Revista Real | Edição 8

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Revista Real – Edição n. 8 – Jun-jul-ago/2016

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Revista Real – Edição n. 8 – Jun-jul-ago/2016

REVISTA REAL EDIÇÃO Nº 8 JUN/JUL/AGO DE 2016

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Revista Real – Edição n. 8 – Jun-jul-ago/2016

Apresentação

Sumário A eternidade e o estado laico

Olá! Esta é a oitava edição da Revista Real, serão apresentados diversos textos, entrevistas e a continuação da série sobre a literatura

5 Série: Arcadismo 8 Ela só queria ser bonita

brasileira. Confira o sumário ao lado. Agradeço a todos que se voluntariaram

11 Felicidade é só questão de ser

e acreditaram nesse projeto. Aos leitores,

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espero que gostem do conteúdo e divulguem o

Caricatura Stephen King 16

nosso trabalho. E você que deseja colaborar com a revista nas próximas edições, entre em contato

Olhos Brilhantes 17 Entrevista: Diego Sant’Anna

conosco!

22 Entrevista: Mariane Helena

www.revistareal.weebly.com

25 Chamas

Davilan Vilela

29 Recomendações 32 Blogs Parceiros 33

Revista Real Em nome da nobre literatura nacional

DIRETOR Davilan Vilela REVISÃO Gabriel Carramenha Peev Marina Ridente Herrador Natali de Lima Sorrentino

COLABORADORES Arthur Paulo Tambellini Carolina Lessa Mariane Helena Renato José Bento Zoraya Cesar

A responsabilidade pelo conteúdo dos artigos assinados, vincula-se integralmente a seus autores.

IMAGENS / ILUSTRAÇÃO Imagens de domínio público

ENVIO DE CONTEÚDO contatoedicoes@gmail.com

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A Eternidade e o Estado Laico Por Arthur Paulo Tambellini arthurpaulotambellini@bol.com.br O atual momento cultural brasileiro

circunstância o momento atual. O momento

está nos permitindo refletir sobre pontos

é um milagre que por bem ou por mal nunca

teológicos do ponto de vista lógico e

se repete. A regressão tem apenas valor

cientifico independente de crença ou religião

analítico para avaliar causa e consequência,

facciosa. Para avançar sobre o conhecimento

sucesso ou fracasso.

sobre humano seria necessário qualificar e quantificar o que seria o poder divino.

Tem-se sobrevivência

no

conhecimento

da

do material arqueológico

Deixando-se demais atribuições de

estabelecer as correlações que permitiram

superpoderes como telecinesia, controle

matéria ou fatos remotos chegar até o

sobre a mente e o corpo de si e dos outros,

presente. Assim encarado a destinação de

materialização de objetos, desintegração

objetos ou sua alocação está bem além de

nuclear, dom de cura, invulnerabilidade, nos

decoração ou senso utilitário " be enjoy"

ateremos sobre o domínio do futuro como

.Nas relações que possamos ter com a

condição básica para plena potencialidade

matéria , a destinação de objetos tem grande

intemporal.

possibilidade de transferência de sistemas no tempo e espaço protegendo-se da destruição

A Eternidade

de quase tudo do passado.

Eterno é a qualidade do infinito, que não teve

começo

e

não

terá

fim.

Dentro de um futuro próximo é

A

preocupante a alocação de objetos , imóveis,

intemporalidade se baseia num princípio de

veículos sob nossa responsabilidade pela

que o que existe agora já estava concebido

inferência que terão em nossas vidas e na

no passado. O

dos outros nas próximas décadas.

recurso de incursões à

memória de fatos passados tem valor apenas

Criar, portanto, não é brincadeira

dentro da mente , mas nenhuma utilidade do

inconsequente, é experimentar o poder de

ponto de vista físico. Não se mexe objetos

ser Deus. Na representação grega de Júpiter

da memória para o campo físico, nem se

ele é o pintor das borboletas. Em muitos

alteram fatos que envolveram a gênese das

séculos de islamismo, desenhar ou moldar

atuais

formas biológicas é crime com condenação à

consequências.

Isso

envolveriam

pessoas e condições que deflagaram naquela

morte porque o artista denominado

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Almussaiuir (o criador de formas) está

são observadoras destes fatos, sob o nome

roubando o poder divino exclusivo de criar a

genérico de espiritismo encontram além da

vida.

morte a sobrevivência em atos de amor . Nesse ponto a mediunidade ou capacidade

A Escrita e a Eternidade

de entender a vontade dos mortos a serem

"Eu que sou o É , o FOI , e o SERÁ torno a

executadas

condescender a escrita que é emblema e

entendidas como natural e não sobrenatural. Neste

tempo sucessivo " - Jorge Luiz Borges.

à

posteriori

caso

os

podem

médiuns

ser

assim

A intenção deste texto é priorizar a

encarados são apenas inventariantes , com

palavra entre as chaves da imortalidade e

capacidade de transferir e materializar no

respeitar quantitativamente as provas de

plano físico , legados com cargas energéticas

perpetuação do que conhecemos do passado,

pendentes do passado.

muito além de todo material arqueológico. Exemplo disto é a recopilação das Escrituras

Futurologia A literatura tem veiculado com

nestes 2.000 anos de Bíblia , função primordial

da

Ordem

Beneditina.

As

grande

constância

a

utilização

do

partituras de música, receitas de comida,

PENSAMENTO POSITIVO como potencial

mapas, arquivos, fórmulas, as fábulas, os

da vontade individual. Vale lembrar que a

hieróglifos enfim todo registro in vitro que

vítória de alguém , na maior parte das

possa se repetir in vivo.

conquistas , dependerá da derrota de outro ,

Um bom leitor ressuscita sistemas e

no caso com menor determinação.Como

os põe em prática e um ator vira autor

ONDAS ELETROMAGNÉTICAS ainda

quando descobre a profissão de roteirista.

são grandes incógnitas atravessando o

A eternidade possível, dogmática nos

espaço ainda nos faltam muitos elementos

evangelhos se confirma na sobrevivência do

para avaliar a participação do poder mental

amor à morte de quem o gerou e de quem

pessoal de cada um e o que seria o poder

recebeu. Assim a carga gerada durante a

coletivo. Se futurologia fosse garantida os

vida

adivinhos ganhariam sozinhos as loterias,

poderia

sobreviver

materialmente

quando o produto útil for proveniente de

coisa que raramente acontece.

obra da caridade. Camões afirma que só

Colocaríamos como poder coletivo a

feroz amor fez de Inês rainha depois de

acomodação de muitas mentes dentro de um

morta.

dogma As derivações de cristianismo que

político

ou

teológico

onde

a

responsabilidade individual transfere seu

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poder para um núcleo central, onde todos participam como co-autores, criando-se o conceito

de

divindade

ou

da culpa de haver pensado negativamente. Devido a certeza da imutabilidade de

governo

um fato passado resta-nos a sensatez de ficar

eleição

atento ao presente imediato, pela sua função

democrática onde 50% +1 decidiria a sorte

de construtor do futuro e nos posicionarmos

global pelo exercício de SINÉDOQUE, um

como projetistas ambiciosos ciente das

pelo todo , todo pelo um e nesse caso cada

consequências que cada interferência nossa

um foi o autor global e individual.

trará no dia de amanhã.

político.Exemplo disto seria

a

Mas fixar o poder individual de cada um na interferência do porvir ainda é um

- Arthur Paulo Tambellini

grande mistério não elucidado, apesar dos adivinhos, cartomantes e do desafio de Lady Macbeth

que

estava

interessada

pessoalmente na profecia de ter um marido rei . Até onde eu previ, até onde eu desencadiei por pré-notificação em palavras, atos ou indução simples. Entretanto a antecipação ou vaticínio possui dois lados de uma mesma moeda; a premonição

de

coisas

boas

trará

credibilidade fácil para o premonitor, mas a previsão de catástrofes inevitáveis trará grande aversão dos outros e até de si próprio pela responsabilização em eventos funesto. Neste momento o adivinho constata sua impotência perante os fatos e sua inutilidade em prevê-los e a frustração fará dele um angustiado que procurará o poder coletivo da fé para escapar da culpa. Resta

na

predição

de

eventos

funestos calar-se ou tentar o artifício de imaginar detalhes circunstâncias impossíveis de estarem no evento e assim eximir-se

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CAPA SÉRIE ESCOLAS LITERÁRIAS: ARCADISMO Por Davilan Vilela

O Arcadismo (Setecentismo ou

O Arcadismo é influenciado

Neoclacissismo) é o movimento que

pela cultura francesa.

surgiu na segunda metade do século

Segundo

Alfredo

História

Lusitana: movimento em reação ao

Brasileira (São Paulo: editora Cultrix,

Barroco. Arcadismo faz referência à

2006) houve dois momentos do

Arcádia, região do sul da Grécia.

Arcadismo no Brasil:

grandes

mudanças

no

Poético:

da

em

XVIII, com a fundação da Arcádia

O período é caracterizado por

Concisa

Bosi

Literatura

retorno

à

tradição

contexto

clássica com a utilização dos seus

histórico mundial, como exemplo, a

modelos, e valorização da natureza e

ascensão

da mitologia.

do

Iluminismo;

Independência dos Estados Unidos

Ideológico: influenciados pela

(1776) ; Revolução Francesa (1789) e

filosofia presente no Iluminismo, que

Inconfidência Mineira (1789).

traduz a crítica da burguesia culta aos

O

movimento

possui

abusos da nobreza e do clero.

características reformistas, procurava

Os

principais

autores

do

restabelecer o equilíbrio, harmonia e

Arcadismo no Brasil são: Cláudio

simplicidade

literatura

Manoel da Costa, Tomás Antônio

renascentista. Buscava eliminar os

Gonzaga, Basílio da Gama e Santa

rebuscamentos

Rita

exagerados baseando-se

da

e

da nos

os

ornamentos

estética

barroca,

preceitos

do

Durão.

No

Brasil,

o

ano

convencionado para o início do Arcadismo é 1768, quando houve a

Iluminismo (movimento filosófico de

publicação

de

Obras,

bases racionalistas e antirreligiosas).

Claudio Manoel da Costa.

do

poeta

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- pastoralismo: poetas simples e

Arcádia Ultramarina É

uma

sociedade

literária

humildes;

fundada na cidade de Vila Rica (MG),

- bucolismo: busca pelos valores da

influenciada pela Arcádia italiana

natureza;

(1690) e cujos membros adotavam

- nativismo: referências à terra e ao

pseudônimos, de pastores cantados na

mundo natural;

poesia grega ou latina. Por isso que

- tom confessional;

alguns dos principais nomes do

- estado de espírito de espontaneidade

Arcadismo brasileiro publicavam suas

dos sentimentos;

obras com nomes inspirados na

- exaltação da pureza, da ingenuidade

mitologia grega e romana.

e da beleza.

Principais características: - inspiração nos modelos clássicos

Termos em latim

greco-latinos e renascentistas, como

O uso de expressões em latim

por exemplo, em O Uraguai (gênero

era comum no neoclassicismo. Elas

épico), em Marília de Dirceu (gênero

estavam associadas ao estilo de vida

lírico) e em Cartas Chilenas (gênero

simples e bucólico.

satírico); - influência da filosofia francesa;

Inutilia truncat:

- mitologia pagã como elemento

"cortar

estético;

excessos cometidos pelas obras do

- o bom selvagem, expressão do

barroco. No arcadismo, os poetas

filósofo

primavam pela simplicidade.

Jean-Jacques

Rousseau,

o

inútil",

referência

aos

denota a pureza dos nativos da terra fazem menção à natureza e à busca

Fugere urbem:

pela vida simples, bucólica e pastoril;

"fugir da cidade", do escritor clássico

- tensão entre o burguês culto, da

Horácio;

cidade, contra a aristocracia;

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Locus amoenus: "lugar ameno", um refúgio ameno em detrimento

dos

centros

urbanos

monárquicos;

Carpe diem: "aproveitar a vida", o pastor, ciente da efemeridade do tempo, convida sua amada

a

aproveitar

o

momento

presente.

Cabe ressaltar, no entanto, que os membros da Arcádia eram todos burgueses e habitantes dos centros urbanos. Por isso a eles são atribuídos um fingimento poético, isto é, a simulação de sentimentos fictícios.

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Ela só queria ser bonita Por Carolina Lessa fb.com/carolina.pagiolilessa

uma

Ela só queria ser bonita.

pessoa tinha que saber se comunicar. E olha,

Desde pequena notava-se que era

se tem uma coisa que ela sabe, é se

garota

comunicar.

diferente.

Falava

pelos

cotovelos, perguntava o sobre todas as

Sempre foi preterida pelos garotos,

coisas e sempre tinha uma grande iniciativa

sempre teve amigas muito mais bonitas do

de ajudar quem precisa.

que ela. E simplesmente nunca entendeu o

Essa garota sempre teve o dom de

motivo da beleza ser uma coisa tão

fazer todos prestarem atenção quando ela

importante, quando na verdade o que

começa a falar. Podia ser desde a teoria da

importa é como as pessoas são internamente.

relatividade até a piada do banquinho da

Ela cresceu e

continuou sendo

praça é nossa. Ela abriu a boca, um silêncio

preterida. Ainda acreditando no seu ideal, de

de instala e até quem não está na conversa,

que é melhor ―ser‖ do que ―ter‖, continuou

para e presta atenção.

se comunicando, agregando conhecimento,

Conforme foi crescendo, a sua

estudando, lendo todos os livros possíveis,

personalidade foi se moldando. Dona de

assistindo todos os filmes do mundo, mesmo

opiniões e convicções que ninguém muda,

que fossem tão idiotas que as pessoas

criou uma personalidade forte que não

achassem que não valesse a pena.

agrada a todo mundo. Mas, junto com o crescimento veio o conhecimento. Um

amplo

vocabulário

Continuou sem entender qual é a ânsia das pessoas pela beleza. O que há de

e

uma

tão importante e necessário em uma pessoa

enciclopédia de assuntos foram se formando

ser esteticamente linda e se enquadrar nos

ao longo dos anos. Ela sempre acreditou que

padrões massacrantes que a sociedade

para ser alguém agradável, a pessoa

impõe.

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Continuou sem entender que as pessoas preferem a beleza, do que a inteligência, o senso de humor, a resiliência, a amizade, o bom coração, a força de vontade e a sinceridade. Continuou sem entender qual é o seu real problema, onde foi que errou e, principalmente, se é ela mesmo quem está errada ou o resto do mundo. Ela é tão linda, mas tão linda, que só esqueceu de ser bonita.

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Felicidade é só questão de ser Por Mariane Helena fb.com/metamorfoseempalavras “Haverá um dia em que você não haverá de ser feliz,

FELICIDADE -

A felicidade não

Sentirá o ar sem se mexer,

significa ausência de problemas, mas

Sem desejar como antes sempre quis,

sim a habilidade de lidar com eles...

Você vai rir... sem perceber,

Para você ser feliz, não precisa ter

Felicidade é só questão de ser,

tudo de melhor e sim tornar melhor

Quando chover... deixar molhar...

tudo o que tem.

Pra receber o sol quando voltar.”

E sucesso foi definido simplesmente

(FELICIDADE – MARCELO JENECI)

como:

Ah... A felicidade, essa tal felicidade que

SUCESSO – Sucesso é ter êxito em

percorremos mares, ares, a vida buscando como se

alguma coisa, ter um resultado feliz

fosse o objetivo maior.

em algo; conseguir chegar ao fim de

Uns seriam mais felizes com 3 ou 2 quilinhos

uma empreitada.

a menos, outros seriam felizes ganhando na mega sena ou tendo uma carreira de sucesso absoluto!

Ou seja, tanto o sucesso, quanto a felicidade em si nada tem a ver com

Mas o que é a felicidade? O que é ter sucesso?

posses ou conquistas acumuladas,

Ouvi uma vez duas frases que mudaram meus

mas com o que fazemos dela! A

conceitos! São definições sobre essa ―dupla tão

forma de usufruir o que a vida nos

desejada‖ que abriram meus olhos para uma

deu... Fazer o nosso melhor com ―as

felicidade de sucesso, essencial e inerente.

cartas‖ que temos, sejam elas quais

Os significados são simples mas profundos e tão

forem.

acalentadores...

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“Tem vez que as coisas pesam mais Do que a gente acha que pode aguentar, Nessa hora fique firme pois tudo isso logo vai passar, Você vai rir... sem perceber... Felicidade é só questão de ser, Quando chover... deixar molhar... Pra receber o sol quando voltar.” (FELICIDADE – MARCELO JENECI)

É o duelo vital, alegrias e tristezas, os vais e vens da vida... E são essas marés, que nos subjugam, e nos fazem acreditar que a felicidade e nós não existe, ou temos a ilusão de que ela não é para nós. A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional. Independentemente dos revés, da força dos ventos ou da escassez... Quando a felicidade se vai, a fé vai buscá-la.

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Caricatura - Stephen King Por Renato José Bento fb.com/infinitovezeszero

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Olhos Brilhantes Por Renato José Bento fb.com/infinitovezeszero Eles estavam ainda lá, parados, a uns

Abriu o aplicativo da câmera e

quinze metros de distância e cerca de

disparou o flash. Ouviu um ganido, quase

noventa centímetros do chão, bem na

como um grito de dor, só que mais áspero,

entrada da mata, como que pendurados nos

rascante, e os dois olhos se apagaram por um

galhos de um arbusto ou pairando atrás dele.

instante. Quando voltaram a se acender,

Jonas pensara, a princípio, que era um par de

estavam maiores, mais abertos e mais

vaga-lumes, embora não piscassem e, na

móveis. Passaram para o outro lado do

verdade, estivessem parados ali, bem ali,

arbusto, depois voltaram para dentro da

desde que ele os vira. Depois, concluiu que

mata, logo no fim daquela picada.

eram olhos, grandes e brilhantes como os de um gato, só que maiores, mais brilhantes e

– O que há, bichano? É tímido? Não gosta de fotografias?

mais separados um do outro. ―Diabos!‖ –

O rapaz olhou para trás, para a

pensou – ―Se isso é um gato, é o maior gato

clareira onde deixara sua barraca. A fogueira

que eu já vi‖. Matutou se haveria onças ali,

estava quase se apagando. Virou-se então

mas decidiu que isso não era possível, afinal,

para a entrada da mata. Não havia sinal dos

há muitas décadas não se avistava onças

olhos. Guardou o celular, juntou alguns

naquelas matas. Talvez um grande gato

galhos secos e voltou para o acampamento.

preto trepado naquele arbusto. Era isso, só

Colocou, um a um, os galhos na fogueira,

um gato, um gato muito grande e muito

abanando-a para reavivar a chama. Sentou-

estranho.

se recostado a uma grande pedra e abriu a

Tirou o celular do bolso e o apontou

galeria de fotos do celular. Havia várias

para aquele par de olhos. Era noite, mas

fotos de mato, regato e cachoeira, uma bela

havia uma bela lua cheia no céu.

foto do anoitecer e uma foto estranha, desfocada, mostrando um arbusto baixo e,

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logo atrás dele, um par de olhos esverdeados

―Indiana Jonas‖, embora nunca tivesse tido

adornando uma cabeça achatada e coberta de

interesse em estudar Arqueologia e sua

pelos castanho-acinzentados e encimando

maior aventura até então tenha sido pular de

uma grande boca cheia de dentes. ―Isso não

bungee jump num parque de diversões. Para

é um gato.‖ – pensou Jonas. Ele ampliou e

ele, aquela criaturinha estranha no meio da

diminuiu a foto, girou-a de um lado e de

mata era seu Pé Grande particular, o

outro, mas não encontrou resposta para a

passaporte para a fama. Talvez rendesse até

filosófica pergunta: ―Que por## é essa?‖

uma entrevista num desses programas

Um risinho seco soou nas sombras,

vespertinos tão pródigos em trazer para um

um som crepitante como a lenha que

público

nada

exigente

informações

queimava. Jonas viu, no limiar da luz que

completamente desimportantes. Essa era a

emanava da fogueira, o par de olhinhos

chance de uma vida, tudo que Jonas sempre

brilhantes. Um arrepio percorreu sua coluna,

sonhara... pelo menos nos últimos minutos.

mas ele, tentando manter o sangue frio,

Por mais que Jonas corresse, e ele até

apontou novamente o celular para a criatura,

que corria bem rápido para alguém cuja

lembrando-se, desta vez, de desativar o

única atividade física era futebol nos fim de

flash.

semana e sexo duas vezes por mês, ele não Um baque surdo e um impacto

conseguia alcançar a criatura. Quando ele

fizeram com que o celular de Jonas voasse

parou, tentando não botar os bofes para fora,

das mãos dele. ―Put# que pariu, seu merd#!

reparou que estava no meio da mata, cercado

Agora você errou feio. Nem minha mina

de árvores tão altas e tão numerosas que

mexe no meu celular‖. E, com esse discurso

impediam que a luz do luar penetrasse. Ele

inspirador, Jonas pulou de onde estava,

girou

pronto para estrangular o que quer que fosse

caminho de onde viera, começando a

aquela

desaforada.

duvidar de que tomara a decisão certa ao

Infelizmente para Jonas, a coisinha peluda

correr atrás do animalzinho que lhe atirara

era bem mais ágil que ele e se enveredou

uma pedra. Afinal, ele vivera até ali sem ser

pela mata mais uma vez. ―Ah, não desta vez.

conhecido nem mesmo pelos seus colegas de

Desta vez eu te caço, seu monstrinho!‖

trabalho e poderia muito bem continuar no

coisinha

peluda

e

Jonas tinha ido até aquele fim de

nos

calcanhares,

procurando

o

anonimato por mais um tempo.

mundo ao pé da Serra do Mar, cercado de

Deu os primeiros passos para voltar,

Mata Atlântica, para ter um gostinho de

mesmo não sabendo bem para que lado

aventura. Ele sempre sonhara em ser o

deveria ir, então ouviu novamente o risinho

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seco, como unhas arranhando a casca das

Quis arrancar aquela cabeça com a mão

árvores. Procurou os olhinhos brilhantes e os

direita, mas esta não o obedeceu porque

viu logo atrás de si, parados a poucos passos

estava ocupada sendo engolida. As pernas

de distância. A escuridão não permitia que

dele bambearam, e a boca foi invadida por

ele visse nada além daquelas bolinhas verdes

um gosto quente e ferroso. Jonas tombou de

fosforescentes, elas e aqueles dentes, um

lado, todo torto, o corpo, uma festa de dor.

colar de contas pontiagudas.

Mesmo assim, chegou a esboçar um sorriso

– Quer brincar, amiguinho?

ao reconhecer seu amiguinho. Tinha certeza

Jonas se abaixou para pegar uma

que era aquele que caminhava em sua

pedra.

direção, decidido, enquanto os outros se – Eu conheço seu jogo e sei jogá-lo

também. Quer ver?

banqueteavam.

As pernas finas, o corpo

magro, a cabeça bulbosa e desproporcional.

Achou uma pedra de bom tamanho,

―Você é feio pra caralh#!‖ – Jonas tencionou

sopesou-a e se ergueu, ameaçador. E deu um

falar, mas tudo que conseguiu foi gorgolejar.

passo para trás ao ver que seu amiguinho

E, pela primeira vez, ele viu de perto aqueles

tinha um amiguinho. Outro par de olhos

olhos que, decididamente, não eram de gato,

surgira à esquerda do primeiro e ele também

e viu de mais perto ainda aqueles dentes e

usava um colar. Um terceiro par de olhos

sentiu um bafo azedo de morte enquanto

apareceu, e um quarto. Todos devidamente

olhava para dentro daquela garganta.

paramentados. Começaram um coral de risos

Na tarde seguinte, Marcos e Jéssica

secos como grilos sendo esmagados por

chegaram

àquela

clareira

coturnos. E mais e mais emergiam das

afortunados por terem encontrado um local

sombras, com seus olhinhos de vagalume e

tão bom para acamparem, principalmente

seu sorriso de colar de pontas de flecha. Em

por estar quase anoitecendo. Recolheram a

pouco tempo, Jonas se viu cercado e decidiu

sujeira deixada pelo último campista (restos

que precisaria de mais pedras. Ele atirou a

esfarrapados de uma barraca, uma trilha de

primeira e se abaixou para pegar a segunda,

embalagens de comida que ia até a beira da

mas uma dor aguda no ombro esquerdo o

mata e um celular com a tela rachada)

paralisou. Sentiu um cheiro podre quando

enquanto debatiam sobre os animais que

olhou para a cabeça bulbosa que parecera

poderiam ter feito aquelas pegadas que

ter-lhe nascido naquele ombro, olhos verdes

estavam por todo o lugar. Quando anoiteceu,

de gato do mato olhando-o, enquanto dentes

estavam

de tubarão afundavam-lhe na carne macia.

aquecendo-se diante de uma fogueira. →

estabelecidos

e

sentindo-se

alimentados,

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Revista Real – Edição n. 8 – Jun-jul-ago/2016

Marcos foi até a entrada da mata para aliviar a bexiga antes de ir dormir, então viu o que parecia ser um par de grandes olhos verdes e brilhantes atrás de um arbusto.

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Revista Real Entrevistas

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Revista Real – Edição n. 8 – Jun-jul-ago/2016

ENTREVISTA COM:

Diego Sant’Anna

Nomeações: Especialista em Filosofia e Poética Moderna pela USP Membro da Academia de Autores Independentes Membro da Associação Cultural de Belgrado, Sérvia Membro do Grupo Literário Petit Sant Jordi, Madrid, ESP Parceiro do Centro Cultural Irlandês da cidade de Phoenix, Arizona EUA Parceiro do Centro Cultural Celta de Madison, Wiscosin EUA

DESCRIÇÃO Nascido em São José dos Campos, São Paulo, Diego Sant‘Anna formou-se em Letras. Em 2011 participou do Mapa Cultural Paulista na categoria poesia. Em 2013 teve diversas obras publicadas em antologias, ganhou vários concursos literários dentro e fora do Brasil e publicou sua primeira obra solo, titulada: MORTALITAS: Uma História De Amor E De Morte, obra trilíngue (Português, Inglês e Latim).. Em 2014 foi escolhido para representar o Brasil na Feira Internacional do Livro de Belgrado/Sérvia. Seu segundo livro da saga: MORTALITAS, com o título O Segredo de Ophelie, conta com as parcerias internacionais em prol da autenticidade do cenário do livro que é composto pela Mitologia Celta. Em 2015 representou o Brasil no maior festival literário do mundo em Edimburgo/Escócia e publicou o livro: A Chave Para O Infinito.

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Revista Real: Como surgiu seu interesse

de. Encantado por este maravilhoso mundo

pela escrita?

inexplorado,

Diego Sant’Anna: Desde que aprendi a ler e

Latim. Todo o livro foi escrito dentro de

a escrever, gostei dos sons das palavras e

uma biblioteca, mesmo local onde aconteceu

comecei a fazer rimas e trovas.

o lançamento.

mergulhando

profundo

no

Eu contei com apoio das pessoas que RR: Quais são as suas inspirações?

conheciam meu trabalho e torciam pelo meu

DS: O que me inspira é o amor e a falta dele.

sucesso, e isso fez toda a diferença. Não

As situações do cotidiano, reflexões e

imaginava que o livro, no ano seguinte,

análises.

fosse ganhar um prêmio em Portugal e ser comercializado na Europa.

RR: Você lê muito? Qual ou quais são suas obras favoritas?

RR: Como surgiu a ideia que fez você

DS: Leio bastante sim, leio bastante autor

iniciar a obra “MORTALITAS: Uma

nacional que conheço e acabamos trocando

História De Amor E De Morte”?

livros. Gosto muito de mitologia e história,

DS: A ideia principal surgiu na reflexão

estou sempre lendo sobre estes assuntos

sobre a aceitação do ser humano diante da

também.

morte. Busquei uma visão desprendida de qualquer religião ou crença e foquei na

RR: Quais dificuldades você tem ao

mente. Aí eu imaginei como seria um

escrever?

romance entre a vida e a morte, sendo que a

DS: Eu particularmente não gosto de ler

morte falece tudo o que toca, e a vida seria

livros que dão muita volta no assunto e

se finda completamente.

descreve tanto o seu texto que limita a

Ao som de Eivør Pálsdóttir (cantora

interpretação do leitor. Por isso eu tenho um

folk da Suécia), fui desenhando este cenário

pouco de dificuldade de descrever muito

que foi criando forma e vida dentro do

locais e personagens, sou muito objetivo e

contexto.

prezo pela ação e objetividade.

RR: Como foi a publicação do seu primeiro livro? DS: Quando eu publiquei meu primeiro livro eu ainda cursava Letras na universida-

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Revista Real – Edição n. 8 – Jun-jul-ago/2016

RR: De todas as suas obras já escritas, há

LINKS DO AUTOR:

alguma que te marcou mais? E por quê? DS: Teve algumas sim, vou citar uma que me surpreendeu por seu reconhecimento internacional. ―Humanidade, Unanimidade‖, foi escolhida pela Associação Cultural de Belgrado – Sérvia para representar o Brasil no maior festival do livro do leste europeu

O Lançamento do meu primeiro livro: http://valejornal.com.br/lancamento-do-livromortalitas-uma-historia-de-amor-e-de-morte-seranessa-sexta-feira-612/

Mapa Cultural Paulista 2013 http://www.sjc.sp.gov.br/noticias/noticia.aspx?noticia _id=14209 Antologia Poetas Brasileiros Contemporâneos I https://clubedeautores.com.br/book/146353-ANTOLOGIA_DE_POETAS_BRASILEIROS_CONT EMPORANEOS?topic=poesia#.VSNc-tzF9s8

no ano de 2014.

RR: Aos autores que estão iniciando nesse caminho da escrita, que conselhos você daria? DS: Escrever é uma arte e um dom. É um caminho difícil, mas muito prazeroso. Busque autores que possam ler a sua obra, dar dicas e divulgá-la. Participe de concursos literários, muitos deles são gratuitos. Escreva com a alma, doe seu talento de forma humilde e nunca desista, pois

Antologia Poetas Brasileiros Contemporâneos II: http://clubedeautores.com.br/book/150245-II_ANTOLOGIA_DE_POETAS_BRASILEIROS_CO NTEMPORANEOS#.VSNdOdzF9s8 Publicação na Revista Diversifica: http://revistadiversifica.blogspot.com.br/2013_06_01 _archive.html Prêmio UNIVAP 2011: http://www.univap.br/univap/cultura/docs/resultado_ concurso_poesias2011.pdf Representando o Brasil na Feira Internacional do Livro de Belgrado/Sérvia: http://entrementes.com.br/2014/10/o-escritorjoseense-diego-santanna-e-destaque-internacional/

obstáculos virão e tudo é um desafio!

Exposição na Biblioteca Cassiano Ricardo: http://www.sjc.sp.gov.br/noticias/noticia.aspx?noticia _id=15086

RR: Que recado você deixa para os

Um Poema Em Cada Árvore: http://entrementes.com.br/2014/09/um-poema-emcada-arvore-sao-jose-dos-campos/

leitores que ainda não te conhecem e aos que já acompanham o seu trabalho? DS:

Aos

que

me

conhecem

e

acompanham meu trabalho eu só posso agradecer de coração pelo carinho e apoio. Aos que ainda não conhecem eu os desafio a me acompanhar nesta jornada épica em

Publicação na Revista Mexicana Mimeografo Multicopista Cultural: http://pt.calameo.com/read/003376974bb0ece04c166 Prêmio Melhores do Ano 2014: http://entrementes.com.br/2014/12/escritor-joseensediego-santanna-ganha-premio/ Matéria sobre minha carreira internacional: http://faroesteliterario.blogspot.com.br/2015/03/dieg o-santanna-o-novo-nome-da.html

busca do desconhecido. Página no Facebook: fb.com/366diasdepoesia/ 24


Revista Real – Edição n. 8 – Jun-jul-ago/2016

ENTREVISTA COM:

Mariane Helena

DESCRIÇÃO

Mariane Helena Rodrigues e Silva, de São José dos Campos, tem 26 anos. Escritora, Colunista e palestrante. Autora do livro: "Um grande milagre – METAMORFOSE em palavras", editora COMDEUS. E participante de diversas outras antologias. Detentora da Medalha IV Conde de Figueiró - Embaixada da Poesia, Comenda Conde de Figueiró - Embaixada da Poesia, Certificado de mérito Cultural Embaixada da Poesia, Prêmio Mulheres do ano de 2015, Troféu Carlos Drummond de Andrade de literatura - Edição ouro, Troféu Cecilia Meireles - Mulheres notáveis, são algumas de suas premiações.

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Revista Real – Edição n. 8 – Jun-jul-ago/2016

Revista Real: Como surgiu seu interesse

e Fernando Pessoa.

pela escrita? Mariane Helena: Passei escrever após uma

RR: Conte-nos um pouco sobre o seu livro

tentativa de suicídio. Por consequência,

"Um grande milagre - Metamorfose em

passei

palavras".

um

longo

período

sem

voz

(traqueostomizada), foi quando a palavra

MH: Em 2015 publiquei o meu primeiro

passou a falar. Comecei a escrever para me

livro:

expressar, para desabafar, para sofrer, para

METAMORFOSE em palavras", editora

esconder a dor, para suportá-la, para aflorar,

COMDEUS. Como um marco de vitória em

para voar...

sua luta pela vida. Onde relata em poemas

"Um

grande

milagre

Sempre gostei de ler, fui alfabetizada

com amor e muita leveza as palavras escritas

aos 5 anos, desde então, nunca parei de ler,

em um diário de bordo, sobre o período mais

mas nunca pensei em ser escritora, mas a

doloroso de toda a minha história. A fim

palavra me encontrou e transformou a minha

demonstrar, que tudo coopera para o bem. E

vida.

assim deve ser encarado. Nele você encontrará o testemunho

RR: Quais são as suas inspirações?

de quem perdeu algumas partes do corpo e,

MH: Como escritora é fazer que meus

no entanto, ganhou mais luz á alma, na

escritos agreguem algo de bom na vida dos

balança do equilíbrio fica por conta das

meus leitores. Todo esse processo me fez

mãos de Deus. E compreenderá que a fé

percussora de vida, proclamadora do que

remove montanhas.

realmente é importante na vida. E é esse o meu maior objetivo, seja através dos meus livros, poesias, crônicas ou textos soltos, que todos eles tragam mensagens de vida, fé, motivação e alegria.

RR: Você lê muito? Qual ou quais são as suas obras favoritas? MH: Sim! Minha paixão é a poesia. Citar obras seria algo muito vasto, prefiro citar meus autores prediletos, que são: Cora Coralina, Mario Quintana, Clarice Lispector

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Revista Real – Edição n. 8 – Jun-jul-ago/2016

RR: Para você, o que é ser uma "Mulher

RR: Dos diversos gêneros textuais que você

notável"?

escreve, qual é o seu preferido? Por quê?

MH: Quando ouvimos a palavra ―Notável‖

MH: COM CERTEZA A POESIA! Sempre fui

temos a sensação de grandeza, de sucesso,

muito tímida, sempre tive muita dificuldade

de excelência intelectual, de brilho. Mas pra

para falar sobre mim e meus sentimentos...

mim não é só isso! Só se sobressai quem faz

Depois que a poesia me deu asas, percebi que é

da vida um elo profundo e contínuo com os

a forma que encontrei para expressar as coisas

valores humanos, com a construção de um

mais profundas de mim e não apenas trazê-las à

mundo melhor, com a cidadania, com as

tona,

questões sociais e, mais importante, quem

atemporais e mutáveis! A cada leitura te trás

faz do ato de viver um compromisso consigo

uma nova luz... Uma nova verdade.

mas

universá-las.

As

poesias

são

mesmo e com a realidade que o cerca. Para mim, ser uma MULHER NOTÁVEL é ser

RR: Que recado você deixa para os leitores

uma mulher que contribui para o bem maior

que ainda não te conhecem e aos que já

e faz com excelência tudo aquilo que se

acompanham o seu trabalho?

propôs a fazer, se tornando um exemplo de

MH: GRATIDÃO! Só tenho a agradecer a

garra, humildade e persistência.

todos que acompanham o meu trabalho e a minha história de vida, a todos aqueles que

RR: Aos autores que estão iniciando nesse

tornam diariamente o meu sonho possível que é

caminho da escrita, que conselhos você

ser lida e com minhas palavras transformar

daria?

vidas.

MH: A literatura não é um universo muito

Aos que ainda não conhecem o meu

fácil, além de ainda (infelizmente) ser muito

trabalho, deixo aqui o convite de conhecem

elitizada, existem cada vez mais ―escritores‖

minha página no facebook:

dentro das facilidades que as redes sociais abriram para qualquer pessoa escrever...

www.facebook.com/metamorfoseempalavras

expor o que pensa. Mas penso eu que o nada é maior que o sonho e o talento!

e meu blog:

Se você tem o sonho de ser escritor e tem esse talento, com garra e persistência

www.metamorfoseempalavras.blogspot.com.br

nada o impedirá de trilhar os caminhos da escrita.

Tenho certeza que encontrarão alguma palavra que tocarão o coração de vocês.

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@revistarealbr

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Revista Real – Edição n. 8 – Jun-jul-ago/2016

Texto originalmente publicado em:

www.cronicadodia.com.br/

Chamas Por Zoraya Cesar zoraya.cesar@gmail.com Não era o sujeito mais brilhante do

Casaram-se. Casaram-se e tiveram

mundo; era, até, meio bronco, mas Gilmar

uma filha. Lucinha trabalhava de doceira,

conseguiu passar na prova para o Corpo de

quituteira e, eventualmente, faxineira. Tudo

Bombeiros. Raspando. O que o salvou foi a

pela família, para ajudar nas contas e crescer

prova física, na qual tirou nota máxima.

na vida com seu amado Gilmar.

Um uniforme, vocês sabem, atrai

A vida seguia tranquila. A vida

mulheres como formigas no pão doce. E

sempre segue tranquila até deixar de seguir,

Gilmar era calmo, pacato. Não gostava de

não é mesmo?

farras, jogatinas, churrascadas.

Pois teve uma noite em que a equipe de Gilmar socorreu as vítimas de um sobrado em chamas. Ele subiu até o terceiro andar, para resgatar a última refém do fogo. No instante em que a viu, seu coração incandesceu. Lá estava ela, acuada pelas labaredas, seus cabelos tão rubros

Não à toa, portanto, que Lucinha, a

quanto o fogo que a cercava, os olhos

meiga, simples, sonhadora Lucinha, de

reluzentes e destemidos de quem sabe que a

crespos cabelos negros e grandes olhos

morte é inevitável, mas, nem por isso, deve

castanhos,

O

ser aceita sem luta. Seminua, seu corpo

bombeiro, como sabemos, era meio devagar

brilhava pelo suor que escorria nas suas

para perceber as coisas, mas os amigos,

ancas grossas e peitos grandes, toda ela

esses o alertaram que a moça mais bonita e

exuberando sensualidade.

apaixonou-se

por

ele.

valorosa da região estava a fim de um relacionamento sério.

Agarraram-se ali mesmo, no meio do turbilhão de fogo que os envolvia, um corpo

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Revista Real – Edição n. 8 – Jun-jul-ago/2016

derretendo contra o outro.

Estelita dormia na casa de Gilmar

Tornaram-se amantes. A incansável

que, mal a esposa caía no sono, corria para o

espanhola Estelita inflamava Gilmar com o

quarto

conhecimento que adquirira em sua vida de

devoravam rápida e vorazmente, numa ânsia

dançarina

que

quase ululante. Depois, ele passava o resto

atravessara o oceano para perder-se em

da noite virando-se na cama, o sono

outras terras e encontrar, enfim, o amor.

inquieto, tenso como um fio desencapado. A

da

noite,

dançarina

da

amante,

sedento,

onde

se

Um amor que, a cada dia, mais se

mera existência da esposa o incomodava.

alastrava em suas almas, como fogo em

Divórcio não estava nos seus planos,

campo aberto.

Lucinha ficaria com boa parte de seu salário,

O sereno, plácido, quase bovino

e isso era impensável. Sua amásia gostava de

Gilmar transformara-se num esfaimado,

roupas e perfumes caros, ele não podia

devorador insaciável, que tinha sede e fome

prescindir de um centavo sequer.

constantes da pele, do cheiro, da presença de

Engendraram, ambos, um meio para

Estelita, e dela somente. Consumiam-se nas

se livrar do estorvo: forjariam um acidente

chamas da carne, cada vez mais vorazes,

no qual a casa explodiria, junto com

cada vez mais dependentes do corpo um do

Lucinha. A experiência de Gilmar como

outro, numa lascívia imensurável. Gilmar

bombeiro garantiria que não seriam deixadas

queria que Estelita largasse da vida. Estelita

pistas, e ele daria um jeito de a criança não

dizia que só casando. Gilmar não conseguia

estar presente.

mais ficar sem ver Estelita, tocar Estelita, se perder em Estelita nem um dia sequer.

A explosão foi violenta, seguida por um

incêndio

bombeiros

arrasador.

encontraram

Da

casa,

apenas

os

cinzas,

iluminadas, aqui e ali, por umas poucas labaredas alaranjadas e azuis. Uma fumaça escura tentava subir em direção ao céu, mas era espalhada pelo vento. Durante

o

funeral,

Lucinha

Convenceu Lucinha a contratar uma

devaneava sobre as ironias da vida. Tanto

ajudante — Estelita, claro — para ajudá-la

fizeram, os dois amantes, que passariam a

nos afazeres domésticos, cada vez mais

eternidade juntos, as cinzas misturadas e

pesados, por causa da criança.

enterradas sob a mesma Terra da qual

E assim, três vezes por semana,

quiseram expulsá-la.

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Revista Real – Edição n. 8 – Jun-jul-ago/2016

O tonto do Gilmar acreditou que ela não

perceberia

suas

mudanças

Em homenagem às chamas que a

de

libertaram, pintaria o cabelo de vermelho.

comportamento, suas maneiras ríspidas, os

Olhou em volta. O tenente do batalhão

rancorosos olhares de soslaio, o jeito de

parecia ser um homem interessante...

andar pela casa como um touro enjaulado. Somente aquele parvo creria no sono profundo

da

esposa

enquanto

ele

se

enrabichava com a ‗ajudante‘. Durante semanas, Lucinha engoliu o choro, mortificada. Não tinha para onde ir, não tinha a quem recorrer, nem como provar a infidelidade do marido. E tinha pavor de que ele tentasse tirar-lhe a criança. Mas a paciência é a arma dos fortes. Esperou. A grande sorte, porém, foi que, de tão inquieto seu sono, Gilmar falava enquanto dormia. E o que Lucinha ouviu foi suficiente para virar o jogo a seu favor, pois, o que o marido tinha de desapercebido — tomado que estava pela luxúria —, ela tinha de sagaz. Não vivera com um bombeiro sem aprender algumas coisas. Adiantou o relógio que deflagaria todo o mecanismo da explosão num dia em que, ela sabia, Gilmar estaria em casa — com Estelita, claro — e foi passear com a filha. Agora estava ela, viúva — não mais meiga, simples ou sonhadora —, com a pensão de sargento do marido traidor, e livre: dos amantes que pretendiam matá-la; da humilhação; do medo de ser mandada embora de casa, ou, pior, de ser mandada pelos ares.

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RECOMENDAÇÃO

O jardim animado De Maira M. Moura Marcando a estreia de Maira M. Moura na literatura, O jardim animado surpreende exatamente pela maturidade. A voz peculiar que Maira constrói ao longo de seus nove contos aparentemente independentes é uma voz que evoca um universo à la Neil Gaiman e deixa escapar uma ou outra herança de Allan Poe, mas ultrapassa – e muito – essa junção. Na mistura inusitada, a narrativa segue abraçando elementos até então opostos (ou, no mínimo, de combinação inimaginável), indo da mitologia grega a Jorge Ben Jor, de sereias fantasmáticas a alienígenas com máscaras de tragédia grega no lugar do rosto. Em comum, personagens que – tragados pelo absurdo da vida – parecem desistir de questioná-lo e, ao invés disso, nutrem uma espécie de consciência do inevitável. Se a ironia é a possibilidade de dizer duas coisas opostas ao mesmo tempo, é precisamente aí, nesse Página da autora no facebook: facebook.com/Mairammoura/

ponto de encontro entre ambos, que os personagens de Maira se desenvolvem: melancólicos e cômicos, sombrios e inofensivos. Fantasiosos e, ainda, estranhamente verossímeis. Maira, na realidade, não apenas diz duas, mas múltiplas coisas ao mesmo tempo, tornando O jardim animado um labirinto desdobrável e infinito em que o leitor encontra muito além do que pensava estar procurando.

Links de venda do livro: http://editoramultifoco.com.br/loja/product/o-jardim-animado/ http://www.travessa.com.br/o-jardim-animado/artigo/8c80159e-5b39-4a48-9438-3295fc2161f9

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