Revista Real – Edição n. 8 – Jun-jul-ago/2016
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Revista Real – Edição n. 8 – Jun-jul-ago/2016
REVISTA REAL EDIÇÃO Nº 8 JUN/JUL/AGO DE 2016
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Revista Real – Edição n. 8 – Jun-jul-ago/2016
Apresentação
Sumário A eternidade e o estado laico
Olá! Esta é a oitava edição da Revista Real, serão apresentados diversos textos, entrevistas e a continuação da série sobre a literatura
5 Série: Arcadismo 8 Ela só queria ser bonita
brasileira. Confira o sumário ao lado. Agradeço a todos que se voluntariaram
11 Felicidade é só questão de ser
e acreditaram nesse projeto. Aos leitores,
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espero que gostem do conteúdo e divulguem o
Caricatura Stephen King 16
nosso trabalho. E você que deseja colaborar com a revista nas próximas edições, entre em contato
Olhos Brilhantes 17 Entrevista: Diego Sant’Anna
conosco!
22 Entrevista: Mariane Helena
www.revistareal.weebly.com
25 Chamas
Davilan Vilela
29 Recomendações 32 Blogs Parceiros 33
Revista Real Em nome da nobre literatura nacional
DIRETOR Davilan Vilela REVISÃO Gabriel Carramenha Peev Marina Ridente Herrador Natali de Lima Sorrentino
COLABORADORES Arthur Paulo Tambellini Carolina Lessa Mariane Helena Renato José Bento Zoraya Cesar
A responsabilidade pelo conteúdo dos artigos assinados, vincula-se integralmente a seus autores.
IMAGENS / ILUSTRAÇÃO Imagens de domínio público
ENVIO DE CONTEÚDO contatoedicoes@gmail.com
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A Eternidade e o Estado Laico Por Arthur Paulo Tambellini arthurpaulotambellini@bol.com.br O atual momento cultural brasileiro
circunstância o momento atual. O momento
está nos permitindo refletir sobre pontos
é um milagre que por bem ou por mal nunca
teológicos do ponto de vista lógico e
se repete. A regressão tem apenas valor
cientifico independente de crença ou religião
analítico para avaliar causa e consequência,
facciosa. Para avançar sobre o conhecimento
sucesso ou fracasso.
sobre humano seria necessário qualificar e quantificar o que seria o poder divino.
Tem-se sobrevivência
no
conhecimento
da
do material arqueológico
Deixando-se demais atribuições de
estabelecer as correlações que permitiram
superpoderes como telecinesia, controle
matéria ou fatos remotos chegar até o
sobre a mente e o corpo de si e dos outros,
presente. Assim encarado a destinação de
materialização de objetos, desintegração
objetos ou sua alocação está bem além de
nuclear, dom de cura, invulnerabilidade, nos
decoração ou senso utilitário " be enjoy"
ateremos sobre o domínio do futuro como
.Nas relações que possamos ter com a
condição básica para plena potencialidade
matéria , a destinação de objetos tem grande
intemporal.
possibilidade de transferência de sistemas no tempo e espaço protegendo-se da destruição
A Eternidade
de quase tudo do passado.
Eterno é a qualidade do infinito, que não teve
começo
e
não
terá
fim.
Dentro de um futuro próximo é
A
preocupante a alocação de objetos , imóveis,
intemporalidade se baseia num princípio de
veículos sob nossa responsabilidade pela
que o que existe agora já estava concebido
inferência que terão em nossas vidas e na
no passado. O
dos outros nas próximas décadas.
recurso de incursões à
memória de fatos passados tem valor apenas
Criar, portanto, não é brincadeira
dentro da mente , mas nenhuma utilidade do
inconsequente, é experimentar o poder de
ponto de vista físico. Não se mexe objetos
ser Deus. Na representação grega de Júpiter
da memória para o campo físico, nem se
ele é o pintor das borboletas. Em muitos
alteram fatos que envolveram a gênese das
séculos de islamismo, desenhar ou moldar
atuais
formas biológicas é crime com condenação à
consequências.
Isso
envolveriam
pessoas e condições que deflagaram naquela
morte porque o artista denominado
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Almussaiuir (o criador de formas) está
são observadoras destes fatos, sob o nome
roubando o poder divino exclusivo de criar a
genérico de espiritismo encontram além da
vida.
morte a sobrevivência em atos de amor . Nesse ponto a mediunidade ou capacidade
A Escrita e a Eternidade
de entender a vontade dos mortos a serem
"Eu que sou o É , o FOI , e o SERÁ torno a
executadas
condescender a escrita que é emblema e
entendidas como natural e não sobrenatural. Neste
tempo sucessivo " - Jorge Luiz Borges.
à
posteriori
caso
os
podem
médiuns
ser
assim
A intenção deste texto é priorizar a
encarados são apenas inventariantes , com
palavra entre as chaves da imortalidade e
capacidade de transferir e materializar no
respeitar quantitativamente as provas de
plano físico , legados com cargas energéticas
perpetuação do que conhecemos do passado,
pendentes do passado.
muito além de todo material arqueológico. Exemplo disto é a recopilação das Escrituras
Futurologia A literatura tem veiculado com
nestes 2.000 anos de Bíblia , função primordial
da
Ordem
Beneditina.
As
grande
constância
a
utilização
do
partituras de música, receitas de comida,
PENSAMENTO POSITIVO como potencial
mapas, arquivos, fórmulas, as fábulas, os
da vontade individual. Vale lembrar que a
hieróglifos enfim todo registro in vitro que
vítória de alguém , na maior parte das
possa se repetir in vivo.
conquistas , dependerá da derrota de outro ,
Um bom leitor ressuscita sistemas e
no caso com menor determinação.Como
os põe em prática e um ator vira autor
ONDAS ELETROMAGNÉTICAS ainda
quando descobre a profissão de roteirista.
são grandes incógnitas atravessando o
A eternidade possível, dogmática nos
espaço ainda nos faltam muitos elementos
evangelhos se confirma na sobrevivência do
para avaliar a participação do poder mental
amor à morte de quem o gerou e de quem
pessoal de cada um e o que seria o poder
recebeu. Assim a carga gerada durante a
coletivo. Se futurologia fosse garantida os
vida
adivinhos ganhariam sozinhos as loterias,
poderia
sobreviver
materialmente
quando o produto útil for proveniente de
coisa que raramente acontece.
obra da caridade. Camões afirma que só
Colocaríamos como poder coletivo a
feroz amor fez de Inês rainha depois de
acomodação de muitas mentes dentro de um
morta.
dogma As derivações de cristianismo que
político
ou
teológico
onde
a
responsabilidade individual transfere seu
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poder para um núcleo central, onde todos participam como co-autores, criando-se o conceito
de
divindade
ou
da culpa de haver pensado negativamente. Devido a certeza da imutabilidade de
governo
um fato passado resta-nos a sensatez de ficar
eleição
atento ao presente imediato, pela sua função
democrática onde 50% +1 decidiria a sorte
de construtor do futuro e nos posicionarmos
global pelo exercício de SINÉDOQUE, um
como projetistas ambiciosos ciente das
pelo todo , todo pelo um e nesse caso cada
consequências que cada interferência nossa
um foi o autor global e individual.
trará no dia de amanhã.
político.Exemplo disto seria
a
Mas fixar o poder individual de cada um na interferência do porvir ainda é um
- Arthur Paulo Tambellini
grande mistério não elucidado, apesar dos adivinhos, cartomantes e do desafio de Lady Macbeth
que
estava
interessada
pessoalmente na profecia de ter um marido rei . Até onde eu previ, até onde eu desencadiei por pré-notificação em palavras, atos ou indução simples. Entretanto a antecipação ou vaticínio possui dois lados de uma mesma moeda; a premonição
de
coisas
boas
trará
credibilidade fácil para o premonitor, mas a previsão de catástrofes inevitáveis trará grande aversão dos outros e até de si próprio pela responsabilização em eventos funesto. Neste momento o adivinho constata sua impotência perante os fatos e sua inutilidade em prevê-los e a frustração fará dele um angustiado que procurará o poder coletivo da fé para escapar da culpa. Resta
na
predição
de
eventos
funestos calar-se ou tentar o artifício de imaginar detalhes circunstâncias impossíveis de estarem no evento e assim eximir-se
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CAPA SÉRIE ESCOLAS LITERÁRIAS: ARCADISMO Por Davilan Vilela
O Arcadismo (Setecentismo ou
O Arcadismo é influenciado
Neoclacissismo) é o movimento que
pela cultura francesa.
surgiu na segunda metade do século
Segundo
Alfredo
História
Lusitana: movimento em reação ao
Brasileira (São Paulo: editora Cultrix,
Barroco. Arcadismo faz referência à
2006) houve dois momentos do
Arcádia, região do sul da Grécia.
Arcadismo no Brasil:
grandes
mudanças
no
Poético:
da
em
XVIII, com a fundação da Arcádia
O período é caracterizado por
Concisa
Bosi
Literatura
retorno
à
tradição
contexto
clássica com a utilização dos seus
histórico mundial, como exemplo, a
modelos, e valorização da natureza e
ascensão
da mitologia.
do
Iluminismo;
Independência dos Estados Unidos
Ideológico: influenciados pela
(1776) ; Revolução Francesa (1789) e
filosofia presente no Iluminismo, que
Inconfidência Mineira (1789).
traduz a crítica da burguesia culta aos
O
movimento
possui
abusos da nobreza e do clero.
características reformistas, procurava
Os
principais
autores
do
restabelecer o equilíbrio, harmonia e
Arcadismo no Brasil são: Cláudio
simplicidade
literatura
Manoel da Costa, Tomás Antônio
renascentista. Buscava eliminar os
Gonzaga, Basílio da Gama e Santa
rebuscamentos
Rita
exagerados baseando-se
da
e
da nos
os
ornamentos
estética
barroca,
preceitos
do
Durão.
No
Brasil,
o
ano
convencionado para o início do Arcadismo é 1768, quando houve a
Iluminismo (movimento filosófico de
publicação
de
Obras,
bases racionalistas e antirreligiosas).
Claudio Manoel da Costa.
do
poeta
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- pastoralismo: poetas simples e
Arcádia Ultramarina É
uma
sociedade
literária
humildes;
fundada na cidade de Vila Rica (MG),
- bucolismo: busca pelos valores da
influenciada pela Arcádia italiana
natureza;
(1690) e cujos membros adotavam
- nativismo: referências à terra e ao
pseudônimos, de pastores cantados na
mundo natural;
poesia grega ou latina. Por isso que
- tom confessional;
alguns dos principais nomes do
- estado de espírito de espontaneidade
Arcadismo brasileiro publicavam suas
dos sentimentos;
obras com nomes inspirados na
- exaltação da pureza, da ingenuidade
mitologia grega e romana.
e da beleza.
Principais características: - inspiração nos modelos clássicos
Termos em latim
greco-latinos e renascentistas, como
O uso de expressões em latim
por exemplo, em O Uraguai (gênero
era comum no neoclassicismo. Elas
épico), em Marília de Dirceu (gênero
estavam associadas ao estilo de vida
lírico) e em Cartas Chilenas (gênero
simples e bucólico.
satírico); - influência da filosofia francesa;
Inutilia truncat:
- mitologia pagã como elemento
"cortar
estético;
excessos cometidos pelas obras do
- o bom selvagem, expressão do
barroco. No arcadismo, os poetas
filósofo
primavam pela simplicidade.
Jean-Jacques
Rousseau,
o
inútil",
referência
aos
denota a pureza dos nativos da terra fazem menção à natureza e à busca
Fugere urbem:
pela vida simples, bucólica e pastoril;
"fugir da cidade", do escritor clássico
- tensão entre o burguês culto, da
Horácio;
cidade, contra a aristocracia;
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Locus amoenus: "lugar ameno", um refúgio ameno em detrimento
dos
centros
urbanos
monárquicos;
Carpe diem: "aproveitar a vida", o pastor, ciente da efemeridade do tempo, convida sua amada
a
aproveitar
o
momento
presente.
Cabe ressaltar, no entanto, que os membros da Arcádia eram todos burgueses e habitantes dos centros urbanos. Por isso a eles são atribuídos um fingimento poético, isto é, a simulação de sentimentos fictícios.
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Ela só queria ser bonita Por Carolina Lessa fb.com/carolina.pagiolilessa
uma
Ela só queria ser bonita.
pessoa tinha que saber se comunicar. E olha,
Desde pequena notava-se que era
se tem uma coisa que ela sabe, é se
garota
comunicar.
diferente.
Falava
pelos
cotovelos, perguntava o sobre todas as
Sempre foi preterida pelos garotos,
coisas e sempre tinha uma grande iniciativa
sempre teve amigas muito mais bonitas do
de ajudar quem precisa.
que ela. E simplesmente nunca entendeu o
Essa garota sempre teve o dom de
motivo da beleza ser uma coisa tão
fazer todos prestarem atenção quando ela
importante, quando na verdade o que
começa a falar. Podia ser desde a teoria da
importa é como as pessoas são internamente.
relatividade até a piada do banquinho da
Ela cresceu e
continuou sendo
praça é nossa. Ela abriu a boca, um silêncio
preterida. Ainda acreditando no seu ideal, de
de instala e até quem não está na conversa,
que é melhor ―ser‖ do que ―ter‖, continuou
para e presta atenção.
se comunicando, agregando conhecimento,
Conforme foi crescendo, a sua
estudando, lendo todos os livros possíveis,
personalidade foi se moldando. Dona de
assistindo todos os filmes do mundo, mesmo
opiniões e convicções que ninguém muda,
que fossem tão idiotas que as pessoas
criou uma personalidade forte que não
achassem que não valesse a pena.
agrada a todo mundo. Mas, junto com o crescimento veio o conhecimento. Um
amplo
vocabulário
Continuou sem entender qual é a ânsia das pessoas pela beleza. O que há de
e
uma
tão importante e necessário em uma pessoa
enciclopédia de assuntos foram se formando
ser esteticamente linda e se enquadrar nos
ao longo dos anos. Ela sempre acreditou que
padrões massacrantes que a sociedade
para ser alguém agradável, a pessoa
impõe.
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Continuou sem entender que as pessoas preferem a beleza, do que a inteligência, o senso de humor, a resiliência, a amizade, o bom coração, a força de vontade e a sinceridade. Continuou sem entender qual é o seu real problema, onde foi que errou e, principalmente, se é ela mesmo quem está errada ou o resto do mundo. Ela é tão linda, mas tão linda, que só esqueceu de ser bonita.
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Felicidade é só questão de ser Por Mariane Helena fb.com/metamorfoseempalavras “Haverá um dia em que você não haverá de ser feliz,
FELICIDADE -
A felicidade não
Sentirá o ar sem se mexer,
significa ausência de problemas, mas
Sem desejar como antes sempre quis,
sim a habilidade de lidar com eles...
Você vai rir... sem perceber,
Para você ser feliz, não precisa ter
Felicidade é só questão de ser,
tudo de melhor e sim tornar melhor
Quando chover... deixar molhar...
tudo o que tem.
Pra receber o sol quando voltar.”
E sucesso foi definido simplesmente
(FELICIDADE – MARCELO JENECI)
como:
Ah... A felicidade, essa tal felicidade que
SUCESSO – Sucesso é ter êxito em
percorremos mares, ares, a vida buscando como se
alguma coisa, ter um resultado feliz
fosse o objetivo maior.
em algo; conseguir chegar ao fim de
Uns seriam mais felizes com 3 ou 2 quilinhos
uma empreitada.
a menos, outros seriam felizes ganhando na mega sena ou tendo uma carreira de sucesso absoluto!
Ou seja, tanto o sucesso, quanto a felicidade em si nada tem a ver com
Mas o que é a felicidade? O que é ter sucesso?
posses ou conquistas acumuladas,
Ouvi uma vez duas frases que mudaram meus
mas com o que fazemos dela! A
conceitos! São definições sobre essa ―dupla tão
forma de usufruir o que a vida nos
desejada‖ que abriram meus olhos para uma
deu... Fazer o nosso melhor com ―as
felicidade de sucesso, essencial e inerente.
cartas‖ que temos, sejam elas quais
Os significados são simples mas profundos e tão
forem.
acalentadores...
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“Tem vez que as coisas pesam mais Do que a gente acha que pode aguentar, Nessa hora fique firme pois tudo isso logo vai passar, Você vai rir... sem perceber... Felicidade é só questão de ser, Quando chover... deixar molhar... Pra receber o sol quando voltar.” (FELICIDADE – MARCELO JENECI)
É o duelo vital, alegrias e tristezas, os vais e vens da vida... E são essas marés, que nos subjugam, e nos fazem acreditar que a felicidade e nós não existe, ou temos a ilusão de que ela não é para nós. A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional. Independentemente dos revés, da força dos ventos ou da escassez... Quando a felicidade se vai, a fé vai buscá-la.
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Caricatura - Stephen King Por Renato José Bento fb.com/infinitovezeszero
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Olhos Brilhantes Por Renato José Bento fb.com/infinitovezeszero Eles estavam ainda lá, parados, a uns
Abriu o aplicativo da câmera e
quinze metros de distância e cerca de
disparou o flash. Ouviu um ganido, quase
noventa centímetros do chão, bem na
como um grito de dor, só que mais áspero,
entrada da mata, como que pendurados nos
rascante, e os dois olhos se apagaram por um
galhos de um arbusto ou pairando atrás dele.
instante. Quando voltaram a se acender,
Jonas pensara, a princípio, que era um par de
estavam maiores, mais abertos e mais
vaga-lumes, embora não piscassem e, na
móveis. Passaram para o outro lado do
verdade, estivessem parados ali, bem ali,
arbusto, depois voltaram para dentro da
desde que ele os vira. Depois, concluiu que
mata, logo no fim daquela picada.
eram olhos, grandes e brilhantes como os de um gato, só que maiores, mais brilhantes e
– O que há, bichano? É tímido? Não gosta de fotografias?
mais separados um do outro. ―Diabos!‖ –
O rapaz olhou para trás, para a
pensou – ―Se isso é um gato, é o maior gato
clareira onde deixara sua barraca. A fogueira
que eu já vi‖. Matutou se haveria onças ali,
estava quase se apagando. Virou-se então
mas decidiu que isso não era possível, afinal,
para a entrada da mata. Não havia sinal dos
há muitas décadas não se avistava onças
olhos. Guardou o celular, juntou alguns
naquelas matas. Talvez um grande gato
galhos secos e voltou para o acampamento.
preto trepado naquele arbusto. Era isso, só
Colocou, um a um, os galhos na fogueira,
um gato, um gato muito grande e muito
abanando-a para reavivar a chama. Sentou-
estranho.
se recostado a uma grande pedra e abriu a
Tirou o celular do bolso e o apontou
galeria de fotos do celular. Havia várias
para aquele par de olhos. Era noite, mas
fotos de mato, regato e cachoeira, uma bela
havia uma bela lua cheia no céu.
foto do anoitecer e uma foto estranha, desfocada, mostrando um arbusto baixo e,
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logo atrás dele, um par de olhos esverdeados
―Indiana Jonas‖, embora nunca tivesse tido
adornando uma cabeça achatada e coberta de
interesse em estudar Arqueologia e sua
pelos castanho-acinzentados e encimando
maior aventura até então tenha sido pular de
uma grande boca cheia de dentes. ―Isso não
bungee jump num parque de diversões. Para
é um gato.‖ – pensou Jonas. Ele ampliou e
ele, aquela criaturinha estranha no meio da
diminuiu a foto, girou-a de um lado e de
mata era seu Pé Grande particular, o
outro, mas não encontrou resposta para a
passaporte para a fama. Talvez rendesse até
filosófica pergunta: ―Que por## é essa?‖
uma entrevista num desses programas
Um risinho seco soou nas sombras,
vespertinos tão pródigos em trazer para um
um som crepitante como a lenha que
público
nada
exigente
informações
queimava. Jonas viu, no limiar da luz que
completamente desimportantes. Essa era a
emanava da fogueira, o par de olhinhos
chance de uma vida, tudo que Jonas sempre
brilhantes. Um arrepio percorreu sua coluna,
sonhara... pelo menos nos últimos minutos.
mas ele, tentando manter o sangue frio,
Por mais que Jonas corresse, e ele até
apontou novamente o celular para a criatura,
que corria bem rápido para alguém cuja
lembrando-se, desta vez, de desativar o
única atividade física era futebol nos fim de
flash.
semana e sexo duas vezes por mês, ele não Um baque surdo e um impacto
conseguia alcançar a criatura. Quando ele
fizeram com que o celular de Jonas voasse
parou, tentando não botar os bofes para fora,
das mãos dele. ―Put# que pariu, seu merd#!
reparou que estava no meio da mata, cercado
Agora você errou feio. Nem minha mina
de árvores tão altas e tão numerosas que
mexe no meu celular‖. E, com esse discurso
impediam que a luz do luar penetrasse. Ele
inspirador, Jonas pulou de onde estava,
girou
pronto para estrangular o que quer que fosse
caminho de onde viera, começando a
aquela
desaforada.
duvidar de que tomara a decisão certa ao
Infelizmente para Jonas, a coisinha peluda
correr atrás do animalzinho que lhe atirara
era bem mais ágil que ele e se enveredou
uma pedra. Afinal, ele vivera até ali sem ser
pela mata mais uma vez. ―Ah, não desta vez.
conhecido nem mesmo pelos seus colegas de
Desta vez eu te caço, seu monstrinho!‖
trabalho e poderia muito bem continuar no
coisinha
peluda
e
Jonas tinha ido até aquele fim de
nos
calcanhares,
procurando
o
anonimato por mais um tempo.
mundo ao pé da Serra do Mar, cercado de
Deu os primeiros passos para voltar,
Mata Atlântica, para ter um gostinho de
mesmo não sabendo bem para que lado
aventura. Ele sempre sonhara em ser o
deveria ir, então ouviu novamente o risinho
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seco, como unhas arranhando a casca das
Quis arrancar aquela cabeça com a mão
árvores. Procurou os olhinhos brilhantes e os
direita, mas esta não o obedeceu porque
viu logo atrás de si, parados a poucos passos
estava ocupada sendo engolida. As pernas
de distância. A escuridão não permitia que
dele bambearam, e a boca foi invadida por
ele visse nada além daquelas bolinhas verdes
um gosto quente e ferroso. Jonas tombou de
fosforescentes, elas e aqueles dentes, um
lado, todo torto, o corpo, uma festa de dor.
colar de contas pontiagudas.
Mesmo assim, chegou a esboçar um sorriso
– Quer brincar, amiguinho?
ao reconhecer seu amiguinho. Tinha certeza
Jonas se abaixou para pegar uma
que era aquele que caminhava em sua
pedra.
direção, decidido, enquanto os outros se – Eu conheço seu jogo e sei jogá-lo
também. Quer ver?
banqueteavam.
As pernas finas, o corpo
magro, a cabeça bulbosa e desproporcional.
Achou uma pedra de bom tamanho,
―Você é feio pra caralh#!‖ – Jonas tencionou
sopesou-a e se ergueu, ameaçador. E deu um
falar, mas tudo que conseguiu foi gorgolejar.
passo para trás ao ver que seu amiguinho
E, pela primeira vez, ele viu de perto aqueles
tinha um amiguinho. Outro par de olhos
olhos que, decididamente, não eram de gato,
surgira à esquerda do primeiro e ele também
e viu de mais perto ainda aqueles dentes e
usava um colar. Um terceiro par de olhos
sentiu um bafo azedo de morte enquanto
apareceu, e um quarto. Todos devidamente
olhava para dentro daquela garganta.
paramentados. Começaram um coral de risos
Na tarde seguinte, Marcos e Jéssica
secos como grilos sendo esmagados por
chegaram
àquela
clareira
coturnos. E mais e mais emergiam das
afortunados por terem encontrado um local
sombras, com seus olhinhos de vagalume e
tão bom para acamparem, principalmente
seu sorriso de colar de pontas de flecha. Em
por estar quase anoitecendo. Recolheram a
pouco tempo, Jonas se viu cercado e decidiu
sujeira deixada pelo último campista (restos
que precisaria de mais pedras. Ele atirou a
esfarrapados de uma barraca, uma trilha de
primeira e se abaixou para pegar a segunda,
embalagens de comida que ia até a beira da
mas uma dor aguda no ombro esquerdo o
mata e um celular com a tela rachada)
paralisou. Sentiu um cheiro podre quando
enquanto debatiam sobre os animais que
olhou para a cabeça bulbosa que parecera
poderiam ter feito aquelas pegadas que
ter-lhe nascido naquele ombro, olhos verdes
estavam por todo o lugar. Quando anoiteceu,
de gato do mato olhando-o, enquanto dentes
estavam
de tubarão afundavam-lhe na carne macia.
aquecendo-se diante de uma fogueira. →
estabelecidos
e
sentindo-se
alimentados,
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Marcos foi até a entrada da mata para aliviar a bexiga antes de ir dormir, então viu o que parecia ser um par de grandes olhos verdes e brilhantes atrás de um arbusto.
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Revista Real Entrevistas
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ENTREVISTA COM:
Diego Sant’Anna
Nomeações: Especialista em Filosofia e Poética Moderna pela USP Membro da Academia de Autores Independentes Membro da Associação Cultural de Belgrado, Sérvia Membro do Grupo Literário Petit Sant Jordi, Madrid, ESP Parceiro do Centro Cultural Irlandês da cidade de Phoenix, Arizona EUA Parceiro do Centro Cultural Celta de Madison, Wiscosin EUA
DESCRIÇÃO Nascido em São José dos Campos, São Paulo, Diego Sant‘Anna formou-se em Letras. Em 2011 participou do Mapa Cultural Paulista na categoria poesia. Em 2013 teve diversas obras publicadas em antologias, ganhou vários concursos literários dentro e fora do Brasil e publicou sua primeira obra solo, titulada: MORTALITAS: Uma História De Amor E De Morte, obra trilíngue (Português, Inglês e Latim).. Em 2014 foi escolhido para representar o Brasil na Feira Internacional do Livro de Belgrado/Sérvia. Seu segundo livro da saga: MORTALITAS, com o título O Segredo de Ophelie, conta com as parcerias internacionais em prol da autenticidade do cenário do livro que é composto pela Mitologia Celta. Em 2015 representou o Brasil no maior festival literário do mundo em Edimburgo/Escócia e publicou o livro: A Chave Para O Infinito.
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Revista Real: Como surgiu seu interesse
de. Encantado por este maravilhoso mundo
pela escrita?
inexplorado,
Diego Sant’Anna: Desde que aprendi a ler e
Latim. Todo o livro foi escrito dentro de
a escrever, gostei dos sons das palavras e
uma biblioteca, mesmo local onde aconteceu
comecei a fazer rimas e trovas.
o lançamento.
mergulhando
profundo
no
Eu contei com apoio das pessoas que RR: Quais são as suas inspirações?
conheciam meu trabalho e torciam pelo meu
DS: O que me inspira é o amor e a falta dele.
sucesso, e isso fez toda a diferença. Não
As situações do cotidiano, reflexões e
imaginava que o livro, no ano seguinte,
análises.
fosse ganhar um prêmio em Portugal e ser comercializado na Europa.
RR: Você lê muito? Qual ou quais são suas obras favoritas?
RR: Como surgiu a ideia que fez você
DS: Leio bastante sim, leio bastante autor
iniciar a obra “MORTALITAS: Uma
nacional que conheço e acabamos trocando
História De Amor E De Morte”?
livros. Gosto muito de mitologia e história,
DS: A ideia principal surgiu na reflexão
estou sempre lendo sobre estes assuntos
sobre a aceitação do ser humano diante da
também.
morte. Busquei uma visão desprendida de qualquer religião ou crença e foquei na
RR: Quais dificuldades você tem ao
mente. Aí eu imaginei como seria um
escrever?
romance entre a vida e a morte, sendo que a
DS: Eu particularmente não gosto de ler
morte falece tudo o que toca, e a vida seria
livros que dão muita volta no assunto e
se finda completamente.
descreve tanto o seu texto que limita a
Ao som de Eivør Pálsdóttir (cantora
interpretação do leitor. Por isso eu tenho um
folk da Suécia), fui desenhando este cenário
pouco de dificuldade de descrever muito
que foi criando forma e vida dentro do
locais e personagens, sou muito objetivo e
contexto.
prezo pela ação e objetividade.
RR: Como foi a publicação do seu primeiro livro? DS: Quando eu publiquei meu primeiro livro eu ainda cursava Letras na universida-
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RR: De todas as suas obras já escritas, há
LINKS DO AUTOR:
alguma que te marcou mais? E por quê? DS: Teve algumas sim, vou citar uma que me surpreendeu por seu reconhecimento internacional. ―Humanidade, Unanimidade‖, foi escolhida pela Associação Cultural de Belgrado – Sérvia para representar o Brasil no maior festival do livro do leste europeu
O Lançamento do meu primeiro livro: http://valejornal.com.br/lancamento-do-livromortalitas-uma-historia-de-amor-e-de-morte-seranessa-sexta-feira-612/
Mapa Cultural Paulista 2013 http://www.sjc.sp.gov.br/noticias/noticia.aspx?noticia _id=14209 Antologia Poetas Brasileiros Contemporâneos I https://clubedeautores.com.br/book/146353-ANTOLOGIA_DE_POETAS_BRASILEIROS_CONT EMPORANEOS?topic=poesia#.VSNc-tzF9s8
no ano de 2014.
RR: Aos autores que estão iniciando nesse caminho da escrita, que conselhos você daria? DS: Escrever é uma arte e um dom. É um caminho difícil, mas muito prazeroso. Busque autores que possam ler a sua obra, dar dicas e divulgá-la. Participe de concursos literários, muitos deles são gratuitos. Escreva com a alma, doe seu talento de forma humilde e nunca desista, pois
Antologia Poetas Brasileiros Contemporâneos II: http://clubedeautores.com.br/book/150245-II_ANTOLOGIA_DE_POETAS_BRASILEIROS_CO NTEMPORANEOS#.VSNdOdzF9s8 Publicação na Revista Diversifica: http://revistadiversifica.blogspot.com.br/2013_06_01 _archive.html Prêmio UNIVAP 2011: http://www.univap.br/univap/cultura/docs/resultado_ concurso_poesias2011.pdf Representando o Brasil na Feira Internacional do Livro de Belgrado/Sérvia: http://entrementes.com.br/2014/10/o-escritorjoseense-diego-santanna-e-destaque-internacional/
obstáculos virão e tudo é um desafio!
Exposição na Biblioteca Cassiano Ricardo: http://www.sjc.sp.gov.br/noticias/noticia.aspx?noticia _id=15086
RR: Que recado você deixa para os
Um Poema Em Cada Árvore: http://entrementes.com.br/2014/09/um-poema-emcada-arvore-sao-jose-dos-campos/
leitores que ainda não te conhecem e aos que já acompanham o seu trabalho? DS:
Aos
que
já
me
conhecem
e
acompanham meu trabalho eu só posso agradecer de coração pelo carinho e apoio. Aos que ainda não conhecem eu os desafio a me acompanhar nesta jornada épica em
Publicação na Revista Mexicana Mimeografo Multicopista Cultural: http://pt.calameo.com/read/003376974bb0ece04c166 Prêmio Melhores do Ano 2014: http://entrementes.com.br/2014/12/escritor-joseensediego-santanna-ganha-premio/ Matéria sobre minha carreira internacional: http://faroesteliterario.blogspot.com.br/2015/03/dieg o-santanna-o-novo-nome-da.html
busca do desconhecido. Página no Facebook: fb.com/366diasdepoesia/ 24
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ENTREVISTA COM:
Mariane Helena
DESCRIÇÃO
Mariane Helena Rodrigues e Silva, de São José dos Campos, tem 26 anos. Escritora, Colunista e palestrante. Autora do livro: "Um grande milagre – METAMORFOSE em palavras", editora COMDEUS. E participante de diversas outras antologias. Detentora da Medalha IV Conde de Figueiró - Embaixada da Poesia, Comenda Conde de Figueiró - Embaixada da Poesia, Certificado de mérito Cultural Embaixada da Poesia, Prêmio Mulheres do ano de 2015, Troféu Carlos Drummond de Andrade de literatura - Edição ouro, Troféu Cecilia Meireles - Mulheres notáveis, são algumas de suas premiações.
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Revista Real: Como surgiu seu interesse
e Fernando Pessoa.
pela escrita? Mariane Helena: Passei escrever após uma
RR: Conte-nos um pouco sobre o seu livro
tentativa de suicídio. Por consequência,
"Um grande milagre - Metamorfose em
passei
palavras".
um
longo
período
sem
voz
(traqueostomizada), foi quando a palavra
MH: Em 2015 publiquei o meu primeiro
passou a falar. Comecei a escrever para me
livro:
expressar, para desabafar, para sofrer, para
METAMORFOSE em palavras", editora
esconder a dor, para suportá-la, para aflorar,
COMDEUS. Como um marco de vitória em
para voar...
sua luta pela vida. Onde relata em poemas
"Um
grande
–
milagre
Sempre gostei de ler, fui alfabetizada
com amor e muita leveza as palavras escritas
aos 5 anos, desde então, nunca parei de ler,
em um diário de bordo, sobre o período mais
mas nunca pensei em ser escritora, mas a
doloroso de toda a minha história. A fim
palavra me encontrou e transformou a minha
demonstrar, que tudo coopera para o bem. E
vida.
assim deve ser encarado. Nele você encontrará o testemunho
RR: Quais são as suas inspirações?
de quem perdeu algumas partes do corpo e,
MH: Como escritora é fazer que meus
no entanto, ganhou mais luz á alma, na
escritos agreguem algo de bom na vida dos
balança do equilíbrio fica por conta das
meus leitores. Todo esse processo me fez
mãos de Deus. E compreenderá que a fé
percussora de vida, proclamadora do que
remove montanhas.
realmente é importante na vida. E é esse o meu maior objetivo, seja através dos meus livros, poesias, crônicas ou textos soltos, que todos eles tragam mensagens de vida, fé, motivação e alegria.
RR: Você lê muito? Qual ou quais são as suas obras favoritas? MH: Sim! Minha paixão é a poesia. Citar obras seria algo muito vasto, prefiro citar meus autores prediletos, que são: Cora Coralina, Mario Quintana, Clarice Lispector
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RR: Para você, o que é ser uma "Mulher
RR: Dos diversos gêneros textuais que você
notável"?
escreve, qual é o seu preferido? Por quê?
MH: Quando ouvimos a palavra ―Notável‖
MH: COM CERTEZA A POESIA! Sempre fui
temos a sensação de grandeza, de sucesso,
muito tímida, sempre tive muita dificuldade
de excelência intelectual, de brilho. Mas pra
para falar sobre mim e meus sentimentos...
mim não é só isso! Só se sobressai quem faz
Depois que a poesia me deu asas, percebi que é
da vida um elo profundo e contínuo com os
a forma que encontrei para expressar as coisas
valores humanos, com a construção de um
mais profundas de mim e não apenas trazê-las à
mundo melhor, com a cidadania, com as
tona,
questões sociais e, mais importante, quem
atemporais e mutáveis! A cada leitura te trás
faz do ato de viver um compromisso consigo
uma nova luz... Uma nova verdade.
mas
universá-las.
As
poesias
são
mesmo e com a realidade que o cerca. Para mim, ser uma MULHER NOTÁVEL é ser
RR: Que recado você deixa para os leitores
uma mulher que contribui para o bem maior
que ainda não te conhecem e aos que já
e faz com excelência tudo aquilo que se
acompanham o seu trabalho?
propôs a fazer, se tornando um exemplo de
MH: GRATIDÃO! Só tenho a agradecer a
garra, humildade e persistência.
todos que acompanham o meu trabalho e a minha história de vida, a todos aqueles que
RR: Aos autores que estão iniciando nesse
tornam diariamente o meu sonho possível que é
caminho da escrita, que conselhos você
ser lida e com minhas palavras transformar
daria?
vidas.
MH: A literatura não é um universo muito
Aos que ainda não conhecem o meu
fácil, além de ainda (infelizmente) ser muito
trabalho, deixo aqui o convite de conhecem
elitizada, existem cada vez mais ―escritores‖
minha página no facebook:
dentro das facilidades que as redes sociais abriram para qualquer pessoa escrever...
www.facebook.com/metamorfoseempalavras
expor o que pensa. Mas penso eu que o nada é maior que o sonho e o talento!
e meu blog:
Se você tem o sonho de ser escritor e tem esse talento, com garra e persistência
www.metamorfoseempalavras.blogspot.com.br
nada o impedirá de trilhar os caminhos da escrita.
Tenho certeza que encontrarão alguma palavra que tocarão o coração de vocês.
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Texto originalmente publicado em:
www.cronicadodia.com.br/
Chamas Por Zoraya Cesar zoraya.cesar@gmail.com Não era o sujeito mais brilhante do
Casaram-se. Casaram-se e tiveram
mundo; era, até, meio bronco, mas Gilmar
uma filha. Lucinha trabalhava de doceira,
conseguiu passar na prova para o Corpo de
quituteira e, eventualmente, faxineira. Tudo
Bombeiros. Raspando. O que o salvou foi a
pela família, para ajudar nas contas e crescer
prova física, na qual tirou nota máxima.
na vida com seu amado Gilmar.
Um uniforme, vocês sabem, atrai
A vida seguia tranquila. A vida
mulheres como formigas no pão doce. E
sempre segue tranquila até deixar de seguir,
Gilmar era calmo, pacato. Não gostava de
não é mesmo?
farras, jogatinas, churrascadas.
Pois teve uma noite em que a equipe de Gilmar socorreu as vítimas de um sobrado em chamas. Ele subiu até o terceiro andar, para resgatar a última refém do fogo. No instante em que a viu, seu coração incandesceu. Lá estava ela, acuada pelas labaredas, seus cabelos tão rubros
Não à toa, portanto, que Lucinha, a
quanto o fogo que a cercava, os olhos
meiga, simples, sonhadora Lucinha, de
reluzentes e destemidos de quem sabe que a
crespos cabelos negros e grandes olhos
morte é inevitável, mas, nem por isso, deve
castanhos,
O
ser aceita sem luta. Seminua, seu corpo
bombeiro, como sabemos, era meio devagar
brilhava pelo suor que escorria nas suas
para perceber as coisas, mas os amigos,
ancas grossas e peitos grandes, toda ela
esses o alertaram que a moça mais bonita e
exuberando sensualidade.
apaixonou-se
por
ele.
valorosa da região estava a fim de um relacionamento sério.
Agarraram-se ali mesmo, no meio do turbilhão de fogo que os envolvia, um corpo
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derretendo contra o outro.
Estelita dormia na casa de Gilmar
Tornaram-se amantes. A incansável
que, mal a esposa caía no sono, corria para o
espanhola Estelita inflamava Gilmar com o
quarto
conhecimento que adquirira em sua vida de
devoravam rápida e vorazmente, numa ânsia
dançarina
que
quase ululante. Depois, ele passava o resto
atravessara o oceano para perder-se em
da noite virando-se na cama, o sono
outras terras e encontrar, enfim, o amor.
inquieto, tenso como um fio desencapado. A
da
noite,
dançarina
da
amante,
sedento,
onde
se
Um amor que, a cada dia, mais se
mera existência da esposa o incomodava.
alastrava em suas almas, como fogo em
Divórcio não estava nos seus planos,
campo aberto.
Lucinha ficaria com boa parte de seu salário,
O sereno, plácido, quase bovino
e isso era impensável. Sua amásia gostava de
Gilmar transformara-se num esfaimado,
roupas e perfumes caros, ele não podia
devorador insaciável, que tinha sede e fome
prescindir de um centavo sequer.
constantes da pele, do cheiro, da presença de
Engendraram, ambos, um meio para
Estelita, e dela somente. Consumiam-se nas
se livrar do estorvo: forjariam um acidente
chamas da carne, cada vez mais vorazes,
no qual a casa explodiria, junto com
cada vez mais dependentes do corpo um do
Lucinha. A experiência de Gilmar como
outro, numa lascívia imensurável. Gilmar
bombeiro garantiria que não seriam deixadas
queria que Estelita largasse da vida. Estelita
pistas, e ele daria um jeito de a criança não
dizia que só casando. Gilmar não conseguia
estar presente.
mais ficar sem ver Estelita, tocar Estelita, se perder em Estelita nem um dia sequer.
A explosão foi violenta, seguida por um
incêndio
bombeiros
arrasador.
encontraram
Da
casa,
apenas
os
cinzas,
iluminadas, aqui e ali, por umas poucas labaredas alaranjadas e azuis. Uma fumaça escura tentava subir em direção ao céu, mas era espalhada pelo vento. Durante
o
funeral,
Lucinha
Convenceu Lucinha a contratar uma
devaneava sobre as ironias da vida. Tanto
ajudante — Estelita, claro — para ajudá-la
fizeram, os dois amantes, que passariam a
nos afazeres domésticos, cada vez mais
eternidade juntos, as cinzas misturadas e
pesados, por causa da criança.
enterradas sob a mesma Terra da qual
E assim, três vezes por semana,
quiseram expulsá-la.
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O tonto do Gilmar acreditou que ela não
perceberia
suas
mudanças
Em homenagem às chamas que a
de
libertaram, pintaria o cabelo de vermelho.
comportamento, suas maneiras ríspidas, os
Olhou em volta. O tenente do batalhão
rancorosos olhares de soslaio, o jeito de
parecia ser um homem interessante...
andar pela casa como um touro enjaulado. Somente aquele parvo creria no sono profundo
da
esposa
enquanto
ele
se
enrabichava com a ‗ajudante‘. Durante semanas, Lucinha engoliu o choro, mortificada. Não tinha para onde ir, não tinha a quem recorrer, nem como provar a infidelidade do marido. E tinha pavor de que ele tentasse tirar-lhe a criança. Mas a paciência é a arma dos fortes. Esperou. A grande sorte, porém, foi que, de tão inquieto seu sono, Gilmar falava enquanto dormia. E o que Lucinha ouviu foi suficiente para virar o jogo a seu favor, pois, o que o marido tinha de desapercebido — tomado que estava pela luxúria —, ela tinha de sagaz. Não vivera com um bombeiro sem aprender algumas coisas. Adiantou o relógio que deflagaria todo o mecanismo da explosão num dia em que, ela sabia, Gilmar estaria em casa — com Estelita, claro — e foi passear com a filha. Agora estava ela, viúva — não mais meiga, simples ou sonhadora —, com a pensão de sargento do marido traidor, e livre: dos amantes que pretendiam matá-la; da humilhação; do medo de ser mandada embora de casa, ou, pior, de ser mandada pelos ares.
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RECOMENDAÇÃO
O jardim animado De Maira M. Moura Marcando a estreia de Maira M. Moura na literatura, O jardim animado surpreende exatamente pela maturidade. A voz peculiar que Maira constrói ao longo de seus nove contos aparentemente independentes é uma voz que evoca um universo à la Neil Gaiman e deixa escapar uma ou outra herança de Allan Poe, mas ultrapassa – e muito – essa junção. Na mistura inusitada, a narrativa segue abraçando elementos até então opostos (ou, no mínimo, de combinação inimaginável), indo da mitologia grega a Jorge Ben Jor, de sereias fantasmáticas a alienígenas com máscaras de tragédia grega no lugar do rosto. Em comum, personagens que – tragados pelo absurdo da vida – parecem desistir de questioná-lo e, ao invés disso, nutrem uma espécie de consciência do inevitável. Se a ironia é a possibilidade de dizer duas coisas opostas ao mesmo tempo, é precisamente aí, nesse Página da autora no facebook: facebook.com/Mairammoura/
ponto de encontro entre ambos, que os personagens de Maira se desenvolvem: melancólicos e cômicos, sombrios e inofensivos. Fantasiosos e, ainda, estranhamente verossímeis. Maira, na realidade, não apenas diz duas, mas múltiplas coisas ao mesmo tempo, tornando O jardim animado um labirinto desdobrável e infinito em que o leitor encontra muito além do que pensava estar procurando.
Links de venda do livro: http://editoramultifoco.com.br/loja/product/o-jardim-animado/ http://www.travessa.com.br/o-jardim-animado/artigo/8c80159e-5b39-4a48-9438-3295fc2161f9
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