Saiba+ - Edição Novembro de 2014

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“O Guarani vai ter uma casa nova, moderna, e nos padrões que o futebol atual exige.”

Desde 2006

30 de novembro de 2014

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Faculdade de Jornalismo - Puc Campinas

Fechamento do Cine Topázio extingue cinemas de arte em Campinas Pág. 10

Foto: Danilo Chritofoletti

Especial Ciclismo

Ricardo Alves na trilha dos 9 km na floresta estadual Edmundo Navarro de Andrade em Rio Claro: ciclistas percorrem Estado, mas, nas cidades, faltam ciclofaixas e ciclovias adequadas

Cicloturismo ajuda a garantir sustentabilidade O repórter Danilo Cristopholetti foi acompanhar praticantes da modalidade, que chegam a Pág. 10 pedalar até 150 km ininterruptos.

Bicicletas ainda são pouco usadas em Campinas

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Caravela não tem acessibilidade após reforma

Doação de sangue diminui no fim de ano

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Música independente brasileira chega à Bolívia Sérgio Moreira Júnior, vocalista da banda Laranja Oliva e repórter do Saiba +, foi representar o Brasil em uma festival de música na Bolívia e trouxe as curiosidades e belezas do país, ótimo destino para quem quer conhecer a história dos povos pré-cambrianos e se vislumbrar com paisagens naturais. Pág. 12

Livros usados ganham espaço no mercado virtual Com o avanço das tecnologias, os sebos passaram a disponibilizar seus acervos em sites para venda de seus produtos e facilitam o acesso a obras no País inteiro. Pág. 7

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Foto: King Chong

O principal motivo é a falta de segurança, que desestimula o uso da bike tanto para lazer quanto como forma de transporte. Pág. 11

Placas avisam sobre risco de anabolizantes

Resquícios da história da Bolívia e dos povos que habitam a região antes da colonização: atrativos


Página 2 RÁPIDAS

Opinião

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Por Igor Calil

Shoppings de Campinas mudam horário no fim do ano

CARTA AO LEITOR

Com a proximidade do Natal, os principais shoppings de Campinas mudam seus horários de funcionamento. Uma semana antes do Natal, o Shopping Parque das Bandeiras fecha uma hora mais tarde, às 23h, com exceção do domingo, 21 de dezembro, em que os clientes têm até às 22h para fazer as compras. Iguatemi e Galleria também tem alterações nos horários. Tanto o shopping da Vila Brandina quanto o instalado na Rodovia Dom Pedro funcionarão em horários diferenciados a partir do dia 09 de dezembro, abrindo 10h e fechando às 23h, inclusive aos domingos. Na véspera do Natal os horários mudam de novo. No dia 24, as portas estarão abertas das 10h às 18h. O Parque D. Pedro Shopping continuará abrindo às 10h, mas também funcionará uma hora a mais a partir do dia 19. No dia 24 também funciona, mas apenas das 9h às 17h. Na região do Ouro Verde, o Spazio abrirá uma hora antes e fechará uma hora depois do horário normal, a partir do dia 15 de dezembro.

Karina Daniele Ricardo Maghati Vinicius Bognone editores

Docentes da PUC participam de seminário internacional Os professores da PUC-Campinas Carlos Alberto Zanotti, Duílio Fabbri Júnior e Rogério Eduardo Rodrigues Bazi participaram do V Seminário Internacional do CIMJ Media, Democracia e Cidadania na Era Digital, em Lisboa, Portugal. Segundo Bazi, a experiência contribuiu para uma maior visibilidade da Universidade e também aumenta o potencial de pesquisa acadêmica da Instituição. “É importante agora que essa experiência saia do congresso e seja compartilhada com público direto, que são os alunos”, diz. Os professores passaram uma semana na capital portuguesa e retornaram ao Brasil no último dia 14. Zanotti apresentou trabalho sobre os novos negócios e a confiabilidade da informação jornalística. Bazi e Fabbri Júnior fizeram uma análise do novo formato do programa Fantástico, da Rede Globo. Sinfônica de Campinas divulga temporada 2015

Foto: Igor Calil

A Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas já está com a temporada 2015 planejada. Para o próximo ano estão previstos concertos oficiais, didáticos e populares, a gravação e o lançamento de dois CDs, um concurso de jovens solistas, espetáculos especiais e apresentações na Região Metropolitana de Campinas (RMC). A abertura da nova temporada será nos dias 13, 14 e 15 de março.

LEGENDA PARA ESSA FOTOOOOOO

Expediente: Jornal laboratório produzido por alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas. Centro de Comunicação e Linguagem (CLC): Diretor: Rogério Bazi; Diretora-Adjunta: Cláudia de Cillo; Diretor da Faculdade: Lindolfo Alexandre de Souza. Tiragem: 2 mil. Impressão: Gráfica e Editora Z Professor responsável: Fabiano Ormaneze (Mtb 48.375). Edição e Edição de Capa: Karina Danielle, Ricardo Maggathi e Vinicius Boignone Diagramação: Marcela Castanho e Vinícius Tavares

CRÔNICA

O incontinente crescimento da louça suja BRUNA GOMES

Essa edição do Saiba + (produzida pelos alunos da turma 43 do período matutino da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas) traz os “órfãos” do cinema Topázio. Localizado no Shopping Parque Prado, o único cinema que exibia filmes de arte que fugiam ao circuito comercial fechou. Uma alternativa para estes “órfãos” seria a revitalização do MIS. Esta edição também traz uma entrevista com o novo presidente do Guarani, Horley Senna. Ele fala sobre a possibilidade de quitar todas as dívidas do clube com a venda do estádio Brinco de Ouro para a Magnum, empresa do ramo de relógios, e sobre o novo estádio, que, segundo ele, será uma arena moderna, com capacidade para 25 mil pessoas. Sérgio Moreira Júnior, vocalista da banda Laranja Oliva e repórter do Saiba +, foi representar o Brasil em uma festival de música na Bolívia e trouxe as curiosida-

des e belezas do país, ótimo destino para quem quer conhecer a história dos povos pré-cambrianos e se vislumbrar com paisagens naturais. O jornal também exibe, na editoria de esportes, duas reportagens sobre ciclismo. Em uma, o repórter Danilo foi acompanhar praticantes da modalidade, que chegam a pedalar até 150 km ininterruptos. Vale lembrar que o cicloturismo é uma modalidade que garante a sustentabilidade. A segunda matéria, com outro viés, mostra que os campineiros não têm o costume de andar de bicicleta. O principal motivo é a falta de segurança, que desestimula o uso da bike . Os leitores também poderão se inteirar sobre a possibilidade de adquirir livros usados pela internet. Com o avanço das tecnologias, os sebos passaram a disponibilizar seus acervos em sites, embora os custos sejam repassados ao consumidor. Boa leitura!

Lavar louça, hoje em dia, virou luxo para poucos. A água é rara e a seca tomou conta de alguns estados brasileiros. Aqui em casa, é incrível como a louça tem vida própria. É só deixar alguns pratos e talheres descansando na pia, que, depois de um tempo, mais pratos e mais talheres brotam de algum lugar, não se sabe de onde. Tem horas que nem parece que há tanta louça quando elas estão no armário. Mas, na pia, parecem encontrar algum fermento que as faz crescer. Se você mora sozinho, ou não conta com a ajuda de alguém na limpeza de casa, prepare-se para lavar uma pilha de louças que tem vida própria. Estudantes têm, em seus apartamentos e kitnets, ambientes favoráveis para a reprodução dessa espécie. Como animais perigosos e assustadores, mostram seus dentes e suas garras e espantam os jovens estudiosos. Mas já dizia a minha mãe: a louça não se lava sozinha! Então, arregaçamos as mangas, vestimos nossas armaduras (vulgo aventais e luvas), criamos coragem e partimos para a batalha. Entre esponjas, detergente e restos de comida, sobra apenas um grande espaço na pia, que atrai, com a perfeição da vida, mais louça para ser ensaboada, esfregada, enxaguada e guardada. Hoje em dia, as lava-louças estão entre os melhores aliados dos pre-

guiçosos. Pena que ainda sejam caras, principalmente para um estudante. Além disso, sofremos de outro problema: a falta de espaço. Dá para imaginar uma lava-louças numa kitnet de menos de 30 metros quadrados? Não cabe nem a louça direito! Se entrar a lava-louças, o morador tem que sair. Quem vai colocar as peças na máquina? E há quem diga que as lava-louças são, também, amigas da economia! A Cantareira agradece, gentilmente, o inventor dessa beleza de eletrodoméstico. Embora esse ato de lavar utensílios domésticos pareça banal, desconfio que podemos tirar grande proveito de sua filosofia, pois lavar louças tem muita semelhança com a vida! E isso não é autoajuda. Se não for feita corretamente, de maneira enérgica e eficiente, pode falhar em seu propósito principal. A louça sai suja, pegajosa, sem brilho e toda a água, preciosa, cada vez mais para os paulistas, foi-se pelo ralo. Me ocorre agora que, em ambos os sentidos, o da vida e o do serviço doméstico, devemos ser mais profissionais e menos amadores. A vida, em geral, e a louça, da cozinha, não devem ficar opacas e sem graça. Devem brilhar e devem ser úteis, aproveitadas ao máximo! Para isso, arregacemos as mangas, separemos as buchas e o detergente. Mãos à obra!


Esporte

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30 de novembro de 2014

Guarani espera quitar dívida milionária Presidente Horley Senna defende novas campanhas para aumentar arrecadação do clube

Foto: Marcel Kassab

Gustavo Gianola

E

leito Presidente do Guarani Futebol Clube em outubro de 2014, Horley Senna busca reerguer o time alviverde de Campinas e trazer de volta o sorriso ao torcedor bugrino. Vice -presidente na gestão de Álvaro Negrão durante os anos de 2012-2013, Senna foi eleito presidente liderando a chapa “Mude Já”, única a se candidatar ao cargo em 2014. Entre desafetos com a antiga presidência de Álvaro Negrão, com o qual já houve casos de discussões em público, Horley entrou no cargo com a parceria da Magnum, empresa de relógios que já pagou salários atrasados do time e, agora, oficializou a compra do estádio Brinco de Ouro. O projeto de venda já foi aprovado pelos sócios do Bugre e, agora, resta esperar a aprovação da Prefeitura de Campinas. Senna espera que, com o dinheiro dessa venda, o Bugre possa quitar suas dívidas que giram em torno de R$ 250 milhões e consiga montar uma equipe de força e voltar a ser o time de elite do futebol e único do interior campeão do Campeonato Brasileiro. Como se desenvolveu aprovação da venda do Brinco de Ouro? Essa iniciativa de negociação do patrimônio surgiu em 2007, ainda sob gestão de outra diretoria, que tinha o Leonel Martins de Oliveira como presidente. De lá pra cá, houve muita sondagem, especulação, mas jamais chegou ao Clube uma proposta oficial que atendesse a todas as necessidades. Desde que assumimos o Guarani, em 11 de outubro deste ano, já tínhamos uma proposta real em mãos, do Grupo Magnum, e que foi aprovada em Assembleia no último dia 12. O próximo passo cabe ao investidor, ou seja, homologar o projeto na Prefeitura e desenvolver tanto os empreendimentos da empresa quanto aqueles que servirão ao Guarani no futuro: um novo Estádio, nova Sede Social e Administrativa e um Centro de Treinamento e formação

Para Senna, no atual momento do clube, investir em centros de treinamento e formação de atletas é mais importante que construir arena

de atletas. Quais serão as prioridades para o uso do dinheiro da venda do estádio? O primordial é negociar e quitar as dívidas trabalhistas e dar fôlego de caixa para manter salários em dia visando evitar novas ações na Justiça. Num segundo momento, quando o projeto imobiliário do investidor estiver devidamente aprovado junto ao Poder Público, é definir quais construções

mais calma, através de leis de incentivo criadas para vários setores. Em linhas gerais, ao término do negócio, o Guarani terá toda sua saúde financeira restabelecida e mais nenhum credor a pagar.

prazo e dispender recursos apenas pra isso. Mas posso garantir que ao final de todo esse processo, o Guarani vai ter uma casa nova, moderna, e nos padrões que o futebol atual exige.

Com a venda do estádio, o Guarani ficará sem casa para mandar seus jogos. Há um projeto de construção de uma nova arena. Como será esse projeto? O projeto existe e está

Diante da atual situação do clube, você acha que essa venda irá trazer de volta o Guarani que já venceu muitos títulos e se manteve por muito tempo na elite do futebol brasileiro?

um novo estádio dentro “de Teremos dois a três anos, com capacidade para aproximadamente 25 mil pessoas. ” serão priorizadas. Se vamos começar construindo o Estádio, a Sede Social ou o C.T [Centro de Treinamento]. Mas nosso foco principal é sanar as dívidas trabalhistas e manter as contas em dia.

Você acha que com essa venda, o Guarani conseguirá quitar todas as suas dívidas atuais? As ações trabalhistas, certamente. Em termos de dívidas fiscais e tributárias, temos campanhas do Governo Federal que nos permitem tratar com

contemplado no todo da negociação. Teremos um novo estádio num prazo de dois a três anos, com capacidade para aproximadamente 25 mil pessoas. Caso seja preciso mandar jogos em cidades vizinhas, em estádios alugados ou cedidos de alguma forma por terceiros, esse não é o maior dos problemas. No futebol atual, investir de forma imediata em Centros de Treinamento e formação de atletas é muito mais interessante do que construir uma Arena a curto

Esse foi um ponto chave para confiarmos no projeto do Grupo Magnum, que não só tem expertise em empreendimentos imobiliários, como também será nosso parceiro no futebol. Quais são as expectativas em relação ao desempenho do time dentro de campo para as próximas temporadas? Nossos próximos times serão competitivos e disputarão títulos em curto e médio prazo, visto que o

negócio também contempla um suporte financeiro mensal exclusivamente para contratações de atletas de alto nível, tudo por conta da Magnum. Independente do projeto imobiliário, a empresa vai bancar toda nossa folha salarial com jogadores e Comissão Técnica. Seremos fortes novamente dentro de campo também, disso não tenho dúvida. Além da venda, quais outros planos a diretoria pretende criar para reestruturar o Guarani? Desde que assumimos, foram nomeados diretores para dois cargos cruciais que nos trarão receitas extras. Nossos Departamentos Social e de Marketing têm profissionais que já nos trouxeram perspectivas de arrecadação a curtíssimo prazo. Vamos nos calcar nisso: um quadro de associados forte, participativo, e também ações comerciais e de marketing que já estão sendo executadas. Tanto que já temos patrocinadores fechados para exposição de suas marcas em nossa Camisa para todo ano de 2015 e fizemos uma campanha para captação de novos sócios, que também nos garante renda praticamente vitalícia.


Cinema

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30 de novembro de 2014

Topázio: clientes lamentam fechamento Único cinema de arte de Campinas encerrou atividades no dia 30 de novembro

Foto: Giovane Caruso

Cine Topázio tinha quatro salas; duas delas eram dedicadas a filmes europeus e asiáticos desde 1993, quando foi inaugurado no Shopping Jaraguá

Mona Moreno Giovane Caruso ampinas tem, desde o dia 30 de novembro, uma nova categoria de “órfãos”: aqueles que ficaram sem o cine Topázio, único endereço da cidade, localizado no Shopping Parque Prado, que exibia os chamados filmes de arte, em geral, filmes europeus e asiáticos, que fugiam ao circuito comercial. O motivo do fechamento, segundo o gerente-geral do cinema, Paulo Celso, seria a baixa frequência de público às quatro salas. Em poucas palavras, ele, no entanto, reconheceu a perda para algumas pessoas: “Alguns clientes fiéis lamentaram o fechamento”. Nascido em 29 de setembro de 1993, no Shopping Jaraguá de Indaiatuba, com apenas uma sala, até o fechamento da filial de Campinas, a rede tinha um total de 13 salas. Agora, serão apenas as nove da cidade vizinha, em que exibidos apenas filmes do circuito comercial. Nas quatro salas de Campinas, sempre se mantinham em cartaz dois filmes do circuito alternativo, que, raramente, estavam sendo exibidos em outras salas da cidade. O cinema tinha também várias parcerias com instituições, como planos de saúde e sindicatos, para oferecer meia -entrada a públicos que, tradicionalmente, não têm

C

direito ao benefício, como é o caso de professores da rede particular. Uma vez por mês realizava um cine-fórum, com a exibição de um filme seguida de debate com especialistas no assunto retratado na película. Antes de ser confirmado no dia 14 de novembro, o fechamento do cinema mobilizou os frequentadores do Topázio. A publicitária Claudia Cereser é uma das frequentadoras indignadas. Ela diz que ia Topázio semanalmente e

mento do Cine Topázio Pq. Prado”. Em seguida, criou também um abaixo -assinado virtual. A página no Facebook teve a adesão de 4 mil pessoas e cerca de 2,5 mil assinaram o documento. No dia 16 de novembro, no entanto, uma tentativa de mobilização presencial falhou. Cláudia tentou organizar um grupo para lotar as salas e reverter o fechamento, mas apenas quatro pessoas compareçam com essa finalidade ao Topázio. A pedagoga Célia Min-

rias de forma muito particular. A população perde a chance de assistir a filmes exclusivos, o que é uma aquisição cultural.”

acompanhava a programação desde o período em que o cinema se localizava no extinto Shopping Jaraguá, na Avenida Brasil, na região central. “Soube do fechamento, quando, no início de outubro, alguém me disse: ‘você tem até dezembro para aproveitar!’. Foi então que postei essa informação no grupo do Cine Topázio Shopping Prado no Facebook de que participo. Somente na segunda semana de outubro as pessoas começaram a se manifestar”, diz. Cláudia criou, então, uma página na mesma rede social chamada “Diga Não ao Fecha-

gatto também frequenta o cinema desde a inauguração em Campinas em junho de 2003. Para ela, os filmes exibidos por lá proporcionavam uma “viagem pelo mundo sem sair do lugar”, além de o cinema oferecer atendimento personalizado. Ela classificou o cinema como um local com “atmosfera inigualável”. De acordo com Célia, “o fechamento será uma perda irreparável, ainda que outra sala de circuito comercial assumisse os filmes, a atmosfera não seria a mesma. O amor pela arte dá vida e nos transporta para as paisagens e histó-

desse tipo de filme na cidade será o Museu de Imagem e Som (MIS), no Centro. “Chama a atenção que uma cidade como Campinas conte com apenas duas salas para esse tipo de cinema. Por outro lado, revela a ausência de uma política pública de exibição que se contraponha aos interesses privados de exibição.” Pereira cita que a sala de cinema que se encontra no MIS que poderia servir de contraponto aos cinemas do shopping, por se localizar no centro, mas carece de investimentos e permanece abandonada. Ele lembra que é importante o

Alternativa Segundo Ricardo Pereira, colunista do Bom dia Campinas e especialista em cinema, o fechamento do Topázio acabou com uma das poucas salas do que se convencionou a chamar de “filme de arte” ou “cinema alternativo”. Com a extinção do Topázio, o único endereço para a projeção

Chama a atenção que uma cidade “como Campinas conte com apenas duas salas para esse tipo de cinema ”

envolvimento da população. “Essa é uma cobrança que deve ser feita por nós também em nível municipal, ainda mais se tomarmos como exemplo o que aconteceu recentemente na cidade de São Paulo com a prefeitura tomando a frente na reabertura do Cine Belas Artes.” O cinema citado por Pereira é um dos mais antigos da cidade de São Paulo, próximo ao cruzamento das avenidas Consolação e Paulista, duas das mais importantes da Capital, e sempre tentou trazer a população uma programação que vai na contramão à do circuito comercial. Em 2011, o cinema foi fechado pela não renovação de patrocínio, apesar dos protestos da população, mas foi reaberto em 2014 pela Prefeitura paulistana junto com a Caixa Econômica Federal. A Prefeitura Municipal de Campinas se comprometeu no processo de localização de um novo espaço para o cinema Topázio, mas não há data para a reabertura do cinema. Um cronograma para a reabertura deve ser estabelecido para a reabertura das salas em uma nova reunião entre a diretoria do cinema e o secretário que deve acontecer logo após o fechamento do cinema. De acordo com Paulo Celso, como não há qualquer previsão para realocamento das salas para outro espaço e os 12 funcionários do cinema foram dispensados no dia 1° de dezembro. Quanto à programação alternativa, a previsão é aumentar as sessões da unidade de Indaiatuba para 2015. De acordo com o Boulevard Parque Prado Shopping, ainda não há previsões para o que vai abrir no espaço onde fica hoje o cinema. Biblioteca No Topázio, há três anos, tinha sido implantada uma biblioteca, que ficava no segundo andar. Todos os exemplares disponíveis haviam sido doados por frequentadores e os frequentadores podiam pegar obras emprestadas. Com o fim das atividades, os livros foram doados a instituições e o projeto “Biblioteca nos Terminais”, da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec).


Ecologia

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Fotos: Bárbara Pianca

Destruição de matas não é única consequência das queimadas

Além da vegetação, animais de várias espécies são encontrados com ferimentos Bárbara Pianca

A

Serra do Japi, um dos principais pontos de preservação ambiental do Estado de São Paulo, sofre com a seca e a estiagem prolongada, colocando em risco espécies nativas. De acordo com Bruno Mendes da Rocha, assessor municipal da Defesa Civil de Jundiaí, o órgão atendeu 63 ocorrências de focos de incêndio durante o período de estiagem, entre os meses de abril e novembro na mata. Ele considera o número surpreendente. “No ano passado, durante o mesmo período, o número foi três vezes menor. Neste ano, o nível de precipitação foi baixíssimo, completamente atípico com relação aos outros anos e isso só nos gera imensas dificuldades”, acrescenta. No mês de outubro, os moradores de Jundiaí presenciaram um grande número de focos de incêndio na Serra do Japi. O maior deles aconteceu no dia 13, no “Morro da Baleia”, com duração de dois dias, encobrindo a cidade pela fumaça, resultado das queimadas, o que gerou algumas mudanças na rotina dos jundiaienses. “Nos dias em que o Morro estava queimando, as aulas da faculdade ao lado da Serra foram canceladas por con-

ta da fumaça. Foi o foco que deu mais trabalho para os bombeiros, com certeza”, explica o assessor. A seca não é o único problema encontrado no período de estiagem. Ela é considerada o fator primordial em diversos casos de incêndios em matas, e, consequentemente, o aparecimento de animais machucados. “Com a falta de água, os animais que vivem perto dos rios e córregos, como as capivaras, têm que procurar outros lugares. Nessa busca, muitos deles são atropelados, entram em brigas com animais diferentes, e é ai que a gente entra”, diz Roni Puglia, médico veterinário e diretor técnico da Associação Mata Ciliar, em relação ao trabalho da entidade no resgate de animais na região de Jundiaí. Os animais resgatados são de diversas espécies e tamanhos, passando de seriemas com as pernas quebradas, a veados órfãos que perderam a mãe em um dos grandes incêndios na Reserva Biológica da Serra do Japi. Com o desequilíbrio da natureza, que se encontra mais perceptível a cada ano, o número de atendimentos realizados pela Associação dobrou, passando de 5 a 10 atendimentos por dia, em relação ao restante do ano. “Com o aumen-

to dos animais atendidos, vimos nosso estoque se esvaziando. Não tínhamos mais soro, antibiótico, bebedouros, alimentos para os bichos e, muito menos, mão de obra”, conta Puglia. Para alimentar cerca de 80 filhotes de gambás frutos das queimadas, a associação pedia doações de alimentos específicos pois, de acordo com Puglia, existem espécies de bichos que não se adaptam tão facilmente a outro tipo de comida. “Depois de muitas pesquisas e testes, conseguimos descobrir o que cada animal preferia comer. Não é tão simples quanto parece. Para os filhotes de gambás, dávamos iogurte na seringa. Muita gente doou e fez questão de vir ajudar a alimentá-los.” Dezenas de caixas de ovos, mamadeiras, latas de leite em pó, seringas, antibióticos e outros muitos itens foram doados por pessoas em pouquíssimo tempo para que a reserva da associação fosse refeita o mais rápido possível. Camila Hernandez, estudante de biologia, conta que, quando soube da necessidade pela qual passava a entidade, não pensou duas vezes. “Assim que soube que os bichos estavam precisando de qualquer tipo de ajuda, passei no supermercado e comprei

legumes, verduras e frutas para poder ajudá-los.” Mesmo com as chuvas que se aproximam, os animais ainda correm perigo. A seca é um fator, mas não é o único ocasionador de queimadas em matas e florestas de toda a região. Limpezas de terrenos utilizando fogo, “bitucas” de cigarro acesas jogadas em coberturas vegetais são fatores indiretamente ligados à seca. Para que não se tornem

focos de incêndio na região da Serra do Japi, com parceria do Aeroclube de Jundiaí que sobrevoa a região, uma câmera foi instalada para identificar focos de incêndio e monitorar balões que se aproximam do local. Segundo o comandante da Guarda Municipal de Jundiaí, José Roberto Ferras, a câmera possui até cinco quilômetros de capacidade de foco e pode ajudar, e muito, no controle de acidentes.

Diretor técnico da associação Mata Ciliar e Médico Veteriário, Roni Puglia


Cidades

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Mulheres são 80% em cooperativas

Reciclagem de materiais recebe apoio da Prefeitura e da Unicamp; trabalho atrai ex-domésticas

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as compras públicas e facilitará as parcerias com o poder público. “Isso mudará a vida de muitos cooperados e pessoas que venha a entrar no Programa de Economia Solidária”, relata. A Economia Solidária surgiu na década de 70 com a intenção de consolidar pessoas que trabalhavam sem carteira assinada. Atualmente, existem na cidade 13 cooperativas e uma associação. Uma delas é contratada pela prefeitura, o restante, independente. “Ninguém sustenta essas cooperativas. Elas se mantêm. A renda é muito sazonal, não existe uma previsibilidade”, conta Eduardo Djanikian, economista e membro da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Unicamp (ITCP). O ITCP oferece suporte técnico, jurídico e pedagógico para as cooperativas de Campinas. A Cooperativa Bom Sucesso, onde Maria Cecília é também presidente, é incubada pelo ITCP. Lá, há 14 trabalhadores, sendo apenas dois homens. De acordo com Djanikian, as cooperativas tentam fomentar a própria organização, o que permite que as mulheres se-

Foto: Karina Danielle

Karina Danielle alante e com o sorriso sempre no rosto, Maria Cecília Mendes Correia dos Santos vive e trabalha na cooperativa de Reciclagem Bom Sucesso, no Conjunto Habitacional Vila Réggio, em Campinas, há 13 anos. Ela, assim como muitas outras mulheres, ganham seu sustento por meio da reciclagem. Segundo Ercindo Mariano Junior, coordenador da Economia Solidária, da Prefeitura, a cada dez pessoas que trabalham em uma cooperativa, oito são mulheres. Elas são responsáveis por fazer a triagem, separação e pesagem de todo o material entregue às cooperativas pela Prefeitura, a partir da coleta seletiva. Aprovada em primeira instância pela Câmara, a regulamentação do projeto Economia Solidária na cidade dá mais um passo na formalização do trabalho dos catadores. Isso representa um novo marco legal para a Economia Solidária, uma vez que a determinação jurídica ajudará no fomento e ações mais concretas sobre o programa. Ercindo Mariano Junior conta que ficará mais fácil de se concretizar

Rod. José Roberto Magalhães Teixeira, a 2 km da Rod. Dom Pedro I

A catadora Neusa Custodio faz triagem do papel que chega a cooperativa, no Conjunto Habitacional Vila Réggio

jam mais independentes, não tendo que se “sujeitar a certas regras”. “Elas se sentem mais tranquilas, por exemplo. Se ela precisa levar o filho à escola, não precisa se preocupar, porque não têm ponto para bater. Elas fazem o horário delas”, conta. Além disso, ele relata que, em algumas cooperativas, cada um faz o seu trabalho e um recebe por aquilo que faz, podendo ganhar mais do que ao trabalhar como doméstica. O salário de cada funcionário é atribuído com o valor recebi-

do durante todo o mês de material reciclado dividido pelas horas trabalhadas. Em algumas cooperativas, não há a presença de homens trabalhando. Em geral, o perfil das mulheres que trabalham nas cooperativas é de negra, entre 30 e 60 anos, que vieram do trabalho doméstico. Marinez Aparecida Amadeu trabalha há sete anos na cooperativa e, apesar das dificuldades, diz que ama o trabalho. “Quando eu entrei aqui,

estava com depressão. Eu amo o meu trabalho, não faria outra coisa”, diz. Programa A Economia Solidária funciona como um Programa Municipal, que fomenta empreendimentos com formação, investimento em equipamentos e máquinas, acompanhamento técnico. Segundo Mariano Junior, as pessoas procuram o departamento de Trabalho e Renda, e fazem o cadastro para participarem das feiras solidárias.

Acessibilidade

Restaurada, caravela não tem acessibilidade Elevador de acesso para pessoas com deficiência está em processo de licitação, segundo Prefeitura

Desde que foi inaugurada no dia 28 de setembro desse ano, a réplica da Nau Anunciação na Lagoa do Taquaral não possui nenhum recurso de acessibilidade para pessoas com deficiência, sejam rampas, elevadores, materiais de audiodescrição, intérpretes na Língua Brasileira de Sinais (Libras) ou placas e informativos em braile. A obra custou R$ 960 mil aos cofres públicos e levou 1 ano e 3 meses para ficar pronta. A restauração da embarcação foi feita pela Secretaria de Serviços Públicos da Prefeitura Municipal de Campinas, com projetos do arquiteto Nelson Machado e do designer de obras, Valter Cominato. Segundo Machado, a preocupação inicial do projeto era restaurar a nau e entregá-la o mais rápido possível. O segundo passo é construir uma cobertura

Foto: Bárbara Garcia

Bárbara Garcia Pedroso

Faltam também indicativos em braile e piso tátil, que permitiriam o acesso à atração para todas as pessoas

para o monumento de até 40 metros de altura que consiga proteger a caravela do sol e da chuva. Posteriormente será implantado um elevador que dará acesso ao convés principal, porém não é possível promover esse acesso no interior da nau, já que o acesso é feito por meio de escadas típicas dos marinheiros do

século XVI. A caravela é uma replica da embarcação Assunção que trouxe Pedro Álvares Cabral às terras brasileiras em 1500 - e se as escadas fossem retiradas, segundo Machado, o caráter alegórico da réplica se perderia. O elevador já está em processo de licitação e deve ser implantado ainda até o final deste ano. Depois

da implantação do elevador e da cobertura, está prevista a construção de um museu naval próximo a caravela, com acervos de fotos e dados sobre o tema, além de utensílios que os portugueses carregavam nos navios da época como cordas, ancoras, tonéis, baús e pratos. Machado garante que o pro-

jeto do museu contará com materiais em braile e com intérpretes de Libras. A norma regulatória NBR 9050 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) estabelece parâmetros para construção de edifícios e dispositivos acessíveis e define que acessibilidade é “possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização com segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos.” A secretária da pasta da Pessoa com Deficiencia em Campinas, Emmanuelle Alckimin Leão informou que a entidade utiliza essa norma regulatória para nortear seus projetos e exigências. Emmanuelle acredita que o elevador é a opção mais viável para dar acesso à caravela. “Precisamos estar atentos em busca da inclusão efetiva”, afirma.


Literatura

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Sebos virtuais encarecem livro usado Mesmo com a facilidade de compra pela internet, custos são repassados ao consumidor Foto: Bruna Gomes

Bruna Gomes

O

s sebos de Campinas estão adentrando o mundo virtual. Com o avanço das tecnologias, os sebos passaram a aderir a um novo serviço: disponibilizar seus acervos em sites para venda de seus produtos. Para a proprietária do sebo Galpão Livros, Juliana Freitas, atualizar esse tipo de comércio é uma necessidade. “Nós trabalhamos em duas vertentes. Apesar da virtualização, mantemos dois acervos: um para os livros vendidos na internet e outro exclusivo para a loja física, para que a cultura dos sebos seja mantida”. A loja localizada no distrito de Barão Geraldo, em Campinas, foi aberta em 2000 e, desde então, recebe muitos clientes em busca de livros usados, principalmente estudantes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), localizadas próximas à loja. Um dos sites mais co-

Antonio Bueno, proprietário há 21 anos do sebo Valise de Cronópio, localizado no distrito de Barão Geraldo

nhecidos e há mais tempo no mercado é a Estante Virtual, criado em 2005 com a intenção de reunir em um só lugar os sebos de todo o país. Na cidade, grande parte dos sebos já aderiu ao e-commerce e, apesar do aumento significativo nas vendas após a adesão, seus proprietários dizem não estar satisfeitos com o serviço oferecido pelo site. “Acho algumas posturas bem positivas, mas ficamos dependentes do serviço, porque

não tem outro site que ofereça tudo que eles oferecem. A empresa usa o discurso de parceria com os donos de sebos, mas as medidas com relação aos preços são sempre muito impositivas”, disse Antônio Bueno, proprietário do sebo Valise de Cronópio há 21 anos e usuário do site Estante Virtual há seis. As reclamações por parte dos donos de sebos sobre as altas taxas cobradas pelo site começaram, pois a grande maioria deles se viu

obrigado a aumentar o valor dos produtos. “Tivemos que aumentar o preço dos livros, porque quase 20% do valor ia para a Estante Virtual e para o Paypal. Não estava compensando vender um produto com um preço muito baixo.” Outro site que está começando a ser reconhecido por este tipo de serviço é o Livronauta, no ar desde 2010 e criado por um grupo de donos de sebos. De acordo com Jorge

Normaton, proprietário do sebo Curupira há 15 anos, o site Livronauta é uma das promessas para um serviço mais justo e melhorado, pois, segundo ele, as taxas cobradas pelo site não são abusivas e, desta forma, não é preciso aumentar o preço dos livros vendidos. Quando questionados sobre a cobrança de altas taxas e sobre a não disponibilidade de um telefone para atendimento ao cliente, a empresa Estante Virtual disse não ter disponibilidade para responder à entrevista ao Saiba+. Embora os sebos ainda funcionem como fonte de renda para muitos comerciantes, houve uma nítida queda nos lucros desse tipo de livraria. Para Bueno, os preços dos livros aumentaram e perderam o charme que antes possuíam. “Antigamente você ia ao sebo, garimpava e descobria tesouros. Mas hoje, embora as pessoas continuem lendo na internet e coisas em geral, os livros são menos lidos com certeza. Antes o passatempo das pessoas era, principalmente, a leitura.”

Cai número de usuários em bibliotecas públicas Embora mais leitores tenham se cadastrado nas unidades da cidade, volume de empréstimo de livros diminuiu até 34% desde 2007

Com o constante crescimento da tecnologia e a facilidade de acesso às informações via internet, as principais bibliotecas públicas de Campinas sentiram uma queda radical no movimento, principalmente para pesquisas escolares. Só para citar um exemplo, em 2007, a Biblioteca Pública Ernesto Manoel Zink, no Centro, tinha 1.692 usuários cadastrados e registrou 19.012 empréstimos de livros, segundo dados da Secretaria de Cultura do Estado. Já no ano passado, com 12.534 cadastros, a biblioteca realizou 14.250 empréstimos, ou seja, mesmo com o número de cadastros tendo aumentado mais de dez vezes, os empréstimos diminuíram. O crescimento de cadastro foi de 641%. As retiradas de livros por usuários reduziram em aproximadamente 34%. O bibliotecário João Henrique Cuelbas afirma que, há cerca de 10 anos, o movimento era maior, pois muitos estudantes, principalmente de escolas sem acervo bibliográfico, procuravam o local para realizar trabalhos.

Foto: Mona Carolina Moreno

Mona Carolina Moreno

Biblioteca Municipal, no Centro, recebe cerca de 2 mil pessoas por ano

Apesar dessa queda, a movimentação nesses locais ainda é significativa. A Biblioteca Pública, que fica ao lado da Prefeitura, recebe, por ano, cerca de 2 mil pessoas, de acordo com Cuelbas. Já a Biblioteca Pública “Guilherme de Almeida”, localiza-

da no Distrito de Sousas, tem atualmente 2.637 usuários cadastrados, segundo Adriano Bueno, bibliotecário do local. “Mantemos o cadastro em constante atualização, recadastrando usuários mais antigos e descartando cadastros não ativos. No total,

temos entre 10 mil a 12 mil usuários cadastrados para empréstimo de livros”, diz. A fim de evitar a precariedade que pode ser encontrada em muitas bibliotecas do país, como falta de funcionários e prédios com estruturas inadequadas, há em Campinas um esforço para manter um acervo atualizado de acordo com o interesse do público alvo. “Todo ano encaminhamos listas para compras de materiais que julgamos necessários ao acervo. Alguns anos conseguimos e em outros, não. Além de compra com recursos municipais, recebemos doações para compra e até acervos via projetos com os governos estadual e federal”, conta Cuelbas. As doações de livros para o acervo são quase diárias, mas nem todos chegam em boas condições de uso. “Geralmente, tem pouco aproveitamento, mas há aqueles doadores frequentes, que são também usuários da biblioteca. Eles compram livros novos e assinam revistas, leem e depois doam, mas essa situação acontece em menor escala”, explica Cuelbas.

Outro problema enfrentado pelas bibliotecas é o chamado “empréstimo permanente”, exemplares que depois de emprestados não retornam mais. Por isso, os acervos procuram sempre repor os livros que foram perdidos ou aqueles que estiverem em pior estado, a fim de fidelizar o seu usuário, permitindo que sempre haja títulos disponíveis para consulta. O maior desafio das bibliotecas é voltar a ser referência para consultas de acadêmicas e para o lazer. No Distrito de Sousas, que tem 20 mil habitantes, cerca de 20 pessoas entram na biblioteca “Guilherme de Almeida” por dia, o que representa 0,1% da população do local. Na Ernesto Zink, o número de visitantes chega até a 350 por dia. Para o Cuelbas, as novas tecnologias contribuem para esse número pequeno de visitantes em uma cidade com mais de 1 milhão de habitantes. “Com o advento e massificação do acesso à internet, o público migrou das máquinas de xerox das bibliotecas para as “Wikipedias” da vida”, conta.


Saúde

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Lei obriga alerta contra anabolizantes Informações devem ser sinalizadas em cartazes nas academias; descumprimento gera multa

Foto:Marília Gabriela Simão

Marília Gabriela Simão

A

cademias de ginástica e quaisquer outros comércios de Campinas ligados ao esporte serão obrigados, desde de 21 de novembro, a fixar em seus estabelecimentos cartazes que divulguem informações dos riscos e danos que o uso de anabolizantes pode acarretar. Neles, deverá estar inserida a frase: “O uso de anabolizantes causa danos à saúde e dependência química”. A determinação foi divulgada no Diário Oficial do Município, lançado pela Prefeitura de Campinas em 21 de outubro por meio do decreto nº 18.523, que regulamenta uma lei que já está vigor desde 2010. A partir dessa data, os locais têm 30 dias para viabilizar em seus estabelecimentos os avisos, com a intenção de chamar atenção dos frequentadores. As placas informativas, de acordo com a lei, devem possuir, no mínimo, 15cm de largura por 22cm de altura, com fundo branco e letras na cor preta e Arial Black tamanho 32, podendo ser confeccionado em adesivo. Além disso, devem ser fixadas em locais visíveis. Uma brecha, no entanto, que é possível verificar na lei é o fato de não haver determinação de quantas dessas placas devem ser instaladas nas academias, uma vez que esses estabelecimentos podem ter tamanhos muito diferentes. Segundo a Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) de Campinas, todos os locais receberão uma notificação da obrigatoriedade que deverá ser cumprida no prazo de 10 dias. Aqueles que não cumprirem com a responsabilidade no prazo determinado, estarão sujeitos a pagar uma multa no valor de R$ 525,54. A reincidência da notificação levará a multa a ser dobrada. A mesma lei já existe em cidades no Paraná e no Distrito Federal, onde estão em vigor desde 2013. A fiscalização será realizada de forma periódica pelo Procon, seguindo uma agenda de datas e locais estabelecidas por ele. O órgão ainda orienta que os consumidores que notarem o não cumprimento da lei por parte dos estabelecimen-

”O uso de anabolizantes causa danos à saúde e dependência química”, diz o aviso que deve ser colocado em todas as academias de Campinas

tos, devem denunciar pelo telefone 151 ou pelo site do órgão para que os fiscais façam a fiscalização devida. O educador físico Gabriel de Almeida Sambo trabalha como instrutor na academia Tribos do Corpo, na Chácara Primavera, que já está de acordo com a lei. Ele afirma que essa obrigatoriedade surge como uma forma de ressaltar o trabalho que os educadores físicos já realizam nas academias. “O nosso papel é orientar as pessoas dos malefícios que

aproximadamente 75% no Brasil. Para a nutricionista funcional Ana Paula Ricciarelli, esse aumento está ligado ao estereótipo de beleza presente na sociedade. “O ideal do ‘corpo perfeito’, impulsionado pelas redes sociais, cria nos adolescentes uma preocupação com o físico que pode seguir dois caminhos: ou ele busca um profissional para ter acompanhamento a fim de conseguir alcançar seus objetivos sem colocar sua vida em risco, ou, em casos mais

academias”, comenta. A professora Maria Edileine Tizato tem 47 anos e frequenta academia desde os 15. Ela acredita que os informativos possam chocar uma minoria das pessoas que praticam musculação e não atingirão aqueles que já fazem uso dos anabolizantes. “Eu entendo que esses cartazes espalhados não vão ajudar em muita coisa e talvez não atinjam o objetivo. As informações sempre estiveram disponíveis, e hoje ainda mais. Não

Para um adolescente que está em fase de desenvolvimento, os riscos [dos anabolizantes] são ainda maiores esse tipo de droga pode trazer. Como todo profissional dessa área, nosso objetivo é zelar pela saúde”, explica. “Não há normas nas academias que nos obriguem a cumprir esse papel. Na realidade, nós apenas seguimos o princípio de ética dos educadores físicos que é criar a conscientização”, acrescenta. Crescimento Um estudo realizado em 2013 pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostrou que, somente nos últimos seis anos, o uso de anabolizantes cresceu

graves, ele busca informações na internet, local de acesso fácil e assim faz uso indiscriminado dos anabolizantes, podendo colocar em risco a saúde”, explica. A nutricionista ainda acredita que, apesar de ser uma medida importante, são necessários outros artifícios para que aqueles que usam anabolizantes e aqueles que têm intenção de usá-los conheçam o real perigo da droga. “Não acho que apenas o cartaz irá causar grande impacto nas pessoas; deveriam existir outras abordagens, como campanhas de conscientização, por exemplo. E isso também não deveria ser obrigatório somente em

é um assunto novo. Eles vão funcionar como aquelas fotos presentes nos maços de cigarro: espanta quem não é fumante, mas pra quem fuma, não faz a mínima diferença”, explica. Já o estudante Vinicius Mamede, 22, entende que essa pode ser uma maneira eficaz de se chamar atenção. Ele treina musculação há apenas 3 meses e confessa já ter pensado em fazer uso de anabolizantes. “Quando a gente começa a treinar ouve de várias pessoas que os anabolizantes fazem mal, inclusive dos professores. Acredito que essa informação logo ‘de cara’ todos os dias quando estamos treinando nos ajuda a fixar a

ideia e pensar em todos os malefícios que pode causar e desistir de usá-los. Pode funcionar com poucos, a princípio, mas com certeza é um começo”, afirma. Os riscos Os anabolizantes são a sedutora promessa de ganho rápido de massa muscular. Isso acontece, pois eles contêm progesterona (hormônio feminino) e testosterona (hormônio masculino). Por causarem alterações hormonais, Ana Paula alerta que os efeitos colaterais do mau uso são diferentes para homens e mulheres. Ela afirma que as complicações mais graves para o sexo masculino podem ser impotência, dificuldade ou dor para urinar, infertilidade, calvície e diminuição dos testículos. Nas mulheres pode ocorrer o aumento de pelos faciais, alterações ou ausência de ciclo menstrual, diminuição dos seios, entre outras. “Para um adolescente que está em fase de desenvolvimento, os riscos são ainda maiores, pois o uso em excesso gera complicações como maturação óssea precoce, puberdade acelerada, comprometendo assim o desenvolvimento natural. Além de todos esses riscos há chance de adquirir hepatite ou até mesmo AIDS, pelo uso das seringas, ao passo que a origem dessa droga pode não ser segura e, ainda, que não tenha passado por fiscalização”, finaliza.


Saúde

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Doações de sangue já começam a cair Por causa dos feriados e proximidade com as férias, estoque do Hemocentro fica prejudicado

Ananda Porto

N

esta época do ano, é comum despertar nas pessoas a importância e a vontade de ajudar ao próximo. Sendo assim, é no período do Natal e Ano Novo em que acontecem diversas doações materiais, mas é necessário também lembrar-se da saúde. Nessas datas, também acontecem acidentes e pessoas precisam de doações de sangue, porém o hemocentro carece de doadores. “Em época de férias, feriados prolongados, períodos frios e chuvosos, e também nas festas de final de ano, as pessoas esquecem-se de doar sangue”, afirma a assistente social Mônica Meirelles, da Captação de Doadores do Hemocentro da Unicamp. Esse déficit é preocupante, uma vez que as doações de sangue ajudam a salvar vidas. Para Mônica, a doação é importante em qualquer época do ano, porque a manutenção do estoque pode oscilar rapidamente. Para evitar uma queda no estoque, o Hemocentro trabalha com campanhas de incen-

tivo à doação, sendo a mais recente delas a do dia 25 de novembro, dia do doador de sangue. Os homens podem doar sangue a cada 60 dias e, no máximo, quatro vezes ao ano. As mulheres podem doar a cada 90 dias e, no máximo, três vezes ao ano. Esses dados valem para quem tem entre 18 e 59 anos. Quem tem entre 60 e 69, pode doar, independente do sexo, a cada 180 dias, mas apenas duas vezes ao ano. O registro é que neste ano, as unidades que pertencem ao Hemocentro da Unicamp receberam cerca de 103,2 mil doadores e 76,8 mil bolsas. Esse número vem se mantendo ao longo dos anos, mas é pouco maior, se considerado apenas em relação ao ano passado, em que se registraram o número de 73 mil bolsas no mesmo período. Por mês, as unidades obtêm uma marca de 5,7 mil bolsas, valor considerado dentro da meta para não apresentar nenhum problema em relação ao estoque. “Cada paciente precisa de um componente de sangue, o mais utilizado são as pla-

quetas e elas têm a durabilidade de apenas três a cinco dias. Então, aí você percebe a necessidade de ter o estoque sempre em dia, pois hoje você pode estar com o estoque bom, mas amanhã pode ser que mude e não esteja mais. Exatamente por isso precisamos de doadores que venham com frequência. O ideal não é que o doador doe apenas uma vez na vida, ou uma vez por ano, mas que faça a doação com periodicidade.” A moradora de Campinas Kalinca Ferreira, de 35 anos, doa sangue desde a adolescência. “Comecei a doar quando eu tinha 18 anos, sabendo da importância da doação e de ajudar ao próximo. Nós nunca sabemos o dia de amanhã. Hoje alguém precisa e amanhã pode ser que esse alguém seja você ou algum parente. Tem muita gente precisando de transfusão de sangue. Enquanto eu puder, eu vou ajudar. Incentivo meus amigos, pois é um hábito culturalmente inserido na minha criação e infelizmente esquecido por muita gente.”

Horário de funcionamento: De segunda a sábado, também nos feriados. Exceto aos domingos, Natal e Ano Novo. Quem pode doar? -Ter entre 18 e 69 anos. Serão aceitos candidatos à doação e sangue com idade de 16 e 17 anos, com o consentimento formal e presencial do responsável legal, para cada doação. - Maiores de 60 anos não podem realizar a doação pela primeira vez. -Pesar, no mínimo, 50 kg. -Não estar em jejum, apenas evitar alimentos gordurosos e, após o almoço, aguardar três horas. - Estar descansado. - Não fumar até duas horas antes e duas horas depois da doação. - Apresentar documento de identificação e endereço completo. Quem não pode doar? - Estiver com gripe, resfriado ou infecção acompanhado de febre. - For portador de sífilis (cancro), malária (maleita) ou doença de Chagas. - For alcoólatra crônico, ou tenha ingerido bebida alcóolica nas últimas 12 horas. - Tiver sido exposto a situações de risco para doenças sexualmente transmissíveis - História atual ou pregressa de uso de drogas injetáveis ilícitas. - Tenha contraído Hepatite após os 11 anos de idade. - Tenha realizado endoscopia há menos de 6 meses. - Estiver grávida, em período de até três meses pós -parto ou se estiver amamentando

Combustível

Valinhos tem a gasolina mais barata da RMC Aumento causa transtorno na rotina do consumidor que tenta se adaptar aos novos preços; valor mais alta está em Indaiatuba

Durante o mês de novembro, consumidores de combustível tiveram uma surpresa. Só na Região Metropolitana de Campinas (RMC), o preço da gasolina subiu 3% e do diesel 5%. Na região, o combustível mais barato foi encontrado em Valinhos e o mais caro, em Indaiatuba. O professor de Economia da PUC-Campinas, Cândido Filho, afirma que o preço do combustível varia de local para local a partir da concorrência e da cultura mercadológica do local. Segundo ele, os preços atualmente não refletem os custos da Petrobrás, que, em alguns casos, tem prejuízos. A razão do aumento seria a diminuição desse déficit. “Esse aumento deveria ter acontecido antes. Não aconteceu por conta da inflação”. O professor afirma acreditar que não ocorrerão novos reajustes, mas que isto não depende do governo. Se o mercado internacional continuar a subir, a Petrobrás deverá repassar o

aumento para o mercado interno também. Mesmo que o consumidor procure alternativas mais econômicas, deve-se ter atenção quanto à qualidade do produto que é colocado no automóvel, pois um combustível de má qualidade pode causar danos ao veículo. Segundo Edson Berger, proprietário de um posto, além do mau funcionamento, a má qualidade pode causar também perda no rendimento, fazendo-o consumir mais combustível, danificar peças internas do motor e bicos injetores, o que pode trazer grandes prejuízos ao proprietário. “É preciso ficar atento quanto à qualidade, ter um posto de confiança, pois o barato pode acabar saindo mais caro”, afirma o empresário. Ainda assim, o consumidor procura economizar. Erika Castanho acredita que o preço sofreu pela mudança na própria economia que está cada vez mais enfraquecida com déficit maior. Para ela, o governo liberou

Foto: Raíssa Bazzo

Raíssa Bazzo

Cliente abastece carro em posto de Valinhos, onde o preço da gasolina ainda está abaixo de R$ 2,90

aumentos já que não houve mudança na presidência. Erika está gastando menos dinheiro com produtos supérfluos e investindo mais em suas necessidades. “Acabo sempre refletindo mais antes de sair na região e também antes de viajar. Planejo as viagens em grupo para dividir o custo com gasolina”. Além disso, ela ainda optou pela troca por um veículo

mais econômico, mas mesmo ainda se recusa a usar transporte público. O ministro da fazenda Guido Mantega afirmou para o portal de notícias da Globo, o G1, que o preço ainda tende a subir mais. “Essa é uma decisão da Petrobras. Embora o preço da gasolina no Brasil esteja maior agora do que nos Estados Unidos, isso não quer

dizer que a empresa vai deixar de fazer algum aumento. Havia defasagem. Agora não há defasagem. Agora [um eventual aumento] é em benefício da Petrobras. O preço da gasolina está mais alto. Então, a Petrobras está ganhando com isso. Mas isso não significa que não haverá aumento. Isso é uma decisão da empresa”, declarou ele a jornalistas.


Lazer

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Cicloturismo garante sustentabilidade Grupos pedalam entre 80 e 100 quilômetros por dia e cruzam o estado num fim de semana

Danilo Christofolletti

O

vento corta o rosto. O som é transitório, muda com o passar dos quilômetros. Por vezes é o canto dos pássaros ou então das cigarras. Em outra oportunidade é o barulho das suspensões de carros e caminhões, ao longo de uma estrada que parece não ter fim. Tudo desaparece no cérebro. Só importa levar uma perna frente à outra, esperando a próxima parada. Quando a parada finalmente chega, a cabeça pode se expandir e aproveitar as novidades do novo local. Esse é o cicloturismo. O interior de São Paulo possui vários grupos praticantes dessa forma de turismo. Em Rio Claro (a 100 quilômetros de Campinas), existem três grupos, que, por sua vez, mantém contatos com grupos de Araras, Piracicaba, Limeira e Valinhos. Composto por atletas profissionais e praticantes de fim de semana, os grupos pedalam entre 80 e 100 quilômetros por dia e cruzam o Estado em apenas dois dias. No caso de atletas profissionais, pedala-se até 150 quilômetros ininterruptos, a que se segue uma hora de descanso antes de retornar às pedaladas. Alguns integrantes saem domingo de manhã e retornam ao anoitecer. Nesses casos, são cerca de 80 quilômetros entre uma parada de uma hora e outra. Alguns praticantes passam o final de semana inteiro fora, saem na sexta e retornam apenas no domingo. É o caso de Ricardo Alves, de 44 anos, personal trainer em uma academia de Rio Claro e triatleta. Ele

costuma aventurar-se pelo País de bicicleta, partindo na sexta após o trabalho e retornando no domingo à noite. Dessa maneira, já saiu de Rio Claro para conhecer Campos de Jordão, no Vale do Paraíba, Gramado (RS), Canela (RS), Ouro Preto (MG), Pirassununga e várias outras cidades do interior paulista. “Andar de bicicleta é uma atividade maravilhosa. Usá-la para conhecer o mundo, então, nem se fala. Gasto de R$ 300 a 400 apenas, pois levo barraca e acampo pelo caminho. Não gasto com combustível e hospedagem e não poluo o meio ambiente.” Outro praticante, Alex Husni, de 45 anos, empresário, gosta de viajar para Minas Gerais. Partindo de bicicleta, já conheceu Ouro Preto, Belo Horizonte, Monte Verde, Planura e outras cidades. “Antigamente, eu era atleta profissional. Meus patrocinadores me pagavam para participar de disputas e eu gostava de treinar indo para outras cidades. Depois que parei e abri meu restaurante, não consegui mais viver sem isso.” Os trajetos são percorridos por caminhos no meio de matas, entre canaviais, estradas não pavimentadas e, na maioria dos casos quando o atleta vai para cidades mais distantes, pelas rodovias. Nesse caso, só se pedala pelo acostamento. O baixo custo, a experiência aventureira e o benefício para saúde fizeram com que esses grupos crescessem e atraíssem cada vez mais membros. Porém, nem sempre a atividade é compreendida. Alves aca-

Fotos: Danilo Christofoletti

Grupo de ciclistas percorre Estado, por meio de estradas e trilhas: turismo sustentável, saúde e bem-estar

bou se separando da mulher em decorrência de sua atividade: “Trabalhava a semana inteira e quando chegava o fim de semana, eu me ausentava. Gostaria que ela fosse junto, mas não era muito interessada em esportes. Acabou desgastando a relação.” Para praticar a modalidade, são necessárias algumas precauções para não sofrer contratempos na estrada como kits de reparo de câmaras de ar, ferramentas de ajustes e manutenção de freio, entre outras peças da bicicleta. Tudo isso é levado em mochilas, que variam entre 10 e 50 quilos, dependendo do nível do praticante e da distância a ser percorrida. Os diversos grupos espalhados por varias cidades do Brasil geralmente marcam eventos, passeios e viagens através de redes sociais, combinando data e horário e apresentando todo o roteiro da viagem.

Trajetos do grupo de ciclistas chegam a ultrapassar os 300 km e o preço fica em torno de R$ 100 por pessoa

Tentativa de vencer desafios No começo do ano, em fevereiro, foi publicada uma notícia na imprensa rio-clarense, falando sobre uma pedreira, localizada dentro da Floresta Estadual Edmundo Navarro, existente entre as cidades de Rio Claro, Araras, Limeira e Cordeirópolis. A notícia trazia a informação de pessoas que morreram afogadas na pedreira. Ao melhor estilo do filme “Stand by Me”, do diretor Rob Reiner, eu, dois primos e um amigo resolvemos conferir a tal pedreira e, como não havia meio de se chegar de carro, fomos os quatro de bicicleta. Entramos na floresta em um domingo, às 6 horas da manhã. Perdemos-nos e ficamos rodando de bicicleta até meio-dia, quando já estávamos ficando exaustos. Foi nesse momento que um grupo de cicloturistas de Araras nos encontrou (estávamos em Araras, 20 km de onde saímos). Com a maior boa vontade, saíram de sua rota e nos guiaram de volta. Desde então, me interessei e mantive contato com os membros do grupo, o que me levou a conhecer outros grupos de cicloturismo. Para fazer essa reportagem, acompanhei dois grupos, um de Araras e outro de Rio Claro, durante cinco finais de semana. Em duas oportunidades, arrisquei a ir pedalando. Na primeira oportunidade, aguentei um trajeto até Piracicaba, somando 32 quilômetros e parei por aí. Na segunda tentativa, fiz um tour por dentro das florestas e matas da região, percorrendo cidades como Araras, Ipeúna, Cordeirópolis e Rio Claro. Ao fim, pedalei 50 quilômetros e foi o meu máximo. Nas outras vezes, acompanhei de carro, pois a distância era muita. O lugar mais longe que acompanhei foi até Colômbia, na divisa com Minas Gerais. O grupo seguiu para o Estado de Minas e eu retornei. Conheci lugares encantadores e pessoas muito interessantes. A viagem na bicicleta é revigorante e a sensação de ter o objetivo atingido não tem preço.


Cidades

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Bicicletas ainda são pouco utilizadas Falta de segurança e de trechos interligados desestimula o uso tanto para transporte quanto

Foto: Jaqueline Zanoveli

Jaquelina Zanoveli

A

pesar de ser uma alternativa ao trânsito caótico de carros, as bicicletas ainda são pouco utilizadas pela população de Campinas, tanto para transporte quanto para lazer. Em uma cidade com mais de um milhão de habitantes, cerca de 1,2 pessoas circulam pela ciclofaixa de lazer do Taquaral/ Norte-Sul aos domingos, segundo Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), o que representa aproximadamente 0,1% da população. Com uma frota de carros de mais de 500 mil automóveis, a cidade carece de vias alternativas que desafoguem o trânsito. Denis Rodrigues pedala desde os 13 anos e participa há mais de seis do grupo Domingueiras Bike, que promove passeios pelas trilhas da região. Mesmo experiente e equipado, o lojista não se arrisca a usar a bicicleta para ir ao trabalho. “Às vezes eu saio à noite, ou estou carregando muito material. Se tivesse uma ciclovia sinalizada e com segurança, eu usaria”, conta o ciclista. Além da ciclovia, outro ponto de questionamento por parte dos ciclistas é a ciclofaixa de lazer, que funciona aos domingos entre a Lagoa do Taquaral e o viaduto São Paulo (Laurão), incluindo o Kartódromo, a Praça Arautos da Paz e a Avenida Norte-Sul. “Se ameaçar uma chuva ou qualquer outra coisa, é motivo para não abrir [a ciclofaixa]. Além disso, existe um

Ciclistas circulam na ciclofaixa de lazer no domingo próximo ao balão da Bela Vista: poucos usuários e trânsito intenso geram críticas

nível de segurança baixo. Isso desestimula as pessoas a frequentarem”, comenta Denis. “Com todo o dinheiro gasto em dois anos de funcionamento da ciclofaixa, daria para construir uma definitiva.” O ciclista e bancário Eduardo Gomez concorda, nesse aspecto, com Rodrigues. “Não acho que a ciclofaixa de lazer funcione bem, porque ela ocupa espaço demais, ocupa o espaço de uma via inteira, ao invés de ter uma faixa permanente”, conta Gomez. Definindo-se como cicloativista, ou seja, atuante na reivindicação e nas discussões sobre planos cicloviários para a cidade, Gomez acompanhou a construção da ciclofaixa de lazer e reforça a afir-

Entenda Ciclovia Pista para uso exclusivo de tráfego de bicicletas, onde há uma separação física isolando os ciclistas dos demais veículos. A separação pode ser através de mureta, meio fio, grade, blocos de concreto ou outro tipo de isolamento fixo. Possui sinalização vertical e horizontal, como placas e pintura de solo. Pode estar situada na calçada, no canteiro central ou na própria pista por onde circula o tráfego geral.

mação de que os custos poderiam ter sido utilizados de outra maneira. “Daria para ter construído a ciclovia”, diz o bancário. Quando questionada sobre o assunto, a Assessoria de Comunicação da Emdec afirmou que os recursos para a ciclofaixa de lazer e para as ciclovias são diferentes e passam por diversas gestões. “A atual Administração municipal mantém as ciclofaixas de lazer, mas prioriza a implantação de ciclovias, para expansão da bicicleta como meio de transporte. É fato que esses recursos conferiram lazer ao campineiro e fomentaram o uso da bicicleta, opção mais sustentável de deslocamento”, afirma a assessoria.

Gomez é um dos ciclistas que utilizam a bicicleta como meio de transporte. “Percorro de 10 a 11 km de segunda a sexta. Eu saio do Extra Abolição, passo pela Princesa D’Oeste, Aquidabã, José Paulino e paro ali perto do Corpo de Bombeiros [do Centro]. Nenhum desses locais tem ciclovia”, conta o ciclista. Para ele, quem opta pela bicicleta deve se incorporar ao trânsito e seguir o fluxo como se fosse uma moto ou carro, sem nunca esquecer o equipamento de segurança. “No trânsito, o ciclista é o menos protegido. Com fechadas e falta de respeito, eu convivo todos os dias.” O Plano Cicloviário pretende instalar até o final desse ano mais 14

quilômetros de ciclovias. Segundo a assessoria da Emdec, os locais de implantação estão sendo estudados junto com cicloativistas e debatidos com a comunidade. “Vale destacar que o projeto do prefeito Jonas Donizette é estimular que a bicicleta seja utilizada como forma de pequenos deslocamentos, no município”, afirma a assessoria.

Estímulo Para os cicloativistas, a melhora no funcionamento e a construção de mais ciclovias estimularia o uso por mais pessoas. “Se houvesse um número maior de ciclovias, mais segurança, mais interligações entre parques, o número de usuários ia aumentar. Realmente são poucos usuários em comparação com o número de Ciclofaixa carros”, diz Rodrigues. “A gente pede a construção Locais em que há apenas uma faixa pintada no chão, das ciclovias nas princisem separação física de qualquer tipo (inclusive co- pais vias, que são locais em que há espaço. Falta nes ou cavaletes). Utiliza a estrutura viária existente vontade política”, finaliza e normalmente situa-se nas bordas da pista por onde Gomez.

circula o tráfego geral.

Ciclofaixa de Lazer Faixas de tráfego situadas no canteiro central ou à esquerda da via onde é permitida a circulação de ciclistas em determinado dia da semana (normalmente aos domingos), que possui sinalização vertical e horizontal. São totalmente separadas do tráfego geral por objetos como cones e cavaletes.


Turismo

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Já pensou em viajar para a Bolívia?

Com custo baixo, país pode ser uma opção de lazer para quem gosta de história e diversidade étnica Fotos: King Chong

Sérgio Moreira Júnior

S

ão cerca de três horas para chegar a um dos destinos menos procurados pelos brasileiros na América do Sul, mas que pode surpreender já pelo nome oficial: Estado Plurinacional da Bolívia. “Plurinacional” é uma boa palavra para definir toda a cultura espalhada por seus 1.098.581 quilômetros quadrados. O território nacional é subdividido em nove departamentos, todos com peculiaridades distintas. Segundo Paola Senseve Tejada, pedagoga, escritora e guia turístico em Santa Cruz de la Sierra, num dos pontos mais importantes da Bolívia, pode-se desfrutar de diversas situações climáticas durante a estada no País. É possível, na mesma época do ano, encontrar frio, calor, muita e pouca umidade. Essa variedade climática se deve muito ao relevo boliviano “Santa Cruz é muito quente e úmida, estamos ao leste das montanhas, somente 400 metros acima do nível do mar e longe dele”, diz Paola. A Cordilheira dos Andes é o grande divisor climático no país, constituída de uma cadeia dupla. Entre elas, forma-se o Altiplano – um planalto com 3,7 mil metros acima do nível do mar – onde se encontram os grandes centros políticos e turísticos da Bolívia, La Paz (capital econômica), Sucre (capital política) e Potosí. Em Santa Cruz de la Sierra (onde descem a maioria dos brasileiros que visitam a Bolívia), o turismo se baseia no comércio e nas construções feitas durante a colonização espanhola que durou do século XVI até o início do século XIX. A moeda do país é o “Boliviano-bs”, que se encontra desvalorizado em relação ao Real. Com a moeda do Brasil, é possível comprar 3bs. Em meio à cidade de La Paz, é possível encontrar grandes belezas naturais. Um roteiro recomendável é ser conduzido ao teleférico mais alto do mundo, no centro de La Paz, que tem mais de 11 km de extensão e está a 4000 metros acima do nível do mar. Recémconstruído, ele leva para o Vale de la Luna, um território deformado por erosões eólicas, criando, assim, uma belíssima paisagem em meio ao transito frenético da ci-

Tiwanaku, sítio arqueológico pré-cambriano, é centro de referência espiritual e importante resquício do império inca próximo à capital, La Paz

dade. É possível ter acesso ao local com 30bs (cerca de R$ 10,00). A cidade de La Paz é um vale profundo nas alturas, quando se atinge os 3,6 mil metros de altitude abre-se uma clareira com aproximadamente 2 milhões de habitantes. Segundo Carlos Minaga, guia turístico em La Paz há 26 anos, a cidade é o topo de um vulcão inativo há 100 anos. “Para conhecer realmente a origem da história latino-americana é necessário conhecer o altiplano e respirar toda a origem inca do povo dos Andes, além de lá se encontrarem as belezas naturais bolivianas”, explica Paola. Saindo da clareira e visitando a parte superior que circunda a cidade, pode-se encontrar uma vegetação rasteira e uma paisagem montanhosa. Bem diferente do clima ocidental do país, o frio impera com temperaturas que variam entre 0°C e 18°C. A 70km de La Paz, se encontra o sítio arqueológico Tiwanaku, o mais importante resquício pré-colombiano situado na Bolívia. Precursor do império Inca, foi a capital administrativa e espiritual de um grande poder regional por mais de cinco séculos (1500 a.C até 1200 d.C.). As ruínas da cidade inca podem ser visitadas por 80bs (cerca de R$ 30,00), é uma viagem de cansativa cerca de cinco horas cami-

nhando entre os museus e as ruínas da civilização ancestral extinta. Segundo Minaga, Tiwanaku era um centro de convergência energética, além de abrigar diversos povos diferentes, não somente os incas. Há 15km de Tiwanaku, pode-se visitar o lago Titicaca, histórica fonte de hídrica para toda a região do Altiplano, a agricultura e a pecuária de Tiwanaku era completamente ligada ao lago. Em Potosí, se encontra o Salar de Uyuni, ainda no altiplano. É o maior deserto de sal do mundo com mais de 10 mil quilômetros quadrados. A incrível beleza natural do salar foi criada a partir das modificações de lagos

pre-históricos. “É uma paisagem infinita, no início do verão se forma uma camada de água de 30 cm e o céu se mistura com o sal e tudo se reflete”, diz Minaga. Os brasileiros que ingressam no país devem ficar atentos a alguns pontos. Pelo fato do Brasil possuir uma situação financeira melhor que a Bolívia, os nativos tentam a extorsão a todo momento. A polícia é corrupta com os turistas e os comerciantes, assim como taxistas, querem sempre tirar proveito da situação. Nas lojas das cidades turísticas mais visitados não há preços nas vitrines e nos produtos expostos, é decidido na hora o quanto se deve pagar.

A Bolívia é um ótimo país para turista que querem conhecer a história dos povos pré-cambrianos e se vislumbrar com paisagens naturais particulares. Para brasileiros, é melhor ainda, pois com o Real mais valorizado é possível conhecer todo o país sem se gastar muito.

Valores:

- Passagem ida e volta (avião) de R$500 até R$1.000 - Tiwanaku R$30 (80bs) - Vale De La Luna R$12 (30bs) - Salar de Uyuni (com transporte) R$400(1000bs)

Vale de La Luna: reserva paisagistica formada por erosões eólicas em meio ao trânsito da cidade de La Paz


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