Saiba mais outubro 2016

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Desde 2006

Outubro de 2016

Faculdade de Jornalismo - PUC Campinas

Maioria das empresas que fazem testes de medicamentos com humanos está em Campinas. Pág. 8 Foto: Maria Eduarda Alves

ECONOMIA CRIATIVA Parcerias que garantem novas fontes de renda são tendência no mercado da economia. Sem deixar de lado aspectos criativos e modernos, artistas, artesãos, escritores e fotógrafos se reúnem na montagem de feiras culturais nas quais o próprio criador tem a oportunidade de expor e vender seu material. Entre as inovações estão o upcycling que, diferente da reciclagem, não se trata da transformação em outro produto, mas sim do processo de encontrar novas utilidades. Pág 11

20 milhões de fumantes Foto:Marcelo Prata

FEMINISMO Igualdade de gênero e respeito à individulidade compõem novas formas de educação infantil, baseadas no empoderamento Pág. 7

ESPORTE Praticantes do Rugby enfrentam barreiras na profissionalização e falta de espaço para treinos. A modalidade voltou às Olimpíadas no Rio, após 96 anos Pág. 10

Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 10,8% da população brasileira é fumante. A maioria é composta por homens, que quase sempre começaram a fumar quando ainda eram menores de idade. No mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o sexo masculino também representa a maioria das pessoas que fumam. Nos últimos nove anos, desde que começaram uma série de iniciativas para conscientizar contra o tabagismo, o Brasil registrou queda de 30,7% de fumantes. Dos atuais consumidores, 62% demonstram interesse em largar o vício. Págs. 4 e 5

EDUCAÇÃO Uso de celulares para fins pedagógicos é proposta de secretário da educação ao governo estadual. Professores, pais e alunos dividem opiniões Pág. 6


Opinião

2 RÁPIDAS

CARTA AO LEITOR

Ana Laura Lopes

Gabriela del rio e editoras

Foto: Ana Laura Lopes

Últimos dias da exposição “Estação da Lingua”

thaísa gigo

A mostra “Estação da Língua”, exposição itinerante do Museu da Língua Portuguesa, fica aberta até o dia 16 de outubro no Galleria Shopping, com entrada gratuita, no horário de funcionamento do centro de compras. “Estação da Língua” traz projeções de poemas e vídeos, além de painéis gráficos sobre a história da exploração dos portugueses. Os visitantes ainda têm acesso a painéis sensíveis ao toque que relacionam a língua portuguesa a outros idiomas. A exposição tem como objetivo levar o conteúdo do Museu a um grande número de pessoas, já que ele se encontra atualmente desativado, devido a um incêndio.

Campinas registra menos casos de câncer de mama

A

segunda edição do Saiba+ deste semestre vem recheada de reportagens sobre os mais diversos temas direcionados ao mundo universitário. Em nossa manchete, uma reportagem especial sobre o tabagismo e os dados vigentes desde a primeira implantação da Lei Antifumo. O Brasil, conforme dados do Ministério da Saúde, ainda têm, mesmo com todas as campanhas contrárias, cerca de 20 milhões de fumantes. No mundo, de acordo com a Organização Mundia da Saúde (OMS), são 2 milhões de pessoas, a maioria do sexo masculino. Já na editoria de saúde, a moda das dietas “detox” é abordada a partir dos malefícios, mitos e usos descontrolados que podem trazer riscos, como anemias. Além disso, vamos falar sobre o coletor menstrual, que promete ser mais sustentável e econômico. Temas importantes como o uso de celular na sala de aula e a discussão gerada por um pedido fei-

Outubro de 2016 to pelo secretário de Educação, José Renato Nalini, ao governador Geraldo Alckmim (PSDB), para que o uso desse dispositivo passe a ser autorizado, com finalidades pedagógicas, além da ideia de uma educação baseada em fundamentos feministas estão também presentes nessa edição. Na linha das novidades, abordamos o rugby e a economia criativa, mas, sem deixar de lado velhos problemas, como os refugiados e as condições em que vivem no Brasil e, mais especialmente, em Campinas, onde cerca de 1,3 mil pessoas que saíram de seus países por razões econômicas ou fugindo de guerras moram atualmente. Você ainda poderá conhecer um pouco sobre o upcycling, um derivado da economia criativa e também sobre os procedimentos para pesquisas na área de saúde. . Desejamos que você tenha uma boa leitura e acrescente informação ao seu dia a dia.

A campanha Outubro Rosa nasceu em 1990 nos CRÔNICA Estados Unidos e foi implantada no Brasil em 2010, com o intuito de conscientizar sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama. Segundo pesquisas do Instituto Nacional do Câncer (Inca), os casos de câncer de mama em Campinas diminuíram de 552 em 2014 para 363 em 2015 em mulheres de 50 a 69 anos, faixa de maior incidência. Ana Laura Lopes

Como restaurar a nossa confiança nos políticos?

SP tem 12,5 mil denúncias de crimes eleitorais

A

quantidade de abstenção em Campinas na eleição deste ano foi de 22,62%. Isso quer dizer que 185.979 Campinas registou, até o início de outubro, 256 dos eleitores não compadenúncias de propagandas eleitorais irregulares pelo receram à votação. Já a Sistema Pardal, um aplicativo do Tribunal Regional porcentagem de brancos e Eleitoral (TRE), para denúncias de crimes eleitorais nulos é, respectivamente, em lugares públicos. No Estado de São Paulo, no mes5,62% e 16,68%. O que mo período, foram 12.517, o que coloca a cidade em explica esses números? quinto lugar em quantidade de registros. Além das Lipovetsky e Serroy denúncias sobre propaganda eleitoral (65% do total), dizem no livro “A culturao aplicativo também recebeu queixas sobre crimes mundo – respostas à uma (13%), compras de votos (5%), uso da máquina (6%) sociedade desorientada” e outros (10%). (Editora Companhia das Letras, 2011) que o indivíExpediente duo hipermoderno se sente desinteressado pela poJornal laboratório produzido por alunos da Faculdade lítica e perdeu a confiança de Jornalismo da PUC-Campinas. nos políticos. As explicaCentro de Comunicação e Linguagem (CLC) ções para essa constatação Diretor: Rogério Bazi; são diversas, entre elas as Diretora-Adjunta: Cláudia de Cillo; promessas não realizadas Diretor da Faculdade: Lindolfo Alexandre de Souza. de um futuro melhor, a Tiragem: 2 mil. confusão das ideologias Impressão: Gráfica e Editora Z e a figura do político que Professor responsável: Fabiano Ormaneze não produz identidade (Mtb 48.375) social. O individualismo Edição: Gabriela Del Rio e Thaísa Gigo está tão enraizado que não Diagramação: Caroline Luppi e Manuela Mancilla existe mais a preocupação

com a comunidade, seja por parte da classe política ou da sociedade como um todo. Tais observações foram feitas com a realidade francesa, mas isso não está tão longe da nossa. Uma pesquisa realizada pela organização GFK Verein, feita neste ano para medir a reputação de diversas profissões em 27 países, indicou que apenas 6% da população brasileira tem confiança nos políticos. Já nos prefeitos, apenas 10% têm confiança. Esses números podem ser explicados com toda a instabilidade vivida neste ano com o caso do impeachment, decidida pelos políticos e não pela população, além dos diversos protestos pró e pós anteriores à decisão e as incontáveis fases da Lava-Jato desmascarando valores absurdos de propina. Não tem como a po-

pulação confiar. O que nos resta saber é como o indivíduo desorientado vai recuperar a confiança nos governantes e como os governantes vão recuperar a sua credibilidade. A solução não é imediata. É preciso uma reformulação no imaginário do que é ser um político, isto é, é necessário fazer entender que governar um país, um estado ou uma cidade é algo que deve ser feito sem intenções financeiras. É necessário diminuir o salário dos cargos públicos elegíveis, para que, com o tempo, possa nascer uma consciência de que governar não é uma profissão, mas sim um serviço à sociedade. Desse modo, apenas aqueles interessados na política vão estar engajados em cumprir as promessas. Assim, com o tempo, a confiança da população poderá ser restaurada.


Cidades

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Campinas é destino de 1,3 mil refugiados

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Desse total, cerca de mil vieram do Haiti e os demais de países em conflito, como Síria Foto: Ana Letícia Lima

Ana Letícia Lima

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ados da Secretaria de Cidadania, Assistência e Inclusão Social da Prefeitura de Campinas mostram que cerca de 1,3 mil imigrantes refugiados vivem atualmente na cidade. Destes, cerca de mil são haitianos e outros 300 de diferentes regiões da África, América Latina ou Oriente Médio, como a Síria, país que desde 2011 enfrenta uma guerra civil que vem dizimando sua população. Fugindo dessa guerra, Issa Tourk e Roula Barbar, ambos de 28 anos, chegaram a Campinas em agosto de 2014 e já ganharam as manchetes dos jornais após Roula dar à luz ao seu primeiro filho na cidade. Ainda sem dinheiro para bancar as despesas do parto e com a barreira de um idioma diferente, a família recebeu auxílio do Hospital Vera Cruz, que realizou o procedimento gratuitamente. A partir de então, a ajuda chegou de diferentes formas e lugares: por meio de reportagens produzidas por veículos da região contando a história da família e deixando a disposição números de telefone para contato, eles receberam doações de todo o enxoval para o bebê e até mesmo cestas básicas e roupas para o casal. Dois anos depois da chegada ao Brasil, a família ainda encontra dificuldades para sobreviver. Apesar da barreira do idioma ter sido quebrada – Issa e Roula aprenderam o português com a convivência com vizinhos e pessoas que se solidarizaram com a história – a dificuldade financeira ainda persiste. Atualmente, somente Issa trabalha como ajudante geral em uma empresa de transportes e logística, sendo o único responsável pelo sustento não só da mulher e do filho, mas também de seu irmão Elias. Vivendo no bairro Matão, no limite de Campinas e Sumaré, Issa relata que não contou com ajuda da Prefeitura por falta de conhecimento a respeito das

Família Zinou, de refugiados sírios: Bana, Chaza, Suhib, Ayla e Kamel chegaram em 2014 e montaram um restaurante na cidade

Assistência A assessoria de imprensa da Secretaria de Cidadania, Assistência e Inclusão Social de Campinas informou que conta com programas de auxílio ao imigrante e refugiado, como aulas gratuitas de português. Também frisou o fato de que os números divulgados são somente estimativas, já que é difícil contabilizar a quantidade de imigrantes e refugiados na cidade levando em consideração que muitos ainda vivem ilegalmente. A assessoria informou ainda que poucos imigrantes, principalmente, os sírios, procuram ajuda da secretaria, preferindo o auxílio da comunidade.

formas de auxílio que poderiam lhe ser prestadas. Apesar de reconhecer que a segurança no Brasil, longe da guerra civil, é um benefício, o casal não descarta ter que voltar para a Síria, onde teriam melhores condições de sobrevivência. A família Zinou também chegou à cidade em 2014, vinda de Aleppo, se-

gunda maior cidade Síria. Sabendo apenas algumas poucas palavras em português, os cinco abriram um restaurante especializado em culinária árabe na região central de Campinas, começando, a partir disso, um processo de adaptação que dura até hoje. O filho mais novo, Kamel, de 21 anos, conseguiu

a transferência da graduação em engenharia elétrica que iniciou em Aleppo para a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), podendo assim dar continuidade aos estudos. Ayla, de 27, pretende ingressar no programa federal “Mais Médicos”, que dá a oportunidade a médicos estrangeiros exercerem a profis-

são no País. Os irmãos são os mais fluentes na língua portuguesa da família, que ainda conta com dificuldade para se comunicar – o pai, Suhib Zinou, sua mulher, Chaza Alturkman e a irmã mais velha Bana estudam o idioma em busca de fluência. Para Kamel, a adaptação fácil ao País se deve à receptividade dos vizinhos e de outros refugiados que conheceram na cidade. “Gostei do Brasil e dos brasileiros, porque aqui nunca nos deixaram sentir como se fossemos estrangeiros, sempre foram muito legais com a gente”, relata o jovem, que considera esse um fator importante na decisão da família em permanecer no Brasil.


Especial

4 Felipe Bratfisch e Marcelo Prata

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De acordo com a OMS, a epidemia global do tabaco mata quase 6 milhões de pessoas por ano. Destas, mais de 600 mil são fumantes passivos (pessoas que não fumam, mas convivem com fumantes). Se nada for feito, estão previstas mais de 8 milhões de mortes por ano a partir de 2030. Mais de 80% dessas mortes evitáveis atingirão pessoas que vivem em países de baixa e média rendas.

1986 Jun

Dia Nacional de Combate ao Fumo Criado o Dia Nacional de Combate ao Fumo e determina a realização de comemorações no dia 29 de agosto em todo o território nacional

10,8% dos brasileir Dados são do Ministério da Saúde; campanhas foram responsáveis por redução de 30% Foto:

erca de um terço da população mundial é fumante. Isso representa 2 bilhões de pessoas, a maioria formada por homens. É o que indicam os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Só no Brasil, segundo números divulgados em 2015, pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas (Vigitel), do Ministério da Saúde, os fumantes são 10,8% da população, sendo que o índice também é maior entre os homens. Esses números representam queda de 30,7% do percentual de fumantes em relação aos últimos nove anos. Ainda de acordo com a Vigitel, 80% dos fumantes iniciam o hábito antes dos 18 anos de idade. Um desses casos é o do pintor Benedito Santos Almeida, de 48 anos, que começou a fumar com 14. Ele diz que, naquela época, não existiam leis de combate ao fumo no Brasil. Era fácil ir até os estabelecimentos

comprar cigarro, mesmo sendo menor de idade. A decisão de parar de fumar, depois de 13 anos, foi tomada após ter problemas de saúde. Embora tenha coincidido com campanhas nacionais de combate ao tabagismo, a interrupção do vício, de acordo com ele, não foi influenciada pelos programas governamentais. Ele ressalta, no entanto, que, se na adolescência, tivesse recebido mais informações, não teria começado a fumar. Em setembro, Almeida foi hospitalizado com pneumonia em consequência dos anos que passou fumando. Pensando em casos como de Almeida, a Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC) realiza anualmente o Mutirão Sociedade Contra o Fumo, que em 2016 teve sua terceira edição, em agosto, durante o Dia Nacional de Combate ao Fumo, com o intuito de conscientizar a população sobre os riscos relacionados ao tabagismo de oferecendo atendimento. Os profissionais voluntários do mutirão encaminham os

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tabagistas a laboratórios especializados ou a exames detalhados, como, por exemplo, a tomografia pulmonar. Segundo o coordenador do mutirão, o médico Alessandro Chagas, a nicotina do cigarro age no cérebro liberando dopamina, que traz um bem-estar ao fumante. Sendo assim, o usuário busca essa sensação repetida vezes, causando dependência. “É muito

1990 Jul

difícil parar. Tanto é que, em torno de só 10% dos pacientes que tentam sem ajuda psicoterápica e farmacológica conseguem”, explica. Com ajuda das terapias, as chances de o paciente largar o vício chegam a 50%. Porém Chagas adverte que o primeiro passo é ter a conscientização e querer parar. Só em 2013, mais de 70% dos brasileiros que tentaram interromper o vício foram atendidos pelo

Estatuto da Criança e do Adolescente Proíbe vender, fornecer ou entregar, à criança ou ao adolescente, produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica

1990 Set

Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo pesquisa do Instituto Nacional de Câncer (Inca), em parceria com órgãos internacionais, 62% dos fumantes pensam em parar de fumar. O Governo Federal, ao longo dos anos, também tem tomando medidas para incentivar a diminuição do consumo, como a política de preços mínimo para cigarro e a proibição da propaganda comercial, permi-

Código de Proteção e Defesa do Consumidor Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Proíbe a publicidade enganosa e abusiva.


Especial

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Foto:Marcelo Prata

ros são fumantes

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Homens ainda são maioria dos fumantes no Brasil e no mundo

tindo somente a exposição dos produtos nos locais de venda. De acordo com o médico sanitarista Ademar Arthur Chioro dos Reis, a política de preços é determinante para coibir o uso e à iniciação ao tabagismo, responsável também por 200 mil mortes por ano no Brasil. Entre as doenças mais letais causadas pelo cigarro estão os cânceres de pulmão e laringe, responsáveis, respectivamente, por

Restrição da Propaganda Proíbe o uso de produtos fumígenos derivados do tabaco, em recinto coletivo privado ou público

ças como a aterosclerose, que obstrui os vasos sanguíneos. O tabagismo está relacionado a mais de 50 tipos de doenças, sendo responsável por 30% das mortes por câncer de boca, 90% das causadas por câncer de pulmão, 25% daquelas cuja razão foram as doenças cardíacas e 85% dos que morreram por bronquite e enfisema, além de 25% das vítimas fatais por derrame

cerebral. Segundo a OMS, todo ano mais de 5 milhões de pessoas morrem no mundo por causa do cigarro. O órgão estima que, em 20 anos, esse número chegará a 10 milhões se o consumo de produtos como cigarros, charutos e cachimbos continuar aumentando, o que acontece na maioria dos países. O operador de máquinas Ricardo da Silva, de 49 anos, começou a fumar com 18, por influência de amigos. Manteve o hábito por 15 anos e só parou, em 2001, porque estava tendo problemas de saúde. Ele afirma que as medidas da lei antifumo não fizeram diferença, já que ano passado ele voltou a fumar e diz que não pretende parar. Em 2014, a lei antifumo proibiu o consumo de cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos e outros produtos fumígenos, derivados ou não do tabaco, em locais de uso coletivo, públicos ou privados, mesmo que o ambiente esteja só parcialmente fechado por uma parede, divisória, teto ou até

2000 Altera a Lei 2011 9.294/96 Dez Restringe Jun publicidade de produtos derivados do tabaco à afixação de pôsteres, painéis e cartazes na parte interna dos locais de venda. Proíbe a propaganda indireta contratada

toldo. Os narguilés também foram incluídos na proibição. Conforme o balanço do Ministério da Saúde, a redução da prevalência de tabagismo é o indicador de fator de risco com maior avanço no Brasil. Para o gerente de lanchonete Douglas Marajoli, a lei antifumo só prejudica o comerciante. Ele conta que recebeu fiscais poucas vezes e numa delas foi multado em R$ 1.800,00, por conta de uma cliente que fumava de baixo de um toldo. Revoltado, o gerente diz que “a multa deveria ser para a pessoa que fuma, por não respeitar as placas de proibição”. Ele acredita que é difícil fiscalizar os clientes por ser um local de alta rotatividade. Com receio de ser multado novamente, ele removeu a cobertura. De acordo com Marajoli, a lei antifumo não surtiu efeito. Desde 2000, ano em que assumiu a gerência, as vendas dos produtos fumígenos têm se mantido. Ele revela que os clientes reclamam dos preços, porém continuam comprando normalmente.

Altera os artigos 2º e 3º da Lei no 9.294,de 15 de julho de 1996 Que dispõe sobre as restrições ao uso e à propaganda de produtos fumígeros, bebidas alcoólicas, medicamentos, terapias e defensivos agrícolas

Arte: Felipe Bratfisch

1996 Jul

23 mil e 4 mil vítimas. A fumaça do cigarro tem mais de 4,7 mil substâncias tóxicas. Uma dessas substâncias é o alcatrão, formado por mais de 40 compostos cancerígenos. Outro fator preocupante é a fumaça do cigarro, o monóxido de carbono (CO). Em contato com a hemoglobina, a substância dificulta a oxigenação das células e os órgãos com essa deficiência são acometidos por doen-

As capitais que têm o maior número de homens fumantes são: Porto Alegre (17,9%) e Belo Horizonte (16,2%). Já entre as mulheres, os maiores índices estão em Porto Alegre (15,1%) e São Paulo (13%). O tabagismo é menos frequente em Fortaleza (8,6%) e Salvador (9%) entre os homens. No público feminino, o hábito é menor em São Luís (2,5%) e Palmas (3%), de acordo com o Inca


Educação

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Secretário quer liberar celular na escola

José Renato Nalini já enviou pedido ao governador, mas pais e educadores se dividem Ana Laura No

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Lidiane problematiza ainda a imensidade de recursos que o celular apresenta e que, dependendo da ocasião, pode gerar grande dispersão e falta de controle. “A gente percebe durante as aulas que o aluno não tem concentração e, em algumas matérias, como ele consegue fazer as duas coisas ao mesmo tempo? Os nossos alunos não sabem estudar e nem diferenciar a hora das coisas. ” Enquanto, nas escolas públicas, a discussão prossegue, nas particulares o uso de celular com finalidade pedagógica é uma constante. Fabianna Miranda é professora de língua portuguesa, cinema e produção de vídeo na Escola Comunitária de Campinas. Ela utiliza o celular como meio pedagógico em suas aulas e conta que um Ipad é fornecido para cada aluno na matrícula e é utilizado como instrumento pedagógico. Ela ressalta também que existe um programa no aparelho que trava o acesso à internet para que os professores tenham maior controle. Além disso, ela acha necessário que, para que o uso seja eficaz, deve existir a preparação dos professo-

res. “O aparelho é um facilitador, mas ele pode atrapalhar se não houver um projeto muito bem feito. Precisa ter roteiro de trabalho, tempo estipulado e o professor deve se preparar com a tecnologia também. Não adianta não dominar o aplicativo, por exemplo, e querer que os alunos utilizem. O professor deve passar para os alunos o conhecimento técnico também, porque muitos não irão saber mexer. ” Fabianna já utilizou os celulares como meio de ensino quando fez uma redação coletiva, em que os estudantes foram mandando mensagens via WhatsApp e a redação foi sendo feita. Os alunos já fizeram “Stop Motion” com fotos de celular, já que possuem um aplicativo para produzir animações. “Você inclui a tecnologia e faz a aula ficar interessante para o aluno. É uma coisa do dia a dia. Ignorar isso também é uma coisa ruim, pois fora da sala de aula ele tem acesso e dentro da sala de aula é sigiloso? Acho que dá para juntar as duas coisas. ” Apesar dos pontos positivos que os aparelhos for-

Foto: Ana Laura No

ma proposta feita recentemente pelo secretário estadual da educação de São Paulo, José Renato Nalini, que tem como objetivo liberar o uso dos celulares para fins pedagógicos nas escolas estaduais, vem gerando uma grande discussão entre professores. Os que são contra alegam que a liberação implicaria em maior falta de concentração do aluno, falta de controle e preparação dos próprios professores na hora de utilizar os aparelhos, e ainda, exclusão daqueles que não têm condições de adquiri-lo. Porém, outra parcela do professorado diz que, dependendo da ocasião, os celulares podem fazer com que a aula fique mais dinâmica e interessante para o aluno. O uso do celular é proibido nas escolas estaduais com base na lei 12.730/2007. O aluno que desobedecer a esta lei pode ter o aparelho tomado e receber algum tipo de sanção da escola. Em texto divulgado pela Secretaria de Educação, Nalini afirma que a liberação do celular para finalidades pedagógi-

cas é urgente para manter o interesse dos alunos. “O ensino prelecional está sendo questionado em todos os ambientes. Se quisermos manter o aluno interessado em aprender, temos de usar a linguagem dele. A linguagem de seu tempo”, escreve. Lidiane Maria Gomes é professora de História e Geografia e trabalha na Escola Estadual Profa. Castinauta B. M. e Albuquerque, em Campinas. Ela entende que existem diversas maneiras de chamar a atenção dos alunos para as aulas e que o celular não é uma delas. “A forma que você lida com os assuntos é que ‘traz’ o aluno para você. Eu acho que esse discurso de falar a língua dos jovens liberando o celular tem um problema, já que existem vários outros assuntos que estão na boca dos jovens e que não são discutidos porque são proibidos. Por exemplo, o aborto, as drogas, uma série de coisas que você tinha que discutir com o adolescente para ele entender o mundo em que ele vive e não faz. A língua dos jovens, principalmente os de periferia, vai muito além do uso do aparelho celular. ”

Aluna de Ensino Médio da Escola Comunitária de Campinas utiliza recursos digitais durante aulas, inclusive para produzir vídeos

necem, Lidiane, como professora de escola estadual, observa que os estudantes da rede têm menos acesso à internet, por uma questão financeira. “A maioria não tem celular e quando tem não é de última geração. O que eu acho que está falho no projeto de lei é como os alunos vão ter acesso. Os celulares vão ser deles? Serão doados? Porque, se depender do uso dos alunos, eu vou excluir os que não têm. Isso custa muito dinheiro e nós estamos com problemas seriíssimos na rede pública, já que não recebemos verba para muita coisa. ” Lidia Maria Rocha dos Reis de Souza está no terceiro ano do Ensino Médio e estuda na Escola Estadual Barão Geraldo de Rezende. De acordo com ela, mesmo sendo atualmente proibido, os professores não conseguem monitorar. Desse modo, para ela, a liberação causaria problemas maiores. “Sou contra a liberação, porque, mesmo não liberando agora, já é muito difícil as pessoas assistirem às aulas por causa do celular. Isso atrapalha não só os professores, como outros alunos também. Mesmo proibido, os alunos chegam a enfrentar quando pedem para guardar o aparelho. Acho que vai piorar muito o rendimento”, defende. Já a comerciante Carla Santos é mãe de uma aluna da Escola Estadual José Pedro de Oliveira. Ela afirma que é a favor, desde que seja algo feito com cautela e seja controlado. “A tecnologia existe para beneficiar e para facilitar o dia a dia das pessoas em geral, inclusive do estudante, mas tem que ter limite, um cuidado maior, porque senão a ‘molecada’ não vai usar só para fins pedagógicos. Acho que o celular poder ser usado em determinadas horas, em um dia específico, não que o aluno traga todos os dias e use deliberadamente. Tem que ter um planejamento dos professores e dos pais, que devem estar empenhados em colocar isso na cabeça de cada aluno. A escola está ensinando e os pais estão educando.”


Educação

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Mães ensinam feminismo já na infância

Nova forma de orientação busca igualdade de gênero e respeito à individualidade

Foto:Isadora Gimenes

Isadora Gimenes

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discurso e as reinvindicações feministas têm ganhando a mídia e atividades nas mais diversas áreas. Mulheres que se identificam com o movimento já criaram até mesmo uma ideologia para a educação dos filhos: trata-se da maternidade feminista, um conjunto de atitudes e práticas que pretendem formar meninos e meninas com a consciência da igualdade de direitos entre os gêneros. “Posturas muito rígidas ou conservadoras por parte dos pais tendem a criar filhos que apresentarão, na vida adulta, baixa autoestima, alto nível de stress, ansiedade e habilidades sociais pobres”, explica a psicóloga e especialista em Desenvolvimento do Potencial Humano, Tatiana Baroni. A proposta da onda feminista na educação procura ir em outra direção. A escritora Isabela Kanupp fez o blog “Para Beatriz” (www.parabeatriz. com) pouco depois de sua filha nascer. Hoje com seis anos, a menina recebe uma educação feminista da mãe. “Não é que a minha filha seja feminista, porque o feminismo é um movimento político, que ela vai entender quando for mais velha. Temos a tendência de reproduzir a educação que recebemos, mas, a partir do feminismo, defendo que é na infância que se aprende sobre igualdade de gênero.” A escritora explica que é muito mais fácil educar uma criança, mais maleável, do que desconstruir preconceitos de adultos. A psicóloga especialista em terapia cognitiva comportamental Maria Fernanda Palaro explica que é essencial dialogar sobre essas questões na infância, porque nesse momento ainda não existe o julgamento. “Explicar na linguagem da criança que meninos e meninas têm os mesmos direitos na sociedade contribui para que esses indivíduos virem adultos mais livres de preconceitos”, diz. No entanto, a especialista

Isabela Kanupp e a filha Beatriz: educação considera valores que a mãe, feminista, faz questão de difundir também no blog em que escreve

aponta que isso é algo que ainda precisa ser bastante trabalhado na sociedade. “Percebo no consultório que os pais ainda têm alguns preconceitos e dificuldade de lidar com isso”. A professora universitária Stela Godoi, mãe do Yuri, de 4 anos, já passou por situações do tipo com o filho. “Se ele reproduz algum comentário machista, procuro explicar que o que ele disse não foi legal e mulheres podem achar ofensivo. Através do diálogo, ele entende e se sensibiliza”, explica a professora. “Por meio de uma educação feminista, percebo que hoje ele já tem consciência de igualdade de gênero e por vezes chega a corrigir sozinho besteiras que ouve na TV ou de amigos”. Para ela, não faz sentido apresentar às crianças um mundo de segregação e intolerância, incentivando conceitos que precisarão ser corrigidos na vida adulta. O resultado desse processo educativo é uma criança livre, defende. “Deixar seu filho brincar de boneca ou espada, passar batom vermelho ou se fantasiar de lobisomem é positivo. A criança tem um potencial que pode desenvolver, em parte, por conta

desses princípios do feminismo”, enfatiza. Defensoras da educação feminista acreditam que a melhor maneira para esclarecer sobre a igualdade de gêneros é por meio de estratégias lúdicas, histórias e brincadeiras. De acordo com a psicóloga Maria Fernanda, o simples questionamento sobre por que a menina não pode brincar de carrinho ou o menino não pode cozinhar ajuda muito. Os livros também foram um recurso aliado de Isabela. “Uso livros que ensinam sobre igualdade de gênero numa linguagem simples e tento dialogar com ela à medida que situações aparecem”, conta. A educadora infantil da Rede Municipal de Campinas Isadora Franco de Giane trabalha com crianças de até 6 anos de idade e é

mãe do Pietro, de 6, e de Carolina, de 1. “Enquanto feminista, por muito tempo, não quis ser mãe, por ter uma visão meio torta de que o feminismo, que defende a liberdade da mulher, era incompatível com a maternidade. Hoje enxergo diferente e vejo que o feminismo está aí para ajudar a entender que existe um caminho melhor a ser trilhado na criação de crianças”, explica. A educadora reforça que, quando se busca descontruir uma opressão, é possível, na infância, incentivar crianças a virarem adultos que conseguirão ter relações melhores e mais sinceras.

ternidade encontra muita ressonância entre mulheres do movimento. Tanto ela quanto Isabela disseram se sentir, por vezes, marginalizadas entre outras feministas por serem mães. “Algumas feministas colocam como maneira de combater a maternidade compulsória simplesmente negar a maternidade. Isso acaba gerando uma exclusão das mulheres que já são ou querem ser mães”, diz Isabela, referindo-se à relação intrínseca feita pela sociedade entre ser mulher e ter a obrigação de ter filhos. “Mulheres são criadas desde pequenas para isso. A maternidade não é colocada como uma escoConflito lha”, desabafa. De acordo com a psicóloga Maria A percepção de Isado- Fernanda, não procede a ra de que o feminismo é incompatibilidade entre ser incompatível com a ma- mãe e feminista.

“Deixar seu filho brincar de boneca ou espada, passar batom vermelho ou se fantasiar de lobisomem é positivo”, diz Stela Godoi


Saúde

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Campinas é campeã em testes de remédios Cidade tem seis das oito empresas especializadas em experimentos com seres humanos Samanda Souza

N

ão são apenas os cães beagle, coelhos e ratos que colaboram com pesquisas científicas. Pessoas também são cobaias e muitas fazem disso um ganho extra ou até mesmo sua fonte de renda. Elas participam de experimentos regulados com medicamentos, cosméticos e alimentos, entre outros produtos. Campinas é a cidade em que a maior parte desses testes são feitos no Brasil. Das oito empresas especializadas e autorizadas, seis estão na cidade. Essas pessoas, em geral, são usadas em teste de biodisponibilidade e bioequivalência. O primeiro indica a velocidade e a extensão de absorção de um princípio ativo em uma forma de dosagem na circulação. Já o segundo é o estudo comparativo entre dois medicamentos com o mesmo princípio

ativo, forma de administração e indicação terapêutica, para saber qual terá a melhor eficácia num suposto tratamento. O procedimento só pode ser realizado se a empresa de diagnóstico tiver a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Até 2012, todos os testes só podiam ser feitos com voluntários, o que mudou com a legislação atual, que permite custear alimentação e transporte dos cobaias, sem, no entanto, estipular qual seria esse valor. Com a possiblidade de receber um dinheiro pela participação, muitas pessoas têm procurado esse tipo de serviço. A comerciante Cleusa Vicente, de 51 anos, diz que gosta da experiência de participar de testes. “Faço isso há dez anos. Mesmo minha veia parecendo uma bomba, eu gosto e ainda sou doadora de sangue”, diz ela que chega

a receber entre R$ 800,00 e R$ 1.600,00 para participar de um teste por mês, o limite estipulado pela lei. A reportagem do Saiba+ visitou o Centro Avançado de Estudos e Pesquisas (Caep), localizado no Parque das Universidades, ao lado do Hospital e Maternidade Madre Teodora, umas das empresas que fazem esse trabalho em Campinas. O diretor e proprietário, o médico Pedro Serafim, explicou que há, no País, uma carência por empresas que fazem teste de bioequivalência, motivo pelo qual ele decidiu se dedicar à área. A farmacologista Rebeca Calixto informou que, para participar dos experimentos, a pessoa precisa se cadastrar pelo site ou na própria empresa e esperar o chamado, de acordo com a existência de vagas. Quando chamada, a pessoa participa de uma palestra, em que fica conhecen-

do todos os procedimentos. Na sequência, ela é avaliada por um médico para saber se está em está em condições de saúde para participar. Em tese, os requisitos são ter entre 18 e 50 anos, peso compatível com a altura, sem doenças que precise de remédios, não ter doado sangue nos últimos três meses e não fumar. São feitos exames de eletrocardiograma e de sangue. Estando apto, o voluntário assina um termo de consentimento de sua participação. As pesquisas clínicas, normalmente, exigem mais de um dia de internação. Os voluntários são internados no final da tarde e, a partir desse momento, seguem dietas e os períodos de jejum previstos em cada pesquisa. Ao final de cada estudo, a quantidade de sangue coletada é menor do que a de uma bolsa preenchida quando alguém doa sangue. As amostras são encaminhadas a uma unidade

analítica e de lá sairão os laudos finais determinando se o medicamento pesquisado terá a ação terapêutica esperada. No final da pesquisa os voluntários são submetidos a outros exames para saber se está tudo bem. O vice-presidente do Comitê de Ética de Pesquisa com Seres Humanos da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) explica que, antes dos testes, é preciso que os procedimentos passem por uma avaliação de um comitê, que deve analisar todos os procedimentos e características da pesquisa com seres humanos, inclusive, o respeito à privacidade e os benefícios que o estudo pode trazer à sociedade. De acordo com ele, a lei permite a realização desses experimentos com pessoas de idade a partir dos 14 anos, mas, se for menor, será necessária a permissão dos responsáveis.

Dietas detox preocupam nutricionistas

Especialistas garantem que uso contínuo pode gerar problemas como anemia e flacidez

A

limentos ricos em fibras, proteínas, menos carne, e sucos. Nada de carboidrato por um tempo. As dietas chamadas de detox – que prometem desintoxicar o organismo e desinchá-lo – circulam como receitas milagrosas pela internet. Mas nutricionistas advertem: tanto o uso em longo prazo quanto a falta de acompanhamento podem causar mais prejuízos do que os supostos benefícios. O nutricionista esportivo e diretor científico da NutriCore – rede independente profissionais da área – Antonio Pedro Tavares alerta que qualquer restrição excessiva de alimentos deve ser feita por um período pequeno e apenas com acompanhamento especializado. “O que vemos atualmente é um aumento da frequência e número de pessoas adotando estratégias alimentares de alta restrição por conta própria e em alguns casos por meses, o que pode ser gra-

víssimo e gerar sérios riscos à saúde”. Seguir dietas sem acompanhamento pode trazer deficiências nutricionais como tipos de anemia, perda muscular, aumento da flacidez, cansaço excessivo, desmaios, prejuízos neurológicos e vários outros riscos. A produtora de moda Mariana Mendes usa a dieta detox pelo menos dois dias na semana, sem acompanhamento, que ela considera desnecessário, pois nunca teve problemas. “Dá certo, me sinto bem melhor, desincha”, afirma. Uma dieta rica em fibras e com poucos carboidratos, se bem planejada, pode contribuir para a melhora hepática, redução de fatores inflamatórios, melhora da microbiota do intestino, redução de retenção hídrica e vários outros benefícios, mas uma das grandes dúvidas acerca do universo detox é se é destinada apenas à desintoxicação ou se ajuda a perda de peso também. Tavares responde que a técnica “pode contribuir

Foto: Driely Orrú

Drielly Orru

Apesar de feitos com produtos naturais, como frutas, dietas detox não necessariamnete representam saúde

para a perda de peso, mas não necessariamente trará uma grande vantagem estética e metabólica, pois pode ocorrer perda expressiva de músculos e, assim, aumento de flacidez”. Proprietária de um estabelecimento de produtos naturais, Adriana Fernandes diz ser adepta à dieta, mas que não segue a dieta à risca. Ela apenas toma sucos detox regularmente. “Para o sistema digestivo é bom sim, mas para perda de peso não”. A recomendação dos pro-

fissionais de nutrição é que, após uma dieta detox, haja uma reeducação alimentar e uma rotina para resultados duradouros e, principalmente, saudáveis. Apenas assim haverá uma melhora da saúde em médio e longo prazo. A alimentação do dia a dia sempre é o fator mais importante para se ter bons resultados e conseguir manter um percentual de gordura adequado e esteticamente mais satisfatório. Simplesmente se planejar para fazer as restrições da dieta detox pode trazer uma decepção

quanto aos resultados, além de colocar a saúde em risco, alerta Tavares. “É necessário esquecermos o termo “dieta” como é visto hoje. Precisamos pensar em um ponto de equilíbrio em que é possível comer todas as classes de alimentos e se manter com o peso adequado”, complementa o nutricionista. Se o objetivo é a perda de peso, uma dieta acompanhada de um profissional de nutrição e a prática de exercícios é sempre a melhor opção, pois é comprovada cientificamente.


Saúde

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Coletor menstrual entra na pauta feminina O método, além de ser sustentável e econômico, promete o fim do uso de absorventes

Foto: Fernanda Grael

Fernanda Grael

M

Geisa Marques usa o coletor há 5 meses

respeito”, comenta. Em grupos das redes sociais sobre o coletor, os relatos das mulheres que usam são em sua maioria positivos. No grupo do Facebook “Coletores Brasil”, mais de 77 mil mulheres compartilham dúvidas, experiências e dicas a respeito do copo menstrual. É comum ler comentários como “é libertador” e “gostaria de ter descoberto isso antes”.Por outro lado, no mesmo grupo é muito comum encontrar mulheres que nunca ouviram falar no coletor e têm curiosidade, além daquelas que possuem receios e dúvidas em como usá-lo. Perguntas como “o coletor machuca?”, “mulheres virgens podem usá-lo?”, “nunca mais vou precisar gastar com absorventes?” são feitas frequentemente por meninas que descobriram a novidade. A estudante Paula Montegro, de 20 anos, conheceu o coletor num desses grupos e usa há dois anos. “Sempre odiei e tive nojo do absorvente e também me incomodava muito a quantidade de lixo que eu produzia por isso”, explica. “Não tive dificuldade para tirar e colocar [o coletor]. Nos primeiros dias, me incomodou um pouco, mas, com o tempo, consegui ficar confortável. Foi também um processo de autoconhecimento”,

completa.

introdução, já que ele é colocado apenas na enCaracterísticas trada do canal vaginal, diferente do absorvenO silicone é hipoalér- te interno, inserido ao gico e antibacteriano, fundo. Além disso, o além do formato ser fle- coletor não causa maus xível, o que facilita sua odores.O cheiro da

Arte: Fernanda Grael

ais conforto, menos risco de vazamentos, imprevistos e até infecções, além de liberdade para todas as atividades e cuidado com o meio ambiente. Esses são alguns dos benefícios que têm seduzidos mulheres a trocar o absorvente tradicional pelo coletor menstrual, um dispositivo introduzido na vagina durante o período menstrual. O coletor é uma espécie de copinho de silicone, reaproveitável, depois de higienizado. No Brasil, surgiu em 2015, embora um ancestral tenha surgido ainda na década de 1930, feito em látex, nos Estados Unidos. O látex foi rejeitado pelas mulheres, pois é altamente propenso a gerar alergias e irritações. A universitária Victória Cócolo, de 19 anos, conheceu o método pela internet e aderiu. “Acho uma ótima ideia por ser mais ecológico, menos prejudicial à saúde e não precisar trocar com tanta frequência”, diz. Porém, a estudante acredita que não se adaptou à marca de coletor comprada e está em busca de uma nova. “Ele é muito bom e higiênico, agora estou procurando uma outra marca, na esperança de que o problema seja o formato”, conclui. A venda do coletor ainda é restrita. Poucas são as farmácias que o disponibilizam e a maioria só é encontrada na internet. Um levantamento do Saiba+ identificou pelo menos 15 marcas do produto, em 15 sites diferentes. O preço varia de R$ 85 a R$ 155 e estão disponíveis em até quatro tamanhos, em cores variadas. O ginecologista e obstetra Carlos Eduardo Zuccolotto Felippe acredita que muitas mulheres estão conhecendo o método, pois ele está sendo mais difundido pela internet. “Ele existe há muito tempo mas apenas um grupo restrito de pessoas o conheciam. Hoje em dia com a internet e mídias sociais tem muita gente falando a

menstruação é causado por uma reação química do contato do sangue com o ar. Como o copinho é interno, esse mau cheiro não existe. O produto é isento de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Zuccolotto acredita que a escolha do uso do coletor é pessoal e vai de cada mulher. “Ainda não existe um método que seja ideal para todo mundo, depende de cada pessoa. Uma menina que não gosta de usar absorvente interno dificilmente vai gostar de usar o coletor, por exemplo”, explica.

Sustentabilidade Durante a vida, uma mulher usa, em média, mais de 10 mil absorventes, seja ele externo ou interno. O externo, por ter plástico, leva 100 anos para se degradar na natureza, enquanto o interno, composto apenas por algodão, leva até um ano. Por ser reutilizável, a mulher, ao usar o coletor, está contribuindo também para o meio ambiente. Além disso, as finanças agradecem àquelas que se adaptaram, já que o custo será uma única vez. Usando os tradicionais, cerca de R$ 100 serão gastos por ano. Em uma década, a economia pode chegar a mil reais.


Esporte

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Outubro de 2016

Rugby luta por espaço e profissionalização Equipes de Campinas e região enfrentam desde falta de patrocínio até de lugares para treinos Fotos: Guilherme Luz

Guilherme Luz

I

ntegridade, disciplina, respeito, solidariedade e paixão são valores seguidos pelos atletas do rugby no brasil. A modalidade voltou aos jogos olímpicos em 2016 após 96 anos de ausência. Com o retorno, o esporte passou a ter mais visibilidade no País e na região de campinas, que tem oito equipes na disputa pelo campeonato paulista. O Estado de São Paulo tem hoje 48 equipes, divididas em quatro divisões, além de uma específica para times femininos. Apesar da maior visibilidade nos últimos anos, o rugby ainda requer muito esforço para ser praticado. Em Campinas, o Jequitibá Rugby não tem um local adequado para os treinos. “Treinamos em praças públicas durante a semana à noite e, para os jogos, alugamos campos”, explica o técnico Carlos Passos. A dificuldade aumenta ainda mais quando se fala de patrocínios, temporários, ou apenas descontos para os atletas em estabelecimentos. A equipe de Louveira, o Wally’s Rugby, fundada em 2004, encontra um problema parecido. Os custos são pagos praticamente pelos próprios jogadores. O Wally’s tem um campo cedido pela Prefeitura para os treinos e os jogos, mas o local fica em Jundiaí. Os treinos, à noite, enfrentam outra dificuldade: a falta de iluminação adequada, que faz com que os membros utilizem refletores em uma pequena parte do campo para treinar. Apesar de todas essas dificuldades o cenário para se praticar o esporte já foi pior. Alexandre Zacarias, atleta do Wally’s, retrata essa experiência: “Em outra

Jogadores do Wally´s Rugby, equipe de Jundiaí, precisaram comprar os próprios refletores para treinar à noite

equipe, treinávamos em um terrão e tivemos que contratar um especialista para adubar o campo. Os próprios jogadores plantaram a grama para o treino”. Na cidade de Vinhedo, a equipe do

Cougars encontra problemas um pouco diferentes. O time tem um campo para treinamentos e jogos e, após dois anos, conseguiu colocar holofotes para os treinamentos, comprados pelos atletas.

No entanto, o maior obstáculo é encontrar um horário adequado para os treinos, já que a maioria é de atletas universitários. Como a maioria dos jogos é nos finais de semana, eles precisam

praticar de segunda a sexta. “Trabalho durante o dia e estudo à noite. Assim, quando vou treinar, falto às aulas para ajudar o time”, conta o estudante Arthur Nascimento.

Conheça o Rugby

O rugby é formado por 15 jogadores em cada equipe, com direito a sete substituições. O esporte conta com dois tempos de 40 minutos cada. Existem quatro formas de pontuação: o try, a conversão, o penal e o drop goal. O primeiro vale cinco pontos e é marcado quando um jogador alcança ou ultrapassa a linha de fundo do adversário e apoia a bola no solo. A conversão é realizada após um try, quando a equipe tem direito a um chute valendo 2 pontos. Já o penal vale três pontos e é aplicado após faltas graves, de ação deliberada. O árbitro poderá anotar um penal contra a equipe infratora. A equipe que sofre poderá optar por um chute a gol do local onde a penalidade foi cometida. Por fim, o drop goal vale três pontos e pode acontecer a qualquer momento da partida. Para ser validado, a bola deverá ter tocado o chão imediatamente antes de ser chutada. Nessa situação, vale três pontos.


Economia

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Criatividade para ganhar e compartilhar Maria Eduarda Alves

G

anhar dinheiro, manter um negócio, mas sem se esquecer dos aspectos humanos, uma brecha para um café com amigos e valorização da diversidade. Esse é o papel da economia criativa, que ganha adeptos e já teve até feira dedicada exclusivamente a ela no final de setembro. A feira Sub foi realizada numa chácara no distrito de Sousas e contou com 55 expositores, além de oficinas e palestras. A ideia surgiu das irmãs Fabiana e Marcela Pacola, proprietárias do The Mix Bazar, espaço localizado no Cambuí, e que reúne cerca de 20 parcerias, entre artesãos, artistas, escritores e fotógrafos. A economia criativa tem seu conceito ligado à união da criatividade, variedade e capital intelectual, que gera a diversificação na produção de conteúdos e materiais. Dentro desse conjunto, diferente da economia tradicional, a criativa tem como base, principalmente, os setores de moda, design, música, artesanato, fotografia, cultura e tecnologia. O modelo foca no trabalho individual ou coletivo para produção e divulgação do material. No The Mix Bazar, o expositor que tem a vontade de divulgar e vender seu trabalho entra em contato com as irmãs, que acabam criando parcerias. Os produtos são separa-

dos por tipos, como roupas, livros, bijus, sapatos, quadros e itens colecionáveis. Para manter o espaço em funcionamento, as irmãs realizam workshops em um mezanino, que ocupava a parte superior da loja. Os temas dos encontros são variados e a preferência é o que agreguem valor sentimental para as produções, além de sustentabilidade, do reaproveitamento e da possibilidade de que cada participante faça suas próprias peças. Segundo as irmãs, já houve oficinas de criação de mini-horta, de montagem de bancos, produção de sabonete natural, uso de maquiagem e costura sustentável. A próxima está programado para o dia 29 de outubro, com o tema elaboração de blocos de papel. Para se inscrever, é necessário acessar a fanpage do The Mix Bazar (https://www.facebook.com/ themixbazar). O custo é de R$ 150,00 por pessoa. No Mix, também são realizados trabalhos com desenvolvimento de artes, campanhas em redes sociais, feiras e projetos gráficos. Quando questionada sobre o que é o The Mix, Fabiana define: “É uma loja, é um espaço criativo, é um brechó, é workshop também”. A ideia surgiu em 2013, quando as irmãs realizavam parcerias com cafés e levavam os produtos para expor. Depois de algum tempo, elas começa-

Foto: Maria Eduarda Alves

Novos negócios buscam parcerias entre microempresários, artesãos e artistas para garantir produtos originais e sustentáveis

As irmãs Marcela e Fabiana Paccola abriram um bazar no Cambuí para agregar parceiros

ram a fazer parcerias com estilistas independentes e produtores autorais. Como no final sobrava muito material e precisavam guardar, resolveram transformar em um espaço fixo, criando a unidade no Cambuí. “A gente sentiu a necessidade de ter um lugar para que as coisas ficassem sempre à disposição das pessoas”, conta Marcela.

A ideia do upcycling é usar a criatividade para transformar em outro produto”, diz Fabiana Paccola

Assim como o conceito do The Mix Bazar, A Casa da Mata, microrrestaurante, ateliê de SeiZo Soares e também bar durante eventos, conta com oficinas e cursos de trabalhos em madeira, a matéria-prima do trabalho do artista, que produz anéis. O trabalho começou em 2010 e teve um reconhecimento internacional antes de nacional. O empreendedor foi selecionado para participar, em 2013 e 2014, de uma mostra de Arte Joalheria em Barcelona, na Espanha. “Percebi que meu trabalho tinha algo de original, qualidade profissional. Então, passei a olhar as coisas como real possibilidade de carreira”, conta. Hoje, ele mantém o ateliê em Barão Geraldo, divulgando os produtos em lojas de Campinas,

São Paulo, Paraty e uma série à venda em Shangai, na China. Dentro do ambiente, SeiZo também realiza mostra de produtos com parceiros para divulgação. Além dos trabalhos como artista, ele também atua como professor universitário.

Reaproveitamento Na economia criativa, também há espaço para o reaproveitamento de materiais. É o chamado upcycling. O processo é feito pela reutilização daquilo que poderia ser jogado no lixo. “É diferente da reciclagem: você tem a matéria-prima, ela não vai ser transformada, não vai passar por um processo. A ideia do upcycling é usar a criatividade para transformar em outro produto”, explica Fabiana.


Turismo

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Outubro de 2016

Segurança é obstáculo para aplicativos Softwares para smartphones são opções para viajar, mas riscos ainda causam dúvidas

Foto: Vitória Gimenes

A estudante de medicina Vitória Gimenes, com amigos na Islândia: a viagem foi programa com reservas feitas por meio de aplicativos; ela aprovou os recursos

Isabella Levy

A

facilidade de acesso a serviços por meio de aplicativos esconde, muitas vezes, o outro lado da história: a falta de segurança e de garantias na hora de reservar hospedagem. Tanto para quem viaja como para quem cede o espaço, todos estão sujeitos a imprevistos. Ao mesmo tempo, cresce o número de usuários de serviços como Couchsurfing como alternativa aos viajantes. No Brasil, o aplicativo Airbnb se tornou fornecedor oficial de hospedagem alternativa durante os Jogos Olímpicos Rio 2016. No entanto, certas polêmicas envolvem o uso desses serviços, principalmente, em viagens internacionais. A ideia desses aplicativos consiste em facilitar o aluguel de acomodações, que variam

desde sofás até castelos e palácios. A confiança no anfitrião ou no hóspede se baseia nas experiências de quem já os recebeu ou já se hospedou no local. Não há qualquer tipo de vistoria ou de garantia: tudo se fundamenta nas experiências de viajantes ao redor do mundo. A estudante de Medicina Vitória Gimenes utilizou o aplicativo em uma viagem com amigos para a Islândia e para Berlim. Ela relata uma boa experiência: o cadastro foi feito a partir do Facebook, sem nenhum questionário específico. Quando comparado ao serviço de hostel, ela diz que o Aribnb tem mais privacidade e conforto e o preço não difere muito. No entanto, Vitória afirma que não se vê na posição oposta: “Não sei se eu alugaria um cômodo para alguém... Além de não ter disponibili-

dade para cuidar disso, acho que eu não confiaria em um desconhecido na minha casa, sendo que eu não estaria lá para olhar a maior parte do tempo”. Como viajante, “se estivesse sozinha eu escolheria algum hostel ou hotel, porque nesse caso não teria muita confiança para ficar em algum lugar desconhecido”, afirma. Por outro lado, Mayara Feres, estudante de Publicidade, viajou diversas vezes usando serviços do aplicativo e diz que não teria problemas em ceder acomodações pelo sistema, que lhe transmitiu segurança. “Por ser mulher, acho que sempre estou sujeita a algum risco, mas o app sempre me passou muita segurança. Então, eu não vejo problemas e confio bastante”, afirma. Entretanto, problemas com aplicativos de viagens não estão restritos a serviços de aluguel

informal de cômodos, como couchsurfing. Isabel Ruiz, estudante de Jornalismo, viajou para a praia utilizando o aplicativo Trivago, de reserva de hotéis, e encontrou dificuldades. “Sempre ouvi comentários bons, mas, quando fui usar, me decepcionei. Meu erro foi confiar demais no app”, afirma. “A reserva foi bem rápida, tudo muito simples, mas, quando cheguei no hotel, a reserva não havia sido efetuada”, relata. Isabel notou, após o problema, que seus comentários negativos, bem como de outras pessoas que encontraram problemas, haviam sido apagados, o que, para ela, pode ser a justificativa por sempre ter encontrado apenas comentários positivos sobre o serviço. Paralelamente, enquanto usuários refletem sobre prós e contras de serviços pagos, a cario-

ca Mariana Mendes oferece gratuitamente um cômodo de seu apartamento para quem visita a cidade e não tem onde ficar. “Eu entrei num couchsurfing exclusivo para mulheres que necessitem do serviço para pegar umas dicas de viagem e vi que sempre tinha alguém sem casa no Rio. Resolvi tentar abrigar conhecidas, a experiência foi ótima e continuei”. Até o momento, Mariana relata nunca ter tido experiência ruim, criando até grandes amizades, mas ela não descarta a possibilidade de alguma intercorrência, já que o hóspede fica com as chaves de sua casa. “Eu sempre tento pesquisar a vida da pessoa que vou abrigar, mas estamos sujeitas a problemas. Vou na confiança, sempre acreditando que vou chegar em casa e estar tudo no lugar”, completa.


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