Filosofia autentica

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constelação (Cão). O termo cão é corretamente o termo médio do primeiro silogismo, mas, no segundo silogismo, rigorosamente falando, não há termo médio, pois, se Cão significa outra coisa do que cão, então são dois termos diferentes e não há articulação nenhuma entre as duas premissas. 2. O termo médio não pode aparecer na conclusão. Se o termo médio aparecer na conclusão, não haverá argumento dedutivo, mas apenas repetição do que já foi dito nas premissas. Exemplos: Silogismo válido

Todo ser humano é livre. Eu sou um ser humano. Logo, eu sou livre.

Silogismo inválido

O termo médio desse silogismo é ser humano. Ele apenas articula as premissas e permite passar à conclusão. Silogismo inválido

Observe que o termo sul-americano está tomado em sentido universal na primeira premissa (ele se refere a todo o conjunto dos sul-americanos e inclui esse conjunto no dos seres humanos), mas é tomado em sentido particular na segunda premissa (porque, nessa premissa, ele se refere apenas aos brasileiros). O termo ser humano é usado em sentido particular na primeira premissa (porque se refere apenas aos sul-americanos, e não a todos os seres humanos) e particular na conclusão (porque se refere apenas aos brasileiros). Quanto ao termo brasileiro, ele é universal na segunda premissa e universal na conclusão. A regra 3 é, portanto, respeitada. Veja o próximo exemplo:

Todo ser humano é livre. Eu sou um ser humano. Logo, eu sou um ser humano livre.

O termo médio, aqui, aparece na conclusão. Isso não quer dizer que a conclusão seja “errada”, “falsa”. Mas não há um procedimento dedutivo. Então, não se pode dizer que a conclusão se fundamenta logicamente nas premissas. Só há uma somatória de informações e nenhum procedimento de fato silogístico. 3. Os termos da conclusão não podem ter extensão maior do que têm nas premissas. Se os termos da conclusão tiverem extensão maior, cai-se em um erro grave, pois as premissas baseiamse em um número particular de elementos e a conclusão vai além do que esses elementos permitem. Para ser válido, um raciocínio deve respeitar o sentido universal ou particular dos termos nas premissas. Se eles forem universais nas premissas, terão de ser universais ou particulares na conclusão. Um termo particular nas premissas não poderá nunca ser universal na conclusão. Exemplos:

Observe que os termos da conclusão têm extensão diferente do que têm na premissa. Não há problema com o termo brasileiro, pois ele é universal na primeira premissa e particular na conclusão. Mas o termo ser humano é universal na conclusão e particular na segunda premissa. Isso mostra a fragilidade do raciocínio que toma uma amostra de um conjunto (os seres humanos sul-americanos – segunda premissa) e a amplia para todo o conjunto (todo ser humano – conclusão). Esse é um deslize muito comum em nossa maneira cotidiana de pensar e falar. Por isso, é fonte de muitas confusões. Uma delas chama-se generalização apressada ou generalização indevida ( p. 250). 4. O termo médio deve ser tomado ao menos uma vez em sentido universal. Exemplos: Silogismo válido

Todo brasileiro é sul-americano. Logo, todo brasileiro é ser humano.

Todo animal é ser vivo. Todo ser vivo se alimenta. Então, todo animal se alimenta.

Note que o termo médio é ser vivo. Na primeira premissa ele é tomado em sentido particular (porque se refere apenas aos seres vivos que são animais, e não a todos os seres vivos), mas na segunda premissa ele aparece em sentido universal (todo ser vivo). Pelo seu uso na segunda premissa, ele articula as ideias das duas premissas e garante logicamente a conclusão. Observe agora um exemplo inválido:

Todo sul-americano é ser humano. Silogismo válido

Todo brasileiro é sul-americano. Todo sul-americano é ser humano. Logo, todo ser humano é brasileiro.

Todo animal é ser vivo. Silogismo inválido

Filosofias e modos de convencer

Tudo que se movimenta é ser vivo. Então, todo animal se movimenta. Capítulo 4

Unidade 1

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