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Alegria, Alegria

O RETORNO DA RELÍQUIA

De bailarina a empresária de sucesso: Gisele Schwartsbund redescobriu a obra de Sergio Rodrigues e apresentou seu nome ao mundo – e ao Brasil!

POR SIMONE RAITZIK

Até os 36 anos, Gisele Schwartsbund definia sua ocupação como “dançarina”. Articulada e comunicativa, flanava pela cena cultural entre Rio e São Paulo, criando coreografias para o teatro, em parcerias de sucesso com dramaturgos e atores de peso. “Essa experiência intensa nos palcos me fez ter uma cabeça aberta e pouco convencional. O problema é que esse universo é instável financeiramente. Quando veio o governo Collor, no início da década de 1990, fiquei um longo período sem trabalhar. Foi bem complicado e percebi que precisava de opções”, lembra.

O plano B se materializou quando se viu como representante de móveis, ramo que conhecia bem, já que o pai era dono da Decormade, uma loja de mobiliário, em Curitiba, sua cidade natal. Apesar de mais “concreto”, como ela definia seu novo trabalho, nem tudo foi fácil: muitos clientes atrasavam pagamentos, e as cobranças frequentes eram um desgaste. “Pelo menos percebi que gostava de design. Era curiosa, intuitiva, e isso me fazia seguir em frente”, afirma.

A oportunidade da virada apareceu há exatos 23 anos (Gisele tinha 43), quando visitou uma exposição sobre a história das cadeiras brasileiras em um shopping carioca e se deparou com uma Poltrona Mole, de Sergio Rodrigues – na época, fora do mercado e considerada uma relíquia. “Olhei para aquele móvel lindo e pensei: ‘Por que ele não está sendo produzido agora?’.” Sem perder tempo, foi procurá-lo e propôs colocar a peça em linha.

Um revival do design modernista. Ele, sempre simpático e bonachão, achou a ideia ótima, mas admitiu que quem fechava qualquer negócio na família era sua esposa, Vera Beatriz. “Não é que caímos nas graças uma da outra? Propus fazer um protótipo sem mudar a técnica, mantendo a forma original, o que ninguém antes achava viável porque os encaixes são artesanais e trabalhosos. Ela aprovou, confiou no meu comprometimento e fui à luta”, revela Gisele, que vendeu o apartamento que tinha no Vidigal, no Rio, para dar início à empreitada.

A parceria com o arquiteto e a criação da LinBrasil – sua fábrica, sediada em Curitiba – nascem nesse exato momento, com a proposta de produzir e comercializar, nacional e internacionalmente, 34 modelos com a assinatura de Sergio Rodrigues, até 2033. “No início, enfrentei vários desafios e certo preconceito, porque muitos arquitetos diziam que a Mole tinha ‘teia de aranha e cara de museu’. Vendia pouco e somente para lojas bacanas. Não tinha uma produção significativa”, revela.

Em 2007, Gisele, sempre intuitiva e corajosa, investiu tudo o que tinha e levou as cadeiras para a Feira de Design de Milão. “Ali fomos descobertos pela imprensa e pelo mercado internacionais.” Na volta, viu sua produção crescer para cerca de 4 mil peças por ano e ganhar o mundo, com vendas para Estados Unidos, Inglaterra, França, Itália e Japão, entre outros países. “Só aí o Brasil voltou a descobrir e valorizar o traço moderno e genial de Sergio”, comenta.

Hoje, com a LinBrasil dando certo, Gisele leva uma vida mais tranquila. “Moro em Curitiba. Aqui a vida é simples, o que me faz bem. Estou perto dos produtores, tem mão de obra especializada e a logística é perfeita”, conta a empresária, adepta do “slow marketing”. “Não forço a barra, não fico atrás de arquitetos, não faço lobby. Tive a paciência de esperar que o mercado reconhecesse o quanto Sergio era maravilhoso. Não é que deu certo?”, arremata ela, que infelizmente não dança mais por causa de três hérnias de disco.

Gisele em seu apartamento em Curitiba, onde leva uma vida leve.

ALEGRIA, ALEGRIA

Com um estilo que celebra o artesanal, a cor e a valorização do produto brasileiro, a designer Isabela Capeto é dona de uma personalidade forte e alegre. Suas peças são como obras de arte feitas à mão, com bordados e aplicações que tornam cada criação exclusiva.

POR SIMONE RAITZIK