ARAWETÉ

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Araweté Um povo tupi da Amazônia

Fruto da pesquisa acadêmica realizada na década de 1980 por Eduardo Viveiros de Castro, este livro veio a público em 1992, após uma edição adaptada para atender a públicos mais amplos e não especializados que demonstraram grande interesse pelo modo de vida dos Araweté. Esta terceira edição, revista e ampliada com novos capítulos oriundos de estudos recentes, comemora os trinta anos da pesquisa pioneira deste que é um dos mais respeitados antropólogos brasileiros e, sobretudo, recupera a luta desse povo para sobreviver, resistir e se reinventar sem, no entanto, perder sua cultura.

Eduardo Viveiros de Castro Camila de Caux Guilherme Orlandini Heurich

ISBN 978-85-9493-003-3

Apoio

Araweté Um povo tupi da Amazônia Eduardo Viveiros de Castro Camila de Caux Guilherme Orlandini Heurich

Manuela Carneiro da Cunha, antropóloga, é membro da Academia Brasileira de Ciências, professora emérita da Universidade de Chicago e professora titular aposentada da Universidade de São Paulo.

Este não é um livro comum. Inaugurou um gênero desde sua primeira instanciação e continua inovando. Primeira novidade: dirige-se a qualquer leitor. É simples mas não simplifica. É preciso um mestre para ser claro assim, e é preciso um mestre para, sem concessões, fazer entrever camadas e mais camadas do que faz a singularidade de um povo indígena. Inova também porque não se confina aos limites habituais de uma descrição etnológica. Este é um livro político, que protesta e intervém na história. A saga catastrófica de um povo que resolveu, em 1976, deixar de ser “arredio” não é pano de fundo, é parte essencial da narrativa. Ao longo de quarenta anos, os Araweté fizeram longos percursos, literais e metafóricos. Na primeira desastrosa varação de iniciativa da Funai, pelo menos um terço do povo deixou suas ossadas no caminho. Os que sobreviveram foram se aproximando das margens do rio grande, o Xingu. Passaram de um abandono oficial a uma torrente de mercadorias, despejadas sem critério à guisa de compensação dos prejuízos causados pelo complexo hidrelétrico de Belo Monte: como se já não bastasse, sobrevém o etnocídio para coroar os estragos. Inova por dar algum acesso à visão de agentes da Funai e do primeiro contato e por acrescentar, pela contribuição dos antropólogos que formou, novos capítulos à história dos Araweté. Com isso, mostra que, por maior que seja o poder de fora, não se perde a agência dos índios: fica clara no livro a dialética de políticas oficiais para os índios e das políticas dos índios. E isso é fecundo. Quando mais não fora, comprova quão absurda é a tese de que, se os índios estão sendo espoliados e massacrados, descrevê-los com minuciosa etnografia é luxo supérfluo. E sobretudo desmente a afirmação de que o destino dos Araweté já está traçado por uma lei impessoal e inexorável. Inova pela dimensão estética: a que reside nas instituições e metafísica dos Araweté; a estética das lindíssimas imagens visuais e de seus modelos, em boa hora incorporadas ao livro pelo Sesc; e também a estética da prosa de Eduardo Viveiros de Castro. Este novo gênero de livro é exemplar. Manifesta a grande antropologia que se faz aqui no Brasil, aquela que pratica a observação participante da política indigenista e da política indígena e dá testemunho da importância da etnologia. Mas é também um livro que deveria estar em todas as mãos, que todos deveríamos ler, ver e apreciar para entender um pouco melhor o país em que vivemos.


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