Saiba+ - Edição de Abril de 2015

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Desde 2006

Faculdade de Jornalismo - PUC-Campinas

30 de abril de 2015

Casos de alcoolismo entre jovens aumentam 80% Com aumento expressivo em relação ao ano passado, o índice de adolescentes entre 13 e 17 anos que desenvolveram a dependência por bebidas alcoólicas preocupa a Coordenadoria de Combate às Drogas de Campinas. De acordo com o órgão, atualmente, aqueles que procuram ajuda são encaminhados para tratamento no Centro de Apoio Psicossocial (Caps), visto que não há outro lugar para atendimento. Pág. 06 Foto: Vinícius Oliveira

PING PONG

RAFAEL SOUZA

Durante período de aula, universitários bebem em bar próximo à faculdade

“Penso que a melhor solução para [a questão energética] qualquer região é o aproveitamento das potencialidades locais”.

Vítimas do ‘Clube do Carimbo’ falam da transmissão proposital do HIV Pág. 04

Financiamento coletivo possibilita projetos de cultura Pág. 10

Em Campinas, grupos pagam mais para usar teatros públicos Pág. 11 Foto: Maria Luisa Borin

Foto: Victoria Monti

Patrimônio cultural Túnel para pedestres, que liga Vila Industrial ao Centro, tem a mesma estrutura desde 1918, e espera por reparos há 13 anos Pág. 09

Flagras no trânsito

Estudante Maia Mancini aguarda elevador para entrar no ônibus

Infrações e condições do transporte público de Campinas dificultam a rotina dos usuários e desrespeitam os passageiros Pág. 08

Apesar de boa iluminação, túnel necessita de reforma


Opinião

2 RÁPIDAS

CARTA AO LEITOR

Jaíce Souza

Bárbara Leão Betina Mantoan

PUC reduz 5,8% do consumo de água A PUC-Campinas conseguiu reduzir o consumo de água em 5,8% em toda a instituição, incluindo os três campi e o colégio Pio XII. Isso equivale a 12 milhões de litros. Desde 2014, a universidade adotou medidas que envolveram toda a comunidade acadêmica, o que inclui cerca de 18 mil alunos. Entre as medidas estão o fechamento de 45% dos banheiros, o que possibilitou a redução do uso de água para a limpeza; a colocação de arejadores nas torneiras nas praças de alimentação; implantação de máquinas de lavar para a limpeza dos utensílios de cozinha e higienização do piso a seco.   Andar de táxi fica mais caro

editores

A tarifa dos táxis de Campinas ficou 10% mais cara a partir do início de abril deste ano. O Decreto Municipal publicado no fim de março apontou o aumento da bandeirada de R$ 4,40 para R$ 4,85. O último reajuste havia sido feito em janeiro de 2012.Na cidade, a frota tem 951 veículos em operação, sendo 891 convencionais, 40 executivos e 20 acessíveis. Durante o trajeto, na bandeira I (dias úteis, das 6h às 18h, e sábados das 6h às 12h), o valor será de R$ 2,90. Na II (dias úteis das 18h às 6h, sábados das 12h às 24h, domingos e feriados), de R$ 3,75.

CRÔNICA

Precisamos falar sobre tudo

Sesc traz recorte de bienal de SP Está aberta, até 07.06, no Sesc Campinas, a exposição Como (...) coisas que não existem..., com obras itinerantes expostas na 31ª Bienal de São Paulo. Com curadoria de Charles Esche, Galit Eilat, Nuria Enguita Mayo, Pablo Lafuente e Oren Sagiv, a exposição apresenta um recorte de 15 projetos que estiveram em exposição na Bienal. A mostra ocorre de terça a sexta das 8h30 às 21h, e aos sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 18h, no Galpão Multiuso do Sesc que fica na  Rua Dom José I, 270/333 - Bonfim - Campinas - SP . A entrada para o evento é de graça.

Jaíce Souza

Foto: Jaíce Souza

Obra do acervo da bienal em exposição no Sesc Campinas

Expediente: Jornal laboratório produzido por alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas. Centro de Comunicação e Linguagem (CLC): Diretor: Rogério Bazi; Diretora-Adjunta: Cláudia de Cillo; Diretor da Faculdade: Lindolfo Alexandre de Souza. Tiragem: 2 mil. Impressão: Gráfica e Editora Z Professor responsável: Fabiano Ormaneze (Mtb 48.375). Edição e Edição de Capa: Bárbara Leão e Betina Mantoan Diagramação: Gustavo Lorón e Rafaela Piai

30 de abril de 2015 Mais uma edição do Saiba + chega às bancas. Elaborada pelos alunos da turma 43 do período matutino da PUC-Campinas, tem como foco denúncias do cotidiano e o alerta a alguns hábitos dos jovens. Com o número de jovens que desenvolveram o alcoolismo disparado, o tema volta a ser abordado. Até março deste ano, foi observado pela Coordenadoria de Combate às Drogas de Campinas um aumento de 80% de casos, em relação a 2014. No mesmo viés, os valores gastos pelos jovens em festas também é discutido por um economista. Além disso, o projeto de lei que proíbe a realização de festa open bar, que está aguardando aprovação, é expli-

cado e suas razões dividem opiniões. O cuidado com a saúde das adolescentes é ressaltado. A vacina contra o HPV está com baixa adesão em Campinas, por conta do receio a reações adversas registradas durante uma fase de aplicações no litoral de São Paulo, no ano passado. Nossa equipe de reportagem, durante todo o mês, também fotografou diversos problemas no transporte público de Campinas, que dificultam a vida dos usuários e incomodam por conta do preço dos ônibus. Veja ainda nesta edição a atualização das taxas sobre as bilheterias dos teatros do município, que teve um aumento de 15% para 20% sobre o total arrecadado com as entradas.

É só virar a esquina para que homens, fazendo tudo para demonstrar macheza, “cuspam” elogios asquerosos. Mas, em geral, é só passar, ninguém vê. Quem vê não fala sobre e acha natural, desde que o mundo é mundo. Grandes coisas acontecem quando ninguém está olhando, e coisas maiores ainda acontecem se as pessoas se derem conta de que é preciso falar sobre elas. É difícil conseguir tirar todas as raízes do preconceito. As palavras de Rousseau se encaixam bem no momento em que diz que “o homem nasce livre, mas a sociedade o corrompe”, mas queria saber onde começam as distinções. Queria saber onde está escrito que negro nasceu para ser escravo, que gay é uma aberração da natureza, que ser pobre é não ter direitos. Essas questões estão relacionadas a costumes antigos, muito antigos, desde que se entende como início da “civilização” a venda de pessoas como escravas. O conceito de valor é muito esquecido. Mas não quero falar sobre um fato isolado, quero tentar propor um pensamento coletivo: o de acreditar que é preciso falar por aqueles que têm vozes abafadas. Não preciso ser gay para lutar contra a homofobia, não preciso ser mulher para achar o machismo um absurdo, não preciso ser negra para não admitir que exista racismo.

É por isso que é preciso falar, não é só se indignar e achar que a causa é perdida. Abraçar a causa faz parte do nó que junta e nos separa dos nós na garganta por não poder impedir uma injustiça, por não poder salvar vidas. Precisamos falar sobre o que sufoca a gente. Falar sobre o que nos inquieta, trazer para cá as respostas para tantas perguntas que vagam. Quando a gente se cala, somos indiretamente coniventes. É muito fácil ser branco, rico, heterossexual e sudestino (embora o preconceito seja tão grande contra os nordestinos que ninguém se diz “sudestino”. Só nomeamos o que é estranho?). É também muito fácil achar que o mundo está seguindo seu curso normal, as mortes cruéis acontecem por que tem que acontecer. É muito fácil aceitar calado as atrocidades e torcer para que elas não cheguem ao meu bairro de classe A. São muitas questões a ser defendidas por quem, mais que ter um rótulo, é ser humano. Não é preciso ser gay para achar que não há nada de errado num relacionamento entre dois homens. Tampouco é necessário cantar uma mulher na rua para se sentir “homem”. Você não precisa também acreditar em Oxalá para achar que a salvação está numa determinada religião. Por fim, ser branco ou negro, tanto faz, quando antes de tudo se é humano.


Saúde

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Caem números de vacinação de HPV Em Campinas, apenas 42% das meninas entre 9 e 11 anos tomaram a primeira dose neste ano

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pesar de estar disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), a vacina contra o HPV está longe de se tornar um hábito. A primeira dose, destinada a meninas de 9 a 11 anos, foi tomada, em Campinas, por pouco mais de 42% das mulheres nessa faixa etária, o que equivale a cerca de 9.300 meninas. No ano passado, a primeira dose atingiu 95% das garotas, segundo o índice do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) do Ministério da Saúde. A queda no número de vacinações no Brasil tem como uma de suas causas o incidente em Bertioga, no Litoral Norte Paulista, em setembro do ano passado (leia quadro nesta página), quando algumas meninas tiveram reações adversas supostamente associadas à imunização. O “vacinômetro”, como o índice do Ministério da Saúde é conhecido, indica que a cidade superou os dados nacionais: no Brasil, pouco mais de 36% das meninas foram vacinadas. A faixa etária que está apta a receber a vacina neste ano é menor. Em 2014, foram imunizadas meninas de 11 a 13 anos. Em 2015, de 9 a 11. A partir do ano que vem, apenas as garotas de 9 anos receberão a primeira dose. A vacina é dada em três doses. A segunda é aplicada seis meses depois da primeira, e a terceira, cinco

anos após a segunda. O objetivo do Ministério da Saúde com a campanha é a redução da incidência de câncer do colo do útero. Quarta causa de morte entre as brasileiras, cerca de 5 mil mulheres morrem anualmente no País devido a esta doença, segundo dados do órgão. Transmitido principalmente por relação sexual, o vírus infecta a pele e mucosas e pode causar câncer do colo do útero, além de verrugas genitais. Estimase que entre 25 e 50% da população feminina e 50% da população masculina mundial esteja infectada pela doença, segundo a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. “Pensando como estratégia de saúde pública em longo prazo, estamos vacinando agora para ver se conseguimos reduzir a mortalidade dessas mulheres, que é muito alta”, afirma Andrea Barbosa, enfermeira responsável pela imunização do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa). A promotora de vendas Débora Januzzi tem uma filha de 12 anos e diz que não tinha uma opinião formada sobre o assunto quando a vacina tornou-se pública. A falta de informações e de divulgação é uma das razões pelas quais meninas não têm sido vacinadas. Débora, então, procurou um pediatra. “Ele me aconselhou a esperar. Era o primeiro ano da campanha e havia muita polêmica em vacinar ou não. Achei melhor, pois a Júlia era nova e eu

Foto: Camila Yano

Camila Yano

Enfermeira do Posto de Saúde Centro, em Campinas, mostra dose da vacina do HPV tinha tempo para pensar, acabou que ainda não dei”. Débora diz que, agora que Júlia vai à ginecologista, pedirá novas orientações. Ela ainda acha muito cedo para expor a filha ao vírus, mas também pensa no alto índice do câncer. Muitas mães também se questionam sobre a idade da imunização, já que a doença é sexualmente transmissível. A enfermeira Andrea diz que, frequentemente, é abordada com esse questionamento. Segundo ela, é a melhor época para iniciar a prevenção, uma vez que o sistema imunológico de meninas dessa faixa etária responde melhor por nunca ter tido contato com esse tipo de vírus. “Elas produzem um nível de anticorpos dez vezes maior do que meninas mais ve-

O que é HPV: O papiloma vírus humano (HPV) infecta a pele e mucosas e pode causar câncer do colo de útero e verrugas genitais. É altamente contagioso, sendo possível contaminar-se com uma única exposição. Sua transmissão acontece por contato direto com a pele ou mucosa infectada. A principal forma é pelo contato sexual, mas também pode ser transmitido de mãe para filho durante o parto. Embora seja raro, o vírus pode propagar-se também por meio de contato com a mão.

lhas. Precisamos munir as famílias com informação, isso não pode esperar”, afirma. Andrea também ressalta que a vacina é segura e não tem efeitos colaterais. Em 2013, com 15 anos, a estudante Isabela Cremasco tomou a primeira dose da vacina. “Foi uma decisão da minha mãe”. Como foi vacinada pelo setor privado – em que os intervalos entre a segunda e terceira aplicação são 2 e 6 meses – Isabela já tomou as três doses e afirma que não sentiu reações posteriores. “Só o meu braço que ficou bastante dolorido e pesado no dia, mas não tive nenhum efeito colateral”. No setor privado, cada dose varia de R$300 a R$400. A vacinação é o primeiro de uma série de cuidados

que a mulher deve adotar para a prevenção do HPV e do câncer do colo do útero. Ela não substitui a realização do exame preventivo e nem o uso do preservativo nas relações sexuais. O Ministério da Saúde orienta que mulheres na faixa etária dos 25 aos 64 anos façam o exame preventivo, o Papanicolau, a cada três anos, após dois exames anuais consecutivos negativos. Embora a primeira fase da vacinação já tenha terminado, as vacinas continuam disponíveis nos 64 centros de saúde de Campinas. Também podem tomar mulheres que convivem com HIV, que tenham entre 9 aos 26 anos. Meninas entre 12 e 13 anos, que não foram imunizadas no ano passado, devem procurar o SUS. A vacina é indicada para mulheres de 9 a 45 anos.

Caso Bertioga: Em setembro do ano passado, durante a fase de aplicação da segunda dose da vacina, 11 meninas se sentiram mal após a injeção e três delas foram internadas com diagnóstico de paralisia. Após exames neurológicos, a possível reação à vacina foi descartada. Para o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde Jarbas Barbosa, em entrevista ao Estadão, o quadro das adolescentes pode ser avaliado como uma síndrome de estresse pós-injeção, que pode ocorrer com outras vacinas e que o dano neurológico regride espontaneamente. Ele destacou que um eventual problema de má conservação da vacina poderia acarretar uma baixa eficácia da imunização e não resultaria nas queixas manifestadas pelas meninas.


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Saúde

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Criminosos contaminam parceiros ‘Clube do Carimbo’ usa a internet para divulgar dicas de transmissão da Aids Foto: Divulgação

Nicole Dariolli

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enominado de “Clube do Carimbo”, um grupo de soropositivos adeptos à prática do bareback, ou seja, sexo sem uso de preservativos, têm usado táticas e técnicas para transmitir o vírus da Aids propositalmente para seus parceiros sexuais. O ato é considerado crime e uma ameaça à saúde pública. Autodenominados de “vitaminados”, alguns portadores do HIV mantinham várias páginas na internet, que ganharam destaque na mídia, com a publicação de técnicas, como furar camisinhas e/ ou tirá-las na hora do ato sexual, para a contaminação proposital. Os chamados “carimbadores” divulgavam dicas nas redes para que o vírus fosse passado sem o conhecimento do parceiro. Depois de denúncias, as páginas foram retiradas do ar. O ativista de direitos humanos Diego Callisto tem 25 anos e convive com o vírus da Aids há oito, após ser contaminado de propósito pelo então namorado. “Ele sabia do diagnóstico, mas não me contou que estava doente. Ele insistiu várias vezes, dizia ‘vamos fazer sem camisinha’”, contou. Outro caso semelhante é o de um estudante de 21 anos que preferiu não se identificar. Ele é mais uma vítima do “Clube do Carimbo” e contou que, na época, também não sabia de nada e que agora tem que conviver com a doença, além de enfrentar diversos casos de discriminação. “Eu sei que se eu tivesse usado preservativo, hoje seria diferente. Mas, quando aconteceu, eu não sabia que ele tinha o vírus e fui carimbado contra minha vontade. Não estava ciente daquilo. Agora mudou toda a minha vida e tudo a minha volta”, lamentou o estudante. O ato de “carimbar” é considerado um crime e constitui-se como uma lesão corporal grave. O

situação. Na realidade, trata-se de uma atitude com alto grau de maldade onde a pessoa vitimada pelo infortúnio da Aids busca aliviar sua frustração disseminando sua desgraça”, defende o psiquiatra. Dados De acordo com o Boletim Epidemiológico di-

Diego Callisto conta como convive com o vírus da Aids professor de Direito Penal da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) João Violante explicou que “o fato trata-se de uma agressão à saúde pública, bem como uma intervenção à liberdade sexual”. O “carimbador” pode responder a processo e cumprir pena de 2 a 8 anos de prisão, segundo previsto no Código Penal. Segundo o psiquiatra Geraldo Ballone, a atitude de transmitir o vírus

da Aids propositalmente não pode ser considerada como um transtorno, já que não é identificada pela Classificação Internacional de Doenças (CID-10) como uma patologia. Ainda assim, Ballone defende que o transmissor deve receber um acompanhamento psicológico. “Há um ditado que diz: ‘o condenado se consola na dor do semelhante’, o que significa que a minha dor poderá ser menor se todos estiverem na mesma

Ele sabia do diagnóstico, mas não me contou que estava doente

vulgado pelo Ministério da Saúde em dezembro de 2014, há aproximadamente 734 mil pessoas vivendo com o HIV no Brasil. Além disso, a publicação mostrou que existe um aumento de infectados tanto

entre homossexuais como entre heterossexuais. Entretanto, o avanço da doença é superior entre a população gay – segundo a comparação, atualmente, são 6.043 soropositivos diagnosticados ao ano, contra 4.679 novos casos em 2003. O aumento é de quase 30%, enquanto entre heterossexuais a variação corresponde a quase 2% no mesmo período. Para Callisto, que em 2013 denunciou uma ação do “Clube do Carimbo”, é importante ressaltar que esse grupo corresponde a apenas um recorte de soropositivos que adotam a prática. Callisto afirmou ainda que é possível viver com qualidade de vida, mesmo com HIV, porém o fato não é motivo para banalizar a transmissão da doença. Com o aumento das denúncias e a popularização dos casos, algumas medidas estão sendo tomadas, como o projeto de lei - PL 198/2015 - lançado em fevereiro e que está em processo de votação, a qual propõe tornar crime hediondo a transmissão deliberada do vírus da Aids.

Eu sei que se tivesse usado preservativo, hoje seria diferente

Embora possa ser uma medida para conter a prática da transmissão proposital da Aids, a PL já encontra algumas barreiras, como, por exemplo, o próprio Callisto, que foi vítima de um “carimbador”, mas é contra a aprovação da lei. “Se aprovada, esta lei irá aumentar o estigma e discriminação em relação ao HIV, afastando as pessoas dos serviços de testagem e tratamento, representando assim um retrocesso nos esforços nacionais de controle da epidemia”, ressalta.


Sexualidade

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Sexshop lucra 13% mais em 10 anos

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Mulheres representam 70% das vendas e “50 tons de cinza” impulsiona consumo

país. Muitos lojistas de lingerie, perfumes e presente, além dos centros de beleza e estética estão vendo no

comércio de artigos eróticos uma oportunidade de se diferenciar”, explica. Além disso, o tabu que gira em torno desse assunto tem se desmistificado após o lançamento de filmes e livros que têm o tema como foco principal, gerando discussões sociais. De acordo com Ítor Finotelli, mestre e doutor em psicologia pela Universidade São Francis-

co (USF) e psicoterapeuta sexual, o assunto já não é considerado tabu. “Não poderia afirmar como um tabu, mas como algo não desejável e por vezes interpretado como um produto que se usa quando algo que está de errado e/ou quando se quer proporcionar um prazer que não se alcança, como um incremento”, afirma. Uma mulher de 26 anos que não quis se identificar, conta que, ao assistir o filme De Pernas pro Ar, em 2010, percebeu que sua vida sexual não era tão saudável quanto pensava, ao consultar sua ginecologista, foi aconselhada a recorrer aos produtos eróticos. “Fui aconselhada a experimentar brinquedos sensuais, para melhorar a qualidade de minha vida sexual mesmo. Até hoje eu compro e me sinto mais feliz e realizada, nunca comprei com a intenção de apimentar a relação com meu parceiro ou algo do tipo, compro para me satisfazer, deixou de ser um tabu pra mim”, conta. A estreia do filme 50 Tons de Cinza já está rendendo frutos: 63% dos empresários aumentaram a linha de produtos sadomasoquistas após o lançamento e 23% das vendas desses artigos aumentaram, segundo a Abeme. Lucas Bertipaglia, diretor executivo da empresa de produtos sensuais Hot Flowers, afirma que as vendas da linha sado aumentaram 10% desde fevereiro.

dade conta que há seis anos a relação com o ex-marido não ia bem, por isso resolveu recorrer aos produtos eróticos para se satisfazer. “Desde então sempre compro brinquedos novos. Hoje, já estou num outro relacionamento e costumo trazer novidades para a relação não cair na rotina. No início, ele estranhou um pouco, pois não estava acostumado a usar esse tipo de coisa em suas relações sexuais, mas agora ele gosta e até já fomos juntos à loja”, conta. Bertipaglia afirma que o público alvo da empresa são mulheres entre 20 e 35 anos, principalmente que

procuram melhorar a relação sexual com seu marido. Por conta do aumento desse público feminino, o marketing da empresa optou por tirar o estereótipo pornográfico dos produtos, mudando diversas palavras utilizadas em seus catálogos, site e redes sociais. A mudança principal foi a troca do termo “produtos eróticos” para “produtos sensuais”. Osmar Gomes, dono de um sex shop no centro de Campinas há seis anos, diz que 65% de suas clientes em seu sex shop são mulheres e que os homens também têm comprado mais. “O principal motivo

do aumento tanto de homens como de mulheres comprando é o cuidado com a relação”, afirma. Uma mulher de 22 anos, que não quis se identificar, confirma, dizendo que os produtos sensuais só melhoraram seus relacionamentos. “Sempre aconselhei minhas amigas a comprar lingeries, brinquedos e fantasias para apimentar a relação. E eu faço isso também, desde meu primeiro namorado, sempre usei coisas diferentes em minhas relações sexuais e isso ajudou a aumentar a parceria em meus relacionamentos”, afirma.

Foto: Amanda Januzzi

Amanda Januzzi

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os últimos dez anos, o mercado erótico no Brasil cresceu aproximadamente 13% ao ano, de acordo com dados da Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual (Abeme). Só o último trimestre de 2014, o setor cresceu 8,5% e a expectativa para 2015 é que esse crescimento se mantenha, segundo dados da mesma pesquisa. A aposta desse ano para o mercado é o lançamento do filme 50 Tons de Cinza, no dia 12 de fevereiro. Além disso, a participação das mulheres nesse segmento também tem crescido. Hoje elas representam 70% do consumo e os empresários se voltam para o público feminino cada vez mais. O mercado erótico brasileiro tem pouco mais de 30 anos. Atualmente, estão instaladas no País 50 empresas nacionais especializadas em próteses (com ou sem vibradores), acessórios, vestuário sensual e cosméticos. A maior empresa de produtos eróticos da América Latina está localizada no distrito industrial de Indaiatuba (SP), e já exporta para 30 países. O Brasil comercializa 9 milhões de produtos sensuais por mês e o setor gera mais de 125 mil empregos. Os produtos mais vendidos no mercado em geral são cosméticos, massageadores e lingeries

AS MULHERES NO MERCADO Nos anos 2000, apenas 10% dos consumidores de produtos eróticos no Brasil eram mulheres. Hoje, a porcentagem alcança 70% das mulheres comprando em sex shops e 52% adquirindo artigos sensuais pela internet. Segundo dados da Abeme, 71% dessas mulheres compram para “apimentar a relação”, 63% para satisfação pessoal e 33% para chás de cozinha. De acordo com

Lingeries diferenciadas estão entre os itens mais requisitados pelas mulheres em 2015 sensuais. Segundo Paula Aguiar, presidente da Abeme, o mercado brasileiro cresceu tanto e em tão pouco tempo, porque o investimento na variedade de lojas, tanto físicas quanto virtuais, aumentou. “O fator de crescimento do mercado foi a diversidade de pontos de venda e o avanço do consumo em todas as regiões do a mesma pesquisa, os itens mais vendidos entre o público feminino são excitantes (gel), lubrificantes, lingeries e fantasias, vibradores em geral. Finotelli afirma que a compra de produtos também pode ser vista como uma autoafirmação feminina. “É possível inferir a principal motivação do público feminino, a busca por se livrar do rótulo de incapacidade e inaptidão. Rótulos estimulados socialmente até hoje levando as mulheres questionarem o tempo toda sua capacidade em gerar prazer”, explica. Uma advogada que prefere não revelar sua identi-

Deixou de ser um tabu para mim


Especial

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Alcoolismo entre jovens cresce 80% Em Campinas, faltam locais para tratamento; todos são encaminhados aos Caps Infantis Foto: Vinícius Oliveira

Universitária consome bebida alcoólica em bar próximo a faculdade durante o período das aulas

Vinícius Oliveira

O

número de jovens entre 13 e 17 anos que já desenvolveram o alcoolismo e apresentam outros sintomas de dependência, como mudança de humor e comportamento, que buscaram ajuda na Coordenadoria de Prevenção às Drogas de Campinas até março deste ano já corresponde a 80% dos casos registrados no ano passado. Segundo o órgão, nos três primeiros meses deste ano, foram registrados 12 atendimentos, contra 15 nos 12 meses de 2014. Em 2013, foram oito casos. De acordo com a assistente social da Coordenadoria de Prevenção às Drogas de Campinas Elaine Esteves, apesar do aumento do número de atendimentos, hoje os jovens que procuram o órgão são encaminhados para tratamento em Centro de Apoio Psicossocial (Caps) Infantis, visto que não há outro lugar para tratamento. Organizações não governamentais (ONGs) costumavam proporcionar o tratamento, porém isso não é mais realizado. “Os episódios de embriaguez entre menores de

Projeto de lei quer proibir open bar, mas não é consenso Juliana Araujo O projeto de lei que proíbe a realização de eventos comerciais com cobrança de ingresso com fornecimento de bebidas alcoólicas liberadas, mais conhecidas como open bar , protocolado pelo vereador Luiz Carlos Rossini (PV), está aguardando o parecer da Comissão de Constituição e Legalidade da Câmara de Campinas para ser incluído na pauta para primeira votação. Rossini apresentou a proposta legislativa no início de março e, caso passe na votação, deverá ser convocado uma audiência pública para debater a proposta com a sociedade.

Estudo realizado pelo Ministério da Saúde, divulgado em 2013, indica que uma em cada cinco vítimas de trânsito, atendidas nos prontos-socorros de hospitais públicos brasileiros, ingeriu bebida alcoólica. O levantamento revela que, entre as pessoas envolvidas em acidentes de trânsito, 22,3% dos condutores, 21,4% dos pedestres e 17,7% dos passageiros apresentavam sinais de embriaguez ou confirmaram consumo de álcool. O estudante Renato Brocanelo, de 21 anos, passou mais de 10 dias inconsciente na UTI com a clavícula, a escapula e três costelas fraturadas, que perfuraram o pulmão. Os ferimentos foram decor-

rentes do acidente que o estudante sofreu saindo de um open bar que, ao consumir uma alta quantidade de bebidas alcoólicas, acabou dormindo ao volante e bateu em uma árvore, dando perda total do veículo. “Sempre fui muito inconsequente, mas o acidente me fez ver como as pessoas que estavam perto de mim sofreram e me fez repensar minhas atitudes”, diz. “Passei a beber apenas em locais em que poderia passar a noite, mas de algumas semanas pra cá decidi parar o consumo dessas bebidas. E estou gostando da experiência.” O produtor de eventos Gustavo Turco acredita que o projeto não é a solução para o problema, pois

o consumo de bebidas alcoólicas faz parte da cultura brasileira. “Não há base nenhuma para a intenção de sanar um mal, afinal, casas noturnas e bares estarão sempre à disposição. A diferença é que nesses comércios o gasto é muito maior. No open bar é cobrado menos”. O produtor afirma que todas as medidas são tomadas para garantir a segurança durante o evento, que conta com a presença de bombeiros, ambulâncias e médicos. Em geral, essas festas são realizadas em casas de eventos e repúblicas. Pelo preço de entrada, a pessoa tem direito a consumir o quanto quiser de bebidas. Rossini acredita que a cobrança do ingresso com

bebida liberada é um estímulo explícito ao consumo, e o objetivo do projeto de lei é evitar que jovens passem de suas limitações físicas para compensar o valor investido na entrada. “Não considero correto tratar o jovem como um mero consumidor”, afirma Rossini. O projeto estabelece multa de 1.000 Unidades Fiscais de Campinas (Ufics), equivalentes a cerca de R$ 2.800, ao promotor do evento que descumprir a lei. Em caso de reincidência, a pena será dobrada, podendo resultar na cassação de alvará e até a proibição de emissão de novo alvará por dois anos no âmbito municipal.


30 de abril de 2015 tem peso maior. Aí está a responsabilidade privada. Trato de adolescentes com alcoolismo cujos pais não souberam ser bons exemplos. Existem ainda pais que não se preocupam com o que pensam e fazem os amigos de seus filhos, além de acreditarem que a educação que deram em casa é suficiente.” O coordenador de prevenção às drogas de Campinas, Nelson Hossri, explica que existe um projeto para estender a jovens menores de 18 anos um programa

de tratamento existente para adultos, o Recomeço. "O Caps Infantil é apenas um serviço que a (Secretaria de) Saúde oferece para jovens e adolescentes. Por isso, nós da Coordenadoria de Prevenção às Drogas, ligada à Secretaria de Cidadania, estamos iniciando um diálogo com o Governo do Estado de São Paulo para criarmos o Recomeço Jovens e Adolescentes, programa de tratamento gratuito em centro especializado para dependentes do álcool e outras drogas".

Foto: Maria Luisa Borin

mento para pais de jovens e adolescentes. Sobre os fatores que levam adolescentes a consumir bebidas alcoólicas, Romano divide em dois os tipos de responsabilidade. “Na esfera da responsabilidade pública, entram as leis e sua fiscalização. É dever do poder público não apenas elaborar as leis, mas fazê-las cumprir. Temos carência disso em nosso país. Entre os jovens, a influência da mídia pesa, mas a influência dos amigos e familiares

forma intensiva portadores de transtorno mental grave na infância para evitar a internação psiquiátrica e promover a reabilitação. Segundo Elaine, para prevenir que jovens e adolescente entrem em contato com o álcool e outras drogas, são desenvolvidas ações socioeducativas e de conscientização, como encaminhamentos para cursos profissionalizantes, palestras preventivas em escolas da cidade, atendimento psicológico, além de orientação e aconselha-

Foto: Vinícius Oliveira

18 anos se tornam cada vez mais frequentes e os riscos a que são expostos ficam cada vez mais complexos. Basta ir a qualquer festa de jovens que se constata o uso indiscriminado, excessivo e prejudicial de bebidas alcoólicas”, explica Marcos Romano, médico psiquiatra especialista no assunto. Foi por influência de alguns amigos que o estudante Bruno (nome fictício), de 17 anos, começou a ingerir bebidas alcóolicas. "Meus amigos começaram a me oferecer e a desafiar a beber. No começo resisti, mas depois acabei cedendo", diz. Com o decorrer do tempo, Bruno passou a ingerir mais doses de cerveja e bebidas como vodka. Os problemas apareceram quando ele percebeu que estava agressivo com os familiares e sentia desejo de beber todos os dias. "Vendo o ponto a que eu estava chegando, minha mãe me convenceu a procurar ajuda. Fiz tratamento psicológico e hoje tenho consciência sobre os limites do álcool", afirma. Em nota, a assessoria de imprensa da Prefeitura Municipal de Campinas informou que o Hospital Ouro Verde dispõe de dois leitos exclusivos para internações diárias e que dois Caps I (Infantis e Infantojuvenis) são especializados em saúde mental e têm como objetivo tratar de

Recomeço

Jovem desencorajado enquanto aguarda por atendimento em frente à Coordenadoria

O Recomeço é um programa do governo do Estado de São Paulo para ajudar dependentes químicos por meio de acompanhamento ao paciente e aos familiares, oferecendo tratamento médico e apoio social. Quando necessária, a internação dos dependentes em centro de referência. Quase 32 mil dependentes receberam tratamento por meio do programa desde janeiro de 2013.

Gastos dos universitários com festas contribuem para o endividamento precoce Foto: Fernanda Flores

Fernanda Flores

Dose de tequila chega a R$ 15 em bares de Campinas

Vida de universitário é feita também de contar dinheiro dia a dia. Seja para pagar a kitnet, o material para a faculdade e, claro, as festas. O cuidado que se deve ter é não fugir do orçamento e se transformar num “festeiro” endividado. O estudante André de Freitas, de 19 anos, é um frequentador assíduo das festas universitárias, são mais ou menos oito festas por mês que custam, em média, R$ 45,00 cada. Freitas afirma que a me-

sada que recebe dá para bancar os custos com lazer, mas que muitas vezes ele precisa economizar com outras coisas para poder ir às festas. “Algumas vezes, eu me arrependo, porque é muito dinheiro!”, diz. Márcia Nogueira é mãe de dois jovens e diz “o que os jovens de hoje têm que entender é que não preciso ir a todos os eventos da faculdade”. A professora também ressalta a importância de guardar esse dinheiro para investir no próprio futuro, como em cursos de línguas ou num mestrado. De acordo com o economista e professor da Pontifícia Universitária Católica de Campinas (PUC-Campinas) Antônio Carlos Lobão, se os jo-

vens continuarem a gastar dinheiro desenfreadamente, se tornarão adultos endividados no começo da carreira, o que pode ser muito prejudicial para o futuro. Ele aconselha que “é importante fazer a conta ‘quanto ganha + quanto gasta’”. Se o resultado for positivo, é hora de aproveitar. Se for negativo, melhor ficar em casa ou procurar por alternativas mais baratas de entretenimento.

Para denunciar a venda ou facilitação de bebidas alcóolicas para menores de idade, ligue 156. A pena é de dois a quatro anos de prisão, além de multa.


Trânsito

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Flagras no transporte público

Reportagem do Saiba+ registra imagens de infrações e desrespeito com usuários dos ônibus Foto: Nicole Dariolli

Ô

À esquerda, super lotação na linha 332; já a direita mulher abre guarda-chuva, na linha 357, devido às goteiras no transporte público de Campinas Foto: Victoria Monti

Ônibus, ao lado da prefeitura, comete infração ao circular com luzes apagadas

À esquerda, ônibus atende ao sinal da estudante de direito Maia Mancini apenas na terceira tentativa, e à direita, motorista é flagrado falando no celular no 351

Foto: Gustavo Lorón

Foto: Victoria Monti

nibus sem luzes internas deixam os passageiros no escuro. Uma estudante consegue flagrar uma mulher que abre o guarda-chuva para não ser molhada na goteira no teto do coletivo da linha 357. Motoristas sem cinto de segurança, que falam ao celular e não respeitam o itinerário. Pessoas se espremem ao máximo nos horários de pico. Essas são algumas das principais queixas dos passageiros em Campinas. Ao todo, 902 ônibus circulam pelo sistema InterCamp, supervisionado pelas atividades da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec). O custo do sistema é de aproximadamente R$ 36,5 milhões. Em janeiro, quando a tarifa aumentou, o valor subvencionado pela Prefeitura era de R$ 1 milhão. Entretanto, no início do mês de março, o prefeito Jonas Donizette (PSB) aumentou o repasse às cinco empresas concessionárias do transporte coletivo em 150%, saltando para R$ 2,5 milhões. Nos últimos nove anos, o valor da tarifa aumentou 155,5%, enquanto a inflação no mesmo período foi de 62,11%, de acordo com dados do IPCA. Maia Mancini, de 23 anos, é paraplégica e conta com o auxílio de uma cadeira de rodas motorizada. Apesar da autonomia na locomoção de curta distância, a estudante é refém da infraestrutura. Um de seus maiores obstáculos é a espera. “Tem dias que fico esperando 20 minutos. Mas, dependendo do horário e da linha, não é raro ter que esperar mais ou menos duas horas por um ônibus que pare e, além disso, tenha o elevador funcionando. No dia a dia, só uso ônibus, e vou para todos os lados. Hoje mesmo fui à cidade judiciária e ao Campinas Shopping. Agora estou indo para a Unip”, diz a estudante do 7º período de Direito. Segundo ela, a inexis-

tência de cobradores (função extinta desde outubro de 2014) piorou as condições. “Antes, eram eles que manuseavam o elevador e me ajudavam a subir. Agora são os motoristas que fazem isso. Eles ficam sobrecarregados. Muitos não sabem nem mexer no elevador, e vários param no ponto mas dizem que o elevador está quebrado. Não tem como saber.” Segundo o motorista Osvaldo Oliveira, são necessários cerca de 10 minutos para acomodar cadeirantes: “É complicado, a gente atrasa muito”. Segundo a assessoria de imprensa da Emdec, todas as reclamações devem ser feitas pela central de atendimento ou com a concessionária responsável pela linha: “Ao realizar a denúncia, o usuário deve informar a linha, prefixo, data, local e horário da ocorrência”. No que diz respeito à conduta irregular dos motoristas, a empresa credita a culpa às concessionárias. “Os motoristas são funcionários das empresas.” Na questão do manuseio dos elevadores, afirma que “o conteúdo programático [dos cursos sobre transporte inclusivo] não inclui treinamento para o uso do elevador, capacitação que compete às próprias empresas.” Em busca de aprimorar a vigilância, o Sistema InterCamp estrutura a implementação de monitoramento por câmeras dentro dos coletivos, mas não há prazo para isso ocorrer. “Entre os recursos previstos, está a readequação dessa fiscalização eletrônica dentro dos ônibus.” A Associação das Empresas de Transporte Urbano de Campinas (Transurc) não quis dar nenhuma declaração sobre as ocorrências. Quando questionada sobre os apontamentos feitos nesta reportagem, embora tenham sido apresentadas as fotos e números das linhas, afirmou que, para dar mais informações, precisaria dos prefixos de cada ônibus com algum tipo de irregularidade.

Foto: Jaíce Souza

Victoria Monti


Cidade

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Patrimônio não vê reforma há 13 anos Túnel entre o centro e a Vila Industrial tem rachaduras nas paredes e pichações

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Túnel de Pedestres, que liga a Vila Industrial ao centro de Campinas, está há 13 anos sem restaurações. De acordo com a Coordenadoria Setorial do Patrimônio Cultural (CSPC), a última reforma foi feita em 2002 e não há previsão de novos projetos que incluem a restauração do patrimônio tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural (Condepacc), em 29 de novembro de 1990. Localizado no antigo complexo ferroviário, o túnel é utilizado diariamente por pedestres e serve como atalho para quem deseja chegar a um dos bairros. A construção, datada no começo do século XX, possui 200 metros de comprimento e durante o seu percurso, que dura por volta de 5 minutos, é possível notar falhas na preservação, como rachaduras nas paredes e no chão, pichações, vidros quebrados e falta de limpeza interna. O aposentado Rosalino Moreira de Lima, de 74 anos, utiliza o

túnel diariamente desde a época que chegou a Campinas, em 1973. Durante esse tempo, notou que poucas manutenções foram feitas. Segundo ele, a situação do túnel pode causar acidentes, principalmente, com as pessoas mais idosas, por causa da estrutura do piso, por exemplo. “Pelo tempo que eu frequento esse túnel, que já faz 40 anos, vi que poucas coisas foram feitas. A única mudança que eu vejo é na parte da iluminação, que é muito boa”. A auxiliar de cozinha Viviane de Oliveira também utiliza o túnel diariamente, neste caso, para ir ao trabalho. Ela afirma que “precisa de uma reforma, uma limpeza. O túnel está muito sujo, muito danificado”. Apesar de não apresentar boas condições de preservação, não há sinais de abandono. A passagem é bem iluminada, possui lixeiras nas duas entradas e há câmeras de vigilância nas duas extremidades do túnel, que fica aberto das 9h às 23h. A Prefeitura defende que a limpeza é feita regularmente e que as lâm-

Inaugurado em 1918, o túnel de pedestres faz parte do complexo ferroviário de Campinas e é símbolo das reivindicações dos operários em 1917, que buscavam melhores condições de trabalho, entre elas, a construção do túnel, que facilitava e tornava mais segura a travessia entre os dois bairros campineiros. Hoje, quem passa por ele consegue notar, ainda que em condições não muito boas de preservação, características que remetem aos anos 20. Um verdadeiro patrimônio histórico e cultural da cidade.

Apesar de iluminado, túnel que liga Vila industrial ao Centro necessita de reparos sentar um fluxo intenso de pedestres, principalmente durante o período noturno. Por conta disso, a ação dos vândalos é facilitada, já que não há vigilância na parte interna. Muitos usuários, no entanto, não se sentem seguros, principalmente à noite. É o caso da comerciante Bruna Camila Teixeira. “Não me sinto à vontade de entrar no túnel, se eu tiver que passar por aqui, eu prefiro nem vir para cá”. Por

padas são trocadas sempre que necessário. Numa das entradas, do lado da Vila Industrial, na Rua Francisco Teodoro, a equipe do Saiba+ também notou a presença de guardas municipais e, inclusive, uma viatura. De acordo com a Polícia, esse monitoramento é frequente. Não é possível calcular exatamente o número de pessoas que passam pelo túnel todos os dias, mas o local não costuma apre-

causa disso, Lima acredita que é necessário que sejam colocadas câmeras na parte de dentro. Na última reforma, em 2002, a Prefeitura afirma que foram feitas mudanças na parte externa e interna do túnel, como pintura, troca da vidraçaria e da parte elétrica, porém, a construção não sofreu nenhuma intervenção e mantêm a mesma estrutura, como tijolos e pisos, da época em que a passagem foi construída.

Aluguel de kitnet ultrapassa R$ 1 mil Moradores do Pq. das Universidades reclamam ainda da falta de infraestrutura na região

A cidade de Campinas teve um aumento de 2,0% no valor do aluguel entre dezembro de 2014 e março de 2015, segundo o Índice Geral de Preços de Mercado (IGPM), que já ficou conhecido como a inflação do aluguel. Por lei, o reajuste só pode ser feito uma vez por ano, no mês de aniversário do contrato. O aumento pesa bastante, principalmente, no bolso dos universitários. O administrador imobiliário Laércio Assoni relata que são construídas, em média, cinco prédios com kitnets por ano no Parque das Universidades. A vinda dos 3 mil alunos do curso de Direito para o Campus 1 da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCampinas), prevista para o ano que vem, deve aumentar ainda mais essa deman-

Foto: Nina Ferrari

Nina Ferrari

Os estudantes Maísa Costa e Lucas Correia, em kitnet da e, consequentemente, o alta procura por imóveis, preço. “As pessoas optam faz com que proprietários por pagar mais caro para es- coloquem o preço que lhes tarem próximas às universi- convêm. Com isso, pequedades, pois não dependem nos empresários e construde transporte ou condições toras investem em imóveis climáticas para irem às au- de pequeno porte, por atenlas”, explica Assoni. derem às necessidades básiO Sindicato da Habita- cas de moradia estudantil. ção (Secovi-SP) diz que a procura por imóveis para Desvantagem alugar cresce até 50%, com A região do Parque das o início do ano letivo. O Universidades sai em granprofessor de Economia da de desvantagem, por não PUC-Campinas Antônio conter opções de comércio Carlos Lobão afirma que a e lazer. Para essas ativida-

des, em geral, o estudante precisará se locomover até o centro ou algum bairro próximo. A reportagem do Saiba+ fez uma cotação de preços para aluguel de kitnets comparando locais próximos à PUC-Campinas e no Centro. Os preços variam de R$ 950,00 a 1.500,00. Porém, embora no Centro os imóveis sejam maiores, eles foram construídos há mais tempo e muitos precisam de reformas. Em geral, próximo à PUC e à Unicamp, os imóveis são mais novos. Em contrapartida, segundo pesquisas do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci-SP), em Campinas, houve um desempenho negativo dos preços e dos aluguéis levando-se em consideração todos os tipos de imóveis. A desvalorização acumulada foi de 13,53%. Esses dois índices superaram a infla-

ção de 6,41% medida pelo IPCA do IBGE. No entanto, essa desvalorização não foi verificada no preço das kitnets. Os alunos reclamam, além do alto preço, das condições de infraestrutura e segurança no bairro das kitnets. A estudante de Publicidade e Propaganda da PUC-Campinas Maísa Costa reclama do mato e dos lixos nas calçadas. “Acho que, se forem instalados mais pontos comerciais na região, teríamos melhorias em diversos aspectos de infraestrutura”. A estudante Rafaela Piai reclama que, além dos altos preços das kitnets, a estrutura do bairro deixa a desejar. “Não temos padarias e farmácias. Só bares. As kitnets, devido à falta de segurança, muitas vezes são roubadas e diversos alunos são assaltados nos pontos de ônibus”.

Foto: Maria Luisa Borin

Maria Luisa Borin


Cultura

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“Vaquinha digital” patrocina projetos Autores apostam no crowdfunding para viabilizar publicação de livros e documentários

Julio Joly

financiamento coletivo brasileira, foi fundado no odo mundo está início de 2011 e, desde acostumado com então, já financiou 1.508 “vaquinhas”. No projetos, os quais arrecatrabalho, para a festa da daram juntos um total de empresa; em casa, para a R$ 22 milhões. Para procompra do presente; entre por um projeto, antes ele os amigos, para o churras- precisa ser aprovado peco no fim de semana. Mas los critérios definidos pelo tem gente que leva a sério site. No caso do Catarse, esse rateio de custos para isso envolve orçamento grandes projetos, como a transparente, cronograma publicação de livros, pes- e atividades bem delimitaquisas científicas, reporta- das. O processo é gratuito, gens e projetos culturais. no entanto há uma comisJá existe até um termo são de 13% do valor total para a prática: crowdfun- arrecadado, cobrada apeding, ou financiamento co- nas se o projeto atingir sua letivo, numa tradução para meta. No caso desse site, o propositor só poderá o português. Em parceria com a edi- usar o dinheiro se a meta tora Via Escrita, o jorna- for alcançada no prazo eslista Plácido Berci resol- tipulado. Do contrário, o veu tentar o crowdfunding dinheiro é devolvido aos para publicar “Paixão – apoiadores (modelo “Tudo uma viagem pelo futebol ou Nada”). Um projeto recente que inglês”, proposta que logo também tentou o financiaobteve sucesso. Ele diz que a ideia partiu da pró- mento coletivo foi o livro pria editora, que já havia “Matador de Dragões” publicado outros livros (Multiesportes, 396 págiutilizando essa modali- nas, R$ 50,00), biografia dade de financiamento. A do campeão olímpico Jorapidez com que o valor necessário para o projeto foi alcançado surpreendeu Berci: em apenas duas semanas, com o projeto num site especializado em crowdfunding, ele conseguiu cerca de 150 apoiadores que patrocinaram R$ 8.700,00. O crowdfunding se desenvolveu junto com a internet. Para esses projetos, os propositores cadastram-se em sites especializados, apresentam a ideia e esperam doações (veja infográfico nesta aquim Cruz, escrita pelo página). Os primeiros si- jornalista Rafael de Martes do tipo surgiram já na co. Ao final do prazo estisegunda metade dos anos pulado, o projeto não con2000 nos Estados Unidos. seguiu arrecadar o valor O Catarse, primeira e prin- necessário. Ainda assim, cipal plataforma online de o lançamento do livro foi

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Seja cara de pau e fique em cima de todos os conhecidos para que apoiem

possibilitado por meio da venda prévia de exemplares junto a patrocinadores. Para o autor, o sistema do crowdfunding não funcionou no seu caso porque o brasileiro ainda precisa desenvolver uma cultura de investimento a projetos culturais. Mesmo sem sucesso nesta tentativa com o financiamento colaborativo, Marco aprovou a experiência e pensa em arriscá-la novamente em outras

oportunidades. “Acredito nesse tipo de plataforma e fico muito feliz cada vez que vejo um projeto sendo viabilizado por essa ‘vaquinha’ do século 21”, afirma o jornalista. Para Berci, o sucesso do projeto deve-se à dedicação que ele teve com a divulgação do projeto por meio da mídia, de redes sociais e para conhecidos. O jornalista alerta para a importância de que o pro-

Apesar do crescimento com a internet, o modelo do crowdfunding não é algo recente. Um dos principais exemplos de colaboração coletiva foi a construção de parte de um dos principais cartões postais dos Estados Unidos, a Estátua da Liberdade. Presente dos franceses, o monumento inaugurado em 1886 recebeu uma ajuda fundamental do jornalista Joseph Pulitzer, editor do jornal The New York World na época. Ele lançou uma campanha na qual quem doasse recursos para a construção do pedestal da obra teria, em troca, seu nome publicado pelo jornal. A ideia foi bem-sucedida e chegou a arrecadar cerca de 100 mil dólares, sendo que a maioria das doações foi de valores abaixo de um dólar. Isso também exemplifica um dos principais lemas do financiamento coletivo, que prega que mesmo com pouca ajuda de muitos é possível viabilizar um projeto.

jeto seja interessante e direcionado para um público específico, pois isso facilita a própria divulgação. Uma boa explicação do que se trata a ideia, com um vídeo que cative o público também ajuda. “Seja cara de pau e fique em cima de todos os conhecidos para que apoiem. Se você não fizer, ninguém o fará em seu lugar”


Cultura

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Taxa para uso de teatros sobe 33%

Valores ficaram congelados por 10 anos, segundo a Prefeitura; artistas buscam alternativas tante quanto o espaço. “O espaço requer uma manutenção constante e cada espetáculo necessita de verba para divulgação, que encarece e dificulta.”

Raíssa Zogbi

O

prefeito de Campinas, Jonas Donizete (PSB), assinou, no dia 19 de março, o decreto n.º 18.672, que atualiza os percentuais cobrados sobre o uso dos teatros da cidade. No recolhimento do contrato, o valor tabelado em Unidade Fiscal de Campinas, UFIC’s, se manteve o mesmo. Porém, o percentual de arrecadação bruta cobrado em cada seção de atividades artísticas não patrocinadas pelo município subiu de 15% para 20%. Dentre os gastos das companhias artísticas, este aumento corresponde a cerca de 33%. Para se ter ideia, em um espetáculo que tenha arrecadação bruta de R$10.000, antes do decreto R$ 1.500 iriam para os cofres públicos, o correspondente a 15%. Em 2015, esse valor sobe para R$ 2.000, 33% a mais. Em nota, a Secretaria da Cultura de Campinas afirmou que “esse decreto vem substituir o de 2003, que havia sido publicado com a quantidade de UFIC´s e valores em reais. Os valores, portanto, ficaram congelados durante mais de 10 anos”. A verba arrecadada, segundo a assessoria, é destinada ao Fundo de Assistência à Cultura para manutenção e compra de material para todos os espaços culturais públicos. Além desses valores, os grupos têm de arcar com outras despesas, como o da contratação, permanência de cenário e filmagens, o que pode inibir o público por preços mais altos de bilheteria, segundo o presidente da Associação dos Profissionais de Teatro de Campinas (APTC), Ton Crivelaro. Responsável pelas Campanhas de Popularização do Teatro, ele afirma que, com o aumento, “a dificuldade dobra e o preço dos ingressos sobe”.

Teresa Aguiar e Ariane Porto são sócio-fundadoras do Teatro de Arte e Ofício (TAO)

Conheça alguns espaços de cultura alternativa em Campinas

A fachada do TAO, espaço alternativo para apresentações de grupos artísticos

problemas como a falta de espaços em boas condições, que possam receber espetáculos de grupos da própria cidade. A falta de opção também dificulta o acesso dos grupos artísticos e diminui a frequência do público. Segundo a sócia-fundadora do Teatro de Arte e Ofício (TAO) e professora do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Ariane Porto, esse não é o maior agravante. “É claro que a falta de espaços complica e dificulta, mas a ausência de políticas para o setor, em todas as instâncias governamentais, abala muito mais.” Crivelaro concorda com a ausência de um público de teatro Campinas e afirma que os programas de incentivo por parte da Prefeitura são escassos. “Quem faz o trabalho de formar público na cidade é APTC, através da Campanha de Popularização.” A lenta reforma do Teatro Castro Mendes, principal teatro público Falta de espaços de Campinas, contribuiu Além do aumento no para desacelerar a cultura percentual de arrecadação, local, já que permaneceu Campinas ainda enfrenta fechado por cinco anos, de

2007 a 2011. Além disso, os gastos superaram o projeto original, orçado em R$ 7,4 milhões. Segundo a Prefeitura, mudanças na iluminação e na adequação do espaço à legislação de acessibilidade exigiram mais R$ 2,9 milhões, totalizando R$ 10,3 milhões. Em 2011, durante o intervalo de um ano, Campinas ficou sem espaço para apresentações de grande porte. Para Crivelaro, “há uma falta de comprometimento” com os espaços da cidade. De acordo com ele, os reparos que precisam ser feitos no Centro de Convivência, fechado desde dezembro de 2011, são simples. “O problema do Centro de Convivência não é estrutural, senão não aguentaria o peso do público em apresentações da Orquestra Sinfônica no teatro de arena, então, a reforma interna e a contenção de goteiras não são tão difíceis de serem concretizadas.”

citação suspensa no fim de março. O início das obras estava programado para dezembro de 2013 e durariam 45 meses. Ton Crivelaro acredita que a verba poderia ser destinada a projetos menores, que atendam vários grupos da população. “Com 10 milhões se faz um grande teatro.” Ariane Porto acredita que a demolição do Teatro Municipal de Campinas, em 1965, foi o marco inicial para o declínio da cultura na cidade. “A partir daí vários golpes foram demolindo não as paredes de um espaço, mas as bases estruturais da cultura campineira”, afirma.

Alternativas Diante da situação, grupos locais se adaptaram a espaços alternativos, como o TAO. A sócia-fundadora, Teresa Aguiar, disse que a ideia de criar o espaço surgiu “justamente do fato deles estarem sempre à deriva Teatro de ópera com os espetáculos em O cenário tende a re- busca das datas nos teapetir. O Teatro de Ópera tros”. Ela enfatiza que o Carlos Gomes, orçado em processo de divulgação R$ 80 milhões, já teve li- das peças é tão impor-

Barracão Teatro Rua Eduardo Modesto, 128 - Vila Santa Izabel, Barão Geraldo barracaoteatro.com.br

TAO Rua Conselheiro Antônio Prado, 529 - Vila Nova grupotao.org.br

Os Geraldos Rua Augusto César de Andrade, 1603 Nova Campinas osgeraldos.com.br

Tugudum Rua Maestro Franscisco Manoel da Silva, 690 tugudum.com.br

Companhia Sarau Rua José Martins, 1899 - Vila Sanrta Izabel, Barão Geraldo (19)32895265


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Entrevista

30 de abril de 2015

“Regionalizar uso da energia é solução”

Professor da PUC, Rafael Faria defende que não há uma única saída para déficit do setor no Brasil Foto: Gabrielle Mazeetti

Gabrielle Mazzetti om a atual crise hídrica do País, surge um questionamento: com tantas energias renováveis no Brasil por que dependemos tanto da hídrica? As fontes de energia renováveis ou energias alternativas são aquelas geradas por meio de fontes renováveis e que, portanto, não geram impactos no meio ambiente, seja através do esgotamento de recursos ou pela emissão de CO2 na atmosfera. As principais fontes alternativas de energia são a energia solar, eólica, hidráulica, biomassa, maremotriz e geotérmica. De todas as fontes de energia, a hidrelétrica representa uma parcela significativa da produção mundial, cerca de 16% de toda a eletricidade gerada no planeta. Em entrevista para o Saiba +, o biólogo e professor do curso de Engenharia Ambiental da PUC-Campinas, Rafael Souza de Faria, apresenta seu ponto de vista sobre a questão das fontes renováveis. “Penso que a melhor solução para qualquer região é o aproveitamento das potencialidades locais. Pequenas centrais hidrelétricas e termelétricas, que reaproveitem o bagaço da cana, podem ser uma solução para locais onde é inviável a produção de energia via fontes solar e eólica, por exemplo”, diz. Confira a entrevista completa:

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Por que o Brasil não aproveita a energia solar? Já que temos sol quase o ano todo... O Brasil, por sua localização e extensão territorial, recebe energia solar anualmente que se equivale a cerca de 50 mil vezes o seu consumo anual de eletricidade. Apesar de tamanho potencial, a fonte solar ainda representa pequena parcela de nossa matriz energética (como dito, o aumento observado no percentual de energias alternativas se deu substancialmente pela energia eólica) por conta dos custos de sua implantação. De qualquer maneira, o Brasil tem investido no fomento à energia solar. A produção de atlas solarimétricos e o programa de incentivo para a venda do excedente de energia solar produzida para as companhias elétricas por injeção na rede elétrica são exemplos de tal fomento. E a eólica também, né? Temos alguma produção no Nordeste, mas muito pouco. O problema é só falta de investimentos? Assim como o potencial solar, o potencial eólico do Brasil é muito alto e, nos últimos anos, a utilização desse recurso energético alternativo tem se expandido consideravelmente. O balanço energético nacional de 2013, com dados de 2012, mostrou um aumento de 5,8% na participação das fontes alternativas na matriz energética e o balanço energético de 2014, com dados de

2013, mostrou um aumento de 8%. Se a energia solar responde por uma pequena parte desse aumento, o aumento da capacidade instalada eólica é o grande responsável por tais dados. Há consideráveis investimentos do governo brasileiro no setor eólico. Recentemente, o Brasil inaugurou o maior complexo eólico da América Latina, o Complexo Eólico Campos Neutrais, no Sul do estado do Rio Grande do Sul. O carvão mineral e o petróleo continuam a ser as duas principais matrizes elétrica e energética mundiais, porém a crise ambiental, com destaque para o aquecimento global, e a problemática do abastecimento de petróleo fazem com que os combustíveis renováveis e, sobretudo, “limpos”, ganhem evidência. Quais seriam, na sua opinião, as melhores fontes de energias alternativas para a nossa região? A matriz energética brasileira se destaca no cenário internacional por ser mais limpa do que a média mundial. O Brasil possui um imenso potencial hidráulico e possui tecnologia de ponta na utilização da biomassa da cana-de-açúcar, principalmente quando se trata do etanol. Há, no entanto, a preocupação com impactos ambientais e sociais oriundos da utilização do território para a construção de hidrelétricas e para o plantio de monoculturas. Nesse cenário, as energias renováveis alternativas devem sempre ser consideradas se forem viáveis. No entanto, há de se mencionar que nenhuma fonte é livre de impactos. Penso que a melhor solução para qualquer região é o aproveitamento das potencialidades locais. Pequenas centrais hidrelétricas (as PCHs) e termelétricas que reaproveitem o bagaço da cana podem ser uma solução para locais onde é inviável a produção de energia via fontes solar e eólica, por exemplo.

Foto: Divulgação

Quais são as reais fontes alternativas de energia no Brasil? As principais fontes alternativas de energia no Brasil são a energia solar e a eólica, mas principalmente esta última. No mais recente balanço energético publicado pela Empresa de Pesquisa Energética, órgão do governo federal responsável pelo planejamento energético, as ditas energias alternativas foram responsáveis por 4,2% do total da matriz energética nacional, tendo como referência o ano de 2013.

Rafael Souza de Faria Rafael Souza de Faria é Bacharel e Licenciado em Ciências Biológicas, Mestre em Geociências e Doutor em Ciências pelo Instituto de Geociências, pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente é professor na Faculdade de Ciências Biológicas e na Faculdade de Engenharia Ambiental, na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Tem experiência de ensino nas disciplinas de Paleontologia, Geologia, Biologia Evolutiva, Hidrologia Ambiental, Recursos Energéticos, Manejo de Ecossistemas Florestais, dentre outras.


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