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Paixão pela Tapeçaria

Artista em ascensão da nova geração de tapeceiros, Alex Rocca é síntese, cor, luz e sombra

POR: REGINA GALVÃO

O curitibano Alex Rocca, 37 anos, integra a nova geração de artistas tapeceiros que investem na produção autoral.

Em abril deste ano, Rocca foi destaque na SP-Arte 2022, na capital paulista, ao apresentar uma tapeçaria de grandes proporções, toda colorida e feita à mão com materiais diversos.

Com 3,70 x 4,40 m, a peça levou quase três meses para ficar pronta e foi tramada em três partes. “É minha maior obra até agora”, afirma Rocca, que, além da tapeçaria, trabalha com direção de arte e cenografia.

Em busca de novos significados e potências para as suas peças, Rocca se define mais como artista do que como designer. Sua arte é o resultado de suas vivências como homem preto e gay e de suas pesquisas.

&DESIGN: Qual a relação entre a sua formação e a tapeçaria? ALEX ROCCA: Sou formado em cinema e design de interiores e há 15 anos trabalho com direção de arte e cenografia. Foi assim que desenvolvi meu senso estético. Minha cabeça funciona de maneira tridimensional, e vejo a tapeçaria como uma escultura.

&D: Como é o seu processo de criação? AR: É quase arqueológico. Tenho três variáveis: volume, textura e cor. Pesquiso fibras naturais e sintéticas, aplico tingimentos naturais ou não. &D: Como se deu o contato com a tapeçaria? AR: Pesquisando arquitetura, eu me apaixonei pelas tapeçarias modernistas de Burle Marx, Norberto Nicola, Jaques Douchez. Em 2019, senti vontade de praticar atividades manuais. Com bastidor, linha e agulha, fiz meu primeiro bordado. Isso passou a me fascinar.

&D: Como pintou o convite para a Feira na Rosenbaum? AR: A Lola Muller, que é designer têxtil e participa da feira, foi quem me descobriu. Ela sugeriu meu nome a Cris Rosenbaum. Participei do evento de Natal em 2019, e foi surpreendente o interesse que minhas peças despertaram. &D: Quem o inspirou a seguir em frente? AR: Acompanhei de perto as obras de artistas como Eva Soban, Renato Dib e Sonia Gomes. A tapeçaria surgiu como um meio para extravasar a criatividade e, de repente, por causa dela, minha vida virou de ponta-cabeça. &D: O que isso significa? AR: Sou mais artista do que designer. No início, pensava só na estética, mas hoje busco outros significados para o trabalho. O resultado sai do que sou, um homem preto e gay, das minhas vivências e do que pesquiso. São essas questões que levaram à evolução da minha tapeçaria. &D: Você fez duas coleções exclusivas para a Dpot Objeto, não? AR: Sim. A coleção Simbiose, inspirada nos movimentos orgânicos do paisagismo e da arquitetura urbana, e a Jardins, com referências de paisagistas como Burle Marx, Rosa Kliass e Alex Hanazaki, do americano Charles Jencks e de Shunmyo Masuno, o principal designer do Japão. &D: E a recente tapeçaria para a SP-Arte? AR: Ela representa o resumo do meu trabalho: síntese, cor, luz e sombra. Foi uma realização pessoal dar mais profundidade à peça e poder detalhar melhor a superfície têxtil, misturar mais cores e fibras.

"Meu processo de criação é quase arqueológico, com três variáveis: volume, textura e cor"