1968: REFLEXOS E REFLEXÕES

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Textos de: Daniel Aarão Reis Fernanda Barbara Fernanda Pequeno Ismail Xavier Larissa Jacheta Riberti Marcos Napolitano Olgária Matos Osvaldo Coggiola Rosangela Patriota Walnice Nogueira Galvão Zuenir Ventura

ISBN 978-85-9493-139-9

1968 R E F LE XOS

E RE F LE XÕ ES

Alipio Freire é jornalista, escritor, artista plástico e cineasta. Foi militante da Ala Vermelha no final da década de 1960 e preso pelo regime civil-militar.

Em maio de 2018, o Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo e as Edições Sesc propuseram a professores, pesquisadores e jornalistas – alguns deles testemunhas oculares do período – uma reflexão sobre o histórico ano de 1968. Desse encontro surge a coletânea 1968: reflexos e reflexões, que apresenta análises dos impactos causados no campo das artes, do urbanismo, da política e do comportamento após os confrontos físicos e ideológicos, violentos e libertadores, que ocorreram neste que é considerado um momento de viragem no pensamento contemporâneo ocidental.

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de entender o presente”. É daí que ela lança luz sobre o movimento estudantil do período e as recentes eleições no país, em que a esquerda e outras forças progressistas derrotaram o Partido Revolucionário Institucional no Executivo e, ainda mais importante, no Congresso. Rosangela Patriota trata do teatro sobretudo no eixo Rio-São Paulo. A primeira parte aborda os enfrentamentos dos artistas com o regime implantado em 1964, com uma ampla visão sobre as dificuldades e agressões sofridas e as formas de resistência coletiva dos profissionais. A segunda descreve as diferentes concepções dos principais grupos que se opunham abertamente ao regime: Oficina, Arena e Opinião. Ismail Xavier abarca as diversas manifestações artísticas que dialogavam com o cinema nos anos 1960. Abre com uma rápida pincelada no documentarismo e passa à ficção de longa-metragem, como Terra em transe, de Glauber Rocha, e O bandido da luz vermelha, de Rogério Sganzerla. Breves e precisas análises de filmes e diretores que hoje são pouco conhecidos e mencionados colaboram para formar um quadro do cinema nacional do período. Entendendo que “(...) 1968 foi o marco mais profundo na história da cidade [de São Paulo], como gatilho de processos da mais expressiva (e definitiva) transformação”, Fernanda Barbara apresenta a ação vitoriosa do establishment na cidade que se redesenhou a partir da construção de obras viárias megatéricas que impactaram negativamente regiões importantes da metrópole. O estudo de Fernanda Pequeno sobre o panorama das artes visuais no Rio de Janeiro em 1968 é indispensável para compreender as novas linguagens que surgiam nessa década. Apesar de centrar seu trabalho no Rio, a autora retrata como exposições e performances de nomes como Lygia Pape e Hélio Oiticica influenciaram artistas de todo o país. Por fim, Walnice Nogueira Galvão faz um panorama das obras de ficção em prosa e poesia, desde aquelas de cunho mais realista até as novas estéticas que surgiram no momento em que a ditadura se radicalizava, quando seus autores lançaram mão de artifícios alegóricos e simbólicos para driblar a repressão. Também rememora a violência de Estado cometida contra funcionários, professores e estudantes da Universidade de São Paulo.

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Para um livro construído a partir de textos de diversos autores, é fundamental que seus organizadores consigam articular a polifonia que lhes chegar às mãos, o que nem sempre é fácil, mesmo se a pauta de assuntos e autores tenha sido cuidadosamente elaborada. E é exatamente essa capacidade de organização das partes num todo, sem que essas partes percam suas respectivas identidades, a primeira qualidade que nos salta à vista nesta publicação. A introdução de Zuenir Ventura evoca sua obra 1968: o ano que não acabou, lançada em 1989, e que lhe valeu o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. Zuenir encerra seu texto com uma metáfora: “1968 às vezes não parece um ano, mas um personagem que teima em não sair de cena” – que equivale à pergunta “Enfim, o que foi 1968?”. Daniel Aarão Reis traça um panorama das forças que agiam e se conflitavam naqueles anos em lugares como China, Tchecoslováquia e outros do mundo socialista, bem como do Ocidente, como França, Estados Unidos e América Latina – e, nesta, o Brasil, já então sob a cruel ditadura civil-militar imposta pelo golpe de 1964 e consolidada, em 13 de dezembro de 1968, com o AI-5. Osvaldo Coggiola traz para o centro da discussão uma questão de fundo: 1968 “foi o início de uma revolução universal frustrada ou, no ângulo diametralmente oposto, o evento que antecipou o hedonismo individualista ‘neoliberal’?”. O texto desconstrói a ideia de que o “Maio francês” foi o mito fundador dos eventos daquele ano e lança mão de dados da economia mundial desde o fim da Segunda Guerra para esclarecer as tensões implicadas naquele contexto. Marcos Napolitano enfoca o movimento tropicalista, contrapondo-o (ao mesmo tempo em que, de certo modo, o nivela) à ação de artistas que se integraram à produção de novelas e outras mercadorias “culturais” da Rede Globo, entre eles, membros do Partido Comunista Brasileiro (PCB). O texto de Olgária Matos transmite o clima em que se deram os acontecimentos em Paris, já que em 1968 ela acompanhou, ao vivo e a cores, as manifestações de rua na capital francesa. Olgária parte da importância da palavra para a cultura francesa, lançando-se, em seguida, à análise de pichações, panfletos e cartazes espalhados pelos muros da cidade. Sua conclusão, não sem razão, é que infelizmente não se fez uma revolução naquele momento por uma ausência total de um projeto e programa de poder político. Larissa Riberti disserta sobre os acontecimentos de 1968 no México, em especial o massacre de Tlatelolco. De acordo com a autora, “Nunca é equivocado, porém, olhar para o passado com o objetivo

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