Agenda Cultural Março Abril

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rico em Paris, Oswald poderia convidar os amigos que quisesse para jantar, nos restaurantes mais caros da cidade. Para o escritor, a capital francesa era o lugar mágico dos labirintos, do imprevisível. Tarsila do Amaral, por sua vez, também acreditava que Paris era o espaço livre e de ócio onde qualquer exilado soltaria a imaginação: “que prazer vagar para as ruas, sem descobrir uma cara conhecida”, escrevia ela. No mesmo sentido do ócio criativo, o escritor Jorge Wolf faz um estudo sobre a obra do escritor argentino Júlio Cortázar, analisando seus constantes deslocamentos entre Buenos Aires e Paris, da mesma forma que fazem seus personagens, tanto em o jogo da Amarelinha como em Contos Completos. Para Wolf, Cortázar estava sempre “em transito”, porque, segundo ele, “o destino do escritor é jamais habitar uma casa, e sim um hotel, onde nada se instala definitivamente”. A noção de cultura enquanto deslocamento, metáfora da condição de artista/ escritor no exílio e em viagem permanente repete-se em um conto intitulado El Outro Cielo. Aí aparece de novo o flaneur, na história de um personagem que vive ao mesmo tempo na Buenos Aires atual como em Paris de 1870. O símbolo e veículo dessas passagens são as galerias cobertas, que se transformam em máquinas do tempo. O personagem atravessa a galeria Güelmes, em Buenos Aires, e sai em Paris, na Galerie Vivienne. Na Argentina é verão. Na França, inverno. O personagem vive em perfeito ócio produtivo nos dois mundos. Wolf recorre também ao conceito de “não lugar”, de Marc Augé para analisar Paris no século XX, de Júlio Verne. O personagem Michel Dufrénoy flana em uma Paris do futuro, mesmo que suas bagagens socioculturais pertençam ainda ao século XIX. Mas ele curiosamente toma o mesmo caminho de Cortázar: a galeria Vivianne, local de passagem. Walter Benjamin, por sua vez, vê o flâneur como alguém que tem por pressuposto que o produto do ócio tem muito mais valor do que aquele do trabalho. Benjamin fala da cidade como a realização de um antigo sonho do labirinto, e que o flâneur persegue, obsessivamente, esse sonho.

Já em Robinson Crusoe, de Daniel Defoe, o exílio é a liberação. Nas diversas interpretações do personagem, conforme Maria José de Queiros, em Os males da ausência, o que fica é a sua condição de expatriado, de estrangeiro, onde quer que se encontre. O que resta em Crusoe é uma receita para os males da ausência. O remédio para a sua cura está no trabalho da mão, em moto perpétuo. O trabalho faz esquecer qualquer exílio.

Eduardo Vieira da Cunha

Convidados Antonio Fatorelli - UFRJ Claudia Tajes – Zero Hora Luís Augusto Fischer – UFRGS Tânia Galli – UFRGS

Mediação – Eduardo Vieira da Cunha - UFRGS

SEMINÁRIO VIAGEM, TRADUÇÃO E EXÍLIO Data: 09 e 10 de abril Horário: 19h Local: Sala João Fahrion Av. Paulo Gama, 110 2º andar Reitoria UFRGS Inscrições: de 25 de março a 09 de abril, através do site www.difusaocultural.ufrgs.br – entrada franca

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