Saiba mais- setembro 2016

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André Trigueiro discute combate ao suicídio em livro

Desde 2006

Setembro de 2016

Faculdade de Jornalismo - PUC Campinas Foto: Marcelo Prata

25% dos calouros universitários consomem alta quantidade de álcool, diz pesquisa O dado está no Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool e Outras Drogas entre Universitários, feito em 77 municípios brasileiros pelo Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O chamado “padrão pesado episódico de consumo” diz respeito àqueles homens que, no período de duas horas, são capazes de consumir, pelo menos, cinco copos de bebida alcoólica. No caso das mulheres, essa quantiade é de quatro copos. No Brasil, a idade média dos calouros nessa situação, de acordo com a pequisa, é de 18 anos. Pág. 03

Inovação

Esporte

Insatisfação de Promessas paralímpicas jovens faz surgir novos negócios Campinas terá 11 competidores no Rio de Janeiro, em quatro modalidades

Pág. 04

Foto: Felipe Bratfisch

Só em Campinas, seis startups estão no ranking das mais promissoras em 2016 do Brasil. Muitos dessas empresas foram criadas a partir de experiências frustantes de jovens em espaços formais, descontentes com horários fixos e pouca abertura para colocarem suas ideias em prática. O segmento de tecnologia é o mais popular no setor. Na cidade, existe uma associação especializada em dar apoio aos novos empresários. Pág. 11 O atleta Luis Fernando Cavalli faz treino de velocidade para partidas de rugby


Opinião

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CARTA AO LEITOR

RÁPIDAS

FERNANDA GRAEL

Lei do farol baixo gera pelo menos 15 multas por dia

ISADORA GIMENES E MANUELA MANCILLA EDITORAS

Mesmo após mais de um mês de vigência, a Lei Federal que obriga o uso de farol baixo em rodovias durante o dia ainda gera 15 multas diariamente em Campinas. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, só no primeiro mês da norma foram 465 multas. A exigência ainda gera dúvidas e é criticada pelos motoristas, pois não há sinalização nos trechos em que as rodovias cruzam áreas urbanas. Como exemplo estão as vias Engenheiro Miguel Nascentes Burnier (SPA-135/065), Professor Zeferino Vaz (SP-332), Heitor Penteado (SP81) e Santos Dumont (SP-75). Quem descumpre a norma, considerada infração média, perde quatro pontos na carteira e recebe uma multa de R$ 85,13. A partir de novembro, esse valor subirá para R$ 130,16.

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A

primeira edição do Saiba+ deste semestre apresenta uma nova turma do curso de jornalismo: a 45a da PUC-Campinas. Diante do desafio de pautar, apurar, preparar e compor um jornal voltado para o público universitário, preparamos um conjunto de reportagens que dividimos em quatro assuntos: comportamento, esporte, saúde e cultura. Nossa manchete aborda um tema de extrema relevância: o aumento do consumo de bebidas alcóolicas pelos jovens, segundo pesquisa feita pela Unifesp. Trazemos o “Lado B” de um novo tipo de transporte que tem sido muito utili-

zado pelos jovens: o Uber. Outros temas que, certamente, vão interessar ao nosso público são: um projeto de lei que proíbe intervenções no corpo que não sejam feitas por médicos – inclusive piercings e tatuagens –, o fenômeno das startups, pessoas que se oferecem como “cobaias” para testar medicamentos e o esporte paralímpico. Falando em inclusão, contamos com uma reportagem sobre o processo de obtenção da CNH por pessoas surdas que, em Campinas, não têm o seu direito respeitado. Desejamos a você uma ótima leitura e que esses textos possam enriquecer seu conhecimento.

CRÔNICA

O ouro é dos homens, mas a torcida é das mulheres Trecho da Rodovia D. Pedro: motoristas tentam se adaptar

Abertas as inscrições para o vestibular da PUC-Campinas As inscrições para o Vestibular 2017 da PUC-Campinas já estão abertas e se encerram no dia 25 de setembro. A única forma de se inscrever é pelo site da universidade (www.puc-campinas.edu.br) e a taxa é de R$ 90 para todos os cursos, com exceção de medicina, de R$ 240. Até o dia 12 de setembro, os candidatos terão 10% de desconto. A novidade é que a universidade oferece oito novos cursos: Medicina Veterinária, Relações Internacionais, Engenharia de Software, Engenharia Mecânica, Superior de Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos, Superior de Tecnologia em Gestão Comercial, Superior de Tecnologia em Gestão Financeira e Superior de Tecnologia em Gestão Pública. As provas específicas, destinadas aos candidatos dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e Direito, ocorrem no dia 21.10, das 14h às 18h. Para os demais cursos, a prova será no dia 22.10, das 9h às 13h. Em 12.11, das 14h às 18h, será a prova específica para o curso de Medicina.

Expediente Jornal laboratório produzido por alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas. Centro de Comunicação e Linguagem (CLC): Diretor: Rogério Bazi Diretora-Adjunta: Cláudia de Cillo Diretor da Faculdade: Lindolfo A. de Souza Professor responsável: Fabiano Ormaneze (Mtb 48.375) Edição: Isadora Gimenes e Manuela Mancilla Diagramação: Ana Laura Lopes e Isabella Levy

FERNANDA GRAEL

O

s Jogos Olímpicos de 2016 trouxeram um recorde de participação de atletas mulheres. Foram 5.183 (45%) contra 6.275 homens (55%). Em Londres, elas eram 4.847, ou 44,2%. É um passo em busca da igualdade de gênero nos esportes e de salários entre os atletas, porém, ainda é pequeno. Vamos comparar as equipes de futebol masculino e feminino. Entre os homens, houve um ouro, inédito, mas a performance foi mediana e cheia de encenações de falta. Em algumas partidas empataram com times sem expressividade, como do Iraque, quando o placar ficou no sofrível 0 x 0. Neymar, o mais famoso na equipe masculina, foi criticado várias vezes por sua postura. Já as meninas mostraram garra e deram orgulho. É só lembrar a famosa imagem do garoto Bernardo que riscou “Neymar” de sua camiseta e escreveu “Marta”. Outra imagem bonita de se ver foi a goleira Bárbara defendendo pênaltis. Elas perderam a disputa do bronze, mas o

que muita gente não sabia é que elas já subiram no pódio olímpico, duas vezes, inclusive. Conseguiram prata em 2004 (Atenas) e em 2008 (Pequim). Com Marta no time, não poderia ter sido diferente. A jogadora já foi eleita cinco vezes a melhor do mundo pela Fifa e marcou 103 gols com a camisa da seleção. Seu salário anual é de US$ 400 mil. Neymar ficou uma vez em terceiro lugar na última votação para melhor do mundo e marcou 50 gols com a camisa do Brasil. Seu salário anual, no entanto, é de US$ 14,5 milhões. Um abismo financeiro separa também os patrocínios da Copa do Mundo de futebol masculina e do mundial feminino. De um lado, US$ 529 milhões; do outro, US$ 17 milhões. Se for pensar de forma lógica, algo está errado: por que estão investindo tão pouco no talento das mulheres? Em pleno século 21, ainda não superamos o fato de que futebol é coisa de homem? Mulheres podem jogar futebol, muitas vezes até melhor, que os homens?

Porém, se analisar o mercado do esporte, podemos notar a falta de visibilidade e popularidade do futebol feminino. A mídia pouco transmite as conquistas das mulheres em seus campeonatos, o que não atrai muito patrocínio. É como se esse mundo nem existisse e só fosse lembrado em casos de jogos olímpicos, de quatro em quatro anos. Mas parece que, para alguns, ele podia realmente não existir. Depois do Rio 2016, o dirigente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) não pretende custear uma seleção permanente, pois o futebol feminino, segundo ele, não “pega” no Brasil. Acontece que dessa vez a torcida realmente foi para as mulheres. Marta, em depoimento nas olimpíadas, disse para nunca deixarmos de apoiar o futebol feminino. Se depender de como foram as coisas dessa vez, vamos apoiar cada vez mais. Se Bernardo, o garoto que escreveu “Marta” na camiseta, já entendeu o recado, não é tão difícil para os outros entenderem também.


Vida Universitária

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Página 3 Fotos: Marcelo Prata

Dados sobre consumo do álcool por calouros foi feito pela Unifesp em 77 municípios brasileiros; próximos às universidades, como na foto, comerciantes usam brechas para vender

Cresce consumo de álcool por calouros Pesquisa mostra que 25% dos recém-chegados às faculdades já bebem altas quantidades Marcelo Prata Uma pesquisa atualizada anualmente desde 2012 revela que 25% dos estudantes universitários ingressantes – os chamados calouros – desenvolvem, no primeiro ano da faculdade, o chamado padrão pesado episódico em relação ao hábito de consumir bebidas alcóolicas. O dado está no Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool e Outras Drogas entre Universitários, feito em 77 municípios brasileiros pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Essa porcentagem de estudantes se enquadra, no caso dos homens, entre aqueles que, no período de duas horas, são capazes de consumir pelo menos cinco copos. No caso das mulheres, são quatro. A pesquisa, que na última edição ouviu 4,2 mil pessoas, constatou também que os universitários enquadrados nesse grupo haviam consumido essa quantidade de bebida alcóolica pelo menos uma vez no último mês. De acordo com o presidente executivo do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), Arthur Guerra, o universitário que começa a beber tem o rendimento acadêmico prejudicado, porque começa

a faltar mais às aulas e não consegue ter respostas positivas nas avaliações. Com isso, acaba ficando com dependência ou até reprovando nas disciplinas. “Naturalmente, o aluno tende a procurar ser socialmente aceito e viver intensamente as ocasiões para aproveitar essa etapa tão promissora. Entre outros desafios, existe o de reconhecer seus próprios limites, inclusive o de consumo de bebidas alcoólicas”, diz. No Brasil, os estu-

dantes entram na faculdade em média aos 18 anos, segundo o Censo da Educação Superior, do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação. O aluno de Engenharia de Telecomunicações Saulo Gonçalves Pereira, de 19 anos, conta que começou a consumir álcool no terceiro ano do Ensino Médio, por influência dos amigos. Naquela época, frequentava festas e churrascos promovidos pela sala,

O que diz a lei sobre os bares ao lado das universidades? De acordo com a lei 12921 de 07 de maio de 2007, deve existir uma distância mínima de 100 metros entre o portão de acesso ao estabelecimento de ensino e os bares. No caso da PUC-Campinas, existem cinco bares a uma distância inferior a estabelecida pela lei. Em conversa com o administrador de um dos estabelecimentos, que não quis se identificar, ele explica que o comércio é registrado como lanchonete, assim não precisando seguir o código, embora venda bebidas alcoólicas e tenha características de bar como mesas de sinuca.

com a oferta de cervejas e outras bebidas. “Quando a gente chega à maioridade, à fase adulta, a gente consegue frequentar lugares como baladas, festas, bares e tudo isso leva uma coisa à outra. Quando a gente chega à faculdade, divide uma cerveja com os amigos... Não tem nada melhor para relaxar”, afirma o estudante, que assume que o início do curso superior o levou a consumir mais bebida alcóolica. O estudante de Engenharia de Telecomunicações Augusto César, de 21 anos, diz que é difícil resistir à ida aos bares, principalmente àqueles que ficam próximos à universidade, facilitando o consumo diário de álcool. Ambos os alunos admitem que já se prejudicaram na faculdade por causa do hábito. Pereira conta que já reprovou em três disciplina por faltas. Ele assume que, muitas vezes, chegou ao bar com os amigos no pré-aula e permaneceu durante o horário em que deveria estar estudando. César reprovou em sete disciplinas e também responsabiliza o ato pelo insucesso. Guerra ressalta que existem mais de 200 doenças relacionada ao consumo exagerado de álcool, que age no cérebro, pulmões, coração, fígado, rins e músculos.

Algumas delas são a demência e a cardiopatia alcóolicas, a pancreatite e a cirrose, que podem, inclusive, levar à morte. Algumas pessoas podem ter tendência a problemas mais fortes em relação ao uso de bebidas alcoólicas pelo histórico familiar e por condições genéticas. Tabaco O uso de tabaco no Brasil vem caindo. De 2006 até 2012, 11,3% da população fumante (2,6 milhões) deixou o vício. A pesquisa mostrou também que 62% dos menores disseram que a idade nunca os impediu de comprar cigarros. Outras drogas Segundo a pesquisa, no território nacional para cada adulto, existe 1,4 adolescente que já fez uso de alguma droga ilícita. Entre jovens e adultos, 8 milhões de pessoas já experimentaram maconha, 3,4 milhões fizeram uso durante os 12 meses de 2012 e 1,3 milhões são dependentes da substância. Entre as drogas mais populares no Brasil também estão a cocaína, com 1,6 milhões de usuários; o crack com 0,1 milhão; o ecstasy com 0,1 milhão; a heroína com 0,1 milhão; os esteroides com 0,6 milhões e alucinógenos 0,8 milhões.


Esporte

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Paralimpíada tem 11 campineiros

Atletas da cidade disputam medalhas no rugby, basquete, atletismo e natação; eles reclamam da falta de apoio Felipe Bratfisch A Paralímpiada do Rio 2016 será a chance de Campinas demonstrar seus talentos nos esportes adaptados, já que esta será a maior participação da cidade na história dos jogos. Ao todo, 11 atletas campineiros estarão na capital fluminense, em quatro modalidades diferentes. O Saiba+ apresenta as promessas da cidade e também as dificuldades que esses atletas enfrentam pela falta de incentivo e patrocínio.

Basquete Dois atletas da cidade foram convocados para representar o Brasil. Com o incentivo do governo e apoio de empresas, os atletas podem ter acesso a cadeiras de rodas adaptadas e participar dos campeonatos, realidade recente. No entanto, ainda é pouco, segundo o vice-presidente da equipe grupo de amigos deficientes e esportistas de Campinas (Gadecamp), Henrique Morais. Ele acredita que deveriam ser criados espaços exclusivos para os paradesportos,

inexistentes atualmente na cidade. A prefeitura já cedeu o terreno, porém ainda falta verba para construir, com isso eles estão buscando por apoiadores. O basquete paraolímpico foi a primeira modalidade de que o Brasil participou em uma paralímpiada, em 1960. Porém, o País ficou fora das competições por 16 anos e voltou somente em Atenas, em 2004. A equipe ainda não tem medalha. A busca pelo esporte tem aumentado, de acordo com Morais. “O essencial seria a visibilidade”, pois, segundo ele, mesmo as pessoas com deficiência desconhecem a modalidade. Atletismo Depois de um afastamento devido à hipotermia e a volta vitoriosa às pistas, Odair Santos competirá nas Paralímpiadas. Seu treinador, Fábio Breda, diz que a

ansiedade é maior neste ano, por conta do investimento e do trabalho, tanto do atleta quanto do Comitê Paralímpico. A modalidade faz parte desde os jogos de Roma, em 1960. A primeira medalha brasileira veio em 1984. Para a prática, é necessário que o atleta seja acompanhado na corrida com um guia, que deve ter a mesma estatura e tamanho de passada. Isso, segundo Breda, é “a maior dificuldade quando se fala em atletismo para pessoas com deficiência visual”. Ele salienta que para ser um guia “é necessária muita dedicação e ser um ótimo atleta para conseguir guiar e suportar a alta carga dos treinamentos.” Natação Com muitas medalhas de ouro e alto desempenho, os nadadores paraolímpicos Italo Gomes, Vanilton Filho e

Clodoaldo Silva serão os representantes de Campinas nos jogos. E “estar dentro desse processo gera uma grande visibilidade”, diz Luiz Marcelo da Luz, gerente de projetos da Associação Paraolímpica de Campinas (APC). Essa visibilidade é importante para atrair a atenção de novos apoiadores que ajudam o esporte a crescer. Na cidade, os atletas utilizam o centro de alto rendimento (Cear) para os treinos. Apesar da infraestrutura adequada e de qualidade, contemplando as necessidades dos paratletas, o centro sofre com a falta de manutenção regular. Além disso, ele é afastado do centro, dificultando o acesso via transporte público. Segundo Luz, faltam linhas de ônibus, além de acessibilidade. “É quase impeditivo que o atleta cego ou com cadeiras de rodas chegue via transporte público. ” Foto: Felipe Bratfisch

Rugby Campinas foi a cidade que classificou o maior número de atletas para a seleção brasileira: serão cinco. No entanto, o treinador Gustavo Pena diz que o apoio ainda é insuficiente. Eles contam com editais da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que disponibiliza o espaço para treinamento e também é parceira para a aquisição dos materiais, como as cadeiras de rodas. Além disso, a equipe tem o apoio do Fundo de Investimento Esportivo (Fiec) que cede financiamento para uniformes, materiais e viagens. Apesar de não ser um esporte tradicional no Brasil, será a primeira vez que o País participa da modalidade que passou a compor os esportes Paralimpícos em Sydney, em 2000, quando os Estados Unidos levaram o ouro. Uma particularidade é que, o rugby paralímpico, homens e mulheres compõem as mesmas equipes. O time de Campinas foi fundado em 2008 e Pena, preparador físico na época, diz que os atletas chegam por indicações. Muitos o procuram depois das apresentações feitas pelo time para divulgação da modalidade. Além dos uniformes, são necessárias cadeiras de rodas específicas, que

podem custar até R$ 15 mil, se importadas. Ataque e defesa precisam de equipamentos diferentes. Os atletas passam a desempenhar determinada função de acordo com o grau de sua deficiência. A defesa, por exemplo, fica com aqueles com maior limitação funcional.

Atleta Luis Fernando Cavalli, que treina há 8 anos, defende que o essencial é aumentar a visibilidade do esporte paralímpico: perspectivas


Esporte

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Amadores lutam por espaço

Esportistas sem patrocínio e estrutura para treinos buscam reconhecimento em competições não profissionais Fotos: Daniele Prado

Daniele Prado A falta de incentivo para esportes é só mais uma das dificuldades que milhares de atletas encontram pelo Brasil. Os 485 esportistas que compuseram a delegação brasileira na Rio 2016 e os outros 278 que vão representar o país na Paralimpíada têm por trás de suas histórias de superação e dedicação, a marca da indiferença daqueles que se negam a aceitar que o esporte também é um transformador social. Por trás desses eventos transmitidos mundialmente e de grandes propagandas, existem atletas amadores, que não são reconhecidos e sequer valorizados. É o caso do Claiton César de Souza, que começou a correr depois de assistir a um comercial de televisão, em setembro de 2003. Mesmo sem treinamento, ele começou a dar os primeiros passos. Quando criança, foi diagnosticado com bronquite e começou a nadar por indicação médica, mas foi a corrida que o curou. Aos 12 anos, percebeu que levava jeito: “Eu corria atrás de pipa e, em um dia, consegui pegar 17”. O bom humor também é notório nas ruas. Claiton, que atualmente está desempregado e vive com o dinheiro que ganha nas competições amadoras, foi apelidado como ‘super-homem da corrida’, por estar sempre fantasiado durante as provas. Ele diz que encontrou nesses trajes uma forma de incentivar os outros competidores. “Ninguém quer perder para o cara fantasiado, né?”. O amor pela corrida sempre esteve presente na sua vida. “Desde pequeno, eu via os coletores de lixo correndo atrás do caminhão e gostava”, relata. Aquilo que era inspiração para Claiton, é realidade para Antonio Carlos da Cruz de Jesus,

Na chegada de todas as provas, o coletor de lixo Antonio Carlos da Cruz de Jesus agradece ajoelhado por mais uma conquista

que trabalha há 16 anos como coletor de lixo em Monte Mor. Acorda às 4h30 e encontra em sua rotina cansativa tempo para se dedicar à corrida de rua. O esporte também o ajudou a parar de usar drogas, mundo em que esteve por 10 anos. Ao reencontrar um amigo de infância, André Diniz, numa prova, veio o incentivo que faltava. Hoje os dois fazem parte da mesma equipe. Mas, quando o assunto é patrocínio, o caminho é escuro. “É muito difícil encontrar alguém

disposto a investir na gente”, relata. Ele conta com o apoio de somente uma loja de suplementos, que o ajuda com algumas vitaminas. Com o surgimento de grandes eventos de corridas de rua e a crescente procura de atletas por essa modalidade, os valores de inscrição das provas estão cada vez maiores, o que impossibilita, muitas vezes, a participação nos eventos. “O que eu ganho com as premiações, eu gasto nas inscrições de outras provas, porque o

preço é salgado, né?”. O preço para participar das competições pode variar de R$ 20 a 160. Realidade que o seu rival nas pistas, José Cláudio Casusa dos Santos, de 37 anos, conhece bem. O atleta mais admirado da equipe Águia de Fogo ‘voa baixo’ pelas ruas e está sempre nos pódios das provas de que participa. Ele treina diariamente e soma cerca de 110 troféus, dentre eles, quase 70 como primeiro colocado. Casusa já encara esse desafio há 10 anos e, apesar dos

Equipe Candelabro, de corredores amadores, durante prova em Hortolândia

percalços, afirma valer a pena. “É um esporte que só depende da gente, mesmo sem patrocínio ou ajuda de custo nenhuma, a pessoa consegue participar”. E é sozinha que servidora pública Elisabete Santos se destaca. Por trás da timidez e das poucas palavras, é com sorriso no rosto que ela reconta sua história. Bete começou como velocista aos 13 anos na escolinha do Centro Esportivo de Sumaré. Segundo ela, “era o que tinha”. Passou pelo vôlei, basquete, futebol de salão, mas se identificou mesmo com a corrida. De curtas às longas distâncias, das pistas às ruas, ela já perdeu as contas de quantas vitórias acumulou nesses 33 anos de correria. A rotina é puxada, mas ela não se deixa abater. Treina de duas a três vezes por semana e garante que é só deixar a preguiça de lado e sair para correr. “Depois que você sai de casa, não tem segredo, é só correr”, afirma. Das dificuldades do esporte, Bete é categórica: “Falta apoio!”.


Entrevista

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Suicídio é tema de campanha de setembro Jornalista André Trigueiro tem livro sobre a prevenção e destaca que é preciso abordar o assunto na imprensa Drielly Orrú Dia 10 de Setembro é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, estratégia da Organização Mundial da Saúde (OMS) para prevenir, conscientizar e alertar a população a respeito de uma das principais causas de óbito da atualidade. Para tratar do assunto, o Saiba + conversou com o jornalista da Globo News André Trigueiro, autor do livro “Viver é a melhor opção: a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo” (Editora Correio Fraterno, 190 páginas, R$ 28,50). Na obra, ele reúne dados de pesquisas recentes da OMS e do Ministério da Saúde para justificar a necessidade de atenção para o suicídio. Por que você decidiu escrever um livro sobre a prevenção ao suicídio? Sou espírita e um amigo já desencarnado, em uma manifestação mediúnica, sugeriu-me que estudasse o fenômeno do suicídio no Brasil por ser caso de saúde pública. Estranhei a informação, porque nunca havia ouvido falar que fosse um problema preocupante em nosso País. Isso foi em 1999. De lá pra cá, venho pesquisando o assunto, conhecendo pessoas que militam em favor da valorização da vida, profissionais de saúde e autoridades que se engajaram esta causa. É um tema apaixonante, porque, quando falamos de suicídio, estamos na verdade defendendo o direito à saúde e à vida. Não há nada mais importante e urgente do que isso. Como jornalista, você acredita que a ideia de que a imprensa não deve divulgar casos de suicídio para não estimulá-lo é válida? Não se trata de “crença”. É sabido que existe um jeito certo de falar

sobre suicídio e ele é explicado em detalhes em manuais redigidos pela Organização Mundial da Saúde. Precisamos divulgar que o suicídio é caso de saúde pública no Brasil e no mundo e que, em 90% dos casos, é prevenível, porque está associado a psicopatologias diagnosticáveis e tratáveis. Reportar casos de suicídio no dia a dia não contribui para a redução do número de casos. Em sendo inevitável - como foi, por exemplo, no caso do suicídio do ator Robin Williams -, devem-se evitar chamadas em lugar de destaque, descrever o método empregado, entre outros cuidados recomendados pela OMS.

OMS, quanto no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde. O problema é sério e inspira cuidados. A solução passa por cada um de nós. É preciso criar redes de cuidado e atenção que alcancem toda a sociedade. Tudo começa pela informação clara e objetiva. O setembro amarelo [campanha do Centro de Valorização da Vida – CVV – para conscientização do suicídio] ajuda a virar esse jogo.

Com atenção, respeito e amor. É preciso acolher esse sofrimento sem julgamentos. Demonstrar o desejo sincero de ouvir e se prontificar a ajudar de todas as maneiras possíveis. Em vez de reprimir, reforçar o estoque de amor, amizade e confiança. Esse é o ponto de partida. Se for o caso, buscar ajuda profissional. Conheço gente que, apesar de acometida por transtornos mentais severos, consegue tocar a vida sem Você acha que existe pensar suicídio. Isso é uma relação entre sui- possível. E precisamos cídio e renda? E entre fazer isso um direito de suicídio e nível de esco- todos. laridade? Embora a maior parte Quais transtornos dos suicídios ocorra em mentais são mais copaíses pobres ou desen- muns associados ao volvimento, não se pode suicídio? concluir que as pessoas Depressão, transtorcom menor renda são no do humor bipolar e mais vulneráveis. É um uso de drogas, lícitas universo complexo, com ou ilícitas. Infelizmenmuitas variáveis que te, não há campanhas podem induzir ao erro de prevenção no Braos que apressadamen- sil para esses transtorte tiram conclusões. A nos e falta informação suicidologia é uma área nas universidades para relativamente nova da que os profissionais de ciência que tem mais saúde saibam lidar com perguntas do que respos- quem pensa em suicídio tas. O importante é não ou é sobrevivente de si julgar, acolher as pes- mesmo. Oficialmente, o soas que sofrem e enten- atendimento na rede púder que todos podemos fazer algo para reduzir o número de casos.

A que você atribui o aumento das taxas de suicídio? Há lugares em que aumenta, há lugares em que diminui. Há também o problema das subnotificações, ou seja, nem todos os casos de suicídio são oficialmente registrados. No mundo, são 804 mil casos por ano, de acordo com o último levantamento da Organização Mundial de Saúde, o que dá uma média de 2,2 mil casos por dia ou um novo óbito a cada 40 segundos. Como ajudar alguém O suicídio é considerado caso de saúde públi- que manifesta o desejo ca tanto no mundo, pela de acabar com a vida?

blica para quem enfrente esses e outros transtornos mentais acontece - ou deveria acontecer - nos CAPs [Centro de Apoio Psicossociais]. Nem sempre isso acontece com a devida competência. É preciso fazer mais e melhor. A campanha é realizada pelo Centro de Valorização da Vida (CVV) desde 2014. A entidade atua no Brasil desde 1962 na prevenção ao suicídio e atende pelo telefone 141. A totalidade dos direitos autorais do livro será destinada ao CVV. (www.cvv.org.br) Foto: Divulgação

Trigueiro com exemplares do livro lançado pela editora Correio Fraterno, à venda por R$ 28,50, revertidos ao CVV


Saúde

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Página 7 Fotos: Caroline Luppi

Tatuadores conseguem barrar projeto Proposta de lei previa que somente médicos pudessem fazer intervenções incisivas; discussão volta ao Senado Caroline Luppi A mobilização de tatuadores no Brasil fez com que projeto de lei que pretendia exigir que tatuagens fossem feitas apenas por médicos passasse por alterações. Na consulta pública, efetuada no site do Senado, houve 114,7 mil votos contrários à proposta e 76,8 mil favoráveis. Em todo o Brasil, com o início da votação, tatuadores começaram a compartilhar, via redes sociais digitais, pedidos de votos contra a proposta da senadora Lúcia Vânia (PSB-GO). Pelo projeto, algumas atividades, que são feitas por outros profissionais, passariam a ser feitas apenas por médicos. O tatuador Rafael Marques, 33 anos, que também é advogado, explica que a proposta causou confusão, por conta de um artigo da lei. “Tem uma parte em que o projeto descreve que pulsar a pele e injetar pigmentos, naturais ou não, por motivos estéticos ou não, deve ser feito por médico. Se você traduzir isso, é tatuagem. Então,

numa análise mais ampla, tatuagem só poderia ser feita por médico”. Érica Konda, de 20 anos, tem três tatuagens, feitas por dois tatuadores diferentes e votou contra o PL. “Quando vi a mobilização, fui correndo fazer minha parte. Essa ideia de lei é uma falta de respeito com os tatuadores e com a arte. O governo não deveria mandar no meu corpo e no que faço com ele.” Laura de Sena Maehara é dermatologista e entende que a preocupação é com a saúde das pessoas, mas acha que seria melhor os tatuadores terem uma formação específica. “Penso que seria necessária a exigência de formação específica e comprovada como tatuador, como em outras profissões na área de saúde, inclusive com conselho regulador, não apenas para proteção do paciente. É muito importante a orientação e a proteção do profissional.” Em nota, a senadora declara que “o Projeto passou repentinamente a ser o estopim de discussões destemperadas e improfícuas entre ca-

tegorias profissionais da saúde. Diante desse desvirtuamento e afastamento dos reais motivos que me levaram à sua apresentação, e a pedido da classe médica, inclusive, decidi requerer a retirada”. A senadora, no entanto, não informa que tipo de alteração será realizada no projeto. De acordo com Marques, há interesses de classe profissional envolvidos. “O que eles estavam querendo é aumentar o hall de ativi-

dades exclusivas de médico, mas, felizmente, a senadora reconheceu que uma coisa não tem nada a ver com a outra”, comenta. A mobilização dos tatuadores fez com que a votação do projeto tivesse um dos maiores quóruns em consultas públicas feitas no site do Senado. A título de comparação, a PL 3, que torna obrigatório o fornecimento de medicamentos para o tratamento das doenças crônicas, contou

O tatuador Flávio Luiz de Souza, de Jaguariúna, defende o lado da categoria

com apenas a participação de 109 internautas, 101 a favor e 8 contra. Enquanto o projeto tramita, os estúdios de tatuagem estão supervisionados pelas agências de vigilância. Eles precisam manter as instalações limpas e desinfetadas, os equipamentos devem ser esterilizados e não podem ser reutilizados, os profissionais devem usar luvas, aventais e máscaras descartáveis, de acordo com lei 15.272.


Saúde

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Setembro de 2016

Risco do anticoncepcional ganha redes Caso de trombose alertou usuárias e médicos sobre o uso indiscriminado e sem prescrição do medicamento

Maria Eduarda Alves te Julia Rodrigues, de receitado pelo médico 21 anos, que faz o uso especialista, pois as conO caso da universitá- do medicamento há cin- sequências podem variar, ria que ganhou as redes co para regularização da além de existirem casos sociais digitais por rela- menstruação, ela foi in- isolados com danos irretar que o uso contínuo e formada no início sobre versíveis. “A mulher que sem cuidado do anticon- os efeitos colaterais do tem enxaqueca é proibida cepcional trouxe à tona o medicamento. “O médi- de usar. Quem tem uma risco da trombose asso- co falou sobre os efeitos doença no fígado, tamciada a esse tipo de me- colaterais, mas aqueles bém. A mulher que tem dicamento. Mas este não mais comuns e frequentes varizes tem uma restrié o único efeito colateral e que, aparentemente, são ção. Aquelas que fumam, que o método contracep- mais leves, como, dor de que têm idade acima de tivo mais usado no Brasil cabeça, aumento ou di- 35 anos, são proibida”, pode causar. A facilidade minuição de peso”, adverte o médico. para comprar e até o uso conta. No enNo entanto, com outras finalidades só tanto, como uma en“Anticoncepcional é q u e t e agravam o problema. Julia tem De acordo com o gi- h i s t ó r i realizaum mal necologista Carlos Ta- co de da pela necessário” dayuki Oshikata, além t r o m reporda trombose, os anticon- bose na tagem cepcionais podem causar família, do SaiCarlos Oshikata náuseas, dor de cabeça, ela e sua ba+, via Médico tontura, sangramento e mãe obserinternet, aumentar o risco de cân- varam os sincom 166 cer. “O anticoncepcional tomas por alguns mulheres que tem uma ação no fígado meses para ver se havia tomam anticoncepcioextremamente importan- alguma alteração, apesar nal, de todas as idades, te. Pode levar a uma he- de o médico não tê-la in- constatou que apenas patite, uma trombose, que formado sobre esse tipo 34 tinham prescrição. é o entupimento dos va- de risco. No mercado, segundo sos”, explica. Oshikata ressalta que Oshikata, existem cerca No caso da estudan- o medicamento deve ser de 200 contraceptivos à

Infografia: Maria Eduarda Alves

venda. Natasha Vilas Boas, de 19 anos, procurou o seu dermatologista para resolver o problema da acne, mas recebeu a prescrição de um anticoncepcional. Segundo ela, o médico fez a indicação porque seria a única forma de resolver. A dermatologista Lissa Sabina de Matos explica que a indicação do anticoncepcional é causada

pela produção de hormônios andrógenos, dado ao início do funcionamento das glândulas sebáceas, uma das principais causas do aparecimento da acne. “Os anticoncepcionais entram no tratamento da acne basicamente com a função de ajudar no controle hormonal para reduzir a secreção sebácea”, explica. Lissa, no entanto, reconhece que a indicação deve ser feita pelo ginecologista.

Tratamento de Phelps ganha adeptos Ventosas foram usadas pelo nadador dos EUA para amenizar e controlar dores; técnica estimula circulação Guilherme Luz Além da despedida do maior medalhista olímpico, as Olimpiadas no Rio de Janeiro apresentaram uma técnica pouco conhecida para melhorar o rendimento de um atleta. Michael Phelps contou com a ajuda da ventosaterapia para conquistar suas 28 medalhas, em 21 anos de carreira, quatro em terras cariocas. Por causa da ventosaterapia, Phelps aparecia com marcas roxas pelo corpo. A técnica consiste em usar um acessório de vidro ou de plástico que promove a sucção na pele. A circulação é ativada e isso ajuda a reduzir as dores musculares e a recuperar a fadiga dos treinos e das competições constantes. Antigamente, eram usados copos de vi-

dro com fogo, conforme explica o fisioterapeuta Matheus Quaggio. Giovana Gasparini, atleta profissional de vôlei, utiliza a técnica há dois anos. “Comecei a usar quando estava servindo a seleção brasileira para amenizar as dores”, diz. De acordo com ela, “no momento que coloca a ventosa você sente uma queimação e um pouco de dor, mas, quando retira, tem um alívio e o músculo relaxa”. Atualmente na equipe do Sesi, Giovana comenta que gosta da ventosaterapia, pois “é uma técnica que tem o efeito mais rápido que outros métodos”. Mesmo com muitos atletas profissionais utilizando a ventosaterapia, ela não é exclusiva. Pessoas que sentem dores no

seu dia a dia vêm aderindo ao método. É o caso de Julia Carrara, que aplica a técnica nos joelhos e pés, onde fez intervenções. “O tratamento começou após as cirurgias. Eu amo fazer ventosaterapia. O alivio da dor é imediato”, explica a professora de dança. Segundo Quaggio, a procura tem sido grande, mas, apesar dos relatos dos pacientes, ainda “não há nenhum artigo que comprove a eficácia”. O fisioterapeuta ainda explica que a sessão dura de dez a 15 minutos, com as ventosas aplicadas na pele do paciente. O ideal é o paciente receber o tratamento uma vez por semana de 15 a 30 dias, mas em casos de dores maiores o tratamento pode ser com mais aplicações durante a semana ou aumen-

Foto: Guilherme Luz

Giovana Gasparini começou a usar ventosas para amenizar dores

tar a duração. A técnica exige cuidados com a aplicação pessoas com anemia, tumores, doenças

hemorrágicas, gravidez, menstruação, além de cirurgias recentes, feridas, edemas linfáticos e grandes inflamações.


Transportes

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Custo-benefício do Uber gera dúvidas Implicações jurídicas e preço dos seguros fazem motoristas repensarem se os ganhos compensam Foto: Ana Laura Aiko No

Ana Laura Aiko No Apesar do grande número de usuários e motoristas cadastrados no aplicativo Uber, implicações jurídicas quanto à regularização, os direitos trabalhistas e o seguro do carro geram dúvidas e controvérsias. Rosangela Nunes começou a trabalhar com o Uber em março, dois meses depois da implantação do sistema em Campinas. Ela estava desempregada e decidiu fazer o cadastro, que, segundo ela, demorou 15 dias úteis para ser aprovado. Ela comenta que trabalha sem documentação e tira todas as informações e dúvidas por meio do aplicativo. A empresa não arca com nenhuma despesa. Só com manutenção, Rosangela afirma gastar cerca de mil reais mensais. Quando o aplicativo foi lançado, ela recebia um suporte financeiro, com metas a cumprir. Em meados de abril, a empresa cortou a ajuda de custo e, a partir daí, não compensava mais: “Ganhei experiência como motorista, foi vantajoso. O advogado Nelson Fer-

Motorista Rosangela Nunes aderiu ao Uber quando desempregada, mas critica política de segurança

reira Junior, especialista de trânsito, explica que, pela legislação, os motoristas do Uber não precisam de nenhuma documentação para exercerem a função. “A figura do Uber não se caracteriza como um transporte coletivo, nem público. Ele é considerado um transporte privado particular. Assim, não precisa de nenhum alvará”, explica. Para fazer o cadastramento, é necessário enviar documentos pessoais, anteceden-

tes criminais, documentos do carro e fazer o seguro APP (Seguro de Acidente Pessoal do Passageiro), em que o motorista deve pagar R$ 45 por ano, para obter o seguro no valor de R$ 50 mil, pagos no caso de morte dele mesmo ou do passageiro em acidentes. Posteriormente, é necessário assistir a quatro vídeo-aulas e aguardar o recebimento do link no email para baixar o aplicativo e iniciar o trabalho. Outro ponto abordado pelo advogado diz respeito à

aposentadoria. “O motorista do Uber é um autônomo. Hoje existe tanto a previdência pública, o INSS, como a aposentadoria privada. Eu entendo que o motorista deve, como se trata de uma prestação de serviço, recolher como autônomo e optar pela aposentadoria privada.” Ferreira Júnior destaca que não há vínculo empregatício entre motorista e a empresa Uber: “O motorista foge da questão de não ter alguns direitos comparados

com a pessoa empregada.” Entre os pontos negativos, Rosangela também comenta a violência sofrida por parte dos taxistas. O carro dela foi depredado em abril e, recentemente, ela sofreu um acidente. Segundo ela, a Uber cobriu os danos no causados pela depredação. Porém, no acidente, teve que arcar sozinha. A corretora de seguros Claudia Camargo Bragatto conta que as seguradoras não sofreram grande impacto por conta do Uber, porque é um trabalho muito recente. De acordo com ela, muitas ainda não cobrem indenização nesse tipo de serviço, pois as empresas não têm pesquisa de mercado que mostrem o impacto do Uber. Com relação ao preço, a corretora afirma que há aumento de 20% em relação ao uso particular do carro e, para que o contrato tenha valor, é necessário informar a seguradora sobre o uso nesse fim: “Se não informar, possivelmente não vai receber a indenização”. O Seguro APP protege apenas o motorista e o passageiro. O prejuízo com o carro não é contabilizado.

Faltam vagas para surdos em autoescolas

Por lei, os CFCs devem ter intérpretes de Libras durante todo o processo de formação, mas Detran não fiscaliza Thaísa Gigo Campinas tem muitas opções para quem pretende tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), mas, se o candidato for surdo, as dificuldades serão grandes. A reportagem do jornal Saiba+ fez um levantamento, sem valor estatístico, em oito Centros de Formação de Condutores (CFC’s) na cidade e constatou que em apenas dois deles são oferecidas as condições para que uma pessoa com deficiência auditiva possa cumprir com as exigências e dirigir. Os CFCs e as autoescolas, desde 2015, por meio da resolução 558/15, obrigatoriamente devem ter a presença de um intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras) em todas as fases do processo.

No entanto, ao responder à solicitação do Saiba+, duas das autoescolas contatadas disseram não atender pessoas nessas condições. Uma delas afirmou que o serviço estaria em fase de implantação. Em três, o serviço é prestado, mas a pessoa deve providenciar o intérprete. Sobre a quantidade de aulas e valores, as autoescolas disseram não existir diferença. De acordo com o professor de legislação de um CFC, Emerson Roveratti, no caso da formação de surdos, “não tem diferença quanto à quantidade de aulas, ou seja, não é candidato de banca examinadora especial”, exigência apenas para pessoas paraplégicas, paralíticas, com próteses, Parkinson e doenças neurológicas, entre

Foto: Thaísa Gigo

Andressa Gardes, intérprete de Libras, em CFC de Campinas

outras previstas em lei. Segundo o professor Gustavo Baldoni Sant´Ana, que também ministra aulas em CFCs, a exigência de intérpretes de Libras “foi um grande avanço para toda sociedade”. Adriely Bertucci, proprietária do CFC Help, de

Campinas, um dos que oferecem a formação para surdos, disse que já fez o curso de intérprete e ela mesma iniciou o atendimento. “Nós já atendemos uns dois alunos deficientes auditivos. Todos eles conseguiram fazer leitura labial, deu certo.”

Segundo a assessoria de imprensa do Detran, de acordo com a resolução 558 do Contran, os CFC’s são obrigados a ter intérprete de Libras. Porém, mesmo com essa exigência, não é feita uma fiscalização. Caso o CFC não tenha o profissional, o usuário deve procurar o Detran, que disponibilizará o intérprete. Fernando Nishino possui CNH desde 2011. Porém, quando participou do processo da primeira habilitação, não havia a exigência de intérprete nas autoescolas. No exame prático, o instrutor fazia gestos simples. “Os surdos têm direitos iguais como qualquer outra pessoa”. De acordo com ele, a exigência do profissional é positiva, pois oferece mais condições de igualdade às pessoas com deficiência.


Cidades

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Distritos ainda são incertezas

Nos recém-criados Campo Grande e Ouro Verde, moradores ainda não sabem o que nova estrutura significa Fotos: Gabriela Del Rio

Moradores dos novos distritos têm, entre suas reclamações mais comuns, a dificuldade de acesso ao Centro. No mínimo, são necessários dois ônibus e pelo menos uma hora

Gabriela Del Rio Depois de quase dois anos, a população dos recém-criados distritos de Campo Grande e Ouro Verde se divide em relação aos benefícios da mudança. Muitos, no entanto, sequer sabem ainda que as regiões já contam com algumas melhorias. As duas regiões tornaram-se distritos nas eleições de 2014. A dona de casa Helena Santana se quer recorda qual foi seu voto: “Me lembro que, no final da votação, tinha para escolher entre sim ou não, tanto pra Campo Grande, quanto para Ouro Verde. Nem lembro meu voto, só sei que nada mudou”, conta a moradora do Jardim Florence, pertencente à Região Campo Grande. Casos como o de Helena são comuns entre os moradores das regiões. A ideia inicial da transformação era trazer maior autonomia administrativa para as regiões, que juntas somam mais de 400 mil habitantes. A proposta incluía a construção das subprefeituras e implantação de serviços como cartórios, postos policiais e até mesmo a ligação direta das regiões

para a Rodovia dos Bandeirantes (SP-330) Com as subprefeituras já inauguradas, o vereador e atual Presidente da Câmara Municipal, Rafa Zimbaldi (PP), foi quem protocolou o projeto de lei e afirma que o objetivo de descentralizar a Prefeitura Municipal já está sendo alcançado: “Hoje, nas duas subprefeituras, o cidadão tem acesso a postos do Centro Público de Apoio ao Trabalhador (Cpat), Porta Aberta, Departamento e Proteção ao Consumidor (Procon), Sanasa, entre outros diversos serviços. Se alguém precisa questionar seu IPTU, por exemplo, pode fazê-lo ali em vez de no Centro.” Em meio a controvérsias e discussões sobre o assunto, a moradora da Vila Aeroporto Solange Cavalheri, se mostra satisfeita com o serviço prestado na subprefeitura do Ouro Verde. “Estávamos com um vazamento muito grande aqui na rua. Tentamos por telefone primeiro e nada. Fui até a subprefeitura e fiz a reclamação. Em menos de dois dias, vieram resolver”. Além das subprefeituras, uma unidade

do Corpo de Bombeiros passou a funcionar no limite entre Campo Grande e Ouro Verde, por enquanto em local temporário. Zimbaldi também ressaltou que o Pronto Atendimento (PA) Sérgio Arouca se tornou o primeiro de Campinas a ter pronto-socorro odontológico, atendendo pelos SUS pessoas que necessitem de socorro dentário. A falta de informação torna-se outro fator relevante neste olhar sobre os distritos, uma vez que, por não saber, os moradores deixam de usufruir desses serviços que podem facilitar problemas do dia-a-dia.

Solução? Engana-se quem acreditou que transformação em distrito significaria solução para as regiões. Outro equívoco é compará-las a outros distritos socialmente e economicamente diferentes como Barão Geraldo e Sousas, por exemplo. O Campo Grande soma cerca de 190 mil habitantes e Ouro Verde 240 mil, juntas, as regiões ocupam cerca de 40% da população de Campinas. Já Barão Geraldo e Sousas, juntas, não chegam a 70 mil habitantes, sendo em sua maioria da classe nobre da cidade. Os novos distritos,

por outro lado, abrigam grande parte dos condomínios do Projeto Minha Casa, Minha Vida. Os habitantes não chegam ao Centro sem pegar no mínimo dois ônibus. A estudante de contabilidade Larissa Gomes é moradora do Cidade Satélite Iris, no Campo Grande, e diz que precisa sair duas horas antes para chegar em sua universidade a tempo de não perder as aulas. “Sempre gostei de morar aqui, mas agora não vejo a hora de conseguir alugar um apartamento mais próximo do Centro. Tenho que sair de casa às 6h para chegar à aula que começa às 8h.”

Boa parte da população desconhece melhorias nos novos distritos do Campo Grande e Ouro Verde


Inovação

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Startups geram novo mercado para jovens Ideias inovadoras, liberdade de horário e espírito empreendedor fazem surgir novos negócios; cidade já tem associação

Fotos: Raisa Garcia

Jiboia é o animal preferido do estudante de veterinária Breno. A cobra Larissa custou cerca de R$ 5 mil

Felipe Fontes diz que escolheu começar a Startups para ter mais liberdade de horário; ele tem uma empresa que oferece opções de tecnologia na área de segurança

Raisa Garcia Ellen Aquino tem 24 anos e prefere trabalhar à noite, mas encontrava dificuldade para uma vaga fora do horário comercial. Já Felipe Fontes, de 31, queria implantar uma solução social que causasse impacto positivo, embora suas ideias fossem desacreditadas por todos. Em comum, os dois fizeram de suas insatisfações e objetivos, suas próprias empresas, no formato Startup. Conceito Em seu sentido conceitual, o termo refere-se à empresa que ainda está em fase inicial e oferece soluções inovadoras, que acompanham os avanços tecnológicos. Esses empreendimentos derrubam o modelo antigo e constroem uma nova proposta, que começa a ser popularizada. “Eu resolvi empreender para ter liberdade de horário, ter um propósito no que eu faço e para promover um impacto positivo na sociedade”, conta Fontes, CEO da Startup Campineira Nearbee, que ele mesmo criou. A Nearbee trabalha

no segmento de tecnologia e oferece soluções de segurança inteligente. Além do aplicativo Nearbee e Alfabee, disponível para androide e iOS, a Startup também oferece serviços de monitoramento. Criada em 2014 e lançada ao mercado em 2016, a Startup de Fontes venceu premiações, entre elas o Prêmio WSA Mobile Brasil 2016, da Organização das Nações Unidas (ONU), que encaminha a Startup para a premiação global em fevereiro de 2017, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. Segurança Ao decidir criar a Startup, Fontes se lembrou de um fato triste que presenciou. Ele estudava Ciências Sociais e, durante uma festa universitária, uma estudante foi estuprada, num local em que havia muitos amigos, mas ela não conseguiu pedir ajuda a ninguém. Com a criação de Fontes, ela poderia acionar o aplicativo, criar um chamado de emergência e poderia ter sido socorrida. Mesmo se os amigos não escutassem, a central de monitora-

mento poderia mandar a polícia ao local. O segmento de tecnologia é o mais popular entre Startups. Só em Campinas, seis Startups ligadas ao segmento estão no ranking das mais promissoras em 2016. Segundo a Focus, maior revista do segmento de tecnologia da informação e armazenamento de dados do mundo, 15% de toda a produção de tecnologia do País provém de Campinas, também conhecida entre o setor como “Vale do Silício brasileiro”, referência à região altamente desenvolvida em termos de tecnologia nos EUA. A cidade já é referência como um dos mais avançados Polos Tecnológicos na América Latina. Campinas já tem, inclusive, uma associação de Startups, que reúne 34 associados. O papel do órgão é oferecer consultoria e atrair investimentos. Sustentabilidade Conseguir se manter no mercado está entre os maiores desafios apontados por fundadores de Startups. Segundo uma pesquisa desenvolvida pela Fundação Dom Cabral, 50% delas mor-

rem em quatro anos ou menos. Esse risco diminui em três vezes para Startups em programas de aceleração, que funcionam como um tipo de consultoria e contribuem com o rápido crescimento das novas empresas. Ellen venceu um concurso que deu direito a participar de um programa de aceleração, o Acelera Startups 2016. O empreendimento ainda está em fase de implementação e será uma plataforma para atração de investidores para negócios. “O que me motiva no Acelera é a troca de experiências e o que acontece em nível de mercado”, afirma. Para Ellen, esse momento foi o ideal de entrar no programa. “Às vezes você tem uma ideia genial mas não está

em um bom momento de mercado. Tem que ter a sorte da maturação do projeto coincidir com o momento”. Além de consultoria e atração de investidores, esses eventos contribuem no enriquecimento de contatos e network. Encontro No dia 26 de agosto, aconteceu o XI Encontro Unicamp Ventures, que reuniu todos os parceiros da 100 open Startups e foram discutidos os Grandes Desafios do Ciclo 2016 para Campinas e região. Para Fontes, esses eventos são importantes para manter contato com outros fundadores e agregar valor para seu próprio negócio. E completa que “sem Startup, não existe mercado renovado e promissor”.

A teoria de destruição criativa, do economista austríaco Joseph Schumpeter, foi um conceito popularizado em sua obra Capitalismo, Socialismo e Democracia, escrita em 1961. Para Schumpeter, um novo modelo de negócio inovaria e derrubaria um modelo empresarial antigo, contribuindo também com a redução do monopólio de poder.


Na estante

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Agosto: reencontro com Harry Potter Fãs, depois de 9 anos, já podem ler em inglês o novo livro da série; versão em português, só em outubro

Ana Letícia Lima O mês de agosto foi de comemoração para os fãs da saga Harry Potter: nove anos após o lançamento do último livro da coleção – Harry Potter e as Relíquias da Morte – chegou às livrarias mais uma história do bruxo. Harry Potter and the Cursed Child (ainda sem tradução para o português) é a publicação do roteiro que deu origem à peça de mesmo nome, escrita por J. K. Rowling, em parceria com Jack Thorne e John Tiffany, e que está com ingressos esgotados até dezembro em Londres. A estudante de Medicina Vitória Gimenes, de 23 anos, pôde assistir à peça na Inglaterra durante seu intercâmbio. Para ela, que considera a saga como a principal responsável pelo início de sua paixão pelos livros ainda durante a infância, a experiência de voltar ao mundo de Harry Potter depois de tantos anos foi nostálgica, principalmente pela trama retomar diversos momentos importantes para os sete livros da coleção. “Para quem é fã, é muito incrível rever tudo isso, os personagens que a gente ama e tudo mais.” Para aqueles que não tiveram a mesma oportunidade, o jeito foi reencontrar os personagens nas páginas do livro, que chegou às prateleiras em 31 de julho e ficou na lista dos mais vendidos em todas as semanas de agosto segundo o site Publishnews, mesmo em inglês. Foi o caso de Leonardo Carlin, de 18 anos, que também cresceu junto ao mundo criado por J. K. Rowling e tinha expectativas tão altas com relação à nova história que adquiriu o livro durante a pré-venda. Porém, sua experiência de leitura não foi tão satisfatória. Apesar de admitir que a sensação de voltar à história de Harry tenha sido maravilhosa, o estudante pontua que não aconteceu da maneira que esperava. “O problema, para mim,

foi o enredo em si. Algumas características principais da história contradizem a própria autora.” As opiniões sobre a obra se mostram cada vez mais divididas: no Skoob e GoodReads, redes sociais digitais dedicadas aos leitores que avaliam os livros com notas de 1 a 5, a obra atingiu média geral de 4,5. Porém, os comentários demonstram a insatisfação de alguns. “Eu tentei, juro que tentei. Sou mente aberta e fiz o possível para gostar, mas o roteiro é bastante problemático. Boa parte dos personagens principais foram descaracterizados, outros reduzidos àquele alívio cômico vazio. A trama em si fere bastante as regras preestabelecidas nos sete livros anteriores”, escreveu um dos usuários no Skoob, depois de atribuir a nota 2. As novidades para os fãs da saga não param por aí. Em novembro, chegará aos cinemas o filme Animais Fantásticos e Onde Habitam, que, apesar de levar o mesmo nome de um dos livros lançados posteriormente à série de Harry Potter, é uma história inédita, com roteiro escrito pela própria autora, e que se passa 70 anos antes da chegada de Harry à Hogwarts. Entre os leitores ávidos da saga, a expectativa é alta: o trailer oficial já bateu a marca de 800 mil visualizações no YouTube. Para Carlin, a novidade da história e o roteiro da autora serão os pontos fortes da obra. “O roteiro sendo da própria J. K. Rowling é um dos quesitos que me dá segurança, pois vai se tratar de uma história completamente autoral e tratando de uma parte do mundo mágico sobre a qual nunca foi falada antes. É a primeira experiência que teremos de um filme sem ter um livro para se embasar. Então, tudo o que veremos será novo e acho que o público vai poder aproveitar realmente.” Gabriela Colicigno é jornalista e teve seu primeiro contato com a his-

tória aos 8 anos, quando ganhou um dos livros da saga de presente e hoje, aos 23 anos, acredita que o lançamento das novas histórias seja o momento ideal para reunir os fãs que cresceram com a série. Assim como Carlin, ela aponta o roteiro escrito pela criadora da série como um dos pontos fortes, levando em conta que “as histórias já sofreram bastante nas mãos de outros roteiristas”, e também a importância da escolha de um elenco forte, com atores que vêm ganhando destaque, como é o caso de Eddie Redmayne, que interpreta o protagonista Newt Scamander.

O universo Harry Potter em números 7 volumes da saga Harry Potter 4 volumes especiais 400 milhões exemplares vendidos 69 idiomas

Foto: Ana Leticia Lima

O estudante Leonardo Carlin cresceu no mundo criado por J. K. Rowling


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