CAPITULO VI-AUTOBIOGRAFIA/50 ANOS DE HISTÓRIA-O 25 DE ABRIL

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50 ANOS DE HISTÓRIA 1954 – 2004 (AUTOBIOGRAFIA) Episódio 6-Continuação


“A Revolução dos Cravos” 242200ABR74-Os Emissores Associados de Lisboa, transmitem a canção “E Depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho, a senha para que as forças revoltosas saíssem dos quartéis; 250020ABR74-A Rádio Renascença, emite “Grãndola Vila Morena”, de José Afonso, senha que confirmava o desencadear das operações; 250300ABR74-Movimentações militares em todo o país e ocupação dos pontos vitais da cidade de lisboa; 250330ABR74-O Governo de Marcelo Caetano dá ordens à PSP e GNR, para en trarem de prevenção; 250400ABR74- Ocupação do Aeroporto de Lisboa; 250420ABR74-O Rádio Club Português, transmite pela primeira vez, um comunicado do Movimento das Forças Armadas (MFA)...


…e com ele...

...PORTUGAL entra numa nova “ERA”... ... A Era da democracia.


O Terreiro do Paço, em Lisboa … foi o sitio, para onde se dirigiram muitos patriotas…


… corajosos veteranos militares e civis que se opunham à ditadura e ao fascismo... ...e entre os civis presentes para apoiar a revolução, encontrava-se o jovem, então com dezanove anos de idade...


‌ depois de uma noite mal dormida, como consequência de uma viagem efectuada de comboio entre o Porto e Lisboa‌ ...e da dificuldade que teve, em passar as diversas barreiras, colocadas ao longo do percurso.


Logo após a instalação do dispositivo dos revoltosos no Terreiro do Paço, o Governo tinha mandado avançar contra ... …as suas forças, a sua tropa de elite pretoriana, munida de modernos carros blindados de combate, bem como o Regimento de Cavalaria 7 do Quartel da Ajuda, comandado pelo brigadeiro Junqueira dos Reis.


Este Brigadeiro, comandava pessoalmente um dos esquadr천es de blindados...


…com o qual ameaçava, as velhas auto-metralhadoras das forças de Salgueiro Maia na Rua do Arsenal...


… existindo ainda um segundo esquadrão, estacionado na Avenida Ribeira das Naus, junto ao rio… … ao longo do Ministério da Marinha, desde o Cais do Sodré até ao Terreiro do Paço…


‌ comandado pelo major Pato Anselmo.


Tanto as forças de Cavalaria 7 do lado do Governo como as forças do capitão Salgueiro Maia …

… exigiam a rendição dos seus adversários…


…e a situação era de impasse, sem outra solução à vista, que não fosse um confronto militar...


…até que, o brigadeiro Junqueira dos Reis, agride e tenta prender o tenente Assunção... … das tropas de Salgueiro Maia, que lhe tinha ido pedir para se render.


O coronel Correia de Campos ouviu este relato e depois de comentar que essa situação era previsível... … pois para além dos blindados das forças de Cavalaria 7 serem mais modernos e poderosos, do que as velhas autometralhadoras das forças da EPC de Santarém…


…comentou que não era plausível esperar que numa situação daquelas... … um brigadeiro de Cavalaria com mais de 60 anos, aceitasse render-se sem combate a um tenente.


Nesses momentos difíceis, com o tempo a correr, urgia resolver aquela situação de impasse... … e então o coronel Correia de Campos, depois de avaliar a situação militar, e de uma pequena conferência de estratégia…


…mandou um emissário civil, fazer um derradeiro e definitivo ultimato ao comandante ... … do esquadrão de Cavalaria 7, na Avenida Ribeira das Naus, o major Pato Anselmo.


O emissário, armado com a pistola do próprio capitão Salgueiro Maia, dirigiu-se então...


…ao campo adversário, onde chegou à fala com o major Pato Anselmo, com quem travou um dramático... ...diálogo, em que empenhou toda a sua

motivação revolucionária, apelando para o patriotismo daquele oficial…


…a quem explicou toda a extensão política...

…e a irreversibilidade do processo revolucionário...


… tendo o major Pato Anselmo que decidir, entre a sua adesão, a sua prisão ou a sua vida. E de tal modo o emissário foi convincente nas suas motivações …


…que o major Pato Anselmo, com admirável dignidade e respeitável patriotismo... … decidiu ser preso, numa resolução que o espírito da revolução dos cravos ainda hoje lhe deve honrar…


…pois foi de todo muito difícil, a decisão de um jovem major, Comandante de Esquadrão de Cavalaria 7 , em quem era depositada enorme confiança... … mas teve extremo e patriótico bom senso, ao mandar aderir à revolução as tropas sob o seu comando …


… dando o próprio major Pato Anselmo de forma emocionada e dramática, as vozes de comando … … para a viragem das torres dos seus carros de combate…


… isto apesar, de por razões de compromisso ou convicção, preferir ser preso, a aderir à Revolução.


Por outro lado, o brigadeiro Junqueira dos Reis, ao constatar que perdera para a revolução ... … metade das suas forças militares, e ao constatar que estava sozinho…


… decidiu retirar para a Serra de Monsanto, com as forças que lhe restavam ... … havendo resultado assim, a estratégia do experiente coronel Correia de Campos, de isolar o comandante de Cavalaria 7…


…ficando aparentemente consolidada a ocupação militar do Terreiro do Paço. … e, quando tudo parecia resolvido e já se falava em vitória…


…eis que um navio da Marinha de Guerra Portuguesa, a Fragata Gago Coutinho … … sob a direcção do Comandante Louçã, larga da Doca da Marinha, e depois de algumas evoluções em frente ao Terreiro do Paço…


…aponta as suas poderosas armas para as tropas revolucionárias, voltando a viver-se ... … no Terreiro do Paço momentos de grande tensão e ansiedade.


Nos momentos que se seguiram, mais uma vez, com a experiência e capacidade de decisão… … que lhe haviam grangeado o enorme prestígio e respeito que possuía nas Forças Armadas…


…o Coronel Correia de Campos, mandou logo abrigar e coordenou a central de comunicações rádio... … ordenando que os carros das forças revolucionárias no Terreiro do Paço calculassem tiro e apontassem as suas peças à linha de água do navio…


‌ e que todos os carros de combate se preparassem para disparar contra o navio, à sua voz de fogo.


Felizmente que a bordo do navio de guerra, esta disposição táctica das forças revolucionárias ...

… ou pareceu ter sido devidamente ponderada…


… ou mais uma vez prevaleceu o patriótico bom senso, desta vez a bordo da Fragata Gago Coutinho… … porque foram levantadas as peças de artilharia do navio de guerra, apontadas às forças da revolução…


… e, após erguer as suas armas, a Fragata passou a navegar em direcção ao largo!... Seriam cerca das 10,30 horas quando finalmente…


… ficou definitiva e vitoriosamente, consolidada pelas forças revolucionárias... … a ocupação militar do Terreiro do Paço…


…e se começavam a ver alguns sinais de alegria e espanto nas faces dos muitos fotógrafos e jornalistas ... … ali presentes, quando à central de comando e transmissões das forças da revolução no Terreiro do Paço…


…chegou uma notícia, segundo a qual o Professor Marcelo Caetano, Presidente do Conselho... … se havia refugiado no Quartel do Comando da GNR, força militarizada da confiança do regime, no Largo do Carmo.


Foi então decidido pelo coronel Correia de Campos, que as tropas de cavalaria da EPC se deslocassem ... … para o Quartel da GNR no Carmo, a fim de exigir do respectivo comando a detenção de Marcelo Caetano …


… e que as tropas do Regimento de Comandos, chefiadas pelo major Jaime Neves, … se dirigissem para o Quartel da Legião Portuguesa, na Penha de França, a fim de neutralizar aquele organismo fascista.


Salgueiro Maia, organiza então uma coluna militar, que seria conduzida para o Carmo... … pelo coronel Correia de Campos…


‌ o qual då ordens, para ser facultada uma viatura para transporte dos jornalistas ali presentes.


A coluna militar, cujo objectivo era apenas do conhecimento do coronel Correia de Campos... … e do Capitão Maia, subiu a Rua da Prata…


‌vindo a deparar-se no Rossio com uma coluna de Infantaria 1, da Amadora ...


… que havia recebido ordens para combater as tropas revolucionárias...

… que tinham atacado Lisboa.


O capitão comandante desta coluna, do RI 1, após breve conferência com Salgueiro Maia ... … decidiu aderir à revolução, colocando-se às ordens do Capitão de Abril, sendo por este, mandado incorporar a respectiva coluna.


Foi com grande regozijo que os militares do RI1 saudaram a adesão do seu comando à Revolução.


A coluna militar prosseguiu, contornou o Rossio e por razões de segurança, aparentando dirigir-se… … para a Avenida da Liberdade…


…inverteu o sentido no Largo D. João da Câmara, e entrou na Rua 1º de Dezembro, subiu para a Rua do Carmo ... … progredindo sem incidentes, até ao Largo do Carmo, que foi rapidamente ocupado, bem como as ruas de acesso.


O coronel Correia de Campos recomendou ao capitão Salgueiro Maia alguns pormenores tácticos... … e que concedesse alguns minutos ao comando do Quartel da GNR no Carmo para formalizar a detenção de Marcelo Caetano.


O mesmo coronel Correia de Campos pediu de seguida para ser conduzido... … ao posto de comando das forças da revolução, no Quartel do Regimento de Engenharia da Pontinha…


…tendo ali chegado sem qualquer incidente... … cerca das 11,30 h, depois de evitar algumas barragens da Polícia de Segurança Pública …


…e ao chegar ao Quartel da Pontinha, dirigiu-se ao posto de comando das operações... … situado numas instalações de préfabricados, desabrigadas, e situadas nas traseiras do quartel do Regimento de Engenharia …


…feliz, satisfeito e orgulhoso, não pôde contudo deixar de notar com apreensão, a precaridade... … clandestina e a vulnerabilidade das instalações…


…onde funcionava o Posto de Comando da Revolução... … e se encontrava o Major Otelo Saraiva de Carvalho.


Entretanto na Baixa de Lisboa, o povo concentrava-se cada vez em maior número e o jovem misturado no meio da multidão... … não deixava de pensar e de evocar o alto significado daquele momento…


‌momento esse, por ele acalentado pelo romantismo da sua juventude... ‌ e sonhado nos seus anos de menino...


…pensando então, que a sua odisseia pessoal estava encerrada...

… ou seja, que o grato privilégio de viver e participar pessoalmente na Revolução da Liberdade acabaria por ali .


Mas não… a emoção do momento e a crescente apreensão provocada pela prisão ou não de Marcelo Caetano... … e das dificuldades que se sabia Salgueiro Maia, estar a enfrentar no largo do Carmo, eram já conhecidas.


Uma vez ali, o jovem teve então oportunidade, de verificar o dilema com que se viram confrontados os militares... Depois de alguns segundos de reflexão e mais algumas tentativas infrutíferas, para proceder à detenção de Marcelo...

… Salgueiro Maia tomou então a decisão de proteger a população e mandou instalar uma metralhadora pesada, em frente aos portões do quartel da GNR…


...iniciando a contagem decrescente para uma rajada de aviso!... Foram novos momentos de grande tensão, quando a contagem do Capitão Maia chegou a zero‌


… e o capitão Maia gritou para o apontador… … Fogo ! …


…o ribombar dos tiros fez tremer os edifícios do velho Largo do Carmo, e abrigar a população.

Na confusão que se pode imaginar…


…viria a saber-se mais tarde, que por via daquela acção decisiva, e dos tiros disparados... … um velho cabo da GNR, havia tombado desmaiado no interior do quartel, junto ao portão…


…mas dentro do quartel teria corrido velozmente o boato, de que na guarnição já havia um morto... … o que terá desmoralizado bastante as forças defensoras do Quartel do Carmo.


Viria ainda posteriormente a saberse que o facto de julgar já haver mortes nas tropas da GNR... … terá sido determinante para Marcelo Caetano mudar a sua atitude de resistência, e com patriótico bom senso, decidiu pedir a presença do comandante das tropas revolucionárias…


…havendo dito aos oficiais da GNR que o defendiam, não querer mais mortos por sua causa. Então, e quando já se procedia à movimentação de uma viatura pesada para bombardear o quartel…


‌veio à porta um major da GNR, dizendo que o Dr. Marcelo Caetano queria finalmente...


… negociar com o comandante das forças da revolução e pediu ao Capitão Salgueiro Maia... … para ir ao seu interior.


O CapitĂŁo Salgueiro Maia, com extraordinĂĄria coragem, de pronto acedeu...


…e convence o tenente Assunção e outros... … a aguardarem-no cá fora.


Foi então combinado entre o Capitão Salgueiro Maia e o oficial da GNR... … que aquele não poderia ser retido mais de 10 minutos no interior da unidade e se esse tempo fosse excedido, as forças militares e o povo ali presente, passariam de imediato ao assalto do quartel…


…tudo isto foi negociado de forma clara, com o oficial da GNR que acompanhou o Capitão Maia... … à fala com Marcelo Caetano, no interior do Quartel do Carmo.


Decorreram novamente alguns momentos de grande ansiedade no Largo do Carmo... … particularmente vividos, pelo facto de haver sérios receios pela vida do Capitão Maia, no refúgio do Presidente do Conselho, obviamente cheio de agentes da PIDE.


Felizmente que poucos minutos decorridos, que pareceram horas, o Capitão Maia regressou... ‌ algo satisfeito, mas apreensivo, e com a noticia de que Marcelo Caetano, apenas se entregaria a um oficial general.


Nesse momento, chegaram junto de Salgueiro Maia, dois indivíduos civis... … que disseram chamar-se Feytor Pinto e Nuno Távora e serem do gabinete do Dr. Marcelo Caetano, pedindo para ir ao interior do quartel, e oferecendo-se como mediadores para a rendição do Dr. Marcelo Caetano.


O Capitão Maia não pôs qualquer objecção, e passados instantes... … os Drs. Feytor Pinto e Nuno Távora, regressaram com um documento…


‌documento esse, que disseram ser uma carta pessoal do Dr. Marcelo Caetano para o General Spínola, a quem mais tarde se viria a render....


‌jå com o Largo do Carmo, apinhado de milhares de pessoas.


A exaltação do povo estava ao rubro e de difícil ... … controle, dada a concentração popular.


O Capitão Salgueiro Maia, fez então uma pequena alocução, explicando ao povo que já estava tudo resolvido... … mas os ânimos exaltados não paravam de pedir a morte do Dr. Marcelo Caetano, tendo o Capitão de Abril, solicitado a algumas figuras da oposição ali presentes que falassem ao povo para o acalmar…


…não faltando voluntários que a tal se predispusessem, explicando aos presentes...


…que aquela revolução era feita pela Liberdade, e tinha que representar precisamente... … o contrário do que o fascismo tinha feito …


… e as mãos da Liberdade não podiam nunca tingir-se de sangue fascista, porque os princípios ... … e os métodos não podiam ser os mesmos.


Face a tais palavras, o povo exultava, mas os ânimos mais exaltados e radicais, continuavam a exigir ... … a morte do Dr. Marcelo Caetano…


…e o Capitão Salgueiro Maia, de cima da viatura do tipo chaimite, que haveria … de transportar o ditador deposto…


…pedia calma à população, argumentando...


… que aquela era a Revolução Portuguesa, e a Revolução da Liberdade...


…e que aquela Revolução era feita para devolver a Liberdade ao Povo, e não poderia ser vingativa... … porque se pretendia que fosse mais um padrão na História de Portugal no Mundo…


…e que a Revolução Portuguesa não poderia ser como a Revolução Francesa... … que destruíu os seus filhos, como ameaçava nos seus discursos, o Dr. Marcelo Caetano…


‌e essa atitude de muitas figuras ali presentes, como o Dr. Sousa Tavares...


…o Eng.º Pedro Coelho e o jovem João Soares, filho do Dr. Mário Soares, viriam também caracterizar, … desde o histórico Largo do Carmo…


…toda a singela e exemplar grandeza da Revolução dos Cravos, que viria devolver ao povo, após ... … 48 anos de escuridão fascista…


…a luz e o esplendor da Liberdade, abrindo as portas para outras revoluções... … a outros países, em vários continentes e de forma mais ou menos semelhante…


…devolvendo aos respectivos cidadãos oprimidos por ditaduras fascistas... … a dignidade, a esperança e a liberdade...


…permitindo aos portugueses dizer com patriótico orgulho que a 25 de Abril de 1974... … o fim da Guerra Fria e o início de uma nova era de esperança e Liberdade no mundo, nasceram assim, no glorioso Abril de Portugal.


Na noite que se seguiu, foi anunciada a constituição de uma Junta Militar de Salvação Nacional, presidida ... ...pelo General António de Spínola e constituída pelos seguintes militares: General Costa Gomes General Silvério Marques General Galvão de Melo General Diogo Neto C.Almirante R. Coutinho C.Almirante P. de Azevedo


…a Junta de Salvação Nacional presidida pelo General Spínola ...


…e os dias que se seguiram foram de inolvidável alegria pela libertação e pelo regresso triunfal... … dos heróis do levantamento militar de 16 de Março nas Caldas da Rainha, entre os quais se encontrava o amigo do jovem Virgilio Varela…


…e de euforia pela devolução da Liberdade ao Povo, pela libertação dos presos políticos...


… pelo regresso à Pátria dos exilados políticos, designadamente Álvaro Cunhal, Mário Soares, Manuel Alegre e tantos outros ...


‌ pela festa do primeiro 1º de Maio, onde o jovem esteve presente, ao lado de mais de um milhão de pessoas, celebrando-o em plena Liberdade...


… pelo início das negociações com os Movimentos de Libertação das Colónias...


…e pelo ressurgir dos diversos Partidos Políticos, que posteriormente viriam a desencadear as suas lutas... … pelo poder, representando de alguma forma os interesses das forças em presença na Guerra Fria ainda hoje em confronto no mundo.


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