Saiba + - Edição Março de 2015

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Fast-foods e guloseimas ganham ingredientes “gourmets”

Desde 2006

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Faculdade de Jornalismo - PUC-Campinas

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Foto: Amanda Januzzi

Aids entre jovens aumenta 40% De acordo com dados do Ministério da Saúde, a faixa etária em que mais cresceram infecções pelo HIV foi entre 15 e 24 anos. Pesquisa do mesmo órgão indica, no entanto, que 94% conhece formas de prevenção, mas, nessa mesma faixa etária, 45% disseram não ter usado camisinha no último ano. Em Campinas, são registrados 260 novos casos da doença por ano. Pág. 12

38% dos inadimplentes no comércio têm até 20 anos Pág. 07

Falta de agentes deixa alunos sem aula na Rede Municipal Pág. 04

Entrada do Centro de Referência DST/HIV, no Centro: 260 novos casos por ano

Protesto no MIS

Destino das capivaras

Mais motos nas ruas

Manisfestantes ocupam museu para pedir sala de cinema alternativo.

Projeto prevê castração de animais no Taquaral, para controlar aumento de roedores.

Na RMC, número de motos cresce 160%. De cada dez acidentes, sete envolvem motos.

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RÁPIDAS

CARTA AO LEITOR

Carla Bampa

PUC-Campinas oferece novo curso de extensão A PUC-Campinas oferece, a partir do dia 11 de maio, o curso de extensão sobre o patrimônio histórico-cultural e arquitetônico da cidade. As inscrições estão abertas e terminam no dia 4 de maio. Os inscritos vão aprender desde a historiografia, desenvolvimento econômico até o crescimento e seus problemas. As aulas serão ministradas pelo professor João Manuel Verde dos Santos. O curso terá carga horária total de 12 horas e não há nenhum pré-requisito para participar. As vagas são abertas a todos, principalmente adultos e idosos. Será ministrado no Campus Central, localizado na Rua Marechal Deodoro, nº 1099.

GABRIELA GIMENES VINÍCIUS OLIVEIRA EDITORES

Aumenta o número de reclamações dos planos de saúde Reclamações sobre os planos de saúde em Campinas aumentaram 49,05% em 2014, em relação ao ano anterior, de acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O número cresceu de 1.003 para 1.495. As principais reclamações dizem respeito à demora para marcar uma consulta. Em alguns casos, há relatos de mais de 40 dias. As mesmas pessoas afirmaram, em suas reclamações, que, caso optassem por consultas particulares, esse prazo seria de apenas três dias. CPAT oferece novas vagas de emprego em Campinas O Centro Público de Apoio ao Trabalhador de Campinas (CPAT) oferece 11 vagas de emprego para pessoas com algum tipo de deficiência. Em destaque, encontra-se a função de motorista de caminhão. O CPAT ainda oferece 374 vagas para o público em geral, entre elas, analista de cobranças. As pessoas que se interessarem devem conferir todas as vagas e condições que o centro oferece, e ir a uma das três unidades, localizadas no Centro, no Ouro Verde e no Campo Grande portando RG, CPF, número do PIS e carteira de trabalho. Mais informações no site: www.cpat.campinas. Humberto Gessinger realiza show da turnê ‘Insular’ O vocalista do Engenheiros do Havaí, Humberto Gessinger, se apresenta em Campinas no dia 11 de abril. Ele faz um show solo do álbum Insular, d e músicas inéditas, lançado em 2013, com o qual está percorrendo todo o país. A apresentação acontece no Campinas Hall, no Jardim Primavera, com abertura dos portões às 21h e show previsto para a 1h. Os valores dos ingressos são a partir de R$ 30 e podem ser comprados no site ticketbrasil.com.br.

Expediente: Jornal laboratório produzido por alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas. Centro de Comunicação e Linguagem (CLC): Diretor: Rogério Bazi; Diretora-Adjunta: Cláudia de Cillo; Diretor da Faculdade: Lindolfo Alexandre de Souza. Tiragem: 2 mil. Impressão: Gráfica e Editora Z Professor responsável: Fabiano Ormaneze (Mtb 48.375). Edição e Edição de Capa: Gabriela Gimenes e Vinícius Oliveira Diagramação: Flávia Coelho e Victoria Monti

CRÔNICA

Não me culpem pela falta d’água CARLA BAMPA

Esta edição é produzida pelos alunos da turma 43 do período matutino da PUC-Campinas, marca o retorno do Saiba+ em 2015, e traz como destaque um alerta aos jovens. O número de pessoas com idade entre 15 e 26 anos com Aids aumentou quase 40% nos últimos nove anos. A falta de agentes de educação infantil em Campinas é assunto de uma reportagem que mostra que alunos de algumas escolas da cidade estão sendo dispensados das atividades escolares em razão do déficit de funcionários. O aumento do número da frota de motos na RMC, a proibição da exposição de animais em vitrines e gaiolas e o projeto de castração de capivaras em Campinas serão abordados neste Saiba+. Os universitários são o assunto de duas reporta-

gens: a primeira sobre o novo Passe Universitário, o qual permite a universitários campineiros o desconto de 50% na tarifa de ônibus; a outra mostra o aumento desses estudantes que se tornam inadimplentes, devido às facilidades de crédito. Veja também o protesto pela reforma da sala de cinema Glauber Rocha, realizado no MIS Campinas, que poderia exibir filmes alternativos. Desde o fechamento do Cine Topázio, a cidade carece de um espaço que exiba filmes desse gênero. Nesta edição você também pode conferir um panorama da dengue em Campinas, além da história de uma mãe que teve que adaptar os hábitos alimentares de suas duas filhas em decorrência da doença Celíaca. Boa Leitura!

Todos já me conhecem muito bem, quando eu apareço dependendo do dia, eu estou fraca, só passo para dar um oi e ir embora, e outras venho em forma de tempestade, causando estragos por todos os lados, posso dizer que sou oito ou 80. Mas nesses últimos anos, eu tenho aparecido bem menos que o esperado. Sei que todos estão sentindo minha falta, mas é que os desmatamentos não deixam eu aparecer, e prometo que voltarei a cair, ajudarei a diminuir a seca e encher as represas. Sei que vocês ficam me culpando, mas a culpa toda não é minha não. O governo tem parcela de culpa, pois sabia que a água estava com os dias contados e não fizeram nada para reverter essa situação, a outra é o desmatamento, como falei, pelo motivo do meu ciclo não conseguir se concluir. Esses fatores não influenciam só a mim, mas a toda população que é prejudicada com essa falta d’água, afetando desde as plantações até para o próprio consumo dos moradores que estão enfrentando racionamentos desde o ano passado. Vocês sabem que não gostaria de ver isso acon-

tecer, mas vai mudar e já vem mudando, como na segunda semana de março que tiveram quatro dias de chuvas intensas. Já deu uma pequena ajuda para os reservatórios, e claro, para a população. Talvez eu diminua a partir dos próximos meses, nos quais eu apareço bem pouco, por ser época de Outono e Inverno. Não sei se vocês já pensaram em como é ser água, talvez não, não é? Então, ser água é algo importante, essencial, pelo motivo de sempre estar presente na vida de toda população. Mas agora pensem, nesse atual momento que vocês estão vivendo, eu estou em falta e sendo considerada como algo mais que precioso. Ser água nesse momento de escassez e racionamento significa que vocês, moradores, devem me idolatrar, cuidar muito bem de mim, porque já estão quase sem, e se ficar sem, o problema vai ser bem maior.


Epidemia

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Distúrbios do sono é tema de pesquisa Projeto vai avaliar qualidade da noite do campineiro na era em que se dorme cada vez menos Camila Yano

Como é a noite de sono da população de Campinas? Quanto tempo o campineiro dorme? A nossa preocupação é saber se as pessoas estão dormindo o suficiente e qual é a qualidade dessa noite”, diz a professora Tânia Aparecida Marchiori de Oliveira Cardoso, neurologista, especialista em medicina do sono e uma das coordenadoras do projeto ISACamp Sono, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Inédita no Brasil, a pesquisa levará profissionais às casas de 400 pessoas que, a partir do mês de março, vão responder a questionários e farão exames para a análise dos aspectos relacionados à duração, à qualidade e aos distúrbios do sono. Segundo a coordenadora, o projeto vai usar métodos objetivos e subjetivos para a investigação desses dis-

túrbios. “Os exames subjetivos serão as perguntas que nós faremos para ver se o indivíduo tem queixas, se ele sente que dorme bem, rastrear a apneia, dentre diversos outros pontos. Objetivamente, faremos a polissonografia e a actigrafia. ” O ineditismo se dá ao fato de que é a primeira vez em que o exame de polissonografia, sensores usados para fazer o registro completo de diversas funções do corpo durante o sono, é feito fora das clínicas e laboratórios. Em uma forma portátil, ele vai ser aplicado durante uma noite na casa de cada paciente para avaliar, especialmente, a apneia do sono. Já a actigrafia será feita por um equipamento semelhante a um relógio, que detecta os movimentos do corpo e registra o ritmo de vigília e sono, fazendo, assim, um mapa diário do paciente durante os sete dias em que

ele deve usar o aparelho. Além disso, os escolhidos para a pesquisa deverão escrever um diário “que vai dar informações dia após dia sobre os horários em que ele foi dormir e que acordou, sintomas, como estava na hora em que levantou, se cochilou durante o dia etc”, explica Tânia. Dentre os 400 selecionados, 300 apresentam queixas de sono e 100 não apresentam, sendo usados, portanto, para controle de comparação. A estudante da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) Agnes Shinozaki, de 22 anos, descobriu que tinha a apneia aos 10 anos. “Eu viajava com meus pais e primos, e, quando dividia o quarto, eles perceberam que eu ficava um tempão sem respirar e depois respirava com tudo, sem ar”. Após alguns tratamentos, Agnes diz que não acorda mais com falta de ar, mas

que ainda não está 100% curada. “Ainda tenho um pouco de falta de atenção e cansaço constante por causa de noites mal dormidas, mas melhorei bastante. Quando a minha apneia estava pior, eu tinha muitas dores de cabeça e ronco. Imagine uma criança que vai dormir na casa dos amigos e ronca? Eu sofria”. Outro caso é o da economista Lucila Rodrigues Gomes, de 57 anos. Ao acordar durante as noites com sensação de sufocamento, Lucila procurou o Instituto do Sono em São Paulo para buscar respostas. “Lá eles me disseram que eu tenho apneia e que meu estágio era avançado. Fiz diversos exames e progredi, mas ter que dormir no hospital me deixava desconfortável, e isso influenciava nos resultados”, afirma. De acordo com Tânia, “o fato de o indivíduo dormir cheio de aparelhos

e de sensores é uma situação favorável para dificultar o sono especificamente naquela noite, e mais ainda se ele estiver dormindo fora do seu ambiente habitual”. É para casos como o de Agnes e Lucila que os pesquisadores do projeto ISACamp Sono vêm se reunindo há quase dois anos para discutir e aperfeiçoar métodos para a pesquisa fora do ambiente clínico. Os domicílios visitados serão os mesmo do projeto ISACamp e foram escolhidos de acordo com as regiões censitárias previamente definidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O projeto é feito por pesquisadores do Centro Colaborador em Análise da Situação de Saúde (CCAS), da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Revitalização

Áreas públicas precisam de investimentos Principais reclamações dizem respeito à falta de iluminação, segurança e brinquedos infantis Gabriela Soligo

das praças Iolanda Aparecida Villela Dirani, na Chácara da Barra e Guido Segalho, na Vila Industrial, e a instalação de uma academia adaptada para pessoas com deficiência física no Parque Portugal (Lagoa do Taquaral). Para o cadeirante Rafael Caldieraro, os novos equipamentos facilitaram a prática de exercícios físicos. “Antigamente, eu não tinha um lugar certo para me exercitar, tinha que me virar em casa, em um lugar fechado.” Há também nova atração em teste para os que gostam de caminhar no parque: quatro pedalinhos em formatos de caravela têm modelo inédito e fabricado especialmente para a Lagoa. Desde o dia 21 de fevereiro, as caravelinhas estão à disposição do público durante um mês. Depois, será decidido se elas permanecerão.

Para o urbanista Octávio Relvas, a revitalização das praças é um processo necessário para a criação de espaços públicos de convi-

vência, que sejam alternativas de lazer numa cidade, como Campinas, em que há poucos atrativos para a população usufruir. Foto: Gabriela Soligo

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uitas praças e parques de Campinas há tempos deixaram de ser espaços públicos de diversão e convivência. Isso porque, segundo a própria Prefeitura, embora sem divulgar dados, há um grande número de reclamações referentes à falta de iluminação, segurança, brinquedos disponíveis e limpeza. Para tentar sanar o problema, o prefeito Jonas Donizette (PSB) anunciou, no dia 7 de março, o investimento de R$ 60 milhões em reformas nesses espaços. Serão mais de 50 locais, porém, ainda não há informações de quais passarão por esse processo, nem quando isso deve ocorrer. Para Maria Rosa Fernandes, de 65 anos, fica difícil distrair a neta de 9 anos

quando não há mais tranquilidade na praça Heróis de Laguna (Largo de Santa Cruz), no Cambuí. “Espero que agora, com esse dinheiro que o prefeito vai investir, sejam construídas novas praças e novos brinquedos e que, assim, não apenas a minha neta, mas outras crianças possam se divertir fora de casa também”, afirma. Maria Maura Souza, de 17 anos, reclama por não poder usufruir da praça Clodomiro Rodrigues, no Guanabara. “A praça é escura, e nem eu e nem minhas amigas nos sentimos à vontade. Se tornou um lugar perigoso. Uma pena.” Desde 2013, segundo a Prefeitura, já foram reurbanizadas mais de 120 praças. Dentre as mudanças estão a remodelação da Praça Silva Rego, no Jardim Chapadão, que abriga uma feira de artesanato, a reurbanização

No Taquaral, novos pedalinhos, em fase de teste, têm formato de caravelas


Educação

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Falta de agentes reduz expediente escolar Profissionais devem ser contratados até o mês de abril; até lá crianças são dispensadas às 12h30 Foto: Betina Mantoan

Escola municipal na Vila União tem cartaz no portão, informando sobre horário reduzido

Betina Mantoan

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Saiba + acessando o QR Code

nidades de Educação Infantil da rede municipal de Campinas estão dispensando as crianças matriculadas em período integral por causa da falta de agentes de Educação Infantil (AEI). Desde o dia 4 de fevereiro, quando as aulas retornaram, a dispensa é recorrente para muitos pais, que só tomaram conhecimento do que estava acontecendo no primeiro dia de aula. É o caso de Rosana do Socorro Solino Araújo, mãe de um aluno da Escola Municipal Zeferino Vaz, na Vila União. Ela contou que só tomou conhecimento do problema no dia em que as aulas iniciaram e que nunca tem um horário fixo para buscar o filho na escola. “Era para a aula ser das 8h até às 16h, mas, desde o primeiro dia, não tem um horário certo para buscar meu filho. Um dia fui

buscar às 14h, outro dia às 12h. E, agora, até o dia 20 de março, as aulas vão acabar 12h30. É uma falta de organização”, critica. A Secretaria de Educação de Campinas reconheceu que existe um déficit de 273 funcionários nessas unidades. A promessa é que sejam contratados até o mês de abril. Com a chegada destes profissionais, escolas, de acordo

públicas. “Não há uma continuidade nos projetos. Deixou de ser política pública e se tornou política partidária, e aí você não consegue atender as demandas existentes”, afirma Ana Paula. Para Suzana Cristina Teixeira, mãe de outro aluno da Escola Municipal Zeferino Vaz, o problema é ainda maior. Desde o início de fevereiro,

mas enquanto isso nada se resolve. Não adianta estar no papel que a escola funciona em período integral, se na prática não é”, afirma. Outro caso é o de Adriana Paula Buzzolo. Ela chegou a largar o trabalho para poder cuidar das filhas no período da tarde. “Só no papel a escola funciona em período integral. Eu cheguei a largar o meu

Era para a aula ser das 8h até às 16h, mas, desde o primeiro dia, não tem um horário certo para buscar meu filho. com o órgão, atenderão em período integral ao invés de parcial. Um concurso para a contratação desses profissionais foi realizado em janeiro. Segundo as professoras da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Ana Paula Fraga Bolfe e Fernanda Taxa, uma das hipóteses para explicar por que Campinas enfrenta problemas na educação há tantos anos é o descontinuísmo de políticas

o filho dela tem que ser levado para o trabalho, no período da tarde, em que era para ele estar na escola. “A van busca o meu filho 12h30 e deixa comigo no trabalho. Isso prejudica e compromete. Eu sou autônoma, trabalho com próteses dentárias. Ele já chegou a levar os meus instrumentos de trabalho na mochila”, conta. Ela ainda diz que já chegou a procurar a direção da escola. “Eles dizem que os funcionários estão em período de contratação,

emprego porque não conseguia conciliar os meus horários”, conta. Não são apenas as famílias que tiveram que se reorganizar em razão da falta de aulas. Os motoristas de vans também foram prejudicados. Segundo Vanderleia Garcia, motorista há 3 anos, ela teve que remanejar os horários. “Já cheguei a colocar mais alunos do que o permitido dentro da van. Algumas escolas não têm aula no período da tarde, e as crianças

são liberadas 12h30”, critica. Toda criança tem o direito, garantido pela Constituição e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de ser matriculada em uma escola pública. Segundo a Constituição, o Estado tem o dever de garantir a educação infantil para todas as crianças, sem instaurar qualquer critério para o acesso. Entretanto, não é o que acontece. De acordo com a professora Fernanda, muitas crianças conseguem vagas nas creches e escolas infantis por meio da Justiça. “ A gente sabe que a entrada das crianças tem sido por meio legal, e não por aquele simples trabalho de fazer a matrícula da criança na escola. Isso já é também problemático”, afirma. A questão é complexa, só poderá ser resolvida em longo prazo e interfere totalmente no ensino da criança, a começar pelos conceitos de ética. “As crianças já começam a ver que é possível subtrair direitos. A educação pode ser relegada a último plano”, lamenta Fernanda.


Trânsito

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Frota de motos cresce 160% na RMC Segundo IBGE, número ultrapassa média estadual e nacional; ao todo são 318 mil veículos Foto: Raíssa Zogbi

Raíssa Zogbi

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ntre 2004 e 2014, o número de motos na Região Metropolitana de Campinas (RMC) saltou de 122 mil para 318 mil, segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), o que equivale a um crescimento de 160%. Desse total, uma em cada três motos está em Campinas, o que contribui com o aumento de acidentes, com o tráfego carregado e com a emissão de poluentes, como explica o professor Orlando Fontes Lima, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). De acordo com a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), em 2013, a cada dez acidentes registrados apenas na região central da cidade, sete envolveram motociclistas. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constatou que há uma moto em circulação para cada 9,5 habitantes, considerando a população da RMC em 3,055 milhões. Número considerado elevado e superior, se comparado proporcionalmente com a média estadual (10,6 motocicletas por habitante) e nacional (10,4), registradas pelo Instituto. Mesmo assim, a preferência pelo veículo de duas rodas é grande. A exemplo disso, o designer gráfico Marcelo Borges, de 43 anos, mora em Paulínia e vendeu seu carro para ir trabalhar de moto em Campinas. “Os custos para manter o carro eram muito maiores, então, eu decidi vender e comprar a moto e ainda guardei um pouco do dinheiro. Eu acabo gastando

Estacionamento para motos, na PUC-Campinas: aumento da frota se deve à facilidade de compra e à mobilidade no trânsito, cada vez mais carregado na cidade

menos com combustível e economizo tempo, porque consigo fugir do trânsito. Ah, e claro, a adrenalina que a gente sente é muito prazerosa!” Fontes Lima, professor da Unicamp, com doutorado em Engenharia de Transporte, afirma que o aumento de motos é uma tendência nos países de menor renda. “A moto é muito acessível à população de baixa renda. Se considerar que a tarifa de ônibus em Campinas é de R$3,50, com 20 dias idas e voltas você gasta R$ 140. Uma parcela de financiamento de uma moto pode girar em torno de R$120.” Ele explica ainda que esse aumento complica o tráfego, já que cria corredores com fluxo intenso entre os automóveis, como no caso de São Paulo. “Isto é bem diferente dos Estados Unidos, onde a moto tem que se manter no

trânsito como um automóvel, inclusive parando na mesma fila que ele.” O secretário municipal de Transportes e diretor-presidente da Emdec, Carlos José Barreiro, afirma que há medidas de segurança em andamento para organizar o trânsito entre motocicletas e outros

clistas perderam a vida no trânsito na cidade. O elevado número de acidentes e mortes é resultado, de acordo com o professor Fontes, sobretudo, do abuso da alta velocidade e da imprudência, tanto dos motociclistas quanto dos motoristas, que não se respeitam e ignoram, mui-

Há uma moto para cada 9,5 habitantes na RMC. veículos. “Estamos desenvolvendo o Plano Viário, planejando a Campinas das próximas décadas. Vamos otimizar a integração entre modais como BRT [Bus Rapid Transit, ônibus de trânsito rápido], que terá faixa exclusiva para carro, moto, bicicleta. Uma rede bem articulada que proporcione opções complementares de mobilidade, evitando soluções inseguras.” Apesar da agilidade, da facilidade em financiamento e do elevado custo-benefício, a moto ainda é considerada um dos veículos mais perigosos e poluentes. Segundo a Emdec, em 2013, 52 motoci-

tas vezes, as leis de trânsito. “Velocidade é adrenalina e andar de moto dá bastante”, diz Fontes. Moto polui mais que carro Segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), as motos representam 20% da frota brasileira. Ou seja, elas são responsáveis por 17% do monóxido de carbono lançado no ar. Por possuírem carburador, e não injeção eletrônica, uma moto nova emite, em média, 2,3 gramas de monóxido de carbono por quilômetro rodado, enquanto um carro novo emite 0,34 gramas. Ou seja, a moto

polui oito vezes mais do que o carro. O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) determinou, por meio da Resolução 432, a redução dos limites de emissão de poluentes provenientes de motocicletas, triciclos e quadrículos, importados ou nacionais, entre 2014 e 2016. Motocicletas e similares devem emitir no máximo de 2g/km de Monóxido de Carbono(CO), 0,8 g/km de Hidrocarbonetos (HC) e 0,15 g/km de Óxidos de Nitrogênio(Nox). A partir de 2016, o valor máximo para o HC será de 0,3g/km. Os valores adotados colocam o Brasil no mesmo patamar que a Europa, Estados Unidos e Japão. Para que os veículos de duas rodas se tornem menos poluentes, os novos modelos deverão possuir catalisadores, segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo). Outro passo será trocar os carburadores por injeção eletrônica, o que de acordo com a Associação, encarecerá a produção e o preço final das motos.


Mundo Animal

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20 de março de 2015

Exposição de animais têm novas regras Resolução do Conselho Federal de Medicina Veterinária diz respeito a vitrines de pet-shops

Juliana Scheridon

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cimentos de estética animal, além da preocupação com a saúde pública – as zoonoses – e o meio ambiente, com o controle de resíduos. Caso a adaptação não ocorra, a exposição deve ser cessada, podendo ser substituída por fotos ou vídeos dos animais”, explica. Apesar de a norma já estar em vigor, a veterinária Fabiana Pozzuto Poppi, que tem uma clínica particular em Campinas, conta que, em algumas situações, não concorda com a aplicação do processo ético. “Existe um manual de responsabilidade técnica que todos os veterinários responsáveis por um estabelecimento têm que cumprir. E o que acontece muitas vezes é que a informação que o veterinário passa para o estabelecimento não é cumprida e quem sai prejudicado é o veterinário. Então o que seria ideal é passar todas as informações por escrito e o responsável pelo estabelecimento assinar que está ciente”, diz. Entretanto, Fabiana conta que espera que a nova norma traga melhoras aos animais. “A gente precisa primeiro

pensar no bem-estar dos animais e as lojas estão, a meu ver, pensando primeiramente no retorno financeiro. Não se trata de uma mercadoria, se trata de uma vida”, afirma. Devido à Resolução, pet-shops da cidade tentam se adequar à nova norma. Uma loja do Bairro Chácara da Barra expõe os filhotes de gatos apenas uma vez ao dia. “A gente

coloca os gatinhos na parte da manhã, porque é mais fresquinho, sempre fazendo a limpeza diária, de duas a três vezes por dia”, afirma a veterinária Taiana Moda. Depois disso, os animais ficam num local reservado, sem exposição ao público. A Associação Brasileira da Indústria para Animais de Estimação (Abinpet) informou que é favorável à nova resolução. Foto: Juliana Scheridon

esde janeiro, os pet-shops de todo o País estão proibidos de expor cachorros e outros bichos de estimação em vitrines e gaiolas. Segundo a Resolução 1.069 do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), as regras servem para garantir o bem-estar dos animais. O texto considera como bem estar “o estado do animal em relação às suas tentativas de se adaptar ao meio ambiente, considerando liberdade para expressar seu comportamento natural e ausência de fome, sede, desnutrição, doenças, ferimentos, dor ou desconforto, medo e estresse”. Para isso, a legislação diz que é preciso providenciar ambientes “livres do excesso de barulho, com luminosidade adequada, livre de poluição e protegido contra situações que causem estresse aos animais”, além de conforto, segurança, higiene, alimentação saudável e orientação aos clientes sobre o estresse no momento da venda. Assim, animais como cachor-

ros, gatos e pássaros devem ser expostos em lugares com espaços suficientes para se movimentar e que permitam a alocação dos animais por idade, sexo, espécie, temperamento e necessidades. A nova norma, publicada em outubro do ano passado, determina que um veterinário responsável pela loja avalie diariamente o estado das acomodações dos animais. O estabelecimento e o veterinário responsável que descumprirem a resolução estão sujeitos à multa no valor que varia entre R$ 3 mil e R$ 24 mil, de acordo com a gravidade do descumprimento da lei e se for reincidente. Além disso, o profissional está sujeito a responder processo ético. A veterinária do Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo (CRMV-SP) Tatiana Pelucio explica os motivos que levaram à criação da norma. “Há uma crescente preocupação com relação ao bem-estar dos animais, especialmente em razão do aumento do número de animais comercializados e frequentadores de estabele-

Gato em pet-shop na Chácara da Barra. Cartazes informam animais disponíveis

Projeto prevê castração de capivaras Prefeitura pretende reduzir população dos roedores em parques como o Taquaral e o Ecológico

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Prefeitura Municipal de Campinas deu início ao planejamento para a castração das capivaras do Parque Portugal, no Taquaral. A ação é idealizada pelo Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal (DPBEA) e tem como objetivo fazer o controle populacional desses animais. O projeto ainda depende de uma aprovação final para ser colocado em prática. Segundo o DPBEA, houve um aumento populacional recente de capivaras e o parque abriga, atualmente, 16 desses roedores. No entanto, em uma contagem rápida, nossa equipe constatou a presença de pelo menos 18 capivaras na área, num fim de tarde. De acordo com Paulo Anselmo Nunes Felippe, diretor do DPBEA, o parque teria

deveríamos preservar as onças pardas, que são as predadoras naturais delas. Acontece que matam as onças e depois reclamam das capivaras”, diz. Após o procedimento, as capivaras serão devolvidas ao parque. “A ideia é a de mantermos populações pequenas de capivaras que sejam compatíveis com a População convive com capivaras no Taquaral; roedores podem transmitir doenças ocupação humana do amcondições de abrigar até 40 do Café, também no Taqua- biente e a de controlar a desses animais, conside- ral, e no Parque Ecológico, infestação por carrapatos rando o espaço físico e as na Rodovia Heitor Penteado nesses animais”, explica Paulo Anselmo. condições de alimentação (SP-081). Foto: Julio Joly

Julio Joly

disponíveis. O projeto visa castrar todas as capivaras do local por meio de vasectomia nos machos e retirada do útero das fêmeas. Caso o resultado se mostre eficaz no Parque Portugal, o projeto pode ser realizado em outros parques da cidade onde também há a presença desses roedores como o Lago

“A castração tem seus prós e contras. Ao mesmo tempo em que você acaba diminuindo a população, o pós-cirúrgico pode ser problemático. Nunca castram todas e ainda é preciso a liberação do Ibama, que é outro grande problema”, afirmou Roberto Stevenson, veterinário especializado em animais selvagens. “Minha opinião é que

Febre Maculosa O convívio próximo às capivaras representa um risco à saúde das pessoas não por causa do animal, mas devido ao carrapato-estrela que elas hospedam. Esse tipo de carrapato é o transmissor da febre maculosa, uma doença infecciosa que, se não for

tratada, pode levar à morte. O número de casos em Campinas é alarmante. Só no ano passado foram confirmadas cinco mortes na cidade, duas a mais que no ano anterior. A região foi responsável por 45% de todos os casos registrados no País, segundo dados do Ministério da Saúde. Em 2011, foram abatidas 20 capivaras que habitavam o Lago do Café, localizado em frente ao Parque Portugal, após um surto de casos da doença. Até então, três funcionários do parque já haviam morrido por contrair a doença. O lugar ficou interditado de 2008 a 2013 e só foi reaberto após a instalação de placas que alertam os visitantes sobre os carrapatos, além da retirada das capivaras do local. No entanto, não adiantou. Passado algum tempo elas voltaram.


Economia

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20 de março de 2015

Mau uso do cartão de crédito endivida jovens De acordo com Serasa, quase 40% dos pagamentos em atraso são de pessoas com menos de 20 anos Camilla Lourenço

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facilidade para adquirir um cartão de crédito tem levado os adolescentes a acumular dívidas. De acordo com a Serasa, 38,29% dos pagamentos em atraso no Brasil são dívidas de jovens entre 16 e 20 anos. Segundo o professor e consultor de economia João Ricardo Costa Filho, atualmente, é muito fácil obter crédito, principalmente, para universitários. “Mesmo sem renda, esses jovens conseguem, em média, um limite inicial de aproximadamente R$ 600,00, podendo acumular até duas faturas no mesmo valor. Você junta a falta de educação financeira com exacerbação do consumo e acesso a crédito”, diz. A estudante de Nutrição Larissa Sinobre, de 18 anos, reconhece que gasta além do que devia: “Eu gasto muito, nunca tive tanto dinheiro para gastar como agora através do cartão de crédito”, afirma. Porém, depois de quatro meses pagando o valor mínimo da fatura, ela havia acumula-

Confira dicas de como pais podem auxiliar na educação financeira dos filhos

3 a 6 anos Presenteie o filho com cofrinho. Para a criança começar a ter o costume de guardar dinheiro e economizar. do aproximadamente R$ 1.800,00. A dívida, então, foi paga pela mãe, Karla Sinobre. “Acho um erro liberarem tanto dinheiro para uma pessoa que acabou de completar 18 anos, e ainda não trabalha”, diz, inconformada com o valor que teve que desembolsar para ajudar a filha. Larissa abriu uma conta

7 a 15 anos Mostre o que o dinheiro faz: comprar coisas ou pagar contas. Trace planos de economizar para realizar sonhos, como uma viagem. universitária e conseguiu um limite de R$ 900,00, mesmo sem ter nenhuma comprovação de renda. “Nunca teve tantas inserções no órgão de Serviço a Proteção de Crédito – Serasa – para adolescentes como nos últimos meses”, garante o responsável pelas liberações de crédito Keren Aguiar, funcionária de uma

15 anos + Alguns jovens já começam a trabalhar e outros ganham mesada. O ideal é começar dando um cartão pré-pago. agência bancária da cidade. A estudante de gastronomia Isabella dos Santos, de 22 anos, também tem dívidas. Mas, para ela, é uma questão de necessidade. Desde que começou a trabalhar, aos 17, Isabella ajuda nas contas de casa. “Minha mãe não pode pagar sozinha e eu sou a única filha que ainda mora com

ela. Nada mais justo do que eu ajudar”. Ela chegou a ficar desempregada por três meses e acabou atrasando a conta d’agua. Agora, trabalhando, ela quer recuperar o tempo perdido. “Assim que eu receber, vou pagar o dinheiro que peguei emprestado”, conta. De acordo com Keren, as empresas de cartões estão estudando formas de sanar o prejuízo causado pelo crédito fácil aos jovens, mas, em princípio, cabe aos usuários se controlarem. O pagamento mínimo é tido como um indicativo de descontrole da situação financeira, sobretudo quando o total da fatura apresenta o parcelamento de várias compras de pequenos valores. Esse processo resulta na cobrança de juros sobre juros, dando início a uma bola de neve. A dívida cresce aceleradamente com taxas de juros média do crédito rotativo superiores a 334% ao ano. Por isso, o jovem deve ficar atento para não chegar a vida adulta com o crédito negativo.

Estabelecimentos mantêm economia d`água Estiagem de 2014 fez academias e condomínios economizarem até 20% em relação a 2013 Fernanda Flores crise da água do Estado de São Paulo tem afetado muito a cidade de Campinas. Por isso, condomínios fechados e academias têm feito investimentos para economizar água e evitar outra crise em 2015. Com a proximidade do outono, síndicos e donos de academias correm para se preparar, a partir da experiência com a longa estiagem do ano passado, que gerou a apreensão por um possível racionamento. “Aqui na academia apenas um dos quatro bebedouros funciona. Os alunos tomam banho em casa e há avisos perto das torneiras para evitar o desperdício”, disse Willian Serqueira,

A

proprietário da academia Musculação e Cia. Com as medidas, a conta de água da empresa diminui em média 20%.

domínio Città di Roma, o condomínio está tomando todas as medidas possíveis e necessárias para que a crise hídrica não prejudique a ninguém, mas lembra “se cada um não fizer a sua parte, toda essa economia não vai adiantar nada”. Avelino Ferreira, zelador do Condomínio Primavera, conta que, durante as férias escolares, era difícil segurar as crianças longe da piscina, mas que, depois de um tempo elas acostumaram. “Agora os meninos já sabem que só pode usar no fim de semana.”

Condomínios Em condomínios, também é possível ver avisos nos elevadores e, em alguns deles, até a piscina já tem horários para uso. No Primavera, por exemplo, para evitar que a água evapore ou fique suja, ela fica coberta de segunda a sexta-feira. Além disso, foi instalado um sistema de captação da água da chuva. “Estamos fazendo o possível para não ter aperto por Academias Os alunos da academia aqui este ano”, diz a síndica Cássia Forchessato. também apoiam as mediDe acordo com a síndica das: “Agora eu tenho que Roselli Kenner, do con- me programar melhor para

timos 20 anos, o que não foi suficiente para restituir nem ao menos a segunda cota do volume morto do Sistema Cantareira. De acordo com o pesquisador Eduardo Assad, da Empresa Brasileira de Pecuária e Agricultura (Embrapa), isso acontece por causa do efeito “esponja”, a água da chuva cai no reservatório, mas é absorvida pelo solo seco e o volume do reservatório não aumenta. O pesquisador associa esse feito ao desmatamento das margens do reservatório e a especulação imobiliária e aproveita Chuvas de março para recomendar: “É muito Em menos de 15 dias, importante que todos apromarço já é considerado o veitem essa época chuvosa mês mais chuvoso dos úl- para estocar água em casa”. ir à academia e sair depois, mas é por uma boa causa”, diz o estudante Pedro Roris, de 28 anos. A redução do uso da água ajuda a diminuir também o consumo de energia, que está mais cara e também precisa ser economizada. Nos últimos meses, têm sido utilizada energia das termoelétricas, mais cara e mais poluente. O aquecimento do chuveiro e o resfriamento dos bebedouros que consumiam muita energia, agora colaboram para que os diretores dos estabelecimentos não levem um susto.


Cultura

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20 de março de 2015

Manifesto pede sala de cinema no MIS Fechamento do Cine Topázio, especializado em filmes alternativos, foi o estopim do movimento

Foto: Gustavo Lorón

Gustavo Lorón

U

m grupo de cerca de 40 pessoas ocupou o Museu da Imagem e Som (MIS) no dia 28 de fevereiro. A manifestação foi marcada por uma exposição de arte e pela palestra da professora Carmo Penteado Camargo, a tataraneta de Joaquim Camargo, o fundador do Palácio dos Azulejos, onde o MIS está localizado. O objetivo foi chamar a atenção da Prefeitura para a reforma da sala de cinema Glauber Rocha. Atualmente, só existe o espaço da sala, mas apenas com estrutura básica. Segundo a historiadora do MIS Sônia Fardin, o lugar foi reformado pela última vez em 2004. O diretor de Cultura da Prefeitura de Campinas, Gabriel Rapassi, explicou que esta obra foi feita com recursos da Petrobrás, durante o governo municipal de Izalene Tiene (PT). “Mas a reforma foi feita pela metade”, diz Rapassi. Sônia afirmou que depois que o projeto parou a sala foi usada como depósito. Em 2013, a Prefeitura fez a limpeza de entulhos que estavam no local, conforme contou Rapassi. Ainda segundo Rapassi, há um projeto para reformar o local, transformando-o em uma sala com sessões gratuitas e diferentes do circuito comercial. Para a advogada e organizadora do movimento, Bruna Pimentel, de 34 anos, falta em Campinas uma sala de cinema adequada para a transmissão de filmes alternativos. O MIS já traz este tipo de programação, mas Bruna ressalva a falta de segurança, acessibilidade e estacionamento. As sessões do MIS são realizadas num dos antigos quartos do Palácio, que também não tem nenhuma estrutura. Para as projeções, é utilizado um computador com data-show. Para garantir a visibilidade, é necessário fechar as janelas. Não há ar-condicionado. De acordo com Rapassi, está incluso no projeto da

Cartaz no salão de entrada do MIS reivindica sala de cinema, já que hoje exibições são realizadas em local improvisado, sem estrutura adequada para projeções

prefeitura equipamentos tecnológicos, poltronas, paisagismo, rampa de acesso e banheiros para pessoas com deficiência. Rapassi afirmou que, por outro lado, a reforma não resolve todos os problemas do MIS. No dia 27 de janeiro de 2014, foi noticiado no site da Prefeitura de Campinas, que o MIS receberia R$ 1,3 milhão do Ministério da Cultura para a reforma. Mas, conforme Rapassi, não aconteceu a liberação da verba que acabou caducando. A Prefeitura aguarda a liberação de uma nova verba de R$ 800 mil de uma emenda parlamentar assinada pelo deputado federal Gustavo Petta (PCdoB), que será somada com mais R$ 500 mil oferecidos pela administração municipal de Campinas, totalizando os R$ 1,3 milhão necessários. “As obras iniciarão depois que o governo federal liberar os recursos”, garantiu Rapassi. Este não foi o primeiro manifesto no MIS. No final de janeiro, houve a primeira ocupação do museu, que contou com a presença do diretor de cultura. A ideia dos organizadores é repetir o ato mensalmente, até que a sala Glauber Rocha esteja pronta. Conforme a animadora Flávia Godoy,

de 25 anos, o fechamento do Cine Topázio, em 2014, foi o estopim do movimento. Este cinema, que se localizava no Shopping Parque Prado, era o único que trazia uma programação alternativa em Campinas. De acordo com o diretor do Topázio Cinemas, Paulo Celso Lui, o fechamento se deu pela falta de público. Na época, a Prefeitura ofereceu ajuda à empresa para reabrir outras salas na cidade. Rapassi afirmou que o Poder Público ainda está disponível em colaborar com a busca de lugares para a construção do cinema. Mas Lui afirmou que não há projetos para reabrir o Cine Topázio na cidade. “O público frequentador de filmes alternativos é muito pequeno, não é viável comercialmente manter um cinema com essa programação mesmo numa cidade grande como Campinas”, disse. Alternativas Apesar de ainda não contar com uma sala de cinema para filmes alternativos, Campinas possui movimentos independentes para esta programação cultural. É o caso do Cine Pizza, localizado no quintal da ONG Escola Vivei-

ro, no Cambuí. Ao ar livre, as sessões para até 30 pessoas reúnem filmes e pizza por R$ 25,00. Neste ano, ainda não houve uma sessão no Cine Pizza devido ao horário de verão e as chuvas. Entretanto, a produtora Nanda Canabarra garantiu que o projeto volta no segundo semestre. Nanda ressalva a falta de curadores para criar a programação do cinema. Outra alternativa para os amantes da sétima arte é o Cine Caverninha, também no Cambuí. O espaço é praticamente uma caverna de verdade, e fica em uma espécie de porão do Ateliê Aberto, um “organismo cultural interdependente”, como é definido no próprio site. O Cine Caverninha não apresenta necessariamente longas metragens, mas traz uma complementação audiovisual das exposições de arte do local. A entrada é gratuita. Para fugir da tradição de comer pipoca ao assistir filmes, os campineiros podem visitar o Cinema na Mesa, projeto do restaurante Estação Marupiara, em Joaquim Egídio, que ocorre mensalmente e consiste em um jantar baseado em filmes exibido. As reservas devem ser feitas com antecedência e o

valor é de R$ 75,00. A Casa do Lago, na Unicamp, tem um auditório de 72 lugares equipado para a exibição de filmes. As sessões são gratuitas e temáticas. Ainda em Campinas, há outras instituições que também trazem uma programação alternativa, é o caso da CPFL, do Sesc Campinas e do próprio MIS. Programação do MIS para o mês de março 21/3 16h 19h30

Cairo 678 Inside Llewvn Davis Balada de um Homem Comum

23/3 19h

Verdade em Números: Tudo de Acordo com a Wikipédia

24/3 19h

Pelo Malo

26/3 19h30 19h

Decálogo 4 Os Boas Vidas

27/3 28/3

Tempestade Sobre a Ásia 19h30 A Montanha Matterhorn 16h

30/3

19h

A fonte das Mulheres

31/3

19h

O dia que durou 21 anos


Dengue

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20 de março de 2015

Ciência transgênica pelo fim da dengue Enquanto MP investiga qualidade do método e Anvisa coloca ressalvas, Campinas veta utilização

Bettina Pedroso

Os mosquito Aedes Aegypti OX513, popularizado como “Aedes do bem,” é resultado de uma pesquisa iniciada em 2002 na Universidade de Oxford, na Inglaterra, patrocinada por investidores privados e agências de financiamento. Apresentado como uma solução para o alto índice de dengue e chikungunya, febre causada pelo mesmo vetor, os mosquitos transgênicos estão sendo produzidos no Brasil pela empresa Oxitec e há projetos para utilizá-los em cidades como Piracicaba. Em Campinas, o prefeito Jonas Donizette (PSB) vetou a liberação do uso dessa mutação. Ao visitar essa empresa, que possui escritório e uma unidade de produção às margens da Rodovia Anhanguera (Km 104,5), próximo a Sumaré, o que se vê não lembra nada o imaginário de um laboratório altamente tecnológico e sofisticado como parece ser a transgenia. O local é pequeno, com poucos funcionários e equipamentos. Tudo é praticamente feito de forma manual, o criadouro artificial é composto apenas por separadores por

tamanho e sexo das larvas. Os mosquitos crescem em potes plásticos dispostos em uma estante. A cientista portuguesa Sofia Bastos Pinto, supervisora de produção e dos campos experimentais, explica que a mutação do mosquito Aedes Aegypti selvagem consiste na implantação de DNA com dois genes: um para produzir uma proteína que impede seus descendentes de chegarem à fase adulta e outro para identificá-lo ao microscópio sob uma luz fluorescente. Após a criação dessa linhagem, os insetos se reproduzem naturalmente em laboratório e, quando liberados na fase adulta, copulam com fêmeas selvagens e seus progenitores morrem, diminuindo a população de insetos adultos. “A técnica da transgenia demora apenas algumas horas para ser concluída. O problema é que ela nem sempre funciona. Se tivermos um aproveitamento de 1% ou 2% consideramos como bom”, conta. A intervenção geralmente é feita na fase do ovo, pois possui apenas uma célula com vários núcleos, inclusive os germinais que são aqueles que devem ser atingidos

Foto: Bettina Pedroso

No processo de contagem dos transgênicos, até o aparelho celular auxilia funcionária no laboratório da Oxitec

porque vão dar origem ao futuro “bebê”. O Aedes Aegypti OX513 já foi liberado no Brasil em 2011. A cidade de Juazeiro (BA) foi a primeira selecionada para avaliar a tecnologia e os resultados foram positivos: diminuíram, em média, 85% da população do mosquito. Este ano, a espécie geneticamente modificada pode ser solta em Piracicaba, no fim de abril. Não há confirmação, porque o Ministério Público (MP) de São Paulo iniciou um inquérito civil

para averiguar o método. Mesmo assim, funcionários da Oxitec e da Prefeitura, que compartilham gastos do projeto, visitam moradores para informar sobre a liberação e conscientizar que eliminar criadouros é essencial. Vale lembrar que, para a empresa britânica, o mosquito mutante é considerado como um produto comercial. A venda é legalizada após a autorização e o registro feitos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e esse

processo ainda está em andamento. A pesquisadora Sofia, atenta que, após o aval, é permitido que qualquer pessoa possa comprar o mosquito, porém, a sua eficácia é maior quando liberado em altas quantidades e em grande área. Em Campinas, o prefeito Jonas Donizette (PSB) desconsiderou a possibilidade de utilizar o mosquito transgênico para combater a epidemia, alegando que a eficácia do método não foi comprovada.

Casos da doença já superam ano passado Cidade já registrou 1.697 casos e teve pior janeiro da história, mesmo com estiagem

Nicole Dariolli

D

epois de ter terminado 2014 como a cidade com maior número absoluto de casos de dengue no Brasil, totalizando 42.664, segundo o balanço do Ministério da Saúde, Campinas já enfrenta novos problemas com o crescimento da incidência da doença. Apenas no mês de janeiro, foram confirmados mais casos do que no mesmo período do ano passado, quando a cidade viveu a pior epidemia de dengue já registrada. Segundo boletim liberado pela Secretaria de Saúde, até o dia 16 de março, Campinas con-

tabilizava 823 casos em janeiro, 839 em fevereiro, 35 em março e a morte de um homem de 78 anos também foi confirmada. Além disso, há outros 5.050 casos de indício da doença, mas que ainda estão sendo investigados. O Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) afirmou que algumas medidas para combater o Aedes Aegypti foram colocadas em prática. “Há distribuição de material para conscientização e já iniciamos ações para eliminação de objetos que acumulam água e são possíveis criadouros do mosquito. Em alguns bairros também estão sendo realizadas opera-

ções de nebulização, veicular ou costal”, informou. A ação de nebulização compreende a pulverização de inseticidas para matar o mosquito adulto. Essa operação tem como objetivo bloquear a transmissão a partir do combate ao mosquito. A nebulização costal ocorre no período da manhã, enquanto a veicular sempre à noite. No momento da operação nos bairros selecionados, os moradores devem manter portas e janelas abertas, além de deixar todas as luzes acesas. Os meses de janeiro a maio, historicamente, são os de maior incidência da doença, com o pico no mês

de abril, por causa do calor e das chuvas. O Devisa ressaltou que os números apresentados até o momento são altos, já que o município enfrentou um longo período de estiagem, o que deveria ter diminuído o número de criadouros. A crise hídrica apareceu este ano como uma agravadora da proliferação do mosquito em Campinas, já que muitos moradores armazenam água em casa por conta da estiagem, mas de forma errada. A técnica em enfermagem Maria Cristina de Oliveira Rocha contou que na Vila Industrial, onde mora, há o armazenamento de água por muitos moradores, desde

que a Sanasa informou que poderiam passar por um período de racionamento. “Em casa compramos uma nova caixa d’água com tampa vedada, mantemos sempre bem fechada e vamos renovando essa água. Agora, infelizmente, tem um povo armazenando água de forma errada, sem tomar cuidado, sem tampar bem os recipientes”, diz.

Febre alta, dor de cabeça, no corpo e nas articulações, atrás dos olhos, manchas e erupções na pele e coceiras são os primeiros sintomas da dengue.


Transporte

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20 de março de 2015

Universitários já têm direito a passe

Estudantes do Ensino Superior pagam 50% da passagem; benefício deve atingir 8 mil por dia Foto: Nina Ferrari

Nina Ferrari

U

Universitário usa Bilhete Único na linha 3.32, utilizada por estudantes da PUC-Campinas e da Unicamp

diesel e a queda no número de passageiros transportados. Dos R$ 18 milhões que complementarão o custo da tarifa, 80% ficam com as empresas de transporte e 20% com o sistema alternativo. O engenheiro Carlos Guimarães, especialista em transporte público e planejamento urbano pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), disse que o grande problema para que houvesse o benefício do passe universitário era simplesmente a decisão da administrações municipal em aderir o desconto, cuja tomada a favor dos estudantes foi também uma intenção de neutralizar possíveis manifestação por parte do grupo. A empresa responsável pelo transporte público em Campinas também aumentou o preço da passagem devido à correção da inflação em dezembro do ano passado. A tarifa normal em Campinas é de R$ 3,50, depois de sofrer um reajuste de 6,06% . A Emdec informou em nota que os custos do sistema subiram acima da inflação nos dois últimos dois anos, período que a passagem não havia sido reajustada. Sendo assim, Guimarães explica que o passe universitário não foi outorgado antes devido aos custos do projeto. Em Campinas, já havia isenção de 50% no valor da passagem

para estudantes cadastrados que estudam em escolas de ensinos Fundamental, Médio e Técnico. Os direitos A Resolução nº 37/2015, contendo todos os procedimentos para a aquisição do benefício do Passe Universitário foi publicada na edição do dia 2 de fevereiro, do Diário Oficial do Município (www.campinas.sp.gov.br/ diario-oficial), na página 37. Para ter o benefício, o estudante deverá fazer o cadastro pela internet, exclusivamente, pela Associação das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Campinas (Transurc), pelo site http://universitario.transurc.com.br/ A Administração municipal também criou um link, dentro do site da Prefeitura, para a realização do cadastro. Basta acessar www. campinas.sp.gov.br/passeuniversitario. O internauta é direcionado para a página. A atualização do cadastro

digital deverá ser feita semestralmente, pois existem muitos cursos com períodos semestrais. O primeiro dia de cadastro para o Bilhete Único Universitário foi marcado por uma avalanche de acessos. No início da manhã do dia 23 de fevereiro, o servidor de e-mails da Transurc ficou sobrecarregado. Por conta disto, algumas tentativas de cadastro deram erro. A estudante de Publicidade e Propaganda da PUCCampinas Camila Helena Traunmüller, diz que fazia quatro anos que ela esperava pelo benefício do passe universitário. “Finalmente temos esse benefício em Campinas. Fui a diversas manifestações e sempre me questionei porque nada era feito a respeito. Tendo que trabalhar durante o dia e ainda ir a faculdade a noite, realmente o preço da passagem pesava bastante nos gastos mensais”, diz.

Foto: Nina Ferrari

ma história de luta se desenvolveu pela redução no valor da tarifa como uma das principais reivindicações dos protestos de junho de 2013, e só agora os estudantes de Campinas terão acesso ao passe-universitário, que dará desconto de 50% no valor das passagens. Com o desconto, o universitário paga R$ 1,75 pela passagem de ônibus. A Lei Complementar nº 97, que concede o Bilhete Único Universitário, foi sancionada pelo prefeito Jonas Donizette (PSB) no dia 18 de dezembro de 2014. O Passe Universitário é válido a estudantes universitários de graduação presencial ou semipresencial, que moram em Campinas e estejam regularmente matriculados em instituição de Ensino Superior do município. Para ter direito, é preciso comprovar grade curricular e residir a mais de 1 km da unidade de ensino. O secretário de Transportes e presidente da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), Carlos José Barreiro, disse que já havia anos que os estudantes reivindicavam o benefício, e que agora era hora de ouvi-los. A discussão por um projeto de lei por parte da administração pública mostrou a preocupação com a questão a partir de uma audiência em novembro do ano passado. De acordo com o secretário, houve uma “sensibilização” do prefeito pela causa. Ele ainda afirma que “os custos do projeto já estão contemplados nos estudos tarifários realizados pela Emdec e serão amortizados pelo próprio sistema, sem subvenção municipal”. No entanto, o Poder Público já aumentou o subsídio das empresas de transporte público de Campinas logo após a concessão desse benefício. O secretário, entretanto, explica que esse aumento foi concedido em razão da mudança de cenário econômico, com o aumento do

Regras As regras para a utilização do Bilhete Único Universitário foram definidas pela Emdec. Os estudantes cadastrados têm direito a adquirir uma cota mensal máxima de viagens. São até 10 passes mensais para estudantes cuja grade curricular exija presença obrigatória semanal de um dia. Até 20 viagens mensais para universitários com presença obrigatória semanal de dois dias. Para alunos com presença obrigatória semanal de três dias, a carga é de até 30 viagens mensais. Nos casos de presença obrigatória de quatro dias, carga de até 40 viagens mensais; e até 50 passes mensais para presença obrigatória semanal de cinco ou mais dias. A aquisição da cota mensal pode ser efetuada parcialmente ao longo do mês. Mas a soma das aquisições não pode exceder a cota máxima estipulada para o período. A renovação do cadastro dos estudantes será realizada anualmente e as instituições de ensino superior devem validar os dados cadastrais referentes à identificação do estudante. O universitário beneficiado com o desconto deve utilizar, no mínimo, 50% das viagens em deslocamentos cujo trajeto da linha está próximo ao estabelecimento de ensino superior em que estuda. O não cumprimento dessa regra pode acarretar em advertência escrita, pagamento do valor integral da tarifa e até a suspensão do benefício. O cumprimento da medida também é condição aplicada na renovação do cadastro.

O estudante universitário Wilmer Adames faz cadastro no site da Transurc para ter direito ao passe com desconto


Gastronomia

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20 de março de 2015

‘Gourmetização’ encarece fast-foods Uso de ingredientes mais sofisticados e mais caros mudam receitas tradicionais

Rafaela Piai

U

ma visita aos carrinhos de cachorro-quente, de pipoca, churros ou lojas de brigadeiros demonstra uma tendência: esses alimentos, em geral, associados a preços baixos, agora passam a ganhar novos ingredientes, mais sofisticados. O sabor pode até ser melhor, mas o preço é mais salgado. Um cachorro-quente comum custa, em média, R$ 6 em Campinas. Mas, no carrinho de André Cossolini, no Jardim Primavera, o lanche está R$ 18,00. O comerciante justifica o triplo do valor pelos produtos que usa, como, por exemplo, a marca do ketchup e da maionese. Ele, no entanto, reconhece que nem sempre os clientes estão dispostos a pagar tanto. Adriana Lift, dona da marca Pipó Gourmet, que

está no mercado desde 2013, considera um produto gourmet o alimento que tem, como ela diz, “um cuidado especial com a seleção dos ingredientes, cuidado no preparo, sem o uso de conservantes e todo um estudo para o desenvolvimento da embalagem para que o produto tivesse o mesmo frescor, crocância e sabor”. Segundo o chefe de cozinha Thiago Carvalho, o termo gourmet surgiu na França como forma de designar aquele que tinha paladar apurado. Mas, nos dias atuais, transformouse em adjetivo para tudo aquilo que traz alta qualidade, apresentação elaborada e diferencial criativo na gastronomia. Com a mídia e marketing voltados para a popularização, Adriana tem consciência de que seu produto é considerado de luxo.

No entanto, “percebemos que a classe D e E também consome os nossos produtos. É como se fosse um presente para si mesmo ou para alguém”. Consumidor Para a estudante Mariana Gomes, o segmento gourmet explora um público que tem mais poder aquisitivo, mas ressalta o fato de q u e qualquer coisa hoje em dia acaba tendo

sua versão gourmet, já que outro dia ela viu um estabelecimento que vendia “geladinho” gourmet. A diferença no doce feito, em geral, com suco congelado eram os sabores diferentes dos tradicionais limão, laranja ou morango. O grande problema para Mariana não é o fato dos alimentos ganharem sua versão gourmet, mas sim o fato de muitas vezes, isso acabar sendo uma desculpa para ganhar mais dinheiro, sem que necessariamente haja

um custo maior. Já o estudante Matheus Arruda se decepcionou com o churros gourmet. “A massa não estava gostosa e tinha pouco recheio”, disse. Arruda ainda conta que há um tempo comprou churros em uma barraquinha de praça e achou mais gostoso e o preço, bem menor.

A Batalha Gourmet Churros Goumet – R$ 7,90

Churros Comum – R$ 3,00

Brigadeiro Gourmet – R$ 4,50

Brigadeiro Comum – R$ 0,60

Pipoca Gourmet – R$ 45,00

Pipoca Comum – R$ 5,00

(Bem menor que o comum mas recheado com creme de avelã) (Uso de chocolate belga e ingredientes selecionados)

(Uso de noz pecan, flor de sal e canela cristalizada)

(Encontrados em qualquer praça)

(Leite condensado, chocolate em pó e manteiga)

(Uso de milho e as opções são: salgada e doce)

Saúde

Cerca de 2 mi de brasileiros têm doença celíaca Famílias que convivem com o problema adaptam hábitos alimentares para ter vida normal Jaíce Souza na Káthia Guerra, de 40 anos, é mãe das gêmeas Sara e Elisa, de 12, diagnosticadas no ano passado com doença celíaca. Desde então, a vida da família mudou para o “modo sem glúten”, rotina de cerca de 2 milhões de pessoas no País, de acordo com a Federação Nacional das Associações de Celíacos no Brasil. A doença se caracteriza pela inflamação da mucosa do intestino delgado, fazendo com que o órgão não absorva corretamente o glúten, proteína encontrada naturalmente no trigo, aveia, centeio, cevada e malte. Tem causa genética e é autoimune, ou seja, não tem causa externa nem cura. O único tratamento é a mudança nos hábitos alimentares. Na casa da família, mes-

A

mo quem não tem a doença já não consome mais produtos com glúten. Uma das adaptações que Ana Khátia produziu foi um cupcake de alfarroba, vegetal que parece chocolate, mas sem glúten. Desde que eram crianças, as gêmeas apresentaram, cada uma de maneira distinta, sinais de doença celíaca, mas os médicos acreditavam ser apenas uma virose. Foi quando, por acaso, ao procurar outro profissional, ela descobriu que as filhas possuíam o gene de pré-disposição da doença, o que a fez procurar um acompanhamento melhor. Segundo o gastroenterologista pediátrico da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Fernando Ribeiro, a descoberta pode acontecer em qualquer idade, sendo mais

comum em crianças, pois, assim que deixam o leite materno, entram em contato com o glúten. É importante começar o tratamento imediatamente, pois, quanto mais alimentos com glúten ingerirem, elas podem desenvolver mais doenças como câncer de intestino. Ana Káthia diz que é preciso redobrar a atenção ao fazer as compras pra casa, pois as informações nos rótulos são muito pequenas. Não basta apenas observar se não tem glúten, mas perceber se o produto é livre de outros alérgenos, já que o celíaco acaba desenvolvendo outras intolerâncias, como à lactose. A mãe das gêmeas faz parte, junto com outras famílias, do grupo Põe no Rótulo, que luta por informações mais claras para orientar pessoas a doença. Além disso, os produtos sem glúten são sem-

Foto: Jaíce Souza

Ana Káthia prepara para as gêmeas Sara e Elisa cupcakes com produtos sem glúten

pre mais caros. Enquanto um pacote de macarrão comum custa cerca de R$ 1,99, o produto sem glúten chega a R$ 13,00. A luta dessas mães é diária em supermercados de Campinas, tanto que já conseguiram que um deles começasse a vender produtos como sucos, iogurtes, leite e macarrão com preço mais acessível que o comum para produtos sem glúten. Para que as filhas não

percam a sua infância nem se sintam excluídas por terem uma alimentação tão limitada, Ana Káthia faz alimentos alternativos que saciem a vontade de comer chocolate, por exemplo. Assim, ela faz bolos, cupcakes, e diversas receitas que fazem a festa em casa.

fenacelbra.com.br


Saúde

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20 de março de 2015

Número de jovens com Aids sobe 40% Muitos parceiros e pouca proteção são os principais motivos do aumento entre os brasileiros Foto: Amanda Januzzi

Foto: Amanda Januzzi

O programa DST/AIDS Campinas é um dos centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) da cidade A sede do Centro de Referência DST/AIDS Campinas, localizado na Rua Regente Feijó, no centro da cidade

Amanda Januzzi

O

número de jovens brasileiros – entre 15 e 24 anos – portadores de Aids aumentou 40% entre 2006 e 2015. O principal motivo para o crescimento do número é a falta de prevenção: 45% das pessoas disseram não ter usado preservativo no último ano. O Ministério da Saúde, para chegar a esse dado, entrevistou 12 mil pessoas nessa faixa etária. Apesar do alto número de jovens que não usam camisinha, 94% de todos os participantes da pesquisa disseram saber que o uso do preservativo é a melhor forma de prevenção contra as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs). Além disso, especialistas dizem que, cada vez mais, os jovens têm mais parceiros e menos noção do perigo da doença. Em oito anos, 30 mil jovens foram infectados pelo vírus da Aids no Brasil. Segundo Larissa Beloti, infectologista, a falta de proteção, aliada a uma falsa sensação de que o vírus está controlado fazem com que o número de adolescentes e jovens portadores da doença aumente. “Os jovens têm uma visão de que nunca vai acontecer com eles, de que são inatingíveis, por isso não se protegem. Além disso, os jovens de hoje não viram os tempos de epidemia, acham que os tratamentos estão avançados o suficiente, que caso sejam infectados vai ser fácil con-

viver com a doença, mas isso é uma grande ilusão”, explica. “Meu mundo caiu em cerca de segundos”, relata o jovem de 21 anos, do Grupo de Incentivo à Vida, dedicado à assessoria a pessoas infectadas. Ele conta que, há três anos, quando descobriu a doença, “pensamentos de todos os tipos rondavam a cabeça”. A decisão para fazer o teste veio logo depois que descobriu que o namorado, com quem

nha. Na época, jovem, eu achava que jamais seria infectado. Desde que descobri faço tratamento, desde o início foi muito difícil me adaptar aos efeitos colaterais e ao preconceito”, conta. Atualmente, 736 mil pessoas vivem com Aids no Brasil, entre elas estimase que 400 mil se tratam pela rede pública. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece gratuitamente 22 medicamentos para todos

primidos, mas a mesma quantidade de medicamento. Porém, isso não significa que os efeitos colaterais sejam menores”, ressalta. Uma jovem, que também faz o acompanhamento da doença no DST/Aids Campinas e não quis se identificar, descobriu que havia sido infectada pelo vírus há dois anos. Ela acredita ter sido decorrência de um estupro que sofreu no exterior. “Quando meu teste deu positivo, eu pensei

Meu mundo caiu em cerca de segundos. [...] Todos os mitos foram desmoronando, até que só restou o preconceito. estava há quase um ano, era portador do vírus. “Terminei o namoro, decidi iniciar o tratamento e dei prosseguimento a todos os meus sonhos. Entendi que nada mudou, apenas o fato de que teria que ter um hábito alimentar mais saudável e prezar pela minha qualidade de vida. Todos os mitos e temores foram desmoronando até que só restou o preconceito”, relata. Um homem de 40 anos, paciente do programa DST/ Aids em Campinas, e que não quis revelar sua identidade, revela que é portador há duas décadas. Ele conta que só usava preservativo caso o parceiro fosse muito insistente. “Eu tinha uma vida sexual ativa e agitada, raramente usava camisi-

aqueles que receberam resultado positivo em seus testes de HIV. A infectologista comenta que o tratamento é difícil, mas necessário. “O Brasil tem, hoje, um tratamento muito eficiente, acima da média global. Todos os estados brasileiros receberam os medicamentos três em um no último mês. Assim, o paciente toma menos com-

‘tudo bem, ninguém mais morre de Aids, vou me tratar’ e foi o que eu fiz. Nunca pensei que o tratamento fosse tão cruel, eu tinha alucinações, passava mal todos os dias. Agora meu corpo está começando a se adaptar aos remédios, mas no início pensei em desistir”, relata. Ray Carvalho, coordenador do programa DST/ Foto: Amanda Januzzi

O programa realiza testes rápidos diariamente, além de ofrecer outros exames, medicamentos e acompanhamento médico

Aids Campinas, explica que os pacientes nunca estão preparados, nem para o tratamento, nem para a doença. “É muito difícil, nós fazemos acompanhamento psicológico aqui, mas é preciso jogo de cintura, porque se a gente fala logo dos obstáculos, eles desistem. O tratamento é difícil e o preconceito também é”, conta. A jovem tem medo de se expor, nunca contou a ninguém, nem mesmo aos parentes, que foi infectada e pretende manter o segredo. “A gente não tem escolha, né? Temos que aprender a viver assim, nos proteger e procurar qualidade de vida assim mesmo, por isso nunca contei, tenho medo do preconceito e já vi amigos que se mataram por conta disso, não quero acabar assim”, declara. A infectologista lembra que outro problema para o aumento da doença é a falta de hábito de fazer o teste. “As campanhas estão por toda parte para conscientizar as pessoas, agora é preciso colocar em prática, ir aos centros de testagem e tirar a dúvida”, lembra. Existem 518 desses locais no Brasil. Em Campinas, são cinco, que realizam cerca de 450 testes por mês e atestam 260 novos casos por ano. Atualmente, a cidade calcula aproximadamente 7 mil casos da doença e estima que mais da metade esteja em tratamento, de acordo com dados da Secretaria de Saúde.


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