MEMÓRIAS SERTANISTAS: CEM ANOS DE INDIGENISMO NO BRASIL

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Memórias sertanistas

Uma das questões centrais apresentadas nesta obra é como lutar pela sobrevivência física e cultural de povos que ainda não foram engolidos pela atual engrenagem de consumo desenfreado, de voracidade tecnocrática e de destruição da natureza. Este livro constitui um projeto intelectual cujo objetivo é estender as possibilidades de conhecimento e aprender com a experiência. Aos leitores interessados em conhecer um pouco mais sobre o destemido grupo de indivíduos cuja atividade básica é se encantar por outras línguas e costumes, lutar pela preservação e história. Vivendo em moldes distantes dos nossos, índios e sertanistas despertam nossa perplexidade e nos convidam a uma inevitável reflexão acerca de nosso próprio destino nesse planeta comum.

felipe milanez (org.)

ISBN 978-85-7995-177-0

Memórias sertanistas Cem anos de indigenismo no Brasil felipe milanez (org.)

A prática sertanista para a defesa dos povos indígenas é relativamente recente. Oposto ao sertanismo de bandeira, que, entre outros objetivos, visava a conquista de riquezas, o sertanismo indigenista tem como propósito principal garantir a sobrevivência de povos indígenas, isolados ou não. Teve início com a atuação do marechal Cândido Rondon, o primeiro sertanista indigenista, e com a criação do Serviço de Proteção aos Índios (spi), sucedido em 1967 pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Em 2010, o Sesc São Paulo realizou o encontro Memórias sertanistas: cem anos de indigenismo no Brasil, organizado pelo jornalista e cientista social Felipe Milanez, que reuniu especialistas na cultura indígena para discutir os cem anos do sertanismo indigenista no país e conhecer a atuação desses profissionais na defesa dos povos indígenas. Resultante desse evento a presente obra, divida em cinco partes, traça um abrangente painel sobre o sertanismo no contexto das questões indígenas no país. Na primeira delas, é apresentada a história dos sertanistas, resgatando a memória dos precursores interessados em defender os primeiros habitantes e chegando até o período mais recente, com a criação do Departamento de Índios Isolados e as Frentes de Proteção Etnoambiental. A parte dois trata da resistência às políticas institucionais adotadas pelos sucessivos governos militares entre 1964 e 1985, e da criação da Funai, em 1967. Na terceira parte, dois líderes indígenas, Afukaka Kuikuro, do alto-xingu, e o xavante Paulo Supretaprã analisam a convivência com a cultura dos warazu (invasores). Seguem-se, então, os relatos memorialísticos de dez sertanistas que, atuando em diferentes lugares do país, compartilham suas experiências e trajetórias marcadas por profundo engajamento na defesa dos direitos dos índios. A quinta e última parte trata do futuro da tradição sertanista, na qual se adverte que no futuro, mais ainda do que no passado, o destino está nas mãos dos próprios indígenas. E quanto mais eles conseguirem apoio de gente como os sertanistas, melhores chances terão de enfrentar as ameaças e lutar por autonomia. Doze personagens incomuns (treze com o autor) narram suas histórias de vida, descrevendo seus principais feitos e realizações. Em cada um dos relatos – envolventes, genuínos, vibrantes  – surgem, de um lado, dolorosas reflexões acerca de um mundo bipartido entre vencedores e vencidos e, de outro, lembranças orgulhosas de muitas conquistas alcançadas. Os protagonistas são bastante diferentes entre si, mas “iguais na causa, no desprendimento e na generosidade de doar sua vida aos outros”, conforme afirma a antropóloga Betty Mindlin no prefácio do livro.


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