Saiba + - Edição de novembro de 2015

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Foto: Arquivo Pessoal

CRISE Cientista político Valeriano Costa avalia momento político e econômico Pág. 3

Desde 2006

16 de novembro de 2015

Faculdade de Jornalismo - Puc Campinas

Macc completa 50 anos com desafio de ampliar público

Museu, embora reformado e na região central de Campinas, tem apenas cerca de 2 mil visitas/mês

Pág.8 Foto: Luane Casagrande

Vereador propõe cerveja em copos plásticos nos estádios

Torcidas universitárias buscam apoio financeiro externo Pág. 11

Projeto de Lei, apresentado pelo vereador Luiz Henrique Cirilo (PSDB) na Câmara Municipal de Campinas, prevê que bares e lanchonetes dentro dos estádios poderão comercializar cerveja até 30 minutos antes do início dos jogos, durante os intervalos e até meia-

Compras em lojas virtuais e-commerce da China crescem nas classes A e B Pág. 9

Alta do preço da gasolina provoca mudança de hábito

Grupos protestam contra mudança no ensino público no Estado de São Paulo Pág. 5 PL 6583/2013 causa polêmica ao estabelecer Estatuto da Família no Brasil Pág. 12

-hora após o término das partidas. No Brasil, Ribeirão Preto (SP), Belo Horizonte (MG) e Porto Alegre (RS) são algumas das cidades que já autorizaram a venda durante partidas de futebol. Ainda assim o assunto segue como polêmica entre os especialistas. Pág. 11

Foto: Camila Casteleti

Entre setembro e outubro, a alta nas bombas chegou a 6% para a gasolina, o que significou mais de 20 centavos por litro, e 4% no diesel, ou 15 centavos no total. Em Campinas, o preço do combustível chega a ser de R$ 3,49 o litro. Nesse contexto, dar ca-

rona, caminhar, andar de bicicleta ou usar o transporte público são algumas das opções cada vez mais frequentes, principalmente entre os jovens. Especialista acredita que um dos grandes problemas é a resistência do brasileiro em utilizar o transporte público do país. Pág. 9


Opinião

Página 2 RÁPIDAS

CARTA AO LEITOR

Por Pedro Siqueira

Alunos de Artes Visuais expõem na ACL Alunos do terceiro ano da Faculdade de Artes Visuais têm suas esculturas expostas na Galeria da Academia Campinense de Letras (ACL). A exposição intitulada “Du Barro” pode ser visitada desde o dia 4 de novembro e termina em 1º de dezembro. O horário de visitação é das 8h às 16h. São cerca de 40 esculturas, feitas pelos alunos da professora Ana Bittar. O objetivo da exposição é provocar reflexão sobre a forma com que os rostos envelhecem e como o tempo corre pelas linhas das faces. A entrada é gratuita. A ACL fica na Rua Marechal Deodoro, centro de Campinas.

MINÉYA FANTIM E CAROLINE FRANÇA EDITORAS

Foto: Divulgação

Exposição dos alunos de Artes do 3º ano de Artes Visuais da Puc-Campinas

Revista Kyrial tem edição no dia 26/11 A próxima edição da revista Kyrial, produto universitário dos alunos da Faculdade de Letras, será lançada no dia 26 de novembro. A revista, que esse ano chega à sua 8ª edição, tem como objetivo abrir espaço para que escritores e desenhistas tenham seus trabalhos publicados e conhecidos. A seleção das obras foi feita por uma comissão de alunos veteranos. Nessa edição, foram selecionados cerca de 22 autores, entre alunos e não alunos, que colaboraram com contos, crônicas, poemas e desenhos inéditos. O lançamento será no campus I da PUC-Campinas, às 19h30, na sala 900, junto com a divulgação dos vencedores do 5º Concurso Literário da Faculdade de Letras. A revista estará à venda no dia do evento e custará R$ 5.

Campus I da PUC recebe mostra de fotos A mostra fotográfica “Machu Picchu – A Cidade Perdida dos Incas”, com 18 imagens dos fotógrafos Martín Chambi e Teo Allaín Chambi, está aberta para visitação desde o dia 5 de novembro, no campus I da PUC-Campinas, e vai até 4 de dezembro. A exposição foi organizada pelo Consulado Geral do Peru em São Paulo. Dentre as fotografias, o Santuário de Machu Picchu, umas das maiores realizações arquitetônicas e artísticas da humanidade, foi retratado durante o amanhecer e o anoitecer. A mostra fica na sala 10, do prédio H13.

Expediente Jornal laboratório produzido por alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas. Centro de Comunicação e Linguagem (CLC): Diretor: Rogério Bazi; Diretora-Adjunta: Cláudia de Cillo; Diretor da Faculdade: Lindolfo Alexandre de Souza. Tiragem: 2 mil. Impressão: Gráfica e Editora Z Professor responsável: Fabiano Ormaneze (Mtb 48.375). Edição: Minéya Fantim e Caroline França Diagramação: Lucas Moron e Henrique Hein

A

turma 44 do período noturno, da Faculdade de Jornalismo da PUCCampinas, apresenta sua 2ª edição do Jornal Saiba+, que, mais uma vez, traz os mais diversos assuntos de interesse, principalmente, para o público jovem. Temos uma reportagem sobre o financiamento de torcidas universitárias, como a Brigada Puccamp e a Agante Rojo, da Faculdade Cásper Líbero. Ainda no âmbito do esporte, você vai conhecer o Projeto de Lei do vereador campineiro Luiz Henrique Cirilo (PSDB), que autoriza a venda de cervejas em copos plásticos em bares e lanchonetes dentro dos estádios.

Outro destaque da edição é o Museu de Arte Contemporânea de Campinas que, neste ano, completa 50 anos. Conheça ainda histórias de pessoas que não se encaixam na definição de família do Estatuto da Família, aprovado em setembro na Câmara dos Deputados. Quando o assunto é internet, o destaque da edição fica com uma reportagem sobre pessoas que já sofreram linchamento virtual. Não deixe de ler também a discussão sobre a descriminalização das drogas no Brasil, a mudança de ciclos nas Escolas Estaduais e muito mais! Boa leitura!

PEDRO SIQUEIRA

CRÔNICA

S

16 de novembro de 2015

Do pouco que sei e de tudo o que aprendi

ei poucas coisas. Qualquer pessoa nascida e criada mais ou menos nas mesmas condições que eu também saberia. Sei que tudo o que sei é o que me foi permitido saber. Soube, ainda pequeno, que não era bom em futebol, do mesmo jeito que meus amigos eram, quando notei que não conseguia marcar nenhum gol, apesar do meu esforço. Soube até de que altura eu conseguia alcançar um objeto sem precisar de ajuda e quem eu tinha chances de derrotar numa queda-debraço, considerando o conhecimento que tenho do meu corpo e do corpo de outras pessoas. Soube, um pouco tarde, que meu corpo delimita muitas de minhas experiências. Se não todas. Assim, também como a minha identidade. Sei que sou homem. E, que como homem, reproduzo atitudes machistas, mesmo sem querer. Sei também que não posso ser indulgente com o machismo, essa demência tanto cognitiva quanto afetiva. Sei que é errado relativizar tais atitudes, porque esse é um dos muitos mecanismos internos de perpetuação do machismo. Sei que não adianta nós, homens, dizermos que somos pró-feminismo se

não olhamos para dentro de casa, para nossas mães e esposas, com sua dupla jornada de trabalho; se não conseguimos desvendar por que nossos ídolos e heróis são todos homens e notar a quantidade de mulheres silenciadas por trás de cada um desses personagens. É preciso identificar e desnaturalizar até mesmo essas ações mais rasteiras do machismo. Sei que sou homem e branco. Sei que os negros não têm o mesmo controle sobre o destino dos seus corpos que nós, brancos, temos. Seus corpos podem ser requisitados pela polícia a qualquer momento, sem motivo algum. Corpos que, por uma escala historicamente construída e por um sistema perverso de valoração da vida, passaram a justificar a violência pela qual padecem. Penso na solidão das mulheres negras e não consigo alcançá-la, pois, mais que tudo, sei que sou humano e, como tal, a empatia, em algum momento, falha. Sei que sou homem, branco e homossexual. E, apesar de ter minhas agruras, eu ainda tenho mais visibilidade do que outros que fazem parte do mesmo grupo. Ninguém fala sobre as lésbicas, ninguém fala sobre os negros gays e os afeminados. Então, eu também sei que, mesmo

um grupo oprimido se faz opressor. Ninguém fala de lesbofobia. Prefere-se “homofobia”. Por quê? Ninguém pensa num gay negro e pobre. A imagem, que sei é de um homem bem-sucedido, com valores estéticos eurocêntricos, mas que, também sei, não pode, ou não deveria, ser afeminado. Sei que, quando estou na rua, meu corpo vira objeto de leitura. Esses dias, uma pessoa me perguntou, enquanto me servia um cachorro-quente, se eu estudava. Disse que sim, jornalismo. Ela me disse: “Você tem cara de médico!”. Fiquei pensando em quais conceitos ela se apoiava para poder afirmar isso. Com certeza, não se referia às minhas qualidades mentais ou intelectuais. Os poucos minutos de conversa que tive com ela não puderam pôr esses meus aspectos à prova. Sei que, se estivesse ali um negro, uma mulher lésbica, ela também faria a leitura do corpo. Mas as conclusões, provavelmente, seriam bem distintas. Um erro inaudito. Sei também, por fim, por essas e outras, que não existe, então, coisas como “heterofobia”, “racismo inverso”, “cristofobia” e “misandria”, termos criados por quem nada ou muito pouco sabe do que eu, desde cedo, sei.


Política

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16 de novembro de 2015

“Crise é mais política que econômica” De acordo com o professor Valeriano Costa, da Unicamp, impeachment, no entanto, não resolve

Foto: Antoninho Perri - Ascom - Unicamp

Professor Valeriano Costa do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH-Unicamp) durante palestra no Centro de Convivência

Samuel de Oliveira O Brasil vive um ano de crise política, mais do que econômica. Essa é a opinião do cientista político e professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH-Unicamp) Valeriano Costa. Para ele, a crise política é que paralisa a economia no País. Ao contrário do discurso popular, Costa não acredita na necessidade e na legalidade de um impeachment. Segundo ele, Dilma cometeu erros, mas todos os antecessores também o fizeram. O cientista acredita ainda que a discussão sobre o assunto pode prejudicar o andamento da economia em 2016. “A minha expectativa é de que, enquanto não passar essa possibilidade do impeachment, Dilma e o governo vão ficar prisioneiros dessa armadilha política”, afirma. Confira a seguir a entrevista que Costa concedeu ao Saiba+. Como avaliar este momento que vive o Brasil? A chamada crise é política, econômica ou social? Ela é basicamente uma crise política. Existe também uma desordem eco-

nômica, mas não é uma crise e, sim, um ajuste fiscal, que todos os governos praticamente fazem. Esse ajuste é um ajuste duro, mas não é mais duro do que o Lula fez em 2003. Do ponto de vista econômico, há ainda um aperto, uma situação bem difícil, mas não diria que é uma crise econômica. É um momento de dificuldade. Agora, do ponto de vista político, nós temos mesmo uma crise, que é atenuante, e nós não sabemos até aonde ela vai, mas ela está paralisando a economia. Numa escala de começo, meio e fim, essa crise está onde? Eu tenho a impressão de que ela está na metade. Já passou a primeira fase, que foi a fase de contestação da oposição da eleição da Dilma, agora eles já se conformaram que a eleição foi legítima, e que ela ganhou; agora a segunda fase é das propostas de impeachment. Eu acho ainda que há apenas mais uma proposta que seria viável, o impeachment em relação às pedaladas fiscais. A gente precisa primeiro passar por essa fase, que seria o pico da crise, a rotação dos pedidos de impeachment. Tudo para o futuro vai depender

agora das votações dos pe- afirmar na Finlândia que “o seu governo não está didos de impeachment. envolvido em corrupção” A oposição, por meio até é uma blasfêmia? Tecnicamente não. Ela de Hélio Bicudo, um dos fundadores do PT, entre- demitiu os envolvidos em gou um novo pedido de corrupção no início do impeachment de Dilma governo dela. Eles foram à Câmara baseado nas contratados pelo outro pedaladas. O presiden- governo, então, tecnicate da Câmara, Eduar- mente, ela tem razão em do Cunha (PMDB-RJ), dizer que não nomeou ameaça deferir. A tônica estes que estão sendo juldo momento é esse jogo gados e presos. Contudo, no ponto de vista que esse de interesses? Tem muitos jogos de in- governo, na verdade, é teresses. O jogo mais ime- uma continuidade do que diato é esse: o destino do vinha com o Lula, então Cunha, que está superquei- fica difícil dizer que o mado no ponto de vista da grupo político com o qual opinião pública e, claro, da a Dilma está não foi enprópria justiça. Ele é uma volvido em corrupção. figura que tem um tempo limitado de vida [política]. A oposição tem ataA aposta da oposição é uti- ques fundados ou só relizá-lo até o fim. É como pressão sem projetos e contratar um pistoleiro ideias claras? As duas coisas. A opopara matar alguém: você sabe que não é correto, mas sição tem sim algumas fundadas, ele vai executar um crime observações que, para gente, é bom. mas o que não há são eleEssa fase é perigosa, por- mentos para o impeachque ela pode dar certo e, se ment. A minha impressão der certo, com o impeach- é de que o impeachment ment fundamentado, isso exige uma vinculação divai gerar consequências reta a crimes muito espegravíssimas nos próximos cíficos, que a presidente anos, levando até um con- não cometeu. Na minha visão, o impeachment fronto, uma crise social. não é o fim do governo. Com todos os escândalos É a cassação da pessoa comprovados na Petro- (presidente), quando há brás, a presidente Dilma um grande consenso na

sociedade e provas mais que evidentes, o que ainda não temos. Temos hoje, então, uma polarização? Muito grande. Nunca tivemos uma polarização tão forte desde 1964. Naquele ano por menos que isso, visto hoje, ficamos na ditadura que durou 20 anos. Se for derrubar um presidente porque errou a política econômica do país, aí acabou o Brasil, pois todos os governantes anteriores cometeram erros. Qual é a expectativa política do senhor para o ano de 2016? Certamente vai ser um ano difícil, como deveria ter sido 2015, só que o ajuste não foi feito neste ano porque o governo entrou numa crise política. Se tivéssemos feito o ajuste fiscal, 2016 seria um ano aparentemente de recuperação. A minha expectativa é de que, enquanto não passar essa possibilidade do impeachment, Dilma e o governo vão ficar prisioneiros dessa armadilha política. Vejo que, ano que vem, enquanto não passar a ideia do impeachment, a gente vai viver um ano mais ou menos parecido com esse. Um ano muito difícil, de desgaste político e econômico.


Legislação

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16 de novembro de 2015

STF julga descriminalização das drogas Análise foi suspensa com 3 votos a favor da legalização, mas ainda faltam outros 8 ministros

Está em pauta no Supremo Tribunal Federal (STF) a descriminalização do porte de drogas para uso próprio. O julgamento considera rever o cenário em que o Brasil se encontra em relação ao assunto e, caso a decisão venha a ser em prol da descriminalização, a lei também vai prever e diferenciar quem é traficante e quem é usuário. Após o relator do caso Gilmar Mendes se posicionar a favor, o ministro do STF Luiz Edson Fachin solicitou, pela primeira vez, vista do processo para que conseguisse analisar melhor o cenário. Segundo o relator, a lei que proíbe o porte de drogas para consumo (Lei 11.343/06) contraria a Constituição, pois o simples fato de usar substâncias como maconha, não colocaria em risco a vida de terceiros. Para Mendes, proibir o uso invade a privacidade do usuário, além de não garantir nenhuma proteção da saúde coletiva e a segurança pública. Apesar da posição de Mendes, mais uma interrupção do julgamento foi feita em setembro, quando o ministro Teori Zavascki pediu vista do processo devido a divergências de opiniões que guiariam as decisões finais sobre o tema. Enquanto o relator defende a descriminalização do porte de todas as drogas ilícitas, os ministros Luís Roberto Barroso e Luiz Edson Fachinalegam são a favor somente da descriminalização da maconha. Defesa Dentre os que apoiam a descriminalização, está o cientista social Denis Roberto da Silva Petuco, de 44 anos. “A justificativa de minha posição é dupla, como pesquisador e como pessoa que viveu na pele a criminalização. Criminalizar produz estigma e preconceito, além de fazer com que os usuários, com medo de contato com as instituições do Estado, mantenham distância dos serviços de saúde e demais políticas públicas.” Petuco

Arte: Ana Beatriz Alencar

Ana Beatriz Alencar

Relação dos Países

Fonte: Folha de SP

Fonte: Relatório Mundial sobre Drogas da Unodc

conta que teve problemas com drogas entre os 18 e 28 anos, quando precisou de ajuda profissional para conseguir sair da situação. Por ter vivenciado o combate ao uso das drogas por grande parte de sua vida, nos últimos anos ele se dedica à formação de trabalhadores de saúde, educação e assistência social para o trabalho junto a pessoas dependentes de álcool e outras drogas. Para Petuco, a pressão causada pelo Direito Penal expõe o usuário ao risco de ser tratado como criminoso e aumenta as dificuldades em falar abertamente sobre o problema para que busque ajuda. “A criminalização é uma péssima maneira de se lidar com o problema. É preciso acelerar a produção e a articulação de serviços e políticas públicas capazes de acolher usuários de drogas em suas demandas. É preciso que essa rede de serviços seja voltada às necessidades dos usuários de

drogas e não aos desejos da família, da sociedade, das religiões”, declara. De acordo com a Plataforma Brasileira de Política de Drogas, rede de organizações não governamentais (ONGs) que se propõe a promover políticas de apoio a usuários, garantindo a eles a liberdade e a autonomia, em nenhum dos países da América do Sul que descriminalizaram o uso próprio de drogas houve aumento drástico do consumo. No Chile e Argentina, o consumo de maconha e cocaína teve queda entre adultos ao passo que, na Colômbia, houve crescimento de 1% do consumo da maconha. Como exposto no gráfico acima, na América do Sul, apenas o Brasil, Suriname e as Guianas julgam o consumo próprio de drogas como crime. Por outro lado, Petuco acredita que, além da descriminalização, seja necessário “construir uma política pública capaz de

acolher e ajudar as pessoas ameaçadas de morte”. De acordo com ele, a questão só poderá ser resolvida com o fim do tráfico, que dependeria da descriminalização. “Mas, enquanto o fim da proibição não vem, políticas e ações como as propugnadas pelo Programa de Proteção à Criança e ao Adolescente Ameaçados de Morte, poderiam ajudar, e muito. É urgente que se potencialize tais políticas, que já existem, mas que são ainda muito frágeis.” O cientista social se refere ao programa criado em 2003 pelo Governo Federal, que tem como propósito proteger a vida da criança e do adolescente ameaçados, com enfoque na proteção integral e na convivência familiar. Contra Do outro lado estão os que são contrários e que afirmam que a legalização das drogas aos usuários afeta a liberdade de tercei-

ros pois, devido às alterações temperamentais que as drogas ilícitas causam, as consequências, muitas vezes, atingem os familiares de forma agressiva ou até mesmo irreversível. A Associação Brasileira de Psiquiatria é contra a descriminalização. Em nota, assinada pela assessora de imprensa Beatriz Cardoso, o órgão afirma que “a descriminalização facilitaria a circulação das drogas hoje ilícitas e o aumento desse consumo principalmente entre os jovens. O aumento do consumo levaria ao aumento da oferta, que seria feita pelos traficantes, portanto, além de aumentar o número de dependentes, iria se intensificar o tráfico. Todos os países que passaram por grandes epidemias de uso de drogas e que rigorosamente diminuíram a oferta de drogas nas ruas hoje têm grande diminuição no número de dependentes e de presídios.”


Cidade

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16 de novembro de 2015

311 mil alunos vão mudar de escola Governo Alckmin decide fechar escolas e reorganizar rede em ciclos; protestos foram organizados

Gustavo Porto O Estado de São Paulo, a partir do próximo ano, sofrerá uma mudança no ensino público. Isso porque o governador Geraldo Alckmin (PSDB) aprovou a divisão dos colégios estaduais com o objetivo de oferecer classes com apenas um dos três ciclos por escola: Fundamental I (1º ao 5º ano), Fundamental II (6º ao 9º ano) e Ensino Médio. Com a mudança, Campinas terá de se readaptar ao novo método, já que 43% das escolas do estado vão operar em ciclo único, afetando os 311 mil alunos de escolas estaduais da cidade. Essa decisão, tomada pelo governador, se dá após uma pesquisa realizada pela Fundação Seade - órgão responsável por análises socioeconômicas de São Paulo – mostrando que, de 1998 a 2015, o ensino estadual perdeu cerca de 2 milhões de alunos. Isso gera uma quantidade alta de salas e escolas com espaços obsoletos. A decisão pela separação dos ciclos, segundo a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, serve para acabar com esse espaço vago em algumas escolas e qualificar o ensino e o ambiente encontrado nas salas de aula, já que assim fica mais fácil focar

Foto: Gustavo Porto Comunidade protesta contra o fechamento das escolas em todo o Estado de São Paulo durante o governo de Geraldo Alckmin

em ações específicas para determinada faixa etária. Além disso, existe a expectativa de que os alunos elevem em 10% o rendimento dentro da sala de aula. Por outro lado, o fato de os estudantes terem que mudar de escola gera um certo desconforto. Isso porque alguns alegam que não há outra unidade de ensino perto de casa. Entretanto, a Secretaria de Educação alega que vai respeitar o limite de 1,5km de distância entre uma escola e outra, para não causar transtornos. Para a professora Vera Lucia Rodrigues, a mudança de ciclos no ensino público não deve alterar mui-

ta coisa. Ela acredita que a valorização do profissional do ensino deve ser levada em conta, e não apenas a separação dos alunos de ciclos de uma escola para outra. “Eu não acho que, com a mudança no ensino, a qualidade do estudo vai melhorar. Os professores se dedicam bastante, mas, com essa mudança, terão que trabalhar em quatro, cinco escolas para conseguir dar conta. Muitos vão perder o trabalho atual. E vão fazer como? Acredito que, se o professor fosse mais valorizado e tivesse melhores condições para trabalhar, o Brasil teria um ensino público melhor.”

Através de nota, a Faculdade de Educação da Unicamp disse que o fechamento de algumas escolas vai contribuir para a demissão de vários professores e funcionários, além de precisar deslocar centenas de alunos para escolas distantes. Além disso, a FE Unicamp ainda afirma que o Governo não fez nenhum estudo que comprove que, realocando os alunos para escolas com menos ciclos, irá elevar a qualidade do ensino.

ganizando para protestar contra a mudança no ensino público. Somente no mês de outubro, quatro protestos foram realizados para tentar chamar a atenção contra o novo método. Em outras cidades do interior que também sofrerão com as alterações, manifestações também ocorreram. Em Cosmópolis, por exemplo, cerca de 200 pessoas se concentraram em frente à Escola Estadual Alberto Fierz para reclamar da alteração. Já em Hortolândia a manifestação ocorreu próximo Protestos Em Campinas, alunos e à Escola Estadual Raquel professores vêm se or- Sales Melhado.

Órgão registra cerca de 3,6 milhões de crimes virtuais Redes sociais são cada vez mais utilizadas para prática do linchamento virtual: divergência e preconceitos Bárbara Martins São cada vez mais frequentes os casos de linchamento virtual, a nova forma de justiça popular nas redes sociais. Xingamentos, humilhações e até processos têm sido comuns quando existe algum tipo de divergência nas redes. Segundo informações coletadas do site Safernet (organização não governamental responsável pela defesa e proteção dos internautas), em 10 anos de atividade, foram recebidas mais de 3,6 milhões de denúncias anônimas. A estudante J.F., de 21 anos, já sofreu por conta de publicações em redes so-

ciais. Em uma das discussões nas quais se envolveu, criticava os rodeios devido ao sofrimento a que os animais que participam do evento são submetidos. Por causa disso, recebeu rechaças até de pessoas próximas. Agora, a estudante prefere pensar duas vezes antes de postar opiniões polêmicas. “Continuo expondo o que penso, mas confesso que faço um filtro, não por medo, mas por preguiça de discutir”, explica. Muitas vezes, quem expõe o outro não tem conhecimento do próprio ato e das consequências que podem ser causadas. C. K., de 30 anos, tinha um canal no You-

tube, no qual compartilhava vídeos amadores com a cobertura de jogos de futebol. Num desses vídeos, usou sem autorização o trecho da fala de um locutor de uma rádio local, contestando a opinião do comentarista. O uso do áudio sem a devida permissão deu margem para que o locutor entrasse com uma ação. “Se eu não tivesse pegado o áudio dele e tivesse só dado uma simples resposta, seria só a minha opinião. O problema foi ter utilizado o áudio dele”, explica. Por causa do vídeo feito por C.K., o locutor recebeu ameaças da torcida rival. Após negociações, os dois fizeram um acordo,

o vídeo foi excluído e uma retratação do locutor foi amigavelmente veiculada no canal do Youtube de C.K. O comentarista desistiu de prosseguir com a ação. É possível recorrer à danos causados por conta de divergências na rede que acabam se transformando em algo mais grave. Segundo o advogado criminalista cível Luiz Augusto Arruda Brasil, quem sofre ou sofreu linchamento virtual deve comprovar o fato e recorrer a um boletim de ocorrência para legitimar o dano causado. Segundo o advogado, se houver consequências pessoais ou profissionais, é possível

solicitar uma indenização. Ainda de acordo Arruda Brasil, há milhares de casos de pessoas que sofreram linchamento virtual e que conseguiram liminares na Justiça para que o material fosse retirado da rede, sob pena de multas diárias. Por fim, ele aconselha que os internautas sejam discretos ao expressar opiniões que podem gerar confusões. “De igual forma, também devemos nos prevenir para não compartilhar com esses modelos de exageros e linchamentos virtuais, que nada mais é do que propagar os abusos e as violações à honra e à imagem das pessoas”, conclui o advogado.


Social

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16 de novembro de 2015

Agressões a minorias batem recorde Número de denúncias à Secretaria de Direitos Humanos atingiu 66,5 mil até agosto deste ano

Arte: Jacqueline Souza Fonte: SEPPIR

Jacqueline Souza Dados divulgados pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República indicam que, até agosto deste ano, foram registradas 66.518 denúncias de violação dos direitos humanos no Brasil. A maioria dos casos refere-se a agressões – físicas ou verbais – a grupos como quilombolas, indígenas, ciganos, sem-terra, sem-teto, religiosos, lésbicas, gays, bissexuais e transexuais. Todas essas queixas foram realizadas pelos indivíduos por meio do Disque-Denúncia 100. A maioria dos casos refere-se, segundo a Secretaria, a associação dessas pessoas a estereótipos. É o que aconteceu, em julho deste ano, em Campinas, quando uma empresa de recursos humanos foi denunciada por ter publicado em seu site um anúncio de vaga para garçom na qual exigia candidatos “magros” e “heterossexuais”. Denúncias As denúncias contra a empresa foram feitas em comissões administrativas inseridas na Lei Estadual 10.9/2001 e na Municipal 9.809/1998, que pune, ad-

ministrativamente, estabelecimentos comerciais que praticarem quaisquer discriminações. Segundo Ademir José da Silva, Presidente da Comissão de Igualdade Racial e Assuntos Antidiscriminatórios da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Campinas, existem duas formas de reparação de discriminação: cível e penal. A primeira diz respeito à violação do direito e causar dano ao outro mesmo que seja moral. A segunda diz respeito à garantia de igualdade prevista na Constituição e pode levar a uma reparação por danos morais. Homofobia Silva ressalta ainda que, embora os dados sobre denúncias sejam bastante altos, muitas pessoas hesitam em registrá-las. Para o ator Guilherme Oliveira, de 20 anos, também estudante de História, a denúncia não faz sentido. Ele reclama que, por várias vezes, já foi chamado de gay, mas nunca fez denúncia. “Isso já se tornou natural para mim. Não me importo mais”, conta. A estudante de Jornalismo Gabriela Pasquoto Massaro, de 20 anos, pas-

sou por várias situações delicadas quando resolveu cortar o cabelo no estilo conhecido como ‘’Joãozinho’’. Segundo ela, muitas pessoas começaram a ter dúvidas sobre sua sexualidade e até alguns amigos também se afastaram. No emprego, ela se deparou com o comentário de um colega de trabalho insinuando que ela não gostasse de homens.

De acordo com o psicólogo clinico, terapeuta cognitivo e hipnoterapeuta Mauricio Fabbri, além do estereótipo de gênero, o mais comum é o estereótipo de beleza. O padrão de beleza exigida pela sociedade, principalmente por conta da mídia, faz com que a mulher, que não se adeque ao padrão, seja julgada e rotulada pela população.

Intolerância religiosa Assim como Gabriela, a estudante de Fotografia Beatriz Rosário, há um ano e meio, recebe comentários indagando se ela tem câncer, se faz ‘’macumba’’ ou até mesmo se gosta de homens. Isso se deve ao fato dela ter raspado a cabeça. Sobre a situação, ela conta que deixou de lado as especulações e “passou por cima disso”. “Claro que terão as opiniões negativas e positivas e em meio a tudo que já vi e venho vivenciando não posso me deixar abater. Em meio a isso, decidi criar a página ‘Coisas de uma Careca’ no Facebook, em que incentivo as pessoas a aceitarem a situação de quem é careca, por opção ou não”, disse.

Padrões Casos como esses são comuns principalmente se o indivíduo não está dentro do padrão estabelecido ou até mesmo quando está dentro, como o caso da estudante de Pedagogia e monitora infantil Alessandra de Lara Pedroso. Ao se candidatar para uma vaga de faxineira, segundo ela, a recrutadora começou a explicar as tarefas e fez perguntas relacionadas a características físicas. De acordo com Alessandra, a maioria das candidatas era branca e conseguiu o emprego sem nenhum empecilho. Ao perguntar se já poderia começar, percebeu que havia sido avaliada pela sua característica racial e intelectual. “Ela ficou muito incomodada com minha aparên-

cia. Na hora de passar os afazeres, falou que não podia faltar, tinha que ter compromisso, ter certeza do ia fazer, não abandonar o trabalho”, afirma. De acordo com Fabbri, os estereótipos podem levar ao preconceito a partir de três elementos: o cognitivo, o afetivo e o comportamental. O cognitivo está relacionado com o processo de aquisição de conhecimento que envolve fatores como: o pensamento, a linguagem, a percepção, a memória, o raciocínio etc. A afetividade é a capacidade individual de experimentar o conjunto de fenômenos afetivos (tendências, emoções, paixões, sentimentos), tendo um papel crucial no processo de aprendizagem do ser humano, porque está presente em todas as áreas da vida. E o comportamental envolve tanto o cognitivo quanto a afetividade pois é através deles que a atitude do indivíduo é realizada. O preconceito é como uma atitude negativa que um indivíduo está predisposto a sentir, pensar e conduzir-se em relação a determinado grupo de uma forma negativa previsível.


Trabalho

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16 de novembro de 2015

60,7% das domésticas não têm registro Ao todo, mais de 17 mil trabalhadores da categoria em Campinas não possuem beneficios, como o FGTS

Em Campinas e região, dos 28 mil trabalhadores domésticos, pelo menos 17 mil não têm registro em carteira, indica um levantamento do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos de Campinas e Região. A partir de 8 de agosto, passou a vigorar a lei 12.964, sancionada em abril pela presidente Dilma Roussef, que prevê prazo de 120 dias para que os contratantes regularizem a situação dos seus empregados. Os empregadores poderão ser multados em pelo menos R$ 724,00. Segundo Maria Regina Teodoro, coordenadora de imprensa do Sindicato, alguns empregadores tentam mudar a forma de contratação para fugir das leis trabalhistas. “A Justiça garante o registro e os devidos direitos do trabalhador doméstico que trabalha três vezes por semana. Para evitar pagar todos os direitos, os empregadores pedem pela jornada de trabalho de apenas duas vezes, pagando como diarista”, explica. Maria Regina indica, ainda, essa prática como a principal causa de denúncias no Sindicato e recomenda que os trabalhadores vítimas de irregularidades denunciem a situação por telefone ou pessoalmente. Com a aprovação da nova

lei, Sheila Fagundes Coutinho Cezário, de 35 anos, que já trabalhou sem registro, atualmente trabalha com carteira assinada. “É uma estabilidade maior no emprego, diferente da diarista, por exemplo”, relata. Sueli Santos Medeiros, 53 anos, já foi registrada e hoje não é mais, por escolha própria. Passou a trabalhar como diarista, sem registro. “Com a nova lei, compensa muito mais ser diarista, tanto financeiramente quanto em relação à jornada de trabalho”, conta. Com registro, trabalha três vezes por semana, ganhando um salário mínimo. Como diarista, pode trabalhar quantos dias quiser e colocar seu próprio preço na faxina. Paga contribuição à previdência à parte para poder aposentar depois.

Foto: Matheus Martinelli

Matheus Martinelli

Patrões Carmem Ferreira, de 56 anos, já teve quatro empregadas domésticas e conta que, com a nova lei, não vê problemas na regulamentação de suas empregadas. “Isso foi algo que sempre fiz para dar uma segurança a mais para elas. Não achei que ficou mais caro o pagamento, só achei mais complicado todo o processo”, expliSheila Fagundes Coutinho Cezário: com carteira, garantias, como FGTS e salário-desemprego, são maiores ca a psicóloga, em relação à obrigatoriedade do cadastro emita uma guia do pagamen- ta de conhecimento técnico horas-extra e adicional nodos empregados no site do to que irá incluir todos os en- e jurídico das famílias para turno. Vários escritórios de eSocial, da Receita Federal, cargos, como INSS e FGTS. aplicar as determinações contabilidade passaram a necessário para que o patrão Outra dificuldade é a fal- da lei, fazer os cálculos de oferecer o serviço.

FGTS obrigatório

Opinião // Crítica

Estreou no final de agosto, em todo o Brasil, o filme “Que Horas Ela Volta?” (dirigido por Anna Muylaert, 110 minutos), que conta a história de uma empregada doméstica e sua relação Benefício deixa de ser opcional muita discussão com a família para a qual trabalha. A história é fictícia, porém comum a boa parte dos 7,2 milhões de trabalhadores domésticos brasileiros, número que posiciona o país no topo do ranking Passou a vigorar desde o dia cadastrar seus empregados mundial, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT). 1º de outubro a obrigação no site do eSocial. O primeiro Durante o filme, percebemos uma naturalização do comportamento da empregada doméstica dos empregadores de pagar pagamento nesse novo mode- Val (Regina Casé) em relação aos patrões. Ninguém lhe disse ou ensinou quem podia entrar na ao trabalhador doméstico o lo, referente a outubro, deverá sala, dormir no quarto de hóspedes, qual é a mesa a ser usada pelos empregados e qual o pote Fundo de Garantia do Tem- ser feito até 7 de novembro. de sorvete a ser consumido pelos funcionários. Mas ela fica perplexa quando a filha, que chega po de Serviço (FGTS), além do Nordeste para prestar vestibular, acomoda-se na casa dos patrões e passa a ter hábitos que, de outros direitos. Até então, até então, eram exclusivos dos donos da casa. Val defende que conhecer o lugar e os hábitos a esse benefício era opcional. serem praticados pelos empregados são informações que já se nasce sabendo. Depois de passar dois anos A naturalidade dessa relação pode ser explicada pelo trabalho doméstico ser um sobrevivente sendo discutida no Congresdo patriarcalismo, período em que os escravos obedeciam a um só “senhor de terras”. Talvez por so, ela regulamenta a emenisso, lugar de patrão e lugar de empregado estão, até hoje, bem delimitados. Não é à toa que, nas da constitucional e amplia os plantas dos imóveis, o aposento pequeno – como é mostrado, inclusive, no filme - normalmente direitos das empregadas dofica perto da área de serviço e ainda ganha a referência de “quartinho da empregada”. mésticas, lei conhecida como A discussão sobre a discriminação social e os preconceitos que permeiam nossa sociedade PEC das Domésticas. está presente durante todo o filme. Nele, o “por quê?” é o principal questionamento, levantado a Com a entrada em vigor todo momento. A presença de Jéssica, vista pelos patrões e a própria mãe, como folgada, foi feita desses direitos, o empregador de maneira proposital pela diretora e roteirista Anna Muylaert. O incômodo que sentimos com terá, obrigatoriamente, que Divulgação tal comportamento é significativo e reflete algo que está implícito e enraizado em nossa cultura.


Cultura

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Museu de Campinas completa 50 anos Ainda desconhecido pela maioria dos campineiros, espaço artístico da cidade sofre com falta de verbas

posição Bernardo Caro, Kalendoscópio – Censura e Liberdade, atibaiano, morto em 2007, que fez parte do movimento artístico que impulsionou a criação do museu em 1965. A exposição propõe um breve panorama da produção do artista, com gravuras, aquarelas, óleos, desenhos, instalações, maquetes e vídeos. Em seguida, entram em exposição parte do acervo e do fotógrafo campineiro, Martinho Caires. Numa ação de atrair mais público e inspirado em diversas instituições culturais do país, o Macc ampliou seu horário de visitação nas quintas-feiras até as 22h, buscando contemplar os frequentadores dos bares e restaurantes do bairro Cambuí, além dos estudantes e dos moradores do entorno do museu. Uma vez por mês, os jardins do museu receberão também apresentações culturais e Food trucks.

Foto: Luane Casagrande

Falta de verba Para a pesquisadora da área de cultura Márcia Rosa da Pontifícia Universidade Católica de Campi-

Exposição de Bernardo Caro é atrações do Macc, que, embora reformado recentemente, ainda não tem inovações tecnológicas Foto: Luane Casagrande

Escondido no edifício anexo ao Palácio dos Jequitibás, sede da Prefeitura, o Museu de Arte Contemporânea de Campinas (Macc) José Pancetti completa, em 2015, 50 anos de fundação, mas continua desconhecido pela maioria dos campineiros: a visitação média por mês é de apenas 2 mil pessoas, menos do que a média de alunos que visita a Biblioteca do Campus I da PUC-Campinas. Fundado em 1965 pelo Grupo Vanguarda, o museu ocupou, inicialmente, o antigo prédio da CPFL, na Avenida da Saudade, até 1976, quando foi inaugurada a sede atual. O espaço recebe exposições regularmente, que ficam em cartaz entre 30 e 40 dias. Só em 2015, já passaram pelo Macc 14 exposições. Desde o nome de José Pancetti (1902-1958), artista campineiro de renome nacional, até as exposições, o Macc dá mais atenção aos artistas da região, devido ao seu funcionamento à base de editais. Pelo menos dois por ano são abertos: o Fundo de Investimento à Cultura (FIC), em que o artista tem de ser residente em Campinas, e o de agendamento de exposições temporárias, que, por ser divulgado apenas no munícipio, também atrai mais artistas da cidade e região. Entre os grandes nomes que tiveram suas obras expostas estão Tomie Ohtake (1913-2015), Salvador Dali (1904-1989) e Lasar Segall (1891-1957). Além das exposições temporárias, o Macc tem um acervo de 680 obras entre esculturas, pinturas, objetos e instalações artísticas, frutos, principalmente, de doações dos artistas e dos Salões de Arte Contemporânea realizados no museu entre 1965 e 1977, com mais duas edições nos anos 1980.

Foto: Luane Casagrande

Luane Casagrande

Obra “O Cavalinho de pau”, de Caro, faz parte de exposição em cartaz; artista é um dos mais importantes da história do museu

nas (PUC-Campinas), o problema do Macc é comum aos outros museus de Campinas, a falta de verba. Muitos estão abandonados, não têm infraestrutura ou espaço. Apesar de o Macc ser bem localizado e ter uma boa estrutura predial, não tem verba suficiente para trazer nomes que atraiam público. Segundo ela, “a gestão pública não tem interesse em incentivar os museus”. Segundo o artista e pesquisador Paulo Cheida Sans, o Macc é o espaço expositivo mais importante de Campinas, por estar bem mantido e expor com assiduidade e qualidade. Porém, “o Macc, assim como tudo que se trata de cultura no Brasil, tem problemas, quando as prefeituras não colocam a cultura como elemento importante para o direcionamento de verba, fazendo com que as exposições

nem sempre acontecem com tanta periodicidade e qualidade”. Para o artista, a questão envolve apoio cultural, que vai desde a contratação de pessoal, para instruir sobre as exposições e manter o acervo, até a climatização. Para Cheida Sans, o período de maior importância do museu foi na década de 1980, devido aos últimos Salões de Arte Contemporânea, que contribuíram para o acervo do Macc, eventos que não resistiram muito. No entanto, o artista mantém uma perspectiva positiva e afirma que, com a gestão atual da Secretaria de Cultura, a área de artes está bem encaminhada, retomando diversas ações positivas, sendo um dos focos o Macc.

Bittencourt, reconhece que ainda há muito a ser melhorado, principalmente no campo da inserção da tecnologia no museu, desde a catalogação e documentação até as próprias obras de arte. “O museu é um lugar em transformação constante, não só um espaço para visitação, mas um espaço para pesquisa, para educação. Então, acredito que o Macc tenha um futuro brilhante pela frente”, explica. Futuro, que, como o coordenador completa, “depende do poder público, por ser um museu municipal”. Para esse futuro, projetos de melhoria estão em andamento, para uma reforma da área expositiva, um mobiliário novo, além de uma reforma na parte elétrica e uma nova cataTecnologia logação do acervo. O coordenador do museu Atualmente, até 15 de há 10 anos, Fernando de novembro, está em ex-

Obra Miguel de Cervantes: La Pedra

Serviço ENDEREÇO: Rua Benjamin Constant, nº 1633 – Centro, Campinas/SP TELEFONES: (19) 3236-4716 (19) 2116-0346 HORÁRIOS: De terça-feira a sábado: das 10h00 às 18h00 Quinta-feira: das 10h00 às 22h00 Domingos e Feriados: das 11h00 às 15h00 Fechado às segundas-feiras.


Economia

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16 de novembro de 2015

Classes A e B são 78% do e-commerce

Dos 20 sites mais usados para compras, 12 são chineses de acordo com pesquisa; Estados Unidos ficam em 2°

Internautas da classe A e B são os que mais frequentam sites de compra online estrangeiros. Segundo pesquisa da empresa Nielsen, eles compõem 78% da participação nas compras e escolhem sites chineses. O mesmo levantamento indica que a expectativa é de que, no final deste ano, esses dados aumentem. Entre os principais motivos para compras em sites internacionais estão os preços mais baixos e a busca por produtos não disponíveis em lojas brasileiras. Moda, perfumaria e acessórios estão no topo das procuras. Dos 20 sites mais usados, ainda segundo a pesquisa, 12 são chineses, sendo o AliExpress, o principal. Outros bastante acessados são o eBay e o Amazon, dos Estados Unidos. O estudante Breno Scarano, de 19 anos, conta que prefere usar o site chinês por conta dos baixos preços e a variedade. “Mesmo sabendo que

Foto: Bárbara Alves

Bárbara Alves

Breno Scarano e sua amostra de produtos comprados no exterior: preço é a facilidade

a compra é um tiro no escuro, já que você não tem ideia da qualidade e durabilidade do produto, vale a pena arriscar”, diz. Os problemas que o estudante já enfrentou não impediram de realizar novas compras. “Uma vez o item demorou além do que o esperado e eu entrei com um ressarcimento. Em outra

ocasião, o pedido que fiz foi taxado pela Receita Federal, mas sempre gostei da sensação de receber o produto. É como se estivesse ganhando um presente”, conta. Mas nem todos têm a mesma sorte. A dona de casa Vanusa Silva, de 47 anos, conta que, após problemas com seu primeiro pedido no

AliExpress, deixou de acessar o site. “As roupas demoraram muito para chegar, cerca de 60 dias. A qualidade do produto era péssima e a maioria delas não me serviu”, explica. De acordo com o administrador de comércio online Marlon Pitoli, que estudou as compras pela internet em sua pós-graduação, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o principal atrativo desses sites é a comodidade. “Com os avanços populacionais, principalmente nas regiões metropolitanas, o tempo vem se tornando escasso no cotidiano”, explica. Outro fator importante é a abrangência territorial. “Além disso, os clientes têm a opção de comparar preços, prazo de entrega, forma de pagamento e determinar em qual loja realizarão o pedido”. Pitoli afirma que isso não está interferindo no comércio das lojas brasileiras. “O mercado internacional vem ganhando participação não somente no Brasil, mas em

todos os continentes. Ninguém compra determinado produto em um site internacional com prazo de entrega maior que as lojas do próprio país sem ter nenhuma vantagem, seja ela financeira ou de qualidade.” Segundo o economista Izaias Borges, os preços dos sites chineses são baixos devido à grande escala de produção do país. “A China tem uma escala de produção muito maior que a brasileira. Além do mercado deles, como vão exportar para o mundo inteiro, acabam produzindo muito, e isso reduz o custo”. Além disso, o custo da mão de obra da China é menor que a do Brasil. “Os operários têm um salário monetário baixo, sendo assim, o custo da mão de obra será menor. Eles trabalham em condições de escravidão, com jornadas longas”, explica. Outro fator que influencia nos preços, segundo ele, é o câmbio sempre fixo para favorecer a exportação da China para o resto do mundo.

Alto preço da gasolina muda hábitos entre jovens Com combustível acima de R$ 3,40, cresce a procura por caronas e uso de transporte coletivo gumas alternativas viáveis. Guilherme Pires, estudante No final do mês de se- de Economia na Universitembro e no início do mês dade Estadual de Campinas de outubro, motoristas de (Unicamp), mudou seu meio todo o Brasil foram surpre- de transporte. Agora, ele vai endidos quando, de um dia para a faculdade de ônibus e para o outro, o preço do litro deixa o carro na garagem, só dos combustíveis aumentou. o usando quando necessário. Em média, o valor sofreu “Eu sou de Americana, mas um crescimento de 6% para estudo na Unicamp. Então, a gasolina, o que significou venho todo dia. Desde o inímais de 20 centavos por li- cio desse mês de outubro, tro, e 4% no diesel, ou 15 tenho vindo de ônibus. E, centavos. A autorização da quando venho de carro, pelo Petrobrás não se relaciona- menos na vinda, ofereço cava com o etanol, mas ele rona. Tem vez que eu consitambém foi reajustado pe- go encher o carro com cinco los donos de postos. Nesse pessoas e cobro em torno de caso, também foi aplicado o R$ 10 de cada. Quando vereajuste de 6%, equivalente nho sozinho, pesa no orçamento, porque gasto muita a 10 centavos. Em Campinas, o preço gasolina. De ônibus, já deu da gasolina chega a ser R$ para economizar bem nesse R$ 3,49 o litro. Com isso, os pouco tempo. ” motoristas têm buscado alternativas para driblar o pre- Redução nas vendas ço alto e manter as contas Os postos de gasolina tamem dia. Dar carona, não usar bém já sentiram redução nas o carro para fazer tarefas vendas. Gugliardo Ardito Jr. é próximas, usar uma bicicleta, andar, e até mesmo usar proprietário de um posto o transporte público são al- em Americana há quase

Imagens João Crumo

João Crumo

Posto em Americana: última alteração no preço da gasolina foi em setembro

30 anos. “Nesse primeiro mês do aumento, nosso faturamento caiu quase 25%. Além das pessoas não estarem mais abastecendo na mesma frequência de antes, têm economizado mesmo. Aquelas que têm carro flex vêm preferindo abastecer com álcool do que com a gasolina, porque é mais rentável. Nesse período, os jovens vêm deixando de abastecer, pois muitos não conseguem manter o carro em dia. Eu tenho o posto há quase 30 anos e essa é a pior

crise que eu tenho passado”, diz. Status De acordo com o economista Ricardo Garcia, o brasileiro sofre com o preço pela resistência em usar o transporte público. “Esse é um problema. Quem tem carro acha que está numa posição social muito acima dos outros e, por isso, dar carona, andar de ônibus, metrô ou qualquer outro meio público é visto como um declínio pela sociedade. Temos que

aprender que, às vezes, uma atitude simples vale mais do que esbanjar dinheiro por aí. Por isso, num futuro não muito distante, quem não conseguir ‘trocar a chave’ vai sofrer as consequências dessa crise que ainda está no início”, explica. Mesmo com o preço alto, existem pessoas que pouco se veem afetadas. É o caso do estudante Rafael Rocha, que não fez nada em relação à mudança de seus hábitos. “Eu não ligo muito para esse aumento. Tudo o que eu preciso fazer, tenho que fazer de carro. Moro longe de tudo. Da minha casa até a faculdade são quase 30 quilômetros. Para ver minha namorada, é a metade disso. Então, eu não consigo ir de bicicleta para esses lugares. Mas, quando é alguma coisa mais perto, eu não uso carro, nunca usei. Em média, por mês, eu tenho gastado R$ 550,00 com gasolina. Se eu abastecer com álcool, o valor final cai pra R$ 300,00.”


Economia

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16 de novembro de 2015

Jovens têm pouco controle sobre finanças Pesquisa mostra que faixa etária entre 16 e 24 anos demonstra educação financeira ruim e a situação só piorou

Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública (Ibope), os jovens são os que menos têm controle sobre o que ganham e o que gastam. A faixa etária de 16 a 24 anos foi a que mais teve queda no índice de educação financeira (Indef) do País em 2014. O índice varia de 0 a 10 e é calculado a partir de três pilares: conhecimento, atitude e comportamento dos brasileiros em relação a finanças. A nota do grupo de 16 a 17 anos passou de 5,9 para 5,5, o que está abaixo da média brasileira, que foi 6. A faixa de 18 a 24 também piorou, de 5,9 para 5,8. Em relação às outras faixas etárias, os jovens foram maioria nas afirmações que diziam respeito à compra imediata e compulsiva, à falta de habilidade em administrar os próprios bens

e à preferência por compras parceladas. Roberta Denadai, de 22 anos, se encaixa nesses padrões. A universitária, que trabalha e estuda em Campinas, afirma que não é consumista, mas garante que festas e bares são responsáveis por deixar o orçamento apertado no fim do mês. “Eu não sou daquelas que sai comprando roupas e sapatos sem parar. Mas eu saio muito. Conheço lugares diferentes, vou a shows e eventos sem parar. Mesmo sem ter dinheiro, eu dou um jeito, mas não consigo ficar sem ir”, conta. De acordo com ela, o problema é desorganização. “Eu não me organizo em nada. Aí acabo gastando mais do que posso. Eu não penso em não gastar, eu sempre acho que posso e que depois eu darei um jeito. No meu primeiro emprego, eu ainda tentava ser econômica, mas, do segundo em diante, não consegui guar-

Foto: Clara Rios

Clara Rios

Universitária Roberta Denadai utiliza dinheiro para pagar compras em lanchonetes

dar dinheiro. Conforme o salário aumentou, as possibilidades aumentaram também”, brinca. Já a professora de inglês Mirella Morello, de 24 anos, afirma que já tentou usar até aplicativo de celular para controlar o orçamento, mas as refeições fora de casa e o salário baixo não ajudaram. “Eu almoço fora todos os dias, porque trabalho em outra cidade. Acho que, se eu ganhasse mais, consegui-

ria poupar, porque vivo em uma rotina e é muito difícil sair dela.” Ainda assim, a professora acredita que parte do descontrole financeiro é fruto de desorganização. “Eu acho que não consigo poupar porque, depois que pago minhas contas fixas, eu não olho mais para o meu saldo. Daí, acabo ficando no vermelho por falta de fiscalização. Eu acho que faltou educação financeira quando

eu era criança. Para o economista Mário Guerreio, que presta serviço de consultoria financeira, a dificuldade dos jovens brasileiros em administrar o próprio dinheiro é cultural. “O brasileiro não tem o hábito de planejamento. Alguns têm poupança, mas poucos têm investimento. Isso é geral, mas o jovem tem uma tendência ao imediatismo, a gastar mais. ” Por conta disso, ele indica a velha e boa planilha de gastos mensais. Ela pode ser feita no programa Excel ou até em um papel. “Mais importante do que quanto você ganha, é quanto você gasta. A pessoa mesmo pode fazer a planilha. É ideal que se faça semanalmente a conta de todas as receitas e gastos, porque os pequenos não aparecem. Aí, no final da semana, a pessoa tem uma ideia do que está gastando. Assim, consegue organizar o consumo. ”

Dívida no cartão é a maior já registrada no Brasil Segundo Banco Central, falta de pagamento acumula R$ 30 bi; outros R$ 33 bi já foram refinanciados

O número de pessoas que apresentou algum déficit no sistema rotativo de seus cartões atingiu um patamar jamais visto no Brasil. O somatório do saldo devedor dessa modalidade de crédito ultrapassou a barreira dos R$ 30 bilhões. Ao todo, o refinanciamento da dívida chega aos R$ 33,122 bilhões e se tornou a maior série negativa da história já registrada pelo Banco Central. O executivo de mercado financeiro e professor de economia da Faculdades de Campinas (Faccamp) Carlos Rafael Longo Souza explica que o grande problema do endividamento pessoal é a forma com que as pessoas organizam as contas. “Muitas pessoas têm dificuldade de entender que, quando compram qualquer coisa no cartão, estão gastando o dinheiro que vão ganhar depois. Como é difícil imaginar o que compraram no decorrer do mês, o controle do cliente acaba sendo apenas na cabeça. Muitas

pessoas só descobrem que atingiram o seu limite quando tentam comprar algo e a transação não é autorizada.” A professora de Muay Thai Mônica Rocha viveu na pele a situação evidenciada pelo economista. Hoje, reestabilizada, ela relata que precisou chegar ao ponto de destruir o seu cartão para não aumentar gastos. “Eu estourei o limite do meu cartão e a conta virou uma bola de neve. Acabei quitando depois a dívida e quebrei o cartão para não usar mais. Foi uma situação meio constrangedora. Hoje eu não trabalho mais com cartão”, conta. Para quitar a dívida, ela renegociou com o banco. Negativados De acordo com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), 56,5 milhões de brasileiros estão com o CPF negativado. A praticidade de se ter um cartão atrai. Apesar disso, o professor da Faccamp faz um alerta importante: pagara a conta inteira. “Se-

gundo o Banco Central, a taxa de juros, absurdamente alta e não encontrada em nenhum outro país, cobrada para esse tipo de crédito está em 372% ao ano. Se o cliente devia R$1.000,00 no começo do ano, terá um saldo depois de 12 meses de R$4.720,00 aproximadamente. Apenas em juros seriam cobrados R$3.720,00. Quando o cliente percebe o buraco onde se meteu já é tarde.” Sem cartão Para evitar mais gastos e também com medo da instabilidade, muita gente, mesmo sem ter dívidas altas, já opta por não ter cartão de crédito. Caroline Perea é consultora de moda. Ela não possui nenhum tipo cartão de crédito e não pretende aderir à ferramenta. Para ela, o cartão é um objeto sedutor, que passa a sensação de um poder enganoso. “Eu acho que o cartão nos dá um poder de compra que muitas vezes a gente não tem. Já vi a minha família ter dívidas por cartão e ficar com o

nome sujo. Prefiro não ter para não passar por isso.” A jovem de 19 anos ainda diz sempre ter o seu dinheiro na mão para evitar se preocupar com o fechamento das contas todos os meses. “Se Arte: Henrique Hein

Henrique Hein

eu tenho o dinheiro eu compro; se eu posso, eu compro. Se eu não posso, paciência. Espero. Deixo quieto, porque oportunidades não vão faltar”, finaliza. rindo a consultora.


Esporte

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16 de novembro de 2015

Projeto prevê volta da cerveja a estádio Estabelecimentos poderão vender bebida no horário de intervalo e 30 minutos antes e depois dos jogos

O debate sobre bebidas alcoólicas dentro dos estádios voltou à tona. O projeto de lei do vereador Luiz Henrique Cirilo (PSDB) no mês passado apresenta diretrizes para as vendas em bares e lanchonete nos estádios. Esses estabelecimentos poderão vender exclusivamente cervejas até 30 minutos antes do início dos jogos, durante os intervalos e até meia-hora após o término das partidas. O projeto pretende abrir uma brecha em leis anteriores, que proibiam. Em função de brigas entre as torcidas do São Paulo e do Palmeiras, em 1993, uma lei estadual excluía totalmente as bebidas alcóolicas. Segundo o advogado especialista em Direito Desportivo João Felipe Artiolli, a Copa do Mundo no Brasil fez com que o tema retornasse à discussão, uma vez que era autorizada a venda

Foto: Ana Ardito

Ana Ardito

Torcedores da Ponte Preta consomem cerveja fora do estádio Moíses Lucarelli antes de início de jogo: lei pode facilitar consumo

de cervejas: “Com certeza, isso fez o debate ganhar corpo, pois já existia e vinha sendo debatido em diversos estados. A venda de bebidas é fonte de renda para os clubes e inexiste uma pesquisa que aponte que elas induzam à violência”, afirma. Há 20 anos, quando era liberada a venda em garra-

fas de vidro, o representante comercial José Ângelo Santarosa era frequentador assíduo de partidas de futebol e presenciou brigas. Zelão, como gosta de ser chamado, foi vítima e levou uma garrafada que lhe rendeu pontos no braço. “A cerveja nunca foi o problema. O problema, de fato, era como

ela era vendida. Hoje tudo é vendido em copo plástico, então não há mal algum” diz. O projeto de lei prevê a venda apenas em copos plásticos, como foi feito durante os jogos da Copa. Muitos torcedores bebem fora estádio antes da partida. É o caso do estudante de engenharia Mateus Alves,

que não vê a venda de cerveja como uma chance de aumentar a violência. “Se tivesse bebida, o estádio ia encher muito mais.” Vendedor ambulante há 25 anos, Romildo da Silva afirma que, independente da venda ou não da bebida, caso a pessoa queira exagerar, ela conseguirá. “Eu já vi de tudo. Se tiver que beber, vai beber fora ou dentro do estádio. Quem procura violência já vem com a ideia planejada”. Já o Policial Militar Cristiano Rodrigues é contra. “Eu trabalho como policial há cinco anos e já vi muita briga em estádio sem cerveja. Imagine quando for liberado”, opina. Para Artioli, a liberação deve vir acompanhada de uma melhoria na segurança. O projeto de lei deve ser votado ainda em 2015. Cidades como Ribeirão Preto (SP), Belo Horizonte (MG) e Porto Alegre (RS) já autorizaram a venda.

Torcidas organizadas enfrentam falta de financiamento Universitários realizam eventos e bancam do próprio bolso custos para participar de torneios e competições Elas são responsáveis por embalar os atletas desde amistosos até competições oficiais com seus hinos e também garantir um espetáculo nas arquibancadas onde quer que estejam. É assim que as torcidas organizadas crescem e conquistam seu espaço no cenário universitário. Mas o que as diferencia de um grupo de alunos comuns que se reúnem para apoiar os colegas? A principal diferença é o investimento financeiro e os sacrifícios diários que os integrantes fazem. Entretanto, o apoio tem um obstáculo muito comum no ambiente boêmio: a falta de financiamento externo. Por tradição, os gastos das torcidas organizada são custeados pelos membros. No entanto, festas e a confecção de materiais para venda, como camisetas, têm sido uma alternativa financeira. Uma das mais recentes e já maiores torcidas

Foto: Allan Contro

Verena Foltran

Atlética, hoje já consegue ser pago de outras formas. A principal delas é a criação de eventos nas proximidades da faculdade. “Em dias que conseguimos movimento, arrecadamos até R$ 1.800,00.”

Torcidas organizada de alunos da PUC comemorando realização de mais uma festa para arrecadar fundos para eventos

de alunos da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), a Brigada Puccamp, que apóia a Atlética de Comunicação e Artes, é um exemplo de crescimento financeiro autônomo em pouco tempo. Fundada em 2014, a torcida que, inicialmente, contava com dez membros, hoje já possui o dobro, sendo a maior parte

de ex-alunos, responsáveis tanto pela criação de músicas quanto pela confecção de bandeiras, pirotecnia e sinalizadores. Prazer “Nós fazemos porque gostamos. Mas, no final das contas, o que parece pouco é bem pesado. Antigamente, não gastávamos muito, mas, neste ano, por exem-

plo, antes do Juca (Jogos Universitários de Comunicação e Artes), gastamos cerca de R$ 1.400,00 com os materiais para torcer”, explica o estudante de Relações Públicas João Pedro Garrio, da Brigada. Arrecadação Segundo Garrio, o que antes saía dos bolsos dos alunos mais integrados com a

Torcidas maiores Em torcidas maiores, as complicações financeiras tendem a ser proporcionais. Fundada em 2008, a Aguante Rojo, da Faculdade Cásper Líbero, é uma das maiores torcidas organizadas, com 70 membros oficiais. O ex-aluno Lucas Zegaib, formado em Rádio e TV pela universidade, explica que, muitas vezes, o dinheiro vem dos próprios “aguantinos”. “Para os torcedores oficiais, inscritos na torcida e com participação efetiva, normalmente vendemos as fardas. Aproveitamos muito o dia do trote para vender bebidas a preços mais baixos. O lucro chega a R$ 2.000,00”, comenta.


Comportamento

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16 de novembro 2015

Definição de família causa polêmica

Projeto de lei 6583/2013, aprovado recentemente, não considera novas configurações sociais e gera revolta

A Câmara dos Deputados aprovou, no dia 24 de setembro, o projeto de lei 6583/2013 relatado pelo deputado federal Diego Garcia (PHS-PR), que causou polêmica por defender a criação de um Estatuto da Família, em que a definição se restringe à união entre homem e mulher, por casamento ou união estável, e seus filhos. Também está incluído no conceito a situação em que apenas o pai ou a mãe é o responsável pela criança ou adolescente. A definição, assim, exclui outros núcleos já consolidados como famílias, como é o caso de avós que criam netos, tios responsáveis legais pelos sobrinhos ou até mesmo irmãos mais velhos com a guarda dos mais novos. O texto que define família é de autoria do deputado Anderson Ferreira (PF-PE) e dispõe sobre direitos e diretrizes das políticas públicas em áreas como saúde, segurança e educação. A votação, presidida por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aprovou o projeto por 17 votos a 5. A regra agora é que o projeto siga para o Senado sem necessidade de ser votado pelo plenário da Câmara. Deputados podem, no entanto, apresentar recursos para solicitar o pleito. A deputada Érika Kokay (PT-DF) já adiantou que pretende recorrer. A advogada Ester Santos estudou o projeto e explicou as mudanças que a aprovação causaria no âmbito social. “O projeto excluiria grupos familiares de políticas públicas definidas por ele. Por exemplo, as instituições cederiam profissionais como psicólogos e assistentes sociais, especializados em família, mas não abrangeriam as formações familiares que, segundo o Estatuto, não se encaixam na nova definição.” O projeto assegura também a prioridade na tramitação dos processos judiciais, em qualquer instância, quando constatado “risco à preservação e sobrevivência da entidade familiar”. Diante disso, a

Arte: Giovanna Santos

Giovanna Santos

Para a futura professora, a avó recém-falecida e o tio é tudo que ela conhece como família. Crescer com os pais é uma situação hipotética que não teria um final feliz. “Eu teria crescido num meio em que minha mãe apanhava do meu pai, ia para o baile ‘funk’, não tinha responsabilidade para cuidar de uma recém-nascida. Eu imagino que, hoje, eu teria uma índole diferente, não de um jeito bom.” Em 2007, a mãe de Maria Clara faleceu, e o pai entrou na justiça com pedido de guarda da menina, que na época completava 15 anos. “Eu escolhi, diante de um juiz, ficar com minha avó. Era uma escolha óbvia, porque foi sempre ela que me deu apoio e amor. Foi quem me deu educação. Ela era minha família.”

Novos tipos de crime podem ser criados

advogada questiona: “Ou seja: só quem se enquadra na definição de ‘família’ do projeto é que tem prioridade? Cadê o princípio da igualdade assegurado pela Constituição Federal?”. Além disso, consta no site da Câmara que a lei incluiria no currículo obrigatório dos Ensinos Fundamental e Médio a disciplina “Educação para família”, a ser detalhada de acordo com as características regionais e locais. Determinaria, ainda, a celebração do Dia Nacional de Valorização da Família, a ser comemorado no dia 21 de outubro, por todas as escolas públicas e privadas. Casos Criado junto com o irmão mais velho pelos avós desde o nascimento, o comerciante Gustavo Ismael, de 21 anos, teme que as mudanças propostas pelo

projeto dificultem a vida de crianças que crescem em núcleos familiares diferentes dos estipulados no projeto. “Quando eu era pequeno, no colégio, sofri um pouco com a diferenciação dos amigos por ser criado pelos avós. Hoje em dia, as pessoas estão mais liberais, compreensivas... Mas se isso [a lei] acontecesse, acredito que voltaria o preconceito.” A avó de Gustavo, Antônia Ismael, conta que houve dificuldades em criar os meninos, mas que não há diferenças entre o filho biológico e aqueles que ela criou como filhos. “Tive quatro filhas e um filho. Depois, acabei criando mais dois, que são como filhos, e aprendi que era outro tempo, outra cultura, mas a criação, o respeito e a educação foi passada da mesma forma.”

Para Ester, apesar de aprovado por uma diferença significativa na câmara dos deputados, o projeto não deve passar no Senado. “O próprio STF [Supremo Tribunal Federal], e algumas leis como “Maria da Penha”, por exemplo, trazem proteção às famílias, sem entrar nessa definição do Projeto 6583/2013. E uma lei não pode sobrepor outra”, explica. A carioca Maria Clara Maia, de 23 anos, foi criada pela avó e pelo tio. A mãe, grávida aos 20 anos, tinha como prioridade “curtir a vida”, enquanto o pai não queria a responsabilidade. “Enquanto minha avó cuidava de mim, eles saíam para festas, bares e baladas. Meu pai batia muito na minha mãe, também. Mas mesmo quando eles se separaram, eu continuei morando com minha avó”, conta.

Outro projeto de lei que tem causado polêmica entre os brasileiros é o 5.069/2013. De autoria de Eduardo Cunha (PMDB/ RJ), Isaias Silvestre (PSB/ MG) e João Dado (PDT/ SP), o texto pretende tipificar como crime contra a vida o anúncio de meio abortivo, como a pílula do dia seguinte, além de prever penas específicas para quem induz a gestante à prática de aborto. Mulheres de cidades de todo o país, como Campinas, São Paulo e Porto Alegre, organizaram por meio da rede social Facebook, atos de protesto contra o Projeto de Eduardo Cunha. Os eventos já contam com 700, 8.6 mil e 20 mil pessoas confirmadas, respectivamente. O projeto, já aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados, prevê que uma vítima de abuso sexual ou estupro terá que realizar um boletim de ocorrência e fazer um exame de corpo de delito para, só então, ser atendida em uma unidade de saúde.


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