Saiba+ - Edição Setembro de 2013

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12% das vagas na construção civil são ocupadas por mulheres Pág 03 Desde 2006

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Faculdade de Jornalismo - Puc Campinas

Bandas de Campinas lutam por mais público e espaços

Divulgação

SCOTH TAPE: Meninas formam banda indepedente e saem na luta por uma espaço nas casas de campinas. projetos autorais vêm ganhando cada vez mais espaço em festivais independentes nos últimos anos. “Campinas, de um tempo pra cá principalmente, tem recebido mais bandas independentes de diversas regiões e ganhado um público cada vez mais fiel a esse tipo de evento”, comenta Luiza Judice, 23. Pág. 04 e 05

Reividicações pela internet trazem benefícios a Valinhos Grupo no facebook com 4 mil participantes tem conseguido melhorias na cidade. As mudanças que o grupo provoca vão além da política. O criador do grupo e ex-vereador pela cidade, Heriberto Pozzuto, contou um dos casos resolvidos por meio do “Pé de Figo”. “Recentemente uma pessoa publicou fotos de um supermercado que jogou embalagens de madeira e papelão na calçada e num terreno vizinho. Em seguida um diretor da empresa entrou no grupo, pediu desculpas e informou as providências tomadas. Logo depois a mesma pessoa publicou novas fotos do local, limpo e arrumado”. Pág 03

Tesouro empresta, mas ficam dúvidas para quem vai pagar O impasse permanece e o futuro continua incerto, já que a conta das termelétricas e do empréstimo do Tesouro pode cair nas mãos das geradoras, distribuidoras ou do próprio consumidor. O problema começou com uma junção de fatores. Primeiro, os reservatórios das usinas hidrelétricas estavam baixos - o final do ano passado teve a pior média dos últimos 10 anos. Pág 06

Novos modelos de ensino em tempo integral podem combater a criminalidade No Brasil, menos da metade (44%) da população de 15 anos ou mais não têm instrução ou não completaram o Ensino Fundamental, segundo última pesquisa do IBGE, em 2010. O baixo índice de escolaridade se repete no sistema penitencial e carcerário brasileiro: 66% dos detentos não concluíram o Ensino Fundamental e apenas um em cada dez detentos participa de atividades educacionais oferecidas nas prisões, de acordo com o Conselho Nacional de Educação (CNE). Pág 08

Indústria estética e cosmética dobra crescimento em um ano Cerca de 66% dos jovens gastam o dinheiro que ganha dos pais ou conquista trabalhando, em roupas e acessórios. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, de 2008 a 2012, o número de cirurgias quase triplicou. Em 2008 foram realizadas 37.740, já em 2012 foram realizadas 91.100. O professor de cirurgia plástica da PUC-Campinas, Gilson Luis Duz, declara que a indicação médica é fundamental antes de se submeter ao processo cirúrgico por estética. O corpo é o foco das atenções. Fazer academia, se alimentar bem e cuidar da saúde são de extrema importância, porém o excesso de tudo isso pode acarretar diversas conseqüências. Pág 07


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Página 2 RÁPIDAS Maior corrida do interior paulista completa 30 anos A Corrida Integração acontece dia 29 de setembro, às 8h, e comemora 30 anos de tradição em Campinas. Com percurso pelas ruas e avenidas da cidade, a prova é competitiva nos 10 km e participativa nos 5 km e caminhada. Todos os integrantes recebem um kit de participação com chip (exceto caminhantes), número de peito, sacola personalizada, camiseta e medalha. As inscrições podem ser feitas até o dia 20 de setembro no site da corrida e na Prosport Bike, localizada na Av. Orosimbo Maia, n° 2001. MIS exibe filme baseado em música do The Who O Museu da Imagem e Som (MIS) exibe dia 16 de setembro, às 19h, o filme “Quadrophenia”, inspirado no disco homônimo da banda de rock britânica The Who. Dirigido por Franc Roddam, o filme mostra a alienação da juventude britânica da década de 1960. A obra conta a história de Jimmy (Phil Daniels) que, desiludido com seus pais e seu emprego, torna-se um membro da gangue adolescente Mods, rival de outra gangue, a Rockers. A apresentação faz parte do ciclo “Mostra Rock Anos 60”. A entrada é gratuita. Para mais informações www.miscampinas.com.br. Fotografia é tema de evento no Senac O Senac Campinas recebe dia 16 de setembro, das 19h30 às 21h30, os fotógrafos Bob Wolfenson e Ernani d’Almeida para o evento “Diálogos da Fotografia”. O objetivo é promover a discussão sobre a fotografia e suas perspectivas nos contextos mercadológico, cultural e social, além de abordar os conceitos e as inovações da transformação da imagem analógica para a digital. A entrada é gratuita. Para mais informações (19) 2117-0600 ou pelo e-mail campinas@sp.senac.br.

O Brasil não tem espírito esportivo

Estudante de Jornalismo

O cantor Jorge Vercillo realiza um show no dia 14 de setembro, às 21h, no Premium Paulínia. A apresentação “Luar de Sol” privilegia canções mais brasileiras e menos radiofônicas do compositor, como “Numa corrente de Verão”, em parceria com Marcos Vale, “Raiou”, “Apesar de Cigano”, “Oração Yoshua”, “D.N.A.” e “Como diria Blavatsky”. Para mais informações e ingressos: premiumpaulinia.com.br e ingressorapido.com.br. SAIBA + Jornal laboratório produzido por alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas. Centro de Comunicação e Linguagem (CLC): Diretor: Rogério E. R. Bazi; Diretora-Adjunta: Professora Maura Padula; Diretor da Faculdade: Professor Lindolfo Alexandre de Souza. Tiragem: 2 mil. Professor responsável: Prof. Luiz R. Saviani Rey (Mtb 13.254) Editora: Carolina de Campos Tornich Diagramador: Armando Sagula Neto

Internet vira ferramenta de reivindicações em Valinhos

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otem: quão raro é você entrar em um consultório e tratar o médico que lhe atende com outra palavra que não “doutor”? Há no Brasil arrogância de um lado e submissão de outro em torno dessa palavra. O morador de rua que fica contente com as moedinhas de troco do cigarro caro que você acabou de comprar, agradece: - obrigado, ‘Dotô’. A mãe que, orgulhosa, acompanha o progresso do filho no ensino superior exultante declama “meu menino vai ser doutor!”. Advogados e médicos adoram a auto-denominação de “Doutor” apenas por terem frequentado uma faculdade, ignorando o que teriam de fazer para merecer a alcunha. Talvez todo esse processo tenha finalmente desencadeado algo que estava para explodir: a arrogância desses “profissionais”. Quando o ministro da saúde, Alexandre Padilha, anunciou a contratação de médicos estrangeiros para atender as cidades onde os doutores brasileiros não se interessaram por trabalhar, foi uma gritaria e uma choradeira. Questionaram a capacidade desses médicos (afinal, tudo que há em Cuba deve ser tratado com um ceticismo tremendo pela mídia e elite brasileira - que se confundem bastante), falaram em trabalho escravo diante da “denúncia” de que o salário desses profissionais seria pago diretamente ao governo cubano que repassaria uma parte aos médicos - sem informar qual seria essa parte. Mas afinal, qual a motivação disso? Estariam esses Doutores preocupados com o povo? Ou preocupados com os salários que os cubanos receberão? O que parece é que há um excesso de arrogância e soberba - e aí voltamos ao início do texto - nesses profissionais. Esses “Doutores” têm como função salvar vidas, cuidar de outras, amenizar sofrimentos. É uma profissão digna. Mas um médico sem humanidade, sem amor e sem um senso de justiça social profundo, não pode ser considerado nem médico, quem dirá doutor. Por isso fica a pergunta: Profissionais de quê? De manejar equipamentos e ferramentas, aplicar diagnósticos e acharem-se acima do bem e do mal? Há que se relativizar o contexto histórico, e já está mais do que enraizado na cultura brasileira a elitização dessas profissões. Vem desde a época onde Direito e Medicina eram as duas únicas profissões tidas como dignas para o filho, geralmente como “herança” profissional coercitiva que passava de geração para geração, mas tudo isso não é justificativa para o nível baixo da discussão que há sobre o programa “Mais Médicos” e no que podemos aproveitar da vinda desses forasteiros. É, portanto, um alento ver a primeira declaração de um médico cubano ao desembarcar no Brasil. Ao ser prontamente questionado sobre o salário que receberia (ou não, de acordo com alguns Doutores), Nelson Rodriguez, 45, afirmou: “Não nos interessa o salário, fazemos o trabalho por amor. Somos médicos por vocação, não por dinheiro”. Que sirva de aprendizado. Nelson Rodriguez, médico cubano, nos ensina desde já uma lição proveniente de uma cultura diferente e serve de motivação para essa leva de profissionais que virão. O trabalho como vocação e como amor, não apenas tendo em mente salários e a ascensão social. Sejam bem-vindos, médicos. E se posso dar uma sugestão: aprendam o que é profissionalismo, Doutores. Não é a vida como ela é, mas como deveria ser. Obrigado, Nelson Rodriguez.

ARTIGO

Estar em uma Olimpíada é para poucos e ser medalhista Olímpico é para heróis. Ultimamente as críticas aos atletas brasileiros são recorrentes. O grande público não acompanha a maioria das modalidades e julga saber o que acontece com o atleta. Muitos já foram campeões e, como qualquer um, passam por maus momentos. Porém, os “pseudo-torcedores” pensam ter o direito de xingar esses esportistas. Toda crítica é bem vinda, mas as ofensas são desnecessárias. Alguns dos problemas que nossos atletas sofrem em grandes competições é o medo da cobrança e da ofensa. O brasileiro não sabe valorizar o adversário, sempre acha que o atleta nacional amarelou ou foi roubado. O Brasil não possui uma estrutura para ter atletas de ponta, uma vez que não existe uma política esportiva no país. Investir em atletas simplesmente pra ganhar medalhas em Jogos Olímpicos não pode ser considerada uma boa política, pois em longo prazo ela não é viável. Existe um grande problema cultural no país, já que só é bom quem ganha medalha,

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CIDADES

CRÔNICA - por Ronnie Romanini

Vinicius Duran

“Luar de Sol”

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e o esporte tem que ser bem mais que isso. Estar nos Jogos Olímpicos é o ponto alto da carreira de um atleta. O nadador, Thiago Pereira, foi muito criticado por ter ganhado “apenas” uma medalha de prata durante os Jogos Olímpicos de 2012. Quantas pessoas conseguiram isso? Quantos conseguiram bater o maior medalhista Olímpico da história, Michael Phelps? Dentre as 7 bilhões de pessoas no mundo, apenas 10.500 disputam os Jogos Olímpicos. São distribuídas 4.700 medalhas, então, conquistar uma delas não é simples. Poucas pessoas tem a honra de participar de uma Olímpiada, portanto, não se deve criticar quem conseguiu esse mérito, pois só o fato de estar lá já é uma vitória. A nossa sociedade precisa mudar essa cultura de não apoiar seus atletas. Apesar de não sermos uma potência olímpica, o apoio da torcida é imprescindível. Em 2016 será a vez de o Brasil receber os Jogos Olímpicos e é muito importante nosso apoio mesmo na derrota, pois nem todos podem ganhar.

Grupo do Facebook, com pouco mais de quatro mil membros, obtem melhorias na cidade Guilherme Boneto

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advento da internet enfim chegou a Valinhos. A cidade, considerada uma das 15 melhores do país para se viver, segundo o ranking de IDH da ONU, tem apenas quatro jornais, que circulam uma vez por semana. Para os valinhenses que mantêm um perfil no Facebook, contudo, não há falta de informação. Criado há aproximadamente seis meses, o grupo “Pé de Figo, Sim Senhor” tornou-se palco de reivindicações e troca de informações entre seus usuários. A agremiação, que hoje conta com pouco mais de quatro mil membros, tem temas que vão de acaloradas discussões políticas a ruas esburacadas em bairros afastados do Centro. Boa parte dos vereadores que integram a Câmara Municipal de Valinhos fazem parte do grupo “Pé de Figo”, assim como secretários municipais e funcionários públicos; todo o conteúdo do grupo passa por essas pessoas, e vários dos problemas são resolvidos quando as autoridades tomam conhecimento das reivindicações. O consultor Adriano To-

non, membro do grupo desde sua criação, comentou a redução de R$ 0,10 na passagem de ônibus no último dia 30 de junho, resultado dos protestos que tomaram o país e chegaram também a Valinhos. “A planilha de custos referente ao aumento da passagem [de ônibus] foi analisada por um membro do ‘Pé de Figo’, que identificou de cara a falta do cálculo do ISS na composição do valor. Essa pessoa procurou o vereador Paulo Montero (PMDB), que por sua vez deu entrada no pedido de paralisação. Tenho ido às sessões da Câmara Municipal, e vejo que toda sessão o ‘Pé de Figo’ é citado. Vários vereadores utilizam a página para pegar temas e levar em consideração na bancada”, disse ele. Tonon mencionou ainda o recapeamento de uma rua graças a uma reclamação no grupo. “Depois que reclamamos [das condições] do asfalto na Rua das Azaleias, no bairro Fonte Nova, três dias depois a prefeitura tinha tapado os buracos de lá”, contou. Ele e vários outros membros do grupo participam com frequência das sessões feitas no plená-

rio da Câmara dos Vereadores, e muitos deles comentam cada acontecimento em tempo real, pelo Facebook. As mudanças que o grupo provoca vão além da política. O criador do grupo e ex-vereador pela cidade, Heriberto Pozzuto, contou um dos casos resolvidos por meio do “Pé de Figo”. “Recentemente uma pessoa publicou fotos de um supermercado que jogou embalagens de madeira e papelão na calçada e num terreno vizinho. Em seguida um diretor da empresa entrou no grupo, pediu desculpas e informou as providências tomadas. Logo depois a mesma pessoa publicou novas fotos do local, limpo e arrumado”, comentou ele. Recentemente, uma internauta publicou a foto de um cão abandonado, que segundo ela, seria morto em dois dias caso não conseguisse um novo dono. Com a mobilização dos membros do “Pé de Figo”, em pouco tempo o cão já tinha um novo dono, com direito a fotos publicadas. Heriberto Pozzuto falou também sobre o uso do grupo “Pé de Figo” para debates políticos e confron-

Guilherme Boreto

Rua das Azaleias, no bairro Fonte Nova, cujos buracos teriam sido remendados graças à reivindicação de uma moradora pelo Facebook

to de ideias. “O princípio fundamental do grupo é a liberdade. Diferentemente de outros grupos que surgiram antes, que a meu ver pecaram pelo excesso de regras e preocupações, no Pé de Figo vale tudo. Nada é censurado, nem mesmo as baixarias e agressões”, disse ele. “Há gente de todas as correntes: direita, esquerda e muito pelo contrário”, brincou. O consultor Adriano Tonon, que participa com frequência das discussões, destacou o papel

positivo dos debates. “Da mesma maneira que existem excessos em discussões sobre futebol, sobre religião, vai existir sobre grupos ‘políticos’. Sempre vai ter quem defenda o seu lado e queira ‘impor’ sua vontade. Por mim, o que vale é a liberdade de expressão de cada um, o direito de opinar, mesmo sendo algo bem fora da realidade. Melhor assim, lendo coisas diferentes, do que calado, como era na época da repressão militar”, falou ele.

Mulheres na construção civil ocupam 12% das vagas Nandra Brites

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oi–se a época em que os canteiros de obras eram exclusivos do universo masculino. Com unhas pintadas e blush no rosto, as mulheres chegaram com força total no mercado da construção civil colocando literalmente a mão na massa. Além da independência almejada pelas mulheres desde a década de 60, o feminismo ainda em evidência toma conta de forma generalizada em pleno século 21. A fim de promover mais revolução e igualdade dos gêneros, as mulheres não deixam por menos, e fazem bonito nas obras civis. Segundo uma pesqui-

sa realizada pelo Sindicato da Construção Civil de São Paulo, (SINDUSCON-SP), o número de pessoas do sexo feminino empregadas no setor, passou de 119.538 no ano de 2007 para 264.365 em 2012. Aumento de 12% em cinco anos. Existem inúmeras razões para este fenômeno ocorrer, segundo o vice-presidente de Capital e Trabalho do Sindicato da Construção Civil de São Paulo (SINDUSCON-SP), Haruo Hishikawa é a falta de mão de obra masculina a maior culpada pela ascensão feminina na construção civil. “Este é um setor que tem sofrido com

a escassez de profissionais qualificados, fato que está abrindo espaço para as mulheres. Elas, inclusive, têm chegado ás empresas até melhor preparadas do que os homens.” Esmalte, maquiagem e betoneira... Rebeca Almirante 25 anos, é tecnóloga em Segurança do Trabalho, formada pela Faculdade Unisal de Campinas e atua como encarregada em duas obras na região do Taquaral, bairro nobre em Campinas. Escolheu o curso pelo salário e pela curiosidade em trabalhar com máquinas de gran-

de porte dentro das obras. “Tinha curiosidade em saber como as mulheres podiam trabalhar dentro de um canteiro de obras, por esta razão quis me especializar como encarregada e assistente de obras. É muito gratificante ver que somos capazes de trabalhar da mesma forma que os homens, só que com mais delicadeza.” Conta Rebeca Almirante. Outro chamariz para as moças é o salário. No estado de São Paulo, por exemplo, os pisos mensais são de R$1.067 para trabalhadoras não qualificadas (servente, vigia, auxiliares e demais trabalhadoras cujas funções

não demandem formação profissional); R$1268 para quem tem qualificação (pedreiro, carpinteiro, gesseiro e pintor) e R$ 1.555 para os que têm formação e são qualificados com especialidades em montagem de instalações industriais. A Construtora Prime Engenharia de Campinas (SP), no ano de 2012, contratou 95 funcionários, sendo 32 do sexo feminino. “As operárias tem uma forma mais polida de trabalhar e se relacionar, por isso, a presença delas nos trazem muitos benefícios. São mais delicadas e detalhistas.” Conta Renata Quinturia, uma das gerentes.


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CULTURA

CULTURA

Bandas buscam espaços para sobreviver de rock em Campinas e região

Em meio a limitações de mercado, falta de incentivo por parte de donos de butecos e restrição às músicas autoriais, bandas covers e autorais sobrevivem por amor à música

Inayara Poiani Renam Lopes

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cenário musical do rock alternativo praticado por bandas covers e bandas independentes é bastante limitado em Campinas. A cidade, apesar de ser uma metrópole, ainda carrega o estigma de cidade do interior, e, como tal, o fenômeno do sertanejo universitário toma conta da região. Dessa forma bandas autorais e bandas covers dividem a cena local e tentam aumentar o seu espaço de divulgação. Isso acaba gerando uma certa rivalidade, visto que a maior lucratividade é gerada pelas bandas covers, “queridinhas” do público de diversos bares, como o Sebastian Bar, Delta Blues, e Gainees Pub. A dificuldade para as bandas autorais crescerem vai além dos espaços limitados pelos bares, pois mesmo quando surge a oportunidade de valorizar projetos independentes, eles não atingem a demanda esperada. O Sebastian Bar, por exemplo, foi sede do Projeto Movimento Permanente Musicálica Campinas (Mopemuca) entre 2010 e 2011, mas não fez tanto sucesso com o público. O co-proprietário do bar, Cláudio Costa, 46, afirma que apesar da vontade de ajudar a divulgar bandas autorais, muitas vezes acaba ficando inviável. “Nós precisamos pagar as contas, então recorremos à demanda do público. Acho que pouquíssimos outros bares deram tanta oportunidades

para bandas autorais como a gente continua fazendo”. Liderado por Maks Tiritan, 50, o Mopemuca surgiu em 2006, quando Tiritan deixou a capital catarinense para vir morar em Campinas. O produtor percebeu uma maior valorização da música autoral no sul e procurou movimentar o cenário musical no interior de São Paulo. Já tendo passado por diversas fases, incluindo parceria com bares, atualmente o Mopemuca promove festivais de bandas independentes, como o Autorock realizado em agosto desse ano, que contou com a participação de 35 bandas, duas exposições e uma mostra de filme. O próximo evento será o Baton Rock, festival de bandas femininas e/ou bandas com vocal principal femino, que acontece nos dias 26, 27, 29 de setembro e 6 de outubro, nos bares Delta Blues, Woods, Sonique e Echos Studio, respectivamente. O projeto é uma alternativa para as bandas autorais que vêm, cada vez mais, perdendo o espaço nos bares. “Alguns bares são dependentes das bandas covers. Eles desistem de formar o próprio público e depositam a responsabilidade nestas bandas, o que é péssimo pois o estabelecimento perde a identidade e acaba, de certa forma, contribuindo para um público mais volátil, sem compromisso algum com a cena musical”, Divulgação

Divulgação

COVER: Whitesnake Cover Brasil está nas estrada desde 2004 e virou uma opção para quem nunca teve a oportunidade de conhecer e ver de perto a verdade banda inglesa Whitesnake

conta Tiritan. Integrantes de bandas covers também reconhecem o fato: “É verdade que as bandas independentes perderam espaço nos bares, e, apenas nos bares, mas isso se dá mais por causa do público e, por consequência, dos donos de bares que, é óbvio, preferem ver a casa cheia”, diz Luiz Felipe Moura, 27, vocalista e guitarrista da banda Live Shit,

cover do Metallica. Moura também possui um projeto de banda autoral e critica a falta de interesse de pessoas por novos projetos. “O que será da música se todos decidirem tocar apenas cover? O público tem que tomar consciência, e usar um pouco mais o cérebro pra conhecer coisas novas”, indaga. Contudo, em contrapartida a perda de espaço nos ba-

res, os projetos autorais vêm ganhando cada vez mais espaço em festivais independentes nos últimos anos. “Campinas, de um tempo pra cá principalmente, tem recebido mais bandas independentes de diversas regiões e ganhado um público cada vez mais fiel a esse tipo de evento”, comenta Luiza Judice, 23, guitarrista da banda independente Scoth

Tape. Para ela, o problema das bandas autorais é a falta de reconhecimento. “Há espaço demais para bandas covers e público demais, enquanto shows de bandas autorais independentes frequentemente sofrem com falta de divulgação, público aquém do esperado, cachê insuficiente, ou às vezes até ausente”, disse, sem deixar de ressaltar a importância

que ambos os estilos possuem, “todo e qualquer evento tem seu público e isso deve ser respeitado”. Covernation O fenômeno das bandas cover surgiu no início dos anos 90, quando artistas descobriram a facilidade de conciliar a lucratividade do cover com o prazer de

reproduzir artisticamente o que seus ídolos produzem no palco. No ano de 2005, com o programa Covernation da MTV apresentado por Marcos Mion, se deu uma grande popularização dessas bandas que caíram cada vez mais no gosto popular. O Whitesnake Cover Brasil, por exemplo, primeiro cover brasileiro da banda

PUC-Campinas promove encontro de Big Bands Paulo Cartaxo

Banda independente formada por meninas “Scoth Tape”

Os festivais e os eventos que dão oportunidades para novas bandas, independentes ou cover, são indispensáveis para quem quer divulgar o seu som. Assim, desde 2010 ocorre anualmente o encontro de Big Bands na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCC), sendo um modo dos músicos terem contato com seus possíveis primeiros fãs. O maestro Moisés Cantos, coordenador do Centro de Cultura e Arte

(CCA) da PUCC, é o responsável pela organização do encontro. “Apesar de serem bandas, procuramos sempre valorizar a parte instrumental, grupos instrumentais de clarinetas e saxofones, que chamamos de ‘combos’. Neste ano o foco foi mais em instrumentos elétricos como guitarras e baixos”, diz. A banda Funplex foi uma das convidadas, se apresentando no primeiro dia do encontro (26/08) com músicas no estilo indie rock, que

segundo a vocalista Mariana Ceriani é uma vertente musical pouco explorada e escassa no interior paulista. A apresentação contou com sucessos de Florence and The Machine, The Ting Tings, Arctic Monkeys, Gossip e outros. “Temos preferência por cover com vocais femininos, embora eu também cante Arctic Monkeys”, afirma Mariana. Apesar de existir há um ano e meio, a Funplex já se apresentou em casas noturnas conhecidas na cidade, como Del-

ta Blues Bar, Espaço Mog, Sonique e Tetriz, que saem do DJ convencional para animar a festa. A banda é composta por Mariana Ceriani (vocal), Carlos Eduardo Gomes (guitarra), Alexis Maximiliano (baixo) Lucas William (bateria) e Patrícia Macedo (teclado). No segundo e último dia (27/08) foi a vez do grupo formado pelo Ricardo Vendramini (sax alto-tenor e flauta transversal), João Paulo Martins (trompete), Jaqueline Rodrigues (per-

cussão) e outros. Vendramini já atuou com a dupla Chitãozinho & Xororó, mas não se restringe somente ao sertanejo, variando entre Metric (combat baby) e The Asteroids Galaxy Tour (the golden age). O termo Big Band é uma expressão da língua inglesa usada para identificar um grande grupo instrumental, sendo uma das formações musicais mais usadas pelos artistas de jazz. Esse tipo de formação se popularizou em meados dos anos 20

até os anos 50 nos EUA, que foi conhecida como a era do swing, chegando ao Brasil a partir dos anos 60. Os grupos deram oportunidade para a primeira experiência profissional de artista como Duke Ellington, Glenn Miller, Benny Goodman, Tommy Dorsey, Artie Shaw e Frank Sinatra. Também é das Big Bands que vem a expressão band leader, o artista que influencia e guia o resto da banda, sendo geralmente o trompetista.

inglesa Whitesnake, se tornou uma opção para os fãs do grupo. “Eu gosto muito da banda, como não posso vê-los ao vivo, eu vim ao cover”, conta o funcionário público Rafael Ortale, 23, no show da banda. Na estrada desde 2004, a Whitesnake Cover Brasil surgiu pela semelhança do timbre de voz do vocalista Vagner Moura, 43, com o do vocalista da banda original. Por gostarem da banda, o grupo resolveu gravar um DVD com algumas músicas e foram divulgando em bares e casas noturnas. O sucesso foi tanto que logo no começo conseguiram marcar diversos shows e assim se consolidaram no cenário cover da capital e interior paulista. Hoje, com uma bagagem de shows em diversas cidades brasileiras, como Goiânia e Brasília, os integrantes prezam a qualidade que uma banda cover tem que ter e reconhecem que fazer cover não é apenas tocar música de uma banda famosa. “As boas bandas cover se consolidam pela qualidade. Tem 30 covers de tal banda, mas qual é realmente boa?”, questiona Costa ao justificar a escolha pelo Whitesnake Cover Brasil. Os músicos acreditam que não exista rivalidades entre as bandas covers e autorais, muito pelo contrário. “Acho que não tem rixa. Eu tenho banda cover de AC/ DC e tenho uma banda autoral. A cover se torna necessária não só para ganhar uma grana, mas pelo prazer de estar no palco. Se eu não tiver show para fazer, eu sinto falta”, conta Fabiano Drude, 42, músico e co-proprietário do Sebastian Bar. “Rixa mesmo eu vejo entre bandas covers de um mesmo grupo. Já vi outros covers de Whitesnake que se alegam ‘oficiais’ ou ‘melhores’, não há necessidade disso, quem for bom de verdade vai se consolidar por isso”, completa Marcelo Moura, 38, baterista da banda. Uma opção para quem possui ambas as modalidades de banda, cover e autoral, é utilizar o espaço do cover para divulgação

de projetos independentes. “Uma banda autoral, para segurar público, acaba fazendo covers. Por volta de 60%, ou mais, de um show de uma banda autoral acaba sendo apenas de músicas covers para que eles possam se manter”, diz Drude. E acrescenta: “A gente ganha dinheiro com a banda cover e se diverte com a autoral. O que a gente ganha com uma, investe na outra”. Educação A competitividade pelo mercado musical por grupos autorais torna-se ainda mais difícil quando a juventude tende a selecionar estilos musicais já conhecidos. Hoje, com letras mais leves e mais fáceis de assimilar, o sertanejo domina o cenário musical universitário. “A banda autoral não é tão acessível porque quem sai à noite quer ouvir músicas conhecidas, quer cantar junto com os amigos. Não é todo mundo que quer conhecer uma banda nova”, afirma Marcelo Moura. Dessa maneira, a dificuldade para alcançar o sucesso com uma banda autoral não se dá apenas pela falta de divulgação, mas pela própria demanda de público. Para Luiz Moura, falhas na educação do país refletem diretamente na música. “Um tipo de educação que não estimula a procura pelo conhecimento. É mais fácil copiar do que criar, não é mesmo?”, questiona. Esse fato se dá também devido ao alto investimento de produtores em músicas mais populares. “Hoje é muito mais fácil pra alguém que tem dinheiro injetar dinheiro em um músico sertanejo universitário, por exemplo, porque tem mais público e o retorno é garantido”, explica Daniel de Lucca, 27, tecladista da Whitesnake Cover Brasil. Mesmo com as dificuldades em que os músicos passam no cenário musical atual, uma coisa é certa: muito mais do que um emprego, eles consideram o trabalho um hobby remunerado, movidos pela paixão à música.


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ECONÔMIA

COMPORTAMENTO

Governo cria resolução para destinar a conta às companhias de energia elétrica, que entram na justiça contra a medida

Cerca de 66% dos jovens brasileiros consomem serviços e produtos de beleza, desde a estética até ondontolgia

Quem pagará o empréstimo do Tesouro? Cosméticos cada vez mais presentes

Claudia Muller

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ovos capítulos estão sendo desenhados na novela da conta de luz. No final do mês de agosto, a Associação dos Produtores Independentes de Energia Elétrica (Apine) e a Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa (Abragel), órgãos que representam as geradoras, conseguiram uma determinação para não pagar a conta de acionamento das térmicas. Portanto, o impasse permanece e o futuro continua incerto, já que a conta das termelétricas e do empréstimo do Tesouro pode cair nas mãos das geradoras, distribuidoras ou do próprio consumidor. O problema começou com uma junção de fatores. Primeiro, os reservatórios das usinas hidrelétricas estavam baixos - o final do ano passado teve a pior média dos últimos 10 anos. Diante disso, foi necessário ligar as usinas termelétricas e, ao mesmo tempo, veio a determinação de redução de 20% da conta de luz para o consumidor (MP

Evelyn Candia

579). O custo da energia se dá pelos gastos para gerá-la mais encargos e esse cenário mostrou que a energia ficou mais cara para ser produzida, já que o governo passou a arrecadar menos e cada megawatt gerado na termelétrica custa mais de 4 vezes o gerado pela hidrelétrica. Contudo, era possível fornecer apenas 15% de desconto na tarifa, os outros 5% teriam de ser ‘forçados’. Portanto, a MP nº 605 e o decreto nº 7.891/13 determinaram um aporte do Tesouro para atender a meta. Depois dessa medida, ficou pendente quem pagaria esse dinheiro ‘emprestado’, então o governo decide mudar a forma de rateio (por meio da resolução CNPE nº 3) para reduzir as despesas do Tesouro, ou seja, divide essa conta entre os geradores, comercializadores e consumidores. Contudo, as empresas de energia elétrica não gostaram dessa decisão e

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se juntaram para entrar na justiça contra essa medida. Para as empresas, esse cenário representa a perda de bilhões de reais e a consequente dificuldade em investir. Tudo isso pinta, para o consumidor, um quadro preocupante. Pode-se esperar que essa conta volte para o consumidor, ou seja, que o desconto deixe de existir ou que as empresas não consigam se

reerguer desse prejuízo financeiro. Isso traria o risco de apagão para a população, já que a distribuição de energia é feita em áreas definidas de concessão, ou seja, é um monopólio onde apenas uma empresa pode e deve suprir esse serviço de utilidade pública. Em um cenário menos alarmista, o consumidor por sofrer com a má qualidade na prestação dos ser-

viços por falta de investimento das companhias em novos empreendimentos e infraestrutura, por exemplo. O presidente da consultoria PSR, Mário Veiga, considera como um grande problema que “não houve tempo para simular os efeitos das medidas tomadas ou testar as metodologias”, no caso do rateio de custos, por exemplo.

Aos 50 anos, ITAL - Campinas define dieta moderna mais leve

Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL) demonstra preocupação com o futuro do setor de aliemntação Yasmin Marini

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preocupação com o futuro do setor de alimentos por conta das transformações sociais foi uma das diversas novidades apresentadas na cerimônia comemorativa de 50 anos do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, no último dia 30. A sociedade contemporânea busca alimentos de fácil preparo, como os alimentos processados, que geralmente possuem alto prazo de validade e mantém a qualidade nutricional dos alimentos in natura. Por grande parte dos alimentos industrializados nascerem do trabalho do agricultor, ele se torna fundamental para a produção

de alimentos que venham suprir o ritmo acelerado da vida moderna. “O aumento populacional, a expectativa de vida, o nível educacional e de renda, a preocupação com meio ambiente e com a saúde, exigirão uma mudança e uma modernização do setor de alimentos, bebidas e embalagens, de forma que possa suprir a necessidade de novos produtos em quantidade e qualidade para atender a demanda desta nova sociedade”, afirma o diretor do ITAL, Luis Madi. O ITAL trabalha com projetos de inovação, assistência tecnológica e capacitação na área de alimentos, bebidas e embalagens, todos consumidos pela população brasileira. Dentre os traba-

lhos, destacam-se projetos com cana de açúcar, café, suco de laranja, açaí, alimentos com características funcionais, e outros. Fundado em 1963, período em que o país estava em avanço na produção agrícola, o ITAL sentiu a necessidade de desenvolver pesquisas para garantir melhorias em toda a cadeia de alimentos. “A partir da criação do ITAL, o primeiro instituto de tecnologia de alimentos do país, uma série de outras entidades foram criadas: a primeira faculdade de engenharia de alimentos do país, associações e outras entidades de apoio como a Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos (SBCTA), foram formadas

Antonio Carrier

Luis Madi, diretor do ITAL mostra preocupação com alimentos industrializados

para melhor organizar e desenvolver a então indústria de alimentos brasileira”, comenta Madi. O instituto iniciou sua trajetória a fim de auxiliar no desenvolvimento de

pesquisas e novos produtos, oferecendo para o campo de alimentos e embalagens o conhecimento necessário para a produção de alimentos seguros e de qualidade.

os últimos tempos, a vaidade, o cuidado excessivo com o corpo e o consumo, cada vez mais, tem feito parte da vida dos jovéns. Segundo a pesquisa “Lateenos”, da empresa “Kantar World Panel”, líder mundial em conhecimentos e insights sobre o consumidor, que incluiu 15 países da região, o Brasil está em destaque nesse ranking. Cerca de 66% dos jovens gasta o dinheiro que ganha dos pais ou conquista trabalhando, em roupas e acessórios; 43% deles se preocupa com os dentes; 39% com o cuidado pessoal; 36% cabelos e 31% acnes. O professor de psicologia da PUC-Campinas, Ilton de Oliveira, comenta que o ponto de partida para que haja uma mudança nesse cenário é a educação: “Um mundo onde um dos critérios fundamentais de seleção está na aparência, é claro que é um mundo que está trabalhando para não se tornar muito bom para se viver. Quando a gente fala que uma coisa está enraizada

na cultura, nós estamos falando no modo como educamos nossos filhos e vários aspectos das relações interpessoais, fundamentalmente na educação.” Outra questão que abrange esse assunto são as cirurgias plásticas. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, de 2008 a 2012, o número de cirurgias quase triplicou. Em 2008 foram realizadas 37.740, já em 2012 foram realizadas 91.100. O professor de cirurgia plástica da PUC-Campinas, Gilson Luis Duz, declara que a indicação médica é fundamental antes de se submeter ao processo cirúrgico por estética: “Cabe um consenso entre o paciente, a família e o profissional que está indicando isso. A indicação médica tem que sempre prevalecer em relação à vontade do indivíduo, a possibilidade, condição financeira. Às vezes é preciso falar não.” O corpo é o foco das atenções. Fazer academia, se alimentar bem e cuidar da saúde são de extrema

Evelyn Candia

Produtos encarecem, mas a vontade de compra-los só aumenta

importância, porém o excesso de tudo isso pode acarretar diversas conseqüências, como afirma o professor de Educação Física da PUC-Campinas, Alexandre Gomes de Almeida: “Passar dos limites na atividade física, treinar mais que o necessário, traz vários problemas como, por exemplo, o indivíduo pode ter distúrbios de sono, pode não conseguir atingir os objetivos esperados, perde o apetite. Então são vários problemas que acabam levando a pessoa ao esgotamento.” Professor de mecânica no Instituto federal de São Paulo, Carlos

Braga Martins, comenta que além da academia, faz caminhada todo fim de semana, adota uma alimentação saudável, e procura seguir um padrão de beleza: “Hoje em dia eu acho que é essencial a gente ter uma boa saúde, uma boa preparação para o dia-a-dia que é corrido. É interessante porque sem saúde não se faz nada.” Porém, mesmo com todos esses cuidados, dados inéditos da pesquisa “Vigitel” de agosto de 2013, do Ministério da Saúde revelam que, pela primeira vez, o percentual de pessoas com excesso de peso supera mais da metade da popu-

lação brasileira. Sem especificar dados, o estudo “Lateenos” afirma, ainda, que as meninas são a maioria entre aqueles que compram, assim como a estudante Juliana Santos de Araújo, que assume ser difícil responder à pergunta do que está em primeiro lugar em sua lista de compras no fim do mês: “Eu sempre compro algum tipo de roupa ou maquiagem.” O professor Almeida ainda declara: “O brasileiro tem um apelo com o corpo porque a gente mora em um país tropical, tem sol quase o ano inteiro e as pessoas acabam expondo o corpo em diversos momentos. E a mídia influencia nisso, em mostrar uma propaganda com modelos de corpos perfeitos, que gera expectativas nas pessoas e elas acabam querendo se parecer com outras. O principal cuidado é saber seu limite e ter a noção que seu corpo não vai mudar, apenas terá algumas adaptações, mas a pessoa não vai virar outra. Aprender lhe dar com o próprio corpo.”

Ciclismo, uma ótima opção que fortalece o corpo e a alma Natalia Oliveira

P

edalar por prazer, para estar em forma e para fazer amigos. Junte tudo isso com mais um motivo, trazer benefícios para sua saúde. Diversos estudos mostram as vantagens que traz o exercício de andar de bicicleta. Está comprovado que é uma das atividades mais completas e universais. As pessoas que adotam andar de bicicleta ao ar livre tem a motivação das paisagens e da companhia de outras pessoas, já que muitas vezes isso acontece em grupo, além do exercício físico. “O hábito de andar de bicicleta traz modificação corporal, prevenção de doenças como a diabetes e a hipertensão, fortale-

ce o coração, combate o stress e ajuda na redução de peso”, conta o professor de Educação Física e Personal Trainer, Daniel Marinho. A arquiteta, Ana Beatriz Arantes, 25 anos, procurou por todos esses benefícios. Ela encontrou através da internet um grupo de pessoas que organizam passeios de bicicletas semanais pela cidade de Campinas. “Eu participo regularmente das atividades desde março e isso trouxe um bem estar maior para minha vida e pude também sair da minha rotina” contou Ana Beatriz. “Eu já perdi um pouco de peso e consegui sentir uma mudança no seu desempenho físi-

Natalia Oliveira

Ciclismo em Campinas

co” disse. O grupo chamado Campinas Bike Clube participa dos acontecimentos ciclísticos da região. De acordo com o presidente do Clube, Luis Carlos Rosa, essa iniciativa surgiu em 2004 com a união de

dois grupos que pedalavam a noite e decidiram se fortalecerem, já que um grupo grande seria mais respeitado no trânsito. Hoje o clube tem em média 450 participantes divididos nos passeios que acontecem todas as terças e quintas feiras às 19h30min e aos sábados às 15h. No domingo de manhã acontece o Pedal Cultural, que percorre a ciclo faixa da Norte-Sul. O ponto de encontro é na Lagoa do Taquaral, portão dois, na entrada da Concha Acústica. Os passeios são gratuitos e as rotas são definidas previamente através de um grupo de e-mail. De acordo com Luis Carlos, só é divul-

gado para onde vão após o grupo iniciar o pedal, por motivos de segurança. Os passeios são divididos em três níveis, para os iniciantes, o intermediário, para quem já tem maior condicionamento e o avançado para quem encaram grandes distâncias. Para participar do Clube é necessário ter boas condições de saúde, uma bicicleta tipo montain bike e capacete que é obrigatório. Recomenda-se óculos e luvas para completar a proteção. Os menores de idade devem ir acompanhados pelo responsável. Deve-se fazer um cadastro antes de sair para o passeio, levar a bicicleta revisada e ter muita disposição.


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15 de setembro de 2013

Campinas rumo aos 240 anos

A educação como formadora de caráter possibilita perspectiva de diminuição do índice de criminalidade Programa Mais Educação é premissa para novos modelos de ensino de macrocampos em tempo integral Leticia Boaretto

G

overno e especialistas discutem meios para que educação em tempo integral seja alternativa efetiva para elevar os índices de instrução e diminuir os de criminalidade. Recente pesquisa da Unicamp expõe que os pais percebem melhora na conduta do aluno. Para 21% dos pais, os filhos ficaram na escola por mais tempo e se mantiveram fora das ruas, e para 8,5%, os estudantes apresentaram melhora no rendimento escolar. O Programa Mais Educação (PME), baseado em estudos desenvolvidos pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), aumenta a oferta educativa nas escolas públicas por oferecer, durante o contraturno, atividades optativas em diversas áreas do conhecimento, como meio ambiente, esporte e lazer, direitos humanos, cultura e artes, informática, saúde, educação científica e educação econômica, além de acompanhamento pedagógico. Segundo Luiz Cappellano, professor da

Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/ MEC), Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC) e Secretarias Estaduais e Municipais de Educação. Em Campinas, são 40 escolas municipais de ensino fundamental (EMEFs) que atendem ao programa e envolvem, aproximadamente, 6 mil alunos; a expectativa da expansão nacional para este ano é que a oferta de educação integral alcance todos os municípios do país, atingindo aproximadamente 45 mil escolas, segundo o MEC. A educação em tempo integral possibilita a permanência dos jovens no ambiente escolar produtivo e o afastamento do meio ocioso das ruas. A proposta de atividades que vão do acompanhamento pedagógico aos esportes aumenta a autoestima e confiança, de acordo com Márcia Marcos, pedagoga e psicopedagoga, o que induz o cidadão à busca continuada por informação e boa formação de caráter. Márcia aponta como

moral e educação. O contrário pode levar o jovem à criminalidade, como aponta Willey Lopes Sucasas, advogado criminalista: “um jovem desocupado, que não esteja em um ambiente sadio e que não tenha oportunidades de desenvolver os seus talentos e gastar a sua energia com coisas produtivas, certamente pode vislumbrar no crime e nas drogas oportunidades de “subir na vida” ou de “apagar os seus problemas”... É uma realidade muito triste, mas é uma realidade que não pode ser maquiada!” Para muitos pais, a escola se classifica como instituição protetora (que mantém os jovens “fora das ruas”), provedora (que satisfaz necessidades físicas e bio-psico-sociais) e educadora, conforme explica Luiz Cappellano, coordenador do Programa Mais Educação em Campinas. Dessa maneira, os benefícios se estendem também aos familiares, já que, em período integral, ampliam-se as possibilidades dos três tipos de

Márcia Marcos, educadora clínica, trabalha na área da educação há 30 anos e já atuou como professora e coordenadora infantil

Willey Lopes Sucasas, advogado criminalista, defende a educação formal

rede pública e coordenador do Programa Mais Educação em Campinas, o projeto é indutor da política pública de educação em tempo integral. “O que se propõe é a ampliação do tempo de permanência na escola para 7 horas diárias, mediante a premissa da inserção das atividades da parte diversificada do currículo”, explica. A iniciativa é coordenada pela Secretaria de Educação

atendimento escolar. De acordo com Márcia Marcos, é necessário que se reforme não apenas o sistema educacional, mas o professorado. “Tento enxergar algo que vá contra os benefícios agregados pela educação integral e não consigo; mas ela precisa, entretanto, ser colocada em prática por profissionais capacitados, comprometidos e motivados a educar e formar cida-

construtivo o tempo integral investido na educação. “Os benefícios são inúmeros; entre eles, a possibilidade de capacidade de avaliação do estudante como um todo, não apenas como aluno, mas como pessoa”. Assim, explica a educadora clínica, é possível que esse tipo de ensino auxilie na formação de um jovem que, muitas vezes, não encontra amparo da família em relação à

Fonte: Conselho Nacional de Educação (CNE)

dãos”, alega a pedagoga e psicopedagoga. Os especialistas acreditam que a classe dos professores capacitada e motivada para enfrentar o desafio de reformar o sistema educacional no Brasil, a conscientização das famílias sobre a importância do engajamento estudantil nas instituições de ensino e a vontade de permanência no ambiente saudável são fatores que possibilitam a perspectiva de enfraquecimento da criminalidade a médio/longo prazo. Acerca desta questão, Willey Lopes Sucasas conclui: “o papel da educação na formação das pessoas, ao lado de outras políticas públicas de inclusão social, é sim o mecanismo mais adequado e necessário para que se evite o crescimento dos índices de criminalidade”. No Brasil, menos da metade (44%) da população de 15 anos ou mais não têm instrução ou não completaram o Ensino Fundamental, segundo última pesquisa do IBGE, em 2010. O baixo índice de escolaridade se repete no sistema penitencial

e carcerário brasileiro: 66% dos detentos não concluíram o Ensino Fundamental e apenas um em cada dez detentos participa de atividades educacionais oferecidas nas prisões, de acordo com o Conselho Nacional de Educação (CNE). Recentemente, casos nos quais jovens se envolveram em crimes hediondos ganharam destaque na mídia e chocaram a sociedade. Não se pode apontar a pouca instrução como causa da criminalidade, pois não há apenas uma razão que eleve os números da terceira maior população carcerária do mundo, a brasileira. Sucasas afirma que órgãos sociais que vão além da escola também são influenciadores. “As causas da criminalidade são plurais, isto é, não é possível atribuir a sua existência a um, dois ou três fatores isolados. Entretanto, é inegável que os sistemas de controle extrapenais, isto é, a família, a escola, os clubes e projetos sociais, a igreja etc., constituem importantes mecanismos dissuasórios da delinquência”, manifesta.


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