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Verde Perto

BENEDITO ABBUD VERDE PERTO

O paisagismo biofílico leva natureza para ambientes construídos, para restaurar a mente.

POR: ELIANA CASTRO

Levar a natureza para ambientes construídos define o “paisagismo biofílico”. No entanto, muito antes de virar tendência, Benedito Abbud já assinava projetos com esse conceito. “A gente precisa entender que faz jardim para as pessoas. Então sempre procurei criar lugares que abraçassem, que tivessem um poder restaurador”, conta o paisagista, que está há mais 40 anos assinando projetos residenciais e corporativos.

O projeto mais atual de Abbud é o ultraluxuoso Cidade Matarazzo, o antigo Hospital Matarazzo, que reúne hotéis, restaurantes e lojas sofisticados, além de uma enorme área verde. “Começamos o plantio há cerca de um ano e agora conseguimos ver os resultados. Hoje, já temos uma biodiversidade incrível: levamos a Serra do Mar para a Avenida Paulista”, comemora.

O paisagista explica que em uma cidade pequena, em que há muito campo em volta, não existe a necessidade de trazer o verde para a zona urbana porque as pessoas convivem com ele em seu entorno. No entanto, quando se pensa em municípios grandes, criar espaços verdes é fundamental para trazer a sensação de bem-estar.

O paisagismo biofílico foi inspirado nos healing gardens, jardins de cura, criados há alguns anos em hospitais de vários lugares do mundo. Com o tempo, ficou claro que, ao manter contato com a natureza, os pacientes e seus familiares se acalmavam e isso ajudava na recuperação.

Com a pandemia da covid-19, a importância do jardim ficou ainda mais forte. “E as pessoas não querem apenas a vegetação. Elas querem lazer. Então, é fundamental qualificar o espaço

e oferecer bancos e mesas, brinquedos para as crianças. A ideia é fazer um jardim que seja curtido, e não apenas admirado”, conclui Abbud.

Para o paisagista, essa foi a grande mudança nos últimos tempos. Ele recorda que, na infância, as pessoas tinham jardins em frente de casa, com mureta baixa e plantas e flores que davam trabalho para cuidar. “Minha avó tinha dálias, boca-de-leão e outras flores que chamavam a atenção da vizinhança. E ela se orgulhava muito disso”, diz. “Hoje, o jardim saiu da frente da casa e foi para os fundos. A garagem, que antigamente ocupava esse espaço fora da vista, é por onde a maioria das pessoas entra. Mas é quando se chega à sala que vemos lá, no quintal, o jardim: um lugar de plantas, flores e com espaço para receber amigos e familiares. Esse jardim também é uma área contemplativa, mais resguardada, para se refazer do dia a dia. O modo como projetamos a paisagem de casas e edifícios também mudou.”

Para Abbud, o movimento biofílico é algo que não tem volta porque todo mundo entendeu que precisa ser tocado pela natureza. “Sou muito otimista. Acredito que a tecnologia facilitou e vai continuar facilitando muito o movimento de trazer o verde para perto. Hoje, há adubo na água e controle remoto de drenagem e irrigação. O que importa é estar perto do verde, pois as grandes cidades ficaram mais agressivas e o paisagismo virou um contraponto para amenizar o concreto.”

"Jardins biofílicos são feitos para serem curtidos", Benedito Abbud