Azul 26 completa

Page 49

em foco | g a l c o s t a

claro como nossa geração 'encaretou'." Seria de se imaginar que convencê-la a fazer uma capa tão radical tenha sido difícil. “Difícil para quem? A ideia foi minha – tanto a da capa quanto a dos seios nus na contracapa”, diz Gal. “Eu era hippie. Aquilo tudo foi muito natural." O passar do tempo modifica consideravelmente a maneira como o Brasil olha o trabalho da cantora. Bom exemplo disso é Cantar (1974). Pichado pela crítica quando lançado, foi depois tido como uma bíblia para as artistas que surgiriam. Marisa Monte está entre as que beberam dessa fonte. Dirigido por Caetano Veloso – que, nos tempos pré-tropicalistas, dizia que sua ambição na música era "produzir um repertório pop para a voz de Gal" –, o álbum foi mal de vendas e afastou muito do seu público. "Caetano rompeu radicalmente com o que eu estava fazendo. Ele sabia que era hora de mudar e me ajudou. Quando ouço esse álbum, fico emocionada com a maneira como estou cantando. Parece a voz de um anjo." A retomada do público perdido começaria a vir com o álbum seguinte, quando ela dedicou todo um LP para interpretar o repertório de Caymmi. O próprio Dorival participou dos shows de lançamento de Gal Canta Caymmi (1976). Thiago Camelo, parceiro do irmão Marcelo Camelo em Espelho d’Água, canção que batiza um dos shows da cantora, tem especial apreço por esse trabalho: “Ela foi uma das pioneiras a desconstruir canções renomadas. E desconstruir de modo doce e leve. O resultado é incrível. É para poucos, é para Gal.”

114

a z u l m ag a z i n e | 0 6 . 2 015

this is the album Cantar (1974). Panned by critics upon its release, it was later regarded as a bible for artists that would later arise. Marisa Monte is among those who drank from this fountain. Produced by Caetano Veloso – who, in pre-Tropicália times said that his ambition in music was to “produce a pop repertoire for Gal’s voice,” – the album had poor sales and drove away a good part of her audience. “Caetano radically broke away from what I was doing. He knew it was time for a change and he helped me. When I listen to this album, I get chocked up with the way I’m singing. It sounds like the voice of an angel.” The recovery of Gal’s lost listeners began to come with her next work, when she devoted an entire LP to reinterpret the repertoire of Dorival Caymmi. Dorival himself took part in the concerts promoting Gal Canta Caymmi (1976). Thiago Camelo, brother Marcelo Camelo’s partner in Espelho d’Água – the namesake song of one of the singer’s recent tours – has special appreciation for this work: “She was a pioneer in deconstructing renowned songs. And deconstructing in a sweet and light way. The result is amazing. It’s for the few; it’s for Gal.” Gal “ for the many,” with massive success, consolidated soon thereafter, in the early 1980s. Managed by Guilherme Araújo, the singer released a series of albums and spot-on hits, and became one of the most widely played artists on the radio. “Guilherme saw that I was no longer the hippie I was before. He wanted to radicalize this, and on the tour supporting Gal Tropical (1979) he decided I should wear high heels. Me of all people, I mean… I practically

115


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.