Saiba+ - Edição Abril de 2012

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Ano 7 - Nº 93 - Faculdade de Jornalismo - PUC Campinas - 01 a 15 de Abril de 2012

O império volta a brilhar

Imponente, o prédio localizado na Av. Barão de Itapura passa por merecida restauração Fernanda Domiciano

Localizado em espaçoso terreno da Barão de Itapura, a construção da época de Dom Pedro II exige atenção aos mínimos detalhes CONFIRA NA PÁGINA 5

VEJA

A FLEXIBILIZAÇÃO DA VOZ DO BRASIL

PG 2

PG 3 OPINIÃO

PGs 4 e 5 CULTURA

CAPA

ESTRANGEIROS EM CAMPINAS

PG 6

OVOS PÁSCOA ALTERNATIVOS

PG 7 CIDADES

ROGER WATERS NO BRASIL

PG 8 SAÚDE

SHOWS


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01 a 14 de abril de 2012

Carta ao Leitor Pra começo de conversa

+ artigo Fotografia e Saudosismo

João Solimeo

Erik Nardini Medina

E

sta é a primeira edição do Saiba + de 2012, produzida pelos alunos do 4º ano de Jornalismo do período noturno da PUC-Campinas. O jornal vem cheio de novidades. Na reportagem de capa, a repórter Fernanda Domiciano escreve sobre a restauração de um dos marcos da cidade, o Prédio D. Pedro II, no Instituto Agronômico de Campinas (IAC). O Instituto vai completar 125 anos em junho de 2012. Clara Carvalho fala sobre como os estrangeiros lidam com as dificuldades de comunicação quando chegam a Campinas. Fernanda Seben e Vinícius Gandolphi mostram a campanha para a flexibilização do horário de transmissão da Voz do Brasil. Na página de opinião, o leitor encontra o artigo de Erik Nardini sobre o saudosismo na fotografia, além da crônica bem humorada de Guilherme

Paiva que narra um dia no transporte público de Campinas. No mês da Páscoa, Karina Pilotto mostra como os diabéticos e alérgicos a chocolate encontram alternativas para não passar sem os tradicionais ovos. Falando em saúde, Renata Ananias mostra como os diversos tipos de partos humanizados vêm ganhando adeptas; a Unicamp já realizou mais de 2500 nascimentos desta maneira. Para finalizar, eu fui a São Paulo conferir o último show de Roger Waters, “The Wall”, um grito contra o autoritarismo. O roqueiro de 68 anos mostra que o Rock ainda pode ser um veículo poderoso para discutir temas relevantes para a sociedade.

Boa leitura!

Notas Entrou no ar o “Digitais” PUC Campinas, novo espaço da Faculdade de Jornalismo para valorizar a proção dos alunos do 4º Ano. Noticiários, reportagens, vagas de estágio e muito mais. Acesse: digitaispuccampinas.wordpress.com Turnê de lançamento da carreira solo de Thiaguinho, exExaltasamba, chega em Campinas. O show acontece no próximo dia 29 às 14 horas, no Campinas Hall. A venda de ingressos conta com um lote promocional para atender estudantes e quem quiser doar 1 kg de alimento. Além de Campinas o ingresso pode ser adquirido em outras oito cidades da região, sendo elas Valinhos, Vinhedo, Sumaré, Indaiatuba, Jundiaí, Americana e Hortolândia, ou então pelo site www.seuingresso.net.br A Expoflora, maior exposição de plantas e flores ornamentais da América Latina realizada anualmente em Holambra, deu início à venda antecipada de ingressos para a 31ª edição. Os ingressos promocionais com descontos de mais de 50%, são limitados a 5 mil unidades por dia e podem ser adquiridos na Central de Reservas para grupos de, no mínimo, 20 pessoas. O evento acontecerá de 30 de agosto a 23 de setembro. O contato com a Central pode ser feito por telefone (19) 3802-1499 e pelo e-mail reservas@expoflora.com.br

Vivemos em um mundo tecnológico. A tecnologia é base do mundo contemporâneo. É difícil encontrar alguém (estabeleço aqui a idade média de 18 anos) que tenha tido contato com câmeras analógicas. Experimente dar um rolo de filme e uma câmera antiga a alguém. A pessoa provavelmente não saberá como carregar o equipamento com a pequena bobina de 35mm. Experiência própria. No entanto, ao mesmo tempo em que essas pessoas se encontram distantes da fotografia analógica, seguem cercadas por sua essên-

cia graças a aplicativos de edição. Destaque para o tão comentado Instagram, disponível aos usuários de iPhone, que aplica efeitos nas fotos feitas com o telefone, deixando-as semelhantes às feitas com filme. Costumo dizer que o Instagram “instraga” as fotos. A Apple luta para trazer uma câmera melhor a cada versão do aparelho e o software aplica filtros que altera as imagens! Ninguém mais fotografa com filme porque isso se tornou inviável. Fotografia digital pressupõe imediatismo, vital para os negócios e essencial para

Basta andar

a sociedade moderna que deseja tudo na hora. É por isso que aplicativos têm atraído fãs aos montes (o Instagram superou a marca de 25 milhões de usuários). Por meio deles ficou fácil trazer de volta o vintage. É comovente – e gostoso – olhar para uma foto e viajar no tempo com tons sépia ou preto e branco. Agora, se você quiser o real “efeito Instagram”, desembolse cerca de R$ 8 em um rolo de filme, tire aquela velha câmera do fundo do armário e clique. Será fascinante, garanto. www.eriknardini.com

+ crônica

Guilherme Paiva Sentado naquele banco gelado e desconfortável eu espero. O frio congela minhas entranhas. Tenho torcicolo de tanto olhar parao final da rua. Tudo conspira contra mim. Já faz mais de meia hora que estou ali e nada do circular passar e me levar para o conforto de casa. Já pensando em desistir, lá vem ele dobrando a esquina. Mal sabia que o pior ainda estava por vir. Nem sei como consegui entrar naquele ônibus. Umas oitenta pessoas se apertavam ali. Ainda estava na escadinha da entrada quando pensei de novo em desistir, mas não tinha mais jeito: atrás de mim o aglomerado já passava de 15 pessoas e mais chegavam correndo. Todos acabaram entrando, com um pouquinho de violência e muita vontade de chegar em casa. Lembro-me de ouvir alguém

Jornal laboratório produzido por alunos da Faculdade de Jornalismo da PUCCampinas, do Centro de Comunicação e Linguagem (CLC). Diretor: Prof. Dr. Rogério E. R. Bazi. Vice-diretora: Profa. Maura Padula. Diretor da Faculdade: Prof. Lindolfo Alexandre de Souza. Tiragem: 2.000 | Impressão: RAC.

atrás de mim dizer: “Tá no inferno, abraça o capeta!” e sair empurrando os outros pra chegar na roleta. Resolvi que faria isso também. Nesse mundo quem é devagar não sobrevive! Mudei de opinião assim que um cara de uns dois metros e tanto olhou pra mim quando o empurrei e disse: “Perdeu a fé na vida, irmão?!” Não, ainda não tinha perdido. Me afastei o máximo que pude dele, ou seja, alguns centímetros. Depois de uns 5 minutos tentando me esgueirarpor entre as pessoas cheguei na roleta. E lembrei que ainda não tinha separado o dinheiro. Abro então a mochila, procurominha carteira, pago os R$3e passo para a outra parte do ônibus, onde a situação estava ainda mais crítica que na frente.Um rapaz ouvia música em seu celular – sem fones de ouvido,

claro - enquanto seu companheiro de banco acompanhava cantando em voz alta. Uma outra pessoa comia uma daquelas versões genéricas de salgadinhos que dão o cheiro de enxofre característico para o inferno que tinhamos ali. Uns vinte minutos de tensão depois, meu ponto de desembarque se aproximava.O problema é que entre mim e a porta dos fundos havia ainda muita gente. Respirei fundo e, sem olhar pra trás, fui abrindo caminho entre as pessoas. Um “desculpa” daqui, um “licença” de lá e pronto, estava na porta. O ônibus parou e finalmente desci. Quando em terra firme, ajoelhei-me, agradeci por ter sobrevivido e prometi que assim que pudesse compraria um carro, nem que fosse uma Brasília 73 sem as portas. Basta andar que já está bom.

Expediente: Prof. Responsável: Luiz R. Saviani Rey (MTb 13.254) Editores: Erik Nardini e João Solimeo Diagramação: Erik Nardini e João Solimeo Reportagens: Clara Carvalho, Fernanda Seben, Fernanda Domiciano, Guilherme Paiva, João Solimeo Vinícius Gandolphi


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Cultura

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Navegar é essencial

Internet é palco de divulgação e produção cultural em Campinas Thaís de Araújo Com um número cada vez maior de usuários no Brasil e no mundo, a rede internacional de computadores alavanca a divulgação da cultura independente na cidade de Campinas, e uma das plataformas que mais contribuem para isso são as redes sociais. Como exemplo dessa visibilidade trazida pela internet está o crescimento da popularidade de projetos artísticos e trabalhos na área da cultura, como acontece com o Coletivo Ajuntaê, organização que articula atividades culturais na cidade desde 2010. A equipe levou no último mês 4 mil pessoas durante os dias do evento Grito Rock, que reunia música, artes visuais e corporais e outras frentes artísticas. O evento foi organizado na cidade e divulgado por seus colaboradores na internet,

Eixo, espalhada em mais de 100 pontos diferentes do país, de acordo com o próprio site do projeto. Essa rede tem como algumas de suas frentes trabalhar em ações com foco em comunicação livre, sustentabilidade e políticas culturais. Para que exista uma comunicação efetiva com os outros Coletivos do Fora do Eixo, a internet também é primordial. Segundo Ana Carolina de Moraes, 19, e Eliza Mancuso, 23, produtoras culturais no Ajuntaê, o Projeto dificilmente existiria sem a web: “Principalmente se levarmos em conta que o Fora do Eixo teve origem com 4 coletivos muitos distantes: Cuiabá, Uberlândia, Rio Branco e

Thaís de Araujo

meio mais eficaz porque podemos postar em tempo integral, a pessoa vê o que você está fazendo no exato momento, é algo muito interativo. Agora o pessoal que está interessado no trabalho mesmo, para propor convites em workshops e exposições, geralmente acessa mais o site. Acredito que fornece um outro tipo de respaldo”, explica. Além da divulgação de seu trabalho, o artista também diz acreditar que através da aproximação e do esclarecimento trazidos pela internet, é muito mais fácil ter acesso a tirar dúvidas e se informar sobre novidades da área, além de procurar novos artistas e novas técnicas. RESISTÊNCIAAO MEIO

Para Gomes, as redes sociais são estratégicas

tanto no site do grupo quanto no facebook , twitter e outras mídias sociais. Segundo Rafael Gomes da Silva, 23, gestor cultural no Ajuntaê, o público do Coletivo é especialmente vindo da divulgação na web, que tem papel essencial na manutenção e existência do Projeto: “Prezamos muito por essa formação de público, e boa parte é formado na internet. Quando temos que fazer a divulgação de um evento, nos reunimos e começamos a bombar as informações nas redes socias”, revela Gomes. Além de servir como meio de divulgação, a web também é meio de produção no Coletivo. Isso porque o Ajuntaê é parte de uma rede muito maior, chamada Fora do

cam Eliza e Ana Moraes: “Utilizamos a plataforma Toque No Brasil (www. tnb.art) para conhecer o trabalho dessas bandas, ver fotos, release e informações técnicas antes de convidá-las para nossos eventos. Recentemente, durante o Grito Rock, todas as inscrições de bandas, seleção e curadoria do festival, foram feitas através do TNB”, revelam. Durante o último Grito Rock, uma das intervenções artísticas realizada contou com as mãos do artista Gustavo Bordin, 29 , grafiteiro e publicitário. Nénão, como é mais conhecido, também revela utilizar a internet como uma grande aliada na divulgação de seu trabalho.

Londrina. Quatro cidades bem afastadas que se conectaram através da internet para potencializar tanto as ações fora do eixo Rio-SP quanto em locais mais isolados. Mesmo hoje em dia, sem a internet seria impossível manter o mesmo fluxo de ações que temos em rede”, argumentam. De acordo com elas, como os Coletivos estão espalhados por todo o Brasil e América Latina, o grande fluxo de trocas acontece pela internet, através de ferramentas como o Google DOCS. Além de se organizarem internamente através da internet, a rede tem outra função para o grupo, que é a de servir como uma vitrine para encontrar novos artistas, como expli-

“Você pode conhecer o trabalho de um do outro lado do mundo que você jamais teria oportunidade de conhecer se não fosse a internet”, argumenta Né-

Na opinião de Fernando Fragoso, 34 anos, professor de inglês e artista visual, ainda existe uma resistência por parte de algumas pessoas com relação à divulgação de trabalho artístico na internet. “Há pessoas que resistem a isso com medo que copiem sua obra ou que ela se banalize. Respeito essa visão, mas penso diferente ”, conta Fernando. Na opinião dele, a web veio para somar. “O que adianta eu fazer um monte de desenhos se ninguém

fotografia, fazia coberturas de Rally (inclusive tinha um site sobre isso), e começou a trabalhar com arte por vontade própria, e especialmente pelas circunstâncias da vida, sem fazer nenhum tipo de curso ou passar por uma formação acadêmica em artes. “Nas minhas viagens pelo mundo, visitei muitos museus, observei muita coisa. Mas meu desenho não tem técnica, pode perceber. Tem criatividade, tem irreverência, e esse é meu grande prazer. É um prazer que eu levo a sério”, diz o artista, que segundo ele próprio, deve contar com em média 500 obras disponíveis para visualização na internet. “ Dos convites que recebo para exposições, a maioria acontece pela internet”, revela. Fernando explica que gosta muito da praticidade da rede, bem como da interação que ela proporciona. “ A internet me dá a oportunidade de levar meu trabalho pra onde eu quiser, e grande parte das pessoas conheceram meu trabalho através desse meio. É só fazer direitinho”, diz o artista, que já recebeu através de site e facebook mensagens de pessoas da India e até do Sudão comentando sobre o trabalho: “ Estou escrevendo a minha história dessa maneira. Produzindo e registrando, através da internet, minhas produções”, completa Fernando.

CONECTE-SE!

não. Ele diz que já recebeu diversas propostas de trabalho depois de pessoas visitarem seu site, ou até mesmo facebook e flickr; mas frisa a diferença que existe entre os públicos de cada meio. “O facebook é o que se tornou o

nunca os viu? Gosto de dividir isso com as pessoas. Faço minhas obras antes de mais nada para mim, mas já pensou que legal se alguém se inspira?Pode acontecer, sei lá... Já fico feliz”, conta. Fernando já trabalhou com jornalismo,

coletivoajuntae.org nideias.art.br fernandofragoso.com FACEBOOK /agenciamixa /ajuntae /fernandofragosoff


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Vaidescêondi?

Capa

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Como os estrangeiros escutam, leem e se comunicam com a cidade Clara Carvalho Isabel Rodriguez chegou ao Brasil há dois anos achando que ia arrasar no português. Ainda na Colômbia, a mestranda em química na Unicamp começou a estudar a nossa língua. No princípio, pedia para um amigo que já tinha morado no Brasil ensiná-la. Com o tempo, foi escutando e entendendo mais as letras da Bossa Nova. A colombiana, de 30 anos, prestou até o CELPE-BRAS (Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros) antes de vir. Mas avalia que “esse ensino formal não me preparou para meu primeiro dia no bandejão[restaurante universitário]: estavam todos falando ao mesmo tempo, muito rápido, eu não entendi nada!” Com o convívio com colegas nativos, Isabela foi adquirindo velocidade, fluidez e ‘pegando as gírias’. Hoje ela dá aula particular de espanhol e acha que o português “de dicionário” que aprendeu ajuda muito na hora das explicações. I GET BY (WITH A LITTLE HELP FROM MY FRIENDS)

Clara Carvalho

Max, 23 anos, é americano e dá aulas de inglês, além de tocar sax na banda de um colega (brasileiro) que conheceu na época da faculdade (nos Estados Unidos). Ao contrário de Isabela, ele chegou sem nenhum conhecimento prévio do idioma. E, apesar de estar aqui há alguns meses, não fala nada de portu-

guês. “Não preciso falar. Todo o meu círculo fala inglês: antes eu morava com outros falantes nativos do inglês, trabalho em uma escola de inglês e meus alunos adoram o fato de eu não me comunicar na língua deles, pois assim aprendem mais”, afirma o jovem. Ele mora em Barão Geraldo e diz que a maioria das pessoas com quem cruza fala inglês. “Até na banquinha de pastel a moça consegue me entender”. Mas admite que na região central da cidade é diferente: “Barão é como se fosse uma bolha”. É o que confirma a professora de inglês e português para estrangeiros, mestre em Multiculturalismo, Plurilinguismo e Educação Bilingue, Verônica Coelho: “No entorno da Unicamp, as pessoas são muito mais sensíveis linguisticamente, pois estão acostumadas a lidar com estrangeiros, entendem que a língua pode ser falada com diferentes sotaques. Longe da universidade, a realidade é outra. Se a pessoa pedir um salgado com sotaque [salllgado, zalgado, salgadô, sellgado]o atendente dificilmente entenderá, pois para ele só existe a palavra [sau-ga-do]”.Eliana Meirelles Vidotto, psicopedagoga e professora especialista de português para estrangeiros desde 1995, conta que quem chega ao país sem a menor noção da língua encontra alguns obstáculos. “Eles têm dificuldade para comprar uma aspirina, estacionar na Zona Azul, pegar um ônibus”. A ‘cara de gringo’, porém,

O estudo anterior à chegada não impede o choque linguístico

pode ajudar, como atesta Max, ruivo de olhos azuis: “Muitas vezes as pessoas vêm me perguntar se preciso de ajuda.” Eliana divide os estrangeiros em dois grupos: os que vêm para estudar ou trabalhar e os que não estão envolvidos com nenhuma atividade acadêmica ou profissional, como é o caso das mulheres dos executivos que trabalham em multinacionais como a Samsung ou Bosch. “No ambiente de trabalho, eles estão constantemente em contato com a língua, fazendo uso do português e trocando com os colegas. O progresso é mais rápido. Os europeus são especialmente dedicados”, conta Eliana. De acordo com a pedagoga, quem não tem contatocotidiano com brasileiros procura chamar sempre o mesmo taxista e frequentar o mesmo restaurante, como forma de criar vínculos para entender e praticar a língua.

Clara Carvalho

LINGUAGEM NÃO VERBAL

Quando não se entende o que está sendo dito, entram em cena outras inteligências e estratégias criativas, como a intuição e a mímica. Verônica Coelho afirma que “expressar uma necessidade, pedir uma informação, ou seja, fazer-se entender, é uma coisa, falar a língua é outra. Por outro lado, quando não se entende o que está sendo dito, se observa mais os gestos, os olhares, a entonação e volume de voz e os movimentos que acontecem ao redor. Se os estímulos auditivos e verbais não são inteligíveis, a linguagem não verbal ganha mais vida”.

CARA DE GRINGO: “As pessoas me olham e falam comigo em inglês”

PORTUNHOL Segundo Eliana Vidotto, os falantes de espanhol tem mesmo mais facilidade de se comunicar. Porém, para aprender a falar e escrever corretamente o português, são os alunos em que encontra mais dificuldades. “É difícil ‘limpar’ a interferência do espanhol, por ter algumas similaridades com a nossa língua”. O nicaraguense Caryl Schutze, 20 anos, confirma que, às vezes, faz confusão “ Não chego a misturar, o que acontece é que, sem perceber, me pego falando espanhol com sotaque brasileiro”, se diverte o estudante.


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Capa

O restauro do

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IMPÉRIO

O velho Prédio D. Pedro II se renova em comemoração aos 125 anos do IAC Fernanda Domiciano O Prédio D. Pedro II, símbolo do período imperial em Campinas, passa por restauro. O edifício, localizado na área do Instituto Agronômico (IAC) é reconhecido como um dos cartões postais da cidade. A previsão é que para o aniversário de 125 anos do IAC, a ser comemorado em junho de 2012, seus 3.300 m² de fechada estejam restaurados. O D. Pedro II foi construído em 1888 e passou por reformas e ampliações antes de ser tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (CONDEPACC) e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT). Além da fachada e do telhado, serão recuperados a pintura do muro externo e o calçamento do parque. A obra foi iniciada em 7 de dezembro de 2011. O D. Pedro II foi o primeiro prédio a abrigar a Sede do IAC. O edifício foi ampliado em 1909, com o acrescimento de um segundo andar. Atualmente, são feitas pesquisas na área de solo no local. “A última reforma foi feita em 1968, quando foi remodelada a parte interna, a externa. Estamos restaurando o prédio para voltar ao que ele era quando foi tombado”, explica o engenheiro civil, Herbert Faustino, responsável pela obra. De acordo

Fernanda Domiciano

com o historiador da Coordenadoria Setorial do Patrimônio Cultural de Campinas, Henrique Anunziata, o restauro é uma intervenção criteriosa e técnica que respeita todas as características da construção, como os materiais utilizados e a reposição de peças faltantes. “Os critérios para a decisão do restauro se dá pelas situações técnicas, como preservação, conservação e manutenção”, explica. O edifício foi projetado por Henrique Florence, a pedido do Imperador D. Pedro II. A construção se encaixa no estilo art nouveau, trazido da Europa pelos barões do café, por apresentar colunas, adornos e frisos. O edifício foi construído apenas de cal e areia, sem cimento. Para manter os mesmos materiais utilizados em 1888, foi desenvolvida uma pasta de cal especialmente para o restauro. Quatro camadas de tinta foram retiradas até chegar ao tom de amarelo original. Para conseguir a cor exata, extraiu-se um pedaço da parede, levado para análises. A cor amarela foi apontada, mas não seu tom exato. Foram feitos mais 15 testes até se chegar a cor que será utilizada. Para que a intervenção em bens tombados aconteça, é necessário que um projeto de restauro seja aprovado pelo CONDEPACC. De acordo com o órgão, fiscais e técnicos

A restauração deve ser concluída até junho, no aniversário de 125 anos do IAC

acompanham a execução das obras. Qualquer cidadão pode denunciar a demolição ou obras irregulares em bens protegidos, através da Prefeitura Municipal. Campinas conta com 118 processos de tombamentos e 79 processos de estudos de tombamentos. Anunziata explica que cada processo pode conter mais que um patrimônio tombado. “O processo de estudo de tombamento dos Edifícios Verticais em estilo Art Déco/ Conjunto Arquitetônico, contém 15 edificações”, exemplifica. Um total de 28 processos de tombamento tiveram projeto de restauro aprovados e executados pelo CONDEPACC, desde 1987, ano de fundação do órgão. “Campinas tem grande quantidade de patrimônios porque Arquivo IAC

Construído em 1888, D. Pedro II foi o primeiro prédio a abrigar o Instituto Agronômico de Campinas

foi relevante nos últimos 200 anos, seja pela sua história, economia ou importância regional. Onde temos concentração de cultura, recursos e pessoas, é natural que se tenha muitos bens culturas e materiais a serem tombados”, explica Marcos Tognon, professor doutor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na área de História da Arte. ESTAÇÃO CULTURA CORRIA RISCO DE INCÊNDIO

Outro tradicional patrimônio público tombado pelo CONDEPACC foi restaurado recentemente. Na Estação Cultura Prefeito Antonio da Costa Santos, inaugurada em 1872, foi feito obras estruturais, como a recuperação do telhado, reforma da rede hidráulica e banheiros, revisão da rede elétrica, recuperação de pisos e janelas, padronização das pinturas internas e descupinização parcial do prédio. O restauro parcial foi feito pela Campinas Decor, em parceria com a Prefeitura de Campinas, em 2011. De acordo com o engenheiro civil, Herbert Faustino, responsável pela obra, a Estação estava abandonada. “A Estação é uma criança sem pai e mãe. Depois que deixou

de ser da Ferrovia Paulista (Fepasa), passou para a União e parou de funcionar. Existia até mesmo risco de incêndio”, explica. Luiz da Conceição, barbeiro e dono do Salão Internacional, localizado dentro da Estação, desde 1956, foi um dos únicos que tentou preservar o patrimônio. “Aqui ficou abandonado por muito tempo, só quando o Toninho (Antonio da Costa Santos) foi eleito prefeito que as coisas começaram a melhorar. Ele trouxe para cá a Secretaria da Cultura e deu vida para o lugar”. Para o professor da Unicamp, Marcos Tognon, o poder público pouco tem feito para a preservação dos patrimônios. “Alguns são bem preservados como a Escola de Cadetes, mas outros se encontram na agonia, como os monumentos, praças, avenidas e a própria Estação Cultura”, afirma. O historiador Henrique Anunziata, diz que Campinas foi a primeira cidade do interior do País a ter um órgão de preservação municipal. “O Brasil não tem política de preservação, estamos distantes se compararmos a Europa e a América do Norte, mas, dentro das nossas limitações, Campinas é pioneira em atitudes preservacionistas locais”, afirma.


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Cidade

Para acabar com a “interferência” do Estado Rádios paulistas continuam na briga para acabar com obrigatoriedade da “Voz do Brasil” Fernanda Seben Vinícius Gandolphi

“A Voz do Brasil é o ultimo entulho da Ditadura Vargas”, nas palavras do presidente da Associação Paulista das Emissoras de Rádio e TV do Estado de São Paulo (AESP), Rodrigo Neves.A luta pela extinção ou a transmissão em horários alternativos do programa de rádio mais antigo em circulação na história do país, a “Voz do Brasil”,não é nova, mas toma proporção maior a cada dia, com campanhas recentes da Jovem Pan, da Band News e da própria Associação das Emissoras de Rádio e TV de São Paulo (AESP). As emissoras brigam pela não obrigatoriedade de transmitir o programa oficial no horário estipulado (das 19h às20h) ou ainda pela extinção do mesmo. A luta continua entre os papeis judiciais e na voz dos jornalistas e locutores que desejam o fim da imposição que remonta os tempos da ditadura. Há muito tempo, dizia-se da pessoa que não tinha muito compromisso com a vida estar “Nem aí pra Hora do Brasil”. A expressão é de antes de 1971, data em que o presidente Emílio Garrastazu Médici mudou o nome do programa de rádio do governo para “Voz do Brasil”, que permanece até hoje. Transmitido das 19 às 20h todos os dias exceto sábados, domingos e feriados, para descontentamento de uns e frustração de outros, a “Voz” cala os rádios num dos momentos mais importantes do dia. Entre os que queriam – e poderiam – estar nem aí pra Voz do Brasil, está ojornalista formado pela PUC-Campinas e funcionário público da Prefeitura de Jaguariúna, onde atua, desde 1997, como locutor apresentador-noticiarista da Rádio Educativa Municipal Estrela FM, Bruno Giannini, que também se reveza com outros funcionários da rádio para colocar o programa

estatal no ar. O horário de trabalho de Bruno vai das 13h ás 17h. A “Voz do Brasil” é transmitido sempre às 19h, como já dito. Não é por culpa de um “chefe maldoso” ou de uma “carga horária massacrante” que o locutor tem que comparecer ao estúdio para transmitir os 25 minutos reservados ao poder executivo e os outros 35 dados ao legislativo e judiciário. O jornalista de formação faz isso porque, como muitos não concordam, ninguém pode soltar a “voz” em outra hora. No entanto, embora possa parecer, a preocupação de Bruno não é egoísta. Ele pensa em cidades maiores que Jaguariúna, onde uma fileira de cinco carros já pode ser considerada um “engarrafamento”. “Eu acho o horário inconveniente, principalmente nas grandes metrópoles onde as emissoras poderiam utilizar o período das 19h às 20h para passar informações sobre o trânsito, muitas vezes caótico. As pessoas em São Paulo, por exemplo, ficam presas em seus carros, enfrentando congestionamentos monstruosos, sem saber as melhores alternativas para driblar o problema, já que a ‘Voz do Brasil’ entra no pior horário existente para uma cidade grande”, revela Bruno. Além de Bruno, o presidente da Associação das Emissoras de Rádio e TV do Estado de São Paulo (AESP), Rodrigo Neves, diz que mais que inconveniente, a transmissão da “Voz” é “Incoerente com os anseios da população como um todo. Acho que o Governo Federal poderia por iniciativa própria decretar o fim deste entulho autoritário e oferecer através da Radiobras blocos de notícias não obrigatório, cabendo as emissoras individualmente colocar ou não no ar”, indica Rodrigo Neves. Além dos problemas apresentados, um documento redigido pelo advogado do Sindicato das Emissoras de Rádio e TV do Estado de São Paulo(SERTESP), Rubens Augusto Camargo de Moraes, dizia, a princípio, que o fato de o horário em que o programa deve ser

Fernanda Seben

“Acho o horário inconveniente” diz o locutor Bruno Giannini, sobre a Voz do Brasil

transmitido é fixo, cerceia, entre outras coisas, a liberdade de expressão, ao “constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística”. O pedido de suspensão ou alteração de horário de transmissão da produção estatal é de 2009 e, como já se deve suspeitar, não foi aceito pelo Ministério Público. No mesmo ano, a União contestou o escrito de Rubens, dizendo que o tal “embaraço” não procedia, uma vez que, das 24 horas do dia, apenas uma era utilizada para a transmissão do programa que adentra os lares brasileiros desde os imemoráveis tempos da ditadura de Vargas. E já que estamos falando de ditadura, o programa resistiu a duas. A última, como já se deve saber, foi a que tirou os direitos de muitos – inclusive dos jornalistas – à liberdade de expressão. No primeiro documento do SERTESP, Rubens se permite uma licença poética ao escrever que “O Brasil está respirando novos ares. Há liberdade. Há democracia pairando em nossos céus. Nenhum limite, nenhuma restrição, nenhum temor há que impedir a livre manifestação de liberdade de imprensa, em detrimento de nosso povo. A imposição, a ditadura, a opressão são já valores erradicados de nosso ordenamento jurídico e do

pensamento livre de nossa população”. Para Natália Pasquini Moretti, que redigiu a contestação feita por parte da União, a frase de Rubens parece não fazer sentido, e sua última sentença ainda parece fora de esquadro. Ou parecia, o programa, desde então, passou por uma reformulação. De acordo com a assessoria Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que produz os primeiros 25 minutos da “Voz do Brasil”, o objetivo agora é prestar serviço, diferente do que se fazia no passado, quando as matérias tinham enfoques mais institucionais: “Atualmente, a orientação geral é cobrir o dia a dia do governo federal, levando aos ouvintes informações sobre as atividades da Presidência da República e sobre os principais fatos ocorridos no Poder Executivo tendo como foco o interesse do cidadão e da cidadã brasileira. O objetivo é manter um canal direto de comunicação do Governo Federal com todos os brasileiros, informando-os sobre as principais ações e serviços prestados pelos órgãos públicos federais”. Mesmo assim, Neves sabe que a transmissão obrigatória na entrada da noite podia até fazer sentido e ter audiência e interesse no começo do século passado. “Na década de 40 e sobre um regime forte, não democrático, o país tinha uma pequena popu-

lação, sem os problemas de hoje como trânsito, violência, intempéries. Não faz sentido em pleno século 21 a população ser obrigada a ouvir um programa oficial. A AESP coordena uma campanha para que a votação da flexibilização do horário seja votada ainda no primeiro semestre do ano. Qualquer cidadão também pode participar enviando um email para o deputado Federal de sua região”, lembra o presidente da AESP. O desejo das rádios também é que a decisão saia o quanto antes. A Jovem Pansolta diariamente comentários e matérias contra a obrigatoriedade septuagenária. Numa dessas, o jurista Carlos Ely Eluf foi fonte e chegou a afirmar que “como outros brasileiros, também desliga o rádio quando começa a ‘Voz do Brasil’” e que não há nada de democrático em obrigar que ele seja exibido. A querela judicial entre a SERTESP (sindicato cuja Jovem Pan é afiliada) e a União rendeu por pelo menos três anos. No dia 15 de março foi publicado no site do sindicato a notícia da conquista da flexibilização do horário da Voz do Brasil para as emissoras associadas. A informação, no entanto, não deve ser comemorada com tanta expressividade, já que ainda cabe recurso sobre a decisão.


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Saúde

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Chocolate para as exceções

O doce foi adaptado para cada situação, para ninguém ficar sem Karina Pilotto

Karina Pilotto É difícil resistir aos prazeres do chocolate, o doce mais cobiçado do mês da Páscoa. Isso porque ele estimula a liberação de hormônios que causam a sensação de bem-estar no organismo, chamados endorfina. “Os chocolates com mais de 55% de cacau possuem substâncias antioxidantes que auxiliam na prevenção de doenças cardiovasculares e estimulam o triptofano, o qual influencia na produção de serotonina, neurotrans-

missor que atua na sensação de felicidade”, explica a nutricionista Liliane Cristina Camuzzo Ortiz Monteiro. Além disso, de acordo com a nutricionista clínica Carolina Chuichmam R. dos Anjos, trabalhos científicos recentes demonstraram que a gordura saturada do chocolate é convertida em um tipo de ácido graxo que impede o aumento do colesterol no sangue. Mesmo com muitos benefícios, nem todos podem

consumi-lo. Existem diversos casos de pessoas que apresentam intolerância ao chocolate. Quando criança, a estudante Flávia Mendes descobriu que possuía uma alergia rara ao doce. “Desde os 12 anos não como chocolate. Se eu comer, de um dia para outro, meu corpo apresenta vemelhidão, manchas, bolinhas, e inclusive muitas e muitas espinhas. Fiz alguns exames mas não foi identificado o ingrediente que causa. Não posso comer nenhum tipo de chocolate nem derivados”, conta. A nutricionista Liliane comenta sobre essa rara alergia. “Essa reação é bastante comum em pessoas que possuem alergia principalmente à proteína presente no chocolate. É aconselhável não comer mesmo”. Outra exceção entre os adeptos do chocolate são as pessoas com diabetes. Por possuir um alto índice glicêmico, deve ser evitado por quem apresenta a doença. Mas para estes casos, também já existe uma solução: o chocolate

Diet. “ Para os diabéticos, os glicídios são substituídos por adoçantes artificiais. Mas é preciso tomar cuidado, pois este é mais calórico que os chocolates comuns”, explica Liliane. Carolina destaca que o chocolate com mais cacau é a melhor opção para quem apresenta problemas de saúde. “O chocolate diet é muito gorduroso.É preferível optar pelos com 70% de cacau, pois têm pouco açúcar e menos gordura em comparação aos dietéticos. Quanto mais cacau, menos açúcar”, destaca Carolina. E ainda existem casos de quem escolhe viver sem chocolate não por uma questão de saúde, e sim, por um ideal. Caio Feliciano adotou o estilo de vida Vegan, vegetariano que não consome nenhum alimento de origem animal. “Há seis meses não consumo chocolate, por uma questão ética. Só como chocolate sem lactose ou meio amargo. Não chega a ser tão doce como o chocolate ao leite, mas eu acho tão bom quanto.

Com a chegada da páscoa, bastante gente faz ovo de chocolate vegan caseiro, inclusive recheados com trufa! Acredito que devemos pensar mais antes de consumir um animal ou o que vem dele”, defende. CHOCOLATE ALTERNATIVO Esta é uma opção para quem tem intolerância à lactose, alergia a cacau ou é diabético. O chocolate de alfarroba, fruta semelhante ao cacau, não contém cafeína e teobromina, e possui uma semente rica em vitaminas e minerais. “Enquanto o cacau possui até 23% de gordura e 5% de açúcar, a alfarroba tem 0,7% de gordura e alto teor de açúcares naturais, de 38% a 45%”, explica a nutricionista clínica Carolina Chuichmam R. dos Anjos. As receitas feitas com a fruta não possuem glúten, leite, ovos, soja ou adoçantes artificiais, e podem ser encontrados em lojas de produtos naturais.

Parto humanizado: Saudável e sem traumas Técnicas populares como o parto na água e o parto de cócoras evitam aplicação de anestesia e diminuem os impactos na mãe e no bebê Renata Ananias Em uma época em que os partos são feitos com alto índice de medicalização e anestesia, algumas mulheres optam por técnicas alternativas, os chamados partos humanizados; eles proporcionam à gestante maior autonomia na escolha do tipo do parto e o modo como este será efetuado. Entre os realizados de forma mais antiga aos mais exóticos, estão os partos de Laboyer, parto de cócoras e o popularizado parto na água feito em banheira com a temperatura entre 36ºC a 37ºC. A estudante de jornalismo Patrícia Lopes decidiu que faria parto na água após ler o relato de uma colega e, contrariando a opinião de muitos, se manteve firme em sua decisão. “Não tive

medo em relação à dor, li muito sobre e estava preparada para o que viria. E o que me levou a escolha desse parto foi, principalmente, a liberdade em relação a parir. Eu estive ativa em todo o trabalho de parto. Eu quem decidia como queria ficar,o que era bom e o que não era e todo procedimento feito na minha filha aconteceu na minha frente”. Em Campinas, o precursor do parto de cócoras, Hugo Sabatino, já realizou na Unicamp mais de 2.500 nascimentos dessa maneira. Segundo ele, a sociedade enxerga este tipo de parto com preconceito por ser de origem indígena, mas explica que o procedimento facilita a saída do bebê. “Há preparação para que a gestante se acostume com a posição, além de uma cadeira especial desenvolvida pelo Dr. Jailson Sanches que foi utilizada há mais de 30 anos por sua esposa Rubia Mitiko Fucuda. Foi o primeiro parto de cócoras em Campinas. A técnica judiciária Patrícia

Sousa, após uma experiência traumática em um parto normal, optou em sua segunda gestação pelo parto de cócoras. "Na época eu tinha acabado de mudar para Campinas e não possuía plano de saúde, então fiquei sabendo que a Unicamp oferecia o parto de cócoras e que o atendimento era ótimo. O parto foi feito na cadeira específica e durou uma hora e meia. Além da vantagem da posição, era permitida a entrada de acompanhante e até música ambiente”. Octavio Filho, docente e gestor da área ginecologia/obstetrícia do Hospital e Maternidade Celso Pierro, atenta sobre os cuidados na realização de partos alternativos. “Não há nenhum riscco

Arquivo pessoal

NATURAL: Laura, filha de Patrícia, nasceu em parto na água

em partos humanizados. Por exemplo, o parto na água facilita a dilatação e ameniza a dor, mas qualquer procedimento deve ser realizado em hospitais e com equipe médica para que seja possível o atendimento em caso de emergência”. Octavio também informa que o Hospital e Maternidade Celso Pierro, em parce-

ria com a Rede Cegonha do SUS, vai oferecer em breve o parto humanizado com sala ambientada e presença de acompanhante durante todo o processo de parto. O Ginecologista sempre tem a resposta. Converse e planeje-se sempre!


01 a 14 de abril de 2012

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Variedades

O MURO DO ROCK Roger Waters reconstrói seu “The Wall” e encanta os fãs da música

João Solimeo texto e fotos TIJOLO POR TIJOLO Está tudo lá: o muro gigantesco, construído bloco a bloco em frente à plateia; o quarto de hotel que sai de dentro da parede; os fantoches de 9 metros de altura; o avião que sobrevoa a plateia e explode no palco; a música estonteante do Pink Floyd. Tudo. “Roger Waters -The Wall”, apresentado no estádio do Morumbi, em São Paulo no último dia 1º de Abril, é quase tudo o que um fã do Pink Floyd poderia esperar. Duas críticas podem ser feitas: a ausência do guitarrista David Gilmour é perceptível, sua guitarra e sua voz fazem falta; a segunda crítica, se é que pode ser feita, é o excesso de perfeccionismo de Waters na execução de sua obra-prima. The Wall é um show programado nos mínimos detalhes.

Roger Waters, aos 68, continua moderno e atual

DINOSSAURO MODERNO

DRAMA PESSOAL Não é para menos. Um muro com impressionantes 137 metros de largura e onze de altura separa a plateia da banda de Roger Waters, 68 anos, baixista e ex-integrante do grupo britânico Pink Floyd, do qual foi um dos fundadores. Waters saiu do grupo no início dos anos 80 após muitas brigas com o guitarrista David Gilmour, o baterista Nick Mason e o tecladista Richard Wright. Principal força criativa da banda, Roger Waters se tornou cada vez mais difícil de conviver e sua relação com a plateia também não era boa. Em um show em Montreal, Canadá, em 1977, o baixista cuspiu no rosto de um fã alucinado, que gritava na primeira fila. Assustado com o próprio comportamento, Waters fez uma auto análise e concebeu a ideia de “The Wall”, um muro que seria construído entre a banda e a plateia em pleno show ao vivo, simbolizando a impessoalidade que ele sentia nos shows de rock. A este conceito Waters somou elementos da própria

os lados. O conceito inicial, referente à II Guerra Mundial, foi atualizado; os gigantescos bombardeios mostrados na música “Goodbye Blue Sky” agora não despejam bombas, mas símbolos como cifrões, estrelas de Davi judaicas, luas islâmicas e logotipos da MercedesBenz e da Shell (vaiada pela plateia por causa dos recentes vazamentos na região do pré-sal). Assim, o The Wall de Waters não é simplesmente um show saudosista glorificando um álbum com 33 anos de idade, mas uma contundente crítica ao mundo moderno.

O muro montado. Crítica ao totalitarismo

Vítimas da intolerância. Fotos de mortos nas guerras do mundo foram enviados por fãs

vida, como a morte do pai na Itália durante a II Guerra Mundial e o divórcio da esposa. Para completar, usou parte da história de Syd Barrett, garoto prodígio com quem, nos anos 60, havia fundado o Pink Floyd. Barrett não conseguiu lidar com o sucesso e, consumidor compulsivo de drogas alucinógenas, perdeu o contato com a realidade e foi afastado do Pink Floyd após o primeiro disco da banda. Mas os tempos mudaram. Com quase 70 anos,

Waters é hoje bem mais amigável. Apresentando uma vitalidade invejável, ele incitou a plateia, soltou sorrisos e falou em português para as milhares de pessoas que o assistiam no estádio do Morumbi. Ironicamente, justo no momento em que prestava homenagem ao brasileiro Jean Charles de Menezes, morto por engano pela polícia britânica, policiais expulsavam, à força, um grupo de fãs que havia invadido uma área restrita do gramado do Morumbi.

Foi um dos poucos fatos não programados do show. Nove projetores de alta definição lançam imagens impactantes sobre a imensa parede branca. Waters atualizou as animações produzidas pelo cartunista Gerald Scarfe para os show originais da década de 80, tornando-as tridimensionais. Além disso, há um sem número de símbolos que remetem ao capitalismo (palavra escrita no muro com a mesma grafia da Coca-Cola) e sobram críticas para todos

A plateia cantou em uníssono o hino do álbum, “Another Brick in the Wall part 2” (com o famoso refrão “We don´t need no education”), mas a canção mais espetacular continua sendo “Confortably Numb”, executada por dois guitarristas, Robbie Wyckoff e Dave Kilminster (na falta de David Gilmour), em que as projeções transformam o muro em uma grande tela psicodélica. Não é um show para leigos. O conceito do álbum duplo, transformado em filme por Alan Parker em 1982, ainda é um enigma para muitos fãs casuais da banda. Há certo exagero na terça parte final do show, quando Waters (ou seu alter ego “Pink”) se transforma em um astro do rock que se comporta como um ditador em um show massacrante de rock. Os famosos martelos cruzados (que remetem à suástica nazista) marcham pela tela de 137 metros de forma ameaçadora, para delírio da plateia. Tudo culmina quando o muro, literalmente, vem abaixo no final da apresentação de mais de duas horas. Nesta era de bandas pop sem nenhuma profundidade, Roger Waters e seu muro soam como o canto de um dinossauro em extinção. No que depender dos milhares de fãs, porém, o Rock continua atual e poderoso como nunca.


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