado da racionalização do mundo, o conhecimento científico torna-se a principal referência na análise da realidade.

A respeito da atividade científica, é correto afirmar que:

a) O conhecimento científico pode ser considerado uma extensão e comprovação do conhecimento de base religiosa, porém com mais método.

b) Seu método se caracteriza, de forma integrada, pelo uso da observação metódica, da acumulação de dados, pela comparação entre fenômenos, pela mensuração e pela experimentação, sendo autocorretivo.

c) A ciência busca sempre por verdades absolutas, baseadas em leis, aplicáveis a todos os fenômenos naturais e sociais.

d) A validação do conhecimento científico deriva da sua afirmação perante a sociedade em geral.

CAPÍTULO

Política, democracia e Estado 8

OBJETIVOS DO CAPÍTULO:

Reconhecer a presença da política e do Estado no contexto atual.

Identificar as diversas formas de protagonismo juvenil e de ação política.

C omparar as diferentes concepções dos contratualistas em relação à ideia de estado de natureza e de contato social.

C ategorizar e analisar os diferentes modelos de democracia.

Reconhecer o exercício da democracia em atividades cotidianas.

Desenvolver técnicas argumentativas e reconhecer diferentes pontos de vista em um debate.

Durante a entrega das medalhas dos Jogos Olímpicos de Verão, no México, os atletas fizeram um gesto em referência à saudação emblemática dos Panteras Negras (grupo político que nasceu, inicialmente, para combater a violência policial, sobretudo, contra as pessoas negras), representando a luta antirracista e demonstrando um exemplo de ativismo no esporte.

Os velocistas estadunidenses Tommie Smith (1944-), no centro, e John Carlos (1945-), à direita, receberam, respectivamente, as medalhas de ouro e de bronze nos 200 metros rasos nas Olimpíadas de 1968, no México. Fotografia de 1968.

A palavra “política” vem do grego politeia, cujo sentido se refere ao fato de que a pólis (cidade-estado autônoma da Grécia antiga) estava no centro dos debates sobre a busca do bem comum e a construção do espaço público, da igualdade e da justiça social. No entanto, a política também pode estar relacionada a atos de corrupção, quando são priorizados interesses particulares e manobras políticas que desconsideram a ética. Além disso, a política permeia as decisões que tomamos no cotidiano, desde a roupa que vestimos até a música que ouvimos. Por meio dessas escolhas, fazemos política e construímos o mundo ao nosso redor.

ATIVIDADE

a) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes compartilhem o que é política a partir de conhecimentos prévios e experiências pessoais.

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Em grupo, sob a orientação do professor, respondam às questões.

a) O que vocês entendem por política? Comentem.

b) Pode-se afirmar que o gesto dos atletas apresentado na imagem foi uma atitude política? Expliquem.

b) Espera-se que os estudantes reconheçam que o gesto dos atletas se configura como uma forma de protesto e, desse modo, de fazer política.

c) Vocês fazem política nas atividades que realizam no seu entorno (na escola, no bairro ou no município)? Quais?

c) Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes reflitam sobre suas atitudes políticas, como sua participação, ou não, em entidades estudantis ou da região onde moram.

Política

O termo “política”, na história do pensamento ocidental, pode ser relacionado inicialmente a dois filósofos da Grécia antiga: Platão (427 a.C.-347 a.C.) e Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.).

Platão, nascido em Atenas (Grécia), em sua obra A república, escrita no século IV a.C., descreveu a cidade ideal, que deveria ser administrada por meio dos valores da justiça. Os filósofos-reis, detentores da razão, deveriam conduzir a política dessa cidade, já que a maioria das pessoas seria guiada por sentimentos e paixões.

Já Aristóteles, nascido em Estagira (Grécia) e discípulo de Platão, acreditava que a política era uma parte essencial da vida de todos os seres humanos, que deveriam almejar o bem comum. Na obra Política, também escrita no século IV a.C., ele descreve o ser humano como um animal político. É preciso destacar, no entanto, que, na Grécia antiga, mulheres, pessoas escravizadas e estrangeiros estavam excluídos das decisões políticas.

Campo político

tecido social: termo usado como metáfora para descrever as complexas redes de relações sociais.

Para o sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002), na obra Propos sur le champ politique, publicada originalmente em 1999, o campo político seria um recorte do tecido social, que funciona como um microcosmo, ou seja, um pequeno mundo social. Esse microcosmo teria relativa autonomia em relação ao macrocosmo, o grande mundo social. Com essa autonomia, o campo político apresentaria regras próprias, com lógicas e critérios específicos, consolidando-se como um espaço de disputas para transformar as relações de poder entre grupos.

Na teoria de Bourdieu, o campo político é dividido entre profissionais e profanos. Os profissionais formam uma minoria que participa diretamente das atividades políticas, enquanto os profanos representam a massa de pessoas que, em geral, não encontra legitimidade social para a ação e a prática política. O campo político, porém, nunca se isola completamente, pois suas lutas internas, mesmo entre os profissionais, são afetadas por dinâmicas externas, como aquelas originadas por outros campos, como o da educação, o da religião, o das artes etc.

Outra característica importante do campo político, segundo Bourdieu, é a divisão social. Existem várias formas de dividir a sociedade e buscar apoio, reunindo forças em torno de categorias como ricos e pobres, nativos e estrangeiros, trabalhadores e patrões, entre outras.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

TITO, Santi di. Ritratto di Niccolò Machiavelli [Retrato de Nicolas Maquiavel]. [Entre 1550 e 1600]. Óleo sobre tela, 104 cm  x 85 cm. Palazzo Vecchio, Florença (Itália).

Saiba mais

• O HOMEM que não vendeu sua alma.

Direção: Fred Zinnemann. Reino

Unido: Highland Films, 1966. Streaming (120 min).

O filme retrata a luta de Sir Thomas More para manter sua integridade moral e religiosa frente às pressões do rei.

Maquiavel e o nascimento da filosofia política moderna

No mundo medieval, as normas políticas idealizavam um modelo perfeito de conduta para os governantes, associando a política à esfera do sagrado. No entanto, nos séculos XV e XVI, com base nos escritos do poeta, diplomata e historiador florentino Nicolau Maquiavel (14691527), especialmente no livro O príncipe, publicado originalmente em 1532, a política começou a ser compreendida com base na ação concreta dos homens, e não mais no modelo ideal.

Nascido em Florença (atual território da Itália), Maquiavel preocupou-se com a arte de governar e com as técnicas necessárias à manutenção do poder, sem se basear em um modelo ideal. Ele defendeu uma abordagem pragmática, pela ação dos homens, considerando as estratégias necessárias para alcançar os objetivos que garantissem o Estado como um bem maior, além de sua estabilidade.

Leia um trecho da obra O príncipe

[…] Assim no-lo faz concluir a própria a natureza dos homens. Estes são geralmente ingratos, volúveis, simuladores, covardes ante os perigos, ávidos de lucro. Nos tempos de bonança, e enquanto lhes fazemos o bem, estão todos, como já tive ocasião de dizer, ao nosso lado, oferecem-nos o sangue, os haveres, a vida, os filhos; mas quando a tormenta se aproxima, revoltam-se. Então o príncipe que se apoiou inteiramente nas palavras deles, achando-se desprovido de outro qualquer amparo, rui por terra. Nem pode deixar de ser assim. As amizades que se obtêm com favores e não com magnanimidade e a nobreza de alma são indubitavelmente merecidas, mas de nada valem nos tempos adversos. Os homens, além disso, têm menos receio de ofender alguém que se faça amar do que alguém que se faça temer. É que o amor se mantém por meio de vínculo de dever, e este vínculo os homens o rompem, levados pela sua índole perversa, sempre que de tal lhes resulte proveito. Já o temor é mantido por medo ao castigo, e este medo jamais abandona os indivíduos.

O príncipe deve, todavia, fazer-se temer de modo que, se não conquista o amor, evite o ódio; pois ser temido e não odiado podem muito bem associar-se. MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Tradução: Mário e Celestino da Silva. Brasília, DF: Senado Federal, 2019. (Edições do Senado Federal, v. 248, p. 100-101).

ATIVIDADE Consulte orientações no Manual do Professor.

• Após a leitura do trecho de O princípe, sob a orientação do professor, respondam às questões em duplas ou trios.

a) Espera-se que os estudantes respondam que é melhor ser temido do que amado, mas não odiado.

a) Segundo Maquiavel, para um governante, é melhor ser temido ou amado? Expliquem.

b) De que modo a ideia de Maquiavel contribuiu para o surgimento e o fortalecimento da política como uma atividade própria do ser humano?

b) Espera-se que os estudantes reconheçam que Maquiavel inaugurou o pensamento moderno sobre a política ao afirmar que a política é do domínio dos homens, e não do plano sagrado.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Os contratualistas: o estado de natureza e o contrato social

Os contratualistas são pensadores fundamentais no debate contemporâneo sobre o papel e a importância de instituições que organizam a vida em sociedade, como o Estado, as formas de governo, a sociedade civil e a própria democracia.

Os principais filósofos contratualistas foram o inglês Thomas Hobbes (1588-1679), o inglês John Locke (1632-1704) e o suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Apesar de suas diferentes abordagens, eles compartilhavam pontos em comum. Todos reconheceram a ideia de um estado de natureza , um conceito hipotético que se refere à condição dos seres humanos antes de serem regidos por leis e regras. Além disso, os três filósofos concordaram que foi necessário criar um contrato social, ou um pacto social, para viver em sociedade. Esse contrato é visto como a origem da vida em sociedade, organizada por regras muitas vezes não escritas, mas estabelecidas pela tradição.

No entanto, suas visões divergiam quanto à natureza humana e ao tipo de contrato social, o que fez com que desenvolvessem teorias distintas.

Esses três filósofos escreveram durante o processo de surgimento dos Estados-nações na Europa, entre os séculos XVI e XVIII, que eram governados por monarquias absolutistas ou constitucionais. Nesse contexto de Modernidade, o absolutismo contribuiu para o desenvolvimento do nacionalismo dos Estados, um sentimento que não existia nas sociedades tradicionais, tanto dentro quanto fora da Europa.

O matemático, teórico político e filósofo Thomas Hobbes viveu na Inglaterra durante o absolutismo. Em 1651, publicou o livro Leviatã: ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. Leviatã é o nome de um terrível monstro marinho mencionado na Bíblia, especificamente no "Livro de Jó", descrito como a criatura mais poderosa do planeta Terra. Embora seja um ser mortal, o Leviatã reina sobre todos os animais. Hobbes usou essa figura mitológica como uma metáfora para ilustrar a necessidade de um Estado forte e centralizado. Segundo Hobbes, a necessidade de um Estado forte decorre da percepção de que o ser humano é egoísta por natureza e, em sociedade, tende a ser inimigo de seus semelhantes. Para o filósofo, no estado natural, os indivíduos estão em constante conflito e competição, o que leva à guerra e à destruição. Portanto, seria essencial um Estado que assegurasse a ordem por meio da imposição de leis e da força dos órgãos estatais.

Estado-nação: forma de organização política na qual um território é governado por um Estado, com uma identidade nacional compartilhada por seus cidadãos. absolutismo: forma de governo presente nas monarquias europeias entre os séculos XVI e XVIII, marcada pela concentração do poder na figura do monarca.

REPRODUÇÃO/GALERIA NACIONAL DE RETRATOS, LONDRES, INGLATERRA

WRIGHT, John Michael. Thomas Hobbes [Entre 1669 e 1670]. Óleo sobre tela, 66 cm x 54,6 cm. National Portrait Gallery, Londres (Inglaterra).

REPRODUÇÃO/HERMITAGE

KNELLER, Godfrey. Portrait of John Locke [Retrato de John Locke]. 1697. Óleo sobre tela, 76 cm  x 64 cm. Hermitage Museum, São Petersburgo (Rússia).

Hobbes argumentou que, em um tempo hipotético, os seres humanos teriam vivido em um estado de natureza caracterizado por um ambiente hostil, no qual predominavam conflitos entre indivíduos e a luta egoísta pela sobrevivência. Para tornar viável a vida em sociedade, seria necessário que os seres humanos realizassem um pacto social. Esse pacto consistia na cessão total do poder individual a um único governante ou assembleia, de modo que nenhum desejo particular e egoísta pudesse prevalecer sobre a vontade coletiva. Dessa forma, o Estado garantiria a proteção dos indivíduos em troca da renúncia de seus direitos individuais.

John Locke

O pensador inglês John Locke defendia que o conhecimento deveria ser adquirido por meio de experiências, no âmbito da razão ou da emoção. Ele foi um dos precursores do pensamento liberal burguês e influenciou diretamente a ação revolucionária contra o Estado absolutista. Locke fundamentou o direito de resistência e insurreição dos povos contra governantes tirânicos. Para se estabelecer, o Estado absolutista encontrou diversas formas de resistência de diferentes sujeitos sociais, e as ideias de Locke estavam inseridas nesse contexto.

Locke também valorizava a autonomia do indivíduo, um princípio central do pensamento liberal e da burguesia em ascensão. Embora reconhecesse a necessidade do pacto social, ou seja, do Estado, considerava a liberdade e a igualdade como direitos naturais de todo ser humano. Locke acreditava que os seres humanos são racionais, independentemente do pacto social. Segundo ele, no estado natural somos livres porque nascemos com a capacidade de raciocinar.

Em sua obra Dois tratados sobre o governo civil , publicada pela primeira vez em 1689, Locke reafirmou a necessidade do Estado, mas também reconheceu os direitos naturais do homem, incluindo o direito à propriedade. Esse direito fundamental não se restringe somente à terra ou aos bens materiais, mas inclui, primeiro, o direito à vida, ou seja, o direito de cada ser humano de existir e decidir sobre seu futuro.

• HENRIQUE V. Direção: Kenneth Branagh. Reino Unido: The Samuel Goldwyn Company: Renaissance Films, 1989. Streaming (137 min).

Com base na peça homônima de William Shakespeare (1564-1616), o filme retrata o período da Guerra dos Cem Anos (1337-1453), entre a França e a Inglaterra, em que reinou Henrique V (1387-1422).

MUSEU, SÃO PETERSBURGO, RÚSSIA
Saiba mais

A propriedade da vida realiza-se na relação do homem com a natureza por meio do trabalho, que a transforma para suprir suas necessidades. A ideia de liberdade individual e valorização pessoal conquistada por meio do trabalho, principalmente em regiões nas quais a Reforma Protestante prosseguiu, como na Inglaterra, caracteriza a visão burguesa de sociedade.

Jean-Jacques Rousseau

Jean-Jacques Rousseau relacionou o ser humano à sua proximidade com a natureza. Para ele, quanto mais distante da natureza, maior a chance de o ser humano ser corrompido. Em sua obra Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens, publicada pela primeira vez em 1755, defendeu que o ser humano, em seu estado natural, vive em harmonia e é naturalmente bom, mas a sociedade o corrompe. Além disso, relacionou o surgimento da propriedade privada à desigualdade social. Para ele, o Estado é necessário para garantir as liberdades civis e corrigir os desequilíbrios provocados pela propriedade privada. Suas ideias influenciaram a Revolução Francesa (1789-1799), os teóricos socialistas e a formulação do conceito de democracia.

Na obra O contrato social , publicada originalmente em 1762, Rousseau explica a função do Estado. A seguir, leia um trecho do livro.

Mas quando o nó começa a desatar-se e o Estado a enfraquecer, quando os interesses privados se impõem e as pequenas sociedades influem na maior, o interesse comum modifica-se e encontra oponentes; a unanimidade já não reina entre os votantes; a vontade geral já não é a vontade de todos; verificam-se posições contrárias e a melhor das opiniões não é aceita sem discussões.

Enfim, quando o Estado, perto da ruína, só vive de uma maneira ilusória e vã, quando o vínculo social se quebrou em todos os corações, quando o mais vil interesse pretende substituir impudentemente o bem público, então a vontade geral emudece; todos, guiados por secretos motivos, procedem mais como se o Estado nunca tivesse existido do que como cidadãos; e fazem considerar como leis, decretos iníquos que não têm outro fim senão proteger o interesse privado.

Resulta daqui que a vontade geral esteja aniquilada ou corrompida? Não: ela permanece sempre, inalterável e pura, mas está submetida a outras; cada um aparta o seu interesse do interesse comum; sabe que não o deve fazer, mas o mal que daí lhe vem parece-lhe insignificante em face do bem, exclusivamente seu, de que pretende apoderar-se. Se não fosse este interesse, ele desejaria o bem público com tanto entusiasmo como qualquer outro. […]

ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social. Tradução: Mário Franco de Souza. Oeiras: Editorial Presença, 2010. (Coleção Livros que mudaram o mundo, v. 8, p. 122).

REPRODUÇÃO/PALÁCIO DE VERSALHES, PARIS, FRANÇA

ESCOT, Charles. Jean-Jacques Rousseau. 1874. Pastel sobre papel creme, 46,5 cm  x 38,2 cm. Palácio de Versalhes, Versalhes (França).

DASSIER, Jacques-Antoine. Charles-Louis de Secondat, barão de Montesquieu 1753. Óleo sobre tela, 63 cm x 52 cm. Academia Francesa, Paris (França).

Montesquieu e os três poderes do Estado

Charles de Montesquieu (1689-1755) foi um filósofo, político e escritor francês que redigiu a obra O espírito das leis , publicada originalmente em 1748. Nessa obra, defendeu que o Estado deve ser composto de três poderes: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Influenciado por John Locke, Montesquieu desenvolveu a teoria da separação dos três poderes, que estabelecia – como condição para o estado de Direito – que esses poderes deveriam ser independentes e harmônicos entre si. Segundo sua teoria, essa estrutura evitaria abusos ao contrabalançar as forças políticas e garantir a liberdade dos cidadãos. A transição do Estado absolutista para o Estado liberal deveria preservar a ideia de um poder único, ainda que equilibrado por um sistema de freios e contrapesos, conhecido como a tripartição dos poderes políticos.

Tripartição dos poderes políticos

responsável pela administração do território

responsável pela elaboração das leis

responsável pela fiscalização do cumprimento das leis

Fonte: Elaborado pelo autor.

Segundo Montesquieu, o exercício da autoridade e da legitimidade do poder reside nas leis. As leis são a principal referência para a administração do governo. Assim, podem existir diversas formas de governo, ou seja, diferentes modos de exercício do poder político. O filósofo classificou as formas de governo em três categorias:

• república: o regime republicano inclui tanto a aristocracia quanto a democracia, caracterizando-se pelo estabelecimento da cidadania e pela observância das leis;

• monarquia: o regime monárquico é liderado por um rei, mas com leis que limitam a autoridade do governante;

• despotismo: regime despótico no qual os poderes do líder não são limitados por leis.

Poder Executivo
Poder Legislativo
Poder Judiciário

Democracia na contemporaneidade

A democracia é um sistema político em que o povo participa das decisões políticas. Sem essa participação, a democracia pode se tornar uma aristocracia.

O filósofo político italiano Norberto Bobbio (1909-2004), na obra Estado, governo, sociedade: para uma teoria geral da política , publicada originalmente em 1986, defende que deve existir uma relação entre liberdades civis e liberdades políticas. Segundo Bobbio, sem liberdades civis, como a liberdade de imprensa, opinião, associação e reunião, a participação popular no poder político seria ilusória. Além disso, sem a participação popular no poder, as liberdades civis têm pouca probabilidade de perdurar.

Na democracia representativa (ou indireta), o poder político é exercido pela população de forma indireta, através de seus representantes eleitos. Essa forma de democracia é instituída por meio do voto e da eleição de representantes, com mandato para atuar em nome dos legitimados pela soberania popular.

A democracia direta (ou participativa) é qualquer maneira de organização na qual todos os cidadãos podem participar diretamente no processo de tomada de decisões. Karl Marx (1818-1883) identificou aspectos de democracia direta na breve experiência de direção política da Comuna de Paris, um governo revolucionário que tomou o poder por dois meses na França entre março e maio de 1871.

Na sociedade contemporânea, a democracia representativa pode incorporar práticas de participação direta, como plebiscitos.

Não é possível considerar a democracia representativa, ou indireta, como uma adaptação necessária e inevitável do princípio da soberania popular diante da complexidade contemporânea dos grandes Estados. Isso representa um desvio da ideia original de governo baseada na participação direta do povo. Você já participou de algum tipo de escolha ou tomada de decisão coletiva no modelo de democracia direta?

plebiscito: consulta direta à população sobre temas específicos, sem a mediação dos representantes eleitos. Um exemplo é a consulta direta realizada no Brasil em 1993, para decidir entre o presidencialismo e o parlamentarismo.

Trata-se de um exemplo de forma de governo com democracia direta.

Barricada da Calçada Ménilmontant, durante a Comuna de Paris (França), em 1871.

As tecnopolíticas e a democracia digital direta

Atualmente, cresce a necessidade de repensar e organizar a atuação política por meios digitais. A tecnopolítica consiste, de modo geral, na ação, comunicação e gestão políticas realizadas por meio de dispositivos de tecnologia digital, como plataformas, aplicativos, redes sociais etc. Quando utilizada para fortalecer a democracia, a tecnopolítica permite que a população participe das ações governamentais em diversas esferas de um país, de diversas formas, em caráter consultivo ou decisório.

Atualmente, Taiwan é líder mundial em democracia digital direta e participativa. A ex-ministra de assuntos digitais de Taiwan, Audrey Tang (1981-), introduziu um novo modelo de ação política, criticando o progresso digital sem a participação popular. Em vez de usar o termo “e-democracia” para se referir à participação popular por meios digitais, Tang prefere a expressão “CoGov ”, ou governo colaborativo. “CoGov” representa a ideia de um governo conjunto, que funcionaria como um serviço público participativo e de código aberto para oferecer bens públicos.

A discussão sobre o futuro da democracia implica o questionamento do termo “governança global”. O uso dessa expressão tem sido cada vez mais frequente em razão da necessidade de enfrentar os desafios trazidos pela globalização e pela interdependência entre os Estados. A emergência climática, por exemplo, representa um desafio urgente para a governança global. Atualmente, não há um governo mundial, mas existem protocolos comuns de ação entre Estados, com designação de leis, regras ou regulamentos em escala global. No entanto, a soberania dos Estados e as diversidades socioculturais de seus povos são respeitadas.

spera-se que o estudante compreenda que, para Audrey Tang, a expressão “CoGov” vai além da participação digital, promovendo a ideia de um governo colaborativo.

ATIVIDADES

Audrey Tang, ex-ministra digital de Taiwan, discursa no evento Concordia Annual Summit. Nova York (Estados Unidos), 2023.

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Por que Audrey Tang prefere empregar o termo “CoGov” em vez de usar “e-democracia”?

2. Em sua opinião, seria válida a democracia direta exercida por meios digitais? Explique.

2. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante considere que o uso de meios digitais pode favorecer o exercício da democracia direta.

3. Para você, seria possível exercer uma governança global atualmente? Explique.

3. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante identifique os protocolos comuns existentes, como leis que regimentam os direitos humanos, em escala mundial, porém ressaltando a dificuldade que reside na questão da soberania de cada Estado e nas diferenças socioculturais que precisam continuar sendo respeitadas no caso de uma governança global.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

• CONFLITO e diálogo: foi-se o tempo do deslumbramento da democracia digital. Entrevistada: Marília Fiorillo. Entrevistador: Cido Tavares. São Paulo: Jornal da USP, 5 abr. 2019. Podcast. Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/foi-se-o-tempo-do-deslumbramento-dademocracia-digital-afirma-colunista/. Acesso em: 10 set. 2024. No podcast, Fiorillo critica o otimismo sobre a democracia digital, abordando a necessidade de enfrentar desafios reais trazidos pelas plataformas de redes sociais.

Democracia política e democracia social

A democracia pode ser também política ou social. A democracia política é a forma de governo em que o poder é exercido por representantes eleitos pelo povo, responsáveis por legislar e governar conforme os interesses da maioria da população.

A democracia social consiste na democratização do exercício da participação dos cidadãos em deliberações em diversas instâncias para além das eleições para os cargos dos poderes Legislativo e Executivo. No Brasil, predomina a democracia política.

Segundo Norberto Bobbio em sua obra Estado, governo, sociedade: para uma teoria geral da política, publicada originalmente em 1986, podemos afirmar que, atualmente, o desenvolvimento da democracia não se baseia na substituição da democracia representativa pela democracia direta, mas sim na ampliação da democracia política para uma democracia social. Na democracia social, cada indivíduo é considerado em seus múltiplos papéis sociais, como estudante, pai ou mãe, trabalhador, consumidor, empresário etc. Em outras palavras, a democracia social visa expandir os espaços democráticos para além das urnas, abrangendo famílias, escolas, hospitais e empresas.

Há alguns anos, a prova de concretude de uma democracia era a extensão dos direitos políticos em determinado país, ou seja, quais eram as categorias que tinham o direito ao voto, com base na conquista do sufrágio universal. Contudo, o indicador atual de desenvolvimento democrático de um país já não se limita à quantidade de eleitores, mas ao número de instâncias e de espaços nos quais se exerce o direito de voto. Em outras palavras, a questão não é mais “quem vota”, mas “onde se vota”.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Em grupo, sob a orientação do professor, respondam às questões.

a) Qual é a diferença entre democracia política e democracia social para Bobbio? Procurem exemplificar com aspectos cotidianos.

a) A democracia política está no âmbito da política eleitoral, e a democracia social é praticada em diversas instituições e instâncias da vida social e no cotidiano, como em empresas, escolas etc.

b) Por que, conforme Norberto Bobbio, a substituição da democracia representativa pela democracia direta não seria tão importante quanto a passagem da democracia política para a democracia social?

b) A democracia representativa pode ser mais viável em contextos complexos e de amplo alcance, como consultar milhões de pessoas, enquanto a democracia social é um avanço significativo de participação popular.

c) E xpliquem a frase “a questão não é mais ‘quem vota’, mas ‘onde se vota’”.

c) Espera-se que os estudantes reconheçam a importância dessa diferença: não se trata apenas de votar nas eleições do Parlamento ou Poder Executivo, mas de considerar o exercício da democracia em outros espaços e instâncias da vida social.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
Saiba mais

PERSPECTIVAS

Muitas sociedades contemporâneas são organizadas em torno do Estado e se caracterizam pela presença de diferentes classes e grupos sociais, marcados por desigualdades de diferentes naturezas. Nesse cenário, há uma disputa pelo poder econômico e político, o que dá origem a relações sociais de dominação e, em contrapartida, movimentos de resistência.

Em uma relação social, a dominação existe a partir do momento em que se afirma uma situação de desigualdade. Assim, estabelecem-se duas partes: a que comanda, ou seja, domina, e a que obedece. No entanto, como a tendência é a de não provocar conflitos nessas relações de poder, a sua estabilidade depende de instrumentos puros de dominação legítima. São puros porque Max Weber (1864-1920) define as relações inseridas em situações concretas, não vinculadas estritamente à teoria.

Weber identificou três formas de dominação legítima: dominação legal , dominação tradicional e dominação carismática. Segundo ele, a dominação é legítima quando o governante obtém obediência da população, que pode se submeter por diferentes razões, como vantagens utilitárias, econômicas ou em razão de determinado comportamento. Além disso, pode haver algum vínculo afetivo entre súdito e mandatário.

Weber define os tipos de dominação: (a) dominação tradicional, sustentada pela lealdade às tradições, como entre súdito e senhor; b) dominação carismática, baseada na devoção emocional a líderes como profetas ou heróis; e c) dominação legal, onde a legitimidade decorre de normas e leis estabelecidas no Estado moderno, sendo a burocracia o principal mecanismo de controle.

Leia as definições de cada tipo de dominação nas palavras de Max Weber.

Dominação legal

[…] Seu tipo mais puro é a dominação burocrática. […]

Obedece-se não à pessoa em virtude de seu direito próprio, mas à regra estatuída, que estabelece ao mesmo tempo a quem e em que medida se deve obedecer. […] O tipo daquele que ordena é o 'superior', cujo direito de mando está legitimado por uma regra estatuída […]. O tipo do funcionário é aquele de formação profissional, cujas condições de serviço se baseiam num contrato, com um pagamento fixo, graduado segundo a hierarquia do cargo […].

Dominação tradicional

Dominação tradicional em virtude da crença na santidade das ordenações e dos poderes senhoriais de há muito existentes. Seu tipo mais puro é o da dominação patriarcal. A associação dominante é de caráter comunitário. O tipo daquele que ordena é o 'senhor', e os que obedecem são 'súditos', enquanto o quadro administrativo é formado por 'servidores'. Obedece-se à pessoa em virtude de sua dignidade própria, santificada pela tradição: por fidelidade. […]

Dominação carismática

Dominação carismática em virtude de devoção afetiva à pessoa do senhor e a seus dotes sobrenaturais (carisma) e, particularmente: a faculdades mágicas, revelações ou heroísmo, poder intelectual ou de oratória. O sempre novo, o extraordinário, o inaudito e o arrebatamento emotivo que provocam constituem aqui a fonte da devoção pessoal. Seus tipos mais puros são a dominação do profeta, do herói guerreiro e do grande demagogo. A associação dominante é de caráter comunitário, na comunidade ou no séquito. O tipo que manda é o líder. O tipo que obedece é o 'apóstolo'. […]

WEBER, 1956 apud COHN, Gabriel (org.). Weber : sociologia. Tradução: Amélia Cohn, Gabriel Cohn. 7. ed. São Paulo: Ática, 2003. (Coleção Grandes cientistas sociais, v. 13, p. 128-129, 131, 134-135).

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Após refletir sobre as diferentes formas de dominação identificadas por Weber, responda: você consegue reconhecer algum exemplo de dominação (legal, tradicional ou carismática) no contexto político mundial? Comente.

Resposta pessoal. Espera-se que o estudante reconheça os diferentes tipos de dominação no campo político mundial, como a legal, baseada em leis e normas; a tradicional, fundamentada em práticas históricas; e a carismática, centrada em líderes carismáticos.

CHAMBERLAIN, Henry. Uma família brasileira. 1822. Água-tinta e aquarela sobre papel, 26,3 cm x 36,7 cm.

A obra de Chamberlain sobre a família patriarcal reflete a dominação tradicional descrita por Weber, marcada por hierarquias e desigualdades legitimadas pela tradição.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
PINACOTECA DO ESTADO DE SÃO PAULO

ARQUIVO/FOLHAPRESS

GUIA do Plebiscito. Folha de S. Paulo, São Paulo, Especial 1, 10 jan. 1993. Capa.

Em 21 de abril de 1993, houve um plebiscito para que a população brasileira optasse pela monarquia ou república como forma de governo e pelo presidencialismo ou parlamentarismo como sistema de governo. Os eleitores escolheram a manutenção da república e do presidencialismo.

Presidencialismo e parlamentarismo

O presidencialismo é um sistema de governo no qual o presidente é a maior autoridade do país. Relaciona-se sobretudo com o republicanismo, sendo simultaneamente chefe de Estado, chefe de governo e líder do Poder Executivo. No Brasil, o presidencialismo surgiu com a Proclamação da República, em 1889, e foi referendado pela Constituição Federal de 1988. O presidente é eleito por voto popular direto para um mandato de quatro anos, podendo ser reeleito uma vez.

O parlamentarismo pode ser adotado em monarquias ou repúblicas. A pessoa que exerce a chefia de Estado (rei ou presidente) é diferente da pessoa que é chefe de governo, o primeiro-ministro. No parlamentarismo, o mandato do primeiro-ministro não tem prazo fixo, pois depende do apoio do Parlamento. Isso permite que o governo seja substituído com maior facilidade, de acordo com a legislação de cada país.

O presidencialismo de coalizão

Segundo o sociólogo brasileiro Sérgio Abranches (1949-), na obra Presidencialismo de coalizão: raízes e evolução do modelo político brasileiro, de 2018, o presidencialismo de coalizão combina o sistema de representação proporcional, o pluripartidarismo e o presidencialismo. Esse modelo é organizado em grandes coalizões e blocos parlamentares multipartidários e regionais, caracterizando, segundo o autor, o sistema de governo brasileiro, ou seja, o presidencialismo. Nesse sistema de coalizão, o Poder Executivo, representado pelo presidente, necessita do apoio do Congresso Nacional para viabilizar suas políticas públicas. Embora possa ser comparado ao parlamentarismo, o presidencialismo de coalizão mantém a forte presença do presidente como chefe de Estado e de governo. Para governar, o Executivo precisa formar alianças com diferentes forças políticas, sobretudo partidárias, tanto no período eleitoral quanto na própria formação do governo, para garantir a implantação de suas políticas.

• A GU EXPLICA: presidencialismo e parlamentarismo. [S .  l .: s n .], 2018. 1 vídeo (3 min). Publicado pelo canal da Advocacia-Geral da União AGU. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=R6OZ9rsW0LI. Acesso em: 10 set. 2024. Vídeo da Advocacia-Geral da União (AGU) que explica a diferença entre o presidencialismo e o parlamentarismo.

Saiba mais

As juventudes querem participar

As juventudes contemporâneas têm se destacado como agentes ativos de resistência e transformação social. Essa resistência não é homogênea, mas se manifesta de diversas formas: nas redes sociais, nos movimentos de rua, nas expressões culturais e nas iniciativas locais.

Michel Foucault (1926-1984), em sua obra História da sexualidade: a vontade de saber, publicada originalmente em 1976, argumenta que o poder é difuso e capilar, presente em todas as esferas da vida social. Portanto, a resistência também deve ser múltipla e abrangente. As juventudes, com sua pluralidade, desafiam as normas e as práticas estabelecidas, propondo novas formas de organização e relação.

Essa multiplicidade de ações é crucial, pois, ao resistirem em diferentes frentes, os jovens expõem as fissuras e as fragilidades nas estruturas de poder, abrindo espaço para novas possibilidades de transformação social. A capacidade de mobilização e articulação das juventudes mostra que a resistência não é apenas uma reação ao poder mas também um ato criativo de construção de novas realidades.

Assim, as juventudes se tornam protagonistas na redefinição do futuro, questionando e reformulando as formas tradicionais de poder e propondo alternativas mais inclusivas e democráticas. Nesse contexto, os jovens ocupam um papel central como sujeitos capazes de identificar e decidir sobre questões que afetam suas vidas e a sociedade ao redor. Esse protagonismo refere-se à capacidade dos jovens de gerar mudanças sociais com base em um posicionamento crítico, criando e aplicando soluções viáveis nas comunidades em que vivem.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

capilar: nesse contexto, refere-se ao poder descentralizado e sutil, que influencia comportamentos e relações cotidianas.

Elaborações pessoais. Espera-se que os estudantes identifiquem grupos de atuação política como movimentos estudantis, coletivos culturais, organizações comunitárias, ONGs, movimentos sociais etc.

• Em trios, façam uma pesquisa para identificar grupos de atuação política juvenil em seu contexto local ou regional, de acordo com o roteiro.

a) Identifiquem as áreas de atuação desses grupos (educação, meio ambiente, direitos humanos, igualdade de gênero etc.).

b) Selecionem um desses grupos para realizar uma análise mais profunda.

c) Analisem as principais características do grupo (as causas em que estão engajados, os locais de atuação, as formas de luta e mobilização).

d) Elaborem uma apresentação para compartilhar as informações com os colegas, destacando como o grupo escolhido contribui para a resistência e a transformação social.

e) Pesquisem quais desafios esses grupos enfrentam no contexto político atual e como têm superado obstáculos.

f) Proponham soluções para ampliar o impacto dessas iniciativas juvenis em suas comunidades ou regiões.

g) Elaborem uma apresentação para compartilhar as informações com os colegas, destacando como o grupo escolhido contribui para a resistência e a transformação social.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

INVESTIG AÇÃO

Consulte orientações no Manual do Professor.

Análise documental: os contratualistas

Os contratualistas, considerados atualmente autores clássicos, refletiram sobre temas que são fundamentais até os dias de hoje, sobretudo na organização dos Estados nacionais, inclusive no Brasil. Nesta prática de pesquisa, serão analisadas as obras de três importantes contratualistas por meio do método de pesquisa análise documental.

Contratualistas

Thomas Hobbes

John Locke

Jean-Jacques Rousseau

Obras

Leviatã: ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil

Dois tratados do governo civil

O contrato social

Fonte: Elaborado pelo autor.

A análise documental é uma metodologia de pesquisa qualitativa que consiste em examinar e interpretar documentos escritos para extrair informações e compreender as visões e significados neles contidos. O processo envolve identificar os principais argumentos, comparar as abordagens dos autores e compreender o contexto histórico e filosófico em que seus textos foram produzidos. Ela permite uma interpretação crítica dos textos, possibilitando que os estudantes discutam como cada autor concebe a organização da sociedade e as funções do Estado.

Objetivos

Dica

Se as fontes forem digitais, certifiquem-se de pesquisar em sites que disponibilizem obras em domínio público. Além disso, as pesquisas podem ser feitas em bibliotecas públicas com base nas obras impressas dos autores. Lembrem-se também de selecionar fontes que contenham informações sobre a vida dos autores e o contexto histórico e político em que viveram.

Dessa forma, a tarefa consiste em pesquisar, interpretar e analisar os documentos escritos por cada um dos três autores, com foco nos sentidos e nas visões de cada um sobre: a) a natureza humana; b) a necessidade de um contrato social para se viver em sociedade; c) o papel do Estado.

A pesquisa documental examina textos escritos para interpretar suas ideias e seus significados, buscando compreender diferentes perspectivas e informações neles expressas.

PREPARAÇÃO

PARA A ANÁLISE

1. Reúnam-se em grupos de, no máximo, quatro pessoas e organizem-se para a pesquisa das fontes.

ANÁLISE DAS FONTES

4. Leiam, com atenção, os textos das referências coletadas.

Dica

Se considerarem que alguns trechos apresentam maior dificuldade na leitura, aproveitem para fazer anotações no caderno, a fim de que, posteriormente, o professor possa auxiliá-los nessa interpretação.

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

PESQUISA DAS FONTES

2. Iniciem o levantamento das fontes, que devem ser confiáveis.

3. Sigam o roteiro para identificar elementos que devem constar da sua pesquisa.

a) A vida do autor e a importância da obra.

b) O c ontexto histórico em que o autor viveu.

c) O s principais desafios políticos na época do contratualista.

d) A importância do contrato social.

e) A instituição do Estado como necessária para os homens viverem em sociedade.

f) A importância da propriedade privada na obra do contratualista pesquisado.

ANOTAÇÃO DAS INFORMAÇÕES COLETADAS

5. Façam uma síntese com as principais informações e pontos de vista dos autores.

6. Organizem um texto final, articulando-o com o conteúdo trabalhado no capítulo. Se preferirem, organizem as informações coletadas em fichas.

7. Com a mediação do professor, apresentem para os demais grupos o texto final da análise documental elaborada. Para isso, vocês podem, por exemplo, elaborar painéis, cartazes, apresentações digitais etc. Uma disposição organizada e atrativa das informações pode colaborar para um maior rendimento na apresentação dos resultados, bem como para a compreensão da turma.

AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS

Lembrem-se de destacar entre aspas os textos citados na íntegra, respeitando a autoria de cada texto. Isso também ajudará na organização textual, a fim de que seja fácil identificar tanto a parte do texto escrita por vocês quanto a escrita pelos autores pesquisados (citações).

8. Conversem sobre as dificuldades encontradas e a percepção das melhores práticas durante a realização das etapas de planejamento, aplicação e sistematização dos dados.

9. Caso tenham anotado dúvidas durante a etapa de leitura das fontes, aproveitem este momento para compartilhar com colegas e professor.

Lembrete
ETAPA

Neste capítulo, estudamos a política, o Estado e a democracia. Analisamos a política entendida como um campo, ou seja, um microcosmo dentro da sociedade geral com regras e particularidades do contexto específico da esfera da política.

Além disso, estudamos os contratualistas comparando-os sobretudo em relação à ideia de seres humanos em estado de natureza e a necessidade de haver um contrato social para organizar a vida em sociedade.

Também estudamos a democracia em seus diferentes modelos: democracia representativa (ou indireta), democracia direta (ou participativa), democracia política e democracia social. Conhecemos também as tecnopolíticas e as formas de dominação legítima segundo o sociólogo Max Weber. RECAPITULE

ATIVIDADES FINAIS Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Leia o trecho a seguir e responda à questão.

Uma vez conquistado o direito à participação política, o cidadão das democracias mais avançadas percebeu que a esfera política está por sua vez incluída numa esfera muito mais ampla, a esfera da sociedade em seu conjunto, e que não existe decisão política que não esteja condicionada ou inclusive determinada por aquilo que acontece na sociedade civil. Portanto, uma coisa é a democratização da direção política, o que ocorreu com a instituição dos parlamentos, outra coisa é a democratização da sociedade. Em consequência, pode muito bem existir um Estado democrático numa sociedade em que a maior parte das instituições, da família à escola, da empresa aos serviços públicos, não são governadas democraticamente. Daí a pergunta que melhor do que qualquer outra caracteriza a atual fase de desenvolvimento da democracia nos países politicamente mais democráticos: 'É possível a sobrevivência de um Estado democrático numa sociedade não democrática?' […].

BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade: para uma teoria geral da política. Tradução: Marco Aurélio Nogueira. 14. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007. (Coleção Pensamento crítico, v. 69, p. 156).

Você concorda com a afirmação “[…] pode muito bem existir um Estado democrático numa sociedade em que a maior parte das instituições, da família à escola, da empresa aos serviços públicos, não são governadas democraticamente”? Justifique.

2. (Enem – 2022)

1. Resposta pessoal. O fato de haver eleições para o Parlamento ou para escolher o chefe do Poder Executivo está relacionado a algumas instâncias de tomada de decisão democráticas, mas que por si só não garante que outras instituições da sociedade funcionem de modo democrático.

O princípio básico do Estado de direito é o da eliminação do arbítrio no exercício dos poderes públicos, com a consequente garantia de direitos dos indivíduos perante esses poderes. Estado de direito significa que nenhum indivíduo, presidente ou cidadão comum está acima da lei. Os governos democráticos exercem a autoridade por meio da lei e estão eles próprios sujeitos aos constrangimentos impostos pela lei.

CANOTILHO, J. J. G. Estado de direito, Lisboa: Gradiva, 1999 (adaptado).

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
NÃO ESCREVA

Nas sociedades contemporâneas, consiste em violação do princípio básico enunciado no texto:

a) Supressão de eleições de representantes políticos.

b) Intervenção em áreas de vulnerabilidade pela Igreja.

c) Disseminação de projetos sociais em universidades.

d) Ampliação dos processos de concentração de renda.

e) Regulamentação das relações de trabalho pelo Legislativo.

3. (Enem – 2018)

A tribo não possui um rei, mas um chefe que não é chefe de Estado. O que significa isso?

Simplesmente que o chefe não dispõe de nenhuma autoridade, de nenhum poder de coerção, de nenhum meio de dar uma ordem. O chefe não é um comandante, as pessoas da tribo não têm nenhum dever de obediência. O espaço da chefia não é o lugar do poder. Essencialmente encarregado de eliminar conflitos que podem surgir entre indivíduos, famílias e linhagens, o chefe só dispõe, para restabelecer a ordem e a concórdia, do prestígio que lhe reconhece a sociedade. Mas evidentemente prestígio não significa poder, e os meios que o chefe detém para realizar sua tarefa de pacificador limitam-se ao uso exclusivo da palavra.

CLASTRES. P. A sociedade contra o Estado Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982 (adaptado).

O modelo político das sociedades discutidas no texto contrasta com o do Estado liberal burguês porque se baseia em:

a) Imposição ideológica e normas hierárquicas.

b) Determinação divina e soberania monárquica.

c) Intervenção consensual e autonomia comunitária.

d) Mediação jurídica e regras contratualistas.

e) Gestão coletiva e obrigações tributárias.

4. (UFPA – 2009) Há uma política, no momento atual, que tem por pressuposto a ideia de que a legitimidade do poder político se funda sobre um contrato social firmado hipoteticamente entre indivíduos, cujo fim é a proteção dos seus direitos naturais. Trata-se da teoria

a) Social-Democrata.

b) Comunista.

c) Multiculturalista.

d) Comunitarista.

e) Liberal.

5. (UECE – 2019) O Estado moderno pode ser corretamente definido como

a) um conjunto de instituições cuja função principal é dar sustentação aos governos sucessivamente eleitos.

b) um lugar constituído por pessoas escolhidas segundo o poder das famílias tradicionais e de sua filiação religiosa.

c) uma comunidade humana que pretende, com êxito, o monopólio do uso legítimo da força física dentro de um determinado território.

d) o poder do governo de um país de decidir, conforme sua vontade, quem são as pessoas autorizadas a fazer justiça de acordo com os julgamentos que achar mais corretos.

CAPÍTULO

Democracia, cidadania e direitos humanos 9

1. Resposta pessoal. A desigualdade é uma forma de hierarquizar as diferenças, fazendo que, por ter determinadas características, o indivíduo seja considerado inferior e/ou que tenha menos acesso a direitos e oportunidades.

2. Resposta pessoal. Além da óbvia diferença na condição das moradias, é possível inferir que os habitantes das moradias precárias têm menos acesso à educação e saúde de qualidade, além de serviços como saneamento básico, fornecimento de luz, internet etc.

OBJETIVOS DO CAPÍTULO:

L orem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit.

Compreender o conceito de democracia no mundo contemporâneo.

Compreender o conceito de cidadania.

S ed do eiusmod tempor incididunt ut labore et dolore magna aliqua.

Nunc eget lorem dolor sed viverra.

Id cursus metus aliquam eleifend mi in.

S ed vulputate mi sit amet.

Relacionar os conceitos de democracia e de cidadania. dentificar o que são os direitos humanos e sua relação com os conceitos de cidadania e de democracia.

Reconhecer desafios ao exercício pleno da cidadania por diferentes grupos sociais no Brasil de hoje.

Observe a imagem com atenção. Ela nos mostra o contraste entre dois tipos de moradia numa mesma cidade, separados por uma pequena distância. Podemos perceber que essa é uma imagem que remete às desigualdades sociais profundas que marcam o nosso país. Mas que desigualdades são essas? Será que elas se resumem à diferença de renda? Será que as pessoas que vivem nesses dois tipos de moradia têm o mesmo acesso a oportunidades e direitos? Essas são perguntas que nos levam a refletir sobre questões estruturais da sociedade brasileira. Por meio delas, podemos entender melhor as diferentes formas de reprodução das desigualdades em nosso país e considerar quais caminhos devem ser trilhados para combatê-las.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Qual é, em sua opinião, a relação entre diferença e desigualdade?

Em primeiro plano, moradias no Bairro Jardim Panorama e, ao fundo, edifícios de alto padrão. São Paulo (SP), 2020.

2. Para você, quais são as principais diferenças que marcam a vida dos habitantes dos dois tipos de moradia retratados na imagem?

3. Quais são, em sua opinião, os efeitos da desigualdade social sobre a sociedade como um todo?

3. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante possa associar a desigualdade social aos índices de insegurança pública, por exemplo. Podem ser citadas, ainda, questões de saúde pública e bem-estar da sociedade de um modo geral.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

A democracia no mundo moderno

A democracia surgiu na Grécia antiga, no século VI a.C., na cidade-Estado de Atenas. A palavra tem origem na junção dos termos "demo" ("povo") e "kratia" ("poder"), designando uma forma de governo em que as decisões seriam tomadas através da participação direta dos cidadãos em assembleias, que aconteciam em praça pública. Apesar de ser a origem do que hoje conhecemos como “democracia”, o modelo ateniense é bem diferente daquele que passou a vigorar em muitos países ocidentais a partir do século XVIII.

A democracia moderna é fruto de um momento histórico específico, marcado por eventos como a Revolução Americana (1775-1783), a Revolução Haitiana (1791-1804) e, principalmente, a Revolução Francesa (1789-1799), que culminou no fim do absolutismo na França.

Um dos resultados mais importantes da Revolução Francesa foi a publicação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789. Aprovado pela Assembleia Nacional Constituinte, o documento sintetizava os ideais que norteavam a Revolução Francesa: a igualdade de nascimento (confrontando com os direitos inatos da nobreza), o direito à propriedade privada e o direito de resistir à tirania e à opressão.

Entre os pontos defendidos pelo documento, uma das grandes novidades era a ideia de que a soberania reside, essencialmente, na nação, e não em algum rei escolhido por vontade divina, confrontando com os princípios absolutistas das monarquias europeias da época.

A progressiva junção entre os princípios democráticos e o desenvolvimento do capitalismo deu origem ao que hoje conhecemos como democracia liberal, que atualmente corresponde à maior parte das democracias no mundo.

Nessa forma de governo, os poderes dos representantes eleitos são limitados por uma Constituição, que visa garantir a proteção da igualdade e das liberdades individuais, como a liberdade de expressão, a liberdade de religião e o direito à propriedade privada.

LE BARBIER, Jean-Jacques François. Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. ca. 1789. Óleo sobre madeira. Museu Carnavalet, Paris (França).

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, é até hoje um dos documentos mais importantes da história ocidental.

MUSEU DA REVOLUÇÃO FRANCESA, VIZILLE, FRANÇA

burguesia: classe social dominante no sistema capitalista, detentora de bens e/ou meios de produção.

voto censitário: modelo de votação que restringe o direito ao voto a apenas certos grupos, utilizando alguns critérios, como gênero e renda.

Apesar da importância da Revolução Francesa para o desenvolvimento das democracias modernas, é importante lembrar que esse foi um movimento da burguesia, que passou a somar ao poder econômico também o poder político. Um exemplo disso é que durante boa parte da revolução vigorou o voto censitário, e não o universal. Com isso, apenas detentores de propriedade e de determinado nível de renda estavam aptos a votar, excluindo do processo eleitoral as mulheres, os que não tinham propriedade e os trabalhadores.

O avanço do capitalismo fez aumentar essas contradições. O filósofo e economista alemão Karl Marx (1818-1883), por exemplo, acreditava que, apesar do direito ao voto e à participação política serem importantes, a desigualdade de classe seria um sério impedimento à igualdade e à garantia da liberdade. Para ele, os interesses econômicos das classes dominantes agiriam sobre as decisões políticas, restringindo a possibilidade de participação efetiva das classes trabalhadoras nos processos decisórios. Observe a charge.

• AS SUFRAGISTAS.

Direção: Sarah Gavron. Reino Unido: Pathé, 2015. Streaming (103 min). Sem direito ao voto no Reino Unido, no início do século XX, mulheres lutam por direitos iguais no movimento sufragista.

2. A liberdade de expressão. spera-se que o estudante descreva os elementos que compõem a charge.

3. A charge evidencia que, em sociedades capitalistas, o exercício dos direitos muitas vezes esbarra em desigualdades de ordem econômica. No caso da charge, o patrão usa a posição hierárquica de dominação para não aceitar a discordância do funcionário.

KAYSER. [Liberdade de imprensa]. In: KAYSER. Blog do Kayser. [S. l.], 1 dez. 2007. Disponível em: https://blogdokayser.blog spot.com/2007/12/liberdade-de-imprensa.html. Acesso em: 14 set. 2024.

ATIVIDADES

1. Descreva a charge

Consulte orientações no Manual do Professor.

2. Qual é o direito democrático defendido pelo funcionário?

3. Explique de que modo a charge aborda a questão da igualdade nas democracias liberais.

Saiba mais
NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Um conceito plural

É importante ter em mente que o conceito de democracia está em permanente construção, variando conforme as transformações históricas e os interesses das sociedades. O Índice da Democracia, criado em 2006, nos Estados Unidos, pela revista The Economist , trouxe alguns critérios importantes para esse debate. Observe a seguir.

• Processo eleitoral e pluralismo: considera a variedade de candidatos e partidos e a liberdade para votar sem sofrer coerção.

Funcionamento do governo: avalia elementos externos que podem influenciar o governo eleito, como militares e potências estrangeiras.

Também são levadas em conta a confiança da população em relação ao governo e a transparência dos representantes eleitos.

Participação política: analisa a participação da sociedade no período eleitoral, principalmente de mulheres e grupos minoritários.

Cultura política: considera o desejo da sociedade de ser liderada por uma figura forte ou militar, além da separação entre Estado e religião.

Liberdades civis: analisa a efetiva presença de direitos como liberdade de expressão, acesso à internet, segurança pública, igualdade perante a lei etc.

Mundo: índice de democracia – 2023

O mapa representa os resultados do Índice de Democracia divulgado em 2023. A escala vai de 0 (países menos democráticos) a 10 (países mais democráticos)

Fonte: HERRE, Bastian; RODÉS-GUIRAO, Lucas; ORTIZ-OSPINA, Esteban. Democracy. [S. l.]: Our World in Data, [2024]. Localizável em: mapa Electoral democracy index, 2023. Disponível em: https://ourworldindata.org/democracy. Acesso em: 24 ago. 2024.

OCEANO
OCEANO

A democracia no Brasil

Em 2022, uma pesquisa do DataFolha revelou que 75% dos brasileiros acreditam que a democracia é a melhor forma de governo. Mas como é a democracia brasileira? Ela está plenamente consolidada? Quais são os pontos que merecem atenção?

Observe este gráfico.

Brasil: defesa da democracia × ditadura – 1989-2022

Saiba mais

Fev./1992 Set./1989 Mar./1993

• PROJETO Querino

8: democracia. Entrevistados: Aldivan da Silva, Rogério Nakano, João José Reis, Tâmis Parron e Angela Alonso. Entrevistador: Tiago Rogero. [S. l.]: Projeto Querino, c2022. Podcast Disponível em: https:// projetoquerino.com. br/podcast-item/ democracia/. Acesso em: 24 ago. 2024. O episódio do podcast faz uma análise do Brasil de hoje com base na longa luta pela democracia e seus significados para diferentes parcelas da população.

Fev./1992 Set./1989 Mar./1993 Out./2022 Jul./2016 Dez./2008 Jun./2020 Jun./2018 Set./1994Jun./2000

Democracia é sempre melhor

Tanto faz se é democracia ou ditadura

Em certas circunstâncias, é melhor uma ditadura

Fonte: DATAFOLHA: democracia é a melhor forma de governo para 75% das pessoas. G1, [s. l.], 19 ago. 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/ eleicoes/2022/pesquisa -eleitoral/noticia/2022/08/19/datafolha -democracia-e-a-melhor-forma-de -governo-para-75percent-das-pessoas -maior-valor-desde-1989.ghtml Acesso em: 24 ago. 2024.

O gráfico mostra que o apoio da população brasileira ao regime democrático vem crescendo no decorrer das últimas décadas. O Brasil não viveu, até hoje, longos períodos democráticos. A democracia brasileira sofreu interrupções em diferentes momentos, como durante o Estado Novo (1937-1945) e a ditadura civil-militar (1964-1985). Mesmo em períodos tidos como democráticos, o alcance dessa democracia foi muitas vezes limitado. Durante a Primeira República (1889-1930), por exemplo, o controle do processo eleitoral ficava nas mãos dos poderosos locais, inexistindo uma justiça eleitoral. Disso resultava um sistema eleitoral deturpado, que garantia a vitória de quem já estivesse no poder. Isso mostra que, embora amplamente aprovada pela população, a nossa democracia precisa ser permanentemente defendida, seja pelas instituições, seja pelos cidadãos em suas práticas cotidianas. Longe de ser algo dado ou espontâneo, a conquista da democracia e a prática da cidadania sempre resultaram de processos de mobilização da sociedade civil, com efetiva participação popular.

O homem cordial

O sociólogo brasileiro Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) foi um dos primeiros pensadores a refletir sobre a democracia brasileira. Em seu livro Raízes do Brasil, publicado em 1936, ele fez uma análise histórica da nossa formação social e chegou à conclusão de que o brasileiro pode ser pensado com base no conceito de “homem cordial”.

Mês/ano
SONIA VAZ

Diferentemente do que podemos pensar à primeira vista, o homem cordial não é sinônimo de gentil. O conceito vem da palavra latina “cordialis”, que significa “relativo ao coração”. O homem cordial seria, assim, aquele que age movido pelos afetos, deixando de lado a formalidade e a impessoalidade.

Em seu livro, Holanda destaca, por exemplo, a prática de muitos brasileiros usarem diminutivos em diferentes situações, buscando criar intimidade mesmo com desconhecidos. É comum ouvirmos alguém pedir mais “cinco minutinhos” em uma situação de atraso ou pedirmos para alguém esperar “só um pouquinho”.

Mas, afinal, o que isso tem a ver com a democracia?

Para o autor, essas características fazem que, no Brasil, as questões públicas sejam tratadas com os princípios que regem a vida privada, como a amizade e a lógica dos favores. Os políticos brasileiros teriam, assim, a tendência de lidar com o Estado como algo pessoal, como uma extensão dos seus interesses privados. Uma das manifestações desse fenômeno é o nepotismo, uma prática na qual alguém se vale de um cargo público para conseguir emprego para seus parentes, usando o Estado para beneficiar a própria família. Ao operar pela lógica do personalismo, o homem cordial fere o princípio da igualdade, tão importante ao bom funcionamento da democracia.

Em contraponto, o sociólogo brasileiro Jessé de Souza (1960-) aponta alguns aspectos que considera problemáticos nessa interpretação. Em A elite do atraso, de 2017, ele argumenta que essa análise cria um antagonismo entre o brasileiro afetivo e personalista e o estadunidense prático e racional, fazendo que os brasileiros sejam considerados pessoas inferiores e indignas de confiança. Para o autor, esse “mito da brasilidade” teria sido construído pelas elites e configura uma visão preconceituosa sobre o povo brasileiro.

Observe a charge.

1. Nepotismo.

2. O nepotismo se relaciona com o conceito de “homem cordial” por mostrar o personalismo do funcionário que usa seu cargo para beneficiar sua própria família.

ATIVIDADES

personalismo: tendência de tratar questões públicas como se fossem privadas, misturando interesses pessoais com os do Estado. No contexto brasileiro, isso pode levar a práticas como o nepotismo, prejudicando a igualdade democrática.

3. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante compreenda que o bom funcionamento da democracia depende do princípio da igualdade.

CABRAL, Ivan. [Geneograma]. In: CABRAL, Ivan. Sorriso pensante. [Natal], 27 ago. 2008. Disponível em: https://www.ivancabral. com/2008/08/geneograma.html. Acesso em: 28 ago. 2024.

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. A que fenômeno a charge se refere?

2. Qual é a relação desse fenômeno com o conceito de “homem cordial”?

3. Quais são, em sua opinião, os efeitos desse fenômeno sobre a democracia brasileira?

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

PERSPECTIVAS

Janeiro, 2019.

Você conhece a expressão “jeitinho brasileiro”? É provável que sim. O “jeitinho brasileiro” pode se manifestar de muitas formas, desde situações simples do dia a dia, como uma “carona” num ônibus, até situações mais complexas, como uma carteira de motorista “comprada”. Mas o que isso diz sobre nossa sociedade? Foi com essa pergunta em mente que a antropóloga brasileira Lívia Barbosa (1949-) desenvolveu uma pesquisa para esclarecer o tema, que resultou no livro O jeitinho brasileiro: a arte de ser mais igual do que os outros, publicado originalmente em 2005, do qual vamos ler um trecho.

[…] o jeitinho é sempre uma forma ‘especial’ de se resolver algum problema ou situação difícil ou proibida; ou uma solução criativa para alguma emergência, seja sob a forma de burla a alguma regra ou norma preestabelecida, seja sob a forma de conciliação, esperteza ou habilidade.

BARBOSA, Lívia. O jeitinho brasileiro: a arte de ser mais igual do que os outros.

A autora chama a atenção para o fato de o “jeitinho” ser aceito ou praticado por todas as camadas sociais, dependendo apenas da capacidade de cada um de conseguir dar uma solução “criativa” diante de um impedimento formal. A autora revela, ainda, que a maioria dos brasileiros situa o jeitinho entre o favor e a corrupção. Ela frisa que não existem limites claros entre as três categorias. Assim, a definição de um evento como favor, jeitinho ou corrupção varia bastante, dependendo, por exemplo, da quantidade de dinheiro mobilizada, do contexto em que a situação ocorre e do tipo de relação existente entre as pessoas envolvidas.

Observe a charge.

1. Estacionar em vaga para pessoa com deficiência sem ser uma pessoa com deficiência.

ATIVIDADES

GALVÃO, Jean. [Jeitinho brasileiro]. São Paulo: Um Brasil, 2017. Disponível em: https://umbrasil.com/charges/ charge-05-06-2017/. Acesso em: 24 ago. 2024.

2. Subir no carrinho, simulando ser uma pessoa em cadeira de rodas.

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Qual foi a proibição com que o motorista se deparou?

2. Qual foi o “jeitinho” dado por ele?

3. A ideia da “arte de ser mais igual do que os outros” se refere à dificuldade dos brasileiros em aceitar as regras que valem para todos, entendendo-se como pessoas especiais que estão acima das leis.

3. Com base na charge, explique a ideia, defendida por Lívia Barbosa, de que o “jeitinho brasileiro” é a “arte de ser mais igual do que os outros”.

Rio de Janeiro: Campus, 2005. p. 41.
Lívia Barbosa no Rio de
NÃO ESCREVA NO LIVRO.

O desafio da cidadania

É impossível falar de democracia sem tratar de cidadania e vice-versa. Esses são, afinal, conceitos complementares: só há realização plena da cidadania no governo democrático; além disso, é o exercício da cidadania que sustenta e garante a democracia. De modo geral, pode-se definir cidadania como o conjunto de direitos e de deveres de um indivíduo na sociedade em que vive. Mas o que isso quer dizer? Em seu livro Cidadania, classe social e status , publicado originalmente em 1967, o sociólogo britânico Thomas Humphrey Marshall (1893-1981) estabeleceu três conjuntos de características da cidadania.

Direitos políticos: direito de participar da política e da administração pública de seu país, votando ou sendo votado; inclui, também, o direito à formação de partidos políticos e de outras instituições representativas (como associações de bairros, sindicatos etc.).

Direitos sociais: direito ao trabalho e à remuneração, à educação, à saúde, ao lazer, à moradia, à aposentadoria e a serviços públicos de qualidade. Baseiam-se na ideia de justiça social e de participação de todas as pessoas nas riquezas produzidas pela sociedade.

Direitos civis: direito de expressar livremente as opiniões, de ser respeitado, de ser tratado de forma igual perante a lei. Inclui o direito à propriedade, a possibilidade de ir e vir e o acesso à justiça. São os direitos relacionados à liberdade individual. Cidadão seria, portanto, aquele que pode exercer os três tipos de direitos de forma efetiva. Com base na experiência europeia, Marshall afirmou que a cidadania se construía em etapas, começando pela conquista dos direitos civis, depois dos direitos políticos e, por fim, dos direitos sociais. Muitos estudiosos, porém, criticam essa perspectiva, dizendo que ela não condiz com a experiência histórica de muitos países. É o caso do Brasil, como estudaremos adiante. Ainda assim, a obra do autor continua importante por ter tipificado os três tipos de direitos que definem a cidadania.

Os direitos políticos se referem à participação popular no processo político, como o direito de votar.

Eleitora vota em seção eleitoral do Rio de Janeiro (RJ) em 2022.

Ampliando essa perspectiva, o conceito de cidadania global vem desafiando pessoas de todo o mundo a refletir sobre seus direitos e suas responsabilidades em escala mundial. Questões como mudanças climáticas, conflitos armados e desigualdades sociais demandam uma abordagem global, envolvendo a participação de governos, organizações internacionais, empresas e indivíduos.

A ideia de cidadania global estimula a cooperação e a solidariedade para enfrentar desafios globais. O conceito busca também despertar o interesse para a importância do respeito à diversidade, encorajando pessoas de todo o mundo a aprender sobre diferentes culturas e valorizar suas contribuições para a construção de um mundo melhor.

A cooperação e a solidariedade entre pessoas de diferentes países favorecem a busca de soluções para problemas globais.

Cidadania à brasileira

A Constituição Federal de 1988 assegura plena cidadania a todos os brasileiros, determinando que todos tenham o mesmo acesso aos direitos nela previstos. Mas, na prática, será que isso acontece?

Infelizmente, no Brasil, a extensão dos direitos de cidadania é bastante restrita. Apenas uma parcela da população tem acesso aos direitos básicos, enquanto diversos grupos sociais têm seus direitos constantemente violados. Exemplos disso são os números alarmantes de homicídios contra jovens negros, os casos de violência contra mulheres, entre tantos outros.

Em seu livro A cidadania no Brasil: o longo caminho, originalmente publicado em 2001, o historiador brasileiro José Murilo de Carvalho (1939-2023) afirmou que esse cenário é, em parte, resultado do processo de implantação dos direitos no país, que ocorreu de forma inversa ao modelo de Marshall, mencionado anteriormente. De acordo com Carvalho, no Brasil, vieram primeiro os direitos sociais (especialmente a partir do fim da Primeira República, com o governo de Getúlio Vargas); depois, os direitos políticos (principalmente a partir da Constituição Federal de 1988); e, por último, os direitos civis (ainda não plenamente implementados).

a) e b) Produções pessoais. Espera-se que, após realizar as pesquisas, o estudante reflita sobre a relação entre o acesso a direitos e o nível de renda da população brasileira.

Nessa sequência invertida, os direitos teriam surgido “de cima para baixo”, vindos de ações do Estado e de grupos dominantes, e não de lutas sociais, como aconteceu na Europa. O resultado seria o baixo engajamento político da população.

[...] é a ausência de cultura cívica, diria, que compromete ou torna pouco eficaz o exercício dos direitos políticos. Esta ausência [...] deve-se, em boa parte, à precariedade do desenvolvimento dos direitos civis, base sobre a qual devem se assentar os direitos políticos. Para que o cidadão político possa ter plena eficácia, ele deve sustentar-se nos ombros do cidadão civil, consciente de seus direitos e também de suas obrigações. [...]

CARVALHO, José Murilo de. Pontos e bordados: escritos de história e política. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999. p. 285.

Para a maior parte da população brasileira, o acesso aos direitos e o pleno exercício da cidadania existem apenas na letra da lei.

PAIVA, Miguel. [Todo brasileiro tem direito à moradia...]. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 5 ago. 1988.

Para o autor, isso resulta numa hierarquia entre níveis de cidadania. As pessoas conseguem acessar os direitos conforme seu nível de renda, resultando em três classes de cidadãos: os cidadãos de primeira classe, com renda familiar acima de 20 salários mínimos, que estão acima da lei; os de segunda classe, com renda familiar entre dois e 20 salários mínimos, para quem os direitos se aplicam de maneira parcial; e os cidadãos de terceira classe, com renda familiar abaixo de dois salários mínimos, que se encontram desprotegidos pela sociedade e pelas leis.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Com base na classificação de níveis de cidadania proposta por José Murilo de Carvalho, faça as tarefas a seguir.

a) Pesquise o valor do salário mínimo atual e determine a faixa de renda de cada um dos níveis de cidadania.

b) Pesquise a divisão da população brasileira por faixa de renda e indique qual percentual de brasileiros se enquadra em cada nível de cidadania.

c) E xplique, com suas palavras, por que existem diferentes níveis de cidadania no Brasil.

c) Resposta pessoal. Espera-se que o estudante comente que, no Brasil, o acesso a direitos está marcado pelo nível de renda, configurando a existência de diferentes classes de cidadãos. Isso se dá pela deficiência de serviços públicos e do acesso à justiça, fazendo que as camadas mais pobres da população tenham seus direitos permanentemente negados ou violados.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

PERSPECTIVAS

Roberto DaMatta durante evento em São Paulo (SP), 2006.

O antropólogo brasileiro Roberto DaMatta (1936-) é conhecido por seus estudos sobre a sociedade brasileira. Em diferentes livros, ele explorou temas como o Carnaval e o futebol, buscando decifrar dilemas do nosso país e explicar padrões de convivência que fazem parte do nosso cotidiano. Foi com esse intuito que ele publicou o livro Fé em Deus e pé na tábua , publicado originalmente em 2000, no qual procura relacionar a nossa cidadania com o comportamento dos brasileiros no trânsito.

Leia, a seguir, o que o autor afirma sobre o assunto.

[…] nosso comportamento terrível no trânsito é resultado da incapacidade de sermos uma sociedade igualitária; de instituirmos a igualdade como um guia para a nossa conduta. Nosso trânsito reproduz valores de uma sociedade que se quer republicana e moderna, mas ainda está atrelada a um passado aristocrático, em que alguns podiam mais do que muitos, como ocorre até hoje. Em casa, nós somos ensinados que somos únicos, especiais. Aprendemos que nossas vontades sempre podem ser atendidas. […] Ir para a rua, no Brasil, ainda é um ato dramático, porque significa abandonar a teia de laços sociais onde todos se conhecem e ir para um espaço onde ninguém é de ninguém. E o trânsito é o lado mais negativo desse mundo da rua. É doentio, desumano e vergonhoso notar que 40 mil pessoas morrem por ano no trânsito de um país que se acredita cordial, hospitaleiro e carnavalesco. No Brasil, você se sente superior ao pedestre porque tem um carro. Ou superior a outro motorista porque tem um carro mais moderno ou mais caro. […] O motorista não consegue entender que ele não é diferente de outro motorista ou pedestre, que ele não tem um salvo-conduto para transgredir as leis. No Brasil, obedecer à lei é visto como uma babaquice, um sintoma de inferioridade. […]

DAMATTA, Roberto. A direção do Brasil. [Entrevista cedida a] Ricardo Calil. Trip, São Paulo, 8 set. 2010. Disponível em: https://revistatrip.uol.com.br/trip/roberto-da-matta. Acesso em: 24 ago. 2024.

Uma Constituição Cidadã

No Brasil, as discussões sobre o alcance da cidadania ganharam impulso com o fim da ditadura civil-militar, em 1985. Em meio ao processo de redemocratização, ficou claro que o país precisaria de uma nova Constituição, com os direitos necessários ao bom funcionamento da democracia. A elaboração da nova Constituição foi um processo marcado pela mobilização da sociedade, negociação e confronto de ideias. O documento final, em vigor até os dias de hoje, tornou-se um símbolo da luta por um país democrático e inclusivo.

Pela primeira vez, foram contemplados grupos como os povos indígenas e quilombolas, além de, também pela primeira vez, garantir o direito de voto aos analfabetos. Por esse motivo, a Constituição Federal de 1988 ganhou a denominação “Constituição Cidadã”, um documento que, mesmo imperfeito, buscou universalizar direitos numa sociedade historicamente marcada pela exclusão e pela desigualdade.

Ulysses Guimarães (1916-1992), presidente da Assembleia Nacional Constituinte, mostra o documento finalizado, em Brasília (DF), 1988.

• Í NDIO cidadão? Direção: Rodrigo Siqueira. Brasil: 7G Documenta, 2014. 1 vídeo (52 min). Disponível em: https://www.camara.leg.br/tv/432678-indio-cidadao/. Acesso em: 24 ago. 2024.

O documentário mostra, através de documentos e entrevistas, a luta dos povos indígenas durante a Assembleia Nacional Constituinte e a continuidade da mobilização para evitar a perda de direitos conquistados.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Leia o texto e, depois, faça o que se pede.

Produção coletiva. Espera-se que os estudantes aprofundem o conhecimento sobre a cidadania digital.

Você conhece o termo “cidadania digital”? A pesquisa Cidadania digital: como formar pessoas conscientes em um mundo tecnológico mostrou que, em 2021, 93% dos brasileiros entre 9 e 17 anos eram usuários de internet, somando um total de 22,3 milhões de crianças e adolescentes conectados no país. Esses números deixam clara a urgência de os jovens saberem navegar nas redes com segurança, identificar e prevenir a disseminação de fake news , entre outros aspectos. Elaborado pelos autores.

Levando em conta essas informações, forme um grupo com colegas e sigam estes passos.

a) Façam uma pesquisa sobre esse assunto e descubram quais são os principais desafios dos jovens com relação à cidadania digital.

b) Em seguida, escolham um desses desafios e desenvolvam uma campanha de conscientização voltada para o público jovem. A campanha pode ser no formato de vídeos e posts para redes sociais ou cartazes a serem fixados em escolas ou outros locais de circulação de jovens.

Saiba mais
NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Saiba mais

• O MENINO e o mundo. Direção:

Alê Abreu. Brasil: Filme de Papel, 2013. Streaming (85 min).

Animação em que um menino viaja pelo mundo em busca do pai. Em sua jornada, ele se depara com a pobreza, a exploração do trabalho e a destruição do meio ambiente, mostrando a importância dos direitos básicos.

Os direitos humanos

Como estudamos até agora, a democracia e a cidadania estão atreladas, consistindo em valores fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Mas há, ainda, outro componente muito importante nessa equação: os direitos humanos. Você sabe do que se trata?

De modo geral, podemos definir os direitos humanos como um conjunto de direitos a que todas as pessoas do planeta devem ter acesso, independentemente de sua etnia, crença, tom da pele ou classe social. Eles dizem respeito a necessidades básicas humanas, buscando garantir aspectos como o direito à vida digna, à saúde, à liberdade, à educação e ao trabalho digno.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos determina o direito de todos à educação.

A ideia de direitos humanos foi reforçada após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), como uma reação aos crimes contra a humanidade cometidos pela Alemanha nazista e pela Itália fascista. Naquele contexto, a legislação desses países autorizava ações como o extermínio de minorias consideradas inferiores, legitimando a perseguição a grupos como judeus, ciganos, pessoas com deficiência, homossexuais, entre outros. Foi nesse contexto que a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou, em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a fim de reforçar a importância dos direitos essenciais à vida e à liberdade e do combate a qualquer forma de discriminação. O documento foi o resultado do surgimento de um novo paradigma ético de direitos, segundo o qual os direitos contemporâneos deveriam ser universais e indivisíveis. Isso significa que, além de estarem acessíveis a todos, os direitos humanos não podem ser exercidos de maneira parcial, ou seja, todas as pessoas devem ter acesso a todos os direitos previstos e a cada um deles na sua totalidade. Os indivíduos também têm a responsabilidade de, ao usufruir de seus direitos, respeitar os direitos dos outros.

Sala de aula na Escola Municipal Capela do Moleque, localizada em sítio histórico que abriga o Patrimônio Cultural Kalunga, em Cavalcante (GO), 2024.

ADRIANO KIRIHARA/PULSAR IMAGENS

A Constituição Federal de 1988 foi elaborada de modo a referendar a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ela foi pensada com o objetivo de garantir os direitos ali previstos a toda a população do país, com especial atenção aos grupos vulneráveis, como crianças, pessoas idosas, pessoas com deficiência etc. Para isso, o Estado brasileiro criou, ainda, legislações específicas, como o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), o Estatuto da Pessoa Idosa (2003) e o Estatuto da Pessoa com Deficiência (2015).

Direitos das pessoas idosas

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define como pessoa idosa toda pessoa com mais de 60 anos. No Brasil, a população dessa faixa etária vem crescendo de forma muito rápida. O Censo Demográfico de 2022 mostrou, por exemplo, que, entre 2010 e 2022, a população do país aumentou 6,5%. Enquanto isso, no mesmo período, a população idosa aumentou 57,4%, chegando a 10,9% do total de brasileiros. Esses números nos mostram que é cada vez mais importante atentar para as pessoas idosas, compreendendo suas necessidades e garantindo que possam ter uma vida digna, com condições de exercer sua cidadania de forma plena. O Estatuto da Pessoa Idosa (lei no 10.741/2003) foi elaborado com esse objetivo.

São alguns direitos assegurados às pessoas idosas pelo estatuto: atendimento prioritário em órgãos públicos e privados; gratuidade no transporte público coletivo aos maiores de 65 anos; prioridade na tramitação de processos judiciais às pessoas com idade igual ou superior a 60 anos; vagas preferenciais em estacionamentos públicos e privados.

ATIVIDADE

Pessoas idosas se exercitam ao ar livre em parque, 2023.

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Pesquise a versão completa da Declaração Universal dos Direitos Humanos e leia com atenção os 30 artigos que compõem o documento. Em grupo, imaginem que vocês foram convidados a elaborar uma proposta para inclusão de mais um artigo na Declaração. Discutam o assunto, cheguem a um consenso e elaborem o artigo no caderno. Lembrem-se de justificar a escolha de vocês!

Produção pessoal.

A ética no decorrer do tempo

Você aprendeu que a criação da Declaração Universal dos Direitos Humanos resultou do processo de elaboração de um novo paradigma ético no campo dos direitos.

Pessoas participam de campanha de doação e praticam a solidariedade na construção de uma sociedade mais justa. Berlim (Alemanha), 2022.

Mas o que é ética?

A obra Ética a Nicômaco é uma das mais importantes de Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), filósofo grego nascido em Estagira, na Grécia antiga. Nessa obra, Aristóteles define a ética como a busca pela felicidade (eudaimonia, em grego), que é alcançada através da prática das virtudes. A virtude está no meio-termo entre os extremos de excesso e da deficiência, cultivada pelo equilíbrio nas ações. Na Idade Média, ela esteve muito vinculada aos valores do cristianismo e à busca pela salvação da alma. Após o Renascimento, passou-se a defender a ideia de que a ética deve ser baseada em pensamentos e ações humanas, e não mais em valores religiosos.

Leia, a seguir, o que o filósofo brasileiro Renato Janine Ribeiro (1949-) pensa sobre a importância da ética nos dias de hoje.

[…] nós a queremos porque ela é que nos permitirá uma convivência minimamente decente. Não temos mais base social para viver segundo valores da desigualdade e da discriminação. Os valores da igualdade, do respeito ao outro, tornam-se o requisito mínimo para nossa sociedade sobreviver. […] Muitas pessoas pensam que estão clamando por ética como se isso fosse algo puro, a busca do certo, quando as coisas são mais complexas; o clamor por ética, às vezes, se traduz na pergunta simplista: isso é ético ou não? […]

E tenho de responder que não há tabela, gabarito, regra, definição.

RIBEIRO, Renato Janine. Ética e direitos humanos: entrevista com Renato Janine Ribeiro. [Entrevista cedida a] Maria Lúcia Toralles-Pereira e Reinaldo Ayer de Oliveira. Interface, Botucatu, v. 7, n. 12, p. 149-166, 2003. p. 151.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Com base nessas reflexões, responda às questões.

a) O que é ética para você?

a) Resposta pessoal. Espera-se que o estudante leve em considera-

ção alguns dos aspectos apresentados no texto, como a ideia de que se trata de um conjunto de valores dos quais se define o que é ou não correto em termos de conduta individual e coletiva.

b) Por que o autor afirma que a ética é o que nos permite ter “uma convivência minimamente decente”?

b) Porque a ética se refere a um conjunto de valores validados por determinado grupo. Então, para poder conviver em meio a esse grupo, é preciso agir de maneira condizente a esses valores, de modo a não gerar conflitos e rupturas.

c) O que o autor quer dizer com a ideia de que não existe gabarito para a ética?

c) Ele quer dizer que a ética não é única nem fixa. Ela pode variar conforme o tempo e o lugar ou, até mesmo, dentro de uma mesma sociedade. Nesse sentido, pode-se dizer que a ética está em permanente estado de transformação e disputa.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

RECAPITULE

O conteúdo trabalhado ao longo do capítulo permite entender que, apesar de fundamentais à construção de uma sociedade justa e igualitária, a democracia, a cidadania e os direitos humanos não são instrumentos prontos ou mesmo garantidos. Resultam de processos permanentes de luta e reivindicação, marcados por avanços e retrocessos. Nesse sentido, é importante compreender que o rumo e o alcance desses princípios dependem, em grande medida, da participação popular, na qual os jovens têm um papel central.

A consolidação da democracia ao longo da história é indissociável do desenvolvimento da ideia de igualdade de direitos. A igualdade é um valor central para o regime democrático, uma vez que ele se baseia na ideia de que todos devem ter acesso aos mesmos direitos e deveres. Por esse motivo, é impossível pensar em democracia sem cidadania, pois só com seus direitos políticos, sociais e civis garantidos as pessoas podem participar plenamente dos processos de decisão sobre os rumos do seu país.

O Brasil é, hoje, um país democrático. Infelizmente, porém, isso não significa que todos os brasileiros tenham acesso a todos os direitos da mesma forma, fazendo que, aqui, a cidadania plena ainda seja um desafio a ser alcançado. Existem muitos fatores para que isso aconteça. Desde a desigualdade social até o “jeitinho brasileiro”, aspectos que se interconectam no nosso cotidiano, fazendo que, na prática, o acesso aos direitos não ocorra da mesma forma para todos. Por fim, é importante compreender como o conceito de direitos humanos, desenvolvido após a Segunda Guerra Mundial e transpostos para a Declaração Universal dos Direitos Humanos, conecta-se às ideias de democracia e de cidadania. Eles buscam garantir critérios básicos para a vida digna em todo o mundo, independentemente das especificidades de cada país. Apesar de não ter a força de uma legislação, esse documento reúne parâmetros éticos válidos para toda a humanidade, baseados nos princípios da igualdade e do respeito à diversidade.

Saber o que significa cada um desses conceitos, entender a relação de interdependência entre eles e perceber o modo como eles permeiam o mundo ao nosso redor são, sem dúvida, os primeiros passos para atuar de forma ativa na construção coletiva de uma sociedade melhor para todos.

1. Produção coletiva. Espera-se que os estudantes desenvolvam uma visão crítica sobre a democracia no Brasil.

ATIVIDADES

FINAIS Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Em grupo, reflitam sobre o Índice de Democracia da revista The Economist apresentado na página 165. Em seguida, atribuam uma pontuação de 0 a 10 para o Brasil em cada um dos critérios mencionados. Escrevam uma breve justificativa para cada nota e, ao final, façam a média da pontuação. Por fim, verifiquem qual foi o critério com menor pontuação e elaborem uma proposta de projeto de lei com uma medida que vise melhorá-lo.

2. Qual é a relação entre a elaboração da Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Segunda Guerra Mundial?

2. A Declaração dos Direitos Humanos foi publicada pela ONU, em 1948, em resposta às atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

3. Em 1993, o sociólogo brasileiro Herbert de Souza (1935-1997), mais conhecido como Betinho, criou a Ação da Cidadania, o maior movimento de combate à fome do Brasil. Com o slogan “Quem tem fome, tem pressa”, em 30 anos, a Ação da Cidadania já arrecadou e distribuiu mais de 55 milhões de quilos de alimentos para pessoas de todo o país. A mobilização segue chamando a atenção para a urgência do combate à miséria, trabalhando para estimular a participação cidadã na construção e melhoria das políticas públicas sociais.

SINDICATO DOS PROFESSORES DO DISTRITO FEDERAL. Quem tem fome, tem pressa. 2020. 1 cartaz.

• Tendo em vista o nome e o objetivo do movimento criado por Betinho, explique qual é a relação entre o combate à fome e a garantia da cidadania.

4. (Enem – 2019)

3. A relação se dá porque a miséria e a fome impedem que as pessoas tenham garantido seu direito a uma vida digna, afetando as condições de sua participação ativa na sociedade.

A criação do Sistema Único de Saúde (SUS) como uma política para todos constitui-se uma das mais importantes conquistas da sociedade brasileira no século XX. O SUS deve ser valorizado e defendido como um marco para a cidadania e o avanço civilizatório. A democracia envolve um modelo de Estado no qual políticas protegem os cidadãos e reduzem as desigualdades. O SUS é uma diretriz que fortalece a cidadania e contribui para assegurar o exercício de direitos, o pluralismo político e o bem-estar como valores de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, conforme prevê a Constituição Federal de 1988.

RIZZOTO, M. L. F. et al. Justiça social, democracia com direitos sociais e saúde: a luta do Cebes. Revista Saúde em Debate, n. 116, jan.mar. 2018 (adaptado).

Segundo o texto, duas características da concepção da política pública analisada são:

a) Paternalismo e filantropia.

b) Liberalismo e meritocracia.

c) Universalismo e igualitarismo.

d) Nacionalismo e individualismo.

e) Revolucionarismo e coparticipação.

5. (Enem – 2019)

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela Assembleia Geral da ONU na Resolução 217-A, de 10 de dezembro de 1948, foi um acontecimento histórico de grande relevância.

Ao afirmar, pela primeira vez em escala planetária, o papel dos direitos humanos na convivência coletiva, pode ser considerada um evento inaugural de uma nova concepção de vida internacional.

LAFER, C. Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). In: MAGNOLI, D. (Org.). História da Paz São Paulo: Contexto, 2008.

A declaração citada no texto introduziu uma nova concepção nas relações internacionais ao possibilitar a

a) superação da soberania estatal.

b) defesa dos grupos vulneráveis.

c) redução da truculência belicista.

d) impunidade dos atos criminosos.

e) inibição dos choques civilizacionais.

6. (UFPR – 2021)

Em Raízes do Brasil , Sérgio Buarque de Holanda desenvolve uma ideia em torno da qual constrói sua interpretação sociológica: a do “homem cordial”. Este seria o brasileiro típico, fruto da colonização portuguesa e representante conceitual da nossa sociedade. Acontece que, como a palavra “cordial” na linguagem comum tem o sentido de afável , afetuoso, a ideia do “homem cordial” ficou associada à concepção do brasileiro como gentil , hospitaleiro, pacífico. E Sérgio Buarque foi muito criticado por essa maneira de ver os brasileiros.

(O’DONNEL, Júlia et al. Tempos Modernos, Tempos de Sociologia. Rio de Janeiro: Editora do Brasil, 2018. p. 346-347.)

A partir da reflexão acima, é correto afirmar que para Sérgio Buarque de Holanda a “cordialidade” designa:

a) um comportamento cortês e civilizado.

b) um símbolo da cultura brasileira que deveria ser valorizado.

c) o enaltecimento do caráter igualitário e impessoal das leis.

d) o personalismo e a aversão ao formalismo da burocracia.

e) um dos efeitos da urbanização e da industrialização do Brasil.

7. (Enem – 2017)

Após a Declaração Universal dos Direitos Humanos pela ONU, em 1948, a Unesco publicou estudos de cientistas de todo o mundo que desqualificaram as doutrinas racistas e demonstraram a unidade do gênero humano. Desde então, a maioria dos próprios cientistas europeus passou a reconhecer o caráter discriminatório da pretensa superioridade racial do homem branco e a condenar as aberrações cometidas em seu nome.

SILVEIRA, R. Os selvagens e a massa: papel do racismo científico na montagem da hegemonia ocidental. Afro-Ásia, n. 23, 1999 (adaptado).

A posição assumida pela Unesco, a partir de 1948, foi motivada por acontecimentos então recentes, dentre os quais se destacava o(a)

a) ataque feito pelos japoneses à base militar americana de Pearl Harbor.

b) desencadeamento da Guerra Fria e de novas rivalidades entre nações.

c) morte de milhões de soldados nos combates da Segunda Guerra Mundial.

d) execução de judeus e eslavos presos em guetos e campos de concentração nazistas.

e) lançamento de bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki pelas forças norte-americanas.

1. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante comente o peso das escolhas eleitorais, que têm no voto a expressão direta da vontade do eleitor e um dos principais instrumentos da democracia.

1O

OBJETIVOS DO CAPÍTULO:

C onhecer os três poderes da República Federativa do Brasil, incluindo suas funções e interações. Identificar direitos e deveres associados ao funcionamento do Estado, das instituições e dos poderes.

C onhecer os conceitos de lei, poliarquia e voto, analisando suas implicações no contexto político e social.

Legislação, Estado e política

BABU. [Tudo o que você digitar poderá ser usado contra você pelos próximos quatro anos]. A Estância de Guarujá, Guarujá, 16 out. 2020. Disponível em: https://www. estanciadeguaruja. com.br/charge-da -semana-16-10-2020/ Acesso em: 23 set. 2024.

A Ciência Política é um campo de estudo que pode auxiliar as pessoas na compreensão de seus direitos e deveres, bem como no entendimento sobre o funcionamento do Estado, das leis e das instituições.

Como você estudou nos capítulos 8 e 9, as instituições democráticas no Brasil funcionam em um regime republicano e em um sistema de governo democrático, no qual todo poder emana do povo, que o exerce diretamente ou por meio de representantes eleitos. O ato de votar é uma forma de exercer a cidadania, escolhendo representantes que terão a responsabilidade de governar em seu nome.

2. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante relate exemplos de candidatos, dos materiais de campanha e até de casos de conflito.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Que relações você estabelece entre a charge e o texto? Explique.

2. Do que você se lembra sobre a última eleição que aconteceu no Brasil? Comente.

3. O que você sabe sobre as regras eleitorais brasileiras? Compartilhe com colegas e professor.

3. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante comente, entre outras possibilidades, o fato de ocorrer de dois em dois anos, a duração dos mandatos eleitorais, a idade mínima para votar etc.

4. Na Constituição de 1988, o Brasil adotou um sistema de voto universal e obrigatório para todos os cidadãos com idade entre 18 e 70 anos, sendo facultativo para os analfabetos, os maiores de 70 anos e os jovens entre 16 e 17 anos. O voto é uma forma de demonstrar opinião, vontade ou preferência. Nesse sentido, se você fosse votar, quais seriam os seus critérios para escolher um candidato?

4. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante comente a importância de avaliar os valores e a história do candidato (pessoal, profissional, política e partidária), além de suas propostas e ideias.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

República Federativa do Brasil

No preâmbulo da Constituição Federal, é possível ler este trecho.

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2024]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 16 set. 2024.

Nesse texto, existem duas expressões cuja compreensão é fundamental para o entendimento da organização do país: Estado democrático de direito e República Federativa do Brasil.

Estado democrático de direito indica que o Brasil é uma democracia, isto é, um país cujo governo é eleito pelo povo, e que a Constituição e as demais leis do país valem para todos, dos cidadãos comuns às autoridades políticas. Além disso, significa que existe soberania popular, isto é, que a autoridade reside no grupo de pessoas que forma a própria sociedade política.

República Federativa do Brasil é o nome oficial do país e se refere à forma de governo (república) e à sua organização (federação). Segundo o cientista político italiano Norberto Bobbio (1909-2004), no livro Dicionário de política , publicado em 1983, “república” é a forma de governo em que o chefe de Estado (uma só pessoa ou um colegiado) é eleito pelo povo, direta ou indiretamente. No Brasil, o chefe de Estado é o presidente da República, eleito de modo direto a cada quatro anos.

Já o termo “federativa” indica a divisão do território em estados, que estão unidos sob o governo federal, mas que possuem certa autonomia. No Brasil, existem 26 Unidades da Federação mais o Distrito Federal, onde está a capital nacional, Brasília.

preâmbulo: introdução breve que apresenta os princípios ou objetivos de um texto, como em constituições ou documentos oficiais.

Mulher com a Constituição Federal de 1988 em mãos. Florianópolis (SC), 2018.

A Federação brasileira é a união de entidades que delegam parte de sua autonomia para o governo central no que diz respeito a acordos comerciais, planejamento e defesa do território nacional (fronteiras e espaço aéreo), política internacional e elaboração de leis sobre determinado tema.

O equilíbrio e a limitação de poderes se materializam na organização administrativa em três níveis. Nessa divisão, há três poderes autônomos e independentes entre si (Executivo, Legislativo e Judiciário), e a administração está dividida em três esferas (federal – União; estadual – Unidades da Federação; e municipal). Segundo dados do IBGE, no ano de 2022, o Brasil tinha 5 568 municípios, além do Distrito Estadual de Fernando de Noronha e do Distrito Federal.

Observe este quadro.

Esferas e poderes públicos no Brasil

ESFERAS

União Presidente da República Congresso Nacional (deputados federais e senadores)

Estados Governador

Assembleia Legislativa (deputados estaduais e distritais)

Supremo Tribunal Federal (STF), Superior Tribunal de Justiça (STJ), Tribunais de Justiça Federal, da Justiça do Trabalho, da Justiça Eleitoral e da Justiça Militar Federal

Tribunal de Justiça, Juizados Especiais, Justiça Estadual Militar

Municípios Prefeito Câmara Municipal (vereadores) Não possui

Fonte: BRASIL. Controladoria-Geral da União. Entenda a gestão: esferas e poderes. Brasília, DF: Portal da Transparência. Disponível em: https://portaldatransparencia.gov.br/entenda-a-gestao-publica/esferas-e-poderes. Acesso em: 16 set. 2024.

ATIVIDADE

a) Resposta pessoal. Espera-se que o estudante indique as esferas municipal e/ou estadual, conforme previsto no artigo 211 da Constituição.

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Leia o trecho da Constituição e responda às questões.

Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino.

[…]

b) Resposta pessoal. Espera-se que o estudante comente se tratar de uma escola estadual, conforme previsto no artigo 211 da Constituição.

§ 2 o Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil.

§ 3 o Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2024]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 16 set. 2024.

a) A escola que você frequentou no Ensino Fundamental era municipal, estadual ou federal?

b) E a escola atual na qual você estuda, é municipal, estadual ou federal?

c) Em sua opinião, por que as escolas de Ensino Médio são prioritariamente estaduais ou de responsabilidade do Distrito Federal? Comente e depois faça uma pesquisa com a orientação do professor para confirmar a resposta.

c) Resposta pessoal. Espera-se que o estudante comente que, para além do estabelecido no artigo 211 da Constituição, o alto custo da educação de nível médio, em razão da quantidade de jovens, pode ser impraticável para alguns municípios.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
PODERES Poder Executivo Poder Legislativo Poder Judiciário

INVESTIG AÇÃO

Construção e uso de questionário: direitos e deveres estudantis

Os direitos e deveres dos estudantes na Educação Básica estão previstos na Constituição Federal de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Mas será que os estudantes conhecem seus direitos e deveres?

OBJETIVO

Em grupos, façam uma pesquisa utilizando o método de construção e uso de questionários para investigar o tema “A cidadania na escola e o estudante como sujeito de direitos”, a partir da pergunta: “Os estudantes conhecem seus direitos e deveres?”.

Definição de público-alvo ETAPA

1

ETAPA

2

1. D efinam quais séries e turmas da escola serão incluídas na pesquisa.

Elaboração de questionário

2. C riem um esboço do questionário com base nas orientações do professor.

3. Decidam o tipo de perguntas que serão usadas (abertas, fechadas ou de múltipla escolha), garantindo que estejam adequadas ao objetivo da pesquisa.

5

Estudantes preparam pesquisa escolar.

Análise dos dados

7. O rganizem as respostas por categorias e sistematizem os dados.

8. U tilizem a tabulação cruzada para filtrar os resultados e definir as conclusões. Por exemplo, uma opção é cruzar a variável série com a variável gênero e avaliar a correlação entre essas características.

9. Analisem se existem problemas na compreensão dos estudantes sobre seus direitos e deveres e discutam possíveis soluções.

ETAPA

3

Revisão e teste do questionário

4. Revisem o questionário e façam os ajustes necessários.

5. A pliquem o questionário a um grupo pequeno de pessoas para avaliar a clareza das perguntas e sua eficácia.

ETAPA

Definição do formato

6. Definam se o questionário será impresso ou digital.

6

Divulgação dos resultados

10. C ompartilhem os resultados da pesquisa com a turma.

Relembrem os objetivos da pesquisa e as hipóteses formuladas inicialmente.

Dica

Poderes da República

Os poderes da República (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) são organizados em três esferas: Legislativo, Executivo e Judiciário. Cada um desses poderes, ao exercer suas atribuições constitucionais, deve buscar a realização das finalidades do Estado, que estão definidas no artigo 3O da Constituição Federal.

Art. 3 o Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II – garantir o desenvolvimento nacional;

III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2024]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 16 set. 2024.

Como você estudou no capítulo 8, o princípio do equilíbrio entre os poderes, ou o sistema de freios e contrapesos, como dizia o político e filósofo francês Montesquieu (1689-1755), representado pela tripartição dos poderes políticos, é fundamental para garantir a manutenção do Estado democrático e impedir o despotismo. Observe o esquema que exemplifica o funcionamento desse mecanismo.

PODER EXECUTIVO

1. Presidente

2. Ministérios e secretarias

3. Agências governamentais

RESPONSABILIDADE: aplicar as leis

•Indica Supremajuízesparaa Corte •Concede indultos •Pode declararinconstitucionaisatospresidenciais •Pode vetarleis •Pode votarimpeachment •Pode derrubarvetosapós votaçãocom maioria

PODER LEGISLATIVO

1. Câmara dos Deputados 2. Senado

RESPONSABILIDADE: criar as leis

• Analisa as indicações de juízes para a Suprema Corte

• Pode declarar leis inconstitucionais

Composição do Poder Judiciário conforme o art. 92 da Constituição Federal de 1988* PODER JUDICIÁRIO

RESPONSABILIDADE: interpretar as leis

* STF, CNJ, STJ, TST, TRF e juízes federais, tribunais e juízes federais, tribunais e juízes eleitorais, tribunais e juízes militares, tribunais e juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.

despotismo: forma de governo em que o poder é concentrado em um governante que arbitrariamente tiraniza e oprime os que não seguem as suas normas.

Elaborado com base em: SALOMÃO, Gabriela Maia; RESENDE, Matheus. Os 3 poderes do Brasil: papéis e responsabilidades. In: SIGALEI. São Paulo, 22 jul. 2021. Blogue. Disponível em: https://www. sigalei.com.br/blog/os-3 -poderes-do-brasil-papeis-e -responsabilidades

Acesso em: 23 set. 2024.

Poder Executivo

O Poder Executivo, ou governo, é a instância do Estado responsável por executar as leis, implementar políticas públicas e administrar o funcionamento do país, dos estados (Unidades da Federação) ou dos municípios. No nível distrital e estadual, o Poder Executivo é exercido pelo governador; no nível municipal, pelo prefeito – ambos auxiliados por secretários. Em nível nacional, é exercido pelo presidente, que conta com o auxílio de ministros nomeados por ele. Esses ministros são responsáveis por chefiar ministérios destinados a atuar em setores específicos do país, como educação, saúde, meio ambiente, entre outros, auxiliando o presidente em suas atribuições.

Observe como é organizada a estrutura do Poder Executivo no Brasil.

É comum que as pessoas confundam o governo/Executivo com o Estado, esquecendo que as leis são elaboradas pelo Legislativo, outro poder que compõe o Estado.

Níveis

Chefe do Executivo

Auxiliares

Poder Executivo da União dos estados e Distrito Federal dos municípios

Presidente da República Governadores Prefeitos

Ministros de Estado

Secretários estaduais e distritais Secretários municipais

Fonte: Elaborado pelo autor.

Na esfera do Poder Executivo, existem dois órgãos fundamentais para o funcionamento da democracia: a Advocacia-Geral da União AGU), que representa a União em questões judiciais e presta assessoria jurídica ao Poder Executivo, e a Controladoria-Geral da União CGU), responsável por realizar auditorias internas e fiscalizar a aplicação dos recursos federais, por meio de ações de controle interno, auditoria pública, correição, ouvidoria e prevenção e combate à corrupção.

• Em grupos, realizem uma pesquisa com orientação do professor.

a) Selecionem um ou mais ministérios.

correição: área de atuação da CGU responsável por apurar irregularidades e aplicar penalidades.

ATIVIDADE Consulte orientações no Manual do Professor. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes compreendam a função dos ministérios que compõem o governo.

b) Coletem informações sobre sua função, a pessoa que atualmente ocupa o cargo e se ela é filiada a algum partido político.

c) Montem uma apresentação e compartilhem os resultados da pesquisa com a turma.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Poder Legislativo

O Poder Legislativo é responsável por criar leis e fiscalizar as ações do Poder Executivo. No Brasil, esse poder é exercido, em nível municipal, pelas câmaras municipais, compostas de vereadores; em nível estadual, pelas assembleias legislativas, compostas de deputados estaduais; no Distrito Federal, pela Câmara Legislativa, com função semelhante às das assembleias legislativas; e, por fim, no nível federal, o Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, sendo bicameral (ou seja, formado por duas casas): Senado Federal (composto de 81 senadores eleitos para mandatos de oito anos) e Câmara dos Deputados (composta de 513 deputados eleitos para mandatos de quatro anos).

A distribuição das cadeiras na Câmara dos Deputados é proporcional à população de cada estado. O quadro mostra a distribuição dos deputados federais em 2024.

Número de deputados por estado

• Acre 8 • Paraíba 12

• Alagoas 9 • Paraná 30

• Amapá 8 • Pernambuco 25

• Amazonas 8 • Piauí 10

• Bahia 39 • Rio de Janeiro 46

• Ceará 22 • Rio Grande do Norte 8

• Distrito Federal 8 • Rio Grande do Sul 31

• Espírito Santo 10 • Rondônia 8

• Goiás 17 • Roraima 8

• Maranhão 18 • Santa Catarina 16

Segundo o Censo 2010, havia 190 755 799 habitantes no país e 513 vagas na Câmara. Então, o QPN seria de 371 843,66. Vamos usar o estado da Bahia como exemplo. Para calcular o QPE, divide-se a população da Bahia (14 016 906) pelo QPN (371 843,66), chegando ao valor de 37,69. Arredondando para números inteiros, a Bahia teria 38 assentos na Câmara dos Deputados. No entanto, de acordo com decisão do TSE de 2014, após realização do cálculo para todas as Unidades da Federação, constata-se o preenchimento inicial de 496 cadeiras das 513 existentes, o que indica uma sobra de 17 vagas. O cálculo das sobras é realizado excluindo as Unidades da Federação com QPE acima de 70 (São Paulo) e abaixo de oito (Acre, Amapá, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Roraima, Sergipe e Tocantins). Em outras palavras, as 17 cadeiras que compõem as sobras são distribuídas entre as 18 Unidades da Federação remanescentes. Portanto, a Bahia fica com 39 cadeiras. Fonte: BRASIL. Câmara dos Deputados. Papel e história da Câmara: número de deputados por estado. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, [2024]. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/ a-camara/conheca/numero -de-deputados-por-estado. Acesso em: 19 set. 2024.

• Mato Grosso 8 • São Paulo 70

• Mato Grosso do Sul 8 • Sergipe 8

• Pará 17 MOUSES SAGIORATO

• Minas Gerais 53 • Tocantins 8

Para calcular essa distribuição, utiliza-se o quociente populacional nacional (QPN). Esse valor é obtido pela divisão da população total do Brasil pela quantidade de vagas na Câmara dos Deputados. O próximo passo é calcular o quociente populacional estadual (QPE), que corresponde à divisão da população de cada estado pelo QPN. O QPE, arredondado para números inteiros, define o número de assentos que cada estado terá na Câmara dos Deputados. Segundo a Constituição, nenhum estado pode ter menos que oito e mais de 70 deputados federais. Em 2023, o Supremo Tribunal Federal (STF) definiu que a Câmara dos Deputados deveria atualizar o número de parlamentares de acordo com o Censo 2022 até 30 de junho de 2025. Caso não o fizesse, a incumbência ficaria com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Nos estados com até 12 deputados federais, a Constituição estabelece que o número de deputados estaduais deve ser o triplo da representação na Câmara dos Deputados. Para os estados com mais de 12 deputados federais, são garantidos 36 deputados estaduais — correspondentes às 12 primeiras cadeiras —, acrescidos de um deputado estadual para cada cadeira federal adicional. Assim, se um estado possui 15 deputados federais, tem direito a 39 cadeiras na Assembleia Legislativa (36 + 3).

Segundo o cientista político brasileiro Sérgio Henrique Hudson de Abranches (1949-), no livro Presidencialismo de coalizão, publicado em 2018, a formação da coalizão começa nas alianças eleitorais, passa pela constituição do governo e culmina na agenda política para a formulação de políticas públicas e aprovação de leis. Atualmente, no Brasil, além de fazer leis e fiscalizar o Executivo, o Poder Legislativo participa do presidencialismo de coalizão, caracterizado por um pacto político entre Legislativo e Executivo. Nesse sistema, o chefe do Executivo, ao nomear ministros e cargos comissionados, considera as alianças políticas.

Outro mecanismo dessa coalizão são as emendas parlamentares. De acordo com a Constituição, os membros do Congresso Nacional podem participar da elaboração do orçamento anual, adicionando novas programações orçamentárias para atender às demandas das comunidades que representam – por exemplo, financiamento de obras ou projetos públicos no seu estado. Embora a elaboração e a execução da Lei Orçamentária Anual (LOA), que estima receitas e fixa despesas do governo federal para cada ano, sejam funções do Poder Executivo, cabe ao Congresso Nacional aprová-la. O mesmo ocorre com a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que orienta a elaboração da LOA, e com o Plano Plurianual (PPA), que define as metas do país para o período de quatro anos. Assim, as negociações sobre os recursos que o governo deseja utilizar precisam considerar as emendas parlamentares.

cargo comissionado: cargo temporário, ocupado por uma pessoa que é nomeada para realizar atividades específicas, geralmente em posição de destaque.

ATIVIDADE Consulte orientações no Manual do Professor. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante realize o cálculo seguindo as seguintes regras: para os estados com mais de 12 deputados federais, são garantidos 36 deputados estaduais – correspondentes às 12 primeiras cadeiras –, acrescidos de um deputado estadual para cada cadeira federal adicional.

• Calcule o número de deputados estaduais da Assembleia Legislativa do seu estado com base na quantidade de deputados federais e nas regras estabelecidas pela Constituição.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Fonte: BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Panorama e estrutura do poder judiciário brasileiro Brasília, DF: CNJ, [2024]. Disponível em: https://www.cnj.jus. br/poder-judiciario/ panorama-e -estrutura-do-poder -judiciario-brasileiro/. Acesso em: 18 set. 2024.

Poder Judiciário

As funções do Poder Judiciário consistem em garantir que as leis elaboradas pelo Legislativo sejam cumpridas, resolver conflitos e assegurar o cumprimento dos direitos individuais, coletivos e sociais. O órgão máximo do Judiciário brasileiro é o Supremo Tribunal Federal (STF), cujos ministros são nomeados pelo presidente da República e aprovados pelo Legislativo. Conforme a Constituição Federal, o Poder Judiciário é dividido em áreas de atuação, como a justiça comum (estadual e federal) e a justiça especial, composta de Justiça do Trabalho, Justiça Eleitoral e Justiça Militar.

O acesso à justiça geralmente ocorre na comarca ou na cidade mais próxima de onde reside a pessoa que entra com a ação. Dentro de uma comarca, existem varas especializadas em diferentes áreas do Direito, como família, cível, criminal, entre outras, onde o juiz de direito decide o caso e profere a sentença. Se ambas as partes concordarem com a decisão, o processo se encerrará na primeira instância. No entanto, se houver discordância, é possível recorrer, e o processo seguirá para a segunda instância, que ocorre nos Tribunais de Justiça (TJ) ou Tribunais Regionais Federais (TRF), onde são julgados os recursos contra as decisões da primeira instância. Cada um dos 26 estados brasileiros, além do Distrito Federal, possui o próprio TJ. Nesses tribunais, atuam magistrados chamados desembargadores, responsáveis por analisar e julgar os recursos. Se as partes não concordarem com a decisão (acórdão) da segunda instância, ainda poderão recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) ou ao Supremo Tribunal Federal (STF). A diferença é

Panorama e estrutura do Poder Judiciário no Brasil

(Estadual)

Especiais (Estadual)

Especiais (Federal)

Tribunais de Justiça
Tribunais Regionais Federais
Varas Estaduais
Varas Federais
Turmas Recursais (Estadual)
Turmas Recursais
Turmas Recursais (Federal)
Juizados
Juizados
Conselho Nacional de Justiça

que o STF atua como protetor da Constituição, enquanto o STJ atua como defensor e intérprete das leis brasileiras.

Outros dois órgãos fundamentais à justiça brasileira são o Ministério Público (MP) e a Defensoria Pública. De acordo com a Constituição Federal, cabe ao MP defender os direitos sociais e individuais, de ordem jurídica e do regime democrático. Isso significa que o MP é responsável por proteger os interesses da sociedade e garantir o respeito à Constituição e às leis. As Defensorias Públicas, por outro lado, asseguram o direito constitucional de defesa a todos os brasileiros, oferecendo serviços jurídicos gratuitos à população, tanto na esfera federal quanto na estadual.

Tribunais de Justiça Militar

Auditorias Militares

Entenda a diferença!

Vara

Local onde um juiz exerce suas funções. Em cidades pequenas, uma vara cuida de todos os assuntos.

Fórum

Espaço físico onde funcionam os órgãos do Poder Judiciário.

Instância

Graus de jurisdição, ou etapas do processo judicial, que incluem primeira instância, segunda instância e tribunais superiores, como o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior do Trabalho (TST).

Entrância

Classificação das comarcas por tamanho, como primeira (pequeno porte, com apenas uma vara), segunda (médio porte) e especial (cinco ou mais varas), conforme o número de habitantes.

Comarca

Região em que um ou mais juízes de primeiro grau exercem sua jurisdição, abrangendo um ou mais municípios, a depender do número de habitantes.

Elaborado com base em: BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. CNJ serviço: saiba a diferença entre comarca, vara, entrância e instância. Brasília, DF: CNJ, [2024]. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/cnj-servico-saiba-a-diferenca-entre-comarca-vara -entrancia-e-instancia/. Acesso em: 18 set. 2024.

Auditorias Militares da União

arbitrariedade: uso abusivo de autoridade.

É comum ouvir as pessoas dizerem que todos devem cumprir a lei ou que a lei deveria ser para todos. Mas, afinal, o que é uma lei? Nos grupos religiosos, fala-se na “lei de Deus”, imutável e inquestionável. Contudo, já existiu uma época em que o cientificismo, como a física newtoniana, buscava encontrar as leis que regem as relações entre os corpos físicos. Na Antiguidade, no Império Mesopotâmico, praticava-se a lei de talião (ou lei de retaliação, mais conhecida como "olho por olho, dente por dente") que consistia basicamente na ideia de que o agressor deveria ser punido na mesma medida do sofrimento que causou. Nas Ciências Sociais, desde Montesquieu, na sua obra O espírito das leis, publicada em 1748, afirma-se que “as leis, em seu significado mais amplo, são as relações necessárias que derivam da natureza das coisas”. Para ele, existem as leis naturais, perfeitas e indiscutíveis, feitas por Deus, que regem a natureza, e as “leis positivas”, instituídas pelo ser humano, que variam de acordo com fatores como clima, qualidade e extensão de terrenos, modos de vida, religião, riquezas, comércio etc. Para entender a natureza das coisas, é necessário conhecer quem exerce o poder e como ele é exercido nas relações institucionais e nos costumes. As relações políticas, por exemplo, são regidas por leis que derivam dessas relações, como as classes sociais, a organização econômica, a distribuição do poder etc. Em suma, as leis são criadas por seres humanos para regular as relações entre si.

Para evitar a arbitrariedade da lei e das instituições, é necessário o Direito. Se a lei impõe obrigações, o Direito limita o poder de ambas. Leia este trecho da obra de Norberto Bobbio, Teoria do ordenamento jurídico, publicada originalmente em 1982.

• CÓDIGOS. Portal da Legislação. Disponível em: https://www4.pla nalto.gov.br/legis lacao/portal -legis/legislacao-1/ codigos-1. Acesso em: 18 set. 2024. Nesse site, é possível conhecer os códigos que reúnem as normas sobre assuntos específicos.

‘[…] se pode falar de Direito somente onde haja um complexo de normas formando um ordenamento, e que, portanto, o Direito não é norma, mas um conjunto coordenado de normas, sendo evidente que uma norma jurídica não se encontra jamais só, mas está ligada a outras normas com as quais forma um sistema normativo’.

BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. Tradução: Marcia Celeste Cordeiro Leite dos Santos. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1995. p. 21.

A Constituição Federal rege o ordenamento jurídico do país, com o objetivo de estabelecer regras que regulem e pacifiquem os conflitos de interesse da sociedade. No entanto, para saber como agir e o que é permitido ou proibido em determinada situação, lugar ou instituição, devem-se consultar os códigos. Eles são compreendidos como a reunião, em uma única lei, das normas sobre determinado assunto ou ramo do Direito, como Código Penal, Código de Trânsito, Código

Saiba mais

Florestal, Código Comercial, entre outros. O código é a lei em seu sentido material. Por exemplo, se você quiser saber sobre as leis de proteção e defesa do consumidor, deve consultar o Código de Defesa do Consumidor – e assim por diante, conforme o tema em questão.

No Brasil, existem diferentes tipos de lei. Observe o quadro.

Tipo de proposição

Lei ordinária

Lei complementar

Medida provisória

Emenda constitucional

Decreto legislativo

Resolução

Descrição

As leis ordinárias são normas comuns que surgem a partir da necessidade da época. Por exemplo, a lei no 14.960/2024 reconhece o Festival Folclórico de Parintins e os Bois Garantido e Caprichoso como manifestação da cultura nacional.

As leis complementares são necessárias para regulamentar exigências do texto constitucional. Por exemplo, a lei no 203/2023 trata das despesas destinadas a programas de incentivo à permanência de estudantes no Ensino Médio.

As medidas provisórias são elaboradas exclusivamente pelo presidente da República em caso de relevância e urgência. Por exemplo, a MPV no 1.256/2024 trata do crédito extraordinário para o enfrentamento do estado de calamidade pública no Rio Grande do Sul em áreas de prevenção de desastres e subvenção de crédito.

As propostas de emendas à Constituição (PEC) emendam ou alteram a Constituição. Por exemplo, a emenda constitucional no 117/2022 incluiu na Constituição regras para participação política das mulheres, como a aplicação de percentuais mínimos de recursos do fundo partidário nas campanhas.

Os decretos legislativos são leis de competência exclusiva do Congresso Nacional. Por exemplo, autorizar o presidente ou vice-presidente da República a se ausentar do país por mais de 15 dias.

As resoluções são normas internas do Legislativo. Por exemplo, a resolução do Congresso Nacional no 1, de 8 de maio de 2002, trata da apreciação de medidas provisórias.

Quem pode propor?

Parlamentares, comissões parlamentares, presidente, STF, tribunais superiores, procurador-geral da República e povo

Parlamentares, comissões parlamentares, presidente, STF, tribunais superiores, procurador-geral da República e povo

Sujeita ao veto presidencial?

Alcance dos efeitos

Sim Toda a população

Presidente

Sim Toda a população

Sim (após avaliação da medida pelo Congresso)

Toda a população

1/3 da Câmara ou Senado, presidente, mais da metade das assembleias legislativas estaduais Não Toda a população

Deputados e senadores Não Congresso Nacional

Deputados e senadores Não Câmara ou Senado

Elaborado com base em: BLUME, Bruno André. Quais são os tipos de leis? [Florianópolis]: Politize!, 6 ago. 2015. Disponível em: https://www.politize.com.br/tipos-de -leis-processo -legislativo/. Acesso em: 18 set. 2024.

CONEXÕES com

HISTÓRIA

Constituição

A ideia de Constituição na sociedade ocidental tem suas raízes na Inglaterra, em 1215, durante o reinado de João Sem-Terra (11661216). Derrotado pelos nobres ingleses e pelo clero, o rei é compelido a assinar a Magna Carta. Esse documento histórico visava limitar os poderes do rei, em resposta às suas práticas abusivas de cobrança de impostos e às frequentes derrotas militares nas quais João Sem-Terra se envolvia.

Leia dois artigos presentes na Magna Carta.

MAGNA CARTA. 1215. Pergaminho. British Library, Londres (Inglaterra).

‘Art. 48 - Ninguém poderá ser preso, ou detido ou despojado de seus bens, costumes e liberdade, senão em virtude de julgamento de seus pares, segundo as leis do país.’

[…]

‘Art. 12 - Não lançaremos taxas ou tributos, sem o consentimento do conselho geral do reino […].’

CARDOSO, Antonio Manoel Bandeira. A Magna Carta: conceituação e antecedentes. Revista de Informação Legislativa, ano 23, n. 91, p. 135-140, jul./set. 1986, p. 140. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/182020/000113791.pdf. Acesso em: 19 set. 2024.

Esse documento influenciou, ainda que indiretamente, a elaboração das Constituições de vários países, incluindo o Brasil. Observe o quadro com as oito Constituições brasileiras.

Ano de adoção Promulgada ou outorgada?

1824 Outorgada

1891 Promulgada

1934 Promulgada

1937 Outorgada

1ª Constituição do Brasil: estabeleceu o Império como Monarquia Parlamentarista. O Estado era confessional (a Igreja Católica estava ligada ao Estado). O governo era unitário e havia quatro Poderes. Teve o maior tempo de vigência. Conhecida como “Constituição da Mandioca”, por exigir que os eleitores tivessem patrimônio.

Instituiu a República, o presidencialismo, o federalismo e o Estado laico (a separação do Estado da Igreja). Dividiu o poder em três. Teve forte influência da Constituição dos Estados Unidos. O nome oficial do Brasil passou a ser “Estados Unidos do Brasil”.

Aumentou os poderes do Executivo, mas restringiu a autonomia dos estados. Instituiu algumas leis trabalhistas. Foi a de menor duração.

Autoritária, foi a Constituição do Estado Novo e deu poderes ditatoriais a Getúlio Vargas. Aboliu os partidos políticos. Os estados eram governados por interventores. Criou a legislação trabalhista. Conhecida como “a Polaca”, por ter sido inspirada na Constituição da Polônia.

Ano de adoção

Promulgada ou outorgada?

1946 Promulgada

1967 Outorgada

1969 Outorgada

1988 Promulgada

Observações

Reintroduziu o regime democrático com um pluripartidarismo. Reestabelece a autonomia dos estados. Durante a sua vigência, houve um período de parlamentarismo.

Tecnicamente foi promulgada por um parlamento sob controle dos militares que estavam no poder. Teve caráter autoritário e focado na segurança nacional. Estabeleceu as eleições indiretas para presidente da República. Mudou o nome oficial do país para “República Federativa do Brasil”.

Tecnicamente foi uma extensa emenda à Constituição de 1967, mas é considerada como uma nova Constituição após uma decisão do Superior Tribunal Federal sobre a questão. Concedeu grande concentração de poderes ao Executivo Federal e enfraqueceu o federalismo, concentrando o poder na União.

Reinstituiu o Estado democrático de direito e fortaleceu o federalismo. Acabou com a censura, reinstituiu o pluripartidarismo e assegurou as liberdades civis e os direitos políticos. Instituiu várias leis de caráter social. Conhecida como “Constituição Cidadã”.

Fonte: MATTOS, Alessandro Nicoli de. O livro urgente da política brasileira: um guia para entender a política e o Estado no Brasil. [S. l.: s. n.], 2016. Localizável em: subt. 10.1. Constituições do Brasil. Disponível em: https://zykonn.wordpress.com/wp-content/ uploads/2017/02/1481028497lupb_politize_2016.pdf. Acesso em: 19 set. 2024.

Segundo o historiador brasileiro João Carlos Jarochinski Silva, as Constituições brasileiras alternam-se entre um projeto liberal, influenciado pela Revolução Francesa e pela independência estadunidense, que estabelece parâmetros político-institucionais, e um projeto positivista, marcado pela crença no cientificismo e no desenvolvimentismo. Somente com a Constituição de 1988 surge a garantia da cidadania social e do Estado democrático. Observe as fotografias.

Manifestação popular no dia da instalação da Assembleia Nacional Constituinte. Brasília (DF), 1987.

ATIVIDADE

Multidão invade e vandaliza a sede dos Três Poderes. Brasília (DF), 2023.

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Relacione as imagens com o conteúdo apresentado na seção e responda: quais são as diferenças entre essas manifestações?

Espera-se que o estudante comente que, na imagem 1, as pessoas demandavam a formulação de uma Constituição que restabelecesse a democracia. Já na imagem 2 , buscavam o rompimento com a Constituição, desmantelando as instituições e o Estado democrático de direito.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

PERSPECTIVAS

O cientista político estadunidense Robert Alan Dahl (1915-2014) buscou compreender a natureza do poder e da democracia. Dahl desenvolveu a teoria pluralista da democracia. Ele argumentou que, nas demo cracias contemporâneas, o poder não está concentrado em um único grupo, há menos participação popular direta e há mais controle por diferentes grupos políticos organizados. A essa fragmentação de influências, deu o nome de poliarquia. Leia um trecho da obra de Dahl em que ele explica a figura.

Oligarquias competitivas

Inclusividade (participação) Hegemonias fechadas

Fonte: DAHL, Robert A. Poliarquia: participação e oposição. Tradução: Celso Mauro Paciornik. São Paulo: Edusp, 2005. p. 30.

A democracia poderia ser concebida como um regime localizado no canto superior direito. Mas como ela pode envolver mais dimensões do que as duas da figura […], e como (no meu entender) nenhum grande sistema no mundo real é plenamente democratizado, prefiro chamar os sistemas mundiais reais que estão mais perto do canto superior direito de poliarquias. Qualquer mudança num regime que o desloque para cima e para a direita, ao longo do caminho III, por exemplo, pode-se dizer que representa algum grau de democratização. As poliarquias podem ser pensadas então como regimes relativamente (mas incompletamente) democratizados, ou, em outros termos, as poliarquias são regimes que foram substancialmente popularizados e liberalizados, isto é, fortemente inclusivos e amplamente abertos à contestação pública.

DAHL, Robert A. Poliarquia: participação e oposição. Tradução: Celso Mauro Paciornik. São Paulo: Edusp, 2005. p. 31.

Segundo Dahl, para um país ser uma poliarquia plena, são necessárias a contestação e a participação pública. Isso significa garantir à oposição a capacidade e a liberdade de contestar decisões e disputar eleições de modo justo, além de assegurar o envolvimento da população nas decisões políticas por meio do voto e de outros mecanismos. Existem diferentes tipos de poliarquia, dependendo das combinações desses fatores. Por exemplo, na hegemonia fechada, há pouca ou nenhuma competição pelo poder e limitada possibilidade de participar do governo (como nas ditaduras totalitárias); na oligarquia competitiva, o poder é disputado por elites fechadas, excluindo parte da população (como na Suíça pré-1971, que não permitia o voto às mulheres); e na hegemonia inclusiva, um grupo se mantém no poder sem competição justa, mas permite participação da população.

ATIVIDADE Consulte orientações no Manual do Professor.

• A partir da teoria de Dahl, organizem-se em trios e respondam: o Brasil seria uma poliarquia? Justifique.

Espera-se que os estudantes comentem que, com base nos dois requisitos de Dahl, competição e participação, é possível afirmar que o Brasil é uma poliarquia.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
Robert Alan Dahl, na Universidade Yale, Connecticut (Estados Unidos).
MOUSES SAGIORATO

O voto no Brasil

No Brasil, o voto é obrigatório, direto, secreto, universal, periódico e livre, sendo considerado uma cláusula pétrea da Constituição. Leia o que a Constituição Federal estabelece no art. 14.

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

I - plebiscito;

II - referendo;

III - iniciativa popular. […]

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2024]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 16 set. 2024.

Em um biênio, são eleitos prefeitos e vereadores e, no outro, presidente da República, governadores, deputados estaduais, deputados federais, deputados distritais e senadores. O sistema brasileiro é organizado da maneira a seguir.

1. Eleições majoritárias em um único turno: para a eleição de senadores com mandatos de oito anos. Por exemplo, em 2022, cada Unidade da federação elegeu um senador, enquanto em 2026 elegeu dois senadores, e assim sucessivamente.

2. Eleições majoritárias em dois turnos: para os cargos de presidente da República, governadores e prefeitos. Sem a maioria absoluta dos votos válidos no primeiro turno, será realizado um segundo turno entre os dois candidatos mais votados. Será eleito aquele que receber a maioria dos votos válidos. Para prefeitos, isso só ocorre em cidades com mais de 200 mil eleitores.

3. Eleições proporcionais (em vigor em 2024): aplicam-se para eleger vereadores, deputados estaduais, federais e distritais. As vagas são distribuídas proporcionalmente aos votos recebidos pelos partidos e/ou federações partidárias, considerando-se a votação individual e da legenda. Para atribuição das vagas, utilizam-se estes critérios.

• Quociente eleitoral (QE): número de votos necessários para um partido ou federação ter direito a uma vaga. Cálculo: divisão do total de votos válidos pelo número de vagas disponíveis.

• Q uociente partidário (QP): determina a quantidade de vagas por partido ou federação. Cálculo: divisão dos votos válidos do partido pelo QE.

• Votação mínima: para ser eleito, o candidato deve obter pelo menos 10% do quociente eleitoral em votos. Se ainda houver vagas sobrando, elas serão redistribuídas entre os partidos que atingiram 80% do quociente eleitoral, e os candidatos devem ter pelo menos 20% do quociente para serem considerados.

cláusula pétrea: disposição que não admite supressão ou restrição e não pode ser alterada.

plebiscito e referendo: consultas populares sobre questões de relevância constitucional, legislativa ou administrativa. O plebiscito ocorre antes da criação do ato legislativo ou administrativo, enquanto o referendo acontece depois, permitindo ao povo ratificar ou rejeitar a proposta.

iniciativa popular: apresentação de projeto de lei à Câmara dos Deputados, subscrito por, no mínimo, 1% do eleitorado nacional, distribuído por ao menos cinco estados, com não menos de 0,3% dos eleitores de cada um.

biênio: período de dois anos consecutivos.

RECAPITULE

Neste capítulo, você aprendeu sobre a importância da promulgação da Constituição Federal de 1988 para consolidar um Estado democrático de direito. Por meio dela, internamente, restabeleceu-se o Brasil como uma república federativa. Em relação à política externa, foi garantida a soberania do Estado democrático como um país independente, com autoridade sobre o próprio território.

Além disso, compreendeu que o princípio do equilíbrio entre os poderes, representado pela tripartição dos poderes políticos (Executivo, Legislativo e Judiciário), é fundamental para garantir a manutenção do Estado democrático e impedir o despotismo. Você estudou também o conceito de lei e os diferentes tipos de leis que existem no país. Aprendeu o que é o voto, como se elege cada representante e quais são suas funções.

A cidadania é um exercício individual e coletivo dos direitos civis, políticos e sociais, além do cumprimento dos deveres para com o país e as futuras gerações. O Estado democrático de direito é uma eterna construção, e a manutenção da democracia requer vigilância constante contra a arbitrariedade das leis e das instituições em defesa das liberdades civis e individuais, da equidade e da justiça social.

ATIVIDADES FINAIS

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Vamos fazer um exercício sequencial para compreender o quociente eleitoral e o quociente partidário.

a) Suponha que, em determinado município A, a Câmara Municipal disponha de 30 vagas para vereadores e que, naquela cidade, tenham sido contabilizados 450 mil votos válidos. Qual é o quociente eleitoral?

a) A divisão desses 450 mil votos pelo número de vagas dará um quociente eleitoral de 15 mil.

b) Com base no resultado do quociente eleitoral, calcule quantas vagas possui o Partido X, que obteve 90 mil votos. Lembre-se de que o quociente partidário (QP) é calculado dividindo a quantidade de votos válidos recebidos pelo partido e/ou federação pelo quociente eleitoral.

b) Com o quociente eleitoral de 15 mil, o Partido X, que obteve 90 mil votos, terá direito a seis vagas.

2. De acordo com o sistema eleitoral vigente no Brasil, em uma eleição majoritária estão em disputa os cargos de:

a) vereador e prefeito.

b) vereador e deputado estadual.

c) governador e presidente da República.

d) presidente da República e deputado federal.

e) senador e deputado estadual.

3. No Brasil, o sistema da representação proporcional é o adotado nas eleições para:

a) governador e vice-governador de estado.

b) Senado Federal e Câmara dos Deputados.

c) Câmara dos Deputados, assembleias legislativas e câmaras municipais.

d) presidente e vice-presidente da República.

e) prefeito municipal e para as câmaras municipais.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
NÃO ESCREVA NO LIVRO.

(Fuvest – 2023)

O voto feminino no Brasil completou 90 anos. Desde que a professora Celina Guimar ã e s se alistou para votar em Mossor ó , e m 1927, e Alzira Soriano, primeira mulher eleita para um cargo público no pa í s , assumiu a Prefeitura de Lajes, em 1929, ambos munic ípios do Rio Grande do Norte, muita coisa mudou. Em que pesem os avanç o s legais, o cen á r io nacional segue desfavorável, e a participação d as mulheres na pol ít ica ainda é irrisór ia considerando-se o perfil demogr á f ico brasileiro. Mulheres somam 52% dos votantes, mas representam apenas 15% dos parlamentares do Congresso. A maioria da populaç ão feminina é negra, ao contrá r io da parlamentar, que é majoritariamente n ão negra. Ind í gena, apenas uma. Verdade que o percentual de participa ç ã o feminina na Câmara e no Senado cresceu na comparação c om legislaturas anteriores. Ainda assim, é pouco. Na prát ica, a pol ít ica no Brasil é feita por homens brancos. Dados da Uni ã o I nterparlamentar, que re ú n e pa í s es ligados à ONU, colocam o Brasil na posi ç ã o 145 o do ranking Mulheres nos Parlamentos Nacionais. Numa naç ão onde em 2021 quatro mulheres foram v ít imas de feminic í d io por dia, e os casos de estupro voltaram a crescer, j á p assou da hora de usar a via democr át ica para tentar mudar esse cen á r io. É necess á r io que as mulheres assumam o protagonismo nesse pleito, reivindiquem cabe ç a s de chapas majorit á r ias e exijam transparência na distribuição dos recursos do fundo partidá r io. Claro que n ão h á garantias de transforma ç ã o , mas pode ser uma bela oportunidade de ao menos dar uma sacolejada no jogo e incluir em pauta a discuss ã o d e alguns problemas reais do Brasil.

ROSA, Ana Cristina. “Com mulheres na cabe ça”. Folha de S. Paulo. 27.02.2022. Adaptado.

É correto afirmar que o cenário nacional ao qual se refere a autora do texto

a) di sp ô s equitativamente as legislaturas, ainda que sem afetar a participação das mulheres.

b) sofreu um expressivo retrocesso quanto à participação das mulheres na política.

c) alterou-se ao longo da história do Brasil, porém não consolidou significativamente a atuação das mulheres na política.

d) adequou-se ao perfil demográf ico brasileiro, embora sem alçar o país a boas posições nos rankings de mulheres na política.

e) estruturou-se por meio de vias democráticas, visto que possibilitou a discussão de problemas relacionados a fundos partidários.

5. (Enem – 2013)

Para que não haja abuso, é preciso organizar as coisas de maneira que o poder seja contido pelo poder. Tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de executar as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as divergências dos indivíduos. Assim, criam-se os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, atuando de forma independente para a efetivação da liberdade, sendo que esta não existe se uma mesma pessoa ou grupo exercer os referidos poderes concomitantemente.

MONTESQUIEU, B. Do espírito das leis. São Paulo: Abril Cultural, 1979 (adaptado).

A divisão e a independência entre os poderes são condições necessárias para que possa haver liberdade em um Estado. Isso pode ocorrer apenas sob um modelo político em que haja

a) exercício de tutela sobre atividades jurídicas e políticas.

b) consagração do poder político pela autoridade religiosa.

c) concentração do poder nas mãos de elites técnico-científicas.

d) estabelecimento de limites aos atores públicos e às instituições do governo.

e) reunião das funções de legislar, julgar e executar nas mãos de um governante eleito.

CAPÍTULO

Movimentos sociais 11

OBJETIVOS DO CAPÍTULO:

Reconhecer os movimentos sociais como ações coletivas importantes para reivindicar mudanças.

C onhecer o papel histórico dos movimentos sociais.

Identificar o potencial de influência e de mobilização social dos movimentos sociais na transformação da sociedade e a oportunidade de criar outros modelos de inovação socioculturais.

Avaliar a institucionalização dos movimentos sociais.

A nalisar a importância da participação democrática, destacando o papel da população para construir uma sociedade mais justa e participativa.

Segurando cartazes com a frase “Vidas negras importam”, manifestantes ao redor do Brasil pediram o fim da violência contra negros, depois da morte de João Alberto Silveira Freitas (1980-2020), provocada por dois seguranças brancos de uma rede de supermercados em Porto Alegre (RS). Esse protesto ocorreu na mesma época de uma série de manifestações globais inspiradas pelo movimento “Black Lives Matter ”, que ganhou força após a morte de George Floyd (1973-2020), um homem negro morto por um policial branco em Minneapolis, nos Estados Unidos. Esse movimento, traduzido para o português como “Vidas negras importam”, luta contra a violência e a discriminação racial, especialmente contra aquelas cometidas durante as atividades policiais. Após a morte de George Floyd, protestos aconteceram não só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo, incluindo o Brasil. As pessoas se uniram para exigir justiça, igualdade e o fim do racismo estrutural.

Manifestantes durante ato de protesto em São Gonçalo (RJ), em 2020.

1. Espera-se que o estudante reconheça que o papel das pessoas retratadas é expressar indignação e exigir justiça, igualdade e o fim da violência policial e do racismo.

2. Espera-se que o estudante identifique que a mensagem destaca a importância de valorizar e proteger a vida das pessoas negras.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

Sob orientação do professor, responda às perguntas.

1. Qual o papel das pessoas retratadas no protesto?

3. Ambos os protestos lutam contra a violência policial, o racismo estrutural e a discriminação racial, demonstrando a solidariedade internacional na luta por justiça e igualdade.

2. O que significa a mensagem “Vidas negras importam”, escrita na faixa presente na fotografia?

3. O que o protesto no Brasil tem a ver com o protesto nos Estados Unidos?

4. Em sua opinião, o que é um movimento social?

4. Resposta pessoal. Um movimento social é uma ação coletiva organizada por um grupo de pessoas que compartilham objetivos comuns, lutando por causas como justiça, igualdade, direitos humanos etc.

Movimentos sociais: definição e estratégias

Em termos práticos, movimentos sociais são ações coletivas para favorecer um interesse comum ou assegurar um objetivo comum, por meios externos à esfera tradicional das instituições formais e políticas. Os movimentos sociais são iniciativas coletivas para a modificação dos aspectos da sociedade. Exemplos de movimentos sociais são os movimentos trabalhistas, ambientalistas, pelos direitos das mulheres, dos LGBTQIAPN+, pela defesa da vida, entre outros.

Os movimentos sociais têm grande relevância na vida política das sociedades, e os processos de globalização têm proporcionado conexões internacionais e globais. Isso tem ocorrido quando muitas pessoas, mesmo sem se conhecerem, se organizam para reivindicar por algo em que acreditam.

Nos dias de hoje, existem diferentes tipos de movimentos sociais. Alguns duram bastante tempo, e outros são temporários, mas todos têm o objetivo de alcançar algo que importa para as pessoas envolvidas. Segundo o sociólogo britânico Anthony Giddens (1938-), na obra Sociologia, publicada originalmente em 1989, é possível dividir os movimentos sociais em dois tipos: conjunturais e estruturais.

Um movimento conjuntural surge para atender a uma demanda específica, com um curto espaço de tempo, como os movimentos de 2013, que, aparentemente, tinham como intuito principal lutar contra o aumento das tarifas de ônibus em São Paulo (SP). Já um movimento estrutural busca conquistar direitos e outras demandas a longo prazo, mesmo que essas solicitações mudem com o tempo. Um exemplo é o movimento feminista, que, em diferentes décadas, lutou pelo direito ao voto, por maior participação das mulheres na política e por igualdade salarial.

Por meio dos movimentos sociais, observamos como as pessoas se organizam usando diferentes estratégias e ações para expressar suas ideias e fazer exigências em relação às questões sociais, econômicas, políticas e/ou culturais. Pode-se agir em diversos âmbitos, como o trabalhista, o ambiental, o político, o racial, o de gênero, entre outros.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Manuel Castells nas comemorações dos 200 anos do Senado. Brasília (DF), 2024.

Além disso, os movimentos sociais não são apenas locais, podem ser nacionais ou internacionais. O movimento social “Vidas negras importam”, que vimos na abertura deste capítulo, é um exemplo de movimento social internacional.

As redes sociais e outros meios de comunicação como a internet podem ser utilizados pelos movimentos sociais a favor de causas comuns. As campanhas de mídia social ajudam a disseminar informações, mobilizar apoiadores e viralizar mensagens. Outras inovações tecnológicas, incluindo o desenvolvimento e uso de aplicativos e plataformas digitais, permitem organizar e mobilizar apoiadores de maneira eficaz.

O sociólogo e professor espanhol Manuel Castells (1942-), na obra A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade, publicada originalmente em 2001, oferece uma análise abrangente e detalhada a respeito das transformações sociais, econômicas e culturais provocadas pela revolução digital, destacando a importância das redes de comunicação e de informação na configuração da sociedade contemporânea. Quando as pessoas participam de movimentos sociais, começam a se sentir parte de algo socialmente maior. Pessoas que se sentiam excluídas passam a se sentir incluídas em um grupo engajado em uma causa significativa, o que pode gerar um sentimento de pertencimento e de organização em rede.

A partir da década de 2000, houve crescimento de acesso à internet no Brasil, promovendo novas conexões interpessoais e maior engajamento na discussão de novos temas. As práticas on-line variam desde organizações horizontais e democráticas até o controle e a dominação por aqueles que sabem usar melhor as mídias digitais.

Uma estratégia eficaz para os movimentos sociais é a coleta de assinaturas por meio de petições e abaixo-assinados, demonstrando apoio popular e pressionando autoridades ou organizações a agir. A educação e a conscientização, por meio de palestras, workshops, seminários e materiais informativos, podem desempenhar um papel crucial na sensibilização do público quanto às questões defendidas.

Além disso, colaborar com a grande mídia proporciona a cobertura de eventos, entrevistas e artigos de opinião, amplificando a mensagem de um movimento. A arte e a cultura são frequentemente utilizadas para comunicar mensagens de maneira criativa e impactante, por meio de performances, murais, instalações artísticas, música e teatro.

Nesse contexto, práticas como lobbying e advocacy envolvem o engajamento direto com legisladores e autoridades governamentais para promover mudanças políticas e legais.

O lobbying é a prática de tentar influenciar decisões de autoridades governamentais em nome de um grupo, empresa ou organização. Lobistas se reúnem com políticos e usam várias estratégias para promover os interesses de quem representam, buscando aprovar, modificar ou rejeitar leis e regulamentos.

Já o advocacy é uma estratégia utilizada por pessoas, grupos, ONGs, ativistas e organizações para defender e promover causas importantes, exigindo do governo a implementação de políticas públicas que ajudem a melhorar a sociedade.

Eventos e mobilizações locais, como feiras e festivais comunitários, ajudam a engajar diretamente a comunidade e a construir o apoio local. Por fim, ações jurídicas, como ingressar com processos judiciais, podem desafiar leis e políticas injustas, buscando mudanças através do sistema judicial. Por exemplo, a lei no 7.347/1985, conhecida como a Lei da Ação Civil Pública, tem como intuito responsabilizar civilmente aqueles que causem danos morais ou patrimoniais a qualquer interesse coletivo. Dessa forma, várias entidades, como Ministério Público, associações e empresas privadas, possuem legitimidade para propor ações em defesa, por exemplo, do meio ambiente. O objetivo dessas ações é responsabilizar quem causa danos ao meio ambiente. Além de cobrar medidas para prevenir, impedir ou corrigir os danos ambientais, é possível solicitar indenização financeira pelos danos causados. Em prol da coletividade, essa ação poderá impedir a ocorrência de um dano ambiental iminente ou em curso.

Saiba mais

• O QUE são os movimentos sociais?

[S. l.: s. n.], 2023. 1 vídeo (3 min). Publicado pelo canal TV Unicamp. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=0YCyp6r7Y5E. Acesso em: 29 set. 2024.

A professora Ana Claudia Teixeira, do Programa de PósGraduação em Ciência Política da Unicamp, explica o conceito de movimentos sociais destacando que esses movimentos têm uma forte dimensão identitária e envolvem-se ativamente em disputas político-culturais.

a) Na imagem A, há um movimento cultural em prol de crianças e adolescentes carentes. Na B, a importância

b) A imagem A é um projeto social, e a imagem B é um movimento social.

O que caracteriza um movimento social?

Movimentos sociais são definidos por características fundamentais: identidade clara, identificam um opositor ou adversário e se articulam em torno de um projeto específico de vida e de sociedade. Apresentam conjuntos de demandas por meio de práticas como pressão e mobilização, além de serem reativos a situações de necessidade urgente.

De maneira geral, os movimentos sociais abordam e redefinem o espaço público, colaboram com outras organizações da sociedade civil e política, exercem um poder significativo de controle social e desenvolvem novos modelos de inovação sociocultural.

inovação sociocultural: criação e aplicação de novas soluções para problemas sociais complexos, resultando em melhorias substanciais no bem-estar das pessoas e das comunidades.

Análises do sociólogo francês Alain Touraine (1925-2023), na obra O retorno do actor: ensaio sobre a sociologia, publicada originalmente em 1984, sugerem que os movimentos sociais representam a energia de resistir ao que é antigo e opressivo, ou de construir algo novo e libertador. Essas energias sociais, antes dispersas, são concentradas e ampliadas através de “fazeres propositivos”.

O cientista político estadunidense Sidney Tarrow (1938-), em sua obra The New Transnational Activism, publicada originalmente em 2005, aborda que a globalização permite conexões rápidas e sistemáticas além das fronteiras nacionais, possibilitando a criação de movimentos sociais verdadeiramente transnacionais ou globais.

Observe as fotografias.

Professor e estudantes durante oficina de corpo musicado do Projeto Reprotai, em Salvador (BA), em 2024. O projeto oferece formação artística, cultural e esportiva a crianças e adolescentes sem recursos econômicos.

ATIVIDADE

Manifestantes em ato pela demarcação e contra mineração em terras indígenas na frente do Palácio do Planalto, em Brasília (DF), em 2024.

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Com base nos exemplos ilustrados, responda em seu caderno.

a) Quais são as causas defendidas nas imagens A e B?

b) Em cada uma delas, você identifica um projeto social ou um movimento social? Justifique.

c) Pesquise e explique quais são as diferenças entre um projeto social e um movimento social.

c) Com a pesquisa, espera-se que o estudante traga elementos que possibilitem diferenciar um projeto social de um movimento social.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
A B

O alcance dos movimentos sociais

O alcance histórico dos movimentos sociais dos trabalhadores remonta aos primórdios das primeiras lutas operárias, antes mesmo da Primeira Revolução Industrial, ocorrida por volta de 1760. Conforme o historiador argentino Osvaldo Coggiola (1952-), no artigo “Os inícios das organizações dos trabalhadores”, publicado originalmente em 2002, operários chapeleiros, em Paris, declararam greve por melhores salários em 1724. Em 1789, a Revolução Francesa, marco de movimento social na Idade Contemporânea, reivindicou por liberdade, igualdade e fraternidade, dando fim aos privilégios aristocráticos do Antigo Regime. Em 1791, influenciados pelos ideais franceses da Revolução, escravizados das fazendas açucareiras, em São Domingos, voltaram-se contra os senhores. Esse movimento social, que teve como uma das lideranças Toussaint Louverture (1743-1803), culminou com a independência de São Domingos em 1804, que passou a se chamar Haiti. Seu primeiro governante foi Jean-Jacques Dessalines (1758-1806).

Na primeira metade do século XIX, organizações sindicais e movimentos de trabalhadores buscavam melhorar direitos trabalhistas básicos, como melhores condições de trabalho e diminuição da carga horária. Ao final do século XIX, nos principais países industrializados, os sindicatos começaram a ter reconhecimento institucional.

Na Europa, o movimento sufragista ganhou força a partir de 1903, quando a ativista britânica Emmeline Pankhurst (1858-1928), que já militava pelo direito ao voto feminino desde o século XIX, fundou a União Social e Política das Mulheres. Como consequência desse movimento social, em 1906, a Finlândia foi o primeiro país europeu a dar o direito de voto às mulheres nas eleições nacionais. Ao longo do tempo, expandiram-se as reivindicações dos movimentos feministas, nos quais foram inseridas demandas por igualdade de gênero em todas as esferas da vida – direitos reprodutivos, igualdade salarial e fim da violência contra as mulheres.

LOUIS, Alexandre-François. Retrato de Toussaint Louverture

Início do século XIX. Óleo sobre tela, 65,1 cm x 54,3 cm.

piquete: no contexto de greves ou manifestações, refere-se a um grupo de trabalhadores que se reúne na entrada de uma empresa ou local de trabalho para impedir a entrada de outros trabalhadores ou para conscientizar sobre as razões de uma greve. O objetivo é pressionar empregadores ou governos a atender a demandas trabalhistas.

Nos Estados Unidos, o movimento na luta contra a segregação racial e pela igualdade de direitos para afro-americanos teve como uma das principais lideranças o ativista estadunidense Martin Luther King Jr. (19291968), inspirando movimentos similares em outras partes do mundo.

Durante a Guerra do Vietnã (1955-1975), movimentos ambientalistas ao redor do mundo ganharam força em resposta à crescente degradação ambiental causada pelos Estados Unidos durante a guerra, como a utilização de herbicidas como o Agente Laranja em plantações. As preocupações ambientais foram intensificadas pela contracultura da década de 1960, que criticava o impacto da guerra e promovia uma consciência ecológica.

Movimentos sociais na América Latina

Segundo os estudos de Touraine, nos primeiros anos do século XXI, alguns países da América Latina experimentaram uma intensificação do processo democrático e o ressurgimento de lutas sociais que eram consideradas tradicionais décadas atrás, como os movimentos étnicos, especialmente dos indígenas na Bolívia e no Equador, ligados ou não a movimentos nacionalistas, como os bolivarianos.

Alguns desses movimentos se baseiam em ideias ligadas ao “bem viver” dos povos andinos da Bolívia e do Equador, transformando-se em propostas para governar o Estado – um Estado plurinacional composto de diferentes grupos étnicos que ultrapassam as fronteiras tradicionais do Estado-nação –, como ocorreu na Bolívia com Evo Morales (1959-), o primeiro presidente indígena do país, eleito em 2005 e reeleito em 2009 e 2014.

Todos esses movimentos têm emergido na esfera pública como agentes de novos conflitos e renovação das lutas sociais coletivas. Eles não apenas trazem à tona novos conflitos sociais, como questões ligadas à identidade cultural, justiça social e direitos territoriais, mas também revitalizam lutas que já existiam anteriormente, adaptando-as ao contexto atual. Movimentos que antes eram vistos como insurgentes, agora mostram forte capacidade organizativa, como os piqueteiros, pessoas que utilizam o piquete como método de protesto, na Argentina, em resposta à crise econômica e ao desemprego; os cocaleiros, aqueles que cultivam folhas de coca, na Bolívia e no Peru, e que lutam pela defesa de seus modos de vida; e os zapatistas, grupo de camponeses e indígenas que organizou um movimento inspirado na antiga luta empreendida pelo líder revolucionário Emiliano Zapata (1879-1919), no México, defendendo a autonomia e os direitos das comunidades locais.

Assim, esses movimentos sociais passam a ter um papel visível e significativo no espaço público, sendo reconhecidos como forças ativas na sociedade.

Movimentos sociais no Brasil

No Brasil, movimentos como o abolicionismo marcaram um ponto determinante na luta pela liberdade dos escravizados, culminando na abolição da escravatura em 1888. Esse movimento foi seguido por outros, como a Revolução Federalista no Rio Grande do Sul, entre 1893 e 1895, e a resistência de Canudos na Bahia, entre 1896 e 1897, que representaram reações populares contra o governo central e as elites locais.

No século XX, o movimento operário ganhou força no Brasil, principalmente durante o governo do presidente Getúlio Vargas (1882-1954), no Estado Novo (1937-1945), em que direitos trabalhistas foram conquistados, culminando com a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em 1943. Durante a ditadura civil-militar (1964-1985), o Brasil testemunhou uma intensa mobilização de diversos setores da sociedade contra o regime autoritário, incluindo movimentos estudantis, sindicais e de intelectuais, além de movimentos armados de resistência.

O movimento ambientalista também emergiu como uma resposta às crescentes ameaças à natureza, especialmente na Amazônia, a partir da década de 1970. Nos anos 1990, vimos o ressurgimento do movimento dos estudantes com novo perfil de atuação, os “caras-pintadas”. Os protestos dos caras-pintadas foram marcados por passeatas, ocupações de praças públicas e atos simbólicos em várias cidades do país, culminando no impeachment do então presidente do país, Fernando Collor de Mello (1949-), em 1992.

Com o respaldo da Constituição Federal de 1988, fortaleceram-se os movimentos sociais dos povos originários. A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) foi fundada em 1989 e visa fortalecer as lutas dos povos originários por terra, saúde e educação, reafirmando seus projetos de vida e reivindicando reconhecimento e justiça cultural e territorial.

A partir da década de 1990, o movimento LGBTQIAPN+ avançou na busca por direitos civis e igualdade, enfrentando a discriminação e a violência baseada na orientação sexual e na identidade de gênero. O movimento negro, além de cultural, passou a focar na construção de identidade e na luta contra a discriminação racial no Brasil e no mundo.

Manifestação a favor do impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello na avenida Paulista. São Paulo (SP), 1992.

JUCA MARTINS/OLHAR IMAGEM

CONEXÕES com

Movimentos sociais dedicados à agricultura familiar

A Geografia desempenha um papel importante na compreensão e na ação dos movimentos sociais dedicados à agricultura familiar no Brasil. A análise da distribuição de terras no Brasil, por exemplo, ajuda a mapear regiões com grandes propriedades latifundiárias e áreas de terras improdutivas. Entre os movimentos sociais no Brasil voltados à agricultura, podemos citar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e o Movimento de Mulheres Camponesas (MMC).

Os movimentos sociais do campo, em assentamentos, têm desenvolvido a produção de alimentos e outros produtos por meio das relações familiares, cooperativas ou comunitárias.

Brasil: assentamentos rurais – 2022

Equador OCEANO

Assentamentos

Mais

De

Famílias assentadas

Mais de 80000

De 30001 a 80000

De 10001 a 30000

Até

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 9. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2023. p. 142.

A Geografia Ambiental é imprescindível para esses movimentos, pois examina práticas agrícolas sustentáveis. Assim, é possível incorporar práticas agroecológicas em assentamentos, na busca por promover uma relação harmoniosa com

o meio ambiente. A análise dos recursos naturais, como água, solo e vegetação, possibilita que a agricultura familiar alcance resultados positivos na colheita.

As geografias econômica e social ajudam a entender como a desigualdade de acesso à terra está ligada a outras formas de desigualdade, como a educacional e a de saúde.

O geógrafo brasileiro Bernardo Mançano Fernandes (1958-) utiliza uma abordagem que combina a geografia com a sociologia para entender as dinâmicas do território, a luta pela reforma agrária e os conflitos de terra no Brasil. Leia atentamente o trecho a seguir.

O território é utilizado como conceito central na implantação de políticas públicas e privadas nos campos, nas cidades e nas florestas, promovidas por transnacionais, governos e movimentos socioterritoriais. […] Nesse contexto, tanto o conceito de território quanto os territórios passam a ser disputados.

[…] O que está em disputa é desde o pedaço de chão, onde vive o sujeito, onde estão a comunidade, o bairro até as formas de organização espacial e territorial dos campos, cidades e florestas […].

As disputas territoriais são, portanto, de significação das relações sociais e de controle dos diferentes tipos de território pelas classes sociais. […]

[…]

[…] As políticas de dominação e de resistência utilizam o conceito de território para delimitar tanto os espaços geográficos disputados quanto demarcar os pleiteados. […]

[…] Soberania é um princípio do conceito de território. Todavia, antes de ser um princípio, ela é uma necessidade humana para a liberdade. A soberania é uma construção histórica dos povos e suas nações como também é uma construção das classes sociais e seus grupos internos. Todavia, a soberania não é poder político exclusivo do Estado sobre o território. A soberania do Estado é garantida pelas soberanias das múltiplas forças sociopolíticas que garantem o Estado. […] As instituições que formam o Estado Nação, como seus Poderes, os partidos, os s indicatos, as igrejas, as fundações, as cooperativas, as empresas, os movimentos e as ONGs (organizações não governamentais), constroem espaços e territórios no interior no território do Estado, constituindo assim diferentes soberanias.

FERNANDES, Bernardo Mançano. Sobre a tipologia de territórios. In: SAQUET, Marcos Aurelio; SPOSITO, Eliseu Silvério (org.). Territórios e territorialidades: teorias, processos e conflitos. São Paulo: Expressão Popular: Unesp, 2009. p. 200-202.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

Mançano Fernandes, em 2020.

• Na sua opinião, em que medida os movimentos sociais podem auxiliar na diminuição das desigualdades no acesso à terra? Espera-se que o estudante reflita sobre o papel dos movimentos sociais em auxiliar os trabalhadores, as famílias e as comunidades a garantir sua soberania nos territórios em que vivem e produzem.

Bernardo
BERNARDO MANÇANO FERNANDES/ACERVO PESSOAL
NÃO ESCREVA NO LIVRO.

ATIVIDADE Consulte orientações no Manual do Professor.

• Com a orientação do professor, em grupos de até cinco estudantes, façam uma atividade de gamificação sobre o tema “movimentos sociais”, conteúdo estudado neste capítulo. Para isso, acompanhem o passo a passo para participar do jogo dos cards. Lembrem-se de que cada etapa gera uma pontuação. Ganha o grupo que fizer mais pontos!

Sigam o roteiro.

a) Etapa 1 – Pesquisa de movimentos sociais

Cad a grupo deverá escolher dois movimentos sociais dentro de um mesmo âmbito: a) ambiental; b) a favor dos direitos humanos de grupos minoritários; c) antirracista; d) a favor dos direitos das mulheres, e) político.

Agora, com a pesquisa feita, separem informações importantes para compor os cards que serão produzidos na etapa 3.

• Data e local da ação do movimento.

• Características dos ativistas que compõem o movimento (exemplos: indígenas, LGBTQIAPN+, ambientalistas, negros etc.).

• Reivindicações do movimento.

• Objetivo do movimento.

• Melhorias do movimento para um grupo ou comunidade.

Pontuação para a etapa cumprida 20 pontos

Pontuação extra para o grupo que cumprir com a pesquisa de todos os elementos solicitados 10 pontos

Ao concluir a etapa 1, avancem para a etapa 2.

b) Etapa 2 – Separação do material

Antes de iniciar a atividade, cada grupo, com a ajuda do professor, deverá separar o material de apoio para a fabricação dos cards. Eles poderão ser produzidos

em cartolinas, folhas de papel sulfite, fichas etc. Para elaborar a escrita, utilizem canetas de cor escura que possibilitem a boa leitura das dicas. Para cortar e montar, serão necessários régua, tesoura, lápis, borracha e fita adesiva.

Pontuação para a etapa cumprida 20 pontos

Pontuação extra para o grupo que separar todo o material solicitado pelo professor 10 pontos

Ao concluir a etapa 2, avancem para a etapa 3.

c) Etapa 3 – Preenchimento dos cards

Chegou o momento de preencher os cards com as informações adquiridas na etapa 1. Cada grupo deverá separar cinco cards no formato de um retângulo de 16 cm × 12 cm, dobrado ao meio, conforme ilustração a seguir.

Na frente do retângulo dobrado, escrevam Dica 1, e assim sucessivamente até a Dica 5. Na parte interna, coloquem o nome do movimento social que deverá ser descoberto pelo grupo oponente e prendam o cartão com um pedaço pequeno de fita adesiva. Por fim, no verso, escrevam as informações colhidas na etapa 1.

Ilustração que direciona como compor o Jogo dos cards.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
MOUSES SAGIORATO

Pontuação para a etapa cumprida 20 pontos

Pontuação extra para o grupo que cumprir com o preenchimento completo de todos os elementos 10 pontos

Ao concluir a etapa 3, avancem para a etapa 4.

d) Etapa 4 –Jogo dos cards

Neste momento, cada grupo deve desafiar um grupo oponente para que descubra o nome do movimento social com base em suas características.

D istribua os cinco cards para desafiar o grupo oponente, que poderá escolher qualquer dos cards distribuídos, não havendo uma ordem obrigatória de escolhas.

Considerando-se que cada grupo tem até cinco tentativas para descobrir o nome do movimento social, quanto mais rápido isso for feito, mais pontos o grupo ganha. Com a ajuda do professor, marquem o tempo máximo de 30 segundos para cada tentativa.

Pontuação para o grupo que descobriu o nome do movimento na primeira tentativa 50 pontos

Segunda tentativa 40 pontos

Terceira tentativa 30 pontos

Quarta tentativa 20 pontos

Quinta tentativa 10 pontos

Não descobriu Zero

e) Etapa 5 – Roda de conversa

Finalizado o jogo, com a orientação do professor, a turma deve fazer uma roda de conversa. Agora, cada grupo deve responder às seguintes perguntas.

I. O que mais chamou a atenção de vocês no movimento social escolhido?

II. D e que forma o movimento social escolhido pode colaborar para uma sociedade mais democrática?

Parabéns, vocês chegaram ao término da atividade! Façam a contagem final de pontos para descobrir o grupo vencedor.

Duas jovens observam e organizam cards na frente do computador, 2020. O jogo dos cards pode se desenvolver por meio de diferentes meios, seja através de aplicativos de flashcards, seja na elaboração de cartões de papel.

• DIGO às companheiras que aqui estão. Direção: Sophia Branco e Luís Henrique Leal. Recife: SOS Corpo e Parabelo Filmes, 2012. Vídeo (35 min). Disponível em: https://www. youtube.com/ watch?v=q19Stptn8rM. Acesso em: 14 set. 2024.

No vídeo, Lenira Maria de Carvalho narra sua trajetória na organização da luta das trabalhadoras domésticas no Brasil. Uma história pessoal que se entrelaça com a luta por direitos e pela democracia nas últimas seis décadas no país.

Uma sociedade em transformação

Para garantir uma sociedade mais justa e participativa, é importante que as forças democráticas estejam comprometidas com propostas que envolvam a participação ativa da população. Três importantes pensadoras propuseram soluções para uma sociedade mais justa.

Nancy Fraser (1947-) filósofa nascida em Baltimore, nos Estados Unidos, conhecida por seu trabalho sobre justiça social, teoria crítica e feminismo, em sua obra Reconhecimento sem ética?, publicada originalmente em 2007, defende que uma teoria justa deve combinar redistribuição econômica e reconhecimento cultural, sem deixar que uma se sobressaia à outra. Fraser critica tanto as abordagens que se concentram apenas na economia, esquecendo as questões culturais, quanto aquelas que focam apenas na cultura, ignorando as injustiças econômicas. Por meio da ideia de “paridade participativa”, sugere que que todos possam participar como iguais na vida social, política e econômica, influenciando as decisões que afetam suas vidas.

Angela Davis (1944-), filósofa e professora nascida em Birmingham, nos Estados Unidos, trabalha em um projeto filosófico com o objetivo de unir filosofia, teoria crítica, teoria feminista e estudos negros para desenvolver estratégias reais de transformação social, criticando o capitalismo e visando acabar com todos os tipos de opressão. Na obra Mulheres, raça e classe, publicada originalmente em 1981, a filósofa afirma que “numa sociedade racista, não basta não ser racista, é necessário ser antirracista”. A famosa frase de Davis faz pensar sobre como podemos enfrentar o racismo estrutural no Brasil.

Lélia Gonzalez (1935-1994), ativista, professora, filósofa e antropóloga nascida em Belo Horizonte (MG), foi uma importante defensora dos direitos das pessoas negras e das mulheres no Brasil. Ela ajudou a influenciar a Constituição Federal de 1988, conhecida como “Constituição Cidadã”, defendendo direitos fundamentais e promovendo a igualdade no país.

Angela Davis em Montevidéu (Uruguai), 2019.

Saiba mais

Organizações não governamentais

e entidades do terceiro setor

Na primeira década deste milênio, organizações não governamentais (ONGs) e entidades do terceiro setor se fortaleceram, passando de apoiadoras a protagonistas dos movimentos sociais populares. No Brasil, as ONGs assumiram a liderança na organização da população, substituindo os movimentos sociais tradicionais.

Esse processo se intensificou com a chegada de um novo ator social no associativismo nacional: fundações e organizações do terceiro setor, ligadas a empresas, bancos, redes comerciais e industriais, ou artistas famosos, que começaram a realizar projetos em parceria com o Estado.

Com recursos financeiros privados e públicos e equipes de profissionais selecionados por sua experiência de trabalho, não necessariamente por suas ideologias, essas organizações passaram a atuar de maneira diferente dos movimentos sociais anteriores. O terceiro setor passou a focar em populações vulneráveis e grupos pequenos, trabalhando por meio de projetos com prazos definidos. Novos conceitos surgiram para apoiar essas ações, como responsabilidade social, compromisso social, desenvolvimento sustentável, empoderamento, protagonismo social, economia social e capital social.

O novo cenário nos leva a pensar sobre como as práticas e organizações populares estão se tornando mais institucionais. Isso significa que estão se integrando à sociedade civil ou sendo incorporadas em políticas públicas, conferências nacionais organizadas junto a órgãos governamentais ou estruturas dentro do próprio governo, como os conselhos.

As leis e políticas muitas vezes mudam por causa de movimentos sociais. Por exemplo, no passado, era ilegal que trabalhadores fizessem greve. No entanto, em razão das ações dos sindicatos, as leis mudaram, permitindo que trabalhadores façam greves para lutar por seus direitos no trabalho.

Outro exemplo é o movimento que luta pelos direitos das pessoas com deficiência (PcD), buscando inclusão, acessibilidade, igualdade de oportunidades e combate ao preconceito. Exemplos de conquistas desse movimento incluem a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (lei no 13.146/2015) e a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da Organização das Nações Unidas (ONU), que estabelece um marco legal internacional para os direitos das pessoas com deficiência.

terceiro setor: nome usado para se referir a um grupo da sociedade que trabalha para ajudar outras pessoas, sem visar lucro. Essas instituições privadas defendem causas importantes ou praticam filantropia. As instituições mais conhecidas do Terceiro Setor são as ONGs. Além delas, existem fundações, entidades beneficentes, fundos comunitários, entidades sem fins lucrativos, associações de moradores, entre outras.

PERSPECTIVAS

REPRODUÇÃO/UPDATE

INSTITUTO UPDATE.

Emergência política periferias. São Paulo: Instituto Update, 2018. Capa.

1. Os movimentos sociais promoverem mudanças sociais, políticas e econômicas.

2. A s passeatas e movimentos sociais dão visibilidade a diferentes realidades.

A pesquisa Emergência política periferias, realizada em 2018 pelo Instituto Update, uma instituição sem fins lucrativos, selecionou 100 entrevistados em cinco cidades brasileiras para darem depoimentos sobre suas realidades sociais. Essa pesquisa surgiu com o objetivo de conectar pessoas com diferentes realidades, diminuindo as desigualdades e fortalecendo a democracia por meio da coletividade.

Acompanhe os depoimentos de duas mulheres negras e suas trajetórias: Thaisa e Jéssica, respectivamente, ambas de Recife (PE).

Deslocamentos

[…] foi depois de uma passeata que teve do grupo lá de Salvador, “Reaja ou Será Morto”, logo depois que teve aquela chacina absurda no Cabula […]. Eu fui a convite de uma amiga minha chamada Lúcia que é de periferia e tal e disse: ‘vamos, venha ver qual é a realidade de ser preto. Eu falei: bom, eu sou negra, mas sou negra de classe média. Então essa coisa para mim da periferia, da vivência, da violência era uma coisa muito deslocada né, não estava tão próximo de mim.’ […]

ONGs

[…] eu acho que 2012, 2013, eu fiquei mais forte, assim, dentro da política de juventude. Porque, como a gente trabalhava muito na questão de educação popular, trabalhava muito no direito da cidade e direito à mobilidade urbana, eu fui conhecendo outros setores, outra juventude… Daí eu fui me fortalecendo cada vez mais, conhecendo, tendo vivências, intercâmbios, dialogando com outra linguagem de juventude, não só periféricas… fui despertando, pegando o gosto, mesmo assim, e me tornei o que eu sou hoje: uma jovem multiplicadora e ativista.

INSTITUTO UPDATE. Emergência política periferias. São Paulo: Instituto Update, 2018. p. 17, 20.

Saiba mais

• QUILOMBO Manzo: emergência política periferias. [S. l.: s. n.], 2018. 1 vídeo (58 s). Publicado pelo canal Instituto Update. Disponível em: https://youtu.be/JW-hcGkuSUU?si=JOlNdV7EcH6fvx-4. Acesso em: 28 set. 2024. Makota Kidoialê é uma das lideranças do Quilombo Manzo, em Belo Horizonte (MG). Fundado em 1972, só em 2007 foi reconhecido como território quilombola após muita luta da comunidade.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Qual é a importância dos movimentos sociais na sociedade contemporânea?

2. De acordo com os depoimentos acima, como os movimentos mediante passeatas e manifestações de rua chamam a atenção de pessoas que fazem parte de outras realidades?

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

RECAPITULE

Movimentos sociais são ações em que pessoas se juntam para lutar por causas importantes, muitas vezes fora das regras do governo. Existem dois tipos principais: movimentos conjunturais, que surgem para resolver problemas específicos e de curto prazo; e movimentos estruturais, que buscam direitos a longo prazo, como o movimento feminista.

Esses movimentos usam várias estratégias, como protestos, redes sociais, petições e ações diretas. A internet mudou a forma como esses movimentos se organizam e se comunicam, permitindo que mais pessoas participem.

Movimentos sociais têm um objetivo claro, identificam o que querem mudar e muitas vezes trabalham em projetos específicos. Eles podem atuar em nível local, nacional ou internacional, de maneira geral em áreas como trabalho, meio ambiente, política, raça e gênero. Desde os anos 2000, com a internet, os movimentos sociais passaram a usar mais o espaço on-line para se organizar e discutir ideias.

ONGs e outras organizações têm ajudado os movimentos, trazendo conceitos como responsabilidade social e desenvolvimento sustentável em prol de uma sociedade mais justa.

ATIVIDADES FINAIS

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Você ou alguém que conhece já ouviu falar ou participou de algum movimento social? Se sim, o que o movimento defendia?

2. (Uece – 2020) No calendário oficial do Brasil, o dia 20 de novembro é o Dia da Consciência Negra. A data faz referência à luta do Movimento Negro no país, que procura comemorar a resistência histórica e atual da população negra. Considerando essa data comemorativa, que em algumas cidades brasileiras é um dia de feriado, observe a charge abaixo.

1. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante comente o tema dos movimentos sociais a partir de experiências pessoais.

Angeli, Folha de São Paulo, 20/11/2006.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Assinale a opção que corresponde à posição crítica do chargista sobre o dia da Consciência Negra no Brasil.

a) A charge faz crítica ao Movimento Negro, que incita a discórdia racial na sociedade brasileira.

b) O chargista demonstra como a população negra contribui minimamente para a economia brasileira.

c) O chargista demonstra como os negros trabalhadores encontram alternativas para erradicar a miséria do país.

d) A charge de Angeli demonstra a persistência da desigualdade social e racial na sociedade brasileira.

3. (UFU-MG – 2018) Observe as figuras abaixo.

“O quarto estado”, obra do italiano Giuseppe Pellizza (1868 - 1907)

Foto de manifestação de Black Bloc em São Paulo, 11/07/2013. Folha Digital: https://www1.folha.uol.com.br/ cotidiano/2013/07/1309858-entenda-o -que-e-o-ativismo-black-bloc -presente-nas-manifestacoes.shtml Acesso em 19 mar. 2017.

Essas figuras representam, respectivamente, os movimentos dos trabalhadores no século XIX e os movimentos juvenis no século XXI. Embora existam entre esses dois movimentos diferenças importantes, há também entre eles algumas semelhanças.

Com base nesse sistema de semelhanças e de diferenças, afirma-se que,

a) embora afastados temporalmente, nos dois movimentos a orientação política é difusa e indefinida.

b) embora ideologicamente diferentes, os dois movimentos se colocam em luta contra a ordem econômica e política capitalista.

c) embora representem diferentes atores sociais, os dois movimentos têm uma mesma orientação política.

d) embora sejam formas diretas de participação política, os dois movimentos não possuem representação social definida.

4. (UPE – 2018) Observe a seguinte imagem:

Disponível em: <http://categoriabancaria.blogspot.com.br/2011/10/>

O fenômeno sociológico nela apresentado pode ser definido como ações coletivas, cujo objetivo é o de manter ou mudar uma situação historicamente contextualizada. Sobre esse fenômeno, assinale a alternativa que NÃO indica uma característica estrutural da organização social representada na imagem.

a) Utiliza-se, em alguns casos, do líder como principal representante e articulador das reivindicações, que são o foco da organização dos seus membros.

b) É constituída de pessoas articuladas politicamente e reconhecidas pelo pluralismo organizacional e pela ideologia defendida.

c) Elabora e estabelece canais comunicativos entre os indivíduos, a sociedade e o Estado.

d) Ma nipula a opinião pública para atender aos objetivos dos poderes políticos estabelecidos, permitindo que estes exerçam a força necessária para manter a ordem moral e policial do Estado.

e) Declara-se, em sua maioria, apartidária e laica, evitando a utilização do movimento para beneficiar políticos ou líderes religiosos no contexto das relações sociais.

UPE SSA, 2018

CAPÍTULO

a) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes concluam que as pessoas que mais sofrem com a violência e são vítimas de homicídios no Brasil são, em sua maioria, jovens negros, moradores de periferias ou áreas urbanas com menos recursos.

Necropolítica, miscigenação e resistência negra 12

OBJETIVOS DO CAPÍTULO:

C ompreender os conceitos de necropolítica, genocídio, miscigenação e democracia racial.

Refletir sobre as dinâmicas de exclusão social e sua relação com as formas de racismo.

Reconhecer e analisar as formas de resistência negra ao longo da história do Brasil.

C ompreender como a sociologia brasileira analisou a questão racial.

Você já ouviu falar em necropolítica? Esse conceito, criado pelo filósofo camaronês Joseph-Achille Mbembe (1957-) em 2003, busca explicar como o poder político decide quem pode viver e quem deve morrer. A palavra “necro” vem do grego “nekros”, que significa morte, e “política” se refere à gestão e organização do poder. Desde o início da era moderna, o Estado é o principal agente de controle sobre a vida e a morte das pessoas, especialmente em contextos de colonização, violência e exclusão social. Observe a instalação artística na imagem.

KILOMBA, Grada. O barco. 2021. Blocos de madeira queimada, instalação, 32 m. Londres (Reino Unido), 2022.

Trata-se de uma representação de uma das práticas mais cruéis da história recente: a escravização de africanos pelos europeus, entre os séculos XVI e XIX. O cenário de blocos de madeira, organizado de forma opressora, remete aos navios negreiros, onde africanos escravizados eram reduzidos a mercadorias e amontoados em condições desumanas durante a travessia do Atlântico. Todo esse processo de escravização, dominação e exploração envolveu uma política de controle sobre a vida e a morte de milhões de africanos.

A necropolítica, então, nos faz pensar em como, ainda hoje, alguns grupos são colocados em situações de extrema vulnerabilidade e violência, levando-nos a questionar: quem decide quem pode viver e quem deve morrer em nossa sociedade?

Necropolítica e biopoder

Em Necropolítica, publicado originalmente em 2003, Mbembe discute como o poder político, ao longo da história ocidental, controla a vida e a morte. O filósofo francês Michel Foucault (19261984), na obra História da sexualidade: a vontade de saber, de 1976, Foucault explica que, a partir da modernidade, o Estado desenvolveu mecanismos para gerenciar e controlar a vida das pessoas, não apenas garantindo a saúde e a segurança, mas também decidindo quem deve ser protegido e quem pode ser “deixado morrer”. Assim, criou o conceito de biopoder, isto é, o poder sobre a vida, com o Estado administrando as populações e determinando quem está fora de sua proteção.

Mbembe aprofunda essa análise ao argumentar que, nas sociedades contemporâneas, o biopoder evoluiu para a necropolítica, um conceito que explora o controle extremo sobre quem vive e quem morre. A necropolítica se manifesta quando o grupo dominante decide quem será exposto à morte ou à extrema vulnerabilidade. Os negros, indígenas e refugiados são exemplos de grupos historicamente marginalizados, cujas vidas são consideradas “matáveis” e sujeitas à violência e exclusão.

A obra O barco, de Grada Kilomba, exemplifica poeticamente, além da instalação artística, essa realidade. O poema narra a desumanização sofrida pelos africanos escravizados, transformados em mercadorias durante a travessia atlântica. Kilomba reflete sobre a memória e o sofrimento desses corpos, ilustrando como a necropolítica atua. Leia o poema.

O barco

b) Espera-se que o estudante reconheça que essas características revelam as desigualdades sociais e raciais existentes no Brasil.

Um barco, um porão

Um porão, uma carga

Uma carga, uma história

Uma história, uma peça

Uma peça, uma vida

Uma vida, um corpo

Um corpo, uma pessoa

Uma pessoa, um ser

Um ser, uma alma

Uma alma, uma memória

Uma memória, um esquecimento

Um esquecimento, uma ferida

Uma ferida, uma morte

Uma morte, uma dor

Uma dor, uma revolução

Uma revolução, uma igualdade

Uma igualdade, um afeto

Um afeto, a humanidade

KILOMBA, Grada apud PEIXOTO, Mariana. Mostra de Grada Kilomba em Inhotim expõe a arqueologia da vergonha. Estado de Minas, Belo Horizonte, 14 abr. 2024. Disponível em: https://www.em.com.br/cultura/2024/04/6837538-mostra-de-grada-kilomba-em-inhotim -expoe-a-arqueologia-da-vergonha.html. Acesso em: 9 set. 2024.

ATIVIDADE

a) Professor, você pode confirmar as informações abordadas nessa questão no Atlas da Violência, indicado nas Referências comentadas.

Consulte orientações no Manual do Professor.

• De acordo com a necropolítica, é possível identificar os grupos que têm mais chances de viver ou morrer em sociedades desiguais. No Brasil, essa realidade é refletida nos dados do Atlas da Violência de 2024, que registrou 46.409 homicídios no ano de 2022.

a) Em sua opinião, quem são as pessoas que mais sofrem com a violência e são vítimas desses homicídios no Brasil? Pense em características como idade, grupo étnico-racial e local de moradia.

b) O que essas características revelam sobre as condições de vida no Brasil?

c) Como essas informações sobre a violência no Brasil estão relacionadas com o conceito de necropolítica? Pense em como certos grupos de pessoas são mais expostos à violência e menos protegidos pelo Estado.

c) E spera-se que o estudante conclua que esses grupos marginalizados são mais expostos à violência e à morte, exemplificando a ideia de que a necropolítica identifica quem pode ser “deixado morrer” pela ação ou pela omissão do Estado.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Necropolítica do povo negro no Brasil

A necropolítica no Brasil se evidencia na exclusão e violência que afeta a população negra. Durante a ditadura civil-militar (1964-1985), o Estado exercia absoluto poder sobre os corpos dos opositores, prendendo, torturando e eliminando os que ameaçavam o regime. Esse contexto de exceção eliminava o direito à vida e suspendia a justiça, transformando o opositor em inimigo a ser destruído.

Esse cenário não se restringe à ditadura. Desde a escravidão, o corpo negro foi desumanizado e tratado como propriedade. Hoje, em nome do combate ao crime, essa violência continua. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, de 2024, 69,1% das 846.021 pessoas presas no Brasil são negras. A superlotação, as más condições e as mortes nas prisões (mais de 1.400 em 2023) refletem um exemplo de necropolítica.

O racismo institucional, conceito dos ativistas estadunidenses Stokely Carmichael (1941-1998) e Charles Hamilton (1929-2023), explica como as instituições falham em prover serviços adequados à população negra. No Brasil, isso se reflete nas ações do poder público, por exemplo. Ainda de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, 82,7% das vítimas de mortes em intervenções policiais são negras. O risco de um negro ser morto pela polícia é 3,8 vezes maior que o de um branco.

A pandemia da covid-19 também expôs essa desigualdade. Pesquisas da PUC-Rio e do Instituto Pólis mostram que a mortalidade entre negros foi maior. Em São Paulo, a taxa de mortalidade de negros foi de 172 por 100 mil habitantes, enquanto para brancos foi de 115 por 100 mil. Além disso, o número de mulheres negras que morreram por covid-19 foi quase o dobro do das mulheres brancas.

ATIVIDADE

Cientistas sociais brasileiros como Darcy Ribeiro (1922-1997), Abdias do Nascimento (1914-2011), Clóvis Moura (1925-2003) e Florestan Fernandes (1920-1995) se dedicaram a entender como o racismo e as desigualdades estruturais moldaram a sociedade brasileira. Suas pesquisas mostram como o povo negro ainda sofre exclusão e vulnerabilidade.

Manifestação contra o racismo realizada no Largo da Batata, em São Paulo (SP), 2020.

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Pense em como o conceito de necropolítica pode ser observado no seu cotidiano. Em seguida, converse com um colega a respeito de um exemplo dessa situação na comunidade ou na cidade onde você vive. Após a discussão, compartilhe o exemplo com a turma.

Espera-se que o estudante demonstre entendimento da necropolítica como o poder de decidir quem vive e quem morre, o que afeta principalmente grupos marginalizados, como a população negra.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
VINCENT BOSSON/FOTOARENA

Genocídio e a construção da identidade brasileira

Em 1946, a Organização das Nações Unidas (ONU) definiu genocídio como a negação do direito à existência de grupos humanos. A Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio, em 1948, ampliou o conceito, incluindo atos destinados a destruir, total ou parcialmente, grupos nacionais, étnico-raciais ou religiosos. O advogado polonês Raphael Lemkin (1900-1959) associou o genocídio ao colonialismo, argumentando que ele envolvia tanto a destruição cultural dos grupos oprimidos quanto a imposição cultural dos opressores.

No Brasil, a miscigenação e o genocídio são questões complexas. O antropólogo congolês radicado no Brasil Kabengele Munanga (1940-), em Rediscutindo a mestiçagem, de 1999, defende que a mestiçagem, embora global, foi uma forma de opressão racial e sexual, especialmente contra negros, no contexto colonial brasileiro.

Darcy Ribeiro reforça essa visão afirmando que o povo brasileiro foi formado por meio de um sistema brutal de trabalho escravo imposto por interesses mercantis. Para ele, isso constituiu genocídio e etnocídio, destruindo as culturas indígenas e africanas.

Abdias do Nascimento foi além, afirmando que a miscigenação, fundamentada na exploração sexual da mulher negra, também foi genocídio. Ele argumenta que o incentivo à imigração de brancos europeus e a desvalorização da herança africana visavam ao embranquecimento da população, levando à destruição física e cultural dos afrodescendentes. Nesse sentido, Abdias emprega o conceito de epistemicídio para destacar que tal aniquilação não se limitou aos corpos, mas também aos saberes e conhecimentos dos povos não europeus, apagando suas contribuições culturais e intelectuais.

Esse debate mostra como o racismo estrutural e o ideal de embranquecimento moldaram a identidade brasileira, ao perpetuar a exclusão dos povos negros e indígenas.

Brasil: proposta de formação étnica da população – 1872-2012

O gráfico apresentado por João Batista de Lacerda, em 1911, mostra a projeção das proporções raciais no Brasil de 1872 a 2012. A proposta de Lacerda era que, em 2012, não houvesse mais negros no país. Para isso, além de incentivar a imigração de brancos, o projeto previa enfraquecer a identidade racial dos negros e impedir que se organizassem como grupo, favorecendo o processo de embranquecimento da população.

LACERDA, João Batista de. O Congresso Universal das Raças reunido em Londres (1911): apreciação e comentários. Rio de Janeiro: Museu Nacional, [19--]. p. 100. Disponível em: https://bdor.sibi.ufrj.br/bitstream/ doc/16/1/0023%20ocr.pdf. Acesso em: 19 set. 2024.

folclorização: processo de simplificação e descontextualização de elementos culturais, reduzindo-os a símbolos superficiais ou comerciais, o que desvaloriza seus significados originais.

sincretismo: fusão de elementos culturais ou religiosos de diferentes origens, criando uma nova prática ou crença, frequentemente resultante de processos coloniais.

babalorixá: sacerdote dos cultos afro-brasileiros, como o candomblé, responsável por liderar rituais e guiar espiritualmente sua comunidade.

Apagamento da história afro-brasileira

A história do Brasil, muitas vezes, apaga a resistência do povo negro à escravidão e sua contribuição essencial à sociedade. Esse apagamento é uma forma de genocídio cultural, que destrói a memória e a ancestralidade de um povo, tirando sua identidade e capacidade de planejar o futuro.

A obra Libertação dos escravos (1889), de Pedro Américo (18431905), exemplifica esse processo. A pintura retrata a abolição como um ato de benevolência dos brancos, com figuras angelicais, enquanto os negros são mostrados como figuras subjugadas, apagando a resistência ativa dos escravizados. Esse simbolismo alimenta a narrativa de submissão e inferioridade.

Abdias do Nascimento argumenta que o embranquecimento e a apropriação da cultura afro-brasileira são formas de genocídio cultural. A folclorização e o sincretismo da cultura negra também desvalorizam suas raízes e significados.

Rodney William (1976-), antropólogo brasileiro e babalorixá, define, em sua obra Apropriação Cultural, de 2019, a apropriação cultural como o ato de grupos dominantes se apropriarem de elementos de culturas minoritárias sem reconhecimento ou respeito. Ele explica que práticas como a capoeira e o samba, antes perseguidas, passaram a ser aceitas como patrimônio brasileiro após serem “embranquecidas” e descontextualizadas de suas raízes afro-brasileiras.

Em 2023, segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, o Brasil registrou 2.124 casos de intolerância religiosa, um aumento de 80% em relação a 2022, evidenciando como o genocídio cultural ainda afeta a população afro-brasileira.

AMÉRICO, Pedro. A libertação dos escravos. 1889. Óleo sobre tela, 138,5 cm x 199 cm. Palácio dos Bandeirantes, São Paulo (SP).

A Redenção de Cam e o embranquecimento no Brasil

No final do século XIX, a ideologia racial no Brasil promovia o embranquecimento como o caminho para o progresso social. A obra A redenção de Cam (1895), de Modesto Brocos (1852-1936), reflete essa visão. Na pintura, três gerações estão representadas: uma mulher negra idosa, descalça, ergue as mãos ao céu; ao seu lado, uma mulher de pele mais clara, segurando um bebê branco, com um homem branco sentado à direita. Essa composição ilustra o ideal de que, através da miscigenação, a sociedade brasileira se tornaria progressivamente mais “branca”, associando a pele clara à civilização e a pele escura à selvageria.

Essa visão era apoiada por intelectuais da época, como Nina Rodrigues (1862-1906), que associava a mestiçagem à degenerescência, e Euclides da Cunha (1866-1909), que considerava o mestiço como desequilibrado e sem vitalidade. Outro exemplo é Oliveira Viana (1883-1951), que, apesar de acreditar na inferioridade do mulato, via o embranquecimento como um processo de purificação racial. Essas ideias também influenciaram políticas de Estado, como o incentivo à imigração europeia, facilitada pela Lei de Terras de 1850, que promoviam a colonização de terras brasileiras com recursos públicos.

ATIVIDADES

BROCOS, Modesto. A redenção de Cam. 1895. Óleo sobre tela, 199 cm x 166 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro (RJ).

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Discuta com um colega como a representação das personagens na obra de Modesto Brocos contribui para a construção de estereótipos raciais. Qual é o papel das artes visuais na perpetuação de ideologias racistas?

2. Pesquise outra obra de arte que aborde o tema da miscigenação ou do racismo no Brasil. Compare-a com A redenção de Cam e discuta como as representações mudaram ou se mantiveram ao longo do tempo.

1. Espera-se que o estudante compreenda que a pintura constrói estereótipos ao mostrar a mulher negra como subjugada e o homem branco como civilizado e dominante. As artes visuais, nesse caso, são usadas para naturalizar a hierarquia racial, promovendo uma visão distorcida da realidade social.

2. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante inclua uma análise comparativa entre as representações, mostrando como o racismo foi abordado em diferentes momentos históricos, evidenciando tanto a continuidade quanto as transformações nas representações artísticas sobre o tema.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Essa obra desafia a narrativa de Freyre sobre a harmonia racial, mostrando que as relações entre senhores e escravizados eram baseadas em exploração e violência. O mito da democracia racial ignorava essa opressão e a negação de direitos básicos aos negros.

O mito da democracia racial no Brasil

A ideia de democracia racial foi amplamente difundida no Brasil no século XX, impulsionada por intelectuais como Gilberto Freyre (19001987). O sociólogo sugeria que o Brasil havia alcançado uma convivência harmoniosa entre diferentes raças em virtude da miscigenação. No entanto, essa visão de harmonia racial esconde as desigualdades e o racismo estrutural que persistem até hoje.

Freyre, em suas obras Casa-grande e senzala, de 1933, e Sobrados e mucambos, de 1936, descrevia as relações entre brancos, negros e indígenas como pacíficas, apresentando a miscigenação como um fator positivo. Para ele, essa mistura racial evitava conflitos comuns em outros países, como os Estados Unidos. Assim, ele sugeria que as raças no Brasil conviviam sem grandes tensões ou discriminação.

No entanto, críticos como Abdias do Nascimento e Florestan Fernandes argumentaram que essa narrativa servia para esconder as desigualdades raciais. Abdias denunciava que, mesmo com a miscigenação, os negros continuavam marginalizados e excluídos das oportunidades sociais e econômicas. Ele apontava que o Estado perpetuava a violência contra os negros, seja por meio de políticas públicas, seja pela omissão em questões como desigualdade educacional e acesso ao trabalho.

A pintura Mãe Preta (1912), de Lucílio de Albuquerque (1877-1939), expõe as contradições dessas relações. A obra retrata uma mulher negra amamentando uma criança branca, simbolizando o papel submisso das mulheres negras na sociedade brasileira. As amas de leite, geralmente mulheres negras e escravizadas, eram obrigadas a nutrir os filhos das elites brancas, enquanto seus próprios filhos eram deixados de lado. Essa prática reflete a exploração das mulheres negras, que, apesar de essenciais para as famílias brancas, eram desvalorizadas e invisíveis.

ALBUQUERQUE, Lucílio de. Mãe Preta 1912. Óleo sobre tela, 150 cm x 112 cm. Museu de Arte da Bahia, Salvador (BA).

1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes concluam que a obra Mãe Preta simboliza a exploração racial através da figura da ama de leite, que era frequentemente uma mulher negra, muitas vezes escravizada, responsável por amamentar os filhos das famílias brancas, enquanto seus próprios filhos eram negligenciados.

Com base no conceito de mito da filósofa brasileira Marilena Chaui (1941-), podemos entender que o mito da democracia racial foi criado para justificar as desigualdades raciais. Esse mito cria uma falsa sensação de harmonia, escondendo o racismo institucionalizado e passando a impressão de que a sociedade é igualitária. Por causa dessa crença, o racismo e as desigualdades no Brasil foram ignorados por muito tempo. As condições de trabalho das mulheres negras hoje mostram como o mito da democracia racial ainda impacta a realidade. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, 92% dos trabalhadores domésticos no Brasil são mulheres, e a maioria delas é negra. Elas recebem baixos salários, perpetuando a exclusão social e econômica que o mito tentou encobrir.

Assim, o mito da democracia racial serviu para mascarar o racismo e a desigualdade estrutural que ainda definem a sociedade brasileira. Embora a miscigenação tenha sido exaltada como símbolo de união, as disparidades entre negros e brancos continuam a marcar profundamente o Brasil.

Mais da metade das mulheres que ocupam vagas de trabalho doméstico no Brasil são negras. Esses dados evidenciam a permanência da desigualdade racial e de gênero, desmentindo o mito da democracia racial ao mostrar que a população negra, especialmente as mulheres, continua sendo marginalizada no mercado de trabalho, com baixa formalização e salários reduzidos.

ATIVIDADES

2. Espera-se que o estudante compreenda que, à primeira vista, a imagem da amamentação pode ser entendida como expressão da harmonia entre os negros e brancos brasileiros, fundamento do mito da democracia racial. Mas trata-se de uma representação sobre a discriminação enfrentada pelas mulheres negras, invisibilizadas pela estrutura racista da sociedade brasileira.

Brasil: emprego doméstico – 2013-2022

Carteira assinada

Total: 5,8 milhões

Carteira assinada Carteira assinada

92% das vagas de trabalho doméstico são ocupadas por mulheres, sendo 65% delas negras.

Sem carteira assinada

ARAGÃO, Amanda. Debatedores criticam alta informalidade em sessão de homenagem aos empregados domésticos. Câmara dos Deputados, Brasília (DF), 3 maio 2023. Disponível em: https://www.camara.leg.br/noticias/958101-debatedores-criticam-alta -informalidade-em-sessao-de-homenagem-aos-empregados-domesticos/. Acesso em: 19 set. 2024.

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Com base na obra Mãe Preta, de Lucílio de Albuquerque, converse com colegas como a figura da ama de leite simboliza a exploração racial e a invisibilidade do trabalho das mulheres negras.

2. Qual é a relação entre essa representação artística e o mito da democracia racial?

3. Pesquise e analise políticas públicas atuais voltadas para a população negra no Brasil. Depois, reflita: como essas políticas tentam corrigir os efeitos da exclusão histórica e em que medida elas desafiam o mito da democracia racial?

3. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante apresente as políticas públicas atuais, como as cotas raciais em universidades públicas e concursos, que são exemplos de ações afirmativas voltadas para corrigir os efeitos da exclusão histórica da população negra.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
RENDA

Resistência negra no Brasil

Ao longo da história brasileira, a população negra organizou diversas formas de resistência contra a opressão e as injustiças resultantes da escravização. Desde o início da colonização, em 1500, com a chegada forçada de africanos às terras que hoje formam o Brasil, surgiram diferentes movimentos de resistência. Essas manifestações se deram por meio de fugas, formação de quilombos, lutas armadas e, mais tarde, pela criação de organizações que buscavam garantir direitos e cidadania. A resistência negra no Brasil é um dos movimentos mais duradouros, sendo símbolo de luta, dignidade e persistência. A seguir, vamos conhecer algumas das principais formas de resistência e como elas moldaram a luta contra o racismo estrutural e a opressão.

Quilombos e comunidades quilombolas

Os quilombos foram uma das primeiras formas de resistência à escravidão. A palavra “quilombo” vem do idioma bantu e significa “local de refúgio”. Esses territórios eram formados por africanos e afro-brasileiros que fugiam da escravidão e se organizavam em comunidades autônomas. O mais famoso deles, o Quilombo dos Palmares, localizado em Alagoas, chegou a abrigar cerca de 30 mil pessoas no século XVII. Palmares tornou-se um exemplo de organização e resistência, reunindo não só africanos e afro-brasileiros mas também indígenas e brancos marginalizados pela sociedade.

Ainda hoje, comunidades quilombolas existem no Brasil, preservando essa tradição de resistência. Segundo o Censo Demográfico de 2022, mais de 3.700 comunidades quilombolas abrigam cerca de 1,3 milhão de pessoas no país. No entanto, a luta pela titulação das terras quilombolas continua. Embora a Constituição Federal de 1988 reconheça o direito dessas comunidades às suas terras, o processo de regularização é lento e enfrenta desafios, como disputas jurídicas e a resistência de grandes proprietários de terras. A existência dessas comunidades é um símbolo da continuidade da resistência negra no Brasil e representa uma luta por direitos que permanece até hoje.

[MAPA pictório do Parque Memorial Quilombo dos Palmares]. 2022. Disponível em: https://www. gov.br/palmares/pt-br/departamentos/protecao -preservacao-e-articulacao/serra-da-barriga-1/ parque-memorial-quilombo-dos-palmares/. Acesso em: 7 out. 2024.

1. Resposta pessoal. Espera-se que, entre os estudantes que já haviam ouvido falar, alguns mencionem que os quilombos foram locais de resistência, que abrigavam comunidades marginalizadas. Para aqueles que nunca ouviram falar, espera-se uma reflexão sobre o possível apagamento da história de resistência da população negra no Brasil.

Confrarias negras

No século XVIII, o catolicismo foi imposto à população negra no Brasil como parte da estratégia colonial de controle cultural. No entanto, os negros ressignificaram essa imposição, criando confrarias que mesclavam práticas cristãs com elementos das religiões africanas. Confrarias como a Irmandade de Santo Elesbão e Santa Efigênia, fundada em 1740, tornaram-se espaços de acolhimento e solidariedade, reunindo negros livres, escravizados e mestiços. Esses espaços, além de preservarem as tradições de origem africana, se tornaram espaços de resistência cultural, preservando elementos das religiões africanas que eram reprimidas pelas autoridades coloniais.

Movimento abolicionista

A imagem retrata uma festa em homenagem à Santa Rosália, padroeira da irmandade religiosa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, em Minas Gerais, no século XIX. Rugendas ilustra as irmandades, que foram uma das expressões sociais mais significativas de Minas Gerais nesse período. Essas irmandades, compostas de religiosos leigos e fiéis de diferentes classes sociais, dedicavam-se ao culto de seus santos padroeiros.

RUGENDAS, Johann Moritz. Festa de Santa Rosália, padroeira dos negros. 1827. Litografia, 24,6 cm x 33,3 cm. Coleção Itaú Cultural, São Paulo (SP).

A abolição da escravidão no Brasil foi uma luta longa, intensificada ao longo do século XIX. Leis como a do Ventre Livre (1871) e a dos Sexagenários (1885) representaram avanços limitados, pois mantinham condições desumanas para os escravizados. Durante esse período, abolicionistas como André Rebouças (1838-1898), Luís Gama (1830-1882) e Maria Firmina dos Reis (1825-1917) desempenharam papéis fundamentais na defesa da liberdade. Além de ações políticas, o movimento se articulou em revoltas e fugas promovidas por grupos urbanos e capoeiristas.

A imprensa negra foi muito importante nesse processo, com jornais como O Abolicionista, de Joaquim Nabuco (1849-1910), e Gazeta da Tarde, de José do Patrocínio (1853-1905), que disseminaram ideias de liberdade e denunciando abusos. Esses veículos fortaleceram a causa abolicionista, unindo grupos a favor da emancipação e reforçando a resistência contra o regime escravista.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Antes de estudar sobre os quilombos, você já tinha conhecimento sobre o tema? Caso positivo, o que você sabia? Caso negativo, por que você acredita que nunca havia ouvido falar de um movimento histórico de séculos de resistência?

2. Quais eram suas percepções sobre a abolição da escravidão no Brasil antes de estudar o tema? Descreva.

2. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante mencione percepções como a abolição sendo conduzida pela princesa Isabel ou que reconheça o processo como resultado de um longo movimento de luta e resistência da população negra e de aliados abolicionistas.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Clubes negros e Frente Negra Brasileira

Após a abolição da escravidão, em 1888, a população negra continuou a enfrentar exclusão social e econômica no Brasil. O racismo persistia, limitando o acesso a oportunidades e direitos. Como forma de resistência, surgiram os clubes negros, espaços criados para promover sociabilidade, organização comunitária e articulação política da população negra. Esses clubes, frequentados por professores, operários, militares, entre outros, eram fundamentais para a luta contra as desigualdades e para a preservação da cultura afro-brasileira. Eles possibilitavam discussões sobre as formas de enfrentar o que hoje nomeamos de racismo estrutural e permitiam que a população negra encontrasse dignidade e reconhecimento em uma sociedade que os marginalizava.

No início do século XX, a Frente Negra Brasileira (FNB), criada em 1931, foi uma das primeiras organizações políticas negras no Brasil. Com milhares de membros, a FNB lutava contra o racismo e pela inclusão social e política da população negra. Em 1936, a FNB se transformou em partido político, mas foi extinta em 1937 com o início do Estado Novo. Mesmo após seu encerramento, a Frente Negra deixou um legado importante na luta pelos direitos civis, inspirando movimentos futuros.

Teatro Experimental do Negro (TEN)

Fundado em 1944 por Abdias do Nascimento, o Teatro Experimental do Negro (TEN) foi uma iniciativa cultural e política de grande relevância. O TEN buscava valorizar a cultura negra e combater o racismo por meio das artes, especialmente o teatro. A organização promovia o protagonismo de atores e atrizes negros, que até então eram frequentemente excluídos dos espaços artísticos tradicionais. Além das produções teatrais, o TEN organizava debates sobre cidadania e questões raciais, reforçando a importância da autoestima e do empoderamento da população negra.

O TEN foi também um importante instrumento de conscientização, utilizando o teatro como uma ferramenta de educação e mobilização. Além de abordar o racismo, o grupo ampliou o debate para temas como política, cultura e economia, destacando a necessidade de uma mobilização negra em busca de direitos e reconhecimento. Abdias do Nascimento, com o TEN, reforçou a importância de um movimento negro engajado e consciente, que lutasse contra o racismo institucionalizado e as injustiças sociais.

Da esquerda para direita, Matilde Gomes, Heloísa Herta, Stela Delfina, Ruth de Souza, Léa Garcia e, abaixado, Abdias do Nascimento, durante o Espetáculo Sortilégio, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro (RJ), 1957.

Movimento de reafricanização

Na década de 1970, surgiu o movimento de reafricanização, marcado pela criação do Bloco Afro Ilê Aiyê, na Bahia. Fundado em 1974 por Vovô do Ilê, apelido de Antonio Carlos dos Santos (1952-), o Ilê Aiyê tinha como objetivo resgatar e valorizar a ancestralidade africana por meio da música, da dança e da religião. Esse movimento cultural promoveu não apenas o orgulho negro, mas também resistiu às tentativas de apagar a cultura afro-brasileira. Blocos afros, como o Ilê Aiyê, são até hoje expressões de resistência, celebrando a cultura afro-brasileira e reforçando a identidade negra.

Movimento Negro Unificado e Coalizão

Negra por Direitos

Durante a ditadura civil-militar, o governo negava a existência do racismo no Brasil. Entretanto, em 1978, o Movimento Negro Unificado (MNU) surgiu como uma das principais forças de combate à discriminação racial. O MNU foi essencial ao pressionar o governo a incluir o quesito de raça e cor no Censo e em diversos órgãos que registram o atendimento dos serviços públicos, revelando as desigualdades raciais no país. O movimento foi crucial para a resistência negra, abordando questões sobre racismo estrutural e lutando por políticas de igualdade.

Recentemente, em 2019, a Coalizão Negra por Direitos foi fundada, quando mais de 150 grupos e organizações para lutar contra o racismo e a violência policial. A Coalizão tem desempenhado um papel central na defesa dos direitos da população negra ao fortalecer a luta por justiça social e igualdade de oportunidades.

A resistência negra hoje

A resistência negra no Brasil é uma luta contínua que começou com a chegada dos africanos escravizados e segue até os dias atuais. Quilombos, confrarias, movimentos abolicionistas, clubes negros, o Teatro Experimental do Negro, o Movimento Negro Unificado e a Coalizão Negra por Direitos são exemplos de como a população negra se organizou ao longo da história para resistir à violência, à exploração e ao racismo estrutural.

Hoje, essa resistência continua por meio de organizações negras, movimentos culturais e lideranças comunitárias que reivindicam direitos e justiça. A história da resistência negra no Brasil é uma narrativa de resiliência e dignidade, que segue inspirando novas gerações a continuar lutando por um futuro mais justo e igualitário.

Desfile do bloco Afro Ilê Aiyê. Salvador (BA), 2013.
JOACY SOUZA/ALAMY/FOTOARENA

Sociologia brasileira e sociologia negra

A sociologia no Brasil surgiu no século XIX, com forte influência das elites intelectuais que buscavam compreender a realidade social e racial do país após a abolição da escravidão. Contudo, essa sociologia inicial não incorporava a experiência negra como parte ativa do processo social, tratando a população negra como objeto de estudo. Com o tempo, essa limitação foi superada, especialmente com o surgimento da sociologia negra, que visava romper com a perspectiva de uma “sociologia branca” e eurocêntrica.

Clóvis Moura, um dos maiores sociólogos negros brasileiros, foi um dos críticos dessa abordagem. Moura descreve a sociologia tradicional como uma “sociologia branca”, explicando que mesmo as análises sobre a população negra eram feitas com base em uma ótica branca, que não enxergava os negros como sujeitos históricos e sociais.

A sociologia do negro é, por essas razões, mesmo quando escrita por alguns autores negros, uma sociologia branca. […] um conjunto conceitual branco aplicado sobre a realidade do negro brasileiro, como se ele fosse apenas objeto de estudo e não sujeito dinâmico de um problema dos mais importantes para o reajustamento estrutural da sociedade brasileira. […]

MOURA, Clovis. Sociologia do negro brasileiro. São Paulo: Perspectiva, 2019. p. 29.

O sociólogo e jornalista brasileiro Clovis Moura.

Esse tipo de crítica é fundamental para entender as dinâmicas sociais que perpetuam o racismo estrutural no Brasil. A sociologia negra surge, então, como uma resposta a esse modelo eurocêntrico e distante da realidade brasileira, destacando o protagonismo da população negra nas lutas sociais e políticas. A obra de Moura,

Sociologia do negro brasileiro, publicada originalmente em 1988, é um marco nesse sentido ao trazer à tona debates sobre a escravidão, a resistência negra e o papel das populações afrodescendentes na sociedade brasileira.

Outro ponto fundamental abordado pela sociologia negra é a importância da memória histórica para a construção da identidade negra no Brasil. A partir da valorização das culturas africanas e afro-brasileiras, esse campo de estudo busca resgatar narrativas silenciadas e destacar a contribuição dos povos afrodescendentes para o desenvolvimento social, econômico e cultural do país, além de reforçar a necessidade de políticas de reparação e justiça social.

Edison Carneiro (1912-1972), outro sociólogo negro brasileiro, também desempenhou um papel importante ao estudar as religiões afro-brasileiras e a cultura de matriz africana. Ele foi um dos pioneiros na luta pela liberdade religiosa das tradições africanas no Brasil, promovendo o II Congresso Afro-Brasileiro em 1937, um marco na história da antropologia e da sociologia no país. Seus estudos sobre o candomblé e outras manifestações culturais negras buscavam romper com as interpretações preconceituosas que as associavam ao atraso e à superstição.

Carneiro criticava duramente a escola antropológica de Nina Rodrigues, que, embora tenha dado visibilidade aos estudos sobre a cultura afro-brasileira, foi feito a partir de uma perspectiva racista, que via a população negra como inferior. Além disso, Carneiro foi uma das vozes críticas da aplicação da psicanálise nas análises das religiões afro-brasileiras, como defendido por Arthur Ramos (1903-1949). Para ele, não se tratava de uma questão de psicologia individual, mas de condições materiais e históricas às quais os negros foram submetidos.

O sociólogo Florestan Fernandes trouxe contribuições importantes para a compreensão das relações raciais no Brasil. Juntamente com Roger Bastide (1898-1974), um sociólogo e antropólogo francês, conduziu pesquisas pioneiras sobre o preconceito racial no Brasil e sobre como o racismo moldava as relações sociais e as oportunidades de ascensão econômica e social da população negra. Suas obras ajudaram a desmascarar o mito da democracia racial, ao evidenciar que, embora a escravidão tenha sido abolida formalmente, a desigualdade racial permaneceu profundamente enraizada nas estruturas sociais e econômicas.

de Edison Carneiro no acervo do Arquivo Nacional do jornal Correio da manhã, no Rio de Janeiro (RJ), 1972.

Fotografia
Florestan Fernandes em São Paulo (SP), 1995.
EDER LUIZ MEDEIROS/FOLHAPRESS
ACERVO ARQUIVO NACIONAL CORREIO DA MANHÃ, RIO DE JANEIRO, RJ

• P ROJETO Memória: documentário Lélia Gonzalez 2024. [S. l.: s. n.], 2024. 1 vídeo (32 min). Publicado pelo canal Projeto Memória Lélia Gonzalez.

Disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=

TSNxnr0ocx0. Acesso em: 15 out. 2024.

O documentário apresenta depoimentos de diversas lideranças feministas e do movimento negro sobre a vida e contribuição de Lélia Gonzalez para sociedade brasileira.

Fernandes foi um dos primeiros a defender que a inserção da população negra no mercado de trabalho formal não era uma questão de integração, mas sim de transformar as bases da estrutura social brasileira. Segundo suas análises, o preconceito racial no Brasil estava diretamente ligado à divisão de classes, com a maioria dos negros ocupando as camadas mais baixas da sociedade, o que perpetuava um ciclo de exclusão social e econômica.

Além disso, autores como a antropóloga e psicanalista brasileira Lélia Gonzalez (1935-1994) contribuíram para o avanço das discussões sobre raça e gênero no Brasil. Gonzalez introduziu o conceito de “amefricanidade” para discutir as conexões entre as culturas africanas e indígenas na América e como isso influenciou a identidade dos povos afrodescendentes no continente. Sua obra foca na sobreposição de raça, gênero e classe, destacando a dupla opressão vivida pelas mulheres negras no Brasil: o racismo e o sexismo.

Gonzalez também foi uma das precursoras no Brasil do pensamento decolonial, que questiona as bases coloniais do conhecimento e da ciência. Para ela, a sociologia brasileira, até então, havia sido conivente com o projeto colonial ao não dar voz aos negros como agentes históricos. Seu pensamento influenciou gerações de ativistas e intelectuais comprometidos com a luta pela igualdade racial e de gênero no Brasil e no mundo.

Sociólogos negros brasileiros, como Clóvis Moura, Edison Carneiro e Lélia Gonzalez, desafiaram a sociologia tradicional, propondo uma nova forma de pensar a sociedade brasileira, em que a população negra não fosse mais vista como objeto, mas como sujeito da história. Eles foram essenciais para a construção de uma sociologia crítica e comprometida com a transformação social e evidenciaram as raízes do racismo estrutural e propondo soluções para superá-lo.

A contribuição da sociologia negra vai além da crítica à sociologia tradicional. Ela propõe uma nova forma de conhecimento, em que a compreensão social é construída com base em experiências e vivências da população negra, rompendo com o universalismo eurocêntrico que caracterizou a ciência social por muito tempo. Esse movimento está alinhado com outras correntes de pensamento decolonial, que buscam desmantelar as hierarquias de conhecimento impostas pelo colonialismo e dar voz aos povos historicamente marginalizados.

A importância da sociologia negra no Brasil reside, portanto, não só em sua capacidade de descrever as condições de vida da população negra, mas em sua potência transformadora, ao propor uma ciência social comprometida com a justiça e a igualdade.

Saiba mais

Lélia Gonzalez nasceu em Belo Horizonte (MG) e faleceu na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Ela era a décima sétima de uma família com dezoito filhos e, frequentemente, destacava suas raízes afro-indígenas, com seu pai de origem negra e sua mãe de ascendência indígena, como uma parte importante de sua identidade e pensamento. Formou-se em Filosofia e História pela Universidade Estadual da Guanabara (atual Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ). Lélia também fez mestrado em Comunicação Social e doutorado em Antropologia Política. Foi professora na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUCRio). Lélia Gonzalez foi uma figura importante no desenvolvimento de ideias sobre racismo, feminismo negro e a relação entre raça, classe e gênero, com um foco especial no Brasil e em outros países da América Latina. Apesar de seu trabalho ser reconhecido em várias partes do mundo, suas contribuições foram especialmente importantes no contexto latino-americano, com grande relevância para os estudos sobre a população negra nas Américas. Leia o fragmento de texto.

[…] miscigenação é algo impensável […], na mediada em que o grupo branco pretende manter sua ‘pureza’ e reafirma sua ‘superioridade’. Em consequência, a única solução, assumida de maneira explícita como a mais coerente, é a segregação dos grupos não brancos. A África do Sul, com a sua doutrina do desenvolvimento ‘igual’ mas separado, com o seu apartheid, é o modelo acabado desse tipo de teoria e prática racistas. Já no caso das sociedades de origem latina, temos o racismo disfarçado ou, como eu classifico, o racismo por denegação. Aqui, prevalecem as ‘teorias’ da miscigenação, assimilação e da ‘democracia racial’. A chamada América Latina, que, na verdade, é muito mais ameríndia e amefricana do que outra coisa, apresenta-se como o melhor exemplo de racismo por denegação. […]

GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2020. p. 117-118.

ATIVIDADE

Fotografia de Lélia Gonzalez no Rio de Janeiro (RJ), 1985.

Espera-se que o estudante perceba que essa valorização de figuras internacionais em detrimento das brasileiras pode ser explicada pelo racismo estrutural, pelo processo de embranquecimento e pelo apagamento do pensamento negro no Brasil, conhecido como epistemicídio. Lélia Gonzalez foi uma das pioneiras nas discussões sobre a interseção entre gênero, classe e raça, tanto no Brasil quanto no mundo, mas, devido a esses fatores, seu legado ainda é menos reconhecido internamente.

• A filósofa estadunidense Angela Davis (1944-) é considerada um ícone do feminismo negro no mundo. Em 2019, durante a participação em uma conferência no Brasil, afirmou:

‘Por que vocês precisam buscar uma referência nos Estados Unidos? Eu aprendo mais com Lélia Gonzalez do que vocês comigo’.

DAVIS, Angela apud MERCIER, Daniela. Lélia Gonzalez, onipresente. El País, São Paulo, 25 out. 2020. Disponível em: https://brasil.elpais.com/cultura/2020-10-25/lelia-gonzalez-onipresente.html. Acesso em: 19 set. 2024.

Com base no conteúdo estudado neste capítulo e nas ideias de Lélia Gonzalez e Angela Davis, reflita: por que os brasileiros tendem a valorizar mais o pensamento de Angela Davis do que o de Lélia Gonzalez?

CEZAR LOUREIRO/AGÊNCIA O GLOBO

INVESTIG AÇÃO

Análise da imprensa e de veículos da mídia tradicional

As mídias tradicionais, como jornais, revistas, TV e rádio, têm um papel importante na divulgação de informações e na formação de opiniões. Porém, o modo como essas mídias apresentam os fatos pode influenciar a maneira como a sociedade vê temas sensíveis, como a necropolítica.

OBJETIVOS

Nesta atividade, você fará uma análise de mídias tradicionais para investigar como um tema ligado à necropolítica é tratado por diferentes veículos de comunicação. O objetivo é que, ao final do processo, você consiga identificar possíveis distorções, omissões ou vieses na cobertura midiática, além de refletir sobre o impacto dessas narrativas na opinião pública. Essa é uma oportunidade para aplicar os conceitos de sociologia estudados, entender o papel social da mídia e desenvolver sua capacidade de analisar criticamente as informações com as quais você interage no dia a dia.

ORGANIZAÇÃO DO TEMA

1. Com colegas, sob a orientação do professor, escolham um tema relacionado à necropolítica. Pode ser algo como a violência do Estado, a desigualdade no acesso a direitos ou o tratamento desigual dado a certos grupos sociais. Essa escolha será a base para a pesquisa de dados.

ETAPA

ETAPA 3

PESQUISA PRÉVIA E RESUMO DO TEMA

2. Antes de começar a análise das notícias, façam uma pesquisa sobre o tema em fontes acadêmicas e institutos de pesquisa. Isso vai ajudar vocês a entender melhor o contexto e criar uma base sólida de informações.

3. Façam um resumo das principais ideias que encontraram para que isso possa ser comparado com o que será visto nas notícias.

SELEÇÃO DA MÍDIA

4. Escolham um ou mais veículos de mídia tradicional para realizar a análise. Isso pode incluir jornais, revistas, programas de TV ou rádios de grandes corporações ou até veículos de movimentos sociais. O interessante é comparar como diferentes veículos abordam o mesmo tema. O objetivo é perceber como a mídia retrata questões complexas, como a necropolítica, e identificar possíveis diferenças.

ETAPA

ETAPA

DEFINIÇÃO DO PERÍODO DE ANÁLISE

5. Decidam o período de tempo que vão analisar. Pode ser a cobertura de um evento específico, como uma operação policial ou uma política governamental relacionada à população que vive na periferia das grandes cidades. Por exemplo, se escolherem estudar a cobertura da violência em uma favela, vocês podem focar no período em que as operações policiais mais repercutiram na imprensa.

COLETA DE DADOS

ANÁLISE DE CONTEÚDO

6. Após definir os veículos de mídia e o período de análise, comecem a coletar os dados. Separem as reportagens, identifiquem as fontes e as datas de publicação, além do tema principal de cada notícia. Mantenham essas informações organizadas para facilitar a análise.

7. Analisem as notícias prestando atenção aos termos utilizados, às imagens que acompanham as matérias e ao tom geral da narrativa. Procurem por omissões, distorções ou qualquer viés na cobertura. Perguntem-se:

• quais interesses podem estar por trás da maneira como o tema foi apresentado?

• a notícia utiliza termos que podem influenciar a opinião do público?

• c omo diferentes veículos abordaram o mesmo tema?

COMPARTILHAMENTO DOS DADOS

9. Para concluir, decidam como os resultados da pesquisa serão compartilhados com a comunidade escolar. Isso pode ser feito por meio de um artigo, uma apresentação em seminário ou até simulando uma reportagem, que pode ser compartilhada com a turma.

P26-3-SOC32-U-12-LA-LIL-003

ELABORAÇÃO DE CONCLUSÕES

8. Com base na análise comparativa dos veículos de mídia, organizem os dados e tirem conclusões. Observem padrões na cobertura e reflitam sobre como um veículo de grande circulação pode tratar o tema de maneira diferente em comparação a um veículo alternativo, ligado a movimentos sociais, por exemplo.

Uma mesma notícia pode ser vinculada por meio de diferentes pontos de vista dependendo das diretrizes e dos interesses dos veículos de imprensa.

ETAPA
ETAPA
ETAPA
ETAPA
NELSON PROVAZI

Neste capítulo, foi abordado o conceito de necropolítica e discutiu-se como essa forma de política pode ser usada para definir quem vive e quem morre. Foram analisadas as ideias de diversos autores que criticaram a sociedade brasileira e buscaram formas de superar o racismo e o genocídio da população negra brasileira. Durante décadas, as contribuições de Clóvis Moura, Edison Carneiro, Abdias do Nascimento e Lélia Gonzalez foram ignoradas, pois questionavam o mito da democracia racial. Florestan Fernandes, que produziu uma sociologia que desmentia o mito da democracia racial, também contribuiu para esse debate.

As lutas históricas dos movimentos negros, que começaram há quatro séculos, permanecem relevantes no cenário atual. Pergunta-se agora quais ações devem ser tomadas e quais causas devem ser apoiadas para construir uma sociedade mais justa, equitativa e sustentável no Brasil RECAPITULE

ATIVIDADES FINAIS

1. Leia o texto e responda às questões.

Consulte as orientações no Manual do Professor.

Cumé que a gente fica?

… Foi então que uns brancos muito legais convidaram a gente prá uma festa deles, dizendo que era prá gente também. Negócio de livro sobre a gente, a gente foi muito bem recebido e tratado com toda consideração. Chamaram até prá sentar na mesa onde eles tavam sentados, fazendo discurso bonito, dizendo que a gente era oprimido, discriminado, explorado. Eram todos gente fina, educada, viajada por esse mundo de Deus. Sabiam das coisas. E a gente foi sentar lá na mesa. Só que tava cheia de gente que não deu prá gente sentar junto com eles. Mas a gente se arrumou muito bem, procurando umas cadeiras e sentando bem atrás deles. Eles tavam tão ocupados, ensinado um monte de coisa pro crioléu da platéia, que nem repararam que se apertasse um pouco até que dava prá abrir um espaçozinho e todo mundo sentar juto na mesa. […] E era discurso e mais discurso, tudo com muito aplauso. Foi aí que a neguinha que tava sentada com a gente deu uma de atrevida. Tinham chamado ela prá responder uma pergunta. Ela se levantou, foi lá na mesa prá falar no microfone e começou a reclamar por causa de certas coisas que tavam acontecendo na festa. Tava armada a quizumba. A negrada parecia que tava esperando por isso prá bagunçar tudo. E era um tal de falar alto, gritar, vaiar, que nem dava prá ouvir discurso nenhum. […] E a festa acabou em briga…”

GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje, São Paulo, 1984, p. 223-244. p. 223. Apresentado no IV Encontro Anual da Associação Brasileira de Pós-graduação e Pesquisa nas Ciências Sociais, em 1980. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/7395422/mod_resource/content/1/GONZALES%2C%20L%C3%A9lia%20-%20Racismo_e_ Sexismo_na_Cultura_Brasileira%20%281%29.pdf. Acesso em: 19 set. 2024.

1. a) Espera-se que o estudante compreenda que o texto relata uma situação em que pessoas negras são tratadas como objetos de estudo e não como participantes ativos de um evento.

a) O que está sendo relatado no texto? Quais são as ideias principais?

b) Qual é o efeito da grafia diferente da norma culta no texto?

2. (Enem – 2016)

1. b) Espera-se que o estudante conclua que a grafia diferente da norma culta cria uma conexão com a maneira real como a população se comunica no cotidiano. Esse estilo de escrita ajuda a expressar a voz autêntica das personagens retratadas e a refletir a diversidade linguística, mostrando uma forma mais genuína e não formal da linguagem.

O Movimento Negro Unificado (MNU) distingue-se do Teatro Experimental do Negro (TEN) por sua crítica ao discurso nacional hegemônico. Isto é, enquanto o TEN defende a plena integração simbólica dos negros na identidade nacional “híbrida”, o MNU condena qualquer tipo de

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
NÃO ESCREVA NO LIVRO.

assimilação, fazendo do combate à ideologia da democracia racial uma das suas principais bandeiras de luta, visto que, aos olhos desse movimento, a igualdade formal assegurada pela lei entre negros e brancos e a difusão do mito de que a sociedade brasileira não é racista teriam servido para sustentar, ideologicamente, a opressão racial.

COSTA, S. Dois Atlânticos: teoria social, antirracismo, cosmopolitismo. Belo Horizonte: UFMG, 2006 (adaptado).

No texto, são comparadas duas organizações do movimento negro brasileiro, criadas em diferentes contextos históricos: o TEN, em 1944, e o MNU, em 1978. Ao assumir uma postura divergente da do TEN, o MNU pretendia

a) pressionar o governo brasileiro a decretar a igualdade racial.

b) denunciar a permanência do racismo nas relações sociais.

c) contestar a necessidade da igualdade entre negros e brancos.

d) defender a assimilação do negro por meios não democráticos.

e) divulgar a ideia da miscigenação como marca da nacionalidade.

3. (Enem – 2015)

A população negra teve que enfrentar sozinha o desafio da ascensão social, e frequentemente procurou fazê-lo por rotas originais, como o esporte, a música e a dança. Esporte, sobretudo o futebol, música, sobretudo o samba, e dança, sobretudo o carnaval, foram os principais canais de ascensão social dos negros até recentemente. A libertação dos escravos não trouxe consigo a igualdade efetiva. Essa igualdade era afirmada nas leis, mas negada na prática. Ainda hoje, apesar das leis, aos privilégios e arrogâncias de poucos correspondem o desfavorecimento e a humilhação de muitos.

CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006 (adaptado).

Em relação ao argumento de que no Brasil existe uma democracia racial, o autor demonstra que

a) essa ideologia equipara a nação a outros países modernos.

b) esse modelo de democracia foi possibilitado pela miscigenação.

c) essa peculiaridade nacional garantiu mobilidade social aos negros.

d) esse mito camuflou formas de exclusão em relação aos afrodescendentes.

e) essa dinâmica política depende da participação ativa de todas as etnias.

4. (Enem – 2020)

Em escala, o negro é o negro retinto, o mulato já é o pardo e como tal meio branco, e se a pele é um pouco mais clara, já passa a incorporar a comunidade branca. A forma desse racismo no Brasil decorre de uma situação em que a mestiçagem não é punida, mas louvada. Com efeito, as uniões inter-raciais, aqui, nunca foram tidas como crime ou pecado. Nós surgimos, efetivamente, do cruzamento de uns poucos brancos com multidões de mulheres índias e negras.

RIBEIRO, D. O povo brasileiro: formação e sentido do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 2004 (adaptado).

Considerando o argumento apresentado, a discriminação racial no Brasil tem como origem

a) identidades regionais.

b) segregação oficial.

c) vínculos matrimoniais.

d) traços fenotípicos.

e) status ocupacional.

CAPÍTULO

OBJETIVOS DO CAPÍTULO:

onhecer os conceitos de sexo, gênero e sexualidade e suas inter-relações.

ompreender o conceito de patriarcado e seus efeitos sobre a produção de desigualdades de gênero. ompreender a importância dos movimentos feministas. dentificar e analisar situações de desigualdade e violência referentes a padrões de gênero e sexualidade. ntender os desafios do Brasil no combate à desigualdade e à violência relacionados a padrões de gênero e sexualidade.

ATIVIDADES

Sexualidade e diversidade de gênero

Desde que nascemos, nossas vidas são marcadas por questões relativas ao sexo, ao gênero e à sexualidade. Mas o que exatamente significam esses conceitos? E qual é a relação entre eles?

Em todas as idades, etnias e classes sociais, ser menino ou menina, homem ou mulher, define diferentes formas de estar no mundo, de integrar-se à sociedade e de construir a própria identidade. Mas isso não é tudo. Além da definição biológica dos sexos, a identidade de gênero, a expressão de gênero e a orientação sexual também são partes fundamentais na formação de uma pessoa. Esses aspectos centrais do processo de construção da identidade influenciam o modo como cada indivíduo participa da sociedade.

Neste capítulo, estudaremos como esses aspectos se inter-relacionam e como as ciências sociais contribuem para a compreensão da construção dos diferentes padrões de gênero e sexualidade na interação entre o social e o individual.

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Em sua opinião, existe desigualdade entre homens e mulheres em nossa sociedade? Justifique.

2. Observe a imagem. Quais são os papéis desempenhados pela mulher e pelo homem na cena retratada?

1. Resposta pessoal. Aproveite essa oportunidade para explorar os conhecimentos prévios do estudante sobre desigualdade de gênero. 2. Na imagem, a mulher está cuidadosamente vestida enquanto realiza os serviços domésticos. O homem, por sua vez, está sentado no sofá, sem colaborar com os afazeres da casa.

3. Em sua opinião, esses papéis condizem com a realidade atual? Explique.

3. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante relacione a imagem aos padrões de divisão social do trabalho na sociedade atual.

A cena retrata uma divisão desigual das responsabilidades domésticas e exemplifica a desigualdade de gênero.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Sexo e gênero

Quando uma pessoa nasce, e mesmo antes disso, uma série de fatores fisiológicos leva à atribuição de um sexo. Entre esses fatores estão a genitália, os cromossomos e os hormônios, que determinam se a pessoa pertence biologicamente ao sexo feminino, masculino, ou é intersexo. A definição do sexo é registrada na certidão de nascimento e, ao longo da vida, desempenha um papel central no desenvolvimento físico, psíquico e social do indivíduo.

intersexo: condição biológica de uma pessoa que nasce com características sexuais que não se encaixam nas definições típicas de sexo feminino ou masculino.

Durante muito tempo, acreditou-se que os fatores fisiológicos eram suficientes para explicar diferenças entre homens e mulheres em diversas sociedades. Consequentemente, suposições de que as mulheres seriam naturalmente mais emotivas e submissas, enquanto os homens seriam mais racionais e dominadores, ou a de que as mulheres são as únicas responsáveis pelo cuidado dos filhos por possuírem útero e gerarem os bebês, tornaram-se comuns. Essas ideias consolidaram estereótipos e preconceitos que ainda estão presentes em nossa sociedade.

No final do século XIX, começaram a ganhar força em diferentes países, especialmente nos europeus e nos Estados Unidos, movimentos de mulheres que se posicionavam contra as limitações impostas ao sexo feminino. Elas reivindicavam, por exemplo, o direito ao voto, à propriedade e à educação. A luta pela equiparação de direitos foi a base para o pensamento feminista, que será estudado mais adiante. Assim, começou-se a questionar a ideia de que as mulheres deveriam ser naturalmente subordinadas aos homens, com o argumento de que a desigualdade entre os sexos não era determinada pela biologia, mas sim por fatores históricos e sociais.

Manifestação pelo direito das mulheres ao voto. Londres (Inglaterra), 1910.

• ACORDA, Raimundo...

Acorda! Direção:

Alfredo Alves. Brasil: IBASE Vídeo: ISER Vídeo, 1990. Streaming (15 min).

Nesse curta-metragem, a mulher e o homem têm papéis invertidos em relação aos padrões sociais que lhes são atribuídos. O filme promove uma reflexão sobre os estereótipos de gênero e o modo como os papéis sociais feminino e masculino são naturalizados.

O avanço da luta feminina pelo fim das desigualdades entre os sexos levou ao surgimento de um novo conceito: o de gênero. Você conhece esse conceito? Sabe o que ele significa?

A ideia de gênero passou a ser utilizada a partir da década de 1970 por pensadores interessados em distinguir os fatores biológicos dos fatores sociais no estudo das diferenças entre homens e mulheres. Nessa abordagem, homens e mulheres são percebidos como produtos da realidade social, como seres formados pelas atitudes, comportamentos e expectativas que a sociedade associa ao que é feminino ou masculino.

De acordo com a historiadora estadunidense Joan Scott (1941-), o gênero é uma percepção sobre as diferenças sexuais. Sem negar as diferenças biológicas entre homens e mulheres, Scott defende que os indivíduos aprendem ao longo da vida a se comportarem dentro dos padrões esperados para seu sexo de nascimento. Na família, na escola, em instituições religiosas, em grupos de amigos ou em meios de comunicação, as pessoas assimilam o que é considerado adequado para o seu sexo, adotando padrões de comportamento predefinidos. Em nossa sociedade, por exemplo, é comum que meninos usem cabelos curtos e meninas, compridos; que meninas usem saias e meninos, bermudas; que meninas brinquem de boneca e meninos joguem futebol. Tudo isso é repetido de modo tão automático que parece ser algo biologicamente natural.

Simone de Beauvoir (1908-1986) foi uma filósofa e escritora francesa, considerada uma das principais pensadoras do século XX. Seus escritos abordaram temas políticos e questões sociais, com ênfase na desigualdade entre homens e mulheres. Sua obra mais conhecida é o livro O segundo sexo publicado originalmente em 1949. Nela, a autora analisa o papel atribuído às mulheres na sociedade, questionando a ideia de que as mulheres eram naturalmente submissas aos homens. Por seus escritos e seu ativismo em prol da igualdade de gênero, Simone de Beauvoir é até hoje considerada uma das principais referências do movimento feminista.

Simone de Beauvoir em Paris (França), 1968.

Saiba mais

No entanto, essas ideias não são naturais. Cada indivíduo constrói sua identidade de gênero, ou seja, a maneira como se sente e se reconhece em relação a ser homem, mulher ou outra identidade, com base no contato com os padrões sociais. Por isso, existem muitos tipos de identidade de gênero, com destaque para: cisgênero (pessoas que se identificam com o sexo biológico atribuído no nascimento), transgênero (pessoas que não se identificam com o sexo biológico atribuído no nascimento) e não binário (pessoas que não se identificam totalmente com o gênero feminino ou masculino). Há, ainda, pessoas que se identificam como agênero (que não se identificam com nenhum gênero), demigênero (quando há identificação parcial com outro gênero) e gênero fluido (pessoas que transitam entre diferentes gêneros), entre outras possibilidades.

O modo como cada pessoa manifesta publicamente sua identidade de gênero é conhecido como expressão de gênero. Essa expressão ocorre por meio do nome, das roupas, do corte de cabelo e dos comportamentos. A expressão de gênero nem sempre está alinhada com a identidade de gênero. Por exemplo, uma pessoa que se identifica como mulher pode escolher se vestir e se comportar de uma maneira que ela reconhece como masculina.

Para a filósofa estadunidense Judith Butler (1956-), a identidade de gênero não é fixa ou estável. Ela é construída aos poucos e resulta de performances repetidas e internalizadas diariamente. Seguindo a perspectiva pós-estruturalista, Butler defende que é necessário superar a ideia da divisão binária entre homens e mulheres e propõe uma abordagem fluida sobre o tema, com o reconhecimento da multiplicidade de identidades e experiências de gênero. O conceito de gênero critica a ideia de que existem atividades, condutas e profissões mais adequadas para um sexo do que para o outro. Essas ideias preconcebidas são estereótipos de gênero, ou seja, expectativas sobre como homens e mulheres devem agir, quais papéis devem cumprir ou quais características devem possuir.

pós-estruturalismo: movimento filosófico originado na França, em meados do século XX, que se opõe à ideia de que existem identidades fixas. O pós-estruturalismo rejeita oposições binárias, como masculino/feminino, bem/ mal ou mente/corpo, argumentando que essas categorias são socialmente construídas.

Para a pesquisadora Thais Gava, autora do estudo “Elas na ciência”, de 2018, os estereótipos de gênero têm consequências no processo de aprendizagem e de escolha profissional. Por exemplo, ainda hoje as mulheres são minoria em profissões ligadas às áreas de exatas e tecnologia.

Jovem usa computador para estudar.

Gênero e desigualdade

Ao chamar a atenção para os aspectos sociais das diferenças entre os sexos, o conceito de gênero permitiu que muitas delas fossem desnaturalizadas e deixassem de ser consideradas apenas do ponto de vista biológico. Por isso, esse conceito é uma ferramenta importante para evidenciar e problematizar as relações de poder entre homens e mulheres de diferentes sociedades.

Historicamente, a maioria das sociedades se organizou de acordo com o modelo patriarcal, no qual os homens detêm o poder decisório, relegando às mulheres uma posição de subordinação e dependência. Longe de se restringir à vida doméstica, o patriarcado é um sistema que ordena as relações sociais, políticas e econômicas com base na ideia de que cabe ao homem o exercício do poder e a autoridade moral. Como resultado, durante muito tempo as mulheres (especialmente as da elite) foram sistematicamente excluídas da participação nos espaços públicos, do trabalho fora do mundo doméstico e da educação formal. Restritas à vida dentro de casa, as mulheres se viam submetidas ao poder dos homens da família, principalmente seus pais e maridos. Entre as mulheres pobres, essa realidade era diferente, já que muitas trabalhavam fora de casa como operárias, trabalhadoras rurais ou em espaços domésticos de outras famílias, chegando a assumir as chefias de família na ausência das figuras masculinas. De todo modo, o domínio patriarcal também afetava seus modos de vida e suas expressões na sociedade.

Chamamos de desigualdade de gênero as relações de poder, privilégio ou hierarquias sociais criadas com base nas diferenças percebidas entre homens e mulheres. Embora transformações sociais tenham ocorrido ao longo do tempo, reduzindo as desigualdades de gênero, essa disparidade permanece em muitos países.

Desde 2006, o Fórum Econômico Mundial divulga anualmente um relatório com o mapeamento da desigualdade de gênero em 146 países. No relatório de 2024, o Brasil ocupou a 70a posição no ranking de disparidade de gênero.

Mundo: disparidade de gênero – 2024

Os índices mais próximos de 0 indicam maior disparidade entre homens e mulheres. Já os índices mais próximos de 100% revelam menor disparidade.

Elaborado com base em: WORLD ECONOMIC FORUM. Global Gender Gap 2024: insight report: june 2024. Geneva: World Economic Forum, 2024. p. 13. Disponível em: https://www3.weforum.org/docs/WEF_GGGR_2024.pdf. Acesso em: 31 ago. 2024.

SONIA VAZ

O que faz com que homens e mulheres adotem comportamentos tão diferentes? Na prática, como essa desigualdade se estabelece? No livro A dominação masculina, publicado pela primeira vez em 1998, o sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002) explica que durante o processo de socialização os homens incorporam, aos poucos, a ideia de que são superiores às mulheres. Já as mulheres, por viverem em sociedades que naturalizam essa hierarquia, aceitariam inconscientemente a posição de submissão. De acordo com Bourdieu, a dominação masculina é uma forma de violência simbólica. Você sabe o que é isso?

O autor define a violência simbólica como o exercício do poder por meio da imposição de símbolos, normas e significados. Esse tipo de violência não acontece através da força física, mas através de palavras, valores e comportamentos que são internalizados pelas pessoas, moldando suas percepções do mundo, sua forma de agir e suas identidades. Assim, de acordo com o autor, a violência simbólica faz parte da experiência feminina cotidiana. Por não ser visível, ela é imperceptível para as vítimas, que sofrem danos emocionais. Esse tipo de violência age sobre as consciências individuais, afetando a percepção das mulheres sobre sua autonomia e sua racionalidade, levando-as a acreditar que são naturalmente dependentes dos homens e submissas a eles.

QUER dizer que uma mulher pode abrir isso? 1950. 1 cartaz. Anúncio da revista Alcoa Aluminium, nos Estados Unidos.

ATIVIDADES

MAIS cedo ou mais tarde sua esposa vai dirigir [...]. [ca. 1960]. 1 cartaz. Anúncio de montadora dos Estados Unidos.

Saiba mais

• O SILÊNCIO dos homens . Direção: Ian Leite e Luiza de Castro. Brasil: Monstro Filmes, 2019. Streaming (60 min). O documentário aborda os sentidos da masculinidade na nossa sociedade e destaca a dificuldade que a maioria dos homens tem de compartilhar seus sentimentos, dúvidas e frustrações.

Nos Estados Unidos, uma empresa desenvolveu uma tampa de rosca para facilitar a abertura de frascos de ketchup. O anúncio apresentava a fotografia de uma dona de casa com a legenda: “Quer dizer que uma mulher pode abrir isso?”). Uma montadora dos Estados Unidos veiculou um anúncio que associava a imagem de um carro amassado e com o farol quebrado ao fato de uma mulher estar dirigindo.

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Observe as propagandas e descreva como a mulher é retratada nelas.

2. É possível associar as mensagens veiculadas nas propagandas à ideia de violência simbólica? Por quê?

2. Sim, pois as propagandas se baseiam na ideia de que as mulheres são inferiores aos homens.

3. Em sua opinião, atualmente, as propagandas reforçam a desigualdade de gênero? Cite exemplos para justificar a resposta.

3. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante reconheça que ainda existem propagandas que reforçam a desigualdade de gênero.

1. Na primeira propaganda, a mulher é retratada como alguém sem autonomia para abrir uma garrafa, em alusão à suposta falta de força do sexo feminino. Na segunda, a mulher é retratada como uma motorista imprudente, que provoca acidentes ao dirigir.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

A divisão sexual do trabalho

Uma das áreas em que a desigualdade de gênero é mais evidente é a do trabalho. Reflita sobre a sociedade em que você vive. Quais tipos de trabalho costumam ser desempenhados por homens? E por mulheres? E com relação às tarefas domésticas, como é feita essa divisão?

A ideia de divisão sexual do trabalho surgiu na década de 1970, com o intuito de explicitar algo comum a muitas sociedades: o fato de o trabalho doméstico ser realizado pelas mulheres. Observe como as sociólogas Helena Hirata (1946-) e Danièle Kergoat (1942-) definem esse conceito:

[…] A divisão sexual do trabalho é a forma de divisão do trabalho social decorrente das relações sociais entre os sexos […]. Essa forma é modulada histórica e socialmente. Tem como características a designação prioritária dos homens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva e, simultaneamente, a apropriação pelos homens das funções com maior valor social adicionado (políticos, religiosos, militares etc.).

HIRATA, Helena; Kergoat, DANIÈLE. Novas configurações da divisão sexual do trabalho. Tradução: Fátima Murad. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 37, n. 132, p. 595-609, set./dez. 2007. p. 599. Disponível em: https://www.scielo.br/j/cp/a/cCztcWVvvtWGDvFqRmdsBWQ/?format=pdf. Acesso em: 31 ago. 2024.

Assim, o trabalho passou a ser pensado com base em duas dimensões: a produtiva e a reprodutiva. O trabalho produtivo é aquele que resulta em bens ou serviços em troca de uma remuneração. Já o trabalho reprodutivo se refere às tarefas fundamentais à manutenção da vida, como o preparo de alimentos, o cuidado com crianças, pessoas idosas e doentes e demais atividades ligadas à gestão do espaço doméstico. Na maior parte das sociedades, o trabalho reprodutivo cabe principalmente às mulheres. Em uma pesquisa sobre desigualdade de gênero no Brasil, publicada em 2022, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que as mulheres brasileiras dedicam, em média, 21 horas semanais à realização de tarefas domésticas, contra 11 horas dos homens.

Mãe ajudando filha na tarefa enquanto lava louça. Historicamente, o trabalho doméstico e o cuidado com os filhos são vistos como tarefas femininas.

São Paulo (SP), 2024. DOTTA

1. O trajeto das mulheres apresenta “barreiras”, com objetos que remetem aos afazeres domésticos, como fogão, varal de roupas e tábua de passar. Já o trajeto dos homens está “livre”, o que os coloca em vantagem no mercado de trabalho.

As desigualdades não se restringem ao mundo doméstico. Apesar de serem maioria entre os brasileiros com Ensino Superior completo, as mulheres ganham, em média, 21% menos que os homens. A diferença sobe para 36,7% nas profissões intelectuais e científicas. Além disso, as mulheres têm menos acesso a cargos de liderança, ocupando 39% desses postos ante 61% dos homens.

Para Helena Hirata, esses dados não dizem respeito somente ao Brasil:

[…] o emprego feminino é, em todos os países, mais precário e instável que o emprego masculino. A maioria dos empregos de ‘tempo parcial’ ou de ‘meio período’ nos países capitalistas desenvolvidos são ocupados por mulheres, assim como as atividades informais nos países ditos em vias de desenvolvimento. […]

HIRATA, Helena. Entrevista: Helena Hirata. [Entrevista cedida a] Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, mar. 2006. Localizável em: p. 2 do PDF, coluna direita, § 2. Disponível em: https://www.scielo.br/j/tes/a/nLrfjMg7BvXR5sG4mMhbqVM/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 31 ago. 2024.

A crescente entrada das mulheres no mercado de trabalho ao longo das últimas décadas tem deixado as desigualdades mais evidentes. Embora muitas mulheres tenham passado a ocupar cargos antes considerados como de exclusividade de homens, elas continuaram a ser as principais responsáveis pelas tarefas domésticas. Com isso, muitas trabalhadoras passaram a enfrentar jornadas duplas (no trabalho e na moradia) ou triplas (trabalho, universidade ou escola e cuidados com o lar), deixando de lado o lazer, o autocuidado e a qualificação profissional.

ATIVIDADES

2. Essas diferenças fazem com que as mulheres trabalhem mais horas, prejudicando sua saúde física e mental.

CARLIN. [Meritocracia]. [S. l.], 14 jul. 2019. Facebook: Quebrando o Tabu. Disponível em: https://www.facebook. com/quebrandootabu/ posts/meritocracia-em -uma-imagemarte-carlin /2686743408048696/?lo cale=pt_BR. Acesso em: 21 out. 2024.

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. De acordo com a charge, quais são as diferenças nos trajetos profissionais dos homens e das mulheres?

2. Quais são os impactos dessas diferenças no desenvolvimento das carreiras de homens e mulheres?

3. Que medidas poderiam ser adotadas para reduzir os impactos dessas diferenças nas carreiras das mulheres?

3. O estudante pode citar, por exemplo, campanhas de conscientização visando à melhor divisão do trabalho doméstico entre homens e mulheres; políticas públicas que garantam a oferta de creches no local de trabalho; aumento da licença paternidade; entre outras.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Manifestação pelo fim da violência contra as mulheres no Rio de Janeiro (RJ), 2023. Em todo o mundo, o enfrentamento à violência contra as mulheres tem sido um grande desafio.

feminicídio: termo usado para se referir ao homicídio praticado contra uma mulher pelo simples fato de ela ser mulher.

hediondo: crime que, devido à sua extrema gravidade, é tratado com maior rigor pela lei e causa grande comoção na sociedade.

Violências de gênero

Outro aspecto alarmante da desigualdade de gênero é a violência. Os diferentes tipos de violência contra as mulheres são manifestações extremas de desigualdades historicamente construídas, presentes na grande maioria das sociedades e culturas. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2021 mais de cinco mulheres ou meninas foram assassinadas por hora no mundo. Entre elas, 56% foram mortas pelas mãos dos parceiros ou familiares. A mesma pesquisa mostrou que 25% das adolescentes e jovens entre 15 e 24 anos já haviam sofrido violência pelo simples fato de serem mulheres.

A violência contra as mulheres pode se manifestar de muitas formas. Ela pode ser visível, como em casos de agressão física, homicídio e assédio, ou ocorrer de modo mais sutil, por meio de piadas, constrangimentos ou difamação, por exemplo.

Nas últimas décadas, diante do aumento do número de mulheres vítimas de violência no Brasil, o país alcançou duas grandes conquistas no âmbito legislativo. A primeira foi a aprovação da Lei Maria da Penha (lei no 11.340/2006), criada para proteger as mulheres da violência doméstica e familiar. A segunda foi a promulgação da Lei do Feminicídio (lei no 13.104/2015), que classifica como hediondos os assassinatos de mulheres decorrentes de violência doméstica e questões de gênero. Para conhecer quais são os desafios do Brasil em relação à violência contra as mulheres, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública realiza anualmente a pesquisa Visível e invisível: a vitimização de mulheres no Brasil. Observe alguns dados da pesquisa publicada em 2023.

Brasil: violência contra mulheres – 2023

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

Elaborado com base em: BUENO, Samira et al. Visível e invisível: a vitimização de mulheres no Brasil. 4. ed. São Paulo: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2023. Disponível em: https:// publicacoes.forumseguranca.org. br/items/b04fc1a7-990f-4875 -8e8c-f34a377b2b83. Acesso em: 31 ago. 2024.

• A Lei Maria da Penha é um importante marco no enfrentamento da violência contra as mulheres no Brasil. Nesta atividade, você irá conhecer um pouco mais sobre ela.

a) Pesquise quem é Maria da Penha e por que a lei foi nomeada em sua homenagem.

b) A Lei Maria da Penha classifica cinco tipos de violência contra a mulher. Escreva no caderno quais são eles e quais são suas características. Depois, converse com colegas sobre medidas que podem ser adotadas para evitar esses tipos de violência.

Espera-se que com essa atividade o estudante conheça mais a fundo esse importante marco da luta contra a violência de gênero no Brasil.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

INVESTIG AÇÃO

Grupo focal sobre desigualdade de gênero na escola

A escola é um espaço importante de socialização, mas também é um ambiente onde padrões e estereótipos de gênero são (re)produzidos. Reflita sobre como isso acontece na sua escola: há diferenças de comportamentos entre meninos e meninas? Existem situações que podem ser classificadas como desigualdade de gênero no seu cotidiano escolar?

OBJETIVO

Vocês vão realizar uma pesquisa por meio de um grupo focal para entender as percepções da turma sobre as diferenças de gênero na escola e buscar sugestões para superar eventuais desigualdades.

DIVISÃO DE TAREFAS

1. Vocês vão realizar em dois grupos focais, cada um com dois a quatro moderadores e oito a dez observadores. Os moderadores conduzirão a discussão sem expressar suas opiniões, enquanto os observadores coletarão informações sem interferir na dinâmica.

PREPARAÇÃO

3. Trabalhem juntos na elaboração de temas e perguntas para os mediadores usarem na discussão. Reservem uma sala por 60 minutos e organizem as cadeiras em círculo para os participantes. As cadeiras dos observadores devem ser colocadas à parte.

REALIZAÇÃO

4. Recebam os participantes na data e hora combinadas. Os moderadores conduzem a discussão, enquanto os observadores registram as opiniões e observações dos participantes.

DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS

Estudantes em sala de aula, Brasil, 2022.

FORMAÇÃO DO GRUPO FOCAL

2. Decidam se a pesquisa será feita apenas com meninas, apenas com meninos ou com ambos. Convidem de dez a 15 alunos que se enquadrem no perfil escolhido e agendem a atividade.

5. Analisem os dados coletados, buscando identificar padrões de comportamento e percepções sobre a desigualdade de gênero na escola.

6. Produzam cartazes com os principais resultados da pesquisa e os compartilhem pela escola. Informem quantas pessoas participaram da pesquisa e qual o perfil de gênero analisado.

ANÁLISE

Feminismos e suas lutas

Até aqui, você conheceu algumas conquistas das mulheres ao longo do tempo. Desde o final do século XIX, mulheres em todo o mundo conquistaram direitos antes exclusivos dos homens, como o direito de votar, a possibilidade de se candidatar a cargos políticos e a ocupação de altos postos em empresas e órgãos públicos. Esse processo foi acompanhado pela lenta desconstrução de crenças que colocavam as mulheres em uma posição de subordinação aos homens, numa hierarquia considerada natural e universal.

Hoje, pode parecer difícil imaginar que, menos de um século atrás, mulheres e homens tinham direitos tão diferentes. As conquistas atuais foram incorporadas ao cotidiano, mas é essencial lembrar que todos esses direitos são fruto de lutas históricas. Diversos grupos de mulheres, em diferentes épocas e lugares, questionaram os valores androcêntricos de suas sociedades, abrindo caminhos para a construção da igualdade de gênero.

androcentrismo: prática caracterizada por privilegiar perspectivas e ideias masculinas, colocando-as como padrão para toda a sociedade.

O conjunto de movimentos políticos, sociais e filosóficos que buscam a igualdade de gênero é conhecido como feminismo. Esses movimentos, embora compartilhem um objetivo comum, possuem características, métodos e discursos diversos. Para entender melhor essa história, convencionou-se dividi-la em quatro ondas. Essa divisão, porém, tem uma limitação: tende a destacar as ações de mulheres brancas de classe média, ignorando a luta de mulheres não brancas. A partir da década de 1980, essa concepção foi fortemente criticada por novas vertentes do feminismo.

As quatro ondas do feminismo

Onde? Quando? Quem? O que queriam?

Primeira onda Reino Unido e Estados Unidos.

Segunda onda Países do Ocidente de modo geral.

Terceira onda Países do Ocidente de modo geral e alguns países do Oriente, como a Índia.

Quarta onda Movimento global, com mais força em países do Ocidente.

Final do século XIX até a década de 1920.

Décadas de 1960 e 1970.

Mulheres brancas de classe média.

Mulheres brancas de classe média.

Década de 1980 aos anos 2000.

Década de 2010 em diante.

Igualdade jurídica e política (direito ao voto, fim dos casamentos arranjados, direito à propriedade, direito ao divórcio).

Fim da subordinação feminina no cotidiano, mais espaço no mercado de trabalho e ampliação do acesso à educação.

Mulheres brancas, negras, indígenas, pobres, de classe média, ricas, heterossexuais, lésbicas, bissexuais, transexuais. Visibilização de variadas identidades de gênero, diversidade sexual e multiplicidade dos corpos. Maior espaço para diversidade racial, étnica e de classe. Debate sobre direitos reprodutivos.

Mulheres brancas, negras, indígenas, pobres, de classe média, ricas, heterossexuais, lésbicas, bissexuais, transexuais.

Incorporação do ativismo digital à luta feminista; volta de manifestações de rua em massa; e combate ao assédio e à violência contra a mulher.

Organizado pelos autores.

Manifestação de mulheres negras em Copacabana, no Rio de Janeiro (RJ), 2019. No Brasil, o feminismo é marcado pela forte presença do feminismo negro desde a década de 1980.

Feminismos no Brasil

De modo geral, o desenvolvimento dos movimentos feministas no Brasil seguiu as quatro ondas históricas, mas apresentou especificidades marcantes. Uma delas foi a participação ativa de grupos feministas na luta contra a ditadura civil-militar nas décadas de 1960 e 1970. Segundo a antropóloga brasileira Cynthia Sarti (1954-), foi naquele período que o feminismo brasileiro começou ganhar visibilidade nas ruas, destacando a questão da mulher nos movimentos de resistência à ditadura. Protagonizado por mulheres brancas de classe média, esse engajamento trouxe à tona questionamentos sobre o papel secundário das mulheres na sociedade, impulsionando as teorias feministas no país.

feminismo negro: corrente do movimento feminista, que surgiu nos Estados Unidos na década de 1970, focada na experiência de mulheres negras. Seu objetivo é o combate à discriminação de gênero e raça, entendendo que essas questões estão profundamente conectadas.

Outro aspecto do feminismo no Brasil é a forte presença do feminismo negro, que se consolidou a partir da década de 1980. A socióloga brasileira Lélia Gonzalez (1935-1994), uma das principais pensadoras desse movimento, destacou que as mulheres brancas, por não vivenciarem a discriminação racial, não compreendem plenamente como o racismo afeta as relações de gênero. Gonzalez criticava o feminismo brasileiro da época por não incorporar adequadamente as questões étnicas e raciais, especialmente o histórico escravocrata do país.

Um exemplo dessa diferença de experiências é que, no Brasil, a entrada das mulheres brancas no mercado de trabalho esteve frequentemente ligada à subordinação de mulheres negras e pobres, que assumiram funções domésticas e de cuidado, permitindo que as mulheres brancas se libertassem dessas responsabilidades.

ATIVIDADE

• O Brasil avançou na construção da igualdade nas últimas décadas. No entanto, muitas mulheres que protagonizaram essas lutas ainda são pouco conhecidas. Nesta atividade, você irá pesquisar a vida e a atuação de uma dessas mulheres, indicada pelo professor. Em grupo, descubram sua trajetória e importância e apresentem o resultado aos colegas.

Consulte orientações no Manual do Professor. Produção pessoal.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
FERNANDA PICCOLO/FOTOARENA

Interseccionalidade

Um dos pilares do feminismo negro é a ideia de interseccionalidade. Você conhece essa palavra? Ela foi usada pela primeira vez na década de 1980 pela pesquisadora estadunidense Kimberlé Crenshaw (1959-) para descrever como diversas minorias podem sofrer múltiplas formas de discriminação simultaneamente. Crenshaw chamou a atenção para o fato de que as diferentes formas de opressão que uma pessoa enfrenta (como o racismo e a violência de gênero) não são vivenciadas de maneira isolada, mas como uma experiência integrada.

A perspectiva interseccional propõe que se analisem as desigualdades de gênero, raça, classe e orientação sexual, entre outras, de maneira integrada, sem hierarquizar as formas de opressão. Com essa abordagem, é possível compreender melhor as múltiplas desigualdades e as sobreposições de discriminações que existem em nossa sociedade. Observe novamente o infográfico da página 245. Ele mostra que, no Brasil, as mulheres negras enfrentam muito mais violência que as mulheres brancas. Não é possível analisar esses dados sem considerar a sobreposição de fatores: a questão de gênero e a questão racial. A perspectiva interseccional permite analisar esses fatores de modo integrado, sem separar aspectos que atuam juntos para que a violência aconteça. Compreender as causas específicas da violência contra mulheres negras, considerando os diversos fatores envolvidos, é o primeiro passo para o desenvolvimento de políticas públicas eficazes para o enfrentamento desse grave problema.

Kimberlé Crenshaw discursa durante festival de cinema em Park City (Estados Unidos), 2023.

Sueli Carneiro (1950-) é uma filósofa, escritora e ativista brasileira. Como uma das principais referências do movimento negro e dos estudos feministas no Brasil, ela é autora de diversos livros e artigos sobre a relação entre raça e gênero. Sueli também fundou o Geledés – Instituto da Mulher Negra. Leia um trecho de um de seus artigos.

Em geral, a unidade na luta das mulheres em nossas sociedades não depende apenas da nossa capacidade de superar as desigualdades geradas pela histórica hegemonia masculina, mas exige, também, a superação de ideologias complementares desse sistema de opressão, como é o caso do racismo. O racismo estabelece a inferioridade social dos segmentos negros da população em geral e das mulheres negras em particular, operando, ademais, como fator de divisão na luta das mulheres pelos privilégios que se instituem para as mulheres brancas. Nessa perspectiva, a luta das mulheres negras contra a opressão de gênero e de raça vem desenhando novos contornos para a ação política feminista e antirracista, enriquecendo tanto a discussão da questão racial, como a questão de gênero na sociedade brasileira.

CARNEIRO, Sueli. Enegrecer o feminismo: a situação da mulher negra na América Latina a partir de uma perspectiva de gênero. [São Paulo]: Portal Geledés, 2011. Disponível em: https://www. geledes.org.br/enegrecer-o-feminismo-situacao -da-mulher-negra-na-america-latina-partir-de -uma-perspectiva-de-genero/ Acesso em: 31 ago. 2024.

1. Para Sueli Carneiro, o racismo e a hegemonia masculina são ideologias complementares que fazem parte de um mesmo sistema de opressão. Isso significa que eles são inseparáveis, atuando juntos na construção da ideia de inferioridade da mulher negra.

Sueli Carneiro em São Paulo (SP), 2023.

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. De acordo com o trecho, que relação a autora estabelece entre o racismo e a hegemonia masculina?

2. De que forma as afirmações da autora se relacionam à ideia de interseccionalidade?

2. Ao destacar a necessidade de compreender o modo como o racismo e o machismo se sobrepõem às mulheres negras, a autora se alinha à perspectiva interseccional. Para ela, a posição de inferioridade das mulheres negras no Brasil não pode ser explicada por um único fator, mas sim pela interação entre essas duas formas de opressão.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

A sexualidade e sua diversidade

A sexualidade envolve com quem uma pessoa se relaciona, incluindo relações afetivas e interações íntimas. A forma como cada indivíduo vivencia sua sexualidade define sua orientação sexual. As orientações são geralmente classificadas como homossexual (atração pelo mesmo sexo), heterossexual (atração pelo sexo oposto) e bissexual (desejo por ambos os sexos), mas há outras possibilidades. Além disso, a orientação sexual pode evoluir ao longo da vida.

Assim como o gênero, a sexualidade é culturalmente estabelecida e varia entre grupos e culturas. Historicamente, a heterossexualidade foi o padrão aceito, marginalizando outras orientações e gerando discriminação, que, em alguns países, chega à criminalização.

O conceito de diversidade sexual reconhece a multiplicidade de orientações e identidades de gênero em diferentes contextos sociais e culturais.

A luta contra o preconceito

Em 2019, o IBGE revelou que 2,9 milhões de brasileiros se identificam como homossexuais ou bissexuais. Nosso país enfrenta altos índices de preconceito e violência contra pessoas LGBTQIAPN+. O Atlas da violência 2024 mostrou que, em média, 22 pessoas LGBTQIAPN+ são agredidas diariamente. A maioria das vítimas de violência física por orientação sexual é composta de homossexuais, com destaque para as mulheres. Entre as vítimas de violência por identidade de gênero, as mulheres trans são as mais atingidas, e as pessoas negras são maioria entre as vítimas em todas as categorias.

Esses números não abrangem a violência psicológica, como ameaças e humilhações, que ocorrem em diversos ambientes, incluindo o lar. Desde os anos 1970, grupos no Brasil lutam pelos direitos LGBTQIAPN+. Isso resultou em maior visibilidade, mais políticas públicas e medidas como a criminalização da transfobia e da homofobia pelo Supremo Tribunal Federal em 2019 e o reconhecimento do nome social para pessoas trans.

LGBTQIAPN+: sigla que reúne variadas identidades de gênero e orientações sexuais. As letras se referem a lésbicas, gays, bissexuais, transexuais ou travestis, queers (termo usado para designar pessoas sem orientação sexual ou identidade de gênero definida), intersexo, assexuais, pansexuais (se refere a quem se relaciona com pessoas de qualquer gênero ou orientação sexual) e não binários. O símbolo “+” busca incluir outras modalidades não previstas nessas classificações. homofobia: discriminação contra pessoas homossexuais. nome social: nome pelo qual as pessoas transgêneros e travestis se identificam, de acordo com a sua identidade de gênero.

Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ em São Paulo (SP), 2024. A parada da capital paulista é considerada a maior do mundo.

) A desigualdade salarial entre homens e mulheres.

) Essa lei é necessária porque, no Brasil, mulheres com mesmo nível de qualificação ganham, em média, 21% menos que homens no exercício da mesma função.

RECAPITULE

Neste capítulo, você estudou os principais conceitos que fundamentam os estudos de gênero, que englobam pesquisas e teorias voltadas para a compreensão das relações entre homens e mulheres nas diferentes sociedades. Por meio de conceitos como sexo, gênero e sexualidade, é possível entender como cada sociedade organiza essas relações, estabelecendo padrões sobre como os indivíduos devem vivenciá-las. Você também aprendeu que, na maioria das sociedades, as relações de gênero não são iguais. Historicamente, a ideia de que as mulheres são naturalmente inferiores aos homens e, portanto, devem ser submissas a eles foi amplamente difundida.

Ao longo do tempo, diferentes grupos de mulheres se mobilizaram contra essa concepção, formando o que ficou conhecido como feminismo. Longe de ser um movimento único, o feminismo é composto de diversas correntes e perspectivas, todas unidas pelo objetivo de combater a ideia de submissão feminina. Nas últimas décadas, os movimentos de defesa da população LGBTQIAPN+ também se juntaram à luta feminista. Por não seguirem padrões normativos de sexualidade e identidade de gênero, essas pessoas têm sido historicamente discriminadas e alvo de violência.

Essas questões mostram que a construção da identidade individual está profundamente ligada aos padrões sociais. Ser homem ou mulher não é apenas uma questão biológica, é algo construído ao longo de toda a vida, através da constante interação entre valores e desejos pessoais e as expectativas sociais.

ATIVIDADES FINAIS Consulte as orientações no Manual do Professor.

1. Leia o trecho da notícia a seguir. Depois, responda às perguntas.

Agora é lei a obrigatoriedade de igualdade salarial e de critérios remuneratórios entre mulheres e homens. […] […]

A norma modifica a multa prevista no art. 510 da CLT, para que corresponda a dez vezes o valor do novo salário devido pelo empregador ao empregado discriminado, e eleva ao dobro no caso de reincidência, sem prejuízo de outras medidas legais. […]

SANCIONADA lei de igualdade salarial entre mulheres e homens. Senado Notícias, Brasília, DF, 4 jul. 2023. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2023/07/04/sancionada-lei-de-igualdade-salarial-entre-mulheres-e-homens. Acesso em: 31 ago. 2024.

a) A notícia faz referência ao sancionamento de uma nova lei. Qual problema essa lei busca resolver?

b) Com base no que foi estudado no capítulo, por que essa lei é necessária?

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
NÃO ESCREVA NO LIVRO.

2. Ao dizer que o machismo é transmitido de pais para filhos, o menino faz referência ao fato de que o domínio dos homens sobre as mulheres é parte de uma estrutura social historicamente construída.

2. Observe a tirinha e responda à questão.

BECK, Alexandre. [“Hereditário” é aquilo que é transmitido dos pais para os filhos!]. In: BECK, Alexandre. Armandinho Sete. Florianópolis: Edição do autor, 2014. p. 68.

• Qual é o sentido da resposta dada pelo menino?

3. (Enem – 2020)

Nas últimas décadas, uma acentuada feminização no mundo do trabalho vem ocorrendo. Se a participação masculina pouco cresceu no período pós-1970, a intensificação da inserção das mulheres foi o traço marcante. Entretanto, essa presença feminina se dá mais no espaço dos empregos precários, onde a exploração, em grande medida, se encontra mais acentuada.

NOGUEIRA, C. M. As trabalhadoras do telemarketing: uma nova divisão sexual do trabalho?

In: ANTUNES, R. et al. Infoproletários: degradação real do trabalho virtual. São Paulo: Boitempo, 2009.

A transformação descrita no texto tem sido insuficiente para o estabelecimento de uma condição de igualdade de oportunidade em virtude da(s)

a) estagnação de direitos adquiridos e do anacronismo da legislação vigente.

b) manutenção do status quo gerencial e dos padrões de socialização familiar.

c) desestruturação da herança patriarcal e das mudanças do perfil ocupacional.

d) disputas na composição sindical e da presença na esfera político-partidária.

e) exigências de aperfeiçoamento profissional e de habilidades na competência diretiva.

4. (Enem – 2021)

Mulheres naturalistas raramente figuraram na corrida por conhecer terras exóticas. No século XIX, mulheres como Lady Charlotte Canning eventualmente coletavam espécimes botânicos, mas quase sempre no papel de esposas coloniais, viajando para locais onde seus maridos as levavam e não em busca de seus próprios projetos científicos.

SOMBRIO, M. M. O. Em busca pelo campo — Mulheres em expedições científicas no Brasil em meados do século XX. Cadernos Pagu, n. 48, 2016.

No contexto do século XIX, a relação das mulheres com o campo científico, descrita no texto, é representativa da

a) afirmação da igualdade de gênero.

b) transformação dos espaços de lazer.

c) superação do pensamento patriarcal.

d) incorporação das estratificações sociais.

e) substituição das atividades domésticas.

CAPÍTULO

1. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante compreenda que o trabalho não se restringe a atividades remuneradas.

Trabalho, direitos e desigualdades 1

OBJETIVOS DO CAPÍTULO:

C ompreender o conceito de trabalho em diferentes matrizes teóricas.

C onhecer as principais transformações do trabalho nas sociedades capitalistas.

C ompreender as diferenças entre o trabalho formal e o trabalho informal. Refletir sobre as principais questões do trabalho no mundo atual e suas consequências para o futuro.

ATIVIDADES

Para quem vive em sociedades capitalistas, a relação entre trabalho, dinheiro e sobrevivência é tão evidente que se torna automática, parecendo algo natural. Mas você já percebeu que existem diferentes maneiras de vivenciar o trabalho? Pessoas de diferentes religiões, idades e classes sociais podem ter relações distintas com o trabalho, dependendo de suas possibilidades, crenças e objetivos. Além disso, existem muitas modalidades de trabalho. Ele pode ser presencial ou à distância, com ou sem carteira assinada, em tempo integral ou parcial, entre outras. Há ainda muitos tipos de trabalho que não são remunerados, como o trabalho doméstico, o trabalho voluntário e situações de trabalho análogo à escravidão. Neste capítulo, você vai refletir sobre essas questões, compreendendo como a Sociologia ajuda a entender a importância e os significados do trabalho nas sociedades contemporâneas.

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Defina com suas palavras o que é trabalho.

2. Descreva a situação mostrada na fotografia.

2. A imagem retrata um grupo grande de pessoas em uma fila em busca de trabalho. Ela remete ao problema social do desemprego.

3. Em sua opinião, quais são as condições necessárias para que uma atividade remunerada possa ser considerada um trabalho digno?

3. Resposta pessoal. Algumas possibilidades de resposta são: um bom salário, possibilidade de descanso, possibilidade de se aposentar no futuro, condições mínimas de salubridade, entre outras.

Mutirão do emprego no Vale do Anhangabaú, São Paulo (SP), 2022.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Pensar o trabalho

Muitos pensadores interessados em compreender as transformações trazidas pela Revolução Industrial deram especial atenção às questões relativas ao trabalho. Entre esses pensadores estão aqueles considerados os fundadores da Sociologia. Cada um à sua maneira, eles ofereceram ferramentas para a compreensão das sociedades capitalistas, colocando o trabalho como um importante eixo de sua análise. Vamos conhecer algumas de suas principais ideias sobre o tema.

A divisão social do trabalho

Para o sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917), o trabalho é a chave para compreender o que mantém uma sociedade unida. Em um de seus livros mais importantes, Da divisão do trabalho social, publicado originalmente em 1893, o sociólogo afirma que todas as sociedades têm um elo, uma “liga” que conecta as pessoas, garantindo que os indivíduos se sintam parte de um mesmo todo. A essa “liga” ele deu o nome de solidariedade social, afirmando que ela se manifesta no trabalho – ou, precisamente, na forma como cada sociedade se organiza com base no trabalho.

No mundo atual, é raro que algo seja produzido do início ao fim pela mesma pessoa. Em geral, a produção de qualquer coisa passa por diversas etapas e envolve diversas pessoas. Em Sociologia, esse fenômeno é chamado de divisão social do trabalho. Com base nele, Durkheim desenvolveu a ideia de que existem dois tipos de solidariedade social e, portanto, dois tipos de sociedade.

O primeiro tipo de solidariedade social é aquele que Durkheim chamou de solidariedade mecânica. Ela estaria presente nas sociedades pré-capitalistas, em que as pessoas têm forte sentimento de coletividade e compartilham uma vida comum (como um grupo indígena tradicional ou a sociedade feudal).

Nessas sociedades, nem sempre a produção é dividida, cabendo a cada um produzir aquilo de que precisa para viver. Em alguns casos, pode haver uma divisão simples, por gênero ou idade. A divisão social do trabalho é, assim, pequena, já que todas as pessoas (ou quase todas) executam tarefas semelhantes, participando de todas as etapas de produção. Com isso, a dependência de cada um em relação ao trabalho do outro é menor.

Com o desenvolvimento do capitalismo, Durkheim identifica o surgimento de sociedades ligadas pela solidariedade orgânica . Nesse modelo, os produtos são criados com base no trabalho de pessoas que

Saiba mais

• TRABALHO em Pauta. Produzido pelo Tribunal Superior do Trabalho. Podcast Disponível nas principais plataformas de podcast O podcast conta com diversas temporadas temáticas que abordam diferentes aspectos dos mundos do trabalho no Brasil de hoje. A partir de depoimentos e entrevistas, os episódios tratam de assuntos como trabalho indígena, mercado de trabalho e inteligência artificial, capacitismo no trabalho, entre outros.

desempenham funções específicas, cada qual com sua especialidade. O autor diz que essas sociedades são como o corpo humano, no qual cada órgão tem uma função e um depende do outro para funcionar. Elas são marcadas, portanto, por uma grande divisão social do trabalho, em que cada pessoa precisa do trabalho de outras pessoas para ter acesso aos itens necessários à sua sobrevivência. Essa grande divisão de trabalho seria a explicação para o vínculo que une os indivíduos nas sociedades capitalistas.

Fábrica de calçados em São Petersburgo, Rússia, 1888.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

• O trecho do texto a seguir foi escrito, em 1776, pelo filósofo escocês Adam Smith (1723-1790), num momento em que o modo de produção capitalista começava a surgir.

[…] Um operário desenrola o arame, um outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto faz as pontas, um quinto o afia nas pontas para a colocação da cabeça do alfinete; para fazer uma cabeça de alfinete requerem-se 3 ou 4 operações diferentes […]. Assim, a importante atividade de fabricar um alfinete está dividida em aproximadamente 18 operações distintas, as quais, em algumas manufaturas, são executadas por pessoas diferentes, ao passo que em outras, o mesmo operário às vezes executa 2 ou 3 delas. […] Mas, embora não fossem muito hábeis, e portanto não estivessem particularmente treinados para o uso das máquinas, conseguiam, quando se esforçavam, fabricar em torno de 12 libras de alfinetes por dia. Ora, 1 libra contém mais do que 4 mil alfinetes de tamanho médio. Por conseguinte, essas 10 pessoas conseguiam produzir entre elas mais do que 48 mil alfinetes por dia […]. Se, porém, tivessem trabalhado independentemente um do outro, e sem que nenhum deles tivesse sido treinado para esse ramo de atividade, certamente cada um deles não teria conseguido fabricar 20 alfinetes por dia, e talvez nem mesmo 1 […].

SMITH, Adam. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. Tradução: Luiz João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural, 1996. v. 1, p. 66.

a) Solidariedade orgânica, pois o autor descreve um sistema produtivo com alta especialização e divisão do trabalho.

a) Qual tipo de solidariedade social é descrito no texto? Justifique sua resposta.

b) O autor tem uma visão otimista ou pessimista da divisão social do trabalho?

b) A visão do autor é otimista, pois evidencia seu entusiasmo com o fato de que a divisão do trabalho viabiliza um grande aumento da produtividade.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Trabalho e desigualdade

Diferente de Durkheim, o filósofo e economista alemão Karl Marx (1818-1883) tinha uma visão bastante crítica sobre a forma de organização social do trabalho no capitalismo e seus efeitos sobre a sociedade. Para ele, a compreensão da sociedade só seria possível mediante o estudo dos processos de produção de tudo que é necessário para a sobrevivência. Quem produz os alimentos? Quem costura as roupas? Quem fabrica as casas? Essas são perguntas importantes para entender como uma sociedade funciona e o lugar que as pessoas ocupam na sociedade.

Para Marx, o lugar de cada indivíduo na sociedade é definido pela sua relação com os meios de produção (espaços, máquinas e ferramentas necessários para se produzir algo). Com base nisso, ele dividiu os indivíduos das sociedades capitalistas em dois grandes grupos que configuram classes sociais com interesses opostos: a burguesia (os donos dos meios de produção) e o proletariado (os trabalhadores).

Enquanto a classe dominante é detentora dos meios de produção, a única coisa que os trabalhadores têm a oferecer é sua força de trabalho. Eles a vendem em troca de salário, garantindo que a produção das mercadorias aconteça e que os proprietários possam obter lucros com a venda dos produtos. Segundo Marx, esse processo torna o trabalho uma mercadoria pouco valorizada, tendo em vista a grande oferta de mão de obra disponível.

O mecanismo utilizado pelos donos dos meios de produção para obter lucro foi chamado por Marx de mais-valia. Ela acontece da seguinte forma: o trabalho transforma uma matéria-prima em produto, fazendo-o ganhar um valor determinado. Isso significa que a força de trabalho, quando empregada na transformação de um objeto, acrescenta valor a ele. No entanto, esse valor não é adequadamente repassado ao trabalhador, sendo apropriado pelo dono dos meios de produção.

À medida que mais horas são dedicadas pelo trabalhador, maior se torna o lucro (mais-valia) daqueles que detêm os meios de produção.

NELSON PROVAZI

A mais-valia é, assim, a diferença entre a quantidade de trabalho necessária para produzir uma mercadoria e o que o trabalhador efetivamente recebe para produzi-la. Todo esse processo configura, segundo o autor, uma relação marcada pela exploração do trabalhador, resultando em uma sociedade que tem a desigualdade social como uma de suas principais características.

Para Marx, a mais-valia pode ser classificada como absoluta ou relativa. A mais-valia absoluta é gerada pelo aumento da jornada de trabalho sem aumento de salário, obrigando o trabalhador a trabalhar mais horas, produzindo mais valor, sem receber uma pagamento maior por isso. A mais-valia relativa, por sua vez, ocorre quando o capitalista aumenta a produtividade dos trabalhadores por meio de melhorias tecnológicas ou organizacionais. Isso significa que, dentro do mesmo período, o trabalhador consegue produzir mais, e o capitalista se apropria de uma porção maior do valor criado.

Marx afirma que uma das maiores consequências da exploração do trabalho no capitalismo é a alienação. Imagine uma fábrica de celulares em que um operário passa toda sua vida produzindo uma mesma peça – um botão, por exemplo. Quando cada celular fica pronto, o operário não consegue reconhecê-lo como fruto do seu trabalho, já que participou de uma parte muito pequena do processo. Com isso, o produto final se transforma em algo distante da pessoa que o produziu, determinando que o trabalhador se torne alienado do fruto do seu próprio trabalho. Afinal, o que foi produzido não pertence a ele, e sim ao patrão que comprou sua força de trabalho.

Antes o trabalhador desenvolvia seu trabalho integralmente em uma produção, e o valor de seu trabalho tornava-se aparente. Dessa forma, era possível estimar o tempo necessário para a produção de suas condições de subsistência. Com o avanço do sistema capitalista, o trabalhador, ao perder o controle sobre todas as fases de produção, também perdeu a possibilidade de medir o valor de seu trabalho. Com isso, segundo Marx, o capitalista pôde apropriar-se de parte desse valor.

Observe a charge.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

• De que modo a situação representada na charge se relaciona ao conceito de alienação desenvolvido por Karl Marx?

Na charge, o operário aparece fabricando uma única peça e revela não saber qual é o produto final. Para Marx, no capitalismo, o trabalhador se distancia do fruto do seu trabalho, que passa a ser visto como uma mera mercadoria.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
THAVES, Bob. [Frank & Ernest]. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 19 fev. 1996.

Uma ética do trabalho

Diferente de Marx e Durkheim, o sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) optou por uma análise cultural do trabalho nas sociedades capitalistas. Suas reflexões partem de uma percepção de que havia muitos protestantes entre os empresários dos países mais industrializados. Com base nisso, desenvolveu a ideia de que havia uma relação entre certos valores religiosos e a gênese do capitalismo moderno.

Em sua obra mais conhecida, A ética protestante e o “espírito” do capitalismo, de 1904, Weber diz que o capitalismo industrial tem origem na Reforma Protestante, ocorrida no século XVI. Ele argumenta que as mudanças na esfera religiosa foram acompanhadas de grandes transformações na economia, num processo que ele identifica como o surgimento do “espírito do capitalismo”. Esse espírito se caracterizaria pela associação entre o trabalho e a salvação espiritual, já que na doutrina protestante o trabalho passava a ser entendido como algo ordenado por Deus e fundamental para o desenvolvimento espiritual.

Segundo Weber, a ética protestante incentivava os fiéis a desenvolverem uma vocação para o trabalho, acompanhada de uma postura comedida, marcada pela negação do prazer e pelo controle do indivíduo sobre suas vontades. O sucesso profissional passava, assim, a ser entendido como uma recompensa divina em razão do trabalho duro; a riqueza, como um sinal de salvação. Além disso, a ética protestante incentivava que os frutos do trabalho fossem guardados, e não usados com gastos supérfluos. Isso favoreceu o acúmulo de capital pelos empresários protestantes, consistindo em um importante fator cultural para o desenvolvimento do capitalismo.

Martinho Lutero (1483-1546) é considerado o principal líder da Reforma Protestante. Segundo Max Weber, a relação do protestantismo com o trabalho foi fundamental para o desenvolvimento do capitalismo.

CRANACH, Lucas. Retrato de Martinho Lutero. 1529. Óleo sobre madeira, 36,5 cm × 23 cm. Gallerie degli Uffizi, Florença (Itália).

O trabalho em transformação

Com o aumento da industrialização, no final do século XIX, começaram a surgir estudos voltados a organizar melhor a produção e aumentar a produtividade. A intenção era que cada vez mais produtos chegassem ao mercado, estimulando o consumo e incrementando o lucro de empresários e comerciantes.

Entre as muitas propostas surgidas naquele contexto, uma delas ganhou especial relevância. Desenvolvido pelo engenheiro estadunidense Frederick Winslow Taylor (1856-1915) na obra Princípios de administração científica, publicada originalmente em 1911, o taylorismo, como ficou conhecido, tinha como foco promover a eficácia operacional na administração da indústria e do comércio. Seu objetivo era otimizar a produção (em quantidade e em qualidade), tornando o trabalho mais eficiente.

Taylor entendia que os operários perdiam muito tempo com movimentos desnecessários, alcançando uma produção inferior à sua capacidade. Para solucionar esse problema, ele propunha que cada operário se especializasse em determinada função e que houvesse um rigoroso controle de tempo e de movimentos, visando evitar desperdício. Além disso, os operários deveriam receber treinamento para suas funções, realizado de acordo com métodos científicos, promovendo assim a padronização do trabalho e maior controle da linha de produção. O taylorismo se popularizou entre os proprietários de fábricas, trazendo grandes mudanças aos trabalhadores. Se antes eles participavam de todo o processo produtivo, agora desempenhavam apenas uma função. O novo modelo de produção aumentava a eficiência das indústrias e, ao mesmo tempo, aprofundava o fenômeno da alienação do trabalhador, tal como definido por Marx.

No taylorismo, cada operário deve executar uma única função, com o objetivo de otimizar o tempo de produção.

Trabalhadores em fábrica de automóveis, em Michigan, nos Estados Unidos, 1912.

Um dos desdobramentos do taylorismo foi o fordismo, um modelo produtivo desenvolvido pelo empresário estadunidense Henry Ford (1863-1947), proprietário da indústria de automóveis Ford Motor Company. Ao analisar o crescimento do mercado consumidor do seu país, em 1914, Ford decidiu produzir veículos padronizados em grandes quantidades, barateando o custo da produção.

Com base nas ideias de Taylor, Ford trouxe inovações. Agora, além de cada operário ser especializado em uma única tarefa, ele deveria ficar parado enquanto partes do produto a ser fabricado chegavam até suas mãos por esteiras automatizadas. Formava-se, assim, uma eficiente linha de produção, na qual os operários repetiam incessantemente os mesmos movimentos, atuando como uma peça a mais da máquina de produção.

• TEMPOS modernos. Direção: Charlie Chaplin. Estados Unidos: United Artists, 1936. Streaming (86 min).

Nesse que é um dos maiores clássicos da história do cinema, Charles Chaplin representa um operário empregado em uma linha de montagem. As situações mostradas no filme compõem uma interessante reflexão sobre o capitalismo industrial e seus efeitos sobre os trabalhadores e a sociedade de modo geral.

Por um lado, uma das principais consequências do fordismo foi o impacto na vida dos trabalhadores. Por já não conhecerem todas as etapas da produção, os operários não conseguiam se qualificar; por conseguinte, a mão de obra se tornou cada vez mais barata e substituível.

Por outro lado, a eficiência produtiva do fordismo tornou muitos produtos mais baratos e, com isso, acessíveis a mais pessoas. Esse modelo se espalhou pelo mundo e se consolidou no pós-guerra. Ele perdurou na maioria dos países industriais capitalistas até meados da década de 1980, quando passou a ser paulatinamente substituído pelo modelo toyotista de produção.

Automação e terceirização

Na década de 1970, a superprodução levou à diminuição da lucratividade das indústrias, trazendo a necessidade de cortar os custos e ampliar as taxas de lucro. Essa crise de produção foi o terreno para a popularização do neoliberalismo, um conjunto de ideias econômicas pautadas na defesa da interferência mínima do Estado na economia e da livre concorrência entre os agentes econômicos.

Foi nesse contexto que começou a ganhar força o toyotismo, um modelo de produção surgido no Japão, na década de 1950, na montadora de automóveis Toyota. Uma de suas principais inovações foi a produção de acordo com a demanda, evitando a formação de grandes estoques de produtos e matérias-primas.

Saiba mais

terceirização: processo pelo qual uma instituição contrata outra empresa para prestar determinado serviço.

Nesse modelo, a fábrica não abriga mais todas as etapas da produção, passando a ocorrer a terceirização de parte dos serviços. Além disso, diferentemente do que acontecia no fordismo, no modelo toyotista os trabalhadores executam diferentes tarefas durante a produção, podendo atuar em mais de uma etapa da produção.

A robotização, resultado de grandes investimentos em tecnologia, é uma das características do toyotismo.

Linha de produção automatizada de automóveis em São Bernardo do Campo (SP), 2010.

A popularização do toyotismo teve importantes impactos no mundo do trabalho. O modelo levou, por um lado, a uma redução da quantidade de mão de obra; por outro, a uma maior qualificação profissional. Além disso, a intensa automação e a robotização que marcam o processo produtivo toyotista têm como consequência o aumento do desemprego, levando ao desaparecimento de funções antes realizadas por humanos, que passam a ser desempenhadas por máquinas.

Esse modelo não se restringe às fábricas. Em todas as esferas do mundo do trabalho é possível perceber a tendência crescente à automação, num processo que tem levado ao aumento do desemprego e da precarização de trabalhadores em nível global. O artigo “Automação e perda de empregos: o caso brasileiro”, publicado em 2022 por vários autores, calculou que, em cerca de 20 anos, 58% dos empregos do Brasil poderão desaparecer, considerando apenas as tecnologias já existentes.

ATIVIDADE

Percebe-se, assim, uma tendência crescente de indústrias e empresas buscarem a redução progressiva de custos, principalmente no que diz respeito aos postos de trabalho. Isso tem gerado o desaparecimento de profissões e vagas de emprego, obrigando cada vez mais trabalhadores a buscarem alternativas para sobreviver. Entre elas estão a prestação de serviços por contrato temporário e as atividades no mercado informal.

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Leia o texto e depois faça o que se pede.

A terceirização é uma estratégia que tem crescido em todo o mundo, ao longo dos últimos anos, e está presente em diversos setores, como indústrias, condomínios, instituições financeiras, construção civil e comércio, entre outros. De acordo com o IBGE, em 2021, mais de 25% da população ocupada do Brasil trabalhava como terceirizada.

Pesquise sobre esse tema e faça um breve texto expondo os pontos positivos e negativos da terceirização, levando em conta seus impactos sobre empresas e trabalhadores.

Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes elaborem uma reflexão crítica sobre o fenômeno da terceirização, sob a perspectiva das empresas e dos trabalhadores.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
RODRIGO PAIVA/FOLHAPRESS

Trabalho e direitos

Nas sociedades capitalistas, o trabalho é uma das bases da produção econômica. Para os trabalhadores, ele é o meio para obter o sustento. Por esse motivo, hoje o trabalho é entendido como um direito humano fundamental. Afinal, é através dele que as pessoas podem conseguir o dinheiro necessário para adquirir o que é indispensável para a sobrevivência.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1948 e da qual o Brasil é signatário, tem um artigo inteiramente dedicado ao direito ao trabalho.

Analise um trecho do art. 23 da Declaração.

Artigo 23

1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.

2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.

3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.

4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e neles ingressar para proteção de seus interesses.

UNICEF BRASIL. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Brasília, DF: Unicef Brasil, [202-]. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos. Acesso em: 23 set. 2024.

A ideia de direitos trabalhistas é relativamente recente. Ela surgiu na Europa, no contexto da Revolução Industrial, quando muitos homens e mulheres se mudaram para as cidades, passando a viver e trabalhar em condições desumanas. Naquele momento, meados do século XIX, diversos pensadores, políticos e operários começaram a questionar o formato das relações trabalhistas, passando a lutar pelos direitos dos trabalhadores. Surgiam, assim, movimentos organizados de luta dos trabalhadores que reivindicavam melhores condições de trabalho e de vida. Foi nesse contexto que apareceram os centros de ajuda mútua, que deram origem aos primeiros sindicatos . Aos poucos, eles conquistaram o direito de funcionamento em diferentes países da Europa, passando a ser um importante instrumento de luta dos trabalhadores por todo o mundo.

sindicato: associação de trabalhadores de uma mesma categoria (por exemplo, professores, padeiros ou metalúrgicos) que tem a função de defender seus interesses e direitos profissionais.

Manifestação durante grande greve de operários do setor têxtil por melhores condições de trabalho. São Paulo (SP), 1917.

Apesar de duras (e muitas vezes sangrentas), as lutas dos trabalhadores organizados resultaram na progressiva conquista de direitos. Em 1833, por exemplo, os trabalhadores ingleses conseguiram que a jornada de trabalho fosse reduzida para um máximo de 15 horas (com uma hora e meia de intervalo) e que crianças menores de 9 anos fossem proibidas de trabalhar. Em 1841, na França, a jornada para crianças entre 8 e 12 anos foi limitada a oito horas de trabalho; no Brasil, em 1891, uma lei determinou a idade mínima de 12 anos para o trabalho.

Os primeiros sindicatos brasileiros surgiram no início do século XX, com as primeiras indústrias, especialmente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Sua história está, em grande parte, relacionada à chegada massiva de imigrantes europeus, que traziam consigo a experiência da luta dos trabalhadores em seus países de origem.

Trabalho formal

Trabalho formal é aquele regido pela legislação trabalhista. Ele acontece através de um contrato, no qual estão estabelecidas normas como jornada de trabalho, salário correspondente à função, direito a férias e 13o salário, entre outras. Nesse formato existe um vínculo empregatício entre o funcionário e a pessoa ou empresa que o contrata. Uma das formas mais comuns de se referir a esse tipo de contrato é a expressão “carteira assinada”, em referência à Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS). Você conhece esse documento?

A Carteira de Trabalho foi criada em 1932, durante o governo do presidente Getúlio Vargas (1882-1954), com o objetivo de formalizar um conjunto de direitos conquistados aos poucos através da luta de trabalhadores organizados. Onze anos depois, em 1943, Vargas sancionou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) por meio do decreto-lei no 5.452/1943. A CLT, ao reunir toda a legislação trabalhista existente até então no Brasil, regulamentou as relações de trabalho no país. Entre os direitos nela garantidos, estão a jornada de oito horas, as férias remuneradas, o seguro-desemprego, a previdência social, o salário mínimo, entre outros. Hoje, a Carteira de Trabalho continua sendo sinônimo de segurança e estabilidade. A pesquisa Sondagem de Mercado de Trabalho, da Fundação Getulio Vargas, mostrou que em 2024 cerca de 70% dos trabalhadores autônomos do país desejavam ter carteira assinada.

1. A charge mostra uma empregada doméstica uniformizada entregando uma bola com corrente, símbolo da escravidão, à patroa.

Direitos e trabalho doméstico

Os direitos trabalhistas não chegam a todos igualmente. Enquanto outras categorias conquistaram o direito ao trabalho com carteira assinada em 1943, para as empregadas domésticas isso só aconteceu muitos anos depois. Até então, o trabalho doméstico acontecia na informalidade, e as empregadas não contavam com nenhum direito trabalhista, apenas com a “boa vontade” do empregador. Em 2013, o Congresso Nacional aprovou a proposta de emenda à Constituição no 72, a “PEC das Domésticas”. Ela visou garantir aos trabalhadores domésticos direitos conquistados há muitas décadas pelas demais categorias profissionais, como jornada de 44 horas semanais, pagamento de horas extras e adicional noturno. Em 2015, a aprovação da lei complementar no 150/2015 concedeu aos empregados domésticos o direito ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), à indenização em caso de demissão sem justa causa e ao seguro-desemprego. Apesar disso, a situação desses profissionais ainda é precária: dos cerca de 5,8 milhões de trabalhadores domésticos do Brasil, somente 25% trabalham com carteira assinada, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, de 2023. Observe a charge, que foi publicada por ocasião da aprovação da PEC das Domésticas, em 2013.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Descreva a situação representada na charge.

Saiba mais

• DOMÉSTICA. Direção: Gabriel Mascaro. Brasil: Desvia, 2012. Streaming (75 min).

O documentário mostra o cotidiano de sete empregadas domésticas em seus trabalhos, com base no olhar de adolescentes.

O filme aborda as dificuldades enfrentadas por essas profissionais, além da complexidade de relações que misturam trabalho e afeto.

2. A charge faz menção ao fato de que, com a PEC no 72, a categoria dos empregados domésticos se equiparou aos demais trabalhadores, deixando para trás os resquícios do passado escravocrata.

SAMUCA. [Isso daqui pode ir pro museu, patroa!]. Diário de Pernambuco, Recife, 2015.

2. De que modo essa situação se relaciona com os avanços representados pela PEC no 72?

3. Elabore hipóteses para explicar por que o trabalho doméstico foi, por tanto tempo, privado dos direitos trabalhistas comuns à maioria das categorias profissionais.

3. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante elenque fatores como a desvalorização do trabalho doméstico, a associação desse tipo de trabalho à escravização, o fato de ser um trabalho majoritariamente feminino e desempenhado por pessoas pretas e pardas, entre outros.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Trabalho informal

O trabalho informal consiste nas atividades remuneradas realizadas sem que haja vínculo empregatício, ou seja, o trabalhador atua como autônomo. Esse modelo de trabalho está presente em diversas atividades profissionais e abrange hoje cerca de 40% dos trabalhadores brasileiros.

O crescimento do trabalho informal é uma tendência mundial. Ele está, em grande medida, associado à adoção do modelo produtivo toyotista, que tem como característica a redução dos custos com mão de obra, fazendo que cada vez menos empresas invistam na contratação massiva de funcionários. Contribui também para esse fenômeno a urbanização crescente (que leva ao inchaço dos grandes centros urbanos e ao esgotamento do mercado de trabalho) e a baixa qualificação da mão de obra, uma vez que muitas pessoas precisam abandonar os estudos para poder se manter.

O trabalho autônomo é extremamente diverso e inclui atividades realizadas por pessoas de diferentes gerações e níveis de renda. Ainda assim, alguns dados revelam perfis e padrões dessa modalidade de trabalho no Brasil. Em 2024, a maioria dos trabalhadores informais no país eram homens (66%) e mais da metade (54%) se declararam pretos e pardos.

Observe no gráfico a distribuição por faixa de renda entre os autônomos no país.

Brasil: Distribuição de renda entre autônomos (em %) - 2024

Fonte: SOBRINHO, Wanderley Preite. 7 anos após reforma trabalhista, 70% dos informais querem carteira assinada. UOL , São Paulo, 26 ago. 2024. Disponível em: https://economia. uol.com.br/noticias/ redacao/2024/08/26/ reforma-trabalhista -informalidade -autonomos-clt -carteira-assinada. htm. Acesso em: 23 set. 2024.

Nos últimos anos, alguns setores do mercado informal têm sofrido intensa precarização, acarretando um número cada vez maior de horas de trabalho, em condições cada vez piores e com ganhos cada vez menores para o trabalhador.

O maior símbolo desse fenômeno é o trabalho através de aplicativos e plataformas digitais, voltado principalmente para serviços de entregas e transporte de passageiros. Muitos especialistas vêm chamando esse fenômeno de uberização do trabalho em referência ao nome de uma grande empresa de serviços de transporte que foi pioneira na implementação desse novo formato de trabalho. Nesse modelo, um trabalhador autônomo, chamado de “parceiro”, se conecta a um usuário do aplicativo, o cliente, para prestar serviços de entrega ou locomoção.

Uma das principais características dessa nova modalidade de trabalho é a centralidade da tecnologia na organização e no gerenciamento dos trabalhadores. Em uma empresa tradicional, uma equipe coordena as tarefas a serem cumpridas. Já nas plataformas digitais, isso fica a cargo dos algoritmos dos aplicativos de celular, que são programados para controlar a distribuição do trabalho entre os “parceiros” e estabelecer o valor do serviço.

Esse tipo de trabalho atrai pessoas em busca de liberdade para definir os dias e os horários em que querem trabalhar.

Apesar dessa vantagem, o crescimento da uberização tem trazido problemas. O maior deles é a ausência de direitos e garantias dos trabalhadores, que não contam com o suporte das empresas em caso de acidentes, além de não saberem quanto terão de trabalhar no dia para alcançar uma remuneração mínima.

Vendedores ambulantes de roupas na Região da 44 em Goiânia (GO), 2024.

Apesar da legislação, o trabalho formal e com direitos nunca alcançou a maior parte da população brasileira. Isso vale para quase todos os países em desenvolvimento, em que a vida da maioria dos trabalhadores é historicamente marcada pela oscilação entre trabalhos formais e informais, muitas vezes na forma de “bicos”. Para a socióloga brasileira Nadya Guimarães (1949-), na obra Trabalho: uma categoria chave no imaginário juvenil?, publicada originalmente em 2005, essa é uma realidade que atinge principalmente os jovens, cuja presença no mercado de trabalho é, em geral, marcada pela instabilidade.

Camelôs são alguns dos trabalhadores informais muito presentes nas grandes cidades brasileiras.

algoritmo: conjunto de instruções e regras que um programa de computador recebe para executar suas funções.

TALES AZZI/PULSAR IMAGENS

PERSPECTIVAS

1. O autor afirma que vivemos uma era de escravidão digital porque, cada vez mais, a automatização tem levado à precarização do trabalho através da ilusão do empreendedorismo.

O sociólogo brasileiro Ricardo Antunes (1953-) tem uma vasta obra dedicada a compreender os mundos do trabalho no país. Em seu livro O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital, de 2018, ele analisa o fenômeno da uberização e seus impactos sobre a classe trabalhadora.

Leia o trecho de uma entrevista sobre o assunto.

Essa forma que nós hoje denominamos como “uberização do trabalho” é o mascaramento de relações assalariadas, que assumem a aparência do trabalho do empreendedor, do trabalho do prestador de serviços, dos trabalhos desprovidos de direitos.

[…]

[…] São modalidades de trabalho intermitente, em que os trabalhadores são chamados a trabalhar, e só recebem por aquelas horas que trabalham. […].

[…]

É por isso que eu digo no meu livro que nós estamos vivendo uma era de escravidão digital. O mundo maquínico informacional-digital, ao invés de trazer a redução do tempo de trabalho, as melhores condições de trabalho, mais tempo de vida fora do trabalho, menos penúria no trabalho, tem sido o oposto.

Por quê? Isso é muito importante: porque se trata de uma tecnologia que não tem valores humanos ou societais. O mundo informacional do nosso tempo, do qual a indústria 4.0 é o seu pretenso ápice, não tem um sentido humano ou societal, e sim um sentido de valorizar, ampliar a riqueza das grandes corporações.

ATIVIDADES

O resultado disso é que nós temos uma heterogeneidade muito grande do trabalho, mas com um traço em comum: a homogeneização que caracteriza esse mosaico de trabalhos distintos, que é a tendência à precarização. Esse vai ser, digamos assim, o ponto mais importante nas lutas do nosso tempo.

ANTUNES, Ricardo. Uberização nos leva para a servidão, diz pesquisador. [Entrevista cedida a] Heitor Peixoto. Congresso em Foco, Brasília, DF, 25 jul. 2019. Disponível em: https:// congressoemfoco.uol.com.br/area/mundo-cat/uberizacao-nos-leva -para-a-servidao-diz-pesquisador/. Acesso em: 20 set. 2024.

Ricardo Antunes, 2009. Suas obras são consideradas referências em Sociologia do Trabalho no Brasil, com foco na precarização das relações de trabalho.

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Ricardo Antunes diz que estamos vivendo uma era de escravidão digital. Explique a afirmação com base nos argumentos do autor.

2. Qual é, para o autor, a relação entre a uberização e a tendência à precarização?

2. Com a uberização, os trabalhadores perdem direitos, passando a atuar como autônomos. Por não conseguirem rendimentos suficientes, acabam por trabalhar muitas horas, sem nenhum suporte das empresas ou do Estado, configurando assim uma tendência forte à precarização.

PAULO LIEBERT/ESTADÃO CONTEÚDO

Os sentidos do trabalho

Nas páginas anteriores, você aprendeu que o trabalho é uma das bases das sociedades capitalistas e consiste numa necessidade para a maior parte das pessoas que vivem nelas. Você aprendeu também que o trabalho é marcado por inúmeras desigualdades, que podem ganhar diferentes contornos em função de fatores como classe, gênero, raça e idade. Mas há também outras questões a serem consideradas. Nem todas as pessoas percebem o trabalho da mesma forma, atribuindo a ele sentidos e significados que podem variar conforme características culturais e individuais.

Um exemplo disso são as mulheres de classe média e alta que decidiram entrar no mercado de trabalho a partir da década de 1970. Para muitas delas, mais que uma necessidade, o trabalho consistia em um ato político de afirmação de independência do gênero feminino e de oposição à sociedade patriarcal.

Outro exemplo são os jovens. Como mostra o sociólogo francês Claude Dubar (1945-2015), na obra A construção de si pela atividade de trabalho: a socialização profissional, publicada originalmente em 2012, para muitos deles o trabalho não está associado a uma necessidade de sobrevivência, mas ao desejo de conquistar independência em relação aos pais e poder circular com maior liberdade pela cidade onde moram. Em sentido similar, Nadya Guimarães afirma que para muitos jovens brasileiros o trabalho representa a possibilidade de vivenciar elementos da condição juvenil, como o lazer e o consumo. Já para outros, o trabalho é condicionado pela necessidade de ajudar no sustento da família, possibilitando o acesso a direitos como alimentação, vestuário e educação. Em sua pesquisa, a autora encontrou ainda jovens para os quais o trabalho é um espaço de sociabilidade, uma oportunidade para se distrair, conhecer pessoas e fazer amizades. Guimarães conclui, assim, que o trabalho entre os jovens pode ser dotado de múltiplos significados, sendo impossível atribuir-lhe um único sentido.

O trabalho pode ter significados diversos para os jovens, a depender de sua classe, gênero, raça e cultura familiar.

Jovem em atividade profissional em uma floricultura.

• KRENAK, Ailton. A vida não é útil . São Paulo: Companhia das Letras, 2020. Esse livro oferece uma perspectiva provocadora sobre o modo de vida capitalista, atentando para os seus efeitos sobre as pessoas e sobre o meio ambiente.

Outra possibilidade é pensar sobre os sentidos do trabalho em sociedades não capitalistas. Podemos fazer essa reflexão, por exemplo, com base nos povos indígenas que habitam o território brasileiro. Os povos originários foram, ao longo da história, alvo de preconceitos construídos pelos colonizadores, como a ideia de que não gostavam de trabalhar. Isso difundiu a imagem de que os indígenas são preguiçosos e que, por isso, os colonizadores precisaram trazer da África a mão de obra escravizada. Mas essa interpretação, além de ignorar os muitos interesses financeiros envolvidos no tráfico negreiro, desconsidera o fato de que os indígenas, como qualquer outra sociedade, tinham suas próprias concepções sobre o trabalho, que divergiam da concepção imposta pelos colonizadores.

Leia o que o ativista e filósofo indígena Ailton Krenak (1953-) diz sobre a diferença entre o modo como brancos e indígenas entendem o trabalho.

[…] O pensamento vazio dos brancos não consegue conviver com a ideia de viver à toa no mundo, acham que o trabalho é a razão da existência. Eles escravizaram tanto os outros que agora precisam escravizar a si mesmos. Não podem parar e experimentar a vida como um dom e o mundo como um lugar maravilhoso. O mundo possível que a gente pode compartilhar não tem que ser um inferno, pode ser bom. Eles ficam horrorizados com isso, e dizem que somos preguiçosos, que não quisemos nos civilizar. Como se “civilizar-se” fosse um destino. Isso é uma religião lá deles: a religião da civilização. Mudam de repertório, mas repetem a dança, e a coreografia é a mesma: um pisar duro sobre a terra. A nossa é pisar leve, bem leve.

KRENAK, Ailton. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020, p. 59-60.

Na maior parte dos povos indígenas, as atividades produtivas são divididas por gênero.

Jovem indígena tece rede com fibra de buriti e fios de algodão na aldeia indígena Ipatsé, da etnia kuikuro. Parque Indígena do Xingu, Gaúcha do Norte (MT), 2023.

Saiba mais
LUCIOLA ZVARICK

O futuro do trabalho

É comum que as mudanças no mundo do trabalho resultem de inovações tecnológicas. A cada dia, robôs assumem o lugar de seres humanos, e a produção e os serviços ficam cada vez mais automatizados. Mas a tecnologia não é a única responsável pelas transformações. Elas acontecem também pela atuação de governantes, proprietários de empresas e trabalhadores, que estão constantemente tendo ideias e criando práticas que impactam o mundo do trabalho. Nas últimas décadas, os processos de liberalização econômica (levando à menor regulação de alguns setores pelo Estado), desenvolvimento tecnológico (com a introdução cada vez maior da robótica) e mudanças nas relações de trabalho (terceirização, trabalho temporário etc.) têm causado um aumento significativo do desemprego estrutural em muitos países.

Diferente do desemprego conjuntural, que acontece em momentos pontuais de crise econômica, o desemprego estrutural é resultado de mudanças profundas no mercado de trabalho, que levam à eliminação permanente de postos de trabalho. Esse é um fenômeno que afeta trabalhadores de todos os setores, idades e classes sociais e permite compreender o aumento da informalidade e da precarização nos países industrializados.

Por outro lado, alguns setores da economia, antes pouco expressivos, vêm aumentando a demanda por mão de obra. Isso chama a atenção para a necessidade de qualificação de trabalhadores para atuar em áreas específicas, na sua maioria relacionadas a tecnologias da informação. Além disso, algumas práticas vêm ganhando espaço, como o home office.

Em 2022, a Pnad Contínua, feita pelo IBGE, revelou que mais de 7 milhões de brasileiros trabalhavam em home office, cerca de 7% do total de pessoas ocupadas em todo o país. Entre eles, a maioria eram mulheres, pessoas brancas e com ensino superior completo. Além disso, a proporção é bem maior entre profissionais das ciências e trabalhadores intelectuais. Esses dados revelam que o trabalho remoto não é uma opção para todos os tipos de atividade e que, portanto, não está acessível a muitos segmentos da população.

O home office é uma tendência que cresce em segmentos específicos.

Jovem em trabalho remoto.

1. a) A charge mostra que, por um lado, o trabalho por meio de plataformas alimenta a ilusão de trabalhar por conta própria, tendo assim maior liberdade. Por outro lado, esse sonho esbarra nos baixos ganhos desse tipo de atividade, fazendo que os trabalhadores tenham pouco

tempo para o descanso e nem um acesso a direitos.

Neste capítulo, você aprendeu que pensar sobre o trabalho tem sido essencial para que os sociólogos compreendam a sociedade capitalista. Com diferentes perspectivas, Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber analisaram o trabalho no capitalismo, buscando explicar, através dele, diferentes aspectos das sociedades modernas e contemporâneas.

Desde então, muitas transformações têm marcado o mundo do trabalho, com grandes impactos na organização das sociedades. Entre elas, a automação vem se tornando uma tendência crescente, consistindo num importante fator da precarização e do desemprego.

Você aprendeu também que o trabalho pode adquirir diferentes sentidos e significados dentro de uma mesma sociedade, a depender de fatores como gênero, idade e classe social. Além disso, em sociedades não capitalistas, como os povos indígenas, o trabalho tem características e significados próprios, revelando a complexidade desse tema tão importante nas diferentes sociedades.

ATIVIDADES FINAIS Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Observe a charge e faça o que se pede.

a) De que modo a charge aborda as contradições que marcam o trabalho por meio de plataformas digitais?

b) Cite três vantagens e três desvantagens do trabalho autônomo em relação ao trabalho formal.

b) Resposta pessoal. Entre as vantagens, podem ser citadas a liberdade de horários, a possibilidade de trabalhar em distintos lugares e o fato de não estar submetido a um chefe ou patrão. Entre as desvantagens, podem ser citadas a incerteza quanto aos ganhos, a ausência de direitos como férias remuneradas e 13o salário e a necessidade de desempenhar diferentes funções.

D’AGOSTINHO, Toni. [Os empreendedores.]. São Paulo, 2019. Disponível em: https://www.acaricatura.com.br/ copia-publicacoes-2?lightbox=dataItem-k8j8u0a9 Acesso em: 18 out. 2024.

2. (UFU – 2020) Nos últimos anos, tem-se observado o crescimento de um tipo de ocupação: o trabalho por aplicativo. Conhecido também como “uberização do trabalho”, as alterações nas relações de trabalho provocadas por esse fenômeno são sintetizadas pela pesquisadora Ludmila Abílio:

Ser um trabalhador-perfil em um cadastro da multidão significa na prática ser um trabalhador por conta própria, que assume os riscos e custos de seu trabalho, que define sua própria jornada, que decide sobre sua dedicação ao trabalho e, também, que cria estratégias para lidar com uma concorrência de dimensões gigantescas que paira permanentemente sobre sua cabeça. Abílio, Ludmila C. Uberização do trabalho: subsunção real da viração. Disponível em: http://passapalavra.info/2017/02/110685. Acesso em: 03 fev. 2020.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Com base nessas informações, as alterações nas relações de trabalho na atualidade têm sido definidas pelo(a)

a) precarização do vínculo empregatício, com a desregulamentação das leis trabalhistas.

b) valorização do empreendedorismo, seguida pela ampliação dos direitos sociais.

c) v ínculo de emprego duradouro, garantido por maior autonomia nas rotinas de trabalho.

d) f ortalecimento do movimento sindical como estratégia de mobilização na luta por direitos trabalhistas.

3. (Enem – 2020)

Desde o mundo antigo e sua filosofia, que o trabalho tem sido compreendido como expressão de vida e degradação, criação e infelicidade, atividade vital e escravidão, felicidade social e servidão. Trabalho e fadiga. Na Modernidade, sob o comando do mundo da mercadoria e do dinheiro, a prevalência do negócio (negar o ócio) veio sepultar o império do repouso, da folga e da preguiça, criando uma ética positiva do trabalho.

ANTUNES. R. O século XX e a era da degradação do trabalho. ln: SILVA. J. P. (Org.). Por uma sociologia do século XX . São Paulo Annablume, 2007 (adaptado).

O processo de ressignificação do trabalho nas sociedades modernas teve início a partir do surgimento de uma nova mentalidade, influenciada pela

a) reforma higienista, que combateu o caráter excessivo e insalubre do trabalho fabril.

b) Re forma Protestante, que expressou a importância das atividades laborais no mundo secularizado.

c) força do sindicalismo, que emergiu no esteio do anarquismo reivindicando direitos trabalhistas.

d) participação das mulheres em movimentos sociais, defendendo o direito ao trabalho.

e) visão do catolicismo, que, desde a Idade Média, defendia a dignidade do trabalho e do lucro.

4. (Enem – 2018)

Num país que conviveu com o trabalho escravo durante quatro séculos, o trabalho doméstico é ainda considerado um subemprego. E os indivíduos que atuam nessa área são, muitas vezes, vistos pelos patrões como um mal necessário: é preciso ter em casa alguém que limpe o banheiro, lave a roupa, tire o pó e arrume a gaveta. Existe uma inegável desvalorização das atividades domésticas em relação a outros tipos de trabalho.

RANGEL, C. Domésticas: nascer, deixar, permanecer ou simplesmente estar. In: SOUZA, E. (Org.). Negritude, cinema e educação. Belo Horizonte: Mazza, 2011 (adaptado).

Objeto de legislação recente, o enfrentamento do problema mencionado resultou na a) criação de novos ofícios.

b) ampliação de direitos sociais.

c) redução da desigualdade de gênero.

d) fragilização da representação sindical. e) erradicação da atividade informal.

5. (Enem – 2022)

Há quinze anos, a média de cana cortada era de seis toneladas por trabalhador por dia. Hoje, os trabalhadores cortam dez toneladas. Intensificou-se o ritmo da jornada de trabalho para que o trabalhador seja competitivo. A referência dele passou a ser a máquina. As usinas, para terem um trabalhador com esse perfil, não podem tratar-lhes como os migrantes de antigamente. Ele precisa de uma comida especial. Então, melhorou o padrão de alimentação. Precisa de descanso especial, por isso os alojamentos foram melhorados.

O paradoxo no mundo do trabalho. Disponível em: http://amaivos.uol.com.br. Acesso em: 19 maio 2013 (adaptado).

Na perspectiva apresentada no texto, as melhorias das condições de vida do trabalhador são explicadas pelo(a)

a) distribuição equitativa de terras.

b) incremento da oferta de emprego.

c) demanda de elevada qualificação.

d) exigência crescente de produtividade.

e) aperfeiçoamento do marco normativo.

CAPÍTULO

Sociedade e vigilância tecnológica 15

OBJETIVOS DO CAPÍTULO:

A nalisar a presença das redes sociais no cotidiano e na dinâmica social, reconhecendo o controle e a vigilância das big techs por meio do conceito de capitalismo de vigilância. Identificar as implicações do uso e do funcionamento das redes sociais, percebendo a importância delas nas subjetividades dos usuários.

C ompreender o aspecto econômico e social da utilização de dados pessoais pelas plataformas digitais, discutindo a necessidade de regulamentação.

As redes sociais desempenham um papel crucial na dinâmica social moderna, conectando indivíduos por meio de interações que influenciam o comportamento e a identidade dos usuários. De acordo com o sociólogo espanhol Manuel Castells (1942-), no livro A sociedade em rede, publicado originalmente em 1996, essas redes são formadas por “nós”, que representam, sobretudo, os atores que dela participam, mas também as interações entre eles. A estrutura de uma rede é composta, então, dos atores e de suas interações. Essas conexões entre eles, ou arcos, indicam tipos de relação social, como relações de amizade, de pertencimento a um grupo, entre outras. Esta imagem de abertura ilustra essas interações em uma rede social de compartilhamento de fotografias e ilustrações ao longo de dois anos. Cada participante da rede é representado por um ponto ou esfera. Cada conexão entre os “nós” mostra as interações entre eles, que podem ser, por exemplo, um comentário em uma foto. Os pontos maiores representam os atores que recebem mais comentários/interações, ou seja, os mais “populares”.

REDE de interações. In: RECUERO, Raquel. Introdução à análise de redes sociais online. Salvador: Edufba, 2017. (Coleção Cibercultura, p. 18).

1. Você faz uso de redes sociais? Comente a frequência e o propósito desse uso.

2. Você reflete antes de publicar algo nas redes sociais?

3. Como as curtidas e os comentários das publicações afetam como você se sente?

4. Você conhece seus seguidores? O que você faria se uma pessoa desconhecida entrasse em contato com você em uma rede social?

ATIVIDADES Consulte orientações no Manual do Professor. 1, 2, 3 e 4. Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes respondam às questões de acordo com suas experiências individuais.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Tecnologias digitais e vigilância tecnológica

Antes de abordarmos o tema central do capítulo, é importante entender como ocorre a cognição humana, ou seja, como os seres humanos aprendem na sua relação com o mundo. Esse aspecto é fundamental para compreender a interação entre humanos e objetos como computadores, dispositivos e smartphones.

O filósofo britânico Andy Clark (1957-), no livro Supersizing the mind (em tradução livre, "A mente estendida"), publicado em 2008, afirma que a cognição humana está distribuída entre cérebro, corpo e ambiente. Dessa forma, os processos cognitivos não estão confinados apenas na mente; manifestando-se também no corpo e, principalmente, além dele, no mundo exterior. A relação dos humanos com dispositivos externos é intrínseca à nossa natureza, estando presente em todas as épocas e lugares. Essa caraterística humana ajuda a compreender melhor os tempos atuais, marcados por tecnologias digitais e dispositivos móveis.

Segundo o autor, em situações de cognição estendida, o organismo humano se vincula a uma unidade externa ao corpo, criando um sistema acoplado. Esse sistema pode ser representado, por exemplo, por uma ferramenta feita de um fragmento de rocha, ou de um livro, ou de um computador. Nesses casos, a cognição humana se expande para além do cérebro e se acopla a esses objetos, formando uma única unidade.

Machadinha de Olduvai Gorge, Tanzânia (Leste da África), exposta no Museu de Shangai (China), 2017. Objeto do Período Paleolítico chamado de biface, ou bifacial, tecnologicamente fabricado a partir de um seixo (fragmento de mineral ou rocha).

Saiba mais

• HEMERLY, Giovanna; ALMEIDA, Rebeca. Pensamento por um fio. Salvador: Agência de Notícias em CT&I: Ciência e Cultura, 27 ago. 2018. Disponível em: http://www. cienciaecultura.ufba. br/agenciadenoticias/ noticias/pensamento -por-um-fio/. Acesso em: 5 out. 2024.

O biólogo Hilton Japyassú, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), mostra como o pensamento fora do corpo não é uma ideia recente e traz o exemplo da relação entre a aranha e sua teia.

O ser humano só se constitui como tal, ou seja, como humano, em sua relação com o mundo.

Telefone celular touch screen (tela de toque).

Nesta imagem digital, temos uma representação de como humanos e técnicas formam uma unidade e estão completamente interligados.

SMITH, David Thomas. Burj Dubai. [ca. 20092010]. Colagem digital, 180 cm  x 120 cm. Parte da coleção Antropoceno, feita com base em fotografias de satélite da região de Dubai (Emirados Árabes Unidos).

BESPALIY/SHUTTERSTOCK.COM
DAVID SMITH

Tecnopolíticas da vigilância tecnológica

As novas tecnologias de informação, comunicação e redes sociais têm alterado a experiência cotidiana e o compartilhamento de informações. Vivemos uma era em que a intimidade é coletiva e publicizada; as antigas fronteiras entre o privado e o público estão borradas; e aspectos do cotidiano são transformados em estratégias comerciais em escala industrial por empresas de tecnologia. Estamos submetidos às tecnopolíticas da vigilância tecnológica. As tecnopolíticas englobam tanto a vigilância quanto as formas de resistência a ela. Mas, afinal, em que consistem essas novas categorias? Quais são os aspectos presentes nas redes sociais que, continuamente, criam procedimentos de segurança, vigilância e controle, além de processos de natureza subjetiva, afetiva e estética? Esses aspectos se misturam às ações cotidianas nos ambientes digitais (internet, smartphones, dispositivos de geolocalização, câmeras de vigilância), nos quais vamos deixando rastros.

Esse novo cenário de transformações, marcado pelo uso intensivo da internet e dos dispositivos digitais nos mais diversos campos da sociedade, tem gerado a necessidade de reflexões e estudos. Um dos desafios é como avaliar e nomear essas profundas mudanças, levando em consideração seus diferentes aspectos. Alguns dos principais termos utilizados para analisar essas questões incluem sociedade de controle e capitalismo de vigilância. A socióloga estadunidense Shoshana Zuboff (1951-) afirma, neste trecho:

[…] A realidade digital está tomando conta e redefinindo tudo que é familiar, antes mesmo de termos tido a chance de ponderar e decidir sobre a situação. Nós celebramos o mundo conectado por causa das muitas maneiras pelas quais ele enriquece nossas capacidades e perspectivas, mas ele gerou novos grandes territórios de ansiedade, perigo e violência conforme o senso de um futuro previsível se esvai por entre os nossos dedos.

ZUBOFF, Shoshana. Lar ou exílio no futuro digital. In: ZUBOFF, Shoshana. A era do capitalismo de vigilância: a luta por um futuro humano na nova fronteira de poder. Tradução: George Schlesinger. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2021. E-book. Localizável em: capítulo um: Lar ou exílio no futuro digital: I. As perguntas mais antigas.

Shoshana Zuboff em Berlim (Alemanha), 2019.

O termo “capitalismo de vigilância” foi popularizado por Zuboff no livro A era do capitalismo de vigilância, publicado em 2018, no qual descreve como essas práticas transformam o capitalismo e criam formas de poder e controle. No capitalismo de vigilância, as grandes empresas de tecnologia, chamadas big techs, coletam dados pessoais em massa para prever e modificar o comportamento dos usuários, gerando enormes lucros. Esse modelo de negócios representa uma nova forma de poder e controle na era digital. Esse fenômeno surgiu nas últimas décadas, impulsionado pelos avanços tecnológicos e pelas novas formas de negócios baseadas na coleta e na análise de dados pessoais. Para entender melhor como isso aconteceu, vamos explorar alguns pontos importantes.

Com a internet, os smartphones, as redes sociais e os outros dispositivos conectados foi criada uma infraestrutura capaz de coletar enormes quantidades de dados sobre o que fazemos, onde estamos, do que gostamos e muito mais. Isso se tornou uma fonte de renda valiosa para as big techs, que perceberam que esses dados poderiam ser usados para vender publicidade de maneira muito mais eficiente. Quanto mais informações as empresas têm sobre nós, melhor podem direcionar anúncios de que acham que vamos gostar e, consequentemente, comprar. Esse modelo de negócios baseado em dados pessoais é o cerne do capitalismo de vigilância.

Leia o trecho de uma obra do pesquisador bielorusso Evgeny Morozov (1984-).

A rápida ascensão das plataformas digitais produziu um Estado de bem-estar privatizado, paralelo e praticamente invisível, no qual muitas das nossas atividades cotidianas são fortemente subsidiadas por grandes empresas de tecnologia (interessadas em nossos dados) ou, no caso de organizações menores e startups, financiadas por investidores de risco confiantes de que as perdas no curto prazo vão lhes assegurar o domínio no longo prazo. […]

Escritos na areia da praia. Os rastros digitais são elementos importantes para o capitalismo de vigilância.

Economia da atenção

A atenção se tornou um recurso valioso. As empresas competem ferozmente para capturar e manter nossa atenção, utilizando dados coletados para personalizar e otimizar o conteúdo que nos é mostrado, de modo a garantir que as pessoas se engajem por mais tempo em suas plataformas. Isso significa que estamos constantemente sendo observados e analisados para que possam nos mostrar “exatamente o que queremos ver”.

Pessoas tiram fotos com smartphones durante um concerto de música ao vivo em Tessalônica (Grécia), 2017.

A aceitação social e cultural das novas tecnologias também tem facilitado essa coleta de dados. Compartilhamos informações em redes sociais e usamos aplicativos que monitoram nossa localização e atividades, muitas vezes sem pensar nas implicações para a nossa privacidade. Tanto corporações quanto Estados monitoram os dados de nossas pegadas digitais, os quais possuem grande valor político e econômico. A convergência de grandes volumes de dados é chamada de big data, ou megadados. O tratamento desses megadados tem gerado uma economia de dados pessoais, ou seja, os dados se tornaram objeto de mercantilização e comercialização. A imensidão e a complexidade dos megadados gerados por pessoas, robôs e dispositivos não podem ser calculados por humanos, mas sim por algoritmos, softwares e dispositivos de inteligência artificial.

Por um lado, vivemos em uma nova ordem de conhecimento sobre indivíduos, populações e seus padrões comportamentais. Por outro, há diversas formas de contravigilância disputando essas mesmas tecnologias, sejam elas de natureza política, cultural ou artística, que criam brechas na busca contemporânea por visibilidade.

O uso da inteligência artificial (IA), por exemplo, tem se tornado cada vez mais recorrente. O boom da IA ocorreu em 2022, com o lançamento do chatbot (ou robô de conversa). Trata-se de um modelo de linguagem que realiza consultas extremamente rápidas a um vasto banco de dados e utiliza prompts, dados e respostas anteriores para prever as palavras mais adequadas para cada pergunta feita (de acordo com as ideias da empresa), compondo uma nova resposta para o usuário. O algoritmo requer um intenso treinamento para aprender a criar essas respostas, permitindo que seus utilizadores conduzam a conversa por meio de sucessivas perguntas e adaptando-se às necessidades de cada interação.

A inteligência artificial que alimenta o chatbot é baseada em algoritmos, sequências finitas e lógicas de instruções que resolvem problemas de forma precisa e padronizada na linguagem de programação. Os algoritmos são preditivos, isto é, treinados para identificar padrões de comportamento e, com isso, prever o que você fará a seguir. Alimentam-se de ações e produzem novos padrões por meio delas. Grandes empresas utilizam essas tecnologias preditivas para exercer um controle da atenção e da conduta dos usuários. Além disso, os algoritmos também podem ser utilizados para fornecer sugestões e recomendações, como nas plataformas de streaming de filmes ou de músicas.

Regulamentação, globalização e conectividade

A globalização e o avanço da conectividade possibilitaram a rápida expansão dessas empresas ao redor do mundo, permitindo que coletassem dados de usuários em escala global. Com isso, o capitalismo de vigilância se tornou um fenômeno mundial, impactando a vida de milhões de pessoas. Você já acessou algum site que lhe pediu que aceitasse os cookies? Ao aceitar, você está dando permissão ao site para que colete informações sobre suas atividades on-line. Essa prática não é apenas uma formalidade; ela representa um consentimento para a exploração de dados pessoais, transformando a experiência digital em um produto comercializável. O capitalismo de vigilância não se limita à coleta de dados, pois também molda comportamentos e expectativas sociais. As big techs utilizam algoritmos sofisticados para prever e influenciar as ações dos usuários, criando uma nova dinâmica de controle social.

Saiba mais

• C AFÉ da manhã: como a IA usa nossos dados. Entrevistada: Dora Kaufman. Entrevistadores: Gabriela Mayer e Gustavo Simon. [S. l.]: Spotify, 4 jul. 2024. Podcast. Disponível em: https://open. spotify.com/ episode/60qE82Zg vpBvjFmEMH6d6N. Acesso em: 5 out. 2024.

O podcast discute como as empresas utilizam os dados dos usuários para treinar sistemas de IA, destacando o impacto desse fenômeno no cotidiano e na privacidade dos indivíduos.

Além disso, essa vigilância generalizada levanta questões éticas sobre privacidade e autonomia, desafiando os fundamentos das democracias contemporâneas. A falta de regulamentação eficaz permite que essas práticas se proliferem sem supervisão adequada, resultando em um ambiente no qual a privacidade individual é constantemente comprometida. Assim, a intersecção entre globalização, conectividade e regulamentação torna-se crucial para entender e enfrentar os desafios do capitalismo de vigilância na sociedade atual.

As leis e regulamentações não acompanharam a velocidade dessa evolução tecnológica, permitindo que as empresas explorassem dados pessoais de maneiras inovadoras e lucrativas, sem muitas restrições. Mais adiante, vamos discutir as legislações que buscam regular essas práticas.

O capitalismo de vigilância pode ser considerado o resultado da combinação de tecnologia avançada, modelos de negócios inovadores, mudanças culturais e sociais, lacunas na regulamentação e expansão global das empresas de tecnologia. Trata-se de uma realidade que influencia a forma como vivemos e interagimos com o mundo digital diariamente.

Observa-se, assim, estreita relação entre os meios e os humanos, formando as chamadas redes sociotécnicas . De acordo com o antropólogo e sociólogo francês Bruno Latour (1947-2022), a rede sociotécnica é entendida como a forma pela qual as tecnologias influenciam a cultura e o comportamento humano. Trata-se de um coletivo formado pela rede de interações entre humanos e não humanos, isto é, entre elementos sociais (pessoas, práticas culturais, organizações) e elementos técnicos (máquinas e dispositivos tecnológicos). Ela molda a maneira como as pessoas percebem e agem no mundo. Um exemplo é a internet, que viabiliza a interação entre as pessoas mediante um aparato tecnológico. No capitalismo de vigilância, as redes sociotécnicas se tornam ainda mais relevantes, uma vez que tecnologias avançadas coletam e analisam dados dos usuários, influenciando suas interações sociais e comportamentos.

ATIVIDADES

Data center é uma sala física que funciona como um centro de armazenamento e de processamento dos dados. No Brasil, há cerca de 180 e, no mundo, aproximadamente 12 mil data centers

Sala de servidores em Cracóvia (Polônia), em 6 de junho de 2022.

1. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante reconheça que likes e outros tipos de interação on-line desempenham um papel importante na forma como mensagens e propagandas são direcionadas a ele.

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Em seu cotidiano, você reconhece que está sendo vigiado pelas plataformas digitais?

2. Em que medida você preserva seus dados pessoais?

2. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante adote medidas para preservar sua privacidade on-line, como ser criterioso ao interagir com conteúdos nas redes sociais, rejeitar ou limitar o uso de cookies, entre outras.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
BEATA ZAWRZEL/NURPHOTO VIA AFP

Uma organização da sociedade civil comprometida com o diálogo e com o uso democrático das tecnologias é a Rede Latino-Americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade (Lavits). Leia um trecho do livro Tecnopolíticas da vigilância.

Tanto o desenvolvimento de novas formas de vigilância e controle quanto a experimentação de resistências e subversões que dialogam com elas formam aquilo que chamamos de ‘tecnopolíticas’. […] Foi a partir desse cenário, que já se tornava então evidente, que em 2009 criou-se a Lavits, Rede Latino-Americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade. Inicialmente, a rede era composta de um grupo de pesquisadoras e pesquisadores de diferentes áreas, que tinham por objetivo, além de estabelecer diálogos com ativistas e artistas que também estavam pensando e atuando sobre temas relacionados à vigilância, produzir discursos, análises empíricas e reflexões que partissem de contextos e olhares latino-americanos. Os diálogos entre pesquisadores da América Latina, que, por sua vez, estavam inseridos em redes de pesquisa transcontinentais, tornaram ainda mais claras nossas especificidades políticas e sociais e a necessidade de pensarmos a partir delas. Ao longo desses quase dez anos, a Lavits foi construída a partir de um conjunto diverso de atividades e formas de diálogo. A elaboração de projetos de pesquisa comuns, a constituição de um grupo de pesquisa formalmente reconhecido junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a produção de livros e artigos coletivos ou em coautoria, a realização de seminários e simpósios internacionais, cada uma dessas atividades teve papel fundamental na complexa tarefa de constituição de uma rede em que o pensamento, a ação e a contestação sejam realizados de forma coletiva e distribuída. É fundamental para a Lavits que essa rede permita que novas ideias, parcerias, iniciativas emerjam, se acoplem, se questionem e se transformem. Que seja de fato uma rede, em constante (re)composição, cujas conexões, bem mais do que as ligações entre os diferentes elementos que a formam, sejam elas mesmas produtoras de ideias, de ações, de resistências e de alternativas. […]

BRUNO, Fernanda et al. (org.). Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. São Paulo: Boitempo, 2018. p. 7-8. Apresentação.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

BRUNO, Fernanda et al. (org.). Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. São Paulo: Boitempo, 2018. Capa.

• L AVITS. [S. l., 2024]. Site. Disponível em: https://lavits. org/. Acesso em: 5 out. 2024. A Lavits reúne pesquisadores que investigam o impacto da vigilância e da tecnologia nas sociedades contemporâneas, promovendo debates sobre privacidade e direitos digitais.

• Tendo como referência o que estudou até aqui sobre vigilância tecnológica e economia da atenção, comente a seguinte frase do jornalista estadunidense Andrew Lewis.

“Se você não paga pelo produto, o produto é você”.

Resposta pessoal. Espera-se que o estudante reconheça que, embora as redes sociais digitais pareçam gratuitas, trata-se de um modelo de negócios e, por isso, o que está sendo vendido e comprado são os dados pessoais dos usuários.

Saiba mais
NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Algoritmos, redes sociais e democracia

A pandemia de covid-19 provocou mudanças profundas no cotidiano e na vida como a conhecíamos. O lockdown, medida que restringia a circulação de pessoas, tornou-se uma prática comum, e o autoisolamento passou a ser parte da rotina diária. A vigilância da circulação e do deslocamento das pessoas permitiu que governos e plataformas digitais monitorassem e vigiassem a disseminação do vírus, garantindo que os cidadãos respeitassem as medidas sanitárias impostas. No entanto, essa vigilância resultou em uma mobilização massiva e sem precedentes de dados de saúde pública. Inicialmente, o objetivo era conter o avanço da covid-19, mas, com o crescimento de tecnologias de monitoramento, como aplicativos de rastreamento de contato, reconhecimento facial e rastreamento populacional, passamos a viver uma “pandemia da vigilância”. Essa realidade levanta um questionamento: de que modo a democracia é impactada pelas mediações algorítmicas exercidas pelas plataformas digitais e pelas big techs?

Um dos modos que as big techs e as redes sociais digitais usam para influenciar comportamentos e ideias é a disseminação de notícias falsas, conhecidas como fake news, que se espalham em velocidade instantânea e em escala global. Existem também as deepfakes, imagens, vídeos e áudios manipulados por inteligência artificial, que também se tornaram ferramentas de manipulação e desinformação, convertendo-se em modelos de negócios lucrativos. Em razão do tom sensacionalista e escandaloso das notícias, ganham muitos compartilhamentos e likes, gerando acesso aos dados dos usuários.

Fake news e deepfakes são conteúdos falsos e enganosos de circulação on -line que representam sérios riscos para o bem-estar individual e coletivo, além de constituírem uma ameaça à democracia. O uso intensivo de algoritmos nas redes sociais amplifica essa problemática ao priorizar conteúdos sensacionalistas e polarizadores em detrimento da informação verificada. Essa dinâmica não só distorce a percepção pública sobre eventos cruciais como também mina a confiança nas instituições democráticas.

Outro aspecto relevante é que as redes sociais têm facilitado a anonimização de manifestações de ódio e desrespeito aos direitos humanos. A anonimização, técnica usada para proteger a privacidade dos dados, permite que indivíduos não sejam identificados como autores de comentários que desrespeitam os direitos humanos.

THERIGHTFRAMEMEDIA/SHUTTERSTOCK.COM

• O D ILEMA das redes. Direção: Jeff Orlowski. EUA: Exposure Labs, 2020. Streaming (94 min).

O documentário revela como os algoritmos criam um padrão de comportamento e, por meio dos dados coletados, acabam por induzir a polarização política.

O monitoramento constante das pessoas para coleta de dados é uma característica do capitalismo de vigilância.

Saiba mais

Manipulação, modulação e controle

A propagação de notícias falsas existe desde tempos remotos, muito antes da comunicação por dispositivos digitais, o que mudou foi o modo como essas notícias são produzidas, disseminadas e interpretadas. Alguns princípios de como uma conversa deve acontecer no espaço público foram enfraquecidos. A imprensa, em parte, sempre teve uma inclinação ao sensacionalismo, pois notícias trágicas ou de apelo emocional são mais facilmente divulgadas. Na moderna economia da atenção, essa tendência se intensificou. As más notícias, nem sempre verdadeiras, se espalham rapidamente, uma vez que o sensacionalismo atrai as emoções humanas. Isso dificulta o discernimento entre o trágico real e o trágico fabricado.

A imagem faz alusão à interferência dos algoritmos nos sentimentos dos usuários.

Os algoritmos utilizados nas plataformas digitais agrupam perfis semelhantes, fazendo com que as publicações sejam selecionadas e direcionadas de acordo com o comportamento e o interesse dos usuários. Esse fenômeno dá origem às chamadas bolhas, nas quais os indivíduos são expostos a conteúdos que reforçam suas opiniões e crenças. Essas bolhas expandem o poder da desinformação on-line ao criar ambientes onde informações falsas circulam livremente. As fake news são distribuídas de forma intencional, geralmente com interesses políticos e/ou comerciais. As pegadas digitais que deixamos são dados valiosos, especialmente para a publicidade e para as campanhas eleitorais. Não há uma manipulação direta e explícita do comportamento das pessoas, como se existissem regras; o que ocorre é uma modulação do comportamento. Enquanto a manipulação tradicional é mais direta e requer um planejamento prévio, a modulação algorítmica usa técnicas avançadas de inteligência artificial para induzir o comportamento dos usuários. Por exemplo, uma campanha eleitoral não precisa defender diretamente um candidato, mas pode selecionar mensagens que influenciam grupos ou bolhas, beneficiando indiretamente determinado candidato.

O disparo em massa de mensagens por robôs em campanhas eleitorais é proibido pela legislação brasileira.

As fake news que circulam na internet têm três traços característicos: desinformação, desconfiança e manipulação. São criadas intencionalmente para gerar confusão e, quando essa confusão e falta de confiança se estabelecem, abrem-se as portas à disseminação da desinformação. Exemplos incluem teorias da conspiração, terraplanismo e movimentos antivacina. Nesse cenário de desinformação, a ameaça à democracia se torna evidente.

Segundo a First Draft, organização jornalística criada em 2015 para combater a desinformação on-line, existem sete gradações das fake news

1. Sátira ou paródia: sem intenção de causar mal, mas pode enganar.

2. Falsa conexão: o título da notícia não tem ligação com o conteúdo (clickbait).

3. Conteúdo enganoso: uso distorcido de uma informação para prejudicar.

4. Falso contexto: conteúdo verdadeiro apresentado em contexto errado.

5. Conteúdo impostor: uso de nomes ou entidades reais, com informações falsas.

6. Conteúdo manipulado: informações verdadeiras alteradas para enganar.

7. Conteúdo fabricado: totalmente falso, sem base na realidade.

Em 2024, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), organismo internacional com 37 países voltado à pesquisa e à elaboração de políticas públicas para o desenvolvimento sustentável, realizou a pesquisa Truth Quest, na qual investigou a capacidade de os adultos reconhecerem a veracidade de uma notícia on-line

Observe o resultado dessa pesquisa no gráfico.

Mundo: capacidade de adultos identificarem a veracidade de notícias on-line (em %) – 2024

Finlândia

Reino Unido

Noruega

Irlanda

Luxemburgo

Espanha

Japão

Canadá

Alemanha

Itália

Austrália

Portugal

Bélgica

México

Polônia

Baixos

Países

Estados Unidos

França

Suíça

Colômbia

Brasil

clickbait : estratégia de marketing digital que utiliza títulos chamativos para atrair cliques em conteúdos on-line, frequentemente associados a práticas enganosas.

Fonte: OECD. The OECD Truth Quest Survey: methodology and findings. OECD Digital Economy Papers, [France], n. 369, jun. 2024. p. 22. Disponível em: https://www.oecd-ilibrary.org/ deliver/92a94c0f-en.pdf?itemId= %2Fcontent%2Fpaper%2F92a94c 0f-en&mimeType=pdf. Acesso em: 5 out. 2024.

Quem controla o controle?

No mundo, cresce a criação de legislações para enfrentar o poder das plataformas e das big techs, regulamentando serviços por meio dos chamados marcos regulatórios, conjunto de normas e leis que regulam atividades. Assim, discutem-se a criação de direitos da “pessoa eletrônica” e a proteção dos dados pessoais digitais, equiparando-se aos direitos humanos. No Brasil, já existem leis que limitam a atuação das plataformas.

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), por exemplo, foi criada em 2018 e entrou em vigor em 2020. Sua elaboração contou com inúmeras consultas públicas, debates com representantes da sociedade civil e uma longa tramitação no Congresso Nacional, que atravessou três governos.

A LGPD estabelece diretrizes para o tratamento de informações e dados pessoais dos usuários pelas empresas de um modo geral, especialmente pelas empresas de mídias sociais. Essa lei regulamenta o acesso, o tratamento e o compartilhamento de dados pessoais dos usuários.

Além da LGPD, o Brasil conta com o Marco Civil da Internet, regulamentado em 2014, que define princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no país. Leia um trecho dessa lei.

Art. 3º A disciplina do uso da internet no Brasil tem os seguintes princípios:

I - garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento, nos termos da Constituição Federal;

II - proteção da privacidade;

III - proteção dos dados pessoais, na forma da lei;

IV - preservação e garantia da neutralidade de rede;

V - preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da rede, por meio de medidas técnicas compatíveis com os padrões internacionais e pelo estímulo ao uso de boas práticas;

VI - responsabilização dos agentes de acordo com suas atividades, nos termos da lei;

VII - preservação da natureza participativa da rede;

VIII - liberdade dos modelos de negócios promovidos na internet, desde que não conflitem com os demais princípios estabelecidos nesta Lei.

BRASIL. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, [2018]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm. Acesso em: 19 jul. 2020.

ATIVIDADE

Saiba mais

• MIGUEL Nicolelis explica por que a IA nem é inteligência nem é artificial. [S. l.]: IREE, 2023. 1 vídeo (101 min). Publicado pelo canal Reinaldo Azevedo. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=Fw8fJxWh QX8&t=0s. Acesso em: 5 out. 2024.

Nessa entrevista, o médico, neurocientista e pesquisador Miguel Nicolelis (1961), um dos maiores especialistas do mundo sobre o cérebro humano, comenta os problemas decorrentes da era digital.

• MODO de viver: dá para ter uma relação saudável com as redes sociais? Entrevistado: Lucio Huebra.

Entrevistadora: Bárbara Blum. [S. l.]: Spotify, 28 ago. 2024. Podcast. Disponível em: https://open.spotify. com/episode/3EsaCV SUJa4ctbLlfw1AEW? si=8518c7a553e449f7. Acesso em: 5 out. 2024. O programa discute como a tecnologia afeta o cérebro e dá dicas para um uso saudável das plataformas digitais.

Consulte orientações no Manual do Professor. Produção coletiva. Espera-se que os estudantes identifiquem argumentos favoráveis e contrários ao uso de celulares em sala de aula, apresentando exemplos concretos, evitando julgamentos, buscando compreender a perspectiva do outro e reconhecendo a necessidade de regras e limites para o uso responsável.

• Em grupo, sob a orientação do professor, realizem um debate sobre o uso de aparelhos celulares na escola e em sala de aula. Para isso, utilizem as referências apresentadas ao longo do capítulo, além da indicação do Saiba mais desta página.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

CONEXÕES com

FILOSOFIA

Da sociedade disciplinar à sociedade de controle

O Centro Correcional de Stateville (Estados Unidos) é um panóptico, modelo arquitetônico de prisão depois conceituado por Foucault como metáfora da sociedade disciplinar. Esse modelo se fundamenta no isolamento e na obediência dos corpos, reduzidos ao confinamento em espaços determinados.

Normalmente, os instrumentos de poder são associados aos mecanismos de disciplina e obediência, tal qual nos mostrou o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984), sobretudo em instituições disciplinares como hospitais, fábricas, escolas e presídios. Nesses ambientes, os espaços são organizados para garantir a disciplina e a obediência dos corpos.

Prisão no Centro Correcional de Stateville, Crest Hill, Illinois (Estados Unidos), 1928.

No entanto, com o advento das tecnologias digitais, há uma mudança relevante nos modos de vigilância e controle. Segundo o filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995), a sociedade disciplinar está dando lugar à sociedade de controle. Em um dos textos do livro Conversações , publicado em 1992, Deleuze trata dessa transformação. Em vez da manipulação em espaços confinados e da redução de uma pessoa a um número, típicos da sociedade disciplinar, temos agora a modulação, que caracteriza as tecnologias digitais, os espaços dispersos e a pessoa reduzida a uma senha, típica da sociedade de controle.

Leia um trecho do texto.

Foucault situou as sociedades disciplinares nos séculos XVIII e XIX; atingem seu apogeu no início do século XX. […] O indivíduo não cessa de passar de um espaço fechado a outro, cada um com suas leis: primeiro a família, depois a escola (‘você não está mais na sua família’), depois a caserna (‘você não está mais na escola’), depois a fábrica, de vez em quando o hospital, eventualmente a prisão, que é o meio de confinamento por excelência […]. Mas as disciplinas, por sua vez, também conheceriam uma crise, em favor de novas forças que se instalavam lentamente e que se precipitariam depois da Segunda Guerra Mundial […].

[…] São as sociedades de controle que estão substituindo as sociedades disciplinares. ‘Controle’ é o nome […] para designar o novo monstro, e que Foucault reconhece como nosso futuro próximo. […] Não se deve perguntar qual é o regime mais duro, ou o mais tolerável, pois é em cada um deles que se enfrentam as liberações e as sujeições. Por exemplo, na crise do hospital como meio de confinamento, a setorização, os hospitais-dia, o atendimento a domicílio puderam marcar de início novas liberdades, mas também passaram a integrar mecanismos de controle que rivalizam com os mais duros confinamentos. Não cabe temer ou esperar, mas buscar novas armas.

[…]

Não há necessidade de ficção científica para se conceber um mecanismo de controle que dê, a cada instante, a posição de um elemento em espaço aberto, animal numa reserva, homem numa empresa (coleira eletrônica). Félix Guattari imaginou uma cidade onde cada um pudesse deixar seu apartamento, sua rua, seu bairro, graças a um cartão eletrônico […] que abriria as barreiras; mas o cartão poderia também ser recusado em tal dia, ou entre tal e tal hora; o que conta não é a barreira, mas o computador que detecta a posição de cada um, lícita ou ilícita, e opera uma modulação universal.

DELEUZE, Gilles. Post-scriptum sobre as sociedades de controle. In: DELEUZE, Gilles. Conversações: 1972-1990. Tradução: Peter Pál Pelbart. São Paulo: Editora 34, 1992. (Coleção Trans, p. 219-220, 224-225).

No modelo da sociedade de controle, o dispositivo de controle deixa de ser a restrição à circulação dos corpos e passa à vigilância tecnológica, pois o que importa é o computador que identifica digitalmente a localização e os hábitos de cada um. RYZHI/SHUTTERSTOCK.COM

INVESTIG AÇÃO

Análise das Mídias Sociais (ARS) e o impacto na privacidade e no consumo

Atualmente, é essencial ter consciência acerca dos riscos associados à partilha de informações pessoais nas redes sociais. Para tanto, é necessário reconhecer as implicações da vigilância digital no cotidiano. É possível fazer isso analisando e interpretando os conteúdos publicados on-line, em diferentes plataformas e/ou meios, como texto, vídeo, foto, entre outros.

OBJETIVO

Representação gráfica das conexões em mídias sociais digitais.

Com base no conceito de capitalismo de vigilância, o objetivo desta prática de pesquisa é utilizar o método de análise de mídias sociais para compreender como imagens, textos e vídeos são utilizados para influenciar comportamentos e opiniões on-line, além de avaliar como os dados gerados por curtidas, compartilhamentos e comentários nas redes sociais são usados para personalizar conteúdos e publicidade. Para isso, vocês devem apresentar um relatório ou projeto multimodal (vídeo, podcast, infográfico) discutindo as suas descobertas durante a pesquisa para mostrar o impacto do capitalismo de vigilância no comportamento dos usuários e refletir a respeito de suas próprias práticas digitais.

É essencial registrar o período no qual a análise está sendo realizada. Dica

ETAPA

2

ANÁLISE DAS MÉTRICAS DE

MÍDIAS SOCIAIS

1. Definam a plataforma de mídia social que gostariam de avaliar.

2. Escolham postagens específicas para analisar (posts de influenciadores, campanhas publicitárias ou até mesmo o conteúdo que aparece na “ timeline ” de cada um).

3. Avaliem como as interações são usadas para gerar engajamento e manter os usuários ativos, utilizando métricas como curtidas, compartilhamentos, comentários, visualizações. Para cada métrica, registrem os resultados e reflitam sobre eles.

a) Curtidas e compartilhamentos: avaliar como a popularidade de uma postagem pode influenciar a sua disseminação.

b) C omentários: analisar como as interações nos comentários podem criar engajamento e fomentar discussões.

c) V isualizações de vídeos: verificar a quantidade de vezes que o conteúdo foi visualizado e refletir sobre as possíveis motivações.

d) Comparação de perfis: observar as diferenças entre o conteúdo apresentado para perfis pessoais versus perfis comerciais, notando como as interações podem ser realizadas de maneira distinta.

4. Reflitam sobre como os algoritmos podem usar esses dados para personalizar experiências e influenciar o consumo.

ANÁLISE DO DISCURSO

MODAL

5. Escolham campanhas publicitárias ou influenciadores populares nas redes sociais.

6. Analisem a combinação de imagem, texto e áudio, explorando como essas estratégias visuais e narrativas podem afetar as emoções e o comportamento de compra.

7. Reflitam sobre a forma como essas técnicas moldam a percepção dos utilizadores.

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

CONVERSA SOBRE PRIVACIDADE E VIGILÂNCIA

8. Promovam debates a respeito do impacto da coleta de dados pessoais sem o pleno conhecimento dos utilizadores, levantando questões como: “Quais são os dados que cada um fornece às plataformas sem perceber?” ou “Como as empresas podem usar essas informações para nos influenciar?”.

9. Explorem as questões éticas envolvidas na monitorização constante dos utilizadores pelas grandes empresas tecnológicas.

10. Apresentem os resultados da análise por meio de um relatório escrito ou em formato multimodal (vídeo, infográfico, podcast) com a seguinte estrutura: a) introdução: explicar o que é o capitalismo de vigilância e o objetivo da análise; b) análise das métricas: descrever as interações observadas nas mídias sociais; c) análise multimodal: explicar como os elementos visuais e textuais foram usados para influenciar comportamentos; d) r eflexão crítica: concluir com uma reflexão pessoal a respeito das práticas de privacidade e vigilância, incluindo as implicações éticas envolvidas.

ETAPA
ETAPA

RECAPITULE

Você aprendeu que a crescente utilização das plataformas digitais, que envolvem “acoplamentos” entre humanos e tecnologia, como smartphones e redes sociais, torna os usuários vulneráveis a um sistema de vigilância tecnológica. Esse fenômeno, caracterizado por Shoshana Zuboff como “capitalismo de vigilância”, permite que grandes empresas de tecnologia coletem dados pessoais em massa para prever e influenciar o comportamento dos usuários, monetizando essas informações por meio de publicidade direcionada.

Você estudou também que essa vigilância intensa, aliada ao uso de algoritmos preditivos e IA, intensifica a necessidade de regulamentação. Atualmente, as leis não acompanham a rápida evolução tecnológica, permitindo que essas empresas operem sem muitas restrições e ampliem seu alcance global. Por fim, você percebeu que as redes sociais impactam as subjetividades dos usuários ao explorar a “economia da atenção”, tornando a atenção humana um recurso valioso.

ATIVIDADES

FINAIS Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Na economia da atenção, o tempo gasto pelo usuário nas redes sociais é uma mercadoria, um produto comercializável — e, portanto, muito disputado. Páginas da internet e notícias sensacionalistas, invariavelmente falsas, provocam ódio e indignação, instigando um engajamento que retroalimenta o compartilhamento. Pensando nisso, como tem sido seu uso da internet? Com a orientação do professor, siga o roteiro para fazer uma autoanálise.

a) Identifique o tempo que você passa on-line, considerando a última semana de uso.

b) Faça uma lista dos aplicativos que você usa com mais frequência, separando-os por categorias (redes sociais, mensagens, notícias, jogos etc.).

c) Reflita sobre estas questões: o que tem capturado mais sua atenção nos últimos dias? Que usos tem feito da internet? Como você se sente em relação ao tempo que gasta on-line?

d) Compartilhe suas descobertas e reflexões com colegas, observando semelhanças e diferenças entre o uso que cada um faz da internet.

1. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante reflita sobre o uso da internet no nível pessoal e coletivo.

2. (Enem – 2023)

Se a interferência de contas falsas em discussões políticas nas redes sociais já representava um perigo para os sistemas democráticos, sua sofisticação e maior semelhança com pessoas reais têm agravado o problema pelo mundo.

O perigo cresceu porque a tecnologia e os métodos evoluíram dos robôs, os “ bots” — softwares com tarefas on-line automatizadas —, para os “ciborgues” ou “trolls”, contas controladas diretamente por humanos com ajuda de um pouco de automação.

Mas pesquisadores começam agora a observar outros padrões de comportamento: quando mensagens não são programadas, sua publicação se concentra só em horários de trabalho, já que é controlada por pessoas cuja profissão é exatamente essa, administrar um perfil falso durante o dia.

Outra pista: a pobreza vocabular das mensagens publicadas por esses perfis. Um funcionário de uma empresa que supostamente produzia e vendia perfis falsos explica que às vezes “faltava criatividade” para criar mensagens distintas controlando tantos perfis falsos ao mesmo tempo. GRAGNANI, J. Disponível em: www.bbc.com. Acesso em: 16 dez. 2017.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

De acordo com o texto, a análise de características da linguagem empregada por perfis automatizados contribui para o(a)

a) controle da atuação dos profissionais de TI.

b) desenvolvimento de tecnologias como os “trolls”.

c) f lexibilização dos turnos de trabalho dos controladores.

d) necessidade de regulamentação do funcionamento dos “bots”.

e) identificação de padrões de disseminação de informações inverídicas.

3. (Enem – 2023)

Por trás da “mágica” do Google Assistant de sua capacidade de interpretar 26 idiomas está uma enorme equipe de linguistas distribuídos globalmente, trabalhando como subcontratados, que devem rotular tediosamente os dados de treinamento para que funcione. Eles ganham baixos salários e são rotineiramente forçados a trabalhar horas extras não remuneradas. A inteligência artificial não funciona com um pozinho mágico. Ela funciona por meio de trabalhadores que treinam algoritmos incansavelmente até que eles automatizem seus próprios trabalhos.

A inteligência Artificial (IA) da economia freelancer está vindo atrás de você. Disponível em: https://mittechreview.com.br. Acesso em: 6 out. 2021 (adaptado).

O texto critica a mudança tecnológica em razão da seguinte consequência:

a) Diversificação da função.

b) Mobilidade da população.

c) Autonomia do empregado.

d) Concentração da produção.

e) Invisibilidade do profissional.

4. (Enem – 2013)

Disponível em: http://tv-video-edc.blogspot.com. Acesso em: 30 maio 2010.

A charge revela uma crítica aos meios de comunicação, em especial à internet, porque

a) q uestiona a integração das pessoas nas redes virtuais de relacionamento.

b) considera as relações sociais como menos importantes que as virtuais.

c) enaltece a pretensão do homem de estar em todos os lugares ao mesmo tempo.

d) d escreve com precisão as sociedades humanas no mundo globalizado.

e) concebe a rede de computadores como o espaço mais eficaz para a construção de relações sociais.

CAPÍTULO

Meio ambiente e sociedade 16

OBJETIVOS DO CAPÍTULO:

C ompreender a relação entre meio ambiente e organização social.

C ompreender o conceito de sustentabilidade.

Identificar os principais desafios socioambientais da atualidade.

E ntender a importância do conhecimento de sociedades tradicionais para a preservação da natureza.

C ompreender os desafios ambientais enfrentados pelas sociedades contemporâneas.

3. Podem ser citados fatores como a ausência de sistema de drenagem adequado, chuvas intensas em razão das mudanças climáticas, construções em áreas inadequadas, entre outros.

Voluntários participam de resgate de pessoas e animais, nas proximidades do viaduto José Eduardo Utzog, no bairro São Geraldo, em Porto Alegre (RS), 2024.

A fotografia desta página retrata uma situação que se repete com frequência em várias partes do mundo: pessoas são obrigadas a deixar suas casas, perdem seus pertences e têm suas vidas profundamente afetadas após chuvas intensas. Situações como essa mostram que questões ambientais e sociais estão diretamente relacionadas e não podem ser pensadas separadamente. Ao longo do tempo e em diferentes lugares, as sociedades desenvolveram formas distintas de satisfazer as necessidades humanas, estabelecendo diferentes relações com o meio natural. Essas interações não são fixas nem universais; elas variam conforme a história e a cultura de cada sociedade, revelando seus valores, hierarquias e padrões de desigualdade.

ATIVIDADES Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Defina com suas palavras o que é meio ambiente.

1. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante compreenda que o meio ambiente não se limita ao domínio natural, mas inclui também a ação humana.

2. Descreva a situação mostrada na fotografia. Em sua opinião, essa é uma questão de ordem ambiental ou social? Explique.

3. Cite dois fatores que podem desencadear situações como a mostrada na fotografia.

2. A imagem retrata uma rua inundada, com casas submersas e pessoas utilizando barcos para se deslocar. Essa situação abrange tanto questões ambientais quanto sociais, pois um evento natural, como a chuva, pode provocar grandes impactos na vida da população das áreas atingidas. Além disso, a enchente resulta não apenas de causas naturais mas também da interferência humana no ambiente.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
DANIEL MARENCO/FOLHAPRESS

A questão ambiental

A questão ambiental se tornou um tema central nas discussões contemporâneas, refletindo a crescente conscientização sobre os impactos das atividades humanas no planeta. Campanhas para economizar energia e água, a separação de resíduos para reciclagem e as frequentes notícias sobre desmatamento e mudanças climáticas são evidências dessa preocupação no século XXI. Contudo, essa atenção aos impactos ambientais é relativamente recente, surgindo em grande parte com o desenvolvimento industrial e a expansão global do capitalismo.

A humanidade modifica o meio ambiente para obter os recursos necessários à sobrevivência. O uso de recursos naturais para alimentação, moradia e vestuário varia conforme o modo de produção, o nível tecnológico, a densidade populacional e a percepção cultural da natureza. Assim, cada sociedade constrói formas específicas de satisfazer suas necessidades, que refletem tanto suas condições materiais quanto sua cultura sobre o que é a natureza.

A partir da segunda metade do século XVIII, a Revolução Industrial, impulsionada por transformações políticas e econômicas, transformou sociedades predominantemente agrícolas e rurais em industriais e urbanas. Esse processo introduziu a mecanização da produção, levou ao crescimento das fábricas e à urbanização, consolidando a ideia de separação entre a natureza e o trabalho humano. Com isso, justificou-se a exploração crescente dos recursos naturais para sustentar o desenvolvimento tecnológico e atender às novas demandas de consumo.

Nas últimas décadas, o avanço científico e tecnológico resultou em um aumento significativo na produção de riquezas e em melhorias em diversas áreas, como saúde e infraestrutura. No entanto, esses benefícios foram distribuídos de maneira desigual, e grande parte da população mundial ainda vive em condições de pobreza. Além disso, o progresso alcançado frequentemente teve como custo uma exploração intensiva dos recursos naturais, contribuindo para a degradação ambiental. Com a expansão desse modelo, surgiram sinais claros de esgotamento desses recursos, revelando a insustentabilidade de um crescimento contínuo baseado na crença de que os recursos naturais são inesgotáveis.

A partir da segunda metade do século XX, estudos começaram a questionar a viabilidade desse modelo de crescimento. A compreensão de que os recursos naturais são finitos levou à busca por alternativas sustentáveis, capazes de garantir a sobrevivência futura da humanidade sem comprometer o equilíbrio ambiental.

IBBITT, William. South East View of Sheffield [ Vista sudeste de Sheffield]. c1854. Litografia colorida, 38 cm × 68,5 cm. Sheffield City Council, South Yorkshire (Inglaterra).

Clube de Roma: fundado em 1968, é uma organização internacional que reúne especialistas de diversas áreas para discutir e propor soluções a desafios globais, como questões ambientais, crescimento econômico e sustentabilidade.

O ambientalismo

A conscientização sobre a questão ambiental ganhou força com a publicação do livro Os limites do crescimento: um relatório para o projeto do Clube de Roma sobre o dilema da humanidade, publicado originalmente em 1972, elaborado por uma equipe de pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT), como Donella H. Meadows (1941-2001), a pedido do Clube de Roma. O documento alertou para o risco de esgotamento dos recursos naturais e uma possível catástrofe ambiental caso o crescimento econômico global continuasse sem controle.

Estudantes protestam contra a poluição causada por automóveis em manifestação no Dia da Terra, data atualmente celebrada em 22 de abril. Saint Louis, Missouri (Estados Unidos), 1970.

a) A corrente preservacionista defende que toda interferência humana provoca danos ao meio ambiente. Para o conservacionismo, o ser humano é parte da natureza, e ambos não devem ser pensados de modo separado.

ATIVIDADE

Na década de 1970, o ambientalismo se consolidou como um movimento social, defendendo a proteção do meio ambiente e criticando o modelo de desenvolvimento baseado na exploração intensiva dos recursos naturais. Esse movimento levou à criação de organizações não governamentais (ONGs), partidos políticos e organizações internacionais focadas nas questões ambientais, além de mobilizar a sociedade civil.

Na década de 1990, o debate ambiental se intensificou globalmente, incentivando a Organização das Nações Unidas (ONU) a promover conferências sobre o tema, como a Eco-92, realizada no Rio de Janeiro (RJ). Representantes de 178 países discutiram o desenvolvimento sustentável, buscando conciliar o crescimento econômico, a justiça social e a preservação do meio ambiente. A conferência deixou legados importantes, como o reconhecimento da responsabilidade dos países desenvolvidos pela degradação ambiental e a consolidação do conceito de desenvolvimento sustentável, que propõe o uso responsável dos recursos naturais para garantir a qualidade de vida das gerações atuais e futuras.

Diante disso, a sociologia começou a investigar como o consumo de recursos naturais pode agravar as desigualdades sociais. Por exemplo, a transferência de indústrias poluentes para países em desenvolvimento ampliou a desigualdade e os riscos ambientais.

Consulte orientações no Manual do Professor.

• O movimento ambientalista se divide em duas vertentes principais: o preservacionismo e o conservacionismo. Pesquise sobre elas e responda às questões.

a) Quais são as principais características de cada vertente e no que elas se diferem?

b) Com qual dessas vertentes você mais se identifica? Justifique sua resposta.

b) Resposta pessoal. Espera-se que o estudante explique seus posicionamentos através de argumentos relacionados ao conteúdo trabalhado no capítulo.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
BETTMANN ARCHIVE/GETTY IMAGES

Desafios por toda parte

Diariamente, em diferentes partes do mundo, as pessoas consomem recursos naturais, gerando impactos sobre o meio ambiente. Você, por exemplo, consumiu água, energia elétrica e/ou combustível hoje? Alimentou-se esta manhã? Usou roupas e outros objetos produzidos por indústrias? Essas atividades cotidianas exemplificam como a humanidade está interligada ao consumo de recursos e à consequente transformação do planeta.

Nas últimas décadas, muitos cientistas têm defendido que estamos vivendo em uma nova era geológica: o Antropoceno, caracterizado pelo impacto da atividade humana sobre o planeta.

Embora a ideia de Antropoceno seja amplamente discutida, não há consenso sobre seu ponto de início. Alguns pesquisadores apontam para o século XVIII, com a invenção da máquina a vapor; enquanto outros sugerem que começou na Antiguidade, com o desenvolvimento da agricultura. Há ainda quem defenda que o Antropoceno teve início no século XX, com a invenção do plástico, como argumenta a bióloga estadunidense Jennifer Brandon, que se refere à nossa época como “Era do Plástico”.

era geológica: subdivisão do tempo geológico. Representa um intervalo de milhões ou bilhões de anos, que demarcam eventos significativos no desenvolvimento da Terra.

Outra discussão relevante é a crítica ao conceito de Antropoceno por se referir à humanidade como um todo homogêneo, sem considerar as diversas formas de viver e seus impactos variados sobre o meio natural. No livro Antropoceno ou capitaloceno?: natureza, história e a crise do capitalismo, publicado originalmente em 2016, o sociólogo Jason Moore (1971-) e a antropóloga Donna Haraway (1944-), ambos estadunidenses, argumentam que os eventos associados ao Antropoceno são, na verdade, resultados da ação de uma sociedade específica: a ocidental capitalista. Eles sugerem, portanto, que a nova era geológica seja denominada Capitaloceno, para evidenciar o papel central do capitalismo nas mudanças ambientais globais.

Moore e Haraway defendem que o conceito de Antropoceno é etnocêntrico, pois considera a história ocidental como referência para toda a humanidade, ignorando outras formas de existência humana e suas diferentes relações com o meio natural. Reflexões como essas mostram que as discussões sobre as causas e os efeitos das questões ambientais não são neutras, elas estão marcadas por hierarquias e relações de poder que influenciam não apenas as relações entre nações e culturas mas também o próprio processo de produção científica.

Resíduos plásticos acumulados na praia Costa Azul, em Salvador (BA), 2021. Para alguns pesquisadores, o plástico é o material que melhor simboliza a nova era geológica.

Poluição e mudanças climáticas

O relatório Estado do ar global, publicado pelo Health Effects Institute (HEI) em 2024, revelou que, em 2021, 12% das mortes no mundo foram causadas pela poluição do ar, totalizando mais de 8 milhões de pessoas. A poluição foi a segunda maior causa de morte global naquele ano, atrás apenas de doenças cardiovasculares.

Mundo: causas de mortes – 2019

Número de mortes (em milhões)

Consumo de drogas e álcool Aids, tuberculose e malária Acidentes rodoviários Violência interpessoal

Principal fator de risco ou causa

Fonte: POLUIÇÃO provocou nove milhões de mortes no mundo em 2019, afirma estudo. IstoÉ , São Paulo, 18 maio 2022. Disponível em: https://istoe.com.br/poluicao-provocou-nove-milhoes-de-mortes-no-mundo-em-2019-afirma-estudo/. Acesso em: 7 set. 2024.

Uma pesquisa publicada em 2021 na Environmental Research Letters, uma revista científica do Reino Unido, mostrou que 99,9% dos cientistas do clima concordam que a atividade humana é a principal responsável pelas mudanças climáticas. No entanto, há quem argumente que essas mudanças são parte de um ciclo natural do planeta, uma visão que, por contrariar a esmagadora maioria dos estudos científicos, é considerada anticientificista. Embora essa posição seja minoritária, ela preocupa por desestimular ações essenciais para mitigar a crise climática.

A intensidade dos impactos causados pelas mudanças climáticas varia conforme fatores como a localização geográfica e a classe social. Por exemplo, quanto mais arborizado for o bairro de uma cidade, maior o conforto térmico sentido pela população.

ATIVIDADE Consulte orientações no Manual do Professor.

anticientificismo: movimento contrário à aceitação do saber científico como parâmetro para a compreensão de fenômenos naturais e sociais.

• Com base nas informações apresentadas no gráfico e nos conhecimentos que você adquiriu no capítulo, explique por que a poluição se tornou uma das principais causas de morte no mundo.

A exposição à poluição atmosférica, principalmente em zonas urbanas e industriais, piora a qualidade de vida da população, aumentando a incidência de alergias, infecções respiratórias e doenças cardiovasculares.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
SONIA VAZ

Indígenas, quilombolas, ribeirinhos e outros grupos têm suas vidas profundamente conectadas às dinâmicas e ao ritmo da natureza. Por isso, suas percepções sobre as mudanças climáticas oferecem uma visão única desse problema global, contribuindo para a busca de soluções com base em experiências locais. A seguir, leia o trecho do relato de Tipuici Manoki (1989-), cientista social indígena, cineasta e ativista, que vive na Aldeia Treze de Maio, do povo manoki, no estado do Mato Grosso.

Para um povo que tem vivido e cuidado da natureza, pois tudo o que temos depende da natureza, é difícil lidar com toda essa mudança climática. Antes sabíamos os meses da chuva, quando era tempo seco e frio, dessa forma era possível saber quando deveríamos derrubar a roça, tacar fogo, plantar e colher, tudo isso era acompanhando a mãe natureza. Nos dias atuais não é mais possível fazer isso porque não se sabe mais as estações do ano e não dá mais para acompanhar a lua também. Para meus avós, o período da lua era muito importante, pois era assim que as plantas nasciam bonitas e davam muitos frutos. Por causa das atitudes impensadas do homem, agredindo a natureza, muitas dessas práticas foram se perdendo. Agora quando deveria ser seca é chuva e no frio faz calor.

A cientista social Tipuici Manoki.

[…] A sociedade precisa entender que as frutas não nascem nas prateleiras de um supermercado e que a água que bebem não sai como em um passe de mágica da torneira.

[…]

Não podemos culpar a natureza pelas catástrofes que vêm ocorrendo pois o homem é o culpado do que está acontecendo. A natureza está apenas respondendo o que ela sofre. Os peixes precisam da água, as águas precisam da mata e nós precisamos de tudo isso para nos alimentar, para respirar e para viver.

MANOKI, Tipuici. Precisamos preservar para continuar existindo. In: LIMA, Artema; FANZERES, Andreia; ALCÂNTARA, Lívia (org.). Mudanças climáticas e a percepção indígena . 2. ed. Cuiabá: Opan, 2018. p. 37-39. E-book. Disponível em: https://redejuruenavivo.org.br/documento/ mudanca-climatica-e-a-percepcao-indigena-2aed/. Acesso em: 7 set. 2024.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. De acordo com Tipuici Manoki, quais são os efeitos das mudanças climáticas para os povos indígenas?

1. Manoki destaca que as mudanças climáticas alteraram os ciclos naturais, desorganizando as estações do ano.

2. Esses efeitos também são sentidos pelos moradores das cidades? Explique.

2. Os moradores das cidades também sentem os efeitos das mudanças climáticas, como ondas de calor, inundações e poluição do ar.

3. Em sua opinião, como os indígenas podem contribuir para o debate sobre as mudanças climáticas?

3. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante reconheça a importância de incorporar os povos indígenas e seus conhecimentos tradicionais no debate sobre a crise climática.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Resíduos sólidos

Para grande parte da população mundial, principalmente para aqueles que vivem em áreas urbanas, a produção de resíduos é vista como algo inevitável. Ações cotidianas, como se alimentar, limpar a casa e até se divertir, geram resíduos que são descartados no lixo comum ou enviados para reciclagem.

Em geral, o conceito de resíduo se refere a substâncias e objetos descartados em decorrência das atividades humanas. No entanto, essa noção não é universal; ela está ligada a um modelo específico de sociedade, em que a produção e o consumo em larga escala levam a um crescente descarte de materiais. Sociedades indígenas tradicionais, por exemplo, vivem de forma integrada à natureza, com um uso sustentável dos recursos naturais para subsistência. Nessas comunidades, os resíduos gerados são naturalmente decompostos, não existindo a produção de lixo no sentido que conhecemos.

Os impactos do estilo de vida capitalista, baseado no consumo e na produção em crescimento contínuo, são evidentes, conforme pesquisa da ONU de 2018. O estudo revelou que, a cada ano, mais de 2 bilhões de toneladas de resíduos são gerados no mundo e que 99% dos produtos comprados são descartados dentro de seis meses. Segundo os pesquisadores, seria necessário 70% de um segundo planeta Terra para sustentar os mais de 7 bilhões de habitantes do mundo, suprir o uso de recursos e absorver o resíduo gerado.

De acordo com um estudo produzido pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF) em 2019, o Brasil foi o quarto maior produtor de resíduos plásticos do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, da China e da Índia. Apenas 1,28% do resíduo plástico gerado no Brasil foi reciclado, índice abaixo da média mundial, que é de 9%.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Observe o gráfico sobre a participação das grandes regiões na produção de resíduos sólidos no Brasil. Compare os dados das regiões Sudeste e Norte e explique por que a Região Sudeste gera muito mais resíduos sólidos do que a Região Norte.

A Região Sudeste é responsável por 49,4% da produção de resíduos sólidos no Brasil, enquanto a Região Norte contribui com apenas 7,3%. Essa diferença se deve ao fato de o Sudeste ser a região mais urbanizada e populosa do país, concentrando grandes centros urbanos, uma vasta indústria e altos índices de consumo.

Elaborado com base em: ABREMA. Panorama dos resíduos sólidos no Brasil 2023. São Paulo: Abrema, 2023. p. 19. Disponível em: https://abespb. com.br/wp-content/uploads/2023/12/Panorama_ residuos_BR_2022.pdf. Acesso em: 7 set. 2024.

Brasil: participação regional na geração de resíduos sólidos urbanos – 2022

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
Sudeste
SONIA

Invisibilidade e importância de garis e catadores

O tema dos resíduos sólidos é amplamente discutido como um grande desafio ambiental, pois contribui significativamente para a degradação da natureza. No entanto, a gestão desses resíduos envolve também as pessoas diretamente responsáveis pelo recolhimento e pela destinação dos resíduos. Essa operação complexa depende da atuação diária de muitos trabalhadores em várias partes do mundo.

Você já imaginou como seria a sua cidade sem os garis e os catadores de materiais recicláveis? Embora muitas vezes ignorados, esses profissionais são essenciais para o bom funcionamento da sociedade. Ainda assim, essas profissões enfrentam preconceitos, afetando a vida cotidiana das pessoas que desempenham essa importante função.

A antropóloga britânica Mary Douglas (1921-2007), em seu livro Pureza e perigo, publicado originalmente em 1966, ajuda a entender essa questão. Douglas analisa como diferentes sociedades criam classificações para o que é considerado puro e impuro, limpo ou sujo. Ela mostra que todas as sociedades estabelecem regras que determinam onde as coisas devem estar para serem aceitas. Quando algo está fora do lugar esperado, passa a ser visto como sujo ou ameaçador. Por exemplo, a comida no prato é considerada pura, mas, se cair no chão, é tratada como sujeira. Isso mostra que a ideia de impureza não é fixa, mas depende das normas culturais de cada sociedade.

Essas reflexões ajudam a entender por que tantos garis relataram sofrer discriminação pelo trabalho que realizam. Como intermediários entre a sociedade e o meio ambiente, os garis lidam diretamente com os resíduos gerados pelo consumo, expondo o desconforto causado pela grande quantidade de resíduo produzida. No texto Garis: trabalhadores da saúde, publicado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em 2014, o pesquisador e engenheiro civil sanitarista brasileiro Alexandre Pessoa aponta que há “uma carga negativa e depreciativa de serem trabalhadores que mexem com o que queremos esconder ou afastar”.

Outro grupo essencial na gestão dos resíduos sólidos são os catadores. No Brasil, segundo estimativas do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), cerca de 800 mil catadores são responsáveis por coletar 90% de tudo que é reciclado no país, atuando em atividades como coleta seletiva, triagem, classificação e comercialização de materiais recicláveis.

Garis trabalham em São Paulo (SP), 2022. O trabalho dos garis é fundamental para a limpeza urbana. Saiba mais

• L IXO extraordinário. Direção: Lucy Walker. Londres: Almega Projects; Brasil: O2 Filmes, 2010. Streaming (99 min). O documentário apresenta o trabalho do artista plástico brasileiro Vik Muniz (1961-) com catadores em um dos maiores lixões do mundo, localizado em um bairro periférico do Rio de Janeiro (RJ).

INVESTIG AÇÃO

Consulte orientações no Manual do Professor.

Observação, tomada de nota e construção de relatórios sobre geração

de resíduos sólidos

Entender o impacto das nossas ações no meio ambiente é essencial para enfrentar a crise ambiental. Por isso, é importante saber quanto resíduo geramos, para onde ele vai e como podemos reduzir esse impacto.

OBJETIVO

Você fará uma pesquisa de observação, tomada de nota e construção de relatórios para entender os resíduos que gera no seu dia a dia. O objetivo é refletir sobre suas escolhas e buscar soluções para diminuir o impacto ambiental de suas ações.

OBSERVAÇÃO E TOMADA DE NOTAS

2. Durante essa semana, observe os resíduos que surgem em suas atividades diárias. Anote todos, indicando em que situação foram usados, por quanto tempo e qual foi o destino: lixo comum, reciclagem ou outro.

ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO

3. Após uma semana de observação, reveja suas anotações. Com base nelas, escreva um relatório de duas páginas sobre a geração e o descarte de resíduos sólidos no seu cotidiano.

PREPARAÇÃO

1. Separe um caderno e uma caneta ou lápis. Durante uma semana, leve-os com você para todos os lugares.

Dica

Troquem experiências sobre como levar essas mudanças para outras pessoas.

Resíduos plásticos acumulados no Igarapé do Mindu. Manaus (AM), 2022. O excesso de embalagens plásticas e o descarte inadequado de resíduos sólidos representam um grave problema ambiental na atualidade.

Identifique os resíduos gerados em pacotes de lanches, papéis usados na escola etc. No final, reflita sobre como você pode reduzir a geração de resíduos e proponha metas objetivas e diminuir o impacto ambiental.

DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS

4. Em uma roda de conversa, compartilhe suas descobertas com colegas. Comparem padrões e diferenças e discutam ideias para reduzir a geração de resíduos.

ETAPA
ETAPA
ETAPA

Justiça e racismo ambiental

A degradação do meio ambiente é um problema global, mas não afeta todos da mesma maneira. Fatores como local de moradia, etnia, classe social e faixa etária podem determinar o impacto sobre cada pessoa ou grupo, principalmente em situações como enchentes, poluição, acúmulo de resíduos e mudanças climáticas.

Isso mostra que, embora sejam globais, os problemas ambientais estão profundamente ligados às desigualdades sociais. Por esse motivo, as soluções para enfrentá-los devem considerar as especificidades dos grupos mais afetados. Nesse contexto, a ideia de justiça ambiental tem ganhado destaque entre pensadores e ativistas.

O conceito de justiça ambiental surgiu nos Estados Unidos, na década de 1970. Moradores de um bairro em que a maioria da população era negra, em Houston, descobriram que sua comunidade receberia uma instalação de descarte de resíduos sólidos. Eles questionaram por que o bairro deles, e não os de maioria branca, foi escolhido.

O sociólogo estadunidense Robert Bullard (1946-) investigou a distribuição de depósitos de resíduos na cidade. Ele descobriu que 14 dos 17 depósitos estavam em bairros de maioria negra, embora essa população representasse apenas 25% dos habitantes da cidade.

Bullard, no livro Confronting environmental racism: voices from the grassroots, de 1993, define justiça ambiental como o princípio de que viver em um ambiente saudável é um direito de todos, independentemente de classe, raça ou etnia. Ele argumenta que nenhum grupo social deve sofrer desproporcionalmente as consequências ambientais negativas de atividades econômicas ou políticas.

No Brasil, empreendimentos de grande impacto ambiental, como hidrelétricas e lixões, geralmente afetam populações vulneráveis, como moradores de periferias, indígenas e quilombolas, sem que esses grupos participem das decisões. Essa realidade está ligada ao conceito de racismo ambiental.

Casas da Vila Sahy destruídas após deslizamento de terra provocado por chuva intensa ocorrida no carnaval, em São Sebastião (SP). 2023.

Frequentemente, as áreas mais pobres da cidade são afetadas pelos efeitos da degradação ambiental, como enchentes, deslizamentos de terra e calor excessivo.

A expressão “racismo ambiental” foi cunhada pelo ativista estadunidense Benjamin Chavis (1948-) na década de 1980 para descrever como as comunidades marginalizadas, especialmente as negras, sofrem desproporcionalmente os impactos ambientais negativos. Pensadores brasileiros, como a historiadora Tania Pacheco, adotaram esse conceito para analisar o cenário do país. Pacheco, no texto “Racismo ambiental: expropriação do território e negação da cidadania", publicado em 2008, define racismo ambiental como o conjunto de injustiças sociais e ambientais que afetam desproporcionalmente etnias e populações vulneráveis. Para ela, o racismo ambiental não depende de uma intenção discriminatória, mas sim dos impactos desiguais que recaem sobre grupos socialmente marginalizados.

MAURÍCIO SIMONETTI/PULSAR IMAGENS

Refugiados climáticos

O conceito de refugiado é tradicionalmente associado a pessoas que deixam seus países em razão de guerras ou perseguições étnicas e religiosas. No entanto, as mudanças climáticas têm gerado um novo tipo de deslocamento forçado: os refugiados climáticos. São indivíduos que precisam abandonar suas casas por causa de desastres ambientais, como escassez de água, enchentes e o aumento do nível do mar, buscando regiões mais seguras.

De acordo com uma reportagem do Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), de 2024, essas pessoas costumam migrar dentro de seus próprios países. Elas fogem de situações que tornam a vida em suas comunidades insustentável, como secas que prejudicam a agricultura, enchentes que destroem moradias e tempestades que comprometem a segurança das famílias. Na mesma reportagem, uma pesquisa do Centro de Monitoramento de Deslocamento Internacional (IDMC, sigla em inglês) aponta que, em 2022, mais de 32,6 milhões de pessoas foram forçadas a se deslocar por causa de desastres ambientais, sendo a maioria mulheres em regiões como a África subsaariana. No Brasil, os deslocados por motivos climáticos são principalmente das populações indígenas, quilombolas e caiçaras, que vivem em áreas de alto risco.

Apesar do crescente número de deslocados por questões climáticas, o status de “refugiado climático” ainda não é reconhecido pelo direito internacional. Ainda conforme a publicação da Acnur, de 2024, a Convenção de 1951 da ONU, que define o status de refugiado, não abrange aqueles que migram em razão de desastres ambientais. Isso significa que, mesmo enfrentando situações extremas, essas pessoas não têm acesso às proteções e aos direitos garantidos aos refugiados que fogem de guerras ou perseguições.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) propôs uma definição não oficial para os refugiados ambientais, descrevendo-os como aqueles que precisam abandonar suas casas devido à degradação ambiental. No entanto, essa definição não tem força jurídica, e existe resistência internacional em reconhecer formalmente essa nova categoria. Isso ocorre porque conceder o status de refugiado climático acarretaria responsabilidades econômicas e sociais significativas para os países receptores, sobrecarregando o já limitado sistema de proteção de refugiados da ONU.

Esse cenário expõe os desafios enfrentados pelos refugiados climáticos, que muitas vezes não têm acesso a direitos fundamentais, apesar de estarem em situações de extrema vulnerabilidade.

Abrigo da Sede Moinhos do Grêmio Náutico União, em Porto Alegre (RS), 2024. O local hoje acolhe cerca de 275 pessoas desabrigadas depois das enchentes que atingiram o estado.

Povos tradicionais e meio ambiente

No Brasil, muitos grupos e comunidades com características étnicas e culturais específicas seguem práticas sustentáveis. Alguns desses grupos são chamados de povos tradicionais. Você conhece essa classificação?

Os povos e as comunidades tradicionais foram formalmente reconhecidos pelo governo federal em 2007, com a publicação do decreto n o 6.040. Esse decreto ampliou o reconhecimento dado na Constituição Federal de 1988, que abrangia apenas as comunidades indígenas e quilombolas. Leia, a seguir, a definição oficial desses grupos, segundo o decreto, no art. 3 o , inciso I.

[…] grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição […].

BRASIL. Decreto no 6.040, de 7 de fevereiro de 2007. Institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. Brasília, DF: Presidência da República, 2007. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2007-2010/2007/Decreto/D6040.htm. Acesso em: 7 set. 2024.

De acordo com o documento, esses grupos seguem os princípios do desenvolvimento sustentável, ou seja, seus modos de produção não prejudicam o meio ambiente. Para serem classificados como povos tradicionais, esses grupos devem atender a estes critérios: viver em harmonia com os ciclos naturais, usar recursos renováveis, possuir um vínculo territorial transmitido por gerações, praticar atividades de subsistência, ainda que haja algum comércio em pequena escala, e identificar-se culturalmente como pertencentes a uma tradição específica.

Atualmente, existem 28 povos e comunidades tradicionais no Brasil. De acordo com o texto Comissão vai discutir política nacional para comunidades e povos tradicionais, publicado em 2006 pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática, estima-se que esses grupos reúnam cerca de 4,5 milhões de pessoas e ocupem aproximadamente 25% do território nacional.

Escultor quilombola coloca peças feitas de argila para queimar em forno, na comunidade Muquém, composta de remanescentes do Quilombo dos Palmares. União dos Palmares (AL), 2022.

O modo de vida das comunidades tradicionais está diretamente ligado à dinâmica do meio ambiente.

ATIVIDADE Consulte orientações no Manual do Professor.

• Em grupo, escolham um dos 28 povos e comunidades tradicionais reconhecidos pelo Estado brasileiro. Pesquisem as principais características dessa comunidade, como número total de habitantes, lugar onde vive, seu modo de vida etc. Preparem uma apresentação e compartilhem-na com colegas.

Produção coletiva.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Povos indígenas e segurança alimentar

De acordo com o Censo Demográfico 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem cerca de 1,6 milhão de indígenas, representando 0,83% da população total do país. Destes, 75% vivem nas regiões Norte e Nordeste, sendo a maioria no estado do Amazonas. Embora classificados como indígenas, eles se dividem em 266 povos diferentes, cada um com seus próprios costumes, culturas e línguas.

O reconhecimento oficial dos direitos dos povos indígenas, assegurado pela Constituição Federal de 1988, permitiu que sua identidade cultural fosse preservada e garantiu o direito de se autoidentificarem como indígenas. A Constituição também assegurou o direito ao uso das terras que tradicionalmente ocupam, através do processo de demarcação de Terras Indígenas. Atualmente, existem 798 Terras Indígenas reconhecidas, onde vivem cerca de 600 mil indígenas, abrangendo 13,9% do território brasileiro.

Um dos desafios frequentes à demarcação dessas terras é o argumento de que o território destinado aos povos indígenas é extenso em comparação ao número de pessoas que nele vivem e que essas áreas deveriam ser usadas de maneira mais produtiva. No entanto, é importante questionar: o uso da terra deve ser determinado apenas pela sua produtividade? Que outros fatores poderiam ser considerados?

Diversos estudos mostram que a demarcação de Terras Indígenas beneficia não apenas os povos indígenas mas também o meio ambiente. Essas áreas são essenciais para a preservação das florestas, que desempenham um papel crucial na regulação do clima. As florestas contribuem para o armazenamento de carbono, um processo que ajuda a combater o aquecimento global. Assim, proteger as Terras Indígenas tem sido reconhecido globalmente como uma medida fundamental na luta contra as mudanças climáticas. Além disso, ao cuidar dessas florestas, os povos indígenas também promovem a preservação da biodiversidade.

CURY/PULSAR IMAGENS

ATIVIDADE

Indígenas do acampamento Terra Livre em ato pela demarcação e contra mineração em terras indígenas na Esplanada dos Ministérios. Brasília (DF), 2024.

Consulte orientações no Manual do Professor.

• De acordo com o Censo Demográfico 2022, do IBGE, os povos indígenas estão presentes em 86,7% dos municípios brasileiros. No entanto, eles não estão igualmente distribuídos por todo o país. Pesquise e descubra quais são as regiões do Brasil com maior presença de povos indígenas. Em seguida, elabore hipóteses para explicar o resultado obtido.

A região com maior concentração de indígenas é a Norte, que abriga 44,48% do total. Em contraste, a Região Sul possui apenas 5,2% da população indígena. Essa diferença pode ser explicada por fatores históricos e geográficos.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
CASSANDRA

A importância das práticas indígenas vai além da conservação ambiental. Em 2019, um relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) destacou que o atual sistema alimentar global é insustentável a longo prazo. De acordo com o relatório, 37% das emissões de gases de efeito estufa em todo o mundo são originadas de atividades relacionadas ao sistema alimentar, como o uso da terra, transporte, embalagem e processamento de alimentos.

Diante desse cenário, esse relatório aponta para a urgência de adotar sistemas alimentares mais sustentáveis, que incluam práticas agrícolas tradicionais que preservem os recursos naturais. Os conhecimentos indígenas são exemplos de modelos que garantem a segurança alimentar e que podem ajudar a restaurar ecossistemas e conservar a biodiversidade.

Futuro à vista

Em 1990, os pesquisadores Mathis Wackernagel (1962-) e William Rees (1943-) desenvolveram o conceito de pegada ecológica.

A pegada ecológica é uma metodologia criada para medir os impactos do consumo humano no planeta. Ela analisa a área necessária para a produção dos recursos consumidos pelos seres humanos (como alimentos, energia e espaço para moradia) e a área necessária para que a natureza absorva os resíduos gerados pelas atividades humanas. Com esses dados, é possível calcular a extensão de território que uma pessoa ou sociedade utiliza, em média, para sustentar seu estilo de vida. Observe, no infográfico, a pegada ecológica de alguns países e regiões.

QUANTOS PLANETAS TERRA?

América

segurança alimentar: situação em que todas as pessoas têm acesso permanente a alimentos seguros e nutritivos e em quantidade suficiente para satisfazer suas necessidades nutricionais e preferências alimentares.

• KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

O livro, escrito pelo filósofo e ambientalista Ailton Krenak (1953-), aborda as diferenças entre as sociedades ocidentais e os povos indígenas em relação ao meio ambiente.

Elaborado com base em: INPE. O futuro que queremos: economia verde, desenvolvimento sustentável e erradicação da pobreza. São José dos Campos: Inpe, [2012]. p. 10-11. Disponível em: http://www.inpe.br/noticias/arquivos/pdf/RIO+20-web.pdf. Acesso em: 7 set. 2024.

Saiba mais

ecoansiedade: sentimento de medo crônico causado pela crise ambiental. Pode causar insônia, crises de preocupação e, em casos mais graves, gerar mudanças de comportamento, demandando a atuação de profissionais da saúde.

Fotografia de Odenilze Ramos, 2023.

Atualmente, considerando o comportamento da humanidade como um todo, estamos utilizando cerca de 25% a mais dos recursos naturais. Isso significa que precisaríamos de um planeta e mais um quarto para manter o estilo de vida atual da maioria das sociedades. Esses dados evidenciam que estamos explorando a natureza de maneira insustentável, esgotando os recursos em um ritmo mais rápido do que sua capacidade de renovação. Esse cenário de esgotamento tem gerado crescente preocupação com o futuro, o que levou ao surgimento de quadros como a ecoansiedade, especialmente entre os jovens. Nas últimas décadas, a juventude tem desempenhado um papel fundamental no ativismo ambiental, destacando a urgência de mudanças nas práticas em relação ao meio ambiente.

Um exemplo desse protagonismo é a trajetória de Odenilze Ramos (1997-), uma jovem ribeirinha que mora no interior do Amazonas. Preocupada com os impactos da crise climática sobre a sua comunidade, Odenilze começou a atuar como ativista ambiental aos 14 anos. Em 2018, ela se uniu a outros jovens para criar o movimento Filhos da Floresta, que busca conscientizar os moradores sobre a importância de adotar práticas sustentáveis. Leia, a seguir, o trecho do relato sobre o engajamento dela na luta pela preservação do meio ambiente.

A Amazônia não é minha causa, a Amazônia é minha casa, não posso pensar em parar de defendê-la. Faço parte da mudança futura que tanto falaram, como presente não quero ser responsável por entregar um futuro pior para as próximas gerações, estamos devendo muito para o planeta e precisamos começar a parar de fazer novas dívidas, não podemos continuar acabando com todas as riquezas naturais para que uma pequena parte da população mundial continue lucrando. […] precisamos lutar, nós não somos o futuro somos o agora, o futuro que tanto anunciaram chegou e veio com uma conta de todas as gerações passadas que vieram jogando para as próximas gerações até chegar na gente, mas nós não podemos continuar nesse ciclo vicioso. […]

RAMOS, 2019 apud DAMASIO, Kevin. Quem são as jovens líderes da greve pelo clima no Brasil. National Geographic Brasil, São Paulo, 20 set. 2019. Disponível em: https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2019/09/quem-sao-jovens -lideres-da-greve-pelo-clima-no-brasil. Acesso em: 7 set. 2024.

Uma nova racionalidade

As questões abordadas ao longo deste capítulo levantam perguntas importantes: é possível conciliar o modo de vida das sociedades contemporâneas, baseado na produção e no consumo em larga escala, com a preservação do meio ambiente? Será que a maioria das pessoas precisará renunciar a seu estilo de vida para garantir a sobrevivência das próximas gerações?

Ao refletir sobre essas indagações, o sociólogo mexicano Enrique Leff (1946-) defende que o atual estado de degradação ambiental é consequência de um modelo de sociedade que se desenvolveu separando os seres humanos da natureza. Segundo Leff, no livro Racionalidade ambiental: a reapropriação social da natureza, publicado originalmente em 2006, essa separação levou à valorização do crescimento econômico em detrimento da preservação ambiental, criando um sistema que prioriza o lucro e ignora os limites dos recursos naturais. Para ele, as ações pontuais para reduzir o impacto da produção sobre o meio ambiente não são suficientes para reverter a crise ambiental. Por isso, o sociólogo defende que é necessário reformular todo o modelo econômico, com foco na sustentabilidade.

Além da mudança no sistema de produção, Leff ressalta que é preciso transformar a forma como as pessoas consomem e se relacionam com o mundo ao seu redor. Ele defende que é urgente o desenvolvimento de uma “nova racionalidade”, marcada pela construção de uma relação equilibrada e sustentável com o meio ambiente, reconhecendo que os seres humanos fazem parte da natureza.

Mas como essa mudança pode ser implementada? Para Leff, a resposta está no reconhecimento da importância de diferentes tipos de saberes sobre a natureza. Ele sugere que unir o conhecimento científico aos saberes tradicionais de povos indígenas e comunidades locais seria o primeiro passo para construir um mundo mais sustentável. Segundo ele, essa colaboração entre saberes diversos, negociando interesses e respeitando diferentes visões, é o único caminho para a criação de soluções coletivas para a crise ambiental.

ATIVIDADES

Área desmatada para a construção de condomínio residencial. Altamira (PA), 2024.

A imagem retrata os desafios ambientais causados pelo desmatamento e o impacto do crescimento econômico desordenado na preservação do meio ambiente.

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Espera-se que o estudante compreenda que a “nova racionalidade”, segundo Enrique Leff, propõe uma mudança fundamental na forma como os seres humanos interagem com o meio ambiente.

1. Explique, com suas palavras, o que significa a ideia de “nova racionalidade”, defendida por Enrique Leff.

2. Cite exemplos de como essa “nova racionalidade” poderia ser de fato implementada.

2. O estudante deve reconhecer que a “nova racionalidade” vai além de ações isoladas, como reciclagem.

3. Para Leff, uma das soluções para interromper a degradação ambiental seria promover um diálogo entre os conhecimentos científicos e os saberes de comunidades tradicionais. Você concorda com isso? Justifique.

3. O estudante deve expressar suas opiniões, destacando que o diálogo entre ciência e saberes tradicionais pode ser uma estratégia importante no combate à crise ambiental.

4. Sugira uma medida que poderia promover o diálogo entre os saberes científicos e os conhecimentos das comunidades tradicionais.

4. O estudante pode sugerir a criação de espaços de debate e tomada de decisão onde representantes de comunidades tradicionais e cientistas possam trabalhar juntos.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

1. Os povos e as comunidades tradicionais foram formalmente reconhecidos pelo governo federal em 2007, com a publicação do decreto no 6.040. A definição de povos tradicionais está no art. 3º, inciso I, desse decreto.

RECAPITULE

Desastres naturais não podem ser compreendidos sem considerar as ações humanas que contribuem para sua ocorrência e os impactos sobre diferentes grupos sociais.

A crise ambiental resulta de um modelo de vida baseado no consumo e na produção em larga escala, além da separação entre seres humanos e natureza. Contudo, povos e comunidades tradicionais demonstram que é possível viver de maneira mais sustentável, em harmonia com o meio ambiente.

Os impactos da degradação, como poluição e seca, afetam de maneira desproporcional os grupos mais vulneráveis, como populações pobres e minorias étnicas. Para evidenciar essas desigualdades, surgiram os conceitos de justiça ambiental e racismo ambiental.

A sustentabilidade é um tema crucial para jovens ativistas em todo o mundo, que pressionam governos e empresas a implementar soluções viáveis para o risco constante de desastres ambientais.

2. b) A situação se relaciona ao conceito de Antropoceno ao evidenciar as graves consequências da intervenção humana sobre a natureza.

ATIVIDADES FINAIS

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Quais são os povos tradicionais e qual é a importância do seu reconhecimento na legislação brasileira?

2. Observe a charge.

TURNER, Martyn. [Changing the food chain]. Irish Times, Dublin (Irlanda), 2018.

a) D escreva a situação representada na charge

b) De que modo essa situação se relaciona ao conceito de Antropoceno?

3. O texto a seguir apresenta um trecho da entrevista concedida pelo geólogo britânico Colin

Waters. Nela, Waters comenta a formalização do Antropoceno como uma nova era geológica. Leia o texto para responder às questões a) a d).

O Antropoceno tem mais a ver com o entendimento […] de que, enquanto espécie, estamos deixando um legado duradouro sobre o planeta. Tem a ver com nosso impacto no consumo de combustíveis fósseis, minerais – e uma demanda cada vez maior por produtos. Muitas pessoas associam o Antropoceno a uma mudança para pior. Mas nunca vivemos tanto ou prosperamos tanto enquanto espécie. Porém, tudo isso vem atrelado a um custo – a mudança que fazemos sobre o planeta. Então, o Antropoceno enquanto termo encapsula este impacto. Para muita gente, isso é algo importante de se entender porque, em muitos aspectos, não apenas no das mudanças climáticas, temos tido um impacto grande sobre os animais e plantas do planeta, e também mudamos dramaticamente a atmosfera e os oceanos. E estas são coisas pelas quais todo mundo está criando interesse, e este termo nos

2. a) A charge mostra uma cadeia alimentar na qual os peixes menores são devorados pelos maiores, e o maior deles é devorado por uma sacola plástica.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
NÃO ESCREVA NO LIVRO.

3. a) O autor é favorável à formalização do Antropoceno como era geológica, isto é, uma série de transformações e eventos que ocorreram durante a transformação do planeta Terra.

3. b) Seu principal argumento é que a formalização do conceito perante a comunidade científica é importante para que o impacto dos seres humanos sobre o planeta fique cada vez mais claro, consolidando-se como perspectiva central nas análises sobre as transformações percebidas no meio ambiente.

permite compreender como tudo isto está inter-relacionado.

WATERS, Colin. Entrevista com Colin Waters: “Há 70 anos entramos no Antropoceno”. [Entrevista cedida a] Meghie Rodrigues e Davi Bonela. Museu do Amanhã, Rio de Janeiro, [2016]. Disponível em: https://museudoamanha.org.br/pt-br/ entrevista-colin-waters. Acesso em: 7 set. 2024.

a) O autor é a favor ou contra a formalização do conceito de Antropoceno?

b) Q uais são os argumentos para defender essa posição?

c) Você concorda com ele? Justifique sua resposta.

d) E xplique a diferença entre os conceitos de Antropoceno e Capitaloceno.

4. (Enem – 2023)

Uma missão internacional de investigação, em setembro de 2017, documentou os impactos sociais e ambientais causados pela expansão do agronegócio e pela especulação de terras na região do Matopiba em sete comunidades no sul do Piauí. Os resultados mostraram que a população sofre com as graves consequências do desmatamento, da perda da biodiversidade e da contaminação generalizada do solo, da água e do gado por agrotóxicos.

Relatório sobre o Matopiba aponta impactos ambientais e sociais da financeirização de terras. Disponível em: https://cimi.org.br. Acesso em: 13 out. 2021.

Os impactos socioambientais descritos no texto provocam a

a) adoção de cultivos irrigados.

b ampliação da agricultura familiar.

c) fragilização das comunidades locais.

d) diversificação da produtividade agrícola.

e) desapropriação de áreas improdutivas.

5. (Enem – 2022)

Em Vitória (ES), no bairro Goiabeiras, encontramos as paneleiras, mulheres que são conhecidas pelos saberes/fazeres das tradicionais panelas de barro, ícones da culinária capixaba. A tradição passada de mãe para filha é de origem indígena e sofreu influência

de outras etnias, como a afro e a luso. Dessa mistura, acredita-se que a fabricação das panelas de barros já tenha 400 anos. A fabricação das panelas de barro se dá em várias etapas, desde a obtenção de matéria-prima à confecção das panelas. As matérias-primas tradicionalmente utilizadas são provenientes do meio natural, como: argila, retirada do barreiro no Vale do Mulembá; madeira, atualmente proveniente das sobras da construção civil; e tinta, extraída da casca do manguezal, o popular mangue-vermelho.

TRISTÃO, M, A educação ambiental e o pós-colonialismo. Revista de Educação, n. 53, ago. 2014.

Uma característica de práticas tradicionais como a exemplificada no texto é a vinculação entre os recursos do mundo natural e a

a) manutenção dos modos de vida.

b) conservação dos plantios da roça.

c) atualização do modelo de gestão.

d) participação na sociedade de consumo.

e) especialização nas etapas de produção.

6. (Enem – 2022)

Os sujeitos sociais que procuram evidenciar a importância de uma relação lógica entre injustiça social e degradação ambiental são aqueles que não confiam no mercado como instrumento de superação da desigualdade ambiental e da promoção dos princípios do que se entenderia por justiça ambiental. Esses atores consideram que há clara desigualdade social na exposição aos riscos ambientais, decorrentes de uma lógica que extrapola a simples racionalidade abstrata das tecnologias.

ACSELRAD, H. Justiça ambiental e construção social do risco. Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 5, jan.-jun. 2002.

A desconfiança dos sujeitos sociais apresentada no texto se fundamenta na

a) diversidade da cultura.

b capacidade de resiliência.

c) complexidade do ecossistema.

d) intencionalidade da rentabilidade.

e) potencialidade da agropecuária.

3. c) Resposta pessoal. Espera-se que o estudante demonstre ter compreendido as questões envolvidas no desenvolvimento do conceito de Antropoceno e consiga posicionar-se no debate com base em argumentos fundamentados no debate científico apresentado.

3. d) Ambos os conceitos se referem aos efeitos da ação humana sobre o meio natural, com base na ideia de que ela é tão intensa que estaríamos vivenciando uma nova era geológica.

CAPÍTULO

1. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante demonstre compreender a relação entre o consumo e o sistema capitalista, percebendo-o como uma prática que vai além da satisfação das necessidades ligadas à sobrevivência biológica.

Consumo e indústria cultural 17

2. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante demonstre compreender que as práticas de consumo variam de acordo com cultura, valores, faixa etária, nível de renda etc., de modo a desconstruir a ideia de consumo como algo único, homogêneo e universal.

OBJETIVOS DO CAPÍTULO: Você já parou para pensar sobre os produtos que consome diariamente? O consumo faz parte do nosso cotidiano e é influenciado por uma série de fatores, como costumes, crenças e práticas sociais. Ele atende desde necessidades básicas, como alimentação, até demandas que são fruto de construções culturais, como a compra de determinados modelos de roupa ou celular. Embora pareça natural, o modo como consumimos é, na verdade, resultado de processos sociais específicos, que estão diretamente relacionados ao modo de vida de cada sociedade. Compreender esses aspectos é fundamental para entender os impactos do consumo nos processos de produção e no meio ambiente. As Ciências Sociais oferecem ferramentas para isso, com base em conceitos e reflexões que ajudam a entender as transformações do consumo no decorrer do tempo e em distintos lugares, além de variações ligadas a fatores como gênero, idade e classe social.

C ompreender o conceito de sociedade de consumo, identificando suas origens históricas e problematizando seus desdobramentos.

C ompreender a relação entre consumo e cultura.

C ompreender o conceito de indústria cultural. Identificar padrões de consumo na sociedade brasileira.

P roblematizar os próprios hábitos de consumo à luz dos conceitos trabalhados.

O Atacama, que atrai turistas de todo o mundo por suas belezas naturais, abriga um dos maiores depósitos a céu aberto de roupas usadas do planeta.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Defina “consumo” com suas próprias palavras.

2. Em sua opinião, todas as pessoas têm os mesmos hábitos de consumo? Explique.

3. Qual é a relação entre o consumo e a situação mostrada na imagem?

3. Espera-se que o estudante conclua que a imagem mostra o resultado da produção e do consumo exacerbados de roupas, que geram um excedente não absorvido pelo consumo humano, além do uso de materiais que não são facilmente decompostos pela natureza, provocando um grave impacto ambiental.

Toneladas de roupas descartadas em aterro no deserto do Atacama (Chile), 2021.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Consumo e mercadoria

O consumo está presente no dia a dia da maior parte das pessoas. Comer, vestir-se, locomover-se e até mesmo escutar música são atos que envolvem a aquisição de bens e serviços. Essas práticas estão tão enraizadas no cotidiano que, muitas vezes, parecem óbvias ou naturais. No entanto, essa forma de estar no mundo, em que quase tudo depende do consumo, é característica de um modelo específico de sociedade, fruto de um processo histórico delimitado no tempo e no espaço.

Embora todas as pessoas do mundo precisem consumir itens básicos para sobreviver, como água e alimento, o conceito de consumo se refere ao modelo capitalista de sociedade, caracterizado pela acumulação de recursos financeiros e materiais. Esse modelo teve início na Europa, no século XV, com a transferência do centro da vida econômica, social e política dos feudos para a cidade. Com isso, as relações de compra e venda, antes feitas com base nas necessidades dos indivíduos, deram lugar a práticas comerciais fundamentadas no lucro, obtido por meio da comercialização de bens. Cada bem comercializado passou a ter um valor monetário, numa prática que, gradativamente, levou ao surgimento da sociedade capitalista baseada no consumo, dando origem a uma nova forma de organização social.

Até a Revolução Industrial, em meados do século XVIII, os produtos eram feitos artesanalmente, o que os tornava mais escassos e menos acessíveis. Com o advento da tecnologia e da produção em grande escala, os produtos industrializados se tornaram mais baratos, e o consumo começou a crescer. No entanto, os impactos dessa mudança não se restringiram ao campo econômico.

As galerias parisienses eram locais de consumo e de diversão para as elites.

O filósofo alemão Walter Benjamin (1892-1940) dedicou-se a refletir sobre as transformações trazidas pelo aumento do consumo, destacando o surgimento de novos valores e padrões de convivência. Um dos fenômenos apontados por ele foi o surgimento, em Paris, na França, de galerias que concentravam lojas de tecidos e mercadorias de luxo, vindos de diferentes partes do mundo. Para Benjamin, essas galerias não eram apenas locais de compra e venda de produtos. Eram também espaços onde a elite se reunia para ver e ser vista, observar vitrines e desejar o supérfluo, o novo. Galeria Vivienne, em Paris (França), c. 1880-1900.

Tráfego na Times Square, em Nova York (Estados Unidos), 2024.

ATIVIDADE

Com base nessa reflexão, Benjamin nos ajuda a compreender a origem de uma associação que parece natural: a relação entre lazer e consumo. É comum, por exemplo, que pessoas escolham passear em shoppings centers nos momentos de descanso, mesmo sem a intenção de comprar algo específico. No entanto, ao fazer isso, muitas vezes acabam adquirindo algum produto (como roupas, acessórios ou alimentos), tornando o consumo uma parte importante do momento de lazer.

Outro aspecto destacado por Benjamin foi o surgimento, nesse mesmo período, de cartazes, colados em muros e postes, que anunciavam produtos e espetáculos. Era o nascimento do conceito de propaganda, uma nova forma de comunicação que transformou não apenas a relação das pessoas com os bens de consumo mas também a paisagem urbana.

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Quais atividades de lazer praticadas por você implicam o consumo de bens e serviços? Escreva um breve texto sobre isso, usando como base as informações apresentadas até aqui.

Resposta pessoal. Espera-se que o estudante reflita sobre as questões trabalhadas por Walter Benjamin com base em suas experiências pessoais, desnaturalizando a relação entre lazer e consumo, em geral vista como natural e automática.

Mercadoria

O conceito de consumo é indissociável da ideia de mercadoria. No sistema capitalista, tudo o que é consumido (bens ou serviços) está disponível na forma de mercadoria. Podemos afirmar, então, que mercadoria é tudo aquilo que pode ser comercializado. Pode ser uma bala, uma roupa, um curso, um carro ou até mesmo um imóvel.

Ao refletir sobre o funcionamento do capitalismo, o filósofo e economista alemão Karl Marx (1818-1883) dedicou-se ao estudo da ideia de mercadoria. Em seu livro mais conhecido, O capital, publicado em 1867, ele argumenta que, para que algo seja considerado mercadoria, deve possuir duas características essenciais: o valor de uso e o valor de troca.

• Valor de uso: refere-se à utilidade do produto. Por exemplo, a comida tem valor porque as pessoas precisam se alimentar; as casas têm valor porque as pessoas precisam de abrigo, e assim por diante. É importante observar que o valor de uso é sempre subjetivo, pois os produtos não têm a mesma utilidade para todas as pessoas. Por esse motivo, ele não pode ser medido ou quantificado. Além disso, nem tudo que tem valor de uso é mercadoria. É o caso, por exemplo, de um bolo feito por uma avó para o seu neto. O bolo é útil, pode ser consumido, mas não foi comercializado — e, por isso, não é uma mercadoria.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
MICHAEL

2.

modernas, muitas mercadorias representam objetos de adoração e desejo, sem

de trabalho investida nelas.

• Valor de troca: refere-se à possibilidade de equiparação de um produto a outro, ou seja, à possibilidade de trocar determinada quantidade de um produto por certa quantidade de outro. Assim, se o neto que recebeu o bolo feito pela avó decidir vendê-lo ou trocá-lo por algo, o bolo passa a ser uma mercadoria, pois adquire um valor de troca (por outro produto ou por uma quantidade de dinheiro).

Mas o que define a equivalência entre os valores de troca? Como se estabelece, por exemplo, que um bolo e uma casa tenham valores tão diferentes? Para Marx, a resposta está principalmente no tempo de trabalho humano dedicado à produção. Esse tempo inclui não apenas o trabalho da produção, mas também aquele envolvido no acesso à matéria-prima, no seu transporte e na sua venda. Por isso, o valor de troca de um produto nunca é fixo, variando conforme a quantidade de trabalho necessária para que ele chegue ao consumidor, além da relação existente entre a oferta (quantidade disponível) e a demanda (quantidade de pessoas interessadas em adquiri-lo).

Marx observou, no entanto, que nem sempre o valor de troca de uma mercadoria corresponde à quantidade de trabalho envolvida na sua produção. Ele demonstrou que muitas mercadorias são vendidas por valores que não refletem o trabalho investido nelas. Marx chamou esse fenômeno de fetichismo da mercadoria, mostrando que, no capitalismo moderno, muitas mercadorias se tornam objeto de desejo e adoração.

Pense, por exemplo, no tênis de uma marca famosa. Sua utilidade e o tempo investido na sua produção não diferem necessariamente dos tênis de marcas menos conhecidas. Contudo, seu preço é muito mais alto, tornando-o inacessível a muitas pessoas. Mesmo sem poder comprá-lo, muitos veem nesse tênis um objeto de desejo, pois ele possui um valor simbólico que vai além das suas características objetivas. O tênis, nesse caso, expressa uma relação social entre as pessoas, envolvendo o desejo de demonstrar status, de pertencer a um grupo etc.

Observe a tirinha de Angeli (1956-).

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Descreva a situação representada na tirinha.

1. E spera-se que o estudante reconheça que, na tirinha, Moska mostra-se feliz por ter “descolado” uma beatbox, revelando ter adquirido o equipamento por lhe parecer algo interessante de ter e de ser mostrado, sem intenção de utilizá-lo.

2. De que modo essa situação se relaciona com a ideia de fetiche da mercadoria desenvolvida por Karl Marx?

3. Faça uma lista de produtos desejados pela juventude do seu entorno cuja valorização possa ser explicada pelo conceito de fetichismo da mercadoria.

3. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante mencione produtos como determinadas marcas de smartphone, roupas e acessórios que, por estarem na moda e/ou serem símbolo de status, são objetos de desejo de muitos jovens.

ANGELI. [O rei do beatbox remix]. Folha de S.Paulo, São Paulo, 9 jan. 2004.
NÃO ESCREVA NO LIVRO.

1. Espera-se que o estudante identifique que a cena passa a ideia de que a felicidade está associada à possibilidade de acessar bens de consumo, que aparecem como mediadores do momento de descontração experimentado pela família.

Sociedade de consumo

O início do século XX testemunhou a expansão e a consolidação do capitalismo nos países ocidentais, acompanhadas pela intensificação da produção e do consumo. Nos países mais industrializados, o crescimento da população urbana e a ampliação das atividades de comércio e serviços levaram a uma rápida transformação da força de trabalho e ao aumento do poder de consumo dos indivíduos.

Esse processo se intensificou após a Segunda Guerra Mundial, principalmente nos Estados Unidos e na Europa. Naquele momento, a necessidade de reconstruir a economia dos países envolvidos no conflito impulsionou investimentos no comércio e no consumo, tornando o ato de consumir, antes acessível apenas às elites, mais comum entre as classes médias e baixas.

Uma das características dessa expansão do consumo foi o surgimento, nos Estados Unidos, do American way of life (em tradução livre, o estilo de vida estadunidense), num momento em que o país despontava como grande potência na geopolítica internacional. Amparado por uma política estatal de investimento na geração de empregos e na modernização do sistema produtivo, o American way of life se baseava em valores como trabalho, liberdade e consumo. Com o forte crescimento da produção industrial e o surgimento de propagandas que chegavam aos lares por meio do rádio e da televisão, os Estados Unidos viviam um boom no consumo de itens industrializados, como carros, eletrodomésticos e alimentos.

Os filmes de Hollywood foram importantes vetores de difusão do American way of life em todo o mundo. Através deles, popularizou-se em diversos países a ideia de que a cidadania, a felicidade e a liberdade estavam associadas à possibilidade de consumir bens industriais. No Brasil, por exemplo, durante as décadas de 1930 e 1940, o governo de Getúlio Vargas (1882-1954) firmou acordos comerciais com os Estados Unidos, facilitando a importação de produtos como carros e eletrodomésticos. Aos poucos, o American way of life tornou-se um modelo para boa parte dos brasileiros, fazendo-se sentir não apenas no aumento do consumo mas também na difusão da língua inglesa por meio de filmes, quadrinhos e canções estadunidenses.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

Propaganda de carro conversível. Agoura Hills (Estados Unidos), 1958.

1. Identifique na imagem elementos associados ao American way of life.

2. Em sua opinião, a sociedade brasileira segue influenciada pelos princípios do American way of life? Explique.

2. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante identifique a forte presença, na sociedade brasileira atual, da associação entre consumo e felicidade, tal como no modelo difundido pelo American way of life.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

As características que marcaram o processo de consolidação do capitalismo durante as primeiras décadas do século XX deram origem ao que muitos pensadores chamam de sociedade de consumo. Você já ouviu essa expressão?

Sociedade de consumo é uma das formas como intelectuais e jornalistas se referem à sociedade contemporânea. Com essa expressão, eles buscam enfatizar uma das principais características das sociedades capitalistas atuais: a hegemonia de um modelo econômico baseado no crescimento comercial e, consequentemente, no consumo.

Uma das marcas da sociedade de consumo é que nela as pessoas são constantemente estimuladas a adquirir bens e serviços, mesmo quando não têm real necessidade deles.

A indústria, por sua vez, aproveita-se dessa demanda para reduzir a vida útil dos produtos, garantindo que a roda do consumo continue a girar cada vez mais rápido. Como você aprendeu no capítulo 16, esse modelo de organização social utiliza recursos naturais de maneira indiscriminada, o que traz sérias consequências para o meio ambiente.

A sociedade de consumo cultiva o hábito de consumir desde a infância, investindo em publicidade destinada às crianças.

Atento às dinâmicas da sociedade de consumo, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017), no livro Vida para consumo, publicado originalmente em 2007, afirma que, nessa sociedade, o processo de subjetivação dos indivíduos é determinado pelo ato de consumir. Isso significa que as pessoas se tornam sujeitos através do consumo e os bens que possuem (ou desejam possuir) definem quem elas são. O consumo, assim, torna-se o principal fator que determina o valor individual e a posição social das pessoas, fazendo com que a capacidade de consumir seja o maior indicador de status e sucesso.

Bauman afirma também que, apesar da constante promessa de felicidade (muito divulgada pelos comerciais), ela dificilmente é alcançada na sociedade de consumo. Isso porque, ao adquirir um produto desejado, as pessoas são imediatamente estimuladas a cobiçar outros, numa busca incessante por aquilo que ainda não têm. Assim, se antes o consumo tinha como objetivo satisfazer necessidades básicas; na sociedade de consumo, o foco está em atender a desejos que não param de ser criados, seja pelo surgimento de uma nova moda, seja pela criação de uma inovação tecnológica ou pelo lançamento de um filme.

O sociólogo também chama a atenção para o fato de que muitos desses desejos são superficiais, ou seja, têm como alvo produtos desnecessários. No entanto, por meio de estratégias de marketing, as pessoas são convencidas de que precisam adquiri-los e de que, ao fazê-lo, se sentirão mais integradas à sociedade.

Criança em loja de brinquedos, 2021.

hegemonia: liderança, predominância, superioridade. marketing: atividade que promove produtos e serviços para gerar interesse sobre eles e fazer com que as pessoas desejem consumi-los.

2. Espera-se que o estudante identifique que a charge representa diversas características da sociedade de consumo, como a ideia da busca constante por novos produtos; a associação entre felicidade e consumo; o papel da propaganda e do marketing no estímulo à compra; e o acúmulo de dispositivos eletrônicos descartados.

Hiperconsumo

Na sociedade de consumo, milhões de produtos são fabricados todos os dias. Para que essa sociedade continue funcionando, é essencial que as pessoas sejam incentivadas a comprar. Isso é fundamental para que a produção prossiga, as mercadorias circulem e o ciclo de produção se mantenha (produzir, vender, comprar, consumir, descartar e recomeçar). Se o ritmo de consumo diminui, os produtos ficam parados no estoque, as fábricas fecham, os funcionários perdem o emprego, e a economia entra em crise. O marketing desempenha um papel crucial nesse processo, pois estimula o consumo através das propagandas, mantendo ativo o ciclo do capitalismo. A base do funcionamento desse ciclo tem se mantido desde o início do século XX. No entanto, isso não significa que não tenham ocorrido mudanças. Segundo o filósofo francês Gilles Lipovetsky (1944-), no livro A felicidade paradoxal: ensaios sobre a sociedade de hiperconsumo, a sociedade de consumo deu lugar à sociedade de hiperconsumo a partir da década de 1970. Para o autor, enquanto a sociedade de consumo se caracterizava pela expansão da produção de bens padronizados (como os eletrodomésticos), a sociedade de hiperconsumo tem como foco a individualização. O consumo, então, passa a ser visto como um meio de expressar a personalidade das pessoas, que saem em busca de produtos que comuniquem seus valores e suas visões de mundo. Nas últimas décadas, com a chegada da internet, a sociedade de hiperconsumo ganhou novos contornos: o consumo deixou de ter limites de tempo e espaço. É possível comprar praticamente qualquer coisa, em qualquer lugar, a qualquer momento. Além disso, as pessoas passaram a exibir constantemente nas redes sociais os produtos que adquirem, usando-os para afirmar sua identidade e divulgar seu estilo de vida.

Isso leva ao aprofundamento de uma das características da sociedade de hiperconsumo apontadas por Lipovetsky: a relação entre o ato de consumir e a construção da autoestima.

Observe esta charge

ARIONAURO. [Charge celular consumo]. Arionauro Cartuns. [S. l ], c2024. Disponível em: http://www.arionaurocartuns.com. br/2022/07/charge-celular-consumo.html. Acesso em: 21 set. 2024.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Descreva a situação representada na charge

1. E spera-se que o estudante descreva um homem cercado de celulares usados que assiste à propaganda de um novo celular na televisão e se sente compelido a comprá-lo.

2. De que modo ela se relaciona com as características da sociedade de consumo?

3. Você concorda com a ideia de Lipovetsky de que na sociedade de hiperconsumo o ato de consumir está ligado à construção da autoestima? Justifique.

3. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante faça uma reflexão que articule o conteúdo estudado à sua experiência pessoal, pensando de forma crítica sobre a relação entre o consumo e a construção de identidade nas sociedades capitalistas contemporâneas.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Consumo, cultura e distinção social

Até aqui, refletimos sobre o que é o consumo e como ele estrutura a sociedade capitalista, além de ser parte fundamental do modo como as pessoas se constituem como sujeitos. Mas o que leva as pessoas a consumirem determinados produtos, de determinada forma e em determinadas circunstâncias? Qual é o papel do consumo no estabelecimento de relações sociais? Com perguntas como essas, alguns antropólogos passaram a se dedicar ao estudo do consumo, buscando entendê-lo como parte importante do processo de construção da identidade. Em 1979, a antropóloga Mary Douglas (1921-2007) e o economista Baron Isherwood (1945-), ambos ingleses, publicaram o livro O mundo dos bens, no qual buscaram compreender o que leva as pessoas a adquirirem certas coisas. A primeira tarefa foi desconstruir a compreensão utilitarista, que afirma que as pessoas compram determinados itens simplesmente por precisarem deles ou por considerarem um bom negócio. Através de uma longa pesquisa, os autores demonstraram que o principal papel dos bens de consumo é comunicar valores sociais. Isso significa que a escolha do que compramos expressa, além de escolhas individuais, elementos sobre nossa cultura, família, o lugar onde moramos e nossa rede de relações.

Por exemplo: o consumo de certos alimentos pode ser bem-visto em uma região do país e malvisto em outra. Da mesma forma, existem comidas que ganham sentido especial em determinadas ocasiões (como o brigadeiro, que no Brasil remete diretamente a festas de aniversário). Ou seja, a escolha do que compramos não é apenas racional e objetiva. É o resultado de processos culturais que variam conforme a região, a idade ou a classe social.

No Brasil, o consumo de bolo e brigadeiro está associado a festas de aniversário.

Os autores mostraram, com isso, que o consumo é um fenômeno cultural; ou seja, além da escolha racional, a aquisição de um produto envolve também uma lógica simbólica, marcada por uma série de fatores que nem sempre são percebidos à primeira vista. Essa é uma visão interessante, pois nos faz ir além da ideia de que o consumo é sinônimo de futilidade.

Outro aspecto ressaltado por Douglas e Isherwood é a importância da cultura material. Segundo eles, é possível compreender uma cultura com base nos objetos que ela produz e consome. Assim, do mesmo modo que os arqueólogos buscam vestígios materiais para estudar povos que não existem mais, é possível observar os objetos de diferentes sociedades para compreender aspectos de sua cultura e organização social.

Mesa com bolo, refrigerante, salgados e docinhos, incluindo brigadeiro. Brasil, 2021.

cultura material: conjunto de elementos físicos, como objetos e construções, que grupos e sociedades usam para definir a própria cultura. Nas Ciências Sociais, os estudos de cultura material analisam como esses objetos contribuem para a compreensão das sociedades.

Questão de gosto

Você já ouviu falar que gosto não se discute? Para o sociólogo francês Pierre Bourdieu (19302002), não é bem assim. Interessado em compreender como as pessoas demonstram pertencer a uma ou a outra classe social, o autor realizou, na década de 1970, uma pesquisa sobre o consumo cultural dos franceses.

O resultado foi o livro A distinção: crítica social do julgamento, publicado inicialmente em 1979. Nele, Bourdieu afirma que os gostos e estilos de vida das diferentes classes sociais não são naturais, mas sim resultado de um longo processo de aprendizagem que acontece na família e na escola. Com isso, ele apresenta duas ideias importantes: 1) gosto se aprende; 2) gosto serve para diferenciar grupos sociais.

Segundo o autor, no processo de aprendizagem, as pessoas interiorizam informações e saberes, passando a identificar o que é considerado bom e bonito pelo seu grupo social. Por exemplo, para apreciar uma obra artística, não basta ter “bom gosto”. É preciso ter informações que permitam compreender o que ela significa e por que é considerada bela ou relevante para determinado grupo de pessoas. Isso significa que o gosto não é inato, mas fruto de um conjunto de condições específicas de aprendizado.

Para Bourdieu, essa distinção social baseada no gosto abrange todas as dimensões do consumo na vida humana, como o que comemos, o que vestimos, o celular que usamos, a viagem que desejamos fazer etc. Percebemos, assim, que os gostos não variam apenas com o tempo (algo que era considerado moda na época dos seus pais pode parecer horrível para esta geração) mas também entre classes e grupos sociais, expondo diferenças culturais e hierarquias presentes nas sociedades. Outro autor que refletiu sobre isso foi o antropólogo britânico Daniel Miller (1954-). Em seu livro Teoria das compras, publicado em 1998, o autor apresenta os resultados de uma pesquisa na qual acompanhou donas de casa inglesas em suas idas ao supermercado. Miller concluiu que, para elas, as compras iam muito além do ato de adquirir alimentos para a família. Essas mulheres se sentiam responsáveis por selecionar mercadorias educativas e moralmente superiores para suas famílias, como produtos considerados de maior qualidade ou que representassem determinados valores. As compras eram, assim, muito mais que um ato de satisfação de necessidades objetivas. Eram também um dos meios fundamentais para essas mulheres construírem relacionamentos de amor e carinho com seus familiares na vida cotidiana.

Para o antropólogo Daniel Miller, compras são formas de construir relações sociais.

Mulher escolhe produtos no mercado, 2021.

1. Espera-se que o estudante compreenda que Calvin, demonstra ser, ao mesmo tempo, grato pelo entretenimento e consciente do fato de que seu conteúdo visa ao lucro das classes dominantes e ao controle social dos espectadores.

Indústria cultural

O consumo inclui também produtos culturais, como músicas, shows, espetáculos de circo e teatro, programas de televisão, sessões de cinema, exposições etc. Assim como os bens materiais, o consumo de bens culturais é fundamental tanto para a economia quanto para a vida das pessoas.

O consumo cultural é um tema tão relevante que, em meados do século XX, os filósofos alemães Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973), membros da Escola de Frankfurt , desenvolveram uma importante teoria sobre ele. Os filósofos perceberam que, com o desenvolvimento do capitalismo, os bens culturais foram transformados em mercadorias, ou seja, passaram a ser produzidos em escala, para serem vendidos em grande quantidade e gerar lucro.

Comparando esse fenômeno ao universo das fábricas, Adorno e Horkheimer chamaram-no de indústria cultural.

Escola de Frankfurt: grupo formado na década de 1920, na Universidade de Frankfurt, Alemanha, composto de sociólogos e filósofos influenciados pela obra de Karl Marx.

Esse modelo de produção deu origem ao que esses mesmos pensadores chamaram de cultura de massa: produtos culturais em formatos prontos, feitos para alcançar o maior número possível de pessoas, sem a preocupação de criar algo novo ou diferente. Para Adorno e Horkheimer, o maior problema desse modelo é que as obras artísticas passaram a ser produzidas apenas para gerar lucro, desconsiderando seu potencial de promover a reflexão e o pensamento crítico sobre o mundo.

Segundo os filósofos, a difusão da cultura de massa serviria aos interesses das classes dominantes, uma vez que atuaria na transmissão de seus ideais para o conjunto da sociedade. Dessa forma, esses produtos serviriam para consolidar a ideologia dominante (conceito trabalhado no capítulo 2), reforçando a ordem social vigente. Por esse motivo, Adorno e Horkheimer afirmam que a cultura de massa oferece, ao mesmo tempo, divertimento e conformismo. Observe a tirinha.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Como você descreve o comportamento de Calvin diante da televisão?

2. Com base nas ideias de Adorno e Horkheimer, por que Calvin diz que a mídia de massa reduziu seu pensamento e aniquilou sua imaginação?

2. Espera-se que o estudante explique que, de acordo com os dois filósofos, produtos como novelas, filmes e programas de TV são usados pelos proprietários dos meios de comunicação para difundir saberes e padrões de comportamento alinhados com seus interesses, restringindo a postura crítica dos consumidores.

WATTERSON, Bill. Calvin & Hobbes. [S. l.]: Andrews McMeel, 1992. p. 67.
NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Pop art

A pop art (abreviatura para popular art, ou arte popular, em tradução livre) foi um movimento artístico que surgiu no final da década de 1950, nos Estados Unidos e na Inglaterra. Inspirados pela cultura de massa, os artistas desse movimento produziam obras próximas à estética usada pela publicidade, com o objetivo de ironizar a sociedade de consumo.

O artista visual estadunidense Andy Warhol (1928-1987) foi um dos principais representantes dessa vertente artística. Formado em Design, começou a carreira como ilustrador de revistas, criando também anúncios publicitários e elementos visuais para vitrines de grandes lojas. Nos anos 1960, quando já era amplamente reconhecido por seu trabalho como designer, Warhol passou a se dedicar às artes visuais. Suas obras rapidamente ganharam fama por incorporar os temas e a estética da publicidade, como o uso de cores fortes e da técnica da serigrafia.

serigrafia: técnica de impressão de baixo custo usada para reproduzir imagens em grande escala.

Entre suas obras mais conhecidas, Warhol estampou repetidamente imagens de latas de sopa e garrafas de refrigerante, trazendo para o campo artístico elementos do cotidiano das classes médias estadunidenses. Ao fazer isso, criticava o consumo exacerbado e sua relação com a publicidade. Warhol também criou obras nas quais reproduzia em diferentes cores rostos de celebridades como Elvis Presley (1935-1977) e Marilyn Monroe (1926-1962), ironizando a transformação de ídolos da cultura pop em produtos da cultura de massa.

WARHOL, Andy. Marilyn. 1964. Serigrafia. Coleção particular.

Como consomem os brasileiros

No Brasil, como na maior parte dos países capitalistas, o consumo está diretamente ligado à estratificação social. Isso significa que o consumo de determinados produtos revela aspectos sobre o status de quem os consome e sobre o lugar que essa pessoa ocupa ou gostaria de ocupar na hierarquia social.

Apesar disso, é possível identificar, por meio de pesquisas, comportamentos comuns entre os brasileiros em relação ao consumo. O infográfico elaborado com base na pesquisa realizada em 2022 pelo Instituto Real Time Big Data oferece uma visão detalhada sobre esses comportamentos. Ele revela que é importante compreender não apenas o que é consumido, mas também como esse consumo é feito. Isso inclui saber onde as compras são realizadas, qual é o impacto do consumo na renda familiar e como é feito o pagamento. Com isso, é possível perceber que o consumo vai muito além da aquisição de um serviço ou bem, envolvendo diversos aspectos da vida dos indivíduos e da organização familiar.

Observe o infográfico.

Elaborado com base em: FALA BRASILEIRO. Mais da metade dos brasileiros gasta mais do que ganha. R7, [São Paulo], 4 abr. 2024. Disponível em: https://record.r7.com/fala-brasil/fala-brasileiro/mais-da-metade-dos-brasileiros-gasta-mais-do-que-ganha-27052022/

Acesso em: 12 set. 2024.

Produção pessoal. Espera-se que os estudantes comparem os dados e sistematizem, de forma clara, suas percepções sobre os resultados.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Em grupo, sigam este roteiro para realizar uma pesquisa sobre consumo.

a) Elaborem um questionário com base nas perguntas norteadoras do infográfico.

b) Com o questionário em mãos, entrevistem entre 10 e 20 pessoas do seu entorno.

c) Organizem os dados coletados em um formato semelhante ao do infográfico apresentado.

d) Comparem os números da sua pesquisa com os dados da pesquisa de 2022. Quais foram as semelhanças? E as diferenças?

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

A combinação de arroz, feijão e carne animal está presente na rotina da maior parte dos lares brasileiros.

A antropóloga brasileira Lívia Barbosa (1949-) investigou os hábitos de consumo alimentar dos brasileiros em dez cidades do país, abrangendo diferentes faixas etárias e classes sociais. Os resultados foram publicados no artigo “Feijão com arroz e arroz com feijão: o Brasil no prato dos brasileiros”, de 2007. Seu objetivo era descobrir se, para além das muitas diferenças regionais e de renda, existem hábitos comuns na forma como os brasileiros consomem os alimentos.

A primeira conclusão de sua pesquisa foi que a maioria dos brasileiros gosta de fazer pelo menos duas refeições quentes por dia: o almoço e o jantar. Essas refeições costumam ser compostas de comidas “de panela”, ou seja, pratos que envolvem um preparo mais lento e elaborado. Além disso, os brasileiros tendem a servir diferentes alimentos no prato, mantendo-os separados em montes distintos. A mistura de todos os elementos costuma ser vista como sinal de má educação e quebra de etiqueta.

A pesquisa também revelou que os hábitos alimentares variam entre os dias úteis e os finais de semana. Durante os dias de trabalho e estudo, as refeições tendem a ser mais regradas, enquanto nos dias de descanso há um aumento no consumo de alimentos considerados menos saudáveis, como doces, pizzas e refrigerantes. Além disso, em 70% das famílias, a decisão sobre o cardápio é responsabilidade da mãe ou esposa.

Por fim, a antropóloga concluiu que os cardápios das famílias brasileiras costumam ser bastante similares, com poucas variações regionais e por faixa de renda. Os clássicos arroz, feijão e carne (para almoço e jantar) e café, leite e pão (para o café da manhã) são alimentos que predominam na maioria dos lares brasileiros.

Prato com frango, arroz e feijão.

INVESTIG AÇÃO

Consulte orientações no Manual do Professor.

Estudo de recepção: propagandas direcionadas às pessoas idosas no Brasil

O Censo 2022 revelou que o Brasil possui mais de 22 milhões de pessoas com 65 anos ou mais, o que corresponde a mais de 10% de toda a população e representa um aumento de 57,4% em relação ao Censo 2010. O aumento da expectativa de vida tem levado pessoas idosas a desempenhar papéis cada vez mais ativos na sociedade, antes reservados apenas aos mais jovens.

Atualmente, essa faixa etária representa uma parcela cada vez maior do mercado consumidor brasileiro, correspondendo a cerca de 20% do consumo do país, de acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). No entanto, muitos preconceitos em relação às pessoas idosas persistem. Chamada de etarismo, a discriminação contra essa faixa etária é baseada na ideia de que pessoas idosas são menos capazes, que não podem ou não devem frequentar determinados lugares, adotar determinados comportamentos ou realizar determinadas atividades.

OBJETIVO

Pessoas idosas se divertem ao usar um smartphone, 2023.

O objetivo dessa prática de pesquisa é analisar como diferentes propagandas representam as pessoas idosas. A partir dessa análise, vocês poderão refletir sobre como as empresas percebem essa faixa etária e identificar padrões no modo como pessoas idosas são retratadas. Em grupos, usem o método estudo de recepção, cujo foco está em investigar como os públicos interpretam, consomem e dão sentido a conteúdos midiáticos e culturais.

ANÁLISE DE RESULTADOS

1

3

1. Realizem uma pesquisa em sites , revistas e redes sociais para selecionar propagandas de produtos que apresentem pessoas idosas. PESQUISA

3. Preparem uma apresentação com os resultados da análise. Incluam fotografias, exemplos e, principalmente, suas conclusões sobre a representação das pessoas idosas nas propagandas.

2. Analisem cada uma das propagandas selecionadas, observando em que situações as pessoas idosas são mostradas, que atividades estão realizando, se aparecem sozinhas ou acompanhadas etc. Anotem suas percepções e debatam os resultados em grupo.

ETAPA DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS

4. Apresentem os resultados aos colegas da turma, compartilhando descobertas e reflexões.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
ETAPA

Consumo cultural no Brasil

Em 2023, a pesquisa Hábitos Culturais, do Itaú Cultural, entrevistou mais de 2 mil brasileiros para entender como anda o consumo cultural no país. O resultado mostrou que, ao longo do ano, 96% das pessoas haviam realizado ao menos uma atividade cultural. A maior parte desse consumo foi on-line: 82% ouviram música e 74% assistiram a filmes ou séries em plataformas de streaming. Além disso, 48% ouviram podcasts e 42% acessaram livros em formato digital. Em relação às atividades presenciais, 45% assistiram a apresentações de música, dança ou teatro, enquanto 33% foram ao cinema. Esses dados refletem o panorama do consumo cultural após a pandemia da covid-19, que impulsionou a migração das atividades culturais para o ambiente on-line. No entanto, não foram abordadas as muitas desigualdades que marcam o acesso à cultura no Brasil, influenciado por fatores regionais, de gênero, idade e classe social.

Em 2007, uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) demonstrou que o consumo de bens culturais tem relação direta com a escolaridade e a renda. Apesar de ser valorizado por todos os segmentos, quanto maior a escolaridade, maior a renda e maior o consumo cultural da família. O consumo de livros é um bom exemplo. Apesar de todas as classes sociais considerarem a leitura importante, na prática ela acontece principalmente nas famílias com maior renda. Entre famílias das classes A e B (com rendimento acima de dez salários mínimos), 90% têm mais de dez livros em casa. Esse percentual cai para 66% entre famílias da classe C (com rendimento entre quatro e dez salários mínimos) e para 42% nas famílias das classes D e E (com rendimento até quatro salários mínimos).

Outro dado relevante é que 82% dos gastos com bens culturais no Brasil são destinados a práticas domiciliares, indicando que a maioria das pessoas prefere gastar com filmes, séries, músicas e livros que podem ser consumidos em casa, ao invés de gastar com atividades que demandam sair, como cinemas, exposições e shows de música.

Para compreender esses dados, é preciso levar em conta que apenas uma minoria dos municípios brasileiros dispõe de cinemas, museus e espaços para apresentações. Além disso, a questão da segurança é mencionada por muitos entrevistados como um dos fatores que os leva a optar pelo consumo cultural em domicílio.

Família assiste a conteúdo de streaming na TV, 2016.

Assim, o consumo de bens culturais não é reflexo apenas dos gostos e escolhas individuais, mas depende também da possibilidade de acessar equipamentos culturais, o que reflete as muitas desigualdades sociais e regionais que marcam o nosso país.

Observe o mapa.

Brasil: habitantes por sala de cinema (por estado) – 2017

COLÔMBIA

Equador

Pior oferta de salas 163337 hab./sala

OCEANO PACÍFICO

Trópico de Capricórnio

SURINAME GUIANA

GUIANA FRANCESA (FRA)

Melhor oferta de salas 33832 hab./sala

Número de habitantes por sala

30 mil a 59 mil60 mil a 89 mil90 mil a 119 mil Mais acesso ao cinema Menos acesso ao

OCEANO ATLÂNTICO

Fonte: CAESAR, Gabriela. São Paulo abriga 1/3 das salas de cinema do país. G1, [s. l.], 3 nov. 2017. Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/ cinema/noticia/sao-paulo-abriga-13-das-salasde-cinema-do-pais.ghtml

Acesso em: 12 set. 2024.

Número de habitantes por sala

Juventude e bens culturais

Você sabia que o acesso à cultura é um dos direitos previstos no Estatuto da Juventude? Leia um trecho desse documento.

Art. 21. O jovem tem direito à cultura, incluindo a livre criação, o acesso aos bens e serviços culturais e a participação nas decisões de política cultural, à identidade e diversidade cultural e à memória social.

BRASIL. Lei no 12.852, de 5 de agosto de 2013. Institui o Estatuto da Juventude [...]. Localizável em: capítulo V, artigo 21. Brasília, DF: Presidência da República, 2013. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12852.htm Acesso em: 21 set. 2024.

O acesso à cultura é fundamental para o exercício da cidadania, que não se limita apenas ao consumo de produtos artísticos (como filmes, livros e músicas), mas engloba também informações veiculadas em diferentes mídias, como jornais, revistas, rádio, televisão e sites da internet. Portanto, o consumo de bens culturais vai além do lazer, sendo um elemento fundamental para que os jovens se informem, formem as próprias opiniões e participem ativamente nos processos políticos e sociais. Além disso, o acesso à cultura desempenha um papel crucial no processo de socialização. Ele permite que os jovens encontrem pessoas com interesses e valores semelhantes, construam laços sociais e reforcem o sentimento de pertencimento a um grupo.

PERSPECTIVAS

Em 2006, o Instituto Pólis realizou a pesquisa Juventude Brasileira e Democracia: Participação, Esferas e Políticas Públicas, com o objetivo de compreender quais são os principais empecilhos no acesso dos jovens aos bens culturais. Para isso, foram entrevistadas 8 mil pessoas, entre 15 e 24 anos, em sete regiões metropolitanas do Brasil, abarcando jovens de diferentes classes sociais. Após as entrevistas, foram realizados grupos focais, nos quais os jovens puderam desenvolver com mais profundidade alguns aspectos ligados a esse tema. Leia trechos de alguns dos depoimentos coletados pela pesquisa.

grupo focal: técnica de pesquisa que consiste em reunir pequenos grupos de pessoas para discutir determinado tema.

‘Eu já fui na universidade estadual ver dança contemporânea… Eu gosto, mas eu não tenho tanto acesso. Eu não tenho nem conhecimento. Eu acho que não chega nem à população de algumas facilidades que às vezes surgem, não chega ao conhecimento do pobre’ […].

[…]

‘A Prefeitura deveria investir ainda mais na cultura, trazendo eventos, Bienal do Livro, quando acontece, trazer peças de teatro ao ar livre, que acontece muito também, mas só que não é muito divulgado, não há muita propaganda. […] Então a pessoa não vai saber, não vai poder ter a oportunidade de ver aquela peça’ […].

[…]

Jovens estudantes visitam exposição de obras de arte na Pinacoteca de São Paulo. São Paulo (SP), 2024.

‘Na questão do lazer, é bom lembrar que o valor das passagens de ônibus influencia muito também: Você pode pagar um preço barato para ir a um show e a passagem pode sair mais cara’ […].

‘Fazer o dia do preço mais acessível para a população de baixa renda ter acesso ao cinema e ao teatro. Não adianta ir ao teatro só um dia, tem que ir mais vezes para conhecer. O estudante deveria pagar meia, ter o transporte garantido, a vida ficaria mais alegre’ […].

‘Eu acho que cultura e lazer tinham que começar direto na escola. Sem o aprendizado na escola, não tem como ter, porque, por exemplo, eu acho que aula de teatro tinha que ser em todas as escolas e não tem. Sem teatro, a pessoa não consegue falar assim em público. Eu acho que isso melhora muito, eu acho que isso tinha que ser em todos os colégios. Ah, tinha que ser obrigatório’ […].

FONSECA, André. O que pensam os jovens brasileiros sobre a cultura? [São Paulo]: Cultura e Mercado, 6 jul. 2006. Disponível em: https://culturaemercado.com.br/o-que-pensam-os-jovens-brasileiros-sobre-a-cultura/. Acesso em: 16 set. 2024.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Em grupos, reflitam sobre esses depoimentos e sigam o roteiro.

Produção pessoal. Espera-se que os estudantes proponham soluções criativas e viáveis, apresentando um plano detalhado com estratégias claras para superar possíveis obstáculos.

a) Escolham um problema que afeta o acesso dos jovens à cultura.

b) Discutam esse problema e pensem em possíveis estratégias para solucioná-lo.

c) Escolham uma das soluções pensadas e desenvolvam um planejamento para sua implementação, destacando os possíveis empecilhos para resolvê-lo.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
DANIEL

Outras formas de consumir

Como você aprendeu nos capítulos 14 e 16, a sociedade de consumo incentiva práticas produtivas nocivas aos trabalhadores, intensificando situações de precariedade e vulnerabilidade social, e impacta negativamente o meio ambiente. Além desse aspecto, há outra dimensão importante: a saúde financeira dos indivíduos. Estimulados pelas propagandas e pelo apelo das novidades, muitos se rendem ao consumismo, prejudicando sua estabilidade financeira. Esse problema afeta particularmente a juventude. Em 2017, uma pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostrou que a maioria dos jovens brasileiros se considera impulsiva ao comprar e que 77% já se arrependeu ao adquirir algo de que não precisava.

Diante desse cenário, pessoas em todo o mundo vêm refletindo sobre formas de consumo que tenham menor impacto social e ambiental. Nesse contexto, surgiu o conceito de consumo consciente, que visa à utilização sustentável e responsável dos recursos naturais e materiais, considerando os impactos sociais, ambientais e econômicos dos produtos. Na prática, isso significa adotar medidas como escolher produtos feitos com respeito ao meio ambiente e aos trabalhadores envolvidos na produção; priorizar produtos duráveis; evitar o desperdício; e buscar alternativas sustentáveis para as necessidades cotidianas.

As reflexões sobre o consumo consciente mostram que, apesar de ser influenciado por gostos e escolhas individuais, o ato de consumir é fundamentalmente social. Cada vez que consumimos algo, mobilizamos, de diferentes formas, recursos humanos e naturais, gerando impactos econômicos, sociais e ambientais que afetam toda a sociedade. Um exemplo do crescimento do consumo consciente pode ser visto nos dados do estudo Estilos de Vida, da empresa de pesquisas Nielsen. Em 2019, 61% dos brasileiros declararam estar tentando reduzir o consumo de plástico. Além disso, 58% disseram não comprar produtos testados em animais e 65% afirmaram evitar marcas associadas ao trabalho escravo.

Outro conceito que vem ganhando força é o de economia solidária. Esse modelo busca reduzir as desigualdades sociais ao alterar a organização tradicional das empresas, substituindo a figura do patrão por uma gestão coletiva focada na colaboração. Nesse modelo, não há um proprietário que recebe a maior parte dos lucros e paga salários aos funcionários. Em vez disso, as decisões são tomadas coletivamente, e o lucro é compartilhado entre todos os trabalhadores.

consumismo: consumo excessivo de bens ou serviços, característico das sociedades capitalistas contemporâneas.

Cooperativas de reciclagem são exemplos de negócios que funcionam no modelo da economia solidária.

Membros de cooperativa de reciclagem separam os materiais coletados. Ubatuba (SP), 2024.

CESAR DINIZ/PULSAR IMAGENS

1. Espera-se que o estudante compreenda a afirmação de Bauman sobre a sociedade de consumo ser marcada pela renovação do desejo de adquirir novos produtos, gerando um círculo infinito de produção e consumo, além de ser um modelo insustentável em termos ambientais e de produzir um efeito nocivo sobre as pessoas.

RECAPITULE

Neste capítulo, você aprendeu que o consumo vai além de uma escolha individual motivada por um cálculo objetivo. Ele envolve, além de gostos e necessidades individuais, escolhas relacionadas a valores, sentimentos e padrões culturais, sendo, por isso, de grande interesse para as Ciências Sociais.

Um ponto importante é compreender a relação entre o consumo e o capitalismo. Isso passa pelo entendimento da ideia de mercadoria e daquilo que Karl Marx denominou de valor de uso e valor de troca, diferenciando os aspectos subjetivos e objetivos dos produtos. O conceito de sociedade de consumo, por sua vez, permite perceber as dinâmicas da vida contemporânea, em que o acesso a determinados bens é um fator importante na construção da identidade e na definição de hierarquias e posições sociais.

É fundamental, ainda, reconhecer que o consumo não se limita a bens materiais. Ele abarca também o acesso a bens culturais, como filmes, músicas e livros. Em meados do século XX, estudiosos da Escola de Frankfurt analisaram a relação entre esses bens e a lógica do capitalismo e criaram os conceitos de indústria cultural e de cultura de massa. Esses elementos permitem refletir sobre os padrões de consumo dos brasileiros e compreender como eles expressam, por um lado, características da nossa cultura e, por outro, aspectos da nossa estrutura social, marcada por desigualdades profundas. Por fim, diante dos muitos impactos negativos gerados pela sociedade de consumo, observa-se um crescimento global na adesão a práticas mais sustentáveis em relação a aspectos ambientais, econômicos e sociais da cadeia produtiva.

ATIVIDADES FINAIS

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Leia um trecho de Vida para consumo, de Zygmunt Bauman.

[…] uma sociedade de consumo só pode ser uma sociedade do excesso e da extravagância – e, portanto, da redundância e do desperdício […].

BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo. Tradução: Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. p. 112.

• Com base nas ideias do sociólogo sobre a sociedade de consumo, escreva no seu caderno uma breve explicação sobre essa afirmação.

2. Observe a charge.

2. E spera-se que o estudante compreenda que a charge faz referência ao conceito de cultura de massa, segundo o qual os produtos veiculados pela mídia visam apenas garantir a manutenção das estruturas sociais, com base no domínio das classes dominantes e subordinação das classes dominadas.

CABRAL, Ivan. A televisão. Sorriso Pensante Natal, 14 jun. 2010. Disponível em: https://www.ivancabral.com/2010/06/charges -sobre-midia-e-manipulacao.html. Acesso em: 21 set. 2024.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

• De que forma a charge se relaciona com o conceito de cultura de massa? Escreva no caderno.

3. (UECE - 2021) No capitalismo moderno, o conceito de Indústria Cultural procura descrever e explicar a produção em grande escala e seriada de produtos culturais que se transformam em bens simbólicos à venda, a fim de servir ao consumo das massas de trabalhadores para os momentos de lazer. Tais produtos culturais industrializados, que têm sido veiculados pelo cinema, rádio e televisão desde o início do século XX, transformaram a cultura em puro entretenimento das massas podendo, assim, proporcionar visões acríticas sobre o sistema de dominação econômico vigente: o capitalismo.

A corrente de pensamento teórico que desenvolveu esta concepção sobre a Indústria Cultural foi

a) O Positivismo, que estuda a manutenção das instituições sociais com o fenômeno das massas nas sociedades capitalistas.

b) A Pesquisa de Comunicação de Massas, que procura entender o funcionamento das mídias a favor das democracias.

c) A Escola de Palo Alto, nos EUA, que pensa a comunicação como um processo de integração e de circularidade cultural.

d) A Escola de Frankfurt, na Alemanha, que demonstra como a produção midiática se torna instrumento de alienação das massas.

4. (UPE - 2020) Observe a tirinha a seguir:

Qual das alternativas expressa melhor o conceito sociológico apresentado na tirinha?

a) A s pessoas utilizam os meios de comunicação como um instrumento de racionalização dos fenômenos sociais.

b) Os indivíduos são induzidos a pensar criticamente na organização social por meio da programação transmitida pela televisão.

c) A consciência de classe e de luta contra as opressões do sistema capitalista é divulgada pela mídia em diferentes meios de comunicação.

d) Os programas televisivos e as propagandas divulgadas pelas mídias são responsáveis pela formação intelectual do público.

e) Os meios de comunicação de massa são definidos como simples lazer e entretenimento, desestimulando o público a pensar criticamente, tornando-o passivo e conformista.

CAPÍTULO

1. E spera-se que o estudante identifique a atmosfera futurista da imagem, com elementos de diferentes referências misturados, entre elas a ficção científica.

Entre crenças e práticas sociais: anseios para o futuro

OBJETIVOS DO CAPÍTULO:

Reconhecer a importância do afrofuturismo e identificar futuros possíveis de modo inclusivo e democrático.

C omparar argumentos de pensadores clássicos sobre religião.

Debater e propor caminhos para a constituição de práticas sociais de tolerância religiosa.

P lanejar o futuro considerando sonhos pessoais e coletivos. Valorizar a dimensão ética em seus valores e prática de vida.

A imaginação e a preocupação sobre o futuro não são novidade para os seres humanos. O futuro, ou como imaginamos o futuro, está intimamente relacionado às nossas percepções e vivências no presente. Imaginar futuros pode estar vinculado a muitas ideias; exemplos disso são a ficção científica ou, nas religiões, a esperança de um mundo melhor. O futuro pode estar associado a narrativas utópicas de um mundo perfeito ou, ao contrário, a distopias, um futuro caótico. E quanto à Sociologia? É possível fazer uma Sociologia do futuro?

PANTERA Negra: Wakanda para sempre. Direção: Ryan Coogler. Estados Unidos: Marvel Studios: Walt Disney Pictures, 2022. Streaming (161 min). 1 pôster.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Quais são os elementos que você vê na imagem? Descreva-a e reflita sobre a ideia que está sendo transmitida por eles.

3. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante tenha uma perspectiva crítica mas afirmativa da vida.

2. Você conhece ou já ouviu falar do afrofuturismo? Comente.

3. Como você imagina o seu futuro pessoal e o futuro coletivo?

2. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante comente se está familiarizado com essa estética, sobretudo na música e na literatura.

4. Qual é seu sonho pessoal para o futuro? E para a sociedade? Pense em um curto prazo (de seis meses a um ano), em um médio prazo (entre cinco e dez anos) e em um longo prazo (entre vinte e trinta anos). Agora, sob orientação do professor, converse com os colegas da turma a esse respeito.

4. Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes conversem e reflitam sobre sonhos pessoais e coletivos, projetando um plano em três tempos diferentes (curto, médio e longo prazos), numa perspectiva ética e democrática.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Afrofuturismo

Sonhar com o futuro, os futuros possíveis, é pensar sobre o presente. Sonhar com o futuro, tanto no âmbito pessoal como no coletivo, é um modo de refletir sobre as escolhas atuais. O afrofuturismo realiza um duplo movimento combinado e simultâneo: tanto se atenta ao futuro quanto retoma a ancestralidade. Futuro e ancestralidade estão juntos o tempo todo. O símbolo sankofa, um pássaro com a cabeça virada para trás, contém essa ideia de diversidade de tempos que se misturam. O sankofa é uma tradição dos povos akan, grupo linguístico dos territórios de Gana e Costa do Marfim, na África ocidental. Comumente representado por um pássaro com a cabeça voltada para trás, seu nome pode ser traduzido como “volte e busque”: san (“voltar”), ko (“ir”) e fa (“buscar”). O conceito do sankofa é o de retornar ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro.

A socióloga estadunidense Alondra Nelson (1968-) é referência na pesquisa, no estudo e na divulgação do afrofuturismo na Universidade de Yale, em Connecticut (Estados Unidos), onde se tornou a primeira mulher afro-americana a ingressar no corpo docente da instituição de 128 anos.

Em 1998, Alondra Nelson fundou e liderou a comunidade on-line Afrofuturism. O termo foi considerado o mais amplo e adequado para contemplar diversos interesses e temáticas, podendo englobar imagens de ficção científica, temas futuristas, inovação tecnológica e a diáspora africana.

Em seu artigo de 2002 intitulado “Introduction: future texts” (em tradução livre, “Introdução a textos futuros”), Alondra Nelson explica essa associação entre os temas. A autora entende o afrofuturismo como uma forma de olhar para a posição social dos negros, como a de exclusão digital, e defender aspirações por um futuro melhor, ou seja, melhoras das possibilidades de vida além das circunstâncias atuais. O termo “afrofuturismo” foi criado em 1993 pelo crítico de cultura Mark Dery (1959-), nascido nos Estados Unidos. Trata-se de uma filosofia da ciência que engloba diferentes linguagens (como música, quadrinhos, cinema, moda, artes visuais e literatura) e combina diversos elementos (como ficção científica, fantasia, afrocentrismo e cosmologias não ocidentais).

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

Representação do sankofa; a imagem do pássaro é um símbolo dos povos akan.

Fotografia oficial de Alondra Nelson em equipe científica da Casa Branca, em Washington D.C. (Estados Unidos), 2022.

• Em grupo, sob a orientação do professor, pesquise sobre artistas afrofuturistas brasileiros, identificando as linguagens trabalhadas por cada um e os principais temas abordados nas produções.

Resposta pessoal. São diversos os artistas afrofuturistas brasileiros, como as escritoras Sandra Menezes (autora de O céu entre mundos) e Lu Ain-Zaila (autora de Sankofia: breves histórias sobre afrofuturismo), e a cantora, compositora e instrumentista Ellen Oléria.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

laico: a palavra “laico”, em sua origem no idioma grego, quer dizer “povo”; no entanto, a palavra adquiriu outros significados, sobretudo a ideia de Estado que não se vincula a nenhuma ordem ou doutrina religiosa.

sincretismo: fusão de elementos de diferentes culturas, religiões ou tradições, que, juntos, formam uma nova prática.

A Sociologia das religiões

Uma das formas de as pessoas pensarem o futuro e, sobretudo, uma vida melhor é através das religiões. A modernidade dos últimos séculos provocou uma mudança nas mentalidades e no modo de vida. Muitos aspectos que estavam sob o domínio das religiões e das igrejas passaram para o controle do Estado, como os cemitérios. Assim alguns dispositivos passaram a ser laicos, havendo, portanto, uma laicização da cultura, também chamada de secularização.

A secularização é uma das principais marcas da modernidade, mas não dominou inteiramente a sociedade contemporânea. O sagrado continua a ser parte importante da experiência das pessoas e das religiões, ainda que muitas religiosidades não sejam institucionalizadas.

O que tem ocorrido é uma série de reinvenções nas quais as religiões não desapareceram, mas renasceram em diferentes sincretismos, ressignificadas e reinventadas; surgiram comunidades religiosas multiculturais e desterritorializadas.

E você, como lida com os aspectos de natureza religiosa ou espiritual? Pensadores clássicos da Sociologia da religião, Marx, Durkheim e Weber se dedicaram ao estudo da experiência religiosa e sobretudo à análise das mudanças que geraram a sociedade moderna. Apesar das diferenças de pensamento em relação à religião, os três pensadores analisam o fenômeno religioso no contexto social, sobretudo diante das mudanças sociais da modernidade.

O processo de advento da modernidade, marcado pela racionalização e pelo desencantamento do mundo, é tratado como modernização pelo sociólogo alemão Ulrich Beck (1944-2015) na obra Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade, publicada em 2011. Beck define a modernização no trecho a seguir.

Modernização significa o salto tecnológico de racionalização e a transformação do trabalho e da organização, englobando para além disto muito mais: a mudança dos caracteres sociais, […] dos estilos de formas de vida, das estruturas de poder e controle, das formas políticas de opressão e participação, das concepções de realidade e das normas cognitivas. O arado, a locomotiva a vapor e o microchip são, na concepção sociocientífica da modernização, indicadores visíveis de um processo de alcance muito mais profundo, que abrange e reconfigura toda a trama social, no qual se alteram, em última instância, as fontes da certeza das quais se nutre a vida […].

BECK, Ulrich. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. Tradução: Sebastião Nascimento. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2011. p. 23. Localizável em: nota de rodapé.

Algumas religiões na história

A religião pode ser encontrada em todas as sociedades humanas de que se tem notícia. Registros das mais antigas sociedades revelam traços nítidos de símbolos e cerimônias de caráter religioso. Desenhos em cavernas sugerem que as crenças e as práticas religiosas já existiam há mais de 40 mil anos, e, desde aquela época, a religião continua sendo parte central da experiência humana.

Ao longo da história, diferentes tradições religiosas surgiram, moldando a cultura e a vida das sociedades, como o hinduísmo, o judaísmo e o islamismo.

O hinduísmo, uma das religiões mais antigas do mundo, surgiu há mais de 4 mil anos. Suas práticas religiosas evoluíram ao longo do tempo, mas sua origem remonta principalmente aos Vedas, textos sagrados escritos entre 1500 a.C. e 500 a.C. É uma religião politeísta, isto é, cultua vários deuses e deusas, como Brahma (o deus supremo), Parvati (a deusa da fertilidade), Shiva (deus da transformação), entre outros, e tem como fundamento o karma, o dharma e três ciclos da vida – o nascimento, a morte e o renascimento.

O judaísmo, uma religião monoteísta, tem como origem a história do povo hebreu no Oriente Médio, há cerca de 4 mil anos, na região da antiga Canaã (atualmente Israel e Palestina). Uma de suas figuras centrais é o patriarca Abraão, que, conforme a religião judaica, teria descoberto a existência de um único Deus ao estar em contato com a natureza. Para ele, havia um Ser Supremo que governava todo o Universo, estabelecendo e gerindo as leis da natureza. A Torá é o livro sagrado do judaísmo, contendo os ensinamentos religiosos do povo judeu.

O islamismo (ou islã) surgiu no início do século VII, na Península Arábica, quando o profeta Maomé teria recebido as revelações do anjo Gabriel, mais tarde compiladas no livro sagrado do islã – o Alcorão. Sob forte oposição, Maomé fugiu da cidade de Meca para Medina. Em Medina, o profeta pôde propagar a religião islâmica, e o islã se consolidou como religião monoteísta no Oriente Médio, no norte da África e na Ásia central.

karma: conceito que sugere que as ações de uma pessoa, boas ou más, geram consequências correspondentes, afetando seu futuro nesta vida ou em vidas futuras.

dharma: o caminho correto a ser seguido, de acordo com as leis do Universo e da natureza, levando à harmonia e ao equilíbrio individuais e coletivos.

Estátua de Bharat Mata segura a bandeira indiana, com um mapa da Índia ao fundo, no templo Kashi Vishwanath, um dos lugares sagrados do hinduísmo, em Varanasi (Índia), 2024.

• MARTINO, Luis Mauro Sá. Como as crenças influenciam a sociedade? Casa do Saber. Disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=1LMQIW XJQVw. Acesso em: 25 out. 2024.

Nesse vídeo, o professor Luís Mauro Sá Martino comenta de que forma a Sociologia analisa as religiões e discorre sobre a contribuição de alguns pensadores clássicos para o tema.

Marx: a religião como alienação e pilar ideológico do capitalismo

Para o filósofo e economista alemão Karl Marx (1818-1883), a religião é um refúgio para as massas populares, uma fuga da dura realidade da vida em sociedades divididas em classes sociais marcadas pelas desigualdades. Segundo Marx, isso se deve ao fato de que a religião promete felicidade e recompensas após a morte. Além disso, a religião promove uma aceitação resignada diante da exploração no mundo real.

A concepção marxista localiza na religião um forte aspecto de dominação ideológica que legitima as desigualdades sociais associadas à riqueza e ao poder, sobretudo no sistema capitalista. Para Marx, a religião teria implicações ideológicas, na medida em que justificava os interesses de grupos dominantes. Isso pode ser identificado, por exemplo, na ação do cristianismo sobre o colonialismo europeu, em que os missionários, embora pudessem ser pessoalmente bem-intencionados, buscavam converter os povos “pagãos” às crenças cristãs. O fato é que seus ensinamentos acabaram por reforçar a destruição de culturas tradicionais e impor o poder colonial. Também as diversas ramificações do cristianismo de alguma forma toleraram a escravidão nos Estados Unidos e em outras partes do mundo até o século XIX.

A crítica marxista à religião parte do princípio de que o ser humano deveria ser o ser supremo para si mesmo, e todas as ideias de diminuição de seu valor, ou sua depreciação diante de qualquer coisa, deveriam ser descartadas. Para Marx, apenas a materialidade e o corpo humano interessam para a ação da revolução socialista.

Durkheim: a função social

da religião e o

conjunto de representações coletivas

Conforme o sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917), sobretudo na obra As formas elementares da vida religiosa , publicada em 1912, a religião consiste num sistema de crenças e práticas ligadas ao sagrado, que une e congrega as pessoas em uma comunidade, que poderia ser chamada genericamente de Igreja. Assim, segundo ele, a religião fortaleceria a coesão social. Para Durkheim, a persistência da religião é sua maior característica e, sobretudo, a principal via de construção e de fortalecimento de vínculos sociais.

Saiba mais

Durkheim se preocupa em desvencilhar a religião apenas de seu caráter de crença e de sobrenatural, enfatizando sua importância e seu papel no próprio tecido nas relações sociais. Para ele, a religião ocorre na esfera da coletividade e não do indivíduo; somos religiosos por sermos sociais. Dessa forma, para o autor, o totemismo, por exemplo, seria é uma forma básica de manifestação de caráter religioso, isto é, o grupo social adota um objeto – um animal, uma planta ou outro elemento –, que passa a ser um símbolo sagrado da ordem do mundo para a comunidade.

Totem de pássaro mágico com as asas abertas; feito de madeira, em Victoria Park, Sydney (Austrália), 2020.

As religiões dividem o mundo entre o sagrado e o profano, com objetos e símbolos próprios do sagrado, que marcam a diferença entre essas duas esferas do social. Desse modo, as cerimônias e os rituais são fatores de união entre as pessoas e marcam momentos importantes da vida, como o nascimento, o casamento e a morte. Assim, para Durkheim, a experiência religiosa das pessoas não poderia ser reduzida aos aspectos de dominação por meio de ideologia; ao contrário, seria uma experiência real de genuínas forças sociais.

Weber: a religião como valor e o processo de racionalização

O sociólogo e economista alemão Max Weber (1864-1920), na obra A ciência como vocação – um ensaio escrito com base numa palestra proferida em 1917 –, entende a modernidade como uma trama social de processos econômicos, intelectuais (científicos) e culturais entrelaçados entre si. O surgimento da ciência na modernidade e a mentalidade decorrente do progresso científico, bem como as exigências metodológicas, geraram o que Weber chama de desencantamento do mundo, com profundas mudanças na cultura. O desencantamento do mundo ocorreu à medida que a vida e a natureza passaram a ser vistas como passíveis de domínio da ação humana, com o declínio da magia e do sagrado.

Para Weber, a racionalização da conduta da vida, inclusive das escolhas práticas do dia a dia, foi provocada pelos próprios valores religiosos. O protestantismo teria provocado a racionalização religiosa quando a salvação na vida eterna passou a estar diretamente relacionada aos valores cotidianos da vida terrena, especialmente na esfera do trabalho. Em outras palavras, o valor do trabalho árduo, persistente, determinado – a ética do trabalho – seria fruto de valores de natureza religiosa expressos sobretudo no protestantismo.

Para Weber, diferentemente de Marx, embora a religião possa ser uma força conservadora do pensamento e da atitude das pessoas, ela não é necessariamente conservadora. Como você estudou no capítulo 14, Weber aponta uma conexão entre as mudanças religiosas e o advento do capitalismo.

O futebol se aproxima do fenômeno religioso em alguns aspectos, como no comportamento das torcidas, cujas paixão e devoção ao time se assemelham muitas vezes à fé de natureza religiosa, sobretudo em países onde o futebol é muito popular, como Inglaterra, Espanha, Itália, Argentina e Brasil.

Tanto a religião quanto o futebol podem conectar pessoas independentemente de classes sociais ou demais marcas identitárias. Assim, futebol e religião são situações coletivas que afirmam a identidade dos indivíduos, trazendo um sentimento de pertencimento a determinado grupo social. Outros aspectos de natureza ritualística, com ares de cerimônia ou experiência religiosa, são os hinos e cantos e a referência à camisa ou à bandeira do time como “manto sagrado”.

Torcedores no Estádio do Maracanã em jogo entre as seleções do Brasil e da Espanha, Rio de Janeiro (RJ), 2013.

FERNANDO BUENO/PULSAR IMAGENS

Bourdieu: a religião como capital simbólico

O filósofo e sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002), a partir da definição de capital simbólico e, sobretudo, dos campos específicos como o da política, entende a religião como campo religioso. Bourdieu parte do pensamento de Weber para conceber a ideia de campo religioso como um campo social específico. Essa influência decorre da importância que o autor alemão atribui ao pensamento religioso na composição da sociedade moderna, especialmente no que chamou de desencantamento do mundo: o declínio da magia e a racionalização do pensamento moderno.

Com base em Marx, Bourdieu desenvolveu a própria concepção de campo religioso, enfatizando aspectos do pensamento materialista marxista e da teoria econômica. Nessa abordagem, Bourdieu considera que os seres humanos produzem, além de bens materiais, bens de natureza simbólica. Isso significa que, as ideias, incluindo as religiosas, são produtos dessa produção simbólica. O trabalho simbólico feito tanto por leigos quanto pelos sacerdotes resulta na produção de símbolos, representações e crenças. Se, em Marx, há uma circulação de bens materiais, para Bourdieu há uma circulação de bens simbólicos, ou seja, uma economia das trocas simbólicas.

Para Bourdieu, a religião consiste em um conjunto de práticas e representações de caráter sagrado, composto de mitos, rituais e símbolos. Um mito é uma narrativa tradicional que busca explicar fenômenos naturais, culturais, sociais e cosmológicos, geralmente envolvendo deuses, heróis e eventos sobrenaturais. De caráter simbólico-imagético, o mito não é uma realidade separada e independente, mas se transforma conforme as condições históricas e étnicas. Já o ritual é uma série de ações, gestos ou palavras realizadas de forma sistemática e simbólica, geralmente em contextos religiosos ou culturais. Nessa relação, mitos frequentemente fornecem a base narrativa para rituais. Por exemplo, os rituais de Páscoa no cristianismo são baseados no mito da ressurreição de Jesus.

A religião, segundo Bourdieu, é uma linguagem que estabelece uma comunicação entre o mundo natural e o social. Ao assumir uma função ideológica, a ordem simbólica contribuiria para a manutenção da ordem social e política.

Pierre Bourdieu, ao analisar a obra de Durkheim, reconhece a importância da religião na ordem social, na formação dos sentidos e do pensamento, na composição do coletivo e do mundo social.

Casal de origem japonesa ora em templo budista, em Kyoto (Japão).

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

• Entre as ideias dos autores clássicos da Sociologia da religião, com qual delas você concorda? De qual discorda? Argumente e compartilhe com a turma.

Resposta pessoal. Espera-se que o estudante possa, por exemplo, reconhecer como correta a análise de Marx sobre o papel da religião a serviço do poder dominante e como fator de manutenção do capitalismo. Pode ainda, em outro exemplo, se sentir mais próximo do pensamento de Durkheim, tendo a religião como parte importante da experiência dos indivíduos no contexto social, fortalecendo os laços sociais.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
ROSSELLA DE BERTI/GETTY IMAGES

• COMO é que é?: o que explica o aumento de evangélicos no país?. [São Paulo: s. n.], 11 jun. 2024. 1 vídeo (53 min). Publicado pelo canal TV Folha. Disponível em: https://www. youtube.com/ watch?v=QWuZ9Ml TDG0. Acesso em: 11 out. 2024.

O vídeo mostra a entrevista da jornalista Anna Virginia Balloussier sobre o crescimento das igrejas evangélicas no Brasil durante as últimas décadas.

• VICENZO, Giacomo. Sincretismo: qual a relação entre santos católicos, orixás e colonialismo? ECOA, São Paulo, 1 set. 2021. Disponível em: https://www.uol. com.br/ecoa/ultimas -noticias/2021/09/01/ sincretismo-qual -a-relacao-entre -santos-catolicos -orixas-e-colonialismo. htm?cmpid=copiaecola. Acesso em: 11 out. 2024.

Texto que explica a relação intrínseca entre as religiões de matriz africana e o catolicismo durante a história do Brasil.

ATIVIDADE

As religiões no Brasil

O Brasil sempre foi considerado um país de maioria católica, mas o segmento dos evangélicos tem tido um crescimento bastante expressivo. Segundo uma pesquisa feita pelo Instituto Datafolha em 2019, com 2 948 entrevistados, as religiões no Brasil são distribuídas conforme mostra o gráfico a seguir.

Brasil: Religião (em %) – 2020

Católica

Evangélica

Não tem religião

Espírita

Umbanda, candomblé ou outras religiões afro-brasileiras

Ateu

Judaica

Outra

Total de entrevistados: 2.948 pessoas

Dados elaborados com base em: 50% DOS BRASILEIROS são católicos, 31%, evangélicos e 10% não têm religião, diz Datafolha. G1, [s. l.], 13 jan. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/ noticia/2020/01/13/50percent-dos-brasileiros-sao-catolicos-31percent-evangelicos-e-10percent-nao-tem -religiao-diz-datafolha.ghtml. Acesso em: 1 out. 2024.

O Brasil é um país com muitos templos religiosos; o Censo Demográfico de 2022 mostrou que há cerca de 579,8 mil endereços relativos a finalidades religiosas de inúmeras crenças, entre as quais, sobretudo, igrejas, terreiros, centros espíritas, templos, mesquitas e sinagogas. O dado é ainda mais relevante se considerarmos que essa quantidade de endereços religiosos é maior do que o número de estabelecimentos de ensino e de saúde juntos. As escolas somam 264,4 mil, enquanto hospitais, clínicas, postos etc. somam 247,5 mil.

Consulte orientações no Manual do Professor.

• A vivência da religiosidade é importante em sua vida? Compartilhe a resposta de forma respeitosa com colegas.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.
Saiba mais
EDITORIA DE ARTE

Esses dados revelam a força e a presença da religiosidade na cultura brasileira. Em lugares onde as desigualdades são mais evidentes, principalmente em áreas periféricas, são as igrejas que desempenham o papel de amparar as necessidades crescentes da população. A ausência do Estado em diversas áreas do país abre espaço para que as igrejas desempenhem também funções sociais, sobretudo na assistência em dimensões básicas como trabalho, saúde e educação, o que envolve procura de emprego, distribuição de cestas básicas, busca de creche para as crianças etc. Além disso, são lugares de encontro social e cultural, com diversas situações e eventos, como apresentações de música ao vivo.

O fundamentalismo

O termo “fundamentalismo” surgiu nos Estados Unidos, no começo do século XX, no contexto do pós-Primeira Guerra Mundial (1914-1918), entre grupos protestantes que faziam leituras literais da Bíblia e defendiam práticas de vida e doutrina cristãs tradicionais.

O fundamentalismo religioso é um fenômeno social relativamente recente que surgiu em grande medida como uma resposta à rápida globalização a partir da década de 1970. A globalização trouxe muitas mudanças modernizadoras em diversas partes do mundo e impactou os modos de vida, desafiando, sobretudo, elementos tradicionais das sociedades, como os rígidos papéis de gênero e a dominação masculina. Tais mudanças provocaram incertezas, e o fundamentalismo religioso surgiu em defesa da tradição, insistindo em respostas baseadas na fé. Contudo, o fundamentalismo religioso acaba se convertendo em um pensamento inflexível e intolerante com relação às diferentes formas de praticar a religião. Ele muitas vezes está associado a posições políticas que não toleram a liberdade de pensamento e, ao se alinhar ao fundamentalismo religioso, acabam por desrespeitar os direitos humanos.

A razão pela qual o fundamentalismo religioso é atraente para algumas pessoas é porque apresenta uma abordagem simplificada para os problemas da vida em sociedade, oferecendo diretrizes de fácil compreensão sobre como viver uma vida boa e moral. Em contraste, as ideologias políticas, os humanismos e mesmo os ensinamentos religiosos mais liberais reconhecem uma complexidade maior nas ações humanas, e nesse sentido sua compreensão é menos imediata.

O pensamento científico, por sua vez, reconhece que as teorias são passíveis de questionamentos, ou seja, aceita que as verdades são instáveis e que o conhecimento está em constante transformação de acordo com as novas descobertas. Por isso, a ciência, não fornece regras permanentes para a vida.

INVESTIG AÇÃO

Consulte orientações no Manual do Professor.

Entrevista sobre intolerância religiosa em um Estado laico

Esta atividade tem como propósito que você reflita sobre a intolerância religiosa na sociedade e busque caminhos para combatê-la. A atividade contém algumas etapas: planejamento, preparação do roteiro, momento da entrevista, sistematização, cálculo e análise dos dados coletados, produção de um gráfico, compartilhamento dos dados e debate final. Essas técnicas são relevantes como metodologia de pesquisa sociológica.

Objetivo

Por meio da metodologia de pesquisa entrevista, você desenvolverá um olhar crítico e investigativo sobre caminhos para combater a intolerância religiosa pelo contato direto com a realidade em seu entorno. Por meio do tema religião, você entrará em contato com a diversidade religiosa dos entrevistados, inclusive com aqueles que não tenham uma religião, uma vez que o Estado brasileiro é laico. Com isso, promovem-se o respeito mútuo e a tolerância com as escolhas dos outros em uma sociedade ampla e diversa.

PLANEJAMENTO

ETAPA 1

1. S ob a orientação do professor, em grupo de no máximo quatro pessoas, organizem-se para fazer uma entrevista.

2. E scolham dez pessoas para serem entrevistadas.

3. S eparem lápis, borracha, lápis de cor, caneta preta hidrográfica, régua e o modelo de gráfico de pizza.

PREPARAÇÃO DO ROTEIRO

ETAPA

2

Caso a pessoa entrevistada não tenha religião ou não queira responder, é importante considerar esses dados também na entrevista. Dica

4. A ntes da entrevista, redijam um roteiro de perguntas. Vejam uma sugestão de roteiro a seguir.

a) Você tem uma religião? Se sim, qual?

b) Q uantas vezes por semana você dedica tempo à sua religião?

c) Você frequenta algum lugar específico para pôr em prática os ensinamentos de sua religião? (Observação: terreiros, templos, igrejas ou o próprio lar podem ser respostas possíveis.)

d) No ritual de sua religião, há alguma forma de expressão específica? Se sim, qual? (Observação: oração, leitura coletiva, respiração, música ou dança podem ser respostas possíveis.)

e) Você já sofreu algum tipo de intolerância religiosa?

DA ENTREVISTA

5. C om datas e horários marcados, organizem-se para fazer as entrevistas.

6. A pós fazerem as perguntas com base no roteiro, organizem, no caderno, os dados levantados na entrevista.

SISTEMATIZAÇÃO, CÁLCULO E ANÁLISE DOS DADOS

Lembrem-se de sempre serem respeitosos, sem juízo de valor sobre as respostas dadas.

7. Com os dados adquiridos, na sala de aula, agrupem as respostas.

8. E squematizem uma tabela conforme o exemplo a seguir e calculem as porcentagens de cada resposta. Suponhamos que de dez entrevistados, um possua a religião x , três, a religião y ; três, a religião z ; um não possua religião; e dois não quiseram responder. Em porcentagem, respectivamente, isso representará 10%, 30%, 30%, 10% e 20% do total dos dez entrevistados.

Religião

Número de pessoas Porcentagem

Elaborado pelo autor.

PRODUÇÃO DE GRÁFICO

9. Com base no modelo fornecido pelo professor, construam cinco gráficos, um para cada item do roteiro. Elaborem um título e uma legenda para cada gráfico.

10. Compartilhem com a turma os dados apresentados nos cinco gráficos e respondam às seguintes perguntas.

a) E m se tratando de diversidade religiosa, de que forma os dados levantados podem colaborar para um estado inclusivo e democrático?

b) D e que forma pode ser evitada a intolerância religiosa? Apresente uma solução.

• S ociedade de Risco - Parte 1. Disponível em: https://www. youtube.com/ watch?v=-czTNwYPIbQ

No vídeo, o professor Rodrigo Coelho, da Universidade Federal de Alagoas, contextualiza o conceito de Sociedade de risco, apresentando o alcance global dos riscos e trazendo exemplos da ocorrência de desastres ambientais ao redor do mundo.

A Sociologia do futuro

Ao pensar sobre o futuro na Sociologia, busca-se não apenas uma projeção para a vida individual, mas para a vida coletiva. Assim, cabe à pesquisa sociológica a investigação de tendências, diagnósticos e cenários possíveis ou prováveis de se constituírem no futuro. Também é tarefa da Sociologia do futuro identificar e imaginar futuros desejáveis, além de reconhecer os riscos e os perigos iminentes.

A preocupação com o futuro acompanha o conhecimento científico, inclusive o das Ciências Sociais. Projeções e diagnósticos sobre o futuro integram o rol de assuntos e pesquisas. Desde meados do século XIX, a Sociologia se consolida como ciência, e o futuro deixa de ser fruto dos desígnios do divino e do sagrado e passa a ser algo de escolha e responsabilidade dos seres humanos. Também o futuro passa a ser entendido menos como continuação do passado e mais como resultado das escolhas do presente.

A Sociologia do futuro é um campo de investigação em construção. Por um lado, há uma difusão intensa da ideia de um futuro tecnológico; por outro, há uma negligência com o futuro social. Assim, o que tem sido configurado é uma imprecisão quanto ao futuro das pessoas diante de inúmeros recursos tecnológicos à disposição.

Ulrich Beck, na obra Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade, publicada em 2011, faz a afirmação do trecho a seguir.

Acaba surgindo, portanto, precisamente na negação e na desconsideração, a comunhão objetiva de uma situação de perigo global. Por trás da pluralidade de interesses, está iminente e cresce a concretude do risco, que já não respeita qualquer diferença ou fronteira social e nacional. Por trás dos muros da indiferença, grassa o perigo. Isto obviamente não significa que, em decorrência dos crescentes riscos civilizacionais, brote a harmonia. É justamente ao lidar com os riscos que se origina uma multiplicidade de novos conflitos e diferenciações. Estes não se atêm mais ao esquema da sociedade de classes. Eles surgem sobretudo da ambivalência dos riscos na sociedade de mercado desenvolvida: os riscos não são nesse caso apenas riscos, são também oportunidades de mercado . É precisamente com o avanço da sociedade de risco que se desenvolvem como decorrência as oposições entre aqueles que são afetados pelos ricos e aqueles que lucram com eles. Da mesma forma, aumenta a importância social e política do conhecimento, e consequentemente do acesso aos meios de forjar o conhecimento (ciência e pesquisa) e disseminá-lo (meios de comunicação de massa). A sociedade do risco é, nesse sentido, também a sociedade da ciência, da mídia e da informação . Nela, escancaram-se assim novas oposições entre aqueles que produzem definições de risco e aqueles que as consomem .

Saiba mais

Essas tensões, entre subtração do risco e comércio, produção e consumo de definições de risco, atravessam todos os âmbitos da atuação social. Encontram-se aí as origens primárias das ‘ disputas definitórias’ em torno da extensão, do grau e da urgência dos riscos

BECK, Ulrich. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. Tradução: Sebastião Nascimento. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2011. p. 56.

De acordo com Ulrich Beck, a produção social da riqueza traz novos tipos de riscos e problemas, muitas vezes não previstos. É esse o caso das mudanças climáticas. As marcas e os efeitos das mudanças climáticas estão presentes ao redor do mundo. A Amazônia é uma das regiões mais afetadas, enfrentando condições climáticas extremas e um aumento no número de incêndios. Em 2024, o Rio Negro, que passa pela cidade de Manaus, registrou uma baixa histórica no nível da água. Com isso, muitas comunidades ficaram isoladas e enfrentaram dificuldades de acesso à água potável. Essa situação provocou a necessidade de ações conjuntas dos governos federal e estaduais, além de diversos órgãos governamentais e organizações da sociedade civil, para mitigar os efeitos. Uma das ações da Defesa Civil e do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) foi a dragagem dos rios, que envolve a limpeza, desobstrução e remoção de sedimentos do fundo de grandes reservatórios de água.

Seca do Rio Negro, na comunidade

Marina do Davi, em Manaus (AM), 2023.

O impacto da mudança climática tem provocado a criação de inúmeras investigações sobre os cenários futuros, como é o caso da Climate Change and the River Weser (Mudanças climáticas e o Rio Weser, em tradução livre), conhecida como KLIMU. Trata-se de um projeto de larga escala, voltado para o efeito das mudanças climáticas sobre o Estuário Weser, na Alemanha. Custeado por agências governamentais da Alemanha, envolve dezenas de pesquisadores de diversas áreas, como Climatologia, Agricultura, Ciências do Solo, Economia e Sociologia. Uma das propostas é desenvolver modelos de previsão das mudanças e estabelecer cenários possíveis e prováveis até 2050.

Weser, Bremen (Alemanha), 2018.

ATIVIDADE

A Sociologia do futuro é um campo de pesquisa em construção. Uma de suas abordagens é a pesquisa sociológica sobre futuros relacionadas ao contexto do debate público. A Sociologia interfere nas agendas públicas na medida em que aponta para futuros alternativos.

A seguir, um trecho do texto do sociólogo estadunidense Markus S. Schulz, sobre o campo de pesquisa da Sociologia do futuro, dando ênfase para projetos sobre mudanças climáticas.

O […] exemplo é um projeto de pesquisa interdisciplinar sobre a mudança climática, chamado de KLIMU. Este projeto de larga escala foi bancado por diferentes agências dos governos federal e estadual alemães com foco no impacto a longo prazo sobre o Estuário Weser, na região costeira do noroeste alemão […]. Dezenas de pesquisadores de disciplinas como climatologia, oceanografia, ciências do solo, agricultura, negócios, economia e sociologia trabalharam juntos […]. O modelo permitiu comparações entre os custos para abandonar áreas propensas a inundação e para a construção de grandes diques, assim como o que os contribuintes poderiam poupar caso o efeito estufa, com suas mudanças climáticas resultantes, fosse evitado. […] Este projeto piloto focalizava a região costeira alemã, mas permitia comparações com outras regiões, incluindo aquelas com maior propensão a serem afetadas mais fortemente por mudanças climáticas.

[…] Para que os governos se mostrem mais dispostos a negociar tratados que busquem mitigar as mudanças climáticas, é preciso que haja uma pressão popular que só poderá surgir a partir de debates voltados para futuros a longo prazo.

SCHULZ, Markus S. Debatendo futuros: tendências globais, visões alternativas e discurso público. Tradução: Alexandre Pinheiro Ramos. Sociologia & Antropologia, Rio de Janeiro, v. 4, p. 71-95, jun. 2014. p. 80-81. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sant/a/ XNz6rRBVG6wwvtQJm88JcdC/?format=pdf&lang=pt Acesso em: 21 out. 2024.

• Com base no texto apresentado e em seus conhecimentos, explique como a Sociologia, no futuro, poderá auxiliar na atenuação dos efeitos das mudanças climáticas. A Sociologia pode ajudar a antecipar soluções para possíveis desastres ambientais na cidade ou no estado em que você vive?

GMBH/ALAMY/FOTOARENA NÃO ESCREVA NO LIVRO. Consulte orientações no Manual do Professor. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante reflita sobre os efeitos das mudanças climáticas no seu entorno a partir da Sociologia.

Estuário

RECAPITULE

Neste capítulo, tratamos dos anseios sobre o futuro. O afrofuturismo projeta um futuro que contemple as imagens e as referências estéticas e a memória das culturas africanas, além do imaginário futurista tradicional.

Nas referências do afrofuturismo, são incorporados aspectos religiosos e espirituais. Mas isso não ocorre somente nas culturas africanas. Em diversas sociedades, as religiões trazem aspectos relevantes de coesão social e perspectiva de futuro melhor.

Além disso, refletimos sobre como evitar a intolerância religiosa e aprendemos que práticas coletivas também surgem como perspectivas de futuro para o planeta.

Por fim, tratamos da Sociologia do futuro, um campo de investigação em construção. Afinal, o mundo está em construção, e o futuro, seja pessoal, seja coletivo ou planetário, será moldado pelas escolhas do presente, e a Sociologia faz parte desse movimento.

ATIVIDADES FINAIS

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Sob a orientação do professor, leia o trecho de texto a seguir e responda ao que se pede.

A relação da sociologia com o debate público pode se beneficiar de uma perspectiva voltada para o futuro que não se abstém de atacar os grandes desafios do presente. O futuro não está apenas acontecendo, ele é feito e existem escolhas. Investigações sobre a construção social de futuros podem fazer a sociologia ser mais relevante. A pesquisa sobre futuros investiga tendências atuais para futuros possíveis e prováveis e, ao avaliar suas implicações sociais, [contribuiu] para identificar aqueles que são desejáveis. […] Ela é capaz de suprir os debates públicos com informações importantes acerca de tendências atuais, advertências sobre perigos iminentes e contribuir para a inclusão nas agendas de questões até então negligenciadas.

SCHULZ, Markus S. Debatendo futuros: tendências globais, visões alternativas e discurso público. Tradução: Alexandre Pinheiro Ramos. Sociologia & Antropologia, Rio de Janeiro, v. 4, p. 71-95, jun. 2014. p. 87. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sant/a/ XNz6rRBVG6wwvtQJm88JcdC/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 21 out. 2024.

• Em que medida a Sociologia ajuda você a pensar em seus sonhos pessoais e nos seus sonhos coletivos e para a sociedade?

2. (UECE – 2024)

Peter Berger, sociólogo austríaco, sugere que a relação entre modernidade e religião não levou as sociedades modernas a uma secularização ou a um mundo não influenciado por crenças religiosas, mas deu vazão à pluralidade de discursos e visões de mundo de cunho religioso. E isto, em consequência, pode promover a coexistência entre variadas crenças e diversas orientações morais nas sociedades contemporâneas. Berger, todavia, reconhece a existência de esferas institucionais modernas que podem funcionar sem interferências das religiões, como as transações econômicas e as relações burocráticas no âmbito do estado, porém, não obstante, isto não trouxe um enfraquecimento da religião, mas apenas maneiras diferentes das pessoas se relacionarem com suas crenças. As pessoas podem ser religiosas e, ao mesmo tempo, agirem de modo eficaz em esferas institucionais e em atividades que demandam condutas que preservem certa laicidade. Por exemplo, os participantes de uma transação comercial podem tratar com irrelevância o que cada um pode professar como crença e fé.

(BERGER, Peter. Os múltiplos altares da modernidade: rumo a um paradigma da religião numa época pluralista. Petrópolis: Vozes, 2017.)

1. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante considere como positivos e construtivos, em seus percursos pessoais e como cidadão, as reflexões e os aprendizados da Sociologia.

NÃO ESCREVA NO LIVRO.

Partindo do exposto, atente para as afirmações a seguir e [em seu caderno] assinale com V o que for verdadeiro e com F o que for falso.

( ) A secularização afirmou o expurgo da crença religiosa em amplos setores da vida social moderna.

( ) O declínio das religiões nas sociedades modernas ocorreu exclusivamente na ordem econômica.

( ) A modernidade é marcada pela coexistência entre a secularização e diferentes religiosidades.

( ) O pluralismo da modernidade possibilita uma convivência tolerável entre grupos religiosos diferentes.

A sequência correta, de cima para baixo, é:

a) V, V, F, F.

b) V, F, F, F.

c) F, V, V, V.

d) F, F, V, V.

3. (UEL – 2016) Observe as imagens a seguir e responda.

Peter Bruegel, O Velho – “Pequena”

Torre de Babel 60,0 × 74,5 cm, óleo sobre tela, 1563.

Cildo Meireles, Babel, instalação, 2001-2006.

A Torre de Babel é uma das várias narrativas de cunho mágico-religioso sobre o mundo, os homens e a existência de diferentes línguas e culturas. Por analogia, pode-se considerar o mundo como uma “Babel de Culturas”.

Com base nos conhecimentos socioantropológicos sobre diversidade cultural, assinale a alternativa correta.

a) A existência de diversos modos de vida humana provoca o conflito, o que, na contemporaneidade, impossibilita o contato e a convivência entre culturas particularistas e universalistas.

b) As culturas podem manter relações de conflito, tolerância ou aceitação, de acordo com a historicidade de cada sociedade e com a forma como determinada cultura dominante se impôs ou foi imposta.

c) As diferentes culturas são realidades harmônicas, desvinculadas do passado e das ações dos homens sobre a natureza, com o propósito de resolver os impasses provocados pela herança multicultural.

d) As sociedades formadas por mosaicos culturais mantêm um princípio de estabilidade permanente dos valores e normas, que resulta na eliminação das tradições e dos laços comunitários.

e) Os diferentes sistemas culturais provocam a estabilidade das identidades dos povos, com a fixação das fronteiras entre aqueles considerados como “nós” e “eles”, “eu” e “outro”.

UEL, 2016
UEL, 2016

4. (UEG-GO – 2023) A saga de filmes Jogos Vorazes, inspirada nos livros de Suzanne Collins, retrata uma sociedade distópica dividida entre distritos que são controlados pela Capital. Uma vez por ano são selecionados dois indivíduos de cada distrito para participarem dos Jogos Vorazes, um festival de violência em que apenas um participante permanece vivo. A saga tematiza a desigualdade social e aborda também, entre outros temas, a manipulação da sociedade por parte dos detentores do poder.

Disponível em: https://internacionaldaama zoniacom.files.wordpress.com/2021/04/ hungergames.jpg. Acesso em: 18 abr. 2023.

O pensador Karl Marx, considerado um dos autores clássicos da Sociologia, desenvolveu sua teoria enfatizando a desigualdade social inerente ao modo de produção capitalista, em que a burguesia obtém lucro a partir da exploração do trabalho da classe trabalhadora. Interpretando a saga Jogos Vorazes como uma metáfora da sociedade capitalista conceituada por Karl Marx, verifica-se que a) o governo da capital sobre os distritos de Jogos Vorazes expressa o estabelecimento da equidade entre as classes sociais.

b) as desigualdades entre os distritos e a capital de Jogos Vorazes são necessárias para o funcionamento da sociedade.

c) as atividades produtivas entre os distritos de Jogos Vorazes expressam o Socialismo Utópico, reforçando a igualdade de oportunidades.

d) as festividades ocorridas durante os Jogos Vorazes expressam a manipulação da capital pelos distritos, que uma vez por ano saem vencedores.

e) a dominação da capital sobre os distritos de Jogos Vorazes expressa a desigualdade social, em que os trabalhadores são explorados.

Em 1966, surge nos quadrinhos, junto ao “Quarteto Fantástico”.

Em 2018, é o herói em filme de ficção científica.

huffpostbrasil.com/pt.wikipedia.org

Com mais de cinquenta anos de existência, o personagem “Pantera Negra” esteve associado a debates sobre as condições de vida de populações afrodescendentes na sociedade norte-americana.

Tendo em vista as transformações ocorridas entre a década de 1960 e o momento atual, a comparação entre as imagens aponta para a seguinte mudança acerca do protagonismo afrodescendente:

a) equiparação do poder aquisitivo

b) fortalecimento da inclusão social

c) reconhecimento dos direitos civis

d) homogeneização das diferenças raciais

5. (UERJ – 2019)

REFERÊNCIAS COMENTADAS

DIGITAIS

ANTUNES, Ricardo. Uberização nos leva para a servidão, diz pesquisador. [Entrevista cedida a] Heitor Peixoto. Congresso em Foco, Brasília, DF, 25 jul. 2019. Disponível em: https://congressoemfoco.uol.com.br/ area/mundo-cat/uberizacao-nos-leva-para-a-servidao-diz-pesquisador/. Acesso em: 10 out. 2024.

Texto que analisa como o fenômeno da uberização afetou o mercado de trabalho.

ANUÁRIO BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA 2024. São Paulo: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2024. Disponível em: https:// publicacoes.forumseguranca.org.br/handle/123456789/253. Acesso em: 10 out. 2024.

Nesse trabalho, podem-se encontrar informações fornecidas pelas secretarias de segurança pública estaduais, pelas polícias civis, militares e federal, entre outras fontes oficiais da Segurança Pública, que possibilitam identificar as violências e avaliar políticas públicas de segurança.

ATLAS DAS JUVENTUDES. [S. l., 2021]. Site. Disponível em: https:// atlasdasjuventudes.com.br/. Acesso em: 10 out. 2024.

A página apresenta os resultados da pesquisa feita pela Fundação Getulio Vargas, divulgada em 2023, sobre as juventudes brasileiras. Com textos e infográficos, mostra a realidade dos jovens do país a partir de temas como cultura, esporte, violência, religião e mercado de trabalho.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2024]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicao.htm. Acesso em: 16 set. 2024.

Na Constituição Federal de 1988 estão contidas as leis que organizam o estado democrático de direito, os direitos e deveres dos cidadãos, os limites e atribuições dos poderes da República, entre outras atribuições.

BRASIL. Decreto-lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Brasília, DF: Presidência da República, [2024]. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 10 out. 2024.

Trata-se de um compilado de todas as leis e penalizações referentes a atos que o Estado brasileiro considera infrações penais.

BRASIL. Decreto no 6.040, de 7 de fevereiro de 2007. Institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. Brasília, DF: Presidência da República, 2007. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20072010/2007/Decreto/D6040.htm. Acesso em: 7 set. 2024.

Documento que criou a política nacional para povos e comunidades tradicionais, inclusive delimitando quais comunidades podem ser classificadas dessa forma. O texto é um marco importante no avanço do país em relação à proteção de grupos pertencentes a comunidades tradicionais.

BRASIL. Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2024]. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 10 out. 2024. Esse estatuto estabelece os direitos e deveres das crianças e dos adolescentes, com o intuito de dar-lhes proteção integral à medida que considera suas vulnerabilidades.

BRASIL. Lei no 12.852, de 5 de agosto de 2013. Institui o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude – SINAJUVE. Brasília, DF: Presidência da República, 2013. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/ 2013/lei/l12852.htm. Acesso em: 10 out. 2024.

Documento que institui o Estatuto da Juventude, reunindo diretrizes para a proteção e o pleno desenvolvimento dos jovens brasileiros.

BRASIL. Lei no 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, [2018]. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm. Acesso em: 10 out. 2024.

Lei que regulamenta os usos da internet no Brasil com direitos e deveres dos usuários, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas.

CAFÉ da manhã: a geração Z e o valor do trabalho. Entrevistados: Bruno Imaizumi e Maíra Blasi. Entrevistadores: Gabriela Mayer e Gustavo Simon. [S. l.]: Spotify, 27 set. 2024. Podcast. Disponível em: https:// open.spotify.com/episode/3qwKv79RMcGQfTeVcegTnZ?go=1&sp_ cid=e6dc4b4bdb505628033a8f0f5be561a5&utm_source=embed_ player_p&utm_medium=desktop&nd=1&dlsi=83407cbeffe344dd . Acesso em: 10 out. 2024.

O episódio aborda as peculiaridades da chamada geração Z em relação ao trabalho, mapeando tendências nacionais e mundiais. Reflete sobre as diferenças em relação às gerações anteriores e mostra os desafios e perspectivas para os jovens da atualidade.

CARDOSO, Antonio Manoel Bandeira. A Magna Carta: conceituação e antecedentes. Revista de Informação Legislativa, Brasília, DF, ano 23, n.91, p. 135-140, jul./set. 1986. Disponível em: https://www2.senado. leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/182020/000113791.pdf. Acesso em: 19 set. 2024.

Nesse artigo, o autor apresenta uma breve história da primeira ideia de Constituição e o contexto em que ela surge.

CARNEIRO, Sueli. Enegrecer o feminismo: a situação da mulher negra na América Latina a partir de uma perspectiva de gênero. [São Paulo]: Portal Geledés, 2011. Disponível em: https://www.geledes.org.br/ enegrecer-o-feminismo-situacao-da-mulher-negra-na-america-latina-partir-de-uma-perspectiva-de-genero/. Acesso em: 10 out. 2024. Texto da filósofa e ativista brasileira, no qual ela reflete sobre as particularidades da luta feminista entre mulheres negras. Carneiro apresenta argumentos alinhados à perspectiva interseccional.

CERQUEIRA, Daniel; BUENO, Samira (coord.). Atlas da violência 2024 Brasília, DF: Ipea: FBSP, 2024. Disponível em: https://www.ipea.gov. br/atlasviolencia/arquivos/artigos/7868-atlas-violencia-2024-v11. pdf. Acesso em: 10 out. 2024

Relatório do Atlas da Violência, resultado de pesquisa feita periodicamente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com importantes dados sobre a violência no Brasil. O documento aborda como a violência atinge diferentes grupos e segmentos sociais e o modo como ela é percebida pela população.

CERTEZA, Leandra Migotto. O que é capacitismo? AzMina, [s. l.], 14 nov. 2019. Disponível em: https://azmina.com.br/colunas/o-que-e-capacitismo/. Acesso: 10 out. 2024.

Nesse artigo, a jornalista define capacitismo e cita pesquisadoras e gestoras públicas que se debruçam sobre o tema.

COGGIOLA, Osvaldo. Os inícios das organizações dos trabalhadores. Revista Aurora, Marília, v. 3, n. 2, p. 11-20, 2010. Disponível em: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/aurora/article/ view/1227. Acesso em: 10 out. 2024.

O artigo oferece uma visão histórica dos primeiros movimentos trabalhistas, fundamentais para a formação de movimentos sociais de classe. Ele contextualiza o surgimento dessas lutas, conectando a mobilização por direitos sociais e trabalhistas às bases de muitos movimentos modernos.

DAMATTA, Roberto. A direção do Brasil. [Entrevista cedida a] Ricardo Calil. Trip, [São Paulo], 8 set. 2010. Disponível em: https://revistatrip. uol.com.br/trip/roberto-da-matta. Acesso em: 10 out. 2024.

Nessa entrevista, o antropólogo fala sobre sua pesquisa sobre o comportamento dos brasileiros no trânsito. A partir disso, reflete sobre o modo como a cidadania é praticada no país e estabelece relações entre o trânsito e outros aspectos da cultura nacional.

DAMATTA, Roberto. Você tem cultura? São Paulo: USP e-Disciplinas, [2006]. Artigo publicado originalmente no Jornal da Embratel, Rio de Janeiro, 1981. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/ pluginfile.php/877886/mod_resource/content/1/2_MATTA_Voc%C3%AA%20tem%20cultura.pdf. Acesso em: 10 out. 2024. O autor apresenta o conceito de cultura sob uma perspectiva antropológica, Com base nesse conceito, aponta a cultura como um fator que incentiva a consciência de nós mesmos e de diferentes sociedades.

FRASER, Nancy. Reconhecimento sem ética? Lua Nova, São Paulo, n. 70, p. 101-138, 2007. Disponível em: https://cursosextensao.usp. br/pluginfile.php/810679/mod_resource/content/2/Reconhecimento%20sem%20%C3%A9tica%3F.pdf. Acesso em: 10 out. 2024.

O texto faz uma análise crítica dos movimentos sociais marcadamente identitários que lutam mais pelo reconhecimento e nem tanto pela distribuição da riqueza produzida socialmente, deixando de lado a luta contra a pobreza e perdendo o equilíbrio entre esses aspectos.

GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje, São Paulo, p. 223-244, 1984. Apresentado no IV Encontro Anual da Associação Brasileira de Pós-Graduação e Pesquisa nas Ciências Sociais, em 1980. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/7395422/mod_resource/content/1/ GONZALES%2C%20L%C3%A9lia%20-%20Racismo_e_Sexismo_na_ Cultura_Brasileira%20%281%29.pdf. Acesso em: 10 out. 2024.

Ao fazer uma análise interseccional entre racismo e sexismo, a autora analisa como mulheres são estereotipadas socialmente na dialética entre a consciência e a memória.

IBGE. Coordenação de Geografia. População em áreas de risco no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2018. Disponível em: https://biblioteca.ibge. gov.br/visualizacao/livros/liv101589.pdf. Acesso em: 10 out. 2024.

Esse artigo apresenta dados sobre a população em áreas de risco no Brasil até o ano de 2018.

IBGE. PNAD Contínua: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. Rio de Janeiro: IBGE, [2024]. Disponível em: https://www. ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/17270-pnad-continua.html. Acesso em: 10 out. 2024.

Reúne dados atualizados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Oferece um panorama sobre a população brasileira, centrado em temas como mercado de trabalho, educação e índices socioeconômicos.

INSTITUTO UPDATE. Emergência política: periferias. São Paulo: Instituto Update, 2018. Disponível em: https://www.institutoupdate.org. br/elemento/emergencia-politica-periferias. Acesso em: 10 out. 2010.

A publicação aborda o crescimento dos movimentos sociais nas periferias, trazendo uma visão contemporânea sobre como grupos marginalizados estão se organizando politicamente. Essa referência destaca a emergência de novos atores e novas formas de participação política, especialmente no contexto urbano periférico.

KILOMBA, Grada. O barco. In: PEIXOTO, Mariana. Mostra de Grada Kilomba em Inhotim expõe a arqueologia da vergonha. Estado de Minas, Belo Horizonte, 14 abr. 2024. Disponível em: https://www.em.com. br/cultura/2024/04/6837538-mostra-de-grada-kilomba-em-inhotim -expoe-a-arqueologia-da-vergonha.html. Acesso em: 10 out. 2024. Nessa reportagem a jornalista aborda a exposição de Grada Kilomba, com a obra O barco, no Instituto Inhotim, em Brumadinho (MG).

LIMA, Artema; FANZERES, Andreia; ALCÂNTARA, Lívia (org.). Mudança climática e a percepção indígena. 2. ed. Cuiabá: Opan, 2018. E-book. Disponível em: https://redejuruenavivo.org.br/documento/mudan ca-climatica-e-a-percepcao-indigena-2aed/. Acesso em: 10 out. 2024. O livro aborda o impacto das mudanças climáticas sobre os povos indígenas. Para isso, reúne depoimentos de representantes de diferentes etnias, que apontam caminhos para uma maior participação das comunidades tradicionais na discussão pública sobre a crise ambiental.

NAZAR, Susanna. Brasileiros passam em média 56% do dia em frente às telas de smartphones e computadores. Jornal da USP, Ribeirão Preto, 29 jun. 2023. Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/ brasileiros-passam-em-media-56-do-dia-em-frente-as-telas-de-smartfones-computadores/. Acesso em: 10 out. 2024.

Nesse artigo, a autora apresenta uma pesquisa sobre o tempo de permanência dos brasileiros diante das telas.

NELSON, Alondra. Introdução a ‘future text’. Revista Ponto Virgulina: edição temática #1: afrofuturismo, [s. l.], p. 66-91, 2020. Disponível em: https://traducaoliteraria.wordpress.com/wp-content/ uploads/2020/06/ponto-virgulina-1-afrofurismo.pdf. Acesso em: 10 out. 2024.

Artigo fundamental para conhecer a origem do afrofuturismo, a habilidade de imaginar o futuro misturando ficção científica e ancestralidade, tecnologia e negritude como formas de luta.

PLURALITY: the future of collaborative technology and democracy. [S. l.], 2024. Site. Disponível em: https://www.plurality.net/. Acesso em: 10 out. 2024.

O site dá acesso gratuito à obra Plurality, de Audrey Tang e seus colaboradores, arquitetos da democracia digital em Taiwan, que alcançaram um crescimento inclusivo e alimentado pela tecnologia, aproveitando as ferramentas digitais para fortalecer tanto a unidade social quanto a diversidade.

PORTAL GELEDÉS. [S. l.], c1997-2023. Site. Disponível em: https:// www.geledes.org.br/. Acesso em: 10 out. 2024.

Criado em 30 de abril de 1988, o portal, mantido pelo Geledés Instituto da Mulher Negra, disponibiliza textos contra o racismo e o sexismo, bem como pela valorização e promoção das mulheres negras e da comunidade negra em geral.

SCHULZ, Markus S. Debatendo futuros: tendências globais, visões alternativas e discurso público. Tradução: Alexandre Pinheiro Ramos. Sociologia & Antropologia, Rio de Janeiro, v. 4, p. 71-95, jun. 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sant/a/XNz6rRBVG6wwvtQJ m88JcdC/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 7 out. 2010.

Nesse artigo, Markus S. Schulz oferece uma reflexão sobre como os discursos públicos moldam as visões de futuro. Ele analisa tendências globais e alternativas de futuro, abordando o papel do imaginário social na construção de novos horizontes. O trabalho de Schulz é essencial para pensar a importância de visões alternativas e inclusivas, especialmente em relação a culturas marginalizadas. UNESCO. Educação para a cidadania global: preparando alunos para os desafios do século XXI. Brasília, DF: Unesco, 2015. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000234311. Acesso em: 1 nov. 2024.

Obra de referência da Unesco com artigos sobre temas da cidadania global, voltada para ensino de jovens.

UNICEF BRASIL. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Brasília, DF: Unicef Brasil, [202-]. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/ declaracao-universal-dos-direitos-humanos. Acesso em: 10 out. 2024.

Documento que institui a atual noção de direitos humanos, usado como referência na maioria dos países. Tem fundamental importância histórica para a compreensão de acordos internacionais e de documentos que pautam políticas públicas no Brasil.

VIBES em análise: conflitos do masculino. Entrevistado: Lucas Bulamah. Entrevistadores: André Alves e Lucas Liedke. [S. l.]: Spotify, nov. 2023. Podcast. Disponível em: https://open.spotify.com/episode/33A00QaSmah9CmK7mRryWl. Acesso em: 10 out. 2024. Conduzido por dois psicanalistas, o episódio reflete sobre o lugar do masculino e da masculinidade nos tempos atuais, marcado pelo crescimento do feminismo e das críticas às desigualdades de gênero. WARIU, Cristian. Cristian Wariu: um guerreiro indígena do século XXI. [Entrevista cedida a] Dandara Fonseca. Trip, [São Paulo], 17 out. 2020. Disponível em: https://revistatrip.uol.com.br/trip/cristian-wariu-um-guerreiro-indigena-do-seculo-xxi. Acesso em: 15 ago. 2024. Entrevista com o youtuber xavante Cristian Wariu, na qual ele fala sobre os desafios de ser um ativista indígena nas redes sociais. Sua reflexão mostra como o ativismo dos povos originários pode assumir diferentes formas, e a importância do protagonismo dos jovens na busca por um mundo mais justo e igualitário.

IMPRESSAS

ABRANCHES, Sérgio. Presidencialismo de coalizão: raízes e evolução do modelo político brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. A obra traz importante reflexão e avaliação do modelo de presidencialismo construído historicamente no Brasil. Retoma as origens da combinação entre democracia e poder oligárquico.

ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Temas básicos da sociologia. Tradução: Álvaro Cabral. 2. ed. São Paulo: Editora Cultrix, 1956.

Nesse livro, os autores problematizam diversos temas da Sociologia, como o conceito de sociologia, a sociedade, o indivíduo, o grupo etc.

ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. Tradução: Sérgio Bath. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

Nessa obra, o autor versa sobre os autores clássicos da Sociologia, apresentando os conceitos e teorias.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Tradução: Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

Nesse livro, o autor define os conceitos da modernidade líquida.

BAUMAN, Zygmunt. Vida líquida. Tradução: Carlos Alberto Medeiros. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2021.

Nesse livro, o autor versa sobre como é a vida na modernidade líquida.

BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo. Tradução: Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

Bauman reflete sobre o fenômeno do consumo nas sociedades contemporâneas. O autor defende a ideia de que, em tempos de redes sociais, as pessoas vêm se transformando em mercadorias, provocando forte impacto sobre o processo de construção de identidades.

BECK, Ulrich. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. Tradução: Sebastião Nascimento. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2011.

Ulrich Beck explora como a sociedade moderna lida com riscos globais, como a degradação ambiental, a desigualdade social e as crises políticas. Sua análise é valiosa para refletirmos sobre como as decisões do presente moldam futuros possíveis.

BENTO, Cida. O pacto da branquitude. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

Nesse livro, a autora explica o que é a branquidade no Brasil e como se constitui seu funcionamento.

BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade: para uma teoria geral da política. Tradução: Marcos Aurélio Nogueira. 14. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007. (Coleção Pensamento crítico, v. 69).

A obra de Bobbio é clássica para se pensar o estado democrático de direito e a crise contemporânea e buscar soluções para o convívio social, por meio da reforma do Estado e de mudanças do próprio fazer político.

BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. Tradução: Marcia Celeste Cordeiro Leite dos Santos. Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília, 1995.

Nessa obra, o autor versa sobre as características e peculiaridades do ordenamento jurídico e explica que as normas jurídicas não existem sozinhas e isoladas.

BRUNO, Fernanda et al. (org.). Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. Tradução: Heloísa Cardoso Mourão. São Paulo: Boitempo, 2018.

A obra é uma coletânea com uma série de análises críticas sobre a contemporaneidade e os processos das tecnopolíticas; há textos de autores nacionais, frutos de pesquisas recentes, e textos consagrados de autores estrangeiros. Centrado no tema da vigilância tecnológica, como o uso de drones, chips, entre outros, e o uso de dados pelo poder público, traz também a perspectiva das tecnorresistências.

CARNEIRO, Édison. Candomblés da Bahia. 9. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2008.

Nesse livro, o autor define um guia metodológico para estudar candomblés da Bahia e nos cultos afro-brasileiros em geral.

CARNEIRO, Sueli. Dispositivo de racialidade: a construção do outro como não ser como fundamento do ser. Rio de Janeiro: Zahar, 2023.

A autora analisa os mecanismos do racismo e as lutas coletivas.

CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Tradução: Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.

A obra é relevante para discutir como a internet transformou a organização e a mobilização dos movimentos sociais. Castells explora o impacto da tecnologia digital nas redes sociais e na capacidade de articulação global, um aspecto central para os movimentos contemporâneos, como o Black Lives Matter.

CHAUI, Marilena. O que é ideologia. 2. ed. rev. ampl. São Paulo: Brasiliense, 2008. (Coleção Primeiros passos, 13).

O livro trabalha o conceito de ideologia a partir de diferentes perspectivas, mostrando sua relevância para a compreensão do mundo social. A autora é uma das mais importantes filósofas brasileiras.

CLARK, Andy. Supersizing the mind: embodiment, action, and cognitive extension. New York: Oxford University Press, 2008.

A obra, referência da filosofia e das ciências da cognição, defende a cognição estendida, a ideia de que a mente humana não está restrita ao cérebro, ou mesmo ao corpo, mas se estende para o ambiente, incluindo o uso de ferramentas e dispositivos externos ao corpo, como um caderno cujos registros funcionam como extensão da memória.

DAHL, Robert A. Poliarquia: participação e oposição. Tradução: Celso Mauro Paciornik. São Paulo: Edusp, 2005.

Nesse livro o autor investiga as condições necessárias para o exercício e a existência da democracia nas nações do Ocidente.

DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. Tradução: Heci Regina Candiani. São Paulo: Boitempo Editorial, 2016.

Obra fundamental do feminismo estadunidense, trata das interseções entre gênero, raça e classe no contexto das lutas por direitos; destaca o papel das mulheres negras na luta antiescravista nos Estados Unidos.

DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. Tradução: Eduardo Brandão. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

Nesse livro, o autor versa sobre a divisão do trabalho nas sociedades modernas como a principal fonte de coesão social na modernidade. ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos. Tradução: Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.

Nesse livro, o autor versa sobre como indivíduos e a sociedade não são entidades distintas, mas interdependentes.

ELIAS, Norbert. Introdução à sociologia. Tradução: Maria Luísa Ribeiro Ferreira. Lisboa: Edições 70, 1970.

Nessa obra, o autor promove reflexões sobre algumas questões sociológicas do século XX.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora Edusp, 2001. Nesse livro, o autor aborda a história do Brasil, do período colonial até 1988.

FONTENELLE, Isleide. Cultura do consumo: fundamentos e formas contemporâneas. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2017.

A autora faz uma reflexão histórica sobre o desenvolvimento da cultura do consumo, mostrando as origens da figura do consumidor. Além disso, analisa como, na atualidade, o consumo impacta quem somos, como nos comportamos e nos relacionamos, constituindo uma das bases da vida social.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução: Raquel Ramalhete. 42. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2014. Nesse livro, o autor realiza um estudo científico sobre a evolução histórica da legislação penal e os métodos coercitivos e punitivos.

FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala. São Paulo: Global Editora, 2006.

O autor enfatiza a formação da sociedade brasileira no contexto da miscigenação entre brancos, negros e os diferentes povos indígenas que habitavam o Brasil.

GIDDENS, Anthony. Sociologia. Tradução: Ronaldo Cataldo Costa. 6. ed. Porto Alegre: Penso, 2012.

Nesse livro, o autor discorre sobre os principais temas, conceitos e teorias de autores clássicos e contemporâneos da Sociologia.

GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.

Nesse livro, organizado por Flávia Rios e Márcia Lima, temos diversos artigos escritos por Lélia Gonzales ao longo da vida.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução: Tomaz Tadeu da Silva, Guacira Lopes Louro. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.

Nessa obra, o autor problematiza a ideia de identidade na modernidade tardia e a crise das identidades.

HARAWAY, Donna. Manifesto ciborgue. In: HARAWAY, Donna; KUNZRU, Hari; TADEU, Tomaz (org. e trad.). Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

O “Manifesto ciborgue” situa-se entre a teoria e a manifestação política, mistura ficção científica e realidade para problematizar as noções de poder; trata de feminismo, socialismo, ciência e tecnologia.

HOBBES, Thomas. Leviatã: ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. Tradução: João Paulo Monteiro, Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

A obra é um clássico do pensamento político e do contratualismo e marco teórico do absolutismo.

HUI, Yuk. Tecnodiversidade. Tradução: Humberto do Amaral. São Paulo: UBU Editora, 2020.

O livro reúne diversos artigos do engenheiro da computação e filósofo chinês. Tendo como contexto a crise ambiental, trata de tecnologia, da pluralidade de cosmotécnicas e tecnologias locais, rompendo com uma visão única e homogênea de tecnologia.

HUNT, Lynn. A invenção dos direitos humanos. Tradução: Rosaura Eichenberg. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

A historiadora panamenha analisa a origem do conceito de direitos humanos, refletindo sobre seus avanços e recuos no decorrer da história. Para isso, baseia-se em três documentos considerados emblemáticos sobre o tema: a Declaração de Independência dos Estados Unidos (1776), a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão,

oriunda da Revolução Francesa (1789), e a Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas (1948).

KOPENAWA, Davi. Urihi a. In: ALBERT, Bruce; KOPENAWA, Davi. O espírito da floresta. Tradução: Rosa Freire d’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

A obra trata da cosmovisão yanomami e denuncia o genocídio dos povos indígenas na Amazônia.

KRENAK, Ailton. A vida não é útil . São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

Nesse livro, o importante pensador e líder indígena Ailton Krenak reflete sobre a atual crise ambiental, mostrando como os saberes dos povos originários podem contribuir com a construção de um mundo mais justo e sustentável.

LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. Tradução: Marie-Agnès Chauvel. São Paulo: Brasiliense, 2003.

Nesse livro, o autor apresenta os conceitos, teorias, autores e escolas antropológicas.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.

O livro é uma introdução ao conceito de cultura, apresentando ao leitor diferentes definições ao longo do tempo. Por meio desse conceito, a obra faz também uma introdução à Antropologia.

LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. Tradução: Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994.

Nesse livro, o autor problematiza a ideia de que o indivíduo e a sociedade contemporânea ocidental são modernos.

LATOUR, Bruno. Reagregando o social: uma introdução à teoria ator-rede. Tradução: Gilson César Cardoso de Sousa. Salvador: Edufba, 2012. Latour apresenta sua teoria ator-rede, fundamental para compreender as interações entre humanos e não humanos na sociedade contemporânea. Essa obra é referência para debates sobre cultura, natureza e o papel das tecnologias na vida cotidiana.

LOCKE, John. Dois tratados sobre o governo civil. Tradução: Miguel Morgado. Lisboa: Edições 70, 2006.

Obra clássica do pensamento liberal, dos direitos naturais do ser humano e da crítica às ideias inatas, defende a tolerância religiosa e a separação entre Estado e Igreja.

MATTOS, Alessandro Nicoli de. O livro urgente da política brasileira: um guia para entender a política e o Estado no Brasil. [S. l.: s. n.], 2016. O autor faz uma descrição com exemplos dos conceitos e termos na política brasileira e, quando necessário para compreender a realidade brasileira, termos da ciência política e exemplos de outros países.

MONTESQUIEU, [Charles-Louis de Secondat]. O espírito das leis. Tradução: Edson Bini. São Paulo: Editora Edipro, 2023.

É a mais importante obra do autor francês, referência do pensamento sobre a organização do Estado, na qual analisa os tipos de governo e os modos de exercício da autoridade pública. Influenciou a Declaração dos Direitos do Homem, na Revolução Francesa, e segue até hoje como referência no pensamento político.

MARTINS, Ana Luiza. História do café. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2012. Nesse livro, a autora narra a história do café no Brasil e no mundo.

MARX, Karl. O 18 de brumário de Luís Bonaparte. Tradução: Nélio Schneider. São Paulo: Boitempo, 2011.

O autor apresenta a metodologia das Ciências Sociais para analisar a história do golpe de Estado na França.

MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia. Tradução: Paulo Neves. 2. ed. São Paulo: Cosac Naify, 2015.

Nesse livro, o autor expressa o pensamento sociológico e o antropológico do século XX, abordando temas como: magia, religião, morte, fenômenos sociais etc.

MEAD, Margaret. A adolescência em Samoa. In: BENEDICT, Ruth; MEAD, Margaret; SAPIR, Edward. Cultura e personalidade. Organização: Celso Castro. Tradução: Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2015.

Texto clássico da importante antropóloga estadunidense, no qual ela narra suas impressões sobre os adolescentes de Samoa. O texto foi um marco nos estudos sobre juventude e gênero ao revelar a importância da cultura em aspectos antes atribuídos apenas a fatores biológicos.

MILLS, Charles Wright. A imaginação sociológica. Tradução: Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1965.

Nessa obra, o autor explica como a Sociologia pode contribuir para que o indivíduo compreenda a influência da sociedade na sua vida, de modo a gerar autonomia.

MONTAIGNE, Michel Eyquem de. Ensaios. Tradução: Sérgio Milliet. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1984. (Os pensadores).

Livro do conhecido humanista francês, no qual ele narra suas experiências. No capítulo “Dos canibais”, o autor discorre sobre os indígenas tupinambás, questionando o fato de muitos europeus classificarem os costumes dos indígenas como bárbaros.

MORIN, Edgar. O método 5: a humanidade da humanidade: a identidade humana. Tradução: Juremir Machado da Silva. Porto Alegre: Editora Sulina, 2007.

Nesse livro, que compõe uma coleção de cinco volumes, o autor pensa as contradições do ser humano.

MOROZOV, Evgeny. Big tech: a ascensão dos dados e a morte da política. Tradução: Claudio Marcondes. São Paulo: UBU Editora, 2018. Nessa reunião de artigos do autor, um dos mais importantes do mundo em tecnologia e em internet, Morozov problematiza o uso das tecnologias, questiona o poder das plataformas tecnológicas e das big techs e o uso que fazem dos dados pessoais. O autor alerta que, a depender do tipo de uso das tecnologias digitais, estas podem ser danosas e contrárias à democracia.

MOURA, Clóvis. Sociologia do negro brasileiro. São Paulo: Editora Perspectiva, 2019.

O autor problematiza a sociologia brasileira, que, de matriz eurocêntrica, considerava o negro como objeto, e não como sujeito.

MUMBUCA, Ana. Ser quilombo. In: SANTOS, Antônio Bispo dos et al. Quatro cantos. São Paulo: N-1 Edições, 2022.

A obra traz, com muita força, a importância da memória e da ancestralidade e a relação com a natureza dos habitantes do Quilombo de Mumbuca, no estado de Tocantins.

MUNANGA, Kabengele. Origens africanas do Brasil contemporâneo: histórias, línguas, culturas e civilizações. São Paulo: Global Editora, 2023. Nesse livro, o autor resgata a história da África antes da exploração a que os africanos foram submetidos durante a colonização.

MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra. Petrópolis: Vozes, 1999.

O autor conceitualiza a mestiçagem a partir de uma análise histórico-social e define a importância e singularidade da mestiçagem na sociedade brasileira.

NASCIMENTO, Beatriz. O negro visto por ele mesmo: ensaios, entrevistas e prosa. Organização: Alex Ratts. São Paulo: UBU Editora, 2022.

A obra apresenta ensaios, entrevistas e outros textos da autora sobre a questão racial no Brasil.

OLIVEIRA, Dennis de. Racismo estrutural: uma perspectiva histórico-crítica. São Paulo: Dandara, 2021. Nesse livro, o autor debate sobre a formação histórico-social brasileira e como o racismo se expressa no capitalismo em um país da periferia global, como o Brasil.

RIBEIRO, João Ubaldo. Política: quem manda, por que manda, como manda. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.

O autor aborda a política brasileira e suas peculiaridades.

RIBEIRO, Renato Janine. Ética e direitos humanos: entrevista com Renato Janine Ribeiro. [Entrevista cedida a] Maria Lúcia Toralles-Pereira e Reinaldo Ayer de Oliveira. Interface, Botucatu, v. 7, n. 12, p. 149-166, 2003. Entrevista com o importante intelectual brasileiro, na qual ele reflete sobre a relação entre ética e direitos humanos. Faz uma análise histórica do conceito de ética e a articula com situações e desafios do mundo contemporâneo.

ROCHA, Everardo P. Guimarães. O que é etnocentrismo. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1988. (Coleção Primeiros passos, 124).

O livro apresenta o conceito de etnocentrismo de modo simples e didático, mostrando sua importância para a compreensão do modo como lidamos com as diferenças. A obra parte de uma perspectiva antropológica, mostrando a relevância desse conceito para esse campo das Ciências Sociais.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social. Tradução: Mário Franco de Souza. Oeiras: Editorial Presença, 2010. (Coleção Livros que mudaram o mundo, v. 8).

Obra clássica do pensamento político, da teoria do estado de direito e da democracia. O livro funda a ideia dos direitos humanos e da igualdade social.

SANTOS, Antônio Bispo dos. A terra dá, a terra quer. São Paulo: UBU, 2023.

A obra traz uma perspectiva positiva sobre o modo de vida quilombola e a cultura oral e apresenta um tom provocador e crítico para o debate decolonial.

SILVA, Kalina; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2020.

Nesse livro, os autores descrevem e definem conceitos e teorias das Ciências Humanas.

TOURAINE, Alain. O retorno do actor: ensaio sobre sociologia. Lisboa: Edições Piaget, 1996.

A obra destaca a ideia de que novas personagens entram na cena das lutas sociais e, além da classe social, surgem temas como cultura, identidade, gênero, ecologia, entre outros.

WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. Tradução: José Marcos Mariani de Macedo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

Nesse livro, o autor investiga a relação existente entre conduta econômica e suas raízes religiosas.

VEIGA, José Eli da. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2006.

O livro aborda os desafios e contradições envolvidos no conceito de desenvolvimento sustentável, apresentando-o a partir de uma perspectiva histórica. O autor analisa a emergência do Antropoceno com base em debates científicos, propondo que a integração entre ciências humanas e naturais é fundamental para que a Terra possa continuar habitável.

WILLIAM, Rodney. Apropriação cultural. São Paulo: Editora Jandaíra, 2019.

Nesse livro, o autor analisa o conceito de apropriação cultural sob a óptica histórico-cultural e retoma o processo de aculturação e aniquilamento dos costumes pelo qual passaram os povos escravizados. ZUBOFF, Shoshana. Lar ou exílio no futuro digital. In: ZUBOFF, Shoshana. A era do capitalismo de vigilância: a luta por um futuro humano na nova fronteira do poder. Tradução: George Schlesinger. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2020.

A obra trata do capitalismo de vigilância e de como os dados dos usuários obtidos pelas postagens em redes sociais são convertidos em mercadorias e negociados. A autora destaca que esse mercado de negociação de comportamentos a partir dos dados que deixamos nas redes inclui um mercado futuro de comportamentos.

ORIENTAÇÕES PARA O PROFESSOR

Apresentação

Caro professor, cara professora,

O mundo contemporâneo atravessa um momento de crise múltipla: epistemológica, cosmológica, educacional, econômica, política, ética, ambiental e demográfica. Em síntese, há uma crise que afeta as estruturas sociais. Os avanços tecnológicos e a produção de conhecimento abriram novos horizontes para a humanidade, mas também criaram desafios complexos. Um exemplo é o impacto das transformações provocadas pelo ser humano no meio ambiente, o que desafia as sociedades a estabelecer relações mais justas, dignas e solidárias, que possam servir de legados às próximas gerações.

Entre os caminhos possíveis para enfrentar os desafios, destaca-se o diálogo entre diferentes saberes. Nesse contexto, é necessário reconhecer que os atores sociais são simultaneamente sujeito e objeto das transformações que buscam compreender e promover.

Esta coleção oferece diversas oportunidades para que os estudantes conectem suas vivências e saberes com os conhecimentos das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. O objetivo é incentivá-los a refletir sobre teorias, conceitos e métodos clássicos, relacionando-os a outras percepções sobre temas clássicos das ciências sociais, considerando a diversidade de sujeitos históricos e sociais que se constituíram em resistência.

Em diversos capítulos, os estudantes são convidados a desenvolver práticas de pesquisa, produzindo conhecimento a partir dos próprios interesses e necessidades, tornando-os protagonistas do processo de aprendizagem. Assim, eles aplicam na realidade os conhecimentos das ciências sociais, valorizando uma abordagem interdisciplinar que se estende também a outras áreas do conhecimento.

Nesse processo, o professor atua como mediador, auxiliando os estudantes a relacionar os temas e os conceitos trabalhados à realidade local de suas comunidades, construindo significados e sentidos junto a eles. Dessa maneira, coletivamente, é possível propor soluções para as crises contemporâneas promovendo a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Os autores

Um mundo em transformação 355

Educação para o século XXI 355

Brasil: o mundo mudou.

E as nossas escolas? 356

Mudanças educacionais no Brasil ...................... 356

O Novo Ensino Médio e a BNCC 357

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) 357

As juventudes contemporâneas 359

Pressupostos teórico-metodológicos

Interdisciplinaridade

ativas

Os processos de avaliação

Avaliar para quê?

Principais modelos de avaliação 367

Abordagem teórico-metodológica

Um breve histórico do ensino de Sociologia no Brasil 369

Por que estudar Sociologia é importante? 370

Principais fundamentos teórico-metodológicos 371

Eixos temáticos da coleção 373

Práticas de pesquisa 373

Referências comentadas 377

Recursos e estratégias didáticas

Organização das seções de textos e atividades

Sugestões de cronogramas

Orientações didáticas específicas

CAPÍTULO 1 Indivíduo e sociedade

CAPÍTULO 2 Cultura, etnocentrismo e ideologia

5 Racismo no Brasil

6 Jovens, juventudes e culturas juvenis

7 Uma ciência do social: clássicos e modernos 406

CAPÍTULO 8 Política, democracia e Estado 409

CAPÍTULO 9 Democracia, cidadania e direitos humanos 412

CAPÍTULO 10 Legislação, Estado e

12 Necropolítica, miscigenação e resistência negra

13 Sexualidade e diversidade de gênero

CAPÍTULO 14 Trabalho, direitos e desigualdades

15 Sociedade e vigilância tecnológica

18 Entre crenças e práticas sociais: anseios para o futuro

TRANSCRIÇÕES DOS PODCASTS

– Slam: a poesia da juventude periférica

Um mundo em transformação

Educação para o século XXI

No século XXI, a aceleração das inovações tecnológicas ocorre em intervalos de tempo cada vez mais curtos, acarretando uma série de transformações nos âmbitos político, econômico, social e cultural.

Diante dessas transformações vertiginosas da tecnologia, surgem novos produtos e novas maneiras de produzi-los; profissões são extintas e outras são criadas; alteram-se as formas de comunicação e as relações interpessoais. As instituições também são modificadas para se adequarem à nova realidade. A escola, por exemplo, vê-se diante da necessidade de rever suas práticas na formação dos sujeitos que vivem nesse mundo atual.

Estudantes participam do encontro de lideranças tupinambá e outras etnias de diferentes regiões do país. Rio de Janeiro (RJ), 2024.

A educação contemporânea pressupõe a formação para a vida, no sentido de habilitar o jovem à leitura e à análise crítica da realidade, além de promover o seu desenvolvimento integral nas dimensões física, cognitiva, socioemocional e social. Para atingir esse objetivo, é importante valorizar os conhecimentos prévios e as experiências de vida dos estudantes no processo de ensino-aprendizagem.

O biólogo, psicólogo e filósofo suíço Jean Piaget (18961980) foi um dos pioneiros no estudo do desenvolvimento cognitivo e intelectual e do processo de construção do conhecimento. Embora o foco de Piaget não fosse a educação formal, suas pesquisas serviram de base para que outros estudiosos entendessem que o ponto de partida para a construção de um novo conhecimento é aquilo que o estudante já sabe. Amparado nas pesquisas de Piaget, David Ausubel (1918-2008), psicólogo estadunidense da área educacional, foi um dos primeiros estudiosos a usar o termo “conhecimento prévio”. Para ele, o conjunto de saberes que um estudante traz é extremamente importante para a elaboração de novos conhecimentos e para a garantia de uma aprendizagem significativa1. Sobre a aprendizagem significativa, Farias conclui que, para Ausubel: o sujeito já tem uma história, sendo esta a base para uma aprendizagem significativa. O profissional deve estar atento ao fazer uma intervenção, levando em consideração a formação da estrutura cognitiva do indivíduo, trazendo importantes contribuições para diversas áreas do conhecimento, principalmente, para o campo da Competência em Informação2

Na escola do século XXI, marcada pelo fenômeno da globalização e da sociedade da informação, torna-se urgente a promoção da discussão, da interpretação dos fatos e da análise crítica das informações, além do uso criativo das novas tecnologias para a construção de conhecimentos. Segundo Maria Lúcia de Arruda Aranha:

O problema educacional não está, portanto, apenas em utilizar a tecnologia como instrumento avançado no ensino, acompanhar a sua evolução no mundo do trabalho, ou ainda estabelecer a interação entre a escola e a educação informal dos meios de comunicação de massa, mas questionar como deve ser daqui em diante uma pedagogia que realmente oriente o cidadão para compreender o mundo transformado pela técnica e atuar sobre ele de maneira crítica. Mais ainda, aprender de modo contínuo — tanto o aluno como o professor —, já que essas transformações continuarão ocorrendo de modo vertiginoso.3

1 COSTA JÚNIOR, João Fernando et al. Um olhar pedagógico sobre a Aprendizagem Significativa de David Ausubel. Rebena: Revista Brasileira de Ensino e Aprendizagem, Rio Largo, v. 5, p. 51-68, jan. 2023. p. 51. Disponível em: https://rebena.emnuvens.com.br/revista/article/view/70/66. Acesso em: 25 out. 2024.

2 FARIAS, Gabriela Belmont de. Contributos da aprendizagem significativa de David Ausubel para o desenvolvimento da Competência em Informação. Perspectivas em Ciências da Informação, Belo Horizonte, v. 27, n. 2, p. 58-76, abr./jun. 2022. p. 58-59. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pci/a/ ZSNC6yjPGkG6t5kTQHC3Wxp/. Acesso em: 2 out 2024.

3 ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2006. p. 440-441.

Brasil: o mundo mudou. E as nossas escolas?

No Brasil, após o término da ditadura civil-militar (1964-1985) e o restabelecimento da democracia, algumas conquistas foram alcançadas, entre elas a promulgação da Constituição Federal de 1988, que estabelece a educação como direito de todos e dever do Estado e da família, a fim de garantir o pleno desenvolvimento do indivíduo, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Observe a seguir as principais mudanças educacionais no Brasil com base nessas diretrizes constitucionais.

Mudanças educacionais no Brasil

Acompanhe o percurso das principais leis e diretrizes educacionais da década de 1990 a 2024.

> LDB 1996

1  Após um longo período de debates, foi aprovada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (lei no 9.394/1996), que dispôs sobre os princípios e fins da educação no país, baseados na igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; na liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; no pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; no respeito à liberdade e apreço à tolerância, entre outros princípios.

> PCNs 1997-1998

3  Muitas foram as contribuições da LDB para o avanço das reflexões educacionais no país, entre elas as diretrizes fornecidas para a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais, que deram ênfase à compreensão do processo de aprendizagem do estudante, ao desenvolvimento de competências e habilidades, à formação para o exercício da cidadania e à discussão de temas transversais, como Ética, Pluralidade Cultural, Meio Ambiente, Saúde, Trabalho e Consumo.

2  Desde 1996, o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) prevê a avaliação pedagógica dos livros inscritos no processo de seleção do Ministério da Educação. Essa avaliação toma como base os documentos oficiais da educação do país. O PNLD garantiu a universalização da distribuição do livro didático na rede pública de ensino e a livre escolha dos docentes das obras aprovadas.

4  Um novo modelo de Ensino Médio foi sancionado pela lei no 13.415, de 16 de fevereiro de 2017, que alterou a LDB de 1996. Essa lei determinou o aumento da carga horária mínima, a ampliação das escolas de tempo integral e a possibilidade de todos os estudantes dessa etapa escolar poderem escolher caminhos de aprofundamento dos seus estudos.

6  Em 2018, foram atualizadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM/2018). As DCNEM/2018 trazem orientações e definições para o planejamento dos currículos escolares e para os sistemas de ensino. As DCMs determinam que a proposta pedagógica das unidades escolares deve considerar, entre outros aspectos, o reconhecimento e atendimento da diversidade e das diferentes nuances da desigualdade e da exclusão na sociedade brasileira e a promoção dos direitos humanos mediante a discussão de temas relativos a raça e etnia, religião, gênero, identidade de gênero e orientação sexual, pessoas com deficiência, entre outros, bem como práticas que contribuam para a igualdade e para o enfrentamento de preconceitos, discriminação e violência sob todas as formas.

5  O processo de elaboração da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) durou cerca de quatro anos e, para isso, foram consultadas diversas entidades representativas dos diferentes segmentos envolvidos com a Educação Básica. Em dezembro de 2017, a BNCC da Educação Infantil e do Ensino Fundamental foi normatizada pelo Conselho Nacional de Educação e homologada pelo MEC. A parte referente ao Ensino Médio foi entregue ao CNE em abril de 2018 e aprovada e homologada em dezembro do mesmo ano.

7  Sancionada pelo presidente da República em 31 de julho de 2024, a lei no 14.945/2024 altera a LDB de 1996 e revoga parcialmente a lei no 13.415/2017, que dispõe sobre a reforma do Ensino Médio. Entre as mudanças determinadas pela nova lei, destacam-se: a retomada da carga horária da formação geral básica para 2 400 horas, o fomento à matrícula de ensino técnico no Ensino Médio e a regulamentação dos itinerários formativos.4,5

4 BRASIL. Lei no 14.945, de 31 de julho de 2024. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) […]. Brasília, DF: Presidência da República, [2024]. Disponível em: https://planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2024/lei/l14945.htm. Acesso em: 2 out. 2024

5 BRASIL. Ministério da Educação. Sancionada lei que reestrutura o ensino médio. Brasília, DF: MEC, 1 ago. 2024. Disponível em: https://www.gov.br/mec/ pt-br/assuntos/noticias/2024/agosto/sancionada-lei-que-reestrutura-o-ensino-medio. Acesso em: 2 out. 2024.

> DCNEM 2018 > Reforma do Ensino Médio
> PNLD 1996
> BNCC 2017-2018
EDITORIA DE ARTE

O Novo Ensino Médio e a BNCC

Apesar dos avanços apresentados no infográfico, a educação brasileira ainda enfrenta problemas na atualidade. No Ensino Médio, em particular, há grandes desafios, como garantir uma escola mais atrativa para os jovens, oferecer um ensino de qualidade e combater a evasão escolar6

A evasão escolar é um fenômeno complexo, que afeta milhões de jovens todos os anos. As causas são diversas, incluindo problemas socioeconômicos, inadequação do currículo às realidades dos estudantes, dificuldades de aprendizagem ou de acesso à escola, falta de interesse nos componentes curriculares, entre outros fatores7. Essa situação compromete não apenas o futuro individual dos jovens mas também o desenvolvimento social e econômico do país8.

A implementação do Novo Ensino Médio surge como uma estratégia para tornar essa etapa da educação básica mais atraente e eficaz. O Novo Ensino Médio compreende a formação geral básica, incluindo quatro áreas do conhecimento; a formação técnica e profissional e os itinerários formativos.

Com uma proposta de flexibilização curricular, o Novo Ensino Médio permite que os estudantes escolham itinerários formativos9 que se alinhem aos seus interesses e aspirações educacionais e profissionais. Essa personalização do ensino visa engajar os estudantes, tornando o aprendizado mais relevante e conectado com suas realidades e projeto de vida

Além disso, o Novo Ensino Médio propõe uma maior integração entre os componentes curriculares inseridos nas quatro áreas do conhecimento e o incentivo ao desenvolvimento de competências e habilidades. Com essas mudanças, espera-se reduzir a evasão escolar e garantir que os jovens enxerguem o Ensino Médio não apenas como uma etapa obrigatória, mas como uma oportunidade valiosa para seu futuro. O desafio agora é garantir que essa nova proposta seja efetivamente implementada e que todos os estudantes tenham acesso a uma educação inspiradora e de qualidade.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC)

Um passo importante para concretizar essa proposta foi a aprovação da BNCC do Ensino Médio em 2018, que delimita os direitos e os objetivos de aprendizagem dos estudantes, expressos no desenvolvimento de competências e habilidades 10. A BNCC não é um currículo, mas sim um orientador curricular. Cabe às Unidades da Federação e aos municípios elaborarem seus currículos com base nos princípios e aprendizagens essenciais definidos por ela.

Na BNCC, competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos) e habilidades, como práticas cognitivas e socioemocionais.

O Conselho Nacional de Educação (CNE), responsável por aprovar o texto final em dezembro de 2017, resolveu que, na BNCC, competências e habilidades estão relacionadas aos direitos e objetivos de aprendizagem dos estudantes. O conceito de competência é associado à mobilização de conhecimentos e habilidades indispensáveis para a vida em sociedade. Para isso, foram definidas dez competências gerais, que devem guiar o trabalho em todos os anos e em todas as áreas de conhecimento. Entre as competências listadas na base estão: trabalhar em grupo, aceitar as diferenças, lidar com conflitos e argumentar, entre outras. Quatro das dez competências tratam do desenvolvimento de habilidades socioemocionais. A proposta da base, no entanto, não é ensinar essas competências de forma isolada. Por isso, o professor tem papel fundamental no processo. Cabe a ele encontrar formas para, de maneira intencional e planejada, aliar o aprendizado dos conceitos ao desenvolvimento das competências. Além das competências gerais, cada área e cada componente curricular possuem suas competências específicas. As habilidades dizem respeito às aprendizagens essenciais esperadas para cada área, componente curricular e ano. São sempre

6 BRASIL. Ministério da Educação. Ensino médio tem maior taxa de evasão da educação básica. Agência Gov, Brasília, DF, 22 fev. 2024. Disponível em: https:// agenciagov.ebc.com.br/noticias/202402/ensino-medio-tem-maior-taxa-de-evasao-da-educacao-basica. Acesso em: 2 out. 2024.

7 TAMBARA, Camila Caetano et al. Analisando a evasão escolar no ensino médio: perspectivas e estratégias para transformação. Revista Foco: interdisciplinar studies, v. 17. n. 6, p. 1-21, maio 2024. Disponível em: https://ojs.focopublicacoes.com.br/foco/article/view/5508/3955. Acesso em: 2 out. 2024.

8 EVASÃO escolar no Brasil: causas, consequências e como combater. In: SANTILLANA Educação. São Paulo, 19 jan. 2024. Disponível em: https://www. santillanaeducacao.com.br/blog/evasao-escolar/. Acesso em: 2 out. 2024.

9 BRASIL. Ministério da Educação. O que muda no ensino médio a partir de 2025. Brasília, DF: MEC, 2 ago. 2024. Disponível em: https://www.gov.br/mec/pt-br/ assuntos/noticias/2024/agosto/o-que-muda-no-ensino-medio-a-partir-de-2025. Acesso em: 2 out. 2024.

10 BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília, DF: MEC, 2018. Disponível em: https://www. basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 25 out. 2024.

iniciadas por “verbo(s) que explicita(m) o(s) processo(s) cognitivo(s) envolvido(s)”11. Exemplo de habilidade em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas:

(EM13CHS101) Identificar, analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão de ideias filosóficas e de processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais12.

No Ensino Médio, a BNCC apresenta referências que rompem com a organização curricular centrada exclusivamente em componentes curriculares, dando maior espaço para o trabalho com as áreas de conhecimento a fim de favorecer as abordagens interdisciplinares. Mais adiante, neste manual, trataremos da abordagem interdisciplinar adotada na coleção.

Seguindo a orientação desse documento oficial13, cada escola e cada sistema de ensino deverão elaborar o próprio currículo, com o intuito de promover o desenvolvimento dos estudantes nas dimensões intelectual, física, emocional, social e cultural. Esse direcionamento implica que, além dos aspectos acadêmicos, as unidades de ensino devem expandir a capacidade dos estudantes de lidar com seu corpo e bem-estar, suas emoções e relações, sua atuação profissional e cidadã, sua identidade e repertório cultural.

Nesse sentido, a BNCC defende o princípio de uma educação integral dos estudantes, apontando que:

[…] a Educação Básica deve visar à formação e ao desenvolvimento humano global, o que implica compreender a complexidade e a não linearidade desse desenvolvimento, rompendo com visões reducionistas que privilegiam ou a dimensão intelectual (cognitiva) ou a dimensão afetiva. Significa, ainda, assumir uma visão plural, singular e integral da criança, do adolescente, do jovem e do adulto –considerando-os como sujeitos de aprendizagem – e promover uma educação voltada ao seu acolhimento, reconhecimento e desenvolvimento pleno, nas suas singularidades e diversidades14. Assim, a BNCC defende a construção de currículos e propostas pedagógicas que atendam mais adequadamente às especificidades locais e à multiplicidade de interesses dos estudantes, encorajando o exercício do protagonismo juvenil15 .

O protagonismo pode ser entendido como a capacidade de enxergar-se como agente principal da própria vida, responsabilizando-se por suas atitudes, distinguindo suas ações das dos outros, e expressando iniciativa e autoconfiança. O estudante protagonista acredita que pode aprender e encontrar as melhores formas de fazer isso não apenas individualmente, mas atuando de forma colaborativa e participativa no contexto escolar.

Nesse sentido, a BNCC propõe que os estudantes deixem de desempenhar um papel de meros espectadores para se tornarem sujeitos ativos do seu processo de aprendizagem e de desenvolvimento pessoal. Portanto, sugere que as situações de ensino e aprendizagem devem ser organizadas de modo que os estudantes exerçam, efetivamente, um papel autoral, ativo, criativo e autônomo de (re)construção e de invenção16.

Ao considerarmos esse princípio de autoria e de protagonismo juvenil, é necessário que o professor, a escola e os sistemas de ensino estejam atentos à diversidade de cenários e de condições socioculturais nos quais as juventudes contemporâneas estão inseridas. Dentro dessa diversidade, é preciso promover a equidade. Fortalecer a equidade, um dos objetivos centrais da BNCC, pressupõe definir os conhecimentos, as competências e as habilidades que todos os estudantes devem aprender, ano a ano, ao longo da vida escolar, independentemente de etnia, gênero, classe social ou de onde morem.

Igualdade: consiste em tratar as pessoas como iguais, independentemente de quão diferentes elas sejam.

Equidade: consiste em tratar de forma diferente aqueles que não se encontram em situação de igualdade.

Igualdade e equidade: dois princípios da BNCC.17

11 BRASIL, ref. 10, p. 29.

12 BRASIL, ref. 10, p. 572.

13 BRASIL, ref. 10, p. 11.

14 BRASIL, ref. 10, p. 14.

15 BRASIL, ref. 10.

16 BRASIL, ref. 10.

17 BNCC: glossário digital. São Paulo: Somos Educação, [c2024]. Disponível em: https://glossario-digital-bncc-00-c8118adcf4fcd.webflow.io/igualdade-e -equidade. Acesso em: 14 set. 2024.

As juventudes contemporâneas

As juventudes contemporâneas são profundamente influenciadas por suas realidades culturais e sociais, e o uso de tecnologias desempenha um papel central nesse processo. No contexto da educação, especialmente com as novas propostas do Ensino Médio que buscam promover o desenvolvimento da autonomia intelectual dos estudantes, é fundamental que as práticas pedagógicas incorporem temas das culturas juvenis no currículo como ponto de partida e com o objetivo de transcendê-las ao longo do processo de ensino-aprendizagem. Essa inserção propicia uma conexão maior entre o que se aprende e as experiências vivenciadas pelos jovens, tornando a aprendizagem mais significativa e contextualizada18

Tal como nos bailes funk, nas tatuagens, no skate e no grafite, expressões culturais que abordam questões sociais e identitárias, a escola deve investigar as preferências e os interesses dos estudantes, como esportes, estilos musicais e artísticos. Essa pesquisa permite que os projetos curriculares ressoem com as realidades desses jovens, valorizando suas linguagens e modos de vida. Trabalhar com a cultura juvenil enriquece o processo educativo ao permitir discussões sobre diversidade, relações sociais e identitárias, questões de gênero e outras, envolvendo vários componentes curriculares e promovendo uma abordagem interdisciplinar.

Segundo Jesús Martín-Barbero (1937-2021): “Os jovens nos falam hoje através de outros idiomas: dos rituais de vestir-se, tatuar-se, adornar-se [...]”19. Diante de

um futuro profissional duvidoso, os jovens se movimentam “entre o repúdio à sociedade e o refúgio na fusão tribal”20. Na sua análise, Martín-Barbero ainda destaca o papel que a música desempenha como organizador social do tempo dos jovens e como demarcação de diferentes identidades21

Enfim, ao integrar a cultura juvenil no ambiente escolar e nas práticas educativas, é possível construir um espaço de reflexão crítica e de formação que valoriza a identidade dos jovens, contribuindo para sua formação plena e autônoma em um mundo em constante transformação.

Promover uma educação de qualidade para todos, reconhecendo que as necessidades dos estudantes são diferentes, requer uma série de ações, tais como: apoio técnico e financeiro do Ministério da Educação e das secretarias estaduais de educação; apoio desses órgãos à formação de professores; ajustes nos recursos didáticos e nos processos nacionais de avaliação; entre outros.

No processo de construção dos novos currículos por Unidades da Federação e municípios com base nas referências da BNCC, é fundamental a escuta de toda a comunidade escolar, sobretudo dos estudantes, para que seus anseios e necessidades contextualizem as aprendizagens.

Os conceitos e princípios da BNCC ajudam a dar novo significado para a escola e podem contribuir para a superação das dificuldades enfrentadas no Ensino Médio e para reverter a situação de exclusão de crianças e jovens menos favorecidos econômica e socialmente no Brasil.

18 BRASIL. Ministério da Educação. Cultura juvenil na escola. Brasília, DF: MEC, [c2024]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/cult_juvenil. pdf. Acesso em: 2 out. 2024.

19 MARTÍN-BARBERO, Jesús. A mudança na percepção da juventude: sociabilidades, tecnicidades e subjetividades entre os jovens. In: BORELLI, Silvia H. S.; FREIRE FILHO, João (org.). Culturas juvenis no século XXI. São Paulo: Educ, 2008. p. 9-32. p. 21.

20 MARTÍN-BARBERO, ref. 19, p. 22.

21 MARTÍN-BARBERO, ref. 19, p. 22.

Rayssa Leal (2008-) em manobra durante o Skate Total Urbe (STU). Porto Alegre (RS), 2023.

Pressupostos teórico-metodológicos

A presente coleção destina-se à formação de jovens do século XXI. Nosso principal objetivo é habilitar o estudante à leitura e à análise crítica da realidade por meio de conceitos, teorias, procedimentos e métodos da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, a fim de que ele possa perceber as dinâmicas sociais, econômicas, políticas, ambientais e culturais do Brasil e do mundo para transformá-los. Propõe-se, enfim, que o estudante possa se tornar um cidadão atuante no sentido de buscar soluções para os graves problemas contemporâneos.

A coleção foi elaborada de modo a desenvolver competências e habilidades previstas na BNCC ao longo dos três anos do Ensino Médio, em uma perspectiva de educação integral. A abordagem permite que as competências gerais e específicas, bem como as habilidades, sejam trabalhadas por meio do texto principal dos capítulos, das seções, das atividades e dos projetos desenvolvidos, entre outros recursos, sob diferentes abordagens.

As competências gerais se articulam com as competências específicas e as habilidades das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (CHS), tomando como base as categorias dessa área do conhecimento: Tempo e Espaço; Territórios e Fronteiras; Indivíduo, Natureza, Sociedade, Cultura e Ética; Política e Trabalho.

Interdisciplinaridade

De acordo com Juares da Silva Thiesen,

A interdisciplinaridade, como um enfoque teórico-metodológico […], surge na segunda metade do século passado, em resposta a uma necessidade verificada principalmente nos campos das ciências humanas e da educação: superar a fragmentação e o caráter de especialização do conhecimento, causados por uma epistemologia de tendência positivista em cujas raízes estão o empirismo, o naturalismo e o mecanicismo científico do início da modernidade.22 No campo educacional, Georges Gusdorf (1912-2000), filósofo e historiador francês, defendeu que o ensino deveria promover uma abordagem mais integrada, conectando

diferentes disciplinas para que o aprendizado fosse mais significativo e contextualizado23. Ele via a educação interdisciplinar como uma forma de superar a compartimentalização do conhecimento, incentivando o diálogo entre diferentes áreas e promovendo uma educação mais crítica e reflexiva para enfrentar os desafios contemporâneos24.

A obra de Gusdorf influenciou pesquisadores brasileiros, como Hilton Japiassu (1934-2015) e Ivani Fazenda (1943-), que contribuíram significativamente para o desenvolvimento dos estudos sobre interdisciplinaridade. Japiassu e Fazenda concebem a interdisciplinaridade como uma prática que pode modificar as relações humanas no interior da escola ao promover a efetiva superação da concepção fragmentária de ser humano e do saber25. Nesse sentido, a interdisciplinaridade pode promover a integração de conhecimentos, visando a uma compreensão mais ampla e profunda dos fenômenos sociais, naturais e culturais, a fim de transcender a divisão tradicional do saber em disciplinas estanques.

No livro Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa, Fazenda oferece uma reflexão mais profunda sobre as práticas interdisciplinares na escola, incentivando a experimentação e a flexibilidade no currículo. Ela sugere que a interdisciplinaridade não deve ser vista como um modelo rígido, mas como uma prática dinâmica que pode ser adaptada de acordo com as necessidades dos estudantes e os contextos educacionais. Ela afirma que: “O papel do professor é o de mediador entre as disciplinas e os alunos, não se tratando de diluir conteúdos, mas de encontrar pontos de intersecção que permitam ao estudante ver as conexões entre os diferentes saberes”26.

Por sua vez, os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), que visam garantir o bem-estar e os direitos das pessoas em um planeta mais saudável e próspero, podem ser um dos pontos de intersecção e um fio condutor para o trabalho da interdisciplinaridade. Por exemplo, ao trabalhar o ODS 13, que trata da ação contra a mudança global do clima27, de forma interdisciplinar, é possível integrar conhecimentos das Ciências Humanas e Sociais e das Ciências da Natureza, discutindo não apenas os impactos do aquecimento global, em relação à biodiversidade e ao

22 THIESEN, Juares da Silva. A interdisciplinaridade como um movimento articulador no processo ensino-aprendizagem. Revista Brasileira de Educação, v. 13, n. 39, p. 545-598, set./dez. 2008. p. 546. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/swDcnzst9SVpJvpx6tGYmFr/. Acesso em: 3 out. 2024.

23 GUSDORF, Georges. Passado, presente, futuro da pesquisa interdisciplinar. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, n. 121, p. 7-27, 1995.

24 GUSDORF, ref. 23.

25 FAZENDA, Ivani C. Arantes. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. 18. ed. Campinas: Papirus, 2012.

26 FAZENDA, ref. 25, p. 67.

27 NAÇÕES UNIDAS. Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 13: ação contra a mudança global do clima. Brasília, DF: Nações Unidas no Brasil, c2024. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs/13. Acesso em: 25 out. 2024.

meio ambiente, mas também as implicações sociais, econômicas, históricas e políticas dessa questão. A interdisciplinaridade permite que os estudantes analisem o problema sob diferentes perspectivas e busquem soluções integradas, que considerem tanto o desenvolvimento tecnológico quanto as políticas públicas e a responsabilidade individual e coletiva.

■ Quadro dos objetivos estabelecidos pelas Nações Unidas para o cumprimento da Agenda 2030 no Brasil. 28

Outro ponto de intersecção, que pode servir como eixo para projetos interdisciplinares na escola, são os Temas Contemporâneos Transversais (TCTs). Os TCTs estão divididos em seis macroáreas temáticas: Meio Ambiente; Ciência e Tecnologia; Multiculturalismo; Cidadania e Civismo; Economia; e Saúde.

TCTs – macroáreas temáticas

CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Ciência e Tecnologia

MULTICULTURALISMO

Diversidade Cultural Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras

MEIO AMBIENTE

Educação Ambiental Educação para o Consumo

Temas Contemporâneos Transversais na BNCC

CIDADANIA E CIVISMO

Vida Familiar e Social Educação para o Trânsito Educação em Direitos Humanos Direitos da Criança e do Adolescente Processo de envelhecimento, respeito e valorização do Idoso

Esquema dos elementos abordados pelos TCTs29

ECONOMIA

Trabalho

Educação Financeira Educação Fiscal

SAÚDE

Saúde Educação Alimentar e Nutricional

Embora os TCTs devam ser incorporados e atravessar todas as áreas de conhecimento de forma contínua, esses temas podem ser trabalhados de maneira interdisciplinar. Por exemplo: a macroárea Meio Ambiente pode ser abordada conectando Biologia (conhecimentos sobre ecossistemas), Geografia (mudanças climáticas e impactos ambientais), Sociologia e Filosofia (discussão sobre políticas ambientais e ética ambiental). Nesse caso, o tema transversal serve como um eixo temático, enquanto a interdisciplinaridade é um método que facilita a integração de diferentes áreas do conhecimento para um

28 NAÇÕES UNIDAS. Sobre o nosso trabalho para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil. Brasília, DF: Nações Unidas no Brasil, c2024. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs. Acesso em: 3 out. 2024.

29 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Temas Contemporâneos Transversais na BNCC: contexto histórico e pressupostos pedagógicos. Brasília, DF: MEC, 2019. p. 13. Disponível em: https://anec.org.br/wp-content/uploads/2020/04/TEMAS-CONTEMPORANEOS_contextualizacao_ BNCC-MEC.pdf. Acesso em: 25 out. 2024.

estudo mais rico e aprofundado, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)30

Conforme previsto na BNCC, é importante que o estudante aprenda sobre temas contemporâneos relevantes para sua atuação na sociedade31. Na coleção, essas temáticas são largamente exploradas nos capítulos, nos textos, nas seções, nos projetos e em seções de atividades, que trabalham com diferentes TCTs.

A interdisciplinaridade é explorada em especial na seção Conexões com… por meio de textos, atividades de leitura, de pesquisas, da análise de dados, gráficos e tabelas, entre outros, com o intuito de evidenciar o entrelaçamento dos saberes das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas com as demais áreas de conhecimento.

Assim, a coleção propicia a criação de situações didáticas, de problemáticas e de projetos que encaminham aulas interdisciplinares dentro das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e, eventualmente, com os professores das áreas de Ciências da Natureza, de Matemática e de Linguagens.

Vale destacar que a interdisciplinaridade não significa o abandono das especificidades dos diferentes campos do saber, tampouco a criação de uma nova ciência que passaria a regular esses campos. O olhar específico da História para a temporalidade ou o olhar específico da Geografia para o espaço, assim como o modo de a Sociologia analisar as interações sociais ou de a Filosofia refletir de modo totalizante não podem ser ignorados. Essa especificidade se manifesta no diálogo e na aproximação, evidenciando que podemos construir novas formas de refletir sobre o mundo por meio desses olhares distintos.

Portanto, concordamos com Jayme Paviani (1940-), quando afirma que:

A interdisciplinaridade não é apenas a integração de um conjunto de relações entre as partes e o todo, mas também uma descoberta de propriedades que não se reduzem nem ao todo nem às partes isoladas. Em seu nível mais alto, é uma modalidade de relação que, sem eliminar as contribuições individuais das disciplinas, as integra num único projeto de conhecimentos32.

Metodologias ativas

As metodologias ativas têm sua origem no movimento chamado Escola Nova, que defendia uma metodologia de ensino centrada na aprendizagem pela experiência e no desenvolvimento da autonomia do estudante.

Um dos expoentes da Escola Nova foi o filósofo estadunidense John Dewey (1859-1952). Dewey defendia a ideia de que os estudantes aprendem melhor realizando tarefas associadas aos conteúdos ensinados33. Atividades manuais e criativas ganharam destaque no currículo, e os estudantes passaram a ser incentivados a experimentar e pensar por si mesmos.

As metodologias ativas são estratégias de ensino centradas na participação efetiva dos estudantes, com ênfase na observação de evidências, na formulação de hipóteses, na experimentação prática, entre outros recursos que promovam uma aprendizagem ativa, diferenciando-se da aprendizagem passiva. Veja essas diferenças no quadro a seguir.

Diferença esquemática entre estratégias de aprendizagem ativa e passiva34

Atividades de aprendizagem ativa

Observação de evidências no contexto

Formulação de hipóteses

Experimentação prática

Tentativa e erro

Comparação de estratégias

Registro (inicial, processual e final de aprendizagens)

Favorecimento de foco atencional dinâmico e mediado por colaboração entre pares

Atividades de aprendizagem passiva

Memorização

Reprodução de informações

Estudo teórico

Reprodução de protocolos ou tutoriais

Imitação de métodos

Ausência de registro

Foco atencional mais repetitivo, estático e individual

30 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN): terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC: SEF, 1998. p. 81.

31 BRASIL, ref. 10.

32 PAVIANI, Jayme. Interdisciplinaridade: conceitos e distinções. 3. ed. Caxias do Sul: Educs, 2014. p. 48.

33 DEWEY, John. A escola e a sociedade e a criança e o currículo. Tradução: Paulo Faria, Maria João Alvarez e Isabel Sá. Lisboa: Relógio D’Água, 2002.

34 BACICH, Lilian; MORAN, José (org.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. E-book Localizável em: cap. 8.

Existem diferentes tipos de metodologias ativas, como sala de aula invertida, aprendizagem por projetos, aprendizagem baseada em problemas, gamificação etc., além de modelos híbridos, que são combinações de metodologias ativas e recursos digitais. O esquema a seguir representa as etapas de uma sala de aula invertida.

Sala de aula invertida

Antes da aula

SALA DE AULA INVERTIDA

Durante a aula

Prepara conteúdo Compartilha com os alunos Esclarece dúvidas

Professor

Alunos Acessam conteúdo

Todos

Realizam atividades práticas

Recordar – CompreenderAplicar – Analisar – Avaliar – Criar

Habilidades Cognitivas

Depois da aula

Avalia e decide por novo tópico

Revisam conteúdo

Recordar – Compreender – Aplicar

Analisar – Avaliar – Criar

Motivação – Autonomia – Perseverança – Autocontrole – Resiliência – Colaboração – Comunicação – Criatividade (...)

Habilidades Socioemocionais

INTEGRAÇÃO DO MODELO DE SALA DE AULA INVERTIDA COM METODOLOGIAS ATIVAS

Antes da aula

Prepara conteúdo Compartilha com os alunos

Avalia respostas e planeja atividade

Professor

Alunos Acessam conteúdos

Respondem questões e enviam ao professor

Esclarece dúvidas

Peer Instruction

Durante a aula Depois da aula

Aprendizagem baseada em projetos

? ? ?

Problematização Todos

Aprendizagem baseada em problemas

Experiências, jogos, simulações...

Revisam conteúdos

Complementam atividades

2 a 7 dias antes da aula12 h antes da aula Ambiente Flexível – Atividades Assíncronas – Caos Controlado – Múltiplas Formas de Avaliação

Just-in-Time Teaching

Recordar – Compreender

Avalia e decide por novo tópico +

Outras Metodologias Ativas de Aprendizagem

Aplicar – Analisar – Avaliar – Criar

Habilidades Cognitivas

Recordar – Compreender – Aplicar Analisar – Avaliar – Criar

Motivação – Autonomia – Perseverança – Autocontrole – Resiliência – Colaboração – Comunicação – Criatividade (...)

Habilidades Socioemocionais

Esquema dos elementos que compõem a metodologia de sala de aula invertida35.

35 SCHMITZ, Elieser Xisto da Silva. Sala de aula invertida: uma abordagem para combinar metodologias ativas e engajar alunos no processo ensino-aprendizagem. 2016. Dissertação (Mestrado em Tecnologias Educacionais em Rede) – Programa de Pós-Graduação em Tecnologias Educacionais em Rede, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2016. p. 67, 80. Disponível em: https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/12043/DIS_PPGTER_2016_ SCHMITZ_ELIESER.pdf. Acesso em: 3 out. 2024.

SONIA VAZ

A proposta metodológica favorece a utilização de algumas metodologias ativas. A sala de aula invertida, por exemplo, pode ser organizada pelo professor ao fazer uma conversa inicial a respeito de um novo conteúdo. Em seguida, o professor pode solicitar a leitura prévia de parte do texto central do capítulo ou a leitura de textos das seções como atividade extraclasse. Nesse momento extraclasse, os estudantes, além de ler os textos, podem anotar suas dúvidas e fazer um glossário com as palavras-chave no caderno. Na classe, o professor pode retomar as dúvidas e as palavras-chave selecionadas em uma aula dialogada de compartilhamento e análise das informações obtidas pelos estudantes. Depois, o professor pode escolher algumas das atividades do livro, principalmente aquelas que solicitam a criação de diferentes gêneros textuais, dramatizações, entre outras, para que os estudantes possam aplicar o que estão aprendendo de forma criativa e autoral.

Outra estratégia de aprendizagem ativa privilegiada é a aprendizagem baseada em problemas, presente em algumas seções. São partes nas quais se desenvolve a capacidade do estudante de interrogar a realidade e analisar problemas. As interpretações e soluções dos problemas levantados são buscadas tanto individualmente como em pares. O conhecimento produzido nessas atividades é socializado por meio de propostas variadas. Com base na problemática apresentada, os estudantes pesquisam informações em seu bairro, na própria escola por meio de entrevistas ou em consultas nos meios digitais. Depois, compartilham com os colegas suas descobertas e debatem sobre o papel e a importância desses movimentos sociais no mundo contemporâneo. A aprendizagem baseada em problemas confere aos estudantes uma posição de maior protagonismo. Ela desenvolve as habilidades de pesquisa e o raciocínio crítico. Os estudantes são incentivados a buscar soluções para problemas complexos e reais individualmente e de forma colaborativa. Para mais informações sobre a aprendizagem baseada em problemas, recomendamos a obra Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática36 .

Na obra, adota-se também a aprendizagem por projetos , explorada na seção Investigação . É sugerido em quais momentos do processo de ensino-aprendizagem o professor poderá pôr o projeto em execução. Dependendo do arranjo que o professor fizer dos capítulos e das séries do Ensino Médio, um mesmo projeto poderá ser realizado em diferentes anos letivos, de acordo com o seu interesse e a conveniência para ele e os estudantes.

36 BACICH; MORAN (org.), ref. 34.

A proposta dessa seção é favorecer a metodologia de aprendizagem por projetos. José Moran trata da importância dessa metodologia no processo de aprendizagem: É uma metodologia de aprendizagem em que os alunos se envolvem com tarefas e desafios para […] desenvolver um projeto que tenha ligação com a sua vida fora da sala de aula. No processo, eles lidam com questões interdisciplinares, tomam decisões e agem sozinhos e em equipe. Por meio dos projetos, são trabalhadas também suas habilidades de pensamento crítico e criativo e a percepção de que existem várias maneiras de se realizar uma tarefa, competências tidas como necessárias para o século XXI.37

Elementos essenciais para aprendizagem baseada em projetos

Apresentação de um produto

Problema ou questão desafiadora

PRINCIPAIS CONHECIMENTOS E HABILIDADES PARA O SÉCULO 21

Espírito de exploração Originalidade Reflexão

Voz do estudante

Crítica e revisão

Esquema dos elementos que compõem a aprendizagem baseada em projetos38

A aprendizagem por projetos é um grande desafio para a educação brasileira na atualidade. A falta de tempo para o planejamento coletivo e a pouca experiência com práticas pedagógicas interdisciplinares por parte de alguns professores podem ser obstáculos que precisarão ser superados para a implementação de aulas e projetos que integrem diferentes disciplinas e áreas do conhecimento. A proposta desta obra é colaborar para a superação desses desafios, sugerindo e orientando a execução de projetos.

37 MORAN, José. Metodologias ativas para uma aprendizagem mais profunda. In: BACICH, Lilian; MORAN, José (org.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. E-book. Localizável em: subt. Aprendizagem baseada em projetos.

38 Elaborado com base em: MÃO na massa. São Paulo: Porvir, [202-]. Localizável em: Tudo passa por projetos. Disponível em: https://porvir.org/especial/maonamassa/. Acesso em: 25 out. 2024.

EDITORIA DE ARTE

As formas de organização das turmas são partes fundamentais para a implementação eficaz das metodologias ativas, ajudando a criar situações didáticas mais dinâmicas e participativas. Os diferentes arranjos das atividades em sala de aula – trabalho em pares, em grupo ou individual – podem ser utilizados em variadas situações didáticas para favorecer a aprendizagem dos estudantes. Esses arranjos, é claro, dependem da realidade e dinâmica de cada professor e de cada turma.

O trabalho em pares pode ser utilizado em alguns momentos em que seja importante que, em duplas, os estudantes discutam sobre um tema ou um desafio e que troquem informações usando seus conhecimentos prévios, por exemplo, para realizar as atividades de abertura dos capítulos. Pode-se experimentar distintas organizações: estudantes com níveis de aprendizado e habilidades diferentes ou semelhantes. O conhecimento que o professor adquire gradualmente sobre a turma é muito importante para decidir como as duplas serão formadas.

O trabalho em grupo favorece o protagonismo e a autonomia dos estudantes, além de proporcionar o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, como liderança, empatia, flexibilidade, autocontrole, resolução de conflitos, entre outras.

Jean Piaget desenvolveu algumas pesquisas em que apresentava as observações psicológicas sobre o trabalho em grupo. Ele concluiu que: a organização em grupos privilegia a participação do estudante como sujeito ativo no processo de aprendizagem; a troca equilibrada entre o estudante e seus colegas é um efetivo exercício cognitivo, para que ele tenha contato com questionamentos e visões diferentes das próprias e das do docente; o trabalho em grupo é um instrumento para a formação do pensamento racional e da personalidade, pois “aprendemos a nos conhecer pela oposição das vontades e das opiniões com as quais nos deparamos, pela troca e pelo diálogo, pelos conflitos e pela compreensão mútua”39. A coleção busca criar várias situações para promover o trabalho em grupo, tanto nas seções como nas atividades ao longo do capítulo.

Os trabalhos individuais permitem um acompanhamento mais próximo do processo de aprendizado de cada estudante. Ele pode ser complementar ao trabalho em grupo, por exemplo, em seminários. Nesses seminários, os alunos podem elaborar os resumos e esquemas explicativos em grupo e serem avaliados individualmente na apresentação dos temas para que o professor possa aferir o quanto cada estudante aprendeu, quais são suas habilidades de

comunicação oral e de organização do discurso. Na obra, várias atividades podem ser usadas para trabalhos individuais, como as atividades de meio e fim dos capítulos. Essas diferentes formas de organização do trabalho em sala de aula configuram também diversas possibilidades de disposição do espaço físico da classe. Segundo José Moran: O ambiente físico das salas de aula e da escola como um todo também precisa ser redesenhado dentro desta nova concepção mais ativa, mais centrada no aluno. As salas de aula podem ser mais multifuncionais, que combinem facilmente atividades de grupo, de plenário e individuais.40

Os processos de avaliação

Avaliar para quê?

A avaliação faz parte do processo de ensino-aprendizagem e suscita muitas dúvidas em nós, docentes. O que avaliar? Como avaliar? Em que momento? Com quais finalidades? Essas são algumas questões que permeiam as discussões de professores e pesquisadores da área de educação, e as respostas podem ser as mais variadas, dependendo da concepção e da prática pedagógica desses sujeitos, bem como dos objetivos de aprendizagem e das características e finalidades de cada escola e sistema de ensino.

Embora não haja respostas definitivas, “a avaliação escolar, hoje, só faz sentido se tiver o intuito de buscar caminhos para a melhor aprendizagem”41, como afirma Jussara Hoffmann.

Dessa maneira, coloca-se o foco no aprender, o que implica reflexões a respeito do currículo, da gestão escolar, do tipo de tarefa a ser realizado pelos estudantes, da organização da turma de acordo com os objetivos de cada aula e das formas de avaliar. Independentemente do modelo de avaliação, o importante é colher informações sobre o que o estudante já conhece e domina e sobre suas necessidades para avançar na sua aprendizagem não apenas de conteúdos mas também de competências.

No cenário atual da educação brasileira, em que a BNCC e suas diretrizes baseadas no desenvolvimento de competências gerais e específicas estão sendo implementadas nas escolas e redes de ensino, a reflexão sobre a avaliação de competências torna-se fundamental.

39 PIAGET apud VIVALDI, Flávia. Vale a pena organizar os alunos em grupos?: sim! São Paulo: Nova Escola Gestão, 18 ago. 2014. Disponível em: https:// gestaoescolar.org.br/conteudo/968/vale-a-pena-organizar-os-alunos-em-grupos-sim. Acesso em: 3 out. 2024.

40 MORAN, 2014 apud BACICH, Lilian; MORAN, José (org.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. E-book. Localizável em: subt. O espaço da sala de aula como ambiente colaborativo.

41 HOFFMANN apud PELLEGRINI, Denise. Avaliar para ensinar melhor. Nova Escola, São Paulo, 1 jan. 2003. Disponível em: https://novaescola.org.br/ conteudo/395/avaliar-para-ensinar-melhor. Acesso em: 20 set. 2024.

O sociólogo Philippe Perrenoud (1944-) aponta algumas características da avaliação de competências, como a observação qualitativa, o diálogo constante entre estudante e professor ou entre pares, a autoavaliação (de que trataremos a seguir), a compreensão do erro e a análise crítica da resolução de problemas. Além dessas características, Perrenoud destaca a importância de tarefas contextualizadas, da abordagem de problemas complexos, da utilização funcional de conhecimentos disciplinares, do prévio conhecimento das exigências das tarefas e dos critérios de avaliação como condições relevantes para a aprendizagem42

Autorregulação da aprendizagem

Com base nessas características, a avaliação (assim como a autoavaliação) pode servir ao estudante para a autorregulação das aprendizagens por meio do desenvolvimento da metacognição (ver os esquemas a seguir) e da oportunidade de perceber os seus avanços ou necessidades em relação aos domínios esperados. Para o professor, a avaliação pode ajudar a demarcar as conquistas e a forma de raciocínio de cada estudante o suficiente para auxiliá-lo a avançar nos objetivos de aprendizagem. Para a escola, esse modo de avaliar põe em questão não somente o projeto educacional mas também uma mudança social por meio da ação protagonista dos estudantes para a resolução de problemas da sua comunidade.

FASE DE EXECUÇÃO

Autocontrole; autoinstrução; imaginação; foco da atenção; estratégia de tarefa; estrutura ambiental; procura por ajuda; auto-observação; monitoramento metacognitivo; autorregistro.

FASE DE ANTECIPAÇÃO

Análise da tarefa; estabelecimento de objetivos; planejamento estratégico; crenças de automotivação/valor; autoeficácia; expectativa de resultados; interesse na tarefa/ valor; orientação às metas.

Esquema das fases de autorregulação da aprendizagem43.

Metacognição

Componentes metacognitivos

Elementos metacognitivos

Conhecimento do conhecimento

FASE DE AUTORREFLEXÃO

Autojulgamento; autoavaliação; atribuição causal; autorreação; autossatisfação/afeto; adaptativa/defensiva.

Metacognição

Controle executivo e autorregulador

Pessoa Tarefa Estratégia Planificação Monitoração Avaliação

Esquema dos componentes e elementos metacognitivos 44

42 PERRENOUD, Phillipe. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens: entre duas lógicas. Tradução: Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artmed, 1999. p. 166-167.

43 CASTRO, Rafael Fonseca de. Autorregulação da aprendizagem no ensino superior a distância: o que dizem os estudantes? Rebes: Revista Brasileira de Ensino Superior, Passo Fundo, v. 2, n. 2, p. 15-26, abr./jun. 2016. p. 17. Disponível em: https://seer.atitus.edu.br/index.php/REBES/article/view/1319/902. Acesso em: 25 out. 2024.

44 ROSA, Cleci Teresinha Werner da. A metacognição e as atividades experimentais no ensino de física. 2011. Tese (Doutorado em Educação Científica e Tecnológica) – Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2011. p. 58. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/95261/290643.pdf. Acesso em: 25 out. 2024.

Principais modelos de avaliação

Com base no que foi exposto, podemos concluir que a avaliação vai além de provas, trabalhos e outras atividades formais. A avaliação deve ser para o professor uma ferramenta de análise do “ponto de partida e de chegada do processo pedagógico”45. Para isso, o professor pode lançar mão de diferentes modelos de avaliação.

José Moran afirma que o processo de avaliação pode acontecer

de várias formas: avaliação diagnóstica, formativa, mediadora; avaliação da produção (do percurso – portfólios digitais, narrativas, relatórios, observação); avaliação por rubricas (competências pessoais, cognitivas, relacionais, produtivas); avaliação dialógica; avaliação por pares; autoavaliação; avaliação on-line ; avaliação integradora, entre outras 46 .

Como se pode perceber, há uma grande variedade de possibilidades avaliativas, que devem se adequar ao projeto pedagógico de cada professor e unidade de ensino, bem como aos conteúdos e às competências a serem desenvolvidos ou aos objetivos de aprendizagem. A seguir, comentamos alguns desses tipos de avaliação.

A avaliação diagnóstica é usada para identificar o que um estudante sabe e em quais aspectos está defasado. Ela normalmente acontece no início de um novo segmento da Educação Básica ou no início de uma nova sequência didática do professor e abrange tópicos que serão ensinados aos estudantes nas próximas aulas.

Os professores utilizam as informações das avaliações diagnósticas para nortear o que e como ensinar. Com a aplicação dessa técnica, eles passarão mais tempo ensinando as habilidades nas quais seus estudantes enfrentam mais dificuldades de acordo com os resultados obtidos. A avaliação diagnóstica também pode ser uma ferramenta útil para os pais. O feedback que os estudantes recebem nessas avaliações aponta que tipo de conteúdo eles estão trabalhando em aula e permite aos pais prever quais são as habilidades ou as áreas em que seus filhos poderão enfrentar dificuldades.

A avaliação diagnóstica pode ser empregada no início dos capítulos: essa avaliação pode fornecer informações ao professor sobre os conhecimentos prévios

dos estudantes em relação aos conceitos e temas que serão discutidos. Sugerimos que, por meio da Abertura do capítulo , o professor promova essa análise das habilidades, dos conhecimentos e dos interesses dos estudantes, já tendo em mente os objetivos que pretende alcançar com o grupo.

Nesse momento, podem-se registrar as conclusões iniciais da turma, a fim de retomá-las ao final do estudo, com o objetivo de os estudantes fazerem as correções e complementações necessárias. Nas páginas de Abertura do capítulo são propostas, também, questões problematizadoras do estudo. Essas questões podem ser retomadas durante a investigação do capítulo para que os estudantes façam registros das informações e dos conceitos aprendidos para responder a elas ao final desse processo e avaliar o tanto que avançaram em seus conhecimentos sobre os conteúdos estudados e aperfeiçoaram suas habilidades.

A ideia de avaliação formativa foi criada pelo filósofo anglo-australiano Michael Scriven (1928-2023), em seu artigo A metodologia da avaliação , publicado em 1967. Nesse trabalho, o pesquisador afirmou que apenas a “observação sistemática do professor consegue aprimorar as atividades de classe e garantir que todos aprendam” 47. Assim, por se basear na observação diária do desempenho dos estudantes, a avaliação formativa pressupõe que os estudantes possuem ritmos e processos de aprendizagem diferentes.

Na avaliação formativa, é mais relevante obter informações sobre a aprendizagem do estudante, com a finalidade de ajudá-lo a progredir no seu aprendizado, do que atribuir uma nota ou conceito a ele. Nesse sentido, a avaliação deve servir para orientar o trabalho desenvolvido em sala de aula, com a necessária diversificação do planejamento para fazer com que todos aprendam.

Em outras palavras, em um processo de avaliação formativa, os estudantes são ponto de partida e de chegada. Nós, professores, obtemos informações que podem ser usadas para ajudar os diferentes estudantes a aprender. Em consequência disso, é necessário pensar em propostas diferenciadas (provas orais ou escritas, testes, seminários, produção de textos, análise de filmes, mapas conceituais etc.). Quando a variabilidade didática não acontece, a avaliação formativa não se concretiza de fato 48, como afirma o pesquisador francês

45 LERNER; PIZANI apud VICHESSI, Beatriz; SANTOMAURO, Beatriz; MOÇO, Anderson. Discurso vazio: as expressões que poucos sabem o que significam. Nova Escola, São Paulo, 31 out. 2008. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/1543/discurso-vazio-as-expressoes-que-poucos-sabem-o-que-significam. Acesso em: 3 out. 2024.

46 MORAN, ref. 37, localizável em: subt. A aprendizagem por tutoria.

47 SCRIVEN apud PELLEGRINI, Denise. Avaliar para ensinar melhor. Nova Escola, São Paulo, 1 jan. 2003. Disponível em: https://novaescola.org.br/ conteudo/395/avaliar-para-ensinar-melhor. Acesso em: 20 set. 2024.

48 HADJI, Charles. Avaliação desmistificada. Porto Alegre: Artmed, 2001. p. 48.

Charles Hadji (1942-). A parte específica do manual possui diversos materiais complementares que podem auxiliar nessas propostas diferenciadas.

Individualizar o ensino, pensar em soluções criativas para ajudar os estudantes, criar instrumentos para obter informações consistentes sobre a aprendizagem dos estudantes e analisá-las para produzir ações corretivas são algumas das dificuldades enfrentadas pelos docentes que assumem esse desafio. Porém, muitos professores que encaram esses desafios afirmam que ele é difícil, mas vale a pena, pois a construção de uma sociedade democrática pressupõe que todos tenham o direito de aprender.

Uma das formas para viabilizar esse tipo de avaliação é adotar fichas de orientação para as atividades e os trabalhos. Hadji propõe a decomposição da tarefa em suas etapas primordiais para a elaboração de critérios de realização, que norteiam os estudantes na execução da atividade e o professor na apreciação dela. Esses critérios também informariam sobre as dificuldades, necessidades e facilidades encontradas pelos estudantes ao cumprir a tarefa.

As fichas devem ser ajustadas e adaptadas à realidade de cada sala de aula e aos conhecimentos e às competências desenvolvidos anteriormente pelo professor e pelos estudantes. O fundamental é que elas ajudem tanto na execução da tarefa como na avaliação, informando ao professor quais foram as facilidades e as dificuldades encontradas pelos estudantes. Assim, o docente poderá planejar novas estratégias de ensino.

Pode-se recorrer às fichas de orientação e à explicitação de critérios de avaliação para auxiliar o estudante nas diversas atividades ao longo do texto principal e nas seções, o que facilita fornecer feedback durante o aprendizado.

A avaliação somativa é geralmente realizada ao final de um programa de estudos. Ela pode ser mensal, bimestral, trimestral ou semestral e tem como objetivo mensurar o quanto os estudantes aprenderam por meio da aplicação de provas escritas ou orais, testes, seminários, relatórios, produção de textos, entre outros instrumentos. Com base nos resultados desses diferentes instrumentos de avaliação, o professor pode estabelecer uma nota ou um conceito para cada estudante. Na coleção, as atividades apresentadas no decorrer ou no fim dos capítulos podem ser utilizadas para a aplicação de avaliações somativas.

Cabe lembrar que a avaliação formativa e a somativa podem ser complementares. A somativa classifica os estudantes pela quantidade de conhecimentos que eles dominam e é usada também fora da escola em concursos, exames ou vestibulares, enquanto a avaliação formativa se preocupa mais com os aspectos qualitativos do processo de ensino-aprendizagem, sendo muito adequada no dia a dia da sala de aula.

Por fim, a autoavaliação deve acompanhar todas as formas de avaliação, sejam somativas, sejam formativas. No fechamento de cada etapa do processo avaliativo, seja ela feita por blocos de conteúdos ou associada a períodos escolares, enfatizamos a importância da autoavaliação, momento em que o estudante pode fazer um balanço de seu próprio aproveitamento, contando com o acompanhamento do professor. Para viabilizar a autoavaliação, devem-se apresentar, no início do trabalho com a turma, os objetivos mínimos a serem alcançados. Ao serem realizadas provas, atividades, relatórios etc., podem-se retomar os temas estudados e relembrar com os estudantes os objetivos preestabelecidos.

Esses dados servirão de parâmetros para a autoavaliação, que pode ser oral ou escrita. É importante lembrar que nem todos os estudantes sentem-se suficientemente seguros para se exporem diante do grupo e que essa característica deve ser respeitada. É fundamental apoiar-se nos resultados desse processo avaliativo para discutir conquistas e necessidades, a fim de definir posteriores mudanças.

A respeito da autoavaliação, César Coll e Elena Martín afirmam:

As atividades de avaliação deveriam atender mais a essa possível e desejável função autorreguladora por meio de uma apresentação prévia, clara e explícita daquilo que se pretende avaliar, das finalidades perseguidas e da análise posterior dos resultados obtidos. […]49

Portanto, as conclusões da autoavaliação podem servir tanto para suscitar ações individuais como para redefinir os rumos de um projeto para a turma como um todo. Pode-se ir além da análise de conteúdos e conceitos e discutir as posturas dos estudantes perante o estudo e as tarefas, bem como em relação à convivência com os colegas e com o professor. Sugerimos a utilização de fichas de autoavaliação para o estudante a cada finalização de capítulo, de forma a retomar os objetivos de aprendizagem apontados no início do capítulo.

49 COLL, César; MARTÍN, Elena. A avaliação da aprendizagem no currículo escolar: uma perspectiva construtivista. In: COLL, César et al. O construtivismo na sala de aula. São Paulo: Ática, 2009. p. 27-39. (Série Fundamentos, p. 214).

Abordagem teórico-metodológica

Um breve histórico do ensino de Sociologia no Brasil

A história da Sociologia no Ensino Médio brasileiro revela um percurso marcado por avanços, retrocessos e mudanças significativas ao longo do tempo. Compreender esse histórico é essencial para apoiar os estudantes na construção de uma visão crítica e cidadã.

A introdução da Sociologia no currículo escolar do Brasil remonta ao início do século XX, mais precisamente a 1916, quando foi incluída nas Escolas Normais, voltadas para a formação de professores. Naquela época, o objetivo era fornecer uma base teórica sobre as dinâmicas sociais aplicáveis à educação. Uma das figuras centrais nesse movimento foi Ruy Barbosa (1849-1923), que, como jurista e intelectual influente, econheceu a importância da Sociologia para a formação de cidadãos mais críticos e conscientes. Ele defendeu a inclusão de matérias voltadas para o estudo das Ciências Humanas no ensino brasileiro, entendendo que o conhecimento sociológico contribuiria para o progresso do país e para o entendimento das transformações sociais e políticas50

Outro nome de destaque foi Benjamin Constant (1837-1891), engenheiro e militar, que também teve um papel fundamental na estruturação do sistema educacional brasileiro. Como ministro da Instrução Pública durante o Governo Provisório (1889-1891) e um dos idealizadores da reforma educacional do início da República, Constant acreditava que o ensino deveria preparar o cidadão para compreender as questões sociais e políticas que envolvem a sociedade. Ele propôs reformas educacionais que incluíam o estudo das Ciências Sociais no currículo, visando formar indivíduos capazes de analisar a sociedade criticamente. Seu pensamento foi essencial para abrir caminhos, ainda que de maneira limitada, para que a Sociologia começasse a ganhar espaço nas escolas.

Nas décadas seguintes, especialmente nos anos 1930 e 1940, a Sociologia continuou a ser oferecida esporadicamente, sem uma estrutura curricular consolidada. Isso mudou em 1942 com a Reforma Capanema (Leis Orgânicas do Ensino), durante o período do Estado Novo (19371945), quando foi oficialmente excluída do currículo das escolas secundárias (na época, formadas por dois ciclos, sendo o primeiro de quatro anos, chamado de curso ginasial, e o segundo composto dos cursos clássico e científico) em favor de outros conteúdos, mais alinhados às políticas de controle social e ideológico da época. Esse período marcou um dos primeiros grandes retrocessos na história do ensino de Sociologia.

A exclusão da Sociologia como conteúdo obrigatório permaneceu até 1985, com o fim do regime da ditadura civil-militar, um período de repressão política e ideológica que influenciou profundamente os currículos escolares51. Durante o regime (1964-1985), a Sociologia foi substituída por conteúdos voltados para a moral e a civilidade, alinhados aos interesses do governo. Entretanto, com a redemocratização do Brasil a partir de 1985, houve uma retomada dos debates sobre a importância de uma educação crítica e cidadã, voltada para a formação de sujeitos mais conscientes de suas realidades sociais.

A promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 199652, trouxe mudanças significativas para o sistema educacional brasileiro, influenciando diretamente a organização curricular. A LDB reafirmou a importância de uma formação integral que abrangesse tanto aspectos técnicos quanto críticos. Embora a Sociologia não tenha sido imediatamente reinserida como conteúdo obrigatório pelo texto da LDB, a lei abriu caminho para discussões sobre a necessidade de incluir as Ciências Humanas e Sociais no Ensino Médio.

Um importante marco para o ensino de Sociologia no Brasil foi a criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM), que complementaram as diretrizes estabelecidas pela LDB. Publicados em 200053, os PCNEM

50 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Reforma do ensino primário e várias instituições complementares da instrução pública: parecer e projeto da Comissão de Instrução Pública composta dos deputados Ruy Barbosa, Thomaz do Bonfim Espinola e Ulysses Machado Pereira Vianna; relator, Ruy Barbosa. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1883. p. 213. Sessão de 12 de setembro de 1882. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/242356. Acesso em: 5 nov. 2024.

51 NEUHOLD, Roberta dos Reis. A sociologia como disciplina escolar no Brasil: uma leitura a partir das reformas educacionais. Pedagogía y Saberes, Bogotá, n. 59, p. 140-153, mar. 2023. Disponível em: https://revistas.upn.edu.co/index.php/PYS/article/view/17599/12820. Acesso em: 5 nov. 2024.

52 BRASIL. Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF: Presidência da República, [2024]. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l9394.htm. Acesso em: 5 nov. 2024

53 BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio. Brasília, DF: MEC, 2000. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/ arquivos/pdf/blegais.pdf. Acesso em: 5 nov. 2024.

oferecem orientações detalhadas sobre como a Sociologia deve ser abordada no currículo escolar. Esses parâmetros sublinham a importância de incentivar a autonomia crítica dos estudantes, visando prepará-los para a participação consciente e ativa na sociedade. O foco principal dos PCNEM é que a Sociologia contribua para a análise crítica das estruturas sociais e dos fenômenos contemporâneos, conectando o conhecimento acadêmico à vida cotidiana dos estudantes.

Além disso, as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM), instituídas pela Resolução CEB no 3, de 26 de junho de 199854, reforçam a relevância de uma abordagem interdisciplinar no ensino de Sociologia. As Diretrizes Curriculares destacam que o Ensino Médio deve promover o desenvolvimento integral dos estudantes, envolvendo tanto competências técnicas quanto habilidades críticas e reflexivas.

Esse movimento culminou na criação da lei no 11.684, de 200855, que tornou obrigatória a Sociologia no Ensino Médio em todo o Brasil. A partir desse momento, a área passou a ocupar um lugar de destaque na formação dos estudantes, com o objetivo de promover a compreensão crítica dos fenômenos sociais e incentivar a participação cidadã. A reinserção da Sociologia no currículo refletiu uma mudança de paradigma, em que o ensino passou a valorizar a formação integral dos estudantes, abrangendo não apenas conhecimentos técnicos e científicos mas também uma compreensão profunda das questões sociais que permeiam a vida em sociedade.

Nos últimos anos, a Sociologia passou por novas transformações, especialmente com a lei no 13.415, de 201756, que reformulou o Ensino Médio brasileiro. No contexto da BNCC, a Sociologia ganhou um novo papel, alinhado às competências socioemocionais e à formação de estudantes capazes de analisar criticamente a realidade social. A interdisciplinaridade e a articulação entre os conteúdos são aspectos centrais dessa nova estrutura, que busca conectar a Sociologia com temas contemporâneos, como a diversidade cultural, a desigualdade social, a democracia e os direitos humanos.

Por que estudar Sociologia é importante?

O primeiro grande debate sobre o ensino de Sociologia no Brasil ocorreu no II Congresso Latino-Americano de Sociologia, realizado no Rio de Janeiro e em São Paulo, em 1953. Nele, o sociólogo e político brasileiro Guerreiro Ramos (1915-1982) defendeu que o ensino de Sociologia deveria ter como propósito […] contribuir para a emancipação cultural dos discentes, equipando-os de instrumentos intelectuais que os capacitem a interpretar, de modo autêntico, os problemas das estruturas nacionais e regionais a que se vinculam.57

Para Ramos, o trabalho sociológico deveria contribuir para a melhoria das condições de vida das populações por meio do desenvolvimento industrial, tanto nacional quanto regional. O sociólogo também elaborou estudos e propostas de integração das populações indígenas e afro-brasileiras nas estruturas culturais e econômicas. Ele defendia uma Sociologia que refletisse a realidade brasileira, evitando a reprodução de teorias e proposições europeias. Sua proposta era uma Sociologia comprometida com o futuro do país, voltada para o desenvolvimento. Em relação ao negro no Brasil, Ramos criticava a ideia de “problema do negro”, argumentando que o verdadeiro problema era o racismo, e não o negro em si.

No I Congresso Brasileiro de Sociologia, realizado em São Paulo, em 1954, o sociólogo brasileiro Florestan Fernandes (1920-1995) apresentou uma perspectiva diferente. Ele afirmou que o ensino de Sociologia deveria […] contribuir para preparar as gerações novas para manipular técnicas racionais de tratamento dos problemas econômicos, políticos, administrativos e sociais, as quais dentro de pouco tempo, presumivelmente, terão que ser exploradas em larga escala no país.58

Em 1958, Florestan Fernandes publica o artigo “O padrão de trabalho científico dos sociólogos brasileiros”, na Revista Brasileira de Estudos Políticos, no qual criticou

54 BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CEB no 3, de 26 de junho de 1998. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília, DF: Presidente da Câmara, 1998. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rceb03_98.pdf. Acesso em: 25 out. 2024.

55 BRASIL. Lei no 11.684, de 2 de junho de 2008. Altera o art. 36 da Lei no 9.394 […] para incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias nos currículos do ensino médio. Brasília, DF: Presidência da República, 2008. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/ l11684.htm. Acesso em: 5 nov. 2024.

56 BRASIL. Lei no 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Altera as Leis no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e 11.494, de 20 de junho de 2007, que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação […] institui a Política de Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral. Brasília, DF: Presidência da República, [2023]. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13415.htm. Acesso em: 5 nov. 2024.

57 RAMOS, Alberto Guerreiro. Introdução crítica à sociologia brasileira. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1995. p. 121.

58 FERNANDES, Florestan. O ensino da sociologia na escola secundária brasileira. In: SOCIEDADE BRASILEIRA DE SOCIOLOGIA. Anais do I Congresso Brasileiro de Sociologia: realizado sob o patrocínio da Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo. São Paulo: SBS, 1955. p. 105.

a proposta de Ramos de evitar os estudos de “minudências”59. Para Fernandes, tal postura representava uma imposição ideológica, e, em um país heterogêneo como o Brasil, o estudo das particularidades com rigor científico era essencial para evitar generalizações incorretas e, assim, propor caminhos adequados para seu desenvolvimento.

O debate entre Ramos e Fernandes evidenciava duas abordagens complementares e, em certo grau, conflitantes. Enquanto Ramos buscava uma Sociologia voltada para a autonomia e o desenvolvimento nacional, sem reproduzir modelos europeus, Fernandes enfatizava o rigor científico, argumentando que era necessário investigar profundamente as particularidades regionais para que o desenvolvimento fosse embasado em estudos sólidos.

Desde então, o ensino de Sociologia no Brasil passou por significativos avanços nas universidades, nos movimentos sociais, nas instituições de pesquisa, nos conselhos e nos congressos. Contudo, sofreu também retrocessos, principalmente durante o período da ditadura civil-militar, quando o ensino de Sociologia foi limitado e censurado.

Atualmente, o ensino de Sociologia continua desempenhando um papel importante no desenvolvimento de uma consciência crítica entre os estudantes, que possibilita compreender e questionar as estruturas sociais e as relações de poder, proporcionando-lhes uma visão crítica das desigualdades sociais e das dinâmicas culturais e políticas que permeiam a sociedade. Além disso, o estudo de Sociologia também contribui para a compreensão dos direitos humanos e da cidadania, formando indivíduos mais conscientes e preparados para atuar na construção de uma sociedade democrática.

A Sociologia é fundamental para que os estudantes entendam as rápidas transformações da sociedade contemporânea, como a globalização, o avanço das novas tecnologias e seus impactos sociais. O estudo dessa área torna-se, assim, um instrumento essencial para que os estudantes reflitam sobre seu papel como agentes de mudança social, promovendo o diálogo a respeito da construção de uma sociedade mais justa e solidária.

Nesta obra, consideramos que o ensino de Sociologia deve valorizar os saberes específicos da sociedade brasileira em sua diversidade e pluralidade. Por isso, os saberes dos povos originários, das populações tradicionais e da população afro-brasileira não devem ser tratados como meros objetos de estudo, mas sujeitos com voz e perspectiva. Enfatizamos a importância das práticas de pesquisa para que os estudantes desenvolvam um senso crítico

sobre a realidade brasileira, dialogando com diversas epistemologias das Ciências Sociais aplicadas e contribuindo para a construção de uma sociedade equânime, justa e solidária para as futuras gerações.

Principais fundamentos teórico-metodológicos

Esta coleção foi desenvolvida com o objetivo de despertar nos estudantes aquilo que o sociólogo britânico Charles Wright Mills (1916-1962) denominou “imaginação sociológica”60, ou seja, a capacidade de analisar a sociedade além das experiências individuais, conectando essas vivências a processos sociais mais amplos. A proposta é incentivar uma visão crítica da realidade, permitindo aos estudantes perceber como suas vidas são moldadas por padrões sociais, culturais e econômicos, ao mesmo tempo que também participam de sua construção e reprodução. Essa perspectiva amplia a compreensão da sociedade e promove uma análise mais profunda das interações entre o indivíduo e a coletividade.

A abordagem pedagógica percorre os principais temas das Ciências Sociais – Antropologia, Ciência Política e Sociologia – e os conecta às questões que dialogam com os interesses e desafios enfrentados pelas várias juventudes brasileiras. Alinhada às ideias de David Ausubel (1918-2008), psicólogo da educação estadunidense, sobre a aprendizagem significativa61, a coleção busca facilitar a assimilação dos conteúdos, promovendo a relevância da aprendizagem para a realidade dos jovens, conectando novos conceitos ao repertório sociocultural prévio dos estudantes. O conhecimento é construído de maneira ativa, e os estudantes são convidados a participar desse processo, utilizando suas realidades e contextos como ponto de partida para reflexões mais amplas.

Para estimular essa reflexão crítica, a coleção valoriza o uso de diversos materiais e recursos, como gráficos, dados estatísticos, mapas, charges, tirinhas, filmes e fotografias. Esses recursos mobilizam as representações que os estudantes fazem do mundo social e criam pontes que facilitam a construção coletiva de novos saberes. O objetivo é proporcionar um processo de aprendizagem significativo, que faça sentido para os estudantes e seja relevante para suas realidades. Ao longo do material, eles são incentivados a desenvolver uma postura crítica e analítica, o que contribui para a formação de sujeitos ativos e reflexivos.

59 FERNANDES, Florestan. O padrão de trabalho científico dos sociólogos brasileiros. Rio de Janeiro: Editora da Universidade de Minas Gerais, 1958. (Estudos sociais e políticos, v. 3).

60 MILLS, Charles Wright. A imaginação sociológica. Tradução: Waltensir Dutra. 6. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. (Biblioteca de Ciências Sociais).

61 AUSUBEL, David Paul. The psychology of meaningful verbal learning. New York: Grune & Stratton, 1963.

Esses pressupostos implicam a percepção de que os estudantes não são meros receptores de conteúdos prontos. O material inclui atividades que os convidam a construir o conhecimento com base em suas próprias experiências e vivências, sempre em diálogo com as teorias e os conceitos das Ciências Sociais. Essa dinâmica favorece o desenvolvimento da autonomia dos estudantes, incentivando-os a refletir criticamente sobre as normas e os padrões que estruturam a sociedade, bem como sobre as desigualdades de gênero, raça, etnia e classe social.

A pluralidade de perspectivas é um dos pilares da coleção. Ao integrar diferentes correntes teóricas e apresentar autores diversos em termos de gênero, etnia, regionalidade e nacionalidade, a proposta educativa se torna mais inclusiva e crítica.

Além das teorias clássicas que fundamentam as Ciências Sociais, a coleção introduz continuamente pensadores contemporâneos, muitos comprometidos com a construção de perspectivas decoloniais. Essa abordagem enriquece o entendimento dos estudantes, oferecendo uma formação sólida nos conceitos tradicionais, ao mesmo tempo que promove o diálogo com novas matrizes teóricas. Assim, eles compreendem como as Ciências Sociais se desenvolveram historicamente e como continuam a se transformar em face das críticas e contribuições de diferentes autores.

Ao integrar essas diversas visões, a coleção reforça a ideia de que o conhecimento está em constante construção, preparando os estudantes para analisar o mundo social de forma crítica e plural, em consonância com a proposta pedagógica de promover uma educação inclusiva e transformadora.

Outro ponto central da coleção é a desnaturalização dos padrões sociais. O objetivo é incentivar os estudantes a questionar as estruturas de poder e as ideologias que perpetuam desigualdades sociais. Esse processo é essencial para promover uma postura investigativa e transformadora, permitindo que os estudantes reconheçam as bases sobre as quais as desigualdades são construídas e perpetuadas. Essa proposta se manifesta tanto nas atividades quanto nos textos teóricos, que foram elaborados para criar um ambiente respeitoso e acolhedor para a troca de ideias e opiniões, a fim de valorizar a diversidade em todos os aspectos dos sujeitos e do convívio social. A ideia é promover um espaço em que a divergência seja vista como uma oportunidade de crescimento e aprendizado e onde o debate crítico seja incentivado de forma construtiva.

A mediação docente desempenha um papel fundamental nesse processo. O professor atua como facilitador, promovendo debates e reflexões críticas que incentivam

a participação ativa dos estudantes. Ao criar um ambiente de aprendizagem colaborativo, o professor ajuda a construir um espaço em que os estudantes possam se sentir à vontade para expressar suas opiniões, confrontar diferentes pontos de vista e, assim, enriquecer a própria compreensão sobre os fenômenos sociais. A coleção propõe que o docente incentive o pensamento crítico, levando os estudantes a questionar normas e padrões sociais e a refletir sobre as implicações dessas estruturas em suas vidas e na sociedade como um todo.

Os conceitos teóricos apresentados são aplicados de maneira prática e conectam-se diretamente ao cotidiano dos jovens. Por meio de exemplos concretos e atividades que incentivam o debate, os estudantes são levados a refletir sobre como os fenômenos sociais afetam suas vidas e a sociedade em geral. Isso fortalece o aprendizado, tornando-o relevante e facilitando o desenvolvimento de uma postura crítica frente às estruturas sociais e às dinâmicas de poder que as sustentam. Ao longo do processo, os estudantes são convidados a se posicionarem de forma crítica e a refletir sobre seu papel como agentes de transformação social.

Como vimos anteriormente, a coleção também favorece uma abordagem interdisciplinar, de acordo com as concepções do sociólogo e filósofo francês Edgar Morin (1921-) sobre o conhecimento complexo62. Ao integrar áreas como História, Geografia, Filosofia, Antropologia e Ciência Política, o material promove uma compreensão mais ampla e conectada dos fenômenos sociais, evitando o conhecimento fragmentado. Para Morin, o saber deve ser entendido como uma totalidade interligada, proporcionando uma visão mais completa da realidade. Os fenômenos sociais, por sua natureza, não podem ser analisados de forma isolada; exigem a integração de diferentes saberes, permitindo que os estudantes compreendam a complexidade da vida social. Essa abordagem incentiva os estudantes a refletir de maneira mais crítica e profunda sobre suas próprias realidades e sobre o mundo ao seu redor.

Por fim, ao articular diferentes abordagens teóricas e metodológicas, a coleção busca oferecer uma educação crítica e transformadora, que capacita os estudantes a compreender a sociedade sob novas perspectivas. A ideia é preparar os jovens para atuar de forma consciente, autônoma e crítica na sociedade, sendo capazes de enfrentar os desafios do mundo contemporâneo e contribuir para sua transformação. A educação, nesse sentido, é vista como um meio de promover a cidadania ativa e a responsabilidade social, convidando os estudantes a refletir sobre seu papel na construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e solidária e preparando-os para o mundo do trabalho e outros campos de atuação social.

62 MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. Tradução: Eliane Lisboa. Porto Alegre: Sulina, 2005.

Eixos temáticos da coleção

A coleção está organizada em três grandes eixos temáticos, cada um com seis capítulos. A ordem dos capítulos foi planejada para facilitar a aproximação gradual dos estudantes com os temas e o vocabulário das Ciências Sociais, permitindo que o conhecimento adquirido em um capítulo seja utilizado ao longo dos conteúdos subsequentes. Embora os capítulos tratem de temas variados, muitos conceitos, questões e perspectivas teóricas percorrem todo o livro, sendo retomados em diferentes momentos tanto por professores quanto pelos estudantes.

O primeiro eixo, Modos de saber, modos de viver, engloba os capítulos 1 a 6. Seu objetivo principal é introduzir os estudantes ao campo das Ciências Sociais, incentivando-os a construir novas perspectivas sobre sua realidade. Por isso, o livro começa com um capítulo sobre “indivíduo e sociedade”, rompendo com a tradição da maioria dos livros didáticos de Sociologia, que costumam iniciar com a história das Ciências Sociais ou com a apresentação das três áreas disciplinares que a compõem. A escolha de começar pelo tema “indivíduo e sociedade” parte da ideia de que é essencial, desde o início, conectar os estudantes com temas e conceitos que se relacionam diretamente com suas vivências cotidianas.

Essa abordagem visa despertar maior interesse e identificação com o componente curricular, destacando que ele oferece um espaço para que os estudantes reflitam sobre suas individualidades, seu papel no mundo e suas possibilidades de ação na sociedade. A Sociologia não se limita ao estudo das sociedades; ela também abrange o processo de formação dos indivíduos, sendo uma ferramenta crucial para a compreensão das identidades. Isso é particularmente importante na adolescência, período marcado pela formação da subjetividade, pela pertença a grupos e pelo desenvolvimento de papéis sociais.

Ainda no primeiro eixo, são apresentados temas e conceitos fundamentais das Ciências Sociais, como cultura, etnocentrismo e ideologia, formando um repertório comum que acompanhará os estudantes ao longo de sua trajetória. Além disso, são discutidos temas próximos à realidade dos jovens brasileiros, como questões raciais e culturas juvenis, abordando a diversidade de maneira plural, com foco na tolerância e no respeito às diferenças. Depois de se familiarizarem com a perspectiva sociológica e suas conexões com suas próprias vidas, os estudantes são apresentados às três áreas das Ciências Sociais, à história de seu surgimento e ao conceito de “imaginação sociológica”. Esse conteúdo aparece em um momento em que os estudantes já compreendem o que é a Sociologia e como ela se relaciona com suas

experiências, permitindo uma aprendizagem mais orgânica e significativa.

O segundo eixo, Poder, política e (re)existência, abrange os capítulos 7 a 12. Nele, os estudantes utilizam o repertório adquirido nos primeiros capítulos para explorar temas mais amplos, embora conectados com suas vidas cotidianas. O eixo aborda questões como Estado, política, cidadania, democracia e movimentos sociais, convidando os estudantes a relacionar as grandes instituições com suas realidades imediatas, percebendo-se como agentes em um mundo em constante transformação. O capítulo 12, que trata de temas como biopolítica e necropolítica, cria conexões claras com os conteúdos do primeiro eixo e oferece ferramentas analíticas para que os estudantes relacionem os grandes temas da vida pública à formação de suas identidades e subjetividades.

O terceiro eixo, Desafios de uma comunidade planetária, abrange os capítulos 13 a 18. Ele aborda temas que exigem maior nível de abstração analítica, aproveitando a fluência dos estudantes em relação aos conceitos e temas já discutidos. O foco principal é a desigualdade, analisada sob diversas formas e presente nos grandes desafios do mundo contemporâneo. Os capítulos tratam de questões como gênero, trabalho, consumo, meio ambiente e tecnologias, mostrando como todas essas esferas são, simultaneamente, produto e produtoras de desigualdades sociais.

Práticas de pesquisa

Ao longo da coleção, são propostas atividades variadas que buscam oferecer oportunidades de levar o estudante a compreender, interpretar e formular ideias científicas em várias situações, sempre que possível ligadas ao seu cotidiano. Nesse sentido, a coleção proporciona um apoio ao processo de letramento científico.

Esse processo envolve etapas do método científico, como definir um problema, propor hipóteses, testar essas hipóteses e formular conclusões. Envolve também aprender procedimentos e atitudes de investigação, comunicação e debate de fatos e ideias. Além disso, a abordagem investigativa deve proporcionar oportunidades para o uso social do que se aprende, isto é, levar os estudantes a implementar soluções para resolver problemas cotidianos. Assim, a coleção propõe aos estudantes práticas de pesquisa, distribuídas em diferentes capítulos, que possibilitam o exercício da investigação científica de fenômenos sociais por meio da aplicação de diferentes técnicas e métodos de coleta, organização e análise de dados. No quadro a seguir, apresentamos as práticas de pesquisa desenvolvidas na coleção e algumas das suas principais características.

O que é

Estudo de caso

Capítulo 3

p. 64-65

Trata-se de uma estratégia de pesquisa descritiva que analisa grupos, instituições, eventos, políticas públicas ou fenômenos sociais sobre um assunto específico.

Pesquisa-ação

Capítulo 5

p. 100-101

Tipo de investigação participativa que busca transformar práticas sociais, unindo pesquisadores e participantes para identificar problemas, encontrar soluções e promover mudanças, gerando novos conhecimentos a partir dessas transformações.

Características

• O caso é sempre bem delimitado, podendo ser singular ou típico.

• No estudo de um caso singular, as possibilidades de generalizações são restritas. Já em casos típicos, pode-se explicar o fenômeno de modo a ser aplicável a um conjunto de casos semelhantes.

• Esse método de pesquisa pressupõe participação, reflexão e resolução do problema.

• Utiliza técnicas de pesquisa para informar e decidir a ação social mais justa e racional.

• Segue critérios comuns a outros tipos de pesquisa acadêmica, como revisão por pares quanto a procedimentos de investigação.

Construção e uso de amostragens e questionário

Capítulo 6

p. 118-119

A amostragem é uma técnica utilizada para a coleta de dados quantitativos sobre o objeto de estudo. É um processo de escolha de uma amostra (parte extraída de uma população a ser investigada). O questionário, por sua vez, consiste na elaboração de questões que podem ser de diferentes tipos – múltipla escolha, pergunta fechada, pergunta aberta, entre outros. O objetivo é coletar impressões de determinado grupo (definido na amostragem) sobre um assunto específico.

• A validade de uma amostra é garantida quando características dela são representativas em relação à população total dos indivíduos que se estuda.

• O critério de representatividade dos grupos pesquisados deve levar em consideração aspectos sociopolíticos dos indivíduos ou grupos investigados.

• Os questionários devem considerar a clareza das perguntas. Por isso, é importante testar os questionários antes de colocá-los em prática.

Revisão bibliográfica

Capítulo 7

p. 140-141

A revisão bibliográfica é um levantamento bibliográfico com o objetivo de identificar o que já foi produzido sobre o tema a ser investigado, ou seja, se há pesquisas semelhantes ou complementares que contribuam para o avanço da pesquisa que será realizada.

• Promove revisões de publicações científicas em periódicos, livros, anais de congressos etc.

• Não realiza coleta de dados em campo.

Análise documental

Capítulo 2

p. 36-37

Capítulo 8

p. 158-159

Construção e uso de questionários

Capítulo 10 p. 183

O que é

O termo “documento” inclui uma diversidade de materiais escritos, iconográficos e estatísticos, cuja análise possa fornecer dados sobre o fenômeno pesquisado. Na análise do documento, buscam-se a intenção do autor, os temas destacados, elementos do contexto social e histórico, a coerência interna e a estratégia do discurso.

Características

• Os documentos são considerados primários se foram elaborados por pessoas que participaram diretamente do evento que está sendo pesquisado.

• Algumas dificuldades desse tipo de pesquisa: muitos documentos não foram produzidos para fornecer informações para uma investigação social; eles representam pontos de vista dos seus autores; em sua maioria são relatos verbais e não revelam comportamentos não verbais, que podem ser relevantes para a pesquisa.

O questionário consiste em uma série de perguntas voltadas para a coleta de dados qualitativos ou quantitativos.

• As perguntas podem ser abertas ou fechadas.

• Questões abertas permitem respostas elaboradas com base nas opiniões dos entrevistados, direcionadas de acordo com o tema da investigação. O uso desse tipo de questionário é interessante quando se pretende alcançar maior profundidade acerca do tema investigado.

• Questões fechadas são utilizadas quando o pesquisador possui conhecimento do contexto investigado. Há questionários desse tipo em que as perguntas têm como únicas respostas possíveis “sim” ou “não”.

Análise de mídias tradicionais

Capítulo 12 p. 232-233

Analisa a linguagem das mídias de massa, os sujeitos, o contexto sócio-histórico e a ideologia.

Grupo focal

Capítulo 13

p. 246

Grupo de trabalho selecionado pelo pesquisador para discutir e comentar o tema pesquisado a partir da experiência pessoal dos membros do grupo.

• As mídias tradicionais são consideradas espaço de poder, no qual recursos verbais e visuais constroem identidades e difundem ideologias. Para isso, analisam-se o discurso, seus sentidos e impactos simbólicos e sociais na realidade objetiva. O principal objetivo é desvendar sentidos e narrativas dominantes construídas.

• Os par ticipantes devem possuir algumas características em comum e uma vivência com o tema em discussão.

• Essa técnica permite a coleta de dados qualitativos a respeito de opiniões, valores e atitudes relacionados ao tema estudado.

• O(s) pesquisador(es) deve(m) ser o(s) mediador(es) das discussões, garantindo que elas se mantenham em torno do assunto original e favoreçam a interrelação entre os membros do grupo.

Prática de pesquisa

Análise de mídias sociais (análise de métricas das mídias e princípios de análise de discurso multimodal)

Capítulo 15 p. 288

Observação, tomada de nota e construção de relatórios

Capítulo 16 p. 300

O que é

Consiste em estudar o desempenho de sites, publicações, aplicativos e redes sociais por meio de métricas. Essas métricas ajudam a medir o engajamento e identificar o comportamento dos usuários.

Características

• Essa técnica utiliza o método de análise de mídias sociais para compreender os efeitos dessas mídias no comportamento dos usuários.

• Algumas métricas das mídias sociais são compartilhamento, tempo de navegação, rank, demografias, fontes de tráfego, curtidas, fanpages, posts, número de seguidores, quantidade de likes, mapeamento de influenciadores, entre outros.

• O objetivo das métricas é aferir o desempenho das estratégias de comunicação das mídias sociais.

Consiste em uma técnica voltada para investigar o mundo real com o objetivo de compreendê-lo e interpretá-lo (trabalho de campo).

Estudo de recepção (de obras de arte e de produtos da indústria cultural)

Capítulo 17 p. 323

Trata-se de uma investigação das mediações presentes no processo de recepção e consumo de obras de arte e produtos da indústria cultural.

• Em razão de sua natureza, é uma prática que pode ser utilizada em diversos tipos de pesquisa.

• A observação sistemática e atenta de uma dada situação deve resultar em anotações precisas.

• Os relatórios finais devem ser adequados teórica e metodologicamente em relação aos temas e objetos da investigação.

• Problematiza a oposição emissor todo-poderoso versus receptor passivo.

• Considera que a relação dos receptores com os meios de comunicação é necessariamente mediada e que a recepção é um processo.

• A análise da recepção de bens culturais deve levar em consideração a experiência pessoal e social dos indivíduos e grupos humanos.

Entrevistas (com destaque para a semiestruturada)

Capítulo 18 p. 340-341

As entrevistas são constituídas por um conjunto de questões preestabelecidas, mediante um roteiro, e por questões formuladas durante a entrevista.

• As questões da entrevista devem atender aos objetivos da pesquisa.

• As questões predeterminadas podem ser simplesmente itens, como dados de identificação do entrevistado.

• Nas questões abertas, o pesquisador deve ter cuidado para não fugir do objetivo da pesquisa, buscando ser sempre ético com o entrevistado.

• O pesquisador deve conhecer com certa profundidade o contexto a ser investigado para ajudá-lo na elaboração da entrevista.

Referências comentadas

DIGITAIS

• BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2024]. Disponível em: https:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/consti tuicao.htm. Acesso em: 5 nov. 2024.

A chamada Constituição Cidadã instituiu as eleições livres e diretas, promoveu a liberdade de expressão e consolidou os direitos humanos de forma abrangente, incluindo os direitos das crianças, dos adolescentes, dos indígenas e dos quilombolas, além de promover a igualdade de gênero e muitos outros direitos.

BRASIL. Decreto no 6.040, de 7 de fevereiro de 2007

Institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. Brasília, DF: Presidência da República, 2007. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20072010/2007/decreto/d6040.htm. Acesso em: 5 nov. 2024.

O decreto define as políticas e ações do Estado brasileiro para o reconhecimento, o fortalecimento e a garantia dos direitos dos povos e das comunidades tradicionais.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília, DF: MEC, 2018. Disponível em: https://www.gov.br/mec/pt-br/ escola-em-tempo-integral/BNCC_EI_EF_110518_ver saofinal.pdf. Acesso em: 24 out. 2024.

O documento estabelece diretrizes para a educação básica no Brasil e define competências e habilidades essenciais que devem ser desenvolvidas ao longo da formação escolar, abordando conteúdos que promovem uma educação integral e inclusiva, alinhada às necessidades sociais e culturais do país.

BRASIL. Ministério da Educação. Competências socioemocionais como fator de proteção à saúde mental e ao bullying. Brasília, DF: [200-]. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/imple mentacao/praticas/caderno-de-praticas/aprofunda mentos/195-competencias-socioemocionais-como -fator-de-protecao-a-saude-mental-e-ao-bullying. Acesso em: 5 nov. 2024.

Parte da seção de Aprofundamentos do Caderno de Práticas, disponibilizado no site da BNCC para fomentar a sua implementação, descreve cinco competências socioemocionais com base no trabalho do The Collaborative for Academic, Social, and Emotional Learning (Casel).

• BRASIL. Ministério da Educação. Cultura juvenil na escola. Brasília, DF: MEC, [202-]. Disponível em:

http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/cult_juve nil.pdf. Acesso em: 24 out. 2024.

Apresenta o debate sobre a importância de trabalhar as culturas juvenis no espaço escolar, indicando algumas possibilidades de contextualização da aprendizagem e demonstrando como essa abordagem pode favorecer o aprendizado.

• BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Temas Contemporâneos Transversais na BNCC: contexto histórico e pressupostos pedagógicos. Brasília, DF: MEC, 2019. Disponível em: https:// anec.org.br/wp-content/uploads/2020/04/TEMAS -CONTEMPORANEOS_contextualizacao_BNCC-MEC. pdf. Acesso em: 5 nov. 2024.

Documento que estabelece os assuntos ligados aos principais temas contemporâneos que devem ser relacionados à realidade dos estudantes na educação básica. De caráter diversificado, os temas transversais adicionam ao currículo uma formação voltada ao trabalho, à cidadania e à democracia.

• BRASIL. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Estatuto da Pessoa Idosa: lei no 10.741, de 1o de outubro de 2003. Brasília, DF: MDH, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/centrais-de -conteudo/pessoa-idosa/estatuto-da-pessoa-idosa. pdf. Acesso em: 5 nov. 2024.

Estabelece direitos garantidos à pessoa idosa, como gratuidade no transporte público e no fornecimento de medicamentos de uso contínuo, atendimento preferencial na prestação de serviços e no acesso à Justiça, entre outros. Lei sancionada em 2003, nomenclatura atualizada em 2022.

• BRASIL. Ministério dos Direitos Humanos. Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília, DF: MDH, 2024. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/ navegue-por-temas/crianca-e-adolescente/publica coes/eca_mdhc_2024.pdf. Acesso em: 5 nov. 2024.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) torna esses indivíduos sujeitos de direito e busca garantir sua proteção integral.

• FERNANDES, Florestan. Florestan Fernandes, história e histórias. [Depoimento cedido a] Alfredo Bosi, Carlos Guilherme Mota e Gabriel Cohn. Novos Estudos Cebrap, São Paulo, n. 42, p. 3-31, jul. 1995. Depoimento realizado no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, em 26 de junho de 1981. Disponível em: https://marxismo21.org/wp-content/uploads/ 2012/11/Florestan-F-entrevista-Cebrap.pdf. Acesso em: 5 nov. 2024.

A obra apresenta o depoimento de Florestan Fernandes a outros interlocutores, comentando a trajetória intelectual e política do sociólogo, desde os primeiros anos de formação acadêmica.

IMPRESSAS

• ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2006.

O livro apresenta um amplo panorama da história da educação e da pedagogia. Os capítulos abordam os diferentes contextos históricos e apresentam descrições de práticas educativas, com atividades complementares. O livro traz importantes referências para a discussão dos rumos da educação na atualidade.

BACICH, Lilian; MORAN, José (org.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. E-book.

A obra destaca a importância de práticas educacionais que colocam o estudante no centro do processo de aprendizagem. O livro oferece uma abordagem teórica e prática, com orientações para que educadores implementem as metodologias ativas em sala de aula.

BARBOSA, Mariana (org.). Pós-verdade e fake news: reflexões sobre a guerra das narrativas. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

Compilado de ensaios sobre os efeitos da comunicação via internet, abordando a disseminação de fake news, a negação de evidências científicas, os efeitos de algoritmos e o funcionamento de bots

BARIANI, Edison. A sociologia no Brasil: uma batalha, duas trajetórias (Florestan Fernandes e Guerreiro Ramos). 2003. Dissertação (Mestrado em Sociologia) –Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2003.

Nesta dissertação, Bariani aborda o debate entre Florestan Fernandes e Guerreiro Ramos, iniciado nos anos 1950.

BERGER, Peter; LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade: tratado de sociologia do conhecimento. Tradução: Floriano de Souza Fernandes. 24. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

Neste livro, os autores aprofundam o problema da sociologia do conhecimento, a sociedade como realidade objetiva e subjetiva, além de conceitualizar a institucionalização e o processo de socialização.

• BORELLI, Silvia H. S.; FREIRE FILHO, João (org.). Culturas juvenis no século XXI. São Paulo: EdUC, 2008. A obra explora dinâmicas e expressões das culturas juvenis contemporâneas. Com contribuições de diversos autores, o livro investiga como os jovens se apropriam

de espaços culturais e tecnológicos, moldando identidades e estilos de vida no contexto globalizado.

• BOUDON, Raymond; BOURRICAUD, François. Dicionário crítico de sociologia. Tradução: Maria Leticia Guedes Alcoforado, Durval Artico. São Paulo: Ática, 2001.

Ao longo de 101 verbetes, esse dicionário aponta as questões fundamentais da Sociologia.

• CASTRO, Eduardo Viveiros de. Perspectivismo e multinaturalismo na América indígena. O que nos faz pensar, Rio de Janeiro, n. 18, p. 225-254, 2004.

Neste texto, o autor traz o perspectivismo e o multinaturalismo do pensamento indígena, sobretudo dos povos amazônicos e dos yanomami, identificando e nomeando cosmologias diversas.

• CESARINO, Letícia. O mundo do avesso: verdade e política na era digital. São Paulo: Ubu, 2022. (Coleção Exit, v. 13).

A antropóloga brasileira explora dimensões dos fenômenos contemporâneos, como o populismo e a desinformação, buscando formas de entender as crises do cenário sociopolítico brasileiro nos dias atuais.

• DANTAS, Luís Thiago Freire. Descolonização curricular: a filosofia africana no ensino médio. São Paulo: Per Se, 2015.

Neste trabalho apresentado no Curso de Especialização em Educação das Relações Étnico-Raciais do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Federal do Paraná, Dantas aborda a contribuição da Filosofia Africana para o Ensino Médio e propõe uma descolonização do currículo para que se possa alcançar um ensino filosófico mais próximo do ambiente afro-brasileiro.

• DORTIER, Jean-François (dir.). Dicionário de Ciências Humanas. Tradução: Aline Saddi Chaves et al. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010.

Dicionário enciclopédico com os principais conceitos da área das Ciências Humanas.

• FAZENDA, Ivani C. Arantes. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. 11. ed. Campinas: Papirus, 2008. (Coleção Magistério: formação e trabalho pedagógico).

A obra é um marco nos estudos sobre interdisciplinaridade no Brasil. A autora oferece uma visão abrangente sobre a evolução histórica do conceito, explorando suas bases teóricas e a importância de sua aplicação na educação.

• GUERRA, Sidney; EMERIQUE, Lilian Balmant (org.). Direitos das minorias e grupos vulneráveis. Ijuí: Unijuí, 2008.

Conjunto de artigos elaborados por profissionais de diferentes áreas que discutem os direitos das diferentes minorias sociais existentes no Brasil.

• HUI, Yuk. Tecnodiversidade. Tradução: Humberto do Amaral. São Paulo: Ubu, 2020. Neste conjunto de textos, o filósofo chinês aborda o conceito de tecnodiversidade, ou seja, uma pluralidade de cosmotécnicas com formas de existência e valores diversos. Em seu entendimento, a superação da crise ecológica e moral dos tempos contemporâneos dependerá da prática política de decolonização.

• LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994. Obra fundamental nas Ciências Sociais, situa-se no debate da virada ontológica, problematizando o conceito de moderno, de cultura e natureza no pensamento filosófico ocidental.

MIRHAN, Lejeune (org.). Sociologia no ensino médio: desafios e perspectivas. São Paulo: Apparte, 2015. O livro reúne artigos sobre a implantação da Sociologia e da Filosofia no ensino médio brasileiro.

MORIN, Edgar. Para uma sociologia do conhecimento. Tradução: António Firmino da Costa. Sociologia, [Lisboa], n. 6, p. 135-146, 1989.

São abordadas algumas temáticas fundamentais da sociologia do conhecimento, com destaque para as relações entre cultura e conhecimento, poder e conhecimento e conhecimento científico.

PAVIANI, Jayme. Interdisciplinaridade: conceitos e distinções. 3. ed. Caxias do Sul: Educs, 2014. Apresenta de forma aprofundada os fundamentos conceituais da interdisciplinaridade. Paviani oferece uma reflexão teórica que ajuda a entender as interações entre diferentes campos do saber, promovendo uma visão mais integrada e colaborativa do processo educacional e científico.

PERRENOUD, Philippe. A pedagogia na escola das diferenças: fragmentos de uma sociologia do fracasso. Tradução: Cláudia Schilling. Porto Alegre: Artmed, 2002.

Neste livro, o autor analisa as razões do fracasso escolar e faz uma crítica às instituições escolares que não levam em conta as diferenças. Nesse sentido, Perrenoud defende a individualização dos percursos de formação e apresenta uma série de iniciativas inovadoras para a educação.

• PERRENOUD, Philippe. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens: entre duas lógicas. Porto Alegre: Artmed, 1998. O livro aborda a complexidade do processo de avaliação nas instituições escolares. A obra enfatiza e analisa duas lógicas que perpassam a avaliação nos sistemas escolares: uma a serviço da seleção e outra a serviço das aprendizagens. O autor trata também da ideia de avaliação formativa e dos desafios e obstáculos para a concretização desse tipo de avaliação.

• PE TRUCCELLI, José Luis. A cor denominada: estudos sobre a classificação étnico-racial. São Paulo: Dp&A, 2007.

Neste livro, o autor apresenta a problemática da identificação étnico-racial e da identidade e suas consequências na definição de políticas de ação afirmativa.

• RAMOS, Alberto Guerreiro. A redução sociológica. 3. ed. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1996.

Nesta obra, Ramos dedica-se ao estudo da complexidade da realidade nacional e defende que a Sociologia no Brasil deveria buscar compreender as características e os fenômenos brasileiros no contexto mundial.

• RAMOS, Alberto Guerreiro. Introdução crítica à sociologia brasileira. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1995. Neste livro, Ramos apresenta diversas reflexões sobre temas relevantes para a construção de uma Sociologia crítica no Brasil.

• RAMOS, Alberto Guerreiro. O processo da sociologia no Brasil: esquema de uma história das ideias. Rio de Janeiro: [s. n.], 1953.

Ramos apresenta os pensadores brasileiros do século XIX e XX que contribuíram para o surgimento e a consolidação da Sociologia no Brasil.

• RIBEIRO, Djamila. Pequeno manual antirracista. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

A autora aborda questões relativas ao racismo no Brasil, analisando conceitos como negritude, branquitude e racismo estrutural.

• SOCIEDADE BRASILEIRA DE SOCIOLOGIA. Anais do I Congresso Brasileiro de Sociologia: realizado sob o patrocínio da Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo. São Paulo: SBS, 1955.

Este documento contém a sistematização do I Congresso Brasileiro de Sociologia.

• THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação 18. ed. São Paulo: Cortez, 2011. (Coleção Temas básicos de pesquisa-ação).

Neste livro, o autor apresenta a pesquisa-ação como método participativo e explora suas aplicações e resultados.

• YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Tradução: Ana Thorell. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010.

Nesta obra, Yin explora a metodologia de estudo de caso, oferecendo exemplos práticos e orientações para a sua aplicação na pesquisa científica.

• ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Tradução: Ernani F. da F. Rosa. Porto Alegre: Artmed, 1998.

A obra do educador espanhol é uma referência para os estudos e as práticas educativas no Brasil e para a formação docente.

Recursos e estratégias didáticas

Organização das seções de textos e atividades

A organização das seções de textos e de atividades da coleção procurou desenvolver as propostas pedagógicas e metodológicas citadas ao longo deste manual. Nesse sentido, elas desenvolvem competências e habilidades da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas da BNCC (Ensino Médio), sem desconsiderar o vestibular e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), e buscam evidenciar conteúdos relevantes ao estudante.

O quadro a seguir salienta essas características, apresentando os objetivos de cada uma dessas seções.

Seções/Boxes

Abertura do capítulo

OBJETIVOS DO CAPÍTULO

Texto principal

ATIVIDADES

CONEXÕES com…

PERSPECTIVAS

Glossário

Saiba mais

RECAPITULE

INVESTIGAÇÃO

ATIVIDADES FINAIS

Características

Apresenta uma imagem e um pequeno texto que introduzem o tema a partir de questionamentos sobre o mundo contemporâneo. Inclui atividade inicial para reflexão sobre o tema, com base nos conhecimentos e vivências dos estudantes, promovendo o engajamento no processo de construção coletiva do conhecimento.

Destaca os principais objetivos de aprendizagem do capítulo.

Estrutura os conteúdos com títulos e subtítulos, explorando recursos como fotografias, charges, mapas, gráficos e atividades.

Atividades diversificadas e contextualizadas, que permitem aos estudantes ampliar e sistematizar os conteúdos. Mobilizam diferentes habilidades, como análise de texto, imagem, dados estatísticos e argumentação, por meio de trabalho individual e em grupo.

Explora a relação entre os conteúdos da Sociologia e outros componentes curriculares, como Filosofia, História, Geografia, Biologia, Matemática, Língua Portuguesa e Arte.

Apresenta ideias e trechos de textos de cientistas sociais, ativistas, jornalistas e outros sujeitos sociais. Permite o contato com diferentes abordagens e gêneros textuais, como trabalhos acadêmicos, crônicas e entrevistas. Pode conter atividades de interpretação e análise.

Explicações de termos e expressões menos conhecidos, próximos do local em que aparecem no texto.

Sugestões de livros, sites, podcasts, documentários, filmes e outros conteúdos para aprofundar os assuntos estudados.

Síntese do conteúdo estudado ao longo do capítulo, oferecendo um resumo dos principais temas e conceitos, ajudando os estudantes a verificar a compreensão dos conteúdos essenciais.

Seção que incentiva reflexões e práticas de pesquisa. Apresenta propostas diversificadas, que promovem o protagonismo dos estudantes.

Atividades que encerram o capítulo. Por meio delas, os estudantes podem verificar a compreensão dos principais conteúdos. Apresenta questões de vestibulares e do Enem.

Sugestões de cronogramas

Como estruturar o planejamento das aulas a partir das competências, das habilidades e dos conteúdos da obra? As possibilidades são variadas e vão desde a divisão dos conteúdos em bimestres, trimestres ou semestres até a combinação de diferentes temáticas desenvolvidas ao longo da obra, com a possibilidade de inversão de capítulos de acordo com os objetivos de aprendizagem do professor e as características da turma.

É importante que a seleção dos temas e conteúdos esteja conectada à realidade particular de cada unidade de ensino e da comunidade escolar, sendo possível elaborar sequências didáticas diversificadas, de acordo com a realidade local. Segundo Antoni Zabala, autor catalão referência em pedagogia, uma sequência didática

é a construção de uma série “ordenada e articulada de atividades que formam as unidades didáticas”63. Uma sequência didática prevê um planejamento, que define uma situação-problema, os conteúdos e materiais de referência, os objetivos de aprendizagem, as atividades e seus encaminhamentos, a participação dos estudantes, os tipos de avaliação e as justificativas do professor sobre as escolhas feitas. Portanto, a coleção permite a elaboração de currículos flexíveis, que se adaptem aos objetivos de aprendizagem do professor e aos interesses da sua turma.

A coleção pode ser utilizada nos três anos do Ensino Médio. O quadro a seguir apresenta uma proposta de sequência didática que leva em consideração os aspectos de cada um dos eixos. No entanto, esta sugestão para o desenvolvimento dos conteúdos não é a única possível, podendo variar conforme os contextos socioeducativos, a critério do professor.

63 ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Tradução: Ernani F. da F. Rosa. Porto Alegre: Artmed, 1998. p. 53, 58.

Orientações didáticas específicas

No quadro a seguir, são apresentados os temas, as competências gerais e específicas de Ciências Humanas e Sociais

Aplicadas, as habilidades e os Temas Contemporâneos Transversais desenvolvidos ao longo do volume. Nas páginas seguintes, oferecemos as orientações e indicações capítulo a capítulo.

Capítulo

1. Indivíduo e sociedade

2. Cultura, etnocentrismo e ideologia

Identidade, indivíduo, sociedade, socialização primária e secundária; rupturas e permanências das sociedades humanas; conceitos de fenômeno social; subjetividade; capital social; capital cultural; capital econômico e capital; organização de poder; estruturas econômicas; cultura; luta de classes; fato social; saber sociológico; ideologia; ação social; processos de socialização.

Conceitos de evolucionismo social; cultura; relativismo cultural, etnocentrismo e ideologia; limitações das teorias evolucionistas; intolerância e violência decorrentes do etnocentrismo; perspectiva decolonial; estruturação e perpetuação das posições de poder; conceitos de racialismo; eugenia; relativismo cultural; etnocentrismo; ideologia.

Competências gerais da Educação Básica

3. Imaginação sociológica

4. Cultura e natureza

Diferenças entre problema individual, problema social e problema sociológico; imaginação sociológica; análise de fenômenos sociais por meio do método de pesquisa “estudo de caso”; dados qualitativos e dados quantitativos.

1, 2, 7, 8, 9, 10

1, 2, 6, 9

1, 2, 4, 7, 10

5. Racismo no Brasil

Relação entre natureza e cultura; agentes culturais que moldam o ambiente natural; multinaturalismo; perspectivismo; cosmologia/cosmovisão.

Composição da população brasileira atual; desigualdade social e racial no Brasil; racismo na sociedade brasileira; combate ao racismo; raça, racismo científico e racismo estrutural.

1, 3, 6, 9

1, 2, 7, 9

Competências específicas de Ciências

Humanas e Sociais Aplicadas

1, 4

Habilidades Temas Contemporâneos Transversais

EM13CHS101, EM13CHS104, EM13CHS401 e EM13CHS501.

1, 5

EM13CHS102, EM13CHS105, EM13CHS106 e EM13CHS502.

1, 2, 3, 4, 6

1, 3, 5, 6

EM13CHS101, EM13CHS103, EM13CHS104, EM13CHS106, EM13CHS201, EM13CHS206, EM13CHS301, EM13CHS302, EM13CHS306, EM13CHS404, EM13CHS601, EM13CHS602 e EM13CHS606.

EM13CHS101, EM13CHS102, EM13CHS104, EM13CHS105, EM13CHS304, EM13CHS305, EM13CHS306, EM13CHS502 , EM13CHS504 e EM13CHS601.

1, 5, 6

EM13CHS101, EM13CHS103, EM13CHS502, EM13CHS503 e EM13CHS601.

Cidadania e Civismo (Vida Familiar e Social, Educação em Direitos Humanos, Direitos da Criança e do Adolescente)

Multiculturalismo (Diversidade Cultural, Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras)

Multiculturalismo (Diversidade Cultural; Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras)

Meio Ambiente (Educação para o Consumo)

Economia (Trabalho)

Saúde (Educação Alimentar e Nutricional)

Cidadania e Civismo (Vida Familiar e Social)

Multiculturalismo (Diversidade Cultural)

Ciência e Tecnologia (Ciência e Tecnologia)

Meio Ambiente (Educação Ambiental)

Cidadania e Civismo (Vida Familiar e Social; Educação em Direitos Humanos)

Multiculturalismo (Diversidade Cultural; Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras)

Economia (Trabalho)

Cidadania e Civismo (Educação em Direitos Humanos)

Multiculturalismo (Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras)

6. Jovens, juventudes e culturas juvenis

7. Uma ciência do social: clássicos e modernos

8. Política, democracia e Estado

9. Democracia, cidadania e direitos humanos

10. Legislação, Estado e política

Competências gerais da Educação Básica

Juventude e cultura juvenil; desafios da juventude brasileira. 1, 2, 4, 6, 7, 8, 9, 10

11. Movimentos sociais

Autores clássicos das Ciências Sociais; Sociologia, Ciência Política e Antropologia; objetos de estudos das Ciências Sociais; a revisão bibliográfica como prática de pesquisa; Darwinismo; Idade moderna e modernidade.

Política e Estado no contexto atual; contratualistas e contrato social; modelos de democracia; técnicas argumentativas; campo político; teoria da separação dos três poderes; tecnopolítica; tipos de dominação.

1, 2, 7, 9, 10

1, 2, 7, 8, 9, 10

Democracia e cidadania no mundo contemporâneo; direitos humanos e sua relação com a cidadania e a democracia; nepotismo; homem cordial. 1, 2, 5, 9, 10

Três poderes da República Federativa do Brasil; direitos e deveres; lei, poliarquia e voto; Estado democrático de direito.  1, 2, 8, 9, 10

12. Necropolítica, miscigenação e resistência negra

Movimentos sociais; institucionalização dos movimentos sociais; participação democrática da população na sociedade; movimento social conjuntural; movimento social estrutural; lobbying; advocacy.  1, 2, 4, 6, 7, 9, 10

Necropolítica, genocídio, miscigenação e democracia racial; exclusão social e racismo; resistência negra no Brasil; biopoder; racismo institucional; embranquecimento; apropriação cultural; reafricanização.  1, 2, 3, 4, 5, 6, 9, 10

Competências específicas de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas

1, 2, 3, 4, 5, 6

Habilidades

EM13CHS101, EM13CHS102, EM13CHS103, EM13CHS104, EM13CHS106, EM13CHS202, EM13CHS205, EM13CHS303, EM13CHS402, EM13CHS404, EM13CHS502, EM13CHS503, EM13CHS504, EM13CHS601 e EM13CHS606.

1, 6 EM13CHS101 e EM13CHS603.

1, 5, 6

EM13CHS101, EM13CHS504, EM13CHS603 e EM13CHS604.

1, 5, 6

1, 2, 5, 6

1, 2, 4, 5, 6

EM13CHS101, EM13CHS103, EM13CHS501, EM13CHS502, EM13CHS602 e EM13CHS605.

EM13CHS101, EM13CHS103, EM13CHS104, EM13CHS106, EM13CHS204, EM13CHS504, EM13CHS603 e EM13CHS605.

EM13CHS101, EM13CHS103, EM13CHS104, EM13CHS205, EM13CHS206, EM13CHS403, EM13CHS404, EM13CHS501, EM13CHS502, EM13CHS503, EM13CHS504, EM13CHS601, EM13CHS604 e EM13CHS605.

1, 2, 4, 5, 6

EM13CHS101, EM13CHS102, EM13CHS104, EM13CHS106 , EM13CHS203, EM13CHS204, EM13CHS404, EM13CHS501, EM13CHS502, EM13CHS503, EM13CHS601, EM13CHS605 e EM13CHS606.

Temas Contemporâneos Transversais

Economia (Trabalho)

Cidadania e Civismo (Vida Familiar e Social; Direitos da Criança e do Adolescente)

Multiculturalismo (Diversidade Cultural; Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras)

Cidadania e Civismo (Educação em Direitos Humanos)

Multiculturalismo (Diversidade Cultural; Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras)

Cidadania e Civismo (Vida Familiar e Social; Educação em Direitos Humanos)

Multiculturalismo (Diversidade Cultural)

Ciência e Tecnologia (Ciência e Tecnologia)

Cidadania e Civismo (Vida Familiar e Social; Educação para o Trânsito; Educação em Direitos Humanos; Processo de envelhecimento, respeito e valorização do Idoso)

Cidadania e Civismo (Educação em Direitos Humanos)

Economia (Trabalho)

Cidadania e Civismo (Vida Familiar e Social; Educação em Direitos Humanos)

Multiculturalismo (Diversidade Cultural; Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras)

Cidadania e Civismo (Educação em Direitos Humanos)

Multiculturalismo (Diversidade Cultural; Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras)

13. Sexualidade e diversidade de gênero

14. Trabalho, direitos e desigualdades

Sexo, gênero e sexualidade; patriarcado e desigualdades de gênero; movimentos feministas; combate à desigualdade e às violências sexual e de gênero; interseccionalidade; identidade e expressão de gênero; violência simbólica; trabalho produtivo; trabalho reprodutivo.

Conceitos de trabalho em diferentes matrizes teóricas; principais transformações do trabalho nas sociedades capitalistas; trabalho formal e trabalho informal; divisão social do trabalho; solidariedade social; solidariedade mecânica; solidariedade orgânica; alienação; fordismo; toyotismo; mais valia; burguesia; ética protestante; neoliberalismo; espírito do capitalismo; proletariado; taylorismo; uberização.

Competências gerais da Educação Básica

1, 2, 4, 6, 7, 8, 9, 10

1, 2, 6, 7, 9, 10

15. Sociedade e vigilância tecnológica

16. Meio ambiente e sociedade

Redes sociais e dinâmica social; controle e vigilância das big techs; capitalismo de vigilância; dados pessoais e plataformas digitais; big data; economia da atenção; algoritmo; teia cognitiva; bolhas; sociedade disciplinar; sociedade do controle.

Meio ambiente e organização social; sustentabilidade; principais desafios socioambientais da atualidade; sociedades tradicionais e preservação da natureza; desafios ambientais contemporâneos; ambientalismo; desenvolvimento sustentável; antropoceno; justiça ambiental; racismo ambiental; refugiados climáticos; povos tradicionais; pegada ecológica.

1, 2, 4, 5

17. Consumo e indústria cultural

Sociedade de consumo; consumo e cultura; padrões de consumo na sociedade brasileira; mercadoria; valor de uso; valor de troca; fetichismo da mercadoria; indústria cultural; cultura de massa; consumo consciente; economia solidária.

1, 2, 7, 9

18. Entre crenças e práticas sociais: anseios para o futuro

Afrofuturismo; os pensadores clássicos e a religião; tolerância religiosa; sonhos pessoais e coletivos; dimensão ética e seus valores na prática de vida.

1, 2, 4, 7, 9, 10

1, 2, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10

Capítulo
Temas

Competências específicas de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas

Habilidades

Temas Contemporâneos Transversais

1, 5

1, 4, 5, 6

EM13CHS103, EM13CHS502, EM13CHS503 e EM13CHS504.

Cidadania e Civismo (Educação em Direitos Humanos)

1, 2, 4, 5

EM13CHS101, EM13CHS103, EM13CHS105, EM13CHS401, EM13CHS402, EM13CHS403, EM13CHS404, EM13CHS502, EM13CHS504, EM13CHS605 e EM13CHS606.

EM13CHS101, EM13CHS103, EM13CHS106, EM13CHS202, EM13CHS401, EM13CHS403 e EM13CHS504.

Economia (Trabalho)

Cidadania e Civismo (Educação em Direitos Humanos)

1, 3

EM13CHS101, EM13CHS103, EM13CHS301, EM13CHS302, EM13CHS304 e EM13CHS306.

Meio ambiente (Educação para o Consumo)

Cidadania e Civismo (Vida Familiar e Social) Ciência e Tecnologia (Ciência e Tecnologia)

Meio ambiente (Educação Ambiental; Educação para o Consumo)

Saúde (Saúde)

Multiculturalismo (Diversidade Cultural)

Meio ambiente (Educação Ambiental; Educação para o Consumo)

1, 3, 5

EM13CHS106, EM13CHS303 e EM13CHS504.

Economia (Educação Financeira)

Cidadania e Civismo (Direitos da Criança e do Adolescente; Processo de envelhecimento, respeito e valorização do Idoso)

Meio ambiente (Educação Ambiental; Educação para o Consumo)

1, 2, 3, 5, 6

EM13CHS101, EM13CHS102, EM13CHS106, EM13CHS202, EM13CHS306, EM13CHS502, EM13CHS503, EM13CHS605 e EM13CHS606.

Cidadania e Civismo (Vida Familiar e Social; Educação em Direitos Humanos)

Multiculturalismo (Diversidade Cultural; Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras)

Ciência e Tecnologia (Ciência e Tecnologia)

Capítulo 1

Indivíduo e sociedade

Este capítulo explora categorias e conceitos fundamentais da Sociologia, como indivíduo, identidade, pessoa, sujeito, subjetividade, sociedade e socialização primária e secundária, com base em teorias de autores clássicos e contemporâneos. Por meio de textos, atividades e imagens, os estudantes são incentivados a refletir sobre a relação entre indivíduo, sociedade e espécie, conforme a perspectiva de Edgar Morin.

A compreensão desses conceitos é essencial para que os estudantes reflitam sobre a complexidade humana e as múltiplas camadas que constituem o ser. Utilizando exemplos do cotidiano, os estudantes são incentivados a adotar o “pensamento sociológico”, aproximando-se do objeto de estudo da Sociologia: a sociedade e as relações entre indivíduos.

Ao considerar que as sociedades estão em constante transformação, mas também preservam aspectos estáveis, é importante incentivar os estudantes a pensar sobre o que muda em uma sociedade ao longo do tempo, por que essas mudanças ocorrem e como elas se manifestam. Esses questionamentos iniciais introduzem os estudantes ao pensamento de autores como Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim, destacando que a análise das relações sociais pode variar de acordo com o referencial teórico e a metodologia utilizada.

Não há um consenso na Sociologia sobre a definição precisa de sociedades tradicionais, modernas e contemporâneas. Sob uma perspectiva clássica, Durkheim diferencia as sociedades tradicionais das modernas-industriais pelo tipo de solidariedade que possibilita a coesão social: a solidariedade mecânica nas sociedades tradicionais e a solidariedade orgânica nas sociedades modernas. Karl Marx afirma que, nas sociedades modernas-capitalistas, há uma distinção clara entre a sociedade civil e o Estado, algo diferente do mundo medieval, onde as relações sociais eram moldadas por laços familiares e instituições políticas, como as guildas de ofício. Max Weber caracteriza a sociedade moderna como regida pela racionalidade e pelo desencantamento do mundo.

O conceito de socialização é central para articular a relação entre indivíduo e sociedade, permitindo que os estudantes compreendam essa interdependência e reconheçam o campo de estudo da Sociologia em seu próprio cotidiano. Ao final do capítulo, são apresentadas discussões entre teorias clássicas e contemporâneas sobre permanências e mudanças sociais.

Orientações didáticas

Ao iniciar o capítulo, na página 12, sugerimos que faça uma apresentação detalhada sobre si ou o componente curricular, pois isso será parte do processo ao longo das atividades. O objetivo é, por meio de exemplos práticos, introduzir o campo e os objetos de estudo da Sociologia.

Ao tratar do conteúdo inicial, espera-se que os estudantes se sintam sensibilizados e curiosos para compreender os fenômenos sociais com base em situações do cotidiano. Assim, inicia-se o processo de identificar, definir, conhecer, diferenciar, compreender e refletir sobre os conceitos apresentados.

Os tópicos O indivíduo e Indivíduo e fenômeno social têm como objetivo sensibilizar os estudantes para a complexidade das relações sociais. Eles incentivam a curiosidade por meio de perguntas que estimulam a reflexão crítica a respeito dos aspectos que formam a sociedade e apresentam, de forma acessível, conceitos fundamentais das Ciências Sociais, além de introduzir autores clássicos e contemporâneos. Esses tópicos proporcionam uma base sólida para que os estudantes compreendam os principais elementos que influenciam as interações sociais e as dinâmicas entre indivíduo e sociedade.

Na página 15, sugerimos a leitura da seção Perspectivas, que apresenta as três concepções de sujeito de Stuart Hall. Esse conteúdo é essencial para que os estudantes compreendam diferentes visões de sujeito ao longo do tempo e reflitam sobre como as identidades se formam e se transformam em distintos contextos. As concepções abordadas são: o sujeito do Iluminismo, o sujeito sociológico e o sujeito pós-moderno.

Incentive os estudantes a refletir sobre a crise de identidade discutida por Hall, que marcou o final do século XX e início do XXI, e como as identidades se constroem nas interações sociais. Pergunte quantas identidades podem coexistir em uma pessoa e quais fatores influenciam essa formação ao longo da vida. Destaque a relevância da relação entre o indivíduo e a sociedade no desenvolvimento dessas identidades, conforme a perspectiva sociológica de Hall.

Os tópicos Pessoa, identidade e subjetividade na teoria sociológica e Sujeito sujeitado nas páginas 16, 17 e 18 complementam a discussão, ajudando os estudantes a identificar as diferentes concepções de sujeito e a refletir sobre como essas noções moldam nossa percepção de nós mesmos e dos outros. Incentive a leitura mediada desses textos e promova diálogos sobre como esses conceitos aparecem nas experiências cotidianas dos estudantes.

Os tópicos As sociedades humanas e o saber sociológico, Sociedade e Sociedades humanas em movimento, nas páginas 19, 20, 21, 22 e 23, apresentam definições do conceito de sociedade e exploram as relações entre economia, cultura e poder na organização social. O último tópico também explora as contribuições de Marx, Weber e Durkheim sobre as dinâmicas das sociedades.

Por fim, os tópicos O processo de socialização, Socialização primária, Socialização secundária e Como os sociólogos e outros pensadores explicam as permanências e as mudanças?, nas páginas 24, 25, 26, 27 e 28, esclarecem como os seres humanos herdam, produzem e reproduzem o conhecimento acumulado ao longo da história. As concepções de sociólogos clássicos e contemporâneos enriquecem a compreensão sobre o processo de socialização e a relação entre permanências e mudanças sociais.

Indicação

MANUEL Castells: indivíduo e coletividade. [S. l.: s. n.], 2016. 1 vídeo (3 min). Publicado pelo canal Fronteiras do Pensamento. Disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=rgmCjuNVLSg. Acesso em: 6 out. 2024. O sociólogo espanhol Manuel Castells (1942-) explica que as redes são criadas na medida em que as conexões com outros indivíduos são feitas. As redes não são apenas virtuais, pois também ocorrem em bairros e comunidades.

ATIVIDADES

Página 13

1. Oriente os estudantes a se apresentarem e incentive-os a refletir sobre como expressamos nossa identidade para os outros.

2. Direcione, brevemente, a reflexão dos estudantes sobre suas próprias posições enquanto indivíduos na sociedade, oferecendo apontamentos sobre como eles podem observar as relações sociais, a forma de participação de cada um e o que os diferencia.

Página 14

Inicie a dinâmica de apresentação com os estudantes e, após as apresentações, peça que reflitam sobre como se apresentaram e o que compartilharam. Identifique o que foi comum ou específico entre as falas. Registre as impressões no quadro, agrupando-as por categorias, promovendo a comparação e mobilizando competências como comunicação, argumentação e empatia. Questione os termos utilizados nas apresentações, como idade, gosto

musical ou time de futebol. Se necessário, você pode iniciar a dinâmica utilizando exemplos de categorias identitárias e, em seguida, discutir se os estudantes seguiram os mesmos critérios. Essa prática introduz a Sociologia de forma concreta, estimulando perguntas sobre sociedade e fenômenos sociais. Oriente os estudantes a realizar as atividades e incentive-os a refletir sobre o que nos diferencia uns dos outros e o papel das regras sociais em nossa convivência. Evite respostas prontas, promovendo o pensamento crítico.

Página 15

Oriente os estudantes a refletir sobre as três concepções de sujeito apresentadas por Stuart Hall. Promova um debate sobre como cada concepção se relaciona com as experiências deles e com a sociedade contemporânea.

Página 20

Solicite o mapeamento conceitual, que tem como objetivo a identificação de conceitos ou ideias relacionadas ao tema estudado. Esse tipo de mapa descreve as relações entre as ideias por meio de um desenho esquemático. Um bom mapa conceitual deve ter uma estrutura hierárquica e permitir a conexão entre os termos. O objetivo desse mapa é representar a compreensão sobre as sociedades humanas e o saber sociológico. Caso considere adequado para a turma, reproduza o esquema no quadro e explique aos estudantes que uma das funções cognitivas é interpretar o significado das informações adquiridas e transformá-las em conhecimento, o que, para alguns, pode ser facilitado quando apresentado graficamente.

Mapa conceitual É composto de Identifica

Um mapa conceitual

Frases interligadas

Entre É composto de

Relacionamento

Conceitos

TAROUCO, Liane. Mapa conceitual. In: TAROUCO, Liane. Ambiente virtual de aprendizagem. Rio Grande do Sul: PGIE: UFRGS, 2001. Disponível em: http://penta2.ufrgs.br/edu/ambvirt/ambvir2t/ sld058.htm. Acesso em: 29 set. 2024. Localizável em: slide 58.

Página 23

Produção pessoal. Espera-se que os estudantes relacionem os conceitos de Marx, Durkheim e Weber com seus cotidianos; no primeiro caso, por meio de ideias como luta de classes, podem abordar, por exemplo, diferenças de poder aquisitivo de diferentes grupos sociais; no segundo, possam buscar exemplos de fatos sociais em suas vidas; e no terceiro, por sua vez, compreendam certos hábitos, como frequentar uma religião, estudar, trabalhar etc., como exemplos de ação social. Destaque que as teorias dos três pensadores contribuem, mesmo que por meio de perspectivas distintas, para a compreensão sociológica de nosso cotidiano.

Página 25

Espera-se que os estudantes reflitam sobre como as relações sociais são estruturadas e como essas estruturas impactam a liberdade e a autonomia dos indivíduos. Dependendo do exemplo escolhido, as relações podem variar em termos de afetos, intimidade, responsabilidades, interesses e tempo de convívio. Solicite que descrevam essas dinâmicas com exemplos claros. Durante o processo de socialização, é possível agrupá-los por semelhanças e diferenças, evidenciando as singularidades dos indivíduos e os aspectos comuns na sociedade.

Páginas 29 a 31

1. a) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes mencionem situações em que questionaram ou resistiram a regras e valores impostos, como questões relacionadas à liberdade pessoal, escolha de carreira, comportamentos sociais ou normas culturais.

1. b) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes identifiquem valores ou comportamentos que internalizaram, como o respeito pelas regras de convivência social, a importância do trabalho, a ética, a cooperação ou valores culturais e religiosos, que podem ter sido questionados no início, mas foram eventualmente aceitos.

1. c) Resposta pessoal. Os estudantes podem mencionar que, após um período de reflexão, modificaram seus comportamentos ou formas de pensar, como mudar de opinião sobre normas sociais, o papel da família, a ética no trabalho ou questões morais e culturais. O objetivo é perceber a mudança contínua de perspectiva ao longo da vida.

2. O enunciado refere-se à compreensão de fato social de Émile Durkheim. Para o autor, os fatos sociais são maneiras de pensar, agir e sentir que exercem coerção sobre os indivíduos, isto é, superam

o livre-arbítrio e os sentimentos e as vontades individuais.

3. Para Hall, o sujeito pós-moderno é uma construção teórica que emerge em reação às ideias modernistas de unidade, estabilidade e universalidade. Ele é fragmentado, descentralizado e fluido, influenciado por uma variedade de discursos culturais e sociais.

4. De acordo com Norbert Elias, indivíduo e sociedade são interdependentes. A sociedade é formada por interações entre indivíduos que geram configurações sociais complexas. Essas interdependências estruturam a sociedade, na qual cada indivíduo desempenha funções em relação aos outros, formando redes de elos.

5. Na tirinha, a personagem reflete sobre diferentes maneiras de como se vê ou como é vista pelos outros, criticando os padrões culturais impostos à imagem corporal. A sequência sugere uma reflexão crítica sobre esses padrões e oferece uma desnaturalização, ou seja, questiona aquilo que a sociedade toma como natural, propondo enxergar-se de maneira diferente.

Referências comentadas

• CASTORIADIS, Cornelius. A instituição imaginária da sociedade. Tradução: Guy Reynaud. 5. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

A obra apresenta uma reflexão a respeito da definição de sociedade e suas representações sociais.

• DREYFUS, Hubert L.; RABINOW, Paul. Michel Foucault: uma trajetória filosófica: para além do estruturalismo e da hermenêutica. Tradução: Vera Porto Carrero. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995.

Nesta obra, os autores exploram a essência do pensamento de Foucault, mostrando que ele nos legou mais que um método de análise, uma ferramenta poderosa para entender a condição humana.

• ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos. Tradução: Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.

O autor versa sobre como indivíduos e sociedade não são entidades distintas, mas interdependentes.

• ELIAS, Norbert. Introdução à sociologia. Tradução: Maria Luísa Ribeiro Ferreira. Lisboa: Edições 70, 1970.

O autor promove reflexões sobre algumas questões sociológicas do século XX.

• ENGELS, Friedrich; MARX, Karl. A ideologia alemã. Tradução: Luis Claudio de Castro e Costa. São Paulo: Martins Fontes, 1998. (Clássicos).

Os autores sistematizam o materialismo dialético-histórico e discutem a metodologia das Ciências Sociais.

• FREUD, Sigmund. O ego e o id e outros trabalhos (1923-1925). Tradução: Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. 19. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud). Neste livro, Freud descreve o funcionamento da mente e introduz os principais conceitos psicanalíticos.

• HORKHEIMER, Max; ADORNO, Theodor (org.). Temas básicos da sociologia. Tradução: Álvaro Cabral. 2. ed. São Paulo: Cultrix, 1973.

Os autores discutem diversos temas centrais da Sociologia, como o conceito de sociologia, sociedade, indivíduo e grupo.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 17. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. A obra apresenta as definições do conceito de cultura nas diversas escolas antropológicas.

MARX, Karl. Miséria da filosofia. Tradução: José Paulo Netto. São Paulo: Boitempo, 2017.

Karl Marx faz uma crítica contundente à economia política e à filosofia de Pierre-Joseph Proudhon, contestando suas teorias com ironia e argumentação incisiva. Marx confronta o subtítulo da obra de Proudhon, expondo as inconsistências de sua abordagem filosófica e econômica.

MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia. Tradução: Paulo Neves. São Paulo: Ubu, 2017.

O autor aborda temas como magia, religião, morte e fenômenos sociais, expressando o pensamento sociológico e antropológico do século XX.

MORIN, Edgar. O método 5: a humanidade da humanidade. Tradução: Juremir Machado da Silva. 5. ed. Porto Alegre: Sulina, 2012.

Neste volume, o autor reflete sobre as contradições e a complexidade da identidade humana.

SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2005.

Os autores descrevem e definem conceitos e teorias das ciências humanas.

• SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

O autor apresenta um estudo sobre o desenvolvimento das teorias curriculares, desde suas origens até as abordagens pós-críticas atuais.

Capítulo 2

Cultura, etnocentrismo e ideologia

Este capítulo explora a diversidade humana sob a perspectiva das Ciências Sociais, introduzindo conceitos como evolucionismo, racialismo, cultura, relativismo, etnocentrismo, decolonialidade e ideologia. O objetivo é sensibilizar os estudantes para questões do cotidiano e aquelas relacionadas ao tratamento das diferenças ao longo da história. Esses temas são familiares para os jovens e, ao trabalhá-los por meio das Ciências Sociais, a intenção é aproximar os estudantes do componente curricular, promovendo identificação com os conteúdos.

Os conceitos desenvolvidos no decorrer do capítulo serão retomados durante todo o livro. Por isso, é importante que os estudantes compreendam tanto o significado quanto a relevância de cada um deles, sendo capazes de utilizá-los de maneira autônoma e crítica.

Orientações didáticas

A imagem de abertura do capítulo oferece uma excelente oportunidade para iniciar a discussão sobre diversidade. Incentive os estudantes a reagir à imagem, observando como eles percebem o ato de comer com as mãos e que tipo de reação isso gera.

O conteúdo das páginas 33 e 34 mobiliza as habilidades EM13CHS102 e EM13CHS105, da competência específica 1, fundamentais para a construção de uma base crítica que será útil ao longo de todo o livro. Destaque a relação entre evolucionismo e colonialismo utilizando os conhecimentos prévios dos estudantes em História. Incentive-os a refletir sobre como o evolucionismo ainda se manifesta nos dias de hoje, reforçando que as Ciências Sociais auxiliam na compreensão e na interpretação do mundo atual.

A seção Investigação, nas páginas 36 e 37, promove o trabalho com a metodologia de pesquisa análise documental, tendo como base a leitura de um texto clássico. O objetivo é fazer com que os estudantes percebam como o contato com povos diferentes já despertava o interesse de pensadores muito antes do desenvolvimento das Ciências Sociais. Na preparação para a atividade, destaque a importância de uma análise detalhada do texto, considerando tanto o seu formato quanto o conteúdo. Leia as perguntas e incentive os estudantes a criar outras. Com base nessas sugestões, construam um conjunto de perguntas às quais todos devem responder, podendo incluir ou não as questões já apresentadas na atividade.

Divida a turma em grupos e solicite que respondam por escrito. Sugerimos uma semana para a entrega, mas esse período pode ser adaptado de acordo com as necessidades da escola.

Nas páginas 38 a 41, os estudantes são apresentados aos conceitos de relativismo cultural e cultura. Uma estratégia interessante é perguntar aos estudantes o que entendem por “cultura”, anotando no quadro as palavras e definições que surgirem. Com base nessas contribuições, realize uma leitura coletiva das definições apresentadas, criando um espaço propício à reflexão antes da realização das atividades.

Se possível, este é um momento oportuno para a exibição do filme Babies, indicado no boxe Saiba mais, que serve como um excelente ponto de partida para uma conversa coletiva sobre a diversidade cultural e a importância de não hierarquizar as diferenças entre as culturas.

Realize uma leitura coletiva do texto da seção Perspectivas, na página 42. Faça pausas durante a leitura para esclarecer possíveis dúvidas e reforçar os pontos-chave do trecho. Ao final, destaque que, embora não seja mais aceito como prática científica, o etnocentrismo ainda está presente no cotidiano de muitas pessoas por meio de preconceitos. Incentive os estudantes a refletir sobre exemplos de etnocentrismo em suas próprias vivências, tornando o conceito mais concreto e acessível.

Se possível, aproveite o momento para exibir o vídeo Chimamanda Adichie: o perigo de uma única história (disponível em: https://www.youtube.com/watch? v=D9Ihs241zeg&t=2s; acesso em: 18 out. 2024). Após a exibição, organize uma roda de conversa para que os estudantes possam compartilhar suas impressões. Incentive-os a relacionar o conteúdo do vídeo e do texto aos conceitos de etnocentrismo e relativismo cultural.

O conteúdo da página 43 apresenta aos estudantes o conceito de decolonialidade e suas diversas implicações. Proponha a eles que reflitam a respeito de outros exemplos da “colonialidade do saber”, destacando a importância do surgimento de outras matrizes de conhecimento. Um exemplo interessante pode ser a análise das diferentes perspectivas adotadas nos mapas, promovendo um diálogo com a obra de Joaquín García.

Por fim, nas páginas 45 e 46, o capítulo aborda o conceito de ideologia, explorando sua relação com a cultura. A perspectiva marxista do conceito é discutida associada às dinâmicas de dominação nas sociedades capitalistas. Aproveite para explicar, com o auxílio da ilustração da página 46, a distinção feita por Marx entre infraestrutura e superestrutura, ressaltando a importância da economia em sua análise.

Indicações

• ANTROPOCAST PODCAST. Brasil, c2021-2024. YouTube: [Canal] @antropocastpodcast1877. Disponível em: https://www.youtube.com/channel/UCqQP-TJc3lEj0ZQFrZZF9SA. Acesso em: 18 out. 2024.

Podcast sobre a história da Antropologia e seus principais conceitos.

• ENCICLOPÉDIA de antropologia. São Paulo: FFLCH-USP, [202-]. Disponível em: https://ea.fflch.usp.br/. Acesso em: 18 out. 2024.

Portal vinculado à Universidade de São Paulo (USP) que reúne verbetes sobre conceitos e autores importantes para a Antropologia.

• ESTRANHOS no exterior: as correntes da tradição. Direção: André Singer. Reino Unido: Royal Anthropological Institute, 1986. Streaming (54 min).

Documentário sobre a vida e a obra do antropólogo Franz Boas e sua importância para a compreensão da diversidade humana.

ATIVIDADES

Página 32

1. A atividade tem como objetivo avaliar o grau de familiaridade dos estudantes com o tema da diversidade cultural e busca incentivar uma reflexão baseada nos repertórios e vivências individuais, convidando-os a construir uma perspectiva crítica. Peça aos estudantes que respondam às questões por escrito. Em seguida, convide alguns a compartilhar suas respostas com a turma. Isso criará um ambiente de troca e colaboração, permitindo que surjam exemplos curiosos e já conhecidos. Aproveite para explicar que nossos próprios costumes também podem parecer estranhos a membros de outros grupos sociais.

2. Escreva no quadro as causas levantadas pelos estudantes, observando se eles utilizam a ideia de cultura como explicação para a diversidade humana. Isso ajudará a relacionar o conceito de cultura com os diferentes exemplos apresentados durante a atividade.

3. Fique atento aos exemplos compartilhados pelos estudantes, buscando aproximá-los da realidade deles. Isso facilita a identificação do grupo com o tema do capítulo. Encerre a atividade ressaltando que essas questões são fundamentais para o desenvolvimento das Ciências Sociais, especialmente da Antropologia.

Página 34

A atividade tem como objetivo avaliar se os estudantes conseguem argumentar contra a ideia de que alguns grupos são “menos evoluídos” ou “mais atrasados”. Explique que essas noções são baseadas em uma visão errônea do evolucionismo, superada pela ciência. Incentive os estudantes a destacar que a diversidade cultural e social não pode ser hierarquizada, pois cada grupo desenvolve seus próprios valores e práticas de acordo com seu contexto histórico e geográfico. Enfatize que a ideia de “evolução” em sociedades humanas não segue uma linha de progresso, mas sim de adaptações distintas.

Página 40

Essa é uma atividade complexa por exigir dos estudantes interpretação de texto e capacidade de comparação. Como os textos possuem um conteúdo teórico bastante abstrato, é recomendável realizar uma leitura coletiva dos trechos, esclarecendo possíveis dúvidas. Dedique atenção especial ao trecho de Edward Tylor, ressaltando que essa é a primeira definição do conceito antropológico de cultura. Explique que o autor trata a cultura como um conjunto de elementos, algo cumulativo, o que serviu para classificar povos como mais ou menos evoluídos. Ressalte as limitações dessa definição em comparação com outras, destacando sua relação com a perspectiva evolucionista.

Depois, divida a turma em grupos de três estudantes e solicite a eles que respondam por escrito às questões de 1 a 4. Ao final, peça aos grupos que leiam as respostas em voz alta (ao menos dois grupos por questão), aproveitando para auxiliá-los na compreensão dos trechos. Por fim, faça uma leitura coletiva da questão 5 e incentive os estudantes a responder oralmente, em uma atividade coletiva. Pergunte se algum deles já vivenciou uma situação de desencontro cultural semelhante à narrada, criando um ambiente de troca e descontração.

Página 42

A atividade pode ser feita oralmente, na forma de uma conversa coletiva.

Página 43

As atividades têm como objetivo promover o pensamento crítico dos estudantes por meio da análise de uma obra artística. Como muitos estudantes podem não estar familiarizados com esse tipo de linguagem, é interessante iniciar com uma breve conversa sobre a obra, coletando as impressões gerais e as percepções que ela desperta. Peça aos estudantes que formem duplas e respondam às questões por escrito. Em seguida, solicite que

compartilhem suas respostas oralmente com a turma, promovendo um ambiente de troca de ideias. Ressalte que, por se tratar de um artista latino-americano – Joaquín Torres García –, é possível interpretar a obra como uma provocação a respeito das formas tradicionais de pensar o continente americano, distanciando-se das narrativas impostas pela história colonial. Nesse contexto, proponha uma reflexão sobre o conceito de “Norte”, seus significados políticos e culturais, e como usamos a palavra como metáfora para algo que nos orienta, como na expressão “esse é meu norte”. Esse debate pode enriquecer a compreensão dos estudantes a respeito das implicações simbólicas da obra.

Páginas 47 a 49

1. A atividade tem como objetivo avaliar se os estudantes compreenderam os conceitos de cultura e relativismo cultural, verificando se são capazes de relacioná-los e discutir sua relevância no contexto atual. Aproveite para reforçar a importância desses conceitos considerando a realidade local, que pode envolver temas como pobreza, violência, marginalização.

2. A atividade permite verificar o entendimento dos estudantes em relação ao conceito de ideologia. Se necessário, auxilie-os na identificação de exemplos, preferencialmente conectados ao contexto em que vivem. Entre os exemplos possíveis estão a meritocracia, o consumismo e o evolucionismo.

3. O texto evidencia a necessidade de refletir sobre as práticas de alguns grupos indígenas que vão contra os princípios dos direitos humanos. Contudo, esclarece que não se deve tratá-las a partir de uma visão etnocêntrica.

4. O trecho expõe situações marcadas pelo etnocentrismo comum a todas as sociedades, que se expressa no estranhamento diante de práticas de outras culturas.

5. O trecho mostra que a ideologia opera por meio da criação da ilusão de que determinadas ideias são comuns a todas as pessoas, quando, na verdade, interessam apenas a grupos dominantes.

6. Para Marx, a ideologia é um instrumento da classe dominante, a burguesia, para manter o domínio sobre as classes dominadas.

Referências comentadas

• BOAS, Franz. Antropologia cultural. Organização e tradução: Celso Castro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

Este livro traz uma coletânea de textos de Franz Boas, um dos grandes nomes da Antropologia. Boas ajudou a desenvolver o conceito de relativismo cultural, que nos convida a entender e respeitar diferentes culturas em seus próprios contextos.

• CASTRO, Celso (org.). Evolucionismo cultural: textos de Morgan, Tylor e Frazer. Tradução: Maria Lúcia de Oliveira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. Este livro reúne textos dos principais autores evolucionistas e contextualiza o pensamento evolucionista temporalmente, explicando as principais ideias e influências.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009. Esta obra apresenta o conceito de cultura e sua evolução ao longo do tempo, explorando como diversas correntes teóricas da Antropologia o interpretaram.

Capítulo 3

Imaginação sociológica

Este capítulo aborda dois temas centrais da Sociologia: o problema social e a imaginação sociológica. O objetivo é conscientizar os estudantes de que, apesar de alguns problemas parecerem individuais, suas raízes têm origens sociais. Ao exercitar o estranhamento e a desnaturalização, os estudantes são incentivados a observar a realidade de maneira crítica. O conceito de imaginação sociológica criado por Wright Mills visa ajudar as pessoas a compreenderem a sociedade e se tornarem protagonistas de suas escolhas e de suas vidas.

A Sociologia, enquanto campo científico, utiliza técnicas e metodologias para analisar a sociedade. Para isso, é proposto o uso do estudo de caso como metodologia, permitindo que os estudantes, ao escolherem um tema de interesse, pratiquem a análise sociológica.

Orientações didáticas

Ao abordar, na página 50 , o exemplo das tragédias sociais causadas por ocupações desordenadas e fenômenos naturais, incentive os estudantes a refletir sobre a dificuldade contemporânea de entender problemas sociais e a tendência de atribuir responsabilidade exclusivamente ao indivíduo. Esse momento é propício para estimular além da empatia, o uso de processos cognitivos, como a leitura de imagens, a interpretação de informações, a contextualização e o estabelecimento de relações.

Nas páginas 51, 52 e 53, é possível conduzir uma leitura mediada para diferenciar o problema individual

do problema social e sociológico. Já a atividade da página 54 busca mostrar aos estudantes a complexidade e a necessidade de contextualização para se definir um problema social. O surgimento de um fenômeno social por si só, como o impacto da tecnologia, por exemplo, não é suficiente para caracterizar um problema social; é preciso compreender seus efeitos mais amplos.

Da página 55 à 63, o foco é definir o conceito de imaginação sociológica, sua importância e aplicação prática, utilizando o estudo de caso como exemplo. O objetivo é proporcionar aos estudantes um exercício prático de imaginação sociológica, que envolve a formulação de uma questão, a pesquisa em fontes científicas variadas e a análise da presença do fenômeno estudado nas estruturas sociais.

Nas páginas 64 e 65 , a seção Investigação propõe um estudo de caso documental para ajudar os estudantes a compreender o conceito de imaginação sociológica. Sugerimos começar diferenciando a pesquisa qualitativa da quantitativa, explicando as metodologias e abordagens de cada uma. A escolha de um tema que se relacione com o cotidiano e os interesses dos estudantes é fundamental para engajá-los na pesquisa. Incentive-os a refletir sobre o motivo de escolherem o tema. Para isso, faça perguntas como: “De que forma o tema se conecta com a vida de vocês?” e “Quais curiosidades vocês têm sobre o assunto?”.

Oriente-os na formulação de perguntas de pesquisa, reforçando as dicas da página 65. Explique que, embora seja ideal considerar as estruturas sociais (cultural, social, histórica e econômica), não há problema se encontrarem apenas informações sobre algumas delas. Além disso, dados adicionais podem ser incluídos, pois a pesquisa permite certa flexibilidade. Conforme o exemplo dado no capítulo, seria possível inserir informações sobre estruturas políticas, se relevantes.

Nesse processo, são mobilizadas as competências gerais 1, 2 e 5, além da habilidade EM13CHS101

Indicação

• ME TODOLOGIAS para a pesquisa em educação: pesquisas qualitativas e quantitativas: características. [S l.: s. n.], 2021. 1 vídeo (15 min). Publicado pelo canal Univesp. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=PIkiS0QhW6Q. Acesso em: 18 out. 2024.

O vídeo explica as diferenças entre pesquisa qualitativa, que explora experiências em profundidade, e quantitativa, que analisa dados numéricos. Ambas podem ser complementares dependendo do objetivo.

Atividades

Página 51

Inicie a atividade perguntando aos estudantes o que observaram na charge e quais sentimentos ela provoca. Depois, promova uma discussão a respeito da ironia presente, destacando as condições precárias de moradia. Incentive o debate sobre a relevância das políticas públicas em áreas de risco e a responsabilidade do Estado nesse contexto.

Página 54

A atividade convida os estudantes a refletir sobre seus hábitos em relação ao uso de celulares e computadores, relacionando essas práticas com os impactos individuais e sociais. O objetivo é problematizar o uso excessivo de tecnologias e como as consequências desse uso podem ou não configurar um problema social, incentivando os estudantes a pensar criticamente a respeito da diferença entre questões individuais e coletivas. A discussão mobiliza as competências gerais 4 e 8 ao estimular a análise dos impactos desse comportamento nos estudos e no convívio social.

Página 57

Para trabalhar estranhamento e desnaturalização, sugira aos estudantes que observem elementos do cotidiano, como as calçadas, por exemplo, questionando a acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida e a existência de sinalização adequada para pessoas com deficiência visual. Isso ajudará a demonstrar como certos aspectos do espaço público que parecem “naturais” podem ser criticados quando olhados de outra maneira. Discuta também o tratamento dado a crianças e adolescentes antes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), mencionando o Código de Menores (lei no 6.697, de 10 de outubro de 1979) e a expressão “de menor”, comumente usada para se referir a jovens em conflito com a lei, refletindo permanências dessa visão. Incentive os estudantes a aplicar esses conceitos a fenômenos sociais observados no trajeto para a escola ou no ambiente escolar.

Páginas 66 e 67

1. Entre o final do século XIX e o início do século XX, os cafeicultores, conhecidos como barões do café, exerceram grande influência na política e na economia do Brasil. Essa força foi refletida simbolicamente nas representações nacionais: o ramo de café está presente tanto na bandeira do Império quanto no brasão da República Federativa do Brasil. Ao analisar as imagens com os estudantes, destaque que o café moldou o desenvolvimento do país e sua produção

foi fundamental para a economia brasileira, representando 70% das exportações em 1930. Relacione esses símbolos com o estudo de caso sobre o café, demonstrando como esse produto foi central para a história e a identidade do Brasil.

2. O conceito de imaginação sociológica , desenvolvido por Mills, refere-se à capacidade de entender a relação entre a experiência pessoal dos indivíduos e os contextos sociais e históricos mais amplos. Mills destaca que a Sociologia visa analisar como as biografias individuais estão ligadas às estruturas sociais, revelando as conexões entre as ações pessoais e os fatores externos. Para isso, é necessário que o sociólogo estranhe o cotidiano e adote uma postura crítica ao observar hábitos e rotinas. A análise das relações entre o individual e o social é o ponto central da Sociologia, como indica a alternativa d

3. A imaginação sociológica, segundo Wright Mills, permite entender como questões pessoais e experiências individuais estão conectadas a processos sociais e históricos mais amplos. No exemplo do divórcio, ele mostra como um problema pessoal pode ser analisado à luz de transformações sociais. Oriente os estudantes a identificar como a vida cotidiana está influenciada por fatores sociais maiores e como essas interações ajudam a compreender, entre outras, questões como o desemprego, que pode ser relacionado a crises econômicas e políticas públicas. Incentive os estudantes a pensar em outros exemplos de fenômenos sociais, como o aumento da desigualdade social, a violência ou as mudanças climáticas, e a aplicar o conceito de imaginação sociológica para entender como esses fenômenos se relacionam ao contexto histórico e social.

Texto complementar

[…] Os saberes sociológicos são construídos a partir da sistematização teórica e prática do processo social e a ação concreta dos homens delimita o campo de análise sociológica; além disso, a dinâmica da vida social oferece as ferramentas fundamentais para a sistematização do conhecimento.

Se o objeto de análise da Sociologia tem como foco principal a vida social, e todos nós fazemos parte desse objeto – seres sociais em ação e, ao mesmo tempo, protagonistas da análise sociológica –, como manter o distanciamento necessário para a apreensão científica do real?

Uma das respostas a esse questionamento está na postura inicial de atuação das Ciências

Sociais, que supõe a superação do senso comum em direção a uma análise científica da sociedade. É o estranhamento diante de situações já consagradas como óbvias, familiares, naturais que caracteriza e confere especificidade às Ciências Sociais. Estranhar o já conhecido, o tido como natural, permite que fenômenos aparentemente evidentes revelem dúvidas, contradições, desmandos e arbitrariedade em sua composição. […]

É contribuição das Ciências Sociais, como a disciplina Sociologia para o nível médio, propiciar aos jovens o exame de situações que fazem parte do seu dia a dia, imbuídos de uma postura crítica e atitude investigativa. É sua tarefa desnaturalizar os fenômenos sociais, mediante o compromisso de examinar a realidade para além de sua aparência imediata, informada pelas regras inconscientes da cultura e do senso comum. Despertar no aluno a sensibilidade para perceber o mundo à sua volta como resultado da atividade humana e, por isso mesmo, passível de ser modificado, deve ser a tarefa de todo professor.

MORAES, Amaury César; GUIMARÃES, Elisabeth da Fonseca. Metodologia de ensino de ciências sociais: relendo as OCEM-Sociologia. In: MORAES, Amaury César (coord.). Sociologia: ensino médio. Brasília, DF: MEC: SEB, 2010. p. 45-62. (Coleção Explorando o ensino, v. 15, p. 47-48).

Referências comentadas

GIDDENS, Anthony. Sociologia. 6. ed. Tradução: Ronaldo Cataldo Costa. Porto Alegre: Penso, 2012. Neste livro, Giddens apresenta os principais temas, conceitos e teorias de autores clássicos e contemporâneos da Sociologia, uma referência fundamental para estudantes da área.

JOHNSON, Allan G. Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Tradução: Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. O livro oferece definições objetivas e acessíveis de diversos conceitos sociológicos, funcionando como uma ferramenta prática para quem deseja se aprofundar no vocabulário da área.

• MARTINS, Ana Luiza. História do café. São Paulo: Contexto, 2008.

Neste livro, a autora explora a história do café no Brasil e no mundo, abordando seu impacto econômico e cultural em diferentes períodos.

• MELLO, Pedro Carvalho de. Aspectos econômicos da organização do trabalho na economia cafeeira do Rio de Janeiro, 1850-88. Revista Brasileira de Economia, Rio de Janeiro, v. 32, n. 1, p. 19-67, 1978.

O autor analisa a organização do trabalho na indústria cafeeira do Rio de Janeiro entre 1850 e 1888, mostrando a relevância desse período para a economia regional.

• MILLS, Charles Wright. Imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1965.

Neste livro, Mills demonstra como a Sociologia pode ajudar o indivíduo a entender a influência das estruturas sociais em sua vida, promovendo maior autonomia e consciência social.

• NOGUEIRA, Oracy. Problema social e problema de investigação. In: SEMINÁRIO DIDÁTICO INTERNACIONAL SOBRE LEVANTAMENTOS DE ENFERMAGEM, 1959, Salvador. Anais […]. Washington, DC: Pan American Sanitary Bureau, 1959. Disponível em: https://iris. paho.org/bitstream/123456789/14870/1/v46n5p416. pdf. Acesso em: 18 out. 2024.

Neste artigo, Nogueira define e distingue os conceitos de problema social e problema de investigação, contribuindo para a compreensão dos desafios de pesquisa em Ciências Sociais.

• SILVA, Maria da Conceição Tavares da. Reflexão sobre o conceito de problema social: I. Análise Social, [Lisboa], v. 5, n. 17, p. 5-22, 1967. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/41007851. Acesso em: 18 out. 2024.

Neste artigo, a autora discute os conceitos de problema, problema social e problema sociológico, ideias fundamentais para as Ciências Humanas.

• YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Tradução: Daniel Grassi. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

Yin explora o método de pesquisa estudo de caso, oferecendo exemplos práticos e orientações para a sua aplicação na pesquisa científica.

Capítulo 4

Cultura e natureza

Este capítulo aborda a relação entre cultura e natureza, mostrando como diferentes visões influenciam essa conexão. A análise de perspectivas ocidentais e de cosmologias indígenas ajuda a entender como os seres humanos moldam e transformam o ambiente ao seu redor. Reconhecer o papel dos elementos humanos e não humanos é essencial para melhorar as interações sociais e as práticas cotidianas.

O texto também discute como as sociedades ocidentais usam a ideia de natureza para definir normas e hierarquias nas áreas culturais, econômicas e políticas. Com base nas ideias de autores como Bruno Latour e Donna Haraway, destaca-se a importância de aprender com outras formas de pensar o mundo, sobretudo no contexto de emergência climática. Essas cosmologias trazem novas maneiras de enfrentar os desafios atuais, incentivando parcerias entre espécies e promovendo uma visão mais inclusiva da realidade.

Orientações didáticas

Antes da atividade de sensibilização sugerida na página 68, conduza uma análise cuidadosa da fotografia de Sebastião Salgado (1944-) com os estudantes, incentivando-os a observar e descrever a cena representada. Na imagem, um grupo de indígenas yanomami aparece em um afloramento rochoso, observando uma vasta floresta tropical. Alguns seguram lanças, enquanto outros parecem refletir em silêncio sobre a paisagem à sua frente.

Com base nessa imagem, inicie uma discussão com a turma a respeito da relação dos yanomami com o ambiente que os envolve, destacando a interdependência entre o modo de vida indígena e a preservação da floresta. Por meio dessas observações, incentive os estudantes a pensar de que forma essa interação pode ser vista como uma expressão de equilíbrio entre cultura e natureza. Além disso, incentive-os a refletir sobre a importância de práticas sustentáveis e de respeito ao meio ambiente na preservação das tradições indígenas e do ecossistema.

Atividades complementares

1. Quais são os símbolos culturais ou elementos tradicionais que os indivíduos na imagem estão segurando e como esses objetos se relacionam com o ambiente natural ao redor?

R.: Espera-se que os estudantes observem que os indivíduos seguram lanças e ferramentas tradicionais, simbolizando sua conexão com a natureza. Esses objetos refletem habilidades ancestrais e a dependência da floresta para a sobrevivência.

2. Qual seria o impacto das mudanças ambientais (como desmatamento e mudanças climáticas) sobre a cultura e o modo de vida dos indivíduos retratados na imagem?

R.: Espera-se que os estudantes comentem que mudanças ambientais, como o desmatamento, ameaçam a cultura indígena ao destruir recursos essenciais,

afetando práticas e tradições e resultando em perda de identidade e migração forçada.

Na página 73, aborda-se como o pensamento ocidental moderno, particularmente a partir do Iluminismo, promoveu uma distinção entre os conceitos de natureza e cultura. Embora esse tipo de separação tenha se consolidado no pensamento ocidental, é importante reconhecer que outras culturas podem compreender essa relação de formas diferentes, mais integradas ou menos polarizadas. Aproveite a oportunidade para explorar o glossário com os estudantes. Explique termos fundamentais como epistemologia e dicotomia, enfatizando que o conceito de epistemologia, cunhado por James Frederick Ferrier (1808-1864), envolve o estudo das bases do conhecimento, suas condições de validade e seus limites

Ao explorar com os estudantes a seção Perspectivas , nas páginas 78 e 79 , organize a turma em estações de trabalho de acordo com o número total de estudantes. Sugere-se a criação de grupos pequenos, de quatro a seis integrantes, para facilitar o engajamento e a troca de ideias. Cada grupo pode ser responsável por discutir um dos autores apresentados (Davi Kopenawa, Ana Mumbuca ou Antônio Bispo), realizando leituras e debates sobre as diferentes cosmologias e as visões de mundo abordadas.

Essa atividade promove o desenvolvimento das competências gerais 3 e 6, ao valorizar as diversas visões de mundo sobre a natureza e as práticas culturais. Além disso, os estudantes terão a oportunidade de exercitar a aprendizagem colaborativa, mobilizando também a competência geral 9 ao trabalharem em equipe e compartilharem suas conclusões com a turma.

A seção Conexões com Biologia, nas páginas 80 e 81, propõe um trabalho interdisciplinar ao unir conceitos de Biologia e Sociologia, promovendo uma reflexão sobre a relação entre humanos e não humanos. A proposta incentiva os estudantes a analisar como a teoria de Donna Haraway, em O manifesto das espécies companheiras, desconstrói as barreiras entre essas categorias, mostrando a importância das interações multiespécies para entender as complexidades sociais e ambientais. Ao trabalhar com biologia, a atividade enriquece a compreensão dos fenômenos ecológicos e suas implicações sociais, estimulando uma abordagem integrada entre Ciências da Natureza e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.

Atividades complementares

Os direitos da Natureza

Esta atividade é composta de duas etapas. Na primeira, os estudantes devem identificar organizações

brasileiras que promovem visões sustentáveis e inclusivas a respeito da relação entre natureza e cultura. O objetivo é reconhecer novas formas de interagir com a natureza, considerando-a um sujeito de direitos. Além disso, a atividade visa promover um diálogo crítico sobre como o Estado e a sociedade civil podem atuar em favor da preservação e da repactuação dessas relações.

Na segunda etapa, os estudantes conhecem a Constituição do Equador, que reconhece a natureza como sujeito de direitos. A partir desse exemplo, promove-se um debate com duas questões centrais: “A natureza pode se tornar um sujeito de direitos?” e “Podemos pensar em uma cosmopolítica?”. O objetivo é estimular uma reflexão coletiva sobre novas maneiras de relacionamento entre humanos e não humanos, levando em consideração direitos legais e éticos.

Método Aquário (ou Fishbowl Method, em inglês)

Por meio desse método, o professor facilita o debate organizando cinco cadeiras em círculo no centro da sala, quatro delas ocupadas por voluntários e uma vazia. Os demais estudantes formam um círculo ao redor. A cada vez que alguém da plateia se senta na cadeira vazia, um dos participantes do centro deve ceder seu lugar, promovendo uma rotação constante. O cronômetro pode ser ajustado para até 10 minutos por pergunta, conforme o tempo disponível. O objetivo é promover uma discussão dinâmica, permitindo que todos participem.

No final da atividade, sugira que os estudantes reflitam sobre suas ações em nível local e sobre seu papel como protagonistas na agenda socioambiental. Incentive-os a pensar em como podem contribuir para questões ambientais no cotidiano.

Pensar fora da caixa

1. Peça aos estudantes que desenhem nove pontos no caderno (se for preciso, elabore um modelo no quadro). Depois, solicite a eles que conectem todos os pontos usando apenas quatro linhas contínuas, sem levantar o lápis da folha.

2. Deixe que tentem resolver o desafio individualmente ou em grupos pequenos, incentivando o pensamento criativo.

3. Após alguns minutos, revele a solução: a ideia é “pensar fora da caixa”, ou seja, ir além do óbvio, incluindo pontos extras ou imaginando a solução com novas perspectivas.

Indicações

• ILUSTRÍSSIMA conversa: Antônio Bispo: Estado e partidos são colonialistas. Entrevistado: Antônio Bispo. Entrevistador: Eduardo Sombini. [S l.]: Spotify, 19 ago. 2023.  Podcast. Disponível em: https://open.spotify. com/episode/5x3U1B1EH73rxgtjq0U8rn?si=2c73e-5b0b0534ca7. Acesso em: 11 out. 2024

Nesse podcast, Antônio Bispo problematiza a tradição do pensamento ocidental de separação entre ser humano e natureza, abordando como essa dicotomia impacta a política e a cultura, revelando um colonialismo estrutural nos partidos e no Estado.

• UYRÁ: a retomada da floresta. Direção: Juliana Curi. Brasil: Azores Filmes, 2022. Streaming (70 min).

O documentário explora a conexão indígena com a natureza, destacando com sensibilidade a luta ambiental.

Atividades

Página 68

A atividade tem como objetivo verificar o repertório dos estudantes sobre os conceitos de natureza e cultura. É provável que eles apresentem uma visão tradicional e dicotômica desses conceitos, os quais serão problematizados ao longo do capítulo.

Página 72

As atividades convidam os estudantes a refletir sobre a inter-relação entre natureza e cultura, com base na ideia de “naturezas-culturas”, de Bruno Latour. Destaca-se a importância de reconhecer o papel dos não humanos, como animais, plantas e tecnologias, na vida cotidiana e na sociedade, rompendo com a visão dualista.

Página 74

As atividades propõem analisar a visão moderna ocidental sobre natureza e cultura, relacionando-a a ações predatórias e problematizando suas consequências. O cartum da Mafalda critica essa relação irresponsável.

Página 77

Explique aos estudantes o conceito de multinaturalismo, destacando sua relevância nas epistemologias indígenas, e relacione-o à teoria ator-rede de Latour, que integra humanos e não humanos nas redes sociais. Promova debates sobre como essas epistemologias ajudam a entender questões como mudanças climáticas.

Página 79

Ressalte que os autores enfatizam a importância dos saberes tradicionais, da memória e da ancestralidade nas suas cosmologias, conectando humanos e não humanos. Incentive os estudantes a refletir sobre essas relações e a compará-las com as suas próprias experiências familiares e culturais.

Página 81

Donna Haraway propõe uma crítica à relação entre tecnologia e poder, defendendo a recombinação de cultura e natureza por meio do projeto multiespécie. Isso amplia nossa compreensão do “humano”, sugerindo parcerias com seres não humanos para enfrentar crises como o antropoceno e a emergência climática.

Páginas 83 a 85

1. Enfatize aos estudantes que as organizações apresentadas promovem visões diversas e sustentáveis do mundo, atuando em políticas públicas, pesquisa e parcerias com comunidades locais. Destaque a

importância dessas ações no desenvolvimento de práticas inclusivas e na conservação ambiental.

2. O pensamento ocidental tradicionalmente separa natureza e cultura, tratando a natureza como objeto a ser explorado. Isso levou à objetificação do espaço físico, como indica a alternativa a.

3. A Igreja Católica apropriou-se de práticas seculares, como as fogueiras de São João, adaptando-as à doutrina cristã, o que reforça a ideia de apropriação cultural, como indica a alternativa c

4. A exploração tecnológica e natural, sem ética, ameaça as gerações futuras, exigindo um novo padrão de comportamento mais responsável e sustentável, como indica a alternativa b

5. A visão etnocêntrica dos colonizadores europeus desumanizou as populações indígenas, ignorando sua diversidade cultural e tratando-as de forma homogênea, como indica a alternativa c .

Referências comentadas

• DESCOLA, Philippe. Para além de natureza e cultura. Niterói: Eduff, 2023. Nesta obra, Descola questiona a visão tradicional de natureza e cultura e sugere novas formas de entender as relações entre os humanos e o mundo ao seu redor, especialmente entre povos indígenas da Amazônia.

• LATOUR, Bruno. Reagregando o social: uma introdução à teoria do ator-rede. Tradução: Gilson César Cardoso de Sousa. Salvador: Edufba; Bauru: Edusc, 2012. Latour apresenta sua teoria ator-rede, fundamental para compreender as interações entre humanos e não humanos na sociedade contemporânea. Essa obra é referência para debates sobre cultura, natureza e o papel das tecnologias na vida cotidiana.

• HARAWAY, Donna. A reinvenção da natureza: símios, ciborgues e mulheres. Tradução: Rodrigo Tadeu Gonçalves. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2023. Esta obra apresenta uma compilação de artigos dos anos 1970 e 1980, em que Haraway questiona as visões patriarcais da ciência. A filósofa discute temas como tecnologia, política e feminismo, desafiando a visão tradicional da natureza e propondo novas abordagens.

• HARAWAY, Donna. Ficar com o problema: fazendo parentes no chthluceno. Tradução: Ana Luiza Braga. São Paulo: n-1 edições, 2023.

Haraway defende a importância de criar parcerias entre humanos e não humanos para enfrentar crises ecológicas e sociais. A obra propõe a colaboração entre espécies como meio de garantir a sobrevivência no planeta.

Capítulo 5

Racismo no Brasil

Este capítulo propõe uma análise aprofundada do racismo, considerando suas múltiplas dimensões. Parte-se de dados que revelam desigualdades persistentes na sociedade brasileira, destacando como as condições socioeconômicas estão ligadas a questões raciais. Ao longo do texto, a noção de raça passou a ser apresentada como uma construção social, afastando a ideia de fundamentação biológica.

No decorrer do capítulo, são abordados temas como o racismo científico e o racismo estrutural no Brasil, além do conceito de branquitude, que ajuda a entender privilégios associados à identidade branca. A sequência se encerra com uma proposta de pesquisa-ação, incentivando a reflexão e a ação prática para transformar essas realidades e promover igualdade.

Orientações didáticas

O trabalho com as páginas 86, 87, 88 e 89 visa incentivar os estudantes a refletir sobre o racismo com base em dados estatísticos, mobilizando, assim, as habilidades EM13CHS101 e EM13CHS103. Os dados revelam que a maior parte da população em situação de pobreza e extrema pobreza no Brasil é negra, exemplificando o racismo estrutural. Essa disparidade reflete as barreiras de acesso a oportunidades como educação e emprego, perpetuando ciclos de marginalização. Sugira aos estudantes que analisem como essas desigualdades limitam o acesso a direitos básicos e impedem a ascensão social da população negra.

A seção Conexões com Matemática, na página 95, propõe uma atividade interdisciplinar, unindo Matemática com Sociologia. Explique para os estudantes como a estatística é uma ferramenta essencial para a Sociologia, auxiliando na compreensão de problemas sociais por meio da coleta e da análise de dados. Comente que, na atividade, o gráfico ilustra como as desigualdades raciais se manifestam, evidenciando o impacto do racismo estrutural no Brasil tanto na distribuição de renda quanto na pobreza. Ressalte a importância dos dados para embasar políticas públicas que visem reduzir desigualdades. Sem informações claras, seria difícil reconhecer desigualdades e planejar intervenções eficazes. Essa abordagem interdisciplinar não apenas desenvolve o pensamento lógico dos estudantes mas também os sensibiliza para a importância de entender e combater as injustiças sociais por meio da análise crítica. Além disso, a seção contribui para o desenvolvimento da habilidade EM13CHS103.

A seção Investigação, nas páginas 100 e 101, propõe uma pesquisa-ação que integra teoria e prática na busca por soluções colaborativas para problemas no ambiente escolar, especialmente o bullying. Michel Thiollent (1947-), na obra Metodologia da pesquisa-ação, publicado pela primeira vez em 1985, define a pesquisa-ação como um processo contínuo e participativo, em que pesquisa e intervenção caminham juntas para resolver questões coletivas.

Embora o bullying possa refletir formas de violência social, como racismo, gordofobia, LGBTfobia e sexismo, é importante esclarecer que não há consenso entre estudiosos e o movimento negro quanto à inclusão do racismo ou de outras violências raciais na definição de bullying. O bullying é caracterizado por ações intencionais, repetitivas e geralmente restritas ao ambiente escolar, enquanto o racismo é uma forma de violência estrutural e sistêmica, com raízes históricas profundas e implicações legais específicas, sendo tipificado como crime inafiançável.

Compreender essa diferença é essencial para evitar simplificações que possam minimizar a gravidade do racismo e de outras formas de opressão social. A proposta da atividade é identificar as diferentes violências que se manifestam na escola e incentivar reflexões sobre como implementar medidas de acolhimento e reparação para as vítimas, além de promover a responsabilização coletiva. A ideia é substituir práticas punitivas por abordagens restaurativas, criando um ambiente escolar mais inclusivo, seguro e colaborativo.

A pesquisa deve estimular a substituição de práticas punitivas por abordagens restaurativas e educativas, como campanhas de conscientização e rodas de conversa. O propósito é construir um ambiente inclusivo, seguro e colaborativo, no qual a convivência respeitosa seja uma prioridade. Ainda que os conflitos façam parte da vida em sociedade, é necessário buscar a restauração de danos sociais e comunitários, especialmente em uma sociedade orientada pelos princípios de um Estado democrático de direito.

Indicações

• FELICIDADE por um fio. Direção: Haifaa Al-Mansour. Estados Unidos: Badabing Pictures, 2018. Streaming (98 min).

O filme revela a pressão que mulheres negras sofrem para seguir determinados padrões de beleza.

• TRÁFICO transatlântico de escravos. [S l.]: Slave Voyages, [2024]. Disponível em: https://www.slavevoyages. org/assessment/estimates. Acesso em: 19 out. 2024.

O site reúne dados e informações a respeito do tráfico de escravos, apresentados em tabelas, mapas e linha do tempo.

Atividades

Página 86

Oriente os estudantes a observar a charge com atenção. Explique que ela retrata uma mulher e uma criança negras em frente a uma prateleira de xampus. A pergunta da criança destaca uma questão importante a respeito de normas e padrões de beleza impostos pela sociedade, que muitas vezes excluem a diversidade dos tipos de cabelo, especialmente o cabelo afro.

Página 89

As atividades propõem aos estudantes uma reflexão sobre desigualdades sociais e raciais em áreas como renda, educação e violência. O objetivo é incentivar a compreensão dos desafios para a promoção da igualdade e discutir como políticas públicas podem atuar na redução dessas desigualdades, promovendo uma sociedade mais inclusiva e garantindo bem-estar para todos.

Página 95

O conceito de racismo estrutural refere-se às desigualdades raciais que estão enraizadas nas instituições e nas práticas sociais, resultantes de um histórico de discriminação e exclusão. A desproporção de negros em extrema pobreza reflete como as oportunidades de ascensão social e acesso a direitos básicos, como educação e emprego, são limitadas para a população negra, perpetuando um ciclo de pobreza e marginalização.

Página 98

Alberto Guerreiro Ramos argumenta que os estudos realizados por pesquisadores brancos sobre a população negra foram conduzidos de maneira parcial e subjetiva, influenciados por uma dependência psicológica do sentimento de inferioridade dos próprios pesquisadores brancos. Em vez de analisarem a realidade brasileira com critérios próprios, esses estudiosos adotaram conceitos e métodos de outros países, perpetuando a ideia de que a cultura europeia era superior. Essa abordagem reforça as estruturas de poder e privilégio racial, mantendo a hegemonia branca e subordinando a população negra. Ramos sugere que o verdadeiro “problema” reside na mentalidade dos pesquisadores brancos, e não na população negra.

Páginas 102 e 103

1. A presença do muro indica que a discriminação racial no Brasil não é apenas o resultado de atitudes preconceituosas individuais, mas de uma estrutura social que sistematicamente privilegia certos grupos enquanto marginaliza outros. A palavra “discriminação” reforça a ideia de que essas barreiras são construídas e

mantidas por práticas e políticas que perpetuam as desigualdades raciais. O muro na charge, portanto, não apenas divide mas também invisibiliza, mostrando como o racismo estrutural no Brasil funciona para normalizar a exclusão e a injustiça na sociedade.

2. Os quase 400 anos de escravidão no Brasil deixaram marcas profundas nas estruturas sociais, políticas e econômicas do país, perpetuando desigualdades raciais que ainda afetam a população negra. Ignorar esse passado é desconsiderar as raízes históricas do racismo estrutural, que se manifesta nas disparidades de oportunidades e no tratamento desigual a diferentes grupos raciais. Portanto, ao discutir as desigualdades raciais atuais, é essencial considerar como o legado da escravidão continua a influenciar as relações sociais e a perpetuar a exclusão e a marginalização da população negra.

3. Os textos discutem a mudança na constituição identitária frente à discriminação racial. No Brasil, essa mudança se manifesta na valorização de elementos culturais negros, como o cabelo crespo e outros traços físicos, que passam a ser símbolos de identidade e resistência contra padrões estéticos impostos pelo colonialismo, como indica a alternativa a.

4. O trecho evidencia a continuidade de hierarquias raciais no Brasil, mostrando como o racismo permanece enraizado nas instituições e nas relações sociais. A agressão de um guarda civil contra um homem negro ilustra a violência sistêmica que caracteriza o racismo estrutural, como aponta a alternativa a.

5. A lei no 10.639/2003 promove a inclusão de História e Cultura Afro-Brasileira no currículo escolar, valorizando contribuições antes marginalizadas. A medida reforça a pluralidade étnico-racial do país e incentiva a educação para a diversidade, como indica a alternativa e.

Referências comentadas

• BENTO, Cida. O pacto da branquitude. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

A obra analisa como a branquitude se estrutura no Brasil, mantendo privilégios raciais.

• BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, [2024]. Disponível em: https://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao. htm. Acesso em: 19 out. 2024.

A Constituição Federal é a norma suprema do regime jurídico brasileiro, orientando a elaboração de leis, organizando o funcionamento do Estado, entre outras atribuições.

• BRASIL. Lei no 11.645, de 10 de março de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Brasília, DF: Presidência da República, 2008. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645. htm. Acesso em: 19 out. 2024.

Inclui no currículo escolar o estudo da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, promovendo a valorização da diversidade cultural e étnica.

BRASIL. Senado Federal. Diretoria-Geral do Senado Federal. Comitê Permanente pela Promoção da Igualdade de Gênero e Raça. Manual quesito cor/raça e etnia do Senado Federal. [Brasília, DF]: Senado Federal, [2023]. Disponível em: https://www2.senado.leg. br/bdsf/bitstream/handle/id/642501/Manual_quesito_cor_raca_etnia_SF.pdf. Acesso em: 19 out. 2024. O manual orienta a coleta de dados sobre cor, raça e etnia e promove ações alinhadas ao Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça.

BRASIL. Lei no 12.288, de 20 de julho de 2010. Institui o Estatuto da Igualdade Racial […]. Brasília, DF: Presidência da República, [2023]. Disponível em: https:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/ lei/l12288.htm. Acesso em: 19 out. 2024.

Estabelece o Estatuto da Igualdade Racial, a fim de garantir igualdade de oportunidades para a população negra e combater a discriminação étnica e racial.

DARWIN, Charles. A origem do homem e a seleção sexual. Belo Horizonte: Garnier, 2019.

O livro aborda a teoria da evolução e discute a seleção sexual e a origem comum dos seres vivos.

MUNANGA, K abengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra. 5. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2020. Nesta obra, o autor questiona o mito da mestiçagem e discute as identidades nacional e negra no Brasil.

• RAMOS, Alberto Guerreiro. Introdução crítica à sociologia brasileira. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1957. A obra analisa dados censitários e reflete sobre a dinâmica racial e social no Brasil.

• THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação 18. ed. São Paulo: Cortez, 2011. Neste livro, o autor apresenta a pesquisa-ação como método participativo e explora aplicações e resultados dessa metodologia.

Capítulo 6

Jovens, juventudes e culturas

juvenis

Este capítulo aborda o tema das juventudes, destacando como as Ciências Sociais podem contribuir para que os estudantes compreendam a sociedade e o papel que nela ocupam. O enfoque está em apresentar a pluralidade da experiência juvenil, incentivando os estudantes a questionar e a relativizar suas percepções sobre a juventude.

Com base em autores de diferentes tempos e tradições, o capítulo explora o conceito de culturas juvenis e sua importância para entender o momento vivido pelos estudantes, reconhecendo esse período como um fenômeno social. A proposta é estimular a reflexão sobre o protagonismo juvenil em diversas esferas da vida social, oferecendo subsídios para que os estudantes analisem suas realidades por meio de uma perspectiva mais ampla, baseada em conceitos e dados.

Dessa forma, busca-se promover uma visão crítica e contextualizada da juventude, valorizando as particularidades de cada experiência e incentivando a participação ativa na construção da sociedade.

Orientações didáticas

O capítulo inicia com uma reflexão sobre o conceito de juventude, incentivando os estudantes a questionar ideias preconcebidas sobre essa fase da vida. Por meio da análise da imagem e da reflexão acerca das questões propostas, os estudantes são levados a explorar como diferentes contextos sociais moldam a vivência juvenil e suas múltiplas expressões. A atividade da página 104 pode ser desenvolvida com os estudantes para enriquecer a discussão.

Atividade complementar

Esta atividade utiliza a metodologia ativa sala de aula invertida para explorar a diversidade de definições sobre juventude e demonstrar que não há consenso sobre o conceito.

Antes de iniciar o capítulo, solicite aos estudantes que pesquisem diferentes definições de juventude e registrem suas descobertas de modo organizado. Durante a aula, divida a turma em grupos de até cinco integrantes e oriente-os a compartilhar as informações coletadas. Reserve 30 minutos para essa etapa e peça aos estudantes que registrem no caderno as respostas às perguntas do boxe Atividade.

Em seguida, organize uma roda de conversa para que os grupos apresentem suas conclusões à turma. Registre as principais ideias no quadro, construindo coletivamente um repertório sobre os conceitos de “jovem” e “juventude”. Por fim, use esse repertório como base para promover um debate sobre a última pergunta: “Em sua opinião, existe um consenso sobre o que é a juventude?”. A atividade incentiva a reflexão crítica e a valorização da diversidade de perspectivas sobre o conceito.

Ao abordar o conteúdo da página 107, desenvolva com os estudantes a atividade a seguir.

Atividade complementar

Esta atividade deve ser conduzida oralmente, na forma de uma conversa coletiva. Comente com os estudantes que a associação entre juventude e rebeldia ganhou destaque a partir da década de 1950, período em que os jovens começaram a ocupar mais espaço no mercado de trabalho e a se firmar como um grupo de consumidores. Com base nessa perspectiva, inicie a discussão com as seguintes perguntas.

1. O que é rebeldia para você?

2. Como a ideia de rebeldia está relacionada à juventude?

3. Em sua opinião, a rebeldia da juventude é importante para promover mudanças necessárias no país e no mundo? Explique.

A atividade visa incentivar a reflexão sobre como a rebeldia se tornou um aspecto marcante da juventude nas sociedades ocidentais modernas. Promova uma conversa dinâmica, encorajando a participação ativa dos estudantes por meio de suas opiniões, percepções e experiências pessoais.

Na última questão, aprofunde o debate apresentando exemplos históricos em que a juventude foi protagonista de transformações sociais significativas, como o movimento dos caras-pintadas no Brasil e outros movimentos juvenis pelo mundo. A conversa deve destacar como a rebeldia pode ser uma força criativa e transformadora na sociedade.

Nas páginas 108 e 109, os estudantes são apresentados ao estudo clássico da antropóloga Margaret Mead sobre a adolescência em Samoa. O trabalho de Mead não só trouxe novas perspectivas sobre a juventude mas também se destacou pela coragem da autora ao realizar uma pesquisa de campo em uma sociedade culturalmente distinta e distante dos padrões ocidentais da época, quebrando barreiras acadêmicas e de gênero.

Organize uma leitura coletiva do texto da página 109, verificando se surgem dúvidas sobre termos e conceitos.

Ao final, promova uma reflexão com os estudantes por meio da pergunta: “As críticas de Mead à visão ocidental da adolescência ainda se aplicam?”. Incentive-os a explorar como a Antropologia pode contribuir para repensar percepções e revise conceitos como relativismo cultural e etnocentrismo.

Além disso, discuta o viés de gênero presente no texto, que enfatiza desafios enfrentados por meninas na adolescência. Pergunte aos estudantes se, em suas experiências, esse estigma ainda é mais forte sobre as jovens e explore as razões para isso.

Caso considere pertinente, utilize o texto de Mead para uma análise diagnóstica, questionando como a autora criticou a visão tradicional da adolescência e de que forma a Antropologia pode contribuir para desconstruir e reimaginar essa fase da vida.

Na página 110, a seção Perspectivas mobiliza a competência geral 5 ao incentivar o contato dos estudantes com diferentes experiências de juventude por meio das redes sociais. A atividade, centrada no exemplo de Cristian Wariu, destaca como as vivências juvenis variam conforme a realidade social e cultural de cada grupo.

Sugere-se que a atividade seja realizada em sala, organizando os estudantes em grupos de quatro ou cinco integrantes, com acesso a plataformas digitais e redes sociais. Se o acesso digital não for possível, a tarefa pode ser adaptada como atividade extraclasse.

Para otimizar o tempo, é recomendável selecionar previamente perfis variados de jovens ativistas, considerando diversidade étnico-racial, gênero e causas defendidas. Essa preparação enriquece a atividade, evitando que os estudantes percam muito tempo na busca inicial.

Reserve 25 minutos para a realização da atividade. Depois, peça a cada grupo que apresente suas descobertas e reflexões à turma. Ao final, conduza uma discussão sobre o papel das redes sociais como ferramentas de ativismo, abordando tanto as potencialidades quanto as limitações dessa prática.

Nas páginas 111 e 112, o tópico “Culturas juvenis” promove a competência geral 3, valorizando manifestações artísticas e culturais próprias das juventudes, sejam locais, sejam mundiais. Essa é uma boa oportunidade para conectar os interesses dos estudantes ao conteúdo, incorporando práticas e grupos que eles apreciam.

Vale mencionar que, em 2017, houve uma tentativa de criminalização do funk alegando que o ritmo seria uma “falsa cultura”. Essa proposta reflete os preconceitos relacionados às culturas periféricas e às manifestações culturais produzidas por jovens de comunidades marginalizadas. Embora a proposta tenha sido rejeitada no

Senado, o episódio gerou debates importantes sobre desigualdade social, preconceito e reconhecimento de expressões culturais populares. Assim como o samba e a capoeira enfrentaram perseguições no passado, o funk também se tornou alvo de estigmatização, o que reforça a necessidade de valorizar e compreender as dinâmicas culturais que emergem desses espaços.

Aproveite essa discussão para incentivar os estudantes a refletir sobre o papel das culturas juvenis na construção da identidade e na transformação social. Questione como manifestações culturais podem enfrentar preconceitos e, ao mesmo tempo, servir como espaço de resistência e expressão.

Na seção Conexões com Língua Portuguesa, na página 113, inicie com a leitura coletiva do texto sobre o internetês. Esse tema promove interdisciplinaridade e integra conceitos de Língua Portuguesa e Sociologia ao explorar como a comunicação digital reflete e influencia práticas sociais e a convivência entre diferentes gerações.

Proponha a construção coletiva de um glossário de internetês, listando abreviações, emojis e expressões comumente usadas em ambientes virtuais. Em seguida, estimule uma análise sociológica das diferenças geracionais, sugerindo que os estudantes investiguem estratégias de linguagem utilizadas por pessoas mais velhas que considerem curiosas ou ultrapassadas. Essa reflexão ajuda a compreender como a linguagem se transforma com o tempo, conforme mudam-se as práticas sociais e culturais.

Na página 114, o tópico “Trabalhar, estudar ou nenhum dos dois?” mobiliza a habilidade EM13CHS402, da competência específica 4, incentivando os estudantes a refletir criticamente sobre as juventudes brasileiras por meio de indicadores de emprego, trabalho e renda.

Antes de iniciar a atividade da seção Investigação, nas páginas 118 e 119, mencione a importância do uso de questionários na coleta de dados e opiniões. Explique brevemente as modalidades de perguntas, destacando a diferença entre múltipla escolha, perguntas fechadas e abertas. Separe uma aula para que a turma elabore os questionários e auxilie na formulação das perguntas, garantindo que estejam alinhadas aos objetivos da pesquisa.

Estabeleça uma semana para a aplicação dos questionários na comunidade e reserve uma aula para que os grupos analisem os resultados. Durante essa fase, ajude-os a identificar padrões nas respostas coletadas. Na sequência, dedique outra aula para que os grupos debatam os resultados e desenvolvam propostas de intervenção.

No dia da apresentação dos projetos, promova um espaço de trocas, incentivando os estudantes a comentar as

ideias dos demais colegas e a refletir sobre o impacto de intervenções locais. Esse é um momento ideal para discutir a importância de conhecer a opinião da comunidade e compreender como pequenas ações podem gerar transformações de maior alcance, especialmente no acesso a oportunidades de lazer.

Indicação

• CAFÉ da manhã: a geração Z e o valor do trabalho. Locução de: Gabriela Mayer e Gustavo Simon. [S l.]: Spotify, 27 set. 2024. Podcast. Disponível em: https:// open.spotify.com/episode/3qwKv79RMcGQfTeVcegTnZ?si=cFHYV4mQiKEuBEWoXm0iA. Acesso em: 19 out. 2024.

O podcast discute o desemprego entre jovens e o aumento de demissões voluntárias, analisando as motivações da geração Z e os desafios do mercado de trabalho atual.

Atividades

Página 104

As questões podem ser respondidas por escrito ou oralmente de modo coletivo. Incentive os estudantes a refletir sobre o tema com base em suas experiências individuais.

Página 105

Oriente os estudantes a coletar definições de “jovem” e “juventude” em dicionários e entrevistar pessoas de diferentes idades. Em grupos, peça-lhes que comparem os resultados, formulem hipóteses sobre possíveis diferenças e discutam se há consenso social sobre os termos. Finalize com um debate coletivo.

Página 106

Divida a turma em grupos e atribua a cada um a pesquisa sobre uma geração específica. Solicite que organizem um quadro para registrar o período e as características pesquisadas. Disponha todos os quadros para consulta e, ao final, promova uma conversa coletiva com base nas perguntas da atividade, destacando diferenças geracionais e mudanças sociais.

Página 107

Proponha uma reflexão sobre o impacto da internet e das redes sociais na conscientização política e na mobilização social. Aproveite a oportunidade para discutir as fake news , incentivando os estudantes a analisar como a desinformação pode influenciar o engajamento social e comprometer a participação cidadã em causas relevantes.

Página 110

Incentive os estudantes a pensar sobre estratégias de comunicação eficazes nas redes, avaliando quais formatos e conteúdos consideram mais atrativos para a faixa etária deles, compreendendo as demandas e expectativas do público jovem nas mídias digitais.

Página 112

As atividades incentivam os estudantes a refletir sobre culturas juvenis, conectando-as à realidade deles. Promova uma conversa sobre como a música e outros elementos culturais ajudam a formar a identidade dos grupos jovens, abordando também o impacto das novas tecnologias na produção musical e na representatividade.

Página 113

Promova uma conversa coletiva sobre as respostas às questões da atividade, incentivando os estudantes a refletir sobre como a linguagem pode se adaptar a diferentes contextos. Discuta a necessidade de distinguir entre o uso do internetês em ambientes informais e a norma-padrão em contextos mais formais, como na escola ou no mercado de trabalho.

Página 115

As atividades propõem a análise de dados sobre a condição de estudo e trabalho dos jovens no Brasil, incentivando reflexões sobre desigualdade e políticas públicas. O objetivo é conectar os estudantes com a realidade social, estimulando propostas que ampliem o acesso à educação e ao mercado de trabalho.

Página 117

A atividade adota a metodologia ativa do debate para promover o pensamento crítico e a articulação de argumentos entre os estudantes, mobilizando a competência geral 7 e a habilidade EM13CHS503. Divida a turma em três grupos: um a favor da redução da maioridade penal, outro contra e um terceiro que atuará como júri, responsável por fazer perguntas e decidir o grupo com a melhor defesa.

Os grupos devem estudar o tema com antecedência, utilizando fontes confiáveis, e organizar os argumentos de forma clara. Sugira que escolham oradores para a apresentação, enquanto os demais integrantes apoiam como assessores durante o debate. No dia da atividade, cada grupo terá 10 minutos para expor seus argumentos iniciais, seguidos de réplicas, perguntas do júri e respostas, totalizando 20 minutos por grupo.

Ao final, o júri terá 10 minutos para anunciar o grupo vencedor. Encerre destacando que o objetivo é refletir sobre o tema de maneira crítica e embasada, sem buscar

uma resposta definitiva, mas compreendendo o tema como parte do debate público.

Páginas 120 a 123

1. Incentive os estudantes a refletir sobre como juventude e velhice são construídas socialmente, destacando que esses conceitos variam entre culturas e relações sociais.

2. É importante coibir eventuais manifestações de intolerância religiosa durante a realização da atividade. Explique aos estudantes o contexto da charge e comente que, principalmente após a pandemia de covid-19, algumas manifestações religiosas passaram a ocorrer virtualmente para facilitar a participação de mais adeptos.

3. A Sociologia vê a juventude como uma construção sociocultural, que ultrapassa o desenvolvimento biológico, conforme indica a alternativa a.

4. A Sociologia compreende a juventude como uma categoria social que permite identificar semelhanças e diferenças culturais, como mostra a alternativa a

5. Mead argumenta que conhecer culturas diferentes melhora o entendimento crítico da nossa própria sociedade, conforme expresso na alternativa e

6. As afirmativas I e II estão corretas, pois a juventude é construída socialmente, e o trabalho pode oferecer acesso a consumo e lazer, conforme expresso na alternativa a

7. A juventude é uma construção sociocultural que emerge de comportamentos e atitudes dos próprios jovens, como indicado na alternativa d.

Referências comentadas

• BENEDIC T, Ruth; MARGARET, Mead; EDWARD, Sapir. Cultura e personalidade. Organização: Celso Castro. Tradução: Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2015.

O livro reúne textos de antropólogos da chamada escola de cultura e personalidade.

• CATANI, Afrânio Mendes; GILIOLI, Renato de Sousa Porto. Culturas juvenis: múltiplos olhares. São Paulo: Unesp, 2009.

A obra reúne discussões sobre o conceito de culturas juvenis, contemplando temas como família, violência, trabalho e consumo.

Capítulo 7

Uma ciência do social:

clássicos e modernos

Este capítulo apresenta a definição das Ciências Sociais no Brasil, com foco na Ciência Política, na Antropologia e na Sociologia. Além de explorar os autores fundadores e os principais conceitos, discute a consolidação dessas áreas científicas e a contribuição delas para a organização e a compreensão da sociedade moderna.

A abordagem inicial destaca a separação entre sujeito e objeto como base metodológica das Ciências Sociais e a cronologia histórica quadripartida (antiga, medieval, moderna e contemporânea), que privilegia as sociedades europeias ocidentais. Também são apresentados os desafios ligados à crise do indivíduo moderno e diferentes abordagens sociológicas, ampliando a compreensão dessas disciplinas.

Como encerramento, a atividade prática propõe uma pesquisa bibliográfica que visa aprofundar o conhecimento sobre a origem e o desenvolvimento das Ciências Sociais, incentivando a análise crítica e a autonomia dos estudantes na construção do saber.

Orientações didáticas

Ao abordar o conteúdo das páginas 125 e 126, inicie contextualizando as Ciências Sociais e seu surgimento na Idade Moderna, destacando que essa área nasceu no contexto das transformações europeias. Explique que a divisão da história em quatro períodos (antiga, medieval, moderna e contemporânea) reflete uma perspectiva etnocêntrica que prioriza marcos ocidentais, deixando outras histórias à margem.

Apresente as críticas de Weber e Bauman sobre a modernidade. Por um lado, Weber destaca a racionalização, a separação entre religião e Estado e a especialização técnica como marcos da sociedade moderna. Bauman, por outro lado, diferencia a modernidade sólida, marcada pelo controle e pela estabilidade, da modernidade líquida, caracterizada pela fluidez e efemeridade de relações e valores sociais no contexto contemporâneo. Essas ideias são essenciais para que os estudantes compreendam como essas transformações moldam a sociedade e as experiências individuais.

Atividades complementares

Com base no vídeo de Bauman, disponível na seção Saiba mais da página 127, e na entrevista de Latour, indicada na seção Indicação, na sequência apresente os

estudantes às diferentes perspectivas de discussão sobre modernidade. Em seguida, proponha as seguintes questões.

1. Quais são as seguintes características da sociedade moderna?

R.: Espera-se que os estudantes mencionem as características política, econômica, social e apresentem a esfera pública e a imprensa da sociedade moderna.

2. Você se sente moderno? Argumente.

R.: Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes respondam além do sentido atual, apresentando também as características citadas por Bauman sobre consumismo e por Latour sobre hibridismo.

3. O que é a crise do sujeito moderno?

R.: Espera-se que os estudantes respondam que o projeto da modernidade de dominar a natureza não se concretizou, já que um vírus pode alterar o funcionamento da sociedade humana, e o excesso de produção e o consumo causam alterações no planeta e podem levar ao colapso da humanidade.

Ao abordar o conteúdo da página 128, apresente as críticas de Bruno Latour ao projeto moderno, enfocando a falha na separação entre natureza e cultura. Discuta o conceito de híbridos exemplificando com inovações tecnológicas e biológicas, para mostrar como ciência e natureza estão interligadas.

Aproveite para explorar o papel das instituições sociais, como escolas e hospitais, na formação dos indivíduos, destacando como essas instituições promovem tanto a integração quanto o controle social.

Por fim, explique que a Sociologia, a Ciência Política e a Antropologia compõem as Ciências Sociais. Ressalte que as obras clássicas são fundamentais, mas não imutáveis, incentivando os estudantes a reinterpretá-las à luz das questões contemporâneas.

Ao abordar as páginas 129 a 131, inicie com Montesquieu, explicando a tipologia dos governos e a teoria dos freios e contrapesos, essencial para o equilíbrio entre Executivo, Legislativo e Judiciário na Constituição brasileira. Em seguida, destaque Tocqueville, que investigou a formação da democracia nos Estados Unidos, oferecendo uma perspectiva que consolidou a análise metodológica na Ciência Política.

Explore também as contribuições de Weber, discutindo seus conceitos de dominação e sua visão sobre o Estado moderno como detentor do monopólio legítimo da violência. Relacione essas ideias com a obra de Marx e Engels, que analisam a luta de classes e o papel do Estado como um mecanismo de controle dos interesses burgueses.

Explique aos estudantes que os valores éticos da sociedade burguesa, no modo de produção capitalista, são embasados nas liberdades individuais, na valorização do direito à propriedade privada, na livre competição de mercado e no progresso material.

Finalize diferenciando as relações de poder entre nações, Estados e indivíduos e entre indivíduos e grupos sociais, incentivando os estudantes a refletir sobre a legitimidade dessas relações e como a política é essencial para promover mudanças sociais, especialmente em momentos de crise e transformação histórica.

Ao abordar a seção Conexões com Biologia, na página 133, destaque a importância de entender como a Biologia e a Sociologia se influenciaram historicamente. Explique que, no século XIX, pensadores como Herbert Spencer buscaram aplicar conceitos das Ciências da Natureza às Ciências Sociais. Apresente a obra A origem das espécies, de Charles Darwin, explicando a teoria da evolução por seleção natural, segundo a qual os indivíduos mais adaptados sobrevivem e se reproduzem. Ressalte que, apesar de a teoria de Darwin tratar da evolução biológica, o termo darwinismo social foi utilizado por alguns teóricos sociais para justificar desigualdades e discriminações, distorcendo a teoria original.

Oriente os estudantes a refletir sobre o uso inadequado dessas ideias no século XIX para sustentar o racismo e o imperialismo europeu, que propagaram a noção de superioridade racial. Explique como essa visão influenciou políticas que reforçaram a manutenção de privilégios sociais, com base na ideia de que certos grupos eram biologicamente mais aptos.

Incentive a análise crítica do conceito de darwinismo social, explicando que ele não foi cunhado por Darwin, mas por pensadores sociais, como Spencer, em uma tentativa de justificar a desigualdade social. Com base nessa ideia, discuta como a ciência pode ser usada para promover ou combater ideologias e valores preconceituosos. Por fim, explore a interdisciplinaridade, mostrando que entender a aplicação dos conceitos biológicos na sociedade oferece uma oportunidade para desconstruir preconceitos e refletir sobre as implicações sociais das teorias científicas.

Nas páginas 135 a 138, o foco recai sobre os autores fundadores da Sociologia. Ao apresentar Durkheim, recomenda-se aprofundar a compreensão dos conceitos de coesão social, das solidariedades mecânica e orgânica e das formas elementares e simbólicas da religião.

Durante a discussão sobre Weber, proponha aos estudantes que descrevam um “dia ideal” de estudo ou lazer e, em seguida, comparem com sua rotina real. Esse exercício ajuda a explorar a distância entre as expectativas

idealizadas e a realidade, incentivando a análise crítica das limitações e das influências ideológicas sobre esses ideais.

Ao trabalhar os conceitos apresentados por Marx, sugira uma análise das profissões e suas implicações na rotina e no tempo livre das pessoas. Os estudantes podem investigar como diferentes ocupações impactam o tempo diário.

A seção Investigação, nas páginas 140 e 141, propõe apresentar a prática da revisão bibliográfica, uma etapa fundamental na pesquisa acadêmica. Essa metodologia desenvolve habilidades essenciais, como leitura crítica, análise de fontes e organização do pensamento, preparando os estudantes para a produção de conhecimento e para a compreensão de conceitos complexos. No contexto da genealogia das Ciências Sociais, os estudantes terão a oportunidade de explorar o surgimento e a evolução dessa área de conhecimento.

Acompanhe de perto todas as etapas da atividade, garantindo que os estudantes selecionem fontes adequadas e confiáveis, como artigos, livros e textos de repositórios acadêmicos e revistas científicas. A mediação é fundamental para esclarecer conceitos complexos e orientar a leitura crítica dos textos. Durante a leitura, é importante que os estudantes façam anotações organizadas, destacando as principais ideias e identificando divergências e convergências entre os autores estudados. Isso facilitará a elaboração da síntese final e evitará problemas relacionados a plágio.

Cada grupo deverá elaborar uma hipótese inicial sobre o conceito de ciência do social, que será validada e aprimorada ao longo da pesquisa. A escrita da síntese deve conectar as diferentes perspectivas dos autores estudados, promovendo uma reflexão consistente sobre o tema. A etapa de apresentação dos resultados é essencial para incentivar a troca de ideias e aprimorar a compreensão coletiva do conteúdo.

Ao final, promova uma discussão sobre as dificuldades encontradas durante o processo, destacando as melhores práticas para pesquisa e análise de dados. Essa abordagem prepara os estudantes para futuros desafios acadêmicos, ao mesmo tempo que reforça a importância de compreender como o conhecimento é produzido e atualizado ao longo do tempo.

Indicação

• LATOUR, Bruno. Entrevista: Bruno Latour. [Entrevista cedida a] Marcelo Fiorini. Cult, São Paulo, c2024. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/ entrevista-bruno-latour/. Acesso em: 22 out. 2024.

Na entrevista cedida à revista Cult, o antropólogo francês relaciona a sociedade brasileira aos conteúdos abordados no livro Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica, publicado no Brasil em 1994.

Atividades

Página 124

A imagem sugere uma crítica ao distanciamento entre o conhecimento acadêmico e os saberes tradicionais. Discuta com os estudantes como a Antropologia superou, com o tempo, preconceitos e promoveu uma aproximação colaborativa com as culturas estudadas. Incentive debates sobre o valor dos saberes indígenas hoje.

Página 128

Incentive os estudantes a refletir sobre a ideia de política reduzida a algo praticado exclusivamente pelas instituições governamentais e partidos. Explique a eles que toda ação humana coletiva também é uma ação política.

Página 131

Oriente os estudantes a mapear as organizações políticas presentes na região. Caso não a identifiquem, sugira que consultem familiares ou a comunidade escolar. Planeje visitas para conhecer as organizações e promover conversas sobre as ideologias. Relacione essas experiências com os conteúdos estudados sobre política, incentivando a reflexão crítica sobre o papel dessas instituições na sociedade.

Página 133

Oriente os estudantes a ler o conceito de darwinismo social e refletir criticamente sobre as causas da desigualdade social. Incentive-os a discutir se políticas públicas conseguem reduzir desigualdades, justificando as respostas por meio de exemplos. Promova uma troca de ideias que valorize diferentes perspectivas.

Páginas 142 e 143

1. Converse com os estudantes sobre a história dos povos sem escrita e aproveite para explorar o culturalismo como possibilidade de análise e contraponto ao etnocentrismo.

2. Reflita com os estudantes sobre a Sociologia proposta por Durkheim, uma perspectiva científica que visa compreender como os fenômenos sociais têm preponderância nos modos de pensar, crer e agir dos indivíduos. Dessa forma, a alternativa correta é a d

3. Retome a discussão sobre as obras de Karl Marx e Friedrich Engels a respeito das relações de trabalho, fundamentais para a exploração no sistema capitalista. Assim, a alternativa correta é a a.

4. Explique aos estudantes que Tocqueville observou, na sociedade estadunidense do século XIX, uma conexão entre o comportamento moral e o sucesso

econômico. A moralidade era valorizada não apenas por razões éticas, mas porque promovia a harmonia e facilitava o progresso econômico. Assim, a alternativa correta é a d.

5. Explique aos estudantes que o etnocentrismo ocorre quando indivíduos julgam outra cultura com base nos próprios valores, o que pode gerar incompreensão e conflitos. Esse conceito está relacionado à dificuldade de aceitar diferentes formas de pensar e agir. Portanto, a alternativa correta é a d.

6. Explique aos estudantes que o conhecimento científico é construído por meio de métodos rigorosos, como observação, comparação, mensuração e experimentação. Além disso, é autocorretivo, ou seja, está sempre sujeito a revisões e aprimoramentos. Portanto, a alternativa correta é a b

Texto complementar

Sociologia e liberdade

A sociologia produz um sentido de entendimento que podemos chamar de relacional-interpretativo. Ela não se satisfaz em ver as coisas de modo isolado, porque a vida social não é assim. […] A sociologia é um comentário permanente das experiências surgidas em relações sociais e uma interpretação dessas experiências com referência aos outros e às circunstâncias sociais em que as pessoas se encontram.

Isso não significa sugerir que ela detenha o monopólio da sabedoria […]. Na verdade, aprender a pensar sociologicamente amplia nossos horizontes de compreensão porque essa ação não se contenta com a exclusividade e a necessidade de ser definitiva – qualidades exigidas de qualquer interpretação […].

Isso está longe de sugerir que a sociologia não seja ‘prática’. Ao ampliar o horizonte de nosso entendimento, ela é capaz de lançar luz sobre o que de outra maneira poderia passar despercebido no curso normal dos eventos. […] Muito simplesmente, todos somos vinculados uns aos outros, embora de maneiras diferentes. Esse é o desafio de se pensar sociologicamente, porque esse pensamento não refreia, mas facilita o fluxo e a troca de experiências.

[…]

O grande serviço que a sociologia está preparada para oferecer à vida humana e à coabitação dos homens é a promoção do entendimento mútuo e da tolerância como condição suprema da liberdade compartilhada. Graças à forma de

entendimento que disponibiliza, o pensamento sociológico promove necessariamente o entendimento produtor de tolerância e a tolerância que viabiliza o entendimento.

[…] Entre nossas expectativas para o futuro e as experiências obtidas do passado e do presente jaz um espaço que o pensar sociologicamente ilumina e a partir do qual podemos aprender mais sobre nós mesmos, os outros e as relações entre nossas aspirações, ações e as condições sociais que criamos e nas quais vivemos. A sociologia é, assim, central para qualquer tentativa de nos compreender melhor.

BAUMAN, Zygmunt; MAY, Tim. Aprendendo a pensar com a sociologia. Tradução: Alexandre Werneck. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. p. 284-286.

Referências comentadas

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e ambivalência

Tradução: Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.

Neste livro, Bauman define os conceitos de modernidade e ambivalência e apresenta um posicionamento crítico à modernidade.

MONTESQUIEU, Charles-Louis de Secondat. O espírito das leis. Tradução: Cristina Murachco. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

Neste livro, o autor apresenta a política das sociedades antigas, define os conceitos de lei e poder e analisa formas de governo.

TOCQUEVILLE, Alexis de. A democracia na América.

Tradução: Julia da Rosa Simões. São Paulo: Edipro, 2019.

Neste livro, o autor versa sobre os princípios, as instituições e os costumes que formaram a vida política democrática dos Estados Unidos.

Capítulo 8

Política, democracia e Estado

Este capítulo aborda os conceitos de política, Estado e democracia, apresentando a política como um campo com regras e particularidades específicas. A análise dos contratualistas é central para entender as diferentes concepções sobre estado de natureza e contrato social, ambos fundamentais para a organização da vida em sociedade. Além disso, são discutidos os modelos de democracia – representativa, direta, política e social – e o conceito de dominação legítima segundo Max Weber. O capítulo

incentiva a compreensão da política contemporânea e do protagonismo juvenil e promove o desenvolvimento de habilidades argumentativas no contexto do debate democrático.

Orientações didáticas

Ao abordar a ideia de ação política na abertura do capítulo, na página 144, incentive os estudantes a refletir sobre a fotografia e questione-os sobre o sentido das atitudes dos atletas retratados. É importante que os estudantes reconheçam que o fazer político ocorre de diferentes formas e linguagens, sendo realizado por todas as pessoas e pelos mais diversos sujeitos sociais. É válido mencionar aos estudantes a importância da “experiência” na aprendizagem escolar. Enfatize que há diversas maneiras de os jovens praticarem política e incentive-os a pesquisar grupos de atuação política presentes na escola, na cidade ou no município onde vivem. Depois, peça a eles que compartilhem os resultados com a turma.

Ao abordar o conteúdo da página 146, é importante compreender o contexto que influenciou o pensamento de Maquiavel. O filósofo presenciou a crise política de Florença no final do século XV, incluindo a guerra contra Pisa, e acompanhou o episódio conhecido como “Questão Vitelli”. Paulo Vitelli, um comandante mercenário das tropas florentinas, estava prestes a tomar a cidade inimiga, mas hesitou e realizou um ataque tardio. Acusado de traição, Vitelli foi um exemplo claro para Maquiavel dos riscos do uso de mercenários. Esse episódio reforçou a percepção da necessidade de um exército nacional e profissional, comprometido com o bem público e com os ideais da pátria em vez de interesses privados. Esse evento contribuiu para o desenvolvimento de um dos temas principais da obra de Maquiavel: a arte de governar.

Ao abordar o conteúdo sobre os contratualistas, nas páginas 147 a 149, é essencial explorar com os estudantes as diferentes concepções de estado de natureza e contrato social, destacando as ideias de Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau. Incentive a análise comparativa entre as visões desses filósofos, focando as suas diferenças em relação à natureza humana e à organização da sociedade.

Explique como Hobbes defendeu a necessidade de um Estado forte para controlar os impulsos egoístas dos seres humanos, enquanto Locke enfatizou a liberdade e a igualdade como direitos naturais, que o Estado deve garantir. Já Rousseau, ao relacionar a desigualdade à propriedade privada, propôs que o Estado tenha a função de corrigir as injustiças sociais.

Sugira que os estudantes discutam como essas teorias ainda influenciam o debate político atual, a exemplo da relação entre a liberdade individual e o papel do Estado. Ao abordar a democracia na contemporaneidade, da página 151 à 153, destaque para os estudantes que a participação popular é fundamental para o funcionamento desse sistema político. Explique que, sem essa participação, a democracia pode se tornar uma aristocracia, como alertado por Norberto Bobbio. Ressalte a importância das liberdades civis para garantir uma democracia efetiva, como a liberdade de imprensa e de opinião.

Incentive os estudantes a refletir sobre as diferenças entre democracia direta e representativa, exemplificando com casos de plebiscitos e consultas públicas. Além disso, apresente o conceito de tecnopolítica, explorando como a tecnologia pode fortalecer a participação popular, como visto no modelo de democracia digital em Taiwan.

Para o trabalho com a seção Perspectivas, nas páginas 154 e 155, destaque para os estudantes as três formas de dominação legítima identificadas por Max Weber: dominação legal, tradicional e carismática. Explique que a dominação ocorre em uma relação de poder entre quem comanda e quem obedece, sustentada pela legitimidade. Utilize exemplos práticos para ilustrar cada tipo de dominação e incentive os estudantes a refletir sobre como essas

Pensador

Hobbes

Locke

Concepção de homem no estado de natureza

Seres humanos são livres e iguais, mas egoístas por natureza.

Seres humanos são livres, iguais e racionais por natureza.

Rousseau

Seres humanos são livres, iguais e naturalmente bons.

formas de poder se manifestam nas sociedades contemporâneas, tanto nas esferas políticas quanto nas sociais.

Ao abordar o tema do protagonismo juvenil, na página 157, comente com os estudantes que as juventudes contemporâneas se envolvem ativamente na resistência e na transformação social de diversas formas, por meio de movimentos de rua, redes sociais e iniciativas culturais. Explique como, segundo Michel Foucault, o poder é difuso, e, portanto, a resistência deve ser múltipla e abrangente. Incentive os estudantes a refletir sobre como a mobilização juvenil desafia normas estabelecidas, propondo alternativas inclusivas e democráticas para a sociedade.

Na seção Investigação, nas páginas 158 e 159, os estudantes serão apresentados à análise documental. Essa metodologia qualitativa permite que os estudantes interpretem textos históricos, identifiquem os principais argumentos dos autores e compreendam o contexto filosófico e político em que suas obras foram escritas. O objetivo é que eles analisem as diferentes concepções a respeito da natureza humana, do contrato social e do papel do Estado.

Incentive os estudantes a relacionar as análises com o conteúdo estudado no capítulo. Durante a apresentação dos resultados, podem ser utilizados painéis, cartazes ou apresentações digitais para expor as conclusões.

Caso considere necessário, elabore coletivamente um quadro sobre o pensamento dos contratualistas.

Pensadores contratualistas

Problema no estado de natureza Ideia central

O egoísmo humano leva a conflitos constantes e à guerra de todos contra todos.

Apesar de racionais, seres humanos geram conflitos para proteger a propriedade privada.

A natureza humana exige um governo forte para evitar o caos.

Os seres humanos têm direitos naturais à vida, à liberdade e à propriedade.

A propriedade privada é a causa principal das desigualdades sociais. A sociedade corrompe o ser humano, mas o Estado deve representar a vontade geral e preservar a liberdade civil.

Contrato social e o papel do Estado

O Estado deve garantir ordem e segurança por meio de um governo centralizado e poderoso.

O Estado deve mediar conflitos e proteger os direitos naturais dos cidadãos.

O Estado deve garantir que a vontade geral prevaleça e corrigir as desigualdades criadas pela sociedade.

Sistema de governo defendido

Absolutismo

Liberalismo

Democracia

Elaborado pelo autor.

Indicações

• O QUE é o presidencialismo de coalizão no Brasil hoje? [S.  l.:  s.  n.], 2018. 1 vídeo (23 min). Publicado pelo canal Nexo Jornal. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=5Z73DIrXczA. Acesso em: 22 out. 2024.

O vídeo explica o conceito de presidencialismo de coalizão, analisando suas implicações no Brasil e os desafios políticos desse sistema.

• BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL. Rio de Janeiro, c2024. Site. Disponível em: https://bndigital.bn.gov. br/. Acesso em: 22 out. 2024.

Portal que disponibiliza diversas obras literárias, artísticas e científicas que estão em domínio público ou têm a divulgação autorizada.

DIGO às companheiras que aqui estão. [S. l.: s. n.], 2022.

1 vídeo (35 min). Publicado pelo canal SOS Corpo Instituto Feminino para a Democracia. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=q19Stptn8rM. Acesso em: 22 out. 2024.

No vídeo, Lenira Maria de Carvalho narra sua trajetória na organização da luta das trabalhadoras domésticas no Brasil. Uma história pessoal que se entrelaça com a luta por direitos e pela democracia nas últimas seis décadas no país.

Atividades

Página 145

Incentive os estudantes a identificar e a refletir sobre as situações de natureza política que ocorrem no espaço vivido, no entorno da escola e no município onde residem.

Página 146

Após a leitura do trecho de O príncipe, organize os estudantes em duplas ou trios para que discutam e respondam às questões propostas. Incentive-os a refletir sobre a visão de Maquiavel em relação à natureza humana e ao exercício do poder, destacando o dilema entre ser temido ou amado como governante. Proponha que relacionem as ideias de Maquiavel com o surgimento e o fortalecimento da política moderna, incentivando uma discussão crítica sobre a relevância dessas reflexões para a compreensão do poder na atualidade.

Página 152

Após a leitura, organize os estudantes em grupos para discutir as questões. Incentive reflexões sobre tecnopolítica, CoGov e governança global.

Página 153

Explique para os estudantes a diferença entre democracia política e democracia social, ressaltando que a democracia pode ser exercida em diferentes espaços.

Página 155

Após a realização da atividade de forma individual, organize os estudantes em duplas ou grupos pequenos e oriente-os a comparar suas respostas com as dos colegas. Peça a cada dupla ou grupo que comente os exemplos específicos de dominação legal, de dominação tradicional e de dominação carismática, segundo a teoria de Weber, que foram comuns entre eles.

Página 157

Organize os estudantes em trios e oriente-os a pesquisar grupos de atuação política juvenil em seu contexto local ou regional. A pesquisa deve identificar as áreas de atuação desses grupos, como educação, meio ambiente, direitos humanos ou igualdade de gênero. Incentive-os a selecionar um grupo para uma análise mais detalhada, investigando suas causas, locais de atuação, formas de luta e mobilização.

Peça aos estudantes que analisem os principais desafios que o grupo enfrenta no cenário político atual e as estratégias utilizadas para superá-los. Em seguida, oriente-os a propor soluções para ampliar o impacto dessas iniciativas juvenis em suas comunidades.

Páginas 160 e 161

1. O Estado pode ser democrático, mas restrito à esfera da democracia política, caracterizada pela realização de eleições para certos cargos dos poderes Executivo e Legislativo. No entanto, essa forma de democracia não garante, por si só, a prática da democracia social, que envolve a participação democrática em outras esferas da sociedade, como escolas, empresas, sindicatos ou associações.

2. A realização periódica de eleições é uma das principais características do Estado democrático de direito, pois garante a representação política da vontade do povo. Assim, a supressão de eleições consiste em uma violação à democracia, como indica a alternativa a .

3. O texto de Pierre Clastres (1934-1977) apresenta uma forma de organização do poder quase inusitada, em que as relações sociais e de poder independem de uma ação estatal ou da centralização do poder em figuras de autoridade. Portanto, a alternativa c é a correta.

4. As ideias de direito natural e de contrato social remetem ao pensamento filosófico-político do contratualismo. Foi nesse contexto que John Locke desenvolveu a teoria liberal, até hoje relevante como modelo político, conforme indica a alternativa e

5. O conceito de Estado moderno, de acordo com Max Weber, pode ser definido como apresentado na alternativa c .

Referências comentadas

• BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade: para uma teoria geral da política. Tradução: Marco Aurélio Nogueira. 14. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007. (Coleção Pensamento crítico, v. 69).

Esta obra promove a reflexão sobre o Estado democrático de direito e a crise da época contemporânea, além de propor a busca de soluções para o convívio social por meio da reforma do Estado e de mudanças do próprio fazer político.

PLURALITY. [S l., 200-]. Site. Disponível em: https:// www.plurality.net/. Acesso em: 22 out. 2024. O site detalha como Audrey Tang e seus colaboradores, arquitetos da democracia digital em Taiwan, alcançaram um crescimento inclusivo e alimentado pela tecnologia que aproveita as ferramentas digitais para fortalecer tanto a unidade social quanto a diversidade.

Capítulo 9

Democracia, cidadania e direitos humanos

Este capítulo aborda os conceitos de democracia, cidadania e direitos humanos, com foco na interdependência que os caracteriza. O intuito é levar os estudantes a compreender a relevância desses conceitos com base em suas próprias realidades e experiências. O conteúdo prioriza a ideia de que esses são conceitos plurais e em permanente processo de construção, chamando a atenção dos jovens para a importância de se perceberem como agentes sociais com efetivo poder de transformação.

A temática é abordada por meio de diferentes tradições teóricas, buscando articular um panorama conceitual mais amplo com a realidade brasileira. Utilizando dados históricos e estatísticos, os estudantes poderão compreender de que modo esses princípios e conceitos se conectam com suas vidas, ganhando autonomia para se colocarem de forma ativa perante os desafios que marcam a realidade em que vivem nas diferentes escalas – local, nacional ou global.

Orientações didáticas

O conteúdo das páginas 163 e 164 incentiva os estudantes a perceber a relação entre a democracia e a desigualdade social, compreendendo a interdependência entre diferentes fenômenos sociais. Na página 165, reforça-se a ideia de que democracia é um conceito plural, variando conforme o momento e o local.

As páginas 166 e 167 abordam a democracia no Brasil, mostrando que, embora possa parecer algo evidente, esse regime tem uma trajetória relativamente curta em nosso país. As ideias do sociólogo Sérgio Buarque de Holanda ajudam a compreender as limitações do desenvolvimento de uma cultura democrática no país, usando exemplos próximos da realidade dos estudantes, como o uso de diminutivos para nomes pessoais ou até mesmo apelidos nas camisas de jogadores de futebol (ao contrário dos demais países, que costumam usar o sobrenome). Utilize o contraponto feito pelo sociólogo Jessé Souza à teoria de Sérgio Buarque de Holanda para incentivar os estudantes a refletir criticamente sobre o assunto. Essa é também uma boa oportunidade para mostrar que as Ciências Sociais são feitas por meio de debates, e não de consensos.

Na seção Perspectivas, na página 168, conduza uma leitura coletiva solucionando eventuais dúvidas que possam surgir. Ao final, convide os estudantes a compartilhar situações recentes nas quais tenham observado o “jeitinho brasileiro” em ação. Esse pode ser um momento descontraído para que os estudantes compreendam como as Ciências Sociais nos ajudam a entender a sociedade e os comportamentos individuais. Por fim, explicite como o “jeitinho”, aparentemente inofensivo, pode prejudicar a democracia brasileira como um todo.

Nas páginas 169 e 170, conduza uma leitura coletiva, ajudando os estudantes a relacionar o assunto com o tema cidadania. Ao final, peça aos estudantes que compartilhem situações em que puderam presenciar esse fenômeno, incentivando-os a construir a relação desses episódios com os conceitos trabalhados no capítulo.

Ao abordar o conteúdo da página 171, proponha a realização da atividade ao final da página.

Na página 172, a seção Perspectivas apresenta a reflexão do antropólogo Roberto DaMatta sobre a relação entre o comportamento no trânsito e o exercício da cidadania no Brasil. Como esse é um tema que atravessa a vida de todos, tanto motoristas quanto pedestres, promova uma leitura coletiva e peça aos estudantes que compartilhem situações que dialoguem com o conteúdo do texto.

A seção Conexões com Filosofia, na página 176, mobiliza a habilidade EM13CHS501. Para iniciar o trabalho

com a página, pergunte aos estudantes o que entendem por “ética” e se já trabalharam esse conceito em Filosofia. Em seguida, conduza uma leitura coletiva do texto, reforçando a ideia de que não se trata de um conceito fixo ou único. Por fim, retome o conteúdo do capítulo, incentivando os estudantes a refletir sobre a relação entre a ideia de ética e os princípios que regem a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Indicações

• EPISÓDIOS. [S l.]: Projeto Querino, c2022. Disponível em: https://projetoquerino.com.br/podcast/. Acesso em: 29 out. 2024.

Página que apresenta nove episódios de podcast retomando eventos e aspectos da história do Brasil, com base em uma perspectiva afrocentrada. O objetivo é denunciar o papel das elites no desenvolvimento das desigualdades que marcam o país.

DIREITOS humanos, a exceção e a regra. Direção: Gringo Cardia. Brasil: Gringo Cardia, 2008. Streaming (10 min).

Curta-metragem sobre os direitos humanos, com a apresentação de grandes eventos das últimas décadas da história do Brasil.

A UTOPIA dos direitos humanos. Rio de Janeiro: Instituto Ensaio Aberto, 2020. 1 vídeo (21 min). Publicado pelo canal Companhia Ensaio Aberto. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=YzRIVCMyKxg. Acesso em: 29 out. 2024.

O vídeo parte de entrevistas com intelectuais, políticos e ativistas para refletir sobre o processo de conquista e manutenção de direitos humanos no Brasil.

ATIVIDADES

Página 162

As questões podem ser trabalhadas de forma oral e coletiva, como uma sensibilização inicial para os temas a serem desenvolvidos no capítulo.

Página 164

Peça aos estudantes que respondam aos enunciados por escrito. O objetivo da atividade é avaliar a compreensão dos estudantes quanto à relação entre democracia e direitos, bem como analisar se eles percebem a forma como as desigualdades impactam o acesso aos direitos.

Página 167

Peça aos estudantes que façam as atividades por escrito. Caso julgue pertinente, estas atividades podem ser utilizadas para compor a avaliação.

Página 168

Solicite aos estudantes, com base na leitura da seção Perspectivas, que respondam às questões aplicando o conceito de “jeitinho brasileiro”, estudado pela antropóloga Lívia Barbosa. O objetivo da atividade é compreender que tal ideia pode ser um parâmetro de entendimento sobre ações cotidianas que envolvem algum tipo de resolução de problemas por meio de brechas ou desvios de regras.

Página 171

A atividade tem o objetivo de sistematizar a ideia de hierarquização de cidadania sugerida pelo autor por meio de um exercício prático. Ao fazer a pesquisa, os estudantes irão perceber que a imensa maioria dos brasileiros correspondem ao que o autor considera cidadãos de terceira classe, percebendo o curto alcance dos direitos no nosso país. Sugerimos que a atividade seja feita em grupos de até quatro pessoas e que, caso possível, a pesquisa seja feita em sala de aula, por meio dos celulares. Para a segunda tarefa, sugira o uso da Calculadora de renda (disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-57909632; acesso em: 29 out. 2024). Ao final, conduza uma conversa sobre a relação entre renda e níveis de cidadania no Brasil, convidando os estudantes a compartilhar experiências e percepções sobre o assunto.

Página 173

O tema “cidadania digital” é de fundamental importância para os jovens. Ele permite conectar o conceito mais amplo de cidadania a algo muito presente em suas vidas, ajudando-os a compreender as responsabilidades envolvidas no acesso ao mundo digital.

Sugerimos que a atividade seja feita em etapas, com base na metodologia ativa design thinking.

1. Pesquisa em sala (se possível, com celulares) ou como atividade extraclasse sobre o conceito de cidadania digital e os principais pontos de atenção que ele coloca. Se houver sala de informática na escola, reserve-a com antecedência. Nessa atividade, devem ser levantadas questões como privacidade, segurança de dados, cyberbullying, disseminação de fake news, disseminação de discurso de ódio, respeito a direitos autorais, entre outras.

2. Com base nos resultados levantados, faça uma lista no quadro, discutindo brevemente com a turma os significados e implicações de cada um dos pontos.

3. Divida a turma em grupos de quatro estudantes e peça a cada um dos grupos que escolha um tema para elaborar uma campanha de prevenção.

4. Dê o prazo de uma semana para que os grupos elaborem o material para a campanha, que pode ser na forma de cartaz, vídeo curto ou postagem para as redes sociais. Ressalte que a campanha visa alcançar o público jovem, por isso é importante usar uma linguagem e estética atraentes para esse público. Deixe claro que esse deve ser um processo coletivo, feito por meio de troca de ideias e construção conjunta de soluções.

5. No dia da entrega, os grupos deverão apresentar o material de campanha ao restante da turma, explicando por que escolheram esse tema e como foi o processo de elaboração. Nesse momento, os colegas devem fazer comentários e sugestões, transformando essa etapa do trabalho em uma oportunidade de troca criativa e respeitosa.

6. Com base nos comentários e nas sugestões dos colegas, os grupos terão mais uma semana para trabalhar no material, chegando à versão final.

7. Por fim, na aula seguinte, cada grupo deverá apresentar sua campanha ao restante da turma, compartilhando os principais desafios enfrentados no processo de elaboração.

Página 175

A atividade tem o objetivo de aproximar o tema dos direitos humanos à realidade dos estudantes. Caso julgue pertinente, faça uma leitura coletiva da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Em seguida, separe a turma em grupos de três a quatro estudantes e peça a eles que elaborem um novo direito a ser incorporado ao documento. Reforce a necessidade de justificarem suas escolhas e de redigirem o artigo de acordo com a linguagem que dá forma à Declaração. Ao final, peça a cada grupo que leia seu artigo para o restante da turma, dando espaço para que os colegas comentem brevemente os trabalhos.

Página 176

As questões propostas pela atividade incentivam os estudantes a refletir sobre como a ética é um conjunto de valores que orienta as condutas individual e coletiva. Esse conjunto de valores pode variar conforme o tempo, o lugar e até mesmo entre grupos de uma mesma sociedade. Portanto, trata-se de um âmbito da ação humana fundamental para a convivência entre os indivíduos.

Páginas 177 a 179

1. A atividade visa chamar a atenção para o fato de que a democracia não é algo estático ou uniforme e que existem muitas formas de vivenciá-la. Ela convida os estudantes a refletir sobre o tema com base no caso

brasileiro, por meio de suas próprias percepções. Sugerimos que a turma seja dividida em grupos de quatro estudantes e que a atividade ocupe uma aula. Ao final, peça aos grupos que apresentem ao restante da turma a nota dada à democracia brasileira e o projeto de lei desenvolvido. Recomendamos que a atividade seja feita por escrito, podendo ser incorporada ao processo de avaliação.

2. Aproveite para citar a política de extermínio colocada em prática pela Alemanha nazista e pela Itália fascista, que levou à perseguição de diversos grupos minoritários, como judeus, ciganos e homossexuais.

3. Aproveite para retomar as ideias do historiador José Murilo de Carvalho, evidenciando a relação entre os diferentes tipos de direitos e sua importância para o pleno exercício da cidadania.

4. A criação de um Sistema Único de Saúde (SUS) para os brasileiros se baseou no princípio de que todos os cidadãos do país (universalismo) devem ter igual acesso ao direito à saúde (igualitarismo).

5. Tendo em vista a perseguição do regime nazista a diferentes minorias, em especial aos judeus, a Declaração Universal dos Direitos Humanos surgiu com o intuito de prevenir que fenômenos como esse voltassem a acontecer. Seu foco foi, nesse sentido, promover os princípios da igualdade e do respeito à diversidade, de modo a proteger os grupos mais vulneráveis.

6. Para o sociólogo Sérgio Buarque de Holanda, a principal característica do “homem cordial” é sua tendência ao personalismo, ou seja, a tendência de tratar os assuntos públicos com valores e atitudes da vida privada. Nesse sentido, a ideia de cordialidade está vinculada à tendência a se relacionar por meio dos afetos, recusando a lógica do formalismo que permeia o mundo da burocracia.

7. A elaboração da Declaração Universal dos Direitos Humanos foi, em grande parte, motivada pelos horrores praticados pela Alemanha nazista. A intenção foi garantir que fatos assim não voltassem a acontecer.

Referências comentadas

• CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 27. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2021.

Nesta obra, o autor traça um panorama histórico, mostrando os desdobramentos políticos e sociais do processo de aquisição e de acesso a direitos no país.

Capítulo 10

Legislação, Estado e política

Este capítulo aborda as bases práticas da política institucional brasileira e as teorias e os conceitos que fundamentam sua organização. Ao identificar os órgãos, os poderes e os mecanismos que sustentam o Estado democrático de direito, os estudantes podem compreender a abrangência de seus direitos e deveres, reconhecendo-se como sujeitos de direito.

De modo didático, elucidamos como se organizam os poderes da República Federativa do Brasil e as relações entre eles nas esferas federal, estadual, distrital e municipal. Com base nisso, explicamos quais são as funções dos representantes políticos e como eles são eleitos em cada Unidade da Federação. Por fim, apresentamos os tipos de leis e indicamos conteúdos que ajudam a compreender como a legislação brasileira trata determinados assuntos.

Orientações didáticas

Ao abordar a reflexão sobre a importância do voto na página 180, inicia-se a primeira etapa da metodologia design thinking. As atividades estão organizadas de modo que os estudantes vivenciem todas as etapas dessa metodologia: descoberta, interpretação, ideação, prototipação e evolução (melhorias).

Ao tratar o tópico República Federativa do Brasil, nas páginas 181 e 182, enfatize e explique a importância do Estado democrático de direito e a necessidade de fazer valer os direitos constitucionais, que são um legado das gerações anteriores. Relacione o quadro “Esferas e poderes públicos no Brasil” com o cotidiano dos estudantes e solicite a eles que façam uma pesquisa para saber quem ocupa os cargos apresentados. Nesse momento, é possível mobilizar as competências gerais 1 e 10 e a habilidade EM13CHS603

Ao iniciar a seção Investigação, na página 183, lembre-se de que já realizou a sensibilização e as etapas de descoberta e interpretação dos estudantes como sujeitos de direito. Agora, é necessário aprofundar e ratificar com toda a turma a necessidade de conhecer os próprios direitos. A técnica de pesquisa contribui para comprovar que os jovens não sabem seus direitos, mas se torna necessário que saibam.

Para orientar os estudantes na elaboração do questionário, pode-se optar por dividir a turma em três grupos e três questionários. De qualquer modo, existe a necessidade de dividir as funções. Utilize a metodologia de

design thinking para organizar a produção do questionário, apresentando esta pergunta: “Os estudantes conhecem seus direitos e deveres?”. Se não chegarem à conclusão do uso do questionário, retome a necessidade de fazerem pesquisas para conhecer a realidade.

Nas indicações deste manual, temos um documento de apoio, da Universidade Federal de Santa Catarina, sobre o uso de questionários em trabalhos científicos. Pode-se, inclusive, ler um trecho desse documento com os estudantes para ajudá-los a elaborar o questionário. Além disso, é importante dividir a turma em grupos para pesquisar os capítulos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), pois assim saberão como elaborar um questionário com base nos direitos e deveres elencados no Estatuto. A elaboração de perguntas e o pré-teste são fundamentais para que os estudantes se apropriem da metodologia e descubram a importância da pesquisa.

Após a aplicação do questionário, o cruzamento das questões e a interpretação são importantes recursos para mobilizar a competência 10 e as bases para a ideação – a ideação é uma consequência da divulgação dos resultados. Para isso, problematize o que se deve fazer com os resultados. Lembre-se de que as possíveis ideias para solucionar o problema devem ser apresentadas sem julgamentos. Agora, em grupo, converse com a turma sobre o resultado da pesquisa, analisando e discutindo os seguintes pontos: quais são os direitos e deveres que os estudantes conhecem; quais não conhecem; e quais não são garantidos.

A ideação deve conter um processo dinâmico e colaborativo de geração e desenvolvimento de ideias, bem como uma prototipação, por meio de uma estratégia eficaz em busca de uma solução. Esse processo permite verificar, por exemplo, se a ideia é viável e quais são as ações necessárias para os estudantes terem seus direitos e deveres garantidos em prol de um ambiente respeitoso e saudável de aprendizagem.

A prototipação antecede os encaminhamentos, que podem ser uma campanha em vídeo, rodas de conversa, seminários etc. Trata-se do esboço de um modelo inicial que deve ser testado e validado. Algumas formas de criar protótipos mais comuns são: storyboards , diagramas, contação de histórias, anúncios, modelos e maquetes, role play , além de diversos produtos digitais. Ao escolher, por exemplo, um vídeo, é preciso fazer um projeto-piloto para que os estudantes se familiarizem com o processo; se for uma roda de conversa, faz-se o mesmo processo, mas agora uma roda preliminar com poucos estudantes, para que analisem o que deu ou não deu certo, o que ainda é necessário mobilizar de pessoas e de recursos etc.

Então, faz-se uma avaliação e inicia-se o planejamento da intervenção na escola com o protagonismo dos estudantes. Nesse processo, mobilizam-se as competências gerais 1, 2, 4, 7, 9 e 10. Nesse momento, é importante utilizar as ferramentas de gestão de projetos, como planos de ação, cronograma de reuniões e plano de comunicação para o envolvimento do público-alvo.

A seção Conexões com História, na página 192, promove um trabalho interdisciplinar a fim de que os estudantes compreendam que os fenômenos sociais são consequências do processo histórico, especificamente das mudanças, das permanências, das lutas sociais e da ressignificação. No caso da Constituição brasileira, houve um longo processo histórico para se chegar à Constituição Cidadã, de 1988.

Indicações

BACICH, Lilian; MORAN, José (org.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. E-book

Neste livro, encontram-se as teorias e possibilidades da prática pedagógica usando metodologias ativas.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Papel e estrutura da Câmara. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, [2024]. Disponível em: https://www.camara.leg.br/papel-e -estrutura/. Acesso em: 18 set. 2024.

Neste site, é possível conhecer o funcionamento da Câmara e o papel dos deputados federais.

BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Quocientes eleitoral, partidário e sobras por média: entenda como funcionam esses cálculos eleitorais. Brasília, DF: TSE, 18 ago. 2023. Disponível em: https://www.tse.jus. br/comunicacao/noticias/2023/Julho/quocientes -eleitoral-partidario-e-sobras-por-media-entenda -como-funcionam-esses-calculos-eleitorais. Acesso em: 29 out. 2024.

No site do TSE, é explicado como funcionam os cálculos eleitorais.

• CARMO, Vera. O uso de questionários em trabalhos científicos. Florianópolis: UFSC, 2013. Disponível em: http://www.inf.ufsc.br/~vera.carmo/ Ensino_2013_2/O_uso_de_questionarios_em_trabalhos _cient%EDficos.pdf. Acesso em: 29 out. 2024. Orientações sobre como elaborar e utilizar questionários em trabalhos científicos.

• ENTENDA o caminho dos projetos de lei e a importância das comissões. Brasília, DF: Câmara dos

Deputados, 2017. 1 vídeo (2 min). Publicado pelo canal Câmara dos Deputados. Disponível em: https:// www.youtube.com/watch?v=WLgbAeFOZzk. Acesso em: 29 out. 2024.

O vídeo explica como funcionam os projetos de lei que são criados e aprovados na Câmara dos Deputados.

• VOCÊ acha que sabe o que são os três poderes? Brasília, DF: TV Senado, 2020. 1 vídeo (2 min). Publicado pelo canal TV Senado. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=2K5wJ5Bz5co. Acesso em: 29 out. 2024.

Neste vídeo do Senado, que apresenta um resumo da estrutura dos poderes no Brasil, é possível apresentar aos estudantes a arquitetura de Brasília (DF) e a Praça dos Três Poderes.

• BRASIL. Portal da Legislação. Códigos. Brasília, DF: Portal da Legislação, [2024]. Disponível em: https://www4. planalto.gov.br/legislacao/portal-legis/legislacao -1/codigos-1. Acesso em: 29 out. 2024.

Neste site, é possível acessar todos os códigos legislativos do Brasil.

• PONTUAL, Helena Daltro. Uma breve história das Constituições do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, [2013]. Disponível em: https://www.senado.gov.br/ noticias/especiais/constituicao25anos/historia-das -constituicoes.htm. Acesso em: 29 out. 2024.

O site do Senado apresenta uma breve história das Constituições do Brasil.

ATIVIDADES

Página

180

Nessas atividades, o objetivo é sensibilizar os estudantes a compreender a importância da política na vida cotidiana de sociedades democráticas e a relevância do estado democrático de direito. Na atividade 2, procure abordar o tema com cuidado, garantindo um ambiente propício para um debate respeitoso.

Página 182

A atividade deve incentivar os estudantes a descobrir e interpretar o significado de ser um sujeito de direito. Para isso, é fundamental que compreendam que a educação é um direito, e o Estado é organizado de modo a garantir esse direito. Se desejar, retome conteúdos que reforçam a compreensão de que a mobilidade social no Brasil é consequência de anos de estudos.

Página 185

A atividade auxilia no entendimento de quem são os ministros, os partidos e as forças políticas que governam o país. No entanto, isso pode ser adaptado para o governo do estado ou o poder político dos municípios.

Página 187

Espera-se que os estudantes realizem o cálculo com base no exemplo do estado de Minas Gerais, que possui 53 deputados federais e 77 representantes na Assembleia Legislativa. Os 36 primeiros correspondem a 12 deputados federais, seguindo a regra de 3 deputados estaduais para cada deputado federal. Em seguida, subtraem-se os 12 dos 53 deputados federais, restando 41. Aos 41, acrescenta-se um deputado estadual, totalizando 77 parlamentares estaduais.

Página 193

Essa atividade ajuda os estudantes a compreender a complexidade da política, as forças ideológicas que estão em disputa e a necessidade de defender o Estado democrático de direito para o exercício efetivo da cidadania. Se necessário, explique para os estudantes que “outorgada” é a Constituição imposta pelos governantes, elaborada sem a participação do povo; em geral, possui traços autoritários. Já a Constituição promulgada é elaborada por assembleias constituintes.

Página 194

Para iniciar essa atividade, é recomendado ler o texto complementar do cientista político Jawdat Abu-El-Haj. No Brasil, temos a igualdade política e as preferências políticas dos cidadãos transformadas em votos, com a garantia do acesso à informação antes da votação.

Temos também a competitividade eleitoral, e os eleitos têm o direito de implementar as suas alternativas. Portanto, o Brasil é uma poliarquia.

Páginas 196 e 197

1. Essa atividade objetiva que os estudantes se apropriem dos conceitos de quociente eleitoral e quociente partidário, conheçam os políticos e partidos específicos de sua região e, consequentemente, se interessem por política.

2. e 3. Objetiva-se verificar se os estudantes sabem diferenciar majoritário de proporcional com base na nomeação de cada função.

4. Apesar de terem ocorrido alterações positivas nos dados de participação das mulheres na política, o ponto central da questão é a carência de consolidação da atuação feminina ao longo da história do Brasil, já

que a representação política é de 15%, ao passo que a quantidade de votantes é de 52%.

5. O filósofo iluminista Montesquieu era contra o absolutismo monárquico em que o poder era concentrado apenas nas mãos do soberano, que favorecia sua família e a si mesmo. Como isso ampliou a desigualdade, o filósofo propôs a divisão do poder político para que houvesse o sistema de freios e contrapesos.

Texto complementar

[...] na opinião de Dahl, [...] [há] três princípios da democracia populista: 1) a soberania popular somente existe pela igualdade política (voto universal); 2) as escolhas vencedoras da maioria se transformam na opção oficial; e 3) o princípio da maioria dos votos se torna a única regra válida na vida política.

[...] Dahl formulou os três princípios da poliarquia, sedimentados em oito procedimentos:

I. A igualdade política (inclusão): 1) transformar as preferências políticas dos cidadãos em votos; 2) assegurar a contagem de votos atribuindo a eles pesos iguais; 3) declarar vencedora a alternativa que receber o maior número de votos; 4) permitir a inserção, a qualquer instância, de alternativas políticas além das postas em votação; e 5) garantir acesso à informação antes da votação.

II. A competitividade eleitoral (contestação) existe sob duas condições: 6) as alternativas mais votadas em eleições periódicas implicam no deslocamento de todas as outras da agenda; e 7) os eleitos têm o direito de implementar as suas alternativas.

III. A responsabilidade pública implica que: 8) os vencedores serão obrigados a implementar seus programas, ou qualquer ajustamento dos programas vencedores demanda uma repetição dos sete procedimentos anteriores.

ABU-EL-HAJ, Jawdat. Robert Dahl (1915-2014): poder político, liberalização e contestação nas democracias. Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília, DF, n. 13, p. 7-17, abr. 2014. p. 10. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbcpol/a/HqFRTZ8hS4SDtCQzRYqjYfL/? format=pdf&lang=pt. Acesso em: 24 out. 2024.

Referências comentadas

• BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política. Tradução: Carmen C. Varriale, Gaetano Lo Mônaco, João Ferreira, Luís Guerreiro Pinto Cacais e Renzo Dini. 11. ed. Brasília, DF: Editora UnB, 1998.

Neste livro, os autores definem os termos da Ciência Política com base em teóricos da história moderna e contemporânea.

• BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2024]. Disponível em: https:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicao.htm. Acesso em: 29 out. 2024.

A Constituição Federal de 1988 reúne as leis que organizam o Estado democrático de direito e apresenta os direitos e deveres dos cidadãos, bem como os limites e as atribuições dos Poderes da União.

DAHL, Robert A. Poliarquia: participação e oposição. Tradução: Celso Mauro Paciornik. São Paulo: Edusp, 2005.

Nesta obra, Dahl investiga as condições necessárias para o exercício e a existência da democracia nas nações do Ocidente.

MATTOS, Alessandro Nicoli de. O livro urgente da política brasileira: um guia para entender a política e o Estado no Brasil. [S. l.: s. n.], 2016. E-book.

O livro é um guia com descrições e exemplos dos conceitos e termos da política brasileira. O autor aborda questões práticas e temas correntes do discurso político atual.

Capítulo 11

Movimentos sociais

Este capítulo explora a relevância dos movimentos sociais como ações coletivas que reivindicam mudanças significativas na sociedade. Além disso, aborda o papel histórico desses movimentos, destacando sua capacidade de mobilização e influência na transformação social. Ao longo do capítulo, são examinados os diferentes modelos de inovação socioculturais gerados por essas lutas, bem como o potencial que têm de criar paradigmas.

O capítulo também analisa o processo de institucionalização dos movimentos sociais, questionando os limites e as possibilidades dessa formalização. A importância da participação democrática é ressaltada ao mostrar como o envolvimento ativo da população é essencial para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

Orientações didáticas

Ao abordar o movimento social “Vidas negras importam”, na página 198, incentive os estudantes a refletir

sobre as dinâmicas do racismo estrutural e da violência racial, tanto no Brasil quanto no mundo. O exemplo dos protestos contra a morte de João Alberto, no Brasil, e de George Floyd, nos Estados Unidos, comprova que o racismo não é uma questão isolada e local, mas um problema global que afeta especialmente as pessoas negras. Os estudantes devem ser convidados a refletir sobre a importância de movimentos sociais, como o “Vidas negras importam”, que lutam por justiça, igualdade e contra a discriminação racial. Além disso, busque incentivar uma análise crítica acerca da atuação policial e do papel das instituições no combate à violência racial, reforçando a necessidade de mudanças profundas para construir uma sociedade mais justa e igualitária.

A seção Conexões com Geografia , na página 206 , promove um trabalho interdisciplinar entre a Geografia e a Sociologia ao destacar como a compreensão territorial é fundamental para os movimentos sociais no campo. A Geografia oferece ferramentas essenciais para mapear a distribuição desigual de terras no Brasil, auxiliando na análise de regiões dominadas por latifúndios e terras improdutivas, o que fortalece a luta por reforma agrária.

Ao combinar essa abordagem geográfica com a Sociologia, como exemplificado no trabalho do geógrafo Bernardo Mançano Fernandes, os estudantes podem compreender as dinâmicas sociais e territoriais que sustentam ações como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e o Movimento de Mulheres Camponesas (MMC). A interação entre essas disciplinas facilita uma visão mais ampla dos conflitos de terra e dos desafios enfrentados pela agricultura familiar, possibilitando o planejamento de assentamentos que promovam práticas sustentáveis e considerem as desigualdades sociais, educacionais e de saúde.

Indicações

• DEMOCRACIA em vertigem. Direção: Petra Costa. Brasil: Netflix, 2019. Streaming (121 min).

Documentário brasileiro que retrata a crise política no Brasil durante o impeachment da presidente Dilma Rousseff (1947-) e os movimentos sociais que emergiram em torno desse processo.

• QUE HORAS ela volta? Direção: Anna Muylaert. Brasil: África Filmes, 2015. Streaming (112 min).

Esse filme brasileiro, dirigido por Anna Muylaert, aborda questões de classe e desigualdade social no Brasil, refletindo a respeito do papel das trabalhadoras domésticas e as barreiras impostas pela estrutura social.

ATIVIDADES

Página 199

Reunidos em grupos, peça aos estudantes que observem a foto cuidadosamente e conversem com os colegas a respeito das atividades propostas com o objetivo de compreender o contexto dos protestos contra o racismo e como estes podem impactar a sociedade. Espera-se que a atividade seja uma oportunidade eficaz de engajar o estudante e promover um aprendizado profundo e colaborativo. Para tanto, siga algumas diretrizes para que uma experiência de aprendizagem envolvente e eficaz seja criada. O objetivo é desenvolver competências como criatividade, autonomia, iniciativa, criticidade reflexiva, inovação, cooperação e reflexão para solucionar problemas. É importante que os estudantes exercitem as seguintes atitudes:

1. explorar o problema;

2. levantar hipóteses;

3. buscar soluções com base em conhecimentos prévios;

4. identificar o que sabe e o que precisa ser aprendido para resolver o problema;

5. estabelecer tarefas individuais e delegar responsabilidades entre os integrantes da equipe;

6. compartilhar o conhecimento adquirido;

7. aplicar o conhecimento para resolver o problema;

8. avaliar a solução proposta e a eficácia dela.

Página 202

a) O Projeto Reprotai, de Salvador (BA), oferece ampla formação artística, esportiva e cultural a crianças e adolescentes. Foi fundado na Península de Itapagipe, em 2004, por meio do esforço comum da Associação de Moradores do Conjunto Santa Luzia, da Associação Livre dos Moradores de Mangueira, do Grupo de União e Consciência Negra (Grucon) e da Comissão de Articulação dos Moradores da Península de Itapagipe (Rede CAMMPI). Por meio de advocacy, o projeto promove políticas públicas para a juventude, com o intuito de formá-la profissionalmente para uma futura inserção no mercado de trabalho. Já a manifestação do movimento indígena, ocorrida em 2024, foi organizada para combater a mineração em suas terras e defender novas demarcações. A ação também foi contra o marco temporal, uma tese jurídica que entende que os povos indígenas têm direito de ocupar apenas as áreas que ocupavam ou já disputavam até a data da

promulgação da Constituição Federal de 1988, 5 de outubro de 1988. Alegam que essa delimitação prejudica sua sobrevivência, bem como a das florestas.

b) O Projeto Reportai pode ser considerado um projeto social, pois é uma iniciativa específica e organizada que busca levar formação para jovens com menos recursos econômicos. Além disso, o projeto tem um escopo definido e um objetivo claro de inserir jovens no mercado de trabalho assim que completarem o aprendizado. O movimento indígena contra o marco temporal, por outro lado, representa um movimento social em prol dos direitos dos povos originários no Brasil.

c) Projeto social é uma iniciativa organizada e estruturada que visa alcançar um objetivo específico e mensurável em determinado período de tempo. Projetos sociais são geralmente promovidos por organizações não governamentais (ONGs), associações ou até mesmo governos e se concentram em resolver ou mitigar problemas sociais, econômicos ou ambientais específicos. Exemplo: programas de alfabetização, campanhas de vacinação ou projetos de inclusão digital. Já o movimento social é uma ação coletiva que geralmente surge em resposta a injustiças e desigualdades percebidas, podendo ter uma duração indeterminada ou determinada, a depender da causa defendida. Exemplos: o movimento feminista, o movimento pelos direitos civis ou o movimento ambientalista.

Página 207

Reflita com os estudantes sobre o impacto dos movimentos sociais sobre a ocupação dos territórios e como isso pode promover mais igualdade social e autonomia para trabalhadores, famílias e comunidades, visto que o acesso à terra pode ser uma condição fundamental para a busca de melhores condições de vida.

Páginas 208 e 209

O jogo dos cards favorece o pensamento crítico, a colaboração e a prática sobre movimentos sociais. Incentive os estudantes, forneça feedback e adapte a atividade conforme necessário.

Página 212

1. Os movimentos sociais são fundamentais para apoiar as reivindicações de grupos marginalizados, influenciar políticas públicas e questionar o status quo. Ao impulsionar a justiça social, a equidade e a democracia, esses movimentos se destacam como motores essenciais para a transformação das sociedades.

2. Chame a atenção dos estudantes para refletirem sobre como os movimentos sociais podem fazer as pessoas terem contato com outras realidades existentes em seus territórios. O engajamento político pode criar conexões e empatia entre os diferentes grupos sociais, algo fundamental para a busca de uma sociedade menos desigual no acesso aos direitos.

Páginas 213 a 215

1. Oriente os estudantes a responder à pergunta de forma pessoal e sincera, usando exemplos de experiências individuais com movimentos sociais, se houver.

2. Incentive a reflexão dos estudantes a respeito da contradição social evidenciada na charge: durante o feriado da Consciência Negra, apenas brancos descansam e podem ir à praia, enquanto parte da população negra segue trabalhando e atendendo àqueles que podem descansar.

3. Avalie com os estudantes que tanto o movimento operário quanto o juvenil revelam a luta contínua contra as desigualdades do capitalismo, que ainda persistem. Ambos os movimentos (operário e juvenil), ainda que em tempos historicamente diferentes, demonstram a insatisfação de grupos da população contra algo que permanece nesses dois séculos: as desigualdades e as contradições do sistema capitalista.

4. Incentive os estudantes a analisar a forma de organização dos movimentos sociais, caracterizada, de forma geral, por sistemas horizontais e coletivos de participação, por um papel representativo de reivindicações de grupos discriminados e pela busca de uma relação democrática com o Estado e as demais instituições de poder da sociedade, não servindo, assim, a interesses particulares ou privados.

Referências comentadas

CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Tradução: Maria Luiza X. de A. Borges. São Paulo: Zahar, 2003. A obra é relevante para discutir como a internet transformou a organização e a mobilização dos movimentos sociais. Castells explora o impacto da tecnologia digital nas redes sociais e na capacidade de articulação global, um aspecto central para os movimentos contemporâneos, como o Black Lives Matter.

• COGGIOLA, Osvaldo. Os inícios das organizações dos trabalhadores. Aurora, Marília, v. 4, n. 6, p. 11-20, ago. 2010. Disponível em: https://revistas.marilia.unesp. br/index.php/aurora/article/view/1227/1094. Acesso em: 29 out. 2024.

O artigo oferece uma visão histórica dos primeiros movimentos trabalhistas, fundamentais para a formação de movimentos sociais de classe. O autor contextualiza o surgimento dessas lutas, conectando a mobilização por direitos sociais e trabalhistas aos movimentos modernos.

• FERNANDES, Bernardo Mançano. Sobre a tipologia de territórios. In: SAQUET, Marcos Aurelio; SPOSITO, Eliseu Savério (org.). Territórios e territorialidades: teorias, processos e conflitos. São Paulo: Expressão Popular: Editora Unesp, 2009. p. 197-215.

O texto de Mançano contribui para o entendimento das disputas territoriais nos movimentos sociais, especialmente no contexto da reforma agrária e dos movimentos do campo, como o MST. A análise do autor acerca dos territórios e das territorialidades é fundamental para compreender as reivindicações dentro dos movimentos de luta por terra.

• GIDDENS, Anthony. Sociologia. Tradução: Ronaldo Cataldo Costa. 6. ed. Porto Alegre: Penso, 2012.

A obra é uma referência clássica que proporciona uma base teórica sólida para o estudo dos movimentos sociais. Giddens explora como as estruturas sociais influenciam e são influenciadas por ações coletivas, oferecendo uma lente sociológica essencial para entender os processos de mudança da sociedade.

• INSTITUTO UPDATE. Emergência política periferias São Paulo: Instituto Update, 2018.

A publicação aborda o crescimento dos movimentos sociais nas periferias, trazendo uma visão contemporânea sobre como grupos marginalizados estão se organizando politicamente. Essa referência destaca a emergência de novos atores e de novas formas de participação política, especialmente no contexto urbano periférico.

• TARROW, Sidney. The new transnational activism Cambridge: Cambridge University Press, 2005. Por meio da visão de um dos mais importantes estudiosos contemporâneos da ação coletiva, a obra revela que a globalização acarretou conexões rápidas e permitiu a emergência de movimentos sociais transnacionais e globais.

Capítulo 12

Necropolítica, miscigenação e resistência negra

Este capítulo explora os conceitos de necropolítica, miscigenação e resistência negra e define o que é o mito da democracia racial, a apropriação cultural e o processo de embranquecimento, oferecendo uma crítica à Sociologia brasileira de matriz eurocêntrica. Por meio de dados estatísticos e referências estatísticas, históricas, teóricas, poéticas e imagéticas, o capítulo tem como objetivo evidenciar a existência de um projeto de genocídio da população negra, promovido pelas elites brasileiras com a conivência do Estado Nacional.

Assim, por meio dos conteúdos estudados e das atividades propostas, o capítulo busca incentivar o exercício da empatia e da alteridade no processo de aprendizagem dos estudantes, promovendo a compreensão de que uma sociedade justa, equânime e sustentável exige o enfrentamento do racismo e de todas as formas de opressão históricas e estruturais.

Orientações didáticas

Ao abordar a obra de arte O barco, na página 216, incentive os estudantes a refletir sobre como os corpos das pessoas negras na modernidade foram subjugados, e, após a leitura do poema da página 217, evidencie a resistência como legado da ancestralidade. Essas páginas possibilitam mobilizar a competência geral 1 e a habilidade

EM13CHS102.

Nas páginas 218 e 219, é possível apresentar aos estudantes dados contextualizados referentes ao povo negro no Brasil, de modo que os números sejam humanizados. Para isso, pergunte aos estudantes se conhecem ou já ouviram falar de pessoas que compõem esses dados. Pode-se criar uma sistematização dos dados e dos conceitos de racismo institucional, genocídio, miscigenação, etnocídio e embranquecimento. Uma alternativa para compreender a relação dos conceitos com os dados é a realização de mapa conceitual ou esquema. Essas páginas possibilitam mobilizar as competências gerais 2 e 7 e a habilidade

EM13CHS104

Ao analisar o gráfico Brasil: proposta de formação étnica da população – 1872-2012, na página 219, observamos que as elites brasileiras estavam mais preocupadas com a quantidade de negros (pretos e pardos), sobretudo os pardos, considerados mestiços.

Essa preocupação se dava em razão da Revolução Haitiana (1791-1804), que ocorreu em São Domingos, atual Haiti, onde os escravizados se rebelaram contra os colonizadores franceses e derrotaram o exército napoleônico. São Domingos era composto de 90% de negros.

Nas discussões sobre a identidade nacional brasileira, o mestiço, então, se confirma como uma questão nacional. No intuito de estabelecer um processo de embranquecimento, acreditava-se que, com a imigração de europeus brancos, o número de negros no Brasil diminuiria no futuro. Assim, o fornecimento de terras aos imigrantes brancos europeus pelo Estado brasileiro visava incentivar o processo de embranquecimento da população brasileira. Além disso, ao enfraquecer a identidade racial dos negros, impedia-se uma revolução aos moldes da ocorrida no Haiti.

A página 220 fundamenta a apropriação cultural como forma ideológica de se apropriar de elementos de culturas consideradas menores pela classe dominante, o que configura mais uma etapa de genocídio da população negra, como foi a implementação do mito da democracia racial, abordado nas páginas 222 e 223. Essas páginas possibilitam mobilizar as competências gerais 2 e 7 e a habilidade EM13CHS503

A seção Conexões com Arte, na página 221, promove um trabalho interdisciplinar pois, na História da Arte, certas obras ultrapassam o cronotopos (espaço-tempo) de sua origem. No caso da obra A redenção de Cam, tanto na Sociologia da Arte quanto na História da Arte é possível compreender os conceitos, as teorias e os pensamentos da época. No trecho da reportagem a seguir, o jornalista brasileiro Murilo Roncolato explica a história bíblica por trás do título da obra.

O título do quadro remete ao mito bíblico da maldição lançada por Noé sobre seu filho Cam (ou Cã). Diz a história que Noé dormiu embriagado de vinho. Cam, seu filho, expôs a nudez do pai aos irmãos como zombaria. Ao acordar, o pai então amaldiçoou Canaã, filho de Cam, a ser ‘servo dos servos’. Há inclusive versões que descrevem Canaã e os descendentes de Cam como negros.

RONCOLATO, Murilo. A tela ‘A Redenção de Cam’. E a tese do branqueamento no Brasil. Nexo Jornal, São Paulo, 14 jun. 2018. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/06/14/A-tela-‘A -Redencao-de-Cam’.-E-a-tese-do-branqueamento-no-Brasil. Acesso em: 28 out. 2024.

Além disso, Roncolato entrevistou a antropóloga brasileira Tatiana Lotierzo para obter mais detalhes sobre uma análise sociológica acerca da pintura. No trecho a seguir, Lotierzo traz um contexto histórico de A redenção de Cam.

‘O contexto de difusão do mito bíblico sobre a maldição de Noé é o do início da chamada Era Moderna, quando a cristandade europeia buscava formas de justificar a escravização de habitantes do continente africano, sob o marco do cristianismo’, diz Lotierzo [historiadora e antropóloga].

RONCOLATO, Murilo. A tela ‘A Redenção de Cam’. E a tese do branqueamento no Brasil. Nexo Jornal, São Paulo, 14 jun. 2018. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/06/14/A-tela-‘A -Redencao-de-Cam’.-E-a-tese-do-branqueamento-no-Brasil. Acesso em: 28 out. 2024.

Para finalizar o capítulo, antes de iniciar a prática de pesquisa, é fundamental aprofundar o estudo sobre a resistência negra no Brasil, destacando a formação da sociologia brasileira contemporânea como uma sociologia negra. Essa perspectiva reconhece a diversidade de atores sociais enquanto sujeitos, e não meros objetos. Para isso, sugere-se acessar os sites de órgãos oficiais do governo – federal, estadual, distrital e municipal – que realizam políticas públicas, como, por exemplo, o da Fundação Palmares, do Ministério da Igualdade Racial, entre outros.

A seção Investigação, nas páginas 232 e 233, promove a prática de análise da imprensa e de veículos de mídia tradicional – TV, rádio, jornal e revista. Há também as chamadas mídias externas, como outdoors, placas, letreiros e até projeções em prédios. Com o advento da internet, os grandes meios de comunicação de massa passaram a operar em plataformas on-line, produzindo conteúdos e interagindo com os usuários. Inicialmente organizada como porta-voz da esfera pública frente ao Estado, a imprensa assumiu novas funções com o tempo, consolidando uma identidade empresarial e concentrando poder.

A função social de um veículo de comunicação é trazer à sociedade em geral fatos de interesse público, visando à difusão de informações de forma transparente, isto é, o veículo deve apresentar o fato e sua compreensão sociopolítica. Em cada período histórico, há temas de maior ou menor interesse público. Nas últimas décadas, o tema do racismo tem afetado a sociedade e tem sido pauta em diversos veículos da mídia, sobretudo em razão de dados estatísticos, dos casos registrados e noticiados de racismo explícito e das políticas de ações afirmativas. O objetivo é que os estudantes desenvolvam um olhar crítico de modo a produzir conhecimento e identificar os discursos presentes nas mídias. Nesse momento, mobilizam-se as competências gerais 1, 2, 4, 5, 7 e 10, além da habilidade EM13CHS504.

Indicações

• PROJETO memória: documentário Lélia Gonzalez 2024. [S. l.: s. n.], 2024. 1 vídeo (32 min). Publicado pelo canal Projeto Memória Lélia Gonzalez. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=TSNxnr0ocx0 Acesso em: 28 out. 2024.

O documentário apresenta depoimentos de diversas lideranças feministas e do movimento negro sobre a vida e a contribuição de Lélia Gonzalez para a sociedade brasileira, as pessoas negras e o mundo acadêmico.

• RONCOLATO, Murilo. A tela ‘A Redenção de Cam’. E a tese do branqueamento no Brasil. Nexo Jornal, São Paulo, 14 jun. 2018. Disponível em: https://www.nexojornal. com.br/expresso/2018/06/14/A-tela-‘A-Redencao -de-Cam’.-E-a-tese-do-branqueamento-no-Brasil . Acesso em: 1 nov. 2024.

O mito da democracia racial é reinterpretado por Brocos, que aponta, seguindo as teorias da sua época, que a salvação – ou “redenção” – dos descendentes de Cam se daria por meio da sua extinção, por efeito do branqueamento.

Atividades

Página 217

Após a leitura e problematização dos textos, sensibilize os estudantes para que identifiquem como a necropolítica atua na sociedade brasileira, criando e perpetuando a desigualdade racial. Dependendo da realidade local, é possível relacionar os exemplos com a população negra e indígena e com os refugiados que chegam ao Brasil.

Página 218

Nessa atividade, pode-se sugerir que os estudantes pesquisem e reflitam como são os serviços públicos locais, como, por exemplo, segurança, saúde, educação, saneamento básico etc. Verifique se eles conseguem identificar a discrepância entre os bairros ricos e pobres e o perfil de quem mora nesses bairros.

Página 221

Nessa atividade, sugira que os estudantes, antes de responder às questões, pesquisem e reflitam sobre o conceito de estereótipo. Além disso, é importante que eles identifiquem que uma imagem traz consigo a intenção do autor em determinada época, podendo influenciar a forma como compreendemos o mundo. Oriente os estudantes a pesquisar e contextualizar, sob uma perspectiva sócio-histórica, a obra de arte escolhida. Artistas contemporâneas como Rosana Paulino (1967-), Gê Viana (1986-) e

Mariana Sguilla (1992-) produzem obras que se dissociam de estereótipos criados para desmerecer as culturas da população negra.

Página 223

3. Para complementar a reflexão sobre o desempenho dos bolsistas nas políticas de ações afirmativas, pode-se acessar a reportagem Estudo investiga se bolsas impactam o desempenho acadêmico de alunos (disponível em: https://jornal.usp.br/universidade/estudo-investiga-se-bolsas-podem-impactar-desempenho-academico-de-alunos/; acesso em: 1 nov. 2024), que comprova os resultados positivos nas análises preliminares de 2018 e 2019.

Página 225

Nessa atividade, pode-se problematizar com os estudantes a alteração da data de 13 de maio, assinatura da lei abolicionista, para o dia 20 de novembro, data de morte de Zumbi de Palmares, símbolo de resistência. Com o objetivo de apresentar outras referências, pode-se acessar o texto Quem são os heróis e as heroínas do Brasil, da Agência Senado (disponível em: https://www12.senado. leg.br/noticias/infomaterias/2023/03/quem-sao-os -herois-e-as-heroinas-do-brasil; acesso em: 1 nov. 2024), para conhecer os heróis negros e negras brasileiros e ressignificar a compreensão sobre a história do Brasil.

Página 231

Nessa atividade, é possível aprofundar a ideia de racismo por denegação. O termo, cunhado por Lélia Gonzalez, entrelaça a desigualdade racial e social brasileira com as formações inconscientes, exclusivamente brancas e europeias em detrimento das origens indígenas, latinas e africanas. O “racismo à brasileira” nega a própria realidade. Para complementar a reflexão, assista ao documentário sugerido na seção Indicações deste Manual.

Páginas 234 e 235

1. O trecho apresenta o que Gonzalez denominou de “pretuguês”, influência africana no português falado no Brasil, a exemplo do caráter tonal e rítmico, além da ausência de certas consoantes. No processo de embranquecimento e assimilação do racismo, a cultura negra é negada e subordinada.

2. Segundo o texto, o Movimento Negro Unificado (MNU) critica o Teatro Experimental do Negro (TEN), pois, segundo o MNU, não existe nenhuma democracia na forma como houve a miscigenação no nosso país nem tão pouco vivemos em uma sociedade sem

racismo, pelo contrário, ainda encontramos traços fortes desse racismo no nosso cotidiano.

3. O mito da democracia racial, criado por Gilberto Freyre, dizia que, em razão da miscigenação racial, não havia racismo, pensamento adotado pelo poder público e pela população em geral, camuflando as desigualdades sociais entre brancos e negros.

4. A miscigenação objetivava embranquecer a população. As estratégias envolviam permitir a passibilidade de negros de pele clara (mecanismo de performar), obtendo alguns poucos privilégios entre os brancos, de forma a incentivar a negação da exclusão racial e a ideia de igualdade de direito para todos e todas.

Referências comentadas

• BRASIL. Decreto no 847, de 11 de outubro de 1890 Promulga o Código Penal. Rio de Janeiro: Presidência da República, 1890. Disponível em: https://www. planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-1899/D847. htm. Acesso em: 1 nov. 2024.

Conhecida como Código Penal da República dos Estados Unidos do Brasil, essa lei inclui, no capítulo XIII, intitulado Dos vadios e capoeiras, o artigo 402, que tipificava a capoeira como um ato criminoso. O texto foi revogado pelo decreto nº 11, de 1991.

• CARNEIRO, Edison. Candomblés da Bahia. 9. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2008.

Edson Carneiro define um guia metodológico para estudar candomblés da Bahia e cultos afro-brasileiros em geral, apresentando desde a organização social dos terreiros até a economia, o simbolismo, a linguagem, o ritual etc.

• CHAUI, Marilena. Democracia e sociedade autoritária. Comunicação e Informação, Goiânia, v. 15, n. 2, p. 149161, jul./dez. 2012. Disponível em: https://revistas.ufg. br/ci/article/view/24574/14151. Acesso em: 1 nov. 2024.

Nesse artigo, a autora define o conceito de “mito” para versar sobre o mito da violência e o autoritarismo na sociedade brasileira.

• FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 51. ed. São Paulo: Global Editora, 2006. (Introdução à história da sociedade patriarcal no Brasil, v. 1). O autor enfatiza a formação da sociedade brasileira no contexto da miscigenação entre brancos, negros e os diferentes povos indígenas que habitavam o Brasil.

• FREYRE, Gilberto. Sobrados e mucambos: decadência do patriarcado rural e desenvolvimento do

urbano. 15. ed. São Paulo: Global Editora; 2016. (Introdução à história da sociedade patriarcal no Brasil, v. 2).

Nesse livro, Freyre versa sobre a decadência do patriarcado rural e o desenvolvimento do urbano na busca de entender o cotidiano e as tensões do poder que constituem o tecido social da época.

• FOUCAULT, Michel. História da sexualidade: a vontade de saber. Tradução: Maria Thereza da Costa Albuquerque e José Augusto Guilhon Albuquerque. São Paulo: Paz e Terra, 2014. O autor analisa o lugar da sexualidade na sociedade ocidental por meio de uma pesquisa histórica.

GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2021.

Nesse livro, organizado por Flávia Rios e Márcia Lima, estão reunidos diversos artigos escritos por Lélia ao longo da vida.

MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. Tradução: Renata Santini. São Paulo: n-1 Edições, 2018.

Nesse ensaio, o autor fundamenta o termo “necropolítica” e demonstra que a noção de biopoder é insuficiente para dar conta das formas contemporâneas de submissão da vida ao poder da morte.

MUNANGA, K abengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus identidade negra. 5. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2020. (Cultura negra e identidades).

Nesse livro, o autor conceitualiza a mestiçagem por meio de uma análise histórico-social e define a importância e singularidade da mestiçagem na sociedade brasileira.

MOURA, Clóvis. Sociologia do negro brasileiro. São Paulo: Perspectiva, 2019.

Nesse livro, o autor problematiza a Sociologia brasileira de matriz eurocêntrica, que considerava o negro como objeto, e não como sujeito.

• ROSSI, Luiz Gustavo Freitas. O intelectual “feiticeiro”: Edison Carneiro e o campo deestudos das relações raciais no Brasil. 2011. Tese (Doutorado em Antropologia) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2011. Disponível em: https://repositorio.unicamp.br/acervo/ detalhe/787419. Acesso em: 1 nov. 2024.

Nessa tese, o autor investiga a trajetória social e intelectual de Edison Carneiro.

• WILLIAN, Rodney. Apropriação cultural. São Paulo: Pólen, 2019. (Feminismos plurais).

O autor analisa o conceito de apropriação cultural sob a ótica histórico-cultural e retoma o processo de aculturação e aniquilamento dos costumes pelo qual os povos escravizados passaram.

Capítulo 13

Sexualidade e diversidade de gênero

Este capítulo explora temáticas sobre gênero e sexualidade, destacando-as como construções sociais. O objetivo é convidar os estudantes a desconstruir noções do senso comum, oferecendo ferramentas analíticas e conceituais para que possam refletir criticamente a respeito das desigualdades que historicamente marcam as relações entre homens e mulheres em diversas sociedades. Com base em diferentes perspectivas e correntes teóricas, o capítulo apresenta abordagens variadas dos estudos sobre gênero e diversidade sexual, a fim de possibilitar que os estudantes reflitam sobre suas próprias identidades e papéis sociais, compreendendo-os como resultados de um contexto sociocultural mais amplo.

Orientações didáticas

A imagem de abertura do capítulo é uma boa oportunidade para iniciar a discussão sobre papéis de gênero. Convide os estudantes a observar a divisão de tarefas domésticas representada na imagem e a refletir sobre como ela representa normas sociais. Pergunte a eles como percebem a diferença entre o homem, sentado e segurando um jornal, e a mulher, realizando a limpeza. Esse exercício permite introduzir os conceitos de sexo, gênero e papéis sociais, incentivando uma análise de como essas construções influenciam nossas vidas e identidades.

Nas páginas 237 e 238, os estudantes são apresentados à distinção entre sexo e gênero, que servirá como base para os estudos do capítulo. Uma abordagem eficaz para essa temática é perguntar a eles o que entendem por esses termos, registrando as respostas na lousa. Com base nessas contribuições, explique a diferença entre fatores biológicos e construções sociais, destacando como os estereótipos se formaram ao longo do tempo. Esse exercício incentiva uma reflexão sobre o papel dessas ideias na construção da identidade e nas desigualdades de gênero.

Se possível, exiba o curta-metragem Acorda, Raimundo... Acorda!, indicado no boxe Saiba mais da página 238. Após a exibição, organize a turma em círculo

para facilitar a interação. Pergunte aos estudantes o que sentiram ao assistir ao filme e, em seguida, incentive comentários sobre as cenas, as personagens, o ambiente doméstico, o período, a representação do comportamento do homem e da mulher e as semelhanças com a realidade. Destaque o uso de inversão de estereótipos de gênero no filme, promovendo uma reflexão crítica a respeito dos padrões naturalizados na sociedade.

Ao abordar o conceito de gênero, pergunte aos estudantes se conhecem exemplos de comportamentos considerados “masculinos” ou “femininos” e registre as respostas na lousa. Com base nisso, discuta como esses padrões são socialmente aprendidos, introduzindo a ideia de Joan Scott sobre a assimilação dessas normas. Esse diálogo ajuda a questionar o que é natural e o que é construído socialmente em relação ao gênero.

Por fim, peça aos estudantes que observem a imagem da página 238 e pergunte se já ouviram falar de Simone de Beauvoir. Verifique se alguém tem conhecimento prévio sobre a autora e, em seguida, proponha a atividade complementar.

Atividades complementares

1. Pesquise em livros, enciclopédias ou na internet sobre a vida e a obra de Simone de Beauvoir. Depois, escreva no caderno uma breve biografia da autora.

R.: Espera-se que os estudantes citem no texto os principais dados da vida e da obra da autora, associando-a ao movimento feminista.

2. Na obra O segundo sexo, publicada em 1949, uma das mais conhecidas da autora, Simone de Beauvoir afirma que “ninguém nasce mulher: torna-se mulher”. Reflita sobre essa afirmação e explique o sentido dela.

R.: A frase se refere à necessidade de desvincular o sexo biológico dos padrões sociais ligados ao que é ser mulher. A autora destaca o fato de que, além das diferenças biológicas entre os sexos, os comportamentos e as expectativas ligados a cada um deles são socialmente construídos e não são espontâneos, por isso são aprendidos pelas pessoas ao longo da vida.

Na página 239, o conteúdo trata das diversas identidades de gênero. Pergunte aos estudantes o que já conhecem sobre termos como cisgênero, transgênero e não binário, registrando as respostas na lousa. Com base nessas contribuições, explique a distinção entre identidade e expressão de gênero, apresentando a perspectiva de Judith Butler sobre a fluidez. Esse debate incentiva uma reflexão sobre a diversidade de identidades e a flexibilidade

dos papéis de gênero, promovendo um ambiente inclusivo de aprendizado.

Em seguida, na página 240, o conceito de gênero é analisado sob o enfoque da desigualdade. Pergunte aos estudantes como eles percebem as diferenças de oportunidade entre homens e mulheres. Utilize essas observações para discutir como o conceito de gênero contribui para desnaturalizar essas hierarquias. Comente o índice de disparidade de gênero de 2024, contextualizando com a realidade do Brasil, e promova uma reflexão sobre a persistência das desigualdades e a importância de mudanças sociais.

Ao abordar o conteúdo da página 241, considere exibir o filme O silêncio dos homens, indicado no boxe Saiba mais. O filme oferece uma oportunidade para os estudantes refletirem sobre os impactos negativos da dominação masculina também sobre os homens, oferecendo uma visão que questiona a ideia de que apenas as mulheres são afetadas pela estrutura patriarcal. Após a exibição, organize uma roda de conversa e incentive os estudantes a compartilhar suas impressões e a comentar os depoimentos mais marcantes. Garanta um ambiente de confiança e acolhimento, a fim de que todos se sintam à vontade para expressar suas reflexões e experiências.

Nas páginas 242 e 243, proponha uma reflexão inicial sobre o conceito de divisão sexual do trabalho. Pergunte aos estudantes como percebem a divisão de tarefas entre homens e mulheres no trabalho e nas atividades domésticas. Organize-os em grupos para listar exemplos de tarefas e ocupações comumente associadas a cada gênero. Após o debate em grupo, explique as ideias de Helena Hirata e Danièle Kergoat sobre trabalho produtivo e reprodutivo, conectando essas noções aos dados do IBGE sobre as horas dedicadas ao trabalho doméstico.

Em seguida, introduza o tema das desigualdades no mercado de trabalho. Utilize uma dinâmica em que os estudantes expressem suas percepções sobre a diferença salarial e a ocupação de cargos de liderança por meio de post-its, que devem ser afixados em um mural. Depois, com base nessas contribuições, apresente a análise de Helena Hirata sobre a precariedade dos empregos femininos em vários países. Essa abordagem incentiva uma reflexão crítica sobre as causas e os efeitos das desigualdades de gênero no mercado.

Ao abordar o conteúdo da página 244, comente com os estudantes que a violência de gênero é uma manifestação das desigualdades. Pergunte a eles sobre diferentes formas de violência contra mulheres e promova uma conversa aberta para que compartilhem o que

conhecem. Ressalte a importância das leis Maria da Penha e do Feminicídio, que têm como objetivo proteger as mulheres no Brasil.

Finalmente, na página 245, use o infográfico como ponto de partida para um estudo mais detalhado. Divida a turma em pequenos grupos, atribuindo a cada grupo um dado ou tipo de violência para análise. Em seguida, peça aos estudantes que compartilhem suas conclusões com a turma. Essa atividade permite que os estudantes relacionem os dados com as desigualdades estruturais e reflitam sobre como a sociedade pode atuar para reduzir a violência e promover justiça e segurança.

A seção Investigação, na página 246, promove uma pesquisa por meio de um grupo focal. A atividade é uma boa oportunidade para refletir sobre as desigualdades de gênero no ambiente escolar, permitindo que os estudantes relacionem a teoria aprendida à própria realidade. É importante ressaltar que a atividade deve ser desenvolvida em um ambiente de troca, respeito e organização.

Ao abordar o conteúdo da página 247, comente com os estudantes que a divisão do feminismo em ondas oferece uma visão histórica das lutas das mulheres, mas destaca, principalmente, a experiência de mulheres brancas de classe média, ignorando as ações de mulheres não brancas. Essa abordagem foi criticada por novas vertentes do feminismo a partir da década de 1980, que apontaram a necessidade de reconhecer a diversidade das experiências femininas na luta pela igualdade de gênero.

Na página 250, a seção Perspectivas apresenta aos estudantes a obra da pensadora Sueli Carneiro. Leia o trecho coletivamente e faça a atividade com a turma de forma oral, estabelecendo relações entre o texto da autora e o conteúdo trabalhado no capítulo.

Indicações

TODOS nós deveríamos ser feministas: Chimamanda Ngozi Adichie: TEDxEuston. Londres: TEDxEuston, 2013. 1 vídeo (30 min). Publicado pelo canal TEDx Talks. Disponível em: https://www.youtube.com/watch? v=hg3umXU_qWc. Acesso em: 2 nov. 2024. Nessa palestra, a escritora nigeriana Chimamanda Adichie aborda questões como gênero, masculinidade e feminismo no contexto contemporâneo, destacando a importância da igualdade entre homens e mulheres na construção de um mundo mais justo.

• MEXEU com uma, mexeu com todas. Direção: Sandra Werneck. Brasil: Cineluz, 2017. Streaming (71 min). Documentário sobre a luta contra a violência de gênero no Brasil, com depoimentos de diversas mulheres que

enfrentaram assédio e agressões. Esses relatos mostram a realidade de muitas brasileiras e reforçam a importância do apoio entre mulheres. O curta-metragem destaca a necessidade de combater a cultura de violência e a impunidade, revelando como a união e a solidariedade fortalecem a busca por justiça e respeito.

Atividades

Página 236

Espera-se que os estudantes identifiquem situações cotidianas que demonstrem a disparidade entre homens e mulheres, além de questões mais amplas, ligadas à sociedade brasileira como um todo. Crie um ambiente acolhedor e respeitoso, no qual todos se sintam à vontade para compartilhar suas opiniões sobre o tema.

Página 241

Essas atividades avaliam a compreensão do conceito de violência simbólica. Sugerimos que os estudantes respondam por escrito e, caso considere adequado, use as atividades como parte da avaliação. Após a terceira questão, pergunte aos estudantes se conseguem identificar situações de violência simbólica contra mulheres em propagandas atuais. Se possível, faça uma pré-seleção de anúncios recentes para ilustrar o tema, ajudando os estudantes a perceber situações naturalizadas que, à luz do conteúdo trabalhado, podem representar estereótipos e/ ou violência de gênero.

Como atividade extraclasse, peça aos estudantes que, ao longo da semana, pesquisem propagandas que contenham estereótipos de gênero e possíveis exemplos de violência simbólica. Defina uma data para que cada um apresente para a turma uma ou duas propagandas, explicando como o conteúdo se relaciona com a ideia de violência simbólica.

Página 243

Aproveite as atividades para criar um momento de troca entre os estudantes. Na lousa, faça uma lista dos trabalhos mais associados a homens e mulheres. É interessante também refletir a partir da escola, pensando como as diferentes atividades (limpeza, segurança, docência etc.) são divididas entre homens e mulheres. Ao final, indique que reflitam sobre o resultado, incentivando-os a buscar padrões e a construir hipóteses. Em seguida, peça-lhes que compartilhem como é feita a divisão de trabalho doméstico no local onde vivem, instigando-os a questionar esses padrões com base na própria vivência.

Página 245

A atividade tem o objetivo de levar os estudantes a aprofundar o conhecimento sobre a Lei Maria da Penha, um importante marco da luta contra a violência de gênero no Brasil. A proposta pode ser feita individualmente ou em grupo. Caso considere adequado, incorpore-a ao processo de avaliação.

Página 248

Com base na metologia ativa seminário, a proposta desta atividade é levar os estudantes a conhecer mulheres que contribuíram para a luta pela igualdade de gênero no Brasil ao longo da história. Divida a turma em grupos de quatro ou cinco integrantes e atribua a cada grupo um dos seguintes nomes: Nísia Floresta Augusta, Chiquinha Gonzaga, Celina Guimarães Viana, Carlota Pereira de Queiroz, Bertha Lutz, Laudelina de Campos Melo, Maria Firmina dos Reis, Rose Marie Muraro e Sônia Guimarães. Sinta-se à vontade para escolher os nomes mais adequados ou incluir outras figuras relevantes.

Oriente os grupos a realizar pesquisas que explorem aspectos diversos da trajetória de cada mulher indicada, enfatizando a importância de compreenderem o impacto da atuação dessas personalidades na luta pela igualdade de gênero no país.

Sugira aos estudantes o prazo de uma semana para preparar as apresentações. Se possível, peça a eles que preparem apresentações digitais, incluindo fotografias e outras imagens que ilustrem o tema. Informe que cada grupo terá dez minutos para apresentar a pesquisa e ressalte que todos os integrantes devem se envolver em todas as etapas do trabalho (pesquisa, preparação do material e apresentação oral). No dia da apresentação, cada grupo deverá ir à frente da sala para compartilhar suas descobertas com a turma. Incentive a participação dos estudantes por meio de perguntas e reflexões que relacionem o conteúdo das apresentações aos temas abordados no capítulo, como a naturalização das diferenças de gênero e a dominação masculina.

Ao final, conduza uma reflexão sobre o fato de essas mulheres, embora essenciais para a história do país, serem pouco conhecidas pela maioria das pessoas. Aproveite para discutir o androcentrismo na construção da história, que se reflete não apenas em livros mas também em estátuas, nomes de ruas, praças e outros espaços públicos.

Página 250

As atividades incentivam os estudantes a compreender a perspectiva de Sueli Carneiro sobre como o racismo e a hegemonia masculina formam um sistema interligado

de opressão que afeta as mulheres negras. Ressalte que, para Carneiro, a posição das mulheres negras no Brasil é determinada pela interação entre racismo e machismo.

Páginas 252 e 253

1. O objetivo da atividade é mostrar para os estudantes como a legislação dialoga com as questões sociais. A lei citada é um exemplo de como normas legais podem contribuir para reduzir a desigualdade salarial entre homens e mulheres.

2. A tirinha chama a atenção dos estudantes para o fato de que, ao serem socializados de acordo com o modelo dominante, os pais acabam, mesmo que involuntariamente, reproduzindo esse padrão com os filhos, perpetuando a desigualdade de gênero na sociedade.

3. A persistência da desigualdade de gênero no mercado de trabalho é consequência de padrões sociais e culturais historicamente construídos, que consideram a mulher inferior ao homem.

4. O papel secundário das mulheres nos projetos científicos reflete a incorporação de estratificações sociais no campo da ciência, evidenciando que a desigualdade social se manifesta em diferentes esferas da vida social.

Referências comentadas

• BIROLI, Flávia. Gênero e desigualdades: limites da democracia no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2018. Nessa obra, a autora reflete sobre as transformações ocorridas nas relações de gênero ao longo das últimas décadas. Com foco no contexto brasileiro, Biroli analisa os avanços e desafios relacionados à igualdade de gênero e sua relação com a consolidação da democracia no país.

• COLLINS, Patricia Hill; BILGE, Sirma. Interseccionalidade. Tradução: Rane Souza. São Paulo: Boitempo, 2021.

O livro discute o conceito de interseccionalidade, analisando-o como ferramenta para pensar no entrelaçamento entre diferentes formas de desigualdade.

• GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2021.

A obra apresenta uma coletânea de textos de Lélia Gonzalez, nos quais a autora articula reflexões sobre feminismo, racismo e atuação política.

Capítulo 14

Trabalho, direitos e desigualdades

Este capítulo tem como tema principal o trabalho, apresentado por diferentes perspectivas. Inicialmente, os estudantes serão apresentados aos pensamentos de Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber, considerados fundadores da Sociologia. Esses teóricos refletiram sobre o desenvolvimento das sociedades modernas e analisaram o papel do trabalho na dinâmica social. O objetivo é levar os estudantes a compreender o desenvolvimento histórico da relação entre trabalho e capitalismo.

O capítulo também propõe uma reflexão sobre trabalho e direitos, convidando os estudantes a observar como o mundo do trabalho está presente em diversas dinâmicas sociais do dia a dia. Serão estudados dados e conceitos atuais, como a uberização do trabalho, incentivando uma reflexão crítica a respeito dos desafios do trabalho na atualidade.

Orientações didáticas

A abertura do capítulo apresenta uma fotografia na qual há um mutirão em busca de emprego. Solicite aos estudantes que a observem e aproveite a oportunidade para perguntar as expectativas deles com relação ao trabalho. Questione também se há na turma jovens que trabalham e valorize a troca de experiências e percepções, criando um ambiente seguro e acolhedor. Incentive os estudantes a desnaturalizar o trabalho e promova uma reflexão sobre os diferentes sentidos e formatos que ele pode assumir.

Ao abordar o conteúdo da página 255, explique aos estudantes que Durkheim, Marx e Weber se dedicaram a compreender, cada um a seu modo, as mudanças nas relações de trabalho promovidas pelo capitalismo. O tópico

A divisão social do trabalho apresenta aos estudantes as concepções de Émile Durkheim, que, por meio do estudo do trabalho, passou a compreender a sociedade. Caso considere necessário, retome alguns conteúdos do componente curricular de História, relativos ao feudalismo e à industrialização. Isso pode facilitar a compreensão dos estudantes sobre os conceitos de solidariedade mecânica e solidariedade orgânica.

Em seguida, o tópico Trabalho e desigualdade, na página 257, apresenta as concepções de Karl Marx sobre o trabalho e a desigualdade no capitalismo. São abordados os três principais conceitos estudados por Marx: meios de

produção, classes sociais e alienação. Explique aos estudantes que, para esse autor, a exploração do trabalho é considerada o cerne do modo capitalista de produção e que as desigualdades são inerentes a esse sistema.

Na página 259, são abordadas as concepções de Max Weber, que desenvolveu uma análise cultural do trabalho nas sociedades capitalistas. Para Weber, o capitalismo industrial tem origem na Reforma Protestante, de modo que as mudanças na esfera religiosa favoreceram as transformações na economia.

O tópico O trabalho em transformação, na página

260, explora as contribuições de Frederick Winslow Taylor para organizar melhor a produção e aumentar a produtividade industrial. O taylorismo, como ficou conhecida a proposta defendida por Taylor, promoveu profundas mudanças para os trabalhadores, que deixaram de participar de todo o processo produtivo e passaram a desempenhar apenas uma função, ampliando o fenômeno da alienação, conforme Marx defendia. As reflexões propostas favorecem o desenvolvimento das habilidades EM13CHS401 e EM13CHS403

Se possível, exiba para os estudantes o filme Tempos modernos, indicado na seção Saiba mais, na página 261. Organize uma roda de conversa com a turma sobre o longa-metragem e incentive os estudantes a perceber a atualidade das questões retratadas. Leve-os a refletir sobre como os conceitos de Durkheim, Marx e Weber acerca do trabalho podem ser identificados no longa.

Ao tratar a questão do trabalho doméstico, na página 265, explique aos estudantes que as desigualdades étnico-raciais e de gênero se refletem no mundo do trabalho e impactam diretamente o acesso dos cidadãos a direitos sociais. Ressalte também as consequências da escravidão refletidas no modo como o trabalho doméstico é percebido no Brasil atual.

Em seguida, na página 266, explore com os estudantes um tema de grande relevância para os jovens que irão ingressar no mercado de trabalho: a informalidade. As reflexões propostas contribuem para o desenvolvimento das habilidades EM13CHS402 e EM13CHS404, com destaque para o trabalho via plataformas digitais e o fenômeno da uberização. Essa realidade faz parte do cotidiano de muitos jovens e pode suscitar reflexões interessantes com base na experiência trazida por eles.

A seção Perspectivas, na página 268, aprofunda a discussão sobre o fenômeno da uberização com base nas reflexões do sociólogo Ricardo Antunes. Leia o texto com os estudantes e, caso considere adequado, peça a eles que respondam às questões propostas em grupo. Em seguida,

organize uma roda de conversa para que os grupos compartilhem suas respostas com o restante da turma. É importante explicar aos estudantes que diferentes culturas atribuem significados variados ao trabalho. Essa discussão é abordada na página 270 e mobiliza a habilidade EM13CHS401. Leia coletivamente o trecho do texto de Ailton Krenak e comente as diferenças na concepção de trabalho entre as sociedades indígenas e as capitalistas. Ressalte para os estudantes que o nosso conhecimento sobre a visão indígena das sociedades ocidentais e de outros povos não indígenas ainda é incipiente, predominando na literatura e nos meios de comunicação as representações das sociedades ocidentais sobre os povos originários. Explique que o termo “brancos”, usado no texto de Krenak, não se refere à cor da pele, mas aos povos que compartilham o modo de vida das sociedades ocidentais contemporâneas. Aproveite para discutir os estereótipos que associam os povos indígenas a uma suposta “preguiça” em relação ao trabalho.

Indicações

EU, DANIEL Blake. Direção: Ken Loach. Reino Unido: Entertainment One Films, 2017. Streaming (100 min).

O filme apresenta a história de um marceneiro com problemas de saúde, que, ao perder o trabalho, se vê privado de direitos sociais básicos. A obra discute a precarização do trabalho, fenômeno cada vez mais presente em todo o mundo.

O CORTE. Direção: Constantin Costa-Gavras. França: Pandora Filmes, 2005. 1 DVD (122 min).

Com base na história de um executivo desempregado, o filme promove uma reflexão sobre as consequências da competitividade extrema no mundo do trabalho. A narrativa critica o modo como o mercado de trabalho pode afetar a vida das pessoas.

PÃO e rosas. Direção: Ken Loach. Reino Unido: Film4 Productions, 2000. 1 DVD (110 min).

O filme retrata a história de um grupo sindical de trabalhadores terceirizados do setor de limpeza em luta contra a precarização do trabalho. A trama é baseada em uma mobilização real ocorrida em Los Angeles, no ano de 1990.

Atividades

Página 254

Aproveite a oportunidade para incentivar os estudantes a refletir sobre o trabalho e incentive-os a não reproduzir percepções com base no senso comum. Conduza

uma conversa coletiva, acolhendo diferentes perspectivas e opiniões. Ao trabalhar a atividade 3, anote na lousa as respostas dos estudantes, fazendo-os perceber a importância de ações em diferentes escalas para garantir um trabalho digno.

Página 256

O texto de Adam Smith ilustra adequadamente os conceitos elaborados por Durkheim. Escrito no século XVIII, pode ser de difícil compreensão para alguns estudantes. Assim, recomenda-se a leitura coletiva do texto em voz alta, de modo a esclarecer possíveis dúvidas. Caso considere adequado, a atividade pode servir como parte do processo avaliativo.

Página 258

A charge ilustra o conceito de alienação, proposto por Marx. Incentive os estudantes a pensar em outros exemplos nos quais o conceito também possa ser aplicado.

Página 262

Oriente os estudantes a pesquisar pontos positivos e negativos da terceirização. Com base nas informações levantadas, solicite a eles que escrevam o texto individualmente. Caso julgue pertinente, pergunte se os estudantes conhecem pessoas que trabalham como terceirizadas. Em caso afirmativo, sugira que conversem com elas para a elaboração do texto.

Página 265

Na atividade 3, espera-se que os estudantes reconheçam que questões étnico-raciais, de classe e de gênero ainda influenciam a desvalorização do trabalho doméstico no Brasil.

É comum, em nossa sociedade, a hierarquização entre trabalho manual e intelectual. Para refletir sobre o assunto, sugere-se a atividade complementar a seguir. Recomenda-se que ela seja feita oralmente, com toda a turma. O objetivo é que os estudantes se posicionem com base em seus próprios saberes e experiências.

Atividade complementar

Leia o trecho a seguir para os estudantes. Depois, oriente-os a fazer o que se pede.

Todo trabalho supõe tendência para um fim e esforço. Para alguns trabalhos, este esforço será preponderantemente físico; para outros, preponderantemente intelectual. Contudo, parece míope e interesseira esta classificação que divide trabalho intelectual e trabalho corporal. A maioria dos esforços intelectuais se faz acom-

panhar de esforço corporal; uso minhas mãos e os músculos do braço enquanto datilografo estas páginas, que vou pensando. E o pedreiro usa sua inteligência ao empilhar com equilíbrio os tijolos sobre o cimento ainda não solidificado.

ALBORNOZ, Suzana. O que é trabalho. 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Primeiros passos, p. 11).

1. Citem exemplos de trabalhos ou profissões manuais e intelectuais.

R.: Resposta pessoal. Escreva na lousa os exemplos citados pelos estudantes. Organize duas listas: uma com as profissões manuais e outra com as intelectuais.

2. Por que os exemplos mencionados envolvem tanto atividades intelectuais quanto manuais?

R.: Resposta pessoal. Incentive os estudantes a refletir sobre o trabalho intelectual envolvido em atividades manuais, e vice-versa.

3. Como se expressa a hierarquização entre trabalhos manuais e intelectuais em nossa sociedade?

R.: Resposta pessoal. Acolha as considerações dos estudantes e incentive-os a respeitar a opinião dos colegas.

4. Em sua opinião, o que leva a essa hierarquização e quais medidas poderiam ser adotadas para minimizá-la?

R.: Resposta pessoal.

Página 268

Comente com os estudantes que a automatização tem ampliado a precarização do trabalho e que, em muitos casos, os trabalhadores perdem seus direitos.

Páginas 272 e 273

1. Oriente os estudantes a interpretar a charge corretamente para que possam relacioná-la ao trabalho informal e à precarização do trabalho.

2. O texto apresenta alguns dos problemas do trabalho mediado por plataformas digitais, evidenciando seu papel na precarização do trabalho, conforme indica a alternativa a

3. De acordo com Max Weber, as igrejas protestantes impulsionaram a difusão de uma nova ética do trabalho, na qual a dedicação ao ofício e a negação do lazer eram essenciais para a salvação. Para Weber, a Reforma Protestante foi um elemento essencial para o crescimento e a consolidação do capitalismo, conforme indica a alternativa b.

4. A Emenda Constitucional n º 72 ampliou os direitos sociais das trabalhadoras domésticas, equiparando-os aos dos demais trabalhadores urbanos. Com isso, foram corrigidas graves desigualdades no acesso a direitos enfrentados por essas trabalhadoras, conforme indica a alternativa b

5. O texto mostra que a melhoria das condições de vida dos trabalhadores é consequência da necessidade de ampliar a produtividade, equiparando o ritmo do trabalho humano ao das máquinas, conforme mostra a alternativa d

Texto complementar

Intermitência e uberização

A uberização é um processo no qual as relações de trabalho são crescentemente individualizadas e invisibilizadas, assumindo, assim, a aparência de ‘prestação de serviços’ e obliterando as relações de assalariamento e de exploração do trabalho.

[...]

A terceirização, a informalidade e a flexibilidade se tornaram, então, partes inseparáveis do léxico e da pragmática da empresa corporativa global. E, com elas, a intermitência vem se tornando um dos elementos mais corrosivos da proteção do trabalho, que foi resultado de lutas históricas e seculares da classe trabalhadora em tantas partes do mundo.

Vejamos alguns exemplos do tipo de trabalho que mais se expande sob o capitalismo de nosso tempo. Um deles, o zero hour contract [contrato de zero hora], por exemplo, nasceu no Reino Unido e se esparrama pelo mundo ao permitir a contratação de trabalhadores e trabalhadoras das mais diversas atividades, que ficam à disposição de uma ‘plataforma’.

Eles e elas ficam à espera de uma chamada por smartphone e, quando a recebem, ganham estritamente pelo que fizeram, nada recebendo pelo tempo que ficaram esperando. Essa modalidade de trabalho abrange um universo imenso de trabalhadores e trabalhadoras, de que são exemplos médicos, enfermeiros, trabalhadoras do care (cuidadoras de idosos, crianças, doentes, portadores de necessidades especiais etc.), motoristas, eletricistas, advogados, serviços de limpeza, consertos domésticos, entre tantos outros. Tudo isso facilitado pela expansão do trabalho on-line e pela expansão dos ‘aplicativos’, que invisibilizam ao mesmo tempo que ampliam ex-

ponencialmente uma parte expressiva da classe trabalhadora, em especial, mas não só, no setor de serviços.

Outro exemplo encontramos [em um aplicativo]: trabalhadores e trabalhadoras com seus automóveis arcam com as despesas de seguros, gastos de manutenção de seus carros, alimentação, limpeza etc., enquanto o ‘aplicativo’ se apropria do mais-valor gerado pelo sobretrabalho dos motoristas, sem nenhuma regulação social do trabalho. A principal diferença entre o zero hour contract e o sistema [desse aplicativo] é que, neste último, os/as motoristas, ao recusarem as solicitações, correm o risco de serem demitidos. A relação de trabalho é, então, ainda mais evidente. Dos carros para as motos, destas para as bicicletas, patinetes etc. A engenhosidade dos capitais é, de fato, espantosa.

[...]

Indústria 4.0: rumo à ‘escravidão digital’?

As tecnologias de informação e de comunicação configuram-se, então, como um elemento central entre os distintos mecanismos de acumulação criados pelo capitalismo financeiro de nosso tempo.

Ao contrário do que ditava a equivocada “previsão” do fim do trabalho, da classe trabalhadora e da vigência da teoria do valor, o que temos, de fato, é uma ampliação do trabalho precário, que atinge (ainda que de modo diferenciado) desde os trabalhadores e trabalhadoras da indústria de software até os de call-center e telemarketing [...], alcançando de modo progressivo os setores industriais, da agroindústria, dos bancos, do comércio, do fast-food, do turismo e hotelaria etc., e incorporando até mesmo trabalhadores imigrantes, cujos números se expandem em todas as partes do mundo. É quase impossível, hoje, encontrar qualquer trabalho que não tenha alguma forma de dependência do aparelho celular.

Tal cenário crítico se acentuará com a expansão da chamada Indústria 4.0. Essa proposta nasceu na Alemanha, em 2011, concebida para gerar um novo e profundo salto tecnológico no mundo produtivo (em sentido amplo), estruturado a partir das novas tecnologias da informação e comunicação (TIC), que se desenvolvem de modo célere. Sua expansão significará a ampliação dos processos produtivos ainda mais automatizados e robotizados em toda a cadeia de valor, de modo que a logística empresarial será toda controlada digitalmente.

A principal consequência da Indústria 4.0 para o mundo do trabalho será a ampliação do trabalho morto, [...] tendo o maquinário digital – a ‘internet das coisas’, a inteligência artificial, a impressora 3D, o big data etc. – como dominante e condutor de todo o processo produtivo, com a consequente redução do trabalho vivo, viabilizada pela substituição de atividades tradicionais e mais manuais por ferramentas automatizadas e robotizadas, sob o comando informacional-digital.

Assim, cada vez mais, a força de trabalho de perfil mais manual, ou que exerce atividades em processo de desaparição, tornará o trabalho vivo mais ‘residual’ nas plantas tecnológicas e digitalmente mais avançadas. [...]

ANTUNES, Ricardo. Trabalho intermitente e uberização do trabalho no limiar da indústria 4.0. In: ANTUNES, Ricardo (org.). Uberização, trabalho digital e indústria 4.0. São Paulo: Boitempo, 2020. E-book.

Referências comentadas

• ALBORNOZ, Suzana. O que é trabalho. 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Primeiros passos).

A filósofa reflete sobre as formas de vivenciar e organizar o trabalho ao longo da história humana e discute questões éticas em diferentes formas de trabalho, oferecendo ao leitor uma visão crítica sobre o tema.

• ENGELS, Friedrich. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. Tradução: B. A. Schumann. São Paulo: Boitempo, 2008.

Essa obra é um clássico das Ciências Sociais, que relata as condições de vida dos operários ingleses do século XIX. O livro mostra, de forma pioneira, a exploração e a opressão sofridas pelos trabalhadores durante o processo de consolidação do capitalismo industrial.

• SANTANA, Marco Aurélio Silva de; RAMALHO, José Ricardo. Sociologia do trabalho. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. (Ciências sociais passo a passo).

O livro apresenta, de modo sucinto, as transformações recentes no mundo do trabalho que levaram a mudanças profundas na estrutura produtiva das sociedades contemporâneas. Os autores apresentam diferentes linhas de reflexão teórica sobre o assunto, mostrando como a Sociologia pode contribuir para esse importante debate.

Capítulo 15

Sociedade e vigilância

tecnológica

Este capítulo aborda as mudanças contemporâneas provocadas pelas tecnologias digitais e, entre outros aspectos, promove a reflexão sobre as tecnopolíticas da vigilância tecnológica, o poder das big techs, os megadados e a economia da atenção – com ênfase no capitalismo de vigilância. O capítulo também contempla a importância da cognição estendida para os humanos e da relação com o mundo mediada, ou não, por objetos digitais. Além disso, aborda os algoritmos, a propagação de notícias falsas e seus efeitos na democracia. O intuito é fazer com que os estudantes reflitam a respeito dos usos das tecnologias digitais e das redes sociais no cotidiano. Nessa perspectiva, é abordada a diferença entre a sociedade disciplinar e a sociedade do controle. Ao fazer uma análise das mídias sociais, os estudantes poderão identificar como certas métricas têm influência sobre seu comportamento e suas opiniões.

Orientações didáticas

Ao abordar o conteúdo da página 274, incentive os estudantes a refletir sobre o tempo e o tipo de uso das redes sociais que eles fazem. Pergunte quais sites, aplicativos e redes sociais eles costumam utilizar com mais frequência e incentive que comentem como lidam com isso no dia a dia.

Na página 280, comente quanto os dados deixados nas redes são negociados, ressaltando a importância de haver regulamentação do poder público. Comente também que os algoritmos são matemáticos e que as postagens de ódio têm engajamento maior pois mobilizam mais atenção nas redes sociais. Incentive os estudantes a perceber quanto os algoritmos respondem às postagens direcionando produtos, por exemplo, e ressalte a importância de haver algum tipo de proteção dos dados e da privacidade. A atividade mobiliza a competência geral 5 da BNCC e a habilidade EM13CHS504.

Atividade complementar

O Surveillance Studies Centre (Centro de Estudos de Vigilância), do Canadá, produziu, com fins didáticos, curtas-metragens especulando futuros de vigilância e os efeitos de sistemas de vigilância na vida cotidiana. Assista ao vídeo Blaxites, em um primeiro momento, sozinho,

e depois com os estudantes, optando pela legenda em português (disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=yfVNDuWGZTs; acesso em: 2 nov. 2024). Em sala, procure explorar aspectos como o papel das mídias sociais e das tecnologias de vigilância, que são usadas frequentemente para controle e monitoramento de comportamentos, sobretudo de grupos marginalizados. Em seguida, apresente à turma as questões do roteiro de leitura. Esta atividade mobiliza a competência geral 5 da BNCC e a habilidade específica EM13CHS504.

1. O que você aprendeu sobre as mídias sociais digitais?

2. Em sua opinião, quais são as razões e motivações de cada uma das personagens para tomar as respectivas decisões?

3. Em sua opinião, o que Jai poderia fazer? (Se achar necessário, faça uma rodada na qual cada estudante apresente sua opinião, registrando as diversas possibilidades de ação.)

4. Em sua opinião, quais são os sujeitos sociais que se beneficiam do software de monitoramento? E quem é prejudicado por isso?

5. Qual é o argumento do médico para justificar sua atitude em monitorar os pacientes? Em que medida ele está indo além de seus deveres?

6. Argumente a favor e contra o uso dessa tecnologia, demonstrando em que medida seu uso é justificado ou injustificado.

7. Se você desistisse, como Karl, o que teria que mudar em sua vida? Imagine que fosse pedir para montar um guia de como optar por não participar, o que estaria nele?

8. Quais são as possíveis medidas para proteger sua privacidade on-line?

Ao abordar o tópico Algoritmos, redes sociais e democracia, na página 282, comente com os estudantes que são diversas as razões que influenciam a formação de opiniões. Muitas vezes, são fatores de natureza socioemocional, e, não raro, as pessoas compartilhem postagens de ódio por impulso ou motivadas pelo medo. Fazer uso das mídias sociais digitais com critério, cuidado e sem impulsividade, sobretudo atento às notícias falsas, é um modo de preservar a democracia.

Ao abordar a propagação de notícias falsas, na página 283, pergunte aos estudantes o que entendem como pós-verdade. Em 2016, esta foi eleita a palavra do ano pelo dicionário Oxford. Trata-se de um adjetivo que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm

menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e crenças pessoais.

A seção Conexões com Filosofia, nas páginas 286 e 287, promove um trabalho interdisciplinar e traz o pensamento de dois filósofos: Michel Foucault e Gilles Deleuze. Foucault conceitua a sociedade disciplinar, e Deleuze marca as diferenças provocadas pelas tecnologias digitais, definindo-as como características da sociedade de controle. Esse diálogo com a Filosofia amplia a compreensão e o olhar sobre a sociedade.

A seção Investigação, nas páginas 288 e 289, promove o uso de uma prática de pesquisa, o método de Análise das Mídias Sociais (ARS), para compreender as implicações do uso das redes no comportamento dos usuários, mobilizando a competência geral 5 da BNCC e a habilidade EM13CHS504.

Essa prática de pesquisa deve incentivar os estudantes a adotar uma postura crítica e reflexiva durante o processo, reconhecendo a importância de analisar as redes sociais não só como usuários, mas como cidadãos informados e conscientes do impacto do capitalismo de vigilância. Os diferentes modais podem gerar emoções, reações e resultados diferentes, a depender de como são utilizados e da combinação feita entre eles. A seguir, sugerimos um roteiro para a realização da análise de mídias sociais no contexto do capitalismo de vigilância, incluindo a análise multimodal.

I) Inicie recapitulando o conceito de capitalismo de vigilância e a relação estabelecida com as mídias sociais.

II) E xplique como as empresas de tecnologia coletam dados dos usuários (visualizações, curtidas/likes, compartilhamentos, tempo de navegação) para criar perfis de consumo. Esses dados são usados para personalizar a experiência on-line, influenciar decisões de compra e gerar lucros.

III) Discuta, se possível, alguns exemplos práticos. Por exemplo, mostre como os anúncios nas redes sociais mudam de acordo com as pesquisas que fazemos, as páginas que seguimos ou os conteúdos com os quais interagimos.

IV) Os estudantes devem identificar como as imagens (cor, composição, estética etc.) e os vídeos são usados para captar a atenção dos usuários e evocar emoções. Por exemplo, postagens com cores vibrantes ou pessoas felizes tendem a ter mais interações e engajamento.

V) Solicite que verifiquem o tom e a linguagem usados nos títulos e nas descrições. Por exemplo, se há uma linguagem imperativa, como “Compre agora” ou “Não perca!”, geralmente cria-se um senso de urgência.

VI) Em redes sociais, o uso de músicas virais e sons pode influenciar a disseminação de um vídeo. Peça aos estudantes que observem como esse elemento multimodal afeta o engajamento.

VII) Promova uma reflexão sobre a privacidade e a vigilância e como a coleta de dados pode afetar a privacidade e a ética das empresas. Os estudantes devem refletir sobre como as plataformas de redes sociais coletam informações sem o conhecimento completo dos usuários. Durante a discussão, incentive a reflexão sobre as questões éticas do capitalismo de vigilância, como a falta de transparência na coleta de dados e o possível impacto da vigilância nas liberdades individuais.

VIII) Por fim, conduza a elaboração do relatório e apresentação dos resultados. O relatório deve guiar os estudantes na apresentação da análise realizada.

Atividades

Página 274

Incentive os estudantes a verificar e avaliar quais usos fazem das redes sociais; o tempo em que ficam nas redes; qual a relação e interação que estabelecem com as redes; e como se sentem diante das próprias postagens e das postagens dos outros.

Página 280

Destaque que o volume gigantesco de dados pessoais e postagens é processado pelos algoritmos em busca de padrões de comportamento e servem para diversas finalidades nos campos econômicos, financeiros e políticos. Chame a atenção dos estudantes para a importância de preservar a privacidade dos dados.

Página 281

Comente com os estudantes que, embora pareça inofensivo e gratuito, o uso das redes serve a diversos propósitos pelas empresas de tecnologia. Até mensagens escritas, mas não postadas, ficam registradas e são consideradas pelos algoritmos.

Página 285

Promova um debate para garantir que sejam considerados diversos aspectos e diferentes pontos de vista sobre o uso de celulares na escola e em sala de aula.

Páginas 290 e 291

1. Incentive os estudantes a verificar o tempo que ficam on-line durante uma semana. Peça a eles que identifiquem os sites, as redes e os aplicativos mais utilizados. O importante é que depois eles reflitam sobre o que

mais tem capturado a atenção deles. Ao final, promova um compartilhamento dos resultados.

2. Incentive uma leitura atenta do texto, comentando a influência de contas falsas nas redes sociais e como suas características ajudam a identificar desinformação. Se necessário, esclareça o significado de termos como “bots ”, “ciborgues” e “trolls ” para que os alunos compreendam as diferenças entre contas automatizadas e perfis controlados por humanos.

3. O texto chama a atenção para o fato de que existem trabalhadores reais por trás da Inteligência Artificial (IA). Isto é, o que aparece, para o consumidor final, apenas uma “tecnologia” é, na verdade, fruto do trabalho de milhares de trabalhadores frequentemente precarizados. O trabalho de linguistas, por exemplo, que tornam essa IA possível é frequentemente negligenciado.

4. As relações do mundo de hoje se realizam em dois meios: o offline (relações tradicionais baseadas na convivência física) e o on-line (relações e interações mediadas pelas redes sociais). A tirinha questiona a supervalorização dos relacionamentos on-line em detrimento da vida offline

Referências comentadas

BRUNO, Fernanda et al (org.). Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. São Paulo: Boitempo, 2018.

A obra reúne análises críticas sobre a contemporaneidade e os processos das tecnopolíticas. Há textos de autores nacionais, fruto de pesquisas recentes, e textos consagrados de autores estrangeiros. Centrado no tema da vigilância tecnológica, como o uso de drones, chips, entre outros, além do uso de dados pelo poder público, traz também a perspectiva das tecnoresistências.

MOROZOV, Evgeny. Big tech: a ascensão dos dados e a morte da política. Tradução: Claudio Marcondes. São Paulo: Ubu, 2018. (Coleção Exit).

Nessa obra, Morozov problematiza o uso das tecnologias e questiona o poder das plataformas tecnológicas e das big techs e o uso que fazem dos dados pessoais. O autor alerta que, a depender do uso, as tecnologias digitais podem ser danosas e representar uma ameaça à democracia.

• ZUBOFF, Shoshana. A era do capitalismo de vigilância: a luta por um futuro humano na nova fronteira do poder. Tradução: George Schlesinger. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2020.

A obra trata do capitalismo de vigilância e mostra como os dados dos usuários obtidos pelas postagens em redes sociais digitais são convertidos em mercadoria.

Capítulo 16

Meio ambiente e sociedade

Este capítulo aborda o meio ambiente sob a perspectiva das Ciências Sociais. O objetivo é explorar as interseções entre o mundo social e a natureza, destacando como a relação com o meio ambiente permite compreender diferentes aspectos das sociedades. O capítulo enfatiza a questão da desigualdade, buscando sensibilizar os estudantes para o fato de que os danos ambientais afetam as pessoas de diferentes maneiras.

A proposta visa mobilizar conceitos e ideias discutidos anteriormente para refletir sobre a questão ambiental de acordo com uma nova ótica. Isso inclui a percepção individual do papel de agente transformador da realidade social, compreendendo-se como protagonista em um contexto de emergência climática.

Orientações didáticas

A abertura do capítulo apresenta uma fotografia de uma área alagada em Porto Alegre (RS), fato ocorrido em decorrência das intensas chuvas que atingiram a região em 2024. A análise da imagem possibilita um debate a respeito das causas e consequências das mudanças climáticas e dos impactos de eventos extremos na vida da população.

Em seguida, na página 293, apresenta-se um breve histórico sobre o surgimento da questão ambiental, desde a Revolução Industrial até os dias de hoje. Explique aos estudantes que a exploração intensiva dos recursos naturais foi responsável pela degradação ambiental em diversas regiões do mundo. Comente que os recursos naturais não são ilimitados, por isso buscar alternativas de uso sustentável é essencial para garantir a sobrevivência das próximas gerações.

Ao trabalhar o conteúdo da página 295, pergunte aos estudantes se eles já conheciam o termo “Antropoceno” e explique que se refere ao período caracterizado pelo impacto da atividade humana sobre o planeta. Proponha à turma o exercício de imaginar a vida sem plástico e aproveite a oportunidade para retomar o conceito de etnocentrismo, central para a compreensão da ideia de Capitaloceno.

Analise com os estudantes o gráfico Mundo: causas de mortes – 2019, na página 296, e incentive-os a discutir de que forma a poluição afeta diretamente a vida dos seres humanos. Comente que, embora a maior parte dos

cientistas reconheça que a atividade humana é a principal responsável pelas mudanças climáticas, ainda existem pesquisadores que defendem que essas mudanças são reflexo de um ciclo natural do planeta.

A seção Perspectivas, na página 297, apresenta o depoimento da cientista social indígena Tipuici Manoki. Leia o texto coletivamente com a turma e relacione-o ao conceito de Capitaloceno.

Ao abordar o conteúdo da página 299, se possível, exiba o documentário Lixo extraordinário, indicado no boxe Saiba mais. Após a exibição do documentário, organize uma roda de conversa com a turma e solicite aos estudantes que compartilhem suas impressões com os colegas. O documentário pode facilitar a compreensão da análise feita pela antropóloga Mary Douglas, que se dedicou a estudar como as sociedades classificam o que é puro e impuro, limpo ou sujo. Se possível, apresente aos estudantes o projeto “Pimp my carroça” (disponível em: https://pimpmycarroca.com/; acesso em: 2 nov. 2024).

Converse com os estudantes a respeito das dificuldades enfrentadas pelos catadores, como o perigo de trabalhar em meio ao trânsito, a exposição a materiais nocivos à saúde, a baixa remuneração, a falta de direitos trabalhistas, a necessidade de caminhar grandes distâncias carregando peso, a falta de equipamentos de proteção, os preconceitos que sofrem no dia a dia, entre outras. Caso considere oportuno, desenvolva a atividade a seguir com os estudantes.

Atividades complementares

Esta atividade adota a metodologia ativa aprendizagem baseada em projetos e tem como objetivo levar os estudantes a usar os conteúdos estudados no capítulo para elaborar um projeto voltado à melhoria das condições de trabalho dos catadores.

Divida a turma em grupos de cinco integrantes e oriente-os de acordo com as etapas a seguir.

1. Pesquisa e diagnóstico: solicite aos grupos uma pesquisa sobre as principais queixas dos catadores. As informações podem ser consultadas em sites disponíveis na internet ou por meio de entrevistas com catadores da comunidade a que os estudantes pertencem. Sugerimos que esta etapa seja desenvolvida no prazo de duas semanas.

2. Escolha do problema e desenvolvimento de projeto de ação: com base no levantamento realizado na etapa anterior, cada grupo deverá escolher um problema indicado pelos catadores para desenvolver um projeto que busque solucioná-lo. Explique aos

estudantes que eles devem prever todas as etapas do projeto. Além disso, é preciso elaborar um cronograma e um orçamento, incluindo os custos dos materiais e da mão de obra a ser mobilizada. Sugerimos que essa etapa seja desenvolvida no prazo de duas semanas.

3. Apresentação do projeto: cada grupo deverá apresentar seu projeto para os demais colegas da turma. Incentive os estudantes a fazer perguntas e comentários construtivos sobre os trabalhos apresentados, criando um ambiente de troca e aprendizagem.

4. Relatório final: solicite aos grupos a elaboração de um relatório por escrito, contendo todas as etapas do projeto. Caso considere adequado, considere essa atividade parte do processo de avaliação.

A seção Investigação, na página 300, promove uma pesquisa de observação e elaboração de relatório. O objetivo é conscientizar os estudantes sobre os resíduos que eles produzem. Além disso, a proposta visa incentivá-los a organizar adequadamente registros que deverão subsidiar a elaboração do relatório.

Na página 301, ao abordar o tópico Justiça e racismo ambiental, promova uma reflexão sobre a cidade e/ou região onde os estudantes vivem, ajudando-os a perceber como esse conceito pode ser aplicado à realidade local. Para isso, converse com a turma sobre as áreas que mais sofrem com os efeitos das chuvas e com o despejo de resíduos na cidade e/ou região.

Indicação

• SOMOS guardiões. Direção: Edivan Guajajara, Chelsea Greene e Rob Grobman. Brasil: Mídia Indígena, 2023. Streaming (83 min).

Documentário sobre a luta de dois indígenas para proteger seu território do desmatamento. O curta-metragem aborda também a perspectiva de um madeireiro e de um proprietário de terras, mostrando a complexidade que envolve a atual crise ambiental no Brasil.

Atividades

Página 292

As atividades da abertura do capítulo podem ser um recurso útil de sensibilização inicial para os temas e os conceitos que serão abordados no decorrer dos estudos. Caso considere oportuno, solicite aos estudantes que façam as atividades oralmente.

Página 294

A proposta é que os estudantes pesquisem as duas principais correntes do movimento ambientalista. Ressalte a importância de buscar informações em fontes fidedignas. Caso considere oportuno, organize uma roda de conversa e peça aos estudantes que compartilhem com os colegas a posição adotada no item b.

Página 296

Aproveite a oportunidade para iniciar um debate sobre como os impactos ambientais afetam a população e pergunte aos estudantes se todas as pessoas são afetadas da mesma forma. Incentive-os a refletir sobre o assunto e proponha questionamentos como: quem são os maiores prejudicados pela poluição? Por que isso acontece?

Página 297

Na atividade 3, espera-se que os estudantes reconheçam a relevância do protagonismo indígena nas discussões ambientais, ressaltando as contribuições da visão de mundo dos povos originários para as decisões e as políticas globais sobre o meio ambiente. Os estudantes podem sugerir, por exemplo, a inclusão de organizações indígenas em conferências locais e internacionais sobre o meio ambiente, oferecendo-lhes espaço em discussões e deliberações sobre políticas ambientais. Outra proposta é ampliar a divulgação das perspectivas indígenas em meios de comunicação e espaços educativos, como escolas e universidades, para que suas ideias e práticas sejam reconhecidas e debatidas amplamente.

Página 298

Se preferir, peça aos estudantes para realizar a atividade em dupla e entregá-la por escrito. Espera-se que os estudantes percebam que a Região Norte, onde se localiza a Floresta Amazônica, apresenta menor densidade populacional e um nível de industrialização mais baixo se comparada à Região Sudeste, o que resulta em menor consumo de bens e, consequentemente, gera menos resíduos sólidos.

Página 303

O objetivo da atividade é aprofundar o conhecimento dos estudantes sobre os povos originários do Brasil. Organize a turma em grupos de quatro integrantes e peça a eles que escolham um povo tradicional para pesquisar. Estabeleça uma semana de prazo para a realização da atividade. Combine previamente uma data para a apresentação dos resultados e incentive os estudantes a compartilhar suas descobertas com os colegas.

Página 304

Oriente os estudantes a pesquisar, em fontes confiáveis, informações sobre a presença indígena nas regiões brasileiras. Inicialmente, incentive-os a identificar quais regiões apresentam maior e menor concentração de povos indígenas, com destaque para as regiões Norte e Sul. Em seguida, promova uma discussão sobre possíveis hipóteses explicativas, abordando aspectos históricos, como a ocupação territorial, e geográficos, como a preservação de áreas naturais.

Página 307

Aproveite a oportunidade para verificar se os estudantes compreenderam corretamente as ideias de Enrique Leff sobre crise ambiental e esclareça possíveis dúvidas. Se preferir, organize uma roda de conversa para debater a atividade 4, destacando a relevância da presença de membros dos povos tradicionais em espaços de tomada de decisão.

Páginas 308 e 309

1. Explique aos estudantes o conceito de povos e comunidades tradicionais, incentivando a pesquisa sobre seu reconhecimento legal e a importância do decreto n º 6.040, de 7 de fevereiro de 2007.

2. Incentive os estudantes a observar e a descrever a charge, promovendo reflexões sobre os impactos ambientais e o conceito de Antropoceno como resultado da ação humana.

3. Oriente os estudantes a ler a entrevista com Colin Waters, identificando sua posição sobre o Antropoceno e discutindo a diferença entre Antropoceno e Capitaloceno.

4. Ajude os estudantes a interpretar o texto sobre o Matopiba, analisando os impactos do agronegócio e da especulação de terras nas comunidades locais. A alternativa correta é a c

5. Explique a prática das paneleiras de Goiabeiras, destacando a relação entre recursos naturais e preservação de modos de vida tradicionais, conforme indica a alternativa a.

6. Realize uma análise sobre justiça ambiental, destacando como o mercado e a desigualdade social influenciam o acesso aos recursos naturais. Explique que a relação entre injustiça social e degradação ambiental baseia-se no fato de que os principais responsáveis pela destruição ambiental são também os menos impactados por ela. Por isso, continuam a investir

intencionalmente nesse modelo produtivo visando o lucro pessoal em detrimento do bem-estar coletivo.

Referências comentadas

• FERDINAND, Malcom. Uma ecologia decolonial: pensar a partir do mundo caribenho. Tradução: Letícia Mei. São Paulo: Ubu, 2022.

O livro mobiliza o repertório conceitual do pensamento decolonial para propor uma reflexão sobre a crise ambiental. Para isso, sugere uma abordagem interseccional do tema, com ênfase no racismo envolvido nas formas hegemônicas de manejo da natureza.

LEFF, Enrique. Racionalidade ambiental: a reapropriação social da natureza. Tradução: Luís Carlos Cabral. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. Nessa obra, Leff apresenta a atual crise ambiental como uma crise na forma de compreensão do mundo, que expressa a relação das sociedades industriais com a natureza. O livro propõe o desenvolvimento de uma nova racionalidade como única saída para a humanidade.

MOORE, Jason W. (org.). Antropoceno ou capitaloceno?: natureza, história e a crise do capitalismo. Tradução: Antônio Xerxenesky e Fernando Silva e Silva. São Paulo: Elefante, 2022.

A obra apresenta uma coletânea de textos de cientistas sociais sobre os aspectos políticos envolvidos na nomeação da crise ambiental. Os textos procuram mostrar o protagonismo das sociedades capitalistas na degradação da natureza, propondo um olhar não etnocêntrico sobre a relação entre os humanos e o meio ambiente.

Capítulo 17

Consumo e indústria cultural

Este capítulo aborda o tema do consumo sob o prisma das Ciências Sociais. O objetivo é levar os estudantes a refletir, por um lado, sobre os padrões de consumo e como esse comportamento molda as diferentes sociedades; e, por outro lado, como o consumo individual permite compreender diversos aspectos relacionados à forma de estar no mundo.

O capítulo também oferece elementos para uma reflexão crítica, em uma perspectiva histórica, sobre o papel do consumo nas sociedades capitalistas. A intenção é oferecer ferramentas para que os jovens compreendam a relação do consumo com fenômenos como a desigualdade social e a crise ambiental, entre outros. O capítulo serve, ainda, como forma de apresentar aos estudantes

conceitos importantes das Ciências Sociais, como mais-valia, sociedade de consumo e indústria cultural.

Orientações didáticas

A abertura do capítulo convida os estudantes a desnaturalizar o consumo. Por meio das atividades, incentive-os a refletir sobre os próprios hábitos como consumidores e os impactos do consumo individual sobre a sociedade como um todo.

Na página 316, ao abordar o conceito de hiperconsumo, pode ser um bom momento para discutir a questão da obsolescência programada, um fenômeno familiar aos jovens, especialmente em relação a produtos tecnológicos. Pergunte aos estudantes qual é o tempo médio de duração de um aparelho celular, por exemplo. Aproveite para trazer dados sobre o fenômeno da obsolescência programada, incentivando-os a refletir sobre o assunto.

Ao abordar o conteúdo da página 317, proponha aos estudantes a realização da Atividade complementar a seguir.

Atividade complementar

Ao perceber que culturas diferentes têm relações distintas com os bens materiais e o consumo, o fotojornalista estadunidense Peter Menzel (1948-) desenvolveu o projeto “Mundo material”, no qual retratou famílias de diferentes países, registrando-as rodeadas de seus bens materiais.

Pensando nisso, acesse o site The Marginalian, sugerido no boxe Indicações deste Manual, e apresente para a turma as fotografias de Menzel que retratam famílias de diversos países. Selecione as fotografias de duas famílias (por exemplo, a família Yadev, da Índia, e a família Ukita, do Japão) e peça aos estudantes que observem as imagens com atenção. Depois, inicie uma discussão com as seguintes perguntas.

1. Quais são as principais diferenças entre os bens de cada família?

R. A família indiana tem poucos bens, sendo a maioria de confecção artesanal. Já a família japonesa tem muitos bens, quase todos industrializados.

2. De que modo esses objetos nos permitem conhecer aspectos da cultura de cada família?

R. A partir dos objetos, é possível perceber que a família indiana está inserida numa cultura rural, num contexto de baixa industrialização e consumo. A família japonesa, por sua vez, está inserida numa sociedade urbana, marcada pela industrialização e por altos índices de consumo.

3. Em sua opinião, qual é a importância do trabalho desenvolvido pelo fotógrafo Peter Menzel?

R.: Resposta pessoal. Espera-se que o estudante demonstre ter compreendido que as fotos revelam a centralidade da cultura material nas diferentes sociedades e que o trabalho do fotógrafo demonstra que há várias maneiras de viver e de lidar com as necessidades humanas.

O conteúdo das páginas 319 e 320 trabalha a habilidade EM13CHS303. Certifique-se de que os estudantes tiveram uma boa compreensão dos conceitos de indústria cultural e cultura de massa, sendo capazes de relacioná-los com a teoria de Karl Marx, apresentada anteriormente no capítulo.

Ao abordar o conteúdo da página 321 com os estudantes, explique a relação entre consumo e estratificação social. Comente que, no Brasil, 67% das pessoas gastam mais do que ganham, um dado importante que revela o elevado potencial de endividamento da população. Por esse motivo, iniciativas voltadas à educação financeira são fundamentais para evitar o endividamento das famílias. Práticas como organizar uma planilha com as dívidas e demais gastos cotidianos podem ser úteis para o controle das contas e para a saúde financeira pessoal. Caso considere oportuno, sugira aos estudantes que consultem mais informações sobre educação financeira no site do Ministério da Fazenda (disponível em: https://www. gov.br/fazenda/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-eprogramas/desenrola-brasil/educacao-financeira. Acesso em: 6 nov. 2024).

A seção Investigação, na página 323, promove uma atividade usando o método de pesquisa estudo de recepção. A intenção é, por um lado, mostrar como as propagandas constroem imagens sobre determinados grupos sociais (nesse caso, as pessoas idosas); e, por outro, incentivar os estudantes a perceber que os receptores das propagandas não são passivos e produzem representações com base nas ideias veiculadas nos anúncios. A seção propõe uma reflexão sobre o modo como a população idosa é representada nas propagandas, visando provocar uma percepção atenta e respeitosa dos estudantes para esse segmento. Aproveite a explicação da atividade para conduzir uma conversa sobre o etarismo. Pergunte se os estudantes estão familiarizados com esse conceito e, junto a eles, pensem em exemplos comuns de etarismo na nossa sociedade. Em seguida, pergunte à turma se acreditam que as propagandas podem contribuir para o combate ao etarismo e de que forma. Peça aos estudantes que busquem se lembrar de que modo os idosos são retratados

na mídia, incluindo as propagandas, preparando-os para o desenvolvimento da prática de pesquisa.

Para a realização da atividade, divida a turma em grupos de cinco estudantes e oriente-os a buscar propagandas em que aparecem pessoas idosas. Reforce a importância de buscar diferentes tipos de anúncios, pesquisando em redes sociais, revistas, televisão e mesmo em outdoors. Essa etapa deve ser realizada em uma semana. Em seguida, cada grupo deverá analisar as imagens coletadas, descrevendo-as por escrito. Ressalte a importância de serem minuciosos na descrição, atentando para diferentes aspectos: como os idosos aparecem, se estão sozinhos ou acompanhados, quem os acompanha, que atividade aparecem fazendo etc. A partir disso, os grupos deverão escrever suas impressões sobre cada imagem, analisando que imagem da população idosa elas transmitem. Por fim, os resultados devem ser compilados em uma apresentação a ser compartilhada com a turma. No dia da apresentação, retome a conversa sobre o etarismo e pergunte aos estudantes se, após a realização da atividade, houve alguma alteração quanto à percepção sobre a população idosa. Pergunte também quais aspectos não encontraram nas propagandas e que acreditam ser importantes para o combate ao etarismo.

Ao trabalhar as páginas 324 e 325, inicie uma conversa sobre os hábitos culturais dos estudantes, verificando se são semelhantes aos dados e depoimentos apresentados.

Indicações

• A CONSPIRAÇÃO da lâmpada. Direção: Cosima Dannoritzer. Espanha: RTVE, 2010. Streaming (55 min).

O documentário aborda as técnicas utilizadas pela indústria para fazer com que o consumidor compre novas versões de produtos, mesmo que os atuais estejam em bom estado. O filme convida a refletir sobre a centralidade da obsolescência programada para a economia moderna, baseada no crescimento econômico.

• MINIMALISMO: um documentário sobre as coisas que importam. Direção: Matt D’Avella. Estados Unidos: The Minimalists, 2015. Streaming (79 min).

O documentário reúne depoimentos de pessoas que adotaram o estilo de vida minimalista, indo na contramão da sociedade de consumo.

• SILVA, Lair; SPERANDIO, Melissa. Cultura e consumo pod. Brasil, 2024. Spotify: [Podcast] Cultura e consumo pod. Disponível em: https://open. spotify.com/show/7AoK7yvahLT51HG7Qqxlfs? si=a067445896a74231. Acesso em: 2 nov. 2024.

Podcast com episódios que abordam diferentes aspectos da cultura de consumo, analisando como a propaganda e o marketing influenciam escolhas de diferentes segmentos da sociedade, além de pensar como o consumo se articula à ideia de justiça social.

• POPOVA, Maria. Material world: a portrait of the world’s possessions. [S. l.]: The Marginalian, 2011. Disponível em: https://www.themarginalian.org/2011/04/08/material -world-peter-menzel. Acesso em: 2 nov. 2024.

Use a tradução automática do navegador para explorar a produção artística do fotojornalista Peter Menzel sobre diferentes famílias ao redor do mundo e propor a atividade complementar sugerida para a turma.

Atividades

Página 310

1. Espera-se que os estudantes descrevam o conceito de consumo com base em elementos do senso comum, pensando em atos como comprar e utilizar produtos.

2. Espera-se que os estudantes deem exemplos de como o consumo varia em função de diferentes aspectos, como idade, gênero, classe social, gostos pessoais etc.

3. Comente que a indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo atual. Além do excesso de produtos, há também a questão dos materiais utilizados na fabricação da maior parte das roupas, como as fibras sintéticas, que levam tempo para se decompor no meio ambiente.

Página 312

Peça aos estudantes que realizem a atividade em sala, por escrito. Ao final, converse coletivamente sobre a atividade, convidando os estudantes a compartilhar as respostas com a turma.

Página 313

As atividades têm o objetivo de detectar a compreensão dos estudantes acerca do conceito de fetiche da mercadoria, central no pensamento de Karl Marx. Caso julgue adequado, peça aos estudantes que respondam em duplas, por escrito. Ao final, faça uma conversa coletiva sobre a atividade 3, anotando na lousa as respostas dadas pelos estudantes. A intenção é que eles percebam como o conceito ajuda a compreender a realidade social em que vivem.

Página 314

As atividades consistem na leitura da imagem. A intenção é incentivar os estudantes a identificar o consumo em

cenas e situações comuns do dia a dia, percebendo-o como fruto de um processo histórico específico. As atividades podem ser feitas oralmente, por meio de conversa coletiva.

Página 316

Peça aos estudantes que façam as atividades por escrito. Caso julgue pertinente, utilize-as para compor a avaliação final. Por se referir a uma situação bastante presente na sociedade atual, essas atividades podem render uma importante conversa a respeito da relação entre consumo e autoestima, incentivando os estudantes a perceber os padrões sociais que os levam, muitas vezes, a desejar determinados produtos.

Página 319

As atividades visam detectar a compreensão dos estudantes sobre o conceito de cultura de massa. Peça a eles que respondam por escrito e, caso julgue pertinente, utilize esse trabalho para compor a avaliação final.

Página 321

A atividade tem o objetivo de levar os estudantes a identificar hábitos de consumo do entorno deles. A intenção é que possam vincular os conceitos aprendidos no capítulo à realidade concreta. Divida a turma em grupos de quatro integrantes e dedique uma aula à construção dos questionários. Dê o prazo de duas semanas para que eles tragam os resultados de forma organizada. Separe uma aula para as apresentações dos resultados, incentivando a turma a participar de forma ativa, estabelecendo comparações entre os resultados dos diferentes grupos e encontrando eventuais semelhanças e diferenças entre eles.

Página 326

A atividade da seção Perspectivas tem como base a metodologia ativa de aprendizagem baseada em problemas. Separe a turma em grupos de quatro estudantes e dedique uma aula às tarefas dos itens a e b. Dê duas semanas para que os grupos desenvolvam a atividade do item c, dedicando uma aula para que cada um apresente seus resultados para o restante da turma. Essa é uma boa oportunidade para iniciar um debate sobre as dificuldades de acesso a bens culturais na comunidade em que vivem, de modo que os estudantes reflitam criticamente sobre a realidade local, colocando-se como protagonistas na busca por soluções.

Páginas 328 e 329

1. e 2. A s atividades devem ser respondidas individualmente e por escrito, como forma de avaliar a compreensão dos estudantes sobre dois

conceitos-chave do capítulo: sociedade de consumo e cultura de massa.

3. Adorno e Horkheimer, membros da escola de Frankfurt, foram os principais responsáveis pelo desenvolvimento do conceito de indústria cultural, que analisa a produção e a divulgação de bens culturais por meio de uma perspectiva marxista, como indica a alternativa d .

4. De acordo com a análise dos autores da Escola de Frankfurt, os meios de comunicação são importantes difusores da cultura de massa, voltada a oferecer entretenimento fácil ao público ao mesmo tempo que desestimula a elaboração do pensamento crítico e da consciência social, conforme expresso na alternativa e .

Referências comentadas

BARBOSA, Livia. Sociedade de consumo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. (Ciências sociais passo a passo).

O livro apresenta o conceito de sociedade de consumo, abordando suas origens históricas e desdobramentos atuais. A autora traz a perspectiva de diferentes autores sobre o tema, fazendo ainda uma reflexão sobre a sociedade de consumo no Brasil.

BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Tradução: Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. Nesse livro, o conhecido sociólogo polonês discute o modo como a sociedade atual faz com que os consumidores sejam eles próprios mercadorias. Com essa premissa, o autor analisa o impacto do consumismo em diversos aspectos da vida social, com especial atenção às novidades trazidas pela sociabilidade virtual.

MIGUELES, Carmen (org.). Antropologia do consumo: casos brasileiros. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007.

Coletânea de textos que abordam o consumo a partir de uma perspectiva antropológica. Partindo de estudos de caso, cada texto analisa aspectos específicos da cultura de consumo no Brasil.

Texto complementar

Arrastado por esse maremoto, o gosto pelas novidades mudou de sentido. O culto do novo não tem nada de recente, uma vez que se impôs desde o fim da Idade Média, especialmente através da emergência da moda. Mas, durante séculos, a norma do ‘tudo que é novo agrada’ quase não ultrapassou os círculos restritos dos privi-

legiados, seu valor baseava-se, em grande parte, em seu poder distintivo. Essa não é mais a situação presente. Em primeiro lugar, o gosto pela mudança incessante no consumo já não tem limite social, difundiu-se em todas as camadas e em todas as categorias de idade; em seguida, desejamos as novidades mercantis por si mesmas, em razão dos benefícios subjetivos, funcionais e emocionais que proporcionam. Hoje, a demanda de renovação se sobrepôs ao desejo do ‘mínimo conforto técnico’ que estava em vigor na fase II, a curiosidade tornou-se uma paixão de massa e mudar por mudar, uma experiência destinada a ser experimentada pessoalmente. O amor pelo novo não é mais tão sustentado pelas paixões conformistas quanto pelos apetites experienciais dos sujeitos. Passa-se para o universo do hiperconsumo quando o gosto pela mudança se difunde universalmente, quando o desejo de ‘moda’ se espalha além da esfera indumentária, quando a paixão pela renovação ganha uma espécie de autonomia, relegando ao segundo plano as lutas de concorrência pelo status, as rivalidades miméticas e outras febres conformistas.

Daí as novas funções subjetivas do consumo. Diferentemente do consumo à moda antiga, que tornava visível a identidade econômica e social das pessoas, os atos de compra em nossas sociedades traduzem antes de tudo diferenças de idade, gostos particulares, a identidade cultural e singular dos atores, ainda que através dos produtos mais banalizados. O arranjo dos apartamentos exemplifica tal evolução. Já não se trata tanto, nesse domínio, de exibir um signo exterior de riqueza ou de sucesso quanto de criar um ambiente agradável e estético ‘que se pareça conosco’, um casulo convivial e personalizado. Sem dúvida, isso é resultado de compras de produtos padronizados, mas todas as vezes estes são reinterpretados, dispostos em novas composições que exprimem uma identidade individual, o importante sendo menos o valor de posição social que o valor privado e único de ‘sua casa’, tornado possível por um ‘consumo criativo’. Revelo, ao menos parcialmente, quem eu sou, como indivíduo singular, pelo que compro, pelos objetos que povoam meu universo pessoal e familiar, pelos signos que combino ‘à minha maneira’. […]

LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. Tradução: Maria Lucia Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 43-44.

Capítulo 18

Entre crenças e práticas

sociais: anseios para o futuro

Neste capítulo, exploramos diversos temas fundamentais para a compreensão do futuro por meio de perspectivas inclusivas e democráticas. O afrofuturismo ganha destaque ao projetar futuros que integram a estética, a memória e a cultura africana, desafiando as narrativas tradicionais e abrindo espaço para novas representações. Além disso, comparamos visões de pensadores clássicos sobre a religião e discutimos a importância de fomentar práticas de tolerância religiosa, reconhecendo seu papel na coesão social e na criação de um futuro melhor.

Outro ponto central abordado é o planejamento do futuro, tanto no âmbito pessoal quanto no coletivo, valorizando os sonhos e a ética como fundamentos para decisões que impactam a sociedade e o planeta.

Orientações didáticas

Ao abordar a construção de futuros possíveis, na página 330 , incentive os estudantes a refletir sobre o futuro pessoal e coletivo de maneira crítica e afirmativa. Com base no afrofuturismo, promova a compreensão dessa estética, especialmente em áreas como a música e a literatura, destacando sua importância na criação de futuros inclusivos. Além disso, incentive a projeção de sonhos pessoais e sociais, desafiando os estudantes a pensar em termos de curto, médio e longo prazo, conectando essas aspirações a valores éticos e democráticos.

A seção Conexões com História , na página 333 , promove um trabalho interdisciplinar ao integrar conhecimentos e abordagens da Sociologia, da História e da religião para fornecer uma compreensão mais abrangente das sociedades humanas e suas dinâmicas. A conexão entre crenças e práticas religiosas e a História, sob a perspectiva da Sociologia, revela como a religião desempenha um papel central na organização das sociedades humanas ao longo do tempo. A História oferece o contexto temporal e evolutivo dessas práticas, mostrando como se desenvolveram, foram transformadas e se adaptaram.

A seção Investigação, nas páginas 340 e 341, baseada em entrevistas e análise sociológica, promove uma série de benefícios para os estudantes, tanto no

desenvolvimento de habilidades acadêmicas quanto no fortalecimento de valores sociais e éticos. Além de incentivar uma compreensão acadêmica do fenômeno da intolerância religiosa, promove o desenvolvimento de competências críticas, sociais e éticas fundamentais para a formação integral dos estudantes.

As orientações a seguir garantem que você tenha um papel ativo em cada etapa do processo.

Etapa 1: Organização e divisão de tarefas

1. Oriente os estudantes a formar grupos de no máximo quatro integrantes. Nesse processo, é importante garantir que os grupos sejam equilibrados a fim de encorajar a colaboração entre os estudantes.

2. Auxilie-os na escolha dos familiares que serão entrevistados, garantindo que a amostra seja diversa e adequada para a coleta de dados.

3. Garanta que todas as entrevistas ocorram conforme o cronograma planejado.

4. Reforce a importância de os estudantes manterem respeito e neutralidade durante as entrevistas, sem julgar as respostas.

Etapa 2: Preparação do roteiro

1. Promova o entendimento da importância de um roteiro bem estruturado para uma entrevista eficiente e imparcial.

2. Contextualize cada item do roteiro de perguntas explicando como ele contribui para a compreensão do fenômeno da diversidade e da intolerância religiosa.

3. Esclareça que, se o entrevistado não tiver religião ou não quiser responder, isso também é um dado relevante e deve ser incluído.

Etapa 3: Condução das entrevistas

1. Oriente os estudantes a manter uma postura respeitosa e a não emitir juízos de valor durante as entrevistas.

2. Reforce a importância de os estudantes registrarem as respostas corretamente no caderno e prepararem os dados para a sistematização.

Etapa 4: Sistematização e análise dos dados

1. Oriente os alunos na criação da tabela para organizar as respostas dos entrevistados, verificando se os cálculos das porcentagens estão corretos.

2. Enfatize como a análise dos dados quantitativos pode revelar padrões na diversidade religiosa e na intolerância, incentivando uma reflexão crítica.

Etapa 5: Produção de gráficos

1. Apresente um modelo de gráfico de pizza e oriente os alunos sobre como representar os dados de forma clara e precisa. Nesse modelo, conforme representação a seguir, o gráfico de pizza deve estar dividido em dez partes iguais.

2. Reforce para os estudantes a necessidade de incluir títulos e legendas nos gráficos, para facilitar a compreensão das informações apresentadas.

Etapa 6: Compartilhamento e debate

1. Promova o compartilhamento dos gráficos entre os grupos, garantindo que todos os estudantes tenham a oportunidade de apresentar suas análises.

2. Incentive a reflexão sobre como os dados coletados podem contribuir para um ambiente inclusivo e democrático, além de explorar maneiras de prevenir a intolerância religiosa.

3. Promova uma discussão com a turma sobre possíveis soluções para a intolerância religiosa, conectando a análise dos dados com valores éticos e sociais.

Indicações

• BLACK mirror [Série]. Direção: Charlie Brooker. Reino Unido: Endemol UK, 2011. Streaming (1755 min). A série explora futuros distópicos relacionados à tecnologia, ética e sociedade, podendo inspirar debates sobre o impacto das inovações tecnológicas no futuro.

• OS DOZE macacos. Direção: Terry Gilliam. Estados Unidos: Universal Pictures, 1995. Streaming (129 min). O filme aborda temas como futuro distópico, tecnologia e o impacto das escolhas humanas sobre o destino do planeta.

Atividades

Página 330

Incentive os estudantes a refletir sobre o afrofuturismo como uma perspectiva que idealiza um futuro positivo e afirmativo das identidades negras. Com base nisso, eles podem imaginar o próprio futuro e identificar a importância de sonhar e planejar a vida.

Página 331

Procure explorar as linguagens e temas recorrentes, como ancestralidade, tecnologia e resistência. Incentive a análise de autores como Ale Santos, Sandra Menezes e Lu Ain-Zaila, destacando suas contribuições para o afrofuturismo brasileiro.

Página 337

Conduza os estudantes a uma reflexão sobre as ideias de autores clássicos, como Marx e Durkheim. Peça a eles que apresentem concordâncias e discordâncias em relação ao tema por meio de exemplos práticos. Isso promove um debate enriquecedor e incentiva o pensamento crítico.

Página 338

Promova um ambiente seguro e acolhedor no qual os estudantes possam compartilhar suas experiências sobre religiosidade sem julgamentos. Enfatize a importância do respeito nas trocas de ideias e da valorização da diversidade de crenças e vivências.

Página 344

Sugira aos estudantes que explorem como a análise social pode ajudar a identificar vulnerabilidades, promover a conscientização e desenvolver soluções coletivas para desastres ambientais. Com base no texto, é importante que reflitam sobre a aplicação da Sociologia na compreensão e mitigação das mudanças climáticas.

Páginas 345 a 347

1. Incentive reflexões sobre como a Sociologia pode impactar os sonhos pessoais e coletivos. Sugira que os estudantes promovam discussões que conectem aprendizados sociológicos à vida cotidiana, enfatizando a importância do conhecimento na formação de cidadãos conscientes e críticos.

2. Apenas as afirmativas [III] e [IV ] são verdadeiras. A modernidade é marcada pela secularização e a mistura de diversos elementos religiosos e culturais, possibilitando uma convivência tolerável entre grupos religiosos diferentes.

3. As culturas podem construir diversos tipos de relação, que podem variar ao longo da história de cada uma delas.

4. A alternativa e traz a abordagem marxista da luta de classes e da desigualdade social.

5. A alternativa c é correta pois a temática levantada pela personagem refere-se à luta por Direitos Humanos e direitos civis.

Texto complementar

Sonhar o futuro da vida

Não podemos seguir vivendo como se nossos atos não tivessem consequências. Não podemos seguir sonhando sem intenção de transformação nem intencionar uma transformação insuficiente que não resolva verdadeiramente nossos problemas. A única intenção responsável neste momento é uma revolução educacional planetária ligada à ética do cuidado.

Um conceito central no xamanismo é a importância da intenção – o intento – para sonhar as imagens de transformação. Os xamãs com frequência buscam sonhar como quem caça ideias, e não como quem é caçado por elas. Sonhar sem intenção é como tentar navegar um barco com a vela e o leme soltos. Sonhar com intenção é compromisso com a navegação firme, que controla o curso apesar das ondas e rajadas.

É preciso aumentar o grau de consciência para que as ações de transformação do planeta sejam voluntárias, direcionadas e eficazes. Caso essas palavras não façam sentido para você, tente ‘propósito’, ‘missão’ ou ‘responsabilidade’. […]

[…]

Os riscos extraordinários da situação atual estão fartamente mapeados pela ficção científica. Se você não se assusta com a perspectiva atual, leia e assista às inversões de perspectiva com desfecho infeliz para a humanidade, busque a literatura, o audiovisual, o teatro, as artes plásticas. Um momento de tanta urgência exige beber da fonte de toda a narrativa humana, realidade ou ficção, pois é bem-vinda toda ideia que nos permita compreender o futuro perigoso para o qual nos lançamos em aceleração crescente.

[…]

[…] Como alertou a filósofa e ativista estadunidense Angela Davis, ‘você tem que agir como se fosse possível transformar radicalmente o mundo. E você tem que fazer isso o tempo todo’. Temos muito trabalho pela frente até desentortar nosso caminho.

Temos muita tecelagem a fazer. Precisamos apreciar a incrível oportunidade criada pela possibilidade de combinar livremente os mais diferentes elementos dos costumes e das tradições de todo o planeta. A interpenetração de culturas humanas, que começou há centenas de milhares de anos até culminar na atual explosão de experiências locais disponíveis para consumo global, é uma riqueza incalculável de possibilidades para a espécie. Há fios de todos os tipos que precisam ser entremeados em belos padrões originais, fios que no passado se destruíram uns aos outros, mas que hoje precisam ser combinados em diferentes cores, texturas e materiais para se cruzarem, se apoiarem e se ressaltarem mutuamente.

RIBEIRO, Sidarta. Sonho manifesto: dez exercícios urgentes de otimismo apocalíptico. São Paulo: Companhia das Letras, 2022. Localizável em: capítulo 6. E-book

Referências comentadas

• BECK , Ulrich. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. Tradução: Sebastião Nascimento. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2011.

O autor explora como a sociedade moderna lida com riscos globais, como a degradação ambiental, a desigualdade social e as crises políticas. Trata-se de uma análise valiosa para refletirmos sobre como as decisões do presente moldam futuros possíveis, algo essencial para o debate sobre o planejamento do futuro com base em uma perspectiva coletiva e ética.

• SCHULZ, Markus S. Debatendo futuros: tendências globais, visões alternativas e discurso público. Tradução: Alexandre Pinheiro Ramos. Sociologia e Antropologia, Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, p. 71-95, jun. 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sant/a/ XNz6rRBVG6wwvtQJm88JcdC/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 2 nov. 2010.

O autor propõe uma reflexão sobre como os discursos públicos moldam as visões de futuro. Schulz analisa tendências globais e alternativas de futuro, abordando o papel do imaginário social na construção de novos horizontes.

TRANSCRIÇÕES DOS PODCASTS

Podcast – Slam: a poesia da

juventude

periférica

[Locutor] Slam: a poesia da juventude periférica

[Música de transição]

[Locutor] Existe um tipo de poesia que é bem diferente do que a maioria das pessoas está acostumada. É uma forma de poesia que acontece nas ruas de diversas cidades, em várias partes do mundo. Nesses eventos, os poetas declamam seus poemas para uma plateia atenta. Jurados atribuem notas para as performances. Os melhores poetas avançam de fase até que um vencedor é anunciado. Se você não sabia que a literatura também poderia ser uma atividade competitiva, está na hora de conhecer o slam, ou poetry slam, como essa expressão artística é chamada em inglês.

Segundo Roberta Estrela D’Alva, poeta, pesquisadora e idealizadora do primeiro poetry slam do Brasil, o Zona Autônoma da Palavra (ZAP!), os slams têm como objetivo a democratização do acesso à poesia em resposta ao discurso elitista de que esse gênero literário estaria limitado a determinados grupos sociais ou círculos acadêmicos.

O slam tira a literatura dos livros e leva a arte para as ruas. Ao abordar as dores e os dramas da juventude ao redor do mundo, o poetry slam se tornou um meio potente e moderno de expressão para vozes periféricas.

Vamos conhecer mais esse movimento cultural?

[Gabz] Quem tem que contar minha história sou eu. E tão importante quanto saber minha história é eu ter o poder de contá-la. E falar em primeira pessoa. Porque eu tenho a propriedade de contar essa história.

[Locutor] O poetry slam, ou somente slam, como é popularmente conhecido, foi criado em Chicago, nos Estados Unidos, na década de 1980, pelo poeta Marc Kelly Smith. Seu objetivo era fazer eventos que misturassem literatura, performance, competição e interatividade. Ele também acreditava que era uma forma de criar um senso de comunidade com o público.

O slam se popularizou e, atualmente, batalhas de poesia falada acontecem em comunidades ao redor do mundo todo, constituindo-se em um espaço plural. Algumas variações são permitidas para se adequar às diversas realidades locais, mas, em geral, o slam conta com as regras a seguir.

Regra número 1: o poema precisa ser de autoria própria.

Regra número 2: a apresentação deve ter no máximo três minutos.

Regra número 3: não é permitido o acompanhamento de cenário, figurino, adereços ou música. Quem sobe no palco são só o poeta, ou a poeta, e a poesia.

Seguindo essas premissas, os competidores se apresentam na batalha de slam. No final, cinco pessoas escolhidas aleatoriamente da plateia atribuem notas de 0 a 10. Quem recebe as maiores notas avança de fase e pode chegar ao duelo final.

[Áudio extraído de vídeo] “Notas, juradas e jurados. Nós temos um 9.8… 9.9… 9.9… 10!!!”

[Locutor] Em países da periferia do capitalismo ou em países economicamente desenvolvidos, os slams se tornaram um meio no qual vozes marginalizadas se fazem ouvir. As principais ferramentas de um slammer são a fala e a expressão corporal. Eles costumam se reunir em praças, parques, ruas ou em qualquer lugar de circulação de pessoas para transmitir sua mensagem ao público. É exatamente por isso que esse movimento cultural é capaz de democratizar a literatura e o acesso à poesia.

[Música de transição]

[Locutor] Os jovens poetas que dominam o cenário do slam no Brasil costumam tratar de temas que afetam sua vida cotidiana, como o racismo, o machismo, a violência e as dificuldades enfrentadas no dia a dia em decorrência da desigualdade social e econômica encontrada nas cidades do país.

Os artistas encontraram nessa forma de expressão um meio de denunciar e combater esses problemas sociais. São pessoas como a slammer Gabrielly Nunes, conhecida como Gabz, que foi campeã do Slam Grito Filmes de 2017, quando tinha apenas 18 anos. A poesia de Gabz denuncia as diversas formas de violência que mulheres pretas e periféricas

sofrem no Brasil. Já a slammer Bixarte, bicampeã estadual da Paraíba, aborda em seus poemas a transfobia que ela sofre e que limita suas oportunidades.

Por meio da arte, poetas procuram engajar suas comunidades nessas discussões para criar, assim, um senso de solidariedade capaz de provocar mudanças por meio da reflexão crítica sobre temas que desafiam a sociedade contemporânea. O trabalho desenvolvido por Tawane Theodoro é outro exemplo. A slammer e organizadora do Sarau do Capão, na zona sul de São Paulo, utiliza sua poesia como forma de denunciar o racismo e a violência contra a mulher de acordo com as próprias vivências. Vamos escutar um trecho da performance dessa poeta.

[Tawane Theodoro] É até difícil imaginar / que em uma era tão tecnológica / eu ainda tenha que implorar / que por onde eu passar / todos possam me respeitar.

[Locutor] O slam, assim como o funk e o hip-hop, é um movimento de expressão das juventudes urbanas periféricas. São jovens marginalizados pelo poder público e econômico que se reúnem para erguer suas vozes contra um discurso que se esforça para deixá-los invisíveis.

Em geral, o slammer constrói sua poética no sentido contrário ao da narrativa hegemônica. Se a sociedade valoriza o esforço individual, o poeta slam acredita que as vitórias e as derrotas são, antes de tudo, coletivas. Se a sociedade vê beleza apenas no corpo branco, magro e padronizado, o poeta slam valoriza a estética da negritude e as formas fora do padrão. Se o discurso hegemônico enaltece a herança europeia na formação do Brasil, o poeta slam festeja suas raízes indígenas e africanas.

[King] Fechem os olhos por favor / Agora imaginem uma fada / Imaginem um doutor / Imaginou? / Imaginem uma princesa / Imaginem um super-herói / Abram os olhos e me digam / Quantos deles são negros? / Agora que a reflexão doí quando dizem que somos representados / Eu sei que você percebeu essa diferença só de tá de olhos fechados / Minha fada não tem asas / Minha fada usava turbante, lutou na guerra mas foi esquecida pela história porque foi considerada irrelevante

[Locutor] Por tudo isso, os slams são um espaço de efervescência de narrativas contra-hegemônicas e decoloniais, consolidando-se como um movimento social, cultural e artístico. É um lugar onde a

poesia é reivindicada por meio da ocupação do espaço público, propondo reflexões a partir da ação.

É… esses jovens têm muita coisa a dizer!

[Música de encerramento]

[Locutor] Créditos: A música “Bay Street Billionaires” foi retirada da biblioteca de áudio do YouTube. O relato de Gabz foi retirado do canal TEDx Talks, do YouTube. As notas de slam foram extraídas do vídeo sobre a final do Slam da Guilhermina 2018, do canal Slam da Guilhermina, do YouTube. A poesia de Tawane Theodoro foi retirada do canal Slam Resistência, do YouTube. A poesia de King foi extraída do vídeo Fechem os olhos por favor, do canal Manos e Minas do YouTube.

Podcast – Fake news: redes sociais e seu uso político

Fake news: redes sociais e seu uso político

[Música de transição]

Se existe um termo que vem ganhando muita atenção em anos recentes, esse termo é fake news . Jornalistas, políticos, estudiosos… está todo mundo prestando atenção nesse fenômeno contemporâneo.

[Música de transição]

O dicionário Collins define fake news como informações falsas que são disseminadas em forma de notícias, muitas vezes de maneira sensacionalista. Em outras palavras, são notícias falsas apresentadas como se fossem reais, o que muitas vezes confunde e engana as pessoas. Em muitos casos, as fake news têm “cara” de notícia real. Elas são espalhadas como se realmente tivessem sido produzidas por determinado veículo jornalístico ou como se viessem de uma fonte que supostamente existe. Só pela definição já dá para imaginar os problemas que podem resultar disso, não é mesmo?

[Música de transição]

No entanto, se mentiras e boatos sempre estiveram presentes na sociedade, desde os tempos mais remotos, qual seria a novidade? Primeiro, as fake news são fabricadas com a intenção clara de enganar quem as recebe: internauta, telespectador, ouvinte ou leitor. Um segundo aspecto é que as redes sociais tornaram a disseminação da desinformação muito

mais fácil. De acordo com o professor e pesquisador David Nemer, do Departamento de Estudos de Mídia da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos, conteúdos emotivos têm mais facilidade para gerar engajamento do que os informativos, ou seja, conteúdos que geram comoção têm mais chance de levar o usuário a interagir com aquela informação, como comentar, compartilhar ou realizar outra ação.

Nemer classifica as fake news enquanto fenômenos sociotécnicos e explica que os sentimentos, como a raiva, são poderosos para impulsionar sua disseminação. Ou seja, é mais provável que a pessoa compartilhe um conteúdo sobre algo que desperta sua raiva do que um que apenas traz informações. Por isso, espalhar fake news muitas vezes alimenta o discurso de ódio, mobilizando sentimentos por meio do compartilhamento desse tipo de conteúdo. Nesse sentido, podemos considerar a divulgação de fake news como uma forma de violência? É algo para se pensar!

[Música de transição]

Pesquisadores, estudiosos e cientistas políticos consideram as fake news uma ameaça à democracia. Vários deles apontam, por exemplo, que as fake news influenciaram as eleições presidenciais nos Estados Unidos em 2016. Esse exemplo nos mostra que a questão das fake news não é algo que se limita a determinado país ou região, mas que pode ser observado no mundo todo, revelando o impacto do desenvolvimento das tecnologias da informação e das mídias sociais no processo de globalização desse fenômeno.

[Música de transição]

As fake news também afetam as eleições brasileiras há um bom tempo. Um exemplo são as eleições presidenciais de 2014. De acordo com a Fundação Getulio Vargas, perfis falsos na internet foram responsáveis por gerar mais de 10% do debate político no período.

O problema é bem sério no Brasil. Foi o que mostrou, por exemplo, um estudo realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, durante o segundo turno das eleições de 2022. De acordo com o levantamento, o número de fake news em circulação no período cresceu cerca de 60% nos aplicativos de mensagens instantâneas. Considerando as redes sociais de maneira geral, a média de mensagens falsas passou de quase 197 mil por dia, antes do primeiro turno, para 311 mil e quinhentas depois dele.

Já um levantamento feito pelo Instituto Locomotiva, divulgado pela Agência Brasil em abril de 2024, mostrou que aproximadamente 90% dos brasileiros admitem que já acreditaram em algum tipo de conteúdo falso. A pesquisa revela ainda o conteúdo dessas notícias falsas: 63% falavam sobre propostas em campanhas eleitorais, 62% diziam respeito a políticas públicas e 62% tratavam de escândalos envolvendo políticos, destacando o uso das fake news como ferramenta política.

[Música de transição]

Outro exemplo de desinformação em massa no país ocorreu durante a pandemia de covid-19. Foram diversas fake news contestando a eficácia das vacinas ou a atuação dos profissionais de saúde no combate à pandemia, o que foi rebatido, várias vezes, por médicos e especialistas que deram entrevistas em diversos veículos de comunicação. Como se observa, as fake news podem trazer sérias consequências: imagine uma pessoa que acredite nelas e se exponha a situações de risco.

[Música de transição]

Então não há nada que possamos fazer? Não é bem assim! Uma das maneiras de combater as fake news é promover campanhas de conscientização. Elas orientam as pessoas a comprovar a credibilidade da fonte ou checar a informação antes de repassar uma notícia. Nesse sentido, as agências de checagem, que são várias em nosso país, são grandes aliadas. Seu trabalho é verificar a veracidade das informações em circulação.

[Música de transição]

E não podemos nos esquecer da responsabilidade das redes sociais. A sociedade civil e os governos precisam estar sempre cobrando que as plataformas combatam a desinformação. Quase todas as redes sociais têm moderadores de conteúdo, mas, até o momento, suas atuações têm sido insuficientes para enfrentar o problema.

[Música de transição]

Sobre a atuação dos governos, o Brasil discute formas de combater o uso político das fake news, especialmente durante o período eleitoral. Atualmente, um candidato, eleitor ou partido que se sinta prejudicado por uma fake news pode levar o caso à Justiça e pedir providências. A legislação brasileira prevê que as plataformas digitais não podem ser responsabilizadas por aquilo que seus usuários

postam na internet. O máximo que elas são obrigadas a fazer é retirar do ar um conteúdo específico, se a Justiça assim decidir.

Ao aprofundar o conhecimento acerca das fake news e identificar alguns de seus impactos na sociedade, surgem algumas questões para o debate. Qual é o nosso papel no combate à disseminação das fake news? E o das instituições? Como podemos criar estratégias para identificar esse tipo de conteúdo no meio digital?

[Música de encerramento]

Créditos: Todos os áudios inseridos neste podcast são da Freesound.

Podcast – Indústria cultural e padrões de consumo

Indústria cultural e padrões de consumo

[Música de transição]

Quando pensamos em indústria, a primeira coisa que imaginamos são grandes fábricas, repletas de maquinários, linhas de produção e operários, produzindo objetos e mercadorias de todos os tipos. Será que podemos dizer que é possível produzir a cultura? Em escala industrial? Uma importante escola de pensamento da Alemanha afirma que sim, e é sobre isso que vamos falar neste podcast.

[Música de transição]

O termo “indústria cultural” surgiu em meados dos anos 1940 com base em investigações de dois importantes filósofos e sociólogos alemães, Theodor Adorno e Max Horkheimer. Eles faziam parte da chamada Escola de Frankfurt e voltaram a atenção aos estudos culturais e seus impactos na vida social.

Vamos fazer um exercício e pensar como era o mundo há 80 anos. A origem do conceito de indústria cultural está inserida no contexto desse período e se refere à produção da cultura em larga escala enquanto mercadoria, impulsionada pelo avanço do capitalismo e do desenvolvimento tecnológico. Ou seja, a cultura deixou de ser algo restrito a alguns grupos e se tornou um produto padronizado e amplamente divulgado.

[Música de transição]

Segundo Adorno e Horkheimer, a cultura torna-se um produto a ser consumido, sendo produzido

por grandes empresas e instituições, em que o indivíduo passa a fazer parte desse sistema como mero consumidor. Esse cenário só é possível por causa do desenvolvimento dos meios de comunicação e de informação, como o rádio, o cinema e a televisão, por exemplo, que se popularizaram e passaram a alcançar um público cada vez maior.

[Música de transição]

O marketing e a publicidade também têm papel fundamental no funcionamento desse sistema analisado pelos filósofos e sociólogos alemães, pois criam estratégias que incitam o impulso de comprar, consumir ou desejar algo que talvez a pessoa nem quisesse ou precisasse, mas que se torna uma necessidade. Esse processo, segundo os autores, influencia a produção de padrões de consumo e comportamento em decorrência da massificação dos produtos culturais. Lembre-se de que, na época em que a Escola de Frankfurt elaborou o conceito de indústria cultural, ainda não existia a internet nem os computadores ou outras ferramentas a que atualmente uma enorme parcela da população mundial tem acesso. Já pensou?

[Música de transição]

Em algum momento, você já deve ter ficado com a sensação de que a internet sabia mais sobre você do que você mesmo, não é? Com a introdução dos algoritmos, as redes sociais e outras plataformas digitais conseguem detectar exatamente aquilo que você precisa. Ou não. Muitas vezes, é oferecido a você não o que precisa, mas o que você deseja. Pode ser uma roupa, uma visita a um restaurante e até um filme ou uma música.

[Música de transição]

Segundo o artigo “Big Data, exploração ubíqua e propaganda dirigida: novas facetas da indústria cultural”, o objetivo das empresas que trabalham com dados é não só o de prospectar informações sobre os usuários da internet mas também prever e controlar o comportamento das pessoas e, assim, produzir o futuro que elas desejam. Dessa forma, é possível acelerar continuamente a maneira como os usuários da internet consomem. Como será que Adorno e Horkheimer explorariam a influência dessas novas tecnologias na sociedade, já que, naquela época, os autores apontavam para a capacidade de controle e dominação da indústria cultural sobre os desejos e as vontades das massas?

[Música de transição]

Mas não estamos falando apenas daquele tênis da moda ou da televisão ultramoderna que se tornam sonhos de consumo. Como já mencionamos, até mesmo músicas e filmes seguem a mesma lógica. Você já percebeu como algumas músicas viralizam rapidamente? Muitas vezes, você nunca ouviu falar de um artista e, de repente, está todo mundo ouvindo a música dele ou pedindo para tocá-la. E quando você acessa uma plataforma de streaming, e ela instantaneamente sugere uma série que está no Top 10? Você vai perder? Pois é! Também são os algoritmos trabalhando a favor do consumo. Os exemplos que podemos citar são variados: desde a grande quantidade de informações sobre o lançamento de determinado filme ou programa até a divulgação de uma peça de roupa.

[Música de transição]

Alguns estudiosos apontam que, nesta era das redes sociais, o consumo está se tornando indispensável para a construção de sentimentos, como a felicidade. Ou seja, uma pessoa só é feliz, ou acha que é feliz, se consumir determinado produto. E essa situação pode trazer uma série de problemas reais, não é mesmo?

Vamos tomar a moda como exemplo. Você já ouviu falar do modelo chamado fast fashion? Trata-se da produção em massa de roupas, produzidas com base nas tendências do momento, em tempo recorde e em maior escala, adaptando a produção têxtil ao consumo de massa. A pesquisadora Ana Paula Nobile Toniol evidencia a relação desse cenário com o desenvolvimento das tecnologias informacionais e afirma que “A maior velocidade com que as

informações foram transmitidas através da internet e tecnologias de comunicação fez com que as tendências fossem espalhadas de forma muito mais rápida”. Esse processo gera impactos nos padrões de produção e consumo onde as peças de roupa são fabricadas, sendo consumidas e descartadas em um curto espaço de tempo, o que gera consequências sociais e ecológicas.

[Música de transição]

De alguma forma, essa lógica está presente no consumo de muitos outros produtos. Muitas pessoas, por exemplo, mantêm o hábito de comprar o último modelo de determinada marca de telefone celular sem realmente precisar. Isso significa comprometer o orçamento sem necessidade real, atendendo a uma demanda produzida pela propaganda veiculada diariamente nas mídias em geral.

[Música de transição]

Mas, afinal, o conceito de indústria cultural, elaborado nos anos 1940, ainda faz sentido no mundo contemporâneo? Podemos pensar em uma nova faceta da indústria cultural? Como isso pode afetar a maneira com que vivemos e nos relacionamos com o mundo à nossa volta? O que não temos dúvida é da relevância histórica desse conceito e da sua contribuição para refletir sobre temas cada vez mais urgentes em nosso cotidiano, considerando as transformações tecnológicas e sociais que estão ocorrendo.

[Música de encerramento]

Créditos: Todos os áudios inseridos neste conteúdo são da Freesound.

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.