momento: não atropelar cada dia com afazeres fúteis e inadvertidos, mas procurar o Reino de Deus que me vem visitar, para conseguir que eu viva na serena escuta da sua vontade. Rezarei para criar sintonia e para não confundir as minhas desculpas com a vontade de Deus que faz de mim em cada momento uma criatura nova. Neste sentido, habituar-me-ei a passar as horas naquilo que é essencial, sem as ocupar com o que é de desprezar. Nem terei muito que inventar, mas viverei o meu dia-a-dia de acordo com a oração que abrirá o meu dia: o Pai Nosso, que rezarei de mansinho. Então o meu trabalho, onde quer que esteja, será abençoado; esta oração me acompanhará: para contemplação e louvor de Deus que me criou e na esperança de lhe ser fiel na vinda do Seu Reino; tudo o resto há de vir como lhe digo. Escolherei uma meia hora no meu dia para aprofundar com S. Francisco de sales a vida devota2 que quero escolher e serei feliz por viver hoje como muitos fizeram na minha história. Não traçarei este objetivo como imposto, mas abraço-o como dádiva para mais viver intensamente o que mais me importa. O tempo do Advento é também tempo de prova. Recordo os dias do deserto, vividos no deserto por quem me deu origem e procurarei ser mais, onde o sol é mais ardente e onde a sede é mais lancinante: provarei assim que quero ir mais além na vida e amadurecer no amor fraterno. Não carpirei o mal dos outros, nem me atirarei ao trunfo de alguma caridadezinha, mas aliviarei o meu mais próximo e atenderei aos gritos dos mais familiares. Viverei na qualidade com os que estão mesmo à soleira da minha porta ou comigo partilham o mesmo teto.
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Cf Francisco de Sales, Filotéia, Petrópolis, Vozes, 9ª edição, 1986.
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