Reproduç ão/Musée du Louvre, paris, franç a
movimento ou uma constante transformação; e tudo era concebido como manifestação da phýsis. Aos poucos, os filósofos retomaram, complementaram ou mesmo modificaram as filosofias dos primeiros pensadores. Por exemplo, Anaxágoras de Clazômenas (500-428 a.C.), Sócrates (séc. IV a.C.), Platão (428348 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.) acentuaram o aspecto não material do movimento. Platão afirmará que o mundo é organizado por Ideias ou Essências ( p. 150), livres do movimento e causadoras dele. Aristóteles adota uma linha parecida, porém com diferenças visíveis ( p. 164). Além da pesquisa sobre a phýsis e a arché, Sócrates, Platão e Aristóteles, em debate com os sofistas ( p. 83), introduziram outros temas na reflexão filosófica, principalmente a prática ética e a atividade do conhecimento. Alguns pensadores antigos farão a Filosofia nascente “rir” de si mesma, denunciando as ciladas que a razão armava para si em sua tentativa de explicar tudo. É o caso dos cínicos, como Diógenes (404-323 a.C.), da cidade de Sinope, também conhecido como “Diógenes, o Cão”, ou ainda Pirro (360-270 a.C.), da cidade de Élis, inspirador do ceticismo ( p. 340). Com o desenrolar da história da Grécia e o período helenístico (marcado pelo império de Alexandre), surgiram filosofias consideradas cosmopolitas, ou seja, adaptadas ao mundo globalizado da época (para além das fronteiras gregas) e atentas à nova experiência de um mundo maior. Os exemplos mais conhecidos de filosofias helenísticas são o estoicismo ( p. 340) e o epicurismo( p. 92). Os grupos de Platão e Aristóteles, conhecidos respectivamente como Academia e Liceu, foram os mais frequentados na Antiguidade. A Academia, porém, a partir do século III a.C., adotou, com Arcesilau (316241 a.C.) e Carnéades (214-129 a.C.), uma orientação cética, segundo o estilo de Pirro de Élis. Quanto ao Liceu, seus continuadores comentarão a obra do mestre, embora nenhum deles tenha atingido a sua estatura. Um dos mais conhecidos continuadores de Aristóteles talvez seja Teofrasto (371-288 a.C.). O Liceu foi fechado no século III da Era Cristã; a Academia, no século V. Ainda no contexto do mundo antigo surgiram duas formas filosóficas importantíssimas. Trata-se do trabalho de dois gigantes do pensamento: Fílon (15 a.C.-50 d.C.), da cidade de Alexandria, e Plotino (205-270 d.C.), da cidade de Licópolis, no Egito, mas que desenvolveu sua escola filosófica em Roma. Fílon de Alexandria pertencia ao ambiente
Atena, deusa da sabedoria, séc. II a.C. – II d.C., cópia de escultura grega do séc. IV a.C.
cosmopolita do mundo helenista e foi extremamente original. Para indicar um elemento central da novidade de seu trabalho, podemos mencionar sua continuidade em relação às pesquisas sobre a phýsis ao mesmo tempo que introduziu na Filosofia a possibilidade de pensar a existência de um criador do Universo, que o teria produzido por uma decisão livre. Foi o livro bíblico do Gênesis que deu essa inspiração a Fílon, pois ele era judeu. Vivendo em Alexandria e tendo uma forte formação intelectual, ele conhecia Filosofia, especialmente o pensamento platônico. Dessa perspectiva, ele foi o primeiro pensador a relacionar dados da fé bíblica com a pesquisa filosófica. Outro resultado do trabalho de Fílon foi a concepção do ser divino como um ser transcendente ( p. 80 e 339). Se Deus tem o poder de criar tudo o que quer, então ele é diferente do mundo; ele ultrapassa o mundo em todos os sentidos. Essa é uma ideia inteiramente nova no pensamento grego. Platão já havia apontado para o Bem como uma realidade que dá o sentido de tudo e, portanto, ultrapassa -o (transcendência); porém, não o havia entendido como criador, tal como fez Fílon de Alexandria. Ideias semelhantes às de Fílon podem ser encontradas em Plotino, embora ele não fosse judeu nem cristão. Homem de grande cultura, conhecia o trabalho dos primeiros filósofos, mas também o de Platão, de Aristóteles, dos estoicos, dos epicuristas e dos céticos. Também conheceu as sabedorias dos orientais e dos indianos, tendo mesmo visitado a Pérsia. Um de A FILOSOFIA E SUA HISTÓRIA
Unidade 3
377