Saiba+ - Edição 20 de Novembro de 2014

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Novembro Azul

Mês de conscientização do câncer de próstata

Pág. 5

Desde 2006

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Faculdade de Jornalismo - PUC-Campinas

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20 de novembro a 05 de dezembro de 2014

Conheça a história de luta e perseverança da Fazenda Roseira Ciro Oliveira

COMUNIDADE JONGO Apesar das várias tentativas de desapropriação, o casarão da Fazenda Roseira permaneceu e tornou-se centro de referência nacional sobre o jongo, expressão cultural que combina dança, canto e sensações corporais embasados na cultura africana. Além disso, a Fazenda mantém um acervo rico que faz parte da história da comunidade negra de Campinas

Paprica Fotografia

TIM MAIA A cinebiografia recém-lançada mostra a história de sucesso da vida de Tim, mas não esconde os defeitos do rei do soul brasileiro Pág. 9

Pág. 6 e 7

SINFÔNICA

MUSEU DO NEGRO

Além do baixo salário, músicos da Orquestra Sinfônica ainda têm de comprar os próprios uniformes e instrumentos Pág. 11

Apesar da sua importância para a cultura negra, patrimônio histórico da cidade de Campinas permanece abandonado Pág. 7

Jovens autistas mostram Durante as eleições, Brasil talento em peça teatral bate recorde na internet

ROSTO DO LIVRO

Arnaldo Ávila Junior

ShutterStock

Comentários, curtidas e compartilhamentos mostram o crescente destaque das mídias sociais Pág. 10

O contato com a arte melhora o comportamento dos autistas em todos os sentidos Pág. 3

Saiba quais foram os capistas que ganharam os primeiros lugares do Prêmio Jabuti Pág. 4 de 2014

POLE DANCE

A dança exótica passou a ser considerada uma modalidade esportiva e a cada dia ganha novos adeptos Pág. 8


OPINIÃO

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Crônica

Opinião

Que boba fui eu!

O direito do absurdo

Rafaella Cassia

Ciro Oliveira

elas ruas afora, eu vou bem sozinha levar comida para minha vovózinha...” Sozinha não, impossível estar sozinha nas ruas de Campinas, elas estão cada vez mais cheias de carros, motos, pedestres, poluição e pedintes. Tudo está cheio. Até eu estou cheia. De gordura, é claro. “Pare, agora!”; Não, não é a música da Wanderlea, é só um semáforo vermelho me dizendo para parar. Nele, me comovi com a história de um “cadeirante”, que me disse ter sofrido um acidente e, por ter ficado paraplégico, não conseguia arranjar emprego e estava com dificuldade para sustentar os filhos. Como boa alma (ou seria tola?) que sou, dei parte do meu tão escasso dinheiro e o ajudei. Ao abrir o sinal, continuei meu destino com um sorriso no rosto, afinal, tinha ajudado alguém que realmente (parecia) precisar. Acho que quem me viu naquela momento pensou que eu era uma boba. Tom Jobim tinha razão quando dizia que “tristeza não tem fim, felicidade sim” e a minha acabou na semana seguinte, quando vi o homem que se dizia paraplégico andando normalmente em uma praça e usando drogas. Milagre? Não, eu que realmente fui uma boba em acreditar na bela história do pedinte. O dinheiro que eu dei, pensando que faria bem a uma família, serviu para sustentar um vício. Ou será que ele não estava me enganando e quando me pediu dinheiro estava em um dos seus momentos de alucinação, realmente acreditando no que me contava? Quer saber? Agora estou seguindo a linha do Roberto Carlos, eu só quero “que tudo mais vá pro inferno”. S+

O direito da manifestação é raiz da democracia em que vivemos e é previsto pela Constituição como direito do cidadão

P

20 de novembro de 2014

A

Avenida Paulista foi palco para um ato de protesto realizado no primeiro sábado desse mês. Cerca de duas mil e quinhentas pessoas se reuniram para defender o impeachment da presidenta reeleita, Dilma Rousseff. A manifestação foi marcada ainda por gritos a favor de uma nostálgica intervenção militar, exaltação da Polícia

Militar, ufanismo, mania de perseguição (defendendo uma suposta fraude nas urnas) e claro, o diagnóstico de que o Partido dos Trabalhadores é o câncer do país. Há vários problemas e incoerências nos discursos e na legitimação do mesmo. O direito da manifestação é raiz da democracia em que vivemos e é previsto pela Constituição na lei 5.250 como direito do cidadão. Desta forma, defende-se aqui que qualquer tipo de pensamento, que não atente contra os direitos humanos e a dignidade do homem seja manifestado, mesmo com divergência de ideias. A coexistência é mais do que necessária para que a civilidade se concretize. Mais importante do que o direito de exteriorizar essa opinião, é debatê-la. O desrespeito com a luta pela liberdade alcançada

há poucos anos atrás é lamentável. Triste ainda é pensar que essa parcela que grita em meio a cartazes de que “O povo não aguenta mais”, se esquece que a reeleição é um resultado democrático e que “povo” não se resume em 2,5 mil conservadores gritando o medo de que o Brasil se transforme em Cuba ou Venezuela, ignorando a dimensão do próprio país. Até o Nordeste, aorta do País, teve que lidar com comentários racistas e argumentos rasos sobre a reeleição de Dilma, como serem o “câncer” do Brasil e dependentes “vagabundos” dos programas criados pelo PT. A defesa de uma intervenção militar é patética e preocupante. Faz-nos pensar que essas pessoas fingem demência ou realmente apoiam e acreditam na organização da nação pelas mãos de

militares novamente. Pior ainda é subestimarem a inteligência e vivência alheia dizendo que não houve golpe militar e que a defesa de que houve um pertence ao campo da ignorância e intriga da oposição. Ultrapassando qualquer tentativa de compreensão, pois afronta a memória de Vlado Herzog, às cicatrizes físicas e mentais deixadas por torturas e o conceito de democracia. Manifestações devem ser defendidas sim e cada vez mais propaladas. Para que surta efeitos na sociedade, o discurso precisa de um embasamento maior, mas o direito é legítimo e assegurado pela constituição. Talvez esteja na hora de uma política social maior em escolas particulares pelo país para que essas expressões não sejam tão absurdas. O surto foi grande, mas o tratamento vai ser mais delicado ainda. S+

Editorial

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Encerrando o expediente

última edição do Saiba+ deste semestre conta com uma homenagem especial dos alunos a todos os adeptos da campanha Novembro Azul, além de uma reportagem com a real perspectiva de quem já sofreu com o câncer de próstata e as dificuldades de diagnosticar a doença. A reportagem principal está voltada para a comemoração da Consciência Negra neste mês de novembro. Aqui discorremos sobre a história dos negros em Campinas e falamos também do Museu do Negro que está abandonado. Nosso jornal relata a história de autistas que encenaram uma peça de teatro apesar de todas as dificuldades que enfrentam diariamente, desde o processo de produção até a apresentação com a participação de todos.

Beatriz Videira

Vestidos de azul, alunos de jornalismo se reuniram para homenagear o mês de Novembro

Passamos também por uma série de reportagens que combinam saúde e entretenimento como a dança do ventre para gestantes e uma nova modalidade fitness, o pole dance. Por falar em saúde, trazemos informações sobre despatologias.

E mesmo já passado um mês das eleições, buscamos mostrar uma análise de como as redes sociais foram essenciais no processo democrático brasileiro, bem como o outro lado dos comentários preconceituosos que rolaram na internet nesses últimos meses.

Além de uma crítica sobre as atuais condições da orquestra sinfônica de Campinas, cobrimos também uma exposição de fotografia e outros diversos acontecimentos da cidade que você confere na última edição do Saiba + desse semestre. S+

Jornal laboratório produzido por alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas - Centro de Comunicação e Linguagem (CLC): Diretor: Rogério Bazi Diretora-Adjunta: Cláudia de Cillo Diretor da Faculdade: Lindolfo Alexandre de Souza Professor responsável: Luiz Roberto Saviani Rey (MTB 13.254).

Editora-chefe: Laiz Marques Editores: Bruna Mascarenhas - Ciro Oliveira - Willian Sousa Diagramação: Priscila Marques Tiragem: 2 mil - Impressão: Gráfica e Editora Z


CULTURA

20 de novembro de 2014

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Arte ajuda no desenvolvimento de crianças e jovens com autismo Espetáculo Robin Hood mostra como teatro, música e dança estimulam a criatividade e a inserção social Arnaldo Ávila Junior

Beatriz Steck Marília Alberti

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o palco, a primeira impressão é de estarmos assistindo a uma peça de teatro profissional como qualquer outra em cartaz. Instrumentos musicais, dança, sapateado, figurino e cenário. Tudo remete à idade média e representa incrivelmente a história de Robin Hood, exibida em Campinas em outubro de 2014. Mas há um detalhe quase imperceptível no palco: cerca de 80 das 150 pessoas em cena são autistas. Marcados, em geral, por uma dificuldade em interação social e com movimentos bastante repetitivos, os educandos do Instituto Ser, clínica-escola de trata- mento especializado para pessoas com deficiência, e responsável pelo espetáculo, dão uma aula de superação. A terapeuta ocupacional e diretora do instituto, Claudia Dubard, explica que os portadores do autismo vivem em um mundo totalmente concreto. Para eles não existe o faz de conta nem a metalinguagem, “uma piada é difícil de entender. A subjetividade é difícil de entender. São crianças que não brincam. Para que eu uso a boneca? O que uma boneca pode fazer? Esse faz de conta, que é muito visível para uma criança, para eles não existe”, explica.

Os momentos em contato com a arte melhoram o comportamento dos portadores de autismo em todos os sentidos

Em meio às falas e linguagem corporal, a arte facilita a inserção social. A assistente social da ADACAMP, Associação para o Desenvolvimento dos Autistas em Campinas, Danielle Roberta Morélio, explica que os momentos em contato com a arte melhoram o comportamento do autista em todos os sentidos: concentração, atenção e respeito às regras, além de os ajudar a depositarem seu grande potencial em algo positivo. Mas a tarefa de canalizar esse potencial não é nada simples. No caso do espetáculo Robin Hood, a

pedagoga Cláudia Dubard explica que é um trabalho de anos. As artes são disciplinas obrigatórias na clínica-escola, assim como matemática e português, mas a preparação da peça demorou de oito a dez meses. A história de Robin Hood fez parte do dia a dia dos alunos. “Estudamos a idade média, as vestimentas, a alimentação, fizemos até receitas da época, as músicas eram medievais, as danças circulares e irlandesas, tudo entra nas disciplinas escolares para que eles estejam bem integrados no contexto da época”, explica a especialista. Cada passo dos autistas,

com idades de dois a 40 anos, tinham significado dentro e fora do palco. Eles fizeram o figurino e ajudaram a fazer os cenários, tudo com a intenção de estimular a criatividade, coordenação motora, funções cognitivas e trabalho em equipe. Segundo Cláudia, “para que eles entendam a brincadeira de representar um papel, nós passamos para eles como é ser, por exemplo, uma abelha, o que elas fazem e como são. O entendimento, para eles, é passar por essa experiência”. A escolha dos papéis é feita de acordo com a idade

Do figurino ao cenário, os atores participaram de todas as etapas do espetáculo, a fim de estimular a criatividade e a coordenação motora

do educando. O grupo dos adultos que, na maioria das vezes, já atuaram e tem esse discernimento representou papéis mais subjetivos, referenciando elementos naturais como o sol, a lua e a chuva. Já as crianças menores ficaram com as florestas, bichos e alimentos, coisas mais concretas para a aprendizagem. Flávia Almeida, de 35 anos, atuou como uma personagem da turma da Taverna e teve que lidar com a vergonha de se apresentar para cerca de 1300 pessoas que foram ao espetáculo. “Fiquei nervosa, mas valeu a pena. Não tive muitas falas, mas dancei muito, fiquei no palco quase o tempo todo. Dançar é o que mais gosto de fazer!” conta a educanda, que já passa por um processo de desligamento da clínica-escola e ingressou, recentemente, em um colégio profissionalizante. A utilização da arte como método de inserção social e desenvolvimento dos autistas é uma oportunidade ideal para observarmos que quebrar barreiras faz parte do dia a dia dessas pessoas, e isso é possível, assim como para qualquer um de nós. Todos temos nossas dificuldades e limitações. S+


CIDADE

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20 de novembro de 2014

Processo de criação de capas não envolve autores e foca o consumidor

Os capistas, além de responsáveis pelo rosto dos livros, também trabalham na editoração da obra Marina Zanaki

Marina Zanaki

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ocê conhece Edson Lemos, Raquel Matsushita, Luciana Molisani e Paschoal Rodriguez? Eles são os capistas que ganharam os primeiros lugares do Prêmio Jabuti de 2014. Foi comemorado em 5 de novembro o dia do designer, profissional que desenvolve esse trabalho. Contudo, nem sempre a pessoa atrás de uma bela capa é lembrada. A linguista e licenciada em letras pela UNICAMP, Cecilia Garcia Marcon, disse que a capa pode ser um fator de influência na hora da decisão da leitura: “acredito que quem está procurando algo e não tem nem ideia de onde ir acaba escolhendo um livro chamativo”. A equipe do Saiba+ conversou com dois capistas de editoras de Campinas sobre a profissão. André Tavares trabalha

O trabalho dos capistas é muitas vezes o responsável pela escolha da leitura

como designer gráfico há 12 anos e aponta que o primeiro passo para desenvolver uma capa é conhecer o gênero do que está escrito: “além de transmitir ao leitor uma ideia do conteúdo, tem que estar coerente com o tipo

de livro e com a linguagem visual do seu público”. Ele afirma que o ideal seria ler a obra: “mas na prática isso se torna inviável devido aos prazos para a produção”. Ele aponta que lê a introdução, o prólogo, o prefácio, além

de receber uma sinopse da história. Já Eckel Wayne, que trabalha na área há 14 anos, disse que faz também a editoração do livro do qual fará a capa e, mesmo não lendo a obra, consegue ter uma visão geral

através do contato com sumário e subtítulos. Marcon afirma que vê a capa como um elemento que se popularizou por chamar a atenção do leitor. “A ideia de capas diferenciadas é recente – imagine as capas antigas, que eram com letras douradas e o nome do livro?”. André Tavares aponta: “Como embalagem, ela também exerce as funções imprescindíveis de atrair a atenção do consumidor, de transmitir uma mensagem e de apresentar informações do produto. É uma ferramenta de marketing.” De acordo com os capistas, a participação do autor na produção na capa não é consenso e varia de escritor para escritor. Para Cecilia Garcia Marcon, “o autor pode ter a liberdade de participar com opiniões, mas é importante respeitar o espaço de quem cria a capa, também”. S+

Movimento defende redução de remédios O grupo que defende a despatologização é formado por profissionais de diferentes áreas da saúde Gabrielle Albiero Luiza Aguiar

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Brasil tem se destacado nas estatísticas como um dos maiores consumidores de substâncias psicoativas legais. Entre 2003 e 2012, o País registrou um aumento de 775% no consumo de Ritalina, medicamento usado no tratamento do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), segundo estudo da UERJ. A droga, que pode provocar dependência química, tem sido alvo de debates sobre os critérios para indicação médica, principalmente para crianças e adolescentes. O grupo Despatologiza – Movimento pela Despatologização da Vida, busca diminuir ao máximo a quantidade de medicamentos usados no tratamento do TDAH. O movimento é formado por profissionais de diferentes áreas da saúde

Ascom - Unicamp

e da educação, como médicos, psicólogos, fonoaudiólogos. O Despatologiza, em parceria com o Conselho Regional de Campinas, faz militância nos projetos de Lei e implantação de métodos que vão contra a patologização, seja na homoafetividade, na saúde infantil ou na questão da humanização do parto normal. O movimento defende que os comportamentos humanos devem ser melhor analisados antes de se apontar um diagnóstico. A pediatra Maria Aparecida Moysés afirma que “a diversidade e as diferenças que caracterizam e enriquecem a humanidade são tornadas problemas. Ocultam-se as desigualdades, reapresentadas como doenças”. Ela explica que problemas de diferentes ordens são transformados em doenças, transtornos e distúrbios, que escamoteiam as grandes questões políticas,

Encontro realizado em outubro discute a melhoria na análise dos comportamentos humanos

sociais, culturais e afetivas que afligem a vida das pessoas. Em Campinas, foram criadas novas regras na rede pública de saúde para reduzir o consumo indiscriminado da ritalina. A prescrição, que até então era feita apenas com o diagnóstico de um médico, exige agora uma avaliação por uma equipe multidisciplinar, que inclui psicólogo e acompanhamento pedagógico. S+

A pediatra Maria Aparecida Moysés palestra no fórum Construindo Vidas Despatologizadas


SAÚDE

20 de novembro de 2014

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Novembro Azul: Um toque de consciência com uma pitada de humor Diagnóstico precoce é uma das principais medidas que auxiliam no tratamento da doença

Victoria Ghiraldi

Mariana Maia Victoria Ghiraldi

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Ainda considerado um tabu, o “exame de toque” apenas é necessário caso haja alguma alteração nas taxas de enzima no sangue Priscila Marques

lá, meu nome é Antônio .e eu tive câncer de próstata. É dessa forma que, com humor, o engenheiro mecânico de 51 anos, se apresentou à sua atual namorada e quebrou preconceitos quanto à questão da virilidade que se comporta como estigma da doença. Foi durante exames preventivos promovidos pela empresa em que trabalhava que Antônio Carlos Gomes de Borba, aos 45 anos fez o exame PSA (Antígeno Prostático Específico). O primeiro resultado já surpreendeu com a taxa da enzima em 2,6 quando o recomendável é de 2,1 nanogramas por mililitro no sangue. Mesmo com a alteração, Antônio Carlos ficou tranquilo, pois não havia nenhum caso de câncer de próstata na família. Em 2010, o PSA apontou 9,5ng/ml. Ao procurar o urologista, se viu obrigado a enfrentar o temido ‘exame de toque’. “É desagradável? Sim. No ambiente masculino existem várias piadas sobre isso. Mas é somente com o toque que se descobre o diagnóstico”. Segundo o médico oncologista e diretor do Centro de Oncologia de Campinas, Fernando Medina, “é um exame imprescindível e essencial para o diagnóstico”. Quando questionado se hesitou a fazer o exame, Antônio relata que em nenhum momento não pensou em fazer. “Eu só queria saber o que eu tinha e como tratar”, conta. O PSA continuou subindo e o exame de toque não apresentou alteração na próstata, sendo necessários outros exames como ultrassom, por exemplo. Antônio conta que, muito além do exame de toque, existe a biópsia, que é muito mais dolorosa. “O toque não é nada, a biópsia guiada é pior”. Esse procedimento é feito após notar-se algo incomum durante o exame de

Meu nome é Antônio e eu tive câncer de próstata

Antonio Carlos, 51 anos

Antonio Carlos, hoje, encara a passagem pela doença com sorriso no rosto e uma visão positiva sobre a vida

toque. São aplicadas agulhas de punção que retiram um pedaço da próstata. As amostras analisadas são capazes de diagnosticar o tumor. “Eu tive que fazer duas vezes, porque na primeira vez que eu fiz a biópsia não deu nada”, conta Antônio. No segundo exame, 18 agu- lhas foram disparadas e somente em 20% de uma delas foi constatado o câncer. Próximo de completar cinco décadas e aguardando o resultado dos exames, ele optou por comemorar de uma forma marcante. Começou subindo o Monte Roraima e o objetivo final seria correr 100 quilômetros no início desse ano. Com o diagnósti-

co positivo, sua única preocupação não era a morte, mas sim a recuperação pós-cirúrgica para disputar a corrida. Antônio explica que foi necessária uma preparação intensa antes da cirurgia se quisesse completar os 100 km, onde trabalhou o corpo fisica e mentalmente para poder alcançar seu objetivo. Um dos exercícios praticados durante o processo foi o pompoarismo, técnica oriental que fortalece a musculatura masculina através do abdome, controlando a incontinência urinária. Em novembro foi realizada a cirurgia, e três meses depois Antônio alcançou a linha de chegada.

Novembro Azul O Brasil já deu grandes passos para a prevenção desse tipo de câncer que diminui gradativamente desde 2000 devido ao intenso programa de diagnóstico precoce. Com isso, “os homens perderam o medo da doença como um todo”, explica o médico oncologista e diretor do Centro de Oncologia de Campinas, Fernando Medina. Em 2003, na Austrália surgiu o movimento Movember, nome dado à junção das palavras moustache (bigode, em inglês) e november (novembro, em inglês). Conhecido mundialmente, a ação busca incentivar os exames de prevenção através das tendências de deixar o bigode crescer. No Brasil o bigode foi substituído pela cor azul. Medina explica que essas campanhas de prevenção ao câncer de próstata ajudam na quebra do tabu que envolve a doença e, com isso, diminuem o número de casos registrados. S+


Fazenda Roseira Consciência Negra

Isabela Lino Paula Rodrigues

Casa de Cultura torna-se centro de referência nacional sobre Jongo e mantém viva cultura afro Ciro Oliveira

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o mês da consciência negra, a Casa de Cultura Fazenda Roseira se tornou centro de referência nacional sobre o jongo, expressão cultural que combina dança, canto e sensações corporais embasados na cultura africana. Música e movimentos trazem vida a esta tradição que começa nas senzalas, quando o cântico dos escravos permitia uma conversa metafórica e troca de experiências entre eles. Hoje, o toque da dança e os sentidos corporais são usados para estimular e reconhecer a africanidade. Desde 2005, o Jongo é considerado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) patrimônio imaterial do Sudeste, e agora, em 2014, o evento oficializou a fazenda como Centro de Referência Jongueiros e Jongueiras do Sudeste, legitimando o espaço como núcleo de pesquisa, formação e conhecimento sobre a dança.

Alessandra Ribeiro, historiadora e membro da comunidade Jongo, participa da celebração

No mesmo dia da oficialização do centro, também começou o VI festival Sou África em Todos os Sentidos que vai até o dia 04 de dezembro, e conta com exposições, roda de conversa e espaços de interações e debates. Com o tema “Nos Caminhos do Patrimônio Afro-Campineiro”, a proposta é aprofundar o conhecimento das origens africanas, assim como as suas práticas e a participação na construção da cultura nacional, e, principalmente, local. Alessandra Ribeiro, historiadora e membro da comunidade Jongo, diz que a intenção de movimentos como esses é mostrar o valor que o negro tem na sociedade, não apenas cultural, mas também social e econômico. É importante ressaltar a participação que o movimento negro tem e sempre teve na construção da sociedade e da economia, desde a escravidão até atualmente, inclusive na região de Campinas. O casarão da Fazenda Roseira mantém um acervo rico que faz parte da história da comunidade negra de Campinas. São máscaras de rituais, fotografias,


Montagem sobre fotos de Ciro Oliveira

para desvalorizar a área. Esse episódio foi documentado pelos integrantes da comunidade em um vídeo chamado “Nossa Casa ninguém leva”. Isso ajudou a provar judicialmente o que o ex-proprietário da fazenda estava fazendo. A polícia compareceu ao local mesmo sabendo que legalmente a casa era um espaço público. Mas, independentemente da atitude dos policiais, já não havia mais o que o ex-proprietário fazer. O movimento contava com muitos membros que fizeram pressão e barreira necessária para que o proprietário saísse e parasse de destruir o local. A partir desse ano, o casarão ficou depredado e faltando algumas portas e janelas, mas a vitória foi do movimento Jongo Dito Ribeiro, que até hoje cuida do espaço. S+

Dança e música ditam o ritmo do festival “Sou África em Todos os Sentidos” na Fazenda Roseira

Museu do Negro vira acervo em Campinas após abandono Pablo Loscalzo

Conheça a história da Fazenda Roseira Na época da cafeicultura, a fazenda pertencia a importantes produtores rurais, e a força de trabalho era de escravos. A partir de 1920, ela passa a ser propriedade de uma família da região. Com uma grande área, os lotes foram vendidos para um empreendimento imobiliário, e, pela legislação, 5% do território tem que ser destinado à prefeitura para que seja um espaço público. Em 2007, foi feita uma parceria entre a prefeitura e a comunidade Jongo Dito Ribeiro definindo que o casarão seria uma casa de cultura pública. Porém, em 2008, o antigo proprietário invadiu a fazenda e extorquiu materiais para construção como portas e janelas, além de destruir algumas construções da casa

Ciro Oliveira

roupas típicas, tambores e decoração que remetem à cultura afro. Logo na entrada da casa feita de taipa, há um altar em homenagem a São Benedito, uma representação negra na igreja católica. Apesar disso, a casa não se define como católica ou como qualquer outra religião. Alessandra conta que o movimento luta contra o preconceito com as religiões de origem africana. Independente de religião, a fazenda tem as portas abertas para receber qualquer manifestação cultural, desde que contribua ou compactue com as ideias do movimento negro. Alessandra afirma que isso foi definido pois a proposta do casarão é ser um local de referência a cultura afro.

O Museu está localizado no bairro do Cambuí e representa importante marco histórico para a cidade

Jonathan Furazi Danilo Leone

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Museu do Negro de Campinas foi fechado no ano de 2006, por não ter recursos para se manter. Na época, situado no Cambuí, bairro nobre e boêmio da cidade, o espaço foi desapropriado. Desde então, o acervo da cidade está sem um espaço físico para ser exposto. Nem escravos, nem os afrodescentes mais contemporâneos, como os da Banda dos Homens de Cor – importante grupo da cidade, fundado em 1933, que ainda resiste se apresentando por Campinas – têm um espaço para que possa retratar a situação do povo negro em Campinas. Hoje o acervo do Museu do Negro da cidade de Campinas está sobre a tutoria do jornalista e artista plástico José Luís de Oliveira, o Zélus. O jornalista aponta a importância de um espaço

reservado a essa temática, “o Museu do Negro seria mais um espaço para autoafirmar não só a ação do negro na nossa sociedade, como também a história de Campinas, que é a história de todos nós, negros ou não”. Zélus critica a falta de empenho da prefeitura de Campinas quanto ao cuidado com a memória do povo negro. O jornalista desabafa a falta de auxílio do município ou órgãos privados, “parece que toda iniciativa bem-sucedida do movimento negro é tida por pessoas físicas mesmo, jamais por jurídicas”. Com a chegada do dia da consciência negra, Campinas ainda não tem nenhum projeto concreto para um espaço físico que possa alocar o Museu do Negro. Nem mesmo tem procurado as frentes representantes do movimento afrodescendente da cidade para elaboração de eventos que representem a data. S+


COTIDIANO

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20 de novembro de 2014

Dança do ventre para gestantes é momento íntimo de autoconhecimento Movimentos beneficiam mãe e filho trazendo saúde e relações de afeto

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dança do ventre, uma dança oriental trabalhada na musculatura que envolve o abdome da mulher, desde sua criação no Egito Antigo, já tinha por objetivo preparar o corpo da gestante para o parto. As técnicas se transformaram ao longo dos anos, mas até hoje muitas mães optam por tal prática em busca de benefícios físicos, pscicológicos e de socialização, como o fortalecimento da musculatura abdominal, a melhora da postura e da auto-estima. Sílvia Garcia, professora e especialista em dança do ventre para gestantes, explica os benefícios intrínsecos à prática: “Durante as aulas, a gestante aprende a controlar o diafragma, músculo que fica abaixo do pulmão, e juntamente a respiração. Respirar corretamente ajuda muito na hora do parto natural. Além

ThinkStock

Rafaela Barbosa

Me ajudou muito na parte física e principalmente na parte emocional Juliana Bertges

disso, a prática da dança melhora a circulação sanguínea responsável pelo fornecimento de nutrientes para o bebê. Ou seja, a mulher fica mais bonita, resistente e ainda contribui para que seu filho tenha uma boa saúde antes mesmo de nascer”. Benefícios como estes foram os que motivaram Juliana Bertges a continuar a dançar mesmo quando soube da gestação: “Me ajudou muito na parte física e principalmente na parte emocional. Como não foi uma gravidez planejada eu estava tensa, com medo de como seria minha vida. A dança me ajudava a rela-

A mulher fica mais bonita e ainda contribui para a saúde do seu filho

xar, ficar em paz. Era meu ponto de equilíbrio e meu momento”, reforça. Casos como o de Juliana são bastante recorrentes. Sílvia ressalta os benefícios pscicológicos presentes no desenvolvimento da atividade: “Risco de depressão, ansiedade e stress estão presentes na gestação. É importante obter prazer enquanto grávida, este deve ser um momento vivido de forma plena, respeitando seus limites e bem- estar em primeiro lugar”. Após o parto, a mãe pode dançar com seu bebê: “Com o auxilio de um canguru, a criança fica presa ao corpo da mãe, possibilitando que ambos dancem juntos. O bebê tem a mesma sensação de quando estava na barriga da mãe, normalmente dorme e se tranquiliza, o que traz para a criança benefícios como musicalidade e convívio social”, ressalta Sílvia. S+

Estilo de dança ganha novos adeptos

Pole Dance passou a ser considerada modalidade esportiva e ganha espaço em campeonatos ShutterStock

Rayssa Iglésias

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pole dance fitness está se tornando tendência. A dança conquista espaço por ser um exercício completo que trabalha corpo, mente e equilíbrio. Apesar de enfrentar alguns preconceitos por ser uma dança de origem sensual, a atividade em Campinas vem crescendo; atualmente, há cinco academias de Pole Dance Fitness na cidade. A professora de pole dance e educadora física Kris Rodrigues conta por que a dança vem ganhando tanto espaço: “o pole consegue atuar em músculos que algumas atividades físicas não conseguem. Dou aulas fitness há mais de 10 anos em academias e realmente é completo. Importante ressaltar que o Pole Dance trabalha propriocepção corporal. São os exercícios de força: isometria e aeróbio executados de forma

Além de tonificar os músculos, a dança proporciona bem-estar físico e psicológico

coreográfica”. A dança no poste é acrobática, isométrica e é capaz de contrair músculos e tonificar o corpo. A atividade requer uso de força e pode ser praticada por pessoas de todas as idades e biotipo físico. De acordo com a professora Kris, apenas

gestantes e pessoas com lesões nas partes superiores devem ter acompanhamento médico. E ainda aconselha que a dança seja praticada com um especialista. “Se feito com um profissional sem algum tipo de formação, sem no mínimo com educação física, o pole pode

ser altamente lesivo”, explica. Ana Paula Pires, aluna de pole dance, começou a prática do exercício por estar em uma vida sedentária e não se interessar por academias e exercícios de musculação. Procurou na internet uma atividade que trabalhasse bem-estar físico

e psicológico e, com apenas dois meses de prática, sente os efeitos benéficos da atividade: “Já percebo mudanças no meu corpo, além de adquirir mais força nos braços e pernas, minha flexibilidade aumentou e meu abdômen está mais firme. Me apaixonei pelo Pole Dance e penso que será uma atividade que farei pelo resto da vida”. O Conselho Regional de Educação Física (CREF) tenta regulamentar a dança como um esporte. A Federação Brasileira de Pole Dance Fitness está em trâmite para tornar a dança uma modalidade olímpica. A dança impulsiona diversas competições pelo mundo, e a última foi realizada no dia 15 de novembro. Mais de 50 artistas disputaram a “Copa Pole Sudamericana” na Colômbia, que usou o código de arbitragem da Federação Brasileira de Pole Dance. S+


CULTURA

20 de novembro de 2014

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De fato, Tim Maia, não há nada igual

Campinas em foco

Cinebiografia não esconde os defeitos do rei do soul brasileiro

Babu Santana representa Tim Maia na fase adulta

da pela cenografia (Rio, Nova Iorque, São Paulo e Londres), pela trilha sonora (com muito rock, jazz, blues, soul e MPB), pela maquiagem (a mancha mais escura na têmpora esquerda está lá), pela fotografia (tons de bege, explosão de cores e meia luz) e, principalmente, pelo figurino, que data muito bem as épocas retratadas. Há pontos negativos e talvez o maior seja a narração desnecessária. O filme também peca ao se

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estender em assuntos batidos e deixar de se aprofundar nas histórias curiosas da vida do cantor. Se Tim viveu de tudo, o filme não deixa nada de lado. Tem sexo, álcool, drogas, música, religião, boêmia, violência, polêmicas. É, com certeza, uma das cinebiografias que menos esconde e mais escancara os defeitos e polêmicas do protagonista. E como os altos e baixos de Tim Maia, não há nada igual. S+

O Terno lança novo disco

“Procurei deixar de lado a tradição da foto documental, seguindo tendências mais recentes da fotografia. São objetos recortados e isolados que tomam uma outra dimensão. Não importa o que é quando você o recorta do sentido original. Também fiz uso da luz do sol e da sombra, foi algo poético.” - Martinho Caires Celso Palermo

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subtítulo define muito bem os 50 anos de vida, compactados em duas horas de filme, do grande Sebastião Rodrigues Maia. Robson Nunes e Babu Santana representam Tim da forma mais minuciosa possível. A dedicação dos atores é perceptível e eles falam, cantam, se mexem e debocham como o síndico. O diretor Mauro Lima consegue captar bem a essência do artista, que definia seu repertório como meio esquenta-suvaco e meio mela-cueca, e apresenta, então, boa dosagem de humor e drama. São os palavrões, os gestos, a ironia, o individualismo, a excentricidade, o temperamento, a insistência, a genialidade. A parte técnica é impecável. Toda a transação dos anos 40 aos anos 90 é muito bem representa-

Museu de Arte Contemporânea de Campinas (Macc) recebeu recentemente a exposição “Cidade Imaginária”. A mostra apresentou fotografias que retratam, de forma subjetiva, diferentes aspectos da cidade das andorinhas. A autoria do projeto ficou por conta dos fotógrafos Martinho Caires, Fabio Fantazzini, Fernando Righetto e Celso Palermo. Cada um dos quatro profissionais fez uso de técnicas diferentes para expressar a forma como interpretam nossa cidade. O resultado surpreende pela qualidade e originalidade. Confira abaixo declarações dos profissionais sobre os trabalhos expostos: Martinho Caires

Divulgação

Bruna Mascarenhas

Ricardo Andrade

Grupo volta com CD difícil de rotular, e também de parar de ouvir Divulgação

Willian Sousa

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“Durante o processo percebi que há lógica no caos e o caos antecede a solução, ou seja, a necessidade de chegarmos a algo que nos faça caminhar rumo à tolerância, ao respeito, ao fim do preconceito, enfim, a uma vivência mais harmoniosa entre os homens e o meio ambiente.” - Celso Palermo A arte da capa é criação da artista paulistana Renata de Bonis

discos brasileiros de 2012 pela revista Rolling Stone. Para a alegria dos fãs, o segundo disco traz elementos pontuais que também aparecem no primeiro, como a inovação e a ousadia de cantar músicas difíceis de serem cantadas – não pelos temas, que são comuns a qualquer banda de rock and roll, mas pelo modo cru que a composição de Tim atinge o ouvinte, trazendo surpresa aos ouvidos e animação ao coração. A obra é uma crítica irônica às referências que permeiam o mercado musical.

Os integrantes deixam claro suas origens vanguardistas, porém seguem quebrando pré-concepções sobre a música se repetir num ciclo sem fim. Assim como os Beatles, que responderam a qualquer questionamento quanto ao que pode ou não ser música, os garotos d’o Terno seguem (numa piada sarcástica) de jeans e camisas largas fazendo o que fazem de melhor: inovando e surpreendendo a cada play. Faça o download gratuito do CD : www.oterno.com.br. S+

Fabio Fantazzini

novo disco da banda O Terno veio para comprovar que a originalidade musical brasileira continua em alta – e em alto e bom som. Homônimo ao grupo, o segundo CD do trio traz músicas que satirizam o próprio estilo do artista contemporâneo e também uma imersão à metalinguagem que brinca com o processo de identificação do ouvinte com o cantor. Parece complicado, mas não é não. Toda essa percepção acontece de forma natural durante a apreciação das canções, de modo que, cedo ou tarde, você estará compartilhando uma delas com um amigo e jurando que ela foi feita especialmente para você. Na ativa desde 2009, o Terno marcou presença na internet com o lançamento de seu primeiro CD, “66”, entrando para a lista dos 25 melhores

“A ideia era que o objeto fotografado sofresse uma ressignificação subjetiva para cada observador. Por isso fiz essas fotos de uma forma na qual não ficasse claro que são carros. Com isso elas não apresentam um significado pronto e cada um consegue entendê-las de forma diferente.” - Fabio Fantazzini


ATUALIDADE

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20 de novembro de 2014

Brasil bate recorde em participação política nas redes sociais País ultrapassou a Índia em comentários e mensagens no período das eleições deste ano ShutterStock

Fernanda Lagoeiro

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Willian Sousa

A utilização de smartphones tem contribuído para o aumento do uso da internet entre os brasileiros

Roberto Stuckert Filho/Presidência/Instagram

número de comentários, curtidas e compartilhamentos ligados às eleições mostra o crescente destaque das mídias sociais. De acordo com o Portal EBC, as eleições deste ano no Brasil foram as mais comentadas da história do Facebook. A participação dos internautas registrou um número de 674,4 milhões entre 6 de julho e 26 de outubro de 2014, quase três vezes maior que o recorde mundial. Segundo Jonatas Dornelles, antropólogo especializado em mídias sociais, as chaves para a compreensão desse fenômeno são o aumento do uso da internet e dos smartphones e a potencialização das manifestações individuais proporcionada pela internet. “A participação ativa dos brasileiros não se restringe ao momento político, mas está presente no dia-a-dia dos internautas. A internet e sua ausência de contato face a face facilita isso”, afirma Dornelles. Com mais de 39 milhões de comentários feitos no Twitter e 49 milhões no Facebook, os internautas manifestaram-se a favor ou contra determinado candidato, muitas vezes de forma agressiva. Bruna de Oliveira, estudante da PUC-Campinas, conta que respeitava quem compartilhava as propostas dos candidatos, mas confessa: “o que me fez bloquear foi o fato de postarem coisas relacionadas à política de 5 em 5 minutos e ainda chamarem para briga quem não compartilhava das mesmas ideias”. Para se ter uma ideia da dimensão disso tudo, hashtags como #Aecio45PeloBrasil e #DilmaMudaMais ficaram no topo da lista de assuntos mais comentados e, atentos, os dois partidos intensificaram seus comitês de mídias, voltando-se para as redes sociais. Aécio, por exemp-

Jéferson Monteiro, dono de uma das páginas mais acessadas do Facebook, Dilma Bolada, em encontro com a presidente

lo, divulgou um vídeo no aplicativo Whatsapp, agradecendo aos eleitores pelos votos recebidos. Dilma, por sua vez, firmou parceria com o dono de uma das páginas mais acessadas do Facebook, Dilma Bolada. Preconceito nas redes As redes sociais tornaram-se espaço de intensa discriminação logo após a reeleição da presidenta Dilma Rousseff. Nordestinos

foram alvos de atos ofensivos e declarações como “povo burro e subdesenvolvido” e “nordestino só serve para fazer filho, comer farinha e ganhar Bolsa Família”. Jaíce Souza, estudante de Jornalismo, é baiana e veio para Campinas estudar. “Desde que cheguei aqui me deparei com situações em que pessoas chamavam nordestinos de ‘baianada’, como um sinônimo de burrice ou breguice. É muito ruim ouvir falarem mal do lugar de onde você vem” lamenta Jaíce. A Presidente do Comitê de Direito Cibernético da OAB Campinas, Vera Kerr, escreveu uma cartilha sobre segurança na internet, segundo a qual a legislação brasileira concede a liberdade de expressão por meio da Declaração de Direitos do Homem, que pode ser aplicada também a crimes eletrônicos, na maioria dos casos. No entanto, essa liberdade não é absoluta e não deve ultrapassar os limites, nem ofender a honra alheia, sob pena de infringir assim outros direitos fundamentais igualmente protegidos pela Constituição. Em casos de discriminação, como ocorreu com os nordestinos, é cometido o crime de injúria por preconceito, sendo passível de pena de reclusão de um a três anos, além de multa. A página “Nordestino Sim” foi criada para se contrapor às ofensas, divulgando fotos e hashtags, como #SouDoNordesteM e s m o E C o m O r g u l h o, que obteve mais de 100 mil compartilhamentos, inclusive de famosos, como o escritor Paulo Coelho. Para André Lucas Moreira, estudante de direito e natural de Fortaleza, nossa população é totalmente intolerável e não consegue conviver com ideias contrárias e nem com as diferenças. “Sentimos isso não apenas contra nordestinos, mas também contra negros, gays e pessoas de baixa renda”, conclui o cearense. S+


CULTURA

20 de novembro de 2014

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Músicos da Orquestra têm de comprar os próprios uniformes e instrumentos

Integrantes da Sinfônica Municipal de Campinas reivindicam melhorias há mais de 14 anos

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s 119 músicos da OSMC (Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas), considerada uma das mais prestigiadas do país, são obrigados a comprar o próprio vestuário, instrumentos musicais, cordas para os instrumentos, paletas e até o lápis para fazer as anotações durante os ensaios. Como se não bastasse, os salários dos músicos estão abaixo da média nacional. Esse é o retrato de uma orquestra que está entre as pioneiras do País. “Entra governo e sai governo e sempre ficamos apenas com as promessas de melhorias. São as mesmas reivindicações há 14 anos. Essa orquestra é de alto nível, mas os governos não dão o devido respaldo aos músicos”, criticou o presidente da Associação dos Músicos da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas, Carlos Coradini, oboísta. Integrante da orquestra há 20 anos, Coradini classificou os vestuários usados pelos músicos durantes as apresentações como “precaríssimos”. “A Orquestra precisa de um uniforme para tocar. É inconcebível que, em uma orquestra desse nível, os

músicos tenham de investir do próprio bolso. Hoje, cada músico compra uma roupa diferente do outro e vira uma bagunça”, relatou o presidente da Associação da OSMC. Completou ainda que deveriam receber dois encordamentos por ano, mas não receberam nenhum. “Temos que comprar cordas, paletas e até nossos instrumentos. Esse tipo de material profissional costuma ser caro”. O salário abaixo da média em relação a outras orquestras também atormenta o sono dos músicos. Um violinista da OSMC ganha quase R$ 2.800, enquanto o salário de outras orquestras do mesmo nível o salário chega a R$10 mil. Embora algumas das reinvindicações

dos músicos já tenham sido atendidas, o grupo reclama que ainda faltam muitas mudanças estruturais necessárias. “Queremos que os políticos passem a olhar a orquestra sinfônica com carinho e não só para fazer média e usar a máquina administrativa para fazer promessas. A orquestra só traz benefícios para a população e para a cidade”, afirmou Coradini. O próximo passo da Associação agora é buscar um novo regimento para a Orquestra junto à Prefeitura e à Câmara Municipal. Este novo regimento traria uma política permanente de melhorias das condições dos músicos. A assessoria de imprensa da Secretaria de Cultura informou que o Secretário de CulDivulgação

Maurício Simionato Pablo Loscalzo

Apesar de estar entre as pioneiras do País e possuir alto nível musical, a Orquestra também sofre com baixos salários

tura, Ney Carrasco, está aberto para conversas, e que, na medida do possível, tem atendido às demandas dos músicos. “Comparando a gestão atual do município de Campinas com a última é evidente que os investimentos da prefeitura atual para com a nossa Orquestra foram infinitamente superiores” afirma o secretário. Grande parte dos músicos apoiou Jonas Donizetti como candidato a prefeito nas eleições do ano passado, o que historicamente só ocorreu em outra ocasião, na candidatura de Toninho. A Secretaria da Cultura informa que as melhorias já realizadas não são nem a metade do compromisso firmado pelo prefeito com os músicos, e que a maior dificuldade são os custos destes investimentos, mas aos poucos os pedidos serão atendidos. História Segundo o site da OSMC, documentos entregues à Prefeitura em outubro deste ano comprovam que a Sinfônica de Campinas é uma das mais antigas do País. Um maço de folhas com atas da época trazem a criação da Associação Sinfônica Campineira datada de 6 de outubro de 1929. O primeiro concerto foi apresentado no dia 15 de novembro de 1929. S+

Programação cultural Programa sinfônico 11 22 e 23 de novembro Teatro José de Castro Mendes Regente: Carlos Prazeres Midori Maeshiro, Piano (Japão) Inácio de Nonno, Barítono C. Guerra-Peixe: Concerto para Piano - “Drummond em ConSerto”: E. Aguiar: Balada do Amor Através dos Tempos C. de Hollanda: As Sem-razões do Amor C. Guerra-Peixe: Drummondiana Programa sinfônico 12 Apresentações: 13 e 14 de dezembro Regente: Victor Hugo Toro. Solista: Lars Hoefs (Violoncelo, EUA). Marco Padilha: Cor Inquietum, Cena Sinfônica nº 2, op. 23 Erich W. Korngold: Concerto para Violoncelo em Dó Maior, Op. 37. D. Shostakovich: Sinfonia N° 1, em Fá Menor, op. 10 www.osmc.com.br


Frase do mês

Rápido

“Um barco está completamente seguro no porto. Mas barcos não são construídos para isso.”

John Shedd Victor Hafner

PONTE PRETA VOLTA À ELITE

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o início desse mês, a Ponte Preta voltou à elite do Campeonato Brasileiro após derrotar o Bragantino fora de casa por 2 a 0. A classificação antecipada para a Série A do Brasileirão se deu pela matemática e, sobretudo, pelo mérito da boa campanha realizada pelo time de Campinas – destaque para o técnico Guto Ferreira, apontado como um dos principais responsáveis pela ótima fase da equipe. O desafio contra Joinville no sábado, 15, afastou a macaca do título ao perder de 3 a 1 para o time da casa. O confronto direto entre líder e vice-líder da competição era um dos mais aguardados do final de semana. O destaque

negativo ficou por conta da confusão entre as torcidas que chegou a paralisar o jogo logo após o terceiro gol do JEC, quando o locutor

do estádio teria incitado os pontepretanos ao gritar: “a Ponte caiu”. Dois pontos atrás do Joinville (69 a 67), a Ponte

Preta precisa fazer a sua parte nas últimas três rodadas e torcer por um tropeço do adversário contra Boa Esporte, Luverdense ou

Oeste. O empate em número de pontos não favorece os campineiros, já que o time de Santa Catarina possui duas vitórias a mais (21 a 19). Victoria Ghiraldi

FOOD TRUCK Campinas foi palco do festival gastronômico “Food Truck Festival”. O evento aconteceu no Shopping Dom Pedro e reuniu diversas pessoas da região

VARIEDADE

Nos dias 13 e 14 de Novembro foram mais de 33 variedade gastronômicas entre salgados e doces, além de cervejas artesanais e inúmeras atrações

Conhecido por ser o único cinema a projetar filmes do meio alternativo, o Cine Topázio está com os dias contados. A diretoria confirmou o fechamento temporário do cinema até o dia 30 de novembro.

Esse novo mercado vem crescendo por sua praticidade, sendo uma opção para quem está na rua e quer comer algo de qualidade sem perder tempo

MÊS CONTRA A DENGUE

No último dia 17 de novembro a prefeitura de Campinas deu início a uma série de ações para marcar o “Mês D contra a Dengue”, para conscientizar e chamar à população para participar de atos preventivos e de controle da doença.

MÃE DO MENDIGO

No próximo dia 29, o SESI Indaiatuba recebe a banda Mãe do Mendigo, cover dos Los Hermanos. No espetáculo, o grupo traz um repertório com o melhor dos 15 anos de carreira dos cariocas.

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CINE TOPÁZIO

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QUALIDADE


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