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Apresentação
A Crônica é uma narrativa histórica que tem uma sequência cronológica dos fatos apresentados. O gênero tem o seu nome derivado da palavra Chronos, que significa tempo em grego. Inicialmente a crônica era relacionada ao relato de acontecimentos de forma cronológica (COUTINHO, 1988). Mas, com o passar do tempo, a crônica ganhou novas conformações e passou a ser pequenas produções textuais escritas em prosa, de estilo coloquial, com linguagem simples e natureza livre. Em muitos dos casos, as crônicas são fruto de observações e vivências do cotidiano dos autores, que apresentam reflexões sobre as suas vivências de forma artística. Além disso, a crônica tem por característica a transitoriedade. É, portanto, um texto curto, que apresenta um estilo leve e descontraído e ao mesmo tempo criativo e artístico, feito para um momento de leitura breve, como afirma Candido (1992) ao dizer que a crônica traz assuntos do cotidiano de forma leve. Dessa forma, pode-se perceber que a crônica é um texto literário que se diferencia dos demais devido às suas peculiaridades e características históricas, culturais e textuais. Partindo então do que foi exposto, é importante pontuar as principais características do gênero literário em discussão, trazendo os pontos chave da criação e produção escrita da crônica.
O gênero crônica, apesar de possuir características semelhantes em todas as suas classificações, pode ser dividido/classificado em diferentes e diversos tipos. Para Ferreira (2008) há, pelo menos, 23 tipos de classificação para o gênero. Todos esses tipos de crônicas apresentam características em comum, são textos curtos e leves que tem o objetivo de trazer reflexões sobre a vida cotidiana, apresentando um número reduzido de personagens, com tempo e espaço limitados. Apresentam o narrador-personagem ou narrador observador. O texto é escrito de forma coloquial, respeitando as normas da língua, porém com uma linguagem simples e leve. E o tema central dos textos sempre gira em torno de algum acontecimento da vida cotidiana, podendo ser fatos de interesse público ou até mesmo situações em espaços pessoais do autor como reuniões de família. Para este trabalho, destaco as características de 5 (cinco) tipos de crônicas. A crônica-informação, a crônica narrativa, a crônica descritiva, a crônica reflexiva e, por fim, a crônica humorística.
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A crônica-informação é um tipo de texto que possui todos os elementos comuns ao gênero crônica, porém ao longo do texto traz informações que estão relacionadas ao que é apresentado ao discutido pelo autor. Na crônica informação podem ser apresentadas notícias, conceitos, fatos, informações que fazem parte do contexto de elaboração e criação da crônica.
A crônica narrativa apresenta personagens e um enredo onde se passa uma história escrita de forma cronológica. A crônica descritiva traz a caracterização de elementos do espaço. Nesse tipo de texto, o autor apresenta sensações utilizando-se dos cinco sentidos, além trazer uma boa quantidade de adjetivos e uma linguagem metafórica. A crônica reflexiva é caracterizada por trazer reflexões filosóficas sobre o assunto central do texto. Geralmente o autor toma uma situação vivenciada para refletir sobre ela. A crônica humorística apresenta discussões sobre os assuntos políticos ou mesmo tradições e costumes sociais que estão presentes na sociedade atual de forma crítica e bem humorada. É importante perceber que os diferentes tipos de crônicas podem se mesclar, dando origem a um texto que tem elementos de diferentes tipos de crônicas.
A Crônica no Ensino de Química
A leitura no ensino de ciências, em especial no ensino de química, tem sido objeto de pesquisa de poucos textos na literatura científica. Porém, é um campo de pesquisa emergente por proporcionar práticas de ensino inovadoras, que promovem a aprendizagem significativa, interpretação de textos e habilidades leitoras no ensino de ciências (BARBOSA et al. 2016) Para Barbosa et al. (2016), o que acontece nas salas de aula da educação básica brasileira é classificado como uma simulação de leitura, visto que os alunos não são levados a interagir com o texto no sentido de interpretar de forma crítica e ir além do que está escrito. Neste sentido, o professor deve ter o papel de mediador. Oportunizando aos alunos leituras dentro do ambiente escolar e de maneira a formar o aluno um sujeito crítico, capaz de fazer leituras de mundo e relacionar com os diversos contextos e conceitos visto durante as aulas. Como afirma Francisco Júnior (2010), citado por Barbosa et al. (2016)
"o texto deve propiciar ao educando não só um entendimento conceitual do que se aborda neste, mas deve, além disso, possibilitar uma releitura do mundo, um entendimento maior do que uma simples contextualização. Mas, para que isso seja possível, é importante repensar sobre as estratégias de leitura em sala de aula, de forma a promover situações em que o aluno possa expressar-se sobre seu diálogo com o texto, auxiliando o professor mediador na condução da leitura e nas resoluções de dúvidas emergidas durante a interpretação da obra. "
Assim, o professor assume uma postura diferente do modelo tradicional de ensino e toma o lugar de um professor que constrói junto aos alunos os conceitos vivenciados nas aulas expandindo o conhecimento dos alunos e formando sujeitos críticos. “A compreensão do texto didático de ciências também será mais rica à medida que o professor, como mediador, conseguir ‘ ampliar os contextos ’ , fazer emergir ‘ mais vozes ’ do que aquelas que podem ser imediatamente identificadas nos enunciados. ” (BARBOSA et al. 2016, p. 181). Partindo desse entendimento, as crônicas se mostram um gênero textual que auxilia o professor a abordar conceitos científicos em um contexto familiar aos alunos, formando os sujeitos críticos e proporcionando uma aprendizagem significativa. As crônicas, por serem textos curtos e transitórios que trata de assuntos do cotidiano (COUTINHO, 1988; CANDIDO, 1992; SÁ, 1987), podem ser utilizados para o ensino de conteúdos químicos, através das leituras, interpretação e reflexão sobre os textos lidos. Uma das dificuldades que os professores encontram para lecionar química, é trazer uma linguagem de fácil entendimento para os alunos e que esteja relacionada às vivências dos alunos.. Dessa forma, eles se distanciam do ensino tradicional, com uma abordagem científica, tecnológica, social e ambiental. Como afirma Flôr (2009, p. 71).
"Ensinar químicapensando o cotidiano,o dia-a-dia dos estudantes e suas relações com a ciência e a tecnologia. Essa é uma forma de pensar a Educação Química que vai além da apreensão e utilização de sua linguagem. Se a compreensão da linguagem química permite ao estudante uma nova forma de pensar o mundo, ela também implica em posicionar-se em um lugar para fazê-lo. E é problematizando esse lugar que se podem criar vínculos e articulações entre o cotidiano dos estudantes e a química vista na escola.
Partindo dessa premissa, os textos do gênero crônica podem ser um instrumento facilitador para a construção dos conceitos químicos a partir de vivências cotidianas. À medida que as crônicas são apresentadas com conceitos químicos, estabelecendo uma relação dos conteúdos químicos com as experiências do autor, os alunos podem debater e construir o conhecimento de uma maneira significativa (FLÔR, 2009). Além disso, a leitura de crônicas nas aulas de química pode promover o hábito da leitura nos alunos, sendo um dos caminhos que o estudante se faz leitor no ensino médio. Tomando aqui a ideia de leitor, como uma pessoa capaz de fazer uma leitura de mundo, da realidade que os cerca durante a sua vida cotidiana e também das diversas situações em que os conhecimentos químicos estão inseridos e fazem parte, ou seja, são intrínsecos a situação vivenciada.