Saiba+ - Novembro de 2013

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Artista campineira produz obras inovadoras Pág 08 Desde 2006

15 de novembro de 2013

Faculdade de Jornalismo - PUC Campinas

Mídia Ninja discute manifestações no Encontro de Editores da PUC-Campinas Foto: Armando Sagula

Da esquerda pra direita: André Camarão (TVB), Glauco Cortez (PUC-Campinas), Fábio Gallacci (Correio Popular), Felipe Garcia, (Mídia Ninja) e Anderson Terso (PUC-Campinas)

O rio está vivo “queridinha” A

da Macaca,

ONG Elo Ambiental preserva e busca melhorar a captação e água da Bacia do Capivari; Paulo Manzani, crônica de biólogo pesquisador da Unicamp Fabiana Rosa acredita que a recuperação do rio é Pág. 3 Pág. 2 possível

OITO quilos de lixo eletrônico serão produzidos por brasileiros até 2015 Pág. 7

Repórter do Saiba+ viaja à Amazônia com o

Exército Brasileiro

e narra como é a vida na floresta Pág. 6

Aplicativo registra número de crimes em Campinas

O aplicativo “Onde Fui Roubado”, criado por estudantes da Universidade Federal da Bahia, auxília no registro de crimes pelo Brasil. O distrito de Barão Geraldo registra 93 das 280 denúncias Pág. 5 feitas em Campinas.


Editorial

Página 2 RÁPIDAS Joaquim Egídio é palco de exposições fotográficas O distrito de Joaquim Egídio recebe até dia 9 de novembro exposições em restaurantes locais e atividades ao ar livre no 7º Festival Hercule Florence de Fotografia que traz o tema “Impressões do Olhar”. Uma das exposições, realizada no Bar do Marcelino, reúne imagens dos fotógrafos Nelson Chinalia e Kamá Ribeiro. A mostra “Joaquim Rural - 25 anos do Bar do Marcelino”exibedetalhes peculiares do distrito registrados por ambos profissionais. No Restaurante Estação Marupiara, Lucas Amaral apresentaa exposição “Ilhados”, com imagens capturadas em suas viagens às ilhas North Ronaldsay (Escócia), Little Island (Noruega) e Islândia.

Grupo português realiza show em Campinas A banda portuguesa Fado ao Centro se apresenta no dia 6 de novembro, às 21h, no Almanaque Café, em Campinas. O grupo faz parte do Centro Cultural Casa de Fados, localizado em Coimbra, onde os músicos João Farinha, Luís Barroso e João Martins interpretam na voz, na guitarra e na viola clássicos do imaginário musical de tradição portuguesa, além de melodias autorais. Os ingressos estão sendo vendidos no Almanaque e custam R$ 80 antecipado e R$ 90no dia da apresentação. MIS apresenta filme da banda Genesis in Concert Dirigido por Tony Stratton Smith, o filme “Genesis: In Concert” será exibido no dia 11 de novembro, às 19h, no Museu da Imagem e do Som (MIS), em Campinas. A obra é um raro registro ao vivo do Genesis, grupo expoente do rock progressivo, ao lado de King Crimson, Yes e Emerson e Lake & Palmer. O filme exibe a banda em sua fase áurea, com Peter Gabriel no vocal e toda a teatralização e fantasias temáticas típicas dos músicos. A entrada é gratuita.

SESC apresenta moda e regiolisidade em registros corporais O SESC Campinas exibe de 7 a 17 de novembro, a performance “Moda e Regiolisidade em Registros Corporais”. O evento consiste em registros de práticas performativas dos artistas da Companhia Excessos, Tales Frey e Paulo Aureliano da Mata, que se articulam com a moda e a religiosidade.A exposição será integrada a uma apresentação ao vivo e um workshop. A entrada é franca.

Expediente Jornal laboratório produzido por alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas. Centro de Comunicação e Linguagem (CLC): Diretor: Rogério E. R. Bazi; Diretora-Adjunta: Professora Maura Padula; Diretor da Faculdade: Professor Lindolfo Alexandre de Souza. Tiragem: 2 mil. Professor responsável: Prof. Luiz R. Saviani Rey (Mtb 13.254) Editor: Guilherme Boneto Diagramador: Renan Lopes

15 de setembro de 2013

Sul-Americana: a “queridinha” da Macaca CRÔNICA por Fabiana Rosa Nos 113 anos de história da Ponte Preta, nunca foi disputada pelo clube uma competição oficial internacional. Porém, este ano isso mudou, com a participação inédita na Copa Sul-Americana. Talvez, o momento mais marcante na competição até o momento, não só para os jogadores, mas também para a torcida, foi a disputa de volta das oitavas de final, contra o Deportivo Pasto. Isso porque o confronto aconteceu fora do Brasil, em San Juan de Pasto, na Colômbia. A primeira viagem internacional da Macaca. Uma viagem marcada, por uma série de percalços. O avião que não pôde descer em San Juan de Pasto por conta do mal tempo, a impossibilidade de reconhecer o campo no qual seria disputada a partida, fora a altitude de 2.500 metros acima do nível do mar, foram alguns dos obstáculos impostos à equipe alvinegra. Durante o jogo, o time não conseguiu esconder a exaustão da viagem conturbada, que refletiu em sua atuação dentro de campo, e o Deportivo Pasto acabou vencendo a partida por 1 a 0. Porém, o resultado não foi suficiente para acabar com o sonho da equipe alvinegra de continuar na disputa pelo título. Isso porque a Ponte Preta saiu na frente na partida de ida, com 2 a 0 sobre o time colombiano. Passado para as quartas de final, o novo desafio da Ponte Preta tem um nome: Véllez Sarsfield. O time argentino, já foi uma vez campeão da Libertadores e carrega em sua história muita experiência e tradição. Tanto, que não teve como deixar de notar o receio ao qual a Ponte Preta entrou em campo na partida de ida, na última quinta-feira, 31/10. Cauteloso o tempo todo, o time não se arriscou, mesmo jogando em casa com o apoio de mais de dez mil torcedores. O Véllez, por sua vez, foi quem deteve o ritmo do jogo, mas não conseguiu furar a defesa alvinegra. Com isso, o resultado ficou no 0 a 0 e, apesar de a Macaca não ter vencido em casa, o que daria tranquilidade para a partida de volta, o fato de não ter tomado gol é favorável. Agora, a Ponte Preta tem pela frente a partida de volta, que será realizada em Buenos Aires no dia 7 de novembro e precisa de qualquer empate com gol para se classificar. Caso a partida fique no 0 a 0 novamente, a disputa será decidida nos pênaltis. É evidente que a Sul-Americana é a mais nova “queridinha” da Ponte Preta. A disputa é inédita, as viagens internacionais são inéditas e o fato de a Macaca estar avançando rumo ao título só alimenta a esperança de que a Ponte Preta pode ir longe. Porém, não podemos esquecer que a equipe alvinegra compete também pelo Campeonato Brasileiro, e que sua atual campanha não é boa. Com a 17ª colocação, a Macaca segue na degola e precisa se manter focada nas próximas rodadas, que são decisivas na luta contra o rebaixamento. Desta forma, é fundamental que a Ponte Preta trace suas prioridades. Na última partida pelo Campeonato Brasileiro, a Macaca venceu de virada o Vasco, por 2 a 1. A vitória, aliada aos resultados dos outros times em zona de perigo, mudou toda a tabela e colocou a equipe alvinegra, que até então estava na vice-lanterna, duas posições à frente. Um resultado que dá ao time, chances reais de se livrar do rebaixamento. Portanto, enquanto a Sul-Americana estiver impulsionando o time a buscar melhores resultados, inclusive no Brasileirão, a competição se torna um elemento favorável. Porém, esta não pode assumir importância maior do que o Campeonato Brasileiro, já que a Macaca não está com a bola toda e pode, sim, cair para a série B.

ARTIGO

A vida dele vale tanto quanto a sua?

Renata Vilar

Estudante de Jornalismo

D

iante da nova violência que opõe os defensores de testes científicos com animais àqueles que querem proteger os bichos a todo custo, o Brasil sofre certa imparcialidade. Diante das mídias sociais, em que grupos de ativistas reivindicam e arrastam consigo grupos de pessoas, as mesmas, subalternas a questão, fica difícil saber quem defende mesmo a causa. Grupos radicais que afirmam defender os direitos dos animais são comuns na Europa e nos Estados Unidos há pelo menos duas décadas. O britânico Frente pela Libertação dos Animais (ALF) é um dos mais famosos. Tal grupo, que possa ser uma das grandes inspirações para o grupo de ativistas que invadiu o Instituto Royal, em São Paulo. O Instituto que é considerado um dos cinco centros de referência brasileiros para pesquisa de medicamentos em animais, mantinha em

cárcere cerca de 180 cães, da raça beagle, que eram usados em testes de remédios e produtos farmacêuticos. Os cães, que segundos os ativistas, foram encontrados após uma denúncia anônima, estavam sofrendo maus-tratos com métodos cruéis e que os corpos estariam sendo ocultados em um porão. Porém, o Instituto nega essa versão. Insistindo na hipótese em que os maiores testes feitos em animais estão por trás de avanços médicos que salvam vidas humanas e proporcionam bem-estar, eles frisam que sem eles, não haveria nós. Mas, dizer que as pesquisas feitas em animais estão dentro das leis e protocolos científicos estabelecidos pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, sacrifica-nos a uma incógnita: investigação contra o instituto em 2012 e denúncia anônima em 2013? Há de se pensar.


Foto: Guilherme Boreto

Cidades

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ONG promove preservação do Rio Capivari

Além de preservar, o projeto da Oscip visa melhorar a captação da água para o consumo Carolina Tornich

Foto: Paulo Manzani

“Moro aqui há vinte anos e nunca pesquei nada nesse rio, nem chego perto”, afirma Helena Tannert, que mora às margens do Capivari, no Distrito Industrial de Vinhedo. O marido de Helena, Luís Claudio Tannert, sempre morou nesse sítio e conta que sua família costumava pescar e comer os peixes do rio. Em 1974, até 1980, conta ele, ainda nadava, brincava com os irmãos. Colocava barreiras no rio por onde a água passava, para formar pequenas piscinas. Chegava até a construir “barquinhos”. Hoje, a bacia do Capivari vive o drama da poluição. A Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Osisp) Elo Ambiental se sensibilizou com o fato quando, em visita a uma escola, ouviu das crianças que o nome do Capivari era “rio fedido”, o que mostrou como a relação delas com o rio hoje é diferente de quando Tannert era criança. “Isso denota uma falta de cultura ambiental, de conhecimento e uma falta de respeito ao cidadão e ao rio”, afirma Vittorio Zottino, presidente da Elo Ambiental. A preocupação se transformou em um projeto que pretende ajudar na recuperação da Bacia do Capivari, na melhoria da captação e da qualidade da água para consumo. “Nós temos um problema muito sério aqui na região. Para melhorar a captação, precisamos recuperar os mananciais e o seu entorno. E isso vai de encontro aos interesses da especulação imobiliária”, explica o presidente da Oscip, que ainda ressalva que o Código Florestal é, muitas vezes, condizente com essa especulação. O projeto tem três etapas. A primeira é fazer um diagnóstico profundo da situação. Avaliações feitas ao longo de 2012 pela CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) indicam que quatro de sete pontos analisados ao longo do rio tiveram a qualidade da água classificada como ruim ou péssima. Uma avaliação solicitada pela Oscip Elo Ambiental ao Laboratório de Análises Bioágua usou duas amostras: uma direto da torneira, água pronta

Praia próxima a ponte do Rio Capivari; mata estreia e ciliar do local está degradada

para uso público em Louveira, e outra proveniente do Córrego Sapezal. Na primeira amostra, a água já tratada apresentou coloração marrom e nível de turbidez (falta de transparência da água) inadequados para o uso humano. “A análise realizada indica que a água está com uma quantidade de manganês, um metal pesado, elevada. Se ingerido em excesso, o manganês pode gerar doenças como o mal de Parkinson”, explica Denis Costa, da Elo Ambiental . Na amostra de água tratada de Louveira, a concentração de manganês estava cinco vezes e meia maior (0,56ml/L) do que o máximo permitido (0,1ml/L), sem falar em óleos e outros ingredientes.

“O rio ainda está , há salvação”

vivo

Paulo Manzani

A amostra de água do Córrego Sapezal apresentou também problemas sérios. Denis explica que a avaliação mostrou que a água está tão poluída, a ponto de ter uma demanda de oxigênio maior para a remoção (oxidação) de compostos, sobretudo orgânicos. A análise indicou uma demanda de 140 ml de oxigênio por litro, 28 vezes maior que o que se espera.

A segunda etapa do projeto são as ações que visam mitigar os problemas diagnosticados. A ideia é colocar em prática o que Zottino chama de “ação Lego”. A ação consiste em trabalhar no rio por regiões. Avaliar, por exemplo: se ele nasce em Jundiaí, como ele chega a Louveira? De Louveira, como chega em Vinhedo? E assim por diante. Atualmente, o município posterior a Louveira no curso do rio Capivari, Vinhedo, faz um esforço muito grande para tratar a água que capta, dadas as deficiências no tratamento do esgoto da cidade que o antecede. Em Vinhedo, a água usada para consumo não apresenta problemas, senão por vezes o excesso de cloro, usado com fim bactericida. Outro problema ambiental, apesar de todo o esforço da cidade em tratar o esgoto, são os condomínios que ainda não têm rede. “Há muitos que ainda utilizam o sistema de fossa”, afirma Cilene Alves, técnica da ETE Capivari, no Distrito Industrial de Vinhedo. A terceira etapa proposta pela Elo Ambiental é a educação da sociedade civil. “Talvez as ações educacionais sejam as mais importantes, junto às escolas, à população ribeirinha e geral, para que a população assuma sua responsabilidade em relação à preservação dos recursos naturais”, afirma Vittorio Zottino. “A gente começa a notar que

não há uma ação integrada. A Elo tem refletido bastante sobre isso, que é cultivar a vegetação típica da região, e se preocupar com a população de aves, peixes e outros animais, pois tudo é parte de um sistema”, completa. Paulo Manzani, biológo e pesquisador da Unicamp, conta que, quando foi a trabalho de campo em 2011, na região do rio Capivari, próximo a Monte Mor, encontrou trechos de mata muito curtos (com uma espessura média de 10 metros a partir da margem do rio), escassa em muitas áreas, e águas de coloração avermelhada. “Os peixes buscavam ar fora da água, e continuavam nadando”, diz. O biólogo lançou no ano passado um livro junto à TetraPak e outros pesquisadores. “Monte Mor: a vida às margens do Capivari” faz um levantamento detalhado da fauna encontrada na mata ciliar. O livro traz fotos de 1913, da Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo, quando a pesca era prática frequente. Conta também que Monte Mor era o lugar de confecção de canoas para as monções dos sertanistas entre os séculos XVIII e XIX. A mata, no início do século, era bastante opulenta. Hoje, felizmente, ainda há biodiversidade nos trechos estudados pelos pesquisadores. Ainda se vê jequitibás e jatobás, árvores típicas desta

mata, a presença de jaguatiricas e suçuaranas, raposas e outros mamíferos menores, uma infinidade de espécies de aves e anfíbios, e até um sapo que a literatura, até então, só havia localizado na Bahia, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais, o Leptodacylusthomei. Para Paulo Manzani, essa é uma indicação de que “o rio ainda está vivo, há salvação”. Denis Costa explica que um rio muito poluído as bactérias se proliferam, que removem o oxigênio da água do rio para processar toda a matéria orgânica que está na água, até o momento em que não houver mais oxigênio. Os peixes morrem, e assim também se tornam matéria orgânica para ser decomposta. Os microrganismos aeróbicos, com a falta de oxigênio também morrem, restando somente os anaeróbicos, que produzem ácidos em ciclos, diminuindo o pH da água e piorando os odores. “Esse é um círculo vicioso. Em algumas situações, a poluição é irreversível”, explica ele. Para a Elo Ambiental, é esse tipo de informação que deve ser passado às pessoas, para que pensem nas consequências para a bacia nos próximos trinta anos. O maior problema para a Oscip ainda é a demora na execução do projeto. Enquanto ele é discutido, mais e mais áreas são expropriadas para atender a outros interesses.


Especial

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15 de setembro de 2013

Encontro de Editores discute cobertura da mídia durante manifestações de junho

Representantes do Mídia Ninja, CBN e EPTV abordam revoltas de junho na PUC-Campinas Inayara Poiani Paulo Cartaxo

N

Foto: Paulo Cartaxo

o dia 29 de outubro, terça-feira, a PUC-Campinas realizou o seu tradicional Encontro de Editores de Jornalismo, que ocorreu tanto no período matutino, quanto noturno. O objetivo desse ano foi discutir e refletir com os alunos e docentes da Faculdade de Jornalismo a cobertura da imprensa de Campinas nas manifestações que tomaram as ruas das principais cidades do Brasil em junho deste ano. Previsto para iniciar às 19h20, o Encontro começou com cerca de 40 minutos de atraso e com muitas cadeiras desocupadas na plateia. O interessante desse ano foi o contraste promovido devido às diferentes linhas editorais e forma de trabalho dos nossos convidados. Carolina Rodrigues, âncora da Rádio CBN há três anos; Daniela Lemos, chefe de redação da EPTV, afiliada a Rede Globo, e, inclusive, “filha da PUC”; Felipe Garcia e Gabriel Ruiz, integrantes do Coletivo Fora do Eixo e Mídia Ninja, formaram o quadro de editores presentes no período noturno do evento. A mediação do Encontro ficou por conta da docente do curso de Jornalismo, Cecília Toledo. O evento foi dividido em duas partes. Na primeira, cada um dos quatro convidados tiveram 15 minutos para se apresentar e contar a sua vivência no período das manifestações, cada um de acordo com sua mídia. Claro que os 15 minutos não foram respeitados, apenas pelo último a falar, Garcia.

Da esquerda para a direita: Carolina Rodrigues (CBN), Danielo Lemos (EPTV), Cecília Toledo (PUC-Campinas), Gabriel Ruiz e Felipe Garcia (Midia Ninja)

ço e as dificuldades de permanecer seis horas seguidas no ar cobrindo as manifestações que ocorriam na cidade. “Foi confuso, a gente não sabia quem era quem, quem era polícia, quem era manifestante na causa, quem era vândalo. Não sabíamos como se referir, eu não queria ser injusta, é complicado”, conta. E acrescenta: “Eu achava que a cobertura política em época de eleição fosse o mais difícil de se fazer no jornalismo, mas as manifestações superaram”.

var os nossos profissionais”. Fato este que foi questionado por Ruiz, que em diversos momentos deu “alfinetadas” nas jornalistas criticando a grande mídia convencional. A apresentação de Ruiz começou explicando o surgimento da Mídia Ninja que foi possível a partir do circuito de coletivos espalhados pelo Brasil, o Fora do Eixo, que existe desde 2005. Enquanto a Mídia Ninja (sigla para Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) é formado em meados de 2011, ganhando destaque em 2012 com a cobertura da situação das aldeias dos índios Guarani-Kaiowá do Mato Grosso do Sul e sendo Gabriel Ruiz reconhecida nacionalmente e internacionalmenJá Daniela ressaltou a te ao cobrir as manifestações necessidade de prezar os de junho em todo o Brasil. profissionais envolvidos em uma cobertura desse gênero. Segundo Ruiz, os “NinPor ser um veículo audiovi- jas” possibilitaram que a sual a EPTV deixou as suas população discuta política figuras mais conhecidas es- e recebam informações por condidas para não ter riscos outro viés que não seja a míde acidentes, pois como a tv dia tradicional, pois a partir se trata de uma filial da Rede do momento que é posto ao Globo de Telecomunicações vivo na internet gera a intee os manifestantes não sim- ratividade entre os telespecpatizam com a empresa, essa tadores nas redes sociais. Foi foi a melhor decisão a ser debatido também a veracitomada para garantir a se- dade da cobertura jornalístigurança dos repórteres. ca, já que com a internet e a Contou aos estudantes transmissão ao vivo desde o que o foco de preocupação começo da manifestação até era “narrar os fatos e preser- o término com alguns ma-

“A partir de novas tecnologias , a informação é instantânea”

Carolina foi a primeira a tomar posse do microfone e trouxe para os alunos a primeira visão de como uma grande empresa midiática age em grandes manifestações populares. Compartilhou suas experiências em ficar presa no prédio da rádio até mais 01h da manhã devido as bombas e ao tumulto generalizado do lado de fora, bem como o cansa-

nifestantes na delegacia é integral, sem cortes, enquanto as outras coberturas têm cortes, já que dependem de uma grade pré-determinada em seus veículos de comunicação. A questão da crise na comunicação brasileira é um dos motivos para o surgimento do jornalismo não convencional, feito com uma câmera de celular. Recentemente grandes publicações foram fechadas gerando demissões em massa de jornalistas experientes e de qualidade. “O celular, mesmo com baixa definição de vídeo, acaba dando o furo no grande repórter que vai aparecer no horário nobre da tv aberta”, explica Ruiz. “A partir de novas tecnologias a informação é instantânea, sem depender de grandes aparatos para a produção. Você filma da rua mesmo e já posta no facebook ou twitter, dando uma rapidez muita maior para a notícia”, completa. Ainda neste assunto o tema da “crise no intermediário” também surgiu. A crise trata-se da apuração dos fatos e a reprodução dele para seu público. A edição sempre acontece. Com o ao vivo, estando no meio do confronto, fazendo parte dele, não tem como ter ruído entre o fato como ele é e como ele vai ser passado. É o jornalismo sobre o olhar do manifestante, sem mediadores. A conversa gerou uma discussão entre os repre-

sentantes da Mídia Ninja e as da EPTV e CBN quando os “Ninjas” expuseram as diferenças entre o 1º e o 2º ato na capital, São Paulo, e a posição da grande imprensa. No primeiro ato todos os veículos tratavam os manifestantes como vândalos e diziam que não havia violência da polícia. Só a partir do momento em que jornalistas desses veículos foram feridos que a situação se inverteu e a truculência da polícia entrou em pauta. Garcia usa a expressão “apropriação de pauta” ao se referir as mudanças repentinas entre os termo vândalos/manifestantes, pois só quando os grandes jornais perceberam que a Mídia Ninja estava ganhando espaço com uma cobertura diferente que começaram a fazer o mesmo, inclusive o uso de celulares para cobrir as manifestações. Daniela ainda acrescenta que em 16 anos de EPTV foi a primeira vez que viu o celular tomar o lugar da câmera profissional em alta resolução. Vale destacar também que a OAB (Organização de Advogados do Brasil) se juntou com a mídia Ninja para defender os repórteres presos indevidamente durante os protestos. Para finalizar o Encontro de Editores todos fizeram suas considerações e ressaltam que nenhuma mídia tomará o lugar de outra, que apenas coexistirão em conjunto.


Especial

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Armando Sagula Evelyn Candia

A

faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas promoveu o 9° Encontro de Editores no dia 29 de outubro de 2013. O evento foi uma oportunidade para debater a cobertura da mídia de Campinas durante as manifestações de rua, entre os meses de junho e julho deste ano. “É importante que o aluno de Jornalismo tenha uma articulação entre os conteúdos teóricos daquilo que se estuda na universidade e, ao mesmo tempo, a capacidade de fazer uma leitura de aspectos práticos de situações cotidianas que acontecem na vida, nos contextos políticos, econômico, cultural e social”, comenta o diretor da faculdade de jornalismo da PUC-Campinas, Lindolfo Alexandre de Souza. Cerca de seiscentas pessoas estiveram presentes no Auditório Dom Gilberto para as-

sistirem ao evento, que ocorreu no período da manhã e noite. O encontro reuniu sete jornalistas da imprensa de Campinas, seja a livre, representada pelos integrantes da Mídia Ninja, e a tradicional. Entre eles, está o repórter especial e editor da RAC, Fábio Gallacci, que analisa a importância do debate. “Mostra o papel da mídia local, em um evento que foi marcante no ano, no país como um todo.”

Para Felipe Garcia, representante da mídia ninja presente no debate, esse evento é importante pra mostrar para o aluno de Jornalismo, que o jornal “não pode ser totalmente influenciado pelo anunciante e fazendo com que o produto principal do jornal, a notícia, fique em segundo plano. Não dá pra aceitar que em uma época de grandes mobilizações pelo Brasil e por aqui, em Campi-

Foto: Armando Sagula

Discussão aborda interesses comerciais na mídia

Fábio Gallacci do Correio Popular discute o papel da mídia local na cobertura de eventos marcantes

nas, um jornal de grande circulação coloque um anúncio de um shopping estampando toda a capa do caderno de Cultura”, disse ele. O principal ponto discutido entre os palestrantes foram as diferentes formas das quais cada veículo e cada mídia se utilizou para se mostrar as manifestações. O Encontro de Editores é muito esperado pelos alunos. Discutir sobre a profis-

são e aprender ainda mais, é fundamental para os futuros profissionais. “Eu acho muito bom, porque a gente está entrando no mercado de trabalho e é bom que possamos dialogar com essas pessoas que já estão nele,” afirma a estudante Gabriele de Castro. “Muito interessante porque traz uma visão de cada meio de comunicação, tanto da TV, quanto do jornal impresso”,

comentou a estudante Natalia Mariotto. Já para o estudante de jornalismo Guilherme Zanetti, “A discussão é relevante, porém não podemos esquecer de alguns pontos cruciais, hoje o jornal veículo precisa do anunciante pra se manter, e isso talvez nunca mude. O que é legal, é perceber que a mídia convencional completa a mídia ninja, e vice e versa”, falou ele.

Aplicativos ajudam no combate ao crime Site de mapeamento de crimes registra Barão Geraldo como uma das regiões mais críticas de Campinas Foto: Divulgação

Camila Correia Tais Campos

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onhecido por concentrar repúblicas, o distrito de Barão Geraldo, em Campinas, registrou um aumento de 10,8% no número de casos de furtos no primeiro semestre deste ano, em comparação ao mesmo período de 2012. De janeiro a junho de 2013, o 7º Distrito Policial (DP), que cobre a região, registrou 939 ocorrências contra 837, segundo a Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP-SP). Segundo o delegado responsável por Barão Geraldo, Cassio Biazolli, o número de ocorrências já diminuiu em comparação ao primeiro semestre devido, principalmente, à reposição de policiais no distrito. “Estávamos desfalcados em matéria de pessoal e houve uma reposição de policiais que garantiu a prisão de alguns criminosos. Em relação às republicas estudantis, faz mais de 40 dias que não há roubos e, em residências, as ocorrências voltaram a entrar em declínio”. É com base no aumento do número de assaltos no Brasil que Márcio Vicente e Fillipe Norton, estudantes de Ciência da Computação na Universidade Federal da Bahia (UFBA), criaram o aplicativo de celular Onde Fui Roubado. O Saiba + fez um rápido bate-papo com os meninos pra conhecermos um pouco mais sobre esse aplicativo que desde junho do ano passado já teve 420 mil visitas e 1 milhão e 300 mil visualizações.

Márcio Vicente e Fillipe Norton, criadores do aplicativo Onde Fui Roubado

Só em Campinas, houve 280 denúncias, das quais a maior parte (93) na região de Barão Geraldo.

ponto crítico da maioria das cidades brasileiras. Acreditamos que com a colaboração de cada vítima de pequenos crimes, podemos ter uma enorme Quando e como surgiu a ideia de quantidade de dados e manter o cidadesenvolver o aplicativo? dão mais informado de um assunto Márcio Vicente: A ideia surgiu em que hoje fica restrito aos órgãos poliuma das conversas que tínhamos na cias, informações essas, que deveriam faculdade em querer sempre criar al- ser públicas para o cidadão. gum produto inovador e que não tivesse distinção de público. Aliado com o Qualquer pessoa pode denunciar problema de violência, o Fillipe suge- um roubo no “Onde Fui Roubado”? riu de criarmos um mapa colaborativo M.V: Qualquer pessoa pode denunafim das vítimas poderem ajudar todo ciar. Basta preencher um formulário cidadão que estivesse na linha de pe- rápido, que é dividido em quatro parrigo onde aconteceu com ele. A partir tes: local, dados relativos ao assalto daí, fizemos algumas pesquisas bo- (horário, dia do crime, objetos subtraíca-a-boca e conseguimos ter um fee- dos e informações complementares). dback positivo. E quanto à expansão do projeto? Qual é o objetivo do aplicativo? M.V: Hoje temos cerca de 98% de M.V: Nosso objetivo é mapear todo feedback positivo e o projeto já em

expansão. Começamos a desenvolver uma segunda versão do site, que permite uma interação maior do cidadão e deixa as informações cada vez mais claras. Além disso, o aplicativo Android em breve será lançado e logo após para iOS. Aplicativos de Rastreamento Além dos aplicativos que fazem o mapeamento de crimes, cada vez há mais usuários de aplicativos que conseguem rastrear, a partir do GPS ou Wi-Fi, o aparelho após perda ou roubo. Juliana Medina, estudante de Educação Física da PUCC, recomenda o uso. No último dia 26, ela recuperou o celular da irmã, roubado em uma farmácia em Itu, após recorrer ao aplicativo “Buscar iPhone”. Do seu celular, Juliana localizou o aparelho roubado no mapa e, após configurar uma mensagem, recebeu a ligação da pessoa que tinha encontrado o celular embaixo do banco de um ônibus e que disse que o deixaria na delegacia. “Após cinco minutos, a polícia me ligou. Nunca tinha usado o aplicativo, o importante é que conseguimos recuperar o aparelho”, afirma Juliana. “Buscar iPhone” é o aplicativo oficial da Apple. Caso o usuário perca o celular, basta acessar o aplicativo em outro dispositivo com iOS ou pelo site. Além de poder fazer com que ele mostre uma mensagem ou emita um som, outras ações possíveis são o bloqueio remoto do aparelho e a eliminação de dados de forma permanente. “GadgetTrack”, “iHound” e “Prey” são exemplos de outros aplicativos de rastreamento.


Cotidiano

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11 de novembro de 2013 Foto: Claudia Muller

Claudia Muller

E

Como estávamos com o General Duarte, quem comanda os batalhões da região - e também para ‘fazer uma graça’ -, fomos

Dura é a vida do guerreiro de selva recebidos com honras militares. Bastante formalidade, toque de trombeta, armas à mostra. E meu sol comigo, me derretendo, me fazendo ver o horizonte tremeluzir.

Aluna da PUC-Campinas registra impressões da vida na floresta amazônica

para a sobrevivência. Caso essa visita não possa ser realizada, por cheias do rio ou qualquer outro transtorno, os moradores de Yauaretê são obrigados a dar um jeito de sobreviver: pescando, em geral.

aquelas pessoas lá e a gente poder ajudar”, comenta o 1º Tenente Rodrigues, da FAB.

A Amazônia é a região mais rica do país e também a mais abandonada. O Estado não Antes de irmos, fose faz presente, os hamos “preparados” para Isso nos deu uma bitantes são deixados o que seria essa expe- prévia da importância à própria sorte, ao que riência. Nesse povo- da FAB para o Exérci- são capazes de fazer ado de menos de mil to. São vários os pelo- por si mesmos. Entrepessoas existe apenas tões de fronteira como tanto, eles não estão a vila dos militares, as são vários os lugares de sozinhos. As forças arFoto: Claudia Muller

Foto: Claudia Muller

m uma manhã ensolarada, o que não é raro em Manaus, chegamos à Base Aérea da cidade e embarcamos em um avião AC 105 Amazonas, rumo à São Gabriel da Cachoeira, há 852 km a oeste da capital. Depois de cerca de duas horas de voo, pousamos em São Gabriel. Contudo, este não era o nosso destino final. O que nos esperava era muito mais peculiar do que esta cidade de mais de 109 mil km² (a cidade de São Paulo tem pouco mais de 1.500 km² de área) e apenas 39 mil habitantes, situada na Cabeça do Cachorro, com quatro línguas oficiais (português, nheengatu, tucano e baniwa) e com mais de 70% da população formada por índios. Nosso destino final era Yauaretê, um povoado de São Gabriel localizado na fronteira com a Colômbia. Após o avião estar abastecido, fomos para o nosso desafio. Uma hora depois, chegamos. A temperatura era de 33ºC, mas a sensação térmica era de um inferno na terra, bem como diziam os militares. “Ao chegar a Yauaretê, cada um vai ganhar um sol e ele vai te acompanhar para onde for”. Ao descer do avião, olho ao redor e vejo apenas a pista de pouso e meus companheiros de viagem. A terra aos meus pés é de um vermelho leve, em volta de mim e durante toda minha rotação vejo apenas verde ao horizonte. O sol cria sua atmosfera própria, parece inebriar minha visão. Como viajei com o Exército, não posso deixar as pernas à mostra e aquela calça jeans parece acrescentar uns cinco quilos ao meu peso.

Povoado de Yauaretê abriga o primeiro pelotão especial de fronteira do exército

casas dos indígenas, uma escolinha dentro do Pelotão e uma tentativa de hospital – sem médicos e enfermeiros, apenas auxiliares. Uma vez por mês, os militares e suas famílias são presenteados com uma visita da Força Aérea Brasileira (FAB), que leva alimentos e demais suprimentos que se façam necessários

difícil acesso na região Amazônica – por barco, leva-se mais de um mês para sair de Manaus e chegar a Yauaretê. “A gente contribui com medicamento, comida, equipe para fazer ações sociais, vacina, até a troca desse pessoal é a gente que faz e, depois que você conhece essa realidade, é muito bonito ver todas

madas realizam diversas ações cívico-sociais nessa região. Eles vão de cortar cabelo à partos, à alimentação. Realidade que faz admirar esses militares que deixam de lado uma vida de menos suor e mais facilidades em uma “cidade grande” para viver em áreas remotas, ganhando pouco, convivendo com inúmeras

lher e a filha de 8 anos, todos nascidos no Rio de Janeiro (RJ). “A adaptação aqui não foi difícil, no começo eu apenas fiquei um pouco temerosa em relação a trabalho, mas eu prefiro aqui ao Rio porque eu gosto da cultura e da calmaria”, comenta Silvana Lima Silva Freitas, enfermeira e esposa do Sargento. A filha deles estuda na escola do Pelotão, que é mista, ensinando filhos de militar e crianças da comunidade. “Ela não sente diferença nenhuma em relação ao Rio, ela até prefere aqui porque lá ela era mais presa e aqui ela fica livre o dia todo, tem mais liberdade”, revela a mãe Silvana.

dificuldades, mas cuidando de muita gente que deposita todas Para o comandante as esperanças neles. do PEF de Yauaretê, Carlos Magno Siqueira “Isso é vocação e Carvalho, a alimentaponto!”, responde ime- ção é uma dificuldade diatamente o general nesse estilo de vida. José Luiz Jaborandy “Você acaba ficanJunior, chefe do Esta- do muito limitado na do-Maior do Comando questão comida, tem Militar da Amazônia, de comer sempre as ao ser perguntado do mesmas coisas, além porquê desses militares de não ter muitas opescolherem servir nos ções de lazer”, relata. pelotões. “É questão O comandante vide vocação, de fazer via no Pelotão com a o que gosta, coisa de mulher, mas como ela coração, de espírito, é engravidou eles decia necessidade de saber diram que ela deveria que nosso povo preci- ir para um lugar com sa da nossa ajuda, en- mais recursos para ter tão não podemos virar a criança. Por isso, ela as costas”, completa. foi para o interior do Paraná morar com a fa“A dificuldade aqui mília durante essa fase. é que nada é imediato, “Eu nunca fui de ter tudo é muito demora- dificuldade para ficar do e custoso, são essas longe, mas agora que facilidades de uma ci- eu vi minha filha nasdade grande que você cer, ficar longe aperta sente falta”, explica o mesmo”, lamenta o co2º Sargento Silvio dos mandante. “Para mim Anjos Freitas, que ser- não foi difícil me adapve ao PEF de Yauaretê. tar aqui, pois sou do inContudo, o que moti- terior de Minas Gerais, va o oficial é a cultura então a diferença daqui que se adquire. “Você é que tudo está muiescolhe servir aqui por to longe”, completa. uma mudança de ar, Contudo, Magno de lugar. Uma coisa é tem o porquê bem clavisitar, outra é viver ro de estar servindo em por um ano, ver tudo um pelotão de fronteique acontece com a ra. “O que me motiva é comunidade, partici- o idealismo e o que me par de festas, ter um deixa feliz no Exército enriquecimento de vi- é estar nas fronteiras, vência”, complementa. eu tenho orgulho de O Sargento Anjos servir ao país e protevive aqui com a mu- ger os cidadãos”, conta.


Tecnologia

15 de setembro de 2013

Página 7

Brasileiros devem produzir oito quilos de lixo eletrônico por ano em 2015 Pesquisa do Banco Mundial estima aumento de 23% sob os atuais seis quilos e meio produzidos por habitante

O

Letícia Boaretto

Foto: Armando Sagula

aumento da oferta de equipamentos eletrônicos por preços cada vez mais sedutores e possibilidades facilitadas de pagamento, a competição frenética da indústria por dispositivos mais modernos e o fácil acesso ao crédito estão colocando o Brasil no topo dos rankings de consumo de aparelhos eletrônicos do mundo. Atualmente, o País é o segundo maior consumidor de equipamentos eletrônicos do planeta e permanece nessa posição quando o assunto é a intenção de compra de novos aparelhos, de acordo com um levantamento divulgado pela AccentuA produção de lixo eletrônico deve atingir os oito quilos por brasileiro até 2015; o aumento é equivalente a mais 23% do que é produzido hoje re, multinacional de cono acúmulo de lixo. Pro- Mundial, demonstra que cias e possíveis solu- que o desafio de se livrar sultoria de gestão. porcionalmente, quanto a produção de lixo ele- ções”. Isso porque o tipo corretamente do e-waste Em 2013, as vendas mais se compra, mais se trônico, o “e-waste”, no de aparelho é produzido fica ainda mais compleno comércio eletrônico descarta. O estudo “Was- Brasil deve aumentar com vários componen- xo: a incineração libera brasileiro devem atingir ting no Opportunity – 23% em dois anos. Mas, tes tóxicos que, quando metais pesados, a reciR$ 28 bilhões e superar The Case for Managing no caso desse tipo de entram em contato com clagem afeta quem tra50 milhões de consumi- Brazil’s Electronic Was- lixo, guardar, acumular o organismo, causam da- balha no processo e sodores, segundo proje- te” (“Não joguemos a ou descartar os produ- nos em sistemas como o terrar o lixo faz com que ções da e-bit, empresa oportunidade fora – Evi- tos indevidamente pode respiratório, nervoso e as toxinas sejam absorespecializada em e-com- dências para um geren- ser altamente maléfico digestivo, entre outros vidas pelo solo, aumentando a possibilidade de merce. Novas tecnolo- ciamento correto do lixo à saúde, como expõe a distúrbios. É justamente por cau- elas chegarem à cadeia gias, entretanto, causam eletrônico brasileiro”), pesquisa científica “Lixo publicado pelo Banco eletrônico: consequênsa dos elementos tóxicos alimentar humana. velhos problemas como

Plano de Resíduos Substância Sólidos é implantado em Campinas Com base na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), aprovada em agosto de 2010, a Secretaria de Serviços Públicos começou a implantar, em 2013, o Plano de Resíduos Sólidos, que, segundo o assessor de imprensa da seção de infraestrutura e serviços públicos Doni Vieira, tem o prazo de quatro anos para ser aplicado plenamente. A medida que trata do descarte de lixo eletrônico determina que os produtos devem ser recolhidos pelos fabricantes e que estes são os responsáveis pelo fim correto dos aparelhos. Para centralizar a coleta, o Departamento de Limpeza Urbana (DLU) recebe o lixo da população por meio de um Ecoponto.

Arsênio

Cádmio

Origem

Tipo de Contaminação

Celulares

Inalação e toque

Agente cancerígeno, afeta o sistema nervoso e cutâneo

Computador, monitor de tubo e baterias de laptops

Inalação e toque

Agente cancerígeno, afeta o sistema nervoso, causa dores nas articulações, distúrbios no metabolismo e danos pulmonares

Inalação e toque

Irritabilidade, tremores nos músculos, lentidão de raciocínio, alucinação, insônia e hiperatividade

Chumbo

Computador, celular e televisão

Cloreto de Amônia

Baterias de celulares e laptops

Efeito

Inalação

Asfixia por acúmulo no organismo

Inalação

Anemia, dores abdominais, vômito, problemas no couro cabeludo, impotência, tremor nas mãos e perturbações mentais Danos estomacais, distúrbios renais e neurológicos, alterações genéticas e metabólicas

Manganês

Computador e celular

Mercúrio

Computador, monitor e TV de tela plana

Inalação e toque

Usado em fios para isolar correntes elétricas

Inalação

Problemas respiratórios

Baterias de celulares e laptops

Inalação

Problemas pulmoranes, vômitos e diarreias

PVC Zinco


Cultura

Página 8

15 de novembro de 2013

Artista inova com obras ricas em detalhes

Foto: Armando Sagula

Formada em Publicidade pela PUC-Campinas, Luciana Nogueira pretende lançar sua própria linha de produtos

A artista ex aluna da PUC-Campinas atualmente se dedica a suas pinturas e pretende ter a própria linha de produtos baseados na arte que produz

O

Natália Oliveira

começou a desenvolver suas sa. Agora eu não largo mais trabalho da ilus- ilustrações e comercializá- a arte. Quero criar produtos tradora, Luciana -las há menos de um ano. com arte, ambientes com Pupo Nogueira, Abandonou sua carreira de arte, tudo que eu puder espublicitária formada pela publicitária e decidiu inves- tampar com a minha arte eu PUC-Campinas, vem ga- tir na sua carreira de artista. vou estampar. Além das parnhando grande destaque No mês de outubro, suas cerias com outras empresas, dentro do contexto artísti- pinturas saíram na revista arquitetos e clientes particuco. Em menos de um ano já Vogue e tem sido procurada lares, pretendo lançar minha fechou parcerias própria linha de procom empresas, ardutos. Ainda estou em “ quitetos e clientes fase de planejamento, particulares e sua artistas, com anos de eu amo o que eu faço, arte, por exemplo, me senti tão feestrada, não recebem o nunca é publicada em liz e realizada”. capinhas de celulares da marca CaSuas obras são muisekit. Para 2014 a merecido. Uma pena.” to detalhistas, e Luciaartista já tem três na conta que não tem Luciana Pupo Nogueira muitas explicações de exposições para participar. como surgiu essa texpor blogs, revistas e jornais. tura inovadora. “Eu adoro O estilo adotado por Lu- Seu trabalho alavancou ou- qualquer coisa bem detalhaciana surgiu há três anos, ela tras parcerias que ainda da e impactante. Gostava de pinta desde criança, porém “não podem ser divulgadas, fazer algo para chamar atensem pretensão alguma. Aos mas os resultados serão lin- ção. Quando me fazem essa dezoito anos, quando entrou dos” , exalta Luciana. pergunta eu fico sem saber para a faculdade de Publicicomo responder. Acredito dade e Propaganda na PUCA inspiração de Luciana que seja por eu dar tanto vaCampinas, deixou a pintura vem da natureza, dos ani- lor a detalhes. Eu paro para de lado e se interessou pelo mais, das flores, além de olhar uma linda flor, suas design gráfico. Hoje não gostar de desenhar a figura cores, seus traços, um aniquer largar mais a pintura. feminina. “As ideias che- mal, uma árvore. Nossa vida Luciana pretende, em 2014, gam às vezes em momentos é composta de mil detalhes, abrir sua própria linha de inesperados, no dia-a-dia os foi assim que encontrei a produtos, criando produtos estímulos são constantes, forma de expressar o que com arte e ambientes, e quer por isso sempre ando com sinto.” estampar tudo com a sua um caderninho para fazer as O material usado é o papel arte. anotações”, explica Lucia- do tipo Canson Grosso, que Sua arte ganhou destaque na. A artista conta ainda que ajuda no acabamento dos quando ela começou a pu- tem pretensões para abrir a detalhes e nas telas. Para coblicá-las nas redes sociais. sua própria empresa no pró- lorir, a artista utiliza canetas Hoje, recebe encomendas ximo ano “Estou trabalhan- pretas, Sharpie e Posca. vindas do Brasil inteiro e do para abrir minha empreA tinta preferida para os

Ót imos

pontos de cor é a aquarela, mas são utilizados também a tinta acrílica e PVA. Com todos esses componentes em mão, Luciana dá forma a seus desenhos ricos em detalhes, que dependendo do tamanho, pode demorar algumas semanas para ser concluído, como no caso de papéis e telas com tamanho de A2 para cima.

rísticas hoje é fazer uma arte que tenha um pedacinho da vida, de um sentimento, de um ídolo do dono. Quando alguém vem me pedir um trabalho em faço questão de conversar com a pessoa, saber o que ela gosta, quais cores prefere, quais texturas gosta mais, já fiz alguns mudarem de ideia quanto ao tema.”

reconhecimento

Foto: Armando Sagula Luciana estampa ajuzelos, capas de celulares e telas com a sua arte

Os tamanhos A4 e A3, Luciana conta que pode levar até pouco mais de dez horas. Dentro do acervo de ilustrações da artista encontra-se a Carmem Miranda, Elvis Presley, Jesus Cristo, Nossa Senhora, Bon Jovi, Bob Marley, ilustração de natureza, meninas, meninos, paisagem, o Cristo Redentor, pássaros, borboletas e muitas outras. “Uma das minhas caracte-

Ela reconhece que a profissão é difícil e o caminho a percorrer é longo. “É uma profissão difícil. Muitos ótimos artistas, com anos de estrada, não recebem o reconhecimento merecido. Uma pena.” Sem nunca fazer um curso de pintura, por incentivos de amigos na área de ilustração incentivaram Luciana a continuar com seus desenhos e daí em diante ela tem tido grande reconhecimento do seu trabalho.


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