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Capítulo 5 – Pluralidade cultural

CAPÍTULO 5

Pluralidade cultural

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Cultura de paz A temática da Pluralidade Cultural diz respeito ao conhecimento e à valorização de características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional, às desigualdades socioeconômicas e à crítica às relações sociais discriminatórias e excludentes que permeiam a sociedade brasileira. A afirmação da diversidade é traço fundamental na construção de uma identidade nacional que se põe e repõe permanentemente, tendo a Ética como elemento definidor das relações sociais e interpessoais. Ao tratar este assunto, é importante distinguir diversidade cultural, a que o tema se refere, de desigualdade social. As culturas são produzidas pelos grupos sociais ao longo das suas histórias, na construção de suas formas de subsistência, na organização da vida social e política, nas suas relações com o meio e com outros grupos, na produção de conhecimentos etc. A diferença entre culturas é fruto da singularidade desses processos em cada grupo social. A desigualdade social é uma diferença de outra natureza: é produzida na relação de dominação e exploração socioeconômica e política.

Quando se propõe o conhecimento e a valorização da pluralidade cultural brasileira, não se pretende deixar de lado essa questão. Ao contrário, principalmente no que se refere à discriminação, é impossível compreendê- la sem recorrer ao contexto socioeconômico em que acontece e à estrutura autoritária que marca a sociedade. As produções culturais não ocorrem “fora” de relações de poder: são constituídas e marcadas por ele, envolvendo um permanente processo de reformulação e resistência.

Ambas, desigualdade social e discriminação, articulam-se no que se convencionou denominar “exclusão social”: impossibilidade de acesso aos bens materiais e culturais produzidos pela sociedade e de participação na gestão coletiva do espaço público — pressuposto da democracia. Entretanto, apesar da discriminação, da injustiça e do preconceito que contradizem os princípios da dignidade, do respeito mútuo e da justiça, paradoxalmente o Brasil tem produzido também experiências de convívio, reelaboração das culturas de origem, 122 constituindo algo intangível que se tem chamado de brasilidade, que permite a cada um reconhecer-se como brasileiro. Por isso, no cenário mundial, o Brasil representa uma esperança de superação de fronteiras e de construção da relação de confiança na humanidade.

A singularidade que permite essa esperança é dada por sua constituição histórica peculiar no campo cultural. O que se almeja, portanto, ao tratar de Pluralidade Cultural, não é a divisão ou o esquadrinhamento da sociedade em grupos culturais fechados, mas o enriquecimento propiciado a cada um e a todos pela pluralidade de formas de vida, pelo convívio e pelas opções pessoais, assim como o compromisso ético de contribuir com as transformações necessárias à construção de uma sociedade mais justa. Reconhecer e valorizar a diversidade cultural é atuar sobre um dos mecanismos de discriminação e exclusão, entraves à plenitude da cidadania para todos e, portanto, para a própria nação. Há muito se diz que o Brasil é um país rico em diversidade étnica e cultural, plural em sua identidade: é índio, afrodescendente, imigrante, é urbano, sertanejo, caiçara, caipira... Contudo, ao longo de nossa história, têm existido preconceitos, relações de discriminação e exclusão social que impedem muitos brasileiros de ter uma vivência plena de sua cidadania, que bom que nos últimos tempos esta conversa faz parte do dia a do dia das escolas, vamos refletir um pouco a respeito desta temática tão importante para o nosso dia a dia ?

Nossa pluralidade

Há muito se diz que o Brasil é um país rico em diversidade étnica e cultural, plural em sua identidade: é índio, afrodescendente, imigrante, é urbano, sertanejo, caiçara, caipira... Contudo, ao longo de nossa história, têm existido preconceitos, relações de discriminação e exclusão social que impedem muitos brasileiros de ter uma vivência plena de sua cidadania. Pluralidade é um substantivo feminino da língua portuguesa com significado de algo que possui em grande quantidade, o mais amplo, geral e múltiplo. A pluralidade está relacionada com a diversidade de coisas ou pessoas reunidas em um mesmo espaço físico. Também pode significar as diversas hipóteses disponíveis para solucionar determinada situação (pluralidade de alternativas). O termo é usado para demonstrar algo que estar em maior quantidade, quando são muitos ou vários. Exemplo: pluralidade de votos, pluralidade de moedas e etc. A temática da Pluralidade Cultural diz respeito ao conhecimento e à valorização das características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional, às desigualdades socioeconômicas e à crítica às relações sociais discriminatórias e excludentes que permeiam a sociedade brasileira, oferecendo ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo, multifacetado e algumas vezes paradoxal. Este tema propõe uma concepção da sociedade brasileira que busca explicitar a diversidade étnica e cultural que a compõe, compreender suas relações, marcadas por desigualdades socioeconômicas, e apontar transformações necessárias.

Considerar a diversidade não significa negar a existência de características comuns, nem a possibilidade de constituirmos uma nação, ou mesmo a existência de uma dimensão universal do ser humano. Pluralidade Cultural quer dizer a afirmação da diversidade como traço fundamental na construção de uma identidade nacional que se põe e repõe permanentemente, e o fato de que a humanidade de todos se manifesta em formas concretas e diversas de ser humano. Por trabalhar com a diversidade humana, comporta uma ampliação de horizontes para o professor e para o aluno, uma abertura para a consciência de que a realidade em que vivem é apenas parte de um mundo complexo, fascinante e desafiador, na qual o elemento universal subjacente e definidor das relações intersociais e interpessoais deve ser a Ética. Propicia, ainda, a percepção de que essa característica sociocultural é expressão de uma pluralidade dinâmica para além das fronteiras do Brasil, a qual tem sido benéfica e estimuladora na definição de valores universais. Oferece, também, elementos para a compreensão de que respeitar e valorizar as diferenças étnicas e culturais não significa aderir aos valores do outro, mas, sim, respeitá-los como expressão da diversidade, respeito que é, em si, devido a todo ser humano, por sua dignidade intrínseca, sem qualquer discriminação. É importante, ao tratar este assunto, fazer-se a distinção entre diversidade cultural, a que o tema se refere, e desigualdade social. As culturas são produzidas pelos grupos sociais ao longo das suas histórias, na construção de suas formas de subsistência, na organização da vida social e política, nas suas relações com o meio e com outros grupos, na produção de conhecimentos, etc. 106

A diferença entre culturas é fruto da singularidade desses processos em cada grupo social. A desigualdade social é uma diferença de outra natureza: é produzida na relação de dominação e exploração socioeconômica e política. Quando se propõe o conhecimento e a valorização da pluralidade cultural brasileira não se pretende deixar de lado essa questão. Ao contrário, principalmente no que se refere à discriminação, é impossível compreendê-la sem recorrer ao contexto social em que acontece e à estrutura autoritária que marca a sociedade. As produções culturais não ocorrem “fora” de relações de poder: são constituídas e marcadas por ele, envolvendo um permanente processo de reformulação e resistência. Ambas, desigualdade social e discriminação, se articulam no que se convencionou denominar “exclusão social”: impossibilidade de acesso aos bens materiais e culturais produzidos pela sociedade, e de participação na gestão coletiva do espaço público — pressuposto da democracia. Por esse motivo, já se disse que, na prática, o Brasil não é uma sociedade regida por direitos, mas por 20 privilégios.

Os privilégios, por sua vez, assentam-se em discriminações e preconceitos de todo tipo: socioeconômico, étnico e cultural. Em outras palavras, dominação, exploração e exclusão interagem; a discriminação é resultado e instrumento desse complexo de relações. Entretanto, apesar da discriminação, da injustiça e do preconceito, que contradizem os princípios da dignidade, do respeito mútuo e da justiça, paradoxalmente o Brasil tem produzido também experiências de convívio e da interetnicidade, a reelaboração das culturas de origem, constituindo algo intangível que se tem chamado de brasilidade, que permite a cada um reconhecer-se como brasileiro. Encravada nas contradições de um sistema

econômico e social que se constituiu historicamente de maneira injusta, o Brasil tem essa contribuição a dar: a possibilidade de uma singularidade múltipla, multifacetada, de uma relação também (ainda que não só) amistosa e calorosa com o mundo e aberta para ele. Por isso, no cenário mundial, o Brasil representa uma esperança de superação de fronteiras e de construção da relação de confiança na humanidade.

A singularidade que permite essa esperança é dada por sua constituição histórica peculiar no campo cultural. O que se almeja, portanto, ao tratar de Pluralidade Cultural, não é a divisão ou o esquadrinhamento da sociedade em grupos culturais fechados, mas o enriquecimento propiciado a cada um e a todos pela pluralidade de formas de vida, pelo convívio e pelas opções pessoais, assim como o compromisso ético de contribuir com as transformações necessárias à construção de uma sociedade mais justa. A coexistência da ampla diversidade étnica, lingüística e religiosa em solo brasileiro coloca a possibilidade da pluralidade de alternativas. De certa forma, é como se o plural que se constata, seja no convívio direto, seja por outras mediações, evidenciasse e ampliasse o plural que potencialmente está em cada um. Assim, o princípio de liberdade se afirma nas possibilidades múltiplas de cada um, na polissemia subjetiva que permite escolhas e novos encontros. Tratar da diversidade cultural, reconhecendo-a e valorizando-a, e da superação das discriminações é atuar sobre um dos mecanismos de exclusão — tarefa necessária, ainda que insuficiente, para caminhar na direção de uma sociedade mais plenamente democrática. É um imperativo do trabalho educativo voltado para a cidadania, uma vez que tanto a desvalorização cultural — traço bem característico de país colonizado — quanto a discriminação são entraves à plenitude da cidadania para todos; portanto, para a própria nação. É sabido que, apresentando heterogeneidade notável em sua composição populacional, o Brasil desconhece a si mesmo. Na relação do País consigo mesmo, é comum prevalecerem vários estereótipos, tanto regionais quanto em relação a grupos étnicos, sociais e culturais. Historicamente, registra-se dificuldade para se lidar com a temática do preconceito e da discriminação racial/étnica. O País evitou o tema por muito tempo, sendo marcado por “mitos” que veicularam uma imagem de um Brasil homogêneo, sem diferenças, ou, em outra hipótese, promotor de uma suposta “democracia racial”. Na escola, muitas vezes, há manifestações de racismo, discriminação social e étnica, por parte de professores, de alunos, da equipe escolar, ainda que de maneira involuntária ou inconsciente. Essas atitudes representam violação dos direitos dos alunos, professores e funcionários discriminados, trazendo consigo obstáculos ao processo educacional, pelo sofrimento e constrangimento a que essas pessoas se vêem expostas. 21 Movimentos sociais, vinculados a diferentes comunidades étnicas, desenvolveram uma história de resistência a padrões culturais que estabeleciam e sedimentavam injustiças. Gradativamente conquistou-se uma legislação antidiscriminatória, culminando com o estabelecimento, na Constituição Federal de 1988, da discriminação racial como crime. Mais ainda, há mecanismos de proteção e promoção de identidades étnicas, como a garantia, a todos, do pleno exercício dos direitos culturais, assim como apoio e incentivo à valorização e difusão das manifestações culturais. Os povos indígenas, por exemplo, têm garantidos seus direitos de desenvolvimento de processos pedagógicos próprios, tradicionais, com liberdade de organização de suas escolas. A aplicação e o aperfeiçomento da legislação são decisivos, porém insuficientes. Os direitos culturais, a criminalização da discriminação, atendem aspectos referentes à proteção de pessoas e grupos pertencentes a minorias étnicas e culturais. Para contribuir nesse processo de superação da discriminação e de construção de

uma sociedade justa, livre e fraterna, o processo educacional há que tratar do campo ético, de como se desenvolvem atitudes e valores, no campo social, voltados para a formação de novos comportamentos, novos vínculos, em relação àqueles que historicamente foram alvo de injustiças, que se manifestam no cotidiano.

Mesmo em regiões onde não se apresente uma diversidade cultural tão acentuada, o conhecimento dessa característica plural do Brasil é extremamente relevante, pois, ao permitir o conhecimento mútuo entre regiões, grupos e indivíduos, consolida o espírito democrático. Da mesma forma, tratar de aspectos referentes à discriminação social mesmo em locais onde as situações de exclusão não se manifestam diretamente ou pelo menos não de maneira dramática, permitirá formar a criança e o adolescente para a responsabilidade social de cidadão que participa dos destinos do País como um todo, direcionando a proposta para a busca de soluções. A demanda social existe há muito tempo, a urgência é inadiável. Esta proposta considera, do ponto de vista social, os movimentos que há tanto lutam por essa valorização. O grande desafio proposto para a educação é estabelecer conexões entre o que se aprende na escola e a vida da população brasileira. Mudar mentalidades, superar o preconceito e combater atitudes discriminatórias são finalidades que envolvem lidar com valores de reconhecimento e respeito mútuo, o que é tarefa para a sociedade como um todo. A escola tem um papel crucial a desempenhar nesse processo. Em primeiro lugar, porque é o espaço em que pode se dar a convivência entre crianças de origens e nível socioeconômico diferentes, com costumes e dogmas religiosos diferentes daqueles que cada uma conhece, com visões de mundo diversas daquela que compartilha em família. Em segundo, porque é um dos lugares onde são ensinadas as regras do espaço público para o convívio democrático com a diferença. Em terceiro lugar, porque a escola apresenta à criança conhecimentos sistematizados sobre o País e o mundo, e aí a realidade plural de um país como o Brasil fornece subsídios para debates e discussões em torno de questões sociais. A criança na escola convive com a diversidade e poderá aprender com ela. Freqüentemente, contudo, as escolas acabam repercutindo, sem qualquer reflexão, as contradições que a habitam. A escola no Brasil, durante muito tempo e até hoje, disseminou preconceito de formas diversas. Conteúdos indevidos e até errados, notadamente presentes em livros que têm sofrido críticas fundamentadas, constituem assunto que merece constante atenção. Também contribuía para essa disseminação de preconceitos certa mentalidade que vinha privilegiar 22 certa cultura, apresentada como a única aceitável e correta, como também aquela que hierarquizava culturas entre si, como se isso fosse possível, sem prejuízo da dignidade dos diferentes grupos produtores de cultura. Amparada pelo consenso daquilo que se impôs como se fosse verdadeiro, o chamado, criticamente, “mito da democracia racial”, a escola muitas vezes silencia diante de situações que fazem seus alunos alvo de discriminação, transformando-se facilmente em espaço de consolidação de estigmas. Assim, o educador está sujeito a uma escolha inevitável — ainda que inconsciente — quanto a ser agente privilegiado da expansão ou da contração do preconceito e da discriminação. Portanto, embora não caiba à educação, isoladamente, resolver o problema da discriminação em suas mais perversas manifestações, cabe-lhe atuar para promover processos, conhecimentos e atitudes que cooperem na transformação da situação atual. O reconhecimento da complexidade que envolve a problemática social, cultural e étnica é o primeiro passo. Tal reconhecimento aponta a necessidade de a escola instrumentalizar-se para fornecer informações mais precisas para questões que vêm sendo indevidamente respondidas pelo senso comum, quando não ignoradas por um silencioso constrangimento.

Pare e pense

O que é estereotipo?

Pode-se defi nir estereótipo como sendo generalizações, ou pressupostos, que as pessoas fazem sobre as características ou comportamentos de grupos sociais específi cos ou tipos de indivíduos. O estereótipo é geralmente imposto, segundo as características externas, tais como a aparência (cabelos, olhos, pele), roupas, condição fi nanceira, comportamentos, cultura, sexualidade, sendo estas classifi cações (rotulagens) nem sempre positivas que podem muitas vezes causar certos impactos negativos nas pessoas. Em alguns casos idéias estereotipadas são bem vindas como, por exemplo, a frase "Brasil, o país do futebol". Esta frase demonstra a paixão que os brasileiros têm em relação ao futebol. Obviamente, que existem brasileiros que não gostam de futebol, porém é uma idéia estereotipada que não causa impactos negativos. No entanto, existem idéias estereotipadas sobre outras nações que são preconceituosas, como por exemplo, afi rmar que "o Paquistão é o país dos homens bomba". Essa generalização não é vista com bons olhos pelos paquistaneses, uma vez que a maioria dos habitantes que vivem lá é contra o terrorismo. O fato é que muitos estereótipos são geralmente adquiridos na infância sob a infl uência dos pais, familiares, amigos, professores e através da mídia. E quando um estereótipo é aprendido e armazenado no cérebro, a tendência é que seja passado para outras pessoas.

Podemos classifi car os estereótipos em: Estereótipos de gênero

São estereótipos direcionados ao gênero masculino e feminino. Antigamente ouvia-se muito que o papel da mulher era casar e ter filhos e o homem era visto como o provedor financeiro e tinha que focar em sua carreira. Hoje estes estereótipos já não são tão predominantes como era há alguns anos atrás. Felizmente a mulher conquistou seu espaço no mercado de trabalho, e consegue fazer perfeitamente o seu papel de cuidar dos filhos e da casa, como também cuidar de sua carreira profissional. Os homens hoje, também não são tão cobrados na questão financeira, uma vez que suas parceiras ajudam nas despesas, e são ótimos auxiliares na arrumação da casa. Outros estereótipos de gêneros muito comuns são aqueles que dizem que as mulheres são melhores para cozinhar do que os homens. No entanto, os melhores chefes de cozinha do mundo são homens. Há ainda aqueles estereótipos que dizem que "os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor”, "mulher no volante perigo constante", e outros estereótipos que estão associados ao preconceito. Estereótipos raciais e étnicos: São estereótipos direcionados a diferentes etnias e raças. Nesta categoria existem muitos estereótipos preconceituosos como aqueles que dizem "os colombianos são traficantes", "os muçulmanos são terroristas", "os índios são violentos", "todos os alemães são prepotentes", "os portugueses são burros" e outros menos impactantes como "quenianos são os melhores corredores do mundo", "os negros são melhores no basquete". Neste tipo de estereótipo ainda incluem aqueles relacionados ao racismo que é o tipo de preconceito mais frequente em nosso país. Estereótipos sócio-econômicos: São estereótipos relacionados com a questão financeira de indivíduos e grupo de indivíduos. Exemplos: "Os mendigos são mendigos por opção", "os sem-terra são preguiçosos", "patricinhas são mesquinhas", entre outros. Existem também estereótipos no meio profissional, direcionados a certas profissões, estereótipos em relação à opção sexual (gays, lésbicas e bissexuais), estereótipos no mundo da estética, e ainda aqueles muito comuns em escolas como os "nerds", que são alunos que se destacam pela sua inteligência e pelo seu jeito introvertido.

A pluralidade cultural existente no Brasil é fruto de um longo processo histórico de interação entre aspectos políticos e econômicos, no plano nacional e internacional. Esse processo apresenta-se como uma construção cultural brasileira altamente complexa, historicamente definida e redefinida continuamente em termos nacionais, apresentando características regionais e locais. Coexistem aqui culturas singulares, ligadas a identidades de origem de diferentes grupos étnicos e culturais. Essa composição cultural tem se caracterizado por plasticidade e permeabilidade, incorporando em seu cotidiano a criação e recriação das culturas de todos esses povos, sem diluí-las, ao mesmo tempo que permite seu entrelaçamento. Nesse entrelaçamento de influências recíprocas, configura-se a permanente elaboração e redefinição da identidade nacional, em sua complexidade. Convivem hoje no território nacional cerca de 206 etnias indígenas, guardando, cada uma delas, identidade própria, representando, em si, riquíssima diversidade sociocultural, além de uma imensa população formada pelos descendentes dos povos africanos e um grupo igualmente numeroso de imigran111

tes e descendentes de povos originários de diferentes continentes, de diferentes tradições culturais e de diferentes religiões. A própria dificuldade de categorização dos grupos que vieram para o Brasil, formando sua população, é indicativo da diversidade.

Mesmo para a elaboração de um simples rol, é difícil escolher ou priorizar certo recorte, seja continental ou regional, nacional, religioso, cultural, lingüístico, racial/étnico. Portugueses, espanhóis, ingleses, franceses, italianos, alemães, poloneses, húngaros, lituanos, egípcios, sírios, libaneses, armênios, indianos, japoneses, chineses, coreanos, ciganos, latino-americanos, católicos, evangélicos, batistas, budistas, judeus, muçulmanos, tradições africanas, situam-se entre outras inumeráveis categorias de identificação. Além disso, um mesmo indíviduo pode vincular-se a diferentes grupos ao mesmo tempo, reportando- 25 se a cada um deles com igual sentido de pertinência. Quando se trata de falar da situação atual da população, eventuais categorizações são ainda mais difíceis, tal a circulação que existe entre tradições e culturas, do ponto de vista individual, sem falar de aproximações espontâneas e voluntárias entre grupos, com fins associativos, de cooperação para fins comuns ou de diálogo com vistas ao entendimento. A diversidade marca a vida social brasileira. Encontram-se diferentes características regionais, diferentes manifestações de cosmologias que ordenam de maneiras diferenciadas a apreensão do mundo, formas diversas de organização social nos diferentes grupos e regiões, multiplicidade de modos de relação com a natureza, de vivência do sagrado e de sua relação com o profano. O campo e a cidade propiciam às suas populações vivências e respostas culturais muito diferenciadas que implicam ritmos de vida, ensinamentos de valores e formas de solidariedade distintas. Os processos migratórios colocam em contato grupos sociais com diferenças de fala, de costumes, de valores, de projetos de vida. Freqüentemente, porém, esse processo complexo presente na vida brasileira é ignorado e/ ou descaracterizado, particularmente em processos da indústria de bens culturais. Também na escola, onde essa diversidade está presente diretamente naqueles que constituem a comunidade escolar, essa presença tem sido ignorada, silenciada ou minimizada. São múltiplas as origens da omissão com relação à Pluralidade Cultural.

Pluralidade religiosa

Não se deve confundir pluralidade religiosa com diversidade religiosa. A diversidade ou variedade religiosa é definida pela existência de diversos cultos e formas de religião diferentes em um único espaço. Enquanto que, a pluralidade religiosa é entendida como um pensamento filosófico que diz ser todos os tipos de religiões verdadeiras e válidas. Para a pluralidade religiosa, todas as crenças religiosas são verdadeiras, contanto que busquem pelos mesmos objetivos: o bem celestial e a felicidade da alma. Para aceitar a ideia de pluralidade religiosa não precisa ser praticante de uma religião, já que esta é considerada uma filosofia religiosa e não uma religião em si.

Texto complementar

Brasil se consolida como destino de imigrantes em busca de sobrevivência longe de casa. Apesar da fama de acolhedor, o país precisa fortalecer as políticas públicas de abrigo e emprego para que a projeção de um fluxo cada vez maior não se transforme em crise.

"Eles não entenderam por que escolhi um país tão violento e tão longe", diz o sírio Abdulbaset Jarour, 25, sobre a reação dos parentes ao saberem que ele viria para o Brasil. Todos estavam cientes que não era esse o sonho de Jarour. Essas terras também não deviam estar nos planos de muitos europeus, orientais, africanos, haitianos e outros imigrantes. Mas todos aqueles que eram vítimas de algum horror ou tragédia, fossem refugiados ou não, viram aqui mais que a oportunidade de prosperidade longe de casa: vislumbraram a simples chance de sobrevivência. E essa salvação, mesmo em meio à destruição, pode vir com um mero carimbo diplomático. Foi esse aval burocrático, o "sim" para o pedido de asilo que havia sido recusado pelos "favoritos" Estados Unidos e Austrália, que tirou Jarour da guerra civil na Síria para colocá-lo no centro de São Paulo.

Foi também nessa pegada de "Brasil? Ah, tá valendo!" que o ex-secretário de Educação da Síria, Mowfaq Hafez, 70, salvou sua família. Ele reconheceu no convite de uma palestra um amigo de infância, Ahmadali Saifi, que havia emigrado para o Brasil em 1965 e prosperado como empresário. A dupla não se via desde quando eram colegas de escola no Líbano, mas Hafez não hesitou em pedir ajuda. Recebeu de Saifi passagens para vir com a família a São Paulo o quanto antes. A viagem foi feita no dia em que uma bomba destruiu a casa de Hafez. "Eu e minha família saímos com a roupa do corpo", lembra o professor. Após uma tentativa de viver na Arábia Saudita, Hafez voltou ao Brasil no último dia 10. "Minha casa agora é o Brasil. Na Síria, tudo foi destruído", afirma.

Refúgio no Brasil

O número de refugiados no país dobrou nos últimos dois anos - hoje são 8.400 reconhecidos pela Justiça. A alta é reflexo do aumento de imigrantes sírios que chegaram nesse período Síria, Angola e Congo são os principais países de origem dos refugiados que vivem no Brasil. O motivo para o deferimento dos pedidos de quem vêm dessas nações é o mesmo: violação dos direitos humanos Para quem chega ao Brasil pelo aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, o sofrimento começa em uma sala conhecida como Conector, alocada na área de desembarque. É lá onde os refugiados ficam enquanto aguardam a permissão para entrar no país. Muitos chegam sem qualquer documento, apenas com a roupa do corpo. "Fiquei no Conector por duas semanas, isso porque já havia falado com uma entidade que me ajudou a entrar em contato com as autoridades certas, mas tem gente que fica bem mais do que isso", afirma o bengali Partha Sarker, 37, há um ano e quatro meses no Brasil. Perseguido em seu país por ser de uma família hindu e criticar preceitos do Islã, Sarker foi sequestrado e alvo constante de ameaças. "Eu não conseguia viver, perdi meu emprego, quase perdi a minha vida não uma, mas algumas vezes. Eu, meu pai e minha irmã fomos ameaçados, então o melhor que eu fiz foi deixar meu país. Se eu ficasse, eu não estaria vivo hoje." Após passar por tudo isso, o maior desafio de Sarker atualmente é conseguir os documentos necessários para se tornar empreendedor e regularizar sua escola de inglês, em São Paulo. Outro exemplo de como a estratégia brasileiras nessa área ainda é muito frágil, e constituída conforme a necessidade, foi a maneira como a intensificação da imigração de haitianos acabou sendo tratada pelas autoridades no ano passado - ao menos 2.000 pessoas daquele país chegam ao Acre todos os meses. Refugiados e haitianos são vistos e tratados de forma diferente pela legislação. Enquanto os primeiros têm que obedecer a uma série de exigências para serem "legais" - como ser vítima de perseguição política, religiosa ou social, além de vir de um lugar com conflito armado -, os haitianos são beneficiados por uma resolução normativa promulgada em 2012 pelo CNIg (Conselho Nacional da Imigração) do Ministério do Trabalho e Emprego, que concede visto em caráter humanitário a imigrantes daquele país após o terremoto de 2010. Estima-se que 27.523 vivam no Brasil, segundo dados do Sincre (Sistema Nacional de Cadastramento de Registro de Estrangeiros) da Polícia Federal. Sem contar os 36 mil que aguardam a emissão de documentos para regularizar a papelada. Há quatro anos, não passavam de 700 os haitianos com visto de trabalho no Brasil.

Fonte: TAB/Refugiados. Disponível em: <http://tab.uol.com.br/refugiados/>. Acesso em: 02 dez. 2016.

Conteúdo extra!

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Biblioteca

Hotel Ruanda

O longa-metragem de 2004 conta a história do gerente de hotel que abrigou mais de 1,2 mil deslocados da etnia tutsi, perseguidos pelas tropas militares hutus, durante o genocídio de Ruanda. O confl ito político de 1994 matou quase um milhão de pessoas em cem dias no país e fi cou marcado como um dos mais violentos da História.

Neste mundo

O fi lme britânico de 2002 acompanha a arriscada jornada de dois jovens afegãos que escapam de um campo de refugiados em Peshawar, no Paquistão, para chegar à Europa. A história dos primos que enfrentam trafi cantes e contrabandistas enquanto passam por lugares como Irã, Curdistão e Turquia levou o Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim.

O terminal

A produção americana traz a vida de um cidadão da Europa Oriental que, ao chegar nos EUA, descobre que seu país sofreu um golpe de Estado e, por isso, não pode deixar o aeroporto. Passando meses no terminal, o personagem vive história semelhante à do iraniano que fi cou preso em Paris ao ter seu passaporte roubado em 1988.

A boa mentira

Filmado nos EUA e na África do Sul, o drama lançado em 2014 mostra refugiados de guerra do Sudão do Sul acolhidos por uma jovem assistente social americana ao chegarem nos EUA. Os personagens vividos por atores sudaneses devem se adaptar à nova vida e encontram uma realidade muito diferente do seu país assolado pela guerra.

Matrizes da diversidade brasileira

Tradição afro

A cultura africana chegou ao Brasil com os povos escravizados trazidos da África durante o longo período em que durou o tráfico negreiro transatlântico. A diversidade cultural da África refletiu-se na diversidade dos escravos, pertencentes a diversas etnias que falavam idiomas diferentes e trouxeram tradições distintas. Os africanos trazidos ao Brasil incluíram bantos, nagôs e jejes, cujas crenças religiosas deram origem às religiões afro-brasileiras, e os hauçás e malês, de religião islâmica e alfabetizados em árabe. Assim como a indígena, a cultura africana foi geralmente suprimida pelos colonizadores. Na colônia, os escravos aprendiam o português, eram batizados com nomes portugueses e obrigados a se converter ao catolicismo.

Os africanos contribuíram para a cultura brasileira em uma enormidade de aspectos: dança, música, religião, culinária e idioma. Essa influência se faz notar em grande parte do país; em certos estados como Bahia, Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul a cultura afro-brasileira é particularmente destacada em virtude da migração dos escravos. Os bantos, nagôs e jejes no Brasil colonial criaram o candomblé, religião afro-brasileira baseada no culto aos orixás praticada atualmente em todo o território. Largamente distribuída também é a umbanda, uma religião sincrética que mistura elementos africanos com o catolicismo e o espiritismo, incluindo a associação de santos católicos com os orixás. A influência da cultura africana é também evidente na culinária regional, especialmente na Bahia, onde foi introduzido o dendezeiro, uma palmeira africana da qual se extrai o azeite-de-dendê. Este azeite é utilizado em vários pratos de influência africana como o vatapá, o caruru e o acarajé. Na música a cultura africana contribuiu com os ritmos que são a base de boa parte da música popular brasileira. Gêneros musicais coloniais de influência africana, como o lundu, terminaram dando origem à base rítmica do maxixe, samba, choro, bossa-nova e outros gêneros musicais atuais. Também há alguns instrumentos musicais brasileiros, como o berimbau, o afoxé e o agogô, que são de origem africana. O berimbau é o instrumento utilizado para criar o ritmo que acompanha os passos da capoeira, mistura de dança e arte marcial criada pelos escravos no Brasil colonial.

Moleque, quiabo, fubá, caçula e angu. Cachaça, dengoso, quitute, berimbau e maracatu. Todas essas palavras do vocabulário brasileiro têm origem africana ou referem-se a alguma prática desenvolvida pelos africanos escravizados que vieram para o Brasil durante o período colonial e imperial. Elas expressam a grande influência africana que há na cultura brasileira. O fato de as escravas africanas terem sido responsáveis pela cozinha dos engenhos, fazendas e casas-grandes do campo e da cidade permitiu a difusão da influência africana na alimentação. São exemplos culinários da influência africana o vatapá, acarajé, pamonha, mugunzá, caruru, quiabo e chuchu. Temperos também foram trazidos da África, como pimentas, o leite de coco e o azeite de dendê.

No aspecto religioso os africanos buscaram sempre manter suas tradições de acordo com os locais de onde haviam saído do continente africano. Entretanto, a necessidade de aderirem ao catolicismo levou diversos grupos de africanos a misturarem as religiões do continente africano com o cristianismo europeu, processo conhecido como sincretismo religioso. São exemplos de participação religiosa africana o candomblé, a umbanda, a quimbanda e o catimbó. Algumas divindades religiosas africanas ligadas às forças da natureza ou a fatos do dia a dia foram aproximadas a personagens do catolicismo. Por exemplo, Iemanjá, que para alguns grupos étnicos africanos é a deusa das águas, no Brasil foi representada por Nossa Senhora. Xangô, o senhor dos raios e tempestades, foi representado por São Jerônimo.

Cultura de paz

Tradição indígena

Você sabe por que você toma banho todos ou várias vezes por dia? Sabe também por que utilizamos chás para o bem-estar do corpo ou para curar algum tipo de doença? Pois bem, esses costumes chegaram até nós pelos índios. Esse povo, como nós já sabemos, foi um dos primeiros a habitar o Brasil. Antes da chegada dos portugueses, eles já conviviam nesta terra em plena harmonia com a natureza e com o passar dos anos passaram e perpetuaram algumas de suas tradições para nós. Por isso, hoje, nós vamos homenagear e conhecer um pouco mais sobre a cultura indígena e seus costumes. Antes de mergulhar na cultura deste povo, você precisa entender que cada tribo indígena possui hábitos próprios, porém a maioria delas praticam algumas tradições comuns. A divisão de trabalho, por exemplo, segue basicamente critérios de idade, sexo e acúmulo de conhecimento. Os homens são responsáveis pela caça de animais selvagens, pela proteção da aldeia e pela produção de ferramentas. As mulheres devem cuidar dos filhos, das plantações, produzir objetos de cerâmicas e redes. O cacique é chefe político e administrativo da aldeia. Já o pajé atua como uma espécie de médico e curandeiro, além de, é claro, repassar aos mais novos as tradições por meio da oralidade. Muitas tribos indígenas modificaram o modo vida depois do contato que tiveram com o ‘homem branco’. Atualmente, calcula-se que apenas 400 mil índios ocupam o território brasileiro, principalmente em reservas indígenas demarcadas e protegidas pelo governo. São cerca de 200 etnias indígenas e 170 línguas. Gostou? Confira a seguiruma pequena lista de mais costumes dos índios herdados pelos brasileiros.

Costumes e tradições

• Tomar banho várias vezes por dia em rios, lagos e riachos; • Se alimentar de alimentos retirados da natureza (peixes, carnes de animais, frutos, legumes); • Realizar cerimônias e rituais com muita dança e música; • Treinar as crianças desde pequenas para as atividades que deverão desempenhar na vida adulta; • Realizar rituais de passagem entre a fase de criança e a adulta; • Fazer objetos de arte (potes e vasos de cerâmica, máscaras, colares) com materiais da natureza.

Saiba mais!

Sincretismo religioso

Sincretismo é a fusão de diferentes doutrinas para a formação de uma nova, seja de caráter fi losófi co, cultural ou religioso. O sincretismo mantém características típicas de todas as suas doutrinas-base, sejam rituais, superstições, processos, ideologias e etc. Etimologicamente, a palavra "sincretismo" se originou a partir do grego sygkretismós, que signifi ca "reunião das ilhas de Creta contra um adversário em comum", que por sua vez foi traduzido para o francês syncrètisme, dando origem, consequentemente, à variante na língua portuguesa. O processo de sincretismo está intrinsecamente ligado às relações de comunicação entre grupos sociais heterogêneos, ou seja, com diferentes culturas, costumes e tradições. Quando ocorre o contato e se desenvolve um convívio entre estes grupos distintos, surgem "adaptações" nos vários aspectos culturais, fazendo com que um grupo "absorva" o sistema de crenças do outro. Um exemplo deste processo foi a adaptação e absorção que o cristianismo fez de conceitos das religiões pagãs na Europa durante a consolidação da Igreja Católica no continente. A Igreja utilizou os costumes e tradições dos pagãos em benefício da doutrina cristã, reconstruindo os discursos já estabelecidos nas sociedades pagãs em nome do cristianismo.

Sincretismo religioso

O processo de sincretismo mais conhecido e o mais estudado é o sincretismo religioso. O sincretismo religioso é a mistura de uma ou mais crenças religiosas em uma única doutrina. Este modelo de sincretismo, assim como o cultural, nasce a partir do contato direto ou indireto entre crendices e costumes distintos. No Brasil, por exemplo, o sincretismo religioso nasce desde a chegada dos primeiros colonizadores portugueses, se intensifi cando com a presença dos escravos africanos, que, em contato com a população nativa do Brasil (os indígenas), disseminou os seus costumes, rituais e tradições.

Intolerância religiosa

A liberdade de crenças e de cultos não permite que uma religião tire a liberdade deterceiros. Cultos que agridem a dignidade humana (exemplo: pacto de sangue forçado, sacrifícios humanos, roubo, cobrança compulsória de dinheiro e bens, conversão forçada, etc.) não são justificáveis e, por ferirem as leis e os direitos individuais, não devem entrar na categoria de liberdade religiosa.

Como identificar a intolerância religiosa?

Há casos de explícita agressão física e moral a pessoas de diferentes religiões. E ainda assim, muitas vezes o preconceito não é mostrado com nitidez. É comum o agressor não reconhecer seu próprio preconceito e ato discriminatório. Todavia, é de fundamental importância a vítima identificar o problema e denunciá-lo. O agressor costuma fazer uso de palavras ofensivas ao se referir ao grupo religioso atacado e aos seus elementos, deuses e hábitos. Há também casos em que o agressor desmoraliza os símbolos religiosos, queimando bandeiras, imagens, roupas típicas e etc. Em situações extremas, a intolerância religiosa pode se tornar uma perseguição que visa o extermínio deum grupo, levando a crimes de assassinatos, torturas e enorme repressão.

Como denunciar Ao denunciar um crime de intolerância religiosa a vítima deve exigir que o caso seja tratado com grande responsabilidade e que haja a elaboração de um boletim de ocorrência. Em caso de agressão física, é essencial que a vítima não limpe os ferimentos nem troque de roupas, já que esses fatores constituem provas da agressão. Além disso, a vítima deve exigir a ealização de um exame de corpo de delito para a avaliação da gravidade da agressão. É válido lembrar que

se a ofensa ocorrer em templos, terreiros, na casa da vítima o local deve ser deixado da maneira como foi deixado para facilitar e legitimar a investigação das autoridades competentes. A denúncia e busca por justiça em casos de intolerância e perseguição religiosa são mais do que um direito do cidadão: também são um dever. Denunciar o preconceito ajuda a evitar futuras vítimas. Qualquer tipo de ofensa, tanto moral quanto física, deve ser denunciada. Todos os tipos de delegacia têm o dever de averiguar casos desse tipo.

Texto complementar

A nossa dor e a dor dos outros

Vivemos na atualidade o culto ao sofrimento. Tanto o que resulta de motivos concretos como o desamparo e a violência, quanto o que advém da experiência da angústia em relação à própria vida, uma espécie de convivência com o nada cada vez mais facilitada pela forma de vida em que nenhuma esfera nos dá garantia de sentido. Aprendemos, em nossa cultura, a viver com o sofrimento ao ponto de dar sentido a ele ou até mesmo gozar por meio dele. É um modo de se sobreviver ao nonsense. Muitos são felizes porque são infelizes. Eis um paradoxo nada difícil de compreender em nosso tempo. A dor parece ser mais do que sintoma corpóreo, ela parece residir na alma, a instância abstrata que agrega sentimentos sempre de certo modo inacessíveis à nossa capacidade de compreender. No corpo ela aparece como incômodo e mal-estar. No nível do sentimento ela é o nome próprio do horror de ser quem se é, de não poder ser outra pessoa. Até parece ser a dor o que nos resgata do absurdo da vida e nos responde sobre quem somos. Experimentada como algo íntimo, cada indivíduo em nossa cultura negligencia o que a dor possa significar para o outro. Imaginamos, pela força que a caracteriza como experiência pessoal, que ela é apenas nossa e não do outro. “Eu tenho a minha dor” diz a música enquanto o outro parece não ter nenhuma. É porque sentimos dor que cremos em nossa unidade. A dor, já foi o nome do “eu” no romantismo, corrente de pensamento e estilo de vida que desde o século XIX e pelo século XX afora criou seitas e adeptos nas artes, na literatura, mas também na vida. Novamente a dor retorna em amálgama com o eu à cultura definindo o eixo da depressão que, se para muitos é patologia e medicável, não podemos esquecer que é, acima de tudo, desajuste existencial. A este desacordo entre o “eu” e o mundo, a esta “dor de viver” marcadamente romântica, Schopenhauer, o filósofo que melhor entendeu o sofrimento como um aspecto inalienável da vida, erigiu sua visão de mundo. Um resumo de suas idéias define que “sofro porque desejo”, mas sofrer e desejar são dois reflexos da condição própria da vida. Dor de viver

Entre nós a metáfora da dor de viver se faz corpo. Eu que sou um corpo que vive e experimenta a vida, já não sou mais “um eu” que pensa ou sente, mas alguém que sofre. Eis o que sobra do sujeito moderno e do pós-moderno, que se estilhaçou, se perdeu de vista e, a cada dia com mais veemência emite o conhecido juízo acerca de seu lugar no mundo: estou deprimido. Poderia traduzir sua frase pelo “não desejo nada”. Neste caso, não estaria a dizer que “desejo não desejar”, mas que cessou o desejo. O paradoxo que surge 121

Cultura de paz é que não desejar nada parece ser a solução para o sofrimento que vem do desejo, quem não desejasse estaria a salvo. Mas não desejar nada é que se mostra como sendo, na verdade, o sofrimento maior. Quem deprime sabe disso. Mas de onde tirar forças para reconstruir o desejo? A vontade sem sentido que nos liga à vida e nos faz dar sentido à vida? Muitas vezes a dor de viver apenas mascara a culpa que pomos no outro ao qual queremos responsabilizar por nosso próprio fracasso diante do mistério da vida. Por isso, a depressão é, muitas vezes, a máscara de um rosto chamado covardia.

O Espetáculo da dor

Há um verdadeiro contentamento com a dor em nossa cultura. Tal gosto pelo sofrimento é, todavia, escandalização da dor e, paradoxalmente, sua banalização. De tanto ser vivida se tornou banal. A dor é um elemento de uma democracia perversa, parece ser só o que realmente nos esmeramos por compartilhar. As imagens da morte de indivíduos ou grupos, das catástrofes históricas ou da violência em escala cotidiana alegram os olhos de quem aprendeu a viver no mundo do espetáculo, o grande território que na sociedade atual, mede a vida, os corpos, os desejos, com imagens prévias do que devemos ser. O que chamamos espetáculo é ele mesmo um olho que nos vê e forja o nosso próprio modo de olhar. Que futuro há para uma cultura que vive o voyerismo da catástrofe, que goza com o sofrimento alheio pensando estar a salvo dele? Há solidariedade que possa nos salvar diante do apelo à morte do outro, ao ódio escancarado, a que nos convidam todos os dias as formas de vida – descaso e violência - que vivemos?

A compaixão

O que há de comum entre a nossa dor e a dor dos outros? O que poderia romper o ciclo perverso de gozo e satisfação com o espetáculo da dor pessoal – na depressão - e alheia – na catástrofe assistida? Schopenhauer falou no século XIX sobre a compaixão para basear a ética. Seus críticos logo acordaram dizendo que a justiça e não a compaixão seria um melhor fundamento da ética. A justiça entendida como medida, como regramento, como o que sustenta a lei é realmente algo que pode manter a sociedade em ordem, mas a idéia da compaixão guarda um aspecto que não deve ser esquecido. A compaixão é a capacidade de perceber o sofrimento alheio e saber que ele não é bom. O termo, do latim, compassio, significa mais do que sofrimento comum: é o sentir a dor do outro como se fosse a sua. Uma sociedade que aprendesse que todos estamos mergulhados no sofrimento teria chance de verificar que previamente já há um elo que nos une e que nossa tarefa é ultrapassar sua força de destruição.

Fonte: Marcia Tiburi. Disponível em: http://www.marciatiburi.com.br/textos/anossador.htm. Acesso em: 29 dez. 2016.

Materiais: Figuras diversas (pessoas, formas, animais) de jornais; revistas em branco e preto ou colorido.Procedimento: Individualmente, solicitar que os participantes pensem (ou escrevam) a história da sua vida (familiar, afetiva, profissional), por aproximadamente 10 minutos.Espalhar figuras pelo chão (ou mesa grande) para que cada um procure aquela que mais se identifica.Importante, nesta técnica, ter disponível muito maior número de figuras do que de participantes, para que fiquem à vontade na escolha.Sucintamente, solicitar que cada participante conte a história de sua vida através da figura, onde dirá o que chamou sua atenção sobre ela.Como você se sentiu ao realizar a atividade?Como foi falar de você para o grupo?Como foi ouvir os colegas falando sobre suas vidas?

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Somos diferentes

Pais e filhos idealizam o aconchego da semelhança, mas é preciso aprender que diferença não é desigualdadeMães e filhas são sempre muito parecidas como peixes e seus filhotes: eu e minha filha, por exemplo. Só que ela é mais bonita e desenha melhor que eu. Talvez continuemos cada vez mais iguais, sobretudo se pensarmos nas nossas coincidências astrológicas e confiarmos na evolução dos mesmos gostos pelo desenho, pelos livros, por ficar em casa em plena vida contemplativa. Porém, toda regra só é regra porque existem as exceções. O igual só é igual porque existe o diferente. E vice-versa. Sobre o futuro das semelhanças nunca é possível fazer muitas apostas. No caso dos pais de filhos pequenos, tem-se pela frente a adolescência - que modifica, em geral, toda a vida de uma pessoa. Este tempo trará a força das diferenças que devem ser elaboradas, sobretudo no que se refere ao comportamento, à moral, à sexualidade. O que ainda não conhecemos dos nossos filhos - a diferença - deverá ser o novo encanto do nosso encontro. Não podemos sustentar que o futuro de nossos filhos seja a nossa continuação. O futuro que esperamos para eles precisa ter o nome da diferença entre o que somos e o que eles serão. A diferença sempre se elabora no tempo. As mães mais típicas esperam que a vida de suas filhas seja melhor: que sejam mais bonitas, tenham o sucesso, realização profissional, que estabeleçam relações matrimoniais mais justas, sejam felizes no amor, que possam escolher e decidir 123

Cultura de paz sobre seus destinos. Querem que as filhas sejam mais felizes. Mas devem saber que isso implica mudanças no modo de vida que conheceram. Que terão de aprender a olhar para outro mundo. Mas, no fundo, o que desejamos é ser iguais. Ao contemplar imagens de famílias animais, muitas vezes temos a sensação de que com os humanos ocorre o mesmo mimestismo da natureza. Esse sentimento toca principalmente mães e crianças, pois é entre mães e seus filhos que o desejo de unidade é corpóreo e primitivo. A mãe, no seu sentido mais comum, é aquela que quer aconchegar. Por isso ela dá alimento, colo e carinho. A mãe é corpo. Ela é a primeira manifestação do mimetismo humano, o da proximidade sem a qual não nos tornamos pessoas capazes de uma vida boa e justa. Temos a sensação muito agradável que uma girafa e a girafinha, a ursa e seu ursinho, a vaca e seu bezerro correspondem a um ideal humano. Lembremos o filme sobre o pingüim imperador, cuja abordagem humanizava os animais. Os pingüins não sabiam nada sobre "ser ou não ser" humanos, mas os humanos sentem um radical desejo de projetar na natureza seus sentimentos. O filme, na visão do diretor, mostrava como queríamos ser como os pingüins. Estes eram como familiares. O que ele esqueceu de dizer é que projetamos na natureza o desejo de continuarmos participando dela e que ela seja o nosso verdadeiro ideal. O nosso desejo de ser igual ao outro, à natureza, equivale a querer o colo da nossa mãe. A capacidade de nos tornarmos iguais nos move. O segundo mimestismo humano é evidente na moda, ideais e princípios que compartilhamos. A democracia é o nome político do mimestismo. É uma vontade de proteção, mas também de mistura, que adquirimos no colo da mãe. Mas é preciso atingir o respeito à diferença e entender que ela não é desigualdade no sentido político dos direitos. Depois do colo, todo mundo aprende a andar sozinho. O colo vira uma lembrança que queremos atualizar com amigos e amores, mas também com a nossa profissão, nossos projetos. A gente acaba sempre em busca do paraíso perdido que era o colo da nossa mãe.

Fonte: Marcia Tiburi. Disponível em: http://www.marciatiburi.com.br/textos/anossador.htm. Acesso em: 29 dez. 2016.

Passado, presente, futuro

O objetivo dessa dinâmica é o foco em pessoas através do auto desenvolvimento, auto percepçaõ e a auto reflexão.Materiais: Fita adesiva colorida (3 cores); sulfite; canetas; lápis de cor; objetos de uso pessoal (individual).Procedimento: No chão da sala, o coordenador deve, com as fitas coloridas, colar 3 linhas paralelas (2m comprimento) mantendo um espaço de aproximadamente 2 passos largos entre elas.Os espaços representam, respectivamente, passado, presente e futuro, em relação à vida pessoal, profissional ou outra questão abrangente pertinente.Individualmente e em absoluto silêncio, cada participante coloca-se em pé dentro do espaço passado e verifica como se sente.Então, por meio de desenhos ou com um objeto pessoal, o participante vai representar esse sentimento e deixá-lo no espaço.O mesmo processo é feito para presente e futuro com o tempo aproximado de 5 minutos para cada espaço. Em grupo aberto cada um traduz em palavras seus sentimentos e o porquê dos desenhos e/ou escolha dos objetos.Dicas: Iniciar o processamento abrindo espaço para que os participantes façam comentários sobre sentimentos, dificuldades, facilidades e outros que o grupo julgar importantes.Observar as aspirações dos participantes, se estão se conhecendo e como reagem com as declarações dos colegas.

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A adolescência é magia e conflito de identidade

A infância e a adolescência são fases de buscas de identidade onde são vivenciadas várias etapas de desenvolvimento e auto-afirmação. A criança entra na adolescência cheia de conflitos, que enrique-

cem e marcam ainda mais essa etapa tão especial da vida, em que a busca de uma referencia afetiva e comportamental torna-se o principal objetivo num imenso dilema existencial.Nessa fase da vida o indivíduo começa a ter consciência de si mesmo como ser único, com individualidade biológica e social. Começam as transformações provocadas pelas alterações hormonais, infl uencias genética e do contexto social ao qual o adolescente está inserido.Tais mudanças são marcadas por grandes alterações de crescimento, modifi cações físicas, características sexuais. Com isso, o adolescente se sente confuso e inseguro pois quer ser tratado como adulto, mas vive o luto da perda da infância.O adolescente começa a formar um conceito de si mesmoAtravés do convívio social, o adolescente começa a formar um conceito de si mesmo iniciando então o processo de socialização com pessoas da mesma idade, é a fase da socialização, das atividades realizadas principalmente em grupos com os quais se identifi cam mais. O confl ito com os pais, o exagero ao criar um estilo próprio de se vestir e de relacionar-se, são formas de comportamento criados como símbolos de libertação, de autonomia e afi rmação e também, uma maneira de chamar a atenção sobre si.Nessa constante busca do se "eu", muitas vezes se agarra a fantasias, mecanismos de defesa, ansiedades, depressões, que acabam levando o adolescente a constantes mudanças de humor e frequentes mudanças de idéias e atitudes . Pela manhã quer uma coisa, à noite seu desejo já é outro bem diferente. Assim, muitas vezes são incompreendidos e tachados de inconsequente, egoístas e volúveis. O egocentrismo faz parte do cotidiano do adolescente como forma de impor a aceitação dos outros.Buscam suas referências nos adultos mais próximos, em seus ídolos artísticos , professores ou outras pessoas que admiram ou em alguns casos de rebeldia, acabam se espelhando naqueles que a família reprova. Discordar dos valores impostos pela sociedade é uma atitude constante da adolescência.Mas não são só as transformações psicológicas que causam confl itos na adolescencia. Também as mudanças físicas assustam. Nesse período surgem os sentimentos de inferioridade são comuns diante da alteração de voz, surgimento de pelos pubianos e axilas, mudanças anatômicas no nariz. As meninas muitas vezes sentem constrangimento diante do crescimento dos seios, a primeira menstruação. É o refl exo no espelho que mostra a despedida da infância, porém o adulto ainda não chegou.Aí vem a pergunta: Quem sou eu? A resposta vem na seguinte forma: O adolescente é um ser especial por estar vivendo grandes transformações hormonais que infl uenciam totalmente nas mudanças psicológicas e físicas.Mesmo sem identidade defi nida certamente a adolescência é o momento mais mágico da vida, onde se vive várias emoções ao mesmo tempo, únicas, especiais dessa fase, que passa rápido dando lugar a maturidade e uma formação de caráter, que para se consolidar de forma positiva precisa muito da mediação da família, principalmente dos pais principalmente em forma de diálogo, na estruturação de valores.

Como objetivo principal dessa dinâmica de autoconhecimento está a comunicação, assertividade e autoconfiança nas atitudes da vida pessoal e vida profissional.Materiais: Envelope; folha de papel sulfite; caneta.Procedimento: Individualmente, cada participante escreve uma carta a si próprio, como se estivesse escrevendo a seu(sua) melhor amigo(a).Dentre os assuntos, abordar: como se sente no momento, o que espera do evento (curso, seminário, etc.), como espera estar pessoal e profissionalmente daqui a 30 dias.Destinar o envelope a si próprio (nome e endereço completo para remessa).O coordenador recolhe os envelopes endereçados, cola-os perante o grupo e, após 45 dias aproximadamente, remete ao participante (via correio ou malote).Dicas: Questões para o processamento:Cada um pode falar um pouco sobre o conteúdo de suas carta, colocando suas expectativas em relação ao treimaneto e a sua vida.Questionar os participantes sobre como se sentem ao expor questões pessoais ao grupo e ao ouvir os colega.Perceber se o participante faz planejamentos antes de executar determinada tarefa.Verificar se o participante teria, tem ou terá algum tipo de comprometimento com a empresa.Observações: Esta dinâmica pode ser aplicada em grandes grupos.

Referências

GARDNER, H.(1996). Mentes que criam. Porto Alegre: Artes Médicas.

GOSWAMI, A. (2008). Criatividade quântica: como despertar o nosso potencial criativo. São Paulo: Aleph.

KROWCZUK,E.R. (2005). Criatividade e adolescência. In: Drogadicção na adolescência, políticas de ação e modelos educativos de prevenção: estudo comparativo entre estudantes da rede de ensino médio de Porto Alegre-RS-Brasil. [Teses doutor]. Santiago de Compostela, España-ES, Universidade de Santiago de Compostela, 2004,USC 26 Servizo de Publicacións e Intercambio Científico, 2005. 643p. Edic.Téc. Unidixital, Adobe PDF. ISBN: 84-9750-567-0, D.L.C-202-2005.

Sites consultados

Adolescência. Disponível em: http://www.adolescencia.org.br/site-pt-br/direitos-das-pessoas-vivendo-com-hiv Arquivos MEC. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/pluralidade.pdf MEC. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/pluralidade.pdf Ministério da Saúde. Disponível em: http://www.aids.gov.br/pagina/direitos-fundamentais UNICEF. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/pt/br_sabrep11.pdf

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