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Reinvente sua aula

Como o uso de múltiplas mídias audiovisuais pode tornar a escola mais criativa?

Atualmente, a escola está preocupada em instaurar projetos e tarefas que desenvolvam habilidades e competências – intelectuais, sociais, emocionais e comportamentais – para uma geração de estudantes que cresce e seguirá se desenvolvendo em uma revolução digital constante. Trata-se de um cenário sem precedentes, em que há fácil acesso a um mundo de informações a apenas um clique de distância: ideias fáceis de consumir e, mais além, de criar. Com seus celulares, os jovens não necessitam mais ser apenas consumidores passivos, muito pelo contrário; o vídeo tornou-se uma forma tão natural de expressão e comunicação que se pode lmar absolutamente tudo durante um dia. Para o bem ou para o mal, do Instagram, TikTok, BeReal e Twitter até o YouTube, a mídia é a linguagem das crianças e dos jovens. Mas você já pensou no que tudo isso pode fazer pelo processo de ensino-aprendizagem? Assistir a um lme em sala de aula, por exemplo – não apenas um documentário ou um vídeo curto, mas também variados gêneros –, pode ser o que a sua sala de aula precisa para inspirar a criatividade e ser mais envolvente e atualizada. A nal de contas, o cinema é:

• Uma linguagem. Tal qual a literatura, os alunos podem estudar suas engrenagens, bem como entender como as imagens são enquadradas, sequenciadas, ritmadas e combinadas com os sons;

• Um documento histórico-cultural, em que é possível explorar os valores e as questões sociais do presente e do passado;

• Uma arte colaborativa, resultado do esforço de muitos pro ssionais e de conhecimentos múltiplos, que abrangem não somente cinematogra a, mas também ciência, literatura, arte, música, design e tecnologia digital.

Vamos assistir a um filme hoje?

Fala-se muito sobre a necessidade de uma alfabetização midiática, mas não tanto sobre a variedade de coisas que ela signi ca, abrangendo desde os fundamentos do design grá co até a análise crítica de imagens publicitárias, noticiários, lmes e redes sociais. Um de seus objetivos é tornar a escola mais centrada no estudante, o que não quer dizer que todo o currículo será apenas sobre cultura pop, e sim que a escola deve buscar entender um pouco melhor seus interesses e usar isso como um caminho para estabelecer um discurso analítico sobre eles. Em outras palavras, signi ca alcançar os jovens dentro de suas escolhas. E, no mundo digitalizado de hoje, o que é tão importante? A narrativa visual.

Assistir a um lme em sala de aula antigamente poderia até soar mais como uma forma de preencher um tempo extra surgido inesperadamente do que como uma real ação focada no ensino-aprendizado. Porém, nos dias de hoje, já não é, ou não deveria, ser assim. Desde que o lme se torne parte integrante do estilo de ensino, a resposta sobre ele será muito diferente. Contar, ver e ouvir histórias é uma tradição vital da humanidade, com aplicações ilimitadas. Quando isso é bem feito, pode ter um efeito mágico e transformador.

Entretanto, é bom ressaltar que lmes educativos não se limitam a lmes de não cção, narrados em tom monótono e projetados em salas de aula escuras. Bons lmes educativos também são aqueles que as pessoas assistem nos cinemas e em plataformas como a Net ix, que desa am, inspiram, assustam, irritam e emocionam seus telespectadores. Ainda assim, em um projeto pedagógico centrado no estudante, ao trabalhar com lmes em sala de aula, a ideia deve ser assistir aos vídeos ativamente, e não passivamente, a m de compreender e não apenas consumir.

Indo além, isso não deve parar na compreensão dos lmes. Os jovens também devem ter algo a dizer e encontrar espaço para isso. Assim como se aborda a compreensão de texto, o processo de assistir a um lme em sala de aula deve perpassar os conceitos de compreender e criticar, vivenciar e reagir, recebendo e dando conhecimento.

Estratégias-chave de ensino usando mídias

Como é possível conseguir, então, que os estudantes sintonizem na tarefa em vez de apenas relaxar assistindo ao lme? Tudo começa com a elaboração de uma pergunta essencial antes de apertar o play, que ajude os alunos a assistir ao vídeo com propósito e contexto. A partir daí, tente aplicar uma dessas estratégias (ou todas elas):

Usando perguntas como guia, peça aos alunos que façam anotações e reajam juntos, em tempo real, ao vídeo apresentado por meio de algum aplicativo de mensagens. Isso é ótimo para longas-metragens, pois combina visualização e discussão, maximizando o tempo de aula.

Os roteiros dos lmes nem sempre estão disponíveis ao público, mas quando estão podem ser uma ferramenta muito poderosa. Uma opção é fazer os alunos lerem o roteiro antes de assistir ao lme e fazerem anotações enquanto assistem. Após a sessão, pergunte a eles como assistir ao vídeo pode ter mudado, mais tarde, a compreensão ou interpretação daquilo que leram no roteiro.

Assistir a um vídeo mais de uma vez é a chave para passar da visualização passiva para a ativa (ou mesmo para a visualização reativa). Para cada visualização, faça uma nova pergunta-chave para ajudar os estudantes a visualizar o vídeo de maneira diferente.

Após assistirem e discutirem o material, considere criar um projeto de lme com a classe. Os alunos podem assumir papéis adequados aos seus interesses e colaborar como parte de uma equipe em um ambiente de solução de problemas que resultará em um produto.

Para as escolas que desejam criar uma exibição de filmes para seus estudantes, aqui está uma breve lista dos melhores filmes que ajudam a educar e inspirar os alunos.

A rede social (2010): um lme que qualquer pessoa que usa mídias sociais deveria assistir. A obra traça a jornada de Mark Zuckerberg, da criação da plataforma Facemash até a sua ideia para o Facebook, passando, também, pelo con ito com os sócios e com a série de ações judiciais que começaram a surgir daí. Um lme para abordar ética e questionar o porquê e como usamos as mídias sociais, além de discutir sobre privacidade e segurança na Internet.

Legalmente loira (2001): parece apenas uma comédia para assistir no meio de uma tarde, mas esta é a história de uma jovem que superou seus sentimentos de inferioridade e insegurança e conseguiu estudar na prestigiada Universidade de Harvard. Um lme realmente inspirador para quem não reconhece seus talentos e tende a aceitar menos do que realmente merece, bem como para falar de aparências e pré-conceitos estabelecidos a partir de estereótipos.

Conta comigo (1986): baseado em um conto de Stephen King, o lme dirigido por Rob Reiner aborda a jornada de quatro crianças pelo processo de amadurecimento, fase em que elas se descobrem, construindo suas verdadeiras identidades. Trata-se de um lme simples, gostoso de assistir e capaz de fomentar verdadeiras discussões que trabalhem competências socioemocionais.

A saga Star Wars (1977-2022): a série de lmes criada por George Lucas foi iniciada no início de 1977 e ainda continua sua jornada. Misturando a jornada do herói com fantasia e cção cientí ca intergaláctica, toda a saga tem uma base sólida para dar lições de vida ou reforçar conhecimentos acadêmicos, podendo ser utilizada em aulas de Língua Portuguesa e Gramática, Ciências Exatas, Geogra a, Economia e Matemática. e Story of Movies – Para os que dominam o inglês, o e Story of Movies (www.storyofmovies.org) é uma iniciativa educacional gratuita muito interessante para ir além da exibição. Resultado de uma parceria entre educadores e cineastas importantes, como Martin Scorsese, seu objetivo é ajudar os professores a criar um currículo por meio do qual os alunos possam entender melhor a linguagem do cinema. Ao apresentar aos jovens o cinema clássico, o programa incentiva a valorização do cinema como documento artístico, cultural e histórico, levando à conscientização sobre a importância dos direitos dos artistas e da necessidade de proteger o patrimônio cinematográ co. Além disso, destina-se a levar a nova geração a pensar criticamente sobre o que vê em um lme e a considerar o processo de lmagem e as decisões tomadas. Também ajuda a colocar os lmes em um contexto histórico, usando-os como trampolim para conversas sobre questões sociais.

Cinema Paradiso (1988): este sensível lme, além de falar muito sobre a história do cinema, ensina os alunos sobre qual é o valor de uma mentalidade imaginativa e que o aprendizado nunca é concluído; na verdade, ele é uma longa jornada.

Chamou-me Malala (2015): este lme sobre Malala Yousafzai, a adolescente paquistanesa ganhadora do Prêmio Nobel, a apresenta como modelo inspirador e, ao mesmo tempo, como uma adolescente com a qual a turma pode se identi car. O que é preciso para ser um herói da vida real? Faça os estudantes explorarem esse tópico e documentarem suas ideias sobre fazer a diferença no mundo.

Dicas de aplicativos e sites para trabalhar com vídeo YouTube – Clássico, pontual e e ciente. Lembre-se de fazer uso do recurso de legenda para que os alunos possam assistir ao vídeo e ler ao mesmo tempo. E, é claro, seja criterioso ao selecionar os vídeos.

TikTok – A rede social que viabiliza o compartilhamento de vídeos de curta duração, editados ou não, com músicas, efeitos especiais, ltros e outros recursos, chegou de ninho e, pelo jeito, para car. Utilizá-la como ferramenta educacional é a oportunidade de promover um trabalho que envolva os estudantes, partindo de uma plataforma com a qual conversam e se relacionam. Desde a criação de vídeos, em vez de tarefas escritas, até usar o audiovisual como parte de uma apresentação, as formas criativas de usufruir desta rede social são muitas.

Nearpod – Ideal para criar apresentações envolventes, agrupa vídeos e até adiciona questionários e veri cações de compreensão ao longo do caminho da tarefa.

Edpuzzle – Possibilita adicionar perguntas ao longo de um vídeo usando áudio ou os recursos de comentários. Funciona especialmente bem em salas de aula invertidas, em que os alunos podem assistir a um vídeo individualmente ou em casa.

TED-Ed – Você sabia que o TED-Ed conta com uma ferramenta integrada com o TED Talks para a criação de aulas? É uma ótima maneira de os professores adicionarem contexto aos vídeos, e os alunos também podem usá-la para demonstrar o que sabem e criar seus próprios vídeos instrutivos.