Anga ibiisi - Luis Serguilha

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do retorno da irrealidade, renomeando obsessivamente a profusão dos síncopes no templo-natureza: infinitas irrigações nas epifanias da vida). O poeta contamina-se ao restaurar o grito, o grito que permanecerá inconcluso: esta expressão estética do mundo, da cosmovisão: esta metamorfose simultânea do tempo, do espaço, da materialidade e da espiritualidade: celularidade vitrificada ou vidral-infinito, cerâmicainfinita, azulejaria-infinita(ondas de amplitudes variáveis):_____derribamento, desaparecimento, espasmo inexplorável, extracção, arremesso inabalável, entrecorte, dispersão, velocidades variáveis, adstringência desordenada, rodopios, trapezistas, decomposição, granulagem, chicotada pollockiana, curtos-circuitos, zimbraduras, contracturas, narcose, e-imigrantes. O poeta-Sísifo improvisa-se na descidasubida babilónica e acelera-se na dobra, suturando a caminhada incicatrizável, futurando-se criativamente entre as vibrações da pedra que restitui inquietantemente a historiografia panteísta. Seus olhares de raiografias, de perspectivas dançantes entremeiam-se infinitamente: melopeia, sonoridades infinitas, êxtase no encurvamento da pedra-corpo (insustentáveis percursores das figuras sígnicas). O poeta procura o ilimitado e alimenta-se do informulável, da composição imaginária-radical, da confidência irredutível-iminente do relâmpago, do magnetismo da estranheza, da anterioridade da palavra-que-é-risco-em-potência-dentro-do-risco-doescrevente: estes territórios da emancipação fecundante que desfecham o mundo, transgredindo e instaurando esfinges moventes que desvendam outras esfinges moventes em laços electivos: germinação de um corpo persistente, do corpo em descontinuidade, em fluxo sedutor-feiticeiro. O poeta acolhe a disseminação dos sentidos, as alucinantes sensorialidades, a fulguração alquímica da luz-sombra, do firmamento-terra, da matéria inorgânica-mutante do livro da natureza: (improvisação dos maestros genesíacos, voragem das ruínas, acervação e sobrevivência das impressões primordiais: o recomeço encruza-se na vida e faz vida: transfigurações serpenteadas): estonteamento, enervamento dinâmico a trespassar o pensamento estético-fragmentado nos rituais prestidigitadores, nos teatros órficos: os deuses já passaram por aí? Ouve-se, pressente-se a respiração labiríntica da fábula-divina). O poeta-surfista-sonâmbulo e o silêncio anunciam as suas forças de efusões, as suas obsessões, os seus olhares incriados giram nas reminiscências entre espelhos para além dos sussurros, sacralizando as atmosferas do inexplicável, do indizível, do não sentido (recomeço da poeticidade fantasmagórica: frémito das incursões zoológicas): matérias centrais das gestações de uma animal-dançante-musical ou a dissolução das fronteiras como possibilidade silenciosa do indizível: o poeta-surfistasonâmbulo GRITA (repetindo): o silêncio da energia encantatória, do impensado, das possibilidades infinitas, da perda inominável, do desassossego, do apagamento-criativo destrói a tentativa da acepção da poesia, da significabilidade, da tradução, da exegese, porque as incubações obscuras, as fecundações hipnóticas, as mutações eruptivas transformam o poema numa coexistência de velocidades-passagens singulares, reinaugurando o vaivém-dos-rastos que desenham aberturas obscuras, nervuras :(intersecção do risco-falta-falha-fulgor-assimulação-acaso):

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