Saiba+ - Edição Outubro de 2012

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Ano 10 - Nº 102 - Faculdade de Jornalismo - PUC-Campinas - 5 a 20 de Outubro de 2012 Foto: Ana Carolina Mora

O projeto Viva Bike Campinas, que foi inaugurado no dia 22 de setembro, promete ser uma nova opção de transporte público e desafogar as vias da cidade. A Prefeitura estima reduzir o trânsito em 16% até 2016. Porém, a falta de ciclovias e segurança pode minar o projeto. Partidos perdem confiança do povo

Jornada de Jornalismo 2012

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Arte encontra abrigo seguro

A partir do olhar dos militantes: por Jornada de Jornalismo discute NelApós crise politica e longa espera, son Rodrigues, seleção profissional, que os partidos políticos caíram no artistas contemporâneos ganham escrita criativa e jornalismo esportivo. espaço na Estação Cultura. conceito do meio público? Pág 11 Pág. 3 Pág . 5, 6 e 7


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Dar chance ao novo

Carta ao Leitor Muito além do Khronos, da passagem do tempo organizada em segundos, horas, meses, anos, a filosofia grega considerava o Kairos, o “momento oportuno”, a experiência de fato no mundo. Com o passar das centenas de anos, esse conceito desapareceu das percepções humanas. A tecnologia aumentou ainda mais a pressão pela velocidade. Contudo, o período eleitoral suspende toda a cronologia e faz emergir o Kairos, o “momento oportuno” para que todas as coisas emperradas aconteçam. Nesta edição do Saiba+, uma das bases na qual se sustenta o jornalismo, as contradições sociais, é uma busca incessante nas reportagens. A contradição de que a vontade política prescinde os planejamentos, que o Kairos se sobrepõe ao Khronos. A população passa a poder alugar bicicletas e embarcar na sustentabilidade, mesmo que não existam

FestFut

ciclovias por onde percorrer, mesmo que coloque a vida em risco seu pedalar. Artistas podem passar pelo menos cinco anos em busca de algum lugar para existir e, de repente, em menos de 14 dias, montarem uma exposição com vezes de big show pela arte. Candidatos passam a ser personalidades em detrimento das bandeiras levantadas por partidos sob o som de músicas feitas de maneira estratégica. Um evento importante do jornalismo em uma universidade que deve acontecer em determinado momento, mesmo tendo o Khronos do planejamento ao seu lado, desagradou aos tão incisivos futuros jornalistas e gerou a discussão sobre outras edições do evento. Talvez, na era da velocidade, os momentos decisivos e oportunos sejam, então, retomados. Isso, claro, quando importa.

Notas

Do dia 26 a 28 de outubro, o FestFut reúne, em Bragança Paulista, torcedores e ex-jogadores que marcaram época na capital paulista, como Careca, Evair e Ronaldo. São três dias, onde em cada um os presentes poderão tirar fotos, beber e comer a vontade. O evento acontecerá na quadra da escola de samba 9 de Julho, no Lago do Taboão. Mais informações, através do telefone: (11)95339.4646.

Paulínia Arena Music 2012 De 11 a 21 de outubro, Paulínia recebe o PAM 2012 (Paulínia Arena Music), festival que une música sertaneja e competições de montaria. Artistas do sertanejo universitário como Gusttavo Lima e Jorge e Mateus sobem ao palco, além da atração internacional, o rapper Pitbull.Para mais informações sobre o evento, você pode acessar o site oficial: www.pauliniaarena.com.br

Taxi para deficientes

Por Izadora Pimenta

Recentemente, a versão em português da tradicional revista literária britânica Granta resolveu montar sua lista de 20 melhores jovens escritores brasileiros, incentivando um questionamento. “Afinal, será mesmo que os selecionados são os melhores escritores do Brasil?”. Veículos de comunicação endossaram a discussão, outros escritores que julgam ter sido rejeitados sem critério algum pelos jurados emprestaram sua voz para o discurso, mas ficou por isso mesmo: a Granta foi criticada

que a literatura não merecia o mesmo? Será que a Granta é a única que tem o poder de apitar quem são os melhores? A literatura brasileira precisa de um transplante de pulmão. Os melhores estão em todas as partes, em todos os olhares - basta cada um encontrar seu espaço. E resta torcermos por uma realidade na qual escritores como Clarice Lispector não sejam os únicos e perpétuos (e compartilhados massivamente nas redes sociais). Todos precisam dar chance ao novo.

De filho para pai Por Luis Felipe Mlaker Leone

Seu José, um brasileiro como qualquer outro levantou em um domingo para tomar seu café. Ao sair de casa se deparou com uma imensa sujeira no quintal de sua casa, eram papeis das mais variadas cores e tipos. Andando pela rua ele vê uma aglomeração de pessoas a cumprimentá-lo. Seu José lembrava que esse dia tinha algo de especial, mas não lembrava o que era. Ao voltar pra casa, ligando a tevê, ele se lembra do motivo de tal aglomeração. Hoje é o dia das elei-

A partir de Outubro os deficientes da cidade têm mais uma opção de transporte. Os novos taxis acessíveis são veículos modificados para atender, principalmente, cadeirantes. Quatro deles já estão operando e a previsão é que até novembro os ou- Por Ana Carolina Mora tros 16 estejam nas ruas. É verdade que entrei no Mostra de Profissões mundo jornalístico acidentalmente, afinal, três A universidade vai reali- anos de cursinho prézar de 4 até 6 de outubro, vestibular para mediciuma feira de profissões, na jamais me levariam a contando com stands que pensar na faculdade de apresentarão cursos de gra- jornalismo. Sempre me duação e pós-graduação. O interessei por leitura e evento vai acontecer no es- pela escrita, mas era algo tacionamento do Shopping corriqueiro, nada que Iguatemi, dás 14h às 20h. chamasse muita atenção ou me guiasse para comuArte na Unicamp nicação. Por uma incrível coinA Unicamp abre seleção cidência, em meados de de quatro intervenções ar- 2009 o diploma de jortísticas para ocupar o marco nalismo foi extinto, já zedo na Praça do Ciclo Bá- não era necessária uma sico. Cada projeto recebe- formação acadêmica para rá R$ 5 mil. As inscrições exercer a profissão. podem ser feitas até dia 31 No ano seguinte eu ende outubro no Serviço de trei na faculdade, a conApoio ao Estudante (SAE).

ções, dia de decidir o futuro de sua cidade. Mas para Seu José isso pouco importava. Cansado da corrupção em sua cidade e das promessas não cumpridas Seu José havia decidido que não votaria mais, afinal a cidade onde ele e seus filhos nasceram acabara de ser sumariamente assaltada. Preferia pagar multa. Tomada a decisão Seu José se deita na sala, seu filho caçula com 18 anos recém-completados passa pelo pai com certa pressa.

Seu José indaga a pressa do filho e ele responde: “tenho que ir votar logo, não quero pegar fila”. Seu José repete para o filho a mesma história e o aconselha a não votar, pois não vale a pena. O garoto esbraveja e mostra para o pai que se as coisas estão ruins, não é cruzando os braços que elas vão melhorar. Basta apenas tomar uma atitude. Emocionado, Seu José abraça o filho, se desculpa e parte junto com ele para ajudar a decidir o futuro da cidade que eles tanto amam.

O jornalismo e o tempo

Expediente

Jornal laboratório produzido por alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas, Centro de Linguagem e Comunicação (CLC). Diretor: Prof. Dr. Rogério E. R. Bazi. Diretora-Adjunta: Maura PAdula. Diretor da Faculdade de Jornalismo: Prof. Me. Lindolfo A. de Souza Tiragem: 2.000. Impressão: RAC. Endereço: CLC - Campus I - Rod. D. Pedro, Km 136 Cep: 13086-900 E-mail de contato: saibamais@br.inter.net

e pouco se fez do lado de fora para mudar o quadro. Tão carentes por leitura, cada vez mais substituindo as horas dos livros por procrastinação, o possível público alvo acaba se acomodando. Os concursos literários passam despercebidos por quem não é do meio. É pouco o incentivo à leitura de novos autores no Brasil. Mas, assim como os veículos especializados em música fazem todos os anos as suas listas de promessas musicais, melhores álbuns e tudo o mais, será

tragosto de uma minoria familiar. Já tinha grande admiração pelas revistas Piauí, Bravo! e TPM. Essa última eu lia de cabo a rabo, até o dia em que me peguei folheando a revista de trás para frente. Para quem não sabe, é lá que fica a Coluna do Meio, da jornalista Milly Lacombe. Poucas vezes na vida alguém me encantou tanto quanto ela. Através de seus textos, me permiti entrar no enredo e assistir os episódios de mais uma aventura de sua vida. E admito que um texto em especial me encheu os olhos d’água, o Carta Ao Pai, em que ela escreve

uma carta para seu pai, falecido há 10 anos. Há pouco tempo minha avó havia falecido instantaneamente, sem avisar, dar um beijo ou simplesmente dizer: Estou indo. Nessa semana que passou conheci Milly Lacombe, dona de um vozeirão e incríveis olhos azuis. Através de suas palavras encorajadoras pude perceber que os altos e baixos da profissão de jornalista estão ali para nos dar um empurrão, mostrar o caminho. Com ela aprendi que contar uma história é mais do que mostrar os fatos, é envolver o leitor nela.

Professor Resp.: Prof. Me. Luiz R. Saviani Rey (MTb 13.254) Editora: Virgginia Laborão Capa e Diagramação: Bárbara Bigon Reportagem: Ana Carolina Mora, Bárbara Bigon, Fábio Loiola, Gabriela Pincinato, Isadora Almeida, Juliana Vieira, Marina de Sordi, Maurício Assis, Tamires Daniel, Virgginia Laborão.


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Propaganda musicada toma as ruas

Em tempos de cavaletes e redes sociais, tradicional jingle ainda seduz os eleitores Fábio Loiola

Foto: Fábio Loiola

Compre, veja, experimente. A linguagem publicitária é, invariavelmente, imperativa. No entanto, entre os inúmeros recursos do mercado publicitário e a despeito de tendências digitais, a simpatia pelo jingle (termo em inglês que remete ao badalar dos sinos) é quem sobrevive. As peças musicais publicitárias nasceram no Brasil como ferramenta eleitoral no ano de 1929, período ano em que os primeiros jingles foram criados para as campanhas de Júlio Prestes e Getúlio Vargas, então candidatos à presidência do país. Publicitário e apresentador do extinto programa “Jingles Inesquecíveis” pela Rádio CBN, Lula Vieira reforça o potencial afetivo que tais peças publicitárias podem alcançar, sobretudo quando asso-

ciadas à televisão. “Dois um jingle demanda plane- gle, comercial ou eleitoral, pe das campanhas” diz Maexemplos: os mamíferos jamento estratégico prévio, não demonstra qualquer nhanelli, corroborando a fleda Parmalat e o ‘pipoca pautado sob conceitos da desgaste enquanto atributo xibilidade da peça musical. com Guaraná’ que, assim área de marketing e pes- de difusão publicitária. Já Sua capacidade de se tornar como o jingle da sandália quisas de mercado. “É ba- figura no mundo virtual e “prefixo musical”, como deIpanema, conseguiu casar seado nisso que o jingle é se adapta às diversas muta- nomina o estrategista, resiste perfeitamente a ideia tra- feito” lembra, desmistifi- ções do dinâmico mercado ao tempo de maneira única. dicional do jingle com a cando associações com os publicitário. “O jingle nas- “ ‘O tempo passa, o tempo imagem”. métodos convencionais de ce no rádio e se atualiza na voa... ’ precisa falar do que Para o estrategista políti- composição musical. televisão através do video- é? Foi feita uma coisa tão co e autor do livro “Jingles Advento do rádio e ob- clipe, pois ele hoje nada boa que o produto faliu, mas Eleitorais e Marketing Po- jeto de saudosismo, o jin- mais é do que um videocli- o jingle ficou”. lítico – Uma dupla do barulho” Carlos Manhanelli, a principal característica do jingle é saber qualificar o candidato. Por se tratar de uma composição musical, possibilita vínculo emocional por parte do público, tendo em vista o lado artístico essencial no processo de criação. “Pegou emoção, guardou na cabeça e no coração, o jingle vira eterno”, crava o estrategista. Por outro lado, Manhanelli adverte que, apesar da aparente simplicidade de uma música de poucos segundos e de fácil memorização, a composição de Carlos Manhanelli, estrategista político e escritor, em palestra para os alunos da PUC-Campinas

População confia pouco em partidos

Militantes destacam as principais causas da desilusão popular pelas siglas políticas Gabriela Pincinato O que significam as siglas partidárias? Representam uma bandeira carregada pelo partido ou mera nomenclatura? Para a maior parte da população, a sigla é o que menos importa. A credibilidade dos partidos tem decaído no conceito popular. O último levantamento sobre o tema, divulgado no primeiro semestre deste ano pela Fundação Getúlio Vargas, avaliou que apenas 5% das pessoas confiam nos partidos políticos. Otávio Nunes é militante em Campinas. Embora acredite na sigla do partido, afirma que existe, sim, uma grande rejeição popular pelas legendas. “O partidarismo perdeu força. O que existe hoje é uma rejeição aos partidos, por conta da corrupção. Além disso, tem ocorrido uma pasteurização de ideais entre os partidos, ou seja, as principais legendas do Brasil fazem campanha de forma muito parecida, sem grandes diferenças, o que confunde o eleitor, que não distingue os

ideais de cada um. Existem diferenças programáticas? Sim! Mas o comportamento cotidiano dos partidos é muito parecido, em especial nas campanhas”, explica. Além disso, o militante aponta um outro problema: o culto aos candidatos. “O culto às pessoas –personalismo--, é maior que a defesa de ideias, que o ideal comum no partido. Isso não é saudável”, afirma. Aglomerado de candidatos Para o militante Renato Manjaterra, os partidos, de um modo geral, perderam a ideologia. Ele acredita que algumas siglas de esquerda se centralizaram devido aos próprios filiados, que descaracterizaram o modelo partidário em troca de interesses pessoais. Hoje em dia fica difícil distinguir um partido de esquerda de um de direta. “Prefiro nem perder meu tempo falando sobre o PPS, PSDB, PSD, PP, PR. Para mim, esses nunca tiveram uma ideologia. São um aglomerado de candidatos”, opina. Manjaterra comenta as diferenças entre

partidos. Ele cita o Partido dos Trabalhados (PT) como um partido de massas, de sindicatos, setores progressistas; o PSOL, de vanguarda, surgido da intelectualidade. Mas ele afirma que até o próprio partido do qual faz parte vem perdendo a característica inicial. “Infelizmente, meu partido se transformou na maior máquina eleitoral do Brasil, uma máquina que está se especializando em operar industrialmente, e esse método é incompatível com aquele que eu executava”, explica o militante. A filiada a mesma legenda, Ana Paula Pereira, de 23 anos, confia no partido como um mecanismo de representação da população. “Qualquer partido político é composto por pessoas, que são suscetíveis a erros. Eu confio nos partidos como instituição democrática e representativa da população (ou de parte dela), não como algo de valor imutável. Pelo contrário, alguns projetos partidários estão sempre em desenvolvimento”, diz a Ana Paula. Ela afirma também que os partidos carregam, sim,

uma identidade. Para ela, é possível perceber diferenças entre um partido e outro quando se analisa a fundo os planos de governo e as propostas apresentadas: “São características de identidade, as diferenças são gritantes”. Fidelidade partidária Algumas pessoas se questionam sobre ser justo votar ou deixar de votar em algum candidato por causa do partido do qual ele faz parte, mesmo tendo ideias boas e interessantes. “Os mandatos são dos partidos”, afirma o militante Otávio. “Como vou confiar única e exclusivamente na pessoa que representa a sigla? Existe fidelidade partidária. Se o cara desobedece à deliberação do partido, ele pode ser expulso e até perder o mandato. É claro que isso depende de diversos fatores, mas, em linhas gerais, vale isso”, explica. Ele lembra também de outros mecanismos que acabam enquadrando-se aos mandatários do partido, como o financiamento de campanhas por empresas interessadas

em benefícios particulares. “Construtoras bancam mais da metade de algumas campanhas; será que elas fazem isso por civilidade ou cidadania? Quando o cara ganha a eleição elas vão deixar ele fazer o que quiser?”, questiona. O militante Reginaldo Alves do Nascimento concorda com a afirmação de Otávio. Embora acredite que uma pessoa de bom caráter se mantenha em um partido ruim, de má índole, ele comenta que a coligação e as parcerias firmadas entre as legendas são de grande influência no mandato do candidato lançado. “Mas é muito difícil permanecer fiel aos ideais corretos rodeado de pessoas com índole questionável”. Para Ana Paula, uma política melhor, mais “limpa” e mais justa sob todos os aspectos depende justamente daqueles que hoje estão fora dela e que têm muito a contribuir pelo bairro, cidade e país: os cidadãos. São deles a responsabilidade de cobrar dos candidatos elegidos as promessas e planos traçados.


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Campinas segue moldes europeus

Com jeitinho brasileiro, a cidade tenta pedalar no mesmo rumo de Barcelona

Após dois dias de chuvas, tempo fechado e frio, o sábado, 22 de setembro, amanheceu ensolarado para que os representantes de empresa espanhola, o secretário de transportes e a prefeitura de Campinas pedalassem rumo a uma cidade mais sustentável – e europeia. O Dia Mundial Sem Carro foi marcado pela 4ª Bicicletada e pela inauguração do primeiro transporte público de bicicletas do Brasil, o Viva Bike Campinas. A primeira estação de aluguel de bicicletas foi instalada na Lagoa do Taquaral, em dois pontos, e o sistema ainda será instalado em mais cinco pontos da cidade, sendo eles nos distritos de Barão Geraldo e Sousas, Aparecidinha, Amarais e Terminal Central. A empresa Brasil Movimento, versão brasileira da Movement, espera que em até 12 meses o número de bicicletas disponíveis salte de 200 para 6 mil. Os números parecem promissores, mas não levam em conta a extensão de ciclovias da cidade, que não passa dos 25 quilômetros em pontos fragmentados e sem ligação. Segundo a Empresa Mu-

Fotos: Ana Carolina Mora

Ana Carolina Mora

Renato Frison, da empresa Brasil em Movimento ensina a ciclista a usar as bicicletas em uma das estações inauguradas em Campinas

nicipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), o deslocamento dos ciclistas deverá ser feito por vias locais, sem ciclovias e apenas com indicações de rotas. Já os pontos de instalação, foram estipulados pela prefeitura após um estudo sobre as facilidades de implantação e acesso aos locais, mas especialistas afirmam que alguns pontos são inviáveis.

André Aranha na inauguração da Estação na Lagoa do Taquaral

Para o secretário de Transportes, André Aranha Ribeiro, a cidade é, sim, um local seguro para o tráfego de bicicletas. “Campinas não é exatamente uma cidade perigosa para o uso das bicicletas, até porque eu usei a bicicleta muitos anos aqui, inclusive para ir trabalhar e, felizmente, durante esse período de quase 20 anos eu não tive nenhum acidente na via por conflito”, e ressaltou ainda que para que acidentes não ocorram é necessário ter educação no trânsito. Tal afirmação contradiz a opinião de quem usa esse meio de transporte ou que não utiliza por medo de andar entre os carros. Segundo o advogado e cicloativista, João Pedro Dias, o projeto criado na Espanha deu certo, mas são cidades completamente diferentes, tendo em vista que, na opinião dele, os cidadãos de Campinas não tem uma conduta disciplinada no trânsito. “A todo momento se vê ônibus fechando carro, motocicleta passando em altíssima velocidade pelos corredores. Trocaria meu carro por uma bicicleta para ir trabalhar, mas não assim sem nós, ciclistas, termos segurança”, afirma Dias. Em locais pouco movimentados é possível que não haja problemas, mas uma das estações será instalada no Terminal Central,

área de grande movimentação de veículos de grande e médio porte, onde não há nem um resquício de estrutura para comportar tal projeto. Além da inexistência de ciclovias, o tráfego de veículos é intenso, o que dificulta a mobilidade das bicicletas com segurança e tranquilidade. Supondo que uma pessoa retire a bicicleta no Terminal Central, ela poderia andar durante meia hora, que é o período estipulado para que o usuário não pague nada além da taxa anual de R$ 80. Excedendo esse tempo, a cada meia hora a mais seria cobrado R$ 5. , é um tempo muito limitado de uso para que se possa percorrer o centro da cidade em meio aos carros e devolver a bicicleta no mesmo lugar. Entre os benefícios do emprego das bicicletas estão melhorias na saúde, diminuição do trânsito, redução da emissão dos gases do efeito estufa. Segundo a prefeitura, adotando o sistema de bicicletas como meio de transporte público, o tráfego intenso de veículos diminuiria 16% até 2016. Essa meta a ser cumprida em quatro anos parece utopia, mas a empresa garante eficácia no projeto. “Tudo foi pensado conforme os moldes de Campinas, o projeto é bem fundamentado e nós trabalhamos com expecta-

tivas. Nossa meta são 450 estações e houve um estudo para se chegar a esse número. Demos o primeiro passo com 18 estações, é pouco, mas ainda é experimental por seis meses”, disse Adolfo Heras, presidente do grupo Movement na Espanha. Na inauguração da primeira estação, na Lagoa do Taquaral, a população já pôde fazer o chamado teste drive. Em aproximadamente 30 minutos de passeio, quatro bicicletas apresentaram defeito, com os pedais acabando por cair na rua. Quando perguntado sobre os incidentes, Adolfo Heras foi enfático. “As bicicletas chegaram aqui às 6h30, só foi feita a revisão de fábrica, não tivemos tempo de fazer nossa revisão supervisionada como normalmente ocorre. Tínhamos pressa em entregar hoje.” Depois de dez dias de funcionamento, o projeto Viva Bike Campinas recebeu cerca de 2,3 mil cadastros em quatro estações, duas em Barão Geraldo (Praça do Henfil e Praça 31 de Dezembro) e duas na Lagoa do Taquaral (Portões 1 e 7). A previsão para os próximos seis meses é de que o número de estações salte de quatro para 18 com 250 bicicletas em circulação.


Especial: Jornada de Jornalismo

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Do banco de imprensa ao gramado Jornada de Jornalismo discutiu de Nelson Rodrigues à situação atual do futebol

Fotos: Ana Carolina Mora

Bárbara Bigon O tradicional evento de jornalismo da PUC-Campinas, que ocorreu nos dias 1º e 2 de outubro, teve como tema o “Mercado de trabalho, profissionaliza-

ção e jornalismo esportivo”, além de homenagear a vida e a obra de Nelson Rodrigues, em comemoração aos 100 anos do nascimento do jornalista, cronista esportivo e dramaturgo. Dois eventos da Jorna-

da se relacionaram diretamente com o escritor homenageado. A palestra de Fátima Antunes, socióloga e doutora em Nelson Rodrigues, e a encenação feita por alunos na PUC-Campinas de uma cena da peça 'Senhora dos Afogados', de

autoria de Rodrigues. Os demais palestrantes que participaram do evento na sala 800 no campus I da universidade trataram de questões relacionadas à comunicação social, como o mercado de trabalho da área, o início da carreira e

o jornalismo esportivo. Além de palestras informativas e formais como a da jornalista da Folha de São Paulo, Ana Estela, palestras emocionadas e descontraídas como a da jornalista Milly Lacombe compuseram o evento.

Jornalismo estampado na camisa

Edison Veiga e Rafael Bellatini falam do início da carreira e desafios da profissão Juliana Vieira Ganhar uma camiseta da revista predileta era o sonho em comum deles quando adolescentes. Edison Veiga venceu um concurso da revista Super Interessante, aos 13 anos e virou notícia. Logo foi convidado para trabalhar no jornal da cidade de Taquarituba, interior de São Paulo. Rafael Bellatini também escrevia para a publicação esportiva Placar na tentativa de receber uma camisa. Na primeira atividade na faculdade de Jornalismo, fã de esportes e do Juca Kfouri, mandou um e-mail para o ídolo que prontamente o atendeu. Anos depois, ele seria

convidado a ser moderador do blog do comentarista. Por meios diferentes, os jovens vestiram a mesma camisa: a do jornalismo. Interiorano especialista em cidade grande Veiga é editor da coluna “Paulistices”, do jornal Estado de S. Paulo. O espaço é dedicado a curiosidades e cultura geral sobre a metrópole. A “especialização” foi sendo formada por acaso: “estagiei na editora Alto Astral, do astrólogo João Bidu, onde aprendi a escrever jornalisticamente e pensar em quem lê”. Pouco antes de se formar, entrou na Vejinha São Paulo e, segundo ele, se

transformou no síndico da redação: “era o primeiro a chegar e último a sair porque era uma grande oportunidade”. As notas rejeitadas pelos jornalistas passaram a ser produzidas por ele. Logo Veiga assinou a coluna e por este trabalho, posteriormente, foi convidado a integrar o Estadão e criou o “Paulistices”. A coluna ganhou um blog e um programa na rádio Estadão. Segundo ele, anotar ideias e ter um ‘olhar curioso’ pra tudo o ajudou a se atentar aos detalhes da cidade, hoje já desbravada pelo rapaz. Apaixonado por literatura e autor dos livros “Mingutas: correndo da carranca do carimbo, caramba!”, “Enigma” e

“Essa Tal Proclamação da República”, para Veiga a escrita é desenvolvida com o tempo e há uma linha tênue entre o estilo e o ridículo. Esporte calculado No colégio, Bellatini era bom aluno de matemática, “achavam que eu seria engenheiro”, confessa, mas conheceu o rádio e já fascinado por esportes decidiu jornalismo. Produzindo o programa Giro Brasil, da ESPN e ainda moderador no blog do Juca Kfouri, o jovem afirma que entrou na grande mídia “mostrando a cara”. “Hoje tenho o privilégio de esbarrar no corredor com profissionais experientes

na área como o PVC e João Palomino”. Sobre a especialização cobiçada por parte da ala masculina na área, Bellatini desmitifica alguns estereótipos: jornalismo esportivo não é só futebol; jornalistas não necessariamente são amigos dos jogadores; além dos clássicos, jogos da série D, aos sábados também precisam da cobertura da imprensa. E ainda esclarece que neste campo profissional há muita opinião e, por isso, estudar e ler sobre vários assuntos é imprescindível, “as pessoas discordam de você e isso é normal. Por isso a argumentação coerente e a auto avaliação devem ser constantes”, afirma.


Especial: Jornada de Jornalismo

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“Processo seletivo nunca é veredito”

Segundo Ana Estela, não existe perfil específico para escolha de novos jornalistas A pergunta mais frequente é: Qual é o perfil para trabalhar no jornal? Não há, segundo Ana Estela de Souza Pinto. A jornalista já foi selecionadora no Programa de Treinamento e hoje é editora do caderno Mercado, na Folha de S. Paulo. Ana Estela esclarece que a seleção significa ir bem em uma prova, pois os processos são arbitrários, nunca um veredito. Mas ressalva: “o que te deixa fora é burrice, preguiça e erro de português”. Contabilizando cerca de quatro mil entrevistados durante o período de selecionadora dos novos profissionais, Ana Estela conclui como fator

determinante para escolha “a vontade do candidato em fazer um trabalho bem feito”. Além disso, é imprescindível conhecer o veículo e a editoria que pretende trabalhar. Sobre a preparação durante a faculdade, Ana Estela indica estudar e praticar com as atividades laboratoriais, porém esse processo deve prever uma reflexão sobre o que é feito senão não existe aprendizagem. E afirma: “o conhecimento te coloca em plataformas maiores, em um trampolim”. Com experiência você começa a errar menos, mas até lá é preciso trabalhar muito, diz. Formada em Agronomia e Jornalismo, Ana Estela ingressou no primeiro Programa de Treinamento da Folha, há 25

anos e desde então passou por diversas funções e áreas. A frase de Hélio Gasparini, de acordo com ela, diz muito sobre a rotina da redação: “É preciso cometer erros novos. Quem sempre faz igual ou não faz, não erra”. Outra questão recorrente é a pauta. Para a profissional, a pauta é o mais difícil e importante no jornalismo, “quanto mais específica melhor” e, aponta ainda, o vigor da máxima “quem não tem pauta é pautado” vigente nas redações: se você não sugere, acaba fazendo o que é preciso fazer. Já a edição é uma função de escolher pelos outros e a preocupação maior é com o leitor, o cliente: “o jornalismo impresso é como uma curadoria”. E finaliza, “no jornalismo você pode influir

Fotos: Ana Carolina Mora

Juliana Vieira

no que está acontecendo” e disso, ele deve ser editado isso já vale todo o esforço. de acordo com cada vaga pretendida. Dica: Coloque Currículo-Lide no primeiro parágrafo porque deseja tal vaga. Ana Estela é enfática: o Caso não tenha experiência, currículo deve ser um lide. escreva brevemente Concisão e objetividade porque deve ser chamado são fundamentais. Além pra conversar com o editor.

Portas para o Mercado de Trabalho »Programas de Treinamento em empresas de comunicação: Processo em diversas etapas de provas on-line, presencial e entrevista. »Concursos de instituições públicas e privadas »Frilas: Veículos impressos e multimídia têm grande aceitação desse tipo de profissional. O deve enviar sugestões de pautas para os editores. »QI: O Quem Indica existe e tem uma lógica inquestionável, “quem contrata quer solução e não problema; se o indicado é bom ele fica”.

Há 25 anos na Folha, Ana Estela de Souza Pinto aconselha edição do currículo conforme cada vaga

O projeto social de Nelson Rodrigues

Socióloga analisa conceitos clássicos do escritor como “complexo de vira-lata” Virgginia Laborão Juliana Vieira Dizendo-se uma apaixonada por Nelson Rodrigues, a doutora em sociologia Fátima Antunes elencou os elementos da narrativa da crônica esportiva do jornalista e dramaturgo na primeira noite da Jornada de Jornalismo. Autora da obra “Com brasileiro não há quem possa”, a socióloga resvalou pouco em discussões jornalísticas em torno da produção de crônicas esportivas, explanando longamente sobre a biogra-

fia do autor e destacando pontos do discurso literário do autor. “Tudo que ele produziu se pautou na produção literária”, afirma Fátima. Através de trechos da produção de Nelson Rodrigues, a socióloga ressaltou a construção de conceitos feitos pelo jornalista e dramaturgo, como a clássica e cunhada noção de “complexo de vira-lata”, uma inferioridade voluntária presente no povo brasileiro. Outro ponto exposto por Fátima Antunes constituiu no destino trágico dos personagens ficcionais do autor e tam-

bém delineados na crônica. Segundo a socióloga, disso deve vir uma consciência não só do trágico mas dos valores positivos para a luta do povo brasileiro. “Ele acaba por elaborar um projeto social”, sentencia a doutora. Da multifacetada personalidade, a pesquisadora enfatizou, ainda, o lado dramaturgo de Nelson que criou clássicos um tanto escandalosos à época como: “Bonitinha, mas Ordinária” e “Os 7 Gatinhos”. Além do texto “A Vida Como Ela É” popularizado com a produção de uma mini série para a televisão.


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Especial: Jornada de Jornalismo

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Jornalismo é contar uma boa história

Milly Lacombe é craque em narrar a sua vida aos alunos presentes na Jornada Tamires Daniel Isadora Almeida

principais”, conclui. Como em uma coletiva de jogadores, Lacombe foi recheada de perguntas vindas de estudantes, sobre questões corriqueiras, mas especialmente perguntas relacionadas ao futebol brasileiro nos dias de hoje e a erros que tomam proporções enormes. Logo se fez notar com palavras de incentivo “Errar é bom, é a melhor válvula para a formação de um caráter, você não será o primeiro e nem o último”. Uma de tantas perguntas que envolveram mais a sua vida pessoal do que profissional deixou a colunista aos prantos. Abordada por questões de erros, dores e perdas, a colunista revelou que perdeu o amor de sua vida em um acidente de trânsito há um ano, quando deve- Descontraída, Milly Lacombe abre o coração e a vida profissional para os alunos ria estar na Jornada do ano passado. “Era declara. Gabrilli, e encerrou sua ela quem mais entendia Foi defendendo a ideia íntima conversa afirmande futebol, tudo o que de que as pessoas devem do que o bom jornalista aprendi foi com ela. Eu inovar e criar mais, que não é aquele que vive, sou uma pessoa melhor e a jornalista finalizou sua mas sim o que convive mais forte por causa des- primeira biografia sobre com o fato e se interessa sa dor, a dor faz parte”, a Deputada Federal Mara por ele. Fotos: Ana Carolina Mora

Foi com essa frase que Milly Lacombe, jornalista esportiva e colunista mensal da revista TPM, concluiu sua palestra para a Jornada de Jornalismo na noite do último dia 2. No começo pôde até parecer que a conversa se basearia em clichês que envolveram sua carreira, como o escândalo nacional com o jogador Rogério Ceni, que lhe rendeu dois processos e a famosa “geladeira”, ou o sexismo que ocorre no jornalismo esportivo. Mas não, Lacombe ultrapassou os 45 minutos do segundo tempo e abordou questões da vida pessoal e os caminhos percorridos que ajudaram a esclarecer sua trajetória e dar conselhos aos futuros focas. Entre seu discurso, a colunista apresentou-se como uma pessoa transparente que não tem nada a esconder, inclusive sua sexualidade. Citou erros e acertos, suas faltas e seus gols, criticou e abusou de palavrões sem nenhum constrangimento. Com a total reprovação da mãe pelo jornalismo, Lacombe tentou várias faculdades e o curso em que se graduou foi Rádio e TV, na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). Nesse intervalo de vida, com seus 20 anos, começou a vender anúncios para revistas e chegou a faturar mais dinheiro que seu próprio pai, jornalista. Apaixonou-se por uma mulher e aos 29 anos vendeu tudo o que tinha para mudar-se para o exterior com ela. Nos Estados Unidos ajudava a namorada, também jornalista, com algumas legendas e pequenos textos. Foi aí que sua vida profissional tomou outro rumo. Com a novidade de uma corrida de aventura que ocorreria nos Estados Unidos em 1996, Lacombe sugeriu para Paulo Lima, editor da revista Trip, que ela participasse para uma possível reportagem, Seu amigo adorou a ideia, mas com a condição de que fosse ela a responsável pelo texto. Ela duvidou de seu poten-

cial de escrita, mas com o conselho de “você só precisa me contar uma boa história” dado por Lima, o resultado foi seu texto publicado sem qualquer alteração. Depois de algumas publicações, voltou ao Brasil e procurou veículos de comunicação para se apresentar. “Foi aí que fiz meu voto de pobreza e virei jornalista”, brinca. Uma de suas colaborações foi para a Folha de S. Paulo de forma fixa para a Ilustrada. Ela chegou a cobrir o atentado de 11 de setembro, das Torres Gêmeas, no caderno principal. Nessa época, ela tentava seguir o conceito de tentar não exprimir seus sentimentos na história, seguir o lide e buscar a imparcialidade. Lacombe percebeu que o jornalismo era carente de criatividade, e foi a partir daí que passou a elaborar textos diferentes, “textos humanizados”, como ela diz. A colunista declarou que a fórmula perfeita para um bom jornalista de texto é ter interesse, curiosidade e uma experiência, seja no exterior ou não, mas principalmente sair da “zona de conforto” e visitar territórios desconhecidos “É no drama e também no lado ruim das histórias que estão suas essências

Lacombe conta sobre a dor de perder uma pessoa importante, e diz que esses momentos formam nosso caráter


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Especial: Jornada de Jornalismo

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Resumo da jornada

Foto:Ana Carolina Mora

Você pode ter nascido em 84, mas saber o que aconteceu na copa de 70. É só estudar.

Foto: Juliana Vieira

(Bellantani)

Busquem imperfeições, porque elas humanizam a gente. (Lacombe)

2012

Foto:Ana Carolina Mora

Jornada de jornalismo

Três coisas te tiram de um processo seletivo: burrice, preguiça e erro de portiguês. (Ana Estela)

(Veiga)

Foto: Juliana Vieira

Vale a pena ser jornalista. A dificuldade é que cada matéria tem o ̒ peso ̓ de uma tese que deve ser produzida em um curto tempo.


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Diversidade cultural sem incentivo

O 13º Festival do Instituto de Artes da Unicamp teve visibilidade através de redes sociais Ana Carolina Mora Foi em cima de um trapézio, pendurado no alto de uma estrutura presa por cabos de aço e revestida de lona de circo, que o grupo de teatro Ponte Para Lua abriu a temporada de apresentações das diversas vertentes culturais do 13º Festival do Instituto de Artes da Unicamp. O espetáculo Árvore no Deserto, inspirado no desenhista e escritor Lourenço Mutarelli, Brecht e Platão, não se limitou aos elementos básicos do teatro e mostrou traços de circo e dança, expostos no trapézio e no enlace das pernas da artista circense. O Festival é planejado durante todo o ano pelos alunos do Instituto de Artes e do Instituto de Estudos da Linguagem. A divulgação do evento é feita através de parcerias com instituições privadas e o apoio dos alunos da universidade. Segundo Bruna Scorsatto, uma das organizadoras, ʻʻA divulgação esse ano foi um dos maiores focos do festival, os esforços para construir o FEIA começaram já no começo do ano, com os pré-FEIAS. Foram shows e palestras para que os próprios alunos da Unicamp lembrassem do festival ao longo do ano e não só duFotos: Ana Carolina Mora

rante a última semana de setembro.” Como nas edições anteriores, a divulgação não teve o apoio da Unicamp, os organizadores optaram por difundir a informação através de redes sociais, “O Facebook foi uma das ferramentas mais utilizadas, o próprio público do Festival ajudou muito compartilhando nossas postagens.”, disse Bruna. Além das apresentações, diversas oficinas foram realizadas no Instituto de Artes, que durante a semana do evento, paralisou suas aulas para ceder espaço para o FEIA. Para Isabela Moura, aluna do curso de Midialogia, a universidade parece não ter olhos para o Festival, “Nós alunos nos programamos durante o ano para participar das oficinais, mas o ideal é mostrar o trabalho realizado dentro do campus, priorizar e divulgar nossos grupos, e a universidade pouco faz.” Procurada para esclarecimentos, a assessoria de imprensa da universidade não retornou telefonemas e emails. E mesmo sem o apoio da instituição e com o frio, que chegou em plena primavera, as apresentações tiveram saldo positivo e deixaram um questionamento em pauta: por que não divulgar um evento que ocorre na própria instituição?


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Sobrevivendo fora da casa dos pais

Pesquisa revela que um terço dos universitários não sabe nem cozinhar um ovo A cena é comum: chega a hora de fazer uma faculdade e os estudantes precisam muitas vezes se aventurar fora da residência dos pais. Apesar da empolgação e dos lados positivos de conseguir independência, as dificuldades aparecem em momentos simples do cotidiano, como na hora de cozinhar ou lavar as próprias roupas. Uma pesquisa de setembro deste ano feita por uma rede britânica de supermercados relevou dados sobre as habilidades domésticas de estudantes universitários entre 18 e 25 anos morando fora da casa dos pais. A pesquisa mostra, por exemplo, que metade deles não sabe fazer um macarrão simples com carne moída, 35% nunca usaram o aspirador de pó e 62% não sabem como escolher produtos de limpeza no mercado.

A alimentação é um dos fatores mais preocupantes para os jovens que moram em repúblicas, kitnets ou dividem apartamentos com os colegas. “O prato mais elaborado que sei cozinhar é miojo com milho e batata palha”, explica Marcelo Trindade Costa, de 22 anos, aluno de Engenharia Mecânica da Unicamp. Ele mora em uma república em Barão Geraldo, com outros 4 universitários. O estudante garante que nunca fritou um ovo na vida. A solução encontrada para conseguir manter uma alimentação equilibrada é trazer comida de casa. “Minha mãe manda refeições congeladas todo final de semana, que eu consumo no jantar. No almoço geralmente como no ‘bandejão’, que é baratinho”, explica ele referindo-se ao restaurante da universidade, que custa R$2 por estudante. Muitos dos que se arriscam a cozinhar apelam para comidas

Fotos: Marina de Sordi

Marina De Sordi

Alguns estudantes, como Marcelo Costa, sobrevivem com a comida congelada mandada pelos pais

mais simples. “Nossa despensa é lotada de macarrão. O pessoal da república varia entre espaguete e parafuso”, diz. Os serviços domésticos também figuram como uma das principais dificuldades enfrentadas. “Eu levo as roupas sujas para lavar em casa nos finais de semana”, diz Marcelo

Juliana Franco afirma que é quase impossível manter uma dieta saudável morando longe de casa

exemplificando um hábito comum. Segundo a pesquisa britânica, 42% dos jovens não sabem nem ao menos passar as próprias roupas. “Quem não leva roupa pra lavar em casa, costuma colocar as camisas em cabides e pendurar no varal depois de tirar da máquina. Assim elas já secam esticadas e não precisam ser passadas”, sugere Marcelo. O estudante também afirma que limpeza pesada, como lavar o banheiro, a cozinha ou a garagem, é a mais difícil de ser realizada. Comida pronta também é algo presente na dieta dos estudantes. “Eu até sei cozinhar arroz, feijão e carne, então acho que minha alimentação é razoável. Mas em algumas vezes acabo comendo coisas como lasanha congelada”, afirma Juliana Franco, de 21 anos, que cursa relações internacionais na Facamp. Ela explica que o grande vilão é o tempo. “A rotina é muito puxada, é difícil conseguir administrar tudo. Acaba sendo mais fácil trazer comida quando volto pra casa nos finais de semana ou, às vezes, até trocar o almoço por um salgado na cantina”. A estudante admite que o mais difícil é manter o hábito de comer saladas e vegetais. “Verduras e frutas só quando a minha mãe manda”. Além da má alimentação, também é difícil manter o hábito de praticar exercícios físicos, por causa do tempo restrito. “Acabei de parar a natação porque perdi a única janela que eu tinha nas minhas atividades da faculdade. Já fazendo brigadeiro sou especialista.

É difícil se manter saudável”, conta Juliana. Pagar por comida e roupa lavada Algumas repúblicas optam por contratar uma faxineira. É o caso da do estudante Leonardo Simões, de 21 anos, aluno de Engenharia de Materiais na Usp, na cidade de Lorena. “Apesar de ser um gasto a mais, vale a pena por nos poupar da preocupação da limpeza da casa, que leva muito tempo”, explica. Ele mora com mais seis pessoas e afirma que a presença de uma empregada doméstica faz diferença na qualidade de vida deles. “Nos finais de semana, quando ela não vem, a casa fica irreconhecível de tão bagunçada”, diz. Ele acrescenta ainda que dessa maneira sobra mais tempo para estudar, trabalhar ou fazer alguma atividade extra curricular oferecida pela universidade. Apesar dos desafios, os estudantes garantem que a experiência de morar fora de casa durante a universidade vale a pena. Segundo Leonardo, a vivência com outras pessoas e a pressão para organizar a rotina sozinho trazem maturidade e senso de independência, além de uma liberdade que não se consegue no ambiente familiar. “Não tem preço poder fazer o que você quiser, na hora que quiser e do seu jeito. Tenho a impressão de que depois de algum tempo morando fora de casa, você não consegue mais voltar a viver com os seus pais”, finaliza Leonardo.


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Oficina oferece educação audiovisual

Curso gratuito ensina população de baixa renda a criar curtas e documentários Bárbara Bigon

para a Tela Brasil, o Ideia Genial. As outras três produções foram inteiramente feitas pelos três grupos de alunos. Os projetos audiovisuais podem ser documentários ou ficcionais, e têm em torno de 5 a 7 mi-

Centro Cultural Vicente Musselli, mesmo local em que foram ministradas as aulas da oficina. Atualmente, os filmes estão sendo inscritos em festivais brasileiros de curtas, na categoria de oficina. Aque-

Lais Bodansky e pelo roteirista Luis Bolognesi. As atividades começaram na produtora Buriti Filmes e foram pensadas e planejadas em parceria com a Ouroboros Cinematografia e Educação, uma produtora Foto: Cláudio Alvim

“É muita loucura fazer quatro filmes em 11 dias”, afirma animada a cineasta Marina Santonieri, de 36 anos, com o empenho de seus jovens alunos na oficina de cinema que ministrou para adolescentes de baixa renda nas últimas semanas de setembro, em Valinhos. Com cinco anos de projeto, já aconteceram 92 oficinas em nove estados. Após terem aulas teóricas e práticas de produção e edição os alunos pegam as câmeras e fazem todo o processo de criação, desde o roteiro, a filmagem, a decupagem e a montagem dos filmes. Com roteiros de ficção, os três curtas produzidos têm um quê de drama e um deles conta até com um pouco de surrealismo. O câmera e roteirista de um dos grupos, André Oliva, é funcionário público e conta que já tem planos futuros para continuar nessa área. “Estou fazendo um curso de roteiro paralelamente, e quero continuar a trabalhar com cinema, eu

me apaixonei”. Os alunos contam sobre a experiência de ter criado o roteiro em conjunto. “Tivemos três ideias, juntamos tudo e deu nisso”, complementa Sandro Ribeiro, diretor de elenco. O grupo desenvolveu a história surrealista de uma garota com um terceiro olho na mão. Demonstrando união e parceria, eles pensam e resolvem juntos os problemas e dificuldades encontrados durante as filmagens. Quando não conseguem solucionar algo, recorrem ao seu educador, Diego Urbaneia, ou a própria Marina. “Eu quase não acredito na intimidade que criamos, faz apenas uma semana que estamos juntos, mas já parece muito mais. Estou triste hoje é o último dia de filmagem” comenta Marina Santonieri. Além de Marina, os alunos contaram com o auxílio de quatro educadores. Diego Urbaneia, Maria Daniele, Vitor Clin e Elaine Esteves ajudaram os jovens a produzir uma adaptação de um roteiro escrito por Luis Bolognesi especialmente

O educador Diego Urbaneia explica ao aluno André Oliva sobre como utilizar a câmera de filmagem

nutos de duração, “Assim fica mais fácil de inscrevê -los em festivais”, explica Marina. Após três dias de filmagem, os alunos passaram dois dias na produção dos filmes que foram exibidos no dia 29 de setembro no

les que se interessarem podem assistir os filmes produzidos pela Oficina em seu site oficial http://www. telabr.com.br/. O projeto de educação audiovisual que percorreu várias cidades do país foi desenvolvido pela cineasta

especializada em educação audiovisual. A Oficina Tela Brasil de educação audiovisual já ganhou três prêmios em importantes festivais brasileiros na categoria de oficinas, “Para uma disputa mais justa”, justifica Marina.

Locomotiva artística desgovernada Depois do esquecimento, artistas de Campinas desembarcam na Estação Cultura Foto: Virgginia Laborão

Virgginia Laborão Certa vez alguém ecoou pelos labirintos da crítica que a obra de arte só significa no mundo sob o olhar de um espectador. Sem essa relação, a arte – e por conseguinte o artista – seria inexistente. Em um grito pela própria existência, artistas contemporâneos de Campinas (SP) hastearam sua bandeira sobre a fachada da Estação Cultura neste mês de outubro e conclamaram a população para que a arte campineira passe a existir. “É uma briga grande e solitária. Mas não vão nos tirar daqui”, afirma Marcos Garcia, responsável pelo Museu de Arte Moderna (MAM) de Campinas. Menos transgressor do que a fala aparenta, o projeto faz parte do chamamento público da Secretaria de Cultura para a ocupação até dezembro deste ano dos espaços há muito ociosos do

Artistas contemporâneos ganham espaço no saguão da Estação Cultura, após quatro anos sem teto

imponente prédio. O edital prevê apenas a cessão do espaço, sem que a prefeitura arque com qualquer despesa adicional pelas atividades. Desde 2008 sem-teto, as obras do MAM percorreram exposições itinerantes pela cidade além de recobrir provisoriamente de sensibilidade algumas das duras paredes do Palácio

dos Azulejos cedidas pelo Executivo. A mudança para tal castelo seria definitiva, as negociações seguiam em um bom ritmo. Mas claro. Se não houvesse o elemento surpresa que salpica não só a arte como também a vida. Os investigadores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) bateram

“às portas” de outro palácio, o dos Jequitibás, na madrugada de 20 de maio de 2011 e trouxe à tona o escândalo político que conturbaria todas as paragens campineiras. A pasta de Cultura não ficou fora de uma dança das cadeiras durante a crise, tendo quatro secretários diferentes em 2012. E assim como a construção do Teatro Castro Mendes e a refor-

ma do Teatro do Centro de Convivência, os projetos do MAM caminharam a lentos passos. Além dos artistas sob o nome de modernos, mas que produzem obras na contemporaneidade, uma instalação artística sob o conceito de “arte em processo” do grupo Antropoantro e gravuras do Museu Olho Latino também compõem a exposição das obras em painéis brancos minimalistas, dispostos em uma sala rota com lâmpadas cambaleantes no teto. Como afirma o responsável pela exposição, o problema da política cultural campineira vai além de questões partidárias, mas se dá em um âmbito de aprendizagem e necessidade humana. “Campinas precisa. Não é uma questão de escolha. Nós estamos entre as 10 maiores cidades do Brasil... e nós não temos teatro, nós não temos museu. A vida ficou monótona e nós não temos mais fantasia”.


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“Acabou Chorare” completa 40 anos

Disco dos Novos Baianos é considerado o melhor da história da música brasileira pela revista RollingStone; conheça a importância e o contexto de criação do álbum Foto: Divulgação

Maurício Amendola Assis O início da década de 70 é considerado uma fase de transição na música brasileira. A Bossa Nova de João Gilberto e Tom Jobim estava começando a ficar velha e a Tropicália de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Os Mutantes e companhia se apresentava como um movimento cultural/ musical se consolidando no imaginário popular. Inseridos nesse contexto, os Novos Baianos gravam o seu segundo álbum, em 1972, o histórico “Acabou Chorare”. Formado por Moraes Moreira, Jorginho Gomes, Pepeu Gomes, Baby Consuelo, Paulinho Boca de Cantor, Dadi Carvalho e o poeta Luiz Galvão, o grupo vinha de seu primeiro trabalho, o disco gravado pela Polygram, “É Ferro na Boneca” (1969), até que o rompimento com a gravadora, principalmente advindo do desejo de uma inovação sonora e da não adequação aos moldes propostos, proporcionou uma reviravolta artística nos Novos Baianos. Um novo contrato assinado com a produtora Som Livre - antes haviam flertado com a Philips -, e o contato com o produtor (e pai de Cazuza) João Araújo representaram uma nova etapa na vida da banda, etapa em que se insere “Acabou Chorare”. “João foi importantíssimo para nossa liberdade enquanto artistas, ele nos mandou esquecer a Polygram e a Philips e foi como se dissesse ‘eu sei lidar com esses caras’”, afirma Paulinho Boca de Cantor, um dos vocalistas da banda. O contrato com a Som Livre permitiu que os Novos Baianos explorassem sua sonoridade como gostariam e, a partir desse novo horizonte praticamente ilimitado, acontece um encontro decisivo para aquilo que caracterizaria as composições presentes em “Acabou Chorare”. O poeta Luiz Galvão era amigo de infância de João Gilberto e desde a formação dos Novos Baianos Galvão comentava sobre a genialidade de Gilberto para a banda e do talento em ebulição da ban-

O “almojanta” dos Novos Baianos sob um pé de mangueira se transformou na capa de Acabou Chorare

da para Gilberto. Paulinho relembra: “Parecia aquele primeiro contato com os índios, sabe? Nós trocávamos presentes, mesmo sem nos conhecermos. Até que um dia o poeta Galvão convenceu o João Gilberto a nos visitar no nosso apartamento no Botafogo (onde todos os Novos Baianos moravam) e foi amor à primeira vista”. O apartamento no Botafogo era visitado por grande parte da intelectualidade brasileira da época. Paulinho afirma que o encontro com João Gilberto trouxe a “brasilidade” para as músicas dos Novos Baianos. Com os arranjos

vindos da Bossa Nova e seu estilo purista se misturou com a juventude sedenta, que trazia consigo diversos estilos em sua musicalidade: “Pepeu era fanático por Jimi Hendrix; Baby trazia a contestação e a rebeldia da Janis Joplin, Moraes era o vaqueiro, fazia um ‘som rural’; E eu vinha da experiência do palco, era um sambista... tinha a brasilidade que foi aguçada por Gilberto e ‘infectou’ a todos do grupo”, conta Paulinho. O encontro com João Gilberto foi tão significativo para os Novos Baianos, que o próprio nome “Acabou Chorare” surgiu de

uma história envolvendo o pai da Bossa Nova e sua filha, com ainda menos de cinco anos, Bebel Gilberto. João contou ao grupo que quando sua filha levava um tombo ou algo semelhante e começava a chorar, ele ia acudi-la e ela o dizia – misturando português com o castelhano de quando morou no México – “acabou chorare, papai, acabou chorare”. O nome e a intenção do disco dos Novos Baianos, segundo Paulinho, se relacionavam com essa ideia: “Queríamos fazer um disco que representasse ‘uma nova manhã’ para os brasileiros que viviam no

regime militar, dizer a eles que o choro tinha acabado e que ainda era possível ser feliz”, afirma. Tendo essas novas munições musicais e ideológicos, os Novos Baianos saíram do apartamento na Conde de Irajá no Botafogo e se “isolaram” em um sítio na estrada para Jacarepaguá: o “Cantinho do Vovô”. A rotina no sítio era basicamente compor e ensaiar diariamente, se divertir e às 16h começava o “baba” (gíria baiana para a “pelada” de futebol), que, certa vez, até contou com a presença de Jairzinho, ponta da seleção brasileira campeã em 1970. No período da noite começavam as gravações. Paulinho afirma que o sítio possibilitava uma qualidade de vida fantástica, colocando os moradores em um estado de grande renúncia as coisas materiais e a uma vivência que proporcionava sempre um compromisso com o próximo. Além disso, os Novos Baianos contaram com o entendimento e o auxílio dos vizinhos que moravam nos sítios ao lado: “Todo mundo entendeu a nossa proposta, inclusive o sítio tinha alto falantes que faziam ecoar nossos ensaios por lá. Após os ensaios, acontecia até uma mesa redonda para conversar sobre futebol. Os vizinhos ouviam, gostavam da gente”, diz Paulinho. A influência de “Acabou Chorare” é preservada até os dias atuais em função de ser considerado o primeiro disco que realmente soube mesclar o pop/rock internacional com a música brasileira, chamado por alguns críticos de “samba elétrico”. A repercussão do lançamento é lembrada hoje por Paulinho como a soma da grande receptividade do público e da incompreensão do governo militar quanto a o que “queriam dizer esses baianos”: “A gente saía pelas ruas e ouvia gente cantando e ouvindo ‘Preta pretinha’, nos sentimos muito abraçados na época do lançamento. O governo não entendia o que era essa ‘coca-cola’ baiana, tanto que a única música censurada foi justamente ‘Acabou Chorare’, uma música infantil que eles não entenderam, de fato, a ideia”, diz.


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