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Sábado à tarde

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Perfume

Perfume

Ser adulto traz consigo momentos únicos e experiências que apenas esta fase da vida pode proporcionar, mas também surgem responsabilidades e compromissos, fazendo as horas correrem e tornando os momentos da vida, muitas vezes sem sentido. Quando a gente é criança as coisas da vida são mais simples. Os dias são cheios de brincadeiras, os problemas são resolvidos com um toque de mãe, e as tardes são uma delícia, iguais ao bolo da vovó e o cheiro invadia a casa toda no sábado à tarde. Fazia parte do final de semana preparar o bolo junto com ela. No sábado, depois do almoço eu ia dormir, e no meio da tarde ela me acordava com um cheiro na cabeça – vem, menino, vamos fazer bolo pra comer na calçada! E eu acordava feliz, ia ligeiro pra cozinha e só observava o momento, sujando a mesa de farinha e melando a mão de massa crua. Ela tinha a receita do bolo anotada em um papel antigo, com as folhas já amareladas do tempo, contendo todas as medidas certinhas dos ingredientes. Ela ia adicionando um a um, estequiometricamente, e aos poucos o bolo ia ganhando forma. Às vezes a receita mudava, por falta ou excesso de material adicionado, uma regra de estequiometria era feita e surgiam novas quantidades adicionadas à massa. Porém o cuidado era maior quando íamos colocar o fermento. Essa parte ela me deixava fazer, mas sempre falava para ter cuidado e não ter que comer o bolo de colher. Ríamos. O bolo sempre ficava uma delícia e bem fofinho. O fermento ajudava, claro! O que utilizávamos era o pó, uma mistura de uma base, geralmente o bicarbonato, com um ácido fraco. Quando o fermento em pó era misturado à massa, ele se dissolvia e, no forno com aumento da temperatura, acontecia uma reação entre a base e ácido, liberando gás carbônico, o que fazia a massa crescer. Depois de pronto, o bolo ficava com a massa tão fofinha que fazia o maior sucesso, a gente sentava na calçada e ficava observando a tarde passar. Conversávamos sobre o vento, sobre os passarinhos no céu, vovó me contava histórias de quando era menina e tantas outras coisas que surgiam no meio das conversas. Ali passávamos o resto da tarde, aproveitando o momento sem ter com o que se preocupar, sentindo o vento bater no rosto, se deliciando com o bolo quentinho que tinha acabado de sair do forno, sem nem imaginar que um dia as responsabilidades e compromissos chegariam.

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