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Cena em Cartaz

Como o design e o cinema se misturam na composição dos pôsteres de filme.

POR BRUNA GALVÃO

Os cartazes de cinema são tão atrativos quanto os trailers. Alguns têm um projeto gráfico rico, chegando a ser verdadeiras obras de arte – e não é à toa que muitos cinéfilos (ou até quem não chegue a tanto) mantêm o hábito de decorar a parede de casa com eles.

Para falar sobre o design no cinema como forma de atração para os filmes, &Design convidou Maya Guizzo, professora de história do cinema do Istituto Europeo di Design de São Paulo (IED) para uma entrevista.

Nela Maya fala sobre as mudanças da linguagem gráfica ao longo dos anos e comenta especificamente sobre o trabalho das designers. “Sempre houve mulheres cumprindo funções criativas e executivas na história da arte, do cinema e do design, mas elas foram pouco lembradas ou mesmo apagadas dos livros”, afirma.

O ENCOURAÇADO POTEMKIN.

SERGUEI EISENSTEIN, 1925. DESIGNER: RODCHENKO Resultado do movimento construtivista russo, que teve no cinema sua maior repercussão por meio das obras de Dziga Vertov e Sergei Eisenstein. A orientação espacial do cartaz está na horizontal, como a tela do cinema. E há um espelhamento, que simula o navio e um tanque de guerra.

&DESIGN: Quais as principais mudanças de linguagem gráfica que os cartazes de cinema sofreram ao longo dos anos? MAYA GUIZZO: Desde as primeiras sessões em sala de cinema, na Paris de 1895, os cartazes para os filmes exibidos no cinematógrafo dos irmãos Lumière eram produzidos por meio da técnica de impressão litográfica. Na década de 1920, eram ilustrações pintadas à mão sobre fotos de cenas de filmes. Nesse caso, havia mais gestualidade e a assinatura de um “artista-artesão”. A partir dos anos 1930 e do movimento art déco, foram introduzidos elementos geométricos e cores fortes. Ocorre também a eliminação de fundos detalhados para fundos brancos ou em cores sólidas, além de mais rostos de personagens, em detrimento da representação de cenas. Passa-se a usar técnicas de serigrafia. Outro marco dessa época é a experimentação de tipografias diferentes, mais ousadas, como o uso do desenho, do contorno à mão, de uma nova forma de pensar os alinhamentos. As composições são mais arejadas, com camadas metafóricas que tentam revelar o sentido do filme.

&D: No Brasil, como foi o processo do design nos cartazes de cinema? Quais são as características e peculiaridades? MG: O movimento do Cinema Novo, nos anos 1960, propôs uma nova representação da identidade nacional na produção cinematográfica. Como exemplo, temos em 1964 o lançamento do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, com cartaz de Rogério Duarte, escritor, poeta, músico e designer baiano. O cartaz traz o close do personagem Corisco. Ele aparece encarando o espectador, segurando um punhal, que divide o seu rosto e é envolvido pelo círculo, que o “santifica”, como uma auréola ou coroa, que representa o sol da paisagem típica do sertão brasileiro. Isso é diferente de um cenário fotografado com luz controlada em estúdios, como o das produções comerciais, influenciadas pelos musicais estadunidenses. Na mesma época, Helio Oiticica fez uma bandeira com a frase “Seja marginal, seja herói”. O design gráfico no Brasil, nessa época, é influenciado pelas escolas europeias, como a Bauhaus, e pelo movimento do Neoconcretismo.

&D: Ainda que vistas à margem desse processo, algumas designers produziram trabalhos marcantes no cinema nacional... MG:: Sempre houve mulheres cumprindo funções criativas e executivas na história da arte, do cinema e do design, mas elas foram pouco lembradas ou mesmo apagadas dos livros. No design, podemos nos recordar de mulheres como Hannah Hoch, do movimento dadaísta, e Anni Albers, formada na Bauhaus e especializada em design têxtil. Enquanto Jacqueline Casey, Rosmarie Tissi e Paula Scher foram de suma importância para o design de cartazes para escolas, centros culturais e empresas. &D: Ainda que vistas à margem desse processo, algumas designers produziram trabalhos marcantes no cinema nacional... MG: Sempre houve mulheres cumprindo funções criativas e executivas na história da arte, do cinema e do design, mas elas foram pouco lem-