02 | 26 JAN 2020 | DOMINGO
DiáriodeCoimbra
Diário de Coimbra Memórias Bissaya Barreto na “Entrevista do Dia” Com apenas quatro páginas por edição, o formato largo do jornal permitia no entanto inserir diversidade de temas, colunas e notícias, ao encontro dos interesses variados do leitor. Nos primeiros números vemos o Diário de Coimbra a apostar, em primeira página, nas entrevistas a destacadas figuras da cidade. Coube a Bissaya Barreto, presidente da Junta Geral do Distrito, abrir o espaço “Entrevista do Dia”, na edição experimental de 24 de Abril, «dissertando sobre o problema da assistência pública». «A assistência aos inválidos, aos menores em perigo moral e aos tuberculosos é já hoje uma realidade positiva e eloquente. Preocupa-nos ainda, é certo, outro problema, não menos importante, o da instrução», declarava o médico e professor universitário que viria a legar a Coimbra e à região uma valiosa obra assistencial.
Reparos “Ao correr da pena” «Diariamente trataremos, nesta secção do nosso jornal - de leve, embora - de todos os assuntos que nos mereçam reparo, crítica, apoio ou protesto», prometia a coluna “Ao correr da pena”, chamando a atenção do poder autárquico para a necessidade da «remoção do entulho que se amontoa em vários pontos da cidade». «Não está certo. Basta de lixo!», exclamava o autor.
Atraso urbanístico O jornal verberava o atraso urbanístico de Coimbra. «Acidade de Coimbra, que podia ser hoje uma linda cidade moderna e civilizada, não tem, infelizmente, apanhado o movimento de urbanismo levado a efeito noutras terras de inferior categoria. E assim, desde as ridículas construções, sem nexo arquitectural, à teimosa insensatez de erguer prédios onde deviam passar avenidas, tudo é feito impunemente», lamentava Luís Costa, autor da crónica que intitulou “Coimbra cidade moderna?”.
No ano em que o Diário de Coimbra assinala 90 anos de existência, convidamos os leitores para uma viagem na história, recordando momentos que marcaram e consolidaram a relação do jornal com Coimbra e a Região das Beiras
UMA VIAGEM NA HISTÓRIA ATRAVÉS DAS PÁGINAS DO DIÁRIO DE COIMBRA
O
Diário de Coimbra inicia hoje a publicação de um espaço semanal, aos domingos, com o propósito de recuperar e trazer para a actualidade histórias, episódios e eventos que ao longo de nove décadas foram notícia nas páginas deste jornal. A 24 de Maio de 1930, Coimbra viu nascer o jornal diário que, volvidos quase 90 anos, continua, tal como no primeiro número, a estar ao serviço dos leitores – sua principal razão de ser – e a pautar a sua acção pela valorização de Coimbra, da Região das Beiras e das suas gentes. Propomo-nos, neste espaço de memórias, revisitar e (re)contar a história e histórias do jornal, recordar as causas
das populações. Esta proximidade e o desígnio de estar ao serviço do bem comum explicam em boa parte que o Diário de Coimbra, neste já longo caminho, Ao longo da sua não só tenha história o Diário conseguido rede Coimbra sistir e superar funcionou em várias dificulsete diferentes espaços da cidade dades, que poderiam ter levado ao seu desaparecimento (por exemplo a suspensão por um ano, em 1945, durante a ditadura salazarista, que iremos recordar mais à frente), como é hoje líder de audiências na região Diári0 de Coimbra teve a primeira sede no Quebra Costas que serve, merecendo a prede que foi promotor e dina- a evolução desta cidade e da ferência de leitores e anunmizador, registar o modo região, como deu voz às preo- ciantes. É uma longevidade que lhe como noticiou e acompanhou cupações, interesses e anseios
Faltava a Coimbra um jornal diário
A
estreia do Diário de Coimbra, a 24 de Maio de 1930, foi precedida um mês antes, precisamente a 24 de Abril, do lançamento de uma edição experimental (número espécime), onde se explanavam as razões da criação do jornal. É sobre este exemplar que hoje nos deteremos, remetendo para o próximo espaço de memórias um olhar mais atento sobre o primeiro número do jornal. Em destaque, na primeira das quatro páginas do jornal, sob o título “O que nos propomos”, era explicado o propósito de preencher uma lacuna no que ao panorama editorial de Coimbra dizia respeito. «Não é esta a primeira tentativa posta em prática, nos últimos tempos, no sentido de dotar as
Edição experimental foi publicada a 24 de Abril de 1930
Beiras e principalmente a cidade de Coimbra - centro intelectual de primeira grandeza e verdadeiro coração do país – com um jornal destinado a pugnar pelos interesses desta ubérrima mas malfadada região, em cuja extraordinária importância os poderes públicos nunca atentaram como deviam», escrevia o autor.
«Infelizmente, porém, e por motivos alheios, decerto, à vontade dos fundadores, todas essas tentativas falharam a breve trecho, e o certo é que Coimbra, justamente considerada a terceira cidade do País, não tinha ainda ontem um jornal diário, se bem que outras terras - de bastante menor importância, algumas delas – já sustentassem mais de um», prosseguia, comentando que só «poderiam ficar apáticos ante o aparecimento do Diário de Coimbra» os absolutos desconhecedores do «papel modernamente desempenhado pela imprensa» e quem «não quiser atender ao factor importantíssimo que para o progresso e desenvolvimento de uma região pode representar um jornal próprio, defensor dos seus mais justos e legítimos interesses».
«É de carácter regionalista e apenas regionalista o nosso jornal. E porque assim é, não nos movem, ao iniciar a sua publicação, outros intuitos que não sejam a propaganda das riquezas naturais, económicas e artísticas, da região, e a defesa dos seus direitos ou das suas nobres pretensões», lia-se ainda no texto. No cabeçalho do jornal, logo debaixo do título, a indicação “Órgão regionalista, defensor dos interesses das Beiras” esclarecia a matriz editorial a que o jornal permaneceria fiel. Era então propriedade da empresa do “Diário de Coimbra”, em formação. O nome de José de Sousa Varela surgia como redactor principal e editor (viria a assumir o cargo de director do jornal, de 24 de Agosto do ano de funda-
justifica o estatuto de diário mais antigo do país com a mesma linha editorial de origem e na posse da família do fundador – Adriano Viégas da Cunha Lucas (1883-1950), que orientou o jornal até ao seu falecimento em 1950, sucedendo-lhe o seu filho, Adriano Mário da Cunha Lucas (1925-2011), que ao longo de seis décadas liderou e desenvolveu este projecto editorial. A iniciativa e liderança de ambos seria decisiva para a existência, sobrevivência e o desenvolvimento do Diário de Coimbra, assegurando que, na sua missão de informar, mantivesse os valores que desde sempre orientaram a sua acção, enquanto jornal republicano, liberal e regionalista: a procura da verdade, transparência e credibilidade no que publica; a defesa da Liberdade da Imprensa e a sua total independência de quaisquer poderes políticos ou económicos; a defesa do cidadão e das minorias, da valorização de Coimbra, da Região das Beiras e das suas gentes, da plena integração europeia, da regionalização do país, da livre iniciativa privada, da economia de mercado e da sã concorrência – como constam do Estatuto Editorial.
ção até Fevereiro de 1933). Aquando do número experimental, a Redacção e Administração ocuparam espaço provisório na Tipografia Minerva Central, na Rua Olímpio Nicolau. No mês seguinte, na data de fundação, já o jornal tinha a Redacção, Administração e Oficinas na Rua do Quebra Costas, no prédio com números de porta de 27 a 33. Hoje instalado na Rua Adriano Lucas, em Eiras, o Diário de Coimbra teve ainda a sede e os seus serviços a funcionar noutros espaços da cidade – na Avenida Sá da Bandeira, n.º 80 (para onde mudou a 9 deAbril de 1933), naAvenida Navarro, n.º 43 (1 de Setembro de 1933), na Rua Ferreira Borges, nº 155, 2.º (13 de Dezembro de 1933), no Pátio dos Castilhos, n.º 2 (20 de Janeiro de 1936) e na Rua da Sofia, n.º 179 (1 de Maio de 1941), onde se manteria durante quase cinco décadas, até 1989.