O Jardim Assombrado

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São Paulo
2021

©2021, Black Bird

O Jardim Assombrado

Es crito e ilustrado por Franco de Ro sa

Colaboração: Marco Muchão (diagramação)

Wanderley Felip e (cores)

Revisão: Nobu Chinen

Diretor: Fabricio Argentieri

R. José Antonio Nicola Argentieri, 217

Louveira - SP, 13290-000

Telefone: (19) 3878-3746

A turminha sempre gostou de bater bola à noite, no meio da rua. Estavam to dos lá: o Danadinho, o Cabeleira, Tavinho, Charles e Luca s.

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A porta da garagem do seu Valdemar era o go l. Ele fazia questão de a garotada bater bola ali, na frente da sua casa . Tinha até colocado iluminação especial: uma lâmpadafluorescente novinha para clarear melhor.

A cada bolada na porta de metal da garagem, ele murmur ava, “Viva a juventude!”, enquanto sua es posa , Dona Lulu, resmungava ,“Ainda furo ess a bola .”

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Naquelanoite,ojogoestavaanimado como sempre,comoLucas ,rouco, gritandootempo todo para passarem a bola para ele.Eatodoinstante, “BLA MMM!”,abolabatia fortenaporta de ferrodagaragem do seuValdemar. Eraalguémmarcandoparaoseu time. Em seguida, vinhaumberro, “GOOOOL!”.

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Mas em um determinado momento, a bola correu muito veloz direto para os pés do Lucas. Ele não ti tubeou e catapimba: chutou com muita forç a. Acer tou em cheio na bola , com o seu dedão chutador bem treinado. Bem treinado, mas não muito bom de mira porque a bola não foi para o gol, aliá s, nem pass ou perto. Ela subiu feit o fo guete de São João, riscou o céu estrelado e foi cair longe. Num local temeros o: a casa do velho Nicolau.

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To dos na vila olhavam arrepiados para aquela casa abandonada , quando pass avam diante dela , mesmo durante o dia. Tudo bem que a molecada vivia pulando para dentro daquele terr eno o temp o to do.

Principalmente em époc a de amora porque havia três amoreira s no fundo do quintal da tal casa arrepiante. À noite, porém, ninguém se atrevia a entrar lá . Nem os mendigos que costumavam procurar abrigo e não tinham onde dormir.

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Aquela era uma lendária e temida casa assombrada. Seu Nicolau, o antigo morador, tinha morrido fazia mais de dez anos . Ele morava sozinho e a garotada costumava dizer que ele tinha matado a família inteira com um

machado de co rtar lenha. Ninguém sabia se era verdade, mas er aintrigante acreditar nessa história , que era assim que haviam desaparecido os habitantes daquela casinha bonita que agora se desmanchava de tão velha.

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—Muito bem, seu Luca s. Trate de ir pegar a bola . O senhor é quem chutou com esse seu dedão to rto. —foi logo falando o Danadinho ao seu amigo.

—Eu já vou pra minha casa . Vou é dormir. Duvido que esse jogo continu e hoje. Ninguém aqui tem coragem de entrar naquela casa . Muito menos à noite.—disse, com to do seu jeito rabugento, o menino Tavinho.

—E sp era aí, cara! O Lucas vai entrar lá . Ele é bom de dedão, então vai lá, pular o muro velho e pegar a bola .— provoc ava o indó cil Cabeleira.

—Qualé, meu.— retrucou Lucas. E se eu der de cara com o fantasma do velho Nicolau?

Tu chega e dá uma dedada nele. Dá um bico na canela dele, ora. — aproximou-se rindo o Charles.— Ah! Ah! Ah!

Ficou o pessoal gargalhando em volta do Lucas, enquanto ele arregalava os olhos em direção à casa velha e assombrada.

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—Ouvi dizer que o Jason vem visitar o velho Nicolau de vez em quando. Vai lá encont rar o fantasma do Nicolau. zo ou o Cabeleira.

—E o Conde Drácula? Tão falando que el e vem passar as férias de verão aí com o fantasma do Nicolau.—completou Charles .

—Vocês estão me alugando muito com ess as histórias. Eu não tenh o medo de assombração, não. Mas não quero entrar aí à noite. Não dá pra enxerg ar patavina .—disse Lucas, enquanto caminhava para trás , de costas .

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Mal o Lucas se virou de costas, o Danadinho ap roveitou para cutucar a nuca dele, de leve, com uma folhinha seca que apanhou ali no chão .

—Uaaaai!— gritou tremen do, o pobre menino do chute de canhão.

—Olhaí o rei da co cada preta que não tem me do de careta!—gargalhou

Charles .

—Ah!Ah!Ah!— ria a turminha.

—D eixa de onda e pula logo esse muro, Lu cas. Mostra pra gente que

vo cê é bom de faro. Que vai achar a bola no es curo .—tratou Danadinho de ir incentivando o amigo, na marr a, aos empurrões.

—Vai lá intrépid o.—Disse o Cabeleira, cutucando o amigo.

— É! Luca s, o intrépid o!—Ironizou

Charles .

—Vai intrépid o, vai!—Falou Tavinho, empurrando Luca s.

—Ahahahahah !—todos riam...

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Em um únicoeespetacular salto, Lucas foiparar em cima do muroque dividiaa calçadacomojardim cheiodematoda casa abandonada .Do altodo muro, o garoto se voltou para os amigosese

benzeu,fazendoo sinal da cruz,engolindoasalivaque incomo dava em sua boca. —Não falei? Eleéintrépido!—Disse Cabeleira, dandouma gargalhada .

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—Pulalogo, intrépido.Esevoltarsem abolavai ter, falou?— gritouCharles ,em tomsério.

Lucasdesapareceu no breu da noite, enquanto andava pé ante pé,nojardim cheiodematoelatas velhas.Começou a perceb er quanto malhavia feito, durante anos,jogando pacotesdesalgadinhos usados ,garrafasdescartáveisemil outras espécies de lixosali, naquel ejardim maltratado.Isso juntamentecom seus

amigos,que agoracolocavam-nonaquela fria .Lucas perceb eu que podia se machucarnaquela escuridão. Pisaremalgo enferrujadoeaté ir pararnohospitalpor causadeuma brincadeira. Poralguns minutosaté se esqueceu dosfantasmas.

—Luuuucaaaasssss .Luuuucucaaaaas ...

Cuidadocom seudedãooooo.gemeu umavoz trêmulaegrave vindadarua . Eraumdos garotosaampliaromedono amigo.

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O pobre Lucas voltou a temer os fantasmas. Olhava atentamente cada detalhe das sombras ao seu redor e viu que alguma s delas tinham realmente formas estranhas e, pior, que elas se moviment avam. Começou a imagina r que, a qual quer inst ante, estariam prontas para agarrá-lo. Bastava uma vacilada sua ou uma ordem do fantasma do velho Nicolau.

Lucas, então, parou de caminhar. Ficou duro de medo. Estava congelado. Incapacitado de avançar sequer um

passo a ma is porque à sua frente encontrou um perigo real, que el e sabia não se tratar de imaginação. Um par de olhos come çou a brilhar no escu ro, olhandofixamente para ele. Não se movia , mas brilhava intensamente.

Sua mente acelerou. E começou a criar imagens que pudess em em oldurar aquele par de olhos cintilantes.

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Lucas via , diante de si, um cond e Drácula muito mais h orripilante qu e os dosfilmesque assistira. antigos a Enxergava um Chuck mais sanguinário que o da TV. Um zumbi mais aterrado r que o de Walking Dead. Via até mesm o um sujeito que parecia ter a cara virada do avesso.

O garoto qu eria gritar e não cons eguia . Queria correr, mas suas pernas não ob edeciam. Queria ... queria ... queria gritar e também não cons eguia. Sua garganta estava travada. Dela não s aía som algum. Então, subitamente viu o par de olhos satânicos à su a frente se mover e saltar para longe.

Era ap enas um gato.

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Imediatamente ele enxergou um a forma arredondada junto à parede da casa velha. Não perdeu temp o: apanhou a bola e correu de volta ao muro escalando-o de um único s alto, intrépido como um super-herói.

Do alto do muro, levantou seu prêmio sobre a cabeça . Imaginou-se como o capitão de um time campeão de futebol levantando um troféu, mas viu, surpreso, to da a garotada correr ap avorada com medo dele. Lucas nã o entendeu nada .

Só foi comp reender quando abaixo u as mãos e viu que não segurava uma bola , e sim um co co verde a podrecido e cheio de vermes e baratas, que el e mesmo havia jo gado lá na casa assombrada meses antes.

A bola só foi recuperada no dia seguinte, perto do meio-dia, em incursão de to da a turma ao inofensivo e abandonado jardim.

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FIM

Amiguinho leitor e amiguinha leitora,

Ahistória destelivro come ça comuma turminhadeamigosemumjogo de futebo ld erua ,ma soque erap aras er um diacomum,emumlugar qual quer, acaba se transformando em uma aventura ines quecível .

Ofuteb ol marcou muitoavidadeFrancodeRos a ,oautor dess ahistória . Seu pai foi jogador e ele próprio gostava muito de bater uma bolinha.

Há muitosanos, as cidadeserammaistranquilaseera só reuniraturma que logo come çava umapar tida . Hoje,écadavez mais raro vercrianças jogando bola na rua. As casastambémnão sãotão assombradascomoantigamente, mastodos nósjáouvimos alguma história cheiademistérios que nos enchem de terror, afinal, quem nunca s entiu medo?

Quando vo cê erab em pequeno, certamentetinhamedodealgumacoisa de quehojedeveaté achargraça .Podia serdecoisasdooutro mundo ou algo bem real.

Nestelivro ,oLucas s ente muito medo ao entrarnoquintaldeuma casa abandonada ,mas ,aoenfrentar aquiloqueoamedrontava ,eleéque vaidar um enorme susto nos amigos .

Quando entendemosoque está portrá sdas cois as quenos assust am tanto, nóssup eramo somedoeaprendemosadominá-lo. FoioqueoLucas fez. Que tal agir como ele?

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BIOGRAFIA

FR ANCO DE RO SA

Nasceu em 1956, em SãoPaulo (SP).Édesenhist a, jornalista ,escritor, roteirista de história semquadrinhoseeditor. Em 1975, estreoucomodesenhist adequadrinhos .D esenhou diversas séries como Chucrutz ,Praça Atrapalhado, Recruta Zero Zorro e, além de pers onagens queele mesmocriou como Zamore Ultraboy. Trabalhou como jornalistae ilustradoremgrandes jornaisdeS ão Paulo. Es creveu epro duziurevistas,livro secursosdedesenho .Tambémeditouadaptaçõesde clássicosdaliteraturabrasileira para os quadrinhos.Foi premia do comostroféus Angelo AgostinieHQMIX. Francoéesp ecialista em ilustraçãoinf antilepublico u váriasobras ess aárea. n

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Uma simples brincadeira de rua se transforma numa aventura eletriz ante e apavorante. Como lidar com noss os s entimentos quando somos desafiados a enfrentar noss os maiores medos? Nessa hi stória eletriz ante, você vai aprender que a melhor maneira de vencer o medo é tentar entender o que é que nos assust a .

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