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CASE

O MELHOR AMIGO DOS EMPREENDEDORES

Com o sonho de investir em algo em que pudessem trabalhar juntos, casal usou a paixão por pets para criar um negócio próprio e personalizado

Por Júlia Rondinelli, da Redação do E-Commerce Brasil

Não é novidade para ninguém que o cão é o melhor amigo do homem. Se formos abandonar as estruturas linguísticas que nos prendem às normas de gênero da Língua Portuguesa, podemos dizer que os cães, em geral, são os melhores amigos da espécie humana. Foi nessa relação de reciprocidade entre os quadrúpedes e os bípedes que o casal Rochelle Bernardes da Silva e João Felipe Guterres encontrou a inspiração para o negócio próprio durante a pandemia de Covid-19.

João afirma que sempre quis ter um empreendimento ao lado da esposa, o que se tornou possível ainda em 2021 depois de um teste inusitado. O casal começou a confeccionar plaquinhas personalizadas com as feições dos bichinhos de estimação. O sucesso entre os conhecidos e seguidores do Instagram foi tamanho que logo havia quem estivesse pedindo para que colocassem seus próprios bichinhos nos produtos.

O empreendedor conta que “estava andando na rua, imaginei um layout para as plaquinhas e falei para a Rochelle, que criou os primeiros modelos. Depois de postar no Instagram, vários amigos começaram a comentar que queriam também. Foi aí que pensamos ‘opa, pode ter uma oportunidade aqui’”. As primeiras plaquinhas criadas pela designer decoram até hoje o escritório do casal.

Sem saber que eram alvo da afeição dos seres humanos, dezenas de “amigos de quatro patas” tiveram suas feições eternizadas em plaquinhas decorativas antes mesmo de a empresa virar o que é hoje. Em pouco tempo, o casal percebeu que havia ali uma chance de finalmente concretizar um sonho. Ainda no começo de 2021, nascia a Cusca Criativa. A inspiração, inclusive, surgiu da junção do nome da cachorrinha do casal com a fonte de toda essa aventura: a tal da criatividade. Para eles, a cachorra é a “chefe da empresa”.

O começo de um sonho

Depois de algumas reflexões e desilusões envolvendo as vendas no mundo físico, os dois perceberam que o digital seria o ide-

al para alcançar ainda mais clientes. Com o passar dos meses, a palavra “experimentação” virou a regra da pequena manufatura, que conta com apenas três pessoas. quisam formas de fazer aquilo acontecer com a maior praticidade possível. Se não der certo, tiram do catálogo; se der, investem no maquinário.

Toda a operação é realizada pelo casal e mais uma colaboradora, desde a confecção até a embalagem. Além disso, encontraram no e-commerce o diferencial que precisavam: chegar a ainda mais amantes de pets à distância de um clique. O casal conta que da relação com os consumidores surgiram verdadeiras amizades e conheceram diversas histórias, porque nada aproxima mais os pais de pet do que falar dos seus filhos peludos.

Os pets mandam aqui

Antes de entrar de cabeça no empreendimento, Rochelle trabalhava no Laboratório Central de Porto Alegre, mas já tinha experiência como designer gráfica por conta de um hobbie na adolescência. Ela é hoje responsável por todas as artes realizadas nos produtos e cria os padrões que acompanham cada uma das plaquinhas. Na Cusca, todo mundo põe a mão na massa. Por mais que por trás do Photoshop esteja a Rochelle, João opera a máquina 3D para os outros produtos. “O processo é relativamente simples, mas nós o revemos e o otimizamos a cada semana para que caiba na

Foto: Divulgação

Além das plaquinhas, o catálogo da Cusca Criativa conta hoje com diversos outros produtos, que foram criados da mesma maneira espontânea. Eles explicam que tudo na empresa funciona na base do teste: percebem uma demanda - ou melhor, uma uma oportunidade -, ensaiam a confecção e, se der certo e tiverem conversões, dão continuidade à fabricação. Nesse meio tempo, alugam equipamentos, terceirizam ou pesnossa estrutura enxuta. Mas já prevemos que em breve vamos alcançar o ‘teto’ da nossa capacidade”, explica o empreendedor.

“Na verdade, como somos uma empresa pequena, eu faço um pouco de tudo, mas estou mais focado na parte de tecnologia, site e tráfego pago”, ele completa. Rochelle, além do design, faz a parte financeira e o atendimento ao cliente.

“Se pudéssemos dar um conselho para quem está começando, diríamos que o principal é investir, antes de tudo, em educação e em ferramentas para aprender mais sobre o e-commerce”

Uma pandemia no meio do caminho

Não é necessário explicar que a pandemia foi uma faca de dois gumes para o varejo brasileiro. Ao mesmo passo em que alavancou as vendas online, ela desestabilizou milhares de trabalhadores pelo país. Foi diante dessa dificuldade que o casal decidiu entrar com os dois pés no universo do empreendedorismo.

Mesmo que cheio de oportunidades, o mundo das vendas online não é para amadores: o casal disse que precisou aprender tudo do zero e se adaptar com relação aos erros e acertos. Para Rochelle, empreender é “errar mais do que acertar”, mas no final do dia até

Foto: Divulgação os erros viram aprendizado e servem para alguma coisa.

O casal comenta que, mesmo com as turbulências durante a pandemia, a situação ficou mais complicada a partir do começo de 2021, quando o estado do Rio Grande do Sul enfrentou mais dificuldades e muitas empresas começaram a cogitar demissões. Com a perspectiva de perder o emprego, João entendeu que investir na Cusca seria não só a oportunidade de empreender ao lado da esposa como também de ter outra fonte de renda.

O teste que eles fizeram para decidir se a ideia vingaria foi enviar um quadro de presente para uma influenciadora digital. Depois do recebido, a visibilidade aumentou e o já então fantasma da pandemia deu o empurrãozinho que faltava para a criação do site. A princípio, a ideia era abrir uma loja física, mas a abrangência do digital os convenceu a redirecionar os investimentos. “Quando estamos começando, temos a vaidade de querer abrir um lugar físico, sendo que existe uma chance de escalar muito mais o negócio operando no e-commerce”, explicou João.

Depois de batido o martelo e redirecionados os investimentos, o casal focou em se educar sobre o universo digital e hoje tem uma per-

cepção muito mais vantajosa do que é empreender online. “Percebemos também que por todo mundo estar passando mais tempo em casa, as pessoas tinham essa necessidade de ter um ambiente mais confortável e começaram a investir mais em decoração”, disse Rochelle. Para ela, esse movimento dos consumidores foi fundamental para a Cusca Criativa. O aumento da popularidade das compras online também ajudou a alavancar as vendas.

Com o tempo, o casal criou com os clientes um senso de comunidade e muitos deles se tornaram amigos. “Nossos cachorros viraram celebridades do Instagram e nós trabalhamos para eles. Fazemos a parte ‘chata’ e eles posam para foto”, diz João.

Confie no processo

A missão de eternizar a relação dos humanos com os seus pets - ou será que deveríamos dizer os pets que gentilmente acolhem os humanos como seus? - transcende as plaquinhas. Hoje, a Cusca Criativa tem mais de 30 produtos no catálogo e faz planos para ir ainda mais longe.

Rochelle explica que o casal estuda formas de vender sua arte para locais fora do raio de entrega para que o consumidor possa realizar a confecção de casa. No momento, é só uma ideia, mas a perspectiva de vender a arte em formato digital agrada os empreendedores, que percebem uma evolução significativa no sucesso da empresa com relação ao começo da jornada.

“Não foram poucas as dificuldades, principalmente no início”, comenta João. A parte financeira, a divisão do lado pessoal e do profissional e também a administração do tráfego pago nas redes sociais foram as principais dores no começo do empreendimento. “Não é tão simples quanto as pes-

Foto: Divulgação

soas pensam”, ele alega. A consultoria com a Quero Dobra, empresa também do Sul que se popularizou pelas carteiras de material superfino com estampas criativas, foi um divisor de águas nas contas da Cusca.

“Mais do que duplicamos nosso faturamento depois que começamos a fazer esse trabalho com eles”, conta João. O auxílio foi o bote salva-vidas que impediu que a empresa enfrentasse dificuldades e afundasse nas diversas adversidades que os empreendedores sofrem no começo de seus negócios. “Além de tudo isso, a gente não sabia nada e achava que sabia, o que é ainda pior, porque faz errado e não sabe onde está errando”, conta Rochelle.

Atualmente, longe de navegarem em um mar de águas calmas, os empreendedores têm um entendimento mais completo sobre o oceano de possibilidades que estão acessando e investem ainda mais no diferencial do negócio: a educação. “Se pudéssemos dar um conselho para quem está começando, diríamos que o principal é investir, antes de tudo, em educação e em ferramentas para aprender mais sobre o e-commerce”, orienta João. “Aprender com quem já errou é um diferencial absurdo”, completa.