As Migrações e a Fé_ Migrações internas no Brasil - Encontros e Reencontros - 7º ano - Crescer

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Contamos com você!

CRESCER COM ALEGRIA E FÉ

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Registre suas ideias, sentimentos, vivências e expectativas, tudo aquilo que achar interessante para promover encontros e reencontros.

Este livro é parte integrante da nova edição de Crescer com Alegria e Fé: Anos Finais – Editora FTD. Venda e reprodução proibidas.

Neste livro, que acompanha o volume 7 da coleção Crescer com Alegria e Fé, convidamos você a encontrar e a reencontrar a história da migração, das muitas pessoas que vivem essa experiência e levam consigo saudades, conflitos, necessidades, mas também religiosidade, esperança, criatividade...

Ednilce Duran Glair Arruda

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Volume 6: Migração do povo brasileiro Volume 7: Migração interna no Brasil Volume 8: Migração no mundo Volume 9: Refugiados

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Ednilce Duran, Glair Arruda e

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(Complete com o seu nome.)

São Paulo – 2019


Sumário

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Apresentação

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1 Migração e mudança de vida

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2 Literatura brasileira e migração

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3 Fronteiras e condições de vida

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4 Migrantes na construção da capital

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5 De mãos dadas...

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6 As festas religiosas e as trocas culturais

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Festa Junina

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Folia de Reis

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Festa do Divino

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Círio de Nazaré

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7 “Pau de arara no Brás”: Eronides Ferreira da Silva

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8 Uma entrevista especial

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Após tantos encontros e reencontros...

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Apresentação E quem vem de um outro sonho feliz de cidade aprende depressa a chamar-te de realidade  Sampa, de Caetano Veloso. CD Muito. Philips, 1978.

E é tão bonito quando a gente entende Que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá.  Caminho do coração, de Gonzaguinha. CD Caminhos do coração. EMI Odeon, 1982.

Somos todos migrantes! Neste exato momento, milhões de pessoas se deslocam ao redor do mundo em busca de novos lugares para viver, à procura de melhores oportunidades de trabalho e condições de vida. Elas estão indo também ao encontro de outras pessoas. Neste livro, convidamos você a participar desta cultura de encontros e reencontros com os migrantes, que, além de bagagens nas mãos, carregam na mente e no coração fé, sonhos, necessidades, conflitos e esperança. E, ao percorrer o seu caminho, você poderá descobrir mais sobre si mesmo e aonde pretende chegar. Você também será o autor deste livro e poderá registrar aqui suas ideias, emoções, histórias, dúvidas, conclusões... porque, afinal, somos todos migrantes! Boa jornada! As autoras 3

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A busca por uma vida melhor, mais segura, mais digna, mais pacífica, acaba por ser a razão de muitas pessoas sentirem a necessidade de se mudar do local onde residem. Quando a mudança acontece, é preciso se adaptar às condições e aos habitantes do lugar para onde se está indo. Haverá novidade na casa, na vizinhança, na escola, no trabalho, nos costumes, no clima etc., mas o que se observa é que essas mudanças costumam ser carregaBarracas com comidas típicas na 22a Festa do Imigrante, Memorial do Imigrante, das de esperança e muita fé. São Paulo (SP), 2017.

Nesse contexto, a religião é um elemento que, por vezes, determina o modo como os migrantes vão vivenciar essa passagem, pois, além de dar forças para enfrentar a nova situação, promove o acolhimento dessas pessoas que estão em um lugar diferente e ainda não conhecem totalmente a cultura local. Encontrar uma igreja, um templo, um local de culto e celebrações, onde pessoas da mesma fé dão suporte umas às outras, pode tornar mais fácil a adaptação dos migrantes a essa nova vida. No Brasil, um país tão grande e tão diverso, várias tradições religiosas são encontradas nas inúmeras localidades de seu território, fruto de movimentos migratórios.

Você já se sentiu bem acolhido? Em qual ocasião? 4

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Daniel Cymbalista/Pulsar Imagens

1  Migração e mudança de vida


2  Literatura brasileira e migração O pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999) é considerado um dos mais importantes escritores brasileiros. É autor de Morte e vida severina, livro de poemas escrito em meados da década de 1950 que conta a história de um migrante que foge da seca no Nordeste. Conheça alguns versos do início dessa obra, nos quais Severino se apresenta ao leitor. Mas, para que me conheçam melhor Vossas Senhorias e melhor possam seguir a história de minha vida, passo a ser o Severino que em vossa presença emigra.

MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2007.

Por meio da trajetória de Severino do sertão ao litoral de Pernambuco, Morte e vida severina retrata a vida de milhares de brasileiros que tiveram de migrar, abandonando sua terra de origem, devastada pela seca, em busca de melhores oportunidades. Os brasileiros que fogem da seca são conhecidos como retirantes, pois se retiram do sertão e partem para localidades consideradas mais promissoras, onde não falte água.

Cassandra Cury/Shutterstock.com

APRENDENDO MAIS

— O meu nome é Severino, como não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria; como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias. [...]

Terra seca no estado de Pernambuco.

1. Como você compreende os versos abaixo? como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias.

2. Descreva o cenário que justificou o processo migratório contado no poema. 5


nesquik007/Shutterstock.com

3  Fronteiras e condições de vida Quando falamos de migração, devemos considerar o conceito de fronteira, um lugar ou uma situação que, ao mesmo tempo, facilita e dificulta as relações das pessoas com o mundo à sua volta, e quando o que está em jogo é a sobrevivência, fronteiras são ultrapassadas. A fronteira, além de uma delimitação geográfica, pode ser também cultural e religiosa. Quando as pessoas migram, a fronteira geográfica é superada; entretanto, elas trazem consigo a cultura ou a religião do local de origem e, no lugar aonde chegam, produzem um novo modo de vida, relacionando os elementos que levaram consigo com os elementos já Carros de migrantes na fila para triagem de bagagem na fronteira da Espanha. Porto de Barcelona, 2019. existentes em seu local de destino. E se você precisasse migrar com sua família em busca de sobrevivência? a. Descreva como se despediria de seus familiares e amigos. b. Que sentimentos esse exercício de despedida trouxe a você? Entre os muitos motivos que fazem as pessoas desejar ou precisar migrar, estão os conflitos políticos, perseguições, pobreza e seca. Na verdade, elas estão sempre em busca de uma vida mais digna e, por que não dizer, em busca de sobrevivência. No Brasil não foi diferente. 6


João Prudente/Pulsar Imagens

O êxodo rural foi um movimento migratório muito presente em nosso país a partir de meados do século XX e hoje acontece com bem menos intensidade. As pessoas se deslocavam das áreas rurais em direção às cidades à procura de empregos, acesso a educação, serviços médicos, saneamento básico. Era uma tentativa de superarem situações de injustiça social que vivenciavam em seu local de origem. Por vezes, quando esses indivíduos chegavam a seu destino, também encontravam dificuldades, pois as áreas urbanas começaram a reunir grande concentração de migrantes que, além dos desafios da adaptação, comumente enfrentavam trabalhos que não eram bem remunerados, condições ruins de moradia, atendimento de saúde precário, falta de acesso a escolas e lazer etc. E essa realidade perdura até os dias de hoje. As condições de vida de muitos migrantes ainda são bastante precárias nos grandes centros urbanos.

Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas no Rio de Janeiro, 2017.

Imagine um lugar em que as pessoas recebam bem os migrantes, oferecendo boas oportunidades de trabalho, educação, saúde e lazer. Faça um desenho ou uma colagem para representá-lo.

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4  Migrantes na construção

da capital

O urbanista Lúcio Costa e o arquiteto Oscar Niemeyer foram os responsáveis pela construção de Brasília. Costa elaborou o plano piloto na forma de um avião, reservando grandes espaços de área verde. Niemeyer elaborou os principais edifícios governamentais, como os Palácios da Alvorada e do Planalto, o Congresso Nacional, a Catedral de Brasília etc.

LULUDI/AGÊNCIA ESTADO/AE

APRENDENDO MAIS

Outro movimento migratório que marcou o século XX foi a construção de Brasília, que, além de planejada para abrigar a capital do país, fazia parte de um projeto do governo federal para povoar o Centro-Oeste brasileiro. Brasília começou a ser construída em 1956 e foi inaugurada em 1960 pelo presidente Juscelino Kubitschek. A primeira leva de trabalhadores, vindos principalmente do Norte e Nordeste, contava com 256 migrantes, segundo o censo daquele ano. Em 2018, Brasília tinha quase 3 milhões de habitantes.

Oscar Niemeyer (1907-2012).

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Luiz Carlos Barreto/EM/D.A Press

O encontro entre os migrantes (trabalhadores, políticos, funcionários públicos etc.) e os povos indígenas que já habitavam a região proporcionou uma rica troca de elementos culturais e de experiências.

Congresso Nacional nos dias atuais.

Operários trabalhando na construção do Congresso Nacional.

Brasília é conhecida como a capital mística. Faça uma pesquisa na internet sobre a diversidade de templos religiosos lá existentes e registre o que você descobrir. 8


5  De mãos dadas...

Smit/Shutterstock.com

O processo de migração é decisivo na vida de uma pessoa. Independentemente dos motivos que levam os indivíduos a mudar suas vidas, precisamos considerar que esses sujeitos migrantes carregam consigo também suas práticas religiosas. Nesse sentido, migração e religião andam de mãos dadas.

A religião se torna uma bússola, um mapa para a compreensão dos misteriosos acontecimentos biográficos.

A fé pode auxiliar essas pessoas a se sentir mais seguras em seu novo local de morada. E, quando encontram seu lugar dentro do espaço religioso, começam a estabelecer outros laços de fraternidade. Além de proporcionar segurança, a religião é essencial para os migrantes na busca de sua dignidade humana, especialmente se, em alguns momentos, forem vítimas de preconceitos e atitudes intolerantes no local de chegada. A religião pode ser considerada um porto seguro por essas pessoas que estão em movimento.

Jaren Jai Wicklund/Shutterstock.com

MARINUCCI, R. A religiosidade do migrante como fonte de proteção, sentido, dignidade e diálogo. In: Refúgio, migrações e cidadania. Agência da ONU para Refugiados, dez. 2013.

1. Na sua opinião, por que a religião pode servir como um porto seguro para as pessoas que migram para regiões diferentes daquelas de onde saíram? • Observe a imagem abaixo e escreva uma legenda para ela.

itsmejust/Shutterstock

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6 As festas religiosas e as trocas

culturais Muitas festas religiosas que fazem parte da nossa cultura têm influências de imigrantes estrangeiros e elementos de várias regiões do Brasil. Por meio das festas religiosas, esses imigrantes podem fazer um intervalo no dia a dia para relembrar o passado e celebrar o presente. Vamos conhecer algumas delas.

Festa Junina

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Kleber Cordeiro/Shutte

/Shutterstock.com

rstock.com

Você sabia que as festas juninas homenageiam três santos católicos? Essas festas acontecem no mês de junho e celebram Santo Antônio no dia 13, São João no dia 24 e São Pedro no dia 29. Essa celebração foi trazida para o nosso país pelos imigrantes europeus ainda na época colonial. Com o passar do tempo, porém, absorveu elementos da cultura indígena, com a introdução das comidas típicas preparadas à base de milho: pipoca, pamonha, curau etc., e da cultura chinesa, com o estouro dos fogos de artifício. Convém lembrar que a disseminação das festas juninas por todo o Brasil se deve, de modo particular, às migrações internas, principalmente do campo para a cidade. Essa influência cultural e religiosa está presente nas cidades grandes até hoje.

Festa Comidas típicas de

Junina.

Festa Junina em Ouro Preto (M G).

Como são as festas juninas na região onde você mora? Registre aqui.

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Outra festa religiosa muito presente em nossos dias é a Folia de Reis, que celebra a visita dos sábios vindos do Oriente ao Menino Jesus. A versão original dessa festa acontecia na Europa e chegou ao Brasil com a colonização. Com o passar do tempo, acabou incorporando elementos das culturas que estavam presentes aqui, como as danças indígenas e os batuques das tradições africanas.

Lucas Lacaz Ruiz/Pulsar Imagens

Folia de Reis

Folia de Reis em São José dos Campos (SP), 2019.

Outro elemento característico da Folia de Reis é a presença de músicas, tocadas com instrumentos musicais de diferentes origens, como é o caso do acordeão, da viola, do violino, de violões e tambores. Atualmente é considerada também parte do folclore brasileiro. As celebrações ocorrem entre o Natal e o Dia de Reis, em 6 de janeiro, e são organizadas por cristãos católicos devotos dos Santos Reis. Com as migrações para o interior do país, as Folias de Reis acabaram disseminadas do Sudeste para as demais regiões do Brasil. Essa tradição católica é inspirada no momento em que os Três Reis encontraram o Menino Jesus. Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dele, o adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra. Mateus 2,11

1. Que tal pesquisar na internet algumas músicas de Folia de Reis e registrar os versos da que você mais gostar? 2. Conte uma história de um presente especial que você recebeu. 11


Festa do Divino

Cesar Diniz/Pulsar Imagens

Granadeiro/Shutterstock.com

A Festa do Divino Espírito Santo celebra a terceira pessoa da Trindade, dentro da fé cristã. Criada em Portugal pela rainha Isabel no século XIV e trazida para o Brasil pelos colonizadores portugueses, essa festa celebra o Pentecostes, a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos. No contato com outras culturas migrantes, a celebração absorveu alguns elementos, como a musicalidade africana, e acabou se transformando em uma festa tipicamente popular. Hoje em dia é celebrada em diversos lugares no Brasil, como Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Maranhão, com variações regionais, em cerimônias como as procissões, que levam muitas pessoas às ruas de suas cidades, e em outras manifestações populares, como as cavalhadas, os moçambiques e as congadas.

Congada de São Benedito de Taubaté, durante Festa do Divino Espírito Santo, em São Luiz do Paraitinga (SP), 2015.

Marco Antonio Sá/Pulsar Imagens

Altar do Divino Espírito Santo, em Açores, Portugal.

Observe a foto ao lado e leia a legenda. a. Descreva a cena mostrada na imagem. Participantes da cavalhada no momento em que se encena a luta entre mouros e cristãos em Poconé (MT), 2016.

b. Pesquise e explique como é a Festa do Divino na região onde você mora. 12


Círio de Nazaré

Tarso Sarraf/Folhapress

Zé Barretta/Getty Ima

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Esta festa celebra a fé em Nossa Senhora de Nazaré e tem sua origem na devoção dos portugueses à santa. Foram esses imigrantes que trouxeram a primeira imagem dessa santa para o Brasil. A sua celebração mais conhecida e importante acontece no mês de outubro, no estado do Pará, e dura cerca de 15 dias.

Imagem de Nossa Senhora de Nazaré durante a prociss ão do Círio de Na zaré em Belém (PA), 20 13.

ior zaré, considerado o ma Procissão do Círio de Na 18. 20 ), (PA lém Be ndo, em evento católico do mu

Devido à migração de várias pessoas da região Norte para outras regiões do Brasil, o Círio de Nazaré também passou a ser celebrado em outros locais do país, mostrando, mais uma vez, quanto o aspecto religioso compõe o cenário das experiências de vida dos migrantes. O Círio de Nazaré atrai milhões de fiéis e é considerado o maior evento religioso do mundo. Pesquise os elementos presentes nessa festa e anote o que você descobrir.

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7  “Pau de arara no Brás”: Eronides Ferreira da Silva é pernambucano e nasceu na década de 1920. Na juventude, mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou muito e onde viveu com sua família. Leia parte da entrevista que ele concedeu ao Museu da Pessoa para conhecer melhor esse migrante.

Acervo / Museu da Pessoa

Eronides Ferreira da Silva

P/1 — Sr. Eronides, seja bem-vindo ao Museu da Pessoa. Por favor, o seu nome completo. R — Eronides Ferreira da Silva. P/1 — O local e a data de nascimento do senhor. R — 14 de setembro de [19]23. [...] P/1 — [...] E onde que o senhor nasceu? R — Garanhuns [Pernambuco]. [...] P/1 — É? E seu pai fazia o quê, senhor Eronides? R — Fazia... trabalhava na enxada, no mato. Ele, nós, eu, os outros irmãos. A gente não tinha outro meio de trabalhar. Lugar pobre não tem nada. Mas era gostoso, a gente vivia uma vidinha de pobre, mas era uma vida mais ou menos. P/1 — E sua mãe, fazia o quê? R — Minha mãe cuidava só da casa. Aí, eu cismei de vir pra cá... Moleque. ‘É, você não vai porque São Paulo é isso, São Paulo é aquilo. Não sei o quê, não sei...’ ‘Eu vou’. [...] Aí eu peguei um pau de arara, o dono do pau de arara ajustou se qualquer um que arrumasse 10 passageiros vinha de graça, não pagava. Bom, então, vamos lá. Eu arrumei um pau de arara, o sujeito arrumou os 10 passageiros pra ele. Veio de graça. O pau de arara era o mais quebrado da rua, da pista, do campo... Só vivia quebrado. E eles... Quando eu cheguei aqui no Brás com 27 dias de viagem, a maior canseira, todo sujo, tudo... Aí baixamos no Largo da Concórdia, que era o ponto certo era lá, dos paus de arara. [...] Aí, fui caçar emprego. Achei do Largo da Concórdia até a Penha, já arrumei cinco empregos. Mas com medo do serviço, não sabia como é que era. [...] P/1 — O que o senhor fazia? R — Carpintaria. Aí fui trabalhar no Parque Dom Pedro, trabalhei também lá. Tudo na carpintaria. Porque naquele tempo eu já sabia o que estava fazendo. [...] 14

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P/1 — O senhor nunca mais voltou pra Pernambuco depois que veio pra cá? R — Já. P/1 — Voltou? R — Tá com uns quatro meses que eu tive lá. P/1 — O senhor veio sozinho e sua família nunca veio? R — Não. Não, veio os irmãos tudo. P/1 — Seus irmãos vieram? R — Vieram tudo, não ficou ninguém. Depois que eu vim, mandei buscar o velho, meu pai. Faleceu minha mãe lá e eu mandei buscar o pai. [...]. E nós ficamos nessa vida, tantos anos, 60 e tantos anos na luta. Só aqui em São Paulo tem 64, 68, que eu tô aqui em São Paulo. Eu vim moleque. [...] Aí depois fui pra lá, foi o primeiro passeio que eu fiz, com 29 anos estava, que eu estava aqui. Quando eu vim gastei 27 dias, quando eu fui gastei três horas. Diferença. Mas cheguei lá, quase tudo estranho. Hoje, lá mesmo, não conheço ninguém. Eu vou, mas meus conhecidos, meus amigos que tinha lá, não tem mais nada, acabou. O sítio que tinha, virou tudo capim, só tem grade. Então a gente estranha porque não é que nem era. Nós tínhamos sítio, tinha de tudo lá. Agora eu fui... Agora há três meses atrás fui onde eu nasci, na casa. Não tem mais nada, só capim. É só o gado que vale lá, só. Quem tinha seu sítio, venderam tudo e... Plantando capim. Pra tudo tem um tempo, tempo pra uma coisa, tempo pra outra. E ficou nessa agonia. E a gente tem saudade, porque é família, nasceu lá, se criou lá. Eu não posso falar nada, de jeito nenhum, porque eu nasci e me criei [...], sem saber ler, saber escrever, mas tinha meus amigos, tinha tudo. Tinha de tudo lá. Vim pra cá numa ilusão. Não era... O velho meu pai não queria que a gente viesse de jeito nenhum. Mas eu tinha saudade... Vim assim mesmo, vim nesse pau de arara, fiquei 27 dias na estrada, mas cheguei. E tô até hoje lutando. [...] Modo de que eu lutei e não fui rico, então... Tem ao menos os netos pra adorar a gente, graças a Deus. Os netos, o genro, minha filha me adora. E eu tô aí...  PAU de arara no Brás — Entrevista com Eronides Ferreira da Silva. Museu da Pessoa. Disponível em: <http://ftd.li/xbrs2q>. Acesso em: 31 maio 2019.

Comente alguns aspectos da vida do Sr. Eronides relacionados aos temas abordados no livro. 15


8  Uma entrevista especial Todo mundo tem história para contar. E o ato de falar de si expressa muita generosidade. Nesse sentido, os ouvintes são pessoas privilegiadas e devem ser respeitosos com quem partilha suas vivências. Realize uma entrevista com alguém que você conheça que tenha migrado de sua cidade de origem para o local onde você mora. Registre abaixo as respostas que mais impressionaram você.

APÓS TANTOS ENCONTROS E REENCONTROS… Como este livro que você ajudou a escrever colaborou para promover encontros e reencontros? 16


BIBLIOGRAFIA AGIER, M. Migrações, descentramento e cosmopolitismo: uma antropologia das fronteiras. Alagoas/ São Paulo: Edufal/Unesp, 2015. BAGGIO, F.; PARISE, P.; SANCHEZ, W. L. Mobilidade humana e identidades religiosas. São Paulo: Paulus, 2016. COSTA, N. M. As raízes ibéricas da devoção mariana no catolicismo popular no Brasil: na ótica da dramaturgia de Ariano Suassuna. 2017. Trabalho de Conclusão de Curso. Especialização em Ciência da Religião – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2017. PEREIRA, G. M. S.; PEREIRA, J. R. S. Migração e globalização: um olhar interdisciplinar. Curitiba: CRV, 2012.

Copyright © Ednilce Duran e Glair Arruda, 2019 Todos os direitos reservados à EDITORA FTD S.A. Matriz: Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista São Paulo – SP – CEP 01326-010 Tel. (0-XX-11) 3598-6000 Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970 Internet: www.ftd.com.br – E-mail: projetos@ftd.com.br DIRETOR DE CONTEÚDO E NEGÓCIOS Ricardo Tavares de Oliveira GERENTE EDITORIAL Isabel Lopes Coelho EDITORA Rosa Visconti Kono EDITORAS ASSISTENTES Amanda Valentin, Maria Clara Barcellos Fontanella e Vivian Ayres COLABORADORA Bruna David COORDENADORA DE PRODUÇÃO EDITORIAL Letícia Mendes de Souza PREPARAÇÃO E REVISÃO Elvira Rocha (líder) REVISORA Tereza Gouveia EDITORA DE ARTE Simone Oliveira Vieira PROJETO GRÁFICO Estúdio Rebimboca DIAGRAMADORA Mayara Menezes do Moinho FOTOS DA CAPA morrowlight/Shutterstock.com; somyot pattana/Shutterstock.com COORDENADORA DE ICONOGRAFIA E LICENCIAMENTO DE TEXTOS Elaine Bueno PESQUISADORA ICONOGRÁFICA Marcia Trindade LICENCIAMENTO DE TEXTOS Luiz Botter

USARSKI, F. A estrutura heurística da pesquisa sobre religião e processos migratórios: síntese e exemplificação. In: Revista Estudos de Religião. São Bernardo do Campo: UMESP, v. 31, n. 3, 2017.

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TRATAMENTO DE IMAGENS Ana Isabela Pithan Maraschin e Eziquiel Racheti SUPERVISORA DE ARQUIVOS DE SEGURANÇA Silvia Regina E. Almeida DIRETOR DE OPERAÇÕES E PRODUÇÃO GRÁFICA Reginaldo Soares Damasceno

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