MARIA TEREZA ARRUDA CAMPOS
LUCAS SANCHES ODA
MANUAL DO PROFESSOR
ÁREA DO CONHECIMENTO: LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS 1
MARIA TEREZA ARRUDA CAMPOS
LUCAS SANCHES ODA
MANUAL DO PROFESSOR
ÁREA DO CONHECIMENTO: LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS 1
PNLDEM 2026-2029• CATEGORIA1 Materialde divulgação Versãoemprocessodeavaliação0024P260101201810
Formada em Letras – Português pela Universidade de São Paulo (USP), possui Mestrado e Doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com estágio na Sorbonne Université – Paris VIII. Atua como professora, curadora e consultora em Educação.
Formado em Letras pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e em Filosofia pelo Centro Universitário Ítalo Brasileiro, possui Mestrado em Linguística pela Unicamp e Doutorado em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Atua como professor de Língua Portuguesa e é autor de histórias em quadrinhos.
ÁREA DO CONHECIMENTO: LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS 1
Copyright © Maria Tereza Rangel Arruda Campos, Lucas Kiyoharu Sanches Oda, 2024
Direção-geral Ricardo Tavares de Oliveira
Direção de conteúdo e negócios Cayube Galas
Direção editorial adjunta Luiz Tonolli
Gerência editorial Roberto Henrique Lopes da Silva e Nubia de Cassia de M. Andrade e Silva
Edição Ana Luiza Martignoni Spínola (coord.)
Maria Fernanda Neves, Patricia Quero, Sarita Borelli
Preparação e revisão Maria Clara Paes (coord.)
Ana Carolina Rollemberg, Cintia R. M. Salles, Denise Morgado, Desirée Araújo, Eloise Melero, Kátia Cardoso, Márcia Pessoa, Maura Loria, Veridiana Maenaka, Yara Affonso
Produção de conteúdo digital João Paulo Bortoluci
Gerência de produção e arte Ricardo Borges
Design Andréa Dellamagna (coord.)
Sergio Cândido (criação), Ana Carolina Orsolin, Everson de Paula
Projeto de capa Sergio Cândido
Imagem de capa Roman Samborskyi/Shutterstock
Arte e Produção Rodrigo Carraro Moutinho (coord.),
Manuel Miramontes
Diagramação Lima Estúdio Gráfico
Coordenação de imagens e textos Elaine Bueno Koga
Licenciamento de textos Erica Brambilla
Iconografia Erika Neves do Nascimento, Leticia dos Santos Domingos (trat. imagens)
Ilustrações André Ducci, Andrea Ebert, Arielle Martins, Bernardo França, Carlos Caminha, Daniel Bueno, Felix Reiners, Henrique Kipper, Lasca Estúdio
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Campos, Maria Tereza Rangel Arruda
360º Língua Portuguesa: 1o ano: Maria Tereza Rangel Arruda Campos; Lucas Kiyoharu Sanches Oda. 1. ed. São Paulo: FTD, 2024.
Componente curricular: Língua Portuguesa. Área do conhecimento: Linguagens e suas Tecnologias.
ISBN 978-85-96-04662-6 (livro do estudante)
ISBN 978-85-96-04663-3 (manual do professor)
ISBN 978-85-96-04668-8 (livro do estudante HTML5)
ISBN 978-85-96-04669-5 (manual do professor HTML5)
1. Língua Portuguesa (Ensino médio) I. Oda, Lucas Kiyoharu Sanches. II. Título.
24-228173
Índices para catálogo sistemático:
CDD-469.07
1. Língua portuguesa : Ensino médio 469.07
Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427
Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados à
EDITORA FTD
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Em respeito ao meio ambiente, as folhas deste livro foram produzidas com fibras obtidas de árvores de florestas plantadas, com origem certificada.
Impresso no Parque Gráfico da Editora FTD CNPJ 61.186.490/0016-33
Avenida Antonio Bardella, 300 Guarulhos-SP – CEP 07220-020 Tel. (11) 3545-8600 e Fax (11) 2412-5375
Cara estudante, caro estudante
Somos a semente, ato, mente e voz, magia Não tenha medo, meu menino povo, memória
Tudo principia na própria pessoa, beleza
Vai como a criança que não teme o tempo, mistério
REDESCOBRIR. Intérprete: Elis Regina. Compositor: Gonzaguinha. In: SAUDADE do Brasil. Produção: Guti Carvalho e César Camargo. Rio de Janeiro: WEA, 1980. 2 LPs.
Na canção da vida, muitas vezes é preciso seguir em frente, superar desafios, superar-se. Também é preciso fazer planos e investir neles, projetar futuros, arriscar. Na etapa do Ensino Médio, além dos desafios do presente, você sabe que existem escolhas adiante, aguardando suas decisões. Oportunidades, sonhos, realidade, adversidades: no jogo da vida, às vezes também é preciso redescobrir a força da própria voz para continuar.
Esta coleção quer participar desse jogo de muitas maneiras, trazendo inúmeros textos – dos mais antigos aos mais atuais, literários, não literários, de diversos gêneros – que dialogam entre si, com o passado e o presente, e também dialogam com você, apresentando um repertório de autores e obras com suas diferentes experiências e seus pontos de vista. A obra também traz discussões sobre temas urgentes para este tempo, desafiando você a compreender, refletir, opinar, trocar, compartilhar. Acreditamos que a coleção pode incentivar você a construir uma visão de mundo própria, mantendo-se aberto à avaliação de pontos de vista diferentes e, assim, ajudar você a ajustar o que é seu, o que é do outro e o que é de todos, a entender limites e a valorizar o coletivo.
O domínio da língua e de suas astúcias é fundamental nesse diálogo de que você também irá participar ativamente: escrevendo, gravando, postando, expondo opiniões e compartilhando várias propostas. Ainda, dominar a norma-padrão é fundamental nas trocas sociais formais e em exames que exigirão de você esse conhecimento. Mas usar uma língua é mais que isso: é também ajustar nossa performance oral ou escrita ao público a que nos dirigimos, aos objetivos de cada situação comunicativa.
Neste momento tão especial da sua vida, em que você se prepara para se lançar nas aventuras do mundo adulto, desejamos que essas propostas o ajudem a pensar o mundo e a si mesmo. E saber que sempre será possível agir, transformar, dizer sim à vida pessoal e coletiva, ser quem você quer ser. Todo sucesso é o que desejamos!
Os autores
Na frente de Literatura, além da leitura do(s) texto(s) principal(ais), você encontrará a seção No fio do tempo, que propõe diálogos entre os textos iniciais e a tradição literária. Além disso, nessa frente, a subseção Contexto retoma os aspectos sociais e históricos em que os textos apresentados foram produzidos. Por fim, há o boxe Ler literatura, que pretende ajudar você a se formar como leitor literário.
Já na frente de Leitura, há textos de gêneros diversos, cujas atividades levarão você a compreender como circulam, qual é o público-alvo, em que contexto foram produzidos e, sobretudo, quais ideias cada um apresenta e defende.
lER O MUNDO O X DA QUESTÃO
Cada volume desta coleção é organizado em nove unidades. Cada unidade conta com uma Abertura, cujas imagens e atividades propostas apresentam o núcleo temático predominante em cada uma delas.
As unidades são divididas em frentes que dialogam entre si: Literatura, Leitura e Análise linguística. Nelas, você vai poder ler textos literários, diversos gêneros textuais e desenvolver seus conhecimentos linguísticos.
A frente de Análise linguística traz a reflexão e a sistematização dos conhecimentos linguísticos seguidas de atividades que apresentam os conceitos em situações reais de uso. Na subseção Astúcias da língua, você poderá refletir um pouco mais sobre esses usos em textos diversificados.
Os boxes Ler o mundo e O X da questão convidam você e seus colegas a interagir e conversar, a formular hipóteses sobre os textos que serão lidos, preparando-os, assim, para o que será discutido.
Sempre que você encontrar a seção Pensar e compartilhar, que aparecerá em todas as frentes da coleção, você será convidado a analisar e compreender os textos literários, os gêneros discursivos e os conhecimentos linguísticos, bem como refletir sobre eles.
A seção Ler aparece duas vezes no volume e sempre trará um texto de uma área de conhecimento diferente para auxiliar você a desenvolver habilidades de leitura nas áreas de Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
Por fim, a seção Roteiro traz diversas indicações de leitura, podcasts, filmes, entre outras, com informações detalhadas, além do título: especificações técnicas, sinopses e imagens.
A seção #nósnaprática é o momento de colocar em prática seus conhecimentos adquiridos e produzir textos escritos, orais e multimodais.
A seção Integrando com relaciona o assunto estudado na unidade com temas de diversos componentes curriculares das outras áreas do conhecimento.
Na seção #fazerjunto, em parceria com seus colegas, você vai realizar um trabalho colaborativo que envolve produção de gêneros multimidiáticos e práticas de pesquisa.
Ao longo dos volumes, boxes vão ampliar seu conhecimento com informações importantes, como: #sobre, que apresenta autores, artistas, entre outras figuras públicas; #ficaadica, que apresenta indicações de filmes, livros, músicas, podcasts, sites etc.; Saiba mais, que acrescenta informações importantes relacionadas ao assunto em estudo; conceito e #paralembrar, que trazem conceitos novos e fazem relembrar conceitos já vistos nos Anos Finais do Ensino Fundamental; e Hiperlink, que busca auxiliar na ampliação dos conhecimentos por meio de práticas de pesquisa.
Os ícones a seguir identificam os diferentes tipos de objetos educacionais digitais presentes neste volume. Esses materiais digitais apresentam assuntos complementares ao conteúdo trabalhado na obra, ampliando a aprendizagem.
Os sites indicados nesta obra podem apresentar imagens e eventuais textos publicitários junto ao conteúdo de referência, os quais não condizem com o objetivo didático da coleção. Não há controle sobre esses conteúdos, pois eles estão estritamente relacionados ao histórico de pesquisa de cada usuário e à dinâmica dos meios digitais.
UNiDADE Um projeto colonial: violência e resistência 8
Literatura: Não me chame de índio 10
Texto 1: “Índio eu não sou”, Márcia Kambeba 10
Texto 2: “Erro de português”, Oswald de Andrade 11
◗ No fio do tempo: Textos de informação: Descobrimento, achamento ou invasão? 13
Texto 1: A carta de Pero Vaz de Caminha ....................... 13
Texto 2: Tratado da Terra do Brasil: história da província de Santa Cruz […], Pero Gandavo .................... 15
Integrando com História: O projeto colonial português 22 Camões e o Renascimento 23
Leitura: Carta aberta – Em defesa da natureza 25
Texto: Carta aberta do Acampamento Terra Livre 2023, Apib 25
Análise linguística: Pensar a língua, a linguagem e os sentidos 30 Astúcias da língua: O texto e seu contexto 37 #nósnaprática:
Texto: Senhora, José de Alencar 81 Romantismo: a arte da burguesia em ascensão........ 90
Leitura: Notícia – Lazer na cidade 93
Texto: “Parque Augusta abre as portas para o público neste sábado (6)”, Isabella Menon (Folha de S.Paulo) 93
◗ Integrando com Geografia: Ocupação do solo urbano 97
Análise linguística: Frase, oração e período. Sujeito e predicado 98
◗ Astúcias da língua: Concordância constrói coesão 104
#nósnaprática: Notícia sobre a cidade 107
◗ Roteiro 109
Literatura: Entre o céu e a terra ............................. 46
Texto 1: “Órfã na janela”, Adélia Prado ................................ 46
Texto 2: “Bucólica”, Orides Fontela ..................................... 47
No fio do tempo: Projeto barroco e projeto neoclássico: As tensões entre a fé e a razão, Deus e natureza 48
Texto 1: “Buscando a Cristo”, Gregório de Matos 48
Texto 2: “53”, Tomás Antônio Gonzaga 49 Integrando com Filosofia: O Iluminismo e o contrato social 54
A sátira brasileira e a produção de Gregório de Matos .. 55
Leitura: Palestra – Provocações sobre a natureza 57
Texto: “Ideias para adiar o fim do mundo” (Ideias para adiar o fim do mundo), Ailton Krenak ............................. 57
Análise linguística: A língua e sua gramática 61
◗ Astúcias da língua: A língua varia 66
#nósnaprática: Mesa-redonda 71
◗ Roteiro 73
Literatura: Vozes originárias 112
Texto 1: O som do rugido da onça, Micheliny Verunschk 112
Texto 2: A queda do céu: palavras de um xamã yanomami, Davi Kopenawa; Bruce Albert ......................... 113
◗ No fio do tempo: Projeto indianista romântico: A busca pela singularidade identitária 116
Texto: Iracema, José de Alencar 116
◗ Integrando com Arte: Literatura e artes plásticas 123
Leitura: Artigo de divulgação científica –Civilização e natureza 128
Texto: “As cidades perdidas da Amazônia”, Reinaldo José Lopes (Superinteressante) 128
◗ Integrando com Arte: Arte indígena contemporânea: vozes da resistência 132
Análise linguística: Sujeito 134
◗ Astúcias da língua: Sujeito indeterminado e impessoalização do discurso 139
#nósnaprática: Artigo de divulgação científica 142
◗ Ler Ciências Humanas e Sociais Aplicadas 144
◗ #fazerjunto: Mapa da cidade ideal 146
◗ Roteiro 147
UNiDADE
Literatura: A cidade ambulante 76
Texto: Quarenta dias, Maria Valéria Rezende 76
◗ No fio do tempo: Projeto romântico: Espelhos da burguesia em formação 81
Literatura: Vozes negras em luta ......................... 150
Texto 1: O céu para os bastardos, Lilia Guerra .............. 151
Texto 2: O avesso da pele, Jeferson Tenório ................... 152
◗ No fio do tempo: Escravidão e denúncia: O fim da escravização?
155
Texto: Úrsula, Maria Firmina dos Reis 155
Leitura: Lei – A letra da lei e os direitos dos cidadãos
Texto 1: Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Brasil
Texto 2: Lei no 7.716, de 5 de janeiro de 1989, Brasil
Texto 3: Lei no 12.288, de 20 de julho de 2010, Brasil
166
166
167
167
Texto 4: Lei no 13.445, de 24 de maio de 2017, Brasil ...... 168
◗ Integrando com Matemática: Números reveladores ... 171
Análise linguística: Predicado 172
◗ Astúcias da língua: Modalização: verbos epistêmicos e deônticos ........................................................................ 176
#nósnaprática: Regras de convivência 179
◗ Roteiro 181
UNiDADE
O Brasil de Norte a Sul 182
Literatura: Muitos brasis ......................................... 184
Texto: Dois irmãos, Milton Hatoum ................................. 184
No fio do tempo: O projeto regionalista romântico:
Os rincões do Brasil 190
Texto: Inocência, Visconde de Taunay 191
Diversidade e identidade brasileira 196
Integrando com Arte: Literatura e música 197
Leitura: Artigo de opinião – Em defesa de uma tese 198
Texto: “Nordeste aposta na ciência para valorizar as suas múltiplas potencialidades”, Mercedes Bustamante; Francilene Garcia (Correio Braziliense) 198
Análise linguística: Termos ligados ao verbo: objeto direto e objeto indireto 202
Astúcias da língua: Variação regional 207
#nósnaprática: Artigo de opinião 211
Roteiro 213
UNiDADE
Literatura: Amor? Amor! 216
Texto 1: “7”, Geir Campos 216
Texto 2: “Quantas vezes minha mãe sentou na beira da cama” (Tudo nela brilha e queima), Ryane Leão 217
No fio do tempo: Projeto ultrarromântico (poesia): Morrer de amor .................................................................. 221
Texto: “Lembrança de morrer”, Álvares de Azevedo .......... 221
Integrando com Arte: Poesia e dança ...........................227
Indígenas e negros escravizados na poesia 230
Leitura: Poema de sarau e slam –Lirismo na voz, lirismo na veia ............................. 233
Texto 1: “Abstração poética”, Mozileide Neri .................... 233
Texto 2: “Meu drama”, Maria do Socorro da Silva 234
Texto 3: “Identidade”, Patrícia Meira 234
Análise linguística: Termos ligados ao verbo: adjunto adverbial ....................................................... 238
◗ Astúcias da língua: Figuras de pensamento ................ 244 #nósnaprática: Produzir poemas e organizar slam............................................................. 249
◗ Ler Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.......... 252
◗ Roteiro ........................................................................... 253
Literatura: O absurdo do real ............................... 256
Texto: “O túnel” (Os caminhos da revolução), Dias Gomes ....................................................................... 256
◗ No fio do tempo: Teatro brasileiro do século XIX: A moral do riso .................................................................. 262
Texto: O Judas em Sábado de Aleluia, Martins Pena. 262
◗ Integrando com Educação Física: O corpo na arte ... 268
Leitura: Resenha crítica – Gosto se discute ....273
Texto: “O túnel, de Dias Gomes, no palco do Sania Cosmelli” (A Voz da Serra).........................................273
Análise linguística: Termos ligados ao nome: complemento nominal 275
◗ Astúcias da língua: A pontuação e seu valor expressivo e gramatical 279
#nósnaprática: Resenha 283
Literatura: Portugal d’hoje .................................... 288
Texto 1: “Poema inspirado nos painéis que Júlio Resende desenhou para o monumento que deveria ser construído em Sagres”, Sophia de Mello Breyner Andresen 288
Texto 2: Dias úteis, Patrícia Portela 289
◗ No fio do tempo: Projeto romântico em Portugal: Portugal d’ontem............................................................... 293
Texto 1: Camões, Almeida Garrett .................................. 294
Texto 2: Amor de perdição, Camilo Castelo Branco ............ 294
◗ Integrando com História: Literatura e política em Portugal 300
Leitura: Diário – A vida, todo dia ......................... 304
Textos 1, 2, 3 e 4: Cadernos de Lanzarote II, José Saramago .................................................................. 304
Análise linguística: Termos ligados ao nome: adjunto adnominal ..................................................... 308
◗ Astúcias da língua: Adjunto adnominal × Complemento nominal 312
#nósnaprática: Podcast........................................... 315
◗ Roteiro ............................................................................ 317
◗ Referências bibliográficas comentadas ............... 318
OBJETOS EDUCACIONAIS DIGITAIS
Infográfico clicável: Emergência climática e cidades resilientes 27
Podcast: A língua varia! 66
Podcast: Há imparcialidade no texto jornalístico? 94
Vídeo: A cerimônia do Kuarup 111
Infográfico clicável: Outras vozes indígenas na produção literária brasileira ................................................................. 126
Carrossel de imagens: A negritude na literatura ......................... 150
Vídeo: A escrivivência de Conceição Evaristo .............................165
Mapa clicável: Curiosidades sobre autores e romances do século XIX ... 194
Vídeo: Slam, hip-hop e poesia ................................................ 249
Podcast: O texto dramático e a prosódia 259
Carrossel de imagens: Teatros históricos brasileiros 269
Infográfico clicável: Como criar um blogue pessoal 304
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A obra a seguir, do pintor do povo macuxi Jaider Esbell (1979-2021), apresenta um jenipapeiro-pajé, uma árvore que, segundo o artista, produz cura. Ainda de acordo com ele, em entrevista para o portal ARTE!Brasileiros, ela “é uma pajé em si mesma, mas precisa de um mediador para criar conexão conosco, precisa do artista para conectá-la a esses mundos aparentemente apartados”.
Observe a pintura e responda às questões que seguem.
ESBELL, Jaider. A descida da pajé Jenipapo do reino das medicinas. 2021. Acrílica e posca sobre tela, 111 cm x 160 cm. Galeria Jaider Esbell, Boa Vista (RR).
Não escreva no livro.
1. b) A imagem é composta de estrelas dispersas no céu e de seres na água, que lembram peixes e jacarés.
1. No centro, o imponente jenipapeiro-pajé se apresenta como a figura mais importante da imagem.
a) Há dois mundos conectados pela árvore-pajé. Que mundos são esses?
O do céu, como se fosse o cosmos, e o do mar.
b) Que outros seres compõem a imagem?
2. O jenipapeiro está plantado em algo que se parece com um navio. Considerando seu conhecimento sobre a história do Brasil, que embarcações trouxeram doenças para os povos indígenas, gerando a necessidade de cura?
As caravelas. Espera-se que os estudantes relacionem esse navio às caravelas que trouxeram os portugueses para o Brasil.
3. Diferentemente da pintura de Esbell, criada por um indígena refletindo sobre a cultura indígena, as imagens a seguir foram produzidas pelo gravurista belga Theodore de Bry (1528-1598) como resultado de suas viagens no século XVI para as regiões da América que hoje correspondem ao Brasil e aos Estados Unidos.
BRY, Theodore de. [Como eles negociam com Aygnan, o Diabo (demônios e monstros marinhos)].
In: BRY, Theodore de. Americae tertia pars memorabilẽ provinciæ Brasiliæ historiam continẽs. [Francofurti ad Moenum: s. n.], 1592. p. 223.
Com base apenas nas imagens, um europeu médio pensaria nos indígenas da América como seres selvagens que habitam um mundo repleto de monstros e demônios, como sugere o título de uma das obras. Espera-se que os estudantes percebam como essas imagens reproduzem uma ideia equivocada e fantasiosa dos indígenas. Além de terem sido retratados com corpos que seguem o padrão estético europeu, bem diferente dos indígenas americanos, eles são representados convivendo com demônios e monstros.
BRY, Theodore de. Habitantes de Virginia. [ca. 1590]. Gravura impressa colorida à mão. Trabalho de Bry a partir de uma aquarela de John White. Museu da Revolução Americana, Yorktown (Estados Unidos).
Observe as características físicas, a vestimenta, a pose com que foram representados os indígenas na obra do belga. Considere também o título das obras.
• O que você acha que um europeu do século XVI pensaria sobre os indígenas da América somente com base nessas imagens?
Um dos principais marcos do período de transição da Idade Média para a Idade Moderna na Europa foram as chamadas Grandes Navegações. A chegada de Colombo e Pedro Álvares Cabral, entre outros navegadores, às terras americanas revelou aos europeus novas possibilidades de exploração. Essas possibilidades foram integradas a um projeto colonial de acumulação de capital, gerando grande enriquecimento para os europeus e marcando o início de um longo processo de extermínio dos povos indígenas e de suas culturas.
A chegada dos portugueses às terras brasileiras em 1500 promoveu mudanças radicais na vida dos povos originários. Essas mudanças tiveram reflexos significativos observáveis até hoje, seja na estrutura social, na cultura ou na demografia de alguns povos. Reflita com os colegas.
Para discutir
Como a chegada dos portugueses ao território que hoje conhecemos como Brasil afetou as sociedades indígenas tanto imediatamente após o primeiro contato quanto a longo prazo?
Converse com os colegas sobre o que vocês já sabem a respeito disso.
Que obras artísticas você conhece que foram produzidas por indígenas ou que tematizam questões indígenas?
Após a discussão, registre suas ideias no caderno para consulta posterior.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Você vai ler a seguir dois poemas com diferentes olhares sobre a colonização do Brasil e os indígenas. O primeiro poema, do século XXI, é da escritora Márcia Wayna Kambeba, do povo omágua/kambeba, e o segundo, do poeta paulista Oswald de Andrade, representante do Modernismo brasileiro do século XX.
Texto 1
Índio eu não sou
Não me chame de ‘índio’ porque
Esse nome nunca me pertenceu.
Nem como apelido quero levar
Um erro que Colombo cometeu.
Por um erro de rota
Colombo em meu solo desembarcou
E no desejo de às Índias chegar
Com o nome de ‘índio’ me apelidou.
Esse nome me traz muita dor
Uma bala em meu peito transpassou
Meu grito na mata ecoou
Meu sangue na terra jorrou.
Chegou tarde, eu já estava aqui
Caravela aportou bem ali
Eu vi ‘homem branco’ subir
Na minha Uka me escondi.
#SOBRE
Poeta, escritora, fotógrafa, pes quisadora e ativista indígena brasileira, Márcia Kambeba (1979-) produz uma obra que traz à luz as questões ambientais, culturais e sociais enfrentadas pelos povos indígenas no Brasil. Pertencente ao povo omágua/ kambeba, da região amazônica, a autora promove, com sua obra, um diálogo entre sua herança cultural e a contemporaneidade. Sua literatura é um poderoso instrumento de afirmação da identidade indígena, desafiando estereótipos e reivindicando o direito à terra, à cultura e à vida dos povos originários.
Foto da poeta em 2021.
Uka: moradia.
Ele veio sem permissão
Com a cruz e a espada na mão
Nos seus olhos, uma missão Dizimar para a civilização.
‘Índio’ eu não sou.
Sou Kambeba, sou Tembé
Sou Kokama, sou Sataré
Sou Guarani, sou Arawaté, Sou Tikuna, sou Suruí, Sou Tupinambá, sou Pataxó, Sou Terena, sou Tukano. Resisto com raça e fé.
KAMBEBA, Márcia. Índio não sou. In: DORRICO, Julie. 3 poemas de Márcia Kambeba. Acrobata, [Teresina], 23 abr. 2020. Disponível em: https://revistaacrobata.com.br/julie-dorrico/poesia/3-poemas-demarcia-kambeba/. Acesso em: 12 ago. 2024.
Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
#SOBRE Foto do escritor em 1920.
ANDRADE, Oswald de. Erro de português. In: ANDRADE, Oswald de. Cadernos de poesia do aluno Oswald: poesias reunidas.
São Paulo: Círculo do Livro, 1985. p. 173.
Oswald de Andrade (1890-1954) participou de diversos ambientes artístico-literários no começo do século XX e criou muitos deles. Em 1917, aproximou-se de Mário de Andrade (1893-1945) e outros modernistas, com quem organizaria a Semana de Arte Moderna de 1922. Publicou o Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924) e o Manifesto Antropófago (1928), bem como livros de poesia, romances e peças de teatro.
1. Os dois poemas que você leu foram escritos com quase um século de diferença.
a) Qual é a semelhança temática entre eles?
a) Os dois poemas têm como tema uma visão crítica sobre o processo de colonização e suas consequências, como o apagamento dos povos indígenas.
b) Embora a temática dos textos seja semelhante, o modo de tratá-la é diferente. Qual é a diferença de tom entre os dois poemas?
b) O primeiro poema tem uma postura crítica, afirmativa, séria e emotiva sobre o tema, enquanto o segundo apresenta ironia.
c) Os poemas foram produzidos por autores com diferentes experiências sociais. Oswald, um homem branco, herdeiro da elite cafeeira paulista, escreveu no contexto do Modernismo, que voltava a questionar a identidade brasileira; sua poesia foi em parte marcada pelo humor. Márcia Kambeba pertence ao povo omágua/kambeba; sua obra recupera a herança de seu povo e assume uma postura crítica diante das questões relativas aos povos indígenas. Que impacto tem essa diferença de voz social em cada um dos poemas?
c) A diferença de perspectiva social entre Oswald de Andrade e Márcia Kambeba influencia significativamente a abordagem e a expressão de seus poemas. Oswald, de sua posição privilegiada, pode adotar um posicionamento mais crítico, com toques de humor, porque trata de uma situação que entende, compreende, mas não vive. Já Márcia é protagonista daquilo que tematiza, o que se reflete na expressão mais direta e emotiva de suas causas, afirmando a sua existência e a de seu povo.
2. b) O poema sugere substituir o termo índio pelos nomes específicos dos povos originários: kambeba, tembé, kokama, sateré, guarani, araweté, ticuna, surui, tupinambá, pataxó, terena ou tukano.
2. De acordo com o poeta quilombola Nêgo Bispo (1959-2023), os “povos [indígenas] possuem várias autodenominações. [...] Ou seja, os colonizadores, ao substituírem as diversas autodenominações desses povos, impondo-lhes uma denominação generalizada, estavam tentando quebrar as suas identidades com o intuito de os coisificar/desumanizar.”.
a) Que diálogo esse trecho estabelece com o poema de Márcia Kambeba?
a) Tanto o poema como o trecho de Nêgo Bispo criticam o uso do termo índio para se referir aos povos originários do Brasil, considerando-o pejorativo e limitante.
b) Que alternativas de uso o poema sugere no lugar do termo índio?
3. “Na noite seguinte, ventou tanto sueste com chuvaceiros que fez caçar as naus, e especialmente a capitânia.”. Essa frase é parte da carta do achamento, do escrivão português Pero Vaz de Caminha (1450-1500). Ela foi escrita quando os portugueses chegaram pela primeira vez à costa brasileira.
a) I dentifique a relação intertextual entre a frase e o poema de Oswald de Andrade.
Os dois textos fazem referência a uma chuva que aconteceu no momento da chegada dos portugueses.
b) O p oema usa o verbo vestir nos sentidos denotativo e conotativo (figurado). Quais são esses sentidos?
Tem o sentido denotativo de “colocar a roupa” e o sentido conotativo de “dominar”, “impor a cultura portuguesa ou europeia”.
4. Para o eu lírico, ou seja, o “eu” que se expressa no poema, um detalhe climático da chegada dos portugueses foi determinante para tudo o que aconteceu no Brasil desde então.
a) Qual é esse detalhe climático?
A chuva, que fez com que os portugueses vestissem os indígenas e impusessem sua cultura e religião. Se não houvesse chuva, os indígenas teriam despido os portugueses e teriam preservado a própria cultura.
b) O poema apresenta um tom espirituoso, engraçado. O que de fato o eu lírico lamenta?
A dominação e a perda da identidade dos indígenas, submetidos ao poder e à cultura dos portugueses.
5. O poema de Oswald de Andrade apresenta um contraste entre culturas distintas. Que diferentes visões de mundo são mostradas no contraste entre estar nu e vestido? Copie no caderno a alternativa que responde a essa pergunta.
Resposta: alternativa c.
a) O contraste que o poema apresenta é com relação à acessibilidade dos bens de consumo que só foi possível com a chegada dos portugueses, representantes da lógica mercantilista do século XVI.
b) O contraste segue uma lógica cultural em que é possível reconhecer uma cultura que ainda não tinha criado roupas e outra, mais complexa, que já podia cobrir seus corpos.
c) O contraste se dá entre uma perspectiva religiosa que considera pecado o corpo descoberto e outra que não vê o corpo nu como algo proibido.
6. O poema de Kambeba faz referência a dois objetos trazidos pelos portugueses.
a) Que objetos são esses? O que simbolizam?
Os objetos são a cruz e a espada, que simbolizam, respectivamente, a religião cristã e a guerra, a morte e a violência.
b) Quais foram as consequências das ações dos portugueses para os indígenas de acordo com o poema?
As ações representadas pela cruz e pela espada dizimaram as civilizações indígenas.
7. Os dois poemas que você leu fazem referência a erros. Quais são eles em cada um dos poemas?
No primeiro poema, o erro de Colombo o levou a descobrir uma rota marítima que o conduziu à América. No segundo poema, o erro foi do colonizador português, que impôs sua cultura e não reconheceu a cultura indígena.
ENTÃO...
Impulsionados pelas descobertas científicas e por um conhecimento que permitiu produzir instrumentos técnicos, os europeus abriram rotas para o outro lado do oceano. A época das Grandes Navegações, como ficou conhecido o período, favoreceu o desenvolvimento do mercantilismo. Por outro lado, para os habitantes originários das Américas, essa chegada iniciou um longo processo de genocídio. Esses eventos e essas diferentes visões sobre um “novo mundo” que surgia encontraram ecos na literatura que você vai conhecer nesta unidade.
O X DA QUESTÃO
No século XVI, exploradores, colonizadores e missionários atuavam como pontes entre o desconhecido território brasileiro e a Europa, revelando um mundo novo para os leitores europeus. Eles produziram textos que serviam tanto para informar a Coroa portuguesa sobre as potencialidades do território quanto para legitimar a colonização aos olhos da Europa.
Composta principalmente de cartas, relatos de viagem e crônicas, a chamada “literatura de informação” não integra o corpo do que chamamos literatura brasileira, mas as descrições e os atributos que projeta na terra aonde chegaram os portugueses criaram estereótipos sobre o Brasil que se perpetuaram e foram diversas vezes revisitados. A perspectiva eurocêntrica priorizava a exploração e o controle sobre os recursos naturais, contrastando com a visão de mundo indígena, que valoriza a interconexão entre todos os seres vivos e o equilíbrio com a natureza.
As narrativas eurocêntricas retratavam os indígenas de forma utilitarista, desconsiderando a complexidade de suas culturas, línguas e sistemas de conhecimento, reforçando estereótipos e justificativas para a dominação e conversão dos povos originários. Assim, os textos do século XVI têm valor documental e refletem as dinâmicas de poder e resistência que moldaram o início da história do Brasil, marcada por tentativas de apagamento e resistência cultural dos povos originários.
Para lembrar
Professor, é válido discutir com os estudantes o quanto as especiarias amplamente produzidas e comercializadas na Índia eram fundamentais para a conservação de alimentos, o que permitiria ao europeu prolongar a vida útil dos alimentos e minimizar a fome. Ressalte que a busca por especiarias não
O que motivou as Grandes Navegações dos portugueses e espanhóis?
Para qual terra os europeus buscavam uma rota marítima e com qual finalidade?
Para discutir
era apenas por causa do sabor, em um contexto em que fome e miséria predominavam na Europa, mas também fizeram parte de um gigantesco empreendimento de acumulação primitiva de capital.
1 Em sua opinião, quais as consequências que o processo de colonização dos portugueses produziu e ainda produz para os povos originários do Brasil?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
O primeiro trecho que você vai ler a seguir é de Pero Vaz de Caminha; trata-se do mais vívido relato da chegada dos portugueses. O segundo, é do explorador português Pero de Magalhães Gandavo, que esteve no Brasil entre os anos 1558 e 1572.
Texto 1
[…]; e tomou dois daqueles homens da terra, mancebos e de bons corpos, que estavam numa almadia. Um deles trazia um arco, e seis ou sete setas; e na praia andavam muitos com seus arcos e setas; mas de nada lhes serviram. Trouxe-os logo, já de noite, ao Capitão, em cuja nau foram recebidos com muito prazer e festa.
A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem-feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e verdadeiros, de comprimento duma mão travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudos na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de dentro do
almadia: embarcação de pequeno porte; canoa.
#SOBRE
A vida do português Pero Vaz de Caminha é envolta em mistérios. Sabe-se que ele desempenhou funções importantes na corte portuguesa, o que reflete seu prestígio e sua confiabilidade em relação ao rei. Caminha ocupou o cargo de escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral, responsabilidade que o colocou como testemunha ocular do momento em que os portugueses chegaram ao território que viria a ser conhecido como Brasil. Sua “carta” ao rei D. Manuel I, detalhando a descoberta e as primeiras impressões sobre a terra e seus habitantes, tornou-se um documento histórico de incalculável valor.
Trata-se da primeira descrição do Brasil e de seu povo originário. Apesar da importância de seu legado, detalhes sobre o resto de sua vida e sua morte permanecem escassos.
beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita como roque de xadrez, ali encaixado de tal sorte que não os molesta, nem os estorva no falar, no comer ou no beber. […]
O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, bem-vestido, com um colar de ouro mui grande ao pescoço, e aos pés uma alcatifa por estrado. […] Acenderam-se tochas. Entraram. Mas não fizeram sinal de cortesia, nem de falar ao Capitão nem a ninguém. Porém um deles pôs olho no colar do Capitão, e começou de acenar com a mão para a terra e depois para o colar, como que nos dizendo que ali havia ouro. Também olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para o castiçal como se lá também houvesse prata.
Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como quem diz que os havia ali. Mostraram-lhes um carneiro: não fizeram caso. Mostraram-lhes uma galinha, quase tiveram medo dela: não lhe queriam pôr a mão; e depois a tomaram como que espantados.
Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel, figos passados. Não quiseram comer quase nada daquilo; e, se alguma coisa provaram, logo a lançaram fora.
Trouxeram-lhes vinho numa taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram nada, nem quiseram mais.
Trouxeram-lhes a água em uma albarrada. Não beberam. Mal a tomaram na boca, que lavaram, e logo a lançaram fora.
roque de xadrez: torre de xadrez.
alcatifa: tapete para cobrir pavimentos.
fartel: tipo de pastel ou bolo com recheios variados.
albarrada: copo de barro.
Capa do livro 1499: o Brasil antes de Cabral.
#fiCAADiCA
Viu um deles umas contas de rosário, brancas; acenou que lhas dessem, folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço. Depois tirou-as e enrolou-as no braço e acenava para a terra e de novo para as contas e para o colar do Capitão, como dizendo que dariam ouro por aquilo.
Isto tomávamos nós assim por assim o desejarmos. Mas se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto não o queríamos nós entender, porque não lho havíamos de dar. E depois tornou as contas a quem lhas dera.
CAMINHA, Pero Vaz de. A carta de Pero Vaz de Caminha . Brasília, DF: Ministério da Cultura: Fundação Biblioteca Nacional: Departamento Nacional do Livro, c2024. Reprodução do original de 1500. Localizável em: § 16-23. Disponível em: http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/ bndigital0009/bndigital0009.pdf. Acesso em: 13 ago. 2024.
A velha ideia de que, antes da chegada dos portugueses, o Brasil não passava de uma terra virgem e povoada por alguns indígenas tem sido surpreendida por estudos arqueológicos, cujos achados incluem metrópoles “perdidas” na Amazônia, redes de comércio, grandes monumentos e uma produção artística espetacular. Fruto de uma pesquisa de 15 anos, o livro 1499: o Brasil antes de Cabral conjuga rigor científico com histórias fascinantes.
• LOPES, Reinaldo José. 1499: o Brasil antes de Cabral. Rio de Janeiro: HarperCollins, 2017.
Não se pode numerar nem compreender a multidão de bárbaro gentio que semeou a natureza por toda esta terra do Brasil; porque ninguém pode pelo sertão adentro caminhar seguro, nem passar por terra onde não ache povoações de índios armados contra todas as nações humanas, e assim como são muitos permitiu Deus que fossem contrários uns dos outros, e que houvesse entre eles grandes ódios e discórdias, porque se assim não fosse os portugueses não poderiam viver na terra nem seria possível conquistar tamanho poder de gente.
A língua deste gentio toda pela costa é uma: carece de três letras – scilicet [isto é], não se acha nela F, nem L, nem R, cousa digna de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei; e desta maneira vivem sem Justiça e desordenadamente.
[…] Não há como digo entre eles nenhum Rei, nem Justiça, somente em cada aldeia tem um principal que é como capitão, ao qual obedecem por vontade e não por força; morrendo este principal fica seu filho no mesmo lugar; não serve doutra cousa senão de ir com eles à guerra, e conselhá-los como se hão de haver na peleja, mas não castiga seus erros nem manda sobre eles cousa alguma contra sua vontade. […]
GANDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da Terra do Brasil: história da província Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos Brasil Brasília, DF: Senado Federal: Conselho Editorial, 2008. Reprodução do original de 1576. E-book. (Edições do Senado, v. 100, p. 65-66).
#SOBRE
Pero de Magalhães Gandavo (1540-data desconhecida), historiador e cronista português do século XVI, é conhecido principalmente por suas obras sobre a história e a geografia do Brasil colonial. Entre suas obras mais significativas, destaca-se Tratado da Terra do Brasil: história da província Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos Brasil . Seus textos fornecem descrições detalhadas da flora, da fauna, da geografia e dos povos indígenas do Brasil, representando importantes fontes de informação para o entendimento do período inicial da colonização portuguesa. O legado de Gandavo permanece importante para estudiosos da história brasileira e possibilita entender os primeiros contatos entre europeus e a rica diversidade cultural e natural do Brasil.
gentio: pagão, indígena.
2. b) Ele é descrito como “bem-vestido” e está usando um colar de ouro, o que denota poder e riqueza da perspectiva europeia. No entanto, os indígenas não demonstram reverência ou interesse pelo status atribuído a esses ornamentos, mas procuram associar esses objetos a recursos naturais da terra.
1. O texto 1, trecho da carta de Caminha, inicia-se com uma descrição detalhada dos indígenas.
a) Que características são destacadas? Copie o organizador a seguir no caderno e complete-o.
Características físicasCaracterísticas psicológicasOrnamentos e vestimentas
Pardos, avermelhados; rostos e narizes bons e bem-feitosInocência; curiosidade; desconfiançaNudez e ornamento de osso nos beiços
b) Essas características chamam atenção do português porque contrastam com determinado padrão estético e comportamental. Que padrão é esse? No que ele contrasta com o dos indígenas?
2. A carta do achamento descreve as vestes do capitão.
1. b) O padrão de referência é o do europeu, que tinha a pele branca, andava vestido, não usava ornamentos nos beiços e não tinha mais inocência.
a) Que elementos se destacam no modo como essas vestes estão apresentadas?
O capitão está sentado em uma cadeira, bem-vestido, e usa um enorme colar de ouro.
b) A descrição estabelece um contraste entre valores. Explique.
3. Indica que os principais objetivos dos portugueses ao explorar as novas terras era a extração de bens materiais, como metais preciosos e outros recursos naturais. Isso evidencia a lógica mercantilista, que pretendia fortalecer o poder e a riqueza da metrópole portuguesa por meio de medidas econômicas, como a acumulação de metais preciosos.
3. Ao relatar a primeira interação entre indígenas e portugueses, o trecho descreve alguns gestos dos indígenas e os interpreta sob o olhar português. Relacione as colunas a seguir indicando a interpretação dos portugueses para cada ação.
Ação dos indígenas
Olhou o colar de ouro e acenou para a terra.
Olhou para a terra e apontou para o colar.
Olhou o castiçal de prata e acenou para a terra.
Olhou para a terra e apontou para o castiçal.
Olhou o papagaio e acenou para a terra.
Interpretação dos portugueses
1. Convidava os portugueses a conhecer a natureza de sua terra.
2. Indicava que em sua terra havia riquezas a serem exploradas.
3. Convidava à hospitalidade indígena para que fossem recebidos devidamente em sua terra.
• O que a interpretação dada pelos portugueses sugere sobre seus objetivos nas novas terras?
4. No último parágrafo do trecho, Caminha admite que a sua interpretação dos gestos dos indígenas poderia não ser verdadeira.
Os portugueses procuravam interpretar de acordo com seus próprios desejos, e não conforme o que os indígenas queriam dizer.
a) De acordo com o escrivão, como os portugueses procuravam interpretar as falas dos indígenas?
b) Os indígenas, no entanto, esforçavam-se para estabelecer uma comunicação com os portugueses?
Copie no caderno o item que indica os recursos que utilizavam.
I. O s indígenas procuravam gesticular e falar pausadamente para que os portugueses os entendessem.
Resposta: alternativa III
II. Os indígenas procuravam gesticular e escrever o que queriam dizer.
III. Os indígenas recorriam a recursos não verbais, como os gestos.
O desfile forçado dos tupinambá em Rouen
Em 1550, sob as ordens do rei Henrique II, foi organizado um evento na cidade de Rouen, na França, contra o domínio português no Brasil. Com o intuito de encenar o início da exploração colonial na América, cerca de 50 indígenas tupinambás foram levados à força para a França e obrigados a se apresentar ao público acompanhados de 250 marinheiros normandos. Foi construída uma réplica de aldeia indígena, além de terem sido feitas demonstrações de práticas culturais, danças e rituais. Animais tidos como exóticos levados do Brasil, como pássaros e outros pequenos animais, também serviram como objetos de cena para os franceses exaltarem as riquezas e as peculiaridades, na visão deles, do “novo mundo”.
BAILE brasileiro para Henrique II em Rouen, 1o de outubro de 1550. [1550]. Pergaminho decorado, 18,8 cm x 26 cm. Bibliotecas de Rouen (França).
5. a) Espera-se que os estudantes percebam que o termo bárbaro assume um sentido pejorativo e faz referência a povos que seriam supostamente atrasados e inferiores a outros. Esse termo, associado a gentio, reforça a ideia de que os indígenas não tinham a fé cristã e, por isso, eram inferiores e atrasados.
5. Escrito poucas décadas depois da carta de Caminha, o texto de Gandavo também apresentou uma visão dos portugueses sobre indígenas brasileiros.
a) G andavo se refere ao indígena como “bárbaro gentio”. Discuta com os colegas o significado do termo bárbaro nesse contexto. Depois, registre a discussão no caderno.
b) A o descrever os indígenas como bárbaros gentios, Gandavo também estabelece, ainda que de forma subentendida, uma imagem do português e do europeu. Que imagem é essa?
5. b) Por oposição, reforçando uma posição de superioridade, Gandavo estabelece a imagem do português e do europeu como um povo religioso e desenvolvido, que está no topo da hierarquia dos povos.
SAIBA MAIS
6. Gandavo ainda faz referência a guerras que os indígenas travavam entre si.
6. a) Reforça-se a imagem negativa dos indígenas, trazendo uma ideia de atraso, desunião, ódio e discórdias.
a) Q ual sentido o autor produz ao mencionar as guerras entre os povos indígenas?
b) Para os portugueses, quais seriam as vantagens de haver conflitos entre os povos indígenas?
7. a) A falta de três letras: F, L e R.
7. Os indígenas que habitavam a costa brasileira quando ocorreu a chegada dos portugueses pertenciam ao povo tupi.
a) Que característica linguística o texto de Gandavo aponta na língua tupi dos indígenas do litoral?
7. b) A ausência dessas letras indicaria que os indígenas não teriam nem fé, nem lei, nem rei.
b) D e acordo com Gandavo, o que essa característica linguística sinaliza sobre a estrutura social dos indígenas?
7. c) Reforça a ideia de que os indígenas são inferiores por não terem os mesmos
c) A observação de Gandavo sobre a estrutura social dos indígenas reforça o modo como ele avalia essa civilização. Que ideia tal observação reforça?
valores e o mesmo modelo de organização que os europeus.
8. Leia este trecho da artista e professora Glicéria Tupinambá (1982-), também conhecida como Célia Tupinambá.
Nas narrativas do padre João de Azpilcueta Navarro, do século XVI, encontramos na okara – o espaço central da aldeia, onde se realizam as assembleias e onde as decisões são tomadas – a disposição do autogoverno por meio da presença dos mantos tupinambás. Temos ali três Pajés, quatro Caciques e seis ou sete Mulheres. Questões como a expansão territorial, a guerra, a alimentação e o plantio eram estabelecidas na okara, onde havia grande representatividade feminina, invisibilizada no entanto pela óptica do viajante estrangeiro. O olhar do padre, deslumbrado por outros detalhes, acabou não vendo o todo que ali acontecia, e ele leu e reproduziu a narrativa em que acabavam por prevalecer os homens nos lugares de poder e tomada de decisão.
TUPINAMBÁ, Glicéria. O território sonho. In: CARNEVALLI, Felipe et al Terra: uma antologia afro-indígena. São Paulo: Ubu, 2023. p. 181.
• Depois de ler os trechos de Gandavo e de Célia Tupinambá, discuta com os colegas: a ideia de que os indígenas não possuíam nem fé, nem lei, nem rei, e que por isso viviam sem justiça e desordenadamente, se justifica? Registre o resultado da discussão no caderno.
Os textos de informação do Brasil seiscentista navegavam entre a precisão das crônicas e a exuberância das narrativas fantasiosas. De um lado, a dedicação à descrição objetiva e minuciosa dos eventos, das terras e dos povos buscava documentar a realidade do “novo mundo” para os leitores europeus; de outro, estava a tendência à fabulação, que frequentemente embelezava a realidade com elementos míticos e fantásticos. Essa dualidade refletia a complexidade da percepção europeia sobre as terras brasileiras, oscilando entre o fascínio por sua biodiversidade, suas riquezas naturais e culturas indígenas e a tentativa de compreendê-las e registrá-las dentro de um paradigma preestabelecido. O contraste entre a objetividade e a imaginação fantasiosa ilustra, assim, não apenas um encontro de mundos distintos, mas também a tensão entre o conhecimento e o encantamento na época das grandes descobertas.
GANDAVO, Pero de Magalhães de. História da província Santa Cruz […]. Lisboa: Tipografia da Academia Real de Ciências, 1858. Localizável em: entre p. 42-43. Iupiara, ser da mitologia tupi imaginado como um monstro por Pero de Magalhães Gandavo.
Não. No trecho de Gandavo, nota-se uma estrutura social definida pela ausência de um sistema autoritário: o capitão lidera não pela força, mas pela vontade de os demais o seguirem. Além disso, o trecho de Célia Tupinambá revela como as decisões eram tomadas coletivamente, em assembleia, inclusive por mulheres.
6. b) Com os conflitos, os povos iriam se enfraquecendo, o que permitia aos portugueses investir contra as populações indígenas fragilizadas e reduzidas em razão das guerras.
Não escreva no livro.
José de Anchieta Poemas, autos, cartas e hagiografias compõem a obra do padre José de Anchieta (1534-1597). Escritas em latim e em línguas nativas, como o tupi, Anchieta criou peças teatrais e poemas que visavam à conversão dos indígenas ao cristianismo, além de servirem como método de ensino dos princípios da fé cristã. Sua obra mais famosa é o “Poema à Virgem Maria”, que foi composto durante o período que esteve em cativeiro entre os indígenas. Anchieta fundou colégios e seminários, que desempenharam um papel importante para a formação cultural e intelectual do Brasil colonial. Agora é com você!
1. Pesquise em bibliotecas físicas e virtuais e em sites de literatura coletâneas de poesias e peças de teatro de José de Anchieta.
2. Selecione alguns textos para ler e, depois, discuta com os colegas em sala: de que maneira essa produção dialoga com o projeto colonial português?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
9. Leia um trecho do “Poema à Virgem Maria”, do padre jesuíta José de Anchieta, escrito no século XVI.
Eis que aqui estamos dançando para te honrar, mãe de Deus. Olha para esta aldeia, lavando a maldade de nossa alma.
Em ti confiamos, apoiamo-nos em ti. Tem compaixão de nós, tomando-nos como teus filhos. […]
Amaldiçoamos o diabo, a ti somente obedecendo muito. Eis que aqui estamos pedindo: ‘Liberta nossa alma!’
Tão logo ouvindo teu nome, o diabo, tremendo, vai [completamente. Vem para esmagar o maldito, para que não nos vença.
9. a) Como alguém que está dançando, lavando a maldade da alma e pedindo compaixão e libertação. O eu lírico também amaldiçoa o diabo e diz obedecer somente à “mãe de Deus”. É possível inferir que a voz do eu lírico corresponde à dos indígenas convertidos ao cristianismo e que se dirigem à Virgem Maria, mãe de Deus.
9. b) O eu lírico expressa devoção à Virgem Maria, pedindo compaixão e proteção contra os males provocados pelo diabo.
9. c) Espera-se que os estudantes percebam que traduzir diabo, o grande inimigo da religião cristã, como anhangá, uma divindade indígena, pode sugerir que a religião dos indígenas é errada e pecaminosa, considerando como parâmetro apenas a religião cristã. Do mesmo modo que os jesuítas encontraram correlatos para o diabo entre as culturas indígenas da costa, encontraram também para Deus, como Tupã e Nhanderu.
ANCHIETA, José de. Dança. In: ANCHIETA, José de; NAVARRO, Eduardo de A. (org.). Poemas: lírica portuguesa e tupi. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. (Coleção poetas do Brasil, p. 173-175).
a) Como o eu lírico do poema se apresenta? A quem se dirige?
b) O que esse eu lírico deseja de seu interlocutor?
c) Considere a definição de anhangá a seguir. Anhangá é o deus da caça do campo; Anhangá devia proteger todos os animais terrestres contra os índios que quisessem abusar de seu pendor pela caça, para destruí-los inutilmente.
CASCUDO, Luís da Câmara. Geografia dos mitos brasileiros. São Paulo: Global, 2012. p. 90.
Na versão em tupi do poema de Anchieta, o termo diabo foi traduzido como anhangá . Essa tradução constrói uma imagem distorcida. Que imagem a tradução de um termo pelo outro cria a respeito das crenças dos indígenas?
10. Leia o poema a seguir, da escritora e ativista potiguara Eliane
Potiguara, escrito no século XX.
Quem diria que gente tão guerreira
Fosse acabar um dia assim na vida.
Quem diria que viriam de longe
E transformariam teu homem
Em ração para as rapinas.
Quem diria que sob os escombros
Te esconderias e emudecerias teu filho – fruto do amor.
Cenário macabro te é reservado.
Pra que lado tu corres,
Se as metralhadoras e catanas e enganos
Te seguem e te mutilam?
É impossível que mulher guerreira
Possa ter seu filho estrangulado
E seu crânio esfacelado!
Quem são vocês que podem violentar
A filha da terra
E retalhar suas entranhas?
POTIGUARA, Eliane. Invasão. In: POTIGUARA, Eliane. Metade cara, metade máscara . 3. ed. Rio de Janeiro: Grumin, 2019. p. 33.
#SOBRE
Em defesa dos povos originários, a escritora, professora, ativista e empreendedora social brasileira Eliane Potiguara (1950-) vem há quatro décadas publicando cartilhas e livros, além de participar de organizações civis e políticas voltadas aos direitos humanos no Brasil e no mundo. Publicou, entre outros títulos, A terra é a mãe do índio (1989) e Metade cara, metade máscara (2004). Em 2011, recebeu da Organização das Nações Unidas (ONU) o título de Embaixadora Universal da Paz. A autora iniciou sua escrita ainda na infância, influenciada por sua avó Maria de Lourdes.
Foto da escritora em 2022.
Embora tenha sido escrito quase 500 anos depois da chegada da esquadra de Cabral ao Brasil, o poema de Eliane Potiguara ainda dialoga com os eventos iniciais do contato entre europeus e povos originários. Copie no caderno a alternativa que melhor expressa esse diálogo.
a) O poema celebra a chegada dos portugueses como um marco de progresso e desenvolvimento para os povos indígenas, enfatizando a harmonia e a cooperação mútua.
b) O poema sugere que a chegada dos portugueses não teve impacto significativo nas culturas indígenas, pois os povos originários conseguiram manter suas tradições, línguas e territórios intactos apesar do contato.
c) O poema utiliza a metáfora da invasão para expressar a violência e a destruição trazidas pelos colonizadores, destacando o sofrimento, a perda e a transformação forçada dos povos indígenas e de suas culturas.
Resposta: alternativa c
d) O poema mostra que a interação entre os portugueses e os povos indígenas foi marcada principalmente por trocas culturais, que beneficiaram igualmente ambos os lados.
As Grandes Navegações, ocorridas principalmente entre os séculos XV e XVI, representam um período de intensa exploração marítima promovida por potências europeias, como Portugal e Espanha, em busca de novas rotas comerciais para as Índias e, assim, do acesso direto a especiarias, ouro e outros bens valiosos. Impulsionadas por avanços tecnológicos, como a bússola e o astrolábio, além de embarcações mais robustas e capazes de longas viagens, como as caravelas, as Grandes Navegações levaram ao achamento de terras, inclusive do continente americano por Cristóvão Colombo, em 1492, e ao caminho marítimo para a Índia percorrido por Vasco da Gama, em 1498. Esses eventos alteraram profundamente as dinâmicas econômicas, sociais e políticas globais.
O desenvolvimento da cartografia, intimamente ligado à observação do céu, ao advento do astrolábio e da bússola, impulsionou as Grandes Navegações.
JANZSOON, Lucas. Du Miroir de la Navigation. 1590. Atlas Obscura, 3 ago. 2015. Disponível em: www.atlasobscura.com/ articles/7-gorgeous-sea-maps-from-theage-of-exploration. Acesso em: 14 ago. 2024.
O Renascimento foi um movimento cultural que ocorreu nos séculos XV e XVI. Iniciado na Itália, ele se espalhou por toda a Europa. Marcado pelo redescobrimento e pela revalorização das artes, das ciências e da literatura da Antiguidade clássica, o Renascimento promoveu uma nova visão sobre o ser humano e o mundo, com a valorização do antropocentrismo em contraste com o teocentrismo medieval. Esse período de renovação intelectual incentivou o questionamento do conhecimento tradicional além de promover inovações em diversos campos, como a arte – com destaque para figuras como Leonardo da Vinci (1452-1519) e Michelangelo Buonarroti (1475-1564) –, a ciência, com Galileu Galilei (1564-1642), e a literatura, com Miguel de Cervantes (1547-1616) e William Shakespeare (1564-1616), entre outros.
Encomendada pelo papa Júlio II, essa escultura de Michelangelo é considerada uma das mais importantes obras do Renascimento. Ela representa a figura de Moisés com suas veias, músculos e tendões, criando um ideal do homem renascentista.
MICHELANGELO. Moisés. [ca. 1515]. Escultura em mármore, 235 cm x 210 cm. Basílica de São Pedro Acorrentado, Roma.
A Reforma protestante foi um movimento religioso e cultural que teve início com Martinho Lutero em 1517, quando ele publicou suas 95 teses criticando práticas da Igreja Católica, especialmente a venda de indulgências. O movimento se espalhou pela Europa, dando origem a correntes religiosas que se afastaram dos ensinamentos católicos, como a luterana, a calvinista e a anglicana. A importância da Reforma protestante reside não apenas na diversificação do cristianismo e no estímulo ao debate religioso; ela incentivou a leitura da Bíblia em línguas além do latim, promoveu valores como o trabalho, a poupança e o lucro e desafiou o poder centralizado da Igreja Católica.
exploração
A colonização caracterizou-se pela fundação de colônias, extração de recursos naturais e imposição de sistemas administrativos e econômicos europeus. A colonização também envolveu a evangelização dos povos indígenas, frequentemente acompanhada de violência e coerção.
A chegada dos europeus trouxe doenças para as quais os indígenas não tinham imunidade, resultando em uma drástica redução das populações nativas. Além disso, o sistema de encomienda, na América espanhola, e o trabalho forçado nas plantações de cana-de-açúcar, no Brasil, exemplificam a exploração e os abusos cometidos contra os povos originários.
Como se sabe, além da carta de Caminha, relatos de navegadores, missionários jesuítas e administradores coloniais permitem melhor compreensão da visão europeia sobre a América e sobre os processos de colonização e evangelização.
Os escritos jesuíticos, por exemplo, revelam não apenas o esforço de catequese dos povos indígenas, mas também fornecem observações detalhadas sobre cultura, língua e costumes, sendo fonte documental valiosa para estudos antropológicos e históricos.
Quem eram e o que pensavam os primeiros habitantes desta terra? Algumas respostas foram dadas por antropólogos que pesquisaram o assunto e permitiram esclarecer aspectos dessa história. O livro revela ao leitor o caráter absolutamente universal das tradições e da cultura dos povos que primeiro habitaram o território brasileiro.
• JECUPÉ, Kaká Werá. A terra dos mil povos: história indígena do Brasil contada por um índio. Ilustrações: Taísa Borges. São Paulo: Peirópolis, 2020.
Capa do livro
A terra dos mil povos.
No entanto, esses textos informativos, apesar de sua importância histórica e documental, apresentam uma perspectiva eurocêntrica e colonialista. As narrativas são marcadas pela visão de conquistadores e colonizadores, frequentemente tratando os povos indígenas de maneira estereotipada e desumanizada.
Esse viés reflete as ideologias e as estruturas de poder da época, as quais moldaram as relações entre europeus e nativos, como é possível identificar nos dois poemas que abrem esta unidade. Tanto o poema de Márcia Kambeba quanto o poema de Oswald de Andrade, embora projetem visões de sujeitos que ocupam lugares sociais muito diferentes, apresentam uma perspectiva crítica da colonização. Eles destacam a necessidade de uma incessante resistência e adaptação dos povos indígenas, que não tiveram suas terras, sua cultura, sua identidade e seus corpos exterminados somente no passado, mas ainda vivem em condições adversas no presente, herança desse contato primeiro no século XVI.
2. Professor, oriente os estudantes a buscar fontes seguras, dando preferência a jornais e revistas de grande circulação, ligadas a institutos e universidades de reconhecida competência, artigos acadêmicos de revistas publicadas por universidades. É importante essa aliança com o professor de História, que poderia sugerir fontes e dar orientações de pesquisa. Sobre o item a, os estudantes podem elencar não apenas influências culturais na língua, na culinária, na religião etc., como no modo de exploração das riquezas, no preconceito racial e na produção da exclusão, entre outras. Quanto ao item b, há várias pesquisas acadêmicas que tratam do tema e que têm ganhado divulgação em artigos ou revistas. Seguem alguns endereços, mas as indicações podem ser enriquecidas pelo professor de História ou complementadas por uma busca na internet com as palavras-chave “necropolítica”
acessos em: 15 ago. 2024). e “projeto colonial” (disponíveis em: www.ihu.unisinos.br/600046 e www.brasildedireitos.org.br/atualidades/o-que-necropoltica;
Nesta unidade, você leu relatos de viajantes a serviço da Coroa portuguesa que registram como o novo território era visto pelos europeus.
A partir do século XV, Portugal se tornou uma potência ultramarina e estendeu seus domínios para a América, a África e a Ásia com o objetivo de controlar o comércio das especiarias, conquistar territórios e converter novos fiéis para a Igreja.
A chegada ao Brasil se deu no contexto desse projeto colonial, que previa ocupação e exploração e que foi executado com a força de trabalho escravizada dos povos originários e, posteriormente, dos africanos. Houve também a distribuição do território entre os nobres escolhidos pelo rei, sem nenhum projeto que trouxesse benefícios para o território e a população local, vistos como fontes de riquezas a serem exploradas para o enriquecimento do reino português.
A imposição desse domínio, de natureza política, econômica e cultural, marcou o destino brasileiro impondo matrizes até hoje reconhecíveis.
Não escreva no livro.
1. P or que é possível dizer que a imposição de uma língua pode ser vista como um mecanismo de dominação?
1. Professor, incentive os estudantes a formular hipóteses e expressar suas ideias. Lembre-os de que uma língua, além de ser um sistema, traz também valores e possibilidades de pensar o mundo, ou seja, carrega uma cultura que, uma vez imposta, molda o conquistado de acordo com os interesses do conquistador. Ainda nesta unidade, na seção Astúcias da língua e no boxe sobre a origem da língua portuguesa, serão trazidas informações que podem alimentar essa discussão.
2. S ob orientação do professor, forme grupo com mais três colegas. Com o suporte do professor de História, você e seu grupo elaborarão uma pesquisa com base nas seguintes questões.
a) Que marcas do projeto colonial português é possível identificar na sociedade brasileira?
b) O conceito de colonização tem sido colocado em discussão: alguns historiadores e sociólogos entendem a conquista colonial como a criação de espaços de não ser – no qual se situam os excluídos, por exemplo – e colocam a exclusão como resultado de uma necropolítica que não contempla, em seus projetos, pobres, indígenas, negros, moradores de favelas, pessoas sem-terra ou sem-teto. Pesquise: o que é necropolítica? Que relação pode haver entre necropolítica e projeto colonial?
#fiCAADiCA
O documentário recupera imagens de arquivos e grava depoimentos de célebres historiadores das mais diversas nacionalidades e linhas de pesquisa para remontar os passos das missões jesuíticas no Brasil e na América do Sul no século XVII, para compreender as formações e os costumes das antigas comunidades indígenas nativas que foram dizimadas pelo homem branco.
• REPÚBLICA guarani. Direção: Sylvio Back. Brasil: Sylvio Back Produções Cinematográficas: Embrafilme, 1981. Streaming (98 min).
Imagem de divulgação do filme República guarani.
1. O poema aborda a dualidade do amor ao descrevê-lo como uma força que simultaneamente consome e sustenta, está presente na ausência e fere enquanto é indispensável. Essa dualidade reflete a compreensão renascentista do amor como uma experiência complexa e multifacetada.
A arte renascentista reflete a busca por uma representação mais realista e humanizada do mundo, com a valorização do ser humano e suas experiências no centro da criação artística – em contraste com a ênfase religiosa predominante na arte medieval.
Na literatura, a obra do escritor português Luís Vaz de Camões destaca-se por sua abordagem única, inspirada pelos estilos de autores clássicos e renascentistas, cujas formas e temas ele reinventou para explorar o amor em suas contradições e expressar experiências pessoais enquanto navega entre esperança e desilusão. Leia o poema a seguir para conhecer um pouco sobre a poesia lírica de Camões.
2. O poema reflete a racionalidade do Renascimento ao tentar definir o amor, mesmo que não consiga chegar a nenhuma definição definitiva.
Amor é um fogo que arde sem se ver; é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente; é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer; é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar-se de contente; é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade; e servir a quem vence, o vencedor; é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor?
CAMÕES, Luís de. Soneto 5. In: CAMÕES, Luís de. Lírica. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1982. (Grandes obras da cultura universal, v. 4, p. 155).
Não escreva no livro.
1. Como o poema de Camões aborda a dualidade do amor?
2. Embora o texto tenha como tema um sentimento, por que se pode afirmar que ele reflete a lógica racionalista típica do Renascimento?
#SOBRE
A vida de Luís Vaz de Camões (1524-1580) foi repleta de aventuras e de dificuldades, incluindo exílio, prisão e pobreza. Serviu como soldado em campanhas no norte da África, onde perdeu um olho. Mais tarde, foi para o Oriente, onde participou de expedições militares e experimentou a vida nas colônias portuguesas da Ásia. Essas experiências influenciaram profundamente sua obra mais conhecida, Os lusíadas. Apesar de sua contribuição à literatura, morreu na obscuridade.
Camões mostra versatilidade ao mesclar a poesia medieval com inovações renascentistas, equilibrando o antigo e o novo e antecipando questionamentos que marcariam a literatura portuguesa. Sua lírica reflete múltiplas visões sobre temas universais e instiga um questionamento humanista sobre a volatilidade da condição humana, o que, muitas vezes, resulta em desespero e angústia.
Já em Os lusíadas, Camões demonstra maestria técnica e criativa ao narrar em versos a viagem de Vasco da Gama às Índias. Entrelaçando a narrativa épica com a história, emprega uma linguagem rica e expressiva, marcada pela utilização de metáforas, alusões clássicas e profundo humanismo, evidenciando a centralidade do ser humano e suas realizações.
Camões captura o espírito de uma nação no auge de seu poder exploratório; ao mesmo tempo, reflete sobre as implicações morais e humanas dessa expansão, criticando uma mudança de valores que exalta o poder econômico no lugar da honra e da glória. Essas características o consolidam como um dos maiores expoentes do Renascimento em Portugal.
Literatura: necessidade e direito
Todos os povos, de todos os tempos, de todos os lugares, de todas as culturas produziram literatura. Em sua forma oral ou escrita, as fabulações sobre a realidade parecem ter sido uma necessidade de todos os seres humanos desde sempre. A literatura – assim como a arte em geral – é uma necessidade porque a vida não basta, como afirmou, na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) de 2010, o poeta e crítico Ferreira Gullar (1930-2016). A vida e suas exigências, às vezes duras, precisam encontrar respiros, brechas para sair dela mesma e abrir mundos, perspectivas, sonhos, outros universos de relações, conflitos, tempos e lugares.
Em torno da fogueira, sob a noite absoluta, as fabulações orais serviam para espantar o medo do desconhecido, o medo da morte; ou para que os mais experientes passassem seu conhecimento aos mais jovens. Hoje, se o universo pode ser prospectado por potentes telescópios, outras questões afetam e mesmo atormentam o ser humano contemporâneo. A literatura é um potente espaço de reflexão e de elaboração de diversas dessas questões. Viver outras vidas, outros mundos permite pensar também no próprio mundo, na própria existência e na dos outros, sejam de convivência próxima ou distante. Assim, a literatura humaniza.
Em seu ensaio “O direito à literatura”, o professor e crítico literário Antonio Candido de Mello e Souza (1918-2017) lembra aos leitores que, todos os dias, sonhando ou acordado, tem-se a necessidade de contato com o universo da ficção ou do poético. “Ora, se ninguém pode passar vinte e quatro horas sem mergulhar no universo da ficção e da poesia, a literatura concebida no sentido amplo […] parece corresponder a uma necessidade universal, que precisa ser satisfeita e cuja satisfação constitui um direito”.
Para discutir
1. Você concorda com a ideia de que a literatura é um direito? Por quê?
2. Considere todos os gêneros possíveis do campo ficcional ou poético: novela, HQ, canção, conto, anedota, poema, pichação poética etc. Nas suas últimas 24 horas, você teve contato com algum gênero ficcional? Qual? Em que circunstância?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
2. Professor, neste momento, seria possível discutir com os estudantes como as cartas abertas, embora em geral sejam destinadas a pessoas ou grupos específicos, são divulgadas publicamente para contar com o apoio de um maior número de pessoas em prol das reivindicações.
Esta unidade apresentou textos informativos do século XVI, do Renascimento europeu e da literatura brasileira. Esses textos mostram que, enquanto as vozes europeias resgatavam os valores da literatura clássica e recolocavam o ser humano no centro das reflexões e da arte que produziam, no Brasil, a voz dos indígenas era silenciada pelo projeto colonizador dos portugueses que aqui chegavam.
Para discutir
1. Professor, destaque para os estudantes que as pautas de luta indígenas são muito variadas e contemplam a questão ambiental, a luta pelo direito à terra, o acesso à saúde, à educação e à alimentação, a defesa de línguas e culturas etc.
O que você sabe sobre os principais desafios dos povos originários no Brasil atual? Quais são as suas pautas de lutas? Discuta com os colegas sobre quais seriam as maiores reivindicações dos povos indígenas no Brasil com base em seu repertório ou busque e compartilhe informações.
Você já leu alguma carta aberta? Onde? Em que contexto? Reflita com os colegas: quais seriam os objetivos de uma carta de reivindicação e por que elas são divulgadas publicamente?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A carta aberta a seguir foi escrita pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) com base nas deliberações feitas durante a 19a edição do Acampamento Terra Livre, em 2023. Nela, os povos indígenas fazem 17 reivindicações que consideram necessárias para a preservação dos recursos naturais e da vida. Leia um trecho da carta e algumas dessas reivindicações.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Povos indígenas decretam emergência climática
Depois da guerra de ocupação, extermínio, esbulho , destruição e exploração dos nossos povos e territórios praticados pelo colonialismo europeu e o sistema político e econômico imposto pelas elites ao longo desses mais de cinco séculos seguimos resistindo e estamos aqui para afirmar: ‘Nunca mais um Brasil sem nós’.
O planeta inteiro, a Mãe Terra está adoecida, clamando por cura. Ser salva das doenças que o modelo de desenvolvimento predatório, baseado na acumulação, no lucro e no consumismo insaciável causaram: inundações, secas, barramentos, furações, aumento da temperatura do planeta em mais de 1% próximo à meta estabelecida pelos países de 1,5% até 2030.
esbulho: ato de usurpação, de tomada de posse de algo que seja de outra pessoa.
barramento: barragem, obstrução de fluxo de água.
A Apib é uma organização que coordena as lutas dos povos indígenas em todo o território brasileiro.
O objetivo principal da Apib é unificar as lutas, articulando os diferentes povos e organizações regionais indígenas do país, para fortalecer sua presença e ação política nas esferas pública e governamental. A organização realiza encontros, congressos e mobilizações, participa de debates, audiências públicas e fóruns nacionais e internacionais para promover a autonomia dos povos indígenas e influenciar políticas públicas voltadas para a garantia de seus direitos.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Tudo isso é chamado de crise climática, e tem piorado a precarização de amplos setores da população brasileira, sobretudo daqueles que como muitos de nós já viviam empobrecidos e marginalizados pelo atual modelo econômico vigente.
Nós povos indígenas fizemos e estamos fazendo a nossa parte. Em todos os biomas e ecossistemas, além de contribuirmos na formação social do Brasil, aportando para a cultura, a língua e a culinária, até hoje contribuímos na proteção da biodiversidade, das florestas e das águas, e consequentemente na manutenção do equilíbrio climático, graças à relação espiritual e harmoniosa que mantemos com a Mãe Natureza, da forma como aprendemos dos nossos ancestrais e dos nossos encantados.
Não estamos falando somente de grandes florestas como a Amazônia. Defendemos com toda força a Amazônia, mas nosso grito parte do chão onde cada um de nós pisamos. Nossas Terras estão na Mata Atlântica, no Cerrado, nos Pampas, na Caatinga e no Pantanal. Cada área demarcada é um suspiro a mais para o Planeta. Cada parte da vida na terra integra o todo e precisa de cuidado. Sem Cerrado não há água na Amazônia. Sem a Mata Atlântica não existe a Caatinga. Você precisa compreender que este todo é interligado e cada parte dele é fundamental para a preservação da vida.
Os serviços ambientais oferecidos pelos nossos povos e territórios, no entanto, até hoje não foram reconhecidos e valorizados. […]
Como se isso não bastasse, atualmente alguns dos nossos povos sofrem o assédio de piratas modernos, mercadores, traficantes, contrabandistas ou atravessadores, que aproveitando-se da desinformação querem terceirizar o lucro e a ganância, promovendo a comercialização de créditos de carbono, enquanto os países ricos continuam a poluir o planeta, não cumprindo as suas metas de redução de emissões de gases e que comprometem não apenas a saúde de suas populações mas também impactam as nossas vidas.
[…]
Para que tudo isso não continue mais e nós possamos seguir zelando pelo bem viver dos nossos povos e da humanidade inteira, contribuindo com o equilíbrio climático, […] decretamos a viva voz Emergência Climática e reivindicamos de todos os poderes do Estado:
1. Reconhecimento e valorização da importância das nossas terras e territórios, de todos os biomas, fundamentais para a preservação da sociobiodiversidade, da mitigação e enfrentamento da mudança climática e da soberania alimentar e nutricional dos nossos povos, bem como dos quilombolas e comunidades tradicionais.
[…]
3. Que o governo federal institua uma política de verdadeira proteção dos nossos territórios, assegurando a fiscalização e desintrusão, que não se reduzam a ações bombásticas e cirúrgicas sem continuidade, o que permite o retorno dos invasores (grileiros, garimpeiros, madeireiros, entre outros) e a continuidade das práticas de violência, ameaças, conflitos, perseguições, assassinatos e transmissão de doenças para o interior dos nossos territórios.
4. Fortalecimento da política especial de proteção e de não contato aos povos indígenas isolados e de recente contato.
5. Reestruturação e/ou fortalecimento dos órgãos responsáveis pela implementação das políticas públicas voltadas aos nossos povos, […] com a dotação orçamentária e quadro de servidores condizente com as necessidades das ações necessárias à promoção dos direitos dos nossos povos […].
Como dizem as nossas irmãs indígenas é preciso reflorestar mentes para a cura da Terra, a Mãe Terra. Pelo respeito à nossa autonomia, ao direito originário às nossas terras, e por um país realmente democrático. Nunca mais um Brasil sem nós.
Brasília – DF, 26 de abril de 2023. Acampamento Terra Livre 2023. Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – Apib
ARTICULAÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS DO BRASIL. Carta aberta do Acampamento Terra Livre 2023: povos indígenas decretam emergência climática. Brasília, DF: Apib, 26 abr. 2023. Disponível em: https://apiboficial.org/files/2023/04/ Carta-Povos-Indi%CC%81genas-decretam-Emergencia-Clima%CC%81tica-.docx.pdf. Acesso em: 14 ago. 2024.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1. a) Resposta possível: A expressão aquecimento global refere-se ao aumento da temperatura média da atmosfera terrestre e dos oceanos, uma mudança climática observada ao
Não escreva no livro.
1. O depoimento sobre o clima a seguir foi feito durante coletiva de imprensa do secretário-geral da ONU, António Guterres, em 2023.
longo do tempo em razão, principalmente, das atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis, que libera gases de efeito estufa na atmosfera. Esse fenômeno
Hoje, a Organização Meteorológica Mundial e o Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus da Comissão Europeia divulgaram dados oficiais que confirmam que julho de 2023 deverá ser o mês mais quente já registrado na história da humanidade.
resulta em uma série de efeitos ambientais e climáticos, como padrões climáticos extremos, derretimento das calotas
Não precisamos esperar o final do mês para saber disso. A menos que ocorra uma ‘miniera do gelo’ nos próximos dias, o mês de julho de 2023 quebrará os recordes em todas as frentes.
[…]
Para todo o planeta, é um desastre.
E, para os cientistas, é inequívoco: a culpa é dos humanos.
[…]
polares e elevação do nível do mar. A ebulição global refere-se a um período caracterizado pelo rápido crescimento das temperaturas terrestres e pelo agravamento dos fenômenos climáticos. Esse fenômeno é resultado da escalada do aquecimento global, causado pelo aumento das emissões de gases do efeito estufa e pela ação humana sobre o meio ambiente, inclusive atividades como o desmatamento.
A mudança climática está aqui. É assustadora. E é apenas o começo.
A era do aquecimento global acabou; a era da ‘ebulição global’ chegou.
GUTERRES, António. Coletiva de imprensa do secretário-geral da ONU sobre o clima. Brasília, DF: Nações Unidas Brasil, 27 jul. 2023. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/240543-coletiva-de-imprensa-do-secret%C3%A1rio-geral-da-onu-sobre-o-clima. Acesso em: 14 ago. 2024.
a) Considere o contexto da fala de Guterres e formule uma hipótese: qual seria a diferença entre aquecimento global e ebulição global?
b) Que relação se pode estabelecer entre a ebulição global e a carta aberta da Apib?
Professor, espera-se que os estudantes relacionem as consequências da ebulição global às doenças da natureza provocadas pela humanidade: inundações, secas, barramentos, furacões e aumento da temperatura do planeta.
4. b) Respostas possíveis: fortalecimento dos órgãos de fiscalização da Amazônia; parcerias com governos de países que compartilham territórios na Amazônia; incentivo a pesquisas que demonstrem a importância da preservação da cultura dos povos originários e identifiquem as ameaças trazidas pelo contato com outras culturas não indígenas.
2. O texto que você leu é uma carta aberta, isto é, ela não se dirige a um destinatário de forma exclusiva, pois tem uma divulgação pública. É possível, no entanto, identificar um leitor esperado.
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil
a) Copie no caderno o organizador a seguir e preencha-o com as informações pedidas.
Remetente
Estado brasileiro, todos os brasileiros
2. c) “Pelo respeito à nossa autonomia, ao direito originário às nossas terras, e por um país
Nunca mais um
Brasil sem nós.”
Destinatário
Público leitor esperado
Brasileiros interessados e engajados na luta pelo meio ambiente
b) Toda carta apresenta uma estrutura tradicional que não foi completamente reproduzida na carta aberta: cabeçalho, saudação, corpo do texto, despedida, assinatura. Nessa carta, qual poderia ser o cabeçalho?
Brasília, 26 de abril de 2023.
c) Copie no caderno o parágrafo que pode ser considerado como despedida da carta.
3 . Cartas particulares têm uma circulação restrita entre um remetente e o destinatário. Cartas abertas, embora dirijam-se a um destinatário específico, são públicas e estão disponíveis para a leitura de toda a sociedade.
a) Onde podem ser publicadas cartas abertas para que sejam lidas por um público geral?
Podem ser publicadas em jornais, revistas, sites ou até mesmo em redes sociais.
b) Onde foi publicada a carta aberta que você leu?
Foi publicada no site da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil.
#PARAlEMBRAR
As cartas abertas, assim como todas as cartas, possuem uma estrutura textual mais ou menos fixa, composta de cabeçalho (local e data por extenso), saudação, corpo do texto, despedida e assinatura . A saudação e a despedida podem variar de acordo com o destinatário: menos ou mais formal. Em casos de um destinatário muito formal, deve-se usar um pronome de tratamento adequado.
Toda carta aberta possui locutores bem definidos, que a assinam, e interlocutores que podem ser específicos (algum grupo, instituição ou setor da sociedade) ou gerais (toda a sociedade).
4. Releia uma das reivindicações da carta da Apib.
4. Fortalecimento da política especial de proteção e de não contato aos povos indígenas isolados e de recente contato.
a) Que argumento pode justificar essa reivindicação?
b) Que políticas você supõe necessárias para atender a essa reivindicação?
4. a) O argumento de que a interação com os povos indígenas isolados e de recente contato pode ameaçar sua cultura original, levar doenças, fomentar conflitos e introduzir hábitos que favoreçam conflitos entre os integrantes desses povos. Professor, avalie outras possibilidades de resposta à luz do contexto produzido pela carta.
5. Além da defesa de uma resposta urgente contra o aquecimento global, a carta também faz a defesa de outra grande pauta relacionada a minorias.
• A carta sugere que setores da população brasileira pobres e marginalizados irão sofrer mais com as consequências do aquecimento global. Discuta com os colegas e registre no caderno o que levaria a essas consequências mais intensas entre esses setores da população.
Espera-se que os estudantes reflitam sobre como povos pobres e marginalizados não têm acesso a estratégias que minimizem as consequências negativas do aquecimento global, como climatização, alimentação, acesso a saneamento básico etc.
Para defender um ponto de vista, as cartas abertas podem recorrer a argumentos lógicos e a argumentos emocionais. O importante é obter a atenção e o apoio do público que deseja atingir, além de exercer pressão a fim de obter aquilo que deseja no mundo.
6. As cartas abertas podem ser dirigidas a um destinatário específico, como um líder político ou uma autoridade governamental, mas devem ser acessadas pelo público em geral.
a) Por que é possível dizer que o destinatário da carta aberta pode ser considerado um público amplo e geral?
Além de o assunto ser relevante para toda a sociedade brasileira, o fato de ter sido publicada em veículos oficiais faz com que seu alcance seja mais amplo.
b) Que imagem é construída dos remetentes?
É construída a imagem dos povos indígenas como defensores do meio ambiente, como aqueles que já realizam todas as medidas necessárias para frear a catástrofe ambiental, mesmo que não tenham reconhecimento.
Cartas abertas, e todas as cartas de forma geral, podem elaborar as imagens do remetente (locutor) e do destinatário (interlocutor), conferindo-lhes características que podem potencializar os sentidos do texto e aumentar sua confiabilidade e receptividade.
SAIBA MAIS
Para evitar o fim do mundo
A COP28 (2023), ou 28a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), foi um evento global que reuniu países para combater a mudança climática, visando atingir os objetivos estabelecidos no Acordo de Paris. Entre eles, está manter o aumento da temperatura global abaixo de 2 °C, preferencialmente em 1,5 °C, em relação aos níveis pré-industriais.
Entre as decisões importantes, destaca-se o compromisso dos países em abandonar os combustíveis fósseis, alcançar a neutralidade de carbono até 2050, triplicar a capacidade de produção de energia renovável mundialmente e investir em sistemas de energia limpa. O evento ocorre no mês de novembro de cada ano.
Logotipo da COP28 (2023).
7. Além de identificar ações já praticadas e a serem desenvolvidas para impedir uma catástrofe ambiental, a carta aberta de 2023 da Apib identifica responsáveis pelo atual estágio do aquecimento global. Quem são esses responsáveis?
SAIBA MAIS
São os piratas modernos, mercadores, traficantes, contrabandistas ou atravessadores, bem como os países ricos que não diminuem a meta de redução de emissão de carbono prevista para eles.
Antropoceno é um termo proposto para descrever a atual era geológica, caracterizada pelo impacto significativo das atividades humanas no planeta Terra. Os sinais desta era incluem alterações climáticas aceleradas, perda de biodiversidade, desmatamento, poluição generalizada e alterações na composição química dos oceanos e da atmosfera. Embora ainda não seja oficialmente reconhecido pelo corpo científico internacional, o conceito do antropoceno tem sido utilizado para que as relações entre humanidade e natureza sejam repensadas.
Na imagem, tartarugas-de-couro, espécie de tartaruga marinha classificada como “criticamente em perigo” de acordo com a lista vermelha (2015-2021), elaborada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
3. a) “[…] mas não castiga seus erros nem manda sobre eles cousa alguma contra sua vontade.”
3. b) Para o cronista, cabe ao governante mandar em seus subordinados e castigá-los.
Releia um trecho do registro de viagem de Pero Magalhães Gandavo.
1. a) Ele destaca o alfabeto, mostrando como a língua dos indígenas não possuía três letras: F, L e R
1 Nesse trecho,
Gandavo avalia a língua dos indígenas do litoral brasileiro.
a) Que aspecto da língua ele destaca para fazer essa reflexão?
b) Considerando que os indígenas brasileiros não possuíam um sistema formal de escrita, a que aspecto da língua Gandavo se refere?
Ele se refere aos sons da língua, no caso os de F, L e R.
2 O livro Tratado da terra do Brasil: história da província de Santa Cruz […] foi publicado na Europa com o objetivo de divulgar curiosidades e atrair potenciais colonizadores para a colônia. Quem seriam os prováveis leitores desses textos?
2. Os leitores prováveis seriam comerciantes, exploradores e outros indivíduos com interesse financeiro ou de outro tipo nas novas terras. 4. a) O termo gentio, que faz referência a todo aquele que não é cristão nem professa a fé católica.
A língua deste gentio toda pela costa é uma: carece de três letras – scilicet [a saber], não se acha nela F, nem L, nem R, cousa digna de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei; e desta maneira vivem sem Justiça e desordenadamente. […] Não há como digo entre eles nenhum Rei, nem Justiça, somente em cada aldeia tem um principal que é como capitão, ao qual obedecem por vontade e não por força; morrendo este principal fica seu filho no mesmo lugar; não serve doutra cousa senão de ir com eles à guerra, e aconselhá-los como se hão de haver na peleja, mas não castiga seus erros nem manda sobre eles cousa alguma contra sua vontade. […]
GANDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da Terra do Brasil: história da província Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Conselho Editorial, 2008. Reprodução do original de 1576. E-book. (Edições do Senado, v. 100, p. 65-66).
Estudar a língua é mergulhar em um universo que vai além da simples troca de informações por meio da comunicação verbal. É explorar um vasto campo do conhecimento, que permite decifrar como o ser humano se conecta e interage em comunidade e ao longo do tempo. Por meio do estudo das línguas, é possível descobrir como as palavras moldam a realidade e como, por sua vez, a realidade molda as palavras utilizadas. Ao estudar conceitos como língua, linguagem, texto, discurso e contexto, na verdade, contemplam-se as múltiplas camadas que compõem a comunicação humana. Cada um desses elementos desempenha um papel crucial na maneira como se interpreta e dá significado à realidade, influenciando tanto a percepção individual como o entendimento coletivo e a cultura.
4. b) O termo é scilicet e está em latim. Sua utilização mostra o quanto o autor dominava essa língua, considerada de prestígio na época.
3 O texto de Gandavo descreve aquilo que supostamente ele observou ao chegar ao Brasil, mas também revela sua visão de mundo.
a) Copie no caderno a oração que traz uma crítica à forma como o “capitão” comanda os habitantes da aldeia.
b) É possível depreender dessa crítica uma ideia sobre como deveria ser um governante. Qual seria?
4 A seleção lexical, ou seja, a escolha de palavras do texto apresenta alguns termos que revelam a visão de mundo do autor, que era marcada por uma lógica monárquica e católica.
a) Que termo deixa evidente essa filiação à tradição católica? Explique.
b) Um termo que não é da língua portuguesa foi utilizado. Que termo é esse? Por que foi utilizado?
Língua e linguagem são conceitos fundamentais nos estudos da comunicação e da linguística, mas referem-se a aspectos distintos da capacidade humana de se comunicar.
Linguagem é um fenômeno que se refere à capacidade do ser humano para expressar ideias, emoções, pensamentos e informações. Trata-se de um fenômeno social dinâmico, um conjunto vivo de formas de expressão que estão sempre em transformação e são intrinsecamente relacionadas ao contexto social, cultural e histórico.
A linguagem pode ser verbal, não verbal ou multimodal. O contexto verbal inclui a fala e a escrita; o contexto não verbal abrange outros meios de comunicação, como gestos, expressões faciais, linguagem corporal e até sistemas simbólicos relacionados a sons e imagens (como música, artes plásticas, vídeos etc). A linguagem multimodal articula o verbal com o não verbal. Observe o exemplo a seguir.
Linguagem e pensamento Todo pensamento exige uma forma de expressão; e toda forma de expressão tem origem em um pensamento. Isso significa que existe uma inter-relação inevitável entre pensamento e linguagem. Segundo o psicólogo russo Lev Vigotski (1896-1934), pensamento e linguagem se desenvolvem não apenas com base nos recursos de cada indivíduo, mas também no contexto social e histórico em que ele vive.
AMARILDO. [Principais regras de trânsito]. Blog do Amarildo. [S. l.], 25 nov. 2013. Disponível em: https://amarildocharge.wordpress.com/2013/11/25/principais-regras-de-transito/. Acesso em: 14 ago. 2024.
Essa charge é composta de duas placas com regras de trânsito que mostram qualidades subjetivas importantes ao conduzir veículos. Na linguagem multimodal, placas redondas de bordas vermelhas com fundo branco e símbolos pretos associados a palavras indicam que uma ação é permitida – nesse caso, ter bom senso. Placas quadradas amarelas com símbolos pretos indicam uma advertência – no caso, a necessidade de ser tolerante no trânsito.
Língua, por outro lado, é um sistema específico de símbolos verbais e não verbais – palavras, estruturas gramaticais, sons, gestos nas línguas de sinais – que os membros de uma comunidade linguística usam para se comunicar, pensar, criar, documentar, enfim, existir. Cada língua tem suas próprias regras de gramática, sintaxe, fonologia e semântica, que são aprendidas e compartilhadas pelos falantes. As línguas são entidades concretas que podem ser documentadas e estudadas, como o português, inglês, mandarim, espanhol e tikuna.
A língua se torna significativa no uso, ou seja, quando é empregada em contextos de comunicação concretos dos falantes. A esse processo dá-se o nome de enunciação. É nesse contexto de uso que a língua se encontra com a variabilidade e a dinamicidade da linguagem.
Linguagem é um conceito abrangente que se refere à capacidade inata dos seres humanos para a comunicação, podendo manifestar-se de várias formas além da comunicação verbal.
Língua é a manifestação de uma linguagem, um sistema de comunicação particular utilizado por um grupo de pessoas que utiliza palavras, frases e sinais. É uma instância da linguagem verbal, estruturada e compartilhada socialmente.
Origens da língua portuguesa
É corrente a ideia de que a língua portuguesa que circula entre nós deriva do português que veio com o colonizador, ou seja, da língua falada em Portugal. O português europeu teria se formado com base no latim vulgar – um latim usado no cotidiano, diferente do latim clássico. Foi esse latim vulgar que soldados, colonos e servidores romanos teriam difundido nas regiões conquistadas, dando origem, no extremo peninsular que viria a ser Portugal, à língua portuguesa.
No entanto, uma pesquisa recente do professor português Fernando Venâncio (1944-) atesta que a origem da língua portuguesa estaria não em Portugal, mas na Galícia, e, por isso, quando ela nasceu, chamava-se galego. A pesquisa também garante que a língua portuguesa não teria nascido no século XII, quando surgiu o reino de Portugal, mas cerca de seis séculos antes, na região que corresponde hoje à parte ao norte de Portugal e ao noroeste da Espanha.
Embora o galego e o português sejam semelhantes, foi somente com a publicação desse estudo que se pôde comprovar cientificamente essa origem, escondida por razões ideológicas: a Galícia é, até hoje, subordinada política e linguisticamente à Espanha. Portugal, tendo conquistado sua independência, tornou-se potência mundial com as Grandes Navegações e quis fazer valer seu poder político.
Assim, o português que chegou ao Brasil com os colonizadores não “vem do latim” diretamente, mas do galego – este sim –, vindo do latim.
Texto e discurso são conceitos fundamentais que se referem a diferentes aspectos da linguagem e da comunicação humana. Apesar de frequentemente usados como sinônimos, eles têm significados distintos, o que é preciso considerar no contexto dos estudos sobre a língua e a linguagem.
Texto refere-se a qualquer uso de linguagem não verbal ou verbal (escrita ou oral) que forma um todo coeso e significativo. Ele é caracterizado por estrutura e organização internas,
incluindo-se aspectos estruturantes como fonética, sintaxe e semântica, que, articulados, criam um significado e um sentido. O texto é, portanto, a materialização da linguagem no plano da expressão. Tanto o trecho de Gandavo quanto a charge são textos, assim como os recursos não verbais no caso das placas.
Já discurso é um conceito que abrange o texto, mas é mais amplo e inclui os contextos social, cultural, político e histórico em que o texto é produzido e recebido. O discurso engloba as maneiras pelas quais a linguagem é usada para expressar ideias, valores, crenças e identidades, refletindo e influenciando as relações de poder na sociedade. A análise do discurso procura entender como a linguagem é empregada para construir sentido e como esses sentidos afetam a percepção, a atitude e o comportamento das pessoas.
Quando Gandavo, em seu texto, refere-se aos povos originários como gentios e critica a estrutura social dos indígenas – que, segundo ele, não possuem um rei –, há um discurso implícito que sugere que todos os não católicos seriam inferiores e que aqueles que não seguem uma lógica monárquica estariam submetidos à desordem.
A língua deste gentio toda pela costa é uma [...].
Indígenas são considerados inferiores pois não compartilham da mesma crença católica do português.
[...] mas não castiga seus erros nem manda sobre eles coisa alguma contra sua vontade.
É dever de um rei castigar e mandar em seus súditos como é dever dos súditos obedecerem para evitar o castigo. Mandar e obedecer rege não só a relação entre pessoas, mas também entre povos. No colonialismo, essas relações são evidentes; em outras relações, podem ser menos ou mais explícitas.
O texto é a manifestação de um discurso. Dessa forma, um só discurso pode se dar através de diversos textos. Ambos são produtos da enunciação, ou seja, do processo que coloca a língua em funcionamento por um ato individual.
O texto é uma instância específica de uso da linguagem. É sustentado por uma estrutura e uma lógica internas entre seus elementos em prol da produção de sentidos.
O discurso é um processo mais dinâmico, que explora a interação entre o texto e seu contexto sociocultural. A análise do discurso examina como o texto funciona em situações reais de uso, os valores que defende, as ideologias que sustenta e os efeitos que os discursos têm sobre os interlocutores e a sociedade em geral.
Professor, a enunciação foi teorizada pelo linguista francês Émile Benveniste (1902-1976), que, embora ancorado na linguística estrutural, observa como cada ato individual de linguagem realiza a língua em dado contexto histórico-social e suas demarcações. Ver o que o autor diz sobre teoria da enunciação em Problemas de linguística geral (2023), volumes 1 e 2.
Enunciado e interlocução
Em uma abordagem que dá ênfase à língua em uso, conceitos como enunciado e interlocutores são fundamentais para compreender de que modo a comunicação ocorre como um processo interativo.
Enunciado é uma unidade de comunicação suficiente para estabelecer comunicação com outro enunciado dentro de um contexto. O sentido de cada um é construído, entre outros elementos, pelo contexto específico em que ele se dá, o que inclui o local, o tempo, a situação social e o tipo de relação estabelecida entre os interlocutores. Um enunciado é delimitado por outros enunciados, ou seja, inicia e termina onde potencialmente começa a voz de outro.
O texto de Gandavo, por exemplo, entendido como um enunciado, responde tanto à carta do achamento de Caminha quanto a outros textos que tratavam da necessidade de catequizar os pagãos, bem como a textos que exaltavam a monarquia como a única forma legítima de governo. Por sua vez, o texto de Gandavo também será retomado por outros enunciados que irão questionar ou confirmar suas ideias.
Um enunciado também pode ser entendido como uma unidade menor que participa de um enunciado maior, mas tem sentido suficiente para estabelecer conexão dentro de um todo. Releia o exemplo a seguir.
A língua deste gentio toda pela costa é uma: carece de três letras – scilicet, não se acha nela F, nem L, nem R, cousa digna de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei; e desta maneira vivem sem Justiça e desordenadamente.
GANDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da Terra do Brasil: história da província Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Conselho Editorial, 2008. Reprodução do original de 1576. E-book. (Edições do Senado, v. 100, p. 65).
Esse período constrói sentido suficiente para a compreensão do leitor, ainda que possa ser considerado parte de um enunciado maior: o relato de Gandavo.
Os interlocutores são os participantes no diálogo. Não se trata apenas de uma pessoa física presente no ato comunicativo, mas inclui o entendimento de que o discurso é dirigido a alguém, seja um indivíduo, um grupo específico ou uma audiência mais ampla e abstrata. Por exemplo, os interlocutores da carta que você leu da Apib são amplos e plurais – tanto os que produzem o enunciado quanto a audiência à qual ele se destina.
Os interlocutores têm um papel ativo na comunicação: eles influenciam a forma como os enunciados são construídos, interpretados e respondidos. Cada interlocutor traz para a comunicação suas próprias experiências, valores, expectativas e conhecimentos, que moldam a maneira como entendem e reagem aos enunciados.
Na charge das placas de trânsito, são interlocutores tanto o autor que a produziu – não a pessoa biográfica, mas o autor-criador – quanto seus leitores, seja o leitor material, que de fato a lê, seja um leitor abstrato geral, que seria um potencial leitor.
A interlocução se dá por meio dos enunciados. Ela é um processo dinâmico e interativo em que os enunciados são trocados não apenas para transmitir informações, mas para construir relações, negociar sentidos e influenciar a percepção e o comportamento uns dos outros.
Esse entendimento destaca a importância do contexto, da história anterior dos interlocutores, de seu lugar social, dos valores que estes afirmam e das expectativas futuras na forma como a comunicação se desenvolve – tudo isso reforça a ideia de que a linguagem é profundamente enraizada na vida social e cultural.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Não escreva no livro.
Leia a seguir uma propaganda do Ministério da Saúde.
BRASIL. Ministério da Saúde. Campanha nacional de incentivo à doação de órgãos e tecidos. 2022. 1 cartaz. Disponível em: www.gov.br/saude/pt-br/campanhasda-saude/2022/doacao-de-orgaos/acesseas-pecas/cartaz-doacao-de-orgaos-3.png/ view. Acesso em: 14 ago. 2024.
1. A propaganda tem como objetivo conscientizar o público de uma prática necessária: a doação de órgãos.
a) Quem seria o interlocutor dessa propaganda?
Seriam todos os cidadãos, em especial aqueles que já estão em idade de escolher se querem ou não doar seus órgãos.
b) Por que a propaganda propõe ao interlocutor que converse com sua família?
Porque será a família que ficará encarregada dos trâmites da doação.
2. Para produzir sentido, a propaganda recorre à língua verbal e a outras linguagens.
a) Que trechos da propaganda utilizam língua verbal?
Toda a parte que está escrita em língua portuguesa.
b) Que elementos da propaganda utilizam uma linguagem não verbal?
A fotografia das pessoas interagindo, a fita verde em primeiro plano, as cores de fundo, o QR Code, os ícones, o logotipo do SUS e a bandeira do Brasil.
3. Os elementos não verbais da propaganda atuam como argumento para persuadir o leitor a doar seus órgãos. Explique como isso acontece.
4. Agora, transcreva no caderno os enunciados a seguir, completando as lacunas de forma a deixar explícita a ideia da propaganda que é complementada pelo texto não verbal.
a) Amor para superar .
b) Amor para recomeçar . Leia a charge a seguir, do cartunista Dalcio (1972-).
a perda de um ente querido depois de receber um órgão doado
3. Na fotografia da esquerda, duas pessoas observam uma fotografia com expressão de saudade. Na fotografia da direita, duas mulheres interagem escolhendo feijão. A imagem cria uma narrativa de que foram os órgãos da pessoa que se foi no contexto da família da esquerda que permitiram que uma das pessoas da fotografia da direita pudesse continuar viva.
DALCIO. [Sua vez de usar as tintas]. [S. l.], 19 abr. 2023. Instagram: dalciomachado. Disponível em: www.instagram. com/p/CrPS5EnN5hM/. Acesso em: 14 ago. 2024.
5. b) Em geral, ainda são praticadas ações que resgatam elementos da cultura indígena ainda de forma caricata, considerando os indígenas como um povo só e ignorando as especificidades das etnias.
5. A charge de Dalcio, assim como acontece com as charges em geral, dialoga intimamente com o momento de sua produção e publicação.
a) Quando essa charge foi provavelmente produzida e publicada?
Próximo ao dia 19 de abril, Dia dos Povos Indígenas.
b) Nessa data, que atividades são popularmente praticadas nas escolas e centros culturais?
6. A charge r eproduz dois discursos conflitantes referentes aos indígenas.
a) Relacione as colunas a seguir no caderno indicando a que discurso cada personagem faz referência.
I. Discurso que considera o indígena como exótico.
Menino
Menina
II. Discurso que considera o indígena um cidadão.
III. Discurso que considera o indígena como uma pessoa a ser tutorada.
IV. Discurso que considera o indígena agente ativo na luta por direitos.
b) Que elementos verbais e não verbais da charge permitem identificar esses discursos?
No menino, a pintura facial caricata e a utilização de cocar; na menina, o cartaz que reivindica o direito indígena a suas terras e a lutar contra a invasão.
Leia a tirinha a seguir, do cartunista Will Leite (1986-).
LEITE, Will. [Olá querida]. [S. l.], 3 jun. 2022. Instagram: will.tirando. Disponível em: https://www.instagram.com/p/CeWd9b4uNrp/. Acesso em: 14 ago. 2024.
7. A t irinha de Will trata da comunicação humana.
a) Qual é o tema de todos os textos reproduzidos em cada quadro?
O tema é a saudade de alguém querido.
b) Que gêneros textuais e suportes de texto são reproduzidos em cada quadro? Relacione as colunas no caderno.
Quadro 1: I. B; quadro 2: III. E; quadro 3: V. A; quadro 4: II. C; quadro 5: IV. D.
Quadro 1
Quadro 2
Quadro 3
I. Carta
II. Chat
III. Conversa telefônica
A. Celular
B. Papel
C. Rede social
Quadro 4IV. Gênero ainda não existenteD. Tecnologia ainda não existente
Quadro 5
V. Mensagem de texto
E. Telefone
8. De acordo com a tirinha, há uma tendência com relação ao uso da língua ao longo do tempo.
a) Que tendência é essa?
b) Como essa tendência se evidencia ao longo dos quadros?
c) Agora, reescreva as mensagens do quarto quadro utilizando apenas emojis .
Resposta pessoal. Espera-se que utilizem emojis como A tendência é condensar cada vez mais as informações.
8. b) No primeiro quadro, a carta é longa; no segundo, a conversa é mais condensada que a carta; no terceiro, o texto é curto, e as palavras estão abreviadas; no quarto, além da abreviação, há poucas palavras e a presença de emojis; no último quadro, há apenas pensamento ou sensação pura.
2. a) O aumento dos casos graves de dengue no estado de São Paulo.
2. b) Ele se evidencia por meio da imagem de um mosquito sobre um pneu e pela referência à doença no título da propaganda.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
4. a) O perigo que pode representar um pneu na luta contra a dengue, pois os mosquitos podem se reproduzir na água eventualmente acumulada nele.
Leia a seguir uma propaganda da Prefeitura de Barueri, cidade do estado de São Paulo.
1 A propaganda da Prefeitura de Barueri quer convencer os leitores a adotar determinado comportamento. Qual?
A fazer o descarte correto de pneus para não acumular água, o que pode fazer proliferar o número de mosquitos transmissores da dengue.
3 Considere o título “A dengue pode estar ao seu lado”.
a) Que sentidos essa expressão tem na propaganda?
b) A imagem determina o sentido pretendido pela propaganda. O que sugere a imagem?
c) O subtítulo também orienta o sentido pretendido pelo texto. Qual palavra não deixa dúvida sobre ele?
Ameaça, perigo. Luta.
3. a) O sentido de estar muito próximo como uma aliada ou como uma ameaça.
PREFEITURA DE BARUERI. [Dengue]. c2024. 1 cartaz. Disponível em: www.estacaoprimeira.net/portfolio/ dengue/. Acesso em: 14 ago. 2024.
A dengue é traiçoeira. Ela pega você quando menos espera. Precisamos combater o Aedes aegypti, o mosquito que transmite a doença, a todo instante e em todos os cantos, sem descanso. Lembre-se: água limpa e parada é o nosso principal campo de batalha.
4. b) A propaganda mostra uma caixa-d’água, remoção de folhas de uma calha, garrafas de água viradas para baixo, pneus, vasos de plantas, lixeira com saco plástico, areia sendo colocada em vaso,
Para entender a propaganda que você leu, é preciso saber sobre o contexto em que foi produzida. Por exemplo: no momento em que ela foi publicada, havia um surto de dengue que adoecia muitas pessoas.
tonel sendo fechado. Professor, incentive os estudantes a compartilhar as medidas de combate ao mosquito da dengue que conhecem.
2 Essa propaganda dialoga muito diretamente com o momento em que foi produzida.
a) Que problema sanitário poderia estar em alta nesse momento?
b) Como esse problema está representado na propaganda?
4 Essa propaganda tem um pneu no centro do texto com a sombra de um mosquito.
a) O que justifica a escolha dessa imagem no texto?
b) Conhecendo o contexto de produção e circulação da propaganda, o leitor pode supor que imagens estão reproduzidas nos outros ícones na parte inferior da propaganda mesmo que não consiga ver as imagens com clareza. Quais podem ser eles? Discuta com um colega.
Os textos de todos os gêneros espelham valores, normas, crenças e conflitos da sociedade em que são produzidos, respondendo a uma situação econômica, política, ideológica, social e tecnológica. Analise esta outra propaganda.
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 8ª REGIÃO (PA/AP). JT8 incentiva o uso de máscaras em campanha de conscientização. 16 abr. 2021. 1 cartaz. Disponível em: www.trt8.jus.br/ noticias/2021/jt8-incentiva-o-uso-de-mascaras-emcampanha-de-conscientizacao. Acesso em: 14 ago. 2024.
Para entender essa propaganda, é necessário conhecer o contexto histórico da pandemia de covid-19, bem como as medidas sanitárias que foram necessárias para frear o avanço do vírus. Depois de um tempo em que as máscaras já faziam parte da rotina da população, novos estudos mostraram que nem todas as máscaras davam proteção efetiva: eram necessários modelos específicos. Essa campanha responde a esse contexto sanitário, político, cultural e social, em que cabia ao Estado propor medidas para o controle da doença. Ela responde também a um contexto científico que produz novos discursos e teorias que chegam à população de várias formas, como na proposta pelo uso de um modelo específico de máscara.
Todo texto é sensível ao contexto em que é produzido. Para compreender o sentido de um texto, é preciso também considerar o contexto em que foi produzido e no qual circulou. Leia este trecho de um poema de Fagmota.
Nos becos de terra batida, as balas desfilam.
Professor, levante com os estudantes as condições de vida em comunidades periféricas. Estimule-os a formular hipóteses sobre a realidade com a qual esse trecho sugere que o poema irá dialogar.
Nossa esquiva mantém digna a vida. Carregamos nos bolsos os sonhos embrulhados em papéis de [memória
Pois na infância se nasce os sonhos e traçamos nosso curto trajeto enfrentado o medo de ter medo.
[…]
FAGMOTA. Não há sonho pobre. In: TOMA AÍ UM POEMA (org.).
#DiVersos. [S. l.]: Toma aí um poema, 2021. E-book. p. 29. Disponível em: www.calameo.com/read/006715416c877fb2ec532. Acesso em: 15 ago. 2024.
Discuta com os colegas: que elementos do contexto o trecho sugere como importantes para compor o sentido do texto?
O sentido de um texto é construído não apenas pelo significado explícito das palavras, mas também por subtextos e nuances sugeridos pelo contexto no qual é produzido e recebido. Esse contexto pode incluir os ambientes ideológico, cultural, social, histórico e pessoal que circunda os interlocutores.
3. d) A que revela grande interesse dos moradores pelo futebol, esporte que não é originário da cultura indígena.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Não escreva no livro.
Leia o trecho da reportagem a seguir, de um repórter do jornal estadunidense The New York Times
Ele se dirige provavelmente a uma aldeia indígena mais isolada, que vai assistir à Copa do Mundo e não tem eletricidade nem sinal de celular.
O PP Maués não zarparia por ainda uma hora, mas seus conveses longos e estreitos já estavam entrecortados de redes para a longa viagem noturna pelo rio Amazonas.
No horário previsto de chegada ao porto regional do qual leva o nome, cedo na manhã da segunda-feira, o barco estaria a 15 horas de distância do estádio da Copa do Mundo mais próximo.
Um segundo barco seria necessário para chegar a uma aldeia indígena ainda mais remota, que planejava assistir a Brasil e México na terça-feira (17). A aldeia não tem eletricidade e não recebe sinais de telefonia móvel, e teria de depender de um gerador a diesel para saciar sua paixão isolada pelo futebol. Embora o Rio de Janeiro e suas famosas praias sirvam de pano de fundo turístico […], o apego febril ao mais popular evento esportivo do planeta se faz sentir até em algumas das áreas mais isoladas da floresta tropical brasileira, raramente visitadas por forasteiros.
‘O futebol está no nosso sangue’, diz André Pereira da Silva, 32 – chefe de uma pequena comunidade de índios sateré-mawé em Manaus –, que estava servindo como guia em nossa viagem. […]
LONGMAN, Jeré. Nas profundezas da Amazônia, uma aldeia isolada assiste à Copa do Mundo. Folha de S.Paulo, Manaus, 27 jun. 2014. Disponível em: https://m.folha.uol.com.br/ilustrissima/2014/06/1476472-nas-profundezas-da-amazonia-uma-aldeiaisolada-assiste-a-copa-do-mundo.shtml. Acesso em: 15 ago. 2024.
Amazônia, em meio à floresta.
1. O organizador a seguir registra algumas condições de produção da reportagem.
a) Copie o organizador no caderno e, depois, complete-o com as informações que se pedem.
Lugar em que o repórter está
Lugar para onde vai o repórter
O que ele irá fazer lá
b) Por que essas informações são importantes para o leitor?
Porque elas contextualizam a reportagem.
Assistir ao jogo Brasil e México pela Copa do Mundo junto com indígenas de uma aldeia isolada na Amazônia.
2. Qual evento é fundamental para o contexto da reportagem e para a construção dos sentidos que ela produz?
A Copa do Mundo de futebol.
3. a) Pode ter interesse pela Copa do Mundo por representar um evento global importante, interesse pela Amazônia e pela cultura indígena.
3. Originalmente, a reportagem foi publicada por um jornal estadunidense, produzido na cidade de Nova York.
a) Que interesse pode ter o leitor do jornal em uma reportagem como essa?
b) Segundo o repórter, a aldeia para onde ele vai se localiza em uma das “áreas mais isoladas da floresta tropical brasileira, raramente visitadas por forasteiros”. Considere o contexto de produção: estar nessa aldeia dá ao repórter uma condição especial. Qual?
Garante uma condição de ser privilegiado, o que sugere certa superioridade.
c) Considere o contexto de recepção: que efeito pode ter junto ao leitor a informação de que a aldeia é muito isolada e quase não recebe forasteiros?
O efeito de ter acesso a uma informação exclusiva, o que também sugere certa superioridade.
d) Qual informação sobre os moradores da aldeia visitada pelo repórter pode surpreender o leitor do jornal?
e) Que dados do contexto você mobilizou para responder aos itens a, b e c?
Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes reconheçam que mobilizaram o que sabem sobre a vida nas aldeias da Amazônia, sobre futebol e também o que aprenderam sobre gêneros jornalísticos em geral, em especial sobre reportagem e o que conhecem sobre a realidade das aldeias indígenas. As questões também mobilizaram hipóteses sobre o contexto de recepção do leitor: suas expectativas e interesses; e também sobre o contexto de produção, que, entre outras questões, precisa conquistar seu leitor para garantir público para o jornal.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Você leu nesta unidade uma carta aberta que apresenta várias reivindicações em favor da preservação do meio ambiente, da cultura, da saúde e do território dos povos indígenas. Agora é sua vez de produzir uma carta aberta com base no que aprendeu sobre esse gênero textual.
O que você irá produzir
Você vai produzir uma carta aberta que tenha como tema algum problema da escola onde estuda ou da comunidade em que vive. Esse texto, como qualquer carta aberta, deve se dirigir a um número limitado de destinatários (de um a três), mas deve tentar captar o interesse de um público maior para uma causa específica.
Para isso, forme grupos de até três integrantes para desenvolver o trabalho de escrita e pesquisa.
Antes de iniciar a produção de sua carta aberta, você e seu grupo deverão levantar os problemas relacionados à escola ou à comunidade. Façam uma pesquisa com os colegas, professores, funcionários, família, vizinhos e perguntem o que precisaria de atenção, melhoria etc.; peçam exemplos.
Esse levantamento deve considerar os problemas e também as propostas de intervenção. A tabela a seguir levanta temas a serem investigados e que podem ser a base da pesquisa, mas considerem se há algo particular da realidade da escola ou da comunidade a ser levado em conta.
Infraestrutura
Acesso a materiais pedagógicos
Desemprego
Violência
Dificuldades de aprendizagemPoluição e saneamento básico
Interesse dos estudantes
Violência
Bullying
Falta de respeito
Saúde
Habitação
Transporte
Desigualdade social
Depois de definido o tema da carta aberta, conversem com representantes da escola ou da comunidade. Como eles veem o problema? Como esse problema os afeta? O que propõem como solução?
Agora é o momento de identificar quais são os destinatários da carta aberta. Para isso, busquem responder às questões a seguir.
• Quem ou o que é o responsável pela origem do problema?
• Quem poderia encaminhar uma possível solução?
• Há alguma instituição ou setor do poder público que poderia ajudar a solucionar a dificuldade?
• É possível nomear esse responsável na figura de uma pessoa ou pequeno grupo de pessoas? Ou a carta será destinada a um grupo mais amplo ou a uma instituição?
• A carta deve comunicar com clareza e objetividade o que o grupo quer reivindicar; discutam detalhadamente sobre isso.
• Depois de identificado o problema ou o que irão reivindicar, o grupo deve selecionar argumentos que justifiquem a reivindicação.
O destinatário de uma carta deve ser cuidadosamente considerado pelo remetente para adequar a mensagem, estilo e tom , levando em consideração suas crenças, valores e atitudes a fim de alcançar o objetivo expresso pelo remetente.
A “Carta Aberta do Acampamento Terra Livre 2023” usa algumas expressões para intensificar suas reivindicações, reforçar a argumentação. Observe a seguir.
• “ Você precisa compreender que este todo é interligado”: o apelo direto ao leitor/ouvinte expressa uma urgência, manda um alerta e pede uma postura ativa diante do que a carta apresenta.
• “O planeta inteiro, a Mãe Terra está adoecida, clamando por cura”: o verbo clamar tem sentido de pedir com veemência, o que também intensifica o sentido geral da carta e o que ela reivindica.
• “ Defendemos com toda força a Amazônia, mas nosso grito parte do chão onde cada um de nós pisamos”: a expressão adverbial intensifica o verbo defender (defendemos); o substantivo grito sugere um alarme que quer chamar a atenção do leitor.
• “Depois da guerra de ocupação, extermínio, esbulho, destruição e exploração dos nossos povos e territórios […] seguimos resistindo”: a sequência de verbos expressa o conjunto de ações a que os povos se opõem e valoriza a própria resistência – são muitas as ações contra as quais resistir.
Para produzir
1. Considere a demanda do grupo e escreva no caderno um parágrafo de resumo usando um ou alguns desses recursos.
Para escrever a carta, o grupo deve considerar a seguinte estrutura.
Cabeçalho: com local e data.
Saudação: adequada ao nível de formalidade estabelecida com o destinatário.
Corpo do texto: deixem claro o tema da carta, ou seja, o que querem reivindicar apresentando uma possibilidade de solução e os argumentos que poderão justificar o que se pede. Exemplos de como o problema interfere na escola ou na comunidade podem ser argumentos convincentes se forem claros e específicos.
• Despedida: também adequada ao nível de formalidade estabelecida com o destinatário.
• Assinatura: é possível o grupo assinar com um nome que represente todos ou apresentar assinaturas individuais.
Lembrem-se de ficar atentos às convenções gramaticais e garantir uma sequência lógica dos argumentos que selecionaram para defender o ponto de vista.
Terminada a produção e a revisão da carta aberta, ela poderá ser enviada ao destinatário ou publicada no site do colégio e/ou nas redes sociais da escola.
TORAL, André. A alma que caiu do corpo. São Paulo: Veneta, 2020.
Nesta HQ, o antropólogo André Toral traça um painel sobre o contato, frequentemente violento, entre brancos e indígenas ao longo da história do Brasil. Mas, aqui, os povos originários não são vítimas nem perdedores: são sujeitos de uma história que também é feita de resistência e protagonistas de suas próprias histórias, algumas vezes narradas em primeira pessoa.
Além de um quadrinista cultuado, André Toral trabalhou por 30 anos com grupos indígenas brasileiros, como indigenista, pesquisador e consultor de projetos. É nessa experiência que ele baseia seu trabalho, o qual, por vezes, ganha o tom de relatos etnográficos em quadrinhos.
FUNARI, Pedro Paulo; NOELLI, Francisco Silva. Pré-história do Brasil . São Paulo: Contexto, 2023.
Este livro se dedica a recuperar a história dos primeiros habitantes do Brasil, contada com inflexível rigor documental por dois arqueólogos e historiadores brasileiros. Atualizado com as mais recentes descobertas arqueológicas, o livro descreve as ondas migratórias que povoaram o território brasileiro muito antes da chegada dos portugueses, descrevendo as culturas e a vida dos primeiros habitantes das Américas.
Capa da obra Pré-história do Brasil.
Capa da obra A alma que caiu do corpo.
URBIM, Emiliano. 1499: o Brasil antes de Cabral. Superinteressante, [São Paulo], 2014. Disponível em: https://super.abril.com.br/especiais/1499-o-brasil-antes-de-cabral. Acesso em: 15 ago. 2024.
Esta reportagem conta a história do Brasil antes da chegada de Cabral, mostrando as populações densas que habitavam o território, suas tradições artísticas e as “super-aldeias” que mais pareciam cidades na Amazônia. A reportagem também aborda outros tópicos que vale a pena explorar.
COMO realmente era a América antes da chegada de Colombo? BBC News Brasil, [s. l.], 12 out. 2021. Disponível em: www.bbc.com/portuguese/resources/idt-36af0f00-a464-4e05-8abc-0af6f62c5e3f. Acesso em: 15 ago. 2024.
Esta reportagem explora o “novo mundo” antes da chegada de Cristóvão Colombo mostrando que ele era um lugar complexo.
Ao contrário do que fizeram parecer muitos relatos de europeus na época, havia no continente sociedades dinâmicas, cuja sofisticação, em muitos casos, não tinha paralelo na Europa. Nas Américas, viviam entre 40 e 60 milhões de pessoas, segundo estimativas mais recentes, que falavam cerca de 1 200 idiomas diferentes.
COMO os indígenas chegaram no Brasil? [S. l.: s. n.], 2023. 1 vídeo (120 min). Publicado pelo canal Atila Iamarino. Disponível em: www.youtube.com/ watch?v=_-e3T_61_OA. Acesso em: 15 ago. 2024. O divulgador científico Atila Iamarino entrevista o jornalista Bernardo Esteves, autor de Admirável novo mundo: uma história da ocupação humana nas Américas , obra que trata da origem dos humanos nas Américas e, principalmente, de como e quando os humanos vieram para este continente, e aborda como o conhecimento sobre esse aspecto da história humana está evoluindo.
ANTES do Brasil, Cabo Frio, 1530 (1/10): Histórias do Brasil [Série]. Brasília, DF: TV Brasil, 2011. 1 vídeo (24 min). Disponível em: www.youtube.com/watch?v=lIVU79GTsw4. Acesso em: 15 ago. 2024.
Primeiro episódio da série Histórias do Brasil, o curta-metragem aborda as relações humanas na recém-descoberta terra brasileira. Confundido com um inimigo francês, um grupo de tupinambás captura o alemão Franz Hassen. Ele pode ser devorado pelos indígenas a menos que convença Pero Dias, um português ganancioso que vive entre os indígenas, a desfazer a confusão. A disputa por riquezas naturais e pela honra permeia a história de um povo feito de pessoas muito diferentes, como fica claro em toda a série.
Imagem de divulgação do filme Hans Staden.
HANS Staden. Direção: Luis Alberto Pereira. Brasil: Lapfilme, 1999. 1 DVD (92 min).
O filme narra a trajetória de Hans Staden (Carlos Evelyn), viajante alemão que naufragou em 1550 no litoral de Santa Catarina e foi capturado por um povo indígena brasileiro, os tupinambá, inimigos dos colonizadores portugueses. O alemão precisou convencer os indígenas a não matá-lo e devorá-lo em um ritual antropofágico.
ANCHIETA: José do Brasil. Direção: Paulo Cezar Saraceni. Brasil: Versátil Home Vídeo, 1977. 1 DVD (140 min).
O filme conta a vida do padre José de Anchieta (Ney Latorraca) desde sua chegada ao Brasil em 1553. Ele logo aprende a língua do povo tupi, elabora uma gramática para ela, observa os costumes e classifica a flora local, evitando atritos com os colonos. Durante a invasão francesa, negocia a paz e ocupa-se dos tamoio, com o padre Manoel da Nóbrega (Luiz Linhares). Anchieta converteu-se em uma figura mítica.
Imagem de divulgação do filme Anchieta: José do Brasil.
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As esculturas a seguir foram produzidas em dois momentos distintos. A obra O êxtase de Santa Teresa, do artista italiano Gian Lorenzo Bernini (1598-1680), foi criada em 1652 e retrata a profunda experiência mística de Santa Teresa D’Ávila. Já Dançarina, do também italiano Antonio Canova (1757-1822), veio ao mundo entre 1811 e 1812.
livro.
CANOVA, Antonio. Dançarina. [Entre 1805 e 1812]. Mármore, 206 cm de altura. Museu de Roma.
BERNINI, Gian Lorenzo. O êxtase de Santa Teresa. 1652. Mármore, 350 cm x 279 cm x 206 cm. Igreja de Nossa Senhora da Vitória, Roma.
1. As duas obras, ambas esculpidas em mármore, foram produzidas com quase um século e meio de diferença e revelam alta precisão técnica. Qual é o tema de cada uma delas? Quais elementos permitem identificar esses temas?
A primeira escultura apresenta um tema religioso, identificado pela presença do anjo e pelo hábito que veste a santa, entre outros. Já a segunda representa a arte da dança, um tema mundano, humano, por meio da figura da dançarina. Na imagem, uma mulher usa grinalda e vestido e está em posição que indica um passo de dança.
2. Com relação à forma de composição das esculturas, relacione as colunas, no caderno, formando pares de letras e números. Cada número deve ser utilizado uma única vez.
A: 1, 3, 4; B: 2, 5, 6.
A) O êxtase de Santa Teresa
B) Dançarina
1) Dramaticidade
2) Equilíbrio
3) Excesso de detalhamento
4) Expressão de sentimentos intensos
5) Expressão de calma e beleza
6) Sobriedade das formas
3. Em cada uma das esculturas, é possível identificar linhas de equilíbrio que estruturam a composição geral. Essa organização pode transmitir uma ideia de movimento ou repouso, de ação ou estagnação.
• Considere as linhas de equilíbrio nas figuras a seguir. Relacione cada uma com as esculturas de Bernini ou de Canova, considerando qual passa a ideia de movimento/ação e qual passa a de repouso/estagnação.
3. A escultura de Bernini relaciona-se à figura B e transmite a ideia de movimentação e ação que ocorre na cena com o anjo interagindo com a santa. A escultura de Canova, embora represente uma dançarina, relaciona-se à figura A e passa uma ideia de repouso e estagnação.
4. Considere a imagem a seguir. Trata-se de uma colagem digital em papel, técnica que mistura o lambe e a fotografia, da artista maranhense Silvana Mendes (1991-), parte integrante da série “Afetocolagens: reconstruindo narrativas visuais de pessoas negras na fotografia colonial”. A B
A obra de Silvana Mendes dialoga com a escultura de Bernini porque ambas apresentam temática religiosa e os detalhamentos e ornamentações na forma composicional. Já com a escultura de Canova, o diálogo se dá pela imagem da mulher em posição centralizada, harmônica e equilibrada em relação ao restante dos elementos da colagem.
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MENDES, Silvana. [Sem título]. 2023. Colagem digital impressa em papel, 86 cm x 120 cm. Coleção particular. Obra integrante da série “Afetocolagens: reconstruindo narrativas visuais de pessoas negras na fotografia colonial”.
• Que diálogos temáticos essa imagem estabelece com as esculturas de Bernini e Canova? Considere os temas e as formas de composição.
Entre os séculos XVI e XVIII, a Europa passou por transformações significativas impulsionadas pelas Grandes Navegações e pelos questionamentos à Igreja Católica, que levaram ao movimento da Reforma, ao surgimento do protestantismo e à Contrarreforma. Tais acontecimentos provocaram mudanças radicais na estrutura de poder da sociedade, na cultura e nas artes, cujas expressões alternavam entre a valorização do ser humano e de suas criações e a exaltação do religioso e dos valores do cristianismo. Essa alternância entre a valorização do humano e a ênfase no religioso responderam diretamente uma à outra, e esses movimentos ganharam expressão artística nas estéticas barroca e neoclássica.
Você vai ler a seguir dois poemas com diferentes olhares para a realidade e a vida cotidiana. O primeiro foi publicado pela primeira vez em 1975 e é da escritora mineira Adélia Prado; o segundo, publicado pela primeira vez em 1986, é de Orides Fontela, escritora paulista. Ambos tratam de diferentes possibilidades de o ser humano se relacionar com o divino e o natural.
Para pesquisar
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Questões como origem e sentido da vida, sentido da morte, existência ou não de uma alma, relação entre a natureza e o divino, podem ser identificadas em várias produções contemporâneas.
1 Pesquise obras do século XXI que podem ser associadas a discursos religiosos e a discursos racionais e científicos.
2 Registre no caderno algumas discussões que essas obras apresentam.
Estou com saudade de Deus, uma saudade tão funda que me seca. Estou como palha e nada me conforta. O amor hoje está tão pobre, tem gripe, meu hálito não está para salões. Fico em casa esperando Deus, cavacando a unha, fungando meu nariz choroso, querendo um pôster dele no meu quarto, gostando igual antigamente da palavra crepúsculo.
Que o mundo é desterro eu toda vida soube.
Quando o sol vai-se embora é pra casa de Deus que vai, pra casa onde está meu pai.
PRADO, Adélia. Órfã na janela. In: PRADO, Adélia. O coração disparado Rio de Janeiro: Record, 2013. E-book. Localizável em: 3o poema.
A escritora mineira
A escritora em 2010.
Adélia Prado (1935-) é formada em Filosofia e Educação e se destacou no cenário literário brasileiro com sua obra que combina o cotidiano simples e a espiritualidade. Sua poesia é conhecida por uma linguagem acessível e profundamente expressiva, que aborda temas como o feminino, o sagrado, o amor e o cotidiano. Venceu em 2024 o Prêmio Camões, a mais importante premiação literária em língua portuguesa.
2. O eu lírico do poema “Órfã na janela” se sente exilado de uma casa idealizada, a casa de Deus. Ele relaciona a vida no mundo terreno ao próprio desterro: “Que o mundo é desterro eu toda vida soube”. O eu lírico espera encontrar o conforto e a reconexão vislumbrados nas imagens de Deus e do pai.
Bucólica
Vaca mansamente pesada
vaca lacteamente morna
vaca densamente materna
inocente grandeza: vaca
vaca no pasto (ai, vida, simplesmente vaca).
FONTELA, Orides. Bucólica. In: FONTELA, Orides. Poesia completa
São Paulo: Hedra, 2015. p. 260.
1. a) Como um lugar desconfortável, solitário, seco, pois o amor já não existe e tudo se assemelha a um desterro. “Estou como palha e nada me conforta”; “O amor hoje está tão pobre, tem gripe”; “fungando meu nariz choroso”; “Que o mundo é desterro eu toda vida soube”.
A escritora paulista Orides Fontela (1940-1998), criada em um ambiente de dificuldades e reclusão, desenvolveu uma obra poética intensa e reflexiva, marcada por concisão e profundidade. Formada em Filosofia pela Universidade de São Paulo, Orides tem em sua poesia uma forte influência dessa área, explorando temas como a existência, a solidão e a busca pelo sentido da vida. #SOBRE
A escritora em 1988.
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1. Os poemas de Adélia Prado e Orides Fontela foram publicados em 1976 e 1986, quando o Brasil vivia a ditadura civil-militar e a redemocratização, respectivamente. Nesse cenário de profundas transformações sociais, políticas, culturais e econômicas, esses poemas revelam visões de vida singulares.
a) No primeiro poema, como o eu lírico avalia seu lugar no mundo? Justifique com versos do poema.
b) O segundo poema apresenta uma cena natural. Como o eu lírico se coloca nesse ambiente?
O eu lírico se coloca como observador de uma vaca, que vive mansamente no pasto.
2. Desterro significa “exílio”, “banimento da terra natal”. No texto 1, de qual lugar o eu lírico se sente desterrado? O que ele esperaria encontrar nesse lugar do qual se sente banido?
3. O eu lírico do poema de Adélia Prado constrói diferentes imagens de Deus e de si próprio. Que imagens são essas? Que sentido essas imagens produzem?
4. No texto 2, o eu lírico destaca algumas características de um animal em ambiente campestre, natural, gracioso, bucólico.
a) Que elementos do poema podem ser relacionados à simplicidade da natureza?
b) Além dos adjetivos, o poema emprega alguns advérbios que reforçam essa simplicidade da natureza. Liste os advérbios de modo e identifique que sentido produzem.
c) Que imagem da vaca o poema constrói?
4. c) A imagem de uma vaca mansa, pesada, lactante, morna, densa, maternal, inocente e grande.
d) Releia: “Vaca no pasto (ai, vida, / simplesmente vaca)”. O que seria uma vida simplesmente vaca?
ENTÃO...
3. No poema, as imagens de Deus e pai se entrelaçam, produzindo o sentido de proteção, provimento e sustentação. O desejo do eu lírico de ter um pôster de Deus no quarto sugere também a imagem do ídolo, reforçando a imagem da órfã, que dá título ao poema. Essa necessidade do pai/Deus/ídolo enfatiza a fragilidade e busca por proteção do eu lírico.
Na literatura europeia, entre os séculos XVII e XVIII, diferentes perspectivas sobre a realidade se apresentaram nas artes e nos discursos, ora voltadas a uma lógica religiosa cristã, ora voltadas a uma lógica racionalista, humana e natural. Essas perspectivas ecoaram na literatura e nas artes brasileiras, com poetas que reproduziram, no contexto nacional, estéticas e discursos que representam essas diferentes perspectivas.
4. a) A vaca, o pasto, o leite morno (tirado da vaca).
4. b) Mansamente destaca a mansidão típica da serenidade da natureza; lacteamente lembra que a vaca produz leite e segue com o curso da vida no campo; densamente destaca a intensa maternidade da vaca; simplesmente destaca a simplicidade da existência da vaca.
4. d) Seria uma vida levada com simplicidade e serenidade, em que se pode ser aquilo que se é simplesmente.
Ao longo dos séculos XVII e XVIII, a Europa e o Brasil vivenciaram intensas transformações religiosas e sociais decorrentes da Contrarreforma e da Inquisição, além de uma revolução no campo das ideias, com o movimento iluminista. O Barroco, pautado por uma visão teocêntrica – ou seja, aquela que coloca Deus no centro da vida –, produziu uma arte dramática, exuberante, carregada de emoção, contrastes e simbolismo religioso, que valorizava a vida espiritual e a contemplação da dualidade entre o terreno e o divino. Em contrapartida, o Neoclassicismo valorizava a razão e o retorno aos ideais clássicos da Antiguidade, marcando uma postura antropocêntrica: o ser humano e a natureza passaram a ser o foco da arte. O ideal de simplicidade e equilíbrio por meio da razão ganharam expressão em diferentes linguagens artísticas.
Assim, enquanto o Barroco se voltava para o divino e o transcendental como forma de compreensão do mundo, o Neoclassicismo se orientava para o humano e o natural, cada um respondendo às suas realidades socioculturais e às necessidades de seu tempo.
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Para discutir
1 Em sua opinião, o ser humano ainda vive a tensão entre o espiritual e o terreno? Por quê?
Você vai ler a seguir dois poemas que representam a dualidade entre fé e razão, Deus e natureza.
Texto 1
Buscando a Cristo
A vós correndo vou, braços sagrados, Nessa cruz sacrossanta descobertos
Que, para receber-me, estais abertos, E, por não castigar-me, estais cravados.
A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas abertos, Pois, para perdoar-me, estais despertos, E, por não condenar-me, estais fechados.
A vós, pregados pés, por não deixar-me, A vós, sangue vertido, para ungir-me, A vós, cabeça baixa, p’ra chamar-me.
A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me, Para ficar unido, atado e firme.
#SOBRE
O baiano Gregório de Matos Guerra (1636-1695) estudou direito na Universidade de Coimbra, em Portugal. Retornando ao Brasil, exerceu vários cargos judiciais e viveu uma vida boêmia, criticando as autoridades com sua poesia satírica. Seus poemas foram publicados postumamente em seis volumes, entre 1923 e 1933. Após pesquisas de alguns estudiosos, entendeu-se que toda a produção poética atribuída a Gregório de Matos pertence, na verdade, a uma tradição coletiva e anônima. A obra poética atribuída a Gregório de Matos não contém autógrafos nem edições impressas, mas são compilações de manuscritos, em uma quantidade muito grande e plural, realizadas por copistas em Portugal e na Bahia, cuja edição crítica surgiu apenas no século XXI.
MATOS, Gregório de. Buscando a Cristo. In: MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos de Gregório de Matos São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 316.
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, que viva de guardar alheio gado, de tosco trato, de expressões grosseiro, dos frios gelos e dos sóis queimado. Tenho próprio casal e nele assisto; dá-me vinho, legume, fruta, azeite; das brancas ovelhinhas tiro o leite e mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela, graças à minha estrela!
Eu vi o meu semblante numa fonte: dos anos inda não está cortado; os pastores que habitam este monte respeitam o poder do meu cajado. Com tal destreza toco a sanfoninha, que inveja até me tem o próprio Alceste: ao som dela concerto a voz celeste, nem canto letra que não seja minha.
Graças, Marília bela, graças à minha estrela!
Mas tendo tantos dotes da ventura, só apreço lhes dou, gentil pastora, depois que o teu afeto me segura que queres do que tenho ser senhora. É bom, minha Marília, é bom ser dono de um rebanho, que cubra monte e prado; porém, gentil pastora, o teu agrado vale mais que um rebanho e mais que um trono.
Graças, Marília bela, graças à minha estrela!
[…]
Depois que nos ferir a mão da Morte, ou seja neste monte, ou noutra serra, nossos corpos terão a sorte de consumir os dois a mesma terra. Na campa, rodeada de ciprestes, lerão estas palavras os pastores: ‘Quem quiser ser feliz nos seus amores, siga os exemplos que nos deram estes’. Graças, Marília bela, graças à minha estrela!
GONZAGA, Tomás Antônio. 53. In: GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu & Cartas chilenas São Paulo: Ática, 2000. p. 81-83.
destreza: agilidade, facilidade.
dote: qualidade, mérito ou dom natural. ventura: destino, acaso.
prado: terreno coberto de plantas que servem para forragem.
campa: lugar onde se sepulta um cadáver.
#SOBRE
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1. Em ambos os poemas o eu lírico se dirige a um outro.
a) A quem se dirige o eu lírico em cada poema?
Tomás Antônio Gonzaga (17441810) nasceu em Portugal, veio para o Brasil ainda criança e estudou na Bahia. Formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra e exerceu cargos judiciais em Vila Rica, Minas Gerais. Gonzaga foi preso por envolvimento na Inconfidência Mineira e deportado para Moçambique, onde viveu até o fim de sua vida. A obra de Tomás Antônio Gonzaga pode ser dividida em duas partes distintas. A primeira é marcada pelo lirismo amoroso e bucolismo, evidentes em “Marília de Dirceu”. A segunda é dominada por um tom mais sombrio e reflexivo.
O primeiro poema (texto 1) se dirige a Cristo e o segundo (texto 2), a Marília, a amada do eu lírico.
b) O que o eu lírico de cada poema busca junto a este outro?
2. Observe a forma dos textos 1 e 2.
O eu lírico do primeiro poema (texto 1) busca o perdão e a misericórdia; o segundo (texto 2) busca o amor e a companhia de Marília.
a) É correto afirmar que ambos os poemas são escritos em decassílabos? Por quê?
b) Ambos os poemas são sonetos. Essa afirmação é verdadeira? Por quê?
2. a) Em parte. O texto 1 é totalmente decassílabo; já o texto 2 é decassílabo, mas apresenta seis sílabas poéticas no refrão “Graças, Marília bela, / graças à minha Estrela!”.
2. b) Não, apenas o texto 1 é soneto por possuir dois quartetos e dois tercetos.
3. O texto 1 recompõe o corpo de Cristo metonimicamente, ou seja, mostrando-o em partes.
a) Por meio de que partes esse corpo é apresentado?
3. b) O corpo inteiro está pregado na cruz.
b) Considere o corpo inteiro de Cristo que o poema recompõe. Em que posição está?
c) Ao se referir às partes do corpo de Cristo, o poema cria imagens contrastantes. Copie no caderno o organizador a seguir e preencha-o.
3. a) É apresentado por meio dos braços, dos olhos, dos pés, do sangue e da cabeça.
Braços abertos
Olhos
abertos
Braços
Olhos eclipsados
Olhos Olhos
cravados fechados despertos
d) Esses termos contrastantes podem ser associados a certas atitudes de Cristo diante dos pecados do eu lírico. Quais são elas?
Os braços abertos e os olhos despertos conferem ao eu lírico o amparo e perdão de seus pecados. Os braços cravados e os olhos fechados mostram que a punição não é aplicada, mas ignorada.
4. Apesar de não se dirigir ao leitor, é possível dizer que o poema de Gregório de Matos quer convencer o leitor de uma ideia.
apresentar como
posses, mas com vida simples, o eu lírico revela que é especial e que se destacaria perante outros eventuais
a) Que ideia seria essa?
A ideia de que é necessário buscar sempre a Cristo, pois seu perdão é absoluto: o fiel é sempre perdoado e pode contar sempre com a misericórdia de Cristo.
b) Que argumentos o poema usa? Copie em seu caderno a alternativa verdadeira.
Resposta: alternativa III.
I. O argumento de que Cristo nada pode diante dos fiéis.
II. O argumento de que Cristo o acolheu, mas fechou-lhe os olhos, verteu sangue e lágrimas ao ver o pecador.
III. O argumento de que Cristo fechou os olhos aos pecados e os abriu para o perdão.
5. No texto 2, o eu lírico se apresenta como uma personagem que tem uma determinada ocupação e determinados valores.
a) Como se apresenta o eu lírico no poema?
O eu lírico se apresenta como um pastor contente e orgulhoso de sua vida simples, mas que valoriza acima de tudo o amor de Marília.
b) Essa apresentação atua como um argumento para reforçar o amor que Marília poderia ter por ele. Explique como se dá essa construção argumentativa.
6. A natureza exerce papel fundamental no texto 2.
a) Q ue elementos do poema podem ser associados à natureza?
b) Que valores a natureza representa no poema?
c) A p resença da natureza no poema é a expressão simbólica de certos sentimentos e valores. O que está valorizado no poema?
6. a) O gado, os alimentos que o campo produz, estrela, monte, prado, ciprestes.
6. b) A natureza no poema simboliza paz, simplicidade e um retorno ao essencial. Ela serve de pano de fundo para a vida contente do eu lírico e para o seu amor por Marília, enfatizando a ideia de que a felicidade verdadeira está na simplicidade e no amor.
SAIBA MAIS
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As seguintes características marcam a literatura barroca.
• Contraste e dualidade: o Barroco explora frequentemente os contrastes entre opostos que refletem as incertezas e os conflitos da época, especialmente os dilemas espirituais e existenciais.
• Cultismo: recurso que se caracteriza pelo uso de linguagem elaborada, rebuscada, com jogos de palavras e metáforas complexas.
• Conceptismo: recurso que intensifica o jogo de ideias e a argumentação muitas vezes por meio de paradoxos e antíteses.
• Dramaticidade e exagero: a literatura barroca frequentemente exagera sentimentos e situações com descrições hiperbólicas e emotivas, visando provocar uma forte resposta emocional no leitor.
6. c) O poema emprega o cenário bucólico para simbolizar uma vida simples e contente. O eu lírico, apresentando-se como um pastor que vive em harmonia com a natureza, usa esse cenário para expressar satisfação pessoal e apreço por uma vida tranquila e autossuficiente.
7. a) Porque a qualquer momento pode-se passar por adversidades, pois todos estão submetidos ao acaso e aos deuses. Enquanto nada de mal acontece, deve-se aproveitar a existência.
7. b) O poema aborda a mortalidade na última estrofe, refletindo sobre a inevitabilidade da morte e a esperança de que o amor de Marília e do eu lírico perdure além da vida, servindo de exemplo para outros.
7. L eia o poema a seguir, do poeta latino Horácio (65 a.C.-8 a.C).
Dos conselhos para o deleite
Tu não questiones – é crime saber – o fim que para mim, que para ti os deuses terão dado, ó Leucônoe, nem mesmo consultes os números babilônicos. Quão melhor é suportar o que quer que venha! Se Júpiter te concedeu muitos invernos, ou este último, que agora quebra as tirrenas ondas contra as pedras, sejas sábia, diluas os vinhos e, por ser breve a vida, limites a longa esperança. Enquanto falamos, foge invejoso o tempo: aproveita o dia, minimamente crédula no amanhã.
HORÁCIO. Dos conselhos para o deleite da vida. In: PENNA, Heloísa; AVELLAR, Júlia (org.). Odes e canto secular. Tradução: Gustavo Chaves Tavares et al. Belo Horizonte: UFMG: Fale: Viva Voz, 2014. Localizável em: p. 11 do pdf. Disponível em: www.letras.ufmg.br/padrao_cms/ documentos/eventos/vivavoz/OdesEcantossite.pdf. Acesso em: 31 maio 2024.
a) Esse poema de Horácio deu origem a um tema posteriormente fundamental para a literatura, que expressa a ideia de “aproveitar o dia”: o carpe diem Por que o poema recomenda aproveitar o dia?
b) De que forma o poema de Gonzaga reflete uma dessas preocupações do tema do carpe diem?
A linguagem árcade
A literatura árcade, ao copiar modelos clássicos de literatura, valorizava alguns tópicos com base nos quais as obras eram produzidas.
• Inutilia Truncat (“cortar o inútil”): enfatiza a simplicidade e a clareza, rejeitando a ornamentação excessiva do Barroco.
• Carpe Diem (“aproveitar o dia”): sugere que se aproveite o momento presente, em oposição à preocupação com a efemeridade e a morte típicas do Barroco.
• Fugere Urbem (“fugir da cidade”): reflete a valorização da vida no campo, idealizando a natureza em contraste com a vida urbana e suas corrupções.
• Locus Amoenus (“lugar agradável”): representa a idealização de ambientes naturais e bucólicos, um refúgio harmonioso e tranquilo.
HIPERlINK
números babilônicos: sistema numérico que, entre outras funções, orientava práticas adivinhatórias.
tirrenos: Tirreno é a porção do mar Mediterrâneo entre o que hoje é chamado Córsega, Sardenha e Sicília. Ondas tirrenas são as que se formam nesse mar.
crédulo: que acredita facilmente.
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Antônio Vieira (1608-1697) viveu a maior parte da sua vida na Bahia do século XVIII. É reconhecido por suas habilidades retóricas excepcionais, sobretudo pelos sermões, caracterizados pela argumentação persuasiva, marcada por metáforas, analogias e vocabulário complexo, sobre temas variados, mesclando religião e política e seu profundo engajamento com os desafios da época, como a defesa dos direitos dos povos indígenas no Brasil colonial.
Foi mestre na arte do conceptismo, tendência da estética barroca que valorizava jogos de ideias, agudeza de pensamento e a capacidade de estabelecer relações surpreendentes entre conceitos distintos.
1. Agora é com você! Pesquise em mecanismos de busca o “Sermão da Sexagésima”, o “Sermão de Santo Antônio aos Peixes” e o “Sermão da Primeira Dominga da Quaresma”.
2. Selecione trechos para analisar e discutir com os colegas como Vieira recorre ao cultismo e ao conceptismo para criar uma linha argumentativa complexa e defender suas teses sobre a sociedade brasileira do século XVII.
WESTERHOUT, Arnold van. Retrato de Padre Antônio Vieira. In: VIEIRA, Antônio. Cartas do P. Antonio Vieyra da Companhia de Jesu. Lisboa: Officina da Congregação do Oratório, 1735. Localizável em: anexo da p. 1. Colorida posteriormente.
A Reforma Protestante teve um impacto profundo na estrutura religiosa e política da Europa. Iniciada por Martinho Lutero (14831546) em 1517, contestava o poder e certas práticas da Igreja Católica. Em resposta a essa Reforma, a Igreja Católica iniciou a Contrarreforma, estabelecendo uma série de medidas eclesiásticas e políticas para reformar a Igreja e combater a expansão do protestantismo, incluindo a reativação do Tribunal da Inquisição. Além disso, muitos livros foram proibidos para controlar a disseminação de ideias consideradas perigosas para a doutrina católica.
A obra do pintor espanhol Francisco Goya (1746-1828) recria um ato de penitência pública realizado pela Inquisição contra aqueles considerados hereges. GOYA, Francisco. Cena da Inquisição. [Entre 1808 e 1812]. Óleo sobre tela, 46 cm x 73 cm. Real Academia de Belas Artes de São Fernando, Madri.
Os valores espirituais da Igreja foram confrontados pelo Iluminismo, movimento intelectual e filosófico predominante na Europa durante o século XVIII, caracterizado por questionar as tradições, a autoridade e a religião. A razão, a ciência e o pensamento crítico foram tidos como os principais meios de compreender e reformar a sociedade. Jean-Jacques Rousseau (17121778), uma das figuras centrais desse movimento, destacou-se por suas ideias revolucionárias sobre política e educação. Suas obras tiveram um impacto profundo, influenciando a Revolução Francesa e o desenvolvimento do pensamento político moderno.
No Brasil, o período foi marcado pela Inconfidência Mineira, em 1789, na capitania de Minas Gerais. Liderado por Joaquim José da Silva Xavier (1746-1792), o Tiradentes, e outros intelectuais e membros da elite mineira, o movimento visava à independência da região do domínio português. Inspirada pelas ideias iluministas e pela independência dos Estados Unidos, o movimento foi uma resposta ao aumento de impostos e à opressão colonial. No entanto, a conspiração foi descoberta e reprimida, resultando na execução de Tiradentes e na morte ou deportação de outros conspiradores.
OSWALD, Carlos. Bandeira da Inconfidência Mineira. 1939. Óleo sobre tela, 98 cm x 139 cm. Coleção particular.
O Barroco surgiu como uma expressão artística e literária que se distanciou dos ideais clássicos de harmonia e proporção. Influenciado pela Contrarreforma e pela Inquisição, produziu uma arte marcada por contrastes acentuados, uso de cores vivas e linguagem elaborada, traduzindo uma profunda experiência espiritual e mantendo a sacralidade dos seus temas. O papel da arte e da literatura como formas de expressão religiosa, reafirmando uma postura teocêntrica, contribuiu para a manutenção do poder exercido pela Igreja.
O desenvolvimento da filosofia iluminista confrontou a lógica teocêntrica do Barroco e promoveu o retorno aos princípios da Antiguidade Clássica. O Neoclassicismo retomou a postura antropocêntrica do Classicismo e revalorizou a ordem, a clareza e a simplicidade na arte, opondo-se à dramaticidade e às exuberâncias do Barroco.
O Arcadismo no Brasil coincidiu com um período de intensas transformações sociais e econômicas, marcado pela exploração do ouro em Minas Gerais e pelo crescente descontentamento com o domínio colonial português. Também influenciado pelas ideias iluministas europeias, refletia um desejo de reforma e um olhar crítico sobre as injustiças sociais.
Esse período testemunhou um crescente movimento de resistência ao colonialismo, como a Inconfidência Mineira, refletindo o espírito crítico e reformista do Arcadismo. Assim, os recursos da estética neoclássica foram usados pelos poetas árcades, que também se ocupavam de temas da realidade local.
Simultaneamente, poetas árcades como Cláudio Manuel da Costa (1729-1789) e Tomás Antônio Gonzaga adotaram pseudônimos pastoris e idealizaram a vida campestre, expressando um anseio por um retorno à natureza – a uma natureza idealizada, que representava oposição à vida das cidades, considerada, naquele contexto, antinatural –, a uma vida simples e equilibrada, livre das complexidades e do artificialismo da sociedade colonial e da literatura barroca.
A temática religiosa ecoa no Romantismo e na literatura brasileira da década de 1930, com Jorge de Lima (18951953) e Murilo Mendes (1901-1975), no catolicismo, e Solano Trindade (1908-1974), no candomblé. Na literatura contemporânea, a temática religiosa confronta o sagrado e o secular para refletir sobre questões contemporâneas existenciais, como o faz Adélia Prado.
Já a perspectiva racionalista produziu uma reflexão sobre o social, o existencial e os limites da própria poesia que atravessaram todo o século XX. Na literatura contemporânea, a racionalidade é resgatada com destaque ao racionalismo necessário para refletir sobre a natureza, as desigualdades e a busca por um mundo mais simples, justo e igualitário, como no poema de Orides Fontela.
Na obra do pintor italiano Caravaggio (1573-1610), a temática religiosa e a composição que explora o movimento e o contraste de luz e sombra são características marcantes do estilo barroco.
C ARAVAGGIO, Michelangelo Merisi. O sepultamento de Cristo. [Entre 1603 e 1604]. Óleo sobre tela, 300 cm x 203 cm. Pinacoteca Vaticana, Vaticano.
A literatura árcade produzida na Europa tem origem em um contexto de profundas transformações, que viu as tensões religiosas do Barroco cederem ao racionalismo que, no final do século XVII e no século XVIII, dominou as tendências ideológicas, filosóficas, científicas, que foram nomeadas como Iluminismo.
A lei gravitacional universal do cientista inglês Isaac Newton (1642-1727), o racionalismo do filósofo francês René Descartes (1596-1650), a defesa da dúvida do historiador francês Voltaire (16941778), os ideais revolucionários de Montesquieu (1689-1755), filósofo e escritor francês, a dedicação do também filósofo e escritor francês Diderot (17131784) à construção da Enciclopédia dão uma ideia da renovação do pensamento pelo qual passou o século XVIII. Entre os filósofos, o suíço Jean-Jacques Rousseau formulou a ideia de contrato social.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Essa obra de 1794, do artista francês de Bertry (1728-1796), expressa o espírito revolucionário da época. DE BERTRY, Nicolas Henri Jeaurat. Uma alegoria da Revolução. 1794. Óleo sobre tela, 57,5 cm x 43 cm. Museu Carnavalet, Paris.
Para Rousseau, o ser humano em estado de natureza vive uma felicidade plena, na condição de “bom selvagem”. Essa condição termina quando a propriedade privada dá origem ao estado de sociedade, que corrompe o ser humano. Sendo assim, para se viver em estado de sociedade é preciso formular um contrato social, que elege um poder para regular as relações.
O contrato social se fundamenta em um pacto por meio do qual os cidadãos, em condições justas, renunciam a seus direitos individuais e concedem o poder a uma autoridade na qual depositam confiança. Por esse acordo, o Estado teria o dever de proteger os cidadãos.
O contrato social tem base na soberania e institui a autoridade política e o estado civil. Essa teoria é legitimada pela ideia de que o poder pertence ao povo e é por ele conferido ao soberano, à autoridade. Dessa ideia derivam muitas outras relacionadas à propriedade privada, ao trabalho, ao liberalismo econômico e outras muitas questões do campo jurídico. Estas permanecem vivas e ainda vigentes na organização das sociedades contemporâneas.
• Forme uma dupla, escolha um dos filósofos ou o cientista citado e aprofunde as informações sobre: quem foi, que ideias defendia, como atuou. Construa um texto anotando as informações fundamentais para apresentar oralmente aos colegas. Combine um dia com o professor para a apresentação dos trabalhos.
Além da temática religiosa que dominou parte da produção literária do período barroco, a sátira também ganhou projeção pela repercussão que teve em toda a literatura brasileira até hoje. A sátira se caracteriza pelo uso de humor, ironia, exagero ou ridicularização com o intuito de expor e criticar falhas, absurdos humanos, sistemas, crenças ou pessoas.
Ela busca não somente divertir o público, mas também provocar a reflexão e, em diversos casos, incentivar reformas sociais ou políticas. Ao contrário de meras piadas ou ofensas, a sátira se destaca por sua inteligência e sutileza, lançando mão do humor e perspicácia para fazer suas críticas. A sátira se manifesta tanto na literatura quanto em outras artes.
Gregório de Matos produziu sátiras afiadas, que dizem muito sobre a sociedade soteropolitana do século XVII. Nelas ele contrastava duas sociedades: uma que seguia uma rígida hierarquia social, em que cada ser social ocupava um lugar destinado, natural; e outra em que as relações não atendiam à hierarquia prevista. Nessa segunda, para Gregório, a sociedade era absurda e as anomalias estruturavam o real: a injustiça era praticada pelos juízes, o desrespeito era a base das relações, religiosos pecavam e governantes não sabiam governar.
#fiCAADiCA
Logotipo do canal. Porta dos Fundos é um canal de esquetes satíricas criado em 2012 por um coletivo de artistas formado por Antonio Tabet, Fábio Porchat, Gregório Duvivier, João Vicente de Castro e Ian SBF, que se tornou popular por seus irreverentes vídeos sobre política, cotidiano e cultura pop
• TABET, Antonio et al. Porta dos Fundos. Brasil, c2024. YouTube: [Canal] @portadosfundos. Disponível em: www.youtube. com/user/portados fundos. Acesso em: 24 jul. 2024.
Cumpre lembrar que ambas as sociedades apresentadas na obra do autor foram frutos de uma concepção colonialista e racista, segundo a qual cada sujeito deveria cumprir seu papel social e obedecer aos preceitos morais vigentes. Assim, para Gregório, não era natural uma pessoa negra querer ascender socialmente nem se miscigenar, por exemplo.
O olhar agudo, sarcástico e carregado de humor crítico do autor nos apresenta, com base na experiência social dele, um Brasil que se formava desigual e injusto e que manteve esses vícios mesmo depois de séculos. Assim, a tradição satírica continuou atualizada ao longo dos séculos, e herdeiros literários de Gregório de Matos reviveram suas obras.
No poema a seguir, a sátira aos governantes, a certos comportamentos da população e à exploração nos mercados expressa uma crítica à sociedade soteropolitana do século XVII.
1. Salvador é descrita como um lugar em que todos se intrometem na vida do outro, enganam, trapaceiam e roubam.
3. A ironia surge na descrição de pessoas incompetentes que buscam governar os outros e na exposição das falhas morais da sociedade, como a desonestidade e a fofoca, destacando o contraste entre suas pretensões e suas ações reais.
A cada canto um grande conselheiro, Que nos quer governar a cabana e vinha; Não sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um bem frequente olheiro, Que a vida do vizinho, e da vizinha Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha, Para o levar à praça e ao terreiro.
picardia: esperteza, malandragem.
1. Como Salvador é descrita no poema?
Muitos mulatos desavergonhados, Trazidos sob os pés os homens nobres, Posta nas palmas toda a picardia,
Estupendas usuras nos mercados, Todos os que não furtam muito pobres: E eis aqui a cidade da Bahia.
4. O autor apresenta uma perspectiva cética e crítica da sociedade da Bahia, destacando a hipocrisia, a corrupção e a decadência moral entre diferentes estratos sociais.
MATOS, Gregório de. Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia. In: MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos de Gregório de Matos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 45.
2. Um termo hoje considerado pejorativo e racista é usado no poema. Qual é ele? Indique outras expressões de preconceito nessa mesma estrofe.
3. A ironia que se constrói por meio dos contrastes atua para satirizar os poderosos da sociedade da Bahia. Por quê? Explique essa afirmativa.
4. Ao final do soneto, que perspectiva o autor sugere sobre a sociedade da Bahia?
2. O termo é mulato, que foi usado pelos colonizadores europeus para categorizar e hierarquizar pessoas de ascendência mista (africana e etimológica do termo é controversa, mas o sentido pejorativo no contexto do racismo é inegável. Ainda na terceira estrofe, o adjetivo desavergonhados e o substantivo picardia associados a mulatos reforçam o tom preconceituoso. Além disso, a crítica expressa na estrofe, ou seja, o fato de mulatos trazerem
Nenhuma obra nasce do nada. Cada uma dialoga com o contexto em que é produzida, mas também com outras escritas antes dela e mais: cada obra abre a possibilidade de diálogo com outras que virão depois.
Há autores que inovam na proposição de uma obra, seja pelo estilo, temática ou procedimentos adotados. O escritor estadunidense Edgar Allan Poe (1809-1849), por exemplo, é considerado o inventor do gênero policial. Outros autores produziam esse gênero, já que o contexto da pós-revolução industrial viu crescer a violência urbana e o número de crimes. Mas Poe produziu com um nível de excelência raro e se tornou uma referência. Os escritores que vieram antes e depois de Poe, como Agatha Christie (1890-1976) e Conan Doyle (1841-1919), seguem uma mesma tradição, apesar das muitas diferenças e possibilidades de obras do gênero policial.
Também pode servir de exemplo o projeto árcade brasileiro. São muitos os fios de diálogo dessa estética no Brasil: está relacionada ao Classicismo do século XVI europeu, que, por sua vez, toma como referência a antiguidade greco-romana. Esse Classicismo é revisitado no século XVIII como reação aos exageros do Barroco, ganhando o nome de Neoclassicismo ou Arcadismo. No Brasil, além desse diálogo no grande tempo, o Arcadismo é atravessado pelo contexto brasileiro: a riqueza produzida pelo ouro mineiro viu crescer uma geração de poetas que puderam ter contato com a metrópole europeia e de lá importar modelos que ganharam influência da natureza local e das questões sociais e políticas que atravessavam a vida brasileira no período. Assim, a construção de uma tradição literária pressupõe diálogo entre obras em que a seleção de temas, o modo como são tratados, a linguagem e seus recursos expressivos são atualizados para responder ao contexto de produção de cada uma, ao mesmo tempo que releem referências anteriores. Além disso, os textos podem responder, reinterpretar ou até contestar ideias de estilos anteriores. Essas releituras refletem tanto a continuidade quanto a mudança na construção de uma tradição literária.
Para discutir
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor. europeia). A origem homens nobres, inverte o que Gregório de Matos e o pensamento colonialista consideravam a “ordem natural”.
1. O diálogo entre obras supõe que todo autor é também um leitor. Essa afirmação é verdadeira? Por quê?
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1. Professor, destaque o fato de que natureza não precisa ser necessariamente um lugar intacto e exuberante, um cenário. Pode ser uma árvore, uma flor, a praia, o céu. E que essa integração pode se dar tanto pela beleza e sensações boas como por sensações ruins, como a degradação do meio e suas consequências.
Esta unidade apresentou textos do projeto árcade brasileiro, corrente estética na qual a natureza tem papel central: refúgio das dores de amor, cenário pastoral projetado pelo sujeito lírico, a natureza representa a simplicidade e o equilíbrio que o árcade acredita poder sustentar. Outras estéticas literárias também colocaram a natureza como tema de reflexão. Mas, para além do campo da arte, a discussão sobre esse assunto tem se mostrado cada vez mais presente na vida de todos. Os desequilíbrios ambientais vêm impondo um aprofundamento dos debates que visam encontrar maneiras de evitar desastres que ameacem a vida no planeta.
Você vai ler a seguir trechos transcritos do livro Ideias para adiar o fim do mundo, que nasceu de uma palestra proferida pelo ativista e educador indígena Ailton Krenak na Mostra ameríndia: percursos do cinema indígena no Brasil, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, no dia 12 de março de 2019.
Para discutir
2. Professor, aqui seria possível discutir com os estudantes se a qualidade ou o problema da palestra se refere ao conteúdo, à prosódia, à formalidade, à interação, aos recursos audiovisuais etc.
1 Você já se sentiu em algum momento da sua vida ligado à natureza, como se fosse parte integrante dela? Por quê?
2 Você já assistiu a palestras, presencialmente ou em meio virtual? Relembre uma característica que elas tinham em comum e identifique quais eram os recursos que mantinham seu interesse ou faziam com que você perdesse a atenção.
Texto
Ideias para adiar o fim do mundo
‘Ideias para adiar o fim do mundo’ – esse título é uma provocação. Eu estava no quintal de casa quando me trouxeram o telefone, dizendo: ‘Estão te chamando lá da Universidade de Brasília, para você participar de um encontro sobre desenvolvimento sustentável’. (A UnB tem um centro de desenvolvimento sustentável, com programa de mestrado.)
Eu fiquei muito feliz com o convite e o aceitei, então me disseram: ‘Você precisa dar um título para a sua palestra’. Eu estava tão envolvido com as minhas atividades no quintal que respondi: ‘Ideias para adiar o fim do mundo’. A pessoa levou a sério e colocou isso no programa. Depois de uns três meses, me ligaram: ‘É amanhã, você está com a sua passagem de avião para Brasília?’. ‘Amanhã?’ ‘É, amanhã você vai fazer aquela palestra sobre as ideias para adiar o fim do mundo.’
No dia seguinte estava chovendo, e eu pensei: ‘Que ótimo, não vai aparecer ninguém’. Mas, para minha surpresa, o auditório estava lotado. Perguntei: ‘Mas todo esse pessoal está no mestrado?’. Meus amigos disseram: ‘Que nada, alunos do campus todo estão aqui querendo saber essa história de adiar o fim do mundo’. Eu respondi: ‘Eu também’.
#SOBRE
Ailton Krenak (1953-)
é um ativista e educador indígena da etnia krenak, que vive às margens do Rio Doce, em Minas Gerais, região profundamente afetada pela mineração. Participou ativamente da Constituição Federal de 1988, em defesa dos direitos indígenas à cultura originária e à terra.
Organizou a Aliança dos Povos da Floresta, que reúne comunidades indígenas na Amazônia. Recebeu o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora em reconhecimento a sua luta pela natureza e povos indígenas. Krenak é o primeiro indígena a ocupar uma cadeira entre os imortais da Academia Brasileira de Letras.
#fiCAADiCA
Frame do episódio.
Neste episódio da websérie Inspira, do canal Prosa Press, o filósofo e indigenista Ailton Krenak discute o estar no mundo e a relação das pessoas consigo e com seu entorno. Sua poderosa forma de entender a relação dos seres humanos entre si e com o mundo reforça a ideia de que todos são responsáveis pelo destino coletivo.
• [ INSPIRA] Episódio com Ailton Krenak.
São Paulo: Prosa Press, 2023. 1 vídeo (7 min). Publicado pelo canal Prosa Press. Disponível em: https://youtu.be/ Pj0LZhtae84?si=uQHl MnPEgB0sCfRl. Acesso em: 14 mar. 2024.
[…] Fomos, durante muito tempo, embalados com a história de que somos a humanidade. Enquanto isso – enquanto seu lobo não vem –, fomos nos alienando desse organismo de que somos parte, a Terra, e passamos a pensar que ele é uma coisa e nós, outra: a Terra e a humanidade. Eu não percebo onde tem alguma coisa que não seja natureza. Tudo é natureza. O cosmos é natureza. Tudo em que eu consigo pensar é natureza.
Tem uma montanha rochosa na região onde o rio Doce foi atingido pela lama da mineração. A aldeia Krenak fica na margem esquerda do rio, na direita tem uma serra. Aprendi que aquela serra tem nome, Takukrak, e personalidade. De manhã cedo, de lá do terreiro da aldeia, as pessoas olham para ela e sabem se o dia vai ser bom ou se é melhor ficar quieto. Quando ela está com uma cara do tipo ‘não estou para conversa hoje’, as pessoas já ficam atentas. Quando ela amanhece esplêndida, bonita, com nuvens claras sobrevoando a sua cabeça, toda enfeitada, o pessoal fala: ‘Pode fazer festa, dançar, pescar, pode fazer o que quiser’.
[…] No Equador, na Colômbia, em algumas dessas regiões dos Andes, você encontra lugares onde as montanhas formam casais. Tem mãe, pai, filho, tem uma família de montanhas que troca afeto, faz trocas. E as pessoas que vivem nesses vales fazem festas para essas montanhas, dão comida, dão presentes, ganham presentes das montanhas. Por que essas narrativas não nos entusiasmam? Por que elas vão sendo esquecidas e apagadas em favor de uma narrativa globalizante, superficial, que quer contar a mesma história para a gente?
[…]
Nosso tempo é especialista em criar ausências: do sentido de viver em sociedade, do próprio sentido da experiência da vida. Isso gera uma intolerância muito grande com relação a quem ainda é capaz de experimentar o prazer de estar vivo, de dançar, de cantar. E está cheio de pequenas constelações de gente espalhada pelo mundo que dança, canta, faz chover. O tipo de humanidade zumbi que estamos sendo convocados a integrar não tolera tanto prazer, tanta fruição de vida. Então, pregam o fim do mundo como uma possibilidade de fazer a gente desistir dos nossos próprios sonhos. E a minha provocação sobre adiar o fim do mundo é exatamente sempre poder contar mais uma história. Se pudermos fazer isso, estaremos adiando o fim.
embalado: que se acalentou e ninou, geralmente para adormecer ou acalmar. alienar: transferir para domínio alheio.
cosmos: Universo. fruição: desfrutar com satisfação ou prazer.
fricção: atrito entre dois corpos. tai chi chuan: arte marcial chinesa de execução leve e suave que promove relaxamento e meditação.
É importante viver a experiência da nossa própria circulação pelo mundo, não como uma metáfora, mas como fricção, poder contar uns com os outros. Poder ter um encontro como este, aqui em Portugal, e ter uma audiência tão essencial como vocês é um presente para mim. Vocês podem ter certeza de que isso me dá o maior gás para esticar um pouco mais o início do fim do mundo que se me apresenta. E os provoco a pensar na possibilidade de fazer o mesmo exercício. É uma espécie de tai chi chuan. Quando você sentir que o céu está ficando muito baixo, é só empurrá-lo e respirar.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. In: KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. p. 9-33. p. 14-28.
1. a) Professor, espera-se que os estudantes encontrem nas notícias referências explícitas aos krenak, que vivem às margens do Rio Doce. Caso não, dê a eles essas informações e faça com que estabeleçam a relação.
1. b) Sua luta histórica em defesa dos direitos dos indígenas e da natureza e a luta de seu povo em defesa de seu território, sua cultura, além da titulação como doutor honoris causa, permitem afirmar que ele é uma grande autoridade em questões ambientais.
Não escreva no livro.
1. Leia a manchete a seguir, publicada no site da revista IstoÉ cerca de quatro meses antes da palestra de Ailton Krenak em Portugal.
Professor, oriente os estudantes a descobrir as causas e consequências do desastre de Mariana e relacioná-lo ao de Brumadinho.
REPRODUÇÃO/ISTOÉ
TRÊS ANOS após desastre de Mariana, indígenas Krenak pedem justiça. IstoÉ , São Paulo, 5 nov. 2018. Disponível em: https://istoe.com.br/tres-anos-apos-desastre-de-mariana-indigenas-krenak-pedem-justica/. Acesso em: 25 jul. 2024.
a) Que relação se pode estabelecer entre esse desastre e a aldeia dos indígenas krenak?
b) Leia os dados biográficos de Ailton Krenak no boxe #sobre e explique por que é possível considerá-lo uma autoridade em questões ambientais.
1. c) Como era uma mostra de cinema ameríndia, sua presença acrescenta legitimidade e relevância ao evento.
c) Identifique a informação que indica em qual evento ocorreu a palestra. Qual seria a relevância de Krenak para a abertura do evento?
2. Krenak narra uma experiência pessoal relacionada aos momentos anteriores à palestra e a sua preparação para o evento. Espera, assim, aproximar-se do público.
#PARAlEMBRAR
A palestra é um gênero oral, direcionada a um auditório coletivo, a quem um palestrante deve apresentar ideias, defender ou criticar um conceito ou tese. O palestrante deve ser um estudioso ou especialista no assunto a ser discutido, pois, além dos argumentos a serem apresentados, confere ao gênero uma credibilidade prévia necessária.
Em geral, uma palestra apresenta uma estrutura que se inicia com uma saudação, apresentação do palestrante (que pode ser feita por outra pessoa), apresentação dos objetivos, argumentação em defesa das ideias apresentadas ou exposição das informações sobre o tema, encerramento com uma síntese do que foi apresentado, espaço para perguntas e respostas (se possível), despedida e agradecimento
2. Krenak começa sua palestra usando uma estratégia para captar a atenção do público. Que estratégia é essa? Que efeito ele espera ao usar essa estratégia?
O palestrante deve adequar o grau de formalidade que irá adotar ao auditório ao qual se dirige. No entanto, são partes essenciais de uma palestra a utilização de marcas da oralidade e interlocução, utilização de primeira pessoa, trechos narrativos e pessoais
3. Todo título – de livro, palestra, apresentação, trabalho de escola etc. – pode atrair ou não seu público, ser mais ou menos sugestivo. O título da palestra de Krenak atraiu um grande público na primeira vez que foi apresentada.
3. a) Pressupõe que o mundo vai acabar e que se pode evitar ou adiar isso. Professor, a turma pode debater o que seria esse fim de mundo: pode ser o esgotamento de certas reservas ou bens naturais como água, petróleo etc.,
a) Esse título pressupõe certos eventos e ideias. Quais?
b) Por que o título da palestra teria atraído um público tão grande? Formule uma hipótese.
c) Qual o tema da palestra?
d) Em sua opinião, o tema da palestra tem relação clara com o título? Justifique.
3. b) Professor, considere as respostas dos estudantes e sobretudo as explicações e justificativas que apresentarem. Seria interessante lembrá-los das ameaças a que o mundo se vê submetido e o modo como são divulgadas pela mídia. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
3. c) A importância de considerar a vida humana como parte da natureza e, desse modo, resistir ao que ele considera ausências de vida, ou seja, a uma vida desprovida de alegria, prazer, sentido.
3. d) Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes concordem e percebam como essa relação foi se construindo ao longo da palestra. a contaminação do ar e dos mares, o aquecimento da Terra, entre outros.
4. b) Porque, de acordo com a cosmovisão indígena professada por Krenak, a natureza é personificada, tem personalidade, tem caprichos. E a poluição mata esses seres tão importantes para o povo.
4. Retome a leitura do texto 1.
a) Releia o quarto parágrafo e, com o conhecimento da tragédia de Mariana, explique qual foi o grande impacto nas terras do povo krenak.
A tragédia de Mariana destruiu o rio do povo (Rio Doce) e contaminou toda paisagem da área.
b) E xplique por que esse impacto vai além das questões ambientais.
c) Takukrak, a serra citada na palestra, tem, segundo o palestrante, personalidade e estabelece interações com o povo krenak. Que interações são essas?
SAIBA MAIS
As leis são o resultado de muito debate e luta. No Brasil, há algumas leis ambientais que se tornaram referência no mundo.
É dever de todo cidadão fiscalizar e reivindicar o cumprimento efetivo destas leis.
• Lei dos Crimes Ambientais – Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Reordena a legislação ambiental brasileira no que se refere às infrações e punições de crimes ambientais.
• Lei de Recursos Hídricos – Lei no 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Define a água como recurso natural limitado, dotado de valor econômico, que deve ser preservado.
• Lei da Exploração Mineral – Lei no 7.805, de 18 de julho de 1989. Regulamenta as atividades garimpeiras. É possível ler na íntegra o texto de cada Lei por meio do endereço a seguir.
C ÂMARA DOS DEPUTADOS. Legislação. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, [2024]. Disponível em: www.camara.leg.br/legislacao. Acesso em: 28 maio 2024.
5. Ailton Krenak faz menção ao modo como povos do Equador, da Colômbia e de outras partes dos Andes convivem com a natureza.
A ideia de que esse modo de entender a natureza tem legitimidade e reconhecido como uma forma de compreender o mundo tão válida quanto as demais.
a) Que semelhança é possível identificar na maneira de considerar a natureza entre os krenak e os povos andinos? A personificação da natureza e a humanidade como parte dela.
b) A referência à cultura de outros povos indígenas da América funciona como argumento para qual ideia?
c) K renak pergunta: “Por que elas vão sendo esquecidas e apagadas em favor de uma narrativa globalizante, superficial, que quer contar a mesma história para a gente?”. Discuta com os colegas qual seria uma resposta possível a essa pergunta.
6. a) Ausências do sentido de viver perante o outro e perante o mundo.
a) A que ausências ele se refere?
A serra Takukrak indica como o povo deve se comportar com base em sua aparência, seus caprichos, isto é, as adversidades do tempo. pessoal. Professor, se necessário, esclareça que, para dar ênfase, é possível falar mais alto, mais devagar, com mais ou menos intensidade etc. E que a ênfase reforça aquilo que parece mais importante ao estudante.
6. Seguindo o desenvolvimento argumentativo, Krenak destaca que “Nosso tempo é especialista em criar ausências”.
6. b) Pode gerar uma humanidade alienada, que vive automaticamente, sem prazer, sem aproveitar a vida.
b) S egundo esse argumento, a ausência e a solidão da humanidade podem acarretar quais consequências para cada indivíduo?
7. Krenak retoma o título da palestra no final de sua fala. Segundo ele, o adiamento do fim do mundo pressupõe um mundo em que a vida não é superficial nem vivida como metáfora, mas em sua materialidade. Como seria esse mundo?
Um mundo no qual a humanidade pode viver de forma mais profunda e autêntica, pelo prazer e pela fruição, em relação material e de fricção com a natureza.
8. Além da fala verbal, a entonação, a postura e os gestos também produzem sentidos na fala. Releia: “Eu não percebo onde tem alguma coisa que não seja natureza. Tudo é natureza. O cosmos é natureza. Tudo em que eu consigo pensar é natureza”. A que expressões desse trecho você daria ênfase na fala? Que gestos poderiam acompanhar essas ênfases?
Além da estrutura linguística informativa ou argumentativa da palestra, outros elementos a constituem e produzem sentidos, como gestos, olhar, postura, entonação, prosódia e recursos audiovisuais.
5. c) Há várias possibilidades, mas de modo geral pode-se dizer que a globalização produz uma homogeneização das culturas, uma padronização dos modos de ser e agir e fazer das pessoas tendo como referência um padrão dominante. Assim, a narrativa globalizante imporia conhecimentos com base no que propõe a ciência ocidental, apagando tudo aquilo que entra em desacordo com ela, como outras formas de a humanidade entender o mundo e se relacionar com ele.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
2. É possível entender apenas o significado das palavras isoladas, e não o sentido da frase como um todo. Isso acontece porque as palavras estão organizadas de maneira não prevista na língua portuguesa.
Não escreva no livro.
Releia um trecho da transcrição da palestra de Ailton Krenak publicada no livro Ideias para adiar o fim do mundo
1 Para decodificar e ler a transcrição da palestra, você mobilizou um conhecimento. Que conhecimento é esse?
2 Considere a seguinte reescrita do trecho destacado: “Esquerda a aldeia na margem Krenak fica do rio”. É possível entender o significado dessa frase? Explique o que possibilita ou impossibilita o entendimento dela.
1. O reconhecimento das palavras, o significado delas, a relação entre elas e sua organização em frases. Ou seja, foi mobilizado o domínio da língua escrita.
Tem uma montanha rochosa na região onde o rio Doce foi atingido pela lama da mineração. A aldeia Krenak fica na margem esquerda do rio, na direita tem uma serra. Aprendi que aquela serra tem nome, Takukrak, e personalidade. De manhã cedo, de lá do terreiro da aldeia, as pessoas olham para ela e sabem se o dia vai ser bom ou se é melhor ficar quieto. Quando ela está com uma cara do tipo ‘não estou para conversa hoje’, as pessoas já ficam atentas. Quando ela amanhece esplêndida, bonita, com nuvens claras sobrevoando a sua cabeça, toda enfeitada, o pessoal fala: ‘Pode fazer festa, dançar, pescar, pode fazer o que quiser’.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo, In: KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. p. 9-33. p. 17-18.
3. a) Em parte, pois todas passam a mesma mensagem: alguém não deseja se comunicar com ninguém no dia em que fala (hoje), mas o registro varia.
3. b) Não, pois mesmo que tenham sentido semelhante, cada uma é adequada a um contexto de comunicação.
Para que possam ter uma comunicação eficaz, os falantes de todas as línguas têm como referência um conjunto de regras que estabelecem como podem ser estruturadas as palavras e frases que produzem sentido. É esse conhecimento de uma língua que possibilita compreender o significado de uma frase como:
A aldeia Krenak fica na margem esquerda do rio […].
E não entender o significado de uma frase como:
Esquerda a aldeia na margem Krenak fica do rio.
O conhecimento dessas regras e estruturas se dá de forma natural para os falantes nativos de uma língua, mas estudá-las intencionalmente permite desenvolver um repertório de conceitos que amplia as possibilidades de reflexão sobre o funcionamento da língua na construção dos sentidos e permite reconhecer as variações das regras e os impactos (internos e externos à língua) que essas variações produzem.
3 Considere agora as reescritas do trecho destacado.
Por favor, não se dirija a mim hoje. Num fala comigo hoje. Nem vem com papinho hoje.
Não dirija a palavra a mim hoje.
Não desejo interações com ninguém hoje.
a) Considere apenas o significado da frase destacada Ele é semelhante ao das reescritas? Explique.
b) Todas essas possibilidades de reescrita podem ser utilizadas em qualquer situação de interlocução? Justifique.
Professor, as atividades que abrem a seção de reflexão sobre a língua pretendem introduzir a ideia de que a estrutura de uma língua e o (re)conhecimento do significado das palavras é fundamental para a compreensão do significado do texto oral ou escrito. Não garante a compreensão do sentido, aqui tomado como a construção que se dá no plano dialógico, discursivo, na troca social entre sujeitos socialmente situados, mas é etapa essencial para essa construção de sentido. Portanto, a diferença entre significado e sentido é que o primeiro é mais estável. O sentido é uma formação dinâmica, variável, que tem zonas de estabilidade diferentes. O significado é apenas uma das zonas do sentido, a mais estável. O acesso ao significado é fundamental – mas insuficiente – para a construção de sentido.
A área de estudos sobre as regras e as estruturas de frases e palavras possíveis em uma língua corresponde à gramática. Esta, de forma geral, dedica-se aos campos da fonética e fonologia, que estudam os sons da fala, suas características e como estes funcionam dentro de um sistema linguístico específico; da morfologia, que estuda a formação e a estrutura de palavras; da sintaxe, que estuda como as palavras são combinadas para formar frases e orações; da semântica, que se dedica ao campo da significação; e outros.
A norma e os usos
De onde vêm as regras gramaticais?
As regras que normatizam o padrão da língua vêm da história de sua formação e do processo de transformação pelo qual ela naturalmente passa. São os usos frequentes e regulares de determinada forma linguística que acabam por transformá-la em regra gramatical, assim como são as regras gramaticais as condicionadoras dos usos da língua.
Embora os manuais de gramática registrem convenções e regras, os usos de uma língua podem apresentar diferenças com relação ao que esses manuais determinam. Manuais de gramática, em geral, apresentam o conjunto de regras e padrões estabelecidos para a norma-padrão , considerada referência em uma dada comunidade linguística para uso da língua em situações formais de interlocução.
Já nos usos cotidianos, os falantes de uma língua podem não aderir completamente às regras gramaticais estabelecidas nos manuais. Os usos são dinâmicos e podem variar significativamente entre diferentes grupos, regiões, contextos e ao longo do tempo. Observe a seguir um trecho da canção “Principia”, do rapper paulista Emicida (1985-).
[…]
Tenso, busco uma ajuda
Às vezes me vem um salmo
Tira a visão que iluda, é tipo um oftalmo
E eu, que vejo além de um palmo
Professor, para aprofundar a leitura sobre a relação entre norma e usos da língua, sugere-se a leitura de: “Introdução: gramática, a quem será que se destina”, em: BAGNO, Marcos. Gramática pedagógica do português . São Paulo: Parábola Editorial, 2011.
Por mim, tu, Ubuntu, algo almo
Se for pra crer no terreno
Só no que nóis tá vendo memo […]
Eu me refaço, farto, descarto
De pé no chão, homem comum
Se a bênção vem a mim, reparto Invado cela, sala, quarto
Rodei o globo, hoje tô certo de que
Todo mundo é um
Tudo, tudo, tudo, tudo que nóis tem é nóis
PRINCIPIA. Intérprete: Emicida (part. Fabiana Cozza, Pastor Henrique Vieira e Pastoras do Rosário). Compositores: Emicida e Nave. In: AMARELO. Intérprete: Emicida. Rio de Janeiro: Sony Music; São Paulo: Laboratório Fantasma, 2019.
#fiCAADiCA
O documentário AmarElo – É tudo pra ontem (2020), do rapper Emicida, trata do processo de criação do disco AmarElo e reconta a história da música e da cultura negra nos últimos 100 anos. A obra reúne animações, entrevistas e cenas dos bastidores do show do álbum que ocorreu no Theatro Municipal de São Paulo (SP), em 2019.
• AMA RELO: é tudo pra ontem. Direção: Fred Ouro Preto. Brasil: Laboratório Fantasma, 2020. Streaming (89 min).
Imagem de divulgação do filme
AmarElo –É tudo pra ontem.
A canção nem sempre segue a norma-padrão. Em “Só no que nóis tá vendo memo” e “Tudo, tudo, tudo, tudo que nóis tem é nóis” a concordância nóis tá e nóis tem não segue a regra segundo a qual o verbo concorda em número e pessoa com o pronome: nós estamos, nós temos. Mas em “Eu me refaço”, a concordância se dá de acordo com a norma-padrão:
Eu me refaço.
Pronome eu se refere à primeira pessoa do singular; a forma verbal refaço também está na primeira pessoa do singular.
Tudo que nós tem é nóis.
Pronome nós se refere à primeira pessoa do plural; já a forma verbal tem está flexionada na terceira pessoa do singular.
A diferenciação entre norma e usos destaca a natureza viva e em constante evolução das línguas, pois, enquanto as gramáticas tentam estabelecer um padrão, a língua em uso reflete as influências culturais, sociais e históricas que moldam a comunicação humana. É importante reconhecer e valorizar tanto a norma quanto os usos, pois ambos desempenham papéis fundamentais na comunicação e produção de sentido.
A norma da língua corresponde a regras e padrões gramaticais estabelecidos em contextos formais de interação. Quando em uso, a língua nem sempre segue as regras apresentadas nos manuais de gramática.
Oralidade e escrita
A oralidade e a escrita são duas modalidades de uso da língua que se distinguem, em primeiro lugar, pela condição de produção: na fala, a produção e a revisão são feitas simultaneamente. Já a escrita permite a revisão em momento diferente daquele em que foi produzida. Além disso, a oralidade conta com outros recursos de linguagem: gestos, entonação, expressões faciais. Na escrita, esses sentidos podem ser sugeridos por recursos expressivos, como pontuação, interjeições, figuras de linguagem etc.
Leia o trecho a seguir, da entrevista feita de forma oral com a rapper indígena Brisa Flow.
[…] E aí, quando você traz isso pras pessoas pensarem na música, através de poesia – porque às vezes as pessoas não tão a fim de dar um Google na história: ‘ah, beleza. O Brasil não foi descoberto, foi invadido’. E para aí! Não é uma coisa que é falada, né?
FLOW, Brisa. No flow cosmopolítico da arte de Brisa. [Entrevista cedida a] Thuanny Judes. Vista, [s. l.], 3 fev. 2022. Disponível em: https://vista.art.br/no-flow-cosmopolitico-da-arte-de-brisa/. Acesso em: 7 jun. 2024. No trecho, são marcas da oralidade a repetição de palavras, o uso de aí como sequenciador temporal da fala, a intercalação de uma explicação em “porque às vezes as pessoas não tão a fim de dar um Google na história” e no uso de né.
Apesar da recorrente associação da oralidade à informalidade e da escrita à formalidade, não é isso o que acontece na língua. Há textos escritos mais espontâneos, como o diálogo entre amigos em mensagens na internet, e outros mais planejados e formais, como um artigo acadêmico. O mesmo acontece na comunicação oral, que podem se dar em diferentes graus de informalidade. Ao contar com diversos recursos tecnológicos, a escrita mobiliza multimeios diversos que rompem com diferenças nas condições de produção entre escrita e fala.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Não escreva no livro.
Leia a seguir um poema do escritor José dos Santos Ferreira (1919-1993), da antiga colônia portuguesa Macau, atualmente uma região da China. O poema é escrito em patuá macaense, uma língua que se originou do português e de outras línguas da região.
Macau di nôsso coraçám, Alma di nôsso vida, Únde vôs ta vai, quirida, Assi metido na iscuridám?
Qui di candia pa lumiá vôs?
Quelê-môdo vôs pôde andá?
Cuidado, nom-mestê tropeçá!
Vôs cai, nôs cai juntado co vôs.
1. a) O poema é sobre Macau e os caminhos que a região tomava em direção a um futuro possível.
1. b) Macau do nosso coração, / Alma da nossa vida, / Aonde vais, querida, / Tão cercada de escuridão? Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Macau di rosto tristónho, Únde têm vôsso alegria?
Quim já suprá vôsso candia, Largá vôs na treva medónho?
Ventania fórti ta zuní, Tempo ta fazê coraçám esfriado; Na fugám, fôgo apagado, Amôr tamêm pôde escapulí.
Nom-têm calôr, nom-têm luz, Mâz fé, sã nom-pôde faltá. Dios Misericordioso lôgo achá Unga Cirinéu pa vôsso cruz!
FERREIRA, José dos Santos. Únde ta vai, quirida? In: FERREIRA, José dos Santos. Macau di tempo antigo Macau: Fundação Macau, 1996. p. 233.
1. Embora possa ser desafiadora a leitura de um poema em outra língua, é possível entender de forma geral os sentidos que o texto produz.
a) Qual o tema do poema?
b) Suponha que você fosse traduzir a primeira estrofe para o português brasileiro. Escreva sua tradução.
2. O que explicaria a semelhança da gramática do patuá macaense com o português brasileiro?
Leia este trecho de uma crônica do escritor gaúcho Luis Fernando Verissimo (1936-).
— Me disseram…
— Disseram-me.
— Hein?
— O correto é ‘disseram-me’. Não ‘me disseram’.
— Eu falo como quero. E te digo mais… Ou é “digo-te”?
— O quê?
— Digo-te que você…
— O ‘te’ e o ‘você’ não combinam.
— Lhe digo?
— Também não. O que você ia me dizer?
2. A semelhança entre as línguas se dá porque as duas se originam do português europeu difundido durante as navegações nas colônias portuguesas.
— Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. E que eu vou te partir a cara. Lhe partir a cara. Partir a sua cara. Como é que se diz?
— Partir-te a cara.
— Pois é. Parti-la hei de, se você não parar de me corrigir. Ou corrigir-me.
— É para o seu bem.
— Dispenso as suas correções. Vê se esquece-me. Falo como bem entender. Mais uma correção e eu…
[…]
VERISSIMO, Luis Fernando. Papos. In: VERISSIMO, Luis Fernando. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. E-book
3. a) Supõe que o amigo entende que a língua deve seguir as regras, a norma-padrão, e que não considera variações em razão dos contextos de interlocução.
3. b) O alerta “O ‘te’ e o ‘você’ não combinam”.
3. c) Não, porque se trata de um contexto informal que admite um uso da língua que não siga estritamente as regras gramaticais, a norma-padrão da língua.
3. A correção de “me disse” para “disseram-me” feita pelo amigo supõe um certo modo de entender a língua.
a) Que modo seria esse?
4. A de alguém que não tem conhecimento suficiente da língua que quer usar. Constrói a imagem de autoridade na língua.
b) Que outro exemplo do texto mostra esse mesmo modo de compreender a língua?
c) A s correções estão adequadas a esse contexto? Por quê?
4. Na relação entre os interlocutores construída no texto, qual é a imagem projetada por aquele que corrige? Nessa relação, qual imagem aquele que corrige constrói de si próprio?
5. O diálogo mostra como a língua pode ser usada como instrumento de afirmação de poder de um interlocutor sobre o outro em uma dada interação. Como o texto mostra isso?
6. O livro Os perigos do imperador narra a viagem pouco divulgada que D. Pedro II fez aos Estados Unidos durante seu reinado no Brasil. Um jornalista estadunidense que acompanhou a viagem contou o seguinte detalhe depois que o imperador desembarcou.
5. Mostra ao colocar um interlocutor que, ao interromper outro para corrigi-lo, não só impede que ele se expresse plenamente como projeta uma imagem de superioridade que ele crê ter pelo domínio das regras gramaticais.
Ao falar em inglês, d. Pedro procurou usar expressões aprendidas dos americanos que conheceu na viagem, embora nem sempre muito apropriadas. Em certo momento, afirmou: “I’m very go-ahed”, querendo dizer talvez que era muito decidido. […]
CASTRO, Ruy. Os perigos do imperador : um romance do Segundo Reinado. São Paulo: Companhia das Letras, 2023. p. 113.
a) Consta que o imperador sabia falar várias línguas e estudava ainda outras. Mas o uso da expressão selecionada mostrou-se inadequado. Copie a resposta verdadeira. O uso dessa expressão denota uma inadequação:
6. a) Resposta: alternativa II
I. morfológica. II. semântica. III. sintática. IV. fonética.
b) O que provavelmente pretendia ao empregar a expressão go-ahead ouvida durante a viagem?
7. O t recho a seguir foi recortado da entrevista de Wturana Pataxó ao Museu da Pessoa. A entrevista é um gênero oral e pode ser transcrita tal como o entrevistado falou ou ser adaptada à necessidade do veículo que a publicar.
6. b) Provavelmente, pretendia proximidade com os interlocutores, mostrando conhecimento do inglês praticado efetivamente pelos falantes estadunidenses.
R – Eu nasci lá na roça, lá em Barra Velha, lá como eu falei, no Campo do Boi. Era assim, de parteira, né. A minha mãe me ganhou, ela falou que o nome da minha avó que me pegou, porque naquele tempo chamava… aí meu Deus do céu, esqueci o nome da velhinha que me pegou. Acho que o irmão aí sabe, conhece. Era o pessoal de… ai Jesus! Saiu da minha lembrança agora. Mas eu nasci assim, lá naquele tempo de 61, lá em Barra Velha, imagina como era aquele tempo! Sabe, né? Só o índio conhece a situação da gente naquele tempo lá, em Barra Velha. A minha mãe conta para mim, que a minha banheira, irmã, foi uma candonga de patí, não tinha outra coisa. Cheguei assim, já usando as coisas originais, né. A candonga do patí, a minha banheira, você acredita? O nome da mulher que me pegou eu lembrei, é… esqueci de novo (risos). Depois eu falo o nome dela. É conhecida ela, acho que o irmão conhece o pessoal lá. Ela era de lá, muito conhecida lá, era a parteira de lá.
PATAXÓ, Wturana. Saber viver com os outros. [Entrevista cedida a] Amós Ferreira dos Santos. São Paulo: Museu da Pessoa, 9 fev. 2023. Localizável em: menu Texto na íntegra. Disponível em: https://museudapessoa.org/historia-de-vida/saber-viver-com-os-outros/. Acesso em: 11 jan. 2024.
7. a) É possível considerar que essa entrevista é mais informal, afinal trata-se de um relato pessoal com muitas marcas de pessoalidade e subjetividade.
a) Como é possível considerar o grau de formalidade da interação entre entrevistado e entrevistador?
b) A t ranscrição preserva marcas da fala da entrevistada. Copie exemplos.
8. Quais são as marcas próprias da fala possíveis de identificar em “Eu nasci lá na roça, lá em Barra Velha, lá como eu falei, no Campo do Boi”? Releia o trecho a seguir, da entrevista com Wturana Pataxó. Acho que o irmão aí sabe, conhece.
7. b) Repetições (lá); suspensão de fala (...); partícula modal que requisita a confirmação do ouvinte (né); reformulações (sabe, conhece); interjeições (ai Jesus!).
Compare com outro trecho da mesma entrevista. Nasci em Barra Velha e fiquei lá uns 10 anos. Aí a minha mãe ganhou sete filhos, comigo. Aí com os sete filhos que a minha mãe tinha, o meu pai morreu. Aí eu fiquei sendo eu a mais velha, responsável por criar os meus irmãos.
8. A repetição do lá e reformulações por meio de sinônimos (roça, Barra Velha, Campo do Boi).
PATAXÓ, Wturana. Saber viver com os outros. [Entrevista cedida a] Amós Ferreira dos Santos. São Paulo: Museu da Pessoa, 9 fev. 2023. Localizável em: menu Texto na íntegra. Disponível em: https://museudapessoa.org/historia-de-vida/saber-viver-com-os-outros/. Acesso em: 11 jan. 2024.
9. A e xpressão aí tem em ambos os trechos o mesmo sentido? Explique.
9. Não. No primeiro trecho, aí indica espacialmente onde está o irmão e atua como um advérbio de lugar. No segundo trecho, aí não indica localização, mas é usado para dar sequência à fala, tendo uso semelhante a então ou bem
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1. Resposta possível: Sim, pois o anúncio não tem cores, não traz imagens, não mostra os produtos a que se refere, tem muito texto e o tipo de letra é carregado, em razão das limitações da impressão da época.
Leia a seguir um anúncio da Casa Nacional, publicado no jornal Getulino, um dos primeiros jornais totalmente produzido por pessoas pretas, publicado entre 1923 e 1926 na cidade de Campinas, em São Paulo.
3. a) Poderiam ser utilizadas as expressões tecidos (para fazendas) e utensílios gerais (para miudezas).
1 O anúncio divulga um comércio da cidade de Campinas. Observando apenas a apresentação visual, é possível dizer que se trata de um anúncio antigo. Por quê? Discuta com os colegas e anote as conclusões.
2 O anúncio se dirige ao seu público usando “Vossa Excelência” (V. Excia.).
a) Como pode ser qualificado o grau de formalidade do texto?
Como formal.
b) Esse modo de tratar o consumidor permite perceber que público é frequentador da loja. Que perfil teria?
ATTENÇÃO. Getulino, Campinas, ano 1, n. 3, p. 3, 12 ago. 1923. p. 3. Disponível em: https://memoria.bn.gov.br/DocReader/ docreader.aspx?bib=844900&pesq=&pagfis=7. Acesso em: 11 jun. 2024.
3. b) Bello está grafada com dois l e photografia com ph. Professor, pode-se discutir se o anúncio hoje atrairia consumidores e por quê. Espera-se que os estudantes reconheçam que não. O anúncio não tem atrativos visuais nem aproximação com o eventual consumidor; o único argumento de que lançam mão é a qualificação de belos os seus produtos, o que é uma avaliação muito subjetiva, e que são barateiros.
3 Observe as palavras empregadas no anúncio e o modo como estão escritas.
a) As palavras fazendas e miudezas são hoje pouco utilizadas no sentido que têm no texto. Se esse comércio existisse hoje na mesma cidade e continuasse a vender os mesmos produtos, que palavras ou expressões poderiam ser utilizadas no lugar delas?
b) As palavras bello e photografia estão escritas de modo diferente de como são escritas hoje pela norma-padrão. Qual a diferença?
Toda língua está sujeita a variações, um fenômeno que reflete a dinâmica e a diversidade dos contextos de interação entre os falantes de uma comunidade. Palavras novas são criadas, significados mudam e algumas formas linguísticas caem em desuso. Essa natureza variável da língua não é um sinal de erro ou irregularidade, mas uma demonstração de vitalidade, já que todas as línguas precisam se adaptar às necessidades sempre renovadas de seus falantes. A língua pode variar de diversas formas. Nesta unidade, serão apresentadas as variações temporal, contextual, social e profissional.
2. b) Um consumidor elitizado econômica e socialmente. Professor, se achar adequado à sua turma, observe com os estudantes que a locução verbal deve fazer no texto soa como recomendação, e não como ordem imperativa como costuma vigorar nos textos dos anúncios de hoje.
A variação linguística de tempo, também chamada de variação diacrônica, refere-se às mudanças que ocorrem na língua ao longo de um determinado tempo. Essas mudanças podem ser fonéticas, morfológicas, sintáticas ou lexicais e são influenciadas por diversos fatores, como influências culturais, inovações tecnológicas e transformações sociais. Leia o trecho a seguir, de uma crônica do poeta Carlos Drummond de Andrade.
Pé-de-alferes: cortesias, amabilidades, gestos de sedução; arrastar a asa: flertar, tentar seduzir; ficar debaixo do balaio: esquecer a pretendente ou a namorada; levar tábua: ser rejeitado.
Antigamente as moças chamavam-se ‘mademoiselles’ e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhe pé-de-alferes , arrastando a asa , […] mas ficavam longos meses debaixo do balaio. Se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. […]
DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. Era assim. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, ano LXIII, n. 21.699, p. 6, 29 dez. 1963. p. 6. Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/ DocReader.aspx?bib=089842_07&pagfis=47381. Acesso em: 10 jun. 2024.
Discuta com os colegas: pelo contexto, qual sentido se pode inferir das palavras e expressões destacadas?
A menção a mademoiselles para se referir a moças mostra o prestígio que a língua francesa tinha no Brasil até meados do século XX e marca a distinção entre as mulheres casadas e as não casadas. Expressões como completavam primaveras , faziam-lhe pé-de-alferes , tirar o cavalo da chuva e pregar em outra freguesia , que podem ser menos familiares para os falantes contemporâneos, eram comuns e refletiam o humor e a sabedoria popular da época.
A variação linguística de contexto , ou variação situacional , diz respeito à adaptação da língua de acordo com o contexto em que a comunicação ocorre. O mesmo falante pode empregar diferentes níveis de formalidade, vocabulário e estruturas gramaticais dependendo da situação, seja ela formal ou informal. No trecho da crônica de Drummond citado anteriormente, as expressões tirar o cavalo da chuva e pregar em outra freguesia são muito populares e informais, não sendo adequadas a um contexto formal, e poderiam ser substituídas por “desistir” e “procurar por oportunidades em outros locais”, respectivamente.
A variação linguística social está relacionada às diferenças no uso da língua entre diferentes grupos sociais, que podem ser definidos por critérios como classe social, etnia, idade, gênero, entre outros. Essas variações podem se manifestar em sotaques, escolha de vocabulário e construções gramaticais. Leia a tirinha a seguir, de Luke & Tantra.
É comum que jovens usem gírias, que são palavras ou expressões empregadas por grupos específicos e que muitas vezes têm significados só reconhecíveis por pessoas de tais grupos. Os termos aí, beleza e só, por exemplo, atuam como palavras que estabelecem e mantêm o canal de comunicação aberto entre os interlocutores. O termo cabeça qualifica alguém que seria inteligente, de boa conversa.
#PARAlEMBRAR
Gírias são formas de linguagem não formal geralmente usadas em contextos informais e coloquiais. Elas são palavras ou frases empregadas por grupos específicos e podem ser vistas como forma de marcar identidade e/ou pertencimento a grupos. Em alguns casos, podem ser incorporadas à norma-padrão ao longo do tempo.
Por fim, a variação linguística profissional ou técnica envolve o uso de termos e estruturas específicas a uma determinada área de trabalho ou especialização. Essa variação é essencial para a precisão e clareza na comunicação dentro de campos específicos de trabalho.
#PARAlEMBRAR
Jargões são um tipo de linguagem especializada utilizada por um grupo específico, geralmente relacionados a uma profissão, hobby ou outra área de interesse especial. Caracterizam-se pelo uso de palavras, frases e expressões que são familiares e compreensíveis para os membros do grupo, mas que podem ser confusas ou ininteligíveis para pessoas de fora dele.
Leia o trecho de uma entrevista feita com o jornalista Marcelo Tas (1959-).
Voltando ao Neto. No clássico contra o São Paulo, o Valdivia fez um gol e saiu tirando onda, como se tivesse acabado o jogo. Aí partiram pra cima dele. O Neto defendeu: ‘O cara não pode dar uma zoadinha?’. Este é um ótimo exemplo de alguém que representa um mundo photoshopado: o Rogério Ceni [risos]. É um cara que tomou um frango na semifinal e falou: ‘O problema é a bola.’. Ele tem que estar certo até quando leva um frango! É um grande goleiro, mas levou um frangaço, afundou o time. Acontece. Eu acho um horror essa sociedade que quer tudo bonitinho.
TAS, Marcelo. Marcelo Tas. [Entrevista concedida a] Ronaldo Bressane. Trip, [s. l.], n. 166, 13 ago. 2009. Disponível em: https://revistatrip.uol.com.br/trip/marcelo-tas. Acesso em: 10 jun. 2024. No trecho, palavras e expressões como clássico, gol, frango e tirar onda são parte do vocabulário empregado no universo semântico e cultural do futebol. Elas refletem a paixão que caracteriza as discussões sobre esportes, especialmente em contextos informais, como conversas entre torcedores ou comentários de entusiastas do esporte. No caso, o jornalista Marcelo Tas abusa dessas expressões para criticar a atuação do ex-goleiro do São Paulo, Rogério Ceni.
A variação linguística é um fenômeno que reflete a riqueza e a complexidade das línguas e suas transformações que ocorrem com as novas necessidades dos falantes em suas interações.
A variação de tempo diz respeito às mudanças que ocorrem na língua ao longo do tempo, como o surgimento de novas palavras e o desuso de antigas expressões.
A variação social está relacionada às diferenças linguísticas entre grupos sociais distintos, influenciadas por fatores como classe, idade, gênero e etnia.
A variação contextual refere-se às mudanças na forma de se comunicar de acordo com a situação ou o contexto da interação, como a diferença entre linguagem formal e informal.
A variação profissional envolve o vocabulário e as construções linguísticas específicas de determinadas profissões ou áreas de conhecimento, que podem ser incompreensíveis para leigos.
Leia o trecho da crônica a seguir para responder às questões.
Num tempo em que viajava bastante, comprava jornais do interior e me divertia com um tipo presente em praticamente todos eles: um misto de cronista e colunista social que noticiava festas de aniversário e bailes de debutantes. Invariavelmente, escreviam sobre alguma menina da elite local: ‘Fulaninha de Tal colhe a décima quarta rosa no jardim de sua existência’. Sem contar que muitas vezes dizia que ela estava na ‘primavera da vida’.
Mas até jornalistas famosos acabam descambando para certos chavões. No esporte é direto. Radialistas, então, na maioria parecem especialistas em lugares-comuns. Antes eram mais ainda. Muitas vezes, davam seus palpites nos jogos de futebol, erravam e se justificavam: ‘O futebol é uma caixinha de surpresas’.
Acho que esse chavão deveria ser adaptado pelos colunistas de economia. Há muito tempo vejo que erram muito, e depois se calam fingindo que não é com eles. Lembro-me quando louvavam a abertura econômica do México, e o país desandou em seguida. Ninguém reconhecia que errou. […]
BENEDITO, Mouzar. Cultura inútil: chavões. In: BLOG da Boitempo. São Paulo, 2 jun. 2015. Disponível em: https://blogdaboitempo.com.br/2015/06/02/cultura-inutil-chavoes/. Acesso em: 10 jun. 2024.
1. O cronista apresenta reflexões sobre a língua, mais precisamente sobre o uso de chavões.
a) Com base na leitura do texto, defina chavão
1. a) Frase que se diz repetidamente em contexto profissional e que vai perdendo seu valor expressivo, clichê.
b) Identifique os chavões do texto e explique o significado de cada um.
2. O cronista propõe a adaptação de jargões usados no futebol para o campo da economia.
a) Como ele justifica sua proposta?
Justifica lembrando que, assim como narradores de futebol, os economistas também podem errar muito em suas previsões.
b) Por que é possível dizer que chavões e jargões fazem parte de uma variação linguística do futebol?
c) O uso de chavões do futebol nos discursos dos economistas seria pouco usual ou curioso. Que efeito de sentido pode ser produzido ao ser utilizado o chavão de uma área em outra bem diferente?
Leia a charge a seguir.
2. b) Porque apresentam expressões e frases que são comumente utilizadas por profissionais desse esporte.
2. c) A utilização de chavões em áreas diferentes e distantes pode facilitar a compreensão de um assunto pouco familiar ao leitor, bem como produzir efeito de humor ou crítica.
ORLANDO. [Estamos anunciando...]. In: QUANDO o negócio é torturar a língua. Rio de Janeiro: Adur, c2018. Disponível em: www.adur-rj.org.br/5com/pop-up/torturar_a_lingua.htm. Acesso em: 6 ago. 2014.
1. b) “Colhe rosa no jardim da existência/ primavera da vida”: entrada na puberdade de mulheres e passar de um ano (aniversário). “Caixinha de surpresas”: submetido ao acaso.
4. b)
3. c) O termo se justifica porque, ao demitir o funcionário, o empregador usa muitas palavras em inglês ou que não transmitem a mensagem de forma efetiva, por isso elas precisam ser traduzidas.
3. Na charge , é apresentada uma situação frequente no mercado de trabalho.
a) Que situação é essa?
3. a) A situação é a demissão de um funcionário e sua equipe por parte do empregador.
b) Que justificativa o empregador dá ao funcionário para sua decisão? Qual o motivo real?
c) O motivo real aparece sob o título “Tradução para o português”. Como o termo tradução se justifica nesse caso?
3. b) Que a empresa está passando por uma reengenharia, ou seja, uma reestruturação, uma reorganização. O motivo real é que a empresa quer diminuir custos pagando menos pelos serviços de que necessita.
4. A charge apresenta o mesmo discurso na versão original do empregador e em versão traduzida.
Transferências de capacitação, vantagem competitiva, reengenharia
a) A que tipo de variação corresponde a fala do empregador?
b) Que palavras ou expressões são típicas dessa variação?
Corresponde à variação profissional, no caso, do mundo corporativo.
c) A língua, além de reproduzir sentidos, também expõe relações de poder. Explique como a variação utilizada pelo empregador contribui para que o funcionário aceite a decisão que lhe é imposta sem objeções.
Leia o gráfico a seguir, retirado de um artigo científico da linguista Vanessa Martins do Monte.
O uso de uma variação profissional e seus jargões pode impedir o pleno entendimento do sentido do discurso, bem como revesti-lo de uma imponência ou profissionalismo que mascaram seus aspectos negativos, no caso, a demissão em massa de todo um setor por motivos de economia da
MONTE, Vanessa Martins do. Eu lhe alembro a você: sobre o lugar de vossa mercê e você na história do português. Working Papers em Linguística, Florianópolis, v. 20, n. 2, p. 85-108, ago./dez. 2019. p. 90. MONTE, VANESSA MARTINS DO. EU LHE ALEMBRO A VOCÊ: SOBRE O LUGAR DE VOSSA MERCÊ E VOCÊ NA HISTÓRIA DO PORTUGUÊS. IN: WORK. PAP. LINGUÍST., 20(2): 85-108, FLORIANÓPOLIS, AGO./DEZ., 2019. P. 90
5. O gráfico apresenta uma linha do tempo que registra as variações que levaram a expressão vossa mercê a se transformar no pronome você
a) De acordo com o gráfico, o que mudou ao longo dos séculos com relação à expressão vossa mercê?
b) Que tipo de variação é apresentada nesse gráfico?
5. b) É apresentada a variação histórica.
Leia o trecho a seguir, do mesmo artigo do gráfico anterior. É bastante provável, portanto, que na língua falada, menos conservadora do que a escrita, a forma você já circulasse amplamente entre o final do século XVI e o início do século XVII. […]
5. a) De acordo com o gráfico, a expressão foi perdendo seu valor honorífico, de exaltação, deixando de ser exclusivo ao rei e passando a ser um tratamento popular e respeitoso por ter concorrência com outras formas.
MONTE, Vanessa Martins do. Eu lhe alembro a você: sobre o lugar de vossa mercê e você na história do português. Working Papers em Linguística, Florianópolis, v. 20, n. 2, p. 85-108, ago./dez. 2019. p. 93.
6. Continue a produção do gráfico, mas agora incluindo o termo você e suas variações contemporâneas na fala e escrita.
Séc. XVI-XVII: Você começa a circular na língua falada.
Séc. XX-XXI: Ocê e cê circulam na língua falada.
Séc. XXI: VC e C circulam na língua escrita e em contextos virtuais.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Professor, lembre aos estudantes que assunto corresponde a um tópico amplo; por exemplo, “recuperar e preservar florestas” é uma das ideias que se pode identificar como necessária para adiar o fim do mundo. O tema a ser definido pelos estudantes é um recorte do assunto; por exemplo: “como condição para diminuir o aquecimento global” ou “recuperar as florestas de modo prático, mas também filosófico, em alinhamento à cosmovisão indígena”. Vale sugerir a leitura dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU até 2030, que são propostas que também podem ser entendidas como meios de adiar o fim do mundo (disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/ sdgs; acesso em: 22 jul. 2024).
Na seção Leitura desta unidade, você leu propostas de Ailton Krenak sobre como adiar o fim do mundo. Com base nessas reflexões, você e os colegas organizarão mesas-redondas.
Você e os colegas produzirão uma mesa-redonda, gênero oral que tem como objetivo promover a circulação de ideias, ampliar conhecimentos, discutir conceitos e expor ideias e opiniões diversas. Na prática, organiza-se uma reunião em que ocorre uma discussão oral entre vários indivíduos sobre um tema específico, é organizado e orientado por um mediador.
O mediador de uma mesa-redonda é quem coordena a mesa. Deve ser imparcial e ser o responsável por controlar o tempo. É sua função propor questões relacionadas ao assunto discutido e fazer eventuais interrupções. Cabe também ao mediador explicar ao público o assunto da mesa e apresentar os convidados.
Cada integrante da mesa-redonda pode expressar seus pontos de vista e apresentar seus argumentos. O objetivo é ampliar o conhecimento sobre determinado assunto, discutir conceitos e pensar em alternativas e soluções com base em diversos e divergentes pontos de vista. As mesas-redondas que você e os colegas irão organizar serão baseadas nos problemas identificados ao longo da discussão da palestra de Krenak.
A turma deve reler o texto de Ailton Krenak e refletir sobre atitudes importantes para adiar o fim do mundo. Então juntos escolhem duas atitudes que julguem importantes para definir o tema, ou seja, um recorte do assunto que vão explorar. Esses temas serão aprofundados na mesa-redonda.
A turma será dividida em dois grupos; cada grupo deve ficar responsável pelo estudo de um dos temas. Todos os integrantes do grupo farão pesquisas em publicações impressas ou virtuais que sejam confiáveis, como jornais, revistas especializadas, artigos científicos ou textos oficiais de instituições governamentais ou prestigiadas, identificando dados, fatos, argumentos e pontos de vista. Em seguida, cada integrante irá realizar sua pesquisa pessoal sobre o tema, buscando outras ideias e argumentos ainda não identificados pelo grupo.
A sala elegerá dois estudantes para serem mediadores; cada um irá mediar uma mesa-redonda. Eles também ficarão responsáveis por realizar pesquisas sobre os temas em discussão para entender diferentes perspectivas e argumentos que podem surgir durante a discussão. Feitas as preparações iniciais, as pesquisas e com os resumos e notas em mãos, é a hora de começar a mesa-redonda. Professor, vale a pena reforçar entre os estudantes a importância de verificarem as fontes de suas pesquisas para que utilizem argumentos baseados em dados e em fatos. Ressalte também que o objetivo da mesa-redonda não é encontrar um único ponto de vista correto sobre determinado assunto, mas alcançar, por meio do diálogo, uma visão ainda mais abrangente de proposta de solução/opinião sobre determinado assunto.
Professor, retome com os estudantes este parágrafo da palestra de Krenak: “Nosso tempo é especialista em criar ausências: do sentido de viver em sociedade, do próprio sentido da experiência da vida. Isso gera uma intolerância muito grande com relação a quem ainda é capaz de experimentar o prazer de estar vivo, de dançar, de cantar. E está cheio de pequenas constelações de gente espalhada pelo mundo que dança, canta, faz chover. O tipo de humanidade zumbi que estamos sendo convocados a integrar não tolera tanto prazer, tanta fruição de vida. Então, pregam o fim do mundo como uma
Paráfrase
possibilidade de fazer a gente desistir dos nossos próprios sonhos. E a minha provocação sobre adiar o fim do mundo é exatamente sempre poder contar mais uma história. Se pudermos fazer isso, estaremos adiando o fim.”.
Escrever uma paráfrase é reescrever o enunciado de outro autor respeitando as ideias e posicionamentos do texto a ser parafraseado. Em uma mesa-redonda, a paráfrase pode ser usada caso seja necessário retomar a fala de outra pessoa para complementar o ponto de vista apresentado ou discordar dele. Observe alguns procedimentos.
1. Leia duas vezes o trecho que irá parafrasear; na segunda leitura, anote as ideias principais. Em seguida, defina a ideia geral do trecho que precisa parafrasear.
2. Contextualize o que você está parafraseando: onde foi publicado originalmente, quem é o autor.
3. Lembre-se de se referir ao texto enfatizando que a paráfrase se refere às ideias e aos posicionamentos de outro autor que não você; use a terceira pessoa. Como exemplo, leia uma paráfrase do penúltimo parágrafo do trecho da transcrição da palestra de Krenak que você leu nesta unidade: Krenak considera que parte da humanidade esvaziou o sentido de viver em sociedade, de experiência da vida, e tem se mostrado intolerante com quem se permite fruir a vida e ter experiências como dançar, cantar etc.
• Agora, escreva uma paráfrase do trecho da notícia a seguir
António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas reforçou a preocupação com o tema. ‘É muito firme a convicção de que a eliminação progressiva de combustíveis fósseis não é apenas necessária. É inevitável. Mas precisamos que os governos ajam para acelerar a transição, com os maiores emissores liderando o caminho’, declarou, em nota.
É senso comum que as fontes limpas de energia, tais como a energia solar e a eólica, têm papel fundamental na redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Atualmente, o carvão, o petróleo e o gás – todos combustíveis fósseis – respondem por quase 90% das emissões globais de dióxido de carbono.
Para os cientistas, reduzir as emissões quase pela metade até 2030, chegando a zero até 2050, é um caminho inadiável para evitar os piores impactos da mudança climática.
PACHECO, Paula. No Dia Internacional da Energia Limpa, ONU cobra transição acelerada. Exame, São Paulo, 26 jan. 2024. Disponível em: https://exame.com/esg/no-dia-internacional-da-energialimpa-onu-cobra-transicao-acelerada/. Acesso em: 16 maio 2024.
Produzir
Após definidos os temas e os grupos, a turma deverá organizar as mesas-redondas. Cada mesa-redonda será composta de seis estudantes, que devem ir para a frente da sala para compor a mesa. Os demais podem ajudar levando anotações e sugerindo argumentos.
O mediador inicia a mesa apresentando o tema e os debatedores e seleciona um deles para iniciar a discussão. Sugere-se estabelecer o tempo de três minutos. O mediador passa a palavra aos demais participantes.
• Depois das considerações iniciais, o mediador deve fazer perguntas ou permitir que os integrantes da mesa façam suas considerações sobre o assunto. Sugere-se um tempo de dois minutos para cada participante.
• Após as discussões, o mediador permitirá que o público pergunte.
• O mediador encerrará com o agradecimento aos participantes da mesa-redonda e ao público.
Resposta possível: Ao criar o Dia Internacional da Energia Limpa, António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, avaliou como inevitável a substituição de combustíveis fósseis como fonte de energia, que
Os grupos podem se organizar para produzir, captar e editar as mesas-redondas que poderão ser assistidas pelos integrantes para identificarem eventuais fragilidades e pontos fortes de suas falas.
hoje respondem por quase 90% das emissões globais de dióxido de carbono. A energia solar e a eólica têm papel fundamental nesse processo de redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Para evitar os piores impactos da mudança climática, os cientistas avaliam ser necessário reduzir as emissões quase pela metade até 2030, e zerar até 2050.
MIRANDA, Ana. Boca do Inferno . 6. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
O livro apresenta a vida do poeta barroco Gregório de Matos e ressalta os contrastes do Brasil colônia e de sua capital, Salvador, no final do século XVII. Esse premiado romance, além de recuperar um período em que se desenvolveu o Barroco brasileiro, faz uma reconstituição literária do cotidiano precário e tumultuado das pessoas que moravam no Brasil colônia, com habitantes originários, imigrantes europeus e africanos escravizados.
MUSEU DA INCONFIDÊNCIA. Acervo museológico: acervo museológico do Museu da Inconfidência. Ouro Preto: Museu da Inconfidência, [c2024]. Disponível em: https://museudainconfidencia.acervos.museus.gov.br/ acervo/. Acesso em: 13 mar. 2024.
O acervo museológico virtual do Museu da Inconfidência de Ouro Preto apresenta objetos, artes e a recriação da vida cotidiana mineira dos séculos XVIII e XIX, principalmente com obras de Aleijadinho (1738-1814), Mestre Athaíde (1762-1830), Vieira Servas (1720-1811), João Nepomuceno (17521795), Pallière (1823-1887) e tantos outros artistas do período colonial.
BARROCO. [S. l .: s. n.], 2020. 1 vídeo (3 min). Publicado pelo canal ECAI. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=I0nH-g k87Uo. Acesso em: 13 mar. 2024.
Nesse vídeo da Enciclopédia Musical ECAI, o maestro Alexandre Innecco (1967-) explica o movimento musical do Barroco de uma maneira simples e didática para plateias não acostumadas ao jargão musical.
Capa do livro Boca do Inferno.
ALEIJADINHO. Pastor de presépio. 1794. Madeira talhada e policromada, 35,5 cm x 25 cm. Museu da Inconfidência, Ouro Preto (MG).
Frame do vídeo.
JOAQUIM. Direção: Marcelo Gomes. Brasil: REC Produtores, 2017. 1 DVD (97 min).
O filme narra os episódios que levaram o alferes Joaquim José da Silva Xavier, um dentista comum de Minas Gerais, a se tornar o maior herói e mártir da Inconfidência Mineira. Nesse filme, você vai encontrar uma ótima reconstituição de Vila Rica de Ouro Preto e do contexto da mineração no final do século XIX.
Cartaz do filme.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1. b) A ação de compra e venda de alimentos e bebidas, a de um escravizado que aguarda com a toalha e a de um personagem vestido como militar lavando o rosto.
A litografia a seguir foi produzida pelo pintor e desenhista francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848). Intitulada Os refrescos da tarde no Largo do Palácio, nela observa-se uma cena do cotidiano de 1826, pouco tempo depois da chegada da família real, quando o Rio de Janeiro se torna a capital do Reino de Portugal e passa por um grande desenvolvimento urbano.
DEBRET, Jean-Baptiste. Os refrescos do Largo do Palácio. 1835. Litografia, 15,3 cm x 21,3 cm. Museus Castro Maya, Rio de Janeiro.
1. É possível identificar na imagem as pessoas que exercem diferentes funções sociais.
a) O que permite identificar essas diferenças?
b) Que ações podem ser vistas na cena?
1. a) As roupas das personagens, as relações entre elas por meio dos gestos com que foram representadas. Professor, lembrar aos estudantes que a legenda mostra que a ilustração foi feita no século XIX, quando vigorava no Brasil o regime escravocrata.
2. Na gravura a seguir, também de Debret, tem-se uma visão do Largo do Paço visto do mar. Principal ponto de entrada e saída de pessoas do país, era onde ancoravam as grandes embarcações vindas de Portugal. Ali também ficava o chafariz, ponto de encontro de quitandeiras, ambulantes e transeuntes.
DEBRET, Jean- Baptiste. Vista para o Largo do Paço. 1839. Cromolitografia, 20,5 cm x 37,4 cm. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
a) De que forma essa gravura dialoga com a outra ilustração de Debret apresentada nesta seção?
b) A gravura de Debret registra o impulso de urbanidade que o Rio de Janeiro ganhava naquele momento. Que elementos da imagem permitem afirmar isso?
2. a) O lugar é o mesmo, mas visto de perspectiva diferente: na primeira imagem, o Largo do Paço é observado do ponto de vista de quem está em terra, com o chafariz e navios ao fundo.
2. b) As pessoas, suas funções e as relações que existiam no começo do século XIX. Respostas e comentários nas Orientações para o professor.
3. Essa ilustração, ao apresentar um morro que já não existe, registra as etapas e as transformações da cidade.
3. No detalhe a seguir, é possível observar, ao fundo, o Morro do Castelo, que foi demolido para a construção de prédios e avenidas no Rio de Janeiro cerca de um século depois da produção dessa imagem.
• De que forma essa ilustração pode atuar como documento histórico sobre as cidades?
Analise a imagem a seguir.
4. Pode-se identificar a construção de casas que invadem os morros, originando o que se chama de favela.
sobre tela, 130 cm x 96 cm. Coleção particular.
5. As pedras portuguesas pavimentaram as calçadas do Rio de Janeiro. Essa pavimentação é própria do processo de urbanização das cidades, pois previa-se que ela facilitaria o trânsito de pessoas, mercadorias etc.
BRASIL, Alex. Amontoados. 2013. Instalação com pedras portuguesas pintadas. Coleção particular.
4. Que elementos dessa imagem mostram como a urbanidade modificou a paisagem natural brasileira, mais especificamente os morros?
5. A instalação artística do mineiro Alex Brasil (1977-) utiliza pedras portuguesas pintadas. Como a escolha desse tipo de material dialoga com o desenvolvimento urbano do Rio de Janeiro?
6. A obra de Alex Brasil remete a uma reflexão sobre a ocupação do espaço urbano. Considerando o material de que foi feita a instalação e a disposição das pedras, que diálogo ela estabelece com o desenho de Debret?
Embora a primeira cidade do Brasil seja São Vicente, no atual estado de São Paulo, fundada em 1531, e Salvador já tivesse sido a capital brasileira de 1549 a 1763, no estado da Bahia, e já existissem centros importantes como Recife, Ouro Preto, Olinda, São Luís, por exemplo, foi com a chegada da família real em 1808 que os ambientes urbanos começam a se desenvolver física e geograficamente, cultural e esteticamente.
Nesta unidade serão apresentados textos que discutem sobre essa urbanidade: suas origens, suas transformações e os discursos que dela se originaram e que nela circulam.
6. Espera-se que os estudantes percebam que enquanto em Debret observa-se o início da urbanidade, já carregado de divisões sociais claras, nessa obra observa-se a consequência daquela primeira urbanidade, com a invasão dos morros e casas sendo construídas nas pedras de forma desordenada para abrigar o grande contingente de pessoas. Respostas e comentários nas Orientações para o professor.
As cidades, por serem importantes centros de convivência e de trocas mais variadas, são campo fértil para o gênero romance – e também por serem palco de conflitos, situações em que podem interagir várias personagens com interesses e necessidades diversas. Esse cenário vem sendo explorado com vigor pela literatura brasileira desde o século XIX. Alguns dos romances contemporâneos se dedicaram a ele. Que aspectos das cidades atuais merecem ser tematizados em um romance? Você irá conhecer uma possibilidade.
Para discutir
A s cidades podem ser ambiente de circulação e de moradia acolhedores ou hostis, a depender de vários fatores econômicos, sociais, políticos etc. Uma cidade de grande porte tem grande chance de se mostrar intimidadora para aqueles que nela circulam pela primeira vez.
1 E sua cidade, como é? O que há de receptivo nela? O que há de hostil?
2 Qual seria a melhor forma de conhecer sua cidade?
Após a discussão, registre suas ideias no caderno para consulta posterior.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Você vai ler a seguir um trecho do romance Quarenta dias , que conta a história de Alice, uma professora aposentada que se muda de João Pessoa (PB), onde sempre morou, para Porto Alegre (RS), onde vive sua filha, que pede à mãe para vir ajudá-la com o bebê prestes a nascer. A filha instala Alice em um apartamento mobiliado, mas poucos dias depois de chegar à nova cidade, Alice fica sabendo que o genro e a filha ganharam uma bolsa de pesquisa. Com isso, Alice iria com o genro e a filha passar seis meses na Europa. Alice fica sem chão até que fica sabendo da aflição de uma conhecida de João Pessoa por causa do filho, que tinha ido para Porto Alegre e deixou de dar notícias. Alice, então, encontra um propósito para sua estadia na cidade e sai em busca do filho da conterrânea. A Barbie a que a narradora se refere no relato é um caderno velho que ela teimou em colocar na bagagem e que tem a foto da boneca na capa. É nele que Alice registra sua vida, tornando-o seu interlocutor.
Texto
Sofro vendo uma mãe chorar. Fiquei arrasadão. Deu vontade de perguntar o nome do filho dela só para dedicar um conto.
Diego Moraes
Saí, em busca de Cícero Araújo ou sei lá de quê, mas sem despir-me dessa nova Alice, arisca e áspera, que tinha brotado e se esgalhado nesses últimos meses e tratava de escamotear-se, perder-se num mundo sem porteira, fugir ao controle de quem quer que fosse. […]
Ganhei a rua e saí a esmo, querendo dar o fora dali o mais depressa possível, como se alguém me vigiasse ou me perseguisse, mas saí andando
arisco: antissocial, esquivo, desconfiado.
escamotear-se: esconder-se.
decidida, como se soubesse perfeitamente aonde ia, pisando duro, como nunca tinha pisado em parte alguma da minha antiga terra, lá onde eu sempre soube ou achava que sabia que rumo tomar. Saí, sem perguntar nada ao guri da banca da esquina nem a ninguém, até que me visse a uma distância segura daquele endereço que me impingiram e onde eu me sentia espionada, sabe-se lá que raio de combinação eles tinham com os porteiros, com os vizinhos? Olhe só, Barbie, como eu chegava perigosamente perto da paranoia e ainda falo ‘deles’ como se fossem meus inimigos, minha filha e meu genro
Professor, a pontuação é fiel ao original do texto de Maria Valéria Rezende.
Andei quadras e quadras, repetindo na cabeça ‘Cícero Araújo, Vila Maria Degolada; Cícero Araújo, Vila Maria Degolada’, como uma jaculatória… isso era o que se dizia lá em Boi Velho, Barbie, você não deve saber o que é… agora dizem ‘mantra’, que não é nada a mesma coisa. Enfim… jaculatória, mais uma palavra pra botar na lista das compulsoriamente aposentadas. Fui repetindo meu mantra e caminhando, às vezes virando esquinas, sei lá quanto tempo, o sol subia e esquentava, comecei a esmorecer, a tontear, com fome, tinha saído na doida, sem comer nada, sem tomar nem um café.
#SOBRE
Maria Valéria Rezende (1942-), paulista nascida na cidade de Santos, é formada em Língua e Literatura Francesa e em Pedagogia e é mestra em Sociologia. Dedicou-se, desde os anos 1960, à Educação Popular, em diferentes regiões do Brasil e no exterior, tendo trabalhado em todos os continentes. Em 1965, entrou para a Congregação de Nossa Senhora – Cônegas de Santo Agostinho. Começou a publicar aos 59 anos. Escreve ficção, poesia e é também tradutora. Tem publicados, entre outros, Vasto mundo (2001) e Outros cantos (2017). Em 2014, Quarenta dias ganhou o Prêmio Jabuti como melhor romance e como melhor livro do ano.
Foto da escritora em 2017.
Passei diante de uma portinha aberta, quase invisível entre duas casas, um balcãozinho, prateleiras com umas poucas mercadorias e uma caixa de vidro com lamentáveis empadas e coxinhas, ou coisa parecida, sobrevoadas por uma mosca preguiçosa. […] Comi, paguei e me animei a perguntar pra onde ficava a tal Vila Maria Degolada… É lá do outro lado da Bento, na altura do hospital de loucos… na Protásio deve ter transporte pra lá. Não entendi nada, só percebi que não era perto, mas não queria passar por besta, agradeci, saí e ia virando pra esquerda. O homenzinho saiu de trás do balcão, me deixando ver suas calças apertadas no tornozelo com um correr de preguinhas dos lados, descendo dos quadris até a bainha, Por aí não, por aí tu vai dar é lá no Bonfim, vai é por aqui, e me apontou o lado contrário, chegando até à porta da bodeguinha. Fui, andei um pouco, virei pra trás e lá estava ele me espiando com um jeito estranho.
Segui em frente, olhando pro chão, emburrada, passo firme e decidido, ‘Cícero Araújo, Vila Maria Degolada; Cícero Araújo, Vila Maria Degolada’, […].
Parei apenas porque já não podia simplesmente seguir adiante, a avenida era larga e movimentada, impossível de atravessar fora da faixa de pedestre. Olhei pra um lado e outro e vi uma mulher de ar humilde, embora mais loura do que qualquer outra que eu já tivesse visto ao vivo, encostada a um muro com um bebê nos braços, bem perto de mim, e perguntei: Onde fica a Protásio? Mais uma que me olhou de modo estranho e me respondeu com um gesto da cabeça: Então, a Protásio não é essa aqui?, É essa mesma, dona. Agradeci, envergonhada de não ter pensado que ‘a’ Protásio havia de ser uma rua ou avenida, sei lá o que pensei que fosse, uma loja, uma escola?, e me sentindo meio besta de não ter até aquele momento olhado sequer uma placa com os nomes das ruas. Só depois fui aprendendo que aqui as avenidas são andróginas: a Bento, a Borges, a Protásio, a Sertório, a Nilo, e por aí vai paranoia: sentimento de perseguição. jaculatória: oração curta, de caráter popular, rezada mentalmente. andrógino: que apresenta características ambíguas de gênero.
[…] Veja como são as coisas, Barbie, agora acho que a estranheza estava era nos meus olhos, em mim, e eu a pespegava na cara dos outros, coitados, que não tinham nada a ver com o meu desmantelo. Segui até a esquina e atravessei na faixa. Outro ponto de ônibus, só uma mulher esperando e, fiquei aliviada, seria brasileirinha?, era negra, não era dali, não ia me olhar de modo estranho. Perguntei e recebi a resposta numa fala que me desmentia. Ela era dali, sim, e disse que o ônibus que já vinha parando no ponto ia pra os lados de lá, Esse dá pra ti, tu desce quando ele entrar na Bento e já vai ficar bem perto. Corre pra tu pegar esse aí que o próximo demora a chegar.
pespegar: aplicar, impingir.
desmantelo: descuido, desleixo.
Corri, tropeçando, e me meti pela porta da frente, o carro arrancou com um solavanco, caí sentada no primeiro banco, felizmente vago, pra me dar conta, tarde demais, de que a roleta era atrás, sem ânimo pra me levantar e ir pagar a passagem. Toda a energia que eu tinha exibido atravessando a pé quilômetros daquela cidade pareceu escorrer pro chão pelos meus pés agora doloridos, deixando atrás de si um desânimo enorme. Pela primeira vez, desde que começou essa minha migração forçada, tive vontade de chorar e fiquei um bom tempo com a cara virada pra fora, fungando, querendo esconder as lágrimas, fingindo que olhava pela janela, vendo vagamente passarem avenidas e prédios que não me diziam nada, uns com essa cara de luxo padronizado que se espalha igualmente de Dubai a Xangai passando até pelo ‘edifício mais alto do Brasil’, em João Pessoa, outros em construção ou abandonados, sei lá, com aspecto de ruína, tudo tão misturado que a gente fica sem saber se a cidade está nascendo ou morrendo, fui pensando à toa, até o vento da janela secar minhas lágrimas ou eu me lembrar das lágrimas da mãe de Cícero Araújo. Será que já tinha passado da tal Bento? Havia de ser também uma dessas avenidas larguíssimas de que toda Porto Alegre parecia feita. Tomei coragem, me curvei pra frente e perguntei ao motorista mal-encarado, É a segunda parada. Quando eu virar a esquina já é a Bento. Não me perguntou nada sobre o pagamento da passagem, ninguém reparava em mim, talvez efeito dos meus cabelos que teimo em deixar grisalhos apesar da incansável insistência da Elizete, Credo, Alice, que desleixo!, nem parece que você é uma mulher inteligente e estudada, acha certo parecer uma velha bem antes mesmo de entrar nos sessenta?, tá igualzinha a sua avó, se for por economia me diga que eu conheço salões ótimos e com precinho bem maneiro. Pra ela, Barbie, todas seríamos como você, que já tem a minha idade, não é?, e não mudou de cara esse tempo todo… Por mim, tudo bem, fique na sua, há gosto pra tudo
REZENDE, Maria Valéria. Quarenta dias. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014. p. 95-99.
1. A epígrafe refere-se a uma cena comovente que envolve uma pessoa simples e provoca dor no eu do texto. No trecho transcrito, Alice age também movida pela dor: a dela e a da mãe de Cícero, cuja lembrança seca suas lágrimas quando ela se permite chorar. Além
disso, o trecho transcrito do romance apresenta espaços e pessoas que afetam a sensibilidade da protagonista.
1. O trecho que você leu faz parte do início de um capítulo do livro. A introdução conta com uma epígrafe do escritor manauara Diego Moraes (1983-). Autor de Meu coração é um bar vazio tocando Belchior (2016), dentre outras obras, Moraes é considerado um retratista do dia a dia, das cenas simples e comoventes. Que relação se pode estabelecer entre a epígrafe e o capítulo da história de Alice?
2. A narradora é também protagonista da narrativa. Ela se refere a si mesma como uma “nova Alice, arisca e áspera”.
Professor, incentive os estudantes a inferir que a protagonista irá, ao longo de sua trajetória pela cidade, percorrer espaços socialmente mais periféricos, marginalizados.
a) Essa referência permite supor que havia uma velha Alice. Quem era ela?
A Alice que chega de João Pessoa, uma mulher sem vontade própria e acomodada a uma certa vida pacífica e cordata.
b) Segundo o trecho, o que a tornou arisca e áspera?
O fato de desejar “perder-se num mundo sem porteira, fugir ao controle de quem quer que fosse”. Ao se lançar na cidade sem deixar pistas, sem conhecer as pessoas nem os trajetos das ruas, ela se põe em uma situação nova, que exige atenção, que a coloca em alerta e em tensão diante da necessidade de cuidar de si e de se proteger contra eventuais ameaças.
3. A narrativa é marcada por certos procedimentos estilísticos originais.
a) A lguns períodos do texto são concluídos sem ponto-final. Que sentido produz essa escolha estilística?
Os períodos sem ponto-final sugerem não só continuidade, como também uma espécie de inconclusividade, trânsito para o que vem em seguida, o que acentua o sentido do que é passagem.
b) Alguns diálogos também não adotam a notação tradicional. Releia o trecho a seguir e identifique que efeito essa notação produz na leitura.
Imprime à leitura um ritmo mais próximo da oralidade.
O homenzinho saiu de trás do balcão, me deixando ver suas calças apertadas no tornozelo com um correr de preguinhas dos lados, descendo dos quadris até a bainha, Por aí não, por aí tu vai dar é lá no Bonfim, vai é por aqui, e me apontou o lado contrário, chegando até à porta da bodeguinha.
c) O texto também traz marcas de um registro mais informal, com marcas de oralidade. Copie, no caderno, um trecho que exemplifique isso.
Possibilidade de resposta: “Ela era dali, sim”.
4. Releia o trecho a seguir.
Pela primeira vez, desde que começou essa minha migração forçada, tive vontade de chorar e fiquei um bom tempo com a cara virada pra fora, fungando, querendo esconder as lágrimas, fingindo que olhava pela janela, vendo vagamente passarem avenidas e prédios que não me diziam nada, uns com essa cara de luxo, padronizado que se espalha igualmente de Dubai a Xangai passando até pelo ‘edifício mais alto do Brasil’ […].
4. a) Chora por se ver sozinha e longe da terra natal, de seu círculo de relações; chora por se dar conta de sua solidão, do desencontro consigo mesma, de seu isolamento e desenraizamento.
a) Considere o contexto da personagem: por que ela chora?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
b) O comentário da personagem se refere à cidade como lugar da indiferença, do anonimato, do não pertencimento. Por que é possível entender isso nesse trecho?
5. Além das duas Alices, a narrativa está marcada por outra dualidade: também está presente na referência a duas cidades – João Pessoa, de onde Alice vem, e Porto Alegre, onde ela está.
a) O que cada uma significa para a personagem?
João Pessoa simboliza uma referência espacial e social para a personagem; Porto Alegre representa o desconhecido, o estranho, a solidão.
b) Como cada cidade aparece no texto? Que aspectos de cada uma é possível identificar?
c) Também há dualidade na forma como a personagem se orienta no espaço. Copie, no caderno, a alternativa que melhor explica essa dualidade.
Resposta: alternativa I.
I. Em sua “antiga terra”, a personagem sabia ou achava que sabia que rumo tomar. Em Porto Alegre, ela não tem orientação.
II. Em João Pessoa, a personagem tinha plena estabilidade financeira; em Porto Alegre, tem de ficar em situação de rua.
III. O acanhamento inicial da personagem que dificultava sua comunicação cede espaço a uma espontaneidade que expande os limites de sua sociabilidade.
4. b) Porque, ao afirmar que a paisagem não lhe diz nada, a personagem sugere não se reconhecer no lugar, não ter memória nenhuma nesse espaço indistinto, indiferente, que ela vê da janela do ônibus. pra tu pegar”).
5. b) Porto Alegre aparece nos tipos humanos (a loura, o homem do bar, a mulher do ponto de ônibus), no nome das ruas (“do outro lado da Bento […] na Protásio deve ter transporte pra lá”; “as avenidas são andróginas: a Bento, a Borges, a Protásio, a Sertório, a Nilo”) e no registro da variedade regional (uso do tu concordando com a forma verbal em terceira pessoa em “Esse dá pra ti, tu desce quando ele entrar […]. Corre
IV. A p ersonagem originalmente só se preocupava com seus interesses, mas em Porto Alegre passa a ser mais empática e coloca a si própria em segundo plano.
João Pessoa aparece na memória da personagem: nos termos de sua terra natal (“uma jaculatória… isso era o que se dizia lá em Boi Velho”), nos tipos humanos que conhecia e com os quais compara os que encontra em Porto Alegre (“mais loura do que qualquer outra que eu já tivesse visto ao vivo”) e na avaliação da padronização do que chama um luxo “que se espalha igualmente de Dubai a Xangai passando até pelo ‘edifício mais alto do Brasil’, em João Pessoa”.
Mulher loura, ar de humilde, encostada no muro com um bebê nos braços.
6. Também é dupla a interlocução que ela mantém na narrativa.
a) B arbie, nome do caderno no qual faz suas anotações, pode ser considerado uma primeira camada dessa interlocução. O que ela registra no caderno?
Registra suas histórias, assim como tudo o que aconteceu, suas impressões, emoções e sentimentos.
b) O caderno também pode ser considerado uma estratégia de construção narrativa e designar outro interlocutor no romance. Quem seria ele?
7. O espaço por onde Alice transita se manifesta também nos encontros que mantém na rua para pedir informação.
7. a) Revelam que espera encontrar certos estereótipos, tipos humanos que correspondam a imagens preconcebidas do que seja (o homem do bar) e do que não seja (a mulher negra do ponto de ônibus) o gaúcho, por exemplo. O leitor.
a) Alice sugere ter expectativas quanto aos tipos que iria encontrar em Porto Alegre. O que essas expectativas revelam?
Sente familiaridade com a cor de pele da moça, que chama de “brasileirinha”.
b) Copie o organizador a seguir no caderno e complete-o.
Características destacadas pela narradora
Chama a atenção dela o louro do cabelo e o ar de humilde.
Efeito que o contato produz na narradora
Mulher encostada em um muro
Mulher no ponto de ônibus
Mulher negra e o modo de falar próprio da cidade.
c) O que esse conjunto de personagens revela sobre os tipos sociais com os quais Alice tem contato?
E sobre os lugares da cidade por onde ela anda?
Revela que são lugares movimentados, por onde passa todo tipo de gente.
d) O espaço da rua que ela passa a ocupar opõe-se ao da casa. Por quê?
O espaço da casa é o espaço do controle, do conhecido, do previsível; a rua é o lugar da liberdade, do desconhecido, do imprevisível.
e) Ao descrever o modo como percebia as pessoas que encontra na rua, a protagonista comenta: […] agora acho que a estranheza estava era nos meus olhos, em mim, e eu a pespegava na cara dos outros, coitados […]
• O que era estranho nela?
Ao ter contato com um lugar novo e percorrer sozinha as ruas de uma cidade desconhecida, Alice também se percebe desconhecida para si mesma. Isso provoca sensação de estranhamento diante de tudo.
8. Em um de seus estudos, o filósofo e crítico literário alemão Walter Benjamin (1892-1940) distingue a épica do romance, gênero que dela se originou. Leia, a seguir, o que ele afirma sobre o romance.
[…] A matriz do romance é o indivíduo em sua solidão, o homem que não pode mais falar exemplarmente sobre suas preocupações, a quem ninguém pode dar conselhos, e que não sabe dar conselhos a ninguém. Escrever um romance significa descrever a existência humana levando o incomensurável ao paroxismo.
BENJAMIN, Walter. A crise do romance: sobre Alexanderplatz, de Döblin. In: BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas: magia e técnica, arte e política. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 54-60. v. 1, p. 54.
incomensurável: o que não se pode medir. paroxismo: ápice, momento de maior intensidade.
• Com base no comentário do crítico, por que é possível dizer que Quarenta dias é um romance?
Porque conta a história de um herói solitário, cuja existência problematiza relações, situações, lugares. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A presença da cidade na literatura brasileira não é novidade. No século XIX, período em que o país começava a se urbanizar, as cidades passam a ser espaço narrativo importante e a fazer parte de uma tradição que traz diferentes olhares para os cenários urbanos nas produções da literatura brasileira. Agora, você vai conhecer um pouco desse período.
O século XIX viu se acelerar o processo de urbanização do país. O Rio de Janeiro, sede da Coroa portuguesa depois da vinda da família real para o Brasil em 1808, afirmou-se como centro cultural e político. A última moda, a última peça de teatro, os espetáculos mais atuais aconteciam na capital do Império. Novos costumes na vida pública e na vida privada passaram a ser representados nos romances de um Brasil que buscava construir sua identidade.
As narrativas que trazem representações do espaço urbano são identificadas como prosa urbana, em especial os romances do século XIX. A representação das cidades irá se prolongar na literatura brasileira sob diversas perspectivas: elas se tornam palco de encontros e desencontros, desigualdades, oportunidades, desencantos e realização de sonhos.
Para discutir
1 A primeira cidade do Brasil é São Vicente, fundada em 1532. Até o século XIX, no entanto, o Brasil tinha poucas cidades, ainda muito precárias. Segundo o Censo Demográfico de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil de 2022, 61% da população brasileira vivia em áreas urbanas. O que poderia atrair as pessoas para as cidades?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
O romance Senhora, de José de Alencar, conta a história de Aurélia Camargo, uma garota pobre, que sonha em se casar com Fernando Seixas, mas ele a troca por uma moça rica, capaz de proporcionar a ele um futuro promissor em razão do dote que receberia. Uma reviravolta ocorre quando Aurélia recebe uma herança e, para se vingar de Fernando, decide cobrir o dote de sua noiva, sem se identificar. Ele aceita a proposta e, no dia do casamento, surpreende-se ao conhecer a noiva. A cena do trecho que você vai ler a seguir acontece após Aurélia revelar, na noite de núpcias, seu plano: “Sou rica, muito rica, milionária; precisava de um marido, traste indispensável às mulheres honestas. O senhor estava no mercado; comprei-o. Custou-me cem contos de réis, foi barato; não se fez valer”.
Depois de ler o excerto, acompanhe as análises e responda às questões propostas.
Texto
Depois do lanche, Aurélia convidou o marido para darem uma volta pelo jardim; mas havia senhoras nas janelas da vizinhança, e a moça não quis expor-se aos olhares curiosos. Ela não era a noiva feliz e amada; mas as outras a supunham, e tanto bastava para que seu pudor a recatasse às vistas dos estranhos. Voltaram, pois, à saleta.
Aí andaram a borboletear de um a outro assunto; […].
Afinal recaíram nas fotografias. Desta vez foi o álbum dos conhecidos que forneceu matéria. Em um dos primeiros cartões figurava o Lemos, cuja aparição coincidiu com esta observação de Aurélia. — O álbum das pessoas de minha amizade, eu o guardo comigo. Estes são álbuns de sala, tabuletas semelhantes às que têm os fotógrafos na porta.
tabuleta: placa.
— Mas não apresentam decerto as antíteses curiosas das tabuletas. Os tais senhores parece que o fazem de propósito; não há mais perfeita democracia.
Seixas, emérito conhecedor da rua do Ouvidor, começou a especificar alguns dos contrastes de que se recordava; abstemo-nos, porém, de reproduzir suas observações, que ressentiam-se de singular mordacidade.
[…]
— Já três horas? exclamou afinal a moça. É tempo de vestirmo-nos para o jantar. Até logo!
Aurélia fez um gracioso aceno de fronte ao marido, e desapareceu pela porta, que dava para o seu toucador.
Quando ela entrou nesse aposento, e fechou a porta sobre si, não teve tempo de desatacar o corpinho do vestido; meteu as mãos pelos ilhoses e magoando os dedos mimosos nos colchetes, despedaçou a ourela para não sufocar. O coração que ela recalcara por tanto tempo sublevava-se afinal, e estalava nos soluços que lhe dilaceravam o seio.
De seu lado Fernando ao ficar só respirava, como um homem que repousa de uma tarefa laboriosa e fatigante. […]
Quando entrou na saleta de conversa, já ali estava d. Firmina, e Aurélia não se demorou.
[…]
D. Firmina trouxera da rua muitas novidades.
Recomendações de umas amigas de Aurélia; mil inquirições de outras acerca do casamento; elogios dos noivos; e toda a outra bagagem de agradáveis banalidades, que na máxima parte compõem a vida nas grandes cidades.
[…]
Ao levantarem-se da mesa, Fernando dirigiu-se à porta do jardim, e esperava divagando os olhos pelo arvoredo, que dessem destino ao resto da tarde. […]
— Que bela tarde! exclamou a moça ao lado do marido.
[…]
Aurélia, fatigada da comédia que representara durante o dia, recostara-se à almofada, e cerrando as pálpebras
#SOBRE
José de Alencar (1829-1877), nascido no Ceará, formou-se em Direito, seguiu car reira jurídica e política, chegando a ser deputado e ministro da Justiça; também se destacou como jornalista, mas é conhecido sobretudo como escritor. É considerado um dos precursores do Romantismo no Brasil, pois contribuiu de forma significativa para o desenvolvimento da literatura nacional. Suas obras abrangem romances urbanos, como Lucíola (1862) e Senhora (1875), históricos, como As Minas de prata (1865), indianistas, como O guarani (1857), e regionalistas, como O sertanejo (1875), explorando a identidade cultural brasileira e a diversidade do país.
Foto do escritor em 1870.
rua do Ouvidor: a principal rua do comércio elegante do Rio de Janeiro no início do século XIX, onde se vendiam, principalmente, produtos importados. mordacidade: sarcasmo, crítica áspera. ignoto: desconhecido, ignorado. pâmpano: ramo novo da videira que só dá folhas.
tirso: bastão enfeitado com heras (tipo de planta) e pâmpanos e arrematado em forma de pinha usado pelo deus mitológico Baco e por suas sacerdotisas, as bacantes.
5. Tais banalidades e os olhares curiosos da vizinhança são características próprias da vida nas cidades, que dá acesso a hábitos de consumo e aproxima moradias, em razão da ocupação do solo urbano. Isso difere do campo, onde muitas casas ficam afastadas por serem construídas em terrenos grandes, o que permite haver espaço para o cultivo de frutas, hortaliças ou para a criação de animais.
engolfou-se em seus pensamentos. Fernando respeitou essa meditação: tanto mais quanto seu espírito cedia também a uma irresistível preocupação. A noite causara-lhe um indefinível desassossego, que mais crescia agora com a aproximação da hora de recolher. Não sabia de que se receava; era uma coisa vaga, informe, ignota, que o enchia de pavor. […]
Afinal a pêndula marcou dez horas. D. Firmina dobrou seus jornais, e despediu-se.
Aurélia acompanhou-a lentamente como para certificar-se de que se afastava; depois do que cerrou a porta, deu duas voltas pela sala, e caminhou para o marido.
Seixas viu-a aproximar-se assombrado pela estranha expressão que animava o rosto da moça.
Era um sarcasmo cruel e lascivo o que transluzia com fulgor satânico da fisionomia e gesto dessa mulher.
Só faltava-lhe a coroa de pâmpanos sobre as tranças esparsas, e o tirso na destra.
Em face do marido porém essa febre aplacou-se como por encanto; e surgiu outra vez do corpo da bacante em delírio a virgem casta e melindrosa.
Aurélia tinha na mão dois objetos semelhantes, envoltos um, em papel branco, outro em papel de cor. Ofereceu o primeiro a Seixas; mas retraiu-se substituindo aquele pelo outro.
— Esta é minha; disse guardando o invólucro de papel branco.
Enquanto Seixas olhava o objeto que recebera, sem compreender o que isto significava, Aurélia fez-lhe com a cabeça uma saudação:
— Boa noite.
E retirou-se.
115-120.
1. Seixas conhecia muito bem a Rua do Ouvidor, que concentrava o melhor comércio da cidade. Nela instalaram-se lojas de roupas finas, artigos de luxo, cabeleireiros, perfumarias, cafés, confeitarias, joalherias, casas de música, livrarias. O que isso revela sobre ele?
Revela que ele gostava de seguir as novidades, tinha gosto refinado e era vaidoso.
2. Em determinado momento da narrativa, Aurélia rompe em soluços, o que sugere sentimentos em conflito.
a) Que conflito a reação sugere?
Conflito com o marido em relação a algo que não lhe revelou e que a faz sofrer.
b) Copie, no caderno, outro trecho que expresse os sentimentos de Seixas.
“[…] Fernando ao ficar só respirava, como um homem que repousa de uma tarefa laboriosa e fatigante.”
3. O casamento de Aurélia provocou muitas manifestações entre as pessoas que D. Firmina encontrou na rua. O que esses comentários revelam sobre o valor do casamento para aquela sociedade?
Revelam que a sociedade valorizava o casamento como algo primordial na vida de uma mulher.
4. A que D. Firmina poderia estar se referindo ao dizer “agradáveis banalidades” da vida nas grandes cidades?
Àquilo que a vida urbana permite ter acesso, como determinados hábitos de consumo e frequência a lugares considerados sofisticados.
5. Que relação se pode estabelecer entre tais banalidades e os olhares curiosos da vizinhança de Aurélia?
6. Os trechos a seguir marcam um contraste na expressão da personagem Aurélia.
Era um sarcasmo cruel e lascivo o que transluzia com fulgor satânico da fisionomia e gesto dessa mulher.
[…] surgiu outra vez do corpo da bacante em delírio a virgem casta e melindrosa.
a) Que sentimento o primeiro trecho sugere?
Sugere raiva, mágoa, agressividade, rancor etc.
b) O segundo trecho mostra que Aurélia retoma o controle de si mesma. O que isso revela sobre sua atitude com relação ao plano que executava?
Sugere que ela está determinada a levar seu plano até o fim.
7. Os dois objetos que Aurélia tem nas mãos no final do trecho são as chaves individuais dos quartos de dormir. Considere as expressões sarcasmo cruel e fulgor satânico e responda: o que Aurélia pretende ao entregar uma chave para Seixas?
Aurélia pretende afastar o marido de seu quarto, deixando claro que não consumarão o casamento. Professor, proponha aos estudantes que formulem hipóteses sobre a reação de Seixas quando abrir o pacote: como se sentirá? O que pensará?
8. a) Revela que ela não tem valor algum sem um homem ao lado e que, não sendo casada, corre o risco de ser vista como desonesta, desfrutável.
8. b) Porque a compra do marido demonstra o poder da personagem. Ao ser empoderada pelo dinheiro, Aurélia assume um lugar em tese reservado aos homens, algo muito incomum para a época, que anuncia um lento processo de empoderamento feminino. Professor, chame a atenção dos estudantes para o papel que a educação e o acesso ao conhecimento formal passam a ter no progressivo empoderamento feminino.
8. Em cena anterior à do trecho analisado, Aurélia afirma: […] precisava de um marido, traste indispensável às mulheres honestas. O senhor estava no mercado; comprei-o. Custou-me cem contos de réis, foi barato; não se fez valer.
a) O que o trecho revela sobre uma mulher daquela sociedade patriarcal e escravocrata?
b) A compra do marido também demonstra um movimento que questiona o lugar social da mulher. Por que é possível afirmar isso?
9. A prosa urbana de José de Alencar se concentra nas questões sociais, comportamentais e morais de sua época. Seus romances urbanos exploram a vida cotidiana, os costumes e a linguagem, tendo a cidade como cenário onde se desenvolvem os conflitos. Em alguns deles, é possível identificar uma crítica sutil às convenções sociais como o casamento, o amor, a moralidade e a posição da mulher na sociedade.
• Como esses elementos aparecem no trecho que você leu? Escreva, no caderno, um parágrafo desenvolvendo essa associação.
HIPERlINK
Sugestão de resposta: O trecho apresenta alguns costumes urbanos da época, como os passeios pelos jardins e a observação da vizinhança, enquanto os comentários do noivo a respeito da famosa Rua do Ouvidor contextualizam o ambiente urbano. Aurélia é quem domina a cena, decide a hora de dar um passeio, de jantar e de se recolher, mostrando uma superioridade hierárquica quanto ao poder doméstico. Sua relação com Seixas, arranjada, manifesta uma crítica ao casamento, ao amor, à moralidade e à posição da mulher na sociedade.
O casamento e o papel da mulher no século XIX
As pinturas do paulista Almeida Júnior (1850-1899) buscavam trazer realismo por meio de sua técnica, tornando-se famosas pela caracterização das mulheres e dos diversos tipos regionais. ALMEIDA JÚNIOR, José Ferraz de. Moça com livro. 1899. Óleo sobre tela, 50 cm x 61 cm. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.
O romance Senhora deixa clara a importância do casamento para a mulher do século XIX, mas Aurélia pode ser considerada uma mulher incomum.
Agora é com você! Com um colega, faça uma pesquisa sobre o casamento e os papéis femininos na segunda metade do século XIX. Que significava o casamento? Que papel era atribuído à mulher?
Há muitos trabalhos acadêmicos acessíveis pela internet que investigam essa temática. Em sua pesquisa, dê preferência a eles. Anote no caderno os dados da pesquisa e, sob a coordenação do professor, discuta as questões a seguir com os colegas.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1. Por que a atitude de Aurélia poderia ser considerada incomum?
2. O que determinava o casamento entre duas pessoas?
3. Na opinião de vocês, o casamento hoje tem o mesmo sentido? Expliquem.
4. E com relação ao papel da mulher, algo mudou? Se sim, o quê?
10. A Moreninha , obra do escritor fluminense Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882), é um romance que representa costumes da burguesia que então se afirmava no Brasil, em especial no Rio de Janeiro, então sede do Império. Conta a história de Augusto e Carolina, a Moreninha, que se conhecem na infância e se reencontram anos depois na casa da avó dela e de seu irmão Filipe, amigo de Augusto. Visto como inconstante, Augusto faz uma aposta com o amigo: se permanecer apaixonado pela mesma menina por um mês, escreverá um romance. Leia um trecho do livro em que, reunidas no salão da casa, conversam Carolina e suas primas, D. Quinquina e D. Clementina.
D. Quinquina (como a chamam suas amigas) conversa sofrível e sentimentalmente: é meiga, terna, pudibunda, e mostra ser muito modesta. […] D. Clementina pertencia, decididamente, a outro gênero: o que ela é, lhe estão dizendo dois olhos vivos e perspicazes e um sorriso malicioso que lhe está tão assíduo nos lábios, como o copo de vinho nos do alemão. […]; sua vivacidade e espírito se empregam sempre em descobrir e patentear nas outras as melhores brechas, para abatê-las na opinião dos homens com quem pratica.
Durante as primeiras cobertas ela dissertou maravilhosamente acerca de suas companheiras. Maliciosa e picante, lançou sobre elas o ridículo, que manejava, e os sorrisos de Augusto, que com destreza desafiava.
As únicas que lhe haviam escapado eram D. Quinquina, provavelmente por ficar-lhe muito vizinha, e a irmã de Filipe, que estava defronte ou, como é moda dizer – vis-à-vis. Augusto, quis provocar os tiros de D. Clementina contra aquela menina impertinente, que tão pouco lhe agradava.
— E que pensa V. Sr. a desta jovem senhora que está defronte de nós? perguntou ele com voz baixa.
— Quem?… a Moreninha?… respondeu ela no mesmo tom.
— Falo da irmã de Filipe, minha senhora.
— Sim… todos nós gostamos de chamá-la a Moreninha. Essa…
MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha. São Paulo: Klick, 1997. (Coleção Ler é aprender – Estadão, v. 17, p. 38).
Interesse em atrair para si os olhares deles e se afirmar como superior às outras diante da audiência.
a) Que interesse teria Clementina em abater as outras mulheres na opinião dos homens com quem conversa?
b) Que aspecto do comportamento urbano está evidenciado nesse trecho?
A conversa em salão sobre amenidades, a disputa pela admiração de um homem cuja companhia, como visto em Senhora, era essencial para a conquista, pelas mulheres, de um lugar honrado na sociedade.
pudibundo: pudico, tímido, introvertido. destreza: habilidade. vis-à-vis: frente a frente.
#fiCAADiCA
Publicado em 1869, esse romance se destaca na literatura brasileira do século XIX por seu caráter inovador e seu teor crítico-social. A narrativa gira em torno de Simplício, um homem míope que recebe uma luneta mágica capaz de corrigir não apenas sua visão física, mas também sua percepção da realidade. Essa luneta permite a Simplício enxergar as verdadeiras cores do mundo e das pessoas, desvendando a hipocrisia e os vícios da sociedade carioca da época. O livro combina elementos de sátira, romance e fantasia, explorando temas como a moral, a ética e a verdadeira natureza humana. Com uma narrativa rica em humor e crítica social, A luneta mágica é considerada um marco na obra de Macedo e um importante comentário sobre os costumes e a sociedade do Brasil Imperial.
• M ACEDO, Joaquim Manuel de. A luneta mágica . São Paulo: Paulus, 2009.
11. Os romances urbanos oferecem um espelho à burguesia urbana que se forma no país, permitindo a confirmação e o reconhecimento de hábitos e valores dessa classe. Esse reconhecimento legitima o retrato que pode se afirmar como identidade da burguesia urbana brasileira.
11. Leia este trecho do artigo da professora Dislane Zerbinatti Moraes.
[…] A Moreninha retrata esse ambiente da corte, mas é um romance romântico que tem como objetivo fazer, como de resto toda a literatura romântica, uma interpretação da realidade brasileira, e simultaneamente, uma proposta de modernização do País, eliminando-se, no imaginário social, o seu passado colonial e dependente da cultura portuguesa.
MORAES, Dislane Zerbinatti. A “tagarelice” de Macedo e o ensino de história do Brasil. História (São Paulo), Franca, v. 23, n. 1-2, p. 85-107, 2004. p. 89. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0101-90742004000200006. Acesso em: 20 ago. 2024.
• De que modo o retrato dos costumes burgueses urbanos, presentes em ambos os textos que você leu, pode contribuir para esse projeto de modernização do país no imaginário social?
12. Memórias de um sargento de milícias , do carioca Manuel Antônio de Almeida (1831-1861), embora escrito durante o período romântico, representa tanto o espaço urbano quanto as relações sociais de perspectiva bem diferente da de outros romances escritos no período. No livro, acompanha-se a vida irregular do protagonista Leonardinho, que recorre a várias artimanhas para sobreviver e satisfazer suas necessidades mais imediatas, como se fosse um típico malandro do século XIX. No trecho a seguir, Leonardinho sai, ainda criança, pelas ruas do Rio de Janeiro para acompanhar uma procissão.
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Memórias de um sargento de milícias
O pintor carioca Joaquim Lopes de Barros Cabral Teive (1816-1863) foi aluno de Jean-Baptiste Debret e, como ele, produziu litografias que se destacavam pela caracterização de costumes e hábitos da população do Rio de Janeiro, que se transformava durante o século XIX. TEIVE, Joaquim Lopes de Barros Cabral. Família indo à missa. 1841. Litografia, aquarela e lápis de cor sobre papel, 23,0 cm x 19,3 cm x 2,0 cm. Instituto Moreira Salles, São Paulo.
Manuel Antônio de Almeida teve uma vida breve, mas significativa para a literatura brasileira. Ocupa uma posição única, situando-se entre o Romantismo e o Realismo, com uma obra que se destaca pelo humor, pela crítica social e pela descrição vívida do cotidiano popular carioca do século XIX. Memórias de um sargento de milícias narra as aventuras e desventuras de Leonardo, filho de imigrantes portugueses no Rio de Janeiro do início do século XIX. Diferente dos heróis românticos ideais, Leonardo é um anti-herói que navega pelas camadas sociais da época com astúcia e vivacidade, expondo as contradições e os conflitos da sociedade carioca. Por meio de uma linguagem coloquial e de uma rica descrição dos costumes da época, a obra oferece um retrato crítico e ao mesmo tempo humorístico do cotidiano e das instituições sociais, distinguindo-se por sua originalidade e pela capacidade de captar a essência do povo brasileiro.
Agora é com você! Depois de ler um trecho da obra e de ter um panorama do romance, você pode ler o livro completo e ficar atento aos itens a seguir.
• Como Leonardo se constrói como um personagem carregado de malandragem.
• Como se constroem relações de favorecimento entre as personagens do romance, mesmo que seja contra a lei.
• Como a figura do major Vidigal representa uma perspectiva questionável da justiça brasileira.
Depois, discuta com colegas em sala sobre como é possível reconhecer nesse romance muitos dos problemas sociais que ainda existem na contemporaneidade.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Há bem pouco tempo que existiam ainda em certas ruas desta cidade cruzes negras pregadas pelas paredes de espaço em espaço.
Às quartas-feiras e em outros dias da semana saía do Bom Jesus e de outras igrejas uma espécie de procissão composta de alguns padres conduzindo cruzes, irmãos de algumas irmandades com lanternas, e povo em grande quantidade; os padres rezavam e o povo acompanhava a reza. Em cada cruz parava o acompanhamento, ajoelhavam-se todos, e oravam durante muito tempo. Este ato, que satisfazia a devoção dos carolas, dava pasto e ocasião a quanta sorte de zombaria e de imoralidade lembrava aos rapazes daquela época, que são os velhos de hoje, e que tanto clamam contra o desrespeito dos moços de agora. Caminhavam eles em charola atrás da procissão, interrompendo a cantoria com ditérios em voz alta, ora simplesmente engraçados, ora pouco decentes; levavam longos fios de barbante, em cuja extremidade iam penduradas grossas bolas de cera. Se ia por ali ao seu alcance algum infeliz, a quem os anos tivessem despido a cabeça dos cabelos, colocavam-se em distância conveniente, e escondidos por trás de um ou de outro, arremessavam o projétil que ia bater em cheio sobre a calva do devoto; puxavam rapidamente o barbante, e ninguém podia saber donde tinha partido o golpe. Estas e outras cenas excitavam vozeria e gargalhadas na multidão.
Era a isto que naqueles devotos tempos se chamava correr a via-sacra.
ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias. Belém: Unama: Nead, [200-]. p. 10-11. Reprodução do original de 1894. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000235.pdf. Acesso em: 20 ago. 2024.
a) A cena descreve uma procissão religiosa do século XIX. Que aspecto dessa procissão é o foco do trecho?
O foco do trecho não é o aspecto religioso, mas as travessuras que os rapazes praticavam durante a procissão com barbante e bola de cera.
b) O t recho adota um ponto de vista diferente do que predomina em outros romances da época. Copie, no caderno, a alternativa que explica qual seria essa diferença.
Resposta: alternativa II
I. Memórias de um sargento de milícias apresenta o olhar das elites da época em tom repressor e condenatório de práticas que são consideradas inadequadas para a moral vigente.
II. O trecho e o romance apresentam um ponto de vista sobre a cidade mais popular, dando ênfase às relações sociais que se manifestavam naquele tempo, mesmo que fossem inadequadas e cômicas.
III. No trecho, a cidade aparece como lugar opressor, de tal maneira que mesmo manifestações religiosas ficavam submetidas a atos de delinquência.
#fiCAADiCA
Capa do álbum Memórias de um sargento de milícias. O romance de Manuel Antônio de Almeida foi a inspiração para a composição de Martinho da Vila (1938-), que transformou o romance em samba-enredo para a Portela no desfile de 1966. A Portela foi campeã dos desfiles de escolas de samba do Rio de Janeiro naquele ano.
• M EMÓRIAS de um sargento de milícias. Rio de Janeiro: RCA, 2014. 1 vídeo (5 min). Publicado pelo canal Martinho da Vila. Disponível em: www. youtube.com/watch?
v=QcJWzi2ZzVE. Acesso em: 21 ago. 2024.
IV. Memórias de um sargento de milícias apresenta um olhar mais popular da sociedade, mas ainda o faz em tom moralista, pois a descrição das ruas do Rio de Janeiro e dos costumes ainda é idealizada.
c) Considere o trecho a seguir, do crítico Antonio Candido (1918-2017), sobre o livro Memórias de um sargento de milícias .
[…] o livro de Manuel Antônio sugere a presença viva de uma sociedade que nos parece bastante coerente e existente, e que ligamos à do Rio de Janeiro do começo do século XIX, tendo Astrojildo Pereira chegado a compará-lo às gravuras de Debret, como força representativa.
CANDIDO, Antonio. Dialética da malandragem (caracterização das Memórias de um sargento de milícias). Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, n. 8, p. 67-89, 1970. p. 74.
• Identifique, no trecho que você leu, os detalhes de Memórias de um sargento de milícias que contribuem para essa descrição viva e realista de como seria o cotidiano do Rio de Janeiro. No trecho, a descrição que se faz da procissão e dos rapazes que se organizam para atrapalhá-la apresenta detalhes – como objetos, gestos, atitudes, brincadeiras, falas etc. – que atuam como um flagrante do cotidiano, assim como a litografia de Debret o faz, na abertura da unidade.
A vinda da família real portuguesa para o Brasil ocorreu em 1808 como consequência direta do período napoleônico na Europa.
A França expansionista de Napoleão estava em guerra com o Reino Unido. Para apoiá-lo na guerra, em 1806 Napoleão pediu às “nações amigas” que decretassem um bloqueio continental à Inglaterra cortando relações comerciais para enfraquecê-la economicamente. Portugal optou por não atender ao chamado de Napoleão por entender que isso prejudicaria as finanças portuguesas. Sabendo que a França havia decidido invadir Portugal, D. João resolveu transferir a corte para o Brasil, garantindo a independência do país europeu.
Costumes urbanos
Com a chegada da família real portuguesa ao Brasil, diversos costumes urbanos e transformações ocorreram, moldando a vida na colônia.
Ruas foram pavimentadas; foram fundados o Banco do Brasil, a Imprensa Régia, os Correios e a Real Bibliotheca (hoje Biblioteca Nacional). O centro do Rio de Janeiro começou a se expandir, surgindo, então, um comércio de produtos importados que divulgava costumes e valores europeus em terras nacionais. A descrição das roupas, dos móveis, dos bailes, dos salões e outros hábitos e valores relacionados à elite brasileira em formação estão caracterizados nos romances urbanos, como os de José de Alencar, por exemplo.
Embora já existissem leis internacionais que proibissem o tráfico transatlântico de pessoas desde 1815, durante quase todo o século XIX o Brasil ainda explorava a mão de obra escravizada e deixava marcas profundas em sua estrutura social. Só depois da metade do século é que começou a se formar um movimento abolicionista, e revoltas passaram a se formar a fim de pressionar o fim da escravização.
Na pintura é possível observar detalhes da vida urbana da época, como as vestimentas, a arquitetura e, sobretudo, as relações sociais e hierárquicas.
CHAMBERLAIN, Henry. Uma família brasileira 1822. Água-tinta e aquarela sobre papel, 26,3 cm x 36,7 cm. Coleção Brasiliana Itaú, São Paulo.
Em pinturas como essa de Rugendas (1802-1858), é possível visualizar com precisão as condições de vida dos escravizados: captura, castigos físicos em público, trabalho em cativeiro etc.
RUGENDAS, Johann Moritz. Castigo público no Campo de Santana. 1835. Litografia, 22,7 cm x 31,1 cm. Museus Castro Maya, Iphan/MinC, Rio de Janeiro.
Com a chegada da família real portuguesa e a abertura dos portos às nações amigas, houve um significativo aumento na importação de livros e na disseminação de ideias iluministas. Somado à fundação da Biblioteca Nacional e ao estabelecimento da Imprensa Régia, isso promoveu um gradual aumento no número de leitores. A independência do Brasil, em 1822, e os movimentos subsequentes de modernização também contribuíram para a expansão da educação e da literatura como ferramentas de formação cívica e nacionalismo, ampliando, assim, o público leitor brasileiro.
Cidades em trânsito
Sala de leitura do Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro, fundado em 1837, considerada uma das bibliotecas mais bonitas do mundo. Fotografia de 2018.
A cidade e a literatura mantêm uma íntima ligação, pois é na cidade que estão as editoras, as bibliotecas, as livrarias, os museus, os teatros, os jornais e as revistas. É nela também em que circulam as novidades, os debates, os modismos, as pessoas, as línguas e as ideias. Com a chegada da família real e a abertura dos portos no Brasil, houve o acesso, também, à literatura de fora do país, bem como o desenvolvimento da literatura nacional.
O surgimento de uma classe de leitores ávidos por narrativas em que se vissem refletidos e que apresentassem todas as novidades vindas da Europa e da corte disseminou no Brasil um novo gênero literário: o folhetim, história em capítulos que vinha no rodapé dos jornais impressos. Os folhetins reproduziam valores burgueses também manifestados na literatura europeia, como a importância do indivíduo e do sentimentalismo. Nesse processo de valorização do eu, um sentimento passou a ocupar o centro da vida: o amor.
Nessa literatura, alguns enredos se desenvolvem no campo, criando um contraste entre o rural e o urbano, o que acentua o caráter exuberante e majestoso da natureza, além das características culturais consideradas exóticas e peculiares por uma visão carregada de limitações e preconceitos dos autores da corte. De outro lado, apresentam uma perspectiva de cidade.
Como ambiente de trocas variadas – econômicas, culturais, sociais etc. –, as cidades, em um primeiro momento, são testemunho de uma sociedade burguesa, escravocrata; já no século XX, a cidade será o lugar da diversidade, onde se nota a presença do imigrante que chega como mão de obra para a lavoura e, em seguida, integra-se às classes operárias urbanas. Ainda no século XX, as cidades serão também o lugar da marginalidade, da violência e da solidão em narrativas que adotam o ponto de vista dos excluídos. Na literatura contemporânea, os cenários urbanos se apresentam como o lugar do isolamento, da exclusão, do descartável, como o labirinto da dispersão.
O Romantismo é uma estética que predominou no século XIX. Teve início na Alemanha e na Inglaterra no final do século XVIII e se fortaleceu na França, no contexto da Revolução Francesa (1789-1799), que, ao depor o rei absolutista Luís XVI, colocou um ponto-final no Antigo Regime.
As ideias que produziram a Revolução Francesa estão na base das profundas transformações sociais, políticas, culturais e econômicas da Idade Moderna.
DELACROIX, Eugène. A liberdade guiando o povo. 1830. Óleo sobre tela, 260 cm x 325 cm. Museu do Louvre, Paris.
Em uma sociedade profundamente desigual, em que o regime concedia muitos privilégios a muito poucos e deixava a ampla maioria da sociedade francesa na miséria, a Revolução Francesa deu espaço a uma nova classe social: a burguesia, que procurou participação cada vez maior na vida política e econômica do país.
Além disso, a Revolução, inspirada em parte pelas ideias iluministas, favoreceu um sentimento coletivo de pertencimento a uma nação. A tríade “Liberdade, igualdade e fraternidade” inspirou uma nova constituição na qual ficaram registrados os direitos básicos do cidadão nas sociedades modernas.
Como foi visto na Unidade 2, uma nova corrente filosófica surgiu na Europa defendendo a razão e a ciência como aliadas do progresso. Filósofos iluministas como Montesquieu, Voltaire, Jean-Jacques Rousseau, Denis Diderot e D’Alembert (1717-1783) criticavam as velhas estruturas políticas e os valores tradicionais no campo da religião, da educação e das ciências.
Impulsionadas pelas ideias iluministas, as transformações atingiram radicalmente o poder real, que foi substituído pelo poder do povo e exercido por representação popular; com isso, aquele que era súdito passou a ser cidadão
Com o surgimento do cidadão nasceu também um indivíduo que pôde exercer sua liberdade de pensar e manifestar suas necessidades, ideias e crenças. Com esse indivíduo nasceu também a consciência de uma singularidade, de um eu que com frequência se viu em conflito consigo mesmo e com a sociedade.
O indivíduo está caracterizado nos romances como um herói problemático. Em uma sociedade individualista, voltada para a propriedade e o lucro, o herói dos romances se mostra desajustado, em conflito com a sociedade. Seus conflitos, seu desejo de fuga ou de morte revelam uma relação problemática com a sociedade.
A solidão do indivíduo na pintura pode ser associada à solidão do herói problemático, cujos conflitos com a sociedade produzem desejo de fuga ou de morte.
A defesa da liberdade individual abriu caminho para o liberalismo e a consolidação do capitalismo como modelo econômico. Sustentado pela Revolução Industrial e um novo cenário político, jurídico e ideológico que passou a se consolidar com a Revolução Francesa, o novo modelo defendeu valores caros à burguesia ascendente, como a lei de oferta e procura, o livre-comércio, a liberdade de contrato, a divisão internacional do trabalho, a livre concorrência e a defesa da propriedade privada. Esse movimento na economia incentivou a vida nas cidades, para onde convergiu o fluxo de capital econômico, social e financeiro produzido em vários lugares. Não à toa, as cidades foram importantes espaços de representação na prosa romântica.
Um novo público
FRIEDRICH, Caspar David. Caminhante sobre o mar de névoa. 1817. Óleo sobre tela, 98 cm x 74 cm. Museu Kunsthalle, Hamburgo, Alemanha.
A ascensão da classe burguesa tornou a escolarização mais acessível, o que levou a um aumento significativo do número de pessoas alfabetizadas. Esse aumento teve impacto no consumo de livros e nas temáticas desenvolvidas pelos escritores: esse público, composto sobretudo de jovens e mulheres, quis encontrar na literatura a projeção dos próprios conflitos emocionais, em um contexto no qual a singularidade do indivíduo teve peso cada vez maior nas trocas sociais e afetivas. Temas românticos
O centro de interesse da literatura romântica é o sujeito, um eu que vive diferentes formas de conflito com a sociedade e com outros eus. Entre esses conflitos, o amor romântico, muitas vezes impossível e idealizado, com o poder de vivificar aquele que ama ou levá-lo à morte, é exaltado como a plena realização dos indivíduos apaixonados.
A natureza é uma força importante nas produções românticas. Expressiva, idealizada, é o lugar de projeção dos sentimentos do sujeito romântico, da nostalgia do que foi perdido. A ideia de nação forte e da unidade do povo aparece, na literatura, na figura do herói romântico, um herói mítico idealizado como amálgama da unidade de um povo e seu território, sua língua, sua cultura e sua tradição.
O romance foi o gênero burguês por excelência; sua importância no século XIX se compara hoje à da televisão, do cinema, do audiovisual em geral.
No Brasil, a declaração da Independência, em 1822, transformou a colônia em Império: para a nova nação era preciso encontrar uma identidade original, que se ajustasse à grandiosidade que nela se queria projetar.
A literatura teve papel fundamental na construção da identidade brasileira: a idealização do indígena como herói original; a recuperação de um passado mítico idílico; o registro da cor local; a apresentação das diferentes regiões brasileiras, suas paisagens física e humana; a representação das dinâmicas urbanas nas relações sociais, financeiras e comerciais – todo esse conjunto ganhou expressão na prosa, na poesia e no teatro.
A natureza exuberante, generosa nas matas e nas águas, sugere uma paisagem paradisíaca. Esse modo idealizado de projetar a natureza fazia parte do projeto romântico de criar uma identidade brasileira original, tão potente e altiva como sua natureza.
PORTO-ALEGRE, Manuel José de. Selva brasileira 1853. Aquarela sobre papel, sem dimensões. Museu de História Júlio de Castilhos, Porto Alegre.
Todo texto é afetado pelo contexto em que é produzido. Valores, temas, questões consideradas relevantes em determinado momento serão, de algum modo, objeto de representação na literatura – seja na prosa, no poema ou no texto dramático. O romance Senhora , por exemplo, foi escrito em um período que assistia ao crescimento da burguesia urbana, cujos valores e costumes estão marcados no romance. O poema “Nosso tempo”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), foi escrito na década de 1940. Impactados pela Segunda Grande Guerra e por conflitos internos do Brasil, os versos “Este é um tempo de partido / tempo de homens partidos” se referem a um período em que ideologias se cristalizaram, partiram o mundo e as pessoas e favoreceram terríveis tensões locais e mundiais.
Essa relação com o contexto, porém, está sempre atravessada por uma voz que se coloca diante dele e afirma uma posição. Assim, é possível dizer que o autor de Senhora critica os valores da burguesia representada no romance ao denunciar a hipocrisia dos casamentos movidos por interesses financeiros. Essa posição contraria a visão de amor absoluto, puro, que o Romantismo sustentou como valor supremo. Drummond denuncia os horrores da guerra, a desunião entre as pessoas, a coisificação delas, entre outras mazelas contra as quais se coloca.
É nesse jogo de forças entre o contexto de produção e o modo como a voz autoral se coloca diante dele que é possível encontrar os sentidos mais relevantes de uma obra. É importante também prestar atenção nas eventuais relações entre o contexto de produção e o contexto vivo do leitor – ali também se produzem os sentidos da leitura.
Para discutir
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1. O diálogo entre uma obra e o contexto de sua produção obriga, necessariamente, a um conhecimento profundo sobre contexto social, político, filosófico etc.?
2. Você considera possível compreender o sentido de uma obra sem esse conhecimento? Discuta com os colegas. Não escreva no livro.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Nesta unidade, são discutidos aspectos relacionados à vida urbana e são propostas reflexões sobre as mudanças por que passam as cidades.
Como informado na seção O X da questão, em 2022 61% da população brasileira vivia nas cidades; esse percentual tende a aumentar. Também no mundo a população é mais urbana: 56,2% da população vive em cidades. Esses dados tornam ainda mais relevante a discussão sobre o que pode impactar a vida das pessoas que vivem em ambientes onde a natureza foi radicalmente modificada pelo ser humano e onde se produziu uma série de problemas e de soluções para a vida coletiva.
Para discutir
Professor, destaque para os estudantes que as cidades podem ser elementos constitutivos de identidades. Espaços, habitantes e formas de circulação de pessoas, produtos, ideias e culturas
1 Você já sentiu, em algum momento da sua vida, uma conexão com alguma cidade, como se fosse parte integrante dela? Por quê?
são o campo fundamental para entrar em contato com muitos discursos e muitas relações que serão essenciais para a composição da subjetividade.
2 Você já acompanhou, nos meios de comunicação, notícias e reportagens que se referiam a obras que poderiam impactar a vida da população de um centro urbano ou comunitário? Que obra foi essa? Ela foi concluída? O que falta para que seja finalizada? Compartilhe as respostas com os colegas.
Professor, destaque para os estudantes que algumas obras de grande porte, ou até mesmo obras simples, às vezes se arrastam por dias, meses e anos, por causa de diversos motivos, entre eles fenômenos climáticos, financiamento ou mesmo corrupção.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A notícia reproduzida a seguir permite refletir sobre algo muito importante para quem mora tanto nas pequenas quanto nas grandes cidades: os espaços públicos de lazer.
Terreno reúne arquibancada, cachorródromo, bosque e ruínas arqueológicas
Até o fim dos anos 1960, meninas da elite paulistana entravam no Colégio Des Oiseaux por meio de um imponente portão localizado na rua Caio Prado. Restaurado e tombado como patrimônio histórico, o pórtico agora cumpre uma nova função: trata-se de uma das entradas para o parque Augusta, que abre as portas ao público neste sábado (6).
A abertura está prevista para as 9h e será realizada uma cerimônia com a presença do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e do vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB). Depois disso, a previsão é de que o espaço fique aberto para o público – o local vai funcionar todos os dias das 5h às 21h.
A inauguração do espaço de cerca de 24 mil m², que ocupa parte do quarteirão entre as ruas Augusta, Caio Prado e Marquês de Paranaguá, coloca um fim à novela que envolve o terreno e se arrasta há 50 anos. Isso porque, depois de servir como colégio até o final dos anos 1960, o terreno passou pelas mãos de um ex-banqueiro e da construtora Teijin, mas nada foi feito na área. Até que, em 2013, as construtoras Cyrela e Setin adquiriram o espaço e anunciaram a intenção de erguer prédios no local.
Vista do caminho que liga ao bosque do Parque Augusta Prefeito Bruno Covas que está pronto para inauguração.
Mas após reivindicações de ativistas e de moradores da região, teve início uma longa negociação sobre o futuro do terreno. Depois de uma série de idas e vindas, as empresas aceitaram doar o espaço à Prefeitura de São Paulo para a construção do parque Augusta em troca de créditos para erguer novos empreendimentos na cidade.
Como parte do acordo, os custos de implantação do parque foram realizados pelas construtoras. De acordo com a prefeitura, os investimentos com a obra giram em torno de R$ 11 milhões.
O projeto reúne arquibancada, cachorródromo, parque infantil, academia para terceira idade, redário, local para instalação de slacklines e um bosque. Além do portão de entrada, a chamada Casa das Araras também é tombada.
Para a concepção, a prefeitura de São Paulo afirma que cruzou quatro propostas encaminhadas pela população e, assim, desenvolveu um estudo preliminar. A análise foi encaminhada para as construtoras que contrataram o escritório Kruchin Arquitetura, responsável pelo projeto final.
[…]
De acordo com o arquiteto Samuel Kruchin, a maior relevância do parque está ligada ao jardim da época do Colégio Des Oiseaux, que foi recuperado e está localizado na área do bosque. Com a retirada de terra de parte da área, as orlas desses caminhos que estavam escondidos foram recuperadas.
‘Foram descobertos espaços sagrados, com oratórios e grutas. É a partir desse jardim, que compunha a origem de toda a história, que se faz esse projeto. Além disso, esse jardim histórico se conecta a um jardim contemporâneo’, analisa Kruchin.
[…]
As obras foram atrasadas, em meio à pandemia em 2020, quando houve a descoberta de atrativos arqueológicos – nas escavações foram achados 2 126 materiais como louças, vidros, pisos, soleiras de porta, cerâmicas e metais, entre outros itens.
[…]
O local surge depois de uma longa batalha de ativistas e moradores da região que reivindicaram a construção de torres no terreno. Para o arquiteto Samuel Kruchin, o projeto de alguma forma se trata de ‘um grande elemento de conciliação de tempos históricos diferentes e de interesses contemporâneos diversos’.
MENON, Isabella. Parque Augusta abre as portas para o público neste sábado (6). Folha de S.Paulo, São Paulo, 5 nov. 2021. Disponível em: www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2021/11/parque-augusta-abre-as-portas-para-o-publico-neste-sabado-6.shtml. Acesso em: 21 ago. 2024.
Não escreva no livro. PENSAR E COMPARTIlHAR
1. O organizador a seguir registra na coluna da esquerda as informações a que um lide (as principais informações do fato) costuma responder. Copie-o no caderno e escreva as informações que respondem a cada pergunta.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Quem?
O quê?
Onde?
Quando?
Como?
Por quê?
• Qual é a função do lide ao apresentar o essencial de um fato logo no início de uma notícia?
O lide permite ao leitor identificar de forma rápida e condensada as informações principais da notícia: quem praticou a ação, qual foi a ação, quando e onde ocorreu.
O lide (do inglês lead ) de uma notícia informa, no início do texto, o básico sobre o fato: quem, o quê, quando, onde, como e por quê. Ele permite que o leitor tenha acesso ao conteúdo básico da notícia sem precisar ler todo o corpo do texto.
Às 9 horas do dia 6 de novembro de 2021.
Inauguram o Parque Augusta. No próprio Parque Augusta.
Em uma cerimônia de abertura.
Porque ficou pronto depois de longa disputa pelo espaço.
3. Espera-se que os estudantes suponham que esses atrativos são achados importantes para o conhecimento da história da cidade e daquela área em particular, já que as obras, se fossem aceleradas ou feitas sem os devidos cuidados, poderiam danificar os achados. Os achados arqueológicos foram recolhidos e encaminhados para exposição no parque, tornando-se um atrativo.
2. A n otícia faz referência a entraves que atrasaram a construção do parque. Por que foi tão demorado resolver a que seria destinado o terreno? O que permitiu que se transformasse em um parque público?
2. Porque o parque foi vendido a diferentes donos que desejavam dar diferentes finalidades ao terreno, até a compra final e a posterior doação do terreno para a prefeitura em troca de contrapartidas. O terreno se
3. Além dos entraves de negociação que atrasaram a inauguração do parque, a descoberta de atrativos arqueológicos fez com que as obras parassem. Por que isso aconteceu?
transformou em parque por causa da mobilização de ativistas e moradores da região, que pressionaram o governo a negociar o terreno para a construção do parque.
4. Em 2012, quase dez anos antes da inauguração do parque, o portal G1 publicou a seguinte notícia.
Empresários pretendem construir em terreno na Rua Augusta. Moradores, porém, pedem criação de um parque no local.
As construtoras Setin e Cyrela querem mudar uma resolução do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) para poder construir duas torres acima da altura permitida atualmente em um terreno da Rua Augusta, na região central. Trata-se de uma área verde de 24 mil m², mais de dois campos de futebol, que há décadas é alvo de uma polêmica.
Os moradores querem a construção de um parque em toda a área e o prefeito Gilberto Kassab (PSD) começou a atender o pedido ao decretar a área de utilidade pública em 2008, mas não levou o projeto a cabo. Já o dono da área, o banqueiro Antonio Conde, tenta há anos a construção de empreendimentos em parte do terreno e promete fazer também um parque aberto à população no restante da área. […]
Um grupo de cerca de 30 moradores compareceu à audiência com faixas protestando contra o projeto, pedindo que Kassab leve adiante a desapropriação do terreno e a criação do parque e que a Câmara Municipal aprove o projeto de criação do equipamento.
PINHO, Márcio. Construtoras querem mudar área tombada para erguer prédios em SP. G1, São Paulo, 23 mar. 2012. Disponível em: https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2012/03/construtoras-querem-mudar-area-tombada-para-erguerpredios-em-sp.html. Acesso em: 21 ago. 2024.
4. a) Enquanto a construtora quer erguer duas torres de prédios no terreno, os moradores querem um parque.
a) Essa notícia faz referência ao início da negociação sobre uma possível utilização do terreno. Que interesses se opõem já nesse momento, segundo a notícia?
b) O texto da notícia tem início com uma informação que destaca uma pretensão das construtoras de interferir na legislação. Que efeito pode ter essa organização da informação junto ao leitor? Com base nesse efeito, a notícia pode ser considerada neutra? Por quê?
c) A mobilização popular foi fundamental para que, quase dez anos depois, fosse criado o Parque Augusta. Que efeito podem ter protestos como o divulgado na notícia?
Podem pressionar o poder público e mobilizar ainda mais a mídia, por exemplo.
5. Leia agora um trecho de notícia que divulga um evento determinante para a construção do parque.
Prefeitura e construtoras negociam ‘troca’ de terrenos
Entenda
Desde o início do ano, a prefeitura negocia com as construtoras Setin e Cyrela, donas do terreno, um acordo para conseguir instalar o parque Augusta
O que diz esse acordo
Ao abrirem mão da área, as empresas ganham um outro terreno municipal em Pinheiros (zona oeste) e se livram de processos judiciais relacionados ao parque
4. b) O leitor pode ser impactado pela informação tomando posição contra a interferência do setor privado sobre o poder público. Não é neutra, pois destaca algo que, em princípio, não diz respeito às construtoras, e sim aos poderes legais, eleitos para fazer eventuais alterações na legislação.
5. c) Resposta pessoal. Professor, não se espera resposta certa, mas é fundamental combater qualquer atitude que apresente opiniões ou juízos de valor que ofendam ou sensibilizem negativamente as pessoas, deixando evidente a importância de justificar opiniões com base em argumentos pautados na realidade.
Professor, incentive os estudantes a apresentar ideias.
Se houver um conflito relevante de conhecimento público, seria interessante explorar essa oportunidade de discussão com eles como forma de trabalhar a ideia.
Contrapartidas
Em troca, elas terão que: instalar e manter o parque Augusta, manter a praça Victor Civita e construir a nova prefeitura regional de Pinheiros, um centro de atendimento para moradores de rua e uma creche
5. a) A troca do terreno onde foi instalado o parque por outro recebido pelas construtoras em região nobre e com maior área total, além de suspensão dos processos judiciais contra a construtora, que também fica obrigada a manter e construir instalações de utilidade pública.
BERGAMIM JR., Giba. Acordo para parque Augusta prevê troca e contrapartida de R$ 30 mi. Folha de S.Paulo, São Paulo, 18 jul. 2017. Disponível em: www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/07/1902091-acordo-para-parque-augusta-preve-troca-econtrapartida-de-r-30-mi.shtml. Acesso em: 21 ago. 2024.
a) O que permitiu o acordo entre as construtoras donas do terreno e a prefeitura?
b) Considere o que as construtoras e o poder público ganharam e perderam. Por que esse acordo foi possível?
Porque todos tiveram uma vantagem significativa.
c) Em sua opinião, o que é necessário para se chegar a um acordo em conflitos em geral?
6. Observe a seguir dois projetos desenvolvidos para ocupar o terreno em que hoje fica o Parque Augusta.
CORRÊA, Vanessa. Acompanhe a história do terreno do Parque Augusta em mais de cem anos. Folha de S.Paulo, São Paulo, 16 mar. 2014. Disponível em: www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2014/03/1425795-acompanhe-a-historia-do-terreno-do-parque-augusta-em-mais-decem-anos.shtml. Acesso em: 21 ago. 2024.
6. a) O primeiro projeto apresenta uma concepção voltada à construção e à verticalização de apartamentos privados, o que valoriza os prédios e não a área verde. O segundo projeto valoriza uma perspectiva pública de espaço pautada na manutenção das áreas verdes de convivência.
a) Que diferentes concepções de espaço urbano esses projetos revelam?
b) Considere seus conhecimentos sobre desenvolvimento urbano e sobre sustentabilidade. Qual dos projetos traria mais benefícios para uma vida coletiva e sustentável na cidade? Explique.
A cobertura de um fato importante para uma a comunidade pode se desdobrar incorporando análises, entrevistas com especialistas e testemunhas, posicionamento dos envolvidos e impactos a longo prazo. A cobertura se adapta à relevância do tema para incluir reportagens, artigos de opinião, editoriais e, por vezes, uma retrospectiva crítica. O jornal pode, por meio de mecanismos próprios do texto jornalístico, sugerir posições que irão influenciar o leitor.
6. b) Respostas pessoais. Professor, espera-se que os estudantes respondam que o segundo projeto traria mais benefícios, pois valoriza espaços verdes de convivência, mas é possível que haja opiniões diferentes. Aproveite a oportunidade para debater com os estudantes a respeito dos princípios da sustentabilidade e dos benefícios do lazer em áreas verdes, por exemplo.
Nesta unidade, você acompanhou um histórico de notícias sobre a disputa pelo destino a ser dado a um terreno em área central da cidade de São Paulo, carente de espaços verdes e de lazer. Nessa disputa, há o confronto de interesses públicos e privados.
Segundo os geógrafos Bani Szeremeta e Paulo Henrique Trombetta Zannin, os parques urbanos:
[…] proporcionam contato com a natureza e suas estruturas e qualidade ambiental, quando adequadas e atrativas, são determinantes para a realização de atividade física e o lazer. Estas atividades trazem diferentes benefícios psicológicos, sociais e físicos à saúde dos indivíduos, como, por exemplo, a redução do sedentarismo e amenizar o estresse do cotidiano urbano. Assim, o planejamento correto e a conservação de parques públicos se revelam como significativa estratégia para uma política efetiva do projeto urbano e da saúde pública. […]
SZEREMETA, Bani; ZANNIN, Paulo Henrique Trombetta. A importância dos parques urbanos e áreas verdes na promoção da qualidade de vida em cidades. Raega, Curitiba, v. 29, p. 177-193, dez. 2013. p. 177. Disponível em: https://revistas. ufpr.br/raega/article/view/30747. Acesso em: 21 ago. 2024.
Parque Lage, no Rio de Janeiro, convertido em parque público em 1957. Fotografia de 2021.
Foto de Raquel Rolnik em 2017.
A arquiteta e urbanista Raquel Rolnik discutiu, em uma palestra disponível em vídeo, como desenvolver e equilibrar os muitos fatores importantes para manter qualidade de vida nas cidades, especialmente numa grande metrópole como São Paulo. Dentre os assuntos por ela abordados, é possível refletir sobre as seguintes perguntas: para onde caminham as nossas cidades? E quais são as grandes decisões que precisam ser tomadas nesse sentido? Procure assistir à palestra com os colegas.
• ROLNIK, Raquel. Desafios urbanos. [S. l.: s. n.], 2017. 1 vídeo (15 min). Disponível em: www.youtube.com/ watch?v=rKN8wUg0mNs. Acesso em: 21 ago. 2024.
Professor, se possível, organize uma entrevista coletiva com o professor de Geografia. O assunto é bastante complexo
Ao garantir espaço para áreas como parques, o poder público melhora a qualidade de vida da população.
e vale a pena promover uma troca de ideias mais aprofundada, com mais tempo. Se for organizar a entrevista, oriente os estudantes a preparar perguntas com base em uma pesquisa prévia.
1. Que fatores podem determinar a disputa por terrenos urbanos? Converse com o professor de Geografia e complemente as informações com uma pesquisa em livros especializados ou em sites voltados a publicações especializadas, universidades ou veículos de imprensa de ampla circulação. Organize suas anotações e, em uma data combinada com o professor, apresente as informações que coletou e troque ideias com os colegas.
2. Sua cidade oferece parques e/ou outros espaços de lazer para todos os habitantes? O que esses espaços oferecem? Poderiam ser disponibilizadas outras atrações? Haveria outros lugares que poderiam se transformar em áreas de lazer? Quais?
Respostas pessoais. Professor, oriente os estudantes a argumentar durante suas afirmações, apresentando exemplos e dados. Oriente-os, também, a respeitar o turno de fala de cada colega.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
2. a) Refere-se a coroa de pâmpanos
2. b) Refere-se a Aurélia, também referida neste trecho como moça, mulher. Professor, explore a coesão por substituição semântica construída pelos substantivos que se referem a Aurélia.
2. c) Sobre as tranças esparsas só lhe faltava a coroa de pâmpanos.
Releia um trecho do romance Senhora, de José de Alencar.
1. a) Ver (viu), aproximar-se (aproximou-se) e animar (animava).
1 Releia o enunciado em destaque.
a) É possível identificar três ações nesse enunciado. Quais são elas?
b) A s ações se referem ao mesmo termo? Explique.
c) Copie do enunciado um adjetivo ou expressão adjetiva. A quem o termo se refere?
3. O enunciado “E retirou-se” – verbo retirar-se, pronominal.
3 Compare os enunciados destacados. Qual dos enunciados se estrutura com a presença de um verbo?
Seixas viu-a aproximar-se assombrado pela estranha expressão que animava o rosto da moça.
Era um sarcasmo cruel e lascivo o que transluzia com fulgor satânico da fisionomia e gesto dessa mulher.
Só faltava-lhe a coroa de pâmpanos sobre as tranças esparsas, e o tirso na destra.
Em face do marido, porém, essa febre aplacou-se como por encanto; e surgiu outra vez do corpo da bacante em delírio a virgem casta e melindrosa.
Aurélia tinha na mão dois objetos semelhantes, envoltos um, em papel branco, outro em papel de cor. Ofereceu o primeiro a Seixas; mas retraiu-se substituindo aquele pelo outro.
— Esta é minha; disse guardando o invólucro de papel branco. Enquanto Seixas olhava o objeto que recebera, sem compreender o que isto significava, Aurélia fez-lhe com a cabeça uma saudação:
Não; quem vê é Seixas; quem se aproxima é Aurélia (representada pelo pronome pessoal do caso oblíquo a), e a forma verbal animava refere-se a expressão
— Boa noite.
E retirou-se.
Respostas possíveis: assombrado, refere-se a Seixas; , refere-se a expressão; da moça, refere-se a rosto
ALENCAR, José de. Senhora. São Paulo: Penguin & Companhia das Letras, 2013. p. 120.
2. e) Porque essa organização não está prevista na língua portuguesa.
2 Releia este trecho.
a) A que termo se refere a forma verbal faltava?
b) A quem se refere o pronome lhe?
c) O enunciado poderia estar escrito de outra forma, por exemplo: “Só a coroa de pâmpanos faltava-lhe sobre as tranças esparsas”. Que outra organização poderia ter esse enunciado?
d) A que informação o enunciado, tal como está organizado no texto, dá ênfase? À falta.
e) Suponha que o enunciado estivesse organizado da seguinte forma: “Só esparsas de pâmpanos lhe coroa sobre faltava tranças”. Por que o leitor não conseguiria produzir sentido com base nela?
Muitos elementos convergem para a construção do sentido de um texto: o conhecimento do significado das palavras, a compreensão das referências no tecido textual – que permitem ao interlocutor identificar certas articulações de sentido, as relações com o contexto, o próprio repertório etc. Entre tantos aspectos, é fundamental reconhecer a combinação das palavras no contexto em que aparecem. Assim, para além do significado dos termos, o sentido que as palavras produzem quando se relacionam precisa ser compreendido. Se as palavras desse enunciado não se relacionassem seguindo um determinado conjunto de regras previsto gramaticalmente, provavelmente o interlocutor encontraria problemas para compreender o sentido que ele produz.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Professor, o item c da atividade 2 é uma oportunidade para a retomada da discussão sobre gramática e domínio das regras de seleção e combinação na língua portuguesa. Se achar importante, explique aos estudantes que a Morfologia se articula com a Sintaxe limitando as escolhas linguísticas dos falantes. Não é qualquer combinação de palavras que pode produzir sentido.
Professor, retome com os estudantes as dez as classes gramaticais, também chamadas classes de palavras: substantivo, numeral, artigo, adjetivo, pronome, verbo, advérbio, preposição, conjunção e interjeição. Informe que as possibilidades de combinação entre classes e funções sintáticas seguem regras: determinadas classes podem exercer determinadas funções sintáticas, e não outras. Ao estudo dessa combinação dá-se o nome de Morfossintaxe.
As frases podem ser classificadas em:
• interrogativas: — Já três horas?
• exclamativas: — Que bela tarde!
• declarativas: Voltaram, pois, à saleta.
• imperativas: — Pegue este embrulho, Seixas.
Uma mesma frase pode ser pronunciada com diferentes intencionalidades e produzir diferentes sentidos na oralidade, conforme o contexto. A frase “chama Aurélia”, por exemplo, pode ser pronunciada:
— Chame a Aurélia?
— Chame a Aurélia.
Gramaticalmente, pode-se dizer que essa organização combina classes de palavras com funções sintáticas. As classes gramaticais são tradicionalmente estudadas no Ensino Fundamental, e você terá oportunidade de retomá-las com o estudo das funções sintáticas. Observe, a seguir, um exemplo.
Aurélia tinha na mão dois objetos semelhantes.
Seixas olhou espantado para Aurélia
O termo Aurélia é classificado, morfologicamente, como substantivo próprio. Na primeira frase, Aurélia é o termo de quem se declara algo; na segunda, segue sendo substantivo próprio, mas sua função passa a ser o termo que completa o sentido da ação de Seixas: é para ela que ele olha.
A combinação das palavras obedece a princípios e regras que tornam os enunciados aceitáveis para os falantes da língua. Esses princípios e regras compõem a Sintaxe. O estudo da Sintaxe, associado a outros níveis de análise como o textual e o discursivo, permite uma melhor compreensão dos recursos disponíveis para a eficácia da comunicação oral e escrita e das possibilidades de relação entre o sujeito e o mundo, o sujeito e outros sujeitos por meio da linguagem.
Professor, a coleção toma como estudadas as classes gramaticais, uma vez que o estudo delas está previsto nas habilidades a serem desenvolvidas ao longo do Ensino Fundamental – Anos Finais. Ainda assim, preocupa-se em retomar o essencial das classes consideradas importantes no contexto do estudo de diferentes conceitos.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Os enunciados que estabelecem sentido em determinado contexto e interlocução recebem o nome de frases.
Do ponto de vista gramatical, os enunciados podem ser constituídos por frases formadas por uma única palavra ou por várias palavras.
— Olá!
Seixas viu-a aproximar-se assombrado pela estranha expressão que animava o rosto da moça.
Além disso, as frases podem apresentar verbo (frases verbais) ou não (frases nominais):
— Boa noite. (frase nominal)
E retirou-se. (frase verbal)
Na língua oral, é possível saber o início e o fim de um enunciado pela entonação com que é dita a frase, isto é, as diferentes intensidades do som que a pronúncia das palavras produz. Na língua escrita, essa entonação é marcada pelos sinais de pontuação, que também determinam o final de cada frase.
Professor, retome com os estudantes: substantivos são palavras que nomeiam seres, objetos, sentimentos, lugares, fenômenos etc. Podem ser classificados quanto à significação, ou seja, conforme aquilo que nomeiam: comuns, próprios, concretos, abstratos ou coletivos. Os substantivos também são classificados quanto à forma: simples, compostos, primitivos ou derivados.
Agora, observe:
Aurélia tinha na mão dois objetos semelhantes […].
Ofereceu o primeiro a Seixas […].
Essas frases apresentam uma estrutura sintática que se constrói em torno das formas verbais tinha, ofereceu e retraiu.
Quando a frase se organiza em torno de um verbo ou locução verbal, é chamada de oração. Frequentemente, as orações podem apresentar também informações sobre alguém ou algo que pratica ou recebe a ação do verbo.
A frase constituída por uma ou mais orações é chamada de período. O período pode ser classificado em simples ou composto.
• Período simples: constituído por uma oração e, portanto, organizado em torno de um só verbo ou locução verbal.
D. Firmina trouxera da rua muitas novidades.
• Período composto: constituído por mais de uma oração e, portanto, organizado em torno de mais de um verbo ou locução verbal.
Aurélia fez um gracioso aceno de fronte ao marido, e desapareceu pela porta […].
Sujeito e predicado
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Observe a oração a seguir, na qual o verbo declara algo sobre Aurélia.
Aurélia tinha na mão dois objetos semelhantes.
Nome Verbo
Sujeito Predicado
O verbo de ação diz algo sobre Aurélia. O par nome/ verbo ancora a oração e exerce a função de sujeito e predicado, respectivamente.
Observe, agora, as orações a seguir.
Dois objetos foram trazidos por Aurélia.
Os enunciados que são suficientes por si mesmos para estabelecer comunicação dentro de um contexto recebem o nome de frases.
Oração é a frase que se organiza em torno de um verbo.
Período é o enunciado constituído por uma ou mais orações.
Um papel branco e outro papel de cor estavam na mão de Aurélia.
O objeto estava na mão de Aurélia.
Na primeira, o sujeito dois objetos sofre a ação verbal, expressa pela locução foram trazidos, que expressa a ação verbal e corresponde ao predicado. Na segunda, o sujeito Um papel branco e outro papel de cor se liga ao verbo estar em “estavam na mão de Aurélia”. O mesmo verbo estar aparece na terceira oração, mas no singular, já que se refere a um sujeito que também está no singular.
Agora, observe.
[Ø] Choveu no dia do casamento de Aurélia.
Em uma oração, o termo que expressa a ação verbal corresponde ao predicado; e o termo que realiza ou sofre a ação verbal é chamado de sujeito. O verbo concorda em número e pessoa com o sujeito.
O verbo chover é impessoal, pois não está relacionado a um sujeito. Como ele, são considerados impessoais outros verbos que nomeiam fenômenos meteorológicos como nevar, relampejar, entre outros, que também são considerados impessoais. Também são impessoais os verbos haver e fazer expressando tempo.
Há um ano Aurélia se casava.
Faz um ano que Aurélia se casou.
Professor, a classificação do sujeito será assunto da seção Análise linguística da próxima unidade.
Em orações que se organizam em torno de um verbo impessoal, só existe predicado.
Compare as orações a seguir.
Aurélia tinha na mão dois objetos semelhantes […].
Só faltava-lhe a coroa de pâmpanos sobre as tranças esparsas […].
Na primeira oração, o sujeito está expresso antes do verbo. Nesse caso, diz-se que está na ordem direta. A ênfase da oração está naquele que praticou a ação.
Na segunda, o sujeito está posto depois do verbo. Nesse caso, diz-se que está na ordem indireta. A ênfase da oração está na ação praticada.
A oração está na ordem direta quando o sujeito ocorre antes do verbo.
Quando o sujeito aparece depois do verbo, diz-se que a oração está na ordem indireta. Observe os exemplos a seguir.
Aurélia desapareceu pela porta. (ordem direta)
Desapareceu pela porta Aurélia. (ordem indireta)
No primeiro caso, ganha destaque o sujeito Aurélia; no segundo, o destaque é com relação à ação de desaparecer. A mudança na ordem dos termos da oração, em geral, dá ênfase ao termo que inicia a frase.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Leia a seguir um trecho do conto “As três irmãs”, de Júlia Lopes de Almeida (1862-1934). Nesse conto, Teresa pressente que vai morrer e decide escrever para suas duas irmãs, Lucinda e Violeta, para fazer a partilha de seus bens.
As três irmãs olharam-se com tristeza; mas o que pensaram não o disseram. Os lábios sorriram, houve uns suspiros mal disfarçados e um brilho de lágrimas, que pareceu molhar ao mesmo tempo os olhos de todas, sem rolar pela face de nenhuma… D. Lucinda rompeu o silêncio. Vinha por pouco tempo… o seu segundo marido, um argentino, morrera havia um ano; tinha ainda muita coisa a liquidar… O seu palacete não podia ficar abandonado em mãos dos perversos enteados… O seu palacete! Como ela encheu a boca, descrevendo em duas palavras o luxo das suas mobílias e da sua equipagem. Era conhecida e invejada na cidade toda!
D. Teresa pasmou:
— Quê! pois as suas mobílias são melhores do que…
— Estas?! Oh! E riu-se com desdém. Teresa! você não imagina: isto é horrível! Nós outras temos coisas modernas, vindas de Paris! […]
ALMEIDA, Júlia Lopes de. As três irmãs. In: ALMEIDA, Júlia Lopes de; VALDATI, Nilcéia; BITTENCOURT, Rita Lenira de Freitas (org.). Ânsia eterna. Chapecó: Editora UFFS, [2023]. p. 158-163. (Coleção Literatura Brasileira: identidades em movimento, p. 161-162).
1. A s irmãs parecem viver um momento delicado.
a) Copie, no caderno, um período desse trecho que comprove essa ideia.
“As três irmãs olharam-se com tristeza; mas o que pensaram não o disseram.”
b) Considere a fala de Lucinda. Que retrato as falas de Lucinda compõem dela mesma?
A de uma mulher arrogante, pouco sensível às dificuldades da irmã.
c) A frase de Teresa fica suspensa. Considerando o que se pode depreender do diálogo com a irmã e o momento que vivem, como sua fala poderia ser concluída?
Resposta pessoal. Sugestão de resposta: “[…] melhores do que as minhas?!”.
2. O trecho é composto por diferentes tipos de frases, orações e períodos. Copie o organizador no caderno e o preencha com as informações pedidas.
Frase nominal no primeiro parágrafo
Período simples no primeiro parágrafo
Período composto do último parágrafo
3. Considere os trechos a seguir.
a) Er a conhecida e invejada na cidade toda!
b) Teresa!
I. A que sujeito se refere o predicado do período a?
II. Como é possível identificar esse sujeito?
“O seu palacete!”
“Teresa! você não imagina: isto é horrível!”
“D. Lucinda rompeu o silêncio.” / “Vinha por pouco tempo…”
A D. Lucinda.
É possível identificar pelo contexto, pelo parágrafo anterior, pela conjugação verbal.
III. Na frase b, Lucinda chama o nome da irmã, mas esse apelo pode ter diversos sentidos. No caderno, escreva um período coerente com contexto desse trecho que explicite o que Lucinda quis dizer.
Perceba a bobagem que você está falando!
4. L eia a seguir uma tirinha da cartunista Laerte (1951-).
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
LAERTE. [Chega de carros]. Cantinho Literário SOS Rios do Brasil. [S. l.], 26 jun. 2013. Disponível em: https://cantinholiterariososriosdobrasil.wordpress.com/2013/06/26/ mobilidade-urbana-tirinha-de-laerte-coutinho/. Acesso em: 24 set. 2024.
LAERTE
A tirinha faz referência a um problema que pode ser associado a um desafio urbano mencionado nesta unidade: a mobilidade urbana.
4. a) O excesso de veículos pode impactar a mobilidade urbana.
a) Que relação é possível fazer entre a tirinha e esse desafio urbano?
b) A t irinha tem uma posição crítica em relação a esse problema: há carros demais. Que solução está implícita nessa crítica?
É preciso diminuir a quantidade de veículos em circulação nas cidades.
c) De acordo com a tirinha, o que faltava para o problema ultrapassar seu limite máximo?
Faltava apenas a chegada de mais um carro.
5. No primeiro quadrinho, a fala já indica as consequências do problema.
a) Qual o predicado dessa oração?
b) Qual o sujeito da oração?
O predicado é “não cabe nessa cidade”.
O sujeito é “Mais nem um carro”.
c) A f ala do primeiro quadrinho está na ordem indireta. Copie, no caderno, a alternativa que melhor explica o efeito de sentido que a ordem indireta produz nesse caso.
Resposta: alternativa II.
8. a) Seria uma educação que prioriza a coletividade, em que os filhos são criados para colaborar com os outros. “Portanto, as sociedades indígenas são a sociedade do coletivo, são sociedades da abundância, são sociedades da igualdade, porque não se cria, não se educa os filhos para disputar uns contra os outros.”
I. A ordem indireta coloca o sujeito antes do verbo para dar ênfase à cidade.
II. A ordem indireta dá destaque à ação de não caber, que se mostra efetiva com o último quadro.
III. A ordem indireta dá destaque à ação de caber, já que deixa evidente que ainda seria possível a entrada de mais um carro, como se vê no segundo quadro.
6. Observe a fala do último quadro.
a) Identifique o sujeito e o predicado da oração.
Eu (sujeito), falei (predicado).
b) Como essa fala poderia ser completada? Escreva, no caderno, uma continuação para o predicado mantendo a coerência da tirinha.
Sugestão de resposta: [Eu falei] que não cabia mais nenhum carro nessa cidade.
7. O t recho a seguir pertence a um artigo que discute o papel das relações entre sujeitos nas cidades.
7. a) Espera-se que os estudantes destaquem a ausência de políticas culturais e de espaços de convivência e lazer que propiciariam o encontro com o outro que é diferente. Podem ainda citar hábitos contemporâneos como o uso constante das redes sociais, que com frequência reúnem apenas os iguais.
Urbanistas, cientistas sociais, geógrafos, artistas, vários de nós vêm tentando traduzir, de diversas formas, o que é viver na cidade contemporânea. […] O olhar atento às produções que nascem destes esforços de compreensão sobre o tecido e o tecer urbanos dizem muito, não apenas do que é a cidade, como também de quem somos nós, dos modos de subjetivação que aí se formam e, neste processo, marcam essa cidade. […]
7. b) Sujeito: “Urbanistas, cientistas sociais, geógrafos, artistas, vários de nós”; predicado: “vêm tentando traduzir, de diversas formas, o que é viver na cidade contemporânea”.
A cidade é a esfera preferencial e inelutável do exercício político, fundamental a nossa existência. É o espaço privilegiado do encontro com essa diferença, ainda que, sintomaticamente, vimos reconhecendo, em sua trama, inúmeros movimentos de recusa ao encontro com a diferença.
NOGUEIRA, Maria Luísa Magalhães; SILVA, Jardel Sander da. A cidade: o jogo da alteridade. [Salvador]: Corpocidade: UFBA, [200-]. p. 2-4. Disponível em: http://corpocidade.dan.ufba.br/arquivos/resultado/ST4/ MariaNogueira.pdf. Acesso em: 21 ago. 2024.
a) D e acordo com o trecho, as cidades são múltiplas e diversas, mas existem movimentos que recusam essa diversidade. Discuta com os colegas: que aspectos da cidade atuam de forma a coibir as diferenças e a diversidade?
7. c) Sugere a importância das explicações e discussões sobre a convivência nas cidades contemporâneas.
b) Considere o trecho em destaque. Identifique o sujeito e o predicado que o compõe.
c) O que esse sujeito plural sugere ao leitor quanto aos estudos a que se dedica?
d) Na frase que abre o trecho, o sujeito pratica ou recebe a ação do verbo?
Nessa frase, o sujeito pratica a ação do verbo.
e) No caderno, reescreva essa frase invertendo a posição do sujeito: se pratica, passa a receber a ação; se recebe, passa a praticá-la.
Resposta possível: Nós somos habitados pela cidade.
8. O t recho a seguir foi retirado de uma entrevista do autor indígena Daniel Munduruku (1964-). É isso que nós chamamos de pedagogia, a pedagogia do Bem Viver. Ou seja, é o caminho que a gente traça para a gente viver bem esse mundo. Portanto, as sociedades indígenas são a sociedade do coletivo, são sociedades da abundância, são sociedades da igualdade, porque não se cria, não se educa os filhos para disputar uns contra os outros. Mas educa os filhos para que eles colaborem uns com os outros e todo mundo tenha o suficiente pra viver e viver bem.
STROPASOLAS, Pedro. Daniel Munduruku: “Os povos indígenas são a última reserva moral dentro desse sistema”. Brasil de Fato, São Paulo, 17 out. 2021. Disponível em: www.brasildefato.com.br/2021/10/17/daniel-munduruku-os-povosindigenas-sao-a-ultima-reserva-moral-dentro-desse-sistema. Acesso em: 21 ago. 2024.
a) De acordo com Munduruku, como seria uma educação para se viver bem na cidade? Copie um período do texto que comprove sua resposta.
b) Que tipo de práticas são possíveis de serem incentivadas nas cidades para que exista esse bem viver referenciado por Munduruku?
8. b) Resposta pessoal.
Professor, espera-se que os estudantes destaquem a necessidade de empatia, de senso de coletividade, de respeito ao direito dos outros e de defesa dos direitos de todos.
1. b) Por meio da descrição muito minuciosa dos problemas enfrentados por parte das pessoas que dependem de transporte urbano público e outras adversidades. A criação de uma associação reforça o grau dessas dificuldades.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Vanessa Bárbara (1982-).
1. a) O problema urbano são os problemas de mobilidade urbana.
1 O trecho da crônica discute um problema recorrente em grandes centros urbanos.
a) Qual é ele?
b) Como esse problema social fica evidente no trecho?
2. a) Ao sujeito “A chegada dos associados e o estabelecimento de quórum”.
2 C onsidere o verbo em destaque.
a) A que sujeito esse verbo se refere?
b) Por que esse verbo está conjugado no plural?
O verbo está conjugado no plural porque o sujeito tem dois termos: chegada dos associados e estabelecimento de quórum.
Não escreva no livro.
3. b) Por meio da conjugação do verbo (terceira pessoa do plural) e da relação que estabelece com o parágrafo anterior.
Leia a seguir um trecho da crônica “O sem-carro”, da jornalista e escritora paulistana
3. a) Refere-se ao sujeito associados [do SOPASECA].
Apesar da tolerância padrão de duas horas, as reuniões da Sociedade Paulistana dos Sem-Carro (SOPASECA) sempre começam atrasadas. A chegada dos associados e o estabelecimento de quórum dependem de fatores meteorológicos, geográficos, sísmicos, sindicais (greve dos metroviários, operação tartaruga da Viação Sambaíba) e subjetivos. […] […]
De índole liberal, não se deixam abalar pelo contato físico com os demais passageiros e não se envergonham de cair no colo de desconhecidos nas curvas mais fechadas. Nem fazem caso de, por conta de uma freada brusca, quicar vigorosamente pelos balaústres, bater a barriga na catraca ou colidir com o passageiro à frente […]. […] Eles odeiam os motorizados. […] Da estação Brigadeiro até a avenida Angélica, na hora do lufa-lufa um peregrino a pé, com seu cajado, vence o percurso na mesma velocidade do ônibus, e ainda toma um café, troca ideias com um Hare Krishna e fortalece a panturrilha.
3. c) A identificação do sujeito permite garantir a coerência do texto, bem como saber quem pratica as ações indicadas. Refere-se aos associados [do SOPASECA].
BARBARA, Vanessa. O sem-carro: sinistro foi o dia em que Diesel concebeu o seu funesto engenho. Piauí, São Paulo, ed. 58, jul. 2011. Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/ materia/o-sem-carro/. Acesso em: 21 ago. 2024.
3 Considere os verbos em destaque.
a) Qual é o sujeito ao qual esses verbos se referem?
b) Como é possível identificar esse sujeito?
c) Qual é a importância de identificar o sujeito desses verbos?
4 A que sujeito se refere o pronome em destaque?
5 Observe os verbos destacados no último parágrafo. Por que estão no singular?
Porque se referem a peregrino, sujeito de todo o período final do trecho.
Todo texto conta com mecanismos que garantem ao leitor a possibilidade de estabelecer relações de sentido, situando-o em relação ao que o texto enuncia. Garantir essas relações é confirmar o sentido do texto como um todo. Ao garantir tais relações, pode-se dizer que esses mecanismos garantem a coesão textual.
A concordância é um desses mecanismos. Ela atua como um recurso sintático que relaciona palavras, frases e parágrafos, garantindo ao leitor situar-se na relação sujeito-predicado – o que significa também se situar em relação ao sentido da frase. O mesmo acontece com outras classes de palavras: ao assegurar que adjetivos, artigos, numerais, pronomes concordem em número, gênero e pessoa com o termo a que se referem, a concordância não apenas evita ambiguidades, mas também confere fluidez à leitura.
Releia o período a seguir.
A coesão textual é fundamental para a construção de sentido em um texto. É construída por meio de mecanismos linguísticos que garantem relações internas entre os termos que o compõem. #PARAlEMBRAR
A chegada dos associados e o estabelecimento de quórum dependem de fatores meteorológicos, geográficos, sísmicos, sindicais (greve dos metroviários, operação tartaruga da Viação Sambaíba) e subjetivos.
No trecho, a lista de adjetivos do período ( meteorológicos , geográficos , sísmicos , sindicais e subjetivos ) faz referência ao termo fatores e concorda com ele em gênero e número (masculino plural). É essa concordância que permite ao leitor relacionar todos os adjetivos a um mesmo substantivo, no caso, fatores, garantindo a coesão do texto.
Adjetivo é a palavra que qualifica o nome, seja descrevendo-o (carros amarelos , por exemplo), seja qualificando-os (carro confortável , por exemplo).
Já a forma verbal dependem está conjugada na terceira pessoa do plural porque se refere a um sujeito composto por dois elementos – “A chegada dos associados e o estabelecimento de quórum” – e, por isso, está no plural.
A concordância entre nomes ou verbos com outros termos garante ao leitor relacionar as partes do texto entre si, procurando referentes e garantindo a compreensão do sentido.
A concordância é essencial para a coesão textual porque garante que as partes do texto estejam alinhadas, promovendo a clareza, a precisão e a harmonia no encadeamento das ideias.
Leia o trecho do artigo a seguir para responder às questões.
Cientistas que medem 5 centímetros?
PUBLICAMOS, AQUI NO O POVO, na sexta, 1o de março, uma matéria com o seguinte título: ‘Medindo apenas 5 centímetros, cientistas brasileiros descobrem nova espécie de morcego’. Nas redes sociais, choveram comentários.
Alguns deles: ‘Tão pequenos e já cientistas?’, ‘Como pode cientistas tão baixinhos fazerem essa descoberta?’, ‘Cientistas de 5cm, que pequenininhos’. Leitores brincaram com o texto, porque perceberam o equívoco. Afinal, não dá para imaginar cientistas que medem apenas 5 centímetros.
Do jeito que está, dissemos isto: ‘Cientistas brasileiros, medindo apenas 5 centímetros, descobrem nova espécie de morcego’. A relação imediata que se faz é entre ‘medindo apenas 5 centímetros’ e ‘cientistas brasileiros’. Mas a ideia não é essa.
A intenção é dizer que ‘medindo apenas 5 centímetros’ está relacionado com ‘nova espécie de morcego’. Porque estão muito afastados no período, houve a ambiguidade e, consequentemente, o leitor foi induzido a outra interpretação.
NOGUEIRA, Daniela. O acidente é fatal. A vítima, não. O povo, Fortaleza, 4 mar. 2024. Disponível em: https://mais.opovo.com.br/ colunistas/daniela-nogueira/2024/03/04/o-acidente-e-fatal-a-vitima-nao.html. Acesso em: 21 ago. 2024.
1. O artigo aqui reproduzido foi escrito pela ombudsman do jornal O povo. O ombudsman é um jornalista contratado pelo veículo de comunicação para fazer uma leitura crítica dos textos nele publicados, das posturas adotadas e dos equívocos cometidos.
a) Que crítica o artigo faz ao próprio jornal?
O artigo critica a ambiguidade que o jornal produziu com a manchete “Cientistas brasileiros, medindo apenas 5 centímetros, descobrem nova espécie de morcego”.
b) E xplique as duas interpretações possíveis da manchete a que o texto se refere.
É possível interpretar que os cientistas tinham 5 centímetros ou que o morcego mede 5 centímetros.
2. Considere o período a seguir, origem da polêmica do texto: “Medindo apenas 5 centímetros, cientistas brasileiros descobrem nova espécie de morcego”.
a) Quais podem ser os sujeitos da oração “medindo apenas 5 centímetros”?
Podem ser cientistas brasileiros ou nova espécie de morcego
b) Reescreva o período de tal maneira que a ambiguidade seja evitada.
c) Por que, nesse caso, a concordância não evitou a ambiguidade?
3. L eia a charge a seguir.
As duas possibilidades de sujeito estão na terceira pessoa do singular. Como o verbo está conjugado na terceira do singular, a concordância pode gerar a ambiguidade.
Sugestão de resposta: Cientistas brasileiros descobrem nova espécie de morcego medindo apenas 5 centímetros.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
DUKE. [Assume a direção]. O Tempo, Contagem, 17 out. 2019. Disponível em: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=2641489625933567. Acesso em: 21 ago. 2024.
• A charge faz referência a um problema social vivido em muitas cidades brasileiras. A que problema se refere a charge?
A charge se refere à desigualdade social, que às vezes é tão grande que parece colocar os moradores da mesma cidade em planetas diferentes.
4. Observe os períodos contidos nos balões da charge .
a) Identifique os verbos do período do primeiro balão. Qual é o sujeito de cada verbo?
Você (assume); eu (vou descansar).
b) No segundo quadro da charge há dois balões, mas o leitor não vê o desenho das personagens. No caderno, copie o período dito pela mesma personagem que fala no primeiro balão.
“Poxa, cochilei só 5 minutos e já estamos em outro planeta?”
c) O que permite atribuir essa fala ao falante do primeiro quadro?
d) A forma verbal estamos está na primeira pessoa do plural. Por quê?
Porque se refere tanto àquele que fala como ao que dirige o disco voador.
4. c) Além da confirmação de que ele descansou tendo dormido apenas 5 minutos, o verbo conjugado na primeira pessoa do singular em “[…] cochilei só 5 minutos […]”.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Nesta unidade, você refletiu sobre alguns temas que se referem ao ambiente urbano. Agora, você e os colegas vão escrever uma notícia que dê continuidade à cobertura que um jornal fez acerca da inauguração de uma linha de trem.
O que você irá produzir
Considere que você e um colega tenham ficado responsáveis por acompanhar a inauguração de uma linha de trem. Leia a seguir dois lides sobre o assunto do jornal Tribuna do Norte.
A estação de trem de Nísia Floresta entrou em operação experimental. Segundo a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), a operação foi iniciada nesta segunda-feira (24). No último dia 16, a TRIBUNA DO NORTE mostrou como a estação de trem ainda não havia começado a funcionar, mesmo que as obras tivessem sido finalizadas desde a primeira semana de junho. […]
ESTAÇÃO de trem de Nísia Floresta começa a operar. Tribuna do Norte, Natal, 25 jul. 2023. Disponível em: https://tribunadonorte.com.br/natal/estacao-de-trem-de-nisia-floresta-comeca-a-operar/. Acesso em: 21 ago. 2024.
Prevista inicialmente para ser concluída em fevereiro de 2022, a Linha Roxa, que conta com três estações de trem que vão contemplar moradores de Extremoz e São Gonçalo do Amarante, na Grande Natal, ainda não tem data para entrar em operação. Em julho do ano passado, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) informou que analisava se todos os pontos do contrato haviam sido cumpridos após a empresa responsável ter feito a entrega provisória da obra. Desta vez, a CBTU afirmou que as fortes chuvas que atingiram a Grande Natal em 2023 provocaram “incidentes” e que ‘não há prazo para a inauguração’ do ramal.
APÓS novo atraso, Linha Roxa ainda não tem data para operar. Tribuna do Norte, Natal, 5 jan. 2024. Disponível em: https://tribunadonorte. com.br/natal/apos-novo-atraso-linha-roxa-ainda-nao-tem-data-para-operar/. Acesso em: 21 ago. 2024.
Em dupla, vocês vão se imaginar como repórteres da Tribuna do Norte responsáveis por acompanhar o andamento dessa obra e vão produzir uma notícia indicando se a Linha Roxa foi finalmente inaugurada ou não.
Depois de decidir com o colega qual seria o evento a ser noticiado (inauguração ou atraso da Linha Roxa), identifique as informações básicas para compor o lide, ou seja, as informações que devem responder às questões do quadro a seguir.
O quê?
Quem? Quando?
Onde?
Como?
Por quê?
Depois de preenchido o quadro, pensem nos aspectos que querem destacar.
• O que vão escrever primeiro? Qual dessas informações é mais importante? Em seguida, planejem os detalhes da notícia.
• O que será aprofundado? O que deve ser enfatizado? Considerem os aspectos a seguir.
• Há alguma causa que levou ao evento informado na notícia? Há alguma consequência importante relacionada a esse evento? Há algum outro fato importante relacionado com as pessoas envolvidas na notícia que deva ser mencionado? Há algum dado relevante que mereça destaque, como dados estatísticos, resultados de pesquisa etc.? Há alguma fala de autoridade que possa ser utilizada na notícia para conferir ao texto maior relevância? A notícia será acompanhada de fotografias ou outro recurso não verbal? O que vocês gostariam de reforçar com esse recurso? Lembrem-se de colocar legendas que esclareçam o que será reproduzido na imagem.
Você leu, na Unidade 2, a transcrição da palestra de Ailton Krenak, em que ele emite sua opinião sobre a relação entre o ser humano e a natureza, a vida. Por exemplo: “Nosso tempo é especialista em criar ausências: do sentido de viver em sociedade, do próprio sentido da experiência da vida.”
Nesse caso, a opinião está enunciada de modo direto. Mas essa opinião pode ser percebida de outros modos, por meio das escolhas semânticas. Observe as manchetes a seguir.
Obras contra enchente se arrastam até 15 anos em ao menos seis estados […]
O Globo, 13 maio 2024.
O advérbio apenas expressa uma crítica à inação dos estados, comprovada com o restante do texto. Na linha fina que complementa a manchete, o verbo arrastar também dá ênfase à crítica destacando a falta de agilidade de alguns governos estaduais em agir preventivamente contra eventuais desastres climáticos.
Em busca de Jogos Olímpicos limpos, Paris-2024 ‘esquece’ seus trabalhadores
O Globo, 13 maio 2024.
As aspas na palavra esquece indicam para o leitor que se trata de um sentido irônico: não se trata de esquecer, mas de esconder. Esse sentido sugerido pelas aspas contrasta com o adjetivo limpo. Em sua composição, a manchete critica a organização dos jogos por não tratar devidamente os que trabalham na preparação das Olimpíadas. Agora é sua vez!
1. Escreva um parágrafo sobre o assunto da notícia que irá produzir formulando um enunciado no qual a escolha semântica sugira uma opinião.
Produzir
1. Resposta pessoal. Oriente os estudantes não apenas em relação à escolha semântica, mas também em relação a elementos da construção do texto, tais como a intencionalidade, a estrutura, a organização, o tema etc.
Depois de tudo decidido, é hora de escrever a notícia com sua dupla. Lembre-se de que a linguagem da notícia precisa ser objetiva, impessoal. É aconselhável utilizar um aplicativo de edição de textos que permita colaboração. Há editores virtuais de texto que permitem que Professor, algumas opções são Google Docs, Zoho Writer e Word Online. Suas interfaces são bem intuitivas e permitem verificar quem editou e quando o fez.
Professor, caso a opção seja a de publicar a notícia em um blogue, comente com os alunos que existem vários aplicativos gratuitos que podem facilmente ser acessados e baixados, os quais contam com tutoriais que trazem orientações simples de como usar os recursos disponíveis. Também é importante orientar os estudantes a esclarecer aos leitores de seus textos que as notícias que serão publicadas fazem parte de um exercício de produção escrita, ou seja, não são notícias reais. É uma boa oportunidade de trazer para a discussão um tema muito recorrente entre os jovens, as fake news, e a responsabilidade que se deve ter ao veicular notícias.
várias pessoas editem o mesmo documento ao mesmo tempo e registrem todas as etapas de edição: quem fez o quê e quando.
Você e os colegas poderão publicar a notícia virtual no site da escola, se houver, ou em um blogue criado pela turma. Depois, basta compartilhar o link com os demais estudantes. É interessante que seja anexado o link para as demais notícias, sem deixar de acrescentar um aviso de que sua notícia é apenas um exercício de produção escrita e não condiz com a realidade.
O QUE é periferia. [S. l. : s. n.], 2015. 1 vídeo (6 min). Publicado pelo canal Agência Mural de Jornalismo das Periferias. Disponível em: https://youtu.be/XCf6qguz30w. Acesso em: 21 ago. 2024.
O vídeo reúne vários depoimentos de moradores de bairros da periferia de São Paulo em que relatam suas realidades urbanas e seus lugares de vivência. Trata-se de uma reflexão necessária sobre ocupação do solo urbano e políticas sociais.
do vídeo “O que é periferia”.
BIKES vs carros. Direção: Fredrik Gertten. Suécia: WG Film, 2015. Streaming (88 min).
O documentário coloca em discussão a mobilidade urbana ao propor uma reflexão sobre o uso de bicicletas nas cidades. Comparando São Paulo e Copenhague, na Dinamarca, o diretor também propõe que se reflita sobre a relação entre veículos, clima e recursos naturais.
NÃO por acaso. Direção: Philippe Barcinski. Brasil: Globo Filmes: O2 Filmes, 2007. 1 DVD (90 min).
Um engenheiro de trânsito e um jogador de sinuca perdem suas mulheres em um acidente de trânsito imprevisível. Em uma trama em que muitos destinos se cruzam, esses homens terão de lidar com a falta de regras da vida e viverão conflitos existenciais típicos das urbes contemporâneas. Além disso, a narrativa tem como cenário e personagem a cidade de São Paulo, o que faz refletir sobre a convivência conflituosa em relação à mobilidade urbana.
1. b) Espera-se que os estudantes apontem que o elemento incomum é a máquina fotográfica. Professor, converse com os estudantes sobre a possibilidade de a obra tratar do contraponto a qualquer estereótipo social com relação a indígenas; comente que, ao contrário, ela mostra a participação de culturas que se transformam e, assim, transformam a todos também.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A pintura a seguir, intitulada Indígenas em foco, foi produzida pela artista pataxó Arissana Pataxó (1983-), nascida em Porto Seguro, no estado da Bahia.
1. É possível identificar, na pintura, elementos que fazem referência às culturas indígenas.
a) Que elementos são esses?
Espera-se que os estudantes indiquem o cocar e o colar de miçangas.
PATAXÓ, Arissana. Indígenas em foco. 2016. Acrílica sobre tela, 60 cm x 80 cm. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.
b) Também há, na pintura, um elemento que não é imediatamente associado às culturas indígenas. Qual?
c) Discuta com os colegas: é possível considerar que hoje, no século XXI, esse elemento que você identificou na atividade 1, item b, não esteja, de fato, relacionado às culturas indígenas? Por quê?
2. Observe a fotografia ao lado direito, em que é possível observar o cineasta Morzaniel łramari durante as filmagens do documentário Mãri hi – a árvore do sonho, e leia o boxe Saiba mais.
Morzaniel łramari no set de filmagem. Fotografia de 2022.
Não escreva no livro.
1. c) Espera-se que os estudantes reflitam sobre o fato de que, hoje, as câmeras fotográficas e outros equipamentos eletrônicos fazem parte das culturas indígenas e são por eles amplamente utilizados. Professor, comente com os alunos a respeito da importância de não considerar que as culturas indígenas são formadas apenas por elementos que se relacionam a uma ideia caricata de indígena, porque isso se aproxima do preconceito.
3. a) Espera-se que os estudantes identifiquem o olhar do viajante alemão que procurou registrar o cotidiano dos puri e o olhar contemporâneo, provavelmente de observadores da obra de Wied-Neuwied, que fotografam a cena do desenho original com dispositivos eletrônicos móveis, sem necessariamente vivenciar a cena. A obra de Denilson, assim, abre-se a três camadas de observadores: a do viajante, a dos olhares que fotografam a cena e a de quem vê essa sobreposição na obra de Denilson.
Mãri hi – a árvore do sonho
2. b) Espera-se que os estudantes reflitam sobre o fato de que colocar indígenas em situações não caricatas e divulgá-las, produzindo representatividade, atua de forma a desvincular os povos originários de uma ideia equivocada de atraso e estagnação.
O curta-metragem Mãri hi – a árvore do sonho registra os ensinamentos do xamã yanomami Davi Kopenawa, retratando o modo de pensar dos povos da floresta. Esse documentário foi selecionado para a pré-lista do IDA Documentary Awards, premiação que é tida como um “termômetro” dos pré-selecionados para o Oscar. Seu diretor, o cineasta roraimense Morzaniel łramari (1980-), é considerado o primeiro cineasta yanomami.
As duas imagens colocam o indígena atuando como usuário e consumidor de tecnologia para a produção artística.
a) De que maneira essa fotografia dialoga com a pintura de Arissana Pataxó?
b) De que maneira a seleção do documentário de Morzaniel ł ramari para premiações e a exibição de pinturas em exposições como a de Arissana Pataxó podem atuar para minimizar o preconceito com relação aos povos originários do Brasil?
3. Observe as duas obras de arte a seguir. A primeira, do artista amazonense Denilson Baniwa (1984-), faz referência aos puri e a segunda, de Duhigó Tukano (1957-) faz referência aos tukano.
BANIWA, Denilson. Voyeurs. 2019. Nanquim e recortes colados sobre impressão digital sobre papel, 40 cm x 51,8 cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo.
TUKANO, Duhigó. Nepü Arquepü [Rede macaco]. 2019. Acrílica sobre madeira, 185,5 cm x 275,5 cm. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.
a) A obra Voyeurs , de Denilson Baniwa, é uma colagem sobre ilustração intitulada Os puri na sua cabana , produzida por um viajante alemão, Maximilian von Wied-Neuwied (1782-1867), em 1817. Essa obra apresenta dois diferentes olhares sobre o povo puri. Quais são eles?
b) A obra Voyeurs critica o modo como os indígenas são muitas vezes representados. Qual é a crítica?
c) A obra de Duhigó mostra a cerimônia do nascimento de um bebê, acolhido pela mãe e pela comunidade tukano: uma das cuidadoras oferta uma bebida sagrada à base de mandioca, preparada pela autoridade religiosa responsável pelo ritual, também presente na cena. Essa obra traz uma cena cotidiana como a de Denilson Baniwa, mas elas estão caracterizadas por pontos de vista diferentes. De qual ponto de vista foi criada a obra de Duhigó? Explique.
3. b) A crítica diz respeito ao modo como os indígenas são caracterizados, marcado pelo exotismo, pela idealização, pela visão de quem desconhece as culturas indígenas e as enxerga apenas de maneira caricata.
Os indígenas brasileiros se distribuem em 266 etnias diferentes, de acordo com o Censo Demográfico de 2022. No censo anterior, de 2010, esse número era de 305 etnias. Calcula-se que, no período pré-cabralino, esse número poderia chegar a mais de mil. O Censo Demográfico de 2022 registra uma população indígena do Brasil de 1 693 535 habitantes, o que representa 0,83% do total de brasileiros.
Carregando saberes ancestrais, que cada vez mais são reconhecidos como fundamentais para a preservação ambiental e a recuperação da sustentabilidade do planeta, os indígenas têm encontrado espaços para afirmar suas vozes, sua história, suas crenças e seu modo de ver o mundo.
3. c) Espera-se que os estudantes reconheçam que a pintura de Duhigó foi criada do ponto de vista do indígena, com referenciais estéticos indígenas, enquanto a de Denilson parte de uma perspectiva estrangeira para o registro do indígena ou para o filtro de um aplicativo de celular.
lER O MUNDO Não escreva no livro.
Da chegada do navegador português Pedro Álvares Cabral (c. 1467-c. 1520) ao continente americano até a contemporaneidade, os povos originários do Brasil vivenciaram uma história de lutas e resistência. Foram vistos de muitas maneiras, sob perspectivas que divergiam de suas culturas. Em diferentes momentos, imagens e vozes foram atribuídas a esses povos, tornando-se hegemônicas. Nesta unidade, você vai conhecer mais sobre os povos originários do Brasil por meio de vozes que se complementam, polemizam e idealizam a figura do indígena.
Para discutir
Os povos originários do Brasil vivem em todo o território nacional, em meio à natureza, em meio a cidades; isolados ou inseridos na rotina urbana. Discuta com os colegas as questões a seguir.
1 Quais seriam os critérios para caracterizar alguém como indígena?
2 Os critérios escolhidos seriam baseados em quais referências?
3 De que forma discursos carregados de preconceito podem interferir na visão sobre os povos originários do Brasil?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A seguir, você vai ler um trecho do romance O som do rugido da onça, da autora Micheliny Verunschk, escrito em 2021. Nesse romance embebido de lirismo, a escritora joga luz sobre a história de duas crianças indígenas raptadas no Brasil do século XIX. Ela conta que, em 1817, Johann Baptist Spix (1781-1826) e Carl Friedrich Philipp Martius (1794-1868) desembarcaram no Brasil com a missão de registrar suas impressões sobre o país. Três anos e 10 mil quilômetros depois, os exploradores voltaram a Munique, na Alemanha, levando consigo não apenas um extenso relato da viagem mas também um menino e uma menina indígenas, que morreriam pouco tempo depois de chegar ao solo europeu.
Em seguida, você lerá outro trecho, desta vez de A queda do céu: palavras de um xamã yanomami, um livro de não ficção que apresenta o relato de Davi Kopenawa, um xamã yanomami, gravado e transcrito pelo etnólogo Bruce Albert (1952-). Publicada originalmente em francês em 2010, na coleção Terre Humaine, traduzida e lançada no Brasil em 2015, a obra apresenta importantes reflexões sobre a constante ameaça de extinção enfrentada pelo povo yanomami desde os anos 1960.
Texto 1
Uma pessoa sabe que está morta quando não consegue mais escutar a voz dos animais, dos espíritos, das árvores, dos rios. Cada ente tem sua palavra, sua entonação própria e vocabulário. A paca fala de uma maneira, o tabaco fala de outra. A anta tem um acento, o jacaretinga tem outro. Tem palavras que só as onças usam e que não é dado a nenhum outro animal dizê-las. Do mesmo modo toda a diversidade de reinos dos bichos e das plantas.
jacaretinga: espécie de jacaré.
Tururu etê turuliu caa nañaña u cê sapi, gritam os macacos quando entram em guerra.
A voz do peixe, em geral, é em torvelinho; mas a fala da inaai é tal qual a fala de gente, mas com um acento muito mais estrídulo. A voz da árvore tem semelhança com a voz da nuvem, e a voz da pedra é em igual tom ao da voz dos espíritos, uma fala muito clara e cortante. Só quem está vivo consegue escutar a voz do mundo, entender sua linguagem, seu rumor, os ermos e luminescências de suas palavras, e por estar vivo é que consegue responder.
Antes de ser vendida e levada embora, Iñe-e deslizava pelas águas dos rios como quem vive. Não pensamos na respiração quando estamos vivos, não nos ocupamos em entender os movimentos de encher os pulmões de ar ou de esvaziá-los; não lembramos de sentir o calor do sopro passando pelas narinas, mornamente, nem de sentir seu torpor quando está frio, muito frio. Mas Iñe-e descia aquelas águas em uma igara, que escorregava como a palma de uma mão deflui sobre o verde de uma folha muito lisa, e ela não se dava conta, porque era o seu natural, mas aquilo era a beleza de estar viva. E Iñe-e escutava. No dia em que Iñe-e deixou a vida que conhecia para trás, ela ouviu a voz do rio, contínua e tornada escura pela fricção com as pedras, com as raízes e com a pele corrediça dos peixes. Pôde sentir sua teimosia e agastamento, e perceber as tentativas de impedir a sua partida. Assim, o rio jogou barrancos de areia no caminho, enviou troncos para atingir as canoas, assoprou nuvens de insetos. E esbravejava […]
Mas de nada adiantou a arenga das corredeiras. Os homens são tenazes em suas pilhagens e, assim sendo, nada é realmente eficaz em impedi-los. Desse modo, a menina foi levada para a cidade dos brancos, onde ficou por tantos meses que chegou a pensar que ali seria o seu destino final. […]
VERUNSCHK, Micheliny. O som do rugido da onça São Paulo: Companhia das Letras, 2021. p. 38-39.
#SOBRE
Fotografia da autora em 2024
Micheliny Verunschk (1972-) é uma escritora, poeta, contista e crítica literária brasileira, além de mestra em Literatura e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Sua obra literária é reconhecida pela inovação estilística. Micheliny iniciou sua trajetória literária no início dos anos 2000. Além de O som do rugido da onça, vencedor do Prêmio Jabuti de 2022, outros livros de sua autoria, como Geografia íntima do deserto: e outras paisagens reunidas (2003), também foram premiados. Sua contribuição à literatura brasileira contemporânea a coloca como uma das vozes mais originais de sua geração, com um trabalho que desafia as fronteiras entre os gêneros literários.
torvelinho: movimento em espiral.
estrídulo: som muito agudo.
ermo: lugares vazios, desertos, pouco habitados.
torpor: falta de reação; entorpecimento, prostração.
defluir: correr, fluir.
tenaz: resistente.
pilhagem: furto, roubo indiscriminado.
Todos os cantos dos espíritos provêm dessas árvores muito antigas. Desde o primeiro tempo, é delas que obtêm suas palavras. Seus pais, os xamãs, não fazem senão imitá-los para permitir que sua beleza seja ouvida pela gente comum. Não se deve pensar que os xamãs cantam por conta própria, à toa. Eles reproduzem os cantos dos xapiri, que penetram um depois do outro em suas orelhas, como em microfones. […] […] É por isso que os xamãs visitantes de casas distantes podem nos dar a ouvir cantos desconhecidos. Há muitas dessas árvores amoa hi também nos confins da terra dos brancos, para além da foz dos rios. Sem elas, as melodias de seus músicos seriam fracas e feias. Os espíritos sabiá levam a eles folhas
xamã: espécie de sacerdote escolhido pela comunidade, a quem se atribuem poderes místicos.
xapiri: guardiões invisíveis da floresta para os yanomami.
amoa hi: uma árvore da vida.
cheias de desenhos que caíram dessas árvores de canto. É isso que introduz belas palavras na memória de sua língua, como ocorre conosco. As máquinas dos brancos fazem delas peles de imagens que os seus cantores olham, sem saber que nisso imitam coisas vindas dos xapiri. Por isso os brancos escutam tanto rádios e gravadores! Mas nós, xamãs, não precisamos desses papéis de cantos. Preferimos guardar a voz dos espíritos no pensamento. Assim é. Transmito estas palavras pois eu mesmo vi, após nossos maiores, os inumeráveis lábios moventes das árvores de cantos e a multidão dos xapiri se aproximando delas. […] Eu ouvi mesmo suas melodias infinitas se entrelaçando sem parar!
KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. Tradução: Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 114-115.
Davi Kopenawa (1956-) é um líder indígena brasileiro, xamã e porta-voz internacional dos yano mami, um dos povos indígenas mais conhecidos da Amazônia.
Fotografia do autor em 2019.
Nascido em Alto Rio Toototobi, no Amazonas, Kopenawa desempenhou um papel crucial na luta pelos direitos e territórios indígenas. Sua liderança foi fundamental na demarcação da Terra Indígena Yanomami em 1992, um território que abrange cerca de 9,6 milhões de hectares, protegendo-o dos invasores e da exploração ilegal. Kopenawa recebeu vários prêmios internacionais por seu ativismo ambiental na defesa dos direitos dos povos indígenas, tornando-se um símbolo global da resistência indígena e da preservação ambiental.
1. Leia, a seguir, o trecho de uma resenha crítica.
Quando Maria Leopoldina, arquiduquesa da Áustria, veio ao Brasil para se casar com dom Pedro 1o, no começo do século 19, vieram com ela dois cientistas alemães, incumbidos pelo reino da Baviera de levar para Munique uma coleção de plantas, animais e minerais.
Mas o botânico Karl Friedrich Philipp von Martius e o biólogo Johann Baptist Ritter von Spix voltaram para casa três anos depois também com duas crianças indígenas. Eram oito delas no início da viagem de retorno, mas seis morreram.
A menina miranha e o menino juri, os sobreviventes que chegaram à Europa, foram mais tarde retratados em gravuras nos relatos de viagem da expedição de Spix e Martius. […]
SPIX, Johann Baptiste von; MARTIUS, Carl Friedrich Philipp von. Miranha e juri. 1823. 2 litografias coloridas à mão. Coleção Brasiliana, Itaú Cultural. PASSOS, Úrsula. Índios levados a zoológico humano na Europa inspiram ‘O som do rugido da onça’. Folha de S.Paulo, São Paulo, 13 abr. 2021. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/04/indios -levados-a-zoologico-humano-na-europa-inspiram-o-som-do-rugido-da-onca.shtml. Acesso em: 6 set. 2024.
1. b) Espera-se que os estudantes percebam que as crianças foram levadas para a Europa como parte da coleção dos dois viajantes europeus, como exemplos de indígenas brasileiros que seriam expostos na Europa.
2. c) O trecho reforça a brutalidade do gesto porque antecipa a morte e o emudecimento da voz das crianças raptadas: sem o contato vivo com o mundo delas, não haveria como ouvir as vozes do mundo e emitir a própria.
a) A personagem do texto 1 é a menina miranha referida da resenha que você leu. Identifique um trecho do texto 1 que traz mais informações sobre a maneira como as crianças indígenas foram para a Europa.
O trecho é “Antes de ser vendida e levada embora”.
b) Considere o trecho da resenha citado na questão e explique qual era o objetivo de levar essas crianças para a Europa.
2. No romance, as crianças indígenas raptadas e levadas para a Europa começam a definhar assim que saem de seu povo, de suas terras e do Brasil, comprovando que, do ponto de vista do romance, os indígenas e a natureza compunham uma unidade.
a) A natureza, no texto 1, não é apenas o cenário da narrativa. Ela atua também como personagem. Que ações a natureza pratica para intervir no destino de Iñe-e?
b) A reação da natureza não reforça a unidade apenas com os miranha e os juri. Que outros elementos sua ação protege?
c) Releia o trecho a seguir.
2. b) Além de agir como uma mãe protetora, provocando acidentes para impedir o rapto das crianças, a ação referida no trecho pode ser entendida como proteção também para toda natureza brasileira.
Só quem está vivo consegue escutar a voz do mundo, entender sua linguagem, seu rumor, os ermos e luminescências de suas palavras, e por estar vivo é que consegue responder.
• E xplique por que esse trecho reforça a brutalidade do gesto dos pesquisadores.
3. Spix e Martius foram viajantes europeus responsáveis por alguns dos principais registros de precisão científica da fauna e flora brasileiras, por isso são considerados precursores desses estudos.
a) C opie, no caderno, um trecho do texto que descreva os europeus que raptavam as crianças indígenas.
2. a) O rio jogou barrancos de areia no caminho, enviou troncos para atingir as canoas, assoprou nuvens de insetos, esbravejou.
b) E xplique por que essa descrição contrasta com a imagem de cientistas que Spix e Martius mantêm nos estudos sobre fauna e flora do Brasil.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
4. No texto 2, Davi Kopenawa narra as interações que os xamãs travam com a natureza e os xapiri
a) Como se dá a interação entre a natureza, os xamãs e os xapiri ?
b) Releia o trecho a seguir:
A interação acontece por meio da música, dos cantos dos xapiri, dos animais e das amoa hi.
Não se deve pensar que os xamãs cantam por conta própria, à toa.
• Copie, no caderno, a alternativa que melhor explica como se dá a transmissão de conhecimento entre natureza, entidades e humanos.
Resposta: alternativa II
I. A t ransmissão do conhecimento se dá por meio do registro dos discursos dos xapiri , que permite aos xamãs reproduzirem o conhecimento para futuras gerações.
II. Os discursos dos xamãs reproduzem os discursos dos xapiris e da natureza que falam através deles para os demais indígenas.
III. A natureza registra, por meio dos signos dos sabiás, as canções que são ecoadas nos cantos dos xapiri e xamãs.
ENTÃO...
Ao longo dos séculos, as vozes e os discursos indígenas foram silenciados. Durante muito tempo, as referências às culturas indígenas e aos próprios indígenas eram feitas por não indígenas, cujos olhares eram muitas vezes carregados de preconceitos, caricaturas, clichês. Os textos que você leu até aqui tentam dar voz a indígenas silenciados. Os textos que você vai ler a seguir mostram como foram construídas as imagens que reproduziram e reforçaram estereótipos sobre os indígenas a partir do século XIX na literatura brasileira.
3. a) “Os homens são tenazes em suas pilhagens e, assim sendo, nada é realmente eficaz em impedi-los.”
3. b) Porque passaram à história como estudiosos respeitados, mas o romance registra atitudes de crueldade e de desrespeito com que e com quem aqui encontravam. Isso não condiz com o que hoje se julga ser um comportamento ético, típico de um estudioso da Antropologia.
O X DA QUESTÃO
1. Os indígenas, os negros (que vieram da África e foram escravizados), os brancos europeus e as misturas entre essas raças.
Não escreva no livro.
Nos anos que seguiram a Independência do Brasil, o trabalho de construção de um país não passava apenas por infraestrutura, economia e acordos políticos: eram necessárias também a construção e a sistematização de uma ideia de nação que passava pela ideia de povo, de natureza e de cultura. Muitas obras artístico-literárias desse momento histórico elegem como tema tanto uma suposta raça brasileira quanto a natureza para construir uma ideia de pátria, ainda que de forma idealizada e distante do real. A seguir, você vai conhecer um pouco dessas obras por meio de autores consagrados do período, que influenciaram de forma determinante o olhar que persiste até hoje sobre a natureza e os indígenas do Brasil.
Para lembrar
A Independência do Brasil foi declarada em 1822 e gerou um longo processo de lutas e guerra.
1 Que povos formavam o Brasil nesse momento histórico?
2 Que consequências essa independência trouxe para a nação?
Para discutir
2. Em tese, o Brasil passou a ser um império com governo próprio, apto a defender os interesses da nação nascente. Além disso, criou-se a necessidade de se buscar uma identidade para a nova nação. A literatura faz parte da construção dessa identidade nacional. Professor, seria interessante promover uma discussão em conjunto com o professor de História a respeito do real sentido dessa independência, uma vez que o imperador brasileiro era filho do rei de Portugal. Seria interessante também debater, ainda com o acompanhamento do professor de História, se em 1889, com a Proclamação da República, o Brasil começava a ver uma classe política local mais voltada à defesa dos interesses da nação.
No Brasil, existem estereótipos sobre os indígenas: são considerados inocentes ou pouco civilizados com base na ideia equivocada de que existem culturas mais complexas e desenvolvidas do que outras. Esses estereótipos são, até hoje, reproduzidos na mídia, em fantasias de carnaval e até mesmo em meios acadêmicos e políticos. Discuta com os colegas as questões a seguir.
1 De onde surgiram esses estereótipos?
2 Por que eles ainda existem, mesmo com tanto conhecimento já produzido sobre os povos indígenas?
3 Que consequências eles trazem para os povos originários do Brasil?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
O romance Iracema, de José de Alencar, publicado pela primeira vez em 1865, narra o amor trágico entre a indígena tabajara Iracema, “a virgem dos lábios de mel”, e o guerreiro português Martim, ambientado na região que viria a ser o Ceará, no século XVI. Esse amor proibido simboliza a fusão idealizada entre as duas culturas, ao mesmo tempo que discute o conflito da protagonista entre manter a lealdade ao seu povo e à sua cultura ou entregar-se ao amor e ao colonizador. Nesse romance, o fruto do amor de Iracema e Martim, seu filho Moacir, estabelece a união amorosa de duas raças que darão origem ao primeiro cearense. O trecho a seguir faz parte do início do romance e apresenta as personagens principais. Depois de ler o trecho, acompanhe as análises e responda às questões propostas.
Texto
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas. Um dia, ao pino do Sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem, os pássaros ameigavam o canto.
Iracema saiu do banho: o aljôfar d’água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do guará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá-da-mata, pousado no galho próximo, o canto agreste.
A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome; outras remexe o uru de palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda, e as tintas de que matiza o algodão.
Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se.
Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo.
Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido.
De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz da espada, mas logo sorriu. O moço guerreiro aprendeu na religião de sua mãe, onde a mulher é símbolo de ternura e amor. Sofreu mais d’alma que da ferida.
O sentimento que ele pôs nos olhos e no rosto, não o sei eu. Porém a virgem lançou de si o arco e a uiraçaba, e correu para o guerreiro, sentida da mágoa que causara.
A mão que rápida ferira, estancou mais rápida e compassiva o sangue que gotejava. Depois Iracema quebrou a flecha homicida: deu a haste ao desconhecido, guardando consigo a ponta farpada.
O guerreiro falou:
— Quebras comigo a flecha da paz?
O indianismo, como movimento artístico, manifestou-se não apenas na literatura, mas também nas artes plásticas, caracterizando o Brasil Imperial.
MEDEIROS, José Maria de. Iracema. 1881. Óleo sobre tela, 168,3 cm x 255 cm. Museu de Belas Artes, Rio de Janeiro (RJ).
jati: abelha silvestre.
grácil: gracioso, delicado.
oiticica: uma árvore nativa do Brasil. esparzir: espalhar.
aljôfar: gota em forma de pérola. rorejar: gotejar, cobrir de gotas.
ará: arara.
uru: cesto de palha com alças.
crautá: tipo de fio da árvore juçara.
sesta: cochilo, soneca.
ignoto: ignorado.
lesto: ligeiro.
uiraçaba: estojo sem tampa em que se guardavam e transportavam as setas. Era carregado nas costas, pendente do ombro.
— Quem te ensinou, guerreiro branco, a linguagem de meus irmãos? Donde vieste a estas matas, que nunca viram outro guerreiro como tu?
— Venho de bem longe, filha das florestas. Venho das terras que teus irmãos já possuíram, e hoje têm os meus.
— Bem-vindo seja o estrangeiro aos campos dos tabajaras, senhores das aldeias, e à cabana de Araquém, pai de Iracema.
ALENCAR, José de. Iracema . [Brasília, DF]: Ministério da Cultura: Fundação Biblioteca Nacional: Departamento Nacional do Livro, [202-]. E-book. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000014.pdf. Acesso em: 8 set. 2024.
#PARAlEMBRAR
O cearense José de Alencar (1829-1877), cuja biografia você leu na Unidade 3, teve uma produção fecunda e diversificada. Dedicou-se a vários gêneros literários: romance, teatro, prosa, além de autobiografia. Nos romances, explorou o regionalismo e a prosa urbana. Deixou três romances indianistas: Iracema (1865), O guarani (1857) e Ubirajara (1874). As personagens Iracema e Peri marcaram profundamente o imaginário nacional, tendo inclusive inspirado nomes de marchinhas de carnaval, de estabelecimentos comerciais etc.
1. a) É possível supor que não, já que ambas as etnias viviam no litoral. Professor, é importante incentivar os estudantes a aprimorar a habilidade de ler mapas bem, analisando os dados neles contidos. É uma boa oportunidade para pedir apoio ao professor de Geografia, que pode orientá-los sobre como fazer esse tipo de análise com mais precisão.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1. Para saber mais sobre o Brasil do século XVI em comparação com o Brasil do século XXI, leia o mapa e o quadro a seguir.
Mapa da ocupação territorial indígena do século XVI
Tupinambá
Tremembé
Potiguara
Tabajara
Não escreva no livro.
Tamoio
Tupiniquim
Carijó (Guarani)
Charnia
Caeté
Tupinambá
Tupiniquim
Aimoré
Goitacá
Termiminó
Tupi (Tapuias)
Fonte: MUSSA, Alberto. Meu destino é ser onça. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2023. p. 121.
Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Centro de Documentação e Disseminação de Informações. Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. p. 222.
a) S egundo o romance O guarani , de José de Alencar, os tabajara, etnia à qual pertencia Iracema, foram expulsos para o interior da Região Nordeste pelos potiguara, etnia com a qual viviam em conflito. Considerando que mapas trazem informações temporais e que podem ter acontecido outros eventos (confrontos ou deslocamentos, por exemplo), compare a informação do romance com o que mostra o mapa. Essa informação tem base na realidade?
b) Compare a população indígena do litoral nordestino do século XVI com a contemporânea. Que eventos teriam causado essa diferença de números de indivíduos?
Espera-se que os estudantes destaquem o processo de colonização, que promoveu um genocídio através de guerras, escravização e doenças e, mais recentemente, a devastação ambiental, o descaso com as populações indígenas, a invasão de territórios demarcados por exploradores de minérios, entre outras.
2. A descrição de Iracema obedece à lógica romântica de idealização.
Asa da graúna; talhe de palmeira
a) Copie o organizador a seguir no caderno e o complete com as informações solicitadas.
Aspecto descrito
Doces
Negros; longos
Doce
Perfumado
De mel
Característica
Lábios
Cabelos
Sorriso
Hálito
Baunilha
b) Considere os elementos de comparação que caracterizam Iracema. Que relação esses elementos sugerem entre Iracema e o cenário em que ela vivia?
3. No trecho lido, Iracema estava se banhando enquanto colocava penas em suas flechas. Copie, no caderno, a alternativa que melhor expressa a relação de Iracema com aquele cenário natural.
a) A natureza aparecia como um cenário passivo, que servia apenas como plano de fundo para a ação da personagem, sem interagir ou influenciar suas ações de maneira significativa.
b) Ir acema possuía uma conexão superficial com a natureza, utilizando-a apenas para suas necessidades básicas, sem estabelecer uma relação de intimidade ou respeito com os elementos naturais ao seu redor.
2. b) A descrição de Iracema, por meio de comparações com a natureza, mostrava o quanto ela fazia parte daquele cenário; eram partes integrantes de sua beleza natural.
c) A relação de Iracema com a natureza era caracterizada por uma profunda conexão e harmonia, pois a natureza participava ativamente de sua vida por meio da interação com os animais e elementos naturais.
Resposta: alternativa c
4. Leia, a seguir, um trecho de depoimento de Mem de Sá (c. 1504-1572), terceiro governador-geral do Brasil no século XVI.
Entrei nos Ilhéus e fui a pé dar em uma aldeia que estava sete léguas da vila […] dei na aldeia e destruí todos os que quiseram resistir, e na vinda vim queimando e destruindo todas as aldeias que ficaram para trás e, por o gentio ajuntar e vir me seguindo ao longo da praia, lhe fiz algumas ciladas onde os cerquei e lhes foi forçado deitarem-se a nado ao mar […] mandei outros índios atrás deles e gente solta que os seguiram perto de duas léguas e lá no mar pelejaram de maneira que nenhum tupiniquim ficou vivo […] e os puseram ao longo da praia, por ordem que tomavam os corpos perto de uma légua.
SÁ, Mem de apud PRIORE, Mary Del. Histórias da gente brasileira: volume 1: Colônia. São Paulo: Leya, 2016. p. 25.
a) Segundo se pode depreender do trecho, como você descreve o olhar que os colonizadores europeus tinham com relação aos indígenas?
b) Releia a apresentação de Martim no trecho apresentado do romance Iracema
Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos, o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo. […]
O moço guerreiro aprendeu na religião de sua mãe, onde a mulher é símbolo de ternura e amor. Sofreu mais d’alma que da ferida.
• Compare esse trecho com o relato de Mem de Sá. Por que é possível dizer que a descrição de Martim idealiza as características do colonizador?
5. c) Martim segue os valores de um guerreiro orientado pelos ensinamentos cristãos herdados da mãe.
5. A primeira interação que acontece entre Iracema e Martim se dá por meio da violência.
a) Por que é possível dizer que a reação inicial de Iracema foi coerente com o momento histórico em que ela vivia?
Porque, nesse momento, os colonizadores tinham uma postura de embate e violência contra o indígena, o que faz com que sua reação possa ser entendida como legítima defesa.
b) A reação de Martim perante a ação de Iracema seria coerente com as atitudes do colonizador, tal como registrado no relato de Mem de Sá? Explique.
Não, já que, de acordo com os registros históricos, se uma indígena tentasse matá-lo, ele não hesitaria em reagir com extrema violência.
c) Que valores pautam a atitude de Martim ao reagir a Iracema?
4. b) Características como cor da pele e dos olhos, comparadas a elementos naturais, sugerem uma integração ao cenário, como se ela fosse natural dali; a afirmação de que sua religião o impede de agredir uma mulher o coloca como gentil e honrado; um homem que não revida uma agressão. Esse retrato nada tem a ver com o relato do governador.
Os colonizadores europeus consideravam que os indígenas deveriam ser exterminados, explorados e provocados a se colocarem contra outros indígenas, eventualmente contra outros povos. 119
6. a) No romance O som do rugido da onça, é o explorador frio, que enxerga os indígenas como peças exóticas tão adequadas como uma planta para ser exibida na Europa; em Iracema, o colonizador é o guerreiro gentil, herói cristão e, por isso, humano, não violento, que não revida a violência com a qual é recebido pelo temor de Iracema.
6. Compare o trecho de Iracema com o de O som do rugido da onça .
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
a) Que imagem do colonizador emerge nos trechos de cada romance?
b) Identifique o ponto de vista em cada caso.
6. b) O ponto de vista em O som do rugido da onça é o do indígena que adere à dor da violência vivida pelas duas crianças; em Iracema, o ponto de vista é o do colonizador, que ameniza a aproximação com os indígenas e distorce a intencionalidade, pelo menos no princípio, do projeto colonizador.
Algumas obras rejeitam o ponto de vista colonial e resistem à perpetuação de verdades hegemônicas, atravessadas por preconceitos e distorções.
Essas obras adotam referências decoloniais, como é o caso de O som do rugido da onça, de que você leu um trecho.
O decolonialismo, ou pensamento decolonial, engloba pensadores de diferentes áreas do conhecimento que, com base em um conjunto de categorias explicativas e analíticas, avaliam criticamente os modelos coloniais e neocoloniais. Preocupam-se, principalmente, com suas permanências nas sociedades moldadas pelo sistema colonial, bem como com a defesa de propostas de ação para romper com práticas, valores e estruturas advindas do colonialismo.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
7. O Romantismo é um movimento estético que valoriza o sentimentalismo.
a) Que sentimentos a interação entre Iracema e Martim sugere? No caderno, copie o organizador a seguir e aponte as características que você julgar correspondentes aos personagens Iracema e Martim.
Amor
Arrependimento
Culpa
Inveja
Mágoa
Raiva
b) D e que forma esse sentimentalismo contribui para uma construção idealizada do processo de colonização na cena?
Ao pautar as relações nos sentimentos e não nas reações esperadas dado o contexto histórico, idealiza-se um processo de colonização tranquilo e desejado por colonizadores e colonizados.
Iracema
Em seus romances indianistas (Iracema, O guarani e Ubirajara), José de Alencar concretiza o objetivo de reinvenção de uma origem para o povo brasileiro por meio da idealização do indígena, bem como narra o processo de colonização como um evento sustentado em dramas amorosos entre indígenas e portugueses, que teriam dado origem aos primeiros brasileiros. Assim, os indígenas assumem características morais e até físicas de europeus. Nesse processo de construção de uma raça brasileira, Alencar exclui o negro; ele foi um dos grandes defensores da manutenção da escravidão no Brasil.
8. Leia o trecho a seguir sobre o valor da hospitalidade entre alguns povos indígenas. [Um] aspecto relevante dos hábitos dos índios era a boa hospitalidade, verdadeira questão de honra, nela incluída a garantia de completa segurança dada ao visitante. […] Só os maus-tratos posteriores foram capazes de mudar essa disposição favorável.
BASTOS, Alcmeno. O índio antes do indianismo. Rio de Janeiro: 7letras: Faperj, 2011. p. 35-36.
8. a) A reação desencadeia uma sequência de eventos interligados que compõem a trama do romance. Sem esse encontro de Iracema e Martim, a história deles não poderia ser contada.
8. b) Professor, como a formulação dessa hipótese talvez seja complexa para os estudantes, ajude-os a refletir sobre a possibilidade de que a idealização das ações e reações das personagens, de seus valores e suas características mostra que todo o romance está comprometido com uma visão favorável ao colonizador, o que não traria a objetividade e confiabilidade necessária para considerar essa cena como fonte de registros históricos.
A atitude de Iracema ao encontrar Martim ferido é fundamental na trama do romance.
a) Em sua opinião, qual é a razão para essa atitude de Iracema ser tão relevante?
b) O que move Iracema a tomar a atitude de acolher Martim? Formule uma hipótese.
9. A seguir, você lerá um trecho de uma cena da novela Úrsula e Gupeva , da escritora romântica negra Maria Firmina dos Reis (1825-1917). Gupeva é o herói homônimo da história, cuja amada é levada para a França e retorna grávida ao Brasil. Na história, é contado o drama de amor entre sua filha Épica e o francês Gastão, que materializa o conflito entre dois mundos, chegando a um fim trágico. Neste trecho, o cacique narra a Gastão uma história de amor já famosa na literatura brasileira: o triângulo amoroso entre as indígenas Moema e Paraguaçu com o português Diogo Álvares Correia, o Caramuru.
— Era pois na lua das flores, que à tarde um velho cacique e um mancebo índio, do cume deste mesmo outeiro, lançavam um olhar de saudosa despedida, sobre o navio normando, que levava destas praias uma formosa donzela. Era ela filha desse velho cacique, que com mágoa a via partir para as terras da Europa; mas a formosa Paraguaçu de há muito a havia distinguido entre as demais filhas de caciques; e sua afeição por ela era sincera, e imensa. Paraguaçu seguia para a França, onde devia receber o batismo, tomando por sua madrinha a célebre italiana, Catarina de Médicis, cujo nome tomou na pia batismal, e não podendo separar-se da amiga querida, levava-a consigo, arrancando-a dessarte ao coração de seu pai, e aos sonhos deleitosos do moço índio, que magoado via fugir-lhe a mulher de suas afeições. […]
[…] Este mancebo índio era filho de um irmão do velho cacique, e seu íntimo amigo. Destinado desde a infância para esposo de Paraguaçu, este mancebo nunca pôde amar, nem tampouco inspirar-lhe amor.
REIS, Maria Firmina dos. Úrsula e Gupeva. São Paulo: Imaginaribooks: Folha de S.Paulo, 2023. p. 178-180.
• Embora essa narrativa faça referências a episódios da história oficial, por que é possível dizer que ela é permeada pela visão romântica?
Em 2024, Ailton Krenak (1953), escritor indígena, tomou posse na Academia Brasileira de Letras (ABL). Pela primeira vez em 127 anos, a ABL elegeu um indígena para ocupar uma de suas cadeiras. Em seu discurso de posse, Krenak afirmou:
[…] Eu já disse que venho para cá para trazer línguas nativas do Brasil para um ambiente que faz a expansão da lusofonia. Vou promover uma sinfonia. Essa sinfonia é estimada pelos linguistas em 180 línguas indígenas […] Eu não sou mais do que um, mas eu posso invocar mais do que 300. Nesse caso, 305 povos, que, nos últimos 30 anos do nosso país, passaram a ter a disposição de dizer: ‘Estou aqui’. Sou guarani, sou xavante, sou caiapó, sou yanomami, sou terena. KRENAK apud A POSSE de Ailton Krenak na ABL, o primeiro indígena em 127 anos […]. Rio de Janeiro: LuLacerda, 6 abr. 2024. Disponível em: https://lulacerda.ig.com.br/2024/04/a-posse-de-ailton-krenak-na-abl-o-primeiroindigena-em-127-anos-veja-fotos/. Acesso em: 7 set. 2024.
O escritor Ailton Krenak veste o fardão da ABL e recebe o diploma de membro efetivo na cerimônia de posse em abril de 2024.
A nomeação de Krenak reflete um avanço significativo no reconhecimento não apenas das culturas indígenas mas também da origem, da organização e dos saberes dos povos indígenas, por muitas vezes retratados num lugar subalterno, folclorizado ou idealizado.
10. Os primeiros parágrafos do romance O guarani são exemplares de uma referência fundamental na construção da identidade nacional, que está relacionada à paisagem natural do país. Clássico do Romantismo brasileiro, esse romance consolidou uma forma estilística no modo de representar a natureza no Brasil ao destacar de maneira idealizada tanto os elementos naturais quanto a população indígena. O guarani conta uma história de amor, sentimento também idealizado entre Ceci, uma jovem de origem europeia, e Peri, um indígena goitacá. O romance foi adaptado para uma ópera homônima do maestro brasileiro Carlos Gomes (1836-1896) e também para diversas outras mídias. O trecho que você vai ler mostra o engrandecimento da natureza como parte do projeto discursivo romântico, que quer afirmar a grandeza e a originalidade da nova pátria.
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9. Porque o trecho mostra uma Paraguaçu que tudo ignora para viver seu amor – sua pátria, sua família, sua cultura –, o que expressa a ideia de que o amor tudo vence e a tudo se sobrepõe.
De um dos cabeços da Serra dos Órgãos desliza um fio de água que se dirige para o norte, e engrossado com os mananciais que recebe no seu curso de dez léguas, torna-se rio caudal. É o Paquequer: saltando de cascata em cascata, enroscando-se como uma serpente, vai depois se espreguiçar na várzea e embeber no Paraíba, que rola majestosamente em seu vasto leito. Dir-se-ia que, vassalo e tributário desse rei das águas, o pequeno rio, altivo e sobranceiro contra os rochedos, curva-se humildemente aos pés do suserano. Perde então a beleza selvática; suas ondas são calmas e serenas como as de um lago, e não se revoltam contra os barcos e as canoas que resvalam sobre elas: escravo submisso, sofre o látego do senhor.
#fiCAADiCA
Não é neste lugar que ele deve ser visto; sim três ou quatro léguas acima de sua foz, onde é livre ainda, como o filho indômito desta pátria da liberdade.
Aí, o Paquequer lança-se rápido sobre o seu leito, e atravessa as florestas como o tapir , espumando, deixando o pelo esparso pelas pontas do rochedo, e enchendo a solidão com o estampido de sua carreira. De repente, falta-lhe o espaço, foge-lhe a terra; o soberbo rio recua um momento para concentrar as suas forças, e precipita-se de um só arremesso, como o tigre sobre a presa.
Atores indígenas no palco do Theatro Municipal de São Paulo durante a Ópera Il guarany – O Guarani, em abril de 2023.
Embora a ópera O guarani seja umas das produções brasileiras mais executadas no mundo todo, originalmente ela foi escrita em italiano. Carlos Gomes, o autor da obra, estudou na Itália, de onde aproveitou as influências musicais, mas valeu-se da temática brasileira para compor sua obra. Em 2023, pela primeira vez, o casal protagonista da ópera teve dois indígenas como intérpretes, que acompanharam, simultaneamente, os solistas da ópera clássica. Foi uma maneira de “revisitar” a obra, respeitando a narrativa, mas também desfazendo a imagem idealizada do indígena. Para isso, o espetáculo contou com a concepção da produção do escritor e ativista Ailton Krenak.
• ÓPERA Il guarany – O guarani, de Carlos Gomes. São Paulo: Theatro Municipal de São Paulo, 2023. 1 vídeo (180 min).
Publicado pelo canal Theatro Municipal de São Paulo. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=hcfuT8uYr1I. Acesso em: 7 set. 2024.
Depois, fatigado do esforço supremo, se estende sobre a terra, e adormece numa linda bacia que a natureza formou, e onde o recebe como em um leito de noiva, sob as cortinas de trepadeiras e flores agrestes. A vegetação nessas paragens ostentava outrora todo o seu luxo e vigor; florestas virgens se estendiam ao longo das margens do rio, que corria no meio das arcarias de verdura e dos capitéis formados pelos leques das palmeiras.
Tudo era grande e pomposo no cenário que a natureza, sublime artista, tinha decorado para os dramas majestosos dos elementos, em que o homem é apenas um simples comparsa.
ALENCAR, José de. O guarani. [Brasília, DF]: Ministério da Cultura: Fundação Biblioteca Nacional: Departamento Nacional do Livro, [202-]. E-book. Reprodução da 20. ed. (1996) da obra, digitalizada pela Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro (USP). Localizável em: p. 3 do PDF. Disponível em: http://www. dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000135.pdf. Acesso em: 8 set. 2024.
• Copie, no caderno, um trecho do texto que destaca a monumentalidade da natureza.
caudal: que corre abundantemente.
sobranceiro: elevado. selvático: aquilo ou aquele(a) que é das selvas.
látego: chicote.
indômito: indomado, não domesticado. tapir: anta (mamífero).
10. São usadas várias figuras de linguagem, como comparações, alegorias, metáforas e ampla adjetivação. Professor, se necessário, sugira aos estudantes que façam uma pesquisa a fim de relembrarem as figuras de linguagem básicas que provavelmente foram estudadas nos Anos Finais do Ensino Fundamental.
Analise as duas obras a seguir.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A releitura que Denilson Baniwa faz da obra do pintor francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848) apresenta nova visão sobre os indígenas. Em seu diálogo com a obra Caboclo, Baniwa atualiza a representação do indígena colocando-o como parte de um mundo que conecta um saber ancestral com a tecnologia, quebrando estereótipos: o que se representa não é mais o indígena isolado na natureza, mas como um integrante da sociedade, sintonizado com o mundo contemporâneo. Os indígenas brasileiros foram representados por muitos artistas estrangeiros, sobretudo europeus, segundo um ponto de vista que contribuiu para a construção de estereótipos enraizados também no imaginário nacional. Além de Debret, Albert Eckhout (1610-1666), Johann Moritz Rugendas (1802-1858), William Lloyd (1822-1905), Franz Keller-Leuzinger (1835-1890) e o norte-americano John Henry Elliott (1809-1884) são alguns desses artistas. Agora, você fará uma pesquisa e uma análise sobre esse modo como eles representaram os indígenas brasileiros com base no roteiro a seguir.
1. P esquise na internet algumas obras de um dos artistas sugeridos. Para uma busca mais precisa, coloque como palavra-chave o nome do artista seguido do termo indígenas
2. Para fazer sua análise, escolha um desenho ou uma pintura em que um indígena esteja representado. Observe o que ele veste, o modo como foi posicionado, o cenário em que está colocado, se usa adereços, se porta algum objeto. Se houver outras pessoas na imagem, procure identificar quem são, de que forma a pintura ou o desenho sugere que se dá essa interação (se sugere igualdade, submissão, se há negociação em curso).
3. E screva, no caderno, um texto em que você identifique o pintor, informe resumidamente os dados biográficos dele, identifique o título da pintura e o ano em que ela foi executada e apresente o mais importante: a sua análise, a sua percepção. Para finalizar, explique se, em sua opinião, o modo de representação do indígena, na pintura ou no desenho que você analisou, foi ou não idealizado e justifique sua opinião.
Professor, além da internet, livros de arte ou didáticos de componentes como História e Arte podem eventualmente trazer essas imagens. Se achar interessante, a turma pode ser dividida: metade dos estudantes busca imagens produzidas por artistas estrangeiros, a outra metade busca por obras feitas por artistas indígenas contemporâneos. O roteiro de orientação pode ser o mesmo, mas, no item 2, os estudantes podem levantar os elementos culturais representados no desenho ou na pintura. Podem, então, comparar pontos de vista e os contextos de produção.
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O conceito de “bom selvagem”, concebido pelo filósofo francês Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), embasou a imagem que os europeus projetaram da vida dos povos indígenas. Rousseau argumentava que, no estado de natureza, os seres humanos viviam em um estado de pureza e inocência, guiados por sentimentos de empatia e compaixão, além de serem livres dos vícios comuns à civilização. Ao atribuir essa visão aos indígenas, Rousseau os idealiza como exemplos vivos desse estado natural, sugerindo que eles, em suas sociedades não corrompidas pela propriedade privada e pelas instituições sociais complexas, manifestam a bondade e a liberdade verdadeiras que a civilização teria perdido.
Durante os séculos XVIII e XIX, os botocudo, um grupo indígena que habitava as regiões da Mata Atlântica no leste do Brasil, enfrentaram uma brutal perseguição e um processo que muitos historiadores e antropólogos classificam como genocídio. Com a expansão das fronteiras agrícolas e a crescente cobiça por terras férteis, colonizadores portugueses e brasileiros entraram em conflito direto com os botocudo. Esses indígenas, conhecidos por seu modo de vida nômade e pela inserção de discos labiais e auriculares, foram vistos como obstáculos ao progresso e à civilização. Como resultado, foram alvo de campanhas de extermínio sistemático, incluindo massacres, envenenamento e disseminação de doenças contra as quais eles não possuíam imunidade. Essa postura governamental de extermínio contrastava com os discursos iluministas do bom selvagem vindos da Europa.
Parte da série “Alegorias dos Quatro Continentes”, a obra apresenta um rico cenário com muitos elementos da fauna e da flora, tendo como figura central uma indígena totalmente integrada ao ambiente.
JESUS, José Teófilo de. América. [ca. 1810]. Óleo sobre tela, 65 cm x 82 cm. Museu de Arte da Bahia, Salvador.
Na obra, são perceptíveis os botoques, ornamentos labiais e auriculares, geralmente feitos de madeira, utilizados por grande parte dos botocudo.
FERRARIO, Giulio. Fisonomia di alcuni Botocudos. 1821. Água-forte, água-tinta e aquarela sobre papel, 27 cm x 31 cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo.
A independência e construção da identidade nacional
Silogeu Brasileiro. Rio de Janeiro (RJ), 1838. O prédio abrigou a primeira sede do IHGB, onde também funcionaram a Academia de Medicina, o Instituto dos Advogados do Brasil e a ABL.
Essa obra relembra movimentos pela independência da Bahia que aconteceram ao fim de junho de 1822, pouco mais de dois meses antes da Independência do Brasil.
PARREIRAS, Antônio. O primeiro passo para a independência da Bahia. 1931. Óleo sobre tela, 21 cm x 40 cm. Museu do Palácio do Rio Branco, Salvador, Bahia.
A Independência do Brasil, proclamada em 7 de setembro de 1822, marcou não apenas a separação política e administrativa de Portugal mas também o início da formação de uma nação soberana com uma identidade distinta. A emancipação refletiu os crescentes sentimentos nacionalistas e o desejo de autogoverno, emergindo em um contexto de movimentos de independência que se alastravam pela América Latina. A independência proporcionou o ambiente propício para a articulação de uma identidade coletiva que abraçava a diversidade brasileira, enquanto buscava unidade e coesão interna. Nessa lógica, os discursos identitários consideravam apenas brancos e indígenas como ancestrais do povo brasileiro, justificando assim a continuidade da escravidão de todo o povo preto. Esse período de transição foi fundamental para a definição dos contornos culturais, sociais e políticos que viriam a caracterizar o Brasil como nação.
O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) foi fundado em 1838, num período de intensa construção da identidade nacional brasileira, logo após o Brasil ter se tornado independente de Portugal em 1822. Criado sob o patrocínio de D. Pedro II, então imperador do Brasil, o IHGB tinha como objetivo principal fomentar os estudos históricos e geográficos relacionados ao Brasil, com vistas à construção de uma narrativa histórica que legitimasse a nação recém-formada. A instituição desempenhou um papel crucial na coleta, preservação e interpretação de documentos e relíquias históricas, atuando como um centro de referência para a historiografia brasileira. Além disso, o IHGB incentivou a produção de conhecimento sobre a geografia, a flora, a fauna e os povos do Brasil, consolidando-se como uma peça fundamental na formação da memória e da identidade nacionais.
No século XIX, o Romantismo brasileiro se lançou em um projeto político e cultural de construção da identidade nacional. O objetivo era demonstrar como a Independência do Brasil encontrava sua expressão nas obras literárias que projetavam a exuberância da natureza tropical e a figura idealizada do indígena. Esse movimento, conhecido como indianismo, destacava a singularidade da paisagem e da população indígena como marcas originais da nação brasileira.
A partir de 1846, com obras como Primeiros cantos, de Gonçalves Dias, o indianismo se estabeleceu como um pilar na definição da brasilidade, enfatizando a relação intrínseca entre raça e natureza. Essa idealização dos indígenas, apresentados como símbolos de pureza e nobreza, não apenas forneceu o “maravilhoso poético” necessário à nova literatura nacional mas também serviu como justificativa ao processo de colonização, reinventando os primeiros encontros entre portugueses e indígenas – na realidade, marcados por conflitos e tensões –em um “feliz encontro de civilizações” no qual as culturas indígenas mantinham seu exotismo e assumiam valores europeus cristãos.
Nesse processo, no entanto, o negro africano era excluído da origem do povo brasileiro e existia como um elemento exterior, o que justificava a manutenção da escravidão.
Dessa forma, o indianismo no Romantismo brasileiro foi fundamental na busca por uma identidade nacional própria, que valorizasse as raízes indígenas do país e sua rica biodiversidade, configurando-se como uma resposta literária à necessidade de afirmar uma singularidade nacional no contexto global.
Se, por um lado, formava-se uma identidade nacional que reafirmava a independência perante o mundo, por outro lado criava-se na cultura brasileira discursos que reforçariam estereótipos sobre o indígena associados a uma ideia de atraso e infantilidade que, do ponto de vista jurídico, permaneceu até a Constituição Federal de 1988. Antes, o indígena, ainda não assimilado ao que se considerava civilização, deveria ser tutelado pelo Estado e não era considerado um cidadão pleno. Nos textos que abrem esta unidade, foi possível verificar como a perspectiva indígena foi silenciada por esses estereótipos, por violências e pela própria lei.
Na obra, há intertextualidade tanto com obras clássicas ocidentais, como Pietá, de Michelangelo (14751564), quanto com o livro do escritor indígena Davi Kopenawa, A queda do céu. Obras como a de Daiara Tukano fazem releituras das artes ocidentais como provocações que pretendem deslocar concepções e retextualizar referências a fim de promover uma releitura também da arte indígena. TUKANO, Daiara. A queda do céu e a mãe de todas as lutas. 2022. Acrílica sobre tela, 400 cm x 200 cm. Acervo da artista.
O conceito de representação por muito tempo foi associado à mimese, ou seja, a uma imitação da realidade. O filósofo grego Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) escreveu sobre esse conceito na Poética (provavelmente em 335 a.C.), primeiro tratado sobre teoria literária. Segundo ele, a mimese é a transformação da realidade em arte por meio de uma imitação que envolve criação. Essa criação ofereceria ao observador ou leitor conhecimento e prazer estético.
As criações contemporâneas colocaram o conceito de representação mimética em questão. O pintor francês René Magritte (1898-1967), por exemplo, confunde os observadores de sua pintura A traição das imagens . Ali se observa um cachimbo; no entanto, o texto que faz parte da obra declara: “Isto não é um cachimbo”. Considerar o título pode ajudar a compreender a intencionalidade do autor: aquilo não é um cachimbo, mas um quadro; o observador pode entender que nunca haverá um cachimbo no quadro. A obra produz atrito com a ideia de figuração e chama a atenção para o fato de que a representação é apenas um procedimento de linguagem causador de “efeito de real”. Tratava-se do fim da ideia de representação mimética, que pretende fazer uma representação do real e da rasura absoluta do compromisso da arte com uma realidade “representável”. A realidade, então, desapareceu como índice da arte.
MAGRITTE, René. A traição das imagens. 1929. Óleo sobre tela, 63,5 cm x 93,98 cm. Museu de Arte do Condado de Los Angeles.
Também na literatura, representar é dar forma ao modo como cada autor considera um tema, um objeto de seu interesse. Por estarem sempre sujeitas a um modo de olhar o mundo, as diferentes formas de representação estão sempre carregadas de valor, de um modo de considerar a realidade. O indígena romântico, por exemplo, está subordinado a um projeto que pretende criar uma identidade ancorada em um passado épico, em que esse indígena é visto como herói. As vozes do presente, como as que você leu nesta unidade, usam a linguagem como forma de legitimação de subjetividades, de outras identidades.
Para discutir
Professor, esta pode ser uma boa oportunidade para discutir projetos de vida com os estudantes. Abra espaço para a fala de cada um deles. Retome, no final da discussão, o conceito de representação para que percebam que ideias podem ser representadas de diferentes maneiras.
Não escreva no livro.
1. Escolha uma linguagem artística para representar o que significa para você estar no Ensino Médio. Pode ser um poema, uma colagem, um desenho, uma canção, uma fotografia.
2. A t urma deve combinar um dia com o professor para que você e os colegas queiram apresentar seus trabalhos uns aos outros.
3. Discutam: toda a turma percebe da mesma forma o fato de vocês estarem cursando essa etapa de ensino? Por quê? Registre, no caderno, o que considerar importante para você.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Esta unidade permite discutir sobre aspectos relacionados aos indígenas e também sobre os discursos reproduzidos a respeito de suas identidades e culturas, carregados de preconceitos. A seguir, você vai ler um artigo de divulgação científica que apresenta uma forma contrária ao estereótipo: como as sociedades indígenas pré-cabralinas eram extremamente complexas e como já dominavam certas tecnologias que lhes permitiam ter um sistema de cidades complexo, que alcançava toda a América.
Para discutir
1. Professor, destaque para os estudantes que, embora a mídia dê mais ênfase a descobertas arqueológicas internacionais, a arqueologia brasileira tem produzido cada vez mais estudos sobre as civilizações indígenas do passado e toda sua complexa estrutura de estradas e cidades.
1 Você já ouviu falar de pesquisas arqueológicas? E de arqueologia no Brasil? O que você acha que arqueólogos podem investigar no Brasil?
2 Você já acompanhou, nos meios de comunicação, notícias e reportagens que se referiam a estudos sobre indígenas? Que estudo foi esse? Ele foi concluído? Que descoberta foi feita? Compartilhe com os colegas.
Professor, destaque para os estudantes que esses estudos não se limitam à arqueologia; eles podem ser relacionados a outros temas e assuntos, como língua, cultura, arte, agricultura, medicina etc.
O artigo de divulgação científica a seguir, publicado na revista Superinteressante, apresenta pesquisas arqueológicas que descobriram civilizações apagadas pelo tempo e que lançaram um novo olhar sobre as populações indígenas do Brasil.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Arqueólogos descobriram que uma parte da floresta já foi ‘urbanizada’, com agrupamentos de até 15 mil pessoas – conectados por um conjunto de estradas.
Por Reinaldo José Lopes
Atualizado em 30 jan. 2023, 10h35Publicado em 13 abr. 2018, 15h12
Kuhikugu, no Xingu: a maior ‘cidade’ já descoberta pelos arqueólogos na Amazônia brasileira. […]
É inevitável pensar na floresta amazônica como uma gigantesca mata virgem, praticamente intocada. Todos sabemos que a região é habitada por dezenas de povos indígenas. Mas a ideia predominante no imaginário das pessoas é a de que eles sempre viveram em perfeita harmonia com o ambiente, interferindo o menos possível na natureza e tirando dela apenas o essencial para sua sobrevivência. Ao que tudo indica, essa visão romântica está completamente errada.
Não que tenham sido erguidas na Amazônia pirâmides ao estilo das construídas por maias e astecas na América Central – isso continua sendo pura ficção. Mas descobertas
arqueológicas feitas nas últimas 3 décadas indicam que, antes de o Brasil ser descoberto, a população nativa da Floresta Amazônica era muito mais numerosa e sofisticada do que se costuma imaginar.
Entre os anos de 1000 e 1400, verdadeiras superaldeias interligadas por boas estradas dominavam certas regiões. Em outras, grupos de até 15 mil erguiam aterros com até 10 metros de altura para construir suas casas sobre eles e dar um chapéu nas inundações. ‘Existiam sociedades complexas no rio Amazonas quase inteiro, no médio e baixo Orinoco, na Bolívia e em outras áreas’, diz o arqueólogo americano Michael Heckenberger, que há anos estuda um conjunto de agrupamentos desse tipo no Alto Xingu. ‘Em 1500, a Amazônia provavelmente era uma área de enorme variabilidade cultural, com grupos regionalmente interligados.’ […]
No Alto Xingu, estudos liderados pelo arqueólogo Michael Heckenberger também estão revelando a face ‘urbana’ que a Amazônia já teve. Trabalhando em parceria com membros da etnia cuicuro, ele afirma ter identificado uma rede de antigas vilas – a maioria também do período imediatamente anterior à chegada dos europeus – que fazem as atuais aldeias indígenas parecerem anãs.
Organizados em grandes círculos e com capacidade para abrigar milhares de pessoas, esses agrupamentos eram cercados por fossos de vários metros de largura e profundidade, cercados por paliçadas e interligadas por estradas respeitáveis, com até 40 metros de largura. Eles teriam surgido no século 9 e atingido seu apogeu cerca de 400 anos depois, no século 13. Mantinham entre si relações de poder e hierarquia. Faziam alianças, negociavam… E guerreavam também. No auge, alguns desses núcleos chegaram a ser endereço para mais de 2 mil moradores. Não se sabe exatamente como eles desapareceram, mas é provável que vários tenham entrado em colapso antes da chegada dos europeus.
Há indícios de que os [...] indígenas da rede de superaldeias amazônicas deram um duro danado para sustentar a população que, somada, chegava a 50 mil habitantes. Imagens de satélite já revelaram áreas de floresta que provavelmente foram roças ou pomares. E até hoje existem na região trechos de mata virgem que produzem frutos comestíveis em quantidade bem acima da média – provável herança do tempo em que os nativos manejavam habilmente a floresta, selecionando as plantas mais frutíferas para complementar seu sustento. ‘É como se esses antigos habitantes do Xingu tivessem um modelo alternativo de organização’, diz Heckenberger. Em vez de juntar todo mundo num único – e insustentável – agrupamento, eles viviam distribuídos em vilas de pequeno ou médio porte, mas conectadas por estradas que viabilizavam a formação das redes de comércio e o intercâmbio cultural.
Todos esses dados – sempre é bom lembrar – ainda são preliminares, mas levam a crer que a Amazônia pré-Cabral abrigava muito mais gente do que se costumava imaginar anos atrás. É provável que a densidade populacional tenha despencado com epidemias trazidas pelos europeus, como parece ter acontecido em outras regiões das Américas. Mas isso não impediu que as civilizações da Amazônia deixassem alguns legados. Na tradição oral dos cuicuros e de outros povos do Xingu, há referências às grandes obras do passado. E a cerâmica indígena produzida hoje é bastante similar à encontrada em vários sítios arqueológicos.
LOPES, Reinaldo José. As cidades perdidas da Amazônia. Superinteressante, São Paulo, 30 jan. 2023. Disponível em: https://super.abril.com.br/historia/as-cidades-perdidas-da-amazonia. Acesso em: 7 set. 2024.
Não escreva no livro. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1. L eia as manchetes a seguir, publicadas no site da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) meses antes da publicação do texto que você leu.
REPRODUÇÃO/AGÊNCIA BRASIL
VILELA, Pedro Rafael. Sônia Guajajara asume como primera ministra indígena de Brasil. Agência Brasil, Brasília, DF, 12 jan. 2023. Disponível em: https:// agenciabrasil.ebc.com.br/es/politica/noticia/2023-01/sonia-guajajara-dice-quelos-pueblos-indigenas-viven-una-crisis-humanitaria. Acesso em: 7 set. 2024.
REPRODUÇÃO/AGÊNCIA BRASIL
BOND, Letycia. Terra Yanomami: garimpo ilegal causou alta de 309% no desmatamento. Agência Brasil, Brasília, DF, 27 jan. 2023. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-01/terra-yanomami -garimpo-ilegal-causou-alta-de-309-no-desmatamento. Acesso em: 7 set. 2024.
REPRODUÇÃO/AGÊNCIA BRASIL
RODRIGUES, Alex. Governo cria grupo para tratar do combate a crimes em terras indígenas. Agência Brasil, Brasília, DF, 30 jan. 2023. Disponível em: https:// agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2023-01/governo-cria-grupo -para-tratar-do-combate-crimes-em-terras-indigenas. Acesso em: 7 set. 2024.
L ABOISSIÈRE, Paula. Brasil propõe ação internacional para garantir saúde dos indígenas. Agência Brasil, Brasília, DF, 31 jan. 2023. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2023-01/brasil-propoe-acao -internacional-para-garantir-saude-dos-indigenas. Acesso em: 7 set. 2024.
REPRODUÇÃO/AGÊNCIA BRASIL
1. a) Espera-se que os estudantes percebam que a relevância vem do fato de que, na época de publicação do artigo, havia uma grande mobilização em torno dos direitos indígenas, bem como destaques midiáticos para ações de violação desses direitos, como atestado na manchete que se refere à ação internacional proposta para garantir a saúde dos indígenas após a morte de mais de 600 crianças em quatro anos.
2. a) A descoberta de que a população nativa da Amazônia era muito mais numerosa e sofisticada do que se imaginava.
a) Depois de ler essas manchetes, discuta com os colegas: qual é a relevância da publicação de um texto que tematiza a descoberta de cidades indígenas complexas na Amazônia? Depois, escreva as conclusões a que você chegar no caderno.
b) O texto que você leu foi publicado na revista Superinteressante originalmente em 13 de abril de 2018 e atualizado em 30 de janeiro de 2023. Considerando o contexto, o que pode ter levado a revista a fazer essa atualização?
Espera-se que os estudantes formulem a hipótese de que há novos dados sobre as pesquisas arqueológicas e que textos referentes à questão indígena ganhavam destaque na mídia no momento da republicação.
c) Quem seria o público leitor esperado para um texto como esse?
2. O texto divulga o resultado de pesquisas realizadas em diversas regiões do Brasil.
a) Que descobertas foram feitas?
b) Em que locais foram feitas essas pesquisas?
1. c) Espera-se que os estudantes suponham ser um público interessado em questões indígenas e socioambientais ou em assuntos relacionados à ciência, por exemplo. Também é possível supor um leitor jovem, já que o projeto editorial da revista está voltado para esse público.
c) De acordo com o texto, quem foi responsável por auxiliar os pesquisadores nesse estudo?
Na Amazônia e no Alto Xingu. Indígenas do povo cuicuro.
d) Por que a participação desses parceiros de pesquisa é importante?
3. O texto faz referência a discursos sobre povos indígenas no passado.
Porque, além de dizer respeito a eles mesmos e por isso poderem ter interesse no resgate da sua própria história, seus próprios conhecimentos podem contribuir para a pesquisa.
a) Que expressão é utilizada para se referir a esse discurso predominante sobre os indígenas?
A expressão visão romântica
b) E xplique como essa expressão dialoga com as reflexões sobre o indianismo desta unidade.
Espera-se que os estudantes destaquem que o período romântico idealizou uma imagem dos indígenas desvinculada da realidade.
c) Considere o seguinte trecho: “É inevitável pensar na floresta amazônica como uma gigantesca mata virgem, praticamente intocada”. Que expressão desse período orienta o leitor a resgatar um discurso predominante sobre os indígenas?
A expressão é inevitável produz o sentido de que imaginar a floresta amazônica como uma mata virgem e intocada seria uma tarefa automática, obrigatória.
4. A divulgação científica tem como objetivo, além de apresentar a um leitor leigo o resultado de pesquisas acadêmicas, mostrar também a esse leitor a importância dessas pesquisas. Que evidências do presente se relacionam diretamente com essas pesquisas do passado?
A tradição oral dos cuicuro e dos povos do Xingu, bem como a cerâmica de alguns povos assemelham às descobertas no passado. que se
5. Um dos recursos frequentemente utilizados em gêneros de divulgação científica são os depoimentos de especialistas no assunto.
a) Que especialistas são consultados no texto? Por quê?
Foi consultado somente o arqueólogo Michael Heckenberger por estudar há anos grupos do Alto Xingu.
b) O autor do texto é o jornalista Reinaldo José Lopes, especialista em Biologia e Arqueologia. Por que ele consultou especialistas em outra área para produzir o artigo?
c) Que efeito esses depoimentos têm no leitor?
Porque sua especialização em Arqueologia talvez não seja em Arqueologia Índígena e também para trazer a voz da autoridade que de fato desenvolveu a pesquisa divulgada.
Criam maior credibilidade, reforçando a confiança do leitor sobre a veracidade das informações.
6. A linguagem de textos de divulgação científica recorre a termos técnicos próprios das áreas divulgadas, bem como a termos menos formais.
a) Copie, no caderno, termos próprios da linguagem acadêmica e científica.
População nativa, superaldeia, densidade populacional, sítios arqueológicos.
b) Que termos e expressões podem ser considerados informais?
Pura ficção, dar um chapéu, um duro danado.
c) Qual é a função da utilização desses termos e expressões menos formais?
Criar uma proximidade com o leitor e aproximar o conteúdo de sua vida cotidiana.
O texto que você leu é um artigo de divulgação. É escrito para que o leitor não especialista possa entender as descobertas e pesquisas científicas que vão sendo produzidas.
Um artigo de divulgação deve informar, em linguagem acessível, sobre as pesquisas, o modo como foram desenvolvidas, as provas e as conclusões dos cientistas.
1. a) É possível que os estudantes respondam que o jacaré liga uma aldeia a outra, bem como os indígenas que fazem parte delas. Alguns estudos também entendem que a ponte que o jacaré constrói liga mundos diversos, o visível ao invisível. Seria produtivo se o professor de Arte pudesse participar da discussão a fim de aprofundar a leitura da obra observando elementos como composição, cores e formas, bem como a relação com outras produções indígenas. Também seria interessante ter a presença do professor de Sociologia ou de História para conversar sobre culturas indígenas. Sugere-se retomar a palestra de Ailton Krenak apresentada na Unidade 2 e o modo como os indígenas consideram a natureza.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A arte produzida pelos povos originários chamou a atenção de cronistas e viajantes desde o descobrimento. Muitos estudos e relatos manifestaram o encantamento diante da pluralidade de materiais, formas, cores, grafismos que se inscreviam em produções artísticas dos habitantes originais do território brasileiro. Mais recentemente, as vozes de vários artistas indígenas têm afirmado sua originalidade, sua ancestralidade, em um movimento – coletivo – de resistência, de reconquista de si mesmos, no contexto da decolonialidade.
Página do perfil do Movimento dos Artistas Huni Kuin. O coletivo reúne cinco artistas e pesquisadores huni kuin, povo indígena que vive no estado do Acre, no Brasil, e no Peru. Fundado em 2012 por Ibã Huni Kuin (1964-), como resultado de suas pesquisas sobre cantos huni meka. Bane Huni Kuin (1983-), influenciado pelo pai, começou a desenhar esses cantos. Hoje, o método de aprendizagem do huni meka é aplicado em diversas produções do grupo MAHKU.
• MA HKU – MOVIMENTO DOS ARTISTAS HUNI KUIN. [S. l.], c2024. Instagram: mahkumovimento. Disponível em: https://www.instagram.com/ mahkumovimento/. Acesso em: 8 set. 2024.
“Os povos indígenas têm seus próprios sistemas de arte, com fundamentos próprios, razões, intensidades e eles não pressupõem uma cópia ou um arremedo do modelo europeu de arte.” Essa afirmação é do artista Jaider Esbell (1979-2021), em entrevista para o site de notícias Brasil de Fato poucas semanas antes do seu falecimento. Sua fala, ao marcar um distanciamento entre a arte produzida pelos povos indígenas e a arte europeia, afirma a importância dos vínculos com a cultura original, vivida no cotidiano dos rituais, dos símbolos, das práticas: para os povos indígenas, não existe separação entre vida e arte.
As imagens a seguir são de artistas indígenas contemporâneos. A primeira é assinada por um artista do coletivo Movimento dos Artistas Huni Kuin (MAKHU). Carmézia Emiliano (1960-), autora da segunda pintura, é de Normandia, no estado de Roraima. Ela começou a pintar em 1992, quando se mudou da Terra Indígena Raposa Serra do Sol para a capital, Boa Vista (RR).
1. b) Espera-se que os estudantes digam que a natureza não se separa da vida, do ser humano; tudo é natureza. Professor, lembrar novamente a palestra de Ailton Krenak apresentada na Unidade 2. Aqui também seria interessante contar com os professores de Arte e de História, a fim de aprofundar a troca de informações sobre culturas indígenas e a apreciação das pinturas. Se possível, poderia ser feita uma parceria com o professor de Arte para que produzissem objetos artísticos com base na análise das pinturas e registrassem, em linguagem verbal ou não verbal, o processo criativo dessas produções.
3. b) Seria muito importante a participação do professor de Arte nessa discussão. Ele pode considerar outras obras além das aqui reproduzidas e observar as publicadas neste volume, em unidades anteriores. Não apenas as dimensões mas também os suportes, os materiais próprios da arte contemporânea, além do espaço de circulação.
EMILIANO, Carmézia. Chegando na maloca do japó. 2023. Óleo sobre tela, 110 cm x 100 cm. Kubik Gallery, Porto.
TUIN, Acelino. Kapenawe pukenibu [Jacaré-ponte]. 2022. Acrílica sobre lona, 140 cm x 115 cm. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.
Não escreva no livro. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1. O jacaré foi adotado como logotipo pelo grupo MAHKU, que considera esse animal o mais antigo do mundo.
a) Na pintura, o jacaré tem a função de ponte. O que ele liga?
b) A p resença de animais é marcante na pintura. O que isso expressa sobre a cultura representada nela?
2. A vida coletiva, as redes, os potes, as atividades cotidianas e o enorme cajueiro que domina o espaço do quadro.
2. L eia esta declaração de Carmézia Emiliano para o portal educativo da ArtRio sobre sua pintura. Retrato minhas memórias. Não copio de outros. Tiro os desenhos da minha lembrança, dos lugares que fui e das histórias que vi. […] A arte para mim é minha vida, minha identidade.
ARTRIO. Museu do Pontal: Carmézia Emiliano e a vida macuxi na floresta, individual. Rio de Janeiro: ArtRio, 13 abr. 2024. Disponível em: https://artrio.com/agenda-cultural/museu-do-pontal-carmezia-emiliano-e-a-vida-macuxi-na-floresta -individual. Acesso em: 7 set. 2024.
• Que elementos da pintura podem estar associados a essas memórias?
3. A arte indígena contemporânea, além de se voltar para o passado, incorpora procedimentos contemporâneos.
a) Qual é a importância desse resgate do passado?
O reconhecimento do valor e da importância dessa ancestralidade para a afirmação da identidade de cada povo indígena.
b) Converse com o professor de Arte: quais procedimentos podem ser considerados contemporâneos?
c) Ao se inserirem no mercado de arte contemporânea, os artistas indígenas rompem com a narrativa que dominou a visão sobre sua produção, frequentemente associada ao artesanato, e a afirmam como uma produção artística própria. Que efeito tem esse processo para os povos indígenas habitantes do Brasil e sua cultura?
3. c) Espera-se que os estudantes entendam que esse processo favorece uma mudança no modo de a sociedade em geral considerar a cultura e a produção desses povos, seus saberes ancestrais e seus direitos como cidadãos que fazem parte da sociedade brasileira. Professor, seria interessante explicar o conceito de decolonização como a desconstrução de padrões, conceitos e perspectivas impostos aos povos dominados e subjugados por séculos de colonização.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Releia um trecho das reflexões de Davi Kopenawa.
1. a) O verbo levar declara algo sobre os espíritos sabiá; ele pratica a ação de levar
1 Os verbos em destaque fazem referência a ações envolvidas na produção das melodias.
a) Os verbos declaram algo sobre outros termos da oração. Identifique qual é o termo a que se refere a forma verbal levam
b) O verbo cair, em destaque, liga-se a uma palavra que substitui o agente da ação. Qual é essa palavra?
O verbo se liga ao termo que
c) Por que o agente da ação relacionado ao verbo cair foi substituído por outra palavra?
Para evitar a repetição.
No trecho, os termos em destaque também declaram algo sobre algo ou alguém.
a) Sobre que termo se declara alguma coisa?
b) Como foi possível identificar essas ideias de nós e eu?
[…] Há muitas dessas árvores amoa hi também nos confins da terra dos brancos, para além da foz dos rios. Sem elas, as melodias de seus músicos seriam fracas e feias. Os espíritos sabiá levam a eles folhas cheias de desenhos que caíram dessas árvores de canto. [...] As máquinas dos brancos fazem delas peles de imagens que os seus cantores olham, sem saber que nisso imitam coisas vindas dos xapiri. Por isso os brancos escutam tanto rádios e gravadores! Mas nós, xamãs, não precisamos desses papéis de cantos. Preferimos guardar a voz dos espíritos no pensamento. Assim é. Transmito estas palavras pois eu mesmo vi, após nossos maiores, os inumeráveis lábios moventes das árvores de cantos e a multidão dos xapiri se aproximando delas. […] Eu ouvi mesmo suas melodias infinitas se entrelaçando sem parar!
KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 115.
Nesse trecho, várias ações são praticadas e expressas por meio dos verbos. Os termos que expressam quem pratica ou recebe a ação de um verbo chamam-se sujeito. Entender os diferentes tipos de sujeito de uma oração pode contribuir significativamente para reconhecer os sentidos do texto e as possibilidades expressivas da linguagem.
3 O verbo em destaque indica uma ação praticada por “os inumeráveis lábios moventes das árvores de cantos e a multidão dos xapiri ”.
a) Quais são os termos fundamentais para identificar o termo sobre o qual o verbo declara algo?
b) Por que o verbo em destaque está no gerúndio?
Os termos são lábios e multidão. Porque faz referência a uma ação que ocorre continuamente.
4 Considere agora o verbo em destaque.
a) A que termo se refere o verbo?
b) Que outro verbo poderia substituir o destacado sem prejuízos de sentido?
4. a) Espera-se que os estudantes percebam que não há agente dessa ação. O verbo existir: existem
Sujeito é o termo essencial da oração sobre o qual se declara algo no predicado. O núcleo do sujeito será sempre um substantivo ou uma palavra ou expressão com valor de substantivo.
2. a) A ideia de nós [os xamãs que se referem a si mesmos] expressa no texto pratica a ação de preferir, e a ideia de eu [autor do texto, Davi Kopenawa] pratica a ação de transmitir.
2. b) É possível identificá-las pela conjugação do verbo e pelo conhecimento dos mecanismos de coesão: preferimos (1a pessoa do plural) e transmito (1a pessoa do singular).
Observe o exemplo a seguir, retirado de um trecho de texto analisado nesta unidade. Os espíritos sabiá levam […] folhas cheias de desenhos.
Sujeito Predicado
Nesse período, quem pratica a ação de levar é o sujeito “Os espíritos sabiá”. Esse sujeito, por sua vez, possui um termo fundamental para entender quem pratica a ação, que é espíritos. Espíritos é considerado o núcleo do sujeito.
Os espíritos sabiá.
Sujeito determinado e sujeito indeterminado
O sujeito pode ser classificado como determinado ou indeterminado
O sujeito determinado é aquele que está claramente expresso na frase ou pode ser inferido pelo contexto ou pelas terminações verbais.
As máquinas dos brancos fazem delas peles de imagens […].
Sujeito expresso no período (nós, os xamãs) Preferimos guardar a voz dos espíritos no pensamento.
Sujeito inferido no período: refere-se a nós, os xamãs, termo que antecede o verbo.
Observe, a seguir, as classificações do sujeito determinado
Sujeito determinado
Sujeito simples O sujeito apresenta apenas um núcleo.
Sujeito composto O sujeito apresenta mais de um núcleo.
Sujeito desinencial ou oculto
O sujeito é dado pela desinência verbal.
Iñe-e descia aquelas águas em uma igara […].
Todos os cantos dos espíritos provêm dessas árvores muito antigas.
De um dos cabeços da Serra dos Órgãos desliza um fio de água […].
[…] os inumeráveis lábios moventes das árvores de cantos e a multidão dos xapiri se aproximando delas […].
[…] à tarde um velho cacique e um mancebo índio, do cume deste mesmo outeiro, lançavam um olhar de saudosa despedida […].
E [agrupamentos] guerreavam também.
[nós] Preferimos guardar a voz dos espíritos no pensamento.
O sujeito indeterminado é aquele cuja identidade não se consegue precisar.
Observe os casos a seguir, baseados em períodos encontrados em textos estudados nesta unidade.
Invadiram as terras yanomami.
Anunciaram novas medidas para garantir segurança aos yanomami.
Professor, se achar adequado, lembre os estudantes de que o sujeito indeterminado é uma categoria gramatical. Em certos casos, o contexto pode permitir a identificação dos agentes sujeitos. Por exemplo: “Não reconhecem os direitos dos indígenas”. E há casos de sujeito determinado que também indeterminam o agente. Por exemplo: “Alguém passou em casa hoje, mas não sei quem é”, mas esses são casos de natureza discursiva, e não gramatical. Se julgar conveniente, explique essas diferenças aos estudantes.
Nesses exemplos, não é possível identificar um referente explícito que possa ser tomado como sujeito para os verbos na 3a pessoa do plural destacados. Por isso, o sujeito é chamado indeterminado.
O uso da 3a pessoa do plural é a forma de construção do sujeito indeterminado para os verbos transitivos diretos. Agora, observe outro exemplo.
[…] Discutiu-se a necessidade de os missionários portugueses receberem treino superior, particularmente nas ciências visadas no congresso, a ‘etnologia’ e a ‘antropologia’.
AMARAL, Ana Rita de Almeida. Antropologias espiritanas: museus, etnografia e colecções em Angola colonial (c.19191960). 2018. Tese (Doutorado em Antropologia com Especialidade em Antropologia e História) – Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa, Lisboa, 2018. p. 79. Disponível em: https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/34426/1/ulsd731973_td_ Ana_Amaral.pdf Acesso em: 7 set. 2024.
Nesse caso, o uso da 3a pessoa do singular, seguido do pronome se corresponde a outra forma de construção da indeterminação do sujeito.
A indeterminação do sujeito pode ser expressa usando o verbo na 3a pessoa do plural ou na 3a pessoa do singular acompanhado do pronome se, indicando que a ação ocorre, mas sem especificar um agente.
Sintaticamente, o sujeito pode ser determinado ou indeterminado.
O sujeito determinado pode ser simples (um só núcleo), composto (mais de um núcleo) e oculto ou desinencial (indicado pela desinência do verbo ou identificado pelos mecanismos de coesão em um texto).
O sujeito indeterminado é aquele que não permite identificar o termo sobre o qual o predicado declara algo. Em geral, o verbo está na 3a pessoa do plural ou acompanhado do pronome se, que, nesse caso, tem função de indeterminar o sujeito.
Leia os exemplos a seguir.
Há muitas dessas árvores amoa hi também nos confins da terra dos brancos […].
Choveu durante a noite, mas já havia pegadas no chão.
MACEACHERAN, Mike. O pequeno e inusitado deserto que fica no meio da neve no Canadá. BBC News Brasil, [s. l.], 31 jul. 2018. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/vert-tra-44987690. Acesso em: 7 set. 2024.
No primeiro caso, ocorre mais um exemplo de oração sem sujeito, pois o verbo haver no sentido de “existir” é impessoal.
No segundo exemplo, não existe um sujeito para choveu, pois o verbo remete a um fenômeno da natureza. Nesse caso, há um verbo impessoal e identifica-se uma oração sem sujeito.
O sujeito é inexistente quando o predicado é formado por um verbo impessoal ou que expressa fenômenos meteorológicos.
1. a) Por ser organizado por estudantes, pesquisadores e pensadores indígenas, o evento teve o enfoque no debate sobre emergência climática, mas sob a perspectiva indígena e do pensamento dos povos originários.
1. b) Tradicionalmente, os indígenas eram o tema de pesquisas acadêmicas, e não os pesquisadores. Colocar os indígenas como agentes da produção acadêmica subverte o lugar passivo anterior que lhes foi imputado.
Leia o artigo a seguir, da ativista indígena roraimense Txai Suruí (1997-).
Aconteceu de quarta (20) até esta sexta (22), em Brasília, o 1o Encontro Internacional de Pesquisadores Indígenas entre Aldeias e Universidades, organizado pela União Plurinacional de Estudantes Indígenas (Upei), no auditório do CNPq. […]
Com a proposta de debater temas importantíssimos, como a emergência climática e a ciência originária, o encontro fortalece a presença indígena na academia. Foi um evento organizado por estudantes, cientistas, pesquisadores e pensadores indígenas para os estudantes indígenas, a academia e a sociedade em geral, que debateu a importância de valorizar o pensamento originário para superar a crise do clima e propor nossas formas de ser e estar neste mundo visando um futuro que é ancestral. […]
Em entrevista à Folha, Arlindo Baré, presidente da Upei, afirmou: ‘Nós, povos indígenas, sempre pautamos a justiça climática a partir da preservação da natureza. A gente tem esse papel importante. Em relação à área de pesquisa, conseguimos ter dados, informações e índices para dizer também que a ciência concorda com aquilo que a gente já fala há milhares de anos, desde os nossos ancestrais’.
Na revolução para transformar a academia, esses estudantes transformam seus papéis, deixando de ser objeto de pesquisa para serem eles próprios os pesquisadores, os cientistas e os pensadores. Levam assim o conhecimento indígena para dentro da universidade e valorizam a educação e o ensinamento aprendidos dentro de suas aldeias e territórios com nossos mais velhos e seus povos.
SURUÍ, Txai. Os indígenas e a ciência. Folha de S.Paulo, São Paulo, 22 mar. 2024. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ colunas/txai-surui/2024/03/os-indigenas-e-a-ciencia.shtml. Acesso em: 7 set. 2024.
1. O 1o Encontro Internacional de Pesquisadores Indígenas entre Aldeias e Universidades teve como objetivo debater temas como a emergência climática.
a) De que forma eventos como esse fortalecem a presença de indígenas na academia?
b) De que forma encontros como esse subvertem a forma como indígenas apareciam em contextos acadêmicos?
2. O t recho se inicia com o período a seguir.
Aconteceu de quarta (20) até esta sexta (22), em Brasília, o 1o Encontro Internacional de Pesquisadores Indígenas entre Aldeias e Universidades, organizado pela União Plurinacional de Estudantes Indígenas (Upei), no auditório do CNPq.
a) Considere o verbo acontecer do período. Identifique a que sujeito ele se refere, o núcleo do sujeito e sua classificação.
Ele se refere ao sujeito “o 1o Encontro Internacional de Pesquisadores Indígenas entre Aldeias e Universidades”; núcleo: encontro; sujeito determinado simples.
b) A o ração que contém o verbo acontecer está na ordem indireta. Que sentido se produz com essa inversão?
Dá-se mais destaque para o ato de acontecer, e não para o que aconteceu.
c) No segundo parágrafo, há um verbo que se refere ao mesmo sujeito do verbo acontecer. Que verbo é esse?
O verbo ser, na forma verbal foi.
d) Como se classifica o sujeito desse verbo e o que justifica a escolha por esse tipo de sujeito no texto?
O sujeito é oculto ou desinencial e se justifica para evitar repetições.
3. Considere o trecho seguinte.
Em entrevista à Folha, Arlindo Baré, presidente da Upei, afirmou: ‘Nós, povos indígenas, sempre pautamos a justiça climática a partir da preservação da natureza. A gente tem esse papel importante. Em relação à área de pesquisa, conseguimos ter dados, informações e índices para dizer também que a ciência concorda com aquilo que a gente já fala há milhares de anos, desde os nossos ancestrais’.
a) Copie o organizador a seguir no caderno e complete-o com o que se pede.
Nós, povos indígenas
A gente
Forma verbal Sujeito Tipo de sujeito pautamos tem conseguimos
Nós, povos indígenas
Determinado simples
Determinado simples
Oculto ou desinencial
b) Por que todos esses verbos, embora não tenham o mesmo sujeito, fazem referência a um mesmo enunciador, ou seja, ao mesmo “falante”?
Porque todos os sujeitos fazem referência aos indígenas e ao autor do texto, que também é indígena.
c) Em “a gente já fala há milhares de anos”, não é possível relacionar o verbo haver a um sujeito. Classifique o tipo de sujeito desse verbo e explique essa classificação.
O sujeito é inexistente, pois o verbo haver, no sentido de “existir”, não possui sujeito.
4. A seguir, leia a tirinha de Alexandre Beck.
profissionais”:
pois há uso do de “existir”. “O
Facebook: tirasdoarmandinho. Disponível em: https://www.facebook.com/tirasarmandinho/photos/a.488361671209144/942128012499172/?type=3. Acesso em: 7 set. 2024.
Na t irinha, Armandinho conversa com seu amigo indígena sobre o direito à terra dos povos originários.
a) De acordo com o garoto indígena, que relação com a terra seria diferente entre indígenas e não indígenas?
De acordo com o garoto, as pessoas não possuem um pedaço de terra, elas fazem parte dela.
b) Na tirinha, algumas formas verbais não permitem identificar com clareza o sujeito. Quais são essas formas verbais? Como o sujeito se classifica nesse caso?
As formas verbais são perguntaram e expulsaram; o sujeito é indeterminado.
c) Embora o sujeito dessas formas verbais não possa ser identificado no texto, ainda é possível formular hipóteses de quem seja, dada a história dos povos indígenas. Que sujeitos poderiam ser atribuídos a essas formas verbais no contexto da tirinha?
5. Analise atentamente a capa de revista a seguir.
sujeito simples, com apenas um núcleo, o termo
Os possíveis agentes dessas formas verbais seriam os brancos, que ainda possuem uma atitude de colonizadores e desejam invadir terras indígenas.
a) O s destaques na capa de uma revista convidam o leitor para explorar a publicação. Qual é a provável preocupação do leitor que se interessa pelos títulos da capa apresentada?
As condições de trabalho no cenário
sujeito simples, com apenas um núcleo, o substantivo salvação “Descubra”, sujeito oculto ou elíptico; “As transformações”, sujeito simples, com apenas um núcleo, o substantivo transformações. 5. c) O uso da oração sem sujeito em “Haverá precarização das relações profissionais” tem o efeito de não atribuir a consequência da precarização à ação de um ator social específico. Já o uso do sujeito oculto em “Descubra quais serão as transformações”, com uso da 3a pessoa do singular, tem o efeito de colocar o leitor como o sujeito, o agente a acompanhar a investigação do tema na reportagem anunciada na capa: “Descubra (você) as transformações”, despertando o interesse do leitor em sua própria condição de trabalhador que estará sujeito ao cenário socioeconômico posterior à pandemia.
socioeconômico posterior à pandemia do coronavírus.
b) No texto situado na parte inferior da capa, encontram-se algumas possíveis indagações acerca do tema destacado. Identifique os sujeitos presentes e classifique-os quanto ao tipo.
c) Qual é o efeito de sentido do tipo de sujeito encontrado em “Haverá precarização das relações profissionais” e em “Descubra quais serão as transformações”?
VOCÊ S/A. São Paulo: Abril, 2020. Mensal.
Reprodução da capa da edição 256.
4. “Tenta-se retirar dos povos essa potencialidade que eles foram adquirindo pós-Constituição.”
Professor, o período é composto. Ainda que não tenham estudado, o importante aqui é ajudar os estudantes a identificar o verbo que corresponde ao sujeito indeterminado e o uso estratégico desse sujeito nesse texto.
1. a) Sim, porque atua há muito tempo junto a comunidades indígenas. 1. b) Defende a ideia de que os indígenas são sujeitos de direito, reconhecidos pela Constituição Federal de 1988, e têm direito à terra.
3. Em Não aceitam, o sujeito indeterminado é construído com a flexão do verbo na 3a pessoa do plural. Em não se aceita, a indeterminação é dada pelo verbo flexionado na 3a pessoa (do singular, neste caso) seguido do pronome se (índice de indeterminação do sujeito).
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A seguir, leia um trecho de reportagem sobre um debate ocorrido durante a XXIII Assembleia Geral Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que ocorreu em setembro de 2019, em Luziânia (GO).
5. Porque o texto não define quem tira a possibilidade de autonomia e assim desconstrói o direito à terra.
Quando o missionário Roberto
1 O trecho selecionado da reportagem foca a fala de um missionário que discute questões relacionadas à posse das terras.
a) Você acredita que o missionário tem autoridade para falar sobre esse tema? Por quê?
b) Qual ideia ele defende?
2 A organização sintática do trecho em destaque adota o sujeito indeterminado: “não se aceita [algo]”.
a) O que essa organização sintática deixa de identificar?
b) A Constituição Federal de 1988 é uma referência para o debate. Nesse contexto, o leitor pode identificar quem “não aceita”? Quem seria?
c) O uso do sujeito indeterminado tem valor estratégico na fala do missionário. Que benefício ele produz ao autor ao adotar essa estratégia?
Liebgott chegou ao Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a Constituição Federal havia sido promulgada há apenas dois anos. […] A preocupação com a situação da Constituição permeia todo o encontro nacional da entidade. […]
Para o missionário, que integra o Cimi Regional Sul, atuando na equipe de Porto Alegre (RS), ‘chegamos ao hoje em dia e não se aceita que os povos sejam sujeitos de direitos. Tenta-se retirar dos povos essa potencialidade que eles foram adquirindo pós-Constituição. Tirar dos povos essa possibilidade de autonomia é desconstruir o direito à terra. É disso que se trata os recentes ataques contra os direitos indígenas’.
O direito indígena à terra é originário, inalienável, indisponível e imprescritível. Não aceitam que o direito indígena seja originário, de antes da formação do Estado […].
CIMI. Assessoria de Comunicação. “ Não aceitam que os povos indígenas sejam sujeitos de direito”, aponta debate. Brasília, DF: Conselho Indigenista Missionário, 12 set. 2019. Disponível em: https://cimi.org.br/2019/09/ nao-aceitam-que-os-povos-indigenas-sejam-sujeitos-dedireito-aponta-liebgott-durante-assembleia-geral-docimi/. Acesso em: 7 set. 2024.
2. a) Quem não aceita que os indígenas sejam reconhecidos como cidadãos pela Constituição Federal de 1988.
2. b) São, principalmente, os parlamentares.
Você notou que, em sua fala, o missionário evita identificar a quem ele se opõe. Para isso, constrói vários períodos usando o sujeito indeterminado. Assim, ele impessoaliza sua fala.
3 No trecho em destaque, o sujeito também é indeterminado. Qual a diferença de construção de “não se aceita”?
4 Copie do texto, no caderno, outro trecho que apresente sujeito indeterminado com o mesmo tipo de construção de sujeito que o do trecho destacado.
a) A função estratégica do uso do indeterminado é a mesma? Por quê?
b) Que efeito de sentido teria a formulação de um período com sujeito determinado?
5 Nesse trecho, o sujeito de “tirar dos povos essa possibilidade de autonomia […]” é toda a frase seguinte. Embora o sujeito seja gramatical e sintaticamente determinado, ele não é determinado do ponto de vista do sentido. Por quê? Explique.
2. c) O benefício de sugerir um sujeito coletivo, que pode ser eventualmente entendido no plano institucional; ou não angariar opositores explícitos, por diluir a crítica.
4. a) Sim, a construção é paralela a “não se aceita”: em ambos os casos, evita-se crítica direta, porque está diluída.
4. b) O texto adotaria um tom mais provocador.
Professor, assegure-se de que todos compreenderam o humor da tirinha. Pergunte aos estudantes: o passarinho com quem o provável cantor conversa concorda com a ideia de ele seguir essa carreira? Quem é o passarinho machucado no consultório no último quadrinho?
A impessoalização também é uma marca de textos acadêmicos e jornalísticos. Essa linguagem quer sugerir uma objetividade que visa garantir a integridade das informações apresentadas. Ao se optar por uma abordagem que evita o uso de sujeitos determinados, bem como de expressões que denotam opiniões ou visões particulares, procura-se uma objetividade que tem valor estratégico.
O uso do sujeito indeterminado é uma das maneiras de construir a impessoalização na linguagem. Esse tipo de sujeito pode expressar apenas desconhecimento do agente; por exemplo: “Derrubaram minha caneta”. Mas também pode ser usado com propósitos mais estratégicos. Observe a tirinha e o começo de um enunciado da prova do Enem de 2017.
Fala-se muito nos dias de hoje em direitos do homem. Pois bem: foi no século XVIII – em 1789, precisamente – que uma Assembleia Constituinte produziu e proclamou em Paris a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Essa Declaração se impôs como necessária para um grupo de revolucionários, por ter sido preparada por uma mudança no plano das ideias e das mentalidades: o iluminismo.
FORTES, 1981 apud BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Exame Nacional do Ensino Médio: prova de linguagens, códigos e suas tecnologias e redação: prova de ciências humanas e suas tecnologias. [Brasília, DF]: MEC: Inep, 2017. p. 20. Disponível em: https://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/provas/2017/2017_PV_ impresso_D1_CD1.pdf. Acesso em: 7 set. 2024.
Na fala do passarinho, o verbo dizer está flexionado na 3a pessoa do plural. Não identifica o sujeito, que sintaticamente é classificado como indeterminado. O enunciado do Enem trata do surgimento do Romantismo. O sujeito do verbo falar também é indeterminado. No primeiro caso, a provável intencionalidade do passarinho é não dar nome a quem lhe sugeriu a carreira de cantor por motivos que o último quadrinho pode talvez explicar. Já no enunciado do Enem, a opção pelo sujeito indeterminado sugere que muitos falam a respeito do assunto abordado.
O sujeito indeterminado pode contribuir para impessoalizar o discurso. A impessoalização pode ser produzida por outros recursos que serão vistos em outro momento. Trata-se de um recurso que, em geral, está associado a uma intencionalidade estratégica.
Mas lembre-se: embora construa sentidos diversos e possa ser empregada para a impessoalização do discurso, a classificação de sujeito indeterminado é gramatical. Se o enunciado do Enem tivesse uma redação como: “Muitas pessoas falam nos dias de hoje…”, semanticamente também não seria possível identificar quem fala; mas o sujeito, nesse caso, seria determinado: muitas pessoas
3. a) Refere-se aos processos que pode ter recebido por causa de suas ações. Embora o bombardeio de Calecute tenha ocorrido depois de sua chegada ao Brasil, mostra um tipo de comportamento questionável. Professor, se julgar conveniente, peça aos estudantes que consultem o professor de História a fim de relembrar esse episódio da viagem de Cabral da Bahia à Índia.
1. A seguir, leia outra tirinha de Alexandre Beck.
Não escreva no livro.
BECK, Alexandre. [Picharam o Monumento dos Bandeirantes…]. [S. l.], 30 set. 2016. Facebook: tirasdoarmandinho. Disponível em: https://www.facebook.com/tirasarmandinho/photos/a.488361671209144/1300420656669904/?type=3. Acesso em: 7 set. 2024.
De forma ambígua, a tirinha faz referência à prática de vandalismo.
a) O que pode ser considerado vandalismo na tirinha?
1. a) O vandalismo pode ser tanto jogar tinta na estátua quanto destruir aldeias e escravizar indígenas.
b) O termo vândalos pode ser relacionado a dois referentes. Quais são eles?
2. Considere o período: “Picharam o Monumento dos bandeirantes…”.
1. b) Vândalos podem ser as pessoas que jogaram tinta na estátua ou os bandeirantes.
a) Classifique o sujeito do verbo pichar
É um sujeito indeterminado.
b) Como é possível identificar esse tipo de sujeito?
c) Por que, na tirinha, optou-se por esse tipo de sujeito?
Por meio da conjugação do verbo na 3ª pessoa do plural. Porque não se sabe quem praticou a ação de pichar.
d) No segundo quadrinho, há uma forma verbal que segue a mesma conjugação da forma picharam . É o mesmo tipo de sujeito? Explique.
Não, é um sujeito simples, pois se refere a esses vândalos
3.
A s eguir, leia uma charge e um trecho de uma reportagem que conta o que Pedro Álvares Cabral fez ao chegar à Índia.
[…] Ordenou o ataque e o saque de dez navios mercantes árabes, assassinando 600 tripulantes. E foi além: bombardeou Calicute por dois dias.
CARVALHO, Alexandre. Cabral depois do descobrimento. Superinteressante, São Paulo, 27 mar. 2023. Disponível em: https://super.abril.com.br/historia/cabral-depois -do-descobrimento. Acesso em: 8 set. 2024.
a) Para entender a charge , é necessário conhecer um pouco da história. A que se refere a papelada que acompanha Cabral?
b) A fala do indígena passa por um processo de impessoalização. Por quê?
Porque faz referência a um discurso que circularia sem que se soubesse sua origem.
TAVARES, Elton. [Charge Amazônia 22: descobrimento do Brasil]. Blog de Rocha! [S. l.], c2024. Disponível em: https:// www.blogderocha.com.br/charges-de-agora-514/charge -amazonia22-descobrimento-do-brasil-2/. Acesso em: 8 set. 2024.
c) A charge critica um tipo de político que acumula processos por ter adotado condutas questionáveis. Por que foi usado o sujeito indeterminado?
O uso do sujeito indeterminado é adotado para evitar a necessidade de se identificar quem é o político.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Nesta unidade, você leu textos que adotam diferentes pontos de vista com relação às populações indígenas. Entre eles, um artigo de divulgação científica que rompe com estereótipos ao contrariar a ideia de atraso no modo de vida dos povos originários. Você dará continuidade a essas reflexões, divulgando para a turma o resultado de uma pesquisa acadêmica atual.
O que você irá produzir
Com a orientação do professor, a turma será organizada em grupos de quatro a cinco que pesquisarão estudos com a temática indígena que tenham sido produzidos no último ano no Brasil ou no mundo. Com base nos dados encontrados, produzirão um artigo de divulgação científica a ser divulgado na escola a fim de apresentar informações que ajudem a combater o preconceito relacionado às culturas indígenas.
Professor, oriente os estudantes a consultar, por exemplo, o Google Acadêmico, que é uma ferramenta de pesquisa que facilita a localização de artigos, teses, dissertações e outras publicações acadêmicas.
Busque a leitura de artigos científicos e textos de divulgação científica (notícias e reportagens). Para pesquisar artigos acadêmicos, use palavras-chave nos mecanismos de busca, refinando a pesquisa com termos como indígena, povos originários etc. É fundamental atestar a veracidade e confiabilidade do texto lido, verificando, por exemplo, se uma pesquisa foi produzida e publicada por alguma instituição de confiança.
Depois de selecionada a pesquisa a ser divulgada, os grupos irão definir que membro ficará responsável por qual informação: quem realizou a pesquisa, quando, onde, como foi realizada, quais foram os resultados. Ao longo da pesquisa, separe trechos de texto, fotos, ilustrações e gráficos que representem o tema e salve-os em uma nuvem de dados ou em um dispositivo de armazenamento para serem utilizados em seu artigo.
lABORATORIO DE PRODUÇÃO
A coesão por substituição semântica
Releia este trecho do artigo de divulgação analisado nesta unidade.
Não escreva no livro.
[O arqueólogo Michael Heckenberger] afirma ter identificado uma rede de antigas vilas […] que fazem as atuais aldeias indígenas parecerem anãs.
Organizados em grandes círculos e com capacidade para abrigar milhares de pessoas, esses agrupamentos eram cercados por fossos de vários metros de largura e profundidade […]. No auge, alguns desses núcleos chegaram a ser endereço para mais de 2 mil moradores. Não se sabe exatamente como eles desapareceram […].
LOPES, Reinaldo José. As cidades perdidas da Amazônia. Superinteressante, São Paulo, 30 jan. 2023. Disponível em: https://super.abril.com.br/historia/as-cidades-perdidas-da-amazonia. Acesso em: 7 set. 2024.
Professor, faça a relação entre a palavra texto e a palavra tecer: o texto é um tecido, cuja trama exige certos entroncamentos, certos nós como os de uma malha; o processo de coesão compõe o processo da tessitura; desse tecer é que resulta o texto. Se considerar oportuno, explique aos estudantes que as ocorrências do pronome eles, no texto, também constroem coesão: referem-se a agrupamentos, na primeira, e a núcleos, na segunda, sendo que ambos os substantivos substituem antigas vilas
As palavras destacadas referem-se todas ao mesmo termo: antigas vilas. Esse termo será retomado pelas palavras agrupamentos, núcleos. Essa retomada com palavras que substituem a primeira constrói uma rede semântica que situa o leitor com relação ao que se afirma. A esse processo de costura interna do texto dá-se o nome de coesão. Como, nesse caso, a substituição é feita por termos equivalentes, essa coesão se faz por substituição semântica. A coesão é fundamental para garantir o sentido do texto.
Agora é a sua vez: reescreva o parágrafo a seguir no caderno trocando os asteriscos por um termo que substitua “arte plumária indígena brasileira”.
A arte plumária indígena brasileira é uma das expressões plásticas mais conhecidas e impactantes das culturas nativas do Brasil. […]
Chamou a atenção dos europeus desde que primeiro chegaram ao território brasileiro no século XVI, e vários exemplares foram coletados e enviados às cortes do além-mar […]. Até pouco atrás essa/esse* não era considerada(o) mais do que um artesanato exótico, mas hoje a/o* dos indígenas brasileiros é reconhecida como uma verdadeira linguagem visual, [...]. Porém, a despeito de sua recente consagração entre os estudiosos e o grande público, esse/essa* corre o risco de se desvirtuar pela aculturação das tribos e a transformação de objetos simbólicos em produto comercial e turístico, e pode vir mesmo a desaparecer […].
MANTO tupinambá. Século XVI. 1 manto, penas de guará. Museu Nacional do Rio de Janeiro.
No original: fascinante forma de expressão, produção plumária, rico acervo de tradições, significados e formas. Outras possibilidades: patrimônio, arte tradicional, expressão estética, esse artefato cultural, produto cultural etc.
Produzir
Professor, a referência do texto utilizado na atividade não foi fornecida para evitar que os estudantes encontrassem a resposta acessando-o na internet. Assim, o texto está disponível em: ARTE plumária indígena brasileira. In: WIKIPEDIA:
Seu artigo de divulgação científica deverá considerar a estrutura a seguir.
Introdução: para captar a atenção do leitor, comece com uma pergunta intrigante, um fato surpreendente ou uma breve história.
the free encyclopedia. [San Francisco, CA: Wikimedia Foundation], 31 maio 2023. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_plum%C3%A1ria_ ind%C3%ADgena_brasileira. Acesso em: 8 set. 2024.
Desenvolvimento: divida o texto em seções com subtítulos claros, certificando-se de que as ideias fluem logicamente de uma para a outra.
Conclusão: reforce os pontos discutidos, sugerindo possíveis consequências.
Linguagem: use termos e expressões fáceis de entender, evitando termos complexos. Se eles forem necessários, explique-os de forma didática.
Imagens e gráficos: adicione gráficos, tabelas e imagens para ilustrar os pontos relevantes, com legendas explicativas, e infográficos para resumir dados.
• Discurso reportado: traga a voz dos autores do artigo que foram a fonte de sua pesquisa, de forma direta ou indireta.
Professor, reforce para os estudantes a diferença entre citação direta e citação indireta no item “Discurso reportado”. No discurso direto, basta citar trechos do texto do autor entre aspas.
• Referências: cite adequadamente as fontes utilizadas para dar crédito aos autores e permitir que os leitores busquem mais informações, se assim desejarem.
Se a ideia for citar indiretamente, deve-se identificar a quem pertence a ideia ou afirmação, usando expressões como: “segundo o pesquisador […]”; “conforme o texto de […]”; “segundo a pesquisa […]”; “o pesquisador acredita que”, entre outras.
A turma pode compartilhar os textos em redes sociais, no site da escola ou fixá-los em sua forma impressa no mural da turma para que possam ser lidos por todos.
Para compreender melhor os textos da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, é preciso saber que os componentes curriculares que a compõem trabalham com fatos históricos, análise de dados e interpretação de documentos e, frequentemente, expõem fenômenos e processos históricos, geográficos, econômicos, sociais, políticos e culturais, possibilitando ao leitor construir uma visão crítica e contextualizada da realidade. Dessa forma, visam desenvolver também a capacidade de estabelecer diálogos e tecer relações – entre indivíduos, grupos sociais e cidadãos de diferentes culturas e nacionalidades – fundamentais para a construção de uma sociedade ética, pautada nos princípios dos direitos humanos e livre de todo tipo de preconceito.
O texto que você vai ler é da historiadora Mary Del Priore (1952-), que dedicou seus estudos à História do Cotidiano, uma linha historiográfica que entende que a história não é feita apenas pelas grandes personagens ou eventos, mas por pessoas comuns em suas atividades diárias, corriqueiras. No trecho apresentado a seguir, ela aborda o processo de urbanização de algumas cidades brasileiras nas primeiras décadas do século XX.
As atividades propostas na sequência supõem que a leitura vise ao estudo do texto.
Ao longo das primeiras décadas do século XX, o êxodo rural, a industrialização e a ocupação de novos espaços por muitos ricos – como se deu em São Paulo, por exemplo, na avenida Paulista ou em Higienópolis – garantiram a tradicional divisão, pois as medidas urbanizadoras incluíram colocar abaixo as chamadas cabeças de porco, os cortiços, os solares decadentes e as estalagens. Os higienistas ansiavam por curar as cidades de suas patologias sanitárias, sociais e espaciais.
Mas, à medida que eles derrubavam sobrados velhos, nos grandes centros, os moradores subiam os morros e erguiam favelas. Uma que marcou época foi a do morro da Providência, cujas casinholas foram erguidas com paus e pedras remanescentes do famoso cortiço Cabeça de Porco, no Rio de Janeiro. Um dado interessante é que o índice de urbanização no Brasil pouco se alterou do fim do período colonial até a virada para o século XX. Entre as décadas de 1890 e 1920, houve um crescimento de cerca de 3% apenas. Foi somente no período entre 1920 e 1940 que o Brasil triplicou sua taxa de urbanização, alcançando 31,24%. A implantação de indústrias, as mudanças na forma de vida e de consumo e a possibilidade de mobilidade social atraíam mais e mais pessoas para as cidades. Com isso, cresciam as camadas populares. Em 1901, 50 mil operários residiam no estado de São Paulo. Muitas indústrias, empresas e companhias ferroviárias seguiam o modelo inglês de criação de ‘cidades operárias’ próximas ao trabalho. Eram habitações salubres e baratas. No Rio de Janeiro, moradores do subúrbio perfaziam 18% da população. […]
Quando o Rio de Janeiro começava a tomar ares de progresso sob a concepção europeia em voga, Belém já havia se beneficiado com as reformas urbanísticas proclamadas por todos os seus visitantes de princípio de século, que não escondiam a surpresa, como aconteceu com Humberto de Campos: ‘O forasteiro não tem ideia, de longe, de tão complexo foco de cultura. Um cronista de época comparou Belém a uma pequena Paris. No bom gosto, no luxo, no movimento comercial, na intimidade com os vícios elegantes da civilização, na propensão à cultura, às belas-artes. Dizia-se: Belém é a única cidade brasileira que reúne os atrativos de uma cidade europeia’.
PRIORE, Mary Del. Histórias da gente brasileira: volume 3: República: memórias (1889-1950). Rio de Janeiro: Leya, 2017. p. 153-156.
2. Resposta possível: O crescimento da população urbana no Brasil acelerou-se entre 1920 e 1940. As oportunidades de melhoria de vida atraíram muitas pessoas para cidades como Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP). Belém (PA), no início do século XX, já se destacava por ter “os atrativos de uma cidade europeia”.
1. Que dados apresentados no texto podem ser organizados em uma ordem cronológica? Como ficaria essa ordem?
Os dados relativos ao crescimento da urbanização no Brasil. A ordem cronológica dos dados: virada do século XIX para o XX; décadas de 1890 e 1920; período de 1920 a 1940.
2. Fazer resumos pode ajudar a entender melhor um texto e a refletir sobre as informações apresentadas por ele. Escreva, no caderno, um parágrafo que resuma as informações essenciais do texto de Mary Del Priore.
3. Agora, reflita sobre as relações estabelecidas entre alguns fatos apresentados no texto.
a) Qual seria o principal motivo, de acordo com o texto, que justifica o crescimento da urbanização no país?
A implantação de indústrias por todo o país aumentava as oportunidades de trabalho e atraía um maior número de pessoas para as cidades.
b) Que elementos do cotidiano relacionados ao processo de urbanização das cidades são considerados no texto?
As mudanças na forma de vida e de consumo e as novas possibilidades de mobilidade social.
c) Releia o trecho a seguir.
Muitas indústrias, empresas e companhias ferroviárias seguiam o modelo inglês de criação de ‘cidades operárias’ próximas ao trabalho. Eram habitações salubres e baratas.
• Com base nele, o que é possível supor sobre o perfil dos trabalhadores atraídos pelas oportunidades de trabalho e o processo de ocupação das cidades?
Pode-se supor que eram trabalhadores de camadas mais populares e que essas habitações são exemplos do processo de transformação das cidades brasileiras no início do século XX.
4. Observe a imagem e, com base nas informações apresentadas no texto, pesquise que características faziam de Belém (PA) a única cidade brasileira a reunir “os atrativos de uma cidade europeia” no início do século XX. Comente com os colegas as informações que você encontrou.
Em relação às características urbanas, diferentemente de outras capitais, Belém já apresentava avenidas largas, prédios luxuosos, luz elétrica, bondinhos e estabelecimentos culturais.
5. a) As grafias antigas como nas palavras anno, Nictheroy e coefficientes, que revelam como as transformações da língua funcionam como marcadores
BOULEVARD Castilhos França:
Belém – Pará – Brasil. Século XX. 1 cartão-postal. Detalhe do cartão.
Documentos históricos (ou fontes históricas) são todos os vestígios deixados por sociedades de outras épocas. Eles podem ser escritos (cartas, diários, jornais, documentos oficiais, entre outros) ou não escritos (imagens, relatos e narrativas orais).
5. Observe o infográfico ao lado direito e responda ao que se pede.
a) Que elementos revelam que o infográfico é um documento histórico?
b) De que forma os dados apresentados no infográfico se relacionam com as informações apresentadas no texto da historiadora?
c) Qual é o impacto do número de casamentos nesse contexto?
históricos; o homem como representante da população, indicando que a sociedade era organizada em torno da autoridade patriarcal; as vestimentas, que ilustram os trajes utilizados naquela época. 5. b) O infográfico mostra o número de habitantes em algumas cidades citadas pela historiadora e apresenta o Rio de Janeiro em destaque como maior centro populacional. Entretanto, esses dados são do ano de 1907, não mencionado especificamente no texto pela autora. Portanto, as informações do infográfico precisariam ser ampliadas e aprofundadas. 5. c) Nesse contexto de urbanização, o aumento de casamentos, que geram filhos, implica mais pessoas passando a viver nas cidades. Professor, seria interessante propor uma discussão sobre as consequências negativas do aumento populacional nas cidades e sugerir uma pesquisa sobre a taxa de natalidade da população brasileira em 1907 e na atualidade.
POPULAÇÃO: anno de 1907. In: BRASIL. Directoria Geral de Estatistica. Boletim Commemorativo da Exposição Nacional de 1908, Rio de Janeiro, 1908. Localizável em: entre as páginas 86 e 87 do boletim. 1 infográfico. Foram mantidas as grafias originais.
As cidades brasileiras mantêm certas características desde a formação do país, quando começaram a se instalar e se desenvolver, entre elas, a falta de planejamento. Raramente foram pensadas como um espaço público que precisaria ser organizado de modo a atender às necessidades da maioria da população. Essa realidade abre amplo caminho para uma reflexão sobre qual cidade, afinal, estaria ajustada a essas necessidades.
Neste projeto, você e os colegas irão retomar as discussões da unidade sobre cidades e pensar no futuro: que cidade poderia ser considerada próxima do ideal sem ser somente uma utopia?
Imagine essa cidade. Como ela seria se todos os problemas que você enxerga nela fossem resolvidos? Como torná-la um lugar muito mais sustentável, democrático e igualitário?
Professor, oriente os estudantes a consultar serviços gratuitos de mapas on-line e imagens de satélite da Terra, como o Google Maps.
Localize sua cidade em um mapa virtual ou físico. Será nesse mapa que você e os colegas construirão o mapa utópico da cidade ideal.
• O professor deve organizar a turma em grupos de três a quatro estudantes.
• Considere as discussões realizadas sobre cidades e reflita sobre problemas que precisam ser resolvidos na sua cidade. Avalie aspectos como moradia, saneamento básico, educação, mobilidade, cultura, esporte e lazer.
• P ontue itens como saúde pública, segurança, circulação, cultura, trabalho. Quais seriam as características mais importantes da cidade ideal para você? Por quê?
• Reflita: as características destacadas nas questões anteriores poderiam existir na região em que você vive? Por quê?
• Q uestione: o que poderia ser feito para que essa cidade do futuro possa existir? Quais seriam os caminhos possíveis?
Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes percebam o papel das políticas públicas nessa transformação.
Depois de feitas essas reflexões, o grupo deve selecionar três aspectos que podem transformar determinado(s) lugar(es) da cidade.
Localizem esse lugar no mapa e projetem uma ação que transformaria o lugar: que problema seria solucionado? Como ficaria esse lugar?
Respostas pessoais.
Registre as ações que devem ser tomadas para produzir as transformações projetadas. Mesmo que a cidade seja idealizada, use a imaginação. O grupo poderá se basear no modelo de mapa a seguir.
O reflorestamento da mata ciliar poderá trazer de novo a vida aos rios, protegendo-os de entulhos e enxurradas, além de restaurar as matas para espécies ameaçadas.
E xemplo de mapa urbano de cidade fictícia para planejamento de uma cidade ideal.
Produza o mapa interativo virtualmente com pins e a respectiva descrição, ou fisicamente, com indicação de legendas.
Para criar mapas em serviços gratuitos on-line , abra o aplicativo, selecione “Seus lugares/ Mapa/Criar Mapa” (peça a orientação do professor para indicar quais). Centralize o mapa e insira pins e as respectivas descrições. Depois, compartilhe com os colegas o link do mapa produzido.
Para o compartilhamento virtual, é importante pensar, junto com o professor, em um espaço que permita o diálogo com a comunidade, quem sabe dando origem a um grupo de discussão sobre a cidade.
Respostas pessoais. Supõe-se que os estudantes destaquem aspectos relacionados principalmente àquilo que apresenta carência em suas cidades.
QUADRINISTAS Indígenas. [S . l .], c2024. Instagram: quadrinistasindigenas. Disponível em: https://www.instagram.com/quadrinistasindigenas. Acesso em: 8 set. 2024.
Criado pelas ilustradoras TAI e Raquel Teixeira, pelo roteirista Marcelo Borary e pela autora Mayra Sigwalt em agosto de 2022, o coletivo de quadrinistas reúne indígenas de diferentes etnias e localidades que produzem histórias em quadrinho ou tenham interesse pelo gênero. A produção do coletivo, disponível em redes sociais, cria oportunidades de divulgação das histórias dessas etnias, de suas culturas e cosmologias.
Logotipo do coletivo Quadrinistas Indígenas.
PÃRÕKUMU, Umusi; K ˜ EHÍRI, Tõrãmũ Antes o mundo não existia . Rio de Janeiro: Dantes, 2019.
Coletânea de narrativas míticas que contam a história da criação do mundo segundo os desana, povo que habita a região do Alto Rio Negro, no estado do Amazonas. É considerado o primeiro livro escrito e ilustrado por indígenas publicado no Brasil.
Capa do livro Antes o mundo não existia
TESTA, Eliane Cristina; ALBUQUERQUE, Francisco Edviges; APINAJÉ, Júlio
Kamêr Ribeiro. Poesia indígena: etnopoesia Apinayé. São Paulo: Atena, 2021. Esse livro apresenta uma coletânea de poemas indígenas apinayé/português. Resultado do pós-doutorado da pesquisadora Eliane Testa, essa seleção envolveu seis meses de visitas técnicas, em 2019, à Escola Estadual Indígena Tekator, na aldeia Mariazinha, localizada no Território Apinayé, em Tocantinópolis, no estado de Tocantins. Nesse volume, estão reunidas algumas produções poéticas de estudantes e de professores indígenas.
Capa do livro Poesia indígena: etnopoesia Apinayé.
CABOCLO foi pra selva. Intérprete: Brisa Flow. Compositora: Brisa Flow. In : SELVAGEM como o vento. Intérprete: Brisa Flow. [S . l .: s . n .], 2018. Streaming , faixa 11.
Brisa Flow (c. 1988-), cujo nome completo é Brisa de la Cordillera, é uma artista ameríndia, cantora, musicista, compositora, poeta, performer, produtora musical, pesquisadora e ativista. Em seu álbum, a vivência indígena de uma mulher no contexto urbano é explorada por meio da mistura de hip-hop , música brasileira, R&B e a sonoridade dos seus ancestrais. É possível ouvir suas canções em plataformas de streaming
1. e) Os estudantes devem perceber que o ato de jogar tinta branca sobre si mesmo sugere um branqueamento ligado à ideia de que preto e negro estão ligados a proibição, negação, negatividade e interdição, sobrepondo-se a eles o poder do branco, representado pela cor da tinta.
As fotografias a seguir são de uma obra do artista paulistano Flávio Cerqueira (1983-). Ela pertence a uma série de esculturas sobre o povo preto do Brasil.
CERQUEIRA, Flávio. Amnésia. 2015. Látex sobre bronze, 137 cm x 30 cm x 26 cm. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.
1. b) Porque o personagem tem características físicas de um menino negro; ele está jogando tinta no próprio corpo como se, por meio dessa ação, pudesse se tornar branco.
1. c) Não, pois não há tinta suficiente para cobrir todo o corpo do menino. Professor, reforce o fato de que, apesar de todas as tentativas de embranquecimento da arte, esses esforços são insuficientes para apagar as obras criadas por pessoas pretas.
1. A escultura de Flávio Cerqueira apresenta um personagem que pratica uma ação.
a) Que ação está representada na escultura?
A ação de jogar tinta branca no próprio corpo.
b) Nessa composição, as características físicas do personagem são determinantes. Por quê?
c) A obra Amnésia de acordo com a crítica de arte Ana Abril, “é uma escultura que exemplifica o branqueamento das memórias brasileiras ao mostrar um menino negro jogando em sua própria cabeça uma lata de tinta branca”. Considerando o volume de tinta branca disponível na lata, pode-se dizer que esse branqueamento é efetivo? Explique.
d) O bserve a imagem que a tinta branca forma sobre o corpo do menino. A que ela pode ser associada? Que sentido isso produz?
e) Que reflexão se pode produzir com base na ação do menino?
1. d) A tinta branca pode ser associada às grades de uma prisão. Sugere-se que o corpo negro foi encarcerado na prisão do branqueamento (sentido figurado) e, eventualmente, em outras prisões (sentido literal), em razão do encarceramento em massa de pessoas negras.
2. Observe as imagens a seguir.
2. b) A representatividade negra em obras de arte, livros e outras mídias é fundamental para promover a inclusão e o reconhecimento de pessoas negras na sociedade. Observá-las representadas de maneira afirmativa fortalece a construção de identidade, autoestima e senso de pertencimento de indivíduos negros. Além disso, a representatividade combate preconceitos ao apresentar histórias diversas e complexas, rompendo com narrativas que desvalorizam ou invisibilizam as vivências das pessoas negras.
Turnê Zeca Pagodinho 40 anos. O show teve projeção de obras da artista Manuela Navas. Fotografia de 2024.
NAVAS, Manuela. Prenúncio/vida sem ensaio. 2024. Óleo sobre tela, 91,5 cm x 86 cm. Coleção particular.
2. a) Na imagem da artista Manuela Navas, mulheres negras festejam e confraternizam em um contexto que remete a uma reunião ou festividade. A mulher em primeiro plano parece estar dançando. Na fotografia, observa-se o musical Zeca Pagodinho 40 anos, em que foram projetadas imagens de pessoas negras em diferentes contextos. Professor, para conhecer mais sobre o trabalho de Manuela Navas, acesse a rede social da artista (disponível em: www.instagram.com/navas_manuela/; acesso em: 11 set. 2024).
Professor, caso queira saber mais detalhes sobre o Censo de 2022, o link está disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencianoticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/38719-censo-2022-pela-primeira-vez-desde-1991-a-maior-parte-da-populacao-do-brasil-se-declara-
a) Descreva as imagens apresentadas.
parda. Acesso em: 15 out. 2024. Para mais informações sobre o Atlas da violência de 2023, o link está disponível em: https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/publicacoes/250/atlas-da-violencia-2023. Acesso em: 15 out. 2024.
b) Por que é importante que artistas pretos representem pessoas pretas em livros, artes visuais, músicas e outras mídias?
No Censo de 2022, houve um aumento no número de pessoas que se autodeclaram pretas, chegando a 10,2% da população, e 45,3% das pessoas se declararam pardas. Juntas, essas duas categorias formam a população negra, que representa mais da metade da população brasileira. Ainda assim, pretos e pardos são a parcela da população que mais sofre no que se refere a desemprego, diferença salarial, violência social e acesso a direitos fundamentais, como saúde e educação. De acordo com o Atlas da violência publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em 2023, 80% dos homicídios envolvem pessoas negras. Esses dados mostram como, embora o regime escravocrata tenha acabado no final do século XIX, a população negra ainda vive às margens da sociedade. Nesta unidade, você vai conhecer mais sobre a literatura de emancipação negra, desde as obras do Romantismo que pretendiam combater a escravidão no século XIX até as produções contemporâneas.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Um dos debates do mundo contemporâneo diz respeito à equidade, que está entre os objetivos da agenda da Organização das Nações Unidas (ONU) para o desenvolvimento sustentável: “Até 2030, empoderar e promover a inclusão social, econômica e política de todos, independentemente da idade, gênero, deficiência, raça, etnia, origem, religião, condição econômica ou outra”.
A equidade encontra, no Brasil, inúmeros desafios. Um deles diz respeito às questões étnico-raciais. Ainda que essas relações sejam complexas no país, do ponto de vista da criação de arte e cultura, o tema tem se mostrado presente na prosa e na poesia de muitos escritores, que por meio da arte combatem o preconceito, afirmam sua identidade e conquistam um lugar social.
Para discutir
1 O r acismo no Brasil ocorre nas práticas cotidianas e se reproduz na própria estrutura social, com a falta de acesso a direitos básicos para toda a população negra do país. Discuta com os colegas sobre situações de racismo que você já viveu ou presenciou. Como foram? Houve alguma punição?
2 Q ue medidas têm sido adotadas para combater o racismo estrutural? E na sua escola e comunidade? Há medidas de punição? É importante lembrar: o racismo é um crime previsto na lei no 14.532, de 11 de janeiro de 2023.
Você vai ler a seguir um trecho do romance O céu para os bastardos (2023), da autora paulistana Lilia Guerra, que narra a história de Maria Expedicionária, também chamada de Sá Narinha ou Xispê, empregada doméstica moradora da periferia, do bairro Fim-do-Mundo. Em um romance marcado por memórias de relações cotidianas, violências, sensibilidades e amarguras, a protagonista tenta escapar como pode de um destino de miséria e tristeza, revestindo-se de esperança para sobrepujar tragédias familiares.
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#SOBRE
A escritora paulistana Lilia Guerra (1976-) apresenta, em suas obras, a vida e as experiências de mulheres negras e das periferias. Morando em Cidade Tiradentes, bairro da zona leste de São Paulo, a escritora avalia sua escrita como profundamente influenciada por suas vivências pessoais e pelo ambiente ao seu redor. Auxiliar de enfermagem no Sistema Único de Saúde (SUS), publicou Rua do Larguinho e outros descaminhos (2021), em que narra a vida de mulheres negras em profissões como empregada doméstica, babá, manicure, vendedora, trazendo-as para o papel de protagonistas de suas vidas. O céu para os bastardos (2022), protagonizado por uma personagem de Rua do Larguinho, aborda problemas sociais graves enfrentados por moradores da periferia. Lilia Guerra é também uma voz ativa nas redes sociais, onde recebe muitas mensagens de mulheres que se identificam com suas personagens.
O segundo texto, trecho de O avesso da pele (2020), do autor carioca Jeferson Tenório, narra a vida de Pedro, que, em busca de suas origens e identidade, revisita a trajetória de seu pai, Henrique, professor de Literatura que foi morto em uma abordagem policial desastrosa. Foto da escritora em 2023.
Nesse processo, Pedro constrói uma jornada de pequenos episódios marcados por situações cotidianas de racismo na Porto Alegre (RS) dos anos 1980. No trecho que você vai ler, Henrique é abordado pela polícia quando volta do trabalho.
[…] Quando comecei a trabalhar na casa, ele ainda era pequeno. Gostava de espionar, enquanto eu cozinhava. De observar as misturas de temperos. A mãe o repreendia, mas ele sempre escapava para a cozinha. Macio no falar, curioso, prestativo. Ainda assim dava para perceber que um assombro o perseguia. Não tinha a potência de outros meninos da mesma idade. […] Na cozinha, com a empregada, é que se sentia à vontade. Eu notava a insatisfação de Gerda em admitir que o filho tinha aquela natureza. Que se sentia bem em companhia de gente como eu. Uma mulher pobre. E preta. A Gerda é racista, sim! É evidente! Uma vez, Betinho trouxe o caderno para fazer o dever na cozinha. A lição era sobre o Treze de Maio. Enquanto estudava o ponto e via as gravuras no livro, parecia desolado.
— Xispê. Ainda bem que não tem mais escravidão, né?
Ele falou tão contente.
— É, Betinho. Ainda bem.
Respondi assim.
— A mamãe disse que ninguém devia mais tocar nesse assunto. Que não adianta remexer o passado. E que, hoje em dia, se valem do que aconteceu pra obterem vantagens. Disse também que o meu bisavô, apesar de branco, era muito, muito pobre quando chegou ao Brasil. Mas que, em vez de ficar se lamentando, arregaçou as mangas e trabalhou até conquistar uma vida melhor pra família. Suspirei.
— E você, Betinho? O que acha?
— Eu não sei. Me diz você o que acha, Xis.
— Acho que o seu bisavô, branco e muito, muito pobre nunca foi torturado, Betinho. Amarrado a um tronco. Surrado. Marcado com ferro quente. Nunca teve um dente arrancado à força nem recebeu sal e vinagre nas feridas abertas pelo chicote. O seu bisavô branco e pobre não foi separado da família. E, pelo que me consta, nunca trabalhou sem receber pagamento nem dormiu numa senzala. Um homem branco podia sim ser mal remunerado. Mas nunca escravizado. […] Uma mulher branca podia ser muito, muito pobre. Nem por isso teria os filhos arrancados dos seus braços diretamente para as mãos dos compradores. Por miserável que fosse uma mulher branca, não seria obrigada a oferecer o leite do seu peito ao filho de outra, enquanto o seu próprio filho era privado de ser alimentado. E mesmo se fosse tão pobre a ponto de ter os seios secos, não seria impedida de segurar a sua cria junto ao corpo, procurando dar consolo pra ela. […] Ainda hoje, Betinho, se um negro, no auge do desespero, furta um pão, a notícia se espalha: ‘Aquele negro é um ladrão!’. No entanto, se é um branco que rouba, o comentário se modifica: ‘Aquele homem cometeu um delito’. Então, sua mãe branca, neta do seu bisavô branco, não sabe do que está falando. É o que eu acho. Quando me calei, dei com os olhos de Betinho perdidos. Molhados. Eu falo demais. Demais. GUERRA, Lilia. O céu para os bastardos. 1. ed. São Paulo: Todavia, 2023. p. 88-90.
6. O anúncio dizia que era preciso ter boa aparência. E ler uma frase daquelas significava que aquele emprego não era para você. ‘Boa aparência’ significava, na maioria das vezes, ser branco. Você já havia terminado o ensino médio, suas irmãs ainda estavam estudando e sua mãe trabalhava no setor de serviços gerais do metrô, ganhava muito pouco, portanto você se sentia culpado por não conseguir um trabalho. Você acordava cedo na segunda-feira e ia para a fila do Sine. Você sempre era encaminhado para serviços do ramo de alimentícios. Três meses desempregado te fizeram aceitar um emprego de serviços gerais numa pizzaria. […] No entanto, em seis meses você se acostumou com aquela rotina, mesmo depois que você trocou de horário, passou a trabalhar de madrugada, pois dava mais dinheiro, e na época você só queria ter dinheiro para comprar um bom tênis, um bom boné importado, comprar a última fita do Racionais, sair nos fins de semana para dançar passinhos, e ajudar sua mãe com as contas. Você costumava sair da pizzaria por volta das quatro horas da manhã. Caminhava por uma rua deserta até chegar numa parada de ônibus na avenida Osvaldo Aranha. […] Então você viu as cores vermelhas de uma sirene se aproximarem. Você rezou para não ser abordado mais uma vez. No entanto, sua reza não funcionou. Eles desceram de arma em punho, não apontaram para você, apenas mandaram você se virar e pôr as mãos na cabeça, perguntaram para onde você estava indo. Para casa, você respondeu. Eles abriram sua mochila, vasculharam suas coisas, na verdade eles viraram
#SOBRE
Foto do escritor em 2020. Jeferson Tenório (1977-) é escritor, professor e pesquisador carioca. Seus romances abordam temas como racismo, identidade e as complexidades contemporâneas das relações humanas. Seu livro de estreia, O beijo na parede (2013), foi eleito Livro do Ano pela Associação Gaúcha de Escritores. Com O avesso da pele (2020), ganhou o Prêmio Jabuti na categoria Romance Literário.
Além de suas contribuições para a literatura, o autor escreve colunas semanais para o jornal Zero Hora e o portal de notícias UOL, além de ter participação ativa em discussões sociais, especialmente nas relacionadas ao racismo no Brasil.
Sine: Sistema Nacional de Emprego, que auxilia pessoas desempregadas a se recolocar no mercado de trabalho. a mochila de cabeça para baixo e você ouviu suas coisas todas caírem no chão. O policial passou o coturno sobre seus pertences, como que procurando alguma coisa. Depois disse que aquela não era hora de estar na rua, você disse que era trabalhador. O policial mandou você calar a boca que senão te levo em cana, neguinho. Eles guardaram as armas, entraram no carro e foram embora. E você ficou ali diante das suas coisas no chão, diante da sua mochila aberta. Era o mês de junho. As ruas estavam desertas. Fazia frio, mas você não sentia frio por fora, o frio estava dentro.
TENÓRIO, Jeferson. O avesso da pele. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. p. 149-150.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1. No trecho reproduzido de O céu para os bastardos, está representada uma interação entre uma mulher preta e uma criança branca.
a) Que relação parece haver entre essas personagens do romance? Retire exemplos do texto para comprovar sua resposta.
b) A interação entre Xispê e sua patroa assemelha-se à que ela mantém com o menino? Explique.
c) A primeira lei que regulamenta o trabalho doméstico no Brasil foi aprovada somente em 2015. Essa lei estabelece os direitos básicos de qualquer trabalhador doméstico. Além disso, outros direitos básicos são garantidos a esse trabalhador para que ele não seja discriminado.
Parece haver uma relação de carinho entre o menino e a empregada doméstica: “[…] se sentia bem em companhia de gente como eu”. 1. b) Não, pois, de acordo com a narradora, a patroa era racista e se incomodava com o afeto que o menino tinha pela empregada.
No decorrer da relação de trabalho, atos que violem a dignidade das trabalhadoras também podem ter como fundamento critérios discriminatórios. Quando esses atos passam a ocorrer de forma repetitiva, visando prejudicar e ferir a integridade física ou psicológica da pessoa, eles podem deixar de configurar apenas atos específicos de discriminação para se caracterizar como assédio moral.
[…]
4. b) Supõe que ele é um marginal. Porque um jovem preto andando sozinho à noite na rua é imediatamente associado a marginal. Professor, se achar adequado, discuta como o texto evidencia a violência no modo como Henrique é tratado. Peça aos estudantes que copiem no caderno um trecho que deixe clara essa violência. Respostas possíveis: “mandaram você se virar e pôr as mãos na cabeça, perguntaram para onde você estava indo.”; “Eles abriram sua mochila, vasculharam suas coisas, na verdade eles viraram a mochila de cabeça para baixo e você ouviu suas coisas todas caírem no chão.”; “O policial passou o coturno sobre seus pertences […]”; “O policial mandou você calar a boca que senão te levo em cana, neguinho.”
[…] Em muitos locais, é exigido que a trabalhadora utilize apenas o elevador de ‘carga’ ou de ‘serviço’. A exigência constitui uma prática de racismo estrutural que segrega as mulheres negras, que são a maioria nessa profissão, e ignora que o elevador é um meio de transporte como qualquer outro.
BRASIL. Ministério Público do Trabalho. Cartilha direitos da trabalhadora doméstica . Brasília, DF: MPT, 2021. p. 18-19.
• Copie, no caderno, a alternativa que explica como o racismo se constrói na relação entre Xispê e sua patroa Gerda e se constitui em um ato discriminatório no ambiente de trabalho.
Resposta: alternativa III
I. A relação de Xispê e Gerda é pautada pela lei e não há indícios de qualquer forma de discriminação e racismo por parte da patroa.
II. Gerda tem uma postura de superioridade com relação à Xispê, mas confia nela a ponto de requisitar que ajude seu filho nos deveres de casa, como na pesquisa sobre escravidão e abolição da escravatura.
III. A relação entre Xispê e Gerda é atravessada pelo racismo quando o filho reproduz falas insinuando que pessoas negras se valeriam do passado de escravização para tirar vantagem sobre quem trabalha.
2. Xispê utiliza a expressão gente como eu
2. b) A discriminação teria se originado durante a época da escravidão, prática institucionalizada que torturou, humilhou, explorou e matou muitas pessoas negras.
a) A que se refere essa expressão usada pela personagem?
Refere-se a pessoas pretas e pobres.
b) X ispê revela ter um conhecimento consolidado sobre o racismo e de onde ele se origina. De acordo com a explicação que dá ao menino, o que teria originado essa discriminação?
c) P ara Xispê, a origem dessa discriminação é percebida em quais práticas discriminatórias contemporâneas?
A discriminação contemporânea está na ideia de considerar os negros como pessoas criminosas e propensas a delinquências.
3. Ao explicar para Betinho o tratamento dado a um colono europeu pobre e a um escravizado africano, Xispê faz várias comparações entre os dois. Copie o quadro a seguir no caderno e o complete com informações que deixem evidentes essas diferenças.
Eram torturados, surrados e marcados.
Eram separados da família.
Não recebiam pagamento.Eram retirados dos braços das mães. Ficavam com a família.
4. No texto 2, o personagem Henrique, pai do narrador, ainda é um jovem que busca encontrar seu lugar no mundo, enquanto dá continuidade aos seus estudos e tenta ajudar economicamente a família.
a) Releia o período: ‘Boa aparência’ significava, na maioria das vezes, ser branco”. Por que Henrique entende desse modo a frase no anúncio? Formule uma hipótese.
b) O q ue a abordagem policial supõe sobre Henrique? Por que faz essa suposição?
4. a) Provavelmente, porque, em razão de um padrão, entende-se que o aceitável para a “boa aparência” é ser uma pessoa branca.
As relações entre a ficção e a realidade na literatura permitem refletir sobre o real com base em situações que podem ser estranhas ou ignoradas, mas que, ao serem ficcionalizadas, podem produzir empatia ou catarse no leitor, possibilitando a ele colocar-se no lugar de personagens que vivem adversidades e sofrem com as injustiças da realidade. Essa capacidade de se colocar no lugar do outro, essencial em todas as trocas humanas, pode ser profundamente transformadora.
Não sofriam punições físicas.
Mantinham a família.
Recebiam pagamento, ainda que pouco.
3. a) O Fórum Permanente de Pessoas Afrodescendentes quer contribuir para a inclusão política, econômica e social da população afrodescendente no mundo todo e faz parte das atividades da Década Internacional de Afrodescendentes (2015-2024). Vinte e dois artistas participaram da exposição, entre eles: André Vargas, Yhuri Cruz, Ayrson Heráclito, Márvila Araújo, Sonia Gomes, Nádia Taquary.
3. b) Foi pelo mar que vieram os africanos escravizados, em condições desumanas; o vermelho pode ser entendido como o sangue vertido por eles, seja pelas feridas causadas pelos castigos a que eram submetidos, seja pela morte e pela dor física e moral por que passavam.
5. O texto 2 termina com a frase: “Fazia frio, mas você não sentia frio por fora, o frio estava dentro”.
Atividade complementar nas Orientações para o professor.
• E xplique o que é esse frio que Henrique sente.
O frio mencionado refere-se ao medo e à tensão que permeiam a cena, na qual o personagem sente uma frieza interior provocada pela ameaça iminente, apesar da ausência de perigo imediato.
6. Leia alguns dados a seguir sobre uma pesquisa acerca da percepção do brasileiro sobre o racismo, publicada em 2023.
Para a pergunta ‘Eu tenho algumas atitudes e práticas consideradas racistas?’, temos o seguinte panorama:
O Fórum é importante para, entre tantos motivos, enfrentar o mundial e dar
pessoas negras, assegurando-
• 5% concordam totalmente;
• 6% concordam em parte;
• 10% discordam em parte;
• 75% discordam totalmente; e Apenas 4% das pessoas brancas concordam totalmente sobre terem práticas racistas. […]
Em relação à criminalização de pessoas negras e brancas, a maioria das pessoas entrevistadas concorda que pessoas negras são mais criminalizadas e punidas do que as pessoas brancas.
• 76% concordam totalmente;
• 12% concordam em parte;
• 1% nem concorda nem discorda;
• 4% discordam em parte; e
• 5% discordam totalmente.
PERCEPÇÕES sobre o racismo no Brasil. [S. l.]: Peregum: Projeto SETA, jul. 2023. E-book. p. 14, 21.
• Como esses dados se manifestam nos trechos dos romances que você leu?
1. Ao retratar a condição desumana das condições de trabalho representadas e associar as pessoas a feras, a obra contradiz a ideia de progresso.
A arte e a crítica à colonização
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A obra a seguir faz parte da série Atlântico Vermelho, da multiartista paulistana Rosana Paulino (1967-). Observe a obra, discuta as questões a seguir e considere o roteiro para uma breve pesquisa.
1. O texto da obra estabelece uma relação irônica e contraditória com as imagens. Explique.
2. Pela presença dos azulejos portugueses na base da obra, desenhados com as típicas cores azul e branca.
2. Como a colonização portuguesa está sugerida na obra?
3. Atlântico Vermelho foi o nome de uma exposição inaugurada pela ONU durante o 3o Fórum Permanente de Afrodescendentes, que ocorreu em Genebra, na Suíça, em abril de 2024.
a) Faça uma pesquisa sobre o Fórum, considerando as seguintes perguntas:
• Quais são os objetivos do evento?
PAULINO, Rosana. O progresso das nações. 2017. Impressão digital sobre tecido e costura, 29 cm x 58 cm. Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires.
• Pesquise o nome de outros artistas que participaram da exposição.
b) Discuta com os colegas: a que ideia remete o nome da exposição? Qual a importância desse Fórum?
Os textos que você leu mostram como as relações contemporâneas são atravessadas por uma série de episódios de racismo, o que faz com que algumas estruturas discriminatórias se reproduzam e não projetem um fim. A seguir, você vai ler textos publicados ainda no Brasil escravocrata, mas que apontam diferentes pontos de vista sobre os negros: uma postura abolicionista e uma postura escravocrata, que revelam um conflito de vozes que ainda ecoa nos discursos atuais.
Espera-se que os estudantes percebam de forma mais evidente a questão da criminalização contra o personagem Henrique, do texto 2, e uma associação, ainda que implícita, entre cor da pele e atributos como preguiça e falta de vontade, presentes no texto 1.
O X DA QUESTÃO
Escravidão e denúncia
1. a) A pressão popular, o temor, pela elite, de uma revolta da população escravizada; a pressão da Inglaterra pelo fim do tráfico, pois isso liberaria capital expressivo, que poderia ser drenado para outras áreas; e, sobretudo, o movimento promovido pelos negros que, para alguns historiadores, tiveram protagonismo na luta em prol da abolição da escravatura.
Não escreva no livro.
Desde o início do século XIX, várias leis começaram a proliferar pelo mundo proibindo o tráfico de pessoas da África e a escravização de africanos. Depois de muito embate, discursos e lutas, o movimento abolicionista brasileiro começou a ganhar força na segunda metade do século XIX. No entanto, o Brasil foi o último país das Américas a decretar a abolição da escravatura. A seguir, você vai conhecer algumas obras que tematizam os negros escravizados no Brasil com base em diferentes perspectivas raciais.
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Para lembrar
1 A abolição da escravatura ocorreu somente em 1888.
a) O que levou ao decreto da abolição?
b) O que ocorreu com as pessoas escravizadas depois da abolição?
Para discutir
1. b) A situação dos que se tornaram ex-escravizados não mudou significativamente após a abolição, pois não tiveram apoio institucional e continuaram, em muitos casos, atrelados aos senhores e trabalhando sem remuneração. Além disso, a falta de políticas efetivas de inclusão social, econômica ou educacional resultou em diversas dificuldades para a população negra, como migração para as cidades trabalhando em subempregos, acesso limitado à terra, pois o Brasil, após a libertação dos escravizados, não fez reforma agrária e, com isso, as pessoas libertas não tiveram a chance de produzir e ter independência financeira.
1 A e scravização de africanos no Brasil começa ainda no século XVI e se estende por quatro séculos. Durante o período escravocrata, havia leis que garantiam essa prática. A quem interessava a escravidão? Como as consequências da escravidão podem ser vistas até hoje no Brasil? Depois, registre as discussões no caderno.
Professor, espera-se que os estudantes acionem os conhecimentos que já têm sobre o assunto, pois se trata de conteúdo estudado em História. A escravidão foi a base da sociedade, não apenas no que diz respeito à economia, mas da própria estrutura social. E isso ainda está presente no racismo que perdura até hoje.
Úrsula é o romance pioneiro entre as obras de denúncia e combate ao regime escravocrata no Brasil. Foi escrito por Maria Firmina dos Reis e publicado em 1859. Narra a vida de Úrsula, uma jovem órfã que possui uma profunda empatia pelos oprimidos, o que a torna especialmente sensível à questão da escravidão, um tema central no livro. A obra também destaca a luta de Susana, uma africana escravizada que busca desesperadamente a liberdade para si e para Túlio, que ela ajudou a criar, em um retrato doloroso das realidades da escravidão. Você vai ler a seguir um trecho em que Túlio, logo após ganhar a alforria de Fernando, resolve dar a notícia à Susana, que cuidou dele como filho, revelando o quanto agora pode viver em liberdade. No segundo trecho, Susana compartilha com Túlio as dolorosas experiências de sua captura e cativeiro, além das crueldades do Comendador P. No terceiro trecho, Susana é acolhida por Túlio e o abençoa.
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Texto
— Tu! Tu livre? Ah, não me iludas! — exclamou a velha africana abrindo uns grandes olhos. — Meu filho, tu és já livre?…
— Iludi-la! — respondeu ele, rindo-se de felicidade — E para quê? Mãe Susana, graças à generosa alma deste mancebo, sou hoje livre, livre como o pássaro, como as águas; livre como o éreis na vossa pátria.
Estas últimas palavras despertaram no coração da velha escrava uma recordação dolorosa; soltou um gemido magoado, curvou a fronte para a terra, e com ambas as mãos cobriu os olhos.
Túlio olhou-a com interesse; começava a compreender-lhe os pensamentos.
Tinha chegado o tempo da colheita, e o milho e o inhame e o amendoim eram em abundância nas nossas roças. Era um destes dias em que a natureza parece entregar-se toda a brandos folgares, era uma manhã risonha, e bela, como o rosto de um infante, entretanto eu tinha um peso enorme no coração. […]
#SOBRE
Maria Firmina dos Reis (18221917) é reconhecida por ser a primeira romancista negra do país. Nascida no estado do Maranhão, sua obra mais conhecida, Úrsula (1859), é considerada o primeiro romance abolicionista brasileiro. Além de romancista, Maria Firmina foi também poeta, compositora e educadora, dedicando-se ao magistério público por muitos anos. Sua literatura é caracterizada por dar voz aos oprimidos e por uma postura progressista de sociedade para seu tempo.
Ainda não tinha vencido cem braças do caminho, quando um assobio, que repercutiu nas matas, me veio orientar acerca do perigo iminente, que aí me aguardava. E logo dois homens apareceram, e amarraram-me com cordas. Era uma prisioneira – era uma escrava! Foi embalde que supliquei em nome de minha filha, que me restituíssem a liberdade: os bárbaros sorriam-se das minhas lágrimas, e olhavam-me sem compaixão. Julguei enlouquecer, julguei morrer, mas não me foi possível… a sorte me reservava ainda longos combates. Quando me arrancaram daqueles lugares, onde tudo me ficava – pátria, esposo, mãe e filha, e liberdade! Meu Deus! O que se passou no fundo da minha alma, só vós o pudestes avaliar!… Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos, e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida passamos nessa sepultura até que abordamos às praias brasileiras. Para caber a mercadoria humana no porão fomos amarrados em pé e para que não houvesse receio de revolta, acorrentados como os animais ferozes das nossas matas, que se levam para recreio dos potentados da Europa. Davam-nos a água imunda, podre e dada com mesquinhez, a comida má e ainda mais porca: vimos morrer ao nosso lado muitos companheiros à falta de ar, de alimento e de água. É horrível lembrar que criaturas humanas tratem a seus semelhantes assim e que não lhes doa a consciência de levá-los à sepultura asfixiados e famintos!
Muitos não deixavam chegar esse último extremo – davam-se à morte.
Nos dois últimos dias não houve mais alimento. Os mais insofridos entraram a vozear. Grande Deus! Da escotilha lançaram sobre nós água e breu fervendo, que nos escaldou e veio dar a morte aos cabeças do motim.
A dor da perda da pátria, dos entes caros, da liberdade foi sufocada nessa viagem pelo horror constante de tamanhas atrocidades.
breu: resina vegetal usada como material de calefação; também utilizada como instrumento de repressão em contextos de motim ou revolta.
Não sei ainda como resisti – é que Deus quis poupar-me para provar a paciência de sua serva com novos tormentos que aqui me aguardavam.
O comendador P. foi o senhor que me escolheu. Coração de tigre é o seu! Gelei de horror ao aspecto de meus irmãos… os tratos por que passaram doeram-me até o fundo do coração! O comendador P. derramava sem se horrorizar o sangue dos desgraçados negros por uma leve negligência, por uma obrigação mais tibiamente cumprida, por falta de inteligência! E eu sofri com resignação todos os tratos que se dava a meus irmãos, e tão rigorosos como os que eles sentiam. E eu também os sofri, como eles, e muitas vezes com a mais cruel injustiça.
[…]
E depois ela calou-se, e as lágrimas, que lhe banhavam o rosto rugoso, gotejaram na terra.
Túlio ajoelhou-se respeitoso ante tão profundo sentir: tomou as mãos secas, e enrugadas da africana, e nelas depositou um beijo.
A velha sentiu-o, e duas lágrimas de sincero enternecimento desceram-lhe pela face: ergueu então seus olhos vermelhos de pranto, e arrancou a mão com brandura e elevando-a sobre a cabeça do jovem negro, disse-lhe tocada de gratidão:
— Vai, meu filho! Que o Senhor guie os teus passos, e te abençoe, como eu te abençoo.
REIS, Maria Firmina dos. Úrsula . 1. ed. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2018. p. 120-124. Busto da autora em São Luís do Maranhão (MA).
Professor, seria interessante aqui fazer uma parceria com o professor de História para esclarecer mais detalhadamente os motivos que levaram ao fim do tráfico negreiro e à abolição da escravatura. Se considerar importante, explique aos estudantes que a pressão da Inglaterra pelo fim do tráfico tinha motivação econômica. O açúcar do Brasil, beneficiado pela manutenção do tráfico e pelo uso da mão de obra escravizada, obteria preços mais baixos no comércio internacional, e as colônias inglesas seriam prejudicadas.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Não escreva no livro.
1. O gráfico a seguir representa o número de africanos escravizados traficados para o Brasil apenas entre 1703 e 1856.
O tráfico de escravos para o Rio e para a Bahia (1703-1856)
REPRODUÇÃO/MARCEL
53
Fonte: DORIGNY, Marcel; GAINOT, Bernard. Atlas das escravidões: da Antiguidade até nossos dias. Petrópolis: Vozes, 2017. p. 53.
#fiCAADiCA
Como parte das exigências de reconhecimento da Independência do Brasil, a Inglaterra pressionou para que o tráfico de pessoas escravizadas fosse cessado. Essa pressão provocou o surgimento dos textos de lei a seguir.
Carta de lei de 23 de novembro de 1826
ARTIGO I - Acabados tres annos depois da troca das ratificações do presente Tratado, não será licito aos subditos do Imperio do Brazil fazer o commercio de escravos na Costa d’Africa, debaixo de qualquer pretexto, ou maneira qualquer que seja. E a continuação deste commercio, feito depois da dita época, por qualquer pessoa subdita de Sua Magestade Imperial, será considerado e tratado de pirataria.
BRASIL. Carta de lei de 23 de novembro de 1826. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, [202-]. Texto original publicado na Coleção de Leis do Império do Brasil de 1986. Disponível em: www2.camara.leg.br/legin/fed/carlei_sn/ 1824-1899/cartadelei-39883-23-novembro-1826-57086 2-publicacaooriginal-150298-pe.html. Acesso em: 11 set. 2024.
Capa do livro Um defeito de cor.
O romance Um defeito de cor (2006), da mineira Ana Maria Gonçalves (1970-), narra a história de Kehinde, uma africana sequestrada na infância para ser escravizada no Brasil. O enredo percorre diversas décadas e espaços geográficos, capturando tanto a crueldade do sistema de escravidão no Brasil quanto a diversidade e a riqueza cultural africanas. Relato da história afro-brasileira, oferece um olhar indispensável e profundamente pessoal sobre as consequências do comércio transatlântico de escravizados e seu impacto, que se estende até a contemporaneidade.
• GONÇALVES, Ana Maria. Um defeito de cor. Rio de Janeiro: Record, 2006.
REPRODUÇÃO/EDITORA RECORD
Art. 1º Todos os escravos, que entrarem no territorio ou portos do Brazil, vindos de fóra, ficam livres. […]
Art. 2º Os importadores de escravos no Brazil incorrerão na pena corporal do artigo cento e setenta e nove do Codigo Criminal […].
BRASIL. Lei de 7 de novembro de 1831. Declara livres todos os escravos vindos de fora do Império, e impõe penas aos importadores dos mesmos escravos. Brasília, DF: Presidência da República, [1831]. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/LIM/LIM-7-11-1831.htm. Acesso em: 11 set. 2024.
a) A l ei considera o tráfico de africanos para o Brasil ilegal a partir de 1826, ideia reforçada pela lei de 1831. Confronte os textos das leis com o gráfico: o que ele revela sobre o comportamento daqueles que usavam mão de obra escravizada frente às leis?
b) Considere a lei de 1831 e responda: por que é possível dizer que todos os africanos que chegaram ao Brasil nas últimas duas décadas apresentadas no gráfico eram escravizados de forma ilegal?
1. a) Ao comparar o gráfico com os textos, é possível notar que os senhores donos de terras, a elite econômica, não respeitavam as leis. Espera-se que os estudantes percebam como depois dessas leis, em alguns momentos, houve alta no tráfico, o que mostra o desrespeito às resoluções.
1. b) Os africanos que chegaram ao Brasil a partir de 1831, de acordo com a lei, seriam considerados livres. Portanto, todo africano traficado para o Brasil seria escravizado ilegalmente.
2. b) Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes se mostrem sensíveis aos horrores da viagem descritos pela protagonista, como viajar em pé com pés e mãos amarrados, receber água imunda e podre para tomar, falta de ar, comida ruim e ainda mais porca para comer.
2. O trecho do romance Úrsula apresenta o contraste entre uma vida de liberdade e uma vida escravizada.
a) Complete as lacunas a seguir no caderno com as informações necessárias.
animais ferozes podem ser os comendadores
• Ao lembrar-se da liberdade quando vivia na África, Susana se lembra dos e da
natureza a família a pátria alimentos
• Depois de capturada, perdeu , .
b) Ao lembrar-se do navio negreiro, Susana permite ao leitor se aproximar do cotidiano no cativeiro. Qual detalhe mais chamou sua atenção? Por quê?
3. Para reforçar o contraste entre liberdade e escravidão, constrói-se o contraste entre dois cenários fundamentais para a cena narrada. Copie, no caderno, a alternativa que apresenta uma análise desses contrastes dos cenários.
Resposta: alternativa c.
a) O primeiro cenário é descrito como abundante, mas de memórias dolorosas, enquanto o segundo cenário, no porão do navio, é apresentado como um lugar de calor e conforto.
b) Enquanto o primeiro cenário descreve uma situação de privilégios e celebração coletiva, o segundo cenário, no porão do navio, destaca infortúnios individuais, com a infecção que afetava um personagem.
c) O primeiro cenário revela um ambiente natural de beleza tranquila, contrastando drasticamente com o porão do navio, que é marcado por condições extremas de desumanização e sofrimento: estreito e infecto.
d) No primeiro cenário, Susana se lembra de uma natureza farta, mas também de uma pátria que não a soube proteger do que encontra no segundo cenário.
4. Considere os seguintes trechos: […] acorrentados como os animais ferozes das nossas matas […]. É horrível lembrar que criaturas humanas tratem a seus semelhantes assim […].
humanas seriam
a) A quem se referem as expressões animais ferozes e semelhantes?
Aos escravizados.
pretas trazidas forçadamente e humilhadas ao longo do trajeto.
b) Qual a semelhança que se constrói entre eles?
Ambos são tratados de modo desumano, bárbaro.
c) Considere a descrição que Úrsula faz da viagem no porão do navio. Quem de fato pode ser considerado animal feroz? E criatura humana?
5. O trecho de Úrsula que você leu apresenta os dramas vividos por uma africana escravizada, mas também mostra um retrato dos brancos que compunham a sociedade brasileira.
a) Quem são os brancos referidos no trecho?
b) Quais seriam as características de cada personagem?
O jovem mancebo Fernando e o comendador P. Fernando é descrito como uma alma generosa, e o comendador, como um tigre violento.
c) Copie no caderno a alternativa que melhor analisa a função das personagens brancas na narrativa.
I. A s personagens brancas são coadjuvantes que fornecem a coerência necessária para o enredo, o que reforça as ações de personagens negras em sua luta pela liberdade.
Resposta: alternativa II
II. A s personagens brancas representam o vilão escravocrata da história, mas também o salvador que concede a liberdade ao negro, assim assumem para si o protagonismo na luta abolicionista ao mesmo tempo que silenciam os negros.
III. A s personagens brancas da narrativa atuam como elementos antagônicos que mostram diferentes perspectivas de mundo e do que é o ser humano; são questionadas pelas personagens negras da história, que assumem o controle de suas ações por meio da alforria.
IV. A s personagens brancas cumprem a função de fazer um contraponto às personagens negras, exaltadas por seu caráter altivo e pela resistência agressiva que promoveram.
6. Embora Susana tenha abençoado os passos de Túlio, a situação das pessoas libertas no pós-abolição não representou uma liberdade absoluta e inserção social dos negros. Leia o trecho a seguir, de uma crônica de Machado de Assis, publicada seis dias após a abolição da escravatura. Nela, o narrador oferece a Pancrácio, seu ex-escravizado, uma oportunidade questionável de emprego depois da Lei Áurea.
— Pequeno ordenado, repito, uns seis mil-réis; mas é de grão em grão que a galinha enche o seu papo. Tu vales muito mais que uma galinha.
Pancrácio aceitou tudo; aceitou até um peteleco que lhe dei no dia seguinte, por me não escovar bem as botas; efeitos da liberdade. Mas eu expliquei-lhe que o peteleco, sendo um impulso natural, não podia anular o direito civil adquirido por um título que lhe dei. Ele continuava livre, eu de mau humor; eram dois estados naturais, quase divinos.
Tudo compreendeu o meu bom Pancrácio; daí para cá, tenho-lhe despedido alguns pontapés, um ou outro puxão de orelhas, e chamo-lhe besta quando lhe não chamo filho do diabo; coisas todas que ele recebe humildemente, e (Deus me perdoe!) creio que até alegre.
ASSIS, Machado de. Bons dias! 3. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2008. p. 110.
e a continuidade de castigos físicos.
A luta de Luiz Gama
O baiano Luiz Gama (1830-1882) teve papel fundamental na luta contra a escravidão no Brasil, destacando-se tanto por sua atuação política quanto por sua produção literária. Filho de Luiza Mahin, uma negra africana livre, foi vendido aos 10 anos, mas conseguiu sua liberdade na adolescência, dedicando sua vida ao ativismo abolicionista. Como advogado, defendeu gratuitamente centenas de escravizados. Sua obra literária, organizada em Primeiras trovas burlescas (1859), utiliza a sátira e a ironia para denunciar as injustiças sociais de sua época. Gama é lembrado não apenas como um dos maiores poetas e juristas negros do Brasil, mas também como um símbolo do combate à opressão e à busca pela igualdade.
Ilustração de Luiz Gama.
6. b) É importante os estudantes perceberem que a vida de Túlio seria muito semelhante à sua vida de escravizado, tendo em vista a falta de oportunidades de uma sociedade ainda escravocrata, considerando que o romance foi publicado em 1859.
a) De acordo com o trecho, a que tipo de vida Pancrácio teve de se submeter no pós-abolição?
b) Formule uma hipótese sobre como seria o futuro de Túlio depois de sua alforria.
7. Releia o trecho a seguir.
O comendador P. derramava sem se horrorizar o sangue dos desgraçados negros por uma leve negligência, por uma obrigação mais tibiamente cumprida, por falta de inteligência! E eu sofri com resignação todos os tratos que se dava a meus irmãos, e tão rigorosos como os que eles sentiam. E eu também os sofri, como eles, e muitas vezes com a mais cruel injustiça.
• A l inguagem característica dos textos românticos recorre a alguns exageros nas caracterizações das descrições e comparações. Copie o organizador a seguir no caderno e preencha-o com o que se pede.
Termos que atribuem uma característica negativa
Termos que atenuam uma ação
Termos que intensificam uma característica
Termos que modalizam uma ação
desgraçados, falta de inteligência, rigorosos, cruel tibiamente leve mais
Professor, a Unidade 7 vai tratar da poesia
reunindo a lírica, a indianista e a condoreira. Seria interessante que os estudantes fizessem essa pesquisa como forma de ativar conhecimentos que permitirão uma leitura mais sensível à poética que trata da escravatura.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
O condoreirismo
O condoreirismo foi uma tendência da poesia romântica brasileira da segunda metade do século XIX. Recebeu esse nome em alusão ao condor, ave que voa alto e tem uma visão ampla, simbolizando a liberdade e o idealismo. Os poetas condoreiros faziam de sua poesia uma forma de protesto e crítica social, abordando temas como a liberdade, a justiça, a abolição da escravatura e o republicanismo. Castro Alves (1847-1871), um dos principais representantes desta fase, é conhecido por sua poesia de cunho abolicionista e humanitário. Outros poetas também se destacam, como Tobias Barreto (1839-1889) e Sousândrade (1833-1902), com seu poema épico “O Guesa errante”, que narra as aventuras de Guesa, mesclando crítica social, referências históricas e denúncia das explorações sofridas pelos povos nativos. Agora é com você!
1. Procure na internet os poemas “O escravo”, de Tobias Barreto, “O Guesa errante” (cinco primeiras estrofes), de Sousândrade, e “Vozes d’África”, de Castro Alves.
2. Como é descrita a situação das pessoas oprimidas e/ou escravizadas nesses poemas? Que visão se constrói de uma liberdade? Que recursos de linguagem intensificam a carga dramática dos poemas? Depois, discuta com colegas em sala sobre como a poesia condoreira do Romantismo brasileiro contribuiu para a exaltação de uma lógica de liberdade e abolição e como ela dialoga com a prosa abolicionista.
A descrição de cenários e personagens e a amplificação das emoções são características da linguagem romântica. A adjetivação intensa e imagens sensoriais contribuem para a composição dos retratos e a criação de efeitos que querem tocar a sensibilidade e a emoção do leitor, enfatizando a experiência individual e a profundidade dos sentimentos.
8. A Escrava Isaura é um romance escrito por Bernardo Guimarães e publicado em 1875. A história se passa no Brasil do século XIX e narra a vida de Isaura, uma escravizada branca de educação esmerada, filha de uma negra escravizada e um administrador de fazenda. Apesar de ser tratada com certa benevolência por seus senhores, Isaura enfrenta uma vida de sofrimento e opressão quando expressa o desejo de casar-se com um homem livre e é perseguida obsessivamente por Leôncio, filho de seus primeiros donos e o principal antagonista da obra. A cena a seguir ocorre durante um diálogo entre Malvina, esposa de Leôncio, e sua sogra, Dona Ester.
— Por que razão não libertam esta menina? — dizia ela um dia à sua sogra. — Uma tão boa e interessante criatura não nasceu para ser escrava.
— Tem razão, minha filha, — respondeu bondosamente a velha; — mas que quer você?… não tenho ânimo de soltar este passarinho que o céu me deu para me consolar e tornar mais suportáveis as pesadas e compridas horas da velhice.
Bernardo Guimarães (1825-1884) nasceu em Ouro Preto (MG), em família com tradição na literatura e na política. Seu romance A escrava Isaura é um marco do Romantismo brasileiro entre as obras de combate ao regime escravocrata. Escreveu também O Seminarista (1872), em que critica o celibato clerical, e O ermitão de Muquém (1869), centrado em temas religiosos e na vida sertaneja. Entre os poemas, destacam-se os satíricos e os que exaltam a natureza e a vida no campo. A adaptação televisiva de A escrava Isaura, de 1976, foi o primeiro grande sucesso internacional de novelas brasileiras. Durante a Guerra da Bósnia (1992-1995), era declarado cessar-fogo durante a exibição dos capítulos.
— E também libertá-la para quê? Ela aqui é livre, mais livre do que eu mesma, coitada de mim, que já não tenho gostos na vida nem forças para gozar da liberdade. Quer que eu solte a minha patativa? e se ela transviar-se por aí, e nunca mais acertar com a porta da gaiola?… Não, não, minha filha; enquanto eu for viva, quero tê-la sempre bem pertinho de mim, quero que seja minha, e minha só. Você há de estar dizendo lá consigo — forte egoísmo de velha! — mas também eu já poucos dias terei de vida; o sacrifício não será grande. Por minha morte ficará livre, e eu terei o cuidado de deixar-lhe um bom legado.
GUIMARÃES, Bernardo. A escrava Isaura . São Paulo: Editora Três, 1973. p. 41.
8. a) Isaura é descrita como boa, interessante, passarinho do céu, patativa.
8. b) O
a) Como Isaura é descrita no trecho lido?
b) Considerando o contexto em que o romance foi escrito e as características físicas de Isaura, o que levaria Dona Ester a atribuir essas qualidades à moça?
c) Is aura é comparada a um passarinho por Dona Ester. Ao fazer essa comparação, o que Dona Ester sugere com relação à liberdade de Isaura?
d) D ona Ester tenta justificar a manutenção da escravização de Isaura dizendo: “mais livre do que eu mesma, coitada de mim”. Por que a fala e a atitude de Dona Ester podem ser consideradas perversas nesse contexto?
9. Til é um romance do cearense José de Alencar (1829-1877) publicado em 1872. Ambientado no interior de São Paulo no século XIX, a narrativa conta a história de Berta (Til), uma jovem enigmática e bondosa, cuja origem é inicialmente desconhecida. A trama se desenvolve em torno das aventuras e desventuras de Berta, juntamente com seus amigos Miguel, Afonso e Linda. O enredo explora a vida rural brasileira, com suas tradições e a rígida estrutura social da época. O trecho a seguir apresenta Jão Fera, um capanga animalesco que protege Berta e vive de praticar ações questionáveis para os fazendeiros.
8. c) Dona Ester sugere que Isaura é um passarinho bem cuidado em seu cativeiro, sua gaiola, e que, se saísse dela, nunca mais voltaria.
Os abolicionistas
José do Patrocínio e André Rebouças
André Rebouças (1838-1898), baiano, e José do Patrocínio (1853-1905), fluminense, destacaram-se na luta abolicionista do Brasil no século XIX. André Rebouças, engenheiro e ativista, notabilizou-se por suas propostas inovadoras de desenvolvimento social e infraestrutura, visando à integração dos afro-brasileiros na sociedade após a abolição por meio da reforma agrária, como se lê em suas cartas e artigos. José do Patrocínio foi um jornalista e escritor que usou sua obra e influência para combater a escravidão, sobretudo por meio de suas publicações jornalísticas e discursos eloquentes. Entre suas obras mais importantes, destacam-se Motta Coqueiro ou A pena de morte (1877) e Os retirantes (1879), que exemplificam a habilidade de Patrocínio em utilizar a literatura como forma de protesto social.
Caricatura de José do Patrocínio.
NETO, Pereira. [Sem título]. 1888. Gravura, 38 cm x 28,3 cm. Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, São Paulo (SP).
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Um tigre que descera do sertão destruía o gado de uma fazenda próxima, cujo dono prometera boa recompensa a quem o matasse. Botou-se para lá o capanga; mas já a onça acossada por outros caçadores se havia retirado.
Afora estes, não imaginava Jão Fera outros meios de ganhar dinheiro sem humilhação. O trabalho, ele o tinha como vergonha, pois o poria ao nível de escravo. Prejuízo este, que desde tempos remotos dominava a caipiragem de São Paulo, e se apurava nesse homem, cujo espírito de sobranceira independência havia robustecido a luta que travara contra a sociedade.
Era a enxada para ele um instrumento vil; o machado e a foice ainda concebia que os pudesse empunhar a mão do homem livre; mas em seu próprio serviço, para abater o esteio da choça ou abrir caminho através da floresta.
8. d) A perversidade da fala e da ação de Dona Ester consiste em dizer que Isaura é mais livre do que ela, quando, na verdade, Dona Ester apenas está velha e não sofre nenhuma das adversidades provocadas pela escravização.
ALENCAR, José. Til São Paulo: Edigraf, 1988. p. 122-123.
a) No trecho, Jão Fera, capanga feroz, tentava caçar uma onça. Depois de fracassar, reflete sobre formas de ganhar dinheiro. Para tanto, ele distingue algumas possibilidades de trabalho. Que formas são essas?
O trabalho, principalmente braçal, por ser relacionado aos negros escravizados, era visto como algo negativo, praticado por pessoas consideradas inferiores. Existiria o trabalho vil, praticado por escravizados em fazendas com enxadas, e o trabalho de homens livres, como construção e caça.
b) Durante todo o século XIX, o trabalho era visto como uma ação vergonhosa para muitos brasileiros. Com base no trecho, explique o que justificaria essa visão negativa do trabalho.
10. a) O responsável, segundo a tela, é a princesa Isabel, colocada no centro da imagem sentada em seu trono, cercada de anjos e figuras mitológicas, como Atena, deusa da justiça. A construção clássica ao fundo remete a uma arena clássica para criar efeito dramático na cena. Os supostamente libertados se colocam aos pés da princesa, em posição de subserviência.
10. Observe a obra a seguir, do romancista, poeta e pintor paraibano Pedro Américo (1843-1905), produzida no ano seguinte à abolição da escravatura.
10. b) Os negros são representados de forma submissa e passiva, como se não tivessem nenhum papel na abolição além de serem beneficiados com a assinatura da princesa de uma lei que tornaria livre a população escravizada.
AMÉRICO, Pedro. Libertação dos escravos. 1889. Óleo sobre tela, 140,5 cm x 200 cm. Acervo artístico-cultural Palácios do Governo do Estado de São Paulo.
a) Na t ela, quem é representado como o responsável pelo fim da escravidão no Brasil? Como foi concebida essa representação.
b) Mesmo que o movimento abolicionista negro tivesse uma força muito grande e fosse determinante para o fim do regime escravocrata, como os negros são representados na tela?
c) De que forma o abolicionismo dessa tela dialoga com a lógica abolicionista dos demais textos do Romantismo que você leu nesta unidade?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Língua e identidade cultural
A filósofa e historiadora Lélia Gonzalez, que estudou a formação da identidade cultural brasileira por meio das palavras e formas de falar africanas, explica que, entre os aproximadamente 600 idiomas bantos, em vários não existe a letra L; assim, ao falarem português, os falantes substituíram essa consoante pela letra R , tornando palavras como flamengo e problema, framengo, pobrema, por exemplo. Além disso, certo modo cantado de falar e a organização sintática que repete termos (não quero, não; não sei, não) também são, segundo Lélia, herança do banto.
O professor, tradutor e escritor paranaense Caetano Galindo (1973-), em seu livro Latim em pó (2023), explica que “as línguas bantas tendem a aceitar apenas sílabas compostas de uma consoante seguida de uma vogal”. Isso explicaria a preservação das vogais no português brasileiro (mastigadas pelos portugueses), “a inserção de vogais para desfazer certos encontros consonantais (como em rítimo, téquinico), o apagamento do R dos infinitivos (catá, fazê, medi)”. Elas teriam, ainda, favorecido uma simplificação, como o enxugamento das concordâncias nominais e verbais (“Os menino caiu”, por exemplo).
Os estudiosos entendem que, depois do ciclo da cana, os negros escravizados partiram para outras regiões do país, difundindo um português brasileiro, formado no tenso diálogo entre falares e culturas. A professora e etnolinguista Yeda Pessoa de Castro, em seu livro Camões com dendê (2022), afirma que, se as vozes dos 4 milhões de negros africanos deslocados para o Brasil não tivessem sido abafadas, seria evidente como eles ajudaram a formar o português brasileiro. Não apenas com expressões empregadas ao acaso e aceitas como empréstimo, mas pelas contribuições significativas que diferenciaram o português brasileiro do português de Portugal.
10. c) Em todos os textos lidos, a visão que se tem sobre a abolição é idealizada e coloca o branco como o responsável pela libertação dos escravizados. Nesse sentido, as pessoas brancas seriam, ao mesmo tempo, as responsáveis pelos horrores da escravização e por seu fim.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
O regime escravocrata no Brasil foi uma prática institucionalizada de exploração laboral e social que começou logo após a chegada dos portugueses em 1500 e perdurou até 1888. Inicialmente, os povos indígenas foram escravizados e, com a expansão da lavoura de cana-de-açúcar, intensificou-se o tráfico de africanos. Estima-se que cerca de quatro milhões de africanos foram forçados a vir para o Brasil, para serem submetidos a condições desumanas e a uma severa repressão. Duas leis importantes foram promulgadas para desmontar gradualmente a escravidão: a Lei do Ventre Livre, em 1871, que concedeu liberdade aos filhos de escravizadas nascidos a partir daquela data, e a Lei dos Sexagenários, em 1885, que libertava escravizados com mais de sessenta anos.
DEBRET, Jean-Baptiste. Engenho manual que faz cana-de-açúcar. 1822. Aquarela, 17,6 cm x 24,5 cm. Museus Castro Maya, Rio de Janeiro (RJ).
Compartimento do interior de um navio negreiro. Gravura publicada no livro Avisos do Brasil em 1828 e 1829, em 1830.
WASHL, R. Seções de um navio negreiro. 1830. Gravura. Arquivo Nacional do Brasil. Biblioteca Maria Beatriz Nascimento.
O tráfico negreiro para o Brasil, que começou no início do século XVI e continuou até meados do século XIX, foi um dos mais extensos em termos de duração e volume de seres humanos transportados. A Lei Eusébio de Queiroz, promulgada em 1850, marcou a proibição oficial do tráfico de escravizados para o Brasil, em resposta à pressão interna e externa. A Grã-Bretanha pressionava o Brasil a acabar com essa prática desde o Tratado de 1826. No entanto, o tráfico clandestino continuou por mais de uma década após a lei, só diminuindo significativamente na década de 1860. A continuidade do tráfico ilegal refletiu a dependência econômica do país na mão de obra escravizada e a resistência de setores da elite brasileira em modificar o sistema. Depois da proibição do tráfico internacional, ainda ocorreu o tráfico interno, com a compra e venda de escravizados entre regiões do Brasil.
A abolição da escravidão no Brasil foi oficializada em 13 de maio de 1888, com a Lei Áurea. Contribuíram para esse desfecho a pressão internacional da Grã-Bretanha, o movimento abolicionista, as revoltas e fugas em massa de escravizados e a incompatibilidade crescente entre o regime escravocrata e o modelo de desenvolvimento econômico que se desejava para o país, influenciado pela Revolução Industrial e pelo liberalismo econômico. A abolição, no entanto, não foi acompanhada de políticas de inclusão efetivas, como a distribuição de terras ou a oferta de educação e empregos dignos, deixando muitos ex-escravizados em condições de extrema pobreza e marginalização. A sociedade brasileira continuou marcada por profundas desigualdades raciais e socioeconômicas, atestando a insuficiência da abolição para desmontar as estruturas de discriminação e exclusão. Essa falha na transição para uma sociedade pós-escravista perpetuou o racismo e a exclusão, que ainda desafiam o Brasil contemporâneo.
Modos de representar a escravidão
Durante o Romantismo brasileiro, as obras de denúncia e combate à escravidão surgiram como um instrumento de crítica que almejava não só denunciar as injustiças do sistema escravocrata, como também mobilizar a opinião pública para a causa abolicionista.
Muitos críticos, no entanto, apontam que essas obras foram muito esparsas, apresentando perspectivas individuais sobre o negro e o fim da escravidão. Mas, nesse cenário, romances como Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, As vítimas-algozes, de Joaquim Manuel de Macedo, e A escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, destacam-se por terem dado contribuições significativas à literatura produzida no período.
Juntos, esses romances compartilham uma abordagem sentimental e idealizada do período escravocrata, como é característico do Romantismo, mas diferem significativamente no modo como representam os negros e a escravidão. Enquanto Úrsula e As vítimas-algozes oferecem uma análise mais profunda e às vezes sombria da realidade escravocrata, A escrava Isaura opta por uma narrativa mais acessível e melodramática, visando alcançar um público mais amplo com uma escravizada branca.
RUGENDAS, Johann Moritz. Navio negreiro. 1835. Litografia, 35,5 cm x 51,3 cm. Itaú Cultural, São Paulo.
Ilustração de navio negreiro produzida por uma testemunha da viagem.
MEYNELL, Francis. Duque de escravos do Albanoz . 1846. Aquarela, 33 cm x 47 cm. Museu Marítimo Nacional, Greenwich, Londres.
Essa literatura mostra o quanto o fim legal da escravidão acabou se distanciando dos ideais abolicionistas. Ao ser realizado por decreto, sem um planejamento de inserção socioeconômica dos ex-escravizados, produziu uma sociedade marcada pelo racismo, pelo preconceito e pela violência, em que classe e raça se confundem. É o que o leitor pode verificar nos dois textos que abrem a unidade. Eles mostram como, na contemporaneidade, as heranças da escravidão ainda são vividas.
A relação entre uma obra literária e seu contexto de produção, tratada ao longo deste volume, mostra que o diálogo de toda produção artística com seu tempo é atravessado por valores, ideias e tendências coletivas. A literatura carrega valores coletivos que se refletem, em uma obra, por meio de crenças, ideias, causas etc.
Nesta unidade, você leu diferentes textos sobre o período da escravidão, que marcou a sociedade brasileira desde o século XVI com a chegada dos primeiros navios negreiros ao Brasil por volta de 1550. Vários desses textos são marcados por um tom de denúncia, seja no poema “Navio negreiro”, seja no romance Úrsula, ambos do século XIX. Esses textos dizem um não radical às perversidades da escravidão, à barbárie, gritam a dor insuportável e afirmam o valor da empatia, da justiça, da igualdade entre todos.
Compare a seguir um trecho de Úrsula com um trecho da peça Demônio familiar, de José de Alencar.
Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos, e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida passamos nessa sepultura até que abordamos às praias brasileiras. Para caber a mercadoria humana no porão fomos amarrados em pé e para que não houvesse receio de revolta, acorrentados como os animais ferozes das nossas matas, que se levam para recreio dos potentados da Europa.
REIS, Maria Firmina dos. Úrsula . 1. ed. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2018. p. 120-124.
Eu o corrijo, fazendo do autômato um homem; restituo-o à sociedade, porém expulso-o do seio de minha família e fecho-lhe para sempre a porta de minha casa. (A Pedro) Toma: é a tua carta de liberdade, ela será a tua punição de hoje em diante, porque as tuas faltas recairão unicamente sobre ti; porque a moral e a lei te pedirão uma conta severa de tuas ações. Livre, sentirás a necessidade de trabalho honesto e apreciarás os nobres sentimentos que hoje não compreendes.
ALENCAR, José de. O demônio familiar. Campinas: Pontes, 2003. p. 90-91.
As duas visões, opostas em tudo, traduzem valores também muito diversos, ainda que produzidas no mesmo contexto do século XIX. Ler uma obra literária é também pensar nos valores que ela projeta. Para discutir
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Não escreva no livro.
1. Séries, novelas e filmes também constroem narrativas que carregam valor. Com a orientação do professor, formem grupos de quatro integrantes. Escolham um filme, uma série, uma novela que todos conheçam ou a que todos possam assistir. Depois discutam: que valores cada um identificou na obra? Justifiquem e troquem pontos de vista.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Esta unidade permitiu discutir aspectos relacionados tanto ao processo que levou ao fim da escravidão no Brasil quanto os reflexos do racismo na sociedade contemporânea. Como a legislação trata dessa questão? É isso que será analisado a seguir.
Para discutir
1. Professor, vale apresentar aos estudantes a importância da Constituição e das leis complementares que regem a nação, destacando que nenhuma lei está acima da Constituição que rege o país.
1 Você já leu alguma lei? Qual? Se alguém quiser consultar uma lei, como deve proceder? Onde deve procurar?
2 Você sabe como são feitas as leis e quem é responsável por colocá-las em prática? Discuta com os colegas qual seria o papel de cada um dos três Poderes que compõem a República para a criação, efetivação e garantia de que as leis sejam cumpridas.
2. Professor, vale estabelecer uma parceria com os professores de História, Geografia ou Sociologia para discutir com os estudantes o que cada um dos Poderes faz de forma clara e efetiva.
A seguir, você vai ler alguns artigos da Constituição Brasileira de 1988 e das leis no 7.716, de 5 de janeiro de 1989, no 12.288, de 20 de julho de 2010, e no 13.445, de 24 de maio de 2017.
Texto 1
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
TÍTULO II
DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
CAPÍTULO I
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; […]
A Assembleia Nacional Constituinte
Depois da volta da democracia ao Brasil, em 1985, foi convocada em 1987 uma Assembleia Nacional Constituinte para que fosse formulada uma Constituição que melhor atendesse aos anseios da nação. Para isso, foram convocados representantes de toda sociedade civil. A formulação do texto foi presidida pelo político e advogado paulista Ulysses Guimarães (1916-1992) e durou quase um ano e meio de trabalho até a versão definitiva. Foi só em 1988, um século depois da abolição, que finalmente o Brasil teve uma Constituição democrática e cidadã.
Fotografia de Ulysses Guimarães em 1988.
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.
§ 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.
§ 2º A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais.
[…]
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2024]. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 11 set. 2024.
Texto 2
Lei no 7.716, de 5 de janeiro de 1989.
Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor. Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. (Redação dada pela Lei no 9.459, de 15/05/97). […]
BRASIL. Lei no 7.716, de 5 de janeiro de 1989. Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. Brasília, DF: Presidência da República, [2023]. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7716.htm. Acesso em: 11 set. 2024.
Texto 3
Lei no 12.288, de 20 de julho de 2010.
Institui o Estatuto da Igualdade Racial […].
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial, destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica.
[…]
Art. 2o É dever do Estado e da sociedade garantir a igualdade de oportunidades, reconhecendo a todo cidadão brasileiro, independentemente da etnia ou da cor da pele, o direito à participação na comunidade, especialmente nas atividades políticas, econômicas, empresariais, educacionais, culturais e esportivas, defendendo sua dignidade e seus valores religiosos e culturais.
BRASIL. Lei no 12.288, de 20 de julho de 2010. Institui o Estatuto da Igualdade Racial; altera as Leis no 7.716, de 5 de janeiro de 1989, 9.029, de 13 de abril de 1995, 7.347, de 24 de julho de 1985, e 10.778, de 24 de novembro de 2003. Brasília, DF: Presidência da República, [2023]. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12288.htm. Acesso em: 11 set. 2024.
Texto 4
Lei no 13.445, de 24 de maio de 2017.
Institui a Lei de Migração.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Seção I
Disposições Gerais
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre os direitos e os deveres do migrante e do visitante, regula a sua entrada e estada no País e estabelece princípios e diretrizes para as políticas públicas para o emigrante. […]
Art. 3º A política migratória brasileira rege-se pelos seguintes princípios e diretrizes:
I - universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos;
II - repúdio e prevenção à xenofobia, ao racismo e a quaisquer formas de discriminação;
III - não criminalização da migração;
IV - não discriminação em razão dos critérios ou dos procedimentos pelos quais a pessoa foi admitida em território nacional;
V - promoção de entrada regular e de regularização documental;
VI - acolhida humanitária; […]
BRASIL. Lei no 13.445, de 24 de maio de 2017 Institui a Lei de Migração. Brasília, DF: Presidência da República, [2017]. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13445.htm. Acesso em: 11 set. 2024.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Não escreva no livro.
1. Toda lei é organizada em títulos, capítulos, seções, artigos, parágrafos, incisos e alíneas. As três primeiras divisões se relacionam aos temas e subtemas da lei. Suas definições, de fato, se consolidam nos artigos e seções seguintes.
1. b) Essa estrutura evita construções que possibilitem múltiplas interpretações e ambiguidades, além de orientar a leitura e facilitar a localização de informações.
a) Considere os artigos 215 e 216 da Constituição e identifique:
• a parte que apresenta o texto básico da lei;
A parte que segue o número e o nome do artigo.
• a parte que apresenta uma enumeração de itens;
• a parte que especifica uma definição geral.
A parte destacada por algarismos romanos.
A parte indicada pelo símbolo de parágrafo §.
b) Qual é a importância desse tipo de padronização para o registro de textos legais?
c) L eia o boxe Saiba mais sobre como se faz uma lei e explique por que elas se iniciam com o trecho: “O presidente da República, faço saber…”
Porque é o presidente que dá a sanção final para a publicação de uma lei depois de um longo processo de discussão e escrita da lei.
2. O caput do artigo 5o da Constituição estabelece que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”.
a) A quem se refere o pronome todos?
Refere-se a qualquer brasileiro ou estrangeiro residente no país.
b) Considerando a abrangência da palavra todos, por que há a especificação “homens e mulheres” no inciso I do artigo 5º?
Para evitar qualquer tipo de interpretação equivocada, os incisos listam detalhes do pronome todos: homens e mulheres e de qualquer religião.
c) Considerando o que estabelece o artigo 5º e seus incisos, por que há a necessidade da existência de leis como a 7.716, 12.288 e 13.445?
Porque essas leis especificam ainda mais os direitos de parte da população que ainda não possui os direitos constitucionais garantidos, como negros e imigrantes.
3. b) Porque não se constrói verdadeiramente identidade sob qualquer tipo de censura, intimidação ou limitação. Essa liberdade também permite o confronto entre identidades sem que isso signifique algum tipo de repressão, mas sim reconhecimento e possibilidade de reafirmação e/ou transformação da identidade.
Como se faz uma lei
3. c) Espera-se que os estudantes percebam que a liberdade de expressão é limitada pelos princípios morais e éticos próprios de uma convivência civilizada e pelo direito do outro à sua intimidade, cultura, etnia etc.
Iniciativa, discussão, votação e sanção ou veto. Essas são as quatro fases necessárias para criar uma lei. A proposição de um projeto de lei é responsabilidade do Poder Executivo, Legislativo ou dos cidadãos, por meio de iniciativa popular. Após serem protocolados nas câmaras, os projetos são lidos e discutidos em plenário e depois enviados às comissões, que vão avaliar a constitucionalidade e o conteúdo do projeto de lei.
A balança e o martelo simbolizam o Direito.
Durante as discussões nas comissões, podem ser apresentadas emendas ou substitutivos aos projetos antes de serem submetidos a discussão e votação. Depois de aprovado, o projeto, com sua redação final, é enviado ao Poder Executivo, que pode aprová-lo ou rejeitá-lo. Se for uma lei federal, antes de ser encaminhado ao Executivo, o projeto de lei deve passar pelo Senado. Caso o Poder Executivo vete o projeto aprovado pelo Poder Legislativo, cabe ao presidente, governador ou prefeito justificar sua decisão com base em inconstitucionalidade, ilegalidade ou contrariedade ao interesse público – e não partidário.
3. Considerando os artigos 215 e 216 da Constituição aqui reproduzidos, explique o que se pede.
a) Dada a variedade de identidades, culturas, credos e visões políticas no Brasil, como é possível garantir o respeito ao diverso e seu pleno desenvolvimento?
Por meio de apoio, proteção, incentivo e difusão dessas diferenças, garantidas como liberdade de expressão.
b) O direito à liberdade de expressão é garantido pela Constituição. Por que esse direito é fundamental para a população brasileira construir livremente sua identidade individual e coletiva?
c) Considerando que o direito à liberdade de expressão vale para todos, qual seria o limite do que pode ser expresso, considerando argumentos da própria Constituição?
d) No artigo 215 da Constituição, parágrafo segundo, é estabelecido que cabe ao governo estipular datas comemorativas para diferentes segmentos étnicos nacionais. Selecione uma dessas datas comemorativas e explique sua importância.
4. Conforme determina a Constituição, são três os Poderes da República que garantem o equilíbrio da vida nacional. As questões discutidas até aqui dizem respeito a leis fundamentais produzidas por um desses Poderes, o Legislativo.
a) Para que a lei se faça valer, não basta ter sido formulada e publicada. O que deve ser feito pelos demais Poderes para que a lei se cumpra, de fato?
b) A C onstituição Federal define direitos e deveres de todo cidadão e do Estado brasileiro. Outras leis, no entanto, são necessárias para especificar ações que devem ser tomadas para o cumprimento da Constituição. Qual o objetivo da promulgação de uma lei específica, como a 7.716? Que característica da sociedade brasileira sugere a promulgação dessa lei?
4. a) É preciso que o Poder Executivo proponha mudanças na sociedade que tenham como objetivo o cumprimento da lei, assim como de um sistema judiciário que vai julgar e, eventualmente, punir aqueles que as desrespeitem.
O artigo apresenta o básico do texto normativo. Também é chamado de caput. É dividido em parágrafos, incisos e alíneas.
O parágrafo explica, restringe ou modifica o caput do artigo. É indicado pelo sinal § seguido de um número, exceto quando é único; é então chamado “parágrafo único”.
O inciso discrimina, lista elementos do artigo ou do parágrafo. É representado por algarismos romanos; muito útil para grandes enumerações.
A alínea trata de algum aspecto específico de um inciso. É representada por letras minúsculas.
A indicação “art. 5.º, § 2.º, III, a”, por exemplo, deve ser lida como “artigo quinto, parágrafo segundo, inciso terceiro, alínea a”.
3. d) As datas comemorativas mais evidentes são o Dia dos Povos Indígenas (19 de abril) e o Dia da Consciência Negra (20 de novembro). É importante que os estudantes percebam que não são datas festivas, mas datas de conscientização dos desafios vividos por essas populações, de luta por direitos.
4. b) Determinar o tipo de punição que deve ser aplicada a todas as pessoas que desrespeitarem os direitos fundamentais previstos na Constituição. Sugere a existência de preconceito e discriminação raciais.
4. c) Os estudantes devem perceber que as leis são desconhecidas por grande parte da população, e isso se dá tanto pela falta de acesso a elas quanto por uma lacuna no processo educacional, que não leva o cidadão à discussão e ao conhecimento dessas leis.
c) Uma das medidas necessárias para que uma lei se faça valer é o pleno conhecimento dela por parte de toda a população. Você considera que os brasileiros conhecem as leis do país? Por que isso ocorre?
5. Conforme você já sabe, a Constituição Federal oferece uma direção para a nação ao listar direitos e deveres de todo cidadão e do Estado brasileiro. Outras leis, no entanto, são necessárias para especificar melhor as ações que devem ser tomadas para a efetivação do que a Constituição propõe. Considere a lei 7.716.
Determinar o tipo de punição aplicada a todas as pessoas que desrespeitarem fundamentais
a) A qual artigo da Constituição se refere diretamente essa lei?
Refere-se ao artigo 5º: Todos são iguais perante a lei.
b) Q ual é o objetivo da promulgação de uma lei específica como essa?
c) A necessidade da existência de uma lei específica acerca da punição sobre crimes de raça ou de cor indica qual característica da sociedade brasileira?
Indica a existência de preconceito e discriminação raciais.
d) Embora o título da lei se refira aos crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, que outros tipos de crime são previstos e indicados nessa lei?
Direitos para todos Embora os direitos básicos dos cidadãos brasileiros estejam assegurados na Constituição Federal, alguns grupos da população têm seus direitos constantemente negados. Esses grupos, marginalizados em razão de aspectos raciais, econômicos, sociais, culturais, religiosos ou de gênero, são chamados de minorias. O conceito de minoria não se relaciona à quantidade de integrantes do grupo, mas a uma minoridade de direitos aos quais podem acessar.
Por isso, faz-se necessária a aprovação de leis extras, mais específicas, para a proteção desses grupos minoritários, como a lei que define e pune o crime de genocídio (2.889/1956), a Lei Maria da Penha, contra crimes praticados contra a mulher (11.340/2006), e a Lei de Crimes Raciais (7.716/1989).
Para saber mais, acesse essas leis e discuta com todos os que conhece sobre seu conteúdo e sobre os direitos que nos são assegurados.
Crimes relacionados à discriminação ou preconceito de etnia, religião ou procedência nacional.
6. A lei 12.288 mantém relação com a 7.716, mas elas têm objetivos diferentes.
a) Qual é a diferença entre elas?
Enquanto a lei 7.716 lista punições, a 12.288 lista medidas preventivas e ações que podem promover igualdade de direitos.
b) Que medidas podem ser tomadas para que se efetivem as propostas do Estatuto da Igualdade Racial?
7. O artigo 5º da Constituição já estabelece que “todos são iguais perante a lei”, brasileiros e estrangeiros aqui residentes. A Lei de Imigração detalha ainda mais os direitos e deveres do migrante que passa a residir no Brasil.
a) Que visão do estrangeiro é possível ser construída com base nos princípios que regem essa política migratória?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor. A visão de que o estrangeiro é um igual e que deve ser acolhido e inserido na sociedade, além de ser protegido contra qualquer tipo de discriminação.
b) O que faz supor sobre a sociedade a publicação de uma lei específica como essa, que protege residentes que não são brasileiros e brasileiras?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
8. Você estudou que a construção de uma identidade pessoal e nacional é importante para que exista uma sociedade livre, justa, respeitosa e solidária, e como as leis brasileiras garantem direitos e impõem deveres, além de dados estatísticos, que comprovam como esses direitos não têm o efeito prático esperado. Agora, releia as leis apresentadas e volte aos dados estatísticos para realizar com os colegas o debate proposto a seguir.
Professor, se considerar oportuno, sugira aos estudantes que atualizem a pesquisa e analisem dados mais atuais, ou mesmo que leiam a íntegra das leis discutidas.
• Como você avalia o texto das leis brasileiras? Eles registram, de fato, leis que garantam a existência de uma sociedade livre, justa e solidária?
7. b) Espera-se que os estudantes reconheçam que estrangeiros,
• Que elementos da Constituição e das leis funcionam na prática?
• O que não funciona?
independentemente de etnia, crença, origem, podem ser alvo de preconceito e de algum tipo de retaliação legal se
• Por que há uma distância tão grande entre o que diz a Constituição e as leis e os dados estatísticos apresentados ao longo das atividades do livro?
não ficar patente pela lei a igualdade entre todos.
• Que medidas podem ser tomadas para que se façam valer, efetivamente, as leis na prática cotidiana?
Professor, essa pode ser uma boa oportunidade para discutir a questão da identidade na chave da diversidade entendida como riqueza: o outro será sempre um espelho para que cada indivíduo enxergue a si mesmo naquilo que os aproxima e os distingue, fortalecendo os princípios da alteridade.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A Matemática pode ser importante aliada na construção de textos em que quantidades, porcentagens, gráficos, entre outros recursos, aportam informações que podem ter função de argumentos importantes no conjunto do que se pretende enunciar. Observe esses dados retirados da reportagem “A luta esquecida dos negros pelo fim da escravidão no Brasil”. Em nenhum outro país, contudo, a escravidão teve a dimensão brasileira. Enquanto 389 mil africanos desembarcaram nos Estados Unidos, no Brasil foram 4,9 milhões – 45% de toda a população que deixou a África como escrava. No caminho, cerca de 670 mil morreram. […] […] Nenhuma indenização ou compensação para os recém-libertos, estimados em 1,5 milhão de pessoas naquela época, nenhuma política de emprego ou de acesso à terra.
ROSSI, Amanda; GRAGNANI, Juliana. A luta esquecida dos negros pelo fim da escravidão no Brasil. BBC Brasil, [s. l.], 2018. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/resources/idt-sh/lutapelaabolicao. Acesso em: 11 set. 2024 Os dados dão a dimensão numérica da escravidão no Brasil e, assim, acentuam a violência do tráfico de escravizados no país. E tem mais: depois de 1831, quando foi promulgada a primeira lei que proibia o tráfico, o comércio de escravizados aumentou. O destino dessa mão de obra revela muito sobre o contexto econômico, bem como a mentalidade dos que a usavam. Observe agora o gráfico a seguir.
PENHA, Daniela. Negros são 82% dos resgatados do trabalho escravo no Brasil. Repórter Brasil, São Paulo, 20 nov. 2019. Disponível em: https://reporterbrasil.org.br/2019/11/negros-sao-82-dos-resgatados-dotrabalho-escravo-no-brasil/. Acesso em: 11 set. 2024.
1. O que os dados sobre a população de 1,5 milhão de recém-libertos permite supor sobre o destino que essas pessoas teriam na vida livre? O que precisaria ter sido feito além da assinatura da Lei Áurea?
2. Considere agora os gráficos do site Repórter Brasil.
a) O que esses gráficos revelam?
1. Os estudantes devem compreender que as pessoas recém-libertas ficaram sem empregos remunerados ou acesso à terra, pois não houve, por parte do Estado, uma política para permitir igualdade social e racial para além da assinatura da Lei Áurea. Os gráficos revelam que a escravização ainda existe no Brasil.
Respostas e comentários nas Orientações para o professor.
b) Que relação é possível estabelecer entre os dados da reportagem da BBC e os apresentados nos gráficos do site Repórter Brasil?
Todos os dados são desfavoráveis à população negra, o que mostra a permanência da marginalização dessas pessoas. Além disso, revela uma situação que pouco mudou desde o fim da escravidão.
c) O que é possível concluir sobre a colaboração da Matemática para a elaboração de textos de diferentes gêneros?
2. c) A Matemática é uma linguagem que dá uma dimensão numérica da realidade, permitindo dimensionar fenômenos econômicos e sociais de um modo diferente em relação à linguagem verbal. Professor, seria bastante produtivo discutir essa questão com o professor de Matemática. Se possível, peça que apresente dados sobre algum evento em curso na cidade onde os estudantes vivem e que os discuta em classe. Alternativamente, peça aos estudantes que levantem números sobre algum aspecto da cidade, como o percentual de atendimento de saneamento, emprego e renda local etc.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Releia um trecho da narrativa de Jeferson Tenório.
1. a) Quem pratica a ação é o sujeito sua reza.
1 Em “no entanto, sua reza não funcionou”, a forma verbal em destaque expressa uma ação e se relaciona a um termo da oração – o sujeito (aquele que pratica a ação).
a) Qual o sujeito da ação verbal?
b) O advérbio não está também relacionado ao verbo, mas ele não pode ser considerado sujeito. Por quê?
Porque ele não é agente; expressa uma circunstância, uma negação, mas não é agente. Professor, se considerar oportuno, relembre, com os estudantes, o conceito de advérbio como a classe de palavras que exprime circunstâncias de tempo, lugar, modo, negação etc.
3. a) Porque se referem ao sujeito Eles, os policiais.
3. b) O sujeito de abriram é determinado simples; o de vasculharam e viraram, oculto. É possível identificar o sujeito pelo contexto (ou textualmente, pelos mecanismos que o texto constrói de coesão).
Não escreva no livro.
3. c) Os verbos mostram a ação truculenta da polícia motivada pelo racismo.
No entanto, sua reza não funcionou. Eles desceram de arma em punho, não apontaram para você, apenas mandaram você se virar e pôr as mãos na cabeça, perguntaram para onde você estava indo. Para casa, você respondeu. Eles abriram sua mochila, vasculharam suas coisas, na verdade eles viraram a mochila de cabeça para baixo e você ouviu suas coisas todas caírem no chão. O policial passou o coturno sobre seus pertences, como que procurando alguma coisa. Depois disse que aquela não era hora de estar na rua, você disse que era trabalhador. O policial mandou você calar a boca que senão te levo em cana, neguinho.
Eles guardaram as armas, entraram no carro e foram embora.
E você ficou ali diante das suas coisas no chão, diante da sua mochila aberta. Era o mês de junho. As ruas estavam desertas. Fazia frio, mas você não sentia frio por fora, o frio estava dentro.
4. a) O verbo indica um estado do sujeito.
2 A forma verbal em destaque refere-se ao sujeito eles. O leitor entende, pelas relações de sentido que estabelece, que o pronome refere-se aos policiais.
a) Gramaticalmente, o que a forma verbal expressa?
I. Ação
II. Estado
III. Fenômeno muscular
Copie, no caderno, a resposta correta.
Resposta: alternativa I.
b) Associe as colunas formando pares entre letras e numerais.
A: II; B: I.
A . Policiais B. Eles
I. Sujeito gramatical
II. Sujeito discursivo-textual
c) Considere a expressão de arma em punho. Ela complementa a ação de descer ou se refere ao sujeito? Explique.
A expressão faz referência ao sujeito, ao modo como o policial desceu: portando uma arma.
3 A s formas verbais em destaque referem-se todas ao mesmo sujeito.
a) Por que estão no plural?
b) Os sujeitos dessas formas verbais referem-se sempre ao termo eles, os policiais, mas não podem ser classificados do mesmo modo. Como classificar os sujeitos em cada caso? O que permite identificar o sujeito?
c) De acordo com o contexto do trecho, o que essa sequência de verbos revela sobre o sujeito ao qual se referem?
4 Considere agora o verbo em destaque.
a) O que indica esse verbo: ação, estado ou fenômeno meteorológico?
b) Esse verbo liga o sujeito a qual atributo?
c) Encontre no trecho outra forma verbal que cumpra essa mesma função e identifique o atributo que liga ao sujeito.
4. b) O verbo liga o sujeito ao atributo desertas. 4. c) “Era (trabalhador)”. Atributo: trabalhador.
Nesse trecho, ações e estados são expressos por meio de verbos flexionados para concordar com o sujeito a que se referem. Os verbos organizam o predicado de uma oração, estrutura essencial que carrega as informações sobre o sujeito.
O predicado é fundamental para expressar ações, estados e atributos do sujeito em uma oração. Pode também expressar fenômenos meteorológicos ou referir-se a sentidos em que se mostra impessoal, como no caso do verbo haver. A seguir, você vai estudar os predicados e suas classificações.
Tipos de predicado
#PARAlEMBRAR
O predicado é, ao lado do sujeito, termo essencial em uma oração. Ele expressa uma ação ou um estado do sujeito. Organiza-se por meio de um verbo, que deve concordar em número e pessoa com o sujeito.
O predicado pode também expressar um fenômeno meteorológico ou ter sentido impessoal e, nesse caso, não se refere ao sujeito porque este é considerado gramaticalmente inexistente.
Observe os exemplos a seguir, retirados do texto. As formas verbais funcionou e abriram expressam ações praticadas pelos sujeitos. Observe.
Professor, se achar oportuno, explique aos estudantes que, no primeiro caso, a expressão sua mochila, cujo núcleo é o substantivo mochila, complementa o sentido do verbo abrir. No segundo, é um advérbio que indica negação, mas não é um complemento substantivo do verbo. Em ambos, o núcleo do predicado é um verbo. Lembre aos estudantes que o advérbio é a classe gramatical que nomeia circunstâncias de modo, tempo, lugar, negação, intensidade, dúvida, entre outras.
O pronome eles é o núcleo do sujeito
Eles abriram sua mochila.
Abriram é o núcleo do predicado verbal e concorda com o sujeito eles
Sua reza não funcionou.
O substantivo reza é o núcleo do sujeito determinado simples
Não é advérbio e indica negação.
Geralmente, ele se refere ao verbo, mas também pode se referir a um adjetivo ou a outro advérbio.
Mochila é um substantivo que complementa o sentido do verbo abrir
Funcionou é o núcleo do predicado verbal; concorda com o sujeito reza
Esse tipo de predicado cujo núcleo é um verbo que expressa um fato, um acontecimento ou uma ação é classificado como predicado verbal e tem como núcleo um verbo, acompanhado ou não de outros elementos.
Considere, agora, o seguinte exemplo:
As ruas estavam desertas.
O verbo estar (estavam) tem como função ligar o sujeito as ruas a uma qualidade a ele atribuída: estar deserta. Essa qualidade relacionada ao sujeito e ligada a ele ocorre por meio de um verbo de ligação. O termo que exprime estado ou característica do sujeito recebe o nome de predicativo do sujeito. No exemplo, desertas é o termo classificado como predicativo do sujeito.
Observe este período:
Ele desceu do carro assustado.
Nesse caso, o predicado é formado por um verbo de ação, mas também apresenta um estado do sujeito: ele estava assustado. Apresenta dois núcleos: um verbal e um nominal. Por isso, o predicado é classificado como verbonominal.
O predicado é classificado em verbal, nominal ou verbonominal. Predicado verbal: é aquele que tem como núcleo o verbo.
Predicado nominal: é aquele que tem como núcleo um nome e ocorre quando há verbo de ligação e predicativo.
Predicado verbonominal: é aquele que tem dois núcleos, um verbo e um nome que desempenham função de predicativo
Os verbos de ação, em geral, predominam em tipologias narrativas; os verbos de estado, nas tipologias descritivas. Observe.
Ainda não tinha vencido cem braças do caminho, quando um assobio, que repercutiu nas matas, me veio orientar acerca do perigo iminente, que aí me aguardava. E logo dois homens apareceram, e amarraram-me com cordas. Era uma prisioneira – era uma escrava! Foi embalde que supliquei em nome de minha filha, que me restituíssem a liberdade: os bárbaros sorriam-se das minhas lágrimas, e olhavam-me sem compaixão.
REIS, Maria Firmina dos. Úrsula . 1. ed. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2018. p. 120-124. Nesse trecho, a narradora lembra de quando foi presa; os verbos se referem à ação dos que a fizeram prisioneira.
Agora, observe:
Um homem branco podia sim ser mal remunerado. Mas nunca [podia ser] escravizado. […] Uma mulher branca podia ser muito, muito pobre. Nem por isso teria os filhos arrancados dos seus braços diretamente para as mãos dos compradores. Por miserável que fosse uma mulher branca, não seria obrigada a oferecer o leite do seu peito ao filho de outra, enquanto o seu próprio filho era privado de ser alimentado.
Professor, se achar oportuno, observe com os estudantes que, embora verbos de ligação favoreçam de fato a descrição, esta tipologia pode se desenvolver de outras maneiras, como no trecho em que Úrsula descreve o tratamento dispensado aos escravizados nos porões dos navios negreiros: “Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos, e de falta absoluta de tudo
GUERRA, Lilia. O céu para os bastardos. 1. ed. São Paulo: Todavia, 2023. p. 88-90. Ao comparar o tratamento dispensado a brancos e negros, a narradora lança mão de verbos de estado (ser, na locução podia ser; estar, em era privado) descrevendo a abissal diferença entre os futuros possíveis de um e de outro.
quanto é mais necessário à vida passamos nessa sepultura até que abordamos às praias brasileiras”.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Leia o trecho do conto a seguir, da autora Geni Guimarães.
Já no momento em que entramos na classe, ela se pôs a falar sobre a data: — Hoje, comemoramos a libertação dos escravos. Escravos eram negros que vinham da África. Aqui eram forçados a trabalhar e, pelos serviços prestados, nada recebiam. Eram amarrados nos troncos e espancados, às vezes, até a morte. Quando…
E foi ela discursando, por uns quinze minutos.
Vi que a narrativa da professora não batia com a que nos fizera a Vó Rosária. Aqueles escravos da Vó Rosária eram bons, simples, humanos, religiosos.
Esses apresentados então eram bobos, covardes, imbecis. Não reagiam aos castigos, não se defendiam, ao menos.
Quando dei por mim, a classe inteira me olhava com pena ou sarcasmo. Eu era a única pessoa dali representando uma raça digna de compaixão, desprezo.
Quis sumir, evaporar, não pude.
GUIMARÃES, Geni. Metamorfose. In: LISBOA, Ana Paula et al Olhos de azeviche: dez escritoras negras que estão renovando a literatura brasileira. Rio de Janeiro: Malê, 2017. p. 109-110.
2. a) Aqueles escravizados da Vó Rosária eram bons, simples, humanos, religiosos. Esses apresentados então eram bobos, covardes, imbecis.
6. a) É um predicado verbonominal: tem núcleo do predicado verbal, considera, e núcleo do predicado nominal, o predicativo do sujeito bom amigo.
1. Nesse trecho, a narradora se vê desconfortável durante os eventos de comemoração ao 13 de maio em sua escola.
a) Por que ela se sente assim?
Porque o discurso da professora colocava os escravizados em uma postura de passividade e covardia, muito diferente do modo como sua avó falava deles.
b) O que acentua o desconforto da menina?
O fato de chamar os olhares de todos para si por ser negra e, assim, associada aos eventos narrados de modo distorcido pela professora.
2. No trecho há duas formas distintas de apresentar as características dos africanos escravizados.
a) Identifique os dois períodos em que ocorre essa caracterização e copie-os no caderno.
b) Que tipo de predicado predomina nessa sequência que descreve os escravizados?
Predominam predicados nominais.
3. Explique de que forma os predicados verbais do quinto parágrafo reforçam as características negativas atribuídas aos escravizados pela professora?
Os predicados verbais apresentam ações que não eram praticadas pelos escravizados, como reagir e defender-se.
A seguir, leia o trecho de um artigo de opinião acerca das comemorações do 13 de maio.
[…]
Os que defendem o 13 de maio cometem um erro crasso ao não situar a abolição formal no seu contexto. Assim, ignoram que a proliferação de quilombos por todo o território destruía o sistema escravista por dentro; que o Brasil foi o último país do Ocidente a revogar a escravidão; que a família real foi sua fiadora por séculos e que as elites patrocinaram a imigração de pobres europeus com vistas a ‘embranquecer’ a população brasileira e usar sua mão de obra no lugar do negro liberto, legando-o à miséria.
MORAES, Wallace de. O 13 de maio é uma data a ser celebrada no país? NÃO. Folha de S.Paulo, São Paulo, 12 maio 2023. Disponível em: www1.folha.uol.com.br/opiniao/2023/05/o-13-de-maio-e-uma-data-a-ser-celebrada-no-pais-nao.shtml. Acesso em: 11 set. 2024.
4. Observe os verbos destacados no trecho a seguir: “Os que defendem o 13 de maio cometem um erro crasso […]. Assim, ignoram que […]”
4. b) As orações introduzidas pelo verbo ignorar explicitam argumentos que devem ser levados em consideração para não comemorar o 13 de maio.
a) O verbo ignorar explica uma ideia introduzida pelo verbo cometer. Que ideia é introduzida? Qual é a explicação?
A ideia é de que a defesa do dia 13 de maio como algo a se comemorar é um erro e a explicação para isso é expressa pelo verbo ignorar
b) O verbo ignorar introduz várias orações (“ignoram que…”). O que esse conjunto explicita?
5. Considere o seguinte período: “Nesse sentido, ele saiu da senzala para a favela; da condição de escravizado para desempregado/subempregado. Continuou discriminado e sem acesso à educação, saúde, moradia”.
a) Classifique o predicado das orações do período.
Para o predicado formado pelo verbo sair, predicado verbal; para o verbo continuar, predicado nominal.
b) Qual é a função, para o texto, dessa enumeração de orações?
Reforçar a permanência do estado sub-humano dos ex-escravizados.
Leia a tirinha a seguir, do ilustrador e roteirista Yorkhán Araújo.
6. Considere as falas da tirinha.
a) C omo se classifica o predicado do primeiro quadrinho? Indique as partes que o compõem.
b) No caderno, reescreva os períodos a seguir completando-os para transformar as frases nominais da tirinha em orações.
• *uma boa influência?
• Ai, não *.
Você se considera. Me considero uma boa influência.
c) Como podem ser classificados os predicados dessas duas novas orações da tirinha?
Os dois podem ser classificados como verbonominais.
ARAÚJO, Yorkhán. [ Você se considera um bom amigo?]. [S. l.], 16 set. 2019. Facebook: memesacessiveis. Disponível em: www. facebook.com/memesacessiveis/photos/a.121148251908024/385576 125465234/?type=3&locale=pt_BR. Acesso em: 11 set. 2024.
1. b) Espera-se que os estudantes sugiram punição aos clubes, às torcidas, aos jogadores em forma de multas, afastamento do clube ou dos estádios, prestação de serviço comunitário para pessoas em situação de vulnerabilidade, prisão, entre outras possibilidades.
Não escreva no livro.
3. b) O período passa a ser uma afirmação, uma certeza.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
O trecho da reportagem a seguir trata de racismo no futebol, mais especificamente dos frequentes ataques racistas sofridos pelo brasileiro e jogador do Real Madri, Vinicius Junior. Em jogo de 21 de maio de 2023, o atleta foi atacado, reagiu e acabou expulso. Leia o texto.
O jogador afirma que o racismo “é normal” em La Liga, organização dos clubes que disputam o campeonato da primeira divisão do futebol espanhol.
a) Que sentido se pode atribuir a “ser normal”, nesse contexto?
b) O que se espera da organização diante de um caso como o enfrentado por Vinicius Junior?
Compare o sentido do verbo poder nos trechos destacados
a) Em qual ocorrência o verbo sugere obrigação?
b) Em qual ocorrência sugere possibilidade?
Vinicius Junior reage a novo ato de racismo, é expulso e sinaliza que pode deixar a Espanha
O atacante brasileiro Vinicius Junior, do Real Madrid, foi expulso neste domingo (21) depois de confusão iniciada após insultos racistas proferidos contra ele por torcedores do Valencia. […]
Em mensagem nas redes sociais após o jogo, o atacante afirmou que o racismo ‘é normal em La Liga e sinalizou que pode deixar a Espanha em decorrência desses episódios. Em nota, a organização informou ter requisitado as imagens para investigar ‘supostos insultos racistas direcionados a Vinicius Jr.’ […]
O treinador criticou a organização do campeonato devido à frequência dos insultos racistas recebidos pelo atacante brasileiro. […]
‘Insultam ele o jogo todo e depois mostram-lhe o cartão vermelho. Estou muito triste. É uma liga com grandes times, ambientes bonitos, mas temos que remover isso. Estamos em 2023, o racismo não pode existir’, finalizou Ancelotti.
VINICIUS Junior reage a novo ato de racismo, é expulso e sinaliza que pode deixar a Espanha. Folha de S.Paulo, São Paulo, 21 maio 2023. Disponível em: https://www1. folha.uol.com.br/esporte/2023/05/vinicius-junior-reagea-novo-ato-de-racismo-e-expulso-e-sinaliza-que-podedeixar-a-espanha.shtml#:~:text=editorias%20*%20 Pol%C3%ADtica.%20*%20Esporte. Acesso em: 11 set. 2024.
3 Suponha que, nos trechos destacados, o verbo poder fosse suprimido.
3. a) Sinalizou que vai deixar a Espanha.
a) Reescreva o primeiro período destacado sem usar o verbo poder
b) Que mudança de sentido produz a exclusão do verbo?
5. a) O poder de sugerir, mas não dar certeza, deixa margem a uma decisão posterior do jogador.
5. b) Por expressar uma obrigação, tem o efeito de reforçar a indignação do treinador.
4 Releia o segundo período destacado.
a) Reescreva o período substituindo o verbo poder pelo verbo dever.
b) Que mudança de sentido produz a substituição?
c) Ao afirmar que o racismo não deve existir, a quem o treinador se refere?
5 Os verbos poder e dever podem se comportar como auxiliares para modalizar informações, opiniões.
a) Que efeito tem a modalização no primeiro período destacado?
b) Que efeito produz a modalização no segundo período destacado?
1. a) Uma prática frequente e/ou uma prática que os clubes ignoram, para a qual não dão importância.
2. a) Em “não pode ocorrer”.
2. b) Em “pode deixar a Espanha”.
4. a) O racismo não deve existir.
4. b) A substituição ameniza a negação.
4. c) Aos responsáveis que não coíbem a existência do racismo durante jogos de futebol.
Ao longo do Ensino Fundamental, você estudou vários aspectos do verbo: estrutura, conjugação nas diferentes pessoas do discurso, tempos e modos, alguns aspectos. Aqui, você vai aprofundar esse estudo observando como os verbos podem modalizar um enunciado. Os verbos modais se comportam como verbos auxiliares e acompanham verbos no infinitivo. Indicam se o enunciador considera o evento expresso pelo verbo como possível ou necessário. Esse sentido pode ser definido e compreendido em um contexto. Observe.
1. O atacante sinalizou que pode deixar a Espanha.
Nesse caso, o verbo poder expressa uma possibilidade com relação à saída do time e do país onde joga. Nesse caso, diz-se que o verbo expressa uma modalidade epistêmica.
2. O racismo não pode existir.
Nesse caso, o verbo poder, que em geral indica possibilidade (modalidade epistêmica), impõe uma obrigação ou permissão (modalidade deôntica): não pode existir. O emprego do verbo reforça a responsabilidade de dirigentes, responsáveis por manter ambiente respeitoso no esporte e combater formas de discriminação como o racismo.
O verbo dever também modaliza e em geral indica obrigação: “O racismo deve ser combatido”. Mas, como o modalizador poder, também pode expressar possibilidade: “Os dirigentes devem identificar os agressores após a investigação”.
O mesmo ocorre com o verbo modalizador poder, que, em geral, expressa possibilidade. Por exemplo: “O atacante brasileiro pode deixar a Espanha”. Mas também pode expressar obrigação, como em “O racismo não pode existir”.
A modalidade verbal expressa a atitude do falante em relação ao conteúdo daquilo que se manifesta na interação verbal. Por isso, o contexto é fundamental no momento de interpretar os sentidos que são produzidos pela modalidade verbal.
Os verbos modais comportam-se como verbos auxiliares e exprimem as modalidades do enunciado: se o enunciador considera o evento expresso pelo verbo como possível ou necessário.
O sentido produzido pelos verbos modais deve ser definido e compreendido em um contexto, assumindo características de capacidade, dúvida, hipótese, vontade ou declaração.
São considerados verbos modais poder, dever, querer, ter que, ter de. Esses verbos podem exercer sua função apenas quando combinados com outros verbos no infinitivo. A modalidade verbal pode ser analisada com base nos aspectos deônticos e epistêmicos.
Modalidade deôntica: expressa um sentido de obrigação ou de permissão. Tipicamente tem sua origem em normas morais ou sociais. Inclui-se também nessa modalidade a habilidade/capacidade de realizar uma ação.
Modalidade epistêmica: expressa a relação do enunciador com relação ao conteúdo do enunciado. Sua origem relaciona-se a evidências de que a proposição é verdadeira ou não, possível ou não, de acordo com o enunciador.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
O estudo das modalidades epistêmicas e deônticas é fundamental para a entender a produção de sentidos em vários campos de atuação. Um deles é o campo da vida pública; afinal, em leis e outros documentos reguladores, a utilização de verbos modais é ampla. Leia, a seguir, um artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
1. Os estudantes podem citar educação e conscientização sobre os direitos e deveres das pessoas. Esses fatores podem se associar ao conhecimento das leis que regem os países, de maneira que seja possível relacioná-las aos diferentes documentos existentes para preservar os direitos humanos e, assim, ampliar as reflexões a respeito de diferentes assuntos envolvendo respeito aos direitos de todos.
1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível.
2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.
3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA. Declaração Universal dos Direitos Humanos. [Brasília, DF]: Unicef, [200-]. Disponível em: www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos. Acesso em: 11 set. 2024.
1. A Declaração Universal dos Direitos Humanos é um documento que guia as práticas e produções de leis nos países signatários. Apesar de não ter um efeito legal e punitivo sobre os Estados, a Declaração Universal dos Direitos Humanos representa um consenso que guia as práticas dos governos. Considerando que não há nenhuma medida restritiva e punitiva com relação àqueles que se desviam das propostas da Declaração, que estratégias você julga serem necessárias para que ela se cumpra?
2. Releia: “No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei”.
a) E xplique se ocorre alguma modalização nesse enunciado.
b) A afirmação de que “todo ser humano estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei” é uma generalização?
Sim, porque a afirmação assume que a lei é a única limitação para todos os seres humanos em todos os países e contextos.
3. No inciso 3 do mesmo artigo, está expresso: “Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas”.
Orientações para
O verbo modal poder geralmente exprime possibilidade. Qual sentido modalizado é produzido no enunciado pela junção do verbo modal poder e a expressão em hipótese alguma?
O sentido de obrigação.
Leia agora um trecho de resumo de relatório da Unesco sobre como garantir a diversidade cultural entre os povos.
Nas sociedades multiculturais, um dos principais problemas a que tem que fazer frente a educação durante toda a vida reside na nossa capacidade para aprender a conviver. Por esse motivo, a educação multicultural deve ser complementada com uma educação intercultural. […]
[…] As humanidades e as ciências sociais incitam os educandos a dar-se conta dos seus próprios preconceitos e a reconsiderar ideias preconcebidas. Por esse motivo, a inclusão do estudo das religiões e crenças nos programas de ensino pode contribuir para dissipar muitos dos mal-entendidos que transformam a convivência em algo problemático.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA. Relatório mundial da Unesco: investir na diversidade cultural e no diálogo intercultural. Paris: Unesco, 2009. p. 17. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/ 48223/pf0000184755_por. Acesso em: 14 set. 2024.
4. O trecho é um resumo das determinações propostas no relatório da Unesco. Por isso, apresenta um tom propositivo, que indica o que pode ou deve ser feito para garantir a diversidade cultural.
Aos governos, gestores e professores. Porque indica possibilidade – pode-se garantir o ensino, mas não é possível garantir que esse ensino vá dissipar os mal-entendidos.
a) Considere o período: “a educação multicultural deve ser complementada com uma educação intercultural”. Aqui a modalização se dirige a qual tipo de interlocutor?
b) E xplique por que o trecho “Por esse motivo, a inclusão do estudo das religiões e crenças nos programas de ensino pode contribuir para dissipar muitos dos mal-entendidos que transformam a convivência em algo problemático” é modalizado de forma epistêmica e não deôntica. Não, ele constitui-se apenas como uma afirmação.
As regras e as leis são fundamentais para o funcionamento da democracia e para a busca de justiça social, pois estabelecem um conjunto de normas que garante direitos e deveres iguais para todos os cidadãos. As leis democráticas promovem a justiça e a equidade, assegurando que todos tenham acesso aos mesmos recursos e oportunidades.
Em ambientes menores, como em uma sala de aula, o estabelecimento de regras de convivência pode garantir um ambiente respeitoso e propício ao aprendizado. Elas ajudam a estabelecer expectativas claras de comportamento, promovem a disciplina e a organização, e garantem que todos tenham a oportunidade de participar e aprender sem interrupções.
O que você irá produzir
Em conjunto com a turma, você irá produzir regras de convivência para a sala de aula com o objetivo de criar as mesmas condições de aprendizado e de respeito a todos os estudantes. Mas é fundamental entender que elas só serão efetivas se forem produzidas coletivamente.
Para isso, você e os colegas devem, em conjunto, identificar algumas demandas da turma para verificar o que já funciona e o que pode melhorar com relação aos estudantes, aos professores e às práticas de sala de aula.
O primeiro passo é a convocação dos estudantes para a elaboração das regras em um dia, horário e local específico, que pode ser durante alguma aula ou no contraturno. Todos os envolvidos devem ser convocados.
A turma deve escolher dois estudantes que ficarão responsáveis pela convocação. Pode-se criar um formulário virtual que indique dia, hora e local em que o evento vai ocorrer e que haja em aberto um campo para sugestões de pauta, isto é, para que o convocado registre algum aspecto de comportamento de sala de aula considerado importante para a discussão coletiva. Cabe a esses dois estudantes recolher as sugestões e repassá-las para outros dois, que ficarão responsáveis pela criação da pauta. No dia e local marcado, um estudante deve ser escolhido para organizar o debate e outro para registrar as regras que forem sugeridas. Os trabalhos começam com o organizador indicando qual é a primeira questão sobre a qual os participantes desejam refletir e procurar soluções e alternativas. A partir desse momento, podem ser abertas as inscrições de fala. Quem quiser falar deve erguer a mão e aguardar sua vez. O tempo de fala de cada orador é de até três minutos. É importante advertir sobre o desrespeito aos turnos de fala e/ou às pessoas.
O objetivo do debate será elaborar regras que potencializem as condições para que todos tenham o melhor aprendizado e se sintam respeitados, valorizados e seguros.
Cabe ao organizador direcionar as falas e enumerar as regras que forem sugeridas. Depois de debatidas todas as regras, o organizador as coloca em votação. A maioria numérica ganha, não sendo permitida nova votação sobre o mesmo tópico.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Você já sabe que textos que estabelecem regras e leis são estruturados de modo a garantir clareza, organização e fácil interpretação. Por isso, em geral, adotam uma organização hierarquizada, que permite expressar a função de cada parte do texto legal. A estrutura típica de uma lei apresenta a ordem a seguir.
Preâmbulo: um resumo breve do objetivo do conteúdo da lei, indicando seu propósito principal.
Parte normativa : organizada em capítulos , seções, artigos, parágrafos (§), incisos (I, II, III...) e alíneas (a, b, c,...).
Disposições finais: regras que tratam da vigência, da revogação de normas anteriores e outras questões conclusivas.
Disposições transitórias: normas que regulam a transição entre o regime jurídico antigo e o novo, facilitando a adaptação às mudanças trazidas pela nova lei.
Essa organização facilita a navegação e a compreensão da lei, permitindo que legisladores, juristas e cidadãos identifiquem rapidamente as partes relevantes e compreendam seu conteúdo de maneira ordenada e lógica.
Agora você vai pesquisar alguns textos com regramentos (uma lei, um regulamento, um estatuto) e identificar como eles foram estruturados.
1. A estrutura é semelhante à que foi estudada aqui? Você mudaria algo para melhorar o entendimento? Em caso positivo, qual seria essa mudança?
2. Se houve diferenças, quais foram? O ordenamento foi fácil de entender? Por quê?
Produzir
Produzir regras utilizando o formato de leis requer um conjunto de técnicas específicas para garantir clareza e facilidade de leitura. Depois de listadas as regras que os estudantes julgam necessárias e relevantes para uma boa convivência em sala de aula, elas devem ser organizadas conforme a seguinte estrutura:
Artigo 1º: estabelece o objetivo da regra de forma geral e concisa.
Parágrafo único: especifica ou dá mais detalhes do texto do artigo.
• I (inciso): detalha as ações que deverão ser tomadas para a garantia do que estabelece o artigo. A escrita das regras de acordo com essa estrutura facilita a leitura e aplicação delas, permitindo que qualquer pessoa compreenda rapidamente os deveres e direitos estabelecidos. Cada nível da estrutura adiciona detalhes e especificações, garantindo que todos os aspectos relevantes sejam abordados de forma organizada e acessível.
Compartilhar
Os estudantes podem compartilhar as regras no grupo de discussão da turma e, depois, afixá-las no mural da sala ou da escola, para que elas possam ser consultadas de forma rápida e eficiente sempre que necessário.
D’SALETE, Marcelo. Mukanda Tiodora . São Paulo: Veneta, 2022.
O livro conta, em quadrinhos, a história da luta abolicionista em São Paulo na década de 1860, quando circulavam nos corredores da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco não apenas as ideias abolicionistas, mas também intelectuais negros como os alunos Ferreira de Menezes e Luiz Gama, que ousava enfrentar o escravismo nos tribunais e também em publicações. Capa da obra Mukanda Tiodora
MUSEU AFRO BRASIL EMANOEL ARAUJO. São Paulo, [2004]. Site. Disponível em: www.museuafrobrasil.org.br/o-museu. Acesso em: 11 set. 2024.
Localizado no Parque Ibirapuera, na cidade de São Paulo (SP), o Museu Afro Brasil Emanoel Araujo conserva um acervo com mais de 8 mil obras, entre pinturas, esculturas, gravuras, fotografias, documentos e peças etnológicas, de autores brasileiros e estrangeiros, produzidos entre o século XVIII e os dias de hoje.
O CANTO dos escravos. Intérpretes: Clementina de Jesus; Geraldo Filme; Dona Doca da Portela. São Paulo: Eldorado, 2003. 1 CD.
O álbum registra cantos ancestrais dos negros benguelas, de São João da Chapada, em Diamantina (MG). Entoados no cotidiano para ritualizar diferentes situações, esses cantos tocam em temas que dizem respeito à preservação da cultura negra.
TODOS os mortos. Direção: Marco Dutra e Caetano Gotardo. Brasil: Som e Imagens; França: Good Fortune Films, 2020. Streaming (120 min).
O filme aborda as principais questões pós-fim da escravidão no Brasil. Após onze anos da abolição da escravidão, as mulheres da família Soares e Iná Nascimento batalham para construir um futuro.
Foto da fachada do Museu Afro Brasil, 2023.
Capa do álbum O canto dos escravos.
Observe a obra de arte a seguir, intitulada Nordeste , do pintor cearense Antonio Bandeira (1922-1967).
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
BANDEIRA, Antonio. Nordeste. 1952. Óleo sobre tela, 78 cm x 58 cm. Museu de Valores do Banco Central do Brasil, Brasília, DF.
Não escreva no livro.
1. A pintura de Antonio Bandeira apresenta o mandacaru, uma espécie de cacto, símbolo do sertão brasileiro. Como estão representados os frutos do mandacaru?
1. Os frutos do mandacaru estão representados por cabeças humanas.
2. Leia, a seguir, alguns versos da canção “Xote das meninas”, do cantor e compositor pernambucano Luiz Gonzaga (1912-1989), considerado o “rei do baião”.
Mandacaru, quando fulora na seca
É o sinal que a chuva chega no sertão
Toda menina que enjoa da boneca
É sinal de que o amor Já chegou no coração
GONZAGA, Luiz; DANTAS, Zé. Xote das meninas. [S. l.]: Luiz Lua Gonzaga, [202-]. Música lançada em 1953. Disponível em: https://luizluagonzaga.com.br/xote-das-meninas/. Acesso em: 3 set. 2024.
2. a) O mandacaru prenuncia a chegada das chuvas.
2. b) O surgimento dos frutos expressa a resistência do nordestino, que nasce e sobrevive, assim como a esperança, mesmo em meio às muitas adversidades do sertão.
3. Espera-se que os estudantes percebam que as cabeças estão ligadas aos movimentos de insurgência, que podem renascer a qualquer momento na luta por reivindicações; sugerem, assim, que os movimentos de insurgência podem se renovar. Professor, a imagem das cabeças decapitadas do bando
a) De acordo com esses versos, qual é a importância da floração do mandacaru?
b) O desabrochar das flores e o surgimento de frutos são metáforas para a esperança e as novas possibilidades. Considere o título da obra de Antonio Bandeira e explique o que os frutos expressam na pintura.
3. Além de dialogar com a natureza do sertão nordestino, a pintura faz alusão a uma imagem relacionada a um evento de extrema violência: depois de capturados, em 1938, os integrantes do bando do pernambucano Lampião (1897-1938) foram decapitados, e as cabeças foram expostas na prefeitura da cidade de Piranhas (AL). Com esse ato, frequente ao final de revoltas, pretendia-se mostrar o poder das autoridades. Considerando essas informações, que outro sentido pode ser atribuído às “cabeças-frutos” do mandacaru?
Respostas e comentários nas Orientações para o professor.
4. Observe as fotografias a seguir, do artista manauara Rodrigo Braga (1976-), criado em Recife (PE), que fazem referência ao sertão nordestino.
BRAGA, Rodrigo. Corpo duro 1
2013. Fotografia, 120 cm x 80 cm. Fotografia realizada na Vila de Nazaré, litoral de Pernambuco.
de Lampião é famosa, mas é um conteúdo sensível. Se julgar conveniente mostrá-la, basta fazer uma pesquisa na internet. Vale destacar que, na fotografia, as cabeças estão dispostas formando um triângulo, acompanhadas de itens da indumentária que o bando usava, como chapéus, armas, cintos para munição, bolsas etc. O formato triangular guarda alguma semelhança com a disposição das “cabeças-frutos”, colocadas umas sobre as outras.
Rodrigo. Desejo eremita #14. 2009. Fotografia, 50 cm x 75 cm. Fotografia realizada em Solidão, sertão de Pernambuco.
4. a) Na imagem à esquerda, ossos sobre rachaduras no solo seco; à direita, chifres que brotam da terra.
4. b) Espera-se que os estudantes percebam que as imagens evocam animais de criação, como bois, representados pelos chifres, e possivelmente cabras.
a) O que é possível observar em cada imagem?
4. c) É possível que os estudantes mencionem que a alusão pode sugerir animais brotando e renascendo. Outra possibilidade é a percepção de que a disposição dos ossos, na obra Corpo duro 1, compõe uma imagem que se assemelha a uma coluna vertebral enraizada no solo, como se o sustentasse.
b) A seca no sertão nordestino já fez várias vítimas ao longo dos séculos e promoveu intensos fluxos migratórios. As imagens fazem alusão a quais vítimas da seca?
c) A alusão a elementos das vítimas no chão seco do solo sertanejo pode produzir quais sentidos?
O Brasil é um território extenso e diverso, que teve suas fronteiras atuais estabelecidas somente em 1928. As cinco regiões do país apresentam rica diversidade cultural, econômica e social. A partir do século XIX, sobretudo após a Independência, em 1822, alguns romances se propuseram a compor um painel dessa diversidade, apresentando o país ao mundo. A literatura regionalista do século XIX também contribuiu para a construção de certos estereótipos e discursos que, até hoje, são encontrados em textos.
A diversidade brasileira e sua riqueza têm sido exploradas em romances que tratam de questões do ser humano, independentemente do seu lugar de origem. Amores, disputas, ambição, superação de condições difíceis ou a busca por realizações, por exemplo, são temas universais. O espaço também pode ter papel importante nesses conflitos, com situações muito próprias de determinado lugar. Há histórias que só podem acontecer, por exemplo, no sertão, no mar ou em plena selva, como você observará a seguir.
Para discutir
O Brasil é um país de dimensões continentais e suas regiões apresentam uma multiplicidade de relevo, clima, fauna, flora, cultura, economia e outras características que as tornam únicas. Essas regiões, no entanto, podem ser apresentadas de modo estereotipado. Sendo assim, discuta com os colegas a questão a seguir.
1 Que aspectos da região em que você vive poderiam fazer parte de um romance? Como esses aspectos enriqueceriam a narrativa e ofereceriam uma visão autêntica e diversa do Brasil?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Você vai ler a seguir um trecho do romance Dois irmãos (2000), do escritor manauara Milton Hatoum. O romance, narrado em primeira pessoa por Nael, filho de Domingas, uma empregada doméstica de origem indígena, acompanha os conflitos de dois irmãos gêmeos, Yaqub e Omar, nascidos em uma família de origem libanesa. Ambientado na cidade de Manaus (AM), a turbulenta história dos irmãos se passa entre o pós-guerra e os anos 1970. No trecho, o manauara Nael narra dois momentos: uma viagem com a mãe, em que percorre o Rio Negro partindo de Manaus, e um domingo no porto da Catraia em busca de miúdos de boi.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Eu não sabia nada de mim, como vim ao mundo, de onde tinha vindo. A origem: as origens. Meu passado, de alguma forma palpitando na vida dos meus antepassados, nada disso eu sabia. Minha infância, sem nenhum sinal da origem. É como esquecer uma criança dentro de um barco num rio deserto, até que uma das margens a acolhe. […] Uma vez, na noite de um sábado, enervada, enfadada pela rotina, ela [minha mãe, Domingas] quis sair de casa, da cidade. Pediu a Zana para passar o domingo fora. A patroa estranhou, mas consentiu, desde que Domingas não voltasse tarde. Foi a única vez que saí de Manaus com minha mãe. Ainda estava escuro quando ela chacoalhou minha rede; já tinha preparado o café da manhã e cantava baixinho uma canção. Não queria acordar os outros, e estava ansiosa por partir. Caminhamos até o porto da Catraia e embarcamos num motor que ia levar
#SOBRE
Romancista, professor e tradutor, Milton Hatoum (1952-) nasceu em Manaus (AM). Sua obra literária se caracteriza por um tom memorialista ao registrar conflitos pessoais e familiares no contexto amazonense. A inspiração para seus enredos vem dos fatos vividos por seus ascendentes, imigrantes libaneses que se fixaram no Amazonas, e da vivência com a pluralidade da região.
uns músicos para uma festa de casamento à margem do Acajatuba, afluente do Negro. Durante a viagem, Domingas se alegrou, quase infantil, dona de sua voz e do seu corpo. Sentada na proa, o rosto ao sol, parecia livre e dizia para mim: ‘Olha as batuíras e as jaçanãs, apontando esses pássaros que triscavam a água escura ou chapinhavam sobre folhas de matupá; apontava as ciganas aninhadas nos galhos tortuosos dos aturiás e os jacamins, com uma gritaria estranha, cortando em bando o céu grandioso, pesado de nuvens. Minha mãe não se esquecera desses pássaros: reconhecia os sons e os nomes, e mirava, ansiosa, o vasto horizonte rio acima, relembrando o lugar onde nascera, perto do povoado de São João, na margem do Jurubaxi, braço do Negro, muito longe dali. ‘O meu lugar’, lembrou Domingas. […]
Nunca mais passeamos de barco: a viagem até Acajatuba foi a única que fiz com minha mãe. Pensei: por pouco ela não teve força ou coragem para dizer alguma coisa sobre o meu pai. […]
Aos domingos, quando Zana me pedia para comprar miúdos de boi no porto da Catraia, eu folgava um pouco, passeava ao léu pela cidade, atravessava as pontes metálicas, perambulava nas áreas margeadas por igarapés, os bairros que se expandiam àquela época, cercando o centro de Manaus. Via um outro mundo naqueles recantos, a cidade que não vemos, ou não queremos ver. Um mundo escondido, ocultado, cheio de seres que improvisavam tudo para sobreviver, alguns vegetando, feito a cachorrada esquálida que rondava os pilares das palafitas. Via mulheres cujos rostos e gestos lembravam os de minha mãe, via crianças que um dia seriam levadas para o orfanato que Domingas odiava. Depois caminhava pelas praças do centro, ia passear pelos becos e ruelas do bairro da Aparecida e apreciar a travessia das canoas no porto da Catraia. O porto já estava animado àquela hora da manhã. Vendia-se tudo na beira do igarapé de São Raimundo: frutas, peixes, maxixe, quiabo, brinquedos de latão. O edifício antigo da Cervejaria Alemã cintilava na Colina, lá no outro lado do igarapé. Imenso, todo branco, atraía o meu olhar e parecia achatar os casebres que o cercavam. Mas a visão das dezenas de catraias alinhadas impressionava mais. No meio da travessia já se sentia o cheiro de miúdos e vísceras de boi. Cheiro de entranhas. Os catraieiros remavam lentamente, as canoas emparelhadas pareciam um réptil imenso que se aproximava da margem. Quando atracavam, os bucheiros descarregavam caixas e tabuleiros cheios de vísceras. Comprava os miúdos para Zana, e o cheiro forte, os milhares de moscas, tudo aquilo me enfastiava, e eu me afastava da margem e caminhava até a ilha de São Vicente. Mirava o rio. A imensidão escura e levemente ondulada me aliviava, me devolvia por um momento a liberdade tolhida. Eu respirava só de olhar para o rio. E era muito, era quase tudo nas tardes de folga. […]
catraia: embarcação pequena e robusta usada para serviços de portos e pesca.
HATOUM, Milton. Dois irmãos. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 73-82.
1. A cidade de Manaus foi renovada e reestruturada em razão dos ciclos econômicos da virada do século XIX para o XX e do pós-guerra. Considere os trechos a seguir: o primeiro foi escrito por um professor estadunidense, depois de visitar Manaus; o segundo, é do escritor português Ferreira de Castro (18981974), em seu romance A selva (1930).
Realmente, em pouco mais de uma geração, Manaus havia mudado completamente. Um morador da cidade do ano de 1870 teria muita dificuldade em reconhecê-la, na primeira década do século vinte. Para se fazer uma ideia dessa metamorfose, basta que se recorde os relatos dos primeiros viajantes que vieram a Manaus. […] A rápida transformação da vila em cidade foi devida a um único fator: a borracha.
BURNS, E. Bradford. Manaus, 1910: retrato de uma cidade em expansão. Tradução: Ruy Alencar. Manaus: Artenova, 1966. p. 23.
1. a) Professor, oriente os estudantes a pesquisar sobre o ciclo da borracha de Manaus e o acontecimento de uma belle époque na região, que reformula a cidade e promove seu desenvolvimento para uma camada da
Manaus era um clarão radioso na noite amazonense. A sua poalha luminosa erguia-se até muito alto, empalidecendo as estrelas que espreitavam lá de cima. […] […]
alacremente: alegremente.
[…] A cidade surgia-lhe alacremente aberta ao sol, sem prédios negruscos que falassem de épocas remotas, nem ruas escusas de tempos idos. Limpinha, ataviada de árvores por toda a parte, dir-se-ia orgulhosa da sua pouca idade, que a livrava de fístulas e cicatrizes, menos no leito das ruas, onde os automóveis que passavam tinham balanceios de alto-mar. À esquerda, por detrás do renque do arvoredo, erguia-se um luxuoso pavilhão; a Bolsa Universal’, que o fascinava grandemente. […]
CASTRO, Ferreira de. A selva: antecedido de Pequena história de A selva. 3. ed. Amadora: Cavalo de Ferro, 2018. E-book.
a) A Manaus do texto é próspera e grandiosa. Explique o contexto histórico e econômico que revela isso.
b) Identifique, no trecho do romance Dois irmãos, aspectos ou elementos da cidade que podem ser considerados testemunhas da riqueza originada da borracha.
1. b) As pontes metálicas, os bairros que cresciam, a Cervejaria Alemã.
A construção de um universo ficcional em textos que se passam em regiões específicas registra, além das características peculiares do lugar, as quais garantem sua diversidade, questões universais mais amplas relacionadas à história e aos conflitos sociais e de classes.
2. A Manaus apresentada no texto que você leu se transformava em um polo econômico com o comércio da borracha. Para Domingas, no entanto, a cidade é apenas o lugar em que vive, não representa seu lugar de origem.
A paisagem que Domingas contemplam do barco apresenta naturais, como plantas; o que aparece da cidade, no entanto, são o comércio e os
a) Ao longo da viagem pelo Rio Negro, o leitor acompanha as mudanças na paisagem. Como Domingas é impactada por essas mudanças?
Domingas, aos poucos, se alegra e começa a respirar os ares de sua terra natal.
b) Que elementos apresenta a paisagem que Domingas e seu filho contemplam do barco? E o que aparece da cidade onde vivem?
c) Observe o mapa a seguir, que marca as referências de lugares mencionados no trecho da obra Dois irmãos.
• Identifique no mapa e copie no caderno o destino da viagem e o local de origem de Domingas. Realize uma breve pesquisa sobre as características geográficas e sociais desses lugares no contexto da narrativa. Com base nos resultados da pesquisa, formule uma hipótese: por que Domingas não reconhece a cidade de Manaus como seu lugar?
Extensão do Rio Negro (2024)
Elaborado com base em: SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES FLORESTAIS. Unidades de Conservação: mapas. Brasília, DF: Serviço Florestal Brasileiro, 2024.Disponível em: https://snif.florestal.gov. br/pt-br/dados -complementares/212 -sistema-nacionalde -unidades-de -conservacao-mapas. Acesso em: 11 out. 2024.
2. c) Espera-se que os estudantes compreendam que São João, terra natal de Domingas, é ladeada pela Floresta Amazônica, dominada por vasta natureza, distante da capital e apresenta características geográficas e sociais muito diferentes das do local onde ela vive. Esse contexto faz com que ela não reconheça a capital como seu lugar.
3. b) Sugestão de resposta: Domingas lembra-se do lugar onde nasceu. É possível que essas lembranças tenham vindo à tona quando ela olhou para o horizonte, talvez na direção do povoado de São João, às margens do Rio Jurubaxi, braço do Rio Negro, por onde navegavam. Além disso, a vegetação nativa do local e o som dos pássaros também a fazem recordar momentos de sua vida, o que contribui para que relembre seu lugar.
3. Pegar uma embarcação e subir o Rio Negro foi uma escolha da personagem Domingas, entre outras opções de lazer em Manaus.
3. a) Domingas queria sair de Manaus, pois se sentia enervada, cansada de sua rotina, e subir o Rio Negro, com destino a Acajatuba, parecia uma boa decisão para mudar de ares.
a) O que motiva a viagem de Domingas?
3. c) Promove essa sensação ao proporcionar uma paisagem familiar; ali, Domingas observa o sol, as aves, o horizonte do rio acima, e assim se recorda da vida em São João.
b) Q ue memórias o trajeto traz a Domingas? Por que essas lembranças revisitam a personagem? Formule uma hipótese com base em elementos do texto.
c) Embora Domingas não chegue ao seu lugar de origem, o percurso lhe faz rememorar “seu lugar”. Como estar no rio promove essa sensação?
4. Diferentemente da mãe, o narrador é natural de Manaus, cidade que prosperava economicamente. Nael, no entanto, capta com seu olhar aspectos de “um outro mundo naqueles recantos, a cidade que não vemos, ou não queremos ver”.
4. a) O porto da Catraia, as catraias, o comércio, a escassez de recursos.
a) Que recantos são esses?
b) Quem está incluído em “não vemos” e “não queremos”? Por que o narrador afirma isso?
4. b) O uso da primeira pessoa do plural pretende incluir o leitor nesse contexto de não ver e não querer ver. O narrador pressupõe que “não vemos” ou “não queremos” porque mazelas sociais incomodam. Em geral, essas mazelas estão afastadas e não são vistas por aqueles que têm uma situação socioeconômica que lhes permite viver longe delas.
c) O narrador destaca cenas e condições de vida de uma cidade que, segundo ele, as pessoas não querem ver. Identifique-as e responda: como o narrador se coloca em relação a essa cidade que vê?
d) A Manaus que o narrador vê chega ao leitor por meio de uma percepção subjetiva, experienciada por outros sentidos além da visão. Copie, no caderno, um trecho em que esse recurso é usado e identifique a qual sentido ele recorre.
4. c) O narrador descreve cenas e condições de vida em áreas marginalizadas de Manaus. Menciona “um outro mundo” escondido, destacando a presença de pessoas que sobrevivem com extrema dificuldade. Ao se aproximar dessas pessoas, o narrador demonstra empatia e pretende dar visibilidade aos que são invisíveis ou ignorados por grande parte da sociedade.
O impressionismo literário possibilita uma compreensão subjetiva do mundo, por meio da percepção dos sentidos e dos pensamentos. A realidade objetiva fica submetida ao ponto de vista subjetivo das personagens. O impressionismo na literatura, assim como nas artes plásticas, registra um ponto de vista pessoal e sensações imediatas daquilo que é narrado.
5. Na descrição do porto da Catraia, o narrador emprega algumas figuras de linguagem que o auxiliam a mostrar suas impressões. Copie, no caderno, exemplos presentes no trecho das figuras de linguagem a seguir.
Comparação
Zoomorfismo
Fitomorfismo
Descrição sinestésica
“canoas emparelhadas pareciam um réptil imenso”
“canoas emparelhadas pareciam um réptil imenso”
“alguns vegetando”
“cheiro de entranhas”
Comparação: figura de linguagem semelhante à metáfora, usada para relacionar, por semelhança, dois ou mais elementos.
Zoomorfismo: recurso que consiste em comparar personagens a animais.
Fitomorfismo: recurso que permite conferir a não plantas características vegetais.
Sinestesia: recurso que mistura sensações relacionadas aos sentidos: tato, audição, olfato, paladar e visão.
6. Releia o seguinte trecho do romance de Milton Hatoum: “O edifício antigo da Cervejaria Alemã cintilava na Colina, lá no outro lado do igarapé”. O narrador situa a cervejaria do outro lado do igarapé, no alto, e a descreve como cintilante. Considere essa descrição e responda: qual é o provável estrato social dos frequentadores da cervejaria? Justifique sua resposta.
6. Provavelmente, a parte mais abastada da população. Tudo na descrição indica isso: a cervejaria está do outro lado do igarapé – opondo-se, portanto, ao local onde vive a população mais pobre; está situada na Colina, no alto, enquanto a população mais pobre está embaixo, “vegetando” (vegetais, em geral, nascem no chão), assim como a cachorrada que ronda os pilares das palafitas.
7. No final do trecho, o narrador destaca que certa experiência lhe “devolvia por um momento a liberdade tolhida”.
4. d) “No meio da travessia já se sentia o cheiro de miúdos e vísceras de boi. Cheiro de entranhas. Os catraieiros remavam lentamente, as canoas emparelhadas pareciam um réptil imenso que se aproximava da margem. Quando atracavam, os bucheiros descarregavam caixas e tabuleiros cheios de vísceras. Comprava os miúdos para Zana, e o cheiro forte […] me afastava da margem […]”. O trecho recorre ao olfato e ao tato, além da visão, para transmitir a experiência sensorial subjetiva do narrador.
7. b) A liberdade de ter uma vida própria, independente da vontade alheia. O narrador é filho de uma empregada doméstica, que não pode voltar livremente à sua terra sem arriscar perder tudo o que tem.
a) Que experiência era essa?
7. c) Para Domingas, a natureza e o rio representam a conexão com a terra natal e a liberdade que anseia. A sensação de liberdade despertada pela imensidão do rio gera a identificação de Nael com a mãe, além de influenciar seu olhar empático e subjetivo sobre as áreas de Manaus menos favorecidas economicamente.
A experiência do rio, com sua imensidão escura e ondulada.
b) Com base no que se pode apreender do trecho reproduzido, que liberdade fora retirada do narrador?
c) Como essa sensação de liberdade faz com que o narrador, embora nascido e criado em Manaus, identifique-se com sua mãe e os desejos dela?
8. Em 2015, os quadrinistas paulistas Fábio Moon (1976-) e Gabriel Bá (1976-) adaptaram o romance Dois irmãos para a linguagem dos quadrinhos. Observe, a seguir, duas páginas da adaptação.
8. a) Domingas e Nael observando as catraias no porto;
do leito do Rio Negro; o barco
rio; as aves nas árvores; as aves cortando o céu.
O recurso gráfico. Professor, possível, peça aos estudantes que pesquisem
jaçanãs. Assim, facilmente no de Domingas, batuíras e um
MOON, Fábio; BÁ, Gabriel. Dois irmãos. 1. ed. São Paulo: Quadrinhos na Cia, 2015. p. 78-79.
a) Conforme observado, o narrador de Dois irmãos descreve Manaus sob sua perspectiva, recorrendo a diferentes figuras de linguagem. Que cenas descritas no livro foram adaptadas?
b) No trecho do romance, Domingas diz ao filho: “Olha as batuíras e jaçanãs”. Já nos quadrinhos, essa fala é reduzida a: “Olha!”. Que recurso permite essa redução sem qualquer mudança de sentido?
c) Compare o trecho em prosa com o trecho em quadrinhos e identifique as principais diferenças entre as duas linguagens. O que cada uma delas permite ou limita?
#fiCAADiCA
Fábio Moon e Gabriel Bá estão entre os mais premiados autores de histórias em quadrinhos da última década, tendo obras publicadas em diversos países. Ao adaptarem a obra de Milton Hatoum para uma HQ, os autores preservaram a força narrativa do romance ao mesmo tempo que souberam traduzir a tragédia, a delicadeza, a brutalidade e o humor da narrativa original. No desenho, a vida dos gêmeos Yaqub e Omar ganha novos contornos épicos. A cidade de Manaus aparece sob um jogo de luz e sombras, em grandes planos ou em detalhes. A linguagem empregada na HQ pode aproximar diferentes leitores dessa grande obra da literatura brasileira.
• MOON, Fábio; BÁ, Gabriel. Dois irmãos. 1. ed. São Paulo: Quadrinhos na Cia, 2015.
8. c) Espera-se que os estudantes citem, entre as principais diferenças, o fato de, nos quadrinhos, os desenhos expressarem visualmente cenários e personagens que a narrativa em prosa deixa à imaginação do leitor. É importante também destacar que cada linguagem tem seus recursos para produzir emoção e sugerir sentidos. Se a linguagem verbal emprega, por exemplo, as figuras de linguagem, a HQ usa o traço, o enquadramento e a luz sugerida. Essas diferenças também ocorrem em adaptações literárias para o cinema, a TV ou o teatro.
9. O romance se passa em Manaus e apresenta um conjunto lexical próprio da região, bem como elementos de fauna e flora específicos. Pensando nisso, copie o quadro a seguir no caderno e elabore um glossário ilustrado.
Nome
Batuíra
Professor, o objetivo da atividade é fazer com que os estudantes pesquisem elementos da região amazônica, como a fauna, a flora e a cultura. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Significado
Ave de pequeno porte caracterizada pela presença de um colar marrom ou preto na região do pescoço.
Ave de plumagem negra com manto castanho e bico amarelo com escudo frontal vermelho.
Ave de bico alto e curto, crista longa e rígida.
Conjunto de estacas para sustentação de habitações construídas sobre a água. Embarcação pequena de duas proas para serviço nos portos e para pesca.
A escolha lexical é fundamental para dar coerência ao universo ficcional da narrativa. Sendo assim, deve registrar as características linguísticas da região em que se passa a história, bem como a variação lexical relacionada a gênero, instrução, classe social e idade.
Embora a narrativa de Dois irmãos se passe em uma região específica, é possível dizer que o romance obteve um grande sucesso de crítica e de público, já que ganhou o Prêmio Jabuti em 2011, foi traduzido para mais de doze idiomas e adaptado para quadrinhos, televisão e teatro. Não é consenso, mas muitos críticos referem-se à obra de Milton Hatoum como regionalista, isto é, uma obra que teria como foco a descrição e ambientação de ações em uma região específica – no caso, a amazônica. O autor, no entanto, nega essa classificação. O fato é que há uma literatura regionalista que surgiu no século XIX, durante o período romântico, que teve como objetivo apresentar diferentes lugares do Brasil aos brasileiros, principalmente aos habitantes da capital e de regiões que recebiam maior investimento da Coroa. A seguir, você vai conhecer algumas dessas obras. ENTÃO…
Em países recém-formados que conquistaram a independência depois de um processo de colonização, o nacionalismo surge como uma expressão da busca por identidade e uma reivindicação de autonomia cultural em relação à lógica colonial. No Brasil, essa busca se refletiu na valorização de temas locais, com ênfase na representação de costumes, paisagens e peculiaridades culturais das regiões fora do Sudeste, onde estavam concentradas a corte e as elites cafeeira e mineradora. A seguir, você vai conhecer alguns romances fundamentais para a construção de imagens das regiões do Brasil durante o período romântico.
Para lembrar
1 O Sudeste do Brasil, a partir do final do século XVIII, passou por grandes mudanças com o aumento de investimentos e recursos. O que levou a esse investimento no Sudeste em detrimento das demais regiões?
Para discutir
Várias regiões do Brasil apresentam altos índices de subdesenvolvimento, e isso é consequência de um longo histórico de decisões políticas e econômicas de vários governos brasileiros. O Brasil é uma república federativa e cabe ao governo federal garantir um desenvolvimento igualitário da economia de suas unidades. O Senado Federal e o Congresso contam com representantes de todos os estados e regiões. Com base nessas informações, discuta com os colegas e anote no caderno as respostas às questões a seguir.
1 O que explica que haja, ainda hoje, um investimento desigual entre as regiões do Brasil?
2 Que medidas poderiam promover maior igualdade socioeconômica entre as diferentes regiões?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Inocência é um romance de 1872 ambientado no interior de Mato Grosso (MT). A personagem Inocência, uma jovem linda e pura, vive sob a tutela de um pai rigoroso, Pereira. Embora esteja noiva de Manecão, um sertanejo rude escolhido por seu pai, ela não sente amor por ele. A chegada de Cirino, um médico nômade chamado para tratar a febre alta da jovem, muda completamente a vida pacata de Inocência. Durante o tratamento, os dois se apaixonam, mas são impedidos de viver esse amor por causa do noivado da jovem com Manecão e da moral rigorosa de seu pai. O enredo se desenvolve em meio a ricas descrições do ambiente natural e dos hábitos do sertão, retratados com vivacidade pelo autor Visconde de Taunay, que percorreu a região de Mato Grosso em uma expedição. A cena descrita a seguir faz parte do início do romance e pretende apresentar o sertão e o sertanejo ao leitor da corte e das grandes cidades litorâneas.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Tais são os campos que as chuvas não vêm regar.
Com que gosto demanda então o sertanejo os capões que lá de bem longe se avistam nas encostas das colinas e baixuras, ao redor de alguma nascente orlada de pindaíbas e buritis?!
Com que alegria não saúda os formosos coqueirais, núncios da linfa que lhe há de estancar a sede e banhar o afogueado rosto?!
Enfileiram-se às vezes as palmeiras com singular regularidade na altura e conformação; mas não raro amontoam-se em compactos maciços, dos quais se segregam algumas mais e mais, a acompanhar com as raízes qualquer tênue fio d’água, que coleia falto de forças e quase a sumir-se na ávida areia.
[…]
— Bom! Exclama em voz alta e alegre ao avistar algum madeiro agigantado ou uma disposição especial de terras, lá está a peúva grande… Cheguei ao Barranco Alto. Até ao pouso de Jacaré há quatro léguas bem puxadas.
E, olhando para o Sol, conclui:
— Daqui a três horas estou batendo fogo.
Ocasiões há em que o sertanejo dá para assobiar. Cantar, é raro; ainda assim, à surdina; mais uma voz íntima, um rumorejar consigo, do que notas saídas do robusto peito. Responder ao pio das perdizes ou ao chamado agoniado da esquiva jaó, é o seu divertimento em dias de bom humor.
É-lhe indiferente o urro da onça. Só por demais repara nas muitas pegadas, que em todos os sentidos ficam marcadas na areia da estrada.
— Que bichão! Murmura ele contemplando um rasto mais fortemente impresso no solo; com um bom onceiro não se me dava de acuar este diabo e meter-lhe uma chumbada no focinho.
O legítimo sertanejo, explorador dos desertos, não tem, em geral, família. Enquanto moço, seu fim único é devassar terras, pisar campos onde ninguém antes pusera pé, vadear rios desconhecidos, despontar cabeceiras e furar matas, que descobridor algum até então haja varado.
#SOBRE
Alfredo d’Escragnolle Taunay (18431899), mais conhecido como Visconde de Taunay, foi um importante escritor, historiador, militar e político brasileiro do século XIX. Nascido no Rio de Janeiro, Taunay destacou-se principalmente por sua obra literária dentro do movimento romântico brasileiro. Além de sua contribuição literária, Taunay teve uma carreira militar distinta, participando da Guerra do Paraguai. Mais tarde, tornou-se político, ocupando cargos importantes como o de presidente da província de Santa Catarina. Taunay se juntou à Expedição de Mato Grosso como ajudante da Comissão de Engenheiros, com a missão de informar ao governo imperial a situação de um grupo expedicionário que há tempos era considerado desaparecido. Com essa missão, ele adquiriu grande conhecimento sobre a região, que se tornou a base para grande parte de suas obras literárias.
capão: ilha de vegetação em terreno árido. orlada: margeado, que fica nas margens. pindaíba: tipo de árvore frutífera.
buriti: tipo de palmeira.
núncio: mensageiro.
linfa: água límpida.
ávida: que deseja com muita vontade. peúva: ipê-rosa.
rumorejar: sussurrar, cochichar.
jaó: ave também chamada de macucauá. onceiro: cão caçador de onças.
Cresce-lhe o orgulho na razão da extensão e importância das viagens empreendidas; e seu maior gosto cifra-se em enumerar as correntes caudais que transpôs, os ribeirões que batizou, as serras que transmontou e os pantanais que afoitamente cortou, quando não levou dias e dias a rodeá-los com rara paciência.
caudal: grande volume de água.
Cada ano que finda traz-lhe mais um valioso conhecimento e acrescenta uma pedra ao monumento da sua inocente vaidade.
— Ninguém pode comigo, exclama ele enfaticamente. Nos campos da Vacaria, no sertão do Mimoso e nos pântanos do Pequiri, sou rei.
E esta presunção de realeza infunde-lhe certo modo de falar e de gesticular majestático em sua singela manifestação. […].
TAUNAY, Visconde de. Inocência . São Paulo: Klick, 1997. p. 15-19.
1. a) Como um lugar paradisíaco ou como um lugar inóspito, isolado, bárbaro, selvagem e perigoso. Professor, é importante discutir com os estudantes sobre o que, nas cidades, era chamado de “sertão”. O termo refere-se a um território amplamente habitado por diversas comunidades, como o artigo está mostrando, muitas delas devastadas pela expansão territorial promovida pelo governo imperial. É fundamental promover debates críticos, construir análises e preparar os estudantes para compreender as complexidades dos espaços em que vivem. Os professores da área de Ciências Humanas podem auxiliar nesse debate.
1. b) Espera-se que os estudantes observem a descrição das dificuldades enfrentadas pelos europeus que adentraram o sertão. A vastidão e o desconhecimento do território, a falta de caminhos conhecidos, entre outros fatores,
A parceria com pode ajudar a conhecimento dos estudantes sobre a ocupação do território do país no século XIX. Estratégias
Orientações para um povo mais rústico, rude, com pouco acesso à escolarização e aos costumes na perspectiva do habitante do
1. Leia a seguir o trecho de um artigo sobre como os viajantes europeus da época viam o que hoje corresponde ao estado de Mato Grosso, espaço da narrativa de Inocência .
O imaginário sobre o espaço, daqueles que se aventuravam adentrar o sertão mato-grossense, assim como Steinen, oscilava da visão paradisíaca […] ao inferno na terra, em vista das nuvens de mosquitos, animais ferozes, índios selvagens, climas insalubres, febres malignas e privações de toda espécie […] Mato Grosso era um grande espaço ‘vazio’ à espera da ‘civilização’.
Diante da vastidão territorial, o espaço, embora fosse compreendido como ‘vazio’, estava habitado. No tocante às representações sobre seus habitantes, nos escritos dos viajantes, homem e natureza não se apresentavam separadamente. A percepção da imagem desses sertanejos e de seus hábitos baseava-se na simbiose entre o ambiente hostil e a contingência do viver na imensidão ‘vazia’.
TRUBILIANO, Carlos Alexandre Barros. Em nome da civilização: o Mato Grosso no olhar dos viajantes. Trilhas da História, Três Lagoas, v. 2, n. 3, p. 33-45, jul./dez. 2012. p. 37.
a) O artigo refere-se à percepção de um viajante do século XIX com relação ao que se chamava de “sertão” mato-grossense. Como é possível caracterizar esse sertão?
b) A chegada da família real ao Brasil, em 1808, promoveu mudanças sociais, políticas e econômicas. Essas mudanças, no entanto, não chegaram igualmente a todo o território brasileiro. Com base no trecho lido, formule uma hipótese que explique isso.
c) Segundo o trecho, nos escritos dos viajantes, a imagem que se projeta do sertanejo e de seus hábitos não se separa do “ambiente hostil” e vazio em que vive. Com base nessa observação, como o sertanejo foi caracterizado?
1. d) “Lugar paradisíaco”: exótico, de natureza exuberante, a terra em que “se plantando tudo dá”. “Inferno na terra”: lugar bárbaro, rude, inculto, aberto à presença civilizatória do europeu.
d) O s olhares dos viajantes europeus sobre o sertão criaram dois estereótipos contrastantes: um que o descreve como lugar “paradisíaco”; outro como o “inferno na terra”. Pesquise sobre esses estereótipos e escreva definições que correspondam ao texto.
2. a) O sertão seria um lugar seco (que as chuvas não atingem), mas com regiões em que há vegetação e veios d’água.
2. O t recho de Inocência que você leu também apresenta um contraste entre duas perspectivas geográficas do que seria o sertão.
a) Quais são elas?
2. b) A de que o trajeto é difícil (puxadas) e que quando sair da região em que há vegetação vai sentir muito o calor (batendo fogo). Também se refere ao alívio que sente quando encontra nos coqueirais anúncio de água. Professor, explique aos estudantes que os coqueiros precisam de muita água para sobreviver.
b) O narrador antecipa ao leitor as impressões e sensações que as características climáticas do sertão podem produzir no sertanejo ao longo de seu trajeto. Que impressões e sensações são essas?
3. A descrição do sertanejo em Inocência apresenta características morais que pretendem torná-lo um herói que transita, inatingível, por adversidades. Agora, observe a gravura a seguir, intitulada Sertanejo em viagem pelo Piauí, de 1846.
• A representação do sertanejo na gravura confirma ou contradiz a descrição do trecho de Inocência? Por quê?
DENIS, Ferdinand. Sertanejo en voyage dans le Piauhy [Sertanejo em viagem pelo Piauí]. 1846. Gravura, 21 cm x 12, 8 cm. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro (RJ).
3. Contradiz, já que, no trecho, o sertanejo é solitário, vive em contato muito próximo com a natureza e aparenta ser mais rude; na gravura, além de estar representado como um cavaleiro, está cercado de serviçais. Professor, chame a atenção dos estudantes para a idealização que muitas imagens fazem da natureza brasileira, bem como dos habitantes. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
4. Resposta: alternativa b. É importante que os estudantes entendam o projeto romântico, principalmente em relação à busca por uma identidade nacional distinta da herança colonial, fortalecendo o sentimento de pertencimento e unidade.
4. O projeto romântico, como você já sabe, foi impulsionado no Brasil pela Independência e pela busca por uma identidade nacional da nação recém-criada. Copie, no caderno, a alternativa que melhor analisa o papel da literatura regionalista nesse cenário.
a) A literatura regionalista, durante o período do Romantismo, teve um papel essencial na formulação de uma identidade nacional ao demonstrar como as diversas regiões do Brasil precisavam de alto investimento público para se equipararem à capital do Império.
b) A literatura regionalista romântica desempenhou um papel crucial na busca por identidade nacional ao retratar as especificidades culturais e geográficas de diferentes regiões, fortalecendo o senso de unicidade e pertencimento nacional.
c) No Romantismo, a literatura mostrou-se vital ao explorar e retratar o caráter único da cultura e geografia do país. Essa abordagem ajudou a revelar as similaridades dos locais, fortalecendo a noção de pertencimento entre os cidadãos. Assim, consolidou-se uma visão mais homogênea da identidade nacional.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
5. Além da descrição do espaço e das personagens, a escolha lexical é fundamental para a construção das especificidades regionais do Brasil.
5. b) Os termos regionais garantem a coerência entre espaço, personagens e a linguagem que utilizam.
a) Copie o quadro seguir no caderno e identifique as palavras e expressões regionais que se relacionam aos temas registrados na coluna da esquerda.
Flora Fauna Paisagem
pindaíba, buritis, peúva jaó, onceiro capões
b) Qual é a importância desse registro linguístico na construção do universo ficcional do romance?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
6. O C abeleira é um romance do escritor cearense Franklin Távora (1842-1888), publicado em 1876. É considerado um dos precursores do regionalismo na literatura brasileira. A história se passa no interior de Pernambuco (PE) e acompanha a vida de José Gomes, apelidado de Cabeleira, um célebre cangaceiro criado pelo pai, também cangaceiro. O livro retrata as aventuras e os desafios enfrentados por Cabeleira, explorando temas como a violência, a justiça e a lei no sertão brasileiro. O trecho a seguir é o início da obra.
#SOBRE
O escritor cearense Franklin Távora (1842-1888) foi uma figura central no movimento literário brasileiro conhecido como Escola do Recife, que defendia a regionalização da literatura nacional. Advogado de formação, Távora se destacou como escritor e jornalista, dedicando-se à narrativa das particularidades do Nordeste brasileiro. O Cabeleira , sua obra mais célebre, é considerada um dos primeiros romances regionalistas do Brasil e retrata a vida dos cangaceiros no sertão nordestino. O romance mostra seu esforço para valorizar temas e personagens locais em detrimento das influências literárias europeias que dominavam o cenário cultural do país na época.
A história de Pernambuco oferece-nos exemplos de heroísmo e grandeza moral que podem figurar nos fastos dos maiores povos da Antiguidade sem desdourá-los. Não são estes os únicos exemplos que despertam nossa atenção sempre que estudamos o passado desta ilustre província, berço tradicional da liberdade brasileira. Merecem-nos particular meditação, ao lado dos que aí se mostram dignos da gratidão, da pátria pelos nobres feitos com que a magnificaram, alguns vultos infelizes, em quem hoje veneraríamos talvez modelos de altas e varonis virtudes, se certas circunstâncias de tempo e lugar, que decidem dos destinos das nações e até da humanidade, não pudessem desnaturar os homens, tornando-os açoites das gerações coevas e algozes de si mesmos. Entra neste número o protagonista da presente narrativa, o qual se celebrizou na carreira do crime, menos por maldade natural,
coeva: de mesma idade ou contemporâneo.
6. b) O narrador atribui uma vida heroica ao protagonista, alegando que ele foi levado à criminalidade “menos por maldade natural, do que pela crassa ignorância que em seu tempo agrilhoava os bons instintos e deixava soltas as paixões canibais”.
do que pela crassa ignorância que em seu tempo agrilhoava os bons instintos e deixava soltas as paixões canibais. Autorizavam-nos a formar este juízo do Cabeleira a tradição oral, os versos dos trovadores e algumas linhas da história que trouxeram seu nome aos nossos dias envolto em uma grande lição.
crassa: grosseira. agrilhoar: amarrar, acorrentar.
TÁVORA, Franklin. O Cabeleira . Rio de Janeiro: Ediouro, 1985. (Coleção Prestígio, p. 15).
a) Os feitos heroicos a que o autor se refere fazem parte dos eventos acontecidos durante a ocupação holandesa, parte importante da história de Pernambuco. A estratégia do narrador é incutir no leitor uma imagem da região. Que imagem é essa?
A imagem de grandiosidade, de uma região que teve papel glorioso na formação da nação brasileira.
b) O t recho contrasta grandes heróis de Pernambuco, “dignos de gratidão”, e “vultos infelizes” que, segundo o narrador, fizeram parte da história. Na apresentação de Cabeleira, porém, o narrador busca conciliar esses opostos. De que forma? Que imagem ele constrói do protagonista?
c) Para a descrição de Pernambuco, são utilizadas algumas expressões que engrandecem e idealizam esse cenário. Copie no caderno quais são essas expressões.
“Ilustre província”; “berço tradicional de liberdade brasileira”.
7. O mapa a seguir destaca o cenário de algumas das principais obras do Romantismo brasileiro.
Mapa dos
Equador 0°
José de Alencar
OCEANO PACÍFICO
Visconde de Taunay
Bernardo Guimarães
O sertanejo
O tronco do ipê
Til
Inocência
Trópico de Capricórnio
A retirada da Laguna
A escrava Isaura
O garimpeiro
O ermitão de Muquém
O seminarista
A filha do fazendeiro
O pão de ouro
O Cabeleira
O matuto
Franklin Távora 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 O gaúcho
O sacrifício
Um casamento no arrabalde
OCEANO ATLÂNTICO
Região
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
Centro-Oeste
Divisa estadual 0 485
Fronteira internacional
Elaborado com base em: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Atlas das representações literárias das regiões brasileiras: Brasil meridional. Rio de Janeiro: IBGE, 2006. v. 1.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Atlas das representações literárias das regiões brasileiras: sertões. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. v. 2.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira . 35. ed. São Paulo: Cultrix, 1997.
7. a) Espera-se que os estudantes reconheçam que as regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste têm representantes no projeto literário, mas talvez de forma insuficiente, se consideradas as singularidades das diferentes localidades das regiões.
A Região Norte, não. Peça aos estudantes que formulem hipóteses: para os autores regionalistas da época, provenientes das cidades, a Região Norte era ainda desconhecida e pouco acessível, entre outros motivos, pela densidade da floresta.
7. b) Espera-se que os estudantes reconheçam a idealização dos diferentes espaços. Discuta com os estudantes se o mapa de fato mostra o que eram essas regiões e o quanto de idealização se pode verificar na representação delas.
É importante ouvir os estudantes e avaliar seus argumentos.
Com base na observação do mapa, discuta com os colegas as questões a seguir.
a) O projeto regionalista conseguiu abarcar todo o espaço brasileiro? Por quê?
b) Esses romances cumpriram seu papel de registrar a diversidade do Brasil para os brasileiros?
Criadas pela Coroa portuguesa em 1534 para promover a colonização do território recém-descoberto e protegê-lo das invasões de outros países, as capitanias hereditárias eram divisões de terra em faixas entregues a nobres e militares, os donatários. Essa divisão estruturou a ocupação e a exploração do território e resultou em um desenvolvimento desigual, já que capitanias mais próximas ao litoral, como São Vicente e Pernambuco, prosperaram mais em razão do cultivo da cana-de açúcar. Em contrapartida, muitas outras capitanias enfrentaram dificuldades por causa de fatores como resistência indígena, localização desfavorável e falta de recursos, permanecendo subdesenvolvidas e marginalizadas durante anos.
A descoberta do ouro em Minas Gerais, no final do século XVII, e o subsequente desenvolvimento das lavouras de café em São Paulo, nos séculos XIX e XX, impulsionaram o desenvolvimento econômico dessas regiões. Isso atraiu investimentos, mão de obra e infraestrutura, transformando-as em centros de riqueza e poder econômico. Regiões como o Nordeste e a Amazônia, no entanto, permaneceram economicamente estagnadas e menos desenvolvidas, sofrendo com a falta de infraestrutura e investimento, o que aprofundou o abismo econômico e social entre as diferentes partes do país.
O histórico de negligência do poder público em relação ao Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil é um dos principais responsáveis pelo subdesenvolvimento dessas regiões. A ausência de investimentos adequados em infraestrutura essencial, educação de qualidade e serviços de saúde tem mantido essas regiões em condições de desvantagem econômica e social se comparadas ao restante do país, resultando em dificuldades econômicas, bem como preconceitos e estereótipos pejorativos em relação aos habitantes dessas áreas, perpetuando um ciclo de marginalização e exclusão que afeta a integração e o desenvolvimento do Brasil e a valorização da diversidade, que pode ser considerada um dos mais valiosos ativos do país.
A necessidade da criação de uma identidade nacional depois da Independência foi fundamental para que o Romantismo brasileiro surgisse e se desenvolvesse. Além da tematização do indígena e da natureza idílica em que vivia, seria fundamental destacar as características geográficas e culturais e as peculiaridades de diferentes regiões do país.
As obras regionalistas frequentemente tematizam a vida rural, em regiões afastadas do litoral, a simplicidade do campo em comparação com as cidades, a exploração de diferenças culturais dentro de um país e a luta contra as injustiças sociais. Os escritores buscavam retratar uma região e criticar aspectos políticos e sociais da época, incluindo a idealização do sertanejo, o heroísmo simples e a luta contra a opressão, por exemplo.
Tendem a valorizar as sequências descritivas, com uma atenção especial à linguagem, que reflete as variações regionais, enriquecendo a narrativa, preservando e valorizando as expressões culturais de cada região.
Socialmente, o regionalismo literário teve um impacto significativo na formação da consciência nacional e da identidade cultural. No entanto, contribuíram para a idealização excessiva do rural e do nativo, ignorando muitas vezes as complexidades reais e os conflitos de algumas regiões, apresentando-as como pitorescos, com a construção de paisagens e costumes exóticos que agradariam aos leitores eurocentrados do litoral.
As heranças dessa literatura regionalista romântica se refletem em várias produções contemporâneas, que lançam olhares sobre as regiões ainda ignoradas pelo poder público, vistas de forma preconceituosa e discriminatória. Também destacam a complexidade das relações nessas regiões e as consequências de séculos de abandono e desfavorecimento.
TAVARES, Flávio. Candangos (companheiros velhos de guerra). 2010. Acrílica sobre tela, 180 cm x 140 cm. Coleção particular.
Representação da expedição do viajante alemão Langsdorff pelo interior do Brasil.
SILVA, Oscar Pereira da. 9o Encontro das Monções do Sertão. 1920. Óleo sobre tela, 95,5 cm x 173 cm. Museu do Ipiranga, São Paulo (SP).
As obras mostram como habitantes do Norte e do Nordeste migraram para outras regiões em busca de emprego, tornando-se mão de obra fundamental para o desenvolvimento econômico dessas áreas.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A diversidade regional brasileira se destaca nos gêneros musicais marcando as diferenças culturais das regiões com influências indígenas, africanas, ibéricas e de vários outros povos.
Músicas como “Luar do Sertão”, de Catulo da Paixão Cearense, de 1914; “Sertão de aço”, de Luiz Gonzaga, de 1962; e “Lamento sertanejo”, de Gilberto Gil e Dominguinhos, de 1967, apresentam, de modos diferentes, uma visão poética e nostálgica do sertão. Elas fazem referência às suas características físicas e à relação entre o eu lírico e o espaço atravessado pelos sentimentos. Todas essas canções retomam gêneros como toada e forró.
No século XXI, a canção “Voando pro Pará”, de Chrystian Lima, Isac Maraial, Nilk Oliveira e Valter Serraria, composta em 2016 e interpretada pela cantora Joelma, obteve sucesso até internacional. A canção, no ritmo calipso, típico do Pará, tem um eu lírico saudosista, que quer voltar à sua terra, a cidade de Belém do Pará, apresentada em toda sua singular beleza. Você irá fazer uma pesquisa sobre canções de diversas regiões do Brasil.
1. Procure em streamings , rádios ou na internet canções que façam referência a regiões específicas.
2. Escolha uma dessas canções e busque seus dados técnicos: compositores, músicos, álbum, ano de lançamento e seu contexto. Registre essas informações para compartilhar com os colegas em sala.
3. No dia determinado pelo professor, compartilhe com a turma as informações da canção selecionada.
O local e o universal
Nesta unidade, você conheceu várias obras que buscam representar o local, o peculiar e o singular de uma região. Essa representação propõe o contato entre o leitor e um universo de costumes, falares e atividades muito próprias de determinado lugar.
Um romance, um poema e uma peça de teatro podem ter como cenário uma cidadezinha qualquer, um lugar e seu perfil geográfico e cultural. Mas, de algum modo, essas obras tratam das grandes questões humanas: o amor, a morte, o medo, conflitos e questões que, de um modo ou de outro, afetam todos. Assim, uma obra pode ter sua cor local, mas será também universal.
O escritor baiano Jorge Amado (1912-2001) fala sobre isso em um prefácio do romance Capitães da Areia , publicado pela primeira vez em 1937.
[…] Tenho certeza de que não fiz obra de repórter e sim de romancista, como tenho a certeza que, se bem os meus romances narrem fatos, sentimentos e paisagens baianas, têm um largo sentido universal e humano mesmo devido ao caráter social que possuem […]’.
AMADO, Jorge. Capitães da Areia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1937. p. 14-15. Para discutir
Sob orientação do professor, a turma será dividida em três grupos que irão escolher um filme ou uma série para assistir. Depois disso, cada grupo deve se reunir para analisar a obra escolhida e responder às questões a seguir. Ao final, os grupos devem apresentar o trabalho à turma.
1. A intencionalidade da obra é representar um local específico? Por quê?
Atividade complementar nas Orientações para o professor.
2. Aparecem elementos próprios de uma dada realidade que interferem na história?
3. A obra trata de temática humana ou social? Como isso acontece?
Após a chegada da família real ao Rio de Janeiro, em 1808, o desenvolvimento socioeconômico das cidades e o crescimento do café como potência econômica confirmou o Sudeste brasileiro como um importante polo econômico. Por isso, essa região drenou os investimentos por parte do Estado, que, então, deixou de atender a certas necessidades das demais regiões do Brasil.
Algumas dessas regiões são alvo de estereótipos que simplificam e, muitas vezes, distorcem realidades locais. Essas visões perpetuam preconceitos e impedem um entendimento mais profundo da complexidade e riqueza de cada região brasileira.
Para discutir
Professor, vale destacar a multiplicidade dos estados e municípios do Nordeste: nessa região, é possível encontrar tanto índices educacionais entre os mais altos quanto alguns dos mais baixos. É interessante apontar também os altos índices de produção acadêmica, assunto do artigo proposto para leitura.
1 O s jornais frequentemente divulgam dados sobre educação e pesquisa. Você conhece alguma notícia ou reportagem que faça referência à educação e à produção científica da Região Nordeste? Compartilhe com os colegas.
Continue refletindo sobre a maneira como você analisa a multiplicidade das regiões, especialmente o Nordeste, e como é possível combater os estereótipos frequentemente ligados a ela. A produção científica nordestina é tema do artigo de opinião que você vai ler a seguir, publicado no Correio Braziliense
Texto
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Artigo: ‘Nordeste aposta na ciência para valorizar as suas múltiplas potencialidades’
Por Francilene Garcia – Professora da Universidade Federal de Campina Grande, diretora da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
Mercedes Bustamante – Professora da Universidade de Brasília, membro da Academia Brasileira de Ciências Recentemente, o país testemunhou manifestações de profundo preconceito em relação ao Nordeste. Prontamente, respostas contundentes destacaram o quanto falas preconceituosas ignoram as enormes contribuições da região para a cultura, literatura, música, gastronomia e história do Brasil.
Mas, há uma contribuição central para nosso futuro que tem encontrado um terreno fértil no Nordeste. A região vem se consolidando como um polo gerador de ciência, tecnologia e inovação com benefícios que extrapolam em muito suas fronteiras.
Como ocorre em vários países, grande parte dos investimentos em P&D realizados no mundo destina-se às universidades e instituições públicas de pesquisa. No Brasil, da mesma forma, a maior parte da ciência é realizada por alunos de pós-graduação (mestrado, doutorado e pós-doutorado) nas universidades públicas, sob a orientação de seus professores pesquisadores.
A produção de conhecimento científico, portanto, depende diretamente da existência de infraestruturas de pesquisa científica e tecnológica e de processos
P&D: Pesquisa e Desenvolvimento.
de gestão (cérebros, equipamentos, insumos, facilidades, governança institucional e mecanismos de investimentos, entre outros). No Brasil, as universidades públicas, federais e estaduais são as responsáveis por mais de 95% da produção científica.
O Nordeste conta com 20% dos programas de pós-graduação avaliados e reconhecidos no país (MEC/Capes), cujos pesquisadores são responsáveis por cerca de 20% dos grupos de pesquisa em operação (MCTI/CNPq). Os indicadores crescentes contribuem com a redução das desigualdades regionais e, em boa parte, são resultantes do programa de reestruturação e expansão das universidades federais – o Reuni, instituído em 2007. O Reuni assegurou investimentos nas universidades públicas e contribuiu para a ampliação da oferta de vagas para estudantes – alguns com aspiração de se tornarem jovens cientistas – e do número de grupos de pesquisa com influência direta na capacidade do país de realizar pesquisas em áreas estratégicas. Para regiões como o Nordeste, a ampliação da contratação de jovens pesquisadores nas universidades federais, em geral recém doutores, contribuiu com a formação de novos grupos de pesquisa, motivados a seguir fazendo ciência no Brasil. Em quatro Estados do Nordeste (PE, PB, CE e RN), o percentual de pesquisadores com nível de doutorado está acima da média brasileira que é de 61%.
Os estímulos para a consolidação dos grupos de pesquisa no Nordeste mostraram resultados significativos na produção científica sobre a covid-19 considerando o período entre 2019 e 2021. O maior número de publicações foi da região Sudeste, onde 23 universidades concentraram o quantitativo de 2 253 publicações, seguida pela região Nordeste, com 683 publicações, e pelo Sul, com 526. A Universidade Federal da Bahia está dentre as dez universidades brasileiras que apresentaram maiores quantitativos de artigos científicos sobre a covid-19 no período avaliado. Um comitê científico foi responsável por orientar os governadores do NE durante o período crítico da pandemia, fazendo com que a região tivesse um dos melhores desempenhos no país, salvando mais de 200 mil vidas.
As redes de colaboração reforçam a importância do envolvimento de pesquisadores e de instituições sediadas no Nordeste em temas estratégicos para o Brasil. Da mesma forma, permitem ampliar a presença de temáticas com maior impacto para o Nordeste. Por exemplo, redes de pesquisa contribuem com o monitoramento do processo de desertificação e o sistema de previsão de risco de colapso de safras no Semiárido, com a prospecção do potencial biotecnológico da Caatinga (fármacos, cosméticos, biofungicidas, segurança alimentar); formam a Plataforma Genômica Computacional para fins de sequenciamento genético de amostras coletadas em mulheres grávidas expostas ao vírus zika no Nordeste; desenvolvem a aplicação da técnica do inseto estéril para combate à proliferação do Aedes aegypti ; criam embalagens valorizáveis para frutas e ampliam a infraestrutura de fibra óptica na região Nordeste.
Às manifestações de preconceito arraigado na imagem do ‘Nordeste de solo rachado e lócus da pobreza extrema por falta de alternativas viáveis’, o Nordeste responde acolhendo uma nova abordagem de desenvolvimento econômico sustentável, dispondo da Ciência, Tecnologia e da Inovação como eixo central de uma MCTI regional que pretende articular de forma mais eficiente e eficaz o enfrentamento de fragilidades legadas e a maior apropriação de oportunidades em áreas de fronteira tecnológica. Esta aposta, decisão política de governos locais, é o caminho que vem inserindo a região na economia do conhecimento.
BUSTAMANTE, Mercedes; GARCIA, Francilene. Nordeste aposta na ciência para valorizar as suas múltiplas potencialidades. Correio Braziliense, Brasília, DF, 24 out. 2022. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2022/10/5046356-artigo-nordeste-aposta -na-ciencia-para-valorizar-as-suas-multiplas-potencialidades.html. Acesso em: 3 set. 2024
MEC: Ministério da Educação.
Capes: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.
MCTI: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
CNPq: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
Reuni: Reestruturação e Expansão das Universidades Federais.
infraestrutura: conjunto de serviços fundamentais para o desenvolvimento de uma região, como saneamento, transporte, energia etc.
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Não escreva no livro.
1. O infográfico a seguir apresenta o número de pesquisadores com bolsas nos estados brasileiros em 2022, de acordo com o boletim anual do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE).
Pesquisadores por estado em todo o período analisado
2. a) Ambas são autoridade por causa de sua formação, área de atuação e dedicação à ciência. Professor, oriente os estudantes a consultar o currículo completo das autoras. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Fonte: CENTRO DE GESTÃO E ESTUDOS ESTRATÉGICOS. Pesquisadores por estado em todo o período analisado. Boletim anual OCTI 2022 , Brasília, DF, ano 3, jun. 2023. p. 100. Disponível em: www.cgee.org.br/documents/10195/11009696/ CGEE_OCTI_Boletim_Anual_do_OCTI_2022.pdf/. Acesso em: 3 set. 2024.
1. b) Espera-se que os estudantes percebam que o Nordeste está na média dos investimentos, porque há duas regiões com mais e duas com menos investimentos. Poderia haver investimentos mais significativos para se aproximar das regiões Sul e Sudeste.
a) De acordo com o infográfico apresentado, qual seria a posição da Região Nordeste no ranking de bolsistas do Brasil?
1. a) Espera-se que os estudantes percebam que o Nordeste apareceria em 3o lugar, atrás de Sudeste e Sul, respectivamente.
b) A s bolsas de pesquisa são uma forma de financiamento público da produção científica. O que os dados revelam sobre esse investimento na Região Nordeste?
2. O artigo do Correio Braziliense que você leu foi escrito por duas pesquisadoras: a doutora Francilene Garcia e a doutora Mercedes Bustamante. Para saber mais sobre as autoras e conhecer o percurso acadêmico que trilharam, você pode consultar o currículo Lattes.
O Currículo Lattes se tornou um padrão nacional no registro da vida pregressa e atual dos estudantes e pesquisadores do país, e é hoje adotado pela maioria das instituições de fomento, universidades e institutos de pesquisa do País. Por sua riqueza de informações e sua crescente confiabilidade e abrangência, se tornou elemento indispensável e compulsório à análise de mérito e competência dos pleitos de financiamentos na área de ciência e tecnologia.
PLATAFORMA LATTES. A plataforma Lattes. Brasília, DF: Plataforma Lattes. Localizável em: Sobre a plataforma. Disponível em: https://lattes.cnpq.br/. Acesso em: 3 set. 2024.
a) Pesquise sobre as autoras e explique por que elas ocupam um lugar de autoridade para falar sobre pesquisa e ciência.
b) E xplique qual é a relevância de conhecer o currículo do autor de um artigo de opinião.
2. b) O conhecimento do currículo do autor permite ao leitor saber se ele realmente conhece o tema que se propõe a discutir, o que aumenta a confiabilidade em seus argumentos. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
3. Para defender seu ponto de vista sobre o Nordeste, as autoras apresentam informações sobre a produção científica da região.
a) Copie, no caderno, o organizador a seguir e complete-o com as informações pedidas na coluna da esquerda, que sustentam os argumentos das autoras.
3. b) No quinto parágrafo, a referência é o percentual de pesquisadores com nível de doutorado, 61% na média nacional, mas PE, PB, CE e RN são maiores que a média. No sexto parágrafo, compara-se a quantidade de publicações com o Sudeste e o Sul (Sudeste, 23 universidades concentraram o quantitativo de 2 253 publicações, seguida pela Região Nordeste, com 683 publicações, e pelo Sul, com 526).
Dados estatísticos
Número de publicações
2 253 publicações
b) Essas informações podem não ter valor isoladamente, mas ganham importância se comparadas a um referencial nacional. Identifique, nos parágrafos quinto e sexto, esses referenciais.
4. A construção de argumentos obedece a técnicas de estruturação de ideias que remontam à retórica clássica, isto é, à arte de argumentar formulada e desenvolvida na Grécia Antiga. Na retórica, o argumento considerado irrefutável é o silogismo. Acompanhe o esquema a seguir.
Premissa maior
(uma informação considerada verdadeira e que se refere a aspectos gerais da realidade)
Todo humano é mortal
No Brasil, as universidades públicas, federais e
A argumentação ganha força lógica e fica difícil de ser questionada. estaduais, são as responsáveis por mais de 95% da produção científica; o Nordeste conta com 20% dos programas de pós-graduação; os pesquisadores da região são responsáveis por cerca de 20% dos grupos de pesquisa em operação; o percentual de pesquisadores com nível de doutorado está acima da média brasileira, que é de 61%.
Conclusão Sócrates é mortal. + =
Premissa menor (uma informação considerada verdadeira que se refere a assuntos específicos da realidade)
O filósofo Sócrates é humano
a) Copie o organizador a seguir no caderno e complete-o com o silogismo desenvolvido no terceiro e quarto parágrafos do artigo.
No Brasil, a maior parte da ciência é realizada por alunos de pós-graduação nas universidades públicas, sob a orientação de seus professores pesquisadores.
Premissa maior Grande parte dos investimentos em P&D realizados no mundo destina-se às universidades e instituições públicas de pesquisa.
Premissa menor
Conclusão
b) Quais as vantagens de estruturar a argumentação em silogismos para a construção de uma tese?
5. Releia os parágrafos cinco, seis e sete do artigo. Neles, predominam orações coordenadas. Que relação se pode estabelecer entre essa forma sintática e o conteúdo dos parágrafos?
A produção de conhecimento científico, portanto, depende diretamente da existência do investimento público em infraestruturas de pesquisa científica e tecnológica e de processos de gestão.
6. Com um colega, escreva um parágrafo avaliando o artigo de opinião sobre produção científica no Nordeste analisado nesta unidade. Siga estes critérios de avaliação (ou outros que julgar necessários): a relevância e a abordagem do tema; a qualidade da argumentação; o que poderia ter sido abordado e não foi; o que foi e poderia não ter sido abordado. Introduza a opinião com uma afirmação que expresse o que a dupla acha do artigo e, em seguida, argumente uma opinião. Combine com o professor a leitura do parágrafo para a turma.
6. Professor, incentive os estudantes a avaliar os textos uns dos outros. Seria interessante fazer a correção por amostragem dos textos; depois de corrigidos, comente com os estudantes as qualidades e os problemas mais frequentes, incluindo os de escrita. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Os silogismos são argumentos lógicos estruturados em duas premissas que levam a uma conclusão obrigatória. Se o raciocínio parte de uma premissa maior para chegar a uma premissa menor, segue a estratégia dedutiva. Se parte da premissa menor para chegar à premissa maior, segue a estratégia indutiva.
5. As orações coordenadas enumeram argumentos que comprovam a produção científica de institutos e pesquisadores do Nordeste. Assim, coordenam-se ideias e dados que compõem um corpo. 201
1. a) O verbo sentia está na forma impessoal com o pronome se. Logo, se sentia indica sujeito indeterminado.
1. b) A expressão é “o cheiro de miúdos e vísceras de boi”.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Releia um trecho da narrativa Dois irmãos, de Milton Hatoum.
1 O termo destacado em azul no trecho lido é uma forma verbal.
a) Classifique o sujeito relacionado a ele.
b) Identifique a expressão ligada à forma verbal que completa seu sentido.
c) Uma outra frase especifica o sentido de cheiro e atua também como complemento do verbo sentir. Que frase é essa?
d) Que efeito de sentido é produzido quando esse complemento é usado em uma frase separada e não na mesma frase em que aparece o verbo?
2 Encontre outro verbo no trecho que se comporte sintaticamente como o verbo sentir.
2. Respostas possíveis: descarregar em “descarregavam caixas e tabuleiros cheios de vísceras”; mirar em “Mirava o rio”; comprar em “comprava os miúdos”.
1. c) Cheiro de entranhas.
[…] No meio da travessia já se sentia o cheiro de miúdos e vísceras de boi. Cheiro de entranhas. Os catraieiros remavam lentamente, as canoas emparelhadas pareciam um réptil imenso que se aproximava da margem. Quando atracavam, os bucheiros descarregavam caixas e tabuleiros cheios de vísceras. Comprava os miúdos para Zana, e o cheiro forte, os milhares de moscas, tudo aquilo me enfastiava, e eu me afastava da margem e caminhava até a ilha de São Vicente. Mirava o rio. A imensidão escura e levemente ondulada me aliviava, me devolvia por um momento a liberdade tolhida. Eu respirava só de olhar para o rio. E era muito, era quase tudo nas tardes de folga. HATOUM, Milton. Dois irmãos. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 82.
1. d) O complemento em outra frase acentua o sentido de cheiro, destacando que miúdos e vísceras correspondem às entranhas do boi. Professor, explique aos estudantes que o termo entranhas significa, entre outras possibilidades, a parte mais profunda. No caso do texto, viria do fundo do boi, sugerindo que se trata do cerne, daquilo que é mais seu.
Os verbos significativos – ou seja, aqueles que não são de ligação – podem ser classificados de acordo com a necessidade de um complemento para seu sentido. Quando um verbo requer complemento, é chamado de transitivo ; quando não precisa de complemento, é chamado de intransitivo. A classificação da transitividade de um verbo depende tanto da necessidade sintática de um complemento quanto do contexto em que é usado, pois um mesmo verbo pode ser usado de ambas as formas, dependendo do contexto.
3. c) Os miúdos se liga sem preposição; para Zana se liga por meio de preposição. Professor, mostre aos estudantes que o artigo os se liga a miúdos, não tendo ligação sintática com o verbo.
3 O verbo comprar apresenta uma ação praticada pelo narrador da história e está acompanhado por dois complementos.
a) Que complemento expressa o que é comprado?
Os miúdos.
b) Que complemento se refere a quem receberá a compra? Para Zana.
c) Observe os dois complementos: algum elemento linguístico faz a ligação entre o complemento e o verbo?
4 Considere agora os verbos afastar e caminhar.
a) Quais os complementos desses verbos?
b) Ambos os complementos são precedidos por uma preposição. Qual é o sentido de cada uma delas?
4. a) Os complementos são “da margem” e “até a ilha de São Vicente”.
4. b) Ambas as preposições (de e até) indicam lugar.
Observe os exemplos a seguir.
Todo dia ele caminhava. verbo intransitivo
Ele caminhava até a Ilha de São Vicente.
verbo transitivo
Quando os verbos transitivos se ligam aos complementos diretamente, eles são classificados como verbos transitivos diretos.
Quando se ligam aos complementos por meio de uma preposição, eles são classificados como verbos transitivos indiretos.
Quando há dois complementos, um ligado ao verbo sem preposição e outro por meio da preposição, diz-se que o verbo é bitransitivo.
Observe os exemplos.
[…] os bucheiros descarregavam caixas e tabuleiros cheios de vísceras.
verbo transitivo direto
[…] eu me afastava da margem […].
complemento do verbo transitivo direto verbo transitivo direto e indireto
complemento do verbo transitivo indireto preposição de + artigo a
Os termos que complementam os verbos transitivos são chamados de objetos diretos e de objetos indiretos. Observe a oração a seguir.
complemento do verbo transitivo direto
Os verbos podem ser classificados em intransitivos (não precisam de complemento) ou transitivos (precisam de complemento).
Os verbos transitivos podem ser: diretos , quando se ligam a seu complemento diretamente; indiretos, quando se ligam a seu complemento por meio de preposição; ou bitransitivos, quando contam com esses dois tipos de complemento.
[…] sentia o cheiro de miúdos e vísceras de boi verbo transitivo direto objeto direto
O verbo sentir precisa de um termo que complemente seu sentido (“o cheiro de miúdos e vísceras de boi”). O complemento está ligado diretamente ao verbo: não há preposição entre o verbo e o complemento, por isso é classificado como objeto direto Agora, observe o verbo caminhar na oração a seguir.
Ele caminhava até a Ilha de São Vicente.
verbo transitivo objeto indireto
Nessa oração, a forma verbal caminhava precisa de um complemento, que se liga a ela por meio da preposição até. Por vincular-se ao verbo por meio de uma preposição, esse complemento é classificado como objeto indireto
Os complementos de verbos não precedidos por preposição são chamados de objetos diretos. Os complementos precedidos por preposição são chamados de objetos indiretos
Os objetos direto e indireto, como complementos, são chamados de termos complementares da oração.
Já o verbo comprar , na oração a seguir, precisa de dois complementos: um objeto direto (o que é comprado) e um objeto indireto (para quem é comprado). Por isso, esse verbo é classificado como verbo bitransitivo , por possuir dois tipos de complemento.
Comprava os miúdos para Zana […].
verbo bitransitivo objeto direto objeto indireto
Estratégias
Os pronomes também podem exercer a função de objeto em uma frase. Os pronomes pessoais átonos , por exemplo, podem atuar como objeto direto ou objeto indireto . Observe, a seguir, alguns exemplos.
Vi-o ontem na escola.
O pronome o substitui um nome masculino, funcionando como objeto direto do verbo ver.
Dei-lhe um presente
O pronome lhe substitui alguém a quem foi dado o presente, funcionando como objeto indireto do verbo dar
Os pronomes interrogativos também podem exercer a função de objeto.
Quem você viu ontem?
O pronome quem é o objeto direto do verbo ver.
A quem doou o livro?
#PARAlEMBRAR
O sentido de um verbo pode ser complementado por diferentes tipos de pronomes. Relembre alguns desses tipos.
• Pronomes pessoais átonos: me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, se, os, as, lhes.
• Pronomes interrogativos: quem, qual, quais, quanto, quantos, quantas etc.
• Pronomes indefinidos: nada algum, nenhum, tudo etc.
• Pronomes demonstrativos: isso, aquilo, aquele, esse, este etc.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
O pronome quem , precedido da preposição a , atua como objeto indireto do verbo dar.
Os pronomes demonstrativos e os indefinidos também podem ser objetos direto ou indireto, como nas orações a seguir.
Não fiz nada aquele dia.
O pronome indefinido nada é o objeto direto do verbo fazer
Eu adorava aquilo
O pronome demonstrativo aquilo é o objeto direto do verbo adorar.
Nunca me esquecerei disso
O pronome indefinido (d)isso (de + isso) é o objeto indireto do verbo esquecer.
Eu me lembro daquela tarde no rio.
O pronome demonstrativo (d)aquela (de + aquela) é o objeto indireto do verbo lembrar
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1. L eia a seguir alguns trechos do romance Galileia , do escritor cearense Ronaldo Correia de Brito (1951-). Na obra, Ismael viaja para a Noruega e precisa voltar ao sertão para visitar o avô, que está muito doente.
Ismael não se ofende com a recusa. Apesar do temperamento violento, é generoso e gosta de aconselhar como um velho. Talvez seja o mais moralista da nova geração de primos. Olho seu rosto moreno, cheio de marcas, e reconheço a genética dos Inhamuns. Sinto fascínio e repulsa por esse mundo sertanejo. Acho que o traio, quando faço novas escolhas. Para o avô Raimundo Caetano somos um bando de fracos, fugimos em busca das cidades como as aves de arribação voam para a África.
[…]
Davi entrou em silêncio, sentou-se, e quando olhei para trás ele jogava no brinquedo eletrônico, ausente do nosso mundo. Ismael cantarolava ‘Paranoid Android’, batendo as mãos no volante. […] — É preciso muito tempo pra se gostar de um lugar. Eu nunca me acostumei à Noruega. Dizem que ela é melhor do que isso aqui. Eu não acho. O sertão a gente traz nos olhos, no sangue, nos cromossomos. É uma doença sem cura.
BRITO, Ronaldo Correia de. Galileia . 1. ed. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2008. p. 16-19.
a) Que visão Ismael tem do sertão?
Uma imagem de pertencimento e inevitabilidade, como se fosse uma doença.
b) Em uma frase, Ismael diz: “Eu não acho”. O verbo achar é transitivo. O complemento não está construído sintaticamente na frase, mas o leitor, ao estabelecer relações de coesão no texto, sabe qual é ele. Qual seria o complemento desse verbo?
c) Se fosse necessário registrar esse complemento na frase, mas ainda assim evitar repetições em sua fala, seria possível Ismael utilizar um pronome. Que pronome poderia ser usado como complemento do verbo?
O pronome isso
d) Como se classifica o complemento da forma verbal acho no trecho?
Seria “a Noruega melhor do que o Brasil”. Classifica-se como objeto direto.
2. No primeiro parágrafo, o narrador indica várias ações que praticou na viagem com seus primos.
a) Copie o organizador a seguir no caderno e complete-o com o que se pede.
Forma verbal cujo sujeito é o narrador
olho reconheço sinto acho faço
seu rosto moreno a genética dos inhamum
Complemento do verboClassificação do complemento
b) Essa sequência de ações aproxima ou distancia Ismael da visão que ele tem do sertão?
3. Releia este trecho: “Eu nunca me acostumei à Noruega”.
a) Qual a transitividade do verbo acostumar?
O verbo acostumar é bitransitivo.
b) Identifique e classifique seus complementos.
Objeto direto: me; objeto indireto: à Noruega.
novas escolhas que o traio
fascínio e repulsa por esse mundo sertanejo
4. Leia, a seguir, um texto sobre a experiência com um prato regional típico da Bahia: o acarajé.
Se há uma comida para a qual não tenho limite é acarajé. Podem colocar dúzias na minha frente que eu os devoro com prazer. […]
Uma bela tarde, estava eu parada no Rio Vermelho, no Acarajé da Cira, batendo papo e comendo meu bolinho recheado com rosados camarões. Chega um ruidoso grupo de gaúchos, com um rapaz bonitão no meio, querendo impressionar as moças que discutiam se arriscariam ou não provar o prato típico local.
— E então, meu rei, vai querer acarajé quente ou frio? — pergunta a baiana, maliciosa.
— Bah, claro que quente! — responde o rapaz, empinado feito um pavão.
(Para quem não sabe, tanto o acarajé quente quanto o frio são servidos quentinhos. O quente significa que ele virá com muita, muita pimenta. E o frio é ardido o suficiente para quem não está acostumado à iguaria.)
Enquanto o moço mordia com vontade o acarajé, a baiana me olhou, eu olhei pra baiana, e só deu tempo de me afastar um pouco antes de o bonitão cuspir tudo, quase sufocado com o sabor picante. Não segurei o riso, especialmente quando a baiana acrescentou, num ritmo lento: — Ôxe! Tome uma água que logo passa…
GONSALEZ, Alexandra et al. Mulheres sobre rodas. São Paulo: Geração Editorial, 2008. p. 53.
2. b) Aproxima e distancia, pois o narrador sente, ao mesmo tempo, repulsa e fascínio pelo sertão.
4. a) Porque não usa os termos quente e frio em suas acepções originais, mas no sentido local. Ela imagina que, para o gaúcho, os termos são desconhecidos e que ele não sabe que querem dizer com mais ou menos pimenta.
a) Considere a primeira pergunta da baiana. Por que ela é considerada maliciosa?
b) A a nálise sintática ajuda a entender se os termos quente e frio são essenciais ou não à oração. Mantendo o sentido da oração, reescreva a pergunta da baiana, substituindo o complemento do verbo por um pronome.
— E então, meu rei, vai querê-lo quente ou frio?
c) Qual é o complemento do verbo querer na reescrita do item anterior?
O complemento é o pronome lo
5. Considere o seguinte trecho: “[…] a baiana me olhou, eu olhei pra baiana […]”.
a) Quais são os complementos do verbo olhar?
b) Como se classificam esses complementos?
Me e pra baiana.
Ambos são objetos indiretos.
5. c) O pronome me pode ser substituído por para mim. Esse pronome pessoal átono atua como objeto indireto, por supor essa construção com preposição.
c) E xplique por que o primeiro complemento do verbo olhar não tem preposição.
6. Leia a tirinha a seguir, do cartunista catarinense Alexandre Beck (1972-). Ela aborda o regime das águas da Amazônia, que garante chuva no Sul e no Sudeste do Brasil.
a) A que regime de águas a tirinha se refere?
BECK, Alexandre. [A Floresta Amazônica não fica lá]. [S. l.], 23 nov. 2018. Facebook: tirasarmandinho. Disponível em: www.facebook.com/ tirasarmandinho/photos/a.488361 671209144/2237501229628504/? type=3. Acesso em: 3 set. 2024.
6. c) O sentido de que o lá também está presente aqui. O sentido de proximidade: a Floresta Amazônica está mais perto do que se supõe, pois, por meio dela, outras regiões têm acesso à água.
b) O advérbio lá tem papel importante na construção do sentido da tirinha. Que outra palavra da tirinha ele reforça? Que advérbio se opõe a lá?
Reforça a palavra isolada; se opõe a aqui.
c) Que sentido se constrói com o jogo do advérbio?
7. Releia este trecho: “Ela envia água para outras regiões”.
a) Identifique e classifique o sujeito gramatical.
Ela.
6. a) Ao regime dos rios voadores. Professor, explique aos estudantes que os rios voadores são correntes de vapor de água que transportam grandes quantidades de água doce da bacia amazônica para outras regiões do continente sul-americano, incluindo as regiões Sudeste e Sul do Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai.
b) Identifique o termo a que o sujeito gramatical se refere.
A Floresta Amazônica.
c) O verbo enviar, nessa oração, é bitransitivo. Por quê? Identifique os seus complementos.
8. Leia a postagem a seguir, de um cartaz do Senado Federal.
Espera-se que os estudantes
vez que ocorre discriminação com relação a diferentes culturas, assim como todas as características destacadas se aplicam ao preconceito regional interno ao Brasil.
Porque tem como complementos um objeto direto – água – e um objeto indireto – para outras regiões Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
a) O termo xenofobia vem do grego xénos , que pode signific ar “estrangeiro”. Dadas as dimensões continentais do Brasil, esse conceito poderia ser aplicado ao preconceito regional? Explique.
b) A lista de características que identificam uma prática xenófoba inicia-se sempre com um verbo. Que sentido se produz com essa escolha?
Destaque-se a ação que leva à discriminação.
c) Os verbos do cartaz apontam ações que caracterizam a xenofobia, assim como seus complementos. Identifique os complementos iniciais de cada tópico e classifique-os.
XENOFOBIA é a discriminação a diferentes culturas e nacionalidades. 2016. 1 cartaz. Disponível em: www.facebook.com/photo. php?fbid=1267796066569579&id=. Acesso em: 10 set. 2024.
8. c) “comentários desrespeitosos sobre o povo, a cultura e o local em questão” (OD) “os costumes, as tradições e as pessoas” (OD) “o sotaque da vítima” (OD)
“o imigrante” (OD); “de atrapalhar a vida” (OI)
“o tipo físico do imigrante” (OD)
“seu local de origem” (OD); “com o da vítima” (OI)
“a vítima inferior intelectualmente” (OD)
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
2. Resposta possível: O narrador apresenta uma fala que se aproxima da norma-padrão da língua; o sertanejo, de uma variação regional própria de sertanejos.
4. Resposta: alternativa b. Professor, mostre aos estudantes que o modo de falar e a entonação estão sugeridos pela pontuação e pelo próprio léxico.
Não escreva no livro.
Leia outro trecho do romance Inocência, de Visconde de Taunay, em que o narrador descreve o sertanejo.
1. a) São do narrador e do sertanejo.
1 No trecho, aparecem duas vozes.
a) De quem são essas vozes?
b) Como é possível identificá-las?
2 A s vozes do texto também se distanciam por apresentarem dois registros diferentes da língua portuguesa. Qual é a diferença entre essas vozes?
3 Observe os termos em destaque azul e, caso não conheça seus significados, procure em um dicionário e registre-os no caderno.
3. Vassuncê: você; assunte: prestar atenção; cavouqueiro: trabalhador braçal; embromador: enrolador, caloteiro.
1. b) A voz do sertanejo aparece em discurso direto, introduzida pelo travessão; já a do narrador, em discurso indireto.
A certeza que tem de que nunca poderá perder-se na vastidão, como que o liberta da obsessão do desconhecido, o exalta e lhe dá foros de infalibilidade. […]
A única interrupção que aos outros consente, quando conta os inúmeros descobrimentos, é a da admiração. À mínima suspeita de dúvida ou pouco caso, incendem-se-lhe de cólera as faces e no gesto denuncia indignação.
— Vassuncê não credita ! — protesta então com calor. Pois encilhe o seu bicho e caminhe como eu lhe disser. Mas assunte bem, que no terceiro dia de viagem ficará decidido quem é cavouqueiro e embromador . Uma coisa é mapiar à toa, outra andar com tento por estes mundos de Cristo.
4 Ainda sobre os termos em destaque azul, aponte o que eles representam.
a) Sintaxe regional b) Léxico regional c) Entonação regional
5 L eia o termo em destaque verde. Por qual motivo a palavra acredita foi grafada dessa maneira?
5. Para marcar a pronúncia, o modo de falar do sertanejo.
Quando o sertanejo vai ficando velho, quando sente os membros cansados e entorpecidos, os olhos já enevoados pela idade, os braços frouxos para manejar a machadinha que lhe dá o substancial palmito ou o saboroso mel de abelhas, procura então quem o queira para esposo, alguma viúva ou parenta chegada, forma casa e escola, e prepara os filhos e enteados para a vida aventureira e livre que tantos gozos lhe dera outrora.
TAUNAY, Visconde de. Inocência. São Paulo: Klick, 1997. p. 19-20.
6 A e xpressão em destaque roxo pode ser substituída por várias outras e significa a necessidade de ter muito cuidado. Em sua região, que expressão pode substituí-la?
6. Sugestões de resposta: andar pianinho, andar na miúda, ficar na sua etc.
Apesar das dimensões continentais do país, o Brasil possui apenas duas línguas oficiais: o português e a Língua Brasileira de Sinais (Libras). No caso do português, a língua mais falada em território nacional, cada uma das diferentes regiões do país apresenta variação no léxico, na entonação, no modo de pronunciar as palavras e de organizá-las. A variação regional é um fenômeno linguístico que reflete a diversidade cultural e geográfica do país. Em cada região, a língua evolui de maneira distinta, moldada por fatores históricos,
sociais e geográficos, resultando em diferentes sotaques, vocabulários e até mesmo regras gramaticais. Essas variações enriquecem a língua e espelham as identidades e as tradições locais.
O idioma português falado como língua materna em outros países, como Portugal, Angola e Moçambique, pode apresentar características ainda mais diversas, variando entre os países e dentro deles, em suas diferentes regiões.
As variações podem apresentar aspectos distintos. Leia o exemplo a seguir.
Você não credita!
A pronúncia da palavra acredita ocorre sem a letra a inicial. Nas diversas regiões do Brasil, essa e outras variações ficam evidentes, como, por exemplo, a pronúncia do r. Observe o infográfico “As vozes do Brasil”.
A língua também varia na seleção de vocabulário. Na chamada variação lexical , palavras distintas são utilizadas para se referirem a um mesmo significado, como fica evidente nos seguintes termos do trecho lido: vassuncê, assunte, cavouqueiro e embromador.
Observe o mapa ao lado direito para conhecer um pouco mais das variedades lexicais brasileiras.
A depender da região, alguns aspectos sintáticos também variam. Em Portugal, por exemplo, é preferível usar o infinitivo pessoal com preposição para expressar ações contínuas.
Estou a correr para casa.
, [São Paulo], 26 out. 2020. Disponível em: https://super.abril.com.br/cultura/sotaques-do-brasil. Acesso em: 3 set. 2024.
Fonte: TAVARES, Guilherme. As múltiplas falas do português “abrasileirado”: uma demonstração da diferença no vocabulário brasileiro. In: MEDIUM. O português “bem dizido”? [S. l.]: Medium, 21 nov. 2019. Disponível em: https://jorgeandradepachecojunior.medium.com/ o-português-bem-dizido-467c3b0f19aa. Acesso em: 3 set. 2024.
No Brasil, por sua vez, o gerúndio é mais comumente usado para expressar essas ações. Estou correndo para casa.
As variações regionais também produzem diferentes expressões ou frases cristalizadas na língua, cujo sentido não vem dos significados próprios das palavras que a compõem e não podem ser entendidos de maneira literal. As chamadas expressões idiomáticas variam significativamente nas diversas regiões do país, o que reflete aspectos culturais.
São exemplos dessas expressões as interjeições:
Oxente (Bahia)
Barbaridade, Bah (Rio Grande do Sul)
Égua (Pará)
A variação regional da língua refere-se às diferenças na maneira como o idioma é falado em diversas áreas geográficas, abrangendo aspectos como pronúncia, entonação, vocabulário e estruturas gramaticais.
Existe, no entanto, a discriminação em relação à variação linguística, baseada nas características da fala de um indivíduo, como o sotaque, o vocabulário ou as escolhas gramaticais. Esse fenômeno revela uma hierarquização social das variedades linguísticas, que considera inferiores ou menos válidas certas formas de expressão em comparação a outras. Frequentemente enraizado em desigualdades sociais, econômicas e educacionais, esse fenômeno, conhecido como preconceito linguístico, pode ter impactos significativos na autoestima, nas oportunidades de emprego e no acesso à educação para aqueles cuja maneira de falar é estigmatizada.
Combater o preconceito linguístico é crucial para promover inclusão e respeito à diversidade cultural e linguística, reconhecendo que todas as variantes têm igual valor comunicativo e expressivo.
O julgamento hierarquizado das variantes regionais é um preconceito linguístico que produz discriminações baseadas na maneira como as pessoas se expressam e desconsidera a riqueza da língua e os contextos diversos em que cada variedade é produzida.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Leia a transcrição de um diálogo entre o apresentador Luiz Rocha, do programa Brasil Caipira, da TV Brasil, e a dupla caipira Wilker e Yago.
Luiz Rocha — Wilker e Yago… Wilker, ocê, durante um bocado de tempo, fez parceria com outro Iago e como foi que esse apareceu pra juntá c’ocê?
Wilker — Foi numa cantoria que ele apareceu. Em Franca tava teno um almoço lá… Vi ele cantano… Falei assim: esse rapaz sabe cantar, esse rapaz. Aí conversei co’ele e fiz o convite. E onde a gente foi cantá no primeiro show que a gente fez em Ribeirão Preto, na grande festa da… na Queima do Alho que teve, e começamo a cantá e deu certo.
Luiz Rocha — Mas com outro Iago ficou tudo diministrado também?
Wilker — Não, ficou tudo administrado, tudo conversadinho, tudo direitinho.
Luiz Rocha — E eu quero agradecê ocê porque eu dei palpite no Yago, que era com I, e na hora da gente lê parecia um L, ficava complicado. E ocê teve que mexê nesse trem também, né?
Wilker — Sim, teve que mexê também.
Luiz Rocha — E o seu também já tá meio inglesado, o dele também, né?
Wilker — É, já fica tudo em casa.
Luiz Rocha — E como é um estudante de direito lá das Minas Gerais cantano esses trem assim… O estado de Minas já gosta mesmo, né?
Yago — É bom demais, né? É a origem da gente, nós que é da roça, nascido e… fui nascido e criado na roça, cresci ouvindo essas música junto com meu pai, com meus irmão, com a minha mãe, meus avô. Cresci desde criancinha ouvindo isso, então foi o que eu aprendi a gostá.
Luiz Rocha — Então tomara que quando ocê tivé no tribunal e o trem tivé difícil defendê cê canta umas cantiga dilurida aí e tira a tenção dos outro, tá certo?
Transcrito de: BRASIL caipira: juventude na viola. [S. l.: s. n.], 2019. 1 vídeo (53 min). Publicado pelo canal TV Brasil. Disponível em: https://youtu.be/FatZ6qrcpX0?t=2392. Acesso em: 30 maio 2020.
1. a) É a variedade caipira, presente nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Paraná.
1. A linguagem da conversa entre o apresentador e a dupla musical é marcada por uma variedade regional presente em diversos lugares do Brasil.
Respostas esses nós que essas música, umas
a) Qual é essa variedade? Em quais regiões está presente?
b) Que elementos do diálogo permitem a identificação dessa variedade?
O dialeto caipira, a moda de viola.
c) Que palavras transcritas mostram a pronúncia característica do dialeto?
Respostas possíveis: ocê, diminstrado e dilurida.
2. Alguns trechos das falas estão em desacordo com a norma-padrão e são comuns em grande parte dos falares no Brasil.
a) Cite algumas expressões que apresentam desvios de concordância.
O correto seria vi-lhe (como o verbo , da oração subordinada, é transitivo direto, é possível utilizar lhe
significado da
uma entrevista
objetivo marcar as características da cultura caipira e da variedade falada em certas regiões do Brasil.
b) Na f ala de Wilker, em dado momento, ele não segue a norma-padrão quanto ao emprego do pronome pessoal. Identifique-a e reescreva como deveria ficar caso esse discurso fosse produzido em uma situação formal.
c) No contexto da entrevista, por que é possível dizer que os desvios da norma, em vez de serem inadequados, produzem sentidos positivos adicionais ao programa?
Leia agora o trecho de uma crônica do jornalista cearense Xico Sá (1962-) que, embora não seja uma transcrição de discurso oral, apresenta muitas marcas de oralidade em sua composição.
Desculpem, amigos, mas quando chove bem no Cariri e arredores não conseguimos falar de outro assunto. Coisa de caririense, coisa de cearense, coisa do interior nordestino. Quase uma hora ao telefone com minha mãe esta semana e só tratamos do bom inverno – como chamamos a estação das chuvas. Bem que previram os profetas da natureza de Quixadá. Os sinais indicavam fartura. João e Joana-de-barro construíram seu ninho com a porta da casa virada para o poente, na direção contrária da chuvarada. Depois de sete anos de vidas secas, o aguaceiro, com direito a imagem mais bonita da existência: alguns açudes sangrando.
Nada mais lindo que um açude sangrando, comentou o camarada potiguar Carlão de Souza esta semana. Não cabe na vista. A mesma sangria, sem nada combinado, foi assunto de outro irmão rochedo, Paulo Mota, das bandas de Sucesso, área cearense de Tamboril, pense na geografia, pense! Não há como não se arrupiar todinho diante de tal fenômeno. Levo essa ideia da chuva para onde for, só a chuva nos importa, mesmo quando estamos nos sítios mais chuvosos do universo. A chuva é meu gol, minha Copa do Mundo, Deus gozando a glória, meu amor.
SÁ, Xico. Chove no sertão e não tem nada mais bonito. El País, São Paulo, 24 fev. 2018. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/24/opinion/1519484958_938753.html. Acesso em: 3 set. 2024.
3. Assim como na entrevista da dupla caipira Wilker e Yago, esta crônica registra outra variedade regional brasileira.
a) Qual é essa variedade? A que região pertence?
Variedade do sertão cearense/nordestino, da região do Cariri.
b) Que aspectos da região são exaltados pelo narrador da crônica?
A chuva, seus sinais prévios e suas consequências.
c) Por que a chuva merece tanto destaque na crônica, considerando a região do Cariri?
Por ser uma região de sertão, com chuvas raras, chover é um grande evento, digno de emoção e poesia.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A argumentação é uma prática fundamental em todas as instâncias sociais. Desde conversas informais até debates formais, o ato de argumentar permeia a dinâmica das interações humanas, possibilitando a troca de pontos de vista e a negociação de necessidades e interesses. Em jornais, revistas e portais de comunicação há espaços específicos para que articulistas, especializados em determinados assuntos, possam emitir sua opinião com relação a temas em destaque na sociedade.
O que você irá produzir
Nesta atividade, você vai atuar como um articulista e produzir um artigo de opinião sobre o tema “preconceito linguístico”, propondo caminhos para superá-lo. Como o tema é muito amplo, é necessário fazer um recorte temático. Você pode desenvolver uma das sugestões a seguir ou escolher outro recorte.
A mídia reforça o preconceito linguístico criando imagens estereotipadas de variedades linguísticas.
O impacto do preconceito linguístico na autoestima dos jovens.
O impacto do preconceito linguístico no mundo do trabalho.
Para defender seu ponto de vista, tenha clareza da ideia que irá sustentar e quais serão os argumentos que vai utilizar.
Para planejar seu texto, faça uma pesquisa a fim de encontrar definições, dados, exemplos que possam amparar a elaboração da introdução e da argumentação.
Pesquise a definição de preconceito linguístico, explicando como ele se manifesta na sociedade. Procure exemplos de como o preconceito linguístico ocorre no cotidiano, incluindo situações em escolas, locais de trabalho e mídia.
Analise as consequências do preconceito linguístico para indivíduos e grupos, especialmente em termos de acesso a oportunidades e participação social.
• Pesquise iniciativas e movimentos sociais que combatem o preconceito linguístico, incluindo políticas educacionais e ações de conscientização, para ajudá-lo a chegar a uma conclusão.
• Estudado o tema, faça uma seleção do que se adequa ao recorte temático definido.
Coesão e progressão do texto
O artigo de opinião que você leu desenvolve um raciocínio marcado linguisticamente no texto. Leia os trechos a seguir, retirados do artigo que você leu nas páginas 198 e 199. Não escreva no livro.
Recentemente, o país testemunhou manifestações de profundo preconceito em relação ao Nordeste.
Marca o tempo a que o enunciador se refere e um início para o raciocínio que vai desenvolver.
Prontamente, respostas contundentes destacaram o quanto falas preconceituosas ignoram as enormes contribuições da região para a cultura, literatura, música, gastronomia e história do Brasil.
O advérbio prontamente marca o tempo de resposta ao período anterior, que se referia a manifestações recentes de preconceito.
Mas, há uma contribuição central para nosso futuro que tem encontrado um terreno fértil no Nordeste.
A conjunção mas no início de um parágrafo marca a introdução de uma ideia contrária à anterior, contrapondo-se ao preconceito e suas manifestações.
Como ocorre em vários países, grande parte dos investimentos em P&D realizados no mundo destina-se às universidades e instituições públicas de pesquisa.
A conjunção como introduz uma comparação que irá favorecer o combate ao preconceito, somando-se assim à ideia anterior.
No Brasil, da mesma forma, a maior parte da ciência é realizada por alunos de pós-graduação […] nas universidades públicas, sob a orientação de seus professores pesquisadores.
A expressão conjuntiva da mesma forma passa conformidade e refere-se à ideia que já vinha sendo desenvolvida no parágrafo, reforçando-a.
A produção de conhecimento científico, portanto, depende diretamente da existência de infraestruturas de pesquisa científica e tecnológica e de processos de gestão […]
A conjunção portanto conclui um raciocínio fundamental na argumentação do artigo.
Conjunções e advérbios articulam ideias, marcando relações semânticas entre elas e permitindo que o texto progrida, já que as ideias que vão sendo introduzidas se ligam às anteriores de diferentes maneiras.
Agora é a sua vez! Escreva um parágrafo sobre o tema “preconceito linguístico” usando as expressões é verdade , porém, além disso, portanto.
Produzir
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Agora é o momento da produção. Organize suas ideias de modo a garantir uma sequência lógica que direcione seu texto para a conclusão. Divida o texto nas seguintes partes para facilitar:
Introdução: capte a atenção do leitor ao introduzir o assunto a ser discutido por meio de um exemplo, de uma definição, de um histórico. Apresente sua tese, a ideia a ser defendida.
Desenvolvimento da argumentação: apresente os argumentos com exemplos e dados. Considere a pesquisa que fez e os dados que levantou para compor sua argumentação. Observe o encadeamento das ideias e o paralelismo sintático do texto.
Conclusão: apresente a conclusão do texto que responde ao problema destacado no tema. Essa conclusão tem de deixar evidente seu ponto de vista sobre o tema selecionado. Apresente também uma proposta de como enfrentar o preconceito dentro do recorte que escolheu.
Terminada a produção e a revisão dos textos, agrupe-os em um site ou blogue para compartilhá-los, criando um arquivo público de artigos de opinião. Você pode utilizar plataformas que ensinam a publicar um blogue ou site. No entanto, ainda precisará fazer uma página de abertura para explicar o que vai ser encontrado nos links. A autoria do texto da página inicial, bem como a produção do layout e a seleção de imagens, pode ser feita coletivamente pela sala, visando a uma publicação em um jornal comunitário, por exemplo.
MARCHEZAN, Luiz Gonzaga (org.). O conto regionalista: do Romantismo ao Pré-Modernismo. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.
Essa antologia reúne contos regionalistas brasileiros produzidos entre, aproximadamente, 1870 e o primeiro quarto do século XX. Os contos narram casos e fábulas com enredos que se passam em ambientes rurais. É interessante para conhecer narrativas regionalistas.
Capa do livro O conto regionalista.
LOPES NETO, Simões. Contos gauchescos. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2008. O livro reúne narrativas da vida comum, vividas por pessoas simples, cuja trajetória pode ter sido atravessada por acontecimentos violentos, como as guerras que assolaram o Rio Grande do Sul e o isolamento do campo. Narrado em uma linguagem que também traduz um pouco da alma gaúcha, cada conto é acompanhado de uma apresentação e de resumos comentados que enriquecem a leitura dos textos.
Capa do livro Contos gauchescos
UMA estrangeira: 08. Entrevistado: Marcos Bagno. Entrevistadora: Gabi Oliveira. [S. l.]: Podcast de Gabi Oliveira, 15 maio 2021. Podcast . Disponível em: https://podcasts.apple.com/br/podcast/marcosagno/id1557654757?i=1000521787688. Acesso em: 30 set. 2024.
Nesse podcast , a antropóloga Gabi Oliveira conversa com o premiado professor Marcos Bagno, da Universidade de Brasília, sobre língua portuguesa e certas percepções que se tem sobre ela, seus sotaques, a influência de idiomas estrangeiros, a mistura de línguas e tradições. O professor Marcos Bagno é referência nas discussões sobre o uso da língua portuguesa e preconceitos linguísticos.
DOIS irmãos. [Minissérie]. Direção: Luiz Fernando Carvalho. Brasil: Rede Globo, 2017. Streaming (420 min).
Baseada na obra de Milton Hatoum, a minissérie Dois irmãos conta a história de uma família libanesa formada por Halim, Zana e os filhos gêmeos, Omar e Yaqub, e Rânia, na cidade de Manaus. A versão foi elogiada pelo autor do romance.
Capa do podcast Uma estrangeira.
Frame da minissérie Dois irmãos
1. b) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes imaginem narrativas de paixão e de amor entre as personagens. Na fotografia, ê-se uma jovem e um rapaz completamente envolvidos um com o outro. O beijo parece selar um momento de intimidade e carinho. O cenário, um café, reforça a presença do cotidiano. Esse momento poderia ser parte de uma história de amor jovem e intensa, ambientada na romântica Paris dos anos 1960.
Cartier-Bresson retrata beijo em café da Boulevard Diderot, em Paris (França). Fotografia de 1969.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A obra a seguir é de Henri Cartier-Bresson (1908-2004), fotógrafo e fotojornalista francês reconhecido por sua habilidade de capturar instantes do cotidiano.
1. A fotografia de Cartier-Bresson apresenta uma cena do cotidiano.
a) O que você observa nessa imagem?
b) Que narrativa é possível de imaginar com base nessa imagem?
c) Em relação à composição e à temática, qual é a função do cão na imagem?
1. c) Ao ocupar a parte inferior da composição, o cão forma a ponta do triângulo que ancora a cena, guiando o olhar do observador. Em relação à temática, o cão, um elemento familiar e cotidiano, reforça a sensação de ternura, autenticidade e intimidade da foto.
Não escreva no livro.
2. Observe as imagens a seguir, que apresentam temática semelhante à registrada pela fotografia de Cartier-Bresson.
2. a) Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes relacionem a ação a um beijo, uma dança, um ritual. A proximidade dos rostos e o rosto estendido em direção ao outro, afastando-se do corpo, podem sugerir a imagem de um beijo.
Pintura rupestre no Parque Nacional da Serra da Capivara. Coronel José Dias (PI), 2024.
2. b) Os estudantes podem considerar que a pintura pode estar representando o anonimato, o isolamento, a impossibilidade da intimidade, do contato completo, o ocultamento do sentimento etc.
MAGRITTE, René. Os amantes. 1928. Óleo sobre tela, 54 cm × 73,4 cm. Museu de Arte Moderna, Nova York.
a) A primeira imagem é de uma pintura rupestre produzida entre 6 mil e 12 mil anos atrás por povos que viviam na região onde atualmente se encontra a Serra da Capivara, no Piauí. O que você observa na imagem? O que o teria levado a imaginar isso?
b) Na pintura de Magritte, as personagens que se beijam estão com as cabeças cobertas. Que sentido produz essa escolha do artista?
A imagem de um beijo frequentemente evoca no espectador a associação ao amor e a uma ideia romântica e idealizada desse sentimento, tão importante na vida de todos. Mas como o amor pode se manifestar em suas diversas formas?
Nesta unidade, você vai ter a oportunidade de refletir sobre amor e relacionamentos e entender como a concepção romântica de amor surgiu e se consolidou no Ocidente.
Professor, destaque para os estudantes que bell hooks é o pseudônimo escolhido por Gloria Jean Watkins em homenagem a sua avó. Seu nome, sempre grafado em letras minúsculas, propõe uma recusa à valorização de um eu que escreve em detrimento da mensagem de seus textos.
A ideia de amor romântico, com raízes na literatura e cultura europeias, transformou-se em uma poderosa referência cultural que molda relacionamentos até a atualidade. Essa concepção de amor enfatiza sentimentos como paixão, fusão emocional e idealização da completude entre parceiros e do relacionamento, estabelecendo expectativas de exclusividade e compromisso duradouro. Com o tempo, essa ideia se consolidou na sociedade, influenciando, entre tantos outros fatores, a escolha de parceiros, que idealizam uma provável “alma gêmea”, a dinâmica de casamentos e da vida familiar.
Mais contemporaneamente, essa idealização romântica de amor tem sido questionada, e novas formas de amar têm sido cultivadas. Para bell hooks (1952-), artista, teórica cultural e ativista estadunidense que publicou uma série de livros sobre o amor e relacionamentos, o desejo de amar e ser amado merece atenção e estudo. Segundo ela, “[…] quando a tarefa do amor é autêntica, ela é muito difícil. […] requer integridade, congruência entre o que pensamos, dizemos e fazemos. […] Porque essa tarefa é primeiro e principalmente sobre conhecimento e conhecer alguém. Não é fácil conhecer alguém. Você não a conhece em um minuto”.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Para discutir
Os relacionamentos amorosos contemporâneos podem assumir diferentes configurações e são influenciados por questões sociais, de classe, de raça, de gênero, além de serem resultado de novas realidades de interação, com as redes sociais, os aplicativos de encontros e uma vida virtual cada vez mais presente na vida cotidiana.
1 Discuta com os colegas: qual é o papel desse sentimento chamado amor nos relacionamentos contemporâneos? Eles ainda têm importância, ainda fazem parte dos seus sonhos?
Você vai ler, a seguir, poemas sobre amor de diferentes poetas, em diferentes épocas do contemporâneo. O primeiro poema, de Geir Campos, é dos anos 1960; o segundo, de Ryane Leão, é da segunda década do século XXI.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
#SOBRE
Se te chamarem flor, toma cuidado: vê se não é gente que te quer pôr numa redoma – lindo objeto – a vegetar alheia a tempo e lugar!
Se te chamarem flor, acorda e toma cuidado: olha que te levam para o mesmo lado de tanto destino mal-aventurado!
CAMPOS, Geir. 7. In: CAMPOS, Geir. Antologia poética Rio de Janeiro: Léo Christiano, 2003. p. 240.
Geir Campos (1924-1999) foi poeta, tradutor e editor brasileiro. Durante a Segunda Guerra, foi piloto de embarcações brasileiras. Com formação em Direção Teatral e doutorado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), publicou uma ampla gama de obras, incluindo poesias, contos e ensaios, destacando-se Canto claro e poemas anteriores (1957) e Cantigas de acordar mulher (1964). Traduziu obras literárias de Shakespeare (1564-1616) e Kafka (1883-1924).
Foto do autor em 1980. JOSÉ
#SOBRE
quantas vezes minha mãe sentou na beira da cama e me ajudou a retirar os cacos de vidro dos pés e disse que poucos mereceriam o meu amor que o mundo me machucaria porque eu tinha nascido com coração demais que eu tinha que parar de ser tão boa ou não me sobraria nada além dos cacos que ela arrancava com cuidado e paciência plantando flores no lugar
LEÃO, Ryane. Quantas vezes minha mãe sentou na beira da cama. In: LEÃO, Ryane. Tudo nela brilha e queima . São Paulo: Planeta do Brasil, 2017. E-book Localizável em: 2o poema.
Ryane Leão (1989-) imprime em sua poesia reflexões sobre raça, gênero e sexualidade, conectando experiências pessoais a contextos sociais. Ganhou reconhecimento por seu trabalho publicando em plataformas de mídia social, participando de saraus e slams de poesia, além de divulgar sua obra em lambe-lambes. Fundou a Odara, instituição que oferece ensino de inglês para mulheres negras a preços populares. Foto da autora em 2017.
1. Na década de 1960, formas mais livres para as relações amorosas foram propostas, questionando algumas concepções sobre o amor. Esse período foi marcado pelo lema “faça amor, não faça guerra”, que reunia o apelo pela paz e pelo amor com liberdade. Influenciado pelo movimento hippie , o amor passou a ser visto como uma forma de conexão espiritual e de libertação, opondo-se às estruturas opressivas e ao apego a bens materiais. O poema de Geir Campos foi publicado no livro Cantigas de acordar mulher, de 1964, no contexto descrito. Leia o texto 1 e explique de que forma ele reflete essa concepção de amor dos anos 1960.
O poema alerta para relacionamentos tradicionais, como o indicado pela “cantada” flor, que podem levar à opressão e a um destino mal-aventurado, ou seja, infeliz.
Professor, se achar conveniente, faça uma parceria com o professor de Filosofia ao tratar do trecho. Peça-lhe que apresente e/ou aprofunde com os estudantes o conceito de “amor líquido”.
2. Leia esta afirmação de Aline Lira, professora do curso de Psicologia da Unifor. Hoje, o que vivemos é a transição do amor romântico para o amor líquido, onde há pessoas vivendo essas duas realidades. Por exemplo, é raro um jovem dizer que quer casar, ter filhos; a prioridade é alcançar a independência financeira. Ter o relacionamento, muitas vezes, é um detalhe. Vivemos uma dicotomia entre aqueles que querem achar o amor de suas vidas e aqueles que não querem.
UNIFOR. Amor na contemporaneidade e as novas formas de se relacionar. G1, [s. l.], 14 jun. 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/ce/ceara/especial-publicitario/unifor/ensinando-e-aprendendo/noticia/2022/06/14/ amor-na-contemporaneidade-e-as-novas-formas-de-se-relacionar.ghtml. Acesso em: 13 set. 2024
• Considere o texto 2. Como ele dialoga com a afirmação de Aline Lira?
3. Releia o poema de Geir Campos.
No poema, o encontro com o amor é visto com desconfiança, como uma experiência dolorosa, que pode trazer cacos.
a) Considere seu próprio repertório e explique: em que contexto e com qual intenção se chama alguém de flor?
Em paqueras ou cortejos, chamar alguém de flor tem como objetivo exaltar a beleza da pessoa e iniciar um processo de sedução ou de bajulação.
b) No poema, flor tem sentido metafórico. Que sentido a palavra tem no poema?
Sentido de alguém “belo”, “frágil”. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A metáfora propõe uma equivalência entre termos distintos que possuem alguma semelhança. Há, na base da metáfora, uma comparação sem que haja a presença de qualquer tipo de conectivo. A metáfora é responsável por conferir às palavras novos sentidos.
c) É possível perceber uma atitude crítica do eu lírico quanto a esse modo de se dirigir ao outro. Pense nas características da flor e responda: por quê?
Porque também se trata de um ser frágil, que precisaria da proteção do outro.
d) O eu lírico alerta para o perigo de alguém ser colocado em uma redoma de vidro. Que sentidos se podem atribuir a essa metáfora?
Ser excessivamente protegido, controlado, perder a liberdade. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
#PARAlEMBRAR
As sílabas poéticas privilegiam os sons e não as sílabas. Observe este exemplo.
To/dos/can/tam/su/a/ter/ra,
Tam/bém/vou/can/tar/a/mi/nha, Nas/dé/beis/cor/das/da/li/ra
Hei/de/fa/zê-/la/ra/i/nha.
ABREU, Casimiro de. Minha terra. In: ABREU, Casimiro de. As primaveras. [Brasília, DF: Ministério da Cultura: Fundação Biblioteca Nacional: Departamento Nacional do Livro, 202-]. Reprodução do original de 1859. p. 5-8. p. 5. Disponível em: http://www.dominiopublico. gov.br/pesquisa/DetalheObraDownload.do?select_action=&co_obra=2173&co_midia=2. Acesso em: 29 set. 2024.
Para a métrica, conta-se o número de sílabas poéticas até a última sílaba tônica de um verso. No exemplo, cada verso tem sete sílabas poéticas.
4. É característico da poesia se organizar em versos, ou seja, não em linhas contínuas como na prosa. A divisão dos versos obedece a critérios subjetivos e estéticos.
a) C onsidere o segundo verso de cada estrofe do poema de Geir Campos e analise o efeito de sentido que se produz com essas orações separadas dos demais elementos que compõem a frase.
O segundo verso de cada estrofe destaca um aviso para o interlocutor: ficar alerta e acordar se alguém chamá-lo de flor, dado o destaque ao perigo que é esse suposto elogio.
b) Compare.
Se te chamarem flor, acorda e toma cuidado:
• Que diferença de sentido faz essa alteração na divisão dos versos?
Espera-se que os estudantes percebam que o destaque dado à palavra acorda, isolada no verso, dá força a ela no poema: tomar cuidado fica mais subordinado à ação de acordar, que tem no poema o sentido de “ficar atento”. Além disso, a palavra acorda sozinha no verso sugere pausa na leitura e isolamento de sentido autônomo, ou seja, o ato de acordar.
6. b) “[…] e disse que poucos mereceriam o meu amor / que o mundo me machucaria porque eu tinha nascido / com coração demais / que eu tinha que parar de ser tão boa / ou não me sobraria nada.”
6. c) Não, pois no poema de Geir Campos flor representa uma qualificação que associava a mulher à beleza e fragilidade, que precisava ser protegida na redoma. No poema de Ryane Leão, flor representa esperança, vida nova, doçura, cura.
A divisão dos versos de um poema pode seguir critérios semânticos, chamando a atenção para determinadas palavras que dão ênfase a determinados sentidos que o eu poético considera importantes para o poema. Pode também buscar efeitos rítmicos, nesse caso, contando o número de sílabas poéticas do verso.
5. O texto 1 também lança mão de recursos sonoros para criar sentidos. Um deles é a rima.
a) Identifique as rimas nas estrofes do poema 1.
Flor-pôr, vegetar-lugar; cuidado-lado-mal-aventurado.
b) Que efeito produzem?
Elas criam uma sonoridade que ajuda a engajar o leitor na leitura do poema e nos sentidos que ele produz.
#PARAlEMBRAR
Rima é a repetição de sons iguais ou similares que aparecem em intervalos regulares, criando uma sequência sonora. Em geral, aparecem no final ou no meio dos versos.
Atividade complementar nas Orientações para o professor.
#fiCAADiCA
O livro de estreia de Ryane Leão reúne 170 poemas com diferentes estruturas e estilos que tratam poeticamente de pensamentos e convicções da autora, sobretudo sobre experiências de mulheres.
• L EÃO, Ryane. Tudo nela brilha e queima: poemas de amor e de luta. São Paulo: Planeta do Brasil, 2017.
6. No texto 2, a mãe da sujeita lírica retira os cacos de vidro dos pés da filha.
a) O que os cacos podem simbolizar no poema?
Capa do livro
Tudo nela brilha e queima.
Os sofrimentos e as desventuras amorosas da filha.
b) Copie os versos em que a mãe faz previsões e dá aconselhamentos à filha.
c) A mãe plantava flores no lugar dos cacos. No poema de Ryane Leão, a palavra flor tem o mesmo sentido que no poema de Geir Campos? Explique.
7. A divisão dos versos do poema de Ryane Leão destaca a relação entre as orações que o compõem. Analise os três primeiros versos do poema e identifique a relação que estabelecem entre si e o termo que garante essa relação.
Espera-se que os estudantes percebam que cada verso acrescenta uma nova ação da mãe cuidando de sua filha, e tem, portanto, o sentido de adição, o que fica evidente com a conjunção e
A repetição de um mesmo conectivo é um recurso sintático chamado polissíndeto.
Assíndeto consiste na omissão de qualquer conectivo em uma enumeração.
8. b) Constrói um efeito de conselhos cumulativos, chamando a atenção do leitor para os vários conselhos que a mãe dava para a filha.
8. Vários versos do poema iniciam com o termo que .
a) A q ue outro termo se refere o que do quarto e sexto versos?
Ambos se referem à forma verbal disse
b) Que sentido a repetição do que produz no início de versos?
9. O poema de Ryane Leão apresenta uma ilustração de uma pessoa se olhando em um espelho quebrado.
a) Que efeito o espelho quebrado produz na imagem refletida?
b) De que forma essa imagem dialoga com o poema?
9. a) Metade da pessoa se vê quebrada, como se estivesse em pedaços; a outra metade está no escuro, e da sombra brota um ramo.
ATHAYDE, Laura. [Sem título]. In: LEÃO, Ryane. Tudo nela brilha e queima. São Paulo: Planeta do Brasil, 2017. E-book
9. b) A pessoa vê sua própria imagem metade em cacos metade em ramas, o que sugere que a dor sofrida pode dar espaço para o nascimento de uma nova forma de vida.
10. Ambos os poemas tematizam o amor refletindo sobre o que esse sentimento pode trazer para as mulheres. Copie o organizador a seguir no caderno, completando-o com o que se pede.
Ser seduzida por alguém que a controle. O controle da vida (ficar em uma redoma de vidro).
Desafios encontrados pelas mulheres no amor Perigos que o mundo e as pessoas oferecem
Texto 1
Texto 2
Encontrar o equilíbrio entre se doar e se proteger.O mundo e as pessoas podem machucar o outro ao se aproveitarem da “bondade”.
Os poemas que você leu são considerados líricos porque falam subjetivamente do “eu poético”, “eu lírico” ou “sujeito(a) lírico(a)”, de seus afetos íntimos, dando acesso a um vasto mundo de emoções que atuam sobre o eu lírico e podem, eventualmente, afetar o leitor. Para isso, lança mão de recursos da linguagem poética, como versos e figuras de linguagem, explorando a sonoridade das palavras e reinventando o sentido das palavras.
11. O poema a seguir, escrito na década de 2010, discute transformações na noção de amor.
O amor venceu
o amor ficou xarope séculos de emoção caramelada deram nisso
o amor perdeu a validade
o amor venceu
o amor se transformou
11. a) Segundo o poema, o amor ficou chato, superficial, bobo, depois de séculos de sentimentalismo. O amor, resultado de interações digitais, que se dão em meios virtuais de internet, venceu, perdeu a validade.
em sexo, em chat, em ficarpontocom
o amor foi resetado
o amor na infovia
rígido como um dígito
o amor se transmutou o amor já era e qual a palavra nova para aquilo que um dia foi amor? a palavra é… a palavra é… a palavra é amor
11. b) Além de ser informal, como grande parte das interações virtuais (“ficou xarope”), recorre a termos da informática e internet (chat, ficarpontocom, infovia, dígito).
CHACAL. O amor venceu. In: CHACAL. Tudo (e mais um pouco): poesia reunida (1971-2016). São Paulo: Editora 34, 2016. p. 54.
a) S egundo o poema, o amor se transformou em algo novo, que responde tanto a sua trajetória quanto ao contexto do século XXI. Identifique essas características contemporâneas do amor.
b) Como a linguagem utilizada no poema revela essa forma nova do amor? Dê exemplos.
12. O poema trabalha com algumas ambiguidades que ampliam seu potencial de sentido, como o termo venceu
a) O que indica a forma verbal venceu no último verso da primeira estrofe?
b) O t ítulo do poema também é ambíguo. Explique essa ambiguidade.
c) Como o poema permite essa dupla interpretação?
Indica o fim do amor, que sua data de validade venceu. Pode indicar tanto que o amor findou quanto que o amor triunfou.
Além da primeira estrofe, que indica o fim, a última estrofe indica que, apesar de tantas transformações, ele ainda resta e impera, não há como substituí-lo.
Os poemas que você analisou falam de amor de um ponto de vista diferente. Nesses poemas, o amor pode significar controle, pode ter ficado “xarope”, pode deixar o amado vulnerável. Esse modo de se referir ao amor reconhece suas potencialidades e eventuais armadilhas.
Nos textos a seguir, você vai conhecer a fonte da ideia de amor romântico e o contexto em que surgiu.
Os poemas até o final do século XVIII seguiam determinada estrutura, determinadas regras de composição, quer fossem poemas clássicos, barrocos ou neoclássicos. A estética romântica, no entanto, rompe com essa lógica ao colocar a intensa expressão de sentimentos e emoções como a origem do poema, refletindo a ênfase do movimento no individualismo e na sensibilidade do eu poético. Com forte tendência à nostalgia, e estabelecendo uma profunda relação sentimental com a natureza, os poemas românticos tratam de temas como o amor intangível, a morte e a solidão, além de apresentarem reflexões originais sobre identidade, nacionalidade, liberdade e subjetividades.
Para lembrar
1 Ao longo da história, os casamentos eram, em geral, frutos de acordos sociais e econômicos, e não a celebração do amor entre duas pessoas apaixonadas. No século burguês, o XIX, essa lógica começa a se alterar na literatura e nas demais produções artísticas.
a) Que grandes mudanças históricas e sociais levaram a essa mudança nos comportamentos?
b) Como o tema do amor era tratado na poesia anterior ao século XIX?
Para discutir
Professor, se necessário, retome as Unidades 1, 2 e 3 deste volume. Seria interessante aqui contar com a parceria do professor de História se for do interesse dos estudantes aprofundar o conhecimento desse período.
1 A ntes de ler os poemas, discuta com os colegas: como pode ser definido o amor romântico? Como ele aparece nas relações sentimentais nos dias atuais?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Os poemas a seguir foram escritos por diferentes poetas do que se convencionou chamar de Segunda geração da poesia romântica, a geração ultrarromântica, pois elevou a extremos o amor como único objetivo da vida, bem como colocou a morte como opção caso esse amor nunca se concretizasse.
O primeiro poema é do poeta paulistano Álvares de Azevedo, um dos mais expressivos poetas de sua geração.
Texto
Quando em meu peito rebentar-se a fibra
Que o espírito enlaça à dor vivente, Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.
E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento: Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.
No more! O never more! SHELLEY
No more! O never more! : Não mais! Nunca mais!
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro
— Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
Como o desterro de minh’alma errante, Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade — é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia. […]
Se uma lágrima as pálpebras me inunda, Se um suspiro nos seios treme ainda É pela virgem que sonhei… que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!
Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores…
Se viveu, foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.
Beijarei a verdade santa e nua, Verei cristalizar-se o sonho amigo… Ó minha virgem dos errantes sonhos, Filha do céu, eu vou amar contigo!
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida, À sombra de uma cruz, e escrevam nela: — Foi poeta — sonhou — e amou na vida — […]
poento: poeirento, cheio de poeira. dobre: toque especial do sino. embelecer: embelezar.
#SOBRE
Manuel Antônio Álvares de Azevedo (18311852) ficou particularmente conhecido por sua poesia melancólica e prosa gótica. Ele estudou na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), mas sua vida foi tragicamente curta, tendo morrido por causa de uma tuberculose.
Sua obra reflete uma profunda desilusão e um fascínio pelo macabro, sendo frequentemente comparado ao escritor inglês Lord Byron (1788-1824), de quem era admirador. Além de poemas, deixou o livro de contos Noite na taverna (1855) e a peça teatral Macário (1852).
AZEVEDO, Álvares de. Lembrança de morrer. In: PORTO-ALEGRE, Manuel de Araújo; DIAS, Gonçalves; AZEVEDO, Álvares de. Poetas românticos brasileiros II. São Paulo: Livraria do Centro, 1963. p. 215-217.
Não escreva no livro.
1. No trecho a seguir, a historiadora carioca Mary Del Priore (1952-), em entrevista à revista Cult , fala das bases do casamento e do modo de entender o amor no século XIX.
MARY DEL PRIORE: Não há etapas homogêneas em história, mas momentos de mudanças e permanências coexistentes. Por exemplo, o século XIX introduziu a ideia do amor romântico. As pessoas começam a ler romances onde heróis e heroínas buscam um casamento por amor e um final feliz para suas histórias. Isso era novo. Ao mesmo tempo, nas elites, o casamento arranjado com parentes ou amigos era uma constante. Isso era arcaico. As fórmulas coexistiam. Daí começarem os raptos de noivas que se recusavam a casar com candidatos impostos pela família, preferindo fugir com os escolhidos do coração. […]
PRIORE, Mary Del. História do amor no Brasil. [Entrevista cedida a Cult]. Cult , São Paulo, [2010]. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/historia-do-amor-no-brasil. Acesso em: 15 set. 2024.
a) A historiadora afirma que o casamento entre as elites era escolha da família. Que critérios se pode supor para essa escolha?
Interesses econômicos, acordos em função de herança, patrimônio, poder.
b) No trecho, a entrevistada afirma que começam a ocorrer no século XIX raptos de noivas que preferiam fugir com os amantes escolhidos a obedecer à família. O que essa atitude revela sobre o amor romântico?
Essa atitude revela a intensidade e a radicalidade do amor romântico.
2. a) As comparações são: deixo a vida como o caminheiro deixa o deserto; deixo a vida como quem se livra de um pesadelo depois do dobre (som) de um sineiro. As palavras que podem ser associadas ao modo como o eu lírico avalia a vida são tédio e pesadelo: para ele, a vida seria isso.
c) Que relação se pode estabelecer entre o amor romântico tal como reportado pela historiadora e o poema de Álvares de Azevedo?
No poema, o amor é intenso e idealizado, tal como o de “heróis e heroínas [que] buscam um casamento por amor e um final feliz para suas histórias”.
2. No poema “Lembrança de morrer”, o eu lírico revela o modo como vê a vida e a morte.
a) Releia: “Eu deixo a vida como deixa o tédio / Do deserto, o poento caminheiro / Como as horas de um longo pesadelo / Que se desfaz ao dobre de um sineiro”. Os versos apresentam duas comparações. Identifique-as e responda: que palavras revelam o modo como ele avalia a vida?
O início da terceira estrofe do poema apresenta analogias. Analogia é um recurso que estabelece relação de semelhança entre coisas ou fatos.
b) Os versos também exprimem como o eu lírico avalia a morte. Que sentimentos ele manifesta em relação a ela?
Manifesta tristeza por não ter vivido o amor com a virgem referida no poema e, ao mesmo tempo, esperança de poder amá-la em outro plano. Avalia a morte como algo natural, um alívio para o fardo do tédio que a vida representa.
c) Ao se referir à mulher amada, afirma que um suspiro “nos seios treme ainda”. Releia a quinta, sexta e sétima estrofes e explique que sentimentos o sujeito lírico manifesta.
Mal do século
3. a) No poema “Lembrança de Morrer”, o chamado “mal do século” se manifesta ao explorar a inevitabilidade da morte e a transitoriedade da vida, enfatizando uma profunda melancolia associada à juventude perdida. O poeta reflete sobre a brevidade da existência e a certeza da morte, o que é característico do desencanto e da desilusão romântica com o mundo.
O mal do século é uma expressão criada originalmente pelo poeta francês René de Chateaubriand (1768-1848) e faz referência a uma sensação de desilusão e melancolia profundas que permeou a cultura e a literatura do Romantismo, especialmente durante sua segunda fase no Brasil. Essa expressão captura o sentimento de angústia existencial e descontentamento espiritual que muitos jovens intelectuais e artistas sentiam na época e abrange uma variedade de temas e sentimentos, incluindo um forte sentido de desesperança, um fascínio pela morte e uma obsessão com a efemeridade da vida e a inevitabilidade do esquecimento.
4. Quan/do em/meu/pei/to/re/bem/tar/-se/fi/bra 10 A
Que o /es/pí/ri/to en/la/ça à/ dor/ vi/ven/te, 10 B
Não/der/ra/mem/por/mim/nem/uma/lá/grima 9 C
Em/pál/pe/bra/de/men/te 6 B
E/nem/des/fo/lhem/na/ma/té/riaim/pu/ra 10 D
A/flor/do/va/le/que a/dor/me/ce ao/ven/to: 10 B
Não/que/ro/que u/ma/no/ta/de a/le/gria/ 10 E
Se/ca/le/por/meu/tri/ste/pas/sa/men/to. 10 B
3. O poema de Álvares de Azevedo é um exemplo de manifestação do “mal do século”.
a) Por quê?
3. b) A evocação de cenários naturais desolados (“leito solitário” na “floresta dos homens esquecida”) e de imagens, como ser enterrado sem lágrimas ou flores, indica uma aceitação da solidão, do esquecimento e o fascínio pela morte, temas caros ao mal do século.
b) Que recursos da linguagem poética intensificam a sensação de melancolia e fascínio pela morte, características do mal do século?
4. Observe a sonoridade do poema. Faça a escansão dos versos da primeira e da segunda estrofes e responda às questões.
a) Com base nas duas primeiras estrofes, que número de sílabas poéticas predomina no poema?
b) E xplique por que essa relativa predominância compõe o ritmo do poema.
Por determinar um ritmo de leitura também relativamente regular.
c) Identifique as rimas das duas estrofes iniciais. Como atuam na sonoridade do poema?
Atuam ao repetir o som /em/, que, aliado ao ritmo, ajuda a engajar o leitor nos sentidos do poema.
5. Considere a última estrofe do poema.
a) O último verso “— Foi poeta — sonhou — e amou na vida —” pode ser lido como uma síntese do espírito romântico. Considere cada elemento citado e explique os motivos dessa síntese.
b) Como esse verso se destaca no poema para dar destaque a essa inscrição? Copie no caderno.
Destaca-se por ser registrado em discurso direto, vir em verso isolado e por separar seus termos com travessões.
6. O poema “Lembrança de morrer” toca em um tema tabu da sociedade: a morte. Para se referir a ela, frequentemente se utilizam expressões que amenizam o sentido negativo que possa ter por meio de uma figura de linguagem chamada eufemismo. Identifique no poema algumas dessas expressões que se referem à morte.
6. Exemplos de eufemismos: “Em meu peito rebentar-se a fibra”, “triste passamento”, “deixo a vida”. 5. a) Ao afirmar que “foi poeta”, o eu lírico ressalta a poesia como um meio de transcender a própria mortalidade, sugerindo que, embora a vida possa ser breve, as obras criadas podem perdurar.
O sonho expressa um desejo de ir além da realidade tangível, o que reflete a luta romântica contra as limitações da existência humana.
O amor coloca as relações afetivas como caminho de realização plena e meio para alcançar a imortalidade, pois pode sobreviver à morte física do indivíduo. 10
Eufemismo é uma figura de linguagem em que se utiliza expressões mais suaves e menos impactantes no lugar de termos diretos e potencialmente desconfortáveis. Por exemplo, em vez de dizer “morreu”, pode-se usar “partiu dessa para uma melhor”; em vez de “arrogante”, pode-se optar por “excessivamente autoconfiante”; e em vez de “expulso”, pode-se dizer “convidado a sair da escola”.
7. Observe agora, no poema “A valsa”, de Casimiro de Abreu, os recursos linguísticos que simulam o ritmo e o movimento da valsa. O poema utiliza o movimento e a música para destacar a conexão entre as personagens.
Tu, ontem,
Na dança
Que cansa, Voavas
Co’as faces
Em rosas
Formosas
De vivo, Lascivo
Carmim; Na valsa
Tão falsa, Corrias, Fugias, Ardente, Contente, Tranquila, Serena, Sem pena De mim!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!
— Não negues,
Não mintas…
— Eu vi!…
Valsavas:
— Teus belos
Cabelos, Já soltos, Revoltos, Saltavam, Voavam, Brincavam
No colo
Que é meu;
E os olhos
Escuros
Tão puros, Os olhos
Perjuros
Volvias, Tremias, Sorrias
P’ra outro
Não eu!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!…
— Não negues, Não mintas…
— Eu vi!…
[…]
ABREU, Casimiro de. A valsa . [Brasília, DF: Ministério da Cultura: Fundação Biblioteca Nacional: Departamento Nacional do Livro, 202-]. Localizável em: p. 1-3 do PDF. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br/download/texto/wk000348.pdf. Acesso em: 15 set. 2024.
Casimiro de Abreu (1831-1860), filho de um próspero comerciante, teve a oportunidade de viajar para Portugal aos 16 anos, onde sua carreira literária ganhou impulso com a publicação de As primaveras, em 1859. Este livro, que celebra a juventude, o amor e a natureza com uma linguagem simples e emotiva, capturou o estilo e as temáticas do Romantismo brasileiro.
7. b) No poema, fica evidente que o eu lírico se interessa pela mulher, mas o mesmo não ocorre com ela, que, talvez, nem o note. Assim, o eu lírico passa a sentir ciúmes e desejar o mal da mulher que considera sua.
a) Que relação o eu lírico estabelece com a mulher que observa dançar a valsa?
O eu lírico considera a mulher sua amada e sente ciúmes por ela valsar e não interagir com ele, mas com outro.
b) O eu lírico do poema expõe o modo como se dá a relação entre ele e o ser amado e manifesta um ponto de vista com relação ao ser amado. Como se dá a relação? Qual é o ponto de vista?
c) O poema “A valsa” usa recursos para sugerir o ritmo e o movimento da dança. Copie, no caderno, o organizador a seguir e o complete com as informações que se pedem e que explicam como se constrói a valsa no poema.
Quem dera / Que sintas / As dores / De amores / Que louco / Senti! / Quem dera / Que sintas!… / — Não negues, / Não mintas… / — Eu vi!…
Refrão
Número de sílabas poéticas dos versos
Sílaba tônica de cada verso
Segunda sílaba
Duas sílabas poéticas
7. d) Favorece uma experiência imersiva, que o leitor pode sentir na leitura, na própria respiração; a experiência tanto de quem dança quanto a do eu lírico, que observa a dança enlevado pela imagem em movimento da amada. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
d) A métrica regular e o uso de rimas cruzadas reforçam a sensação de fluidez e movimento, evocando a musicalidade e a cadência da valsa. Que relação essa estrutura favorece entre o texto e o leitor?
A literatura romântica se caracteriza por uma visão idealizada do mundo, optando por uma representação subjetiva que contrasta com a realidade imperfeita. Os românticos preferem imaginar e criar mundos que escapam das limitações e da dureza do cotidiano, focando o ideal e o extraordinário, o que resulta em uma distância deliberada da representação precisa das condições sociais e políticas de seu tempo.
Professor, os estudantes já tiveram contato com Úrsula (1859), uma obra em prosa da autora na Unidade 5. Se achar necessário, retome alguns elementos para melhor contextualizar o estudo aqui proposto.
8. Leia o poema a seguir, de Maria Firmina dos Reis (1822-1917). Nele, a sujeita lírica apresenta dificuldade de verbalizar algo que deseja dizer.
Se uma frase se pudesse
Do meu peito destacar;
Uma frase misteriosa
Como o gemido do mar,
Em noite erma, e saudosa,
Do meigo, e doce luar;
Ah! se pudesse !… mas muda
Sou, por lei, que me impõe Deus!
Essa frase maga encerra,
Resume os afetos meus;
Exprime o gozo dos anjos,
Extremos puros dos céus.
Ah! não posso!
Entretanto, ela é meu sonho,
Meu ideal inda é ela;
Menos a vida eu amara
Embora fosse ela bela.
Como rubro diamante,
Sob finíssima tela.
Se dizê-la é meu empenho,
Reprimi-la é meu dever;
Se se escapar dos meus lábios,
Oh! Deus – fazei-me morrer!
Que eu pronunciando-a não posso
Mais – sobre a terra viver.
REIS, Maria Firmina dos. Ah! não posso! In: REIS, Maria Firmina dos. Cantos à beira-mar e outros poemas. São Paulo: Círculo de Poemas, 2024. p. 50.
a) Qual seria o conteúdo da “frase misteriosa”?
Seria, provavelmente, uma frase com a declaração de amor por alguém.
b) A quem o eu lírico atribui a origem das limitações que lhe são impostas?
c) Que efeito de sentido produzem as exclamações e reticências no poema?
8. b) O eu lírico atribui a Deus essas limitações, pois, para agradá-lo, deve permanecer muda, mantendo guardados seu ideal e seu sonho.
d) Nos versos: “Se uma frase se pudesse / Do meu peito destacar”, a palavra peito não se refere a apenas uma parte do corpo. A que ela se refere?
8. d) Refere-se ao ser inteiro do eu lírico, a todo o sentimento e consciência do eu lírico onde ficam seus pensamentos e reflexões.
8. c) Elas acentuam a dificuldade e a angústia do eu lírico em não poder dizer o que tem dentro de si. São recursos expressivos para conferir maior emotividade e produzir uma suspensão como se algo fosse ser dito, mas não foi.
9. a) Repete-se muito o som de / s / : “ S e dizê-la é meu empenho, / Reprimi-la é meu dever; / S e s e e s capar do s meu s lábio s , / Oh! Deu s – fazei-me morrer! / Que eu pronun c iando-a não po ss o / Mai s – s obre a terra viver”.
O poema “Ah! não posso!” toma a parte (peito) pelo todo (o ser do eu lírico, suas reflexões, sentimentos). Trata-se de uma figura de linguagem chamada metonímia.
Metonímia é a palavra empregada para substituir outra que a ela está ligada por uma relação de semelhança ou continuidade. Na metonímia, pode-se representar a causa pelo efeito (“Pago as contas com o meu trabalho”), o autor pela obra (“Admirava um Picasso”), do continente pelo conteúdo (“Comeu dois pratos”), o lugar pelo produto (“Bebeu um Porto”), a parte pelo todo (“As pernas me levavam ao trabalho”), o gênero pela espécie (“A humanidade destrói seu mundo”), o singular pelo plural (“O brasileiro é trabalhador”), o particular pelo geral (“A dor estava sendo medicada”) etc.
9. Nos versos finais da penúltima estrofe, a repetição de alguns sons contribui, em conjunto com a versificação, as rimas e a construção do ritmo, para produzir a sonoridade do poema.
a) Que som de letra mais se repete ao longo dos versos da estrofe?
b) Copie, no caderno, a alternativa que melhor explica o sentido que a repetição desse som produz.
I. A repetição desse som refere-se ao barulho produzido quando as palavras escapam dos lábios do eu lírico.
II. Esse som refere-se ao batimento do coração do eu lírico, o que marca o sentimentalismo do poema.
III. O som faz referência à ideia de morte e ao fim da vida, que é marcada pelo fim da respiração e do batimento do coração.
Resposta: alternativa I
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A idealização romântica e as redes sociais
Não escreva no livro.
O que a idealização romântica e a apresentação de si nas redes sociais podem ter em comum? Ambas partilham a lógica de distorção da realidade. O artista romântico fugia para o passado ou para a natureza; idealizava mundos perfeitos ou se entregava às dores e alegrias do amor como forma de escapar da realidade. Alguns perfis das redes sociais frequentemente mostram em suas postagens um estilo de vida perfeito, valorizado socialmente, sonhado por muitos, criando uma imagem pública aparentemente livre de conflitos e inseguranças.
Ambos os movimentos idealizam a realidade, estabelecendo um contraste entre o mundo projetado e a vida real cotidiana.
Com um colega, você irá analisar como a idealização é construída nas redes sociais. Procure com o colega perfis e postagens que apresentem frequentemente situações que sugiram felicidade e sucesso. Depois, observe e analise esses aspectos.
1. Que imagem esse usuário constrói de si?
2. Que imagem é esperada que os demais usuários tenham dele?
3. Que recursos são utilizados para criar essa imagem?
COLEÇÃO PARTICULAR/PAWEL KUCZYNSKI
KUCZYŃSKI, Paweł. Carnival. 2018. Aquarela e lápis de cor sobre papel, 24 cm × 30 cm. Coleção particular.
4. Faça uma pesquisa sobre como a exposição desses perfis pode afetar outros internautas. Busque a palavra de especialistas como psicólogos, psiquiatras, pedagogos em sites de veículos de imprensa reconhecidos ou em sites do tipo “.org”.
Professor, essa pode ser uma oportunidade para discutir o quanto o contato com perfis que mostram uma imagem idealizada de si e da vida pode afetar a autoestima, podendo provocar distúrbios que
5. Depois, produza com o colega um texto analisando os recursos usados na construção idealizada do perfil selecionado e como esse perfil pode afetar outros internautas.
prejudicam o desenvolvimento dos indivíduos. Oriente os estudantes a pesquisar artigos científicos sobre a relação entre redes sociais e saúde mental usando as palavras-chave “artigo científico sobre redes sociais”, dando preferência aos disponibilizados por sites de universidades, revistas especializadas, entre outras fontes confiáveis. Esse assunto tem sido bastante estudado e é possível encontrar muitos conteúdos relativos ao tema.
Poesia e dança compartilham uma conexão profunda como formas de arte: ambas exploram a musicalidade como parte da expressão humana. Na poesia, os recursos poéticos imprimem sonoridade ao poema como forma de participar da construção de pensamentos e emoções, enquanto na dança é o corpo que fala por meio de movimentos e gestos pensados com base na música do ritmo.
Além disso, certas metáforas produzidas pelo corpo na dança podem refletir as encontradas na poesia. Por exemplo, um poema que descreve a leveza pode ser interpretado por um dançarino por meio de saltos e movimentos aéreos, enquanto a tensão pode ser expressa por movimentos bruscos ou rígidos.
Essa proximidade pode dar origem a performances que transformam a linguagem escrita em movimentos expressivos. Nesse diálogo entre as duas artes, tanto a poesia quanto a dança se enriquecem mutuamente, oferecendo ao espectador uma experiência estética mais rica e complexa.
Observe os frames do espetáculo de dança Paz e amor, da Marcia Milhazes Cia de Dança, e o assista por meio do endereço apontado na referência.
Você irá fazer uma pesquisa sobre espetáculos de dança que apresentem metáforas corporais por meio dos movimentos dos dançarinos.
1. P esquise, em plataformas de vídeos, esses espetáculos. Sugere-se digitar no buscador os termos “espetáculo”, “dança” e “completo”.
2. Escolha um espetáculo e o assista procurando por movimentos que produzam uma metáfora visual.
3. E m um dia específico marcado pelo professor, compartilhe essas informações e a dança selecionada com os demais estudantes. Você poderá reproduzir o espetáculo no dispositivo tecnológico que for mais adequado ao grupo. O objetivo é criar uma coletânea de metáforas do corpo como poesias do movimento.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Nesses frames, os corpos dos dançarinos variam entre movimentos íntimos e colados ao corpo e movimentos largos distantes do corpo, para representar o contraste entre o indivíduo e o coletivo. MARCIA Milhazes Cia de Dança apresenta PAZ e AMOR: #EmCasaComSesc. [S. l.: s. n.], 2020. 1 vídeo (28 min). Publicado pelo canal Sesc São Paulo. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=yFxDGZd3vEo. Acesso em: 14 set. 2024.
A Revolução Francesa e a Revolução Industrial, que transformaram radicalmente a sociedade no final do século XVIII e início do XIX, causaram um profundo impacto nas subjetividades da época. Entre as muitas transformações do Romantismo, destaca-se o lugar social que o indivíduo passa a ocupar. Tendo como referência as ideias dos iluministas, o indivíduo, peça-chave na sociedade burguesa, quer desfrutar a liberdade de pensar e manifestar suas ideias. Por isso, o artista romântico propõe uma arte que rompa com regras que dominaram períodos anteriores e busca expressar sua própria individualidade.
Uma nova atitude do artista
O motor a vapor foi fundamental para acelerar a produção industrial, mover transportes e gerar energia.
Essa atitude transformou também a figura do artista. Diferentemente do sujeito integrado ao mundo social, como era o artista até o período neoclássico, o romântico se mostra como quem não se submete às normas sociais. O caráter solitário, incompreendido e desencantado do escritor, dominado pela melancolia e pelo ceticismo, representou a alma da segunda geração romântica, como mostrou o poema de Álvares de Azevedo.
COURBET, Jean Désiré Gustave. O homem desesperado. [Entre 1843 e 1845]. Óleo sobre tela, 45 cm × 54 cm. Coleção particular.
A melancolia do artista romântico tem representação significativa na figura de Werther, protagonista do romance alemão Os sofrimentos do jovem Werther, de Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), publicado em 1774. A narrativa é apresentada por meio de cartas trocadas entre Werther e um amigo, permitindo acessar os sentimentos e pensamentos do jovem, extremamente sensível e inadaptado ao mundo, que sofre, entre outros motivos, por um amor não correspondido. A relação de Werther com Lotte, sua amada, reflete sua busca por um amor perfeito, exacerbando seu sofrimento ao perceber que seu amor não pode ser correspondido.
JOHANNOT, Tony. Os sofrimentos do jovem Werther. 1844. 1 calcogravura.
No século XVIII, a prática de casamentos arranjados dominava as estruturas sociais, com famílias organizando uniões que visavam mais a vantagens econômicas e alianças de poder do que à realização de afetos pessoais. Essa prática contrastava fortemente com os ideais emergentes do amor romântico que começaram a se popularizar no século XIX, especialmente entre os poetas e escritores românticos.
Na obra, uma figura solitária convoca a emoção do observador, que se coloca junto dele diante do mar e seus mistérios.
FRIEDRICH, Caspar David. O monge à beira-mar. [Entre 1808 e 1810].
Óleo sobre tela, 110 cm × 171,5 cm. Palácio de Charlottenburg, Berlim.
O Romantismo, como movimento literário e cultural, abraçou o amor idealizado, elevando-o a uma experiência quase sagrada, incondicional. Essa concepção de amor valorizava a intensidade emocional e a conexão espiritual acima das conveniências sociais ou materiais. Poetas como o inglês Lord Byron se tornaram ícones desse movimento, celebrando, em suas obras e em sua vida, o amor exagerado e muitas vezes trágico, que desafiava as normas sociais.
A segunda geração da poesia romântica no Brasil, também conhecida como a geração “ultrarromântica” ou “mal do século”, caracterizou-se pela exploração de temas como o amor idealizado, o pessimismo, a morte e o escapismo. Os poetas dessa geração, como Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e Fagundes Varela (1841-1875), uma poética marcada pelo lirismo melancólico. A estrutura de seus poemas frequentemente reflete essa turbulência emocional. Versos livres e métricas variadas buscam capturar o fluxo da sensibilidade e do descontentamento juvenil. A atmosfera dos versos é, muitas vezes, sombria e introspectiva, com uma forte inclinação para a idealização da morte como libertação das dores do mundo, um reflexo direto do desencanto com a realidade e uma profunda sensação de desilusão existencial.
Na literatura moderna, o legado desse amor romântico continua a ser explorado, refletido nos relacionamentos e na ideia de que casamentos ocorrem entre duas pessoas que se amam. Autores contemporâneos abordam esses temas de um novo ponto de vista, muitas vezes questionando ou expandindo as noções românticas de amor e demonstrando que os relacionamentos humanos são muito mais complexos do que a lógica do Romantismo propunha.
O Brasil pós-independência enfrentava o desafio de formar uma identidade nacional que definisse um território vasto e diversificado. A literatura, e particularmente a poesia romântica, tornou-se um veículo para a expressão e consolidação desses ideais nacionais. Os poetas da primeira geração romântica, também chamada de geração nacionalista, reimaginaram a história e a cultura brasileiras, destacando elementos únicos do país recém-independente.
Um dos temas dessa geração foi a idealização do indígena, elevado ao status de herói nacional e símbolo da pureza original do Brasil. O indígena foi retratado de forma idealizada como o “nobre selvagem”, em contraste com as visões europeias de civilização. Poetas como Gonçalves Dias (1823-1864), em obras como I-Juca Pirama (primeiramente publicado como parte da obra Últimos cantos, de 1851) e Os timbiras (1857), apresentaram o indígena como um ser dotado de grande nobreza, bravura e inocência, características ideais para representar a essência do povo brasileiro antes da colonização europeia.
A pintura traz Aimberê (data desconhecida-1567), chefe tamoio que lutou contra os portugueses, morto nos braços do padre Anchieta. Segundo certos críticos, a pintura destaca a dignidade da luta de Aimberê e de todos os tamoio.
Outro tema central dessa geração foi a exaltação da natureza, vista como um elemento ativo na poesia, simbolizando a liberdade e a grandiosidade do Brasil. Os poetas romantizavam as paisagens brasileiras – suas florestas, montanhas e rios –como forma de valorizar o território nacional e inspirar um sentimento de orgulho e pertencimento. Essa idealização também refletia a tendência romântica de ver a natureza como uma fonte de inspiração espiritual e emocional. O poema “Canção do exílio” é um marco da produção da primeira geração romântica e teve repercussão importante na literatura brasileira produzida depois. Foi escrito quando o poeta estava estudando Direito em Coimbra, Portugal, e lembra da pátria. Leia o poema.
AMOEDO, Rodolfo. O último tamoio. 1883. Óleo sobre tela, 180,3 cm × 261,3 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro (RJ).
Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.
DIAS, Gonçalves. Canção do exílio. [Brasília, DF: Ministério da Cultura: Fundação Biblioteca Nacional: Departamento Nacional do Livro, 202-]. Reprodução do original de 1843. Disponível: www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000100.pdf. Acesso em: 29 set. 2024.
3. Espera-se que os estudantes reconheçam que o poema faz uma exaltação à pátria que se compatibiliza com o Hino Nacional, composto exatamente para exaltar a pátria e suas belezas, como faz o poema.
Não escreva no livro.
1. A que se referem os pronomes lá e cá do poema?
Lá se refere ao Brasil e cá se refere a Coimbra, Portugal.
2. Quais critérios sustentam a comparação entre o lá e o cá para contrastar as diferenças entre a terra do eu lírico e o país em que se sente exilado?
O eu lírico utiliza a natureza como critério, mais especificamente o sabiá e as palmeiras, além de céu, várzeas e bosques.
3. A segunda estrofe do poema foi incorporada ao Hino Nacional Brasileiro. O que teria motivado essa inclusão? Formule uma hipótese.
4. O poema soa quase como uma canção. Como é construída a sonoridade dele?
Pelas rimas e pelo ritmo regular, com versos de sete sílabas poéticas, mantendo alguma regularidade entre os acentos átonos e tônicos, pela repetição de versos.
Paralelamente à prosa, com nomes como José do Patrocínio, Maria Firmina dos Reis e Luiz Gama, como estudado na Unidade 5, a terceira geração romântica da poesia no Brasil, também conhecida como geração condoreira ou geração social, dedicou-se às causas sociais das últimas décadas do século XIX, período em que o Brasil ainda era a única nação das Américas a manter a escravização dos negros.
A literatura foi parceira implacável na luta contra a escravidão. Os poetas da terceira geração romântica desenvolveram uma literatura fortemente engajada, com especial atenção à questão da escravidão. O escravizado é retratado de maneira empática e humanizada. Castro Alves, em particular, fez de sua poesia uma forma de protesto contra as injustiças da escravidão, descrevendo, de forma crua e comovente, os sofrimentos a que eram submetidos os escravos. Além de destacar a brutalidade da escravidão, essa geração também abordou temas como a liberdade e os direitos humanos, refletindo uma consciência crescente sobre a importância de garantir igualdade e dignidade a todas as pessoas.
Em poemas como “O navio negreiro”, Castro Alves não apenas descreve as terríveis condições em que os escravizados eram transportados da África para o Brasil como também convoca uma resposta emocional do leitor para reconhecer a crueldade e a desumanidade do sistema escravista. Ele constrói a imagem dos escravizados como heróis trágicos, vítimas de uma brutalidade incomensurável, e suas descrições visam despertar consciência e compaixão. Leia a seguir um trecho do poema “O navio negreiro”.
4.ª
Era um sonho dantesco… O tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros… estalar do açoite…
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar…
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas, espantadas, No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra, irônica, estridente…
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais…
Se o velho arqueja, se no chão resvala, Ouvem-se gritos… o chicote estala.
E voam mais e mais… […]
No entanto o capitão manda a manobra, E após, fitando o céu que se desdobra
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros: “Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!…”
E ri-se a orquestra irônica, estridente…
E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais!
Não escreva no livro.
Qual num sonho dantesco as sombras voam… Gritos, ais, maldições, preces ressoam! E ri-se Satanás!…
CASTRO ALVES, Antônio Frederico de. O navio negreiro: tragédia no mar. In: CASTRO ALVES, Antônio Frederico de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1976. p. 277-284. p. 280-281.
1. Dante Alighieri (1265-1321) foi um poeta do classicismo italiano que, em sua obra A divina comédia (1843), no livro “Inferno”, faz uma detalhada descrição dos nove círculos que o compõem. Que sentido se produz nessas estrofes com a referência “sonho dantesco”?
2. O poema usa recursos que dialogam com a pintura. Identifique-os.
Compara-se o porão do Navio negreiro com o próprio inferno, tamanhas as atrocidades cometidas. Imagens que remetem ao vermelho e ao preto, criando uma plasticidade que acentua a brutalidade do tratamento.
3. Alguns versos da terceira estrofe se repetem na última.
a) Como se pode entender a metáfora da orquestra?
b) Que efeito de sentido tem a repetição dos versos?
3. a) A metáfora pode ser entendida como o conjunto de homens brancos que castigam os negros escravizados usando o chicote, que estala.
Acentua o horror da escravidão, que se configurava como movimentos repetidos de uma orquestra, como em uma espiral. Um movimento que insistia em se repetir até que fosse proclamada a abolição da escravatura.
lER lITERATURA
A
Formação continuada nas Orientações para o professor.
A linguagem poética explora a potência máxima da língua e da linguagem ao considerar as muitas possibilidades sonoras e semânticas das palavras e os efeitos que a combinação entre elas produz. Ler poemas é entrar em um universo lúdico, em que as muitas possibilidades de dizer o mundo colocam o leitor em um lugar que não é o da vida comum e o conectam com raízes profundas da existência.
Muitos são os recursos dessa linguagem, e todos se mostram fundamentais na leitura e na produção de poemas. Observar as vogais, as consoantes das palavras e o modo como se apresentam, o ritmo e a divisão dos versos, as diferentes figuras – todos esses recursos de construção poética compõem um conjunto que quer engajar o leitor no mundo próprio do poema, para despertar sua emoção, sua reflexão, sua indignação. Esses recursos são frequentes nos poemas, mas também aparecem na prosa.
Como nos ensina o crítico Octávio Paz (1914-1998) no livro O arco e a lira , a poesia “é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de transformar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método de libertação interior”.
Mais importante, porém, que guardar conceitos é ler poemas, encontrar aqueles que fazem sentido para nós, compreender o sentido desses textos e entrar no jogo – sim, a linguagem poética é, sobretudo, uma atividade lúdica, que permite brincar com palavras e extrair efeitos para falar da vida, de sua finitude e dos muitos desafios que ela nos coloca. Permite, por fim, um contato diferente do que temos nas ações ordinárias, permitindo uma conexão profunda consigo.
Para ler e discutir
Sob orientação do professor, você irá escolher um poema que gostaria de ler para os colegas.
• Prepare a leitura do poema. Verifique o sentido de palavras que eventualmente não conheça. Observe a pontuação, a divisão dos versos, os eventuais efeitos de ritmo ou sonoros que acha importante destacar na leitura e as ênfases que você acha que deve dar a palavras ou versos.
• Escreva no caderno, um parágrafo explicando sua escolha. O que chamou a sua atenção nesse poema? Por que o escolheu? Você não precisará ler o texto, pode apenas explicar para o grupo sua escolha. Mas escrever ajudará você a formular essa explicação.
Professor, oriente os estudantes a buscar livros de poemas na biblioteca de casa, da escola ou na internet. É possível sugerir nomes de poetas relevantes da literatura brasileira, como Carlos Drummond de Andrade (1920-1999), Vinicius de Moraes (1913-1980), Cecília Meireles (1901-1964),
No dia combinado com todos, traga seu poema e o parágrafo que escreveu. Com o professor, a classe deve decidir como será feita a apresentação: se todos lerão para a classe ou se a turma se dividirá em grupos e a leitura será feita para o grupo.
Depois de concluída a atividade, avaliem como foi essa experiência e como agora podem definir o que é um poema.
(1902-1987), João Cabral de Melo Neto Paulo Leminski (1944-1989), Manuel Bandeira (1886-1968), Mário de Andrade (1893-1945), Manoel de Barros (1916-2014) e tantos outros, mas incentive-os a explorar outras possibilidades. Há muitos poetas jovens que publicam na internet e sites dedicados à divulgação de poemas e à literatura em geral, como https://www.portaldaliteratura.com, http://www.p-o-e-s-i-a.org e https://www.escritas.org (acessos em: 14 set. 2024). Oriente, também, a escolha de um poema com o qual os estudantes se identifiquem, que faça sentido para cada um.
2. Resposta pessoal. Professor, destaque que o processo de conversão de afetos em palavras é já uma forma de entendimento daquilo que nos afeta. Que o processo de nomeação e estruturação em enunciado pode nos levar à melhor compreensão do que sentimos.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Os poemas reproduzidos nesta unidade mostram como a literatura pode ser campo de expressão do amor e de outros afetos que chegam ao leitor, que, por sua vez, pode dar uma resposta a esse afeto. A todo instante afetamos e somos afetados por outras pessoas e pelo mundo. Esses afetos não são da ordem da razão, do previsível. Um acontecimento aparentemente banal para a maioria das pessoas pode atingir alguns de forma intensa; um acontecimento que produz uma comoção geral pode parecer pouco relevante para outros. Como prever o modo como nossas ações podem afetar os outros? Compartilhar afetos é compartilhar experiências, emoções e, assim, transformar modos de ser e de estar, de perceber e entender o mundo. Mas, para compartilhar, é necessário abertura para o outro, disposição para o diálogo, de modo que cada voz possa se afirmar e ser ouvida com respeito e responsabilidade.
Para discutir
1 Embora cotidianamente as interações sociais sejam muitas, são raros os contextos em que é possível a expressão de si, dos sentimentos e das emoções que nos afetam e como repercutem em nós. Em que contextos sociais a expressão de si é tema recorrente?
Resposta pessoal. Professor, destaque que as redes sociais exercem papel fundamental na expressão de si.
2 Qual é a importância de dar nome àquilo que nos afeta e de falar sobre isso?
3 Qual é a importância de compartilhar nossos afetos com outras pessoas?
Resposta pessoal.
Professor, comente que o olhar do outro traz perspectivas que não são nossas e podem relativizar nosso ponto de vista e interpretações dos afetos, evitando uma visão muito parcial e limitada sobre o mundo.
Nesta sequência, serão apresentadas formas de afeto compartilhado, afetos coletivos. Nos poemas declamados em saraus e slams que você vai ler a seguir, a voz sustenta a expressão desses afetos. O primeiro e o segundo poemas fizeram parte do Sarau Poético de Manguinhos, no Rio de Janeiro (RJ), e o terceiro foi produzido para ser declamado em um slam de poesia.
Texto 1
Fio a fio caminho sobre trilhos risco cores sobre vidro.
Fio a fio tenho a pele coberta de segredos. Tenho mãos vazias escorrendo medo.
Grito a grito entalhando palavras, tecendo silêncio, rasgando corredores, quebrando claridades inexistentes em mim.
NERI, Mozileide. Abstração poética. In: FARIA, Alexandre; MARTINS, Oswaldo (org.). Outra: poesia reunida no sarau de Manguinhos. Rio de Janeiro: TextoTerritório, 2013. p. 100.
Foto da poeta Mozileide Neri no Sarau Poético de Manguinhos, em 2022.
Professor, comente com os estudantes que o Sarau Poético de Manguinhos começou a ser organizado por professores e alunos do Pré-Vestibular Comunitário de Manguinhos (PVCM) em 2001 e passou a reunir, mensalmente, poetas de diversas comunidades carentes do Rio de Janeiro. A partir de 2010 passou a ser realizado no hall do cineteatro da Biblioteca Parque de Manguinhos. Os poemas de Mozileide Neri e Maria do Socorro (1935-) aqui transcritos foram declamados nesse sarau.
Meus senhores e senhoras
Agora estou aqui
Desculpem assim me expressar
Pois eu não tenho cultura
Não sei como falar
Estou contando meu drama
Para me desabafar
Fui uma criança pobre
Sem carinhos dos meus pais
Embolando pelo mundo
Meu sofrer já é demais.
Outra
poesia
Passei a vida inteira vivendo meias verdades
Sempre tive RG não tinha identidade,
no
Em uma favela morando
Em pobreza profunda
Cada vez mais piorando
Não tenho um emprego fixo
Pro meu futuro melhorar
Muitas vezes fico pensando
Começo logo a chorar
A criança pede sapato
A outra pede também
E eu fico louca
Só Deus sabe e mais ninguém.
A poeta Maria do Socorro em apresentação no Sarau Poético de Manguinhos, em 2013.
Me olhava no espelho e tinha vergonha de mim mesma, me disseram que eu era tudo, Morena, mulata eu só não sabia que era preta.
Agora você aceita depois de tanto negarem a minha história eu me descobri. Eu não estou aqui pra ser tua Barbie porque nasci sendo abayomi. Já sofri calada as tuas humilhações hoje em silêncio eu não mais sofro. Você só vai ter minha cabeça baixa se conseguir arrancar ela de cima do meu pescoço.
[…]
Mas, eu estou e não preciso ser igual a você pra Resistir. No teu ouvido ou sou o garfo arranhando o prato sou a mina que você tentou fazer de capacho mas não conseguiu.
Você viu, que mina preta não é bagunça? Assume o teu lugar de privilégio e escuta.
[…]
A baiana Patrícia
Meira (1990-), poeta, escritora, romancista, compositora e oficineira, conta com cinco obras publicadas. É famosa no mundo das competições de poesia falada, sendo uma das finalistas principais do Slam BR, o Campeonato Brasileiro de Poesia Falada, em 2018, e conquistando o título no Campeonato Argentino de Poesia Falada em 2019. Atua como cantora de sertanejo promovendo o empoderamento feminino. Suas músicas incentivam a autoestima e a valorização pessoal, celebrando a voz, a autonomia e a liberdade das mulheres.
abayomi: boneca de pano, criação original de Lena Martins (1950-), artista e artesã natural de São Luís do Maranhão, que é símbolo da resistência negra.
Eu sou o silêncio quebrado, sou a mosca no teu prato e esse você vai ser obrigado a pagar.
Eu sou a praga o feitiço que as bruxas antes de serem queimadas lançaram sobre ti.
EU SOU AQUELA QUE VOCÊ
SEMPRE SILENCIOU
MAS HOJE QUERENDO OU NÃO
VAI TER QUE OUVIR.
[…]
Eu sei bem que depois de tudo isso você vai achar que entrou pra minha lista negra Mas fique tranquilo e acredite que na minha lista negra só entra quem é vip esse, não é o teu caso.
1. b) A apreciação sonora e visual possibilitada pela poesia falada em um sarau pode atingir um público maior ao permitir a experimentação poética por outros meios além da leitura. Trata-se de uma forma mais imediata de experiência da poesia. Além disso, o sarau pode beneficiar pessoas com estilos de aprendizagem e preferências diversas, promovendo uma experiência poética inclusiva e coletiva.
MEIRA, Patrícia. Identidade. In: ALCADE, Emerson (org.). Negritude. São Paulo: Autonomia Literária, 2019. p. 78-79.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1. O s dois primeiros poemas que você leu foram recitados em um sarau, ou seja, um evento no qual pessoas recitam poesias publicamente, que podem ser de autoria própria ou escolhidas de outros poetas. O sarau pode contar também com apresentações musicais e leituras de outros gêneros que não poemas.
a) O que é necessário para que um sarau seja realizado?
1. a) Os estudantes podem mencionar que basta a vontade de um grupo recitar poesias e um lugar para que se reúna e já é possível organizar um sarau.
b) Em um sarau, o acesso ao texto poético não se dá por meio da leitura, mas de sua apreciação sonora e visual. Como essas formas de contato com o texto podem ampliar o público de um sarau?
2. A participação em saraus em geral é aberta ao público, sem a seleção prévia dos textos que serão lidos ou declamados, o que permite a apresentação de grande diversidade de textos. Considere os temas e a estrutura de cada um dos três poemas para completar o organizador a seguir no caderno.
Descoberta de si
Abstração poética
Meu drama
De que trata
Adversidades da vida
Versos brancos e livres
Estrutura
Versos regulares e rimas
Os sentidos produzidos por um poema lido e um poema ouvido são diferentes. Por isso, eventos de declamação podem dar novos sentidos a um poema escrito e atingir um público mais amplo. Eventos como saraus e slams são, atualmente, muito comuns em vários lugares, principalmente periféricos. Esses dois eventos são constituídos por declamações públicas de poemas. A diferença é que sarau tem como objetivo apenas a apresentação, enquanto os slams são declamados em competições públicas, que contam com torcidas e reação do público. Os poemas ganham pontos, e as melhores declamações ganham prêmios.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
3. O ato de entalhar refere-se à prática de aplicar golpes com ferramentas em madeira ou pedras para originar uma escultura. No poema “Abstração poética”, o eu lírico se refere ao trabalho de entalhar palavras.
4. c) Medo, vazio. Constroem a imagem de um eu lírico que precisa levar luz à escuridão de si; precisa conhecer melhor aqueles afetos e sensações que se ocultam dentro do eu lírico.
5. b) Maria do Socorro inicia o poema colocando-se modestamente como pouco classificada para escrever o poema, dada a sua pouca habilidade poética. Essa estratégia prepara o leitor para uma audição mais favorável e menos crítica.
a) Que semelhanças pode haver entre entalhar madeira, pedra ou palavras? Que sentido é produzido por essa metáfora?
3. b) O paralelismo é construído por meio da repetição dos versos “fio a fio” e expressam a ideia de que é tendo as palavras que se constrói o poema.
b) No mesmo poema, o eu lírico recorre ao paralelismo sintático – a repetição de uma mesma estrutura sintática dos versos – para iniciar cada estrofe. Explique como é construído esse paralelismo e sua importância na construção de sentidos do texto.
4. f) Compreender, ao compor o poema, a complexidade de afetos e
sensações. Enquanto eles não têm nome, são abstrações – daí o título do poema.
4. Em “Abstração poética”, as duas primeiras estrofes iniciam com o verso “Fio a fio”.
3. a) A palavra, como matéria-prima do poema, é entalhada como se fosse madeira ou pedra para a construção de uma obra, que no caso não é escultura, mas poesia.
a) Que sentido sugere a expressão fio a fio no poema?
“Detidamente”, “aos poucos”.
/se/nho/ /ras (7) /pem/a/ /me ex/pre/ (8)”. A maior parte dos versos
b) Na primeira estrofe, a expressão está associada a uma ação. Considere o verso “caminho sobre trilhos”. Que sentido sugere essa ação do eu lírico?
Ações no limite, que implicam perigo.
c) A segunda estrofe se refere a sensações. Quais? Que ideia sobre o eu lírico constroem?
d) O poema constrói várias metáforas para se referir ao eu lírico. Quais? Que imagem o poema compõe do eu lírico?
poéticas, redondilha maior. A rima é
Professor, seria interessante fazer
entre o poema e os cordéis, populares em Pernambuco,
autora: ambos contam histórias de modo rimado e metrificado como forma de facilitar a memorização – capacidade especialmente importante aos cordelistas, que falavam de cor as
e) Na última estrofe, a expressão fio a fio é substituída por grito a grito. A que pode ser associada a expressão?
Ao próprio poema, que parece gritar verso a verso.
f) O g rito está associado a entalhar palavras que permitam ao eu lírico tecer silêncio, rasgar corredores, quebrar claridades “inexistentes em mim”. O que o eu lírico consegue ao entalhar palavras?
5. O poema “Meu drama” foi escrito e declamado por Maria do Socorro. Segundo informa a obra que reúne os poemas declamados no sarau de Manguinhos, a autora […] nasceu em Camocim de São Félix (PE), em 1935. Na década de 40 foi para o Recife, onde trabalhou em casa de família. Casou-se em 1956 e teve seis filhos, três meninos e três meninas. Em 1963, separou-se. Então decidiu virar a vida pelo avesso, tentou de novo, acertou e errou mais umas tantas vezes e hoje escreve rimas simples que falam de uma vida que está em eterna construção.
FARIA, Alexandre; MARTINS, Oswaldo (org.). Outra: poesia reunida no sarau de Manguinhos. Rio de Janeiro: TextoTerritório, 2013. p. 69.
a) Que elementos do poema permitem relacionar o eu lírico à autora Maria do Socorro e a uma espécie de desabafo relacionado à sua história pessoal?
Dada a sua biografia de luta e dificuldades, o poema de Dona Maria resgata essas adversidades e as apresenta para o público.
b) Uma estratégia retórica para conseguir a atenção e solicitude do público é a construção de uma imagem de modéstia do locutor perante seus interlocutores. Como o poema recorre a essa estratégia? Que efeito tem junto aos ouvintes?
c) A construção do poema “Meu drama” se sustenta em uma irregularidade de métrica e em rimas marcadas. Faça a análise desses recursos na primeira estrofe do poema.
d) O que favorecem a regularidade métrica e as rimas do poema?
A memorização tanto de quem fala quanto de quem ouve.
e) Embora a história narrada no poema “Meu drama” possa ser entendida como pessoal, ao se transformar em poema ela passa ao plano da representação literária. Que consequências resultam dessa transformação?
Ao ser transformada em poema, a história ganha uma dimensão coletiva, social, que legitima a fala da autora; a história que ela conta passa a ecoar uma voz social, e não apenas a da Maria do Socorro.
#fiCAADiCA
Criados em Chicago, Estados Unidos, nos anos 1980, os slams são batalhas de poesia. Regrados e pontuados, eles renovaram a poesia e conferiram à declamação e performance novos patamares. No Brasil, o primeiro slam foi o Zap! Zona Autônoma de Palavra, fundado em 2008 pela atriz, poeta e performer Roberta Estrela D’Alva (1978-). Em 2014, foi criado o Slam BR, campeonato nacional de slammers, que começou a acontecer anualmente desde então. Hoje, os slams acontecem em diversos lugares. Para saber mais, acesse o site do ZAP!
• Z AP! Um slam brasileiro. São Paulo, [2012]. Blogue. Disponível em: http://zapslam.blogs pot.com/. Acesso em: 14 set. 2024.
Logotipo do evento.
4. d) Trilhos, cores, silêncio e claridades podem ser entendidos em sentido metafórico e se referem a sentimentos e percepções do eu lírico. O poema recorre a sentidos abstratos produzidos através de metáforas para se referir à complexidade de afetos e sensações do eu lírico.
9. b) Resposta pessoal. Professor, discuta como poesia pode ser considerada o trabalho inesperado com a linguagem, a utilização de recursos poéticos de ritmo e versificação, a organização espacial das palavras na página, o olhar subjetivo para a realidade etc. O importante é os estudantes perceberem que o conceito abrange diversas possibilidades e todas elas se relacionam a um trabalho com a língua e a linguagem.
6. O poema “Identidade” apresenta um eu lírico em busca da construção de uma identidade.
a) RG é a sigla para Registro Geral, documento conhecido como identidade, que traz nome, filiação, local e data de nascimento de uma pessoa. De acordo com o eu lírico, essas informações, no entanto, não garantem sua identidade. Que sentido o eu lírico atribui à palavra identidade?
O eu lírico se refere a sua identidade racial, ao processo de considerar-se pessoa preta (e não morena ou mestiça) e se orgulhar de sua cor.
b) No processo de assumir uma identidade, o eu lírico sabe que sua atitude não vai produzir efeitos somente em si mesma. A quem pode afetar essa construção de identidades?
A sua identidade pode produzir incômodo e afetar aqueles que sempre a oprimiram, que a silenciaram e não vão querer ouvir a sua voz.
c) O poema “Identidade” foi feito para ser lido em um slam e, portanto, teria interlocutores que estariam ali para ouvir a poeta. Que recurso visual orienta a leitura de parte do poema?
As letras maiúsculas orientam a leitura com ênfase (ou com tom de voz mais alto).
d) Quem seria o interlocutor a que o poema “Identidade” se dirige diretamente?
O poema se dirige a uma pessoa racista que oprimiu e silenciou pessoas pretas.
e) Ao final do poema, o eu lírico deixa um recado explícito ao seu interlocutor e diz que ele não entrou em sua lista negra . Explique por que esses versos não são positivos para o interlocutor do poema, considerando os sentidos da expressão.
Lista negra tradicionalmente se refere a uma lista de pessoas malquistas. No poema, no entanto, a expressão se refere a pessoas benquistas, pois subverte o sentido negativo da palavra negra na expressão, para um sentido positivo.
7. O eu lírico do texto 3 afirma que tinha dificuldade de aceitar sua identidade.
7. a) O eu lírico se sente com vergonha de si, fica calado e de cabeça baixa.
a) Quais são as consequências psíquicas produzidas no eu lírico com a dificuldade de aceitar sua identidade negra?
b) D e que forma as bonecas representadas a seguir simbolizam, no poema, o processo de construção de uma identidade?
8. É comum a associação entre poesia e expressão dos sentimentos. Mas são muitas e diversas as matérias de que ela pode se ocupar, assim como muitos os recursos expressivos para sua composição.
Boneca Barbie. Boneca abayomi.
7. b) Os estudantes devem perceber que o eu lírico, ao recusar ter como modelo a boneca Barbie, branca e loira, prefere se assumir semelhante a uma abayomi, feita com tecido preto e símbolo de resistência da cultura negra.
a) Qual é a diferença entre tomar a poesia como expressão de sentimentos e expressão de subjetividades? Explique com base em exemplos de algum poema lido.
b) Os três poemas lidos referem-se a formas de afeto que tomam o eu lírico. Indique que afetos são esses e que emoções ou sentimentos provocam em cada poema.
9. Considere os poemas que você leu.
8. b) O primeiro poema apresenta um afeto de angústia dada a indefinição de si; o segundo, um afeto de tristeza diante de uma situação social adversa; o terceiro, um afeto de orgulho de si e revanchismo com aquele que foi opressor.
a) C opie o quadro a seguir no caderno e faça uma checagem dos recursos que estão presentes nos poemas.
“Abstração poética”“Meu drama” “Identidade” Rimas
Versos regulares
Estrofes regulares
Figuras de linguagem
Novo ponto de vista sobre o mundo
Expressão de subjetividade
Perspectiva crítica
b) Com base nas reflexões feitas até agora, formule uma definição possível de poesia.
8. a) Espera-se que os estudantes percebam que, além de expressar sentimentos, os poemas apresentam perspectivas pessoais sobre o mundo, sobre si mesmo e sobre os afetos. Seria interessante discutir aqui a variedade de objetos dos quais a poesia e o poema podem se ocupar: pode ser uma reflexão ou mesmo uma defesa de ideias sobre pessoas, fatos ou o próprio fazer poético.
1. a) “É tão difícil amar / […]é difícil dizer alguma coisa / […]é difícil encontrar / […][é difícil] saber nosso próprio tamanho / [é difícil] olhar alguns bichos nos olhos / [é difícil] pensar com doçura / [é difícil] aproveitar adequadamente a luz / [é difícil] desejar para o pássaro.”
1. b) Porque o termo em destaque intensifica a dificuldade de praticar a ação de amar, como se esta fosse mais difícil se comparada às outras.
Leia o poema de Ana Martins Marques. Seda
1 O poema discute a dificuldade de se praticar várias diferentes ações.
a) Quais são esses versos?
b) O termo em destaque dá à primeira ocorrência da expressão “é difícil” um sentido diferente do que ela tem nos demais versos. Por quê?
2 O termo em destaque é fundamental para especificar a palavra coisa , no terceiro verso.
a) Esse termo se liga a qual palavra?
b) Que sentido esse termo agrega ao verbo?
c) De que forma é possível reescrever esse verso sem a utilização do termo em destaque mantendo um sentido semelhante?
2. a) Liga-se à forma verbal seja. 2. b) O termo agrega ao verbo o sentido de negação. Possibilidade: “que seja correta/ verdadeira”.
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É tão difícil amar neste mundo imperfeito é difícil dizer alguma coisa que não seja um equívoco é difícil encontrar o peso correto das coisas saber nosso próprio tamanho olhar alguns bichos nos olhos pensar com doçura aproveitar adequadamente a luz desejar para o pássaro um destino de [pássaro, para a seda, um destino de seda.
MARQUES, Ana Martins. Seda. In: MARQUES, Ana Martins. A vida submarina. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. p. 62.
3. c) Além de isolado no poema, o verso destaca a imperfeição do mundo, o que torna a tarefa de amar mais difícil.
#SOBRE
Ana Martins Marques (1977-) é formada em Letras e mestre em Literatura Brasileira. Reconhecida por uma poesia que explora temas como a memória, o cotidiano e o amor, desenvolve uma linguagem que mescla sensibilidade e reflexão crítica. Sua obra recebeu vários prêmios, consolidando-a como uma das vozes marcantes da poesia brasileira atual. Destacam-se os livros
A vida submarina (2009) e Risque esta palavra (2021).
3 Considere o verso em destaque.
a) A qual termo esse verso se liga?
O verso se liga ao verbo amar
b) Copie, no caderno, o tipo de informação que esse verso traz.
I. Tempo.
II. Espaço. III. Modo.
Resposta: alternativa II
c) Como esse verso contribui para reforçar a dificuldade de amar?
4 Considere agora o termo em destaque
a) L eia o verso sem o termo destacado. Explique a diferença de sentido produzida com e sem a palavra.
b) Copie, no caderno, o tipo de informação que esse verso traz.
I. Tempo.
II. Espaço. III. Modo.
Resposta: alternativa III.
4. a) A diferença de sentido produzida pela palavra adequadamente é indicar a maneira como a luz deve ser aproveitada. Sem a palavra, não é possível saber o modo como se aproveita a luz.
c) Copie do poema outra expressão que indique o mesmo que adequadamente
A expressão é com doçura
Os termos destacados nos versos do poema “Seda” acrescentam informações circunstanciais aos verbos, mas não atuam como complementos. Os termos ligados ao verbo que acrescentam à ação uma circunstância específica são denominados adjuntos adverbiais. Além de estarem ligados aos verbos, os adjuntos adverbiais também podem estar ligados a um adjetivo ou a um advérbio.
A função dos adjuntos adverbiais pode ser exercida por advérbios e locuções adverbiais. Quando ligado a um verbo, o adjunto adverbial pode acrescentar diferentes sentidos e circunstâncias.
O adjunto adverbial é o termo da oração que se liga a um verbo, um adjetivo ou outro advérbio, acrescentando-lhe circunstâncias, intensificando ou modalizando o sentido.
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Observe os exemplos a seguir.
É tão difícil amar adjetivo
aproveitar adequadamente a luz verbo
É difícil amar neste mundo imperfeito verbo
Nesses casos, os termos em destaque se ligam a um adjetivo (difícil) e a verbos (aproveitar e amar) e atribuem a esses termos alguns sentidos.
Tão – intensifica o sentido do adjetivo difícil. Adequadamente – especifica o modo de se aproveitar a luz.
Neste mundo imperfeito – indica o lugar em que é difícil de amar.
Os adjuntos adverbiais podem produzir diferentes sentidos.
• Indicar a maneira como a ação é ou deve ser executada (modo): Aproveitar adequadamente a luz; aproveitar minimamente a luz.
• Indicar o momento em que ocorre a ação (tempo): Olhei o bicho ontem; disse uma bobagem na hora da paixão.
• Indicar o espaço em que ocorre a ação (lugar): É difícil amar neste mundo imperfeito; olhou o bicho nos olhos.
Os advérbios são palavras que modificam verbos, adjetivos ou outros advérbios, adicionando informações sobre circunstâncias diversas. Podem expressar, entre outras circunstâncias:
Modo: explicam a forma como algo é feito (cuidadosamente, rapidamente, bem).
Tempo : indicam quando algo acontece (ontem, hoje, sempre).
Lugar: mostram onde algo ocorre (aqui, lá, em toda parte).
Intensidade : demonstram o grau de uma característica ou ação (muito, pouco, extremamente).
Frequência: indicam a frequência com que algo ocorre (frequentemente, raramente, às vezes).
Dúvida : expressam incerteza (talvez, provavelmente).
Os advérbios podem atuar como modalizadores, ajustando a intensidade, a certeza e a possibilidade de uma ação ou descrição, refletindo a atitude do falante diante do que é expresso. A modalização torna os advérbios essenciais para expressar nuances de sentido, contribuindo significativamente para a precisão e expressividade na comunicação.
• Indicar a frequência ou duração de uma ação (frequência): Amava com frequência; encontravam-se regularmente.
• Indicar a causa de uma ação (causa): Sofreu por causa do amor; com o atraso, perdeu o seu amor.
• Indicar a intensidade de uma ação verbal (intensidade): Ele se entregou intensamente ao amor; ele amava demais.
• Indicar uma condição para a ação verbal (condição): Sem seu amante, a vida perdia o sentido; sem amor, não há vida.
• Afirmar a ação de um verbo (afirmação):
Certamente, o amor chegou; encontrou seu amor com certeza.
• Negar a ação de um verbo (negação): Não acreditamos no amor; nunca deveria sofrer tanto.
Os adjuntos adverbiais, além de acrescentarem novos sentidos a uma forma verbal, um adjetivo ou advérbio, também revelam apreciações subjetivas por parte do enunciador. Na oração do poema “É tão difícil amar”, o adjunto adverbial tão expressa o ponto de vista do eu lírico de como a dificuldade de amar é maior do que outras dificuldades elencadas. Observe outros exemplos em que o adjunto adverbial expressa uma posição do enunciador.
Com certeza, você vai encontrar o amor.
Sua necessidade de amar era assustadoramente declarada.
O rapaz já estava enrolando para se declarar.
Outro efeito produzido pelos adjuntos adverbiais está relacionado à posição que ocupam na frase. Na ordem direta, o adjunto adverbial sempre aparece no final da oração; ao se inverter essa ordem, o adjunto adverbial pode ganhar destaque:
Ele vai declamar seu poema de amor depois da aula.
Depois da aula, ele vai declamar seu poema de amor.
Não escreva no livro.
Leia o trecho a seguir, da teórica cultural e ativista negra bell hooks.
Nós todos estamos desconfortáveis com as expressões convencionais que usamos para falar do amor romântico. Todos sentimos que essas expressões e o pensamento por trás delas estão entre os motivos pelos quais entramos em relacionamentos que não funcionaram. Quando olhamos para trás, vemos que, em larga medida, a maneira como falávamos desses laços antecipava o que aconteceria no relacionamento. Eu certamente mudei a maneira como falo e penso a respeito do amor em resposta à deficiência emocional que eu sentia em mim e nos meus relacionamentos. […] Embora eu tenha experimentado muitas decepções em minha jornada para amar e ser amada, ainda acredito no poder transformador do amor. A decepção não fez com que
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#SOBRE
Escritora, professora, teórica feminista, artista e ativista antirracista estadunidense, bell hooks (1952-2021)
Foto da pensadora nos anos 1980.
publicou mais de trinta livros e diversos artigos acadêmicos, além de marcar presença em filmes e documentários. Sua obra trata principalmente do capitalismo, de questões raciais e de gênero e daquilo que hooks define como a capacidade desses fatores de produzir e perpetuar sistemas de opressão e dominação de classe.
eu fechasse meu coração. Entretanto, quanto mais falo com as pessoas ao meu redor, descubro que a decepção está difundida e que isso leva muitas pessoas a serem profundamente cínicas em relação ao amor. Muitas simplesmente pensam que o valorizamos demais. Nossa cultura pode até dar um valor exagerado ao amor como fantasia comovente ou mito, mas não faz muito em relação à arte de amar. Nossa decepção é direcionada ao amor romântico. Nós fracassamos com o amor romântico quando não aprendemos a arte de amar. […]
HOOKS, bell. Tudo sobre o amor : novas perspectivas. Tradução: Stephanie Borges. São Paulo: Elefante, 2021. E-book. Localizável em: cap. 10, § 14-15.
1. No trecho, bell hooks faz referência ao amor romântico.
a) De acordo com a pensadora, qual é o legado do amor romântico para a sociedade contemporânea?
O amor romântico produz decepções e desilusões com relação às experiências amorosas.
b) De que forma, de acordo com a autora, seria possível pensar em outra forma de amar?
A autora propõe abandonar a ideia do amor romântico e a valorização de uma arte de amar.
c) Ao invés de desacreditar completamente o amor, a autora afirma o contrário. Que termo do primeiro período do segundo parágrafo reforça essa ideia? Classifique-o sintaticamente.
O termo ainda, que é um adjunto adverbial de tempo.
2. Considere o seguinte trecho.
Eu certamente mudei a maneira como falo e penso a respeito do amor em resposta à deficiência emocional que eu sentia em mim e nos meus relacionamentos.
a) Identifique que termo atua no período como adjunto adverbial de afirmação.
b) Que sentido esse termo produz ao se associar ao verbo?
O termo certamente
Ele reforça o sentido do verbo mudar, expressando a ideia de que não teria como ter feito de outra forma.
c) Identifique, agora, um adjunto adverbial de lugar no período.
O adjunto adverbial é a expressão em mim
d) Esse adjunto adverbial é necessário para o entendimento do período? Explique.
e) Qual é a função desse adjunto adverbial na produção do sentido do período?
O adjunto adverbial reforça o sentimento da deficiência emocional, destacando que essa deficiência era sentida nela mesma.
3. Considere o seguinte trecho.
2. d) Não, pois sentir a deficiência emocional seria necessariamente na própria narradora.
Muitas simplesmente pensam que o valorizamos demais. Nossa cultura pode até dar um valor exagerado ao amor como fantasia comovente ou mito, mas não faz muito em relação à arte de amar.
a) Identifique os adjuntos adverbiais do período e classifique-os.
Simplesmente (modo), demais (intensidade), até (inclusão), muito (intensidade).
b) A gora, releia o período sem os adjuntos adverbiais identificados. Qual diferença de sentido se produz com a exclusão desses adjuntos? Copie, no caderno, a alternativa que melhor responde a essa questão.
Resposta: alternativa I
I. P erde-se o caráter subjetivo e valorativo do trecho, que apresenta a forma como a filósofa interpreta o amor.
II. Perdem-se os complementos fundamentais dos verbos, o que deixa o trecho com lacunas de sentido.
III. O t recho deixa de ser opinativo e passa a ter muito mais características descritivas, tendo em vista que não tem adjuntos que o especificam.
Leia o poema a seguir, da poeta polonesa Wisława Szymborska (1923-2012), referência para grande parte das poetas brasileiras contemporâneas.
O primeiro amor
Dizem que o primeiro amor é o mais importante.
Isso é muito romântico, mas não é o meu caso.
Algo entre nós houve e não houve, se deu e se perdeu.
Não me tremem as mãos quando encontro as pequenas lembranças e o maço de cartas atadas com barbante – se ao menos fosse uma fita.
Nosso único encontro anos depois foi um diálogo de duas cadeiras junto a uma mesa fria.
4. c) Os estudantes devem identificar os adjuntos adverbiais mais e muito, que, na estrofe, intensificam a importância e o caráter romântico do amor. O adjunto adverbial de negação não se refere à situação específica do eu lírico e nega que ele valorize romanticamente o primeiro amor.
4. b) O eu lírico não vê relevância nesse primeiro amor. Diferentemente de outros que lhe foram relevantes, a lembrança do primeiro amor é fria e banal.
Outros amores ainda respiram profundamente em mim. Este não tem fôlego para suspirar.
E no entanto tal como é
4. a) O primeiro amor seria importante, inesquecível, e as pessoas se lembrariam dele saudosamente ao longo de toda a vida.
consegue o que aqueles ainda não [conseguem: deslembrado, nem sequer sonhado, me acostuma com a morte.
SZYMBORSKA, Wisława. O primeiro amor. In: SZYMBORSKA, Wisława. Um amor feliz Tradução: Regina Przybycien. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. p. 221.
4. A ssim como o faz bell hooks, Szymborska também se refere ao amor romântico.
a) Se considerada a ideia de amor romântico, como deveria ser a relação das pessoas com o seu primeiro grande amor?
b) Qual é a relação do eu lírico com o seu primeiro amor?
c) E xplique de que forma os adjuntos adverbiais da primeira estrofe contribuem para se referir à ideia do primeiro amor típica do Romantismo?
Seria um diálogo frio, formal, sem pessoalidade ou subjetividade.
5. Considere a quarta estrofe do poema.
O adjunto anos reforça a ideia de que levou muito
a) Qual seria o sentido possível de “diálogo de duas cadeiras”?
b) De que forma os adjuntos adverbiais dessa estrofe reforçam a falta de importância desse primeiro amor?
junto a uma mesa fria especifica um lugar formal e sem sentimentalismos
#fiCAADiCA
Prêmio Nobel de literatura em 1996, Szymborska cultiva uma poesia pautada pelo rigor na construção do poético, mas também cede a uma certa informalidade no modo de observar e registrar a realidade. Falando de amores e da vida cotidiana, a escritora tornou-se referência para novas gerações de poetas.
Capa do livro Um amor feliz .
• SZYMBORSKA, Wisława. Um amor feliz. Tradução: Regina Przybycien. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
L eia o trecho do quadrinho a seguir, da quadrinista sueca Liv Strömquist (1978-).
NA CIA, 2021, 91
STRÖMQUIST, Liv. A rosa mais vermelha desabrocha: o amor nos tempos do capitalismo tardio ou por que as pessoas se apaixonam tão raramente hoje em dia. Tradução: Kristin Lie Garrubo. São Paulo: Quadrinhos na Cia, 2021. p. 91.
6. a) As consequências desses procedimentos não permitiriam micromovimentos do rosto, fundamentais para a expressão de emoções.
6. A medicina estética contemporânea conta com tecnologias que permitem procedimentos que transformam o corpo em uma versão próxima ao ideal estético valorizado socialmente.
a) De acordo com os quadrinhos, quais seriam as consequências desses procedimentos estéticos para se aproximar de uma versão idealizada de si?
b) Ainda de acordo com o quadrinho, o que levaria alguém a procurar por se aproximar de um ideal estético por meio de procedimentos?
A busca por receber amor por meio do embelezamento estético levaria as pessoas a procurar por essas intervenções.
c) Identifique o adjunto adverbial do texto introdutório do primeiro quadrinho e explique a sua importância para garantir certa cientificidade para a HQ?
7. Considere o seguinte trecho do quadrinho:
O adjunto adverbial em parte evita generalizações e modaliza a conclusão dos pesquisadores de que nem sempre a capacidade de sentir emoções fica debilitada.
Ou seja, um efeito ainda mais FLAGRANTEMENTE fútil das tentativas de RECEBER amor por meio do embelezamento é que talvez, através de intervenções estéticas, você acabe DIMINUINDO suas chances de ser VISTO e COMPREENDIDO por outro ser humano […].
• Copie o organizador a seguir no caderno e complete-o com o que se pede.
Ainda mais
Adjunto adverbial de intensidade
Adjunto adverbial de modo
Adjunto adverbial de dúvida
Adjunto adverbial de instrumento ou meio
talvezatravés de intervenções estéticas flagrantemente flagrantemente
8. L eia o poema a seguir, da poeta portuguesa Adília Lopes (1960-).
O zero e o um
Quis sempre ter um namorado e só um o que me custava era não ter nenhum
LOPES, Adília. O zero e o um. In: LOPES, Adília. Estar em casa. Porto: Assírio & Alvim, 2018. p. 21.
Acabe diminuindo Acabe diminuindo
8. a) O zero faz referência à ausência de namorado e o um, ao único namorado que o eu lírico queria ter.
8. b) O adjunto adverbial de tempo sempre indica que o desejo de ter um namorado é antigo, constitutivo do eu lírico.
a) Depois de ler o poema, explique o que representam os números do título.
b) No poema, os adjuntos adverbiais cumprem papéis determinantes para a produção de sentidos. Identifique o adjunto adverbial de tempo e explique por que ele revela uma visão romântica de amor.
c) O termo só pode ser classificado como adjetivo ou advérbio, dependendo do termo com o qual se liga e o sentido que produz. Classifique morfologicamente e sintaticamente o termo só do terceiro verso e explique por que ele atua como um argumento do eu lírico para conseguir um namorado.
O termo só é um advérbio e adjunto adverbial do verbo ter; atua de forma a atenuar o pedido do eu lírico, afinal, não deseja vários namorados, apenas um basta.
1. a) O eu lírico deseja o finito, o possível: “Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser”. 1. b) Esses outros são os três tipos de idealistas. Os termos quem e eles expressam esses outros. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Leia, a seguir, um poema do poeta português Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa (1888-1935).
1 O poema apresenta um eu lírico que adota uma postura peculiar perante a vida.
a) O que deseja esse eu lírico?
b) O eu lírico cria um lugar que marca sua distinção em relação a outros. Quem são esses outros no poema? Copie no caderno as palavras que se referem a esses outros.
2 O poema apresenta termos com significados diferentes, mas que aparecem muito próximos.
a) Identifique, na última estrofe, termos antagônicos entre si.
b) Que sentido se produz ao se colocar termos tão distintos entre si de forma tão próxima?
2. a) Vida vivida-sonhada, sonho sonhado-vivido, tudo-nada.
2. b) Produz-se a dualidade de possibilidades que a vida e sonho apresentam: ser vivido e sonhado e a consequência disso: ter tudo ou nada.
O que há em mim é sobretudo cansaço
A subtileza das sensações inúteis, As paixões violentas por coisa nenhuma, Os amores intensos por o suposto em [alguém,
Essas coisas todas –Essas e o que falta nelas eternamente –; Tudo isso faz um cansaço, Este cansaço, Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito, Há sem dúvida quem deseje o [impossível, Há sem dúvida quem não queira nada –Três tipos de idealistas, e eu nenhum [deles:
Porque eu amo infinitamente o finito, Porque eu desejo impossivelmente o [possível, Porque quero tudo, ou um pouco mais, se [puder ser, Ou até se não puder ser…
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada, Para eles o sonho sonhado ou vivido, Para eles a média entre tudo e nada, isto [é, isto…
Para mim só um grande, um profundo, E, ah com que felicidade infecundo, [cansaço, Um supremíssimo cansaço, Íssimo, íssimo, íssimo, Cansaço…
CAMPOS, Álvaro de. O que há em mim é sobretudo cansaço. Lisboa: Arquivo Pessoa, [2015]. Disponível em: http://arquivopessoa.net/textos/269. Acesso em: 14 set. 2024.
3 Por que podemos dizer que a ação prevista em “desejo impossivelmente o possível” é contraditória?
A expressão é contraditória porque propõe desejar impossivelmente o possível. Os termos impossível e possível são, entre si, contraditórios.
4 Os versos em destaque no poema apresentam uma sequência de ações.
a) Essa enumeração constrói uma gradação no sentido. Copie, no caderno, a palavra que representa a maior intensidade e a que representa a menor intensidade na progressão apresentada.
Maior: o infinito; menor: o nada
b) Que sentido se produz com essa enumeração?
A enumeração intensifica o sentido desses versos para mostrar o quanto as pessoas podem chegar ao limite máximo de desejos/sonhos irrealizáveis: chegar ao nada.
No poema de Álvaro de Campos, há palavras e expressões utilizadas fora de seu sentido comum, ou seja, aquele que aparece na primeira acepção do dicionário. Esse uso produz novos sentidos para o texto, ampliando os seus limites de significação, bem como a possibilidade de novas formas de olhar a realidade.
Chama-se linguagem figurada aquela que usa recursos que exploram o universo da palavra de diferentes formas:
• as figuras de palavras referem-se à utilização de palavras fora de seu sentido mais comum, com a finalidade de criar recursos expressivos;
• as figuras de pensamento exploram o aspecto semântico das palavras, a lógica do pensamento;
• as figuras de sintaxe exploram uma (re)estruturação sintática do período que pode dar origem a novos sentidos para o texto.
Todos esses recursos ampliam as possibilidades expressivas da língua e permitem atribuir originalidade, surpresa e emotividade ao discurso.
Nesta unidade, você estudará apenas as figuras de pensamento.
Eufemismo
O eufemismo corresponde à utilização de uma expressão que torna mais brando o sentido de outra. Leia o trecho de uma entrevista com o geógrafo José Raimundo Ribeiro, que investigou os problemas relacionados à insegurança alimentar no dia a dia da classe trabalhadora em São Paulo (SP).
José Raimundo Ribeiro – Um dos primeiros desafios, quando você vai tentar entender a questão da alimentação, dos problemas relativos à alimentação, está no próprio conceito de fome. Então, a gente tem hoje um conceito como o de ‘insegurança alimentar’, que, em muitos sentidos, é um eufemismo para não se falar de fome. Às vezes, você está usando a ideia de uma insegurança alimentar grave ou moderada para não falar o nome que aquilo tem, que é fome.
RIBEIRO, José Raimundo. “Insegurança alimentar é um eufemismo para a fome”, diz pesquisador. [Entrevista cedida a] Caio Castor, José Cícero e Thiago Domenici. Agência Pública, [São Paulo], 6 set. 2018. Disponível em: https://apublica.org/2018/09/inseguranca-alimentar-e-um-eufemismo-para-a-fome-diz-pesquisador/. Acesso em: 14 set. 2024.
O próprio pesquisador alerta: embora a expressão insegurança alimentar nomeie diferentes situações de falta de alimentos, frequentemente é um modo menos direto de falar de fome.
Como já estudado na unidade, o eufemismo consiste na substituição de uma palavra ou expressão que possui um sentido muito forte, negativo ou brusco, por outra com um sentido mais leve, brando. Outros exemplos: insegurança alimentar (fome), enfrentando desafios (passando por dificuldades graves), desligamento (demissão), variação climática (catástrofe ambiental).
A antítese ocorre quando a aproximação de duas palavras de sentidos opostos produz um recurso expressivo. Veja este exemplo.
Na última fala da tirinha, Calvin, exercitando seu ócio, lamenta o fim de suas férias. Ele poderia ter dito que nunca tinha tempo para ficar sem fazer nada, mas, ao utilizar a antítese, chama a atenção do leitor para a fala de Calvin e dela extrai um efeito de humor.
Observe também nestes versos:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
O poema explora as antíteses finito × infinito e possível × impossível chamando a atenção para situações contraditórias da experiência humana.
A antítese é uma figura de linguagem que aproxima palavras que se opõem pelo sentido.
Assim como a antítese, o paradoxo também aproxima palavras de sentidos opostos. No entanto, origina uma situação impossível. Veja este exemplo.
Na tirinha, as rãs conversam sobre tolerância. A rã vermelha revela um paradoxo: ser intolerante, isto é, não aceitar intolerantes, não seria, por sua vez, também uma forma de intolerância? Embora essa seja uma situação paradoxal, de acordo com a Rã Zinza, a intolerância com intolerantes deve ocorrer justamente para cessar a intolerância. Tolerar intolerantes é permitir que continuem produzindo mal.
O paradoxo é uma figura de linguagem que aproxima palavras opostas pelo sentido em um mesmo período, originando uma contradição, um sentido oposto do que, em geral, aceita-se como lógico ou verdadeiro.
Existe gradação quando, em um mesmo período ou em períodos seguidos, encadeiam-se palavras ou expressões que possuem sentidos que se acumulam e complementam. Veja o exemplo. José
E agora, José?
A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José?
e agora, você? […]
Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse, a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse… Mas você não morre, você é duro, José!
DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. José. In: Reunião: 10 livros de poesia. 7. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1976. p. 70. Grifos nossos.
No poema de Drummond, ao refletir sobre a tensão de momentos de decisão, o eu lírico encadeia expressões que, por acumularem sentidos relacionados ao fim de uma vida e suas oportunidades, intensificam ainda mais a indecisão.
A gradação consiste na enumeração de palavras ou expressões que acumulam sentidos que se intensificam ou, ao contrário, se atenuam. A gradação pode ser ascendente (atinge um clímax) ou descendente (atinge um anticlímax).
1. L eia a tirinha a seguir.
PROFESSOR DE FILOSOFIA. [ Toda certeza é relativa]. [S. l.], 23 abr. 2016. Facebook: professordefilosofia. Disponível em: https:// www.facebook.com/professordefilosofia/ photos/a.451073541639841/1056363821110807. Acesso em: 12 out. 2024.
a) O professor da tirinha procura apresentar a um interlocutor um ensinamento, mas cai em um paradoxo. Qual é o paradoxo?
O professor diz que as certezas são relativas, mas faz isso declarando sua certeza absoluta sobre a existência da relatividade das certezas.
b) Reescreva o ensinamento do professor de forma a evitar um paradoxo.
2. L eia trechos da canção a seguir, “Não existe amor em SP”, do rapper paulista Criolo (1975-).
Não existe amor em SP
Um labirinto místico
Onde os grafites gritam
Não dá pra descrever
Numa linda frase
De um postal tão doce
Cuidado com doce
São Paulo é um buquê
Buquês são flores mortas
Num lindo arranjo
1. b) A construção da frase do professor poderia ser: desconfie das certezas absolutas. Assim, é possível ter certeza da necessidade de desconfiar de certezas absolutas.
Arranjo lindo, feito pra você
Não existe amor em SP
Os bares estão cheios de almas tão vazias
A ganância vibra, a vaidade excita
Devolva minha vida e morra
Afogada em seu próprio mar de fel
Aqui ninguém vai pro céu
CRIOLO. Não existe amor em SP. Belo Horizonte: Letras, c2003-2024. Disponível em: https://www.letras.mus.br/criolo/1857556/. Acesso em: 14 set. 2024.
a) A canção constrói uma imagem da cidade de São Paulo (SP). Copie, no caderno, a alternativa que melhor representa a imagem da cidade construída na canção.
Resposta: alternativa II
I. S ão Paulo é um lugar vibrante com uma multiplicidade de vivência e arte pelas ruas, com grafites e labirintos místicos.
II. S ão Paulo é uma cidade em que as pessoas vivem de aparência: preocupam-se com sua imagem, mas estão sofrendo por dentro.
III. S ão Paulo é um lugar ruim porque as pessoas não vão para o céu nem se preocupam em parecer o contrário do que indicam as suas ações.
b) Na segunda estrofe da canção, o eu lírico utiliza antíteses para se referir a aspectos de São Paulo. Identifique essas antíteses.
Cheios-vazias, vida-morra.
c) Que sentido essas antíteses produzem com relação às pessoas da cidade?
2. c) As antíteses reforçam a ideia de pessoas que procuram parecer bem e lotam certos lugares, quando na verdade todos estão vazios
por dentro. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
3. L eia o poema a seguir, da poeta carioca Stella do Patrocínio (1941-1992), que viveu em hospitais psiquiátricos e cuja obra foi coletada por meio de gravações em áudio feitas pela própria escritora.
[...] Eu já falei em excesso/ em acesso/ muito demais/ declarei expliquei esclareci tudo/ falei tudo que tinha que falar/ não tenho mais assunto mais conversa fiada/ eu falei tudo/ num tenho uma voz pra cantar/ também porque eu já cantei tudo que tinha que cantar/ eu cresci engordei tô forte/ tô mais forte que um casal que a família que o exército que o mundo que a casa/ sou a mais velha do que todos da família […].
PATROCÍNIO apud BEBER, Bruna. Uma encarnação encarnada em mim: cosmogonias encruzilhadas em Stella do Patrocínio. Rio de Janeiro: José Olympio, 2022. p. 91.
a) O eu lírico do poema apresenta um cansaço, mas ao mesmo tempo uma força. Como essa ideia se constrói no texto?
O eu lírico está cansado de falar e tentar ser ouvido, mas ainda está forte e resistente, mais que toda uma família e o exército.
b) Que figura de pensamento pode ser identificada no poema?
A gradação.
c) De que maneira esse recurso intensifica o sentido do poema?
A gradação vai acrescentando as ações do eu lírico de falar, declarar, explicar, esclarecer até não ter mais o que dizer, o que indica o seu cansaço perante o interlocutor.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Na atividade de leitura desta unidade, você conheceu um pouco mais sobre os saraus e slams, sua importância para a popularização da poesia e para o compartilhamento de subjetividades e de afetos. Agora, você vai conhecer um pouco mais sobre o slam, a batalha de poesia. Diferentemente dos saraus, os slams não têm como finalidade apenas a apresentação de um texto poético, mas uma competição cujo objetivo é ganhar um prêmio realizando a melhor apresentação de uma poesia.
#fiCAADiCA
Embora o maior evento da literatura nacional seja a Festa Literária de Paraty (Flip), poucas pessoas conseguem participar dela, já que implica deslocamento, custo etc. Por isso, foi criada a Festa Literária das Periferias (Flup), que amplia o acesso de camadas mais carentes a discussões e apresentações literárias.
Em 2019, em parceria com a Bienal Internacional do Livro Rio, a Flup organizou o Slam Colegial, que contou com a participação de estudantes de oito escolas públicas do Ensino Médio do Rio de Janeiro.
Frame do vídeo do IV Slam Colegial Flup.
• BIENAL do Livro Rio 2019: IV Slam Colegial Flup. [S. l.: s. n.], 2019. 1 vídeo (89 min). Publicado pelo canal Bienal do Livro do Rio. Localizável em: 35 min 38 s. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v= WPWYzniZUQM. Acesso em: 14 set. 2024.
Você vai produzir um slam em sua classe. O slam, no entanto, diferentemente das demais produções aqui propostas, não é um texto, mas um evento. Assim, pressupõe a produção ou seleção de um poema a ser recitado para competir por um prêmio.
Slam é uma palavra inglesa que quer dizer “batida” e refere-se a um evento que surgiu na década de 1980 nos Estados Unidos com o objetivo de levar a poesia para as ruas, para a juventude. A partir da década de 1990, esse evento transformou-se em um grande movimento mundial, que deu voz a jovens e amantes da literatura. Os participantes de slams declamam, interpretam, gesticulam, improvisam e disputam com os outros slammers
Para planejar seu poema, você pode:
• declamar um poema original, escrito para o evento, utilizando os recursos poéticos que aprendeu nesta unidade; ou
• selecionar um poema de que goste.
Feita a seleção ou produção de novo poema, é hora de treinar sua declamação. Considere as seguintes orientações.
• Primeiro, você deve compreender o que vai declamar. Por isso, leia quantas vezes forem necessárias para que compreenda o que vai ler. Para aprofundar sua leitura, você pode recorrer a análises disponíveis na internet ou mesmo pedir ajuda de colegas.
• Estude a pronúncia correta das palavras, caso haja alguma que gere dúvida.
• A pontuação e divisão dos versos indicam tanto o ritmo de leitura quanto eventuais pausas. É comum a declamação de poemas recitando verso a verso, sem respeitar o sentido da frase ou da expressão. Alguns poemas recorrem ao enjambement: quando o sentido de um verso depende do verso seguinte. Nesse caso, a leitura não deve pausar ao final do verso. Embora você possa ler o poema, memorizá-lo pode deixar a recitação mais atraente para o ouvinte. Memorizar, no entanto, não consiste apenas em decorar os versos. É fundamental marcar o ritmo, importante recurso da linguagem poética. Lendo ou recitando de memória, não deixe de dizer título, autor e, se possível, o livro em que foi publicado e o ano da publicação. Recitar um poema envolve também outros elementos que vão além da voz. É fundamental manter a postura cênica do corpo, o que envolve expressão facial e gestos condizentes com o sentido do poema. Um poema triste recitado por alguém aparentemente feliz, por exemplo, pode corromper seu sentido original.
apontadas nas
Regule a altura e a impostação da voz para que todos no recinto consigam ouvir o poema. Além de seguir as orientações de declamação, lembre-se de que agora é uma competição e sua declamação será pontuada. Para tanto, estude e pense em gestos e expressões que possam reforçar certos sentidos do poema e marcam a sua presença na cena de declamação. Poemas mais tristes e intimistas demandam gestos e expressões mais contidos e fechados; os mais alegres pedem gestos mais amplos e expressões mais felizes; os mais críticos exigem gestos rápidos e incisivos e expressão séria.
Se for criar um poema original para declamar no slam , crie algumas analogias como forma de exercitar o fazer poético. Você estudou esse recurso na análise do poema “Lembrança de morrer”. Se necessário, retome-o para observar a ocorrência de analogia ao longo das estrofes.
Você irá criar analogias relacionando atividades cotidianas a processos ou objetos inanimados, revelando como essas conexões podem ser poéticas. Crie analogias com base nos seguintes elementos.
• Compare o jogo de futebol com a performance de uma orquestra.
• Possibilidade: O futebol é como uma orquestra; cada jogador, como um músico, deve desempenhar seu papel com precisão e harmonia para que o conjunto funcione, sendo o técnico o maestro que dirige e coordena o time para garantir uma atuação fluida e sincronizada.
• Relacione o ato de cozinhar com o processo de pintar um quadro. Cozinhar é semelhante a pintar um quadro: cada ingrediente representa uma cor diferente; o cozinheiro, como o pintor, mistura e combina essas “cores” para criar um prato (obra) que seja visualmente atraente e saboroso.
• Compare viajar para um novo país com a experiência de ler um novo livro. Viajar para um novo país é como ler um novo livro; ambos proporcionam a experiência de explorar mundos desconhecidos, conhecer personagens interessantes e aprender sobre culturas e histórias que expandem nossa visão de mundo.
Produzir
Para a produção do slam, siga as regras de participação de um slam real, o Slam Poesia SP:
I. POEMAS
[…]
- Não é permitido o uso de auxílios visuais ou fantasias. A regra de auxílios visuais tem o intuito de manter o foco nas palavras (e na performance) e não em objetos.
- Geralmente, é permitido aos poetas o uso do ambiente e de artifícios que este ofereça […].
- Não é permitido o uso de instrumentos musicais, música pré-gravada.
- Sampling: os poetas podem citar palavras e letras de obras de outros autores.
- Não é permitido a repetição de poemas. Cada poema pode ser usado uma única vez durante as eliminatórias e uma vez na grande final.
II. AS PERFORMANCES
#fiCAADiCA
Capa de obra da Coleção Slam.
A coleção é composta de vários volumes organizados tematicamente com textos poéticos escritos para serem declamados em voz alta. Conheça a coleção.
• ALCADE, Emerson (org.). Coleção Slam . São Paulo: Autonomia Literária, [entre 2019 e 2023]. 6 v.
- A regra dos três minutos. Todas as performances não devem ultrapassar três minutos de duração. Cada participante tem direito a alguns segundos para adaptar o microfone e o palco. O tempo começa a ser contado a partir do momento em que o poeta se dirige ao público. [...].
III. OS JUÍZES
O Slam Poesia parte do princípio de que todo indivíduo é capaz de emitir uma opinião válida sobre arte. Não necessitando de uma formação acadêmica ou técnica para isso. Então, cinco juízes devem ser selecionados entre os membros da plateia [no caso, cinco estudantes]. […] […]
IV. A PONTUAÇÃO
Os juízes darão notas de 0 a 10, com a nota 10 sendo a mais alta ou nota perfeita, para cada poema. Eles serão instruídos a usar uma casa decimal para reduzir as possibilidades de empate. Cada poema receberá cinco notas, a mais alta e a mais baixa serão descartadas e as três restantes serão somadas, representando a nota final do poeta.
V. O APRESENTADOR
O apresentador [escolhido entre os estudantes] deverá anunciar ao público o nome e uma leve descrição de cada poeta. Ele também deverá pedir aos juízes que levantem seus cartões com as notas. Ele tem a função de fazer o evento seguir o cronograma e incentivar a plateia interessada na competição. [...]
CURLY*HITS STAFF. As regras do Slam Poesia. In: SLAM Poesia. [S. l.], 7 jun. 2008. Disponível em: http://slampoesia.blogspot.com/ 2008/06/as-regras-do-slam-poesia.html. Acesso em: 15 set. 2024.
Se possível, algum estudante pode ficar responsável por filmar o slam da turma para depois divulgá-lo em sites de compartilhamento de vídeos pela internet. Todos podem, coletivamente, criar um logotipo e um nome para identificar o slam e uma conta específica em um canal de vídeos.
4. O autor propõe diversidade como unidade. Unidade pressupõe um, e diversidade, vários – esta é a aparente contradição. No entanto, a unidade está de fato na diversidade: é na união das diferentes formas de poder cultural em torno de um mesmo discurso simbólico que pode ser construída uma unidade.
Os textos das Ciências Humanas, em geral, discutem ideias, conceitos, defendem pontos de vista e tomam como objeto assuntos e temas que dizem respeito às pessoas e à vida em sociedade.
A diferença entre assunto e tema é que o assunto é mais amplo que o tema. Por exemplo: um artigo jornalístico pode tratar sobre o basquete brasileiro. Esse é o assunto. O artigo vai tratar da importância de determinado técnico e suas estratégias de treinamento para o sucesso da equipe. Esse é o tema. A palavra tema vem do latim thema, mas tem origem grega que significa, em tradução livre, “o que é proposto”. O termo pode ser compreendido como um recorte do assunto.
Esse é um dos aspectos que você vai investigar sobre o trecho apresentado a seguir, do sociólogo britânico-jamaicano Stuart Hall (1932-2014).
A identidade cultural na pós-modernidade
O argumento que estarei considerando aqui é que, na verdade, as identidades nacionais não são coisas com as quais nós nascemos, mas são formadas e transformadas no interior da representação Nós só sabemos o que significa ser ‘inglês’ devido ao modo como a ‘inglesidade’ (Englishness) veio a ser representada – como um conjunto de significados – pela cultura nacional inglesa. Segue-se que a nação não é apenas uma entidade política mas algo que produz sentidos – um sistema de representação cultural. As pessoas não são apenas cidadãos/ ãs legais de uma nação; elas participam da ideia da nação tal como representada em sua cultura nacional. Uma nação é uma comunidade simbólica e é isso que explica seu ‘poder para gerar um sentimento de identidade e lealdade’ […].
As culturas nacionais são uma forma distintivamente moderna. A lealdade e a identificação que, numa era pré-moderna ou em sociedades mais tradicionais, eram dadas à tribo, ao povo, à religião e à região, foram transferidas, gradualmente,
2. Respostas e comentários nas Orientações para o professor.
5. Respostas e comentários nas Orientações para o professor.
1. O assunto é a construção de uma identidade nacional.
nas sociedades ocidentais, à cultura nacional. As diferenças regionais e étnicas foram gradualmente sendo colocadas, de forma subordinada, sob aquilo que Gellner chama de ‘teto político’ do estado-nação, que se tornou, assim, uma fonte poderosa de significados para as identidades culturais modernas.
A formação de uma cultura nacional contribuiu para criar padrões de alfabetização universais, generalizou uma única língua vernacular como o meio dominante de comunicação em toda a nação, criou uma cultura homogênea e manteve instituições culturais nacionais, como, por exemplo, um sistema educacional nacional. Dessa e de outras formas, a cultura nacional se tornou uma característica-chave da industrialização e um dispositivo da modernidade. Não obstante, há outros aspectos de uma cultura nacional que a empurram numa direção diferente […].
[…]
Em vez de pensar as culturas nacionais como unificadas, deveríamos pensá-las como constituindo um dispositivo discursivo que representa a diferença como unidade ou identidade. Elas são atravessadas por profundas divisões e diferenças internas, sendo ‘unificadas’ apenas através do exercício de diferentes formas de poder cultural. […]
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade Tradução: Tomaz Tadeu da Silva e Guaracira Lopes Louro. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. p. 48-50, 61-62.
1. Identifique o assunto do texto.
2. Agora, você vai reler o texto e identificar, para cada parágrafo, a ideia mais importante que cada um trata.
3. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
3. Você vai ler o texto novamente. Nesta terceira vez, você vai identificar o tema. O texto trata das culturas nacionais entendidas, na era moderna, como homogêneas, mas sua verdadeira unidade deve ser entendida na diferença.
4. Ao propor que as unidades nacionais sejam pensadas como dispositivo discursivo que representa a diferença, o autor parece cair em contradição. Identifique-a e explique por que não é uma contradição.
5. Elabore uma organização gráfica para representar a relação entre as ideias do texto. Como elas estão organizadas? Por contraste? Em torno de uma ideia central? Como causa e consequência?
DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. Amar se aprende amando. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
Um dos maiores poetas brasileiros escreve, nesse livro, sobre as diferentes formas que o amor pode assumir: o amor sublime, a fusão dos amantes, a celebração da amizade, entre outros temas.
Capa do livro Amar se aprende amando.
ALVES, Castro; HEINE, Heinrich. Navios negreiros. São Paulo: SM, 2016. A reunião do poema “Navio negreiro”, de Castro Alves, com o poema homônimo, publicado 15 anos antes, do escritor romântico alemão Heinrich Heine (1797-1856) favorece a comparação de diferentes pontos de vista sobre um mesmo fato histórico.
Capa do livro Navios negreiros
CAFAGGI, Vitor. Valente : para sempre. São Paulo: Panini, 2018. v. 1. As histórias de Valente foram publicadas em tirinhas no jornal O Globo antes de virarem livro. O segundo e o terceiro volumes da coleção ganharam o Troféu HQ Mix, respectivamente em 2013 e 2014, na categoria “melhor publicação de tiras”.
O AMOR romântico define a felicidade ou a limita?: Interessa Podcast. [S. l.: s. n.], 2024. 1 vídeo (61 min). Publicado pelo canal O Tempo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=iPm-JjgOCA4. Acesso em: 9 set. 2024.
Esse podcast coloca em questão a ideia romântica de amor e de felicidade. Ao contrário do que socialmente se tem como certo, cada vez mais pessoas têm provado que é possível ser feliz sozinho. Ouça e tire suas conclusões.
Observe a fotografia a seguir, de uma apresentação da peça teatral Esperando Godot (1952), do dramaturgo irlandês Samuel Beckett (1906-1989). A adaptação tem direção de Elias Andreato (1967-) e cenários do figurinista e cenógrafo Fábio Namatame (1955-).
1. O cenário é constituído por uma representação da figura e das engrenagens de um relógio, para indicar a passagem do tempo e dos ciclos da vida. Ao centro, várias setas apontando para distintas direções. Respostas e comentários nas Orientações para o professor.
Esperando Godot . Atores Claudio Fontana (à esquerda) e Elias Andreato (à direita). Teatro Tucarena, São Paulo (SP), 2016.
1. A peça Esperando Godot é um clássico do teatro do absurdo, que encena situações de impasse e desamparo em cenários muitas vezes com poucos elementos como esse que você pode observar na imagem. Descreva o cenário da peça.
2. A encenação dessa peça foi determinada por certas escolhas do diretor, Elias Andreato, e dos demais profissionais que, em colaboração, definiram como seriam trabalhados os elementos próprios da peça teatral. Explique o que poderia mudar em uma encenação com outros diretores e profissionais de teatro (cenógrafo, figurinista, iluminador, atores etc.).
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor. da interpretação mudariam. Respostas e comentários nas Orientações para o professor.
O cenário, o figurino, a iluminação e mesmo as características
3. O roteiro dramático da peça foi publicado pela editora Companhia das Letras. A contracapa do livro apresenta o texto a seguir.
[…] Na trama, duas figuras clownescas, Vladimir e Estragon, esperam por um sujeito que talvez se chame Godot. Mas sua chegada, que parece iminente, é constantemente adiada.
a ver com
Repleta de duplos e simetrias, e num cenário esquálido – uma estrada onde se vê apenas uma árvore, uma pedra e uma lua ocasional –, Godot nos coloca frente à incerteza e à expectativa, sempre frustrada, de que algo novo se produza. […] BECKETT, Samuel. Esperando Godot . São Paulo: Companhia das Letras, 2017. Localizável em: contracapa, § 2-3.
• Considerando essa sinopse, você se interessaria em assistir à peça? Explique sua resposta.
Respostas pessoais. Aqui o objetivo é que os estudantes consigam articular uma razão, não importa se positiva ou negativa. O que se pode comentar com eles é que a peça possibilita ao público relacionar o drama encenado com seus próprios dramas e as incertezas e expectativas que a vida produz.
4. Resposta pessoal. Professor, espera-se que os estudantes indiquem problemas relacionados a acesso à escolaridade, problemas sociais, sentimentais e familiares.
4. Enumere, considerando sua experiência pessoal, as grandes incertezas, expectativas e frustrações da vida que poderiam ser encenadas e que se relacionam com o universo dos jovens.
5. A pintura a seguir mostra uma cena teatral.
Respostas e comentários nas Orientações para o professor.
a) O que ela permite supor sobre os acontecimentos na cena?
5. a) Permite supor que o homem que está em pé matou ou feriu seriamente o que está estendido no chão, o que explicaria o desespero da mulher. Professor, explore as motivações das personagens: seria um crime por ciúme? Por vingança? Que papel cada personagem representada na pintura teria na peça?
5. b) Porque as expressões – bocas abertas, olhos arregalados, postura que exprime tensão – permitem inferir que se trata de uma cena assombrosa, que causa apreensão, medo, escândalo.
DAUMIER, Honoré.
O melodrama. [ca. 1860]. Óleo sobre tela, 97,5 cm x 90,4 cm. Nova Pinacoteca, Munique.
b) A posição corporal e as expressões faciais do público ajudam a entender a cena. Por quê?
c) Há elementos cênicos na pintura que servem para construir o ambiente que você identificou? Quais seriam eles?
d) Os acontecimentos representados são pura ficção ou podem acontecer na realidade?
Espera-se que os estudantes respondam que sim, pois episódios de assassinatos como o mostrado no quadro podem acontecer na vida real.
As peças de teatro contam com recursos que dão a essa linguagem artística o poder de chegar até os espectadores de forma diferente do que fazem a literatura, o cinema e outras produções. Essas peças são orientadas por um texto ou roteiro dramático.
Nesta unidade, você vai conhecer mais sobre essa linguagem e sobre o teatro nacional. Vai ler trechos de roteiros de algumas produções contemporâneas e do teatro do século XIX, que, por meio da comédia de costumes, lançou um olhar ao mesmo tempo crítico e bem-humorado sobre a sociedade de seu tempo.
5. c) Sim. Os gestos muito marcados das personagens; o contraste entre luz e sombra; a luz incidindo sobre a personagem feminina, cuja presença se intensifica por estar vestida de branco, cor que reflete a luz; o gesto dramático das personagens.
“O mundo é um palco e todos os homens e mulheres são na verdade atores: têm suas saídas e suas entradas e no decorrer da vida atuam em vários papéis, cada ato correspondendo a sete idades.” A fala da personagem Jaques, da peça Do jeito que você gosta , escrita pelo dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616), repete uma fórmula corrente na cultura ocidental: a de que o mundo é o palco onde os seres humanos, como atores, encenam o jogo da vida em diferentes gêneros: tragédias, comédias e farsas, dependendo dos fatores que compõem determinado contexto.
As redes sociais deixam essa ideia do mundo como palco mais evidente: os perfis virtuais fazem parte do real ou são apenas uma encenação dele? Que personagem as pessoas constroem na vida social, seja ela real ou virtual? É possível criar uma personagem de si mesmo que atue na vida? Até que ponto a máscara dessa personagem se confunde com a própria face? Nesta unidade, o teatro e a encenação da vida serão os temas que nortearão as reflexões sobre a importância da língua e dos discursos nessa construção.
Para discutir
1 Em algum momento, em sua vida social, você já teve que encenar uma situação em que tivesse de falar de si?
2 C aso você tenha perfil em uma rede social, ele é mais uma expressão real dos seus gostos ou o desejo de agradar os seguidores? E os perfis que você geralmente encontra nas redes sociais?
3 Você concorda com a fala de Jaques e a ideia de que o mundo é um palco?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Você vai ler a seguir algumas cenas do roteiro da peça de teatro O túnel, do dramaturgo baiano Dias Gomes. Publicada em 1968, só veio a ser encenada 42 anos depois, em um contexto bem diverso de sua produção original.
A ação se passa dentro de um grande túnel, onde algumas centenas de veículos provocam um terrível engarrafamento. E dão origem a uma louca e ensurdecedora sinfonia de buzinas. Os automóveis, em filas sinuosas, ocupam quase todo o espaço cênico.
Vozes — ‘Essa droga anda ou não anda?’ — ‘Passa por cima!’ — ‘Imbecil!’ — ‘Quer vender a buzina?’ — ‘Navalha!’ — ‘Olha aqui, oh!’ […]
(Entra o Homem da Mercedes. Ergue-se nas pontas dos pés e coloca a mão em pala sobre os olhos, como quem procura ver à distância. É de meia-idade, aparenta prosperidade, perfeito equilíbrio emocional. Entra o Homem do Fusca. É mais moço, magro, nervoso. E seu nervosismo oscila entre a simples irritação e o histerismo. Como o Homem da Mercedes, também se alça nas pontas dos pés e espicha o pescoço procurando ver a origem do engarrafamento.)
mão em pala: mão simulando uma viseira, para proteger da luz solar.
Homem da Mercedes — De que adianta buzinar? Não resolve…
Homem do Fusca — Mas aporrinha.
Homem da Mercedes — Adianta?
Homem do Fusca — Sei lá. Pior é ficar de braços cruzados. Não é à toa que cruzam os braços dos mortos.
Homem da Mercedes — (Consulta o relógio de pulso.) Uma hora e meia.
Homem do Fusca — O quê?
Homem da Mercedes — Faz uma hora e meia que estamos aqui.
Homem do Fusca — Pensei que fizesse mais de duas horas.
As buzinas vão diminuindo, até cessarem. Tanto o Homem do Fusca como o Homem da Mercedes vestem calças pretas, camisas brancas e gravatas pretas. Sapatos também pretos.
Homem da Mercedes — Há momentos em que é mais inteligente cruzar os braços.
Homem do Fusca — (Não escutou a observação, trepado que está no para-choque de uma Kombi para observar melhor.) Ah an?
Homem da Mercedes — Economizam-se forças. (Acende um charuto.)
Homem do Fusca — Está cada vez pior. Tem carros virados em todas as direções. Uma confusão dos diabos.
Homem da Mercedes — Por isso engarrafou. Se todos seguissem disciplinadamente, em suas filas, não teria acontecido.
Um Homem sai de dentro da Kombi, enxuga o suor da testa com um lenço e vai sentar-se no para-choque do carro. Traja-se como os outros. É mais velho que o do Fusca e mais jovem que o da Mercedes. Parece perplexo.
Homem da Mercedes — O mal é esse, ninguém quer esperar…
#SOBRE
Dias Gomes (19221999) foi um dos maiores dramatur gos do Brasil. Aos 15 anos de idade, escreveu a Comédia dos moralistas (1937), peça premiada no Concurso do Serviço Nacional de Teatro em 1939.
Fotografia do autor em 1996.
Depois de ter peças censuradas pelo Estado Novo, dedicou-se à criação de roteiros para radionovelas. Tinha como característica a construção de roteiros engajados e críticos com relação à sociedade e à política. Suas peças O pagador de promessas (1959), O bem-amado (1962) e O berço do herói (1963) fizeram muito sucesso e foram adaptadas para outras mídias. O filme O pagador de promessas, cujo roteiro ele também escreveu, conquistou a Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 1962. Além disso, Dias Gomes escreveu para a televisão as novelas Saramandaia (1976) e Roque Santeiro (1985), entre outras, além de minisséries e seriados.
Homem do Fusca — Claro. Todo mundo vai a algum lugar. Todo mundo quer chegar.
Homem da Kombi — (Balança a cabeça, incrédulo.) Incrível…
Homem da Mercedes — Minha mulher me espera para jantar, e hoje é um dia importante, nosso aniversário de casamento. Vinte e dois anos.
Homem do Fusca — (Preocupado com o engarrafamento.) É de enlouquecer!
Homem da Mercedes — É, mas o que é que o senhor quer que eu faça? Ela me deu filhos […].
Homem do Fusca — Quem?
Homem da Mercedes — Minha mulher.
Homem do Fusca— Que é que ela tem com isso?
Homem da Mercedes — Ela está me esperando para jantar. Há vinte e dois anos…
Homem da Kombi — Como é possível que isto tenha acontecido? Vínhamos tão bem… Passamos pelo aterro, trânsito desimpedido, de repente…
Homem do Fusca — Sem que nem pra quê, sem nenhuma explicação…
Homem da Kombi — Eu vinha até correndo, ouvindo rádio, na minha Kombi…
Homem do Fusca — Meu Fusca vinha a noventa.
Homem da Kombi — Subitamente… Escurece tudo, para tudo. Como se o túnel tivesse desmoronado, ou tivessem fechado as duas bocas. Nem pra frente, nem pra trás.
Homem da Mercedes — Eu sei o que aconteceu.
Homem da Kombi — Não podia ter acontecido. É um túnel largo, sempre se passou muito bem por aqui. Nunca houve um engarrafamento dentro dele. É suficiente para o volume de tráfego. Sei toda a história deste túnel e posso lhes garantir, cientificamente… Não encontro explicação.
Entra a Loura. É jovem, vistosa, alienada e desinibida. Está com uma saída de praia de cores berrantes sobre o biquíni. Usa enormes óculos escuros e tem nos braços um cãozinho de raça.
Homem do Fusca — Não há explicação.
Loura — Como é que não?
Todos se voltam para ela.
Loura — Tá na cara: mudaram a mão.
Todos — Mudaram a mão?!
Loura — A mão é pra lá, pra esquerda; mudaram pra direita. Não avisaram ninguém, não puseram nenhum sinal, entraram carros dos dois lados e se encontraram no meio do túnel. Aí deu o bolo.
Homem do Fusca — Como é que fazem uma coisa dessas!
Homem da Kombi — Sem avisar nada, sem colocar um sinal!
Homem da Mercedes — É, isso assim não está direito. O Regulamento de Trânsito…
Loura — (Interrompe.) Lá no ônibus onde eu estava ouvi dizer que o Diretor de Trânsito foi demitido. O novo foi que mudou a mão. Dizem que vai haver uma revolução no tráfego.
Homem do Fusca — Quer dizer que todos nós estávamos na contramão.
Homem da Mercedes — E vamos ser multados, ainda por cima.
Homem da Kombi — Se não cassarem nossas carteiras.
Homem do Fusca — Não podem fazer isto. Não seria justo. Nós não sabíamos da mudança da mão. A direção em que estávamos indo era a certa, antigamente. Se mudaram, deviam ter nos avisado.
Homem da Kombi — Não podiam mudar a mão… É evidente que não podiam. Não se muda assim de um golpe a direção das águas de um rio. Há leis no tráfego, há leis na natureza e há leis na História. Dialeticamente…
Homem da Mercedes — Não podiam, mas mudaram. E se mudaram é que podiam.
Homem da Kombi — Francamente, eu ainda não acredito. Não consigo acreditar.
Homem da Mercedes — Pois trate de acreditar, porque já estamos aqui há quase duas horas e não sabemos quando vamos sair.
[…]
Voz — (Pelo rádio.) Atenção, atenção! Dentro de poucos minutos, como parte das festividades com que se comemoram quatro anos de engarrafamento, o Diretor do Trânsito ocupará o nosso microfone para dirigir uma saudação aos engarrafados. Ag… (O rádio é desligado.)
[…]
Loura — (Sua cabeça aparece numa das janelas da Mercedes-Benz.) Que foi que você disse, benzinho?
Homem da Mercedes — Disse que estou louco por um café.
Loura — Eu tentei fazer hoje, pus o motor da Mercedes para funcionar, mas a água custou a ferver no radiador. Olhe, o melhor café é o daquele ‘rabo-quente’ vermelho. O Chevrolet está com gosto de ferrugem. (Sai de dentro da Mercedes, com o mesmo biquíni, a saída de praia, mas agora na mão a sua máscara contra gases.)
dialeticamente: de forma racional, porém ainda submetida a contradições e refutações.
rabo-quente: nome popular de um carro, famoso nos anos 1950.
Homem da Mercedes — Aonde você vai?
Loura — Vou à manicure do Fusca verde. […]
Carteiro — (Entra, engatinhando sobre os carros.) Carteiro! Mercedes 922.599.
1. b) Espera-se que os estudantes destaquem, na resposta, uma visão do país com base no próprio repertório e na própria vivência. Eles podem referir-se aos problemas sociais mais imediatos, aos problemas históricos do Brasil, relacionados à desigualdade, à violência etc. Espera-se, também, que destaquem aspectos positivos. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Loura — É aqui. (Toma a carta, lê o subscrito.) É para você, benzinho. (Passa a carta ao Homem da Mercedes.) Eu vou à manicure. (Sai.)
Carteiro — Tem também uma para a Kombi. (Bate no teto da Kombi.) Carteiro! […]
Homem da Kombi sai de dentro do carro, reúne-se ao do Fusca e ao da Mercedes. Os três com máscaras contra gases, abrem suas cartas.
Homem da Mercedes — É da minha mulher. Hoje faz vinte e cinco anos que nos casamos. Bodas de prata.
Homem da Kombi — Parabéns.
Homem da Mercedes — Ela me lembra que não devo chegar atrasado para o jantar. […] (Para o da Kombi.) De sua mulher?
Homem da Kombi — Não, crediário. Quatro anos sem pagar, meu nome foi incluído na lista negra da Sociedade de Proteção ao Crédito. Deixei de ser um ‘rapaz direito’.
Homem do Fusca — Puxa vida!
Homem da Mercedes — (Como se tivesse perdido um parente próximo.) Quer dizer que você perdeu o crédito!
Homem da Kombi — Nunca mais vou poder comprar à prestação.
DIAS GOMES. O túnel. In: DIAS GOMES. Os caminhos da revolução Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1991. (Coleção Dias Gomes, v. 3, p. 219-242).
1. A peça O túnel foi escrita em 1968 a pedido do diretor teatral José Celso Martinez Corrêa (1937-2023), para fazer parte de um festival de teatro com textos que responderiam à seguinte pergunta: o que você pensa do Brasil de hoje?
a) Você acha que a peça permite algum tipo de reflexão acerca do país? Com base em quais elementos conclui isso?
Espera-se que os estudantes percebam que o texto dá indícios de que o Brasil daquele momento era um lugar sem planejamento, com um governo caótico, escuro como um túnel. Um país sem saída.
b) Agora, responda você à pergunta proposta na época: o que você pensa do Brasil de hoje?
2. Escrita em 1968, a peça O túnel permaneceu censurada durante muito tempo e só foi encenada pela primeira vez em 2010, pela Cia Teatro Epigenia, no Sesc Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Faça uma pesquisa relacionada ao contexto político do Brasil em 1968 e explique o motivo dessa encenação tardia.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
O teatro, assim como as demais artes, é o resultado de um contexto histórico, das pessoas e de sua relação com a sociedade e consigo mesmas. Uma peça de teatro coloca em cena questões, problemas e reflexões que não são exclusivas daquelas personagens, mas podem ser de todos os seres humanos.
3. O t ítulo da peça dá poucas pistas em relação a seu conteúdo, mas permite formular hipóteses sobre o tema.
a) Qual hipótese você formulou? O que esperava que estivesse retratado na peça? O que pensou ao ler o título?
Respostas pessoais. Professor, oriente os estudantes a reconhecer as hipóteses que formularam. Pode ser que não tenham se dado conta das próprias expectativas.
b) A hipótese que você formulou ao ler o título se confirmou depois da leitura ou não? Explique por quê.
Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes relacionem o título com o tema da peça.
2. O ano de 1968 marcou o auge da ditadura civil-militar, com a promulgação do Ato Institucional no 5 (AI-5), que limitou os direitos dos cidadãos e intensificou a perseguição política e a tortura. Essa peça, que exprime contundente crítica social, foi censurada e só pôde ser encenada em um período em que os direitos à liberdade de expressão já estavam garantidos.
4. O que se configura como um grande absurdo é as personagens ficarem quatro anos em um engarrafamento no túnel. Professor, discuta com os estudantes o fato de que a atitude do governo de mudar a direção do tráfego sem aviso ou necessidade explícita também pode ser considerada um absurdo.
4. O túnel é uma peça teatral do chamado teatro do absurdo, que coloca no palco situações impossíveis na realidade, acontecimentos considerados absurdos no cotidiano. Identifique elementos da obra que contribuem para classificá-la como absurda.
O teatro do absurdo é um movimento teatral do século XX que busca abandonar a perspectiva realista do teatro para criar um mundo paralelo, marcado pela desolação, em que a comunicação é falha e as relações e a existência parecem desprovidas de sentido. Por meio de diálogos desconexos, personagens emblemáticas e cenários surrealistas, o movimento desafia as convenções teatrais tradicionais, enfatizando o vazio e a alienação da vida moderna.
5. Considere a descrição inicial do cenário da peça.
a) Identifique qual parte da descrição é difícil de ser representada no palco com objetos cênicos.
É difícil representar um túnel com centenas de carros engarrafados.
b) S ugira uma solução possível para a construção de um cenário que reproduza a descrição do engarrafamento.
Espera-se que os estudantes percebam que bastam alguns carros representados, mesmo que com cenários móveis, para indicar um congestionamento. Podem ser utilizadas também projeções de vídeo.
O cenário de uma peça, geralmente, é indicado no início de uma cena. No teatro, a mudança de cenário não é uma prática constante, em razão da impossibilidade de reorganização rápida de um palco durante a encenação, mas recursos tecnológicos podem viabilizar a variação na configuração do espaço. As mudanças de cenário costumam ocorrer entre atos ou por meio da inventividade do diretor e do cenógrafo
6. Uma peça de teatro pode apresentar divisões que ajudam na organização da encenação.
a) Como está dividida a peça de Dias Gomes?
Está dividida em quadros.
b) E xplique qual foi o critério utilizado para essa divisão.
A passagem do tempo é o critério utilizado para a divisão da peça em quadros.
Uma peça de teatro pode ser dividida em: cenas, que são determinadas pela entrada e pela saída de personagens; atos, que são um conjunto de cenas, e sua divisão marca mudança de cenário ou passagem de tempo; quadros, que podem ser equivalentes a cenas em peças mais longas ou a atos, em peças curtas. Todas essas divisões são acompanhadas de uma breve descrição que indica as mudanças ocorridas.
c) No início do segundo quadro da peça, não há uma descrição sobre o cenário ou a passagem de tempo. Explique como é possível saber que mudanças ocorreram do primeiro para o segundo quadro.
As mudanças são identificadas por uma voz, transmitida pelo rádio, que indica a passagem de tempo. Espera-se que os estudantes fundamental para a interpretação do ator e para o desenvolvimento da história.
7. Um dos recursos característicos do gênero texto teatral é a rubrica , isto é, a indicação das ações das personagens, do modo como devem se posicionar no palco, a quem as outras personagens devem se dirigir, como devem falar, como deve ser a iluminação, a música ou a sonoplastia, entre outros elementos da linguagem teatral.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
a) Como as rubricas foram marcadas no texto?
Entre parênteses e em itálico.
b) Copie uma rubrica no caderno e explique a importância dela para a encenação.
c) Considerando seu conhecimento de narrativas, sejam romances, contos ou crônicas, explique qual é a diferença linguística dos diálogos de um texto teatral.
As rubricas são instruções destinadas aos profissionais do teatro, destacadas por aspas ou itálico, que acompanham as falas das personagens. Elas podem incluir direções sobre a movimentação dos atores no palco, expressões faciais, gestos, tom de voz e outras nuances de atuação essenciais para trazer o texto à vida de maneira intencional e expressiva. Elas também podem detalhar aspectos do cenário, da iluminação e dos efeitos sonoros.
7. c) O texto teatral não recorre a verbos dicendi e a discursos indiretos. O discurso direto é introduzido pelo nome da personagem antes da fala. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
8. Homem da Mercedes (aparte) — … Espera-se que os estudantes entendam o perfil do Homem da Mercedes, que valoriza dinheiro, posses, e, de acordo com esse perfil, façam um comentário crítico sobre a fala do Homem da Kombi, como, por exemplo, “Coitado! Está perdido! Como alguém pode viver sem poder comprar à prestação?”; ou “Como alguém pode viver sem honrar as prestações do que comprou?” etc. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
8. Em algumas peças de teatro, as personagens podem dirigir-se diretamente à plateia, como se as demais não estivessem em cena. Esse recurso é chamado aparte ou fala à parte .
• Crie uma fala à parte do personagem Homem da Mercedes que represente seu pensamento logo depois da última fala do Homem da Kombi. A fala à parte é registrada como se fosse uma rubrica, logo depois do nome da personagem, antes da fala.
9. Uma peça de teatro é estruturada em falas que representam diálogos entre personagens colocadas em dada situação. Por isso, a linguagem é marcada pela oralidade. Isso inclui certos referentes usados em algumas frases que só podem ser compreendidos no contexto da encenação. Considerando isso, copie o organizador a seguir no caderno e complete-o.
Fala da personagem
à carta recebida pelo carteiro. à carta recebida pelo Homem da Mercedes. ao carteiro que procurava a Mercedes 922.599.
É aqui.
É pra você, benzinho.
É da minha mulher.
De sua mulher?
Refere-se
ao Homem da Kombi, que recebe carta da mulher.
10. Em determinado momento, o Homem do Fusca diz: “É de enlouquecer!”. Essa fala, no entanto, gera uma sequência de desentendimentos.
a) O que o Homem da Mercedes interpretou com base nessa fala?
Ele achou que era um comentário a respeito de seu casamento.
b) A que o Homem do Fusca se referia?
Ele se referia ao engarrafamento.
A construção de sentidos de uma peça de teatro depende tanto das falas quanto das ações das personagens. Por isso, os processos de referenciação do texto se ligam tanto à estrutura linguística do texto quanto ao seu contexto de encenação.
11. Ao final da peça, novamente o rádio reproduz uma voz:
Meus caros engarrafados. É para mim uma satisfação dirigir-lhes a palavra no dia de hoje, dia festivo para todos nós, pois com a graça de Deus, comemoramos 14 anos de bem-sucedido engarrafamento. Bem sei que foram 14 anos de sacrifícios, de duras provações. Mas, cujos frutos já começamos a colher. O número de acidentes na área do engarrafamento caiu em 93,5% superando o nosso planejamento. E o prestígio internacional do nosso Serviço de Trânsito começa a ser recuperado. Entramos agora numa nova etapa, em que o túnel será desobstruído, pouco a pouco, sob a direção de um técnico americano, especialista em desengarrafar túneis, já tendo desengarrafado vários, na Ásia e na América Latina.
DIAS GOMES. O túnel. In: DIAS GOMES. Os caminhos da revolução. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1991. (Coleção Dias Gomes, v. 3, p. 254-255).
a) A decisão de mudar a direção do tráfego teve qual objetivo?
b) Embora absurda, explique se a decisão foi eficaz.
c) Qual é a crítica que a peça faz a essa decisão?
Acabar com os acidentes no trânsito.
Foi eficaz, pois o túnel ficou 14 anos praticamente sem nenhum acidente.
Critica as medidas que o governo adota para acabar com alguns problemas, gerando outros.
d) Qual é a crítica final que a peça faz ao povo brasileiro?
Critica a maneira passiva como o povo aceita as decisões do governo, mesmo que sejam as mais absurdas.
Algumas peças de teatro, embora encenem situações absurdas previstas nos roteiros, podem referir-se a alguns aspectos e situações reais, mas que também podem ser consideradas absurdos, como nessa peça de Dias Gomes, que encena uma situação que não permite às pessoas o pleno usufruto de seus direitos. Essas cenas absurdas no palco estimulam a reflexão sobre a própria realidade e sobre novas soluções e ações para tornar a vida e a sociedade melhores.
O X DA QUESTÃO
Até o século XIX, o teatro brasileiro se resumia a poucas experiências, sem que existissem recursos para que ele se desenvolvesse, dada a inexistência de teatros e de um sistema de publicação. Com a chegada da família real e o surgimento de teatros, dramaturgos começaram a produzir roteiros teatrais no Brasil, influenciados pela estética romântica vinda da Europa.
As peças de teatro produzidas nesse período lançavam o olhar sobre a sociedade nacional que se formava, principalmente nas cidades, representando conflitos entre as elites na corte, a crescente burguesia e a população carente que vivia nas capitais e no interior. Essas peças deram origem ao teatro nacional e influenciaram toda a produção posterior, principalmente no que diz respeito às comédias.
Para lembrar
1 O Romantismo influencia profundamente a sociedade ocidental com uma nova lógica amorosa e sentimental, que se expressa na prosa e na poesia.
a) Que elemento passa a ser fundamental nos casamentos no século XIX?
Os acertos comerciais, o dote, o contrato.
b) Qual é a relação entre uma pessoa que ama e seu amado na lógica romântica?
O ser que ama é totalmente devotado ao ser amado, podendo anular-se em favor do seu grande amor.
Para discutir
1 A mulher do século XIX não tinha escolha com relação ao seu futuro. Em uma sociedade patriarcal, cabia aos homens escolher o futuro das mulheres. Quais as consequências dessa condição imposta às mulheres naquele século? Qual seria a postura que a mulher poderia assumir naquele momento, para ter alguma escolha com relação ao seu próprio futuro?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Você vai conhecer agora a peça O Judas em Sábado de Aleluia, uma comédia em um ato, ambientada na residência de José Pimenta, cabo da Guarda Nacional e pai de Chiquinha e Maricota. A narrativa inicia-se com um diálogo entre as duas irmãs enquanto as crianças preparam um boneco representando Judas para o Sábado de Aleluia. Chiquinha, a irmã mais reservada e conservadora, está ocupada costurando, enquanto Maricota passa o tempo na janela aguardando a chegada de seus pretendentes: Faustino, um soldado, e Ambrósio, capitão da Guarda Nacional. A tranquilidade do início da peça é interrompida quando Maricota recebe a visita de Faustino, que aparece para esclarecer suspeitas envolvendo outros pretendentes da moça.
Texto
1. As mulheres não podiam exercer suas vontades; sufocavam seus talentos e vocações em nome de uma convenção social que as subordinava aos homens. Para escapar dessa opressão, restava-lhes acessar a educação e, se conseguissem, burlar esses controles por meio de redes de apoio com outras mulheres ou impondo a própria vontade, mas sempre sob o risco de serem marginalizadas.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Faustino — Posso entrar?
Cena IV
Faustino e Maricota.
Maricota (voltando-se) — Quem é? Ah, pode entrar.
Faustino, entrando — Estava ali defronte na loja do barbeiro, esperando que teu pai saísse para poder ver-te, falar-te, amar-te, adorar-te, e…
Maricota — Deveras!
Faustino — Ainda duvidas? Para quem vivo eu, senão para ti? Quem está sempre presente na minha imaginação? Por quem faço eu todos os sacrifícios?
Maricota — Fale mais baixo, que a mana pode ouvir.
[…]
Faustino — Maricota…
Maricota — Fui bem desgraçada em dar meu coração a um ingrato!
Faustino (enternecido) — Maricota!
Maricota — Se eu pudesse arrancar do peito esta paixão…
Faustino — Maricota, eis-me a teus pés! (Ajoelha-se, e enquanto fala, Maricota ri-se, sem que ele veja) Necessito de toda a tua bondade para ser perdoado!
Maricota — Deixe-me.
Faustino — Queres que morra a teus pés? (Batem palmas na escada)
Maricota (assustada) — Quem será? (Faustino conserva-se de joelhos)
Capitão (na escada, dentro) — Dá licença?
Maricota ( assustada ) — É o Capitão Ambrósio! ( Para Faustino: ) Vá-se embora, vá-se embora! ( Vai para dentro, correndo)
Faustino ( levanta-se e vai atrás dela) — Então, o que é isso?… Deixou-me!… Foi-se!… E esta!… Que farei!… (Anda ao redor da sala como procurando aonde esconder-se) Não sei onde esconder-me… (Vai espiar à porta, e daí corre para a janela) Voltou, e está conversando à porta com um sujeito; mas decerto não deixa de entrar. Em boas estou metido, e daqui não… (Corre para o Judas, despe-lhe a casaca e o colete, tira-lhe as botas e o chapéu e arranca-lhe os bigodes). O que me pilhar tem talento, porque mais tenho eu. (Veste o colete e casaca sobre a sua própria roupa, calça as botas, põe o chapéu armado e arranja os bigodes. Feito isto, esconde o corpo do Judas em uma das gavetas da cômoda, onde também esconde o próprio chapéu, e toma o lugar do judas). Agora pode vir… (Batem) Ei-lo! (Batem) Aí vem!
Cena V
O Judas em Sábado de Aleluia, de Martins Pena, 1846. Rio de Janeiro (RJ), 2016.
#SOBRE
Martins Pena (1815-1848) foi um dos mais importantes dramaturgos brasileiros do século XIX, conhecido por suas comédias de costumes que retratavam, de forma satírica, a sociedade brasileira da época. Suas peças exploravam temas como as diferenças sociais, os hábitos da elite e da classe média, além de críticas às instituições e aos valores morais vigentes. Com um estilo ágil e bem-humorado, Martins Pena utilizava diálogos afiados e situações cômicas para evidenciar as contradições e hipocrisias da sociedade, contribuindo significativamente para o desenvolvimento do teatro nacional e deixando um legado duradouro na cultura brasileira. Destacam-se em sua produção as peças O juiz de paz na roça (1842), As desgraças de uma criança (1845), O Judas em Sábado de Aleluia (1846), O noviço (1853) e Os dois ou o inglês maquinista (1871).
Capitão e Faustino, no lugar do Judas.
Capitão (entrando) — Não há ninguém em casa? Ou estão todos surdos? Já bati palmas duas vezes, e nada de novo! (Tira a barretina e a põe sobre a mesa, e assenta-se na cadeira) Esperarei. (Olha ao redor de si, dá com os olhos no Judas; supõe à primeira vista ser um homem, e levanta-se rapidamente) Quem é? (Reconhecendo que é um Judas:) Ora, ora, ora! E não me enganei com o Judas, pensando que era um homem? Oh, ah, está um figurão! E o mais é que está tão bem-feito que parece vivo. (Assenta-se) Aonde está esta gente? Preciso falar com o cabo José Pimenta e… Ver a filha. Não seria mau que ele estivesse em casa; desejo ter certas explicações com a Maricota. (Aqui aparece na porta da direita Maricota, que espreita, receosa. O Capitão a vê e levanta-se) Ah!
Maricota e os mesmos.
Maricota (entrando, sempre receosa e olhando para todos os lados) — Sr. Capitão!
Capitão (chegando-se para ela) — Desejei ver-te, e a fortuna ajudou-me. (Pegando-lhe na mão) Mas que tens? Estás receosa! Teu pai?
Maricota (receosa) — Saiu.
Capitão — Que temes então?
Maricota (adianta-se e como que procura um objeto com os olhos pelos cantos da sala) — Eu? Nada. Estou procurando o gato…
Capitão (largando-lhe a mão) — O gato? E por causa do gato recebe-me com esta indiferença?
Maricota (à parte) — Saiu. (Para o Capitão) Ainda em cima zanga-se comigo! Por sua causa é que eu estou nestes sustos.
[…]
Capitão — Então?
Maricota — Lembra-se…
Capitão — De quê?
Maricota — Da… Da… Daquela carta que escreveu-me anteontem em que me aconselhava que fugisse da casa de meu pai para a sua?
Capitão — E o que tem?
Maricota — Guardei-a na gavetinha do meu espelho, e como a deixasse aberta, o gato, brincando, sacou-me a carta; porque ele tem esse costume…
Capitão — Oh, mas isso não é graça! Procuremos o gato. A carta estava assinada e pode comprometer-me. É a última vez que tal me acontece! (Puxa a espada e principia a procurar o gato)
Maricota (à parte, enquanto o Capitão procura) — Puxa a espada! Estou arrependida de ter dado a corda a este tolo. (O Capitão procura o gato atrás de Faustino, que está imóvel; passa por diante e continua a procurá-lo. Logo que volta as costas a Faustino, este mia. O Capitão volta para trás repentinamente. Maricota surpreende-se)
Capitão — Miou!
Maricota — Miou?!
Capitão — Está por aqui mesmo. (Procura)
Maricota (à parte) — É singular! Em casa não temos gato!
[…]
Capitão — Que o leve o demo! (Para Maricota!) Mas procure-o bem até que o ache, para arrancar-lhe a carta. Podem-na achar, e isso não me convém. (Esquece-se de embainhar a espada) Sobre esta mesma carta desejava eu falar-te.
Maricota — Recebeu minha resposta?
Capitão — Recebi, e a tenho aqui comigo. Mandaste-me dizer que estavas pronta a fugir para minha casa; mas que esperavas primeiro poder arranjar parte do dinheiro que teu pai está ajuntando, para te safares com ele. Isto não me convém. Não está nos meus princípios. Um moço pode roubar uma moça — é uma rapaziada; mas dinheiro… É uma ação infame!
Maricota (à parte) — Tolo!
PENA, Martins. O Judas em Sábado de Aleluia . Belém: Unama: Nead, [200-]. E-book. p. 6-10. Disponível em: www.portugues.seed.pr.gov.br/arquivos/File/leit_online/martins_pena4.pdf. Acesso em: 5 set. 2024.
1. L eia a seguir um trecho que explica o que é o costume de malhação do Judas.
A malhação do Judas, ou ‘queimação do Judas’, é uma prática da Semana Santa, na qual grupos de crianças, jovens e adultos confeccionam um boneco a partir de materiais diversos e aguardam a meia-noite do Sábado de Aleluia para fazer a imolação, através de uma surra dada a este boneco, reconhecido como o Judas Iscariotes. […]
MENDES, Andreia Regina Moura. A malhação do Judas: rito e identidade. 2007. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) –Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2007. p. 9. Disponível em: https:// repositorio.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/12252/1/MalhacaoJudasRito_Mendes_2007.pdf. Acesso em: 9 set. 2024.
Segundo a tradição cristã, Judas Iscariotes foi o apóstolo que denunciou Cristo para ser aprisionado e crucificado pelos romanos; é simbolizado por um boneco e malhado todo Sábado de Aleluia.
a) De que forma essa tradição brasileira é evidenciada no roteiro da peça?
b) Qual é a importância do boneco de Judas para o enredo da peça?
1. a) A referência à malhação de Judas se dá pela presença do próprio boneco caído no chão da sala. O boneco de Judas é importante para que Faustino possa se esconder do capitão.
2. Leia o trecho a seguir, que trata das relações familiares no século XIX.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
As mulheres […] viviam aprisionadas, atrás das rótulas e das portas, na solidão melancólica de seus gineceus, onde estranho algum podia penetrar e donde geralmente não saíam à rua senão para as festas de igrejas. […] A situação tradicional de inferioridade em que a colocaram os costumes e as leis, a ausência de vida social e mundana e a falta quase absoluta de instrução (pois raramente aprendiam a ler e escrever) davam-lhes essa timidez e reserva habituais que as faziam corar ao serem surpreendidas por estranhos ou as deixavam desconcertadas diante de hóspedes e forasteiros. Pois nesse domínio quase inviolável da casa-grande, em que toda a autoridade se concentrava no páter-famílias, e tanto os escravos como os filhos e ainda a mulher eram conservados numa distância de inferioridade e de subordinação, variável conforme a idade e a condição social, não tardou o jesuíta a penetrar, quebrando, em proveito da Igreja, pela influência que exerceu sobre a mulher e sobre os filhos, a força discricionária dos senhores de engenho.
páter-famílias: chefe de família, na Roma antiga. Por extensão, o chefe da família patriarcal.
AZEVEDO, Fernando de. A cultura brasileira . 6. ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; Brasília, DF: Editora UnB, 1996. p. 504.
a) O t recho revela um tipo de comportamento típico das jovens mulheres no século XIX. Que comportamento era esse?
As jovens mulheres eram tímidas e reservadas em razão da falta de contato social e de poucos conhecimentos relacionados à escrita e à leitura.
b) E xplique de que maneira o comportamento da personagem Maricota se afasta dessa lógica do comportamento feminino.
Maricota, ao contrário da imagem de timidez e recato, é articulada e manipula seus pretendentes de acordo com seus interesses.
c) Maricota é uma personagem que rompe com algumas tradições de construção de personagens do Romantismo. Explique de que maneira Maricota se afasta do ideal de mulher romântica.
d) De que forma o poder patriarcal fica evidenciado no trecho?
A comédia de costumes, no Romantismo brasileiro, explora as hipocrisias sociais, os modismos e as relações familiares do Brasil imperial, revelando vícios e virtudes por meio da representação das personagens, que são, por vezes, tipos sociais caricatos.
3. Releia o trecho a seguir.
2. c) Maricota não é uma mulher frágil e debilitada que vive à espera de ser salva por um homem. Também não parece ser pura e inocente, pelo contrário, manipula os personagens masculinos da peça.
Faustino — Maricota… Maricota — Fui bem desgraçada em dar meu coração a um ingrato!
Faustino (enternecido) — Maricota!
2. d) O poder patriarcal fica evidenciado quando o Capitão se desespera com o suposto sumiço da carta, que poderia comprometê-lo, já que ele propunha uma fuga com Maricota. Além disso, na “cena V”, fica claro que ele queria falar com o pai da jovem, outra evidência do poder patriarcal.
4. a) Maricota, ao ser pressionada a dar uma resposta ao Capitão, inventa que procura um gato e que este havia roubado a carta escrita por ele, colocando-o à procura do animal.
Maricota — Se eu pudesse arrancar do peito esta paixão… Faustino — Maricota, eis-me a teus pés! (Ajoelha-se, e enquanto fala, Maricota ri-se, sem que ele veja) Necessito de toda a tua bondade para ser perdoado!
a) Que elemento desse trecho comprova o comportamento manipulador de Maricota?
b) D e que forma devem ser interpretadas as falas de Maricota nesse trecho? Copie no caderno a alternativa correta.
A rubrica indicando que Maricota ri dos excessos de Faustino. ironia
5. b) Ocorre quando o Capitão se assusta com o boneco de Judas, que era, na verdade, Faustino.
arrependimento – ironia – agressividade – paixão – tristeza
c) Em dupla com um colega, releiam o trecho em voz alta de maneira a garantir o sentido das falas de Maricota e Faustino.
4. Depois de interagir com Faustino, Maricota interage com o Capitão.
Professor, oriente os estudantes a reler a fala de Faustino, com uma emotividade exagerada e até mesmo falsa, e a fala de Maricota, com uma emotividade irônica e debochada. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
a) E xplique de que forma Maricota demonstra uma rápida dissimulação e inteligência para lidar com as propostas e exigências do Capitão.
b) Na cena em que Maricota interage com o Capitão, alguns recursos garantem que o espectador saiba o que ela pensa. Copie, no caderno, a alternativa que evidencia esses recursos.
Resposta: alternativa II
I. Ma ricota foge do capitão e posiciona-se longe dele no palco, deixando clara a sua repulsa por ele.
II. A lém de as rubricas indicarem receio, também incluem falas à parte em que a personagem fala para plateia o que sente.
III. Ma ricota revela o que sente por meio de suas ações e falas, que registram a forma como os atores devem interpretar as personagens.
IV. Ma ricota mostra-se insegura com o Capitão por medo de que ele reconheça o seu amor pelo pretendente.
5. Quando o Capitão chega à casa de Maricota, encerra-se a interação entre Faustino e a jovem.
a) Que solução Faustino encontra para escapar do Capitão?
Faustino tira as roupas do boneco de Judas e as veste, fingindo ser o boneco.
b) D e que forma ocorre a primeira interação entre Faustino e o Capitão na peça?
Inspiração
A commedia dell’arte, originária da Itália do século XVI, é uma forma de teatro caracterizada por improvisação e pelo uso de máscaras. O estilo performático, com gestos amplos e uma expressividade que transcende o cotidiano, cria uma realidade amplificada que critica as normas sociais e políticas e delas debocha. O exagero de algumas situações permite a criação de um espaço de fantasia que reflete e distorce a realidade de maneira lúdica e crítica.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
6. A peça de Martins Pena é uma comédia que se inspira nos enredos da commedia dell’arte italiana, gênero dramático famoso por histórias exageradas e cheias de desencontros que ocorrem, geralmente, com os personagens Arlequim, Pierrô e Colombina.
a) Que elemento dessa peça pode ser considerado exagerado?
b) Que ações ocorrem relacionadas ao boneco de Judas e que reforçam o caráter debochado da peça?
[SEM TÍTULO]. [Entre os séculos XVI e XVIII].
1 gravura. Comediantes de uma trupe de commedia dell’arte representam em um palco. A commedia dell’arte apresentava personagens mascarados e teve enorme influência na comédia e na atuação ao longo de sua época.
6. a) O exagero ocorre quando o Capitão olha para o boneco de Judas e não reconhece que era, na verdade, um ser humano real vestido com as roupas de Judas e um bigode falso.
6. b) Traços de deboche podem ser observados quando o Capitão procura pelo gato e interage com o boneco, que, por sua vez, brinca e engana o Capitão ao miar.
7. b) Essa descrição é fundamental para todos os profissionais envolvidos na peça, mas principalmente para o diretor, o cenografista e o figurinista, responsáveis por compor o cenário e o boneco.
7. O trecho a seguir descreve a cena inicial da peça. Sala em casa de José Pimenta. Porta no fundo, à direita, e à esquerda uma janela; além da porta da direita uma cômoda de jacarandá, sobre a qual estará uma manga de vidro e dous castiçais de casquinha. Cadeiras e mesa. Ao levantar do pano, a cena estará distribuída da seguinte maneira: Chiquinha sentada junto à mesa, cosendo; Maricota à janela; e no fundo da sala, à direita da porta, um grupo de quatro meninos e dous moleques acabam de aprontar um Judas, o qual estará apoiado à parede. Serão os seus trajes casaca de corte, de veludo, colete idem, botas de montar, chapéu armado com penacho escarlate (tudo muito usado), longos bigodes etc. Os meninos e moleques saltam de contentes ao redor do Judas e fazem grande algazarra.
PENA, Martins. O Judas em Sábado de Aleluia . Belém: Unama: Nead, [200-]. E-book. p. 2. Disponível em: www.portugues.seed.pr.gov.br/arquivos/File/leit_online/martins_pena4.pdf. Acesso em: 5 set. 2024.
a) Que elementos da cena são fundamentais no palco para garantir a construção do conflito presente no trecho reproduzido da peça?
Devem estar no palco o boneco, com as roupas indicadas, e as cadeiras próximas a uma mesa, onde vão se sentar o Capitão e Maricota.
b) A quem interessa essa descrição de cena antes da encenação da peça?
HIPERlINK
Um autor à frente de seu tempo
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Qorpo Santo (1829-1883), pseudônimo de José Joaquim de Campos Leão, é uma figura enigmática na literatura brasileira pelo caráter inovador e vanguardista de suas obras. Dramaturgo, poeta e jornalista, escreveu peças marcadas por uma forte tendência ao absurdo e ao surreal, explorando temas como a loucura, a crítica social e a desconstrução da linguagem. Ele escreveu uma série de peças, que incluem títulos como As relações naturais, Hoje sou um; e amanhã outro e Mateus e Mateusa, todas de 1866. Essas obras foram consideradas tão fora dos padrões da época que Qorpo Santo chegou a ser internado em um hospício, sob a alegação de insanidade.
Apenas no século XX, suas peças foram redescobertas e passaram a ser vistas como precursoras do teatro do absurdo. Qorpo Santo é hoje celebrado como um inovador e visionário na literatura brasileira, cujas obras desafiaram as convenções de seu tempo e abriram novos caminhos para a dramaturgia no país.
Agora é sua vez de conhecer mais da obra desse autor gaúcho. Pesquise na internet as peças a seguir.
• Mateus e Mateusa
• Hóspede atrevido ou o brilhante escondido
• Eu sou a vida; eu não sou a morte
• Marido extremoso
• Certa identidade em busca de outra
Leia uma delas e selecione um diálogo para apresentar para a turma, identificando as características absurdas da obra, bem como os possíveis diálogos que trava com o Romantismo e com a comédia de costumes do século XIX.
Cena da peça Miscelania Qurioza, do Santo Qoletivo, sobre a Porto Alegre de Qorpo Santo, em 2018.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
O corpo do ator é seu meio de expressão, faz parte da linguagem de toda encenação. Em algumas vertentes do teatro, como a commedia dell’arte, além de produzir sentido expressivo, o corpo é chamado a produzir movimentos que estabelecem interessante conexão com a Educação Física.
A agilidade em manobras por vezes acrobáticas e a expressão corporal, facial e gestual dos atores pedem um treinamento físico que enfatize a coordenação, o controle do corpo, a flexibilidade e a resistência. O uso de tais recursos pode ser uma escolha do diretor, ou pode vir indicado no próprio roteiro, nas rubricas. Essas habilidades são exercitadas na Educação Física, que visa desenvolver e potencializar o corpo e suas capacidades. Além disso, a inclusão de elementos teatrais no treinamento físico pode enriquecer as aulas e, ao mesmo tempo, promover uma consciência corporal mais profunda, essencial tanto para o teatro quanto para o desenvolvimento do ser humano em seu cotidiano.
Leia, a seguir, o trecho de um artigo abordando a importância do corpo para a commedia dell’arte. O ator de commedia dell’arte devia ser capaz de fazer contorções, piruetas, cambalhotas, saltos mortais. (Um ator incapaz dessas artes estaria praticamente impossibilitado de representar o Arlequim servidor de dois amos, de Goldoni.
VENDRAMINI, José Eduardo. A commedia dell’arte e sua reoperacionalização. Trans/Form/Ação, São Paulo, ano 24, n. 1, p. 57-83, 2001. p. 61. Disponível em: www.scielo.br/j/trans/a/qBz5xQFNwJxsyd6XB379nrb/?format=pdf. Acesso em: 5 set. 2024.
FOSSARD, Recueil. Italian commedia dell’arte. Século XVIII. 2 gravuras.
Nessas imagens, fica evidente como os atores precisam ter preparo físico para a interpretação de personagens como o Arlequim, na commedia dell’arte Sabendo disso, você irá propor indicações de corpo para serem inseridas no trecho que leu da peça O Judas em Sábado de Aleluia. Você deverá, primeiramente, saber o nome dos movimentos que se relacionam à ginástica artística para, então, propor alguns deles nas rubricas.
1. Pesquise o nome dos movimentos da ginástica artística e suas características.
2. Escolha três movimentos que possam ser realizados e inseridos na peça.
Não escreva no livro.
3. Os movimentos devem produzir um sentido na peça – de humor, de ênfase, ou outro sentido que seja importante para a cena.
4. Em um dia específico marcado pelo professor, compartilhe as rubricas que produziu com os colegas e explique em que lugar do texto elas se inserem. Você poderá, ainda, encenar o roteiro reescrito.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Durante o período colonial , as representações teatrais eram majoritariamente religiosas e didáticas , utilizadas pela Igreja Católica como meio de catequese e ensino moral. O padre jesuíta espanhol José de Anchieta (1534-1597), por exemplo, recorria ao teatro, no século XVI, para catequizar os indígenas, em peças como Auto da festa do Natal (1561), Auto da festa de São Lourenço (1583) e Auto de São Sebastião (1584). Já no século XVIII, mais receptivo aos discursos racionalistas, herança do Iluminismo, destaca-se a obra do dramaturgo luso-brasileiro
CALIXTO, Benedito. Anchieta e Nóbrega na cabana de Pindobuçu. 1927. Óleo sobre tela, 42 cm × 65,5 cm. Museu do Ipiranga, São Paulo (SP).
Antônio José da Silva (1705-1739), o Judeu, com as comédias D. Quixote de la Mancha e do gordo Sancho Pança (1733), Os encantos de Medeia (1735), Anfitrião ou Júpiter e Alcmena (1736) e Guerras do Alecrim e da Manjerona (1737), que trazem releituras de peças tradicionais da Antiguidade e referências ao Classicismo.
No entanto, com a chegada da corte portuguesa ao Rio de Janeiro, em 1808, essa arte ganhou novas dimensões, com a construção de teatros e a introdução de companhias de ópera e drama europeias. Nessa época, ocorreu também o nascimento de uma literatura dramática mais secular e profana, ainda que fortemente inspirada nos modelos clássicos europeus. Essa fase preparatória foi crucial para o desenvolvimento de uma cena teatral mais robusta e diversificada, que mais tarde absorveria e recriaria influências românticas para expressar os ideais e sentimentos nacionais emergentes no Brasil do século XIX.
A chegada da família real portuguesa ao Brasil foi um marco decisivo para o florescimento cultural do país, especialmente em relação ao teatro. O Rio de Janeiro transformou-se para oferecer à nobreza uma vida cultural que reproduzisse a Europa. D. João VI, buscando consolidar seu poder e desenvolver a nova capital do Império, incentivou a construção de teatros, a formação de companhias teatrais e a realização regular de espetáculos, que antes eram esporádicos e limitados
DEBRET, Jean-Baptiste. Vista do Teatro Real de São João. [ca. 1834]. Litografia sobre papel, 9,7 cm x 29,2 cm. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro (RJ).
principalmente a eventos religiosos. O Real Theatro São João foi o primeiro grande teatro construído no Brasil, no Rio de Janeiro, em 1813; depois, foi rebatizado várias vezes: Imperial Theatro de São Pedro de Alcântara (1826); Theatro Constitucional Fluminense (1831); Theatro de São Pedro de Alcântara (1839) e, finalmente, Teatro João Caetano (1923).
No século XIX, o teatro experimentou uma notável revitalização impulsionada pela ascensão da burguesia, que emergia como uma nova classe social influente em decorrência da Revolução Industrial. Com o aumento da riqueza e do tempo de lazer, a burguesia buscava formas de entretenimento que refletissem seus valores, aspirações e sensibilidades. Esse cenário proporcionou o florescimento de novos gêneros teatrais, como o melodrama e a comédia de costumes, que abordavam temas contemporâneos, voltados a questões morais, familiares e sociais típicas da vida burguesa. Além disso, a expansão urbana facilitou o acesso a teatros mais sofisticados e a criação de uma infraestrutura cultural que incluía teatros permanentes, bem como permitiu a profissionalização dos atores de teatro.
Ópera Nacional de Paris, na França. Fotografia de 2009.
Em 1860, o ator João Caetano (1808-1863), depois de uma temporada de estudos na França, retornou ao Brasil para criar um novo cenário nas artes dramáticas nacionais. Para isso, fundou uma escola de arte dramática gratuita no Rio de Janeiro e uma premiação nacional, que iria pautar a interpretação brasileira. A iniciativa levou ao desenvolvimento de técnicas de representação que iam além da recitação do texto teatral. A proposta de João Caetano era imitar, e não igualar a natureza, isto é, cabia ao ator uma representação natural no palco, com uma declamação expressiva acompanhada de inflexões e tons adequados a cada personagem e a cada cena.
JOÃO Caetano do Santos, no Othello de Ducis. [ca. 1838]. In: BRAZIL-THEATRO: repertório dramático de autores nacionais e estrangeiros, Rio de Janeiro, v. 2, p. 421, 1903-1904. Gravura n. 4.
Figurino e cenário são fundamentais para a ambientação da cena. O mistério de Irma Vap, de Charles Ludlam, 1984. São Paulo (SP), 1994.
O espetáculo, que é uma adaptação da Broadway, tem cenários, coreografias, iluminação e sonoplastia grandiosos e representa uma vertente do teatro de muito sucesso entre o público, o musical. Alguma coisa podre, de John O’Farrell e Karey Kirkpatrick, 2015. São Paulo (SP), 2023.
O teatro romântico no Brasil surgiu em meados do século XIX e representou uma mudança significativa na forma de fazer teatro no país. Esse movimento coincidiu com um período de intensa transformação social e política no Brasil, incluindo a chegada da família real e a posterior Independência, em 1822, o que favoreceu a busca por formas artísticas que expressassem a identidade e os sentimentos nacionais do país que nascia.
Nos roteiros e nos palcos, o teatro romântico se traduziu em peças que exploravam temas históricos, dramas familiares e conflitos amorosos marcados pela idealização dos protagonistas. Além disso, houve uma forte inclinação para a idealização da natureza e do ambiente urbano brasileiro, elementos até então pouco explorados no teatro.
Dentro do teatro romântico, a comédia de costumes emergiu como um gênero particularmente popular e influente. Caracterizada por uma sátira afiada da sociedade, esse tipo de comédia representava criticamente a burguesia e a aristocracia brasileira da época. Por meio do humor e da ironia, essas peças destacavam contradições sociais e comportamentos considerados hipócritas ou ridículos, servindo como um espelho crítico da sociedade.
Dentre os principais autores do teatro romântico brasileiro, Martins Pena se destaca, especialmente no que diz respeito à comédia de costumes. Outros autores, no entanto, merecem atenção: Gonçalves de Magalhães (1811-1882), com Antônio José ou O poeta e a Inquisição (1838); Castro Alves (1847-1871), com Gonzaga ou A revolução de Minas (1867); Gonçalves Dias (1823-1864), com Leonor de Mendonça (1846); Álvares de Azevedo (1831-1852), com Macário (1852); e Machado de Assis (1839-1908), com O protocolo (1862). Machado, embora com maior influência do Realismo, criou peças de inspiração romântica.
O teatro romântico, especialmente da comédia de costumes, deixou um legado que se estende ao teatro contemporâneo e à televisão, dois universos ricamente explorados por Dias
Gomes, autor de O túnel, de que você leu um trecho. As observações sociais e sátiras à moral e aos comportamentos da época da comédia de costumes pavimentaram o caminho para o desenvolvimento de gêneros modernos como o sitcom e o drama cômico, que exploram as peculiaridades e os conflitos das relações humanas em contextos familiares e sociais. No Brasil, a influência é particularmente visível em programas de TV e peças de teatro, que satirizam a política, a família e as dinâmicas sociais, utilizando o humor como ferramenta para a crítica e a reflexão, provando que, mesmo séculos após sua concepção, a comédia de costumes continua a ser um espelho eficaz da sociedade.
O teatro escrito
A escrita do texto dramático projeta sempre sua encenação: é no palco que ele realiza seu propósito. Por isso, esse gênero é marcado pelos recursos que você identificou e analisou nesta unidade.
A orientação para a encenação foi mudando ao longo do tempo. O teatro clássico, que nasceu na Grécia no século VI a.C. e atingiu seu apogeu no século V a.C. com a encenação das tragédias de Sófocles (497 a.C.-406 a.C.), Eurípides (484 a.C.-406 a.C.) e Ésquilo (525 a.C.-456 a.C.), seguia a regra das três unidades: de tempo, de ação e de espaço. As tragédias não deviam abarcar um intervalo superior a 24 horas; a ação devia centrar-se em um só conflito; e a peça devia ocorrer em um único lugar, conforme teorizou o filósofo Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.). Eram encenadas durante festas religiosas e cumpriam uma função social importante. A sociedade estava representada por um coro, que reagia durante a encenação fazendo parte dela.
A regra das três unidades sobreviveu até o século XIX, tendo orientado as peças de Shakespeare no século XVI e a releitura dos clássicos feita pelos franceses no século XVII. No século XIX, o Romantismo quebra esse paradigma e abre o teatro a novas experiências.
Com isso, novas orientações foram incluídas nas peças. As rubricas de peças clássicas se concentravam na marcação da personagem a que pertence cada fala, na descrição do espaço e na movimentação básica das personagens.
Peças mais atuais contam com recursos tecnológicos que incluem iluminação, sonoplastia, movimento do palco, mudança de cenário, entre outros. A possibilidade de ampliar tempo, ação e espaço também estimulou a imaginação dos dramaturgos, que passaram a explorar, por exemplo, planos diversos para ações que ocorrem ao mesmo tempo, digressões das personagens, além de efeitos dramáticos que articulam luz, som e fala, por exemplo. Assim, as rubricas também se multiplicaram nos textos a partir do Romantismo.
Para pesquisar
1. Sob orientação do professor, organize-se com mais dois colegas para pesquisar uma peça clássica e uma peça brasileira do século XX. Procure na biblioteca da escola ou em sites na internet.
2. Escolhidas as peças, pesquisem informações sobre cada uma delas: autor, quando foi escrita, qual a temática e os fatos básicos do enredo.
3. Observem a marcação das rubricas: o que prevê cada uma? Que tipo de encenação essas rubricas orientam? Que diferença há entre elas?
4. Você e os colegas irão apresentar essa pesquisa à classe. Com base na apresentação, a classe pode escolher uma peça para ser lida pelo grupo.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor. Professor, oriente os estudantes a buscar obras do teatro grego, como Édipo Rei, Fedra, As Eumênides, entre outras possibilidades, ou peças de Shakespeare (século XVI) ou de Racine, Molière, Corneille (século XVII) – clássicos da literatura universal. Dentre os modernos brasileiros, peças como Vestido de noiva, de Nelson Rodrigues, O pagador de promessas, de Dias Gomes, Rasga coração, de Oduvaldo Viana Filho, ou de grupos como Os sátiros são algumas sugestões. Há trechos delas na internet.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
O teatro é uma arte que pode atuar de diferentes formas no espectador e no leitor, sendo uma forma de diversão, de reflexão, de (re)conhecimento. A montagem de um texto dramático no palco envolve o trabalho de muitos profissionais. O diretor-geral, o diretor de arte, de iluminação, de figurino, o sonoplasta, os contrarregras, os atores.
Certos gêneros que circulam no campo jornalístico informam sobre peças em cartaz e alguns deles apresentam uma avaliação crítica dos espetáculos. Essa avaliação pode determinar qual peça terá maior ou menor sucesso de público.
Esses textos críticos não se restringem ao teatro e podem apresentar avaliações de outras produções artísticas em diferentes linguagens, como cinema, exposições etc.
Para discutir
É muito provável que você já tenha assistido a filmes, séries, peças de teatro, ouviu álbuns de música, leu livros e quadrinhos. Para cada uma dessas produções, inevitavelmente, você pode emitir uma opinião, nem que seja se gostou ou não.
1 Qual foi a última obra artística que você ouviu, leu ou a que assistiu?
2 Você gostou dessa obra? Por quê?
3 Você já foi influenciado a consumir alguma arte por causa da avaliação de alguém? O que convenceu você no discurso dessa pessoa?
Você vai ler a seguir uma resenha sobre a primeira encenação da peça O túnel, de Dias Gomes. Essa resenha foi publicada no jornal A Voz da Serra, da região de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro.
O túnel, de Dias Gomes, no palco do Sania Cosmelli
Texto curto de Dias Gomes, O túnel foi levado aos palcos pela primeira vez em novembro passado, durante a Festa Internacional de Teatro de Angra (Fita), onde culminou numa explosão de aplausos de uma plateia que se encontrava de pé. A peça poderá ser conferida nesta quarta e quinta-feira, 16 e 17, no Teatro Sania Cosmelli, às 20h em ambos os dias, encerrando as atividades culturais deste ano do Colégio Nossa Senhora das Dores (CNSD). Ingressos a R$ 10 e R$ 20.
Trabalho menos conhecido do autor de O pagador de promessas, O bem-amado e Roque Santeiro, o espetáculo é ambientado num túnel de ligação que engarrafa repentinamente, deixando os motoristas presos, obrigando-os a conviver uns com os outros durante algumas horas. O túnel conta com os atores Pedro Pires, Rafael D’Avila, Maria Clara Wermelinger, Vinícius Cattani, Rodolfo Cattani e Gustavo Paso, que também assina a adaptação e direção do espetáculo, produzido pela Cia. Teatro Epigenia, da qual também é diretor.
Os créditos do texto, no entanto, não vão apenas para Dias Gomes: Par Lagervitz também é creditado por ter escrito uma peça homônima, descoberta durante o período de pesquisas da companhia teatral, que também trata de trazer à tona um universo absurdo; assim, ambas as peças se comunicam de forma especial, complementando-se segundo a adaptação feita por Paso, que em 2007 emplacou com o espetáculo Ariano, em homenagem a Ariano Suassuna, eleito pela revista Bravo! como um dos melhores espetáculos em cartaz na cidade de São Paulo, além de receber no Rio de Janeiro o prêmio O Globo Indica. Em 2008 ele repetiu o sucesso com Alzira Power, do poeta Antonio Bivar. Seu novo trabalho, O túnel, breve farsa alegórica escrita em 1968, ocupa posição singular no conjunto da obra de Dias Gomes, com pouco mais de uma hora de duração, revelando algumas facetas do pensamento e da trajetória dramatúrgica do autor, que não se evidenciam tão claramente em outras peças mais conhecidas. 14 anos (menores de 18 anos devem estar acompanhados dos pais ou responsáveis).
O TÚNEL, de Dias Gomes, no palco de Sania Cosmelli. A Voz da Serra, Nova Friburgo, 16 dez. 2009. Disponível em: http://acervo.avozdaserra. com.br/noticias/o-tunel-de-dias-gomes-no-palco-do-sania-cosmelli. Acesso em: 5 set. 2024.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1. A resenha que você leu sobre a peça de Dias Gomes data do contexto de sua primeira encenação.
a) Qual é a importância da divulgação de críticas sobre peças de teatro na esfera jornalística?
Fazer a divulgação da peça e destacar eventuais motivos que poderão levar o público ao teatro.
b) Como a resenha pode atuar de forma negativa para o sucesso de uma peça de teatro?
Caso a avaliação do crítico seja ruim, pode fazer com que o público opte por outra alternativa de lazer.
Resenha é um gênero que consiste na apresentação e na avaliação crítica de uma obra artística. O público leitor de resenhas é composto de pessoas que pretendem conhecer mais sobre uma obra antes ou depois de consumi-la, de tal forma que podem atuar de forma ativa para aumentar ou diminuir o público de uma produção.
2. Toda resenha de teatro, bem como de outras produções artísticas, apresenta avaliações positivas ou negativas sustentadas em critérios específicos.
a) Que avaliação a resenha faz da encenação de O túnel?
A resenha avalia de forma positiva a encenação, embora não verbalize isso de forma objetiva.
b) A resenha sustenta-se mais na encenação da peça ou no seu roteiro? Justifique.
Grande parte da resenha dedica-se mais a apresentar informações sobre o roteiro do que a avaliar a adaptação em si.
Toda resenha deve se pautar por critérios objetivos para que seja desenvolvida uma avaliação consistente. Esses critérios devem considerar tanto o conhecimento técnico sobre a obra, sobre a montagem teatral, quanto o modo como ela pode afetar o público. Resenhas que não adotam critérios próprios da linguagem que avaliam apenas emitem opiniões com base em gostos pessoais e perdem força e credibilidade.
3. a) A resenha apresenta uma sinopse limitada e até mesmo equivocada: os personagens não ficam presos apenas por algumas horas no túnel.
3. Toda resenha deve apresentar uma sinopse da obra resenhada.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
a) A sinopse apresentada na resenha aqui transcrita é satisfatória? Por quê?
b) Considerando sua leitura e conhecimento sobre a peça, elabore uma sinopse que apresente o enredo e que, ao mesmo tempo, desperte a curiosidade do leitor.
As resenhas, embora apresentem uma sinopse da obra resenhada, não se confundem com um mero resumo. Os resumos apresentam apenas as informações sobre um texto original de forma condensada, enquanto as resenhas apresentam o enredo básico de uma produção artística e também uma avaliação que se sustenta em argumentos.
3. b) Sugestão de resposta: A peça O túnel cria uma situação absurda, fantástica: vários personagens ficam presos no engarrafamento em um túnel, acabam passando muito mais tempo do que imaginariam nessa condição e têm de criar uma nova lógica de vida. A situação os obriga a uma convivência que revela muito das relações que podem ser identificadas em nossa sociedade.
4. c) Respostas pessoais. Professor, espera-se que os estudantes tenham dúvidas ou não saibam responder à atividade 4. Seria interessante fazer um uso produtivo dessa dúvida explorando as características dos nomes a que se relacionam: de obras completas liga-se, por meio de preposição, a um substantivo abstrato (edição) derivado de um verbo (editar), como são todos os substantivos que exprimem ação; trata-se de um nome transitivo, cujo sentido se completa com o CN. Já a expressão do autor está ligada a um substantivo primitivo (obras), que designa objeto e funciona como adjetivo desse nome, cumprindo, nesse caso, a função de adjunto adnominal. Se achar oportuno, mostre também que o verbo editar (que dá
Leia um trecho da resenha da peça O túnel.
1 O termo em destaque indica uma circunstância de lugar.
origem ao nome edição) é transitivo direto: editar as obras. Assim, é possível entender que o complemento nominal está para o substantivo Transitivo; tem complemento OD. edição assim como o objeto direto está para o verbo editar
a) Por que não pode ser classificado como adjunto adverbial de lugar?
b) O termo está introduzido por uma preposição. Qual?
Considere os termos em destaque.
a) A que classe de palavras pertencem?
Substantivo.
b) Os termos destacados em vermelho estão ligados aos destacados em azul. Caso fossem omitidos do texto, a oração permaneceria com sentido? Por quê?
‘O túnel’, texto de Dias Gomes, é encenado pela primeira vez
ANGRA DOS REIS – Mais uma estreia nacional, mais um texto inédito. ‘O túnel’, do dramaturgo Dias Gomes, foi apresentado neste domingo ao público da Festa Internacional de Teatro de Angra – FITA. A peça nunca havia sido encenada antes e, ao final de 60 minutos, fez o público aplaudir em pé a apresentação no palco Transpetro.
O diretor Gustavo Paso teve acesso ao texto por meio de um professor que conheceu quando cursava artes cênicas na Unirio, no Rio de Janeiro, há mais de dez anos.
— Antônio Mercado era muito amigo de Dias Gomes. Ele organizou a edição de obras completas do autor. Ainda na faculdade, ele me disse para ler a peça, que nunca havia sido montada. Ele me disse que nunca havia lido. É uma peça curta, uma piada. Isso foi em 1995 — revelou Paso.
KOBLITZ, Pedro. ‘O túnel’, texto de Dias Gomes, é encenado pela primeira vez. O Globo, Rio de Janeiro, 9 nov. 2009. Disponível em: https://oglobo.globo.com/projetos/fita2009/ mat/2009/11/09/tunel-texto-de-dias-gomes-encenado-pelaprimeira-vez-914666562.asp. Acesso em: 16 ago. 2020.
Este volume tratou, na Unidade 6, de verbos que precisam de complementos: são os verbos transitivos, que sintaticamente pedem os complementos objeto direto, objeto indireto ou ambos.
No entanto, não são apenas os verbos que precisam de outros termos para ter sentido completo. Substantivos, adjetivos ou advérbios também podem precisar de complementos, geralmente introduzidos por preposição, para que a expressão em que aparecem tenha sentido completo. Observe os exemplos a seguir.
A estreia da peça foi um sucesso.
1. a) Porque está ligado ao substantivo apresentação, e não a um verbo, advérbio ou adjetivo.
O Capitão procura o gato atrás de Faustino
O aplauso é necessário ao artista.
2. b) Não, pois o leitor não sabe acesso a quê, nem edição de quê.
1. b) Em, preposição contraída com o artigo o = no.
3. a) O diretor Gustavo Paso acessou o texto por meio de um professor.
3 O substantivo acesso pode ser transformado em verbo.
a) Reescreva a oração “O diretor Gustavo Paso teve acesso ao texto por meio de um professor” transformando o substantivo em verbo.
b) O verbo é transitivo ou intransitivo? Tem ou não complemento? Se sim, qual?
4 Considere o trecho: “edição de obras completas do autor”.
a) A que termo está ligada a expressão de obras completas?
Ao termo edição
b) A que termo está ligada a expressão do autor?
A obras.
c) Considere os estudos de sintaxe desenvolvidos até aqui. Você diria que os termos de obras completas e do autor exercem a mesma função sintática? Por quê?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
No primeiro período, da peça complementa o substantivo estreia, indicando o que estreou. No segundo período, de Faustino complementa o advérbio atrás, indicando o local onde o Capitão procura algo. No terceiro, ao artista complementa o sentido do adjetivo necessário. O complemento nominal liga-se ao substantivo, ao adjetivo ou ao advérbio sempre por meio de preposição e é fundamental para o entendimento do sentido completo do período.
As preposições são palavras que estabelecem uma relação entre dois ou mais elementos em um período, ligando substantivos, pronomes ou orações a termos específicos. O valor semântico de uma preposição refere-se ao tipo de relação de sentido que ela expressa. Observe alguns exemplos:
• Em: indica posição ou localização.
A peça foi encenada em um palco vazio.
• Entre: indica posição intermediária.
Ele estava sentado entre dois espectadores.
• Para: indica direção ou destino; finalidade ou propósito.
Ela foi para o Teatro Oficina para assistir à adaptação de Os Sertões
• De: pode indicar origem.
Ele veio do Teatro Experimental.
• Por: indica motivo ou razão.
Ele estava triste por causa do cancelamento da peça.
• Com: indica o meio pelo qual algo é feito ou indica a presença de alguém ou algo.
Ele construiu um arlequim com máscara para a cena. Essa decisão foi tomada com todo o grupo.
• Sem: indica a ausência de algo.
Ela ensaiou sem o figurino.
Observe os exemplos a seguir.
Estava ali defronte à loja do barbeiro.
advérbio complemento nominal
As pessoas têm necessidade de amor. substantivo complemento nominal
Paralelamente a este trabalho, faremos a pesquisa.
advérbio complemento nominal
A peça de Dias Gomes está disponível para encenação. adjetivo complemento nominal
Este filme é impróprio para menores de dezoito anos. adjetivo complemento nominal
Os complementos nominais são termos que completam o sentido de nomes (substantivo, adjetivo) ou de um advérbio que precisa de complemento. São sempre introduzidos por uma preposição.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Leia o trecho a seguir, que explica o processo de criação da peça Menor que o mundo, da Cia. Nau de Ícaros, com base na obra do poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).
Em seguida, começou a etapa de apresentações das figuras e suas gêneses […]. Para isso, o diretor propôs uma entrevista. Cada intérprete se sentou numa cadeira e respondeu, a partir da perspectiva da figura, às perguntas do diretor e do grupo. […]
Nas apresentações, esboços de figuras e pequenas propostas surgiram. Sínteses de personagens com histórias e trajetórias, que sempre se comunicavam com o universo poético em questão: certo homem-realejo que distribui palavras em troca de um sorriso; uma tal de Lili, que não amava ninguém; um tal de Malaquias, um sapateiro manco; uma Noiva que voou depois de tanto esperar seu noivo, que nunca apareceu, e um Coronel viúvo e retraído.
O foco inicial dessa fase foi o levantamento de material e de informações, e o desenvolvimento de esboços de figuras na construção da dramaturgia.
Na peça Menor que o mundo, o cenário, inspirado no “Poema de sete faces”, de Carlos Drummond de Andrade, era composto de uma casa móvel, construída com estrutura sobre rodízios para, através da sua movimentação em cena, revelar suas várias faces. Cenograficamente bem estruturada, essa casa girava e permitia que os atores escalassem as paredes e dançassem sobre o telhado. Sesi Paulista, São Paulo (SP), 2012.
Nesse momento, o diretor enfatizou a importância do desdobramento dos versos em narrativa, com personagens e ações, para não deixar que a futura encenação caísse no plano poético, muito etéreo, o que distanciaria o espectador.
MENOR que o mundo: Nau de Ícaros. São Paulo: Sesi-SP editora, 2012. p. 31-32.
1. No trecho, o leitor conhece um pouco sobre o processo de criação de uma peça de teatro autoral de produção coletiva.
Por meio de entrevistas, foram surgindo histórias e personagens inspiradas nos poemas de Drummond.
a) Que atividade foi realizada para transportar o universo poético de Drummond para os palcos?
b) No processo de criação da peça, o diretor alerta os atores a ficar atentos a alguns limites na composição das narrativas. Que alerta é esse?
2. O t recho apresenta vários nomes que precisam de um complemento.
O diretor alerta sobre a importância de histórias que produzam, de fato, narrativas com personagens e ações e não fiquem apenas na abstração poética.
a) Copie o organizador no caderno e complete as colunas com os nomes que precisam de complemento ou seu complemento nominal.
de apresentações das figuras e suas gêneses desenvolvimento
sínteses
etapa de personagens troca levantamento de esboços de figuras do desdobramento dos versos em narrativa construção
importância de um sorriso de material e de informações da dramaturgia
Eles têm medo de não conseguir enfrentar os desafios da vida acadêmica, de encontrar dificuldade no relacionamento com os demais estudantes e de não fazer valer seus direitos de acesso à
2. b) O entendimento dos parágrafos estaria comprometido, pois não seria possível saber que levantamento foi feito, o que foi desenvolvido e o que era importante. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
b) Releia os dois últimos parágrafos do trecho sem os complementos nominais. Que prejuízo de sentido seria produzido se esses parágrafos fossem escritos sem os complementos nominais?
Leia a cena a seguir, da peça Tape Mbyapeha: caminhos de sabedoria, do Grupo Liberdade PKR, formado por jovens indígenas guaranis kaiowás de Amambai (MS).
Todos os indígenas se posicionam no palco e vão saindo da cena. Entram dois jovens indígenas estudantes.
Jovem 01: Não sei se vou para a aula hoje, é tão difícil enfrentar o mundo dos karai. Será que vou dar conta? Outro dia me senti muito mal, dividiram os grupos para um seminário e me deixaram de fora, estou com medo do que vem pela frente.
Jovem 02: É verdade, eu também tenho medo. Mas nós devemos enfrentar esse novo mundo, pois para garantir nossos direitos devemos ocupar esses espaços, vamos mostrar que também somos capazes.
Jovem 01: Você está certo. Vamos estudar e vencer tudo isso pelo nosso povo. Que o Ñanderu Guasu nos ajude nessa nova caminhada.
Os dois saem de cena. Logo após entram dois personagens com figurino e maquiagem carregados.
Vício: (Olha para todos os lados e dá uma gargalhada) Dizem que sou um problema e que só faço o mal… […]. Comigo é uma viagem sem volta, isso, venha, eu vou te abraçar, nunca mais vou te deixar.
Preconceito: Tem muitos que se acham iguais em tudo, no intelecto, no trabalho e na vida. Sinto muito, mas isso não é verdade. Você não é igual aos outros. Você pode ser muito melhor ou muito pior. E o julgamento vem e os outros vão apontar o dedo para você.
GRUPO LIBERDADE PKR . Tape Mbyapeha: caminhos da sabedoria. In: KRENAK, Ailton et al. Caixa de dramaturgias indígenas. São Paulo: n-1 edições, 2023. p. 10.
3. Na peça, dois jovens estudantes indígenas vão enfrentar os desafios do mundo acadêmico.
a) Qual é o receio dos estudantes frente às possibilidades de seu futuro?
b) Quais dois desafios evidentes a peça indica ser o foco de enfrentamento dos estudantes?
c) De que modo esses desafios são apresentados na peça?
O vício e o preconceito.
Os desafios são apresentados de forma personificada, por meio de duas personagens: Vício e Preconceito.
4. Na f ala dos jovens, há referência ao medo que sentem.
a) O complemento da primeira ocorrência do termo medo é uma oração. Identifique-a.
Oração “do que vem pela frente”.
b) A s egunda ocorrência do termo medo não possui complemento. Copie, no caderno, a alternativa que melhor explica a ausência desse termo.
Resposta: alternativa III.
I. Na segunda ocorrência, o termo medo tem sentido completo isoladamente, já que está explícito que a personagem é medrosa.
II. Na segunda ocorrência, o complemento nominal está oculto.
III. Na segunda ocorrência, o complemento nominal pode ser recuperado por inferência, já que foi expresso na fala anterior: “do que vem pela frente”.
IV. Na segunda ocorrência, o complemento é todo o período seguinte do parágrafo.
5. A fala da personagem Preconceito apresenta concepções sobre igualdade.
a) Como essa personagem concebe igualdade?
Para essa personagem, não há igualdade: todos são diferentes e devem exercer preconceitos sobre os outros.
b) De que forma os complementos nominais do termo iguais é fundamental para o argumento da personagem? Explique identificando esses complementos.
É por meio dos complementos em tudo, no intelecto, no trabalho, na vida e aos outros que o Preconceito deixa claro em que aspectos deve existir a desigualdade.
1. a) Ambrósio aparenta ser alguém muito ambicioso, que não se preocupa em desrespeitar leis e convenções para conseguir o que deseja.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1. b) Ambas as perguntas não são dirigidas a alguém especificamente, pois são perguntas já respondidas pelo personagem; são perguntas retóricas.
Não escreva no livro.
Leia a seguir a primeira cena da peça O noviço, de Martins Pena.
1 O t recho permite conhecer o personagem Ambrósio.
a) Que características podem ser atribuídas a ele?
b) Ao longo da fala de Ambrósio, o sinal ? é utilizado duas vezes para indicar perguntas. A quem se dirige cada pergunta?
Sala ricamente adornada: mesa, consolos, mangas de vidro, jarras com flores, cortinas etc., etc. No fundo, porta de saída, uma janela etc., etc.
Considere o sinal de pontuação ;. Copie, no caderno, a alternativa que justifica a presença dele no período.
a) Indica uma pausa maior do que a da vírgula, mas menor do que a do ponto.
b) Separa partes de uma frase que já contém vírgulas internas.
c) Marca o final de uma frase declarativa ou imperativa.
Resposta: alternativa a
AMBRÓSIO (só de calça preta e chambre) No mundo a fortuna é para quem sabe adquiri-la. Pintam-na cega… Que simplicidade!! Cego é aquele que não tem inteligência para vê-la e a alcançar. Todo homem pode ser rico, se atinar com o verdadeiro caminho da fortuna. Vontade forte, perseverança e pertinácia são poderosos auxiliares. Qual o homem que, resolvido a empregar todos os meios, não consegue enriquecer-se? Em mim se vê o exemplo. Há oito anos, eu era pobre e miserável, e hoje sou rico, e mais ainda serei. E como não importa; no bom resultado está o mérito… Mas um dia pode tudo mudar. Oh, que temo eu? Se em algum tempo tiver que responder pelos meus atos, o ouro justificar-me-á e serei limpo de culpa. As leis criminais fizeram-se para os pobres…
PENA, Martins. O noviço. Uberlândia: BDTeatro, c2002-2010. p. 3. Disponível em: www.bdteatro.ufu.br/ bitstream/123456789/344/1/TT00422.pdf. Acesso em: 5 set. 2024.
A pontuação em roteiros de teatro é determinante para guiar a interpretação dos atores e do público leitor. Para além do teatro, conhecer os sinais de pontuação é fundamental para a organização sintática da frase e o entendimento dos sentidos em um texto. Esses sinais também podem ajudar a definir o ritmo da leitura e enfatizar ideias específicas. Relembre, a seguir, alguns sentidos que os sinais de pontuação podem produzir em textos, com exemplos retirados das obras apresentadas nesta unidade.
3 Considere a exclamação do trecho. Que sentido é marcado por esse sinal de pontuação?
A exclamação reforça o sentido de que tudo é simples, como se fosse uma obviedade essa simplicidade.
4 Considere agora as reticências do trecho.
a) Que tipo de entonação deve ser utilizada pelo ator para marcá-la no palco?
b) Que informações poderiam estar no lugar das reticências para os encerramentos dos períodos em que elas ocorrem?
4. a) O ator deve deixar claro que está interrompendo a fala e que ela poderia continuar.
5 Que função têm os sinais de pontuação em um roteiro teatral?
5. Além das funções gramaticais, os sinais de pontuação orientam a entonação das falas dos atores.
4. b) Sugestões de respostas: pois ignora injustiças; já que atingir os objetivos é o que importa; pois são apenas eles que são presos.
O ponto-final é utilizado para marcar o fim de uma frase declarativa ou imperativa. Ele indica uma pausa completa na leitura.
É, isso assim não está direito.
Quer dizer que todos nós estávamos na contramão.
A vírgula é usada para separar elementos enumerados em um período.
Tanto o Homem do Fusca como o Homem da Mercedes vestem calças pretas, camisas brancas e gravatas pretas.
É utilizada para separar orações adjuntas, indicando uma relação de coordenação entre elas.
Corre para o Judas, despe-lhe a casaca e o colete, tira-lhe as botas e o chapéu e arranca-lhe os bigodes.
Os dois-pontos indicam que uma informação será apresentada a seguir. São usados principalmente para:
• introduzir uma lista: “Maricota passa o tempo na janela aguardando a chegada de seus pretendentes: Faustino, soldado, e Ambrósio, capitão da Guarda Nacional”;
• introduzir uma explicação ou exemplificação: “Os créditos do texto, no entanto, não vão apenas para Dias Gomes: Par Lagervitz também é creditado”;
• introduzir uma fala: “ISAÍAS – Ninguém diga: desta água não beberei”;
• introduzir uma citação: Responda você à pergunta proposta por José Celso: “O que você pensa do Brasil de hoje?”.
(;)
O ponto e vírgula é usado para separar partes de uma frase que já contenham vírgulas internas, ou para indicar uma pausa maior do que a da vírgula, mas menor do que a do ponto. Olha ao redor de si, dá com os olhos no Judas; supõe à primeira vista ser um homem, e levanta-se rapidamente.
Também pode ser empregado para separar itens em uma lista. Faustino, empregado público;
Ambrósio, capitão da Guarda Nacional; Antônio Domingos, velho, negociante; Meninos e moleques.
Exclamação (!)
A exclamação é usada para expressar surpresa, admiração, indignação, entre outros sentimentos, denotando uma entonação enfática na frase. Exemplo: “Fui bem desgraçada em dar meu coração a um ingrato!”.
Também pode indicar ordem ou pedido enfático. Exemplo: “Vá-se embora, vá-se embora!”.
As reticências são usadas para marcar a supressão de um trecho do texto; nesse caso, elas vêm entre parênteses ou entre colchetes. Mas seu uso mais frequente é na expressão da subjetividade: podem exprimir muitas emoções, conforme o contexto em que são empregadas. No caso a seguir, sugere-se uma suspensão da fala que expressa certa perplexidade: “Deixou-me!… Foi-se!… E esta!… Que farei!…”.
Também podem sugerir um aumento da emoção: “Maricota — Se eu pudesse arrancar do peito esta paixão…”.
As aspas são usadas para indicar citações diretas de outras fontes, seja de autores, especialistas ou de documentos de referência.
VOZES — “Essa droga anda ou não anda?” — “Passa por cima!” — “Imbecil!” — “Quer vender a buzina?” — “Navalha!” — “Olha aqui, oh!”
Podem também ser empregadas para indicar uso não literal de palavras ou expressões, muitas vezes para transmitir ironia, sarcasmo ou para questionar a validade de um conceito. Por exemplo: Deixei de ser um “rapaz direito” .
Servem, ainda, para indicar nome ou citação de obra literária, revista, jornal ou qualquer documento escrito. Exemplo: A é um trabalho menos conhecido do autor baiano que, entre outras, escreveu “O pagador de promessas” , “O santo inquérito” e “O bem-amado” .
A interrogação é usada para formular perguntas diretas em uma frase. Exemplo: Recebeu minha resposta?
Também pode ser empregada para expressar uma pergunta retórica, isto é, uma pergunta que não pede uma resposta direta. Exemplo: “E não me enganei com o Judas, pensando que era um homem?“.
Os parênteses são usados para adicionar informações, explicações, exemplos ou observações que não são essenciais para a compreensão principal do texto, mas que fornecem contexto ou esclarecimento.
Eles permitem incluir na frase informações extras. Exemplo: Dias Gomes (1922-1999) foi um dos maiores dramaturgos do Brasil.
Apresenta as rubricas de um roteiro: “É a última vez que tal me acontece! (Puxa a espada e principia a procurar o gato)”.
Registra referências ou fontes: “[…] a peça O túnel (Gomes, 1968) permaneceu censurada durante muito tempo […]”.
O travessão é um recurso expressivo que pode substituir vírgulas, parênteses ou dois-pontos, oferecendo mais ênfase ou criando um efeito de surpresa. O travessão pode cumprir as funções a seguir.
Destacar informações ou adicionar ênfase: “Um moço pode roubar uma moça é uma rapaziada; mas dinheiro…”.
Introduzir um aposto: “Repleta de duplos e simetrias, e num cenário esquálido — uma estrada onde se vê apenas uma árvore, uma pedra e uma lua ocasional —, Godot nos coloca frente à incerteza […]”.
Substituir parênteses ou vírgulas em observações ou comentários: “[…] para eles entenderem o que é um texto de teatro — disse Paso”.
Introduzir falas: “— Eu precisava levar um texto pequeno, rápido […]”.
A pontuação desempenha um papel fundamental na comunicação escrita, conferindo-lhe clareza, ritmo, ênfase e intenção expressiva. Ela permite ao autor controlar o fluxo do texto, indicar pausas, enfatizar ideias importantes e transmitir nuances de sentido.
1. L eia o poema de Jeff Vasques a seguir, adaptado com emojis, e, no caderno, substitua-os por sinais de pontuação que comuniquem expressividade semelhante.
Não, não me peça, agora declarações, juras, provas […]
O que posso lhe oferecer por hora é só esta palavra comum e silenciosa: nuvem
E se no correr dos dias alguma sombra lhe dá Mas que bela declaração
E se te faz ver em suas mil formas o que ali não está
Qual melhor prova
E se venta em fúria chuva em teu cabelo
Que juras poderiam mais
E, se por ventura, súbita, se desfaz ao sol do meio-dia
Mas que bela a luz do sol ao meio dia
VASQUES, Jeff. Te dou minha palavra. In: VASQUES, Jeff. Eupassarinho. [S. l.], 21 nov. 2012. Disponível em: www.eupassarinho.com.br/post/te-dou-minha-palavra. Acesso em: 5 set. 2024.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Como mostra a resenha que você leu nesta unidade, esse gênero defende uma opinião sobre obras culturais, destacando suas qualidades e/ou os problemas que apresenta. Essa opinião deve ser sempre justificada por argumentos e dados.
Nesta produção, você vai escrever a resenha de um filme para compartilhar com os colegas, incentivando assim o acesso à cultura, mais precisamente, o cinema nacional.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
O primeiro passo é escolher o filme nacional que você vai resenhar e indicar. Nessa etapa, o que vale é seu gosto pessoal. Por isso, ao selecionar o filme, tenha como critério de escolha as respostas que dará às seguintes questões.
Quais são as qualidades do filme que você escolheu?
Quais são os eventuais problemas do filme que você escolheu?
O que faz com que esse filme seja diferente de outros semelhantes?
Quem produziu essa obra? Quando?
Esse filme teve algum impacto na sociedade e em seu público?
Que aspecto do filme mais se destaca para você?
É relevante também que leve em consideração a estrutura de um filme e seus aspectos constitutivos, como os listados a seguir.
Direção: observe como o diretor imprime sua marca na narrativa. Isso inclui escolhas de câmera, ritmo e atuação dos atores.
Roteiro: examine a forma como a história é desenvolvida, incluindo a construção de atos, desenvolvimento de personagens e resolução de conflitos.
Fotografia: observe os enquadramentos, a posição dos elementos na tela e o uso de profundidade de campo. Observe como a iluminação e as cores são usadas para criar ambientes, evocar emoções ou simbolizar temas específicos.
Direção de arte: avalie o trabalho de cenografia, figurino e maquiagem, e como esses elementos contribuem para a criação do mundo do filme.
Sonoplastia: observe como os sons ambientes, ruídos e efeitos especiais são utilizados para aumentar a imersão e o realismo da cena.
Trilha sonora: preste atenção em como a música é usada para evocar emoções, criar tensão ou estabelecer o clima de uma cena.
Montagem: observe como as cenas são cortadas e como isso influencia o andamento da narrativa. Avalie se as transições entre as cenas são suaves e se há uma continuidade lógica na edição.
Na hora de produzir seu texto, não se esqueça da estrutura básica de resenhas: primeiro, atribua um título que faça referência explícita à obra; segundo, comece a resenha com uma sinopse que apresente o enredo básico, mas sem entregar nada que seja relevante para o andamento do enredo.
Lembre-se: para destacar os pontos positivos ou negativos do filme, é necessário apresentar argumentos.
Depois de escrita a resenha, troque seu texto com um colega para que ele faça uma avaliação prévia. Faça o mesmo com o texto do colega. Destaque no texto tanto os momentos em que ele poderia ser melhorado quanto as qualidades que você observou.
Avalie as observações feitas no seu texto pelo colega e incorpore o que considerar relevante. Ao final, faça uma última revisão para verificar questões de ortografia, concordância ou outros problemas de texto e entregue a versão final para o professor.
Termos avaliativos são expressões que comunicam uma avaliação, julgamento ou opinião sobre uma ação, evento ou situação, refletindo a perspectiva ou o ponto de vista do falante. Esses termos indicam aprovação, desaprovação, certeza, dúvida, entre outros.
Algumas expressões indicam uma avaliação subjetiva e pessoal do falante sobre algo, revelando sua postura ou sentimento em relação ao assunto. Na frase “Em minha opinião, ele tomou a decisão correta”, a expressão em minha opinião destaca que a afirmação subsequente é uma avaliação pessoal, não um fato objetivo.
Outras expressões são utilizadas para qualificar um fato ou evento, indicando se ele é visto de maneira positiva ou negativa. No exemplo: “Esse prêmio foi merecido”, a expressão merecido atua como uma avaliação positiva do evento.
Na frase “É evidente que ela vai comparecer”, a expressão é evidente comunica certeza do falante sobre o que está sendo dito.
É possível ainda que algumas expressões reflitam uma avaliação moral ou ética , indicando se o enunciador aprova ou desaprova algo ou alguém. Na frase “Sua atitude foi reprovável”, a expressão reprovável expressa desaprovação moral ou ética, indicando que o falante julga negativamente a atitude mencionada.
Agora é sua vez. Copie as frases a seguir no caderno, substituindo os # por expressões que indiquem os sentidos propostos entre parênteses.
Sugestões de resposta: Em minha opinião, A meu ver, Na minha perspectiva.
• “# a direção do filme foi impecável, com uma clara visão artística do diretor.” (opinião pessoal)
• “O roteiro, por outro lado, foi # , com diálogos que soaram artificiais e situações previsíveis.” (avaliação negativa)
Sugestões de resposta: decepcionante, fraco, insatisfatório.
• “É # que a trilha sonora desempenhou um papel crucial na criação do clima tenso do filme.” (certeza)
Sugestões de resposta: evidente, incontestável, claro.
Para que sua resenha alcance mais pessoas além de seus colegas, a turma pode publicar as resenhas no site do colégio ou em um blogue na internet, depois de feitas as devidas correções apontadas pelo professor.
AGUIAR, Flávio (org.). Antologia de comédia de costumes . São Paulo: Martins Fontes, 2019.
Esta antologia reúne quatro peças da comédia de costumes brasileira: A capital federal , de Artur Azevedo; O Judas em Sábado de Aleluia , de Martins Pena; A torre em concurso, de Joaquim Manuel de Macedo; e As doutoras, de França Júnior. Com a publicação dessas quatro peças, a antologia cobre a produção dramática cômica brasileira do começo do século XIX até o período republicano. O conjunto testemunha a importância do gênero e dá a dimensão do legado que os fundadores do nosso teatro deixaram para as gerações futuras. É desse patrimônio que vem boa parte da seiva da cena teatral dos séculos XX e XXI e que influenciou a estética do cinema, da música, do rádio e da televisão no Brasil.
MARTINS Pena: o teatro brasileiro e o pontapé no inglês. Locução de: Fernanda Ribeiro Queiroz de Oliveira. [S. l .]: Argonautas, ago. 2021. Podcast . Disponível em: https://open. spotify.com/episode/5ZhJdUDFX04AHzyOifkzgL. Acesso em: 5 set. 2024.
O podcast fala sobre a vida e a obra de Martins Pena e suas comédias, que analisavam criticamente a estrutura social de um Brasil que sempre se pautou demais por outros países, sem reconhecer o próprio valor. Por meio do humor, seu teatro denuncia as contradições de instituições políticas e religiosas e o cinismo da sociedade.
O podcast Argonautas é um espaço em que se fala sobre educação.
O BEM-AMADO. Direção: Guel Arraes. Brasil: Globo Filmes: Natasha Filmes, 2010. 1 DVD (108 min).
O filme O bem-amado conta a história do prefeito da cidade de Sucupira, Odorico Paraguaçu. Sua meta é inaugurar o cemitério da cidade para evitar a emigração dos habitantes após morrerem. Depois da obra concluída, porém, ninguém em Sucupira morre, o que impede que o cemitério, enfim, seja inaugurado. Sofrendo pressão em razão das acusações de superfaturamento, Odorico precisa encontrar um meio para que seu mandato não se torne uma grande piada. O filme baseia-se na peça teatral Odorico, o bem-amado, escrita por Dias Gomes nos anos 1960, a qual explora muitos recursos da comédia de costumes. A peça também deu origem a uma novela de grande sucesso entre o público.
1. Os pratos de Cardoso apresentam a cor azul e ornamentos que são típicos dos azulejos portugueses. Professor, se achar oportuno, peça aos estudantes que pesquisem imagens de azulejos portugueses ou traga para a sala de aula imagens desses azulejos. Sugere-se, também, uma consulta ao link da World History Encyclopedia (disponível em: www.worldhistory.org/trans/pt/2-1452/azulejos-a-arte-visualportuguesa/; acesso em: 8 set. 2024), que dá acesso à história dos azulejos portugueses.
2. A obra de Cardoso dialoga com os azulejos por meio de suas cores e desenhos, mas rompe com eles ao introduzir um material diferente: pratos de papel cortados como se fossem azulejos rachados.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Observe esta obra de arte, do escultor português Pedro Valdez Cardoso (1974-). Ela é feita de pratos de papel recortados.
C ARDOSO, Pedro Valdez. Pratos #2. 2023. Marcador sobre pratos de papel recortados, 196 cm x 140 cm. Galeria Fernando Santos, Porto.
Não escreva no livro.
1. Um dos símbolos de Portugal, que remonta à época dos conflitos com os árabes na Península Ibérica e das batalhas no norte da África, são os azulejos. É possível afirmar que, nessa obra, o artista estabelece um diálogo com a azulejaria portuguesa. Você consegue identificar por quê? Explique.
2. Os azulejos portugueses são feitos em cerâmica e grande parte ainda é produzida à mão. Assim, a obra de Cardoso, ao mesmo tempo que dialoga com azulejos, também propõe uma ruptura com o sentido dessa tradição. Qual seria essa ruptura?
3. Espera-se que os estudantes percebam como a obra, ao associar um dos principais símbolos da cultura e identidade de Portugal – os azulejos – a pratos que parecem estar trincados e quebrados, propõe o sentido de fragilidade e ruptura da cultura portuguesa, provável herança do passado colonial, das guerras e da identidade que dele resultou.
3. Leia o trecho a seguir, da curadora e historiadora da arte Sandra Vieira Jürgens, sobre a obra de Pedro Valdez Cardoso.
Desde o início do seu percurso artístico, Pedro Valdez Cardoso tem trabalhado, de vários ângulos, sobre a questão da identidade […].
[…] Da imagem que nos apresenta, e para além da reutilização de vários itens, que formam um fio condutor na sua variada produção, destaca-se ainda o investimento numa forte componente cenográfica: acréscimo de sublinhado para uma percepção da vida dos objectos, que nos lembra o seu duplo poder de signo e testemunho da passagem do tempo e da História…
JÜRGENS, Sandra Vieira. Memórias dos actos. [S. l.]: Pedro Valdez Cardoso, c2012. Disponível em: www.pedrovaldezcardoso.com/texts_memoriadosactos.html. Acesso em: 8 set. 2024.
• Considere o trecho e explique de que maneira a obra Pratos #2 faz uma crítica à história e à identidade portuguesa.
4. Observe a pintura da artista carioca Adriana Varejão (1964-). Esse trabalho dialoga com a obra de Pedro Valdez Cardoso.
a) Que elementos propõem esse diálogo?
Os elementos que propõem esse diálogo são os azulejos com desenhos em azul.
VAREJÃO, Adriana. Celacanto provoca maremoto: 20042008. [1999]. Óleo e gesso sobre tela, 184 peças, 110 cm x 110 cm. Instituto Inhotim, Brumadinho (MG). Disponível em: www.inhotim.org. br/item-do-acervo/ celacanto-provoca -maremoto/. Acesso em: 8 set. 2024.
b) A obra é de uma artista brasileira, portanto nascida na maior ex-colônia de Portugal. De que forma essa obra se apropria da referência cultural portuguesa dos azulejos e, ao mesmo tempo, rompe com os padrões tradicionais de composição.
c) No detalhe à direita, é possível observar que a obra estabelece um diálogo com o Barroco português. Que elementos destacados no detalhe podem ser associados a essa estética?
4. c) Além dos tons de azul que conversam com as cores dos azulejos portugueses barrocos, percebem-se também o rebuscamento das formas e a presença de volutas e de imagens que remetem a figuras sacras.
A colonização portuguesa deixou marcas evidentes no Brasil, observáveis até hoje. Além disso, esse passado afetou a cultura, a sociedade e a identidade portuguesas, seja como forma de resgate para uma continuidade, seja como ruptura. O Romantismo português, que se originou durante a guerra civil portuguesa (1832-1834), dialoga com o passado do país e, ao mesmo tempo, produz novos discursos sobre amor e morte, com base no diálogo que já vinha sendo produzido nas demais regiões da Europa. Nesta unidade, você vai conhecer a literatura e a arte romântica em Portugal e os diálogos que ela tece com o contemporâneo.
4. b) A obra apresenta muros de azulejos com um elemento desorganizador: os azulejos estão colocados em desordem, de tal maneira que não é possível ver a figura que se forma.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Depois de quase 42 anos da ditadura militar do Estado Novo (1933-1974) em Portugal, o país conquistou estabilidade social, mas enfrentou, ao longo dos anos, várias crises econômicas. Em resposta a essas transformações, a literatura portuguesa contemporânea é uma tapeçaria rica e diversificada. Durante o Estado Novo, também chamado de salazarismo, a literatura foi atingida por forte censura e repressão, o que levou os escritores a adotar certas estratégias para referir-se ao contexto ditatorial e criticar o regime. Com a Revolução dos Cravos, em 1974, e a subsequente queda do regime salazarista, a literatura portuguesa entrou em uma nova fase, marcada por maior liberdade de expressão e por uma revisão crítica do passado. A memória do período colonial e as experiências pós-coloniais tornaram-se temas centrais, com muitos autores explorando as repercussões desses tempos sobre a identidade portuguesa. No século XXI, a crescente visibilidade de vozes femininas e de grupos minoritários tem trazido à tona questões de gênero, feminismo e diversidade de corpos, e variadas perspectivas de vida.
Para discutir
1 O que você sabe sobre Portugal atualmente? O que é divulgado na mídia?
2 Q uais heranças de Portugal você ainda observa hoje no Brasil?
3 Que produções artísticas e culturais portuguesas contemporâneas você e os colegas conhecem?
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A seguir, você vai ler textos de duas autoras portuguesas: um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, publicado no livro Mar novo, de 1958 (reeditado em 2003), e um trecho da novela Dias úteis, de Patrícia Portela. A obra de Portela é constituída por sete capítulos curtos – ou contos –, um para cada dia da semana, em que a autora procura entender tudo aquilo que há de mais comum, mundano e habitual no cotidiano. O trecho aqui reproduzido refere-se à segunda-feira.
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Poema inspirado nos painéis que Júlio Resende desenhou para o monumento que deveria ser construído em Sagres
I
Nenhuma ausência em ti cais da partida. Movimento ritual, surdo rumor de búzios, Alegria de ir ver o êxtase do mar
Com suas ondas-cães, seus cavalos,
Suas crinas de vento, seus colares de espuma, Seus gritos, seus perigos, seus abismos de fogo.
TEÓFILO, Rego. [Pormenor do mosaico de Júlio Resende da memória descritiva para o concurso de projecto de Monumento ao Infante D. Henrique]. 1956. Mosaico. Coleção particular, obra desaparecida.
Nenhuma ausência em ti cais da partida. Impetuosas velas, plenitude do tempo, Euforia desdobrando os seus gestos na hora luminosa
Do Lusíada que parte para o universo puro
Sem nenhum peso morto, sem nenhum obscuro
Prenúncio de traição sob os seus passos.
Regresso
Quem cantará vosso regresso morto
Que lágrimas, que grito, hão-de dizer
A desilusão e o peso em vosso corpo?
Portugal tão cansado de morrer
Ininterruptamente e devagar
Enquanto o vento vivo vem do mar
Quem são os vencedores desta agonia?
Quem os senhores sombrios desta noite
Onde se perde morre e se desvia
A antiga linha clara e criadora
Do nosso rosto voltado para o dia?
ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner. Poema inspirado nos painéis que Júlio Resende desenhou para o monumento que deveria ser construído em Sagres. In: ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner. Mar novo. Lisboa: Assírio e Alvim, 2013. p. 66-67.
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#SOBRE
Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) foi uma poeta portuguesa, de Lisboa. Estudou Filologia Clássica na Universidade de Lisboa e começou a escrever poesia ainda jovem. Sua obra é conhecida por temas que vão desde a contemplação da natureza e a busca por uma dimensão transcendental e ética até críticas sociais e políticas.
Foto da poeta em 1988.
A autora foi uma voz ativa contra a ditadura salazarista em Portugal e participou da vida cultural e política do país, sendo defensora da liberdade e da justiça. Por sua contribuição para a literatura portuguesa, recebeu, em 1999, o Prêmio Camões, o mais prestigiado da língua portuguesa. Em 2014, em reconhecimento à sua importância, seus restos mortais foram trasladados para o Panteão Nacional, na capital portuguesa.
‘não sou profundo, espero que me desculpe’, respondeu Erico Verissimo a Clarice Lispector
Levo uma vida habitual de segunda a sexta.
[…]
Concentro-me com teimosia na perpetuação de tudo o que me permita desmentir as constantes mortes que se pronunciam durante o árduo dia de trabalho, em tudo o que como, em tudo o que compro e em tudo o que (não) decido. Imagino-me a morrer de prolongada doença, vítima de um acidente, de uma catástrofe natural, por falta de água ou de amor, e concluo que é tecnicamente estúpido e inadmissível que nos tempos que correm venha a morrer por falta de dinheiro.
Para não desanimar nem desalinhar o penteado, paro sempre que posso na drogaria mesmo do outro lado do escritório durante a minha hora de almoço e compro uma caixa cheia de verbetes filosóficos para ler lá mais para o final do dia, geralmente depois do jantar.
Tal como todos os outros como eu, multiplico-me por mil iguais a mim que por sua vez se multiplicam por mais mil iguais a mim, e mais mil e mais mil, e mais mil, até quase me dissolver por completo e sem um gemido na massa infinita do tempo (e do open space onde trabalho).
[…]
Regresso a casa, ao fim do dia, à mesma hora de sempre, depois de atar os joelhos ao corpo com os sapos todos que engoli durante o horário de expediente.
Volto a soldar o coração ao peito sorvendo uma canja de galinha acompanhada com pão recesso como se fosse sopa de cavalo cansado.
[…]
Deito-me, exausta e sem pensar (e sem saber) se voltarei a acordar, obrigando-me a confiar que tudo permanecerá como sempre foi. Ou pelo menos só um bocadinho pior de cada vez, como se cada dia útil fosse uma aspirina. Fecho os olhos e não consigo avançar na noite. Nem no escuro.
Patrícia Portela (1974-) é uma artista portuguesa multifacetada. Estudou cenografia, dramaturgia, filosofia, dança e cinema em vários países da Europa. Em sua carreira itinerante, percorreu vários países com a produção de performances e a publicação de obras literárias pelas quais recebeu vários prêmios. É autora de romances e novelas como Banquete (2012), Zoëlógica (2016) e Dias úteis (2017).
2024.
Se quase adormeço tenho medo de sonhar, pode arruinar uma boa noite de descanso. Se fico acordada tento reler o que acabei de pensar mas não reconheço a letra nem a língua. Nem o som. Acendo sempre a luz da mesinha de cabeceira pouco depois de a apagar e esvazio a caixa dos verbetes filosóficos. Descubro um ralo por baixo do forro da caixa. O ralo da Alice. Descubro que nasci atrasada. Mergulho pelas maravilhas subterrâneas do meu esgoto privado e confirmo que tanto para a economia como para a mecânica quântica o princípio é o fim e o fim é sempre um princípio de qualquer coisa (não sendo necessário saber do quê nem para quê). Pode parecer estranho, mas tal possibilidade não me provoca a maior ansiedade nem me amplifica a surdina do desalento que já carrego com naturalidade e até com algum charme que se evidencia na maneira vagarosa como me desloco diariamente até ao emprego onde distribuo banalidades de forma massiva e eficiente por profissão, e subscrevo com cega obediência uma vontade política generalizada de manter uma sociedade bem arrumada onde apenas poucos possam pensar por todos, sem objeções nem contrariedades. Chamo-me Alice Winston Smith e vivo a cair no buraco de um mundo onde o futuro mais risonho é uma bota a dar-nos um pontapé perpétuo na cara como se isso fosse a felicidade.
[…]
Lembro-me de uma conversa que ouvi hoje no autocarro a caminho do centro da cidade. Um filho pergunta a um pai:
— Pai, quando é que tudo melhora?
— Quando te habituares a isto, filho.
Apago a luz, fecho os olhos, e prometo não me habituar.
Imagino os governantes dos cinco continentes a combater as mesmas insónias com o medo do pesadelo dos políticos: A conspiração perfeita contra si próprios, o terror e o desejo ambivalente de quererem assinar eles próprios a lei certa que provocará a revolta do povo e a sua própria derrocada. Sorrio.
Sei que não vou cumprir a promessa de não me habituar.
Mas gostava tanto.
PORTELA, Patrícia. Dias úteis. Porto Alegre: Dublinense, 2019. E-book. Localizável em: segunda-feira.
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1. O poema de Sophia de Mello Breyner Andresen foi escrito em 1958, em plena ditadura portuguesa. Leia o trecho a seguir, sobre algumas práticas do regime desse período. […] em Portugal foram presos milhares de cidadãos por ‘delito de opinião’, quase sempre por efeito de delação e sem provas que possam comprovar as suas responsabilidades pelo ato de que eram acusados – normalmente de ‘crime contra a segurança do Estado’. Em Portugal foram julgados milhares de cidadãos, com base em processos constituídos de forma sumária, sem direito a defesa ou a recurso. Entre 1933 e 1945, foram julgados 13 806 presos, a esmagadora maioria acusada de ‘crime político’, no Tribunal Militar Especial (Lisboa).
FARINHA, Luis. As prisões da P.I.D.E. O Pelourinho: Boletín de Relaciones Transfronterizas, [Badajoz], n. 23, p. 117-147, 2019. p. 117. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=7829775. Acesso em: 8 set. 2024.
1. A metáfora da noite pode ser associada a uma política obscurantista em que havia perseguições, mortes e prisões, que desvia Portugal de sua grandeza, de sua “linha clara e criadora”. O termo noite opõe-se a claro, mostrando os dois caminhos de Portugal: o claro, que corresponde ao caminho produtivo, criador do país; e o escuro, que corresponde à ditadura portuguesa, que pune e mata, sem direito à defesa.
• De que forma a última estrofe do poema faz uma referência metafórica a esse contexto de censura e perseguição? Explique.
2. Em Dias úteis, “segunda-feira”, o leitor conhece Alice Winston Smith e seu cotidiano. O nome dessa personagem, no entanto, a filia a uma longa tradição literária. Alice é o nome da personagem homônima do livro Alice no País das Maravilhas (1865), do autor inglês Lewis Carroll (1832-1898). A obra apresenta uma garota curiosa que segue um coelho e se lança em sua toca. Depois de cair por espaços e tempos incalculáveis, vai parar em um mundo onde tudo é subvertido. Winston Smith é o protagonista do romance distópico 1984 (1949), do escritor britânico George Orwell (1903-1950). Winston vive em uma sociedade totalitária, onde o Partido controla a vida das pessoas, desde seus pensamentos até suas ações. Winston trabalha no Ministério da Verdade, onde é responsável por alterar documentos para que se alinhem à propaganda do Partido. Apesar de sua lealdade, questiona a opressão que o rodeia e busca maneiras de resistir.
• E xplique de que maneira a narradora de Dias úteis dialoga, em “segunda-feira”, com essas personagens famosas da literatura.
Alice Winston Smith, assim como a personagem de Lewis Carroll, se aventura em um universo indefinido, mas, no caso, esse universo é seu mundo interior. Assim como Winston Smith, sabe que precisa atender a determinados códigos de comportamento, que tudo é controlado, mas também questiona seu trabalho e faz o possível para que seu contexto não a distancie de sua identidade.
Soldados portugueses, com cravos nos uniformes e nos canos das armas, montam guarda em Lisboa. Foto de 1974.
A Revolução dos Cravos, ocorrida em 25 de abril de 1974, em Portugal, foi um movimento liderado por militares que derrubou a ditadura do Estado Novo, instaurada por António de Oliveira Salazar e mantida por seu sucessor, Marcello Caetano. Caracterizada pela ausência de violência significativa e pelo uso de cravos nos canos dos fuzis como símbolo de paz, essa revolução marcou o início da transição para a democracia em Portugal. As guerras anticoloniais na África também desempenharam um papel crucial na queda do regime do Estado Novo; foram as guerras de independência travadas nas colônias que pressionaram o regime a colapsar. Após a queda de Caetano, os países africanos e asiáticos, incluindo Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, avançaram para a conquista da independência, instaurando governos de transição que deram início aos seus próprios processos de construção nacional.
3. O poema de Andresen faz referência às Grandes Navegações.
3. a) A parte II faz referência à volta dos navegantes para Portugal, depois de uma viagem. Assim, um título adequado para a parte I poderia ser “Partida”.
a) E xplique a que se refere o título da parte II e proponha um título para a parte I.
b) Ao fazer referência às navegações, o poema também menciona “o Lusíada”. Explique a intertextualidade dessa referência e por que ela é importante nesse caso.
3. b) A referência ao Lusíada promove uma intertextualidade com a epopeia Os lusíadas, de Luís de Camões (1524-1580), que exalta as navegações portuguesas.
Em literatura, chama-se intertextualidade a relação entre obras diferentes, na qual um texto faz referência a outro, explícita ou implicitamente, propondo releituras e novos sentidos para os textos em diálogo. Isso pode ocorrer por meio de citações diretas, alusões, paródias ou mesmo pela reescrita de temas e motivos.
4. b) Com os pronomes interrogativos (Quem, Quem e Onde) que iniciam os três primeiros versos, indicando que se trata de questionamentos.
4. O poema de Andresen explicita que Portugal estaria cansado de morrer.
a) Q ue mortes possíveis a uma nação foram vivenciadas por Portugal? Se necessário, consulte a seção Contexto para responder a essa questão.
b) A última estrofe é composta de várias perguntas. Como essas questões ganham destaque no texto?
c) Considerando o contexto de produção do poema, qual seria a resposta a esses questionamentos?
4. a) As mortes de Portugal podem fazer referência ao período das Grandes Navegações, em que muitos morreram nas travessias marítimas, ou a períodos de intensa crise nacional, como o da ditadura militar, que tiraram a possibilidade de progresso da nação.
4. c) A resposta seria que os governantes da ditadura salazarista estariam levando Portugal ao atraso.
5. a) A narradora parece sentir-se sufocada e oprimida por todos os eventos que compõem o seu cotidiano.
5. b) Segundo sua visão, o mundo do trabalho é explorador, obrigando os funcionários a se desdobrarem em mil, exponencialmente; o local de trabalho é opressivo, exige obediência, faz a narradora “engolir sapos” e ficar sempre calada.
5. O trecho da novela de Patrícia Portela apresenta o cotidiano da narradora Alice.
a) Como a narradora aparenta sentir-se em seu cotidiano?
6. c) O ralo é o que tira Alice de sua rotina e a lança nas maravilhas subterrâneas de si, onde pode refletir sobre sua existência e sobre sua condição de funcionária oprimida e presa a essa opressão.
b) Ao discorrer sobre seu cotidiano, Alice também apresenta uma visão do mundo do trabalho. Que visão é essa?
6. Ao final de cada dia, Alice pode, enfim, descansar. Ao tentar adormecer, ela “descobre” um ralo através do qual mergulha em seu mundo interior, e passa a refletir sobre sua rotina.
a) Que efeito cada dia produz na vida de Alice?
Cada dia se mostra um pouco pior do que o anterior, embora tudo continue sempre igual.
b) Que sentido se pode atribuir, no texto, às expressões “atar os joelhos ao corpo” e “soldar o coração ao peito”?
O sentido de retomar a pessoa que ela é, recompor a própria identidade, de que abre mão para simular quem esperam que ela seja.
c) De que forma o ralo se integra à vida da personagem? Que função desempenha em seu cotidiano?
7. O trecho apresenta momentos em que há a reprodução de discursos diretos.
a) Como esses discursos são marcados no texto?
Eles são marcados com o sinal de travessão.
7. b) Um filho pergunta a um pai: “Pai, quando é que tudo melhora?”. O pai responde: “Quando te habituares a isto, filho”.
b) Reescreva os discursos diretos do trecho utilizando outro recurso para marcá-los.
O discurso direto em textos literários reproduz diretamente as falas das personagens, sem a intervenção do narrador. As falas são apresentadas tal como são ditas, geralmente demarcadas por aspas, travessões ou outros sinais de pontuação, permitindo que o leitor tenha acesso imediato às palavras e expressões das personagens, o que confere maior vivacidade e realismo à narrativa.
8. a) Ela não quer se habituar a essa vida de exploração e de violências imposta pelo cotidiano do mundo do trabalho.
8. Ao final do trecho, a narradora assume o compromisso de não se habituar.
a) A que ela não quer se habituar?
8. b) Não se habituar seria uma forma de resistir e lutar contra esse sistema de exploração.
b) O que representa esse compromisso de não se habituar, desejado pela narradora?
c) L eia a reflexão a seguir, do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han (1959-), sobre o sujeito produzido pelo trabalho contemporâneo.
O sujeito de desempenho está livre da instância externa de domínio que o obriga a trabalhar ou que poderia explorá-lo. É senhor e soberano de si mesmo. Assim, não está submisso a ninguém ou está submisso apenas a si mesmo. […] O excesso de trabalho e desempenho agudiza-se numa autoexploração. Essa é mais eficiente que uma exploração do outro, pois caminha de mãos dadas com o sentimento de liberdade. O explorador é ao mesmo tempo o explorado. Agressor e vítima não podem mais ser distinguidos […].
HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Tradução: Enio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2015. E-book. Localizável em: cap. 2, § 6.
• E xplique de que forma esse trecho pode justificar a conclusão final da narradora de Dias úteis sobre a atitude que possivelmente vai tomar com relação à sua vida.
ENTÃO…
No trecho, é revelado como o sujeito, em uma sociedade de desempenho, é aquele que explora a si mesmo e se obriga a trabalhar em excesso. Ao final do texto 2, a narradora confessa que toda sua revolta não vai acontecer e que vai continuar na rotina de exploração por parte do outro e de si mesma.
Foram profundas as mudanças que marcaram os diferentes períodos pelos quais passou a sociedade portuguesa: o passado de glória de país poderoso que se lançou à descoberta de novos mundos; as turbulências políticas da Europa no período napoleônico; os problemas internos com a sucessão do trono português, que culminaram em uma guerra civil que devastou a nação; a era obscura do longo período de ditadura; a redemocratização do país, concomitantemente à perda das antigas colônias. Poderia a literatura produzida em Portugal passar ao largo de tudo isso?
1. a) A vinda da família real para o Brasil tornou o Rio de Janeiro a capital do reino português. As transformações estruturais, econômicas e culturais que passam a irradiar da nova capital alteram profundamente a sociedade brasileira.
Não escreva no livro.
Até o século XVIII, Portugal se destacava no cenário mundial como uma das mais poderosas nações europeias, tendo conquistado colônias na América, África e Ásia. A invasão napoleônica, no entanto, além de promover a fuga da família real para o Brasil, também provocou uma turbulência em Portugal, ao dar início a sucessivas transformações políticas, que culminaram em uma guerra civil entre 1832 e 1834. Nesse contexto, em que os ideais liberais e os discursos românticos vindos das outras partes da Europa começam a penetrar na cultura portuguesa, o Romantismo vai orientar uma nova literatura em Portugal.
Para lembrar
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1 A f uga da família real para o Brasil promoveu mudanças fundamentais para a sociedade brasileira. Para os portugueses, não foi diferente.
a) Que alterações a família real e a corte portuguesa promoveram no Brasil?
b) De que forma Pedro I do Brasil, chamado de Pedro IV em Portugal, transformou em definitivo as relações entre os dois países?
1. b) Ao declarar a Independência do Brasil e fundar um império na ex-colônia.
Para discutir
1 D epois de estudar o Romantismo no Brasil e conhecer os principais temas de que ele trata, discuta com os colegas por que o contexto de transformações e de guerra civil em Portugal pode ser considerado favorável para o desenvolvimento das ideias românticas.
A seguir, você vai ler dois textos: o primeiro, são algumas estrofes do “Canto X” do longo poema Camões (1825), do escritor português Almeida Garrett, em homenagem ao poeta português do Classicismo. O segundo texto é um trecho do romance Amor de perdição (1862), de Camilo Castelo Branco, que narra o amor impossível entre Simão Botelho e Teresa de Albuquerque, cujas famílias são rivais. Por causa da oposição de ambas as famílias, Teresa é forçada a entrar em um convento, enquanto Simão enfrenta a hostilidade de seus próprios parentes e da sociedade. Em um ato de desespero e paixão, Simão acaba matando Baltasar, um pretendente de Teresa, o que resulta em sua prisão. No desenrolar da trama, Mariana, uma jovem que nutre um amor não correspondido por Simão, demonstra-lhe uma devoção incondicional, chegando a ser a grande responsável por uma tentativa de aproximação entre o casal de amantes. No trecho a seguir, Simão recebe a sentença depois de sua prisão: ele irá para o degredo perpétuo, e Mariana decide que vai acompanhá-lo.
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Ilustração de Camões.
XVI
— ‘Terra da minha pátria! abre-me o seio
Na morte ao menos. Breve espaço ocupa
O cadáver dum filho. E eu fui teu filho…
Em que te hei desmer’cido ó pátria minha?
Não foi meu braço ao campo das batalhas
Segar-te louros? Meus sonoros hinos
Não voaram por ti à eternidade?
E tu, mãe descaroável, me enjeitaste!
Ingrata… Oh! não te chamarei ingrata; Sou filho teu: meus ossos cobre ao menos, Terra da minha pátria, abre-me o seio.
[…]
XVIII
‘Já me sinto ao limiar da eternidade:
Véu que enubla, na vida, os olhos do homem, Se adelgaça; rasgado, os seios me abre
Do escondido porvir… Oh! qual te hás feito,
Mísero Portugal!… oh! qual te vejo, Infeliz pátria! Serves tu, princesa,
‘Onde levas tuas águas, Tejo aurífero?
Onde, a que mares? Já teu nome ignora Neptuno, que de ouvi-lo estremecia.
Soberbo Tejo, nem padrão ao menos
Ficará de tua glória? Nem herdeiro
De teu renome?… Sim: recebe-o, guarda-o Generoso Amazonas, o legado
De honra, de fama e brio: não se acabe
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#SOBRE
Almeida Garrett (1799-1854) foi um escritor português que se estabeleceu como figura central do Romantismo no país. Durante a guerra civil portuguesa, Garrett apoiou os liberais de D. Pedro, o que o levou ao exílio na Inglaterra e na França, onde absorveu influências literárias e culturais que marcariam sua obra futura. Após o conflito e o estabelecimento do regime liberal em Portugal, Garrett retornou a sua pátria e passou a ocupar diversos cargos públicos, posicionando-se ora favorável, ora contrário às políticas que se instauraram no país. Foi fundamental na reforma do teatro e da literatura nacionais, destacando-se com obras como Camões (1825), Frei Luís de Sousa (1843) e Viagens na minha terra (1846).
descaroável: que não tem carinho ou caridade. Guadiana: rio da Península Ibérica.
Tu senhora dos mares!… Que tiranos
As águas passam do Guadiana? A morte, A escravidão lhes traz ferros e sangue…
Para quem? Para ti, mesquinha Lísia.
A língua, o nome português na terra.
Prole de Lusos, peja-vos o nome
De Lusitanos? Que fazeis? Se extinto
O paterno casal cair de todo, Ingratos filhos, a memória antiga Não guardareis do pátrio, honrado nome? Oh pátria! oh minha pátria…’
GARRETT, Almeida; REIS, Carlos (coord.). Camões. Lisboa: Imprensa Nacional, 2018. (Coleção Biblioteca fundamental da literatura portuguesa, p. 218-221). Disponível em: https://imprensanacional.pt/wp-content/uploads/2022/03/AlmeidaGarrett_Camoes.pdf?btn=red. Acesso em: 8 set. 2024.
Texto 2
— Por que vendeu as suas terras, Mariana? — perguntou o preso.
— Vendi-as, porque não faço tenção de lá voltar.
— Não faz?… Para onde há de ir, Mariana, indo eu degredado? Fica no Porto?
— Não, senhor, não fico — balbuciou ela como admirada desta pergunta, à qual o seu coração julgava ter respondido de muito.
— Pois não?!
— Vou para o degredo, se vossa senhoria me quiser na sua companhia. Fingindo-se surpreendido, Simão seria ridículo aos seus próprios olhos.
— Esperava essa resposta, Mariana, e sabia que não me dava outra. Mas sabe o que é o degredo, minha amiga?
— Tenho ouvido dizer muitas vezes o que é, senhor Simão… É uma terra mais quente que a nossa; mas também há lá pão, e vive-se…
— E morre-se abrasado ao sol doentio daquele céu, morre-se de saudades da pátria, morre-se muitas vezes dos maus-tratos dos governadores das galés, que têm um condenado na conta de fera.
— Não há de ser tanto assim. Eu tenho perguntado muito por isso à mulher dum preso, que cumpriu dez anos de sentença na Índia, e viveu muito bem em uma terra chamada Solor, onde teve uma tenda; e, se não fossem as saudades, diz ela que não vinha, porque lhe corria melhor por lá a vida que por cá. Eu, se for por vontade do senhor Simão, vou pôr uma lojinha também. Verá como eu amanho a vida. […]
— E suponha, Mariana, que eu morro apenas [de] chegar ao degredo?
— Não falemos nisso, senhor Simão…
— Falemos, minha amiga, porque eu hei de sentir à hora da morte, a pesar-me na alma, a responsabilidade do seu destino… Seu eu morrer?
— Se o senhor morrer, eu saberei morrer também.
— Ninguém morre quando quer, Mariana…
— Oh! se morre!… E vive também quando quer… Não mo disse já a senhora D. Teresa?
— Que lhe disse ela?
— Que estava a passar quando vossa senhoria chegou ao Porto, e que a sua chegada lhe dera vida. Pois há muita gente assim, senhor Simão… E mais a fidalga é fraquinha, e eu sou mulher do campo, vezada a todos os trabalhos; e, se fosse preciso meter uma lanceta no braço e deixar correr o sangue até morrer, fazia-o como quem o diz.
— Ouça-me, Mariana que espera de mim?
— Que hei de eu esperar!… Por que me diz isso o senhor Simão?
— Os sacrifícios que Mariana tem feito e quer fazer por mim só podiam ter uma paga, embora mos não faça esperando recompensa. Abre-me o seu coração, Mariana?
— Que quer que eu lhe diga?
— Conhece a minha vida tão bem como eu, não é verdade?
— Conheço. E que tem isso?
— Sabe que eu estou ligado pela vida e pela morte àquela desgraçada senhora?
— E daí? Quem lhe diz menos disso?!
— Os sentimentos do coração só os posso agradecer com amizade.
— Eu já lhe pedi mais alguma coisa, senhor Simão?!
— Nada me pediu, Mariana; mas obriga-me tanto, que me faz mais infeliz o peso da obrigação.
Mariana não respondeu; chorou.
— E por que chora? — tornou Simão carinhosamente.
— Isso é ingratidão… e eu não mereço que me diga que o faço infeliz.
#fiCAADiCA
Capa de Amor de perdição (em HQ).
Com argumento de João Miguel Lameiras e ilustrações de Miguel Jorge, esta HQ é uma adaptação do romance Amor de perdição, de Camilo Castelo Branco, com a colaboração do professor João Paulo Braga. Apesar de sacrificar detalhes do original, necessário para uma adaptação como essa, o trabalho foi considerado um sucesso quanto à seleção dos eventos. Além disso, a composição e as cores dos cenários, a ilustração dos conventos, dos jardins e do alto mar são consideradas muito elegantes. Os desenhos e a história contada sobretudo por meio de diálogos certamente irão favorecer uma aproximação entre os jovens leitores e esse grande escritor português.
• L AMEIRAS, João Miguel; JORGE, Miguel. Amor de perdição. Lisboa: Levoir, 2021. (Clássicos da literatura em BD, v. 14).
[…]
O espírito de Mariana não podia altear-se à expressão do preso; mas o coração adivinhava-lhe as ideias. E a pobre moça sorria e chorava a um tempo. Simão continuou:
— Tem vinte e seis anos, Mariana. Viva, que esta sua existência não pode ser senão um suplício oculto. Viva, que não deve dar tudo a quem lhe não pode restituir senão as lágrimas que eu lhe tenho custado. O tempo do meu desterro não pode estar longe; esperar outro melhor destino seria uma loucura. […] Que me responde, Mariana?
[…]
Mariana hesitou alguns segundos, e respondeu serenamente:
— Quando eu vir que não lhe sou precisa, acabo com a vida. Cuida que eu ponho muito em me matar? Não tenho pai, não tenho ninguém, a minha vida não faz falta a pessoa nenhuma. O senhor Simão pode viver sem mim? Paciência!… Eu é que não posso…
Susteve o complemento da ideia como quem se peja duma ousadia. O preso apertou-a nos braços estremecidamente, e disse:
— Irá, irá comigo, minha irmã. Pense muito no infortúnio de nós ambos d’ora em diante, que ele é comum; é um veneno que havemos de tragar unidos, e lá teremos uma sepultura de terra tão pesada como a da pátria.
Desde este dia, um secreto júbilo endoidecia o coração de Mariana. Não inventemos maravilhas de abnegação. Era de mulher o coração de Mariana. Amava como a fantasia se compraz de idear o amor duns anjos que batem as asas de baile em baile, e apenas quedam o tempo preciso para se fazerem ver e adorar a um reflexo de poesia apaixonada. Amava, e tinha ciúmes de Teresa, não ciúmes que se refrigeram na expansão ou no despeito, mas infernos surdos, que não rompiam em labareda aos lábios, porque os olhos se abriam prontos em lágrimas para apagá-la. Sonhava com as delícias do desterro, porque voz humana alguma não iria lá gemer à cabeceira do desgraçado. Se a forçassem a resignar a sua inglória missão de irmã daquele homem, resigná-la-ia, dizendo: — ‘Ninguém lhe adoçará as penas tão desinteresseiramente como eu o fiz’.
BRANCO, Camilo Castelo. Amor de perdição: memórias duma família. Rio de Janeiro: Livraria do Império, [200-]. Reprodução do original de 1862. Localizável em: cap. XVIII. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bi000206.pdf. Acesso em: 8 set. 2024.
#SOBRE
O escritor português Camilo Castelo Branco (1825-1890) foi um dos grandes nomes do Romantismo no país. Órfão de ambos os pais ainda na infância, sua vida pessoal foi marcada por severas adversidades e paixões tumultuadas que resultaram em sua prisão e em uma mudança na mentalidade pública com relação ao papel do amor nos relacionamentos. Problemas financeiros e uma trágica cegueira culminaram em sua morte. Entre suas obras mais célebres estão Amor de perdição (1862), Amor de salvação (1864), Coração, cabeça e estômago (1862) e A brasileira de Prazins (1882).
Frame de Amor de perdição, adaptação em formato de série televisiva apresentada na TV portuguesa entre novembro e dezembro de 1978.
AMOR de perdição [Série]. Direção: Manoel de Oliveira. Portugal: Radiotelevisão Portuguesa (RTP), 1978. Streaming (261 min).
1. a) A volta às navegações e seus heróis seria uma tentativa de recuperar um tempo glorioso, em que Portugal vivenciava uma época de prosperidade.
1. b) A visão pessimista e negativa de uma nação que não reconhece seus heróis dialoga com o contexto da guerra civil, quando se promoviam perseguições ao povo português.
1. Leia a seguir um trecho que apresenta alguns dados sobre a guerra civil portuguesa. Que a guerra civil constituiu um enorme trauma nacional – período em que, nas sugestivas palavras de Almeida Garrett, ‘meia nação está proscrita, exilada ou encarcerada’ […] – parece não oferecer grandes dúvidas. […] Basta lembrar as atrocidades cometidas no período situado entre 1828 e 1834 e a emigração forçada de milhares de portugueses para países como a Inglaterra, a França, a Bélgica ou o Brasil. Segundo Oliveira Martins, em 1831, as vítimas da perseguição e repressão política do regime miguelista ascendiam a 47 mil pessoas, contando-se cerca de 28 mil presos e deportados, 5 mil julgados por contumácia ou executados e perto de 14 mil emigrados […].
FERNANDEZ, Hugo Carvalho de Matos. “Pior que inimigos, irmãos”: sobre a guerra civil portuguesa (1828-1834). Perspectivas: Portuguese Journal of Political Science and International Relations, Braga, v. 15, p. 75-93, dez. 2015. p. 83. Disponível em: www.perspectivasjournal.com/index.php/perspectivas/article/view/193/204. Acesso em: 8 set. 2024.
a) Em um contexto como o descrito no trecho, qual seria a relevância de tematizar novamente as Grandes Navegações e seus heróis na literatura?
b) N o poema de Garrett, que aspecto da vida de Camões dialoga com o contexto da guerra civil portuguesa?
2. a) De acordo com o poema: “Não foi meu braço ao campo das batalhas / Segar-te louros? Meus sonoros hinos / Não voaram por ti à eternidade?” Ou seja, ele ofereceu seus braços e corpo nos campos de batalha e seu intelecto na composição de poemas que exaltavam a nação.
2. O poema de Garrett dá voz a Camões, que fala sobre seus últimos anos de vida, quando já havia finalizado a composição de sua obra maior, Os lusíadas. Nesse período, além de enfrentar a proximidade da morte, vivia na miséria.
a) De acordo com o poema, o que Camões fez por sua pátria para merecer reconhecimento?
b) Na p rimeira estrofe que você leu, Portugal é referenciada por meio de diversos termos. Identifique-os.
Mãe, terra e pátria
c) Que imagem de Portugal esses termos ajudam a construir?
2. c) A imagem de um lugar que, como uma mãe, dá a vida aos que nele nascem; e, como mãe, supõe-se ser acolhedor e protetor, sendo a terra um berço que abriga seus filhos.
d) E xplique de que forma essa imagem de Portugal intensifica a ideia de ingratidão por parte de Portugal com seu grande herói literário, Camões.
3. Na segunda estrofe, Camões continua a falar sobre o final de sua vida.
a) E xplique como os eufemismos dessa estrofe representam esse momento.
b) Nesse momento, Camões expressa uma visão final da pátria que tanto exaltou. Copie, no caderno, quais das características de Portugal mencionadas a seguir foram marcantes para o poeta.
2. d) Se Portugal é a mãe e o berço de seus filhos, não acolher e recompensar Camões, que lutou pela pátria e a exaltou, intensifica a ideia de ingratidão. Resposta: alternativas II e IV
I. A g lória portuguesa com as navegações e a ousadia da descoberta de mares nunca antes navegados.
II. A vergonha de Portugal ser uma nação que promoveu a escravização de pessoas e lucrou com ela.
III. A miséria portuguesa que se rendeu a tiranos que apagaram todos os feitos portugueses com a abolição.
IV. A infelicidade de contrastar a pátria gloriosa das navegações com uma pátria gananciosa e mesquinha que surgia.
3. a) Camões fala de sua morte por meio dos eufemismos “ao limiar da eternidade” (morte) e “os seios me abre” (o chão se abre para o sepultamento). Professor, comente com os estudantes que desde a estrofe XVI Camões pede que a terra se abra. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
4. O poema de Garrett apresenta um Camões melancólico perante o futuro de sua pátria.
a) D e que maneira a construção da personagem Camões dialoga com o contexto de produção do poema de Garrett?
4. a) A desilusão de Camões com o governo português reflete a desilusão de Garrett com a guerra civil que os portugueses vivenciavam e com um governo que praticava desmandos na nação.
b) Depois de lamentar o apagamento de um passado glorioso, o personagem Camões ainda vê uma possibilidade de glória no futuro. Em que lugar seria possível encontrar essas glórias, de acordo com o poema?
As glórias de Portugal teriam como futuro o Brasil, em razão da língua portuguesa, herdada do colonizador, e do generoso Amazonas.
c) Era costume dos portugueses, a cada nova região que conquistavam, nela deixar uma grande pedra com o brasão do Império que era chamada de padrão. Por que o poema sugere que “nem padrão ao menos / ficará de tua glória”?
O poema sugere que, no futuro, as glórias portuguesas não serão lembradas, nem haverá um marco (padrão) que resgate sua memória.
Observe a fotografia a seguir, do monumento Padrão dos Descobrimentos, que fica em Lisboa, de onde saíram as grandes embarcações para as navegações.
COTTINELLI, Telmo; ALMEIDA, Leopoldo de. Padrão dos Descobrimentos. 1960. 1 monumento, betão, pedra rosal e calcário esculpidos. Belém, Lisboa.
5. O monumento apresentado foi construído no lugar do projetado por Júlio Resende, ao qual Sophia de Mello Breyner Andresen faz referência em seu poema. Considerando as reflexões já feitas sobre esse monumento e o projeto que o precedeu, responda aos itens a seguir.
a) O que exalta este monumento?
A grandeza dos feitos portugueses.
b) O monumento de Júlio Resende foi rejeitado pelo Estado Novo português e substituído pelo atual. Por que é possível dizer que esse monumento concretiza a profecia do poema de Garrett? Copie a afirmação correta no caderno.
Resposta: alternativa I
I. P orque um governo autoritário, que não honra o legado “de honra, de fama e brio”, contraria a grandeza representada no monumento.
II. Porque o monumento faz uma crítica ao Estado Novo, confirmando que as glórias ficaram no passado.
III. P orque o monumento, ao representar as navegações como feitos heroicos, projeta também a continuidade da grandeza do Estado Novo.
6. O Código Penal português de 1852 considerava crime o adultério e punia os envolvidos com degredo temporário. Leia o trecho a seguir, sobre as reações do público português ao relacionamento de Camilo Castelo Branco e Ana Plácido, bem como a prisão dos dois por adultério.
[…] Sempre que o casal era publicamente atacado, um influente grupo de escritores, redatores e advogados respondia com jornalismo e literatura, formando uma rede de múltiplas vozes em intertextualidade.
A pressão de um grupo da elite intelectual do país, que tinha o poder de influenciar uma sociedade até então iletrada, contribuindo para que relacionamentos como o adultério passassem a ser vistos como um ato heroico de amor.
Quase todos os membros dessa equipe pertenciam à elite, eram versados em todos os meandros daquele mundo e tinham a total convicção de que, em uma sociedade de iletrados, quem sabia escrever e, sobretudo, quem podia publicar em periódicos de boa circulação detinha o poder de influenciar a opinião pública e de pressionar as autoridades competentes. Então, graças ao maior veículo de informação da época, eles começaram, sem demora, a difundir e solidificar a percepção de que os amantes adúlteros, na verdade, eram mártires do amor que sofriam o acossamento de um tirano desalmado, vingativo e oportunista.
CASTRO, Andreia Alves Monteiro de. Entre o amor e o crime: a participação da literatura e da imprensa no processo de adultério de Camilo e Ana Plácido. Via Atlântica , São Paulo, n. 34, p. 49-60, dez. 2018. p. 51. Disponível em: www.revistas.usp.br/ viaatlantica/article/download/144352/149690/326825. Acesso em: 8 set. 2024.
a) De acordo com o trecho, o que teria contribuído para uma mudança no modo de a sociedade portuguesa avaliar esse tipo de relacionamento?
b) E xplique de que maneira uma obra como Amor de perdição, de Camilo Castelo Branco, também poderia desempenhar um papel importante nessa mudança de ponto de vista em Portugal.
6. b) Com seu drama de amor proibido, o romance mostra a sinceridade e a doação de Mariana, que nutre amor verdadeiro por Simão e sofre por ele. Esse comportamento da personagem e os cuidados que Simão tem com ela poderiam comover o leitor e levá-lo a mudar sua opinião sobre relacionamentos adúlteros, reconsiderar eventuais preconceitos e, com isso, favorecer uma revisão da lei vigente. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
7. a) O degredo seria cumprido em uma terra quente e com muito sol, mas onde haveria pão.
7. b) A visão do degredo é negativa e traz a ideia de que a região é precária e inferior a Portugal, visão típica do colonizador e que justificava a exploração dessas regiões.
10. a) Teresa é uma fidalga fraca, vítima de um amor não concretizado, modelo da mulher frágil do Romantismo. Mariana é uma mulher forte do campo, que vive um amor idealizado não correspondido.
A literatura reflete e influencia a mudança de valores de uma época ao retratar, questionar e criticar as normas, crenças e práticas sociais vigentes. Por meio de suas narrativas, personagens e temas, os escritores capturam as transformações culturais, políticas e ideológicas, contribuindo para o debate público e moldando a percepção dos leitores.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
7. O texto 2 apresenta Simão Botelho já na prisão e condenado ao degredo, depois de ter matado Baltasar Coutinho, o pretendente de Teresa, sua amada.
a) Que imagens o trecho constrói das terras coloniais onde Simão pagaria pelo crime?
b) De que forma essa imagem do degredo em uma colônia portuguesa reforça a visão colonizadora de Portugal?
9. Simão porque se mantém fiel ao que sente por Teresa, mesmo nas condições mais adversas do degredo e com uma mulher que revela amor e submissão incondicionais a ele; Mariana porque se entrega de forma absoluta ao que sente por
8. Ao saber que Mariana irá acompanhá-lo no degredo, o que Simão descobre sobre ela?
Simão descobre que Mariana se disporia a abdicar de tudo para segui-lo.
Simão, demonstrando preferir morrer a ficar sem ele.
9. Apesar do gesto de Mariana, Simão oferece a ela apenas sua amizade, pois ama Teresa. Explique por que Simão e Mariana, com essa postura, podem ser considerados herói e heroína tipicamente românticos.
10. A idealização romântica atravessa os sentimentos das personagens e suas características físicas e comportamentais.
10. b) Ao idealizar sua vida com Simão, Mariana se desprende do real já prometido por ele – apenas a relação de amizade –, de forma a vivenciar antecipadamente os prazeres de uma vida a dois que sabia que não viveria com seu amado.
a) Considere as personagens femininas, Teresa e Mariana. Indique as características que apresentam e como elas se relacionam com o Romantismo.
b) No parágrafo final do trecho, há uma distância entre a realidade a ser vivenciada no degredo e a idealização de uma vida. Explique de que maneira a idealização da vida no degredo faz de Mariana um exemplo da busca por amor no Romantismo.
11. Releia: “Amava como a fantasia se compraz de idear o amor duns anjos que batem as asas de baile em baile, e apenas quedam o tempo preciso para se fazerem ver e adorar a um reflexo de poesia apaixonada”. Pode-se afirmar que esse trecho sugere uma crítica ao amor tipicamente romântico? Por quê?
11. Não, porque se refere ao amor tipicamente romântico como uma fantasia, uma ilusão, uma idealização produzida por evento fortuito. Ao caracterizá-lo assim, o narrador empatiza com o amor sem limites de Mariana, sugerindo tratar-se de uma fantasia. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
O texto que você vai ler agora é parte de um conto escrito em 1877, pela portuguesa Maria Amália Carvalho. A ortografia é a da época, portanto, arcaica. Nele, a autora narra a história de Maria, uma menina órfã, abandonada na roda dos enjeitados, que foi criada por uma família adotiva. Crescendo em meio a dificuldades e preconceitos por causa de sua origem desconhecida, Maria desenvolve uma força de caráter admirável. Depois de um tempo, reencontra sua família biológica e torna-se rica, mas se sente deslocada nessa nova situação. Ao longo da trama, Maria se apaixona por D. Luiz, um fidalgo que ficou na miséria. Seu amor é profundo e sincero, mas enfrenta grandes obstáculos em razão das diferenças sociais e das circunstâncias adversas: ela, que era pobre, ficou rica; e ele, que era rico, ficou pobre.
— Quero-lhe muito. Não admitto a possibilidade de haver no mundo uma mulher que lhe seja superior, mas separa-nos um concurso de circumstancias que n’esta hora, e n’esta situação eu não sei nem posso vencer. […] Bem sabe que é rica e que sou muito pobre, que o meu nome é um nome antigo, e que foi illustre quando os meus avós illustraram pela bravura e pela lealdade. Se eu nas circumstancias em que hoje me acho, me chegasse a seu pae e lhe pedisse a sua mão, elle havia de julgar que o meu amor era um calculo mercantil, e que eu trocara a dinheiro o meu brazão ennegrecido e pobre. […]
CARVALHO, Maria Amália Vaz de. A engeitada. In: CARVALHO, Maria Amália Vaz de. Serões no campo. Lisboa: Mattos Moreira & Cia, 1877. p. 191-193. Disponível em: https://bibdig.biblioteca.unesp.br/items/bf35e5c4-a41c-4457-9de9-28c98b1da8be. Acesso em: 8 set. 2024.
12. O trecho do conto de Maria Amália de Carvalho apresenta um conflito muito característico de enredos românticos: a impossibilidade amorosa. No trecho, o que impede o relacionamento entre os apaixonados são as condições econômicas de ambos: ele era rico e ficou pobre, e ela era pobre e ficou rica. A lógica romântica sobrepõe os sentimentos a interesses materiais. Com base no trecho que você leu, explique a crítica que o Romantismo faz a esse tipo de interesse.
O Romantismo, ao pautar relacionamentos fundamentalmente no sentimento e no amor, critica o dinheiro como um dos responsáveis
casais
amam.
1. Professor, oriente os estudantes a buscar informações em sites confiáveis na internet. Respostas e comentários nas Orientações para o professor.
2. Professor, oriente os estudantes a formular hipóteses e a expressar suas ideias. Lembre-os de que a literatura sempre dialoga com uma época. Ajude-os a observar como a literatura contemporânea tem recorrido bastante a temas relacionados a lutas de grupos minorizados, por exemplo, de modo que as obras literárias podem ser vistas como testemunho dessas lutas.
No século XIX, a literatura e a história em Portugal estavam profundamente interligadas, refletindo e influenciando os eventos sociopolíticos e culturais da época. Escritores como Almeida Garrett e Alexandre Herculano (1810-1877) não apenas documentaram eventos históricos em suas obras, como também os interpretaram e criticaram, utilizando a literatura como uma ferramenta para promover ideais liberais e nacionalistas. Garrett, por exemplo, em sua obra Viagens na minha terra, mescla narrativa ficcional com comentários históricos e políticos, destacando o papel da literatura como meio de reflexão e análise da realidade portuguesa. Obras como Eurico, o presbítero (1844), de Herculano, ao romantizarem eventos históricos e figuras do passado, contribuíram para a construção de uma narrativa nacional que buscava fortalecer a identidade portuguesa em tempos de mudança e incerteza.
Assim, a literatura do século XIX em Portugal não só refletiu a história mas também a moldou, criando um diálogo contínuo entre a memória coletiva e a criação literária.
Leia a seguir um texto que discute a relação entre literatura e política em Portugal.
[…] O Romantismo português está intimamente ligado à implantação do Liberalismo, coincidindo com a introdução das ideias liberais […] semeadas pela Revolução Francesa, nascidas na burguesia e veiculadas pelos intelectuais que reivindicavam a liberdade, a abolição de privilégios e a mesma lei para todos. Instaura-se em Portugal um novo ideário político e social, importado pelos emigrados, mas também herdado do século XVIII português, criando-se uma nova visão da literatura e estabelecendo-se um paralelo com o ambiente histórico-político.
Em Portugal, a expressão romântica explica-se por influência estrangeira, principalmente francesa, continuando assim a influência do século XVIII e do Iluminismo, dado os temas, os géneros literários e as ideias serem importados.
Dois nomes se impõem no Romantismo português: Almeida Garrett e Alexandre Herculano foram soldados liberais e intérpretes dos ideais revolucionários, dado o seu exílio em França e na Inglaterra, onde contactaram com a ideologia revolucionária e o nascente género romântico. De regresso a Portugal, Garrett e Herculano trazem algumas produções, o conhecimento de novos processos de escrita e diversos projectos, quer políticos quer literários, e a ideia de criar uma literatura nova que exprimisse os tempos novos, de carácter nacional e popular, considerando a revolução literária como um dos aspectos da revolução social e afirmando o mundo como devir, como história.
GUERREIRO, José Emanuel Pereira. A ideia da morte nos sonetos de Antero de Quental. Dissertação (Mestrado em Literatura) – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade do Algarve, Faro, Portugal, 2008. p. 8-9. Disponível em: https://sapientia.ualg.pt/bitstream/10400.1/280/1/TESE.pdf. Acesso em: 8 set. 2024.
Não escreva no livro.
1. Em dupla com um colega, escolham um escritor romântico (português, brasileiro ou de outro país) e pesquisem como sua obra influencia e dialoga com algum evento histórico importante do século XIX. Registre a pesquisa no caderno e compartilhe as informações com a turma.
2. No mundo contemporâneo, qual é o papel da literatura diante dos acontecimentos da sociedade? Que diálogo ela pode estabelecer com os grandes eventos ou com a vida cotidiana?
A fuga da família real portuguesa para o Brasil promoveu mudanças radicais não apenas no Brasil mas também em Portugal: o país foi palco da Guerra Peninsular (1807-1814) entre o exército napoleônico e portugueses e ingleses. A resistência portuguesa, com o apoio dos britânicos, participou de várias batalhas que devastaram o território português, causando destruições e deslocamentos populacionais. Além disso, a ausência do rei e da corte resultou em um espaço de poder que contribuiu para a instabilidade política, culminando na Revolução Liberal do Porto, em 1820. Então, a família real é pressionada a voltar para Portugal; o regresso se deu em 1821.
Portugal tornou-se uma monarquia constitucional em 1820, após a Revolução Liberal do Porto, que resultou na Constituição de 1822. Essa constituição transformou o cenário político ao limitar os poderes absolutos do rei e introduzir um sistema de governo com base na divisão de poderes. Foi criada uma Assembleia Legislativa eleita, responsável pela elaboração das leis, enquanto o Poder Executivo era exercido pelo rei, mas com restrições significativas. A constituição também garantiu direitos individuais e liberdades civis, promovendo maior participação política dos cidadãos.
Após a morte do rei Dom João VI, em 1826, a sucessão ao trono tornou-se controversa. D. Pedro IV, então imperador do Brasil com o título de D. Pedro I, abdicou do trono português em favor de sua filha, D. Maria II, sob a condição de que fosse aceita a Constituição de 1822. Mas D. Miguel, irmão de Pedro, usurpou o trono em 1828, declarando-se rei absoluto e revogando a constituição. Esse ato deu início ao conflito armado entre os conservadores defensores do absolutismo, liderados por D. Miguel, e os liberais, que apoiavam a rainha D. Maria II e a constituição. A guerra devastou o país, culminando na vitória dos liberais em 1834, com a Convenção de Évora-Monte, que exilou D. Miguel e consolidou a monarquia constitucional.
Após a guerra civil, Portugal iniciou uma fase de reconstrução e consolidação das ideias liberais, marcada por reformas políticas, econômicas e sociais que buscavam modernizar o país e estabilizar a monarquia constitucional. Nesse contexto, os escritores românticos desempenharam um papel crucial, não apenas por meio de sua literatura mas também ao ocupar importantes cargos públicos. Almeida Garrett, por exemplo, foi nomeado secretário do Ministério do Reino e, mais tarde, se tornou deputado, trabalhando para promover a educação e a cultura. Alexandre Herculano, além de sua contribuição literária, foi historiador e político ativo, influenciando diretamente as reformas e a formação da identidade nacional. No entanto, uma política bastante influenciada pelo Romantismo vai levar Portugal a um contexto de corrupção e conflitos.
SEQUEIRA, Domingos António de. Lisboa protegendo seus habitantes 1812. Óleo sobre tela, 225 cm x 138 cm. Museu de Lisboa, Portugal.
A literatura romântica em Portugal teve suas origens no início do século XIX, influenciada pelos movimentos românticos europeus, especialmente o francês, o inglês e o alemão. Surgiu em um contexto de grandes transformações políticas e sociais, incluindo a Revolução Liberal do Porto e a guerra civil portuguesa, que criaram um ambiente propício para a expressão romântica de nacionalismo e expressão de sentimentos.
Depois dos conflitos que massacraram Portugal na primeira metade do século XIX, a valorização do passado glorioso, que remontava à época medieval e renascentista das Grandes Navegações, permitia uma fuga da realidade por meio da reconstrução idealizada do país, de uma nação que sobrepujava as condições sociais e políticas do tempo.
O Romantismo português pode ser dividido em três fases distintas.
A primeira geração romântica (1825-1850) começou com Almeida Garrett, considerado o pioneiro do movimento em Portugal, com a publicação de Camões (1825) e do drama
Dona Branca (1826). Essa fase é caracterizada pela exaltação do passado nacional e pela busca de uma identidade portuguesa, exemplificada em obras como Frei Luís de Sousa (1843), de Garrett, e Eurico, o presbítero (1844), de Alexandre Herculano.
A segunda geração romântica (1850-1865) foi marcada por um excesso de sentimentalismo, melancolia e idealização amorosa. Esse movimento literário refletiu o pessimismo e a fascinação pelo mórbido e pelo trágico, influenciado por autores como Lorde Byron (17881824) e Goethe (1749-1832). As obras ultrarromânticas frequentemente exploravam temas de amor não correspondido, morte e saudade, e tinham um tom melodramático e sombrio. Entre os principais representantes dessa fase estão Camilo Castelo Branco, com Amor de perdição, e Soares de Passos (1826-1860), com o poema “O noivado do sepulcro” (1856).
A terceira geração romântica (1865-1880) mostra uma maturidade do movimento, que começa a se fundir com o Realismo, desenvolvendo uma visão mais crítica da realidade. Essa fase é caracterizada por obras com uma análise social mais aprofundada e uma crítica às instituições tradicionais, exemplificada por Júlio Dinis (1839-1871) em romances como As pupilas do Senhor Reitor (1867), que retrata a vida rural portuguesa com sensibilidade, mas certa inclinação para o Realismo na descrição de personagens, o que relativiza a idealização romântica. O Romantismo português, com suas diversas fases e características, deixou um legado duradouro na literatura nacional, influenciando a cultura, a política e os costumes para as gerações posteriores e moldando a identidade cultural de Portugal.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Como já discutido ao longo deste volume, toda obra é produzida em dado contexto que guarda traços locais e universais; e é, ao mesmo tempo, atravessada pelo olhar de quem escreve: toda obra sustenta valores e ideias que são modos de ver de um autor. Mas é verdade também que podem trazer marcas próprias de determinado lugar – comunidade, região, país etc. Nikolai Gógol (1809-1852), por exemplo, dizia que, ao escrever o romance Almas mortas (1842), pretendia mostrar toda a Rússia –uma Rússia czarista, ainda de hábitos feudais. O título refere-se a um tipo de comércio permitido pela legislação da época: os servos registrados vivos entre um censo e outro permaneciam vivos para o fisco e, sobre eles, o proprietário pagava impostos; por isso, interessava-lhes vender as almas mortas. O protagonista do romance compra essas almas com o intuito de se tornar dono de terras e servos. Esse tipo de comércio, que se dá com o personagem viajando pela vastidão da Rússia, transporta o leitor geográfica e culturalmente para outro país. Camões, em seu épico Os lusíadas, documenta a grandeza das navegações portuguesas. Ao registrar os perigos que os navegantes enfrentavam no mar, com suas tempestades e calmarias, também registra a ambição dos governantes em um tempo de intensificação do comércio ultramarino e a grandeza da ciência de então, que permitiu as travessias oceânicas.
Há, claro, uma representação refratada dessa realidade pela lente do autor; e também questões universais e atemporais que podem ser discutidas com base nesses enredos. Mas o romance também coloca o leitor em contato com uma cultura específica, com paisagens que ampliam a janela para o mundo. Para discutir
Não escreva no livro.
1. Você já leu algum romance que o transportou para outro lugar? Troque ideias com os colegas.
O Romantismo caracterizou-se por uma valorização do sentimentalismo e da subjetividade que se manifestavam em uma literatura profundamente introspectiva e emocional. Um gênero que dialoga com essa subjetividade é o diário. Nele, um autor pode registar rotinas, sentimentos e sensações em um texto pessoal, no qual seu cotidiano mais íntimo é registrado para que depois possa ser lido pelo próprio autor ou por outra pessoa.
Para discutir
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A sequência dos dias pode ser muito parecida para a maioria das pessoas. No entanto, se analisado de perto, esse cotidiano pode ter diferenças sutis no modo de sentir, pensar, olhar. Pode também ser atravessado por pequenos ou grandes imprevistos, encontros, algo que, mesmo na rotina, faz os dias serem também diferentes. Registrar esse cotidiano pode ser uma forma de garantir a memória de momentos, fases, pensamentos e experiências.
1 Você já teve um diário? Durante quanto tempo?
2 Você já leu algum diário? O que chamou sua atenção nele?
3 Algumas redes sociais podem atuar de forma semelhante a um diário. Se você é usuário de alguma rede social, que aspectos do seu cotidiano você publica nela? Com qual objetivo faz essas postagens?
Você vai ler a seguir alguns registros dos diários do escritor português José Saramago. Nas datas que compõem esse trecho, Saramago registra seu cotidiano e faz algumas reflexões sobre sua obra e sobre si mesmo. Os vários volumes de Cadernos de Lanzarote, onde foram publicados esses diários, registram acontecimentos em datas diferentes. O trecho a seguir faz parte do segundo volume.
Texto 1
17 de junho
Passeio de despedida da ilha com Violante, Danilo e Tiago. As árvores, as águas e as flores da Madeira vão ficar-me nos olhos e na memória, mas ouço a sede e a secura de Lanzarote a chamarem por mim, de longe: ‘Não temos nada, não nos abandones’.
SARAMAGO, José. Cadernos de Lanzarote II. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. E-book. Localizável em: 17 de junho.
Texto 2
Dia arrasador. Entrevista, de manhã, com Mário Santos, do jornal Público; depois, almoço na Voz do Operário para receber da Federação das Colectividades de Recreio e Cultura a medalha de ‘Instrução e Arte’; a seguir, na editora, fotografias com Eduardo Gageiro; logo, já em casa, conversa com uma aluna da Ohio University, Rachel Harding, e quando finalmente me estou a preparar para ir jantar com a Maria Alzira, já com as pernas trémulas e a cabeça a fumegar, telefona o João de Melo. […]
SARAMAGO, José. Cadernos de Lanzarote II. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. E-book. Localizável em: 18 de junho.
Todos tivemos alguma vez a percepção súbita de estarmos a viver algo que já havia sido vivido antes, um lugar, um cheiro, uma palavra, o perpassar de uma sombra, uma sequência de gestos. A impressão não se demora, esfuma-se no instante seguinte, mas a lembrança desse momento mantém-se, como um animal caçador à espreita de que se repita a ocasião. […]
O que já deve ser muito raro é a sensação de estar a viver uma vida que não é nossa. Entendamo-nos: somos quem éramos, reconhecemo-nos no espelho, reconhecem-nos os outros, e contudo, sem saber por quê, de repente surpreendemo-nos a pensar que a vida que vivemos, sendo a nossa vida, não deveria sê-lo à pura luz da lógica conjunta dos factos passados. Estou a falar de mim, claro está. Quando aos 64 anos a minha vida virou os pés pela cabeça (permita-se-me uma imagem tão pouco respeitadora da eminente dignidade da pessoa humana, como antes se dizia), não podia eu imaginar aonde me levaria o que então pensava ser uma simples bifurcação e afinal veio a ser estrada real (será preciso explicar aos meus virtuosos inimigos que não estou a falar de êxitos literários ou sociais?). Os dias já vividos não poderiam, pela lógica, ter-me trazido a isto, e no entanto eis-me a viver uma vida que difere tanto daquela que me tinha acostumado a chamar minha, que de duas uma: ou esta vida estava destinada a outro, ou sou eu esse outro. Conclusão: tenho aqui um seriíssimo problema ontológico para resolver.
Texto 4
25 de junho
SARAMAGO, José. Cadernos de Lanzarote II. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. E-book. Localizável em: 22 de junho.
Violante: Violante Saramago, filha de Saramago.
Madeira: Ilha da Madeira, em Portugal.
ontológico: relativo à ontologia, ramo da Filosofia que estuda a natureza do ser, da existência e da realidade.
Eis-me, aparentemente, caído em plena contradição. Na entrevista que dei a Mário Santos, hoje publicada, afirmo em dada altura que ‘não vivi nada que valha a pena ser contado’. Mesmo ao leitor mais distraído há-de afigurar-se bastante duvidosa a sinceridade de tais palavras, quando se sabe o uso que venho dando a estes cadernos, metódico e quase obsessivo inventário dos meus dias de agora, como se tudo quanto neles me acontece valesse afinal a pena. Creio que não há realmente nenhuma contradição. Uma coisa é olhar o passado à procura de algo que mais ou menos lhe tenha sobrevivido e portanto mereça ser recordado, outra é registar simplesmente o dia-a-dia, sem pensar em ordenar e hierarquizar os factos, apenas pelo gosto (ou tratar-se-á duma expressão mal disfarçada do que conhecemos por espírito de conservação?) de fixar, como tenho dito, a passagem do tempo. Por outras palavras: se eu vivesse cinquenta anos mais e estivesse a ser entrevistado por um Mário Santos também cinquenta nos mais velho, estou certo de que lhe repetiria, com a mesma sincera convicção de hoje, esquecido de quase tudo quanto nestes cadernos escrevi: ‘Não vivi nada que mereça a pena ser contado’.
SARAMAGO, José. Cadernos de Lanzarote II. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. E-book. Localizável em: 25 de junho.
#SOBRE
José Saramago (1922-2010), escritor português, teve uma origem humilde, pautada por dificuldades financeiras que o impediram de concluir seus estudos em uma escola industrial. Iniciou sua carreira literária publicando pequenas obras, mas foi somente com Levantado do chão (1980) e Memorial do convento (1982) que alcançou notoriedade, desdobrando-se numa série de romances que lhe valeriam os prêmios Camões, em 1995, e o Nobel de Literatura, em 1998. Esse reconhecimento não apenas consagrou seu talento mas também afirmou seu compromisso com temas como justiça social, crítica à religião cristã e questionamento das narrativas históricas. Destacam-se em sua obra os romances O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991), Ensaio sobre a cegueira (1995) e As intermitências da morte (2005).
Foto de escritor em 1999.
17/06
Passeio de despedida da Ilha da Madeira
Entrevista com Mário Santos; Almoço na Voz do operário; Fotografias na editora; Conversa com aluna em casa; Jantar com Maria Alzira; Telefonema de João de Melo 4.
18/06
22/06
Nenhum acontecimento registrado
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
25/06
Nenhum acontecimento registrado
Não escreva no livro.
1. O t recho de diário que você leu foi escrito em 1994. Três anos antes, Saramago havia publicado seu polêmico romance O Evangelho segundo Jesus Cristo, no qual narra a vida de Cristo contada por ele mesmo. O romance, muito criticado por religiosos, foi um sucesso de vendas. As críticas e perseguições, no entanto, fizeram com que Saramago optasse por se exilar de Portugal e passasse a morar em Lanzarote, uma ilha pertencente à Espanha.
Espera-se que os estudantes percebam que as anotações
a) Considerando esse contexto de produção, qual seria a relevância da publicação dos diários nos Cadernos de Lanzarote?
1. a) Espera-se que os estudantes percebam que o autor, centro de polêmicas, tinha muitos leitores com interesse não apenas em sua obra mas também em sua vida no exílio.
b) L eia a seguir um trecho do artigo dos professores universitários Marcelo Brito da Silva e Vinícius Carvalho Pereira, sobre os Cadernos de Lanzarote , de José Saramago.
Saramago, ao mesmo tempo que registram
memórias (17 de junho), também
um falar de si que não receia em destacar a importância do próprio autor (18 e 25 de junho).
O escritor se serve do diário como um registro despretensioso do seu cotidiano (vivências, pensamentos, lembranças, opiniões), praticando-o como uma forma textual livre e aberta […]. Por outras palavras, José Saramago faz dos Cadernos um inventário dos dias, uma tentativa de contenção da vida que passa, mas sem preocupações de ordenação ou hierarquia, no espírito do ‘deixar acontecer’ e sem melindres para falar de si mesmo, fazendo confissões, elogios de boca própria, degustando o sucesso de sua obra, entre outras manifestações que foram sublinhadas pela crítica como narcisismo a frio.
SILVA, Marcelo Brito da; PEREIRA, Vinícius Carvalho. Cadernos de Lanzarote: o diário como “espelho de confiança”. Araticum, Montes Claros, v. 24, n. 1, p. 47-64, 2022. p. 49-50. Disponível em: www.periodicos.unimontes.br/index.php/ araticum/article/download/6040/6216. Acesso em: 8 set. 2024.
• De que maneira essa análise se aplica aos registros do diário de Saramago?
2. Considere o diário de Saramago e os assuntos de que ele trata.
a) Que função pode ter um diário para um escritor como José Saramago?
b) D os conteúdos relacionados a seguir, quais aparecem nos registros de Saramago? Copie-os no caderno.
Acontecimentos, dúvidas, sentimentos, emoções e reflexões.
Acontecimentos Dados Dúvidas Emoções Pesquisas Reflexões Sentimentos
3. Todo texto pressupõe um leitor ao qual se dirige mais diretamente.
a) Qual é o leitor tradicional de um diário?
O próprio autor.
b) Qual é o provável leitor do diário de Saramago?
2. a) As anotações que um escritor faz em um diário podem, além de registrar seu cotidiano, conter informações a serem utilizadas em suas obras futuras ou mesmo por estudiosos de sua vida e obra.
Os leitores que gostam de sua literatura ou interessados em saber mais sobre ele.
4. A sequência e a passagem do tempo em um diário são determinantes para que o leitor perceba as mudanças pelas quais passam os envolvidos no relato com relação a seu modo de ver e sentir o mundo. No caderno, trace uma linha do tempo e registre as datas e os acontecimentos relatados no trecho que você leu.
5. Nos dois primeiros dias, Saramago apresenta um pouco de sua rotina costumeira.
a) Em 17 de junho, ele registra que se despede da Ilha da Madeira, um dos pontos turísticos de Portugal, na costa africana, onde se veem paisagens deslumbrantes. Já Lanzarote, onde mora Saramago, é uma ilha vulcânica com poucos atrativos turísticos. Como esse contraste aparece no diário?
b) Em 18 de junho, Saramago revela um dia movimentado. Em que consiste a maioria dos compromissos dele nesse dia?
Todos os compromissos se relacionam à sua profissão de escritor: entrevista, premiação, fotografias, conversas com uma pesquisadora.
c) Que efeito pode ter, junto ao leitor, o registro dos acontecimentos desse dia?
O registro faz o leitor perceber o quanto o escritor é requisitado e consagrado.
6. L eia o trecho a seguir, que explica o que é um déjà-vu
Déjà-vu, do francês, ‘já visto’, é aquela sensação de que você já conhece um lugar que nunca tinha frequentado antes ou já tenha vivido uma situação que acabou de acontecer pela primeira vez. […] ZOLIN, Beatriz. Déjà-vu: como a ciência explica a sensação de já ter vivido algo novo? In: DRAUZIO. [S. l.]: Uol, 15 set. 2023. Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/psiquiatria/deja-vu-como-a-ciencia-explica-a-sensacao-de-jater-vivido-algo-novo/. Acesso em: 8 set. 2024.
5. a) O registro desse dia marca o contraste entre a paisagem da Ilha da Madeira, considerada bonita pelo autor, e a aridez de Lanzarote; mostra também a predileção do autor por Lanzarote, mesmo que não tivesse os atrativos da Ilha da Madeira.
8. Porque, ao dirigir-se ao leitor, o autor considera a existência de interlocutor mais distraído. Se o leitor provável fosse somente o autor, essa expressão perderia o sentido.
Saramago compara o déjà-vu a outra sensação: a dificuldade de se reconhecer como a si próprio.
a) Que argumento ele usa para explicar essa sensação?
Ele considera que sua vida mudou muito; vive como que duas vidas: uma real, a outra não.
b) Que comparação ele estabelece entre uma e outra sensação?
O déjà-vu é comum, mas sentir-se estranho a si mesmo ou um duplo de si mesmo não é.
7. Um diário tem como estrutura básica o registro de eventos acontecidos em determinado tempo, em geral, um dia.
7. a) Localizar o registro no tempo histórico, para que o eventual futuro leitor possa identificar o momento ao qual o registro se refere.
a) Qual é a importância das datas antes de cada registro do diário?
b) O que teria levado Saramago a manter um registro no diário que pula alguns dias, como 19, 20, 21, 23 e 24 de junho. Formule uma hipótese.
Provavelmente, o autor não considerou que tivesse algo de relevante a ser registrado ou não teve tempo de escrever.
8. No dia 25 de junho, há trechos que se dirigem ao leitor. Considere o leitor mais provável de um diário e os leitores dos Cadernos de Lanzarote . Por que é possível considerar que os diários de Saramago já pressupunham um leitor externo, além do próprio autor?
Os diários são textos pessoais que registram fatos, pensamentos, modos de observar e sentir o mundo em determinado tempo e espaço. Compõem uma memória que pode ser dirigida ao próprio autor do diário ou a outros leitores previstos no texto.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
9. Anteriormente, nesta unidade, você leu um texto em que a escritora Patrícia Portela também conta sobre o seu cotidiano. Que diferenças é possível apontar entre o tipo de anotações que ela faz e os registros de Saramago?
9. O texto de Patrícia, apesar de colocar o leitor a par do que ocorre no dia da autora, é apresentado menos como registro e mais como reflexão sobre o têm na vida dela. Formalmente, também há diferenças: ela faz anotações longas, identificadas pelo dia da semana, não pelo dia do mês, enquanto as de Saramago são bastante concisas e claramente situadas no tempo, com marcação de dia e mês. O ano pode-se deduzir pela data de publicação dos diários.
10. L eia o registro a seguir, um diário de produção do cineasta gaúcho Carlos Gerbase (1959-) sobre o filme Bio: construindo uma vida , de 2019.
Até onde se pode contar a história de um filme enquanto ele está sendo realizado?
Que tipo de fotos podemos colocar aqui, antecipando as imagens que só estarão escolhidas e montadas na sequência correta daqui a mais de um ano? Será que sempre tem alguém espreitando pra copiar descaradamente ideias e propostas estéticas, configurando uma espécie de pirataria plástica ou narrativa? Perguntas difíceis de responder. Não dá pra ser paranoico, mas também não dá pra ser ingênuo. […]
É por isso que estamos postando, basicamente, fotos dos rostos das atrizes e atores, sem revelar muito do que está atrás. Ou colocamos imagens dos cenários enquanto eles ainda estão sendo construídos. Ou apenas de fragmentos dos cenários. Ou da equipe trabalhando. Também evito contar demais da história, mesmo que a ordem da filmagem seja caótica. Um leitor atento poderia juntar tudo e dar um sentido, não necessariamente correto. Enfim, é muito difícil fazer um Diário de Filmagem em que há tantas restrições. Mas vamos lá!
BIO – O filme: diário de filmagem #9. Porto Alegre: Prana Filmes, 22 dez. 2015. Disponível em: www.pranafilmes.com.br/bio-o-filme-diario-de-filmagem-9/. Acesso em: 8 set. 2024.
a) Diferentemente dos diários pessoais, existem diários que marcam acontecimentos ao longo da produção de algo, como um filme, uma pesquisa, um projeto etc. O trecho lido apresenta reflexões sobre o cotidiano das filmagens de Bio. Que sentido pode ter esse tipo de diário?
b) Q ue recurso de linguagem esse trecho prevê e que não está presente no diário de Saramago?
O uso de fotografias.
11. Imagine-se como Saramago: você irá postar em redes sociais o que o autor registrou nos dias 17 e 18 de junho. Que recursos você poderia utilizar para atrair seguidores?
10. a) Ele registra a história de uma obra, o processo de criação, que pode servir tanto para o próprio autor do diário como para outros diretores revisitarem dificuldades, soluções, saídas e criações. Pode, ainda, ser exigência dos financiadores do filme ou uma forma de controlar a produção. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
11. Seria possível inserir vídeos e fotografias da Ilha da Madeira e de todos os compromissos do dia 18, como em uma agenda, textos detalhando as imagens, trilha sonora ou reels
1. a) Soberbo refere-se a Tejo; Generoso, a Amazonas; ingrato, a filhos; antiga, a memória; pátrio e honrado, a nome.
1. b) Perderiam a força expressiva que justifica o aconselhamento: ele tem importância pelas qualidades atribuídas ao nome (memória antiga, nome pátrio honrado, filhos ingratos); sem eles, os versos expressariam apenas um aconselhamento para os filhos não guardarem a memória do nome.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Releia, a seguir, a estrofe do poema de Almeida Garrett.
1 Considere as expressões marcadas com a cor em destaque.
a) A que termo cada uma se refere?
b) L eia os três últimos versos sem essas expressões em destaque. Que mudança de sentido teria?
c) O termo ingrato é fundamental para a construção da crítica produzida no poema. Por quê?
2 O termo destacado em verde se comporta, em geral, como substantivo, mas aqui funciona como adjetivo.
a) Por quê?
b) Caso esse nome se referisse à nova pátria em que residiria a glória portuguesa, que termo o especificaria?
2. a) Porque especifica um nome.
2. b) O termo brasileiro
3. a) Os termos definem os nomes, determinando que são específicos: a língua (portuguesa) e o nome português.
‘Onde levas tuas águas, Tejo aurífero?
Onde, a que mares? Já teu nome ignora Neptuno, que de ouvi-lo estremecia.
Soberbo Tejo, nem padrão ao menos
Ficará de tua glória? Nem herdeiro
De teu renome?… Sim: recebe-o, guarda-o Generoso Amazonas, o legado
De honra, de fama e brio: não se acabe
A língua, o nome português na terra. […]
Ingratos filhos, a memória antiga
Não guardareis do pátrio, honrado [nome?
Oh pátria! oh minha pátria…’
1. c) Porque evidencia a falta de reconhecimento vivenciada por Camões, mesmo depois de tantos feitos.
No poema de Garrett, alguns termos são usados para acrescentar informações aos substantivos, enriquecendo a descrição e a expressividade do texto. Esses termos ampliam, especificam ou detalham o significado dos nomes a que se ligam e são determinantes para a construção dos sentidos dos textos.
#PARAlEMBRAR
Adjetivos são palavras que qualificam ou caracterizam substantivos, atribuindo-lhes características, qualidades, estados ou condições. Eles podem variar em gênero (masculino e feminino), número (singular e plural) e grau (comparativo e superlativo).
Locuções adjetivas, por outro lado, são expressões formadas por duas ou mais palavras que, juntas, funcionam como um adjetivo. Por exemplo, na frase “o Rio Tejo de águas cristalinas,” a expressão de águas cristalinas é uma locução adjetiva que qualifica Rio Tejo.
3 Considere os termos na cor em destaque.
a) Que sentido esses termos atribuem ao nome ao qual se ligam?
b) Que diferença de sentido seria produzida caso o termo o fosse substituído por um?
4 Observe os termos destacados em azul.
a) A que nomes esses termos se ligam?
b) A quem esses termos fazem referência?
c) Que sentido esses termos produzem, ao relacionarem-se aos nomes? Ao Rio Tejo.
3. b) O nome português não seria referência ao próprio nome da terra, do país (Portugal), mas a algum nome de origem portuguesa, como Manoel, Joaquim.
4. a) Eles ligam-se a águas e nome, respectivamente.
4. c) Eles produzem o sentido de posse, já que são pronomes possessivos.
Observe o exemplo a seguir.
“[…] Ingratos filhos, a memória antiga adjetivo adjetivo substantivosubstantivo
O uso dos adjetivos ingratos e antiga permite que o leitor conheça as características dos substantivos filhos e memória, necessários para especificar as características negativas dos filhos e a temporalidade da memória, elementos fundamentais para a construção de uma ideia melancólica da pátria portuguesa.
Além dos adjetivos, artigos, pronomes e numerais também exercem a função de acrescentar informações aos substantivos. Observe os exemplos a seguir, retirados dos textos que você leu nesta unidade.
Onde levas tuas águas, Tejo aurífero?
pronome
A língua, o nome português na terra.
artigoartigo
— Tem vinte e seis anos, Mariana.
numeral
Que lágrimas, que grito, hão-de dizer / A desilusão e o peso em vosso corpo?
pronomes
#PARAlEMBRAR
Artigos antecedem os substantivos para os definir ou indefinir, determinando-lhes o gênero e o número. Eles podem ser definidos (o, a, os, as) ou indefinidos (um, uma, uns, umas).
Numerais são palavras que indicam quantidade, ordem ou fração. Podem ser cardinais (um, dois), ordinais (primeiro, segundo), multiplicativos (dobro, triplo) ou fracionários (meio, terço).
Essas palavras que acompanham substantivos especificando-os podem ser posicionadas como sujeito de uma oração ou como objeto de algum verbo, ou seja, podem aparecer tanto no sujeito quanto no predicado. Observe o exemplo a seguir.
sujeito
objeto direto adjuntos adnominais adjunto adnominal
As águas do Rio Tejo observaram experientes portugueses Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
As palavras que em uma oração têm a função de delimitar ou especificar o sentido de um substantivo são chamadas de adjuntos adnominais. Adjetivos, locuções adjetivas, artigos, pronomes e numerais podem atuar como adjuntos adnominais.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Leia a notícia a seguir, sobre uma inesperada homenagem a Camilo Castelo Branco.
Camilo Castelo Branco é um dos principais símbolos culturais de Famalicão, a cidade onde viria a morrer, em 1890. O escritor – que passados dois séculos continua ser considerado um dos maiores nomes da literatura portuguesa – voltou a ser homenageado, mas desta vez com uma criação inesperada: uma sobremesa.
Espera-se que os estudantes indiquem que a homenagem, além do nome
características do prato, pode consumidor a conhecer mais da obra do autor.
A Marupiu Pâtisserie, uma pastelaria de Famalicão, apresentou a 28 de fevereiro, na Bolsa de Turismo de Lisboa […] um bolo chamado Camiliana e inspirado no autor. Os responsáveis foram Ana Patrícia Correia e o marido Rui Gusmão Correia, que no ano passado ganharam o prestigiado prémio ‘Chef Pâtissier’, atribuído pela Academia Internacional da Gastronomia.
A receita tem por base um bolo de laranja com mousse de limão. A decoração é finalizada com amores-perfeitos (inspirados no Amor de perdição) e manjericão, revela Ana Patrícia Correia. Os dois pasteleiros adicionaram-lhe ainda um ‘bigode’, para que fizesse lembrar o autor.
Por enquanto este doce não faz parte da carta da pastelaria, mas, segundo os criadores, continuará a ser feito para eventos especiais.
DIREITO, Rita Carmona. A sobremesa inspirada em Camilo Castelo Branco até tem bigode. NiT, Lisboa, 2 mar. 2024. Disponível em: www.nit.pt/comida/gourmet-e-vinhos/ sobremesa-inspirada-em-camilo-castelo-branco-ate-bigode-tem. Acesso em: 8 set. 2024.
1. O texto menciona a criação de uma sobremesa curiosa.
Sobremesa inspirada em Camilo Castelo Branco. Foto de 2024.
1. a) O bigode, como o do autor, e a decoração com a flor amor-perfeito, que faz alusão ao livro Amor de perdição
a) Que características da sobremesa fazem lembrar o autor e sua obra?
b) Explique de que forma uma sobremesa como essa pode ser relevante como homenagem a um escritor.
2. Copie, no caderno, o organizador a seguir e complete-o com as informações pedidas.
principais /
inesperada
o) / prestigiado
adjetivos
artigo / adjetivo adjetivo
artigo / adjetivo
3. Explique de que forma a presença desses adjuntos é fundamental para produzir os sentidos essenciais da notícia.
prêmio é importante e em que ano os chefs já haviam sido premiados. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
4. Considere o seguinte trecho: “A Marupiu Pâtisserie, uma pastelaria de Famalicão, apresentou a 28 de fevereiro, na Bolsa de Turismo de Lisboa […]”.
4. a) Os adjuntos adnominais indicam a localização da pastelaria e da Bolsa de Turismo e a especificidade da Bolsa.
a) Qual é o sentido produzido pelos adjuntos adnominais constituídos por locuções adjetivas do trecho?
b) Que adjetivos poderiam substituir as locuções adjetivas que indicam localização?
Esses adjuntos trazem informações sobre a importância de Camilo, de como a sobremesa é diferenciada, de como o Famaliconense e lisboeta
c) Depois de realizada a substituição, os adjetivos ainda podem ser classificados como adjuntos adnominais? Explique.
Sim, pois continuam qualificando os substantivos pastelaria e Bolsa
d) O t ítulo de uma das mais famosas obras de Camilo Castelo Branco apresenta também um adjunto adnominal formado por locução adjetiva. É possível substituir a locução adjetiva por um adjetivo mantendo o sentido original no título do romance? Explique.
4. d) Não é possível, pois amor perdido ou perdível tem um sentido diferente de amor de perdição, que significa um amor que leva os protagonistas à ruína, ao dano, à desgraça.
5. Considere o trecho: “[…] Os dois pasteleiros adicionaram-lhe ainda um “bigode”, para que fizesse lembrar o autor. Por enquanto este doce não faz parte da carta da pastelaria, […]”.
a) A quem o adjunto adnominal do termo pasteleiros faz referência?
b) A que se refere o pronome este , adjunto adnominal de doce?
5. a) O adjunto adnominal de pasteleiros (dois) faz referência aos dois chefs que inventaram o doce. 5. b) O adjunto adnominal de doce (este) refere-se ao doce inventado, mencionado no período anterior.
Leia a tirinha a seguir, do cartunista português José Bandeira (1962-).
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
BANDEIRA, José. [O relógio do apocalipse]. Diário de Notícias, Lisboa, 27 jan. 2018. Disponível em: https://ogatoalfarrabista.wordpress.com/ tag/diario-de-noticias/. Acesso em: 29 set. 2024.
6. O humor da tirinha faz referência a um tipo de relógio.
a) Relacione as colunas formando pares de números e letras de modo a indicar os sentidos que cada personagem dá a relógio do apocalipse
A. Tecnologia de medição de eventos catastróficos.
1. Mulher
2. Homem
B. Metáfora que amplia os sentidos da crise global.
C. Marcador objetivo de eventos que levam a uma crise global.
D. Expressão que se refere a um iminente colapso global.
b) Que postura perante o relógio do apocalipse fica implícita na fala da senhora?
7. Considere os adjuntos adnominais ligados ao termo relógio
a) Que intertextualidade se pode identificar no adjunto adnominal desse termo?
6. b) Fica implícita a ideia de que, há muito tempo, algo já deveria ter sido feito para salvar o mundo.
7. b) Relógio do fim do mundo; relógio do colapso mundial etc.
b) Que outra expressão poderia substituir esse adjunto adnominal mantendo um sentido semelhante?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
8. Considere a expressão umas décadas atrás
a) Que sentidos o adjunto adnominal umas produz?
7. a) O adjunto adnominal do apocalipse produz uma intertextualidade com o Livro do apocalipse da Bíblia, que registra o fim do mundo.
b) Reescreva a expressão indicando uma possibilidade de tempo na forma de adjunto adnominal, levando em consideração a suposta idade da senhora.
Três ou quatro décadas atrás. 8. a) O sentido de mais de uma década ou de um número de décadas indeterminado; algumas décadas.
9. Releia o trecho retirado do texto de Patrícia Portela que você leu no início da unidade: “Chamo-me Alice Winston Smith e vivo a cair no buraco de um mundo onde o futuro mais risonho é uma bota a dar-nos um pontapé perpétuo na cara como se isso fosse a felicidade”.
a) Nessa frase, há um adjunto adnominal formado por locução adjetiva: de um mundo. A que substantivo ela se refere? Ela poderia ser substituída por um adjetivo conservando o mesmo sentido?
b) Nesse trecho, a narradora usa o pronome demonstrativo isso. Qual a finalidade desse pronome na frase? É possível classificá-lo como adjunto adnominal?
9. a) Refere-se a buraco. Não poderia ser substituída, pois o adjetivo correspondente seria mundano, que não se aplica a buraco, pois indica indivíduo que aprecia os bens materiais e os prazeres do mundo.
9. b) Ele sintetiza tudo o que foi afirmado anteriormente. Não se trata de adjunto adnominal, pois isso atua como sujeito
4. a) Perdem-se apenas as características do campo e do momento em que ocorreu o evento, mas os sentidos básicos permanecem os mesmos.
4. b) Nesse caso, fica faltando esclarecer a qual desejo o eu lírico se refere, pois essa palavra demanda um complemento.
1. a) Seria possível inserir essa narrativa no contexto da Guerra Peninsular ou da guerra civil portuguesa, tendo em vista que há referência a uma carnificina e à Pátria.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Leia a seguir o poema “A visão”, da poeta portuguesa Maria Browne (1797-1861).
1. b) Porque, ao ver os olhos de um soldado que morre em batalha, o eu lírico apaixona-se por ele e nunca mais o esquece.
1 O poema apresenta uma visão que marcou para sempre o eu lírico.
a) O evento narrado se dá em um contexto que influenciou a produção romântica portuguesa. Qual poderia ser ele?
b) O comportamento do eu lírico expressa claramente o sentimentalismo romântico. Por quê?
2. a) Ao campo semântico da guerra.
2 Considere os termos em destaque.
a) A que campo semântico podem ser associados, tendo em vista o contexto do poema?
b) Que função esses termos exercem na estrofe?
c) Qual seria a classificação sintática desses termos?
2. b) Eles qualificam as palavras com as quais se ligam, campo e momento, respectivamente. 2. c) Adjuntos adnominais.
3. a) A expressão complementa o sentido do termo desejo
Foi no campo de carnagem, Que os homens chamam de gloria, No momento da victoria,
Que o guerreiro audaz ‘spirou!
Uma bala traiçoeira
O coração lhe varou!
Respostas e comentários nas Orientações para o professor.
Morreu, sim! Ditosa morte! Foi-lhe um ‘stante o passamento:
Em seu ultimo alento,
PÁTRIA QUERIDA … bradou:
E p’ra sempre à luz do dia
Seus bellos olhos fechou!..
Olhos brilhantes, e negros!..
Olhos como eu nunca vi!..
Olhos por quem me perdi!..
E desd’então, Deus piedoso!
O seu brilho me persegue, Qual phantasma luminoso!..
Não basta, cruel destino, Tanto pranto derramado!..
Um viver amargurado!..
Sempre um desejo de morte!..
Até olhos de finado
Me vem seguir d’esta sorte?.. […]
BROWNE, Maria da Felicidade do Couto. A visão. In: BROWNE, Maria da Felicidade do Couto. Virações da madrugada. Lisboa: Livraria de [M. Fernando] Palha, 1854. p. 86-87.
Não escreva no livro.
3 Considere a expressão em destaque.
a) Que função essa expressão desempenha no verso?
b) Qual sua classificação sintática?
3. b) Classifica-se como complemento nominal.
4 Considere, agora, todos os termos em destaque
a) Releia a primeira estrofe sem os termos em destaque Qual o prejuízo de sentido que se produz?
b) Releia a última estrofe sem a expressão em destaque. Qual o prejuízo de sentido produzido?
Professor, procure trabalhar com os estudantes o significado das palavras carnagem e passamento, carnificina e morte, respectivamente.
Em vários casos, um substantivo, adjetivo ou advérbio vem acompanhado por uma preposição ( a , de , em , para , por etc.).
A existência dessa preposição pode produzir dúvida quanto à classificação desses termos, se são adjuntos adnominais ou complementos nominais
Para saber como fazer essa distinção, observe algumas explicações.
Quando o termo se relaciona a um adjetivo ou a um advérbio e vem precedido por preposição, ele é sempre um complemento nominal. Observe os exemplos retirados e adaptados do poema.
Que o chamado de glórias
substantivo abstrato complemento nominal
Um campo repleto de glórias adjetivo complemento nominal
Um campo perto de glórias. advérbio complemento nominal
Nesses casos, os termos chamado, repleto e perto são, respectivamente, substantivo, adjetivo e advérbio; de glórias é um complemento nominal.
Quando o termo se liga a um substantivo concreto ou abstrato, ele pode ser um adjunto adnominal (se tiver um sentido ativo) ou um complemento nominal (se tiver um sentido passivo).
Observe os exemplos a seguir.
A força do Rio Tejo empurrou as naus para o mar.
Aqui, do Rio Tejo é um adjunto adnominal, indicando que a força é promovida pelo Rio Tejo (sentido ativo).
A poluição do Rio Tejo se iniciou com as Grandes Navegações.
Nesse caso, do Rio Tejo é um complemento nominal, indicando que o Rio Tejo é o alvo da poluição (sentido passivo).
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Leia a seguir um trecho do romance Viagens na minha terra, de Almeida Garrett.
Vou desapontar decerto o leitor benévolo: vou perder, pela minha fatal sinceridade, quanto em seu conceito tinha adquirido nos dois primeiros capítulos desta interessante viagem.
Pois que esperava ele de mim agora, de mim que ousei declarar-me escritor nestas eras de romantismo, século das fortes sensações, das descrições a traços largos e incisivos que se entalham n’alma e entram com sangue no coração?
[…]
[…] Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana? Que há mais umas poucas de dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico? […]
GARRETT, Almeida. Viagens na minha terra. Belém: Unama: Nead, [200-]. p. 9-10. Reprodução do original de 1846. Disponível em: www.portugues.seed.pr.gov.br/arquivos/File/leit_online/almeida4.pdf. Acesso em: 8 set. 2024.
1. Nesse trecho, Garrett reflete sobre os resultados da guerra civil portuguesa e sobre a estética romântica.
a) De acordo com Garrett, qual postura dele poderia desagradar os seus leitores?
1. a) O que poderia desagradar o leitor seria a reflexão que vai fazer sobre os ricos e pobres e a exploração de que são vítimas os menos favorecidos.
3. b) Os complementos nominais completam o sentido dos termos aos quais se referem, esclarecendo que considerações estão em pauta e de que tipo de equação se está falando.
b) A reflexão que Garrett propõe no trecho questiona a lógica da burguesia, embora o Romantismo seja um movimento estético burguês. Que crítica é feita ao acúmulo de capital da burguesia portuguesa do século XIX?
1. b) Garrett critica o acúmulo de riquezas por parte dos ricos que detêm a maior parte do capital; em consequência disso, um grande número de pessoas vive na pobreza, pois só existe acúmulo porque existe escassez.
2. Considere o segundo parágrafo do trecho.
Pois que esperava ele de mim agora, de mim que ousei declarar-me escritor nestas eras de romantismo, século das fortes sensações, das descrições a traços largos e incisivos que se entalham n’alma e entram com sangue no coração?
a) Nesse parágrafo, o que expressam os termos em destaque?
2. a) Os termos em destaque especificam a era à qual Garrett faz referência, a do Romantismo, identificando o momento estético e suas características por meio da qualificação do termo século.
b) Como é possível classificar sintaticamente essas expressões?
São adjuntos adnominais.
3. Considere o seguinte trecho do terceiro parágrafo.
Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana?
a) Observe os termos em destaque. Que função sintática eles exercem? A que termos cada um deles se liga?
Deste mundo e de interesse são complementos nominais; de tudo isto é adjunto adnominal. Ligam-se, respectivamente, a considerações, equações e fim.
b) Qual é a importância desses termos para o entendimento básico das informações do texto?
Leia a seguir a tirinha do cartunista Fábio Coala (1978-).
É possível perceber que,
2000, o medo se relacionava
Hoje, relacionacomportamento ou uma falha, isto é, o medo
4. Nessa tirinha, há uma reflexão sobre como diferentes épocas produzem diferentes medos nos jovens.
a) Que mudança considerável relacionada ao medo é possível perceber na tirinha?
b) Formule uma hipótese sobre o que provocaria o medo contemporâneo indicado na tirinha.
c) Volte ao texto de Byung-Chul Han citado nesta unidade. Você verifica alguma semelhança entre a crítica que ele faz e a que aparece nesta tirinha?
A crítica é exatamente a mesma, apenas apresentada de modo diferente.
5. Na t irinha, é possível encontrar expressões precedidas de preposições que podem ser classificadas como adjuntos adnominais ou como complementos nominais.
4. b) Espera-se que os estudantes percebam que o medo do fracasso contemporâneo surge em razão de uma sociedade que demanda muitas cobranças e uma postura sempre de sucesso.
a) Copie o organizador a seguir no caderno e preencha-o com essas expressões.
Adjuntos adnominais Complementos nominais
de cabelo comprido
de bruxas e de demônios, do Drácula e do Frankenstein, do Freddy Kueger e do Jason, dessas meninas fantasmas, do fracasso
b) Dessas expressões, quais poderiam ser retiradas do texto sem grandes prejuízos de sentido? Explique.
Somente o adjunto adnominal de cabelo comprido, pois traz apenas uma característica da menina fantasma.
Atividade complementar nas Orientações para o professor.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Ao longo desta unidade, você analisou vários textos que tematizaram sentimentos e subjetividades de personagens, além de ler o diário de José Saramago, no qual ele registrava seu dia a dia, reflexões e sensações. Agora, você e os colegas vão produzir um podcast sobre o cotidiano, destacando a poesia que é possível encontrar em pequenas ações e situações, e que podem produzir novos sentidos para a existência.
O que você irá produzir
Reunidos em trios, vocês vão produzir um podcast no qual cada integrante vai apresentar alguma situação pela qual tenha passado recentemente e que tenha sido inesperada, diferente ou curiosa, fora de uma situação rotineira. Cada integrante do trio vai narrar essa situação e, depois, caberá aos outros dois comentar a experiência do colega, ampliando a interpretação para evidenciar os sentidos poéticos que ela possa ter.
A primeira atividade é identificar algum evento que tenha sido surpreendente, diferente ou curioso:
a presença ou ausência de um transeunte no percurso de sua casa até a escola; uma mudança inesperada em alguma refeição;
a reação incomum de um colega ou familiar a algo; um filme, série ou canção que tenha despertado uma nova sensação ou um sentimento novo; qualquer outra situação que tenha sido causa de algum estranhamento.
Depois de selecionada a situação ou evento, cada um escreve um breve roteiro do que vai dizer no podcast. Não precisa ser exatamente o que vai ser dito, mas alguns apontamentos dos detalhes que não podem faltar, para que a fala seja natural mas também coesa, coerente, com começo, meio e fim.
Apresentação ordenada de um espaço
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A ordenação espacial em textos é construída por meio da descrição sequencial dos elementos conforme sua disposição no espaço. Essa descrição deve tomar um ponto de referência para então expandir-se para outras direções, como do centro para a periferia, de cima para baixo, ou da esquerda para a direita, utilizando expressões indicativas de posição.
Por exemplo, em um texto sobre o Rio Tejo, pode-se começar descrevendo suas nascentes nas montanhas, seguir o curso do rio nas cidades e finalizar com sua desembocadura no oceano Atlântico. Essa estratégia acompanha o percurso do rio desde a nascente até a foz; mas poderia ser o inverso: da foz às montanhas – essa escolha dependerá da intencionalidade de quem descreve. Outro exemplo
seria descrever uma sala de estar começando pela porta de entrada, passando pelos móveis principais e terminando com os detalhes decorativos nas paredes. Essa estratégia parte de uma visão geral para finalizar nos detalhes, como um zoom na linguagem do vídeo.
• Agora é a sua vez! Para exercitar a construção de uma ordenação espacial que pode ser fundamental no relato do podcast , escreva um pequeno texto descrevendo a sua sala de aula, começando pela porta de entrada e utilizando a ordenação espacial para incluir todos os elementos presentes, como carteiras, quadro, mesa, janelas e outros objetos, como os materiais didáticos. Utilize expressões indicativas de posição, como ao lado de, à esquerda de, no centro, perto da janela, em frente a, atrás de, à direita de, no canto, embaixo de e acima de para organizar a descrição de maneira clara e lógica. O objetivo é que o leitor consiga, com essa ordenação, construir uma imagem mental da sala de aula que se assemelhe bastante à sala de aula real.
Produzir
Depois de definidas as falas de cada integrante do trio, é o momento de produzir o podcast Para isso, siga as instruções.
1. O podcast não deve ser um texto lido e gravado, mas um diálogo entre três interlocutores que se aproxima do espontâneo. O roteiro deverá registrar os tópicos a serem discutidos para que nenhuma informação seja esquecida.
2. Para a gravação, tenham sempre em mãos todos os roteiros, mas lembrem-se de que, por ser um diálogo, vocês poderão ir além dele.
3. O podcast pode ser gravado em um smartphone ou outro equipamento que preferirem. Lembrem-se de que ele poderá ser editado posteriormente; então, não tenham medo de errar.
4. Um dos integrantes deve ser selecionado para ser o mediador das falas. Ele será responsável pela abertura, saudação, apresentação e pelo encerramento.
5. Para começar, o mediador deverá saudar seu público e apresentar uma breve biografia dos participantes. Depois de todos devidamente apresentados, cabe ao mediador fazer uma introdução sobre o assunto a ser discutido – no caso, a poesia que aparece inesperadamente no cotidiano. Em seguida, a palavra deve ser passada para o primeiro articulador.
6. Na primeira fala, o participante saúda o público e começa seu relato. Lembrem-se: não é uma leitura. Cabe a todo grupo ficar atento ao que está sendo dito para encadear uma discussão ou um comentário. Por isso, tenham, no momento da gravação, material para anotação.
7. O segundo articulador vai fazer sua saudação e apresentar sua fala. Dado o caráter espontâneo que se pretende reproduzir, é interessante que a segunda fala dê continuidade à primeira, resgatando alguns tópicos discutidos de forma a ampliá-los ou relativizá-los.
8. O podcast deve gerar uma discussão, um comentário, uma conversa descontraída, mas fiquem atentos para respeitar o turno de fala do colega. É preciso esperar que quem está falando conclua a informação ou argumento que está apresentando, para então outro participante iniciar sua articulação.
9. O objetivo é que, no final da atividade, todos reflitam sobre como a poesia pode surgir do inesperado, basta ter um olhar poético para encontrá-la.
10. Depois de gravado o podcast , vocês poderão editá-lo, excluindo as partes que contenham problemas, e incluir uma vinheta de abertura e de encerramento, se assim desejarem.
Depois de gravado e editado o podcast, o arquivo de áudio poderá ser compartilhado com a turma por meio de redes sociais ou e-mail. Outra possibilidade é hospedar o áudio em algum serviço de streaming ou compartilhamento de mídias e divulgar apenas o link.
PESSOA, Fernando. Diários e escritos autobiográficos. Lisboa: Assírio & Alvim, 2022.
Este livro, ao reunir diários, cartas, apontamentos e alguns poemas, esboça um retrato do escritor português Fernando Pessoa (1888-1935) que emerge não apenas de seus escritos ficcionais e trechos que escreve como pessoa biográfica. Além de satisfazer a curiosidade do leitor e ajudar a compreender a natureza e a evolução de seus processos de escrita, traz informações que permitem melhor apreciação dos textos ao apresentar experiências de vida do autor que, direta ou indiretamente, podem ser associadas a momentos de sua obra.
GRANDELLE, Renato. No século XIX, sonho de português era ser ‘brasileiro’. O Globo, Rio de Janeiro, 30 maio 2015. Disponível em: https:// oglobo.globo.com/brasil/historia/no-seculo-xix-sonho-de-portugues-eraser-brasileiro-16307678. Acesso em: 8 set. 2024.
O link dá acesso a uma reportagem sobre o modo como os portugueses viam a ex-colônia, o perfil dos imigrantes e conta algumas histórias interessantes sobre o que aconteceu com alguns deles, o que fizeram os que aqui permaneceram e os que voltaram para Portugal, vários deles muito ricos. As fotografias que acompanham a reportagem dão uma ideia da indumentária e de alguns hábitos da segunda metade do século XIX.
Capa de Diários e escritos autobiográficos
Foto da reportagem “No século XIX, sonho de português era ser ‘brasileiro’”.
QUE FAREI com este livro? 5.1: Almeida Garrett: o refundador do teatro português. Locução de: Catarina Duarte Almeida. 2021. [S. l.]: Apple Podcasts, 16 nov. 2021. Podcast. Disponível em: https://podcasts.apple.com/pt/podcast/ ep-5-1-11%C2%BA-ano-almeida-garrett-o-refundador-do-teatro/id1560757138 ?i=1000542069612. Acesso em: 8 set. 2024.
O podcast simula uma apresentação em três atos para falar sobre a produção teatral de Almeida Garrett. Sua peça Frei Luís de Sousa é o foco de uma sequência de episódios que têm início com esta indicação, que aborda aspectos da vida e da escrita de Garrett e o contexto histórico em que ele produziu seus escritos, em especial para o teatro.
MISTÉRIOS de Lisboa. [Série]. Direção: Raúl Ruiz. Portugal: Versátil, 2010. 3 DVDs (272 min).
O filme, com base na obra homônima de Camilo Castelo Branco, conta várias histórias que se sucedem, parecendo não ter fim. Pedro da Silva, um órfão de 14 anos ansioso por descobrir sua origem, é o personagem que cria um vínculo entre essas histórias, as quais atravessam todo o século XIX. Um mistério desencadeia outro mistério e o drama do órfão se transforma na genealogia de uma série de paixões desastradas, até que todos os personagens se veem interligados. Mistérios de Lisboa tem duas versões: uma para a TV, outra para o cinema.
Capa do podcast Que farei com este livro?
Capa do DVD
de Lisboa
BAGNO, Marcos. Gramática pedagógica do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2011.
Nessa obra, o linguista apresenta uma gramática que tem como cerne os usos da língua e propõe, com base nisso, discussões relevantes, que apoiam a reflexão e a prática docentes.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Tradução: Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
Nessa obra, entre os conceitos que compõem a teoria dialógica, é apresentado o conceito de gênero do discurso.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução: Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. 11. ed. São Paulo: Hucitec, 2004.
A obra desenvolve o conceito de signo ideológico, capital na formulação da teoria dialógica.
BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato responsável. Tradução: Valdemir Miotello e Carlos Alberto Faraco. São Carlos: João e Pedro Editores, 2010.
A obra apresenta as bases filosóficas da teoria dialógica, com destaque para a arquitetônica bakhtiniana.
BARBOSA, Márcio; RIBEIRO, Esmeralda (org.). Cadernos Negros. São Paulo: Quilombhoje, 1978-.
A série Cadernos Negros publica anualmente, desde 1978, contos e poemas de autores brasileiros negros em forma de antologia: de poemas, nos números ímpares, e de contos, nos números pares. Assim, busca abrir espaço para novos escritores, além de conquistar novos leitores.
BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Tradução: Carlos Alberto de Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
O autor trata da questão da identidade no contexto do multiculturalismo, com base no pressuposto de sua teoria do mundo e da modernidade líquidos.
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 39. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019.
Gramática que traz um panorama da história da língua e trata de fonética e fonologia, estrutura de palavras, morfologia, sintaxe, noções de versificação e de estilística e que pode apoiar os estudos da norma-padrão pelos estudantes.
BENVENISTE, Émile. Problemas de linguística geral I. Tradução: Maria da Glória Novak e Maria Luisa Neri. Campinas: Pontes, 2005.
BENVENISTE, Émile. Problemas de linguística geral II Tradução: Eduardo Guimarães et al. Campinas: Pontes, 2006.
Nessas obras, o teórico estruturalista Benveniste constrói a teoria geral da enunciação e abre caminho para a plena compreensão de possibilidades da análise discursiva.
BERLIN, Isaiah. As raízes do Romantismo. Tradução: Isa Mara Lando. São Paulo: Fósforo, 2022.
A obra traça um panorama de como as ideias românticas se desenvolveram desde o Iluminismo até o século XIX, enfatizando a ruptura com a razão e o foco na individualidade, na emoção e na liberdade criativa.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira São Paulo: Cultrix, 2015.
O emérito professor Alfredo Bosi traça um painel ao mesmo tempo denso e sintético da literatura brasileira desde o período colonial até a contemporaneidade. Referência fundamental para estudantes e professores.
BOTTON, Alain de. Notícias: manual do usuário. Tradução: Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2015.
Nessa obra, o filósofo Alain de Botton apresenta uma reflexão sobre o impacto social do campo jornalístico e midiático discutindo os efeitos do sensacionalismo, das celebridades e das punições e o quanto podemos criar estratégias para minimizar a influência negativa e pouco ética dessas estratégias.
BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2005.
BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: outros conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2010.
Organizados pela professora Beth Brait, ambos os livros apresentam conceitos estruturantes da teoria de Bakhtin e o Círculo em uma linguagem acessível, que pode amparar a leitura das obras originais do teórico russo.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília, DF: MEC, 2018. Disponível em: https://www.gov.br/mec/pt-br/escola-em -tempo-integral/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal.pdf. Acesso em: 2 out. 2024.
Documento que apresenta as bases do desenvolvimento do projeto pedagógico escolar em todos os segmentos da Educação Básica.
BRASIL. Senado Federal. LDB: lei de diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF: Senado Federal: Coordenação de Edições Técnicas, 2017. Disponível em: http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/529732. Acesso em: 2 out. 2024.
Documento com o texto da LDB, de 1996, atualizado em 2017.
CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 9. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 2000. Nessa obra fundamental e de referência para estudiosos, o autor analisa a produção literária brasileira, do Arcadismo até o Romantismo.
CRARY, Jonathan. Terra arrasada: além da era digital, rumo a um mundo pós-capitalista. Tradução: Joaquim Toledo Jr. São Paulo: Ubu, 2023.
O autor faz uma crítica contundente à sociedade contemporânea, abordando os impactos negativos do capitalismo digital e a deterioração das relações humanas e do meio ambiente.
CUNHA, Celso; CINTRA, Luís Filipe Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 7. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2016.
Gramática descritivo-normativa que pode apoiar os estudantes nos estudos da norma-padrão. Ela traz um panorama da história da língua e trata de fonética e fonologia, estrutura de palavras, morfologia, sintaxe, noções de versificação e de figuras de linguagem.
DAYRELL, Juarez. A escola “faz” as juventudes?: reflexões em torno da socialização juvenil. Educação e Sociedade, Campinas, v. 28, n. 100, p. 1105-1128, out. 2007. Disponível em: www.scielo.br/pdf/es/v28n100/a2228100.pdf. Acesso em: 2 out. 2024.
O texto discute as relações entre juventude e escola, indagando sobre o lugar que esta ocupa na socialização da juventude contemporânea, em especial dos jovens das camadas populares.
DAYRELL, Juarez; JESUS, Rodrigo Ednilson de. Juventude, Ensino Médio e os processos de exclusão escolar. Educação e Sociedade, Campinas, v. 37, n. 135, p. 407423, abr./jun. 2016. Disponível em: www.scielo.br/j/es/a/ vDyjXnzDWz5VsFKFzVytpMp/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 24 set. 2024.
O artigo reflete sobre os processos de exclusão escolar vivenciados por jovens adolescentes no Brasil.
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Tradução: Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. A expressão “sociedade do espetáculo” refere-se ao poder das imagens na sociedade contemporânea. O autor associa as relações sociais de produção e consumo: o acúmulo de imagens relaciona-se ao acúmulo de capital e tem no marketing ferramenta fundamental para a mercantilização de produtos, de ideias, de cultura.
DUARTE, Constância Lima et al. (org.). Maria Firmina dos Reis: faces de uma precursora. São Paulo: Malê, 2018. O livro explora a vida e obra da primeira romancista afro-brasileira, destacando sua importância na literatura e na luta pela abolição da escravidão. A obra retrata suas contribuições pioneiras, como o romance Úrsula (1859), que abordou a escravidão de uma perspectiva crítica e humanista.
DUNKER, Christian Reinvenção da intimidade: políticas do sofrimento cotidiano. São Paulo: Ubu, 2017.
Apoiado em atitudes contemporâneas cotidianas, como disposição a ficar permanentemente conectado e dificuldade para construir situações de real solidão ou intimidade, o autor analisa o sofrimento que, embora vivido no sujeito, está submetido às escolhas de cada um na partilha de afetos.
FARACO, Carlos Alberto. Linguagem & diálogo: as ideias linguísticas do círculo de Bakhtin. São Paulo: Parábola, 2009.
Nessa obra, didaticamente organizada, estudioso de Bakhtin e o Círculo comenta e explica os principais conceitos que estruturam a teoria dialógica.
FIORIN, José Luiz. As astúcias da enunciação: as categorias de pessoa, espaço e tempo. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2016.
Essa obra aborda alguns dos aspectos essenciais da enunciação, como as categorias de tempo, espaço e pessoa.
HALL, Stuart. A identidade na cultura da pós-modernidade. Tradução: Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 12. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2019.
Em um mundo considerado líquido, em que “tudo que é sólido” pode se desmanchar no ar, a identidade não tem mais nada de imutável. Esse livro discute três conceitos de identidade: o da sociedade iluminista, o da sociedade moderna e o da sociedade pós-moderna.
HAN, Byung-Chul. No enxame: perspectivas do digital. Tradução: Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2018. O filósofo nos apresenta como o digital é responsável por transformar e determinar comportamentos, percepções, sensações e pensamentos. A espetacularização e a massificação de opiniões criam um comportamento de enxame nas redes sociais, que é responsável pela construção de identidades e superficialidades de conhecimento e opiniões.
HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Tradução: Enio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2015.
Han define a sociedade do cansaço como a do sujeito do desempenho e da produção: explorado e explorador ao mesmo tempo, agressor e vítima de si mesmo, lança-se a um trabalho que o individualiza e isola.
JACOB, Lívia Penedo. As duras penas: o índio na literatura e a literatura indígena. 2020. Tese (Doutorado em Letras) –Instituto de Letras, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2020.
Vencedora de menção honrosa no Prêmio Capes de Tese (2021), a pesquisa demonstra como as interações entre colonizadores e os povos nativos das Américas se desenvolvem em diferentes momentos e espaços literários. De Colombo e Vespúcio até o contemporâneo, o discurso sobre o outro contribui para a formação de uma nova compreensão acerca do próprio conceito de humanidade.
KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1990.
Essa obra se detém em explicar a construção dos processos de coesão textual, com base em um referencial da Linguística Estruturalista.
KOCH, Ingedore Villaça. Argumentação e linguagem. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
A obra explora as possibilidades de construção de estratégias e de procedimentos argumentativos.
KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1990.
Essa obra explica a construção dos processos de coerência textual, com base em um referencial da Linguística Estruturalista.
KRENAK, Ailton. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.
Nesse livro, o autor critica os “consumidores do planeta” e questiona a própria ideia de sustentabilidade, considerada por alguns como panaceia.
KRENAK, Ailton. Futuro ancestral. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.
Nas palestras reunidas nessa obra, o autor indígena critica o paradigma ocidental de consumo e produtividade, propondo a reconexão com a natureza, a valorização da vida e a solidariedade, identificando nos saberes ancestrais um caminho para garantir o futuro do planeta.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
Nas palestras reunidas nesse livro, o líder indígena critica a ideia de humanidade como algo separado da natureza e localiza nesse equívoco a origem do desastre socioambiental de nossa era.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução: Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. 11. ed. São Paulo: Cortez: Unesco, 2006. Nessa obra, o filósofo e sociólogo francês opina sobre o que se deveria aprender para enfrentar os desafios da educação do século XXI. Ao falar sobre a necessidade de aprender a enfrentar as incertezas, a ética do gênero humano, a identidade terrena, entre outros tópicos, Morin alerta para as grandes questões que podem ajudar a refletir sobre o mundo e a construir novos posicionamentos.
NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: Ed. Unesp, 2000.
Essa gramática observa as regularidades da língua em uso. Para isso, adota uma organização que propicia um tratamento cujo principal objetivo é observar a língua em funcionamento, as normas de uso e suas possibilidades e restrições.
SAFATLE, Vladimir. Circuito dos afetos: corpos políticos, desamparo, fim do indivíduo. 2. ed. rev. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.
O filósofo e psicanalista associa a transformação social e política à mudança do que ele chama circuito de afetos, que produz corpos políticos, individuais e coletivos.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino da gramática no 1o e 2o graus. São Paulo: Cortez, 1997.
Essa obra apresenta uma proposta de ensino de gramática que parte do questionamento da necessidade desse conhecimento na escola e se preocupa em articular esse conhecimento da língua com a produção de texto.
Prezada professora, prezado professor,
O Ensino Médio tem apresentado muitos desafios a todos os envolvidos com educação. Professores, pesquisadores, governantes e gestores buscam soluções não só para garantir maior presença dos estudantes nessa etapa da Educação Básica como também para pensar um ensino que faça sentido para os jovens no mundo contemporâneo.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), cuja etapa do Ensino Médio foi aprovada em dezembro de 2018, tem como propósito vertebral uma educação integral, que forneça subsídios aos estudantes para a formulação de um projeto de vida. Fazer isso na contemporaneidade exige também postura alerta às relações – de cada um consigo mesmo, com o outro, com o mundo ao redor, com o próprio conhecimento.
Esta obra considera esses desafios. Traz um conjunto de leituras e propostas de atividades e práticas que perseguem o objetivo central de apoiar os estudantes na construção de um conhecimento que seja ao mesmo tempo de si mesmo, do outro e do mundo. Nesse tripé, pode apoiar-se a construção da identidade – processo visto como fundamental para o desenvolvimento do protagonismo dos estudantes, sem o qual o projeto de vida fica comprometido. Desse modo, a coleção convoca os estudantes a afirmar sua voz e a se abrirem à alteridade, além de possibilitar a construção de modos de articular, entender e avaliar diferentes contextos.
Acreditamos que o trabalho proposto criará muitas oportunidades de diálogo com os estudantes: uma troca genuína, atual e plena de sentido. Estamos juntos nesta caminhada e nos colocamos sempre à disposição para ouvir cada um de vocês. Bom trabalho a todas e todos!
Os autores
[…] a educação deve afirmar valores e estimular ações que contribuam para a transformação da sociedade, tornando-a mais humana, socialmente justa e, também, voltada para a preservação da natureza […].
Brasil1
Um lugar onde todos
Se veem nos demais
Porque é olhando os demais
Que enxergamos a gente
Sérgio Brito2
A complexidade do mundo contemporâneo apresenta desafios que têm exigido permanente reposicionamento de autoridades, empresários, pesquisadores, pensadores e, em particular, de educadores. O panorama que se abre ao educador hoje exige, além de boa dose de coragem, respostas inovadoras, que possam significar um caminho de formação para estudantes de todos os níveis de ensino e que considerem os impactos das tecnologias nas relações sociais e no mundo do trabalho.
Nas diferentes áreas do conhecimento, perpassando a Psicanálise, a Filosofia, a Sociologia, a Pedagogia, entre tantas outras, há uma busca incessante de grandes pensadores contemporâneos por compreender a realidade e as questões mais urgentes da atualidade. O filósofo Zygmunt Bauman (1925-2017)3, por exemplo, ao formular o conceito de “mundo líquido”, destaca a impermanência e a instabilidade das
relações e dos contextos de interação. O pensador Edgar Morin (1921-)4 entende que, em um mundo complexo, a articulação de conhecimentos e a humanização do ensino se mostram condições importantes para o enfrentamento de questões cada vez mais intrincadas. Como aponta Pierre Lévy (1956-)5, há um mundo atravessado pela tecnologia, no qual se alteram não só os meios de comunicação, mas principalmente a subjetividade e o modo de pensar dos sujeitos – já que, ao manipular objetos técnicos, tais ferramentas alteram, segundo o teórico, a própria maneira de pensar. Pode-se apontar também o “mundo do cansaço” do filósofo Byung-Chul Han (1959-) que, ao entender a sociedade contemporânea como sendo construída por “sujeitos de desempenho e produção, ‘empresários de si mesmo’, produz ‘um cansaço solitário, que atua individualizando e isolando’”6. Dessa forma, confrontar o isolamento e a intolerância promove o diálogo entre a diversidade de experiências e os diferentes pontos de vista, de modo a valorizar o universo de cada um, buscando o entendimento, o respeito e a valorização do outro como fundamentais na construção da identidade.
Resistir ao isolamento e a outros estados psíquicos que têm visivelmente afetado a vida dos jovens estudantes e o modo como se dão os afetos no mundo virtual e no mundo real tem sido uma preocupação cada vez mais acentuada. O psicanalista brasileiro Christian Dunker (1966-)7, por exemplo, analisa a questão do isolamento na vida contemporânea não apenas em função das mediações da tecnologia mas também
1 BRASIL, 2013 apud BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília, DF: MEC, 2018. p. 8. Disponível em: https:// www.gov.br/mec/pt-br/escola-em-tempo-integral/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal.pdf. Acesso em: 21 out. 2024.
2 COMO iguais. Intérprete: Sérgio Britto (part. Luiz Melodia). Compositor: Sérgio Britto. In: PURABOSSANOVA. Intérprete: Sérgio Britto. Rio de Janeiro: Som Livre, 2013. 1 CD, faixa 6.
3 BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Tradução: Carlos Alberto de Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
4 MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução: Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. 11. ed. São Paulo: Cortez: Unesco, 2006.
5 LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Tradução: Carlos Irineu da Costa. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2010. (Coleção Trans).
6 HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Tradução: Enio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2015. p. 71.
7 DUNKER, Christian. Reinvenção da intimidade: políticas do sofrimento cotidiano. São Paulo: Ubu, 2017.
pelos modelos inalcançáveis de sucesso e felicidade. Outro psicanalista brasileiro e filósofo, Vladimir Safatle (1973-)8, tem se dedicado a observar a relação entre poder, política, solidão e a sensação de desamparo, explicitando a dimensão coletiva e social que se coloca além dos indivíduos e que acaba, por fim, interferindo na vida pessoal. Vários filósofos e psicanalistas têm se dedicado, mais recentemente, a observar como as redes sociais e a vida virtual têm afetado os jovens, aumentando o isolamento, a angústia ou até mesmo os estados depressivos de estudantes.
Diante de toda a complexidade que o mundo contemporâneo apresenta, é necessário legitimar a voz dos estudantes como sujeitos capazes de autonomia intelectual e pensamento crítico, essenciais na afirmação da identidade, capazes de atuar na vida cidadã, de participar da formulação de políticas – termo aqui entendido em seu sentido amplo, ou seja, como meio para formular os pactos que regem a vida comum – e de promover situações de participação ativa diante do outro, valorizando a si mesmo e as divergências próprias de um universo tão diverso.
Considerando o contexto atual apresentado, esta coleção foi planejada com base na necessidade de colocar o diálogo como eixo fundamental do trabalho curricular, tanto na organização dos conteúdos como no encaminhamento das diversas atividades: propondo desafios de pesquisa, leituras voltadas ao aprendizado de estratégias de estudo e elaboração de projetos. São apresentados temas diversos da vida contemporânea, com propostas de estudo sistemático da língua em suas diferentes dimensões (estrutural, textual e discursiva) de modo a oferecer aos estudantes conhecimentos necessários para promover práticas fundamentais à vida cidadã e abrir oportunidades
de troca em que a argumentação tem lugar central na forma civilizada de diálogo entre opiniões e valores.
O conceito de diálogo apoia-se aqui no conceito de dialogismo, tal como formulado pelo filólogo, historiador, sociólogo, filósofo, professor de língua e literatura, Mikhail Bakhtin (1895-1975). O teórico quis olhar para o ser humano em sua singularidade, para as correntes discursivas a que se filia, os discursos atravessados nas vozes de cada sujeito situado no tempo e no espaço, as relações em que estão mergulhados. Trata-se, portanto, de uma singularidade plural de saída porque leva em conta as relações dialógicas como condição da vida humana.
[…] O falante não é um Adão, e por isso o objeto de seu discurso se torna inevitavelmente um palco de encontro com opiniões de interlocutores imediatos (na conversa ou na discussão sobre algum acontecimento do dia a dia) ou com pontos de vista, visões de mundo, correntes, teorias etc. (no campo da comunicação cultural). Uma visão de mundo, uma corrente, um ponto de vista, uma opinião sempre têm uma expressão verbalizada. Tudo isso é discurso do outro (em forma pessoal ou impessoal), e este não pode deixar de refletir-se no enunciado. O enunciado está voltado não só para o seu objeto mas também para os discursos do outro sobre ele9.
[…] em qualquer enunciado, quando estudado com mais profundidade em situações concretas de comunicação discursiva, descobrimos toda uma série de palavras do outro semilatentes e latentes, de diferentes graus de alteridade. Por isso o enunciado é representado por ecos como que distantes e mal percebidos das alternâncias dos sujeitos do discurso e pelas tonalidades dialógicas, enfraquecidas ao extremo pelos limites dos enunciados, totalmente permeáveis à expressão do autor10.
Ao ocupar um lugar nesse diálogo, cada sujeito afirma uma posição que será sempre marcada por valores, posicionamentos, aberta a outras respostas, inserindo-se na corrente discursiva que garante, a cada um, sua voz, sua identidade. Assim, ao ser colocado em interação, o indivíduo produz enunciados que se
8 SAFATLE, Vladimir. Circuito dos afetos: corpos políticos, desamparo, fim do indivíduo. 2. ed. rev. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.
9 BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Tradução: Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. (Coleção biblioteca universal, p. 300).
10 BAKHTIN, ref. 9, p. 299.
realizam em um tempo e um lugar concretos e a partir de um centro de valor individual:
[…] o mundo se dispõe em torno de um centro valorativo concreto […]. O que constitui esse centro é o ser humano: tudo nesse mundo adquire significância, sentido e valor apenas em correlação com o homem – como aquilo que é humano. Todo Ser possível e todo significado possível se dispõe em torno do ser humano como o único centro e o único valor; tudo […] deve ser correlacionado com o ser humano, deve se tornar humano11.
Tais centros de valor ganham expressão em enunciados concretos. É por meio de enunciados concretos que cada sujeito ocupa esse lugar e sustenta sua posição, ou seja, é por meio da realização singular e única da língua em um dado ato ético, social, histórica e espacialmente situado, que o sujeito afirma sua voz. O enunciado concreto corresponde, portanto, a “um lugar no Ser único e irrepetível, um lugar que não pode ser tomado por ninguém mais”12. Isso revela uma singularidade (eu-para-mim) e um gesto ético, porque inclui o outro produzindo contato de centros de valor, uma arena em que esses valores se atritam (outro-para-mim, eu-para-o-outro). Por ser social, o discurso constrói diálogos no tempo entre temas, valores, posicionamentos que se tecem e podem integrar a mesma corrente discursiva.
O conceito de diálogo, portanto, dá-se entre posicionamentos que podem estar dispostos em textos de diferentes temporalidades ou na troca viva de opiniões, propostas, crenças, conjecturas, convicções, modos de ser e de estar. Tudo aquilo que afeta tem a ver com a capacidade que uma pessoa, artefato, situação, ideia, obra ou espaço tem de nos colocar em outro
lugar discursivo, comunicar algum tipo de emoção; somos afetados por aquilo a “que nossos olhos não podem ser indiferentes [...], seja através das formas da atração, seja através da repulsa”13. Afetar o outro só é possível por meio de algum tipo de interação, pelos diálogos que, ainda que atravessados pela tensão própria das relações dialógicas, podem ter a força de aglutinação entre sujeitos.
É por meio dessa troca viva que acreditamos derivar-se em grande parte a construção da identidade. A afirmação da identidade se dá no reconhecimento das diferenças que esse diálogo vivo, atravessado de temas, propósitos, formatos muito diferentes, expõe.
O conceito de identidade ocupa vasto lugar em diversos campos do conhecimento. A título de exemplo, no campo da Sociologia, Juarez Dayrell14, 15, 16 problematiza o lugar que a escola ocupa na socialização da juventude contemporânea, em especial dos jovens das camadas entendidas como populares. Já nos campos da Psicologia e da Psicanálise, David Léo Levisky17 olha para a construção da identidade associada a questões como violência, cidadania, liberdade, democracia. Christian Dunker analisa as dinâmicas dos sujeitos, seu isolamento ou seu engajamento social em um mundo onde os limites entre vida privada e vida pública, intimidade e exposição estão embaçados. O autor reconhece que […] As redes sociais podem aprofundar o isolamento de alguém quando olhamos para a tirania do sucesso que elas impõem como fenômeno discursivo. [...] A complexidade e o risco social representado pela conversa ‘virtual’ atacarão quem não tem nada a perder e os que temem por sua imagem18.
Além do teórico Christian Dunker, vários outros estudiosos têm se dedicado a pensar fragilidades que
11 BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato. Tradução: Carlos Alberto Faraco e Cristóvão Tezza. [S. l.: s. n., 200-]. p. 79. Tradução para fins acadêmicos, não publicada. Versão inglesa de Vadim Liapunov do original russo.
12 BAKHTIN, ref. 11, p. 58.
13 SAFATLE, ref. 8, p. 14.
14 DAYRELL, Juarez. O jovem como sujeito social. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 24, p. 40-52, set./dez. 2003. Disponível em: https://www. scielo.br/pdf/rbedu/n24/n24a04.pdf. Acesso em: 21 out. 2024.
15 DAYRELL, Juarez. A escola “faz” as juventudes?: reflexões em torno da socialização juvenil. Educação e Sociedade, Campinas, v. 28, n. 100, p. 1105-1128, out. 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/es/v28n100/a2228100.pdf. Acesso em: 21 out. 2024.
16 DAYRELL, Juarez; JESUS, Rodrigo Ednilson de. Juventude, Ensino Médio e os processos de exclusão escolar. Educação e Sociedade, Campinas, v. 37, n. 135, p. 407-423, abr./jun. 2016. Disponível em: www.scielo.br/j/es/a/vDyjXnzDWz5VsFKFzVytpMp/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 21 out. 2024.
17 LEVISKY, David Léo. Construção da identidade, o processo educacional e a violência: uma visão psicanalítica. Pro-Posições, Campinas, v. 13, n. 3, set./dez. 2002. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8643939/11395. Acesso em: 21 out. 2024.
18 DUNKER, ref. 7, p. 28.
afetam os jovens, muitas vezes isolando-os e produzindo diversas patologias.
Se a fricção entre as trocas contribui para a construção da identidade, se é no contato com a alteridade que nos construímos como sujeitos responsivos, o diálogo pode ser considerado forma de resistência ao isolamento que, em diversas condições, mostra-se pouco produtivo não apenas no processo de aprendizagem mas na formação dos estudantes como sujeitos críticos, aptos ao exercício da vida cidadã e à plena realização de suas aspirações e vontades.
A presente coleção considera todas essas fontes e toma como eixo fundamental o conceito de diálogo amparado pela teoria de Mikhail Bakhtin, tal como apresentada aqui.
A esse eixo geral e ao panorama teórico de fundo apresentado, somam-se outras referências para o trabalho com a língua e a linguagem, consideradas também em sua dimensão gramatical e textual – com a leitura de gêneros não literários embalada pelas teorias dialógicas já mencionadas, o que requer uma participação ativa na construção dos sentidos, e com o trabalho com produção de texto –, apresentadas a seguir, no detalhamento da proposta.
Essenciais para a expressão do pensamento, da emoção, de tudo o que nos faz humanos, o domínio das competências da área de Linguagens e suas Tecnologias e das de Língua Portuguesa, em particular, garante acesso à vida cidadã, à afirmação de si, à construção de um lugar social – que é também discursivo –, permitindo ao jovem ser protagonista de si, construir seu projeto de vida e usufruir do mundo prático e sensível a que tem direito.
O trabalho com a linguagem é, portanto, fundamental na formação do cidadão crítico, preparado para o mundo do trabalho e a continuidade dos estudos; na formação do sujeito capaz de reconhecer e manifestar
19 BRASIL, ref. 1, p. 481.
20 BRASIL, ref. 1, p. 481.
21 BRASIL, ref. 1, p. 481.
“sentimentos, interesses, capacidades intelectuais e expressivas”19; de ampliar e aprofundar “vínculos sociais e afetivos”20; e de refletir “sobre a vida e o trabalho que [gostaria] de ter”21. É por meio da linguagem que o jovem se interroga sobre si mesmo, sobre os outros próximos e distantes, sobre o mundo ao redor. A linguagem humaniza.
Nesta coleção, considera-se que o jovem só será protagonista de si mesmo na medida em que puder afirmar sua voz como sujeito capaz de pensar o mundo, sustentar suas ideias, expressar o que pensa e sente em diferentes linguagens. Assim, há à preocupação de:
a) Consolidar e aprofundar a construção dos conhecimentos desenvolvidos no Ensino Fundamental relacionados à Área de Linguagens e suas Tecnologias;
b) Possibilitar a efetiva construção dos conhecimentos, das competências gerais e competências específicas relacionadas à Área de Linguagens e suas Tecnologias, condizentes com os componentes que compõem a respectiva coleção, de forma integrada com as outras áreas do conhecimento22;
Para isso, os volumes desta coleção articulam diferentes textos para desenvolver a capacidade de “expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo”23 em diferentes esferas de produção e circulação e em diferentes gêneros; bem como a capacidade de:
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta24.
22 BRASIL. Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Secretaria de Educação Básica. Programa Nacional do Livro e do Material Didático. Edital de Convocação no 02/2024: CGPLI: PNLD Ensino Médio 2026-2029: anexo 01: referencial pedagógico. Brasília, DF: MEC, 2024. p. 18.
23 BRASIL, ref. 1, p. 9.
24 BRASIL, ref. 1, p. 9.
[…] [e formular] análise crítica, criativa e propositiva da produção, circulação e recepção de textos de divulgação científica e de mídias sociais, considerando os elementos que constituem esses textos (em termos de gêneros) e procedimentos de leitura multimodal e inferencial25.
O desenvolvimento dessas competências, aqui entendidas como “a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho”26, conforme dispõe a BNCC, pede uma abordagem que estimule a crítica; que estimule uma postura ativa dos estudantes; que considere a facilidade do acesso às informações disponibilizadas pela tecnologia, que coloca peso e importância no modo como essas informações se articulam para construir pensamento analítico, crítico, lógico, analógico, sistêmico, criativo, prático, deliberativo, propositivo em certos casos, sintético etc.; que estimule atitudes éticas, respeitosas, empáticas, solidárias; que defenda valores que dignifiquem e valorizem a vida humana em sua diversidade, aí incluído o contexto social e natural em que vivemos.
A ideia de diálogo regulou toda a organização dos conteúdos da coleção. Na frente de Literatura, buscou mostrar que a produção de cada momento histórico está impregnada das vozes sociais da época em que é produzida e das que ecoam de outras épocas, já que toda produção está integrada a uma corrente discursiva que cada obra resgata e renova. Assim, cada momento histórico da produção literária ecoa os discursos que fazem parte da arquitetura de um tempo entre tempos.
Para dar forma a essa ideia, cada unidade da coleção introduz o estudo com a leitura de um texto literário contemporâneo ou moderno, cuja exploração será seguida de textos apresentados na seção No fio do tempo que se afirmaram como exemplares de diferentes projetos estéticos e, consequentemente, ideológicos. Nessa seção, são apresentados diferentes projetos literários (“projeto” entendido aqui como um
conjunto de obras em que se podem identificar vetores ideológicos comuns). A construção desse diálogo entre tempos foi pautada por similaridades, sobretudo temáticas e eventualmente estilísticas. A opção de partir de textos mais “atuais” pode favorecer a entrada dos estudantes em um campo de discussões que pretendem problematizar ideias e valores que se manifestam em textos de épocas distintas.
A Unidade 1 do Volume 3, que irá tratar da prosa da geração de 1930, por exemplo, é introduzida por um trecho de Torto arado, de Itamar Vieira Junior, uma obra que mergulha na vida de uma comunidade rural no sertão baiano para discutir questões ligadas à posse da terra, à luta por direitos e à identidade. Em seguida, o leitor será confrontado com o sertão de Vidas secas, de Graciliano Ramos, podendo concluir, depois de apresentado o contexto da produção de 1930, que Torto arado estabelece um elo significativo com a literatura em prosa da segunda geração modernista ao retomar e revitalizar temas centrais dessa tradição, como a exploração das realidades regionais e a crítica social: as complexidades da vida agrária, a luta pela terra e a resistência das comunidades tradicionais.
As questões que orientam o estudo dos textos literários exploram o diálogo com o contexto, as informações básicas do texto e os recursos estilísticos ou semânticos relevantes para chegar às questões mais de fundo de que todo texto é portador – ou seja, os posicionamentos que sustenta. Vale dizer que as respostas sugeridas para as questões não refletem exatamente uma expectativa das formulações dos estudantes; muitas têm o objetivo de também apoiar e orientar o professor quanto às possibilidades de discussão que podem suscitar.
Os contextos – ou seja, as condições históricas, sociais, econômicas, culturais e políticas de cada momento – são tratados de formas diversas nas questões de exploração dos textos, em geral associados à leitura de textos de diferentes áreas do conhecimento que pretendem amparar a reflexão dos estudantes.
25 BRASIL, ref. 22, p. 43.
26 BRASIL, ref. 1, p. 8.
Os contextos são aprofundados quando o estudo das estéticas tratadas na seção No fio do tempo expande as condições históricas de produção dos diferentes projetos literários. Por exemplo, na Unidade 2 do Volume 2, que trata do projeto naturalista, relaciona-se a estética que produziu narrativas aliadas a discursos de uma ciência que ainda procurava se estabilizar, mas que reproduzia preconceitos e racismo que mantinham a estrutura desigual e injusta de sociedade, à obra de Ana Paula Maia, que introduz o estudo da literatura na unidade, sendo possível encontrar ecos do Naturalismo na apresentação das personagens, que se assemelham a animais quando submetidas a contextos em que são privadas de seus direitos mais básicos.
A seleção dos textos literários propostos para a frente de Literatura pautou-se em conciliar a tradição literária a outros que permaneceram (quase) ignorados por ela, mas que iluminam novas veredas da produção de cada tempo. Entre eles, tem destaque a literatura feita por mulheres que, em uma sociedade profundamente marcada pelo machismo como a brasileira, foi pouco publicada e pouco lida. Procurou-se também, com a seleção literária desta coleção, confrontar passado e contemporaneidade, propondo, por meio do diálogo, a percepção de arcos temáticos, os quais comunicam também traços das realidades que se transformam e ao mesmo tempo permanecem iguais, o que projeta esboços da identidade brasileira, sobretudo, mesmo quando se trata da literatura portuguesa –essa matriz – ou da literatura africana – essa irmã.
Entre os textos mais contemporâneos, a seleção procurou trazer vozes jovens no cenário das publicações com a certeza de que elas abrem um leque de discussões fundamentais para o presente dos estudantes, que poderão, em seguida, encontrar na seção No fio do tempo raízes outras para esses mesmos assuntos, pensamentos, posições. A amplitude e a diversidade temáticas permitem discutir, entre tantos, os Temas Contemporâneos Transversais, como, por exemplo, os relacionados ao multiculturalismo, como na Unidade 4 do Volume 1, na Unidade 9 do Volume 3, e ao mundo do trabalho, tratado na Unidade 8 do Volume 3
Nos boxes Ler o mundo e O X da questão, introdutórios à leitura dos textos literários, são apresentadas brevemente as questões fundamentais de cada momento; essa apresentação é seguida por questões que podem propor a retomada de conteúdos vistos em unidades ou mesmo volumes anteriores e uma reflexão de cunho mais pessoal, que pretende explorar o repertório de cada estudante, provocar dúvidas, colocar em diálogo diferentes hipóteses, modos de ver, ideias. Por isso, nem todas as questões têm uma “resposta certa” ou nem mesmo uma expectativa de resposta; trata-se de um momento de reflexão pessoal e coletiva em que a dúvida ou a incerteza podem acionar o alerta da curiosidade, da necessidade de investigação, estágios importantes no processo de construção do conhecimento.
Ao terem oportunidade de trocar com os colegas informações, posições, opiniões sobre tantos temas, os estudantes podem também olhar para si mesmos, confrontar realidades e, com o outro, construir a própria identidade. Esse contato fundamental se alia ao poder humanizador da literatura, que permite o contato com alteridades radicalmente diversas, potencializando o diálogo com o outro e o processo de autoconhecimento.
Complementares ao trabalho com a leitura dos textos literários, a coleção apresenta o boxe Hiperlink, com o objetivo de propor aos estudantes pesquisas de obras e autores importantes na composição de diferentes panoramas literários, e o boxe Ler literatura, em que a leitura de textos do campo artístico-literário pode ser potencializada por saberes de áreas do conhecimento, que iluminam aspectos importantes e que contribuem com a formação do leitor literário. Além dos boxes, a seção Integrando com… propõe relações interdisciplinares, confirmando o texto literário como um poderoso sintetizador de tendências, ideias, ideologias.
Assim, o diálogo em Literatura se estabelece tanto no que prevê o livro didático, ou seja, um diálogo entre texto e estudante por meio da proposição de questões e atividades diversas, quanto entre textos de tempos diferentes e o olhar de que são portadores. Se as atividades se voltam, por um lado, para uma abordagem que pede a compreensão e análise dos estudantes,
também pensa a relação entre eles, requisitando da turma um papel ativo seja em atividades complementares de pesquisa, seja acionando o repertório de cada um ou ainda apelando para uma reflexão que exige posicionamento e argumentação.
O trabalho na frente de Leitura foca o estudo dos gêneros que fortalecem e abrem novas oportunidades de troca entre os estudantes. Os textos selecionados abrangem todos os campos de atuação, desde textos verbais aos verbovisuais, dos escritos aos orais. Essa frente também se abre a um leque amplo de temas, como os presentes na Unidade 1 do Volume 3, em que o texto discute ameaça aos macacos; ou na Unidade 7 do Volume 2, que estuda projetos editoriais por meio da análise de capas de revista que abordam a questão climática; ou na Unidade 5 do Volume 1, que aborda questões sobre cidadania e civismo, entre outras.
Entende-se por leitura todo processo que exige alguma forma de compreensão, análise, construção de sentido de um enunciado, conforme Koch e Elias27. Nesse processo, consideram-se as posições de Colomer28, que entende a importância de ativar os conhecimentos visuais e do repertório do leitor, a formulação de hipóteses e deduções. O trabalho proposto em Leitura também está significativamente amparado pela teoria dialógica já citada, que entende o conceito de gênero como uma interação verbal entre sujeitos historicamente situados. Esses sujeitos produzem enunciados concretos e relativamente estáveis, já que são tomados de uma dada tradição dentro dos mais diversos campos de atividade humana. Esses enunciados são atualizados pelos sujeitos a cada enunciado, na manifestação da vontade discursiva de cada falante. Ao serem produzidos e circularem em um campo de atividade humana, os enunciados apresentam um dado conteúdo temático, que modula as possibilidades de atribuição de sentidos e seus recortes possíveis, uma forma composicional, que diz respeito a elementos de organização interna dos gêneros, e um estilo.
As atividades de leitura terão como foco a busca da posição que sustenta cada texto (verbal,
Associada à leitura de diferentes gêneros e às reflexões sobre a língua, as propostas de produção de texto da seção #nósnaprática partem de diferentes situações de comunicação em diferentes campos de atuação para públicos específicos, o que exige que a estrutura e a linguagem do texto sejam adequadas à enunciação. A produção pode referir-se a textos escritos ou orais, em linguagem verbal ou verbovisual. Assim, os estudantes podem ser chamados a escrever um roteiro ou a gravar uma entrevista, por exemplo. Em alguns casos, o gênero que será desenvolvido não é trabalhado na seção de leitura, mas na própria seção de produção. Desse modo, além de uma estrutura que oferece aos estudantes a orientação de um processo de trabalho, garante-se a eles também uma referência do gênero que deverão produzir. Entre as habilidades desenvolvidas, algumas delas estão voltadas ao universo digital, favorecendo, em certos casos, a discussão sobre a confiabilidade das fontes, assunto tão relevante no mundo contemporâneo das falsas informações.
Nessa seção, o boxe Laboratório de produção permite aos estudantes um olhar mais atento a algum recurso, sobretudo linguístico-textual, que poderão aplicar à produção. Nesse boxe, teoria e prática se articulam para que os estudantes possam se exercitar em um aspecto relevante para a produção de texto proposta.
27 KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2011.
28 COLOMER, Teresa; CAMPS, Anna. Ensinar a ler, ensinar a compreender São Paulo: Artmed, 2002. verbovisual; contínuo ou descontínuo). Além da face material e estrutural, o trabalho com a leitura de gêneros considera que todo enunciado (verbal, visual ou verbovisual) traça uma rede de relações discursivas com seu contexto de produção, com o público a que visa, com a tradição em que se insere, e está atravessado de valores cuja compreensão é fundamental no processo de formação dos sujeitos/estudantes como protagonistas. Assim, as questões que orientam o estudo dos gêneros consideram o contexto de produção e circulação, as informações explícitas e/ou implícitas, aspectos estilísticos ou semânticos, até chegar à camada argumentativa do texto.
Na frente de Análise linguística, o trabalho gramatical, sempre amparado em textos, considera a norma e a descrição estabelecidas em gramáticos como Cunha e Cintra29, e ainda outras, orientadas também pelo uso, como a de Bagno30, a de Neves31 e a de Vieira e Faraco32. A matéria textual incorpora os estudos sobre a teoria da enunciação de Benveniste33, 34, teórico também afeito aos aspectos discursivos, e as contribuições dos estudos de Koch35, 36, Koch e Travaglia37, Travaglia38 e Fiorin39, 40. As questões discursivas consideram sobretudo as contribuições de Bakhtin e o Círculo41, 42, 43, 44 e de seus comentadores, como Beth Brait45, 46 e Faraco47.
Nessa frente, são priorizadas as questões descritivo-normativas. Elas se concentram, nesta coleção, na sintaxe, uma vez que os estudos de morfologia estão previstos desde o Ensino Fundamental – Anos Iniciais e Finais. Considerando o impacto do estudo da relação entre as palavras e seus acordos, da subordinação e da coordenação de orações, da construção da coesão e da coerência na construção do pensamento, a coleção optou por privilegiar os estudos sintáticos retomando brevemente a morfologia quando esta se mostrar importante para o entendimento e estudo dos conceitos em foco na unidade.
A seção Astúcias da língua amplia, observa a aplicação ou trata da dimensão discursiva dos conceitos estudados ou ainda explora dimensões linguísticas do gênero apresentado em Leitura. Desse modo, amplia
as possibilidades de reflexão sobre a língua e cria, em alguns casos, diálogos internos que levam à observação dos conceitos em contexto textual, como na Unidade 3 do Volume 1, em que, depois das noções de acordo entre sujeito e predicado, se estuda o papel da concordância na construção da coesão; ou em contexto discursivo, como na Unidade 4 do Volume 1, em que, depois de estudados os tipos de sujeito, se estudam os efeitos de sentido da impessoalização do discurso com os sujeitos indeterminados.
Três projetos presentes na coleção, intitulados #fazerjunto, são propostos aos estudantes. Seus temas se relacionam a algum aspecto tratado em unidades anteriores a eles. A proposta procura pedir uma postura ativa dos estudantes: sendo sempre em grupo e resultando em um produto, pede negociação de sentidos e de encaminhamento de propostas, organização e, como na seção #nósnaprática, desenvolve, em vários casos, habilidades digitais e discussões relacionadas ao universo virtual.
Na seção Ler…, as leituras de textos de outras áreas do conhecimento têm o objetivo específico de fazer os estudantes lerem o texto para estudá-lo. A fim de dar caminhos ao estudo de textos nessas áreas, o trabalho proposto na seção sugere diferentes estratégias de leitura aos estudantes para instrumentalizá-los a desenvolver:
[…] atividades que envolvam a análise de textos das três outras áreas de conhecimento (Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza
CUNHA, Celso; CINTRA, Luís Filipe Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 7. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2016. BAGNO, Marcos. Gramática pedagógica do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2011. NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: Unesp, 2000. VIEIRA, Francisco Eduardo; FARACO, Carlos Alberto. Gramática do português brasileiro escrito. São Paulo: Parábola, 2023. BENVENISTE, Émile Problemas de linguística geral I. Tradução: Maria da Glória Novak e Maria Luisa Neri. Campinas: Pontes, 2005.
34 BENVENISTE, Émile Problemas de linguística geral II. Tradução: Eduardo Guimarães et al. Campinas: Pontes, 2006.
35 KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1990.
36 KOCH, Ingedore Villaça. Argumentação e linguagem. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
37 KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1990.
38 TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino da gramática no 1o e 2o graus. São Paulo: Cortez, 1997.
39 FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à linguística I: objetos teóricos. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
40 FIORIN, José Luiz. As astúcias da enunciação: as categorias de pessoa, espaço e tempo. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2016.
41 BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução: Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. 11. ed. São Paulo: Hucitec, 2004.
42 BAKHTIN, ref. 9.
43 BAKHTIN, Mikhail. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. Tradução: Aurora Fornoni Bernardini et al. 6. ed. São Paulo: Hucitec, 2010.
44 BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato responsável. Tradução: Valdemir Miotello e Carlos Alberto Faraco. São Carlos: João e Pedro Editores, 2010.
45 BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2005.
46 BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: outros conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2010.
47 FARACO, Carlos Alberto. Linguagem & diálogo: as ideias linguísticas do círculo de Bakhtin. São Paulo: Parábola, 2009.
e suas Tecnologias, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas) com intuito explícito de subsidiar a aprendizagem do estudante nas outras áreas48. Vale ressaltar, por fim, o importante papel que a argumentação tem na proposta da coleção. Aliada ao eixo do diálogo e da construção da identidade, a argumentação é trabalhada nas mais diversas seções e atividades do material, desenvolvidas sobretudo na seção Pensar e compartilhar. Além de capital para o exercício da vida cidadã, para a vida social dos estudantes, exigida em diversos gêneros e modalidades textuais que atravessam os caminhos de provas e concursos, o trabalho com a argumentação é também a prática do respeito e a resistência às formas da agressão e da violência. Ao serem colocados diante de posições e valores que se confrontam e diante dos quais precisam se posicionar, os estudantes entendem que a argumentação é o caminho para o diálogo com o outro e abre possibilidades de reflexão sobre si e sobre o mundo.
A BNCC indica um trabalho pedagógico com o desenvolvimento integrado das competências gerais previstas para a Educação Básica, das competências específicas e das habilidades para o Ensino Médio. Tal integração implica uma abordagem em que se mobilizem conhecimentos, atitudes e valores em prol da participação crítica e ativa dos estudantes, nos diversos campos de atividade dos componentes da área de Linguagens e suas Tecnologias; sendo assim, os eixos que sustentam essa integração: […] são as práticas de linguagem consideradas no Ensino Fundamental – leitura, produção de textos, oralidade (escuta e produção oral) e análise linguística/semiótica. As dimensões, habilidades gerais e conhecimentos considerados, relacionados a essas práticas, também são os mesmos [...], cabendo ao Ensino Médio [...] sua consolidação e complexificação, e a ênfase
nas habilidades relativas à análise, síntese, compreensão dos efeitos de sentido e apreciação e réplica (posicionar-se de maneira responsável em relação a temas e efeitos de sentido dos textos; fazer apreciações éticas, estéticas e políticas de textos e produções artísticas e culturais etc.)49
Os textos e as atividades propostos nesta coleção, ao longo das frentes e seções, contemplam esses princípios, oferecendo ao professor suporte para mapear o repertório que os estudantes trazem para a sala de aula e contribuindo para que se enfrente o desafio de se trabalhar com grupos numerosos e diversos, visando selecionar procedimentos metodológicos que respeitem os diferentes ritmos e necessidades dos “diferentes grupos de alunos, suas famílias e cultura de origem, suas comunidades, seus grupos de socialização”50.
Em termos práticos, a BNCC foca o trabalho com as competências, isto é, os saberes, em conjunto com as habilidades, as quais consistem na capacidade de aplicação desses saberes em situações reais, estimulando atitudes – ou seja, mecanismos internos que impulsionam a mobilização desses saberes e habilidades – e valores, que são os princípios subjacentes às práticas dos conhecimentos e das habilidades, tais como compromisso com os direitos humanos e a justiça social, ética e consciência ambiental.
Dado o maior grau de autonomia dos jovens do Ensino Médio, as habilidades a serem trabalhadas não são compartimentalizadas por anos; podendo uma habilidade “estar a serviço de mais de uma competência específica da área de Linguagens e suas Tecnologias”51
Na coleção, a seção #nósnaprática, por exemplo, ao articular teoria e prática, conhecimentos científicos e cotidianos, oferece condições para que os estudantes exerçam sua autonomia e vivenciem experiências significativas e contextualizadas que favoreçam o enriquecimento cultural e as práticas cidadãs, atendendo às demandas próprias da vida cotidiana e do mundo do trabalho.
48 BRASIL, ref. 22, p. 20.
49 BRASIL, ref. 1, p. 500-501.
50 BRASIL, ref. 1, p. 17.
51 BRASIL, ref. 1, p. 504.
Ao trabalhar as habilidades vinculadas às competências gerais e específicas, o professor abre caminho para o desenvolvimento do pensamento crítico, comprometido com princípios éticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. O trabalho com conhecimentos, habilidades, atitudes e valores requer uma abordagem interdisciplinar, de modo a permitir a exploração conjunta de temas multifacetados, tais como discriminação e exploração racial e de gênero ou privacidade nas redes sociais e plataformas digitais, favorecendo a ampliação do repertório cultural dos estudantes e instrumentalizando-os para se posicionarem com autonomia e protagonismo acerca de temas que lhes sejam significativos, nos diversos campos de atuação social já abordados neste material.
A avaliação em Língua Portuguesa deve observar os pressupostos dialógicos, que consideram a língua e a linguagem no contexto de interação entre as pessoas em determinados contextos sociais, históricos, culturais e ideológicos. Assim, a avaliação deve considerar as habilidades e competências dos estudantes de compreender as forças discursivas em jogo, identificar as vozes e os discursos aos quais respondem, considerar, no caso da literatura, os textos com os quais podem compor uma tradição, seja rompendo com determinados postulados, seja ressignificando-os. Dessa perspectiva, a avaliação deve valorizar a reflexão e a argumentação dos estudantes, procurando os sentidos plasmados nos diferentes textos tomados como enunciados e as ideias de fundo que defendem. Não só as características de um projeto literário ou a nomenclatura gramatical, ou as características exclusivamente formais de um texto são o objetivo do aprendizado e de sua verificação. Passa a ocupar o primeiro plano uma integração entre habilidades e competências linguísticas dos estudantes em uma situação semelhante àquela que poderiam vivenciar na realidade, no dia a dia da interação social e em sua futura atuação no campo profissional e no prosseguimento dos estudos.
Recomenda-se que a avaliação nas frentes de Literatura e Leitura busque resgatar as condições de produção dos textos e a compreensão de sentido deles, identificando sobretudo as posições que cada um sustenta. A avaliação da frente de Análise linguística deve considerar sobretudo as funções e os efeitos de sentido em um texto, lembrando que o objetivo final de toda a reflexão é a compreensão do sentido e das ideias em jogo.
Na seção de produção de texto #nósnaprática, as propostas partem de diferentes situações de comunicação em diferentes campos de atuação para públicos específicos, o que exige que a estrutura e a linguagem do texto sejam adequadas à enunciação. Para a avaliação dessas produções, são apresentadas sugestões específicas de critérios, de acordo com o que foi solicitado. Nesse e em outros casos, pode-se avaliar o processo e o produto, identificando eventuais dificuldades e facilidades. Também se pode variar a dinâmica, outorgando ao grupo corresponsabilidade no progresso dos colegas.
A avaliação, como instrumento de verificação da aprendizagem dos estudantes, representa não apenas momentos fundamentais do processo de ensino-aprendizagem como legitima e verifica a validade das escolhas teóricas feitas pelo professor e oferecidas pelo material. É verdade que no cotidiano escolar as adversidades limitam o tempo e conduzem o percurso pedagógico a práticas avaliativas mais pontuais. No entanto, é importante que as avaliações adotem uma mesma perspectiva teórica e um mesmo objetivo: permitir aos estudantes o uso competente da língua portuguesa em diversos contextos de interação.
Os estudantes devem entender a avaliação como uma ferramenta que lhes permite reconhecer o
Diversas formas de avaliação podem ser usadas de modo complementar. A avaliação diagnóstica, por exemplo, é um instrumento de verificação do conhecimento, das habilidades já desenvolvidas e também das dificuldades dos estudantes para orientar o trabalho pedagógico. A avaliação comparativa, como o próprio nome indica, tem o objetivo de possibilitar aos estudantes comparar seu desempenho com o de outros estudantes, o que pode ser realizado por meio de testes, elaboração de resumos, avaliações entre pares etc.
aprendizado e as dificuldades e necessidades de aprimoramento linguístico tanto na compreensão como na produção textual, oral ou escrita, verbal ou verbovisual. Essa avaliação deve ocorrer como um processo ao longo do ano letivo (avaliação formativa), não se recomendando que se reduza apenas a uma prova classificatória que condensará em poucas questões todo o conteúdo programático (avaliação somativa). Ao longo do período letivo, todos os trabalhos propostos pelo próprio material didático, entre outros tipos de atividade, podem integrar a avaliação dos estudantes. Na avaliação formativa podem ser propostas dinâmicas variadas, como as feitas pelos próprios estudantes, seja em grupo ou individualmente, num processo de autoavaliação, de modo que aqui se trabalhe também a atitude necessariamente respeitosa, construtiva e consequente para com o outro.
Uma possibilidade de avaliação ipsativa também pode ser construída com os estudantes, propondo, por exemplo, um portfólio das produções textuais com parâmetros que permitam a eles avaliar a evolução de suas produções ao longo de um intervalo de tempo (bimestre ou semestre, por exemplo).
Embora explicitamente descrito na área de Matemática e suas Tecnologias, o pensamento computacional perpassa tanto pela área de Linguagens e suas Tecnologias como por outras áreas do conhecimento. Em Língua Portuguesa, pode auxiliar no desenvolvimento de processos cognitivos como inferência, abstração, resolução de problemas, algoritmização e argumentação.
Retomando a argumentação como um dos focos desta coleção, reitera-se a importância da perspectiva dialógica adotada, considerando que, no contexto de nossa sociedade atual, imersa na cultura digital (ainda que não acessível a todos), é fundamental construir propostas pedagógicas que articulem os conhecimentos escolares aos próprios das práticas digitais, de modo a propiciar condições para que os estudantes
não somente se apropriem de forma técnica e crítica de recursos digitais mas também participem, de forma autônoma e protagonista, das múltiplas práticas de linguagem, da coexistência e convergência de mídias e textos multissemióticos, dos textos e/ou das atividades, em diferentes campos de atuação social, demandas cuja resolução requer a argumentação, permitindo que se:
[...] ampliem as situações nas quais os jovens aprendam a tomar e sustentar decisões, fazer escolhas e assumir posições conscientes e reflexivas, balizados pelos valores da sociedade democrática e do estado de direito. Exigem [as demandas] ainda possibilitar aos estudantes condições tanto para o adensamento de seus conhecimentos, alcançando maior nível de teorização e análise crítica, quanto para o exercício contínuo de práticas discursivas em diversas linguagens [...]52.
Ao longo dos volumes de Língua Portuguesa, competências e habilidades relacionadas ao pensamento computacional podem ser desenvolvidas por meio de atividades que requeiram a resolução de problemas envolvendo tanto situações cotidianas quanto a elaboração de rotinas próprias do pensamento algorítmico.
Outros textos e atividades da coleção favorecem, em situações que englobam a natureza, a sociedade, a ciência e a tecnologia, o desenvolvimento do pensamento computacional, à medida que exploram, por exemplo: o raciocínio analítico, a coleta de dados e o reconhecimento de padrões para uma pesquisa; a abstração necessária à elaboração de um roteiro; e a decomposição de uma atividade de produção textual em etapas e em sequência investigativa, selecionando-se a representação de linguagem mais adequada para alcançar um posicionamento a respeito de determinado tema.
Favorecer o pensamento computacional também em Língua Portuguesa pressupõe a formação de estudantes capazes de não apenas identificar as informações mas, principalmente, participar ativamente de situações
52 BRASIL, ref. 1, p. 486.
discursivas, utilizando as múltiplas linguagens (incluindo-se as das tecnologias digitais da informação e comunicação – TDIC) para enfrentar desafios e refletir sobre si e o outro, o particular e o geral, o individual e o coletivo.
Nesse cenário, os jovens precisam ter uma visão crítica, criativa, ética e estética, e não somente técnica das TDIC e de seus usos, para selecionar, filtrar, compreender e produzir sentidos, de maneira crítica e criativa, em quaisquer campos da vida social.
Para tanto, é necessário não somente possibilitar aos estudantes explorar interfaces técnicas [...], mas também interfaces críticas e éticas que lhes permitam tanto triar e curar informações como produzir o novo com base no existente53.
A relevância de inserir na Educação Básica propostas que permitem aos estudantes uma formação voltada à construção da cidadania já era considerada nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), na década de 1990. Os Temas Contemporâneos Transversais (TCTs) foram estruturados, à época, como assuntos significativos para a sociedade e possíveis de serem abrangidos em todas as áreas do conhecimento, alinhando cidadania e saber científico. Em caráter de recomendação para que fossem trabalhados em todos os componentes curriculares, os Temas Contemporâneos Transversais, nos PCN, se dividiam em seis eixos: Saúde, Ética, Orientação sexual, Pluralidade cultural, Meio ambiente e Trabalho e consumo. Evidencia-se que, além da indicação de temáticas que se faziam presentes na sociedade, recomendou-se que fossem abordadas, com base em propostas didáticas e epistemológicas, a transversalidade e a interdisciplinaridade.
Trabalho e consumo
Saúde Meio ambiente
Temas Transversais nos PCN
Ética
Pluralidade cultural
Orientação sexual
A partir da homologação da BNCC, em 2017, para a etapa do Ensino Infantil e Ensino Fundamental e, em 2018, para o Ensino Médio, os Temas Contemporâneos Transversais tiveram seu alcance ampliado, com a inserção de questões sociais que devem acompanhar a formação dos estudantes, agora em caráter de obrigatoriedade, para a composição do currículo. A inclusão da contemporaneidade não apenas na nomenclatura mas enquanto pressuposto no desenvolvimento dos temas se sustenta na compreensão da integralidade como elemento primordial para a formação de sujeitos atuantes no mundo, exercendo responsabilidade local, regional e global. Para tanto, foram estabelecidas temáticas envolvendo questões que permeiam a sociedade e que consideram a vivência dos estudantes no processo de aprendizagem, habilitando-os a refletir a respeito das diversas realidades e papéis a serem exercidos na construção da cidadania.
A importância da contemporaneidade dos TCTs é reforçada na BNCC:
O mundo deve lhes ser apresentado como campo aberto para investigação e intervenção quanto a seus aspectos políticos, sociais, produtivos, ambientais e culturais, de modo que
53 BRASIL, ref. 1, p. 497.
54 Elaborado com base em: BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Temas Contemporâneos Transversais na BNCC: contexto histórico e pressupostos pedagógicos. Brasília, DF: MEC, 2019. p. 8. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/implementacao/contextualizacao_ temas_contemporaneos.pdf. Acesso em: 26 ago. 2020.
se sintam estimulados a equacionar e resolver questões legadas pelas gerações anteriores – e que se refletem nos contextos atuais –, abrindo-se criativamente para o novo55
A abordagem dos TCTs no processo de aprendizagem tem como resultado a possibilidade de construir conhecimentos utilizados para a resolução de problemas e para a prática cotidiana, pelo exercício da cidadania. Dessa forma, ao tratar de questões sociais que estão inseridas nas realidades dos estudantes, os conteúdos apresentados passam a extrapolar a produção científica, sem que haja um fim em si mesmo, compreendendo a educação como um processo que se realiza em diversos espaços sociais.
Temas Contemporâneos Transversais na BNCC56
Multiculturalismo
Diversidade Cultural
Educação para valorização do multiculturalismo
nas matrizes históricas e culturais brasileiras
Ciência e Tecnologia
Ciência e Tecnologia
Cidadania e Civismo
Vida Familiar e Social
Educação para o Trânsito
Educação em Direitos Humanos
Temas
Contemporâneos
Transversais na BNCC
Direitos da Criança e do Adolescente
Processo de envelhecimento, respeito e valorização do idoso
Meio Ambiente
Educação Ambiental
Educação para o Consumo
Economia
Trabalho
Educação Financeira
Educação Fiscal
Saúde
Saúde
Educação Alimentar e Nutricional
Educar e aprender são fenômenos que envolvem todas as dimensões do ser humano e, quando isso deixa de acontecer, são produzidas alienação e perda do sentido social e individual no viver. É preciso superar as formas de fragmentação do processo pedagógico em que os conteúdos não se relacionam, não se integram e não interagem.
Nesse sentido, os Temas Contemporâneos Transversais têm a condição de explicitar a ligação entre os diferentes componentes curriculares de forma integrada, bem como de fazer sua conexão com situações vivenciadas pelos estudantes em suas realidades, contribuindo para trazer contexto e contemporaneidade aos objetos do conhecimento descritos na BNCC57
Em Língua Portuguesa, a amplitude e diversidade de gêneros, de muitas e diversas temporalidades, permite a discussão de amplo espectro temático no qual os Temas Contemporâneos Transversais garantem lugar. O Multiculturalismo, presente na Unidade 4 do Volume 1 e na Unidade 9 do Volume 3; o Trabalho, tratado na Unidade 8 do Volume 3; o Meio Ambiente, a Educação Ambiental e a Educação para o Consumo, abordados na Unidade 1 do Volume 3 e na Unidade 7 do Volume 2; Cidadania e civismo, tratados na Unidade 5 do Volume 1; Ciência e Tecnologia, discutidas na Unidade 6 do Volume 1, são exemplos de possibilidades de reflexão sobre temas tão pertinentes quanto urgentes no mundo contemporâneo.
A coleção está organizada em três volumes, cada volume tem nove unidades. Cada unidade traz leituras de textos literários e diversos gêneros, bem como reflexões sobre a língua e seus recursos e uma proposta de produção de texto. A coleção é composta pelos elementos a seguir.
Abertura de unidade: as aberturas de unidade são sempre compostas de imagens. Apresentam uma introdução que propõe uma primeira reflexão sobre o núcleo temático predominante a ser abordada na unidade por meio da leitura dessas imagens e da ativação de conhecimentos prévios dos estudantes.
Literatura: esta frente apresenta textos literários mais atuais em comparação com os textos pertencentes aos projetos literários centrais da unidade e tem como objetivo permitir aos estudantes articular
55 BRASIL, ref. 1, p. 463.
56 Elaborado com base em: BRASIL, ref. 54, p. 13.
57 BRASIL, ref. 54, p. 5.
diálogos entre os temas, reflexões e formas desses textos, em diálogo com os TCTs. Esta frente apresenta as seções e os boxes a seguir.
• Ler o mundo: o boxe propõe atividades com o objetivo de aproximar o conteúdo dos textos literários à experiência dos estudantes, além de propor o levantamento de hipóteses sobre o projeto literário, o gênero e o conteúdo dos textos que serão lidos.
• No fio do tempo : a seção apresenta textos que representam um projeto literário e que permitem aos estudantes conhecer mais sobre o contexto e os diálogos que esses textos literários teceram com os que os antecederam na leitura inicial e com os textos que os sucederão.
O X da questão: o boxe faz um encaminhamento necessário para a apresentação do projeto literário a ser discutido na seção No fio do tempo. Para tanto, propõe atividades que retomam discussões anteriores e que aproximam o que será discutido pelo texto e pelas atividades à experiência dos estudantes, além de propor o levantamento de hipóteses sobre a estética dos textos literários.
Contexto : a subseção de No fio do tempo apresenta aos estudantes, de uma forma condensada e ampla, os discursos, acontecimentos e relações de poder que se apresentavam no momento em que se produziu o projeto literário estudado. Assim, os estudantes poderão ter um arcabouço maior que vai lhes permitir tecer diálogos entre o texto e sua situação enunciativa, bem como tecer relações entre o presente e o passado.
P ágina especial : a seção atua como uma lupa sobre temas, autores e eventos relevantes e que merecem maior destaque. Aqui os estudantes poderão fazer leituras mais direcionadas e realizar atividades que lhes permitam maior entendimento do assunto selecionado.
• Hiperlink : o boxe amplia os estudos de literatura. Nas atividades propostas neste boxe, os estudantes poderão conhecer mais sobre outros autores do mesmo projeto literário estudado, bem como pesquisar de forma mais aprofundada outros temas.
• Integrando c om… : a seção relaciona o assunto estudado na unidade com temas de diversos componentes curriculares da área de Linguagens e suas Tecnologias e também das outras áreas do conhecimento.
• Ler literatura: o boxe tem como objetivo formar leitores capazes de ler e apreciar literatura de maior complexidade, com aprofundamento e fruição. Nele, são apresentadas reflexões sobre temas, diálogos e a estrutura de textos literários, explorando as várias possibilidades de produção de sentidos que deles possam se originar.
Leitura: a frente apresenta texto(s) de diferentes gêneros e campos de atuação social que dialoga(m) com o tema da unidade. A seleção textual procurou atender às diversas demandas dos estudantes em sua vida escolar, pessoal, profissional e social, inserindo-os em um contexto de protagonismo na reflexão sobre os temas propostos e no debate a seu respeito. O boxe Ler o mundo abre também o trabalho com essa frente, com o objetivo de aproximar o tema dos textos à experiência dos estudantes, além de propor o levantamento de hipóteses sobre o gênero e o conteúdo dos textos que serão lidos.
Análise linguística: nesta frente são propostas análises linguísticas e estudos gramaticais considerando a estrutura, alguns usos da língua e seus diferentes efeitos de sentido nos textos, além de retomar e aprofundar conteúdos importantes do Ensino Fundamental – Anos Finais. Dá-se continuidade à reflexão linguística nas atividades, propostas sempre com base em textos, as quais exploram conceitos importantes para a sua compreensão, além dos aspectos discursivos necessários à construção dos sentidos. Essa frente é composta da seção a seguir.
• Astúcias da língua : tem como objetivo abordar fenômenos linguísticos que dialogam com o conteúdo trabalhado na frente de Análise linguística ou em algum texto de Literatura ou de Leitura. O objetivo é mobilizar os conhecimentos linguísticos em seu uso, em textos diversificados, de forma a promover reflexões sobre seu funcionamento na estruturação da coesão e coerência de textos, bem como na produção e ampliação de sentidos.
Pensar e compartilhar: em todas as frentes há a presença desta seção, que convida os estudantes a analisar e compreender os textos literários, os gêneros e os conhecimentos linguísticos, bem como refletir sobre eles.
#nósnaprática: a seção é organizada em etapas que conduzem o processo de produção de textos e envolve gêneros orais, escritos e verbovisuais (multimodais/multissemióticos) dos diversos campos de atuação social. Marca o momento de os estudantes colocarem em prática conhecimentos adquiridos para a produção de textos. O boxe Laboratório de produção, que articula teoria e prática ao propor atividades que exercitam um aspecto relevante para a produção de texto proposta, compõe a seção.
Ler: aparece duas vezes no volume e sempre trará um texto de uma área de conhecimento diferente para auxiliar os estudantes a desenvolver habilidades de leitura nas áreas de Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
#fazerjunto: a seção tem como objetivo promover o trabalho colaborativo, a produção de gêneros multimidiáticos e as práticas de pesquisa que dialogam com os conteúdos estudados nas unidades anteriores.
Roteiro: traz diversas indicações de leitura, podcasts, filmes, entre outras, com informações detalhadas, além do título: especificações técnicas, sinopses e imagens.
Os boxes da coleção
Os diferentes boxes da coleção têm como função apoiar o estudo, apresentando: informações adicionais sobre autores e outras figuras públicas (#sobre); indicações de sites, filmes, músicas, livros e outros materiais de consulta (#ficaadica); e informações adicionais sobre o assunto abordado (Saiba mais). Além disso, os boxes conceito e #paralembrar dão destaque aos tópicos mais importantes apresentados na coleção ou em algum momento anterior, quer seja em um volume anterior ou no Ensino Fundamental – Anos Finais.
Além de toda a fundamentação já apresentada neste material, a parte específica das Orientações para o professor forma um componente importante que procura auxiliar e otimizar o trabalho docente em sala de aula. Nelas, são encontrados os itens organizadores a seguir.
Competências gerais e específicas e habilidades de Linguagens e Língua Portuguesa da BNCC: apresenta um quadro com as competências e os códigos das habilidades contempladas por cada unidade (as habilidades de Língua Portuguesa estão destacadas em cores que identificam a que campo de atuação social da BNCC pertencem).
Unidades 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9: introduz as sugestões de trabalho com cada unidade e alguns conteúdos de cada uma delas.
Estratégias didáticas: propõe orientações específicas que visam auxiliar o professor em sala, modos de apresentação e ordenação dos conteúdos, procedimentos de trabalho com as culturas juvenis etc.
Respostas e comentários: apresenta soluções e comentários específicos para atividades propostas no Livro do estudante, com o intuito de tirar o melhor proveito dessas tarefas, ampliando-as com base em reflexões ou desdobramentos suscitados pelos temas e conteúdos abordados.
Formação continuada: oferece trechos de textos relevantes para temas ou conteúdos abordados no decorrer de cada unidade, com o objetivo de contribuir permanentemente para a formação do professor.
Atividades complementares: propõe ao professor atividades que possam complementar as que já são oferecidas no Livro do estudante, com o objetivo de ampliar algum tema ou conteúdo que ele julgar pertinente, de acordo com seu planejamento ou perfil da turma.
Midiateca do professor: apresenta sugestões comentadas de livros, filmes, artigos etc., específicos para o professor.
Midiateca do estudante: apresenta sugestões comentadas de livros, filmes, artigos etc., específicos para os estudantes (podem ser utilizadas pelo professor em abordagens complementares ou indicadas aos estudantes).
A seguir, é apresentada uma proposta de cronograma para o desenvolvimento deste volume da coleção para um planejamento semestral, trimestral e bimestral. É importante considerar que esta proposta é apenas uma sugestão e que o cronograma deve ser adequado às
escolhas feitas pela comunidade escolar, de acordo com a quantidade de aulas estabelecidas no ano letivo para o componente curricular de Língua Portuguesa. Por exemplo, é possível trabalhar os conteúdos de Leitura entre a frente Literatura e a seção No fio do tempo, com o objetivo de criar uma alternância de frentes, se julgar mais produtivo para o aprendizado da turma.
1a Literatura: Não me chame de índio 1
2a No fio do tempo: Textos de informação: Descobrimento, achamento ou invasão? 1
3a
4a
Leitura: Carta aberta – Em defesa da natureza #nósnaprática: Carta aberta 1
Análise linguística: Pensar a língua, a linguagem e os sentidos Astúcias da língua: O texto e seu contexto 1
5a Literatura: Entre o céu e a terra 2
6a No fio do tempo: Projeto barroco e projeto neoclássico: As tensões entre a fé e a razão, Deus e natureza 2
7a
Leitura: Palestra – Provocações sobre a natureza #nósnaprática: Mesa-redonda 2 8a
Análise linguística: A língua e sua gramática Astúcias da língua: A língua varia 2
: A cidade ambulante 3
11a No fio do tempo: Projeto romântico: Espelhos da burguesia em formação 3
Análise linguística: Frase, oração e período. Sujeito e predicado Astúcias da língua: Concordância constrói coesão 3
: Vozes originárias 4
15a No fio do tempo: Projeto indianista romântico: A busca pela singularidade identitária 4 16a
Leitura: Artigo de divulgação científica – Civilização e natureza #nósnaprática: Artigo de divulgação científica Ler Ciências Humanas e Sociais Aplicadas 4
Leitura: Notícia – Lazer na cidade #nósnaprática: Notícia sobre a cidade 3 2 o Trimestre
17a Análise linguística: Sujeito Astúcias da língua: Sujeito indeterminado e impessoalização do discurso 4 18a
: Vozes negras em luta 5
19a No fio do tempo: Escravidão e denúncia: O fim da escravização? 5
20a
21a
22a
#fazerjunto: Mapa da cidade ideal* Avaliação 2 o Semestre 3 o Bimestre
Leitura: Lei – A letra da lei e os direitos dos cidadãos #nósnaprática: Regras de convivência
linguística: Predicado Astúcias da língua: Modalização: verbos epistêmicos e deônticos
Literatura: Muitos Brasis 6
24a No fio do tempo: O projeto regionalista romântico: Os rincões do Brasil 6
25a
Leitura: Artigo de opinião – Em defesa de uma tese #nósnaprática: Artigo de opinião
26a Análise linguística: Termos ligados ao verbo: objeto direto e objeto indireto Astúcias da língua: Variação regional
: Amor? Amor!
Leitura: Poema de sarau e slam – Lirismo na voz, lirismo na veia #nósnaprática: Produzir poemas e organizar slam
31a
Análise linguística: Termos ligados ao verbo: adjunto adverbial Astúcias da língua: Figuras de pensamento 7 32a Literatura: O absurdo do real
33a No fio do tempo: Teatro brasileiro do século XIX: A moral do riso 8
34a
35a
Leitura: Resenha crítica – Gosto se discute #nósnaprática: Resenha 8
Análise linguística: Termos ligados ao nome: complemento nominal Astúcias da língua: A pontuação e seu valor expressivo e gramatical 8
36a Literatura: Portugal d’hoje 9
37a No fio do tempo: Projeto romântico em Portugal: Portugal d’ontem 9
38a
39a
Leitura: Diário – A vida, todo dia #nósnaprática: Podcast 9
Análise linguística: Termos ligados ao nome: adjunto adnominal Astúcias da língua: Adjunto adnominal × Complemento nominal 9
40a Avaliação
* Avalie a possibilidade de implementar a proposta da seção #fazerjunto a partir da Unidade 3 e reserve um dia da semana de avaliação para a apresentação do projeto. Os estudantes poderão desenvolver os trabalhos de forma mais autônoma, com base nas orientações dadas em sala de aula. Se necessário, combine um dia ou mais dias para realizar reuniões coletivas conforme a demanda dos estudantes.
O primeiro foco desta unidade é uma reflexão sobre a “literatura de informação”, produzida por enviados da Coroa portuguesa ao território brasileiro no século XVI. Pretende-se que os estudantes percebam que esses escritos contribuíram para a construção de estereótipos sobre o Brasil, muitos dos quais perduram até hoje. Em um segundo momento, propõe-se a análise de uma carta aberta escrita por indígenas sobre a necessidade da conservação dos recursos naturais para a continuidade da vida. A intenção é que percebam a importância da representatividade e da resistência indígena e quanto sua visão de mundo diverge da perspectiva do projeto colonizador. Em análise linguística, é proposto o estudo dos conceitos de língua, linguagem, texto, discurso e contexto, fundamentais para a atribuição de significado à realidade. Por fim, propõe-se a escrita de uma carta aberta para que exercitem sua representatividade na reivindicação de solução para problemas presentes na escola ou na comunidade.
Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 9 e 10
Competências específicas de Linguagens e suas Tecnologias: 1, 2, 3, 4, 6 e 7
Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias
EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG103 EM13LGG104
EM13LGG201 EM13LGG202 EM13LGG301 EM13LGG302
EM13LGG303 EM13LGG304 EM13LGG305 EM13LGG401
EM13LGG402 EM13LGG602 EM13LGG604 EM13LGG701
EM13LGG703 EM13LGG704
• Habilidades de Língua Portuguesa
EM13LP01 EM13LP05 EM13LP07 EM13LP12
EM13LP27
Todos os campos de atuação social
Campo de atuação na vida pública
Campo artístico-literário
• Antes de propor as questões referentes à obra A descida da pajé Jenipapo do reino das medicinas, de Jaider Esbell (1979-2021), pergunte aos estudantes se conhecem a fruta jenipapo e peça que compartilhem as informações com o grupo. Comente que o jenipapo é uma planta fundamental para a cosmologia do povo macuxi e de outros povos originários. A palavra, de origem tupi (yandï’pawa), significa “fruta que dá tinta”. É dela que os indígenas extraem uma tinta preta, que serve para a pintura corporal e de utensílios. A pintura representa a identidade desses povos, além de simbolizar a conexão com o sagrado, trazendo força e proteção para quem recebe as marcas no corpo. Sobre a obra de Jaider Esbell em análise, acrescente que ela faz parte de uma série denominada “Jenipapal”, composta de tecidos pintados com a tinta natural que é extraída dessa planta.
• A o compararem a obra de Jaider Esbell e as de Theodore de Bry (1528-1598) apresentadas, é fundamental que os estudantes percebam a diferença de olhar dos dois artistas em relação aos indígenas. Além do fato de o primeiro artista ser indígena e o segundo ser europeu, o que já marca uma diferença de perspectiva sobre os povos originários, os estudantes devem levar em conta também o contexto e o período em que essas obras foram produzidas, bem como as intenções dos artistas.
Estratégias didáticas
• Na atividade 1 do boxe Ler o mundo (p. 10), registre as informações fornecidas pelos estudantes em um texto coletivo de fácil visualização pelo grupo. Se julgar necessário, faça complementações. Vale comparar o número da população indígena nos primeiros séculos após a chegada dos portugueses com os números atuais, compreendendo que a drástica redução dessas populações se deve, primeiro, ao massacre empreendido pelos colonizadores e, posteriormente, aos conflitos com fazendeiros e
garimpeiros invasores de suas terras. Outros reflexos que podem ser apontados pelos estudantes: a imposição da religião católica pelos portugueses por séculos como parte da estratégia de dominação cultural dos povos indígenas; o não reconhecimento da diversidade cultural e linguística desses povos, o que enfraquece suas identidades e leva à perda de seus espaços de participação sociocultural; a questão fundiária, marcada por invasões das terras indígenas para a atividade agropecuária, a exploração mineral e a extração madeireira; a questão da demarcação de terras indígenas (marco temporal); entre outros. Depois de construído um grande painel, encaminhe uma discussão com a turma, propondo questões sobre a importância de respeitar e valorizar as culturas dos povos originários e o que eles representam atualmente na sociedade brasileira. Discuta também o papel desses povos na preservação do meio ambiente e na manutenção do equilíbrio ecológico. Na atividade 2, apresente à turma outros artistas que contribuíram e contribuem para a divulgação das culturas indígenas. Diversos fotógrafos realizaram expedições à Região Amazônica e publicaram imagens dos povos indígenas. Entre eles, Claudia Andujar (1931-), conhecida por suas fotografias dos yanomami, e Sebastião Salgado (1944-), que apresentou 250 fotos em preto e branco da maior floresta tropical do planeta e de seus habitantes indígenas na exposição itinerante “Amazônia”, que se transformou em livro. Mais recentemente, artistas e escritores indígenas têm tornado públicas suas obras, apresentando a própria visão de suas culturas e das questões que envolvem sua preservação. Além de Jaider Esbell, destacam-se Denilson Baniwa (1984-), Daiara Tukano (1982-), Carmézia Emiliano (1960-), entre tantos outros.
As atividades propostas no boxe Ler o mundo pretendem levantar questões, instigar dúvidas e provocar reflexões, de modo a preparar os estudantes para o que virá em seguida. Não há resposta certa, mas é fundamental combater quaisquer atitudes, opiniões ou juízos de valor que ofendam ou sensibilizem negativamente as pessoas e deixar evidente a importância de justificar opiniões com base em argumentos pautados na realidade (dados, situações contextualizadas, pesquisa de informações em fontes confiáveis etc.).
• NINJA Foto. 10 fotógrafos indígenas que você precisa conhecer (e seguir no Instagram). Mídia NINJA, [s. l.], 19 abr. 2022. Disponível em: https://midianinja. org/10-fotografos-indigenas-que-voce-precisa-conhecere-seguir-no-instagram/. Acesso em: 17 set. 2024. No artigo, são destacados dez fotógrafos indígenas contemporâneos que traduzem em imagens a própria história e a força da mobilização indígena.
Estratégias didáticas
• N a atividade 1 do Para discutir , no boxe O X da questão (p. 13), a opinião a ser defendida pelos estudantes deve ter como suporte uma argumentação baseada em fatos tanto do passado colonial como da atualidade. O painel que foi proposto neste manual para a atividade 1 do boxe Ler o mundo (p. 10) pode servir de apoio para desenvolver a resposta a essa atividade.
• O boxe O X da questão, assim como o Ler o mundo, também pretende levantar questões, instigar dúvidas e provocar reflexões, de modo a preparar os estudantes para o que virá em seguida. Valem as mesmas recomendações em relação às respostas esperadas.
Estratégias didáticas
• No boxe Hiperlink (p. 18), auxilie os estudantes na busca por sites especializados em literatura. Depois da pesquisa, em classe, seria interessante a turma fazer a leitura de alguns poemas e trechos de peças de teatro que apontem para o cunho catequético e pedagógico da produção de José de Anchieta (15341597), a qual atendia ao projeto colonial português. O trecho reproduzido a seguir evidencia algumas dessas características da obra do jesuíta, que podem ser exploradas com os estudantes.
Seus poemas, carregados de subjetividade, mostram um Anchieta empenhado no louvor à religião católica, na busca pelo consolo das adversidades da vida que é encontrado apenas por meio da entrega e do amor divino e, claro, na vida dos santos.
Suas peças de teatro (autos), de cunho pedagógico, são voltadas para a catequização dos indígenas, escritos ora em português, ora em tupi, transformando o imaginário e os costumes daquelas sociedades ‘pagãs’ em entidades ‘do Mal’, contrárias às imagens do cristianismo, que representam ‘o Bem’, criando dois polos de oposição entre os dois mundos.
JOSÉ de Anchieta (1534-1597). [S. l.]: Só Literatura, c2007-2024. Disponível em: https://www.soliteratura.com.br/biografias/ biografias001.php. Acesso em: 18 set. 2024.
Estratégias didáticas
Para o desenvolvimento do boxe Ler literatura (p. 24), sugere-se ler o texto com os estudantes e depois discutir com eles as ideias de cada parágrafo, garantindo que tenham compreendido os conceitos de literatura e arte em seu sentido mais amplo. Podem ser feitos a eles os seguintes questionamentos: o que é fabulação? O que é ficção? Em seu cotidiano, o que você considera literatura, arte? Em que lugares, canais, suportes você encontra arte em geral e literatura? Você tem necessidade de estar frequentemente em contato com algum tipo de arte? Qual? Partindo da concepção de literatura como necessidade na vida humana, a discussão pode ser encaminhada no sentido de literatura como direito humano. A atividade 1 pede um posicionamento dos estudantes a respeito dessa característica da literatura, o qual deve ser justificado com argumentos lógicos ou emocionais. Em relação à atividade 2, a resposta dos estudantes provavelmente será afirmativa e, nesse caso, seria interessante o compartilhamento das respostas da turma para reafirmar a ideia de literatura como necessidade e direito. Com isso, pode ser que a resposta à atividade anterior precise ser revista.
• ÂNGELO, Assis. A fabulosa viagem de Vasco da Gama. Ilustrações: Felipe Toledo e Marina Sakamoto. São Paulo: Uiclap, 2024. O livro apresenta uma adaptação livre, em linguagem popular, da obra Os lusíadas, de Luís de Camões (data desconhecida-1580). O autor substitui a estrutura original de decassílabos por sextilhas, forma comum na literatura de cordel. Há também uma versão da obra em braile.
• A discussão proposta no boxe Ler o mundo (p. 25) volta-se para a questão ambiental do ponto de vista dos povos indígenas. Essa discussão passa necessariamente pela História do Brasil, mais precisamente pela colonização empreendida pelos portugueses, com o consequente massacre dos indígenas visando à possessão de suas terras. No trabalho com as atividades 1 e 2, seria interessante e produtivo combinar com o professor de História e/ou Sociologia uma retomada da situação atual dos povos originários: a redução de seu território, o extermínio das florestas em suas terras promovido por invasores etc. É possível estabelecer, ainda, uma ponte entre todo o percurso histórico de silenciamento dos povos originários e o fato de que atualmente eles têm se organizado para garantir a presença de sua voz em fóruns nacionais e mundiais, especialmente com relação à questão ambiental. E, como uma das formas de terem voz, usam a carta aberta, de caráter público, que lhes possibilita determinar sua posição na direção da sustentabilidade pela própria subsistência e pelo planeta.
• Antes da leitura da carta aberta (p. 25), verifique com os estudantes o que eles já sabem sobre esse gênero, com o objetivo de ir encaminhando a reflexão sobre sua esfera de circulação, que poderá ser mais orientada depois da leitura do texto. Destaque o fato de que a carta aberta tem caráter público e costuma circular em jornais e revistas (impressos ou digitais), redes sociais e sites próprios para a criação e circulação desse gênero. Comente que, em grandes fóruns, é comum as cartas abertas serem lidas pelo líder das pessoas que a endossaram.
• FR ANCO, Neil Armstrong de Oliveira; ZANUTTO, Flávia. O gênero carta aberta: da interlocução marcada à interlocução esperada. In : ANTONIO, Juliano Desiderato; NAVARRO, Pedro (org.). Gêneros textuais em contexto de vestibular . Maringá: Eduem, 2017. p. 133-152.
No capítulo, os autores se voltam para a conceituação do gênero carta aberta focando sua circulação em redes sociais e analisando a proposta de vestibular de 2014 da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que demandou a elaboração de uma carta aberta.
• No boxe Saiba mais (p. 25), destaque para os estudantes que as pautas de lutas indígenas são muito variadas e contemplam a questão ambiental, a luta pelo direito à terra, pelo acesso à saúde, educação, alimentação, defesa da língua e cultura etc.
Trate mais profundamente da esfera de circulação das cartas abertas, começando pelo significado da palavra aberta, que revela seu caráter público. Ou seja, essa carta circulará de modo a atingir o maior número de leitores, sem restrição de destinatário (embora tenha um leitor em potencial). Comente sobre a proximidade entre a carta aberta e a carta pessoal em termos de estrutura. Por fim, considere com eles que a carta aberta tem caráter argumentativo: defende uma ideia e sustenta essa defesa por meio da articulação de argumentos.
Após a reflexão sobre a esfera de circulação e a intenção comunicativa da carta aberta, peça aos estudantes que leiam silenciosa e individualmente a carta. Feito esse primeiro contato com o texto, explore com eles o vocabulário utilizado, começando pelas palavras do glossário e depois perguntando de quais outras palavras desconhecem o significado. Se possível, deixe à mão deles dicionários impressos ou digitais (nos celulares).
D epois da leitura silenciosa e da exploração do vocabulário, promova uma leitura compartilhada em voz alta da carta aberta. Você pode organizar essa leitura sugerindo que cada estudante leia um parágrafo. A sequência dos estudantes pode seguir a ordem alfabética da chamada, a posição deles nas carteiras, um sorteio de nomes antes da leitura etc.
• A o terminarem a leitura compartilhada, pontue inicialmente quem está se responsabilizando pela carta (a Apib), sobre o que estão escrevendo (o desequilíbrio climático), para quem estão escrevendo (brasileiros interessados e engajados na luta pela conservação do meio ambiente). Em seguida, faça um esquema no quadro, nos moldes de um mapa mental geral da obra, para que os estudantes complementem com os argumentos apresentados. Segue uma sugestão de esquema.
Carta aberta do Acampamento Terra Livre 2023
Tema:
Desequilíbrio climático decretado pelos povos indígenas do Brasil
Objetivos:
Marcar sua posição, sensibilizar os leitores e mobilizar esforços para a tese defendida
Tese defendida:
“Nunca mais um Brasil sem nós”
Responsável pela carta:
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib)
Destinatários:
Todos aqueles a quem a carta alcançar
Argumentos:
• Trabalhe a estrutura da carta, identificando em primeiro lugar a contextualização e a tese, logo no primeiro parágrafo. Extraia do segundo ao sétimo parágrafo, com os estudantes, os argumentos que sustentam essa tese de resistência e inclusão/participação, justificando as demandas feitas nos itens 1, 3, 4 e 5. Pontue também a despedida, que retoma a tese inicial, nos dois últimos parágrafos. Lembre-se de explicar que, em cartas abertas, a localização e a data costumam vir no final.
• JECUPÉ, Kaká Werá. A terra dos mil povos: história indígena do Brasil contada por um índio. 2. ed. São Paulo: Peirópolis, 2020.
O livro é uma das obras pioneiras no resgate da história dos primeiros habitantes do Brasil e da saga das muitas nações indígenas ao sofrer as influências da civilização do branco.
• Se as sugestões de entrada no texto desenhadas no item anterior deste manual tiverem sido feitas, a realização das atividades se dará mais fluidamente.
• O foco das atividades de 2 a 7 é a estrutura da carta aberta lida, sua esfera de circulação, seus elementos composicionais etc. Retome a discussão anterior sobre a carta, uma introdução genérica, que agora vai se aprofundar e se especificar.
• INSTITUT O DE PESQUISA AMBIENTAL DA AMAZÔNIA. Alerta Clima Indígena (ACI) . Versão 4.3.6. [Belém]: Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, 2022.
O ACI é um aplicativo criado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) que pode ser baixado no celular e tem como objetivo oferecer informações sobre as Terras Indígenas da Amazônia brasileira em relação a incêndios, desmatamentos, chuvas, temperaturas, focos de calor etc.
Estratégias didáticas
Para a leitura do trecho do registro de viagem de Pero de Magalhães Gandavo (1540-data desconhecida), reúna os estudantes em trios. Assim, eles poderão trocar ideias e dúvidas de modo produtivo e sem o alarde da leitura em grupos maiores. Mantenha os trios na realização das atividades, para que compartilhem também a compreensão que cada um teve do texto. Quando os trios tiverem terminado de fazer as atividades, proponha uma rodada de respostas, com cada trio respondendo a uma delas. Dê tempo para que as respostas possam ser debatidas caso haja necessidade. Faça a mediação e intervenha quando preciso.
Midiateca do professor
POR TUGUÊS do Brasil. São Paulo: Museu da Língua Portuguesa, 30 ago. 2021. Disponível em: https://www.museudalinguaportuguesa.org.br/ portuguesdobrasil/. Acesso em: 18 set. 2024. O artigo trata das origens da língua portuguesa e da diversidade de sua formação. Além do texto escrito, traz reproduções de textos antigos e vídeos nos quais acadêmicos discorrem sobre as diferentes influências que a língua portuguesa recebeu.
• Os tópicos Língua e linguagem (p. 31) e Texto e discurso (p. 32) tratam de conceitos complexos, cuja compreensão e apropriação são indispensáveis para que os estudantes evoluam nos estudos linguísticos.
Sugere-se organizar os estudantes em quartetos, pedindo-lhes que juntem as carteiras para poder trocar ideias nos pequenos grupos e também participar das discussões coletivas.
• A conceituação de linguagem está apoiada, no tópico Língua e linguagem , em um texto multimodal. Essa escolha se justifica pelo fato de os estudantes terem mais aderência a esse tipo de exemplo. E os exemplos podem ser expandidos para outros contextos, como o da linguagem musical – ouça com eles algumas músicas e mostre partituras, que registram o sistema de notação das composições –, o da linguagem corporal – assista com eles a alguns balés, clássicos e contemporâneos, para tratar dos movimentos do corpo e dos gestos –, o da linguagem das artes plásticas – analise com eles pinturas e esculturas, que também têm suas formas próprias de composição –, o da língua brasileira de sinais (Libras) –assista com eles a vídeos em que um intérprete de Libras esteja atuando. Verifique quais recursos (como computadores com internet, projetores etc.) estão à disposição na escola para que esse momento de discussão possa envolver exemplificações de diferentes linguagens. Um vídeo interessante para que essa diferença seja bem entendida é O que é a linguagem corporal?, da Khan Academy (disponível em: https:// www.youtube.com/watch?v=DFpSw0gvgYA; acesso em: 19 set. 2024). Compare com os estudantes a linguagem verbal e a linguagem corporal, em termos de sistema de comunicação.
• No tópico Texto e discurso, mantenha a distribuição proposta no tópico anterior. Atue do mesmo modo, ampliando a discussão proposta no Livro do estudante. Leia com eles o texto teórico, questione-os quanto à compreensão e peça-lhes que parafraseiem o que está escrito para demonstrar essa compreensão, entre outras estratégias.
Formação continuada
Por volta de 1960, a linguística textual (LT) construiu o conceito de texto como unidade básica de sentido para a manifestação da linguagem verbal. Como fatores de textualidade foram definidas a coesão, a coerência, a intertextualidade, a intencionalidade, a situacionalidade, a informatividade e a aceitabilidade.
As ideias de Mikhail Bakhtin (1895-1975), que passam a circular no Ocidente a partir da década de 1970, e os estudos da análise do discurso (AD) de Midiateca do estudante
língua francesa e de língua inglesa, publicados no Brasil entre as décadas de 1980 e 1990, formam o conceito de discurso segundo o qual um signo constrói sentido além de si mesmo, já que considera o material textual (linguístico) e o extralinguístico.
A enunciação foi teorizada pelo linguista francês Émile Benveniste (1902-1976), que, embora ancorado na linguística estrutural, observa como cada ato individual de linguagem realiza a língua em dado contexto histórico-social e suas demarcações.
BENVENISTE, Émile. Problemas de linguística geral. 6. ed. Campinas: Ponte, 2020. 2v. Nesses dois volumes sobre a teoria da enunciação, o autor trata não só das relações entre a linguagem e as línguas, entre as línguas e a realidade, entre as línguas, as culturas e as sociedades, entre as línguas e o pensamento, como também abre a linguística às áreas conexas.
Em Enunciado e interlocução (p. 33), continue com a organização em quartetos e promova leituras compartilhadas em voz alta com a turma, para discussão de eventuais dúvidas. Além disso, essa organização facilitará a realização das atividades da seção seguinte.
Estratégias didáticas
Os conceitos de enunciado e interlocução são trabalhados nas atividades também com base em textos multimodais. Isso implica explorar os elementos da leitura de imagens: cor, linha, textura, volume, plano, espaço, luz, sombra, movimento e tema. Assim, para fazer uma boa leitura de imagens, é preciso inicialmente identificar e contextualizar o tipo de imagem a ser analisado, reconhecer seus elementos-chave e considerar a intencionalidade. Apresente esses passos para os estudantes, se julgar pertinente, para que eles possam utilizá-los nas atividades.
• SANTAELLA, Lúcia. Leitura de imagens. São Paulo: Melhoramentos, 2012. (Como eu ensino).
A autora reúne, na obra, instrumentos didáticos para professores de qualquer área abordarem a percepção e a interpretação dos signos visuais, das artes plásticas, da publicidade, dos livros ilustrados e da fotografia.
Estratégias didáticas
• As atividades desta seção podem ser realizadas individualmente, para que os estudantes possam verificar se eles se apropriaram dos conceitos trabalhados até então, pois serão necessários agora.
Pensar e compartilhar (p. 39)
Estratégias didáticas
• Oriente os estudantes a continuar a fazer as atividades individualmente, para que possam desenvolver seu senso analítico e crítico.
Estratégias didáticas
• O trabalho em trios sugerido na proposta possibilita que sejam reunidos estudantes com mais e com menos domínio sobre a escrita, de forma que estes possam aprender com aqueles. Assim, neste momento, a sugestão é que você faça os agrupamentos com base em sua avaliação prévia e diagnóstica dos estudantes. Esse critério talvez surpreenda os estudantes, acostumados que estão a integrarem-se com os mais próximos. Mas, depois de alguns minutos juntos, trabalhando com um objetivo comum, é muito provável que nem se lembrem desse estranhamento inicial.
• Durante a etapa de planejamento, circule entre os trios e preste atenção ao que eles estão levantando de problemas na comunidade e como os estão organizando. Sugira caminhos de pesquisa para os trios e fique à disposição para que possam conseguir mais orientações e dirimir eventuais dúvidas.
• Na etapa de produção, se possível, reproduza no quadro a organização composicional da carta aberta apresentada neste manual (p. 25) para que todos possam conferir se não estão esquecendo alguma parte.
• Para a etapa de compartilhamento, caso seja do interesse dos estudantes, auxilie-os a divulgar as cartas abertas elaboradas para os seus destinatários, sugerindo meios e plataformas em que isso se propague de modo mais efetivo.
O objetivo desta unidade, em um primeiro momento, é promover uma reflexão sobre como as diferentes perspectivas a respeito da realidade presentes na literatura europeia dos séculos XVII e XVIII – notadamente no Barroco e no Neoclassicismo – ecoaram e se configuraram na literatura e em outras artes brasileiras até os dias de hoje. Para isso, os estudantes farão comparações dos textos literários dos dois períodos com obras da contemporaneidade que guardam traços das características da produção artística desses períodos. Em um segundo momento, o enfoque é a discussão sobre o tema “natureza”, presente no projeto árcade brasileiro como ideal de simplicidade e equilíbrio em oposição ao artificialismo das cidades, mas que hoje assume um contorno distinto, voltado às emergências ambientais. A base para esse debate são trechos do livro Ideias para adiar o fim do mundo, que nasceu de uma palestra do ativista e educador indígena Ailton Krenak (1953-). Em relação aos conhecimentos linguísticos, o enfoque é a construção da noção de que o estudo das regras e estruturas de uma língua permite desenvolver um repertório que amplia as possibilidades de reflexão sobre o funcionamento dessa língua e o reconhecimento de variações de usos em diferentes situações comunicativas. Para isso, os estudantes trabalharão com os conceitos de gramática; norma e usos; oralidade e escrita; e variações linguísticas, discutindo cada um detalhadamente. Para finalizar, o tema da produção textual é a organização de duas mesas-redondas com base nas reflexões apresentadas na palestra de Ailton Krenak.
• Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 5, 7, 9 e 10
• Competências específicas de Linguagens e suas Tecnologias: 1, 2, 3, 4, 6 e 7
• Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias
EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG103 EM13LGG104
EM13LGG201 EM13LGG202 EM13LGG204 EM13LGG302
EM13LGG303 EM13LGG304 EM13LGG305 EM13LGG401
EM13LGG402 EM13LGG602 EM13LGG604 EM13LGG701
EM13LGG703 EM13LGG704
• Habilidades de Língua Portuguesa
EM13LP01 EM13LP02 EM13LP05 EM13LP09
EM13LP10 EM13LP12 EM13LP16 EM13LP30
EM13LP48 EM13LP49 EM13LP50
Todos os campos de atuação social
Campo das práticas de estudo e pesquisa
Campo artístico-literário
Estratégias didáticas
• O título da primeira escultura pode suscitar alguma dúvida e merece ser comentado, porque é uma das chaves para admirar essa obra de arte. Pergunte aos estudantes se sabem o significado de êxtase no sentido religioso. Explique, se necessário, que essa palavra remete, em religiões diversas, ao transe em que se entra quando se medita, correspondendo a um estado de elevação, de iluminação.
• Uma segunda informação relevante para que os estudantes interpretem a escultura é a vida da santa. Teresa Sánchez de Cepeda Dávila y Ahumada nasceu em Ávila, em 1515. Depois de ter perdido a mãe e o irmão, foi enviada a um mosteiro agostiniano. Acometida por uma doença grave, precisou voltar para casa. Quando melhorou, decidiu ir para um mosteiro carmelita, ao que o pai se opôs. Por esse motivo, precisou fugir. Ingressou nesse mosteiro e lá professou os votos religiosos em 1537. Passou por nova crise de saúde, mas logo pôde retomar sua vocação. Em estado permanente de contemplação e oração, teve inúmeras visões e momentos de êxtase, que ela descrevia como bênçãos de lágrimas, uma experiência mística de estar totalmente desvinculada de tudo o que é físico. Uma de suas visões foi o que inspirou Bernini a esculpir O êxtase de Santa Teresa. Nessa visão, um anjo trespassava o coração de Teresa com uma seta, o que a fazia sentir uma dor extrema, levando-a ao êxtase espiritual. Teresa viveu na época da Inquisição, que a perseguiu várias vezes por causa das visões. Morreu em 1582.
• Com essas informações compartilhadas, oriente os estudantes a apreciar a escultura de Bernini e a identificar nela evidências do estado de êxtase de Santa Teresa (a presença do anjo com a flecha, a expressão da dor e da emoção no rosto e corpo da santa, o feixe de raios representando a luz divina etc.), bem como a observar a precisão dos detalhes da escultura. É interessante explicar aos estudantes que Bernini era um escultor muito dedicado à Igreja Católica, para a qual realizou diversas obras que tinham como finalidade despertar a religiosidade nas pessoas.
Depois de explorar a primeira imagem, passe para a segunda, Dançarina, de Canova. Pode-se começar pela comparação: enquanto na de Bernini tem-se uma figura feminina esculpida no estilo barroco (que tende a temas religiosos, focando dramaticidade, expressões teatrais e jogo de luz e sombra), na de Canova tem-se uma figura feminina esculpida no estilo neoclássico (que resgata temas greco-romanos, priorizando equilíbrio, simetria, simplicidade e clareza).
Se julgar interessante e for possível, chame o professor de Arte para que ele possa auxiliar os estudantes na apreciação das características dos dois períodos (Barroco e Neoclassicismo, respectivamente) nas obras apresentadas. Ele poderá contextualizar adequadamente as duas esculturas.
Seria interessante organizar a turma em duplas para realizarem as atividades propostas. Procure usar a composição de pares produtivos, em que um pode ajudar o outro.
Respostas e comentários
4. Contextualize para os estudantes a série de colagens de Silvana Mendes (1991-) intitulada “Afetocolagens: reconstruindo narrativas visuais de pessoas negras na fotografia colonial”, da qual a obra analisada faz parte. A série derivou de uma extensa pesquisa de imagens e textos que a artista fez sobre o período da escravidão no Brasil. As colagens foram feitas sobre reproduções de fotografias, datadas entre 1858 e 1859, que fazem parte de um trabalho realizado no Brasil pelo fotógrafo alemão Alberto Henschel (1827-1882), denominado “Tipos sociais”. O objetivo dessa produção da artista foi explorar a relação entre afeto, memória e identidade. Conte aos estudantes também um pouco da vida de Silvana Mendes. Além de desenvolver seu trabalho como artista plástica, ela ministra oficinas em escolas
mostrando que conhecer o imagético sobre o negro brasileiro é muito importante para entender como a forma com que ele é retratado é fruto de como é “lido” socialmente. Para mais informações sobre Silvana Mendes e sua obra, você pode acessar com os estudantes os endereços: https://sp-arte.com/artistas/ silvana-mendes/ e https://premiopipa.com/silvana -mendes/ (acessos em: 30 set. 2024).
Estratégias didáticas
• Para o desenvolvimento do boxe Ler o mundo (p. 46), sugere-se realizar, antes da pesquisa proposta, um levantamento dos conhecimentos prévios da turma sobre origem e sentido da vida, sentido da morte, existência ou não da alma e relação entre a natureza e o divino. Pergunte-lhes se eles se lembram de alguma canção que poderia ser associada a esses temas. A intenção é facilitar a busca e mostrar que, no universo cultural deles, esses temas frequentemente circulam. Oriente a busca em sites, pedindo-lhes que procurem por poetas, compositores, rappers , grafiteiros, pintores contemporâneos. Com base nessa busca, os estudantes devem analisar as obras para verificar a presença dos temas mencionados. Relembre, por exemplo, que a obra que eles analisaram na Unidade 1, de Jaider Eisbell, A descida da pajé Jenipapo do reino das medicinas, apresenta temática religiosa. Em uma aula posterior, o ambiente da sala poderia ser transformado em um sarau, com apresentações musicais, leitura de textos e apresentação de obras visuais sobre os temas propostos. Alguns sites que podem oferecer material para a pesquisa são: https://revistatrip.uol.com.br/trip/rincon-sapienciaemicida-tassia-reis-bnegao-racionais-falam-derap-e-espiritualidade; https://opinioescertificadas. com.br/poetas-brasileiros-contemporaneos/; https:// culturadoria.com.br/arte-indigena/ (acessos em: 23 set. 2024). Pode também ser tematizado o poema “As coisas”, associado ao discurso racional/científico, do poeta e compositor Arnaldo Antunes (1960-). Outra possibilidade de trabalho com os temas mencionados é a canção “Principia”, de temática religiosa, do rapper Emicida (1985-).
Estratégias didáticas
• Peça aos estudantes que se organizem em grupos de quatro integrantes para realizar as atividades propostas e, depois, compartilhe coletivamente as respostas, para que as várias opiniões e interpretações possam ser expressas e avaliadas. Promova um ambiente de escuta atenta e respeito para que todos possam se pronunciar livremente.
Estratégias didáticas
A pesquisa proposta no boxe Ler o mundo (p. 46) e a análise dos dois poemas nesta seção preparam os estudantes para o estudo das características temáticas do Barroco e do Neoclassicismo e, ao mesmo tempo, indicam o quanto esses temas estão presentes nas produções artísticas contemporâneas. Embora a questão proposta no boxe O X da questão (p. 48) peça a eles posicionamento pessoal, o resultado das pesquisas da turma pode fornecer uma resposta. Se essa tensão entre o espiritual e o terreno está presente nas manifestações culturais contemporâneas, é porque ela permanece como dilema humano.
Estratégias didáticas
A sugestão é que as atividades sejam realizadas em grupos com quatro estudantes e depois compartilhadas coletivamente, a fim de incentivar o debate.
N o estudo do boxe Saiba mais (p. 50), dê exemplos das características destacadas nos itens.
• Contraste e dualidade:
Ardor em firme coração nascido;
Pranto por belos olhos derramado; Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido.
MATOS, Gregório de. Aos afetos, e lágrimas derramadas na ausência da dama a quem queria bem. In: MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos de Gregório de Matos. Seleção, prefácio e notas: José Miguel Wisnik. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. E-book p. 241.
• Cultismo:
Que falta nesta cidade? .................Verdade.
Que mais por sua desonra? ...........Honra. Falta mais que se lhe ponha? .........Vergonha.
MATOS, Gregório de. Epílogos. In: MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos de Gregório de Matos. Seleção, prefácio e notas: José Miguel Wisnik. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. E-book. p. 43.
• Conceptismo:
O todo sem a parte não é todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo, sendo parte, Não se diga que é parte, sendo o todo.
MATOS, Gregório de. Achando-se um braço perdido do Menino Deus de N. S. das Maravilhas, que desacataram infiéis na Sé da Bahia. In: MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos de Gregório de Matos. Seleção, prefácio e notas: José Miguel Wisnik. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. E-book. p. 334.
• Dramaticidade e exagero:
Romperam-se, enfim, as cataratas do céu, cresceu o mar até os cumes dos montes, alagou-se o Mundo todo: já estaria satisfeita a vossa justiça.
VIEIRA, Antonio. Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda. [São Paulo]: Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro: Escola do Futuro da Universidade de São Paulo, [202-]. E-book. p. 8. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000031.pdf. Acesso em: 23 set. 2024.
• Para a pesquisa proposta na atividade 1 do boxe Hiperlink (p. 51), oriente os estudantes a buscar fontes confiáveis, relacionadas à literatura ou à educação. Uma sugestão para a apresentação dos resultados das pesquisas é pedir a eles que se organizem em pequenos grupos e preparem a leitura de um pequeno trecho de um dos sermões pesquisados para fazer a exposição oral em tom de pregação aos ouvintes. Seguem algumas informações que podem orientar a busca do grupo e motivá-los na escolha.
• No “Sermão da Sexagésima”, proferido em 1655 na Capela Real de Lisboa, Vieira discorre sobre a arte de pregar, utilizando a metáfora da arte de semear.
• O “Sermão de Santo Antônio aos Peixes” foi proferido em São Luís do Maranhão, em 13 de junho de 1654, dia de Santo Antônio e três dias antes da partida de Vieira para Portugal, onde pretendia interceder em favor dos indígenas diante das autoridades portuguesas. O sermão é construído em
forma de alegoria, dirigindo-se aos peixes, mas, na verdade, falando aos seres humanos. A alegoria e a ironia são os recursos de um discurso argumentativo que pretende levar o ouvinte à reflexão.
• No “Sermão da Primeira Dominga da Quaresma”, pregado no Maranhão em 1653, Vieira critica os moradores locais pela prática de cativeiro injusto de indígenas, pedindo-lhes que os libertem. Utilizando analogias, oposições e perguntas retóricas, pondo em prática um diálogo fictício com a plateia, Vieira desenvolve seus recursos argumentativos a fim de persuadir seus ouvintes. Adepto do conceptismo, Vieira valoriza o conteúdo, por meio do uso de metáforas e hipérboles.
Oriente os estudantes a buscar informações em sites confiáveis na internet e em livros de Filosofia. Se possível, seria bastante produtivo contar com a parceria do professor de Filosofia para o aprofundamento dessas informações e a indicação de leituras. Quanto à apresentação oral, oriente os estudantes a não ler o texto, mas usar as anotações como guia de sua fala.
Midiateca do estudante
GREGÓRIO de Mattos. Direção: Ana Carolina. Brasil: Crystal Cinematográfica, 2002. Streaming (70 min).
Filmado em sépia e falado em português seiscentista, o filme retoma o percurso e a obra desse que foi um dos principais poetas brasileiros do século XVII.
Estratégias didáticas
Encaminhe a discussão proposta no boxe Ler literatura (p. 56) com base no texto lido, que trata de tradição e ruptura na história da literatura. Proponha perguntas aos estudantes: um autor é leitor de quê?
A leitura de um autor pode ser também a leitura de um contexto histórico e social em que ele está inserido? A autoria de uma obra pressupõe leituras de outras já existentes? A continuidade de uma tradição pode se dar por uma ruptura dos moldes anteriores? O importante, a partir da discussão, é que os estudantes se posicionem e argumentem com base no que leram e nos conhecimentos já adquiridos ao longo de
sua vida escolar. Sugere-se solicitar aos estudantes que, em trios, elaborem quadros comparativos entre as características, os autores de destaque e a linguagem do Barroco e do Neoclassicismo, no sentido de registrarem uma síntese e identificarem as rupturas que houve entre um período e outro.
• CAETANO Veloso: Triste Bahia. [S. l.: s. n.], 2014. 1 vídeo (6 min). Publicado pelo canal Caetano Veloso. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=_amoeHb1xAY. Acesso em: 24 set. 2024.
Nessa canção, Caetano Veloso faz uma releitura do poema de mesmo nome, de Gregório de Matos.
• Antes de iniciar o trabalho com a seção, vale retomar os conhecimentos prévios que os estudantes tenham sobre o gênero discursivo palestra. Registre no quadro o que eles indicarem e, se necessário, pontue características importantes: trata-se de um gênero oral, cuja autoria deve ser especializada, de público-alvo coletivo, com foco em apresentar ideias e/ou defender uma tese.
• Antecipe as informações do boxe #sobre (p. 57) para contextualizar bem os textos que serão lidos. Aproveite para pedir aos estudantes que levantem hipóteses sobre o que imaginam que lerão no texto de Ailton Krenak, considerando o gênero e a autoria. Proponha uma leitura compartilhada dos trechos, pedindo-lhes que se voluntariem para isso. Faça pausas de trecho em trecho, explore o vocabulário desconhecido e converse sobre o que estão compreendendo.
Pensar e compartilhar (p. 59)
Estratégias didáticas
• Será mais produtivo desenvolver esta seção coletivamente, de modo que todos os estudantes possam se expressar, dar suas respostas e refletir juntos sobre a temática e a composição dos trechos da palestra.
• ÍNDIO cidadão? [S. l.: s. n.], 2017. 1 vídeo (52 min). Publicado pelo canal Índio cidadão? – o filme. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=Ti1q9eWtc8. Acesso em: 24 set. 2024. O filme apresenta episódios da participação do movimento indígena na Assembleia Nacional Constituinte (1987-1988). Aos 8 min 47 s, pode-se assistir ao pronunciamento contundente de Ailton Krenak no Plenário, em 4 de setembro de 1987, que foi decisivo para a aprovação dos artigos 231 e 232 da Constituição Federal de 1988, os quais reconheceram os direitos dos povos indígenas.
Para tornar a aula mais dinâmica, é possível trabalhar com a metodologia ativa de sala de aula invertida. Indique aos estudantes o banco de aulas da Khan Academy Brasil para que pesquisem informações sobre argumentação (disponível em: www. youtube.com/@khanacademyportugues; acesso em: 24 set. 2024). O banco permite que, com base em palavras-chave, sejam encontradas aulas rápidas e bem objetivas sobre temas linguísticos em geral. Você pode organizar a turma em grupos de cinco estudantes e pedir-lhes que façam uma pesquisa nesse banco digitando palavras-chave relacionadas ao gênero textual palestra: “argumentação”, “argumentos”, “tese” etc. Cada grupo poderá escolher uma das aulas, e essa escolha deverá ser registrada no quadro (para que não assistam a aulas iguais). Depois de assistirem à aula escolhida em um momento extraclasse, os grupos se reunirão para preparar uma apresentação dessa aula. Marque o dia em que deverão fazer a apresentação em sala de aula. Ao final de todas as apresentações, deverão construir coletivamente uma síntese do que aprenderam sobre argumentação com essa pesquisa.
Formação continuada
O texto a seguir é um recorte que apresenta os fundamentos para a aplicação da metodologia ativa de sala de aula invertida. As recomendações fornecem uma linha mestra para adoção dessa prática em sala de aula.
As metodologias ativas
[…] Na abordagem da sala de aula invertida, o aluno estuda previamente, e a aula torna-se o lugar de aprendizagem ativa, onde há perguntas, discussões e atividades práticas. O professor tra-
balha as dificuldades dos alunos, em vez de fazer apresentações sobre o conteúdo da disciplina […]. Antes da aula, o professor verifica as questões mais problemáticas, que devem ser trabalhadas em sala de aula. Durante a aula, ele pode fazer uma breve apresentação do material, intercalada com questões para discussão, visualizações e exercícios de lápis e papel. Os alunos podem também usar as TDIC [tecnologias digitais de informação e comunicação] para realizar simulações animadas, visualizar conceitos e realizar experimentos individualmente ou em grupos.
As regras básicas para inverter a sala de aula, segundo o relatório Flipped Classroom Field Guide (201-?), são:
1. As atividades em sala de aula devem envolver uma quantidade significativa de questionamento, resolução de problemas e de outras atividades de aprendizagem ativa, obrigando o aluno a recuperar, aplicar e ampliar o material aprendido on-line.
2. Os alunos devem receber feedback imediatamente após a realização das atividades presenciais.
3. Os alunos devem ser incentivados a participar das atividades on-line e das presenciais, sendo que elas são computadas na avaliação formal do aluno, ou seja, valem nota.
[…]
A abordagem da sala de aula invertida não deve ser novidade para professores de algumas disciplinas, nomeadamente no âmbito das ciências humanas. Nessas disciplinas, em geral, os alunos leem e estudam o material sobre literatura ou filosofia antes da aula e, em classe, os temas estudados são discutidos.
VALENTE, José Armando. A sala de aula invertida e a possibilidade do ensino personalizado: uma experiência com a graduação em midialogia. In: BACICH, Lilian; MORAN, José (org.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. E-book. Localizável em: parte 1, capítulo 1.
Estratégias didáticas
• Para o trabalho deste primeiro momento de foco em conhecimentos linguísticos, você pode pedir aos
estudantes que se reúnam em grupos com quatro ou cinco integrantes para seguirem suas explicações. Leia pequenos trechos teóricos, interprete os exemplos dados e deixe que os estudantes expressem dúvidas.
Estratégias didáticas
• Esta seção poderá ser mais produtiva se for realizada em duplas ou trios. As respostas devem ser compartilhadas e discutidas, com sua mediação. É importante que os estudantes registrem as respostas no caderno para que possam retomá-las oportunamente.
No item b da atividade 1, após os estudantes traduzirem a primeira estrofe, apresente, se achar interessante, a tradução da íntegra do poema, publicada na mesma obra da qual foi extraído o poema reproduzido no Livro do estudante
Onde vais querida?
Macau do nosso coração, Alma da nossa vida,
Onde vais, querida,
Tão cercada de escuridão?
Onde está a vela para te alumiar?
Como podes caminhar assim?
Cuidado, não tropeces!
Caindo tu, cairemos todos contigo.
Macau de semblante tristonho,
Onde para a tua alegria?
Quem foi que te soprou a vela
E te deixou nessas medonhas trevas?
Fustigam ventos fortes
E o tempo vai arrefecendo o teu coração;
Com o fogo apagado na lareira,
Até o amor acabará por sumir.
Não há calor, não há luz,
Mas fé, não poderá faltar;
Deus Misericordioso descobrirá
Um Cirineu para a tua cruz!
FERREIRA, José dos Santos. Onde vais querida? In: FERREIRA, José dos Santos. Macau di tempo antigo. Macau: Fundação Macau, 1996. p. 235.
• A variação linguística é o tema desta seção. Para acompanhar a sua explanação e a leitura no Livro do estudante , você pode incluir, quando oportuno, trechos dos vídeos da reportagem “‘Sotaques do Brasil’ desvenda as diferentes formas de falar do brasileiro” (disponível em: https:// g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2014/08/ sotaques-do-brasil-desvenda-diferentesformas-de-falar-do-brasileiro.html; acesso em: 24 set. 2024). Também pode comparar, com os estudantes, textos literários ou jornalísticos de diferentes regiões do Brasil, destacando usos e vocabulário específicos. Comparação semelhante pode ser feita entre textos literários do Romantismo e aqueles da contemporaneidade. Assim, será possível explorar vários tipos de variação linguística.
Estratégias didáticas
• P ara contextualizar aos estudantes o gênero discursivo mesa-redonda , construa com eles um mapa mental com base nos conhecimentos prévios que tiverem sobre o assunto. Inicie o mapa mental com um círculo central no quadro, no qual esteja escrito mesa-redonda . Considerando o que disserem, puxe outros círculos e destes, outros, se for o caso. Parta, então, para a leitura compartilhada da explicação no Livro do estudante .
• Assista c om os estudantes a pelo menos uma mesa-redonda, para que possam se familiarizar com o gênero. Como as mesas-redondas costumam ser longas, recorte alguns trechos, como: apresentação do tema a ser discutido, apresentação dos convidados, agradecimento, finalização. É importante que conheçam esse gênero antes de elaborar um roteiro para ele e se lançarem à sua produção.
Esta unidade tem como foco a urbanidade, suas origens e representações no Brasil do século XIX, bem como sua relação com as manifestações literárias desse período. O objetivo do trabalho com esse tema é levar os estudantes a compreender os discursos presentes nos romances românticos e a relação com seu contexto histórico e social. Ao mesmo tempo, essa leitura abre caminhos para uma reflexão sobre as cidades atuais, os processos de transformação e de ocupação do solo urbano e sua relação com a qualidade de vida, em um estudo conjunto com Geografia. Na parte de leitura, o enfoque é o gênero discursivo notícia, com destaque para o estudo de sua esfera de circulação e sua composição por meio de atividades que envolvem notícias sobre a inauguração de determinada área de lazer. O estudo dos conhecimentos linguísticos volta-se aos elementos da sintaxe – frase, oração e período, bem como sujeito e predicado – vistos ao longo do Ensino Fundamental, também por meio de atividades articuladas a explanações teóricas. A unidade se encerra com a proposta de produção de uma notícia, que deverá ser compartilhada em meios digitais.
Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 9 e 10
Competências específicas de Linguagens e suas
Tecnologias: 1, 2, 3, 4, 6 e 7
• Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias
EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG103 EM13LGG104
EM13LGG201 EM13LGG202 EM13LGG301 EM13LGG302
EM13LGG303 EM13LGG304 EM13LGG305 EM13LGG401
EM13LGG402 EM13LGG604 EM13LGG701 EM13LGG703
EM13LGG704
• Habilidades de Língua Portuguesa
EM13LP01 EM13LP02 EM13LP05 EM13LP06
EM13LP07 EM13LP08 EM13LP15 EM13LP39
EM13LP40 EM13LP42 EM13LP45 EM13LP48 EM13LP49 EM13LP50
Todos os campos de atuação social
Campo jornalístico-midiático
Campo artístico-literário
Estratégias didáticas
• As quatr o obras que compõem a abertura da unidade podem ser exploradas comparativamente antes de serem propostas as atividades referentes a cada uma. Oriente os estudantes a observar as imagens sob os seguintes aspectos: tempo e espaço, construções, presença humana, cores e intenção do enunciador. As duas obras de Debret provavelmente serão compreendidas mais como um registro do cotidiano do início do século XIX no Rio de Janeiro (RJ), diferentemente da de Heitor dos Prazeres, que, para além da intenção de apenas registrar o cotidiano do início da década de 1960, também no Rio de Janeiro, investe em cores vibrantes e figuras humanas estilizadas. Na primeira obra de Debret apresentada, o artista tinha a intenção de registrar a vida da corte portuguesa na sua nova sede, por isso as figuras humanas e suas relações ocupam o primeiro plano. Já a obra de Alex Brasil, mais abstrata, não apresenta figuras humanas, mas as sugere pelo título e pela associação ao mundo das moradias nos morros cariocas atualmente. Sua intenção é mais crítica, comentando a maneira desordenada e precária como vive essa população: amontoada.
• Para que os estudantes tenham uma compreensão mais ampla das obras, é importante contextualizar os artistas.
• Jean-Baptiste Debret (1768-1848) foi um dos professores franceses que fez parte da Missão Artística Francesa, que fundou, em 1817, no Rio de Janeiro, a Academia de Artes e Ofícios. Permaneceu no Brasil por 14 anos, lecionando e documentando, por meio de seus desenhos e gravuras, a vida cotidiana da sociedade brasileira no início do século XIX e a natureza exuberante que encontrou por aqui. Sua obra Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, publicada pela primeira vez na França em 1831, revela muito da aristocracia,
da vida dos escravizados e da burguesia brasileira em geral dessa época.
• Heitor dos Prazeres (1898-1966) foi um compositor, cantor e pintor carioca. Aprendeu a tocar clarinete com seu pai, que tocava na banda da Guarda Nacional. Ganhou o primeiro cavaquinho de seu tio, também músico. Participava sempre de concursos de composição, e muitas de suas músicas foram gravadas por cantores conhecidos. A partir de 1936, dedicou-se à pintura e à produção de instrumentos musicais de madeira. Suas telas de arte naïf retratavam a vida nas favelas, com suas rodas de samba, rituais afro-brasileiros, bailes, brincadeiras infantis. Suas personagens figuravam na maioria com a cabeça e olhos voltados para cima, ou sem traços fisionômicos. Foi um importante nome da cultura popular e ajudou a fundar duas escolas de samba, a Portela e a Mangueira.
• Alex Brasil (1977-) é um artista plástico de Pouso Alegre (MG) que tem como foco o trabalho estético articulado ao cunho social. Executa obras investigando diversos suportes e materiais, como caixas de sapato e de leite, CDs, restos de pedras portuguesas que pavimentam as ruas do Rio de Janeiro e pedras de construção ou demolição. A perspectiva de sua obra é ao mesmo tempo lírica e dramática.
Respostas e comentários
2. a) Para ampliar as informações aos estudantes, comente que o Largo do Paço é a atual Praça XV de Novembro, no Rio de Janeiro, denominação alusiva à data da Proclamação da República.
6. A obra Amontoados , de Alex Brasil, faz uso das figuras de estilo metáfora e metonímia ao comparar as pedras portuguesas a casas e ao utilizar um elemento da urbanização (calçadas) para representar a urbanização dos morros. Se julgar oportuno, trabalhe esse aspecto com os estudantes. As pedras portuguesas, que servem de calçamento em muitas cidades brasileiras, têm formato irregular, sendo feitas de calcário e usadas para formar padrões decorativos ou mosaicos. O calçadão da praia de Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro, é famoso por apresentar padrões formados por esse tipo de pedra.
Estratégias didáticas
• A s respostas às questões propostas no boxe Ler o mundo (p. 76) podem ser apresentadas oralmente pelos estudantes, que devem justificar suas opiniões. Incentive a turma a discutir as opiniões dos colegas, rebatendo-as ou confirmando-as, sempre em tom de respeito e com argumentos bem embasados. Você pode encaminhar a discussão proposta na atividade 2 tendo em vista o aspecto destacado a seguir, extraído da apresentação de um projeto desenvolvido em uma escola municipal de EJA de Nova Lima (MG) para propiciar aos estudantes o conhecimento da cidade onde moram.
Conhecer a história da cidade e seu processo constitutivo é saber que cada indivíduo faz parte deste processo como ser ativo. É o caminho para a criação de uma identidade, primeiramente para com o seu local, depois regional e finalmente atingir a identidade nacional.
TRINDADE, Sonia Regina. Projeto “Conhecendo nossa cidade” 2005. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Docência da EJA na Educação Básica) – Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005. Disponível em: https:// repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/32875/1/projeto%20SONIA.pdf. Acesso em: 27 set. 2024.
Estratégias didáticas
• P ara o item b da atividade 4 , uma sugestão de aprofundamento seria a leitura do artigo “A cidade e a escrita do corpo em Quarenta dias ” (disponível em: https://periodicos.ufes.br/contexto/ article/view/13736; acesso em: 25 set. 2024), de Beatriz V. de Resende e Nismária A. David, no qual é analisado o papel que a cidade desempenha no romance de Maria Valéria Rezende (1942-). As cidades, desde o Romantismo, são um veio fundamental de exploração pelo romance. Alinhada a essa tradição, a autora atualiza o tema recuperando o olhar de nomes como Rubem Fonseca, João Antônio e, em alguma medida, Marcos Rey, entre outros.
• Para a atividade 8 , após os estudantes responderem, acrescente que o romance Quarenta dias explora recursos que fogem do convencional em certas opções de linguagem e estilo, na inserção de reproduções de imagens variadas. Se tiver oportunidade e considerar relevante, com a obra em mãos, discuta com os estudantes como esses recursos ressignificam ou atualizam o gênero. É possível aprofundar a discussão explicando que vários romances atuais se autodenominam autoficção, gênero que cria um limite impreciso entre o que é realidade e o que é invenção. É o caso de A resistência (2015), de Julián Fuks (1981-), e O céu dos suicidas (2012), de Ricardo Lísias (1975-).
Há também romances que se compõem de muitos gêneros – poemas, trechos dramáticos, fotografias e sequências narrativas convencionais – que formam, em conjunto, um romance, como é o caso de As visitas que hoje estamos (2012), de Antonio Geraldo Figueiredo Ferreira (1965-).
Estratégias didáticas
A apresentação das respostas à questão proposta no boxe O X da questão (p. 81) pode ser oral, esperando-se que os participantes justifiquem sua opinião, que poderá ser rebatida ou confirmada pela turma. Provavelmente surgirão no debate as desvantagens de viver nas cidades, mas o foco da discussão deve ser seus atrativos. Se julgar oportuno, leia para os estudantes o texto que segue sobre a cidade de São Paulo no século XIX, hoje com milhões de habitantes.
Até mais da metade do século XIX, São Paulo era uma cidade pequena, com menos de 50 ruas e pouco mais de 20 mil habitantes. A atividade urbana limitava-se ao chamado Triângulo Histórico, formado pelas ruas São Bento, Direita e Quinze de Novembro. Em Viagem pelo Brasil 1817-1820, um dos mais importantes relatos sobre o Brasil do século XIX, os naturalistas alemães Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich Philipp von Martius descreveram a cidade assim: ‘Acha-se a cidade de São Paulo situada numa elevação na extensa planície de Piratininga. A arquitetura de suas casas amiúde com
sacadas de gradil, que ainda não desapareceram por aqui, como no Rio, indica mais de um século de existência; contudo, as ruas são muito largas, claras e asseadas, e as casas têm, na maioria, dois pavimentos. Aqui raramente se constrói com tijolo, ainda menos com cantaria: levantam-se as paredes com duas filas de fortes postes ou varame entrelaçado, entre os quais se calca o barro (casa de taipa), sistema muito parecido com o pisé francês’.
SÃO PAULO do século XIX. [S. l]: Brasiliana Iconográfica, c2017. Grifo nosso. Disponível em: www.brasilianaiconografica.art.br/ artigos/20115/sao-paulo-do-seculo-xix. Acesso em: 25 set. 2024.
Estratégias didáticas
• P ara responder às questões propostas no boxe Hiperlink (p. 84) sobre o casamento e o papel da mulher no século XIX, a leitura do trecho do romance Senhora já oferece pistas do comportamento incomum de Aurélia em relação ao casamento, mas a pesquisa tem o objetivo de aprofundar os conhecimentos dos estudantes em relação ao papel da mulher na sociedade urbana do século XIX. O casamento no século XIX era visto como um negócio, um modo de preservar e adquirir riquezas para as famílias da classe burguesa. O dote eram as vantagens financeiras oferecidas ao futuro marido da moça disponível para o casamento, que era arranjado, independentemente da vontade dela. Além das fontes que encontrarem por conta própria, os estudantes podem consultar as indicações do boxe Midiateca do estudante a seguir. Reforce a necessidade de consulta a sites com conteúdo acadêmico.
• SOARES, Ana Luísa Silva. O papel da mulher ao longo da história: influências no conceito de família bem como nas relações de parentesco. 2021. Artigo científico (Bacharelado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2021. Disponível em: https://repositorio.ufu.br/ bitstream/123456789/31909/1/PapelDaMulher.pdf. Acesso em: 25 set. 2024.
No artigo, a autora relaciona a noção de família e as conquistas femininas, mostrando como a alteração do papel da mulher na sociedade afetou o Direito de Família.
• LEANDRO , Aderci Flôres; FREIRE, José Alonso Tôrres. O mercado matrimonial em Senhora, de José de Alencar. Primeira Escrita, Aquidauana, n. 5, p. 93-100, 2018. Disponível em: https://periodicos. ufms.br/index.php/revpres/article/view/7839.
Acesso em: 25 set. 2024.
O artigo analisa o casamento como mercado matrimonial no século XIX com base na obra Senhora, de José de Alencar (1829-1877).
Depois de realizada a pesquisa, proponha novamente as quatro questões do boxe. As duas primeiras podem ser facilmente respondidas com base na pesquisa que fizeram. Peça que levantem hipóteses sobre o desfecho do romance, incentivando-os a fazer a leitura integral da obra. Para debater as duas últimas questões, encaminhe a discussão propondo diferenciar o que mudou e o que permanece. Pode ser oportuno também discutir o papel da mulher em diferentes classes sociais. Como atividade final, sugere-se propor uma produção textual, do gênero artigo de opinião, em que os estudantes façam uma comparação crítica da situação da mulher e o papel do casamento no século XIX com a situação atual.
No desenvolvimento do boxe Hiperlink (p. 86) sobre Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida (1831-1861), para incentivar a leitura integral da obra, apresente-a com mais informações e leia passagens significativas. Se a turma tiver o livro em mãos, peça-lhes que selecionem um trecho que considerem interessante e leiam para os colegas. A obra apresenta uma divertida crônica histórica que revela aos leitores a mentalidade social da primeira metade do século XIX, sendo possível reconhecer alguns de seus traços ainda hoje. Para obter mais informações sobre a obra, sugerem-se as fontes dos críticos Alfredo Bosi (1936-2021) e Antonio Candido (1918-2017) indicadas a seguir.
As Memórias nos dão, na verdade, um corte sincrônico da vida familiar brasileira nos meios urbanos em uma fase em que já se esboçava uma estrutura não mais puramente colonial, mas ainda longe do quadro industrial-burguês.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira 43. ed. São Paulo: Cultrix, 2006. p. 134.
Digamos então que Leonardo não é um pícaro, saído da tradição espanhola; mas o primeiro grande malandro que entra na novelística brasileira, vindo de uma tradição quase folclórica e correspondendo, mais do que se costuma dizer, a certa atmosfera cômica e popularesca de seu tempo, no Brasil.
CANDIDO, Antonio. O discurso e a cidade. São Paulo: Todavia, 2023. E-book. Localizável em: subtítulo Romance malandro.
Para iniciar a discussão das questões propostas, peça aos estudantes que apresentem suas respostas e, se necessário, complemente-as ou encaminhe a discussão com informações adicionais. Para discutir como Leonardo é caracterizado e como se constroem as relações de favorecimento entre as personagens, é importante primeiramente que os estudantes reconheçam Leonardo como um personagem cujas ações o caracterizam como um tipo social. É um malandro que transgride o código moral ao aceitar favores do major Vidigal para se promover nos cargos públicos – lembrando que malandro deve ser entendido na obra como o sujeito esperto que tem habilidades para se safar de situações adversas, que improvisa e foge do trabalho. Para sobreviver e ascender socialmente, Leonardo encontra seu principal meio na malandragem e no sistema de favor e cooptação. O major Vidigal, por exemplo, um típico mantenedor da ordem, transgride o código moral ao libertar e promover Leonardo em troca dos favores amorosos de Maria Regalada. Sobre o que representa a figura do major Vidigal, basta retomar o seguinte trecho da obra, que pode ser lido para os estudantes.
O major Vidigal era o rei absoluto, o árbitro supremo de tudo que dizia respeito a esse ramo de administração; era o juiz que julgava e distribuía a pena, e ao mesmo tempo o guarda que dava caça aos criminosos; nas causas da sua imensa alçada não havia testemunhas, nem provas, nem razões, nem processo; ele resumia tudo em si.
ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias. São Paulo: Melhoramentos, 2011. (Clássicos Melhoramentos). E-book. Localizável em: capítulo V.
Com base nesses levantamentos e discussões, a parte final da reflexão é reconhecer os aspectos do romance que subsistem na sociedade brasileira contemporânea, o que provavelmente resultará em surpresas e acalorada discussão. Mais uma questão para a turma: será que um romance também pode atuar como documento histórico de uma sociedade?
Estratégias didáticas
• Para o boxe Ler literatura (p. 92), em um primeiro momento, ouça livremente as respostas dos estudantes. Aberta a discussão, procure mostrar que, depois de uma leitura mais impressionista e emocional (gostei/não gostei), pode-se passar a uma leitura mais analítica e, nesse caso, algum conhecimento desse contexto permitirá compreender melhor a obra, visto que a voz autoral ganha mais visibilidade e sentido para desvendar os subtextos presentes. É importante considerar que mesmo uma obra da qual eles “não gostaram” pode ganhar o reconhecimento de seu valor literário se analisada em seu contexto social, político e filosófico. Pergunte-lhes se já tiveram essa experiência com outros livros ou filmes, por exemplo, os quais passaram a ter mais sentido depois de conhecido seu contexto de produção.
Estratégias didáticas
Para fundamentar a discussão inicial proposta no boxe Ler o mundo (p. 93), retome o que foi analisado e discutido na unidade sobre cidades de ontem e de hoje. Na atividade 2, pode-se propor aos estudantes que busquem na internet notícias e reportagens sobre as obras das quais se lembram. Acompanhe e oriente a busca, sugerindo jornais e revistas digitais caso seja necessário. Aproveite a oportunidade para promover uma reflexão sobre a credibilidade das mídias jornalísticas.
O foco desta seção Leitura, para além da questão temática, é o gênero discursivo notícia. Assim, antes de começar a leitura do texto, levante os conhecimentos prévios dos estudantes sobre esse gênero. Pergunte se saberiam definir o que é uma notícia, se sabem onde ela circula, qual é sua principal finalidade etc. Registre no quadro, em tópicos, o que julgar mais relevante nas respostas que derem. Como a atividade 1 da próxima seção ( Pensar e compartilhar) tratará da estrutura do lide, os estudantes poderão comparar essas respostas iniciais às respostas esperadas nessa atividade.
• LAGE, Nilson. Ideologia e técnica da notícia. 4. ed. Florianópolis: Insular, 2012.
Lançada originalmente em 1979, a obra trata dos fundamentos e das especificidades do gênero notícia.
• C ONDE, Mariana Guedes. Temas em jornalismo digital : histórico e perspectiva. Curitiba: InterSaberes, 2018.
A obra expande o horizonte da notícia para o mundo digital, identificando vantagens e desvantagens desse novo meio para o campo da informação.
• BARBOSA, Mariana (org.). Pós-verdade e fake news: reflexões sobre a guerra das narrativas. Rio de Janeiro: Cobogó, 2020.
O livro reúne reflexões de jornalistas e acadêmicos sobre o fenômeno da pós-verdade e a emergência aparentemente incontrolável das fake news.
Estratégias didáticas
• Na atividade 1, retome o que foi levantado de conhecimentos prévios dos estudantes sobre notícia para que eles possam complementar adequadamente o organizador e depois responder à pergunta proposta ao final da atividade.
• BARBOSA, Jacqueline Peixoto; SIMÕES, Pedro Henrique de Oliveira. Letramento midiático no ensino de português: a formação da contrapalavra crítica. Linha D’Água, São Paulo, v. 30, n. 2, p. 71-91, out. 2017. Disponível em: www.revistas.usp.br/linhadagua/article/ view/127663/135263. Acesso em: 26 set. 2024.
O artigo discute fundamentos do letramento midiático e apresenta perspectivas de trabalho com a esfera jornalística em sala de aula.
Estratégias didáticas
• O c onteúdo desta seção é extenso e complexo. Para que os estudantes não se sintam cansados ou
percam a concentração, sugere-se que fiquem organizados em grupos durante todo o trabalho. Você pode fazer pequenas pausas e pedir-lhes que se movimentem, trocando de carteiras com os outros grupos. Isso dinamizará a aula e os manterá atentos.
• O estudo da sintaxe no início do Ensino Médio demanda a retomada de conhecimentos linguísticos trabalhados nos Anos Finais do Ensino Fundamental. Por esse motivo, vale a pena fazer uma avaliação diagnóstica informal e coletiva da turma em relação ao que eles já compreendem dessas noções. Em seguida, proceda ao trabalho com o trecho de Senhora, de José de Alencar.
Peça a um voluntário que leia o trecho de Senhora, de José de Alencar. Em seguida, comente e tire eventuais dúvidas de interpretação. Estabeleça um tempo para que os grupos façam as atividades 1 a 3. Faça a correção coletivamente, deixando que os estudantes expressem suas dúvidas e dificuldades. Leia com os estudantes o tópico As possibilidades de combinação da língua (p. 98) e resolva as dúvidas que tiverem. Você pode pedir a eles que parafraseiem o que leram para que perceba se entenderam de fato. Proceda com o tópico Frase, oração e período (p. 99), retomando as classes gramaticais estudadas nos Anos Finais do Ensino Fundamental conforme necessário.
N o trabalho com o tópico Sujeito e predicado (p. 100), você pode reproduzir os exemplos do Livro do estudante no quadro, se possível usando cores diferentes para facilitar a explicação e o entendimento.
BAGNO, Marcos. Gramática de bolso do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2013.
A obra trata, sinteticamente, com base nas contribuições da Linguística e da Sociolinguística, dos fenômenos linguísticos que devem ser objeto de estudo na sala de aula.
Estratégias didáticas
• Para trabalhar as noções apresentadas nos tópicos anteriores, a seção propõe dez questões, que poderão ser mais bem aproveitadas se desenvolvidas em trios desta vez. Assim, aquele que retomou e entendeu mais explicará para o que retomou e entendeu menos.
• Na atividade 4, explore os sentidos da tirinha com os estudantes por meio da relação entre os elementos verbal e não verbal: no primeiro quadrinho, a imagem transmite uma sensação de calma e equilíbrio que contrasta com o que é dito no balão de fala; no segundo, a ida do carro cria uma situação de suspense; no terceiro, o caos se instala, confirmando o que foi dito no primeiro quadrinho.
Estratégias didáticas
• Siga com os estudantes o percurso de leitura e atividades proposto no Livro do estudante, de modo que possam construir o conceito de coesão e perceber como ela é fundamental para a constituição da textualidade.
Estratégias didáticas
• Na atividade 3 , não deixe de explorar com os estudantes a linguagem visual da charge : traços paralelos e irregulares representando o movimento da nave; cores mais variadas no primeiro quadrinho e monocromia no segundo, simbolizando a divisão entre centro e periferia urbana que faz com que o extraterrestre ache que está em outro planeta após cochilar brevemente.
Estratégias didáticas
• A produção de texto nesta unidade será de uma notícia. Como esse gênero discursivo já foi trabalhado na seção Leitura , será o caso de apenas retomar o que foi tratado. Esclareça também o assunto sobre o qual vão produzir a notícia, que se refere à inauguração de uma nova linha de trem, em determinada localidade, depois de alguns adiamentos revelados pelas notícias apresentadas. Explique que terão de assumir o papel de repórteres de um dado jornal e destrinche com eles os passos da etapa de planejamento.
O objetivo fundamental desta unidade é promover a reflexão sobre a questão indígena, dada a necessidade de desconstruir estereótipos e promover a valorização das culturas originárias. No decorrer da unidade, os estudantes são incentivados a questionar seus próprios preconceitos, a desenvolver habilidades de análise e interpretação de textos verbais, visuais e verbovisuais e a exercitar seu pensamento crítico e olhar sensível em relação à história e à situação de povos originários brasileiros. Os textos literários escolhidos para análise objetivam lançar um olhar crítico à representação dos indígenas sob o ponto de vista eurocêntrico e evidenciar a importância da representatividade, pela voz autêntica de autores indígenas ou pela instauração dessa voz no discurso literário. Além disso, odiscurso científico também é posto em questão, por meio da análise de texto de divulgação científica, cuja temática também remete à cultura indígena. Um dos aspectos característicos desses textos é a noção de impessoalização, tratada de forma atenta na parte de análise linguística, a qual também se debruça sobre a estruturação sintática e a categorização do sujeito. Por fim, o olhar crítico em relação aos povos originários é a pauta para a produção de texto de divulgação a ser elaborado pelos estudantes e compartilhado com a classe.
• Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 4, 7, 9 e 10
• Competências específicas de Linguagens e suas Tecnologias: 1, 2, 3, 4, 6 e 7
• Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias
EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG103 EM13LGG104
EM13LGG201 EM13LGG202 EM13LGG301 EM13LGG302
EM13LGG303 EM13LGG304 EM13LGG305 EM13LGG401
EM13LGG602 EM13LGG604 EM13LGG701 EM13LGG703
EM13LGG704
• Habilidades de Língua Portuguesa
EM13LP01 EM13LP02 EM13LP04 EM13LP05 EM13LP07 EM13LP08 EM13LP11 EM13LP12
EM13LP16 EM13LP30 EM13LP34 EM13LP35 EM13LP48 EM13LP49 EM13LP50 EM13LP52
Todos os campos de atuação social
Campo das práticas de estudo e pesquisa
Campo artístico-literário
Estratégias didáticas
• Antes de realizar as atividades propostas, sugere-se que os estudantes sejam convidados a observar as quatro imagens apresentadas na seção e comentar o que chama sua atenção em todas elas e o que têm em comum. É possível questionar se as representações correspondem ao modo como tradicionalmente povos indígenas são retratados ou se elas surpreendem de alguma forma os estudan tes e por quê. Espera-se que logo observem que as imagens sugerem um ponto de vista diferente do tradicional sobre o indígena, uma vez que são retratados como protagonistas e como articulados ao contexto tecnológico contemporâneo. Depois dessa discussão mais geral, proceda à realização das atividades, nas quais cada imagem é analisada com mais atenção e em comparação com as demais.
Midiateca do estudante
• LIMULJA, Hanna. Mari hi: a árvore dos sonhos: um mito yanomami para crianças. Ilustrações: Gustavo Caboco. São Paulo: Ubu, 2023.
Fruto de anos de pesquisa e convivência com o povo yanomami, a obra de Hanna Limulja (1982-) oferece um olhar privilegiado sobre a importância dos sonhos nessa cultura.
• No boxe Ler o mundo (p. 112), para aquecer a análise dos textos apresentados na sequência, são propostas questões para discussão que têm o objetivo de
incentivar a construção de uma visão mais justa e equitativa sobre os povos indígenas, bem como preparar a análise crítica de textos literários. Ao suscitar essa reflexão, é importante deixar que os estudantes manifestem seus conhecimentos prévios sobre o que é questionado e acolher seus pontos de vista, para que, ao final da discussão, ou mesmo depois da leitura dos textos, eles possam confrontar sua primeira visão com os conhecimentos elaborados no percurso. É muito provável que, em meio a essas discussões, surjam visões estereotipadas a respeito dos povos originários, uma vez que a desconstrução de ideias pré-concebidas ainda está em processo de concretização por grande parte da população brasileira não indígena. Reserve alguns minutos para que os estudantes conversem sobre as atividades propostas no boxe, orientando-os a tomar nota das respostas que surgirem no grupo, a fim de que possam ser confrontadas na discussão geral. Uma resposta adequada para a atividade 1 engloba, pelo menos, três pontos fundamentais: a autodeclaração, ou seja, a percepção que o indígena tem de sua própria identidade; o reconhecimento institucional, que se dá por meio de órgãos governamentais e instituições; e o vínculo com a comunidade, ou seja, o reconhecimento de pertencimento a uma dada comunidade, com língua, costumes e territórios próprios. Ao dialogar sobre a atividade 2, espera-se que mencionem referências socioculturais, históricas e jurídicas que subsidiam a (auto)identificação indígena. As referências socioculturais abrangem elementos como língua, modo de vida, espiritualidade e ancestralidade. As referências históricas compreendem o reconhecimento da existência dos povos originários como habitantes do território brasileiro antes da ocupação por colonizadores e a ideia de que o processo colonizador dizimou e apagou culturas indígenas em todo o território nacional. Já as referências legais abarcam os direitos fundamentais dos povos originários (saúde, educação, cultura, território etc.), bem como parâmetros para a proteção de povos indígenas ameaçados de extinção ou submetidos a qualquer tipo de violência. Quanto à atividade 3, espera-se que os estudantes reconheçam que discursos preconceituosos reforçam estereótipos negativos, os quais são profundos e persistentes, construídos historicamente com base em visões eurocêntricas e discriminatórias. Esses
estereótipos contribuem para a desumanização e a invisibilização dos povos indígenas, perpetuam desigualdades e ainda desconsideram sua diversidade cultural e contemporaneidade.
• A escolha de trechos das obras O som do rugido da onça, de Micheliny Verunschk (1972-), e A queda do céu, de Davi Kopenawa (1956-), faz-se para trazer à tona vozes indígenas autênticas e desafiar representações estereotipadas, de maneira a proporcionar uma oportunidade para decolonizar o olhar sobre a história e a cultura do Brasil, especialmente no que se refere aos povos originários, frequentemente vistos apenas sob uma perspectiva eurocêntrica. Ambas as obras proporcionam um acesso privilegiado às perspectivas indígenas, uma vez que emergem de suas próprias experiências e visões de mundo. Ao contrário de relatos históricos ou antropológicos, que muitas vezes filtram as experiências indígenas por meio de lentes não indígenas, essas obras oferecem uma voz direta e autêntica.
• Tanto O som do rugido da onça quanto A queda do céu exploram a profunda conexão dos povos indígenas com a natureza, revelando uma cosmovisão que valoriza a interdependência entre os seres humanos e o meio ambiente. Essa temática é fundamental para a compreensão da cultura indígena e para a discussão de questões ambientais contemporâneas.
• Ao analisar o trecho do texto A queda do céu, vale a pena explicitar o conceito de animismo (crença na existência de espíritos em objetos, fenômenos naturais e seres vivos) e evidenciar que este é fundamental para compreender a relação dos povos indígenas com a natureza. Essa cosmovisão permeia suas vidas, atribuindo significado e valor a todos os elementos do universo. Os indígenas estabelecem uma profunda conexão com o mundo natural, percebendo-o como um ser vivo e sagrado, com o qual interagem e do qual fazem parte. Essa perspectiva influencia suas práticas agrícolas, medicinais, religiosas e sociais, promovendo um profundo respeito e cuidado pelo meio ambiente.
Pensar e compartilhar (p. 114)
Estratégias didáticas
• Para o item b da atividade 3, comente com os estudantes que, ao entrelaçar personagens e eventos
reais com elementos de ficção, a literatura revitaliza figuras e momentos históricos, dando-lhes novas dimensões. Além disso, essa forma de construção ficcional expõe novos pontos de vista sobre eventos e personagens, permitindo ao leitor refletir sobre as nuances da história e seu impacto no presente.
Estratégias didáticas
Para responderem aos questionamentos do tópico
Para discutir do boxe O X da questão (p. 116), os estudantes podem ser organizados em grupos. Oriente-os a tomar nota do que for conversado no grupo, a fim de que as conclusões possam ser compartilhadas com a turma. Se houver tempo, a realização de uma plenária pode ser uma estratégia interessante, na qual apenas um participante de cada grupo pode apresentar as conclusões para que estas sejam confrontadas. Isso pode colaborar para o desenvolvimento de habilidades comunicativas, de exposição e argumentação. Também é preciso estar atento à postura preconceituosa que eventualmente os próprios estudantes possam manifestar, uma vez que juízos arraigados precisam de um processo de análise crítica para que sejam desconstruídos.
A obra Iracema, de José de Alencar (1829-1877), embora seja um marco da literatura brasileira, carrega uma visão romantizada e idealizada do processo de colonização. A representação da indígena Iracema como uma figura passiva e submissa ao colonizador europeu Martim, além de romantizar a violência da colonização, perpetua estereótipos sobre os povos indígenas. A narrativa, ao celebrar a miscigenação como símbolo da formação da nação brasileira, ignora o genocídio e a exploração sofridos pelos povos nativos. A obra, portanto, contribui para a construção de um mito fundador que, ao mesmo tempo que celebra a identidade nacional, oculta as desigualdades e injustiças históricas. A análise crítica de obras como Iracema é fundamental para desconstruir mitos e estereótipos sobre os povos indígenas e promover uma compreensão mais justa e precisa da história do Brasil. Ao questionar as representações do passado, é possível construir um futuro mais equitativo e inclusivo para todos.
Estratégias didáticas
• Na atividade 1, o quadro comparativo da distribuição da população indígena incita a reflexão sobre a complexidade da formação da identidade nacional brasileira. Ao analisar criticamente essas fontes, os estudantes são levados a compreender como a história foi construída e como as representações do passado influenciam o presente. Além disso, a aproximação de gêneros diferentes (mapa, tabela e trecho de romance) exige que os estudantes mobilizem diferentes habilidades de leitura, façam a conexão entre passado e presente, exercitem o pensamento crítico e analisem dados de diversas áreas do conhecimento (Geografia, História, Literatura e Sociologia), o que contribui para a formação de leitores mais autônomos, críticos e engajados. Para que isso se realize, a atividade pode ser feita coletivamente, com a sua mediação, ou ainda em pequenos grupos, com a destinação de tempo para que os estudantes analisem os textos e respondam às questões e depois as compartilhem com a turma.
• Na atividade 6, a comparação entre textos literários diferentes permite entrever que a literatura brasileira, ao longo de sua história, tem retratado os povos indígenas de maneiras distintas, refletindo as diversas perspectivas e valores de cada época. A comparação entre Iracema, de José de Alencar, e O som do rugido da onça, de Micheliny Verunschk, evidencia essa transformação na representação dos indígenas e revela as complexidades da construção da identidade nacional. É importante lembrar que Iracema, publicado no século XIX, insere-se no contexto do Romantismo, movimento que idealizava a natureza e o passado. Já O som do rugido da onça , publicado no século XXI, faz parte da literatura contemporânea. A obra de Verunschk resgata a voz dos povos indígenas, oferecendo uma perspectiva crítica e descolonizada da história, além de denunciar a violência da colonização e as consequências do contato com a cultura europeia. Ao contrário de Iracema, que idealiza a miscigenação, O som do rugido da onça evidencia as perdas e as lutas dos povos indígenas.
• Após a leitura do boxe conceito (p. 120), seria interessante distinguir os conceitos de decolonizar e descolonizar , que são termos frequentemente
utilizados em debates sobre história, cultura, política e sociedade, mas que carregam distinções importantes: descolonizar refere-se ao processo histórico de libertação de um território ou povo do domínio colonial. É a ação de romper com os laços políticos e econômicos estabelecidos pela potência colonizadora. A descolonização, portanto, é um evento concreto que marca o fim de um período de dominação. Já a decolonização vai além da libertação política, pois implica uma transformação profunda e contínua, que busca desmantelar as estruturas de poder, as formas de conhecimento e as mentalidades que foram moldadas pelo colonialismo. É um processo de desconstrução e reconstrução que visa superar os legados do colonialismo, como o racismo, a desigualdade e o eurocentrismo.
Para a atividade 10, comente com os estudantes que, no Romantismo brasileiro, a idealização do indígena e da natureza obedece a um esforço dos autores da época para construir uma identidade nacional depois da Independência. Essa idealização retrata o indígena como um herói nobre, puro e corajoso, muitas vezes elevado ao status de símbolo da nação brasileira em formação. Essas personagens são frequentemente apresentadas em harmonia com a natureza, estabelecendo valores morais e físicos considerados autênticos e ideais, mas inspirados em valores europeus e cristãos. Se julgar pertinente, relembre com os estudantes que uma das especificidades do texto literário é o emprego de recursos retóricos, entre eles as figuras de linguagem, que atuam para a construção do efeito estético e a produção de sentido do texto. Se necessário, resgate os conhecimentos que os estudantes têm de figuras como metáfora, alegoria, comparação, personificação e hipérbole, desafiando-os a encontrar ocorrências no texto. É importante destacar que figuras de linguagem são empregadas para produzir diferentes efeitos de sentido, como a evocação de imagens vívidas na mente do leitor, o humor ou a crítica, ou ainda a criação de uma ambientação específica no texto ficcional.
Estratégias didáticas
• Nesta seção, o objetivo é analisar criticamente a representação dos indígenas na arte e observar o
reforço ou a desconstrução de estereótipos e instigar a discussão sobre as diferentes representações dos indígenas ao longo da história. Depois de realizada a pesquisa e a análise, é importante incentivar os estudantes a compartilhar seus trabalhos e, para isso, sugerem-se três estratégias, que você pode escolher de acordo com o tempo e as condições disponíveis: 1. Promover um momento de apresentação, em que cada grupo compartilhe suas descobertas e análises. 2. Propor uma exposição dos trabalhos, para que sejam compartilhados com outras turmas, visto que é bastante importante que as produções dos estudantes tenham objetivos e interlocutores determinados. 3. Realizar uma plenária, em sala de aula, em que sejam analisados os resultados dos trabalhos e se debatam as diferenças e semelhanças entre as representações dos indígenas nas diversas obras analisadas.
Estratégias didáticas
• Para o estudo do conteúdo proposto, sugere-se que seja por meio de aula invertida, ou seja, mediante combinação e sua orientação prévia, os estudantes iniciam os estudos em um momento extraclasse, aprofundando-se em temas como o conceito de “bom selvagem”, a perseguição aos botocudos e o papel do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) na construção da identidade nacional. Para isso, podem ser indicados o vídeo de Ailton Krenak (1953-) sobre os botocudos sugerido na Midiateca do estudante e a Carta Régia de 13 de maio de 1808 (referência completa na Midiateca do professor ), na qual o príncipe declarava guerra e extermínio dos indígenas botocudos. Sugere-se, ainda, que os estudantes conversem com professores de História para saber mais sobre o contexto histórico do século XIX, época em que os escritores do Romantismo brasileiro desenvolveram um projeto literário no qual o indígena figurou como “o bom selvagem”. É importante orientar os estudantes a tomar nota das informações coletadas nessas investigações, para que, em sala de aula, possam ser compartilhadas, confrontadas e discutidas. O objetivo fundamental dessa estratégia é dar autonomia aos estudantes para que reflitam criticamente sobre a construção da imagem do indígena na História do Brasil.
• RODA Viva: Davi Kopenawa: 15/04/2024. São Paulo: TV Cultura, 2024. 1 vídeo (114 min). Publicado pelo Canal Roda Viva. Disponível em: www.youtube.com/ watch?v=davOEBFhU0U. Acesso em: 16 set. 2024. Nessa entrevista, o líder indígena yanomami Davi Kopenawa (1956-) fala sobre a luta de seu povo pela preservação de seus direitos e de suas terras.
• BRASIL. Carta Régia de 13 de maio de 1808. Manda fazer guerra aos índios botocudos. Rio de Janeiro: Câmara dos Deputados, [c2024]. Reprodução do original de 1808. Disponível em: www2.camara.leg.br/legin/ fed/carreg_sn/anterioresa1824/cartaregia-4016913-maio-1808-572129-publicacaooriginal-95256-pe. html. Acesso em: 16 set. 2024.
Documento oficial, no qual o governo de 1808 instituía a guerra ao povo botocudo e seu consequente extermínio.
CENTRO de R eferência Virtual Indígena. [ S. l. ]:
Armazém Memória, [c2024]. Disponível em: https:// armazemmemoria.com.br/centros-indigena/.
Acesso em: 16 set. 2024.
Plataforma digital que reúne um vasto acervo de informações sobre os povos indígenas do Brasil.
Midiateca do estudante
A ILTON Krenak conta a sua trajetória e fala da luta permanente dos povos tradicionais no Brasil. Belo Horizonte: Programa Memória e Poder, 2020. 1 vídeo (55 min). Publicado pelo canal Assembleia de Minas Gerais. Disponível em: www.youtube.com/ watch?v=-o8IunpqgXY. Acesso em: 16 set. 2024.
Nesse vídeo, Ailton Krenak fala a respeito do povo botocudo, das perseguições que sofreram e da luta para garantir os direitos a todos os povos indígenas.
lEITURA: ARTIGO DE
Estratégias didáticas
• A proposta do boxe Ler o mundo (p. 128) objetiva antecipar discussões a respeito do tema sobre o qual versa o artigo de divulgação científica apresentado
na sequência, uma vez que esse bloco de atividades articula conhecimentos de História, Geografia, Arqueologia, Cultura Indígena, Ciências e Língua Portuguesa, promovendo uma visão integrada do tema. O estudo do artigo de divulgação científica “As cidades perdidas da Amazônia” e as respostas das atividades do Pensar e compartilhar (p. 130) podem ser realizados em duplas ou em pequenos grupos, pois, assim, os estudantes podem mobilizar conhecimentos prévios sobre o gênero, já estudado no Ensino Fundamental.
• Se julgar pertinen te, pode ser interessante esquematizar para os estudantes os elementos fundamentais de textos de divulgação científica, como impessoalidade, linguagem formal e objetiva, emprego de termos técnicos, argumentos de autoridade e menção a pesquisas desenvolvidas.
Midiateca do estudante
• C ONEXÕES AMAZÔNICAS. Tefé, [c2024]. Site . Disponível em: https://conexoesamazonicas.org. Acesso em: 16 set. 2024.
A plataforma disponibiliza informações em tempo real sobre as principais questões que envolvem a Amazônia, como desmatamento, mudanças climáticas, direitos indígenas e exploração sustentável.
Estratégias didáticas
• Para ampliar a reflexão dos estudantes sobre a arte produzida atualmente por indígenas, sugere-se assistir ao vídeo “Arte Indígena Contemporânea: ancestralidade e resistência, com Xadalu Tupã Jekupé e Sandra Benites” (disponível em: www.youtube.com/ watch?v=UQNMSYc3vaA; acesso em: 5 set. 2024.
Estratégias didáticas
• Esta sequência tem o obje tivo de levar os estudantes a compreender o conceito de sujeito nas
orações, em uma abordagem morfossintática, ou seja, eles devem refletir sobre o papel sintático e semântico desses termos. Como esse é um conteúdo que já foi estudado anteriormente, eles vão relembrar as classificações dos tipos de sujeitos, analisar suas funções e perceber como essa estrutura gramatical contribui para a construção de sentidos nos textos.
• Ao iniciar a sequência, é possível fazer uma síntese no quadro, lembrando-os de que, para identificar o sujeito em uma estrutura sintática, a primeira ação é encontrar o verbo (ou a forma verbal) da oração e, em seguida, identificar com que termo o verbo se relaciona. Talvez seja importante lembrar, também, que a oração pode aparecer em: ordem direta: sujeito + verbo + objeto + adjunto ordem indireta : são várias as possibilidades de construção, entre as quais se destacam: verbo + sujeito + adjunto ou adjunto + verbo + sujeito ou verbo + objeto (no caso de sujeito indeterminado ou desinencial)
Estratégias didáticas
Se julgar pertinente, antes (ou depois) da realização das atividades desta sequência, apresente uma síntese de recursos linguísticos com os quais se pode construir a impessoalização do discurso.
Indeterminação do sujeito: quando a partícula “se” indica que o sujeito da ação é indeterminado. Exemplo: Vive-se bem nesta cidade.
Voz passiva sintética: o sujeito paciente aparece na forma de objeto direto, e o verbo é conjugado na 3a pessoa do singular ou plural. Exemplo: Vendem-se casas.
Verbo “haver” no sentido de existir: quando “haver” é impessoal, ou seja, quando não há sujeito na oração. Exemplo: Há muitas pessoas na fila.
Expressões impessoais: locuções verbais ou expressões que não têm sujeito explícito. Exemplos: É preciso estudar. / Faz-se necessário ter paciência. Verbos impessoais: que se conjugam apenas na 3a pessoa do singular, indicando fenômenos da natureza ou ações sem agente definido. Exemplos: chover, nevar, anoitecer, fazer calor.
• Esta seção tem o obje tivo de promover o desenvolvimento de habilidades de pesquisa, escrita e comunicação, além do aprofundamento dos conhecimentos sobre as culturas indígenas. Na etapa de planejamento, oriente os estudantes a buscar fontes fidedignas para a realização da pesquisa de informações, o que pode ser feito por meio de acesso a sites oficiais de universidades, jornais ou revistas de divulgação científica como Revista Pesquisa Fapesp , National Geographic , Galileu , Aventuras na História, entre outras. É importante orientar os estudantes a pesquisar em fontes mais atuais possíveis e a distinguir informações fundamentais de informações secundárias. Na etapa de produção, além das orientações constantes do Livro do estudante , vale lembrar que toda produção de texto requer refação, ou seja, convém escrever, primeiro, um rascunho com os dados obtidos, levando em conta a especificidade do gênero em questão, e, depois, realizar leituras e reescritas para ajustar estrutura, linguagem (tendo em vista os interlocutores e os meios de circulação do texto) e distribuição de informações. Na etapa de compartilhamento, a depender do meio de circulação escolhido, é necessário ajustar tamanho de fonte e de recursos gráficos, como mapas, fotos, gráficos ou ilustrações.
O objetivo principal desta unidade é promover a reflexão sobre o racismo estrutural. Ao longo dela, os estudantes são incentivados a rever seus próprios preconceitos, a desenvolver habilidades de análise e interpretação de textos verbais, visuais e verbovisuais e a exercitar seu pensamento crítico em relação à história e à situação atual dos negros na sociedade brasileira. Por meio da análise de textos da literatura de emancipação negra e de trechos da Constituição brasileira e outros documentos reguladores, os estudantes são levados a refletir sobre como as relações em sociedade ainda são marcadas pelo racismo, apesar de a lei assegurar direitos iguais a todos. Em relação aos conhecimentos linguísticos, o enfoque são os tipos de predicado e suas classificações, tendo em vista sua função nas tipologias narrativas e descritivas, e os verbos modais (epistêmicos e deônticos), que produzem sentidos em textos de vários campos de atuação, sobretudo no da vida pública, em particular em leis e outros textos legais. Por fim, o tema da produção textual são regras de convivência para a sala de aula, com o objetivo de que os estudantes criem as mesmas condições de aprendizado e de respeito a todos os colegas.
Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 7, 9 e 10
Competências específicas de Linguagens e suas Tecnologias: 1, 2, 3, 4, 6 e 7
• Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias
EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG103 EM13LGG104
EM13LGG201 EM13LGG202 EM13LGG301 EM13LGG302
EM13LGG303 EM13LGG304 EM13LGG305 EM13LGG401
EM13LGG701 EM13LGG703 EM13LGG704
• Habilidades de Língua Portuguesa
EM13LP01 EM13LP02 EM13LP05 EM13LP06 EM13LP07 EM13LP08 EM13LP15 EM13LP16
EM13LP18 EM13LP26 EM13LP48 EM13LP49 EM13LP50 EM13LP52
Todos os campos de atuação social Campo de atuação na vida pública Campo artístico-literário
Estratégias didáticas
• Oriente os estudantes a, primeiramente, observar as fotografias da escultura com bastante atenção. Depois, solicite-lhes que socializem as reflexões com os colegas e faça a mediação da conversa, garantindo o compromisso com princípios éticos e democráticos de respeito aos direitos humanos e à diversidade.
Respostas e comentários
1. c) Comente com os estudantes que, no Brasil, após a abolição da escravatura, em 1888, houve a implantação de uma política de branqueamento. O país incentivou a imigração europeia em massa, promovendo a ideia de que os descendentes desses imigrantes, ao se misturarem com as populações negra e indígena, gerariam futuras gerações “mais brancas”. Tal política estava baseada em teorias racistas que viam o branco como superior, e o objetivo era reduzir a presença de pessoas negras e indígenas na sociedade. O governo oferecia incentivos para atrair europeus e, ao mesmo tempo, marginalizava as populações negras e indígenas, perpetuando desigualdades que ainda são visíveis na sociedade brasileira.
• Complemente as informações do último parágrafo (p. 149) comentando com os estudantes que, de acordo com o IBGE e o Estatuto da Igualdade Racial, o termo negro inclui tanto as pessoas que se identificam como “pretas” quanto as que se identificam como “pardas”, categorias comumente usadas em indicadores sociais. Destaque que, em pesquisas desse tipo, a cor ou raça é determinada pela autodeclaração, ou seja, a própria pessoa escolhe como se identificar com base na percepção pessoal e na forma como vê os outros.
Midiateca do estudante
• VISTA minha pele. Direção: Joel Zito Araújo. Brasil: Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades, 2004. Streaming (27 min).
O filme inverte fatos históricos, criando uma paródia que situa os negros como classe dominante e os brancos como ex-escravizados.
Estratégias didáticas
No estudo do boxe Ler o mundo (p. 150), em relação à atividade 1, explique aos estudantes que, no Brasil, todo racismo pode ser visto como estrutural, pois não se trata apenas de ações isoladas, mas de um processo que está enraizado na forma como a sociedade brasileira é organizada. Esse processo perpetua a marginalização de certos grupos com base em suas características étnico-raciais, e, por isso, o racismo está presente em todas as instituições econômicas, políticas, sociais e culturais do país. Na atividade 2, explique que o racismo estrutural não é apenas uma questão moral, econômica ou jurídica, mas algo que permeia todos os aspectos da vida em sociedade. Ele pode ser definido como um conjunto de ações e práticas culturais, históricas e institucionais de discriminação. Esse conceito ajuda a entender que, em países como o Brasil, a sociedade foi e continua sendo organizada de maneira que favorece as pessoas brancas. Comente também que esse processo cria desigualdades entre brancos e negros, resultando em diferentes níveis de pobreza, violência, encarceramento e até mesmo mortes entre esses grupos.
LIVRO da Vez 9: novos clássicos da literatura com Jeferson Tenório. Entrevistado: Jeferson Tenório. Entrevistadoras: Beatriz Backes, Gabrielli Mendes e Mábily Souza. [ S. l. ]: G1, 20 jun. 2024. Podcast . Disponível em: https://g1.globo.com/ podcast/livro-da-vez/noticia/2024/06/28/ livro-da-vez-9-novos-classicos-da-literatura-comjeferson-tenorio.ghtml. Acesso em: 5 set. 2024. Nesse episódio do podcast Livro da Vez, Jeferson Tenório conta como foi o início de sua carreira de escritor e relata como a sua experiência como professor do Ensino Fundamental foi fonte de inspiração para a escrita de O avesso da pele
• Antes de iniciar a leitura dos textos 1 (p. 151) e 2 (p. 152), solicite aos estudantes que, considerando apenas os títulos das obras (O céu para os bastardos e O avesso da pele), façam suposições sobre o assunto ou tema dos textos. Incentive-os a levantar hipóteses sobre que fato teria motivado os autores a escrevê-los. Anote algumas respostas no quadro para retomá-las em discussão após a leitura dos textos. Em seguida, converse sobre os autores dos textos com base nas informações dos boxes #sobre (p. 150 e 152). Pergunte se os conheciam e se já leram outra obra escrita por algum deles, se gostaram e por quê. Comente que Jeferson Tenório ganhou o Prêmio Jabuti em 2021 com a obra O avesso da pele e que esse prêmio é o mais tradicional e importante prêmio literário do Brasil. Após essa introdução, convide-os a ler os textos.
• Após a leitura dos textos, desenvolva um trabalho de comparação das hipóteses iniciais dos estudantes com as impressões que tiveram depois de ler e interpretar os textos. Oriente-os a identificar os elementos que os levaram às suposições que não se concretizaram.
• Para o desenvolvimento da atividade 1, comente com os estudantes que a proposta de emenda à Constituição (PEC) 66/2012, conhecida como PEC das Domésticas, estende às empregadas domésticas direitos já garantidos pela Constituição aos trabalhadores em geral. Se antes as trabalhadoras domésticas tinham apenas parte dos direitos trabalhistas, foi em razão da PEC que elas conseguiram garantir o limite de carga horária semanal, adicional noturno, remuneração por hora extra, recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), proteção contra demissão sem justa causa, reconhecimento de acordos coletivos de trabalho e outras conquistas, que foram regulamentadas em 2015.
• Na atividade 2, leve os estudantes a refletir sobre a necessidade de revisar acontecimentos históricos para entender o racismo estrutural no Brasil. Entre os séculos XVI e XIX, a escravização de africanos negros e seus descendentes foi uma prática comum no país, com foco na exploração de sua mão de obra. O fim da escravidão aconteceu em razão
das resistências dos próprios escravizados, dos movimentos populares e de pressões econômicas internacionais. Mesmo após a abolição, as profundas desigualdades criadas por essa exploração se mantiveram e ainda persistem nas relações sociais, institucionais, econômicas e culturais do Brasil atual.
• Na atividade 6, promova uma conversa sobre os dados da pesquisa e os efeitos do racismo, como a exclusão, a marginalização e a falta de representação de certos grupos com base em sua raça, cor ou etnia. Explique que esses dados são fundamentais para que o governo e a sociedade se unam na criação de ações planejadas e fortes no combate ao racismo, promovendo, assim, a igualdade racial no Brasil.
Atividade complementar
1. Ambos os textos se assemelham por registrar situações de racismo. Considere os seguintes trechos: […] bem em companhia de gente como eu.
[…] aquele emprego não era para você. Neles, os pronomes fazem referência a diferentes personagens, mas a uma só característica. Que característica é essa? Resposta: Os pronomes se referem a pessoas negras, que são vítimas do racismo que permeia toda a sociedade.
Estratégias didáticas
No estudo do boxe O X da questão (p. 155), comente com os estudantes que essas leis ecoaram amplamente no Brasil, causando levantes, processos e debates públicos. Saliente que a abolição da escravidão no Brasil foi um processo gradual que envolveu ações transitórias antes da promulgação da Lei Áurea, em 1888, que decretou o fim oficial da escravidão no país. Essas ações, que tinham também a intenção de enfraquecer os movimentos abolicionistas, estendendo a escravidão por mais algumas décadas, foram a Lei Eusébio de Queirós (1850), que, por pressão internacional, proibiu o tráfico de escravizados negros para o Brasil; a Lei do Ventre Livre (1871), que determinou que as crianças nascidas de pessoas escravizadas seriam consideradas livres a partir daquele ano; e a Lei dos Sexagenários (1885), que estabeleceu que escravizados com 60 anos ou mais seriam libertos.
O processo ocorreu de forma lenta em razão de toda a economia brasileira depender da exploração do trabalho compulsório. Para que essas leis tivessem efeito prático, seria necessária uma ruptura abrupta que nunca foi desencadeada, justamente porque o poder sempre esteve na mão das elites conservadoras. Foi preciso reorganizar as relações de trabalho para que a abolição acontecesse sem grande prejuízo aos interesses dos fazendeiros, porém com fortes consequências negativas aos ex-escravizados.
• Antes de realizar a leitura do trecho do romance Úrsula (p. 155), sugere-se explorar o boxe #sobre (p. 156), perguntando aos estudantes se conhecem algo a respeito da vida ou da obra de Maria Firmina dos Reis. Em seguida, comente que essa escritora foi a primeira mulher a passar em um concurso público e a fundar uma escola mista. Se julgar adequado, sugira aos estudantes que também conheçam outras obras de Maria Firmina dos Reis, como A escrava (1887) e Cantos à beira-mar (1871).
• Proponha, inicialmente, a leitura silenciosa do texto e, em um segundo momento, a leitura compartilhada, dando oportunidade principalmente aos estudantes que não costumam se manifestar nas situações de leitura e demais atividades orais.
• Depois da leitura do texto, recomenda-se perguntar aos estudantes se eles têm alguma dúvida sobre o vocabulário para além da palavra inserida no glossário. Em caso afirmativo, sugira-lhes que procurem os termos no dicionário.
• Para melhor aproveitamento, sugere-se que as atividades de interpretação e compreensão do texto sejam discutidas e respondidas pelos estudantes em duplas ou em pequenos grupos. Certifique-se de que sejam formados grupos heterogêneos e acompanhe as formas de participação e realização das tarefas, fazendo intervenções para que sejam respeitadas todas as formas de participação e ritmos de aprendizagem.
Midiateca do estudante
• QUANTO vale ou é por quilo? Direção: Sérgio Bianchi. Brasil: Agravo Produções, 2005. Streaming (107 min).
O filme faz uma comparação entre o tráfico de pessoas escravizadas no período colonial e a exploração da pobreza hoje em dia, mostrando como o marketing social pode ser usado de forma exploratória para obter recursos do governo e de empresas privadas.
• No desenvolvimento da atividade 1, caso os estudantes tenham dificuldade em realizar a leitura do gráfico, recomenda-se explicar como interpretá-lo; se houver necessidade, solicite auxílio a um professor de Matemática para retomar o conteúdo das representações gráficas. Antes de os estudantes realizarem a leitura da carta de Lei, pergunte se sabem o que são textos legais ou normativos, qual é a importância deles e de que maneira impactam a vida de cada cidadão do país. Explique-lhes que os textos legais ou normativos têm o objetivo de estabelecer as regras para viver em sociedade. Eles são importantes para que se estabeleça uma sociedade justa e igualitária.
Para a realização da proposta de pesquisa do boxe Hiperlink (p. 160), indique algumas fontes aos estudantes, pelo menos para o começo da pesquisa, que podem ser sites confiáveis, revistas e livros; depois, eles próprios poderão ampliá-las à medida que avançarem na pesquisa e procederem à seleção das informações.
Durante o desenvolvimento da atividade 9, comente com os estudantes que os textos literários de denúncia e combate ao regime escravocrata tiveram um papel relevante no processo da abolição, convertendo a opinião pública a favor dos negros. Mas essa postura não era compartilhada por todos os escritores do período. José de Alencar, por exemplo, além de representar negros de forma caricata e vilanesca em suas obras, foi um árduo defensor da manutenção da escravidão no Brasil, declarando publicamente que a abolição poderia gerar um caos social.
No estudo do boxe Saiba mais (p. 162) sobre língua e identidade cultural, saliente que banto é uma família linguística composta de mais de 600 línguas e grupos diferentes. A palavra banto foi criada como categoria linguística pelo linguista alemão Wilhelm Bleek (1827-1875), em 1862, durante suas pesquisas sobre a origem de línguas com estruturas semelhantes na África. Duas línguas da África
Central que impactaram bastante o povo brasileiro foram o quimbundo e o quicongo. Além dessas, há também a presença de línguas do grupo ewe-fon, línguas zulu, línguas mandê e outras.
• Após a e xplanação do conteúdo da seção, converse com os estudantes sobre as limitações da Lei Áurea, que, embora tenha oficialmente abolido a escravidão no Brasil, não garantiu o desmonte das estruturas de exploração. Destaque que a lei foi resultado de uma grande pressão popular e das diversas formas de resistência dos escravizados, que forçaram o governo a acabar com a escravidão, e que, por isso, não faz sentido glorificar figuras oficiais, como a princesa Isabel, já que a lei não foi uma iniciativa do governo, mas sim uma resposta às demandas sociais.
• N o trabalho com o boxe Ler literatura (p. 165), explique aos estudantes que debater ideias é algo fundamental em sociedades democráticas. Ao conversar e trocar opiniões, eles não só desenvolvem sua capacidade de argumentação mas também aprendem a valorizar a visão do outro. Mostre que é possível discordar de alguém sem desrespeitar e que é muito importante ter a liberdade de expressar o próprio ponto de vista.
A letra da lei e os direitos dos cidadãos (p. 166)
• Nesta seção, objetiva-se que os estudantes compreendam a organização de textos legais, que permeiam as relações sociais. Eles vão observar relações entre artigos da Constituição Federal de 1988; da lei no 7.716, de 5 de janeiro de 1989; da lei no 12.288, de 20 de julho de 2010; da lei no 13.445, de 24 de maio de 2017; o contexto de produção e circulação do gênero. Com isso, podem perceber as finalidades do texto legal, relacionadas à possibilidade de seus leitores compreenderem direitos e deveres em determinada situação.
• Levante os conhecimentos prévios dos estudantes sobre textos legais que conhecem e promova a produção de hipóteses sobre os textos que lerão. Oriente-os a realizar uma primeira leitura autônoma
e silenciosa. Em seguida, promova a leitura compartilhada e colaborativa, realizando pausas para relacionar as informações lidas com os sentidos levantados antes da leitura e para confirmar ou não as hipóteses produzidas.
Estratégias didáticas
• S ugere-se que as atividades de interpretação e compreensão do texto sejam discutidas e respondidas pelos estudantes em duplas ou em pequenos grupos. Atente para que sejam formados grupos heterogêneos e acompanhe as formas de participação e realização das tarefas, fazendo intervenções para que sejam respeitadas todas as formas de participação e ritmos de aprendizagem.
Para o item b da atividade 6, ouça as opções dos estudantes; depois, liste para eles as propostas contidas no Estatuto:
I - inclusão nas políticas públicas de desenvolvimento econômico e social;
II - adoção de medidas, programas e políticas de ação afirmativa;
III - modificação das estruturas institucionais do Estado para o adequado enfrentamento e a superação das desigualdades étnicas decorrentes do preconceito e da discriminação étnica;
IV - promoção de ajustes normativos para aperfeiçoar o combate à discriminação étnica e às desigualdades étnicas em todas as suas manifestações individuais, institucionais e estruturais;
V - eliminação dos obstáculos históricos, socioculturais e institucionais que impedem a representação da diversidade étnica nas esferas pública e privada;
VI - estímulo, apoio e fortalecimento de iniciativas oriundas da sociedade civil direcionadas à promoção da igualdade de oportunidades e ao combate às desigualdades étnicas, inclusive mediante a implementação de incentivos e critérios de condicionamento e prioridade no acesso aos recursos públicos;
VII - implementação de programas de ação afirmativa destinados ao enfrentamento das desigualdades étnicas no tocante à educação, cultura, esporte e lazer, saúde, segurança, trabalho, moradia, meios de comunicação de massa, financiamentos públicos, acesso à terra, à Justiça, e outros.
• Na atividade 8 , explique aos estudantes que determinados gêneros, como o debate, dão voz às pessoas para que concordem, discordem, denunciem e promovam reflexões em relação aos mais variados fatos e situações. Na organização do debate, instrua os estudantes a: estabelecer um tempo para preparar os argumentos e os contra-argumentos; eleger um integrante do grupo para inscrever os interessados em falar e organizar as falas e garantir a clareza dos posicionamentos que serão defendidos.
Estratégias didáticas
• Reitere aos estudantes que analisar conjuntamente os elementos não verbais e verbais dos gráficos é fundamental para o entendimento total da mensagem transmitida.
Respostas e comentários
1. Promova uma reflexão com os estudantes sobre como a Lei Áurea, ainda que tenha terminado com o regime escravista no Brasil de forma oficial, não criou mecanismos de inserção das comunidades negras na sociedade e na economia do país, fazendo com que grande parte da população liberta passasse por sérias dificuldades – como a falta de empregos, a escassez de alimentos e de moradia, quando não continuavam a trabalhar para seus antigos senhores em condições semelhantes às da escravidão. Esse exercício possibilita que os estudantes desenvolvam a empatia, o respeito ao próximo e a consciência da alteridade.
2. Depois de analisarem os gráficos, verifique se os estudantes conseguem perceber por que um deles está em formato de pizza e o outro foi composto em barras. Explique a eles que gráficos de pizza, em geral, permitem a comparação estatística rápida de dados com até quatro tipos de informação diferentes, ao passo que gráficos em barra são adequados para comparar valores, temas, ver progressão numérica em determinado intervalo. Seria importante contar aqui com a palavra do professor de Matemática. Formatos diversos destacam de forma diferente os dados, de modo a permitir melhor visualização e avaliação do que mostram.
Estratégias didáticas
• O conteúdo desta seção é mais complexo e exige que os estudantes tenham um bom entendimento das estruturas da língua portuguesa ao longo das explicações. Para garantir que todos compreendam bem, é importante revisar, em cada aula, as estruturas que já foram aprendidas e como elas se conectam. Isso pode ser feito por meio de um esquema no quadro ou de um cartaz que os estudantes vão completando conforme avançam no estudo da sintaxe da língua portuguesa. No tópico Tipos de predicado (p. 173), privilegia-se a relação entre os aspectos funcionais e os efeitos de sentido produzidos pelo uso dos diferentes tipos de predicado.
Estratégias didáticas
Para discutir e responder às atividades de interpretação e compreensão dos textos apresentados nesta seção, organize os estudantes em duplas ou em pequenos grupos. Com a finalidade de incluir os estudantes com mais dificuldade, uma sugestão é inseri-los em grupos com menos dificuldade para a realização das tarefas apresentadas. Acompanhe de perto as discussões nos grupos e a realização das atividades, buscando ajudá-los a compreender as perguntas e a se organizarem na elaboração das respostas.
Estratégias didáticas
Realize as atividades com os estudantes, discutindo cada um dos exemplos analisados. Leia o texto teórico do Livro do estudante e elimine dúvidas. Solicite-lhes exemplos. Peça-lhes que realizem as atividades individualmente ou em duplas.
Pensar e compartilhar (p. 177)
Estratégias didáticas
• Ao abordar o artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos, é interessante incentivar os estudantes a compartilhar o que já sabem em relação ao tema. Alguns podem ter uma noção mais básica, influenciada por filmes ou outras formas
de expressão cultural, enquanto outros podem ter aprendido mais detalhes em aulas de História.
• Na atividade 3, os verbos podem exprimir diferentes sentidos, modalizando o enunciado. O verbo dever, por exemplo, pode indicar uma obrigatoriedade (modalidade deôntica) ou possibilidade (modalidade epistêmica). No caso das leis, a modalização, os tempos e os modos empregados expressam obrigatoriedade, uma vez que a lei impõe a todos uma exigência.
Midiateca do estudante
• HISTÓRIA Preta. Locução de: Thiago André. São Paulo: B9, c2022. Podcast. Disponível em: https:// historiapreta.com.br/. Acesso em: 11 set. 2024. O podcast tem como objetivo apresentar a memória histórica da população negra no Brasil e no mundo. Muitas histórias de personalidades políticas e culturais já foram foco de interesse do podcast
Estratégias didáticas
• Esta proposta fará com que os estudantes percebam que as regras podem garantir a possibilidade de uma convivência pacífica, em que se exige que as sociedades estabeleçam um pacto social, que é a base de toda democracia.
• É fundamental acompanhar todos os momentos da produção de texto e retomar os conhecimentos linguísticos para que os estudantes possam utilizá-los na produção das regras. Se possível, oriente-os a produzir as regras diretamente em uma ferramenta de edição de texto, o que facilitará a etapa de revisão/edição e suprimirá a necessidade de digitar os textos para serem postados e compartilhados.
• Durante o debate, para ajudar os estudantes a desenvolver a habilidade de escuta, oriente-os a prestar atenção enquanto o colega fala, sem o interromper. Peça-lhes que fiquem atentos a alguns pontos: ouvir bem para entender antes de tentar interpretar ou criticar; fazer anotações dos pontos que considerarem mais importantes; não interromper quem está falando, pois a pessoa estará concentrada no que está dizendo e pode não ouvir a interrupção.
• P ara realizar as pesquisas propostas no boxe Laboratório de produção (p. 180), os estudantes podem ser organizados em grupos e, ao final, compartilhar as conclusões com a turma.
Nesta unidade, os estudantes são apresentados à literatura regionalista do século XIX com o objetivo de que analisem suas características e percebam sua contribuição para a construção de certos estereótipos e discursos que continuam presentes em textos contemporâneos. A unidade aprofunda os conhecimentos sobre objeto direto e objeto indireto, permitindo aos estudantes reconhecer que esses termos são integrantes da oração e completam o sentido dos verbos transitivos. Ainda em relação aos conhecimentos linguísticos, os estudantes vão ter a oportunidade de perceber que a língua muda constantemente e que pode se adequar a diferentes situações comunicativas, assim como compreender que o caráter dinâmico da língua é fundamental para combater o preconceito linguístico. Vão entender também, com base na leitura e na análise de artigo de opinião publicado em um jornal de grande circulação, que todo texto defende pontos de vista e apresenta uma camada argumentativa. Por fim, vão planejar, produzir e compartilhar um artigo de opinião para ampliar e desenvolver habilidades do campo de atuação na vida pública.
Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 9 e 10
Competências específicas de Linguagens e suas Tecnologias: 1, 2, 3, 4, 6 e 7
• Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias
EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG103 EM13LGG104
EM13LGG201 EM13LGG202 EM13LGG301 EM13LGG302
EM13LGG303 EM13LGG304 EM13LGG305 EM13LGG401
EM13LGG402 EM13LGG602 EM13LGG604 EM13LGG701
EM13LGG703 EM13LGG704
• Habilidades de Língua Portuguesa
EM13LP01 EM13LP02 EM13LP05 EM13LP07
EM13LP08 EM13LP09 EM13LP10 EM13LP15
EM13LP38 EM13LP43 EM13LP45 EM13LP48 EM13LP49 EM13LP50
Todos os campos de atuação social
Campo jornalístico-midiático
Campo artístico-literário
Estratégias didáticas
• Os variados tipos de manifestações artísticas têm como objetivo principal provocar emoção no interlocutor. Para trabalhar com os estudantes a percepção das intenções de uma pintura, convide-os a apreciar atentamente a obra Nordeste, de Antonio Bandeira (1922-1967). Em seguida, converse com eles sobre a relação entre a obra e o título. Para incentivar a conversa, peça-lhes que observem o cenário e as representações humanas na pintura. Para concluir, sugere-se construir com os estudantes um parágrafo explicativo sobre as emoções e os sentimentos que a obra de Antonio Bandeira desperta no leitor. Respostas e comentários
3. Para mais informações sobre a vida de Virgulino Ferreira da Silva (1897-1938), o Lampião, pode-se acessar o site indicado na Midiateca do professor a seguir e ler com os estudantes o artigo “Lampião e o cangaço: Trajetórias de vida, histórias como flagelo (1920-1938)”.
Midiateca do professor
• CLEMENTE, Marcos Edilson Araújo. Lampião e o cangaço: Trajetórias de vida, histórias como flagelo (1920-1938). Escritas do Tempo, v. 2, n. 4, p. 108132, 30 jun. 2020. Disponível em: https://periodicos. unifesspa.edu.br/index.php/escritasdotempo/ article/view/1223. Acesso em: 1o out. 2024.
O artigo destaca o protagonismo de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, diante das situações contingentes com as quais se defrontou.
• A discussão proposta no boxe Ler o mundo (p. 184) pretende levar os estudantes a refletir sobre o papel
do espaço como quadro natural e social em uma obra literária. Essa primeira reflexão dará suporte para que compreendam a base da literatura regionalista, que surgiu no Brasil do século XIX, durante o período romântico.
• Antes de realizar a leitura do trecho da obra Dois irmãos (p. 184), sugere-se trabalhar o boxe #sobre (p. 184), perguntando aos estudantes se eles conhecem algo a respeito da vida ou da obra do escritor Milton Hatoum (1952-). Em seguida, comente com os estudantes que a obra Dois irmãos, que trata da história dos gêmeos Yaqub e Omar, foi traduzida em diversos países, e sua trama gira em torno de conflitos entre os irmãos, diferenças sociais e sonhos de amor e paz. A obra é contemporânea e apresenta características regionalistas.
Explore outros termos do texto que podem despertar dúvidas nos estudantes, além dos que constam no glossário, como matupá, aturiá, jacamim, enfastiar, entre outros que considerar relevantes e produtivos para a compreensão dos efeitos de sentido do texto.
Estratégias didáticas
Durante o desenvolvimento da atividade 9, se achar oportuno, promova uma breve discussão sobre a questão do preconceito linguístico relacionado às variações regionais. Essa questão será aprofundada mais adiante na unidade, sendo inclusive tema da produção textual.
Estratégias didáticas
No desenvolvimento do boxe O X da questão (p. 190), como resposta ao questionamento do tópico Para lembrar, explique aos estudantes que o aumento dos investimentos no Sudeste do Brasil, a partir do fim do século XVIII, está diretamente relacionado à decadência da atividade mineradora em Minas Gerais, que havia sido a principal fonte de riqueza do Brasil durante o ciclo do ouro. À medida que as minas começaram a se esgotar, a economia precisou se reorientar. Isso impulsionou a agricultura, principalmente com a expansão da produção de café, especialmente no estado de São Paulo. Esses fatores contribuíram para o
crescimento econômico do Sudeste, ao mesmo tempo que outras regiões, como o Nordeste, sofreram com a estagnação de suas economias tradicionais, como a do ciclo da cana-de-açúcar. Na atividade 1 do tópico Para discutir, espera-se que os estudantes apontem que o investimento desigual entre as regiões do Brasil ainda ocorre em razão de fatores históricos, como o desenvolvimento econômico mais intenso no Sudeste, que atraiu mais infraestrutura e indústrias. Além disso, a concentração de grandes centros urbanos e a proximidade dos principais portos também reforçam essa disparidade. Em resposta à atividade 2, espera-se que os estudantes indiquem medidas como: incentivos fiscais para atrair empresas para regiões menos desenvolvidas; investimento em infraestrutura (estradas, portos, energia) nas regiões Norte e Nordeste; apoio à educação e capacitação profissional para aumentar a qualificação da mão de obra local; políticas de desenvolvimento regional, estimulando setores produtivos específicos de cada área, como agricultura e turismo. Tais medidas poderiam ajudar a promover um crescimento mais equilibrado e a reduzir as desigualdades entre as regiões brasileiras, resultando em uma maior coesão social e econômica no país.
• Antes de realizar a leitura do trecho da obra Inocência (p. 191), de Visconde de Taunay (1843-1899), sugere-se trabalhar o boxe #sobre (p. 191). Comente com os estudantes que, no romance regional romântico, também tiveram destaque, além de Visconde de Taunay, Bernardo Guimarães (1825-1884), Franklin Távora (1842-1888) e José de Alencar (1829-1877).
• É possível propor diversas estratégias de leitura para o texto de Taunay: leitura silenciosa, leitura oral compartilhada, leitura do professor. Se os estudantes forem fazer uma leitura em conjunto, é importante orientá-los sobre como manter a fluência, ajustar o tom de voz e controlar o volume. Uma leitura oral bem expressiva ajuda a tornar a história mais envolvente e a criar efeitos de sentido.
• Para melhor aproveitamento, sugere-se que as atividades de interpretação e compreensão do texto propostas nesta seção sejam discutidas e respondidas pelos estudantes em duplas ou em pequenos grupos. Certifique-se de que sejam formados grupos
heterogêneos e acompanhe as formas de participação e realização das tarefas, fazendo intervenções para que sejam respeitadas todas as formas de participação e ritmos de aprendizagem.
• Para o item b da atividade 1, explique aos estudantes que a chegada da família real portuguesa ao Brasil, em 1808, transformou profundamente a cidade do Rio de Janeiro, que se tornou a capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Esse evento estimulou um rápido desenvolvimento urbano e econômico na cidade, com infraestrutura, instalação de serviços públicos e a abertura dos portos ao comércio internacional. No entanto, essa concentração de investimentos no Rio de Janeiro acabou por marginalizar outras regiões do Brasil, que permaneceram com pouca infraestrutura e pouco desenvolvimento econômico.
Na atividade 5, comente com os estudantes que a literatura regionalista romântica foi muito importante para ajudar o Brasil a construir uma identidade nacional. Isso porque os autores dessa época escreviam sobre as culturas, os costumes e as paisagens das diferentes regiões do país, mostrando a diversidade de cada uma delas. Ao fazer isso, eles ajudaram as pessoas a se reconhecerem nessas histórias e a sentirem que faziam parte de uma mesma nação. Essa valorização das características regionais fortaleceu a ideia de um Brasil unido, com uma identidade própria.
Na atividade 6, para aprofundar os estudos, recomenda-se buscar na internet ou em bibliotecas reproduções dos quadros pintados pelo holandês Frans Post (16121680) que retratam o período da ocupação holandesa no Brasil, no século XVII. O boxe Midiateca do professor a seguir indica uma fonte sobre o assunto que pode ser explorada com os estudantes.
• FRANS POST: Conheça a obra do primeiro paisagista das Américas. [S. l.]: Canal Curta!, 2024. 1 vídeo (3 min 27). Publicado pelo Canal Curta!. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=ptrmRPXklHk. Acesso em: 1o out. 2024.
O vídeo traça um breve histórico do período sob o olhar de Frans Post, mostrando algumas de suas pinturas publicadas no livro Frans Post: 1612-1680: obra completa, organizado por Bia e Pedro Corrêa do Lago e publicado pela editora Capivara em 2006.
• BATALHA dos Guararapes. Direção: Paulo Thiago. Brasil: Sagittarius Filmes/Embrafilme, 1978. Streaming (156 min).
O filme é ideal para discutir questões como nacionalidade e sentimento de pertencimento. É considerado a primeira superprodução do cinema brasileiro. Trata-se de uma história ambientada na Nova Holanda, tendo como pano de fundo as implicações políticas e econômicas da invasão holandesa no Brasil.
Estratégias didáticas
• A atividade pr oposta nesta seção incentiva os estudantes a explorar a diversidade musical das diferentes regiões do Brasil, conectando a cultura musical com as especificidades regionais. Com essa atividade, os estudantes não apenas descobrem mais sobre a música brasileira, mas também desenvolvem habilidades de pesquisa, apresentação e escuta crítica. Para guiá-los nesse processo, seguem algumas sugestões para cada etapa:
1. Pesquisa de canções regionais: explique aos estudantes que a música brasileira é rica e variada, e que cada região do país tem estilos e gêneros musicais que refletem sua cultura. Dê exemplos, como o forró no Nordeste, o samba no Sudeste ou o vanerão no Sul. Sugira que busquem canções em diferentes plataformas, como aplicativos de música e rádios on-line, ou mesmo em coleções de CDs e vinis que possam ter em suas moradias ou com familiares. Oriente-os a se concentrarem em canções que mencionem explicitamente uma região ou que sejam típicas de uma região.
2. Coleta de dados técnicos: explique aos estudantes que, além de ouvir a canção, é importante entender o contexto por trás dela. Eles devem procurar informações sobre: compositores (quem escreveu e musicou a letra), músicos ou intérpretes (quem está cantando ou tocando os instrumentos), álbum e ano de lançamento (em qual álbum a canção foi lançada e quando), contexto (qual é o tema principal da canção, se reflete a cultura, a história ou algum evento importante da região). Ajude-os a entenderem que essas informações enriquecem a compreensão sobre como a música reflete aspectos regionais e sociais.
3. Apresentação na sala de aula: marque um dia específico para a apresentação das canções. Peça aos estudantes que compartilhem as informações técnicas que encontraram e expliquem por que escolheram aquela canção. Eles também devem falar um pouco sobre o que aprenderam a respeito da cultura da região por meio da canção. Para organizar o momento da audição, providencie ou peça que tragam dispositivos adequados (como caixas de som) para que todos possam ouvir as canções. Incentive a turma a refletir sobre as diferenças e semelhanças entre as canções das várias regiões, destacando como cada uma pode contar uma parte da história e da cultura do Brasil.
Atividade complementar
Após o trabalho com o boxe Ler literatura (p. 197), se achar interessante, proponha à turma que escreva um conto que explore elementos locais e ao mesmo tempo remeta a uma questão social maior. Você pode utilizar a sugestão a seguir, acrescentando ou eliminando etapas.
1. Formem grupo com dois colegas e discutam: o que consideram muito particular da região em que vivem? Considerem a atividade econômica, hábitos culturais, comemorações, arte e artesanato, culinária etc.
2. Qual (ou quais) dessas características o grupo acha que deveria(m) ser representada(s) em um conto ambientado na região?
3. Você e os colegas irão elaborar um conto: que conflito poderia ser apresentado? Qual problema poderia ser a origem do conto? Considerem algo que seja típico da região: disputa de terras, problemas no trânsito, falta de moradia ou violência.
4. Pensem em uma personagem e em um cenário e escrevam uma descrição.
5. Decidam como vai se desenvolver o enredo e como será o desfecho.
lEITURA: ARTIGO DE OPINIÃO
Estratégias didáticas
• An tes de iniciar a leitura do artigo “Nordeste aposta na ciência para valorizar as suas múltiplas
potencialidades”, explique aos estudantes que o gênero textual artigo de opinião tem como propósito comunicativo a exposição do ponto de vista de um jornalista ou de um especialista acerca de uma questão socialmente relevante. Normalmente, as sequências argumentativas são estruturadas no texto em uma ordem que vai do argumento menos forte para o mais forte. Algumas vezes, o articulista apresenta fatos comentados por terceiros e faz antecipações prevendo objeções dos leitores ao seu ponto de vista.
Estratégias didáticas
• Sugere-se organizar a turma em duplas ou pequenos grupos para discutirem e responderem às questões. Acompanhe os estudantes bem de perto garantindo que haja a participação ativa de todos nas reflexões e na realização das tarefas, com respeito às dificuldades e ao ritmo individual de cada um.
• P ara o item a da atividade 2 , complemente, se necessário, as informações dos currículos das autoras pesquisados pelos estudantes. Os currículos estão disponíveis nos seguintes endereços:
• GARCIA, Francilene Procópio. Currículo. Brasília, DF: Plataforma Lattes, 25 maio 2021. Disponível em: http://lattes.cnpq.br/2911843555711554. Acesso em: 7 out. 2024.
• BU STAMANTE, Mercedes Maria da Cunha. Currículo . Brasília, DF: Plataforma Lattes, 23 ago. 2024. Disponível em: http://lattes.cnpq. br/5774617500941295. Acesso em: 7 out. 2024.
Para o item b, comente com os estudantes que, além de uma argumentação sólida e coesa, outros elementos contribuem para a adesão do leitor à ideia defendida por uma tese. O caráter do orador, que inclui sua formação, experiência e idoneidade, pode ou não garantir que ele seja confiável. A voz de uma autoridade fortalece a argumentação.
• Para o desenvolvimento da atividade 6, incentive os estudantes a refletirem de forma crítica sobre o artigo, utilizando os critérios sugeridos para embasar sua opinião. Lembre-os de que o parágrafo deve ser coeso, evitando a simples resposta a perguntas. A leitura para a turma pode ser um ótimo momento para discussão e troca de ideias sobre o tema, promovendo o debate construtivo.
Estratégias didáticas
• Esta sequência tem o objetivo de levar os estudantes a compreenderem os conceitos de transitividade verbal e de complementos dos verbos significativos, ou seja, que não são de ligação, em uma abordagem morfossintática. Como esse é um conteúdo que já foi estudado anteriormente, eles vão relembrar as classificações dos verbos quanto à sua transitividade e dos seus complementos, analisar suas funções e perceber como essas estruturas gramaticais e sintáticas contribuem para a construção de sentidos nos textos.
Sugere-se realizar a correção das atividades de análise sintática no quadro, para que os estudantes consigam visualizar as relações estabelecidas entre os termos das orações.
Recomenda-se explicar aos estudantes que as transitividades verbais são contextuais, ou seja, com a alteração do contexto, pode haver também alteração de transitividade verbal. Por isso, é importante que, durante um exercício de análise sintática, eles observem a estrutura da oração com base na sua especificidade para, então, analisarem os termos que a compõem. Os estudantes devem compreender que a mudança de transitividade de um verbo está, na maioria das vezes, associada a uma mudança semântica.
Ao trabalhar o tópico Pronomes e sua função sintática (p. 204), sugere-se retomar com os estudantes a relação dos verbos transitivos com seus complementos – objetos direto e objeto indireto. Recorde que a relação do objeto direto com o verbo se estabelece sem preposição e a do objeto indireto com preposição.
• C omo complementação ao boxe #paralembrar (p. 204), pode-se acrescentar para os estudantes que esses pronomes podem ser utilizados em um texto com função anafórica ou catafórica, ou seja, para se referir, respectivamente, a um substantivo
anterior ou posterior. Explique que esse uso é um recurso útil para evitar repetições desnecessárias em um texto, deixando-o mais fluente e elegante. No entanto, deve-se sempre levar em conta a situação comunicativa do texto. Em uma situação de comunicação oral informal, por exemplo, esse uso pode soar pretensioso.
• ANTUNES, Irandé. Gramática contextualizada: limpando “o pó das ideias simples”. São Paulo: Parábola, 2014.
A obra aborda a função interativa da linguagem e a gramática como atividade discursiva. Também apresenta análises contextualizadas do uso de conectores e dos pronomes.
Estratégias didáticas
• Para discutir e responder às atividades de interpretação e compreensão dos textos apresentados nesta seção, organize os estudantes em duplas ou em pequenos grupos. Acompanhe de perto as discussões nos grupos e a realização das atividades, buscando ajudá-los a compreender as perguntas e a se organizar na elaboração das respostas.
• Antes de começar a leitura do cartaz proposta na atividade 8, pergunte aos estudantes se eles sabem o que significa a palavra xenofobia. Explique que o termo é definido pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) como:
‘Atitudes, preconceitos e comportamentos que rejeitam, excluem e frequentemente difamam pessoas, com base na percepção de que eles são estranhos ou estrangeiros à comunidade, sociedade ou identidade nacional’.
UNICEF. Combate à xenofobia: A importância do conhecimento sobre a história da formação do Brasil. [S. l.]: Blog Unicef, 31 jul. 2023. Disponível em: www.unicef.org/brazil/blog/combate-a-xenofobia. Acesso em: 2 out. 2024.
Acrescente que a xenofobia é crime no Brasil e que a lei é pautada no princípio de que todos os seres humanos, independentemente de sua nacionalidade, etnia ou cultura, devem ser tratados com respeito, sem preconceitos ou intolerância, tendo sua dignidade sempre preservada.
• BRASIL. Lei nO 13.445, de 24 de maio de 2017. Institui a Lei de Migração. Brasília, DF: Presidência da República, 2017. Disponível em: https://tedit.net/6r1da6. Acesso em: 13 set. 2024.
Íntegra da Lei de Migração, sancionada em 24 de maio de 2017.
Estratégias didáticas
A o estudar o tema “variação regional”, é fundamental estar atento a qualquer tipo de preconceito que desvalorize as diferentes formas de uso da língua, especialmente aquelas que se diferenciam do padrão falado pelo grupo. Reforce, em vários momentos, que, pelo fato de ser um país de grandes proporções e com um passado histórico marcado pela miscigenação de diversas culturas, o Brasil apresenta uma variedade de manifestações faladas e escritas da língua oficial, tanto no vocabulário (léxico) quanto na construção das frases (sintaxe) e na pronúncia.
Estratégias didáticas
Antes de iniciar as atividades, explique aos estudantes que, em diferentes partes de um país, e até dentro de um mesmo estado ou cidade, podem existir variações na forma de falar e de se referir a certas coisas. Essas diferenças são resultado da influência de diversas culturas e línguas, que, juntamente à história de cada lugar, deram origem aos regionalismos – expressões típicas de cada região. Esses fatores deixaram marcas no português brasileiro, evidenciando tanto a riqueza de vocabulário quanto as diferentes pronúncias, que frequentemente permitem identificar a origem geográfica de quem fala.
#NOSNAPRATICA
Estratégias didáticas
• Caso prefira, proponha aos estudantes um debate sobre o tema “preconceito linguístico” como forma
de aquecimento. A discussão deve ter como objetivo permitir a cada estudante a escolha do próprio recorte. Faça um levantamento de ideias sobre como veem a questão do preconceito linguístico e de que modo ele afeta as relações nas diversas esferas de interação dos estudantes: com amigos, na vida familiar, afetiva, profissional. Entenda também os prejuízos pessoais e coletivos que esse tipo de preconceito pode gerar. Se achar produtivo, antecipe a pesquisa proposta no item a seguir para este momento do trabalho com produção.
• Na e tapa de produção, é importante lembrar aos estudantes que, no artigo de opinião, o autor deve sustentar sua posição por meio de argumentos e contra-argumentos. Esses recursos são essenciais para dar força à opinião apresentada. O artigo de opinião costuma ter uma estrutura composta de introdução (na qual o tema é apresentado), desenvolvimento (no qual o autor fundamenta sua opinião) e conclusão (na qual o autor reafirma seu ponto de vista).
• A o trabalhar o boxe Laboratório de produção (p. 211), explique aos estudantes que é verdade que o preconceito linguístico tem sido combatido por vários setores da sociedade. Porém, como vem reforçado por outros preconceitos como o social, o racial, entre outros, esse combate tem se mostrado insuficiente. Além disso, sem o apoio da mídia, fica ainda mais difícil: não adianta o discurso contra o preconceito se o que se ouve na TV e no rádio é apenas o falar carioca ou o paulistano. Portanto, é preciso reforçar esse combate ampliando o elenco de aliados e dando voz a diferentes falares da gente brasileira.
• BOR TONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolinguística na sala de aula. São Paulo: Parábola, 2004.
O livro aborda os fundamentos teóricos da Sociolinguística e suas aplicações na prática. A obra trata a língua como um fenômeno dinâmico, levando em conta aspectos de variação e transformação linguística.
Nesta unidade, os estudantes são convidados a refletir sobre poemas de diversas autorias relacionados ao amor, em distintas épocas do contemporâneo. Por meio da leitura desses textos, eles vão perceber que a literatura romântica se caracteriza por uma visão idealizada do mundo, sendo uma representação subjetiva que contrasta com a realidade imperfeita, podendo ser campo de expressão do amor e de outros afetos que chegam ao leitor. A unidade aprofunda os conhecimentos linguísticos sobre o adjunto adverbial, levando os estudantes a reconhecer as circunstâncias que esse termo da oração estabelece no contexto. Além disso, são aprofundados também os conhecimentos sobre algumas figuras de pensamento, como eufemismo, antítese, paradoxo e gradação, para que os estudantes percebam a subjetividade textual que costuma ser marcada pela presença desses recursos, que ampliam as possibilidades expressivas da língua e permitem atribuir originalidade, surpresa e emotividade ao discurso. Os estudantes também terão contato com saraus e slams, com destaque para sua importância na popularização da poesia e no compartilhamento de subjetividades e de afetos. Para finalizar, o tema da produção textual é a organização de uma batalha de slam, com foco não apenas na produção ou seleção do texto em si mas também no exercício da própria expressão e de habilidades socioemocionais.
• Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 4, 8, 9 e 10
• Competências específicas de Linguagens e suas Tecnologias: 1, 2, 3 e 6
• Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias
EM13LGG101 EM13LGG103 EM13LGG104 EM13LGG201 EM13LGG301 EM13LGG302 EM13LGG602 EM13LGG604
• Habilidades de Língua Portuguesa
EM13LP01 EM13LP06 EM13LP07 EM13LP08
EM13LP15 EM13LP47 EM13LP48 EM13LP49 EM13LP50 EM13LP54
Todos os campos de atuação social Campo artístico-literário
Estratégias didáticas
• Ao observar uma pintura, fotografia ou escultura, busca-se interpretar o que está sendo representado, identificar a época a que a imagem pertence, imaginar em que as figuras retratadas podem estar pensando, se os elementos estão vivos ou se são inanimados e se sugerem movimento. Além disso, por meio da análise das características da obra e da atribuição a ela de juízos de valor, sejam positivos sejam negativos, tenta-se entender qual pode ter sido a intenção do artista. Em suma, a análise de imagens pode ser um caminho para desenvolver a sensibilidade estética e o pensamento crítico dos estudantes. É importante que eles, já caminhando para o final do Volume 1 , adquiram consciência dessa finalidade.
• Ao analisar a fotografia do francês Henri Cartier-Bresson (1908-2004), sugere-se colocar em pauta as palavras do próprio autor para que os estudantes compreendam o que ele chamava de “instante decisivo” na fotografia e que foi a essência de seu trabalho. Seguem as palavras do fotógrafo:
Uma fotografia é para mim o reconhecimento simultâneo, numa fração de segundo, por um lado, da significação de um fato, e por outro, de uma organização rigorosa das formas percebidas visualmente que exprimem este fato.
CARTIER-BRESSON, Henri. O imaginário segundo a natureza. Tradução: Renato Aguiar. 3. ed. São Paulo: Gustavo Gili, 2015. p. 18-19, 29.
• Duran te a análise da obra do artista belga René Magritte (1898-1967), se achar oportuno, informe aos estudantes que o artista fazia parte do movimento surrealista, de meados de 1920, que pretendia criar, por meio da pintura, contextos que transcendessem a realidade. A obra de Magritte, particularmente, tem um caráter enigmático e ilógico, criando um estranhamento no espectador. Explore essa característica ao observarem a obra Os amantes (1928).
• BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte: anos 1980 e novos tempos. São Paulo: Perspectiva, 1991.
No livro, a autora discute como inserir obras de arte no contexto escolar, promovendo o diálogo entre os estudantes e as imagens, de modo que eles possam conectá-las à sua realidade social e cultural.
Estratégias didáticas
Para conduzir a atividade do boxe Ler o mundo (p. 216), comece propondo uma roda de conversa na qual os estudantes possam refletir e compartilhar suas visões sobre o papel do amor nos relacionamentos contemporâneos. Inicie com algumas perguntas norteadoras, tais como: o que é o amor para você? Como ele se manifesta nos relacionamentos atuais?
O amor ainda tem importância ou foi substituído por outros fatores nas relações? Leve a discussão para temas como a influência das redes sociais e dos aplicativos de encontros nas relações amorosas, abordando como essas novas formas de interação impactam as expectativas e experiências. Incentive os estudantes a refletir sobre como questões sociais, de classe, raça e gênero moldam essas experiências, sempre respeitando as diferentes opiniões e promovendo um espaço de diálogo aberto e inclusivo. Para enriquecer a discussão, sugere-se organizar os estudantes em pequenos grupos para que debatam sobre os diferentes formatos de relacionamento e como o amor se encaixa neles, finalizando com uma troca de percepções entre os grupos.
• E xplore com os estudantes os boxes #sobre (p. 216 e 217), que tratam dos autores dos poemas apresentados. Essa abordagem pode ser feita por meio da comparação entre a época de vida deles e quando se deu a criação de suas obras, de modo que seja possível interligar e comparar as condições de produção de cada um. As condições de produção de uma obra permitem inseri-la em uma dada época (tempo) e em determinado lugar (espaço).
• Sugere-se escolher alguns estudantes para fazer a leitura em voz alta dos poemas. Você pode pedir a eles que se ofereçam ou, então, indicar os leitores por sorteio. É importante relembrar à turma que a leitura de um poema deve considerar a entonação, as pausas, o ritmo e a linguagem corporal (por meio de expressões faciais e gestos), entre outros elementos, que destacam a mensagem que o poeta tem intenção de transmitir.
• No item b da atividade 3, se julgar pertinente, relembre aos estudantes algumas figuras de linguagem que possam favorecer a apreensão dos efeitos de sentido do poema. A metáfora é a figura em destaque no item, mas a leitura dos poemas no decorrer desta unidade pode demandar a retomada de outras figuras. No item d, é possível estabelecer um diálogo entre o poema de Geir Campos (1924-1999) e o livro O pequeno príncipe (1943), de Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944). Nesse romance, o protagonista é obrigado, todas as noites, a guardar uma rosa em uma redoma de vidro para protegê-la do frio. No planeta Terra, quando vê outras rosas, ele declara: — Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. […] […]
— Sois belas, mas vazias — continuou ele. — Não se pode morrer por vós. Um passante qualquer sem dúvida pensaria que a minha rosa se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que todas vós, pois foi ela que eu reguei. Foi ela que pus sob a redoma. […] Foi ela que eu escutei se queixar ou se gabar, ou mesmo calar-se algumas vezes, já que ela é a minha rosa.
SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O pequeno príncipe: com aquarelas do autor. Tradução: Dom Marcos Barbosa. 48. ed. Rio de Janeiro: Agir, 2009. p. 70.
Se achar oportuno, discuta com os estudantes se essa forma de conceber o amor confirma ou não os alertas feitos no poema de Geir Campos. Apesar do tom amoroso do príncipe, sua atitude de colocar a rosa em uma redoma é uma forma de isolar a flor, impedir seu contato com a realidade ao redor, manifestando, assim, uma idealização do cuidado com o outro.
Atividade complementar
Depois que os estudantes identificarem as rimas do poema 1 na atividade 5, proponha a atividade a seguir.
1. Considere a terminação de cada grupo de palavras que rimam no texto 1 e atribua a cada um deles uma letra, começando com A e seguindo a ordem alfabética. Nesse poema, conforme você pôde observar durante a realização da atividade 5, há três grupos de rimas: flor e pôr; vegetar e lugar; cuidado, lado e mal-aventurado. Copie o poema no caderno e atribua as letras aos grupos de palavras que rimam, escrevendo-as ao final dos versos. Para que compreendam melhor a proposta da atividade, mostre o exemplo a seguir, de um trecho do poema “Que te darei”, de Bernardo Guimarães (1825-1884).
Que te darei, minha a/ma/da, A
Que valha um só teu o/lhar? B
Onde posso eu en/con/trar B
Tesouro de igual va/lor? C
Que há no mundo que i/gua/le D
Um riso de teu a/mor? C
GUIMARÃES, Bernardo. Que te darei. In: GUIMARÃES, Bernardo. Poesias. Rio de Janeiro: Garnier, 1865. p. 298.
Explique aos estudantes que o esquema de rimas nessa estrofe do poema “Que te darei” é ABBCDC. Pergunte-lhes qual é o esquema de rimas do texto 1. Espera-se que identifiquem como ABACC (primeira estrofe) e ABBB (segunda estrofe).
Dê exemplos também de rimas internas, como nesta estrofe de um poema de Alphonsus de Guimaraens (1870-1921).
— O amor tem vozes misteriosas
No coração implume…
— Como são cheirosas as primeiras rosas, E os primeiros beijos como têm perfume!
GUIMARAENS, Alphonsus de. Pastoral aos crentes do amor e da morte. São Paulo: Monteiro Lobato & Cia., 1923. p. 27.
Estratégias didáticas
• Ao conduzir as propostas do boxe O X da questão (p. 221), sugere-se apresentar aos estudantes os contextos histórico e social que influenciaram a transformação do tratamento do amor na literatura, principalmente no período do Romantismo. Inicie
com uma breve exposição sobre as principais características da poesia até o século XVIII, destacando a importância das regras e da estrutura formal nas produções clássicas, barrocas e neoclássicas. Explique como o Romantismo trouxe uma ruptura, enfatizando a liberdade formal e a expressão dos sentimentos individuais. Na realização do item a do Para lembrar, proponha uma discussão coletiva sobre as transformações sociais do século XIX, como o surgimento da burguesia, a Revolução Industrial e o avanço das ideias iluministas, que favoreceram uma nova visão do indivíduo e das relações afetivas. Incentive os estudantes a pensar em como essas mudanças impactaram a maneira como o amor e o casamento passaram a ser representados na arte, particularmente na literatura. No item b, incentive-os a analisar como o amor era abordado na poesia anterior ao Romantismo, predominantemente como um ideal distante ou uma questão social. Em contraste, no Para discutir , peça-lhes que reflitam sobre como os poetas românticos introduziram uma abordagem mais subjetiva e sentimental, em que o amor passou a ser relacionado à liberdade emocional, à idealização e ao conflito entre razão e emoção. Durante a discussão, incentive-os a trazer exemplos de poemas de diferentes épocas para ilustrar essas mudanças, promovendo uma comparação crítica entre os estilos.
Estratégias didáticas
• No item d da atividade 7, explique aos estudantes que a métrica regular e as rimas cruzadas criam um ritmo fluido que imita o movimento da valsa, envolvendo o leitor e gerando uma sensação de musicalidade. Essa estrutura reforça a conexão emocional entre o leitor e o texto, aproximando-o da experiência sensorial descrita, como se o leitor “dançasse” com o poema, intensificando sua imersão na leitura. Para complementar, proponha-lhes que leiam trechos do poema em voz alta, percebendo como a regularidade da métrica e as rimas influenciam o ritmo da leitura e a sensação de movimento. Incentive-os a relacionar essa estrutura com a valsa, observando como a dança envolve tanto o corpo quanto a emoção de quem a realiza, assim como o poema “dança” com o leitor por meio do ritmo.
• Ao trabalhar o boxe Hiperlink (p. 226), comece explicando o conceito de idealização tanto no contexto romântico quanto nas redes sociais. Faça uma breve comparação entre a fuga para um mundo idealizado dos artistas românticos e a curadoria das redes sociais, em que perfis buscam mostrar uma realidade perfeita. Organize a turma em duplas e instrua os estudantes a escolher perfis em redes sociais que frequentemente mostrem situações de felicidade e sucesso. Oriente-os a responder às perguntas fornecidas, incentivando-os a refletir sobre a construção da imagem pessoal e a percepção que os outros podem ter desses perfis. Depois, proponha-lhes que pesquisem o impacto dessas representações idealizadas, utilizando fontes confiáveis, como artigos de psicólogos e pedagogos disponíveis em sites jornalísticos ou educacionais. Finalize pedindo-lhes que, em duplas, produzam um texto crítico no qual unam a análise dos perfis e o impacto psicológico ou social que essas imagens idealizadas podem causar em outros internautas, incentivando um olhar reflexivo e crítico sobre o tema.
Estratégias didáticas
Oriente os estudantes a pesquisar espetáculos de dança on-line usando as palavras-chave sugeridas e a identificar movimentos que expressem metáforas visuais. Peça-lhes que escolham um espetáculo e compartilhem suas descobertas em uma data marcada, reproduzindo o vídeo e explicando a metáfora corporal identificada. O objetivo é criar uma coletânea de interpretações sobre a poesia do movimento, incentivando a apreciação coletiva da dança como expressão artística.
Formação continuada
O boxe Ler literatura (p. 232) propicia um aprofundamento no caráter lúdico da poesia. O historiador e linguista holandês Johan Huizinga (1872-1945) concebe muitos fatos da cultura como jogo. É a ideia que desenvolve em seu livro Homo ludens, um clássico da Filosofia e da História. Leia a seguir um trecho em que ele considera a poesia como jogo.
[…] a poiesis é uma função lúdica. Ela se exerce no interior da região lúdica do espírito, num mundo próprio para ela criada pelo espírito, no qual as coisas possuem uma fisionomia inteiramente diferente da que apresentam na ‘vida comum’, e estão ligadas por relações diferentes da lógica e da causalidade. Se a seriedade só pudesse ser concebida nos termos da vida real, a poesia jamais poderia elevar-se ao nível da seriedade. Ela está para além da seriedade, naquele plano mais primitivo e originário a que pertencem a criança, o animal, o selvagem e o visionário, na região do sonho, do encantamento, do êxtase, do riso.
HUIZINGA, Johan. O jogo e a poesia. In: HUIZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. Tradução: João Paulo Monteiro. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 2000. E-book. Localizável em: cap. 7, § 1. (Estudos).
• Para iniciar o trabalho com o boxe Ler o mundo (p. 233), aborde a relação entre literatura e afetos, destacando como os poemas são formas de expressão de sentimentos que atingem os leitores de maneiras diversas. Incentive os estudantes a refletir sobre o impacto das emoções no cotidiano e sobre como as interações sociais afetam nossas percepções e comportamentos. Promova uma discussão coletiva com base nas perguntas fornecidas, incentivando os estudantes a pensar em contextos sociais (como família, amigos, redes sociais, terapia) em que a expressão de sentimentos é comum. Pergunte-lhes qual é o valor de dar nome às emoções e compartilhar essas experiências com outras pessoas. Para enriquecer o diálogo, sugira aos estudantes que pensem em situações nas quais a expressão de afetos foi significativa para eles e como isso afetou suas relações. Promova um ambiente de respeito e abertura, garantindo que todos possam compartilhar suas ideias com responsabilidade e escuta ativa.
• SLAM: voz de levante. Direção: Tatiana Lohmann e Roberta Estrela D’Alva. Brasil: Exótica Cinematográfica, 2017. 1 DVD (94 min).
O documentário traça um panorama das chamadas poetry slams, ou batalhas de slam, que tiveram início na década de 1980, nos Estados Unidos, e se disseminaram rapidamente para o mundo, com destaque para o cenário brasileiro, que passou a se compor a partir de 2008.
Estratégias didáticas
• Sugere-se organizar a sala em duplas ou pequenos grupos para realizar as atividades desta seção. Acompanhe os estudantes bem de perto, garantindo que haja a participação ativa de todos nas reflexões e na realização das tarefas, com respeito às dificuldades e aos ritmos individuais.
Ao explorar o boxe conceito (p. 235), explique aos estudantes que a leitura silenciosa de um poema e a sua declamação geram sentidos diferentes. Você pode usar exemplos práticos. Escolha um poema e peça aos estudantes que o leiam em silêncio. Em seguida, faça uma declamação desse poema. Depois, pergunte-lhes como a entonação, o ritmo e a postura durante a declamação alteraram a percepção que eles tiveram do poema na leitura silenciosa.
ligados ao verbo: adjunto adverbial (p. 238)
Estratégias didáticas
Comece o estudo proposto nesta seção relembrando aos estudantes que o adjunto adverbial é um termo acessório da oração que modifica o verbo, o adjetivo ou outro advérbio, acrescentando informações relacionadas a circunstâncias, como tempo, lugar, modo, causa, finalidade, entre outras. Pergunte se eles se recordam dessa temática e se conseguem identificar frases que tragam informações extras sobre quando, onde ou como algo acontece. Em seguida, apresente alguns exemplos práticos, como:
• O professor explicou a matéria ontem. (adjunto adverbial de tempo)
• Elas almoçam na cozinha. (adjunto adverbial de lugar)
• Ele disse aquilo com muita raiva. (adjunto adverbial de modo)
Peça aos estudantes que identifiquem o adjunto adverbial em cada oração, incentivando a reflexão sobre como esses termos acrescentam detalhes importantes ao enunciado. Em seguida, conduza atividades práticas com orações para que eles treinem a identificação e a criação de adjuntos adverbiais.
Ao trabalhar o boxe #paralembrar (p. 239), explique aos estudantes que eles devem ficar atentos para não confundir adjunto adverbial com advérbio, pois advérbio corresponde à classe gramatical da palavra e adjunto adverbial consiste na função sintática, isto é: advérbio é o nome da palavra; adjunto adverbial é a função que a palavra exerce na oração. O adjunto adverbial geralmente é representado por um advérbio ou por uma locução adverbial.
• CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo . 7. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2017.
A obra oferece exemplos práticos que podem ser usados em aula para abordar o adjunto adverbial de forma didática, facilitando a compreensão dos estudantes sobre o papel desse termo acessório da oração.
Estratégias didáticas
• Sugere-se realizar a correção das atividades de análise sintática no quadro, para que os estudantes consigam visualizar as relações estabelecidas entre os termos das orações.
Estratégias didáticas
• Esc olha três estudantes para ler em voz alta o poema de Álvaro de Campos, que abre a seção. Anote seus nomes no quadro para que saibam a ordem de leitura e qual estrofe cada um vai apresentar. Os estudantes podem se voluntariar ou ser escolhidos por sorteio. Relembre à turma que, ao ler um poema, é importante prestar atenção à maneira como a voz é utilizada, incluindo entonação, pausas, ritmo, e à linguagem corporal, como expressões faciais e gestos. Esses elementos ajudam a destacar a mensagem que o poeta quer transmitir.
Estratégias didáticas
• Para a realização do item c da atividade 2, reforce aos estudantes o fato de que a antítese consiste na aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos.
Estratégias didáticas
Comece explicando aos estudantes o conceito de slam. Destaque que se trata de um evento performático de poesia, não apenas de um texto escrito. Explique a eles que o slam envolve a declamação de poemas com entonação, gestos e emoção, transformando a poesia em uma experiência viva e dinâmica.
Explique-lhes brevemente a história do slam, como ele começou nos Estados Unidos, na década de 1980, e se tornou um movimento mundial que dá voz à juventude e aos amantes da literatura.
Oriente-os a escrever ou selecionar um poema que desejem declamar. O poema deve tratar de temas relevantes para eles, como questões sociais, culturais ou pessoais. Incentive a criatividade e a escolha de temas que tenham relação com suas realidades. Ajude-os na declamação dos poemas, incentivando a prática de gestos, entonação e improvisação. O slam envolve emoção e conexão com o público, motivo pelo qual a performance deve ser expressiva. Promova ensaios na sala, dando feedback sobre a postura, a clareza da fala e o uso do corpo na declamação.
Planeje o evento de slam em sala. Escolha um pequeno “júri” entre os estudantes ou professores para avaliar as performances com base em critérios como criatividade, interpretação, originalidade e impacto emocional. Lembre-se de criar um ambiente acolhedor e de apoio.
• Realize o slam como uma competição amistosa, com prêmios simples para os vencedores, como um certificado ou uma lembrança simbólica. O importante é valorizar a participação e a expressão criativa de cada estudante.
• Ao final, promova uma discussão sobre a experiência, inc entivando os estudantes a refletir sobre o processo de criação, a importância da voz e da expressão individual, e como foi declamar ou ouvir os poemas dos colegas.
Respostas e comentários
2. 1o : A identidade nacional não nos é dada, mas construída por meio da participação de cada cidadão em um sistema simbólico que representa a ideia de nação. 2o : A ideia de cultura nacional é moderna, mas herda de sociedades pré-modernas um sentimento de pertencimento a uma nação vindo de sua lealdade e identificação com suas particularidades, submetidas, na era moderna, à ideia de nação com cultura homogênea. 3o : A formação de uma cultura nacional implica a adoção de padrões culturais homogêneos, mas nem todas as diferenças ficam aí submersas, pois há o que empurre a ideia de cultura nacional para direção diferente da homogeneização. 4 o : A unidade da cultura nacional deve ser pensada na chave da diversidade.
5. Auxilie os estudantes a perceber que as ideias se somam e se organizam em torno da ideia de identidade nacional. Segue uma sugestão de organização gráfica para representar a relação entre as ideias do texto:
As identidades nacionais são formadas e transformadas no interior da representação: a nação é uma comunidade simbólica.
As diferenças submergem na ideia de uma única identidade nacional.
A ideia moderna de nação herda de sociedades pré-modernas a ideia de lealdade a uma comunidade, mas na modernidade buscou-se uma homogeneização identitária que não existe.
A unidade da identidade nacional deve ser buscada na diversidade.
O foco desta unidade é o estudo do texto teatral, especialmente aquele produzido no período do Romantismo brasileiro – com suas características temáticas e estilísticas específicas –, textos teatrais de dramaturgos consagrados da literatura brasileira e textos atuais e diversificados, a exemplo de produções indígenas contemporâneas. A estética do teatro do absurdo permeia as análises dos textos e permite compreender o modo como os elementos constituintes do texto teatral e sua respectiva encenação atuam na construção de sentidos. Na parte referente aos conhecimentos linguísticos, são postos em estudo textos teatrais nos quais o tópico em questão (complemento nominal) pode ser analisado. No que diz respeito à produção textual, os estudantes são convidados a produzir uma resenha crítica de objeto cultural (filme), por meio da qual poderão exercitar suas habilidades de avaliação e argumentação.
Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 4, 5 e 7
Competências específicas de Linguagens e suas
Tecnologias: 1, 2, 3, 4, 6 e 7
Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias
EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG103 EM13LGG104
EM13LGG201 EM13LGG202 EM13LGG302 EM13LGG401
EM13LGG402 EM13LGG601 EM13LGG602 EM13LGG704
• Habilidades de Língua Portuguesa
EM13LP01 EM13LP05 EM13LP06 EM13LP08 EM13LP15 EM13LP16 EM13LP17 EM13LP38
EM13LP48 EM13LP49 EM13LP50 EM13LP54
Todos os campos de atuação social
Campo jornalístico-midiático
Campo artístico-literário
Estratégias didáticas
• Antes de realizar as atividades propostas na abertura, convém questionar os estudantes sobre as experiências que eles têm com a arte teatral, seja na condição de espectadores, seja na de atores. Uma conversa inicial rápida pode dar a dimensão da familiaridade (ou não) que eles têm com essa arte e, assim, já será possível avaliar os conhecimentos consolidados desde o Ensino Fundamental.
Respostas e comentários
1. Se julgar pertinente, explique aos estudantes que oteatro do absurdo frequentemente adota uma estética minimalista, especialmente no que diz respeito à cenografia e aos diálogos. Esse minimalismo é uma escolha consciente para sublinhar a ausência de sentido ou de estrutura na condição humana, elemento central dessa corrente. Ao evitarem cenários elaborados ou ações complexas, as peças criam um espaço quase vazio, tanto física quanto metaforicamente, em que o absurdo e a alienação se tornam mais palpáveis. No entanto, esse minimalismo não é regra fixa: algumas montagens podem utilizar uma abordagem mais complexa visualmente, porém mantendo a essência de um universo desprovido de lógica e coerência.
2. Se os estudantes não chegarem facilmente à resposta esperada, explique-lhes que cada montagem de uma peça teatral é única. A mesma obra pode ser interpretada de maneiras distintas, a depender das escolhas criativas feitas pela equipe de direção, elenco, produção e até mesmo da época em que a peça é encenada.
5. A escolha da pintura de Honoré Daumier (18081879) e sua respectiva análise objetivam evidenciar a intersecção entre as artes, visto que, frequentemente, uma dada manifestação artística pode ser tema de outra.
• Nas atividades do boxe Ler o mundo (p. 256), espera-se que os estudantes reconheçam que o modo de apresentação de si no mundo virtual sempre passa
por um processo de mascaramento, uma vez que a grande maioria das pessoas procura mostrar apenas o melhor de si (sucessos, felicidades, desejos realizados etc.). Aproveite a oportunidade para colocar em discussão a expressão “(não) dar palco para”, muito empregada atualmente com o sentido de oferecer (ou não) um espaço de destaque ou visibilidade para alguém ou algo.
• Antes da leitura das cenas do roteiro da peça O túnel (1968), comente sobre seu autor, o dramaturgo Dias Gomes (1922-1999), contextualizando sua produção e seu estilo. Questione os estudantes se já viram alguma transposição para o cinema ou para a televisão de peças do escritor, pois algumas se tornaram muito populares.
Já que o texto teatral é um gênero escrito para ser encenado, falado, é interessante que a leitura das cenas seja realizada em voz alta. Isso pode ser feito de modo colaborativo ou ainda com voluntários que assumam as diferentes vozes do texto.
Depois da leitura, as questões de análise do texto, da seção Pensar e compartilhar (p. 259), podem ser respondidas em pequenos grupos, ou de modo coletivo, na classe, com espaço para o esclarecimento de dúvidas ou comentários.
Estratégias didáticas
Ao realizar o item b da atividade 1, aproveite a oportunidade para colocar em discussão a visão de país representada no texto e a visão que os estudantes têm do Brasil, com base em suas experiências pessoais. Incentive-os a abordar pontos positivos e negativos e destaque que um dos aspectos do exercício da cidadania é a participação ativa na construção de um futuro melhor para o país.
• Na atividade 2, seria importante conversar com os estudantes sobre o período em que o Brasil esteve sob a ditadura civil-militar (1964-1985), incentivando-os a buscar os conhecimentos e as discussões das aulas de História. Sem a compreensão do contexto político e social da época, a interpretação da peça de Dias Gomes pode ficar comprometida.
• Para a realização da atividade 7, relembre aos estudantes que, em vários outros gêneros literários, o narrador é um dos elementos constituintes, mas
este praticamente inexiste em textos teatrais, uma vez que a narrativa se estrutura por meio dos diálogos entre as personagens. Assim, o texto teatral não apresenta verbos dicendi , que em outros gêneros narrativos constituem os diálogos e identificam a personagem cuja fala é reproduzida.
• Na atividade 8 , explique-lhes que o recurso do aparte pode soar como uma espécie de confidencialidade que uma das personagens compartilha com a plateia, sem o conhecimento das outras personagens. No teatro, na televisão ou no cinema, o recurso em que a personagem se dirige diretamente à plateia ou à câmera é chamado de quebra da quarta parede, isso porque se imagina que os atores estão configurados em uma espécie de caixa, e a quarta parede seria, então, uma “parede invisível” que separa os atores dos espectadores. Assim, quando um personagem se dirige diretamente à plateia ou à câmera, está “quebrando” essa parede invisível, reconhecendo a existência do público e estabelecendo uma conexão mais direta com ele.
• ESTADO da Arte: O teatro do absurdo. Entrevistados: Fábio de Souza Andrade, Luiz Fernando Ramos e Viviane da Costa Pereira. Entrevistador: Marcelo Consentino. São Paulo: Estadão, 31 jul. 2019. Podcast . Disponível em: www.estadao.com.br/ cultura/estado-da-arte/podcast-o-teatro-doabsurdo/. Acesso em: 11 out. 2024.
Nesse episódio do podcast, os convidados conversam sobre o teatro do absurdo, explicam suas origens, comentam sobre seus escritores principais e características.
do século XIX (p. 262)
• Ao realizar a discussão proposta no boxe O X da questão (p. 262), incentive os estudantes a refletir sobre os modos como se dá, atualmente, a representação da mulher (seja na televisão, no cinema, na publicidade) e em que medida ainda persiste uma visão estereotipada e/ou machista da figura feminina. Lembre à turma que, no século XIX, as mulheres eram frequentemente retratadas de forma estereotipada e limitada: os papéis de esposa, mãe
e dona de casa predominavam; suas ações e desejos eram frequentemente moldados pelas expectativas sociais da época. Eram vistas como inferiores aos homens e deveriam se submeter à autoridade masculina. O casamento era considerado o destino natural de todas as mulheres, e a felicidade feminina estava intrinsecamente ligada à vida conjugal. Também é importante lembrar que, enquanto a literatura do século XIX reforçava os papéis tradicionais e as desigualdades de gênero, a literatura contemporânea busca desafiar esses estereótipos e oferecer representações femininas mais autênticas e complexas. Proponha a leitura em voz alta dos trechos dos textos do dramaturgo Martins Pena (1815-1848), chamando a atenção para a carga de ironia e o efeito de humor que eles carregam. Como o texto teatral é escrito para ser encenado, a leitura em voz alta imprime expressividade e contribui para a melhor apreensão dos sentidos.
Estratégias didáticas
Ao destacar a figura de Maricota como uma personagem que subverte os estereótipos femininos da época, a atividade 2 convida a refletir sobre o papel da mulher na sociedade de outrora e na atual. A comparação entre o passado e o presente revela um caminho marcado por conquistas e desafios. Se, no século XIX, as mulheres eram confinadas ao espaço doméstico e submetidas à autoridade masculina, hoje se observa uma crescente participação feminina em diversos âmbitos da vida social, política e econômica. No entanto, é importante ressaltar que a luta por igualdade de gênero ainda é uma realidade.
No item c da atividade 3, a sugestão de leitura em voz alta do trecho da peça busca evidenciar não apenas o efeito de humor do discurso mas, principalmente, o caráter irônico da fala de Maricota. Ao afirmar “Fui bem desgraçada em dar meu coração a um ingrato!”, ela exibe uma aparente angústia amorosa, mas seu riso (indicado na rubrica), enquanto Faustino ajoelha-se e fala, contradiz essa emoção. A ironia reside na dissimulação de seus sentimentos verdadeiros, utilizando o sofrimento amoroso como uma estratégia para manipular Faustino. A postura de Maricota é
marcada por uma grande contradição. Enquanto verbaliza sofrimento e desejo de libertação, suas ações revelam prazer e satisfação em manipular o outro. Essa contradição é um dos pilares da ironia em sua fala. Portanto, ao reproduzirem a fala das personagens, espera-se que os estudantes apreendam esse caráter irônico e o tornem expressivo.
• Para o desenvolvimento da atividade 6, os estudantes mobilizarão conhecimentos do componente de Arte. Se julgar necessário, amplie as informações do boxe Saiba mais (p. 266) sobre a commedia dell’arte, a fim de que possam responder à questão com maior propriedade: esse estilo de teatro popular, que surgiu na Itália no século XVI e se espalhou por toda a Europa, caracteriza-se pelo improviso e pela utilização de máscaras e se baseia em “personagens-tipo”, cada uma com suas características e funções específicas. Arlequim, Pierrô e Colombina são algumas das personagens principais: Arlequim, o palhaço da trupe, é o mais icônico. A capacidade de improvisar é elemento-chave de sua persona, além de ser esperto, ágil e cheio de truques. É apaixonado por Colombina, mas sua natureza sedutora o leva a flertar com outras mulheres. Pierrô é a representação do amante apaixonado e sofredor. Ele ama em segredo Colombina e vive atormentado por esse amor não correspondido. Ingênuo e puro, muitas vezes é alvo de piadas e de situações embaraçosas. Sua roupa branca e seu rosto pálido contrastam com a vivacidade de Arlequim. Já Colombina é a que desperta o amor de Arlequim e Pierrô, figura central no triângulo amoroso. Ela se vale da astúcia para manipular os dois homens, pois é consciente do poder que exerce sobre eles e não hesita em usá-lo.
• P ara a realização da proposta de pesquisa do boxe Hiperlink (p. 267), comente que peças de Qorpo Santo (1829-1883) podem ser facilmente encontradas na internet, especialmente no portal Domínio Público, que disponibiliza gratuitamente todas as obras do dramaturgo. Os estudantes podem se organizar em grupos e cada grupo ficar responsável por uma peça (essa distribuição também pode ser feita por meio de sorteio). Incentive-os a ler a peça inteira, a fim de escolher a parte que melhor corresponda às características do teatro do absurdo. Para isso, sugira que, antes, busquem mais informações sobre o teatro do absurdo e a obra de Qorpo Santo como precursora
dessa estética. Eles podem encontrar dados em matérias jornalísticas e artigos acadêmicos, como os indicados a seguir.
• A LVES, Rogério Eduardo. Qorpo Santo enxerga absurdo nacional. Folha de S.Paulo, São Paulo, 23 jun. 2000. Disponível em: www1.folha.uol. com.br/fsp/ilustrad/fq2306200019.htm. Acesso em: 11 out. 2024.
• SILVA, Erlândia Ribeiro da; CEI, Vitor. A sátira, o riso e o absurdo em duas peças do teatro de Qorpo Santo. Graphos , Espírito Santo, v. 23, n. 1, p. 147-159, 2021. Disponível em: https:// periodicos.ufpb.br/index.php/graphos/article/ view/57695/33531. Acesso em: 11 out. 2024.
Estratégias didáticas
Para a realização da proposta desta seção, sugere-se que a turma, organizada em grupos, releia o trecho da peça O Judas em Sábado de Aleluia (p. 262). Oriente-os a criar rubricas para os movimentos escolhidos, indicando o momento exato em que o movimento deve ser realizado e o efeito que se deseja produzir. É importante que os estudantes justifiquem suas escolhas, explicando como os movimentos contribuem para a construção das personagens e da cena. As diferentes propostas podem ser compartilhadas em momento oportuno, para que se promova uma reflexão sobre a importância da expressão corporal no teatro.
Contexto (p. 269)
Estratégias didáticas
P ara trabalhar com esse conteúdo histórico e teórico, a metodologia da aula invertida se mostra uma estratégia pedagógica eficaz, já que permite a personalização da aprendizagem, o maior engajamento dos estudantes e o melhor aproveitamento do tempo em sala de aula. Para isso, os estudantes podem ser orientados a elaborar uma linha do tempo com base nas informações que constam nesta seção (ou ampliando a pesquisa para outras fontes). Nessa linha, podem identificar os principais eventos e personagens relacionados à história do teatro no Romantismo brasileiro.
• O trabalho proposto no boxe Ler literatura (p. 272) objetiva promover uma compreensão profunda e crítica do teatro como manifestação artística e cultural. Ao pesquisarem e analisarem textos teatrais de diferentes épocas, os estudantes ampliam seu repertório cultural, desenvolvem o pensamento crítico e a criatividade. A análise das rubricas e a comparação entre peças de diferentes épocas exigem uma reflexão sobre as escolhas dos autores, as convenções teatrais e a relação entre a obra e o contexto histórico-social. Se for possível realizar uma leitura dramatizada, a atividade pode ser bastante produtiva na medida em que os estudantes são levados a criar encenações curtas, o que estimula a imaginação e a capacidade de transformar ideias em ações.
• Antes de realizar as atividades desta seção, promova uma rápida conversa com o intuito de ativar os conhecimentos prévios dos estudantes acerca do gênero resenha crítica. Comece questionando se eles costumam consultar opiniões sobre produtos culturais (filmes, séries, músicas, livros, games) antes de consumi-los e que estratégias usam para tal. Destaque que, atualmente, influenciadores são grandes veiculadores de opiniões a esse respeito e o fazem por meio de resenhas, algumas de caráter bem subjetivo, outras fundamentadas em critérios estéticos e análises comparativas. Como há muitos influenciadores digitais que se dedicam a resenhar livros, filmes e séries, é bastante importante distinguir aqueles que produzem resenhas de qualidade, as quais contribuem para a análise pessoal do espectador.
• Durante o desenvolvimento da atividade 1, é importante destacar que uma boa resenha crítica precisa equilibrar a quantidade de informação oferecida ao público, uma vez que tanto informação demais como de menos podem promover o desinteresse pelo
produto cultural em questão. Também vale destacar que resenhas muito subjetivas pouco contribuem para a avaliação da obra em si, visto que, na ausência de critérios técnicos ou estéticos, o que impera é o gosto pessoal, e este pode ser bastante discutível.
• Para a realização da atividade 3, distinguir resenha e resumo (sinopse) é uma habilidade que se espera que os estudantes já tenham desenvolvido. Essa distinção não se limita à mera identificação das características formais de cada gênero, mas exige, sobretudo, a capacidade de argumentar de forma coerente e consistente. Ao elaborarem uma resenha, os estudantes precisam não apenas apresentar as ideias principais de um texto mas também analisar, interpretar e emitir um juízo de valor sobre ele. Essa habilidade de argumentar é fundamental para o desenvolvimento do pensamento crítico e para a participação ativa em debates e trocas de opiniões.
É possível que os estudantes encontrem dificuldade ao estudar o complemento nominal em razão da sua semelhança com o adjunto adnominal e da abstração do conceito de transitividade nominal. Um quadro comparativo, feito no quadro ou em um cartaz, pode ajudá-los a apreender mais facilmente os conceitos e diferenciá-los.
Complemento nominalAdjunto
Completa o sentido de substantivos abstratos, adjetivos ou advérbios. Geralmente, responde às perguntas “de quê?” , “a quê?” , “para quê?” etc.
Exemplo: medo da escuridão
(Medo de quê? Da escuridão. A expressão da escuridão completa o sentido do substantivo abstrato medo.)
• Os te xtos desta seção oferecem uma oportunidade: a compreensão de como uma obra artística é concebida desde a inspiração inicial até a sua materialização no palco, por meio da análise da peça Menor que o mundo. Já a consideração da peça Tape Mbyapeha: caminhos de sabedoria proporciona um espaço para discutir questões como identidade, preconceito, inclusão e a importância da educação. Além disso, a análise linguística proposta contribui para o desenvolvimento da percepção de como as palavras se conectam para construir o sentido na estrutura do português brasileiro.
• No desenvolvimento do item b da atividade 2, explique aos estudantes que compreender as funções dos elementos essenciais, acessórios e integrantes que constituem a sintaxe da língua portuguesa contribui para o desenvolvimento de habilidades linguísticas mais refinadas, as quais são relevantes tanto para a realização de uma leitura eficiente quanto de uma produção textual mais elaborada.
• Antes de realizar a proposta desta seção, seria interessante retomar a leitura de um dos trechos de peças reproduzidos anteriormente e fazer uma leitura expressiva dele, chamando a atenção dos estudantes para a pontuação empregada. Depois, sugira que leiam o trecho da peça O noviço (p. 279), atentando para a pontuação e a expressividade que ela sugere.
Caracteriza o substantivo, atribuindo-lhe uma especificação. Geralmente, responde às perguntas “qual?” , “quê?” , “de quem?” etc.
Exemplo: medo paralisante (Qual medo? Um medo paralisante. A palavra paralisante caracteriza o substantivo medo.)
• Considerando que os estudantes geralmente apresentam muitas dúvidas acerca da pontuação (seja na leitura, seja na produção textual), convém enfatizar que a pontuação carrega valor expressivo. Sem ela, a leitura se torna confusa, e a compreensão do texto fica comprometida.
• Comente com os estudantes que, na comunicação oral, elementos paralinguísticos (como entonação, ritmo, volume, pausas) atuam na produção de sentido do que é dito, ou seja, adquirem valor expressivo. Como na modalidade escrita esses recursos não estão
presentes, a pontuação é um dos elementos que indicam o modo como o texto deve ser lido e, consequentemente, compreendido. Daí a importância de reconhecer o valor expressivo que os sinais de pontuação podem adquirir na configuração textual escrita.
Estratégias didáticas
• É possível que os estudantes encontrem alguma dificuldade para realizar a atividade 1. Se isso ocorrer, instrua-os a voltar às explicações anteriores sobre os sinais de pontuação e, tomando como base suas funções expressivas, realizem a substituição dos emojis. Para conferir se as escolhas foram acertadas, reproduza o poema em sua versão original e converse sobre a função da pontuação no texto, confrontando as opções feitas pelos estudantes, visando observar as que são aceitáveis e não aceitáveis no texto. A seguir, a reprodução do poema em sua versão original.
Te dou minha palavra
Não, não me peça, – agora –declarações, juras, provas…
Não, não me peça, – dentre tantas –só as palavras puras: “amor” “sempre” “nunca”
O que posso lhe oferecer – por hora –é só esta palavra comum e silenciosa: “nuvem”
E se no correr dos dias alguma sombra lhe dá…
Mas que bela declaração!
E se te faz ver – em suas mil formas –o que ali não está… Qual melhor prova?
E se venta em fúria chuva em teu cabelo… Que juras poderiam mais?
E, se por ventura, súbita, se desfaz ao sol do meio-dia…
Mas que bela a luz do sol ao meio dia!
VASQUES, Jeff. Te dou minha palavra. In: VASQUES, Jeff. Eupassarinho. [S. l.], 21 nov. 2012. Disponível em: https://eupassarinho.com.br/post/te-dou-minha-palavra. Acesso em: 11 out. 2024.
Estratégias didáticas
• An tes de orientar a produção escrita da resenha crítica, oriente os estudantes a buscar textos desse gênero que tratem de objetos culturais que sejam de seu interesse, para que observem a estrutura, a linguagem e a avaliação contidas nas resenhas. Se for possível conduzir a busca para resenhas de peças de teatro, a articulação entre os conteúdos da unidade ganhará em qualidade. De qualquer forma, como a proposta é a produção de resenha de filme, os estudantes podem buscar resenhas desses objetos culturais para a sua formação de repertório.
• N a etapa do planejamento, explique aos estudantes que, para a elaboração de uma boa resenha, é recomendável que o filme seja analisado minuciosamente e, para isso, convém que seja visto mais de uma vez e que aspectos a respeito de tópicos importantes (como os listados no livro) sejam anotados. Comente que, quando se assiste a um filme com a mera função do entretenimento, vários detalhes podem passar despercebidos, mas, ao analisar com mais cuidado (tomando atenção em detalhes de enquadramento, movimento de câmera, trilha sonora, interpretação dos atores, iluminação, fotografia etc.), podem-se perceber a função desses elementos e a contribuição deles para uma avaliação mais objetiva, técnica e criteriosa da produção.
• Na etapa da produção, destaque que uma boa resenha evita spoilers, ou seja, não deve entregar todo o conteúdo, mas tão somente as informações fundamentais para a compreensão geral da peça cultural. Para isso, é importante que a sinopse não seja detalhada e entregue apenas o que é essencial para a elaboração da avaliação contida na resenha. Outro aspecto a ser destacado é o destinatário dessa produção (os próprios estudantes da turma), visto que isso pode determinar o estilo e a linguagem empregados na resenha.
Nesta unidade, os estudantes terão contato com a literatura romântica em Portugal e os diálogos que ela tece com o contemporâneo. Na seção Análise Linguística, vão compreender e usar o complemento nominal e diferenciá-lo do adjunto adnominal, entendendo as relações de sentido que se estabelecem entre o complemento nominal e o substantivo, adjetivo ou advérbio ao qual se refere. Também vão estudar o gênero textual diário, percebendo que são textos pessoais que registram fatos, pensamentos, modos de observar e sentir o mundo em determinado tempo e espaço. Por fim, na atividade de produção textual, terão a oportunidade de praticar a aprendizagem colaborativa ao planejar, produzir e compartilhar um podcast sobre o cotidiano, assim como exercitar a construção de uma ordenação espacial.
Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 4, 5, 9 e 10
Competências específicas de Linguagens e suas Tecnologias: 1, 2, 3, 6 e 7
Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias
EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG103 EM13LGG104
EM13LGG201 EM13LGG202 EM13LGG301 EM13LGG302
EM13LGG601 EM13LGG602 EM13LGG604 EM13LGG701
Habilidades de Língua Portuguesa
EM13LP01 EM13LP05 EM13LP08 EM13LP15 EM13LP18 EM13LP21 EM13LP49 EM13LP50 EM13LP52
Todos os campos de atuação social Campo da vida pessoal Campo artístico-literário
Estratégias didáticas
• Ao longo desta unidade, será recorrente a presença de textos de autores portugueses. Assim, comente
com os estudantes que, nesses textos, foi preservada a ortografia vigente em Portugal, que difere da do português brasileiro em certos aspectos, por exemplo, a presença do c antes do t em vocábulos como facto, projecto, objecto, o uso de acento agudo em casos em que no Brasil se usa o circunflexo, entre outros.
Respostas e comentários
4. c) Chame a atenção dos estudantes para a imagem do rosto de uma mulher ao fundo, à direita. O conjunto dos elementos da obra permite associar essa imagem à de uma santa, figura constantemente presente nas igrejas barrocas. Comente também que, na obra completa da artista, há ainda a presença de fragmentos de imagens sacras como anjos e santos, elementos característicos do Barroco.
• No desenvolvimento do boxe Ler o mundo (p. 288), ao responderem à atividade 1 , é interessante que os estudantes notem que pouco da cultura portuguesa é atualmente divulgado no Brasil, com exceção de casos excepcionais. O jogador português Cristiano Ronaldo talvez seja o maior nome internacional português dos últimos tempos. Além disso, nos últimos anos, grande parte das notícias relacionadas a Portugal fazem referência a casos de xenofobia contra brasileiros em território português. Em relação à atividade 2 , explique aos estudantes que, no Brasil, podem-se observar diversas heranças de Portugal, como o idioma (português), que é a principal língua falada no país. Além disso, aspectos da cultura, como tradições religiosas católicas, festas populares (como o São João) e pratos típicos, como o bacalhau, também são de influência portuguesa. Na arquitetura, construções históricas, como igrejas e casarões, seguem estilos trazidos pelos colonizadores. Até mesmo o sistema de leis e a organização política tiveram origem no modelo português.
• MARQUES, A. H. de Oliveira. Brevíssima história de Portugal. Rio de Janeiro: Tinta-da-China Brasil, 2018.
O livro é uma introdução clara e concisa à história de Portugal, abordando desde a formação do reino até os tempos modernos. Oliveira Marques, um destacado historiador, oferece uma narrativa que conecta eventos históricos à evolução cultural e social do país.
• Explore os boxes #sobre (p. 289 e 290) de maneira mais detida quanto maior for o interesse dos estudantes a respeito das escritoras. Essa abordagem sobre as autoras pode ser feita com uma base comparativa de sua época de vida ou de sua produção, de modo que se possam interligar e comparar as condições de produção de cada uma. As condições de produção de uma obra permitem inseri-la em uma dada época (tempo) e em determinado lugar (espaço).
Sugere-se escolher alguns estudantes para fazer a leitura em voz alta do texto 1 (p. 288). Você pode pedir a eles que se ofereçam ou, então, indicar os leitores por sorteio. Relembre à turma que a leitura de um poema deve considerar a impostação da voz, a entonação, as pausas, o ritmo, a linguagem corporal por meio de expressões faciais, gestos, entre outros elementos, que destacam a mensagem que o poeta tem intenção de transmitir.
PINHEIRO, Hélder. Poesia na sala de aula . São
Paulo: Parábola, 2018.
O livro propõe uma reflexão sobre a importância de ler poesia em sala de aula e apresenta algumas maneiras de trabalhar com poemas no âmbito escolar.
Estratégias didáticas
• Para melhor aproveitamento, sugere-se que as atividades de interpretação e compreensão do texto sejam discutidas e respondidas pelos estudantes em duplas ou em pequenos grupos. Certifique-se de que sejam formados grupos heterogêneos e acompanhe as formas de participação e realização das tarefas, fazendo intervenções para que sejam respeitadas todas as formas de participação e ritmos de aprendizagem.
Estratégias didáticas
• Ao trabalhar o boxe O X da questão (p. 293), oriente os estudantes a retomar as unidades anteriores, em especial a Unidade 3. Se achar importante, lembre aos estudantes a inspiração das revoluções que precederam e influenciaram o Romantismo, como a Revolução Francesa. O espírito de liberdade e igualdade já começava a se instalar no universo da arte em geral, da literatura em particular. A guerra civil em Portugal gerou também um movimento de transformação em que se questionavam valores, como a legitimidade do exercício do poder. Se considerar oportuno, peça aos estudantes que pesquisem informações básicas sobre esse conflito complexo, ocorrido depois da Independência do Brasil, quando então o partido constitucionalista progressista e o partido legitimista se enfrentam na disputa pelo trono de D. João.
• Sugere-se estabelecer com a turma a estratégia de leitura a ser realizada nos dois textos: se preferem uma leitura silenciosa ou oral compartilhada. Se os estudantes forem fazer uma leitura em conjunto, é importante orientá-los sobre como manter a fluência, ajustar o tom de voz e controlar o volume. Uma leitura oral bem expressiva ajuda a tornar a história mais envolvente e a criar efeitos de sentido.
• Explore os boxes #sobre (p. 294 e 296) de maneira mais detida quanto maior for o interesse dos estudantes a respeito dos autores. Reforce que as condições de produção de uma obra permitem inseri-la em uma dada época (tempo) e em determinado lugar (espaço).
Estratégias didáticas
• No item a da atividade 3, relembre aos estudantes o conceito de eufemismo, que consiste em uma figura de linguagem usada para suavizar ou amenizar uma ideia ou expressão que pode ser desagradável, ofensiva ou muito direta. Em vez de dizer algo de forma rude ou chocante, utiliza-se uma palavra ou expressão mais suave. Em lugar de dizer “ele morreu” por exemplo, que é muito direto, pode-se usar um eufemismo, como “ele partiu” ou “ele descansou”. O uso do eufemismo ajuda a tornar a comunicação mais delicada ou educada, especialmente em situações sensíveis.
• MARTINS, Nilce Sant’Anna. Introdução à estilística: a expressividade na língua portuguesa. 4. ed. rev. São Paulo: Edusp, 2008.
Nessa obra, a autora faz uma descrição sobre a estilística dos diversos níveis da análise linguística (som, palavra, frase e enunciação), assim como algumas sugestões de textos para análise estilística.
• No item b da atividade 6, se considerar oportuno, esclareça aos estudantes que, no romance, o casal de amantes é punido: todos morrem – Teresa, de tristeza; Simão, de doença durante a viagem; Mariana, vendo o amado morto, joga-se ao mar. Seria interessante também pesquisar o histórico dessa legislação no Brasil.
A respeito do conteúdo do boxe conceito (p. 299), que se relaciona ao questionamento proposto no item b da atividade 6 , esclareça aos estudantes que a literatura mostra como as pessoas pensam, agem e acreditam em determinado momento. Os escritores retratam o que está acontecendo ao seu redor, as normas e práticas sociais, como uma espécie de espelho da realidade. Ao contar histórias, criar personagens e abordar temas importantes, eles capturam as transformações que estão acontecendo na cultura, na política e nas ideologias da sociedade. A literatura, então, contribui para o debate público porque provoca discussões sobre o que deve ou não ser mudado na sociedade e molda a percepção dos leitores, ajudando-os a enxergar o mundo de maneiras diferentes e, muitas vezes, mais críticas. A literatura não apenas representa o que acontece em uma época mas também pode ser uma força que ajuda a transformar o pensamento das pessoas.
Para a atividade 11, se achar oportuno, contextualize a autora do trecho. Maria Amália de Carvalho (1847-1921) foi uma escritora, poeta e crítica literária portuguesa. Uma das primeiras mulheres a se destacar no cenário literário português do século XIX. Foi também uma defensora dos direitos das mulheres e da educação feminina. Colaborou com diversos jornais e revistas, escrevendo crônicas, contos e artigos que discutiam a condição feminina e outros temas sociais. Além disso, foi a primeira mulher a entrar para a Academia das Ciências de Lisboa.
Suas obras mais conhecidas são Uma primavera de mulher (1867), Vozes do ermo (1876) e Serões no campo (1877).
Estratégias didáticas
• Na atividade 1 , sugere-se fazer um levantamento em classe para verificar se houve coincidências na escolha dos escritores. Em caso positivo, pode-se solicitar aos estudantes que as informações obtidas sejam reunidas para que não haja repetições. Reserve uma aula para que as duplas possam apresentar sua pesquisa em formato de seminário.
• A REVOLUÇÃO Liberal de 1820. [ S. l. : s. n. ], 2020. 1 vídeo (5 min). Publicado pelo canal Assembleia da República. Disponível em: www.youtube.com/ watch?v=qk18C5QChio4. Acesso em: 8 out. 2024. O endereço dá acesso a um vídeo que conta, de maneira muito clara e acessível, como Portugal chegou à Revolução Liberal de 1820. Essa narrativa é bastante didática, feita por meio de animação e com a narração dos eventos daquele momento, esclarecendo acontecimentos complexos que, por meio do vídeo, se tornam bastante compreensíveis.
Estratégias didáticas
• No trabalho com o boxe Ler literatura (p. 303), se achar interessante, oriente a turma a pensar em um romance que já leram e que os fez sentirem-se “transportados” para outro lugar. Sugerem-se a seguir alguns pontos a serem abordados.
1. Qual foi o romance?
2. Para onde você se sentiu transportado? Pode ser um lugar físico real, imaginário ou emocional.
3. O que na obra fez com que você se sentisse imerso nessa experiência?
Em seguida, peça-lhes que compartilhem a experiência com um colega ou um pequeno grupo, considerando os pontos a seguir:
1. O que torna uma narrativa poderosa a ponto de “transportar” o leitor?
2. Que tipos de cenários e descrições costumam ser mais imersivos?
3. Todos os livros têm esse poder de transportar, ou alguns gêneros/literaturas específicas tendem a fazer isso mais frequentemente?
Como conclusão da atividade proposta no boxe e da sugestão de aprofundamento feita neste manual, instrua os estudantes a escolher um romance que gostariam de recomendar aos colegas por sua capacidade de transportar o leitor. Eles podem escrever uma pequena resenha destacando esse aspecto do livro. Incentive-os a refletir não apenas sobre o lugar físico mas também sobre a jornada emocional ou psicológica que o livro proporcionou. Dê exemplos de romances conhecidos que criam essa experiência para ajudá-los a se conectarem com a proposta. Essa atividade busca incentivar a leitura crítica e a apreciação das experiências proporcionadas pela literatura, promovendo ao mesmo tempo a interação entre os estudantes.
Estratégias didáticas
A o trabalhar o boxe Ler o mundo (p. 304), relembre os estudantes de que diário é um gênero textual no qual uma pessoa registra, de forma íntima e pessoal, suas experiências, pensamentos, sentimentos e acontecimentos cotidianos. Esses textos geralmente são escritos em ordem cronológica e têm uma linguagem informal, tendo em vista que são direcionados ao próprio autor ou a um interlocutor fictício, sem a intenção de serem compartilhados com outros. Suas principais características são: escrita pessoal e íntima; relato de fatos do cotidiano; uso da primeira pessoa do singular (eu); organização cronológica, com data para cada entrada; linguagem espontânea e informal.
• PIMENTEL, Carmen. A escrita íntima na internet: do diário ao blog pessoal. O Marrare, Rio de Janeiro, n. 14, [2011]. Disponível em: http://www.omarrare. uerj.br/numero14/carmenPimentel.html. Acesso em: 8 out. 2024.
O texto compara os gêneros diário, agenda e blogue e infere que, na era digital, o blogue assumiu o papel do diário de papel, em decorrência de suas vantagens de publicação e uso em múltiplas plataformas. Também destaca o blogue como uma ferramenta aliada às atividades escolares.
Estratégias didáticas
• Sugere-se organizar a sala em duplas ou pequenos grupos para discutir as questões e responder a elas. Acompanhe os estudantes bem de perto para garantir a participação ativa de todos nas reflexões e na realização das tarefas, com respeito às dificuldades e ao ritmo individual de cada um.
• Ao trabalhar o boxe conceito (p. 307), se considerar oportuno, lembre os estudantes da apropriação do gênero diário pela ficção e discuta com eles as mudanças que essa apropriação produz no gênero.
• Para o item a da atividade 10, explique aos estudantes que também existem as narrativas de memória, que registram momentos importantes do passado de uma pessoa. Ao escrever uma narrativa de memória, o autor relembra e reconstrói fatos guardados em sua mente. Esse gênero mistura elementos reais – porque os acontecimentos podem ter realmente ocorrido – e subjetivos – já que o próprio autor viveu e protagonizou essas experiências. Por isso, o narrador é profundamente envolvido no relato. Ao escrever, o narrador, que também é o autor e personagem, organiza suas lembranças e as interpreta, de forma que o que é contado não é exatamente o fato real, mas uma versão relembrada e refletida sobre ele.
• MUSEU D A PESSOA. São Paulo, [c2024]. Site . Disponível em: https://museudapessoa.org/. Acesso em: 8 out. 2024.
O Museu da Pessoa consiste em um museu virtual e colaborativo, que permite a qualquer pessoa registrar e compartilhar sua história de vida. O acervo conta com mais de 20 mil histórias, 60 mil imagens e 5 mil vídeos.
Estratégias didáticas
• Comece o trabalho proposto na seção dialogando com os estudantes sobre as palavras que formam o termo adjunto adnominal. Explique que o prefixo ad- significa “junto de”, o que faz com que adjunto tenha o sentido de algo “ligado” ou “associado” a algo. Já o termo adnominal refere-se a algo “ligado a um nome”. Dessa forma, pode-se entender que os elementos que desempenham essa função na oração estão sempre conectados a um substantivo (ou nome), como ocorre com o núcleo do sujeito ou dos objetos, não tendo autonomia própria.
Ao trabalhar o boxe conceito (p. 309), é importante chamar a atenção dos estudantes para não confundirem adjunto adnominal com objeto indireto quando locuções adjetivas exercem uma dessas funções. O objeto indireto completa o sentido do verbo; o adjunto adnominal, por sua vez, caracteriza o substantivo (nome).
CRUZ, Arion de Souza. Complemento nominal vs. adjunto adnominal: uma revisão do ensino de gramática sob enfoque gerativista. 2013. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado e Licenciatura em Letras) – Instituto de Letras, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2013. Disponível em: http:// bdm.unb.br/bitstream/10483/7145/1/2013_
ArionDeSouzaCruz.pdf. Acesso em: 8 out. 2024. O estudo trata da distinção das funções sintáticas complemento nominal e adjunto adnominal dentro dos módulos da gramática gerativa por meio das noções de complementação e adjunção.
Estratégias didáticas
• Leia a notícia para os estudantes e, em seguida, sorteie alguns para que a leiam novamente para a turma. Depois, questione-os: qual é o fato principal dessa notícia? Onde ele ocorreu? Quem participou dele? Por qual motivo ele ocorreu?
• Duran te a leitura do texto, se julgar relevante, explique aos estudantes que o termo pastelaria em Portugal é equivalente a confeitaria no Brasil. A palavra pastel, para os portugueses, designa genericamente pães, doces e bolos.
• CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 7. ed. reimp. Rio de Janeiro: Lexikon, 2017.
A obra explora questões de léxico, semântica, sintaxe e outras áreas em que o português do Brasil e o português europeu se diferenciam. Um dos pontos destacados são os diferentes significados que uma mesma palavra pode ter nas duas variedades do idioma, o que pode gerar confusões e mal-entendidos entre falantes de diferentes países.
• Na atividade 3, comente com os estudantes que os adjuntos adnominais têm a função de caracterizar, especificar, determinar o substantivo.
• Para o desenvolvimento da atividade 6, sugere-se propor aos estudantes que leiam a tirinha do cartunista português José Bandeira autonomamente. Em seguida, peça-lhes que troquem ideias em relação ao tema da tirinha e realizem as atividades em duplas. No momento da correção, promova a socialização das respostas, solicitando que justifiquem oralmente suas escolhas.
• Na atividade 8 , é importante comentar com os estudantes que os adjuntos adnominais atribuem características aos substantivos, modificando-os ou determinando-os com informações fundamentais aos sentidos da oração.
Estratégias didáticas
• Escolha quatro estudantes para ler o poema A visão em voz alta. Anote os nomes deles no quadro para que saibam a ordem de leitura e qual estrofe cada um vai apresentar. Os estudantes podem se voluntariar ou serem escolhidos por sorteio. Relembre à turma que, ao ler um poema, é importante prestar atenção à maneira de utilização da voz, incluindo a entonação, as pausas, o ritmo, e da linguagem corporal, como expressões faciais e gestos. Esses elementos ajudam a destacar a mensagem que o poeta quer transmitir.
Respostas e comentários
3. Reforce com os estudantes que o complemento nominal é o complemento do nome, enquanto o adjunto adnominal é o modificador do nome.
Estratégias didáticas
• Instruir os estudan tes a analisar os efeitos de sentido das palavras que acompanham os substantivos, como o adjunto adnominal e o complemento verbal, ajudará a aprimorar a qualidade de suas produções escritas. Além disso, é fundamental que eles compreendam esses conceitos para aplicar corretamente as regras de concordância nominal.
Atividade complementar
1. Leia as frases a seguir e classifique os termos destacados como adjunto adnominal ou complemento nominal . Justifique sua resposta.
a) A ânsia por conhecimento é vida.
b) O capítulo de história foi importante.
c) A crítica ao governo foi impactante.
d) Ele tem paixão por música desde criança.
e) O quadro da parede foi pintado por um artista famoso.
Respostas:
a) Complemento nominal. O substantivo ânsia exige complemento para esclarecer o que está sendo ansiado (conhecimento). Verbos, adjetivos e substantivos que indicam uma ação ou sentimento precisam de complemento, geralmente introduzido por preposição.
b) Adjunto adnominal. De história especifica o tipo de capítulo, funcionando como um termo que qualifica o substantivo capítulo sem alterar seu sentido básico, apenas detalhando-o.
c) Complemento nominal. Crítica é um substantivo que indica ação, e ao governo completa seu sentido, indicando quem foi alvo da crítica. Essa relação exige preposição, por isso é complemento nominal.
d) Complemento nominal. Paixão exige um complemento para esclarecer o objeto do sentimento. Como por música indica pelo que ele tem paixão, está relacionado a um substantivo que precisa de complemento.
e) Adjunto adnominal. Da parede indica posse ou localização do quadro, qualificando o substantivo quadro sem modificar seu sentido, apenas descrevendo onde ele está.
Estratégias didáticas
• A proposta desta seção é uma excelente oportunidade para incentivar a aprendizagem colaborativa. Dê espaço para que os estudantes compartilhem suas experiências e destine um momento para que explorem os variados recursos que os smartphones e os aplicativos gratuitos de edição de áudio oferecem. Nos repositórios de aplicativos, há várias opções gratuitas para edição de áudio. Incentive-os a experimentar mais de uma, a fim de que comparem as funcionalidades e identifiquem as vantagens de cada uma.
• No desenvolvimento do boxe Laboratório de produção (p. 315), os estudantes vão praticar a ordenação espacial ao descrever a sala de aula. Explique que o objetivo é que a descrição seja clara e organizada, de modo que o leitor consiga visualizar mentalmente o ambiente descrito. Oriente-os a:
• iniciar pela porta de entrada, descrevendo a sala com base nesse ponto de referência;
• incluir todos os elementos da sala, como carteiras, quadro, mesa do professor, janelas e outros objetos, mencionando também os materiais didáticos que estejam visíveis;
• usar expressões indicativas de posição, como “ao lado de”, “à esquerda de”, “em frente a”, “no canto”, entre outras, para indicar com precisão onde cada elemento está localizado;
• organizar as ideias de maneira lógica, para que o leitor consiga formar uma imagem clara e coerente do espaço.
Reforce que essa habilidade de ordenação espacial é essencial na produção de um relato descritivo, como em podcasts, em que os ouvintes precisam criar imagens mentais com base em uma narrativa.
[Trecho de música cantada: música popular brasileira (MPB)]
“Poesia concreta, prosa caótica Ótica futura
Samba-rap, chic-left com banana (Será que ele está no Pão de Açúcar?)
Tá ‘craude’, bro
Você e tu, lhe amo
Que qu’eu te faço, nego?
Bote ligeiro!”
Você ouviu um trecho da canção “Língua”, de Caetano Veloso. Nessa canção, Caetano fala sobre a riqueza e a diversidade da língua portuguesa falada no Brasil. Também aborda a informalidade do uso da língua e as misturas linguísticas, destacando as influências culturais e regionais e celebrando o idioma como um elemento vivo e dinâmico. Uma das marcas de informalidade presentes no trecho é a gíria “craude”, que significa que um lugar está cheio.
Quando analisamos o modo como as pessoas se comunicam em determinados lugares e situações, podemos perceber o grau de formalidade ou informalidade do ambiente. Isso porque essas diferentes formas de linguagem, a formal e a informal, variam entre si, a depender da situação, do contexto e do ambiente em que são usadas. É a diferença entre a forma como falamos em uma roda de amigos, por exemplo, e como falamos em uma reunião, com clientes ou colegas de trabalho, para tratar de assuntos da esfera profissional.
A linguagem mais formal, no caso da reunião de trabalho, exige o uso correto das normas gramaticais e um cuidado maior na escolha das palavras, para dar mais clareza ao que se quer dizer. Já a linguagem informal é mais livre, não tem a rigidez da norma-padrão. Ouça o exemplo a seguir, retirado de uma série de televisão brasileira, que busca reproduzir um bate-papo entre pessoas conhecidas da vizinhança.
[Áudio extraído de programa de TV]
“Beiçola, faz uma caridade? Dá um cafezinho aqui pro deputado?
Deixa eu ver. Epa, mas aqui só tem setenta centavos.
Beiçola num é 1 real teu café? Vai ficar agora regulando isso aê... Trinta centavos, não custa nada.
Vê aí um cafezinho.
Tá bom.
Já tem doce, né?
Já tá doce.
Só isso, Beiçola?
Você pagou setenta centavos, vai tomar setenta centavos de café.
Mas tu é muito muquirana mesmo, hein, Beiçola! Vai ficar agora regulando café [...]. O que é isso?
Agostinho, eu tive muito trabalho pra fazer esse café, entendeu? O Genilson tá de licença médica, eu tenho que fazer tudo sozinho aqui e vou cobrar o que é justo.”
Você acabou de ouvir um trecho de um episódio da série A grande família, que se passa na zona norte do Rio de Janeiro.
Na cena, o personagem Agostinho está em um bar pedindo um café. Quem o atende é o dono do bar e amigo, Beiçola. Além de estarem em um ambiente descontraído, eles têm uma relação de amizade. Por isso, usam uma linguagem bastante informal.
Por exemplo, quando Agostinho quer confirmar o valor do café, ele usa a expressão “num é” em vez de “não é”, que seria a forma gramaticalmente correta. Já Beiçola explica que está sobrecarregado, dizendo que Genilson “tá” de licença médica, e não “está” de licença. Palavras como “muquirana”, que significa uma pessoa avarenta, e “regular”, no sentido de negar algo a alguém, também são usadas na conversa e denotam proximidade entre os interlocutores.
A linguagem informal também é utilizada na escrita ao mandar uma mensagem de texto, escrever um bilhete, fazer uma postagem de rede social etc.
Já a linguagem formal é comum entre pessoas que não se conhecem tão bem e em contextos profissionais e acadêmicos, por exemplo: entrevistas de emprego, exposição de um projeto, estudo ou pesquisa científica. Ou seja, em situações em que a seriedade e a credibilidade do que está sendo comunicado é primordial.
Usamos a linguagem formal em escolas, universidades e ambientes jurídicos, médicos e corporativos. Na escrita, também podemos utilizá-la ao elaborar relatórios, realizar provas e até mesmo ao redigir um e-mail Para isso, é necessário que a construção gramatical esteja de acordo com a norma-padrão e que o vocabulário seja adequado à situação, sem o uso de gírias.
[Áudio extraído de jornal televisivo]
“Taça Libertadores da América. O Coritiba, campeão brasileiro, perde em Quito para o Deportivo, vi-
ce-campeão do Equador. Foi o segundo jogo do Coritiba no Equador. Lima fez o primeiro gol do Deportivo. O Coritiba empatou com este gol de Índio, de cabeça. Bola na área do Coritiba. Lima cabeceou. Final: Deportivo 2, Coritiba 1.”
“Foi apenas um susto. Uma ameaça de bomba no avião que levava a seleção brasileira de Belo Horizonte para Recife atrasou a viagem mais de três horas. A polícia federal isolou o Boeing 727 no aeroporto de Confins e vasculhou as bagagens, mas nada encontrou.”
Você acabou de ouvir um trecho do Jornal Nacional que foi ao ar em 1986.
Nele, foi utilizada a linguagem formal, mesmo quando o assunto tratado é futebol, algo que discutimos tão informalmente. Vale notar também que o âncora do jornal mantém um tom de voz sério e impostado.
O curioso é perceber que, com o passar do tempo, o telejornalismo modificou a sua linguagem. Se antes a linguagem formal era usada para conferir credibilidade, hoje muitos consideram que ela distancia a informação do telespectador. Atualmente, ouve-se com uma frequência cada vez maior a linguagem mais informal tanto por parte de apresentadores quanto de repórteres. Essa é uma ferramenta que está sendo utilizada para aproximar mais o público do noticiário, como no trecho que você vai ouvir a seguir, do Jornal Hoje, que foi ao ar em 2023.
[Áudio extraído de jornal televisivo]
“Olha só que bacana, tem um tira-teima pergunta e resposta sobre curiosidades em relação ao feijão, né? Olha que bacana. Surgiu no Rio de Janeiro, o feijão carioca? Qual é o mais consumido? Teste os seus conhecimentos, aponta a câmera do seu celular para esse QR Code e você vem exatamente aqui pra esse tira-teima tão interessante. Tem muita coisa bacana que fala sobre o feijão ó... De onde vem. De onde vem o feijão?”
Como podemos observar, a linguagem dos telejornais mudou ao longo dos anos, tornando-se mais informal e descontraída. O apresentador usa termos, como “olha só”, “né?” e “que bacana”, para se aproximar do telespectador. Outra variação que também tem aparecido, mas que foge à norma-padrão, é o uso do presente do indicativo no lugar do imperativo, como no exemplo “aponta a câmera do seu celular” em vez de “aponte a câmera do seu celular”. O tom da voz do apresentador também é mais leve, e, em casos especiais, até mesmo gírias são aceitas.
Agora que você sabe a diferença entre linguagem formal e linguagem informal, pode aplicar esse conhecimento no seu dia a dia. Aproveite para utilizar o nos-
so rico vocabulário da melhor forma possível.
Saber quando usar cada tipo de linguagem ajudará você a se comunicar de maneira adequada e efetiva em diferentes contextos, seja em conversas casuais, seja em situações profissionais.
[Trecho de música cantada: música popular brasileira (MPB)]
“Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódias
E uma profusão de paródias que encurtem dores
E furtem cores como camaleões.”
A música “Língua” foi composta por Caetano Veloso e está no álbum Velô, lançado em 1984, pela gravadora Polygram/Philips. O trecho da série A grande família faz parte do episódio 2 da 10ª temporada, disponível na Globoplay. O trecho do Jornal Nacional que foi ao ar em 29 de maio de 1986 está disponível no canal Memórias da TV, no YouTube. Já o trecho do Jornal Hoje, de 14 de fevereiro de 2023, está disponível no canal do G1.
Referências bibliográficas
UMA nova funcionária agita a vida de Lineu (Temporada 10, ep. 2). A Grande Família [Seriado]. Direção: Maurício Farias. Rio de Janeiro: Globoplay, 2001. Streaming (36 min). Disponível em: https://globoplay.globo. com/v/1248507/. Acesso em: 22 ago. 2024.
CÉSAR Tralli responde ao vivo no Jornal Hoje ao quiz do G1 sobre tipos de feijão. [S. l.: s. n.], 2023. 1 vídeo (2 min). Publicado pelo canal G1. Disponível em: https:// www.youtube.com/watch?v=_BSGenw0IU4. Acesso em: 21 ago. 2024.
EDIÇÃO do Jornal Nacional - 29/04/1986 (Desastre de Chernobyl). [S. l.: s. n.], 2016. 1 vídeo (24 min). Publicado pelo canal Memórias da TV. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=kvITZlnPpAM. Acesso em: 21 ago. 2024.
LÍNGUA. Intérprete: Caetano Veloso. Compositor: Caetano Veloso. In: VELÔ. Intérprete: Caetano Veloso. São Paulo: Polygram/Philips, 1984.
Há imparcialidade no texto jornalístico?
[Música de transição]
Talvez você já tenha ouvido falar que um texto jor-
nalístico precisa ser objetivo e imparcial. Ou seja, ele tem de ser o mais equilibrado possível, trazer todas as informações sobre o fato e dar voz a todos os lados envolvidos no acontecimento.
A opinião do jornalista não deve importar na hora de ele transmitir uma notícia. Por exemplo: suponha que uma pessoa foi presa preventivamente acusada de cometer um crime. A obrigação do jornalista, ao noticiar o fato, é ouvir tanto o lado da acusação quanto o da defesa. Não é seu papel fazer um prejulgamento da pessoa acusada, especular os motivos do crime ou tecer comentários sobre a gravidade dele.
[Música de transição]
Tudo isso é muito importante na teoria. Na prática, porém, será que existe de fato um texto jornalístico 100% imparcial? Essa é uma pergunta que muitos jornalistas e estudiosos da comunicação têm feito ao longo do tempo. E a resposta, de modo geral, é a seguinte: o jornalista deve sempre se esforçar para ser o mais objetivo e neutro possível, mas alcançar a neutralidade, total e absoluta, é muito difícil.
[Música de transição]
No artigo intitulado “Neutralidade e imparcialidade no jornalismo: da teoria do conhecimento à teoria ética”, o professor Josenildo Luiz Guerra chama a atenção para a incapacidade de qualquer pessoa chegar à imparcialidade e à neutralidade totais. Ele lembra que a maneira como nos relacionamos com um fato está condicionada a um conjunto de valores sociais. Em outras palavras, é quase impossível separar o relato de um fato do nosso juízo de valor sobre ele.
[Música de transição]
Afinal, todos nós temos uma visão de mundo. Ela sofre as mais variadas influências: da família, da escola, dos amigos, do meio social em que vivemos. Quando nos deparamos com um acontecimento, todas essas influências moldam a maneira como o enxergamos. Ou seja, todos nós analisamos os fatos com certo grau de subjetividade.
Vamos imaginar um repórter que irá cobrir uma guerra. Ao noticiar os fatos, ele precisa contar o que está acontecendo da forma mais objetiva e precisa possível. Porém, ele também traz consigo um conjunto de valores e opiniões pessoais: a guerra é justa ou não?
Qual dos dois lados está com a razão? Qual dos dois lados está dizendo a verdade?
[Música de transição]
Na construção de um texto isento, o jornalista pode recorrer a recursos de linguagem para escrever de maneira objetiva. Adjetivos e termos literários, por exemplo, devem ser evitados. Também é preciso ser o mais claro possível, sem usar termos ou palavras que não fazem parte do dia a dia das pessoas. Tudo para que o texto seja compreensível para o maior número possível de leitores ou ouvintes. Também é preciso tomar cuidado com determinadas palavras: novamente, se alguém está sendo investigado por um crime, ele não é um criminoso, é um suspeito.
Além disso, os jornalistas quase sempre usam o chamado lide para contar uma história. O lide abre a matéria respondendo a questões fundamentais sobre a notícia, tais como: o quê, quem, quando, onde, como e por quê.
[Música de transição]
Vamos voltar ao exemplo do noticiário de guerra. O jornalista até pode achar que um dos lados do conflito está com a razão, mas ele jamais pode omitir que um ataque deixou certo número de vítimas, por exemplo, ou que um dos lados cometeu um crime de guerra. O mesmo vale para um jornalista que cobre temas políticos: ele certamente tem suas preferências e vai votar em um candidato de sua escolha. Porém, se as pesquisas dizem que outro candidato está na frente e é o favorito para vencer a eleição, isso precisa ser noticiado.
[Música de transição]
Em resumo, a imparcialidade absoluta não existe quando qualquer um de nós, jornalista ou não, relata um acontecimento, mas sempre é possível transmitir as informações da forma mais objetiva e equilibrada possível. Esse é o dever do jornalismo.
[Música de transição]
Créditos
Os áudios inseridos neste conteúdo são da Freesound.
GUERRA, Josenildo Luiz. Neutralidade e imparcialidade no jornalismo: da teoria do conhecimento à teoria ética. In: XXII CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 1999, Rio de Janeiro. Anais [...]. São Paulo: Intercom, 1999. Localizável em: p. 1-25 do pdf. Disponível em: www.portcom.intercom.org. br/pdfs/07f68ff516fcf5aca65a97a7910910c1.PDF. Acesso em: 27 ago. 2024.
[Som de pássaros]
“A VERDADE
Gabinete de trabalho. O Juquinha chegou do colégio, entra para tomar a bênção ao pai, o Dr. Furtado, que está sentado numa poltrona, a ler jornais. Juquinha. — Bênção, papai?
Dr. Furtado. — Ora viva! (Depois de lhe dar a bênção.) Venha cá, sente-se ao pé de mim. (Juquinha senta-se.) Saiba que estou muito zangado com o senhor.
J. — Comigo?
Dr. F. — O diretor do colégio deu-me uma bonita informação a seu respeito!
J. — Esta semana só tive notas boas.
Dr. F. — Não é dos seus estudos que se trata, mas do seu comportamento.
J. — Eu não fiz nada.
Dr. F. — O diretor disse-me que o senhor não abre a boca que não pregue uma mentira! Isso é muito feio, sr. Juquinha!
J. — Mas, papai, eu...
Dr. F. — O homem que mente é o animal mais desprezível da criação! Retire-se. (Juquinha vai saindo penalizado. O pai adoça a voz.) Olha, vem cá. (Juquinha volta.) Tu sabes quem foi Epaminondas?
J. — Lá no colégio tem um menino com esse nome.
Dr. F. — Não é esse. Ainda não sabes, mas hás de lá chegar, quando estudares a história da Grécia. O Epaminondas, de quem te falo, era um general tebano, vencedor dos lacedemônios, que ficou célebre não só pelos grandes feitos que cometeu, como também porque não mentia nem brincando.
J. — Então nem brincando a gente deve mentir?
Dr. F. — Nem brincando! A mentira é degradante. Degradante e inútil: o mentiroso é sempre apanhado. […] O homem honrado — presta-me toda a atenção! — o homem honrado não mente em nenhuma circunstância da vida, ainda a mais insignificante!
(Batem palmas no corredor.) Quem será? Algum importuno!
J. — Papai, quer que eu vá ver quem é?
Dr. F. — Vai, e se for alguém que me procure, dize-lhe que não estou em casa.”
[Música de transição]
Você acabou de ouvir uma peça teatral curta, ou sainete, escrita por Artur Azevedo, jornalista, teatrólogo e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Ele nasceu em 1855, em São Luís, no Maranhão, e morreu em 1908, no Rio de Janeiro.
Considerado um dos maiores dramaturgos brasileiros, suas obras retratavam o cotidiano e os hábitos da burguesia carioca do final do século XIX e início do século XX de forma irônica, popular e crítica. Artur Azevedo escreveu mais de uma centena de peças de vários gêneros. O mambembe, A capital federal e A joia estão entre as mais lembradas até hoje.
[Música de transição]
Artur Azevedo era um contador de histórias e, como acontece com toda boa história, o jeito de interpretá-la faz a diferença. A prosódia é fundamental na interpretação do texto dramático pelos atores, para que o espectador entenda o que está sendo contado. Além de transmitir emoções, ênfases e intenções, a prosódia também garante o uso correto da acentuação tônica nas palavras quando elas são ditas.
Por exemplo, no trecho da peça que você ouviu, os atores mencionam as palavras “bênção”, “Epaminondas” e “degradante”. Preste bem atenção à forma como são pronunciadas: BÊNção, EpamiNONdas e degraDANte.
Perceba que a sílaba tônica é dita de forma mais evidente. Agora, imagine se os atores pronunciassem essas palavras de outra forma.
Se eles falassem “bênÇÃO”, “EpaminonDAS” e “deGRAdante”, estariam cometendo o erro de pronúncia da sílaba tônica, o que, no estudo da Língua Portuguesa, é chamado de silabada.
[Música de transição]
Temos exemplos mais comuns de silabada, como na palavra ruim. Essa é uma palavra oxítona, ou seja, a última sílaba deve ser pronunciada de forma tônica: “ruIM”. Mas muita gente ainda comete o erro, ou a silabada, e faz a pronúncia de forma equivocada: “RUim”.
Há ainda a palavra rubrica, muito comum nos textos de peças teatrais. Pois bem, apesar de essa palavra ser paroxítona e a forma correta da pronúncia ser “ruBRIca”, é muito comum ouvirmos a silabada “RUbrica”.
[Música de transição]
Agora, que tal procurar outras peças de teatro de Artur Azevedo para ler em voz alta e treinar a sua prosódia?
[Música de transição]
Créditos
A peça “A verdade”, de Artur Azevedo, está no livro Teatro a vapor, publicado em São Paulo pela editora Cultrix, em 1977. Todos os áudios usados neste podcast são da Freesound.
Referência bibliográfica
AZEVEDO, Artur. A verdade. In: AZEVEDO, Artur. Teatro a vapor. São Paulo: Cultrix, 1977.
• BAGNO, Marcos. Gramática pedagógica do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2011. Nessa obra, o linguista apresenta uma gramática que tem como cerne os usos da língua e propõe, com base nisso, discussões relevantes, que apoiam a reflexão e a prática docentes.
• BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Tradução: Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
Nessa obra, entre os conceitos que compõem a teoria dialógica, é apresentado o conceito de gênero do discurso.
• BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução: Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. 11. ed. São Paulo: Hucitec, 2004.
A obra desenvolve o conceito de signo ideológico, capital na formulação da teoria dialógica.
• BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato responsável. Tradução: Valdemir Miotello e Carlos Alberto Faraco. São Carlos: João e Pedro Editores, 2010.
A obra apresenta as bases filosóficas da teoria dialógica, com destaque para a arquitetônica bakhtiniana.
• BARBOSA, Márcio; RIBEIRO, Esmeralda (org.). Cadernos Negros. São Paulo: Quilombhoje, 1978-.
A série Cadernos Negros publica anualmente, desde 1978, contos e poemas de autores brasileiros negros em forma de antologia: de poemas, nos números ímpares, e de contos, nos números pares. Assim, busca abrir espaço para novos escritores, além de conquistar novos leitores.
• BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Tradução: Carlos Alberto de Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. O autor trata da questão da identidade no contexto do multiculturalismo, com base no pressuposto de sua teoria do mundo e da modernidade líquidos.
• BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 39. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019. Gramática que traz um panorama da história da língua e trata de fonética e fonologia, estrutura de palavras, morfologia, sintaxe, noções de versificação e de estilística e que pode apoiar os estudos da norma-padrão pelos estudantes.
• BENVENISTE, Émile. Problemas de linguística geral I. Tradução: Maria da Glória Novak e Maria Luisa Neri. Campinas: Pontes, 2005.
• BENVENISTE, Émile. Problemas de linguística geral II. Tradução: Eduardo Guimarães et al. Campinas: Pontes, 2006.
Nessas obras, o teórico estruturalista Benveniste constrói a teoria geral da enunciação e abre caminho para a plena compreensão de possibilidades da análise discursiva.
• BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 2015.
O emérito professor Alfredo Bosi traça um painel ao mesmo tempo denso e sintético da literatura brasileira desde o período colonial até a contemporaneidade. Referência fundamental para estudantes e professores.
• BOTTON, Alain de. Notícias: manual do usuário. Tradução: Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2015.
Nessa obra, o filósofo Alain de Botton apresenta uma reflexão sobre o impacto social do campo jornalístico e midiático discutindo os efeitos do sensacionalismo, das celebridades e das punições e o quanto podemos criar estratégias para minimizar a influência negativa e pouco ética dessas estratégias.
• BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2005.
• BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: outros conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2010.
Organizados pela professora Beth Brait, ambos os livros apresentam conceitos estruturantes da
teoria de Bakhtin e o Círculo em uma linguagem acessível, que pode amparar a leitura das obras originais do teórico russo.
• BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília, DF: MEC, 2018. Disponível em: https://www.gov.br/ mec/pt-br/escola-em-tempo-integral/BNCC_EI_ EF_110518_versaofinal.pdf. Acesso em: 2 out. 2024.
Documento que apresenta as bases do desenvolvimento do projeto pedagógico escolar em todos os segmentos da Educação Básica.
BRASIL. Senado Federal. LDB: lei de diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF: Senado Federal: Coordenação de Edições Técnicas, 2017. Disponível em: http://www2.senado.leg.br/bdsf/ handle/id/529732. Acesso em: 2 out. 2024. Documento com o texto da LDB, de 1996, atualizado em 2017.
CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 9. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 2000.
Nessa obra fundamental e de referência para estudiosos, o autor analisa a produção literária brasileira, do Arcadismo até o Romantismo.
CRARY, Jonathan. Terra arrasada: além da era digital, rumo a um mundo pós-capitalista. Tradução: Joaquim Toledo Jr. São Paulo: Ubu, 2023. O autor faz uma crítica contundente à sociedade contemporânea, abordando os impactos negativos do capitalismo digital e a deterioração das relações humanas e do meio ambiente.
• CUNHA, Celso; CINTRA, Luís Filipe Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro: Lexikon, 2016. Gramática descritivo-normativa que pode apoiar os estudantes nos estudos da norma-padrão. Ela traz um panorama da história da língua e trata de fonética e fonologia, estrutura de palavras, morfologia, sintaxe, noções de versificação e de figuras de linguagem.
• DAYRELL, Juarez. A escola “faz” as juventudes?: reflexões em torno da socialização juvenil. Educação e Sociedade, Campinas, v. 28, n. 100, p.1105-1128, out. 2007. Disponível em: www. scielo.br/pdf/es/v28n100/a2228100.pdf. Acesso em: 2 out. 2024.
O texto discute as relações entre juventude e escola, indagando sobre o lugar que esta ocupa na socialização da juventude contemporânea, em especial dos jovens das camadas populares.
• DAYRELL, Juarez; JESUS, Rodrigo Ednilson de. Juventude, Ensino Médio e os processos de exclusão escolar. Educação e Sociedade, Campinas, v.37, n. 135, p. 407-423, abr./jun. 2016. Disponível em: www.scielo.br/j/es/a/vDyjXnzDW z5VsFKFzVytpMp/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 24 set. 2024.
O artigo reflete sobre os processos de exclusão escolar vivenciados por jovens adolescentes no Brasil.
• DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Tradução: Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
A expressão “sociedade do espetáculo” refere-se ao poder das imagens na sociedade contemporânea. O autor associa as relações sociais de produção e consumo: o acúmulo de imagens relaciona-se ao acúmulo de capital e tem no marketing ferramenta fundamental para a mercantilização de produtos, de ideias, de cultura.
• DUNKER, Christian Reinvenção da intimidade: políticas do sofrimento cotidiano. São Paulo: Ubu, 2017.
Apoiado em atitudes contemporâneas cotidianas, como disposição a ficar permanentemente conectado e dificuldade para construir situações de real solidão ou intimidade, o autor analisa o sofrimento que, embora vivido no sujeito, está submetido às escolhas de cada um na partilha de afetos.
• FARACO, Carlos Alberto. Linguagem & diálogo: as ideias linguísticas do círculo de Bakhtin. São Paulo: Parábola, 2009.
Nessas obras, didaticamente organizadas, estudiosos de Bakhtin e o Círculo comentam e explicam os principais conceitos que estruturam a teoria dialógica.
• FIORIN, José Luiz. As astúcias da enunciação: as categorias de pessoa, espaço e tempo. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2016.
Essa obra aborda alguns dos aspectos essenciais da enunciação, como as categorias de tempo, espaço e pessoa.
• HALL, Stuart. A identidade na cultura da pós-modernidade. Tradução: Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 12. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2019.
Em um mundo considerado líquido, em que “tudo que é sólido” pode se desmanchar no ar, a identidade não tem mais nada de imutável. Esse livro discute três conceitos de identidade: o da sociedade iluminista, o da sociedade moderna e o da sociedade pós-moderna.
• HAN, Byung-Chul. No enxame: perspectivas do digital. Tradução: Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2018.
O filósofo nos apresenta como o digital é responsável por transformar e determinar comportamentos, percepções, sensações e pensamentos. A espetacularização e a massificação de opiniões criam um comportamento de enxame nas redes sociais, que é responsável pela construção de identidades e superficialidades de conhecimento e opiniões.
• HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Tradução: Enio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2015. Han define a sociedade do cansaço como a do sujeito do desempenho e da produção: explorado e explorador ao mesmo tempo, agressor e vítima de si mesmo, lança-se a um trabalho que o individualiza e isola.
• KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1990. Essa obra se detém em explicar a construção dos processos de coesão textual, com base em um referencial da Linguística Estruturalista.
• KOCH, Ingedore Villaça. Argumentação e linguagem. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
A obra explora as possibilidades de construção de estratégias e de procedimentos argumentativos.
• KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1990. Essa obra explica a construção dos processos de coerência textual, com base em um referencial da Linguística Estruturalista.
• MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução: Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. 11. ed. São Paulo: Cortez: Unesco, 2006. Nessa obra, o filósofo e sociólogo francês opina sobre o que se deveria aprender para enfrentar os desafios da educação do século XXI. Ao falar sobre a necessidade de aprender a enfrentar as incertezas, a ética do gênero humano, a identidade terrena, entre outros tópicos, Morin alerta para as grandes questões que podem ajudar a refletir sobre o mundo e a construir novos posicionamentos.
• NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: Ed. Unesp, 2000. Essa gramática observa as regularidades da língua em uso. Para isso, adota uma organização que propicia um tratamento cujo principal objetivo é observar a língua em funcionamento, as normas de uso e suas possibilidades e restrições.
• SAFATLE, Vladimir. Circuito dos afetos: corpos políticos, desamparo, fim do indivíduo. 2. ed. rev. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.
O filósofo e psicanalista associa a transformação social e política à mudança do que ele chama circuito de afetos, os quais produzem corpos políticos, individuais e coletivos.
• TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino da gramática no 1o e 2o graus. São Paulo: Cortez, 1997.
Essa obra apresenta uma proposta de ensino de gramática que parte do questionamento da necessidade desse conhecimento na escola e se preocupa em articular esse conhecimento da língua com a produção de texto.