O verdadeiro amor liberta

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Lia Márcia Machado

la. Fui um fracasso, como dizem, não é mesmo? – falou pesaroso. – Agora preciso de ar, Roberto, estou sufocando, preciso respirar, preciso sentir a vida dentro de mim novamente antes que morra sem perceber em meio a tudo isso! O jovem médico ouviu pensativo as palavras daquele homem que tanto já havia sofrido e que, agora, abria seu coração sem mais temores. — Estou partindo, partindo em busca de mim mesmo – falou olhando tristemente para a esposa, que, alheia a tudo o que se passava naquele quarto, dormia profundamente. Roberto tocou de leve o ombro de Heitor encorajando-o a prosseguir em seu intento. — Não abandonarei jamais Helena por quem, apesar de tudo, nutro grande afeto, quero que me compreenda – pediu ele – mas, preciso encontrar a minha paz interior ou acabarei por enlouquecer também! Sei que ela ficará bem aqui. Encontrará, enfim, tudo de que precisa para a sua cura – aproximou-se da cama e tomou sua mão, delicadamente, entre as dele. – Ela não precisa mais de mim, aliás, nunca precisou realmente! – concluiu tristemente. Roberto nada disse, percebendo que talvez aquele fosse o momento mais difícil na vida daquele homem. Momentos depois, após trocarem um forte e caloroso abraço em que as palavras não se faziam necessárias, despediram-se sem mais nada dizer. A porta se fechou atrás de si e o pranto, por fim, rolou livremente sobre a face de Heitor, enquanto caminhava em direção à porta de saída da Casa de Repouso.


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