




Chegamos ao Agosto Lilás, mês da campanha de enfrentamento à violência contra a mulher, no qual a Lei Maria da Penha completa 19 anos. Mas você sabe quem é Maria da Penha, que dá nome à tão importante lei? É uma ativista de grande relevância na luta das mulheres, hoje com 80 anos, que conviveu com a violência em seu lar. Farmacêuticabioquímica, em 1974, enquanto ela fazia mestrado na USP, conheceu seu futuro marido – e agressor. Aos 38 anos, ficou paraplégica em uma tentativa de feminicídio cometida pelo pai de suas três filhas e passou a lutar, ano após ano, para que ele fosse condenado e preso. Nesta edição da revista, trazemos uma entrevista exclusiva com Maria da Penha, além de uma matéria com a advogada Maria Isabel Oliveira, fundadora do Instituto Educacional Encontros da Cidade, sobre a responsabilidade legal dos condomínios em denunciar casos de violência doméstica e familiar.
Na Direcional Condomínios deste mês, você encontra ainda os seguintes assuntos: segurança em condomínio –investir em tecnologia é indispensável, mas há mais a se considerar, conforme traz a seção Tira-Teima; saiba quando e por que recorrer à inspeção predial; leia sobre situações que fogem completamente do normal em CondoCausos (no seu condomínio também é assim?!); e conheça a história do síndico profissional Lourival Teixeira, mineiro de origem simples que, com sede de conhecimento, estudou, viajou o mundo, fez carreira bem-sucedida na hotelaria em São Paulo e hoje emprega seus conhecimentos na gestão condominial.
Em Dicas, nesta edição abordamos os temas elevadores, extintores e serralheria. Hoje, os serviços de serralheria ocupam um papel de destaque nas modernizações dos condomínios — inspire-se. Não deixe de conferir esta edição.
Boa leitura! Forte abraço, Isabel Ribeiro
Seção Tira-Teima
Seu condomínio está seguro?
Síndico,
Conte sua História!
Lourival Teixeira
Administração
Inspeção predial: quando e por quê?
Dica A serralheria na arquitetura
Dica Extintor de incêndio 04 26 08 21 29 16 14 18
Capa Pelo fim da violência doméstica
Sr.(a) Síndico(a),
CondoCausos Tumultos e confusões
Tenha acesso exclusivo às informações e à versão digital da nossa revista.
IMPORTANTE: Cadastre o número na sua lista de contatos (11) 9 8714-3110
DE SÍNDICOS
Dica Elevadores: manutenção
Quando for comprar produtos ou serviços para seu condomínio, dê preferência para os anunciantes da revista. E diga: "Vi seu anúncio na Direcional Condomínios". São os anunciantes que nos possibilitam te entregar a revista todos os meses. Contamos com seu apoio.
DIRETORES
Sônia Inakake e Almir C. Almeida
JORNALISTA RESPONSÁVEL
Isabel Ribeiro
MTB 24.479/SP isabel.grupodirecional@gmail.com
DIRIGIDA A Condomínios residenciais, comerciais e administradoras
PERIODICIDADE MENSAL Exceto novembro/dezembro, cuja periodicidade é bimestral
TIRAGEM
20.000 exemplares (60.000 leitores em média)
PÚBLICO LEITOR DIRIGIDO Síndicos, zeladores e administradores
CIRCULAÇÃO
São Paulo e Grande São Paulo
CAPA Foto Mônica Tavares
ASSINATURAS Emilly Tabuço faleconosco@grupodirecional.com.br
DEPARTAMENTO COMERCIAL
Kaori Chida
Priscila Souza Sonia Inakake
ATENDIMENTO AO CLIENTE
João Marconi
Juliana Jordão Grillo
GERENTE COMERCIAL Almir C. Almeida
DIAGRAMAÇÃO Coronado
IMPRESSÃO Duograf EQUIPE DISTRIBUIÇÃO Caique Souza Fernandes José Ricardo da Silva Roberio Santos
ASSINATURA ANUAL R$ 192,00
Tiragem de 20.000 exemplares auditada pela Fundação Vanzolini, cujo atestado de tiragem está à disposição dos interessados.
Tiragem de 20.000 exemplares auditada pela Fundação Vanzolini, cujo atestado de tiragem está à disposição dos interessados.
Não é permitida a reprodução total ou parcial das matérias, sujeitando os infratores às penalidades legais.
Tiragem auditada por
Não é permitida a reprodução total ou parcial das matérias, sujeitando os infratores às penalidades legais. As matérias assinadas são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, a opinião da revista Direcional Condomínios. A revista Direcional Condomínios não se responsabiliza pelos serviços e produtos oferecidos pelos anunciantes. Tiragem auditada por
As matérias assinadas são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, a opinião da revista Direcional Condomínios. A revista Direcional Condomínios não se responsabiliza pelos serviços e produtos oferecidos pelos anunciantes.
Para anunciar, ligue: (11)
A CRIMINALIDADE está cada vez mais ousada e profissional, agindo de forma silenciosa, inteligente e estratégica, sendo preferidos pelos marginais os condomínios desorganizados, desatualizados, com falhas e desrespeito aos procedimentos de segurança. As principais formas de invasões ocorrem:
1. Pelo acesso de pedestres ou pela garagem, utilizando os marginais disfarces e artimanhas diversas para enganar porteiros desatentos e destreinados;
2. Com moradores gentis, que seguram o portão aberto para desconhecidos, resultando no golpe da carona;
3. Em condomínios sem zelo e com sistemas de segurança desatualizados ou inoperantes.
Por outro lado, temos síndicos preocupados com a questão da segurança, investindo cada vez mais em tecnologia de última geração. Porém, isso não é suficiente para manter o condomínio seguro.
A melhor ferramenta de prevenção é o Diagnóstico de Segurança, que deve ser realizado por um profissional independente dos serviços de segurança prestados ao condomínio, para que sua análise não seja tendenciosa, com fins comerciais, mas sim voltada à identificação das vulnerabilidades e consequentes soluções mais adequadas à edificação.
O Diagnóstico de Segurança é um minucioso levantamento do atual sistema de segurança do condomínio, destacando-se os pontos positivos, suas funcionalidades e suas vulnerabilidades, cujas constatações e soluções serão apresentadas em
Relatório Técnico e, se adotadas as orientações, o condomínio estará mais protegido. Por fim, para a melhoria e manutenção da segurança no condomínio, devemos ter presentes:
- Colaboradores treinados, com reciclagem semestral;
- Moradores conscientes e colaborativos com o síndico;
- Tecnologia atualizada e funcionando, com testes periódicos;
- Protocolos de segurança revisados e respeitados por todos.
Foto Divulgação
Bacharel em Ciências Jurídicas, consolidou-se como delegado da Polícia Civil do Estado de São Paulo. É auditor e instrutor operacional em segurança preventiva operacional. Mais informações: contato@olharcomseguranca.com.br
Neste Agosto Lilás, trazemos entrevista com Maria da Penha, cuja história deu voz a milhões de mulheres, além de abordarmos a responsabilidade dos condomínios no combate à violência doméstica
Por Isabel Ribeiro
O MÊS de agosto, em âmbito federal, é dedicado à Campanha Agosto Lilás, com o objetivo de conscientizar sobre a violência contra a mulher. A escolha do mês não foi por acaso: agosto marca a sanção da Lei Maria da Penha (Lei Federal nº 11.340/2006), reconhecida pela ONU (Organização das Nações Unidas) como uma das legislações mais avançadas do mundo no enfrentamento da violência doméstica. A causa exige empatia, solidariedade e atitude. A violência se manifesta em lares pobres ou ricos, envolvendo pessoas com alta ou baixa escolaridade. Aos olhos da sociedade, o agressor pode parecer um sujeito simpático, mas se revelar um ser abjeto dentro de casa.
É fundamental estarmos atentos. Às vezes, o grito silenciado da vítima está estampado na palma da mão, com um “X” vermelho desenhado com batom. Noutras, os pedidos de socorro podem ser mais explícitos. Em condomínios, denúncias devem ser feitas de forma discreta e segura — há alternativas como canais especializados (mencionados ao final da reportagem), o canal da administradora, aplicativos, entre outros. O grupo de WhatsApp dos moradores, definitivamente, não é um deles; expõe a vítima, entre outras consequências.
Para Maria da Penha Maia Fernandes, 80 anos, “quando a violência acaba, a vida recomeça.” Nascida
em Fortaleza, formou-se farmacêutica-bioquímica pela Universidade Federal do Ceará e fez mestrado na Universidade de São Paulo. Foi na USP, em 1974, que conheceu um aluno colombiano, pós-graduando em Economia — o então cativante e amável Marco Antonio Heredia Viveros. Casaram-se, tiveram uma filha e, em 1976, passaram a morar em Fortaleza. O casal teve ainda mais duas meninas e, à medida que Marco Antonio conquistava a cidadania brasileira e crescia na carreira, foi se revelando uma pessoa explosiva e violenta.
da Penha
Maia Fernandes: ativismo social
Em 1983, Maria da Penha ficou paraplégica ao ser baleada nas costas pelo marido enquanto dormia. Meses depois, ele tentou eletrocutá-la durante o banho. Após lutar durante anos pela prisão do agressor, Maria da Penha levou seu caso à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que responsabilizou o Brasil pela negligência diante da violência de gênero. Em 2002, 19 anos após o crime hediondo, Marco Antonio foi condenado a oito anos de prisão — e cumpriu apenas dois. A denúncia internacional resultou na criação da Lei Maria da Penha, que neste mês completa 19 anos. Confira a entrevista com a ativista social que dá nome à lei.
Direcional Condomínios – Depois de sobreviver a tentativas de feminicídio, como a senhora encontrou forças para lutar veementemente pela prisão de seu algoz?
Maria da Penha – Eu me senti órfã da justiça. Senti-me muito fragilizada e decepcionada quando, ao final do primeiro julgamento do meu agressor, ele foi condenado, mas saiu do fórum em liberdade por conta de recursos. Nesse momento, eu até pensei em desistir, mas o movimento de mulheres do estado do Ceará me apoiou e me incentivou a escrever um livro, e então escrevi o livro “Sobrevivi... Posso Contar”. Nesse livro, coloquei todas as contradições do réu e todo o processo e pensei: se a justiça não foi capaz de condená-lo, quem ler esse livro vai ser. E foi uma das decisões mais acertadas da minha vida. Foi através desse livro que o meu caso chegou às esferas internacionais, e o Brasil foi “responsabilizado” pela tolerância com que tratava os casos de violência doméstica no país e foi “obrigado” a mudar as suas leis. A partir daí, foi criado o ambiente da Lei 11.340/06, que foi batizada com o meu nome e que veio para resgatar a dignidade da mulher brasileira.
DC – A Lei Maria da Penha está fazendo 19 anos. O que significa para a senhora ver, depois de quase duas décadas, uma lei que leva seu nome protegendo tantas mulheres todos os dias?
Maria da Penha – É muita responsabilidade estar viva e dar nome a uma lei. Porém, sinto-me muito honrada e totalmente comprometida com esta causa, que mata as nossas mulheres e deixa órfãs as nossas crianças. Sou muito grata aos movimentos de mulheres da minha cidade e do meu país, que fortaleceram a minha busca por justiça e continuam me acompanhando nesta luta.
DC – Vivemos uma epidemia de violência contra a mulher ou o problema sempre existiu, porém agora estamos mais conscientes e as múltiplas mídias trazem maior visibilidade à questão?
Maria da Penha – Infelizmente, a violência doméstica sempre existiu. O crescimento das denúncias mostra que as mulheres se sentem mais encorajadas a realizar essa denúncia depois do advento da Lei Maria da Penha.
DC – Existe um perfil comum de agressor para que a mulher se reconheça em um relacionamento abusivo?
Maria da Penha – Acredito que exista um perfil de relacionamento abusivo. As mulheres que passam por violência doméstica estão, em algum momento, no ciclo da violência, mas muitas vezes nem reconhecem. O ciclo da violência se caracteriza pela fase da tensão: muita violência psicológica e agressão verbal; fase do episódio de violência: acontece a violência física ou até sexual; e a fase da lua de mel: quando a pessoa agressora pede desculpas e diz estar arrependida. Mas, infelizmente, esse ciclo se repete por anos. Por isso, é tão importante que as mulheres saibam reconhecer os tipos de violência doméstica que estão na Lei Maria da Penha e reconhecer as fases do ciclo da violência, para que consigam rompê-lo o quanto antes, pois sabemos que a última instância desse ciclo pode ser o feminicídio.
DC – Em condomínios, as pessoas convivem próximas, compartilham espaços, e muitas vezes sabem de casos de violência doméstica, mas preferem se omitir. Qual mensagem a senhora gostaria de deixar para vizinhos que percebam a ocorrência desse grave problema?
Maria da Penha – Gostaria de dizer que todas as pessoas podem assumir o seu papel de transformadoras sociais. Se você conhece alguém que está passando por violência doméstica, saiba que todos nós podemos fazer parte da rede de uma mulher em situação de violência. Pelo número 180, você pode denunciar, fazer uma denúncia anônima, tirar dúvidas sobre a lei, perguntar onde fica uma delegacia mais próxima. Esse número funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana. Denuncie! Quando a violência acaba, a vida recomeça!
Maria Isabel Oliveira é advogada imobiliarista e fundadora do Instituto Educacional Encontros da Cidade, em São Paulo. Uma das conquistas da entidade, justamente, foi ter contribuído para que o dia 22 de novembro fosse oficializado, por meio da Lei Municipal nº 17.957, como o Dia do Combate à Violência nos Condomínios, devido ao 1º Encontro de Combate à Violência Doméstica e Familiar em Condomínios ter sido promovido pelo instituto em 22/11/2022, na Câmara Municipal. “Essa data convida à reflexão sobre a violência doméstica, fomenta campanhas e fortalece a cultura de prevenção dentro dos condomínios”, pontua Maria Isabel.
A advogada ressalta a responsabilidade coletiva no enfrentamento da violência doméstica, além de enfatizar a importância de termos no Brasil uma lei como a Lei Maria da Penha, que completa 19 anos. “É um marco histórico na proteção à mulher; essa lei trouxe visibilidade pública e mecanismos eficazes para o enfrentamento da violência doméstica. Foi responsável por criar redes integradas de acolhimento, medidas protetivas e mecanismos de responsabilização de agressores.”
Denunciar casos de agressão é um ato de empatia e cidadania, em conformidade com o artigo 144 da Constituição Federal, que estabelece a segurança pública como dever do Estado e responsabilidade de todos. “Nos condomínios, esse compromisso é reforçado pelo artigo 1.336, inciso IV do Código Civil, que impõe aos condôminos o dever de zelar pela segurança, salubridade e sossego coletivo”, observa a advogada. Assim, ao presenciarem ou mesmo suspeitarem de episódios de violência contra a mulher, os moradores devem comunicar os fatos à administração condominial e às autoridades competentes.
Em São Paulo, a Lei Estadual nº 17.406/2021 determina que síndicos e administradores comuniquem imediatamente à Delegacia da Mulher ou a órgão de segurança pública sobre ocorrência ou indício de violência doméstica/familiar contra mulheres (e crianças, adolescentes e idosos). No município, a Lei nº 17.803/2022 exige que condomínios residenciais comuniquem, em até 24 horas, casos ou indícios de violência doméstica contra mulheres, crianças, adolescentes, idosos e pessoas com deficiência. A norma prevê, ainda, a colocação de cartazes com informações sobre canais de denúncia.
Afixar cartazes, além de estar em conformidade com a legislação, deixa implícito que o condomínio não compactua com violências e "está de olho" em possíveis agressores. Veja, a seguir, quais são os canais oficiais para denúncias.
180 – Central de Atendimento à Mulher;
100 – Disque Direitos Humanos (relacionado a diversos grupos vulneráveis);
190 – Polícia Militar (situação de emergência – quando está acontecendo);
197 – Polícia Civil (registro de ocorrência);
Delegacia da Mulher local e Ministério Público – (presencial).
Maria Isabel Oliveira, advogada imobiliarista e familiarista na Advocacia Cristiano De Souza
Poliglota e tendo conhecido 86 países, Lourival Teixeira, 52 anos, emprega expertise da hotelaria na sindicatura
“TENHO ORIGEM quilombola e indígena. Pulsa dentro de mim a força, a obstinação e o anseio de liberdade dos meus ancestrais, o que explica muito da minha trajetória. Também devo mencionar que Deus deve gostar muito de mim, porque sempre tive anjos, pessoas que me impulsionaram a crescer. Sou o ‘primeiro diploma universitário’ de uma família numerosa, fiz carreira na hotelaria, sou modelo sênior na São Paulo Fashion Week, sou síndico profissional de um condomínio conceitual elegantíssimo e, ainda, presto consultoria a mais dois condomínios. Por que eu falo tudo isso? Para honrar meus pais, já falecidos, que me transmitiram valores éticos que norteiam minhas ações; e para honrar meus irmãos, que sempre torceram por mim. E também para inspirar outras pessoas a romperem barreiras de preconceito — seja de raça, pobreza, idade, religião etc. Afinal, todos temos direito a um lugar ao sol. Sou natural de Berilo, nos arredores do Vale do Jequitinhonha, norte de Minas Gerais, e cheguei a morar em quilombo, mas eu era muito pequeno, então minhas lembranças são um pouco mais à frente, da infância em uma casa simples na roça, com meus pais lavradores provendo o sustento de nove filhos — sou o quinto. Eu passava longos períodos na cidade, com as amigas da minha mãe, para frequentar a escola, que eu adorava. Minhas professoras me diziam que ninguém poderia tirar de mim o conhecimento. Quando eu tinha 13
anos, nos mudamos para São Paulo, na região do Campo Limpo. Na escola do bairro, me chamavam de roceiro, de caipira. Um dia, no recreio, uma garota branca, a Marineide, perguntou por que eu estava tão triste e, quando soube que eu não tinha amigos, ela segurou minha mão e me propôs sermos amigos para sempre. Depois, mais alguns alunos se juntaram a nós, e somos todos amigos até hoje. Esse grupo foi vital para evoluirmos no caminho do bem. Meus pais logo voltaram para Minas, mas, antes, me emanciparam porque eu quis continuar em São Paulo e eles confiavam no meu jeito responsável. Os proprietários de um comércio de materiais de construção em Pinheiros, onde eu trabalhava como office boy, me cederam um quarto para morar sobre a loja. A filha deles me incentivava nos estudos, me ensinava inglês e fortalecia minha autoestima com palavras sábias. Por volta dos 18 anos, trabalhei como auxiliar de escritório em uma empresa de laminação de ferro. Passei a viver em pensão e a estudar em uma escola estadual em Perdizes, onde fui muito maltratado por causa do meu tom de pele e sotaque caipira, mas lutei pelo meu direito de ocupar aquele espaço. Nessa época, fazia cursos de inglês e, por causa disso, um cliente da empresa de laminação me levou para ser recepcionista bilíngue em um flat em Cerqueira César. Em oito meses, virei chefe da recepção. Mais tarde, cursei faculdade de hotelaria no Senac e ingressei na maior rede francesa de hotéis que opera no Brasil.
Na vida pessoal, enfrentei solidão na cidade grande e transformei dor e lágrimas em poesia. Tenho livros publicados com apoio de marcas de vinho, água mineral e restaurante. Na fase de lançamento do primeiro livro, uma enchente inundou meu quarto de pensão e levou quatro caixas de livros. Mas esse episódio triste teve um lado bom, pois me encorajou a buscar um lugar melhor para morar. Conheci, no trabalho, uma pessoa que estava alugando um apartamento e me interessei pelo imóvel. Ao entrar nele pela primeira vez, intuí que um dia iria comprá-lo. O proprietário mudou-se para os EUA e me vendeu o imóvel em parcelas a perder de vista. Não o vendo por nada: é a minha fortaleza.
Durante 25 anos, me dediquei à hotelaria, passei por grandes redes, me tornei gerente-geral e participei da implantação de hotéis. Em 2012, deixei o segmento para me dedicar apenas à minha agência de viagens, que eu havia aberto em 2006. Eu amo viajar, sinto sede de conhecer outras culturas. O mundo é pequeno demais para mim. Já estive em 86 países. Viajo não só por prazer, mas também para buscar experiências diferenciadas que eu possa oferecer aos clientes da agência. As viagens me moldaram como gestor; em países como Canadá e Suíça, por exemplo, aprendi muito sobre interações sociais gentis e respeitosas.
Além da agência, em 2014, assumi o posto de gerente concierge no Home Stay Paulistano, um residencial com 250 unidades, na Bela Vista. O conceito desse condomínio é oferecer serviços que tragam conforto de hotel, mas sem interferir no aconchego e na intimidade de um lar. Assim que comecei a acompanhar o dia a dia do empreendimento, notei algumas inconsistências e fiz apontamentos ao Corpo Diretivo, o qual, um ano depois, me convidou para assumir também a função de síndico profissional. De imediato, substituí empresas escusas ou relapsas que atendiam o condomínio. Considerando
que, nesse prédio, 75% dos moradores são médicos, acredito que essas empresas se aproveitavam da falta de conhecimento técnico do Conselho Fiscal para agir. A obra de pintura da fachada, por exemplo, havia sido superfaturada — e a cor da tinta não era a do memorial descritivo; o laudo da limpeza das caixas d’água era falso; os elevadores do prédio, implantado em 2005, ainda estavam em nome da construtora; entre outras irregularidades.
Sob a minha gestão, pintamos a fachada duas vezes, nos prazos, e refizemos o paisagismo. Implementamos sistema de água de reuso, economizando até 30% na tarifa mensal. Instalamos filtros para purificar a água que vem da rua. Conseguimos conscientizar moradores para que participassem da brigada de incêndio. Agora, estamos providenciando para inserir regras para tutores de pets em novo regimento, porque vizinho não é para brigar, é para se apoiar. Organizo eventos como ‘degustação de vinhos’ para promover interação e bem-estar. Cuido deles e eles de mim. Já lidei com dois cânceres e recebi muito carinho e atenção dos moradores. E muito amor dos meus funcionários — o alicerce da minha gestão. Ali dentro, torcemos por pessoas! Cinco anos atrás, por acaso, caí no mundo da moda como modelo sênior de passarela e fotográfico, e alguns moradores vibraram quando souberam. Médicos, advogados, mulheres e homens maduros, que tinham vontade de fazer trabalhos de publicidade, se sentiram encorajados e foram em frente. É gratificante trocar experiências, sempre com muito respeito, claro. A riqueza das relações é aprendermos uns com os outros, todos os dias.”
Lourival Teixeira, em depoimento concedido a Isabel Ribeiro
Oferecimento:
O morador apronta, e o gestor precisa acalmar os ânimos; confira os relatos a seguir
“ALGUNS MORADORES AINDA PENSAM QUE O SÍNDICO TEM DE DAR UM JEITO EM TUDO — ATÉ MESMO
EM SITUAÇÕES QUE SÓ DIZEM RESPEITO À VIDA PESSOAL.
Alex Macauba, síndico profissional
Foto Dilvulgação
Administro um condomínio na região do Grande ABC onde duas moradoras arrumavam muita confusão. Uma vivia com os pais em uma torre; a outra, com o marido e o filho, na outra torre. No início, elas eram amicíssimas; as famílias também se davam bem e confraternizavam nas áreas comuns.
A amizade acabou quando uma saiu com o marido da outra. Daí começaram as brigas. A pessoa traída chutou a porta da unidade da ex-amiga, riscou o carro, furou pneus...
Demos advertências e multas para tentar restabelecer a ordem, mas orientei a moradora que era vítima dos ataques a procurar a polícia, pois o condomínio não tinha como garantir sua integridade física.
Um dia, eu estava auxiliando o manutencista na área externa, e segurava ferramentas quando uma dessas moradoras parou para conversar conosco. Nisso, percebi a adversária vindo em nossa direção. Levei rapidamente a que estava conversando para dentro da torre, pois queria que pegasse o elevador, mas a outra chegou depressa — e começaram a se agredir. E eu, no meio da briga, segurando as duas... tomando chutes de ambos os lados! Aí, ergui o braço para contê-las, e o alicate que eu segurava caiu na minha cabeça e fez um corte. Ao mesmo tempo, uma delas tirou da bolsa um dispositivo de choque para defesa pessoal e foi para cima da outra. Adivinha só quem levou o choque? Pois é! Por sorte, logo se mudaram do condomínio.
Em outro condomínio, muito tempo atrás, havia uma moradora daquelas bem difíceis de lidar. Na época em que os filhos eram menores, ela brigava com outras crianças se achasse que tinham feito algo contra os filhos dela. Anos mais tarde, soubemos que ela ficava descontrolada quando não tomava direito a medicação psiquiátrica. Os filhos foram embora, o marido também. E ela passou a
inventar motivos para ir, tarde da noite, à casa dos vizinhos. Bastava ver alguma luz acesa que tocava a campainha em busca de uma chave de fenda para abrir a porta ‘porque tinha ficado trancada para fora’ ou de ajuda porque estava ‘passando mal’.
Às vezes, essa moradora cismava que estavam roubando a internet dela e saía mexendo na fiação da torre inteira. Outras vezes, imaginava que havia vazamento de gás e desligava os registros hidráulicos do condomínio, achando que eram de gás.
Chovia reclamação de moradores sem água pela manhã. Precisei intimar e notificar a família: ela não tinha condições de ficar sozinha, e estava tirando o sossego do condomínio — e, por tabela, o deste síndico aqui.”
“A IMPACIÊNCIA E A FALTA DE EMPATIA
DOS MORADORES CRIAM SITUAÇÕES
QUE EXIGEM DEMAIS DO SÍNDICO E DOS FUNCIONÁRIOS. Foto Dilvulgação
quem pense que o entregador é um serviçal que deve ir até sua unidade. Imagine, numa sexta-feira, de 20 a 30 estranhos transitando de uma só vez no condomínio para entregar pizzas e lanches. Temos muitos entregadores honestos, é claro, mas também existe o chamado “crime de oportunidade”. A própria segurança dos moradores pode ser comprometida.
Dois anos atrás, ao lado de uma colega com quem eu administrava um condomínio de classe média alta, vivi um pesadelo por causa da intransigência de um único morador. Essa pessoa foi até o portão para retirar seu pedido, mas exigiu que o entregador adentrasse a eclusa para realizar a entrega. O motoboy, com receio de ter a moto — que era emprestada — roubada, preferiu ficar na calçada, junto ao passa-volumes do portão da rua.
O morador não se conformou com a recusa, foi até o entregador e o agrediu. Outros motoboys filmaram a ação e compartilharam com colegas. No dia seguinte, soubemos que, à noite, a categoria faria um protesto em frente ao condomínio. Colocamos uma faixa grande, em local visível, esclarecendo que o condomínio não compactuava com agressões, mas, acreditem, o morador envolvido reclamou, dizendo que a administração deveria ficar do lado dele. Reforçamos a segurança privada e informamos a polícia, que nos deu suporte nas proximidades do condomínio, para o caso de a manifestação se tornar violenta.
Vanilda de Carvalho, síndica profissional
Eu noto que os porteiros vivem sob muita tensão por causa do aumento de encomendas feitas por aplicativos. Às vezes, mal receberam os produtos e já há morador cobrando por eles de forma agressiva.
No caso de delivery de comida, ainda há
Os motoboys foram chegando — de repente, havia mais de 300 deles. Gritavam, soltavam rojões e esmurravam o portão principal, de ferro. Do lado de dentro, moradores desceram, e juntos formamos barreiras. O que nos separava dos motoboys era o gradil de vidro, e eu temia que eles o quebrassem e invadissem o condomínio atrás do tal morador, pois, de alguma forma, já haviam descoberto em qual unidade ele morava. Após uma hora de muita apreensão, o grupo se dispersou, com a promessa de voltar mais tarde, quando os restaurantes e pizzarias fechassem, reunindo mais colegas — somando, no total, mil entregadores.”
Demos plantão no condomínio durante toda a madrugada.
Felizmente, não voltaram!”
Depoimentos concedidos a Isabel Ribeiro
Por Luiza Oliva
VOCÊ JÁ PENSOU que existem semelhanças entre conduzir aviões e administrar condomínios? Parece mentira, mas as tarefas de um piloto e de um síndico têm similaridades. Paulo Werneck, síndico profissional há mais de 10 anos, é também piloto — atualmente faz cerca de dois voos internacionais por mês. Como síndico, atua principalmente na implantação e gestão de condomínios-clube, alguns com quase 500 unidades.
Sua formação como piloto, afirma, ajuda muito na sindicatura, principalmente nos processos de checklist. “Na aeronave, o piloto precisa estar por dentro das manutenções. O manual do fabricante prevê o que deve ser feito e quando. Da mesma forma que um piloto, o síndico não realiza as manutenções, mas precisa conhecê-las a fundo. Recomendo seguir o manual fornecido pelas construtoras e a norma ABNT NBR 5674, que indica qual revisão deve ser feita, em que periodicidade e por quem”, diz.
A inspeção predial não é a solução em si, mas sim uma auditoria técnica que orienta o plano de manutenção do condomínio e ajuda a definir prioridades nos reparos racterísticas originais da construção e prevenir a perda de desempenho devido à degradação. Para Werneck, muitos síndicos não têm noção da seriedade do cargo. “Na aviação, não podemos errar, mas temos uma fiscalização séria por parte da ANAC. Já nos condomínios, muitas vezes, somente ao assumir a administração, descobrimos que a gestão anterior agiu errado”, compara.
A norma ABNT NBR 5674 estabelece os requisitos para o sistema de gestão da manutenção de edificações, visando preservar as ca -
Se há dúvidas sobre o passado do empreendimento, Paulo recomenda a contratação de uma inspeção predial. Ele se lembra de casos em que uma vistoria detalhada detectou
desde extintores vencidos até problemas construtivos estruturais. “Nos meus condomínios, atuo 100% baseado na engenharia. Acredito que é o melhor remédio para o síndico se respaldar. E a dose inicial é a inspeção”, pontua Paulo, ressaltando que o intuito da inspeção não é culpar gestões passadas, mas oferecer um norte para que o novo gestor trace o plano diretor da edificação.
Além da comparação feita por Paulo Werneck entre aviões e condomínios, também é possível relacionar a manutenção e a inspeção predial dos edifícios à saúde das pessoas. “Imagine pedir o mesmo exame de rotina para um atleta e para um sedentário. O exame é o mesmo, mas o resultado esperado reflete o histórico de cuidados de cada um. A inspeção predial funciona da mesma forma: ela é um ‘exame’ que revela o estado atual da edificação”, explica Claudio Silva, engenheiro, especialista em Estruturas e Patologias das Edificações, que há quase 25 anos atua na área condominial.
Claudio acrescenta que a inspeção funciona como diagnóstico, não como tratamento. “Uma edificação verdadeiramente saudável é aquela que vive sob um eficiente plano de manutenção contínuo, onde a inspeção periódica deixa de ser um evento temido para se tornar um processo de auditoria”, pontua.
Para o engenheiro, os síndicos devem ser reeducados, já que a inspeção predial não é a salvação para resolver os problemas do prédio. Quem manda é a manutenção, orienta: “A salvação é instaurar um plano de manutenção na edificação. A inspeção é uma auditoria desse plano, serve para entender se ele está sendo cumprido e se há falhas que devem ser ajustadas. É como uma auditoria fiscal nas contas, que é usual nos condomínios.”
A norma ABNT NBR 16747 estabelece diretrizes, conceitos, terminologia e procedimentos para a inspeção predial. Pela norma, a inspeção predial “é um conjunto de atividades que avaliam as condições técnicas de uma edificação, incluindo todos os seus sistemas e subsistemas, com o objetivo de identificar o estado de conservação, apurar causas de anomalias e falhas de manutenção, e indicar ações necessárias para sua conservação”. Claudio completa: “A inspeção não resolve o problema, ela apenas coloca luz sobre ele.”
Fundamental, na opinião do engenheiro, é saber com qual objetivo o síndico busca a contratação de um relatório técnico. Se for para uma questão judicial, o instrumento contratado deve ser a perícia. Se a necessidade for uma orientação para montar a previsão orçamentária do condomínio, uma vistoria mais superficial pode servir. “Para um condomínio que está na inércia, pode ser um começo”, diz.
No caso da inspeção predial, há a constatação das falhas e
suas criticidades, a partir do cruzamento com elementos históricos e documentações da edificação. “O engenheiro ou arquiteto que fará a inspeção é um clínico geral. Se ele detectar algo que careça de um maior aprofundamento, deve recomendar ao síndico procurar um especialista. Por exemplo, se há uma infiltração na garagem, deve-se consultar um projetista de impermeabilização para aprofundar e complementar o relatório”, explica Claudio.
A arquiteta Vanessa Pacola foi coordenadora da Câmara de Inspeção Predial do Ibape-SP (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia) e responsável pelas cartilhas de inspeção predial da entidade. Trabalha com perícias e inspeções prediais, e atende condomínios e principalmente construtoras, visando diminuir ocorrências de manutenção e assistência técnica pós-obra.
Ela reforça que não basta os síndicos receberem o manual de uso do condomínio e tê-lo como um livro de cabeceira que nunca lemos. “É preciso fazer o plano de manutenção. Há construtoras que fornecem assinaturas de sistemas de gestão de manutenção para o síndico. Outras fazem vistorias proativas, dentro do período de garantia, para que um profissional oriente o gestor. Isso ocorre porque não é raro o síndico negligenciar o período de manutenção de cinco anos e processar a construtora ao
quarto ou quinto ano, embora a causa do problema seja a falta de manutenção prevista no manual de uso”, arremata.
Na prática, Vanessa nota que os síndicos costumam se ater apenas às manutenções exigidas por lei — como limpeza do reservatório de água e revisão de mangueiras e extintores de incêndio. “Eles se esquecem de que receberam o manual de uso e operação do empreendimento, e que esse documento é mandatário. Nele consta que, a cada dois anos, devemos tratar juntas de dilatação, que precisamos pintar a fachada a cada três anos, e que, anualmente, precisamos checar a camada de proteção da impermeabilização e, periodicamente, limpar ralos. Percebemos que muitas verificações não são feitas quando chegamos em um condomínio e vemos uma árvore nascendo no ralo da laje”, exemplifica.
Inspeção predial e plano de manutenção são assuntos intimamente ligados. Vanessa orienta que os síndicos deem prioridade às manutenções em atraso, “já que a ação do tempo degrada os sistemas”, completa. Ela reforça que um sistema é projetado para uma determinada vida útil, mas que, para manter seu desempenho e durabilidade, obrigatoriamente a manutenção deve ser feita nos prazos corretos. “Na faculdade, nos ensinam que projetamos estruturas para 60 anos. Isso não significa que prédios com 60 anos irão cair, mas que eles precisam ser revisitados, entendendo como está a manutenção. E, mais uma vez, a analogia com o corpo humano é perfeita. Há maratonistas que envelhecem muito bem, mas temos jovens senhores que tiveram sua manutenção negligenciada”, resume Vanessa, que aponta outra vantagem de se realizar a inspeção da edificação: ela ajuda a planejar melhorias no condomínio. Por exemplo, a inspeção pode detectar que o boiler para aquecimento da água está no final de sua vida útil. “Hoje, existe uma infinidade de possibilidades para aquecimento de água. Por exemplo, pode ser instalada energia solar, zerando o custo de energia das áreas comuns”, relata a arquiteta. O engenheiro Claudio Silva acredita que é preciso mudar a forma de atuar de muitos síndicos. “Muitos só tratam as sequelas, e não as causas. A inspeção mostra uma foto ruim porque, desde o começo da edificação, é cobrada uma taxa condominial baixa e não há dinheiro previsto para a manutenção. A situação vai sendo empurrada exercício a exercício, degradando a edificação, gerando mais conflitos e dissabores. Contrata-se a inspeção quase como um remédio milagroso, numa clara inversão. O correto é definir a cota condominial de acordo com o plano de manutenção”, resume.
Na ordem, de cima para baixo: Paulo Werneck (síndico profissional); Claudio Silva (engenheiro) e Vanessa Pacola (arquiteta)
Por Isabel Ribeiro
OS ELEVADORES são considerados um dos meios de transporte mais seguros do mundo. No entanto, essa reputação pode levar condomínios a uma perigosa zona de conforto, adiando manutenções, modernizações e atualizações técnicas necessárias. “Segurança em elevador não é um rótulo permanente. Ela é resultado direto de cuidado contínuo e decisões responsáveis do condomínio”, alerta Rodrigo Sá, consultor independente e auditor de manutenção de elevadores, que atua em condomínios de São Paulo e cidades vizinhas. Segundo ele, ao contrário dos carros, que recebem revisão com frequência ou são substituídos com o tempo, os elevadores, mesmo sendo usados diariamente por dezenas de pessoas, costumam ser negligenciados.
“A manutenção e a vistoria periódica de elevadores são essenciais para garantir a segurança dos usuários, prevenir falhas e assegurar o pleno funcionamento dos equipamentos, conforme as normas técnicas e regulamentos vigentes.”
(Eduardo Santiago de Lima, diretor técnico, Viks Elevadores)
A água acumulada no poço do elevador pode vir a causar curtocircuito e provocar incêndio no quadro de comando - vide foto. Na outra imagem, observase que a corrente de compensação apresenta emendas com arame — em caso de ruptura, isso pode causar desde o travamento da cabine a acidentes graves com o equipamento e o técnico da manutenção
Rodrigo menciona que o número de acidentes com usuários e técnicos aumentou no Brasil nos últimos anos e relaciona o fato à queda na qualidade das manutenções, à falta de técnicos qualificados, à ausência de modernizações e à fiscalização insuficiente. “Temos no mercado empresas de manutenção que executam um excelente trabalho, sem dúvidas, mas, infelizmente, também temos aquelas que deixam a desejar”, diz. Ele acrescenta que reverter esse cenário exige investimento em manutenção técnica de qualidade, boas práticas operacionais e decisões mais conscientes por parte dos gestores condominiais. Veja outras considerações do especialista na entrevista a seguir.
Direcional Condomínios – O que um síndico precisa saber para promover segurança em elevadores?
Rodrigo Sá – O síndico não precisa ser técnico, mas deve conhecer o básico: entender qual elevador está instalado, sua idade, histórico de reparos e necessidades de atualização. É fundamental saber que a responsabilidade é compartilhada entre o condomínio
"Além das atualizações tecnológicas e da modernização dos sistemas, o bom funcionamento do elevador depende de uma manutenção preventiva adequada, inspeções regulares e boas práticas no uso do equipamento."
(Rogerio Meneguello, diretor, Primac Elevadores)
e a empresa de manutenção. Capacitar o zelador ou gerente predial para acompanhar as manutenções e, sempre que possível, contar com uma consultoria especializada garante mais segurança e decisões técnicas bem embasadas.
DC – O que os moradores precisam saber sobre esse equipamento?
Rodrigo – Muitos problemas em elevadores são causados pelo mau uso. Pular dentro da cabina, apertar repetidamente os botões, forçar portas, exceder o limite de passageiros ou carga, além de transportar pets sem controle adequado e permitir que crianças pequenas usem o elevador sozinhas, representam riscos à segurança e ao funcionamento. É fundamental que os moradores entendam que o elevador é um equipamento técnico e sensível, e que o uso consciente evita falhas e acidentes.
DC – Temos visto acidentes em que o usuário solicita o elevador e este não chega ao andar; mesmo assim, a porta se abre, o passageiro entra e cai no fosso. Por que essas falhas mecânicas acontecem?
Rodrigo – Em geral, decorrem de manutenção irregular, desgaste de componentes ou uso de peças obsoletas. Os principais vilões são problemas nos freios e nas portas, que impedem o elevador de parar corretamente ou travar com segurança. A prevenção depende de manutenções periódicas bem executadas, uso de peças adequadas e, sempre que necessário, atualização dos sistemas.
DC – Quais mitos sobre elevadores ainda persistem nos condomínios?
Rodrigo – Um mito comum é o de que o elevador pode cair devido à ruptura dos cabos, o que é improvável. Ainda que isso ocorra, o equipamento tende a despencar apenas alguns metros e parar por conta do freio de segurança, desde que esteja com a manutenção em dia. Outro mito recorrente é o de que o elevador pode ficar sem ar durante uma pane. As cabines possuem ventilação natural ou ventiladores. Ficar preso é desconfortável, mas não há risco de asfixia. O essencial é manter a calma, acionar o alarme e aguardar o resgate.
"Uma boa empresa oferece suporte técnico emergencial 24 horas, com agilidade no atendimento, histórico sólido, tempo de atuação e boas referências. É fundamental que atue de forma preventiva e esteja comprometida com a segurança dos usuários." (Rogerio Meneguello, diretor, Primac Elevadores)
DC – Elevadores modernos exigem menos atenção do síndico?
Rodrigo – Pelo contrário; exigem ainda mais atenção. Por usarem tecnologias avançadas, demandam conhecimento técnico especializado, manutenção adequada e acompanhamento constante. As peças são mais caras, e erros de gestão podem comprometer o desempenho ou a segurança. Um síndico bem informado, com suporte técnico qualificado, é essencial para transformar a modernização em ganho real para o condomínio e seus usuários.
DC – Em visitas a condomínios, com quais irregularidades você se depara?
Rodrigo – Encontramos, com frequência, freios desregulados, cabos e polias com desgaste, contatos de segurança irregulares e muita sujeira — não só na casa de máquinas, mas em todo o sistema. Gambiarras são comuns, assim como poços com água e janelas projetadas fora de norma, possibilitando que entre água da chuva e haja infiltrações nos equipamentos. Essas falhas colocam vidas em risco.
DC – Quando é recomendável contratar uma consultoria independente? Por quê?
Rodrigo – Quando os problemas se repetem, os orçamentos assustam ou a modernização está em pauta. A consultoria independente traz visão técnica imparcial, avalia contratos, corrige excessos e identifica falhas que afetam segurança e custos. O resultado são elevadores mais seguros, decisões mais assertivas e economia com responsabilidade. Um bom diagnóstico evita dores de cabeça futuras.
DC – De que modo a consultoria técnica pode auxiliar o síndico durante a negociação ou troca da empresa de manutenção?
Rodrigo – A consultoria serve para avaliar propostas, identificar riscos ocultos, cláusulas desfavoráveis e eventuais falhas que podem comprometer a segurança dos elevadores. Também analisa a capacidade real da empresa contratada e garante que o contrato reflita as necessidades do condomínio.
“Por lei, a manutenção preventiva deve ser realizada mensalmente, independentemente da frequência de uso. Vale lembrar, ainda, que a manutenção preventiva proporciona maior segurança aos usuários do equipamento e é mais econômica quando comparada à corretiva.” (Leandro Ferreira, diretor comercial, Grupo OrionLift Elevadores)
DC – Em prédios novos, é válido incluir cobertura de peças no contrato?
Rodrigo – Mesmo em condomínios novos, a manutenção mensal dos elevadores é exigida por normas técnicas e legislações municipais. A garantia dos equipamentos geralmente expira antes ou logo após a entrega do prédio. Por isso, firmar um contrato com cobertura de peças pode trazer mais tranquilidade ao síndico. No entanto, é essencial avaliar bem o escopo, os prazos e os custos antes de decidir. Cada caso exige uma análise técnica criteriosa.
DC – Quanto a elevadores antigos, qual o momento de partir para a modernização?
Rodrigo – Manter elevadores antigos pode sair mais caro que modernizá-los. Quando os reparos se tornam frequentes, peças são difíceis de repor e o desempenho impacta no conforto ou segurança, é hora de repensar. A modernização pode reduzir custos operacionais, aumentar a eficiência e valorizar o imóvel.
DC – O que o síndico deve observar ao contratar uma empresa de manutenção de elevadores?
Rodrigo – É fundamental avaliar suas referências, registro nos órgãos competentes, capacitação dos técnicos na tecnologia instalada, agilidade no atendimento emergencial e disponibilidade de peças. Também é importante analisar a estrutura técnica, o histórico de conformidade com normas e a qualidade dos serviços prestados. Uma escolha bem fundamentada evita surpresas, reduz riscos e garante a segurança e o bom desempenho dos elevadores.
Abaixo, Rodrigo Sá, consultor e auditor de manutenção de elevadores
“Para evitar transtornos, o síndico deve contratar uma empresa de manutenção que seja referência no mercado, considerando a complexidade dos sistemas de operação dos elevadores. Também é essencial que a empresa ofereça atendimento 24 horas para casos de emergência.” (Leandro Ferreira, diretor comercial, Grupo OrionLift Elevadores)
PRÓXIMA EDIÇÃO: ELEVADOR: MANUTENÇÃO E MODERNIZAÇÃO
Por Priscila Jarrouge
Na área da sauna, em condomínio no Tatuapé, destaque para a divisória de alumínio com acabamento que imita madeira
OS CONDOMÍNIOS residenciais investem cada vez mais em reformas estruturais e estéticas, com foco na melhoria do uso dos ambientes, na acessibilidade dos espaços e, sobretudo, no reforço dos sistemas de segurança. Nesse cenário, a serralheria surge como protagonista. Entre as principais aplicações metálicas, destacam-se: portões sociais e de garagem; grades de proteção para janelas; guarda-corpos e corrimãos; brises e elementos verticais, como cobogós (para controle solar e ventilação); fechamentos com grades e telas para áreas técnicas (geradores, medidores, bicicletários); estruturas personalizadas, como floreiras e pérgolas, por exemplo.
A serralheria permite infinitas possibilidades criativas e funcionais. Dentre os principais materiais utilizados, estão: 1) alumínio — leve, durável e resistente à corrosão, é ideal para regiões litorâneas ou úmidas. Pode receber pintura eletrostática em diversas cores e acabamentos, incluindo texturas que imitam madeira ou cimento queimado. Requer baixa manutenção; 2) aço galvanizado com pintura eletrostática — mais robusto que o alumínio, é ideal para estruturas maiores. A galvanização protege contra ferrugem, e a
“Esquadrias de alumínio são duráveis e fácil de limpar, bastando passar um pano úmido e um produto neutro – ou até mesmo álcool comum (a 46°). Se a limpeza for com esponja dupla face, utilize somente o lado amarelo. Não se deve empregar força ao limpar.”
(Elisangela dos Santos Camargo, gerente adm. e logística, Armel Esquadrias de Alumínio)
Na imagem A, pórtico em alumínio com acabamento madeirado e gradil metálico com pintura eletrostática preta projetado para condomínio na Vila Nova Conceição; na imagem B, pórtico em alumínio com acabamento madeirado e gradil metálico com pintura eletrostática marrom, para condomínio na Vila Olímpia
pintura garante durabilidade e opções de acabamento fosco, acetinado ou brilhante; e 3) aço corten — de aparência naturalmente oxidada, tem forte apelo estético em projetos com linguagem moderna ou industrial. Exige pouca manutenção e confere personalidade ao ambiente.
Entre as tendências de cores e acabamentos, destacam-se os tons
“Para acertar na serralheria, escolha uma empresa experiente no segmento, a fim de que possa unir a resistência do metal à precisão do acabamento, garantindo a longevidade e a segurança ideais para seu condomínio.”
(Márcio Braga, sócio-diretor, Bragametal)
neutros e sóbrios — como preto fosco, grafite, cinza chumbo e branco acetinado —, que são os mais usados em gradis e portões. Já acabamentos madeirados, metalizados ou com texturas especiais são mais comuns em elementos decorativos, como divisórias, estantes e coberturas. Modernizar com segurança e estilo nunca foi tão viável. A serralheria, hoje, agrega valor, conforto e identidade aos empreendimentos.
PRISCILA JARROUJE
Nas imagens, proposta para bicicletário em condomínio no litoral, em alumínio para evitar a corrosão, com duas opções de acabamento: pintura eletrostática ou madeirado
Arquiteta especializada em Gerenciamento de Projetos na Construção Civil pela Escola Politécnica da USP, atua na Pri Jarrouge Arquitetura. Mais informações: @prijarrouge.arquitetura
“A contratação de serviços de serralheria deve considerar a experiência comprovada da empresa, os clientes que atende, o prazo de garantia oferecido e o compromisso com o cumprimento das normas técnicas, como nas adequações exigidas pelo AVCB.”
(Joel Silva Melo, sócio-administrador, Metallon Serralheria)
PRÓXIMA EDIÇÃO: PLAYGROUND: BRINQUEDOS, PISOS E BRINQUEDOTECA
Por Alexandre Mitidieri
MANTER os extintores de incêndio em perfeito estado é uma obrigação de todo síndico comprometido com a segurança do condomínio. Extintores fora do prazo de validade ou com manutenção negligenciada podem falhar no momento mais crítico, colocando vidas e patrimônios em risco. Na maioria dos edifícios, sejam residenciais ou empresariais, há dois tipos de extintores: classe A (água) e BC (pó químico) que exigem manutenção a cada ano, após o término do prazo de validade de um ano. Os extintores do tipo ABC são os mais indicados atualmente, por atenderem a diferentes classes de incêndio, por serem mais leves (em média com carga de 4kg) e de fácil manuseio. Têm validade de até cinco anos, de acordo com o fabricante, sem necessidade de manutenção nesse período. Após esse prazo, devem entrar na rotina de manutenção anual como os demais extintores.
A escolha dos equipamentos deve seguir as normas da ABNT (NBR 15808 e 15809) e contar com certificação do Inmetro. Após o período de validade, a manutenção é obrigatória a cada 12 meses, realizada por empresa especializada e autorizada. Escolha empresas que não trabalhem com pó reciclado para a manutenção ou fabricação de extintores, pois pode comprometer a eficácia e trazer riscos. Solicite evidências de substituição do pó a cada cinco anos, pois é obrigatório! As inspeções mensais são essenciais, verifique pressão, lacres e acessibilidade dos equipamentos. Optar por empresas fabricantes idôneas e certificadas pode salvar vidas. Segurança não é custo, é investimento!
ALEXANDRE MITIDIERI
Engenheiro mecânico, é diretor de novos Negócios da Kidde Global Solutions. Mais informações: alexandre.mitidieri@carrier.com
“Escolher corretamente os equipamentos contra incêndio é essencial para proteger o condomínio, garantir a segurança dos moradores e atender às normas técnicas. É preciso investir em qualidade e prevenção para evitar riscos e falhas em uma emergência.”
(Bruno Rabelo, engenheiro, Firex Sistemas Contra Incêndio)
PRÓXIMA EDIÇÃO: SEGURANÇA: AUTOMATIZAÇÃO, CFTV, PORTARIA REMOTA/AUTOMATIZADA, CONTROLE DE ACESSO, INTERFONE E PORTÕES